Você está na página 1de 7

SINOPSE DO CASE: REABILITAÇÃO ATIVA PÓS PROTETIZAÇÃO1

Amanda Campos Marques²

Profª Jacqueline Maria Maranhão Pinto Lima³

1. DESCRIÇÃO DO CASO

Mesmo diante do conceito de “separação total ou parcial de um membro do resto do


corpo”, o processo de amputação não deve ser visto como o fim da funcionalidade de um indivíduo,
uma vez que inicia um novo ciclo com o objetivo principal de manter e/ou devolver a dignidade e
o estado funcional do paciente. Assim, muitos indivíduos amputados optam pelo uso de próteses
(dispositivos que substituem um órgão, um membro ou uma parte do membro) buscando um
seguimento eficaz e útil nas substituições de ossos e articulações. (LIMA, 2021) (LIMA; MEJIA,
2021).

De acordo com LIMA (2021), diante de uma ampla janela de complicações que podem
provocar a amputação - como as vasculares, os traumatismos, os tumores, a diabetes, as
deformidades congênitas e os processos infecciosos derivados ou não de cirurgias - a incidência
mundial de amputação chega a 1 milhão de pessoas por ano que, além de sofrerem pela perda de
uma parte do seu corpo, podem sofrer com o comprometimento das condições fisiológicas,
psicológicas e físicas.

Por isso, faz-se necessário um bom acompanhamento fisioterápico pós-amputação,


com uma ficha de avaliação cinético funcional contendo os pontos básicos que permitam ao
fisioterapeuta avaliar o paciente de acordo com a deficiência, limitações funcionais, incapacidades
e condições relacionadas à saúde e à qualidade de vida, a fim de se formular um programa de
reabilitação adequado para o treinamento da marcha, das condições musculares, psicológicas e
fisiológicas no geral, da mobilidade articular precoce, da postura e também do equilíbrio,

1
Case apresentado da disciplina de Prótese e Órtese do Aparelho Locomotor do Centro Universitário UNDB.
² Aluna do 4° Período de Fisioterapia do Centro Universitário UNDB.
³ Professora, Orientadora.
proporcionando a melhoria na qualidade de vida do paciente. (LIMA, 2021) (MAGGI; ACQUA;
CURADO; LEMES, 2010)

Neste case, será discutida a situação de uma paciente de 26 anos de idade, com epilepsia
e diabetes, pós acidente automobilístico, com grande comprometimento vascular, há 38 dias de
amputação de 1/3 médio de fíbula e tíbia (sinistro). Diante disso, caso a paciente seja candidata ao
uso de prótese, alguns dos pontos básicos que devem estar presentes na ficha de avaliação devem
ser a identificação das principais dificuldades encontradas no processo de protetização e a
explicitação das estratégias de tratamento utilizadas no processo de reabilitação protética. (LIMA;
MEJIA, 2021).

2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição das decisões possíveis

2.1.1 A partir do conhecimento sobre conceitos como a amputação de MMII; as


alterações psico emocionais, de postura, de equilíbrio e da coordenação motora; a reabilitação ativa
pós-protetização; o entendimento quanto às próteses; a avaliação cinético funcional; e a marcha na
pós-protetização, torna-se possível formular uma ficha de avaliação com ênfase nas condições
musculares e na mobilidade articular, na postura e no equilíbrio, de maneira que se passe a
identificar os critérios necessários para a realização de um programa de treino de marcha com a
respectiva paciente.

2.2 Argumentos capazes de fundamentar cada decisão

2.2.1 A partir do conhecimento sobre conceitos como a amputação de MMII; as


alterações psico emocionais, de postura, de equilíbrio e da coordenação motora; a
reabilitação ativa pós-protetização; o entendimento quanto às próteses; a avaliação cinético
funcional; e a marcha na pós-protetização, torna-se possível formular uma ficha de avaliação
com ênfase nas condições musculares e na mobilidade articular, na postura e no equilíbrio,
de maneira que se passe a identificar os critérios necessários para a realização de um
programa de treino de marcha com a respectiva paciente.

Quando se fala em amputação de membros inferiores (MMII), deve-se ter em mente


que todo e qualquer amputado precisa passar pelo processo de reabilitação, sendo ele candidato ao
uso de prótese ou não, desenvolvido por uma equipe multidisciplinar composta por médicos,
enfermeiros, fisioterapeutas, terapeuta ocupacional e psicólogo. Se tratando de uma amputação
transtibial do terço médio (T2), após a realização da avalição física e funcional, deve-se prescrever
e orientar exercícios com objetivo de fortalecer toda a musculatura, principalmente a da perna
preservada, de modo que ela possa sustentar o corpo com uma certa facilidade e assim inibir o
surgimento de lesões; melhorar o condicionamento físico geral do paciente; realizar treinos de
marchas com dispositivos auxiliares de marcha; preparar o paciente para sua independência nas
atividades da vida diária; e realizar todo um condicionamento cardiorrespiratório. (ARAÚJO, 201)
(LUIZ, 2021) (SOUZA, 2020)

De maneira a se propor uma melhor qualidade de vida e uma maior funcionalidade nas
tarefas diárias do amputado, sugere-se que ele se candidate ao uso de próteses e, neste caso,
segundo Souza (2020), deve-se dividir a reabilitação em etapa pré-protética, onde ocorre a
preparação para recebimento da prótese, e pós-protética, onde será feita uma adaptação do paciente
à prótese que irá substituir a tíbia e a fíbula previamente amputadas. O conjunto de formação de
uma Prótese Transtibial é composto pelo encaixe - ou soquete (é o que engloba a parte do coto com
a prótese e auxilia no a controle do movimento, sendo por onde o processo de protetização é
iniciado), pelo corpo (é a parte abaixo do joelho, que substitui a canela e a panturrilha) e pelo pé
(responsável por apoiar todo o conjunto do encaixe e do corpo da prótese, substituindo literalmente
o pé do amputado), no qual deve ser todo adaptado às medidas e às necessidades do paciente.
(LUIZ, 2021)

Para isso, faz-se necessário o tratamento do coto sem que haja dor, com o
desenvolvimento de boa força muscular, sem edema e, portanto, apto para receber o soquete
protético. Depois disso, inicia-se o aprendizado de como usar a prótese ao caminhar ou, assim que
possível, até mesmo correr, pois quanto mais o paciente se tornar ativo melhor (AMPUTAÇÃO,
2021); e inicia-se também a reeducação da marcha funcional para o desempenho normal da pessoa
em suas atividades da vida diária (ARAÚJO, 2021). A marcha após amputação implica em redução
da força de reação do solo e na tendência de redução da fase de apoio e maior fase de balanço, além
da queda na velocidade, na cadência e no comprimento da passada. Para que se reestabeleça, deve-
se trabalhar o equilíbrio estático, o deslocamento de peso lateral e ântero-posterior, a dissociação
de cinturas, a marcha lateral, a passada e o treino de coordenação. (BALBI, 2021)
Naturalmente, ocorrem alterações de postura, de equilíbrio e de coordenação motora
que podem ser corrigidas em uma reabilitação ativa, por meio de um programa de exercícios que
mantenha uma sequência para ganhos no controle motor, coordenação, função e força (LIMA;
MEJIA, 2021). Por exemplo, os treinos de propriocepção, que, de acordo com Souza (2020), devem
ser realizados tanto em pacientes recém protetizados como em pacientes que já fazem uso da
prótese há algum tempo, possibilitam treinar o equilíbrio estático e dinâmico, assim dando mais
estabilidade e confiança ao paciente, que começa a entender como realizar suas atividades diárias
da melhor maneira possível e, consequentemente, melhora a sua qualidade de vida.

Além daquelas alterações, percebe-se também uma alta incidência de alterações


psicoemocionais nos pacientes que sofrem uma amputação, uma vez que esta é descrita como uma
experiência traumática e devastadora (SOUZA, 2020). Segundo Santos e Castro (2021), ter
profissionais de saúde, de forma multidisciplinar, que compreendam os aspectos psicológicos
referentes à proteção e aos riscos é importante e se faz necessário, uma vez que resgatar a
autoestima do paciente é uma peça fundamental para o sucesso da reabilitação. Assim, as redes de
apoio e familiar devem possibilitar uma ação não só educativa, mas também compreender a
perspectiva do amputado, no que diz respeito a emoções e sentimentos, desenvolvendo estratégias
que visam a melhoria na sua qualidade de vida.

Dentre as alterações motoras presentes em indivíduos amputados, pode-se destacar a


perda da informação proprioceptiva causada pela ausência da integridade da pele, do tecido
subcutâneo, da cápsula articular, dos ligamentos, dos tendões e do músculo, sendo que tais
características podem se combinar de maneira a dificultar os ajustes posturais destes indivíduos.
Devido à dificuldade de captar as informações sensoriais que determinam a posição do corpo no
espaço e a velocidade em que este está se movendo, deve-se restaurar o sistema de controle
postural, por meio de uma interação entre a informação sensorial e ação motora, formando um ciclo
percepção-ação que fará a manutenção da orientação postural desejada. (KORB; MOREIRA;
SIQUEIRA, 2019)

Diante de tudo o que foi analisado, observa-se que os pontos básicos necessários em
uma ficha de avaliação cinético funcional devem ser feitas de modo a recolher todos os dados
necessários para uma reabilitação completa, dados estes coletados por meio de seções: a 1ª é a de
IDENTIFICAÇÃO, subdividida em 3 partes: 1.1 – do paciente, onde são coletados dados gerais
do paciente tais (nome, idade, data de nascimento, etc); 1.2 – do paciente quando sofreu a
amputação, muito importante para visualizar a diferença entre o estado atual do paciente e de
quando ele sofreu a amputação; 1.3 – diagnóstico médico, que descreve o diagnóstico clínico, o
nome do médico responsável e seu CRM, e medicamentos em uso; a 2ª seção é a de ANAMNESE,
subdividida em 7 partes e aborda a Queixa Principal, o Histórico da Doença Atual e Pregressa, o
Histórico Social e Familiar, a Etiologia da Amputação e o Nível da Amputação; a 3ª seção é a do
EXAME FÍSICO, que constitui a maior parte da ficha de avaliação, abordando o Exame Físico
Geral, do Coto, Avaliação da Articulação, Postural e da Marcha, Força Muscular e Esquema
Corporal; e a última e 4ª seção da ficha é o PARECER FINAL do fisioterapeuta que avalia as
limitações funcionais e incapacidades, diagnóstico cinético-funcional e descreve os objetivos e
planos de tratamento. Além disso, em casos como o deste case, em que o paciente sofre de
distúrbios como a epilepsia e a diabetes, torna-se ainda mais conveniente avaliar antecedentes
pessoais e familiares, hábitos de vida e aspectos psicoemocionais. (MAGGI; ACQUA; CURADO;
LEMES, 2010)

2.3 Decisões dos critérios e valores (explícitos e/ou implícitos) contidos em cada decisão
possível

2.3.1 Por meio de artigos, que visam relatar a respeito das consequências pós
amputação e dos mecanismos envolvidos para a reabilitação e uso da prótese, como o
estabelecimento de uma boa ficha técnica, o reconhecimento dos principais dados que guiam o
processo de reabilitação e a preparação da equipe multidisciplinar para trabalhar em todos os
aspectos do paciente amputado, foram respondidas as perguntas, fundamentadas através da
contextualização e integração entre os temas pesquisados.

REFERÊNCIAS

MAGGI, Luís Eduardo; ACQUA, Carolina Vilela del; CURADO, Ana Lucia Carloni Fleury;
LEMES, Thais Teixeira. FICHA DE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA PADRONIZADA
APLICADA A DEFICIENTES FÍSICOS AMPUTADOS. Revista Movimenta, Anápolis, v. 3, n.
4, p. 150-162, 2010. Disponível em: file:///C:/Users/Amanda/Downloads/7188-
Texto%20do%20artigo-26081-1-10-20171228.pdf. Acesso em: 02 set. 2021.

LIMA, Bruna Silva de; MEJIA, Dayana Priscila Maia. A importância da fisioterapia no processo
de protetização. 2021. 14 f. Monografia (Especialização) - Curso de Pós-Graduação em Ortopedia
e Traumatologia, Faculdade Ávila, Goiânia, 2010. Disponível em:
https://portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/33/194_-
_A_importYncia_da_fisioterapia_no_processo_de_protetizaYYo.pdf. Acesso em: 01 set. 2021.

LIMA, Jacqueline Maria Maranhão Pinto. PRÓTESES e ÓRTESES - INTRODUÇÃO. São Luís:
UNDB, 2021. 23 slides, color.

ARAÚJO, Demétrio Praxedes. Amputação Transtibial. 2021. Disponível em:


https://www.proreabilitacao.com.br/papo-cafezinho/demetrio-praxedes-araujo/amputacao-
transtibial. Acesso em: 01 set. 2021.

SOUZA, Elias Pereira de. ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA PREPARAÇÃO DO COTO


PARA PROTETIZAÇÃO DE MEMBRO INFERIOR. 2020. 1 f. TCC (Graduação) - Curso de
Fisioterapia, Faculdade Uninassau, Amazonas, 2020. Disponível em:
https://www.novafisio.com.br/atuacao-do-fisioterapeuta-na-preparacao-do-coto-para-
protetizacao-de-membro-inferior/. Acesso em: 02 set. 2021.

LUIZ. O que é amputação transtibial?: principais causas, próteses. Principais Causas, Próteses.
2021. Disponível em: https://bionicenter.com.br/o-que-e-amputacao-transtibial-principais-causas-
proteses/. Acesso em: 01 set. 2021.

AMPUTAÇÃO, Causas e Reabilitação. 2021. Elaborada pela Equipe Boa Saúde. Disponível em:
https://www.boasaude.com.br/artigos-de-saude/3903/-1/amputacao-causas-e-reabilitacao.html.
Acesso em: 01 set. 2021.

BALBI, Me. Larissa. Alterações na Marcha do Paciente com Amputação de Membro Inferior. São
Paulo: Fmrp-Usp, 2021. 42 slides, color. Programa de Pós Graduação FMRP-USP. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5223249/mod_resource/content/1/Altera%C3%A7%C3
%B5es%20na%20Marcha%20do%20Paciente%20com%20Amputa%C3%A7%C3%A3o.pdf.
Acesso em: 03 set. 2021.
SANTOS, Roniery Correia; CASTRO, José Gerley Diaz. AMPUTAÇÃO E SEUS ASPECTOS
PSICÓLOGICOS. Goiás: Secretaria de Estado da Saúde, 2021. Disponível em:
https://www.saude.go.gov.br/files/escola-saude/pesquisas-
cientificas/pesquisas/AMPUTACAOESEUSASPECTOSPSICOLOGICOS.pdf. Acesso em: 03
set. 2021

KORB, Arthiese; MOREIRA, Cleonice Pereira; SIQUEIRA, Laise Avila de. IDENTIFICANDO
POSSÍVEL PRESENÇA DE ALTERAÇÕES POSTURAIS NOS PACIENTES COM
AMPUTAÇÃO DE MEMBRO SUPERIOR E INFERIOR: uma revisão crítica de literatura.
Revista Uningá, Maringá, v. 56, n. 4, p. 205-2014, abr. 2019. Disponível em:
http://revista.uninga.br/index.php/uninga/article/view/2703/1958. Acesso em: 02 set. 2021.

Você também pode gostar