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RESUMO
O empreendedorismo não possui uma única acepção, apesar de sua origem e uso
latente no viés neoliberalista. Ainda, se faz importante analisar suas perspectivas,
desde a tentativa de mascarar a precariedade das condições de trabalho da mão de
obra até a de um genuíno propósito solidário e social, que necessita de criar
aderência no mercado. O termo “empreendedor” denomina aquele que assume
riscos e começa algo novo. Apesar de haver surgido vinculado à processos de
desenvolvimento e atividade econômica, sua noção transbordou a economia
tradicional sendo abordado também na economia informal e nas áreas social,
educacional e política.
ABSTRACT
Entrepreneurship does not have a single meaning, despite its origin and latent use
in the neoliberalist bias. Still, it is important to analyze its perspectives, from the
attempt to mask the precariousness of the work conditions of the labor force to an
genuine solidarity and social purpose, which needs to create market adherence.
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The term "entrepreneur" refers to someone who takes risks and starts something
new. Although it was linked to processes of development and economic activity, its
notion overflowed the traditional economy and was also addressed in the informal
economy and in the social, educational and political areas.
INTRODUÇÃO
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pelo discurso neoliberal como a única possibilidade libertadora, criando um
distorcido contraste com a perspectiva coletiva, que passou a ser vista como
burocrática, autoritária e ultrapassada, influenciando, inclusive, a percepção do
trabalho:
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1 A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO TRADICIONAL DE
EMPREENDEDORISMO
Paralela a antiga visão do homem capitalista, Lima (2010) explica que houve uma
crise da sociedade salarial, definida pela incorporação de direitos sociais ao
contrato de trabalho formal, diante da incapacidade do mercado em coordenar a
sociedade de maneira organizada, por conta do seu comportamento imprevisível e
irracional. O autor relata que esse capitalismo regulado teve seu ápice no período
fordista e foi reestruturado nos anos 70, influenciado pelo fim dos regimes
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socialistas no leste europeu, que estigmatizou as ideologias coletivistas de mudança
social.
Seguindo essa mesma linha de flexibilização, Lima (2010, p. 177) relata que surgem
no mercado de trabalho novas institucionalizações:
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um extremo a outro, uma precariedade constituinte na ausência de
controles intensificação do trabalho e ao acesso a benefícios sociais.
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2 O EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Gaiger (2008) afirma que ser empreendedor significa lidar com esse mercado,
conduzindo e administrando o empreendimento de uma organização econômica,
capacidade que não é inata e se adquire pela prática. Sobre a capacidade
empreendedora, comenta:
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O autor critica a concepção tradicional de empreendedorismo esclarecendo que ela
reveste-se de um caráter extraordinário onde o seu sucesso consequentemente dita
seu fim, minando rapidamente seu poder de impacto. No entanto, ressalta que é
possível uma acepção branda de empreendedorismo para estabelecer o necessário
diálogo da realidade do mundo econômico em geral, com a realidade particular dos
empreendimentos associativos, admitindo que a ação empreendedora é susceptível
a produção/disseminação de conhecimentos e compartilhamento de experiências e
experimentações, em regime de risco partilhado.
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Não remunerar o trabalho de forma insuficiente e insatisfatória; não
contrair dívidas acima da capacidade de adimplência; não consumir os
ativos (capital de giro, por exemplo) e dilapidar o empreendimento; não
retrair as atividades econômicas irreversivelmente; não ampliar situações
de dependência financeira ou institucional. (GAIGER, 2008, p. 67)
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3 O EMPREENDEDORISMO NA EDUCAÇÃO
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em busca do primeiro emprego, mas nessa empreitada percebem que
concorrem com um imenso contingente de desempregados, e quando
encontram uma oferta são frustrados pelo fato de não possuírem os
requisitos exigidos pelo posto de trabalho, principalmente o da
experiência profissional. (COAN, 2012, p. 2)
Tanto Coan (2012) como Cêa e Luz (2006) afirmam que, entre os diversos autores
que tratam da educação para o empreendedorismo, Fernando Dolabela se destaca
em seu intento de promover a “pedagogia empreendedora”, que busca educar as
crianças na educação básica dentro dessa premissa ideológica, sob a proposta de
estimular a inovação, autonomia, sustentabilidade e capacidade de gerar valores
para a comunidade (DOLABELA, 2003 apud COAN, 2012).
Cêa e Luz (2006) ressaltam que, na literatura educacional, essa proposta já é vista
com superioridade em relação a outras proposições pedagógicas:
Cêa e Luz (2006) enfatizam que as relações capitalistas de produção não são
analisadas criticamente ao se propor a pedagogia empreendedora uma vez que a
premissa liberalista sustentada na proposta pondera que impulsos individualistas
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concorrem para o bem comum. Também alertam que o seu discurso sedutor e
otimista mascaram a realidade concreta de como o sonho empreendedor poderia
de fato acontecer, se configurando uma proposta meramente idealista.
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Várias secretarias municipais de educação localizadas em diferentes
estados (Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo) serviram
de espaço para a experiência-piloto da proposta da Pedagogia
Empreendedora. No Paraná, o laboratório da Pedagogia Empreendedora
foi o município de Guarapuava, onde o ex-prefeito Vitor Hugo Burko
(PSDB) decidiu implantar o projeto que atendia a 18,5 mil alunos,
distribuídos em 661 turmas e atendidos por 1 mil professores. Com este
programa o então prefeito conquistou o prêmio Mário Covas, criado para
homenagear prefeitos empreendedores.
O autor (2003 apud CEA; LUZ, 2006) fundamenta a sua proposição pedagógica
com a Teoria Empreendedora dos Sonhos, onde divide o sonho em duas partes: o
sonho estruturante, que conduz o indivíduo a auto-realização independente de sua
condição social; e o sonho periférico, que é aquele que, por ser fantasioso, não
permite o indivíduo de concretiza-lo. A partir desta teoria o autor afirma que a
ideia cria a realidade e o sonho deve ser o elemento organizador da vida material.
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Considerando a concepção teórica da pedagogia empreendedora, ela se mostra uma
iniciativa superficial e confusa para educar crianças e adolescentes. Na educação
básica é mister que as crianças aprendam a pensar e a interpretar o mundo.
Precisam compreender a sociedade e a existência humana em suas diversas
composições. O empreendedorismo pressupõe um modelo econômico de sociedade
que se entende como adequado e único possível. Ensiná-lo neste viés neoliberal,
antes mesmo dos alunos terem a oportunidade de compreender a sociedade e suas
nuances seria uma forma de doutrinação, pois estaria sendo introduzida uma
ideologia em indivíduos sem a condição de critica-la.
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CONCLUSÃO
Contudo, talvez seja estratégico usar uma outra expressão menos estigmatizada
para tratar o empreendedorismo quando está imbuído de uma perspectiva crítica e
genuíno propósito social. Isso talvez agregue e catalise as discussões relevantes
para uma transformação da sociedade de forma harmônica.
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REFERÊNCIAS
FERRETTI, Celso João; JÚNIOR, João dos Reis Silva. O ensino de ofícios
artesanais e manufatureiros no Brasil escravocrata (190p.). O ensino de ofícios nos
primórdios da industrialização (243p.). O ensino profissional na irradiação do
industrialismo (269p.). Cadernos de Pesquisa, n. 115, p. 263-276, março/2002.
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LIMA, Jacob Carlos. Participação, empreendedorismo e autogestão: uma nova
cultura do trabalho? Sociologias, Porto Alegre, ano 12, no 25, set./dez. 2010, p.
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