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FOR.MA.

AGRI
Formação para a utilização adequada das Máquinas Agrícolas

Módulos de formação para jovens agricultores, imigrantes e pequenas e médias


empresas do sector

Seleção do Trator

Mecanização Agrícola
Luís Vieira
SELEÇÃO DO TRATOR
• Embora existam atualmente equipamentos específicos para a realização de praticamente todas
as operações requeridas, muitos deles automotrizes, o trator agrícola, pela suas
características ímpares de capacidade, polivalência e versatilidade, impôs-se como o eixo
fundamental, em torno do qual gravitam a maioria das soluções de mecanização da agricultura

• O trator por si só, não tem praticamente capacidade de realizar trabalho útil; a sua utilização
como meio de transporte (legalmente o condutor é o único ocupante do veículo) é contra
indicada e anti económica. É através do acionamento de equipamentos montados, semimontados,
rebocados, ou simplesmente estacionários, que revela as suas reais capacidades de trabalho

• Porque se trata sempre de um avultado investimento, a sua seleção deve reger-se por critérios
estritamente técnicos, frequentemente contrários à aguerrida e nem sempre esclarecedora,
pressão publicitária das marcas comerciais

• A seleção da unidade motriz, deve ser rigorosamente fundamentada por indicadores


resultantes da exaustiva avaliação das reais necessidades de trabalho
SELEÇÃO DO TRATOR

• Uma opção de compra, só deverá ser tomada perante indicadores que demonstrem
claramente a viabilidade económica do investimento. A exploração deverá ter capacidade
económica para enfrentar o investimento e os encargos derivados. Terão sido anteriormente
ponderadas todas as formas de utilização em comum e comprovada a inviabilidade do recurso
a prestadores de serviços

• Com base no tipo de exploração (convencional / integrada / ecológica / extensiva / intensiva,


agrícola / pecuária / florestal) e num plano cultural, flexível em termos de alterações
produtivas a prazo, deve ser feito um levantamento exaustivo dos tipos de trabalhos a
realizar (ligeiros, pesados)

• O tipo de equipamentos eventualmente já existentes no parque de máquinas de uma


exploração, será logicamente o ponto de partida para o cálculo das necessidades de potência
(motor, tração, tomada de força)

• A quantificação do número anual de horas despendidas com a realização de cada tipo de


operação, é fundamental para a determinação da potência necessária
SELEÇÃO DO TRATOR

• A determinação do número de dias disponíveis para a realização de cada operação cultural, é


essencial para a correta determinação da potência do trator; períodos disponíveis dilatados,
poderão reduzir a potência necessária, sempre em função das exigências das máquinas
operadoras

• Os fatores anteriores devem ser complementados com a quantificação e qualificação dos


operadores, fundamental nos casos em que se revele necessário o trabalho em turnos
contínuos

• A possibilidade de realização de operações combinadas, deverá ser equacionada e avaliada,


numa perspetiva de rentabilização do trabalho, reduzindo o tempo efetivo de trabalho, o
número de passagens, os seus efeitos negativos sobre o solo e os encargos com energia e
pessoal

• Uma correta ponderação destes tópicos, deve impedir qualquer das situações seguintes:
SELEÇÃO DO TRATOR

• Potência Excessiva: Um exagerada reserva de potência, raramente utilizada, é obviamente


um investimento inútil; São infelizmente frequentes, exemplos de grandes tratores
utilizados em curtos períodos anuais, em trabalhos ligeiros, com alfaias de reduzidas
dimensões, em parcelas diminutas, situações claramente antieconómicas

• Deficit de Potência: A utilização de equipamentos que exigem valores de potência superiores


aos que o motor naturalmente pode fornecer, resulta naturalmente deficiente em termos
qualitativos, quantitativos e sobretudo, de segurança, para operador e equipamentos. Está
geralmente associada a elevadíssimos consumos de combustível, a um rápido desgaste do
material e a pesados encargos extraordinários de manutenção

• Assim, a motorização selecionada deve basear-se no valor de Potência útil económica,


(situado entre 80 e 85 % do valor de potência máxima indicada pelo fabricante). Só este
valor, reflete a potência que poderá ser efetivamente aproveitada para trabalho de tração ou
à tomada de força, em condições de total segurança para o trator e equipamentos acionados,
com elevados valores de rendimento do trabalho e otimização de consumos de energia
SELEÇÃO DO TRATOR
• Deverá atender-se igualmente ao tipo utilização predominante de potência utilizada:

• Predominando trabalhos pesados de tração (charrua, subsoladores, ...) optar por tratores
mais pesados ou, se este tipo de trabalho não é dominante, optar por mais amplas
possibilidades de lastragem e montagem de pneus que otimizem a aderência

• Este tipo de trabalhos exige igualmente um amplo e equilibrado escalonamento das


velocidades entre 3 e 12 km/h, com relações de transmissão não superiores a 15%,
permitindo aumentos sucessivos de velocidade, até um valor de eficiência ótima de trabalho.
As transmissões mais recentes, nomeadamente as que possibilitam a mudança de velocidade
sob carga, proporcionam melhor aproveitamento da potência do motor e superior
maneabilidade do trator
SELEÇÃO DO TRATOR
• Para trabalhos de tração mais ligeiros (grades, vibrocultores, rolos, ....), ou outros que exigem
mais polivalência funcional do trator (carregador frontal, reboques, distribuidores de
alimentação animal, ....), o fator manobrabilidade supera largamente a força de tração
exigível

• Nestes casos, deve dar-se primazia a fatores como a distância entre eixos, raio de viragem e
transmissão do eixo anterior. Ampla visibilidade, apurada ergonomia e elevado conforto, são
igualmente fatores de peso, atendendo à diversidade de solicitações a que trator e operador
se encontram sujeitos por longos períodos de trabalho. Também aqui, toda a transmissão e,
particularmente a caixa de velocidades, desempenha um papel primordial. Uma embraiagem
multidisco em banho de óleo e adequados escalonamentos entre 10 e 25 km/h, devem permitir
uma seleção adequada à realização de cada tipo de trabalho, em concordância com regimes
económicos de funcionamento do motor

• Se a utilização principal incidir sobre equipamentos acionados pela tdf (fresa, grades
rotativas, semeadores, distribuidores de adubo, pulverizadores, ....), o esforço de tração
requerido pode ser significativo (fresa e grade rotativa), ou perfeitamente marginal
(semeador, pulverizador). Em ambas as situações, são fundamentais as performances da
tomada de força, particularmente a elasticidade e os consumos específicos de combustível,
associados às velocidades de trabalho
SELEÇÃO DO TRATOR
• Além dos regimes normalizados de 540 e 1000 rpm, geralmente disponibilizados, muitos
tratores possuem as denominadas "tomada de força económica" (eco). A sua seleção permite
os mesmos regimes normalizados no veio de tdf, a regimes substancialmente inferiores de
motor, mais próximos do binário máximo e com sensíveis reduções de consumo de combustível

• Comandos electro-hidráulicos da tdf, associados a caixas de velocidades corretamente


escalonadas e adaptadas às operações culturais, são fatores de otimização de rendimentos
de trabalho

• Uma vasta gama de pneus, salientando-se os pneus de baixa pressão, constituem


frequentemente as soluções mais adequadas a estes tipos de trabalho, particularmente em
tratores equipados com tomada de força e sistema hidráulico de elevação frontal,
permitindo a realização de múltiplas operações numa única passagem, com minimização de
impacto sobre o solo
SELEÇÃO DO TRATOR
• Finalmente, em trabalhos de transporte, que representam uma significativa percentagem do
total anual de horas de trabalho da generalidade dos tratores, importa fundamentalmente a
velocidade máxima permitida pela caixa de velocidades (máximo legal = 40 km/h), com uma
boa distribuição das relações de transmissão

• Não menos importantes: os dispositivos mecânicos de ligação trator - reboque, o tipo de


travão de serviço de reboque e seu acionamento a partir do posto de condução, bem como o
valor de peso bruto rebocável. A perfeita conjugação destes fatores, cuja análise precede a
aquisição, permitirá significativas economias de tempo e dinheiro

• Em condições de maior polivalência, que caracterizam a generalidade das pequenas


explorações, poderá ser recomendável um trator de dupla tração, em que o parâmetro
potência se sobrepõe ao peso do trator

• O equilíbrio estático / dinâmico do próprio trator (distância entre eixos - distribuição de


pesos eixo anterior / posterior) é um facto merecedor de detalhada análise. Uma solução
equilibrada em termos de conceção do próprio trator, ou pela seleção de equipamentos
adaptados ao trator (peso, transferência de carga, desafogo), constituem recomendações
que visam maior eficiência de trabalho e segurança acrescida
SELEÇÃO DO TRATOR
• Estes elementos, embora fundamentais, não dispensam de forma alguma, uma especial
atenção sobre muitos outros, mais específicos, ou de carácter mais generalista, dependentes
da consulta de literatura especializada e alguma formação técnica na matéria

• Apesar de cumprirem os limites de emissões de poluentes gasosos, muitos motores com


valores semelhantes de potência máxima, apresentam assinaláveis diferenças em termos de
potência máxima disponível na tomada de força, consumos de combustível e ruídos emitidos
para o ambiente e ouvidos do operador. Uma opção comercial, deve ser preferencialmente
feita com base na análise dos resultados oficiais dos ensaios OCDE ou das Diretivas
cumpridas para a homologação europeia do trator

• O valor de potência máxima de um motor é meramente indicativo do limite máximo. Não pode
ser dissociado de outras importantes características:
regime de rotação a que é obtido, consumos absolutos e específicos de combustível ao longo
de toda a gama útil de rotação do motor, valor de binário máximo e reserva de binário, devem
ser analisados, permitindo determinar não apenas as capacidades de realização de trabalho,
mas igualmente selecionar motores com maior elasticidade, mais económicos e eficientes do
ponto de vista energético
SELEÇÃO DO TRATOR
• A opção tração simples deve ser sempre equacionada; a necessidade de dupla tração, com
inúmeras vantagens em termos de capacidade de realização de trabalho, mas sensivelmente
mais dispendiosa, deverá ser tecnicamente comprovada pelo levantamento das necessidades e
oportunidades de realização do trabalho

• Os tratores de dupla tração, embora mais equilibrados que os de tração simples, apresentam
distribuições de peso pelos eixos em proporções variáveis entre 30 / 70 e 40 / 60. Os
tratores de quatro rodas iguais (próximo de 50 / 50), serão mais equilibrados

• A sofisticação das atuais transmissões, particularmente das caixas de velocidades, permitem


apreciáveis economias de tempo e de consumos de combustível, mas exigem operadores
qualificados e experientes, por forma a retirar o máximo rendimento proporcionado pela
tecnologia; Deve frisar-se que as caixas de 50 km/h, substancialmente mais onerosas,
disponibilizadas pela generalidade dos fabricantes, devem ser mantidas com as regulações
eletrónicas originais para 40 km/h, velocidade máxima permitida pelo Código da Estrada, pelo
que a sua aquisição, pode camuflar um falso argumento de compra
SELEÇÃO DO TRATOR
• A capacidade máxima e o curso de elevação dos sistemas hidráulicos de elevação, a opção de
montagem anterior ou lateral, para operações combinadas, assim como o número dos circuitos
hidráulicos externos, respetivos tipos e funcionalidades em termos de caudal e pressão,
deverão merecer cuidada análise para efeitos de seleção

• O Peso Bruto Rebocável e os valores de resistências horizontal e vertical máxima suportáveis


pelos dispositivos de mecânicos de ligação trator-reboque, deverão permitir uma perfeita e
segura ligação trator-reboque, constituindo um importante fator de rentabilização das
operações de transporte em segurança. A redução do número de percursos e dos tempos
mortos para descarga, poderão revelar-se fatores de acrescida rentabilidade

• Apesar de obrigatória, a estrutura de segurança poderá ser um simples arco, um quadro,


revestido ou não, ou a mais sofisticada cabina de segurança. Embora equivalentes em termos
estritos de segurança, as particularidades climáticas de cada região poderão compensar
largamente os custos iniciais substancialmente superiores de uma cabina com ar
condicionado, proporcionando inigualáveis padrões de ergonomia, conforto e ruído, que são
obviamente, fatores decisivos para o incremento dos rendimentos de trabalho
SELEÇÃO DO TRATOR
• Perante soluções tecnicamente idênticas e com preços concorrenciais, deve ser feita uma
cuidada análise à capacidade instalada e de resposta dos concessionários mais próximos; nem
sempre a marca mais consagrada do mercado, possui vantagens locais em termos de
assistência técnica rápida, eficaz e aos melhores preços. Um pequeno problema surgido numa
época crítica, se não pronta e eficazmente solucionado, poderá comprometer os resultados
de todo um ano agrícola

• A configuração comercial proposta de um trator, não corresponde frequentemente às


especificações técnicas apresentadas na documentação comercial, que privilegia muitos
aspetos, geralmente considerados opcionais. Caixa de velocidades, tomadas de força
frontais, massas de lastragem, tipos e dimensões dos pneus, dispositivos de engate, sistemas
de travagem de reboque e garantias, são apenas alguns aspetos que devem constar de
qualquer proposta de venda e ser criteriosamente analisados e comparados com propostas
comerciais de outros tratores com características semelhantes
SELEÇÃO DO TRATOR
• Independentemente da variabilidade e complexidade dos fatores influentes na opção
comercial, resta relembrar que todos concorrem para uma correta decisão de compra, com o
fim último de atingir elevada eficiência do trabalho, produzido em segurança

• Baixas intensidades anuais do trabalho, manifestam típicas situações de improdutividade do


capital e do equipamento, comprometendo o investimento realizado; conclui-se que o número
de horas anual de trabalho, é um fator decisivo em termos de avaliação económica de um
investimento, com vista à sua rápida amortização

• A título exemplificativo, refira-se que um trator com 300 horas anuais de trabalho, será
totalmente amortizado ao fim de mais de treze anos e apresenta custos horários
sensivelmente duplos de um trator igual que, trabalhando mil horas anuais;
estará amortizado em metade do tempo, cedendo lugar a um modelo mais recente,
tecnologicamente mais evoluído e certamente com superiores padrões de economia,
rendimento e segurança
SELEÇÃO DO TRATOR

Consumada a aquisição do trator, a sua chegada à exploração deve ser acompanhada da


entrega do Manual do Operador ou Manual de Instruções, um guia elaborado pelo fabricante,
onde a par dos cuidados gerais de segurança, são apresentados todos os sistemas
componentes, indicados os procedimentos de manutenção e sugeridos procedimentos com
vista à utilização racional do trator, por forma a serem obtidos rendimentos máximos,
consumos mínimos, numa perspetiva de otimização da utilização ao longo de uma prolongada
vida útil. Deve acompanhar sempre o trator.

A entrega do trator, deverá ser acompanhada por uma ação de formação do operador, a
cargo do agente comercial da marca. Após esta fase de instrução, o operador deverá estar
preparado para trabalhar, em segurança, dentro dos limites indicados pelo fabricante,
respeitando escrupulosamente o plano de manutenção programada, de forma a prolongar ao
máximo a vida útil do trator e amortizar o investimento no período de tempo mais curto
possível.
Esta apresentação toma como base e segue
de perto a versão da FOR.MA.AGRI -
Formação para a utilização adequada de
máquinas agrícolas, elaborada por Luís
Vieira (DGADR / Mecanização Agrícola).

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