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sobrinho-neto de Aristóteles, que Alexandre contratara para ser seu cronista.

“Pois então vou-me


embora com um beijo a menos”,b declarou, atraindo a ira de Alexandre, com consequências de
longo alcance, como veremos. Ele já não pensava em si mesmo como rei da Macedônia.44 De
posse da Babilônia, passou a se intitular “Rei da Ásia”.45
Tão concentrados estavam seus comandantes nas vestes e costumes estrangeiros de Alexandre
que não conseguiram ver que, sob seu domínio, os quatro quadrantes do mundo de Alexandre
estavam se tornando gregos. O rei havia deixado um rastro de guarnições gregas e macedônias
para manter os governantes locais sob controle. Logo, toda uma rede de assentamentos gregos,
alguns com o nome dele, pontilhava seu império.46 O império compreendia dezenas de línguas e
culturas, e os gregos eram famosos por relutar em aprender línguas estrangeiras, para não falar
dos sistemas de escrita estrangeiros.47 Seu desprezo pela maioria dos povos não gregos estava
intimamente ligado à linguagem e à escrita; chamavam-nos de bárbaros precisamente porque sua
fala era incompreensível para eles, soando a seus ouvidos como barbarbar. Por esse motivo,
nunca houve a menor dúvida sobre qual língua os colonizadores gregos e macedônios iriam falar:
obviamente falariam grego. Até mesmo Alexandre, apesar de seus novos amigos e novos trajes
estrangeiros, nunca se preocupou em aprender qualquer outra língua.
Homero desempenhou um papel central nessa conquista linguística, e não somente porque
Alexandre o promovia. A Ilíada era o texto por meio do qual todos aprendiam a ler e a escrever, o
veículo principal para a difusão do grego e do alfabeto grego.48 Tornou-se um texto fundamental
por excelência. Isso também propiciou o aparecimento de intérpretes profissionais, não só
filósofos como Aristóteles, mas críticos que escreveram extensos comentários sobre esse texto.
Os soldados e colonos gregos de Alexandre falavam um tipo especial de grego. Não era o grego
culto de Atenas, nem o dialeto macedônio de Alexandre: era uma forma um tanto simplificada de
grego falado chamada grego comum (koiné). Tratava-se da língua que se originara no império
comercial grego de séculos anteriores e que se tornou a linguagem comum do reino de Alexandre,
a língua em que suas diferentes partes podiam falar umas com as outras.49 Os governantes locais
continuaram a usar idiomas e sistemas de escrita nativos, mas o grego comum e seu sistema
fonético eram um meio de comunicação através das fronteiras que a conquista de Alexandre
havia destruído.50 Ele também instituiu uma moeda comum, a moeda ática (tetradracma), que
trazia sua efígie e era escrita em grego.51 Alexandre não era apenas o fiel leitor de um texto: ele
criou a infraestrutura necessária para a sobrevivência desse texto.
Como o grego se tornou uma língua universal, as pessoas que o falavam se sentiam cidadãos do
mundo. Alexandre, menos que um traidor da cultura macedônia e grega, foi a personificação de
uma nova identidade que se estendia através de culturas e territórios, da Grécia ao Egito e da
Mesopotâmia à Índia. Uma nova palavra ganhou terreno, a qual descrevia essa nova identidade,
não mais firmemente amarrada a uma tribo ou nação em particular. Não é preciso dizer que

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