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A humanidade para saciar suas necessidades alimentares precisa respeitar os ciclos da natureza. Por isso, a
produção de alimentos é diferente de qualquer outra produção, por causa de sua base biológica.
Desde o início da agricultura no Período Neolítico (cerca de 10 mil anos atrás), os diferentes povos e culturas
desenvolveram diversas formas de se relacionar com a natureza para satisfazer suas necessidades de alimentação,
aplicando seu trabalho ao cultivo e à criação de animais. Ao longo da história, a natureza e a sociedade evoluem
juntas, ou seja, uma transforma a outra.
Durante séculos, as agricultoras e agricultores aprenderam como funciona a natureza e como interagir com
ela para obter a melhor e mais abundante colheita. Assim, as agricultoras e agricultores inventaram técnicas e
instrumentos de lavoura, a rotação e combinação favoráveis de cultivos, técnicas de manejo de insetos e doenças,
domesticação e criação de animais ou a seleção e melhoria de sementes adequadas ao seu meio e às suas
necessidades. Por sua vez, a natureza foi provendo a humanidade de sementes cada vez mais adaptadas às condições
de cada ecossistema e deu os frutos para a alimentação da humanidade. Assim, foram definidos calendários agrícolas
de acordo com a natureza e a divisão do trabalho humano, como pode ser observado no calendário agrícola de
Nijiang, Yunnan, China.
Depois da Segunda Guerra mundial, a
produção de alimentos se torna cada vez mais
dependente de novos setores industriais como a
indústria química de agrotóxicos, a indústria de
maquinário, a indústria de aditivos alimentares
(conservantes, corantes, etc.) e a indústria de
transformação agroalimentar. Por estes motivos,
ao estudar como satisfazemos nossas necessidades
de alimentação na atualidade não se pode analisar
um setor isoladamente como a agricultura ou a
indústria de transformação alimentar ou o
supermercado.
A INDUSTRIALIZAÇÃO AGRÁRIA:
A REVOLUÇÃO VERDE
A modernização ou industrialização da produção de alimentos foi baseada em uma mudança radical na
organização do trabalho e da produção na zona rural. Tecnologias foram desenvolvidas e utilizadas durante a segunda
guerra mundial (e em outras guerras com participação dos Estados Unidos), e passaram a ser utilizadas na
agricultura, em um período que foi chamado Revolução Verde:
• A mecanização das tarefas agrícolas: O aumento do custo da mão de obra (devido ao êxodo rural) incentivou a
substituição de mão de obra humana por máquinas, impulsionando a mecanização das tarefas agrícolas. A
mecanização dava lucro principalmente nas grandes explorações em monocultura, que ganhavam a competição com
a produção familiar, que não teve acesso a esta tecnologia. Este processo de mecanização agrária impulsionou o
desenvolvimento da indústria de maquinário agrícola.
• A substituição das sementes locais pelas sementes “melhoradas”: A aplicação
das descobertas científicas da biologia em cruzamentos entre espécies de plantas
criaram novas variedades produzidas de forma industrial, o que significava um
negócio empresarial. Nas décadas de 1940 e 1950 iniciou a produção industrial de
sementes (ou variedades) que tinham alta resposta aos fertilizantes agroquímicos,
que geravam fortes aumentos de produtividade; a resistência a determinadas
pragas e determinados herbicidas, a adaptação à mecanização, a adaptação a
diferentes solos e climas
e a homogeneidade e
uniformidade da produção.
• O consumo de agroquímicos: O crescente consumo de
agroquímicos foi muito unido à difusão das sementes
“melhoradas”, que se caracterizam por sua alta resposta a
estes produtos. No entanto, a combinação de fertilizantes
e irrigação não só estimulava o crescimento das colheitas
senão também o das doenças, por isso as necessidades de
herbicidas também aumentaram de forma acelerada. A
isso se unia que as pragas eram atraídas pelos
monocultivos.
A partir deste momento, os alimentos se convertem num produto industrial não perecível voltado para o
lucro e o consumismo. Os alimentos se separam de seu valor de uso, satisfazer a necessidade biológica da
alimentação, para transformar-se numa mercadoria.
Vale a pena ressaltar que o consumo de alimentos tem um limite biológico, não se pode comer mais do que o
corpo aguenta, o que marca um claro limite às possibilidades de expansão dos mercados alimentares.
Esta situação estimula a partir dos anos oitenta a mudança
da produção para alimentos menos nutritivos, mas mais
apetecíveis no ponto de vista do consumo. Claros exemplos são os
refrigerantes, os biscoitos, os aperitivos, ou a comida rápida,
também denominada “comida lixo”. Nos países pobres, onde as
possibilidades de acesso a uma alimentação sadia não estão
garantidas para toda a população, aumentam as diferenças entre
as pessoas que passam fome e as que têm acesso a uma
alimentação industrial.
A partir da década de 1980 se produz uma importante
modificação na organização do sistema agroalimentar, onde as
novas tecnologias da informação vão desempenhar um papel
central. Por exemplo, o supermercado controla o que é mais
vendido, e depois de analisar esta informação, a transmite aos
centros de produção. Este papel estratégico da distribuição
comercial se reforça, já que são os distribuidores e, sobretudo os
supermercados, que decidem que produtos chegam ao consumo.
Faz poucos anos, na Índia se cultivavam milhares de variedades locais de arroz adaptadas às condições de
cada vale. Atualmente pouco mais de uma dúzia de variedades ocupam 75% das terras. Desde Malásia a Ruanda os
camponeses semeiam soja Dalmetto, no Oriente Médio a metade da colheita é de cevada Beecher e OP25 e 70% do
trigo é das variedades Mexipak e Sonalike. Tradicionalmente, a família camponesa semeava em seus campos
diferentes variedades locais de cultivo de
forma que tinha assim uma garantia de
produção mínima em caso que uma
praga ou doença atacasse a uma
variedade. A perda dessa diversidade
genética se traduz em maiores riscos de
destruição da colheita em caso de pragas
ou doenças específicas.
EXERCÍCIOS
1. Durante a leitura, sublinhe as palavras que você desconhece o significado. A seguir, escolha 10 palavras e
elabore o seu dicionário do texto.
2. Responda:
a. Por que é importante estudar como uma sociedade organiza a produção, a distribuição e o consumo de
alimentos?
e. A frase “Sorria! Você está sendo manipulado” se refere a que assunto abordado no texto?