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A partir de meados do século XVI, a presença africana tornou-se significativa em alguns paí-
ses europeus. Ainda que em grande parte fossem escravos, muitos africanos ou residiam na
Europa por vontade própria (como comerciantes, estudantes, diplomatas, etc.) ou tinham al-
cançado a liberdade depois de desembarcados (permanecendo no continente como trabalha-
dores livres). Segundo as estimativas, havia cerca de 100 mil indivíduos de origem africana na
Espanha, 40 mil em Portugal, 10 mil na Grã-Bretanha e 4 mil na França. Ver Norma Myers,
Reconstructing the Black Past: Blacks in Britain, 1780-1830 (Londres: Frank Cass, 1996), 6;
Sue Peabody, “There are no Slaves in France”: The Political Culture of Race and Slavery in
the Ancien Régime (Nova York: Oxford University Press, 1996), 4; A. C. de C. M. Saunders,
1
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
A Social History of Black Slaves and Freedmen in Portugal, 1441-1555 (Nova York: Cam-
bridge University Press, 1982); Charles Larquié, “Les esclaves de Madrid à l’epoque de la
decadence, 1650-1700”, Revue Historique 495 (1970): 47; e Charles Verlinden, L’esclavage
dans l’Europe médiévale (2 vols., Gent: Rijksuniversiteit te Gent, 1977), II, 873 e 1021.
2
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
laços que uniram os destinos individuais e coletivos das pessoas de certas partes
da África com aqueles das da Europa, das Américas e das ilhas atlânticas.2 A
partir de uma perspectiva regional podemos examinar os padrões migratórios da
África e, com isso, apresentar algumas das diferenças encontradas entre as várias
regiões, especialmente entre a África Ocidental e a Centro-Ocidental.3
Após a publicação de inúmeros estudos sobre as dimensões e a direção do
tráfico, agora parece claro que existiram essencialmente dois sistemas de co-
mércio de africanos escravizados: um no Atlântico Norte – centrado na região
caribenha que, além das ilhas, incluía a América do Norte, os territórios sob do-
mínio espanhol e, em muito menor escala, a Amazônia portuguesa –, e o outro, o
Atlântico Sul que enlaçava principalmente a África Centro-Ocidental ao Brasil.
Os padrões de comércio eram marcadamente diferentes entre os dois “sistemas”.
O comércio que cruzava o Atlântico a norte do Equador transportava uma popu-
lação escravizada muito mais diversificada regional e etnicamente que aquele do
sul – quase exclusivamente ocupado com povos centro-africanos.
Os estudos demográficos sobre o comércio atlântico de africanos escraviza-
dos foram fortemente influenciados pela publicação em 1969 do livro de Philip
D. Curtin, The Atlantic Slave Trade: A Census. Curtin mostrou que as estima-
tivas existentes até então eram uma herança das sínteses produzidas no século
XIX e que os dados apresentados por centenas de novas monografias não tinham
sido capazes de corrigi-las. Essa situação dava margem a que se pensasse que as
dimensões quantitativas do comércio de escravos ou eram bem conhecidas ou
não poderiam ser conhecidas de todo. Assim, as estimativas disponíveis apresen-
tavam variações que iam 15 a 25 milhões de escravos desembarcados nas Amé-
ricas durante todo o período do tráfico atlântico.4 Em sua própria síntese e apesar
de considerar existirem ainda muitos “buracos” nos dados, Curtin chegou à con-
clusão de “é muito pouco provável que o total verdadeiro [de africanos desem-
barcados nas Américas] será menor que 8.000.000 ou maior que 10.500.000”.5
2
Ver Gwendolyn Midlo Hall, Slavery and African Ethnicities in the Americas: Restoring
Links (Chapel Hill: North Carolina Press, 2005).
3
Ver David Eltis e David Richardson, “A New Assessment of the Transatlantic Slave
Trade”, in David Eltis e David Richardson, eds., Extending the Frontiers: Essays on the
New Transatlantic Slave Trade Database (New Haven: Yale University Press, 2008).
4
Ver Philip D. Curtin, The Atlantic Slave Trade: A Census (Madison: Wisconsin
University Press, 1969), xvi.
5
Philip D. Curtin, The Atlantic Slave Trade: A Census, 87.
3
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
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Ver Paul E. Lovejoy, “The Volume of the Atlantic Slave Trade: A Synthesis”, Journal of
African History 23 (1982): 473.
7
Ver, por exemplo, para uma análise desse impacto, Edward Reynolds, Stand the Storm:
A History of the Atlantic Slave Trade (Nova York: Allison & Busby, 1985).
8
Walter Rodney, How Europe Underdeveloped Africa (Londres: Bogie-L’Overture
Publications, 1972).
9
Ver John D. Fage, A History of Africa (Londres: Hutchinson, 1978), 244-288; e, do
mesmo autor, “Slavery and the Slave Trade in the Context of West African History”,
Journal of African History 10, 3 (1969): 393-407.
10
Joseph E. Inikori, “Introduction”, in Joseph E. Inikori, ed., Forced Migration: The Impact
of the Export Slave Trade on African Societies (Londres: Hutchinson, 1981), 20; Joseph
E. Inikori, “Measuring the Atlantic Slave Trade: An Assessment of Curtin and Anstey”,
Journal of African History 17, 2 (1976): 197-223; Joseph E. Inikori, “Measuring the Atlantic
Slave Trade: A Rejoinder”, Journal of African History 17, 4 (1976): 607-627; e Joseph E.
Inikori, “The Origin of the Diaspora: The Slave Trade from Africa”, Tarikh 5, 4 (1978): 8.
4
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
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Paul Lovejoy, Transformations in Slavery: A History of Slavery in Africa (Nova York:
Cambridge University Press, 1983).
12
Ver David Eltis, Stephen Behrendt, David Richardson e Herbert Klein, eds., The Atlantic
Slave Trade: A Database on CD-Rom (Cambridge: Cambridge University Press, 1999).
13
Ver Eltis et al., Voyages: The Trans-Atlantic Slave Trade Database. Disponível em: www.
slavevoyages.org. Último acesso: 22/05/2015. Deve ser notado o fato de que as estimativas
totais, como era de esperar-se, diferem dos números absolutos da base de dados. Desse
modo, os números absolutos mostram um total de 10.147.907 indivíduos embarcados
(em 33.366 viagens) e 8.752.593 desembarcados (em 33.047 viagens), descontando-se as
perdas causadas por todo tipo de infortúnios, desvios e apreensões que, de alguma maneira,
impediram os navios de deixarem a África ou de completarem a viagem. Segundo as
estimativas, cerca de 10.800 africanos foram embarcados para a Europa e outros 178.900
indivíduos foram destinados a outras regiões do continente africano.
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Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
Tabela 1
Africanos embarcados segundo a bandeira dos navios, 1501-1866
Espanha / Portugal / Grã- Dinamarca
Holanda E.U.A França Total
Uruguai Brasil Bretanha / Báltico
1501-1525 6.363 7.000 0 0 0 0 0 13.363
1526-1550 25.375 25.387 0 0 0 0 0 50.763
1551-1575 28.167 31.089 1.685 0 0 66 0 61.007
1576-1600 60.056 90.715 237 1.365 0 0 0 152.373
1601-1625 83.496 267.519 0 1.829 0 0 0 352.843
1626-1650 44.313 201.609 33.695 31.729 824 1.827 1.053 315.050
1651-1675 12.601 244.793 122.367 100.526 0 7.125 653 488.064
1676-1700 5.860 297.272 272.200 85.847 3.327 29.484 25.685 719.674
1701-1725 0 474.447 410.597 73.816 3.277 120.939 5.833 1.088.909
1726-1750 0 536.696 554.042 83.095 34.004 259.095 4.793 1.471.725
1751-1775 4.239 528.693 832.047 132.330 84.580 325.918 17.508 1.925.314
1776-1800 6.415 673.167 748.612 40.773 67.443 433.061 39.199 2.008.670
1801-1825 168.087 1.160.601 283.959 2.669 109.545 135.815 16.316 1.876.992
1826-1850 400.728 1.299.969 0 357 1.850 68.074 0 1.770.979
1851-1866 215.824 9.309 0 0 476 0 0 225.609
Total 1.061.524 5.848.265 3.259.440 554.336 305.326 1.381.404 111.041 12.521.336
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Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
Tabela 2
Africanos embarcados segundo região de origem, 1501-1866
Moçambique e
África Ocidental África Centro-Ocidental
África Oriental Total
# % # % # %
1501-1525 12.726 95,2 637 4,8 0 0,0 13.363
1526-1550 46.538 91,6 4.225 8,4 0 0,0 50.763
1551-1575 52.870 86,6 8.137 13,4 0 0,0 61.007
1576-1600 47.493 31,1 104.879 69,9 0 0,0 152.373
1601-1625 30.379 8,6 322.119 91,3 345 0,1 352.843
1626-1650 73.781 23,4 241.269 76,6 0 0,0 315.050
1651-1675 193.352 39,6 278.079 56,9 16.633 3,5 488.064
1676-1700 411.598 57,1 293.340 40,7 14.737 2,2 719.674
1701-1725 745.580 68,4 331.183 30,4 12.146 1,2 1.088.909
1726-1750 911.581 61,9 556.981 37,8 3.162 0,3 1.471.725
1751-1775 1.264.981 65,7 654.984 34,0 5.348 0,3 1.925.314
1776-1800 1.136.340 56,5 822.056 40,9 50.274 2,6 2.008.670
1801-1825 764.656 40,7 929.999 49,5 182.338 9,8 1.876.992
1826-1850 553.553 31,2 989.908 55,8 227.518 13,0 1.770.979
1851-1866 38.664 17,1 156.779 69,4 30.167 13,5 225.609
Total 6.284.093 50,1 5.694.574 45,4 542.668 4,5 12.521.336
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Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
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Luiz Felipe de Alencastro, O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul,
séculos XVI e XVII (São Paulo: Companhia das Letras, 2000).
15
Manolo Florentino, Em costas negras: Uma história do tráfico atlântico de escravos
entre a África e o Rio de Janeiro, séculos XVIII e XIX (São Paulo: Companhia das
Letras, 2002); Luiz Felipe de Alencastro, O trato dos viventes. A formação do Brasil
no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII (São Paulo: Companhia das Letras, 2000); José C.
Curto, Álcool e escravos: O comércio Luso-Brasileiro do álcool em Mpinda, Luanda
e Benguela durante o tráfico atlântico de escravos (ca.1480-1830) e o seu impacto nas
sociedades da África Central Ocidental (Lisboa: Vulgata, 2002); Mariana P. Candido,
Fronteras de esclavización: Esclavitud, comercio e identidad en Benguela, 1780-1850
(Cidade do México: El Colegio de México, 2011); Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e
traficantes no império português: O comércio negreiro português no Atlântico durante
os séculos XV a XIX (Lisboa: Esfera dos Livros, 2013); e Roquinaldo Ferreira, “A
supressão do tráfico de escravos em Angola, ca.1830-ca.1860”, História Unisinos 15, 1
(2011): 3-13.
16
Para mais sobre o assunto ver António Carreira, As companhias pombalinas de Grão-
Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraiba (Lisboa: Presença, 1983), 57; Walter
Hawthorne, From Africa to Brazil: Culture, Identity, and Atlantic Slave Trade, 1600-
1830 (Cambridge University Press, 2010); Philip J. Havik, Silences and Soundbites:
The Gendered Dynamics of Trade and Brokerage in the Pre-Colonial Guinea Bissau
Region (Munster: LIT Verlag Münster, 2004); Gerhard Seibert, “Creolization and Creole
Communities in the Portuguese Atlantic: São Tomé, Cape Verde, and the Rivers of
Guinea and Central Africa in Comparison”, Proceedings of the British Academy 178
(2012): 29–51; Pierre Verger, Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do
Benin e a Bahia de Todos os Santos, do séculos XVII ao XIX (São Paulo: Corrupio,
1987); Robin Law, “A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental, 1800-
1849”, Topoi 2 (2001): 9-39.
8
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
17
Ver Joseph C. Miller, Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave
Trade, 1730-1830 (Madison: University of Wisconsin Press, 1988); Beatrix Heintze,
Angola nos séculos XVI e XVII: Estudo sobre fontes, métodos e história (Luanda:
Kilombelombe, 2007); Roquinaldo Ferreira, “Dinâmica do comércio intracolonial:
Gerebitas, panos asiáticos e guerra no tráfico angolano de escravos, século XVIII”, in
João Luís Ribeiro Fragoso, Maria de Fátima Gouvêa e Maria Fernanda Bicalho, eds., O
Antigo Regime nos trópicos: A dinâmica imperial portuguesa, séculos XVI-XVIII (Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001), 339-378; Roquinaldo Ferreira, “O Brasil e a
arte da guerra em Angola, sécs. XVII e XVIII”, Estudos Historicos 1, 39 (2007): 3-21;
Mariana P. Candido, “South Atlantic Exchanges: The Role of Brazilian-Born Agents in
Benguela, 1650-1850”, Luso-Brazilian Review 50, 1 (2013): 53-82; Mariana Candido,
“Negociantes baianos no porto de Benguela: Redes comerciais unindo o Atlântico
setencentista”, in Roberto Guedes, ed., África, brasileiros e portugueses, séculos XVI-
XIX (Rio de Janeiro: Maud, 2013), 67-91.
18
Para maiores detalhes sobre o funcionamento do comércio de escravos na África Cen-
tro-Ocidental, ver José C. Curto, “A Quantitative Reassessment of the Legal Portuguese
Slave Trade from Luanda, Angola, 1710-1830”, African Economic History 20 (1992):
1-25; José C. Curto, “The Legal Portuguese Slave Trade from Benguela, Angola, 1730-
1828: A Quantitative Re-Appraisal”, África 17, 1 (1993/94): 101-16; José C. Curto, “Lu-
so-Brazilian Alcohol and the Legal Slave Trade at Benguela and its Hinterland, 1617-
1830”, in Hubert Bonin, ed., Négoce blanc en Afrique Noire: L’évolution du commerce à
longue distance en Afrique Noire du 18e au 20e siècle (Paris: Société Française d’Histoire
d’Outre-Mer, 2001); Herbert Klein, “The Portuguese Slave Trade from Angola in the 18th
9
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
Century”, Journal of Economic History 32, 4 (1972): 894-918; Joseph C. Miller, “Legal
Portuguese Slaving from Angola: Some Preliminary Indications of Volume and Direc-
tion”, Revue Française d’Histoire d’Outre-Mer 62, 1 (1975): 135-76; Joseph C. Miller,
“The Numbers, Origins, and Destinations of Slaves in the 18th Century Angolan Slave
Trade”, in Joseph Inikori and Stanley E. Engerman, eds., The Atlantic Slave Trade: Effect
on Economics, Societies, and People in Africa, the Americas, and Europe (Durham: Duke
University Press, 1992); Roquinaldo Ferrreira, “Transforming Atlantic Slaving: Trade,
Warfare and Territorial Control in Angola, 1650-1800” (Los Angeles: Tese de Doutora-
do UCLA, 2003); Roquinaldo Ferreira, “The Atlantic Networks of the Benguela Slave
Trade, 1730-1800, in Trabalho forçado africano – Experiências coloniais comparadas
(Porto: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, 2006), 67-97; e Roquinal-
do Ferreira, “Atlantic Microhistories: Mobility, Personal Ties, and Slaving in the Black
Atlantic World (Angola and Brazil)”, in Nancy Priscilla Naro, Roger Sansi-Roca, e David
H. Treece, eds., Cultures of the Lusophone Black Atlantic (Nova York: Palgrave, 2007),
99-128; Candido, Fronteras de esclavización; Roquinaldo Ferreira, Cross-Cultural Ex-
change in the Atlantic World: Angola and Brazil during the Era of the Slave Trade (Nova
York: Cambridge University Press, 2012); Daniel B. Domingues da Silva, “The Supply
of Slaves from Luanda, 1768–1806: Records of Anselmo Da Fonseca Coutinho”, African
Economic History 38, 1 (2009): 53-76; e Daniel B. Domingues da Silva, “The Atlantic
Slave Trade from Angola: A Port-by-Port Estimate of Slaves Embarked, 1701-1867”, In-
ternational Journal of African Historical Studies 46, no. 1 (2013): 105–122.
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Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
Tabela 3
Escravos desembarcados segundo as principais regiões de destino,
1501-1886
América Caribe Caribe América Caribe América
Brasil Total
do Norte Britânico Francês Holandesa Dinamarquês Espanhola
1501-1525 0 0 0 0 0 8.923 0 8.923
1526-1550 0 0 0 0 0 35.534 0 35.534
1551-1575 0 0 0 0 0 40.671 2.461 43.132
1576-1600 0 0 0 0 0 84.242 26.814 111.056
1601-1625 0 567 0 0 0 117.709 156.468 274.744
1626-1650 100 26.639 545 0 0 61.482 163.938 252.704
1651-1675 3.970 86.770 16.746 52.190 0 32.292 204.575 396.543
1676-1700 11.077 196.501 21.394 71.967 18.146 14.021 259.475 592.581
1701-1725 39.303 280.470 82.147 53.413 8.059 37.856 423.161 924.409
1726-1750 106.671 357.150 212.325 73.051 4.515 17.435 468.690 1.239.837
1751-1775 118.822 580.824 309.733 118.145 18.271 21.030 476.010 1.642.835
1776-1800 30.687 594.879 390.929 50.606 37.763 69.212 621.156 1.795.232
1801-1825 77.613 183.701 63.517 25.355 17.223 254.777 1.012.762 1.634.948
1826-1850 91 10.751 22.880 0 5.021 333.781 1.041.964 1.414.488
1851-1866 413 0 0 0 0 163.947 6.899 171.259
Total 388.747 2.318.252 1.120.216 444.727 108.998 1.292.912 4.864.373 10.538.225
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Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
Tabela 4
Proporção de escravos oriundos da África Centro-Ocidental (%)
América do Caribe Caribe América Caribe América
Brasil Total
Norte Britânico Francês Holandesa Dinamarquês Espanhola
22,9 13,5 36,0 40,4 13,9 35,4 68,0 44,3
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Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
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Para uma definição da África Ocidental, ver Eltis et al., Voyages: The Trans-Atlantic Slave
Trade Database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/voyage/understanding-db/
methodology-10>. Último acesso: 25/11/2015.
20
Ver Ivana Elbl, “The Volume of the Early Atlantic Slave Trade, 1450-1521”, Journal of
African History 38, 1 (1997): 31-75.
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Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
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Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
Tabela 5
Porcentagem de mulheres escravas no comércio atlântico, 1651-1864
1651-1675
1676-1700
1701-1725
1726-1750
1751-1775
1776-1800
1801-1825
1826-1850
1851-1864
Média
Senegâmbia 46,7 26,1 32,2 20,3 38,9 33,1 40,4 32,6 – 34,0
Serra Leoa – 21,7 31,2 20,0 41,3 34,7 31,6 30,2 – 33,5
Costa do Barlavento – – 67,1 39,5 42,7 34,5 28,4 32,1 – 36,7
Costa do Ouro 36,9 45,6 29,4 28,8 37,0 34,1 29,9 51,7 – 33,9
Golfo do Benim 41,6 41,0 34,9 40,5 42,1 36,5 28,5 35,2 30,1 37,6
Golfo de Biafra 51,1 51,3 48,0 24,6 41,2 42,8 35,3 35,4 – 41,7
África Centro-
44,2 49,6 27,2 37,2 32,3 34,9 33,8 26,4 23,6 32,4
Ocidental
África / Sudeste – – – 42,8 – 26,7 25,6 18,1 13,2 26,5
Não identificada 15,6 46,5 39,6 20,4 42,3 34,7 32,4 – – 38,3
Média 45,3 41,1 32,7 33,1 38,4 36,8 32,8 32,5 25,3 36,0
21
Para mais detalhes sobre a composição sexual dos africanos escravizados ver David
Eltis e Stanley Engerman, “Was the Slave Trade Dominated by Men?” Journal of Inter-
disciplinary History 23 (1992): 237-57; e Eltis e Engerman, “Fluctuations in Sex and
Age Ratios in the Transatlantic Slave Trade, 1663-1864”, Economic History Review 46
(1993): 308-323.
15
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
ricas eram crianças menores de quatorze anos. A Tabela 6 mostra que a im-
portância demográfica das crianças cresceu no período final do comércio
transatlântico de escravos. No final do século XVII, a proporção de crian-
ças era de 11 por cento do total de desembarques, aumentou para 17 por
cento no século XVIII e depois de 1807 chegou a 42, 6 por cento do total.
Tabela 6
Crianças africanas escravizadas no comércio atlântico, 1660-1866
Africanos Africanos Crianças
Anos Crianças (%)
embarcados desembarcados desembarcadas
1660-1699 557.011 449.987 49.999 11,0
1700-1749 2.179.440 1.839.655 312.741 17,0
1750-1807 4.214.213 3.684.180 851.456 23,1
1808-1866 2.812.101 2.500.777 1.065.331 42,6
TOTAL 9.762.765 8.474.599 2.169.497 25,6
Tabela 7
Média ponderada por região das crianças embarcadas, 1663-1867
África
Costa do Golfo do Golfo de África / Todas as
Alta Guiné Centro-
Ouro Benim Biafra Sudeste regiões
Ocidental
1663-1700 0.054 0.109 0.128 0.110 0.217 – 0.122
1701-1809 0.252 0.116 0.169 0.210 0.281 – 0.227
1810-1867 0.404 – 0.327 0.359 0.530 0.501 0.461
16
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
Tabela 8
Porcentagem de crianças africanas escravizadas no comércio
atlântico, 1652-1863
Não Identificada
África / Sudeste
Baía do Benim
África Centro-
Costa do Ouro
Baía de Biafra
Senegâmbia
Barlavento
Serra Leoa
Ocidental
Costa do
17
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
22
José C. Curto, “The Story of Nbena, 1817-1820: Unlawful Enslavement and the Con-
cept of ‘Original Freedom’ in Angola”, in Paul E. Lovejoy e David V. Trotman, eds.,
Trans-Atlantic Dimensions of Ethnicity in the African Diaspora (London: Continuum,
2003), 44-64; Roquinaldo Ferreira, “Slaving and Resistance to Slaving in West Cen-
tral Africa”, in The Cambridge World History of Slavery, vol. 3 (Cambridge University
Press, 2011); Mariana P. Candido, “African Freedom Suits and Portuguese Vassal Sta-
tus: Legal Mechanisms for Fighting Enslavement in Benguela, Angola, 1800–1830”,
Slavery & Abolition 32, 3 (2011): 447-459; e Mariana P. Candido, “O limite tênue entre a
liberdade e escravidão em Benguela durante a era do comércio transatlântico”, Afro Ásia
47 (2013): 239-268.
18
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
23
Jan Vansina, “Ambaca Society and the Slave Trade c. 1760-1845”, The Journal of
African History 46, 1 (2005): 1-27; e Curto, “Experiences of Enslavement in West-
Central Africa.”
24
Miller, Way of Death, 160. Para a sua análise, Miller utilizou-se do “Mappa de todos
os moradores, e habitantes deste reino de Angola, e suas conquistas, tirado no fim do
anno de 1778”, publicado na revista Arquivo das Colónias 3 (1918): 175-178. Ver
também John K. Thornton, “The Slave Trade in Eighteenth-Century Angola: Effects on
Demographic Structures”, Canadian Journal of African Studies 14, 3 (1980): 417-427.
25
Miller, Way of Death, 163.
26
Candido, Fronteras de esclavización.
19
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
27
Para o comércio de crianças escravizadas na África Ocidental, ver William Allen e T. R. H.
Thomson, A Narrative of the Expedition Sent by Her Majesty’s Government to the River
Niger in 1841 (Londres: Richard Bentley, 1848), vol. I, 402-407; e William Cole, Life in the
Niger, or The Journal of an African Trader (Londres: Sauders, Otley and Co., 1862), 31-34.
20
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
Benue, teria comprado ali “seis mulheres jovens, estando três delas com
crianças de peito” e tinha a intenção de levá-las mais ainda para o interior
e trocá-las por marfim, ao invés de vendê-las nos mercados da costa.28 Em
muitos casos, as razões por trás da escravização não estavam relacionadas
às demandas externas do mercado atlântico, mas sim por dinâmicas locais
como, por exemplo, o sequestro e a exigência de pagamento de resgate.
Esse foi o caso de um menino capturado em 1841 por assaltantes Felatah
(fulas) em um local próximo à confluência do Níger e do Benue. A criança
acabou sendo vendida aos traficantes de escravos porque os sequestrado-
res consideraram que o resgate oferecido pelos pais “não era suficiente.”29
Também em 1841, James Macaulay, escravo liberto que retornou à terra
natal, conseguiu localizar sua irmã e descobriu que dois filhos dela tinham
sido capturados pelos Fulatahs e levados para o Califado de Sokoto, estan-
do a mãe ainda tentando negociar o resgate.30 Em 1863, a escrava fugitiva
Elizabeth Alady relatou a missionários ingleses que ela e seu filho de três
anos de idade, nascido em cativeiro, seriam vendidos juntos para pagar
uma dívida de seu proprietário, o que a teria levado a empreender a fuga.31
Os dados disponíveis indicam que tanto na África Ocidental como na
África Centro-Ocidental um número elevado de meninos e meninas fo-
ram vendidos como escravos. Muitas dessas crianças foram vendidas nos
mercados domésticos e retidos para atender as necessidades e interesses
de grupos locais e por isso não chegaram a entrar no circuito do comércio
atlântico de escravos. Ainda assim, a África Centro-Ocidental passou a
exportar cada vez mais crianças escravizadas e, em sua maioria, do sexo
masculino. Um padrão similar caracterizou a migração forçada a partir do
sudeste da África, principalmente de Moçambique. A exportação de es-
cravos dessa região tornou-se significativa apenas a partir do último quar-
tel do século XVIII e o número de crianças, principalmente meninos, foi
considerável, especialmente durante o século XIX. De fato, a proporção
28
MacGreggor Laird e R.A.K. Oldfield, Narratives of an Expedition into the Interior of
Africa by the River Niger…1832, 1833, and 1834 (2 vols., Londres: Richard Bentley,
1837), II, 312.
29
Allen e Thomson, Expedition to the River Niger, vol. 1, 92.
30
James Frederick Schön e Samuel Crowther, Journals of the Rev. James Frederick Schön
and Samuel Crowther (Londres: Hatchard and son, 1842), 204.
31
Arquivo da Church Mission Society (CMS), Birmingham, Grã Bretanha, “Diário de
James Thomas”, 6 de abril de 1864.
21
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
22
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
Tabela 9
Total de africanos embarcados na África e desembarcados no Brasil,
1501-1866
Brasil
Embarques Desembarques
Senegambia 125.508 109.108
Serra Leoa 10.036 8.835
Costa do Barlavento 6.884 6.161
Costa do Ouro 71.353 64.478
Baía do Benim 974.932 877.034
Baía de Biafra 141.823 122.617
África Centro-Ocidental 3.864.687 3.396.909
Moçambique / Sudeste 336.896 279.232
Total 5.532.118 4.864.374
23
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
***
32
Joseph C. Miller, “A Marginal Institution on the Margin of the Atlantic System: The
Portuguese Slave Trade in the 18th Century”, in Barbara Solow, ed., Slavery in the Rise
of the Atlantic System (Cambridge: Cambridge University Press, 1991).
24
Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlântico de escravos
33
Segundo a base de dados Voyages, o número total de africanos desembarcados na América
do Norte foi de 388,747 indivíduos. Ver <http://www.slavevoyages.org/tast/assessment/
estimates.faces>. Último acesso: 22/05/2015; e David Eltis e David Richardson, Atlas
of the Transatlantic Slave Trade (New Haven: Yale University Press, 2010), 257.
34
Para a discussão sobre a relação entre “nação” e origem africana, ver Mariza de Carvalho
Soares, “A ‘nação’ que se tem e a ‘terra’ de onde se vem: Categorias de inserção social
de africanos no Império Português, século XVIII”, Estudos Afro-Asiáticos 26, 2 (2004):
303-330; e João José Reis, “Identidade e diversidades étnicas nas irmandades negras no
tempo da escravidão”, Tempo 2, 3 (1996): 7-33.
35
Nos últimos anos cresceu o número de historiadores brasileiros especializados no
passado africano durante o período do comércio transatlântico. Ver, entre outros, Selma
Pantoja, Nzinga Mbandi: Mulher, guerra e escravidão (Brasília: Thesaurus Editora,
2000); João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus Joaquim Carvalho, O
alufá Rufino: Tráfico, escravidão e liberdades no Atlântico Negro, c. 1822-1853 (São
25
Carlos Liberato, Mariana P. Candido, Paul E. Lovejoy e Renée Soulodre-La France
Paulo: Companhia das Letras, 2010); Marina de Mello e Souza, Reis negros no Brasil
escravista (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002); Mariza Carvalho Soares, Rotas
atlânticas da diáspora africana: Da Baía do Benim ao Rio de Janeiro (Niterói: EdUFF,
2007); Roquinaldo Ferreira, “Biografia, mobilidade e cultura no Atlântico: Angola, sécs.
XVIII-XIX,” Revista Tempo 10, 20 (2006): 33-59; Roquinaldo Ferreira, Cross-Cultural
Exchange in the Atlantic World: Angola and Brazil during the Era of the Slave Trade
(Nova Iorque: Cambridge University Press, 2012); Maria Cristina Cortez Wissenbach,
“As feitorias de urzela e o tráfico de escravos: Georg Tams, José Ribeiro dos Santos e os
negócios da África Centro-Ocidental na década de 1840”, Afro-Ásia 43 (2011): 43-90;
Mariana P. Candido, “Os agentes não europeus na comunidade mercantil de Benguela,
c. 1760-1820”, Saeculum: Revista de História 29 (2013): 97-123; Mariana Candido,
An African Slaving Port and the Atlantic World: Benguela and Its Hinterland (Nova
Iorque: Cambridge University Press, 2013); e Daniel B. Domingues da Silva, “O tráfico
de São Tomé e Príncipe, 1799 a 1811: Para o estudo das rotas negreiras subsidiárias ao
comércio transatlântico de escravos”, Estudos de História 9, 2 (2002): 35-51. Além das
diversas contribuições nas coleções: Selma Pantoja e José Flávio Saraiva, orgs., Angola
e Brasil nas rotas do Atlântico Sul (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, s/d.); Vanicléia
Silva Santos e Eduardo França e Paiva, orgs, África e Brasil no mundo moderno (Belo
Horizonte: Annablume, 2012); Roberto Guedes, org., África – Brasileiros e portugueses
(Rio de Janeiro: MAUD, 2013); e Alexandre Vieira Ribeiro e Alexander Lemos de
Almeida Gebara, orgs., Estudos africanos: Múltiplas abordagens (Niterói: UFF, 2013).
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