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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

CURSO DE PEDAGOGIA

DISCIPLINA ESTÁGIO 2 – PROFª POLLYANNA ROSA

ACADÊMICA: ANDRESA C. S. MORENO – TURMA A01

DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

O trabalho docente comprometido com a educação para as relações


étnico-raciais e pra a valorização da diversidade.

Educar é um ato permanentemente difundido em todas as esferas das


sociedades humanas. O tempo todo educamos ou somos educados de acordo
com os ambientes educativos, organizados ou não, em que estamos inseridos
no nosso cotidiano. A escola pode ser, no imaginário social, aquela que mais
representa a educação, mas também na intimidade de nossa casa, nas
comunidades, igrejas, associações diversas, no contato diário uns com os
outros, nas instituições e nos diferentes espaços da sociedade também
podemos observar a educação acontecendo.

No entanto, na escola ela é carregada de intencionalidade, de


fundamentação teórica e metodológica, de organização e planejamento e,
sobretudo, de uma visão sobre o mundo, o ser humano, a sociedade e a
infância. Isso é o que guia a ação da escola, de acordo com seus valores e
conceitos sobre o tipo de ser humano e de sociedade que almeja, ela orientará
as bases teóricas e as metodologias mais adequadas à esta ação. A práxis - o
entrelaçamento de teoria e prática - na educação, é fundamental para que
sigamos caminhando e aprendendo em toda nossa complexidade, ampliando
nossos conhecimentos, percepções, avaliando e transformando sempre que
necessário.

As concepções teóricas que orientam o trabalho da Educação Infantil no


Brasil, em Goiás e no município de Goiânia, apontam para uma concepção de
sujeito como ser ativo na construção de seu aprendizado e conhecimento,
valoriza seus saberes prévios adquiridos nas várias instâncias da vida, assim
como o aprendizado significativo, interligado com a realidade dos aprendizes e
comprometido com a formação do pensamento crítico e autônomo. Essas
concepções também estão alinhadas com a perspectiva interacionista por
reconhecer o caráter coletivo da aprendizagem e do conhecimento, da
importância da relação aluno-professor tal qual a relação aluno-aluno. Portanto,
o lugar do docente neste processo é de mediador entre o sujeito e o
conhecimento. Busca-se construir e solidificar a noção de que o professor não
tem nenhuma posse sobre o conhecimento, pois assim como nós estamos em
movimento ele também está em contínua transformação. O conhecimento é
vivo. Acima de tudo o docente deve ter a consciência que a tendência de
fragmentar não necessariamente favorece o aprendizado pois está
desconectada da própria qualidade da mente humana que é a capacidade não
apenas de distinguir, mas também de unir as coisas em um só complexo.

Segundo Libâneo (2002), ser professor significa ocupar um lugar de sujeito


ao mesmo tempo prático e reflexivo, capaz de investigar sua prática educativa
e deliberar sobre ela, do mesmo modo que deve ser capaz de investigar a si
mesmo e de se manter em aprendizado contínuo assim como seus alunos. O
professor da Educação Infantil deve estar atento para trazer experiências que
realmente ampliem os conhecimentos das crianças em todos os sentidos, com
conteúdos significativos que dialoguem com suas realidades e com as novas
situações de aprendizagem trazidas pelo cotidiano escolar, pelas novas
gerações, pela diversidade presente na escola.

A Educação Infantil é um campo de atuação cujo principal objetivo é


promover, em parceria com as famílias, o desenvolvimento integral da criança.
Corresponde à primeira etapa da educação básica e oferece cuidado e
educação para crianças de 0 a 5 anos. De acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), a criança deve ser
considerada como sujeito histórico e de direitos, que constrói sua identidade
em todas as suas vivências e relações humanas, dotada de ludicidade,
fantasia, curiosidade, desejos e que produz cultura.
O documento Infâncias e Crianças em Cena (2014), que desenha uma
política de Educação Infantil para a rede municipal de Goiânia, afirma-se na
Pedagogia da Infância, esta por sua vez fundamentada na Teoria Histórico-
Cultural e que considera os diferentes campos teóricos para a compreensão
sobre o que significa ser criança. De acordo com o texto do documento:

A Pedagogia da Infância tem como objeto de estudo a criança em


si mesma e em seus processos relacionais, ou seja, toma como ponto
de partida o reconhecimento das crianças a partir de seus modos
socialmente constituídos de pensar, agir, expressar, participar, se
colocar no mundo e, além disso, reconhece a infância como tempo
social da vida situado em contextos sociais e históricos. Enquanto ação
educativa e pedagógica, procura romper com a lógica da escolarização
tradicional e avança no sentido de entender o espaço educativo como
“espaço-tempo” em que diferentes sujeitos interagem possibilitando a
aprendizagem, o desenvolvimento e a formação humana. (GOIÂNIA,
2014, p. 12)

Isto posto, o currículo na Educação Infantil precisa, de acordo com o


DCNEI: “articular as experiências e os saberes das crianças com os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
científico e tecnológico” (BRASIL, 2010, p. 12). Bem como as propostas
pedagógicas deste campo devem respeitar os princípios: éticos como
autonomia, responsabilidade, solidariedade, respeito ao bem comum, ao meio
ambiente e às diferentes culturas; políticos como os direitos de cidadania,
exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática; e estéticos da
sensibilidade, criatividade, ludicidade e liberdade de expressão nas
manifestações artísticas e culturais.

Por isso os eixos curriculares que sustentam este trabalho, têm a criança
e as infâncias como centro e foram organizados respeitando os direitos de
aprendizagens e desenvolvimento, sejam eles: conviver, brincar, participar,
explorar, expressar e conhecer-se. Portanto, os eixos curriculares se
configuram como campos de experiência que agrupam conhecimentos por
afinidades e aproximações, organizados por faixa etária e definidos como: O
Eu, o Outro e o Nós; Corpo, Gestos e Movimentos; Traços, Sons, Cores e
Formas; Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação; Espaços, Tempos,
Quantidades, Relações e Transformações.
O Documento Curricular da Educação Infantil da Rede Municipal de
Educação de Goiânia sublinha a importância de, através das vivências e
experiências articuladas dentro destes eixos, as instituições garantirem à
criança o acesso a “processos de apropriação, renovação e articulação de
conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito
à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à
brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças” (GOIÂNIA, 2019,
p. 47).

Para tanto, o docente precisa promover vivências pedagógicas


significativas, que, através das interações e brincadeiras, colaborem para a
curiosidade, o encantamento, o conhecimento de si mesmo, do mundo e da
natureza a partir de experiências sensoriais, corporais e que permitam que a
criança expresse sua subjetividade. Também é importante o mergulho nas
diferentes linguagens humanas, nos espaços temporais, medidas e formas, na
construção da autonomia diante do corpo e da saúde. Tal como promover a
interação, o conhecimento e o cuidado com o planeta e proporcionar vivências
éticas e estéticas que contemplem a diversidade regional, nacional e global,
ampliando assim suas referências culturais e identitárias.

A proposta, apresentada por Maria Carmen Silveira Barbosa e Maria da


Graça Souza Horn no livro: Projetos Pedagógicos na Educação Infantil, se
mostra muito favorável em contemplar todas as especificidades da Educação
Infantil e dialogar com as facetas da atuação docente. O aprendizado por meio
da pedagogia de projetos recebe melhores condições para acontecer de
maneira integral, conectada com a experiência diária das crianças no mundo,
construída de maneira coletiva e dialogada e que possibilita a expansão do
conhecimento de mundo para todos, inclusive professores, equipe escolar e a
comunidade, qualificando assim a relação do ensino-aprendizagem. De acordo
com as autoras:

A pedagogia de projetos contempla uma visão multifacetada dos


conhecimentos e das informações. Todo projeto é um processo criativo
para alunos e professores, possibilitando o estabelecimento de ricas
relações entre ensino e aprendizagem” (BARBOSA, M. C. S.; HORN,
M. G. S. 2008, p. 53)
Os diferentes projetos podem variar em sua estrutura, no entanto as autoras
sugerem um caminho a ser percorrido que pode ser sintetizado nos seguintes
passos: a) definição do problema – a escolha do tema parte daquilo que
inquietou as mentes e suscitou a necessidade de saber mais, seja no ambiente
escolar ou fora dele; b) mapeação dos recursos – um mapa conceitual é
organizado de acordo com as propostas levantadas pelas crianças que
resultarão em um esquema coletivo de ideias, e que servirá de base do
planejamento das atividades; c) coleta de informações – pesquisa das
informações e registros dos seus significados, que pode ser por desenhos,
textos coletivos, painéis e etc.; d) sistematização e reflexão – momentos
coletivos para a constelação – montagem de um conjunto significativo que
codifique os aprendizados dentro da temática; e) documentação e
comunicação – construção da memória pedagógica do trabalho que poderá ser
acessada posteriormente pelos alunos. Assim, garante-se um percurso que
valoriza o trabalho do professor de acordo com os princípios anteriormente aqui
dialogados, da mesma maneira que parte das crianças como principal eixo
catalizador das aprendizagens.

O Projeto de Estudo, de Investigação e de Mediação Pedagógica:


Educação das Relações Étnico-Raciais na primeira etapa da Educação Básica:
investigações e reflexões, possui como tema a educação para as relações
étnico-raciais e para a diversidade cultural em um agrupamento de 4 anos de
idade da Educação Infantil, e demonstra o exercício dessa importante faceta do
trabalho docente apresentada ao longo do texto, buscando abranger vivências
significativas que concorram para a educação das relações étnico-raciais de
acordo com as singularidades da Educação Infantil.

Respaldado nos diferentes documentos oficiais que tratam da importância


desta temática e de sua presença nas diretrizes orientadoras do trabalho nas
instituições de Educação Infantil, o projeto assinala a importância de pensar
práticas pedagógicas que colaborem para a educação das relações étnico-
raciais, para a formação de sujeitos capazes de compreender e lidar com os
conflitos vivenciados no dia a dia, devido a tensão ainda presente nas relações
étnico-raciais em nossa sociedade, para a celebração da diversidade cultural
brasileira, para a construção de identidades negras positivas, através de
referências culturais e simbólicas relevantes e da valorização das matrizes
epistemológicas africanas. Tais práticas são importantes para todos os sujeitos,
pois visam, além de construir referências justas e positivas para as crianças
negras, colaborar para a compreensão e conscientização de todos acerca do
racismo pois, como sujeitos sociais, todos possuem responsabilidade em sua
superação.

Considerando o que foi estudado sobre o que compõe um bom profissional


docente da Educação Infantil, seu comprometimento consigo mesmo, com a
autoavaliação, com o reconhecimento das limitações pessoais e da sua eterna
condição de aprendiz, tratar das relações étnico-raciais na sala de aula se
mostra fundamentalmente importante também para o professor, dignificando
cada vez mais sua ação mediadora. Neste ponto, o projeto traça um percurso
composto por oito planejamentos munidos de muita abertura ao diálogo com as
crianças para que se exerça a escuta sensível das questões trazidas por elas.
Também traz atividades permeadas de ludicidade, fantasia, brincadeiras que
constroem um terreno de referências nobres acerca de nossa herança africana,
e que estimulam reflexões necessárias para a percepção e valorização da
diversidade humana e sua correspondência com a natureza.

Tal trabalho encontra terreno fértil na educação básica, especialmente na


Educação Infantil, onde devem ser construídos os alicerces que permitirão a
continuidade da educação das relações étnico-raciais ao longo da formação
integral dos sujeitos, dentro e fora das instituições. É importante ressaltar que
há o triplo de negros entre os 10% com menores rendimentos per capita no
Brasil, a constatação está no informativo "Desigualdades Sociais por Cor ou
Raça no Brasil", divulgado pelo IBGE (2019), e aponta como pretos e pardos
trabalham, estudam e recebem menos que os brancos no país. Sendo assim,
pode-se inferir em quais instituições de educação estão inseridas as crianças
negras – nas escolas públicas. Logo, uma instituição pública que tem como
objetivo promover aprendizados a partir das experiências das crianças é lugar
propício para educar as relações étnico-raciais de forma integral, interacional e
conjunta entre educandos e educadores.
Por fim, para construir o projeto supracitado foi necessário encontrar
estratégias para lidar com os obstáculos devido a pandemia da COVID-19,
principalmente devido às decisões da gestão política do país perante o
combate ao vírus. Ambas etapas da disciplina de Estágio Supervisionado
aconteceram de maneira remota por conta do isolamento social. Portanto, não
foi possível ir à campo de fato levar o projeto para a sala de aula da Instituição
Campo de Estágio. Contornamos esta situação realizando ações viáveis que
pudessem nos colocar em contato com a práxis, na medida do possível –
investigação teórica das questões que compõe o Estágio Supervisionado na
Educação Infantil (documentos oficiais, diretrizes orientadoras, definição e
características da Educação Infantil, fundamentos teóricos e metodológicos que
regem o trabalho da rede municipal de Goiânia, a Pedagogia de Projetos);
entrevista com a diretora do CMEI Cecília Meireles; e a elaboração de um
trajeto composto de oito planejamentos de intervenção e mediação
pedagógica. A exposição, por parte da professora, de diferentes projetos de
trabalho realizados no CMEI Cecília Meireles permitiu contemplar e
testemunhar como se dá a construção de um projeto pedagógico na Educação
Infantil, corroborou para a compreensão de como acontece essa práxis dentro
deste campo tão singular e atestou a importância da construção da memória
pedagógica dos projetos realizados como banco de dados para a contínua
ação de pesquisa e reelaboração da práxis escolar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Maria Carmen Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos


Pedagógicos na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes


curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação
Básica. Brasília : MEC, SEB, 2010.

LIBÂNEO, José C. Organização e gestão da escola. 4. ed. São Paulo: Cortez


Editora, 2002.
GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Educação. Infâncias e Crianças em Cena:
por uma Política de Educação Infantil para a Rede Municipal de Educação de
Goiânia. Goiânia: SME, DEPE, DEI, 2014.

Goiânia. Secretaria Municipal de Educação e Esporte. Documento Curricular da


Educação Infantil da Rede Municipal de Educação de Goiânia. Goiânia: SME,
DEPE, DEI, 2019.

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