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Quem quer que visite uma igreja de tradição reformada, mais cedo ou mais tarde verá que em tais

igrejas as crianças são comumente batizadas pouco depois do seu nascimento.

Naturalmente, muitos sabem que as principais igrejas chamadas liberais batizam crianças, e muitos
estão cientes de que há igrejas não protestantes que também batizam crianças.

Alguns se dão conta de que as denominações luteranas e episcopais batizam os pequeninos e


supõem que elas fazem isso porque não se livraram completamente das garras do tradicionalismo
católico romano,

mas o fato é que há igrejas evangélicas sinceras que creem na Bíblia e que afirmam a inerrância da
Palavra de Deus e que também batizam crianças.

As crianças são muito novas para fazerem alguma profissão de fé externa; contudo, os ministros
presbiterianos ou reformados as batizam em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Não as batizam meramente por estarem sentimentalmente ligados a elas, nem porque é isso que se
faz tradicionalmente na história da igreja.

É evidente que os pastores reformados ou presbiterianos estão sentimentalmente ligados às crianças


dos seus rebanhos, como todos nós, e pouco se pode duvidar de que em todo o curso da historia da
igreja até à era apostólica a igreja sempre batizou os filhos pequenos de cristãos.

Não obstante, poderosas como são essas razões, elas não constituem a razão pela qual praticamos o
pedobatismo (“batismo infantil”).

Praticamos o pedobatismo porque estamos convencidos, sem sombra de dúvida, de que a Bíblia nos
ensina a fazê-lo.

O pedobatismo não é proibido

Obviamente, se houvesse alguma declaração explícita na Escritura dizendo que só os que professam
a fé devem ser batizados, o pedobatismo seria um erro, mas não existe tal texto.

Os cristãos reformados ou presbiterianos também creem que nenhum descrente, homem ou mulher,
deve ser batizado enquanto não se arrepender e não professar sua fé em Cristo.

Por conseguinte, nós nos sentimos bem à vontade com as declarações que exigem que o
arrependimento e a fé acompanhem o batismo (Mc 16.16; At 2.38).

Devemos fazer essas mesmas declarações nas mesmas situações.

Também cremos que todos os não cristãos precisam arrepender-se e crer no Evangelho, antes de
serem batizados em Cristo e em sua igreja.

Mas os filhos de crentes estão incluídos nessas declarações?

As crianças pequenas também precisam arrepender-se e articular verbalmente sua fé a fim de


receberem o batismo?

Teríamos que responder “sim” a essa pergunta, se aceitássemos os versículos que exigem
arrependimento como textos-provas contra o pedobatismo.
Considere isto.

Quando Paulo escreveu: “Se alguém não que trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10b), tomamos
como coisa certa e líquida que ele não se referiu a crianças.

Não esperamos que as crianças pequenas trabalhem para poderem comer algo.

Interpretamos o versículo de acordo com o que achamos ser o seu objetivo.

Simplesmente assim como pensamos que Paulo estava se referindo somente a adultos
suficientemente crescidos quando escreveu aos tessalonicenses sobre a exigência de que os cristãos
trabalhem, assim os presbiterianos creem que as passagens que exigem expressa profissão de fé e
arrependimento referem-se a pessoas relativamente maduras que se converteram à fé.

Podemos estar errados, mas ninguém deve simplesmente citar passagens sobre adultos convertidos
e imaginar que com isso põe fim à discussão.

É só porque alguém já supõe que as crianças não devem ser batizadas que esse alguém entende que
tais passagens excluem as crianças do batismo.

Ainda é preciso responder a esta pergunta:

A Escritura justifica essa suposição?

O pedobatismo é ordenado Realmente existem no Novo Testamento textos-provas em favor do


pedobatismo.

O problema é que os credobatistas não aceitam a interpretação que os pedobatistas dão a esses
textos.

Se quisermos ser convincentes, teremos que trabalhar mais escavando através das páginas de toda a
Escritura para demonstrar como esses textos devem ser interpretados.

Por isso vamos tratar dessas passagens mais adiante neste livro, depois que tivermos feito
alguma pesquisa mais profunda na Bíblia.

􀶋􀶚􀶍􀶌􀶗􀶊􀶉􀶜􀶑􀶛􀶕􀶗 􀶖􀶭􀶗 􀶲 􀶗􀶚􀶌􀶍􀶖􀶉􀶌􀶗


Além disso, não existe no Novo Testamento nenhum texto prova que dê apoio à prática de retardar
o batismo até que o filho de crentes chegue a um certo nível de maturidade e de entendimento, ou
que possa fazer profissão de fé.

Em parte alguma do Novo Testamento lemos sobre algum caso no qual o filho pequeno de crentes
foi batizado depois que alcançou certa idade.

Tampouco vemos alguma instrução em nenhuma das epístolas sobre que idade o filho de crentes
precisa ter, ou sobre que tipo de critério deve ser seguido para que ele seja batizado.

No Novo Testamento não há nenhum sinal ou insinuação de que se deva esperar que as crianças
passem por algum rito numa idade particular.
Todos os “batismos de crentes” mencionados no Novo Testamento envolvem adultos convertidos do
judaísmo ou do paganismo.

Toda a ideia cultural corrente de que as crianças devem chegar a uma “idade de consciente
responsabilidade”, “pedir Jesus no coração”, para depois poderem ser batizadas é simplesmente
alheia ao registro neotestamentário.

O Novo Testamento não contém nem exemplos nem instruções concernentes a filhos de cristãos
sendo ou devendo ser tratados dessa maneira.

A Palavra de Deus abrange mais do que o Novo Testamento

Finalmente, se não existissem textos-provas em favor do pedobatismo no Novo Testamento, isso


não significaria que não existe nenhum texto-prova dessa natureza na Escritura.

Afinal de contas, o Novo Testamento perfaz somente um quarto do conteúdo total da Bíblia. Muitas
coisas mudaram com a obra de Cristo, mas nem tudo.

Dizendo isso de outro modo, muitas coisas mudaram na igreja.

A nossa crença no pedobatismo tem forte relação com a nossa fé em que a igreja de Jesus Cristo
começou em Gênesis, com a separação que Deus fez de um povo, distinguindo-o das outras nações.

Esta mesma igreja continuou através de vários e diferentes estágios da história como um só povo
contínuo de Deus, e ainda continua atualmente.

A obra de Cristo foi a mudança mais radical operada na igreja, mas esta continua sendo a mesma
igreja.

Pertencemos à mesma instituição fundamental a que pertenceram Sete, Noé, Abraão, Moisés, Davi
e Ezequiel.

Qualquer discussão sobre o batismo que ignore esta imensa herança e sua expressão autoritativa na
Palavra de Deus está fadada a ser condenada como uma distorção.

É esta herança que agora passamos a considerar.

3. Etendendo a Aliaça􀶖􀶜
􀶍􀶖􀶌􀶍􀶖􀶌􀶗 􀶉 􀶖􀶰􀶉
Adão e Eva foram criados muito bons (cf. Gn 1.31). Além disso, foi-lhes dito que tivessem muitos
filhos e assumissem o domínio sobre o mundo inteiro (Gn 1.28). Também lhes foi dado um
jardim especial para nele viverem, havendo nele uma árvore muito especial, a árvore da vida, da
qual poderiam comer (Gn 1.9, 16).

Temos aí uma questão que requer ponderação. Se não houvesse ocorrido a Queda, os filhos de Adão
e de Eva precisariam converter-se a Deus nalgum ponto de suas vidas? A resposta é óbvia: Claro
que não! Os filhos de Adão e de Eva teriam participado das bênçãos de Deus dadas a eles.
Particularmente, eles teriam nascido no mesmo jardim e teriam o mesmo acesso à árvore da
vida que fora concedido aos pais. O objetivo geral da narrativa da criação é mostrar que Deus fez
todas as coisas boas — a humanidade inclusive. Os filhos que deles nascessem não teriam
compreendido Deus com a mesma maturidade de seus pais, mas estariam na mesma relação
amorosa com Deus que a que havia entre seus pais e Deus. Lembre-se o dileto leitor de que na
Bíblia não há neutralidade. Ou você ama Deus ou odeia Deus. A ideia de filhos “neutros” ou
“amorais”, que não atingiram a “idade de responsabilidade” é simplesmente alheia ao ensino da
Escritura.

Ser “bom” é ser reto para com Deus. Os filhos teriam sido concebidos e teriam nascido em paz com
Deus.

Naturalmente é verdade que, através de toda a sua vida eles sempre teriam necessidade de aprender
mais sobre Deus e de conhecê-lo melhor. Também é verdade que, nos primeiros anos de existência
dos filhos, seus pais teriam a responsabilidade de ensinálos acerca do seu Senhor. Mas o ponto em
foco é que, se as coisas tivessem continuado no jardim como tinham sido criadas, e se Adão e Eva
não tivessem caído em pecado, não haveria nenhuma “conversão” separada exigida dos filhos para
que pertencessem ao Senhor. Os filhos pertenceriam ao Senhor da concepção em diante.

Exatamente como Adão foi criado numa reta relação com Deus e era considerado justo antes de ter
realizado nenhuma obra, assim também os filhos do primeiro casal teriam sido concebidos em reta
posição diante de Deus. Eles teriam sido justos aos olhos de Deus desde o primeiro momento em
que passaram a existir.

O pecado e as crianças

Tragicamente, porém, Adão e Eva nunca se preocuparam em participar da árvore da vida,


maravilhoso dom de Deus, porque cobiçaram o fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e
do mal. Pecaram contra Deus e caíram sob sua ira e sua maldição (Gn 3). Foram expulsos do jardim
para que nem eles nem seus filhos tivessem acesso à árvore da vida. Eles não caíram sozinhos.
Assim como seus filhos teriam gozado os benefícios e as bênçãos da sua obediência e perseverança
sob o favor divino, assim também seus filhos sofreram a corrupção e a culpa do seu pecado. Os
filhos de Adão nasceram à sua imagem como pecadores (Gn 5.3). Pelo pecado de Adão, a morte e o
pecado se propagaram a todas as pessoas, porque em Adão todos pecaram (Rm 5.12-14).

Todas as crianças são concebidas como pecadoras e como pecadoras nascem. Não são concebidas
inocentes nem nascem inocentes, caso em que viriam a pecar posteriormente. “Sei que sou pecador
desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Repito: isso de “idade de
responsabilidade” ou de “idade de inocência” não existe. É certo que a Bíblia fala de pessoas jovens
demais para saberem distinguir entre o bem e o mal (Dt 1.39), mas essas “crianças” incluem jovens
de dezenove anos de idade (Nm 14.29). O conhecimento mencionado nessas passagens não se
refere à capacidade para pecar, mas sim à capacidade de formular certos juízos que exigem
maturidade e impõem maior grau de responsabilidade. Do que acaba de ser dito podemos provar
que os pecados das crianças não chegam a ser tão graves como os das pessoas mais velhas, mas isso
não prova que ainda não são tão graves que elas não mereçam uma eternidade separada de um
Deus santo. O fato misterioso, mas evidente, é que as crianças pequenas pecam. Por isso vivem num
mundo em que crianças morrem; uma maldição pelo pecado que não aconteceria, se as
crianças não fossem culpadas diante de Deus.

A Aliança da Graça

Louvado seja Deus! Ele não deixou a humanidade imersa na culpa e no pecado, sob a maldição da
morte, mas providenciou uma redenção. Ele não destruiu Adão e Eva, apesar de eles terem
merecido morrer. Além disso, ele próprio cobriu a nudez deles, que passou a ser vergonhosa. Mal
sabemos dos detalhes da relação que havia entre Deus e seu povo naqueles tempos primitivos —
exceto o fato da maior importância de que ele de fato mantinha relação com um povo que era real e
peculiarmente seu. Sabemos disso porque lemos que Abel ofereceu um sacrifício aceitável ao
Senhor, que depois Caim o matou, e que Sete liderou o povo que começou “a invocar o nome do
S􀶍􀶖􀶐􀶗􀶚” (Gn 4.26).

Conforme a história vai se desdobrando para nós na Escritura, essa relação vai sendo revelada cada
vez mais claramente. Deus denomina essa relação aliança, o pacto que fez com Noé como um
segundo “Adão” numa nova criação (Gn 8.20–9.11). Depois os descendentes de Noé foram
divididos em nações (Gn 11.1-9), e Deus chamou Abraão e fez uma aliança com ele para que por
ele fosse dada salvação a essas nações (Gn 12.1-3, 15, 17). A aliança com Abraão eventualmente se
transfigurou na aliança com Israel, outorgada por meio de Moisés no Monte Sinai. Esta aliança
desenvolveu-se mais amplamente através do período da monarquiae, depois, durante e após o exílio
na Babilônia.

Finalmente, Cristo transfigurou todas as alianças precedentes, estabelecendo a nova aliança em seu
sangue (Mt 26.28; Lc 22.20; Hb 9.11-18).

Esta aliança, em particular, nada menos é que salvação.

É a “aliança eterna” de Deus, “para ser o seu Deus” (Gn 17.7), “para perdão de pecados” (Mt
26.28), e para purificar “a nossa consciência de atos que levam à morte, para que sirvamos ao Deus
vivo!” (Hb 9.14).

4.QUEM SÃO OS MEMBROS DA ALIANÇA􀶰􀶉?

Para qualquer pai amoroso, há uma importante questão que requer o nosso exame: que dizer a
respeito dos nossos filhos?

Como acabamos de ver, sem a graça de Deus, os nossos filhos são concebidos e nascem como
pecadores destinados ao inferno.

Deus nos dá alguma esperança quanto a eles?

Sim! Deus prometeu a Abraão “ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes” (Gn 17.7).

O salmista reitera essa promessa fundamental, cantando: “Mas o amor leal do S􀶍􀶖􀶐􀶗􀶚, o seu
amor eterno, está com os que o temem, e sua justiça com os filhos dos
seus filhos” (Sl 103.17).

E uma declaração semelhante vemos em Isaías 59.21, onde lemos: “‘Quanto a mim, esta é a minha
aliança com eles’, diz o SeNHOR􀶍􀶖􀶐􀶗􀶚.

]‘O meu Espírito que está em você e as minhas palavras que pus em sua boca não se afastarão dela,
nem da boca dos seus filhos e dos descendentes deles, desde agora e para sempre’, diz o SeNHOR
”.

Deus não diz, por meio de Isaías, que o seu Espírito e a sua Palavra serão postas nas bocas dos netos
dos cristãos, mas diz, sim, que elas “não se afastarão” deles.
Obviamente, essa passagem não desconsidera o fato de que todas as crianças são pecadoras, mas
parece prometer mais do que a pura e simples esperança de uma futura experiência de conversão.

Quando Moisés, pouco antes de morrer, renovou a aliança com Israel, declarou enfaticamente: “Não
faço esta aliança, sob juramento, somente com vocês que estão aqui conosco na presença do
SENHOR, o nosso Deus, mas também com aqueles que não estão aqui hoje” (Dt 29.14,15).

E quem eram essas outras pessoas que estavam envolvidas na aliança, além das que estavam
presentes junto com Moisés?

O próprio Moisés nos informa que “as coisas encobertas pertencem ao S􀶍􀶖􀶐􀶗􀶚, o nosso Deus,
mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as
palavras desta lei” (Dt. 29.29).

Essa aliança não diz respeito apenas a práticas “externas”, porquanto Moisés promete que “o
S􀶍􀶖􀶐􀶗􀶚, o seu Deus, dará um coração fiel a vocês e aos seus descendentes, para que o amem de
todo o coração e de toda a alma e vivam” (Dt 30.6).

No fundo, o que se diz aqui é que a Bíblia promete aos crentes, quanto aos seus filhos, que Deus
será seu Deus, que lhe dará sua justiça, que o seu Espírito não se apartará deles, e que eles estão
incluídos em sua aliança.

Que mais se poderia pedir?

É claramente prometida aos nossos filhos a salvação eterna.

Eles são declarados cristãos, nada menos que isso.

A expectante visão de que os filhos dos crentes também são crentes — mesmo quando ainda no
ventre — encontrou caminho para os inspirados hinos do culto em Israel: “Dos lábios das crianças
e dos recém-nascidos firmaste o teu nome como fortaleza” (Sl 8.2).

E mais: “Pois tu és a minha esperança, ó Soberano S􀶍􀶖􀶐􀶗􀶚, em ti está a minha confiança desde a
minha juventude. Desde o ventre materno dependo de ti; tu me sustentaste desde as entranhas de
minha mãe. Eu sempre te louvarei! … Desde a minha juventude, ó Deus, tens me ensinado” (Sl
71.5,6, 17).

“Contudo, tu mesmo me tiraste do ventre; deste-me segurança junto ao seio de minha mãe.
Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o meu Deus” (Sl 22.9,10).

Atualmente existem muitos hinos contemporâneos que falam sobre a conversão de adultos
procedentes da incredulidade; entretanto, não há um só Salmo na Bíblia que fale sobre esse assunto.

Por outro lado, alguma vez você cantou um hino que o chamou para colocar-se no lugar de alguém
que foi regenerado desde o ventre materno?

O fato de que tal lírica fazia parte do culto público comunitário de Israel indica fortemente que o
povo de Deus considerava a salvação dos seus filhos desde o ventre como um acontecimento
perfeitamente normal e esperado.
A verdade é clara: Deus quer que os cristãos considerem cristãos os seus filhos pequenos.

Não significa que eles vão automaticamente para o céu quer continuem quer não continuem a crer
no Evangelho.

Precisamente como se dá com os cristãos mais velhos, é preciso que as crianças continuem na fé,
mas a tese que aqui defendemos é que as crianças não são pequenos descrentes que precisam
converter-se.

Elas não são inimigas de Cristo.

São crentes que precisam passar pelo discipulado cristão e que precisam ser incentivados a
crescerem na graça e na maturidade através de toda a sua vida.

Podemos ensiná-las a cantar “Jesus me Ama” e a falarem com Deus tratando-o como “Pai”, quando
fizerem a oração do Senhor, porque nós possuímos a promessa de Deus de que eles são nossos
irmãos e irmãs em Cristo.

O batismo de crianças

Com as promessas da aliança vieram os meios cerimoniais pelos quais as crianças eram colocadas
sob os cuidados de Deus.

Deus ordenou a Abraão que todo menino fosse circuncidado e assim passasse a ser membro do seu
povo escolhido (Gn 17.9-14)

Além disso, sob a aliança mosaica, não somente eram circuncidados os meninos, mas também todas
as crianças eram purificadas toda vez que se tornavam cerimonialmente impuras.

Sabemos disso porque as crianças tinham permissão para comer das refeições do santuário.

A certa altura dos acontecimentos no Egito, o faraó teria permitido que os israelitas saíssem para
prestar culto a Deus, se as deixassem no Egito, mas Moisés tinha uma ideia diferente: “Temos que
levar todos: os jovens e os velhos, os nossos filhos e as nossas filhas, as nossas ovelhas e os nossos
bois, porque vamos celebrar uma festa ao S􀨤􀨭􀨧􀨮􀨱” (Êx 10.9).

Os rebanhos de gado vacum e ovino eram necessários para o sacrifício (Êx 10.25), mas,
obviamente, as crianças eram simplesmente consideradas como adoradoras junto com os adultos. As
crianças participavam da Páscoa, da Festa das Semanas [ou das Colheitas] e da Festa dos
Tabernáculos (Êx 12.3; Dt 16.11, 14; 1Sm 1.4).

Elas também comiam das ofertas de paz feitas pelas famílias (Dt 12.6-7, 11-12, 17-18).

Os filhos e as filhas dos sacerdotes também podiam comer das porções que lhes eram dadas do altar
(Lv 10.14).

Para todas essas refeições especiais exigia-se que o participante estivesse cerimonialmente puro.
Por exemplo: Se uma mãe, durante o período de sua menstruação, tocasse num dos seus filhos, era
preciso lavar suas roupas, dar-lhe banho, e a criança permaneceria impura até a tarde (Lv 15.19-22).

Para empregar a linguagem do autor de Hebreus, na aliança mosaica as crianças eram lavadas, ou
banhadas (Hb 9.10, apud Versão Autorizada inglesa).
A promessa cumprida

Quando Cristo veio e estabeleceu a nova aliança, ele não anulou sua promessa de que seria o Deus
de nossos filhos.

Ao contrário, está escrito: “O povo também estava trazendo crianças para que Jesus tocasse nelas.
Ao verem isso, os discípulos repreendiam aqueles que as tinham trazido. Mas Jesus chamou a si
as crianças e disse: ‘Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus
pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus
como uma criança, nunca entrará nele’” (Lc 18.15-17).

Antes de mais nada, note: É a crianças que Jesus se refere.

Segundo: seus pais tiveram que trazê-las a Jesus.

Terceiro: Muito embora o batismo infantil não tenha sido instituído, Jesus faz uso da ocasião para
ensinar como as pessoas devem entrar no Reino.

Assim como as crianças do sexo masculino eram admitidas na aliança por sua circuncisão, assim
também agora elas entram na igreja por meio do batismo (1Co 12.13).

O apóstolo Pedro deixa claro que a aliança de Deus continua envolvendo a promessa a nossos
filhos: “Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para
todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (At 2.39).

Nós, que agora professamos Cristo, estamos entre os que estão “longe”, e que o Senhor chamou
para si. Justamente como aqueles a quem Pedro pregou inicialmente, a promessa não é só para nós,
mas também para os nossos filhos.

O apóstolo Paulo também declara que as crianças estão incluídas na aliança.

Ele afirma que, mesmo que um dos pais seja incrédulo, seus filhos, não obstante, são “santos” (1Co
7.14).

Se as crianças não têm direto de receber o batismo e por isso não podem ser admitidas na igreja, que
sentido tem a declaração de que os filhos são “santos”? Na verdade Paulo diz aos coríntios que
Israel foi batizado quando cruzou o Mar Vermelho — um batismo que incluiu as crianças bem como
todos os demais israelitas (1Co 10.1,2).

Como no caso de Pedro, o Evangelho de Paulo incluía os filhos dos crentes: “Cria no Senhor Jesus,
e serão salvos, você e os de sua casa” (At 16.31).

5. A􀶛 􀶋􀶚􀶑􀶉􀶖􀶰􀶉􀶛 􀶍 􀶉 “􀶋􀶗􀶖􀶞􀶍􀶚􀶛􀶭􀶗”

Há uma ideia generalizada entre os cristãos de que os seus filhos precisam “converter-se” antes de
serem batizados — que precisam experimentar um tempo de consciência de si no qual “se tornam”
cristãos.

Em consequência, as crianças não são batizadas tão logo podem falar e confessar “Jesus é Senhor”,
embora muitas vezes seja feita a alegação de que bastaria a criança “professar fé” a fim de ser
batizada.
Em vez disso, muitas vezes as crianças são forçadas a esperar de sete a quinze anos para então
serem batizadas, porque se presume que nesse período “se converteram” verdadeiramente.

Além de todas as promessas e declarações da Escritura que mencionamos acima, precisamos


perguntar a nós mesmos se realmente sabemos o que estamos dizendo quando exigimos uma
experiência de conversão das nossas crianças.

Do que é que as nossas crianças precisam converter-se?

Elas precisam arrepender-se de recusar crer no Evangelho?

Nunca ouvi uma criança de dois ou três anos de idade dizer a seus pais que eles estão errados
quando dizem que Deus existe, ou que Jesus morreu por seus pecados, ou que o Espírito Santo
habita em seus corações. Dizer às crianças que elas precisam “crer” é fazer um estranho uso da
palavra. Pela graça de Deus, os filhos pequenos de pais crentes nunca conheceram um tempo em
que eles não criam no Evangelho!

Não é preciso encorajá-los a perseverar em sua fé e a crescer para a maturidade, até que venham a
ser homens e mulheres piedosos; os pequeninos não têm necessidade de que a sua fé seja solapada
por um pai que afirma que eles são de fato incrédulos e que ainda precisam demonstrar a fé
verdadeira!

Elas precisam arrepender-se de negar o evangelho vivendo em pecado não confessado e


não solucionado?

Claro está que as crianças são pecadoras, e é preciso instruílas no sentido de que continuamente se
arrependam e orem por perdão quando cometem pecados, mas, como pode alguém acusar as
crianças pequenas de que vivem em pecado não solucionado pelo arrependimento e fé?

Se você acusasse um adulto de tal coisa, teria que apresentar provas, ou então se faria culpado de
calúnia grosseira.

Que foi que as nossas crianças fizeram para que possamos incluí-las na categoria de “hipócrita”,
sem termos absolutamente prova alguma?

Por que deverão ser consideradas culpadas, até que provem sua inocência?

Elas precisam arrepender-se de tentar salvar-se por suas boas obras?

De um lado, se ensinarmos às nossas crianças pequenas que elas são pecadoras e que, de qualquer
forma, Deus as ama e enviou seu Filho Jesus para morrer em lugar delas, por que alguma criança
pensaria que pode chegar ao céu por serem suficientemente boas?

De outro lado, se ensinarmos às nossas crianças que, embora creiam e confiem em Jesus, ainda
precisam fazer mais alguma coisa para irem para o céu, não lhes estaremos de fato ensinando que a
fé não é suficiente, mas precisa ser suplementada por alguma espécie de obra adicional?

Elas precisam chegar à “idade da responsabilidade”, ou da “prestação de contas”?


O que parece que os pais esquecem é que, se dissermos que as nossas crianças ainda não são
convertidas, significa que estaremos afirmando que elas são criaturas que odeiam a Deus e que
estão caminhando para o inferno.

Não há outra opção.

Algumas pessoas têm tentado inventar uma terceira possibilidade, alegando que as crianças não são
pecadoras aos olhos de Deus, enquanto não chegarem a uma desconhecida “idade da
responsabilidade”.

Isso os move a considerar as suas crianças fora de perigo até à época em que elas fizerem sua
pública profissão de fé.

Essa ideia prova simplesmente que a necessidade é a mãe da invenção. Acredita-se na “idade da
responsabilidade” simplesmente porque é impensável considerar os filhos pequenos de pais crentes
como inimigos de Cristo e do Evangelho durante os primeiros anos de suas vidas.

Não há prova da existência de tal “idade” na Escritura, antes da qual os pequeninos não são
culpados de pecado.

Ao contrário, não há nenhuma idade, não importa quão nova seja a criança, em que a pessoa não é
eticamente responsável diante de Deus.

A alternativa é: Ou o indivíduo é um pecador condenado ao inferno, ou é salvo pela graça. Ou está


no velho Adão, ou no novo Adão.

Se o Espírito Santo não incorporou as nossas crianças em Jesus Cristo, significa que elas estão sem
Deus e sem esperança no mundo.

Não existem outras opções.

Algum cristão que é pai ou mãe acredita verdadeiramente que os seus filhos ou filhas não
são convertidos?

Não acreditamos que os nossos filhos pequenos estão incorporados em Cristo?

Quando nos nasce uma criança, não nos alegramos? Não a ensinamos a fazer a Oração do Senhor e
a chamar Deus de “Pai”? Não sorrimos quando ela aprende a cantar:

“Sei que Cristo me quer bem”? Se as nossas crianças não são convertidas, significa que tudo isso
está totalmente errado. Com isso só lhes damos uma falsa confiança. É blasfêmia um incrédulo
fazer a Oração do Senhor e chamar Deus de “Pai”. É presunção o hipócrita não regenerado cantar:
“Sei que Cristo me quer bem, pois a Bíblia assim o diz”.

Quando tragédias se abatem sobre cristãos e esta mãe sofre aborto ou aquele garoto morre, achamos
que, agora, a criança está no inferno, ou confiamos na promessa de Deus, de que ele é Deus, não
somente nosso, mas também dos nossos filhos?

No programa de auditório, de rádio, de Hank Hanegraff, “A Bíblia Responde ao Homem”, uma vez
ouvi um visitante, obviamente sob forte tensão emocional, perguntar sobre sua garotinha de dois
anos e meio de idade. Essa pergunta foi feita no aniversário da morte da pequena,
morte causada por acidente de automóvel.
Disse o aflito pai que sua filhinha orava a Jesus e cantava alegremente sobre ele, mas o pai
achava que ela nunca “convidara Jesus de fato para estar em seu coração”. Por isso o homem não
tinha certeza se a sua filhinha estava no céu. Ele tinha necessidade de que o conduzissem na
direção das promessas de Deus a seu povo.

Graças damos a Deus porque ele nos fez firmes promessas pactuais, nas quais podemos confiar!
Não temos por que sofrer o tipo de tormento que outros pais cristãos padecem por não entenderem a
aliança. Não solapemo s estas preciosas promessas com estas ou aquelas ideias falsas e frívolas
sobre conversão, ideias que negam as bênçãos de Cristo aos nossos filhos pequenos.

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