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Bonsai

 ESCOLHA DO MATERIAL
A escolha do material está diretamente ligada à qualidade do seu futuro bonsai.
Material ruim: bonsai ruim;
Material médio: bonsai médio;
Material bom: bonsai bom;
Material de qualidade: bonsai de qualidade.
Devemos considerar que a qualidade também está diretamente relacionada a forma
de estilização e a destreza do artista.
 O que devemos procurar?
Ao procurar material seja em floricultura, lojas de bonsai, supermercados, na rua ou
natureza quais as prioridades?
 Sempre olhar o primeiro terço da planta, verificar se tem boa espessura, boa
conicidade. O primeiro terço consiste na divisão imaginária da planta em três
partes iguais, onde o primeiro seguimento, a base da planta é o nosso foco.
Imagem 01- Fícus Nerifolia – mostra a conicidade do tronco
Imagem 02 – Taxodium – divisão dos terços
 Verificar o sistema radicular, se as raízes estão enroscadas, se um lado da
planta tem deficiência em raízes.
Imagem 03 – raízes de uma Paineira – sistema radicular ruim

 Considerar a espécie escolhida, se aceita alporque, estaca ou enxerto.


 De nada adianta escolher uma planta reta igual um cano de fuzil, sem
conicidade sem sistema radicular bom, isso só vai atrasar o seu trabalho e a
evolução da planta.
Imagem 04 – Cedro Deodara – planta com tronco reto e sem conicidade
 A planta reta, não é descartável, o problema é a falta de conicidade.
Imagem 05 – Taxodium mesma planta da imagem 02
 As classificações:
Muda: material que não sofreu qualquer intervenção no que toca a arte do bonsai
pode ter qualquer tamanho.
Imagem 06 - mudas compradas em floricultura sendo preparadas.

Pré-bonsai: material que foi plantado, podado e direcionado para ser um futuro
bonsai, carece ainda de refino, está ainda em vaso de treinamento ou plantado no
chão, mas já sofreu intervenções direcionadas a arte.
Imagem 07 – Procumbens – adquirido na Bonsai do Campo em 2015.

Bonsai: material pronto, já envasado, aramado e com estilo definido, sendo


propriamente dito um bonsai, com boa conicidade, raízes bem distribuídas, boa
estrutura de copa, folhas pequenas e uma visão harmônica do conjunto vaso e
planta.
Imagem 08 - Procumbens – 2019. Sendo refinado.

 As formas de iniciar um bonsai ou propagar uma espécie.

1. Semente: método muito utilizado para quem tem tempo e paciência, pois
algumas plantas levam anos para chegar à maturidade como os Juníperos
por exemplo. Pinheiro Negro de qualidade é originado de semente...
A vantagem deste método é oportunidade de treinar sua planta desde jovem,
conduzindo-a ao gosto do artista.

Imagem 09 – sementes de Calliandra emarginata germinado.


2. Muda / Estaca: ótimo método para iniciar o seu projeto, considerando que
uma estaca ou muda retiradas de uma planta madura que já frutifica ou
floresce, também irá florescer ou frutificar tão logo se fortaleça. Devemos
saber se as espécies pretendidas aceitam a técnica.
Imagem 10 – estacas de Fícus Organensis.

3. Alporque: ótimo método para iniciar o seu projeto, considerando que alporquia
de planta madura já frutificando ou florescendo, também irá florescer ou
frutificar tão logo se fortaleça. Devemos saber se as espécies pretendidas
aceitam a técnica. A vantagem: podemos retirar vários exemplares de uma
mesma planta, principalmente aquelas pescoçudas que tem uma boa copa e
queremos aproveitar, ainda retiramos com raízes, proporcionando o
direcionamento das mesmas no replantio.
4. Imagem11 – alporque de Paineira.
5. Retirada da natureza ou zona urbana: método cada vez mais difícil que
demanda certa força e energia, dependendo do exemplar a ser retirado, mas
talvez um dos métodos que proporcione os melhores materiais para bonsai.
Exige a técnica da sangria em alguns casos, que abordaremos mais adiante.
6. Compra em loja: Consiste em deslocar até a loja de bonsai, escolher seu
exemplar e pagar, pode ser o método mais doloroso para o bolso do
Bonsaísta, e muitas vezes não encontramos bons materiais.
7. Compra em floriculturas e gardens: Embora não sejam especializados em
Bonsai, são uma boa fonte de garimpo para o bonsaísta com olhos treinados,
muita plantas da minha coleção foram adquiridas em floriculturas. O segredo:
nunca diga que está procurando planta para bonsai, se cometer esse erro, o
preço muda. Procure sempre levar um hashi ou material que permita cavar no
substrato, dessa forma podemos avaliar o sistema radicular e por sua vez
escolher bons materiais. As floriculturas costumam encher a planta de terra
por cima cobrindo as raízes às vezes por mais de 20 cm.
8. Compra em Supermercado: embora muitos tenham iniciado na arte
comprando uma planta no mercado ao fazer suas compras diárias, muitos
outros desistiram pela mesma razão. Ocorre que a maioria das plantas
encontradas nestes pontos de venda, não são Bonsais estão mortas ou
definhando, muitas vezes sem rega, ou é apenas um toco cravado na terra, e
para o leigo, comprou um bonsai e morreu por que é muito difícil de cuidar.
Então, é uma compra que devemos evitar, mas digo que já comprei plantas
boas em Supermercados, basta ter um pouco de conhecimento e saber
avaliar o que está comprando, mas reforço que está anos luz de ser um
bonsai.
Imagem 12 - Plantas de Supermercado
 Algumas considerações:
Um dos requisitos para ser considerado um bonsai: a planta tem de ter lenho, tronco
lenhoso. Rosas do deserto e outras suculentas não é Bonsai, embora cultivados
como, teoricamente não seriam, mas ficam belíssimos. Se for participar de
exposição, não serão aceitos, mas pra quem curte não dá para negar a beleza.
Imagem 13 - Crássula Portulacaria

Imagem 14 - Rosa do deserto

Harmonia, esse é o objetivo maior, a planta estilizada com harmonia, não será
questionada se está seguindo a regra. Bonsai é arte, deve ser antes de tudo
prazeroso, as pessoas e o próprio artista, devem olhar seu trabalho e sentir paz,
conexão com a natureza. Diferente de planta estilizada para concurso cabe decidir
qual caminho tomar.
Bonsai é uma arte, então não se apegue às regras, devemos conhecê-las para
saber quebra-las em detrimento da harmonia.
O objetivo do bonsai é a miniaturização de árvores, ou seja, chegar ao ponto em que
o observador não possa definir se sua planta é velha ou nova, e colocada em um
plano que não possa ser comparado em escala, não poderá dizer que tamanho a
planta tem.
Os conceitos de beleza de um praticante da arte evoluem na mesma proporção do
seu aprendizado e dedicação, o que era bonito hoje, não será amanhã, o que era
feio ou estranho hoje, será agradável aos olhos mais adiante.
Não tente estilizar uma planta, sendo iniciante ou experiente em momentos que está
irritado, teve um dia péssimo no trabalho e outras situações de estresse, isso
provavelmente vai resultar num trabalho compatível com sua condição emocional,
digo que já matei planta fazendo isso, ou cortei galhos e raízes que não deveria ter
cortado. Então se acalme e volte mais tarde.
 INICIANDO OS TRABALHOS
Após a escolha do material, começamos a caminhada.
 A escolha foi cultivo a partir da semente?
Escolheu o caminho mais longo, mas terá a retribuição...
1. O transplante para um recipiente maior é o mais indicado conforme sua muda
cresce.
2. Plantar no chão é o melhor e mais rápido caminho para o crescimento.
3. Cortar a raiz pivotante é o primeiro passo antes de plantar no chão ou em VT.
Lembrando que essa raiz tem a função de buscar água e nutrientes e fixar a
planta no solo. Como no bonsai precisamos de raízes laterais e não
profundas, o arame substitui a fixação, o adubo e a água são fornecidos pelo
bonsaísta.
Um pouco sobre raízes.
Imagem 15
As raízes subterrâneas são divididas em fasciculadas e pivotantes:

4. Raízes fasciculadas compõem-se de um conjunto de raízes finas que têm


origem em um único ponto.
5. Coleto ou colo: É a parte de transição da raiz para o caule.
Imagem 16

6. Raízes tabulares
As raízes tabulares aumentam a estabilidade da planta no solo, são achatadas e
assemelham-se a tábuas, comuns em árvores de grande porte
Imagem 17

7. Ao cortar a pivotante, convém desfolhar a planta, caso a espécie aceite


desfolha.
8. Podemos optar por não retirar a pivotante ao plantar no chão, mas é um
trabalho que provavelmente se arrependerá no futuro.
9. Se não tem espaço para plantar no chão, uma bacia grande, ou qualquer
recipiente grande, até um vaso de bonsai maior, serve para o
desenvolvimento da sua muda, também conhecido como “vaso de
treinamento”.
10. Convém colocar uma bolacha de madeira em baixo das raízes para que elas
desenvolvam para as laterais e não para baixo.
Imagem 18 – Ameixa vermelha – retirada de alporque- técnica da bolacha

Imagem 19 – acertando as raízes.


11. Muitos usam, tampa de panela, plástico ou qualquer material, mas recomendo
que usem madeira ou argila, a madeira é um excelente material, as raízes
vão se fixar com uma saúde melhor, a argila pode ser moldada dando uma
forma mais natural ao sistema que está sendo formado. Ambos os materiais
permitem a fixação das raízes com pregos ou grampos, na argila é muito mais
fácil.
12. “Prefira os recipientes de cerâmica ou até caixas de madeira como vasos de
treinamento ou crescimento, que aqui chamarei de VT”.
13. A explicação do ponto 13 é simples, as bacias são ótimas, porém aquecem
demais, são lisas por dentro dificultando a fixação das raízes, e tudo que elas
querem é se fixar, não vai matar a planta, mas sempre que puder evitar vai
ajudar. Esta é a razão dos vasos para bonsai não serem esmaltados por
dentro, pode notar a porosidade na parte interna.
14. Procure usar bastante substrato no VT, evitando transplante anual, atrasando
o desenvolvimento da muda.
15. A escolha de estilo, seleção de galhos, aramação, desfolha devem seguir
normalmente enquanto a planta está em treinamento.
16. Chegará o momento de retirar a planta do solo ou do VT, como saber o
momento certo?
É o momento em que a planta agrada o artista/bonsaísta, chegou ao tamanho
que escolheu no projeto, planta pequena, média ou grande, se a mesma já
atingiu a conicidade, espessura de tronco, maturidade dos galhos, boa
estrutura de copa e bom sistema radicular. Ainda assim, restará a diminuição
de folhas e manutenção.
 A escolha foi cultivo a partir da muda, estaca ou alporque?
1. Os procedimentos não serão muito diferentes, apenas queimaremos etapas,
vai depender do tamanho da estaca.
2. Na alporquia temos o sistema radicular já pré-formado, acelerando mais ainda
o processo.
3. Com certeza terá um bonsai bem mais rápido que a semente.
4. Tanto na estaquia como na alporquia, convém a desfolha total após a
retirada, caso a espécie aceite a técnica.
 A escolha foi cultivo a partir da retirada na natureza ou cidade?
1. Para maior entendimento, explicarei o processo de “sangria”, técnica utilizada
para retirada de plantas mais robustas do solo com pivotante grande.
2. O trauma de uma retirada de raiz pivotante pode levara planta a morte.
3. Não tenha pressa e espere o tempo necessário para que a planta sinta o
menos possível.
4. Importante fazer o procedimento com mais ou menos seis meses de
antecedência, mas não é regra, dependerá da espécie, clima, região, e
resposta da planta.
5. Encharque o terreno. Em seguida, cave uma vala em volta do tronco,
cortando as raízes laterais, mas não corte nem mexa com a raiz pivotante.
Imagem 20 - cavando a vala e preservando o torrão.

6. A largura e profundidade da vala deverá ser o necessário para cortar as


raízes.
Imagem 21- não é trabalho fácil.

7. Recomenda-se que o diâmetro da vala tenha o tamanho necessário para


retirada da planta com saúde, preservando o torrão.
8. Após cortar as raízes, preencha a vala novamente com a própria terra ou
areia. Deixe apenas a pivotante intacta e o torrão.
9. Espere o tempo necessário para a planta emitir novas raízes no torrão.
10. Verificando a resposta da planta, é o momento de cavar até a pivotante e
cortá-la, envolvendo o torrão em saco plástico após a retirada mantendo a
umidade.
Imagem 22
11. Importante cortar os galhos e deixar a planta completamente sem folhas,
retirando todos os galhos que julgar desnecessários.
12. Replantar em substrato drenante, mantendo na sombra, apenas na claridade
até que aconteça a recuperação.
13. Se não for possível movimentar a planta devido ao peso, usar sombrite para
evitar a desidratação. As telas de sombreamento (sombrite) tem como
função principal a proteção das plantas contra o sol. Porém, as diversas
opções em fios e porcentagem de filtragem, possibilitam seu uso em
construção civil e estacionamentos. A classificação do sombrite é dada em
porcentagem e se refere à quantidade de proteção da luz.
Imagem 23 – sombrite
14. Pode ser usada a técnica da estufa, que consiste em ensacar a planta para
não perder a umidade.
Imagem 24 – estacas na estufa improvisada.

15. Convém manter sem intervenções por um período de um ano, mas não é
regra, cada espécie responde de uma maneira, vai depender da região, tipo
de solo, saúde da planta.
16. A vantagem dessa técnica, temos um exemplar maduro de boa qualidade,
florescendo e frutificando com bom calibre de tronco, e muitas etapas
vencidas. Será um bonsai em tempo recorde.
17. Nem sempre teremos tempo para realizar a sangria, as vezes a planta precisa
ser retirada as presas, ou passamos em um local onde não retornaremos,
nos deparamos com um lindo exemplar de fícus grudado em uma parede.
18. A experiência e sorte contarão muito nessas horas. Manter a umidade,
desfolha e poda, proteger do sol, a saúde da planta são fatores importantes
para o sucesso.
19. Importante proteger os cortes com uma pasta cicatrizante de qualidade,
evitando a retração de seiva.
Imagem 25 – cortes selados logo após a intervenção.

20. Quando menciono pasta de qualidade, infelizmente tem muita porcaria


vendida por ai, prefiram a japonesa e Vietnamita. É mais caro, mas vale a
pena. Muitos descobrem isso após perder uma planta ou galho importante por
apodrecimento usando pasta Tabajara.
Imagem 26 – Fícus Organensis

21. Importante realizar todos os procedimentos na planta de uma vez, cortar,


podar desfolhar, para não mexer nela até a plena recuperação. Alguns
cultivadores consideram sucesso após 90 dias da retirada do solo, mas
dependerá da espécie e fatores externos já citados anteriormente.
22. Estacas e alporques não desenvolvem raiz pivotante.
23. Ao retirar o alporque, não é necessário passar pasta cicatrizante, a planta
fechará o corte naturalmente, e não terá apodrecimento.
Imagem27

24. Após a retirada da raiz pivotante, não nascerá outra novamente.


25. Passar cicatrizante no corte da raiz pivotante? Não acho necessário, quem se
sentir melhor que o faça.
26. Arbustos não possuem raiz pivotante, não adianta procurar. Exemplos:
Calliandra, Azaleia, Buxinho, Serissa e Cereja Anã.
 A escolha foi cultivo a partir de exemplar comprado em loja?
1. Nesse caso, se bem escolhida, teremos um pré-bonsai bem avançado
ou um Bonsai pronto ou quase pronto. Dependerá da escolha e das
opções oferecidas pela loja, somado ao que podemos pagar.
2. A escolha deve ser feita da mesma forma, primeiro terço e sistema
radicular.
3. A copa podemos formar novamente em poucos meses dependendo da
espécie, pois nem sempre um bonsai considerado pronto atende ao
nosso senso artístico.
 A escolha foi cultivo a partir de um exemplar comprado em floricultura?
1. Todo exemplar adquirido deve ser mantido separado, de loja, floricultura ou
da natureza, primeiro devemos desfolhar se a espécie permitir, depois uma
assepsia, calda sulfertilizante a 15 ml/ litro de água, ou um inseticida, SBP a
base de água.
Imagem 28

2. Desta maneira evitamos inserir uma praga em nosso viveiro.


3. Também é interessante levantar o torrão e verificar a saúde das raízes, como
a planta de floricultura vem em vasos plásticos, fica bem fácil verificar.

Imagem 28 – Cereja Anã de floricultura ano 2013.


Imagem 29 – ano 2019.

Imagem 30 – a mesma planta ano 2019.

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