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Este livro é dedicado à minha amiga Thia Rose. Quando nós
tínhamos 12 anos,
juramos que seríamos melhores amigas para sempre...
EDITORA ALEPH
Agradecimentos
Han lembrou que Teroenza tinha dito que seu povo vinha
de Nal Hutta, o planeta natal dos Hutts, mas não tinha
percebido naquele momento que isso significava que havia
Hutts vivendo em Ylesia. Quando questionado, Muuurgh
confirmou que tinha visto vários dos “mestres-lesmas que
se movem no ar”, como ele os chamava.
Existe apenas um motivo para que os Hutts estejam
aqui, pensou Han. Eles são os verdadeiros mestres de
Ylesia. Afinal, eles dominam o negócio de contrabando de
especiarias...
O almoço estava bom, mesmo que nada imaginativo e
(para o gosto de Han) um tanto insosso. Ainda assim, o ser
responsável pela cozinha não era nenhum amador. O pão
ázimo era muito bom, pensou Han enquanto mastigava um
pedaço de pão alderaaniano. Percebeu de súbito, com uma
pontada de dor, que já fazia quase um dia que não pensava
em Dewlanna. Isso o fez se sentir vagamente desleal, mas
então ele recuperou o autocontrole. Dewlanna não ia querer
que Han ficasse todo choroso e deprimido por causa dela.
Sempre tinha curtido a vida e não esperaria que Han agisse
de forma diferente só porque ela se fora...
Han voltou de seu devaneio e se deparou com Muuurgh o
observando com curiosidade.
– Piloto está pensando em alguém distante – comentou o
Togoriano, acenando com o osso que tinha acabado de roer.
Ainda havia alguns pequenos fragmentos de carne, mas
Muuurgh tinha feito um trabalho impressionante, pensou
Han. Tinha que aproveitar cada pedacinho, pois era
necessária muita carne crua para sustentar aquele corpo
imenso.
– É verdade – concordou Han com um suspiro. – Alguém
tão distante quanto se poderia estar.
– Piloto tem namoradinha?
Han balançou a cabeça.
– Bem, houve algumas garotas aqui e ali – admitiu –, mas
ninguém especial. Não, estava pensando na pessoa que
mais ou menos me criou.
Muuurgh tomou um longo gole de alguma bebida
espumante numa caneca.
– Humanos criam filhotes muito diferente do jeito do meu
povo – afirmou.
– É mesmo? Me conte sobre seu mundo.
Muuurgh, obediente, se lançou numa descrição de
Togoria, um mundo onde machos e fêmeas eram iguais em
direitos, mas não misturavam suas sociedades. Machos
viviam uma existência de caçadores nômades, sobrevoando
as planícies em seus enormes répteis alados de estimação,
chamados mosgoths. Caçavam em alcateias.
As fêmeas, por outro lado, tinham domesticado criaturas
que abatiam pela carne, então não precisavam caçar.
Viviam em cidades e vilas, e foram as fêmeas Togorianas
que desenvolveram toda a tecnologia do planeta.
– Bem, se o seu povo não vive junto, como vocês... – Han
buscou um termo educado – hum, se reúnem, você sabe,
para... hum... se reproduzir?
– Viajamos para cidade para ficar com parceira uma vez
por ano – disse Muuurgh. – Entretempos, pensamos muito
um no outro. Togorianos povo muito emocional, capaz de
grande amor – acrescentou com sinceridade. –
Especialmente machos. Grande amor é motivo de Muuurgh
estar aqui. Macho da minha espécie raramente sai de nosso
mundo, Piloto sabe disso?
– Agora sei – disse Han. – Então... Muuurgh... quando
você diz que grande amor fez você vir a Ylesia, o que quis
dizer com isso? Você tem uma parceira?
O Togoriano fez que sim com a cabeça.
– Parceira prometida. Algum dia parceiros por vida toda,
se Muuurgh conseguir encontrar ela. – O imenso alienígena
suspirou, parecendo tão infeliz que Han sentiu pena dele.
– Qual é o nome dela?
– Mrrov. Bela, bela Mrrov. Como normal para fêmeas
Togorianas, ela decidiu ver grande galáxia. Muuurgh
implorou para ela não ir, mas fêmeas muito teimosas.
O alienígena olhou para Han, que concordou com um
aceno de cabeça.
– É, eu também já passei por isso.
– Mrrov longe muito tempo, anos. Quando ela não voltou
para casa para união, Muuurgh tão triste que não pôde ficar
em Togoria. Precisa descobrir o que aconteceu com ela.
– Então... você descobriu? – Han tomou um gole da
cerveja polaniana.
– Muuurgh rastreia ela. Alguém em Ord Matell diz que viu
ela embarcar nave em espaçoporto. Muuurgh confere
horários, descobre que nave tem muitos peregrinos. Vários
portos de parada para nave. Muuurgh arrisca chance, vem
para cá porque tantos peregrinos vêm para cá. – O grande
felinoide suspirou forte e mordiscou um osso cheio de carne.
– Chance não boa. Muuurgh pergunta, sacerdotes diz
nenhum Togoriano aqui. Muuurgh não sabe mais onde ir.
Muuurgh precisa créditos para continuar procurando... – O
alienígena engoliu uma última mordida, e seus bigodes se
inclinaram para baixo.
– E aí você decidiu aceitar um emprego como guarda
aqui, enquanto junta dinheiro suficiente para seguir com
sua busca – disse Han, deduzindo a conclusão lógica da
história.
– Sssim...
Han balançou a cabeça.
– Isso é muito triste, meu chapa. Espero que você
encontre ela, de verdade. É difícil perder alguém que você
ama.
O guarda-costas concordou com a cabeça.
Depois do almoço, os dois desceram até as fábricas e
passearam em volta dos grandes prédios. Han farejou o ar,
sentindo o cheiro misturado das diferentes especiarias. O
nariz dele formigou um pouco, e ele se perguntou se
bastaria sentir o odor da especiaria para ficar intoxicado.
Acenou para o prédio de brilhestim.
– Vamos entrar. Ouvi falar sobre como eles processam
esta especiaria e queria ver em pessoa.
Quando eles entraram no prédio cavernoso, um guarda
os deteve e falou com Muuurgh, que explicou quem era
Han. O Rodiano de guarda lhes entregou crachás e óculos
infravermelhos, depois acenou para que entrassem.
– Óculos? – indagou Han em rodiano. Entendia a
linguagem perfeitamente, mas sua pronúncia era um pouco
penosa. – Nós temos que usá-los?
Os olhos roxos do guarda faiscaram ao ouvir um humano
falando sua língua.
– Sim, piloto Draygo – respondeu. – Abaixo do térreo não
há nenhuma luz visível. Você desce no turboelevador. Cada
andar para baixo representa uma melhoria de um grau na
qualidade da especiaria. As fibras melhores e mais longas
são processadas bem no subterrâneo, para eliminar
qualquer possibilidade de serem estragadas pela luz.
– Certo – disse Han, chamando Muuurgh. Os dois
andaram entre prateleiras de suprimentos até alcançar a
plataforma do turboelevador no centro da instalação. –
Vamos até o nível mais fundo e ver o bagulho realmente
bom – sugeriu ao Togoriano. Para si mesmo, Han se
perguntava se conseguiria surrupiar alguns daqueles
frasquinhos negros. Vender um pouco de brilhestim
paralelamente numa cidade portuária engordaria
rapidamente sua reserva de créditos...
Han apertou o botão do andar mais baixo, e a
plataforma, balançando um pouco, começou a descer.
Ar fresco subia das profundezas enquanto o
turboelevador se deslocava nas trevas absolutas. A corrente
de ar era deliciosa depois do calor úmido da selva ylesiana.
Depois de um andar, toda luz se foi. Han remexeu nos
óculos e os colocou sobre os olhos. Imediatamente voltou a
ver, apesar de tudo estar em tons de preto e branco. A
iluminação vinha de pontos embutidos nas paredes. O
turboelevador continuou descendo, e Han viu os
trabalhadores curvados sobre suas estações de trabalho.
Havia pilhas de filamentos crus cravejados de minúsculos
cristais diante de cada um deles.
Finalmente, depois de seis andares, o turboelevador
parou. Han e Muuurgh saltaram.
– Você já esteve aqui antes? – perguntou ao guarda-
costas em voz baixa. O pelo do cangote de Muuurgh estava
arrepiado, e os bigodes brancos se eriçavam abaixo dos
óculos.
– Não... – sussurrou de volta o Togoriano. – Meu povo vive
em planícies. Não gosta cavernas. Não gosta escuro.
Muuurgh vai ficar feliz quando Piloto quer sair deste lugar.
Só palavra de honra de Muuurgh segura ele aqui no escuro
maldito.
– Calma – respondeu Han. – Não vamos ficar aqui tanto
tempo. Só quero dar uma olhada.
Ele saiu na frente fábrica adentro. A área cavernosa
estava cheia de um farfalhar suave, mas não havia nenhum
outro ruído. Longas mesas estavam encostadas ao longo
das paredes e distribuídas em colunas nos corredores. Cada
mesa era uma estação de trabalho, e um trabalhador ficava
sentado ou acocorado diante dela, de acordo com sua
anatomia individual. Havia muitos humanos, Han percebeu,
sentados em altos bancos e encurvados sobre o trabalho.
Poucos ergueram o olhar quando Han e Muuurgh foram
até a supervisora do andar, uma peluda Devaroniana, e se
identificaram. A supervisora indicou o andar com um gesto
da mão vermelha com unhas afiadas.
– Meus trabalhadores são os mais habilidosos – declarou
ela, orgulhosa. – É preciso muita perícia para medir e cortar
o número certo de filamentos fibrosos para que cada dose
contenha a quantidade certa de especiaria. É essencial, e
muito difícil, alinhar as fibras tão precisamente de forma
que sejam ativadas ao mesmo tempo quando expostas à luz
visível.
– Essa substância é um mineral? – perguntou Han. – Sei
que é minerada.
– Ocorre naturalmente, mas não sabemos como é
formada, Piloto. Acreditamos que tenha uma origem
biológica, mas não temos certeza. É encontrada bem nas
profundezas dos túneis em Kessel e precisa ser extraída em
escuridão absoluta, tal qual você vê aqui.
– E os filamentos precisam ser colocados nesses
recipientes do jeito certo.
– Isso mesmo. O alinhamento incorreto pode fazer os
pequenos cristais se fraturarem uns contra os outros. Se
isso acontecer, eles moem uns aos outros num pó muito
menos potente e valioso. Um trabalhador habilidoso leva
uma hora para alinhar adequadamente só um ou dois
cilindros de brilhestim.
– Faz sentido – disse Han, fascinado. – Você se importaria
se eu desse uma olhada por aí? Prometo que não vou mexer
em nada.
– Pode dar uma volta, sim. Porém, por favor, evite distrair
os trabalhadores enquanto eles estiverem alinhando a
especiaria. Um giro acidental, como eu disse, poderia
arruinar um filamento inteiro.
– Entendi – disse Han.
Os filamentos de brilhestim cru eram todos negros, mas
Han tinha ouvido falar que brilhariam azuis quando ativados
com luz visível. Han parou atrás de um dos trabalhadores
humanos e assistiu com fascinação enquanto ele separava
os filamentos de especiaria cor de ébano, alinhando-os com
cuidado absoluto. Os filamentos se enrolavam nos dedos do
trabalhador, alguns deles tão delicados quanto seda, mas os
pequenos cristais os deixavam muito afiados.
O trabalhador posicionou um grupo de filamentos
incrivelmente emaranhados nas mandíbulas de um pequeno
torno, depois passou a separá-los meticulosamente, até que
as estruturas cristalinas ficaram alinhadas. Os dedos do
trabalhador se moviam quase rápido demais para se ver, e
Han percebeu que estava assistindo a um artesão... não,
artesã , incrivelmente habilidosa. Ele ficou espantado que
os peregrinos conseguissem realizar alguma coisa que
exigisse tanta destreza assim. Depois de vê-los na noite
passada, depois da “Exultação”, tinha mais ou menos
presumido que se tratava de cretinos mentalmente
limitados. Certamente pareciam sê-lo...
A operária de brilhestim pegou um minúsculo alicate
para desembaraçar um emaranhado particularmente ruim.
Ela enfiou as pontas finas da ferramenta no meio da
maçaroca, espiando intensamente para localizar o ponto em
que os pequenos cristais se prenderam uns nos outros. O
brilhestim fibroso se enrolava nas mãos dela como
pequenos tentáculos vivos, com cristais cintilantes. A artesã
de repente trouxe a mão para trás, puxando, e num instante
o emaranhado se endireitou até que todas as fibras se
alinharam perfeitamente.
Exceto uma.
Han observou angustiado quando um filamento
cravejado de cristais afiados cortou a carne entre o
indicador e o polegar da mulher. Uma linha fina de sangue
emergiu do corte profundo. Han prendeu a respiração. Mais
alguns milímetros de profundidade, e o tendão do polegar
teria sido rompido. Ela sibilou de dor, murmurou alguma
coisa em língua básica e, soltando a mão, ergueu-a para
parar o sangramento. Han ficou paralisado ao ouvir o
sotaque. Essa peregrina era corelliana!
Ele nem tinha olhado para ela antes, escondida como
estava pelo manto bege sem forma, com o chapéu bem
puxado sobre a cabeça e os óculos. Só que agora o rapaz
notou que ela era jovem, não velha. A mulher fez uma
careta de leve ao examinar o corte. Virou a mão, girou no
banco e apoiou a mão sobre o piso, para que o sangue não
pingasse na mesa de trabalho.
Han sabia que não deveria falar com a peregrina, mas
ela não estava trabalhando no momento, e ele estava
preocupado. Ela sangrava profusamente.
– Você está ferida – afirmou ele. – Deixe-me chamar a
supervisora para que ela possa ajudar você.
A garota (que tinha a idade dele, talvez menos) levou um
leve susto, depois o encarou. Seu rosto era um borrão
branco esverdeado sob os óculos e o chapéu, e parecia
mortalmente pálida sob a luz infravermelha. Não é de se
estranhar, pensou Han, trancafiada aqui embaixo o dia
inteiro, sem exposição à luz do sol.
– Não, por favor, não – respondeu ela, falando língua
básica com um sotaque suave que a marcava como sendo
do continente meridional de Corellia. – Se ela me mandar
para a enfermaria, eu vou perder a Exultação. – A moça
estremeceu com o pensamento, ou talvez de frio. O próprio
Han tinha começado a se sentir meio friorento, e não estava
lá embaixo há horas. Como aqueles peregrinos aguentavam
trabalhar ali embaixo na escuridão gélida o dia todo?
– Mas esse corte está com uma cara horrível – protestou
Han.
A peregrina deu de ombros.
– Já está parando de sangrar.
Han percebeu que era verdade.
– Mas e quanto a...
Ela balançou a cabeça, interrompendo o rapaz no meio
da frase.
– Agradeço sua preocupação, mas não foi nada. Acontece
toda hora. – Com um sorriso irônico, ela estendeu as mãos.
Os dedos, pulsos e antebraços estavam completamente
riscados com pequenos cortes. Alguns eram antigos,
brancos e já tinham sarado, mas muitos estavam roxos,
ainda recentes e dolorosos.
Han viu pequenos pontos fosforescentes entre os dedos
dela e percebeu que deveriam ser o fungo que ele tinha
descoberto em si mesmo aquela manhã. Enquanto ele
observava, um filete luminescente se estendeu de repente,
crescendo na direção do corte entre os dedos. Ela exclamou
baixinho e arrancou a coisa.
– O fungo adora sangue fresco – comentou ela,
evidentemente notando o nojo dele. – Pode infeccionar um
corte e deixar você doente muito fácil.
– Coisa asquerosa – disse ele. – Tem certeza que não
precisa cuidar disso?
Ela balançou a cabeça.
– Como você pode ver, acontece o tempo todo. Com
licença, mas... você é corelliano, não é?
– Que nem você – respondeu Han. – Eu sou Vykk Draygo,
o novo piloto. E você é?
A moça apertou os lábios.
– Eu... não deveria estar conversando. Melhor voltar ao
trabalho.
Muuurgh, que tinha ficado observando em silêncio, falou
de repente:
– Trabalhadora certa. Piloto tem que deixar trabalhadora
voltar a trabalho agora.
– Certo, meu chapa, entendi – respondeu Han ao
Togoriano, mas depois acrescentou para a corelliana: –
Talvez a gente possa conversar outra hora. No jantar, talvez.
Ela balançou a cabeça silenciosamente e voltou ao
trabalho.
Muuurgh sinalizou para que Han seguisse adiante.
O rapaz deu um passo, mas continuou falando.
– Certo, mas... nunca se sabe. A gente com certeza vai
se esbarrar de novo, este lugar não é tão grande assim.
Então... qual é o seu nome?
Ela balançou a cabeça de novo, sem falar. Muuurgh
soltou um rosnado gutural bem grave, mas Han continuou
ali, teimoso.
A mulher parecia perturbada pela ameaça implícita de
Muuurgh. Enquanto amarrava uma bandagem no corte,
respondeu:
– Abandonamos nossos nomes quando desistimos de
todas as coisas mundanas pelo santuário de Ylesia.
Han se sentia cada vez mais frustrado. Ali estava alguém
que conhecia este lugar intimamente, e ela era a primeira
pessoa do seu mundo natal que ele descobria neste
planeta.
– Por favor – insistiu ele enquanto Muuurgh o empurrava
de leve. – Deve ter algum jeito que eles usam para se referir
a você. – Han abriu seu sorriso mais charmoso. Muuurgh
rosnou de novo, mais alto, e mostrou as presas.
Os olhos da mulher se arregalaram com a exibição de
dentes.
– Sou Peregrina 921 – respondeu ela apressadamente.
Han ficou com a impressão de que ela falou para salvá-lo da
ira de Muuurgh.
Muuurgh agarrou o braço de Han e começou a se afastar,
arrastando o corelliano sem esforço.
– Obrigado, Peregrina 921 – exclamou Han para ela,
acenando animadamente, como se ser arrastado pelo
Togoriano fosse uma ocorrência corriqueira. – Boa sorte com
essas fibras. A gente se vê.
Ela não respondeu. Quando Muuurgh enfim o soltou, no
fim do corredor, Han seguiu o guarda-costas
obedientemente, meio que esperando uma bronca do ser
gigante. Mas Muuurgh parecia satisfeito que Han o estivesse
obedecendo e retornou ao silêncio atento.
Han olhou de volta e percebeu que a corelliana estava
mais uma vez concentrada no trabalho, como se já o tivesse
esquecido.
Peregrina 921 , pensou ele. Eu me pergunto se seria
mesmo capaz de reconhecê-la... Considerando os óculos, o
chapéu e a visão prejudicada dele, Han não fazia ideia de
qual seria a aparência da mulher; sabia apenas que era
jovem.
Han perambulou por toda a instalação, observando
vários outros trabalhadores que alinhavam filamentos e
cristais para que ficassem perfeitamente simétricos. Não
tentou falar com nenhum deles. Finalmente, voltou à
supervisora Devaroniana.
– Então, quando eles terminam o trabalho aqui, quem é
que coloca os filamentos e cristais nos frascos? – indagou.
– Isso é feito no quinto andar – explicou a supervisora.
– Acho que vou dar um pulo lá – comentou Han. – Isto é
muito fascinante, sabia?
– Certamente.
Certo, então eles terminam o processamento do bagulho
realmente bom aqui em cima , pensou Han enquanto ele e
Muuurgh subiam pelas trevas. O Togoriano soltou um
uivinho de protesto quando Han levou o elevador só um
andar acima.
– Fica frio, Muuurgh – disse ele. – Só quero dar uma
olhadinha rápida por aqui.
O rapaz vagueou pelos corredores, tentando descobrir
discretamente o lugar onde o brilhestim de alta qualidade
era embalado nos pequenos frascos negros que qualquer
usuário da substância reconheceria. Quando chegou lá,
porém, seu estômago gelou. Quatro guardas armados
estavam ao lado da esteira transportadora, vigiando os
pequenos frascos enquanto os trabalhadores traziam cestas
cheias e as despejavam. Han sentiu uma corrente de ar,
percebendo que havia uma pequena unidade aquecedora
ali, afastando a friagem, evidentemente para o conforto dos
guardas.
Quatro guardas? Han espiou mais atentamente a
penumbra. Não, espera um segundo . Viu um borrão de
movimento, mas não conseguiu discernir nada por um longo
instante. Depois, no que focalizou os olhos, distinguiu
lentamente um negrume oleoso e granulado, mal visível no
meio de tanta treva. Só que havia olhos no meio da
escuridão, olhinhos vermelho-alaranjados. Quatro deles.
Han estreitou os dele, ficou imóvel, forçando a visão. Então
notou duas pistolas, cada uma atada a uma perna negra
verruguenta.
Aar’aa! Percebeu. Camaleões!
Os Aar’aa eram uma espécie do outro lado da galáxia.
Habitantes de Aar eram capazes de mudar de cor
gradualmente para igualar-se à cor do que houvesse atrás
deles. Essa habilidade os deixava muito difíceis de ver,
especialmente nas trevas.
Han tinha ouvido falar nos Aar’aa antes, mas nunca
esbarrara num deles até agora. Eram criaturas reptilianas, o
que explicava por que aquela seção da fábrica subterrânea
era aquecida. Muitos répteis ficavam lentos e abobados no
frio.
Han espiou a penumbra e lenta e gradualmente
percebeu os contornos dos dois guardas Aar’aa. Tinham
uma pele de textura pedregosa, mãos e pés com garras e
uma pequena crista de pele correndo pelas costas. As
cabeças eram grandes, com arcadas supraorbitárias
salientes, sob as quais os olhos pareciam duplamente
pequenos. As caras tinham focinhos curtos e, quando uma
das criaturas abriu a boca, Han vislumbrou uma língua
vermelha grudenta e dentes brancos afiados. Uma crista
ereta de pele começava entre os olhos, subia pelo alto da
cabeça até descer para a nuca e se conectava com a crista
das costas.
Apesar da aparência desajeitada, pareciam ser bem
ágeis. Han decidiu que não queria se meter com eles.
Apesar de serem mais baixos que o rapaz, tinham ombros
largos e certamente eram mais pesados que ele por uma
vasta margem.
Han suspirou. Esqueça o Plano A.
Além dos Aar’aa, os outros guardas -– dois Rodianos, um
Devaroniano e um Twi’lek – pareciam durões e obviamente
levavam o serviço a sério. Não eram Gamorreanos, então
não havia muita chance de desnorteá-los, confundi-los,
distraí-los ou, de alguma forma, enrolar algum deles para
lhe entregar uma fortuna em especiaria. Han fez uma careta
e partiu com Muuurgh de volta ao turboelevador. E não há
Plano B, pensou ele soturno. Acho que terei que faturar
meus créditos do jeito honesto.
Nem ocorreu ao rapaz que transportar especiaria pela
galáxia já seria, em si, altamente ilegal.
Isadora Prospero
Giselle Moura
Balão Editorial
CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO:
Desenho Editorial
ILUSTRAÇÃO DE CAPA:
David Palumbo
DIREÇÃO EXECUTIVA:
Betty Fromer
DIREÇÃO EDITORIAL:
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EDITORIAL:
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COMUNICAÇÃO:
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Vagner Rodolfo CRB-8/9410
C932a
Crispin, A.C.
A armadilha do paraíso [recurso eletrônico] / A. C. Crispin ; traduzido
por Edmo Suassuna. - São Paulo : Aleph, 2017.
287 p. : 2,11 MB.