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RESUMO
Este estudo trata da formação para a Educação Especial nas falas das
professoras das Salas de Recursos Multifuncionais da região sudeste de
Goiás, no contexto da década de 90 aos dias atuais. Objetivou-se analisar as
falas das professoras ao Observatório goiano de Educação Especial, sobre a
formação para o Atendimento Educacional Especializado. Para tanto, se
justifica por querer contribuir com as discussões das políticas públicas
educacionais que amparam a Educação Especial a nível nacional. A
metodologia foi a análise de conteúdo, considerando suas técnicas e métodos.
Como fundamentação teórica utilizamos algumas perspectivas histórico-social.
Os resultados apontam que o contexto atual em que a sociedade goiana se
encontra atrelada, se configura no controle de agências supranacionais como o
Banco Mundial e o FMI que tem ditado as regras com Direito adquirido por
meio de acordos financeiros. Assim, a formação continuada em serviço para
capacitação do trabalho docente no contexto da Educação Especial tem sido
prioritariamente oferecido por cursos a distância, disponibilizados pelo MEC
e/ou por instituições privadas.
1 INTRODUÇÃO
Para pensar a Educação especial na sociedade atual buscou-se as
causas historicamente constituídas como reflexos do sistema político-
econômico capitalista, gerador do pensamento neoliberal, que por meio da
globalização levou os países subdesenvolvidos a uma dependência financeira
e política, subordinando as políticas públicas educacionais a agentes
supranacionais.
Ao considerar este fator como relevante na discussão, analisamos as
políticas firmadas entre o Banco Mundial (BM), o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e os Estados nacionais e estadual. Cabe ressaltar que
estes poderes determinam as prioridades dos países a eles subordinados pela
política e a economia. Aliás um fator primordial que implica nova reforma nas
políticas educacionais, um reordenamento na estrutura político-econômica que
traz novas exigências para o Estado.
Portanto, a conjuntura nacional brasileira envolta nos aspectos sociais,
políticos e econômicos se atrelam aos interesses e objetivos de grupos
internacionais, se subordinando a seus mandos e desmandos. Assim, para
compreendermos as políticas educacionais de formação docente que tem se
constituído na última década, determinados por orientações de grupos
dominantes que representam poder de articulação político-econômica é que
seguimos o norte da entrevista focal do II Encontro do Observatório goiano de
Educação Especial. Para tanto, indagamos aos documentos: como as
professoras das SRMs pensam a Educação Especial/Inclusiva, de acordo com
o que tem ocorrido em suas práticas em Goiás, como tem acontecido no Brasil
e como tem sido sua formação?
Como fundamentação teórica discutimos com pesquisadores do campo
da Educação Especial em sintonia com as perspectivas histórico-social como:
Zerbato (2014), Calheiros (2015), Vilaronga (2014), Maroneze e Lara (2009),
Plescht (2009, 2010), Garcia (2013) e Rosemberg (2002).
Com o intuito de contribuir com as discussões no âmbito da academia
sobre as políticas públicas educacionais para a Educação Especial que
trazemos para a discussão o empirismo, resultado das “falas” de quem vive a
prática e participa da reflexão junto a ação do pesquisador. Assim,
pretendemos que os resultados obtidos, assim como o projeto de Mendes
(2010) sejam compartilhados com pesquisadores que se dedicam ao campo da
Educação Especial e, a partir disso contribua com a sistematização do
conhecimento e de destaque positivo do trabalho docente na área de
Educação.
Enfim, nossa pesquisa teve como objetivo analisar as falas das
professoras ao Observatório goiano de Educação Especial, sobre a formação
para o Atendimento Educacional Especializado na visão das professoras das
Salas de recursos multifuncionais (SRMs) do Estado de Goiás a partir das
pesquisas realizadas pelo Observatório Goiano de Educação especial –
Ogeesp, no II Encontro do Ogeesp no ano de 2011.
2 Objetivo
Analisar as falas das professoras ao Observatório goiano de Educação
Especial, sobre a formação para o Atendimento Educacional Especializado.
3 Aspectos éticos
A partir da constatação de diferentes contornos para a formação de
professores para o AEE nos Estados brasileiros, foi criado o Observatório
Nacional de Educação Especial - Oneesp, coordenado pela professora Dra.
Enicéia Mendes, da Universidade Federal de São Carlos, sendo aprovado pelo
comitê de Ética em pesquisa de seres humanas por meio dos pareceres
382/2011 e 291/201.
4 Metodologia
A escolha ao método de análise de conteúdo de Lawrence Bardim
(2011), foi determinante por deliberar certo rigor a metodologia de natureza
qualitativa, além de nos proporcionar múltiplas facetas de técnicas e métodos
que permitem uma afirmação ou infirmação dos dados.
De acordo com os dados do II encontro do Ogeesp, no ano de 2011,
estiveram presentes 11 professoras de Salas de Recursos Multifuncionais de
vários municípios de Goiás (Ogeesp, 2011). O encontro foi coordenado pela
professora Dra. Dúlcéria Tartuci 1, contou com outros pesquisadores membros
do Ogeesp, do Núcleo de Pesquisa e Práticas educacionais Inclusivas
(Neppein), alunos de iniciação científica de graduação. As entrevistas
1
Professora no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão,
PPGEDUC, Linha de pesquisa Práticas educativas, políticas educacionais e Inclusão. Coordenadora do Observatório
goiano de Educação especial/Ogeesp. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Práticas Educativas e Inclusão (NEPPEIN).
encontram-se arquivadas no acervo do Observatório goiano na condição de
transcritas como em Mídia: Gravador Coby CX-R189.
Como fundamentação teórica discutimos com pesquisadores do campo
da Educação Especial em sintonia com as perspectivas histórico-social como:
Zerbato (2014), Calheiros (2015), Vilaronga (2014), Maroneze e Lara (2009),
Plescht (2009, 2010), Garcia (2013) e Rosemberg (2002).
5 Resultados e Discussão
Pensar a Educação especial nos dias atuais, implica analisar os
processos ocorridos historicamente na sociedade brasileira a partir da década
de 80, com o ideário desenvolvimentista se configurando a partir de ideias
políticas de reforma na Educação básica. Calcada no discurso do ajuste fiscal,
os reformadores se apegam na justificativa de que os gastos com as questões
sociais são verdadeiros gargalos para os cofres públicos, além de agentes
atenuantes da explosão da dívida externa em muitos países. Para tanto, se
apegam em estratégias e ações econômicas com fim de reverterem a crise
econômica. Recorrem a empréstimos as agências financeiras supranacional –
Banco Mundial (BM) e Fundo Monetário Internacional (FMI) (MARONEZE;
LARA 2009).
Nesse sentido, as fronteiras da globalização se romperam levando a
adesão ao sistema político-econômico vigente nos países desenvolvidos,
sistematizado na década de 90 no Brasil, pelo governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC), conhecido como o consolidador das ideias neoliberais no
Brasil. Com efeito, é nesse contexto que o processo neoliberal amplia sua ação
de mais do que dominante, mas coordenador e avaliador das políticas e
programas implementados no Brasil. Nessa concepção, Tatiana Roque (Carta
Capital 05/05/2015) traz algumas formas de doutrinação e abordagem
defendidas ou criticadas por estudiosos que segundo ela:
2
Professora UFRJ
Com efeito, é no campo da educação que se faz sentir os efeitos desse
gerencialismo que se reforça por meio de avaliações externas, mecanismo
utilizado como meio de intervenção e subordinação política em troca de
financiamentos públicos. Como fortalecimento dessas políticas, o sistema de
avaliação acaba por ceder ao jogo político-econômico de forças internacionais
fundamentos para que as regras das políticas públicas educacionais sejam por
eles ditadas. De acordo com, Rosemberg (2002, p. 30) “O grupo dominante
possui as informações consideradas pertinentes, o poder de financiamento e os
meios para influenciar certas categorias de atores nacionais”. Além de garantir
o poder de subordinar países subdesenvolvidos, as multilaterais como o Banco
Mundial e o FMI, estes grupos estão fortemente comprometidos em sustentar a
consolidação do sistema capitalista, mesmo que para tal, seja necessário
modificar a cultura, pela educação. Nesse sentido, (CORAGGIO, 1996 in
ROSEMBERG, 2002, p. 32), nos corrobora ao dizer que:
Então a postura hoje nossa é...tem que ser diferente diante...da evolução do mundo
que nós estamos vivendo. E o mundo gente...é um mundo que tá...é::...evoluindo
numa forma numa velocidade né?
3
Resolução CNE/CEB 4/2009. Diário Oficial da União, Brasília, 5 de outubro de 2009, Seção 1, p. 17.
perspectiva da Educação Inclusiva precisa ser um profissional disponível a
desempenhar qualquer atividade pedagógico-didáticas para a diversidade de
alunos presentes no atendimento educacional especializado, sem terem
formação inicial para tanto. Por tanto, Pletsch (2009, p. 148) considera que aos
cursos de formação de professores cabe:
Nós temos lá em Ouvidor, com o prefeito, lá nós temos uma parceria né? Não é nem
parceria, ele nos ajuda...nossos alunos tem fono e tem psicólogo...lá no PSE tem uns
três alunos que eu tenho com deficiência na fala eles tem fonoaudiólogo e eu levo eles
lá nas sessões (Amanda 2011, II Encontro, 2011).
6 CONCLUSÕES
Consideramos que o contexto educacional em que a sociedade goiana
se encontra tem sido determinado pelo sistema capitalista que vem se
constituindo em um processo neoliberal, inserido na sociedade brasileira a
partir das últimas décadas do século XX. Assim, a Educação vem se
constituindo em um modelo refletido por ideias mercantilistas com atendimento
as necessidades e prioridades do livre mercado financeiro.
Desse modo, ao analisar as falas das professoras do Observatório
goiano de Educação Especial, sobre a formação para o Atendimento
Educacional Especializado nas SRMs das escolas públicas da região sudeste
de Goiás, percebemos que o contexto político-econômico vivenciado no plano
nacional tem sido utilizado como discurso articulador de divulgação de uma
suposta crise na educação.
Tal articulação atribui resultados adquiridos em sistemas de avaliação de
ensino-aprendizagem que condenam a qualidade da educação
responsabilizando a formação e o trabalho do professor. Além disso, os cursos
oferecidos pelos gestores educacionais tanto federais, estaduais e locais tem
sido cursos com base de capacitação técnica para atender a necessidade do
momento. O que implica desenvolver projetos com cursos de formação
aligeirados que acabam se constituindo como dados quantitativos, uma vez
que em termos de qualidade, os cursos oferecidos para formação de
professores para a Educação Especial, pelo que constatamos nas falas das
professoras tem deixado a desejar pela falta de estrutura física, humana e
tecnológica.
Além disso, dada a ideologia do governo atual do Estado de Goiás, nota-
se com evidência os rumos que se pretende chegar com o tipo de formação
priorizada pelos coordenadores administrativos. A imposição por cursos
impostos com “pacotes fechados” sem levar em conta um estudo de caso, se
caracteriza no mínimo inconsistente a não atentar para as especificidades da
região constituída por vários municípios, que se inserem cada um no seu
processo histórico-social.
Não obstante, a situação em Goiás, não se difere das demais
localidades municipais brasileiras, haja vista que segundo pesquisas realizadas
em outros entes federados foi possível perceber que a formação para o
trabalho docente da Educação especial, estão se constituindo em modelos
refletidos por ideias mercantilistas. Um arcabouço de programas e projetos são
desenvolvidos por administradores públicos, financiados por organismos
financeiros que ditam regras e normas para serem regidas por políticas
educacionais.
Enfim, esperamos que nossa pesquisa possa contribuir com o
conhecimento em torno da formação para o trabalho docente na perspectiva da
Educação Inclusiva, pois acreditamos que a prática não dissocia da teoria.
Assim sendo, corroboramos com os pesquisadores do campo da Educação
Especial que advogam o ensino colaborativo em uma perspectiva para além
das Salas de Recursos Multifuncionais. Não se trata de eliminar recursos que
possibilitam um atendimento educacional especializado ao aluno público-alvo
da Educação Especial, mas de somar métodos e técnicas capazes de
contribuir com a metodologia aplicada no AEE na Sala de aula comum.
7 REFERÊNCIAS
BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das
necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien, 1990. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf. Acesso em
117/07/2015.