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Da série: Minha irmã fala e eu escrevo.

Doença da mente

Minha irmã é realmente uma caixinha de surpresas. E quando uso


esse termo para intitulá-la lembro da boneca Emilia que apesar de
dizerem que ela é uma “tornerinha de asneiras” é quem tem a
melhores idéias e soluciona os problemas em que a turma do Sitio do
Pica Pau Amarelo sempre se mete. Isso porque ela consegue fazer
correlações incríveis, inimagináveis por mortais comuns. Claro, depois
que ela soluciona todos caem em si e as coisas ficam obvias. Vem
inclusive aquele sentimento – Por que não fui eu que pensei nisso?

Pois bem, estou eu na casa florida de minha irmã tomando umas


cervejas e jogando conversa fora e meio que no papo surge a história
de alguém que sofre de enfermidades. Quem é mesmo eu não sei, só
sei que vai caber no texto.

O papo ta rolando e minha irmã começa a falar algo que a primeira


vista me pareceu descontextualizado: quando somos crianças e nos
ferimos com algum objeto a mãe cuida do ferimento e para nos
acalmar fala que o tal objeto é feio, simula umas tapinhas nele, e
como um alento, acalma a parte psicológica que também se feriu.
Quando crescemos essa cura psicológica nos é negada. Adulto não
tem o direito de ficar abalado. Logo chega um e fala: - Oxe!! Deixe de
armar, uma besteira dessa.

Nem morder parede em paz as pessoas podem. Com tudo o processo


de cura é dificultado. É necessário um amor externo: amigos, famílias,
companheiros, etc, e um amor interno. A pior parte é compreender
que isso é uma doença da psique e que um tratamento terapêutico é
necessário.

O problema ta é ai. Burlar o preconceito, enraizado pela ignorância, a


cerca dos tratamentos psicológicos. Há aqueles que recebem de bom
grado o conselho de procurar um médico especializado. Porém, o
contrário também existe, e de bocado. As pessoas se ofendem,
questionam se estamos chamando-as de loucos (as), malucas (os).
Falam que essas coisas de hipnose, terapia, etc mechem com a
cabeça. E me conte: o que nessa vida não meche com a cabeça?

Existem doenças mentais de vários tipos, em vários níveis. O cérebro


é uma máquina incrível. E como toda máquina dá pau. Sendo
necessário algumas vezes resetar e ou mandar pro conserto. A
manutenção ajuda a manter a psique em ordem e essa pode ser feita
de várias formas, seja através de acompanhamento especializado,
criando alternativas de afazeres conhecidos no senso comum de
higiene mental, esmurrando as almofadas, cantando no banheiro,
praticando novas e velhas experiências sexuais, mandando o povo
tomar no cú, etc.

Enfim, cada um tem sua fórmula mágica pra não surtar. E antes de
sair por ai condenando aqueles que, apesar de todas as formas de
manutenção mental existentes, não conseguem se livrar do surto,
temos que entender que todos nós somos suscetíveis a isso.
Vitoriosos são aqueles que conseguem superar, voltar a agir de
acordo com as regras sociais e compreender que ele não é um ser
inferior aos demais indivíduos.

Agora, uma enfermidade mais grave, a qual deve ser dada uma
atenção maior, é a doença do mundo. Está virando coisa comum
adulto estuprar criança, pai matar filho, filho matar pai, a miséria, a
mendicância, o furto. Quando falo que é comum tomo como base o
olhar infantil para essas coisas. Na minha época de criança pra mim
era inconcebível uma pessoa morar na rua. Como podia? Onde ela
dormia? O que ela comia? Acredito que devo ter deixado por vezes
minha mãe de sai justa pra responder essas perguntas. Mas agora,
são poucas as crianças que não tem um reagir condicionado ao
cotidiano.

Bom, mas isso é papo para um outro texto.

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