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UESC - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

Licenciatura em Geografia – Semestre 2021.2


Professor Paulo Rodrigues dos Santos
HPG - História da Educação Brasileira

Discentes: Luiz Eduardo Giasson e Wilkley Sebastião dos Santos e Silva


Data: 06/09/2021

RESENHA do filme “Quilombo”, Carlos Diegues, 1984

O filme Quilombo retrata como era a vida no Quilombo de Palmares numa época cercada de
dificuldades devido ao enfrentamento da opressão portuguesa. A luta dos quilombos era pela
dignidade da liberdade e igualdade contra o sistema europeu que empunhava a escravidão
para milhares de africanos sequestrados para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar.

É uma produção do cinema nacional da década de 80. Ponto alto para a trilha sonora belíssima
de Gilberto Gil.

O longa se inicia com um escravo sendo torturado até a morte. Em cena, a escrava-criada ao
lado da sinhá, chora ao ver o ocorrido, e em paralelo a senhora apenas se esbraveja para o fato
de ter perdido uma mão-de-obra. Vemos aqui que desde o início como é tratado as pessoas
escravizadas, em potente desprestigio da vida e desvalorização do ser negro.

Logo depois aparece um grupo de escravos que trabalhavam na lavoura e que decidem se
rebelar e fugir. Atacam o senhor do engenho e seus capangas, roubam suas armas e partem
para o Quilombo dos Palmares em busca de liberdade. No meio do caminho nasce o pequeno
Zumbi.

Na jornada da fuga, na conversa entre eles, uns dizem ir ao Palmares ou outros falam em
tentar voltar para a África, voltar para casa. “África tá longe. Eu nasci aqui, vou para Palmares”,
diz um. Posteriormente saberemos que um destes que vai atrás do Quilombo é Ganga Zumba.

Numa outra cena, Ganga Zumba na sua fuga encontra um homem branco contando uma
história a seus filhos mestiços. Lá eles buscam abrigo e escutam ao longe os tambores de
Palmares enquanto Ganga Zumba propõe ao homem uma relação comercial. A cena parece ser
criada a ideia de autonomia econômica do Quilombo, a miscigenação extrema da população, e
da postura conciliadora de Ganga Zumba, revelando algumas relações sociais presentes.

A chegada dele era esperada em Palmares, pela líder anciã.

Uma cena que me chamou atenção, foi um avô do Quilombo contato histórias as crianças,
entende-se o a tradição oral sendo passada adiante. Há fartura de alimentos, há paz, há
música, dança: o início da capoeira. O Brasil parece ser bem experimentado em liberdade.

Posteriormente, há uma investida dos Portugueses, e neste momento, um menino é


sequestrado. Ele vai estudar no seminário. Vira Francisco, vai ser “educado” no método
jesuíta: os primeiros “professores do Brasil”.
Percebe-se então a presença da igreja. Em determinada cena, já adulto, Zumbi catequizado,
vive como coroinha. Um negro moribundo, pede para o padre não rezar mais por sua alma em
latim, pois ele precisava escutar sua língua ancestral. Segundo ele o latim havia o servido
durante a vida, mas só sua língua natal seria necessária na sua morte. Ilustrando no diálogo
uma ideia de valorização do lugar mítico e religioso afro-brasileiro, e invertendo a posição
oficial da cultura católica.

Palmares faz investidas contra as cidadelas. Zumbi encontra o Padre, e devolve a espada que
tinha levado na sua fuga. O Padre fala que ele tinha esquecido a cruz, Zumbi fala que não.
Havia deixado de propósito. A mensagem que me fica: nunca foi dominado pela igreja.

As referências a fatos históricos da trajetória brasileira são constantes no filme, junto a uma
abordagem mítica e ancestral com grande abordagem, em que uma cultura africanizada é
valorizada como identidade do negro brasileiro. Como os costumes da época, as roupas, as
armas, as festas, as autoridades espirituais cultuadas, etc.

O filme tem a preocupação de mostrar os três últimos "governos" de Palmares: Acotirene,


Ganga Zumba e Zumbi. O primeiro desses momentos seria o reinado de Acotirene, a chefe até
então do Quilombo. O segundo seria o reinado de Ganga Zumba, que traria o progresso e
estabilidade para a comunidade, mas que também atiça o poderio branco. O terceiro e último,
Zumbi, de personalidade guerreira e rebelde. Que seria, por sua vez, o início de outra parte,
que não está no filme, mas que chega até os dias de hoje no imaginário de uma Palmares
como símbolo de cultura negra.

O Quilombo dos Palmares ganha força, potência suficiente para poder atacar a capital: Recife.
Não o faz para não querer repetir o mesmo modus operandi dos Europeus: a violência e morte.

São duas décadas de resistência. Em uma última investida, Palmares é derrotada.

O fim do filme, apesar de mostrar a morte, não a representa como o fim; em uma ideia
mística, os orixás e os espíritos dos mortos permitiriam que a ideia de Palmares nunca
morresse. Ou seja, a ideia de liberdade e resistência, que idealiza essa comunidade
quilombola, estaria viva na cultura negra.

Historicamente se sabe que o Quilombo dos Palmares existiu entre 1630 a 1895 na serra da
barriga, no atual Estado de Alagoas, e possuiu milhares de africanos e negros nascidos do
Brasil que haviam sido escravizados em diversas fazendas.

Passados mais de trinta anos este é uma obra essencial para a formação do conhecimento,
pensando desde o primeiro momento expressado, e percebendo as relações de poder
existentes, até a importância do dia 20 de novembro, data dada a comemoração da
consciência negra.

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