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Como bem esclarece já nas páginas iniciais, o autor faz uma abordagem empírica,
trazendo situações reais para demonstrar e analisar linhas de raciocínio teórico, não apenas
suas, mas de renomados teóricos como Weber, Adam Smith, Diderot, Rousseau, John Stuart
Mill, entre outros. A abordagem textual de Richard Sennet se parece com a de Michael
Sandell na obra “Justiça, o que é fazer a coisa certa?”, enquanto o conteúdo do livro, dialoga
bem com as obras e teorias do sociólogo Bauman e sua sociedade líquida.
E o autor explica que “o sistema moderno de poder que se esconde nas modernas
formas de flexibilidade possui três elementos: a reinvenção descontínua de instituições, a
especialização de produção e a concentração de poder sem centralização” (pág.54), e assim é
possível ver empresas com objetivos que, além do lucro e da necessidade contínua de
mudança, são pouco definidos, principalmente para os funcionários e equipes de trabalho.
Até aqui, todas as palavras escritas na presente resenha, são desencorajadoras aos
trabalhadores e ingressantes do mercado de trabalho, e olhar para essa realidade pode parecer
uma cena de arrebatamento, onde se vende a narrativa do “eu” em troca do pão, do iphone e
de uma Eurotrip. Richard Sennett, explica então, que de fato é como se houvesse uma “venda
do eu”, pois as pessoas passam a ignorar a própria narrativa, ocupando um estado de “homem
irônico”, onde não enfrentam os problemas e os fracassos.
E apesar dos ambientes de trabalho parecerem solos hostis que apenas destroem
os caracteres dos indivíduos, existem os ditos “ganhadores”, aqueles que não apenas
sobrevivem as flexibilidades e mudanças, mas se sentem confortáveis nelas, sendo capazes de
explorá-las e desfrutarem-se delas; aqueles que habitam confortavelmente a desordem
econômica, mas que temem o confronto organizado e o ressurgimento dos sindicatos.
Num primeiro momento o leitor pode pensar que o professor Richard Sennett está
apenas construindo uma teoria crítica e apontando consequências do novo capitalismo, dos
novos modelos de trabalho, e das novas estruturas de poder, mas é mais do que isso. Ao fim
da obra fica claro que a abordagem dos diversos aspectos, dados e teorias, tem como
fundamento mostrar como isso tudo incide na qualidade de vida dos indivíduos, em suas
condições de seres humanos e seres sensíveis, enfatizando que tais regimes “não podem
preservar sua legitimidade por muito tempo” (pág.176).