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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM FÍSICA

MARCOS ALISON SILVA GOMES

INTRODUÇÃO À COSMOLOGIA: AS EQUAÇÕES DE FRIEDMANN

FORTALEZA – CEARÁ
2021
MARCOS ALISON SILVA GOMES

INTRODUÇÃO À COSMOLOGIA: AS EQUAÇÕES DE FRIEDMANN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Física do Centro de
Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do
grau de licenciado em Física.

Orientadora: Prof.ª M.ª Gislânia Maria de


Souza Lima Mendes

FORTALEZA – CEARÁ
2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Sistema de Bibliotecas

Gomes, Marcos Alison Silva.


Introdução à cosmologia: as equações de
friedmann [recurso eletrônico] / Marcos Alison
Silva Gomes. - 2021.
61 f.

Trabalho de conclusão de curso (GRADUAÇÃO) -


Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências
e Tecnologia, Curso de Física, Fortaleza, 2021.
Orientação: Prof.ª M.ª Gislania Maria de Souza
Lima Mendes.
1. UNIVERSO DE FRIEDMANN, COSMOLOGIA,
PRINCÍPIO COSMOLÓGICO. I. Título.
Universidade Estadual do Ceará
Centro de Ciências e Tecnologia
Coordenação do Curso de Física

ATA DE APRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIA

Em ___ de __________ de 2021, MARCOS ALISON SILVA GOMES, aluno (a) regularmente
matriculado no Curso de Licenciatura Plena em Física, matrícula número 1318710 apresentou
a monografia intitulada INTRODUÇÃO À COSMOLOGIA: AS EQUAÇÕES DE FRIEDMANN, tendo
como orientadora a PROFA. MA. GISLÂNIA MARIA DE SOUZA LIMA MENDES. A Banca de
Defesa foi composta pelos professores: PROFA. MA. GISLÂNIA MARIA DE SOUZA LIMA MENDES
[Orientador (a)], PROF. DR. WENDEL MACEDO MENDES e PROF. DR. MARCONY SILVA CUNHA.
Após a exposição, os professores da Banca fizeram suas observações e consideraram
_____________________ a monografia apresentada. Eu, PROFA. MA. GISLÂNIA MARIA DE
SOUZA LIMA MENDES, presidi a Banca de Defesa de Monografia e assino a ata, juntamente
com os demais membros.

____________________________________
PROFA. MA. GISLÂNIA MARIA DE SOUZA LIMA MENDES [Orientador(a)]

____________________________________
PROF. DR. WENDEL MACEDO MENDES

_____________________________________
PROF. DR. MARCONY SILVA CUNHA
Aos meus pais, a minha família, aos meus ami-
gos, aos alunos e ex-alunos e, a todas as pessoas
que habitam meu coração que, de forma direta
ou indireta contribuíram para este momento.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter tido oportunidade de viver e ter conseguido terminar mais uma etapa em minha
vida. Em especial ao meu pai Gilson, a Samuel Macedo Dantas e Rafael do Rego (in memoriam).
À minha esposa Verusca, que é incomensurável o que tenho a remercear. À minha família, que
sempre me deu o suporte necessário. À minha mãe, Maria que muito me incentivou a ler e a
me esforçar para aprender mais. Aos meus irmãos Carlos e Paulo e suas esposas, Talyta e Vivi,
e meu irmão caçula Matheus, que me apoiaram para que eu chegasse ao final desta etapa. À
Dona Vilma e o Seu Regildo que me deram apoio e conforto em momentos difíceis da vida. Aos
meus amigos Eric Silva, Sofia Loiola, Elyson Sousa, Raquel, Antonia Beatriz, Ruth, Isabela,
Maria Lia, Erica Rayane, Lucas Santos, Ismael Shanon, Patrick Cidrão, Karen Renata, Pedro,
Darlan, Davi Bastos, Andreza Oliveira, Luiz Gilberto, Jeffin, Gilvan, Arthur, Bruno, William,
Leandro, Wesley, Samuel, Davi, Daniele, Richelma, Reinaldo e, a todos da Física, que sempre
auxiliaram nas mais diversas dúvidas e de várias outras formas. Eu não teria chegado até aqui
sem auxílio de vocês. Aos meus professores do Ensino Médio e aos professores do cursinho
que me ajudaram a pensar como um universitário e me guiaram nos primeiros passos rumo a
vida acadêmica. Aos professores da Universidade Estadual do Ceará, em especial aos Prof. Dr.
Aurélio Noronha, Prof. Me. César Aires (in memoriam), Prof. Dr. Gerson Paiva, Prof. Me. Kaio
Bruno, Prof. Dr. Lutero Lima, Prof. Dr. Daniel, Prof. Me. Ramon André, Prof. Dr. Jacinto,
Prof. Dr. Anderson, Prof. Dr. Bosco, Prof. Dr. Sérgio Sombra, Prof. Me. Silas Lenz. À minha
orientadora Profa. Ma. Gislânia Maria de Souza Lima Mendes e ao Prof. Dr. Wendel Macedo
Mendes, pelas oportunidades de grupo de estudo, pela orientação e por um tema muito instigante,
e que é a área que quero muito seguir. Estou longe de ser o melhor aluno, mas sempre estive
disposto a aprender de todas as formas. À OBLIVION, que me fortaleceu em momentos difíceis.
À todos, que estiveram sempre na torcida de minha graduação, bem como os que me ajudaram
de outras formas a manter-me em equilíbrio.
"Se você não consegue explicar algo de modo
simples é porque não entendeu bem a coisa"
(Albert Einstein)
RESUMO

Este trabalho consiste na explicação da dinâmica cósmica e, a partir dela, pode-se analisar
modelos de universos que podem ser estáticos ou não, conter matéria ou não e também, conter
diferentes tipos de matéria. Com isso, objetivo desse trabalho foi conhecer o processo histórico
e matemático envolto nos modelos cosmológicos dos anos de 1917 a 1924. Para isso, tomou-
se uma investigação de cunho qualitativo em que, por meio de uma pesquisa bibliográfica,
foi feito um levantamento sobre a cosmologia relativista. Assim, em um primeiro momento
foi feito um estudo sobre a linguagem tensorial a fim de obter as bases matemáticas para o
desenvolvimento desta pesquisa. Em seguida, foi realizado um aprofundamento sobre a Teoria
da Relatividade Geral em específico, as equações de Campo de Einstein, visando a compreensão
de diferentes modelos de universos. Por fim, buscou-se na literatura específica, a respeito do
Universo de Friedmann e suas equações. A partir disto, percebeu-se com a inserção do Princípio
Cosmológico nas equações de Campo de Einstein que, de forma aproximada, o Universo de
Friedmann representa um universo em expansão. Portanto, esta pesquisa destacou com clareza e
didática a respeito do processo físico e matemático na compreensão dos modelos cosmológicos,
em específico o Universo de Friedmann.

Palavras-chave: Universo de Friedmann. Cosmologia. Princípio Cosmológico.


ABSTRACT

This work consists of the explanation of the cosmic dynamics and, from it, it is possible to
analyze models of universes that can be static or not, contain matter or not and also contain
different types of matter. With that, the objective of this work was to know the historical and
mathematical process involved in the cosmological models from the years 1917 to 1924. For
this, a qualitative investigation was taken in which, through a bibliographic research, a survey
was made on relativistic cosmology. Thus, at first, a study was made on tensor language in
order to obtain the mathematical bases for the development of this research. Then, an in-depth
look was made on the General Theory of Relativity in particular, Einstein’s field equations,
aiming at understanding different models of universes. Finally, we searched the specific literature
about Friedmann’s Universe and its equations. From this, it was realized with the insertion of
the Cosmological Principle in Einstein’s field equations that, roughly, Friedmann’s Universe
represents an expanding universe. Therefore, this research highlighted with clarity and didactics
about the physical and mathematical process in the understanding of cosmological models, in
particular the Friedmann’s Universe.

Keywords: Friedmann Model. Cosmology. Cosmological Principle.


LISTA DE SÍMBOLOS

ρ Densidade de matéria.

R Espaço Euclidiano.

H Espaço Hiperbólico.

S Espaço Esférico.

Λ Constante Cosmológica.

dθdφdt Elemento de posição e tempo.

Γ Símbolo de Christoffel.

F Força.

G Constante gravitacional.

δ Delta de Kroenecker.

p Pressão.

x Distância entre dois pontos.

K Curvatura do espaço.

k Constante de proporcionalidade nas equações de Einstein

M Massa de uma partícula.

t Tempo.

a Fator de escala das equações de Friedmann.

Tµν Tensor momento energia.

Gµν Tensor de Einstein.


R Escalar de Ricci.

Rµν Tensor de Ricci.

R µσρν Tensor de Rieman.

w Parâmetro da equação de estado.

gµν Métrica do espaço tempo.

ηµν Métrica do espaço tempo de minkowski.

Φ Potencial gravitacional.

∇2 Laplaciano.

U Quadrivelocidade.

P Quadrimomento.

N Densidade numérica.

γ Fator de Lorentz.

V Volume.

n Numero de partículas.

∂ Derivada parcial.

ei Elemento de base.

𝑥̈ Aceleração.

r Coordenada para mudança de variável.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
2 CÁLCULO TENSORIAL .......................................................................................... 17
2.1 Tensor Métrico ............................................................................................................ 18
2.2 Símbolos de Christoffell ............................................................................................. 19
2.3 Derivada Covariante .................................................................................................. 20
2.4 Tensor de Riemann ..................................................................................................... 23
2.5 Tensor de Ricci ............................................................................................................ 24
2.6 Tensor de Einstein ...................................................................................................... 25
3 TEORIA DA RELATIVIDADE GERAL................................................................. 28
3.1 Princípio de Equivalência .......................................................................................... 28
3.2 Equações de Campo de Einstein ................................................................................ 31
4 UNIVERSO DE FRIEDMANN ................................................................................. 40
4.1 O Princípio Cosmológico ............................................................................................ 40
4.2 Universo Estático de Einstein .................................................................................... 41
4.3 Universo de De Sitter .................................................................................................. 42
4.4 Universo de Friedmann .............................................................................................. 43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 57
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 59
12

1 INTRODUÇÃO

A cosmologia é a ciência que estuda a natureza fundamental do cosmos em toda a


sua evolução, desde o seu nascimento ao seu fim (DELBEM, 2010). Por cosmos entende-se
como tudo o que há, desde as partículas subatômicas até buracos negros super massivos. Pode-se
tomar como exemplo a definição matemática de conjunto universo que compreende todos os
elementos de algum campo de investigação matemática. Assim, no caso de soluções de uma
equação do primeiro grau, o conjunto universo são os números reais R (IEZZI, 2004). Desse
modo, o cosmos seria semelhante ao conjunto universo e toda a matéria seriam os elementos.
A cosmologia começou com o primeiro ser racional que, ao olhar para o céu a noite,
questionou o que havia acima de sua cabeça - o que seria aquela vastidão de pontos brilhantes, e
teve grande notoriedade com as civilizações da antiguidade clássica tais como os gregos que,
começaram investigando a existência de um elemento primordial que geraria a vida que poderia
ser o fogo, a água, o ar ou a terra. Posteriormente, começaram a se perguntar como seria o
cosmos(os gregos utilizavam esta palavra para representar o universo) (GAARDER, 1991).
O pensador grego Platão(427-347 a.E.C), discípulo de Sócrates (469-399 a.E.C),
acreditava que o universo era composto de oito esferas concêntricas e que a Terra era o centro do
universo ou seja, era um modelo geocêntrico. Já Aristóteles (384-322 a.E.C) que foi discípulo de
Platão e detentor do modelo cosmológico mais preciso por quase dois mil anos, acreditava que a
Terra era um local imperfeito, corruptível e em constante mudança. Por outro lado, os céus eram
perfeitos, imutáveis e incorruptíveis. Seu modelo era um universo esférico e finito composto de
55 esferas concêntricas que explicariam os movimentos de todo o universo, e neste não havia o
vácuo. A ausência de matéria seria então, preenchida por um elemento perfeito e divino chamado
de éter, que seria a composição das estrelas, enquanto os outros quatro elementos seriam a água,
a terra, o ar e o fogo e constituiriam os corpos terrestres (PEDUZZI, 1996).
Em meio a tantos modelos geocêntricos surge um heliocêntrico do Grego Aristarco
de Samos (310-230 a.E.C). Nele a Terra se movia em torno de seu próprio eixo e também
ao redor do Sol, assim como os outros planetas. Já para Ptolomeu (85-165 E.C)seu modelo
geocêntrico defendia o movimento planetário através de epiciclos e sua teoria foi transmitida
até o período renascentista através dos povos árabes por sua obra traduzida que ficou conhecida
como Almagesto (DELBEM, 2010).
No período renascentista a cosmologia evoluiu com o auxílio do desenvolvimento do
pensamento científico advindo do modelo científico que passou a contar com a observação como
13

ferramenta fundamental para a formulação de teorias científicas. Nesse período, um monge


polonês chamado Nicolau Copérnico (1473-1543) propôs um modelo heliocêntrico que estava
em concordância com as ideias de Aristarco a respeito do movimento ao redor do Sol e que seria
capaz de explicar o movimento aparente dos planetas (DELBEM, 2010).
Posteriormente a Copérnico, o astrônomo chamado Tycho Brahe (1546-1601) propôs
um modelo planetário em que o Sol e a Lua giravam ao redor da Terra enquanto os planetas
restantes giravam ao redor do Sol. As observações de Tycho Brahe foram extremamente úteis
pois suas anotações serviram de base para seu contemporâneo chamado Johannes Kepler (1571-
1630). Kepler utilizou os dados observacionais de Tycho Brahe e com eles, foi capaz de formular
suas três leis do movimento planetário que segundo Nussenzveig (2002, p. 194) podem ser
formuladas de tal forma:

1ª Lei de Kepler ou Lei das Órbitas: "As órbitas descritas pelos planetas em redor do Sol são
elipses, com o Sol num dos focos."
2ª Lei de Kepler ou Lei das Áreas: "O raio vetor que liga um planeta ao Sol descreve áreas
iguais em tempos iguais."
3ª Lei de Kepler ou Lei dos Períodos: "Os quadrados dos períodos de revolução de dois
planetas quaisquer estão entre si como os cubos de suas distâncias médias ao Sol."

Após Kepler e Tycho Brahe as observações passam a não mais dependerem apenas
dos olhos humanos. Com Galileu Galilei(1564-1642)a astronomia começou a ser revolucionada
através de instrumentos ópticos que são utilizados até hoje como os telescópios. Galileu realizou
observações a respeito da Lua, Júpiter e seus satélites, Vênus e também outras estrelas que
não eram visíveis a olho nu (NUSSENZVEIG, 2002). O trabalho de Galileu ajudou a firmar a
concepção heliocêntrica em todos os modelos posteriores. Baseado nos estudos de Galileu, Isaac
Newton(1642-1721) sintetizou a mecânica em suas três leis do movimento:

1ª Lei de Newton ou Lei da Inércia: "Todo corpo persiste em seu estado de repouso, ou de
movimento retilíneo uniforme, a menos que seja compelido a modificar esse estado pela ação de
forças impressas sobre ele"(NUSSENZVEIG, 2002, p. 68).
2ª Lei de Newton ou Princípio Fundamental da Dinâmica: "A variação do momento é
proporcional a força impressa, e tem a direção da força"(NUSSENZVEIG, 2002, p. 69).
3ª Lei de Newton ou Lei da Ação e Reação: "A toda ação corresponde uma reação igual e
contrária, ou seja, as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas
em sentidos opostos"(NUSSENZVEIG, 2002, p. 72).
14

e, com sua lei da gravitação que pode ser descrita dessa forma:
Lei da Gravitação Universal: A força entre duas partículas quaisquer, de massas M1 e M2
separadas pela distância r, é atrativa e age ao longo da linha que une as partículas e seu módulo
vale:
GM1 M2
F= , (1.1)
x2

sendo G a constante da gravitação universal que teria o mesmo valor para todos os corpos
(HALLIDAY, 1983).

O próximo passo foi dado por Einstein (1879-1955) baseado nos trabalhos de
Poincaré (1854-1912) e Lorentz (1853-1928). A teoria newtoniana da gravitação previa que
dois corpos sofriam uma atração mútua a distância e, tal atração simbolizada por uma força,
seria transmitida imediatamente a um dos corpos caso algum deles se movessem não importando
a distância entre eles. Isso implicaria que esta interação seria transmitida a uma velocidade
infinita porém, a teoria eletromagnética de Maxwell (1831-1879) mostrou que os fenômenos
eletromagnéticos se propagavam a uma velocidade finita e que a própria luz era um fenômeno
eletromagnético(DELBEM, 2010).
Surge então o questionamento sobre a possível finitude da velocidade da luz que
teria como ponto de partida a investigação sobre a existência do éter. Um dos primeiros
experimentos nesta investigação foi feito em 1987 pelos físicos Albert Michelson (1852-1931) e
Edward Morley (1838-1923) que sinalizou a não existência do éter. Outros experimentos foram
realizados porém, todos concluíram que o éter não existia. Consequentemente foi necessário
reformular a teoria newtoniana para ser compatível com as observações e descobertas daquela
época. Isso culminou na Teoria da Relatividade Restrita de Einstein que generalizava a mecânica
e incluía o eletromagnetismo (DELBEM, 2010).
Einstein, em 1917, propôs a Teoria da Relatividade Geral que explicaria o movimento
de sistemas em referenciais acelerados incorporando assim, a interação gravitacional. As
Equações de Campo de Einstein descreviam a relação entre a geometria do universo e a matéria
contida nele explicando assim, como a gravidade funcionava. Einstein aplicou sua teoria
iniciando um ramo da física chamado de Cosmologia Relativista que se vinha a se propor a
estudar modelos de universos possíveis. Sua teoria previa um universo em expansão e, como
na época não haviam relatos de uma suposta expansão, Einstein modificou suas equações para
estarem em conformidade com o que era observável na época, fazendo com que sua teoria
implicasse em um universo estático (DELBEM, 2010).
15

Porém, segundo a Teoria da Relatividade Geral, modelos com matéria não seriam
estáticos e, se o universo fosse eternamente estático, haveria um colapso de todos os corpos
devido a gravidade, o que não condizia com a realidade haja vista que nosso universo era tido
como estático e não havia colapsado. Para contornar isso e obter uma solução estática e estável,
Eistein adicionou em suas equações uma constante representada pela letra grega ,que viria a
ser chamada de Constante Cosmológica e seria a responsável por contrabalancear os efeitos
gravitacionais e manter o universo estável (DELBEM, 2010).
Por volta de 1912, Vesto Slipher (1875-1969) estava analisando a galáxia de Andrô-
meda e notou um deslocamento de seu espectro para o violeta e também concluiu que várias
outras galáxias estavam com um desvio para o vermelho. Esse desvio para o violeta implicaria
aproximação do Sol e o desvio para o vermelho um afastamento, o que seria os primórdios das
evidências de um universo em expansão (DELBEM, 2010).
Em 1917 um astrônomo holandês chamado Willem de Sitter(1872-1934) propôs seu
modelo de universo sem matéria, que era simples porém possuía um desvio espectral para o
vermelho (redshift) o que caracterizaria uma expansão (MOHAJAN, 2017).
Em 1922 O russo Aleksander Friedmann obteve soluções para um universo com
matéria e que também, poderia se expandir ao longo do tempo. Friedmann partiu de um princípio
chamado Princípio Cosmológico que, afirma que o universo é igualmente espaçado e igualmente
distribuído ou seja, o universo é o mesmo em todas as direções e a isso é dado o nome de
isotropia. Ele também tem a mesma distribuição de massa em todas a sua extensão, ou seja,
é homogêneo. Logo, Friedmann teorizou um universo isotrópico e homogêneo e mostrou que
as equações de Einstein implicavam em um universo que se expandia ao longo do tempo e,
consequentemente, ele teria tido um início (DELBEM, 2010).
Friedmann mostrou os possíveis tipos de universo: plano, aberto e fechado. Ele
desenvolveu duas equações e através delas apontou que é possível calcular a quantidade de
matéria que compõe o universo, a sua idade, a taxa com que o universo se expande e a taxa com
a qual ele acelera essa expansão, conforme a sua densidade de matéria vai aumentando ao longo
do tempo (DELBEM, 2010).
A partir disso, entende-se que é importante compreender profundamente as ferra-
mentas matemáticas e físicas para o conhecimento da cosmologia. Assim, questionamos como
se deu a formulação da cosmologia nos anos de 1917 a 1924?
Para responder a esta pergunta teve-se como objetivo geral conhecer o processo
histórico e matemático envolto nos modelos cosmológicos dos anos de 1917 à 1924. Para nortear
16

definiu-se então três objetivos específicos: 1) definir as ferramentas matemáticas fundamentais


para entender a formulação de alguns modelos cosmológicos; 2) discutir a relação da Teoria da
Relatividade Geral com os modelos cosmológicos; 3) conhecer o universo de Friedmann.
Desse modo este estudo está dividido em 5 seções. Na seção introdutória apresenta-
se a respeito de um breve histórico sobre a evolução das ideias relacionadas a temática. Também
expõe-se a questão norteadora e os objetivos que guiaram o processo de desenvolvimento dessa
pesquisa. Na seção 2 desenvolveu-se as ferramentas necessárias para formular e compreender
a Teoria da Relatividade Geral que é a base da Cosmologia Relativista. Para tal, utilizou-se a
linguagem tensorial e, portanto, uma revisão sobre tensores. Na seção 3 discutiu-se as Equações
de Campo de Einstein para utilizá-las nos modelos cosmológicos. Também, se buscou mostrar a
relação com a Lei da Gravitação Universal de Newton. A métrica utilizada foi ( −,+,+,+) e o
sistema de unidades em que c = 1. Na seção 4 empregou-se as Equações de Einstein juntamente
com o princípio cosmológico para modelar os diferentes universos propostos por Einstein, De
Sitter e Friedmann e, posteriormente formular as Equações de Friedmann aplicáveis à alguns
modelos de universo. Na quinta e última seção destacou-se as reflexões provenientes deste
estudo apontando as conclusões obtidas e desafios trilhados no decorrer do desenvolvimento da
pesquisa. Indicou-se também as perspectivas futuras almejadas para esta temática.
17

2 CÁLCULO TENSORIAL

Para entender a Teoria da Relatividade Geral (TRG) e, posteriormente a Cosmologia


Relativista, é necessário primeiramente entender alguns conceitos matemáticos fundamentais.
Desse modo, para formular os modelos cosmológicos é de suma importância o domínio da TRG.
Então, realizou-se um passo a passo assim como Einstein fez e, ao final desta seção, deixa-se
claro que a forma das Equações de Einstein são uma consequência imediata de todo o processo a
seguir (CARROL, 2003).
Primeiramente é importante entender como é a estrutura do espaço em que será
construída a TRG haja vista que, diferentemente da Teoria da Relatividade Restrita onde o
espaço-tempo era dito minkowskiano, a TRG deve generalizar o espaço-tempo de modo a
incluir a possibilidade de curvatura do espaço-tempo. Então, foram necessárias também algumas
ferramentas que fornecessem informações a respeito do espaço tais como a curvatura, o modo
de medir distâncias e a forma de manter as leis da Física iguais não importando o sistema de
coordenadas utilizado, o que é chamado de invariante (SOARES, 2012).
Para manter todas as propriedades e conceitos já conhecidos do cálculo diferencial e
integral tais como, diferenciabilidade e continuidade, considera-se que nosso espaço-tempo é um
objeto chamado de Manifold, mais precisamente um Manifold pseudo-riemaniano1 . Manifold é
um conjunto de pontos que podem ser mapeados por um sistema de coordenadas de forma suave
(sem descontinuidades) no qual, um sistema de coordenadas é um conjunto de D- funções xi que
mapeiam pontos diferentes em uma região U de um Manifold M de forma única. A região U que
essas coordenadas mapeiam é chamada de caminho de M e é coberto por xi . Para cobrir todo o
Manifold é necessário um sistema de coordenadas que mapeie de forma única todos os pontos
dele. A esse dá-se o nome de sistema de coordenadas globais e pode-se citar como exemplo, o
sistema de coordenadas cartesianas no R3 (CARROL, 2003).
Há muitas possibilidades de escolha de sistemas de coordenadas. Então, é preciso
desenvolver um método para escolher sistemas de coordenadas adequados (CARROL, 2003).
0
Considere dois sistemas de coordenadas xi , xi mapeando pontos em um dado caminho. Pode-se
0 0
obter uma transformação de coordenadas xi , xi ou xi , xi se o determinante da matriz jacobiano
(ou jacobiano) for diferente de zero, onde o jacobiano é

∂ xi
J ij0 = 0. (2.1)
∂xj
1 Para um estudo mais aprofundado ver Carrol (2003).
18

A partir disso, um tensor é um objeto matemático que se transforma de um sistema


de coordenadas xi = (x1 , x2 , · · · , xn ). para um sistema de coordenadas x0i = (x01 , x02 , · · · , x0n ).,
onde as coordenadas x0 dependem das coordenadas x da seguinte forma:

x0i = (x01 (x1 , · · · , xn ) · · · x0n (x1 · · · , xn )). (2.2)

Os tensores podem ser covariantes, contravariantes ou mistos e classificados também


de acordo com suas respectivas ordens. Assim, um vetor é um tensor de ordem 1 e um escalar é
um tensor de ordem zero. Um exemplo de tensor muito importante para a Física é o chamado
Tensor Métrico pois, ele permite representar a estrutura do espaço utilizando o elemento de arco
(ds2 ) e os vetores de base (e1 , e2 , ..., en ).
Um conjunto n de quantidades A0i (x) que se transforma da forma:

∂xj
A0i (x) = Ai (x), (2.3)
∂ x0i

é chamado Tensor Covariante de 1ª ordem. Já um conjunto de n quantidades A0i (x) que se


transformam da forma:
∂ x0 j i
A0i (x) = A (x), (2.4)
∂ xi

é chamado Tensor Contravariante de 1ª ordem.

2.1 Tensor Métrico

O Tensor Métrico é um Tensor Covariante de segunda ordem e pode ser definido da


seguinte forma:
∂ xi ∂ x j
g0pq = 0p 0q gi j . (2.5)
∂x ∂x

E, para o caso em que gi j = δi j tem-se o Espaço Euclidiano:

∂ xk ∂ xk
gi j = , (2.6)
∂ x0i ∂ x0 j

onde (k = 1, 2, 3). Aqui, vê-se índices repetidos na equação que significam uma soma naqueles
índices. Esta notação é a chamada convenção de soma de Einstein e o termo gi j dxi dx j é chamado
de métrica (HARTLE, 2003).
19

2.2 Símbolos de Christoffel

No Espaço Euclidiano, os elementos de base são coordenadas constantes e represen-


tam distâncias. Porém, em espaços mais gerais, esses elementos não são constantes pois podem
representar ângulos que variam com o tempo. Logo, faz-se necessário saber como os elementos
de base variam com o tempo e, é a partir dos Símbolos de Christoffel, que isso pode ser feito. Os
Símbolos de Christoffel são definidos por:

p 1  
Γmn = g pq ∂m gnq + ∂n gmq − ∂q gmn . (2.7)
2

Diante desta definição, faz-se necessário investigar a transformação dos Símbolos


de Christoffel para saber se são também objetos tensoriais. Para tal, utiliza-se a definição de
um tensor covariante de ordem 2 para analisar como estes objetos se comportam sob uma
0 ∂ xi ∂ x j
transformação de coordenadas: gln = gi j 0l 0n e derivando com relação a xm , tem-se:
∂x ∂x

∂ g0ln ∂ gi j ∂ xk ∂ xi ∂ x j ∂ 2 xi ∂ x j ∂ xi ∂ 2 x j
= + gij + gij . (2.8)
∂ xm ∂ xk ∂ x0m ∂ x0l ∂ x0n ∂ x0m ∂ x0l ∂ x0n ∂ x0l ∂ x0m ∂ x0n

Do mesmo modo, tem-se:

∂ g0mn ∂ gi j ∂ xk ∂ xi ∂ x j ∂ 2 xi ∂ x j ∂ xi ∂ 2 x j
= + gi j + gi j . (2.9)
∂ xl ∂ xk ∂ x0l ∂ x0m ∂ x0n ∂ x0l ∂ x0m ∂ x0n ∂ x0m ∂ x0l ∂ x0n

E, analogamente,

∂ g0lm ∂ gi j ∂ xk ∂ xi ∂ x j ∂ 2 xi ∂ x j ∂ xi ∂ 2 x j
= + g ij + g ij . (2.10)
∂ xn ∂ xk ∂ x0n ∂ x0l ∂ x0m ∂ x0n ∂ x0l ∂ x0m ∂ x0n ∂ x0n ∂ x0m

Utilizando a definição, tem-se:

∂ g0ln ∂ g0mn ∂ g0lm


 
0 1
[lm, n] = + − . (2.11)
2 ∂ x0m ∂ x0l ∂ x0n

Logo:

∂ xi ∂ x j ∂ xk ∂ 2 xi ∂ x j
[lm, n]0 = [ik, j] + g i j . (2.12)
∂ x0l ∂ x0n ∂ x0m ∂ x0l ∂ x0m ∂ xn
20

Multiplicando dos dois lados da equação por g0ns e, após algumas manipulações matemáticas,
tem-se:

∂ xi ∂ g0mn ∂ xk ∂ x0s jq ∂ x
2 i ∂ x0s
[lm, n]0 g0ns = [i j, k]g jq + g i j g , (2.13)
∂ x0l ∂ x0l ∂ x0m ∂ xq ∂ x0l ∂ x0m ∂ xq

onde
∂ x0n ∂ x0s
g0ns = g pq . (2.14)
∂ x p ∂ xq

Logo,
q ∂ xi ∂ xk ∂ x0s ∂ 2 xi ∂ g0mn ∂ x0s
Γ0mn s = Γik + , (2.15)
∂ x0l ∂ x0m ∂ xq ∂ x0l ∂ x0m ∂ x0l ∂ xq

que, devido ao termo extra, os Símbolos de Christoffel não se transformam semelhantemente aos
tensores e, portanto, eles não são tensores. Esta peculiaridade é discutida e utilizada no tópico a
seguir para construir um modo confiável de realizar a operação de tomar derivadas.

2.3 Derivada Covariante

É necessário saber como tomar derivadas de um Tensor Geral, no entanto a derivada


usual não é um bom modo para tal. Tome o caso de um tensor do tipo (0,1). ∇m f = f ,m , é um
tensor (0,1) e sua derivada não é um tensor (1,1) ∂m v p = v p ,m . Então, como tomar a derivada
de um tensor? É necessário uma nova derivada que seja covariante e que tome a derivada de
um vetor e resulte em um tensor. Essa derivada ∇m v p tem que ser linear e obedecer a regra de
Leibniz:

Linearidade:
∇m (v p + ω p ) = ∇m v p + ∇m ω p . (2.16)

Regra de Leibniz:
∇m ( f v p ) = ∂m f v p + f ∇m v p . (2.17)

p n
Isso implica que ∇m v p = ∂m v p + Bmn v .

Se a derivada fosse apenas o primeiro termo, ela respeitaria as 2 condições acima


porém, não seria um tensor do tipo (1,1). Logo, deverá ser acrescentado algum termo de correção
p n
que garanta que a derivada seja um tensor do tipo (1,1) para algum Bmn v e, esse termo de
21

correção deve ser de natureza tal que, se transforme envolvendo derivadas segundas da métrica
para cancelar a derivada segunda de um vetor, e faça toda a expressão ser um tensor. Para que
essa derivada seja um tensor, ela tem que se transformar dessa maneira:

0
∂ xm ∂ x p
p0
∇m0 v = m0 p
∇m v p (2.18)
∂x ∂ x

0
∂ xm ∂ x p
p0 p n
∇m0 v = m0 + Bmn v (2.19)
∂ x ∂m v p

0
!
p0 ∂ xp p p0 n0
∇m0 v = ∂m0 v + B mn0 v (2.20)
∂ xp

onde,
0 0
p0
n 0 ∂ xm ∂ x p p n ∂ 2 x p ∂ xm n
Bmn0v = B v − nm m0 v . (2.21)
∂ xm ∂ x p mn
0
∂x ∂x

p u
Logo Bmn v precisa se transformar exatamente como os Símbolos de Christoffel.
Tem-se então uma necessidade de uma nova derivada que é compatível com um Tensor Geral.
Considere dois pontos em um espaço curvo separados por uma distância infinitesimal dx. Tome
dois vetores covariantes Am (x) e Am (x + dx) definidos neste espaço. Para realizar a operação
derivada é preciso levar em conta não somente os vetores Am (x), Am (x + dx) e a distância dx
mas também a curvatura do espaço. Logo precisaremos de um termo que conecte os dois pontos
nesse espaço. Esse termo é chamado de Conexão Métrica ou Símbolos de Christoffel. Para o
deslocamento, tem-se:
Am (x) → Am (x) + Γmn l(x)Al (x)dxn . (2.22)

Esse processo é denominado Deslocamento Paralelo e os coeficientes de conexão métrica


Γlmn (x) incorporam a curvatura do espaço. Pode-se definir a derivada covariante por:

dxn Dn Am = Am (x + dx) − [Am (x) + Γlmn Al dxn ]. (2.23)

Nota-se que, o primeiro e o segundo termo do lado direito da equação, é a derivada


usual, assim:

dxn Dn Am = ∂n Am dxn − Γlmn Al dxn . (2.24)


22

Todos os termos tem dxn e, colocando-o em evidência tem-se:

dxn (Dn Am − ∂m An + Γm nl Al ) = 0. (2.25)

Como a diferencial não pode ser zero, isso implica que, o termo entre parênteses é zero, logo:

Dn Am = ∂m An − Γlmn Al . (2.26)

Ou, em uma notação compacta,

Am;n = Am,n − Γlmn Al . (2.27)

Para um tensor de segunda ordem, tem-se:

Tmn;a = Tmn,a − Γlma Tln − Γlna Tml . (2.28)

Portanto, segundo Neto (2010), esta é a definição da nova derivada.

As Leis Físicas devem ser as mesmas independente do sistema de coordenadas e,


a melhor forma de se fazer isto, é escrevendo-as em termos tensoriais. Por isso, é de suma
importância que a derivada de um tensor seja um tensor. Dito isso, investiga-se a transformação
da derivada covariante:

∂ A0m 0l
D0µ A0ν = 0n
− Γmn A0l . (2.29)
∂x

Usando a transformação de A0m tem-se:

∂ xq q
 
∂ 0l ∂ x
D0m A0n = 0n Aq − Γmn 0l Aq (2.30)
∂x ∂ x0n ∂x

e,

∂ 2 x0q ∂ xq ∂ xa 0l ∂ x
q
D0m A0n = A q + Aq,a − Γ mn Aq . (2.31)
∂ x0n x0n ∂ x0m ∂ x0n ∂ x0l
23

Porém, segundo a definição de tensor, a derivada covariante é tensor somente quando se


transforma na forma:

∂ xa ∂ xq
D0m A0n = Da Aq . (2.32)
∂ x0m ∂ x0n

E, como os Símbolos de Christoffel se transformam dessa forma:

l0 ∂ x0l ∂ x0q ∂ x p a ∂ x0l ∂ 2 x0q


Γmn = Γ + , (2.33)
∂ xa ∂ xm ∂ x0n pq ∂ xq ∂ x0m xn

a derivada covariante se transforma como um tensor e também, é linear e respeita a regra de


Leibniz (NETO, 2010). Logo, é um bom modo de se tomar derivadas de tensores e a derivada
covariante é compatível com a métrica (CARROL, 2003).

2.4 Tensor de Riemann

A derivada covariante se transforma como um tensor e satisfaz a regra usual do


produto. Porém, duas derivadas covariantes não comutam. Para verificar isto explicitamente,
tome a derivada de Am;n :

Am;n;a = Am;n;a − Γlma Al;n − Γlna Am;l (2.34)

q q
= (Am;n − Γlmn ), a − Γlma (Al;n − Γln Aq ) − Γlna (Am;l − Γml Aq ) (2.35)

= Am;n;a − Γlmn Al,a − Γlma Al,n − Γlna Am,l − Al (Γlma,a − Γqma Γlqn − Γqna Γlmq . (2.36)

Permutando os índices n e a da expressão anterior e subtraindo os resultados, é obtido:

Am;n;a − Am;a;n = 2Γlan Am;l + Al Rlmna , (2.37)

em que, renomeando os índices, tem-se o Tensor de Riemann:

p p p p l
Rqmn = ∂m Λnq − ∂n Λmq + Λml Λnq − Λlnl Λlmq . (2.38)
24

p
O Tensor de Riemann, gbq Rqmn = R pqmn , tem algumas propriedades dentre elas a
antissimetria nos dois primeiros e dois últimos índices e a simetria para uma mudança na ordem
dos pares de índices. Logo,
R pqmn + R pmnq + R pnqm = 0, (2.39)

o que leva a identidade de Bianchi:

R pqmn,b + R pqnb,m + R pqbm,n = 0. (2.40)

O Tensor de Riemann expressa o quão curvo é o espaço-tempo e se,

p
Rqmn = 0, (2.41)

diz-se que o espaço é plano e consequentemente sua métrica é constante, haja vista que o Tensor
de Riemann envolve derivadas da métrica.
O Tensor de Riemann é um objeto com quatro índices. Logo, é um tensor de ordem
quatro, e portanto, ele tem 256 componentes (GLENDENNING, 2007). Esse tensor tem simetrias
e antissimetrias em seus índices e, devido a isso, o número de componentes necessárias a serem
calculadas se reduz são chamadas de independentes.
1 2 2
O número de componentes independentes do Tensor de Riemann é D (D − 1)
12
e, para um espaço 4-dimensional D = 4, em que D significa o número de dimensões, ele tem
20 graus de liberdade que é exatamente o número de graus da derivada 2ª da métrica. Logo,
o Tensor de Riemann contém todas as informações sobre a derivada 2ª da métrica (CARROL,
2003).

2.5 Tensor de Ricci

O Tensor de Ricci é uma contração do Tensor de Riemann e contém as informações


do traço do Tensor de Riemann. Por isso compõe apenas algumas informações sobre a curvatura
do espaço-tempo:
p
Rmn = Rmpn . (2.42)

O Tensor de Ricci é simétrico em seus índices e têm 10 graus de liberdade e, do


mesmo modo, a contração do Tensor de Ricci gera o Escalar de Ricci

R = gmn Rmn (2.43)


25

e a contração da Identidade de Bianchi gera a seguinte expressão para o Tensor de Ricci:

1
∇m Rmn = ∇n R. (2.44)
2
O escalar de Ricci é útil também para representar espaços maximamente simétricos,
onde a simetria é máxima e a curvatura do espaço em um ponto P é a mesma em qualquer
outro ponto do espaço. A geometria ser a mesma em todas as direções implica que, o Tensor de
Curvatura deve ser o mesmo em todas as direções e, que não deve mudar sob transformações
Lorentzianas, já que não há nenhuma direção privilegiada.
Segundo Carrol (2003), os únicos Tensores que não mudam suas componentes sob
transformações Lorentzianas são: Tensor Métrico, Delta de Kroenecker e Tensor Levi-Civitta.
Isso significa que as componentes do Tensor de Curvatura serão proporcionais a um tensor
construído a partir destes tensores invariantes e, considerando as simetrias do Tensor de Riemann,
a única possibilidade é:
Rmqpn ∝ g pm gqn − g pn gqm . (2.45)

E, como esta é uma relação tensorial, é válida em qualquer sistema de coordenadas.


A constante de proporcionalidade deve ser tal que, relacione a curvatura de espaços
e ela é a curvatura de Gauss k, logo:

R = k(g pm gqn − g pn gqm ). (2.46)

O espaço-tempo em que R é zero, é o Espaço de Minkowski (plano). O espaço-tempo


de curvatura positiva é chamado de Espaço de De Sitter e o espaço-tempo de curvatura negativa
é chamado Espaço Anti De Sitter (CARROL, 2003).

2.6 Tensor de Einstein

Partindo da identidade de Bianchi e multiplicando ambos os membros da equação


por gbe gad , tem-se:

∇e gbe gad Rabcd + ∇c gbe gad Rabde + ∇d gbe gad Rabec = 0. (2.47)

Para o primeiro termo da equação tem-se:

∇e gbe gad Rabcd .

Contraindo o índice a tem-se:


26

∇e gbe Rdbcd . (2.48)

Contraindo o índice d, trocando os índices e por b e b por a: (e → b e b → a) tem-se:

∇b gab Rac . (2.49)

Para o segundo termo da equação tem-se:

∇c gbe gad Rabde . (2.50)

Permutando os dois últimos índices tem-se:

−∇c gbe gad Rabed . (2.51)

E, contraindo os índices b e a tem-se:

−∇c Red
ed . (2.52)

E, contraindo os dois últimos índices tem-se:

−∇c R, (2.53)

onde R é o Escalar de Ricci e, para o último termo, tem-se:

∇d gbe gad Rabec . (2.54)

Contraindo o índice a e renomeando o índice d para b (d → b) tem-se:

∇b gbe Rbbec . (2.55)

Renomeando o índice e para a (e → a) tem-se:

∇b gab Rac . (2.56)

Logo,

∇e gbe gad Rabcd + ∇c gbe gad Rabde + ∇d gbe gad Rabec = −2∇b Rbc − ∇c R = 0. (2.57)

Reescrevendo a expressão acima em termos do Tensor de Ricci, tem-se:


27

1
∇a Ra c = ∇c R. (2.58)
2

Reescrevendo o lado direito da equação, tem-se:


1
∇a (Rac − gac R) = 0. (2.59)
2

O objeto entre parênteses é o Tensor de Einstein, ou seja:


1
Gab = Rab − gab R. (2.60)
2

Os espaços onde o Tensor de Ricci é zero mas, o Tensor de Riemann não é, são
chamados de Espaços de Einstein e, esta equação é conhecida como conservação do Tensor de
Einstein. (SOKOLNIKOFF, 1951). Essa é uma propriedade muito importante pois ela é quem
garante que esse é tensor certo para se usar nas equações de movimento da Teoria da Relatividade
Geral (CARROL, 2003).
28

3 TEORIA DA RELATIVIDADE GERAL

Agora que já foram desenvolvidas as ferramentas matemáticas necessárias para o


estudo de espaços curvos com essa geometria, resta uma pergunta: como as Leis Físicas podem
ser escritas em espaços curvos e de uma forma que seja independente da escolha dos sistemas de
coordenadas e referenciais?
A gravidade é uma força especial pois, diferentemente das outras tais como a
eletromagnética, ela não é apenas mais um resultado de um campo que permeia o espaço-
tempo gerando tal força. Na verdade, ela é uma interação do próprio espaço-tempo e este foi
o pensamento de Einstein. Logo a gravidade está intimamente ligada a estrutura do espaço e,
a ferramenta matemática que utiliza-se para representar estas informações, é o Tensor Métrico
carrol.
Então, a gravidade está diretamente ligada a métrica do espaço-tempo e também
a sua curvatura. As Leis Físicas escritas nesse espaço curvo devem se reduzir as que já são
conhecidas em um espaço plano. Logo, é necessário que a gravidade relativística, em alguns
limites, tome a forma conhecida da Gravitação Newtoniana (CARROL, 2003). Tal analogia é
feita para, intuitivamente, serem construídas as Equações de Einstein conforme é apresentado
nesta seção 3.

3.1 Princípio de Equivalência

Na Gravitação Newtoniana, a gravidade e a densidade de matéria estão relacionados


pelas duas equações (3.1) e (3.2):
ẍ = −∇φ (3.1)

e
∇2 φ = 4πGρ, (3.2)

onde a primeira está relacionando a aceleração de um corpo em um potencial gravitacional e a


segunda a matéria.
Na Relatividade Geral, esta analogia é feita descrevendo como a curvatura do espaço-
tempo age na matéria para manifestar a gravidade e, como a energia e o momento influenciam o
espaço-tempo a criar a curvatura. Com isso, para analisar a gravitação é necessário escrever os
29

princípios físicos básicos e, ao fazer isso, pode-se notar que gera naturalmente uma teoria física
válida em tais espaços (CARROL, 2003).
A Lei da Gravitação Universal de Newton foi revolucionária pois, explicou os
fenômenos terrestres e também, os relacionados ao movimento planetário. Assim, unindo em
uma única teoria o movimento na superfície da Terra e ao redor de qualquer planeta.
A Teoria da Relatividade Restrita de Einstein generalizou a compreensão sobre o
universo com a possibilidade de entender os fenômenos que ocorriam ao corpos que viajavam em
velocidades extremas e englobando o eletromagnetismo de Maxwell e a Gravitação Newtoniana.
Por isso ela pode explicar uma variedade de fenômenos. No entanto, a teoria mais geral sobre o
universo tem que incluir os referenciais acelerados para descrever a gravitação, haja vista que
todos os corpos são acelerados por algum tipo de força ou interação (CARROL, 2003).
A inclusão dos referenciais pode ser feita com o Experimento do Elevador de Einstein
que nomeia um princípio muito importante para a Teoria da Relatividade Geral e que é o nome
desta seção. Einstein percebeu que a Teoria Newtoniana não comprova a equivalência de massa
inercial com massa gravitacional, já que a massa inercial na segunda Lei de Newton, não tem
relação alguma com a massa gravitacional da sua gravitação universal e, conforme Carrol (2003,
p.48) o Princípio da Equivalência tem algumas variações, sendo a primeira delas a forma fraca
deste princípio onde "[...] a massa inercial e a massa gravitacional de qualquer objeto são
iguais", assim conclui-se a equação (3.1), que pode ser verificada pelo experimento de Eötvös
(WEINBERG, 1972).
Diante disso, pode-se formular o princípio de forma equivalente em que há uma
classe de trajetórias onde as partículas estão sujeitas apenas a gravidade e que pode ser entendido
com o seguinte exemplo do experimento de Einstein exposto por Carrol (2003) - imagine um
físico que está em um pequeno elevador fechado e é incapaz de observar o exterior, realizando
experimentos para medir a gravidade local. Se ele estivesse em Júpiter ou na Lua ou em Marte
os valores da gravidade seriam diferentes para os valores obtidos na Terra porém, também o
seriam se este elevador estivesse acelerando a uma velocidade constante (CARROL, 2003).
Logo, o físico seria incapaz de diferenciar os efeitos medidos quando ele estivesse acelerando
longe de um campo gravitacional ou quando estivesse na presença de um campo gravitacional
e em repouso, o que leva ao Princípio da Equivalência de Einstein: "Em pequenas regiões
do espaço-tempo as leis da física se reduzem aquelas propostas na Relatividade Especial e é
impossível detectar a existência de um campo gravitacional por experimentos locais"(CARROL,
2003 p. 50).
30

Pode-se notar isto, ao analisar o problema da queda livre de um corpo desconside-


rando a rotação da Terra, ou seja, sujeito apenas a ação da gravidade e, comparar o resultado a
análise do mesmo corpo caindo em queda livre porém, em um referencial acelerado com uma
aceleração g. Para um referencial inercial tem-se:
d 2~x ~
m 2 = F. (3.3)
dt
E, para um referencial acelerado com aceleração g tem-se:
d 2 x~∗
m + m~g = ~F, (3.4)
dt 2
onde ~F é a força resultante do sistema e x* é a posição no referencial acelerado e como a força
resultante é igual a força-peso logo:
d 2 x~∗
= 0. (3.5)
dt 2

Utilizando as condições iniciais x0 , v0 = 0 tem-se: x∗ = 0, e para o referencial inercial, a


aceleração deste corpo é a soma da aceleração do corpo no referencial acelerado mais a aceleração
do referencial logo:
a = a∗ − g, (3.6)

onde a∗ = 0 por (3.5) e, integrando, tem-se a equação para a queda livre do corpo do referencial
acelerado:
−1 2
x= gt , (3.7)
2

que é exatamente a mesma equação para o referencial inercial. Logo, não se pode distinguir
entre um campo gravitacional e um referencial acelerado.
Para formular o Princípio da Equivalência, Einstein considerou que a gravidade afeta
as formas de matéria do mesmo modo, sendo assim de natureza universal. Essa natureza da
gravidade deveria implicar uma relação intrínseca com o espaço-tempo de modo que a gravidade
seria a propagação da curvatura do espaço-tempo (CARROL, 2003).
Essa abstração leva a uma generalização das Leis da Física em um espaço curvo, que
pode ser resumida em um princípio físico que, segundo Carrol (2003) pode ser descrito em 3
passos:
1. Tome uma Lei Física válida em coordenadas inerciais no espaço-tempo de Minkowski;
2. Interprete-a como uma equação tensorial em um espaço curvo, escrita em coordenadas
inerciais;
31

3. Essa equação tensorial é a lei em espaço curvo.


Assim, isso significa substituir a métrica de Minkowski ηµν por uma métrica mais ge-
ral gµν e, substituir as derivadas parciais por derivadas covariantes. Um exemplo é a conservação
da energia no espaço de Minkowski:

∂µ T µν = 0, (3.8)

que, utilizando esse princípio se torna

∇µ T µν = 0. (3.9)

Então utiliza-se um conjunto de referenciais inerciais locais em regiões do espaço suficientemente


pequenas ao invés de um global e, para as Leis Físicas serem consistentes com um espaço curvo,
também é utlizada a Geometria Diferencial (CARROL, 2003).

3.2 Equações de Campo de Einstein

A curvatura do espaço-tempo reproduz a Lei de Newton. Mas, será que ela reproduz
a equação de Poisson? Na Gravitação Newtoniana a equação do movimento diz, que o Laplaciano
de φ é proporcional a densidade de massa (3.1).
Logo, é necessário resolver a equação de Poisson em termos da densidade de massa
para determinar o potencial gravitacional. O análogo relativístico dessa equação deve ser uma
derivada segunda da métrica e não pode ser qualquer equação. Ela tem que ser tensorial pois as
Leis da Física não devem depender de um sistema de coordenadas e deve reproduzir a Gravitação
Newtoniana em um limite apropriado (CARROL, 2003). Considere primeiro o caso em que

ρ = 0, (3.10)

o que significa que não há matéria. Um exemplo deste caso é a descrição da gravidade em um
espaço vazio como na região externa de algum planeta ou sistema solar e o único tensor que
envolve a derivada segunda da métrica é o Tensor de Riemann. Como a equação não envolve
matéria, a primeira possibilidade é:
ρ
Rµνσ = 0. (3.11)

Porém, um espaço Riemaniano onde o Tensor de Riemann é zero, é um espaço plano


e tem a métrica constante, o que implicaria que, longe de matéria ou na ausência de matéria, o
32

espaço-tempo seria plano e, consequentemente, não haveriam efeitos gravitacionais na região


externa a um planeta, o que não condiz com a realidade (CARROL, 2003).
É necessário então, considerar uma versão mais fraca dessa equação e algum objeto
construído a partir do Tensor de Riemann que envolva apenas algumas componentes da curvatura
ao invés de todas as componentes. Este objeto é o Tensor de Ricci. Logo, a versão mais
apropriada dessa equação é:
Rµν = 0. (3.12)

Esta equação é chamada de equação de Einstein e no vácuo e ela descreve a curvatura do


espaço-tempo na região exterior de uma fonte de matéria. Esta equação também pode ser escrita
contraindo os índices do Tensor de Ricci com a métrica, logo

R = 0, (3.13)

e isso implica
Gµν = 0, (3.14)

assim como, o caso em que o Tensor de Einstein é zero, implica que o Tensor de Ricci também é
zero. Logo, pode-se escrever as equações de Einstein no vácuo como:

Gµν = 0. (3.15)

Esta formulação será útil pois, agora é necessário entender como escrever as equações de Einstein
na presença de matéria, como incluir a matéria e a energia nessas equações e, como isso irá
causar a curvatura do espaço-tempo. A motivação para tal formulação será vista adiante, quando
for mostrado que o termo correto para estar nas equações de Einstein é o Tensor de Einstein e
não o Tensor de Ricci (CARROL, 2003).
Na equação de Poisson, o termo responsável pela matéria é ρ, que representa a
densidade de matéria e energia. Na Teoria da Relatividade Restrita a matéria e a energia são a
mesma coisa e, um análogo relativístico deve ser um tensor simétrico de segunda ordem pois, o
lado esquerdo das equações de Einstein é um tensor simétrico de segunda ordem. Este tensor
simétrico de segunda ordem que representa a energia é o Tensor Momento Energia Tµν . Ele
é simétrico em relação a seus dois índices e respeita a conservação da energia represantado a
seguir:
∇µ Tµν = 0. (3.16)
33

Esta conservação pode ser escrita para descrever qualquer tipo de matéria. O universo,
assim como muitos sistemas macroscópicos, podem ser aproximados como sendo um fluido
geral chamado de fluido perfeito (WEINBERG, 1972).
Tome um sistema de partículas em um referencial S’ que se move a velocidade
constante com relação a um observador fixo em um referencial S. A energia deste sistema de
partículas medida pelo observador é o produto do quadrimomento pela quadrivelocidade:

E = −P ·U = −ηµν Pµ U ν , (3.17)

onde o quadrimomento pode ser escrito em termo de suas componentes:


E
P = Pµ eµ = ( , 0, 0, 0). (3.18)
c
E, a quadrivelocidade:
U = U u eu = (c, 0, 0, 0). (3.19)

Para o sistema de partículas, o quadrimomento é:

Pµ = m0 uµ = m0 γ(c, u1 , u2 , u3 ). (3.20)

Logo, a energia é:
E = m0 γc2 (3.21)

(CARROL, 2003).
Tome agora um elemento de volume deste sistema de partículas dv = dxdydz,. Pode-
se definir uma densidade numérica N, que é o numero n de partículas em um elemento de volume:

n nγ
N0 = = . (3.22)
V ∆x∆y∆z

Para o referencial de repouso, tem-se:


n n
N= = . (3.23)
V ∆x∆y∆z
Assim, pode-se definir um quadrivetor densidade numérica como a seguir:
n u n
N= U = N u = γ(c, ux , uy , uz , (3.24)
V V
onde a componente zero é:
n
N0 = γc, (3.25)
V
34

e, o produto da quadridensidade numérica pelo quadrimomento dá a energia neste volume:


En ET
−P · N = ηµν pµ N ν = η00 P0 N 0 = − − = , (3.26)
cV V
em que, ET é a energia total.
O mesmo resultado pode ser encontrado para o referencial de repouso. Observando
as componentes, tem-se a componente da quadridensidade na direção x:
n x
Nx = γu . (3.27)
V
Agora, tome este sistema de partículas se movendo através do elemento de volume
fixo. Algumas partículas irão atravessar o elemento de volume, logo, espera-se que este sistema
de partículas se assemelhe a um fluido e então, a quadridensidade na direção x para o observador
em s será o fluxo na direção x:
nγ∆x nγ
Nx = = . (3.28)
∆x∆y∆z∆t ∆A∆t
A quadridensidade é igual ao número de partículas que atravessam a direção x por unidade de
área por unidade de tempo que representa o fluxo na direção x.
Com isso, pode-se definir um tensor que seja o produto tensorial do quadrimomento
pela quadridensidade:

T = −P ⊗ N = ρ0 uµ uν eµ ⊗ eν = T µν eµ ⊗ eν . (3.29)

E em componentes, pode ser representada em forma matricial,


 
u0 u0 u0 ux u0 uy u0 uz
 
 x 0 x x x y x z
u u u u u u u u 
T µν = ρ 
 y 0 y x y y y z .
 (3.30)
u u u u u u u u 
 
z 0 z x
uu uu uu uu z y z z

E, em termos da quadridensidade numérica e do quadrimomento tem-se:


 
P0 N 0 P0 N x P0 N y P0 N z
 
 x 0
Px N x Px N y Px N z 

P N
T =
 y 0
. (3.31)
P N y x y
PN PN PN  y y z 
 
Pz N 0 Pz N x Pz N y Pz N z

A componente T 00 dá a densidade de energia das partículas, como pode ser visto:


E n ET
T 00 = × γc = γ 2 ρ0 c2 = . (3.32)
c V V
35

A componente T x0 representa o fluxo de energia na direção x como pode ser visto:

n
T x0 = Px N 0 = m0 γux × γc = γ 2 ρ0 × cux . (3.33)
V

E a componente T 0x , também representa o fluxo de energia na direção x:

E n x 1
T 0x = P0 N x = × γu = γ 2 ρ0 c2 × ux . (3.34)
c V c

Por manipulação algébrica, nota-se a igualdade:

T 0x = T x0 , (3.35)

haja vista que, neste trabalho, foi utilizado o sistema de unidades no qual c = 1. Desse modo, a
componente T xx representa a componente x do fluxo do momento por unidade de área na direção
x:
nm0 x
T xx = γ 2 u. (3.36)
∆A∆t

Em geral, as componente espaciais T µν do Tensor Momento Energia, representam as


forças entre elementos de volume do fluido infinitamente próximos e, os termos fora da diagonal,
representam forças que realizam trabalho. A equação(3.36) mostra que os termos espaciais
representam a pressão do fluido em todas as direções. Desta forma, pode-se representar qualquer
conteúdo de matéria existente no universo calculando seu Tensor Momento Energia.
Um fluido perfeito pode ser perfeitamente descrito por sua densidade e sua pressão,
haja vista que, em um fluido perfeito há a isotropia. Logo, a pressão também é isotrópica e é a
mesma em todas as direções e, portanto, não há forças que realizem trabalho. Isso implica que
o Tensor Momento Energia tem todas as componentes espaciais iguais T 11 = T 22 = T 33 e os
termos fora da diagonal principal são zero, ou seja, não há fluxo de momento de componentes
diferentes de suas direções (CARROL, 2003).
Logo, a forma do Tensor Momento Energia para um fluido perfeito é:
 
ρ 0 0 0
 
 0 −p 0
 
µ 0 
Tν =  . (3.37)
 0 0 −p 0 

 
0 0 0 −p

Onde, o traço da matriz é:


µ
T = Tν = ρ − 3p. (3.38)
36

E a componente zero do tensor, dá a densidade de energia:

T00 = ρ, (3.39)

e as componentes espaciais dão a pressão:

Ti j = pgi j . (3.40)

Em que i,j são os índices espaciais que vão de 1 até 3. Então, para representar o fluido perfeito,
utiliza-se a quadrivelocidade somada a pressão:

Tµν = (p + ρ)Uµ Uν + pgµν . (3.41)

(CARROL, 2003).
Para muitos fluidos perfeitos, P e ρ estão relacionados pela equação de estado, sendo
a mais simples:
P = wρ, (3.42)

onde w é o parâmetro da equação de estado. Considere o caso em que

w = 0. (3.43)

Este fluido tem uma quadrivelocidade e uma densidade mas não exerce pressão. Este tipo de
matéria é conhecida como poeira. Outro exemplo, é o caso em que
1
w= . (3.44)
3
Logo,
1
P = ρ. (3.45)
3

Esta é a equação de estado para um gás de partículas sem massa, como por exemplo os fótons, e
esta matéria é a radiação.
Geralmente, utiliza-se fluidos com pressão positiva. Porém, e se houvesse um tipo
de fluido com pressão negativa? Isso simplificaria a equação do Tensor Momento Energia e
ele seria proporcional a métrica e independente da quadrivelocidade. Essa seria uma matéria
estranha para ser fonte da curvatura do espaço-tempo nas equações de Einstein e, esse fluido,
independente da quadrivelocidade, e proporcional apenas a métrica, se comportaria como uma
característica intrínseca do espaço-tempo (CARROL, 2003). O que leva a:

w = −1, (3.46)
37

e
P = −ρ. (3.47)

Logo
Tµν ∝ gµν , (3.48)

e pode ser representada por:


Tµν = Λgµν . (3.49)

Este tipo de matéria é chamado de Constante Cosmológica ou energia de vácuo e é diferente


dos outros dois exemplos pois, não temos este tipo de matéria para observar. Logo postular este
tipo de matéria como fonte das equações de Einstein seria um tanto estranho, no entanto, esta
formulação foi feita por Einstein em seu raciocínio original (CARROL, 2003).
O Tensor Momento Energia de um fluido perfeito obedece uma equação que incor-
pora a ideia da conservação da materia energia localmente:

∇µ Tµν = 0. (3.50)

Esta equação leva naturalmente a ideia de conservação da energia pois obedece a equação da
continuidade e a equação de Euler que são as equações básicas que um fluido deve obedecer para
conservar sua energia (CARROL, 2003). Quando não havia fontes de matéria:

Tµν = 0, (3.51)

e a correspondência era
Rµν = 0. (3.52)

E
R = 0, (3.53)

logo
Gµν = 0. (3.54)

Porém, qual a correspondência que geraria as equações corretas para a presença de matéria? Ou
seja,
Tµν 6= 0. (3.55)
38

O que deve-se esperar é que de um lado tenha a curvatura do espaço-tempo e do outro, o Tensor
Momento Energia. Logo, o primeiro pensamento seria escrever esta equação em termos do
Tensor de Ricci, que seria proporcional ao Tensor Momento Energia. Assim,

Rµν = kTµν , (3.56)

onde k é uma constante que posteriormente seria determinada. Porém esta equação não pode
estar certa pois o lado direito obedece a uma lei de conservação enquanto o lado esquerdo não e,
se essa fosse a equação do movimento para a Relatividade Geral, isso implicaria que em alguns
casos o Tensor Momento Energia não seria conservado e a conservação da energia é um princípio
básico que deve ser mantido (CARROL, 2003).
No entanto, uma combinação interessante entre o Tensor de Ricci e o Escalar de
Ricci obedece a conservação, e esta é o Tensor de Einstein:

∇µ Gµν = 0. (3.57)

Ele é o único Tensor construído a partir das derivadas segundas da métrica que tem essa
propriedade. Logo, a equação correta deve ser:

Gµν = kTµν , (3.58)

onde a constante k será determinada com uma analogia a Gravitação Newtoniana, e este foi o
pensamento de Einstein (CARROL, 2003).
Esta equação representa a busca por uma Teoria Gravitacional que generalize a Teoria
Newtoniana. Logo, esta equação deve reproduzir tudo o que está estabelecido na Gravitação
Newtoniana no limite correto. Assim, isto deve levar a (3.1), em que a métrica é aproximadamente
plana e esta equação é a Newtoniana que fornece o potencial gravitacional na presença de matéria,
por exemplo, a poeira. Assim ao analisar a equação relativística na presença de poeira, onde o
Tensor Momento Energia é proporcional a ρ e, ao tomar o traço do Tensor de Einstein, a única
equação não trivial é aquela em que a componente temporal do Tensor de Ricci é porporcional a
densidade de matéria:
1
R00 = kρ. (3.59)
2

E, escrevendo o lado esquerdo desta equação em termos do Tensor de Riemann e dos símbolos
de Christoffel tem-se:
R00 = ∂i Γi00 = δ ji ∂i ∂ j φ = ∇2 φ . (3.60)
39

Logo,
1
∇2 φ = kρ, (3.61)
2

que é idêntica a:
∇2 φ = 4ρ. (3.62)

Assim,
k = 8πG. (3.63)

(LAWDEN, 1982).
Lembrando que está sendo utilizado o sistema de unidades em que c = 1. Então, as
equações do movimento da Teoria da Relatividade Geral na presença de matéria são:

1
Gµν = Rµν − gµν R = 8πGTµν . (3.64)
2

E também, pode ser escrita em termo do traço. Logo, a equação contraída será:
 
1
Rµν = 8πG Tµν − gµν T , (3.65)
2

conhecida como traço invertido das Equações de Einstein (CARROL, 2003).


40

4 UNIVERSO DE FRIEDMANN

Partindo de suas equações de campo, em 1917, Einstein publicou um artigo chamado


"Considerações Cosmológicas relacionadas à Teoria da Relatividade Geral". Nesse artigo
ele dá início a cosmologia relativista utilizando suas equações, para criar o primeiro modelo
cosmológico que seria estático em concordância com o pensamento da época, que não contava
com observações de galáxias de longas distâncias (SOARES, 2012).
Posteriormente ao trabalho de Einstein, seguiram-se os trabalhos de Willem De Sitter
(1872-1934), um matemático, físico e astrônomo holandês e Alexander Friedmann (1888-1925),
um metereologista russo (SOARES, 2012). Enquanto o modelo de Einstein apresentava um
modelo estático de universo, todos os outros apresentavam um modelo em expansão. Friedmann
mostrou em dois artigos, em 1922 e em 1924, que existiam soluções expansionistas com e sem a
Constante Cosmológica (LIMA, 2018). O modelo estático de Einstein mostrou ser instável para
pequenas perturbações do estado de equilíbrio e, posteriormente, Arthur Eddington (1822-1944),
astrônomo inglês, realizou observações que corroboraram a imprecisão do modelo de Einstein
(PIATTELLA, 2018).

4.1 O Princípio Cosmológico

O Princípio Cosmológico diz, que em escalas cosmológicas, o universo tem uma


densidade de matéria e energia uniforme, ou seja, a distribuição de massa é aproximadamente
a mesma em todas as direções, não havendo assim, um local privilegiado no universo onde se
possa dizer que seja o centro do universo (ELLIS ROY MARTEENS, 2012). Este princípio
é postulado de maneira puramente geométrica. Para que a geometria do universo seja a mais
simples possível, diante da máxima simetria, fazendo assim com que o número de quantidades
geométricas necessárias para descrever o modelo sejam o menor possível, pois a homogeneidade
e a isotropia do espaço implicam em invariância das quantidades observáveis por translação e
rotação (LIMA, 2018). Conforme Ellis, Maartens e Maccallum (2012, p. 201), é fantástico que
o modelo de Friedmann forneça uma excelente aproximação para o universo observável apesar
de sua alta simetria, o que nos leva a duas possibilidades:
1. O universo não é homogêneo e estamos em um lugar afastado onde ele se parece esférica-
mente simétrico.
2. O universo é isotrópico para qualquer observador e, consequentemente homogêneo, e
estamos em um local normal do dele em que, ele é o mesmo que seria em qualquer outro
41

local.
A escolha geral é a segunda opção e que se encaixa com o Princípio Copernicano de que não
estamos em um lugar privilegiado no universo.

4.2 Universo Estático de Einstein

O primeiro modelo cosmológico relativístico é considerado por muitos o modelo de


Einstein, que é obtido a partir de suas equações de campo e representam um universo estático.
Einstein sabia através de observações que o universo era preenchido por radiação e matéria e,
não sabendo da existência da radiação cósmica de fundo, acreditava que a radiação era somente
da luz das estrelas.
Einstein também notou que a densidade de energia da luz das estrelas é muito menor
que a densidade de energia das estrelas. Logo, ele concluiu que a densidade de energia era
proveniente de matéria não relativística (RYDEN, 2006). O que tornaria possível a representação
da matéria do universo como um fluido perfeito sem pressão e não tendo evidências de que
o universo se expandia ou se contraía. Evidências que viriam apenas com Hubble em 1929,
aliado aos pensamentos cosmológicos de Newton e Mach (RYDER, 2009). Einstein concluiu
que o universo era estático. Mas, um universo preenchido apenas com matéria não-relativística
poderia ser estático? Segundo Ryden (2006) a resposta é não. Pode-se fazer uma analogia para
responder a esta questão: a equação (3.2), fornece a relação entre a densidade de massa e a
atração gravitacional em qualquer ponto do espaço e o vetor aceleração gravitacional é calculado
tomando o gradiente do potencial:
~φ .
~a = ∇ (4.1)

E, para um universo estático, este vetor deve ser zero em qualquer ponto, o que leva o potencial
a ser constante e, consequentemente, sua derivada ser zero:
1 2
ρ= ∇ φ = 0, (4.2)
4πG
mostrando assim, que a densidade de matéria é zero.
Um universo estático será então um universo vazio. Um universo preenchido com
matéria que é inicialmente estático seria contraído pela força da gravidade e um universo com
matéria que se expande iria continuar a se expandir pela gravidade ou iria atingir um limite
máximo e depois colapsar. Einstein percebe então que, achar uma solução de suas equações que
geram um universo estático seria impossível pois, ele iria colapsar sob sua própria gravidade.
42

Ele resolve seu problema adicionando uma constante chamada de Constante Cosmológica que
serviria para equilibrar a ação atrativa da matéria e, em uma analogia Newtoniana, é representada
por:
∇2 φ + Λ = 4πGρ. (4.3)

(RYDEN, 2006). Essa constante permitiria o universo ser estático se:

Λ = 4πGρ. (4.4)

Logo, a Constante Cosmológica poderia ser interpretada como uma expressão natural de uma
tendência do espaço de ter uma expansão (GRØN, 2018).

4.3 Universo de De Sitter

Em 1917, o astrônomo holandês Willem De Sitter resolveu as equações de Einstein


para o caso de uma Constante Cosmológica diferente de zero, e que representava um universo
vazio. O universo de De Sitter era então estático e sem matéria, o que não passaria de apenas
uma possibilidade teórica, haja vista que, nosso universo é preenchido por matéria. Porém,
tal universo tinha uma característica peculiar: ao introduzir partículas nele elas tenderiam a se
afastar (DELBEM, 2010).
Willem De Sitter mostrou que a luz emitida pelas estrelas distantes tendia a ter um
desvio de seu espectro para o vermelho. Esse desvio era causado pela existência de um campo
gravitacional que agia a distância em consequência de um referencial estático escolhido por De
Sitter.
Em 1922, o físico húngaro Cornelius Lanczos (1893-1974), demonstrou que o
universo de De Sitter, construído em um sistema de coordenadas móveis, implicaria em um
universo vazio que tinha uma expansão acelerada (GRØN, 2018). O universo de De Sitter
mostrou então ser estático apenas quando não havia matéria e um sistema de coordenadas
estático. Este se mostrava diferente do modelo de Einstein por conter movimento sem matéria,
enquanto que, o de Einstein continha matéria mas não movimento (DELBEM, 2010).
Esta característica da matéria tender a se repelir foi interpretada por De Sitter como
uma possível relação com os desvios para o vermelho do espectro da luz. Neste universo, assim
como Slipher obteve desde 2014 estudando as velocidades radiais de nebulosas, e que poderia
ser explicada pela ação da constante cosmológica pois, as partículas no universo de De Sitter
43

eram partículas teste (LIMA, 2018). Logo, a ação de Λ tendia a repelir as partículas com uma
velocidade de afastamento das outras partículas (LIMA, 2018).

4.4 Universo de Friedmann

Alexander Friedmann fundamentou a cosmologia moderna ao obter as soluções das


equações de Einstein, construindo assim, duas equações em 1922, e que viriam a ser chamadas
de Equações de Friedmann. Estas soluções partem do Princípio Cosmológico e consideram a
simplificação do universo por meio das simetrias do Princípio Cosmológico (KRIPLOVICH,
2004). Em larga escala, nosso universo aparenta ser espacialmente homogêneo e isotrópico,
ou seja, tem o mesmo aspecto não importa em qual direção se olha. Então, em larga escala
podemos aproximar a métrica de nosso universo de forma que ela tenha uma parte temporal
e uma parte espacial acompanhada de um fator de escala temporal, haja vista que, o nosso
universo não teve sempre o mesmo aspecto temporal e, como a homogeneidade e isotropia
espacial implicam simetrias de translação e rotação, isso faz com que, toda a parte espacial da
métrica seja fixa, ou seja, a dependência espacial seria sempre a mesma em qualquer instante de
tempo no passado. Porém, devido a expansão do universo que já tinha sido prevista no modelo
de De Sitter, implica que o universo mudou de densidade de matéria e energia ao longo do tempo.
Então, para representar esse fenômeno precisamos de um fator de escala que depende do tempo
na parte espacial da métrica. Logo a métrica será:

ds2 = −dt 2 + a2 (t)dσk , (4.5)

onde dσk representa a parte espacial da métrica e k é o índice que representa as possibilidades
dos espaços. Há 3 possibilidades de espaços que são maximamente simétricos e, cada um deles
tem uma curvatura diferente. Há um modelo em que a curvatura k é nula, logo, k = 0, e este
modelo é um espaço plano. Outro em que a curvatura é positiva, logo, k = +1, e este modelo é um
espaço esférico. Por fim, o último tem uma curvatura negativa, logo, k = -1, e este é um espaço
hiperbólico. É conveniente representar um espaço de curvatura positiva por uma hiperesfera e
espaços de curvatura negativas por hiperbolóides. Discute-se primeiramente o modelo com a
curvatura nula, ou seja, um modelo de espaço plano (CARROL, 2003).
Para o espaço plano, a curvatura é k = 0. Logo, tem-se o espaço Euclidiano plano
tridimensional R3 onde a métrica é representada da seguinte forma:

dσk2 = dx2 . (4.6)


44

Para o espaço hiperbólico, a curvatura k = +1. Logo, tem-se o espaço esférico tridimensional S3
onde a métrica é representada da seguinte forma:

dσk2 = dθ 2 + sin2 (θ ) dφ 2 + sin2 (φ )dψ 2 .



(4.7)

E, fazendo uma mudança de variável para economizar a notação tem-se:

dφ 2 + sin2 (φ )dψ 2 = dΩ2 . (4.8)

Logo,
dσk2 = dθ 2 + sin2 dΩ2 . (4.9)

Para k = -1, tem-se o espaço hiperbólico tridimensional H3 , onde a métrica é


representada da seguinte forma:

dσk2 = dθ 2 + sinh2 dΩ2 . (4.10)

Por conveniência, estes mesmos elementos de linha podem ser escritos em termos de
outra coordenada (r) com a finalidade de generalizá-los. Então, tem-se, para o caso esférico:

r = sin(θ ), r2 = sin2 (θ ), dr = cos(θ )dθ . (4.11)

e,

2 dr2 2 dr2
dθ = ∴ dθ = . (4.12)
cos2 (θ ) 1 − r2

Então, o elemento de linha é da forma:


dr2
dσ12 = + r2 dΩ2 . (4.13)
1 − r2
Para o caso hiperbólico:

r = sinh(θ ), r2 = sinh2 (θ ), dr = cosh(θ )dθ . (4.14)

Logo,
dr2 dr2
dθ 2 = ∴ dθ 2
= . (4.15)
cosh2 (θ ) 1 + r2

Então, o elemento de linha é da forma:

2 dr2
dσ−1 = + r2 dΩ2 . (4.16)
1 + r2
45

E, para o caso plano:


dσ02 = dr2 + r2 dΩ2 , (4.17)

que representa o modelo plano em coordenadas polares.


Desta forma, pode-se escrever todos os 3 casos de uma forma mais geral como
abaixo:
dr2
dσk2 = + r2 dΩ2 . (4.18)
1 − k2

(HUGHSTON, 1990).
Substituindo a equação (4.18) na métrica do espaço-tempo, tem-se que, a isotropia e
a homogeneidade implicam a métrica ser desta forma:

dr2
 
2 2 2 2 2
ds = −dt + a (t) + r dΩ . (4.19)
1 − kr2

Essa é a chamada métrica de Friedmann (KRIPLOVICH, 2004).


Apesar de matematicamente, a métrica ser semelhante para os casos em que:

k = ±1, (4.20)

fisicamente eles são bem diferentes, pois para o caso em que a curvatura é positiva o modelo
representa esferas que são superfícies com fronteira ou seja, elas tem espaço finito e por isso,
chama-se esse modelo de modelo de universo fechado desse modo, se o universo fosse fechado
você poderia olhar longe o suficiente e então veria suas costas (KRAUSS, 1990).
Para o caso em que a curvatura é negativa, o modelo representa hiperbolóides que
são superfícies que não tem fronteira bem definida. São superfícies abertas, e se, analisarmos
as funções hiperbólicas, veremos que elas podem assumir valores infinitos onde dθ varia de 0
a ∞ e r varia de 0 a ∞ logo o espaço será infinito e por isso chama-se esse modelo de modelo
de universo aberto. Para o caso em que a curvatura é nula, o modelo representa um universo
plano e também representa um universo infinito pois, indica um plano e assim caracterizaria um
universo aberto mas, para diferenciar do modelo de curvatura negativa, chamamos esse modelo
de modelo de universo plano (CARROL, 2003).
Essa métrica descreve nosso universo em larga escala, para distâncias muito grandes
e, para determinar o fator de escala a(t) precisa-se desenvolver as equações de movimento, e
para isso utiliza-se as Equações de Einstein. Partindo da Métrica de Friedmann e, utilizando
esta nas Equações de Einstein, tem-se duas equações do movimento, as chamadas Equações de
46

Friedmann. Para isso é preciso saber o conteúdo de matéria existente no universo, haja vista que,
está-se analisando o universo a distâncias muito maiores que o sistema solar, uma galáxia ou
clusters (conjunto de galáxias). O universo pode ser representado por um fluido perfeito e toda a
matérica contida no universo pode ser tratada como poeira, radiação, energia de vácuo e também
uma contribuição da Constante Cosmológica.
Diante disto, primeiro escreve-se o tensor métrico:
 
1 0 0 0
 
 −a2 (t) 
0 0 0 
 1 − kr2
gµν =  . (4.21)

0

0 2
−a (t)r 2 0


 
0 0 0 −a2 (t)r2 sin2 (θ )

Posteriormente a isto, calcula-se os Símbolos de Christoffel. Para os diferentes de


zero, tem-se:
1 aȧ
Γ011 = g00 (∂1 g10 + ∂1 g10 − ∂0 g11 ) = . (4.22)
2 1 − kr2

1
Γ022 = g00 (∂2 g20 + ∂2 g20 − ∂0 g22 ) = aȧr2 . (4.23)
2

1
Γ033 = g00 (∂3 g30 + ∂3 g30 − ∂0 g33 ) = aȧr2 sin2 (θ ). (4.24)
2

1 ȧ
Γ101 = g11 (∂1 g01 + ∂0 g11 − ∂1 g10 ) = . (4.25)
2 a

1 kr
Γ111 = g11 (∂1 g11 + ∂1 g11 − ∂1 g11 ) = . (4.26)
2 1 − kr2

1
Γ122 = g11 (∂2 g21 + ∂2 g21 − ∂1 g22 ) = −r(1 − kr2 ). (4.27)
2

1
Γ133 = g11 (∂3 g31 + ∂3 g31 − ∂1 g33 ) = −r(1 − kr2 ) sin2 (θ ). (4.28)
2
47

1 ȧ
Γ202 = g22 (∂2 g02 + ∂0 g22 − ∂2 g20 ) = . (4.29)
2 a

1 1
Γ212 = g22 (∂2 g12 + ∂1 g22 − ∂2 g21 ) = . (4.30)
2 r

1
Γ233 = g22 (∂3 g32 + ∂3 g32 − ∂2 g33 ) = − sin(θ ) cos(θ ). (4.31)
2

1 ȧ
Γ303 = g33 (∂3 g03 + ∂0 g33 − ∂3 g30 ) = . (4.32)
2 a

1 1
Γ313 = g33 (∂3 g13 + ∂1 g33 − ∂3 g31 ) = . (4.33)
2 r

1
Γ323 = g33 (∂3 g32 + ∂2 g33 − ∂3 g32 ) = cot(θ ). (4.34)
2

Pela simetria dos Símbolos de Christoffel, tem-se:

Γ101 = Γ110 , Γ202 = Γ220 , Γ303 = Γ330 , Γ212 = Γ221 , Γ313 = Γ331 , Γ323 = Γ332 . (4.35)

Já calculados os Símbolos de Christoffel, agora é necessário calcular os Tensores de


Ricci sendo o primeiro, a parte temporal e os outros três a parte espacial. Assim,

ρ ρ ρ ρ
R00 = ∂ρ Γ00 − ∂0 Γ0ρ + Γσ00 Γσ ρ − Γσ0ρ Γσ 0 . (4.36)

Para os valores de σ e ρ variando de 0 a 3, tem-se:

para ρ = 0 , tem-se:

R00 = −Γσ00 Γ0σ 0 + Γσ00 Γ0σ 0 . (4.37)

para ρ = 1, tem-se:
R00 = −∂0 Γ101 − Γσ01 Γ1σ 0 + Γσ00 Γ1σ 1 . (4.38)
48

para ρ = 2 , tem-se:
R00 = −∂0 Γ202 − Γσ02 Γ2σ 0 + Γσ00 Γ2σ 2 . (4.39)

para ρ = 3 , tem-se:
R00 = −∂0 Γ303 − Γσ03 Γ3σ 0 + Γσ00 Γ3σ 3 . (4.40)

para σ = 0, tem-se:
R00 = 0. (4.41)

para σ = 1 , tem-se:
R00 = −Γ101 Γ110 . (4.42)

para σ = 2 , tem-se:
R00 = −Γ202 Γ220 . (4.43)

para σ = 3 , tem-se:
R00 = −Γ303 Γ330 . (4.44)

Somando os valores de ρ e σ que produzem Símbolos de Christoffel diferentes de


zero, tem-se:

R00 = −Γσ00 Γ0σ 0 + Γσ00 Γ0σ 0 − ∂0 Γ101 − Γσ01 Γ1σ 0 + Γσ00 Γ1σ 1 − ∂0 Γ202 − Γσ02 Γ2σ 0 + (4.45)

+Γσ00 Γ2σ 2 − ∂0 Γ303 − Γσ03 Γ3σ 0 + Γσ00 Γ3σ 3 − Γ101 Γ110 − Γ202 Γ220 − Γ303 Γ330 .

 2  2  2  2
äa − ȧ2
 
ȧ ȧ ä ȧ ȧ ä
R00 = −3∂t − 3 = −3 = −3 + 3 − 3 = −3 . (4.46)
a a a2 a a a a

para R11 , tem-se:

ρ ρ ρ ρ
R11 = ∂ρ Γ11 − ∂1 Γ1ρ + Γσ11 Γσ ρ − Γσ1ρ Γσ 1 .

para os valores de σ e ρ variando de 0 a 3, tem-se:


49

para ρ = 0 , tem-se:

R11 = ∂0 Γ011 − Γσ10 Γ0σ 1 . (4.47)

para ρ = 1 , tem-se:
R11 = ∂1 Γ111 − ∂1 Γ111 − Γσ11 Γ1σ 1 + Γσ11 Γ1σ 1 . (4.48)

para ρ = 2 , tem-se:
R11 = −∂1 Γ212 + Γσ11 Γ2σ 2 − Γσ12 Γ2σ 1 . (4.49)

para ρ = 3 , tem-se:
R11 = −∂1 Γ313 + Γσ11 Γ3σ 3 + Γσ13 Γ3σ 1 . (4.50)

para σ = 0 , tem-se:
R11 = Γ011 Γ202 + Γ011 Γ303 . (4.51)

para σ = 1 , tem-se:
R11 = −Γ110 Γ011 + Γ111 Γ212 + Γ111 Γ313 . (4.52)

para σ = 2 , tem-se:
R11 = −Γ212 Γ221 . (4.53)

para σ = 3 , tem-se:
R11 = −Γ313 Γ331 . (4.54)

Somando os valores de ρ e σ que produzem Símbolos de Christoffel diferentes de


zero, tem-se:

R11 = ∂0 Γ011 −∂1 Γ212 −∂1 Γ313 +Γ011 Γ202 +Γ011 Γ303 −Γ110 Γ011 +Γ111 Γ212 +Γ111 Γ313 − −Γ212 Γ221 −Γ313 Γ331 .
(4.55)
50

aȧ 1 1 aȧ ȧ aȧ ȧ aȧ ȧ kr 1


R11 = ∂t 2
− ∂r − ∂r + + − + + (4.56)
1 − kr r r 1 − kr a 1 − kr a 1 − kr a 1 − kr2 r
2 2 2
 2  2
kr 1 1 1
+ − − .
1 − kr2 r r r

 2
aȧ 1 aȧ 2k 1
R11 = ∂t 2
− 2∂r + 2
+ 2
−2 . (4.57)
1 − kr r 1 − kr 1 − kr r

   
aä 1 1 aȧ 2k
R11 = 2
+2 2 −2 2 + 2
+ . (4.58)
1 − kr r r 1 − kr 1 − kr2

aä + 2ȧ2 + 2k
   
aä 1 1 aȧ 2k
R11 = + 2 − 2 + + = . (4.59)
1 − kr2 r2 r2 1 − kr2 1 − kr2 1 − kr2

para R22 , tem-se:

ρ ρ ρ ρ
R22 = ∂ρ Γ22 − ∂2 Γ2ρ + Γσ22 Γσ ρ − Γσ2ρ Γσ 2 . (4.60)

para os valores de σ e ρ variando de 0 a 3, tem-se:

para ρ = 0 , tem-se:

R22 = ∂0 Γ022 − Γσ20 Γ0σ 2 . (4.61)

para ρ = 1 , tem-se:
R22 = ∂1 Γ122 + Γσ22 Γ1σ 1 − Γσ21 Γ1σ 2 . (4.62)

para ρ = 2 , tem-se:
ρ ρ
R22 = +Γσ22 Γσ ρ − Γσ2ρ Γσ 2 . (4.63)

para ρ = 3 , tem-se:
R22 = −∂2 Γ323 + Γσ22 Γ3σ 3 − Γσ23 Γ3σ 2 . (4.64)

para σ = 0 tem-se:
R22 = +Γ022 Γ101 + Γ022 Γ303 . (4.65)
51

para σ = 1 , tem-se:
R22 = +Γ122 Γ101 + Γ122 Γ313 . (4.66)

para σ = 2 , tem-se:
R22 = −Γ220 Γ022 − Γ221 Γ122 . (4.67)

para σ = 3 , tem-se:
R22 = −Γ323 Γ332 . (4.68)

Somando os valores de ρ e σ que produzem Símbolos de Christoffel diferentes de


zero, tem-se:

R22 = ∂0 Γ022 +∂1 Γ122 −∂2 Γ323 +Γ022 Γ101 +Γ022 Γ303 −Γ122 Γ111 +Γ122 Γ313 + +Γ220 Γ022 −Γ221 Γ122 −Γ323 Γ332 .
(4.69)

ȧ ȧ kr
R22 = ∂t (aȧr2 ) + ∂r (−r)(1 − kr2 − ∂θ (cot(θ )) + aȧr2 + aȧr2 − r(1 − kr2 ) −
a a 1 − kr2
(4.70)
1 ȧ 1
−r(1 − kr2 ) − aȧr2 + r(1 − kr2 ) − cot2 (θ ).
r a r

R22 = r2 (aä + a2 ) + 3kr2 − 1 + csc2 (θ ) + ȧ2 r2 − kr2 − cot2 (θ ). (4.71)

R22 = r2 (aä + 2a2 + 2k) − 1 + csc2 (θ ) − cot2 (θ ) = r2 (aä + 2a2 + 2k). (4.72)

para R33 tem-se:

ρ ρ ρ ρ
R33 = ∂ρ Γ33 − ∂3 Γ3ρ + Γσ33 Γσ ρ − Γσ3ρ Γσ 3 . (4.73)

para os valores de σ e ρ variando de 0 a 3 tem-se:

para ρ = 0 tem-se:
52

R33 = ∂0 Γ033 − Γσ30 Γ0σ 3 . (4.74)

para ρ = 1 tem-se:
R33 = ∂1 Γ133 + Γσ33 Γ1σ 1 − Γσ31 Γ1σ 3 . (4.75)

para ρ = 2 tem-se:
R33 = ∂2 Γ233 + Γσ33 Γ2σ 2 − Γσ32 Γ2σ 3 . (4.76)

para ρ = 3 tem-se:
R33 = +Γσ33 Γ3σ 3 − Γσ33 Γ3σ 3 . (4.77)

para σ = 0 tem-se:
R33 = +Γ033 Γ101 + Γ033 Γ202 . (4.78)

para σ = 1 tem-se:
R33 = +Γ133 Γ111 + Γ133 Γ212 . (4.79)

para σ = 2 tem-se:
R33 = 0 (4.80)

para σ = 3 tem-se:

R33 = −Γ330 Γ033 − Γ331 Γ133 − Γ332 Γ233 . (4.81)

Somando os valores de ρ e σ que produzem Símbolos de Christoffel diferentes de


zero tem-se:

R33 = ∂0 Γ033 +∂1 Γ133 +Γ033 Γ101 +Γ033 Γ202 +Γ133 Γ111 +Γ133 Γ212 −Γ330 Γ033 −Γ331 Γ133 −Γ332 Γ233 . (4.82)

ȧ ȧ
R33 = ∂t (aȧr2 sin2 (θ )) + ∂r (−r(1 − kr2 ) sin2 (θ )) + aȧr2 sin2 (θ ) + aȧr2 sin2 (θ ) −
a a
kr 1 ȧ 1
−r(1 − kr2 ) sin2 (θ ) − −r(1 − kr2 ) sin2 (θ ) − aȧr2 sin2 (θ ) + r(1 − kr2 ) sin2 (θ )+
1 − kr2 r a r
+ cot(θ ) sin(θ ) cos(θ ).
53

R33 = r2 sin2 (θ )[aä + ȧ2 ] − sin2 (θ )[1 − 3kr2 ] + sin2 (θ ) − cos2 (θ ) + ȧr2 sin2 (θ ) − sin2 (θ )kr2 + cos2 (θ ).
(4.83)

R33 = r2 sin2 (θ )[aä + ȧ2 ] + sin2 (θ )2kr2 + ȧr2 sin2 (θ ) = [aä + 2ȧ2 + 2k]r2 sin2 (θ ). (4.84)


 
−3 0 0 0
 a 

 0 aä + 2ȧ2 + 2k 
0 0 
Rµν = 1 − kr2 . (4.85)
 
r2 (aä + 2a2 + 2k)
 
 0 0 0 
 
2 2 2
0 0 0 [aä + 2ȧ + 2k]r sin (θ )

Já calculados os Tensores de Ricci, agora é necessário calcular o escalar de Ricci.


Assim,
R = Rµν gµν = R00 g00 + R11 g11 + R22 g22 + R33 g33 . (4.86)

ä ȧ2
 
k
R=6 + + . (4.87)
a a2 a2

Agora basta substituir a componente temporal do Tensor de Ricci e o escalar de


Ricci no Tensor de Einstein para obter a primeira equação de Friedmann:

 2 
1 ä ä ȧ k
G00 = R00 − Rg00 = −3 + 3 + 3 2 + 2 . (4.88)
2 a a a a

Logo,
ȧ2 + k
 
G00 = 3 . (4.89)
a2

(DALARSSON, 2005). E como o Tensor Momento Energia de um fluido perfeito é da forma


mostrada na equação (3.37), ao substituí-lo na equação de Einstein e, utilizando a primeira
componente da equação, tem-se a primeira equação de Friedmann:

ȧ2 + k2
 
G00 = 8πGT00 + = 3 = 8πGρ. (4.90)
a2
54

A segunda equação de Friedmann pode ser obtida através do traço invertido das
equações de Einstein (CARROL, 2003):
 
1
Rµν = 8πG Tµν − gµν T . (4.91)
2
e a componente zero dará a segunda equação de Friedmann:

 
ä 1
−3 = 8πG ρ − (ρ − 3p) . (4.92)
a 2

que depois de uma simplificação, tem-se:


ä 4πG
=− (ρ + 3p) . (4.93)
a 3
(WEINBERG, 1972).
Tem-se então, as duas equações de Friedmann que nos dizem como o universo se
expande em um determinado tempo cósmico t:

ȧ2 + k2
 
3 = 8πGρ. (4.94)
a2

ä 4πG
=− (ρ + 3p) . (4.95)
a 3

Essas equações dizem como o fator de escala a(t) evolui com o tempo. Ele tem uma
dependência de k, que é a constante de curvatura mas também, tem uma dependência de P e ρ,
que devem ser funções do tempo e, o motivo para P e ρ serem funções do tempo é a conservação
da energia. Se tivéssemos apenas poeira sem pressão, pela conservação da energia, a poeira
iria se espalhar e a densidade de energia do universo diminuiria. Então, usando a conservação
da energia descobriremos como P e ρ evoluem com o tempo. A derivada covariante do Tensor
Momento Energia é zero:
∇µ T µν = 0. (4.96)

Logo, isso permite determinar como a pressão e a energia evoluem com o tempo. A derivada
covariante do Tensor Momento Energia ser zero, significa que o tensor é conservado e que há
uma conservação local da energia e, analisando as componentes temporais do tensor, tem-se:

µ ȧ ρ̇ ȧ
∇µ T0 = −ρ̇ − 3 (P + ρ) ∴ = −3 . (4.97)
a P+ρ a
55

Isso diz como ρ̇ evolui com o tempo e, se sabendo a, ȧ sabe-se a forma de ρ̇ e, para resolver
essa equação, assume-se que a matéria obedece algum tipo de equação de estado e, como a
maioria dos fluidos que conhecemos obedecem a esta equação, assume-se que a pressão é igual a
densidade de energia multiplicada por uma constante do tipo:

P = wρ, (4.98)

é uma boa escolha e assim, pode-se resolver a equação. Inserindo esse termo na equação, tem-se:

ρ̇ 1 ȧ
= −3 , (4.99)
ρ 1+w a

onde w é o parâmetro da equação de estado, logo a equação se torna:

ρ = ρ0 a−3(1+w) . (4.100)

Então, se há uma equação de estado com parâmetro w pode-se adicionar este termo no lado
direito das equações de Friedmann para obter a dependência temporal de a(t). Assim, essa
equação diz como a matéria evolui ao longo do tempo e para diferentes tipos de matéria, tem-se
diferentes tipos de evolução. Vejamos alguns casos:
1. Para o caso em que há apenas poeira e não pressão tem-se:

w = 0. (4.101)

Logo:
ρ = ρ0 a−3 . (4.102)

2. Para o caso em que há radiação, tem-se:


1
w= . (4.103)
3
Logo:
ρ = ρa−1 . (4.104)

3. Para o caso em que há a energia do vácuo, tem-se:

w = −1. (4.105)

Logo:
ρ = ρ0 . (4.106)
56

4. Para o caso em que há a Constante Cosmológica que atua como um tipo de matéria,
balanceando a atração gravitacional, tem-se:

ρ ≈ ρ0 a−2 . (4.107)

(CARROL, 2003).
Portanto, as equações de Friedmann podem representar o comportamento de uni-
versos com diferentes tipos de matérias ao longo do tempo para qualquer instante de tempo t,
utilizando seu fator de escala a(t).
57

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Equações de Einstein descrevem a relação entre a geometria do Universo e o que


há nele, mostrando assim o que modifica a sua geometria e como a matéria que está contida no
universo irá se mover. Ao utilizar a Teoria da Relatividade Geral ao estudo do universo, pode-se
chegar a modelos de universos como fizeram Einstein e Friedmann. As equações de Einstein
preveem um universo em expansão onde seria apenas um universo estático se não tivesse matéria,
e que, mesmo sem matéria, não seria um universo estável. Logo, o universo seria capaz de se
expandir e, dependendo de sua geometria, teríamos comportamentos diferentes para o futuro do
universo e sua respectiva expansão.
As observações realizadas corroboram a um modelo de universo que se baseia no
Princípio de Copérnico, o chamado Princípio Cosmológico, onde vivemos em um universo
igualmente espaçado e distribuído sendo assim, isotrópico e homogêneo e, as Equações de
Einstein aplicadas a esse modelo de universo, preveem 3 (três) cenários possíveis para o universo:
universo aberto, universo fechado e universo plano. Que são representadas pelas Equações de
Friedmann, onde a segunda equação nos diz a taxa com a qual o universo se expande ao longo
do tempo.
Assim, este estudo teve como inquietação saber: Como se deu a formulação da
Cosmologia nos anos de 1917 a 1924? Buscando responder este questionamento foi elencado
como objetivo principal conhecer o processo histórico e matemático envolto nos modelos
cosmológicos dos anos de 1917 a 1924. Para nortear, definiu-se então, três objetivos específicos.
O primeiro objetivo específico foi definir as ferramentas matemáticas fundamentais
para entender a formulação de alguns modelos cosmológicos. Para atingir este primeiro objetivo
foi feito uma revisão de literatura a respeito do Cálculo Tensorial, aprofundando específicamente
a respeito dos Tensores de Riemann, Ricci e Einstein. Percebe-se através do estudo dos tensores,
que é inevitável a utilização da linguagem tensorial para a compreensão de alguns modelos
cosmológicos, como por exemplo, o Universo Estático de Einstein, o Universo de De Sitter e o
Universo de Friedmann.
O segundo objetivo específico foi discutir a relação da Teoria da Relatividade Geral
com os modelos cosmológicos. Para isso, através de estudos teóricos construiu-se as Equações
de Campo de Einstein de maneira simplificada. Notou-se a relação entre a matéria energia e a
geometria de um universo.
Por fim, o terceiro objetivo foi conhecer o universo de Friedmann. Para atingir
58

este objetivo utilizou-se o Princípio Cosmológico em conjunto com as equações de Campo de


Einstein. Notou-se através da inserção do Princípio Cosmológico nas equações de Campo de
Einstein, a representação de um universo com matéria e com expansão.
Pode-se concluir, de modo geral, que este estudo destacou com clareza e didática a
respeito da matemática envolta aos processos de construção do cálculo tensorial e das equações
de Campo de Einstein que, consequentemente, serviu de base para uma melhor compreensão dos
modelos cosmológicos, em específico o Universo de Friedmann.
Durante o percurso de desenvolvimento, houveram alguns obstáculos. Dentre eles,
pode-se destacar a escassez de material, o que dificultou a construção do presente trabalho.
Também, foi enfrentada a ineficiência didática por parte dos autores com relação a exatidão
metodológica do tema. A busca pela clareza em cada etapa da construção da cosmologia nos
anos de 1917 a 1924 foi solucionada com uma extensa revisão bibliográfica.
Com isso, espera-se a progressão do tema em uma futura pesquisa a nível de mestrado.
Também, que este estudo possa contribuir com outras investigações futuras a respeito do estudo
da cosmologia, proporcionando uma clareza sobre a temática.
59

REFERÊNCIAS

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