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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Pós-Graduação a Distância

Gestão Ambiental

MANEJO DE RECURSOS
HÍDRICOS

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

UNIGRAN - Centro Universitário da Grande Dourados


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Correção ortográfica e revisão de conteúdo


Geysa Juce

Os direitos de publicação dessa obra são reservados ao Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN),
sendo proibida a reprodução total ou parcial de acordo com a Lei 9.160/98.

Os artigos de sites e revistas indicados para a leitura foram registrados como nos originais.
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Pós-Graduação a Distância

Gestão Ambiental

MANEJO DE RECURSOS
HÍDRICOS
Fábio Régis de Souza

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SOUZA, Fábio Régis. Manejo Recursos


Hídricos. Fábio Régis de Souza. Dourados:
UNIGRAN, 2012.

130 p.: 23cm.

1. Disponibilidade Hídricas no Brasil e Mundo


2. Uso dos Recursos Hídricos no Brasil 3.Outorga
Principais Aspectos 4. Ciclo Hidrológico 5.
Qualidade da Água

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Apresentação da Docente
Fábio Régis de Souza é natural de Curitiba-PR. Formou-se em Técnico
em Agropecuária em 1998, em 2007 graduou-se em Engenharia Agronômica
pela Universidade Federal de Rondônia, obteve título de mestre em Agronomia
pela Universidade Federal da Grande Dourados em 2009 e Doutorando em
Agronomia pela mesma instituição, atuando nas áreas de manejo do solo e água,
demanda hídrica de plantas e evapotranspiração, é professor adjunto do Centro
Universitário da Grande Dourados-UNIGRAN, lecionando as disciplinas de
Agrometeorologia, Hidráulica, Irrigação e Drenagem, Nutrição Mineral de Plantas
e Bacias hidrográficas. Autor de artigos e resumos em congressos nacionais e
internacionais.

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Olá gente tudo bem?


Eu sou o UNICÃO e fui escolhido pelos alunos para
ser o mascote da UNIGRAN. Estarei aqui para ajudar
a alegrar as suas aulas. Tenho certeza que juntos
aprenderemos muito e faremos grandes conquistas na
área do conhecimento.
Boa sorte a todos.
Qualquer dúvida ou sugestão enviem para a
professora Fábio Régis de Souza.
Obrigado!

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Sumário
Apresentação........................................................................ 05

Introdução............................................................................... 09

Aula 01
Disponibilidade Hídricas no Brasil e Mundo.....................................11

Aula 02
Uso dos Recursos Hídricos no Brasil............................................... 25

Aula 03
Outorga Principais Aspectos.................................................................... 37

Aula 04
Ciclo Hidrológico..................................................................................... 83

Aula 05
Qualidade da Água.....................................................................113

Referências Bibliográficas......................................... 129

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Introdução
A água, como todos nós sabemos, é elemento essencial para que a vida
exista na Terra, nenhum ser, animal vegetal sobrevive sem ela.
É assustador o crescimento populacional no mundo, uma conseqüência
trágica disso pode ser a redução de alimentos e água, as quais crescem linearmente
com o aumento da população mundial, entretanto as fontes de água na superfície
terrestre são escassas e sujeitas a contaminação diminuindo sua qualidade.
Os principais danos causados nos recursos hídricos são pela ação antrópica,
esse crescimento demográfico citado anteriormente, a expansão econômica com
os impactos que produz através do processo de industrialização, o aumento de
fronteiras agrícolas e o uso irregular de agrotóxicos, a ocupação irregular do solo,
tratamento sanitário irregular do lixo e a falta de conscientização do problema,
estão entre as principais causas da degradação dos recursos hídricos.
O uso múltiplo dos recursos hídricos brasileiros podem ser para uso na
agricultura pelos sistemas irrigados ou na aplicação de defensivos,na pecuária
para fornecimento de água aos animais, para pisciculturas, no turismo, na geração
de energia elétrica através de hidrelétrica, no transporte de alimentos, grãos e
outras matérias pela navegação fluvial normalmente mais barata que a rodoviária
e no uso domésticos.
Então a gestão de recurso hídricos de forma racional e sustentável são
primordiais para nossa sobrevivência e estão disciplinados juridicamente. Alem
disso o uso deve ser sempre respeitando os limites e potencialidades para que
possamos desenvolver uma sociedade ambientalmente equilibrada, sendo que
preconiza que o meio ambiente sadio é direito de todos.

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Aula
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RECURSOS HÍDRICOS
01

INTRODUÇÃO

A água pura (H2O) é um liquido formado por moléculas de hidrogênio e


oxigênio. A importância da água para a existência de vida na Terra é indiscutível.
Além disso, esse recurso natural é fundamental para o desenvolvimento de
diversas atividades antrópicas, tais como a produção de alimentos, geração de
energia elétrica, de bens de consumo, de transporte fluvial (navegação), de lazer
assim como para a manutenção e o equilíbrio ambiental dos ecossistemas.
O ciclo da água na natureza é contínuo e sua quantidade é invariavelmente
a mesma; o que muda de região para região é a intensidade dos processos físicos
que governam o ciclo natural da água. A distribuição de todas as formas de
vida sobre a face da terra é linearmente dependente do volume e distribuição
dos recursos hídricos. O excesso e, principalmente, a escassez desse recurso é
o principal responsável pela falta de alimentos no mundo, gerando a fome de
vários povos e a degradação do solo pelo uso inadequado ou exploração de áreas
agrícolas impróprias ao cultivo.
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A água é um recurso natural finito, necessário a quase todas as atividades do


ser humano.
São preocupações mundiais: a poluição e a falta de água, pois, o consumo
de água no mundo apresenta escalada ascendente, superior, inclusive, aos níveis de
crescimento populacional. O objetivo geral da gestão dos recursos hídricos é o de
assegurar o suprimento adequado de água de boa qualidade à população e ao mesmo
tempo a preservação dos ecossistemas, compatibilizar as atividades humanas com
a sustentabilidade da natureza e combater as enfermidades decorrentes da má
utilização da água.
A hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, suas ocorrências,
circulação e distribuição, sua propriedades físicas e químicas, e sua reação com o
meio ambiente, incluindo sua relação com as formas vivas.
A hidrologia pode ser subdividida em:

Hidrometeorologia - é a parte da ciência que trata da água na atmosfera;


Limnologia - refere-se ao estudo dos lagos e reservatórios;
Potamologia - trata do estudo dos arroios e rios;
Glaciologia - é a área da ciência relacionada com a neve e o gelo na natureza;
Hidrogeologia - é o campo cientifico que trata das águas subterrâneas.

DISPONIBILIADE DE ÁGUA NO MUNDO

A disponibilidade de água no planeta é talvez, o maior problema a ser


enfrentado pela humanidade no presente século. De toda água existente na Terra
(1.380.000 km³), 97,3% é água salgada e apenas 2,7% água doce.

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A disponibilidade hídrica no mundo é estimada em cerca de 40.000 km3/ano


(SHIKLOMANOV, 1998). Desses avalia-se que apenas cerca de 4.000 km3/ ano,
10% do total, são derivados dos rios para uso humano. Da água captada, estima-se
que apenas 2.000 km3/ano são efetivamente consumidos, resultando no retorno
dos outros 2.000 km3/ano aos cursos d'água, porém com a qualidade inferior à que
foram captados.
Observa-se na figura abaixo que a oferta per capita por ano na Guina
Francesa é a maior com aproximadamente 812,12 m3 e o Brasil ocupa o 250 lugar
com aproximadamente 48,314 m3, sendo o Kuwait o ultimo colocado. Já os maiores
consumidores de água, somando todos os seus usos são: a Índia, China, Estados
Unidos, União Européia, Paquistão e a Rússia. Onde apresenta o maior índice de
escassez de água são nos países do Kuwait, Bahrain, Malta, Gaza, Emirados Árabes,
Líbia, Cingapura, Jordânia, Israel e Chipre.

Fonte Unesco 13
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Na tabela anterior são apresentados os valores de extração anual de água


per capita por países selecionados em 2000.

A Distribuição de Água no Mundo


O mapa mostra a disponibilidade de água medida em termos de 1.000 metros cúbicos por habitante ao ano.

Catas troficamente Baixa


Muito Baixa
Baixa
Média
Alta
Muito Alta

Fonte: Agência Nacional de Águas – ANA, Embrapa e Pnuma

Na figura abaixo são apresentados a disponibilidade de água no mundo


medida em termos de 1.000 metros cúbicos por habitante ao ano.

Segundo dados da UNESCO a concentração das fontes renováveis de água


doce do mundo contemplam nove países totalizando aproximadamente 60 %, como
mostra a figura abaixo.

Já em relação a disponibilidade de água doce por continente os resultados


apresentados no gráfico abaixo, mostram que o Brasil aparece com uma porcentagem
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de distribuição de água doce muito próximo a continentes como o continente


Africano, a Europa e supera a Oceania.

Distribuição da Água Doce Superficial no Mundo

A distribuição e porcentagem de água na terra pode ser verificada na tabela


abaixo, onde aproximadamente 96 % das águas encontram-se nos oceanos e
restando apenas 4 % para as outras fontes ou forma de água.

Fonte Unesco

O Brasil figura entre um dos países com o maior potencial de água


doce do mundo. A população total do Brasil, segundo dados do IBGE de 2010,
é de aproximadamente 190,7 milhões de habitantes. Sua população urbana é
correspondente a 82% do total de seus habitantes. A densidade populacional média
brasileira é de 21,6 hab/km².

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Bacias hidrográficas brasileiras.


Fonte Agência Nacional de Águas

O Brasil possui 12 bacias hidrográficas que são do Amazonas, Tocantins-


Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Noroeste Ocidental,
São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sul, Atlântico Sudeste,Paraná, Uruguai e
Paraguay (Figura acima).
A região hidrográfica do Paraná é a mais populosa com 61 milhões de
habitantes (32,7% do total do Brasil) e densidade populacional igual a 67,2 hab/
km². Em seguida vêm as regiões Atlântico Sudeste com 27,4 milhões de habitantes
e possuindo a maior densidade do país (127,1 hab/km²), e a Atlântico Nordeste
Oriental, com 23,4 milhões de habitantes e densidade de 81,1 hab/km².
As regiões hidrográficas menos populosas do país são: Paraguai, com 2
milhões de habitantes e 5,6 hab/km² de densidade populacional; Parnaíba, com 4
milhões de habitantes e 12,1 hab/km²; Uruguai com 4 milhões e 22,3 hab/km²;
e Atlântico Nordeste Ocidental com 5,8 milhões e densidade de 21,1 hab/km².
Destaca-se também a região Amazônica, que com 9,1 milhões de habitantes, possui
a menor densidade demográfica entre regiões hidrográficas brasileiras, com apenas
2,3 hab/km².
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O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio do Brasil é de 0,790


(PNUD, 2000).
As regiões com maiores IDHs (IBGE, 2000) são: Atlântico Sul, com 0,790;
Uruguai, com 0,780; Paraná com 0,760; e Atlântico Sudeste e Paraguai com 0,730.
As RHs com menores IDHs do país são: Atlântico Nordeste Ocidental e Parnaíba,
com 0,590; Atlântico Nordeste Oriental, com 0,620; e Atlântico Leste com 0,630.

DISPONIBILIDADE HÍDRICA NO BRASIL

Apesar de o Brasil estar entre as maiores fontes de água doce do mundo,


existe uma preocupação quanto a disponibilidade hídrica principalmente pela
reserva não estar distribuída de forma uniforme em nosso território. A Bacia
Amazônica concentra cerca de 73% da água doce do país e é habitada por 5% da
população brasileira ou seja, a vazão média desta região é quase três vezes maior
que a soma das vazões das demais regiões hidrográficas. Portanto, apenas 27% dos
recursos hídricos do Brasil estão disponíveis para 95% da população. No Brasil os
recursos hídricos estão distribuídos segundo levantamento de dezembro de 2007,
com uma vazão média anual dos rios em é de 179 mil m³/s, correspondendo a
aproximadamente 12% da disponibilidade mundial de recursos hídricos(1,5 milhão
de m³/s). A tabela abaixo exemplifica isso apresentando valores de disponibilidade
hídrica e vazões médias e de estiagem.

Ufa!
Isso parece complicado,
mas na figura abaixo
está tudo explicadinho.
Vejam.

Observa-se na figura abaixo que a maior vazão ocorre na região hidrográfica


do Amazonas, seguido Tocantins-Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba,
Atlântico Noroeste Ocidental, São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sul,
Atlântico Sudeste,Paraná, Uruguai e Paraguay.
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A vazão específica média brasileira é igual a 20,9 L/s/km². Apesar de


possuir, em valores globais, uma grande oferta de recursos hídricos superficiais, o
Brasil apresenta acentuada diferença entre suas regiões hidrográficas. Em território
nacional, por exemplo, as vazões específicas chegam a variar de 2,0 L/s/km² (bacias
do semi-árido brasileiro) até valores superiores a 30 l/s/km² (destaque para Região
Hidrográfica Amazônica).

Fonte Agência Nacional de Águas

A Figura do mapa abaixo apresenta a distribuição das vazões específicas


no Brasil. A baixa vazão específica observada na região do Pantanal (Região
Hidrográfica do Paraguai) mostra que esta área, apesar da abundância de água
oriunda da região de Planalto, não é produtora desse recurso, resultando em
baixa contribuição da Região do Pantanal ao escoamento superficial (ANA,
2005). Já as maiores vazões podem ser observadas nas extremidade da região
amazônica, fazendo parte da bacia hidrográfica Amazônica.

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Vazões das bacias hidrográficas


Fonte Agência Nacional de Águas

PRINCIPAIS SISTEMAS AQUÍFEROS DO BRASIL

A Figura abaixo mostra a área de recarga dos 27 principais sistemas aqüíferos


brasileiros e a divisão hidrográfica nacional com as doze regiões. As reservas
renováveis desses sistemas totalizam cerca de 21 mil m3/s. A disponibilidade hídrica
subterrânea (reserva explotável), considerada igual a 20% das reservas reguladoras,
corresponde a cerca de 4.100 m3/s.

Fonte Agência Nacional de Águas


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As águas deste aqüífero são consideradas adequadas para consumo humano,


desde que sejam observados os parâmetros bacteriológicos e adequadas para
consumo animal, irrigação e indústrias, que não sejam muito exigentes em termos
de limite máximo de ferro e de faixa admissível de pH (Monteiro et al., 2004 apud
ANA e MMA, 2005). Segundo MMA e ANA (2005), na região de Belém, são
utilizados para abastecimento humano, poços com profundidade média de 25 a 220
m e vazão média de 18 e 135 m³/h, respectivamente.
Sistema aqüífero Guarani, com 0,4% de sua recarga na região hidrográfica
em território brasileiro. Esse sistema ocorre em quatro regiões hidrográficas:
Paraguai,Tocantins-Araguaia, Paraná e Atlântico Sul. Cerca de 90% do sistema é
confinado.
As reservas permanentes foram estimadas em 48.021 Km³, enquanto a
reguladora foi de 160 Km³ e esta foi subdivida em infiltração direta e indireta. A
primeira considerou a recarga como 15% da precipitação média anual de 1.500
mm, distribuída sobre uma área de 87.000 Km², já a infiltração indireta foi estimada
considerando a condutividade hidráulica em 5.10-8m/s, diferença de potencial
hidráulico médio de 100 m e espessura média da camada infiltrante com 400 m.
Enquanto que a reserva permanente foi calculada para uma área total de 800.000
Km², espessura média de 300 m e coeficiente de armazenamento de 20%. Sistema
aqüífero Alter do Chão, com 2,6% de sua recarga na região hidrográfica, explotado
principalmente nas cidades de Manaus, Belém, Santarém e na Ilha de Marajó.
A qualidade da água é boa, apresentando pH de 4,8 e sólidos totais dissolvidos
inferiores a 100 mg/L. Porém, as concentrações de ferro alcançam algumas vezes 15
mg/l (ANA, 2005). Em relação à dureza, são classificadas como moles com valores
entre 0,36 e 28,03 mg/L de CaCO3 (Silva & Bonotto, 2000; apud ANA e MMA,
2005b). A existência de níveis de água rasos somados à carência de saneamento
básico nas áreas urbanas, onde proliferam habitações com grande quantidade de
fossas e poços construídos sem requisitos mínimos de proteção sanitária, favorece
a contaminação do aqüífero.
Sistema aqüífero Cabeças, com 0,6% de sua recarga na região hidrográfica,
é considerado o de melhor potencial hidrogeológico na Bacia Sedimentar do
Parnaíba, sendo explotado sob condições livres e confinadas, e com águas de boa
qualidade.
São predominantemente cloretadas mistas e cloretadas magnesianas,
fracamente mineralizadas, apresentando valores de condutividade elétrica, em
geral inferiores, a 50μS/cm (Santiago et al., 1999a; apud ANA e MMA, 2005).
Comumente o valor médio do resíduo seco é de 300 mg/L. Os principais usos da
água desse aqüífero são para uso doméstico e para a irrigação (ANA, 2005).
Sistema aqüífero Urucuia-Areado, com 2,3% de sua recarga na região
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hidrográfica, compreende parte dos estados de Bahia, Minas Gerais, Goiás, Piauí e
Maranhão. Sendo principalmente do tipo livre, ocorre recobrindo em grande parte
as rochas do Bambuí. As águas do sistema aqüífero Urucuia-Areado são de boa
qualidade, predominantemente bicarbonatadas cálcicas, pouco mineralizadas, com
condutividade elétrica média de 82,2 μS/cm, e com pH inferior ou igual a 7, média
de 6,75 (ANA e MMA, 2005).
Sistema aqüífero Furnas, com 0,9% de sua recarga na região hidrográfica,
correspondente a parte dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás,
Paraná e São Paulo, e é explotado sob condição livre a confinada. Suas águas
enquadram-se na classe de águas bicarbonatadas sódicas a bicarbonatadas-cloretadas
potássicas a mistas, caracterizando-se ainda pelo baixo grau de mineralização, com
valor de sólidos totais dissolvidos situados entre 15 a 50 mg/L (Mendes et al., 2002;
apud ANA e MMA, 2005). Os usos são, principalmente, domésticos e industriais
(ANA e MMA, 2005).
Sistema aqüífero Itapecuru, com 5,0% de sua recarga na região hidrográfica,
aflora nos estados do Maranhão e Pará. É utilizado na pecuária e no abastecimento
humano no interior do Estado do Maranhão, e para abastecimento doméstico na
cidade de São Luís. Nesta cidade, o Itapecuru apresenta predominantemente águas
carbonatadascloretadas com predominância do tipo sódica (Sousa, 2000; apud
ANA e MMA, 2005).
Sistema aqüífero Bauru-Caiuá, com 0,2% de sua recarga na região
hidrográfica, ocorre recobrindo o sistema aqüífero Serra Geral e ocupa grande
parte do oeste do Estado de São Paulo, e é explotado sob condição poroso e livre a
semiconfinado. As águas são predominantemente bicarbonatadas cálcicas e cálcio-
magnesianas (Campos, 1988; apud ANA e MMA, 2005), com pH em torno de 7,0,
e sólidos totais dissolvidos médio de 143,06 mg/L (Barison e Kiang, 2004; apud
ANA e MMA, 2005). A evolução hidrogeoquímica regional no sentido nordeste-
sudoeste com águas fortemente bicarbonatadas cálcicas passando gradativamente
para bicarbonatadas cálciomagnesianas até atingir uma zona de águas fracamente
bicarbonatadas e cloretadas sódicas.
As principais fontes de contaminação são de origem antrópica difusa,
representadas pela aplicação de fertilizantes e insumos nitrogenados, utilização de
fossas negras, depósitos de resíduos sólidos, vazamentos das redes coletoras de
esgoto e influência de rios contaminados na zona de captação de poços (ANA e
MMA, 2005).
As águas subterrâneas, mais do que uma reserva de água, devem ser
consideradas como um meio de acelerar o desenvolvimento sócio-econômico não
apenas de regiões carentes mais do Brasil como um todo. Essa afirmação é apoiada
na sua distribuição generalizada, na maior proteção às ações antrópicas e nos
reduzidos recursos financeiros exigidos para sua explotação.
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RECURSOS HIDRICOS NO MATO GROSSO DO SUL

O Estado de Mato Grosso do Sul instituiu a Política Estadual de Recursos


Hídricos e criou o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos
mediante a Lei nº 2.406 de 29 de janeiro de 2002, seguindo os mesmos princípios
e diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela
Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Dentre os aspectos mais relevantes desses
princípios, ressalta-se o conceito de que a água é um recurso natural limitado dotado
de valor econômico e se constitui um bem de domínio público que deve sempre
proporcionar o seu uso múltiplo.
No território de Mato Grosso do Sul configuram-se duas das 12 Regiões
Hidrográficas do Brasil, conforme definidas pela Resolução do CNRH nº 32/2003:
a Região Hidrográfica do Paraguai, constituída pela bacia do rio Paraguai, a oeste,
e a Região Hidrográfica do Rio Paraná, constituída pela bacia do rio Paraná, a leste.
Esta configuração delimita claramente no Estado o divisor de águas que se estende
de nordeste a sudoeste. Abaixo é apresentado as principais sub-bacias hidrográficas
para cada uma das bacias hidrográficas que compreende o estado do Mato Grosso
do Sul.

A Região Hidrográfica do Paraná ocupa a área total de 169.488,663 km², o


que representa aproximadamente 47,46% da área do Estado. Nesta Região destacam-
se os rios Aporé, Sucuriú, Verde, Pardo, Ivinhema, Amambai e Iguatemi, à margem
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direita do rio Paraná. O rio Paraná tem como principais formadores os rios Paranaíba
e Grande, no tríplice limite entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato
Grosso do Sul. A Região Hidrográfica do Paraguai em Mato Grosso do Sul ocupa a
área de 187.636,301 km², que representa 52,54% da área total do Estado. Destacam-
se nesta Região os rios Taquari, Miranda, Negro e Apa, à margem esquerda do rio
Paraguai. Nesta Região, que compreende o Pantanal Matogrossense, ”a dinâmica
das águas superficiais está vinculada a fatores como declividade e descarga dos
principais rios que atravessam a área, aliados ao regime climático, natureza dos
solos e suporte geológico.” (BRASIL, MME, 1982). O mapa abaixo exemplifica o
descrito anteriormente.

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ÁGUAS SUPERFICIAIS NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL

As unidades hidrogeológicas ou sistemas aquíferos do Estado de Mato Grosso do


Sul são identificados por dois grandes grupos de rochas, as sedimentares, definindo
os aquíferos porosos, e as ígneas-metamórficas, que constituem os aquíferos
fraturados ou de fissuras. Os aquíferos porosos ocorrem nas bacias sedimentares
do Paraná e do Pantanal e os fraturados, no embasamento cristalino e em uma
formação da Bacia do Paraná. Consideram-se oito unidades aquíferas para o Estado
de Mato Grosso do Sul.

• Sistema Aquífero Cenozóico


• Sistema Aquífero Bauru
• Sistema Aquífero Serra Geral
• Sistema Aquífero Guarani
• Sistema Aquífero Aquidauana-Ponta Grossa
• Sistema Aquífero Furnas
• Sistema Aquífero Pré-cambriano Calcários
• Sistema Aquífero Pré-cambriano

ANOTAÇÕES

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Aula
USO DOS RECURSOS 02
HÍDRICOS NO BRASIL

O uso dos recursos hídricos no Brasil é bastante múltiplo, com exceção


do semi-árido, as demais regiões possuem disponibilidades em quantidades
suficientes para as atividades industriais, irrigação e abastecimento doméstico.

O uso múltiplo dos recursos hídricos implicam na retirada de água


dos recursos hídricos, enquanto outros estão associados a atividades que se
desenvolvem no próprio ambiente aquático.Podendo ser definido como uso
consuntivo e uso não consuntivo.
O uso consuntivo é quando água captada do manancial superficial ou
subterrâneo e somente parte dela retorna ao reservatório natural.
A simplificação para determinação do uso consuntivo da água pode ser
expresso da seguinte forma:

Usos consuntivos = Volumes consumidos


Volumes captados
A vazão de retirada para usos consuntivos no País, para o ano de referência
de 2006, foi de 1.841 m³/s. No Brasil, o setor de irrigação é o que possui a maior
parcela de vazão de retirada (cerca de 47% do total). Verifica-se que para o
abastecimento urbano são reservados 26% do total, 17% para indústria, 8% para
dessedentação animal e apenas 2% para abastecimento rural (Figura abaixo).
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Irrigação 47% Animal 8% Industrial 17%

Rural 2% Urbano 26%

Figura. Distribuição das demandas consuntivas pela finalidade de uso


Fonte Agência Nacional de Águas

Analisando os resultados por Região Hidrográfica como mostra a figura


abaixo, nota-se que a região do Paraná é responsável por 27% das retiradas no País,
sendo quase duas vezes maior que a segunda colocada, que é a região Atlântico Sul
(15%), seguida das regiões hidrográficas Atlântico Nordeste Oriental e Atlântico
Sudeste, São Francisco e Uruguai. As menores retiradas estão nas bacias do Atlântico
Nordeste Ocidental, Parnaíba, Paraguai, Amazônica e Tocantins-Araguaia

Figura. Distribuição das demandas consuntivas por finalidade de uso por região hidrográfica.

Fonte Agência Nacional de Águas

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SANEAMENTO

Segundo dados referentes ao ano de 2006, a cobertura dos serviços de


atendimento urbano de água no Brasil obteve índice igual a 89%.
As regiões hidrográficas com os melhores índices de abastecimento urbano
de água são: Atlântico Leste, com 97,0%, Paraguai, com 96,9%, São Francisco,
96,2% e Paraná com 95,9%. Quanto aos piores índices, estes foram encontrados
nas regiões hidrográficas Tocantins-Araguaia, com 72,7%, Amazônica, com 75,0%
e Atlântico Nordeste Ocidental, com 75,5%. Estes índices também estão mostrados
no gráfico abaixo.

Gráfico. Distribuição percentual do atendimento urbano da água por região hidrográfica


Fonte Agência Nacional de Águas

IRRIGAÇÃO

Atividade humana que demanda maior quantidade total de água. Em termos


mundiais, estima-se que esse uso responda por cerca de 70% das derivações de
água. A área irrigada do Brasil, estima-se que a área irrigada no Brasil seja na ordem
de 4,6 milhões de hectares. Na figura abaixo observa-se que 44% da produção
mundial de alimentos é proveniente de área irrigadas e estas correspondem a 18%
da área mundial cultivada.
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Fonte Unesco

Os valores por região hidrográfica (Figura abaixo) mostram que as regiões


do Paraná, Atlântico Sul, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco e Uruguai
possuem as maiores áreas irrigadas no País. Por outro lado, os menores valores
são observados nas regiões do Parnaíba, Amazônica, Paraguai e Atlântico Nordeste
Ocidental, totalizando uma área irrigada de aproximadamente 4,6 milhões de
hectares.

Fonte Agência Nacional de Águas

E os métodos de irrigação que mais usam água são os por inundação devido
principalmente ao cultivo de arroz irrigado, e o outro método que mais usa água é o
por aspersão onde inclui os métodos de aspersão convencionais e também o uso de
pivô centrais como mostra o gráfico abaixo.
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Fonte Agência Nacional de Águas

USINAS HIDRELÉTRICAS

A razão de se ter priorizado a implantação de usinas hidrelétricas no Brasil


deve-se, primordialmente, ao vasto potencial hidrelétrico existente no país e à
competitividade econômica que tais fontes apresentam.
O potencial hidrelétrico aproveitado no Brasil, de acordo com levantamento
de dezembro/2007, é de 81.035 MW. A região hidrográfica do Paraná é a que
possui o maior aproveitamento desse potencial hidrelétrico com 46.806 MW,
correspondendo a 58% do total instalado do país. Em seguida vêm as regiões
Tocantins-Araguaia, com 11.573 MW (14%) e São Francisco, com 10.473 MW
(13%).
Dentre as usinas hidrelétricas em operação no país, destacam-se: Itaipu,
com 14.000 MW, Ilha Solteira, com 3.444 MW e Itumbiara, com 2.280 MW, na RH
do Paraná; Tucuruí I, com 4.200 MW, na Tocantins-Araguaia; Xingó, com 3.000
MW e Paulo Afonso 4, com 2.460 na RH do São Francisco.
A preocupação que há em relação a geração de energia com uso de água
é o impacto ambiental que esta pode causar em determinada região com especial
destaque para a área inundada pelos reservatórios e suas conseqüências sobre o
meio físico-biótico e sobre as populações atingidas.
As preocupações com essas questões são agravadas pelo fato da maior parte
do potencial hidrelétrico hoje remanescente estar localizado em áreas de condições
sócio-ambientais delicadas
No mapa abaixo são apresentados os valores de potenciais hidrelétricos do
Brasil.
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Fonte Agência Nacional de Águas

TRANSPORTE

O Brasil conta com aproximadamente 40.000 km de rede hidroviária


potencialmente navegável, porém vem sendo pouco exploradas suas potencialidades.
As principais hidrovias encontram-se nas bacias hidrográficas Amazonica, Nordeste,
Tocantins/Araguaia, São Francisco, Sudeste e Uruguai. No mapa abaixo mostram
uma ilustração das principais rotas de transporte pelas hidrovias brasileiras.

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VENEZUELA GUIANA
FRANCESA
COLÔMBIA SURINAME
GUIANA

PERU

BOLÍVIA

PARAGUAI
CHILE

ARGENTINA

URUGUAI

Fonte Agência Nacional de Águas

Principais hidrovias brasileiras

INDÚSTRIA

A indústria representa aproximadamente 17 % do uso da água no


Brasil. Segundo o ministério do trabalho, existiam no Brasil em 2000, 218.171
estabelecimentos industriais, empregando 4.863.434 pessoas. Sendo os grandes
pólos industriais encontrados principalmente na zona costeira brasileira, destacando-
se as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Salvador.
Entretanto a indústria é fonte de poluição pontual, cujos impactos sobre
os recursos hídricos são amplos; as águas utilizadas nos processos industriais,
podem estar contaminadas com os mais diversos produtos químicos, muitas vezes
caracterizam-se por uma elevada carga de poluentes, as águas de lavagem de
equipamentos industriais e as águas de arrefecimento, descarregadas em grandes
volumes e em temperaturas elevadas podem modificar profundamente as condições
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ecológicas dos cursos de água por estes motivos existam algumas preocupações em
relação ao consumo e uso da água pela industria. Além do efeito tóxico imediato, e
algumas vezes cancerígeno, de alguns poluentes, existe o perigo de bioacumulação
nos organismos com metais pesados. A disposição inadequada de resíduos sólidos
industriais constitui também fonte de poluição das águas subterrâneas.

AGROPECUÁRIA

O uso de água pela agropecuária


estima-se em 10%, somando-se o uso
rural e o uso pelos animais.
O crescimento da
especialização regional em fruticultura
irrigada e carcinicultura (criação de
crustáceos) no Nordeste, produção de
grãos e pecuária de corte e clusters
agroindustriais no Centro Oeste, cana
de açúcar, laranja e café em São Paulo
tem sido fatores determinantes no uso
da água na agropecuária.
Entretanto a maior preocupação em relação ao uso da água pela agropecuária
são os impactos negativos em relação aos recursos hídricos decorrentes,
principalmente, do uso e manejo inadequados das terras.
A erosão hídrica, sinal mais evidente da degradação das terras (perda da
capacidade de infiltração de água e pulverização excessiva e compactação do
solo), pode ser evidenciado através de seus efeitos diretos e indiretos, provocando
assoreamento de rios, transportes de partículas de solo, redução de produtividade
das culturas entre outros.
Há ainda o uso de água na aqüicultura, porém com porcentagens mais
baixas quando comparada ao uso pela irrigação, industria, usinas hidrelétricas e
pela agropecuária.
Mas vale ressaltar que o Brasil tem grandes potenciais do uso da água
devido sua qualidade em aqüicultura e também com o uso para o turismo.
O uso não consuntivo é toda a água captada que retorna ao manancial de
origem.

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Associação entre os usos da água e requisitos de qualidade


Uso Geral Uso específico Qualidade requerida
Abastecimento doméstico Consumo humano, • Isenta de susbstancias
de água higiene pessoal e usos químicas prejudiciais à
domésticos saúde
• Adequada para servi-
ços domésticos
• Baixa agressividade e
dureza
• Esteticamente agradá-
vel( baixa turbidez, cor,
sabor e odor; ausência
de micro e macroorga-
nismos)
Abastecimento Industrial A água não entra em • Baixa agressividade e
contato com o produto ( dureza
refrigerante, caldeiras)
A água entra em contato • Variável com o produto
com o produto
A água é incorporado • Isenta de substancias
ao produto( alimentos, químicas e organismos
bebidas, remédios) prejudiciais a saúde
• Esteticamente agradá-
vel ( baixa turbidez,
cor, sabor e odor)
Irrigação Hortaliças, produtos • Isenta de substancias
ingeridos crus ou com químicas e organismos
casca prejudiciais a saúde
• Salinidade não exces-
siva
Demais plantas cultivadas • Isenta de substancias
prejudiciais ao solo e as
plantações
Dessedentação de animais - • Isenta de substancias
químicas e organismos
prejudiciais a saúde dos
animais
Preservação da flora e da - • Variável com os re-
fauna quisitos ambientais da
flora e da fauna que se
deseja preservar
Recreação e Lazer Contato primário ( contato • Isenta de substancias
direto com o meio liquido químicas e organismos
ex: surf, natação ) prejudiciais a saúde
• Baixos teores de sóli-
dos em suspensão, óle-
os e graxas

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Contato secundário ( • Aparência agradavel


não há contato direto
com o meio liquido ex:
navegação de lazer, pesca
e lazer contemplativo)
Geração de Energia Usinas hidrelétricas • Baixa agressividade
Usinas nucleares ou • Baixa dureza
termoelétricas (ex; torres
de resfriamento)
Transporte - • Baixa presença de ma-
terial grosseiro que
possa por em risco as
embarcações
Aquicultura - • Presença de nutrientes
e qualidade compatível
com as exigências das
espécies a serem culti-
vadas
Paisagismo Estética e conforto
térmico

RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E DISPONIBILIDADE HÍDRICA

Segundo o gráfico apresentado na Figura abaixo, a situação do balanço


hídrico ao longo dos principais cursos d’água do Brasil é bastante confortável, com
73% da extensão dos rios analisados classificados como excelente de acordo com
dados de 2007.
Região Hidrográfica Amazônica, detém 73,6% dos recursos hídricos
superficiais e contribui com apenas 4% demanda de retirada do Brasil. Esta
região possui todos os trechos de rios analisados com uma relação entre demanda
e disponibilidade excelente. As regiões hidrográficas do Paraguai, Tocantins-
Araguaia e Atlântico Nordeste Ocidental também possuem situações bastante
confortáveis quanto ao balanço hídrico, apresentando acima de 88% de seus rios
principais como: “excelente” e “confortável.
A região hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental é a que possui a situação
mais crítica em relação à demanda e disponibilidade no país, com 91% de seus
rios analisados classificados como possuindo situação muito crítica, crítica ou
preocupante. Este fato se deve principalmente à baixa disponibilidade hídrica da
região, acarretada pela combinação de baixa pluviosidade e alta evapotranspiração.
Também se encontram em situação de risco quanto ao balanço hídrico, as
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RHs: Atlântico Leste, com 70% de seus principais rios classificados com situação
“muito crítica”, “crítica”, e “preocupante”; Atlântico Sul, com 59%; e São Francisco,
com 44%.

Excelente 73% Confortável 9% Preocupante 5%


Crítica 4% Muito crítica 9%

Fonte Agência Nacional de Águas

Figura. Situação dos principais rios brasileiros quanto a relação demanda/disponibilidade

RECURSOS HÍDRICOS

São as águas, na forma que se apresentam, como rios, ribeirões, córregos,


lagos, lagoas, nascentes, águas subterrâneas, etc. Até mesmo a água das chuvas
podem ser consideradas também como recursos hídricos.
Considerando que os recursos hídricos encontram-se espalhados por todo
o Estado, as ações de proteção, conservação e recuperação das nossas águas são
realizadas nas bacias hidrográficas, e delas todos poderão participar. É a gestão dos
recursos hídricos, descentralizada e participativa.

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ANOTAÇÕES

36
Aula
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

OUTORGA - PRINCIPAIS 03
ASPECTOS

A outorga para o uso das águas é o documento legal, fornecido pelo Estado,
que autoriza e assegura ao usuário o direito de utilizar os recursos hídricos. A
outorga não concede ao usuário a propriedade sobre a água. Tão somente dá o
direito de utilizá-la. Tanto é que em casos de escassez ou de desobediência dos
termos da outorga, a legislação prevê a suspensão da outorga.
A partir da Constituição Federal de 1.988, a União e os Estados passaram
a deter o domínio sobre as águas. Desta forma, para que as entidades particulares,
inclusive as pessoas físicas, e mesmo as públicas pudessem utilizar as águas, o
poder público instituiu a outorga para melhor controlar este uso. A outorga das
águas de rios federais é concedida pela Agência Nacional de Águas – ANA.
A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos
da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso III, do art. 5º
da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento tem como
objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o
efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
De acordo com o inciso IV, do art. 4º da Lei Federal nº 9.984, de 17
de junho de 2000, compete à Agência Nacional de Águas, ANA outorgar, por
intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de
água de domínio da União, bem como emitir outorga preventiva. Também é
competência da ANA a emissão da reserva de disponibilidade hídrica para fins de
aproveitamentos hidrelétricos e sua conseqüente conversão em outorga de direito
de uso de recursos hídricos.
Em cumprimento ao art. 8º da citada Lei 9.984/00, a ANA dá publicidade
aos pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos e às respectivas
autorizações, mediante publicação sistemática das solicitações e dos extratos
das Resoluções de Outorga (autorizações) nos Diários Oficiais da União e do
respectivo Estado.
O número de outorgas emitidas no Brasil, de acordo com o levantamento
feito em 2007, é de 135.680, representando uma vazão outorgada total de
3.520,90m3/s.
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

As outorgas emitidas para o uso de águas superficiais no Brasil correspondem


a 58% do total de emissões, ficando as águas subterrâneas com 42%. Em relação à
vazão, este percentual aumenta bastante, ficando as águas superficiais representando
93% da vazão total outorgada no país.
As vazões outorgadas para fins de irrigação correspondem a 51% do total
outorgado no Brasil. Já o abastecimento público representa 28%, e o consumo
industrial 10% deste total (Figura abaixo). Considerando-se o número de outorgas
emitidas, o abastecimento público é responsável pela emissão de 33%, enquanto
que o uso para a irrigação fica com 21% do total de outorgas.

Irrigação 51,4% Não delarado 0,7% Outros 4,2%

Abastecimento público 27,5% Aquicultura 4,0% Esgotamento sanitário 1,6%

Dess animais 0,3% Consumo industrial 10,4%

Fonte Agência Nacional de Águas


Distribuição das vazões outorgadas no Brasil quanto às principais finalidades de uso


A região hidrográfica do Paraná é a que possui maior vazão outorgada
com 1.301,38 m³/s, correspondendo a 37% da vazão total outorgada no país. Em
seguida, vem a RH do São Francisco com 22% do total outorgado. Na Figura abaixo
são apresentada a distribuição das vazões outorgadas por região hidrográfica e por
principais finalidades de uso.
Em termos de vazão outorgada, nota-se que nas regiões Atlântico Sul, São
Francisco, Tocantins-Araguaia e Uruguai o uso predominante é a irrigação. Já as
RHs Atlântico Leste, Atlântico Sudeste e Paraná possuem maiores valores de vazão
outorgada para o abastecimento público.

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Abastecimento público Indústria Irrigação Outros


Fonte Agência Nacional de Águas
Figura. Distribuição da vazão outorgada por finalidade de uso e por bacia hidrográfica

LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997

Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional


de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que
modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

CAPÍTULO I
DOS FUNDAMENTOS
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais;
IX - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas;
IV - a bacia hidrográfica e a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural
ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

CAPÍTULO III
DAS DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO
Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional
de Recurso Hídricos:
I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de
quantidade e qualidade;
II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas,
demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;
III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários
e com os planejamentos regional, estadual e nacional;
V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;
VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos
e zonas costeiras.
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Art. 4º A União articular-se-á com os Estados tendo em vista o gerenciamento dos


recursos hídricos de interesse comum.

CAPÍTULO IV
DOS INSTRUMENTOS
Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes
da água,
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

SEÇÃO I
DOS PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS
Art. 6º Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a
fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos
e o gerenciamento dos recursos hídricos.
Art. 7º Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte
de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e
projetos e terão o seguinte conteúdo mínimo:
I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;
II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades
produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;
III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em
quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade
dos recursos hídricos disponíveis;
V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem
implantados, para o atendimento das metas previstas;
VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;
IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção
dos recursos hídricos.
Art. 8º Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados por bacia hidrográfica, por
Estado e para o País.

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

SEÇÃO II
DO ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES,
SEGUNDO OS USOS PREPONDERANTES DA ÁGUA
Art. 9º O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes da água, vi sa a:
I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem
destinadas;
II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes.
Art. 10. As classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislação ambiental.

SEÇÃO III
DA OUTORGA DE DIREITOS DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
Art. 11. O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como
objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo
exercício dos direitos de acesso à água.
Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos
de recursos hídricos:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para
consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um corpo de água.
§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento:
I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos no meio rural;
II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.
§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia
elétrica estará subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado na
forma do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecida a disciplina da
legislação setorial específica.
Art. 13. Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas
nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de
água estiver enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao transporte
aquaviário, quando for o caso.
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Parágrafo único. A outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso
múltiplo destes.
Art. 14. A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo
Federal, dos Estados ou do Distrito Federal.
§ 1º O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao Distrito Federal
competência para conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio
da União.
Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial
ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:
I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;
II - ausência de uso por três anos consecutivos;
III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive
as decorrentes de condições climáticas adversas;
IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
V - necessidade de se atender a usos prioritários , de interesse coletivo, para os
quais não se disponha de fontes alternativas;
VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo
de água.
Art. 16. Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não
ex cedente a trinta e cinco anos, renovável.
Art. 17. (VETADO)
Art. 18. A outorga não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis,
mas o simples direito de seu uso.

SEÇÃO IV
DA COBRANÇA DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu
real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos de recursos hídricos.
Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos termos
do art. 12 desta Lei.
Art. 21. Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos
devem ser observados, dentre outros:
I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime
de variação;
43
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume


lançado e seu regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e
de toxidade do afluente.
Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão
aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e serão
utilizados:
I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos
de Recursos Hídricos;
II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é limitada a sete e
meio por cento do total arrecadado.
§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a fundo perdido
em projetos e obras que alterem, de modo considerado benéfico à coletividade, a
qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um corpo de água.

SEÇÃO V
DA COMPENSAÇÃO A MUNICÍPIOS
SEÇÃO VI
DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS
Art. 25. O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta,
tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos
e fatores intervenientes em sua gestão.
Parágrafo único. Os dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos serão incorporados ao Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos.
Art. 26. São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Informações
sobre Recursos Hídricos:
I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações;
II - coordenação unificada do sistema;
III - acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.
Art. 27. São objetivos do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos:
I - reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação
qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;
II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de
recursos hídricos em todo o território nacional;
III - fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

44
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

CAPÍTULO V
DO RATEIO DE CUSTOS DAS OBRAS DE USO MÚLTIPLO, DE
INTERESSE COMUM OU COLETIVO
CAPÍTULO VI
DA AÇÃO DO PODER PÚBLICO
Art. 29. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, compete ao
Poder Executivo Federal:
I - tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamento do
Sistema de Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
II - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e fiscalizar os
usos, na sua esfera de competência;
III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito
nacional;
IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.
Parágrafo único. O Poder Executivo Federal indicará, por decreto, a autoridade
responsável pela efetivação de outorgas de direito de uso dos recursos hídricos sob
domínio da União.
Art. 30. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabe aos
Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal, na sua esfera de competência:
I - outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e regulamentar e fiscalizar os
seus usos;
II - realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica;
III - implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em âmbito
estadual e do Distrito Federal;
IV - promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.
Art. 31. Na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, os Poderes
Executivos do Distrito Federal e dos municípios promoverão a integração das
políticas locais de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de
meio ambiente com as políticas federal e estaduais de recursos hídricos.

TÍTULO II
DO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS
HÍDRICOS
CAPÍTULO I
DOS OBJETIVOS E DA COMPOSIÇÃO
Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
com os seguintes objetivos:
I - coordenar a gestão integrada das águas;
II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
45
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;


IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos
hídricos;
V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos:
I - o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
I-A. - a Agência Nacional de Águas;
II - os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;
III - os Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV - os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e
municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos;
V - as Agências de Água.
__________
Nota:
Redação dada pela Lei nº 9.984/2000
Redação anterior:
Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos:
I - o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
II - os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;
III - os Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV - os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais cujas
competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos;
V - as Agências de Água.
__________

CAPÍTULO II
DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:
I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com
atuação no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;
II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;
IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.
Parágrafo único. O número de representantes do Poder Executivo Federal não
poderá ceder à metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos.
Art. 35. Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos:
I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos
nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;
46
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre


Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas
repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;
IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;
V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à
Política Nacional de Recursos Hídricos;
VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional
de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e
estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
IX - acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e
determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
__________
Nota:
Redação dada pela Lei nº 9.984/2000
Redação anterior:
IX - acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar
as providências
necessárias ao cumprimento de suas metas;
__________
X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos
e para a cobrança por seu uso.
Art. 36. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos será gerido por:
I - um Presidente, que será o Ministro titular do Ministério do Meio Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;
II - um Secretário Executivo, que será o titular do órgão integrante da estrutura
do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal,
responsável pela gestão dos recursos hídricos.

CAPÍTULO III
DOS COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA
Art. 37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:
I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;
II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de
tributário desse tributário; ou
III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.
47
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio


da União será efetivada por ato do Presidente da República.
Art. 38. Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de
atuação:
I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a
atuação das entidades intervenientes;
II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos
recursos hídricos;
III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;
IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as
providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as
acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito
de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de
acordo com os domínios destes;
VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir
os valores a serem cobrados;
VII - (VETADO)
VIII - (VETADO)
IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo.
Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá recurso
ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo
com sua esfera de competência.
Art. 39. Os Comitês de Bacia Hidrográfica são compostos por representantes:
I - da União;
II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que
parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação;
III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação;
IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;
V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.
§ 1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo, bem como
os critérios para sua indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos comitês,
limitada a representação dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal
e Municípios à metade do total de membros.
§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços e
transfronteiriços de gestão compartilhada, a representação da União deverá incluir
um representante do Ministério das Relações Exteriores.
§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam terras
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

indígenas devem ser incluídos representantes:


I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da União;
II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.
§ 4º A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica com área de atuação
restrita a bacias de rios sob domínio estadual, dar-se-á na forma estabelecida nos
respectivos regimentos.
Art. 40. Os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos por um Presidente e um
Secretário, eleitos dentre seus membros.

CAPÍTULO IV
DAS AGÊNCIAS DE ÁGUA
Art. 41. As Agências de Água exercerão a função de secretaria executiva do
respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica.
Art. 42. As Agências de Água terão a mesma área de atuação de um ou mais Comitês
de Bacia Hidrográfica.
Parágrafo único. A criação das Agências de Água será autorizada pelo Conselho
Nacional de Recursos Hídricos ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos
mediante solicitação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica.
Art. 43. A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimento dos
seguintes requisitos:
I - prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;
II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em
sua área de atuação.
Art. 44. Compete às Agências de Água no âmbito de sua área de atuação:
I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área
de atuação;
II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;
III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos
hídricos;
IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com
recursos gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e encaminhá-los à
instituição financeira responsável pela administração desses recursos;
V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança
pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;
VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação;
VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de
suas competências;
VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do respectivo
ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;
49
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua


área de atuação;
X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de
Bacia Hidrográfica;
XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:
a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento
ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de
acordo com o domínio destes;
b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;
c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de
recursos hídricos;
d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

CAPÍTULO V
DA SECRETARIA EXECUTIVA DO CONSELHO NACIONAL DE
RECURSOS HÍDRICOS
Art. 45. A Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos será
exercida pelo órgão integrante da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, responsável pela gestão dos recursos
hídricos.
Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos:
I - prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de
Recursos Hídricos;
II - coordenar a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e encaminhá
-lo à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
__________
Nota:
Revogado pela Lei nº 9.984/2000
__________
III - instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV - coordenar o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos;
__________
Nota:
Revogado pela Lei nº 9.984/2000
__________
V - elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e
submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
50
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

V - elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e


submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

CAPÍTULO VI
DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS DE RECURSOS HÍDRICOS
Art. 47. São consideradas, para os efeitos desta Lei, organizações civis de recursos
hídricos:
I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidro gráficas;
II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;
III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos
hídricos;
IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos
e coletivos da sociedade;
V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos.
Art. 48. Para integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, as organizações
civis de recursos hídricos devem ser legalmente constituídas.

TÍTULO III
DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES
Art. 49. Constitui infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais
ou subterrâneos:
I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva
outorga de direito de uso;
II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação
ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique
alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mes mos, sem autorização dos
órgãos ou entidades competentes;
III - (VETADO)
IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados
com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga;
V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida
autorização;
VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores
diferentes dos medidos;
VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos
administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos
ou entidades competentes;
VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no
exercício de suas funções.
51
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Art. 50. Por infração de qualquer disposição legal ou regulamentar referentes


à execução de obras e serviços hidráulicos, derivação ou utilização de recursos
hídricos de domínio ou administração da União, ou pelo não atendimento das
solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito as
seguintes penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:
I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das
irregularidades;
II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$100,00
(cem reais) a R$10.000,00 (dez mil reais);
III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviços e
obras necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o
cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos
recursos hídricos;
IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor
incontinenti, no seu antigo estado, os recursos hídricos, leitos e margens, nos termos
dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços de extração de água
subterrânea.
§ 1º Sempre que da infração cometida resultar prejuízo a serviço público de
abastecimento de água, riscos à saúde ou à vida, perecimento de bens ou animais,
ou prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a multa a ser aplicada nunca será
inferior à metade do valor máximo cominado em abstrato.
§ 2º No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa, serão
cobradas do infrator as despesas em que incorrer a Administração para tornar
efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dos arts. 36, 53, 56 e 58
do Código de Águas, sem prejuízo de responder pela indenização dos danos a que
der causa.
§ 3º Da aplicação das sanções previstas neste título caberá recurso à autoridade
administrativa competente, nos termos do regulamento.
§ 4º Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.

TÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 51. Os consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas
mencionados no art. 47 poderão receber delegação do Conselho Nacional ou dos
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, por prazo determinado, para o exercício
de funções de competência das Agências de Água, enquanto esses organismos não
estiverem constituídos.
Art. 52. Enquanto não estiver aprovado e regulamentado o Plano Nacional de
Recursos Hídricos, a utilização dos potenciais hidráulicos para fins de geração de
52
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

energia elétrica continuará subordinada à disciplina da legislação setorial específica.


Art. 53. O Poder Executivo, no prazo de cento e vinte dias a partir da publicação
desta Lei, encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a
criação das Agências de Água.
Art. 54. O art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, passa a vigorar com a
seguinte redação:
"Art. 1º........................................................................................................................
...............
III - quatro inteiros e quatro décimos por cento à Secretaria de Recursos Hídricos do
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal;
IV - três inteiros e seis décimos por cento ao Departamento Nacional de Águas e
Energia Elétrica - DNAEE, do Ministério de Minas e Energia;V - dois por cento ao
Ministério da Ciência e Tecnologia
.......................................................................
§ 4º A cota destinada à Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal será empregada na implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos e na gestão da rede hidrometeorológica nacional.
§ 5º A cota destinada ao DNAEE será empregada na operação e expansão de sua
rede
hidrometeorológica, no estudo dos recursos hídricos e em serviços relacionados ao
aproveitamento da energia hidráulica."
Parágrafo único. Os novos percentuais definidos no caput deste artigo entrarão em
vigor no prazo de cento e oitenta dias contados a partir da data de publicação desta
Lei.
Art. 55. O Poder Executivo Federal regulamentará esta Lei no prazo de cento e
oitenta dias, contados da data de sua publicação.
Art. 56. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 57. Revogam -se as disposições em contrário.

LEI Nº 9.984, DE 17 DE JULHO DE 2000.

Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Água - ANA, entidade federal


de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências.

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

CAPÍTULO I
DOS OBJETIVOS
Art 1º Esta Lei cria a Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, integrante do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estabelecendo regras para a sua
atuação, sua estrutura administrativa e suas fontes de recursos.

CAPÍTULO II
DA CRIAÇÃO, NATUREZA JURÍDICA E COMPETÊNCIA DA AGÊNCIA
NACIONAL DE ÁGUAS - ANA
Art 2º Compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos promover a articulação
dos planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários elaborados
pelas entidades que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos e formular a Política Nacional de Recursos Hídricos, nos termos da Lei nº
9.433, de 8 de janeiro de 1997.
Art 3º Fica criada a Agência Nacional de Águas - ANA, autarquia sob regime
especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente, com a finalidade de implementar, em sua esfera de atribuições,
a Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Parágrafo único. A ANA terá sede e foro no Distrito Federal, podendo instalar
unidades administrativas regionais.
Art 4º A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos, diretrizes e
instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e será desenvolvida em
articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cabendo-lhe:
I - supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento
da legislação federal pertinente ao recursos hídricos;
II - disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o
54
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos;


III - (VETADO)
IV - outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso do recursos hídricos
em corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos arts. 5º, 6º, 7º e
8º;
V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União;
VI - elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional
de Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos
de domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos
Comitês de Bacia Hidrográfica, na forma do inciso VI do art. 38 da Lei nº 9.433,
de 1997;
VII - estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia
Hidrográfica;
VIII - implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a
cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;
IX - arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança
pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no art. 22
da Lei nº 9.433, de 1997.
X - planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de
secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil,
em apoio aos Estados e Municípios;
XI - promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos
financeiros da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de
alocação e distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância
com o estabelecido nos planos de recursos hídricos;
XII - definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes
públicos e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos,
conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias
hidrográficas;
XIII - promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede
hidrometerológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou
privadas que a integram, ou que dela sejam usuárias;
XIV - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre
Recursos Hídricos;
XV - estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de
recursos hídricos;
XVI - prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos;
XVII - propor ao Conselho Nacional de recursos Hídricos o estabelecimento de
55
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

incentivos, inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de


recursos hídricos.
XVIII - participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e
supervisionar a sua implementação.
__________
Nota:
Acrescentado pela MP2.049-21/2000 e convalidado pela MP2.216-37/2001
__________
§ 1º Na execução das competências a que se refere o inciso II deste artigo, serão
considerados, nos casos de bacia hidrográficas compartilhadas com outros países,
os respectivos acordos e tratados.
§ 2º As ações a que se refere o inciso X deste artigo, quando envolverem a aplicação
de racionamentos preventivos, somente poderão ser promovidas mediante a
observância de critérios a serem definidos em decreto do Presidente da República.
§ 3º Para os fins do disposto no inciso XII deste artigo, a definição de condições
de operação de reservatórios de aproveitamentos hidrelétricos será efetuada em
articulação com o Operador nacional do Sistema Elétrico - ONS.
§ 4º A ANA poderá delegar ou atribuir a agências de água ou de bacia hidrográfica
a execução de atividades de sua competência, nos termos do art. 44 da Lei nº 9.433,
de 1997, e demais dispositivos legais aplicáveis.
§ 6º A aplicação das receitas de que trata o inciso IX será feita de forma
descentralizada, por meio das agências de que trata o Capítulo IV do Título II da
Lei nº 9.433, de 1997, e, na ausência ou impedimento destas, por outras entidades
pertencentes ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
§ 7º Nos atos administrativos de outorga de direito de uso de recurso hídricos de
cursos de água que banham o semi-árido nordestino, expedidos nos termos do
inciso IV deste artigo, deverão constar, explicitamente, as restrições decorrentes
dos incisos III e V do art. 15 da Lei nº 9.433, de 1997.
Art 5º Nas outorgas de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União,
serão respeitados os seguintes limites de prazos, contados da data de publicação dos
respectivos atos administrativos de autorização:
I - até dois anos, para início da implantação do empreendimento objeto da outorga;
II - até seis anos, para conclusão da implantação do empreendimento projetado;
III - até trinta e cinco anos, para vigência da outorga de direito de uso.
§ 1º Os prazos de vigência das outorgas de direito de uso de recursos hídricos
serão fixados em função da natureza e do porte do empreendimento, levando -se em
consideração, quando for o caso, o período de retorno do investimento.
§ 2º Os prazos a que se referem o incisos I e II poderão ser ampliados, quando o
porte e a importância social e econômica do empreendimento o justificar, ouvido o
Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
56
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

§ 3º O prazo de que trata o inciso III poderá ser prorrogado, pela ANA, respeitando-
se as prioridades estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos.
§ 4º As outorgas de direito de uso de recursos hídricos para concessionárias e
autorizadas de serviços públicos e de geração de energia hidrelétrica vigorarão por
prazos coincidentes com os dos correspondentes contratos de concessão ou ato
administrativo de autorização.
Art 6º A ANA poderá emitir outorgas preventivas de uso de recursos hídricos, com a
finalidade de declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, observado
o disposto no art. 13 da Lei nº 9.433, de 1997.
§ 1º A outorga preventiva não confere direito de uso de recursos hídricos e se
destina a reservar a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores, o
planejamento de empreendimentos que necessitem desses recursos.
§ 2º O prazo de validade da outorga preventiva será fixado levando-se em conta a
complexidade do planejamento do empreendimento, limitando-se ao máximo de
três anos, findo o qual será considerado o disposto nos incisos I e II do art. 5º.
Art 7º Para licitar a concessão ou autorizar o uso de potencial de energia hidráulica
em corpo de água de domínio da União, a Agência Nacional de Energia Elétrica -
ANEEL deverá promover, junto à ANA, a prévia obtenção de declaração de reserva
de disponibilidade hídrica.
§ 1º Quando o potencial hidráulico localizar -se em corpo de água de domínio dos
Estados ou do Distrito Federal, a declaração de reserva de disponibilidade hídrica
será obtida em articulação com a respectiva entidade gestora de recursos hídricos.
§ 2º A declaração de reserva de disponibilidade hídrica será transformada
automaticamente, pelo respectivo poder outorgante, em outorga de direito de uso
de recursos hídricos à instituição ou empresa que receber da ANEEL a concessão
ou a autorização de uso do potencial de energia hidráulica.
§ 3º A declaração de reserva de disponibilidade hídrica obedecerá ao disposto no
art. 13 da Lei nº 9.433, de 1997, e será fornecida em prazos a serem regulamentados
por decreto do Presidente da República.
Art 8º A ANA dará publicidade aos pedidos de outorga de direito de uso de recursos
hídricos de domínio da União, bem como aos atos administrativos que deles
resultarem, por meio de publicação na imprensa oficial e em pelo menos um jornal
de grande circulação na respectiva região.

CAPÍTULO III
DA ESTRUTURA ORGÂNICA DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS -
ANA
Art 9º A ANA será dirigida por uma Diretoria Colegiada, composta por cinco
membros, nomeados pelo Presidente da República, com mandatos não coincidentes
57
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

de quatro anos, admitida uma única recondução consecutiva, e contará com uma
Procuradoria.
§ 1º O Diretor-Presidente da ANA será escolhido pelo Presidente da República
entre os membros da Diretoria Colegiada, e investido na função por quatro anos ou
pelo prazo que restar de seu mandato.
§ 2º Em caso de vaga no curso do mandato, este será completado por sucessor
investido na forma prevista no caput , que o exercerá pelo prazo remanescente.
Art 10. A exoneração imotivada de dirigentes da ANA só poderá ocorrer nos quatros
meses iniciais dos respectivos mandatos.
§ 1º Após o prazo a que se refere o caput , os dirigentes da ANA somente perderão o
mandato em decorrência de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado,
ou de decisão definitiva em processo administrativo disciplinar.
§ 2º Sem prejuízo do que prevêem as legislações penal e relativa à punição de atos
de improbidade administrativa no serviço público, será causa da perda do mandato
a inobservância, por qualquer um dos dirigentes da ANA, dos deveres e proibições
inerentes ao cargo que ocupa.
§ 3º Para os fins do disposto no § 2º, cabe ao Ministro de Estado do Meio Ambiente
instaurar o processo administrativo disciplinar, que será conduzido por comissão
especial, competindo ao Presidente da República determinar o afastamento
preventivo, quando for o caso, e proferir o julgamento.
Art 11. Aos dirigentes da ANA é vedado o exercício de qualquer outra atividade
profissional, empresarial, sindical ou de direção político-partidária.
§ 1º É vedado aos dirigentes da ANA, conforme dispuser o seu regimento interno,
ter interesse direto ou indireto em empresa relacionada com o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.
§ 2º A vedação de que trata o caput não se aplica aos casos de atividades profissionais
decorrentes de vínculos contratuais mantidos com entidades públicas ou privadas
de ensino e pesquisa.
Art 12. Compete à Diretoria Colegiada:
I - exercer a administração da ANA;
II - editar normas sobre matérias de competência da ANA;
III - aprovar o regimento interno da ANA, a organização, a estrutura e o âmbito
decisório de cada diretoria;
IV - cumprir e fazer cumprir as normas relativas ao Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
V - examinar e decidir sobre pedidos de outorga de direito de uso de recursos
hídricos de domínio da União;
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VI - elaborar e divulgar relatórios sobre as atividades da ANA;


VII - encaminhar os demonstrativos contábeis da ANA aos órgãos competentes;
VII - decidir pela venda, cessão ou aluguel de bens integrantes do patrimônio da
ANA; e
IX - conhecer e julgar pedidos de reconsideração de decisões de componentes da
Diretoria da ANA.
§ 1º A Diretoria deliberará por maioria simples de votos, e se reunirá com a presença
de, pelo menos, três diretores, entre eles o Diretor-Presidente ou seu substituto legal.
§ 2º As decisões relacionadas com as competências institucionais da ANA, previstas
no art. 3º, serão tomadas de forma colegiada.
Art 13. Compete ao Diretor -Presidente:
I - exercer a representação legal da ANA;
II - presidir as reuniões da Diretoria Colegiada;
III - cumprir e fazer cumprir as decisões da Diretoria Colegiada;
IV - decidir ad referendum da Diretoria Colegiada as questões de urgência;
V - decidir, em caso de empate, nas deliberações da Diretoria Colegiada;
VI - nomear e exonerar servidores, provendo os cargos em comissão e as funções
de confiança;
VII - admitir, requisitar e demitir servidores, preenchendo os empregos públicos;
VIII - encaminhar ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos os relatórios
elaborados pela
Diretoria Colegiada e demais assuntos de competência daquele Conselho;
IX - assinar contratos e convênios e ordenar despesas; e
X - exercer o poder disciplinar, nos termos da legislação em vigor.
Art 14. Compete à Procuradoria da ANA, que se vincula à Advocacia-Geral da
União para fins de orientação normativa e supervisão técnica:
I - representar judicialmente a ANA, com prerrogativas processuais de Fazenda
Pública;
II - representar judicialmente os ocupantes de cargos e de funções de direção,
inclusive após a cessação do respectivo exercício, com referência a atos praticados
em decorrência de suas atribuições legais ou institucionais, adotando, inclusive, as
medidas judiciais cabíveis, em nome e em defesa dos representados;
III - apurar a liquidez e certeza de créditos, de qualquer natureza, inerentes às
atividades da ANA, inscrevendo-os em dívida ativa, para fins de cobrança amigável
ou judicial; e
IV - executar as atividades de consultoria e de assessoramento jurídicos.
Art 15. (VETADO)
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
DO PATRIMÔNIO E DAS RECEITAS
Art 19. Constituem patrimônio da ANA os bens e direitos de sua propriedade, os
que lhe forem conferidos ou que venha a adquirir ou incorporar.
Art 20. Constituem receitas da ANA:
I - os recursos que lhe forem transferidos em decorrência de dotações consignadas no
Orçamento- Geral da União, créditos especiais, créditos adicionais e transferências
e repasses que lhe forem conferidos;
II - os recursos decorrentes da cobrança pelo uso de água de corpos hídricos de
domínio da União, respeitando-se as forma e os limites de aplicação previstos no
art. 22 da Lei nº 9.433, de 1997;
III - os recursos provenientes de convênios, acordos ou contratos celebrados com
entidades, organismos ou emrpesas nacionais ou internacionais;
IV - as doações, legados, subvenções e outros recursos que lhe forem destinados;
V - o produto da venda de publicações, material técnico, dados e informações,
inclusive para fins de licitação pública, de emolumentos administrativos e de taxas
de inscrições em concursos;
VI - retribuição por serviço de quaisquer natureza prestados a terceiros;
VII - o produto resultante da arrecadação de multas aplicadas em decorrência de
ações de fiscalização de que tratam os arts. 49 e 50 da Lei nº 9.433, de 1997;
VIII - os valores apurados com a venda ou aluguel de bens móveis e imóveis de sua
propriedade;
IX - o produto da alienação de bens, objetos e instrumentos utilizados para a prática
de infrações, assim como do patrimônio dos infratores, a apreendidos em decorrência
do exercício do poder de polícia e incorporados ao patrimônio da autarquia, nos
termos de decisão judicial; e
X - os recursos decorrentes da cobrança de emolumentos administrativos.
Art 21. As receitas provenientes da cobrança pelo uso de recursos hídricos de
domínio da União serão mantidas à disposição da ANA, na Conta Única do Tesouro
Nacional, enquanto não forem destinadas para as respectivas programações.
§ 1º A ANA manterá registros que permitam correlacionar as receitas com as bacias
hidrográficas em que foram geradas, com o objetivo de cumprir o estabelecido no
art. 22 da lei nº 9.433, de 1997.
§ 2º As disponibilidades de que trata o caput deste artigo poderão ser mantidas em
aplicações financeiras, na forma regulamentada pelo Ministério da Fazenda.
§ 3º (VETADO)
§ 4º As prioridades de aplicação de recursos a que se refere o caput do art. 22 da Lei
nº 9.433, de 1997, serão definidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos,
em articulação com os respectivos comitês de bacia hidrográfica.
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CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art 22. Na primeira gestão da ANA, um diretor terá mandato de três anos, dois
diretores terão mandatos de quatro anos e dois diretores terão mandatos de cinco
anos para implementar o sistema de mandatos não coincidentes.
Art 23. Fica o Poder Executivo autorizado a:
I - transferir para a ANA o acervo técnico e patrimonial, direitos e receitas do
Ministério do Meio Ambiente e seus órgãos, necessários ao funcionamento da
autarquia;
II - remanejar, transferir ou utilizar os saldos orçamentários do Ministério do
Meio Ambiente para atender às despesas de estruturação e manutenção da ANA,
utilizando, como recursos, as dotações orçamentárias destinadas às atividades fins
e administrativas, observados os mesmos subprojetos, sub-atividades e grupos de
despesas previstos na Lei Orçamentária em vigor.
Art 24. A Consultoria Jurídica do Ministério do Meio Ambiente e a Advocacia Geral
da União prestarão à ANA, no âmbito de suas competências, a assistência jurídica
necessária, até que seja provido o cargo de Procurador da autarquia.
Art 25. O Poder Executivo implementará a descentralização das atividades de
operação e manutenção de reservatórios, canais e adutoras de domínio da União,
excetuada a infra-estrutura componente do Sistema Interligado Brasileiro, operado
pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS.
Parágrafo único. Caberá à ANA a coordenação e a supervisão do processo de
descentralização de que trata este artigo.
Art 26. O Poder Executivo, no prazo de noventa dias, contado a partir da data de
publicação desta Lei, por meio de decreto do Presidente da República, estabelecerá
a estrutura regimental da ANA, determinando sua instalação.
Parágrafo único. O decreto a que se refere o caput estabelecerá regras de caráter
transitório, para vigorarem na fase de implementação das atividades da ANA, por
prazo não inferior a doze e nem superior a vinte quatro meses, regulando a emissão
temporária, pela ANELL, das declarações de reserva de disponibilidade hídrica de
que trata o art. 7º.
Art 27. A ANA promoverá a realização de concurso público para preenchimento das
vagas existentes no seu quadro de pessoal.
Art 28. O art. 17 da Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998, passa a vigorar com a
seguinte redação:
"Art. 17. A compensação financeira pela utilização de recursos hídricos de que trata
a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, será de seis inteiros e setenta e cinco
centésimos por cento sobre o valor da energia elétrica produzida, a ser paga por
titular de concessão ou autorização para exploração de potencial hidráulico aos
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Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios em cujos territórios se localizarem


instalações destinadas à produção de energia elétrica, ou que tenham área invalidas
por água dos respectivos reservatórios, e a órgãos da administração direta da União."
(NR)
"§ 1º Da compensação financeira de que trata o caput " (AC)
"I - seis por cento do valor da energia produzida serão distribuídos entre os Estados,
Municípios e órgãos da administração direta da União, nos termos do art. 1º da Lei
nº 8.001, de 13 de março de 1990, com a redação dada por esta Lei;" (AC)
"II - setenta e cinco centésimos por cento do valor da energia produzida serão
destinados ao Ministério do Meio Ambiente, para aplicação na implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, nos termos do art. 22 da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997,
e do disposto nesta Lei." (AC)
"§ 2º A parcela a que se refere o inciso II do § 1º constitui pagamento pelo uso de
recursos hídricos e será aplicada nos termos do art. 22 da Lei nº 9.433, de 1997."
(AC)
Art 29. O art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, com a redação dada pela
Lei nº 9.433, de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 1º A distribuição mensal da compensação financeira de que trata o inciso I do
§ 1º do art. 17 da Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998, com a redação alterada por
esta Lei, será feita da seguinte forma:" (NR)
"I - quarenta e cinco por cento aos Estados;"
"II - quarenta e cinco por cento aos Municípios;"
"III - quatro inteiros e quatro décimos por cento ao Ministério do meio Ambiente;"
(NR)
"IV - três inteiros e seis décimos por cento ao Ministério de Minas e Energia;" (NR)
"V - dois por cento ao Ministério da Ciência e Tecnologia."
§ 1º Na distribuição da compensação financeira, o Distrito Federal receberá o
montante correspondente às parcelas de Estado e de Municípios."
"§ 2º Nas usinas hidrelétricas beneficiadas por reservatórios de montante, o
acréscimo de energia por eles propiciado será considerado como geração associada
a este reservatórios regularizadores, competindo à ANEEL efetuar a avaliação
correspondente para determinar a proporção da compensação financeira devida aos
Estados, Distrito Federal e Municípios afetados por esse reservatórios." (NR)
"§ 3º A Usina de Itaipu distribuirá mensalmente, respeitados os percent uais
definidos no caput deste artigo, sem prejuízo das parcelas devidas aos órgãos da
administração direta da União, aos Estados e aos Municípios por ela diretamente
afetados, oitenta e cinco por cento dos royalties devidos por Itaipu Binacional ao

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Brasil, previstos no Anexo C , item III do Tratado de Itaipu, assinado em 26 de


março de 1973, entre a República Federativa do Brasil e a República do Paraguai,
bem como nos documentos interpretativos subseqüentes, e quinze por cento aos
Estados e Municípios afetados por reservatórios a montante da Usina de Itaipu, que
contribuem para o incremento de energia nela produzida." (NR)
"§ 4º A cota destinada ao Ministério do Meio Ambiente será empregada na
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos e na gestão da rede hidrometeorológica
nacional." (NR)
"§ 5º Revogado."
Art 30. O art. 33 da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, passa a vigorar com a
seguinte redação:"
"Art. 33. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos:
"I - Conselho Nacional de Recursos Hídricos;"
"I - A. - a Agência Nacional de Águas;"(AC)
"II - os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;"
"III - os Comitês de Bacia Hidrográfica;"
"IV - os órgão dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e
municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recurso hídricos;"
(NR)
"V - as Agências de Água."
Art 31. O inciso IX do art. 35 da Lei nº 9.433, de 1997, passa a vigorar com a
seguinte redação:
"Art. 35" IX - acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos
Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;"
(NR)
Art 32. O art. 46 da Lei nº 9.433, de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 46. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos:"
"I - prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de
Recursos Hídricos;"
"II - revogado;"
"III - instruir os expedientes provenientes do Conselho Estaduais de Recursos
Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica;"
"IV - revogado;"
"V - elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e
submetê-los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos."
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

LEI Nº 2.406, DE 29/01/2002 (DO-MS, DE 30/01/2002)

Institui a Política Estadual dos Recursos Hídricos, cria o Sistema Estadual


de Gerenciamento dos Recursos Hídricos e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL,
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - A política Estadual dos Recursos Hídricos desenvolver-se-á de acordo com
os critérios e princípios adotados por esta Lei.

TÍTULO I
Da Política Estadual dos Recursos Hídricos

CAPÍTULO I
Das Finalidades
Art. 2º - A Política Estadual dos Recursos Hídricos tem por finalidade:
I - assegurar, em todo o território do Estado, a necessária disponibilidade de água,
para os atuais usuários e gerações futuras, em padrões de qualidade e quantidade
adequados aos respectivos usos;
II - promover a compatibilização entre os múltiplos e competitivos usos dos recursos
hídricos, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III - promover a prevenção e defesa contra os eventos hidrológicos críticos, de
origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, que
ofereçam riscos à saúde e à segurança pública ou prejuízos econômicos ou sociais;
IV - incentivar a preservação, conservação e melhoria quantitativa e qualitativa dos
recursos hídricos;

CAPÍTULO II
Dos Princípios
Art. 3º - Para atendimento de suas finalidades, a Política Estadual dos Recursos
Hídricos baseia-se nos seguintes princípios:
I - a água é um recurso natural limitado, bem de domínio público e dotado de valor
econômico;
II - todos os tipos de usuários terão acesso aos recursos hídricos, devendo a
prioridade de uso observar critérios sociais, ambientais e econômicos;
III - adoção da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de implementação
da Política Estadual dos Recursos Hídricos e atuação do Sistema Estadual de
Gerenciamento dos Recursos Hídricos;
IV - a gestão dos recursos hídricos do Estado será descentralizada e deverá contar
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

com a participação do Poder Público, dos usuários e da comunidade.


Parágrafo único - O uso prioritário dos recursos hídricos é para o consumo humano
e a dessedentação de animais.

CAPÍTULO III
Das Diretrizes
Art. 4º - São diretrizes básicas de implementação da Política Estadual dos recursos
hídricos:
I - a gestão dos recursos hídricos do Estado deve proporcionar o uso múltiplo
das águas, observando-se os aspectos de quantidade e qualidade adequadas às
diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das
regiões;
II - a integração da gestão das bacias hidrográficas com todos os processos do
ciclo hidrólogo, águas superficiais e subterrâneas em seus aspectos de qualidade e
quantidade;
III - a compatibilização da gestão dos recursos hídricos com a gestão ambiental;
IV - a articulação do planejamento dos recursos hídricos com o dos setores usuários
e com os planejamentos regionais, estadual e nacional;
V - a articulação e integração especial com órgãos ou entidades regionais, nacionais
e internacionais;
VI - o estabelecimento de rateio dos custos das obras e aproveitamentos múltiplos,
de interesse coletivo ou comum, entre os beneficiários;
VII - a articulação da gestão dos recursos hídricos com a do uso do solo.
Art. 5º - O Estado, observados os dispositivos constitucionais relativos à matéria,
articulará com a União, outros Estados vizinhos e Municípios, atuação para o
aproveitamento e controle dos recursos hídricos em seu território, inclusive para
fins de geração de energia elétrica, levando em conta, principalmente:
I - a utilização múltipla dos recursos hídricos, especialmente para fins de
abastecimento urbano, irrigação, navegação, aqüicultura, turismo, recreação,
esportes e lazer;
II - o controle de cheias, a prevenção de inundações, a drenagem e a correta
utilização das várzeas;
III - a proteção da flora e fauna aquáticas e do meio ambiente.

CAPÍTULO IV
Dos Instrumentos
Art. 6º - São instrumentos da Política Estadual dos Recursos Hídricos:
I - o Plano Estadual dos Recursos Hídricos:
II - o enquadramento dos corpos d'água em classes, segundo os usos preponderantes
da água;
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

III - a outorga de direito de uso dos recursos hídricos;


IV - a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
V - o Sistema Estadual de Informações dos Recursos Hídricos.

SEÇÃO I
Do Plano Estadual dos Recursos Hídricos
Art. 7º - O Plano Estadual dos Recursos Hídricos tem por objetivo fundamentar e
orientar a implementação da Política Estadual dos recursos hídricos, contemplando
os seguintes aspectos:
I - observância das diretrizes da Política Nacional dos Recursos Hídricos;
II - diagnóstico da situação dos recursos hídricos do Estado;
III - avaliação de alternativas de crescimento demográfico, de evolução das
atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;
IV - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em
quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
V - metas de racionalização de uso, aumento de quantidade e melhoria da qualidade
dos recursos hídricos;
VI - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem
implantados, para o atendimento das metas previstas;
VII - prioridades para outorga de direitos de uso dos recursos hídricos;
VIII - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
IX - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vista à proteção
dos recursos hídricos;
X - programas de gestão de águas subterrâneas, compreendendo a pesquisa, o
planejamento e o monitoramento;
XI - programação de investimentos em pesquisas, projetos e obras relativos à
utilização, recuperação, conservação e proteção dos recursos hídricos;
XII - programas de monitoramento climático, zoneamento das disponibilidades
hídricas, usos prioritários e avaliação de impactos ambientais causados por obras
hídricas;
XIII - programas de desenvolvimento institucional, tecnológico e gerencial de
valorização profissional e de comunicação social no campo dos recursos hídricos;
XIV - programas anuais e plurianuais de recuperação, conservação, proteção e
utilização dos recursos hídricos definidos mediante articulação técnica e financeira
com a União, Estados e países fronteiros, bem como com organizações não-
governamentais nacionais ou internacionais;
XV - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades
produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo.
Art. 8º - O Plano Estadual dos Recursos Hídricos será elaborado por bacia
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

hidrográfica pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo e


aprovado pelo Conselho Estadual dos Recursos Hídricos.
Parágrafo único - As diretrizes e a previsão dos recursos financeiros para a
elaboração e a implantação do Plano Estadual dos Recursos Hídricos constarão
nas leis relativas ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias e ao orçamento
do Estado.

SEÇÃO II
Do Enquadramento dos Corpos de Água em Classes
Art. 9º - O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes, tem por objetivo:
I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem
destinadas;
II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes;
III - fornecer elementos para a fixação do valor da outorga e cobrança pelo uso das
águas.
Parágrafo único - As classes de corpos de água serão estabelecidos pela legislação
ambiental.

SEÇÃO III
Da Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos
Art. 10 - O regime de outorga de direito ao uso dos recursos hídricos tem por
objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos das águas e o
efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
Art. 11 - Estão sujeitos a outorga pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente,
Cultura e Turismo, dentre outros estabelecidos pelo Conselho Estadual dos Recursos
Hídricos, os seguintes usos do recurso:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para
consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento de potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um corpo de água.
§ 1º - A outorga, nos casos de usos insignificantes, deverá ser substituída por
Comunicação de Obra ao Órgão Concedente, sempre que tiver formulário próprio
67
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

assinado por responsável técnico, excetuados os casos de usos dos recursos hídricos
com potencial de grande interferência no meio ambiente.
§ 2º - O órgão fiscalizador disporá, no caso da Comunicação de Obra prevista no
parágrafo anterior, do prazo de 30 (trinta) dias para fiscalizar o empreendimento
ou exigir maiores providências, findos os quais, não havendo contradição oficial,
considerar-se-á o empreendedor autorizado a realizar a obra proposta.
Art. 12 - O regulamento estabelecerá os critérios e diretrizes do cadastramento e
outorga de que se refere o artigo anterior.
Art. 13 - A outorga e a utilização dos recursos hídricos para fins de geração de
energia elétrica e transporte hidroviário observará o disposto no § 2º do artigo 12 da
Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
Art. 14 - Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas
nos Planos dos Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de
água estiver enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao transporte
aquaviário, quando for o caso.
Art. 15 - As Secretarias de Estado, por delegação de competência e anuência do
Conselho Estadual dos Recursos Hídricos, poderão conceder outorga de direito de
uso dos recursos hídricos de domínio da União e poderão, ainda, descentralizar
suas ações, delegando esse e outros poderes aos seus representantes nos comitês e
subcomitês locais e regionais.
Art. 16 - A outorga de direito de uso dos recursos hídricos poderá ser suspensa
parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes
circunstâncias:
I - não-cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;
II - ausência de uso por três anos consecutivos;
III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive
as decorrentes de condições climáticas adversas;
IV - necessidade de prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
V - necessidade de atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais
não se disponha de fontes alternativas;
VI - necessidade de manutenção das características de navegabilidade do corpo de
água.
Art. 17 - A outorga de direitos de uso dos recursos hídricos far-se-á por prazo de até
35 (trinta e cinco) anos, renovável.
Art. 18 - A outorga não implica a alienação parcial das águas que são inalienáveis,
mas o simples direito de uso.

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

SEÇÃO IV
Da Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos
Art. 19 - A cobrança pelo uso da água é um instrumento gerencial a ser aplicado
pela sua utilização e tem por objetivo:
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu
real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - disciplinar a localização dos usuários, visando à conservação dos recursos
hídricos de acordo com sua classe de uso preponderante;
IV - incentivar a melhoria dos níveis de qualidade dos efluentes lançados nos
mananciais;
V - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos dos recursos hídricos;
VI - promover a melhoria do gerenciamento das áreas onde foram arrecadados.
Art. 20 - A cobrança pelo uso dos recursos hídricos deverá ser implantada por bacia
hidrográfica, a partir de proposta dos correspondentes comitês, cujos valores serão
definidos, ouvidos os comitês locais, pelo Conselho Estadual dos Recursos Hídricos.
§ 1º - São considerados insignificantes e serão isentos da cobrança pelo direito
de uso da água as capacitações e derivações empregadas em processo produtivo
agropecuário, assim como os usos destinados à subsistência familiar rural ou
urbana, mantida, em todo os casos, entretanto, a obrigatoriedade de cadastramento
no órgão outorgante.
§ 2º - Serão adotados mecanismos de compensação e incentivos para os usuários
que devolverem a água em qualidade igual ou superior àquela determinada em
legislação e normas regulamentares.
§ 3º - As captações e derivações de que trata o parágrafo primeiro deste artigo,
quando devolvidas ao leito hídrico, deverão sê-lo em grau de pureza igual ou
superior ao captado ou derivado.
Art. 21 - Estão sujeitos à cobrança todos aqueles que utilizam os recursos hídricos.
§ 1º - A utilização dos recursos hídricos destinados às necessidades domésticas
de propriedades e de pequenos núcleos habitacionais, distribuídos no meio rural,
estará isenta de cobrança quando independer de outorga de direito de uso, conforme
legislação específica.
§ 2º - Os responsáveis pelos serviços públicos de distribuição de água não repassarão
a parcela relativa à cobrança pelo volume captado dos recursos hídricos aos usuários
finais enquadrados por estes serviços, como objeto de tarifa social.
§ 3º - Serão enquadrados na tarifa social todos os usuários domésticos, mediante
cadastro efetuado pelo serviço público de distribuição de água e critérios por estes
definidos.
69
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

§ 4º - Até a implantação da tarifa social pelo serviço público de abastecimento de


água não serão repassados parcelas relativas à cobrança aos usuários finais que
recebem por rede, até 20m³ (vinte metros cúbicos) por mês.
Art. 22 - Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos
serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e
serão utilizados.
I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos
dos recursos hídricos;
II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos
integrantes do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.
§ 1º - A aplicação nas despesas previstas no inciso II é limitada a 7,5% (sete e meio
por cento) do total arrecadado.
§ 2º - Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a fundo
perdido em projetos e obras que alterem a qualidade, a quantidade e o regime de
vazão de um corpo de água, de modo benéfico a coletividade.
Art. 23 - As agroindústrias que dispuserem de sistema próprio de captação,
tratamento e reciclagem de água, com projetos aprovados pela Secretaria de Estado
de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, serão isentas da cobrança pelo direito de uso
da água.
§ 1º - Para fazer jus à isenção, as agroindústrias deverão comprovar, ao órgão
estadual competente, por meio de projeto técnico detalhado, a existência do sistema
de que trata o caput deste artigo.
§ 2º - Os beneficiários da isenção ficarão obrigados a manter os equipamentos
de tratamento de reciclagem de água em perfeitas condições de funcionamento,
atendendo, inclusive, às determinações das autoridades competentes para alterar o
projeto, quando for o caso.
§ 3º - Verificando-se, a qualquer tempo, que a agroindústria infringiu quaisquer das
condições sob as quais lhe foi conferida a isenção, o benefício será imediatamente
cancelado, cobrando-se-lhe as taxas pelo uso da água, sem prejuízo da aplicação das
demais penalidades cabíveis pela infração das leis que protegem o meio ambiente.
Art. 24 - Os produtores rurais que mantiverem sistema de irrigação de lavouras
estarão isentos da cobrança pelo direito do uso da água, desde que comprovado o
aumento da produtividade agrícola do beneficiário e a não poluição da água.

SEÇÃO V
Do Sistema Estadual de Informações dos Recursos Hídricos
Art. 25 - A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, órgão
responsável pelo desenvolvimento, manutenção e atualização do Sistema Estadual
de Informações dos Recursos Hídricos, publicará bianualmente, em Relatório de
70
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Qualidade, os dados relativos a qualidade e quantidade dos recursos hídricos de


domínio do Estado, informando sobre sua disponibilidade e demanda no território
sul-mato-grossense.
Art. 26 - O Sistema de Informações dos Recursos Hídricos é um sistema permanente
de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos
hídricos e fatores intervenientes.
Parágrafo único - Os dados gerados serão incorporados ao Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos.
Art. 27 - São princípios básicos para o funcionamento do Sistema Estadual de
Informações dos Recursos Hídricos:
I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações, sendo acessível
a todos os interessados em planejamento, gestão ou uso dos recursos hídricos;
II - coordenação unificada do sistema;
III - acesso aos dados e informações garantido a toda a sociedade.

TÍTULO II
Do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

CAPÍTULO I
Da Finalidade da Composição
Art. 28 - Fica criado o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos
com a finalidade de promover a execução da Política Estadual dos Recursos Hídricos
e a formulação, atualização e aplicação do Plano Estadual dos Recursos Hídricos,
congregando órgãos estaduais, municipais e a sociedade civil, devendo atender aos
princípios constantes da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul; da Lei nº
9.433, de 8 de janeiro de 1997 e legislações decorrentes e complementares, bem
como desta Lei.
Art. 29 - Integram o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos:
I - o Conselho Estadual dos recursos hídricos;
II - os Comitês das Bacias Hidrográficas;
III - a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo e a Secretaria de
Estado da Produção;
IV - as Agências de Águas.

CAPÍTULO II
Da Organização

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

SEÇÃO I
Do Conselho Estadual dos Recursos Hídricos
Art. 30 - Fica instituído o Conselho Estadual dos Recursos Hídricos, órgão de
instância superior do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.
Art. 31 - O Conselho Estadual dos Recursos Hídricos terá sua composição definida no
regulamento, assegurada a participação de 33% (trinta e três por cento) de membros
do Poder Público, 33% (trinta e três por cento) de representantes da Organizações
Civis dos recursos hídricos e 34% (trinta e quatro por cento) de representantes dos
usuários dos recursos hídricos.
Art. 32 - O Conselho Estadual dos Recursos Hídricos será gerido por:
I - um Presidente, que deverá ser escolhido por seus membros, entre os representantes
das Secretarias de Estado que o compõem;
II - um Secretário-Executivo, que deverá ser eleito entre e pelos próprios membros
do Conselho.
Parágrafo único - O Conselho Estadual dos Recursos Hídricos deverá,
obrigatoriamente, enviar à Assembléia Legislativa, para apreciação, relatório
semestral de suas atividades e dos Comitês de Bacia.
Art. 33 - Ao Conselho Estadual dos Recursos Hídricos compete:
I - exercer funções normativas, deliberativas e consultivas pertinentes à formulação,
à implantação e ao acompanhamento da política dos recursos hídricos no Estado;
II - promover a articulação do planejamento dos recursos hídricos com os
planejamentos nacional, regional e dos setores usuários;
III - aprovar os critérios de prioridades dos investimentos financeiros relacionados
com os recursos hídricos e acompanhar sua aplicação;
IV - arbitrar e decidir sobre conflitos entre os Comitês das Bacias Hidrográficas;
V - aprovar o Plano Estadual dos recursos hídricos, na forma estabelecida por esta
Lei;
VI - opinar na celebração de convênios, acordo e contratos com entidades públicas
ou privadas, nacionais ou internacionais, para o desenvolvimento do setor;
VII - estabelecer as normas e os critérios para outorga, cobrança pelo uso da água,
e o rateio dos custos entre os beneficiários das obras e aproveitamento múltiplo ou
interesse comum;
VIII - atuar como instância recursal nas decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica;
IX - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacias Hidrográficas e
estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
X - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e a
Política Estadual dos Recursos Hídricos;
XI - deliberar sobre projetos de aproveitamento dos recursos hídricos que extrapolem
o âmbito do Comitê de Bacia Hidrográfica no território de Mato Grosso do Sul;
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

XII - acompanhar a execução do Plano Estadual dos Recursos Hídricos e determinar


as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
XIII - constituir câmaras, equipes ou grupos técnicos para assessorá-lo nos trabalhos;
XIV - deliberar sobre os relatórios técnicos da situação dos recursos hídricos do
Estado;
XV - deliberar sobre a aplicação dos recursos do Fundo Estadual dos Recursos
Hídricos;
XVI - aprovar a criação de Agências de Águas, a partir de propostas de respectivos
Comitês de Bacias Hidrográficas;
XVII - representar o Governo do Estado no Conselho Nacional dos Recursos
Hídricos e perante órgãos e entidades federais que tenham interesses relacionados
aos recursos hídricos de Mato Grosso do Sul;
XVIII - exercer outras ações, atividades e funções estabelecidas em lei ou
regulamento compatíveis com a gestão integrada dos recursos hídricos.

SEÇÃO II
Dos Comitês de Bacia Hidrográfica
Art. 34 - Os Comitês de Bacias Hidrográficas, órgãos deliberativos e normativos,
no âmbito das bacias hidrográficas, serão instituídos em rios de domínio do Estado,
por meio de Resolução do Conselho Estadual dos Recursos Hídricos, mediante
indicação das comunidades locais da bacia respectiva.
Art. 35 - Compete aos Comitês de Bacias Hidrográficas:
I - propor planos, programas e projetos para utilização dos recursos hídricos da
respectiva bacia hidrográfica;
II - decidir conflitos entre usuários, atuando como primeira instância de decisão;
III - deliberar sobre formalização de projetos de aproveitamento dos recursos
hídricos;
IV - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a
atuação das entidades intervenientes;
V - aprovar o Plano dos recursos hídricos da bacia e acompanhar a sua execução;
VI - propor ao Conselho Estadual dos Recursos Hídricos as acumulações,
derivações, captações e lançamento de pouca expressão, para efeito de isenção da
obrigatoriedade de outorga de direitos de uso dos recursos hídricos, de acordo com
o domínio destes;
VII - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso dos recursos hídricos e
sugerir os valores a serem cobrados;
VIII - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo,
de interesse comum e coletivo;
IX - aprovar o orçamento anual da Agência de Águas, na área de sua atuação e com
observância da legislação e das normas aplicáveis;
73
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

X - aprovar a criação de Subcomitês de Bacias Hidrográficas de sua área de atuação,


a partir de proposta de usuário e de entidades civis, podendo ainda, quando julgar
conveniente e indispensável, constituir unidades especializadas de trabalho ou de
serviços, bem como câmaras técnicas cujas atribuições, composição e funcionamento
serão definidas em ato de criação;
XI - estimular a formação de consórcios intermunicipais e de associações de usuários
na área de atuação da bacia, bem como prestigiar ações e atividades de instituições
de ensino e pesquisa e de organizações não-governamentais que atuem em defesa
do meio ambiente e dos recursos hídricos na bacia;
XII - sugerir a celebração de convênios, acordos e contratos com órgãos e entidades
públicas ou privadas nacionais ou internacionais;
XIII - contribuir com sugestões e alternativas para a aplicação de parcela regional
dos recursos arrecadados pelo Fundo Estadual dos Recursos Hídricos;
XIV - exercer outras ações, atividades e funções estabelecidas em lei, regulamento
e decisão do Conselho Estadual dos recursos hídricos compatíveis com a gestão
integrada dos recursos hídricos.
Art. 36 - Os Comitês das Bacias Hidrográficas terão suas composições e atribuições
definidas em regimento aprovado pelo Conselho Estadual dos Recursos Hídricos,
garantida a participação paritária de representantes da sociedade civil e dos usuários,
além de representantes da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, e das comunidades
indígenas residentes naqueles comitês cujo território abranja terras indígenas.
Art. 37 - Os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos por um Presidente e um
Secretário, eleitos dentre seus membros.

SEÇÃO III
Da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo
Art. 38 - Compete à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo,
além das atribuições legais já conferidas:
I - implantar o Sistema Estadual de Informações sobre os Recursos Hídricos do
Estado de mantê-lo atualizado;
II - publicar, anualmente, dados sobre a situação quantitativa e qualitativa dos
recursos hídricos do Estado;
III - desenvolver estudos de engenharia, aspectos sócioeconômicos, ambientais e
no campo do Direito da Água para aprimorar o conhecimento do setor no âmbito
do Estado;
IV - promover o controle, a proteção e ações para a recuperação dos recursos
hídricos nas bacias hidrográficas;
V - fomentar a captação e coordenar a aplicação dos recursos financeiros;
VI - cumprir e fazer cumprir as legislações pertinentes a recursos hídricos e direito
das águas;
74
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

VII - propor critérios de prioridades de investimentos na área dos recursos hídricos,


ouvidas as sugestões dos Comitês de Bacias Hidrográficas;
VIII - prestar assistência técnica ao Conselho Estadual dos Recursos Hídricos, aos
Comitês de Bacias Hidrográficas e aos Municípios;
IX - elaborar os planos diretores de bacias hidrográficas, promovendo a divulgação;
X - cadastrar e acompanhar a execução de obras de usos múltiplos de águas;
XI - participar das reuniões dos Comitês de Bacias Hidrográficas, com direito a
voto nas decisões, orientando na busca de soluções aos conflitos e problemas;
XII - coordenar e acompanhar a execução das diretrizes preconizadas no Plano
Estadual dos Recursos Hídricos;
XIII - exercer outras ações, atividades e funções estabelecidas em lei, regulamento
e decisão do Conselho Estadual dos Recursos Hídricos compatíveis com a gestão
integrada dos recursos hídricos.
Art. 39 - A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, assegurará
suporte técnico e administrativo necessário ao funcionamento do Sistema Estadual
de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.

SEÇÃO IV
Das Agências de Águas
Art. 40 - As Agências de Águas exercerão a função de secretaria-executiva e terão a
mesma área de atuação dos respectivos Comitês de Bacias Hidrográficas.
Parágrafo único - A criação da Agências de Água será autorizada pelo Conselho
Estadual dos Recursos Hídricos mediante solicitação de um ou mais Comitês de
Bacias Hidrográficas.
Art. 41 - A criação da Agência é condicionada ao atendimento dos seguintes
requisitos:
I - prévia existência do Comitê de Bacia Hidrográfica;
II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em
área de atuação.
Art. 42 - Compete às Agências de Águas, no âmbito de sua área de atuação:
I - manter balanço atualizado da disponibilidade dos recursos hídricos;
II - manter o cadastro de usuários dos recursos hídricos;
III - efetuar, mediante delegação dos outorgante, a cobrança pelo uso dos recursos
hídricos;
IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com
recursos gerados pela cobrança pelo uso da água, encaminhando-os à instituição
financeira responsável pela administração desse recursos;
V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança
pelo uso dos recursos hídricos em área de sua atuação;
75
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

VI - alimentar o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos em sua


área de atuação;
VII - celebrar, por sugestão dos Comitês de Bacias Hidrográficas, convênios e
contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências;
VIII - elaborar sua proposta orçamentária, submetendo-a à apreciação do respectivo
Comitê de Bacia Hidrográfica;
IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua
área de atuação;
X - elaborar o Plano Diretor dos recursos hídricos para apreciação do respectivo
Comitê de Bacias Hidrográficas;
XI - propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica:
a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para remessa ao Conselho
Estadual dos recursos hídricos;
b) os valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos;
c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos
recursos hídricos;
d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

CAPÍTULO III
Das Organizações Civis dos Recursos Hídricos
Art. 43 - Para os efeitos desta Lei, são consideradas organizações civis dos recursos
hídricos:
I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;
II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários dos recursos hídricos;
III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área dos recursos
hídricos;
IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos
e coletivos da sociedade;
V - outras organizações reconhecidas pelos Conselhos Nacional ou Estadual dos
Recursos Hídricos.
Art. 44 - Para integrar o Sistema Estadual dos Recursos Hídricos, as organizações
civis dos recursos hídricos devem ser legalmente constituídas.

TÍTULO III
Do Fundo Estadual dos Recursos Hídricos
Art. 45 - Fica criado o Fundo Estadual dos Recursos Hídricos com o objetivo de dar
suporte financeiro à execução da Política Estadual dos Recursos Hídricos e ações
correspondentes, regendo-se pelas disposições desta Lei e seus regulamentos.
Art. 46 - Constituem recursos financeiros do Fundo Estadual dos Recursos Hídricos:
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

I - receitas decorrentes da cobrança pelo uso dos recursos hídricos;


II - resultados da cobrança das infrações cometidas à legislação dos recursos hídricos
e de controle da poluição das águas;
III - oriundos do Estado e dos Municípios por disposição legal;
IV - transferências da União, de Estados ou de países, destinados à execução de
planos e programas dos recursos hídricos de interesse comum;
V - compensação financeira que o Estado recebe em decorrência da exploração
hidroenergética, em conformidade com o que estabelece o art. 20, § 1º da Constituição
Federal e legislação específica;
VI - recursos provenientes de:
a) apoio de organizações civis dos recursos hídricos, nacionais e internacionais;
b) organizações governamentais e não-governamentais, nacionais ou internacionais;
VII - doações de pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, nacionais,
estrangeiras ou multinacionais;
VIII - empréstimos nacionais, internacionais e recursos provenientes da ajuda e
cooperação internacionais e de acordos intergovernamentais;
IX - retorno de operações de crédito com os órgãos e entidades estaduais, municipais
e privados;
X - produto das operações de crédito e das rendas procedentes das aplicações dos
seus recursos;
XI - contribuições de melhorias de beneficiados por serviços e obras de
aproveitamento e controle dos recursos hídricos;
XII - parte da compensação financeira que o Estado receber pela exploração de
petróleo, gás natural e recursos menearas;
XIII - outras receitas a ele destinadas.
Art. 47 - O Conselho Estadual dos Recursos Hídricos aprovará o Plano de Aplicação
dos recursos do Fundo Estadual dos Recursos Hídricos.
Art. 48 - O Fundo Estadual dos Recursos Hídricos será administrado pela Secretaria
de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, que observará as normas da
legislação orçamentária, contábil e financeira pertinentes.

TÍTULO IV
Das Infrações e Penalidades
Art. 49 - Constitui infração das normas de utilização dos recursos hídricos
superficiais ou subterrâneos:
I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva
outorga de direito de uso concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente,
Cultura e Turismo;
II - iniciar a instalação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

ou a utilização dos recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique


alterações de regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem prévia outorga
e licenciamento ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e
Turismo;
III - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados
com os mesmos, em desacordo com as condições estabelecidas na outorga;
IV - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida
autorização;
V - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores
diferentes dos medidos;
VI - utilizar-se dos recursos hídricos com o prazo de validade de outorga vencido;
VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos
administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos
ou entidades competentes;
VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no
exercício de suas funções.
Art. 50 - Por infração a qualquer disposição legal ou regulamentar referentes à
execução de obras e serviços hidráulicos, derivação ou utilização dos recursos
hídricos de domínio ou administração do Estado, ou pelo não atendimento das
solicitações feitas, o infrator, a critério da autoridade competente, ficará sujeito às
seguintes penalidades, independentemente de sua ordem de enumeração:
I - advertência, por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das
irregularidades;
II - multa, simples ou diária, no valor mínimo de R$ 100,00 (cem reais) e máximo
de R$ 10.000,00 (dez mil reais), proporcional à gravidade da infração, sem prejuízo
das demais sanções previstas em legislações próprias;
III - suspensão administrativa, por prazo determinado, para execução de serviços
e obras necessários ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o
cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos
recursos hídricos;
IV - embargo definitivo, com revogação de outorga, para repor incontinenti, no seu
antigo estado, os recursos hídricos, leitos, margens, nos termos dos arts. 58 e 59 do
Código das Águas ou tamponar os poços de extração de águas subterrâneas.
§ 1º - Sempre que a infração cometida resultar em prejuízo a serviço público de
abastecimento de água, risco à saúde ou à vida, perecimento de bens ou animais, ou
prejuízos de qualquer natureza a terceiros, a multa a ser aplicada nunca será inferior
à metade do valor máximo cominado em abstrato.
§ 2º - No caso dos incisos III e IV, independentemente da pena de multa, serão
cobradas do infrator as despesas em que incorrer a Administração para tornar
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

efetivas as medidas previstas nos citados incisos, na forma dos artigos 36, 53, 56 e
58 do Código de Águas, sem prejuízo de responder pela indenização dos danos a
que der causa.
§ 3º - Da aplicação das sanções previstas nesta Lei caberá recurso à autoridade
administrativa competente, nos termos do regulamento.
§ 4º - Em caso de reincidência, a multa corresponderá ao dobro da anteriormente
imposta.

TÍTULO V
Disposições Gerais, Transitórias e Finais

CAPÍTULO I
Disposições Gerais e Transitórias
Art. 51 - Os consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas
mencionados no art. 43 poderão receber delegação do Conselho Estadual dos
Recursos Hídricos, por prazo determinado, para o exercício de funções de
competências das Agências de Águas, enquanto esses organismos não estiverem
constituídos.
Art. 52 - O Poder Executivo deverá estimular e desenvolver ações que visem à
educação ambiental no tocante ao uso dos recursos naturais e a divulgação ampla
do sistema de gerenciamento dos Recursos Hídricos.
Art. 53 - O Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, para
atendimento às disposições desta Lei, aplicará, quando e como couber, o regime
de concessão, permissões e autorizações previsto nas leis federais, sem prejuízo da
legislação estadual aplicável.
Art. 54 - Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar Contrato de Gestão com
associação civil de usuários dos recursos hídricos, que se revestir das exigências
e condições estabelecidas nesta Lei, a qual vincular-se-á à Administração Pública
Estadual, por cooperação, no gerenciamento dos recursos hídricos da bacia
hidrográfica de domínio do Estado e em sub-bacias de rios de domínio da União
cuja gestão a ele tenha sido delegada.
Observa-se nos diversos dispositivos legais que os recursos hídricos devem ser
gerenciados levando-se em conta tanto o seu uso quanto a sua oferta, visando a
antecipar e dirimir conflitos entre demandas de diferentes setores econômicos e
garantir quantitativa e qualitativamente as demandas atuais e das gerações futuras,
considerando as intervenções nas bacias hidrográficas, o papel das diversas
instituições e a participação da sociedade. Assim, a execução da função gerencial
interinstitucional foi estabelecida pela Política Estadual de Recursos Hídricos sob o
princípio orientador da descentralização do gerenciamento, permitindo que ele seja
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

realizado de forma compartilhada com outras instituições governamentais e com a


sociedade.
Esta estrutura é a seguir descrita.

a) Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH)

Tem a atribuição constitucional de deliberação e formulação da política dos


recursos hídricos no Estado. Dele participam 33% de membros do Poder Público,
33% de representantes das Organizações Civis dos recursos hídricos e 34% de
representantes dos usuários dos recursos hídricos. O Decreto nº 12.366/2007 definiu
sua atual composição, conforme se segue.
■ Secretário de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e
Tecnologia (SEMAC);
■ Superintendência de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SUPEMA)1 ;
■ Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL);
■ Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da
Indústria, do Comércio e do Turismo (SEPROTUR);
■ Secretaria de Estado de Obras Públicas e de Transportes (SEOP);
■ Secretaria de Estado de Saúde (SES);
■ Ministério Público Estadual (MPE);
■ Assembleia Legislativa;
■ Representantes de cada um dos seguintes setores de organizações civis
dos recursos hídricos legalmente constituídos: dois de consórcios e associações
intermunicipais de bacias hidrográficas; dois de organizações técnicas de ensino e
pesquisa, com interesse e atuação na área de recursos hídricos; dois de organizações
não-governamentais com objetivo, interesse e atuação na área de recursos hídricos
com, no mínimo, dois anos de existência legal; um de Comitê de Bacia Hidrográfica
de rios de domínio da União em cujo território o Estado de Mato Grosso do Sul
esteja inserido; um de Comitê de Bacia Hidrográfica de rio de domínio estadual;
■ Um representante de cada uma das entidades legalmente constituídas
dos usuários de recursos hídricos indicados dentre os seguintes setores: agricultura
familiar; prestação de serviço público de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário; geração hidroenergética; hidroviário; indústria; pesca e aquicultura;
agropecuário; irrigante; turismo, esporte e lazer. Cada representante pode ter até
dois suplentes. Ressaltam-se na estrutura do CERH, as Câmaras Técnicas dos
Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos e a de Assuntos Legais e Institucionais,
instituídas pela Resolução nº 006/2008, com a competência de acompanhar, analisar
e emitir parecer sobre seus respectivos temas, como forma de apoio aos membros
do Conselho.
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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

b) Comitês das bacias hidrográficas (CBHs)

São órgãos deliberativos e normativos, no âmbito das bacias hidrográficas,


tendo sido assegurada neles a participação paritária de representantes da sociedade
civil e dos usuários. Em Mato Grosso do Sul há apenas um Comitê Estadual de Bacia
Hidrográfica, o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Miranda (CBH-Miranda),
aprovado pela Resolução CERH nº 002/2005. Sua área de atuação abrange a bacia
hidrográfica do rio Miranda, rio de domínio do Estado, correspondendo à área
física dos municípios de Anastácio, Aquidauana, Bandeirantes, Bonito, Bodoquena,
Campo Grande, Corguinho, Corumbá, Dois Irmão do Buriti, Guia Lopes da Laguna,
Jaraguari, Jardim, Maracaju, Miranda, Nioaque, Ponta Porã, Porto Murtinho,
Rochedo, Rio Negro, São Gabriel do Oeste, Sidrolândia e Terenos com área de
drenagem de 43.787 km².
Registra-se também um Comitê Federal, o Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Paranaíba (CBH-Paranaíba), criado por meio de decreto do presidente da
República, em 2002, e integrado, além de Mato Grosso do Sul, também pelos
estados de Goiás e Minas Gerais e pelo Distrito Federal.
Ressalta-se ainda a instituição dos Grupos de Trabalhos para a implantação
dos Comitês das Bacias Hidrográficas do rio Ivinhema e do rio Pardo.

c) Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e


Tecnologia

À Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e


Tecnologia (SEMAC) compete especificamente com relação aos recursos hídricos,
a coordenação, a supervisão e o controle das ações, visando à compatibilização do
desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade ambiental e
o equilíbrio ecológico, bem como a formulação e execução da política e diretrizes
governamentais. Entre as unidades em que está estruturada a SEMAC, é o Instituto
de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL) que se relaciona mais
diretamente à gestão dos recursos hídricos. Trata-se de entidade de Administração
Indireta Supervisionada, com natureza autárquica, dotada de personalidade jurídica
de direito público, patrimônio próprio e autonomia administrativa e operacional.
No cumprimento de sua finalidade, compete ao IMASUL, além de atribuições
ambientais em geral, especificamente com relação aos recursos hídricos:
■ dar condições efetivas para o funcionamento da Secretaria-Executiva do
CERH;
■ implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos e propor normas
de estabelecimento de padrões de controle da qualidade das águas;
81
Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

■ coordenar, gerir e implementar os instrumentos da Política Estadual de


Recursos Hídricos e propor normas a ela pertinentes;
■ formular, coordenar, orientar e supervisionar a execução das políticas e
das diretrizes governamentais fixadas para os recursos hídricos;
Portanto, verifica-se que entre os diversos órgãos do governo, o IMASUL
apresenta o papel de maior relevância e envolvimento com a gestão dos recursos
hídricos, por sua capacidade e competência de intervenção tanto nos aspectos
qualitativos quanto nos aspectos quantitativos das águas. Recentemente, por meio
do Decreto nº 12.725, de 10 de março de 2009, foi alterada a estrutura básica do
IMASUL.

Enquadramento dos corpos d água

O enquadramento dos corpos de água em classes segundo os usos


preponderantes da água é um instrumento de planejamento dos recursos hídricos que
tem, segundo a Política Estadual de Recursos Hídricos, os objetivos de: assegurar
às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas;
diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes e fornecer elementos para a fixação do valor da outorga e cobrança
pelo uso das águas.
A Resolução CONAMA nº 357/2005 estabeleceu para o território brasileiro
11 classes de usos preponderantes para águas superficiais, sendo cinco para águas
doces , três para salobras e três para salinas, como mostra a figura abaixo.

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Aula
CICLO HIDROLÓGICO 04

Ciclo hidrológico é a sucessão de fases percorridas pela água ao passar


da atmosfera à terra e vice-versa: evaporação do solo, do mar e das águas
continentais; condensação para formar as nuvens; precipitação e acumulação
no solo ou nas massas de água, escoamento direto ou retardado para o mar e
reevaporação.
É o fenômeno global de circulação fechada da água entre superfície
terrestre e a atmosfera, impulsionando fundamentalmente pela energia solar
associada à gravidade e à rotação terrestre.
A figura abaixo mostra as principais fases do ciclo hidrológico,
precipitação, interceptação, infiltração, retenção superficial, percolação,
evaporação e transpiração e escoamento superficial ou enxurrada.

Ciclo hidrológico

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Manejo de Recursos Hídricos - Fábio Régis de Souza - UNIGRAN

Precipitação

O fenômeno de precipitação é o elemento alimentador da fase terrestre


do ciclo hidrológico e constitui portanto fator importante para os processos de
escoamento superficial, evaporação, infiltração, transpiração, recarga de aqüíferos,
vazão básica do rios e outros. Fonte de água que origina o ponto de partida para
todas as análise hidrológicas de pequenas bacias hidrográficas. Existe nas formas
de chuva, granizo e neve.
As principais características pelas quais pode-se identificar uma chuva são:

Quantidade ou volume total -mm ou m3


Duração - minutos ou horas
Intensidade-quantidade/tempo -mm.h-1

A classificação de formação das chuvas podem ser por processo de:


Convecção: quando em tempo calmo, o ar úmido for aquecido na
vizinhança do solo, podem-se criar camadas de ar que se mantêm em equilíbrio
instável. Perturbado o equilíbrio, forma-se uma brusca ascensão local do ar
menos denso que atingirá seu nível de condensação com formação de nuvens, e
muitas vezes, precipitações. São as chuvas convectivas, características das regiões
equatoriais, onde os ventos são fracos e os movimentos de ar são essencialmente
verticais, podendo ocorrer nas regiões temperadas por ocasião do verão (tempestades
violentas). São, geralmente, chuvas de grande intensidade e de pequena duração,
restritas a áreas pequenas. São precipitações que podem provocar importantes
inundações em pequenas bacias:
Orográficas: quando os ventos quentes e úmidos, soprando geralmente
do oceano para o continente, encontram uma barreira montanhosa, elevam-se e
se resfriam adiabaticamente havendo condensação do vapor, formação de nuvens
e ocorrência de chuvas. São chuvas de pequena intensidade e grande duração,
que cobrem pequenas áreas. Quando os ventos conseguem ultrapassar a barreira
montanhosa, do lado oposto projeta-se uma sombra pluviométrica, dando lugar a
áreas secas ou semi-áridas causadas pelo ar seco, já que a umidade foi descarregada
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na encosta oposta;
Frontais : provêem da interação de massas de ar quentes e frias. Nas regiões
de convergência na atmosfera, o ar quente e úmido é violentamente impulsionado
para cima, resultando no seu resfriamento e na condensação do vapor de água, de
forma a produzir precipitações podem vir acompanhadas por ventos fortes com
circulação ciclônica. Podem produzir cheias em grandes bacias.
Observam-se diferentes formas de precipitações na natureza:
Chuvisco (neblina ou garoa): precipitação muito fina e de baixa intensidade;
Chuva: é a ocorrência da precipitação na forma líquida. A chuva congelada
é a precipitação constituída por gotas de água sobrefundida que congelam
instantaneamente quando se chocam contra o solo, formando uma capa de gelo.
Neve: é a precipitação em forma de cristais de gelo que durante a queda
coalescem formando blocos de dimensões variáveis;
Saraiva: é a precipitação sob a forma de pequenas pedras de gelo
arredondadas com diâmetro de cerca de 5 mm.
Granizo: quando as pedras, redondas ou de forma irregular, atingem
grande tamanho
(diâmetro ≥ 5mm);
Orvalho: nas noites claras e calmas, os objetos expostos ao ar amanhecem
cobertos por gotículas de água. Houve a condensação do vapor de água do ar nos
objetos que resfriam durante a noite. O resfriamento noturno geralmente baixa a
temperatura até ponto de orvalho; Geada: é a deposição de cristais de gelo, fenômeno
semelhante ao da formação de orvalho, mas ocorre quando a temperatura é inferior
a 0ºC.
Medidas de Precipitação: Os instrumentos utilizados na estimativa de
precipitação são chamados de pluviômetros ou pluviógrafos.

Pluviômetros
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A medida da chuva é feita pontualmente em estações


meteorológicas, tanto automáticas como convencionais. O
equipamento básico para a medida da chuva é o pluviômetro,
o qual tem diversos tipos (formato, tamanho, sistema de
medida/registro). A unidade de medida da chuva é a
altura pluviométrica (h), que normalmente é expressa em
milímetros (mm). Em alguns países são utilizadas outras
unidades, como a polegaga (inches – in.), sendo 1mm =
0,039 in. A altura pluviométrica (h) é dada pela seguinte
relação:
h = Volume precipitado / Área de captação

Se 1 litro de água for captado por uma área de


1 m2, a lâmina de água coletada terá a altura de 1mm. Pluviógrafo
Em outras palavras, 1mm = 1L / 1m2. Portanto, se um
pluviômetro coletar 52 mm, isso corresponderá a 52 litros por 1m2.

h = 1L / 1m2 = 1.000 cm3 / 10.000 cm2 = 0,1 cm = 1mm

As grandezas que caracterizam uma precipitação são:


Altura pluviométrica (h): é a espessura média da lâmina de água precipitada
que recobriria a região atingida pela precipitação admitindo-se que essa água não
se infiltra, não evapora, nem escoa para fora dos limites da região. A unidade de
medição habitual é o milímetro de chuva.
Duração (X): é o período de tempo durante o qual a chuva cai. As unidades
normalmente utilizadas são o minuto ou a hora.
Intensidade (i): é a precipitação por unidade de tempo, obtida com a relação
i = h/X. Expressa-se normalmente em mm/h ou mm/min. A intensidade de uma
precipitação apresenta variabilidade temporal, mas, para a análise dos processos
hidrológicos, geralmente são definidos intervalos de tempo nos quais é considerada
constante.
Tempo de recorrência (Tr): é interpretado, na análise de alturas
pluviométricas (ou intensidades) máximas, como o intervalo médio em número de
anos em que se espera que ocorra uma precipitação maior ou igual à analisada.
Freqüência de probabilidade (F): é o inverso do tempo de recorrência, ou
seja, a probabilidade de um fenômeno igual ou superior ao analisado, se apresentar
em um ano qualquer (probabilidade anual).

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Interceptação Vegetal

Refere-se à coleta de chuva sobre a superfície das plantas. Pode atingir até
25% da precipitação anual total.
Pela interceptação, a floresta causa uma diminuição no total de chuva que
atinge a superfície do solo. Conforme o tipo de vegetação, esta redução pode chegar
a cerca de 25 % da precipitação anual. Em regiões de clima úmido dos Estados
Unidos, por exemplo, as perdas por interceptação podem atingir 254 mm por ano.
Durante períodos sem chuva, a transpiração e a evaporação direta da água
do solo compõem o consumo total de água por uma superfície vegetada. Durante
períodos chuvosos, todavia, a interceptação também passa a fazer parte das perdas
de água pelo ecossistema.

Modelo de processo de interceptação da chuva por uma floresta.

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Em estudos de interceptação vegetal, os processos de "absorção pelas plantas" e


"ingestão animal", devido à proporção insignificante e devido à impossibilidade de
medição, não são normalmente considerados.
Os processos hidrológicos envolvidos pela interceptação vegetal, conforme
mostrado na Figura acima, podem, ser conceituados de acordo com o seguinte:

a) água que goteja ao solo;


b) água que escoa pelo tronco;
c) água que volta à atmosfera por evaporação direta.

Precipitação incidente (P): quantidade total de chuva que é medida acima


das copas, ou em terreno aberto adjacente à floresta.
Precipitação interna (Pi): chuva que atravessa o dossel florestal, incluindo
as gotas que passa diretamente pelas aberturas existentes na copa, assim como as
gotas de respingam da água retida na copa.
Escoamento pelo tronco (Et): água da chuva que, após retida pela copa,
escoa pelos troncos em direção à superfície.
Precipitação efetiva (PE): chuva que efetivamente chega ao solo, logo:

PE = Pi + Et.

Perda por interceptação (I): a fração da chuva que é evaporada diretamente


da copa, não atingindo, portanto, o solo. Desprezando-se a absorção e a ingestão,
pode-se escrever a equação do balanço hídrico do modelo da Figura 6.1 da seguinte
forma:
P - Pi - Et - S - E = 0

onde:
S = capacidade de retenção da copa (quantidade de água que pode ser
retida temporariamente na copa antes do início dos processos Pi e Et)
E = evaporação da água retida na copa (inclui a evaporação que ocorre
durante a duração da chuva, e, cessada a chuva, a evaporação de S.

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Infiltração

Infiltração é o nome dado ao processo de passagem da água que chega à


superfície do solo via precipitação, degelo ou irrigação, para seu interior, através
dos poros.

Figura. Representativa de infiltração de água no solo.

É importante conhecer esse fenômeno porque a taxa em que se dá essa


infiltração, em relação ao suprimento de água, determina se haverá um volume
excedente, que poderá escoar sobre a superfície. A infiltração é um processo
importante por influenciar o tempo que a água permanece na bacia: a água, após
infiltrar, passa a compor a umidade do solo e eventualmente pode formar um
aqüífero (reservatório de água subterrâneo) quando preenche os poros de camadas
do subsolo. Por outro lado, a parcela que escoa tende a sair rapidamente pela rede de
drenagem, deixando de estar disponível para os processos biológicos. A manutenção
da umidade no solo propicia condições para o desenvolvimento das plantas, da
fauna e dos microorganismos. Já o escoamento superficial provoca erosão laminar
no horizonte superficial do solo reduzindo sua fertilidade e em zonas urbanizadas
pode provocar alagamento de áreas habitadas.
A dinâmica do processo de infiltração depende, entre outros fatores, da
quantidade de água presente e da permeabilidade da superfície, do tamanho e forma
dos poros no interior do solo e da quantidade de água já existente nesses poros. É
fundamental conservar a capacidade natural de infiltração dos solos, mas sabemos
que a ação do homem contribui para piorar a condição original.
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A dimensão dos poros por onde a água irá infiltrar é influenciada pelo
tamanho, forma e natureza mineral das partículas e pelo modo como estas partículas
estão arranjadas (estrutura).
Entre os tipos de solos, aqueles com poros maiores, como os de textura
arenosa ou os argilosos com agregados estáveis e matéria orgânica, oferecem
melhor condição para a infiltração da água, já que a resistência à passagem através
da superfície tende a ser pequena.
Os poros grandes podem ser decorrentes da existência de partículas grandes
compondo o solo (fração areia) ou da estrutura, já que partículas pequenas (fração
silte a argila) podem ser aglutinadas em agregados maiores devido á presença de
substâncias cimentantes. A cobertura vegetal existente sobre a superfície, tanto
viva como morta (palha), ajuda bastante a infiltração da água, tanto por proteger
a superfície do impacto direto das gotas de chuva como também por reduzir a
velocidade do escoamento superficial, aumentando o tempo de oportunidade para
que a água infiltre.

Na figura é apresentando um esquema de como ocorre a infiltração de água no solo.

Os métodos de determinação da taxa de infiltração de água no solo podem


ser por meio simuladores de chuvas e por meio anéis concêntricos, sendo o ultimo
mais utilizado para determinação a infiltrabilidade vertical
O método de anéis concêntricos consiste em em observar a taxa de
infiltração de uma pequena lâmina de água armazenada dentro de dois cilindros
metálicos cravados no solo. A altura da lâmina deve ser mantida aproximadamente
constante pela reposição da água infiltrada durante o teste ou ainda através de
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cargas constante utilizando de Bóias. O uso de dois cilindros é necessário para


que apenas a água do anel externo movimente-se tanto na direção vertical como
na horizontal, funcionando como bordadura. Dessa forma garante-se que a água
colocada no cilindro interno (onde serão feitas as medições) infiltrará apenas na
direção vertical, como ocorre com a infiltração decorrente de uma precipitação.
A observação deve prosseguir até que a taxa de infiltração com o tempo apresente
valores torne-se constante.

Determinação da taxa de infiltração pelo método de anéis concêntricos com carga constante em cultivo de algodão

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Em tempos previamente estabelecidos, registrados num quadro de


anotações, deverá ser feita a leitura da altura da lâmina de água no cilindro interno,
na marca de referência existente no suporte da régua ou quando for pelo método
de carga constante realizar se a leitura na tubulação graduado como mostra a figura
acima. Deve-se evitar que haja impedimento à livre flutuação da régua, para o
correto registro da variação da altura da lâmina de água no interior do cilindro
interno.
Recomenda-se que durante os primeiros 20 minutos, que as leituras sejam
feitas a intervalos curtos (30s a 1min em solos arenosos, dois a cinco minutos nos
argilosos). A partir daí, se for observada uma redução na taxa de infiltração, as
leituras podem passar a ser mais espaçadas. A medição deve prosseguir até que a
variação do nível dágua com o tempo permaneça praticamente constante. Para o
calculo da capacidade emprega-se a seguinte equação

V= h.a
Onde:
V = volume infiltrado durante o tempo t, em cm3
a = área do cilindro interno, em cm3
h = altura da água infiltrada, em cm
Pode-se portanto obter:
h=V/a

para calcular a capacidade de infiltração basta, transformar o valor h, altura


de infiltração em f, capacidade de infiltração, que é expressa em mm/h, pela relação.

F= 60.h/t

Tabela exemplificando a taxa de infiltração


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Escoamento superficial

Escoamento superficial é impulsionado pela gravidade para as cotas mais


baixas, vencendo principalmente o atrito com a superfície do solo. O escoamento
superficial manifesta-se inicialmente na forma de pequenos filetes de água que
moldam ao microrelevo do solo. A erosão de partículas de solo pelos filetes em seus
trajetos, aliada a topografia preexistente, molda, por sua vez, uma microrede de
drenagem efêmera que converge para rede de cursos de água mais estável, formada
por rios e arroios.A presença de material vegetal morto ou verde pode reduzir a ação
do escoamento superficial, agindo como um obstáculo, tendendo a permitir que
aumente a taxa de infiltração.
Durante as diferentes fases do ciclo hidrológico três tipos de escoamento
se produzem:
Escoamento superficial: a água excedente sobre a superfície do solo é
impulsionada pela gravidade para as cotas mais baixas, vencendo principalmente o
atrito com a superfície do solo;
Escoamento sub-superficial ou hipodérmico: é o escoamento que se
processa nas primeiras camadas do solo, como resultado da infiltração da água da
chuva e de sua percolação no meio poroso;
Escoamento subterrâneo ou de base: é o escoamento que ocorre nos
aqüíferos em direção aos rios e aos mares, sendo responsável pela alimentação dos
cursos d´água em épocas de estiagem.

Evaporação e Evapotranspiração

A evapotranspiração é a forma pela qual a água da superfície terrestre


passa para a atmosfera no estado de vapor, tendo papel importantíssimo no Ciclo
Hidrológico em termos globais. Esse processo envolve a evaporação da água de
superfícies de água livre (rios, lagos, represas, oceano, etc), dos solos e da vegetação
úmida (que foi interceptada durante uma chuva) e a transpiração dos vegetais.
Evaporação é o processamento físico no qual um liquido ou solido passa
ao estado gasoso. Em meteorologia, o termo evaporação restringe-se a mudança
da água do estado liquido para vapor devido a radiação solar e aos processos de
difusão molecular e turbulenta, alem da radiação outras variáveis como temperatura
do ar, vento e pressão exercem ação sobre a evaporação.
Em uma escala intermediária, a evapotranspiração assume papel
fundamental no balanço hídrico de micro-bacias hidrográficas, juntamente com a
precipitação. O balanço entre a água que entra na micro-bacia pela chuva e que sai
por evapotranspiração, irá resultar na vazão (Q) do sistema de drenagem, como
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mostra a figura abaixo.


Em uma escala local, no caso de uma cultura, a evapotranspiração da
cultura se restringe aos processos de evaporação da água do solo e da vegetação
úmida e de transpiração das plantas. O balanço entre a água que entra na cultura pela
chuva e a que sai por evapotranspiração, irá resultar na variação do armazenamento
de água no solo, que por sua vez condicionará o crescimento, o desenvolvimento e
o rendimento da cultura.

Figura. A seta representa a vazão de uma bacia hidrográfica.

Conceitos de Evapotranspiração

Evapotranspiração Potencial (ETP) ou Evapotranspiração de


referencia(ETo)
É a evapotranspiração de uma extensa superfície vegetada com vegetação
rasteira (normalmente gramado), em crescimento ativo, cobrindo totalmente o solo,
com altura entre 8 e 15cm (IAF » 3), sem restrição hídrica e com ampla área de
bordadura para evitar a advecção de calor sensível (H) de áreas adjacentes. Nesse
caso a ET depende apenas das variáveis meteorológicas, sendo portanto ETP uma
variável meteorológica, que expressa o potencial de evapotranspiração para as
condições meteorológicas vigentes.

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Evapotranspiração Real: É a evapotranspiração nas mesmas condições


de contorno de ETP, porém, com ou sem restrição hídrica.
Evapotranspiração de cultura: É a evapotranspiração de uma cultura
em dada fase de seu desenvolvimento, sem restrição hídrica, em condições ótimas
de crescimento e com ampla área de bordadura para evitar a advecção de calor
sensível (H) de áreas adjacentes. Assim ETc depende das condições meteorológicas,
expressas por meio da ETP (ou ETo), do tipo de cultura (maior ou menor resistência
à seca) e da área foliar. Como a área foliar da cultura padrão é constante e a da
cultura real varia, o valor de Kc também irá variar.

ETc = Kc * ETP

Medidas de evaporação: A evaporação é medida com tanques


evaporimétricos, onde obtém-se a lâmina de água evaporada de uma determinada área.
Medidas de evapotranspiração: A evapotranspiração é medida com
tanques vegetados denominados de lisímetros ou evapotranspirômetros, que servem
para determinar qualquer tipo de ET.

Lisimetro de pesagem vegetado

Métodos de estimativa de evapotranspiração

Método de Thornthwaite: Método empírico baseado apenas na temperatura


média do ar, sendo esta sua principal vantagem. Foi desenvolvido para condições
de clima úmido e, por isso, normalmente apresenta sub-estimativa da ETP em
condições de clima seco. Apesar dessa limitação, é um método bastante empregado
para fins climatológicos, na escala mensal. Esse método parte de uma ET padrão
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(ETp), a qual é a ET para um mês de 30 dias e com N = 12h. A formulação do


método é a seguinte:

ETp = 16 (10 Tm/I)a (0 ≤ Tm < 26,5oC)


ETp = - 415,85 + 32,24 Tm – 0,43 Tm2 (Tm³ ≤ 26,5oC)
I = 12 (0,2 Ta)1,514 sendo Ta = temp. média anual normal
a = 0,49239 + 1,7912 10 -2 I – 7,71 10 -5 I 2 + 6,75 10 -7 I 3
ETP = ETp * COR (mm/mês)
COR = N/12 * NDP/30 sendo N = fotoperíodo do mês em questão
NDP = dias do período em questão

Metodo tanque classe A: Método empírico, baseado na proporcionalidade


existente a evaporação de água do tanque classe A (ECA) e a ETP, visto que ambas
dependem exclusivamente das condições meteorológicas. A conversão de ECA em
ETP depende de um coeficiente de proporcionalidade, denominado coeficiente do
tanque (Kp). Kp depende por sua vez de uma série de fatores, sendo os principais o
tamanho da bordadura, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento.
O valor de Kp é fornecido por tabelas, equações, ou ainda pode-se empregar
um valor fixo aproximado, caso não haja disponibilidade de dados de Umidade
relativa e velocidade do vento para sua determinação.
Método do Penman-Monteith: Método físico, baseado no método original
de Penman. O método de PM considera que a ETP é proveniente dos termos
energético e aerodinâmico, os quais são controlados pelas resistências ao transporte
de vapor da superfície para a atmosfera. As resistências são denominadas de
resistência da cobertura (rs) e resistência aerodinâmica (ra). Para a cultura padrão,
rs = 70 s/m.
A estimativa pelo método de Penman-Monteith pode ser realizado pela
equação abaixo:

ETp = [ 0,408 s (Rn – G) + γ g 900/(T+273) U2m e ] / [ s + γ g (1 + 0,34 U2m) ]


s = (4098 es) / (237,3 + T) 2
es = (es Tmax + esTmin) / 2
esT = 0,611 * 10 [(7,5*T)/(237,3+T)]
ea = (URmed * es) / 100
URmed = (URmax + URmin)/2
T = (Tmax + Tmin)/2

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Rn= Saldo de radiação à superfície, em MJ m -2 d-1


G= Fluxo de calor no solo, MJ m -2 d -1
γ = constante pscicométrica em kPa
T= temperatura média
U2m= velocidade do vento a 2 metros de altura
URmed= Umidade relativa média
Tmax= temperatura máxima
Tmin= Temperatura minima

EROSÃO

A erosão do solo é um problema de todos. Afortunadamente, as últimas


décadas viram um progresso muito grande na compreensão dos mecanismos da erosão
e no desenvolvimento de técnicas que controlam efetivamente e economicamente
as perdas de solo pela erosão.

O significado da erosão do solo e a degradação das terras

Degradação das terras: Durante


o último meio século, o uso da terra
pelo homem e atividades associadas tem
degradado ao redor de 5 bilhões de hectares
(ao redor de 43% das terras vegetadas
do planeta Terra). Esta degradação das
terras resulta numa redução do potencial
produtivo e uma diminuição da capacidade cienciafundamental.blogspot.com

de prover benefícios à humanidade. Grande parte desta degradação (ao redor de 3,6
bilhões de ha) é devida à desertificação, o espalhamento das condições de deserto
que afetam ecossistemas semi-áridos e áridos (incluindo agro-ecossistemas). A
maior causadora da desertificação é o sobrepastoreio pelo gado, ovelhas e cabras,
um fator que pode contabilizar um terço de toda a degradação das terras. Da mesma
forma, a derrubada indiscriminada de florestas tropicais já degradou 0,5 bilhões de
ha nos trópicos úmidos. Somado a isto, práticas agrícolas não apropriadas continuam
a degradar terras em todas as regiões climáticas.
Interdependência Solo-Vegetação: Terras degradadas podem sofrer da
destruição das coberturas vegetativas naturais, redução de produtividades agrícolas,
diminuição na produção de animais, e da simplificação de ecosistemas naturais
com ou sem o acompanhamento da degradação do recurso solo. Em 2 bilhões dos 5
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bilhões de ha de terras degradadas no mundo, a degradação do solo é um componente


maior do problema (Figura 1). Em alguns casos a degradação de solos acontece
principalmente devido à deterioração de propriedades físicas pela compactação ou
pelo encrostamento superficial, ou pela deterioração das propriedades químicas
pela acidificação ou acumulação de sal. Mas, a maior parte (85%) da degradação do
solo ocorre pela erosão - a ação destrutiva da água e do vento.

Figura. Degradação do solo como parte da degradação de terras golbal provocadas pelo sobrepastoreio,
desmatamento, práticas agrícolas incorretas, sobrexplotação de madeiras para combustível, e outras
atividades humanas.

Os dois componentes principais da degradação das terras, o dano à flora e a


deterioração do solo, não são interdependentes. Mas por outro lado, eles interagem
causando uma espiral descendente de deterioração acelerada (Figura abaixo).
Devido ao sobrepastoreio, desmatamento, ou práticas agrícolas inadequadas, a
vegetação se torna menos densa e vigorosa e fornece ao solo uma menor proteção
contra a erosão. Ao mesmo tempo, o solo é degradado por processos como a erosão
e o esgotamento de nutrientes, e torna-se menos apto para manter uma cobertura
vegetal protetora. A degradação do solo enfraquece a vegetação pelos efeitos sobre
a enxurrada e a infiltração da água da chuva. Com uma perda de até 50 a 60% da
chuva na forma de enxurrada, a escassez de água em solo erodidos pode provocar
um sério impedimento para o crescimento das plantas. Melhorias no manejo do solo
e da vegetação devem andar juntos para presevar o potencial produtivo da terra, ou
inclusive ser restaurado se quisermos subir em lugar de descer na espiral.
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Figura . Espiral descendente da degradação de terras resultado da retroalimentação entre a


degradação da vegetação e do solo.

Erosão geológica vs. erosão acelerada

Erosão Geológica. Erosão é um processo que transforma solo em


sedimento. A erosão do solo que ocorre naturalmente, sem a influência das atividades
antrópicas, é chamada erosão geológica. É um processo natural de aplainamento.
Inexoravelmente desgasta colinas e montanhas, e através de processos subsequentes
de deposição dos sedimentos erodidos, enche fundos de vales, lagos e baías. Grande
parte das feições da paisagem que observamos -canions, morros arredondados,
vales fluviais, deltas, planícies, e pedimentos- são resultantes da erosão e deposição
geológica. Os vastos depósitos que aparecem como rochas sedimentares foram
originados desta forma. A taxa de erosão geológica varia com a chuva e o tipo
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de material incluindo o regolito. A erosão geológica pela água tende a ser maior
nas regiões semi-áridas onde a chuva é suficiente para provocar danos, mas não o
suficiente para suportar uma vegetação densa e protetora (Figura 3).

Figura. Relação geral entre a precipitação anual (annual rainfall) e a perda de solo pela erosão
geológica pela água (average annual sediment yield). Desert: deserto; Semiarid scrub: vegetação
do semi-árido; Soil under natural vegetation: solo sob vegetação natural; Subhumid grasslands:
pastos de regiões subtropicais e temperadas; Forested lands: florestas; If soil were bare: se o solo
tivesse descoberto.

Cargas sedimentares. Chuva, geologia e outros fatores (incluindo as


atividades humanas) influenciam as cargas sedimentares dos grandes rios mundiais.
Apesar de que rios como o Mississippi e o Yangtze já eram barrentos antes que o
homem perturbou as suas bacias, as cargas sedimentares atuais são muito maiores
que antes. Para ter uma perspectiva da quantidade de solo transportado para o mar
por estes rios, considere a carga sedimentar do rio Amazonas. Se os 363 milhões
Mg de sedimento fossem carregados para o mar por caminhões, seriam necessários,
durante o período de um ano, uma caravana contínua de 80000 caminhões grandes,
o que significa uma coluna de 3200km, despejando a carga de 20 Mg a cada meio
segundo no mar.
Erosão acelerada ocorre quando as atividades antrópicas perturbam o
solo ou a vegetação natural pelo pastoreio dos animais, desmatamento, aração
de encostas ou a abertura de terras para a construção de estradas e prédios. A
erosão acelerada e freqüentemente 10 a 10000 vezes mais destrutivo que a erosão
geológica, especialmente em terrenos declivosos em regiões de alta pluviosidade.
Taxas de erosão pelo vento e água em terras agrícolas na África, Ásia e América
do Sul encontram-se entre 30 a 40 Mg/ha anuais. Nos Estados Unidos a taxa média
100
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de erosão encontra-se na faixa dos 12 Mg/ha. Algumas terras agrícolas estão se


erodindo a 10 vezes estas taxas médias. Em comparação, erosão em pastagens
naturais de regiões úmidas e florestas ocorrem a taxas abaixo de 0,1 Mg/ha.
Sob a influência da erosão acelerada, o solo é normalmente removido a
uma velocidade maior que a velocidade de formação deste por intemperismo ou
deposição. Como resultado, a profundidade do solo necessário para as raízes das
plantas é reduzido. Em casos graves, as encostas que uma vez eram cobertas por
mata podem perder toda a sua cobertura pedológica restando só a rocha exposta.
A erosão acelerada freqüentemente torna os solo na paisagem mais
heterogêneos. Um exemplo do incremento da heterogeneidade ocorre em
pastagens semi-áridas sobre-pastoreadas que são degradas a capoeiras. Durante
esta degradação, ilhas de fertilidade formam-se embaixo das moitas, enquanto que
o solo entre as moitas torna-se gradualmente menos espesso e infértil. Um outro
exemplo pode ser observada nas diferenças das cores superficiais do solo. Estas se
desenvolvem a medida que os solo fica truncado devido à erosão expondo material
dos horizontes B e C na superfície, enquanto que os solos nas posições mais baixas
do relevo são enterrados por sedimentos ricos em matéria orgânica.

Bases hidrológicas da erosão

Os processos de erosão hídrica estão intimamente relacionados com


os caminhos que a água segue em seu curso através da cobertura vegetal e seu
movimento sobre a superfície do solo. Seu fundamento radica, portanto, no ciclo
hidrológico. Durante uma chuva, parte da água cai diretamente sobre o solo, por
não haver vegetação, ou então porque passa pelas aberturas deixadas pela cobertura
vegetal. Esta fração da chuva é chamada precipitação direta. Parte da chuva é
interceptada pela cobertura vegetal, de onde volta para a atmosfera por evaporação,
ou chega ao solo pelo gotejo das folhas (componente denominada drenagem foliar),
ou flui pelo caule. A precipitação direta e a drenagem foliar são responsáveis pela
erosão por salpicadura. A chuva que chega ao solo pode ser armazenada em pequenas
depressões da superfície ou pode infiltar-se contribuindo com o conteúdo de água
no solo ou, por percolação, recarregar os aqüíferos. Quando o solo é incapaz de
armazenar mais água, o excesso se desloca lateralmente pelo interior do solo no
sentido da inclinação, como fluxo subsuperficial ou fluxo interno, ou contribui
para o deflúvio superficial provocando erosão como fluxo laminar ou em sulcos e
voçorocas.
A velocidade com que a água passa para o interior do solo é conhecida
como velocidade de infiltração e esta exerce o controle mais importante sobre a
formação do deflúvio superficial. A água se move no interior do solo pela ação da
101
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gravidade e é retida por forças capilares formando uma delgada película em torno
das partículas do solo. Durante uma chuva, os espaços entre as partículas do solo
são cheios de água e as forças capilares diminuem de maneira que a velocidade
de infiltração começa alta no início da chuva, e diminui até o valor representado
pela máxima velocidade estável que a água pode atingir através do solo (Figura 4).
Este valor, capacidade de infiltração ou velocidade de infiltração final, corresponde
teoricamente à condutividade hidráulica do solo saturado. Na prática, no entanto, a
capacidade de infiltração é frequentemente menor que a condutividade hidráulica
do solo saturado, devido ao ar que fica aprisionado nos poros do solo ao avançar a
frente de molhamento em seu movimento descendente.
Diferentes trabalhos têm sido realizados para descrever matematicamente
a variação da velocidade de infiltração com o tempo.

Figura. Velocidades de infiltração em diferentes tipos de solo (segundo Withers & Vipond, 1974)

102
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A velocidade de infiltração depende, sobretudo, das características do solo.


Geralmente, os solos de textura grossa, como os arenosos e franco-arenosos, têm
velocidades de infiltração mais elevadas que os solos argilosos, devido ao maior
tamanho dos espaços entre as partículas do solo. A capacidade de infiltração pode
variar entre mais de 200 mm/h para os arenosos e menos de 5 mm/h para os argilosos
compactados. Além da função atribuída ao espaço interpartículas ou microporos, as
fendas de maior tamanho ou macroporos exercem uma influência importante na
infiltração. Estes podem deixar passar importantes quantidades de água e, por esta
razão, as argilas com estrutura estável podem apresentar velocidades de infiltração
maiores que o esperado de sua textura. O comportamento da infiltração é bastante
complexo em muitos solos sujo perfil está constituído por duas ou mais camadas
com diferentes condutividades hidráulicas; a maior parte dos solos agrícolas, por
exemplo, tem uma camada superficial alterada pelo preparo e um subsolo não
alterado. As variações locais nas velocidades de infiltração podem ser bastante altas
devido à diferenças na estrutura, compactação, conteúdo de água inicial e forma do
perfil do solo e densidade de vegetação.
Segundo Norton (1945), se a intensidade da chuva é menor que a capacidade
de infiltração do solo, não há deflúvio superficial e a velocidade de infiltração é igual
à intensidade da chuva. Se esta é superior à capacidade de infiltração, a velocidade
de infiltração se iguala à capacidade de infiltração e o excedente forma deflúvio
superficial. Como mecanismo gerador de deflúvio, no entanto, esta relação entre a
intensidade de chuva e a capacidade de infiltração nem sempre é mantida.

Mecânica da erosão pela água

A erosão pela água é fundamentalmente um processo de três etapas (Figura


abaixo):
1. Desprendimento das partículas da massa do solo
2.Transporte das partículas separadas morro abaixo por flutuação,
rolamento e salpicamento.
3. Deposição das partículas transportadas em algum local mais baixo do
relevo.
Em superfícies planas, o impacto das gotas de água causam a maior parte
da desprendimento das partículas. Onde a água encontra-se concentrada em sulcos,
a ação cortante do fluxo turbulento da água separa as partículas do solo.

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Figura . O processo de três etapas da erosão do solo pela água. (a) Gota de água acelerando em
direção ao solo, (b) Salpicamento resultante do impacto da gota contra um solo descoberto e
úmido, e (c) A gota de água afeta o desprendimento de partículas de solo, que são transportadas e
eventualmente depositadas em locais a jusante.

Influência das gotas da chuva

Uma gota de chuva acelera até atingir a sua velocidade terminal – a


velocidade na qual a fricção entre a gota e o ar equilibra a força de gravidade. Gotas
maiores caem mais rápido, alcançando uma velocidade terminal de aproximadamente
30km/h, ou 2 ou 3 vezes mais rápido do que uma pessoa pode correr. Quando as
gotas de chuva colidem contra o solo com uma força explosiva, elas transferem a
sua energia cinética às partículas do solo (Figura anterior ).
O impacto das gotas de chuva provoca três efeitos importantes: (1)
desprende as partículas do solo; (2) destroi a granulação; e (3) o salpicamento, em
algumas condições, causam um transporte importante de solo. Tão grande é a força
exercida pelo impacto das gotas de chuva que eles não só soltam os agregados
dos solos, mas também podem quebrar os agregados. A medida que o material
dispersado seca desenvolve-se uma crosta dura, que provocará o impedimento
da emergência das plântulas e favorecerá a formação de enxurrada a partir de
precipitações subseqüentes.

Transporte do solo

Efeitos do salpicamento. Quando as gotas de chuva colidem com uma


superfície úmida de solo, elas separam as partículas e as enviam voando em todas as
direções (Figura). Num solo solto que apresenta maior facilidade para a separação
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das partículas, uma chuva forte pode salpicar até 225Mg/ha de solo, algumas das
partículas salpicando até uma altura de 0,70m e uma distância de 2m na horizontal.
Se o terreno é ondulado ou se o vento esta soprando o salpicamento pode ser maior
numa direção, levando a um movimento neto de solo considerável.
Papel da água em movimento. A enxurrada é um dos fatores principais
no processo de transporte de partículas do solo. Se a chuva excede a capacidade
de infiltração do solo, a água começa a acumular em superfície e a se movimentar
morro abaixo. As partículas de solo desprendidas pelo impacto da gota de chuva vão
cair dentro da água fluindo na superfície, que as carregará morro abaixo. Enquanto
a água flui como uma lâmina fina (fluxo laminar), ela tem pouca força para separar
o solo. Não obstante, na maioria dos casos a água é rapidamente canalizada pelas
irregularidades do terreno e aumenta tanto em velocidade como em turbulência.
O fluxo em sulcos não só carrega partículas de solo salpicadas pelas gotas da
chuva, mas começa a separar partículas a medida que corta dentro da massa do
solo. Isto é um processo contínuo, já que a medida que o sulco se aprofunda, ele é
preenchido por volumes maiores de água. Tão familiar é a força da enxurrada de
cortar e carregar solo que o público atribui a este processo toda a culpa dos danos
provocados por uma chuva forte.

Tipos de erosão do solo

Três tipos de erosão do solo são geralmente reconhecidos: (1) laminar, (2)
sulcos, e (3) voçorocas (Figura abaixo). Na erosão laminar o solo é removido mais
ou menos uniformemente, com exceção de pequenas colunas que podem ficar se
o solo é pedregoso. Não obstante, a medida que o fluxo laminar se concentra em
pequeno canais a erosão em sulcos se torna dominante. Sulcos são dominantes em
terrenos nus recentemente plantados ou em pousio. Sulcos são canais de pequeno
tamanho que podem ser fechados pelas práticas culturais normais, mas o dano já
esta feito – o solo esta perdido. Quando a erosão laminar ocorre no espaço entre os
sulcos chama-se erosão entressulcos.

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Figura . Os três principais tipos de erosão do solo.

Onde o volume de enxurrada é mais concentrado, o fluxo de água corta mais


profundamente dentro do solo, aprofundando e coalescendo os sulcos em canais
maiores chamados de voçorocas. Voçorocas em terrenos cultivados são obstáculos
para tratores e não podem ser removidos por práticas normais de cultivo. Os três
tipos de erosão são importantes, mas a erosão laminar e em sulcos, apesar de menos
aparente que as voçorocas, são responsáveis pela maior parte do solo movimentado.

Deposição do material erodido

A erosão pode transportar as partículas de solo a vários quilômetros de


distância do local de origem, das montanhas para os vales, e pelos rios para o mar. Por
outro lado, o solo erodido pode se deslocar um ou dois metros e se depositar numa
pequena depressão do terreno ou no sopé de uma encosta. A quantidade de material
erodido que entra num curso de água (rio, córrego, etc.) dividida pela quantidade
total de solo erodido é chamada de taxa de fornecimento de sedimento. Em algumas
bacias hidrográficas onde as pendentes são pronunciadas, quantidades de até 60%
de solo erodido podem chegar a um córrego. Em contrapartida, menos de 1% do
material erodido chegam aos cursos de água em bacias que apresentam relevos
planos a suave-ondulados. Geralmente, a taxa de fornecimento de sedimentos é
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maior para microbacias hidrográficas que para grandes bacias, devido a que nas
grandes bacias ocorrem maiores possibilidades para a deposição dos sedimentos
em depressões no terreno ou no sopé de encostas, antes de chegar aos cursos de
água. Estima-se que 5 a 10% de todo o material erodido chega ao mar. O restante é
depositado em represas, leitos de rios, planícies fluviais, ou em terrenos mais planos
em posições topográficas mais elevadas que os cursos de água.

Erodibilidade

A erodibilidade define a resistência do solo aos processos de desprendimento


e transporte. Embora a resistência de um solo à erosão dependa, em parte, de sua
posição geográfica, inclinação e grau de alteração, como por exemplo, mediante
o preparo, as propriedades do solo são os determinantes mais importantes. A
erodibilidade varia com a textura do solo, a estabilidade dos agregados, a resistência
ao esforço cortante, a capacidade de infiltração e os conteúdos minerais e orgânicos.
Desde o ponto de vista químico, o fator mais importante sobre a
erodibilidade é a proporão de argila facilmente dispersa no solo. Uma alta proporção
de sódio trocável pode deteriorar rapidamente a estrutura de um solo ao umedecer-
se, com a conseqüente perda de resistência, seguida de uma formação de uma crosta
superficial e diminuição da infiltração com o preenchimento do espaço poroso do
solo com as partículas de argilas dispersas (Shainberg e Letey, 1984). O aporte de
sódio com os fertilizantes para manter colheitas, como tabaco, pode às vezes levar
a pequenos aumentos de sódio trocável que se traduz em uma deterioração bem
marcante da estrutura do solo anteriormente estável (Miller & Summer, 1988). O
excesso de carbonato cálcico nas frações argilosa e siltosa do solo também conduz
a uma alta erodibilidade e parece ser o fator mais importante entre os que afetam a
susceptibilidade dos solos à erosão no sudeste da Espanha (Barahona et al, 1990) e
Marrocos (Merzouk & Blake, 1991).
Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos para estabelecer um índice
simples de erodibilidade baseado, seja nas propriedades dos solos determinadas em
laboratório ou em campo, ou na resposta dos solos à chuva e ao vento. Revisando os
índices relacionados com a erosão hídrica, Bryan (1968) propõe a estabilidade dos
agregados como o índice mais eficiente. Como indicador da erodibilidade utiliza a
proporção de agregados de tamanho maior que 0,5 mm estáveis em água; quanto
maior for sua proporção, maior será a resistência do solo à erosão.

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Tabela 1. Índices de erodibilidade do solo por erosão hídrica.

Ensaios estáticos de laboratório


Taxa de dispersão (% de silte + % de argila Middleton (1930)
em solo não disperso) /
(% de silte + % de argila
em solo disperso em água
Razão de argila (% de areia + % de silte) / Bouyoucos (1935)
(% de argila)
Taxa de agregação (Superfície de partículas André & Anderson (1961)
superficial > 0,05 mm) / (% de silte
+ % de argila em solo
disperso) – (% de silte +
% de argila em solo não
disperso)
Taxa de erosão (Razão de dispersão) / Lugo-López (1969)
(conteúdo de colóides/
equivalente de umidade)
Índice de inestabilidade (% de silte + % de argila) Hénin, Monnier &
/ (Agar + Agálcool + Conmbeau (1958)
Agbenzeno) em que Ag
é a % de agregados > 0,2
mm depois de tamizado e
sem tratamento ou tratado
com álcool e benzeno,
respectivamente
Índice de inestabilidade (% de silte + % de argila) Conmbeau & Monnier
/ (% de agregados > 0,2 (1961)
mm após tamizado) – 0,9
(% de areia grossa)
Índice de agregação 100 (MWDw – MWDt) Chisci, Bazzoffi &
pseudo-textural / (X – MWDt) em que Mbagwu (1989)
MWDw é o diâmetro
médio ponderado (mm)
da distribuição dos
tamanhos de partículas
depois de tamizado,
MWDt é o diâmetro
médio ponderado das
partículas elementares
e X o tamanho médio
máximo na distribuição
de partículas obtida
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Ensaios estáticos de campo


Índice de erodibilidade 1 / resistência cortante Chorley (1959)
média x permeabilidade
Coesão do solo Medida direta do solo na Rauws & Govers (1988)
saturação
Ensaios dinâmicos de laboratório
Ensaio de chuva simulada Comparação da erosão Woodburn & Kozachyn
em diferentes solos (1956)
submetidos a uma chuva
padrão
Conteúdo de agregados (% de WSA > 0,5 mm Bryan (1968)
estáveis em água (WSA) depois de submeter o solo
à chuva simulada
Ensaio de gotas de água % de agregados destruídos Bruce-Okine & Lal
por um número de (1975)
impactos preestabelecido
com uma chuva padrão
(por exemplo, 5,5 mm
de diâmetro, 0,1 g a uma
altura de 1 m)
Índice de erosão dh/a em que d é um índice Voznesensky & Artsruui
de dispersão (razão da (1940)
percentagem de partículas
> 0,05 mm sem dispersão
com a percentagem de
partículas > 0,05 mm
depois de dispersar o solo
com cloreto de sódio); h é
um índice da capacidade
de retenção de água
(retenção de água pelo
solo em relação com a de
1 g de colóides); y é um
índice de agregação (%
de agregados > 0,25 mm
depois de submeter o solo
a um fluxo de água, 100
cm/mim durante 1 hora)
Ensaios dinâmicos de campo
Índice de erodibilidade Perda média anual de solo Wischmeier & Mannering
(K) por unidade de EI30 (1969)

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Efeitos intrínsecos e extrínsecos da erosão acelerada

A erosão provoca danos no local onde ocorre mas também provoca efeitos
extrínsecos (ou seja fora do local de ocorrência) indesejáveis no meio ambiente.
Os custos dos efeitos extrínsecos se relacionam com os efeitos do excesso de
água, sedimento e produto químicos associados nos sopés de encostas e ambientes
fluviais. Apesar de que estes custos com qualquer um deste tipo de danos não são
imediatamente aparentes, eles são reais e crescem a medida que avança o tempo.
Donos de terras e a sociedade devem arcar eventualmente com os prejuízos.

Tipos de danos intrínsecos

O dano mais marcante da erosão é a perda de solo. Na realidade o dano


causado no solo é maior do que a quantidade de perda de solo sugeriria, porque
o material erodido é na maior parte das vezes de maior valor do que a parte que
ficou. Não é só o problema da perda do horizonte superficial enquanto ficam os
horizontes sub-superficiais mais pobres que mais degrada o solo, mas também a
baixa qualidade dos horizontes superficiais restantes. A erosão remove seletivamente
matéria orgânica e os materiais finos, deixando para atrás as frações mais grosseiras
menos ativas. Experimentos tem mostrado que os teores de matéria orgânica
e nitrogênio nos materiais erodidos são cinco vezes superiores aos horizontes
superficiais originais. Taxas de enriquecimento de duas e três vezes ocorrem para
fósforo e potássio, respectivamente. A quantidade de nutrientes essenciais perdidos
pela erosão do solo é bastante elevada, apesar de que somente uma parte destes
nutrientes são perdidos de uma forma que estariam disponíveis para as plantas
no curto prazo. A porção do solo que fica geralmente tem menor capacidade de
retenção de água e de retenção de cátions, menor atividade biológica, e uma menor
capacidade para suprir nutrientes para as plantas.

Tipos de danos extrínsecos

A erosão transporta os sedimentos e nutrientes para fora do local de


ocorrência provocando uma ampla poluição da água de rios e lagos. Os nutrientes
provocam um impacto na qualidade da água através do processo de eutrofização
causado pelo excesso de nitrogênio e fósforo. Além dos nutrientes, sedimentos e
a água da enxurrada podem carregar metais tóxicos e compostos orgânicos, como
pesticidas. O sedimento é um dos maiores poluentes causando um amplo espectro
de danos ambientais.
Sedimentos depositados sobre o solo podem asfixiar cultivos e outras
plantas pequenas. Podem encher canais de drenagem de estradas e provocar
condições perigosas de dirigibilidade.
Sedimentos que entram nos rios e riberões tornam a água túrbida. Turbidez

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elevada da água provoca a diminuição da penetração da luz solar que provoca uma
diminuição da fotossíntese e a sobrevivência da vegetação aquática submersa (VAS).
A morte da VAS degrada o habitat dos peixes e afeta a cadeia alimentar aquática. A
água barrenta também provoca o entupimento das brânquias dos peixes. Sedimentos
depositados no fundo dos rios podem ter um efeito desastroso sobre alguns peixes
que utilizam os seixos e as rochas para desovar. O depósito de sedimentos no fundo
do rio pode provocar uma elevação do nível do rio provocando enchentes mais
freqüentes e mais severas.
Um número de problemas maiores ocorrem quando as águas do rio chegam
aos lagos, estuários e represas. Nestes locais as águas perdem velocidade e soltam
a sua carga de sedimentos. Eventualmente represas, inclusive aqueles formados
por enormes diques, se convertem em áreas completamente assoreadas totalmente
preenchidas por sedimentos. Antes de ocorrer isto, a capacidade da represa de
estocar água para irrigação e sistemas de águas municipais é progressivamente
reduzida, assim como a capacidade de retenção de enchentes ou para geração de
energia hidroelétrica.
Custos estimados da erosão. Apesar de não existir dados precisos, taxas
médias de erosão pela água e vento tem sido utilizados para estimar o custo total
da erosão. Incluídos nestes cálculos estão os custos intrínsecos de reposição de
nutrientes e água perdidos pela erosão acelerada, assim como as reduções da
produtividade das culturas devido à reduzida profundidade do solo. Baseado
somente em suposições sobre o valor das perdas de nutrientes em sedimentos e
enxurrada, o valor total anual de custos intrínsecos tem sido estimados entre 4 e 27
bilhões de dólares.
Os custos extrínsecos da erosão são ainda maiores, especialmente devido
aos efeitos sobre a saúde de partículas carregadas pelo vento e ao valor reduzido
para a recreação de águas carregadas de sedimentos (pesca, natação e estética).

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ANOTAÇÕES

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Aula
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QUALIDADE DA ÁGUA
05

A qualidade da água, por sua vez, deve ser definida em termos de suas
características físicas, químicas e biológicas. A descrição quantitativa destas
características é feita através dos chamados parâmetros de qualidade de água.
Assim, têm-se: a) parâmetros físicos: cor, odor, sabor, turbidez, temperatura,
pH, condutividade, dureza, alcalinidade, sólidos totais dissolvidos, oxigênio
dissolvido; b) parâmetros químicos: referentes à presença de elementos, íons e
substâncias em solução na água, tais como cálcio, magnésio, ferro, alumínio,
fósforo, nitrogênio, compostos orgânicos etc.; c) parâmetros biológicos: presença
de microorganismos. Há, além destes, o parâmetro radiológico, que diz respeito à
presença de substâncias radioativas, principalmente o rádio-226 e o estrôncio-90,
originados de resíduos de exploração de minérios radioativos, produção de
radioisótopos para reatores, uso de radioisótopos na medicina, na pesquisa e na
indústria.
Os parâmetros físicos, na sua maioria, resultam da presença dos
constituintes iônicos e não iônicos em solução e em suspensão, os quais conferem
certas características à água.
Por esta razão os parâmetros assim chamados físicos podem, também,
ser referidos como propriedades da água.
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No conjunto, estes parâmetros permitem a descrição quantitativa da


qualidade da água, ou seja, possibilitam a descrição de sua individualidade.
A qualidade da água, como tal, tem significado relativo, pois deve estar
associada ao uso. O conhecimento dos danos fisiológicos e psicológicos que
podem ser causados pela presença dos constituintes, medidos pelos parâmetros de
qualidade da água, permite o estabelecimento dos critérios de qualidade de água
para um dado uso. Desta forma, têm se os critérios de qualidade da água potável,
critérios de qualidade da água para irrigação, critérios de qualidade da água para
usos industriais.

Compostos dissolvidos na água:


Nutrientes responsáveis pela eutrofização (eutroficação), principalmente
por nitrogênio e fósforo.
Eutroficação: processo pelo qual as águas se tornam mais eutrópicas
(mais ricas em nutrientes dissolvidos necessários para o crescimento de plantas
aquáticas, como algas), seja como fase natural de maturação da massa de água, seja
artificialmente (por exemplo, por poluição ou por efeito de fertilizantes).
Eutrofização: processo pelo qual a água é acrescida, principalmente,
por compostos nitrogenados e fosfatados. Pode ocorrer devido aos depósitos
de fertilizantes usados na agricultura ou do lixo e esgotos domésticos, além dos
resíduos industriais.

Parâmetros físicos
Temperatura – A temperatura influência marcante na velocidade das reações
químicas, acelerando ou retardando nas atividades metabólicas e na solubilidade de
substâncias.
Sabor e Odor – A origem está associada tanto a presença de substâncias
químicas ou gases dissolvidos
Cor – produzida por colóides finamente dispersos de origem orgânica ou
mineral (rio Negro)
Turbidez – medida pela alteração da penetração da luz devido à presença de
material em suspensão na água, sendo expressa em unidades de turbidez (unidades
nefelométricas)
Sólidos – a origem da presença pode ser natural (processos erosivos) ou
antropogênica (lançamento de lixo ou esgoto)

Parâmetros químicos
pH – o potencial de hidrogênio representa a intensidade das condições
ácidas ou alcalinas do meio líquido a partir da medição da presença de íons de
hidrogênio (H+) – valores ideais na vida aquática variam de 6 a 9.
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Alcalinidade – indica a quantidade de íons [bicarbonatos (HCO3),


cabornatos (CO32-) e hidróxidos(OH -)] na água que reagem para neutralizar os
íons hidrogênio, expressando a capacidade da água de neutralizar os ácidos.
Acidez – A acidez ao contrário da alcalinidade, mede a capacidade da água
em resistir às mudanças de pH causada pelas bases. É devida fundamentalmente à
presença de gás carbônico livre na água
pH > 8,2 = CO2 livre ausente;
pH entre 4,5 e 8,2 acidez carbônica;
pH < 4,5 = acidez por ácidos minerais fortes resultantes de despejos
industriais.
Dureza – indica a concentração de cátions multivalentes em solução na
água (Ca2+, Mg2+, Fe2+, Mn2+, Sr2+, Al+3). De acordo com o grau de dureza,
em mg/L de CaCO3.
pode ser classificada em:
mole (<50);
dureza moderada (entre 50 e 150);
dura (entre 150 e 300) e
muito dura (>300);
Condutividade elétrica – Indica a capacidade de transmitir a corrente
elétrica em função da presença de substâncias dissolvidas que se dissociam em
ânions e cátions. Ambientes naturais apresentam teores de condutividade na faixa de
10 a 100 mS/cm (microsiemens/cm) e ambientes poluídos por esgotos domésticos
ou industriais valores podem atingir a 1000 mS/cm.
Oxigênio dissolvido – O oxigênio dissolvido é um dos parâmetros mais
significativos para expressar a qualidade de um ambiente aquático. Teores mínimos
de oxigênio dissolvido de 2 a 5 mg/L.
Demanda química e bioquímica de oxigênio – os parâmetros DBO e DQO
são utilizados para indicar a presença de matéria orgânica na água. Presença da
matéria orgânica na água pode ser feita através do consumo de oxigênio.
DBO refere-se exclusivamente à matéria orgânica mineralizada por
atividade dos microrganismos, a DQO engloba também a estabilização m.o.
mineralizada ocorrida por processos químicos. DQO é sempre maior do que DBO.
DBO médio de esgotos domésticos é igual a 300 mg/l, isto é, indica que
são necessárias 300 miligramas de oxigênio para estabilizar, em um período de 5
dias e a 20ºC, a quantidade de matéria orgânica biodegradável contida em 1 litro da
amostra.
Ambientes naturais não poluídos – DBO é 1 a 10 mg/L.
Fósforo – é, na maioria dos casos, o nutriente mais importante para o
crescimento de plantas aquáticas. Em excesso provoca eutrofização do meio.
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Ferro e Manganês – padrão de potabilidade das águas determina valores


máximos de 0,3 mg/L para o ferro e 0,1 mg/L para o manganês.

Micropoluentes
São elementos e compostos químicos que mesmo em baixas concentrações
conferem à água características de toxicidade, tornando-se assim imprópria para
grande parte dos usos (arsênio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, níquel, prata,
zinco, cianetos e o flúor). Alguns destes são carcinogênicos e mutogênicos.

Parâmetros biológicos
A qualidade da água pode ser classificada também de acordo com a
presença ou ausência de microrganismos de importância sanitária capazes de
transmitir enfermidades:
Vírus (paralisia infantil, hepatite, infecciosa, gastroenterite)
Bactérias (cólera, disenteria bacilar, febre tifóide, salmonelose)
Protozoários (disenteria amebiana, giardíase) e
Vermes (verminose em geral).
Utilização dos chamados organismos indicadores (bactéria coliforme) para
correlacionar com a presença de organismos patogênicos.
As Bactérias coliformes habitam normalmente o intestino de homens e
animais, servindo portanto como indicadoras da contaminação de uma água por
fezes. Quanto maior a população de coliformes em uma amostra de água, maior a
chance de que haja contaminação por organismos patogênicos.

Poluição nos corpos d`agua

O termo poluição vem do verbo latino polluere que significa sujar, indica a
ocorrência de alterações prejudiciais no meio, seja ele água, ar ou solo.
A poluição das águas pode ocorrer de três formas:
Introdução de substâncias artificiais e estranhas ao meio - agrotóxicos
Introdução de substâncias naturais e estranhas ao meio - assoreamento
Alteração na proporção ou nas características dos elementos constituintes
do próprio meio – redução do teor de oxigênio – esgotos.
Os principais agentes poluidores dos corpos d`agua são a matéria orgânica
biodegradável (esgotos), sólidos em suspensão, levando a problemas estéticos,
depósitos de lodo e outros prejuízos, nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo,
conduzindo ao crescimento excessivo de plantas, patogênicos, provocando a
ocorrência de doenças, matéria orgânica não biodegradável (pesticidas, detergentes)
ocorrência de maus odores e condições tóxicas e metais pesados, produzindo
toxicidade e prejudicando o desenvolvimento da vida aquática.
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IMPACTOS DA AGRICULTURA SOBRE OS RECURSOS


HIDRICOS E DOENÇAS DE VEINCULAÇÃO HIDRICA

A tendência mundial do agronegócio nas últimas décadas esteve


direcionada para a intensificação da produção agrícola. E um dos grandes desafios
é buscar alternativas para produzir alimentos através da otimização do uso de
insumos agrícolas, possibilitando ganhos econômicos para o agricultor e reduzindo
o impacto ambiental da atividade.
Áreas que se encontram sob um processo de cultivo intensivo de qualquer
espécie de cultura, principalmente aquelas que necessitem de altas doses de produtos
químicos em grande quantidade estão sujeitas a maiores impactos nos recursos
hídricos. Esta situação expõe a área à um perigo potencial de contaminação da água
subterrânea. Essa hipótese é recalcada pela característica de alta vulnerabilidade
natural das áreas de recarga.
Esses agroquímicos possuem princípios ativos que podem promover ação
tóxica para controlar doenças, pragas e plantas indesejáveis nos sistemas de cultivo.
Quando utilizado de forma incorreta e sem considerar as particularidades do próprio
produto e dos agroecossistemas, podem representar perigo ao ambiente e à saúde
humana. Esses produtos são classificados em função de parâmetros, que tornam
conhecidos seus efeitos agudos (classificação toxicológica), seus efeitos ecológicos
(em pássaros, organismos aquáticos e outros animais não alvo), seu comportamento
ambiental (com relação ao solo, águas superficial e subterrânea e vegetação) e seu
comportamento em humanos e animais.
Quando se trata de recursos hídricos os principais processos que favorecem
o transporte de agrotóxicos são a volatilização, a lixiviação (ou percolação para
águas subterrâneas), o escoamento superficial e a evaporação.
O ingrediente ativo do agroquimicoo governa a sua reação no ambiente,
tais como a sua eficácia e eficiência no controle das pragas e doenças, sua mobilidade
e sua degradabilidade.
As suas propriedades inerentes, tais como solubilidade em água, polaridade
e pressão de vapor, associadas àquelas encontradas no ambiente onde é aplicado,
em decorrência dos processos naturais (temperatura, precipitação, vento e radiação
solar), também podem afetar seu comportamento e destino culminando com o
aparecimento de processos que geram impactos ambientais negativos como erosão
(ou carregamento de partículas de solo culminando com o assoreamento de corpos
d’água), salinização (geradas pelo uso inapropriado de irrigação, principalmente),
eutrofização (decorrente do uso incorreto de fertilizantes), contaminação por metais
pesados (decorrentes do uso de água na cultura proveniente de corpos d’água
localizados próximos a descargas diretas ou indiretas de minas e de indústrias
117
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manufaturadas); as chuvas ácidas, emitidas pela queima de combustível fóssil


e transportadas pela atmosfera para outras regiões agrícolas, as quais causam
acidificação de lagos e de águas superficiais; deriva de produtos, originada a partir
de processos de evaporação e de volatilização das gotas de agrotóxicos produzidas
pelos bicos de pulverização que, carreadas pelo vento, podem permanecer em
suspensão no ar até que sejam depositadas em áreas não alvos propiciando
contaminações indesejáveis de recursos hídricos, pessoas, animais, solos e plantas.
(CERDEIRA, et al., 2007).
Dentre os agrotóxicos os mais importantes são classificados em dois
grupos: organo-clorados e organo-fosforados. Um terceiro grupo são os carbamatos.
A listagem de doenças, moléstias ou alterações que os mesmos podem causar
no organismo humano é longa demais para ser apresentados aqui. Informações
aproximadas indicam que anualmente uma cifra próxima aos 50 milhões de toneladas
de estes produtos, através da precipitação e escoamento superficial, chegam aos
oceanos e até a própria Antártica, deixando atrás sua seqüela de prejuízos e morte.
Os organo-clorados em especial são muito resistentes à biodegradação,
principalmente em solos argilosos, persistindo em média de 10 a 15 anos. A águia
calva, o falcão peregrino e várias espécies de pelicanos estão desaparecendo por
serem eles cumes de pirâmides alimentares. Vale ressaltar que nós também somos o
cume de nossa pirâmide alimentar, cume perigosamente ameaçada pelo fenômeno
de magnificação biológica.
As doenças de veiculação hídrica são aquelas transmitidas diretamente ou
indiretamente pela água contaminada. Segundo a Organização Mundial da Saúde
80% das internações hospitalares no mundo são devidas a doenças transmitidas
pela água.
É alarmante a situação de óbitos, principalmente de crianças, onde cada
8 segundos, morre uma criança no mundo devido a uma das seguintes doenças:
diarréia, ascaridíase, hepatite, cólera, febre tifóide, amebíase e outras.Sendo os
agentes causais biológicos (bactérias, vírus e parasitas), conseqüência de poluentes
químicos e radioativos.
Essas doenças podem ser transmitidas pela água de uma forma direta ou
indireta, e ainda serem classificadas segundo seu agente causal.
Transmissão direta: cólera, diarréia, febre tifóide, disenteria bacilar,
amebíase ou disenteria amebiana, hepatite infecciosa outras;
Transmissão indireta: esquistossomose, malária, febre amarela, dengue,
leptospirose e outras.

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Divisão das doenças por tipo de patógeno:


Doenças causadas por parasitas: amebíase, esquistossomose, ascaridíase e
giardíase, etc.
Doenças causadas por vírus: hepatite viral tipo A, febre amarela, etc.
Doenças causadas por bactérias: cólera, leptospirose, febre tifóide,
disenteria bacilar.
Nas tabelas abaixo são apresentados as principais doenças agentes
patogênicos e forma de contágio.

TRANSMISSÃO DIRETA

Doença Agente Patogênico Forma de contágio

Amebíase ou disenteria Protozoário - Entamoeba Ingestão de água ou alimentos


amebiana histolytica contaminados por cistos.

Ascaridíase ou lombriga Nematóide - Ascaris lumbricóides Ingestão de água ou alimentos


contaminados por ovos.

Cólera Bactéria - Vibrio cholerae Ingestão de água e alimentos


contaminados.
Balantidium coli, Cryptosporidium, Baccilus
cereus, S. aureus, Campylobacter, E. coli
Diarréia aguda enterotoxogênica e enteropatogênica, Água e alimentos contaminados.
Shigella, Yersinia enterocolítica, Astrovírus,
Calicivírus, Norwalk, Rotavirus A e B

Disenteria bacilar Bactéria - Shigellasp Ingestão de água, leite e alimentos


contaminados.

Enterobíase ou oxiurose Enterobius vermiculares Pela ingestão de ovos do verme em


água e alimentos contaminados.

TRANSMISSÃO INDIRETA

Doença Agente Patogênico Forma de contágio

Dengue Grupo B dos arbovírus Os vetor Aedes aegypti.

Esquistossomose Asquelminto - Schistossoma Através da pele.


mansoni
Febre amarela Picada do mosquito Aedes
RNA vírus - Flavivírus sp aegypti.

Pelo contato com água ou solo


Leptospirose Leptospira interrogans contaminados pela urina dos
animais portadores.

Protozoário - Plasmodium ssp Picada da fêmea do mosquito


Malária Anopheles sp

Fonte: sabesp

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Doenças causadas por metais pesados

Outro fator bastante a se cuidar em relação a contaminação das águas são


os metais pesados, trata-se sobretudo de cobre, zinco, mercúrio e cádmio, cuja
presença nas águas acima de um certo limiar é tóxico para os peixes, podendo ser
transportados através do fenômeno da magnificação biológica para outros animais
ou ainda para o homem. Várias tragédias já ocorreram em função de sua presença
geralmente tóxica para os peixes acima de 0,5 ppm. Talvez a mais conhecida seja
a de Minamata em Japão, devido a compostos de mercúrio. O surpreendente neste
caso foi de que as indústrias despejam seus resíduos em forma inorgânica, mas
a forma tóxica assimilável é orgânica. A razão disto - descoberto após a tragédia
que causou muitas mortes - foi que certos microorganismos que vivem no lodo, no
fundo de rios e lagos, produzem a metilação dos compostos inorgânicos, voltando-os
assim muito mais tóxicos. Ainda devido àquele processo de magnificação, quando
se chegou ao cume da pirâmide alimentar - o homem - tinha-se já uma proporção
muito alta e fatal de mercúrio.
Os metais pesados são elementos químicos metálicos, de peso atômico
relativamente alto não podem ser destruídos, são altamente reativos do ponto de
vista químico.

Classificação

Micronutrientes (essenciais)
Zn, Fe (0,3 mg/L), Mn (0,1mg/L), Cu, Mo, Co, metabolizados pelas
plantas e animais.
Micro-contaminantes ambientais
As, Pb, Cd, Cr, Hg, Al, Ni, Ag, Ti, Sn e W , são tóxicos e acumulam no
ambiente aquático (biomagnificação).

MANEJO E MEDIDAS PREVENTIVAS

Princípios Estratégicos
A Conferencia Internacional sobre Água e Meio Ambiente, realizada em
1992 em Dublin, definiu um conjunto de princípios estratégicos para a questão da
oferta de água:

- A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para sustentação


da vida, desenvolvimento e meio ambiente.
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- O desenvolvimento e gerenciamento dos recursos hídricos devem basear-


se em um processo participativo, envolvendo usuários, planejadores e
elaboradores de políticas setoriais em todos os níveis.
- As mulheres desempenham um papel central na provisão, gerenciamento
e proteção da água.

Soluções Mitigadoras
As soluções mitigadoras tem sua importância bastante ressaltada na
ausência de recursos suficientes para a implementação de soluções realmente
desejáveis.

As soluções mitigadoras são as seguintes:

Soluções mitigadoras diretas


- Recuperação de áreas desagradadas
- Recomposição da cobertura vegetal
- Regularização dos fluxos hídricos
- Controle de uso da água (outorgas)
- Controle da disposição final de lixo
- Controle do lançamento de esgotos

Soluções mitigadoras indiretas


- Conscientização ambiental
- Controle ambiental
- Controle do uso de fertilizantes e agrotóxicos
- Controle do uso do solo urbano
- Controle do uso do solo agrícola.

Diagnóstico
O Diagnóstico servirá de base para elaboração do plano diretor e deve ser
elaborado a partir da definição de uma metodologia interdisciplinar que explicite
o eixo de integração entre os componentes físicos, bióticos, sociais, econômicos e
institucionais, capaz de identificar as relações entre as estruturas antrópicas e as do
meio natural.
Visando a reunião, organização e cruzamento das informações geradas
pelos estudos, deve-se prever a concepção e implantação de um banco de dados e
respectivos sistemas gerenciadores (SG).
Os estudos temáticos que compõem o diagnostico deverão ser apresentados
em formato digital e analógico (convencional em papel) em cores. A cartografia
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temática deverá ser produzida e digitalizada por item abordado no tema, com
formato DGN, DWG ou DXF. A escala de trabalho deverá ser 1:100.000, exceto
quando especificado em contrário nos TDR.

Definição de metodologia integradora


Essa metodologia deve contar com um suporte teórico-conceitual que
demonstre sua base científica e eficiência no alcance dos objetivos. A unidade de
análise a ser utilizada deverá ser explicada na integração dos resultados.

A descrição metodológica deve ser acompanhada de um fluxograma


apresentando as inter-relações entre os diversos componentes de estudo, ao longo
do processo de análise. Essa metodologia deve ser previamente aprovada pela
Equipe de Supervisão.

Geologia e recursos minerais, geomorfologia, pedologia e aptidão e


hidrogeologia
Essas informações devem ser produzidas por corpo técnico - cientifico.
Os mapeamentos resultados desses estudos deverão ser digitalizados nas
escalas disponíveis.
Outros estudos realizados sobre esses temas abrangendo a bacia e
executados por Universidades, Centros de Pesquisa e outras Instituições, deverão
ser levantados, apresentados, em mapas-índices contendo informações sobre a área
de abrangência, escalas e data de execução.
Deve ser mapeadas áreas de pesquisa de lavra e de mineração, especificando
o material explorado com base em informações do Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM).

Clima
O clima da bacia deve ser caracterizado através de estimativas de
evapotranspiracao da elaboração de mapas de temperaturas e precipitações,
mensais e anuais, com base nas Normais Climatológicas do período disponível
pelas estações meteorológicas.
Deve ser apresentadas as direções predominantes dos ventos e as
velocidades para cada região da bacia.
A precipitação máxima provável (PMP), deve ser atualizada. Para conhecer
os processos de formação de precipitações na bacia, deve ser elaborado um modelo
numérico de mesoescala.

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Uso do solo e cobertura vegetal


Acima do paralelo 18 deve ser mapeadas o uso do solo e a cobertura
vegetal por meio de imagens de satélites recentes, digitalizadas, em 1:100.000, com
unidade mínima de mapeamento de 6 mm2. Abaixo desse paralelo, o mapeamento
é encontrado no IEF.
O trabalho de campo deve ser realizado em toda a bacia hidrográfica e
deve conter as seguintes informações:

- Formações vegetais nativas identificadas por tipologia;


- Veredas e classificação quanto ao estagio de conservação;
- Identificação de áreas cultivadas;
- Identificação de campos naturais;
- Identificação de pastagens naturais;
- Formação de florestas homogêneas;
- Identificação de áreas de mineração;
- Identificação de aglomerados urbanos e pólos industriais;
- Identificação das áreas irrigadas (destacando pivô central);
- Áreas degradadas;
- Lagoas marginais;
- Infra-estrutura viária; e
- Integração do uso do solo e gestão dos recursos hídricos.

Os principais usos da terra deve ser qualificados e expressos em tabelas,


indicando tanto para cada município e sub-bacia quanto para a unidade de analise
definida na metodologia integradora.
Finalmente, com base nos estudos existentes e no mapeamento realizado,
deve ser avaliadas a dinâmica e tendência de ocupação da bacia.

Áreas de preservação legalmente definidas


Com base no levantamento dos instrumentos legais a nível federal, estadual
e municipal, deve ser cadastradas as áreas protegidas pelos diferentes instrumentos
legais, localizando-as em mapas digitalizados por tipologia.

Estudos de ictiofauna
Deve ser realizado o levantamento bibliográfico sobre o conhecimento
ictiico na bacia estudada.
Através dos mapas já existentes e da bibliografia analisada, deve ser
identificados os seguintes aspectos:

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- Pontos onde deve ocorrer a reprodução e


- Áreas de drenagem onde é imprescindível um maior conhecimento para
identificação do real interesse itiico para sua preservação/conservação.

Através da bibliografia existente, deve ser caracterizadas as espécies de


interesse científico e econômico, localizando-se sua ocorrência.

Áreas de interesse para preservação/conservação


Com base nos mapeamentos de uso do solo e cobertura vegetal, no
cadastramento anteriormente mencionado e bibliografia sobre a fauna e a flora da
bacia, deve ser apresentada cartografia identificando, classificando e descrevendo
os sítios de interesse para preservação/conservação, destacando-se:

- Os biótopos e formações de interesse cultural e paisagístico;


- As áreas de reprodução da ictiofauna nos cursos d’água e lagoas marginais;
- Os sítios espeleologicos e arqueológicos de interesse científico-cultural.

Sócio-economia
- Os estudos sócio-econômicos deve promover a caracterização social e
econômica das comunidades inseridas na bacia a partir dos municípios
que as constituem, buscando abranger aspectos da infra-estrutura urbana e
rural e da economia local, por meio de uma análise exploratória de dados
secundários. Os seguintes aspectos devem ser abordados:

Economia
- Avaliação básica sobre finanças publicas dos municípios.
- Caracterização geral dos setores da atividade econômica, analisando a
principal base econômica.
- Identificação dos pólos regionais que exercem influencia sobre a bacia,
como e qual o grau de dependência dos municípios entre eles e em relação
aos pólos regionais.
- Análise da distribuição de emprego e renda por atividade da economia.
- Distribuição por extrato de área e uso por classe de atividade econômica.
- Análise prospectiva, avaliação de tendências e elaboração de cenários
possíveis.

População
- Apresentação de tabelas e análise da situação domiciliar da população; a
taxa média de crescimento da população por situação de domicílio; o grau
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de urbanização; a densidade demográfica; a taxa de migração e elaboração


da projeção da população residente nos municípios.

Saúde
- Levantamento, junto á Fundação Nacional de Saúde (FNS), das doenças
endêmicas de veiculação hídrica nos municípios da bacia, sua localização
hidrográfica e municipal, medidas de controle de combate em vigor e os
motivos prováveis de sua ocorrência.

Educação
Devem ainda ser executadas as seguintes atividades:
- Levantar os planos de governo nas instancias federal e estadual, com as
áreas de atuação propostas como por exemplo as áreas com decreto de
lavra, expansão urbana, planos agrícolas, barragens projetadas.
- Apresentar uma carta com a espacialização dos planos e programas de
governo, como expressão das intenções futuras de desenvolvimento para
o território.
- Elaborar relatório sobre as tendências regionais com base nos mapeamentos
realizados e informações obtidas.

Participação Social
Face á importância da participação popular na elaboração do plano, deve ser
adotadas metodologia participativa e ações compartilhadas para que o movimento
de cidadania pela água seja implementado.
Assim sendo, a dimensão humano-social deve ser abordada no sentido
de identificar a estrutura de organização da população no processo decisório
do plano diretor. No sentido de identificar e assegurar á comunidade, por meio
de gerenciamento participativo, recursos hídricos em quantidade e qualidade de
modo de atender ás demandas atuais e futuras, deverão ser executadas as seguintes
atividades:

- Identificação e tipificação das diversas comunidades existentes na bacia;


- Estudo das relações sociais, formas de organização e identificação de
lideranças dentro da cada grupo de comunidades;
- Atuação junto as comunidades, buscando concientização para cada sua
participação em reuniões publicas; e
- Consolidação das informações que irão contribuir para processo decisório;

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Tecnologia de produção
Avaliar as tecnologias utilizadas na apropriação da água, pelos diversos
setores de atividades econômicas da região, analisando seus efeitos e indicando
alternativas tecnológicas para otimização do uso dos recursos hídricos, A partir das
informações geradas no cadastramento de usuários de água da bacia, deverão ser
abordados as seguintes aspectos:

- Compartimentacão da região em unidades, com base nas atividades


econômicas predominantes;
- Caracterização e avaliação das tecnologias utilizadas na apropriação
da água, tratamento e destinação final dos despejos líquidos e sólidos
gerados, identificando-se as interferências das atividades preponderantes
selecionada em cada unidade, na quantidade e qualidade das águas
utilizadas; e
- Proposição de alternativas tecnológicas para otimização e adequação das
atividades econômicas, bem como para o tipo de tratamento e destino final
adequado para os resíduos sólidos e líquidos gerados na bacia de modo
a controlar, preservar e/ou recuperar a quantidade e qualidade das águas.

Estudos e inventários dos recursos hídricos:

Estudos hidrológicos básicos


O estudo hidrológico básico caracterizará a hidrologia da região, visando
avaliar os recursos hídricos através das etapas básicas indicadas a seguir:

- Recompilação, análise e síntese dos estudos e dados hidrometeorológicos


e sedimentológicos disponíveis, não só no âmbito da região propriamente
dita mas, também, os relativos a outras bacias hidrográficas potencialmente
comparáveis á bacia estudada.
- Levantamento de locais oportunos, já estudados, para localização de
obras hidráulicas.
- Obtenção de informação adicional, visando ajustar a informação
disponível mediante estudos de curta duração a serem realizados dentro do
escopo dos TRABALHOS.
- Determinação de metodologias de tratamento da informação disponível,
inclusive por comparação com bacias semelhantes, através do detalhamento
das bases metodológicas oferecidas na Proposta.
- Elaboração de informações hidrológicas, climatológicas e
agrometeorológicas a nível operacional, em função dos requerimentos das
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técnicas de modelagem e outros métodos hidrológicos previsto, a mediante


a preparação de séries históricas básicas, mapas temáticos, dentre outros.
- Avaliação objetiva do nível de conhecimento do sistema hidrológico
regional, nos aspectos quantitativo e qualitativo e nas fases superficial
e subterrânea, com vistas á determinação de diretrizes voltadas para a
melhoria desse conhecimento, inclusive através do aprimoramento da rede
regional de observação hidrometeorológica e qualidade das águas.

Devem ser detalhados os seguintes estudos hidrológicos básicos:

a) Estudos Hidrometeorológicos
- Coleta e analise de dados disponíveis;
- Organização plantação de base de dados para processamento;
- Aspectos climatológicos gerais, análise pluviométrica da bacia e
estimativa mensal da evaporação;
- Caracterização flúvio-morfológica da bacia;
- Análise de consistência dos dados fluviométricos;
- Tratamento estatístico das informações;
- Caracterização do regime hídrico;
- Regionalização das curvas de permanência de vazões;
- Regionalização das vazões máximas, medias e mínimas;
- Análise das contribuições especificas dos principais afluentes;
- Caracterização e avaliação da qualidade das águas superficiais; e
- Usos da água/cadastro de usuários.

O cadastro de usuários deve ser realizado após uma análise das informações
existentes, inclusive as de comitês, consórcios e instituições.
A metodologia a ser adotada nos trabalhos de campo do cadastramento
deve ser previamente e discutida com a CONTRATANTE.

b) Estudos Hidrogeológicos
- Coleta e análise dos dados disponíveis;
- Organização e implantação da base de dados para processamento;
- Elaboração de mapa de localização dos poços e identificação e
mapeamento dos aqüíferos;
- Análise, processamento e interpretação dos dados;
- Caracterização dos aqüíferos e poços inventariados;
- Definição de modelo hidrogeológico – condições de recarga, escoamento
e descarga das águas subterrâneas;
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- Avaliação do potencial e disponibilidades hídricas;


- Análise das relações rio-aquifero;
- Caracterização da qualidade das águas;
- Uso da água; e
- Síntese hidrológica e definição das áreas mais favoráveis á captação.

c) Estudos Sedimentológicos
- Coleta e análise dos dados sedimentológicos;
- Organização e implantação de base de dados para processamento;
- Análise do mapeamento das zonas de erosão e mineração;
- Avaliação da produção e transporte de sedimentos na bacia; e
- Medidas de contenção.

Sites consultados

http://www.ana.gov.br
http://www.brasildasaguas.com.br/
http://pbs.ana.gov.br
http://www.tratamentodeesgoto.com.br/principal.php
http://serla.rj.gov.br
http://www.inmet.gov.br/

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1987, 526 p.

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CERDEIRA, A. L.; PESSOA, M. C. P Y.; GOMES, M. A. F.; BOLONHEZI, D.; SOUZA,


M. D.; NETO, C. F. Propostas de boas práticas agrícolas para as áreas de afloramento
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Meio Ambiente. ( Documentos n 65)2007, 82p.

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FIETZ, C. R. Água o recurso natural do terceiro milênio. A lavoura, 2006.

FILHO-OLIVEIRA, E. C.; LIMA, W. J. E. Potencial de impacto da agricultura sobre


os recursos hídricos na região dos Cerrados. EMBRAPA, Planaltina, DF. Embrapa
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