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Reflexões Arendtianas
Angelica Godinho da Costa 1
Resumo
Abstract
This text deals with the relationship between power and violence. It
explores especially the conceptualization of power according to Hannah Arendt,
considering that one of her concerns was always to clearly distinguish the terms
she used among her theories. In contrast to Modern Political Science, Arendt
does not equalize the term to violence and still rescues the sense of isonomy, the
political tradition of the Athenian city-state and the Roman civitas; suggesting
equality to everyone who makes up the political body. This equality existed only
in the sphere of human affairs, as an attribute of the pólis, and not of men, as
they are unequal in nature; they needed the pólis, social institutions that would
make them equal. This work is concluded with a subsequent analysis of the
theme, within the context of organizations. There is a possibility to bring the
Arendtian conception of power, violence and isonomy to any aspect of the public
or private sphere; here it was transported to the corporate environment that can
also be analyzed as a political system.
1
Especialista em Gerenciamento de Marketing, St. Joseph’s College of Business Administration –
Bangalore, India; Especialista em Gerenciamento de Shopping Centers pelo ICSC – International Council
of Shopping Centers, NYC; Bacharel em Publicidade, Propaganda e Criação – Hab. Marketing,
Universidade Mackenzie, São Paulo. Mestranda e Técnica do projeto de pesquisa: Método de Análise e
Síntese em Kant, Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina,
angelicagc@yahoo.com.
Introdução
A luta pelo poder esteve presente em toda a existência humana. Virgílio falou,
na Eneida, sobre auri sacra fames, “fome de ouro”. Tal frase muitas vezes se
traduz com ênfase em amaldiçoar o ouro, mas essa ação é feita, na verdade,
sobre a fome – a ambição, o desejo pelo ouro, que podem levar a atos
abomináveis e gera violência. Poder é o direito de deliberar, agir, mandar e,
dependendo do contexto, exercer sua autoridade, soberania, a posse de um
domínio, da influência ou da força. Também é um termo que se originou do Latim,
do adjetivo potis, que significa “ser capaz de”, “competente”, “permitido” e
“possível”, também do verbo possum, que significa “poder”, “saber” e
“conseguir”; sendo uma palavra aplicada em diversas definições e áreas. Desde
o seu início, deixou muitos descendentes em nosso universo de palavras. Outras
fontes apontam a origem no Indo-Europeu poti-, que era aplicada para o chefe
de algum grupo social (família, clã, tribo). Daí derivou o Grego pótis, “marido”. E
despotés, inicialmente “senhor, chefe da casa”, mais tarde aplicado aos tiranos
orientais e depois aos de todo gênero. Segundo Aristóteles, o conceito de
governo, onde se manifesta a relação mando-obediência, originou-se
historicamente na esfera dos negócios domésticos.
Dunamus ou dynamis (em grego antigo, δυναμις) significa “poder” ou “força” e
tem o sentido de energia constante. É a raiz das palavras “dinâmica”, “dinamite”
e “dínamo”. A palavra δυναμις aparece na Metafísica de Aristóteles. O Filósofo
dá a ela um sentido de potencialidade. A passagem da potência à atualidade
(energeia) ocorre através da techne ou por meio de um princípio inato. A
energeia é lógica e ontologicamente anterior à dynamis, daí a necessidade de
um "primeiro motor" sempre num estado de energeia. Já o sentido da palavra
grega exousia (ἐξουσία) não é o de “poder”, “poderio” ou “força”, pois para esta
acepção existe a palavra grega dynamis (δύναμις). Exousia provém de éxesti
(ἔξεστι) “é permitido” ou “é concedido”. Refere-se a poder concedido, poder
delegado e a operar em uma jurisdição sob designação. A palavra grega exousia,
que provém de éxesti e que significa permissão, segundo a concordância
exaustiva de Strong é definida por “autoridade”. Alguns léxicos vertem exousia
por “poder”, “autoridade”, mas reconhecem que se refere a “poder de agir” o que
redunda na significação específica de autoridade.
Para Arendt, tanto a Autoridade quanto o Poder, não permitem meios externos
de coerção. Ou seja, “onde a força é usada e necessária, significa que a
autoridade fracassou” ”. (MÜLLER, 2002, p.19). “A violência, provém de onde o
poder está sendo perdido, já o poder é um fim em si mesmo, não necessita
justificação, é inerente à própria existência das comunidades políticas”.
(MÜLLER, 2002, p.10).
A violência sobre as formas de guerra e revolução podem parecer a única opção
possível de interromper processos automáticos em assuntos humanos.
Revolucionários franceses e americanos foram inspirados por um conceito de
poder e lei que em essência não contava com a relação de comando e
obediência e o qual não identificava poder e regra ou lei e comando. Eles lutavam
por uma forma de governo republicano onde as regras da lei assentavam-se
sobre o poder das pessoas, colocando fim à regra do homem sobre o homem.
Momentos que refletem desintegração de poder acontecem quando regras
deixam de ser seguidas. Poder precisa ser confrontado para ser desintegrado,
ele precisa ser desafiado por algum corajoso.”...na vida privada, como na vida
pública, há situações em que apenas a própria prontidão de um ato violento pode
ser um remédio apropriado.” (ARENDT, 1994, p. 48)
A tradição judaico-cristã, com sua concepção imperativa de lei (a simples relação
de comando e obediência identifica sua essência), juntamente às convicções
científicas e filosóficas modernas, acerca da natureza do homem; fortaleceram
ainda mais estas tradições legais e políticas. Arendt nos lembra que a violência
só pode se tornar de verdade amplamente implementada às custas de sua
legitimidade, quanto mais violência você usa, mais fraco o poder e a legitimidade
das pessoas que a usam, mais chances há de resistir e derrubá-la. “ O poder
não precisa de justificação, sendo inerente à própria existência das comunidades
políticas; o que ele realmente precisa é de legitimidade”. (ARENDT, 1994, p. 41)
E, embora estejamos certos de que a violência é intensa, a tecnologia também
é intensa, a retirada do poder e, portanto, as possibilidades de mudanças
revolucionárias. ”O ódio aparece apenas onde há razão para supor que as
condições poderiam ser mudadas, mas não são”. (ARENDT, 1994, p.47) A
filósofa, considera que o fundamento da política é o poder e diz que obediência
e apoio são a mesma coisa, é humanista em essência e afirma que humanos
são apenas animais sujeitos à moralidade. A ciência moderna, ao analisar o uso
da nossa razão, desprovida nos outros animais, conclui que esse dom gera a
fera mais perigosa. “É o uso da razão que nos torna perigosamente irracionais,
pois essa razão é propriedade de um ser originariamente instintivo” (ARENDT,
1994, p. 47)
Em governos totalitários, todas as formas de poder devem ser eliminadas; o
terror (extrema violência) implica na destruição de todos os grupos (seja a hípica,
clubes esportivos, famílias, etc.), pois todos estes grupos representam “poder”.
Considerações finais
Referências Bibliográficas
ARENDT, Hannah. On violence, New York: Harvest Harcourt Brace and World,
Harvest Books, 1970.