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CERS CARREIRA

JURÍDICA

CARREIRAS JURÍDICAS

CAPÍTULO 17
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
Assim, os assuntos de Direito Administrativo estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Conceitos Iniciais de Direito Administrativo 


Capítulo 2 – Introdução ao Direito Administrativo 

Capítulo 3 – Regime Jurídico-Administrativo 


Capítulo 4 – Administração Pública
Capítulo 5 – Organização Administrativa 
Capítulo 6 – Entidades Paraestatais, Convênios, Consórcios e Parcerias
com o Terceiro Setor. Disposições Doutrinárias Aplicáveis E Lei N° 
13.019/2014

Capítulo 7 – Atos Administrativos 

Capítulo 8 – Processo Administrativo. Lei nº 9.784/1999 e Disposições



Doutrinárias Aplicáveis

Capítulo 9 – Poderes e Deveres da Administração Pública 

Capítulo 10 – Serviços Públicos. Disposições Doutrinárias Aplicáveis e



Lei N° 13.460/2017

Capítulo 11 – Direito Regulatório. Regime Jurídico das Concessões e


Permissões do Serviço Público. Lei n° 8.987/1995 e Disposições 
Doutrinárias Aplicáveis

Capítulo 12 – Restrições e Intervenção do Estado na Propriedade 


Privada


Capítulo 13 – Controle da Administração Pública

Capítulo 14 – Improbidade Administrativa. Lei n° 8.429/1992 e 


Disposições Doutrinárias Aplicáveis


Capítulo 15 – Agentes Públicos

2

Capítulo 16 – Bens Públicos

Capítulo 17 (você está aqui) – Responsabilidade Civil Do Estado 

Capítulo 18 – Licitações (Inclusive Pregão), RDC e Contratos


Administrativos. Lei n° 8.666/1993, Lei n° 10.520/2002, Lei nº 
12.462/2011, Lei nº 11.079/2004 e Disposições Doutrinárias
Aplicáveis


Capítulo 19 – Intervenção Do Estado No Domínio Econômico E Social

Capítulo 20 – Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979 (Lei 


Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN)

Capítulo 21 – Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar 


n.º 101/00)


Capítulo 22 – Lei de Acesso à Informação - Lei Federal n.º 12.527/11


Capítulo 23 – Lei Anticorrupção - Lei Federal n.º 12.846/13

Capítulo 24 – Lei 13.303/16 – Estatuto Jurídico da Empresa Pública,



da Sociedade de Economia Mista e de suas Subsidiárias, no Âmbito
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

3
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Atualmente, é pacífico o entendimento acerca da existência de responsabilidade civil estatal


pelos danos que seus agentes causarem aos particulares, devido à responsabilidade da
Administração Pública e à aplicação do princípio da isonomia, tendo em vista que é injusto o

dano causado a um particular específico.

Essa responsabilização também abrange condutas lícitas e recomendamos especial atenção

às disposições que tratam da responsabilidade civil do Estado em casos de omissão,


especialmente no que diz respeito à morte de detento, bem como atenção aos prazos

prescricionais, assuntos recorrentes em prova.

Faz-se importante, também, compreender as diversas teorias que já abordaram a temática

da responsabilidade civil do Estado, tais quais a Teoria da Irresponsabilidade Estatal,


responsabilidade com previsão legal, Teoria da Responsabilidade Subjetiva, Teoria da Culpa do
Serviço, Teoria do Risco Administrativo e Teoria do Risco Integral.

Ante o exposto, o presente capítulo abordará aspectos doutrinários, legislativos e


jurisprudenciais acerca da temática, bastante importantes e cuja relevância nos certames de
Carreiras Públicas é notória. Vamos juntos estudar mais este capítulo!

4
SUMÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................................................... 7

Capítulo 17 ................................................................................................................................................ 7

17. Responsabilidade civil do Estado .................................................................................................. 7

17.1 Evolução histórica ................................................................................................................................................. 7

17.2 Teorias ........................................................................................................................................................................ 9

17.2.1 Teoria do Risco Administrativo ....................................................................................................................... 9

17.2.2 Teoria da Culpa Anônima ou Culpa do Serviço ................................................................................... 15

17.2.3 Teoria do Risco Criado ou do Risco Suscitado ..................................................................................... 16

17.2.4 Teoria do Risco Integral .................................................................................................................................. 17

17.3 Responsabilidade do Agente e Ação de Regresso ............................................................................. 17

17.4 Prescrição............................................................................................................................................................... 20

17.5 Responsabilidade do Estado por danos decorrentes de sua omissão ....................................... 21

17.6 Responsabilidade por obra pública ........................................................................................................... 25

17.7 Responsabilidade por ato legislativo ........................................................................................................ 25

17.8 Responsabilidade por atos jurisdicionais................................................................................................. 27

17.9 Responsabilidade por danos ambientais ................................................................................................. 28

17.10 Responsabilidade por danos causados por notariais e registrais ................................................ 30

17.11 Perda de uma chance ...................................................................................................................................... 31

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 32

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 37

GABARITO ............................................................................................................................................... 56

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 57

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 58

5
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 61

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 63

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 81

6
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 17

O presente capítulo aborda a responsabilidade civil do Estado, assunto de extrema relevância


dentre as temáticas do Direito Administrativo, cuja evolução histórica e teorias devem ser

analisadas com atenção, tendo em vista que são debatidas até hoje e constam nos certames de
Concurso Público. Ainda, denota-se importante o estudo das diversas formas de
responsabilização da Administração Pública, com enfoque na responsabilização por omissão,
por danos ambientais, por detentos e a prescrição da pretensão indenizatória.

17. Responsabilidade civil do Estado

17.1 Evolução histórica

Antes de iniciarmos o assunto de responsabilidade propriamente dito, é relevante

apontar a evolução histórica pela qual passou tal matéria.

Inicialmente, o Estado não tinha nenhuma responsabilidade, ou seja, a teoria vigente

era a da irresponsabilidade do Estado.

Na Teoria da Irresponsabilidade Estatal, "o rei nunca errava" (the king can do no
wrong). As monarquias absolutistas se fundavam numa ideia de soberania, e o Estado não
respondia por seus atos.

7
O Brasil não teve a fase da irresponsabilidade.

O primeiro caso de responsabilidade do Estado se deu na França e ficou conhecido


como caso "Blanco". Esse caso ocorreu por volta de 1873 quando Agnés Blanco, uma menina
de apenas 5 anos de idade, ao atravessar uma rua da cidade de Bordeaux, foi atropelada por

um vagão da Companhia Nacional de Manufatura de Tabaco, empresa pública. O vagão era


empurrado por quatro funcionários e, em virtude do atropelamento, uma das pernas de Agnés

teve que ser amputada.

Diante de tal fato, o Conselheiro Davi concluiu que o Conselho de Estado era

competente para decidir a controvérsia, como também deveria fazê-lo em termos publicísticos,
já que o Estado era parte na relação jurídica. Com isso, houve o afastamento do instituto da

responsabilidade do campo do direito civil, reconhecendo o carácter especial das regras


aplicáveis aos serviços públicos. Após apreciação do caso por parte do Conselho do Estado,
este decide conceder uma pensão vitalícia à vítima.

Sendo assim, o Estado, que, até então, agia irresponsavelmente, passou a ser
responsável, em casos pontuais, sempre que houvesse previsão legal específica para

responsabilidade. No Brasil, surgiu com a criação do Tribunal Conflitos, em 1873.

Surge a Teoria Civilista da responsabilidade por atos de gestão. Essa teoria distinguia

os atos de império (aqueles em que o Estado praticava utilizando-se da sua supremacia sobre
o particular) dos atos de gestão (aqueles em que o Estado não utilizava sua soberania). De

acordo com essa perspectiva, o Estado só responderia pelos atos de gestão. Essa sistemática
não prosperou e foi logo superada pelas teorias que se seguiram.

A teoria da responsabilidade do Estado evoluiu e passou-se a admitir a sua

responsabilidade sem a necessidade de expressa dicção legal.

Com isso, surgiu a Teoria da Responsabilidade Subjetiva ou Teoria Civilista. Para a

aplicação dessa teoria era necessária a comprovação da conduta do Estado; da ocorrência do

8
dano; do nexo de causalidade e do elemento subjetivo, qual seja, a responsabilidade (dolo ou

culpa).

No Direito Brasileiro, a responsabilidade subjetiva (teoria civilista) tinha embasamento

no Código Civil de 1916.

Com o passar dos anos surgiu a Teoria da Culpa do Serviço (culpa administrativa,

culpa anônima, ou faute du service). Essa teoria visava maior proteção à vítima, eis que era difícil
provar a culpa do agente. Neste caso, a vítima apenas deve comprovar que o serviço foi mal

prestado ou prestado de forma ineficiente ou, ainda, com atraso, sem necessariamente
apontar o agente causador.

Enfim, evoluiu-se até a Responsabilidade Objetiva do Estado, em que não era

necessário comprovar existência de qualquer elemento subjetivo.

17.2 Teorias

17.2.1 Teoria do Risco Administrativo

A teoria do risco administrativo é uma teoria publicista que vem sendo adotada pelo
Direito Brasileiro desde a Constituição de 1946 e está consagrada como regra no art. 37, §6º,
da CRFB/881, ao apontar que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo

ou culpa2.

A responsabilidade do Estado é objetiva, ou seja, se baseia em três elementos: a

conduta, o dano causado e o nexo de causalidade. Assegura-se, todavia, o direito de regresso


nos casos de dolo o culpa do agente. Como não depende de dolo ou culpa, é até possível que

seja ocasionada por atos lícitos, desde que cause danos a terceiros3.

1
Vide questão 12
2
Vide questão 1
3
Vide questão 5 e 13
9
Essa teoria tem como fundamento a repartição dos benefícios e encargos. Em outras

palavras, essa teoria é aquela que obriga o Estado a indenizar todo e qualquer dano, desde que
envolvido no respectivo evento. Porém, como forma de elidir sua responsabilidade, pode o

Estado, se perquirir o elemento volitivo do agente causador do dano, alegar que a sua ação
estava acobertada por causas que implicam na exclusão de sua responsabilidade (culpa exclusiva

da vítima, caso fortuito e força maior).

 Conduta:

A conduta deve ser de determinado agente público que atue nesta qualidade ou, ao
menos, se aproveitando da qualidade de agente para causar o dano. O agente autor da conduta

pode ser das pessoas jurídicas de Direito Público da Administração Direta, além de autarquias
e fundações públicas de Direito Público e das Empresas Públicas e Sociedades de Economia

Mista prestadoras de serviço público.

Não é relevante que o dano não seja causado por alguém com um vínculo mais firme

com o Poder Público. Se houve consentimento estatal para o exercício daquela atividade, o

Estado deverá arcar com os danos causados.

Como dito, a conduta praticada pelo agente pode ser lícita ou ilícita.

Importa mencionar que, mesmo que o agente público não esteja trabalhando, mas
se aproveite da condição de agente e nessa circunstância cause o dano, haverá a
responsabilidade do Poder Público. Tal situação é corolária da teoria da imputação - ou teoria
do órgão - que define que a conduta do agente público deve ser imputada ao ente estatal que
ele representa. É por essa razão que é desnecessária a identificação do agente causador do

dano pela vítima.

Isso significa que, ainda que o agente tenha praticado a conduta fora da sua

competência funcional, ou fora do local de trabalho, o Estado pode ser responsabilizado, pois
ele tem culpa in eligendo e in vigilando, bastando que o agente aja na condição de funcionário
público.

10
Embora isso não seja um tema pacificado, a maior parte da doutrina entende que a

conduta que enseja a responsabilidade objetiva do ente público é a conduta comissiva, eis que
a omissão em casos de condutas omissivas, a responsabilidade será subjetiva.

Por fim, ressalte-se que o Estado responde pelos atos praticados por agente de fato,
isto é, aquele que foi irregularmente investido em função pública.

Um mesmo ato pode ensejar um dano anormal a alguns administrados e não a outros. Tal

situação gera o dever de indenizar determinadas pessoas, mas não enseja a reparação em
relação a outras é o que a doutrina denominou de Teoria do Duplo Efeito dos atos

administrativos.

De acordo com o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal, a


responsabilidade civil do Estado pelos danos causados pelos notários e registradores a terceiros,

no exercício de suas funções, é objetiva. Foi o que decidiu 4 o STF, em tese fixada em sede de
repercussão geral, em 2019. Veja:
“O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que,
no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso
contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários
e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.”

 Dano:

Outro elemento necessário para configuração da responsabilidade objetiva é a

demonstração de ocorrência de dano.

4
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão geral) (Info 932).
11
Os danos que geram responsabilidade do estado são os danos jurídicos, ou seja, o

dano a um bem tutelado pelo direito, ainda que exclusivamente moral. Nesse sentido, o dano
pode ser material, moral, estético etc., sendo todos eles cumuláveis, segundo entendimento do

STJ pacificado nas Súmulas 37 e 387.

Ressalta-se que os danos podem decorrer de atos lícitos, e, nesse caso, a

responsabilização do ente estatal depende da comprovação de que estes danos são anormais
(não pode atingir toda a sociedade) e específicos, uma vez que as restrições normais e legais

resultam do chamado risco social, o qual todos os cidadãos devem suportar.

Nos atos ilícitos não há tal necessidade, uma vez que a própria conduta gera o dever
de indenizar, haja vista a violação ao princípio da legalidade.

O servidor público em atividade também pode ser vítima de um ato estatal que enseje
responsabilidade civil.

O dano pode ser causado a terceiro que ostente ou não a qualidade de usuário do serviço.

Dano moral in re ipsa é aquele que é presumido, que dispensa a prova do prejuízo,
bastando a prova da ocorrência do ato. Veja esse antigo, porém relevante, julgado5 do Superior
Tribunal de Justiça sobre o tema:

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. AUSÊNCIA DE


OMISSÃO NO ACÓRDÃO. SERVIÇO DE ÁGUA E ESGOTO. CADÁVER EM
DECOMPOSIÇÃO NO RESERVATÓRIO. DANO MORAL. CONFIGURADO.
OMISSÃO. NEGLIGÊNCIA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO
MORAL IN RE IPSA.

5
STJ. 2ª Turma. REsp 1492710-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).
12
1. Fica configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da
concessionária decorrente de falha do dever de efetiva vigilância do
reservatório de água, quando nele foi encontrado um cadáver humano.
2. De outro lado, também, ficou caracterizada a falha na prestação do
serviço, indenizável por dano moral, quando a COPASA não garantiu a
qualidade da água distribuída à população.
3. Ainda, há que reconhecer a ocorrência in re ipsa, o qual dispensa
comprovação do prejuízo extrapatrimonial, sendo suficiente a prova da
ocorrência de ato ilegal, uma vez que o resultado danoso é presumido.
Recurso especial provido.

No mencionado caso, foi encontrado um cadáver humano em decomposição em um

dos reservatórios de água que abastece uma cidade, o que levou um consumidor a ajuizar ação
de indenização contra a empresa pública concessionária do serviço de água. Ante o exposto, o
STJ entendeu que a empresa deveria ser condenada a reparar os danos morais sofridos pelo

cliente.

Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da concessionária

decorrente de falha do dever de efetiva vigilância do reservatório de água. Além disso, restou
caracterizada a falha na prestação do serviço, indenizável por dano moral, quando a Companhia

não garantiu a qualidade da água distribuída à população.

Neste caso, portanto, o dano moral é in re ipsa, ou seja, o resultado danoso é

presumido.

 Nexo de causalidade:

Como regra, o Brasil adotou a teoria da causalidade adequada, por meio da qual o

Estado responde, desde que sua conduta tenha sido determinante para o dano causado. Se ficar
provado que o dano se deu por influências de outras condutas, interrompe-se o nexo causal e

exclui-se a responsabilidade do Estado.

Ainda que se trate de um caso de responsabilidade por omissão, não se dispensa a

demonstração do nexo causal entre conduta e dano. O CESPE considerou correta a assertiva

13
que se segue: “O STF entende não haver responsabilização civil do Estado por ato omissivo

quando um preso, foragido há vários meses, pratica crime doloso contra a vida, por não haver
nexo de causalidade direto e imediato”.

As situações em que ocorre a interrupção do nexo de causalidade são chamadas de


excludentes de responsabilidade do Estado, quais sejam:

a) Caso fortuito e força maior6: podem decorrer de ação do homem ou de eventos


da natureza, imprevisíveis ou previsíveis, mas de consequências inevitáveis. Há casos em que é

possível cogitar a responsabilidade do Estado por omissão, na modalidade subjetiva, em situação


de “concausa”, quando a omissão de determinada providência por parte do Estado agrava a
situação decorrente de caso fortuito ou força maior. Neste caso, não há irresponsabilidade do
Estado, mas sua responsabilização será atenuada. O fortuito que rompe completamente o nexo
causal é o fortuito externo. O interno, em que pese inevitável, decorre da execução da própria

atividade administrativa, razão pela qual o Estado não pode se esquivar de eventual
responsabilização. Enquanto a força maior está mais atrelada aos eventos da natureza, o caso

fortuito possui conexão com atos (falhas) humanos;

b) Culpa exclusiva da vítima;

c) Ato exclusivo de terceiro: em razão dessa possibilidade, o Estado não responde


objetivamente pelos atos de multidão (responde subjetivamente, apenas se comprovada sua
omissão ou participação culposa).

A culpa concorrente – da vítima e do Estado – apenas atenua a responsabilidade de uma das

partes, eis que os dois serão responsabilizados.

6
Vide questão 11
14
(CESPE/CEBRASPE – Prefeitura de Fortaleza/CE – Procurador do Município – 2017) A respeito
de bens públicos e responsabilidade civil do Estado, julgue o próximo item.

Situação hipotética: Um veículo particular, ao transpassar indevidamente um sinal vermelho,


colidiu com veículo oficial da Procuradoria-Geral do Município de Fortaleza, que trafegava na

contramão. Assertiva: Nessa situação, não existe a responsabilização integral do Estado, pois a
culpa concorrente atenua o quantum indenizatório.

Comentário:

Gabarito: Verdadeiro.

Culpa concorrente não é excludente. Assim, apenas atenua o dever de indenizar do Estado.

17.2.2 Teoria da Culpa Anônima ou Culpa do Serviço

É a responsabilidade pela omissão do Estado que é do tipo subjetiva, mas não nos

mesmos moldes da civilista, eis que não é preciso demonstrar o dolo e nem a culpa do agente,
e, sim, do serviço.

Sendo assim, são elementos definidores dessa responsabilidade: o comportamento


omissivo do Estado, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do serviço público que deve ser

ato omissivo ilícito - ausência de cumprimento de seus deveres legalmente estabelecidos.

Essa teoria expressa que a má prestação do serviço, a prestação ineficiente ou a


ausência de prestação do serviço gera a responsabilidade subjetiva.

15
Porém, o Estado não responde por fatos da natureza e também não responde por

atos de terceiros ou atos de multidões, desde que não tenha tido a possibilidade de evitar o
dano.

17.2.3 Teoria do Risco Criado ou do Risco Suscitado

Se mesmo diante da omissão do estado, este possuía um dever legal e específico


de cuidado, quando mantém alguém sob sua custódia, a responsabilidade será objetiva. É o

caso de pacientes em hospitais, crianças em escolas, detentos em penitenciárias, substâncias


explosivas em laboratórios públicos etc.

Exemplos muito cobrados em provas são: casos de morte de detentos ou o caso de

um detento que foge da prisão e assalta, uma casa ao lado do presídio. Matheus Carvalho
aponta que, nesses casos, o Estado deve ser responsabilizado, uma vez que assumiu o risco ao

construir o presídio naquela região residencial e não cuidou da segurança necessária. Porém, se
a fuga do detento ocorre e o delito cometido se dá bem distante do presídio ou muito tempo

após a fuga, não há nexo causal com a situação de risco, logo, não há motivo para se mencionar
responsabilidade objetiva, conforme vimos acima.

Nas situações de presos que fogem com frequência do presídio e nenhuma


providência é adotada, entende-se que haverá a responsabilização, ainda que haja uma situação
de caso fortuito, bastando a comprovação de que este fortuito só foi possível em virtude da

custódia. É o chamado fortuito interno - ou caso fortuito.

Ademais, nos casos de morte de presidiário, o STF também decidiu se tratar de caso

de responsabilidade objetiva do Estado7, que enseja justa indenização aos familiares do preso
quando o Estado não cumprir seu dever de proteção previsto no art. 5º, XLIX da CF/88.

Importante recordar que é adotada a teoria do risco administrativo do Estado, de modo que
poderá ser provada alguma hipótese de excludente de responsabilidade por parte deste.

7
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info 819).
16
Porém, se um preso é atingido por um raio trata-se de um fortuito externo - ou

força maior – sendo tal fato alheio e independente da situação de custódia, não gerando a
responsabilização.

17.2.4 Teoria do Risco Integral

É considerada objetiva, mas não admite nenhuma exclusão de responsabilidade.


Segundo essa teoria, o Estado está obrigado a reparar todo e qualquer dano,

independentemente de a vítima ou terceiro terem concorrido para seu aperfeiçoamento. Nunca


foi adotada como regra pelo Direito Brasileiro.

Adota-se essa teoria no caso de dano nuclear, dano ambiental (a responsabilidade

do Estado é solidária e de execução subsidiária, pois, nesses casos, apenas será acionado caso
o devedor principal – o causador do dano – não o fizer), crimes ocorridos a bordo de navio,

ataques terroristas e nos casos de DPVAT. Dessas hipóteses, apenas a previsão relativa a dano
nuclear tem sede constitucional.

17.3 Responsabilidade do Agente e Ação de Regresso

O artigo 37, §6°, da Constituição, estabelece que a responsabilização do ente público


é objetiva, mas a responsabilidade de seus agentes é subjetiva8.

O agente que ensejou o dano deve ressarcir os prejuízos que o Poder Público pagou
à vítima, por meio da ação de regresso, mas este deve provar a existência de dolo ou culpa do
agente público.

Responsabilidade do Estado
Estado cobra do agente
(objetiva)
(Responsabilidade subjetiva)

8
Vide questão 4 e 7
17
Diante disso, muito se questiona se a vítima poderia entrar com ação diretamente
contra o agente ou ainda, se na ação proposta pela vítima contra o Estado poderia ocorrer a
denunciação à lide em face do agente público. Explica-se:

No CPC/15, está prevista a denunciação à lide, que é uma intervenção de terceiro que
acarreta a ampliação subjetiva ulterior do processo. Ou seja, proposta a denunciação, o processo

passará a ter duas demandas: a principal, envolvendo autor e réu; e a incidental, envolvendo
denunciante e denunciado. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das

partes, dentre outros casos, àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar,
em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

Quanto à possibilidade de ação direta contra o agente, o STF já pacificou o


entendimento de que não é possível a propositura de ação, diretamente, em face do agente
público causador do dano, ao indicar que o art. 37, §6°, da CRFB/88 garantiu à vítima o direito

de ser indenizada pelo Estado e concedeu ao agente a garantia de só ser cobrado pelo ente. É
o que se chama de teoria da dupla garantia.

Aluno, veja essa decisão9 do fim de 2019, fixada em sede de repercussão geral: “A
teor do disposto no art. 37, §6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente

público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

Pela mesma razão, o STF também não admite o litisconsórcio passivo, isto é, que na
ação proposta pelo particular conste o Estado e o agente no polo passivo.

Quanto à possibilidade de denunciação da lide pelo Estado, o entendimento


doutrinário majoritário, é também pela impossibilidade. Conforme Matheus Carvalho, essa

impossibilidade decorre do fato de que a denunciação à lide geraria uma ampliação subjetiva
do mérito da ação, acarretando à vítima manifesto prejuízo à celeridade na prestação
jurisdicional.

9
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão geral) (Info 947).
18
A reparação do dano causado a terceiro pode ser feita no âmbito administrativo,

desde que a Administração Pública reconheça, desde logo, a sua responsabilidade e haja
consenso entre as partes no que tange ao valor da indenização.

Ainda, o Estado responde pelos danos causados por seus agentes mesmo quando
amparados por excludente de ilicitude penal, conforme entendimento do STJ10:

Jurisprudência em Teses do STJ – Edição nº 61: “A Administração Pública pode responder


civilmente pelos danos causados por seus agentes, ainda que estes estejam amparados
por causa excludente de ilicitude penal.”

Saliente-se que a ação de reparação só será proposta contra o agente após o Estado
sucumbir na ação movida pelo particular e caso não haja o pagamento da reparação

correspondente na via administrativa.

Cabe mencionar, também, que a Lei n. 13.655/2018 acrescentou o art. 28 à LINDB,

estipulando que o agente responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro.

O Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a denunciação à lide do agente público, para
prestigiar a economia processual, eficiência e celeridade. Mas acrescenta que o Estado não está

obrigado a fazê-la, podendo exercer o direito de regresso também de forma autônoma11.

10
Vide questão 8.
11
Vide questão 9
19
17.4 Prescrição

Há divergência doutrinária e jurisprudencial em relação ao prazo prescricional para


propositura de ação indenizatória em face do Estado.

É que, conforme o disposto no art. 1° do Decreto nº 20.910/32 e art. 1°-C da Lei nº


9.494/97, a prescrição para as ações de reparação civil contra o Estado ocorre em 5 anos. Porém,

o Código Civil de 2002, no seu art. 206, §3°, V estabeleceu que a ação de reparação civil
prescreve em 3 anos.

Apesar de a questão ainda não estar pacificada, a doutrina majoritária e o STJ


apontam que o prazo prescricional de tal ação é de 5 anos e para fins de provas de concursos

deve-se seguir esse posicionamento12. Observe esse julgado13 como ilustração: É de 5 anos o
prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação de indenização
contra concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de ônibus). O

fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e no art. 27 do CDC.

Sobre o termo inicial do prazo quinquenal, veja o que disciplina o STJ14: O termo

inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização contra ato do Estado
ocorre no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da actio

nata.

Cabe ressaltar que a ação de ressarcimento ao erário por danos causados por agentes

ao patrimônio público, é imprescritível. As ações de indenização por danos morais decorrentes


de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção também são imprescritíveis 15.

Caso o dano tenha sido causado por um particular, a ação de ressarcimento neste

caso prescreve em 3 anos, nos moldes do Código Civil de 2002.

12
Vide questão 3
13
STJ. 3ª Turma. REsp 1277724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info 563).
14
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1333609-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2012 (Info 507).
15
STJ. 2ª Turma. REsp 1374376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013 (Info 523).
20
Ademais, o direito ao pedido de reparação de danos ambientais também é

imprescritível, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos
povos, independentemente de não estar expresso em texto legal.

17.5 Responsabilidade do Estado por danos decorrentes


de sua omissão16

Apesar de a Constituição consagrar a responsabilidade objetiva do Estado, tal

responsabilização restringe-se aos prejuízos causados pelos seus agentes no exercício de suas
funções ou a pretexto de exercê-las. É dizer, pelos atos comissivos estatais.

Com relação aos danos decorrentes da omissão do Estado, faz-se necessário


demonstrar que a conduta estatal não foi suficiente para atender às exigências impostas pelo

legislador.

Dessa forma, o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante é de que na


responsabilidade do Estado por danos decorrentes de sua omissão vige a teoria da culpa

administrativa, também chamada de teoria da "falta do serviço", segundo a qual o lesado


deve demonstrar que o Estado tinha o dever legal de agir e que falhou no cumprimento deste

dever legal, isto é, com negligência, imprudência ou imperícia. O elemento subjetivo da culpa
não precisa estar identificado, razão pela qual se chama culpa anônima, não individualizada,

pois o dano não decorreu de atuação de agente público, mas de omissão do poder público.

Saliente-se que, mesmo ocorrendo força maior ou caso fortuito (dependendo da


interpretação), a responsabilidade do Estado poderá ser caracterizada se, aliada à força maior,
ocorrer omissão do Poder público na realização de um serviço. Por exemplo, quando as chuvas
provocam enchentes na cidade, inundando casas e destruindo objetos, o Estado responderá se

ficar demonstrado que a realização de determinados serviços de limpeza dos rios ou dos bueiros
e galerias pluviais teria sido suficiente para impedir a enchente. São as chamadas concausas ou

causas concorrentes para o evento lesivo.

16
Vide questão 10
21
Porém, nesse caso, entende-se que a responsabilidade não é objetiva, porque

decorrente do mau funcionamento do serviço público. A omissão na prestação do serviço tem


levado à aplicação da teoria da culpa no serviço público. Nesse sentido vem se posicionando o

STF.

Em situações de roubos e furtos em transportes coletivos, o STJ vem entendendo,

predominantemente, que sem a prova da culpa, não há como responsabilizar a empresa


concessionária de transporte, já que ela própria assume a condição de lesada juntamente com

os passageiros (RESP 294610/RJ). Todavia, em alguns julgados, o STJ reconhece a


responsabilidade das empresas responsáveis pela prestação do serviço público de transporte

coletivo, sobretudo quando prestado em zonas que registram atos de violência constante (RESP
232649/SP).

Em edições anteriores, informávamos que a jurisprudência do STJ e do STF


acompanhava o entendimento de Celso Antônio Bandeira de Mello, segundo o qual o Estado

seria objetivamente responsável pela morte de detento ocorrida dentro de estabelecimento


prisional mantido pelo Estado, ainda que decorrente de suicídio.

No entanto, o STF fixou a seguinte tese de repercussão geral: "Em caso de


inobservância de seu dever específico de proteção previsto no artigo 5°, inciso XLIX, da

Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte de detento".

A Corte Excelsa decidiu que a morte do detento em estabelecimento penitenciário


gera a responsabilidade civil do Estado quando houver inobservância do seu dever
específico de proteção. Portanto, temos a consagração da teoria da culpa administrativa
(teoria da falta do serviço), que trata da responsabilidade do Estado por danos decorrentes de
22
sua omissão, devendo ser demonstrado o nexo de causalidade entre o evento morte e a falha

específica do Estado no seu dever legal de zelar pela integridade física dos presos 17.

Segue o julgado:

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios
os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, §6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos,
inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento (STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min.
Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/2/2017).

Vejamos o que leciona Márcio André Lopes Cavalcante, do Dizer o Direito 18:

“Não aplicação do princípio da reserva do possível. Não há como acolher o

argumento que invoca o "princípio da reserva do possível".


Segundo este princípio, os recursos públicos são limitados e as necessidades

ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a


todas as demandas sociais.

Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em ações judiciais nas quais

está sendo pedida a implementação de direitos fundamentais a prestações,


especialmente direitos de natureza social (ex: saúde, educação etc.). Em tais
casos, discute-se se é possível conceder o direito pleiteado mesmo que não haja,

em tese, capacidade financeira do Estado.

Aqui, contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se situa no


âmbito da responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados

por ação ou omissão de seus agentes, nos termos previstos no art. 37, §6º, da
CF/88. Trata-se de dispositivo autoaplicável (de eficácia plena), que não depende

de lei ou de qualquer outra providência administrativa. Ocorrendo o dano e

17
Vide questão 2 e 6
18
https://www.dizerodireito.com.br/2017/03/estado-tem-o-dever-de-indenizar-pessoa.html
23
estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus

agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

A criação de subterfúgios teóricos, tais como a separação dos Poderes, a reserva


do possível e a natureza coletiva dos danos sofridos, para afastar a

responsabilidade estatal pelas calamitosas condições da carceragem afronta não


apenas o sentido do art. 37, §6º, da CF, como também gera o esvaziamento dos

dispositivos constitucionais, convencionais e legais que impõem ao Estado o


dever de garantir a integridade física e psíquica dos detentos”.

(Fundação CEFETBAHIA - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto – 2018 - ADAPTADA) É


de responsabilidade do Estado, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a obrigação
de ressarcir os danos comprovadamente causados aos detentos custodiados em presídios, em

decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.


Comentário:

Gabarito: Verdadeiro.

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios

os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua


responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos,

inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou


insuficiência das condições legais de encarceramento (STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig.

Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/2/2017).

24
17.6 Responsabilidade por obra pública

A responsabilidade decorrente de obras públicas pode variar de acordo com a


hipótese. Vejamos:

 Responsabilidade decorrente da má execução da obra:

Nesse caso, deve-se apontar quem estava executando a obra, para que seja

responsabilizado.

Se a obra é executada pelo próprio Estado, a responsabilidade será objetiva. Por


outro lado, se a obra mal executada foi realizada por um particular que firmou um contrato

administrativo com o Poder Público (excluídos os casos de permissão e concessão, pois nesses
casos, como vimos, a responsabilidade será objetiva), e o dano foi provocado por culpa exclusiva

do executor, a responsabilidade será subjetiva.

Porém, se o Estado foi omisso no dever de fiscalizar o contrato firmado, José dos

Santos Carvalho Filho indica que este deve ser responsabilizado subjetivamente.

 Responsabilidade pelo simples fato da obra:

Neste caso, o dano não decorre da má execução da obra, mas sim da existência da

obra sendo irrelevante saber quem está executando-a.

Ocorrendo o prejuízo, a responsabilidade é objetiva e do Estado. Mesmo que a obra

traga benefício para a coletividade, pelo fato de ter causado prejuízo a um administrado, não
poderá este deixar de ser indenizado.

17.7 Responsabilidade por ato legislativo

Inicialmente, convém destacar que, em regra, o Estado não responde por danos
decorrentes de atos legislativos, pois são produto do Congresso Nacional, que representa a
vontade do povo. Todavia, em caso de abuso do poder por parte do legislador, é possível
considerar o dever do Estado de indenizar.

25
A doutrina elenca três hipóteses em que está presente a supramencionada

responsabilidade:

a) aprovação de leis inconstitucionais;

A lei deve já ter sido declarada inconstitucional. Ademais, não haverá direito à
indenização se a declaração tiver se dado com efeitos prospectivos (ex nunc) apenas.

b) danos causados por leis de efeitos concretos;

Atente-se para a diferenciação entre leis de efeitos concretos e leis em sentido formal

e material (leis gerais e abstratas):

 Leis de efeitos concretos:

As leis de efeito concreto são aquelas que ostentam a qualidade de lei em sentido

formal, mas são, na verdade, atos administrativos.

De tais leis decorre a responsabilidade civil do ente público que a emanou de forma

objetiva, ou seja, com base da teoria do risco administrativo.

 Leis em sentido formal e material

Já as leis em sentido formal e material, configuram-se como sendo atos legislativos

típicos, ou seja, emanado pelo Poder Legislativo.

Por se tratar de normais gerais e abstratas, via de regra, não geram responsabilidade

civil do Estado.

Parte da doutrina entende que excepcionalmente é possível a responsabilidade por


atos legislativos desde que presentes dois requisitos: (i) decorrer dano especifico a alguém; e

(ii) o ato normativo for declarado inconstitucional.

26
RESPONSABILIDADE
POR ATOS
LEGISLATIVOS

Ato normativo
Dano específico a
declarado
alguém
inconstitucional

c) omissão legislativa.

17.8 Responsabilidade por atos jurisdicionais

O entendimento majoritário aponta a irresponsabilidade do ente público por atos

jurisdicionais típicos.

Porém, a Constituição traz duas exceções, ou seja, casos em que haverá


responsabilização decorrente da decisão judicial. Com efeito, o art. 5°, LXXV da CF define que:

Art. 5°. LXXV: o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim
como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

Em suma, entende-se que a prisão em si, não é ato jurisdicional, mas ato
administrativo exercido posteriormente à decisão judicial, em sede de cumprimento e execução

da pena.

Nessa hipótese, a ação regressiva deve ser proposta em face do magistrado, devendo-

se demonstrar dolo ou fraude, eis que o magistrado possui a garantia de independência ao


prolatar suas decisões, além do que deve ser considerado o princípio do livre convencimento
motivado. Assim, enquanto todos os demais agentes públicos responderão regressivamente por
dolo ou culpa, o magistrado apenas responderá por dolo ou fraude.

27
Nesse caso, a responsabilidade é objetiva.

Em que pese o tema não seja tranquilo, prevalece na doutrina e na jurisprudência o


entendimento de que o Estado não responde no caso de prisão preventiva caso haja posterior

absolvição.

Atente-se que a jurisprudência do STF e do STJ é majoritária quanto à inexistência, em

regra, de indenização nos casos de prisão preventiva após decisão definitiva que absolva o réu,
reforçando que NÃO há que se falar em responsabilidade objetiva do Estado pelo dano moral

decorrente de prisão preventiva (RE 429518, julgado em 05/10/2004). Deve-se ressaltar, no


entanto, que caso a prisão seja arbitrária, o Estado deverá, sim, ser responsabilizado.

A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que a prisão processual

e posterior absolvição no processo criminal não enseja, por si só, direito à indenização (STJ, EDcl
no REsp 1034818/SP, julgado em13/10/2009).

17.9 Responsabilidade por danos ambientais

A responsabilidade civil do Estado por dano ambiental é objetiva, de acordo com o

art. 14, §1º, da Lei n. 6.938/81. Entretanto, há discussão sobre qual variante se aplicaria ao dano
ambiental: a do risco integral ou a do risco administrativo.

O STJ entende que a responsabilidade do Estado resultante de danos ambientais é

objetiva na variante do risco integral (Teoria do Risco Integral), ou seja, responderá mesmo
que não tenha sido o causador do dano, não podendo alegar causas excludentes como a culpa
exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior, sendo o dever de reparação

fundamentado simplesmente pelo fato de existir atividade de onde veio o prejuízo.

Ademais, segundo a doutrina e a jurisprudência, a responsabilidade é solidária entre


todos os poluidores, inclusive o próprio Estado.

Deve-se destacar que, neste caso, o Estado responde pelos danos ambientais
objetivamente, quer por conduta comissiva, quer por conduta omissiva.

28
O próprio STJ possui entendimento de que há responsabilidade objetiva do Estado

por danos ambientais mesmo em se tratando de omissão de fiscalização ambiental (STJ, REsp
1071741, julgado em 24/03/2009). Entretanto, caso o Estado se enquadre como poluidor indireto

por sua inércia em evitar o dano ambiental, após a reparação do dano, ele terá direito de
regresso contra o poluidor direto (STJ, Info 388).

Conquanto a responsabilidade do Estado seja objetiva, ela é de execução subsidiária.

Dessa forma, somente quando os particulares, diretamente causadores do dano ambiental, não
tiverem patrimônio para responder pelos danos causados, o Estado será responsabilizado.

Cabe mencionar, também, que o art. 4º, da Lei n. 9.605/98, estipula que poderá ser

desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento
de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

Além disso, cabe destacar que, apesar de não haver previsão legal neste sentido, o

STJ passou a admitir a inversão do ônus da prova nas ações de reparação dos danos
ambientais, com base no interesse público da reparação e no Princípio da Precaução.

Outro ponto que cabe mencionar é que a obrigação de reparar o dano ambiental

tem natureza real e é transmitida ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência


de domínio ou posse do imóvel rural (art. 2º, §2º, Lei n. 12.651/2012).

Sobre o direito ao pedido de reparação de danos ambientais, deve-se atentar que

este está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida,
fundamental e essencial a afirmação dos povos, independentemente de não estar expresso em

texto legal.

Outro entendimento relevante do STJ é o que diz respeito à possibilidade plena de


cominação de obrigação de reparação com a indenização pecuniária cumulativamente, até que

haja a recuperação total do dano, se possível (STJ, Info 427).

Cabe mencionar que, em relação à responsabilidade administrativa por dano


ambiental, existe divergência se ela é objetiva ou subjetiva. O STJ, nos julgados mais recentes,

tem apontado que a responsabilidade administrativa por dano ambiental é subjetiva, ou seja,
29
depende da existência de dolo ou culpa (STJ, REsp 1251697, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,

julgado em 17/04/2012).

17.10 Responsabilidade por danos causados por notariais e


registrais

O STJ entendia que o Estado respondia subsidiariamente, pois este serviço é prestado

pelo particular por delegação. O titular da serventia responderia de forma principal e, caso não
fosse possível indenizar a vítima, o Estado responderia de modo subsidiário (STJ, AgRg no REsp

1377074/RJ, julgado em 16/02/2016).

Ocorre que, em 2019, o STF, em sede de repercussão geral, mudou esse


entendimento, o que deve se estender também para o STJ. Para o STF, o Estado possui

responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que tabeliães e oficiais de registro,
no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros, assentado o DEVER de
regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade

administrativa (STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019
(repercussão geral) (Info 932)).

Vale ressaltar que, quanto aos notários e registrais, antes da Lei n. 13.286/16, a

responsabilidade era objetiva, ou seja, a pessoa lesada não precisava provar dolo ou culpa por
parte do notário ou registrador, conforme entendimento do STJ (STJ, AgRg no AREsp

110.035/MS, julgado em 23/10/2012), sendo que o prazo prescricional para a vítima ingressar
com ação judicial contra o notário/registrador era de 5 anos.

No entanto, com o advento da Lei n. 13.286/16, houve mudança neste

posicionamento, pois esta alterou o art. 22 da Lei 8.935/94, estipulando tanto a responsabilidade
subjetiva do notário/registrador quanto o prazo prescricional de 3 anos.

30
17.11 Perda de uma chance

A teoria da perda de uma chance prevê a possibilidade de alguém ser indenizado em


razão da frustração pela perda de uma oportunidade futura, séria e real, de obter uma vantagem

ou de evitar um prejuízo, o que ocorreria, dentro da lógica do razoável, se não fosse pela
conduta do agente.

No Direito Privado, essa tese é aceita pelos Tribunais Superiores, que possuem uma
série de julgados adotando ou rejeitando a sua aplicação em diferentes casos concretos. Todavia,

o seu cabimento em ações contra o Estado, em que pese seja bastante principiante, já conta
com importantes adeptos, como o Min. Mauro Campbell, do STJ. Segundo ele, essa teoria deve

ser aplicada nas relações entre Estado e particular quando o Poder Público provoca a perda de
uma chance de o cidadão gozar determinado benefício em razão de sua conduta ou omissão.

31
QUADRO SINÓTICO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

EVOLUÇÃO HISTÓRICA
As monarquias absolutistas se fundavam numa ideia de soberania, e o Estado
FASE DE não respondia por seus atos.
IRRESPONSABILIDADE
O Brasil não teve a fase da irresponsabilidade.

O Estado, que, até então, agia irresponsavelmente, passou a ser responsável,

RESPONSABILIDADE em casos pontuais, sempre que houvesse previsão legal específica para
POR PREVISÃO LEGAL responsabilidade.
No Brasil, surgiu com a criação do Tribunal Conflitos, em 1873.

Necessária a comprovação da conduta do Estado; da ocorrência do dano; do


nexo de causalidade e do elemento subjetivo, qual seja responsabilidade.
RESPONSABILIDADE
SUBJETIVA No Direito Brasileiro, a responsabilidade subjetiva (teoria civilista) tinha
embasamento no Código Civil de 1916.

A vítima apenas deveria comprovar que o serviço foi mal prestado ou

CULPA DO SERVIÇO prestado de forma ineficiente ou ainda com atraso, sem necessariamente
apontar o agente causador.

RESPONSABILIDADE Não é necessário comprovar existência de qualquer elemento subjetivo.


OBJETIVA

TEORIAS
É a responsabilidade objetiva consagrada no art. 37, §6º da CRFB/88, ao
apontar que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros.

Assegura-se o direito de regresso em face do agente público nos casos de


RISCO
dolo o culpa deste.
ADMINISTRATIVO
Admite excludentes de responsabilidade do Estado: Caso Fortuito, Força
Maior e Culpa Exclusiva da Vítima.

A culpa concorrente – da vítima e do Estado – apenas atenua a


responsabilidade de uma das partes, eis que os dois serão
responsabilizados.

32
Conduta: deve ser comissiva e
praticada por agente público que
atue nesta qualidade ou, ao menos,
se aproveitando da qualidade de
agente para causar o dano.

Dano: os danos que geram


responsabilidade do estado são os
Baseia-se em três elementos:
danos jurídicos, ou seja, o dano a um
bem tutelado pelo direito, ainda que
exclusivamente moral

Nexo Causal: o Brasil adotou a teoria


da causalidade adequada, por meio
da qual o Estado responde, desde
que sua conduta tenha sido
determinante para o dano causado.

É a responsabilidade pela omissão do Estado que é do tipo subjetiva. Essa


teoria expressa que a má prestação do serviço, a prestação ineficiente ou a

CULPA ausência de prestação do serviço gera a responsabilidade subjetiva.

ANÔNIMA/CULPA DO São elementos definidores dessa responsabilidade: o comportamento


SERVIÇO omissivo do Estado, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do serviço
público que deve de ato omissivo ilícito - ausência de cumprimento de seus
deveres legalmente estabelecidos.

Se mesmo adiante da omissão do estado, este possuía um dever legal e


específico de cuidado, quando mantém alguém sob sua custódia, a
responsabilidade será objetiva.

Caso de um detento fuja da prisão e Porém, se a fuga ocorre e o delito


assalte, uma casa próxima do cometido se dá bem distante do

RISCO CRIADO/RISCO presídio o Estado deve ser presídio ou muito tempo após a
SUSCITADO responsabilizado, vez que assumiu o fuga, não há nexo causal com a
risco ao construir o presídio naquela situação de risco, logo, não há
região residencial e não cuidou da motivo para se mencionar
segurança necessária. responsabilidade objetiva.

Situações em que basta a


FORTUITO INTERNO
comprovação de que o fortuito só foi

33
possível em virtude da custódia, para
que haja a responsabilidade

Situações em que o fato é alheio e


independente da situação de
FORTUITO EXTERNO
custódia, não gerando a
responsabilização.

É considerada objetiva, mas não admite nenhuma exclusão de


responsabilidade.
RISCO INTEGRAL
Adota-se essa teoria no caso de dano nuclear, dano ambiental, crimes
ocorridos a bordo de navio, ataques terroristas e nos casos de DPVAT.

RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO E AÇÃO DE REGRESSO


O artigo 37, §6° da Constituição estabelece que a responsabilização dos agentes públicos é subjetiva.

Quanto à possibilidade de ação direta contra o agente, o STF já pacificou o

É POSSÍVEL AÇÃO entendimento de que não é possível a propositura de ação, diretamente,

DIRETA PROPOSTA em face do agente público causador do dano, ao indicar que art. 37, §6°
PELA VÍTIMA CONTRA da CRFB/88 garantiu à vítima o direito de ser indenizada pelo Estado e
O AGENTE PÚBLICO? concedeu ao agente a garantia de só ser cobrado pelo ente, na chamada
teoria da dupla garantia.

Quanto à possibilidade de denunciação da lide pelo Estado, o


É POSSÍVEL
DENUNCIAR Á LIDE entendimento doutrinário majoritário, é também pela impossibilidade, eis
NA AÇÃO DE que a denunciação à lide geraria uma ampliação subjetiva do mérito da ação,
RESPONSABILIDA acarretando à vítima manifesto prejuízo à celeridade na prestação
VÍTIMA X ESTADO? jurisdicional.

PRESCRIÇÃO
Apesar de a questão ainda não estar pacificada, a doutrina majoritária aponta que o prazo prescricional
de tal ação é de 5 anos.

Cabe ressaltar que a ação de ressarcimento ao erário por danos causados por agentes ao patrimônio
público, é imprescritível. Caso o dano tenha sido causado por um particular, a ação de ressarcimento
neste caso prescreve em 3 anos, nos moldes do Código Civil de 2002.

RESPONSABILIDADE POR OBRA PÚBLICA


Se a obra é executada pelo próprio Estado, a responsabilidade será objetiva.
Por outro lado, se a obra mal executada foi realizada por um particular que

34
firmou contrato administrativo, e que o dano foi provocado por culpa
RESPONSABILIDADE exclusiva do executor, a responsabilidade será subjetiva.
DECORRENTE DA MÁ
Porém, se o Estado foi omisso no dever de fiscalizar o contrato firmado
EXECUÇÃO DA OBRA
indica que este deve ser responsabilizado subjetivamente.

RESPONSABILIDADE Ocorrendo o prejuízo, a responsabilidade é objetiva e do Estado. Mesmo


PELO SIMPLES FATO
que a obra traga benefício para a coletividade, pelo fato de ter causado
DA OBRA:
prejuízo a um administrado, não poderá este deixar de ser indenizado.

RESPONSABILIDADE POR ATO LEGISLATIVO


As leis de efeito concreto são aquelas que ostentam a qualidade de lei em
LEIS DE EFEITOS sentido formal, mas são, na verdade, atos administrativos.
CONCRETOS:
De tais leis decorre a responsabilidade civil do ente público que a emanou
de forma objetiva, ou seja, com base da teoria do risco administrativo.

Já as leis em sentido formal e material, configuram-se como sendo atos


legislativos típicos, ou seja, emanado pelo Poder Legislativo.
Por se tratarem de normais gerais e abstratas, via de regra, não geram
LEIS EM SENTIDO
responsabilidade civil do Estado.
FORMAL E MATERIAL
Parte da doutrina entende que Decorrer dano específico a alguém;
excepcionalmente é possível a
responsabilidade por atos O ato normativo for declarado
legislativos desde que presentes inconstitucional.
dois requisitos:
RESPONSABILIDADE POR ATOS JURÍDICOS

A Constituição traz uma exceção, ou seja, um caso

O entendimento majoritário aponta a em que haverá responsabilização decorrente da

irresponsabilidade do ente público por atos decisão judicial, por erro judiciário, assim como o
jurisdicionais típicos. que ficar preso além do tempo fixado na
sentença.

A prisão não é ato jurisdicional, e sim ato administrativo exercido posteriormente à decisão judicial,
em sede de cumprimento e execução da pena.

A ação regressiva deve ser proposta em face do magistrado, devendo-se demonstrar dolo ou erro
grosseiro.

RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS

35
A responsabilidade civil do Estado por danos ambientais é objetiva na variante do risco integral.
Entretanto, ela será de execução subsidiária.
Se houver omissão do Estado quanto ao dano ambiental, a responsabilidade será subsidiária.
A responsabilidade administrativa por dano ambiental é subjetiva.

RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS POR NOTARIAIS E REGISTRAIS


O Estado responde de forma direta, primária e objetiva. No entanto, o Estado tem o direito de
regresso contra o responsável, sob pena de improbidade administrativa.
Obs.: a responsabilidade do notário/registrador é subjetiva e tem prazo prescricional de 3 anos (Lei n.
13.286/16).

36
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CESPE - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto - 2017) Acerca da responsabilidade civil,
assinale a opção correta de acordo com a doutrina e a jurisprudência dos tribunais superiores.

A) Situação hipotética: Uma autarquia federal, por meio de processo licitatório, celebrou contrato
com empresa para a prestação de serviços de limpeza em sua sede. A referida empresa não
honrou com as obrigações trabalhistas com os seus empregados, que realizavam os serviços na
sede do ente público. Assertiva: Nessa situação, incide a responsabilidade objetiva
extracontratual da União, nos termos do entendimento do STF.

B) Situação hipotética: Lei de determinado estado da Federação estabeleceu a responsabilidade


do estado durante a realização de evento internacional na capital dessa unidade federativa: o
estado assumiria os efeitos da responsabilidade civil perante os organizadores do evento, por
todo e qualquer dano resultante ou que surgisse em função de qualquer incidente ou acidente
de segurança relacionado ao referido evento, exceto na situação em que organizadores ou
vítimas concorressem para a ocorrência do dano. Assertiva: Conforme entendimento do STF, a
referida lei estadual é constitucional, pois a Constituição Federal de 1988 não esgota matéria
relacionada à responsabilidade civil.

C) Situação hipotética: Um professor de escola pública foi agredido por um aluno em sala de
aula, tendo sido atingido por disparo de arma de fogo. Assertiva: Nessa situação, incide a
responsabilidade subjetiva estatal devido à conduta omissiva do Estado pelo não oferecimento
de segurança adequada aos seus servidores.

D) Em caso de dano causado por servidor público, o Estado tem o dever de indenizar a vítima,
independentemente da licitude da conduta, cabendo, ainda, ação regressiva contra o servidor,
fundada na responsabilidade objetiva e em razão da teoria do risco administrativo.

E) Particular que tenha sofrido danos materiais e morais provocados por servidor público no
exercício de suas atribuições poderá ingressar com ação diretamente contra o servidor na busca

37
de reparo pelos prejuízos sofridos, aplicando-se a teoria da imputação volitiva com incidência
da responsabilidade objetiva no tocante à comprovação do dano.

Comentário:

Gabarito: letra B.

A) Incorreta. Lei 8666, art. 71. §1° - A inadimplência do contratado, com referência aos encargos
trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade por
seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a regularização e o uso
das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis.

B) Correta. O art. 37, §6º, da Constituição Federal de 1988 – CF/88, não esgota a matéria
relacionada à responsabilidade civil imputável à Administração, constituindo, tão somente,
segundo o magistério de José dos Santos Carvalho Filho, um “mandamento básico sobre o
assunto”. Isso significa que, em situações especiais de grave risco para a população ou de
relevante interesse público, pode o Estado ampliar a respectiva responsabilidade por danos
decorrentes de sua ação ou omissão, para além das balizas do supramencionado dispositivo
constitucional, inclusive, por lei ordinária (como fez a Lei Geral da Copa), dividindo os ônus
decorrentes dessa extensão com toda a sociedade.

C) Incorreta. Quando o dano resulta da omissão específica do Estado ou, em outras palavras,
quando a inércia administrativa é a causa direta e imediata do não impedimento do evento, o
Estado responde objetivamente, como nos casos de morte de detento em penitenciária e
acidente de colégio público durante o período de aula.

D) Incorreta. A ação regressiva contra o servidor é fundada na responsabilidade subjetiva do


agente público (deve-se comprovar o dolo ou a culpa deste). Portanto, a expressão "fundada
na responsabilidade objetiva e em razão da teoria do risco administrativo" torna a assertiva
incorreta.

E) Incorreta. O Supremo Tribunal Federal, ao interpretar este dispositivo, consagrou o


entendimento de que o particular lesado somente poderá demandar o ente público ou a pessoa
jurídica de direito privado objetivando a reparação do dano causado, não sendo possível ajuizar

38
ação contra o agente causador do dano. Tal faculdade cabe, apenas, à pessoa jurídica de direito
público ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços públicos.

Questão 2

(FCC - TJ-MS - Juiz Substituto - 2020) Em conhecido acórdão proferido em regime de


repercussão geral, versando sobre a morte de detento em presídio − Recurso Extraordinário n°
841.526 (Tema 592) – o Supremo Tribunal Federal confirmou decisão do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, calcada em doutrina que, no tocante ao regime de responsabilização estatal
em condutas omissivas, distingue-a conforme a natureza da omissão. Segundo tal doutrina, em
caso de omissão específica, deve ser aplicado o regime de responsabilização

A) integral; em caso de omissão genérica, aplica-se o regime de responsabilização objetiva.

B) objetiva; em caso de omissão genérica, aplica-se o regime de responsabilização subjetiva.

C) subjetiva; em caso de omissão genérica, aplica-se o regime de responsabilização objetiva.

D) objetiva; em caso de omissão genérica, não há possibilidade de responsabilização.

E) subjetiva apenas em relação ao agente, exonerado o ente estatal de qualquer


responsabilidade; em caso de omissão genérica, aplica-se o regime de responsabilização objetiva
do ente estatal.

Comentário:

Gabarito: letra B. Observe o posicionamento do STF no RE a que se refere a questão:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37,
§6º, subsume-se à teoria do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas

quanto paras as omissivas, posto rejeitada a teoria do risco integral. 2. A omissão do Estado

39
reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o

Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o
resultado danoso. 3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a execução da pena

se dê de forma humanizada, garantindo-se os direitos fundamentais do detento, e o de ter


preservada a sua incolumidade física e moral (artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal). 4.

O dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando possível


a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto inafastável

para a configuração da responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da
Constituição Federal. 5. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em que não é
possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria mesmo que o preso

estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a responsabilidade do


Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio doctorum a teoria do risco

integral, ao arrepio do texto constitucional. 6. A morte do detento pode ocorrer por várias
causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente ou morte natural, sendo que nem sempre será

possível ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções exigíveis. 7. A responsabilidade
civil estatal resta conjurada nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa

impeditiva da sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de causalidade da sua


omissão com o resultado danoso. 8. Repercussão geral constitucional que assenta a tese de
que: em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no artigo 5º,

inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte do detento. 9. In casu,
o tribunal a quo assentou que inocorreu a comprovação do suicídio do detento, nem outra
causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o óbito ocorrido, restando
escorreita a decisão impositiva de responsabilidade civil estatal. 10. Recurso extraordinário

DESPROVIDO.

Assim, a explicação da correição da letra B já explica o erro das demais alternativas, tendo em

vista que:

- Omissão específica: responsabilidade civil objetiva. Haverá omissão específica quando o


Estado estiver na condição de garante (guardião) e, por omissão sua, cria situação propícia para

a ocorrência do evento em situação em que tinha o dever de agir para impedi-lo; a omissão
40
estatal se erige em causa adequada de não se evitar o dano. Exemplos de omissão específica:

preso que sofre lesão dentro da penitenciária, devido a uma briga com o companheiro de cela;
acidente com aluno nas dependências de escola pública.

- Omissão genérica: responsabilidade civil subjetiva. Haverá omissão genérica nas hipóteses em
que não se pode exigir do Estado uma atuação específica; quando a Administração tem apenas

o dever legal de agir em razão, por exemplo, do seu poder de polícia (ou de fiscalização), e por
sua omissão concorre para o resultado, caso em que deve prevalecer o princípio da

responsabilidade subjetiva. Exemplos de omissão genérica: casos de acidentes provocados pela


má manutenção em vias ou por animais na pista, falta de atendimento em hospitais públicos,
falha na prestação de serviços públicos.

Questão 3

(CESPE - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto - 2019) Segundo o entendimento majoritário do


STJ, no caso de ação indenizatória ajuizada contra a fazenda pública em razão da
responsabilidade civil do Estado, o prazo prescricional é

A) decenal, como previsto no Código de Processo Civil, em detrimento do prazo trienal previsto
pelas normas de direito público.

B) quinquenal, como previsto pelas normas de direito público, em detrimento do prazo decenal
contido no Código de Processo Civil.

C) trienal, como previsto pelo Código de Processo Civil, em detrimento do prazo quinquenal
contido no Código Civil.

D) quinquenal, como previsto pelas normas de direito público, em detrimento do prazo trienal
contido no Código Civil.

E) trienal, como previsto no Código Civil, em detrimento do prazo quinquenal contido no Código
de Processo Civil.

41
Comentário:

Gabarito: letra D.

Veja a seguinte tese firmada pelo STJ em sede de recurso repetitivo: O prazo prescricional
aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos, conforme
previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar de norma
especial, que prevalece sobre a geral (STJ. 1ª Seção. REsp 1251993-PR, Rel. Min. Mauro Campbell,
julgado em 12/12/2012 (recurso repetitivo) - Info 512).

Assim, completamente correta a letra D.

Questão 4

(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Considerando a jurisprudência do STJ, julgue os


seguintes itens, relativos à responsabilidade civil do Estado.
I O Estado responde civilmente por danos decorrentes de atos praticados por seus agentes,
mesmo que eles tenham agido sob excludente de ilicitude penal.
II A despeito de situações fáticas variadas no tocante ao descumprimento do dever de segurança
e vigilância contínua das vias férreas, a responsabilização da concessionária é uma constante,
passível de ser elidida somente quando cabalmente comprovada a culpa exclusiva da vítima.
III A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, devendo ser
comprovados concomitantemente a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de
causalidade entre o evento danoso e o comportamento ilícito do poder público.
Assinale a opção correta.

A) Apenas os itens I e II estão certos.

B) Apenas os itens I e III estão certos.

C) Apenas os itens II e III estão certos.

D) Todos os itens estão certos.

42
Comentário:

Correta letra B.

I – Correta. A Administração Pública deve responder civilmente pelos danos causados por seus
agentes, ainda que estes estejam amparados por causa excludente de ilicitude penal, pois esta
não é uma das causas excludentes de responsabilidade administrativa.

II – Incorreta. Não somente nessa hipótese. Como exposto na apostila, são 4 as excludentes de
nexo causal, que afastam a responsabilidade civil do Estado: caso fortuito, força maior, culpa
exclusiva da vítima e ato de terceiro.

III – Correta. Na doutrina, ainda hoje, a posição majoritária é a de que a responsabilidade civil
do Estado em caso de atos omissivos é SUBJETIVA, baseada na teoria da culpa administrativa
(culpa anônima). O STJ ainda possui entendimento majoritário no sentido de que a

responsabilidade seria subjetiva. Vide: STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1345620/RS, Rel. Min.
Assusete Magalhães, julgado em 24/11/2015.

Assim, se não for mencionado se a omissão é específica ou genérica, prevalece o entendimento

de que a responsabilidade civil é subjetiva nos casos de omissão, como regra geral.

Questão 5

(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) Conforme o ordenamento jurídico pátrio, pode-se
afirmar, sobre a responsabilidade objetiva do Estado:

A) não há nexo causal entre a conduta da Administração e o dano decorrente de força maior,
razão pela qual em tal situação não se pode falar em dever de indenizar, ainda que provado
que a culpa anônima do serviço concorreu para o evento.

B) se lícito o ato do agente público que causou o dano, este só implicará dever de indenizar se
for antijurídico, ou seja, anormal e especial.

43
C) não haverá dever de indenizar nos casos em que o princípio da igualdade de todos na
distribuição dos ônus e encargos sociais deva ceder diante do interesse da continuidade do
serviço ou da intangibilidade da obra pública.

D) ela não se afasta pela culpa exclusiva da vítima, uma vez que é suficiente para sua
caracterização o nexo causal entre o ato do agente público e o dano.

Comentário:

Gabarito: letra B.

A) Incorreta. Em regra, não há nexo causal entre a conduta da Administração e o dano


decorrente de força maior (evento previsível, mas inevitável, tais quais os eventos da natureza).
Entretanto, caso reste provado que a Administração prestou um serviço ineficiente ou atrasado
(culpa anônima) e este concorreu para o evento danoso, haverá o dever de indenizar.

B) Correta. Quando o dano é provocado por uma atuação lícita do Estado, não há, via de regra,
qualquer direito à indenização. Ocorre que um particular pode sofrer um prejuízo específico e
anormal em relação aos demais e, em decorrência do princípio da isonomia, tal particular
merecerá ser ressarcido. Exemplo: Ana conseguiu um alvará para construir um hotel em frente
a um ponto turístico da sua cidade e, com isso, tirava seu sustento. De repente, por motivo de
interesse público, o Estado decide demolir o atrativo turístico para construir ali um hospital. O
ato é lícito, mas, nesse caso, Ana sofrerá um dano anormal e específico que outros particulares
não sofrerão e, para evitar que ela seja especialmente prejudicada (ferindo-se a isonomia), o
Estado deverá indenizá-la.

Segundo os ensinamentos de Maria Sylvia, somente se pode aceitar como pressuposto da


responsabilidade objetiva a prática de ato antijurídico se este, embora lícito, for entendido como
ato causador de dano anormal e específico a determinadas pessoas, rompendo o princípio da
igualdade de todos perante os encargos sociais.

C) Incorreta. Aplica-se o mesmo raciocínio da letra “B”. Assim, o princípio da isonomia demanda
que particulares sejam indenizados na hipótese em que estes são acometidos por um dano
anormal e específico, mesmo aqueles que são decorrentes de atividades lícitas.

44
D) Incorreta. A culpa exclusiva da vítima rompe o nexo causal entre a conduta danosa e o
prejuízo, já que adotamos, em regra, a Teoria do Risco Administrativo, que permite algumas
excludentes de responsabilidade para eximir o Estado do dever de indenizar.

Questão 6

(CESPE - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto - 2019) A respeito da responsabilidade civil do


Estado, julgue os itens a seguir.
I O Estado é responsável pela morte de detento causada por disparo de arma de fogo portada
por visitante do presídio, salvo se comprovada a realização regular de revista no público externo.

II O Estado necessariamente será responsabilizado em caso de suicídio de pessoa presa, em


razão do seu dever de plena vigilância.

III A responsabilidade do Estado, em regra, será afastada quando se tratar da obrigação de


pagamento de encargos trabalhistas de empregados terceirizados que tenham deixado de
receber salário da empresa de terceirização.

Assinale a opção correta.

A) Apenas o item I está certo.

B) Apenas o item III está certo.

C) Apenas os itens I e II estão certos.

D) Apenas os itens II e III estão certos.

E) Todos os itens estão certos.

Comentário:

Correta letra B.

45
I – Incorreta. A responsabilidade civil do Estado, para o STF, no caso de morte de detento em
presídio, é objetiva, com base na Teoria do Risco Criado, pois o Estado tem o dever de proteger
a vida e a integridade daqueles sob a sua custódia.

II – Incorreta. Não necessariamente. Em regra, o Estado é responsável objetivamente pela morte


de detento, pois tem o dever de garante perante o custodiado. Todavia, a obrigação de indenizar
pode ser afastada, caso o Estado consiga provar que a morte não poderia ter sido evitada.

III – Correta. O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, §1º, da Lei nº
8.666/93 (STF. Plenário. RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux,
julgado em 26/4/2017 (repercussão geral) - Info 862).

Questão 7

(CESPE/CEBRASPE - 2019 – TCE-RO – Procurador do Ministério Público de Contas) Considere

as seguintes situações hipotéticas.

I João, agente de uma fundação pública de direito público, no exercício de suas funções, causou
dano a terceiro.

II Pedro, agente de sociedade de economia mista exploradora de atividade econômica, no

exercício de suas funções, causou dano a terceiro.

III Antônio, agente de empresa privada prestadora de serviços públicos, no exercício de suas
funções, causou dano a terceiro.

Assinale a opção que apresenta, na ordem em que aparecem, as formas de responsabilidades

das referidas pessoas jurídicas pelos danos causados por João, Pedro e Antônio.

A) objetiva / objetiva / objetiva.

B) objetiva / objetiva / subjetiva.

46
C) objetiva / subjetiva / objetiva.

D) subjetiva / objetiva / objetiva.

E) subjetiva / subjetiva / objetiva.

Comentário:

Gabarito: letra C.

I – Objetiva. A responsabilidade da fundação pública por atos dos seus agentes é objetiva.

II – Subjetiva. Em relação a responsabilidade das empresas públicas e sociedades de economia

mista, se estas prestarem serviços públicos, será objetiva. No entanto, se explorarem


atividades econômicas, em regra, será subjetiva, visto que a regra no nosso ordenamento é

a responsabilidade civil subjetiva.

III – Objetiva, vide justificativa do item anterior.

Questão 8

(CESPE/CEBRASPE – Prefeitura de Manaus/AM – Procurador do Município - 2018) A respeito


do entendimento do STJ sobre a responsabilidade civil do Estado, julgue o item seguinte.

A existência de causa excludente de ilicitude penal não impede a responsabilidade civil do

Estado pelos danos causados por seus agentes.

Certo

Errado

Comentário:

Gabarito: Certo.
47
Jurisprudência em Teses do STJ – Edição nº 61: “A Administração Pública pode responder

civilmente pelos danos causados por seus agentes, ainda que estes estejam amparados por
causa excludente de ilicitude penal.”

Questão 9

(VUNESP – Prefeitura de São José dos Campos/SP – Procurador - 2019) Sobre a


responsabilidade civil do Estado, assinale a alternativa que está de acordo com a jurisprudência

do Superior Tribunal de Justiça.

A) Nas ações indenizatórias decorrentes da responsabilidade civil objetiva do Estado, é


obrigatória a denunciação à lide.

B) A responsabilidade civil pelo dano ambiental é subjetiva e subsidiária, mormente quando há


omissão do dever de controle e de fiscalização por parte do ente público.

C) O Estado responde subjetivamente pela integridade física de detento em estabelecimento

prisional.

D) O Estado responde civilmente por atos ilícitos praticados por foragidos do sistema
penitenciário, ainda que os danos não decorram direta ou imediatamente do ato de fuga.

E) Em caso de ato ilícito cometido por agente público, o termo inicial do prazo prescricional

para ajuizamento de ação indenizatória em face do Estado se dá a partir do trânsito em julgado


da sentença penal condenatória.

Comentário:

Gabarito: letra E.

A) Incorreta. "(...) o Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a denunciação à lide do agente
público, deixando claro somente que, nesses casos, o estado não está obrigado a fazê-lo, sendo
mantido o direito de regresso autônomo caso o ente público opte por não se valer da
48
intervenção de terceiro, para cobrar de seu agente. Com efeito, o entendimento do STJ se baseia

na garantia de economia processual, eficiência e celeridade." (Matheus Carvalho, Manual de


Direito Administrativo).

B) Incorreta. A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco

integral (CONJUR).

C) Incorreta. "Por vezes, em algumas circunstâncias, o Estado cria situações de risco que levam
à ocorrência do dano. Por meio de um comportamento positivo, o Estado assume grande risco

de gerar o dano a particulares. Assim, nesses casos, o Estado responde objetivamente por ele,
ainda que não se demonstre conduta direta de um agente público. As situações mais corriqueiras

decorrem da guarda de pessoas ou de coisas, como é o caso dos detentos de um presídio, de


crianças dentro de uma escola pública, de carros apreendidos no pátio do Departamento de

Trânsito, de armazenamento de armas." (Matheus Carvalho, Manual de Direito Administrativo).

D) Incorreta. "Pode-se citar como exemplo, a seguinte situação. Um detento foge e assalta, na
fuga, a casa ao lado do presídio, gerando grandes prejuízos a uma família que ali reside. O

Estado deve ser responsabilizado objetivamente em razão do risco causado à vizinhança, quando
assumiu construir o presídio naquela região residencial e não cuidou da segurança necessária.

Por sua vez, se a fuga do detento ocorre e o delito cometido por ele se dá bem distante do
presídio ou muito tempo após a fuga, não há nexo causal com a situação de risco, logo, não há
motivo para se mencionar responsabilidade objetiva."

E) Correta. A jurisprudência do STJ é assente no sentido de que, "em se tratando de ação civil
ex delicto, com o objetivo de reparação de danos, o termo a quo para ajuizamento da ação
somente começa a fluir a partir do trânsito em julgado da ação penal".

Questão 10

(CESPE/CEBRASPE – DPE/DF - Defensor Público - 2019) No que diz respeito a desvio e excesso
de poder e à responsabilidade civil do Estado, julgue o item subsecutivo.

49
É possível responsabilizar a administração pública por ato omissivo do poder público, desde que

seja inequívoco o requisito da causalidade, em linha direta e imediata, ou seja, desde que exista
o nexo de causalidade entre a ação omissiva atribuída ao poder público e o dano causado a

terceiro.

Comentário:

Gabarito: Certo.

STJ: A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva (regra), devendo ser

comprovada a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de causalidade.

OMISSÃO GENÉRICA - Culpa administrativa: responsabilidade subjetiva.

OMISSÃO ESPECÍFICA - Risco administrativo: responsabilidade objetiva.

Questão 11

(FCC – DPE/AM - Defensor Público - 2018) Considere que um grupo de moradores de


determinado bairro tenha sido afetado pelo rompimento de uma adutora instalada por empresa
privada concessionária de serviço público de fornecimento de água e tratamento de esgoto,

sofrendo diversos prejuízos materiais em decorrência do ocorrido. De acordo com os preceitos


constitucionais aplicáveis à espécie, no que tange à responsabilidade civil, referida concessionária

A) Responde pelos danos causados, independentemente de comprovação de dolo ou culpa,


porém apenas em relação aos usuários dos serviços por ela prestados.

B) Possui responsabilidade objetiva pelos danos causados, a qual, contudo, pode ser afastada
caso comprovada a ocorrência de caso fortuito.

C) Apenas responde pelos danos causados se comprovada conduta dolosa ou culposa de seus
empregados, eis que os mesmos não são agentes públicos.

50
D) Responde pelos danos causados, de forma irrestrita, com base na teoria do risco integral,

descabendo responsabilidade subsidiária do poder concedente.

E) Somente responde pelos danos causados se comprovada falha na prestação do serviço,

descabendo responsabilização objetiva.

Comentário:

Gabarito: letra B.

A) Incorreta. A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de


serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários do serviço, segundo

decorre do art. 37, §6º, da Constituição Federal (STF RE 591874 / MS).

B) Correta. O direito brasileiro adota a teoria da responsabilidade objetiva na variação teoria do


risco administrativo, a qual reconhece excludentes da responsabilidade estatal. Excludentes são

circunstâncias que, ocorrendo, afastam o dever de indenizar. São três: a) Culpa Exclusiva da
Vítima; b) Força Maior; c) Culpa de Terceiro.

C) Incorreta. Responsabilidade objetiva independe de dolo ou culpa, bastando, somente, a

conduta, o nexo e o dano.

D) Incorreta. Aplica-se a teoria do RISCO ADMINISTRATIVO: Dever que o Estado possui de


reparar os prejuízos patrimoniais e morais causados por agentes, nessa qualidade, a terceiros,

assegurado o direito de regresso contra o responsável legal nos casos de dolo e culpa. Teoria
do Risco Integral → É uma variação radical da responsabilidade OBJETIVA, que sustenta ser

devida a indenização sempre que o Estado causar prejuízos a particulares, SEM QUALQUER
EXCLUDENTE. É aplicado no Brasil em situações excepcionais: a) Acidente de Trabalho
(infortunísticos); b) Indenização coberta pelo seguro obrigatório para automóveis (DPVAT); c)

Atentados terroristas em aeronaves; d) Dano ambiental (ex: vazamento de petróleo). e) Dano


nuclear.

E) Incorreta. Vide outras alternativas.

51
Questão 12

(MPE/GO – Promotor de Justiça - 2019) Sobre a responsabilidade civil do Estado, assinale a

alternativa incorreta:

A) Segundo o STF, a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
de serviço público, em relação a terceiros não usuários do serviço, é subjetiva.

B) No caso de posse em cargo público determinada por decisão judicial, entende o STF que o
servidor não faz jus á indenização sob fundamento de que deveria ter sido investido em

momento anterior, salvo situação de flagrante arbitrariedade.

C) Como regra, o Brasil adota a teoria do risco administrativo, segundo a qual é possível excluir

a responsabilidade diante da ausência de qualquer de seus elementos definidores.

D) É possível constatar divergência doutrinária quanto ao reconhecimento do caso fortuito como

excludente da responsabilidade objetiva, uma vez que parcela dos autores, para os quais ele
não pode ser considerado uma excludente, afirma que pouco importa perscrutar o porquê de
o Estado ter praticado o ato.

Comentário:

Gabarito: letra A. Atenção, tendo em vista que a questão pede para assinalar a alternativa
incorreta.

A) Incorreta. A orientação atual do STF é no sentido de que há responsabilidade civil objetiva

das concessionárias e permissionárias, prestadoras de serviço público, também em relação a


terceiros, ou seja, aos não usuários. Em outras palavras, as concessionárias e permissionárias de

serviços públicos também respondem objetivamente. Isso é válido para usuários e terceiros. [RE
591.874, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 26-8-2009, P, DJE de 18-12-2009].

B) Correta. A questão cuida da chamada teoria do fato consumado. Ela preconiza que, diante

de situações jurídicas CONSOLIDADAS pelo decurso do tempo, amparadas por decisão judicial,
52
não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade

das relações sociais (STJ. REsp 709.934/RJ, Min. Raul Araújo). "A teoria do fato consumado foi
construída ao longo dos anos como um mecanismo de ESTABILIZAÇÃO de atos ou decisões,

em casos excepcionais, nos quais a restauração da estrita legalidade seria faticamente impossível
ou, ainda que possível, causaria danos sociais de grande monta e irreparáveis, com malferimento

do postulado da segurança jurídica."

Acontece que o STF entende que, em situações envolvendo concurso público, não faz sentido
invocar-se a incidência de tal teoria, haja vista que o candidato beneficiado com a decisão não

desconhece que o provimento jurisdicional tem natureza provisória e que pode ser revogado a
qualquer momento, acarretando automático efeito retroativo. Vale ressaltar, por fim, que a

concessão da tutela antecipada corre por conta e responsabilidade do requerente (STF. Plenário.
RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 - Info 753).

C) Correta. Por teoria do risco administrativo entende-se aquela que obriga o Estado a indenizar

todo e qualquer dano, desde que envolvido no respectivo evento. Porém, como forma de elidir
sua responsabilidade, pode o Estado, se perquirir o elemento volitivo do agente causador do
dano, alegar que a sua ação estava acobertada por causas que implicam na exclusão de sua

responsabilidade (culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior).

D) Correta. Segundo Fernanda Marinela, na “hipótese de caso fortuito, há divergência doutrinária


quanto ao seu reconhecimento como excludente da responsabilidade objetiva, apesar de a

doutrina majoritária o incluir na lista. Alguns autores reconhecem que ele não pode ser indicado
como excludente, já que pouco importa o porquê de o Estado praticar o ato; o que interessa

para a responsabilidade é que ele causou o dano, constituindo assim o nexo causal. Para Celso
Antônio Bandeira de Mello, o ‘caso fortuito não é utilmente invocável, pois, sendo um acidente

cuja raiz é tecnicamente desconhecida, não elide o nexo entre o comportamento defeituoso do
Estado e o dano produzido. O porquê da incorreta atuação do Estado não interfere com o dado

objetivo relevante, a saber: ter agido de modo a produzir a lesão sofrida por outrem”.

53
Questão 13

(MPE/SP – Promotor de Justiça - 2017) Assinale a alternativa correta.

A) Nos atos comissivos, a responsabilidade do Estado pode incidir sobre os atos lícitos e ilícitos,
desde que causem prejuízo a terceiros.

B) Nas hipóteses de força maior, assim entendidos como acontecimentos imprevisíveis e

inevitáveis, fica excluída a responsabilidade do Estado pelos danos causados.

C) A responsabilidade civil do Estado pelos danos causados por seus agentes na prestação de

serviços é objetiva e independe de prova de nexo de causalidade entre o serviço prestado e o


dano causado.

D) O Estado não pode ser responsabilizado por danos decorrentes de leis e regulamentos
porque são normais gerais e abstratas, dirigidas a toda a coletividade.

E) Em razão da responsabilidade objetiva do Estado, a culpa concorrente da vítima ou de terceiro


é indiferente e não interfere na obrigação de indenizar e em seu montante.

Comentário:

Gabarito: letra A.

A) Correta. Assim como a responsabilidade de particulares, a responsabilidade civil do Estado

pode ser oriunda de ato lícito ou ilícito.

B) Incorreta. A assertiva dá a impressão de que se trata de uma regra geral. A teoria adotada
para a responsabilização da Administração é a do risco administrativo, ou seja, admite as

excludentes de causalidade. Todavia, há hipóteses em que a teoria adotada é a do risco integral,


onde não se admite tais excludentes, como danos nucleares e ambientais.

C) Incorreta. Como afirmado na alternativa anterior, a teoria adotada é a do risco administrativo.

54
D) Incorreta. A doutrina majoritária entende que, excepcionalmente, é possível a

responsabilização por atos legislativos, desde que presentes dois requisitos, a saber: decorrer
dano direto a terceiro e o ato normativo for declarado inconstitucional pelo STF, em sede de

controle concentrado.

E) Incorreta. Como a teoria adotada é a do risco administrativo, a excludente pelo fato de


terceiro é totalmente aplicável, bem como o fato exclusivo da vítima ou sua concorrência, a teor

do art. 945, CC.

55
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - B

Questão 3 - D

Questão 4 - B

Questão 5 - B

Questão 6 - B

Questão 7 - C

Questão 8 - Certo

Questão 9 - E

Questão 10 - CERTO

Questão 11 - B

Questão 12 - A

Questão 13 - A

56
QUESTÃO DESAFIO

A teoria do risco integral possui aplicabilidade no Brasil? Cite a regra


e a exceção das teorias adotadas no país e pelo menos um exemplo.

57
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Sim, o Risco Integral é aplicável nos casos de danos ambientais e nucleares e não
cabe excludentes de responsabilidade, como na Teoria do Risco Administrativo, que é a
regra da responsabilidade civil do Estado. No risco administrativo, cabe excludente de ato
de terceiro, caso fortuito e culpa exclusiva da vítima.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Regra: na Teoria do Risco Administrativo cabem excludentes

A Constituição Federal de 1988 (art. 37, § 6.º) é fundamentada na noção do risco da


atividade desempenhada, ou seja, risco administrativo. Assim, o Poder Público deverá
ser responsabilizado pelos atos de seus agentes, em virtude do risco que naturalmente envolve
a execução das atividades públicas.

Essa noção encontra-se, inclusive, expressa no Código Civil:

"Art. 927, parágrafo único. "Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem."

Assim, em regra, as atividades oferecem um risco natural que, portanto, cabe a alegação
de excludentes de ilicitude para mitigar a responsabilidade objetiva em determinados casos.
Não ocorre o mesmo na Teoria do Risco Integral, adotada em casos excepcionais, quando há
presunção total de responsabilidade do Estado (danos ambientais, nucleares, terrorismo).

Segundo Ana Cláudia Campos: "Desse raciocínio surge a teoria-base da responsabilidade


civil do Estado que é a do risco administrativo, segundo a qual as pessoas jurídicas de direito
público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos devem ser responsabilizadas
pelos danos que seus agentes (de maneira comissiva ou omissiva) causarem aos particulares."19

19
Campos, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo: Método; Rio de Janeiro: Forense,
2019.p. 815.
58
Por esta teoria, admite-se que o Estado exclua ou atenue sua responsabilidade em
algumas situações, alegando, por exemplo: culpa exclusiva (excludente) ou concorrente
(atenuante) da vítima, caso fortuito/força maior e ato de terceiro.

Portanto, esta é a regra da responsabilidade civil do Estado no Direito Administrativo


brasileiro.

 Na Teoria do Risco Integral não cabem excludentes (ex: direito ambiental)

Como já foi adiantado no critério anterior, em situações excepcionais e pontuais, adotar-


se-á a Teoria do Risco Integral, que é aquela em que não há qualquer excludente de ilicitude
que possa livrar a obrigação do Estado de indenizar as vítimas.

Ana Cláudia Campos afirma:

"Ao adotar o risco integral, o Estado transforma-se em garantidor universal, ou seja,


aconteça o que acontecer, o Poder Público sempre será responsabilizado e obrigado a
indenizar nas situações enquadradas nessa teoria."20

Não há, portanto, hipótese de excludente de responsabilidade. Segundo a doutrina


majoritária, essa teoria só seria adotada em três situações:

Dano nuclear

Art. 21, XXIII, CF/1988. "Compete à União – explorar os serviços e instalações nucleares de
qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento
e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados,
atendidos os seguintes princípios e condições: [...] d) a responsabilidade civil por danos
nucleares independe da existência de culpa."

Atentado terrorista ou atos de guerra em aeronave

Art. 1º, Lei 10.309/2001. "Fica a União autorizada a assumir as responsabilidades


civis perante terceiros no caso de danos a bens e pessoas no solo, provocados
por atentados terroristas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas
aéreas brasileiras no Brasil ou no exterior."

Art. 1º, Lei 10.744/2003. "Fica a União autorizada, na forma e critérios estabelecidos pelo
Poder Executivo, a assumir despesas de responsabilidades civis perante terceiros na

20
Campos, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo: Método; Rio de Janeiro: Forense,
2019.p. 818.
59
hipótese da ocorrência de danos a bens e pessoas, passageiros ou não, provocados por
atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos, ocorridos no Brasil ou no
exterior, contra aeronaves de matrícula brasileira operadas por empresas brasileiras de
transporte aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo."

Essa tese do risco integral, como exceção, é largamente adotada na jurisprudência, sendo
pacífico que, nos danos ambientais, o Estado responde objetivamente, sem qualquer incidência
de excludentes de ilicitude, como culpa exclusiva da vítima, culpa de terceiro ou fortuito.

Recurso especial. Responsabilidade civil. Dano ambiental privado. Resíduo


industrial. Queimaduras em adolescente. Reparação dos danos materiais e morais. 1.
Demanda indenizatória movida por jovem que sofreu graves queimaduras nas pernas ao
manter contato com resíduo industrial depositado em área rural. 2. A responsabilidade
civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente dito (dano
ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado),
é objetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 10, da
Lei n. 6.938/81. 3. A colocação de placas no local indicando a presença de material
orgânico não é suficiente para excluir a responsabilidade civil. 4. Irrelevância da eventual
culpa exclusiva ou concorrente da vítima. 5. Quantum indenizatório arbitrado com
razoabilidade pelas instâncias de origem. Súmula 07/STJ. 6. Alteração do termo inicial da
correção monetária (Súmula 362/STJ) (STJ, 3.ª Turma, REsp 1373788/SP, 06.05.2014).

60
LEGISLAÇÃO COMPILADA

RESPONSABILIDADE DO ESTADO:

 CFRB/88: artigo 37, §6ª

 STF: Súmula Vinculante 11:

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física
própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

 STF: Súmula Vinculante 17:

Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os
precatórios que nele sejam pagos.

 STF: Súmula 562

Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.

 STJ: Súmula 37

São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

 STJ: Súmula 54

Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

 STJ: Súmula 130

A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículos ocorridos em seu
estacionamento.

 STJ: Súmula 186

Nas indenizações por ato ilícito, os juros compostos somente são devidos por aquele que praticou o crime.

 STJ: Súmula 326

61
Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica
sucumbência recíproca.

 STJ: Súmula 362

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

 STJ: Súmula 387

É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

 STJ: Súmula 387

A Fazenda Pública pode recursar a substituição do bem penhorado por precatório.

 STJ: Súmula 624

É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei nº 10.559/2002 (Lei da Anistia
Política).

RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS:

 CFRB/88: 5°, LXXV

PRESCRIÇÃO:

 Decreto 20.910/32: art. 1°


 Lei 9494/97: art. 1°-C
 CC/02: art. 206, §3°, V

 Enunciado 40 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ

Nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública aplica-se o prazo prescricional quinquenal previsto no
Decreto nº 20.910/1932 (art. 1º), em detrimento do prazo trienal estabelecido no Código Civil de 2002 (art. 206, §
3º, V), por se tratar de norma especial que prevalece sobre a geral.

62
JURISPRUDÊNCIA

RESPONSABILIDADE ESTATAL:

 STF. Plenário. RE 608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes,
julgado em 08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993).

Nos termos do artigo 37, §6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do
Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada.

Comentário:

A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviço público é objetiva e baseia-se na teoria do risco administrativo.

Para a configuração do dever de indenizar é necessário o preenchimento dos seguintes


requisitos:

a) ocorrência do dano;

b) ação ou omissão administrativa;

c) existência de nexo causal entre o dano e a ação ou omissão administrativa; e

d) ausência de causa excludente da responsabilidade estatal.

Ademais, a responsabilidade objetiva não é absoluta. O Estado pode se eximir da obrigação de

indenizar caso prove alguma excludente de responsabilidade (caso fortuito ou força maior; culpa
exclusiva da vítima ou culpa exclusiva de terceiro).

Não há como se reconhecer nexo causal entre uma suposta omissão genérica do Poder Público
e o dano causado, e, consequentemente, não é possível imputar responsabilidade objetiva ao
Estado. No caso concreto, devem ser analisados: a) o intervalo entre fato administrativo e o fato
típico (critério cronológico); e b) o surgimento de causas supervenientes independentes (v.g.,

63
formação de quadrilha), que deram origem a novo nexo causal, contribuíram para suprimir a

relação de causa (evasão do apenado do sistema penal) e efeito (fato criminoso).

 STF. Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema
826).

É imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado em decorrência da fixação de


preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica em
cada caso concreto.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1869046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020 (Info 674).

Aplica-se igualmente ao Estado o previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, relativo à responsabilidade
civil objetiva por atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser comissiva ou omissiva.

Comentário:

A regra geral do ordenamento brasileiro é a responsabilidade civil do Estado:

• Objetiva: pelos atos comissivos;

• Subjetiva: pelos atos omissivos.

Contudo, em situações excepcionais de risco anormal da atividade habitualmente desenvolvida,

a responsabilização estatal na omissão também se faz independentemente de culpa.

 STF. Plenário. ADI 6421 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20 e 21/5/2020 (Info
978).

A MP 966/2020, que dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos por ação e omissão em atos
relacionados com a pandemia da covid-19. O STF decidiu que a MP é, em princípio, constitucional, mas deverá
ser feita uma interpretação conforme à Constituição.

Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a medida cautelar para:

1) conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 2º da MP 966/2020, no sentido de estabelecer que,


na caracterização de erro grosseiro, deve-se levar em consideração a observância, pelas autoridades: a) de
standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações e entidades

64
internacional e nacionalmente conhecidas; bem como b) dos princípios constitucionais da precaução e da
prevenção; e

2) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art. 1º da MP 966/2020, para explicitar que, para
os fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião técnica trate
expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por
organizações e entidades reconhecidas nacional e internacionalmente; (ii) da observância dos princípios
constitucionais da precaução e da prevenção.

Foram fixadas as seguintes teses:

1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio
ambiente equilibrado ou impactos adversos à economia, por inobservância: i) de normas e critérios científicos
e técnicos; ou ii) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção.

2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão
tratem expressamente: i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como
estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente reconhecidas; e ii) da observância
dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se tornarem corresponsáveis por
eventuais violações a direitos.

Vale ressaltar que a MP não trata de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto impugnado
que dê imunidade a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída.

Comentário:

Essa MP abrange as esferas civil e administrativa e prevê que os agentes públicos só serão
responsabilizados pela prática de atos relacionados com as medidas de enfrentamento da

pandemia se tiverem agido com dolo ou erro grosseiro.

 STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 11/3/2020 (repercussão geral – Tema 366) (Info 969).

Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de fogos de
artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando for
concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do poder público
eventuais irregularidades praticadas pelo particular.

65
 STJ. 1ª Turma. REsp 1492832-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/09/2018 (Info 634).
STF. 1ª Turma. ARE 1175599 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 10/12/2019 (Info 963).

O Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 492/1994, reduzindo de 30% para 20% a alíquota do imposto de
importação dos brinquedos em geral. Com a redução da alíquota, houve a entrada de um enorme volume de
brinquedos importados no Brasil, oriundos especialmente da China, sendo estes bem mais baratos que os nacionais.
Como resultado, várias indústrias de brinquedos no Brasil foram à falência e, mesmo as que permaneceram,
sofreram grandes prejuízos. Uma famosa indústria de brinquedos ingressou com ação contra a União afirmando
que a Portaria, apesar de ser um ato lícito, gerou prejuízos e que, portanto, o Poder Público deveria ser condenado
a indenizá-la. O STJ não concordou com o pedido. Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais
prejuízos financeiros do setor privado decorrentes da alteração de política econômico-tributária no caso de o
ente público não ter se comprometido, formal e previamente, por meio de determinado planejamento
específico. A referida Portaria tinha finalidade extrafiscal e a possibilidade de alteração das alíquotas do imposto
de importação decorre do próprio ordenamento jurídico, não havendo que se falar em quebra do princípio da
confiança. O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias pelas
sociedades empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco da atividade próprio
da álea econômica de cada ramo produtivo. Não havia direito subjetivo da indústria quanto à manutenção da
alíquota do imposto de importação.

Comentário:

A referida Portaria não significou quebra do princípio da confiança por dois motivos:

1) O ordenamento jurídico prevê expressamente a possibilidade de redução ou de aumento das


alíquotas de imposto de importação para incentivar ou conter determinados setores da

economia;

2) O Estado não havia se comprometido com essa indústria de manter as alíquotas em


determinado patamar.

Em tese, somente nos casos em que o Estado se compromete, por ato formal, a incentivar, no
campo fiscal, determinado ramo do setor privado por certo período, é que se poderia invocar a

quebra da confiança na modificação de política fiscal.

66
A alteração das alíquotas de importação é opção política prevista no ordenamento jurídico e
não havia direito subjetivo da empresa fabricante de brinquedos para que o Governo mantivesse

outra conduta.

 STJ. 2ª Seção. CC 151130-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 27/11/2019 (Info 664).

A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser submetida à cláusula
compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei
autorizativa, seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária. Caso concreto: um grupo de acionistas
da Petrobrás formulou requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a Câmara de Arbitragem
do Mercado (CAM-BOVESPA) contra a União e a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos
decorrentes da desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da Operação Lava Jato.
O procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula
compromissória dizendo que as disputas que envolvam a Companhia, seus acionistas, administradores e
conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por meio de arbitragem. A União afirmou que não estava obrigada a
participar dessa arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ.

 STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão geral)
(Info 947).

A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público deve
ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte
ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa.

Comentário:

A vítima somente poderá ajuizar a ação contra o Estado (Poder Público), não sendo possível

ajuizar a demanda diretamente contra o agente público.

Da leitura do § 6º do art. 37 da CF/88, é possível perceber que o dispositivo consagrou duas

garantias:

67
• A primeira, em favor do particular lesado, considerando que a CF/88 assegura que ele poderá
ajuizar ação de indenização contra o Estado, que tem recursos para pagar, sem ter que provar

que o agente público agiu com dolo ou culpa;

• A segunda garantia é em favor do agente público que causou o dano, que só pode ser
responsabilizado pelo dano se for acionado pelo próprio Estado, em ação regressiva, após o

Poder Público já ter ressarcido o ofendido.

Outro argumento invocado é o princípio da impessoalidade. O agente público atua em nome

do Estado (e não em nome próprio). Logo, quem causa o dano ao particular é o Estado (e não

o servidor)21.

 STJ. 1ª Seção. REsp 1576254-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/06/2019
(recurso repetitivo – Tema 963) (Info 655).

Não há direito de regresso, portanto, não é cabível a execução regressiva proposta pela Eletrobrás contra a
União em razão da condenação das mesmas ao pagamento das diferenças na devolução do empréstimo
compulsório sobre o consumo de energia elétrica ao particular contribuinte da exação.

Comentário:

Em 1962, foi editada a Lei nº 4.156/62, criando um empréstimo compulsório sobre o consumo
de energia elétrica, de modo que, na conta de luz do consumidor, constava determinado valor

a título de empréstimo, além da tarifa normal. Esse tributo foi instituído com o objetivo de
financiar a expansão e a melhoria do setor elétrico brasileiro e perdurou até 1993.

O valor arrecadado era destinado à Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras) e a União era a
responsável solidária pela devolução do empréstimo aos consumidores. Entretanto, o imbróglio

surgiu quando a Eletrobras efetuou a devolução dos valores, mas os consumidores questionaram
os índices de correção monetária e juros utilizados, além de discutir a utilização de ações

preferenciais da Eletrobras como forma de pagamento.

21
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/eae31887c8969d1bde123982d3d43cd2?categoria=2&sub
categoria=16
68
Ocorre que a Eletrobras efetuou o pagamento da diferença de valor questionada em alguns
casos judiciais julgados procedentes e depois propôs ação contra a União defendendo a

existência de responsabilidade solidária entre a empresa e União, que deveria arcar com metade
do valor pago. Inobstante, o STJ entendeu que não há direito de regresso nesses casos, tendo
em vista que a responsabilidade da União deve ser subsidiária nesses casos, respondendo

somente caso o patrimônio da Eletrobras seja insuficiente.

 STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão geral) (Info
932).

O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas
funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa,
sob pena de improbidade administrativa. O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos
danos que notários e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.

Comentário:

Se o Estado for condenado e pagar a indenização à vítima, ele tem o dever de cobrar de volta

do tabelião ou registrador o valor que pagou.

Se o Estado não ajuizar a ação de regresso, os agentes públicos responsáveis por isso (exs:

Governador, Procurador-Geral do Estado, Secretário de Fazenda, a depender do caso concreto


e da organização administrativa do ente) poderão responder por ato de improbidade

administrativa.

Na ação de regresso, para o Estado ser indenizado, deve provar que o tabelião ou registrador

agiu com dolo ou culpa, tendo vista tratar-se de responsabilidade subjetiva.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/06/2018 (Info
630).

São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão de
atos de exceção praticados durante o regime militar.

69
Comentário:

Ex: João era servidor da ALE/PR. Em 1963, João foi demitido em razão de perseguição política

perpetrada na época da ditadura militar. Em 2011, João ajuizou ação ordinária contra o Estado
do Paraná pedindo a sua reintegração ao cargo. Esta pretensão é considerada imprescritível
considerando que envolve a efetivação da dignidade da pessoa humana. Vale ressaltar, contudo,

que a imprescritibilidade da ação que visa reparar danos provocados pelos atos de exceção não
implica no afastamento da prescrição quinquenal sobre as parcelas eventualmente devidas ao

autor. Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade


dos efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do autor,

o qual poderia ter buscado seu direito desde a publicação da Constituição da República. Em
outras palavras, o recebimento dos “atrasados” ficará restrito aos últimos 5 anos contados do

pedido.

 STF. 1ª Turma. RE 598356/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

A pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público possui responsabilidade civil em razão de
dano decorrente de crime de furto praticado em suas dependências, nos termos do art. 37, § 6º, da CF/88.

Comentário:

Caso concreto: o caminhão de uma empresa transportadora foi parado na balança de pesagem

na Rodovia Anhanguera (SP), quando se constatou excesso de peso. Os agentes da


concessionária determinaram que o condutor estacionasse o veículo no pátio da concessionária

e, em seguida, conduziram-no até o escritório para ser autuado. Aproximadamente 10 minutos


depois, ao retornar da autuação para o caminhão, o condutor observou que o veículo havia sido

furtado. O STF condenou a Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa concessionária


responsável pela rodovia a indenizar a transportadora. O Supremo reconheceu a

responsabilidade civil da prestadora de serviço público, ao considerar que houve omissão no

dever de vigilância e falha na prestação e organização do serviço.

70
 STJ. 3ª Turma. REsp 1749941-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/12/2018 (Info 640).
Cuidado. O STF já reconheceu a responsabilidade civil da concessionária que administra a rodovia
por FURTO ocorrido em seu pátio: STF. 1ª Turma. RE 598356/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 8/5/2018 (Info 901).

Concessionária de rodovia não responde por roubo e sequestro ocorridos nas dependências de
estabelecimento por ela mantido para a utilização de usuários. A segurança que a concessionária deve fornecer
aos usuários diz respeito ao bom estado de conservação e sinalização da rodovia. Não tem, contudo, como a
concessionária garantir segurança privada ao longo da estrada, mesmo que seja em postos de pedágio ou de
atendimento ao usuário. O roubo com emprego de arma de fogo é considerado um fato de terceiro equiparável
a força maior, que exclui o dever de indenizar. Trata-se de fato inevitável e irresistível e, assim, gera uma
impossibilidade absoluta de não ocorrência do dano.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/02/2018.

O STF decidiu que a responsabilização objetiva do Estado em caso de morte de detento somente ocorre
quando houver inobservância do dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da Constituição
Federal (RE 841526/RS). Não haverá responsabilidade civil do Estado se o Tribunal de origem, com base nas provas
apresentadas, decide que não se comprovou que a morte do detento foi decorrente da omissão do Poder Público
e que o Estado não tinha como montar vigilância a fim de impedir que o preso ceifasse sua própria vida. Tendo o
acórdão do Tribunal de origem consignado expressamente que ficou comprovada causa impeditiva da atuação
estatal protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a suposta omissão do Poder Público e o
resultado danoso.

 REsp 1492832/DF, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/09/2018,
DJe 01/10/2018

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ALTERAÇÃO DE


ALÍQUOTAS. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. DEMONSTRAÇÃO. AUSÊNCIA. INDÚSTRIA NACIONAL. IMPACTO
ECONÔMICO-FINANCEIRO. RISCO DA ATIVIDADE. DIREITO À MANUTENÇÃO DO STATUS QUO ANTE.
INEXISTÊNCIA. 1. É inviável o conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional quando
a divergência não é demonstrada nos termos exigidos pela legislação de regência. 2. Não se verifica o dever do
Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor privado decorrentes da alteração de política
econômico-tributária, no caso de o ente público não ter se comprometido, formal e previamente, por meio
de determinado planejamento específico. 3. Com finalidade extrafiscal, a Portaria MF n. 492, de 14 de setembro
de 1994, ao diminuir para 20% a alíquota do imposto de importação para os produtos nela relacionados, fê-lo em

71
conformidade com o art. 3º da Lei n. 3.244/1957 e com o DL n. 2.162/1984, razão pela qual não há falar em quebra
do princípio da confiança. 4. O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias
pelas sociedades empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco da atividade próprio
da álea econômica de cada ramo produtivo. 5. Inexistência de direito subjetivo da recorrente, quanto à manutenção
da alíquota do imposto de importação (status quo ante), apto a ensejar o dever de indenizar. 6. Recurso especial
conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.

 RE 842846, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 27/02/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-175 DIVULG 12-08-2019 PUBLIC 13-08-2019

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DANO MATERIAL. ATOS
E OMISSÕES DANOSAS DE NOTÁRIOS E REGISTRADORES. TEMA 777. ATIVIDADE DELEGADA. RESPONSABILIDADE
CIVIL DO DELEGATÁRIO E DO ESTADO EM DECORRÊNCIA DE DANOS CAUSADOS A TERCEIROS POR TABELIÃES E
OFICIAIS DE REGISTRO NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES. SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. ART. 236, §1º, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO PELOS ATOS DE TABELIÃES E
REGISTRADORES OFICIAIS QUE, NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, CAUSEM DANOS A TERCEIROS, ASSEGURADO
O DIREITO DE REGRESSO CONTRA O RESPONSÁVEL NOS CASOS DE DOLO OU CULPA. POSSIBILIDADE. 1. Os
serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. Tabeliães
e registradores oficiais são particulares em colaboração com o poder público que exercem suas atividades in
nomine do Estado, com lastro em delegação prescrita expressamente no tecido constitucional (art. 236, CRFB/88).
2. Os tabeliães e registradores oficiais exercem função munida de fé pública, que destina-se a conferir autenticidade,
publicidade, segurança e eficácia às declarações de vontade. 3. O ingresso na atividade notarial e de registro
depende de concurso público e os atos de seus agentes estão sujeitos à fiscalização do Poder Judiciário,
consoante expressa determinação constitucional (art. 236, CRFB/88). Por exercerem um feixe de competências
estatais, os titulares de serventias extrajudiciais qualificam-se como agentes públicos. 4. O Estado responde,
objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem
dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena
de improbidade administrativa. Precedentes: RE 209.354 AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJe de
16/4/1999; RE 518.894 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, DJe de 22/9/2011; RE 551.156 AgR, Rel. Min.
Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 10/3/2009; AI 846.317 AgR, Relª. Minª. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de
28/11/13 e RE 788.009 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 19/08/2014, DJe 13/10/2014. 5. Os
serviços notariais e de registro, mercê de exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público (art. 236,
CF/88), não se submetem à disciplina que rege as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos. É que esta alternativa interpretativa, além de inobservar a sistemática da aplicabilidade das normas
constitucionais, contraria a literalidade do texto da Carta da República, conforme a dicção do art. 37, § 6º, que se

72
refere a “pessoas jurídicas” prestadoras de serviços públicos, ao passo que notários e tabeliães respondem
civilmente enquanto pessoas naturais delegatárias de serviço público, consoante disposto no art. 22 da Lei nº
8.935/94. 6. A própria constituição determina que “lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e
criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder
Judiciário” (art. 236, CRFB/88), não competindo a esta Corte realizar uma interpretação analógica e extensiva, a fim
de equiparar o regime jurídico da responsabilidade civil de notários e registradores oficiais ao das pessoas jurídicas
de direito privado prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º, CRFB/88). 7. A responsabilização objetiva depende
de expressa previsão normativa e não admite interpretação extensiva ou ampliativa, posto regra excepcional,
impassível de presunção. 8. A Lei 8.935/94 regulamenta o art. 236 da Constituição Federal e fixa o estatuto dos
serviços notariais e de registro, predicando no seu art. 22 que “os notários e oficiais de registro são civilmente
responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos
substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso. (Redação dada
pela Lei nº 13.286, de 2016)”, o que configura inequívoca responsabilidade civil subjetiva dos notários e oficiais de
registro, legalmente assentada. 9. O art. 28 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973) contém comando expresso
quanto à responsabilidade subjetiva de oficiais de registro, bem como o art. 38 da Lei 9.492/97, que fixa a
responsabilidade subjetiva dos Tabeliães de Protesto de Títulos por seus próprios atos e os de seus prepostos. 10.
Deveras, a atividade dos registradores de protesto é análoga à dos notários e demais registradores, inexistindo
discrímen que autorize tratamento diferenciado para somente uma determinada atividade da classe notarial. 11.
Repercussão geral constitucional que assenta a tese objetiva de que: o Estado responde, objetivamente, pelos atos
dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever
de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa. 12. In casu,
tratando-se de dano causado por registrador oficial no exercício de sua função, incide a responsabilidade objetiva
do Estado de Santa Catarina, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob
pena de improbidade administrativa. 13. Recurso extraordinário CONHECIDO e DESPROVIDO para reconhecer que
o Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções,
causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob
pena de improbidade administrativa. Tese: “O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e
registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de
regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa”.

 RE 598356, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 08/05/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-153 DIVULG 31-07-2018 PUBLIC 01-08-2018

RESPONSABILIDADE CIVIL – SERVIÇO PÚBLICO – FURTO – POSTO DE PESAGEM – VEÍCULO. A teor do disposto no
artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, há responsabilidade civil de pessoa jurídica prestadora de serviço público

73
em razão de dano decorrente de crime de furto praticado em posto de pesagem, considerada a omissão no
dever de vigilância e falha na prestação e organização do serviço.

 STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões
mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37,
§ 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.

Comentário:

A jurisprudência do STF entende que o Estado possui responsabilidade objetiva pela integridade
física e psíquica daqueles que estão sob sua custódia:

“A negligência estatal no cumprimento do dever de guarda e vigilância dos detentos configura


ato omissivo a dar ensejo à responsabilidade objetiva do Estado, uma vez que, na condição de
garante, tem o dever de zelar pela integridade física dos custodiados” (trecho do voto do Min.

Gilmar Mendes no ARE 662563 AgR, julgado em 20/03/2012).

 STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1469301/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 21/10/2014.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 483398/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/10/2016.

A demora injustificada da Administração em analisar o pedido de aposentadoria do servidor público gera o


dever de indenizá-lo, considerando que, por causa disso, ele foi obrigado a continuar exercendo suas funções por
mais tempo do que o necessário. Exemplo de demora excessiva: mais de 1 ano.

 STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).

A fixação do prazo prescricional de 5 anos para os pedidos de indenização por danos causados por agentes
de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos, constante do art. 1º-C da Lei 9.494/97, é constitucional.

74
 STJ. 1ª Turma. REsp 1485260-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 5/4/2016 (Info 581).

O anistiado político que obteve, na via administrativa, a reparação econômica prevista na Lei nº 10.559/2002
(Lei de Anistia) não está impedido de pleitear, na esfera judicial, indenização por danos morais pelo mesmo
episódio político. Inexiste vedação para a acumulação da reparação econômica com indenização por danos
morais, porquanto se tratam de verbas indenizatórias com fundamentos e finalidades diversas: aquela visa à
recomposição patrimonial (danos emergentes e lucros cessantes), ao passo que esta tem por escopo a tutela da
integridade moral, expressão dos direitos da personalidade. Súmula 624-STJ: É possível cumular a indenização do
dano moral com a reparação econômica da Lei nº 10.559/2002 (Lei da Anistia Política). STJ. 1ª Seção. Aprovada em
12/12/2018, DJe 17/12/2018.

 STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info
819).

Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da CF/88, o Estado
é responsável pela morte de detento.

 STJ. 1ª Seção. EREsp 1388822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/5/2015 (Info 563).

A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos decorrentes de erro médico ocorrido
em hospital da rede privada durante atendimento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo
com a Lei 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados ao SUS é do Município, a quem
compete responder em tais casos.

 STF. Plenário. RE 571969/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/3/2014 (Info 738).

O STF reconheceu que a União deve indenizar companhia aérea que explorava os serviços de aviação sob o
regime de concessão, pelos prejuízos causados decorrentes de plano econômico que determinou o
congelamento das tarifas de aviação.

Comentário:

O Brasil passou por diversos planos econômicos na década de 80, visando controlar a inflação
elevada do período. Um dos programas mais famosos foi o “Plano Cruzado”, que tinha como

75
uma das medidas o congelamento dos preços das passagens aéreas, que durou até janeiro de

1992.

A Varig foi a companhia aérea mais impactada neste período. Diante disso, ajuizou uma ação

na Justiça Federal em Brasília, contra a União, pedindo o restabelecimento do equilíbrio


econômico-financeiro do contrato de serviço de transporte aéreo, com o ressarcimento dos

prejuízos suportados, tendo em vista que a empresa era concessionária de serviço público.

Nesse sentido, o STF decidiu que a companhia deveria ser indenizada, sob o fundamento de

que a Varig era concessionária de serviço público e não possuía liberdade de atuação. Nesse
caso, a responsabilidade estatal ocorreu pela prática de atos lícitos dos quais decorreram
prejuízos específicos, expressos e demonstrados, de forma que foi depositada uma onerosidade
excessiva na companhia aérea.

Fundamentos constitucionais: equilíbrio econômico-financeiro (art. 37, XXI), responsabilidade

civil do Estado por atos lícitos que causem prejuízos (art. 37, §6º).

Observe-se, no entanto, que a Varig já foi à falência e o dinheiro da condenação será revertido

a favor dos ex-funcionários, que ainda lutam por direitos trabalhistas e previdenciários.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1308719-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/6/2013
(Info 530).

No caso em que o servidor público foi impedido irregularmente de acumular dois cargos públicos em razão
de interpretação equivocada da Administração Pública, o Estado deverá ser condenado e, na fixação do valor
da indenização, não se deve aplicar o critério referente à teoria da perda da chance, e sim o da efetiva
extensão do dano causado, conforme o art. 944 do CC.

PRESCRIÇÃO:

 STJ. 3ª Turma. REsp 1277724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info
563).

RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO PRESTADORA DE SERVIÇO DE TRANSPORTE.


PRAZO PRESCRICIONAL. REVISÃO DA JURISPRUDÊNCIA. ART. 1º-C DA LEI N. 9.494/97. PRINCÍPIO DA

76
ESPECIALIDADE. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SÚMULA VINCULANTE N. 10/STF. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL. 1. O prazo de prescrição das ações indenizatórias movidas em desfavor de pessoa jurídica de
direito privado prestadora de serviços públicos de transporte é quinquenal, consoante o disposto no art. 1º-C
da Lei n. 9.494/97. 2. Entendimento consagrado a partir da aplicação da regra da especialidade do disposto no art.
97 da Constituição Federal, que prevê a cláusula de reserva de plenário, bem como da Súmula Vinculante n. 10 do
STF, que vedam ao julgador negar a aplicação de norma que não foi declarada inconstitucional.
3. Recurso especial provido.

Comentário:

É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação
de indenização contra concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de
ônibus). O fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no art.

27 do CDC.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 768.400/DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 03/11/2015

A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a prescrição contra a Fazenda Pública é quinquenal,
mesmo em ações indenizatórias, uma vez que é regida pelo Decreto 20.910/32, norma especial que prevalece
sobre lei geral. (...) 5. O STJ tem entendimento jurisprudencial no sentido de que o prazo prescricional da Fazenda
Pública deve ser o mesmo prazo previsto no Decreto 20.910/32, em razão do princípio da isonomia.

 STJ. 1ª Seção. REsp 1251993-PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 12/12/2012 (recurso
repetitivo) (Info 512).

O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos,
conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar de norma
especial, que prevalece sobre a geral.

Comentário:

Julgado importantíssimo para os concursos de procuradorias.

77
 REsp 1443038/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/02/2015, DJe 19/02/2015

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESO CUSTODIADO PELA POLÍCIA
FEDERAL. TORTURA SEGUIDA DE MORTE. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS
E MATERIAIS CONFIGURADOS. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. JUROS MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. EVENTO
DANOSO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONHECIDA. 1. Não há omissão, contradição, obscuridade ou
erro material a ser sanado no acórdão regional, que se encontra suficientemente fundamentado e em consonância
com a jurisprudência desta Corte. 2. O Tribunal de origem afastou a alegada prescrição. Primeiro, ao proceder à
análise do contexto fático- probatório dos autos e concluir pela demora do Estado na conclusão do inquérito
policial; segundo, por decidir que, nos termos da Jurisprudência desta Corte, o termo a quo da prescrição da ação
indenizatória, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação penal, é a data do arquivamento do inquérito
policial. 3. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o termo a quo da prescrição
da ação indenizatória, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação penal, é a data do arquivamento do
inquérito policial. Prescrição afastada na hipótese em comento. 4. Quanto aos juros de mora e à divergência
jurisprudencial suscitada, não merece conhecimento o recurso, porquanto o Tribunal a quo decidiu de acordo com
jurisprudência desta Corte, no sentido de que os juros moratórios, em caso de responsabilidade extracontratual,
devem incidir a partir da data do evento danoso, nos termos da Súmula 54/STJ. Recurso especial improvido.

 REsp 1374376/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2013,
DJe 23/05/2013

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRISÃO POLÍTICA.
REGIME MILITAR. IMPRESCRITIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ART. 1º DO DECRETO 20.910/1932. ANISTIADO
POLÍTICO. CONDIÇÃO RECONHECIDA. DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. ART. 1º-F DA LEI 9.494/1997. MP 2.180-35/2001. LEI 11.960/2009. NATUREZA PROCESSUAL.
APLICAÇÃO IMEDIATA. IRRETROATIVIDADE. 1. As ações indenizatórias por danos morais decorrentes de atos de
tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são imprescritíveis. Inaplicabilidade do prazo
prescricional do art. 1º do Decreto 20.910/1932. Precedentes do STJ. 2. O Tribunal de origem consignou
existirem elementos nos autos que demonstram a condição de anistiado político para fins de obtenção de reparação
econômica. Inverter essa conclusão implica reexame da matéria fático-probatória, o que é obstado ao STJ (Súmula
7/STJ). 3. A Corte a quo, ao considerar as circunstâncias do caso concreto, manteve o quantum indenizatório
arbitrado na sentença, de R$ 55.000, 00 (cinquenta e cinco mil reais), a título de indenização por danos morais. 4.
Rever tais valores somente é possível quando exorbitantes ou insignificantes, em flagrante violação aos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, o que não ocorre in casu. Incidência da Súmula 7/STJ. 5. O art. 1º-F da
Lei 9.494/1997, incluído pela MP 2.180-35, de 24.8.2001, com a redação alterada pelo art. 5º da Lei 11.960, de

78
29.6.2009, tem natureza processual, devendo ser aplicado imediatamente aos processos em tramitação, vedada,
entretanto, a retroatividade ao período anterior à sua vigência. 6. Orientação firmada no julgamento do REsp
1.205.946/SP, na sistemática do art. 543-C do CPC. 7. Recurso Especial parcialmente provido.

79
MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DI PIETRO, MARIA SYLVIA ZANELLA. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ED. REV. ATUAL E AMPL. – RIO DE JANEIRO:

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MAZZA, ALEXANDRE. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO – 9. ED. – SÃO PAULO: SARAIVA EDUCAÇÃO, 2019.

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JUSTEN FILHO, MARÇAL. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 3ª ED. SÃO PAULO: SARAIVA, 2008

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MÉTODO, 2017.

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