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OS COMUNISTAS BRASILEIROS E A
DITADURA MILITAR: POLÍTICA, MEMÓRIA
E TESTEMUNHO
Copyright © Editora CirKula LTDA, 2018.
1° edição - 2018
Editora CirKula
Avenida Osvaldo Aranha, 522 - Loja 1
Bonfim - Porto Alegre - RS
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e-mail: editora@cirkula.com.br
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César alessandro sagrillo Figueiredo
OS COMUNISTAS BRASILEIROS E A
DITADURA MILITAR: POLÍTICA, MEMÓRIA
E TESTEMUNHO
2018
CONSELHO EDITORIAL
CONSELHO CIENTÍFICO
9 Apresentação
15 Capítulo 1
Os comunistas brasileiros na sua última
clandestinidade: 1964-1985
43 Capítulo 2
Os PC's e a questão democrática: discussões acerca da
democracia nos partidos comunistas no Brasil
67 Capítulo 3
Sindicatos e partidos políticos no Brasil
(Em Co-autoria com Mauro Meirelles)
87 Capítulo 4
A invenção da memória: a disputa pelo legado do comunismo
no Brasil entre o PCB e o PCdoB
109 Capítulo 5
A Ditadura Militar no Brasil e o teatro brasileiro:
memória e resistência da classe artística
135 Capítulo 6
As representações fílmicas de Vera Silvia Magalhães:
gênero, testemunho e resistência
159 Capítulo 7
Dirigentes políticas e guerrilheiras: o protagonismo
das mulheres na luta armada
185 Capítulo 8
A construção social das vítimas da Ditadura Militar
e a sua ressignificação política
(Em Co-autoria com Valéria Aydos)
APRESENTAÇÃO
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trajetória política, uma vez que não se faz partido político sem o fo-
mento de homens e mulheres imbuídas desse ideal de transformação
acionados por esses partidos. Nesse sentido, torna-se de fundamental
importância a memória militante e, principalmente, o testemunho que
cada um imprimiu no seu percurso de luta, especialmente, o testemu-
nho e o retorno que os mesmos reverberam a partir do tempo presente,
acionando, assim uma memória de um tempo de luta. Esta ativação de
uma lembrança de luta rememora um ethos de um grupo que persiste
em manterem-se ativos até o presente, dentro desse espectro militante
em que os partidos de esquerda visam construir.
O primeiro capítulo, Os Comunistas Brasileiros na Sua Última
Clandestinidade: 1964-1985, foi publicado em 2014, na Revista Sul-A-
mericana de Ciência Política, v. 2, n. 2, possui como objetivo justamente
construir de maneira mais histórica a última clandestinidade do Par-
tido Comunista Brasileiro (PCB). Enfocando esse partido desde o seu
nascedouro até o final da ditadura militar, objetivando, especialmente,
demonstrar o severo ônus que um grande período de clandestinidade
causou para a organização comunistas. Buscando um diálogo com este
artigo, o segundo capítulo, Os PC´s e a questão democrática: discussões
acerca da democracia nos partidos comunistas no Brasil, foi lançado
em 2017, na Revista Debates v. 11, n.3 e possui como norte de estudo
um debate entre os dois partidos comunistas (PCB e PCdoB) acerca da
democracia como embasamento teórico e político e, principalmente, da
importância que este conceito adquiriu para a saída da ditadura militar
a partir do processo de redemocratização brasileira.
O capitulo 3, Sindicatos e partidos políticos no Brasil, foi publi-
cado em 2016, na Revista Paraná Eleitoral v.5 n.2 e tem como cerne o a
construção das Novas Centrais Sindicais a partir do processo de rede-
mocratização, principalmente, a partir da sua origem comum no núcleo
formativo do velho sindicato classista dos PC´s. Nesse estudo trabalha-
remos com as novas centrais sindicais desde a ditadura militar até mais
recentemente com a construção do Novíssimo Sindicalismo Brasileiro
a partir das centrais sindicais emergidas nos anos Lula (2003-2011).
O capitulo 4, A invenção da memória: a disputa pelo legado do
comunismo no Brasil entre o PCB e o PCdoB, não tinha sido publicado
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SANTANA, M. A. Homens partidos: comunistas e sindicatos no
Brasil. São Paulo: BoiTempo, Rio de Janeiro, 2001.
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Ainda, podemos dizer que além desta questão nacional outro fato de
fundamental importância assume proporções gigantescas na seara comu-
nista com os reflexos do XX Congresso do Partido Comunista da União
Soviética (PCUS), de 1956. Neste Congresso vêm à tona os crimes atribuí-
dos a Stalin, outrora dirigente máximo da URSS. Neste período, com o fa-
lecimento de Stalin o seu sucessor Kruschev divulga o que ficou conhecido
como relatório “secreto”, que em linhas gerais visava um acerto de contas
com o passado e denunciava os crimes atribuídos a Stalin. Este relatório
seria o motivo da primeira fissura nos países comunistas, e como era de
esperar, um verdadeiro terremoto nos partidos comunistas ao redor do
mundo, uma vez Stalin era a grande figura do comunismo internacional.
Obviamente, o PCB como tributário do marxismo-leninismo não
sairia imune desses dilemas internos, sendo acionado mais intensamente
após as denúncias do XX Congresso, que chegaria como uma bomba na
imprensa comunista, dando fôlego para as futuras cisões. No tocante a
esta questão podemos dizer que um ajuste de contas atingiria o Comitê
Central (CC), pois a direção seria responsabilizada pelos desacertos que
ocorreu na política do partido, tanto pela política frentista conciliadora
pós-Vargas quanto pela política esquerdizante no período de Dutra, pois
ambas não vicejaram. Como era de se esperar o CC não sairia ileso so-
brando acusações até mesmo para Prestes (AARAO REIS FILHO, 2002).
Nesta conjuntura política transcorre o governo nacional desen-
volvimentista de Juscelino Kubitschek, iniciado em 1956, ocorrendo
um abrandamento da perseguição aos comunistas e trazendo uma falsa
“legalidade” aos seus personagens principais. Tal conjuntura nacional
realçaria a questão nacionalista, transformando a mesma numa ver-
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e a liberdade dos presos políticos. O cenário era bem diferente aos PC’s:
1) para o PCB, que foi hegemônico até o início dos anos 60, precisava
buscar recompor o curso da sua história e buscar reconstruir o seu par-
tido a partir da volta do Comitê Central do exílio e 2) quanto ao PCdoB,
implicava buscar imprimir o seu partido no curso das lutas do período,
a fim de disputar a seara da esquerda com as diversas agremiações nas-
centes que emergiam. Devemos salientar que em 1979 ocorreu a volta do
pluripartidarismo e o MDB se transformaria em Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB). Porém, sem conseguir a sua legalidade
os PC’s ficaram inclusos ainda dentro do PMDB (FIGUEIREDO, 2013).
Mesmo com a volta dos exilados e com a recomposição do Comi-
tê Central do PCB esse partido estava longe de possuir uma unidade,
a começar pelo CC que se encontrava cindido. Desta vez Prestes era
a voz dissonante, pois o outrora dirigente que sempre buscava cons-
truir a unidade do partido endossando um centro pragmático, neste
momento, dava voz contrária ao CC. O ponto de discórdia baseava-se
justamente no processo de transição para a democracia no Brasil, se
uma transição pactuada e conservadora ou se a perspectiva de frente
popular de esquerda. A discussão explode na grande imprensa e as
manchetes davam destaque das fissuras dentro do PCB.
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rando também uma tática democrática, mesmo que apontasse para uma
estratégia final de socialismo.
Especificamente quanto ao PCB, este entrará mais enfaticamen-
te na questão democrática, realçando a democracia como valor universal,
desfocando e colocando a questão do socialismo a um futuro sine die.
Pesando na sua trajetória final o atrelamento excessivo a Nova Repú-
blica de Sarney. No entanto, com o desmoronamento do Leste europeu,
sepultou definitivamente o ideário da III Internacional Comunista no
seio do PCB, tornando-se, portanto, um ponto final para a organização
comunista dentro do modelo do marxismo-leninismo. No tocante ao
PCdoB, tornar-se-ia, também um partido do establishment, como pode-
remos ver ao longo do governo Lula e Dilma (2003-2016).
Finalizando, vemos que o que aconteceu no Brasil com seus par-
tidos comunistas não foi tão diferente do que aconteceu com os parti-
dos comunistas nos países do capitalismo avançado. Segundo Sartori
(1982) partidos que deveriam ser antissistema passaram a compor co-
alizões de governo capitalista, tornando-se partidos reformistas. As-
sim, constatamos que ambos os partidos (em tempos diferentes) tri-
lharam o mesmo percurso: de uma concepção revolucionária uníssona
de tomada de poder para uma bifurcação reformista em dois diferentes
partidos (PCB e PCdoB). Diferenças a parte, o que fica explícito é que
a questão da democracia, reinterpretada como uma saída da ditadura
serviu como caldo político para a suavização da questão revolucioná-
rio e servindo, inclusive como influência para outras searas da esquer-
da na política brasileira.
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1 Grifos do autor.
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este período fora arrastado por sucessivas medidas neoliberais dos go-
vernos Collor, Itamar Franco e FHC, com políticas de enxugamento
da máquina estatal, pregando o chamado Estado Mínimo. Também,
o desemprego apresenta índices alarmantes. Embora vivêssemos no
período, a partir de Itamar Franco uma estabilidade da moeda com
a redução da inflação, a economia brasileira encontrava-se esgotada,
massas de trabalhadores eram postos na rua, relegados ao desemprego
em face da política neoliberal, sem contar, ainda, com a aludida reestru-
turação produtiva no mundo do trabalho que procurava impor um pa-
drão toyotista no chão de fábrica no Brasil. Ou seja, conjuntura nacio-
nal e internacional adversa, bem como um severo déficit para a classe
trabalhadora: tarefa difícil para a CUT e as organizações de esquerda,
o momento era reunir forças para as eleições vindouras.
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4 In.:http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2006/resulta-
do-da-eleicao-2006. Acessado em 10/01/2013.
5 Segundo Panebianco (2005: 23), “ambiente é uma metáfora para indicar uma plu-
ralidade de ambientes, de arenas na quais cada organização age quase sempre simul-
taneamente; arenas que geralmente são interdependentes e comunicantes entre si,
mas também distintas”.
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Sites de internet
http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2002/re-
sultado-da-eleicao-2002. Acessado em 10/01/2017.
http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2006/re-
sultado-da-eleicao-2006. Acessado em 10/01/2017.
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sendo dirigida pelo diretor italiano Gianni Ratto. A peça retratava a trági-
ca peça grega Médeia trasmutada para uma favela carioca, conjugando a
vida cotidiana e costumes com a genialidade de Chico Buarque e a direção
primorosa de Vianinha. Nesta encenação ao retratar o morro e o popular,
mostrava com toda a densidade a pobreza e o desemprego, contrastando
e colocando em xeque, portanto, o aludido Milagre Econômico Brasileiro
da década de 70 tão propalado pela ditadura militar7. Conforme já realça-
do, quanto a Oduvaldo Viana Filho, sua genialidade vinha desde o CPC
da UNE, sem abrir mão continava a imprimir um teatro extremamente
engajado ao longo dos anos 70 (PATRIOTA, 1999).
Em 1978, ainda sob a condução de Chico Buarque é encenado tam-
bém mais um musical, A Ópera do Malandro. A peça retrata a velha Lapa
dos anos 40, porém com todas as críticas de costumes facilmente legível
para o período em tela. Esta peça, assim como as outras do período, fora
extremamente censurada tendo vários cortes, ainda mais em virtude do
seu diretor, José Celso Martinez Corrêa, inimigo da ditadura e ex preso
político. Juntava-se, portanto, a genialidade do autor e compositor, com
a marca de contestação de Zé Celso. Grandes talentos que juntos se uni-
ram através de um recorte temporal a partir da Lapa do passado para
discutir a realidade presente daquele momento no Brasil.
Neste interim, a sociedade civil continuava a fustigar a ditadura,
em 1978 novamente era marcado uma eleição geral no Brasil, neste
momento as eleições atingiram um climax de um caráter plebiscitário:
pró e contra a ditadura. A ditadura com o intuito de “vencer” o pleito
editara diversas medidas de caráter casuísta, porém a sociedade ratifica
o MDB nos grande centros (Sul e Sudeste), colocando, portanto, em
xeque o regime. Vendo-se extremamente desgatado o general presi-
dente, Emílio Geisel, decide propor uma abertura lenta, segura e gradu-
al. Para tanto, extingue o AI-5, em 1978.
7 Milagre econômico brasileiro é a denominação dada à época de excepcional cres-
cimento econômico durante o Regime Militar no Brasil, entre 1968 e 1973, também
conhecido pelos oposicionistas como “anos de chumbo”. Nesse período do desenvol-
vimento brasileiro, a taxa de crescimento do PIB saltou de 9,8% a.a. em 1968 para
14% a.a em 1973, e a inovação passou de 19,46% em 1968, para 34,55% em 1974.
Paradoxalmente, houve aumento da concentração de renda e da pobreza. Maiores in-
formações ver in..: CORDEIRO, Janaina Martins. Anos de chumbo ou anos de ouro?
A memória social sobre o governo Médici. Estud. Históricos. vol.22 no.43 Rio de
Janeiro Jan./June 2009.
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mento dos primeiros partidos políticos pós- AI-5, bem como a volta
do multipartidarismo e a criação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Tais aspectos tornam-se importante uma vez que muitos personagens
da classe artística engajados nos anos 60 e 70 assinaram ficha de filia-
ção quando do lançamento do PT, como foi o caso da atriz e ex-presa
política Bete Mendes, assim como a consagrada atriz Lélia Abramo,
que participou da montagem de Eles não usam Black Tie, em 1958; e,
que assumiu a presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em
Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo, a partir de 1978.
Ou seja, o PT galvanizou um conjunto de artistas, intelectuais, assim
como os sindicalistas do ABC na sua hoste com o intuito de construir
um partido da classe trabalhadora e romper com os liames da ditadura
militar (KECK, 1991; MENEGHELLO, 1989).
Torna-se importante enfatizar, conforme registrado por Kinzo,
que ainda estávamos na primeira fase da transição do regime militar,
que mesmo não tendo medidas tão restritivas e de arbítrios intenso; de
qualquer modo, ainda havia sérios dissabores pela população, como por
exemplo, o processo eleitoral de 1982 permeado por inúmeras medidas
casuístas com o intuito de premiar com a vitória no pleito a ditadura
militar (FERREIRA, 1991). Tal conjunto de ações fazia com que o
povo organizado fizesse protesto contra a ditadura militar e transfor-
massem as eleições em campanhas plebiscitárias para acabar de vez
com a ditadura. Ou seja, seria o período do crepúsculo a ditadura mili-
tar e a classe artística continuava empunhando a bandeira de denúncia
e de luta, era o momento agora de poder falar o que aconteceu, assim
como dos amigos e colegas de profissão que partiram para nunca mais
voltar, como por exemplo, a peça escrita e dirigida por Jô Soares e
encenada por Marcos Nanini, Brasil da Censura à Aberta (1980/1981),
que como o próprio nome diz, visava passar a limpo o período tratado.
Ainda, é relevante destacar que as produções de peças de cunho
denuncistas se multiplicavam pelo Brasil, pois esta era a tônica do perí-
odo. Destacamos um caso regional, no Rio Grande do Sul, o sucesso da
peça Bailei na Curva (1983), que tinha como argumento justamente o
percurso dos anos de chumbo até a transição democrática sobre o olhar
das crianças que cresceram ao longo da ditadura militar e que sofreram
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10 Segundo Marcelo Ridenti (2000: 351): “Já em 1989, os artistas participam ati-
vamente nas primeiras eleições diretas presidenciais. Eles estiveram nas campanhas
de todos os candidatos mais significativos, que evidentemente buscavam a transferên-
cia da popularidade dos artistas, esperando que ela se convertesse em votos. Os artis-
tas eram convocados também a fim de atrair público para comícios e para programas
eleitorais nos meios de comunicação. Isso vale para todos os candidatos, inclusive
os de direita, que em geral pagavam cachês elevados para contar com a presença de
artistas em suas aparições públicas. Mas o que interessa aqui é destacar a presença
voluntária e gratuita de artistas engajados nas campanhas, em geral apoiando can-
didaturas que genericamente podem ser consideradas de esquerda, já se tratava de
apoios individuais, e vários artistas, porém isolados, sem construir sequer um esboço
de projeto alternativo à indústria cultural, como chegou a ocorrer nos anos 60 e um
pouco ainda nos anos 70 e inícios dos 80”.
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INTERNET:
VÍDEO CITADO:
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verdadeira “aberração política”, uma vez que ainda nos anos sessenta
a função primordial esperada das mulheres era o matrimônio e a ma-
ternidade. Assim sendo, esse questionamento se justifica em face que
poucas mulheres conseguiram romper com o sexismo da época em or-
ganizações extremamente militarista e machista; tornando-se, portan-
to, necessário compreender quem foram essas mulheres, assim como,
quais foram os trunfos políticos que as mesmas acionaram para ascen-
derem na hierarquia militar de uma organização guerrilheira, dito de
outra maneira: 1) capital intelectual e político, 2) ações armadas espe-
taculares ou 3) decisão de comando.
Os perfis analisados nesse artigo são da comandante Inês Etien-
ne Romeu, da Vanguarda Popular Revolucionário (VPR); e, de Vera
Silvia de Araújo Magalhães, dirigente e integrante do Comitê Central
(CC) do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), ambas res-
ponsáveis diretas por ações espetaculares e que colocaram em xeque a
ditadura militar.
Para efeitos de recorte histórico, vale destacar que o Brasil teve
o seu período ditatorial do ano de 1964 a 1985, ou seja, 21 anos sem o
exercício efetivo da democracia, tendo um governo ditatorial que im-
punha medidas de exceção contra a população coagindo a participação
política, exercício pleno do voto e outras formas de contestação. Por-
tanto, nesse período no Brasil não havia contestação e uma forma de
romper com as amarras ditatoriais eram as organizações guerrilheiras
que se dedicaram a ações contra o regime militar. Realçamos que no
período dos anos de chumbo houve o incremento forte de organizações
guerrilheiras que dedicaram-se de maneira ofensiva contra o regime
militar, entre essas destacamos, além o MR-8 e VPR, o Partido Co-
munista do Brasil (PCdoB), Aliança Libertadora Nacional (ALN), e a
Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares).
Com o intuito de responder ao questionamento proposto cabe
investigá-lo privilegiando os seguintes tópicos, a fim de podermos
identificar as motivações e ações empreendidas por essas dirigentes
guerrilheiras, assim como a manutenção das suas imagens como ícones
políticas de uma geração, para tanto é necessário: 1) Estudar teorica-
mente os mecanismos do enquadramento da memória, principalmente,
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no campo político com o intuito de dar subsídios para inserir essas per-
sonagens dentro de um tempo histórico e, assim, compreender como
se mantiveram ativa na memória dos participantes da luta armada até
o tempo presente. 2) Posteriormente, a análise biográfica das dirigen-
tes políticas, em que serão abordados os perfis políticos de Vera Silvia
Magalhães e Inês Etienne Romeu, dando destaque sobremaneira ao
percurso político do Brasil em pari passu com a história de vida das
personagens, buscando, portanto, enfeixar a história do Brasil com a
biografia dessas dirigentes guerrilheiras.
Do ponto de vista metodológico, tratar-se-á de um trabalho qualita-
tivo que visa uma reconstituição histórica e que procura examinar através
do gênero biográfico personagens femininas paradigmáticas que exerce-
ram posição de destaque e de comando durante período autoritário. No
tocante ao método utilizaremos o estudo prosopográfico ou também de-
nominado de biografia coletiva, que possui como intuito o estudo longitu-
dinal de grupos sociais com características homogêneas; e, que através das
suas caraterísticas similares enquanto grupo homogêneo se consegue es-
tudar o período político. Acerca de estudo prosopográfico convém realçar
alguns apontamentos necessários uma vez que imbrica pontos conceituais
e teóricos próprios das ciências humanas, de acordo com Stone:
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lizaram tanto para entrar na luta armada quanto para chegar ao topo
da hierarquia política nas suas organizações; também, após o período
da luta armada e redemocratização do Brasil, como estas dirigentes
continuaram operando politicamente. Dessa forma, tanto a metodolo-
gia qualitativa utilizada através do método de reconstituição histórica
quanto do estudo prosopográfico de biografias coletivas servirão para
desvendar e elucidar o questionamento proposto.
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das suas ações, pois caso ficasse numa única persona o seu personagem
seria o principal do filme, por isso o cineasta precisou dividi-la.
Também, nesse filme conforme retratada na figura da atriz Clau-
dia Abreu o seu personagem é mostrado como insegura quanto a opção
política e que fez o levantamento da ação armada, que redundou no
sequestro do embaixador americano, através de uma cena falaciosa no
filme como se tivesse tido relações sexuais com o chefe da guarda. Cla-
ro que essas falhas graves do filme foram rechaçadas pela esquerda e,
principalmente, por Vera Silvia que se viu retratada, mais uma vez, na
categoria de “mulherzinha” que precisava transar para fazer política,
ou seja, o diretor detratou a personagem e subestimou a sua capacidade
política e também toda memória no grupo político que compunha os
anos de chumbo.
Vera Silvia morreu em virtude do agravamento das suas doenças
adquiridas pela tortura em 2007, aos 59 anos. Com o intuito de home-
nageá-la é feito um segundo filme, A memória que me contam (2013), foi
filmado por uma ex-companheira de armas de Vera e também ex-presa
política, a cineasta Lúcia Murat. Nesse filme ela buscou entender o sig-
nificado de Vera para esquerda, bem como o seu endeusamento como
mito e cristalização no enquadramento da memória política. Segundo a
própria cineasta foi endossado no filme que mito não se explica; assim
sendo, apenas buscou elementos para compreender de maneira plural e
sob vários olhares tudo que Vera Silvia representou para a esquerda e
para a memória de uma geração que pegou em armas e que mantinha a
memória afetivamente ativa como grupo através da figura de Vera Silvia,
justamente, por tudo o que ela representava para esta geração de 68.
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Nesse momento, da luta armada, Inês Etienne era uma figura caça-
da pela repressão, pois representava o alto comando de uma organização
guerrilheira e tinha organizado intelectualmente e militarmente o se-
questro de dois embaixadores. Além desses elementos ainda contava uma
militância longa no campo da esquerda e uma proximidade muito grande
ao Capitão Lamarca, considerado o inimigo número 1 da ditadura, por-
tanto prender Inês era um verdadeiro troféu nas mãos da repressão.
Para infortúnio de Inês ela caiu presa em maio de 1971, em São
Paulo, nas mãos do delegado Fleury, este queria tirar informações de
Inês no pau-de-arara a base de choques elétricos: nada conseguiu. Pas-
sou uma noite sobre cruéis torturas e mentiu que tinha um ponto/
encontro no Rio de Janeiro. No ponto, Inês tenta pela primeira vez
o suicídio com o objetivo de não entregar nenhum companheiro, se
atirando na frente de um ônibus. Sobreviveu e fora transportada para
o Hospital Central do Exército (HCE) para os primeiros cuidados. No
HCE é sequestrada e conduzida pelas forças armadas para uma casa em
Petrópolis, onde ficou em prisão clandestina e cárcere privado durante
três meses, de maio a agosto de 1971, sendo cotidianamente torturada
com o intuito de abrir informações sobre a guerrilha. A casa ganhou o
nome de Casa da Morte, pois todos os militantes que passaram presos
lá foram assassinados, com exceção de Inês, pois foi a única sobreviven-
te que ficou viva desse inferno para contar para a história o que ocor-
rera e dar o paradeiro dos desparecidos políticos que por lá passaram.
Porém não foi tão simples ela conseguir sair viva, pois viveu um
calvário por mais de três meses, período em que tentou suicídio outras
vezes para escapar da tortura; mas, por mais tortura que infligiram a
Inês nada conseguiram arrancar que comprometesse os seus compa-
nheiros. Ainda por cima, Inês não somente não colaborou com a re-
pressão como fingiu ser cooptada pelas forças armadas para se manter
viva, sair do suplício e denunciar a ditadura. Os seus torturadores fize-
ram assinar uma série de documentos como que se ela tivesse passado
para o outro lado e que iria se infiltrar novamente na sua organização
como traidora. Mas, Inês enganou os torturadores, pois no primeiro
momento de contato com a sua família pode contar tudo o que tinha
acontecido com ela, quem foi assassinado e negociou com a sua família
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Considerações finais
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Referências
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FILMES E DOCUMENTÁRIOS
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Introdução
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4 Uma descrição detalhada das conexões dessa rede de pessoas, assim como de
suas profissões, classe social, trajetórias e afinidades políticas encontram-se na dis-
sertação de mestrado de Valéria Aydos (2002) e, na forma de um “perfil político”, na
tese de doutorado de César Figueiredo (2013a).
5 O MEPPP – Movimento de Ex-Presos e Perseguidos Políticos – foi organizado
no Rio Grande do Sul como uma rede de ex-militantes da época da ditadura militar,
com um fim imediato e específico de informar e auxiliar nos trâmites dos processos
de indenização, e manteve suas ações também depois desse evento.
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litância política dos anos 1960 até os dias de hoje que recortamos como
agentes privilegiados na reflexão neste texto6. Neste sentido, é a partir de
uma análise comparativa desse corpus de pesquisa e de um diálogo entre a
ciência política e antropologia, que buscamos analisar a construção social
e os usos políticos da categoria “vítima da ditadura militar”.
Em um plano mais pragmático e particular, procuramos com-
preender os argumentos morais (FASSIN, 2010) através dos quais as
“vitimas da ditadura” apresentam suas reivindicações de existirem
socialmente e de serem sujeitos de direitos, assim como entender a
construção de subjetividades (ORTNER, 2007) presentes nos discur-
sos dessas pessoas. Seguindo a linha de pensamento de Sherry Ortner
(2007:379), atribuímos agência ao sujeito, vendo-o como “existencial-
mente complexo, um ser que sente, pensa e reflete, que faz e busca
significado”. Sendo assim, vemos a subjetividade como base da agency,
“uma parte necessária do entendimento de como as pessoas (tentam)
agir no mundo, mesmo se agem sobre elas”. (ORTNER, 2007:380)7.
Neste sentido, investigamos, a partir de relatos de prisões e tor-
turas dos sujeitos (BRASIL NUNCA MAIS, 1985; AYDOS, 2002),
como esses atores transformaram a dor e a experiência traumática,
assim como a “expropriação de suas biografias sociais”, em argumentos
políticos de vitimização no processo de reivindicações por esclareci-
mentos e reparação dos crimes cometidos pelo regime militar8.
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pria veracidade do que acontecia com as pessoas que eram retidas pelo
Estado para averiguação era colocada em suspeita. Os papéis sociais
eram confusos e as racionalizações de quem eram ou até o que estava
acontecendo seguia um ritmo muito acelerado para que fosse possível
uma reflexão sobre si e sobre o “outro”. A percepção que temos a par-
tir das entrevistas que realizamos é a de que a maioria dessas pessoas
não tinha ferramentas para a construção social de seu espaço naquele
momento. Para os presos políticos, a tortura era um lugar de passa-
gem entre a militância ativa e o presídio (militância restrita). Ou seja,
seria um limbo, um período liminar (TURNER, 1974) no qual não se
sabia se iriam sair vivos ou mortos. “Nem sei o que aconteceu naqueles
primeiros meses todos” ou “Quando eu vi, eu tava na cadeia, sendo tor-
turada nem sei há quanto tempo” são algumas falas de ex-torturados
políticos que ilustram a apropriação subjetiva desse período de suspen-
são da realidade (AYDOS, 2002).
Acreditamos que a noção de “vítima da ditadura” durante esse pri-
meiro momento de ebulição dos acontecimentos não aparece como sig-
nificativa nem para os ex-presos e/ou torturados e nem para sociedade
envolvente. No entanto, nos relatos dos sujeitos percebe-se que a “sur-
presa” de ter sido preso ou a “confusão” sobre o que estava acontecendo
já são, de qualquer modo, argumentos morais de denúncia de uma “que-
bra” de uma estrutura social e de interrupção de uma trajetória de vida
que, longe de ser uma escolha pessoal, foi imposta pelo algoz.
Segundo Denise Rollemberg, em seu livro Exílio: Entre raízes e
radares (1999), somente a partir do exílio, na segunda metade da déca-
da de 1970, que começou a se esboçar a noção de vítima da ditadura e,
ainda assim, como instrumento político de modo a causar um enfrenta-
mento do regime em suas relações internacionais11.
11 A respeito de militância e exílio de acordo com Marques (2012) estes são pen-
sados em dois momentos: 1) Numa primeira fase, no Chile socialista de Salvador
Allende, em que a esquerda latino-americana encontrava-se “exilada”, mas ainda na
ativa; e, 2) posteriormente, com o golpe Militar Chileno, em 1973 em que tiveram que
realmente se exilar na Europa, ou seja, o exílio definitivo, no qual tiveram que rever
a luta e a denúncia das torturas que passaram a fazer parte como repertório de com-
bate à ditadura militar. Ver também, in: Brazil: a reporte in torture. Documentário com
entrevista dos militantes políticos libertados no Chile, em virtude do sequestro do
embaixador Suíço no Brasil, em dezembro de 1970, no qual em seus relatos acionam
o discurso de exílio momentâneo e continuidade da luta política no Brasil.
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tanto sofrimento, dores, perdas e mortes? Embora esta seja uma elabora-
ção difícil para quem foi vítima da ditadura militar, era, por conseguinte,
uma necessidade sine qua non a fim de processar o Estado brasileiro.
Nada que eu me arrependa, nada que não tivesse de ser feito e que
eu não continue fazendo! Em segundo lugar, porque esta indeni-
zação não paga nada! Nada do que nós sofremos, nada do que nós
passamos, nada do que o povo continua passando! Mas esse pro-
cesso serviu para o governo aceitar que os militares nesta ditadura
tinham implantado esse regime de exceção, que torturam e fizeram
todas aquelas barbaridades atrozes! (Joana apud AYDOS, 2002:99).
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“bens que não têm preço”, ou mais especificamente, aqui, da condição não
indenizável porque “sagrada” da tortura. Como lembra Chanial (2009), o
“homem total” é um homem complexo, irredutível tanto à figura simples
do Homo Economicus, como à figura única do Homo Moralis. É importante
perceber que o econômico estava sim presente nas relações dos mili-
tantes, mas esse dinheiro adquiria nesse contexto “outros significados”
(WILKIS, 2008). Cabe ainda lembrar que também houve casos de pesso-
as que negaram entrar com processos de indenização. Frases como “não
precisamos de caridade”, “não resisti por dinheiro” ou “esta indenização
não vai me calar!” e a ênfase no fato de que “éramos jovens e demos nossa
vida pela democracia” foram significativas nas nossas pesquisas.
Também em termos políticos, contraditoriamente, ao mesmo
tempo em que o Estado dava sinais de evolução democrática, por
outro lado, havia sinais estanques de bloqueios e vetos dos militares
que ainda estavam na ativa e apontando cerceamento para a evolução
das questões dos direitos humanos no Brasil (GONZALES, 2010;
GALLO, 2012). Em síntese, houve a responsabilização dos crimes
cometidos pela ditadura, assim como houve a indenização às famí-
lias dos desaparecidos políticos e a indenização monetária aos tor-
turados. Da mesma forma, houve o pedido de desculpa pelo Estado;
porém, continuou impune quem cometeu tais arbítrios. Tal ato de
impunidade desvenda uma ferida ainda não cicatrizada nas vítimas
da ditadura, fato este que tornava a adjetivação de heróis apenas
um valor simbólico, pois estes não lograram vencer totalmente as
sequelas do regime militar em face dessas feridas abertas (imputar
culpa, julgar e punir quem os cometeu)21.
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sequelas por ela deixadas também são, com o aplainar do tempo e por
eles serem reconhecidos como pares políticos, compreendidas.
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Referências
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GALLO, C. A. Para que não se esqueça, para que nunca mais acon-
teça: Um estudo sobre o trabalho da Comissão de Familiares e
Mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Dissertação de Mestra-
do. UFRGS, 2012.
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