Você está na página 1de 312

1º DIA

L&C
CH
BREVIÁRIO

L C C H C NM T
LINGUAGENS CIÊNCIAS CIÊNCIAS DA MATEMÁTICA
E CÓDIGOS HUMANAS NATUREZA
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino. São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autores
Alessandra Alves
Alexandre Jabur Maluf
Eduardo Antônio Dimas
Celso Vieira Junior
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Tiago Rozante

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Eder Carlos Bastos de Lima
Felipe Lopes Santos
Iago Kaveckis
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Gráfica BMK

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen-
tando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
CARO ALUNO

Desde 2010, o Hexag Medicina é referência na preparação pré-vestibular de candidatos às melhores uni-
versidades do Brasil.
Você está recebendo o Breviário Enem do Hexag Medicina. Este material é uma fonte de consulta dos prin-
cipais conteúdos com maior incidência nas provas e que são estudados durante todo o ano.
O nosso Breviário está dividido em aulas com as indicações das competências e habilidades da matriz de
referência do Enem. Isto ajudará com que você entenda, reforce e relembre os principais pontos das disciplinas.

Aproveite e aprimore os seus conhecimentos.

Bons estudos!

Herlan Fellini
SUMÁRIO
LINGUAGENS E CÓDIGOS - L&C
Inglês 5
Espanhol 13
Gramática 33
Interpretação de Textos 51
Literatura 85

CIÊNCIAS HUMANAS - CH
História 149
Geografia 207
Filosofia 275
Sociologia 295
L CBETWEEN
Inglês

ENGLISH AND
PORTUGUESE

Breviário ENEM

L C
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Aula 1

Competência 2
Habilidade 5

BREVIÁRIO

TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR E SEU USO NO SIMPLE PRESENT

Terceira Pessoa do Singular


A terceira pessoa do singular é representada pelos pronomes HE, SHE e IT. Lembrando que HE significa ELE, SHE
significa ELA e IT é usado para uma série de coisas.

Terceira Pessoa do Singular no Simple Present


Ao conjugar um verbo na terceira pessoa do singular no simple present, devemos observar algumas regras orto-
gráficas. Vejamos quais são:

Sempre acrescente -s ao verbo: reads, writes, opens, sleeps, sings, sits, walks, runs, sees etc.;

Se o verbo terminar com a letra -o, -s, -ch, -sh, -x ou -z, acrescente -es: goes, does, misses, watches, washes,
fixes, buzzes etc.

Se o verbo terminar em uma sequência de consoante e -y, tire o -y e acrescente -ies: cry » cries, try » tries,
study » studies, reply » replies etc. (Obs.: se o verbo terminar em uma sequência de vogal e -y, basta acres-
centar -s: pray » prays, say » says, play » plays).

O verbo have é uma exceção a tudo isso, pois ele terá a forma has.

USO DE “USED TO”


O verbo use, na língua inglesa, é conjugado no particípio como used. A tradução desse termo é “usar” ou “apro-
veitar”. Vejamos alguns exemplos:

Students are not allowed to use pool in the breaks. (Estudantes estão proibidos de usar a piscina nos intervalos)
The football pitch is sometimes used for concerts. (O campo de futebol é por vezes utilizado para concerto)

Quando utilizamos a preposição “to” após a palavra “used”, temos a forma used + to, que pode ser clas-
sificada também como uma expressão ou um phrasal verb, que tem a função de colocar uma ação no passado. A
tradução direta equivale ao nosso “costumava”.

7
Por exemplo: Eu costumava assistir muitas séries de TV. Traduzindo, teríamos: “I used to watch a lot of TV
series“. A estrutura de uma oração simples em que utilizamos o used to é pronome + used to + verbo. Confira
abaixo dois exemplos:
I used to study in home. (Eu costumava estudar em casa.)
I used to play the guitar. (Eu costumava tocar violão.)

Pronomes
Singular: I, you, he, she, it.
Plural: we, you, they.

8
Aula 2

Competência 2
Habilidade 5

BREVIÁRIO

GÊNERO JORNALÍSTICO
Dos vários tipos de gênero existentes, o jornalístico é um dos mais amplos, pois envolve características pertencentes
a vários tipos de composição textual. Por esse motivo, é também um dos gêneros mais trabalhados em provas de
vestibulares e no ENEM. O nosso objetivo nesta aula é conhecer os elementos que compõem o gênero jornalístico
(notícia, entrevista, reportagem, editorial, entre outros) e discutir algumas marcas textuais que são recorrentes nos
vestibulares.

A notícia
A notícia é um dos elementos que compõe o gênero jornalístico. Está espalhada pelos mais diversos meios de
comunicação (jornais, revistas, rádio, internet). Tecnicamente, podemos dizer que a notícia se caracteriza pelo
puro registro de fatos, sem que haja a emissão de opinião da pessoa que a escreve. O objetivo básico
de uma notícia é transmitir informações a um leitor de maneira objetiva e precisa. A partir dessa definição, podemos
inferir que a notícia trabalha pelos mesmos termos da função referencial da linguagem (buscar informações de um
referente no mundo, e transmiti-las objetivamente).

1. O que vira notícia?


Sendo o objetivo da notícia o de transmitir informações, sua publicação parte de um pressuposto bem bási-
co: a notícia deve ser de interesse geral da sociedade (há aí um critério de relevância). Um acontecimen-
to familiar mais simplório, por exemplo, não é publicado por jornais e revistas, pois não se trata de evento
de interesse geral da sociedade. A partir disso, entendemos por que certos assuntos sempre são notícia.
Alguns exemplos de assuntos são:
políticos;
econômicos;
culturais;
esportivos.

2. Notícia: circulação e profundidade dos assuntos


Desde a criação da imprensa, no século XV, as notícias eram veiculadas por meio de jornais impressos. Mais
adiante, com o avanço das tecnologias de comunicação e transmissão (rádio, televisão, internet), as notícias
passaram a circular em espaços cada vez mais variados. No entanto, essa variabilidade em seu contexto
de circulação provocou significativas modificações no modo como os assuntos são abordados. A internet,
por exemplo, tem como tendência apresentar as notícias de maneira mais rápida, mais imediata, e, conse-

9
quentemente, menos aprofundada. Isso implica notícias mais “rasas”, com maior número de informações
problemáticas e de erros gramaticais.
Já um jornal impresso, por não possuir a capacidade estrutural de emitir notícias rapidamente (por conta
dos processos de impressão e distribuição), tem como vantagem justamente o maior aprofundamento sobre
os dados que compõem a notícia. Há, num meio de comunicação impresso, maior número de dados e de-
talhes a respeito da notícia publicada, e também construções gramaticais mais cuidadosas. Evidentemente,
há exceções em todos esses espaços de comunicação, sendo necessário analisar cuidadosamente não só a
notícia, mas o meio de comunicação que a originou.

3. Os traços linguísticos da notícia


Por convenção, as notícias devem obedecer às regras da gramática normativa, sendo mais formais (há
alguns casos mais específicos, como alguns jornais populares, geralmente destinados ao público de baixa
renda, em que se permitem certas “liberdades linguísticas”, deixando o texto mais coloquial.
Por conta de questões de espaço, a notícia costuma ser construída com períodos curtos que incorporam
pequenas ideias, e que também obedeçam a estruturas sintáticas canônicas (1º sujeito – 2º predicado – 3º
complementos). Esse movimento garante clareza e objetividade ao texto. (há alguns jornalistas de estilo
mais “sofisticado” que imprimem marcas mais particulares ao seu texto como algumas estratégias literárias,
por exemplo, mas esses movimentos não chegam a descaracterizar totalmente a notícia).
Como dito anteriormente, a notícia tem como característica a objetividade. Isso significa que, por convenção,
ela não pode ser pautada pelas opiniões dos jornalistas que as escrevem. Nesse caso, não é comum encon-
trarmos elementos gramaticais que realizam processos avaliativos, como adjetivos ou advérbios. Estes
aparecem apenas como caracterização dos fatos, e não como marcas opinativas do jornalista.

4. Os traços estruturais da notícia


As notícias costumam ser constituídas a partir de estruturas previamente determinadas. Temos, por exemplo,
o título, que tem a função de chamar a atenção do leitor para o conteúdo a ser apresentado. Em alguns
casos, podemos ter, além do título, um subtítulo, que no jargão jornalístico é conhecido como olho. Esse
subtítulo costuma evidenciar o elemento principal da notícia.
Os manuais de redação jornalística também destacam uma estratégia denominada pirâmide invertida,
que consiste na apresentação de informações mais básicas no parágrafo inicial, informações
essas que serão retomadas ao longo da notícia.
O desenvolvimento desse tipo de texto também elabora estratégias de constituição de perguntas na cabeça
do leitor (que?, quem?, quando?), que, adiante no texto serão eventualmente respondidas com grau de
aprofundamento variado (como e por quê).

Reportagem
A reportagem também é um tipo de gênero jornalístico que costuma apresentar textos mais longos e bastante
detalhados. A reportagem costuma retratar a observação direta de um repórter sobre acontecimentos e situações
específicas. Vejamos a definição de reportagem dada pelo Manual de redação da Folha de S.Paulo:
Reportagens têm por objetivo transmitir ao leitor, de maneira ágil, informações novas, objetivas (que possam
ser constatadas por terceiros) e precisas sobre fatos, personagens, ideias e produtos relevantes. Para tanto, elas se
valem de ganchos oriundos da realidade, acrescidos de uma hipótese de trabalho e de investigação jornalística.
Manual da redação, Folha de São Paulo. 7ª edição. São Paulo: Publifolha, 2001. Pg. 24.

10
A partir daí, podemos constituir um movimento de comparação entre a reportagem e a notícia, vista ante-
riormente: enquanto a notícia preza pela total objetividade (referencialidade), a reportagem permite subje-
tivações mais variadas, de acordo com o tema da reportagem. Em termos mais claros, dependendo do que
está sendo abordado na reportagem, a pessoa que a escreve pode imprimir características mais pessoais. É
claro que, em reportagens de cunho político, por exemplo, espera-se que a escrita seja mais objetiva, para
que não se pense que o repórter escreve sem a imparcialidade que o assunto pede.

1. Reportagem: circulação e profundidade dos assuntos


Obviamente, as reportagens mudam suas características de profundidade de acordo com o meio em que cir-
culam. Na televisão, por exemplo, costumam ter um espaço de aprofundamento mais curto por conta da curta
duração dos programas. Essa deficiência geralmente é suprida pelo volume de imagens que a TV acaba exibin-
do. Já nos meios impressos, a reportagem costuma ser mais longa e mais detalhada, com pouco espaço para
imagens (iconografia). Geralmente, nos meios impressos, a imagem serve para ilustrar questões bem pontuais.
Apesar dessas diferenças, uma coisa é certa: qualquer reportagem, mesmo as televisivas, tem maior grau de
profundidade que as notícias, pois pressupõe uma pesquisa/entrevista realizada por um repórter.

2. Os traços linguísticos da reportagem


Assim como nas notícias, a linguagem utilizada numa reportagem deve ser pautada por elementos da gra-
mática normativa, embora uma reportagem televisiva tenha maior liberdade linguística por ser feita a partir
de elementos da oralidade. Costumeiramente, encontraremos um maior grau de formalidade em reporta-
gens impressas. Outro traço linguístico presente no texto são as penetrações de diferentes vozes, pois, como
comentamos anteriormente, uma reportagem pressupõe uma pesquisa ou entrevista, e muitas vezes essas
vozes são evidenciadas no corpo da reportagem.

3. Os traços estruturais da notícia


Na reportagem, devido a sua extensão e possibilidades variadas de temas, não temos estrutura fixa. No
entanto, espera-se que os parágrafos introdutórios apresentem elementos que possam ser recuperados pelo
leitor no decorrer do texto. Também é necessário, em reportagens impressas, construir elementos que apro-
ximem o leitor do contexto abordado. Todos esses elementos devem ser articulados de modo claro para que
o leitor possa reconstruir o quadro geral apresentado. Em alguns casos, para auxiliar o leitor, podemos ter na
reportagem o uso de iconografias, que consistem basicamente em elementos informativos que incorporam
imagem + texto, e que trazem dados numéricos, estatísticos ou ilustrativos.

QUADRINHOS E TIRINHAS
As histórias em quadrinhos são um conjunto narrativo (entendido como uma forma de arte sequencial gráfica) que
mescla linguagem verbal (texto) e linguagem não verbal (imagem). É um gênero bastante popular entre crianças
e adolescentes, e tem cada vez mais se tornado popular também entre os adultos, especialmente pela capacidade
que esse gênero possui de representar uma quantidade significativa de situações sociais.
É um tipo de gênero que muitos tentam associar a outros rótulos, como, a literatura. Há aí um equívoco,
pois, na verdade, os quadrinhos possuem uma linguagem bastante autônoma, capaz de abarcar muitos fenômenos
de comunicação. O professor Paulo Ramos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em abor-
dagens críticas de quadrinhos, explana com clareza o que devemos entender a respeito desse gênero:
Quadrinho são quadrinhos. E, como tais, gozam de uma linguagem autônoma, que usa mecanismos pró-
prios para representar os elementos narrativos. Há muitos pontos comuns com a literatura, evidentemente. Assim
como há também com o cinema, o teatro e tantas outras linguagens.
(Paulo Ramos, in: A leitura dos quadrinhos, Editora Contexto: 2014, pág 17.)

11
As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas
em revistas e jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem
grande espaço), o tipo mais comum de quadrinho que encontramos são as “tiras”.

As tiras
São entendidas como tiras os segmentos de história em quadrinhos publicados em jornais ou revistas num curto
espaço de página, habitualmente na horizontal (atualmente, há também formatos verticais ou com duas ou mais
tiras). É um gênero textual que surgiu nos Estados Unidos para dar conta da falta de espaço que havia nos jornais
para a publicação de cruzadas e outros passatempos. O nome “tira” (ou “tirinha”, como a conhecemos no Brasil)
remete ao formato do texto, que parece um “recorte” horizontal de jornal.
Trata-se de um gênero textual que mais comumente apresenta temática humorística, mas também encon-
traremos (especialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem
reflexões existenciais). Vejamos alguns exemplos:

D, R. Disponível em: wwwglasbergen.com.


Acesso em: 3 jul. 2015 (Adaptado).

RIDGWAY, L. Disponível em: http://fborfw.com. Acesso em: 23 fev. 2012.

Mais recentemente, as tiras (e os quadrinhos como um todo) têm sido objetos de inúmeras pesquisas sobre
comunicação em cursos de graduação e pós-graduação. Encontram-se com facilidade artigos e outras publicações
destinados ao estudo deste gênero. Por esse motivo, tem-se explorado muito os quadrinhos no vestibular.

12
L C Espanhol

ENTRE ESPAÑOL
Y PORTUGUÉS

Breviário ENEM

L C
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
INFORMAÇÃO CULTURAL
¿ESPAÑOL O CASTELLANO?

¿Hay diferencia? ¿Quiénes hablan el uno y quiénes hablan el otro? Estas son algunas de las preguntas que común-
mente escuchamos de aquellos que deciden iniciarse en el estudio del español.
El castellano es el idioma del latín vulgar que se impuso en España durante el proceso de unificación, en la
lucha contra la dominación de los árabes. Sin embargo, además del castellano, en España se hablan otros idiomas:
el catalán, el gallego, el vascuence. La Constitución Española de 1978 declara la cooficialidad de esas lenguas
y del castellano en sus respectivas regiones. O sea, el castellano, en España, pero en las regiones donde hay un
idioma propio este también disfruta ahí de valor oficial. Por ser castellano el idioma oficial para España, es también
llamado de español.
Por increíble que pueda parecer, toda esa multiplicidad de lenguas existente en España no llegó a arraigarse
en Hispanoamérica. Sólo el castellano se impuso. Por supuesto que hay variaciones en el modo de hablar de los
diferentes pueblos latinoamericanos que fueron colonizados por España, pero nada que pueda hacernos considerar
cualquiera de esas variantes como un idioma aparte. En suma, podemos decir que los términos español y castellano
son sinónimos usados para referirse al mismo idioma.

Países donde el español es idioma oficial


En Europa: España, incluyendo sus posesiones y territorios en El Mar Mediterraneo, en El Océano Atlántico
y en el Norte de África.
En América Del Norte: México.
En las Antillas: Cuba, República Dominicana y Puerto Rico.
En América Central: Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicaragua, Costa Rica y Panamá.
En América Del Sur: Colombia, Venezuela, Ecuador, Perú, Bolivia, Chile, Paraguay, Uruguay y Argentina.
En África: Guinea Ecuatorial.

Alfabeto Gráfico
A fonética da Língua Castelhana (ou espanhola) é familiar aos falantes de português. Contudo, é necessário co-
nhecer cada uma das letras do alfabeto e sua respectiva pronúncia, a fim de memorizá-las corretamente, evitando,
deste modo, erros que se apresentam com bastante frequência devido à semelhança entre ambos os idiomas.
O Alfabeto Gráfico ou Ortográfico Castelhano, consta de 29 letras, que são:

A B C CH D E F G H I J K L LL M

a b c ch d e f g h i j k l ll m

N Ñ O P Q R S T U V W X Y Z

nñ o p q r s t u v w x y z

15
Comparando-o com o Alfabeto Português, pode-se dizer que há unicamente três letras diferentes, que são:

CH – LL – Ñ

Nota: os grupos ll e ch foram recentemente incorporados às letras l e c, respectivamente. Assim, o Alfabeto


Ortográfico Castelhano conta hoje com 27 letras apenas.

Cuando la vocal débil es acentuada, se convierte en una vocal fuerte y de pronto el diptongo o el triptongo
es destruído.
Ej.: Sofía, baúl, tío, frío, raíz.
So-fí-a, ba-úl, tí-o, frí-o, ra-íz.

Obs.: La Real Academia recomienda que los verbos terminados en UIR, no disuelvan el diptongo.
Ej.: huir, atribuir, sustituir

Fonética

Ler devagar pronunciando cuidadosamente cada palavra: El/jefe/baja/ligero.

Jamás dejes la jabonera sin jabón.


El hijo de José es joven y bajo.
El reloj se rompió rápidamente. Reconoce que Ramón tiene razón.
El rato reaccionó con rabia y rencor.

16
Teoria na prática
1. Colocar as letras que faltam nas seguintes palavras:
R ou RR?
_____oca pa_____oquia _____atón
a_____iba en_____edadera _____ama

G ou J?
_____eranio _____ente a_____itar
diri_____ir _____imnasio _____ulio
_____inete _____arra _____u_____o

Y ou LL?
_____uvia pa_____aso _____erba
_____ora _____acaré _____ama
ga_____ina

Los días de la semana (Os dias da semana)


Lunes (Segunda-feira)
Martes (Terça-feira)
Miércoles (Quarta-feira)
Jueves (Quinta-feira)
Viernes (Sexta-feira)
Sábado (Sábado)
Domingo (Domingo)
antes (antes)
ahora (agora)
después (depois)
ayer (ontem)
hoy (hoje)
mañana (amanhã)
pasado mañana (depois de amanhã)
Obs.: Los días de la semana son del género masculino.
Ej.: El lunes
El Martes, etc.
El Día (O dia)

Los meses del año (Os meses do ano)


Enero (janeiro)
Febrero (fevereiro)
Marzo (março)
Abril (abril)
Mayo (maio)
Junio (junho)

17
Julio (julho)
Agosto (agosto)
Septiembre (setembro)
Octubre (outubro)
Noviembre (novembro)
Diciembre (dezembro)

Signos de puntuación (Sinais de pontuação)


Os sinais de pontuação têm o mesmo uso que em Português. Mas cabe salientar que unicamente em Castelhano
os sinais de interrogação (¿?) e de exclamação (¡!) se abrem e se fecham. Não o esqueça! Aprenda e pratique este
desenho (¿) porque terá que usá-lo quando escrever em Castelhano.
, la coma (a vírgula)
; el punto y coma (o ponto-e-vírgula)
: los dos puntos (os dois pontos)
. el punto (o ponto)
... los puntos suspensivos (as reticências)
¿ el principio de interrogación (não há em português)
? el final de interrogación (sinal de interrogação)
¡ el principio de admiración o exclamación (não há em português)
! el fin de admiración o exclamación (sinal de exclamação)

Os principais sinais auxiliares são:


( ) el paréntesis (o parênteses)
““ las comillas (as aspas)
- el guión (o hífen)
— la raya (o travessão)

Advertência: Em Castelhano os sinais de interrogação e exclamação podem abrir-se na metade de uma


oração.
Ej.: Dime, María ¿olvidaste las llaves?
Alcánzame aquel libro y ¡rápido!

Diálogos usando sinais de pontuação:


Ej.: -Hola, ¿cómo estás?
-Muy bien, gracias. Aprobé el examen de Contabilidad.
-¡Te felicito! ¿Fue muy difícil?
-Bueno, mira ...
-¡Cuenta, cuenta!
-El profesor era joven, simpático...
-¡Ya sé, te resultó fácil conquistarlo!

18
Separación en sílabas (Separação de sílabas)
Em geral, as sílabas das palavras são separadas como em Português, mas II e rr NUNCA podem separar-se ao meio.
Ej.: ca – rre – ta (carroça) Llu-via (chuva)
Lle-gar (chegar)
Pa-rro-quia (paróquia)

Los números cardinales (Os números cardinais)


0(cero) 20(veinte) 101(ciento uno)
1(uno) 21(veintiún/veintiuno) 129(ciento veintinueve)
2 (dos) 22(veintidós) 158(ciento cincuenta y ocho)
3(tres) 23(veintitrés) 200(doscientos)
4(cuatro) 24(veinticuatro) 300(trescientos)
5(cinco) 25(veinticinco) 400(cuatrocientos)
6(seis) 26(veintiséis) 500(quinientos)
7(siete) 27(veintisiete) 600(seiscientos)
8(ocho) 28(veintiocho) 700(setecientos)
9(nueve) 29(veintinueve) 800(ochocientos)
10(diez) 30(treinta) 900(novecientos)
11(once) 31(treinta y uno) 1.000(mil)
12(doce) 40(cuarenta) 2.000(dos mil)
13(trece) 41(cuarenta y uno) 10.000(diez mil)
14(catorce) 50(cincuenta) 100.000(cien mil)
15(quince) 60(sesenta) 1.000.000(un millón)
16(dieciséis) 70(setenta) 10.000.000(diez millones)
17(diecisiete) 80(ochenta) 100.000.000(cien millones)
18(dieciocho) 90(noventa) 1.000.000.000(mil millones)
19(diecinueve) 100(cien / ciento) 10.000.000.000(diez mil millones)

ARTÍCULO DETERMINANTE (ARTIGO DETERMINADO)


Singular Plural
Masculino El El hombre Los Los hombres
Femenino La La casa Las Las casas
Neutro Lo Lo interesante

Los días de la semana


El artículo determinado singular señala un día determinado:
Ej.: Iremos al teatro el domingo.

El artículo plural señala una periodicidad:


Ej.: No me gustan los martes.

19
El artículo neutro LO
No va nunca con nombres pero da valor de nombre a los elementos que acompaña.
Lo + adjetivo o participio
Convierte el adjetivo en un nombre más abstracto y el adjetivo adopta la forma masculino singular:
Ej.: Lo difícil era expresarse libremente (la dificultad).
Abandonaron lo proyectado (el proyecto).
Me encanta lo maravilloso de tu mirada (la maravilla).

Lo que
Introduce un valor demostrativo y equivale al demostrativo neutro:
Ej.: No puedo admitir lo que dices.

Lo de + artículo/posesivo + nombre
Significa el asunto de:
Ej.: He arreglado lo del viaje.

Lo de + infinitivo
Significa el hecho de:
Ej.: Lo de quedarse en casa todas las noches no me parece bien.

ARTÍCULO INDETERMINANTE (ARTIGO INDETERMINADO)


Singular Plural
Masculino Un Un hombre *Unos Unos hombres
Femenino Una Una casa *Unas Unas casas
Neutro Lo Lo interesante *poco utilizado

Contrações de artigos
En español, hay solo dos contracciones de los artículos:

a + el = al
Ej.: voy al cine. / fui al trabajo.

de + el = del
Ej.: Volvemos del cine/trabajo.

20
DIVERGÊNCIAS LÉXICAS ENTRE O ESPANHOL E O PORTUGUÊS
Divergências léxicas são aquelas diferenças existentes entre o espanhol e o português.
Heterogenéricas: são palavras que mudam seu gênero comparadas ao português.
Ej.:

Espanhol Português
el árbol a árvore
el color a cor
el desorden a desordem
el dolor a dor
el estante a estante
el estreno a estreia
el fraude a fraude
el origen a origem
el puente a ponte
el aprendizaje a aprendizagem
el coraje a coragem
el homenaje a homenagem
el lenguaje a linguagem
el mensaje a mensagem
el paisaje a paisagem
el viaje a viagem
el síndrome a síndrome
el cútis a cútis
la cárcel o cárcere
la estratagema o estratagema
la labor o labor
la leche o leite
la nariz o nariz
la sal o sal
la sangre o sangue
la cumbre o cume

Heterotônicas: são palavras semelhantes ao português, mas com a sílaba tônica diferente.
Ej.:

Português Espanhol
academia academia
álcool alcohol
alergia alergia
alguém alguien
atmosfera atmósfera
burocracia burocracia
cérebro cerebro
coquetel cóctel
cratera cráter
diplomacia diplomacia

21
Português Espanhol
elite élite
elogio elogio
epidemia epidemia
euforia euforia
fobia fobia
gaúcho gaucho
hemorragia hemorragia
herói héroe
ímã imán
imbecil imbécil
limite límite
magia magia
metrô metro
míope miope
nível nivel
nostalgia nostalgia
ortopedia ortopedia
oxigênio oxígeno
pântano pantano
paralisia parálisis
parasita parásito
polícia policía

Heterossemânticas ou “falsos amigos”: são palavras muito semelhantes ao português na grafia, mas
de significados totalmente diferentes.
Ej.:

Espanhol Português
apellido sobrenome
sobrenombre apelido
escena cena
cena janta
oficina escritório
taller oficina
zurdo canhoto
sordo surdo
ratón rato
rato momento
perejil salsa
salsa molho
puro(substanti vo) charuto
jugar brincar
brincar pular
carreta carroça
carroza carruagem
tirar atirar
quitar tirar
vaso copo

22
jarrón vaso
pelirrojo ruivo
rubio loiro
sueco(nacional idad) sueco
zueco tamanco
quedar ficar
sitio lugar
chacra sítio
morado roxo
cerrar fechar
fecha data
fechar datar

1ª REGLA

¿”El” arca o “la” arca?

Para evitarse un choque vocálico cacofónico, antes de sustantivo femenino singular empezado por a tónica (prece-
dida o no de h), se usa el artículo el en lugar de la. Se dice, por lo tanto:
El arpa (y no La arpa).
El agua (y no La agua).

Este cambio sólo se da cuando el artículo viene inmediatamente seguido del sustantivo, sinó se debe usar la.
Ej.: La misma ave.
La fuerte hacha.

23
Los complementos de estos sustantivos conservan siempre sus características femeninas.
Ej.: El arca de Noé.
El agua clara.
El arma vieja.
El hacha peligrosa.

Por las mismas razones y de modo análogo, se usa un en lugar de una seguido de sustantivo femenino con
sonido inicial /a/ tónico.
Ej.: La palabra es un arma muy efectiva.
En 2015, la inflación tuvo un alza del 10% .
Tengo un hambre terrible.

2ª REGLA
Para evitar un choque vocálico no eufónico, la conjunción copulativa y es sustituida por la forma e cuando viene
seguida de una palabra que empieza por el sonido vocal /i/ (precedido o no de h).

Ej.: Arí e Inés trabajan siempre juntos.


Geografía e Historia son ciencias humanas.
Stephanie es una mujer admirable e inteligente.

Sin embargo, si la palabra que le sigue a la conjunción empieza por la representación del diptongo hie, la
regla anterior no se aplicará.

Ej.: Esta casa se construyó con ladrillos y hierro.


Esta bebida fue preparada con aguardiente, limón y hielo.

3ª REGLA
También por razones de eufonía, la conjunción disyuntiva o es sustituida por la forma u cuando viene seguida de
una palabra que empieza por o (precedida o no de h).
Ej.: Voy a leer este u otro libro cualquiera.
En esta compañía se acepta mujer u hombre.
Yo me casaría con María u Osvaldo.Acentuação gráfica

Observações:
a. Vocales abiertas = a, e, o
Vocales cerradas = i,u
b. En español, la única señal usada para indicar la acentuación es la tilde (´).

24
Regras básicas para a acentuação gráfica
1. Las palabras agudas (la última sílaba es la tónica)-oxítonas-son acentuadas
cuando terminan en vocal, n o s:
tabú
café
también
común
así
jamás
corazón
después

2. Las palabras graves (la penúltima sílaba es la tónica)-paroxítonas-son acen-


tuadas cuando terminan en consonante, excepto n o s:
difícil
ángel
fútbol
débil
azúcar
fémur

3. Las palabras esdrújulas (la antepenúltima sílaba es la tónica)-proparoxíto-


nas- y sobresdrújulas (la sílaba tónica es la anterior a la antepenúltima)-no
hay en portugués- son siempre acentuadas:
último
rápido
muéstralo
héroe
muéstramelo
mérito
tráigasela
cómpramelo

4. Se acentúan las palabras que tienen hiato compuesto de una vocal abierta y
otra vocal cerrada(o al contrario) y tónica:
río
día
podía
oído
creído
decían
acentúo

5. Adverbios terminados en –mente conservan la tilde del adjetivo del que


derivan.
Ej.: Fácil Fácilmente
Difícil Difícilmente
Trágico Trágicamente

25
6. Reglas especiales:
a. Hay palabras que llevan tilde para diferenciarlas de sus homógrafas:
Ej.: Él (pronombre personal) X El (artículo definido)
Mí ( pronombre personal) X Mi (adjetivo posesivo)
Té (sustantivo) X Te (pronombre personal)
Tú (pronombre personal) X Tu (adjetivo posesivo)
Sí (adverbio de afirmación) X Si (conj.condicional)
Dé (forma del verbo dar) X De (preposición)
Sé ( forma del verbo saber) X Se (pronombre personal)
Más (adverbio) X Mas (conj. adversativa)

b. La palabra aún llevará tilde cuando pueda sustituirse por todavía (ainda) sin
alterar el sentido de la frase.
Ej.: Aún es muy joven.
No ha dicho nada aún.
Cuando se utiliza con el mismo significado de hasta, también, incluso (o siquiera, con negación), se
escribirá sin tilde.
Ej.: Aun los pobres tienen derecho al pan.
Todos los miembros del club, aun los más conservadores, votaron a favor de la nueva ley.

c. Los pronombres interrogativos llevan siempre la tilde.


Ej.: ¿Cómo te llamas?
Quiero saber cómo te llamas.
¿De dónde eres?
No sé de dónde eres.
¿Qué dice el profesor?
El alumno quiere saber lo qué dice el profesor.

ADJETIVOS E PRONOMES DEMONSTRATIVOS

Los adjetivos demostrativos


ESTE ESE AQUEL
MASCULINO
este coche ese coche aquel coche
ESTA ESA AQUELLA
FEMENINO
esta casa esa casa aquella casa
ESTOS ESOS AQUELLOS
MASCULINO
PLURAL esos
estos alumnos aquellos alumnos
alumnos
FEMENINO ESTAS ESAS AQUELLAS
PLURAL estas mujeres esas mujeres aquellas mujeres

26
Los pronombres demostrativos
ÉSTE ÉSE AQUÉL
MASCULINO
Éste es Julio Ése es Ricardo Aquél es Roberto
ÉSTA ÉSA AQUÉLLA
FEMENINO
Ésta es Ana Ésa es María Aquélla es Rosa
ÉSTOS ÉSOS AQUÉLLOS
MASCULINO
PLURAL Aquéllos son los
Éstos son los alumnos Ésos son Pablo y Juan
más estudiosos
ÉSTAS ÉSAS AQUÉLLAS
FEMENINO
PLURAL Ésas son
Éstas son Ana Y María Aquéllas son dos familias
buenas alumnas
ESTO ESO AQUELLO
NEUTRO
Esto es un perro Eso es un gato Aquello es una casa

Empleo de los demostrativos


SITUACIÓN EN EL ESPACIO
(Ahí) (Allí, allá)
E (Aquí, acá)
A poca distancia Lejos del
L Cerca del hablante
del hablante hablante
(Perto do falante)
(a pouca (Longe do falante)
H
distância do falante)
A
B (Este) (Aquel)
(Ese)
L (esta, estos, (aquella, aquellos,
A (esa esos,
estas, éste, aquellas, aquél,
N esas, ése,
ésta, éstos, aquélla, aquéllos,
T éstas, esto.)
ésa, ésos,
aquéllas, aquello)
E ésas, eso)

Mayor Menor
Lajanía
proximidad Proximidad
(longitude)
(maior proximidade) (menor proximidade)

Relación espacial con respecto al hablante

Mayor proximidad (Proximidad a la primera persona - YO):


ESTE/ESTA
Este coche (que está aquí) cuesta mucha plata.
Esta casa (que está aquí) es muy hermosa.
Menor proximidad (proximidad a la segunda persona - TÚ):
ESE/ESA
Ese libro (que tienes ahí) es muy interesante.
Esa señora (que está ahí) tiene ochenta años.
Lejanía (lejanía del TÚ y del YO):
AQUEL/AQUELLA
El alumno de aquel profesor (que está allí sentado) es muy estudioso e inteligente.
La alumna de aquella escuela aprende muy fácilmente.

27
Relación temporal con respecto al hablante

Mayor proximidad
ESTE/ESTA
Este año vamos a viajar a Europa.
Esta casa la compramos muy barata.

Menor proximidad
ESE/ESA
Estábamos tranquilos y en ese momento llegó nuestro padre.
Esa silla es bastante cómoda.

Lejanía
AQUEL/AQUELLA
En aquel departamento, vivían dos familias pequeñas.
Aquella chica es muy guapa y hermosa.

LOS POSESIVOS
Los adjetivos posesivos delante del nombre
Generalidades
Los adjetivos posesivos sustituyen al artículo para expresar la posesión:

Ejemplos:
El sombrero
Mi sombrero

En cuanto a su concordancia:

Ejemplos:
MI, TU, SU sólo concuerdan en número pero no en género:
Mi coche;
Mis coches;
Mi casa;
Mis casas.

Los varios sentidos de la tercera persona (su)


La frase Hemos visitado su departamento, puede corresponder a:
Hemos visitado su departamento (de usted)
Hemos visitado su departamento (de ustedes)
Hemos visitado su departamento (de él)
Hemos visitado su departamento (de ella)
Hemos visitado su departamento (de ellos)
Hemos visitado su departamento (de ellas)

28
Singular, Plural, Complemento
adjetivo
Masculino o Femenino Masculino o Femenino identificador
mi reloj Mis relojes
Mi - Mis
mi silla Mis sillas
Tu libro Tus libros
Tu - Tus
Tu casa Tus casas
Su auto Sus autos
Su - Sus De él, de ella, de usted
Su hermana Sus hermanas
Nuestro/s Nuestro perro Nuestros perros
Nuestra/s Nuestra hija Nuestras hijas
Vuestro/s Vuestro profesor Vuestros profesores
Vuestra/s Vuestra maestra Vuestras maestras
Su lápis Sus lápices De ellos, de ellas,
Su - Sus
Su lapicera Sus lapiceras de ustedes

Los adjetivos posesivos detrás del nombre


Generalidades
Concuerdan en género y número con el nombre:

Ejemplos:
Un cuaderno mío
Unos cuadernos míos
Una corbata mía
Unas corbatas mías

El nombre conserva su artículo o determinante:

Ejemplos:
Un amigo tuyo te llamó ayer.
Este coche mío ya no me gusta más.

En frases exclamativas o interjecciones no aparece el determinante:

Ejemplos:
¡ Dios mío, que frío !
¡ Madre mía, no te asustes !La formación del plural

Introducción
El plural en los sustantivos va determinado por los artículos los (masculino) y las (femenino).

Ejemplos:
los billetes de banco
las monedas

Sustantivos terminados en vocal


Con los sustantivos terminados en vocal (a, e, i, o, u), normalmente se forma el plural añadiendo una s.

Ejemplos:
el libro – los libros.
la mesa – las mesas.

29
Si la última letra es una í o una ú tónicas, se le añade al sustantivo es.

Ejemplos:
el rubí – los rubíes.
el ombú – los ombúes.

Sustantivos terminados en consonante


Con los sustantivos acabados en consonante (d, l, r, z, …), normalmente se forma el plural añadiendo es.

Ejemplos:
el profesor – los profesores.

Para no cambiar la acentuación de la palabra, puede ser necesario añadir o quitar una tilde al añadir es.
Ejemplo:
el examen – los exámenes
la institución – las instituciones
Al añadir es, la z se transforma en c.
Ejemplo:
la cruz – las cruces
Con los sustantivos de origen extranjero acabados en con-
sonante, se formará el plural añadiendo s o es.
Ejemplo:
el club – los clubs/clubes

EXCEPCIONES
Los sustantivos con una sílaba final no tónica terminada en s o x son invariables.

Ejemplos:
el martes – los martes
el tórax los tórax
Pero si la sílaba final es tónica, se añadirá es.

Ejemplos:
el autobús – los autobuses
Algunos se utilizan sólo en plural

Ejemplos:
las gafas / los anteojos (os óculos).
las tijeras (as tesouras).Formación del femenino

Los nombres terminados en –o la cambian por –a


El niño La niña
El hermano La hermana
El alumno La alumna
El sobrino La sobrina

30
El ministro La ministra
El catedrático La catedrática
El médico La médica
El abogado La abogada

Generalmente los nombres que terminan en consonante


añaden –a
El pintor La pintora
El bailarín La bailarina
El profesor La profesora
El juez La jueza

Muchos nombres forman el femenino con los sufijos –esa, –iz, –ina, y a veces se producen cambios en la
palavra:

El conde La condesa
El duque La duquesa
El héroe La heroína
El rey La reina
El príncipe La princesa
El actor La actriz

En algunos casos hay palabras distintas para cada sexo


El hombre La mujer
El padre La madre
El padrino La madrina
El macho La hembra
El caballo La yegua
El yerno La nuera
El carnero La oveja
El marido La esposa

Maculino o femenino
Según el sexo, son masculinos o femeninos
Los nombres terminados en –ista:

El periodista La periodista
El artista La artista
El ciclista La ciclista
El socialista La socialista
El artista La artista
El deportista La deportista

Ciertos nombres que no se pueden clasificar:


el/la testigo, culpable, homicida, reo, joven etc.
31
Son sólo masculinos o femeninos

Los nombres que corresponden a especies animales, si no tienen formas diferenciadas. Se determinan según el sexo
añadiendo macho o hembra:

El ratón macho El ratón hembra


La jirafa macho La jirafa hembra
La rana macho La rana hembra
La cucaracha macho La cucaracha hembra

Doble artículo

Ciertos nombres aceptan doble artículo y cambian de significado:

El capital (el dinero) La capital (la ciudad)


El cólera (enfermedad) La cólera (la ira)
El cometa (estrella) La cometa (juguete que vuela)
El pez (animal) La pez (sustancia)
El cura (sacerdote) La cura (atención, médica)
El clave (musical) La clave (la resolución)
El guía (o guia) La guía (livro)
El margen (lucro) La margen (margem)

32
L C Gramática

ENTRE
LETRAS

Breviário ENEM

L C
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Aulas 1 e 2

Competências 4, 6 e 7
Habilidades 14, 18, 19 e 22

BREVIÁRIO

VERBOS
Verbo é a classe de palavras que, do ponto de vista semântico (morfológico), contém as noções de ação, processo,
estado, mudança de estado e manifestação de fenômenos da natureza. É variável e suas flexões marcam:
pessoa: indica o emissor, o destinatário ou o ser do qual se fala. Os pronomes pessoais do caso reto indi-
cam as pessoas do verbo – eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as);
número: indica se o sujeito gramatical está no singular ou no plural;
tempo: localiza a ação, o processo ou o estado em relação ao momento do enunciado. Os tempos verbais
são seis – pretérito mais-que-perfeito, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, futuro do pretérito, presente
e futuro (do presente);
modo: indica a atitude do emissor quanto ao fato por ele enunciado, que pode ser de certeza, dúvida,
temor, desejo, ordem etc. Os modos verbais são: indicativo, subjuntivo e imperativo (afirmativo e negativo);
voz: indica se o sujeito gramatical é agente, paciente ou, ao mesmo tempo, agente e paciente da ação.

Modos verbais
Quando lemos, falamos ou escrevemos, posicionamo-nos em um determinado tempo. No momento do enunciado,
os verbos ocorrem (presente), ocorreram (passados) ou ocorrerão (futuro), dependendo no modo verbal.

Tempos do modo indicativo


1. Presente
Indica processo no momento da fala.
Faço minhas escolhas. (atualmente, agora)
Indica processo habitual, constante, fato real, verdade.
Ela cumpre seus acordos. (ação habitual)
Indica processo ocorrido até o momento da declaração.
Moro com meus colegas.
Em narrativas históricas (presente histórico), em lugar do pretérito perfeito.
Colombo chega à América e, em 1492, conquista o Novo Mundo.
Em acontecimento próximo no lugar do futuro.
Não posso almoçar contigo amanhã.
Em expressões condicionais (se...), em lugar do subjuntivo.
Se tudo corre bem, podemos viajar.
35
2. Pretérito perfeito
Indica um processo, algo já realizado, concluído, terminado, sem necessidade de referência à outra ação
anterior nem contemporânea.
João saiu ontem.
Fiz as compras.
Cheguei.
Indica processo ocorrido antes da declaração expressa pelo verbo.
Em 1939, Hitler invadiu a Polônia.
É frequente o emprego do pretérito perfeito composto – presente do indicativo do verbo auxiliar “ter“
ou “haver“ e particípio do verbo principal.
Pode indicar ato habitual:
Eu tenho lido bastante.
Os alunos têm estudado muito.
Também pode indicar fato ocorrido até o momento da declaração:
Tenho comprado muitos carros iguais a este.

3. Pretérito imperfeito

Indica um processo ocorrido anteriormente ao momento da declaração, mas contemporâneo a outro


fato passado.
Eu ouvia samba, quando se deu o estouro.
Ele comia, quando da sua chegada.
É empregado para indicar processo em desenvolvimento.
Eu dançava, quando ele entrou.
Indica processo em continuidade, habitual, constante, frequente.
Eu residia nesta casa.
Indica processo idealizado, não realizado.
Pretendíamos ir à Bahia, mas o frio repentino não permitiu.
Como manifestação de cortesia, de polidez, em lugar do presente do indicativo ou do imperativo.
Queria só um abraço.
Em lugar do futuro do pretérito do indicativo.
Se ele pagasse, já estávamos (em vez de “estaríamos“) na França.

4. Pretérito mais-que-perfeito
Indica uma ação passada, um fato concluído que aconteceu antes de outro fato (ambos no passado).
O trem partira quando ele enfim chegou.
Ela estivera presente à toda reunião.
Ele dançara muito.
Em construções exclamativas.
Quem lhe dera tê-la nos braços naquela tarde!
Em lugar do pretérito imperfeito do subjuntivo.
Nadou como se estivera (estivesse) à beira da morte.
É bastante frequente o emprego do mais-que-perfeito composto – imperfeito do verbo auxiliar “ter“ ou
“haver“ e particípio do verbo principal.
Eu tinha falado bastante.
Já havia ocorrido o pior.

36
5. Futuro do pretérito

Exprime ação futura em relação ao passado, ação que teria ocorrido em relação a um fato já ocorrido
no passado.
Eu iria, se você chegasse a tempo.
Designa ações posteriores à época em que se fala.
Ainda ficaria. Esperaria a noite. (Marques Rabelo)
Designa incerteza, probabilidade, dúvida, suposição sobre fatos passados.
Seriam mais ou menos dez horas quando chegaram. (Lobato)
Forma polida de presente para denotar um desejo.
Eu precisaria namorar aquela moça.

O futuro do pretérito composto expresso – verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no futuro do pretérito e parti-
cípio do verbo principal.
Eu teria dito (diria) umas verdades a você.

Indica fato que teria acontecido no passado mediante certa condição.


Teria sido diferente, se eu a amasse. (Ciro dos Anjos)
Indica possibilidade de um fato passado.
Teria sido melhor não escrever nada. (Ruben Braga)
Indica incerteza sobre fatos passados em certas frases interrogativas.
Ele só teria falado ou também...?

6. Futuro (do presente)


Indica a ação ainda não ocorrida, mas já declarada pelo verbo.
Ora (direis) ouvir estrelas!/ (...) E eu vos direi: amai para entendê-las! (Olavo Bilac)
Empregado para indicar um fato aproximado ou para enfatizar uma expressão.
Na África, quantos não estarão mortos de fome!

Indica incerteza, probabilidade, dúvida, suposição.


Há uma várzea em meu sonho, mas não sei onde será. (Augusto Meyer)
Indica fatos de realização provável.
Vem, dizia ele na última carta; se não vieres depressa, acharás tua mãe morta. (Machado de Assis)
Como forma polida, em vez do presente.
Mas como foi que aconteceram? E eu lhe direi: sei lá, aconteceram: eis tudo. (Drummond)
É frequente o emprego do futuro do presente composto – futuro do presente do verbo auxiliar “ter“ ou
“haver“ e particípio do verbo principal.
Quando você chegar, eu já terei ido.
Indica ação futura a ser consumada antes de outra.
Quando o guarda chegar, já teremos fugido.
Indica possibilidade de um fato passado.
Terá passado o furacão dentro de oito dias?
Indica certeza de uma ação futura.
Se não voltarmos em algumas horas, teremos perdido a oportunidade.

37
Tempos do modo subjuntivo
1. Presente
Expressa hipótese, desejo, suposição, dúvida.
Tomara que você tenha boas festas!
Bons ventos o levem!
2. Pretérito imperfeito
É empregado nas orações subordinadas da oração principal, em que o verbo esteja no pretérito imper-
feito do indicativo.
Ela desejava que todos morressem.
Esperei que eles fizessem os trabalhos direito.
Apreciaria que você me beijasse.

3. Pretérito mais-que-perfeito (composto)


Verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no pretérito imperfeito do subjuntivo seguido do particípio do verbo
principal.
Imaginei que ele tivesse trazido a grana. (Indica fato anterior a outro, ambos no passado.)

4. Futuro simples
Designa fato provável, eventualidade futura.
Quando ela vier, encontrará uma bagunça.

5. Futuro composto
Verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no futuro do subjuntivo seguido do particípio do verbo principal. Desig-
na fato futuro como encerrado em relação a outro também no futuro.
Só deixarei esta casa, quando ele tiver trazido todos os meus pertences.
Quando eu tiver encontrado o vestido, avisarei a você.

ADVÉRBIOS
Advérbio é uma classe de palavras invariável que se associa a verbos, a adjetivos ou a outros advérbios, cada qual
com intenções bastante específicas.
Associa-se a verbos para indicar com maior precisão as circunstâncias da ação verbal.
Exemplo: Paula viajou ontem. (O advérbio “ontem” indica com maior precisão quando Paula viajou.)
Associa-se a adjetivos para intensificar o adjetivo já apresentado.
Roberto ficou bastante preocupado. (O advérbio “bastante” intensifica o adjetivo preocupado.)
Associa-se a advérbios para intensificar outro advérbio já apresentado.
O jogador do Corinthians está se recuperando muito bem. (O advérbio “muito” intensifica o outro advérbio
“bem”.)

Classificação dos advérbios


Os advérbios e as locuções adverbiais estabelecem diferentes relações semânticas, que são as seguintes:
de lugar: aqui; antes; dentro; ali; adiante; fora; acolá; atrás; além; lá; detrás; aquém; cá; acima; onde; perto;
aí; abaixo; aonde; longe; debaixo; algures; defronte; nenhures; adentro; afora; alhures; aquém; embaixo; ex-
ternamente; a distância; a distância de; de longe; de perto; em cima; à direita; à esquerda; ao lado; em volta.

38
de tempo: hoje; logo; primeiro; ontem; tarde; outrora; amanhã; cedo; depois; ainda; antigamente; an-
tes; doravante; nunca; então; ora; jamais; agora; sempre; já; enfim; afinal; amiúde; breve; constantemente;
imediatamente; primeiramente; provisoriamente; sucessivamente; às vezes; à tarde; à noite; de manhã; de
repente; de vez em quando; de quando em quando; a qualquer momento; de tempos em tempos; em breve;
hoje em dia.
de modo: bem; mal; assim; melhor; pior; depressa; debalde; devagar; às pressas; às claras; às cegas; à toa;
à vontade; às escondidas; aos poucos; desse jeito; desse modo; dessa maneira; em geral; frente a frente;
lado a lado; a pé; de cor; em vão; e a maior parte dos que terminam em ”–mente”: calmamente; triste-
mente; propositadamente; pacientemente; amorosamente; docemente; escandalosamente; bondosamente;
generosamente.
de afirmação: sim; certamente; realmente; decerto; efetivamente; certo; decididamente; deveras; indubi-
tavelmente.
de negação: não; nem; nunca; jamais; de modo algum; de forma alguma; tampouco; de jeito nenhum.
de dúvida: acaso; porventura; possivelmente; provavelmente; talvez; casualmente; por certo; quem sabe.
de intensidade: muito; demais; pouco; tão; em excesso; bastante; mais; menos; demasiado; quanto; quão;
tanto; que (quão); tudo; nada; todo; quase; de todo; de muito; por completo; extremamente; intensamente;
grandemente; bem (aplicado a propriedades graduáveis).
interrogativos: onde; aonde; donde; quando; como; por que; empregadas em interrogações diretas ou
indiretas – entende-se por interrogações diretas aquelas em que as palavras em destaque iniciam uma frase
interrogativa. Já as interrogações indiretas são aquelas em que os termos destacados não iniciam a frase.
Interrogação direta Interrogação indireta
Como isso aconteceu? Queria saber como isso aconteceu.
Onde ela mora? Precisava saber onde ela mora.
Por que ela não veio? Quero entender por que ela não veio.
Aonde você vai? Quero saber aonde você vai.
Donde vem esse rapaz? Necessito entender donde vem esse rapaz.
Quando que chega a carta? Quero saber quando chega a carta.

PRONOME
Pronome é a palavra variável que, na linguagem, identifica os participantes da interlocução (pessoas do discurso),
os seres no mundo, além de eventos ou situações aos quais o discurso faça referência.
Os pronomes, em geral, operam em conjunto com os substantivos (nomes), podendo substituí-los, referen-
ciá-los ou, ainda, acompanhá-los em um processo qualificativo.

Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os substantivos. Nesse movimento, eles acabam por evidenciar
as pessoas do discurso. Quando temos de designar a pessoa que fala (1ª pessoa), usamos os pronomes eu e nós.
Para marcar as pessoas a quem nos dirigimos (2ª pessoa), usamos tu, vós e você(s). Já para apontar para pessoas
de quem se fala (3ª pessoa), utilizamos ele(s) e ela(s).
De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos, os pronomes pessoais podem funcionar como:
Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de sujeito ou
de predicativo do sujeito.
Eu fiquei bastante chateado.

39
A seguir, temos a lista de pronomes do caso reto em português:

1ª pessoa do singular eu
2ª pessoa do singular tu
3ª pessoa do singular ele / ela
1ª pessoa do plural nós
2ª pessoa do plural vós
3ª pessoa do plural eles / elas

Observação 1: Conforme se vê no quadro, apenas os pronomes pessoais retos de 3ª pessoa variam em


gênero. Os demais têm uma única forma para masculino e feminino.
Observação 2: Em Língua Portuguesa, é comum a omissão dos pronomes do caso reto, sem prejuízo do
entendimento da frase. Isso se dá pelo fato de as desinências verbais serem capazes de designar as pessoas
que estão sendo utilizadas na construção.
Exemplo: (Eu) Fiquei bastante chateado. (É possível localizar o “eu” pela desinência do verbo.)

Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de comple-
mento verbal (objeto direto ou indireto) ou complemento nominal.
Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O pronome é complemento do verbo comprar.)
A seguir, temos a lista de pronomes do caso oblíquo em português:

1. Pronomes oblíquos átonos


Os pronomes oblíquos átonos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) fraca em relação às pala-
vras que os acompanham. Esses pronomes não são precedidos de qualquer preposição.

Pessoa Pronome oblíquo átono Equivalente no caso reto


1ª pessoa do singular me eu
2ª pessoa do singular te tu
3ª pessoa do singular o / a / lhe ele / ela
1ª pessoa do plural nos nós
2ª pessoa do plural vos vós
3ª pessoa do plural os / as / lhes eles / elas

Observações:
1. Os pronomes o(s) e a(s) funcionam exclusivamente como substitutos de objetos diretos.
2. O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de complementos preposicionados.
3. Os pronomes me, te, nos e vos funcionam tanto como substitutos de objetos diretos como de objetos
indiretos.

Casos especiais de uso dos pronomes átonos


Os pronomes o(s) e a(s) podem assumir formas especiais quando acompanhados de verbos que possuam
as terminações -z, -s ou -r. Eles serão usados como lo(s) e la(s).
Exemplos: traz + o = trá-lo
empurrastes + o = empurraste-lo
beijar + a = beijá-la
Tratando-se de verbos que apresentam terminação com som nasal, os pronomes o(s) e a(s) assumem as
formas no(s) e na(s).
Exemplos: compram + o = compram-no
põe + a = Põe-na
detém + os = detém-nos
tem + as = Tem-nas
40
2. Pronomes oblíquos tônicos

Os pronomes oblíquos tônicos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) forte em relação às palavras
que os acompanham. Esses pronomes são precedidos por preposição (em especial a, para, de e com).

Pessoa Pronome oblíquo tônico Equivalente no caso reto


1ª pessoa do singular mim / comigo eu
2ª pessoa do singular ti / contigo tu
3ª pessoa do singular ele / ela ele / ela
1ª pessoa do plural nós / conosco nós
2ª pessoa do plural vós / convosco vós
3ª pessoa do plural eles / elas eles / elas

Observações:
1. Alguns pronomes dessa lista são inéditos (mim, comigo, ti, contigo, conosco e convosco) e, por
esse motivo, são exclusivamente tônicos. Os repetidos (já vistos anteriormente) são aqueles que podem
atuar como tônicos ou átonos.
2. O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de objetos indiretos.
3. Em composições que exijam o uso da gramática normativa, as preposições nunca podem introduzir pro-
nomes pessoais do caso reto. Esse movimento só é permitido com pronomes pessoais do caso.
Exemplos: Não há mais nada entre mim e ti (certo)
Não há mais nada entre eu e ti. (errado)
Estão todos contra mim. (certo)
Estão todos contra eu. (errado)
Não vá sem mim. (certo)
Não vá sem eu. (errado)

Atenção: Essa regra passa por uma alteração no caso de haver, após o pronome, um verbo no infinitivo.
Nesse caso, o pronome estará funcionando como sujeito desse verbo. E como vimos anteriormente, quem
ocupa posição de sujeito em uma frase são os pronomes do caso reto.
Exemplo: Arrumaram um monte de encrencas para eu resolver.

41
Aulas 3 e 4

Competências 1, 6 e 8
Habilidades 1, 2, 3, 4, 6, 18, 26, 27 e 29

BREVIÁRIO

INTRODUÇÃO
A conjunção é uma classe de palavras invariável que atua como instrumento de conexão entre orações. De acordo
com a natureza de relação apresentada nas orações, as conjunções podem ser classificadas como coordenativas
e subordinativas. Os termos ligados pelas conjunções coordenativas podem ser isolados um do outro sem que as
unidades de sentido de cada termo sejam perdidas. Os termos ligados pelas conjunções subordinativas dependem
necessariamente da existência um do outro.

CONJUNÇÕES COORDENATIVAS
As conjunções coordenativas conectam orações sem estabelecer uma relação de dependência (uma função sintá-
tica). De acordo com um critério lógico-semântico, elas se classificam assim:

Aditivas – estabelecem uma relação de soma, de adição entre os termos.


Principais conjunções aditivas: e, nem, não só... mas também, não só... como também, bem como,
não só... mas ainda.

Exemplos:
Ele saiu cedo e levou a carteira.
Ela não só saiu cedo como também passou na farmácia.

Adversativas – estabelecem uma relação de contraste, de oposição entre os termos.


Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não
obstante.

Exemplo: Tentou vender os livros usados, mas não conseguiu.

Alternativas – estabelecem uma relação de alternância, de escolha ou de exclusão entre os termos:


Principais conjunções alternativas: ou, ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez...
talvez.

Exemplo: Ou você chega logo, ou vou embora para minha casa.

43
Conclusivas – estabelecem uma relação de conclusão a respeito de um fato dado no mundo.
Principais conjunções conclusivas: logo, portanto, por conseguinte, por isso, assim, pois (depois do
verbo e entre vírgulas).

Exemplo: Estava muito irritado, portanto, preferiu conversar mais tarde.

Explicativas – estabelecem uma relação de explicação sobre um fato que ainda não ocorreu no mundo.
Principais conjunções explicativas: que, porque, porquanto, pois (antes do verbo).

Exemplo: Não fique irritado, porque a conversa pode tomar outros rumos.

CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS
As conjunções subordinativas ligam duas orações, das quais uma é necessariamente dependente da outra, desem-
penhando em relação a esta uma função sintática. São classificadas como:

Causais – introduzem a oração que é causa da ocorrência da oração principal.


Principais conjunções causais: porque, que, pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que,
desde que, como (no início da frase).

Exemplo: Ele não fez as compras porque não havia trazido a carteira.

Concessivas – introduzem a oração que expressa ideia contrária à da principal.


Principais conjunções concessivas: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por
mais que, posto que, conquanto.

Exemplo: Embora fosse arriscado, investimos em ações.

Condicionais – introduzem uma oração que indica a hipótese ou a condição para ocorrência da principal.
Principais conjunções condicionais: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde que, a
menos que, sem que.

Exemplo: Caso precise de algum empréstimo, procure um banco.

Conformativas – introduzem uma oração que exprime a conformidade de um fato com outro.
Principais conjunções conformativas: conforme, como (conforme), segundo, consoante.

Exemplo: As coisas nem sempre ocorrem como queremos.

Finais – introduzem uma oração que expressa a finalidade ou o objetivo com que se realiza a principal.
Principais conjunções finais: para que, a fim de que, que, porque (para que), que.

Exemplo: Mande o e-mail para que todos compareçam no horário correto.

Proporcionais – introduzem uma oração que expressa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrên-
cia da principal.
Principais conjunções proporcionais: à medida que, à proporção que, ao passo que – e as combina-
ções: quanto mais... (mais), quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto menos... (menos).

Exemplo: Os problemas saem do controle à medida que não são resolvidos.

44
Temporais – introduzem orações que acrescentam uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração
principal.
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, logo que, todas as
vezes que, desde que, sempre que, assim que, agora que, mal (assim que)

Exemplo: Ele nos atendeu assim que começamos a reclamar.

Comparativas – introduzem orações que expressam ideia de comparação em relação à oração principal.
Principais conjunções comparativas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, tanto
como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (combinado com menos ou mais).

Exemplo: A seleção fez mais gols hoje que no jogo anterior.

Consecutivas – introduzem orações que expressam consequência em relação à principal.


Principais conjunções consecutivas: de sorte que, de modo que, sem que (que não), de forma que,
de jeito que, que (cujo antecedente na oração principal seja tal, tão, cada, tanto, tamanho).

Exemplo: Dormiu tanto que ficou com dores no pescoço.

CONJUNÇÕES INTEGRANTES
As conjunções integrantes introduzem as orações subordinadas substantivas. Ocorrem com os termos “que” e
“se”.

Exemplos:
Espero que você volte (espero sua volta).
Não sei se ele voltará (não sei da sua volta).

Dica
Para confirmar se uma conjunção é do tipo integrante, deve-se substituir os termos “que” ou “se”, e o restante da
oração que os acompanha, pelo pronome “isso”.

Exemplo:

É necessário que se mudem os pensamentos.


isso

PONTUAÇÃO
Os sinais de pontuação são recursos gráficos próprios da linguagem escrita. Embora não consigam reproduzir toda
a prosódia da linguagem oral, estruturam os textos e procuram estabelecer as pausas e as entonações da fala.
Basicamente, têm como finalidade:
assinalar as pausas e as entoações na leitura;
separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; e
esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.

45
Os principais sinais de pontuação são:

Vírgula ( , )
Indica uma pausa pequena e, geralmente, é usada:
em datas, para separar o nome da localidade,
Exemplo: São Paulo, 29 de julho de 2015.
após os advérbios sim ou não, usados como resposta no início da frase;
Exemplo: Você gostou do presente?
– Sim, adorei!
após a saudação em correspondência (social e comercial);
Exemplos: Com carinho,
Atenciosamente,
para separar termos de uma mesma função sintática;
Exemplo: O apartamento tem dois quartos, dois banheiros, uma sala e um quintal.
Obs.: A conjunção e substitui a vírgula entre o último e o penúltimo termo. para destacar elementos inter-
calados como;
Uma conjunção;
Exemplo: Viajaremos nas férias, logo, temos que nos organizar.
Um adjunto adverbial;
Exemplo: Estes relatórios, com certeza, foram bem feitos.
Um vocativo;
Exemplo: Diga-me, Ana, com quem andas, que te direis quem és.
Um aposto;
Exemplo: Matemática, uma das disciplinas mais exigentes, deve ser estudada com afinco.
Uma expressão explicativa (isto é, a saber, ou melhor etc.);
Exemplo: A prova consta de 20 questões dissertativas, isto é, questões que devem ser redigidas.
Para indicar a elipse de um termo;
Exemplo: Ana foi mais cedo; eu, mais tarde.
Para separar orações intercaladas;
Exemplo: O importante, ressaltou o ator, é contracenar da melhor forma possível.
para separar orações coordenadas assindéticas;
Exemplo: Ela correu pela manhã, malhou à tarde, meditou à noite.
para separar orações coordenadas adversativas, conclusivas, explicativas e algumas orações alternativas;
Exemplos: Esforçou-se muito; porém, não conseguiu a aprovação.
Vá devagar, que a estrada é perigosa.
Viaje muito, pois será recompensado com belas lembranças.
As pessoas ora dançavam, ora cantavam.

Importante!
Se a conjunção e assumir valor de adversida-
de, o uso da vírgula é obrigatório, de acordo com a
gramática normativa.
Exemplo: Nadou muito, e morreu na praia.

46
Para separar orações subordinadas adverbiais;
Exemplo: Quando chegou, encontrou a carta em cima da mesa.
Para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo: O grande prédio, que ainda estava em construção, dominava toda a paisagem.

Ponto e vírgula ( ; )
Indicam uma pausa maior que a vírgula, uma entoação descendente em relação à prosódia da frase, mas assinalam
que o período não terminou. Empregam-se nos seguintes casos:
para separar orações coordenadas não unidas por conjunção e que guardem relação entre si;
Exemplo: O show está lotado; a plateia está animada.
para separar orações coordenadas, desde que haja pelo menos uma delas separando elementos por vírgula;
Exemplo: O painel informava o seguinte: dez deputados votaram a favor do acordo; nove, contra.
para separar itens de uma enumeração;
Exemplo: Para a receita do bolo serão necessários: ovos; trigo; chocolate.
para alongar a pausa de conjunções adversativas (mas, porém, contudo, todavia, entretanto etc.), em subs-
tituição à vírgula;
Exemplo: Gostaria de partir hoje; todavia, o ônibus só sairá amanhã.
para separar orações coordenadas adversativas inseridas no meio da oração.
Exemplo: Esperava encontrar todos os amigos no reencontro; revi, porém, apenas alguns.

Dois-pontos ( : )
Marcam uma suspensão da entoação em uma frase não concluída. Emprega-se, geralmente:
para anunciar a fala de personagens;
Exemplo: A garota dirigiu-se ao coelho e disse:
– Para onde estamos indo?
para anunciar uma citação;
Exemplo: De acordo com Einstein: “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”.
Para anunciar uma enumeração:
Exemplo: Os convocados para a próxima etapa são: Luiza, Helena, Bárbara e Henrique.
Antes de orações apositivas:
Exemplo: Só aceito com uma condição: que eu te reembolse posteriormente.
Para indicar um esclarecimento, resultado ou resumo do que foi dito:
Exemplo: Em resumo: pendurou a mochila nas costas e pôs o pé no mundo.

Observação:
Os dois-pontos aparecem na introdução de exemplos, no-
tas ou observações. Há correlação entre língua escrita e língua
falada.
Exemplos: Nós vamos. / A gente vai.

47
Na invocação das correspondências.
Exemplo: Prezados Senhores:
Convidamos todos para a confraternização de final de ano, no dia 19 de dezembro, no auditório da empresa.

Ponto-final ( . )
Representa a pausa máxima da entoação e corresponde ao tom descendente da prosódia. Emprega-se, principal-
mente:
Para fechar o período de frases declarativas e imperativas.
Exemplos: Dois mais dois são quatro.
Saiam da chuva agora.
nas abreviaturas.
Exemplo: Cia. (Companhia)

Ponto de Interrogação ( ? )
É empregado ao final de qualquer interrogação direta e indica entoação ascendente da prosódia:
Exemplo: Onde você aprendeu a falar inglês fluentemente?

Ponto de exclamação ( ! )
É empregado após as interjeições, frases exclamativas e imperativas. Pode exprimir emoções, como surpresa, espan-
to, susto, indignação, ordem, súplica etc. A entoação prosódica é descendente.
Exemplos: Como viajar é bom!
Vire à direita, por favor!
Ah! Pena que você não veio...

Observação:
O ponto de exclamação substitui o uso da vír-
gula de um vocativo enfático.
Exemplo: Ana! Corra até aqui!

Reticências ( ... )
Marcam uma suspensão da frase, revelando elementos de natureza emocional. Empregam-se:
a. para indicar continuidade de uma ação ou fato;
Exemplos: O professor ficou falando...

b. para indicar suspensão ou interrupção do pensamento;


Exemplo: Foi até lá achando que...

c. para representar, na escrita, hesitações comuns na língua falada;


Exemplo: Não comi chocolate... porque... porque estou de regime.

48
d. para deixar o sentido da frase em aberto, permitindo uma interpretação pessoal do leitor.
Exemplo: Se você soubesse a metade da história...

Observação:
Além do amplo valor sugestivo em matizes
prosódicos, as reticências e o ponto de exclamação
são auxiliares da linguagem afetiva e poética.

Parênteses ( )
Têm a função de intercalar no texto uma indicação que, embora não pertença propriamente ao discurso, possa
esclarecer o assunto. Empregam-se:
para separar uma indicação explicativa, um comentário ou uma reflexão;
Exemplo: O sapo (do ramo dos anfíbios) é um animal que vive tanto na terra como na água.
para incluir dados bibliográficos (autor, ano de publicação, página etc.);
Exemplo: Quanto maior o poder, maior o abuso. (Edmund Burke)
para indicar possibilidades alternativas de leitura.
Exemplo: Doutor(a).

Travessão ( – )
Traço mais longo que o hífen, costuma ser empregado:
no discurso direto, para indicar a fala da personagem ou a mudança de interlocutor nos diálogos;
Exemplos: – Onde você pretende passar suas férias?
– Em algum lugar onde tenha muito sol e água fresca.
para separar expressões ou frases explicativas, intercaladas.
Exemplo: A garota chegou apressada – ainda nem se sentara –, para contar as novidades.

Aspas ( “ ” )
Têm a função de destaque do texto. São empregadas:
antes e depois de citações ou transcrições textuais;
Exemplo: Como diz o ditado, “água mole, pedra dura; tanto bate até que fura”.
para assinalar gírias populares.
Exemplo: A bola “beijou” o travessão.

Observação:
Se houver necessidade de usar aspas em trechos já entre aspas, empregam-se aspas simples.
Exemplo: “Tinha-me lembrado da definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimula-
da’. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-
-se fitar e examinar.” (Machado de Assis)

49
L C Interpretação de textos

ENTRE
TEXTOS

Breviário ENEM

L C
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Aula 1

Competências 4, 6 e 7
Habilidades 14, 18, 19 e 22

BREVIÁRIO

FUNÇÕES DE LINGUAGEM

A língua não é um fim em si, mas apenas um meio

Roman Jakobson

Toda comunicação apresenta uma variedade de funções, sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que o
destinador/emissor quer dar ou do efeito que quer causar no destinatário/receptor. As funções da linguagem são
as seguintes:
Emissor – emite a mensagem, codificando-a em palavras;
Receptor – recebe a mensagem e a decodifica, ou seja, apreende a ideia;
Mensagem – aquilo que é comunicado, o conteúdo da comunicação;
Código – sistema linguístico escolhido para a transmissão e recepção da mensagem;
Referente – contexto em que se encontram o emissor e o receptor;
Canal – meio pelo qual a mensagem é transmitida.
Emotiva ou expressiva – centralizada no emissor, ressalta sua opinião, trata das emoções; prevalece a 1ª
pessoa do singular (eu), interjeições e exclamações; é a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas
e cartas de amor.

53
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...


Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústica rouca,


Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre...
(Manuel Bandeira)

Referencial – centralizada no referente, pois o emissor oferece informações da realidade; objetiva, direta,
denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular (ele/ela); é a linguagem usada nos textos científicos, arte
realista, notícias de jornal.
“Aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para que ele permita uma investigação
independente sobre os aparentes erros dos seus serviços de inteligência no que se refere às armas de des-
truição em massa do Iraque. A indicação do governo americano, também questionado sobre a sua avaliação
da ameaça iraquiana, de que um inquérito pode ser aberto no país, reforçou o argumento dos críticos de
Blair. O Partido Conservador britânico deverá apresentar nesta semana uma moção pedindo a investigação.”
Fonte: Folha de São Paulo - 02-02-2004

Conativa ou apelativa – centralizada no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do


receptor; como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso da 2ª pessoa do singular (tu), do pronome
de tratamento você ou do nome do próprio receptor, além de vocativos e imperativos; usada nos discursos,
sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

54
Fática – utilizada para testar o canal, para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor.

Metalinguística – é a linguagem utilizada para falar da própria linguagem; a linguagem como fazer ar-
tístico; põe em evidência a forma da mensagem, ou seja, preocupa-se mais em “como dizer” do que com
“o que dizer”.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
(Paulo Leminski)

Poética – é a linguagem que põe em evidência a forma como a mensagem é veiculada. Está mais interes-
sada nos aspectos estéticos, na beleza e nos enfeites atribuídos à mensagem.

Sem
Mim
Ando
Com
Igo
Sigo
Sem
Com
Ando
(Arnaldo Antunes)

55
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Variações linguísticas são as peculiaridades que a língua adquire com o tempo em função do seu uso por comuni-
dades específicas.

Contexto de conversação
Conforme a situação em que nos encontramos ao falar ou escrever, mudamos o nosso trato com a linguagem. A
cada instante, utilizamos a língua de uma maneira particular, uma vez que nos adaptamos ao contexto em que
estamos. Como exemplo, agimos diferentemente quando nos dirigimos aos nossos pais ou quando falamos com
nossos amigos; escrevemos na escola de um modo diferente daquele que escrevemos nos aplicativos de comuni-
cação. Isso significa que precisamos dominar várias modalidades do português.

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
(ANDRADE, O. Obras completas, Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.)

Origem geográfica do falante

Pelo fato de ser falado em várias regiões, a língua portuguesa apresenta grandes variações regionais que modifi-
cam o vocabulário utilizado, na forma como as palavras são pronunciadas e até na ordem na qual elas aparecem
em uma oração. A leguminosa conhecida por muitos como aipim recebe o nome de mandioca ou macaxeira, em
muitas outras regiões do Brasil.

56
Idade do falante

A idade do falante é também um aspecto importante nos estudos de variação linguística e está relacionado ao
fato de as línguas variarem de acordo com o passar do tempo. O português nem sempre foi como é atualmente,
portanto, pessoas de idades diferentes aprenderam a falar em épocas diferentes e apresentam um modo de falar
que reflete essa variação.

Aspectos sociais

A classe social à qual pertence o falante é um aspecto que pode estar intimamente interligado com seu grau de
escolaridade, ou seja, tal situação social pode influenciar a variação linguística dos falantes.

A questão do gênero

Não podemos desconsiderar a diferença entre os modos de falar masculino e feminino, pois, se as condições sociais
dos falantes determinam o modo como eles utilizam seu próprio idioma, se há diferenças nos papéis sociais histori-
camente atribuídos a homens e mulheres, essas condições também poderão produzir uma variação entre os gêneros.

Linguagem formal versus linguagem informal


a. Norma culta/padrão: é a denominação dada à variedade linguística dos membros da classe social de
maior prestígio dentro da classe literária.
*Não se trata da única forma correta.
b. Linguagem informal/popular: é a denominação dada à variedade linguística utilizada no cotidiano em
que não exige a observância total da gramática.

57
Língua falada versus língua escrita
a. Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de recursos rítmicos e melódicos – entonação, pau-
sas, ritmo, fluência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou transmite uma mensagem numa
dada linguagem) está presente fisicamente. Algumas das características principais são:
frequência da ocorrência de repetições, hesitações e bordões de fala (“Pois, eu aaa... eu acho que... pron-
to, não sei...“, Cara, o que é isso, cara?);
frases curtas;
frases inacabadas, porque foram cortadas ou interrompidas;
uso frequente da omissão de palavras. Ex.: Eu vou com minha mãe e com meu pai; Empresta o seu caderno?
formas contraídas. Ex.: prof, med, refri, facul;
afastamento das regras gramaticais. Ex.: Eu vi ele;
possibilidade de adequar o discurso de acordo com as reações dos ouvintes.

b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de acentuação para exprimir os recursos rítmicos e meló-
dicos da oralidade:
uso de ricas descrições;
faz atenção às regras gramaticais com um maior rigor;
sinais de pontuação e acentuação para transmitir a expressividade oral;
frases longas, apesar de também poder usar frases curtas;
uso de vocabulário mais amplo e cuidadoso;
conectivos e estruturas sintáticas para garantir a coesão textual.

TIPOS DE LINGUAGEM
Linguagem verbal: utiliza a língua falada ou escrita, ambas compostas por palavras.

58
Linguagem não verbal: emprega todo código que não seja composto por palavras – movimentos faciais
e corporais, gestos, olhares, entoação, imagens, símbolos, sons etc.

SEMÂNTICA – ELEMENTOS DE ANÁLISE


Já que se fala a todo o momento de semântica no curso de Gramática, nada melhor do que apresentá-la logo no
início do material de Interpretação (já que ela é parte essencial dos processos interpretativos). A semântica é o cam-
po de estudos linguísticos que cuida dos significados das palavras e dos textos. Ela está presente em praticamente
todos os outros campos gramaticais (com exceção dos estudos básicos de fonética e fonologia, ligados à ortografia
e à acentuação). Pode ter certeza de que, onde há acepções de sentido, há semântica.
Além de sua presença em várias áreas da Gramática, a semântica possui seus próprios elementos de análise,
que conheceremos a seguir.

Sinonímia
Ocorre sinonímia quando temos palavras com significados idênticos ou muito semelhantes a outras.
Cão = cachorro
Jerimum = abóbora
A sinonímia tem forte relação com a paráfrase (possibilidades de se reconstruir uma frase ou texto com
outras palavras similares) e ajuda nos processos de coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a repetição
de termos em um texto).

Antonímia
Ocorre antonímia quando temos palavras com significados contrários a outras.
Bonito ≠ feio
Alto ≠ baixo

Homonímia
Ocorre homonímia quando temos palavras de grafia igual ou pronúncia igual, mas com significado diferente. Isso
nos dá três tipos de homônimos:
1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia igual – grafia diferente)
Exemplo: acento (marca gráfica de tonalidade) e assento (local para se sentar).
2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual – pronúncia diferente)
Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo).
3. Homônimo homófono homógrafo (pronúncia igual – escrita igual)
Exemplo: rio (substantivo) e (eu) rio (verbo).

59
Paronímia
Temos parônimos quando as palavras são muito parecidas, mas o sentido é diferente.
Exemplos: comprimento (largura) e cumprimento (saudação).
discriminar (separar) e descriminar (absolver).

Polissemia
Temos polissemia em palavras que preservam sua classe gramatical, mas que possuem significados múltiplos.
Exemplos: natureza (meio ambiente) e natureza (essência de algo).
banco (local onde se senta) e banco (instituição financeira).

Hiperonímia e hiponímia
São fenômenos que operam relações de abrangência entre palavras (palavras que englobam outras ou que são
englobadas). As palavras que englobam são conhecidas como hiperônimos; as englobadas, como hipônimos.

Exemplos: Comprei um bacalhau para preparar na semana santa. Esse peixe é bastante salgado. (peixe é uma
palavra mais abrangente, que dá conta de bacalhau e de outros diversos peixes, portanto, podemos afirmar que
peixe é hiperônimo de bacalhau, e bacalhau é hipônimo de peixe).

Houve um aumento da gasolina. Esse fato deixou os brasileiros irritados. (fato é uma palavra que dá conta de
aumento da gasolina, portanto, podemos afirmar que fato é hiperônimo do trecho sublinhado).

O GÊNERO PUBLICITÁRIO
Entende-se por gênero publicitário aquele que tem como objetivo principal fazer com que o interlocutor/ouvinte
tome parte em alguma causa, seja comprar um produto ou aderir a uma ideia. São textos de cunho persuasivo, por
isso estão completamente ligados à função apelativa/conativa da linguagem. Os textos publicitários estão forte-
mente inseridos na sociedade contemporânea, e, por esse motivo, estão presentes em muitos vestibulares. Ao lado
do gênero jornalístico, é dos que apresenta maior número de questões registradas.

Estrutura do texto publicitário


Como dito anteriormente, os textos publicitários têm uma configuração bastante ampla. Por esse motivo, sua es-
trutura apresenta um conjunto significativo de elementos que conheceremos a seguir.

O título
Habitualmente, os textos publicitários apresentam um título, que consiste num texto mais curto que já evidencia,
logo de cara, as intenções do anúncio. Pode ser um pequeno texto assertivo ou interrogativo, e deve atrair a aten-
ção do interlocutor de maneira imediata.

O texto
No texto do anúncio publicitário encontramos as principais estruturas de persuasão. Nele encontramos os argu-
mentos que levariam o interlocutor a adquirir um produto ou a adotar um comportamento. Aqui, concentra-se a
função apelativa da linguagem.

60
A assinatura
A assinatura aparece como uma estratégia de encerramento do texto publicitário. Em anúncios impressos, costuma
vir posicionado à direita, no canto inferior do texto. É formado pela marca do produto (por exemplo, Coca-Cola)
ou pela evidenciação da campanha (Previna-se contra a dengue!). No caso de marcas famosas, é comum que a
assinatura seja composta pelo slogan dessa marca. Entende-se por slogan aquela frase de efeito que evidencia a
principal característica do produto.

A imagem
Comentamos acima que as imagens são um recurso que está presente em alguns tipos de espaço publicitário.
Quando usadas, têm como objetivo potencializar as marcas textuais de persuasão, ou seja, as imagens trabalham
em conjunto com o texto, com intenções variadas. Habitualmente, a imagem em gêneros publicitários, confirma o
texto e também lhe dá suporte.
Atenção ao argumento de autoridade: é muito comum encontrarmos em anúncios publicitários algum
elemento imagético que sirva como argumento de autoridade. Entende-se por argumento de autoridade aquela
imagem de um indivíduo que seria um especialista em determinado assunto, e que, justamente por possuir essa
posição de autoridade, transmite maior credibilidade ao que está sendo veiculado no anúncio.
Por exemplo, a imagem de um famoso atleta ligada a um anúncio de produtos vitamínicos transmite a ideia
de que o produto é confiável, pois o atleta o utiliza.

Qual é a linguagem do gênero publicitário?


A linguagem dos textos publicitários é marcada por uma maior flexibilidade em relação à gramática normativa.
Como o objetivo básico desses textos é atingir rapidamente o interlocutor, é necessário que se opte, em
alguns momentos, por uma linguagem mais coloquial/informal. Portanto, encontraremos, muito frequentemente,
anúncios publicitários, cujos textos apresentam “desvios” em relação à norma padrão.
Outra característica muito comum nesses textos é a presença de verbos no imperativo, implicando relações
semânticas de ordem, pedido, sugestão ou conselho. São esses verbos que articulam as estratégias de persuasão.
Também estão presentes os vocativos, que são elementos sintáticos que invocam/convocam interlocutores.
Essa invocação/convocação do interlocutor é também uma estratégia recorrente em textos publicitários.

(Época, 06/05/2011.)

61
O GÊNERO JORNALÍSTICO
Dos vários tipos de gêneros existentes, o jornalístico é um dos mais amplos, pois envolve características pertencen-
tes a vários tipos de composição textual. Por esse motivo, é também um dos gêneros mais trabalhados em provas
de vestibulares e no ENEM.

A notícia
A notícia é um dos elementos que compõe o gênero jornalístico. Está espalhada pelos mais diversos meios de
comunicação (jornais, revistas, rádio, internet). Tecnicamente, podemos dizer que a notícia se caracteriza pelo
puro registro de fatos, sem que haja a emissão de opinião da pessoa que a escreve. O objetivo básico
de uma notícia é transmitir informações a um leitor de maneira objetiva e precisa. A partir dessa definição, podemos
inferir que a notícia trabalha pelos mesmos termos da função referencial da linguagem (buscar informações de um
referente no mundo, e transmiti-las objetivamente).
“Nenhum país do mundo faz o que o Brasil está fazendo: leiloar aos poucos o acesso da produção de pe-
tróleo de campos, cujo total é desconhecido”, adverte Ildo Sauer, em entrevista concedida à IHU.

On-line, ao comentar o leilão do Campo de Libra, anunciado para 21 de outubro deste ano. Na avaliação
dele, a iniciativa da Presidência da República é equivocada, porque “não faz sentido” colocar em leilão o Campo
de Libra, que, “segundo a Agência Nacional do Petróleo – ANP, pode ter entre 8 e 12 bilhões de barris, apesar de
haver estimativas de que possa chegar a 15 bilhões de barris.
Se os dados forem esses, trata-se da maior descoberta do país”. De acordo com ele, o “Brasil não sabe se
tem 50 bilhões, 100 bilhões ou 300 bilhões de barris. Se o país tiver 100 bilhões, estará no grupo de países de
grandes reservas; se tiver 300 bilhões, será o dono da maior reserva do mundo, porque 264 bilhões é o volume de
barris da Arábia Saudita”.
Disponível em: http://www.mabnacional.org.br/noticia/pr-sal-eembate-geopol-tico-estratgico-entrevista-especial-com-ildosauer.
Acesso em: 15/10/2013. Fragmento adaptado.

62
Reportagem
A reportagem também é um tipo de gênero jornalístico que costuma apresentar textos mais longos e bastante
detalhados. Costuma retratar a observação direta de um repórter sobre acontecimentos e situações específicas.

Escassez de água já afeta mais de 40% da população do planeta Terra


Estiagem não atinge só o Brasil, mas outros lugares do mundo. Veja as medidas que foram adotadas em países
como EUA e Cingapura.
Reportagem de Tonico Ferreira em parceria com Globo Natureza.
O Jornal da Globo, em parceria com o Globo Natureza, exibe, esta semana, uma série especial sobre a crise
hídrica no mundo. A série “Água – Planeta em Crise” vai mostrar de que maneira a seca está afetando populações
em todo o planeta.
Quando a gente olha para os oceanos, para os rios e lagos, a Terra parece ter muita água. Quase três quartos
da superfície são cobertos por oceanos. É o planeta azul visto do espaço.
Mas será que é isso tudo? Vejam a realidade: a camada de água dos oceanos é muito fina e, por isso, a
quantidade de água é relativamente pequena. Se a Terra fosse do tamanho de uma bola de basquete, toda a água
do planeta caberia dentro de uma bolinha de pingue-pongue.
E mais: dessa bolinha de pingue-pongue, quase tudo, 97,5% é água salgada. E, desse pouquinho que sobra,
70% é agua congelada nos polos e nas geleiras, 30% está debaixo da superfície da Terra e apenas 0,3% é água
potável nos lagos e rios.
E essa água está mal distribuída. Sobra em algumas regiões e falta em outras. Some-se a isso o fato de várias
regiões do mundo estarem passando por secas mais prolongadas.

Seca na califórnia (EUA)


É o caso do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que está entrando no quarto ano seguido de seca. 2013
foi o mais seco em 120 anos, diz o climatologista do governo, Michael Anderson. E ele prevê para este ano um
novo recorde de pouca chuva e de temperaturas altas.
O nível dos reservatórios baixou. O lago Cachuma está com 26% da capacidade e, em outubro, pode deixar
de fornecer água para a cidade de Santa Bárbara.
O governador do estado, Jerry Brown, acaba de tomar medidas drásticas: a redução obrigatória de 25% no
consumo de água nas cidades e corte do fornecimento para fazendas que usam irrigação.
Tulare tem a agricultura mais produtiva da Califórnia. É uma região rica. As famílias de trabalhadores que
vivem em casas modestas se abastecem de água em poços, mas os poços estão secando.
O poço da casa de Lala e Benjamin Luengas, da comunidade mexicana, secou em junho do ano passado. Foi
um desespero. “O que vamos fazer, o que vamos fazer?”, Lala pergunta.
Eles não tinham US$ 25 mil para perfurar um poço profundo, ficaram seis meses sem uma gota d’água até
que receberam um pequeno reservatório da organização não governamental Self-Help Enterprises. A água chega de
carro-pipa duas vezes por mês. É pouco. Lala economiza água na cozinha, reusa no banheiro e os banhos são curtos.
“No máximo entro, me molho, fecho a água, me ensaboo, abro e já saio”, conta Lala.
Paul Boyer, da Self-Help Enterprise, diz que o lençol de água subterrânea que deveria ter subido nos primei-
ros meses do ano ficou estático. Para Boyer, a crise ainda vai piorar antes de melhorar.

Cadê a água no Nordeste?


A situação também pode piorar no Nordeste brasileiro. Em São Miguel (RN), cidade de 23 mil habitantes, nin-
guém recebe mais conta de água. É que a água encanada acabou em dezembro passado, quando o açude secou.
E não foi sem aviso.
“Desde 2013, quando a gente só estava com 10% da capacidade da água, nós demos o grito, nós pedimos
socorro”, diz Adalcina Vieira, presidente da Câmara de Vereadores. O socorro não veio. A água só chega em
carros-pipa, carroças, motos ou na mão.

63
Desde que a água encanada acabou, a cidade se movimenta basicamente em torno de um objetivo: conse-
guir água, vender e comprar água, transportar água, carregar balde d’água. E essa situação deve se manter por
um bom tempo porque as autoridades locais não estão vendo uma solução de curto prazo.
“A situação de nossa cidade é muito difícil. É uma situação de colapso, uma situação de calamidade”, decla-
ra Dario Vieira, prefeito de São Miguel (RN).
Contratar um carro-pipa com 8 mil litros custa R$ 150. Quem não tem recursos depende das cacimbas da
prefeitura.
“Essa caixinha de água aqui não dá nem para começar. Nesses dias, nós vamos morrer de sede aqui, se Deus
não tiver misericórdia”, diz a dona Maria Lúcia da Silva.
É uma trabalheira. “Eu vou levar na mão”, mostra Sandra Leite Lopes, moradora da cidade. São cinco via-
gens da cacimba à casa dela para encher a caixa de mil litros.
Esse transtorno seria evitado se São Miguel não dependesse de apenas um açude, construído 60 anos atrás.

Crise dos reservatórios


A crise também bateu na porta da rica região Sudeste. Os dois maiores reservatórios que atendem a Grande São
Paulo, Cantareira e Alto Tietê, estão com níveis críticos. O Cantareira, o mais importante deles, entrou no volume
morto em maio do ano passado e nunca mais saiu.
O presidente da ANA (Agência Nacional de Água) reconhece que o Brasil tem um nível muito baixo de água
reservada e reclama que a legislação ambiental pouco flexível não ajuda.
“Porque, como um reservatório tem impacto ambiental, muitas vezes se abandona a discussão dos reser-
vatórios por conta desses impactos ambientais e sociais. É verdade, eles existem. Agora a gente tem que, precisa
colocar na outra coluna também, é a segurança hídrica que esses reservatórios propiciam”, diz Vicente Andreu
Giullo, presidente da ANA (Agência Nacional de Água).

Artigo de opinião e editorial


Os artigos de opinião e editoriais também são parte do gênero jornalístico e têm como característica serem textos
que articulam notícias a partir de elementos argumentativos. Existem algumas pequenas diferenças entre
os dois estilos de texto. O artigo expressa um ponto de vista da pessoa que o assina, e geralmente aborda questões
sociais, políticas e culturais. Sua condução é feita com elementos argumentativos que tentam persuadir o leitor da
opinião que está sendo apresentada.
Já o editorial manifesta a opinião não de um indivíduo, mas de um órgão de imprensa como um todo, por
esse motivo não é assinado por um particular (não expressa ponto de vista particular). Costumam abordar temas
de grande projeção nacional ou internacional, também sobre temas sociais, políticos ou culturais. Embora sua
condução também apresente elementos argumentativos de persuasão, o editorial costuma ser mais equilibrado e
informativo do que o artigo de opinião.

Vontade de punir

Deu no Datafolha que a maioria dos brasileiros quer baixar a maioridade penal. Maiorias assim robustas, que já são
raras em questões sociais, ficam ainda mais intrigantes quando se considera que, entre especialistas, o assunto é
controverso. Como explicar o fenômeno? Estamos aqui diante de um dos mais fascinantes aspectos da natureza.
Se você pretende produzir seres sociais, precisa encontrar um modo de fazer com que eles colaborem uns com os
outros e, ao mesmo tempo, se protejam dos indivíduos dispostos a explorá-los. A fórmula que a evolução encontrou
para equacionar esse e outros dilemas foi embalar regras de conduta em instintos, emoções e sentimentos que
provocam ações que funcionam em mais instâncias do que não funcionam.

64
Assim, para evitar a superexploração pelos semelhantes, desenvolvemos verdadeiro horror àquilo que per-
cebemos como injustiças. Na prática, isso se traduz no impulso que temos de punir quem tenta levar vantagem
indevida. Quando não podemos castigá-los diretamente, torcemos para que levem a pior, o que, além de garantir o
sucesso de filmes de Hollywood, torna a justiça retributiva algo popular em nossa espécie. Isso, porém, é só parte
do problema. Uma sociedade pautada apenas pelo ideal de justiça soçobraria. Se cada mínima ofensa exigisse
imediata reparação e todos tivessem de ser tratados de forma rigorosamente idêntica, a vida comunitária seria
impossível. A natureza resolve isso com sentimentos como amor e favoritismo, que permitem, entre outras coisas,
que mães prefiram seus próprios filhos aos de desconhecidos.
Nas sociedades primitivas, em bandos de 200 pessoas, onde todos tinham algum grau de parentesco, o
sistema funcionava razoavelmente bem. Os ímpetos da justiça retributiva eram modulados pela empatia familiar.
Agora que vivemos em grupos de milhões sem vínculos pessoais, a vontade de punir impera inconteste.
SCHWARTSMAN, Hélio. Folhaonline, em 24 jun. 2015

TEXTOS CIENTÍFICOS
Os textos científicos têm como principal objetivo colocar o público não especializado em contato com pesquisas
científicas e tecnológicas. São predominantemente informativos, trazendo dados interessantes sobre alguma pes-
quisa realizada pela comunidade científica. Em geral, são textos produzidos por especialistas em alguma área (ou
com o apoio destes) e devem possuir uma linguagem mais acessível, menos técnica para que estejam ao alcance
do leitor.

Onde circulam os textos científicos?


Os textos de divulgação científica, nos últimos anos, têm aparecido não apenas em revistas especializadas (cien-
tíficas), mas também em seções específicas de jornais, revistas de curiosidades e até mesmo em livros estilo best-
-seller. Toda essa variedade é uma demanda do público por saber cada vez mais a respeito dos avanços científicos,
avanços esses que podem trazer mudanças significativas para a vida das pessoas.

A recepção do texto científico


Os textos de cunho científico costumam ser procurados por públicos variados, desde pessoas curiosas por assuntos
determinados, até pessoas que leem mais assiduamente a respeito de tudo o que se publica. Essa variedade de pú-
blico implica certas dificuldades de produção, pois o texto precisa denotar seriedade sem necessariamente possuir
uma linguagem complexa (técnica).

A estrutura do texto científico


Os textos de divulgação científica não possuem estrutura pré-determinada, mas, geralmente, encontramos um
título e uma introdução mais geral, que têm como objetivo angariar a atenção do leitor para o tópico científico
que será abordado/discutido. O desenvolvimento e a conclusão do texto se dão de acordo com os interesses do
especialista.
Nesse sentido, temos um texto de estrutura bem variável, que é muito usado em vestibulares.

65
A linguagem dos textos científicos
Como dito anteriormente, há nos textos de divulgação científica uma necessidade de se “traduzir” os conceitos
altamente complexos da ciência para uma linguagem mais acessível ao leitor. Nesse caso, encontraremos em textos
científicos um grau elevado de coloquialidade.
Para fazer com que o leitor entenda um texto mais complexo, recorre-se, por exemplo, a muitas figuras de
analogia, como a comparação e a metáfora; figuras que permitem ao leitor entender mais facilmente o que está
sendo dito. Ou seja, opta-se por uma linguagem conotativa (figurada). Também devem ser evitados os usos de
jargões da área científica, sempre optando por uma analogia mais simples. Sendo inevitável o uso de um jargão,
este deve ser explicado no próprio texto.

66
Aula 2

Competência 1
Habilidade 3

BREVIÁRIO

TEXTO EM VERSO
O poema é um gênero textual de cunho bastante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias ou sentimentos,
mas que articula combinações de palavras que, na maioria dos casos, constitui sentidos variados. Essas combina-
ções de palavras costumam ser distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado de vários elementos que
conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, o ritmo (elementos sonoros),
entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de fortes marcas denotativas) muitas vezes imprime difi-
culdades de interpretação.

Oficina irritada

Eu quero compor um soneto duro


como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
(Carlos Drummond de Andrade, in “Claro enigma”)

TEXTOS EM PROSA
Denominamos prosa um texto construído prioritariamente com parágrafos (se escrito em versos, teremos um texto
poético), que apresenta maior extensão que um poema, por exemplo. Costumeiramente, possui uma linguagem de
cunho mais denotativo (diferente da poesia, bem mais conotativa), mas isso não impede que o autor se valha de
artifícios que deem maior variabilidade aos sentidos que estão sendo expressos no texto.

67
Os principais tipos de texto em prosa
Romance: entende-se por romance uma composição textual longa que desenvolve algum tipo de enredo,
linear ou fragmentado que costuma apresentar volume significativo de informações ao leitor. Não há regras
pré-determinadas para a composição das partes de um romance, mas o final, por exemplo, costuma ser uma
espécie de enfraquecimento dos vários elementos que foram sendo “amarrados” na história. No romance não
costuma haver clímax ao final da narrativa. Na prosa brasileira são conhecidas como romances obras como
Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Vidas secas, Capitães da areia, Iracema, Til. Ou seja,
textos narrativos de maior extensão, com enredo variado, que apresentam algum tipo de “amarração” em sua
estrutura.
Novela: entende-se por novela uma composição textual de menor extensão do que o romance, mas costumei-
ramente maior que um conto. Em relação ao romance, podemos dizer que a novela apresenta maior economia
de recursos narrativos. Já em comparação ao conto, pode-se dizer que a novela possui um maior desenvolvi-
mento tanto de enredo, quanto de personagens.
Dessa maneira, podemos concluir que a novela seria uma forma intermediária entre o conto e o romance. Em
geral, trata-se de uma narrativa em que as ações giram em torno de um único personagem (o romance costu-
ma apresentar maior número de tramas e linhas narrativas).
Não é um gênero muito praticado entre os prosadores brasileiros, embora tenhamos, mais contemporanea-
mente, grandes obras nesse estilo, como A hora da estrela, de Clarice Lispector; Um copo de cólera, de Raduan
Nassar; ou O invasor, de Marçal Aquino. Na Europa, esse gênero deu origem a grandes clássicos, como A
metamorfose, de Kafka; Morte em Veneza, de Thomas Mann; e A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói.
Conto: entende-se por conto uma composição textual mais curta que a novela ou o romance. Por possuir
um espaço de desenvolvimento menor, o conto costuma apresentar uma estrutura bastante fechada, em que
o enredo se desenvolve com maior velocidade, sem desdobramento de conflitos secundários (como habitual-
mente acontece com o romance). Caracteriza-se por deixar várias questões a cargo da interpretação do leitor,
e também por possuir um clímax mais próximo de seu fim. Trata-se de um gênero muito trabalhado por prosa-
dores brasileiros, pois seus processos de ficcionalidade costumam alcançar tanto elementos mais “materiais”,
quanto elementos mais fantasiosos (os contos fantásticos, por exemplo). Há autores que desenvolveram a to-
talidade de suas obras em contos, como é o caso do escritor Murilo Rubião. Outros grandes contistas brasileiros
são Machado de Assis, Mário de Andrade, Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
Drama: entende-se por drama uma composição textual que realiza uma figuração/representação de ações
ou histórias. Habitualmente, são textos para serem encenados em peças (no teatro). Sua estrutura pode ser
dividida em capítulos denominados “atos” (1º ato, 2º ato etc.), e apresenta dimensões variadas, que levam
em conta o tempo de apresentação da obra ao público. Muito se discute a respeito das diferenças que podem
existir entre o texto dramático escrito e aquilo que é representado em um palco.
A ideia geral seria que se seguisse o mais fielmente possível o texto que foi produzido pelo autor, no entanto, os
diretores de peças têm a liberdade de realizar modificações variadas no enredo ou nas composições cenográ-
ficas. Não é dos gêneros mais trabalhados pelos prosadores brasileiros, embora existam produções de grande
qualidade que se tornaram famosas por virarem filmes. É o caso das peças Lisbela e o prisioneiro, de Osman
Lins, O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, ou Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri.

INTERTEXTUALIDADE
Intertextualidade é a referência que um texto faz a outro já existente. Essa relação pode se dar por meio da mesma
linguagem – como os versos do hino nacional do Brasil “Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida em teu seio
mais amores”, que retomam o poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias; ou ainda por meio de linguagens
diferentes, como quando uma obra cinematográfica cria uma relação com um texto literário. A compreensão da
intertextualidade pode ser dividida em diferentes níveis: paráfrase, citação, alusão, paródia e epígrafe.

68
Tipos de intertextualidade
Epígrafe: trata-se de uma escrita introdutória a outra.
Sagarana (João Guimarães Rosa)
Lá em cima daquela serra
Passa boi, passa boiada,
Passa gente ruim e boa
Passa minha namorada
(Quadra de desafio.)

For a walk and back again”, said


the fox. “Will you come with me?”
I’ll take you on my back. For a
Walk and back again
(Grey fox, estória para meninos)

Citação: constitui a transcrição do texto de outrem, marcada por aspas.


Canção do exílio – trecho (Gonçalves Dias)
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores

Hino Nacional do Brasil – Parte II


Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
– “Paz no futuro e glória no passado.”

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
69
Paráfrase: é uma reprodução do texto alheio com a palavra do autor. Não se trata de plágio, pois na pará-
frase é clara a intenção de retomar a fonte original.

Oração (Jorge de Lima)


“– Ave Maria cheia de graças...”
A tarde era tão bela, a vida era tão pura,
as mãos de minha mãe eram tão doces,
havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe...

“– Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!”


Bendita!
Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos
menores,
meus brinquedos, a casaria branca de
minha terra, a burrinha do vigário
pastando
junto à capela... lá longe...
Ave cheia de graça

– ...”bendita sois entre as mulheres, bendito é o


fruto do vosso ventre...”
E as mãos do sono sobre os meus olhos,
e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho,
e as estampas de meu catecismo
para o meu sonho de ave!
E isto tudo tão longe... tão longe...

Paródia: trata-se de uma releitura do texto original que, em vez de reafirmar os valores do modelo referen-
ciado, quebra a ideia principal contida nele, de modo abrupto ou suave. Essa ruptura pode levar o leitor a
uma leitura crítica ou irônica do texto original.

La Gioconda (Leonardo da Vinci)

70
L.H.O.O Q (Elle a chaud au cul – Ela tem fogo no rabo) Marcel Duchamp (Dadaísmo)

Referência e alusão: trata-se de uma interferência do texto de outro que não contém, necessariamente,
suas marcas originais. Machado de Assis, por exemplo, é mestre nessa variação de intertextualidade. O autor
retomou uma série de outros autores e histórias para compor as próprias histórias que escrevia.

Uma comparação (Dom Casmurro – Machado de Assis)

Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que
relata isto, e é um bom autor, não obstante contá-lo em verso, mas há narrações exatas em verso, e até
mau verso. Compara tu a situação de Príamo com a minha; eu acabava de louvar as virtudes do homem que
recebera, defunto, aqueles olhos... É impossível que algum Homero não tirasse da minha situação muito me-
lhor efeito, ou quando menos, igual. Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões;
não, senhor, faltam-nos, é certo, mas é porque os Príamos procuram a sombra e o silêncio. As lágrimas, se
as têm, são enxugadas atrás da porta, para que as caras apareçam limpas e serenas; os discursos são antes
de alegria que de melancolia, e tudo passa como se Aquiles não matasse Heitor.

POSICIONAMENTO CRÍTICO
Textos pertencentes a diferentes sistemas de comunicação podem também ter uma função crítica que não esteja
explícita em sua argumentação. Muitos autores se valem da ironia e do humor para despertarem no leitor a reflexão
acerca de determinados problemas da sociedade. Esse mecanismo pode aparecer em poemas, charges, textos em
prosa, mensagens publicitárias, entre outros.

71
As aparências revelam
Afirma uma Firma que o Brasil
confirma: “Vamos substituir o
Café pelo Aço”.
Vai ser duríssimo descondicionar
o paladar
Não há na violência
que a linguagem imita
algo da violência
propriamente dita?
(CACASO. As aparências revelam. In: WEINTRAUB, Fabio (Org). Poesia marginal.
São Paulo: Ática, 2004. p. 61. Para gostar de ler 39.)

FUNÇÃO SOCIAL DOS TEXTOS


É importante lembrar que todo texto comunica algo. Às vezes, essa intenção é mais ou menos importante no
processo de comunicação. No entanto, como vivemos em sociedade, devemos lembrar que alguns textos têm uma
função primordial em nossa vida, que é a informação. Para podermos compartilhar o mesmo espaço, ter acesso
aos nossos direitos e estarmos interligados ao que acontece em nossa sociedade, é fundamental que saibamos
reconhecer a aplicação de cada um desses tipos de texto e sua respectiva significação.

Calendário do PIS/PASEP 2015-2016


Nascido em: Recebem a partir de: Recebem até:
JULHO 14/07/2015 30/06/2016
AGOSTO 20/07/2015 30/06/2016
SETEMBRO 28/07/2015 30/06/2016
OUTUBRO 12/08/2015 30/06/2016

72
Calendário do PIS/PASEP 2015-2016
Nascido em: Recebem a partir de: Recebem até:
NOVEMBRO 19/08/2015 30/06/2016
DEZEMBRO 21/08/2015 30/06/2016
JANEIRO 15/09/2015 30/06/2016
FEVEREIRO 24/09/2015 30/06/2016
MARÇO 30/09/2015 30/06/2016
ABRIL 12/10/2015 30/06/2016
MAIO 18/10/2015 30/06/2016
JUNHO 29/10/2015 30/06/2016
WWW.CALENDARIOPISPASEPCAIXA.COM

A linguagem corporal em uso


Os seres humanos se utilizam da linguagem corporal para estabelecerem relações entre si, de acordo com dife-
rentes manifestações sociais nas quais estão incluídos. As competições esportivas, por exemplo, utilizam o corpo
para concretizar seus objetivos, realizar disputas etc. Já algumas religiões se utilizam do corpo como parte do ritual
litúrgico, no qual a movimentação torna-se um elemento extremamente significativo. Há ainda a dança, que pode
ser originada de diferentes contextos sociais, como uma valsa num casamento, o break – dança que provém das
ruas – ou até mesmo uma apresentação de ballet clássico num teatro convencional.

Break de rua

Candomblé – a dança é uma homenagem aos orixás

Rugby – o esporte exige muita força física

73
Processo de transformação dos valores atribuídos ao corpo
A representação do corpo ideal, na sociedade contemporânea, foi construída por um processo de mudança de
valores socioculturais. Na Grécia antiga, por exemplo, mulheres com curvas acentuadas eram mais valorizadas,
esteticamente, que mulheres muito magras.
No entanto, a representação do corpo ideal, sobretudo na sociedade contemporânea, é formada por di-
retrizes que não contemplam as heterogeneidades de cada fenótipo humano. Isso quer dizer que, embora haja
um modelo padrão que é reproduzido sistematicamente por grandes meios de comunicação em massa, devemos
lembrar que nossos corpos são diferentes entre si, o que contribui significativamente para a construção de nossas
singularidades.

QUADRINHOS
O gênero “histórias em quadrinhos”, conhecido também como “HQ”, enuncia a linguagem por meio de quadros,
nos quais uma história é contada, isto é, trata-se de uma narrativa em que a sequência de imagens obedece a uma
progressão temporal. Vale ressaltar que esse gênero mescla o texto verbal e o não verbal, criando, muitas vezes,
uma relação nova de sentido entre eles, que pode ter diferentes funções: a de evocar algum contexto ideológico da
sociedade; a de contrapor a imagem e a fala causando um efeito humorístico; ou simplesmente, a de provocar no
leitor a reflexão sobre uma situação cotidiana.

O HOMEM E SUA RELAÇÃO COM A TECNOLOGIA


A sociedade contemporânea, de modo geral, está diretamente inscrita na lógica da tecnologia. Há poucos anos,
essa relação se restringia a pouquíssimos círculos sociais, uma vez que o acesso era difícil e o preço por uma cone-
xão na web, por exemplo, era muito alto. Com o passar dos anos, o avanço tecnológico e a expansão da distribui-
ção dos sinais de internet permitiram que grande parte das populações de muitos países estivessem virtualmente
conectadas umas às outras, modificando para sempre o modo como nos relacionamos com o mundo.
Essa disseminação da internet contribuiu significativamente no processo de globalização, pois foi possível
colocar culturas diferentes diante dos mesmos objetos simbólicos. Pessoas separadas por léguas e léguas de dis-
tância podem, rapidamente, encontrar-se no chat de uma rede social. Habitantes dos extremos do Planeta têm a
possibilidade de acompanhar o mesmo seriado através do uso do streaming. Anônimos tornam-se famosos em
poucos dias a partir do compartilhamento acelerado de suas postagens virtuais. Em síntese, a internet permitiu que
passássemos a possuir hábitos extremamente semelhantes e a consumir um mesmo tipo de cultura.

74
Não foi apenas essa relação de proximidade que foi modificada com o advento da internet. Nossa relação
com os próprios objetos da comunicação também sofreu modificações significativas. Abandonamos envelopes,
selos e papéis de carta para darmos lugar ao e-mail. Os diários passaram para o fundo das gavetas, pois o blog e
até mesmo as redes sociais passaram a ser o lugar das reflexões (e revelações) que secretamente fazíamos. A leitura
e a escrita, que geralmente se realizavam num contexto mais lento e de uma forma elaborada, expandiram-se em
contextos extremamente velozes: nunca lemos ou escrevemos tanto como o fazemos hoje dentro do Facebook.
É preciso reconhecer que muitas modificações foram positivas com a expansão virtual. Os Estados, de
maneira geral, puderam facilitar os serviços prestados à população; o conhecimento, que antes era restrito aos
livros, passou a estar disponível a poucos cliques de distância; aprendemos a resolver pequenos problemas da vida,
que antes competiam apenas a alguns especialistas. No entanto, devemos lembrar que tais transformações não
modificaram significativamente as desigualdades sociais e também trouxeram problemas que antes não tínhamos.
Pessoas suicidaram-se por conta do cyberbulling; criminosos passaram a agir de modo mais rápido, efetivo e silen-
cioso praticando delitos que só se multiplicam; e preconceitos de diferentes naturezas passaram a ser reproduzidos
sem que seus autores fossem identificados. A web, em suma, precisa ser usada e analisada com muita cautela.
Embora possamos estar sempre conectados, devemos lembrar que ainda somos seres de carne e osso e
nossas relações pessoais também devem ser mantidas e valorizadas. As brincadeiras ao ar livre, o almoço em
família, a roda de conversa e a prática de esportes são elementos que contribuem significativamente para nossas
relações interpessoais, sem a necessidade de qualquer conexão com o mundo digital. Somos nós que decidimos
utilizar o mundo virtual e ele deve estar ao nosso serviço, não o contrário. E embora a internet tenha modificado
sistematicamente nossa forma de conexão com o mundo, ela não modificou nossa espécie, nem nossa capacidade
de decidirmos sobre o futuro de nós mesmos.

Cérebro eletrônico

O cérebro eletrônico faz tudo


Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo

O cérebro eletrônico comanda


Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda

Só eu posso pensar
Se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar
Quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões
De carne e osso
Eu falo e ouço. Hum

Eu penso e posso
Eu posso decidir
Se vivo ou morro por que
Porque sou vivo
Vivo pra cachorro e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro

75
No meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo
Sou muito vivo e sei

Que a morte é nosso impulso primitivo e sei


Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus
Olhos de vidro
(Gilberto Gil)

AS ARTES PLÁSTICAS E SEUS CONTEXTOS DE PRODUÇÃO


Arte medieval
A arte medieval retratava temáticas religiosas ou ainda os retratos do trabalho no campo, pois estava diretamente
ligada ao período histórico, no qual a fé cristã era considerada o centro da vida do homem, o teocentrismo. Do
ponto de vista estético, tais pinturas não apresentavam tamanha preocupação com as dimensões da representação
da realidade, que serão objeto da arte renascentista.

Madona e Filho, Beringhiero, século XII.


(www.literaria.net/RP/L2RPL2.htm)

76
Arte renascentista
A arte renascentista se ocupa da valorização da cultura greco-romana sem abandonar as temáticas cristãs. Aliada
aos ideais de recuperação da cultura antiga, as pinturas retratam entidades mitológicas, deuses, ninfas e grandes
personagens da idade antiga, bem como personagens do antigo e do novo testamento. Sua qualidade estética está
em manter a simetria das composições, em prezar pela mimese, ou seja, pela mais fiel representação da realidade,
por meio do uso da perspectiva e de sombras, e também pelo equilíbrio entre cores e formas.

O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli.

A última ceia, de Leonardo da Vinci

77
Arte barroca
Como fruto do momento histórico ao qual pertencia, repleto de oposições devido à Contrarreforma iniciada no
século XVI, a arte barroca também valorizou os contrastes. Suas imagens não são centralizadas como as renascen-
tistas e, muitas vezes, priorizam a ideia de movimento. Suas temáticas também abarcam contrastes: mitologia, fé
cristã, nobreza e burguesia.

As meninas (Diego Velásquez) A Flagelação de Cristo, Caravaggio, 1607

Arte romântica
Aliada aos valores dramáticos e sentimentais próprios da literatura e da história do período, a arte romântica pro-
curou evidenciar os efeitos emotivos das pinturas, dando lugar, principalmente, aos temas históricos e religiosos.

Delacroix: A Liberdade guiando o povo, 1830.

A maja nua, c. 1795-1800, Museu do Prado

78
Arte moderna
Com o objetivo de romper com os padrões antigos, os artistas modernos buscam novas formas de expressão para
comporem suas obras. Desse modo, eles utilizam-se de recursos como cores vivas, figuras deformadas, cubos e
cenas sem lógica para demonstrar a força da ruptura que desejavam promover. São próprios dessa época os movi-
mentos impressionista, expressionista cubista, futurista, dadaísta e surrealista.

Antropofagia, de Tarsila do Amaral Edvard Munch - O Grito

Arte contemporânea
A arte contemporânea ou arte pós-moderna é um movimento artístico que teve início na segunda metade
do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. A disseminação da indústria cultural e a modificação da relação do
homem com a arte, tornando-a mais popular, proporcionou mudanças significativas no campo cultural.
Tais mudanças são responsáveis pela características dessa nova tendência artística, que são: abandono dos
suportes tradicionais, mistura de estilos artísticos, emprego de diferentes materiais, aproximação com a cultura
popular, sobretudo, interação do espectador com a obra.

OITICICA, H. Metaesquema I, 1958. Guache s/ cartão 52 cm x 64 cm. Museu de Arte Contemporânea - MAC/USP.

Museu de arte contemporânea, Rio de Janeiro. (Oscar Niemeyer)

79
PRINCIPAIS DANÇAS DO FOLCLORE

Maracatu
Trata-se de uma dança típica do Nordeste brasileiro, cuja simbologia é a adoração aos orixás. Na dança, todos se
fantasiam e devem passar “de mão em mão” a “calunga”, uma espécie de boneca de pano presa em um bastão,
a qual representa uma entidade espiritual. A dança é natural do Estado do Pernambuco.

Frevo
Também é uma dança natural do Pernambuco. Ela se caracteriza pelos movimentos rápidos dos dançarinos que le-
vam na mão um guarda-chuva de cor correspondente a da própria roupa. A realização é típica durante o Carnaval.

Baião
A dança tornou-se popular graças ao músico Luiz Gonzaga, por conta de sua canção “Baião”. A dança é típica do
sertão do Nordeste, mas espalhou-se para outros Estados. Geralmente, dança-se em pares e os movimentos são
muito semelhantes aos do forró.

80
Samba de roda
É uma dança caracterizada pela disposição dos sambistas em círculo. Muito semelhante à capoeira, os dançarinos
movem seus corpos para o centro da roda, convidando os demais a entrarem para a dança.

Fandango
O fandango é uma festa típica paranaense promovida por moradores da região litorânea do Estado. Embora seja de
origem espanhola, a dança entrou no Brasil com os colonos e passou a caracterizar um conjunto de danças, intituladas
(marcas), as quais podem ser dançadas, sapateadas e até mesmo valsadas. Antigamente, como as festas ocorriam so-
bretudo no Carnaval, os dançarinos e participantes dos movimentos festejavam durante quatro dias e se alimentavam
do “barreado”, uma comida típica do litoral à base de carne e toucinho e cozido em panela de barro.

Catira
Trata-se de uma dança de origem gaúcha, cuja origem foi influenciada por danças espanholas, africanas e inglesas.
Caracteriza-se pelo sapateado, pelo uso de palmas e por coreografias bem sincronizadas. A vestimenta de todos os
dançarinos é igual, geralmente composta por chapéus, camisas, calças jeans e botas.

81
Quadrilha
Trata-se de uma dança popular em diferentes Estados brasileiros típica do período de festas juninas. Realiza-se
em pares que devem escutar um “narrador” e seguir suas instruções. A dança é acompanhada por uma canção
instrumental. Há variações de acordo com o Estado no qual ela é realizada.

MITOS E LENDAS
Os mitos e lendas de uma nação fazem parte de sua tradição oral. Vejamos, a seguir, alguns dos principais mitos e
lendas de diversas localidades brasileiras.

Boitatá
Trata-se de uma grande serpente de fogo que mora nas margens dos rios, mata animais e lhes devora os olhos. Do
tupi boi, cobra, e tatá, fogo: cobra de fogo, o fogo em forma de cobra. Há algumas versões, nas quais a figura do
boitatá destrói com o fogo dos seus olhos as pessoas que realizam queimadas nas matas.

Boto sedutor
É uma lenda da fauna amazonense, famosa em todo o País. O boto, ao cair da noite, transforma-se num rapaz, alto,
branco e muito bonito que seduz as moças das comunidades ribeirinhas. Muitas mulheres atribuem a paternidade
de filhos espúrios e naturais ao boto.

Caipora
De acordo com Câmara Cascudo, é uma versão do curupira com os pés normais. De caá, mato, e porá, habitante,
morador. Trata-se de uma figura coberta de pelos que anda sempre montada num porco-do-mato, protetor dos
animais e inimigo dos caçadores. Há inúmeras versões da caipora e do curupira. Ambos aparecem, geralmente,
associados como manifestações de uma mesma entidade.

Cuca
É a figura lendária de uma mulher velha e feia, com cabeça de jacaré. É uma espécie de feiticeira, cuja voz é assus-
tadora. É citada em muitas cantigas de acalentar do interior do País.

82
Lobisomem
É a figura de um indivíduo, meio lobo, meio humano. A história provém de lendas europeias, uma vez que o povo
europeu tinha medo de lobos. A versão brasileira do lobisomem pode ser representada pelo sétimo filho homem
de um casal; ou aquele que nasceu após sete filhas. Ou, ainda, como aquele que não foi batizado ou que é fruto
de uma relação incestuosa.

Mani (a lenda da mandioca)


Mani é uma menina nascida num aldeamento indígena, cuja pele era muito branca. Desconfiado da esposa, o pai
da menina queria matar a mulher e a filha. Entretanto, o feiticeiro da tribo interveio e disse ao índio que a mulher
era inocente, e que o homem receberia grande castigo, caso tentasse atingi-las. Mani não viveu por muito tempo,
ainda que tenha crescido linda e tenha cativado a todos. Os pais da indiazinha a sepultaram dentro de sua própria
maloca e a “regavam” diariamente com as lágrimas que derramavam de saudades dela.

Mapinguari
Trata-se de um macaco grande e peludo, cuja boca vai do nariz até o estômago. Seus lábios são vermelhos de
sangue. Ele utiliza-se de gritos semelhantes aos dos humanos para atrair suas vítimas. É muito presente no Acre,
no Amazonas e no Pará.

Quimbungo
É uma espécie de “bicho-papão”, meio homem, meio maçado, com cabeça grande e uma enorme boca nas costas,
por onde ele devora as criancinhas. É um mito baiano, mas de origem africana.

Saci-pererê
A figura do saci-pererê é composta pela imagem de um negrinho de uma perna só, que utiliza uma carapuça
vermelha na cabeça e que tem o poder de se tornar invisível. Caso a carapuça seja removida por alguém, seus
poderes são perdidos. O saci adora fumar e dá risadas muito altas. De acordo com Amadeu Amaral, em “Tradições
Populares”, “o saci, que é certamente indígena em parte, revelando amálgama de elementos de outros mitos abo-
rígines (curupira, caipora etc.), sofreu influência do negro, patente na transformação do personagem num moleque
travesso, e, ao mesmo tempo, incorporou pouca coisa de procedência europeia. De modo que o saci marca um
momento importante, uma encruzilhada da nossa viagem histórica. O saci é talvez um símbolo...”.

83
L C Literatura

ENTRE
LETRAS

Breviário ENEM

L C
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Semana 1

Competências 4 e 5
Habilidades 12, 13, 15 e 17

BREVIÁRIO

CLASSICISMO
Nos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica do mundo, que caracterizou a Idade Média, cedeu lugar ao antropocen-
trismo, ou seja, o Homem e a Ciência vão para o centro dos acontecimentos e do universo. O Renascimento marca
o apogeu dessa era, que se propõe a iluminar com a razão as trevas da civilização medieval.

Características do Classicismo
O Classicismo queria recuperar a “classe” dos autores antigos a partir do cultivo dos valores greco-latinos, inclusive
da mitologia pagã, própria dos antigos. Isso levou os poetas renascentistas a recorrer às entidades mitológicas
para pedir inspiração, simbolizar emoções, exemplificar comportamentos. Pastores, deuses, deusas e ninfas estão
presentes nas obras de arte e na literatura renascentista de uma forma natural, convivendo até mesmo com tradi-
ções cristãs, herdadas da época medieval.
É hora de o ser humano se orgulhar de suas conquistas terrenas. O homem descobre que a Terra é redonda
e passa a ter um olhar universalista para a realidade. O marco de seu início se dá em 1527, quando o poeta Sá
de Miranda retorna de sua incursão de estudos pela Itália renascentista e introduz em Portugal novas formas de
composição. Ele trouxe a postura amorosa, o soneto e, principalmente, a forma fixa do verso decassílabo chamado
de medida nova, o dolce stil nuovo (doce estilo novo), criado pelo escritor italiano Francesco Petrarca.

Tendências fundamentais

Criação e imitação: retomado do princípio aristotélico da mimese, ou seja, reproduzir os comportamen-


tos humanos por intermédio da arte.
Racionalismo: o desenvolvimento de um raciocínio completo sobre os temas abordados, inclusive o amor.
Na poesia, essa tentativa de conciliar razão e emoção se apresentou por meio de uma figura de linguagem
chamada “paradoxo”.
Humanismo e ideal de beleza: recriação da natureza humana por meio de um ideal de beleza, propor-
ção, harmonia e simetria.
Universalismo: a busca por novos territórios, expansão marítima. O homem quer se colocar acima da
natureza e automaticamente, acima de Deus. O planeta Terra passa a ser um espaço de dominação humana.

87
Camões lírico: “Tu, só tu, puro amor”

A obra lírica de Camões compreende poemas feitos na medida velha e na medida nova. A medida velha obedece
à poesia de tradução popular, na forma e no conteúdo.
São exploradas as redondilhas, de cinco ou de sete sílabas (menor ou maior, respectivamente).
Quanto à medida nova, os poemas são relacionados à tradição clássica: sonetos, éclogas, elegias, oitavas,
sextinas. Quanto ao conteúdo, a poesia lírica clássica se relaciona com o petrarquismo. Francesco Petrarca foi o
responsável por fixar a forma do soneto, no século XIV; o conteúdo de sua poesia delineia um lirismo amoroso
platônico, relacionado indissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a quem dedicou perto de 360 sonetos,
no seu cancioneiro.

A lírica amorosa

O tema amoroso é explorado na lírica camoniana sob dupla perspectiva. Com frequência, aparece o amor sensual,
próprio da sensualidade renascentista, inspirada no paganismo da cultura greco-latina. Predomina, porém, o amor
neoplatônico, espécie de extensão e aprofundamento da tradição da poesia medieval portuguesa ou da poesia
humanista italiana, em que o amor e a mulher se configuram como idealizados e inacessíveis.
Na poesia lírica camoniana, tal qual no modelo legado por Petrarca, o amor é um sentimento que eleva o
homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Beleza e a Verdade, de acordo com a filosofia platônica. Para Platão,
a realidade se divide em “mundo dos sentidos” e “mundo das ideias”. No mundo sensorial, nada é perene; no
mundo das ideias, tudo é terno, imutável. O amor ideal, de acordo com Platão, é um sentido essencialmente puro
e desprovido de paixões, ao passo que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas.
Em Camões, percebe-se o conflito entre o sentimento espiritual, idealizado, e o sentimento de manifestação
carnal. O amor é, dessa forma, complexo, contraditório. Esse duplo enfoque do amor é bastante acentuado no
soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”.

Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;

88
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
“Amor é fogo que arde sem se ver”. In: CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.

ROMANTISMO

Poesia romântica
Contexto histórico

No século XIX, o público consumidor da literatura romântica era eminentemente formado pela burguesia. As ori-
gens populares dessa classe não condiziam com o refinamento da arte clássica, cuja compreensão exige conheci-
mento das culturas grega e latina. A burguesia ansiava por uma literatura que enfocasse seu próprio tempo, seus
problemas e sua forma de viver. O romance relatava acontecimentos da vida cotidiana e dava vazão ao gosto
burguês pela fantasia e pela aventura. Tornou-se, por isso, o mais importante meio de expressão artística desse
segmento social.
Em algum aspecto, o romance substituiu a epopeia, um dos gêneros de mais prestígio da tradição clássica. Con-
tudo, alterou-lhe o foco de interesse. Enquanto a epopeia narra um fato passado – em geral, um mito da cultura de um
povo –, o romance narra o presente, os acontecimentos comuns da vida das pessoas, numa linguagem simples e direta.

As gerações do Romantismo
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos. Essa divisão, contudo, compreende, prin-
cipalmente, os autores de poesia. Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas
obras apresentam traços característicos de mais de uma geração.
Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa, com destaque para Gonçalves Dias e Gonçalves de
Magalhães.
Segunda geração: marcada pelo “mal-do-século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa-
tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes
Varela e Junqueira Freire.
Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A
maior expressão desse grupo é Castro Alves.
Durante o Segundo Reinado, os românticos foram firmando o projeto de uma literatura autenticamente
nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da poesia romântica brasileira, cujos
poetas reúnem distintas gerações com características em comum.

89
INDIANISMO: PRIMEIRA GERAÇÃO POÉTICA
Compreendida entre os anos de 1836 e 1852, a primeira geração contou com os poetas Gonçalves de Magalhães
e Gonçalves Dias.
O nacionalismo e o patriotismo predominam em seus poemas, que exaltam aspectos característicos da paisa-
gem tropical, realçam o exotismo e a beleza natural e exuberante em oposição à paisagem e à natureza europeias.
As obras de ambos encaram o indígena como elemento formador do povo brasileiro, bem como revelam
forte religiosidade predominantemente católica, em oposição ao “paganismo” da poesia neoclássica ligada à tradi-
ção greco-latina. São de caráter amoroso, fortemente sentimental, fruto de relativa influência da lírica portuguesa,
medieval, camoniana e romântica – de Garrett, principalmente.
Em 1862, foi à Europa para tratar da saúde. Combalido pela tuberculose e reduzido à miséria, decidiu voltar
ao Brasil, onde morreu em decorrência do naufrágio do navio em que viajava, já próximo da costa maranhense.
Herdou de Gonçalves de Magalhães certo apego à poesia harmônica do Neoclassicismo e dos primeiros
românticos portugueses. No entanto, imprimiu à sua poesia um tom particular – uma inalienável necessidade de
aliar o pensamento ao sentimento –, legando ao Romantismo brasileiro uma obra equilibrada, “a mais equilibrada
poesia romântica”, segundo Manuel Bandeira.
Gonçalves Dias criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa lite-
ratura. Seus versos encerraram eloquência e unção, lirismo, grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são:
Primeiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Dicionário da língua tupi, Os timbiras;
as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul.

Gonçalves Dias

Primeiros cantos
Em 1846, os Primeiros cantos apareceram em livros, numa edição financiada pelo próprio autor. No prólogo da
obra, Gonçalves Dias explica que não obedeceu a nenhuma das regras tradicionais da poesia porque menospreza
“regras de mera convenção”. Adotou todos os ritmos da metrificação portuguesa e usou-os conforme melhor lhe
pareceram.
A obra revela “as marcas do Romantismo” – liberdade formal (a primeiríssima delas) contida naquele “me-
nosprezo das regras de mera convenção”, respeito à imaginação e ao indivíduo e valorização das emoções e das
circunstâncias, com todas as contradições que acaso proviessem. Tanto no Brasil como em Portugal, a obra recebeu
elogios. O escritor português Alexandre Herculano saudou o poeta de Primeiros cantos, colocando-o na categoria
de uma nova voz no contexto da literatura brasileira. Herculano ainda observou que “salta à vista a proposta de
casar o coração com o entendimento; a ideia com a paixão”.

90
Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

ULTRARROMANTISMO OU GERAÇÃO BYRONIANA

Algumas décadas depois da introdução do Romantismo no Brasil, a poesia ganhou novos rumos com o apareci-
mento dos ultrarromânticos. Desvinculados do compromisso com a nacionalidade da primeira geração, desinteres-
savam-se da vida político-social e voltavam-se para si mesmos, numa atitude profundamente pessimista. Como
forma de protesto contra o mundo burguês, viviam entediados e à espera da morte.
A publicação do livro Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Johann Wolfgang von Goethe, na Ale-
manha, influenciou os escritores da segunda geração romântica brasileira. Sua história conta o triste suicídio de
Werther, quando vê findada sua chance de ser feliz ao lado de seu amor, a jovem Carlota.

91
O “mal-do-século”
Os jovens e estudantes de hoje encontram diferentes maneiras de protestar contra os valores sociais ou o poder ins-
tituído. Alguns se organizam em associações ou agremiações estudantis e manifestam-se em jornais, assembleias
e passeatas. Outros preferem as chamadas tribos urbanas. Para mostrar que pertencem a elas, pintam os cabelos,
usam coturnos, roupas rasgadas, pulseiras e colares, roupas escuras com caveiras estampadas, piercings, cabelos
longos. Nas décadas de 1850 e 1860, jovens poetas universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro se reuniram e
deram origem à poesia romântica brasileira, conhecida como Ultrarromantismo. Sem acreditar nas ideias e valores
que levaram à Revolução Francesa e sem ter nenhum outro projeto, essa segunda geração romântica se sentia
como uma “geração perdida”. A forma encontrada para expressar seu pessimismo e sua inadequação à realidade
foi, no plano pessoal, levar uma vida desregrada, dividida entre os estudos acadêmicos, ócio, casos amorosos e
leitura de obras literárias de Musset e Byron, escritores cujo estilo de vida imitavam.
No plano literário, essa geração se caracterizou por cultivar o mal-do-século, uma onda de pessimismo que
se traduzia em atitudes e valores considerados decadentes na época, como atração pela noite, pelo vício e pela
morte. No caso de Álvares de Azevedo, o principal representante do grupo, esses traços foram acrescidos ainda de
temas macabros e satânicos, o que o aproxima de Horace Walpole, escritor inglês que, alguns anos antes, tinha
dado início ao romance gótico com O castelo de Otranto (1765).
Os ultrarromânticos desprezam certos temas e posturas da primeira geração, como o nacionalismo e o
indianismo; contudo, acentuam traços como o subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, ampliando a ex-
periência da sondagem interior e preparando terreno para a investigação psicológica que, três décadas mais tarde,
iria caracterizar o Realismo.

Lord Byron: ousadia e negação


O poeta inglês Lord Byron (1788-1824) foi um dos principais escritores do Romantismo europeu. Dividia a vida
luxuosa das cortes entre a literatura e as mulheres, e escandalizou a Inglaterra com seu estilo boêmio de vida e com
suas relações amorosas extraconjugais. Foi ainda acusado de pederastia e de manter relações incestuosas com a
irmã. Escreveu Don Juan e Jovem Haroldo.

O medo de amar
O amor foi tratado pelos ultrarromânticos sob uma perspectiva dualista, atração e medo, desejo e culpa. Segundo
Mário de Andrade, escritor e crítico modernista, os ultrarromânticos temiam a realização amorosa. O ideal feminino
é associado a figuras incorpóreas ou assexuadas: anjo, criança, virgem etc. As referências ao amor físico se dão
apenas de modo indireto, sugestivo ou superficial.
O poema a seguir, “Amor e medo”, do ultrarromântico Casimiro de Abreu, deixa bastante claro seu medo
de amar.
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...
CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Presença da literatura brasileira. v. 2. São Paulo: Difel, 1968. p. 44.

92
Neste poema, o medo de amar se traduz no receio de macular a virgem, no temor de entregar-se ao apelo
dos sentidos e ferir a pureza da mulher amada. A imagem de “anjo enlodado” dá a medida exata do ideal feminino
para os românticos: mulher virgem, assexuada e incorpórea.
A seguir, os principais escritores do Ultrarromantismo e suas produções:
Álvares de Azevedo (poesia lírica, contos e teatro) – Lira dos vinte anos; Noite na taverna; Macário.
Casimiro de Abreu (poesia lírica) – As primaveras.
Fagundes Varela (poesia lírica) – Cantos e fantasias.
Junqueira Freire (poesia lírica) – Inspirações do claustro.

Álvares de Azevedo: a antítese personificada

Álvares de Azevedo (1831-1852) é a principal expressão da geração ultrarromântica de nossa poesia. Paulista, fez
os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu um acidente
(queda de cavalo), cujas complicações o levaram à morte, antes de completar 21 anos.
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram escritos
em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário. O conjunto de sua obra é de qualidade irre-
gular, mas significativa sob o ponto de vista da evolução da poesia nacional.

As faces de Ariel e Caliban

As características intrigantes da obra de Álvares de Azevedo residem na articulação consciente de um projeto


literário baseado na contradição que, talvez, ele experimentasse na adolescência. Enquadrada no dualismo que ca-
racteriza a linguagem romântica, essa contradição é evidente em sua principal obra poética, “Lira dos vinte anos”.
A primeira e a terceira partes da obra revelam um eu lírico adolescente, casto, sentimental e ingênuo. A face
de Ariel, a face do bem.

Pálida, à luz da lâmpada sombria,


Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria


Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...

93
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
HELLER, Bárbara; BRITO, Luís Percival L.; LAJOLO, Marisa. Álvares de Azevedo. Seleção de textos.
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada.

Observe que o soneto “Pálida, à luz da lâmpada sombria” está organizado a partir de relações antitéticas:
a escuridão e a claridade; a noite e o amanhecer; o ambiente onírico (de sonho) e o real; a virgem pálida e distante
e a mulher corporificada e sensual; o amor e a morte.
Note ainda que, da primeira para a última estrofe, há um processo de materialização da mulher amada: no
início, ela é uma “virgem do mar” ou um “anjo”; depois, torna-se uma mulher sensual e nua na cama.
Essa gradação ocorre paralelamente à gradação da luz, conforme o dia amanhece.
Numa atitude tipicamente adolescente, o eu lírico, como um verdadeiro voyeur, observa de longe a mulher
amada, sem ter com ela nenhum comprometimento.
Trata-se de um comportamento resultante do “medo de amar”, ligado à dúvida e ao prazer reprimido, cuja
saída é a sublimação pela morte.
Quando se inicia a segunda parte da Lira dos vinte anos, contudo, o leitor se depara com um segundo pre-
fácio da obra, com os seguintes dizeres:
Cuidado, leitor, ao voltar esta página!
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira
ilha Barataria de D. Quixote, onde Sancho é rei; [...]
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro e capítulo funda-se numa binomia. Duas almas que moram
nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas
faces.
Nos meus lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde.
CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Ob. cit., v. 2. p.14.

Com esse comentário, o poeta introduz o leitor no mundo de Caliban, representado principalmente pelo
poema “Ideias íntimas” e por uma série intitulada “Spleen e charutos”. Embora não se incluam na Lira dos vinte
anos, aproximam-se desse grupo de textos os contos de “Noite na taverna” e a peça teatral “Macário”. Os poemas
retratam um mundo decadente, povoado de viciados, bêbados, prostitutas, andarilhos solitários sem vínculos e sem
destino. Observe essas atitudes nestes versos:

Poema do frade

Meu herói é um moço preguiçoso


Que viveu e bebia porventura
Como vós, meu leitor... se era formoso
Ao certo não o sei. Em mesa impura
Esgotara com lábio fervoroso
Como vós e como eu a taça escura.
Era pálido sim... mas não d’estudo:
No mais... era um devasso e disse tudo!
[...]

94
Não quisera mirar a face bela
Nesse espelho de lodo ensanguentado!
A embriaguez preferida: em meio dela
Não viriam cuspir-lhe o seu passado!
Como em nevoento mar perdida vela
Nos vapores do vinho assombreado
Preferia das noites na demência
Boiar (como um cadáver!) na existência!
[...]

Na leitura de alguns trechos do poema “Ideias íntimas”, entra-se na “terra fantástica” do mundo de Cali-
ban. O ambiente é um quarto de estudante, no qual o jovem se entrega a uma viagem pelo interior de si mesmo.
Reconhece os objetos que formam seu pequeno mundo e a relação entre este e aqueles, de modo que a solidão e
o desarranjo do quarto são um prolongamento da condição interior do eu lírico.

Casimiro de Abreu: a poesia bem-comportada

Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poetas românticos mais populares. Natural de Barra de São João, no
Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua obra poética, Primaveras, em Portugal. Apesar de ligado à segunda
geração da poesia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares de Azevedo
deixara ao morrer, sete anos antes. Diferentemente da obra de Azevedo, em que o amor se confunde com a morte,
nos poemas de Casimiro o amor se associa sempre à vida e à sensualidade. Contudo, essa sensualidade – mais
natural que em Álvares de Azevedo, porque é mais concreta – ainda não alcança maturidade, conserva-se ligada
ao medo de amar, é sempre disfarçada, resultado de insinuações e do jogo de mostrar e esconder. Sua poesia se
destaca também pela abordagem graciosa de certos temas: infância, pátria, saudade, solidão, natureza, amor, que
agradavam ao público, já acostumado a eles.
Aproveitando-se de novidades introduzidas pela primeira geração – variações métricas e rítmicas, forte
musicalidade, emprego de uma língua brasileira –, a poesia de Casimiro se serve delas ao esgotamento, numa
época em que tais inovações já não eram ruptura, uma vez incorporadas ao gosto do público.
Com o tratamento brando dado aos temas, a poesia de Casimiro de Abreu não amplia nem modifica os
horizontes do Romantismo brasileiro. A abordagem mais natural da sensualidade é a inovação que ela proporciona,
bem como contribui para a consolidação e popularização definitiva do Romantismo entre nós.

95
Meus oito anos

Oh! que saudades que eu tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
[...]
Casimiro de Abreu. As primaveras. Publicado em 1859.

96
PROSA ROMÂNTICA

As origens do Romance

Iracema (1881), de José Maria de Medeiros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).

A palavra romance tem origem do termo medieval romano, que designava as línguas usadas pelos povos sob do-
mínio do Império Romano. Essas línguas eram uma forma popular e evoluída do latim, bem como eram chamadas
de romance as composições de cunho popular e folclórico, escritas nesse latim vulgar, em prosa ou em verso, que
contavam histórias cheias de imaginação, fantasia e aventuras.
Como gênero literário, o romance foi se modificando até assumir as formas de romance de cavalaria, ro-
mance sentimental e romance pastoral. Foi no século XVIII que a palavra romance tomou o sentido que tem hoje:
texto em prosa, regularmente longo, que desenvolve vários núcleos narrativos organizados em torno de um núcleo
central e narra fatos relacionados a personagens, numa sequência de tempo relativamente ampla e em determina-
do lugar ou lugares.
Os primeiros romances, como se compreende atualmente, surgiram na Europa, já identificados com o início
da revolução romântica. Entre os primeiros, destacam-se Manon Lescaut, do abade Prévost (1731), e A história de
Tom Jones, de Henry Fielding (1749).

97
O romance brasileiro e a busca do nacional

Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de construir
uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente, da
nossa língua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais. Nessa busca, o romance se voltou para os es-
paços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que deram origem, respectivamente, ao romance
indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional (a vida rural) e ao romance urbano (a vida citadina).
O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja
meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade
brasileira. Esse objetivo foi alcançado.

José de Alencar e o romance indianista


José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica. Cearense, cursou Direito em
São Paulo (1850) e viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Dedicou-se à carreira de advogado e atuou
também como jornalista. Na política, foi eleito várias vezes deputado e chegou a ocupar o cargo de ministro da
Justiça, que exerceu de 1868 a 1870. Candidatou-se a uma cadeira no Senado, mas seu nome foi vetado. Por isso,
encerrou sua vida pública e dedicou-se inteiramente à literatura.
Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como “Mãe” e “O jesuíta”,
encenadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles
foram classificados de acordo com o tema.
Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874).
Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875).
Romances históricos: As minas de prata (dois volumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volu-
mes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro).
Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola
(1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877).
A produção diversificada de Alencar estava voltada para o projeto de construção da cultura brasileira, no
qual o romance indianista ganhou papel de destaque em busca de um tema nacional e de uma língua mais bra-
sileira.
As principais realizações indianistas em prosa de nossa literatura são os três romances de José de Alencar.
Neles, o ambiente é sempre a selva. Em O guarani, o índio Peri vive próximo dos brancos; em Iracema, o branco é
que vive entre os índios; Ubirajara é o único romance que trata apenas da vida entre os índios.

98
O guarani: o mito da povoação

O guarani, romance histórico-indianista, foi publicado pela primeira vez sob a forma de folhetim no Diário do Rio
de Janeiro, em 1857. D. Antônio de Mariz, fidalgo português, muda-se para o Brasil com a família: D. Lauriana, sua
esposa; Cecília e D. Diogo, seus filhos; e Isabel, oficialmente sobrinha do fidalgo, mas, na verdade, filha dele com
uma índia. Acompanha a família o jovem cavaleiro D. Álvaro de Sá, além de muitos outros empregados.
A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri à Cecília;
o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, provocada por D.
Diogo, e a consequente revolta e ataque dos aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de D.
Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília.

Iracema

Em capítulos curtos, superpõem-se imagens e comparações de cunho poético para surgir o nascimento de um
mundo, que é o tema desse romance. Desenvolve-se no livro a lenda da fundação do Ceará e a história de amor
entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de castida-
de, que rompe ao tornar-se esposa de Martim.
Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigenado.
Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte.
Enterra-a ao pé de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos
que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfu-
mado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia
a terra com as primeiras águas.

99
A crítica social no romance urbano de Alencar
Além de ter se dedicado ao romance indianista e ao romance regional, José de Alencar foi também um de nossos
melhores romancistas urbanos. Suas obras, além de conter os ingredientes próprios do romance urbano romântico
– intrigas amorosas, chantagens, amores impossíveis peripécias –, conseguem analisar com profundidade certos
temas delicados daquele contexto social. Em Senhora, são abordados os temas do casamento por interesse, da
independência feminina e da ascensão social a qualquer preço. Em Lucíola, é discutida a prostituição nas altas
camadas sociais e, como em Senhora, a oposição entre o amor e o dinheiro. O romance Diva, ao lado de Senhora
e Lucíola, constitui a série “Perfis femininos”.

Senhora

Publicada em 1875, Senhora é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamento como forma
de ascensão social, o autor deu início à discussão sobre certos valores e comportamentos da sociedade carioca da
segunda metade do século XIX. Embora Senhora ainda esteja presa ao modelo narrativo romântico, que considera
o amor como o único meio de redimir todos os males, a obra apresenta alguns elementos inovadores, que anun-
ciam a grande renovação realista. Entre tais elementos estão a vigorosa crítica à futilidade dos comportamentos
e à fragilidade dos valores burgueses resultantes do então emergente capitalismo brasileiro e, em certo grau, da
introspecção psicológica.
Aurélia Camargo é uma moça pobre e órfã de pai, noiva de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona
ascender rapidamente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar
todos os homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se milionária, e, consequentemente, uma das mulheres
mais cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda oferecer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem
revelar seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento. Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia
revela-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto fora vil em sua ganância.
Vivem como estranhos na mesma casa durante onze meses, mas, socialmente, formam o “casal perfeito”.
Ao longo desse período, Seixas trabalha arduamente até conseguir obter a quantia que recebera como sinal pelo
“acordo”. Devolve os cem contos de réis à esposa e se despede dela.
Aurélia lhe revela seu amor. Os dois, igualados no amor e na honra, podem desfrutar o casamento, que
ainda não havia se consumado.
Os convidados, que antes lhe admiravam a graça peregrina, essa noite a achavam deslumbrante, e compre-
endiam que o amor tinha colorido com as tintas de sua palheta inimitável, a já tão feiticeira beleza, envolvendo-a
de irresistível fascinação.
– Como ela é feliz! – diziam os homens.
– E tem razão! – acrescentaram as senhoras volvendo os olhos ao noivo.
Também a fisionomia de Seixas se iluminava com o sorriso da felicidade. O orgulho de ser o escolhido da-
quela encantadora mulher ainda mais lhe ornava o aspecto já de si nobre e gentil.

100
O romance regionalista e a sociedade rural

A narrativa romântica também se debruçou sobre a sociedade de regiões interioranas do Brasil, buscando na
geografia delas os aspectos culturais, os costumes, as crenças e a linguagem. Surgido no Romantismo da década
de 1870, constituiu um dos aspectos singulares da literatura brasileira, especialmente em oposição ao excesso de
imaginação empregada na elaboração dos romances indianistas e históricos do próprio Alencar.
O romance regionalista foi criado por Bernardo Guimarães, que escreveu O ermitão de Muquém e A escrava
Isaura. Também foi cultivado por José de Alencar, que criou O sertanejo, Til, O gaúcho e o O tronco do ipê. Contudo,
seu defensor mais convicto foi Franklin Távora, autor de O cabeleira e Lourenço. O regionalismo faz parte da inten-
ção nacionalista dos românticos de reconhecer e identificar literariamente as várias culturas brasileiras. O romance
de Bernardo Guimarães e dos primeiros escritores atentos a particularidades da cultura constituiu uma porção para
a literatura que o leitor estava habituado a consumir. Sob a perspectiva romântica de imprimir um sentido nacional
à nossa literatura, o sertanismo foi uma forma de regionalismo cultivado como registro das variedades culturais do
Brasil com dados mais abrangentes e de mais atualidade que o indianismo que o precedera. As situações da vida
social e cultural do campo são idealizadas e não faltam na literatura regional os quadros exóticos e a natureza
exuberante, plenos de brasilidade. Os escritores românticos desejam mostrar um Brasil despojado, sem influências
estrangeiras, o que não o fizeram plenamente. Seus relatos estão repletos da ideologia romântica europeia, ansio-
sa pela expressão literária do pitoresco regional. O registro de pequenos quadros de costumes insere, entretanto,
muitas dessas produções como precursoras do movimento realista.

Visconde de Taunay e o Centro-Oeste

Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843-1899), o visconde de Taunay, era carioca, fez carreira militar e, com apenas 20
anos, participou da Guerra do Paraguai.
Mais do que a guerra, o que o seduzia na carreira de militar era a possibilidade de viajar e conhecer a diver-
sidade natural do Brasil. Apaixonado pela natureza, registrava em desenhos espécies da fauna e da flora nacionais
e, já no século XIX, protestava contra a destruição das matas na cidade do Rio de Janeiro.
Em suas andanças por Mato Grosso, Taunay colheu experiências para compor suas obras. Ressalta-se nelas
a capacidade do escritor de reproduzir com precisão aspectos visuais da paisagem sertaneja, especialmente da
fauna e da flora da região. Foi autor do romance Inocência (1872), sua obra-prima, e de livros sobre a guerra e o
sertão, como Retirada da Laguna (1871).

101
Inocência: a busca do sertão

Inocência é considerada a obra-prima de Taunay e do romance regionalista do Romantismo. Sua qualidade resulta
do equilíbrio alcançado na contraposição de vários aspectos: ficção e realidade, valores românticos e valores da
realidade bruta do sertão, linguagem culta e linguagem regional. Trata-se de uma história de amor impossível, que
envolve Cirino, prático de farmácia, que se autopromovera a médico, e Inocência, uma jovem do sertão de Mato
Grosso, filha de Pereira, pequeno proprietário, representante típico da mentalidade vigente entre os habitantes
daquela região.
A realização amorosa entre os jovens é inviável, porque Inocência fora prometida em casamento pelo pai
a Manecão Doca, um rústico vaqueiro da região; bem como porque Pereira exerce forte vigilância sobre a filha; de
acordo com seus valores, ele tem de garantir a virgindade de Inocência até o dia do casamento. Ao lado dos acon-
tecimentos que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista
alemão colecionador de borboletas que se hospedara na casa do pequeno proprietário.
Esse choque de valores revela as diferenças entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu.

Bernardo Guimarães

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1825-1884) tornou artísticos os “casos” da literatura oral, valendo-se
das técnicas narrativas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875),
construídas com temas básicos dos romances de ênfase social de sua época, respectivamente o celibato clerical e
a escravidão.

A escrava Isaura

Em uma fazenda em Campos (RJ), vive a bela e sedutora Isaura, escrava cuja filha a mãe de seu dono, Leôncio,
criou, dando-lhe educação aprimorada de moça branca. Após a morte da mãe, a fazenda passa a ser administrada
por Leôncio, casado com Malvina.

102
Então, Isaura passa a sofrer o assédio dele. Malvina pretende libertar Isaura, mas quando percebe a paixão
do marido, retira-se para a Corte. Isaura fica em situação embaraçosa, até que um dia resolve fugir com seu pai,
Miguel, para o Recife. Lá, conhece Álvaro, um rapaz rico, defensor da República e apaixonam-se. Leôncio, no en-
tanto, vai à procura de Isaura e a recupera. Depois de dois meses, Álvaro vai para Campos a fim de resgatar Isaura:
compra todos os bens de Leôncio, que está falido, incluindo a escrava. Leôncio se suicida.
A escrava Isaura revela a ausência de uma visão crítica mais profunda. A escrava tem dotes físicos e psicoló-
gicos das cândidas heroínas românticas, padrões de beleza do europeu branco, como revela a seguinte passagem
do romance.
Fugiu da fazenda do Sr. Leôncio Gomes da Fonseca, no município de Campos, província do Rio de Janeiro,
uma escrava por nome Isaura, cujos sinais são os seguintes: cor clara e tez delicada como de qualquer branca;
olhos pretos e grandes; cabelos da mesma cor, compridos e ligeiramente ondeados; boca pequena, rosada e bem
feita; dentes alvos e bem dispostos; nariz saliente e bem talhado; cintura delgada e estatura regular; tem na face
esquerda um pequeno sinal preto [...] Traja-se com gosto e elegância, canta e toca piano com perfeição.
A denúncia da escravidão perde seu impacto, que poderia ser demolidor, mas conseguiu comover (e comove
ainda hoje).

REALISMO
A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi
decisiva para os autores realistas brasileiros fortemente influenciados por eles. A família burguesa já não era mais o
único foco da literatura, como havia acontecido no Romantismo. Os realistas ocupavam-se de outras classes sociais
e da alma delas. A crise matrimonial, o papel da mulher nas relações sociais e o operariado passam a ser temas e
personagens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade, descrever cenas, ambientes e comportamentos passa
a fazer parte considerável das obras literárias. Registrar a realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos
disfarçados, as falsas devoções e a moral de aparência são temas que passam a integrar o universo do romance.
Tal como em Portugal, o Realismo-Naturalismo no Brasil esteve muito ligado às ideias estéticas, científicas
e filosóficas europeias – positivismo, darwinismo, naturismo, cientificismo – que provocaram bastante repercussão.
As mudanças que o tempo impôs coincidiram, por sua vez, com o rápido declínio do Segundo Império de Pedro II,
após a Guerra do Paraguai. Não só o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo-Naturalismo. O movimento
republicano, em 1870, também propunha trocar o trabalho escravo pela mão de obra imigrante.

Machado de Assis

Machado de Assis (1839-1908)

Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas
e tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era pela leitura. Inteligente e esforçado, Joaquim Maria
Machado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais e de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos
dezesseis anos, empregou-se na tipografia de Paula Brito.

103
Aos dezenove, já era colaborador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio Mercantil, O Espelho, Diário
do Rio de Janeiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias. Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultura,
enquanto sua carreira de escritor mostrava-se cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portugue-
sa Carolina Xavier de Novais.
Na passagem do Império para a República, Machado de Assis já era um intelectual respeitável. Formado
escritor à luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo, o que, a depender da fase, sua obra seja
caracterizada ou romântica, até 1880, ou realista, de então em diante.

O romance machadiano

O estilo

Elegância e certa contenção, rápidas pinceladas e muita discrição na composição da personagem, eis o estilo
machadiano. Adepto de personagens fortes, as narrativas revelam excepcional capacidade de observação do ser
humano e da sociedade, impressa, aliás, desde o início.
As lições que aprendeu dos românticos José de Alencar, Almeida Garrett, Victor Hugo e Swift levaram-no a
apenas organizar seus personagens de modo diverso ao deles.

Entrelinha

“No romance machadiano, praticamente não há frase que não tenha segunda intenção ou propósito espirituoso. A
prosa é detalhista ao extremo, sempre à cata de efeitos imediatos, o que amarra a leitura ao pormenor e dificulta
a imaginação do panorama. Em consequência, e por causa também da campanha do narrador para chamar a
atenção sobre si mesmo, a composição do conjunto pouco aparece.”
(SCHARZ, Roberto. In: Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.18).

O olhar detrás das máscaras

Nos romances iniciais, Machado é um romântico crítico, um pouco diferente dos demais, característica singular que
haveria de constituir. O casamento não é a cura para todos os males (como diziam os românticos), mas um tipo de
comércio, uma certa troca de favores.
Nos romances escritos após 1881, essa crítica social é acentuada e assume uma fina ironia ao contemplar
o casamento, o adultério, a exploração do homem pelo próprio homem. Acostumou-se a olhar detrás das máscaras
sociais, a desmascarar o jogo das relações sociais, a compreender a natureza humana mediante personagens com
penetrante espírito de análise. Nos indivíduos sempre há intenções supostas para objetivos reais. Disso resultam
suas atitudes, veículos de satisfação pessoal para quem as pratica.

Primeira fase: ciclo romântico

Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis considerados românticos, já se revela a característica que
haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos
leitores por parte do narrador e cheios de considerações sobre os comportamentos. Seus personagens não são line-
ares como os dos demais românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não são transparen-
tes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados.
Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de
contos Histórias da meia-noite e Contos fluminenses.

104
Helena

No ano de 1859, morre o conselheiro Vale, figura de primeira classe da sociedade do Segundo Reinado, homem
bem relacionado e respeitado. Ele deixa um filho, Estácio, de 27 anos, e uma irmã, D. Úrsula, que desde a morte da
cunhada cuidara com desvelo da bela chácara em que vivem, no Andaraí.
A leitura do testamento revela uma segunda filha do conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união até
então desconhecida de toda a família. Enquanto Estácio aceita o último pedido do pai – levar Helena para morar na
chácara e tratá-la com muito carinho – D. Úrsula vê na jovem uma intrusa e usurpadora. No entanto, o testamento
é obedecido. Helena sai do colégio interno para morar na chácara, onde começa a mudar a vida de todos.

Segunda fase: ciclo realista

Com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra.
Amadureceu como escritor e passou a escrever para leitores mais exigentes. Seus personagens tornaram-se mais
elaborados, pois eram compostos à luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição do romance foi aperfei-
çoada: os capítulos e frases passam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior contato com o leitor. Observa-se
também uma apurada análise da sociedade brasileira do final do Segundo Império, ambiente no qual o casamento
começa a ser um grande alvo da crítica tecida pelo autor.
As estruturas narrativas fogem à linearidade, entremeadas de digressões temporais, intromissões do narra-
dor e a análise apurada dos acontecimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro,
Esaú e Jacó, Memorial de Aires são romances do ciclo realista.
Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos contos a partir de 1869, começando com os “Contos
fluminenses”, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da meia-noite,
Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha. Merecem destaque os
contos “A cartomante”, “Missa do galo”, “O alienista”, “O espelho”, “Cantiga de esponsais”, “Noite de almirante”,
“A igreja do diabo”, entre outros. A produção poética de Machado de Assis está reunida em Falenas, Crisálidas, Ame-
ricanas, Ocidentais. Destacam-se as peças de teatro “Queda que as mulheres têm para os tolos”, “Quase ministros”
e “Lição de botânica”.

105
Memórias póstumas de Brás Cubas

A posição de Machado de Assis na literatura brasileira é a de renovador – um abridor de caminhos –, pois revo-
lucionou a narrativa, atribuindo-lhe um tom de mais verossimilhança e menos superficialidade, e foi além de seu
tempo, imprimindo à literatura um senso psicológico notável. O caráter inovador de Memórias póstumas de Brás
Cubas é a respeito das reflexões do personagem, como elas se encadeiam e se misturam aos eventos que ele vive.

Dom Casmurro

Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback da ve-
lhice para a adolescência, Bentinho conta sua própria história. Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito
carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida
sacerdotal.
Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa
a uma promessa que fizera, aceita a ideia inteligente de Escobar de enviar um menino órfão ao seminário para ser
ordenado no lugar do Bentinho.
Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba casando-se mesmo com Capitu.
O casal vive muito bem. Bentinho vai progredindo, mantém amizade com Escobar, antigo colega de seminá-
rio, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar Capitu estranha. Surpreende-a contemplando
o cadáver de uma forma que ele interpreta como apaixonada.
A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o casamento entra em crise. Cada vez mais Ezequiel
torna-se parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O casal separa-
-se, Capitu e Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre.
Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que comprova a semelhança do filho com Escobar. Eze-
quiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de “Casmurro” e
põe-se a escrever a história de sua vida.

106
Quincas Borba

Quincas Borba foi publicado entre 1886 e 1891 na revista Estação. Para alguns estudiosos, a obra é a continuação
do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, já que o personagem Quincas atravessa os dois romances. O per-
sonagem torna-se um símbolo do “humanitismo”, teoria desenvolvida por ele segundo a qual serão vitoriosos na
vida os que forem mais ricos, mais fortes e mais espertos. Quincas Borba habita uma chácara na cidade de Barba-
cena (MG) na companhia do enfermeiro Rubião, que nunca consegue aprender a teoria que o paciente lhe ensina.
Quando Quincas morre, sua fortuna é deixada para Rubião. O enfermeiro teria acesso ao dinheiro com a
condição de que cuidasse do cachorro de Quincas, que também se chama Quincas Borba. Na companhia do cachor-
ro e com as mãos na herança, Rubião se muda para o Rio de Janeiro, onde conhece o casal Sofia e Cristiano Palha.
Estes percebem que o enfermeiro é ingênuo e, em pouco tempo, o enfermeiro passa a perder sua fortuna.

NATURALISMO

Contexto histórico
Na tentativa de acabar com os cortiços no Rio de Janeiro, muitos pobres foram literalmente empurrados para longe
da cidade e para os morros, onde se formaram as favelas. O fim da escravidão e o início do período republicano
no Brasil foram marcados por conflitos e revoltas populares também no Rio de Janeiro. Em 1904, estourou um
movimento de caráter popular desencadeado contra a campanha de vacinação obrigatória de combate à varíola,
imposta pelo governo federal.

107
A revolta engrossava a cada dia, impulsionada pela crise econômica – desemprego, inflação e alto custo de
vida. A reforma urbana retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando cortiços e habitações simples.
Espalhados pelas ruas, populares destruíam bondes e apedrejavam prédios públicos. Em 16 de novembro de
1904, o presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação obrigatória e mandou que o Exército, a Marinha e
a polícia acabassem com os tumultos.

Burguesia versus proletariado

A segunda metade do século XIX foi caracterizada pela consolidação do poder da burguesia, do materialismo e
do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de outro,
o crescimento dos bairros pobres, onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo
poder, o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram e
desenvolveram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o
idealismo e o tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise
e compreensão da realidade. Teorias desse naipe deram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista,
quais sejam: a teoria determinista, de Hippolyte Taini (1825-1893), que encarava o comportamento humano como
determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-
1882), que defendia a tese de que o homem descende dos animais.
As características do Naturalismo literário são ligadas à realidade da época, cujo tom deixa de ser tão poé-
tico e subjetivo como nas escolas precedentes.
Os romances naturalistas revelam:
veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade;
contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas;
detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa, o amor é materializado, e a
mulher passa a ser vista como objeto de prazer masculino;
denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito,
e a ambição humanos;
determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens;
consideração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista;
homem próximo ao animal (zoomorfismo);
linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns ao das personagens cotidia-
nas; linguagem é simples, natural e clara;
cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados;
personagens patológicos – mórbidos, adúlteros, assassinos, bêbados, miseráveis, doentes, prostitutas
procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano.

108
Aluísio Azevedo

Aluísio Azevedo (1857-1913) deixou São Luís, no Maranhão, onde nasceu, aos dezenove anos e foi para o Rio de
Janeiro. Lá, morou com o irmão, Artur Azevedo, e dedicou-se persistentemente ao desenho e à pintura na Imperial
Academia de Belas-Artes.
Aos 21 anos, voltou a São Luís, onde passou a colaborar na imprensa local. Em 1879, já havia lançado o ro-
mance romântico Uma lágrima de mulher. Mas foi em 1881 que seu nome tornou-se conhecido, com a publicação
do romance O mulato, cuja temática, bastante criticada pela sociedade local, atacava o preconceito racial. Por isso,
Aluísio foi aconselhado a “pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo”.
De volta ao Rio de janeiro, produziu folhetins românticos para jornais. “Memórias de um condenado” e
“Mistérios da Tijuca” foram alguns deles ditados pelas necessidades de sobrevivência. Escreveu também obras
mais bem elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram
seu prestígio.
Em 1895, foi nomeado vice-cônsul em Vigo, na Espanha. Foi o início de uma atribulada carreira diplomática,
que o levaria a Yokohama, no Japão, a La Plata, na Argentina, a Salto Oriental, no Uruguai, a Cardiff, na Inglaterra,
a Nápoles, na Itália e, finalmente, a Buenos Aires, na Argentina.

Fase romântica

Dentre os seus folhetins românticos destacam-se “Uma lágrima de mulher”; “Memórias de um condenado” ou
“A Condessa Vésper”; “Filomena Borges”; “A mortalha de Azira”; “Mistério da Tijuca” ou “Girândola de amores”.

Fase naturalista

Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os livros de contos
Demônios; Pegadas; O touro negro.
Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração da
patologia humana, como ocorre, por exemplo, na obra do paradigma francês Émile Zola. Aluísio prefere a obser-
vação direta da realidade da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre o homem, segundo a
teoria determinista de Hippolyte Taine.

109
O cortiço

Nesse seu melhor romance naturalista, focaliza o proletariado urbano do Rio de Janeiro que vive num ambiente
coletivo: um cortiço. Os personagens são criados sob uma visão de conjunto, cujo meio influi categoricamente, des-
personalizando-os e a tudo dominando. O espaço é o elemento de destaque na obra que está intimamente ligado
aos personagens. Como o romance possui muitos deles, a coletividade torna-se um fator preponderante na obra, o
que faz com que O cortiço seja considerado um romance da multidão. As personagens espelham o nascimento do
proletariado no Rio de Janeiro, em fins do século XIX.

O mulato

Publicado em 1881, o romance O mulato, de Aluísio Azevedo, causou verdadeiro escândalo na sociedade mara-
nhense. Primeiramente, devido à linguagem naturalista, repleta de descrições, por vezes, e também pelo tema de
que tratava: o preconceito racial. Ainda com tal recepção, a obra fez muito sucesso na corte carioca, embora não
tivesse feito sucesso nenhum no Maranhão, terra natal de Aluísio, cujos leitores dirigiam ao autor a alcunha de
“Satanás da cidade”.
Na obra estão presentes a ávida crítica social, construída por meio da sátira impiedosa dos tipos que ha-
bitavam a capital maranhense, o anticlericalismo, composto na figura de um padre devasso e assassino; além do
aspecto sexual, do triunfo do mal e da oposição ao preconceito racial que é a base para a composição do livro.

PRÉ-MODERNISMO

Contexto histórico

Avenida Paulista, 1902. Fotógrafo Guilherme Gaensly

110
Durante os primeiros anos da República Velha, como ficou conhecido o período compreendido entre o final do sé-
culo XIX e as duas primeiras décadas do século XX (1885-1920), São Paulo tornou-se uma espécie de sede da bur-
guesia cafeeira – fazendeiros enriquecidos que construíram suas mansões na recém-inaugurada Avenida Paulista.
Na época, o Brasil era governado pelos políticos da aliança “café com leite”, que se tratava de um reveza-
mento de presidentes da República de origem mineira e paulista.
O Rio de Janeiro, capital da República, passava por uma modernização estrutural. As ruas da cidade já
contavam com trilhos para o novo veículo de massas: o bonde. Mas a sede do Governo Federal também era palco
de rebeliões, como a famosa Revolta da Vacina (contra a vacinação obrigatória para conter a varíola). No cenário
de um proletariado emergente, a cidade ia assistindo à ocupação das periferias desde a abolição da escravatura,
em 1888.
Com a imigração proletária intensiva, os socialistas e anarquistas passaram a ter atuação destacada: mo-
vimentos populares, greves e revoltas avolumaram-se. Em 1917, uma greve marcou um dos mais importantes
movimentos resultantes da politização do proletariado. Em São Paulo, cerca de 100 mil trabalhadores reivindica-
ram melhores condições de vida. Nesse período, o maior conglomerado industrial do Brasil, São Paulo, também se
firmou como centro político. Em 1922, foi fundado o Partido Comunista.

Um período de transição

O momento histórico das duas primeiras décadas do século XX criou uma literatura social, cuja ênfase recaiu sobre
a análise da realidade nacional com preocupações socioculturais.
Voltada para os problemas sociais do País, essa nova literatura buscava o nacional autêntico sem a idealiza-
ção das fórmulas europeias importadas. O Pré-modernismo abrangeu um período literário de transição compreen-
dido entre 1902 e 1922, cujo marco inicial foi a publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides
da Cunha, ambos em 1902. A Semana de Arte Moderna, em São Paulo, em 1922, marcou o fim do Pré-modernismo
e a inauguração do movimento modernista no Brasil.
Como em qualquer fase de transição, no Pré-modernismo coexistiram tendências opostas. O elemento novo
leva tempo para ser implantado. As novidades injetadas na literatura social por Graça Aranha e Monteiro Lobato,
por exemplo, foram sendo assimiladas aos poucos.
Desse modo, a linguagem ornamental do Parnasianismo persistiu em muitos poetas daquele período, que
escreviam ao gosto do público das camadas dominantes sem finalidade de denúncia, de análise ou de crítica.

Perspectivas nacionalistas e renovação

Típicas dessa fase de transição foram as obras de Graça Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lo-
bato. Todos produziram literatura de caráter nacionalista, mas com perspectivas diferentes. Graça Aranha renegou
gradativamente o passado para se tornar uma das personalidades da Semana de Arte Moderna.
Euclides da Cunha repensou o interior do País, completamente afastado do ufanismo social. Em Os sertões,
trouxe uma voz inconformada com o massacre de Canudos e um retrato realista da situação do homem sertanejo.
Lima Barreto foi o mais radical dos renovadores. Posicionou-se contra a literatura acadêmica e fez ressaltar
a realidade triste dos subúrbios cariocas e as problemáticas atitudes de políticos tiranos e ineficazes.
Monteiro Lobato fez uma literatura de advertência, sob a óptica da caricatura, denunciando a miséria cam-
pesina e buscando uma sociedade moderna, como revelado neste trecho de Zé Brasil:
Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre viveu em casebres de sapé e barro, desses de chão batido
e sem mobília nenhuma – só a mesa encardida, o banco duro, o mocho de três pernas, os caixões, as cuias... Nem
cama tinha.

111
Zé Brasil sempre dormiu em esteira de tábua. Que mais na casa? A espingardinha, o pote d’água, o caco de
cela, o rabo de tatu, a arca, o facão, um santinho na parede. Livros, só folhinhas – para ver as luas e se vai chover ou
não, e aquele livrinho na Fontoura com história de Jeca Tatu. – Coitado desse Jeca! – dizia Zé Brasil olhando para
aquelas figuras. Tal qual eu. Tudo que ele tinha eu também tenho. A mesma opilação, a mesma maleita, a mesma
miséria e até o mesmo cachorrinho. Pois não é que o meu cachorro também se chama Joli?...
(Monteiro Lobato. Zé Brasil. In: LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato. São Paulo: Abril Educação, 1981).

Euclides da Cunha

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909) terminou o curso de Engenharia Militar, na Escola Superior de
Guerra, em 1892. Trabalhou na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil e, mais tarde, atuou na cidade de
São Carlos do Pinhal, SP, como engenheiro-assistente, na Superintendência de Obras. Ao mesmo tempo, colaborava
com artigos para o jornal O Estado de S. Paulo, que o convidou para ser correspondente em Canudos – cidade do
interior da Bahia – durante o conflito entre o líder Antônio Conselheiro e as forças governistas. Permaneceu no
sertão baiano, de agosto a outubro de 1897, e testemunhou o massacre de Canudos.
Ao regressar, em 1899, foi transferido para o município de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo,
onde deveria construir uma ponte sobre o rio Pardo. Lá escreveu Os sertões, obra que publicaria em 1902 e que o
consagraria no panorama cultural brasileiro.

Os sertões

Os sertões situa-se entre a literatura, a sociologia e a ciência. Trata-se de uma análise sociocultural que revelou ao
brasileiro um mundo desconhecido, de miséria absoluta. O rigor científico de Euclides da Cunha – de linha cienti-
ficista do final do século XIX, que analisa o ser humano em razão de seu ambiente –, aliado à linguagem vibrante
e pomposa, faz do livro uma fonte preciosa de informação e de expressão. Serviram de roteiro as reportagens que
Euclides da Cunha, como correspondente especial, escrevera no dia a dia da guerra de Canudos.
Armado de cultura técnico-científica, o engenheiro trouxe para Os sertões o vocabulário preciso de seu
ofício, que foi organizado em três partes – a terra, o homem e a luta – com intuito de trazer ao leitor uma visão
completa do que se passava em Canudos.
Na primeira parte, o narrador descreve a terra, palco onde foi representada a trágica peleja entre brasileiros-
-irmãos que se desconheciam e que o destino colocou no papel de antagonistas.
Na segunda parte, retrata o homem brasileiro que se defronta naquele palco: de um lado, o sertanejo resis-
tente; de outro, o militar incumbido de domá-lo. Emerge nesta parte a figura do chefe da revolta, Antônio Conse-
lheiro, o sertanejo que representava todos os combatentes/lutadores, ponto de agregação para o qual convergiam
as características da sociedade sertaneja. Nessa parte, alguns personagens secundários do sertão são trazidos à
cena: Volta-Grande, Pajeú, Pedrão, João Abade, Trança-Pés, Boca-Torta, Chico-Ema, bem como os coronéis Moreira
César e Tamarindo, o general Machado Bitencourt e muitos militares.
Na terceira parte, finalmente, desenrola-se a luta, organizada em seis episódios: Preliminares, Travessia do
comboio, Expedição Moreira César, Quarta expedição, Nova fase da luta e Últimos dias.

112
Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) teve uma infância difícil em um internato, pois perdera a mãe, uma
professora, quando tinha apenas sete anos de idade.
Aos 14, ingressou no curso superior na Escola Politécnica, no Rio de Janeiro, mas precisou abandoná-lo para
cuidar do pai.
Iniciou a vida profissional como escrevente, na Secretaria de Guerra, em 1903. Dois anos mais tarde, in-
gressou no jornalismo, atuando no jornal Correio da Manhã, e na vida política, militando no Partido Operário
Independente.
Em 1909, estreou como escritor com a publicação, em Lisboa, do romance Recordações do escrivão Isaías
Caminha. Em 1911, passou a publicar no Jornal do Comércio, em forma de folhetins o romance Triste fim de Poli-
carpo Quaresma.
Foi acolhido como grande jornalista e participou das lutas esquerdistas que culminaram na greve operária
de 1917.
Dominado pelo álcool, foi internado pela primeira vez em 1914. Em 1919, recolhido novamente ao sana-
tório, escreveu Clara dos Anjos e o relato Cemitério dos vivos.
Legítimo representante do Pré-modernismo, Lima Barreto nasceu no mesmo ano em que se iniciou o Realis-
mo-Naturalismo no Brasil (1881) e morreu no mesmo ano em que se realizou a Semana de Arte Moderna (1922).

Triste fim de Policarpo Quaresma

Publicado em folhetins, em 1911, e depois em livro, em 1915, esse romance relata a vida do major Quaresma, que
trabalha como subsecretário do Arsenal de Guerra. Nacionalista exaltado, julgava-se, pelas meditações patrióticas
que fizera, em condições de lutar por reformas radicais no País.
Estudioso das tradições folclóricas, defensor do modo de vida dos índios tupinambás e admirador das mo-
dinhas populares, Quaresma considera que o povo brasileiro deveria emancipar-se.

113
O major Quaresma é visto como louco e perigoso, depois de mandar um requerimento ao Congresso Na-
cional sugerindo a adoção do tupi, língua indígena, como idioma oficial do Brasil. É suspenso temporariamente
do trabalho, depois de traduzir um ofício para a língua indígena. Declarado louco, é internado em hospício, onde
projeta reformas e mais reformas.
Apenas o amigo fiel Ricardo Coração dos Outros, um violeiro, e a afilhada do major, Olga Coleoni, acreditam
naquilo que Quaresma prega.
Ao sair do hospício, seis meses depois, resolve defender uma reforma na agricultura brasileira. O seu sítio
“Sossego” transforma-se em verdadeiro quartel-general da reforma agrária. Admirador do marechal Floriano Pei-
xoto, Quaresma atrai para si mais ódio.
Quando eclodiu a Revolta Armada, o major apoia Floriano e pretende lutar contra os rebeldes amotinados
na baía de Guanabara em defensa da ordem republicana. Enquanto isso, os amigos militares só pensam em tirar
proveito da revolta. Posteriormente, o próprio Floriano Peixoto chega a desprezar Quaresma. Já doente, quando do
fim da revolta, Quaresma é preso e mandado para a ilha das Cobras, pena imposta por ele ter redigido um protesto
em defesa dos presos. Nesse local, o personagem é injustamente fuzilado.

Monteiro Lobato

Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté, São Paulo. Foi um dos mais influentes escritores
brasileiros. Muito criticado pelo seu conservadorismo, especialmente entre os modernistas, chegando a ser conside-
rado por muitos preconceituoso, além de um crítico voraz da Semana de Arte Moderna, pois julgava o movimento
fruto de teorias meteóricas e passageiras. De alguma maneira, equivocou-se em relação ao seu vaticínio, pois anta-
gonizou aquela que foi a maior e mais importante escola literária e artística dos últimos tempos. Foi um importante
editor, criando, em 1918, a “Lobato Editora”, além de ser o criador da Literatura Infantil no Brasil. Formou-se em
Direito e atuou como promotor público. Antes de seu falecimento, em 1948, em São Paulo, Lobato também teve
uma passagem política.

Negrinha

O conto “Negrinha” apresenta as ações das personagens centradas na figura da pobre órfã adotada e aquilo
que acontece a sua volta. O conto mostra uma realidade em que a palavra negrinha, ao invés de ser um adjetivo,
tornou-se um nome próprio. Narrado em terceira pessoa, o narrador apresenta a personagem órfã desde o seu nas-

114
cimento até a sua morte. Dona Inácia é patroa de Negrinha, caracterizada pela igreja como “excelente senhora”,
uma vez que era uma mulher de muitos dotes, e que contribuía com sua riqueza regularmente com a Igreja. Daí,
a ironia na fala do reverendo dizendo que Dona Inácia era uma: “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da
religião e da moral”. Para Dona Inácia, a Negrinha era como se fosse um animal doméstico, sem direitos, apenas
sobrevivendo. Apesar disso, tudo que Dona Inácia fazia na sociedade era para construir a imagem de uma boa
senhora, mas tratava de maneira cruel a Negrinha em sua casa. Qualquer coisa era motivo para que Negrinha
apanhasse, recebesse xingamentos etc.
Um dos exemplos que marca o sadismo e crueldade da patroa é a cena em que ela pede para a Negrinha
abrir a boca e engolir um ovo recém-cozido.
Da metade para o final do conto surgem as duas sobrinhas de Dona Inácia para passar as férias de dezem-
bro. O que a princípio parecia uma coisa boa, pois pela primeira vez Negrinha pode brincar, logo se propõe uma
realidade cruel, em que fica claro que ela é adotada e, mais do que isso, sempre colocada numa situação como se
fosse um bichinho, um animal de estimação mesmo.
Quando as meninas vão embora, dado o final das férias, a vida da pobre Negrinha volta ao normal, com
os achaques da “Santa Inácia”, como ironicamente descrevia Lobato. Fato que é preponderante na narrativa, uma
vez que diante da retomada de sua solidão existencial e de sua condição zoomórfica frente ao tratamento de sua
dona, pouco tempo depois que as meninas brancas vão embora, ela morre. Seu falecimento deixa nítido que o fato
de ela adoecer, na verdade, é um grito contra o mundo, um desfile de seu desgosto. Fraca e em estado de delírio,
ela fica lembrando das brincadeiras que teve com as garotas brancas, brinquedo e bonecas.

Trecho

— Traga um ovo.
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da
tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a
um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:
— Venha cá!
Negrinha aproximou-se.
— Abra a boca!
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água
“pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até
que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a
perceber aquilo.

115
Semana 2

Competência 4
Habilidade 13

BREVIÁRIO

MODERNISMO – PRIMEIRA GERAÇÃO

Contexto histórico
Na década de 1920, com a imigração e a industrialização, as cidades brasileiras passaram a crescer e antigos há-
bitos começaram a se alterar: o consumismo, importado da Europa e dos Estados Unidos, bem como o surgimento
de novos produtos culturais (cinema e rádio) canalizavam o gosto da classe média. Nessa época, o Brasil possuía
uma população de 37 milhões de habitantes, dos quais 70% viviam na zona rural. As cidades do Rio de Janeiro
(capital federal na época) e São Paulo (metrópole do café) passavam por grandes reformas urbanas com abertura
de avenidas, cinemas, teatros, confeitarias e grandes edifícios. O ano de 1922, quando se realizou a Semana de
Arte Moderna, também foi marcado pelo Centenário da Independência, pela fundação do Partido Comunista do
Brasil e pela Revolução dos Tenentes, que explodiu em julho, com a sublevação do Clube Militar e a tomada do
Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. O forte foi bombardeado por navios e 18 revoltosos enfrentaram três mil
soldados legalistas.

A Semana de Arte Moderna

Do mesmo modo que as cidades passavam por reformas, a arte brasileira se remodelava, pelo repúdio ao acade-
micismo da pintura tradicional. Já em 1913, Lasar Segall (1891-1957) capitaneou uma grande exposição de arte
moderna, que provocou a mentalidade conservadora de São Paulo.

Aldeia russa. Óleo sobre tela, 62,5 x 80,5 cm. 1912. Lasar Segall.

117
Em 1917, foi a vez de Anita Malfatti (1889-1964), que organizou a exposição de 53 trabalhos, entre pintu-
ras, aquarelas, caricaturas e gravuras, provocando violenta repercussão pela imprensa – o escritor Monteiro Lobato
(1882-1942) publicou contra ela o artigo denominado “Paranoia ou mistificação”, em 1917.
A escultura brasileira também se desenvolveu nessa década, com a volta de Victor Brecheret, da Itália,
em 1920.

Ritmo [torso]. 1915–1916. Anita Malfatti. Di Cavalcanti

Em 1922, realizou-se a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, cujo escândalo causado foi uma situação
simétrica à insurreição dos tenentes. Entre os principais participantes do grupo que organizou a Semana estava
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Realizada na cidade de São Paulo, no período de 11 a 17 de fevereiro de
1922, a Semana de Arte Moderna desencadeou o início do Modernismo brasileiro e teve como participantes os es-
critores Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme
de Almeida, Sérgio Milliet e outros. Representaram as artes plásticas os artistas Anita Malfati, John Graz, Vicente
de Rego Monteiro, Di Cavalcante, Victor Brecheret, Yan de Almeida Prado, entre outros. Os nomes relacionados à
música foram Villa-Lobos, Paulina D’Ambrósio, Guiomar Novaes e Maria Emma.
Foram três noites de um festival eclético, híbrido, quando diferentes tendências da modernidade artística co-
existiram – desde os mais identificados com a vanguarda surrealista até os herdeiros do Decadentismo-Simbolismo
europeu: houve defensores do Futurismo e do Cubismo. Mas o que se evidenciou foi o espírito moderno, cujo
maior entusiasta foi Graça Aranha, que havia aderido aos jovens artistas de São Paulo. A conferência de abertura
da Semana foi de sua autoria: a emoção estética na arte moderna. Nela, criticou duramente a Academia Brasileira
de Letras pelo seu passadismo e por seu conservadorismo, causando reações de vaias e protestos.
A grande noite da Semana foi a segunda, que ocorreu no dia 15 de fevereiro. Menotti Del Picchia discursou
a respeito de arte e estética, ilustrando sua exposição com textos de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Plínio
Salgado. No entanto, foi Ronald de Carvalho quem causou o maior escândalo, ao declamar o poema “Os sapos”,
de Manuel Bandeira, que não pôde estar presente. O público respondia ao refrão de seus versos: “Foi! Não foi! Foi!
Não foi!”. Esse poema era um ataque aos parnasianos.
Na noite do dia 17 de fevereiro, totalmente dedicada à música, o compositor Heitor Villa-Lobos, de casaca
e chinelos, também causou incidentes na plateia. Entretanto, essa não era uma atitude futurista, mas sim um pro-
blema no pé do músico.
Alguns jornais chegaram a noticiar que as agitações da Semana de Arte Moderna foram provocadas por
seus realizadores. Se não se pode negar totalmente tal assertiva, também não se pode afirmá-la. Nesse sentido, a
Semana cumpriu o papel proposto de “sacudir as águas estagnadas da arte brasileira”.

118
Após a Semana

O balanço da Semana de Arte Moderna foi positivo. Seus desdobramentos iniciaram-se no próprio ano de 1922.
O projeto mais arrojado foi o lançamento do livro de poemas Pauliceia desvairada, de Mário de Andrade, em que
expõe todos os seus projetos de vanguarda pela primeira vez: a poesia urbana, sintética, antirromântica, frag-
mentária. Com isso, ele quis retratar a São Paulo cosmopolita, egoísta, burguesa. Na abertura do livro, o Prefácio
interessantíssimo pode ser classificado como um verdadeiro manifesto irônico sobre a estética modernista. Leia
alguns trechos:
Leitor: Está fundado o Desvairismo [...]
Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de
Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal
foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me
pesaria entrar na obscuridade. Pensei que se discutiram minhas ideias (que nem são minhas): discutiram minhas
intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizaram meu silêncio como esta grita. Andarei a vida de braços no
ar, como o “indiferente” de Watteau.
A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer empecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Li-
rismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisá-lo das pedras e cercas de
arame do caminho. Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas,
de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos. Belo da arte: arbitrário, convencional,
transitório – questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural – tem a eternidade que a natureza
tiver. Arte não consegue reproduzir a natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora consciente (Rafael
das Madonas, Rodin do Balzac, Beethoven da Pastoral, Machado de Assis de Brás Cubas), ora inconscientemente
(a grande maioria), foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico, tanto mais subjetivo quanto
mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem.
Pouco me importa.
E está acabada a escola poética “Desvairismo”
Eu não quero discípulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para a vaidade de um só
(Mário de Andrade. Pauliceia desvairada. 1922.)

Jovens artistas conseguiram bons espaços ainda em 1922, dando sequência a seus trabalhos. Oswald de
Andrade lançou no mesmo ano o romance Os condenados, cuja narrativa fragmentária assimilava-se a um “mos-
trar” cinematográfico. Sedimentou-se a carreira do maestro Heitor Villa-Lobos, após sua mostra na Semana. Outros
participantes divulgaram-na por todo o País e mesmo fora: Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio
Milliet.

Características
Poemas-piada e irreverência

A descontração foi uma grande marca da literatura que se fez no primeiro tempo modernista. Muita ironia, sarcas-
mo e irreverência caracterizam os poemas-piada, que satirizavam costumes passadistas e velhas escolas literárias.
Ao lado disso, a enumeração caótica de ideais, a simultaneidade de cenas (trechos inteiros sem pontuação, versos
descontínuos, elípticos), bem como a subversão das regras gramaticais.
Tentava-se, desse modo, buscar a espontaneidade do discurso e levar em conta a linguagem dita inculta,
com “erros de português” estrategicamente cometidos. Foi o caso de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e
Manuel Bandeira, que pretendiam “arejar” a literatura brasileira de tantas roupagens aristocráticas que ela vestia.

119
Erro de Português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de Andrade

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mio
Para pior pio
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Oswald de Andrade

Paródia e literatura popular

A paródia serviu de base para a criatividade linguística e foi recurso para os escritores incorporarem criticamente
o passado, dando início ao processo artístico modernista. O poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, por
exemplo, foi parodiado por Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
[...]
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Oswald de Andrade

120
Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia


onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
[...]
Murilo Mendes

Verso livre e fala popular

Na poesia, a aproximação da fala popular foi possível pela utilização do verso livre. Poetas importantes como Ma-
nuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade trouxeram a linguagem comum ou coloquial das cidades.
O romance e o conto desenvolvidos no primeiro tempo modernista procuraram, na medida do possível,
reproduzir a linguagem do povo – como também trabalhar temas populares.
A utilização de formas da oralidade foi a marca dessa literatura: a fala italianada dos personagens de Alcân-
tara Machado, os neologismos dos narradores de Oswald de Andrade, a língua brasileira de Mário de Andrade etc.

Evocação do Recife
[...]
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da união onde eu brincava de chicote-queimado
[...]
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
Mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
[...]
Manuel Bandeira

121
Mário de Andrade

Mário, por Tarsila.

O paulistano Mário de Andrade (1893-1945) não foi um estudante exemplar. Levava a escola com notas baixas,
reprovações e recriminações. Mas a música foi o seu ponto forte, Em 1911, matriculado no Conservatório Dramá-
tico e Musical de São Paulo, passava quase nove horas por dia estudando. E, no resto do tempo, lia tudo o que lhe
caísse às mãos, logo adquirindo fama de erudito, apesar de os estudos regulares irem mal.

Cédula de 500 mil cruzeiros homenageando Mário de Andrade (140 x 65 mm).

Em 1917, mesmo ano da morte de seu pai, concluiu o curso de piano no Conservatório. Passou a sobreviver
das inúmeras aulas particulares de piano que ministrava. E, frequentador assíduo das rodas literárias, no chá das
cinco na Confeitaria Vienense, conheceu Oswald de Andrade e Anita Malfatti, de quem se tornaria amigo insepa-
rável. Também desse ano é o seu livro de estreia literária: Há uma gota de sangue em cada poema. Mas é com
Pauliceia desvairada que vem o sucesso, tornando-se o livro de poemas uma espécie de bandeira do movimento
modernista, pelo liberalismo formal da obra rompida com qualquer esquema tradicional: versos livres, métrica
informal, subversão total de valores anteriormente apregoados pelos poetas perfeccionistas, como os parnasianos.
É de Pauliceia desvairada este poema. Nele, a associação livre de ideias mais os versos aparentemente desconexos
contribuem para a imagem do “desvairismo” e da “polifonia” que o poeta quer transmitir:

Inspiração

São Paulo! comoção de minha vida...


Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Trajes de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!
Mário de Andrade

122
Com O losango cáqui e Lira paulistana, Mário de Andrade obedece ao fluxo do inconsciente, fazendo asso-
ciação livre sobre temas do cotidiano.
A obra ficcional de Mário de Andrade, por sua vez, revela um escritor preocupado com técnicas narrativas
vanguardistas, além da incorporação das expressões autenticamente brasileiras – o que imprime ao conjunto uma
originalidade sem precedentes.
Em Amar, verbo intransitivo, descreve a vida burguesa de São Paulo, “desmascarando seus ridículos e seus
preconceitos”, como ensina João Luiz Lafetá.
Mas é com Macunaíma, o herói sem nenhum caráter que Mário de Andrade produz sua obra-prima em ma-
téria ficcional. Uma combinatória das lendas indígenas transpostas para a área metropolitana (São Paulo), mais a
justaposição de trechos em colagem, anedotas populares, incorporação de mitos, fazem dessa obra uma rapsódia,
aludindo a esse processo de composição (justaposição) semelhante à forma musical de mesmo nome. No livro
Remate de males, publicado em 1930, Mário de Andrade reúne diversas composições em vários estilos, escritas
durante os anos 1920, desde o vanguardismo até a lírica equilibrada e contida, passando pelo nacionalismo. Este
poema é extraído dessa obra e alude a essa diversidade de linguagem e modos de ser.

Eu sou trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,


As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Mário de Andrade

Macunaíma

Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, romance de 1928, foi batizado por Mário de Andrade como rapsódia, um
tipo de composição feita a partir dos cantos tradicionais ou populares.
Fruto de longos estudos de Mário acerca da mitologia indígena e do folclore sul-americano, é uma narrativa
de estrutura inovadora. Logo de início, são apresentados o herói, Macunaíma, sua mãe e seus irmãos, Maanape e
Jiquê, índios tapanhumas, que vivem às margens do rio Uraricoera. Essa situação inicial é rompida com a morte da
mãe. Os irmãos partem da terra natal em busca de aventuras.
Macunaíma encontra Ci, a Mãe do Mato, rainha das icamiabas, tribo de amazonas. Depois de dominá-la,
faz dela sua mulher e torna-se imperador do Mato-Virgem. Ci dá à luz um filho, que morre. Ela também falece,
em seguida, transformando-se em estrela. Antes de morrer, ela dá um amuleto a Macunaíma: é a muiraquitã, uma
pedra verde em forma de sáurio.
Macunaíma perde o amuleto, que vai parar nas mãos de Venceslau Pietro Pietra, um mascate peruano,
conhecido como o Gigante Piaimã, comedor de gente. O gigante mora em São Paulo, a cidade macota (a maior)
do igarapé Tietê.

123
Macunaíma e seus irmãos descem o rio Araguaia em direção à cidade macota, a fim de recuperar o amuleto.
A maior parte da narrativa se passa em São Paulo e consiste nos diversos embates entre Macunaíma e o
gigante. Muitos aspectos da vida paulistana são aí satirizados. Inicia-se, então, seu antagonismo com Vei, a deusa-
-sol, que oferecerá ao herói uma de suas três filhas em casamento.
Entretanto, Macunaíma deixa-se seduzir por uma varina (vendedora ambulante) portuguesa e começa a
namorá-la, perdendo a possibilidade de se casar com uma das filhas de Vei.
Macunaíma consegue matar Piaimã e recuperar a muiraquitã, partindo de volta ao Uraricoera.
Por fim, Vei se vinga. Ela manda um forte calor, que estimula a sensualidade do herói e o lança nos braços
de uma uiara (mãe-d’ água) traiçoeira, que o mutila e o faz perder para sempre a muiraquitã.
No final, quando o herói já não “acha graça nesta terra”, foi para o Céu, ser a constelação Ursa Maior.

O batizado de Macunaíma. Óleo sobre tela, 132,5 x 250 cm. 1956. Tarsila do Amaral.

Capítulo I

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.
Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhu-
mas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam
a falar exclamava:
– Ai! que preguiça!...
[...]

Oswald de Andrade

José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954) viveu em Paris, de 1912 a 1917, onde foi influenciado pelas ideias
futuristas.
A participação ativa dele na Semana de Arte Moderna de 1922 é seguida de uma segunda viagem à Europa.
De personalidade polêmica, Oswald de Andrade foi responsável por vários manifestos, entre eles o “Mani-

124
festo antropófago” e o “Manifesto pau-brasil” (1924). Foi casado com a pintora Tarsila do Amaral e, posteriormen-
te, com Patrícia Galvão.
Pondo fim aos modelos poéticos importados, cuja qualidade estava na grandiloquência e na seriedade,
Oswald de Andrade partiu para a paródia, a linguagem coloquial, o humor – tendo como eixo a temática brasileira.
É realmente sem fórmulas que se deve encarar a poesia oswaldiana – já que ele mesmo apontou o caminho:
ver as coisas com os olhos livres. No primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, segundo Haroldo de
Campos, “o Poeta senta a poesia no banco da escola primária para restituir-se e restituir-lhe a pureza da descober-
ta infantil”, que se percebe, por exemplo, na composição “Infância” transcrita a seguir:

O camisolão
O jarro
O passarinho
O oceano
A visita na asa que a gente sentava no sofá.

Em 1924, Oswald de Andrade, sempre sob a égide de renovação, publicou Memórias sentimentais de João
Miramar, romance visto por muitos como a primeira grande realização da prosa modernista. A montagem fragmen-
tária, cujo único eixo é o personagem João Miramar, inaugurava o que ficou conhecido como a “estética do frag-
mentário”, ou seja, uma técnica de montagem de texto em blocos, sem sequência do discurso, sugerindo, portanto,
também uma realidade não linear. Rompia, pois, com os esquemas mais tradicionais da narrativa, impossibilitando
uma leitura linear da história.
A esse respeito, comenta Jorge Schwartz: “Uma série de incentivos traços de estilo combinada a um agudo
senso crítico da sociedade da época fazem desse texto uma grande obra de vanguarda”.
No dia 1º de abril de 1930, casou-se com Patricia Galvão (Pagu), numa cerimônia pouco convencional. O
acontecimento foi simbólico, realizado no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Mais tarde, retrataram-se na
igreja. Escreve “A casa e a língua”, em defesa da arquitetura de Warchavchik. Nasce seu filho Rudá Poronominare
Galvão de Andrade, com a escritora Patrícia Galvão (Pagu). É preso pela polícia do Rio de Janeiro por ameaçar o
antigo amigo, poeta Olegário Mariano.
O “Manifesto antropófago” foi publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, em maio de
1928. Trazia o desenho de Tarsila do Amaral conhecido como “Abaporu”, que seria pintado em tela sobre óleo, em
1929.
O nome da tela em ‘tupi-guarani’ tem o mesmo significado de “antropófago”, ou seja, “que come carne
humana”.
A ideia do manifesto era essa: deglutir a cultura vinda de fora e desenvolvê-la com a cor brasileira. Sendo
a antropofagia um relevante aspecto da cultura histórica brasileira, no século XVI colonial, esse costume de ca-
nibalismo consistia em devorar somente os inimigos mais inteligentes, os melhores guerreiros, com o objetivo de
aproveitar suas virtudes.
Os modernistas criticam a absorção de uma cultura europeia sem digeri-la, como foi o caso de movimentos
culturais do passado. A proposta do manifesto era conseguir essa digestão.

Trecho do Manifesto antropófago

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.


Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos.
De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma
mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
125
Manuel Bandeira

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968) foi educado para a arquitetura, tanto é que, em 1903, ma-
triculou-se na Escola Politécnica de São Paulo. Mas, apanhado pela tuberculose, abandonou os estudos para tentar
a cura da doença. Por isso, a participação de Manuel Bandeira na Semana de Arte Moderna foi indireta; como já
explicado, ocorreu por meio do poema “Os sapos”, declamado por Ronald de Carvalho em meio a vaias.
Em 1940, Manuel Bandeira foi convidado para concorrer à Academia Brasileira de Letras. Eleito, hesitou,
mas tomou posse. A partir de 1943, lecionou literatura hispano-americana na Faculdade Nacional de Filosofia. Fez
várias traduções, escreveu para jornal e rádio. Produziu intensamente. Ao completar 80 anos, em 1966, publicou
Estrela da vida inteira.
Poeta do coloquial e do prosaico, seu trabalho com a linguagem, no sentido de buscar sempre o estritamen-
te necessário para a comunicação, tem como resultado uma poesia que caminha para o despojamento, desde sua
estreia em 1917, com Cinza das horas.
Em Carnaval, explica Sérgio Buarque de Holanda: “sua voz faz-se satirizante com Os sapos, poema que seria
uma espécie de hino nacional dos modernistas”. O prosaísmo de Bandeira começa a emergir com mais frequência
em Ritmo dissoluto (1924). Mas é com Libertinagem (1930) que se pode ver a consolidação de sua poesia com
a ideia de liberdade estética. Libertinagem é composta de poemas prosaicos, com temática existencial e grande
exploração de cenas e imagens brasileiras.
Bandeira rompeu tradições poéticas, introduzindo o coloquialismo na poesia, tornando-se arauto do verso
livre, alçando o cotidiano ao plano estético, mas não renegou heranças valiosas, como a dos românticos em sua
extensa obra poética.
Poética, poema publicado em Libertinagem, funciona como um verdadeiro manifesto da estética libertada.

Poética

Estou farto do lirismo comedido


Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de
[apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um
[vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político

126
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com cem
[modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(Manuel Bandeira)

MODERNISMO – SEGUNDA GERAÇÃO

Contexto histórico
Compreendida, aproximadamente, entre os anos 1930 e 1945, essa fase reflete um momento histórico conturbado
no plano internacional: o avanço do nazifascismo e da Segunda Guerra Mundial.
No plano interno, Getúlio Vargas consolida-se como ditador, decretando o Estado Novo, em 1937.
A produção literária, rica em prosa e em poesia, incorpora preocupações relativas a problemas sociais bra-
sileiros e à angústia de sobreviver em um momento limite da humanidade.
O último ano da década de 1920 foi marcado por um evento crítico na economia mundial conhecido como
crack na bolsa de Nova Iork. As quedas dos índices econômicos repercutiram em todos os países ocidentais, em 1929.
O desastre financeiro estadunidense provocou recessão e miséria, tomando o lugar do crescimento que,
mesmo desorganizado, até então havia predominado. Teve início a “Grande Depressão”, que atingiu todo o mundo
capitalista. Um ano depois, a Revolução de 1930 – ditadura de Getúlio Vargas (1882-1954) – encontrou o Brasil
economicamente desorganizado e o pânico foi instalado entre os produtores de café.
A queda dos preços das matérias-primas, dos produtos agrícolas e das exportações europeias aos Estados Uni-
dos provocou a quebra de numerosos bancos e o fechamento de empresas na Europa e na América. As exportações
de café brasileiro caíram drasticamente, uma vez que os estadunidenses eram os maiores compradores do produto.
A Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente ampla dos comunistas contra o fascismo no Brasil, criada
por Luís Carlos Prestes, em 1935, provocou comoção social no País. O governo de Vargas, acusado de fascismo e
apoiado pelo Exército, esmagou o que se conheceu por Revolta Vermelha.
O Estado Novo – ditadura de Vargas – promulgou uma nova Constituição da República, desta vez muito
mais dura e intransigente. A polícia varguista e seu departamento de censura (DIP) passaram a “examinar” toda
a produção artística.
O início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, colocou a máquina nazista em ação. O Brasil posicionou-se,
por força da inclinação fascista de Getúlio, ao lado dos italianos e alemães. Só mais tarde, é que abandonaria o
Eixo e apoiaria os aliados.
Nessa segunda fase do Modernismo, a literatura tornou-se mais engajada e politizada, reproduzindo, nos
anos 1930 a 1945, a difícil realidade gerada pela crise mundial e pela ditadura que se instalou no Brasil a partir de
outubro de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
Cada autor dessa geração modernista passou a refletir sobre essa época de agonia à sua maneira. Na prosa,
uma literatura regionalista, que realçou a região focalizando problemas sociais, apareceu fortemente ao lado de
uma literatura urbana, muito intimista, em que a narrativa se construiu por registro de atmosferas.

127
A poesia enveredou para a crítica social e para o entendimento das relações conturbadas do homem com o
universo. A poesia produzida nos anos 1930, mais madura e mais comprometida socialmente, é a expressão de um
momento difícil e pelo qual o Brasil passava: a ditadura de Getúlio Vargas.
Os poetas da geração de 1930 tiveram grande preocupação social. A necessidade de compreender o mundo
transformado pela guerra e pelas crises sucessivas fez com que eles procurassem uma interpretação da realidade,
tentando entender o dinamismo das relações dos homens com o universo que habitam. Assim, por exemplo, a
poesia de Drummond e de Murilo Mendes analisa o destino do ser humano como um todo. Essa visão abrangente
do homem também aparece na produção de Cecília Meireles e de Vinícius de Moraes.

POESIA
Características da poesia da geração de 1930
A poesia dos anos 1930 colhe os frutos da derrubada de mitos e padrões preestabelecidos instaurados em 1922.
Os poemas sem rima ou sem métrica, que tratam de temas cotidianos, aproximam-se da prosa. O lirismo
livremente atrasado, a descrição de momentos e acontecimentos simultâneos, a fusão de elementos diversos pas-
sam a ter lugar na produção poética.
Incorporações das conquistas formais anteriores: as propostas de liberdade formal da geração anterior
foram incorporadas: o verso livre, a liberdade de pontuação, a superação da linguagem linear. A liberdade
formal também admite a opção até mesmo pelo formalismo. Coexistem poemas quase prosaicos com outros
de forma fixa ou com rimas.
Poesia de engajamento social: surge uma poesia de denúncia e de combate, em face dos acontecimentos
da humanidade, que caminha para o confronto e a guerra. A preocupação com o mundo transformado, descon-
certante e com o ser humano como um todo marcam forte presença nessa produção de engajamento social.
Poesia intimista: ao lado da poesia social, é possível encontrar também uma poesia intimista, voltada para a
espiritualidade e para a reflexão amorosa, como é o caso de Vinícius de Moraes e Cecília Meireles.

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), farmacêutico que não exerceu a profissão, foi funcionário público
durante toda a vida, vivendo no Rio de Janeiro e se dedicando à poesia e à crônica. Considerado o maior repre-
sentante brasileiro da poesia do século XX, Drummond encabeça a lista de poetas dos anos 1930, com a linha
poética que vai do poema-piada do primeiro Modernismo à década de 1980, passando por diversos momentos,
compreendendo várias fases, notadamente à época da Segunda Guerra Mundial (década de 1940), quando o seu
momento lírico é excepcional.

128
Em 1928, com a publicação do poema “No meio do caminho”, na Revista de Antropofagia, o discreto poeta
mineiro provocou um escândalo. Mas a obra de estreia é Alguma poesia, de 1930. Desse tempo até sua morte, a
vasta produção poética compreendeu muitos títulos, entre os quais: Brejo das Almas; Sentimento do mundo; A rosa
do povo; Claro enigma; Viola de bolso; Fazendeiro do ar; A vida passada a limpo; Lição de coisas; Obra completa;
Versiprosa; José & outros; Bolero & A falta que ama; Menino antigo; As impurezas do branco; Amor, amores; A vi-
sita; Discurso de primavera & Algumas sombras; Esquecer para lembrar; A paixão medida; Corpo; Amar se aprende
amando; Amor, sinal estranho; Poesia errante; O amor natural.
Nos anos 1980, sua obra seria descoberta por outros artistas e outras linguagens. Argumentos de filmes são
baseados em poemas seus, a exemplo de “O padre e a moça”, de Joaquim Pedro de Andrade. Versos seus foram
temas de escola de samba, como o Sonho de um sonho, vencedor do concurso de sambas-enredo do carnaval
carioca de 1980. Sua produção em prosa também se destaca. Entre outros títulos podem ser citadas as crônicas de
Confissões de Minas e os Contos de aprendiz.
Em Drummond, podem-se distinguir várias linhas poéticas.
1. A poesia saudosista da família e da terra natal, refletida em vários poemas, como se vê no exemplo ex-
traído de Algumas poesias, seu primeiro livro.

Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

2. A poesia intimista do “eu retorcido”, que aponta no poeta uma percepção da realidade da forma autên-
tica e cruel, como neste poema, extraído de Sentimento do mundo.

Os ombros suportam o mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás,
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
[...]
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

129
3. A poesia de participação social encontrada especialmente na coletânea Rosa do povo.
Nosso tempo
Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens perdem carne. Fogo. Sapato.
As leis não bastam,
Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
[...]
Este é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
Obscenos gestos avulsos.

4. A poesia metafísica, com reflexões sobre a essencialidade humana, na tentativa de compreender profun-
damente a realidade. O exemplo extraído de Claro enigma é ilustrativo.
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos virados, amar?
[...]
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
[...]

5. O poema-objeto, sintético e telegráfico, à moda dos primeiros futuristas. A enumeração caótica e a


extrema economia de palavras predominam nessa linha, que pode ser exemplificada com o trecho extraído
de Lição de coisas.

Isso é aquilo
O fácil o fóssil
o míssil o físsil
a arte o enfarte
o ocre o canopo
a urna o farniente
a foice o fascículo
a lex o judex
o maiô o avô
a ave o mocotó
o só o sambaqui[...]

130
Murilo Mendes

O mineiro Murilo Mendes (1901-1975) inicia seus estudos na terra natal, vai estudar no Internato do Colégio Sale-
siano em Niterói, RJ. Em 1920, muda-se para o Rio de Janeiro, onde participa do Movimento Antropofágico. Estreia
na literatura escrevendo para duas revistas do modernismo, Terra Roxa e Outras Terras e Antropofagia. Permaneceu
no Rio até 1953 como funcionário público: inicialmente no Ministério da Fazenda, depois no Banco Mercantil e, a
seguir, em cartório. Em 1930, lança seu primeiro livro Poemas. A poesia da geração de 30 teve grande preocupação
social, analisa o destino do ser humano como um todo. Em 1932, escreve o poema História do Brasil. Em 1934,
desenvolve temas religiosos e, com Jorge de Lima, escreve Tempos e eternidade, publicado em 1935. Emprega-
-se como telegrafista e depois como auxiliar de guarda-livros. Em 1936, assume o cargo de inspetor federal de
ensino. Em 1938, escreve A poesia em pânico. Em 1944, a prosa O discípulo de Emaús. Trabalhou no Ministério da
Fazenda e no Cartório da Quarta Vara de Família. Casa-se com Maria da Saudade de Cortesão. O casal não teve
filhos. Em 1948, escreve Janela do caos. Em 1953, foi convidado para lecionar Literatura Brasileira, em Lisboa. De
1953 a 1955, percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira. Em 1957,
estabeleceu-se em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira.
Murilo Monteiro Mendes faleceu em Estoril, Portugal, no dia 13 de agosto de 1975. Sensível à moderni-
dade, Murilo Mendes renovou incessantemente sua arte de compor, superando formas tradicionais. O cotidiano é
constante em toda a sua obra, seja desarticulando-o e recriando-o, seja no plano social como em “Tempo e eterni-
dade”. Com O visionário passa a romper com esses esquemas. O poema “Choro do poeta atual”, presente nessa
obra, pode exemplificar essa “novidade da imagem”:

Deram-me um corpo, só um!


Para suportar calado
Tantas almas desunidas
Que esbarram umas nas outras,
De tantas idades diversas;
Uma nasceu muito antes
De eu aparecer no mundo,
Outra nasceu com este corpo,
Outra está nascendo agora,
[...]

Nos seus livros principais, A poesia em pânico, As metamorfoses e Poesia liberdade, Murilo Mendes objetiva
sua perplexidade em face de um mundo desconjuntado.

131
Cecília Meireles

Desde cedo, Cecília Meireles (1901-1964) voltou-se para a leitura: essa paixão encaminhou-a para o magistério.
Começou a lecionar em 1919, na Escola Normal. Poetisa desde a década de 1920, o legado de Cecília Meireles é
extenso, prosseguindo até a década de 1960. Cecília esteve em vários países, divulgando tanto a literatura quanto
o folclore brasileiro. Lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e teve intensa atividade jornalística.
A poesia de Cecília Meireles deixou transparecer, desde 1919, quando estreou com a obra Espectros, a
predominância do misticismo: ou por meio de uma procura de Deus, ou por meio da nostalgia do além.
Dentre seus livros destacam-se: Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; Doze noturnos de
Holanda; Romanceiro da Inconfidência; Metal rosicler; Solombra. A obra Ou isto ou aquilo tornou-se um clássico da
poesia infantil. A delicadeza no tratamento temático é aspecto notável em Viagem, como se pode detectar neste
trecho do poema:
Serenata
Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de fonte fria.
O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva
[...]
Já se comentou que Cecília Meireles domina muito bem os elementos etéreos e que sua poesia é povoada
de fantasia, numa diluição (proposital) de formas, sons e cores. Isso se confirma com “Vaga música”, cujo título
sugere a indefinição, a imprecisão. Em “Chorinho”, o texto é simples, musical, redondo.

Chorinho de clarineta,
de clarineta de prata,
na úmida noite de lua.
Desce o rio de água preta.
E a perdida serenata
na água trêmula flutua.
Palavra desnecessária;
Um leve sopro revela
Tudo que é medo e ternura
[...]
Ai, choro de clarineta!
Ai, clarineta de prata!
Ai, noite úmida de lua...

132
Em “Retrato natural”, acentua-se a tendência para os versos populares – notadamente as redondilhas –, o
que a situa entre os consagrados poetas tradicionais lusitanos, como no poema “Cantata matinal”, transcrito a seguir:

Veio a luz alvorada


e brilhou nas palmeiras
que eram pura esmeralda.
Vão-se nuvens de aurora,
e só ficam as palhas
e os espinhos das rosas!
“Doze noturnos de Holanda”, “Canções” e “Metal rosicler” atestam uma poesia que guarda a mesma essên-
cia, embora as obras diferenciem-se entre si: conjeturas e tentativas de compreensão sobre a difícil tarefa de existir.

Essa predominância ‘em Cecília Meireles’ pode ser detectada por meio de seus “instantâneos”, que captam
ora uma cena do cotidiano ou uma paisagem, ora a formosura de uma flor ou a majestade da natureza. Tudo no
afã de mostrar a transitoriedade da vida ou os momentos tensos da percepção de que tudo é breve e efêmero.
Os livros Viagem, publicado em 1936, e Vaga música, publicado em 1942, apresentam poemas com focos
nos elementos mais simples da existência, os quais adquirem significação simbólica.
A partir de Viagem, e depois em Vaga música, Cecília foi alcunhada de “poetisa da fugacidade, da precarie-
dade e do provisório”, aspectos que marcam a noção de fluidez em vários dos elementos da natureza que surgem
ao longo de sua poesia.
Mesmo depois de se afastar do Neossimbolismo do início de sua carreira, seus poemas ainda se relacionam
com fantasia, sonhos, solidão, padecimento e melancolia.
“Recordação” e “Modinha” são poemas extraídos de Vaga música. Poesia intimista, espiritualista, está
ligada à música vaga pelo tipo de indefinição que a caracteriza. Trata-se de um lirismo que habita os domínios da
fantasia leve e diluída do Simbolismo.

Recordação

Agora, o cheiro áspero das flores


leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.
Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.
As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exalação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.
E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.
Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouro de ônix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha,
– e incompreensíveis, incompreensíveis.

133
Modinha

Tuas palavras antigas,


deixei-as todas, deixei-as,
junto com as minhas cantigas,
desenhadas nas areias.

Tantos sóis e tantas luas


brilham sobre essas linhas,
das cantigas – que eram tuas –
das palavras – que eram minhas!
O mar, de língua sonora,
sabe o presente e o passado
Canta o que é meu, vai-se embora:
que o resto é pouco e apagado

PROSA
Jorge amado
Foi na cidade de Itabuna, na Bahia, que nasceu o escritor Jorge Amado de Faria, em 1912. Mas, com um ano de
idade, mudou-se para Ilhéus. Em 1931, estreou com O país do carnaval. Formou-se em Direito pela Faculdade Na-
cional, no Rio de Janeiro, em 1935. Em seguida, em 1936 e 1937, foi perseguido e preso como comunista. Exilou-se
na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942; já em 1945, foi eleito deputado federal para a Assembleia Nacional
Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro. Devido ao seu partido ser considerado ilegal, perdeu o mandato no
ano seguinte. Jorge Amado criou a lei que garante o direito à liberdade de culto religioso. No seu segundo casa-
mento, casou-se com Zélia Gattai, que foi sua companheira até o fim da vida.
Quando se exilou na França, entre 1947 e 1950, foi expulso. Entre 1950 e 1952, viveu na Tchecoslováquia.
Em 1955, deixou a militância política, mas manteve-se no PCB. Passou a dedicar-se exclusivamente à literatura. Em
1961, ocupou a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. No dia 6 de agosto de 2001, Jorge Amado faleceu
em Salvador.

Capitães da areia

Pela leitura de Capitães da areia, pode-se perceber porque a obra faz parte da segunda fase do Modernismo, no
chamado romance regionalista do Nordeste: a visão crítica dos meninos de rua de Salvador abandonados pelas
autoridades, vista no romance como opressoras e violentas. Essa força do social fez de Jorge Amado um regiona-
lista nordestino e não meramente pelas descrições de cenário, tão comuns no romance mencionado, que parecem
transformar a vida dura dos meninos em poesia popular.

134
Os costumes baianos estão presentes em grande parte do livro, principalmente no que se refere às crenças
religiosas de origem africana. O candomblé, com sua força estranha na fé das populações mais pobres do País, está
presente em vários momentos, marcando o regionalismo baiano do autor, que divulga através de seus romances a
cultura da Bahia e a sua cultura, já que também foi pai-de-santo.

Temas e principais conflitos

Apresenta-se fortemente engajado na denúncia social que marcou a segunda fase moderna. Essa obra é carac-
terizada pela crítica como um depoimento lírico. Assim como certos episódios marcantes do romance, o cenário é
descrito na maneira lírica, cuja intenção evidente é envolver o leitor. Todos esses pequenos heróis populares não
revelam traumas causados pela sociedade e o mundo que os cerca. Sem Pernas odeia tudo e todos, pois desconhe-
ce o carinho materno. Tem final trágico e é consequência de sua maneira pessimista de enxergar o mundo que o
cerca e a falta do futuro feliz.
Já Pirulito acha na religião não apenas uma crença, mas uma maneira de fugir de seu destino trágico através
de sua fé, que é um subterfúgio para o sofrimento diário. Ligado à injustiça que cometeram contra sua mãe, está o
ódio de Volta Seca. Não é o abandono que ele quer vingar, mas o sofrimento que causaram à sua mãe. Sua ligação
com Lampião completa esse quadro de ódio e vingança.
Já o professor não consegue pintar ou desenhar belos cenários, pois o cenário que o cerca é de dor e de sofrimento.
Por outro lado, o problema não está nos meninos que formam o grupo dos capitães da areia, mas sim na
sociedade que os percebe como marginais incorrigíveis, crianças que parecem ter a criminalidade dentro delas. São
só meninos obrigados a ter atitudes de homens para sobreviver na luta diária da cidade grande, para não morrerem
de fome ou frio nas esquinas de Salvador. São meninos que apanham e sofrem torturas nas delegacias de polícia e
nos reformatórios, massacrados por homens adultos ou mais traumatizados do que eles mesmos. São meninos que
perderam a infância e a inocência, jogados diretamente nas garras da violência, da bebida, do cigarro e do sexo
muito antes da hora certa.
Por causa da estrutura simples ou da linguagem fácil, Capitães da areia pode não prender, mas pelo
menos consegue envolver pelo tema dos meninos abandonados e de sua luta pela sobrevivência. Certamente,
Capitães da areia será agradável e mostrará para o leitor mais jovem os problemas ainda presentes e frequentes
no dia a dia das grandes cidades brasileiras.

Graciliano Ramos

Em 1892, Graciliano Ramos chega ao mundo na cidade de Quebrangulo (AL). Com sua família morou em diversas
cidades do interior de Alagoas e Pernambuco. Graciliano gostava de contar histórias para os frequentadores da
venda do pai.

135
Tornou-se prefeito de Palmeira dos Índios (AL), em 1827. Em 1933, estreou com a publicação de Caetés. Em
1936, foi preso em Maceió como comunista e foi levado para o Rio de Janeiro. Lá, não recebeu acusação formal
ou julgamento e, por isso, sofreu diversas privações que abalaram sua saúde. Nessa época, escreveu a obra que
denunciou os abusos da ditadura de Vargas: Memórias do cárcere (1953). Filiou-se ao Partido Comunista, depois de
solto. Graciliano manteve-se fiel ao cenário regional do Nordeste, permaneceu no Rio de Janeiro, mas nunca des-
creveu qualquer paisagem da cidade durante dezessete anos. Depois de descobrir que estava com câncer, chegou
a operar-se em Buenos Aires, mas morreu em 1953, vitima da doença.

Vidas secas

Vidas secas é um romance exponencial dentro do chamado regionalismo nordestino, cujos romances intentam denun-
ciar os problemas vividos pelo homem nordestino ao retratar os males sociais e a situação de miséria e exploração vivi-
da pelo sertanejo por causa da seca, do coronelismo ou do declínio da lavoura canavieira, compondo um painel crítico
da realidade nordestina. A valorização da crítica social no romance regionalista retoma o Realismo, que procurou a seu
tempo a realidade social do século XIX. Dessa forma, pode-se afirmar que os romances regionalistas são neorrealistas.
Vidas secas também pode ser classificado como romance de tensão crítica, uma vez que o herói resiste às pressões
da natureza e do meio social, sem formular ideologias explícitas. Fabiano resiste à luta contra o meio (a seca), ainda
que não consiga superá-lo. A valorização temática e a linguística fazem de Vidas secas um romance regionalista de
tendência neorrealista, ainda que ultrapasse essa concepção, como pode-se ver a seguir.

A seca do agreste e a seca existencial

Os retirantes - Portinari

A estrutura da obra pode ser vista como um conjunto de contos ou como um agrupamento de capítulos de um
romance em que a principal temática é a seca, principal fonte das preocupações das personagens, que lutam contra
o meio agreste e buscam sobreviver a qualquer custo, o que reflete em seus corpos e em sua alma.
A natureza é o enfoque do mundo da aparência, que prepara o desvendar do mundo ilusório, alcançando
o universal através do particular. O mundo interior das personagens de Vidas secas recria o mundo exterior, que é
seco, vazio de saídas ou possibilidades.
Isso justifica o título, que aproxima o adjetivo secas do substantivo vidas aparentemente de maneira indevida.

Outros temas:
A problemática da marginalização social;
Opressão versus submissão;
A incomunicabilidade e a incompreensão nas relações familiares;
A desumanização das personagens;
A importância do homem diante da seca;
A revolta contra as injustiças;
A solidão.

136
Organização e estrutura

Obra aberta ou o romance desmontável


Os capítulos da obra Vidas secas compõem um conto individualizado. A construção do romance é feita como qua-
dros destacados, nos quais os fatos se arranjam sem se integrarem aparentemente uns com os outros.
Essa forma parece um mundo que não se compreende e se capta apenas por manifestações isoladas.
Por causa disso, que não há um final determinado, o que caracteriza uma obra aberta na concepção de
Umberto Eco. Rubem Braga apresenta outro ponto de vista interessante sobre o romance, que o classifica como
um romance desmontável, por causa da independência entre os capítulos, que se assemelham a pequenos contos.
Não há ação nesse romance, não de acordo com a definição das teorias narrativas. O caráter psicológico da
narrativa conduz o leitor mais para dentro das personagens do que um enredo. O fio narrativo é formado por alguns
fatos e pensamentos das personagens.

MODERNISMO – TERCEIRA GERAÇÃO

João Guimarães Rosa

Nascido no ano de 1908, na cidade mineira de Cordisburgo, é sem dúvida um dos maiores escritores da Literatura
Brasileira. Médico e diplomata, Guimarães Rosa começou a publicar seus textos apenas após os 38 anos.
Os seus escritos ambientam-se no sertão brasileiro, ao mesmo tempo que são universais sob a lógica da
máxima “O sertão é o mundo”. Sua obra destaca- se pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência
de falares populares e regionais. Os neologismos, ou seja, a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e
palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas fizeram de sua literatura um fenômeno único.
Morreu no Rio de Janeiro, em novembro de 1967, logo após ocupar a cadeira nº 2 na Academia Brasileira de
Letras por apenas três dias, já que atrasou a cerimônia de posse por quatro anos, pois ele pressentia coisas estranhas.
Foi indicado ao prêmio Nobel de Literatura por três vezes.

Contexto
O contexto da produção de sua obra é a terceira fase do Modernismo que se inicia a partir do ano de 1945. Uma
fase madura desta escola literária que contou com o processo de universalização do regionalismo, bem como o
mergulho intimista nos personagens.
Guimarães Rosa foi um dos principais representantes do regionalismo brasileiro, característica da terceira
fase do Modernismo. Com uma linguagem fiel à popular, o escritor conseguiu inovar a literatura. Destaca-se como
inovação do período seus neologismos, ou seja, sua capacidade de criar, inventar palavras que eram reflexo de sua
intensa pesquisa na fala popular. Ele partia pelo sertão do norte de Minas Gerais, montado em seu cavalo, obser-
vando aquilo que mais lhe agradava: o homem e sua linguagem.
137
Grande sertão: veredas

Trata-se de uma das obras mais importantes da Literatura Brasileira, estando inclusive no topo da lista sendo con-
siderada, por alguns críticos, a melhor obra da Literatura Brasileira. A partir da mescla de uma linguagem simples
com um estilo erudito, o livro é contado pelo relato de Riobaldo, um ex-jagunço que rememora suas lutas no sertão,
sua história de vida e seu amor por Diadorim.
Publicado em 1956, o romance com mais de 600 páginas foi marco importante pelo experimentalismo com
a linguagem. Sem a divisão de capítulos, e numa espécie de diálogo no qual apenas Riobaldo se pronuncia, a obra,
a partir de história quase épica, consegue lidar com diferentes temáticas filosóficas, nas quais se estabelecem as
relações entre os homens: a fé, o bem, o mal, o homem, a guerra, o espaço e a moral, entre outras.

POESIA MARGINAL
A década de 1970 foi um momento histórico marcado por grande conturbação para a Literatura Brasileira da
época. Isso se deve à vivência dos primeiros (e agressivos) anos da ditadura militar pós o AI-5, o que influenciou
profundamente a produção de diferentes artistas do período. Entretanto, ainda sob a égide das forças totalitárias,
por volta de 1972-1973 surgiu um inesperado número de poetas, sobretudo no Rio de Janeiro, os quais decidiram
produzir poesia e divulgá-la a partir de uma forma artesanal. De modo geral, os livros desses poetas eram confec-
cionados a partir do mimeógrafo e costurados com a ajuda de barbantes.
Tratava-se de uma poesia que apresentava relativa ingenuidade e um forte humor, entretanto, a temática em
si era bastante significativa, pois tinha como um dos principais objetivos expressar os dilemas de toda uma geração.
Esse grupo de poetas ficou conhecido como geração marginal.

Por que marginal?


A questão da marginalidade esteve presente em boa parte da discussão literária realizada no Brasil nos anos 1970.
A indefinição a respeito dessa classificação tocou a vida não apenas dos críticos e estudiosos, mas também dos
próprios poetas, pois as acepções que carregavam a respeito desse conceito de “poesia marginal” sempre foram
bastante divergentes, apresentando, em alguns momentos, atribuições de caráter negativo e, em outros, de caráter
positivo.

138
De modo geral, a crítica e a comunidade acadêmica admirava o trabalho dos poetas marginais, pois eles
acreditavam que essa nova geração artística tinha grande contribuição para a formação da Literatura Brasileira. O
uso do termo “marginal”, numa leitura positiva, tinha o intento de tornar evidente a dificuldade de produzir essa
arte e também a força de resistência para produzir poesia num momento de forte repressão militar.
Ao mesmo tempo, havia parte da crítica que julgava a poesia marginal uma expressão poética tépida,
morna e sem profundidade reflexiva. Nessas situações, a acepção “marginal” era usada pelos críticos de modo
negativo e tinha por objetivo revelar a posição periférica dessa poesia, que na opinião deles estava “à margem”
dos padrões de qualidade literária.
A polêmica em torno das possibilidades por trás do termo marginal inspirou um dos poetas do período,
Chacal, a compor um poema, no qual tal “debate” é levado para horizontes mais distantes.

Chacal

— Alô, é quampa?

— não... – é engano.
— alô, é quampa?
— não, é do bar patamar.
— alô, é quampa?
— é ele mesmo. quem tá falando?
— é o foca mota da pesquisa do jota Brasil. gostaria
de saber suas impressões sobre essa tal de poesia marginal.
— ahhh... a poesia. a poesia é magistral. mas
marginal pra mim é novidade. você que é bem
informado, mi diga: a poesia matou alguém,
andou roubando, aplicou algum cheque frio, jogou
alguma bomba no senado?
— que eu saiba não. mas eu acho que é em relação
ao conteúdo.
— mas isso não é novidade. desd’adão... ou
você acha que alguém perde o paraíso e fica
calado. nem o antônio.
— é verdade. mas deve haver algum motivo pra
todos chamarem essa poesia de marginal.
— qual, essa!? Eu tou achando até bem comportada.
sem palavrão, sem política, sem atentado à
moral cristantã.
— não. não tô falando desse que se lê aqui.
tô falando dessa outra que virou moda.
— ahhh... dessa eu não tou sabendo.

139
ando meio barro-bosta por isso tenho ficado
quieto em casa. rompi meu reitor pra atender
esse telefone. e já que ti dei algumas impressões
você vai mi trazer as seguintes ervas pra curar
meus dissabores: manacá carobinha jurubeba
picão da praia amor do campo malva e salsaparrilha.
até já foca mota.
(Chacal, Quampérios, 1977)

Em síntese, o termo “marginal” acabou se consolidando e, hoje, é usado para se referir a esses autores que
escreveram poesia nos anos 1970, a partir dessa estética que demonstrava certo descompromisso com a lingua-
gem e uma abordagem temática que trazia à tona todas as problemáticas de se produzir arte em um momento
fortemente marcado por repressão social.
Além de Chacal, outros autores que se destacaram nesse período foram Cacaso (Antonio Carlos de Brito),
Charles (Charles Peixoto), Torquato Neto, Francisco Alvim, Ana Cristina César e Waly Salomão.

Cacaso foi um dos mais importantes autores do movimento marginal. Sendo, além de escritor, professor
universitário, contribuiu muito para a divulgação dos valores da poesia do período nos âmbitos acadêmicos. É um
dos autores mais cultuados do período. Sua obra completa foi compilada, em 2002, sob o título Lero Lero.

E com vocês a modernidade

Meu verso é profundamente romântico.


Choram cavaquinhos luares se derramam e vai
por aí a longa sombra de rumores ciganos.

Ai que saudade que tenho de meus negros verdes


anos!
(Cacaso, retirado da coletânea Lero Lero de 2002)

Lar doce lar

Minha pátria é minha infância


Por isso vivo no exílio.
(Cacaso, poema retirado da coletânea Lero Lero de 2002)

140
Chacal

Chacal (Ricardo de Carvalho) foi um dos poetas mais criativos do período, tendo como destaque os livros Preço da
passagem (publicado em 1972, cujo objetivo era conseguir dinheiro para uma viagem ao exterior) e Quampérius
(publicado em 1977, e que tem como foco o anti-herói Quampa). Seus diversos livros foram reunidos em uma co-
letânea nomeada Belvedere (2007). Além de poeta, fez parcerias musicais na preparação de letras e arranjos com
os grupos 14 Bis, Blitz, e também com Lulu Santos.

O outro

só quero
o que não
o que nunca
o inviável
o impossível

não quero
o que já
o que foi
o vencido
o plausível

só quero
o que ainda
o que atiça
o impraticável
o incrível
não quero
o que sim
o que sempre
o sabido
o cabível

eu quero
o outro
(Chacal, retirado da coletânea de poemas Belvedere, de 2007)

141
Waly Salomão

O livro Me segura qu’eu vou dar um troço, de Waly Salomão, é considerado pela crítica como uma das mais im-
portantes obras do momento marginal. Mas sua obra não se resumiu a esse período, tendo se estendido durante
os anos 1980 e 1990, com uma poesia de altíssimo nível. Destacam-se ainda o livro Algarias, com o qual ganhou
o Prêmio Jabuti.

Pickwick Tea
(cenas da vida teresopolitana, petropolitana, friburguense, itaipavense)

A mãe comenta o Inferno de Dante.


A moça quinze anos lê o roman La Charteuse de Parma. Fala de Balzac aussi como servindo para descrições
de paisagens e ambientes de baile. Narra as aventuras pelo impossível de Candide et Zadig. Thomas Mann
na estante. Michelet écolier.
Quand le maitre parle j’écoute/le sac qui pend a mon épaule dit que je suis un bon garçon.
(Waly Salomão, retirado do livro Me segura qu’eu vou dar um troço de 1972)

ANOS 1980: O POEMA PÓS-UTÓPICO


E A MULTIPLICIDADE DAS PROSAS

Os anos 1980 foram marcados por alterações significativas na sociedade brasileira, principalmente no que diz res-
peito a processos de modernização. Há também incisivas mudanças políticas, vindas de um contínuo que perpassou
os anos 1960 e 1970, e desembocou nos primeiros passos rumo à democratização (em 1985, o Brasil passa a ser
governado por presidentes civis, em decorrência da aceitação, naquele ano, pelo Exército, da candidatura e vitória
de Tancredo Neves).
No que diz respeito à poesia, em 1984, o poeta concretista Haroldo de Campos publica um ensaio que, em
certa medida, irá ditar os rumos da análise crítica a respeito dos anos 1980 e dos períodos subsequentes. O ensaio
se chama “Poesia e Modernidade: da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico”, e nele Haroldo coloca
em pauta o fato de que a ideia do “pós-utópico” dizia respeito ao que parecia ser o encerramento do ciclo das
vanguardas, sempre portadoras de um componente de utopia. Em outras palavras, se em anos anteriores conseguí-
amos enxergar através da literatura o engajamento dos autores em questões políticas e sociais, nos anos 1980, e
também futuramente – por conta da própria abertura política – presenciaríamos um declínio desse engajamento,
ou seja, não teríamos mais vanguardas, cuja produção literária estaria necessariamente atrelada a algum projeto
político e estético (como é possível notar nos poetas modernistas da década de 1920, na prosa regionalista de
1930 e 1940, nos poemas concretos de 1950, no tropicalismo em 1960 e na poesia marginal de 1970).

142
É claro que o texto de Haroldo é questionável em diversos âmbitos. O fato é que, certo ou errado, realmente
não conseguimos achar “linhas mestras” às quais possamos nos apegar na produção literária dos anos 1980. Mas
isso não significa que o momento não apresentou grandes poetas ou grandes questões a serem debatidas; significa
apenas que eles não produziam sua poesia em função de algum ideal vanguardista. Há na poesia, nesse momento,
nomes muito significativos atuando; além dos remanescentes da poesia marginal, podemos destacar as figuras de
Ana Cristina César (que é, muitas vezes, ligada aos poetas marginais, por conta da longa convivência com esses
autores; mas tanto cronologicamente – seus dois principais livros, A teus pés e Inéditos e dispersos, datam de 1982
e 1985 – quanto, estilisticamente, as diferenças entre ela e os marginais é notável) e de Paulo Leminski. A seguir,
temos alguns poemas desses dois autores.

Ana Cristina César


O tempo fecha.

Sou fiel aos acontecimentos biográficos.


Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitos
que não largam! Minhas saudades ensurdecidas
por cigarras! O que faço aqui no campo
declamando aos metros versos longos e sentidos?
Ah que estou sentida e portuguesa, e agora não
sou mais, veja, não sou mais severa e ríspida:
agora sou profissional.
(Ana Cristina César, A teus pés, 1982)

Como destacar a paisagem

a fotografia
é um tempo morto
fictício retorno à simetria

secreto desejo do poema


censura impossível
do poeta
(Ana Cristina César, Inéditos e dispersos, 1985)

143
Paulo Leminski

Charme

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
(Paulo Leminski em Caprichos e relaxos, 1983)

Incenso fosse música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
(Paulo Leminski, Distraídos venceremos, 1987)

Na prosa, podemos destacar uma entrada na diversidade temática que trouxe para a cena literária novos
tipos de protagonistas (e que nos anos 1990 e 2000 desembocará naquilo que os estudiosos chamam de plura-
lidade). Provavelmente, a abertura política por parte dos militares permitiu maior liberdade produtiva dos autores
que, a essa altura, não precisavam mais submeter suas obras ao julgamento das entidades de controle ditatoriais.
Destacam-se aí algumas linhagens bastante interessantes, como as histórias que retratam camadas urbanas
inferiorizadas e rechaçadas de nossa sociedade, muito comuns nos contos do escritor João Antônio (em especial,
no livro Abraçado ao meu rancor, de 1986), cujas personagens centrais são figuras marginais, como o proletário, o
desempregado, o mendigo, o emigrante, entre outras. Não podemos nos esquecer das corrosivas exposições que o
escritor Dalton Trevisan faz das questões familiares e sexuais (que já vinham sendo feitas por ele nos anos 1970,
mas que ganham força nos 1980 com Essas Malditas Mulheres, de 1982, Meu Querido Assassino, de 1983, A
Polaquinha, de 1985, entre outros). Também a temática das minorias (negros, homossexuais e emigrantes) ganha
força, e começa a aparecer com maior notoriedade, destacando-se as obras de Caio Fernando Abreu (Morangos
mofados, de 1982), de João Gilberto Noll (Rastros de verão, de 1986), de Cuti (Quizila, de 1987), de João Ubaldo
Ribeiro (Viva o povo brasileiro, de 1984) e de Moacyr Scliar (O centauro no jardim, de 1980).

144
Dalton Trevisan

Dalton Trevisan é considerado por diversos críticos literários um dos principais contistas brasileiros em ativi-
dade. Bastante reservado, o escritor é avesso a entrevistas e a exposições em órgãos de comunicação social. Essa
é uma das poucas (e raras) imagens do autor que podem ser encontradas na internet.

ANOS 1990 E 2000: LITERATURA E PLURALIDADE


Pensar a literatura dos anos 1990 até nossos dias talvez seja algo mais complexo do que imaginamos, não apenas
pelo fato de que não há distanciamento suficiente que nos permita uma análise mais segura (afinal, são pouco
mais de 20 anos), mas por tudo o que já se acumulou em conhecimento literário, e pelo fato de todo esse conheci-
mento parecer ser posto em cena (e, em alguns casos, também posto à prova) nas obras contemporâneas.
Pensando a partir das relações sociais, conseguimos perceber, dos anos 1990 para cá, que a nossa socieda-
de de consumo nos apresenta uma novidade um tanto quanto inusitada: ao invés dos processos de massificação
e homogeneização, que são característicos do modo de produção capitalista (que tentam deixar nosso mundo em
total equivalência), surgem agora estratégias da diversificação dentro da sociedade (o desejo de ser diferente, a
partir dos mais variados pontos de vista, seja o nostálgico, o clean, o cool, o supermoderno, o clássico, enfim). E nos
parece que a literatura, tanto a prosa com a poesia, parecem ter incorporado essa marca pela via da pluralidade,
ou, em outras palavras, nos é apresentada grande diversidade de abordagens literárias, tanto no que diz respeito a
abordagens estéticas (poesia metrificada, com verso livre, poesia visualista; e também prosa romanesca, fragmen-
tária, surrealista, curta, longa etc.) quanto temáticas (vai-se dos temas altos e clássicos da literatura até temas que
não imaginávamos que seriam por ela abordados).
É um fenômeno bastante interessante e que traz certa dificuldade para os estudos literários contemporâ-
neos: a dificuldade de se estabelecer um ponto de apoio. Pois se antes conseguíamos nos apegar a certas marcas
que nos permitiam até mesmo classificar os atos literários (escola modernista, concretista, marginal, entre outras),
agora, por conta da pluralidade, há dificuldades de apontarmos um ponto comum para análise.
Apesar disso, não se pode dizer que a literatura dos 1990 e dos 2000 é inferior às anteriores por não possuir
marcas que nos permitam classificá-la; pelo contrário, trata-se de uma literatura de alto nível, dentro daquilo que é
a especificidade de cada autor. Por conta disso, talvez seja mais interessante – ao invés de realizar uma abordagem
que tente ser totalizante – apresentar alguns autores de prosa e poesia contemporâneos que vêm se destacando
na cena literária, falando um pouco de cada e deixando ao estudante o benefício da “curiosidade” em conhecê-los
mais de perto a partir da leitura.

145
Milton Hatoum

Hatoum é considerado pela crítica especializada como um dos melhores escritores vivos do Brasil. Seus livros já
venderam mais de 200 mil exemplares no Brasil e foram traduzidos em oito países, como Itália, Estados Unidos,
França e Espanha.
Embora tenha poucos livros publicados – tendo em vista a longa carreira como escritor (quatro romances
um livro e contos em quase 25 anos) – todos apresentam altíssima qualidade, tendo arrebatado vários prêmios
literários importantes. Seu primeiro livro, Relato de um certo Oriente (1990), ganhou o Prêmio Jabuti de melhor
romance. Seu terceiro livro, Cinzas do Norte (2005), considerado por muitos como sua obra-prima, arrebatou o
Jabuti em duas categorias, além do conceituado prêmio Portugal Telecom (todos em 2006).
É possível perceber que Hatoum tem um “currículo” de peso. Em suas obras, ele costuma falar de lares
desestruturados e problemáticos, levando em consideração fatos políticos que coincidem com o momento histórico
abordado na obra. Mais recentemente, está sendo preparada uma adaptação para a TV (em formato minissérie)
de um de seus romances.

Fernando Bonassi

Desde o final dos anos 1980, o escritor Fernando Bonassi vem produzindo obras muito significativas para a literatu-
ra brasileira contemporânea. Possui uma prosa marcada por um estilo bastante seco e incisivo, com contos bastante
curtos, mas muito contundentes. Há em seus textos uma dramatização da insegurança social e da criminalização
organizada, realizada através de um olhar direcionado para o submundo dos marginalizados, das prostitutas, dos
policiais corruptos e dos subempregados que estão envolvidos em tragédias de rua das grandes cidades.
Começou a escrever no final dos anos 1980, mas sua produção de maior destaque se deu nas duas últimas
décadas, sendo muito extensa. Entre seus livros de destaque estão Subúrbio (1994), 100 histórias colhidas na rua
(1996), O céu e o fundo do mar (1999), Passaporte (2001) e A boca no mundo (2007).
Além de escritor, Bonassi é roteirista, dramaturgo e cineasta, tendo produzido roteiros para diversos filmes,
além de famosos programas de televisão infantis, como Castelo Rá-Tim-Bum e O mundo da lua.

146
Arnaldo Antunes

Tendo ficado conhecido por conta do sucesso com a banda de rock Titãs, da qual foi músico e compositor entre
1987 e 1992, e mais recentemente com o grupo Tribalistas, Arnaldo também possui uma respeitável produção
literária no campo da poesia, tendo ganho, inclusive, o respeitado Prêmio Jabuti de Literatura no ano de 1993, pelo
livro As coisas (1992).
Seus versos apresentam forte influência da poesia concretista, de marcas visualistas, transitando entre os
versos que, pela palavra, sugerem imagens e a poesia visual propriamente dita. Seus principais livros são o já citado
As coisas, além de 2 ou + corpos no mesmo espaço (1997), Outro (2001), Palavra desordem (2002) e n.d.a. (2010).
Metade

(Palavra desordem, 2002)

Perfil (trecho)
Perfil é um fio.
Perfil é o fim do objeto
O horizonte está deitado.
O fim é o que está completo.
Perfil é o que está de lado.
O horizonte está distante.
O fim fica em frente.
Perfil é o que está rente.
O horizonte fica adiante.
Ali onde o céu se dobra.
(As coisas, 1992)

147
C H História

HISTÓRIA

Breviário ENEM

C H
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Aulas 1 e 2

Competências 3, 4 e 5
Habilidades 11, 18 e 24

BREVIÁRIO

GRÉCIA ANTIGA
Atenas foi fundada na Ática, uma península do mar Egeu, numa planície, a poucos quilômetros do mar e protegida
de invasores por colinas, como sempre foi, notadamente dos dórios. Povoaram-na aqueus, eólios e jônios, de quem
os atenienses se consideravam originários.
A colonização resultante da Primeira Diáspora havia ampliado os horizontes do mundo grego. Comerciantes e
artesãos tornaram-se cada vez mais numerosos e ascendiam na escala social. Passaram a fazer oposição à oligarquia
dos eupátridas que a atacava em dois flancos: pelos comerciantes enriquecidos ávidos pela participação do governo
e pelos pobres, que reivindicavam a abolição da escravidão por dívida e a repartição das grandes propriedades. Os
séculos VII e VI a.C. mostravam uma Atenas em constante ebulição social. Parte da aristocracia eupátrida, temerosa de
perder seus privilégios, propôs uma reforma social planejada por dois eminentes legisladores: Drácon e Sólon.
Em 621 a.C., Drácon foi encarregado de preparar uma legislação escrita em substituição à oral. Contudo, tal
legislação teve a importância de passar a administração da justiça das mãos dos eupátridas para o Estado, que se
fortaleceu. No plano político, no entanto, nada mudou. Os eupátridas mantiveram o monopólio do poder, uma vez
apoiados agora na lei escrita. Como a legislação de Drácon não resolveu a crise, em 594 a.C., foi indicado um novo
legislador: Sólon. Suas reformas abrangeram aspectos fundamentais da vida ateniense.
A nova legislação concedeu anistia geral; limitou os excessos da legislação de Drácon; regulamentou a lei
de herança, restringindo os direitos dos primogênitos; e, o mais importante, decretou a seisachteia, que consistia
na proibição da escravidão por dívida. Foi abolido o monopólio do poder pela aristocracia eupátrida e instituído um
sistema de participação baseado na riqueza dos cidadãos (regime censitário). O objetivo principal da nova legisla-
ção foi estabelecer uma justiça correta para todos, isto é, uma justiça baseada na igualdade de todos perante a lei.
As reformas de Sólon lançaram os fundamentos do futuro regime democrático de Atenas implantado por Clístenes,
em 507 a.C.
Apesar da origem aristocrática, Clístenes não pretendeu restabelecer a velha ordem da nobreza. Traçou um
projeto que estabelecesse um governo baseado na isonomia, isto é, baseado na igualdade dos cidadãos perante a
lei. Os princípios básicos da reforma de Clístenes rezavam: direitos políticos para todos os cidadãos; participação
direta dos cidadãos no governo por comparecimento à assembleia ou por sorteio, caso se tratasse da escolha do
ocupante de algum cargo. No entanto, despossuídos de cidadania, os estrangeiros (metecos), as mulheres e os
escravos foram proibidos de participar do regime democrático. A reforma de Clístenes trouxe um período de esta-
bilidade a Atenas e permitiu a formação de um sistema coeso, capaz de enfrentar com sucesso um longo período
de perturbações externas, como as guerras pérsicas, que auxiliaram a consolidação das instituições atenienses.

151
“A morte de Sócrates”, de Jacques-Louis David, 1787

HELENISMO
Alexandre, o Grande, recebeu poderosa influência de Aristóteles, escolhido por Filipe para seu preceptor. O filósofo
incutiu-lhe o gosto pela cultura grega, pela Ilíada e a Odisseia, por Ésquilo e Eurípedes; e aversão pelos persas –
Aristóteles os vira torturar um amigo até a morte, na Ásia Menor.
Alexandre assumiu o trono com uma Macedônia organizada e bem armada pelo exército. Restavam dois
problemas: a revolta das cidades gregas após a morte de Filipe e os numerosos herdeiros deixados pelo pai. Ale-
xandre usou de violência. Arrasou as cidades gregas, exceto Atenas.

Ruínas da Biblioteca de Alexandria

152
Precedido por Parmênion, que havia partido antes de Filipe morrer, Alexandre rumou para a Ásia com 40
mil homens, 12 mil na infantaria, o forte de seu exército. Como líder supremo do helenismo, deveria libertar as
cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os persas.
Recusando o acordo de paz oferecido por Dário III, derrotou-o em pleno centro do Império Persa em 331 a.C.
Proclamado imperador persa, avançou para a Índia, percorreu a região do rio Indo e só não chegou ao Ganges,
porque os soldados recusaram-se a segui-lo.
Morreu na Babilônia aos 33 anos, em 323 a.C, deixando um dos mais vastos impérios já criados até então,
ao qual imprimiu um caráter universal, de acordo com a concepção divina que tinha de si, contra o que egípcios e
persas não se opuseram, uma vez que também encaravam o poder político como divino.
Alexandre abriu o caminho para a integração cultural do mundo persa e egípcio. Como resultado da polí-
tica de integração cultural, criou-se a cultura helenística, fruto da fusão da cultura grega (helênica) com a cultura
oriental (egípcia e da persa).

QUEDA DA REPÚBLICA E ASCENSÃO DO IMPÉRIO ROMANO


A vitória de Otávio sobre Marco Antônio na batalha de Ácio, em 31 a.C., representou a passagem da República
para o Império Romano, cuja evolução histórica se dividiu em duas fases: o Alto Império e o Baixo Império. A pri-
meira fase assinalou o apogeu do Império Romano. Durante seu governo, Otávio Augusto assumiu o controle das
principais magistraturas, concentrando ainda mais poderes em suas mãos. Foi reconhecido como Princips Senatus,
ou seja, o líder do Senado (razão pela qual seu governo também ficou conhecido como principado).
Augusto apaziguou a plebe romana com a célebre política do “pão e circo”, que consistia na distribuição
gratuita de alimentos e na realização de monumentais espetáculos públicos para a plebe romana. Essa política
contribuiu para pôr fim às agitações sociais que marcaram a fase final da República.

Auge do Império Romano

O período de Otávio Augusto inaugurou o que os romanos chamavam de pax romana, período no qual as
províncias romanas foram pacificadas (as tropas imperiais impediam as guerras civis), estradas foram construídas,
portos foram reformados e pântanos foram drenados. Os aquedutos levavam água fresca para grandes parcelas da
população romana e o sistema de esgoto eficaz melhorou a qualidade de vida deles. Na política externa, as guerras
de conquista foram substituídas pela política de consolidação das fronteiras.

153
O SISTEMA FEUDAL
O feudalismo foi um sistema econômico, político e social que se desenvolveu na Europa durante a Idade Média.
Esse sistema começou a se estruturar ao final do Império Romano do Ocidente, no século V, atingiu seu apogeu
no século X e praticamente desapareceu ao final do século XV. Desde o final do século IV, o Império Romano já
demonstrava sinais de decadência e desagregação, mas a penetração e os seguidos ataques dos povos germânicos,
a partir do século V, desorganizaram a vida do Império, acelerando a crise econômica. Formalmente, costuma-se
considerar o ano de 476, data em que os hérulos invadiram Roma, como o fim do Império Romano do Ocidente e o
início da chamada Idade Média. Da mesma forma, é aceito o ano de 1453, quando os turcos otomanos conquistam
Constantinopla, pondo fim ao Império Bizantino, como o término da Idade Média.
A Idade Média, na Europa, caracterizou-se pelo aparecimento de um sistema econômico, político e social
denominado feudalismo. Esse sistema foi fruto de uma lenta integração entre algumas características de duas
estruturas sociais: a romana e a germânica. Esse processo de integração, que resultou na formação do feudalismo,
ocorreu no período histórico compreendido entre os séculos V e IX. Próximo ao fim do Império Romano do Ociden-
te, os grandes senhores romanos começaram a abandonar as cidades, fugindo da crise econômica e das invasões
germânicas. Iam para seus latifúndios no campo, onde passavam a desenvolver uma economia agrária voltada para
a subsistência. Uma população de romanos de menos posses, por sua vez, começou a buscar proteção e trabalho
nas terras desses grandes senhores. Para utilizar as terras, eram obrigados a ceder ao proprietário parte do que
produziam. Essa relação entre o senhor das terras e os que produziam ficou conhecida por colonato. O grande nú-
mero de escravos da época também foi utilizado nas vilas romanas. Com o tempo, tornou-se mais rentável libertar
os escravos e aproveitá-los sob regime de colonato. Assim, nesses centros rurais conhecidos por vilas romanas,
começava a ter origem os feudos medievais. Com algumas alterações futuras, esse sistema de trabalho resultou
nas relações servis de produção, um dos traços fundamentais do feudalismo. Com a ininterrupta ruralização do
Império Romano, o poder central foi perdendo controle sobre os grandes senhores agrários. Aos poucos, as vilas
romanas tornaram-se cada vez mais autônomas, à medida que o poder político descentralizava-se, permitindo ao
proprietário de terras administrar de forma independente sua vila.
A sociedade feudal era estamental, isto é, os indivíduos nasciam num determinado estamento e dificilmente
poderiam ascender a outro; tendiam a permanecer sob a própria condição de nascimento, pois a mobilidade social
vertical era quase impossível; mais fácil seria a mobilidade no interior do próprio estamento. A sociedade medieval,
segundo a divisão clássica, compunha-se dos seguintes estamentos: clero, nobreza e servos. No entanto, cada uma
dessas categorias comportava uma série de diferenciações e gradações. De modo geral, o acesso ou não à proprie-
dade ou posse da terra dividia a sociedade feudal em dois estamentos: os senhores e os dependentes.

IGREJA CATÓLICA NO MEDIEVO


A Igreja católica foi a grande catalisadora dos acontecimentos e da vida medieval; ao mesmo tempo, durante esse
período, sua trajetória foi marcada pelo crescimento e desenvolvimento e pelo grande poder que conquistou. A
Igreja passou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de
unidade, em virtude das invasões germânicas e da destruição do Império Romano e, mais tarde, diante da fragmen-
tação político-administrativa da sociedade feudal.
O crescente poder da Igreja católica na Europa ocidental durante a Idade Média pode ser explicado pelo
acúmulo dos poderes espiritual e temporal. O poder espiritual corresponde ao controle sobre a religião e o mo-
nopólio da interpretação das Escrituras Sagradas, permitindo o controle ideológico e a interpretação da realidade
vigente.

154
Catedral de Notre Dame, Paris, França.

O poder temporal era exercido politicamente como resultado do controle da Igreja sobre um número cres-
cente de populações que a alimentavam mediante pagamento dos dízimos, de doações e outras ações de fiéis que
acreditavam poder obter a salvação abrindo mão de recursos materiais. A Igreja concentrava, ainda, uma grande
quantidade de terras em suas mãos, resultando na acumulação de um montante significativo de riquezas materiais.
Detinha, também, o controle da vida dos homens, regulando casamentos, normatizando as obrigações
matrimoniais; os divórcios, os casos de bigamia, adultério, incesto, entre outros; arbitrava os casos de divisão de
heranças; monopolizava os registros paroquiais de batismo, casamentos, falecimentos, enfim, a vida social era
normatizada e regrada pela Igreja.
Sua atuação dava-se, também, mediante uma série de ações filantrópicas, como a construção e a manuten-
ção de asilos, hospitais, orfanatos e leprosários.
A Igreja era responsável pela educação, mantendo uma série de escolas nos mosteiros, conventos e, mais
tarde, nas paróquias. No século XIII, começou a organizar as universidades. Enfim, o poder da Igreja sobre os fiéis
era incontestável.

DECLÍNIO DA SOCIEDADE FEUDAL


Na Baixa Idade Média, paralelamente à crise do feudalismo e à decadência da nobreza senhorial, ocorreu o renas-
cimento do comércio urbano e a formação da burguesia nos países do Ocidente europeu. As cidades, entretanto,
eram controladas pelos feudos; os burgueses, dominados pelos nobres; e o comércio à longa distância, prejudicado
pela estreiteza dos mercados locais.

155
O particularismo feudal e os privilégios da nobreza tornavam-se um entrave ao crescimento das cidades, à
expansão dos negócios e ao enriquecimento da burguesia. Só a força e a autoridade de uma monarquia centrali-
zada poderiam, suprimindo a independência dos feudos e submetendo a nobreza, promover a unificação territorial
do país, impor a obediência à sua população e dar proteção à burguesia.

No final da Idade Média, essa situação levou à formação de uma aliança entre a burguesia e a realeza,
que, em vários países da Europa ocidental, substituiu a descentralização feudal pelo centralismo monárquico. Na
transição da Idade Média para a Idade Moderna, ocorreu o processo de formação dos Estados modernos, em
contraposição aos estados feudais, marcados pelo predomínio político do poder local e diretamente ligado à posse
da terra. Os Estados modernos mantiveram as velhas estruturas feudais, como o predomínio político e social da
nobreza e do clero, que obtiveram privilégios fiscais e jurídicos, associadas a novos elementos, como a centralização
do poder político e práticas econômicas intervencionistas, que revelam o fortalecimento das monarquias nacionais.
A montagem da estrutura burocrática dos Estados modernos exigia vultosas quantias financeiras, o que
incentivava uma crescente necessidade de tributos diretamente arrecadados e administrados pelo governo central,
que controlava as atividades comercias mediante práticas intervencionistas, fundamentais para impulsionar o de-
senvolvimento da acumulação primitiva do capital por meio do comércio e das atividades artesanais.
Eram características do Estado moderno: território definido, moeda nacional, idioma comum, centralização
política, organização da burocracia estatal e exército nacional.

RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO


As transformações culturais que caracterizam o Renascimento foram causadas por vários fatores, notadamente as
transformações econômicas e sociais, resultado do Renascimento comercial e urbano desencadeado pelas Cru-
zadas. O desenvolvimento das atividades comerciais permitiu a abertura e a consolidação de rotas comerciais e
feiras. Com elas, a distribuição de produtos na Europa foi dinamizada e estimularam-se a fundação e a evolução de
centros comerciais que se tornaram grandes e importantes cidades.
Especificamente, o café foi introduzido na Europa, no século XVII, primeiramente na Itália e na Inglaterra. O
café era consumido por diversas classes sociais, inclusive por intelectuais. Logo depois, passou a ser consumido em
vários outros países europeus, chegando à França, Alemanha, Suíça, Dinamarca e Holanda.

156
Os maiores consumidores de café do mundo
País Consumo individual por ano em quilos
Fínlândia 11,6
Suécia 11,1
Dinamarca 10,6
Noruega 10,3
Áustria 10,0
Países Baixos 9,9
Suiça 8,4
Alemanha 7,8
França 5,9
Estados Unidos 4,5

Seguindo sua marcha de expansão pelo mundo, o café chegou às Américas e nos Estados Unidos, atualmente o
maior consumidor e importador mundial de café. Foram os holandeses que disseminaram o café pelo mundo. Ini-
cialmente, transformaram suas colônias nas Índias Orientais em grandes plantações de café e junto com franceses
e portugueses transportaram o café para a América.

RENASCIMENTO CULTURAL

“A escola de Atenas”, de Rafael, 1511

O Renascimento é uma verdadeira revolução cultural que marcou e definiu o final da Idade Média e os primeiros
séculos da Idade Moderna. Expressa os ideais e a visão de mundo da nova sociedade emergente com o desenvol-
vimento da economia mercantil e do capitalismo.
Em vários aspectos, no entanto, esse movimento cultural representou mais uma continuidade do que uma
ruptura em relação ao mundo da Baixa Idade Média.
Sua origem data do século XIV e sua máxima plenitude, dos séculos XV e XVI.
As atividades bancárias e financeiras foram estimuladas e a burguesia enriqueceu, ocupando posição de
prestígio e destaque na sociedade europeia.

157
“O Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, 1483

Os homens do Renascimento, ao contrário do que se pensa, não nutriam desprezo pelas ideias ou pelo
período medieval nem eram desligados da religiosidade, apenas separaram o mundo da religião do centro das suas
preocupações a ponto de abraçarem o humanismo sem abandonar a crença em Deus.

TRANSIÇÃO AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA


As características do sistema feudal não se mantiveram iguais durante toda a Idade Média. Aos poucos, o que
era próprio do feudalismo foi sofrendo modificações e criando um novo sistema, novos modos de vida. Estava
sendo gerada uma nova sociedade diferente da feudal. Os conflitos entre a Igreja e o poder temporal cresceram.
Ocorreram as Cruzadas. As cidades e o comércio renasceram. O poder político foi gradualmente sendo centraliza-
do na pessoa dos reis, constituindo-se as monarquias nacionais. No século XIV, fome, pestes, guerras e rebeliões
camponesas abalaram ainda mais as já combalidas instituições feudais profundas transformações, tais como as
revoluções na economia, na política e nos costumes, inauguraram um período que viria a ser chamado de Idade
Moderna (séculos XV, XVI, XVII e XVIII), marcada pelo capitalismo comercial, que, de fato, foi inaugurada pelo
que se denominou de Revolução Comercial. Fatores que levaram as Cruzadas ao fracasso: caráter superficial da
conquista; falta de enraizamento dos conquistadores no seio da população local; disputas entre cruzados; rivali-
dades nacionais; e incapacidade da Igreja em superá-las. As Cruzadas não cumpriram seus objetivos, uma vez que
a Europa ocidental continuou superpovoada e sem condições de absorver essa mão de obra; os salários que não
baixaram ficaram estagnados enquanto os preços dos cereais entraram em alta. Sob o ponto de vista econômico,
a maior conquista das Cruzadas foi a reabertura do Mediterrâneo à navegação e ao comércio da Europa, que per-
mitiu o reatamento das relações entre Ocidente e Oriente, interrompidas pela expansão muçulmana, e contribuiu
para acelerar o Renascimento comercial no ocidente da Europa. Houve enfraquecimento da aristocracia feudal e
da servidão como forma de trabalho, de um lado, e fortalecimento da burguesia comercial, de outro, bem como o
reaparecimento do comércio que se intensificou com a reabertura do Mediterrâneo, propiciou o renascimento das
cidades e com ela o crescimento da burguesia mercantil.
Em síntese, o Renascimento comercial e urbano do ocidente da Europa, a decadência do feudalismo, o
declínio do poder da nobreza e o fortalecimento da burguesia foram, direta ou indiretamente, consequências
das Cruzadas. A reativação da atividade mercantil na Europa ocidental a partir do século XI ficou conhecida por
Renascimento Comercial. Esse processo não foi linear, sofreu avanços e recuos, mas sua tendência foi a expansão
mercantil até a crise geral da sociedade feudal nos séculos XIV e XV. Ao propiciarem as condições para o desenvol-
vimento incipiente da atividade mercantil, as Cruzadas, conjugadas às condições intrínsecas ao modo de produção
feudal, impulsionaram o que se transformou em Renascimento.
A abertura do mar Mediterrâneo pelos cruzados aos mercados da Europa ocidental restabeleceu as relações
entre Ocidente e Oriente e dinamizou as atividades comerciais.

158
Essas mudanças, ocorridas desde o final da Baixa Idade Média, proporcionaram o Renascimento urbano,
cujo elemento propulsor foi o comércio, que trouxe consigo o aparecimento e o crescimento de uma nova classe
social: a burguesia mercantil. Coube a ela o importante papel de, na política, consolidar os territórios e as monar-
quias nacionais modernas e financiar a técnica, a ciência e a arte.

Ludistas destruindo uma máquina de tear em 1812.

NICOLAU MAQUIAVEL E O ABSOLUTISMO


Nicolau Maquiavel é autor de O príncipe e considerado precursor do pensamento político moderno. O príncipe é
uma espécie de manual de política destinado a ensinar aos príncipes a forma de conquistar o poder e mantê-lo,
mesmo contra todos os preceitos da moral cristã. Maquiavel não pretendeu retratar um ideal que levasse em con-
sideração as ideias de justiça e perfeição; apenas determinou os meios pelos quais os homens de Estado de sua
época alcançariam os fins a que se propunham.

Homenagem a Nicolau Maquiavel

A citação a seguir exemplifica o modo de pensar político de Maquiavel e como ele aconselhou os soberanos
a agir com seus súditos:
“Daí se origina esta questão discutida: se melhor é [ao príncipe] ser amado que temido, e vice-versa. Res-
ponder-se-á que se queria ser uma e outra coisa; como, entretanto, é difícil reunir, ao mesmo tempo, as qualidades
que levam àqueles resultados, muito mais seguro é ser temido que amado, quando seja obrigado a falhar numa das
duas. Porque os homens são, em geral, ingratos, volúveis, dissimulados, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, en-
quanto lhes fizeres benefícios, estão todos contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos, como antes disse, desde
que estejas longe de necessitares de tudo isto. Quando, porém, a necessidade se aproxima, voltam-se para outra
parte. E o príncipe, se apenas confiou inteiramente em palavras e não tomou outras precauções, está arruinado.

159
Porque as amizades que se conseguem por interesse e não por nobreza ou grandeza de caráter são compra-
das, não se podendo contar com as mesmas no momento preciso. E os homens hesitam menos em ofender aos que
se fazem amar, do que àqueles que se tornam temidos, por ser o amor conservado por laço de obrigação, o qual é
rompido por serem os homens pérfidos sempre que lhes aprouver, enquanto o medo que se infunde é alimentado
pelo temor do castigo, que é sentimento que jamais se deixa. Deve, pois, o príncipe fazer-se temido de modo que,
se não for amado, ao menos evite o ódio...”
( MAQUIAVEL, N. “O Príncipe.” Disponível em: <http://www.fae.edu/pdf/biblioteca/O%20Principe.pdf>.)

FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS


Havia uma conhecida frase, criada por um militar prusso, que dizia que “a guerra é a continuação da política por
outros meios”. Michel Foucault inverte a perspectiva e afirma que “a política é a continuação da guerra por outros
meios”. Sendo a Constituição o conjunto de regras políticas e civis de um povo, ela expressaria, segundo o autor,
a opressão e o poder de seus heróis de terror.
Ao se colocar em perspectiva histórica, os Estados nacionais modernos surgiram a partir da formação das
monarquias nacionais, que teve no processo de centralização do poder político nas mãos do rei o seu elemento
fundamental.
De início, os soberanos estabeleceram a delimitação do território, no qual exerceriam sua autoridade e in-
fluência. Os poderes locais da nobreza seriam submetidos à autoridade do monarca, que passou a impor tributos
e regras nacionais.
Outro instrumento de consolidação dos Estados modernos foi a imposição de um idioma nacional, que de-
veria ser usado nos limites do território, onde o monarca mantinha sua autoridade, associado a origens, tradições
e costumes comuns.
Os monarcas impuseram ainda moedas nacionais, fundamentais nas trocas comerciais e na arrecadação
tributária. Para garantir a manutenção da autoridade real, foram constituídos os exércitos nacionais, que simboli-
zavam o poder dos reis expresso no monopólio da força pelos Estados nacionais. Esses exércitos nacionais eram
disciplinados, remunerados e diretamente controlados pelos reis, que os usavam para impor sua autoridade e
garantir o respeito às suas ordens em todo o país, além de garantir a defesa do território contra inimigos externos.

O IMPÉRIO INCA
A região ocupada pelos incas se estendia ao longo da cordilheira dos Andes e ocupava partes dos atuais territórios
da Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Originariamente nômades, os incas faziam parte do grupo
quéchua.
Entre os incas, a propriedade era divida em terras do Estado, terras dos sacerdotes e terras comunitárias, na qual
cada família possuía um lote para cultivo próprio depois de cultivar as terras do imperador e dos sacerdotes. Havia ainda
o ayllu, organização social formada por laços de parentesco entre os membros da comunidade e liderada pelo curaca, cujo
poder era transmitido hereditariamente.
À medida que líderes locais e sacerdotes se fortaleceram, essa sociedade experimentou a formação de clas-
ses sociais, rigidamente estratificadas, tornando-se estamental. Abaixo do imperador, havia uma elite de sacerdotes
e militares (nobreza); artífices do Estado, médicos e contabilistas compunham o grupo intermediário; e, na base da
pirâmide social, havia uma grande massa de camponeses e escravos responsáveis pela produção de excedentes,
que se concentravam nas mãos da elite.
Quanto às relações de trabalho, havia entre os incas uma forma de trabalho compulsório chamada mita.
Tratava-se da exploração obrigatória da mão de obra camponesa pelo Estado, empregada em obras públicas e nas
minas.

160
A principal atividade econômica inca era a agricultura, da qual o milho, a batata, o feijão, o algodão e a
pimenta eram os principais produtos. Também criavam animais, lhamas e alpacas, que forneciam leite, lã e carne e
serviam como meio de locomoção. Para melhor aproveitamento das terras em relevo montanhoso, os incas desen-
volveram terraços para conter a erosão e ampliar a área de plantio.

Extensão do império inca

Os incas desenvolveram um império centralizado e teocrático, do qual o imperador era considerado um


deus (sapa inca), descendente direto do Sol, supremo legislador e comandante do exército com poder vitalício e
hereditário, suplantando a antiga unidade social. Para facilitar o domínio das áreas afastadas da capital Cuzco
e integrar as diversas regiões do império, os incas construíram várias estradas que permitiam tanto o serviço de
correios quanto o deslocamento do exército para o controle de áreas rebeladas.
A religiosidade caracterizava-se pela crença em vários deuses vinculados a elementos da natureza: Sol (Inti),
chuva, fertilidade, que influenciavam suas manifestações artísticas, notadamente a construção de grandes templos.
Faziam também sacrifícios humanos e de lhamas.

ABSOLUTISMO FRANCÊS
Com a morte de Luís XIII, em 1643, subiu ao trono Luís XIV, sob a regência da rainha-mãe Ana d’Áustria e do carde-
al Mazzarino, que governou até 1661. Os aumentos dos impostos decretados pela regência revoltaram a burguesia
e a nobreza, que se uniram nas chamadas frondas.
A morte de Mazzarino precipitou o governo de Luís XIV (1661-1715), que se caracterizaria o mais emble-
mático governo absolutista, o que levou ao extremo a ideia de completa identificação entre o soberano e o Estado.
Preparado desde a infância por Mazzarino para o exercício do poder real, Luís XIV sintetizou suas convições abso-
lutistas na frase: L’État c’est moi (O Estado sou eu).
Logo que assumiu o governo, afastou os ministros permanentes, esvaziou o Conselho – base do governo no
período anterior – e acumulou as funções deles. Nas províncias foram confirmadas as intendências, ligadas direta-
mente ao poder central, que também exerciam sua autoridade em matéria de justiça, finanças e política, além de
fiscalizar os oficiais detentores dos cargos públicos locais e supervisionar a arrecadação tributária.

161
“Luís XIV” (1701), de Hyacinthe Rigaud

No plano social, Luís XIV acabou por atrair a burguesia, da qual recrutou alguns de seus ministros, como
Colbert, das finanças. Para controlar a nobreza, atraiu-a para a corte e ofereceu-lhe luxo, festas e pensões. O Palá-
cio de Versalhes, residência do rei, era cercado de 10 mil pessoas, entre cortesãos, soldados, lacaios etc. Tornou-se
símbolo do absolutismo francês, cujo grande ideólogo foi Jacques Bossuet.

REVOLUÇÕES INGLESAS NO SÉCULO XVII


Sem derramamento de sangue e representando um compromisso de classe entre os grandes proprietários rurais e
a burguesia, a Revolução Gloriosa, na Inglaterra, marginalizava o povo, além de mostrar que, para acabar com o
absolutismo, não era necessária a eliminação da figura do rei, desde que ele aceitasse submeter-se às decisões do
Parlamento.
Representando uma monarquia, cujo poder real ficaria submetido ao Parlamento. A partir de então, passou
a prevalecer na Inglaterra o princípio de que “o rei reina, mas não governa”.

Parlamento britânico

162
Preocupado com qualquer possibilidade de ser restaurada a autoridade absoluta do rei, o Parlamento bri-
tânico promulgou, em 1689, a Declaração de Direitos (Bill of Rights), que foi aceita pelo rei, em 1689, e marcou o
fim do choque entre rei e Parlamento. Essa declaração eliminava a censura política e reafirmava o direito exclusivo
do Parlamento de estabelecer impostos e de apresentar livremente petições.

REVOLUÇÃO FRANCESA
No final do século XVIII, as restrições e regulamentações mercantilistas eram sentidas pela burguesia enriquecida
e ávida pelo estabelecimento das condições para o desenvolvimento do capitalismo na França. Mas para isso era
necessário derrubar o absolutismo e as restrições mercantilistas, criando condições para uma igualdade social
jurídica. Uma parte da nobreza, desejosa de reaver seus antigos direitos feudais em plenitude, e outra parte, par-
ticularmente parentes, próxima ao rei como seu primo, o duque de Orleans, pleiteavam seu direito ao trono com
base em questões de linhagem familiar, além de outros nobres que estavam descontentes por considerarem seus
privilégios insuficientes ou desejarem cargos palacianos. Essa nobreza conspirava secreta ou abertamente contra
o rei, utilizando-se, muitas vezes com demagogia, de legítimos direitos e necessidades burguesas ou populares.
Entre esses burgueses, havia membros de classe média urbana, profissionais liberais e intelectuais, ressentidos com
o absolutismo, por haverem tentado fazer parte da estrutura de poder e terem frustradas suas pretensões. Esse foi
o caso, por exemplo, do advogado Maxime Robespierre, do aventureiro Georges Danton ou do médico Jean Paul
Marat. Mais tarde, eles e muitos outros desses ressentidos se tornariam os participantes e líderes mais radicais do
processo revolucionário.
A arma ideológica da Revolução Francesa, mediante a qual a burguesia conseguiu a hegemonia de pensa-
mento e garantiu o apoio do terceiro estado, foi a filosofia iluminista.
O contato direto com os filósofos da ilustração e com suas ideias permitiu à classe burguesa transformar seus
interesses particulares em interesses gerais de toda a sociedade francesa. A luta contra o absolutismo, o mercantilismo
e os privilégios sociais do clero e da nobreza também interessavam aos camponeses, artesãos e outras camadas sociais.
A guerra da França liberal contra a Áustria e a Prússia defensoras do absolutismo, a tentativa de fuga do
rei Luis XVI, a indefinição do governo burguês e a vitória do exército popular dos sans-culottes sobre as forças
do antigo regime provocaram a radicalização popular capitaneada pelos jacobinos. Nesse ambiente de extremos
foi realizada uma eleição nacional em que as forças de esquerda venceram com o voto universal masculino. Con-
sequência: propagação das ideias de Rousseau, disseminação da agitação popular em todo território francês, o
que tornou peculiar a história das revoluções europeias burguesas, uma vez que as revoluções inglesas, Puritana
e Gloriosa, não foram populares. De maioria jacobina, o novo parlamento implantou na França a República, em
22 de setembro de 1792, cujos novos mandatários foram os radicais Danton, Marat, Saint-Just, sob a liderança de
Robespierre, o “incorruptível”.
Nem de longe, a radicalização que caracterizou a Revolução Francesa assemelhou-se à Revolução Gloriosa
de 1688, na Inglaterra, e à Independência dos EUA. A participação popular dos sans-culottes, nas ruas de Paris, e
a luta dos camponeses no Grande Medo, no campo, criaram situações em que as propostas da esquerda jacobina
puseram em risco tanto a continuidade do antigo regime quanto a vitória da burguesia. Ela serviu de inspiração
para que os ideais democráticos, na concepção liberal ou popular e adequados aos avanços e à continuidade ex-
pansionista do capitalismo, fossem desejados e reivindicados pelas populações dos países como uma possibilidade.
Em termos políticos e sociais, a Revolução Francesa vai criar um paradoxo que vai se repetir em outros movimen-
tos diretamente por ela inspirados, como as Revoluções Liberais de 1830 e 1848, a Comuna de Paris de 1871, a
Revolução Russa de 1917. Esse paradoxo está ligado aos próprios ideias de democracia, liberdade e participação

163
social popular. Quando setores da sociedade concordam plenamente com o “grupo revolucionário” que assume o
poder desse processo de mudança e se submetem a ele irrestritamente, são duramente reprimidos e massacrados
em nome da mesma liberdade que estão tentando utilizar.

“A queda de Robespierre”, de Max Adamo, 1870

A FORMAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS


Tocqueville, em sua obra Democracia na América, percebe o caráter moralmente rígido da sociedade estaduniden-
se, que se fundou nas bases conservadoras do calvinismo puritano. Teria contribuído para a formação política do
povo dos EUA, o passado de agitação inglesa, no qual as lutas entre partidos e facções forjaram as relações de
conhecimento das leis, a educação política, as noções dos direitos, os princípios do conceito de liberdade, de uma
forma superior à maioria das nações europeias. Além desses elementos, o governo comunal, importante prática
para o desenho de instituições livres, à medida que permite introduzir o “dogma da soberania do povo”, já estaria
arraigado aos hábitos ingleses à época das primeiras imigrações.
Apesar da contribuição da “formação inglesa” para a gênese da sociedade democrática estadunidense,
Tocqueville reconhece que o restante da imigração europeia também contribuiu para a determinação do caráter
democrático desta sociedade. E isto por dois motivos: a ausência de sentimento de superioridade do imigrante e
as características de ocupação e desbravamento do solo dos EUA. A primeira causa do “germe da democracia”, ou
seja, a ausência de sentimento de superioridade se deu pelas características de imigração. A massa que emigrava
era, via de regra, composta de indivíduos que não tinham grandes recursos econômicos pois não são os felizes e os
poderosos que se exilam, e a pobreza, assim como a infelicidade, são as melhores garantias de igualdade que se
conhecem entre os homens. Mesmo no caso da transferência de grandes senhores para o solo estadunidense (por
motivos políticos ou religiosos), ainda não se instituiu a aristocracia territorial, mesmo com as tentativas de estabe-
lecimento de leis que procuravam criar graduações hierárquicas. Isto foi devido à segunda causa ou motivo exposto
por Tocqueville, ou seja, as características de ocupação e desbravamento do território dos EUA.

164
Tocqueville na Comissão de revisão da Constituição na Assembleia Nacional de 1851

NEOCOLONIALISMO E REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS


No século XIX, ocorreu na Europa a Segunda Revolução Industrial, de início na Inglaterra, França, Bélgica e Holan-
da; em seguida, expandiu-se por outros países da Europa, Estados Unidos e Japão. Em virtude das inovações e do
incremento da produção dos produtos industrializados, ocorreu uma superprodução, e as burguesias monopolistas
passaram a buscar novos mercados consumidores na África e na Ásia, mediante um novo movimento expansionista
europeu denominado neocolonialismo. Paralelamente, havia a necessidade de encontrar novas fontes de matéria-
-prima e de energia, como carvão mineral, minério de ferro, petróleo e algodão. Como os lucros eram vultosos e havia
excedente de capital, o capitalismo passou a investir capitais em novas regiões conquistadas na África e na Ásia,
processo denominado imperialismo.
A partir da Segunda Revolução Industrial, o capitalismo industrial foi gradualmente cedendo lugar ao capitalismo
financeiro e passando para os grandes bancos o controle das empresas industriais e comerciais. As finanças conquistaram
a supremacia sobre a produção e a circulação de mercadorias. Nessa etapa, os grandes bancos investiram na compra de
ações e foram assumindo o controle acionário das empresas. Por outro lado, os empréstimos e financiamentos também
contribuíram para submeter as empresas à inteira dependência das instituições financeiras.
Na Primeira Revolução Industrial, ocorreu o desenvolvimento do liberalismo econômico, que se baseava na livre
concorrência, sistema esse que criou condições para que as grandes empresas eliminassem ou absorvessem as pe-
quenas mediante processo cujo resultado foi a substituição da livre concorrência pelo monopolismo. Com a Segunda
Revolução Industrial no final do século XIX, surgiram grandes conglomerados econômicos e subprodutos típicos desse
novo sistema: trustes, cartéis e holdings. As mercadorias passaram a ser produzidas uniforme e padronizadamente e
em quantidades até então desconhecidas, o que causou o fenômeno da superprodução. Outra consequência impor-
tante da Segunda Revolução Industrial e da era do capitalismo financeiro ou monopolista foi o desenvolvimento do
imperialismo. O processo de industrialização criou para os países capitalistas uma série de problemas, de cuja solução
dependia a manutenção do ritmo de desenvolvimento industrial. As potências capitalistas necessitavam de mercados
externos que servissem de escoadouro para o excedente de mercadorias. Precisavam também de minérios e matérias-
-primas, essenciais à produção dos produtos industriais, que muitas vezes não existiam em seu próprio território e
necessitavam de mão de obra barata e áreas favoráveis ao investimento seguro e lucrativo de seus capitais.
A Revolução Industrial introduziu o conceito de progresso, inúmeros benefícios materiais e conforto às pessoas.
A máquina diminuiu o esforço físico dos homens, bem como lhes provocou novos transtornos físicos. No século XIX, a
burguesia inglesa já contava com iluminação a gás, cortinas e tapetes adquiridos nos grandes magazines que surgiram
em Londres e em Paris a partir de 1840. As percepções e os hábitos da vida cotidiana foram afetados pela máquina
fotográfica, o gramofone, a máquina de escrever, as porcelanas inglesas, entre outros.

165
Mas os benefícios do progresso não eram para todos. As cidades do século XIX, como Londres e Paris, cres-
ceram sem planejamento. Operários e burgueses já não dividiam a mesma vizinhança; aqueles moravam perto das
fábricas, enquanto os patrões, nos subúrbios mais distantes e arborizados. As cidades foram surgindo em torno das
fábricas com ruas estreitas e labirintos; as casas dos operários eram pequenas e miseráveis, grudadas umas às outras,
cujos cômodos nem sempre tinham janelas. O ar era impregnado dos gases das chaminés. Não havia serviços públicos
básicos, como água limpa e rede de esgotos. Essas cidades industriais eram feias, sujas e tristes; os rios, imundos. Essa
situação favorecia a disseminação de epidemias e doenças; cólera, varíola, escarlatina e tifo eram frequentes entre
os trabalhadores. O trabalho nas fábricas consumia cerca de 15 horas por dia. Os salários eram baixíssimos e não
permitiam aos trabalhadores usufruírem as maravilhas da sociedade industrial.
As aldeias transformaram-se em grandes cidades e parte da população rural foi obrigada a se deslocar para
os centros urbanos em busca de trabalho nas fábricas. Aliado ao aumento da produção e da produtividade, houve
sensível aumento populacional, entre 1750 e 1850. Na Inglaterra, a população urbana quase triplicou.
Graças ao progresso nos métodos agrícolas – caso da máquina semeadora –, o preço dos alimentos foi re-
duzido, e graças também às importações de mercadorias estadunidenses e ao barateamento nos transportes pelas
estradas de ferro. A invenção da comida enlatada mudou hábitos alimentares. Se até o século XIX o alimento sempre
vinha das hortas e plantações locais, passou a vir também de qualquer canto do mundo.
Com a introdução das máquinas, a força muscular deixou de ser necessária ao trabalhador das indústrias
têxteis. Aproveitou-se com isso o trabalho de mulheres e crianças, cujos salários não chegavam à metade do que
se pagava a um homem adulto. Os dedos finos das crianças eram úteis na manutenção das máquinas e seu porte
físico adequado ao espaço apertado entre as instalações. A disciplina era rigorosa e os acidentes de trabalho, muito
frequente eram reflexos de má alimentação e da fadiga. Crianças trabalhavam sobre pernas de pau para alcançarem
os teares. Se adormecessem, podiam ter seus dedos quebrados nas engrenagens.
A literatura dessa época registra personagens pálidos, quase sem vida. A partir de meados do século XIX,
houve melhoras nas condições de trabalho graças às reações e pressões dos próprios trabalhadores organizados em
associações e sindicatos.

A DOUTRINA MONROE ESTADUNIDENSE E O IMPERIALISMO JAPONÊS


A política isolacionista norte-americana tinha por objetivo evitar o envolvimento e a participação dos Estados
Unidos nas guerras e conflitos travados na Europa. O suporte teórico desse isolacionismo foi a Doutrina Monroe,
formulada, em 1823, pelo presidente James Monroe, cujo princípio básico era a oposição dos Estados Unidos a
qualquer intervenção política ou militar dos países europeus nos assuntos internos do continente americano, sinte-
tizado no lema “a América para os americanos”.
Já na Ásia, a industrialização mais importante foi a do Japão, cujo ponto de partida foi com a Revolução
Meiji (luzes), em 1868. A necessidade de matérias-primas e de mercados externos levou o Japão a praticar uma
política de expansão imperialista na região, que provocou, em 1894, a Guerra Sino-japonesa, assim como a Guerra
Russo-japonesa, em 1904, ambas vencidas pelo Japão, o que o transformou na grande potência do Extremo Oriente.

O NEOCOLONIALISMO
A segunda metade do século XIX foi marcada por um novo e vigoroso movimento do capitalismo, caracterizado
pelo imperialismo, que submeteu a maior parte dos territórios da África e da Ásia à condição de colônia das potên-
cias europeias, notadamente as que passaram pela transformação industrial. Deram início a uma verdadeira corrida
colonial: Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha e Itália. O neocolonialismo pode ser entendido como filho da política
industrialista e da expansão do capital financeiro, sem desprezar, contudo, as rivalidades políticas europeias, que
aguçaram o nacionalismo e transformaram a conquista colonial em prestígio político.

166
As nações industrializadas precisavam encontrar uma fonte de matéria-prima industrial – carvão, ferro,
petróleo – e produtos alimentícios de que não dispunham. Precisavam também de mercados consumidores para
os excedentes industriais, além de novas regiões onde pudessem investir com lucros significativos seus capitais
disponíveis, como a construção de ferrovias e a exploração de minas, por exemplo, essa política se intensificou, com
base no darwinismo social e no fardo do homem branco.

Divisão do território africano pelos países europeus

Esse mecanismo era indispensável para aliviar a Europa dos capitais excedentes, capitais esses que, se fos-
sem investidos na Europa, agravariam a Grande Depressão e intensificariam a tendência dos países industrializados
na Europa continental adotarem medidas protecionistas, fechando seus mercados e tornando a situação ainda pior.
Outro fator tornava a política colonialista atraente para os governos europeus: a possibilidade de transferir
um número significativo de sua população como colonos para as novas regiões conquistadas, resolvendo, assim, o
problema do excedente populacional europeu, que crescia em ritmo acelerado. Além disso, o operariado europeu,
insatisfeito com suas precárias condições de vida e de trabalho, agitava a Europa, comandando inúmeros movimen-
tos sociais. Os governos europeus perceberam que a exploração colonial poderia possibilitar melhoria no padrão de
vida da classe operária do velho continente, enfraquecendo, assim, os levantes populares.
No plano político, os Estados europeus estavam preocupados em aumentar seus contingentes militares, a
fim de fortalecerem suas respectivas posições frente às demais potências. Com as colônias, contariam com maior
disponibilidade de recursos e aumento dos contingentes militares.

167
Aulas 3 e 4

Competências 2, 3 e 4
Habilidades 7, 9, 10, 11 e 19

BREVIÁRIO

A CRISE CAPITALISTA DE 1929


O capitalismo nasceu sob a égide de ser mundial, como capitalismo comercial, através da expansão ultramarina,
no final do século XV. A Revolução Industrial consolidou o capitalismo como sistema econômico: o capitalismo
sem necessidade de adjetivação, no final do século XVIII. Seu caráter expansionista – acumulação de capital é
constante através da produção industrial, da comercialização das mercadorias e do capital financeiro – fez com
que a burguesia ditasse as políticas que melhor conviessem à reprodução do capital: a defesa da burguesia e dos
seus representantes nas instâncias institucionais da não interferência do Estado nas atividades do capitalismo.
Durante esse período, constituem-se os trustes, os cartéis e as holdings. No final do século XIX, o capitalismo
configurou-se como imperialista: havia necessidade de assegurar territórios no mundo como mercado consumi-
dor para a crescente produção de mercadorias, agora atingindo a superprodução, geradora de crises e da expan-
são imperialista, que impõe os conflitos armados como necessidade de conquista e preservação dos mercados.
A superprodução, a política econômica liberal e a especulação financeira provocaram a primeira grande crise do
capitalismo, a Crise de 1929, cujas consequências foram devastadoras para o mundo capitalista.
Percebendo o aumento dos lucros das indústrias, a população estadunidense passou a comprar cada vez
mais suas ações. O capital gerado por esses papéis eram investidos nas indústrias, que, ao obterem maiores lucros,
provocaram o aumento dos preços das ações e, consequentemente, o enriquecimento do proprietário das ações
que poderia vendê-las a um preço elevado. Nesse ambiente, surgiu uma onda de especulação financeira na Bolsa
de Valores de Nova Iorque, cujo comércio de ações passou a supervalorizar seus preços, baseado na suposição de
que seus valores sempre iriam crescer no futuro, dando uma falsa sensação para a classe média de que o lucro
futuro seria uma certeza absoluta. Assim, a população estadunidense passou a usar suas economias e salários para
a compra de ações. A superprodução, a política econômica liberal e a especulação financeira provocaram a primeira
grande crise do capitalismo, a Crise de 1929, cujas consequências foram devastadoras para o mundo capitalista.
Nos Estados Unidos, o otimismo cedeu lugar ao medo. Em três anos, quatro mil bancos faliram, 14 milhões de
pessoas ficaram desempregadas, os salários caíram 40% e a renda nacional foi reduzida em 50%. Entre 1929 e 1932, a
renda familiar nas pequenas propriedades caiu 60% e um terço dos proprietários rurais perderam suas terras. Trabalha-
dores rurais, brancos e negros, perambulavam de cidade em cidade em busca de comida e trabalho. A vida econômica e
social das famílias durante a depressão mudou. Para economizar, muitas delas alugaram quartos ou dividiram casas com
parentes e outras famílias. Sem emprego ou forçados a pedir assistência, muitos homens abandonaram suas famílias.
Taxas de fecundidade e casamento diminuíram pela primeira vez no país, desde os primeiros anos do século XIX.

169
Aglomeração em frente à Bolsa de Valores, em Wall Street

ASCENSÃO DO FASCISMO NA EUROPA


Aproveitando a total desorganização do regime parlamentar italiano no pós-Primeira Guerra, Mussolini ordenou
aos camisas negras – alcunha dos defensores de seus defensores – a Marcha sobre Roma, em outubro de 1922.
Cerca de 30 mil fascistas desfilaram pela capital e exigiram a entrega do poder. O rei Vitor Emanuel III, pressionado
por militares, pela alta burguesia e pelos latifundiários, convidou Mussolini para ocupar o cargo de primeiro-mi-
nistro. Sob a aparência de uma monarquia parlamentarista, o líder fascista detinha plenos poderes e convocou um
novo ministério. Estava formado um novo governo, cujos cargos essenciais eram dominados pela maioria fascista.
Mussolini passou a se servir das instituições do Estado como instrumento de destruição da democracia parlamentar
e de instauração da ditadura fascista.
Em 1923, o ditador italiano criou o Conselho de Ministros e o Grande Conselho Fascista, composto pelos
principais chefes do partido. Ao lado do exército regular, transformou a milícia fascista (camisas negras) em órgão
de segurança nacional, sob o comando do chefe de governo.
Realizaram-se, em 1924, eleições para o Parlamento. Por meio do terror, os fascistas obtiveram 65% dos
votos. Mussolini foi contemplado por um dócil parlamento, agora livre de opositores reais e com plenos poderes.

Mussolini e Hitler, aliados fascistas.

Em 1925, Mussolini promoveu uma série de medidas repressivas: dissolveu as organizações que considera-
va subversivas, fechou os clubes de oposição, ordenou buscas e prisões, ampliou a censura à imprensa e aumentou
as verbas destinadas às milícias fascistas.

170
Após um atentado sofrido pelo Duce, em 1926, os jornais da oposição foram fechados, os partidos dis-
solvidos e seus membros perseguidos. A pena de morte foi restaurada, criando-se tribunais especiais compostos
por membros da milícia fascista. As formações paramilitares tornaram-se oficiais e, de 300 mil homens, em 1925,
chegaram a 750 mil, em 1930. Em 1939, o Parlamento foi suprimido e seus membros substituídos pelo Grande
Conselho Fascista. No período de 1927 a 1934, mais de cinco mil pessoas foram condenadas por oposição ao
regime, algumas à pena capital, outras à prisão perpétua. Milhares de pessoas foram deportadas.

GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Propaganda anarquista espanhola durante a guerra civil

Um fato colaborou com as tensas relações que antecederam a Segunda Guerra Mundial: a guerra civil deflagrada
entre fascistas e republicanos na Espanha. Como toda a península Ibérica, esse país era atrasado e predominante-
mente agrário até o início do século XX, quando teve início seu processo de industrialização. Nos primeiros anos da
década de 1930, a Espanha já possuía nas cidades uma parcela de sua população vinculada ao desenvolvimento
industrial, que exigia mudanças no antigo regime.
Em 1931, o rei Afonso XIII, pressionado pelas camadas urbanas que exigiam a República, abdicou. Esta-
beleceu-se então um governo comandado pela burguesia liberal. O crescimento das reivindicações populares, o
anticlericalismo, o autonomismo das regiões economicamente mais adiantadas (Catalunha e províncias bascas), a
reação dos antigos setores dominantes na sociedade espanhola levaram o país a um impasse. Surgiu nessa época
um pequeno partido de características fascistas, denominado Falange.
Para as eleições gerais de 1936, anarquistas, comunistas, socialistas radicais, socialistas moderados, em-
presários liberais e minorias nacionais da Catalunha e províncias bascas formaram a Frente Popular. Vitoriosos nas
eleições, os partidos da Frente procuraram efetivar várias reformas sociais prometidas em campanha. O presidente
eleito, Manuel Azaña, anistiou 30 mil presos políticos, retomou a reforma agrária, deu autonomia à Catalunha e
implementou a reforma da educação.
Em 18 de julho de 1936, o general Francisco Franco deu início a um levante contra o governo republicano.
Recebeu a adesão da Falange, de latifundiários, dos banqueiros, dos industriais, da maior parte da classe média e
de amplos setores da Igreja, à exceção do clero catalão e basco. Do lado do governo republicano legalista estavam
operários, camponeses, catalães, bascos, pequenos industriais, enfim, todos que acreditavam na democracia. Como
tentativa de se defender, em outubro de 1936, o governo republicano decretou a formação de um exército popular.
Começava, assim, a Guerra Civil Espanhola.

171
O MUNDO DO PÓS-GUERRA
A guerra provocou alterações nas estruturas de poder. Os Estados Unidos e a União Soviética surgiram como os
dois mais poderosos Estados do mundo. As grandes potências tradicionais – Inglaterra, França e Alemanha – foram
obscurecidas por essas superpotências. Os Estados Unidos tinham a bomba atômica e um imenso poderio indus-
trial; a União Soviética tinha o maior exército do mundo e estendia seu domínio à Europa oriental e passou a domi-
nar também a tecnologia da energia atômica. Com a Alemanha derrotada, o principal incentivo para a cooperação
soviético-americana desaparecera.
Durante a guerra, as forças militares nazistas destruíram a estrutura bélica e econômica da Inglaterra e da
França; consequentemente, quando a África e a Ásia iniciaram a luta pela independência, a repressão europeia já
não tinha o poder anterior. Também, no período da Segunda Guerra, Inglaterra e França militarizaram tropas nativas
para incorporar aos seus efetivos bélicos no intuito de derrotar o Eixo, processo esse que fortaleceu belicamente os
continentes nativos, que, após a guerra, voltaram-se contra suas opressivas metrópoles europeias.
Assim, vemos que a Segunda Guerra Mundial acelerou a desintegração dos impérios europeus de além-
-mar. Os Estados europeus não puderam mais justificar o domínio de africanos e asiáticos depois de terem lutado
para libertar terras europeias do imperialismo alemão. A Grã-Bretanha abriu mão da Índia; a França, do Líbano e
da Síria e os holandeses, da Indonésia. Nas décadas de 1950 e 1960, praticamente todos os territórios coloniais
conquistaram a independência – descolonização africana e asiática. Nos casos em que a potência colonial resistiu
à independência desejada pela colônia, o preço foi o derramamento de sangue.

ESTADOS UNIDOS NO PÓS-GUERRA:


A ERA DE OURO DO CAPITALISMO NO CONTEXTO DE GUERRA FRIA
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tiveram um surto de desenvolvimento em várias áreas, como
o baby boom populacional; entretanto, vários problemas afloraram e foram exaustivamente discutidos, principal-
mente na década de 1960. Nos anos rebeldes, surgiu no EUA o movimento hippie (paz e amor), formado na sua
maioria por jovens. Ficou mundialmente conhecido por suas reivindicações de caráter social, pela luta contra a
Guerra do Vietnã, suas manifestações culturais, principalmente na música, e pela sua maior expressão no festival
de Woodstock. Apesar da sua importância ao reivindicar uma sociedade alternativa, fraternal e comunitária, com
mais liberdade sexual e de pregar o consumo de alucinógenos etc., o movimento hippie sucumbiu às suas próprias
contradições e foi “engolido” pelo capitalismo.

Manifestações contra a Guerra do Vietnã

172
Para melhor compreensão sobre a Guerra do Vietnã, estopim dos movimentos contestatórios do final da
década de 1960, escreveu Roberto Navarro:
“A ‘virada’ que culminou com a derrota americana na Guerra do Vietnã (1954-1975) começou com uma
série de ataques dos inimigos comunistas em 1968. É o episódio conhecido como ‘Ofensiva do Tet’. O nome é uma
referência à data de início das batalhas, o feriado de ano novo lunar, chamado pelos vietnamitas de Tet Nguyen
Dan. A partir da madrugada de 31 de janeiro de 1968, o governo comunista do Vietnã do Norte e seus aliados, os
guerrilheiros da Frente de Libertação Nacional, mais conhecidos como vietcongues, iniciaram ataques simultâneos
contra várias cidades do Vietnã do Sul – um país capitalista defendido pelo exército sul-vietnamita e por nações
como Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul e, principalmente, Estados Unidos. A ideia da invasão militar comu-
nista era lutar para ‘libertar’ o povo do Sul da ‘opressão capitalista’. Eles achavam que a invasão provocaria uma
rebelião popular contra o governo do Vietnã do Sul, coisa que nunca aconteceu. No começo, o ataque surpresa deu
certo, mas os americanos e sul-vietnamitas reagiram rapidamente. Como o poderio militar do lado capitalista era
muito maior, os comunistas foram expulsos em poucos dias de quase todas as cidades que invadiram. Mas, apesar
da vitória militar americana, as imagens da invasão frustrada provocaram um bruta estrago nos Estados Unidos.
‘A Ofensiva do Tet’ chocou a opinião pública americana. A cobertura dos combates feita pela TV deixou em muita
gente a impressão de que os Estados Unidos e seus aliados estavam em situação desesperadora.
Dentro dos Estados Unidos, aumentaram os protestos contra a guerra. Com o filme queimado, o governo
americano ainda segurou seus soldados no Vietnã por quatro anos, mas acabou retirando as tropas em 1972. Dian-
te do abandono americano, o exército e os guerrilheiros do Norte ganharam terreno. Acabaram tomando a capital
Saigon em 1975, vencendo a guerra e unificando o Vietnã sob o regime comunista.”
(Disponível em: <mundoestranho.abril.com.br>. Acesso em: 10 ago. 2016).

DESCOLONIZAÇÃO AFRICANA E ASIÁTICA


Desde o século XIX, o imperialismo, particularmente inglês e francês, fez dos continentes africano e asiático seu
alvo, transformando seus vastos territórios em colônias. Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, os povos africa-
na e asiáticos iniciaram um longo processo de descolonização com o objetivo de alcançarem as suas independên-
cias. Contudo, em muitas regiões, a soberania não significou, necessariamente, uma melhoria no padrão de vida
da população, pois a exploração, agora, estava nas mãos de uma elite regional e das duas novas superpotências:
Estados Unidos e União Soviética.
A Carta de São Francisco, que criou a ONU, ao proclamar o direito dos povos de se autogovernarem (princí-
pio da autodeterminação dos povos), consagrou o anseio de independência dos povos africanos e asiáticos.
Os caminhos para conseguir a independência variaram bastante, mas podem ser agrupados em dois: o pací-
fico e o violento. No primeiro caso, a antiga colônia assumia progressivamente seus direitos de nação independente
através de uma série de concessões feitas de modo gradual pela metrópole até atingir a independência completa.
Nesse caso, a antiga colônia continuava a manter boas relações com a metrópole, a fazer parte do seu círculo de
influência e a receber sua ajuda econômica. Esse foi o caso da independência da Índia em relação à Inglaterra.
No segundo caso – a forma violenta –, a colônia rompia totalmente com a antiga metrópole, sem qualquer
tentativa de abolição progressiva do estatuto colonial. Pelo contrário, a metrópole procurava evitar, pela violência,
os movimentos de libertação, pressionando a colônia a procurar a solução armada para seus problemas. Esse foi o
caso da independência das colônias francesas da Indochina (atual Vietnã) e da Argélia.
Em 1956, existiam na África negra apenas três Estados independentes: a Etiópia, a Libéria e a África do
Sul, este governado pela minoria branca de origem europeia. A quase totalidade do continente – 20 milhões de
quilômetros quadrados e 160 milhões de habitantes – estava dividida em colônias dos países europeus. Entretanto,

173
entre 1957 e 1962, com o processo de descolonização, 29 países conquistaram sua independência. Na África do
Sul, foi apenas após um longo processo que o regime do apartheid foi derrubado e amplas liberdades foram atin-
gida para o conjunto total da população daquele país.

Soldados africanos integrantes das tropas aliadas, durante a Segunda Guerra Mundial

MOVIMENTOS DE DESCOLONIZAÇÃO
A independência da Índia representou um marco no processo de descolonização. Dominada pelos ingleses desde o
século XVIII, somente no século XIX, por volta de 1885, teve início um movimento nacionalista, impulsionado por
minorias intelectualizadas, cuja educação fora propiciada pelos ingleses.
O grande líder do movimento de emancipação foi Mahatma Gandhi, um advogado de formação europeia
que tinha por princípio a não violência, a resistência passiva aos dominadores e a desobediência civil. Após a
Grande Guerra, o movimento intensificou-se e ganhou a adesão das massas, nem sempre respeitando os princípios
pacifistas de Gandhi. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947, a Inglaterra outorgou a independência
ao país, mas, diante da cisão entre os hindus e os muçulmanos, repartiu o território, que foi dividido em Índia e
Paquistão, ficando a Índia no centro e o Paquistão Oriental separado do Paquistão Ocidental por mais de 1,7 mil
quilômetros. A divisão foi seguida por deslocamentos maciços de população e confrontos sangrentos entre hindus
e muçulmanos. A ilha do Ceilão, atual Sri Lanka, formou um terceiro Estado, budista.
Em 1971, o Paquistão Oriental separou-se do Ocidental com o apoio da Índia e passou a se chamar
Bangladesh. Atualmente, Índia e Paquistão, que possuem bombas atômicas, estão em estado de guerra por ques-
tões territoriais na Caxemira, entre outros fatores.
Vale salientar que a inspiração sobre a não violência defendida por Gandhi originou-se do fato do hindu-
ísmo, segundo o qual somente as ações nobres elevariam o espírito humano para as castas superiores depois da
ressurreição. Gandhi foi assassinado em 1948 por um fanático hindu que não concordava com sua política de
respeito aos interesses dos muçulmanos.

Muhammad Ali Jinnah e Mahatma Gandhi, aliados contra a dominação britânica

174
A CONTRACULTURA E O ANO DE 1968
Na década de 1960, muitas expressões artísticas representaram uma postura crítica frente a problemas da época,
em especial os conflitos da Guerra Fria. O movimento de maio de 1968, na França, tornou-se ícone de uma época
onde a renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem. A liberação sexual,
a Guerra do Vietnã e os movimentos pela ampliação dos direitos civis compunham todo o discurso de reivindica-
ções dos estudantes da época.
A sociedade estadunidense, oriunda do conservadorismo puritano anglo-saxão, foi sacudida pelo movimen-
to Black Power, que passou a reivindicar direitos de cidadania para a população afrodescendente, ou seja, para os
negros. Na música, surgiram grupos de artistas na gravadora Motown, como The Supremes e Stevie Wonder. Na
estética, o penteado afro, intitulado black, fez sucesso. Mas foi na luta pela cidadania, liderada, entre outros, pelo
pacifista Martin Luther King, que o movimento negro amadureceu e exigiu que os direitos constitucionais à cida-
dania fossem estendidos a todos. No Sul, ainda havia a segregação racial. Entretanto, uma parcela do movimento
negro defendia o recurso à violência, se necessário, na defesa das suas reivindicações, como, os Panteras Negras
liderados por Malcom X. Ainda nos anos rebeldes, surgiu no EUA o movimento hippie (paz e amor), formado na
sua maioria por jovens. Ficou mundialmente conhecido por suas reivindicações de caráter social, pela luta contra
a guerra do Vietnã, suas manifestações culturais, principalmente na música. E pela sua maior expressão no festival
de Woodstock. Apesar da sua importância ao reivindicar uma sociedade alternativa, fraternal e comunitária, com
mais liberdade sexual e de pregar o consumo de alucinógenos etc., o movimento hippie sucumbiu às suas próprias
contradições e foi “engolido” pelo capitalismo. Jimi Hendrix e Janis Joplin, alguns dos seus ídolos, morreram pre-
maturamente de overdose. Entretanto, o rock’n roll idealizou canções de protesto belíssimas, como Blowin’ in the
wind, de Bob Dylan, embora haja a tentativa de despolitizá-la na atualidade.
Mais do que iniciar algum tipo de tendência, o Maio de 68 pode ser visto como desdobramento de toda uma
série de questões já propostas pela revisão dos costumes feita por lutas políticas, obras filosóficas e a euforia juvenil.

Cartaz francês de 1968

175
A NOVA ORDEM MUNDIAL NEOLIBERAL
A União Europeia, concebida após no início da década de 1990, representa um esforço das nações ocidentais des-
se continente para se colocar fim às guerras que tanto as assolaram na primeira metade do século XX. O esforço
consiste na garantia de livre circulação de cidadãos europeus e uma série de tratados diplomáticos e comerciais
entre as nações signatárias.
Apesar da grande realização de juntar em um único bloco dezenas de países com histórias e culturas distin-
tas, a União Europeia tem grandes problemas estruturais que reverberam contemporaneamente. Durante as nego-
ciações para a formação do bloco, estabeleceu-se metas sociais, políticas e econômicas para que países pudessem
tornar-se membros. No que tange as duas primeiras, requisitos como regimes democráticos e liberdades civis foram
cumpridos por todos os membros. Entretanto, a desregulamentação econômica é muito grande, à medida que o
cenário produtivo e fiscal é extremamente variado e complexo. À isto, soma-se o fato de que ao ingressarem na UE,
os países abrem mão de certo grau de soberania econômica para tomar decisões inter-bloco. Em certos momentos,
economias mais fracas acabaram sendo sobrepujadas e tendo seus interesses nacionais limitados por razões eco-
nômicas e fiscais, como é o caso da relação entre Grécia, Alemanha e Banco Central Europeu.

Bandeira da União Europeia

A DEMOCRACIA LIBERAL
Em determinadas concepções acerca da democracia moderna, temos a participação popular resumida ao sufrágio
universal. O processo é democrático somente na escolha e legitimação do governante. Não cabe ao governante
atuar em função da vontade das massas, que seriam emocionais e irracionais.
Uma vez exercido o direito de voto e sagrados os vencedores do pleito eleitoral, a vontade popular estaria
atendida, cabendo aos seus representantes, de maneira autônoma, a direção governamental do país. O sufrágio
universal é muito mais uma aclamação periódica que confirma o carisma do líder escolhido. Em momento algum,
identificaríamos a participação das massas com a participação no poder. A participação das massas é importante
na escolha dos líderes, enquanto mais um fator de seleção de homens hábeis para conduzir a nação.

NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS PÓS - 2008


O movimento chamado de “Indignados” é uma reação contra os cortes de gastos públicos feitos pelo governo
para combater a recessão. Os ativistas culpam o governo e as instituições financeiras pelo crescimento das taxas
de desemprego e da desigualdade. As revoltas começaram em 15 de maio em Madri, na Espanha, onde o movi-
mento ficou conhecido como “Indignados” ou 15 M (em referência à data dos primeiros protestos). Os espanhóis
se queixavam do alto índice de desemprego no país (20%) e da influência das instituições financeiras nos rumos
da política, além de reivindicar uma maior participação política.

176
Sua característica estrutural é o de buscar um novo discurso e uma nova prática para os movimentos e parti-
dos de esquerda. Do ponto de vista de seu aporte teórico, baseia-se em correntes oriundas da degeneração do euro-
-comunismo dos anos 1970-1980, distanciando-se dos partidos tradicionais socialistas-reformistas, além de firme-
mente se colocar como crítico e muito distante dos partidos comunistas e das experiências socialistas deste cunho.
Como consequência natural, em seu discurso há o abandono da ideia de revolução, para ao invés ter como pauta
a radicalização da democracia, ou seja, tensionar as instâncias de poder para não apenas garantir mais direitos e
liberalidades (como fez a social-democracia), mas para conduzir a novas formas de relacionamento político-social e
de decisões coletivas. Por conta disto, sua atuação é centrada na atividade parlamentar e nos movimentos sociais.

Manifestantes reunidos em Madri

ARTE, CULTURA E POLÍTICA


A arte do grafite é uma forma de manifestação artística em espaços públicos. A definição mais popular diz que o
grafite é um tipo de inscrição feita em paredes. Existem relatos e vestígios dessa arte desde o Império Romano. Seu
aparecimento na Idade Contemporânea se deu na década de 1970, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Alguns
jovens começaram a deixar suas marcas nas paredes da cidade e, algum tempo depois, essas marcas evoluíram
com técnicas e desenhos. O grafite está ligado diretamente a vários movimentos, em especial ao hip hop. Para esse
movimento, o grafite é a forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive, principalmente os menos
favorecidos, ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas.
Em sua linguagem poética, tanto nas suas constituintes gráficas e léxicas como na disposição das palavras
e nas construções semânticas constituídas pela cultura, percebemos que o caráter estético se revela sempre pelos
mesmos signos: é criado conscientemente para libertar a percepção do automatismo; sua visão representa o obje-
tivo do criador e ela é construída artificialmente de maneira que a percepção se detenha nela e chegue ao máximo
de sua força e duração. O objeto é percebido não como uma parte do espaço, mas por sua continuidade. A língua
poética satisfaz estas condições. A imagem poética deve ter um caráter estranho, surpreendente. A arte é pensar .

Grafite em um muro, na Alemanha por imagens.

177
Aulas 5 e 6

Competências 1, 2, 3 e 5
Habilidades 2, 3, 8, 12 e 21

BREVIÁRIO

O CONTATO ENTRE PORTUGUESES E INDÍGENAS


Etnocentrismo, termo oriundo da Antropologia, é quando determinado grupo se assume como superior aos demais,
em termos materiais, culturais, morais e espirituais.
Do ponto de vista da relação entre índios e portugueses, São Vicente, Bahia e Pernambuco fornecem-nos
três modelos distintos. Em São Vicente, conforme diz o padre Anchieta, “nunca nela houve guerra com os índios”,
a não ser no ano de 1562. Os portugueses incorporaram boa parte da cultura material indígena e chegaram a
adotar sua língua.
Na Bahia, com a instalação do governo-geral, foi implantada uma política que consistiu na guerra decla-
rada contra os tupinambás e, ao mesmo tempo, numa sólida aliança com os tupiniquins. Com essa política que
diferenciava indígenas aliados e indígenas inimigos, a Bahia beneficiou-se da criação de um verdadeiro cinturão de
proteção representado pelos grupos aliados.
Em Pernambuco, os indígenas foram militarmente derrotados pelos portugueses. Ao contrário do que ocor-
reu na Bahia, não fizeram alianças e, assim, ficaram mais vulneráveis aos ataques indígenas e com maior dificul-
dade para repeli-los.

Descobrimento do Brasil – Oscar Pereira da Silva (1904)

179
A EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL
O único produto brasileiro com algum valor comercial, embora inferior às mercadorias orientais, era o vegetal do
qual se extraía uma tinta muito usada em tinturaria: o pau-brasil. A extração dessa madeira ocorria no litoral da
Colônia, em uma área que ia do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Os portugueses foram os primeiros a
explorá-la. Depois de algumas viagens, os espanhóis afastaram-se em respeito ao Tratado de Tordesilhas.
Os franceses, sem compromisso com o Tratado e sem poder comerciar diretamente com o Oriente, lançaram-
-se ao contrabando.
A exploração era rudimentar e predatória destruía matas sem qualquer preocupação em repô-las. Sem
que houvesse qualquer intenção de ocupar o território, a concentração limitou-se exclusivamente à exploração da
madeira.
Os traficantes contavam com a mão de obra livre dos índios mediante escambo, que consistia na troca de
objetos de pouco valor – espelhos, miçangas, objetos de ferro – pelo corte e transporte do pau-brasil até locais na
costa.
Para viabilizar a exploração do pau-brasil e assegurar a posse do território contra os invasores, os portugue-
ses criaram as feitorias – estabelecimentos fundados no litoral da Colônia para armazenar o pau-brasil, que deveria
seguir para a Metrópole.
O Brasil continuou exportando o pau-brasil até o início do século XIX, mas o negócio deixou de ser rentável
a partir de 1530, quando as matas do litoral já estavam esgotadas.

A PRIMEIRA MISSA DO BRASIL


A primeira missa realizada no Brasil foi um marco histórico, pois simbolizou o início da entrada do cristianismo
numa terra habitada por milhões de indígenas. Ela ocorreu no dia 26 de abril de 1500 (um domingo de Páscoa),
quatro dias após a chegada dos portugueses ao Brasil, no litoral sul do atual Estado da Bahia (região de Porto
Seguro). Foi dessa forma que Pero Vaz de Caminha narrou-a:
“Enquanto assistíamos à missa e à pregação, folgava na praia um grupo de gente […] com seus arcos e
setas. E olhando-nos, sentaram-se. Depois de acabada a missa, quando estávamos sentados ouvindo a pregação,
muitos deles levantaram-se e começaram a tocar corno ou buzina, saltando e dançando por um bom tempo. Alguns
deles se metiam em jangadas – duas ou três que lá tinham – as quais não são feitas como as que eu já vi: somente
são três traves, atadas entre si. E neles subiam quatro ou cinco, ou só que quisessem, não se afastando quase nada
da terra, indo só onde dava pé.”
Pouco se estuda sobre os povos tupis dentro das escolas brasileiras, embora eles tenham se espalhado
por vasto território na América portuguesa. A economia desse povo era de agricultura rudimentar e extrativista,
marcada por rígida divisão sexual do trabalho. Eram povos que constantemente se colocavam em guerra contra
outras tribos, o que trazia teor bélico aos seus costumes e cultura. O canibalismo, portanto, não lhes era estranho.

180
Os tupis eram distribuídos em dez grandes grupos, quando da chegada portuguesa no continente, conforme
a imagem a seguir:

A RELAÇÃO ENTRE COLONIZADOR E COLONIZADO


Em 1500, na chegada dos portugueses na América, estima-se que cerca de três a quatro milhões de índios viviam
no atual território brasileiro, distribuídos em centenas de tribos culturalmente distintas. Em 1825, logo após a
proclamação da Independência, cerca de 200 mil índios ocupavam nosso território. Tais números, recentemente
estimados, demonstram o caráter severo da dominação colonial portuguesa.
Já em 1970, acreditava-se que o fim da população indígena brasileira seria inevitável. Contudo, a partir
da década de 1980, houve expressivo crescimento das comunidades indígenas, revertendo o quadro de potencial
desaparecimento.
Hoje, os mais de 240 povos indígenas somam, segundo o censo do IBGE em 2010, 896.917 pessoas.
Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083, em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da
população total do País.
A leitura da tabela e do gráfico abaixo, desenvolvido pela Funai (Fundação Nacional do Índio), revela-nos
a evolução da população indígena em nosso território.

181
O DOMÍNIO IDEOLÓGICO DO CATOLICISMO
Sodomia é uma palavra de origem bíblica usada para designar atos praticados pelos moradores da cidade de
Sodoma. Por muitos anos, sodomia vem sendo interpretado por diversos segmentos religiosos como as perversões
sexuais, com ênfase para o sexo entre homossexuais. É histórico e notório a categorização nociva e a persegui-
ção extensiva que as instituições ligadas às mais diversas crenças promovem contra grupos que não aderem ou
contestam suas práticas. No caso do catolicismo, temos o bárbaro exemplo da Inquisição, que perseguia, acusava
e condenava – muitas vezes até a morte – qualquer indivíduo que praticasse ou mesmo se manifestasse contra
os dogmas da Igreja. Nesta longa e triste história, incluem-se desde camponeses pagãos até grandes gênios do
Renascimento.
A perseguição aos “anormais” está ligada diretamente à normatização dos corpos com a finalidade da
manutenção das estruturas de poder, às quais as instituições religiosas estão ligadas – quando não elas mesmas
representam a tirania institucionalizada. O enquadramento do “anormal” em qualquer categoria de repulsa que
seja, nada mais é do que uma tentativa de dominação do corpo, das consciências e do espírito; um claro ataque à
liberdade individual.

A CANA-DE-AÇÚCAR NA ECONOMIA BRASILEIRA


A cana-de-açúcar é uma planta exógena ao território americano, oriunda da Índia. Decidiu-se plantá-la no Brasil
por questões meramente comerciais e através de decisão régia. Não há outra motivação que não a de valorização
da colônia e do lucro comercial para o cultivo da cana pelos portugueses.
Quando Portugal se decidiu pela colonização do Brasil, não enfrentava uma situação econômica favorável
em virtude, principalmente, da crise do comércio com o Oriente. O Brasil seria, portanto, uma alternativa de acú-
mulo de capitais para o Estado lusitano no contexto da política mercantilista. Dessa forma, foi implantada uma
colonização de exploração, através da qual as colônias serviriam para o sustento da economia metropolitana, ser-
vindo como áreas produtoras de gêneros tropicais, fornecedoras de metais preciosos e consumidoras de produtos
manufaturados e escravos. A colonização do Brasil deveria garantir o sustento econômico de Portugal, gerando
riquezas e permitindo a ocupação e a defesa da terra, sem gastos para a metrópole.
A economia colonial agrícola baseada na monocultura, no latifúndio e na escravidão tinha seu funcionamen-
to voltado para o mercado externo, transferindo capital da colônia para a metrópole, que controlava a circulação
mercantil. A natureza da produção colonial ajustava-se às necessidades do mercado europeu. Assim, a colônia era

182
um instrumento de acumulação de capital para os centros dinâmicos da Europa. O eixo central desse mecanismo
era o regime do monopólio colonial. Também conhecido como pacto colonial, esse regime estabelecia a exclusivi-
dade do comércio externo da colônia em favor da metrópole. Procurava-se sempre, até onde fosse possível, pagar
os menores preços pelos produtos da colônia, para vendê-los com maior lucro na metrópole ou na revenda para o
mercado europeu. Além disso, buscava-se conseguir maiores lucros da venda de produtos oriundos da metrópole,
sem concorrência, na colônia. Para evitar a concorrência com a metrópole, foi vetada a instalação de manufaturas
na colônia. A economia colonial era, portanto, complementar em relação à economia metropolitana.

O Estado de São Paulo é referência global no cultivo e na produção de derivados de cana-de-açúcar. Como
maior produtor mundial de etanol a partir da cana-de-açúcar, o Estado é pioneiro em pesquisa e desenvolvimento
nesse setor e detém uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo.
Segundo o Sistema de Acompanhamento de Produção Canavieira, a indústria sucroalcooleira paulista pro-
duziu 21 milhões de toneladas de açúcar e 11,6 bilhões de litros de etanol, que representam, respectivamente,
58,7% e 51,2% do total produzido no Brasil, em 2012. Entre 2003 e 2012, a produção paulista de açúcar cresceu
73,8% e a de álcool 64,5%, impulsionada pelo mercado estadual de biocombustíveis. A economia do setor sucro-
energético representa 44% de toda a agropecuária paulista.
São Paulo possui usinas instaladas que processam matéria-prima proveniente de cerca de 5,2 milhões de
hectares plantados com cana-de-açúcar. Essa área representa 54% dos quase 9,6 milhões de hectares com a cul-
tura em todo o território brasileiro. A área do canavial de São Paulo é equivalente aos territórios da Croácia ou da
Costa Rica.
A cultura da cana está distribuída em praticamente todo o Estado de São Paulo, com destaque para o cen-
tro-norte (Piracicaba, Ribeirão Preto, Franca e Barretos), as regiões de Campinas, Bauru e Jaú e, mais recentemente,
o oeste (Araçatuba e Presidente Prudente).

183
A PLANTATION
No catolicismo, o trabalho é algo negativo, uma penitência. Na Idade Média, e no início da Idade Moderna,
justificava-se a estratificação social e a exploração do trabalho com preceitos religiosos, sempre a colocar servos e
trabalhadores manuais em situações de maior desprestígio social.
No Brasil, a grande disponibilidade de terras foi fundamental para determinar o modelo de colonização. Esse
modelo ficou conhecido como plantation e baseava-se em três elementos: grande propriedade, monocultura
e trabalho escravo.
As principais instalações do engenho são: moenda, caldeira e casa de purgar. As construções principais são
a casa-grande, a senzala, as estrebarias e as oficinas.
A unidade produtora da agromanufatura açucareira era o engenho, que se constituía basicamente da:
casa-grande: residência, geralmente assobradada, onde viviam o senhor e sua família. Nela, também mo-
ravam os empregados de confiança (capatazes) que cuidavam de sua segurança. Era a central administrativa
das atividades econômicas do engenho;
senzala: habitação de um único compartimento, rústica e pobre, onde viviam os escravos;
capela: local das cerimônias religiosas;
casa do engenho: formada pelas instalações destinadas à produção de açúcar, como a moenda (onde se
mói a cana para extrair o caldo), a fornalha (onde se purifica o caldo), a casa de purgar (onde se acaba de
purificar o caldo) e os galpões (onde o açúcar era armazenado).
Na lógica mercantilista, o pacto colonial obrigava a colônia a fornecer metais preciosos e gêneros tropicais
baratos para a metrópole e consumir destas manufaturas e escravos. Portanto, enquanto a escravidão indígena
geraria um comércio local, a escravidão negra permitiria a obtenção de grandes lucros por parte dos traficantes
portugueses, que dominavam áreas fornecedoras de escravos na África, como Angola, Goa e São Tomé. Além disso,
o papado reconheceu o monopólio português no tráfico negreiro, determinando que os negros escravizados fossem
batizados e, através do trabalho, pudessem salvar suas almas. Em 1570, o rei português D. Sebastião proibiu a
escravidão indígena, sendo a mesma permitida somente a índios capturados em combate contra portugueses, nas
chamadas “guerras justas”.

184
A MINERAÇÃO
As primeiras jazidas de ouro, no Brasil, foram descobertas na última década do século XVII, por volta de 1693, por
bandeirantes paulistas, no território do atual Estado de Minas Gerais. Eram jazidas superficiais e o ouro de aluvião
era encontrado, inicialmente, nas margens de rios, razão pela qual se esgotavam rapidamente. Depois do ouro de
Minas Gerais, foram realizadas descobertas menos importantes em Mato Grosso (1718) e Goiás (1725).
Em razão disso, a distância das zonas mineradoras em relação ao litoral fazia do comércio atividade in-
dispensável. Milhares de mercadores de gado, alimentos e produtos de primeira necessidade foram atraídos pela
liquidez monetária e pelos altos preços praticados nessas zonas.

A CONJURAÇÃO BAIANA
A Conjuração Baiana ocorreu em Salvador, em 1798, resultado da insatisfação das camadas médias urbanas e da
população pobre com o agravamento da situação de fome e miséria associado à exploração metropolitana.
Foi um movimento de caráter popular, também denominada Revolta dos Alfaiates, graças ao considerável
número de participantes que exerciam essa profissão. Representou uma reação de camadas sociais oprimidas
pela crise econômica e pelas desigualdades. A economia nordestina, especialmente no litoral onde se produzia
cana-de-açúcar, como a Bahia, entrou em crise desde o século XVII, em virtude da expulsão dos holandeses e da
concorrência com o açúcar antilhano.
No século XVIII, com a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, a crise agravou-se e a
região sentia-se abandonada pela coroa portuguesa. A situação econômica provocava desemprego, fome e miséria,
bem como deixava a região fora do interesse dos comerciantes, que preferiam enviar seus produtos para o Sudeste
e Sul, onde encontravam melhores preços, provocando desabastecimento e carestia na Bahia.
A insatisfação popular foi alimentada pelos ideais da Revolução Francesa, pelo sucesso da independência
das treze colônias inglesas, pelas ideias iluministas divulgadas por lojas maçônicas, como a dos Cavaleiros da Luz,
e pelo propagandista dessas ideias, o cirurgião formado também em filosofia, Cipriano Barata.

185
Os objetivos da revolta baiana foram mais abrangentes que os das revoltas anteriores, não se limitando
apenas aos ideais de liberdade e independência. O levante baiano propunha mudanças verdadeiramente revolu-
cionárias na estrutura da colônia. Pregava a igualdade de raça e cor, o fim da escravidão, a abolição de todos os
privilégios, o que permite considerá-la a primeira tentativa de revolução social no Brasil.

No dia 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador amanheceu com os muros cheios de panfletos. Os
rebeldes esperavam conclamar o povo através dos informes espalhados pela cidade. Mas a pouca organização
e preparação dos rebeldes facilitaram a rápida ação do governo. No dia 25 de agosto, a prisão da maioria dos
implicados destruiu qualquer possibilidade de levante. Os líderes negros e mulatos foram presos. Cipriano Barata
e Aguilar Pantoja foram os únicos brancos detidos. Depois do julgamento, quatro implicados foram condenados à
forca: os mulatos João de Deus Nascimento, Manuel Faustino dos Santos, Lucas Dantas, Luís Gonzaga das Virgens.
Executados, foram esquartejados para servir de exemplo, como sempre acontecia nesses casos. A coroa devia ser
implacável com aqueles que ousavam contestar seu domínio. Os demais líderes foram deportados.

OS TRATADOS DE LIMITE DO BRASIL


Em 1494, o Tratado de Tordesilhas dividiria o Novo Mundo entre Espanha e Portugal; Portugal ficaria com todos os
territórios a 370 léguas da Ilha de Cabo Verde; a Espanha, com o restante.
Mas, para além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, havia inúmeros núcleos de colonização
portuguesa, cujos interesses econômicos eram irrenunciáveis.
Em vista disso, era urgente que espanhóis e portugueses buscassem solucionar esses problemas, o que foi
feito pela assinatura do Tratado de Madrid, em 1750.
No reinado de D. Maria I, os portugueses cederam os Sete Povos das Missões à soberania espanhola, cele-
brando o acordo que transferia à Espanha o controle exclusivo sobre o rio da Prata, fato conhecido por Tratado de
Santo Ildefonso, de 1777.

Principais tratados territoriais

186
PERÍODO JOANINO - TRATADOS DE LIBERDADE INDUSTRIAIS
Em 1785, a rainha Maria, a Louca, editou lei que proibia a criação de manufaturas para além da metrópole portu-
guesa. Mais tarde, com a chegada da família real portuguesa, em 1808, a lei foi revogada.
D. João assinou o Alvará de Liberdade Industrial, permitindo a instalação de manufaturas e fábricas
no Brasil.
Apesar de um relativo e iminente surto industrial, com a criação de algumas manufaturas têxteis e siderúr-
gicas, a medida não foi suficiente para promover a industrialização no Brasil. Não havia capital suficiente para ser
aplicado em fábricas; o mercado consumidor era pequeno; a concorrência inglesa era insuperável; e, principalmen-
te, o investimento do capital estava voltado quase exclusivamente para o mercado de escravos.
O príncipe regente determinou ainda a criação da Casa da Moeda, responsável pela emissão monetária, e
do Banco do Brasil, que serviria para atender às necessidades bancárias das elites portuguesas e brasileiras, além
de regulamentar a arrecadação tributária, mais do que necessária para custear o aparelho burocrático montado
no Brasil.

O USO DO SOLO NA PRODUÇÃO AÇUCAREIRA


As queimadas acompanharam todo o processo de produção de açúcar no Brasil. Para se preparar o solo para o
cultivo, os produtores não viam outra opção senão envolver vastas terras em chamas. Contudo, no final do século
XX, grupos ambientalistas lutam contra tal prática severa para o meio ambiente. O produto escolhido para dar
início à ocupação econômica do Brasil foi a cana-de-açúcar. Essa escolha não foi por acaso, sendo respaldada
por uma série de razões:
O açúcar era um produto altamente lucrativo.
A aceitação do produto no mercado europeu.
A experiência portuguesa na produção de cana na costa africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé).
Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massapé e o clima quente e úmido do Nordeste.
A possibilidade de atrair investimentos externos.

187
A experiência de Portugal como produtor de açúcar em suas ilhas do Atlântico (Madeira e Cabo Verde) con-
tribuiu para a escolha do produto e a forma de produção: eram semelhantes as condições ecológicas do Brasil e das
ilhas, o açúcar era das especiarias mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu. Por seu valor, o açúcar po-
deria atrair investimentos, navios holandeses poderiam colaborar no transporte, os índios poderiam ser obrigados
a trabalhar na lavoura e, se não se adaptassem, havia os africanos, muitos deles já escravizados pelos portugueses.
A lavoura açucareira requeria vultosos investimentos iniciais, especialmente para a compra e montagem
dos equipamentos dos engenhos, no transporte de mudas da Europa para o Brasil e na obtenção de mão de obra
escrava. Como já foi dito anteriormente, Portugal enfrentava dificuldades econômicas e, por isso, se associou, em
especial, ao capital holandês na montagem da agromanufatura açucareira.

A CONSTITUIÇÃO DE 1824
A Constituição de 1824 consentiu com alguns pontos da Constituição da Mandioca, como o voto censitário ex-
presso pelo inciso V do artigo 92. Depois de dissolver a Assembleia Constituinte de 1823, D. Pedro I nomeou um
Conselho de Estado composto por dez membros com a função de elaborar, sob sua supervisão pessoal, um novo
projeto constitucional para o Brasil. Apesar de ter adotado alguns pontos do Projeto da Constituição da Mandioca,
a nova Constituição ficou pronta em 1824 e foi outorgada, imposta, por D. Pedro I, em 25 de março com as
seguintes características:
monarquia hereditária constitucional;
unitarismo, centralização do poder político; províncias sem autonomia com presidentes nomeados pelo
poder central;
quatro poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador.
eleições eram realizadas indiretas, censitárias e em dois níveis; eleitores homens maiores de 21 anos
com renda mínima anual de 100 mil réis para os eleitores de paróquia (primeiro grau) e de 200 mil réis para
os eleitores de província (segundo grau); eleições de deputados e senadores, renda mínima de 400 e 800
mil réis, respectivamente; senadores vitalícios; morto um senador, convocavam-se eleições; a lista dos
mais votados era apresentada ao imperador, que nomeava um deles;
religião católica adotada como oficial pelo Estado; proibidos templos e manifestações públicas de quais-
quer outras religiões, apenas culto privado;
padroado: Igreja católica subordinada ao Estado; e
beneplácito: leis da Igreja com a autorização do imperador.

188
O Poder Legislativo seria exercido por deputados senadores e o Judiciário, pelos juízes de paz. O Poder Exe-
cutivo seria exercido pelo imperador, ministros de Estado e presidentes das províncias. Já o Poder Moderador era
exclusivo do imperador, com direito a intervir nos demais poderes como ponto de equilíbrio político do Estado. De
fato, simbolizava o autoritarismo do monarca.
A Carta de 1824 não era democrática. Guardava os princípios do liberalismo, desvirtuados pelo excessivo
centralismo do imperador, excluía os escravos; graças à distância entre o avanço da definição dos poderes e o cum-
primento das suas determinações, não passava de um Estado escravocrata, cuja elite costumava fazer suas próprias
leis e o favoritismo marcava as relações sociais e políticas. Mantinha-se a tradição autoritária. Era impossível o
exercício do liberalismo.

PRIMEIRO REINADO
A dissolução da Assembleia Constituinte de 1823 e a outorga da Constituição de 1824 foram grandes exemplos
do autoritarismo de D. Pedro I e geraram grande descontentamento em várias províncias, especialmente em Per-
nambuco, que já havia liderado um movimento, em 1817, em reação à presença da corte portuguesa no Brasil e à
situação da província e da região Nordeste.
A crise econômica persistia, especialmente na economia açucareira, atingindo os diversos segmentos sociais
em Pernambuco. Além disso, os liberais, outrora empolgados com a independência, tiveram suas expectativas frus-
tradas pelas ações autoritárias do monarca brasileiro.
A situação levou figuras como Cipiriano Barata e Frei Caneca a se manifestarem publicamente contra D.
Pedro I e suas atitudes. Cipriano Barata, veterano da Conjura dos Alfaiates e da Revolução de 1817, foi chamado
“o homem de todas as revoluções”.
Em 1823, dirigia um de seus inúmeros jornais, A Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, em que
atacava violentamente o despotismo de D. Pedro e as ameaças de recolonização. Em novembro, antes do início do
movimento revolucionário que pregava, foi preso, e na prisão permaneceu até 1830.
Joaquim do Amor Divino, o carmelita Frei Caneca, assim conhecido porque vendia canecas nas ruas do Re-
cife quando criança, havia participado também da Revolução de 1817. Logo depois da prisão de Cipriano Barata,
fundou o Tifis Pernambucano, jornal que atacava a Carta outorgada, em especial seu caráter centralizador, defen-
dendo a necessidade de uma estrutura federalista para o Brasil.

189
O movimento revolucionário teve início quando D. Pedro I destituiu Manoel Carvalho Paes de Andrade do
governo de Pernambuco e nomeou para seu lugar Francisco de Paes Barreto. Em 2 de julho de 1824, Paes de An-
drade rompeu com o governo e proclamou o regime republicano na província, contando com a adesão de liberais
de províncias vizinhas: Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

Pintura ilustra momento de execução de Frei Caneca

Os rebeldes pregavam a implantação do regime republicano, o federalismo, e a adoção provisória da Cons-


tituição da Grã-Colômbia. O nome escolhido para a jovem república nordestina foi Confederação do Equador, em
virtude de sua posição setentrional próxima à linha imaginária do Equador. Houve ainda a proibição provisória
do desembarque de escravos no porto de Recife e a questão abolicionista tornou-se o centro das discussões,
provocando a insatisfação da elite agrária e demais defensores da escravidão, o que os afastou do movimento e o
enfraqueceu.
O governo imperial organizou imediatamente uma violenta repressão contra Pernambuco e as demais pro-
víncias nordestinas envolvidas até derrotar completamente o movimento, em novembro de 1824. Vários foram
presos e muitos rebeldes morreram em combate.
Paes de Andrade conseguiu fugir do País e Frei Caneca foi preso e condenado à forca. Como os carrascos
recusaram-se a enforcá-lo, o frei carmelita foi fuzilado por ordem expressa de D. Pedro I. Outros envolvidos nas pro-
víncias de Fortaleza e Natal foram fuzilados. A repressão, além da esperada, demonstrou a forma como o imperador
trataria qualquer movimento que contestasse sua autoridade.

A PRESENÇA INGLESA NA ABOLIÇÃO


A pressão dos ingleses pela abolição da escravidão recrudesceu, fundamentalmente, porque a Inglaterra necessita-
va da liberação dos capitais investidos no tráfico para aplicação na infraestrutura, a fim de que se expandissem os
mercados consumidores dos produtos industrializados. Havia, ainda, a necessidade de que o trabalho assalariado
se tornasse a forma geral e dominante da exploração da força de trabalho.
Após a lei Eusébio de Queirós, de 1850, o tráfico africano foi definitivamente extinto no Brasil. A ausência
de oferta de mão de obra logo se fez sentir em diversas atividades brasileiras, com destaque à produção cafeeira
do Oeste paulista. Resolver a questão da mão de obra, na segunda metade do século XIX, era fundamental, visto
a escassez do recurso em território nacional. Os senhores de escravo sabiam que havia necessidade de pensar em
alternativas para a substituição do trabalho escravo e de elaborar estratégias de como implementar o mercado

190
de mão de obra livre. Daí a importância das primeiras campanhas de imigração ao Brasil no período, amplamente
subvencionadas pelo Estado.

EMBATES SOBRE O FIM DO TRABALHO ESCRAVO


A primeira lei efetiva contra o trabalho escravo foi aprovada em 4 de setembro de 1850, após o Brasil ter sofrido
imensa pressão da Inglaterra pelo fim do tráfico negreiro. Trata-se da lei Eusébio de Queirós, que pôs fim à
entrada de escravos no País.
Com o surgimento e impulso da lavoura cafeeira, o declínio da exploração de cana-de-açúcar e o final do
período regencial, o “comércio” de escravos cai. Os negros vindos do Norte e Nordeste não supriam a grande de-
manda de trabalhadores que o café exigia no Sul e Sudeste. Assim, os fazendeiros do café começaram a substituir
o trabalho escravo pelo trabalho livre. Houve uma campanha de incentivo à imigração europeia e a implantação de
mão de obra assalariada nas lavouras.
Todo progresso decorrente do café gerou, gradualmente, a oposição ao sistema escravista, e, em 1870,
começam a surgir manifestações abolicionistas. Após a lei Eusébio de Queirós (1850) e a volta vitoriosa de
negros da Guerra do Paraguai (1865-1870), em 8 de setembro de 1871, o gabinete de visconde do Rio Branco (do
Partido Conservador) promulga a lei do Ventre Livre. Ela dá liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir de
sua vigência, contudo a tutela destes pertence aos seus senhores até completarem 21 anos.

Em 1880, políticos e intelectuais começam a apoiar a abolição, e, em 1884, o Ceará decreta o fim da escra-
vidão em suas terras. Este último fato pressiona a opinião pública, e, em 1885, é decretada a lei Saraiva-Cotegipe,
mais conhecida como lei dos Sexagenários – que libertava escravos com mais de 60 anos e compensava seus
proprietários. Esta lei não teve efeitos significativos, pois poucos escravos atingiam tal idade.
Finalmente, em 13 de maio de 1888, o governo imperial cede e assina a lei Áurea, que dá liberdade a
todos os escravos e não indeniza seus proprietários. Contudo, ela não contribuiu tão fortemente para uma melho-
ria de condições aos ex-escravos. Sem estudos ou profissão, as possibilidades de ascensão social são limitadas e
muitos se mantêm em uma condição inferiorizada.
Além disso, à época, muitos dos escravos desinformados e agradecidos por Isabel lutaram ao lado do Impé-
rio contra os movimentos republicanos, formando a Guarda Negra do Império.

191
A CONSTITUIÇÃO DE 1891
Logo nos primeiros anos da República, propunha-se para o Brasil uma República federativa, presidencialista e
liberal. O princípio federativo, defendido desde o Império por grupos exaltados e republicanos e incorporado ao
primeiro decreto do Governo Provisório, foi finalmente consagrado na Constituição, garantindo ampla autonomia
aos Estados, que passariam a:
ter sua própria Constituição;
eleger seus governadores;
criar orçamentos e impostos votados pelas assembleias estaduais;
contrair empréstimos no exterior; e
organizar forças militares próprias.
À União caberia cobrar os impostos de importação, criar bancos emissores de moeda, organizar as forças ar-
madas nacionais e intervir nos Estados para restabelecer a ordem, a fim de que se mantivesse a forma republicana
federativa, e em outras situações. A Constituição estabeleceu os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário
– “harmônicos e independentes entre si”. O Poder Executivo seria exercido por um presidente da República, eleito
por um período de quatro anos. Como no Império, o Legislativo foi dividido em Câmara dos Deputados e Senado,
mas os senadores deixaram de ser vitalícios. Os deputados seriam eleitos nos Estados em número proporcional
ao de seus habitantes, por um período de três anos. Os senadores teriam um mandato de nove anos, três deles
representantes por Estado e três do Distrito Federal, capital da República.
Para as eleições, fixou-se o sistema de voto direto e universal e suprimiu-se o censo econômico (voto censitário).
Essa nova Constituição apresentava um caráter liberal que não foi posto em prática pelas oligarquias rurais,
que continuavam cometendo uma série de práticas fraudulentas e opressivas contra a população.
O coronelismo marcou a cultura política brasileira na República Velha incisivamente, e só começou a perder
suas forças a partir da década de 1920, com a modernização dos espaços e a ascensão de novos grupos sociais.
Com a capacidade de exercer grande comando sobre os trabalhadores de suas terras, os coronéis formavam
regimes e tributos em suas regiões, estabelecendo impostos cobrados sobre a população. Como naquela época o
voto não era secreto, os trabalhadores tinham medo de desobedecer as ordens dos coronéis com receio de sofrerem
punições físicas ou perderem suas fontes de sobrevivência, era o chamado voto de cabresto.
Nesse paraíso das oligarquias, predominavam as práticas eleitorais fraudulentas. Nenhum coronel aceitava
perder uma eleição. Os eleitores eram coagidos, comprados, aliciados ou excluídos. Não havia eleição limpa. O voto
podia ser fraudado antes da eleição, na hora da votação ou no momento da apuração. É dessa época a chamada
“eleição a bico de pena”, pela qual os mesários é que escolhiam os eleitos, atestando o resultado da eleição me-
diante a elaboração de atas fraudulentas. Era comum o voto de pessoas mortas e de eleitores fictícios.
Nessa época, o coronel retinha os títulos eleitorais e o eleitor não sabia em quem votava. Se algum se
atrevesse a perguntar ao coronel em quem tinha votado, o coronel respondia que não podia revelar porque o voto
era “secreto”.

192
O PATRIMONIALISMO
A conjugação entre o “coronelismo”, o “clientelismo” e o “compadrio” estabelece uma intrincada trama de fa-
vores, que invariavelmente beneficiou os proprietários de terra, que concentravam poder econômico e político
durante a Primeira República. Tratava-se de um pacto oligárquico, entre as frações e facções da elite dominante,
cujo objetivo era assegurar o domínio político das oligarquias estaduais e garantir ao poder central o governo do
País acima dos interesses das demais classes sociais, particularmente os interesses dos trabalhadores. O governo de
Campos Salles estabeleceu as bases desse pacto político. Apoiou, com todos os meios a seu alcance, a oligarquia
dominante de cada Estado, a fração ou facção da elite dominante local no poder naquele momento. Em troca desse
apoio, essa mesma oligarquia apoiaria irrestritamente as decisões do governo federal no Legislativo, garantindo a
eleição dos candidatos oficiais para o Congresso. O instrumento “legal” usado por Campos Salles e seus sucessores
para executar esta estratégia política foi o controle severo da “Comissão Verificadora de Poderes”, órgão do Poder
Legislativo encarregado de verificar os resultados das eleições contidos nos livros de registro dos votos e legitimar a
posse dos eleitos. Candidatos da oposição que conseguissem ser eleitos eram “degolados”, tinham seus mandatos
cassados pela Comissão que regularmente alegava fraudes eleitorais, que sempre ocorriam, se bem fossem permiti-
das apenas a favor dos candidatos da situação. A “política dos governadores” foi criada para realizar as promessas
feitas durante a propaganda republicana ao defender o federalismo: garantir o poder local e os interesses das cha-
madas “oligarquias”, das frações e facções da elite dominante, com o objetivo de obter o apoio das oligarquias dos
Estados ao governo federal, nas mãos das oligarquias paulista e mineira. Se apoiado pelas oligarquias estaduais,
o presidente se preocuparia apenas em governar e implementar projetos de interesse das elites e dos seus vários
setores. Força política e policial-militar para reprimir os que a eles se opusessem é o que não lhe faltava. O projeto
político republicano brasileiro de liberdade, igualdade e fraternidade seletivas tornava-se plenamente vitorioso.

O TRATADO DE PETRÓPOLIS
O território acreano pertencia à Bolívia, embora o látex de suas florestas viesse sendo explorado por brasileiros.
Em 1901, as tensões agitaram a região. O governo boliviano concedeu a exploração dos seringais acreanos a uma
empresa estadunidense, a Bolivian Sindicate of New York, que passou a expulsar os brasileiros e a dominar a re-
gião. Há de se lembrar a importância do látex das seringueiras como fonte de insumo para a produção de borracha,
material utilizado em diversos ramos da indústria.
Dessa forma, em busca de defender seus interesses, brasileiros e bolivianos entraram em conflito. Sob a
liderança de Plácido de Castro, os bolivianos declararam a independência do Acre e a expulsão da companhia
estadunidense.

193
Posteriormente, o Brasil passou a negociar com a Bolívia a compra do território, negociações essas feitas
pelo ministro das Relações Exteriores, o barão do Rio Branco, que levaram em 1903 à assinatura de um acordo entre
os dois países: o Tratado de Petrópolis. A Bolívia cederia o território do Acre ao Brasil em troca de uma indenização
de dois milhões de libras esterlinas e do compromisso brasileiro de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A imagem abaixo mostra a técnica de extração do látex da seringueira, prática esta ainda comum em di-
versos países.

A REVOLTA DA CHIBATA
A Revolta da Chibata ocorreu pouco tempo depois da posse de Hermes da Fonseca, resultado da reação dos ma-
rinheiros aos castigos infligidos a eles na marinha, no início do século XX. Revoltados com a punição imposta ao
marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes, que servia no encouraçado Minas Gerais – morto depois de açoitado
na frente da tropa –, os marinheiros tomaram o controle do navio, liderados por João Cândido, o Almirante Negro.
Os marinheiros amotinados tomaram ainda o navio São Paulo e receberam o apoio de outros navios an-
corados na baía de Guanabara: o Bahia e o Deodoro. Os amotinados assassinaram o capitão Batista das Neves,
responsável pela punição ao marinheiro morto, e apontaram os canhões dos navios para a cidade do Rio de Janeiro,
ameaçando bombardeá-la, caso o governo Hermes da Fonseca não atendesse a suas exigências, enviadas median-
te um manifesto. Entre elas constavam fim dos castigos corporais na Marinha, aumento do soldo (remuneração)
dos marinheiros e melhorias da alimentação nas embarcações, consideradas de péssima qualidade.

João Cândido, o Almirante Negro

194
O presidente aceitou as exigências e enviou oficiais para assumir o controle dos navios, o que encerrou a
revolta. Mas, em seguida, ordenou a prisão de marinheiros envolvidos na revolta na ilha das Cobras ou em campos
de trabalhos forçados no Norte.
Pouco depois do fim da Revolta da Chibata, ocorreu uma revolta entre os fuzileiros navais, aquartelados
na ilha das Cobras, conhecida como Revolta do Batalhão Naval. O governo agiu com energia e rapidez: sufocou o
movimento e ordenou a prisão dos revoltosos. Muitos deles morreram em virtude dos maus tratos e da violência
com que foram tratados.

A REVOLUÇÃO DE 1930
Dentre alguns políticos de oposição, Getúlio Vagas e João Pessoa aceitaram a derrota eleitoral da Aliança Liberal.
Mas a maioria dos opositores, inconformados com o resultado eleitoral, passaram a planejar uma conspiração,
dentre eles os civis Antônio Carlos de Andrada, Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor, e os militares, tenentes Siqueira
Campos, Miguel Costa e Juarez Távora. Exilado na Argentina, Luís Carlos Prestes foi convidado para participar da
conspiração, mas não aceitou. Já adepto do comunismo, defendia uma insurreição popular das camadas trabalha-
doras.
No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado por João Dantas, em Recife, por questões de ordem
pessoal. O crime somou-se às acusações de fraude nas eleições presidenciais, à “degola” arbitrária de deputados
mineiros e de toda a bancada paraibana que apoiara a Aliança Liberal, ao descontentamento popular com a crise
econômica causada pela Grande Depressão de 1929, que serviram como justificativa para a mobilização armada
contra o governo federal.

Assassinato de João Pessoa, o estopim para a Revolução de 1930

O movimento teve início no Rio Grande do Sul, no dia 3 de outubro de 1930, sob a chefia de Getúlio Var-
gas e Oswaldo Aranha. Juarez Távora mobilizou o apoio ao movimento no Nordeste e Antônio Carlos de Andrada
liderou-o, em Minas Gerais. O comando geral do movimento revoltoso foi assumido pelo general Góes Monteiro.
Vários presidentes estaduais foram depostos. No dia 24 de outubro, o presidente Washington Luís foi depos-
to por militares do Exército e da Marinha, pouco menos de um mês antes de terminar seu mandato.
O poder federal foi assumido por uma junta militar composta pelo almirante Isaías Noronha e pelos generais
Mena Barreto e Tasso Fragoso. Um mês depois do golpe, a chefia do governo foi entregue a Getúlio Vargas, que
tomou posse como chefe do Governo Provisório. Estava consumada a chamada Revolução de 1930, que coroava a
derrota das forças representadas pelos PRP e PRM e a política do “café com leite”. Tinha início a Era Vargas, que
se estendeu até 1945, representou outras frações e facções políticas da classe dominante e inaugurou um novo
diálogo com o operariado e com as classes médias.

195
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição preservava o federalismo, o presidencialismo e a independência
dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
No Executivo, o presidente tinha mandato de quatro anos e sem vice. O Legislativo era bicameral, composto
por Senado e Câmara dos Deputados. O Judiciário, chefiado pelo Superior Tribunal Federal, foi aperfeiçoado pela
incorporação da Justiça Eleitoral, Militar e do Trabalho.
Foi a primeira constituição nacional a prever um Ministério da Educação e Saúde, tornando obrigatória a
universalização do ensino primário em todo território nacional. Era baseada na Constituição Alemã da República
de Weimar e tinha como características:
regime presidencialista, com mandato presidencial de quatro anos sem direito à reeleição;
extinção do cargo de vice-presidente;
representação estadual no Congresso por dois senadores, com mandato de oito anos, e por um número de
deputados proporcional à população do Estado, com mandato de quatro anos;
voto secreto e universal para ambos os sexos, alfabetizados e maiores de 18 anos;
voto profissional (deputados classistas) escolhidos pelos sindicatos;
criação da Justiça Eleitoral;
ensino primário obrigatório e gratuito;
obrigatoriedade de as empresas estrangeiras empregarem no mínimo 2/3 de brasileiros;
monopólio do Estado dos recursos hidrominerais;
nacionalização das companhias de seguro estrangeiras;
criação da Lei de Segurança Nacional e instituição do mandato de segurança;
incorporação das leis trabalhistas – limitação da jornada de trabalho para oito horas diárias, salário mínimo,
descanso semanal obrigatório, férias remuneradas, indenização para demissão sem justa causa e licença-
-maternidade de sessenta dias para as mulheres.

196
Aulas 7 e 8

Competência 2 e 3
Habilidades 8, 11, 12 e 13

BREVIÁRIO

REPRESSÃO DO APARATO VARGUISTA


Pela ação do Departamento de Imprensa e Propaganda, DIP, o governo controlava os meios de comunicação sob
rígida censura, bem como servia-se de jornais, cartilhas e, principalmente, rádio para enaltecer a figura de Vargas e
suas realizações. Com esse objetivo, em 1934 foi criado o programa radiofônico “Hora do Brasil”.
A polícia política, principal organismo de repressão do Estado e comandada por Filinto Müller, encarregava-
-se de perseguir, prender e torturar opositores.
Além das regras gerais, todo mês eram feitas novas regras de acordo com o que acontecia no país. A DIP
alimentava 60% dos jornais naquela época e controlava os outros 40% com seus censores. Para cada periódico
havia um censor. Além da DIP, havia as DEIP (Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda), os dois faziam a
distribuição do material propagandista do governo, que destacavam as qualidades de Getúlio Vargas. Além disso,
os funcionários da DIP e das DEIP subornavam profissionais de imprensa e donos de jornais.
O populismo referido foi um fenômeno político comum na América latina em meados do século XX. Ele se
caracterizou pela atuação de políticos carismáticos, que conseguem mobilizar as classes populares mediante ações
e atitudes de caráter paternalista e demagógico, muitas vezes vinculadas às reivindicações dos trabalhadores, mas
transfiguradas em reivindicações do “trabalhismo”, que as apresentava como “doação” do líder político, tirando-
-lhe o caráter de luta da classe trabalhadora. Os líderes populistas são nacionalistas, defenderam a redução da
dependência econômica em relação ao capital estrangeiro com políticas de estímulo à industrialização. Carismáti-
cos e populares, os líderes populistas utilizavam os meios de comunicação de massa, especialmente o rádio, e os
comícios gigantescos para se comunicar com as camadas populares e trabalhadoras.

197
A ERA VARGAS E AS LEIS TRABALHISTAS
Vargas, alcunhado de pai dos pobres, foi quem preconizou a introdução de ampla legislação trabalhista durante
a década de 1930. Outra marca importante do Estado Novo foi a intensificação da legislação trabalhista, que pu-
blicou a Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, inspirada na Carta del Lavoro (Carta do Trabalho), implantada na
Itália pelo ditador Benito Mussolini. Foram incorporadas à CLT as leis trabalhistas que vinham sendo promulgadas
no Brasil ao longo da década de 1930, como a jornada de oito horas diárias, o descanso semanal obrigatório e
as férias remuneradas. Foram regulamentados também os contratos entre patrões e empregados, que deveriam
ser registrados na Carteira de Trabalho. O funcionamento dos sindicatos foi permitido, desde que subordinados ao
Estado, que os utilizava como instrumento de manipulação da classe trabalhadora. Em julho de 1940, foi criado o
imposto sindical – instrumento básico de financiamento do sindicato e de sua subordinação ao Estado. Consistia de
uma contribuição anual obrigatória, correspondente a um dia de trabalho, paga por todo empregado sindicalizado
ou não. O imposto sindical deu suporte à figura do “pelego”, expressão originada da cobertura de pano ou couro
sob a sela de um animal de montaria para amortecer o choque produzido pelo movimento do animal no corpo do
cavaleiro. A ideia de amortecedor mostrou-se bastante adequada. “Pelego” passou a ser o dirigente sindical que
atuava mais por interesse próprio, do patrão ou do Estado do que por interesse dos trabalhadores. A CLT viria em
1943 para cristalizar o trabalho de mais de uma década de legislações de amparo ao trabalhador.

O SUFRÁGIO NO BRASIL
A ampliação do sufrágio foi lenta e gradual no Brasil. O voto censitário teve fim em 1891, mas mantendo a proibi-
ção a analfabetos e mulheres. A Constituição de 1934 inaugurou o voto feminino, a diminuição da idade de 21 para
18 anos e também manteve o voto restrito aos analfabetos. Somente na Constituição de 1988 que o sufrágio uni-
versal passou a vigorar no Brasil, sendo optativo a indivíduos entre 16 e 18 anos e para idosos, acima dos 60 anos.
Em 3 de dezembro de 1891, o Governo Provisório nomeou uma comissão para elaborar o projeto da Cons-
tituição Republicana, a ser submetido ao futuro Congresso Constituinte. Foram elaborados três projetos, finalmente
fundidos em um e entregue ao governo em maio de 1890. A redação final do projeto ficou sob a responsabilidade
de Rui Barbosa. Em setembro, foi eleito o Congresso Constituinte, que discutiu, emendou, votou e aprovou a
primeira Constituição Republicana, em 24 de fevereiro de 1891, cujo modelo foi a Constituição dos EUA. Para as
eleições, fixou-se o sistema de voto direto e universal e suprimiu-se o censo econômico (voto censitário). Foram
considerados eleitores todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, com exceção dos analfabetos, mendigos,
praças militares e religiosos de ordens monásticas. A Constituição de 1891 era a expressão de uma República que,
proclamada em 1889, não alterou a estrutura socioeconômica do Brasil, mas preservou o poder das oligarquias.
Desse modo, apesar da adoção do sufrágio universal masculino, a grande maioria da população permaneceu à
margem da vida política, portanto, do pleno exercício da cidadania.

198
Nos primeiros anos da República, o voto para as mulheres seria a principal bandeira vinculada pela im-
prensa feminina, abrindo um caloroso debate em todo o País. Ainda no final do período monárquico, o apelo do
movimento para a lei Saraiva, criada em 1881, que estabelecia direito de voto aos portadores de diploma superior
não funcionou. Com a República instaurada, as feministas redobraram seus esforços e um moderado movimento
organizado por mulheres começou a surgir no Brasil. No ano de 1927, Juvenal Lamartine, o então candidato à go-
vernança do Rio Grande do Norte, garantiu as mudanças no Código Eleitoral do seu Estado tornando as mulheres
as primeiras brasileiras a exercerem o direito de voto no Brasil. Num momento de crise das oligarquias do País,
onde as correntes partidárias começavam articulações políticas que culminariam com a ocupação da Presidência do
Brasil por Getúlio Vargas, é fundada a Aliança Nacional de Mulheres, a ANM, com base em Minas Gerais. Quando,
em 1930, Getúlio Vargas assume o poder como novo presidente, a estrutura política do País é alterada e o governo
promete, publicamente, reexaminar as práticas políticas, incluindo uma reforma no Código Eleitoral. A Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino, a FBPF, serviria para dar ampla ressonância ao movimento, quando organiza o
II Congresso Internacional no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1931. Com representantes do movimento de 15 Esta-
dos do Brasil e de 8 países estrangeiros, o movimento alcançou o grau de reconhecimento de luta que desejavam,
pois, enfim, o direito ao voto foi assegurado às mulheres em nível nacional com o novo Código Eleitoral, em 1932,
confirmado pela Constituição de 1934.

O ESTADO NOVO
Vargas fechou o Congresso Nacional no dia 10 de novembro de 1937 e outorgou uma nova Constituição para
o Brasil, que consumou um golpe de Estado e inaugurou a ditadura do Estado Novo. Os partidos políticos foram
proibidos, instalou-se a censura, avançaram as perseguições políticas e a tortura. Iniciava o flerte de Vargas com a
Alemanha nazista, observado de perto pelos Estados Unidos.
A ditadura de Vargas assumiu um caráter personalista sem se apoiar em doutrinas ou partidos políticos,
o que não significou desvinculamento dos interesses de grupos representantes da classe dominante e de setores
conservadores da sociedade.
Embora não houvesse espaço para uma política sistemática de antissemitismo e houvesse no governo quem
simpatizasse com essas orientações, determinados grupos étnicos sofreram mais discriminação social e política.
Mas o personalismo de Vargas o indispôs com os integralistas, que esboçaram uma tentativa de tomada do poder
denominada Intentona Integralista, em 1938. Afastados da militância política, afastaram-se também das intenções
políticas das doutrinas nazifascistas.

199
A quarta Constituição brasileira, redigida pelo jurista Francisco Campos, ficou conhecida como “Polaca”;
baseava-se em modelos fascistas europeus, destacadamente a Constituição polonesa. Outorgada por Getúlio Var-
gas em novembro de 1937, a Constituição trazia como principais dispositivos:
ampliação dos poderes do Presidente da República graças a uma rígida centralização governamental;
governo do presidente da República mediante decretos-leis, suspensão de imunidades e estado de sítio;
mandato presidencial ampliado para seis anos;
perda da autonomia dos Estados que passaram a ser governados por interventores nomeados pelo presi-
dente da República;
dissolução dos partidos políticos;
censura da imprensa e dos meios de comunicação em geral;
instituição do estado de emergência e permissão ao presidente de suspender imunidades parlamentares,
prender, exilar e invadir domicílios;
proibição das greves;
pena de morte para os crimes contra a segurança nacional.
Essa deveria ter sido submetida a um plebiscito, como determinava seu próprio texto, mas o ditador fez com
que essa determinação não fosse cumprida.

A URBANIZAÇÃO DO BRASIL
O ambiente rural, tradicionalmente permeado por forte religiosidade, encontrava-se em declínio em meados do
século XX, o que provocou deterioração de sua estabilidade sociológica.
Observa-se pelo gráfico em destaque que a população urbana só superou a rural por volta da década de
1960. Dado importante para compreendermos o atraso relativo do Brasil em comparação aos países industrializa-
dos durante o período.

200
O TRABALHISMO
Durante a chamada Era Vargas, o Estado absorveu, criou e coordenou todas as organizações trabalhistas, princi-
palmente os sindicatos. Os combativos sindicatos urbanos das duas primeiras décadas do século XX tiveram seus
espaços de luta ocupados paulatinamente por uma estrutura sindical corporativista, que passou a controlar e a
desmobilizar o movimento operário.
O Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio, instituído em novembro de 1930, estabeleceu normas
de sindicalização e o sindicato passou a ser considerado um órgão de colaboração com o governo, proibido de
fazer propaganda política e religiosa. Nos quatro primeiros anos do governo Vargas, o Estado, por intermédio do
Ministério do Trabalho, tomou para si a iniciativa de criar leis trabalhistas, regulamentando horário de trabalho,
férias, aposentadoria, trabalho feminino e de menores, entre outros itens. A medida de maior destaque foi a criação
da carteira de trabalho, em 1933, que permitiu o controle dos trabalhadores pelo Estado.
Em 1938, durante a inauguração do novo edifício do Ministério do Trabalho, Vargas usou pela primeira vez
o vocativo “Trabalhadores do Brasil”, expressão que seria constantemente repetida em seus discursos, tornando-se
sua marca registrada. Com isso, Getúlio procurava fixar em si a imagem de grande líder da classe trabalhadora.

Trabalhadores clamam por Vargas

A DITADURA CIVIL-MILITAR
Em março de 1968, o estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto foi morto a tiros em um confronto entre
manifestantes e policiais militares, em frente ao restaurante Calabouço, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Revoltados, os estudantes realizaram o velório de Edson Luís no prédio da Assembleia Legislativa do Estado, onde
vários discursos foram proferidos contra a ditadura. O enterro foi acompanhado por cerca de 50 mil pessoas, assim
como a missa de sétimo dia, na igreja da Candelária, que reuniu milhares de pessoas, apesar da rígida vigilância
policial.
O resultado foi a realização de uma grande passeata contra o regime militar, organizada por estudantes,
intelectuais, artistas e membros da Igreja católica, realizada no dia 26 de junho de 1968. Conhecida como a Pas-
seata dos Cem Mil, a manifestação foi um marco e serviu de estímulo à manifestação em todo o País. Metalúrgicos
organizaram greves em Contagem, MG, e em Osasco, SP, reivindicando melhores salários e criticando o autorita-
rismo ditatorial do governo.
Empolgados com as manifestações de rua, estudantes reuniram-se, em outubro de 1968, para um Congresso
estudantil que reorganizasse a União Nacional dos Estudantes, proibida pelo regime. Foi no sítio Muduru, na cidade de
Ibiúna, no interior do Estado de São Paulo que eles se reuniram clandestinamente e realizaram o 30° Congresso da UNE.

201
A grande movimentação de jovens na pequena e pacata cidade chamou a atenção da população, que avi-
sou a polícia e agentes do Departamento de Ordem Política e Social, DOPS.
Identificado o local, foram presos 693 estudantes, dentre os quais Luís Travassos, presidente da UNE; José
Dirceu, presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE); Vladimir Palmeira, presidente da União Metropolitana
dos Estudantes (UME); e Guilherme Ribas, presidente da União Paulista de Estudantes Secundaristas, (UPES). As
prisões desmantelaram o movimento estudantil.
As manifestações refletiram no Congresso e o deputado do MDB, Márcio Moreira Alves, proferiu um vio-
lento discurso contra os militares, denunciando torturas e convocando a população a boicotar as comemorações
pela Independência do Brasil e os desfiles de 7 de Setembro. Sentindo-se desrespeitado, o governo exigiu que o
Congresso punisse o deputado, que gozava de imunidade parlamentar. Os parlamentares negaram a autorização
para processá-lo; em represália, o governo fechou o Congresso Nacional e promulgou o Ato Institucional nº 5, em
13 de dezembro de 1968.

Jornais exprimiam a visão do governo sobre os acontecimentos

ABERTURA DEMOCRÁTICA
Em junho de 1979, o presidente Figueiredo enviou ao Congresso a lei de Anistia, que foi aprovada em outubro do
mesmo ano. O projeto previa anistia ampla, geral e irrestrita para crimes políticos e conexos, e beneficiou militares
envolvidos nos atos de torturas, mortes e desaparecimentos. A lei não incluía pessoas envolvidas em ações conside-
radas terroristas pelo Estado e não apresentava solução para o problema dos prisioneiros políticos desaparecidos,
o que suscitou críticas de vários setores da sociedade civil, particularmente dos movimentos sociais e da imprensa.

Milhares vão às ruas a favor da lei de Anistia

Todavia, o projeto beneficiou milhares de brasileiros, com a libertação de presos políticos e a permissão
para os exilados voltarem para o País, que recebeu efusivamente personalidades políticas como Leonel Brizola, Luís
Carlos Prestes e Miguel Arraes.

202
A EMENDA DANTE DE OLIVEIRA
A escolha do sucessor do presidente Figueiredo estava prevista para novembro de 1984 e, de acordo com as regras
eleitorais vigentes, o novo presidente da República deveria ser escolhido de maneira indireta, pelo Colégio Eleitoral
(composto pelo Congresso Nacional e seis deputados estaduais, todos do partido que tinha maioria naquele Es-
tado). Mas esse Colégio Eleitoral, também pelas regras da ditadura (senadores biônicos, Norte e Nordeste tendo,
proporcionalmente em relação ao número de eleitores, mais deputados federais do que Sul e Sudeste), tinha ampla
maioria do PDS (partido aliado do governo).

Luís Inácio Lula da Silva, em comício das Diretas Já!

Assim, a única maneira de a ditadura não fazer o sucessor seria alterar a Constituição e realizar eleições
diretas para presidente. O clima nacional levou o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) a propor uma
emenda constitucional que restabelecia as eleições diretas para presidente da República. A emenda foi votada no
dia 25 de abril de 1984 e, para a frustração da população nacional, não foi aprovada, pois necessitava de dois
terços de votos favoráveis (320), mas recebeu apenas 298 votos.
A partir de então, a população organizou-se em torno de um movimento chamado Diretas Já!, que pregava
eleições diretas para todos os cargos do Executivo e Legislativo.

A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988


A Constituição de 1988, promulgada em 5 de novembro de 1988, consagrou liberdades tradicionais ao determinar
o fim da censura prévia e a condenação da tortura. Nos capítulos dos direitos trabalhistas, a Carta Constitucional
estabeleceu a jornada semanal de 44 horas, liberdade sindical, amplo direito de greve e proibição da discriminação
de cor, sexo, idade e estado civil pelas empresas.
Sobre inúmeros pontos de vista, a Constituição de 1988 mostrou-se avançada, particularmente no que se
diz respeito a garantias fundamentais, como a igualdade de direitos entre homens e mulheres. O deputado Ulysses
Guimarães, que dirigiu os trabalhos da Constituinte, denominou-a de “Constituição Cidadã”.

Ulysses Guimarães ergue a “Constituição Cidadã”

203
Embora restabelecendo a independência dos três poderes, a Carta possibilitou um Poder Executivo relativa-
mente inchado, com mais prerrogativas ao presidente, monopólio da União sobre exploração de minérios e grande
controle estatal sobre as telecomunicações. Críticos também apontam que, para assegurar seus vários direitos, ela
dá salvo conduto à interferência do Estado na vida pública, como é o caso dos frequentes embates entre o governo
e o setor privado em relação às leis trabalhistas.
Em novembro de 1986, realizaram-se eleições simultaneamente para governador, Assembleias Estaduais,
Câmara Federal e Senado. Favorecido pelos resultados, inicialmente do Plano Cruzado, o PMDB elegeu governa-
dores em quase todos os Estados e tornou-se majoritário no Congresso Nacional, que seria também Assembleia
Constituinte; os deputados federais e senadores então eleitos eram encarregados de elaborar a nova Constituição
brasileira.
Durante a Constituinte, Sarney lutou com muito afinco para que seu mandato fosse ampliado para cinco
anos. Houve acusações de que, em troca dessa ampliação, o presidente teria atribuído numerosas concessões de
rádio e televisão aos deputados constituintes.
As acusações levaram alguns parlamentares, inclusive do PMDB, a exigir a convocação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. As manobras do governo impediram a CPI, o que levou vários
políticos do PMDB a romperem com o presidente Sarney, deixando o partido e fundando uma nova sigla política, o
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), liderados por Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Pimenta
da Veiga e Mário Covas.
Elaborada ao longo de um ano e meio, a nova Constituição foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988
pelo presidente do Congresso Constituinte, Ulysses Guimarães. Ela apresentava como principais características:
manutenção do regime republicano e do sistema presidencialista;
mandato presidencial de cinco anos;
eleição direta para todos os níveis e em dois turnos, sempre que um dos candidatos não conseguisse maioria
absoluta, do qual participariam os dois primeiros candidatos, para os cargos dos Executivos federal, estadual
e municipal;
voto obrigatório para ambos os sexos entre 18 e 60 anos de idade e facultativo para pessoas de 16 e 17
anos de idade, maiores de 60, analfabetos, deficientes físicos e indígenas;
ênfase aos poderes do Legislativo e transformação do Judiciário em poder verdadeiramente independente,
apto inclusive a julgar e anular atos do Executivo;
consolidação dos princípios democráticos e defesa dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos;
nacionalismo econômico, reservando várias atividades somente a empresas nacionais;
assistencialismo social, com a ampliação dos direitos dos trabalhadores; e
ampliação da autonomia administrativa e financeira dos estados da federação.

204
SENSO DE PERTENCIMENTO
Os indivíduos tendem a se confortar no ambiente no qual foram socializados, pois dominam todos os símbolos
comportamentais e culturais do local. A sensação de pertencimento a uma comunidade é característica antropoló-
gica inexpugnável. O indivíduo, à medida que interage com o ambiente, modifica-o e também a si próprio. Qualquer
tipo de ação representa uma correspondência cultural.

As queimadas acompanharam todo o processo de produção de açúcar no Brasil. Para se preparar o solo
para o cultivo, os produtores não viam outra opção senão envolver vastas terras em chamas. Contudo, no final do
século XX, grupos ambientalistas lutam contra tal prática severa para o meio ambiente. O produto escolhido para
dar início à ocupação econômica do Brasil foi a cana-de-açúcar. Essa escolha não foi por acaso, sendo respaldada
por uma série de razões:
O açúcar era um produto altamente lucrativo;
A aceitação do produto no mercado europeu;
A experiência portuguesa na produção de cana na costa africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé);
Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massapé e o clima quente e úmido do Nordeste;
A possibilidade de atrair investimentos externos.
A experiência de Portugal como produtor de açúcar em suas ilhas do Atlântico (Madeira e Cabo Verde) con-
tribuiu para a escolha do produto e a forma de produção: eram semelhantes as condições ecológicas do Brasil e das
ilhas, o açúcar era das especiarias mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu. Por seu valor, o açúcar po-
deria atrair investimentos, navios holandeses poderiam colaborar no transporte, os índios poderiam ser obrigados
a trabalhar na lavoura e, se não se adaptassem, havia os africanos, muitos deles já escravizados pelos portugueses.
A lavoura açucareira requeria vultosos investimentos iniciais, especialmente para a compra e montagem
dos equipamentos dos engenhos, no transporte de mudas da Europa para o Brasil e na obtenção de mão de obra
escrava. Como já foi dito anteriormente, Portugal enfrentava dificuldades econômicas e por isso se associou, em
especial, ao capital holandês na montagem da agromanufatura açucareira.

205
C H Geografia

GEOGRAFIA

Breviário ENEM

C H
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Aulas 1 e 2

Competências 2, 4 e 6
Habilidades 6, 19 e 26

BREVIÁRIO

CORRENTES E CONCEITOS DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO


Princípio da extensão: estudar um fato ou área a partir da delimitação.

CE
MA
RN

PI PB
Oceano
PE
Atlântico
AL

SE

BA

MG

Delimitação da bacia hidrográfica do São Francisco

Princípio da analogia: a partir da delimitação da área, compará-la com outras buscando semelhanças e
diferenças entre elas.

Em regiões desérticas, o clima é quente e chove pouco Em regiões polares, o clima é frio e quase não chove

209
Princípio da causalidade: explicar as causas dos fatos observados.

Cidades devastadas por terremotos

Princípio da conexão: perceber que os fatores físicos e humanos nunca atuam isoladamente.

RJ: a cidade que cresceu em um meio físico acidentado

Princípio da atividade: a paisagem possui sempre um caráter dinâmico.

O processo de escavação do Grand Canyon pelo rio Sacramento

210
Escolas Geográficas
Determinismo
Fredrich Ratzel: as condições naturais determinam o comportamento do homem, interferindo na sua
capacidade de progredir.

Possibilismo
Paul Vidal de La Blache: entende que o homem tem condições de transformar o meio natural e adaptá-lo
às suas necessidades.

Método regional
Karl Ritter: enfatiza a diferenciação da área a partir da integração de fenômenos heterogêneos em uma
dada porção da superfície.

Nova Geografia
Nasceu na escola americana.
Utiliza-se de métodos matemáticos e técnicas estatísticas para analisar os fatos geográficos

Geografia Crítica ou Marxista


Enfatiza a necessidade de engajamento político dos geógrafos e defende a diminuição das disparidades
socioeconômicas e regionais.

Conceitos geográficos
Território: é concebido, nas mais diversas análises e abordagens, como um espaço delimitado pelo uso de
fronteiras – não necessariamente visíveis – e que se consolida a partir de uma expressão e imposição de
poder.

211
Paisagem: é a parte visível do espaço geográfico, sejam aspectos naturais ou culturais. Na prática, ela se
constitui de uma parte da Terra que, quando estudada tanto do ponto de vista físico quanto do humano,
apresenta características próprias. Pode ser dividida em paisagem natural e paisagem modificada.

“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem [...].
Não apenas formada de volumes, mas também de cores, odores, movimen-
tos, sons etc.”
Milton Santos

Lugar: representa a porção do espaço geográfico dotada de significados particulares e relações humanas. É
a porção do espaço onde vivemos, é nele que ocorre o nosso cotidiano, onde vivemos nossas experiências.

212
Origem da cultura
“Um povo sem o conhecimento da sua história, origem e
cultura é como uma árvore sem raízes.”
Marcus Garvey

Claude Lévi-Strauss identifica o surgimento da cultura com o aparecimento da primeira regra, que seria a
proibição do incesto, um comportamento comum a todas as sociedades humanas.
O antropólogo Leslei White considera que a origem da cultura ocorreu quando o homem foi capaz de gerar
e compreender os símbolos.
Entende-se por relativismo cultural uma ideologia político-social que defende a validade e a riqueza de se
observar sistemas culturais, não partindo dos conceitos ocidentais modernos de ética e moral, mas sim,
estabelececendo que cada cultura deve ser entendida em seus próprios termos e vai contra a ideia que
existam culturas melhores ou piores, ou ainda, evoluídas ou primitivas.

Mestre Darcy, criador do Jongo da Serrinha

Entende-se por diversidade cultural os diferentes costumes de uma sociedade, como as vestimentas, a culi-
nária, as manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos.

Mulheres da tribo Kallawayas mascam a folha da coca nos altiplanos bolivianos, tradição sagrada em sua cultura.

213
Os principais disseminadores da cultura brasileira foram os colonizadores europeus, a população indígena
e os negros africanos. Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre
outros.
Uma das questões de diversidade é a dos nativos brasileiros, quanto à demarcação das terras indígenas,
entre os silvícolas e nativos com madeireiros, posseiros, ribeirinhos e fazendeiros.

Outra questão são os quilombolas, que buscam a legalidade de suas terras, inclusive em áreas urbanas.
Lutam contra a especulação imobiliária e pelo reconhecimento identitário.

Comunidade do Mandira, remanescente do quilombo localizado na ilha do Cardoso, município de Cananeia, onde residem 25 famílias.
Com a impossibilidade de fazer roças e criar animais para a subsistência, devido às restrições ambientais, e indefinição na titulação do
território, a principal fonte de renda da comunidade é o manejo de ostra e o artesanato.

214
COORDENADAS GEOGRÁFICAS
O sistema de mapeamento da Terra, por meio das coordenadas geográficas, dizem respeito às linhas imaginárias
que cortam o Planeta nos sentidos horizontal e vertical, servindo para a localização de qualquer ponto na superfície
terrestre.

Paralelos e Meridianos
Greenwich (meridiano central);
Equador (paralelo central); Trópico de Câncer; Trópico de Capricórnio; Círculo Polar Ártico; Círculo Polar
Antártico.

Longitude e latitude
Longitude: distância em graus de qualquer ponto da Terra em relação ao Meridiano de Greenwich. As
linhas de longitudes também são chamadas de meridianos.
As longitudes variam entre 0º e 180º para Leste (E) ou para Oeste (W), sendo contadas a partir do meridiano
de Greenwich.
Latitude: distância em graus de qualquer ponto da Terra em relação à linha do Equador. Os principais pa-
ralelos são: o Círculo Polar Ártico, o Círculo Polar Antártico, o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio.
As latitudes variam de 0º a 90º, sendo contadas a partir da linha do Equador, que é a latitude 0º, responsá-
vel por dividir o Planeta em hemisférios Norte (Boreal ou Setentrional) e Sul (Austral ou Meridional).

215
Zonas de iluminação
São cinco as zonas climáticas da Terra:

Zona Tropical ou Intertropical: está localizada entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio. É
a região mais quente da Terra.
Zona Temperada do Norte: entre o Trópico de Câncer e o Círculo Polar Ártico. Como recebe raios do
sol mais inclinados, é menos aquecida e iluminada. Nessa zona, é fácil perceber a passagem das quatro
estações do ano, pois cada estação apresenta as características que as diferenciam nitidamente das outras.
Zona Temperada do Sul: entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico.
Zona Polar do Sul: abrange as áreas localizadas dentro do Círculo Polar Antártico.
Zona Polar do Norte: abrange as áreas situadas dentro do Círculo Polar Ártico.
As zonas polares são as regiões mais frias do Planeta. Essas regiões recebem os raios do sol muito incli-
nados e, por isso, muito fracos. Por causa disso são muito frias, ocorrendo nelas a formação de grandes geleiras.

Solstício e equinócio
Entre 21 e 22 de dezembro, os raios solares incidem perpendicularmente no Trópico de Capricórnio, deter-
minando maior aquecimento no hemisfério Sul e definindo seu solstício de verão, dando início, portanto,
ao verão no hemisfério Sul, enquanto no Norte é inverno.
Entre 20 e 21 de junho, a situação se inverte. Quando o planeta atinge aquela posição em relação ao Sol,
é o Trópico de Câncer que recebe os raios solares perpendicularmente, definindo o solstício de verão no
hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul.
Existem duas posições intermediárias: entre 20 ou 21 de março e em 22 e 23 de setembro, quando os raios
solares incidem perpendicularmente na linha do Equador, determinando os equinócios, ou seja, quando os
dois hemisférios são igualmente iluminados e se alternam as estações primavera e outono.

216
NOÇÕES DE CARTOGRAFIA

Cartografia sistemática
Produzir mapas com o máximo de precisão possível.

Cartografia Temática
Tem como objetivo a utilização de mapas com variados temas da geografia física e humana.

Classificação de mapas e cartas


Cadastrais: com escalas de 1:500 a 1:10.000
Topográficos: com escalas de 1:25.000 a 1:250.000
Geográficos: com escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000

Interpretação das curvas de nível


Quanto maior a declividade do terreno representado, mais próximas são as curvas de nível. Na representa-
ção de terrenos pouco íngremes, elas são mais afastadas.
Entre duas curvas de nível há sempre a mesma diferença de altitude.
Pontos situados na mesma curva de nível têm a mesma altitude.
Os rios nascem nas áreas mais altas e correm para as áreas mais baixas.

Geomática
Aerofotogrametria;
Sensoriamento remoto;
Sistema de posicionamento global;
SIG (Sistemas de Informações Geográficas).

Projeções cartográficas
Classificação
Semelhantes ou conformes: mantêm as formas, mas distorcem as áreas.
Equivalentes: mantêm as áreas, mas distorcem as formas.
Equidistantes: as distâncias são representadas corretamente, mas há distorção das formas e das áreas.
Afiláticas: distorcem pouco cada uma das dimensões, sendo utilizadas para fins didáticos.

Anamorfose: não mantêm as formas nem os tamanhos, sendo utilizadas para representar algum fenômeno.

217
Projeção cilíndrica (Peters e Mercator)

Projeção cônica

Projeção azimutal

Escala
Determina quantas vezes a realidade foi reduzida para caber na folha de papel

1:25000000 Quanto MAIOR o


denominador, menor a
escala, menos
detalhes

1:4000000
Quanto menor o
denominador, MAIOR a
escala, mais detalhes

Mapas de plantas cadastrais, usadas para identificação de lotes no espaço urbano: 1:1.000 a 1:2.000
Mapas topográficos municipais: 1:5.000 a 1:20.000
Mapas topográficos regionais: 1:50.000 a 1:250.000
Mapas de grandes regiões brasileiras: 1:500.000 a 1:2.000.000
Mapas de países: escalas menores que 1:5.000.000
218
Aulas 3 e 4

Competências 2 e 4
Habilidades 7, 8, 16, 17 e 18

BREVIÁRIO

RELAÇÕES DE PODER NO MUNDO


As guerras, como meio de obtenção de poder geram transformações no cenário político e geográfico.

A ordem bipolar da Guerra Fria


1945: criação da ONU;
EUA (lideram bloco capitalista) URSS (lidera o bloco socialista);
1947: EUA lançam a Doutrina Truman e o Plano Marshall;
1949: criação da Otan para defender a Europa ocidental da ameaça soviética;
Pacto de Varsóvia: organização militar comandada pela URSS;
Corrida armamentista;
1949: divisão da Alemanha;
1961: construção do Muro de Berlim.
O mundo bipolar

Jurandyr L.S.Ross (org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2008.

Momentos de tensão
Crise dos mísseis (1961);
Guerra da Coreia (1945);
Guerra do Vietnã (1964-1973);
Guerras civis no continente africano.

219
A nova ordem mundial
Crise do socialismo soviético na segunda metade dos anos 1980;
Fragmentação da URSS;
Queda do Muro de Berlim, em 1989;
A queda dos regimes pró-Moscou do leste europeu e o consequente abandono do centralismo estatal e da
planificação da economia;
A desintegração da Iugoslávia com a Guerra dos Balcãs a partir de 1991;
Formação da CEI (Comunidade dos Estados Independentes);
Mundo multipolar;
Hegemonia capitalismo;
Confronto econômico-comercial;
Disponibilidade de capitais;
Avanços tecnológicos;
Elevada produtividade;
Altos índices de competitividade;
Maximização dos lucros (redução dos custos; busca de incentivos fiscais e mão de obra barata);
Fortalecimento dos blocos econômicos.

Divisão Norte-Sul

Países centrais;
Países periféricos;
Países semiperiféricos.

A nova divisão internacional do trabalho


Países industrializados centrais;
Países industrializados semiperiféricos;
Países periféricos (economias agroexportadoras).

G-7
É o grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente
do mundo. São eles: Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido. Em março de
2014, a Rússia foi excluída do grupo por envolvimento na questão da Ucrânia.

G-20
Criado em 1999, é o grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores eco-
nomias do mundo mais a União Europeia, com o objetivo de favorecer a negociação internacional, promovendo
discussões sobre questões políticas relacionadas com a promoção da estabilidade financeira internacional.

220
BRICS

É um grupo político de cooperação formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Não se trata
de um bloco econômico ou uma instituição internacional, mas de um mecanismo internacional na forma de
um agrupamento informal, ou seja, não registrado burocraticamente com estatuto e carta de princípios.

Blocos econômicos

Formas de integração econômica:

Zona de livre comércio: eliminação ou redução das taxas alfandegárias;


União aduaneira: além dos benefícios da área de livre comércio, também propõe a criação de regras
comuns de comércio com países exteriores ao bloco e a abertura de mercados internos;
Mercado comum: além das vantagens das fases anteriores, libera também fluxo comercial de capitais, de
mão de obra e de serviços entre os países do bloco;
União monetária: inclui também a coordenação de políticas econômicas e de defesa e a utilização de
moeda única.

Blocos

União Europeia
Nafta (Livre Comércio da América do Norte)
Apec (Associação de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico)
Alca (Associação de Livre Comércio das Américas)
*Existem mais de 250 blocos econômicos registrados na Organização Mundial do Comércio

221
Principais blocos econômicos

OMC (Organização Mundial do Comércio)


Criada em 1994, na Suíça, tem como função:
regulamentar e fiscalizar o comércio mundial;
resolver conflitos comerciais entre os países membros;
gerenciar acordos comerciais, tendo como parâmetro a globalização da economia;
criar situações e momentos para que sejam firmados acordos comerciais internacionais;
supervisionar o cumprimento de acordos comerciais entre os países membros.

Principais fluxos comerciais

222
Conceitos e fatores de crescimento populacional

Populoso: é o total de habitantes de um determinado território;


Povoado: é a relação do número de habitantes por km2;
Taxa de natalidade;
Taxa de mortalidade;
Crescimento vegetativo;
Fecundidade: número efetivo de filhos em relação às mulheres em idade reprodutiva (15-49 anos);
Migrações

Fatores que influenciam o decréscimo da taxa de natalidade

Industrialização;
Inserção da mulher no mercado de trabalho;
Urbanização;
Métodos contraceptivos.

Fatores de redução da mortalidade

Revolução Industrial;
Melhorias sanitárias;
Queda da mortalidade infantil;
Urbanização.

Transição demográfica
1ª Fase: Essa fase é marcada por altas taxas de natalidade e de mortalidade;
2ª Fase: Caracterizada pela gradual redução da taxa de mortalidade.
3ª Fase: Queda da natalidade
4ª Fase:Taxa de natalidade e mortalidade baixas e estáveis

223
Tipos de pirâmides etárias
Pirâmide jovem
Base larga, devido à elevada natalidade, e topo estreito, em consequência de uma elevada mortalidade e
esperança média de vida reduzida. As pirâmides deste tipo representam populações muito jovens típicas dos
países menos desenvolvidos.

Pirâmide de Moçambique em 2001.

Pirâmide envelhecida
Base mais estreita do que a classe dos adultos. Reflete uma diminuição da natalidade e um aumento da
esperança média de vida. É característica dos países desenvolvidos.

Pirâmide etária da Itália em 2001.

Pirâmide adulta
Base é ainda mais larga, mas existe um aumento da classe dos adultos e dos idosos. A taxa de natalidade
diminui e a esperança média de vida aumenta.

Pirâmide etária da Islândia em 2001.

224
População economicamente ativa (PEA)
Considera-se PEA as pessoas que trabalham em atividades remuneradas, tanto as que estão ocupadas
como as que estão procurando emprego;
População não economicamente ativa são as pessoas que não trabalham, nem estão procurando emprego
(estudantes que não trabalham, donas de casa, aposentados etc.).

Setores da produção
Setor primário

Relativo à produção e exploração de recursos da natureza, como agricultura, mineração, pesca, pecuária,
extrativismo vegetal e caça.

Setor secundário

É o setor da economia que transforma matéria-prima em produtos industrializados.

Setor terciário

É o setor econômico relativo aos serviços, como comércio, educação, saúde, telecomunicações, serviços,
transportes, turismo, administrativos, etc.

Distribuição da PEA por setores da economia

Migração e população
Após a Segunda Guerra Mundial, vários países europeus se reconstruíram e se destacaram no cenário eco-
nômico, como a França e a Alemanha. Esse crescimento econômico fez com que esses países se tornassem
áreas de atração, inicialmente de trabalhadores de outros países europeus.
Esses trabalhadores, que não tinham boa qualificação, recebiam baixos salários e, geralmente, não tinham
vínculos empregatícios.
No decorrer das décadas de 1970 e 1980, os imigrantes que se dirigiam para a Europa tinham origem das
ex-colônias.

225
Áreas de repulsão e atração
Hoje no mundo, podemos identificar algumas áreas com características de repulsão (países emissores) e de atração
(países receptores), que levam milhares de pessoas a se deslocar.

Áreas de repulsão

América latina (México, América Central e América do Sul) – com seus históricos problemas de dese-
quilíbrio econômico, provocados por endividamentos e mau gerenciamento do dinheiro público, gerando
enormes bolsões de pobreza.
África – onde, além da pobreza crônica da população, ocorrem conflitos raciais de extrema violência dentro
dos países artificialmente criados pelos colonizadores europeus.
Ásia – o continente que concentra o maior contingente absoluto de pobres do mundo onde as estru-
turas sociais são profundamente injustas, muitas vezes exacerbadas pelos sistemas de castas e pelo
comportamento religioso.
Leste europeu – onde o fim do socialismo gerou enorme desorganização econômica, com a eliminação
de empregos e benefícios estatais, expondo diferenças antes controladas pela ideologia política comum,
provocando conflitos étnicos e religiosos.

Áreas de atração

América anglo-saxônica – os EUA e, em menor escala, o Canadá, com suas ricas economias, são atra-
tivos para as populações latino-americanas, principalmente mexicanos e centro-americanos que veem na
poderosa nação (EUA) a solução para seus problemas.
Europa ocidental – essa região concentra as principais economias do continente: Alemanha, França,
Itália e Reino Unido, além da Holanda, Suécia e Suíça. A Europa é circundada por várias regiões com econo-
mias problemáticas, como a África, Oriente Médio, Europa oriental e, mais distante, o sul e sudeste asiático.

226
Crises migratórias
Causas
Violação dos direitos humanos;
Governos ditatoriais ou democracias pouco consolidadas;
Guerras internas;
Perseguições políticas e torturas;
Extermínio étnico;
Discriminação religiosa ou cultural;
Problemas ambientais: desertificação, desmatamento, erosão dos solos e desastres químicos ou nucleares

Consequências nas áreas de partida


Diminuição da população absoluta;
Diminuição da natalidade;
Diminuição da densidade populacional e da taxa de fecundidade;
Desequilíbrio na pirâmide etária;
Diminuição da PEA;
Diminuição do dinamismo econômico;
Diminuição do desemprego;
Ligeira melhoria nos salários;
Entrada de divisas enviadas pelos imigrantes;
Diminuição na intensidade das relações familiares e de amizade.

Consequências nas áreas de chegada


Aumento da população absoluta;
Aumento da natalidade;
Aumento da densidade populacional e da taxa de fecundidade;
Maior número de jovens e adultos;
Diminuição da mortalidade;
Xenofobia;
Aumento da PEA;
Aumento do dinamismo econômico;
Aumento do desemprego;
Aumento da mão de obra barata;
Saída de divisas;
Difusão cultural;
Aumento de favelas e cortiços.

Fluxos populacionais
Crescente fluxo migratório de pessoas de países pobres para países ricos;
Recrudescimento de políticas de imigração;
Construção de barreiras físicas;
Expulsão e prisões de imigrantes ilegais;
Guerras, desastres naturais e convulsões políticas ampliam o fluxo de movimentos migratórios;
Refugiados representam 7,1% do total de imigrantes no mundo.

227
Trabalho escravo
O trabalho escravo continua sendo um tema de sérios questionamentos para a Justiça Trabalhista Brasileira.
Quando se fala em trabalho escravo, verifica-se a afronta direta aos princípios e às garantias individuais
previstos tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos quanto na Constituição Federal.
O trabalho escravo não é uma exclusividade de países em desenvolvimento e de países pobres, ele existe em
todas as economias do mundo, em todas as regiões e apresentando as mais diversas formas.

O trabalho forçado se caracteriza quando o empregador, usando de ameaça, mantém os empregados em


sua propriedade, e lhes vende produtos (alimentos e vestuários) por preços elevados.
Normalmente, estes empregados são aliciados por meio dos “gatos”, em locais distantes daquele em que pres-
tam os serviços, muitas vezes em outros Estados brasileiros, como os do Nordeste, o Pará e Tocantins, e são
levados a milhares de quilômetros de distância, em fazendas principalmente no Pará, Mato Grosso e Maranhão.
O Brasil foi um dos primeiros países, perante a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a reconhecer o
problema, e criou desde 1995 o grupo móvel de fiscalização, formado por fiscais, procuradores do trabalho
e policiais federais, e atende denúncias em todo o País.
A grande diferenciação e o grande salto, em termos de qualidade que o Brasil teve nestes últimos anos, foi
a constituição de uma comissão, que é a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, que traçou
uma estratégia para atuar frente a este problema.

228
Os empregados, tendo em vista os altos valores cobrados quanto à alimentação, moradia e vestuário, jamais
conseguem saldar suas dívidas, sendo impedidos de deixar as propriedades. As jornadas de trabalho são
elevadas e as condições do ambiente de trabalho são precárias, tais como:
alojamento inadequado (cozinha sem teto, quartos sem armários individuais, banheiros sem portas etc.);
falta de fornecimento de boa alimentação e água potável (comida sendo preparada no chão, água sem
tratamento sendo utilizada para consumo, alimentos contaminados por agrotóxico etc.);
falta de fornecimento de equipamentos de trabalho e de proteção (trabalhadores exercem suas ativi-
dades sem o mínimo de conhecimento e treinamento, equipamentos sem nenhuma condição para o
trabalho, equipamentos de proteção individual sem certificação etc.).

Outras irregularidades normalmente praticadas pelos empregadores é a retenção da Carteira de Trabalho e


o desconto de verbas salariais, como mensalidades sindicais de trabalhadores não associados ou que não autori-
zaram o desconto.

229
O empregado fica à mercê das vontades do empregador normalmente por três razões principais:
a primeira é a inevitável servidão por dívida, ou seja, os trabalhadores, aliciados em municípios muito caren-
tes, acabam sendo levados para trabalharem localidades distantes. Os míseros rendimentos dos primeiros
meses de trabalho são para pagar as despesas de transporte, alimentação e vestuário, cobrados já pelo
deslocamento de suas cidades até o local de trabalho;
a segunda é em relação ao isolamento geográfico em que o empregado, sem qualquer condição financeira
ou de transporte, acaba se sujeitando ao trabalho forçado, na esperança, em vão, de um dia poder se libertar;
a terceira é a questão do confinamento armado. Os empregados, levados para estas fazendas de difícil
acesso, são vigiados por guardas armados que ameaçam e até matam os trabalhadores que tentam fugir
dos locais de trabalho.
Os estados do norte e nordeste são os mais citados quanto à prática de trabalho escravo, no entanto está
comprovado que outros estados de outras regiões como a região Sul, Sudeste ou Centro-Oeste, por exemplo, tam-
bém existem esta prática, embora não tão acentuada.

Fatores que contribuem para a prática de trabalho escravo


Impunidade, pois a justiça é lenta e praticamente inexiste, se apresentando consideravelmente comprome-
tida com o poder econômico;
Não há um trabalho preventivo da Justiça, de forma que haja um acompanhamento das empresas ou em-
pregadores que já foram fiscalizados, evitando que situações desta natureza se repitam;
A verificação das denúncias são feitas dois, três dias ou até semanas depois, o que contribui para que os
empregadores eliminem as provas que poderiam confirmar a degradação do trabalho;
O confinamento dos trabalhadores em lugares afastados dos grandes centros, onde os aliciadores se apro-
veitam da ausência de órgãos fiscalizadores;
Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, no Brasil, a maior parte do trabalho forçado está
concentrada nos Estados do Pará, Mato Grosso e Maranhão, sendo 53%, 26% e 19%, respectivamente.

Para coibir o uso ilegal de mão de obra análoga à escrava, o governo criou, em 2004, um cadastro na qual
figura os empregadores flagrados praticando a exploração. Ao ser inserido nesse cadastro, o infrator fica impedido
de obter empréstimos em bancos oficiais do governo e também entra para a lista das empresas pertencentes à
“cadeia produtiva do trabalho escravo no Brasil”.

230
Tipos de Indústria
Indústria de Base

Transformam a matéria-prima bruta em matéria-prima para outras indústrias, como as siderúrgicas, as mineradoras,
químicas e as petroquímicas;

Indústria de bens de consumo: tem como objetivo a produção direcionada ao consumidor final e é dividida em:
Indústria de bens duráveis;
Indústria de bens semiduráveis;
Indústria de bens não duráveis.

231
Tipos de industrialização
Industrialização clássica: industrialização que ocorreu nos países desenvolvidos;
Industrialização planificada: típica dos países socialistas;
Industrialização tardia: industrialização implantada nos países subdesenvolvidos, também chamada de
substituição de importações.

Concentração e desconcentração industrial

As indústrias procuram se localizar nas áreas que oferecem maior quantidade ou a melhor combinação
possível de fatores necessários à produção (fontes de energia, mão de obra, transporte, capitais, mercado
consumidor etc.);
As concentrações industriais e financeiras ocorrem porque as indústrias procuram obter o menor custo pos-
sível de produção para ter o máximo lucro possível.

Concentrações financeiras
Monopólio

Situação em que uma empresa domina o mercado. Neste caso, a livre concorrência é quebrada, já que uma (ou
poucas empresas, como é o caso do oligopólio) fornece um determinado produto ou serviço. A tendência em situ-
ações monopolistas é de que essas grandes empresas cresçam cada vez mais e absorvam enormes fatias do mer-
cado, e as pequenas empresas tenham uma participação pequena, ou até mesmo sendo absorvidas pelas grandes.

232
Truste

Tipo de estrutura empresarial na qual se procura dominar todas as etapas da cadeia produtiva de um determinado
produto, desde a extração da matéria-prima até o ponto final da comercialização do produto. É uma forma de mo-
nopolização ou controle do mercado, através do qual se estabelecem preços elevados para aumentar ou garantir
o nível de lucratividade.

Conglomerado

É composto por um conjunto de empresas do mesmo grupo que atua nos mais variados seguimentos da econo-
mia. Difere do truste, pois neste, o conjunto de empresas atua no mesmo seguimento, enquanto o conglomerado
caracteriza-se pela diversidade de atuação. Essa diversificação é útil em tempos de crise econômica, pois umas
serão mais atingidas do que as outras, mantendo assim, a lucratividade do conglomerado.

Cartel

É uma atividade proibida do capitalismo. As empresas que compõem um monopólio fazem acordos secretos entre
si, inviabilizando a concorrência e estipulando o preço que melhor convier. Embora proibido, é praticado por meio
de ação coordenada, sigilosamente, entre grandes empresas.

233
Holding

É a empresa que gerencia outras empresas e, normalmente, não é conhecida pelo público, pois sua função é con-
trolar esse conjunto de empresas e viabilizar uma atuação sintonizada entre elas.

PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Ocorreu na Inglaterra, no final do século XVIII e início do século XIX, e ficou caracterizada pela reviravolta no setor
produtivo e de transportes, com a utilização do carvão como fonte de energia, da máquina a vapor e da locomotiva.

Segunda Revolução Industrial


Iniciada na segunda metade do século XIX e terminada durante a Segunda Guerra Mundial, envolveu uma série
de desenvolvimentos dentro da indústria química, elétrica, de petróleo e do aço, e incluiu a introdução do navio
movido à vapor, o desenvolvimento do avião, a produção em massa de bens de consumo, a invenção do telefone e
de outras técnicas que ajudaram a intensificar o processo produtivo.

234
Terceira Revolução Industrial
Teve início em meados da década de 1940 e caracterizou-se pela utilização de várias novas fontes de tecnologia,
como energia hidrelétrica, nuclear, eólica, além, do uso crescente de recursos da informática nos processos de
produção industrial, como a robótica.

Revolução Verde
Teve início com os avanços tecnológicos do pós-guerra e refere-se à invenção e disseminação de novas sementes
e práticas agrícolas que permitiram um vasto aumento na produção agrícola, a partir da década de 1950, nos
Estados Unidos e na Europa, e nas décadas seguintes, em outros países.
Teve como objetivo aumentar a produção agrícola no mundo, por meio do uso de insumos industriais, mecani-
zação e redução do custo de manejo, com sementes geneticamente modificadas, fertilizantes e agrotóxicos potentes.
Também é marcada pelo uso intensivo de tecnologia no plantio, na irrigação e na colheita.
Teve como consequência, além de não resolver o problema da fome, o aumento da concentração fundiária,
a dependência de sementes modificadas, alterou a cultura dos pequenos proprietários, promoveu a devastação de
florestas e contaminou o solo e as águas.

235
Meio natural
Considera-se como meio natural os espaços ocupados pelos seres humanos nos primórdios de seu desenvolvimento.
Absoluta predominância das formas da natureza;
Os seres humanos pouco modificavam a natureza, pois viviam da coleta, da caça e da pesca;
Forte harmonia entre o homem e a natureza;
A humanidade estava subordinada às condições naturais e, por isso, em geral eram nômades;
Também foi o período em que o homem deixou de ser nômade e tornou-se sedentário, com a domesticação
de animais e o surgimento da agricultura.

Meio técnico
Teve início há cerca de 250 anos com a criação de máquinas e técnicas no hemisfério Norte mas que se espalhou
por todo o globo.
Processos industriais;
Fabricação de mercadorias;
Produção de energia;
Início da sociedade industrial.

Meio técnico-científico-informacional
Tem início no fim da Segunda Guerra Mundial;
Utilização de tecnologias da informação;
Uso da microeletrônica;
Velocidade nas comunicações;

236
Uso de satélites de comunicação;
Velocidade no fluxo de informações;

Desenvolvimento técnico no processo produtivo;


Biotecnologia (Revolução Verde);
Velocidade nos transportes.

Transportes
Os meios de transporte evoluíram de forma lenta até a Revolução Industrial do século XVIII. A introdução da máquina
a vapor tornou possível o transporte de grandes cargas a longas distâncias, substituindo a tração animal e a vela.
Posteriormente, a descoberta do motor de explosão e a aplicação da eletricidade ao comboio, automóvel e
avião, bem como as melhorias implementadas nos outros transportes, originaram um grande desenvolvimento nos
meios de comunicação. Estes fatos tornaram possível às pessoas e mercadorias deslocarem-se de forma rápida para
locais cada vez mais distantes e a baixo custo.
Os transportes e as comunicações são fatores que mais acentuaram o contraste entre países desen-
volvidos e subdesenvolvidos.

O desenvolvimento dos transportes:

permitiu uma nova organização espacial;


possibilitou a quebra do isolamento de certas regiões;
permitiu certa mobilidade por parte das populações;
criou condições para uma cultura cada vez mais global;
contribuiu para o crescimento econômico.

237
Caracterização dos tipos de transporte

Mobilidade;
Velocidade;
Segurança;
Custo;
Especialização;
Capacidade de carga;
Vocação de transporte (passageiro, mercadoria, leves, perecíveis).

Redes geográficas
O espaço geográfico atual foi equipado para receber os fluxos da globalização. Quanto maior a base tecno-
lógica, mais globalizado o espaço fica.
É de fundamental importância para a compreensão da realidade de um país entender como os sistemas
técnicos-territoriais estão organizados diante das possibilidades geográficas, como dimensão e aspectos
naturais, históricos, bem como os percalços do desenvolvimento econômico e político.

238
Redes
Interligam e estruturam relações entre diversos pontos do mundo.
Circulação de mercadorias, capitais e pessoas.

Em cada etapa do desenvolvimento industrial estruturam-se diferentes redes:


viárias ou de transportes;
elétricas;
comunicação por satélite;
de cabo de fibra óptica;
de produção de empresas multinacionais;
de circulação de capitais entre bolsas de valores.
Informações e capitais são transmitidos por um fluxo virtual > não vemos a informação e o capital
circulando de um lugar para outro.

Redes geográficas no Brasil

Rede de micro-ondas numérica


Rede de micro-ondas analógica
Rede de micro-ondas numérica TD
Rede de micro-ondas intraestado
estação de micro-ondas
Estação de fibra ópticas
Rede de fibras ópticas
Conexão Editorial

Rede de fibras ópticas intraestado


Estação de fibras ópticas
Rede Backbone internet secundária 0 500 km
Fonte: INGEO,
Estação de recepção de satélite Consórcio Brasileiro © MT - 2003 - MGM - Limbergeo

239
A densidade das redes de transportes no mundo

Londres

Nova Iorque
Los Angeles Tóquio
Hong Kong

Equador

Redes de transportes
densas
Redes de transportes Limite entre paíse desenvolvidos e
pouco densas países em desenvolvimento
Sem redes
0 2500 km
Os maiores corredores de transporte marítimo

Topologia dos produtos que lideram o crescimento da produção microrregional

Recursos Naturais/
Agronegócio
Baixa intensidade tecnológica/
Agroindústrias

Média intensidade tecnológica/


alavancada pela mineração

Administração pública/serviços-
base econômica frágil
Recursos naturais (132)
Área com diversidade de Baixa intensidade tecnológica (97)
tipologias Média intesidade tecnológica (83)
Alta intensidade tecnológica (42)
Alta intensidad tecnológica Serviços (26)
em produções urbanas O
Administração pública (17B)
400 800 1,200
(Transformação - Serviços)
Kilometros

Vantagem do modal hidroviário sobre os demais modais


Atributos Barco Trem Caminhão
Peso morto tonelada transportada 350 g 800 kg 700 kg
Força de tração – 1 CV arrasta sobre 4.000 kg 500 kg 150 kg
Energia: 1 kg de carvão mineral leva 1 tonelada 40 km 20 km 6,5 kg
Investimentos para transportar mil toneladas, em milhões de US$ 0,46 1,55 1,86
1 empurrador e 1 locomotiva e 50 cavalos mecânicos e
Quantidade de equipamento para transportar mil toneladas
1 balsa 50 vagões 50 reboques
Distância (km) percorrida com 1 litro de combustível e carga de
219 km 86 km 25 km
1 tonelada
Vida útil em anos de uso 50 30 10
Custo médio (R$/km) toneladas por km transportado 0,009 0,016 0,056
Fonte: Afonso (2006).

240
Rede multimodal

Comparativo internacional

241
Aulas 5 e 6

Competências 4 e 6
Habilidades 18, 19 e 26

BREVIÁRIO

A REDE DE CIDADES E SEU DESENVOLVIMENTO


Podemos estabelecer uma periodização histórica para o desenvolvimento das cidades brasileiras, a partir do perfil
da economia nacional desde o período colonial, quando os aglomerados urbanos se distinguiam em povoados,
freguesias, vilas e cidades, de acordo com a condição territorial, populacional e administrativa.

Do século XIV ao início do XX


Urbanização na fase agroexportadora;
Principais núcleos urbanos inseridos no contexto territorial na forma de “arquipélago” ou “ilhas” desarticu-
ladas entre si e todas ligadas à metrópole colonial;
Recife e Salvador se destacavam como entrepostos do comércio do algodão e do açúcar;
No século XVIII cresceram as vilas de Minas Gerais e Goiás, devido à mineração de ouro e pedras preciosas;
Na segunda metade do século XX, a economia cafeeira impulsionou o crescimento das cidades do Rio de
Janeiro, do Vale do Paraíba, de Santos e de São Paulo.

LEGENDA
Ano da Criação

1711
1713 a 1728
1789 a 1814
Paracatu Minas Novas

Serro

Pitangui Sabará
Caeté
Itapecerica Ouro Preto Mariana N

Conselheiro Lafaiete o L
Jacuí Tiradentes S

São João del Rei Barbacena

Campanha Baependi
0 150 300

Quilômetros

Figura 1. Capitania das Minas Gerais, primeiras vilas criadas (1711 - 1814).
Fonte: RODARTE; Mario Marcos; PAULA, João Antonio de; SIMÕES, Rodrigo. Rede cidades em
Minas Gerais no século XIX. História econômica & História de Empresas, V.7, n.1, p.12, 2004.

243
Do início do século XX até meados dos anos 1940
A urbanização se concentra nos núcleos da região Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro;
Fase da modernização da economia e criação de laços entre as economias regionais;
Mudanças sociais com o crescimento da massa do operariado urbano;
Expansão e instalação de redes de infraestrutura (rodovias, ferrovias, energia e saneamento), dando um
conteúdo mais técnico ao território;
Implantação de indústrias de base;
Subordinação das demais regiões com o Sudeste, levando a uma estagnação ou redução da população de
várias cidades.

Pós-Segunda Guerra Mundial


As grandes cidades tornaram-se o meio técnico apto para receber as inovações tecnológicas;
Atuação de empresas transnacionais;
São Paulo e Rio de Janeiro se consolidam como os centros mais importantes na economia e das finanças e
se articulam com outras regiões;
Forte concentração urbana regional, em capitais como Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte;
Crescente metropolização;

Interiorização da urbanização proporcionada pela construção de Brasília;


Integração da Amazônia ensejada pelo Estado e por empresários estrangeiros e nacionais que diversificou
seu quadro urbano;
Maior crescimento de cidade médias a partir dos anos de 1980;
Conurbação;
Em 1973, o Congresso Nacional aprovou uma lei que criou as Regiões Metropolitanas;
RIDE (regiões integradas de desenvolvimento).

244
Hierarquia urbana
As cidades podem ser classificadas em diferentes níveis hierárquicos de influência socioeconômica. As maio-
res aglomerações urbanas exercem uma polarização sobre as menores, formando um sistema integrado. No
Centro-Sul do País, essa rede é mais densa e existem cidades em todos os níveis hierárquicos. Na Amazônia,
no entanto, essa rede não é completa.
Para delimitar essas áreas de influência, o IBGE considera o fluxo de consumidores que utilizam o comércio
e os serviços públicos e privados no interior da rede e mapeia a rede de transportes entre os municípios e os
principais destinos das pessoas que buscam produtos e serviços fora do seu município de origem.

Configuração interna das cidades brasileiras


A cidade é palco das interações sociais com o espaço;
Contraditoriamente, é lugar do encontro e do desencontro, com seus condomínios fechados e shoppings
centers, onde o espaço está segregado;

245
Desvalorização dos espaços tradicionais de convivência;
O automóvel reforçou a fragmentação;
Especulação imobiliária que agrava o deficit de habitações para as classes populares;
Aumento das favelas, cortiços, loteamentos clandestinos e movimentos sociais organizados de ocupação de
espaços urbanos ociosos.

Espaço agrário brasileiro


“O estudo da agricultura brasileira deve ser feito no bojo da compreensão dos processos de
desenvolvimento do modo capitalista de produção no território brasileiro.”
Ariovaldo Umbelino de Oliveira

É importante saber como se organiza o setor agrário brasileiro, quanto ao uso da terra, à estrutura fundiária,
às relações de trabalho, à reforma agrária e à produção.

246
Modernização do campo
Penetração do capitalismo no campo e aumento da tecnologia;
Mudança de um perfil predominantemente rural para um perfil urbano industrial;
O rural está subordinado ao urbano, que comanda as relações entre os espaços;
Expansão da área cultivada e elevação do índice de produtividade;
Diminuição da dependência da natureza;
Aplicação de novos conhecimentos na área da biotecnologia;
Mecanização intensiva e consequente diminuição da oferta de emprego;
Incorporação de novos solos agrícolas;
Subordinação do capital industrial.

Uso de transgênicos no mundo

Manutenção da estrutura fundiária altamente concentradora com base no latifúndio;


Acelerado êxodo rural agravado por políticas governamentais que relegaram a produção camponesa fami-
liar a segundo plano;

247
A produção camponesa é a que mais emprega e a que mais produz alimentos;

Apesar de ocupar uma área menor, os estabelecimentos da agricultura familiar são responsáveis por apro-
ximadamente 40% de toda produção nacional;
O processo de modernização do campo é irreversível e desigual, pois não ocorre em todo território brasileiro.

A expansão da fronteira agrícola


Chama-se fronteira agrícola a área limite entre o que já foi incorporado e o que ainda está para ser incorporado;
O Centro-Sul já está ocupado e modernizado, então, a fronteira agrícola está agora se expandindo para a
região Centro-Oeste e Amazônia;
Forte participação do Estado, sobretudo na época da ditadura militar, que ordenou essa ocupação por meio
de incentivos fiscais, projetos agropecuários e agrominerais, em parceria com empresas privadas nacionais
e transnacionais.

248
Novas tecnologias e mudanças na cultura da sociedade moderna

As mudanças apresentadas na implementação de novas tecnologias afetam diretamente o ambiente técnico


e social da organização e do modo de trabalho de seus participantes;

Uma vez que a cultura é criada e sustentada pelas redes de comunicação, é inevitável que a mesma sofra
mudanças com a evolução das novas tecnologias.

Vantagens das modificações tecnológicas


Torna a produção mais rápida e maior e, com ISS, o resultado final é um produto mais barato e com maior qualidade.

Desvantagens
Poluição e contaminação dos rios;

249
Desemprego estrutural;

Com o aumento da produção, aumenta também o consumo e, consequentemente, a produção do lixo.

Os meios de comunicação e o cotidiano


Os meios de comunicação representam aqui uma atividade econômica e um instrumento ideológico e polí-
tico de influência considerável;

Embora, conceitualmente, informem, eduquem e entretenham, também têm sido utilizados de forma unila-
teral, proporcionando apenas um simulacro de interatividade;
Registram e divulgam a história e influenciam a rotina, as relações sociais e de trabalho.

250
Globalização
Integração e interdependência das economias nacionais;
Descentralização dos meios produtivos;
Mundialização do consumo;
Globalização informacional (internet, celulares, satélites etc.);
Globalização cultural, geográfica e política.

Aspectos discutidos sobre a globalização


Transnacionais

Responsáveis por grande parte do comércio internacional;


Poder econômico e político por vezes superior a muitos Estados;
Procura incessante por incentivos fiscais;
Aumentam a dependência dos países periféricos em relação aos países centrais.

Aspectos criticados sobre a globalização


Fim das soberanias nacionais

Com o avanço da globalização pode-se dizer que houve um relativo enfraquecimento do poder do Estado.

A exclusão se intensifica

Desemprego;
Migrações;
Dependência econômica;
Regiões e países pouco desenvolvidos;
Aumento da dependência tecnológica.

Para atender às suas necessidades de conforto e progresso, acaba por realocar os recursos naturais, mudando as
configurações do ambiente onde vive, por meio de de atividades como corte de árvores, tratamento de solo, cria-
ção e domesticação de animais, construção de edifícios, estradas, indústrias para transformar a matéria-prima em
produtos para o consumo, entre outros, modificando a paisagem e a história dos lugares.
Considera-se paisagem tudo aquilo que é perceptível pelos sentidos (visão, olfato, tato e audição). É for-
mada por diferentes elementos que podem ser de domínio natural, humano, social, cultural ou econômico, e se
articulam uns com os outros.
Podemos considerar paisagem sob dois aspectos: paisagem natural e paisagem modificada ou cultural.
Paisagem natural é aquela onde não houve ação modificadora do homem. Já a paisagem modificada ou cultural é
aquela modelada por meio de um grupo cultural, onde a cultura de um povo é o agente que modifica e modela a
paisagem; a área natural é o meio e a paisagem cultural é o resultado.
Quando tratamos da origem do processo de formação de uma paisagem, seja ela natural ou cultural, inter-
vém um conjunto de fatores geológicos, geográficos e biológicos que não permite analisá-la como ente indepen-
dente do ser humano e sobre sua incidência no mesmo.

251
O geógrafo Aziz Ab’Saber criou um modelo de classificação da paisagem natural do Brasil, baseada em
domínios morfoclimáticos, que são classificados de acordo com a semelhança de relevo, clima, solo e hidrografia
de uma determinada região.

Domínios morfoclimáticos brasileiros

Domínio dos mares de morros


Características
Relevo mamelonar de estrutura cristalina;
Escarpas planálticas;
Mata Atlântica;
Presença de árvores de médio e grande porte, formando uma floresta densa e fechada;
Grande biodiversidade;
Clima quente e úmido;
Solos pouco férteis;
Abriga uma vasta diversidade sociocultural de populações tradicionais: quilombolas, índios e caiçaras.

Histórico de ocupação e devastação da Mata Atlântica

Distribui-se principalmente ao longo da costa litorânea brasileira, atravessando 17 Estados;


Ocupava uma área de 1.110.182 km2 antes da chegada do colonizador português. Hoje, restam cerca de
7% da área original;

252
Domínio Mata Atlântica
Remanescentes
0 400 800

Os índios extraíam da floresta seus alimentos, remédios e a madeira para a construção de seu abrigos.
Como muitas florestas, o solo apresenta baixa fertilidade, o que forçava os índios a desmatar outras áreas.
No entanto, a floresta, já adaptada, conseguia manter seu equilíbrio, por conta da umidade e da grande
quantidade de matéria orgânica;
Após a chegada dos portugueses, estabeleceu-se a primeira atividade econômica: a extração do pau-brasil,
feita de forma predatória;
Implantação dos engenhos de cana-de-açúcar nos séculos XVI e XVII, monocultura essa que forçava a troca
constante dos locais de plantio;
Formação de vilas e cidades;
A extração do ouro no século XVIII também favoreceu a destruição de grande parte da Mata Atlântica,
principalmente em Minas Gerais;
No século XIX, foi a vez do café que, a princípio, foi introduzido inicialmente no Vale do Paraíba e no sul de
Minas, e mais tarde expandiu-se para São Paulo, acelerando ainda mais o desmatamento da floresta, em
função do aumento populacional, do aumento das cidades e da construção de ferrovias.

253
Domínio amazônico
Características

Domínio de terras baixas (depressões e planícies), originando os baixos planaltos e planícies aluviais, com
depósito de sedimentos;
Presença do planalto Norte-Amazônico, Pico da Neblina e Pico 31 de Março;
Hidrografia abundante e diversificada;
Clima Equatorial (quente e úmido) e subequatorial (com períodos de estiagem);
Floresta equatorial Amazônica (grande biodiversidade). A floresta é dividida em: floresta estacional de terra
firme, floresta de igapós e mata de várzea;

Solos pouco férteis;


As comunidades tradicionais da Amazônia: seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, indígenas e quilombolas.

254
Mineração

Extração de bauxita na região do vale do rio Trombetas;


Serra dos Carajás: minério de ferro, manganês, nióbio, chumbo, níquel, entre outros;
Criação da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942, pelo governo Getúlio Vargas, e privatizada, em 1997,
no governo de Fernando Henrique Cardoso, mineradora que detém os direitos de extração de boa parte da
região, como a serra dos Carajás e a Mina do Sossego.

Projetos de integração nacional

A partir de 1960, a Amazônia é alvo de iniciativas privadas e projetos estatais, que tinham como discurso
básico a ideias de integração nacional e o controle das fronteiras brasileiras;
Criação da Sudam (Superintendência para o Desenvolvimento da Amônia), em 1966, órgão federal para pro-
mover e planejar projetos tecnológicos e sociais ligados à agricultura e à mineração em toda a Amazônia Legal;
Criação da Zona Franca de Manaus e da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), em 1967,
com o objetivo de desenvolver um polo industrial para finalmente promover sua integração econômica e
estimular o deslocamento de um contingente populacional;
A partir da criação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e de Reforma Agrária) e do Programa de In-
tegração Nacional, em 1970, desenvolveram-se projetos de colonização da Amazônia por meio de eixos de
ocupação, como a Transamazônica, uma rodovia em que, ao longo do seu traçado, seriam criadas proprie-
dades de 100 hectares para serem ocupadas por colonos, formando as agrovilas. Esse projeto não atingiu
seu objetivo por falta de incentivos governamentais e também pela questão ambiental. À medida que des-
matavam os terrenos, os solos não suportavam as chuvas frequentes, promovendo o processo de lixiviação
e deixando o terreno improdutivo. As terras abandonadas aceleravam o processo de grilagem na região;
O Projeto Rondon, criado em 1967, ainda em funcionamento, tinha como objetivo a promoção da ocupação.
Reestruturado em 2005, hoje inclui atividades de inclusão social e sustentabilidade em diversas regiões do Brasil;

255
O Projeto Jari, idealizado pelo magnata estadunidense Daniel Ludwig, previa a criação de inúmeras ativi-
dades na agricultura e na extração mineral, indústria de celulose e papel e até a criação de uma cidade
para abrigar os funcionários. No entanto, fracassou por causa dos danos ao meio ambiente, das dívidas que
acumulou, das denúncias de maus tratos a funcionários e da anexação de terras ilegais.

Vale do Jari

256
Desmatamento e projetos de defesa nacional

O projeto fracassado das agrovilas transformou esse espaço abandonado em latifúndios agrícolas e pe-
cuaristas, acelerando o processo de desmatamento. No chamado “cinturão do desmatamento”, ocorre a
expansão da fronteira agrícola, com destaque para o cultivo da soja em Mato Grosso e Rondônia;

A região Amazônica sempre mereceu atenção especial no que diz respeito à segurança nacional, por causa
da sua extensa área de fronteira e a dificuldade de um controle eficaz. Criado em 1985, o Projeto Calha
Norte, pretendia criar mecanismos de proteção da fronteira, evitando o contrabando de animais silvestres,
madeira ilegal, recursos minerais e combater o narcotráfico, com a construção de uma rodovia chamada Pe-
rimetral Norte, com bases militares espalhadas. No entanto, o processo erosivo dificultou a fixação humana
na área e, hoje, o projeto limita-se apenas para servir de base para treinamento militar;
Em 1990, o presidente Fernando Collor de Mello criou o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), com
o objetivo de controlar a região por meio de radares e satélites. As duras críticas pelo alto custo de imple-
mentação do programa, comprometeram sua viabilidade e, a partir do Sivam, surgiu o Sipam (Sistema de
Proteção da Amazônia), para tentar criar mecanismos de proteção e sustentabilidade.

257
Domínio do Cerrado
Características
O relevo do Cerrado é marcado por extensos planaltos, depressões e chapadas ou tabuleiros sedimentares;

Possui clima tropical, com duas estações do ano bem definidas: alternância de períodos chuvosos, no verão,
e secos no inverno
Os solos são comumente muito profundos, antigos e com poucos nutrientes, exigindo uma adaptação da
vegetação. Sob o solo do Cerrado existe um grande manancial de água que alimenta seus rios;
A vegetação desse domínio possui, em geral, árvores de médio porte (vegetação do tipo arbustiva), espa-
çadas entre si, com cascas grossas e galhos retorcidos, mecanismo de adaptação às queimadas natural. É
também chamada “floresta invertida”, pois, no período de estiagem, suas raízes profundas alcançam as
águas subterrâneas. A vegetação está classificada em seis subsistemas:
Campos
Cerrado
Cerradões
Matas
Matas ciliares
Veredas e ambientes alagadiços

Ao longo dos rios e córregos, encontram-se as matas ciliares ou matas de galeria, cujas árvores são maiores
e mais densas, cobrindo uma estreita faixa que margeia os rios. Nos brejos, próximos às nascentes d’água, encon-
tram-se veredas e buritis. O Cerrado também recebe a denominação de berço das águas, pois é nesse domínio que
estão as nascentes da bacia do São Francisco, Araguaia-Tocantins e a bacia do Prata.

258
Com o impacto da ocupação humana e da exploração mineral, restam apenas 20% da cobertura original.
Esse processo foi intensificado com a expansão em direção ao Centro-oeste.

Área de distribuição original do Cerrado Principais remanescentes de vegetação


nativa de Cerrado em 2002

Fatores de ocupação do Cerrado


Estrada de ferro ligando Goiás a São Paulo, em 1911;
Fundação de Goiânia, em 1933;
Fundação de Brasília, em 1960;
Expansão da agropecuária extensiva na região, principalmente após os anos de 1970. Paralelamente à
expansão agropecuária cresceu o uso de equipamentos mecanizados no cerrado. O modelo de ocupação
agropecuária das terras do Cerrado provocou um aumento na incorporação de novas terras, mas também
aumentou a concentração latifundiária, o desmatamento, a erosão dos solos, contaminação de aquíferos e
redução da biodiversidade.

Área de expansão da agropecuária no Cerrado brasileiro


(em milhões de hectares - segundo a Embrapa)

Domínio da Caatinga
Características
O relevo da Caatinga está dividido em duas formações dominantes:
1. Planaltos: o planalto encontrado na Caatinga é o planalto da Borborema, região montanhosa que
percorre 4 estados nordestinos e tem uma extensão de aproximadamente 250 km, e com uma altitude
média de 650 m a 1000 m, o que acaba sendo um paredão entre a seca da Caatinga e a umidade vinda
do oceano Atlântico;

259
2. Depressões: terrenos aplainados com áreas mais altas no seu entorno; e as principais regiões de
depressão da Caatinga são a Sanfranciscana, a Cearense e a do Meio Norte.

Ainda em relação a geomorfologia da Caatinga, o planalto Nordestino é uma área em processo de pe-
diplanação, isto é, o aplainamento progressivo do relevo por ação do intemperismo físico e dos ventos,
já que é uma região que sofre com a escassez de chuvas e com a amplitude térmica. Há presença de
inselbergs, que são morros residuais compostos, normalmente, por rochas cristalinas que sofreram com
o intemperismo físico;
O clima da Caatinga é o semiárido, com temperaturas médias anuais entre 27 ºC e 29 ºC e com
médias pluviométricas inferiores aos 800 mm ao ano. A rigidez climática da Caatinga é conferida
principalmente pela irregularidade na distribuição das chuvas. A estação seca se dá no meio do ano
(entre maio a setembro).
O solo é predominantemente argiloso, vermelho, podendo ser também arenoso e quase sempre
com afloramentos rochosos. A chuva, quando cai, dificilmente permeia o solo, muito compactado e
muitas vezes pedregoso. Também é comum existir manchas de solos bem férteis, os brejos. Durante
as chuvas, possibilitam o escoamento de um grande volume de água e nutrientes superficiais. Nessas
manchas de umidade costuma haver prosperidade, com intensa produção de alimentos, principal-
mente frutas;
Em geral, a população ativa vive da atividade agrícola, do extrativismo ou de uma pecuária bovina e
caprina, artesanal e rudimentar;
A vegetação da Caatinga é extremamente diversificada, proporcionando a existência de espécies adap-
tadas às condições do ambiente (clima e solo). As espécies arbóreas e arbustivas apresentam folhas
pequenas (caducifólia) ou modificadas em espinhos; outras, com raízes superficiais para absorver o
máximo de águas pluviais.

260
A rede hidrográfica da Caatinga caracteriza-se pela predominância de rios intermitentes, quando os
cursos d’água autóctones permanecem secos por cinco a sete meses durante o ano. Na maior parte
dos casos, os leitos são extremamente rasos e o início das chuvas pode provocar o aumento excessivo
do volume d’água de rios que voltam a correr e, mesmo em pleno sertão semiárido, podem ocorrer
grandes inundações. Os rios que cruzam a Caatinga são vitais para o equilíbrio dinâmico (homeostase)
do bioma, que, por sua vez, se relaciona com outros elementos essenciais para a macro-homeostase
do Planeta. As mais importante bacia hidrográfica é a do São Francisco, que é um rio perene. Sendo
um rio de planalto, apresenta, sobretudo em seu curso médio e baixo, várias quedas, favorecendo a
produção de energia elétrica. O rio São Francisco é navegável em seu médio curso, mas essa navegação
é de pouca expressão na economia regional, devido à ocorrência das rodovias. Quanto ao projeto de
transposição do São Francisco, podemos citar suas vantagens e desvantagens:

Vantagens Desvantagens
Prioriza a distribuição de águas pelas barragens, O rio São Francisco está sofrendo muita degradação, e
para tentar perenizar pequenos riachos, o que ne- com sua transposição, muita água é perdida por eva-
nhum outro projeto contra seca faz; poração;
Está sendo feito em etapas, para escolher primei-
ramente os vales onde as barragens teriam melhor A energia elétrica fica mais cara por causa do grande
retorno, aproveitando, também, para aperfeiçoar o custo da transposição;
sistema;
A pesca é prejudicada em decorrência da dificuldade
Propõe uma melhor e mais justa distribuição espa- de reprodução dos peixes;
cial da água ofertada, abastecendo de água 300 A água não chega aos mais necessitados, mas sim aos
municípios da região Nordeste. grandes fazendeiros, como tem sido até hoje em todos
os projetos no Nordeste.

261
Domínio das araucárias
Características

O domínio das araucárias ocupa áreas pertencentes ao planalto meridional do Brasil, com altitudes que
variam entre 800 e 1300 metros. Apresentam terrenos sedimentares (Paleozoico), recobertos, em parte, por
derrames vulcânicos (basalto).

Planaltos cuestiformes

O clima é subtropical com zonas temperadas úmidas e subúmidas. A amplitude térmica alcança índices
elevados, com chuvas bem distribuídas durante o ano todo;
Os solos são férteis, alguns com grande fertilidade natural, como a terra roxa, caracterizado por ser o resultado
de milhões de anos de decomposição de rochas basalticas originada do maior derrame vulcânico que este
planeta já presenciou. Historicamente, esse solo teve muita importância, já que, no Brasil, durante o fim do
século XIX e início do século XX, foram plantadas grandes lavouras de café, fazendo com que surgissem várias
ferrovias e propiciando o crescimento de cidades como Maringá, Londrina, entre outras;

Quanto à hidrografia, o domínio das araucárias é drenado, principalmente por rios pertencentes às bacias
do Paraná e do Uruguai. São rios de planalto que oferecem grande potencial hidrelétrico. Embora o Paraná
apresente um regime tropical, com cheias no verão, a maior parte dos rios desse domínio possui regime
subtropical, com duas cheias e duas vazantes anuais, apresentando pequena variação em sua vazão, conse-
quência do regime de chuvas bem distribuído durante o ano todo.

262
A vegetação desse domínio apresenta o predomínio da floresta aciculifoliada (em forma de agulha). Não é
uma floresta homogênea, é menos densa e foi intensamente devastada. As plantas sobrevivem em ambien-
tes de moderada umidade e temperaturas moderadas e baixas no inverno. Ao longo de séculos de explora-
ção, as áreas das araucárias reduziram drasticamente, praticamente extintas. Foi responsável pela devasta-
ção a extração de madeira para a fabricação de casas e móveis e, mais tarde, também para a exportação.

263
Formações complexas
Essas formações ocorrem em áreas de transição entre formações que apresentam características de duas ou mais formações.

Mata dos cocais

Está localizada na sub-região nordestina, na transição entre a Caatinga e a floresta Amazônica. São constituídas
por palmeiras do tipo babaçu, cuja extensão do óleo e o bagaço do coco são importantes para a economia local.
Um grupo formado por mulheres de comunidades extrativistas do Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí, as quebra-
deiras de coco-babaçu, possui como fonte de renda a coleta e quebra do fruto do babaçueiro e desenvolve modos
peculiares de manejo da terra, além de um código próprio de organização de suas atividades. O óleo do babaçu é
utilizado como matéria-prima para diversos produtos manufaturados, além de servirem de alimento para as que-
bradeiras e suas famílias. Grupos organizados de quebradeiras vêm se articulando na defesa de seu modo de vida,
formando cooperativas e outras medidas protetivas, lutando pelo reconhecimento de seus direitos.

Pantanal

Trata-se de uma área deprimida recoberta por cerrados e formações inundáveis na região da bacia do Paraguai, que
se formou após a separação da antiga Gondwana e o soerguimento dos Andes. O clima tropical e a estação seca
prolongada criaram um mosaico de florestas, cerrados e campinas higrófilas, que abrigam a mais rica fauna do Pla-
neta. Ainda pouco conhecida, essa fauna está ameaçada pela pecuária, pelo garimpo, pelo extrativismo mineral e
por monoculturas que afetam a dinâmica das cheias, fundamental para a manutenção da biodiversidade da região.

264
Aulas7 e7 8e 8
Aulas

Competência 6
Habilidades 27, 28 e 29

BREVIÁRIO
BREVIÁRIO

RECURSOS ENERGÉTICOS
O mundo passou por várias fases de desenvolvimento econômico e técnico, dependendo dos mais variados recursos
energéticos. Entende-se por matriz energética, o conjunto das fontes primárias e secundárias, somado aos proces-
sos disponíveis para transformá-las. A composição da matriz energética do mundo altera-se ao longo do tempo,
pelo esgotamento ou pelo desenvolvimento de novas alternativas, por serem mais baratas, ou mais eficientes, ou
menos agressivas ao meio ambiente.

Fontes primárias
É toda forma de energia disponível na natureza antes de ser convertida ou transformada, ou seja, é a energia con-
tida nos combustíveis crus (petróleo), a energia solar, eólica, entre outras. Quando é transformada, torna-se energia
secundária (eletricidade, calor etc).
Quando a natureza, aliada ou não a intervenção do homem, consegue repor esses recursos em curto perí-
odo de tempo, essas fontes primárias de energia são consideradas renováveis, como o carvão vegetal. Quando a
reposição não pode ser feita em tempo hábil, os recursos são considerados não renováveis, como o petróleo e o
carvão mineral.

265
Hidrelétricas
A maior parte da energia elétrica no mundo é obtida por meio da rotação de uma turbina, que converte a energia
cinética da rotação em energia elétrica, a partir da construção das hidrelétricas, onde o curso do rio é bloqueado
por uma barragem, criando um grande lago artificial que serve para armazenar água e controlar a vazão.

Embora seja considerada renovável, seu impacto ambiental é considerado grande, pois além das áreas
inundáveis provocarem impactos imprevisíveis no micro-clima das regiões, as árvores submersas pela barragem
são decompostas anaerobicamente, liberando gás metano e aumentando o efeito estufa. Mencionemos ainda os
impactos sociais às populações próximas das barragens. Atingidas direta e concretamente através do alagamento
de suas propriedades, casas, áreas produtivas e até cidades, também sofrem os impactos indiretos, como a perda
de laços comunitários, separação de comunidades e famílias, destruição de igrejas, capelas, escolas, entre outras
instituições que guardam a cultura e a história de comunidades inteiras, principalmente comunidades tradicionais.

Vista aérea de Altamira (PA), próximo à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte

266
A hidrelétrica de Belo Monte foi instalada em uma das regiões de maior sociobiodiversidade do Brasil, bem
próxima do Parque Indígena do Xingu e da cidade de Altamira.
A obra faz parte da primeira fase do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e é a 3ª maior hidrelétrica
do mundo. Essa obra levou milhares de trabalhadores e migrantes para a região, causando um enorme impacto
sobre os serviços públicos, principalmente na cidades de de Altamira que deu um salto de 100 mil para 150 mil
habitantes, no número de ocorrências policiais, acidentes de trânsito, tráfico de drogas, etc

Termoelétricas
Países que não dispõem de recursos suficientes para a obtenção de energia, como muitos países europeus, costu-
mam utilizar usinas termoelétricas, onde a rotação das turbinas é feita pela alta pressão de vapor d’água, obtido
pela queima de carvão, óleo ou biomassa.

Um exemplo de usina termoelétrica são as usinas nucleares, onde a energia utilizada para ferver a água
provém da fissão nuclear. Um grande problema dessa fonte de energia é o destino do resíduo atômico, que deve
ser confinado em recipientes adequados para evitar o vazamento de radiação, bastante nociva à saúde.

267
Usinas de Angra I, II e III, no município de Angra dos Reis, RJ

Energia Eólica
Nesse tipo de usina, o movimento de rotação das turbinas e causado pelo vento. No Brasil, é crescente o número
dessas torres com imensas pás, que alcançam mais de 20 metros de comprimento. Apesar de ser uma fonte re-
conhecida como limpa, sua eficiência é pequena e depende de ventos constantes e com velocidade adequada. O
impacto ambiental está ligado à sua estética, à colisão de aves e ao ruído gerado pela rotação das pás.

268
Petróleo
O petróleo se caracteriza por ser uma energia não renovável, pelo descompasso entre seu lento processo de forma-
ção e seu crescente consumo. Esse hidrocarboneto foi formado pelo soterramento de materiais de origem animal e
vegetal que, isolado do oxigênio do ar, foi lentamente sendo decomposto por bactérias anaeróbicas, gerando uma
mistura de substâncias.

A gasolina é um dos derivados do petróleo e seu uso como combustível é muito difundido no mundo. O uso
da gasolina é uma das causas do aumento no nível da poluição atmosférica.
A indústria petroquímica tem no petróleo a matéria-prima bruta para a fabricação de plásticos, tintas, me-
dicamentos e ferramentas.

269
Biodigestores
A existência do biogás é conhecida desde 1806, quando o químico inglês Humphry Davy identificou um gás rico
em carbono e CO2 que resultava da decomposição de dejetos animais em lugares úmidos. Com o passar dos anos,
vários estudos e experiências desenvolveram dois modelos principais de biodigestor: o chinês, mais simples e eco-
nômico, e o indiano, mais técnico e sofisticado. Os biodigestores são equipamentos de fabricação relativamente
simples, que possibilitam o reaproveitamento de detritos para gerar gás e adubo, também chamados de biogás e
biofertilizantes.

Para o uso de biodigestores, assim como a retomada de técnicas tradicionais para aumentar a autonomia
energética de uma sociedade, é preciso investimento no desenvolvimento de pesquisas na área técnica e na área
social, bem como o diálogo entre ambas as produções, para estimular a agricultura através dos biocompostos,
reduzindo perdas de transmissão, gerando autonomia energética e know-how tecnológico.
Se os biodigestores não efetivam toda oferta de energia, certamente resolvem o problema de muitas famí-
lias, de modo reconhecido e ecologicamente adequado.
Eficiência em energia significa racionalizar o uso de fontes e tipos de energia para melhor atender às ne-
cessidades vitais das populações do Planeta. Organizar a produção de energia com métodos considerados tecnica-
mente mais avançados é, de fato, uma boa estratégia de desenvolvimento de um povo, principalmente quando se
trata de melhorias econômicas, sociais e de segurança energética. Muitos países investem pesadamente em novas
tecnologias para ter maior controle sobre suas matrizes energéticas. Entretanto, atualmente, há uma revalorização
de processos tradicionais, como o moinho de vento, monjolos e outros equipamentos com eficácia comprovada, que
causam menos poluição e se associam à produção de alimentos orgânicos.

Moinho de vento, em Santarém

270
Preservação

É a ação de proteção e/ou isolamento de um ecossistema, com a finalidade de manter suas características naturais,
ou seja, pressupõe a intocabilidade do sistema.

Conservação

É o manejo dos recursos do ambiente, com o propósito de obter a mais alta qualidade sustentável da vida humana.
Admite o uso racional dos recursos naturais para as gerações futuras.

A PRODUÇÃO DE LIXO E PROBLEMAS AMBIENTAIS


A produção de resíduos é um processo natural das diferentes formas de vida do Planeta. A vida em cidades acabou
expondo o problema da eliminação dos resíduos. O processo da Revolução Industrial instituiu um modelo de vida
centrado no consumo constante, ocasionando uma crescente produção de lixo.
A expansão do capitalismo acarretou um processo incessante de acumulação de lixo, que não se reduziu
com o avanço tecnológico, pelo contrário, gerou mais lixo ao estimular a substituição cada vez mais rápida dos
produtos fabricados.
Atualmente, esses processos estão atrelados ao intenso consumismo vivenciado pela sociedade e sustenta-
do pela exploração em larga escala de milhões de operários em diferentes modelos de produção.

271
É importante ressaltar que o aumento da produção de resíduos está diretamente ligado ao crescimento
econômico da sociedade, ou seja, de modo geral, quanto maior o poder aquisitivo, maior será o consumo e, conse-
quentemente, a geração de lixo.
Em sociedades com maior desenvolvimento econômico, onde a população urbana também é maior, verifica-
-se uma maior geração de lixo inorgânico e reciclável. Enquanto que nas sociedades com maior desenvolvimento
econômico, o volume de lixo compostável é maior.

Produção de lixo eletrônico

Destinação do lixo
Lixões;

Aterros controlados, sanitários e energéticos;

272
Compostagem;

Incineração.

PROBLEMAS DO SOLO BRASILEIRO


Lixiviação – fenômeno comum em regiões de clima muito úmido, onde a quantidade de água absorvida
pelo solo é superior à água evaporada. O solo é atravessado de cima para baixo pelas águas, sofrendo uma
verdadeira lavagem (lixiviação). Em regiões de clima árido, esse processo é inverso; graças à evaporação, as
águas ascendem do lençol freático, trazendo sais para a superfície, tornando os solos ácidos e quimicamente
pobres;
Laterização – fenômeno comum em regiões de climas tropicais úmidos, que consiste na concentração
de hidróxido de ferro e alumínio, os quais, revestem o solo de uma crosta ferruginosa chamada canga ou
laterita, tornando o solo inadequado à prática agrícola. Exige investimentos para a recomposição das pro-
priedades essenciais à cultura que se pretende plantar;

273
Compactação – é o uso indevido do solo, principalmente pela pecuária, em função do pisoteio do gado,
fazendo com que ele perca os poros e, com isso, a água e o ar que integram sua composição. Isso pode
provocar uma desertificação e contribuir para o sucesso erosivo;

Salinização – processo que ocorre normalmente em regiões áridas e semiáridas, onde a prática de irriga-
ção é a opção viável para ampliar a atividade agrícola. A irrigação, sem os devidos cuidados, pode aumentar
muito a concentração de sais minerais, tornando o solo pouco produtivo;

Erosão – em razão da ação das águas correntes pluviais, provoca uma escavação no solo formando sulcos
ou ravinas, que, quando profundas, provocam as voçorocas. O combate à erosão inclui:
terraceamento e curvas de nível;
reflorestamento;
emprego de adubos e fertilizantes;
rotação de culturas e pousio da terra.

Voçoroca ou ravina

274
C H Filosofia

ENTRE
PENSAMENTOS

Breviário ENEM

C H
Aula 1

Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,
15, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24 e 25

BREVIÁRIO

FILOSOFIA HELENÍSTICA
As correntes filosóficas intituladas Escolas Helenistas surgiram ainda na época dos filósofos socráticos e flores-
ceram a partir da morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., no início do Período Helenístico. Tratava-se de um
grupo de pensadores que não estavam interessados, necessariamente, em criticar os sistemas de pensamento de-
senvolvidos por Platão e Aristóteles, mas sim compreender a sensação de crise que se instaurou a partir das guerras
civis na Grécia e sob as dominações macedônica e romana que se seguiram. A questão central dessas escolas é
alcançar o que os gregos chamavam de ataraxia, isto é, a “paz de espírito”, na qual, por meio de uma determina-
da doutrina ética, atinge-se a imperturbalidade do ser, mesmo diante da decadência e do caos mais profundos.

Os cínicos
O cinismo foi fundado por Antístenes, discípulo de Sócrates, que após a morte de seu mestre passou a lecionar
Filosofia na Praça do Cinosargo ou “Cão Ágil”, o que rendeu aos seus discípulos o apelido de kynicos ou “como um
cão”. Diógenes de Sinope foi o cínico mais conhecido por seu estilo de vida, que negava todas as convenções
sociais. A ataraxia aqui passa pela autossuficiência ou indiferença para com as coisas do mundo social, desde os
prazeres materiais, passando pelo desrespeito total às regras de convivência, até o desapego ao espaço público.
Afirmando-se como cosmopolitas, isto é, habitantes do mundo, Diógenes e seus seguidores viviam como mendigos,
dormindo em barris, vagando pela Grécia, respeitando apenas as leis naturais, nunca as sociais, e negando toda e
qualquer doutrina que buscasse a verdade, algo desnecessário para eles.
Reza a lenda que o próprio Alexandre foi ao encontro de Diógenes que, neste momento, tomava sol totalmen-
te nu. Interessado em conhecer até onde o desapego do cínico resistiria, Alexandre afirmou que realizaria qualquer
desejo que Diógenes fizesse. Com olhar indiferente, o mestre do cinismo teria dito: “Então não tire o que não pode
me dar. Saia da frente do Sol”.

Os céticos
A postura cética, isto é, de desconfiança ou negação de todo e qualquer conhecimento ou possibilidade de co-
nhecer, entra em muitas manifestações ao longo da história da Filosofia, de modo que o ceticismo que abordamos
dentro das escolas helenistas é a corrente desenvolvida por Pirro de Élis, ainda na época de Aristóteles, sendo ple-
namente divulgado por Sexto Empírico, no século III da nossa era. O ceticismo pirrônico afirma que a multiplicidade
de opiniões, muitas delas opostas, porém aparentemente válidas, perfaz a maior fonte de perturbação. Para tanto,
os céticos apregoavam a suspensão do juízo como forma de atingir a ataraxia. Pirro afirmava: “Nada pode ser
conhecido, nem mesmo isto”.
277
Após a morte de Platão, os céticos se tornaram a corrente dominante na Academia, promovendo debates
nos quais se defendiam, em sequência, pontos de vista opostos sobre uma mesma temática, demonstrando que
todas as teorias eram igualmente distantes de qualquer verdade. Tal hegemonia sob a Escola Platônica durou até
o seu fechamento por ordem do imperador bizantino Justiniano, em 529 d.C.

Os epicuristas
Das diversas Escolas Helenistas, aquela que mais se preocupa com o estilo de vida em detrimento da metafísica
ou física do mundo é a corrente fundada por Epicuro de Samos (341-270 a.C.). Discípulo de Demócrito de Abdera,
Epicuro acreditava na teoria atomista, mas valorizava as explicações imediatas e multiplamente válidas. Para ele,
não devíamos nos apegar a explicações pretensamente verdadeiras acerca do mundo, mas sim aceitar todas em
prol da ataraxia. Os epicuristas pregavam os prazeres como bem a ser almejado, exceto os prazeres intensos e
viciantes, defendidos pelos hedonistas, mas sim os prazeres moderados, que não escravizassem os seres e não
lhes impusessem nenhuma dor ou medo por perda. A ética de Epicuro valoriza a saúde do corpo, a tranquilidade
do espírito e o desdém de todo prazer e preocupação desnecessários.

Compreensão acerca dos desejos: o fundamento do epicurismo é distinguir os prazeres naturais e


necessários à vida, tais como comer, beber e amar, dos prazeres enraizados por opiniões falsas, tais como a
riqueza, a luxúria e a ostentação. A vida virtuosa para Epicuro está na natureza do corpo, que sempre exige
o necessário e o harmônico, nunca o excesso e o intenso.

Compreensão acerca dos deuses: dos maiores temores que marcavam a mentalidade dos gregos an-
tigos, a principal era o arbítrio dos deuses, que podiam amaldiçoar os mortais a qualquer momento, por
qualquer motivo e das formas mais terríveis possíveis. Epicuro argumenta que a melhor compreensão sobre
essa questão, aquela que preserva a paz de espírito, é aquela que sustenta que os deuses, enquanto seres
perfeitos e imortais, dificilmente teriam interesse nos mortais, nem mesmo para importunar, algo que seria
típico de seres imperfeitos e não de seres dotados de perfeição. A indiferença e total tranquilidade dos deu-
ses, garantida pela imortalidade, libertaria os mortais de qualquer preocupação sobrenatural.

Compreensão acerca da morte: Epicuro não nutria grandes preocupações com a existência anterior
ou posterior à vida, pois tanto o bem supremo, isto é, os prazeres moderados, como o supremo mal, o
sofrimento e o medo, só perduram quando há vida, quando há riscos à materialidade. Para além da vida,
nenhum medo é possível, pelo contrário, os epicuristas sustentavam o que seu mestre sempre dissera – “A
morte não é nada para nós” –, ou seja, o fim da vida é o fim das sensações, tanto da dor, quanto do prazer.
Trata-se do fim de tudo, do inexistir.

Os estoicos
O estoicismo foi fundado por Zenão de Cítio (333-263 a.C.), que lecionava em um pórtico presente em Atenas
– stoa, em grego – agregando o nome aos seus adeptos. Trata-se aqui de uma corrente filosófica complexa, que
persistiu de meados do século IV a.C. ao século II d.C., apresentando várias fases diferentes e muito popular em
Roma, cuja diversidade de seguidores ia do liberto Epíteto, passando por mentes notáveis do círculo romano, tais
como Cícero e Sêneca, até o próprio imperador Marco Aurélio. A reflexão estoica traz profundas considerações
acerca da Física e da Lógica, mas, a exemplo das outras correntes helenistas, sua preocupação central é a ataraxia.
Os estoicos defendem que o universo é formado por uma profunda rede de causalidade, sob a qual todos
os eventos estão concatenados por uma lógica inquebrável, dando forma determinante à Natureza e propiciando
uma ordem cósmica que não pode ser transformada profundamente pelas ações humanas e, portanto, toda

278
nossa existência se processa para certo destino rígido e inevitável, independente de qualquer vontade ou sensação
de liberdade. A partir daí, o estoicismo argumenta que se deve “viver segundo a natureza”, sob a lógica que nega
qualquer sentido na frustração por ambições não realizadas, ao passo que a suas ações são uma linha dentro do
tecido da realidade, sendo assim algo que não pode ser determinado apenas pelo mérito.
Os estoicos eram notórios por permanecer imperturbáveis, em estado de apatia mesmo diante dos proble-
mas mais alarmantes, algo que não os tornava propriamente passivos, pois sabiam que suas ações também eram
parte da composição da ordem cósmica, mas tranquilizados diante do inevitável e autossuficientes diante das
necessidades – que deveriam ser as menores e mais modestas possíveis –, como forma de evitar as possibilidades
de frustração. Alguns estudiosos da Filosofia defendem que a compreensão de ordem cósmica determinante e
imperturbalidade diante do caos contribuíram para com a adesão das ideias cristãs a partir do advento do Cristo.

CONCEITOS DA FILOSOFIA DE ARISTÓTELES


Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a solução do
mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres desta grande síntese são:
1. Observação fiel da natureza – Platão, idealista, rejeitara a experiência como fonte de conhecimento
certo. Aristóteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na
realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas.
2. Rigor no método – Depois de estudar as leis do pensamento, o processo dedutivo e indutivo, Aristóteles
os aplica, com rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo a linguagem imaginosa e figurada de
Platão, em estilo primoroso e conciso, e criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode
considerar-se como o autor da metodologia e tecnologia científicas. Geralmente, no estudo de uma questão,
Aristóteles procede por partes:
a) começa a definir-lhe o objeto;
b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas;
c) propõe depois as dúvidas;
d) indica, em seguida, a própria solução; e, refuta, por último, as sentenças contrárias.
3. Unidade do conjunto – Sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese.
Todas as partes se compõem, se correspondem, se confirmam.

O PENSAMENTO DE ARISTÓTELES
“Mestre dos que sabem”, assim Dante se refere a ele na Divina Comédia. Com Platão, Aristóteles criou o núcleo
inspirador de toda a filosofia posterior. Mais realista do que o seu professor, Aristóteles percorre todos os caminhos
do saber: da biologia à metafísica, da psicologia à retórica, da lógica à política, da ética à poesia. Impossível resumir
a fecundidade do seu pensamento em todas as áreas. A obra aristotélica só se integra na cultura filosófica europeia
da Idade Média, através dos árabes, no século XIII, quando é conhecida a versão (orientalizada) de Averróis, o seu
mais importante comentarista. Depois, São Tomás de Aquino vai incorporar muitos passos das suas teses no pen-
samento cristão, a teoria das causas. O conhecimento é o conhecimento das causas:
1. Causa material (aquilo de que uma coisa é feita);
2. Causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é);
3. Causa eficiente (a que transforma a matéria);
4. Causa final (o objetivo com que a coisa é feita).

279
Todas pressupõem uma causa primeira, uma causa sem causa, o motor imóvel do cosmos, a divindade, que
é a realidade suprema, a substância plena que determina o movimento e a unidade do universo. Mas para Aristó-
teles a divindade não tem a faculdade da criação do mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristã que vai
dar à divindade o poder da Criação. Aristóteles opõe-se, frequentemente, a Platão e a sua Teoria das Ideias. Para o
estagirita, não é possível pensar uma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quantidade, uma qualidade, uma
atividade, uma passividade, uma posição no tempo e no espaço, etc. Há duas espécies de ser: os verdadeiros, que
subsistem por si, e os acidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que caracteriza as qualidades particu-
lares das coisas, desaparece. Os objetos sensíveis são constituídos pelo princípio da perfeição (o ato), são enquanto
são e pelo princípio da imperfeição (a potência), através do qual lhes permite a aquisição de novas perfeições. O
ato explica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e a mudança.
Aristóteles é o criador da biologia. A sua observação da natureza, sem dispor dos mais elementares meios
de investigação (como o microscópio, por exemplo), apesar de ter hoje um valor quase só histórico, não deixa de
ser extraordinária. Apesar disso, Aristóteles cometeu alguns erros e incorreções. Alguns são célebres. Na zoologia,
por exemplo, considera que o homem tinha oito pares de costelas, não reconhece os ossos do crânio humano,
supõe que as artérias estão cheias de ar (como, aliás, supunham os médicos gregos), pensa que o homem tem um
só pulmão. Não esqueçamos: Aristóteles classificou e descreveu cerca de quinhentas espécies animais, das quais
teria dissecado cinquenta – mas nunca dissecou um ser humano. A grandeza genial da sua obra não pode ser
questionada por tão raros erros, frutos da época – mais de 2000 anos.

Aristóteles, de Francesco Hayez (1811).

Com isso, o que mais o interessava era a natureza viva. A ele se deve a origem da linguagem técnica das ciências
e o princípio da sua sistematização e organização. Tudo se move e existe em círculos concêntricos, tendente a um
fim. Todas as coisas se separam em função do lugar próprio que ocupam, determinado pela natureza. Enquanto
Platão age no plano das ideias, usando só a razão e mal reparando nas transformações da natureza, Aristóteles
interessa-se por estas e pelos processos físicos. Não deixando de se apoiar na razão, o filho de Nicómaco usa
também os sentidos. Para Platão a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles é também o que percebemos ou
sentimos. O que vemos na natureza, diz Platão, é o reflexo do que existe no mundo das ideias, ou seja, na alma
dos homens. Aristóteles dirá: o que está na alma do homem é apenas o reflexo dos objetos da natureza, a razão
está vazia enquanto não sentimos nada. Daí a diferença de estilos: Platão é poético, Aristóteles é pormenorizado,
preferindo, porém, o fragmento ao detalhe.

280
Apesar de se saber que Aristóteles foi profícuo autor de várias obras, chegaram até nós 47 textos do fun-
dador do Liceu, provavelmente inacabados por serem apontamentos para as lições. Um dos vetores fundamentais
do pensamento de Aristóteles é a Lógica, assim chamada posteriormente (ele preferiu sempre a designação de
Analítica). A Lógica é a arte de orientar o pensamento nas suas várias direções para impedir o homem de cair no
erro. Sua obra “Organon” ficará para sempre como um modelo de instrumento científico ao serviço da reflexão.
O fim último do homem é a felicidade. Esta atinge-se quando o homem realiza, devidamente, as suas tare-
fas, o seu trabalho, na polis, a cidade. A vida da razão é a virtude. Uma pessoa virtuosa é a que possui a coragem
(não a covardia, não a audácia), a competência (a eficiência), a qualidade mental (a razão) e a nobreza moral (a
ética). O verdadeiro homem virtuoso é o que dedica largo espaço à meditação. Mas nem o próprio sábio se pode
dedicar, totalmente, à reflexão. O homem é um ser social. O que vive, isoladamente ou é um Deus ou uma besta. A
razão orienta o ser humano para que este evite o excesso ou o defeito (a coragem – não a covardia ou a temerida-
de). O homem deve encontrar o meio-termo, o justo meio; deve viver usando a riqueza com prudência, os prazeres
com moderação, e conhecendo exatamente o que deve temer.

SANTO AGOSTINHO

Patrística é a filosofia dos primeiros padres da Igreja, da qual, Santo Agostinho é um dos principais representantes.
Santo Agostinho é influenciado pela corrente dos chamados “neoplatônicos”, que era uma escola filosófica que
utilizava a doutrina platônica na defesa da religião como forma de revelação da verdade.
Ele foi influenciado por Platão, mas não concordou em todos os pontos com sua filosofia. Agostinho propõe
a conciliação entre fé e razão. Assim, o filósofo considera a filosofia grega um instrumento útil para a fé cristã, pois
a primeira ajuda a compreender melhor as verdades da fé.
Para ter acesso às verdades eternas, é necessário que o indivíduo tenha fé. As verdades eternas encontram-
-se no interior do homem, em sua alma. Deus está na alma de cada um de nós, e o conhecimento está na mente de
Deus, que habita o interior do homem. “Creio em tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo”,
ou seja, existem alguns mistérios da fé que não são acessíveis aos homens, mas eles devem acreditar, pois são
verdades de Deus, e, assim, a fé ilumina os caminhos da razão. Para o filósofo, a fé revela verdades ao homem de
forma direta e intuitiva, vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou.
Para Agostinho, as verdades eternas e imutáveis têm sua sede em Deus. Assim sendo, as mesmas só podem
ser alcançadas pela iluminação divina: Deus, que é uma realidade exterior, habita o interior do homem, revelando
o conhecimento verdadeiro.
Nenhum conhecimento verdadeiro pode ser introduzido na mente das pessoas vindo de fora, por meio do
ensino. O saber se encontra na alma, porque ela se origina da substância divina. Com isso, Agostinho demonstra
que a verdade não pode ser ensinada pelos homens, mas somente pelo mestre interior (o mestre interior é Deus,
que habita o interior do homem).

281
Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões
não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o
testemunho da Bíblia.
Agostinho entende a percepção do inteligível na alma como irradiação divina no presente. Assim como os
objetos exteriores só podem ser vistos quando iluminados pela luz do sol, também as verdades da sabedoria pre-
cisam ser iluminadas pela luz divina, para se tornarem conhecidas pelo intelecto.
Deus não substitui o intelecto quando o homem pensa o verdadeiro, a iluminação teria apenas a função de
tornar o intelecto capaz de pensar corretamente em virtude de uma ordem natural estabelecida por Deus. Assim,
tem-se a influência e participação de uma centelha do intelecto divino que se irradia na mente humana.

A teoria agostiniana

A teoria agostiniana estabelece, que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um processo de iluminação
divina, que possibilita ao homem contemplar as ideias, arquétipos eternos de toda realidade. Assim, pode ser com-
preendida a principal diferença entre a teoria de Agostinho e a teoria de Platão.
A luz divina, segundo Agostinho, torna inteligível a verdade eterna na mente falível. Agostinho rejeita a
teoria da reminiscência de Platão e cria a chamada Teoria da Iluminação Divina. Assim, o conhecimento não vem
da recordação de uma passagem anterior pelo mundo das ideias, mas sim da iluminação divina, no momento pre-
sente, onde Deus ilumina o indivíduo para ter acesso às verdades.
A reencarnação consiste na crença da existência de outras vidas, veja-se a teoria da reminiscência de Platão,
que aponta que nossa alma já contemplou as ideias quando transitou pelo mundo inteligível. A ressurreição é, o
que defendem os católicos-cristãos, quando o indivíduo morre, e ele irá para o reino dos céus descansar eterna-
mente ao lado de Deus.
Deus se espelha na alma. E “alma” e “Deus” são os pilares da “filosofia cristã” agostiniana. Não é inda-
gando o mundo, mas escavando a alma que se encontra Deus.
Para o filósofo, o homem que trilha a via do pecado só consegue retomar aos caminhos de Deus e da salva-
ção mediante a combinação de seu esforço pessoal de vontade e a concessão, imprescindível, da graça divina. Sem
a graça de Deus, o homem nada pode conseguir. E nem todas as pessoas são dignas de receber essa graça, mas,
somente, alguns eleitos, predestinados à salvação.
Segundo Agostinho, o mal seria a perversão da vontade desviada da substância suprema. Assim, para o
filósofo, “ama e faze o que quiseres” diz respeito a: se o homem ama verdadeiramente, isto é, como Deus ama,
com gratuidade fazendo o bem aos outros, sua vontade será guiada corretamente; por isso, ser e agir conforme a
própria vontade, iluminada pelo amor de Deus, é a garantia de que a liberdade de ação será justa, ou seja, ética.
Desse modo, para Agostinho, a liberdade humana é própria da vontade, e não da razão. E é nisso que reside
a fonte do pecado. O indivíduo peca porque usa de sua vontade para satisfazer a sua própria vontade, mesmo
sabendo que tal atitude é pecaminosa.

282
SÃO TOMÁS DE AQUINO

Tomás de Aquino, ao formular sua doutrina, foi influenciado pela teoria de Aristóteles. O filósofo é considerado
um dos principais representantes da filosofia escolástica: filosofia nas escolas medievais, surgimento do debate da
conciliação entre fé e razão.
O conhecimento é resultado da conciliação entre fé e razão. Desse modo, o trabalho da razão humana é com-
patível com a crença nos dogmas de fé: filosofia e teologia são ciências distintas, porém, não excludentes. Assim, fé e
razão não se contradizem. A fé, portanto, melhora a razão, assim como a teologia melhora a filosofia. Fé e razão são
conciliáveis, estando em um mesmo patamar. Em alguns casos, a fé pode ultrapassar a razão, pois Tomás de Aquino
trabalha para conciliar a filosofia de Aristóteles com a religião cristã, embora mantenha a supremacia da fé em relação
à razão. O conhecimento está na experiência, mas a razão recebe os dados da experiência e registra-os.
Assim, nota-se o caráter abstrativo do conhecimento tomista, que consiste em abstrair do objeto a espécie
inteligível: abstrair o universal do particular, a espécie inteligível das imagens singulares. Nota-se a influência da
teoria da abstração aristotélica na doutrina de Tomás de Aquino: a razão tem como ponto de partida a realidade
sensível, pois cada ente (substância individual) traz a sua forma inteligível, que é a forma da espécie.
Desse modo, o conhecimento começa pela experiência sensível até a apreensão de formas
abstratas pelo intelecto.
O conhecimento humano parte sempre dos sentidos, que revelam objetos concretos e singulares: mas, atra-
vés da abstração, é capaz de finalmente forjar conceitos universais. Exemplo: deste gato concreto e singular que
inicio conhecendo pelos sentidos, sou capaz de abstrair e forjar o seu conceito universal: felino.
Intelecto agente é a faculdade que anima o conhecimento sensível para captar a essência que está no
objeto (abstração).
Intelecto passivo recebe esse conhecimento e o apreende pelos conceitos, fixa o conhecimento ativado pela
intelecção ativa que entende a essência, e o faz pelo raciocínio, pelo julgamento, pela elaboração do saber filosófico.
Tomás de Aquino formula as chamadas “provas” da existência de Deus, partindo dos dados sensíveis e
procurando ultrapassá-los pelo esforço de abstração, culminando na metafísica.

THOMAS HOBBES (1588-1679)


Nascido em 1588, na Inglaterra da dinastia Tudor, Thomas Hobbes foi influenciado pela reforma anglicana, que
ocorrera cinco décadas antes. A cisão com a Igreja Católica fez com que a Espanha interviesse nos assuntos in-
gleses enviando a Invencível Armada, fato que mais tarde seria relatado por Hobbes em sua autobiografia e terá
grandes influências sobre sua obra. O século XVII foi de grande importância para a Inglaterra, pois marca o começo
do expansionismo colonialista ultramarino inglês, com a fundação de Jamestown, a primeira colônia inglesa nas
Américas, em 1607. É também no século XVII que são lançadas as bases do capitalismo industrial na Inglaterra
com a Revolução Gloriosa já na década de 80 do século XVII.

283
Quando Hobbes tinha 30 anos e já havia visitado a Europa continental pela primeira vez, uma revolta na
Boêmia daria início à Guerra dos Trinta Anos, fato que irá reforçar para Hobbes a sua própria visão pessimista
acerca da natureza humana destrutiva. Apenas 12 anos após o início da guerra no continente europeu, disputas
políticas entre o Parlamento e o Rei inglês dão início a uma guerra civil na Inglaterra que perduraria 10 anos. Não
é possível, pois, dissociar do pensamento do autor esse período tenebroso em que ele viveu.

Thomas Hobbes
O Estado de Natureza para Hobbes

“Nem artes; nem letras; nem sociedade; mas o que é de pior:


medo contínuo e perigo de morte violenta; e para o homem,
resta uma vida solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”
(Hobbes)

Thomas Hobbes era um pensador jusnaturalista, ou seja, comungava com outros pensadores a hipótese de que a sociabi-
lidade é artificial, uma criação humana por meio de um contrato. Para ele, anteriormente à constituição das comunidades
políticas, existiria uma vida sem Estado e sem leis. Em tal Estado de Natureza, os seres humanos seriam naturalmente
iguais em suas faculdades corporais e mentais (mais nas mentais do que nas corporais). A partir de seus predicados,
herdados da Natureza, os indivíduos são capazes de emitir juízo sobre suas realidades, além de se relacionarem apaixo-
nadamente com quaisquer fins que lhes aprouverem. Daí emerge um traço empirista em seu pensamento, ancorado no
fato de que as concepções morais – sobre o que é o bem ou o mal, certo ou errado – estão circunscritas à subjetividade.
Portanto, valores e ações humanas não teriam um sentido comum, compartilhado por todos.
Nesse cenário, o homem é opaco aos olhos de seu semelhante – ele não sabe o que o outro deseja, e por
isso tem que fazer uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente, mais razoável. Como o outro também
não sabe o que ele quer, também é forçado a supor o que fará. Dessa suposição recíproca, o mais razoável para
ambos é atacar o outro, o quanto antes, para vencê-lo. Significar dizer que, se não há um Estado controlando ou
reprimindo, a atitude mais racional a se adotar é fazer a guerra: instaura-se uma “guerra de todos contra todos”.
Assim, de modo geral, haveria três causas principais de discórdia na natureza dos homens: a competição, a
desconfiança e a glória. Nas palavras de Hobbes,

“A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; a ter-
ceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulhe-
res, filhos e rebanhos de outros homens; os segundos, para defendê-los; e o terceiro por ninharias,
como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer
seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua
nação sua profissão ou seu nome.

Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder
comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se
chama de guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”
Hobbes, O Leviatã

284
Onde residiria então a vantagem do Estado de Natureza?
Somente nele o homem gozaria de seu direito natural (jus naturale), isto é: a liberdade que cada um possui
de usar seu próprio poder, de maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua
vida; e, consequentemente, “de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios
adequados a esse fim”. É evidente que tal liberdade é volátil. O ser humano é movido por desejos e sempre
tentará impô-los aos demais.
A tragédia da ausência de Estado é a guerra generalizada.

Um pacto para a Paz

“Cedo e transfiro o direito de governar a mim mesmo, desde que você também o faça, dando o
direito ao governante, em nome da paz e da segurança.”

A superação da guerra, da incerteza e do caos somente será atingida, paradoxalmente, por uma perda. A fórmula
da pacificação, para Hobbes, consiste na abdicação da liberdade natural de cada um para um ou poucos homens
que definirão as leis e a aplicação de pena de morte aos cidadãos. Como bem aponta o filósofo Althusser: “A morte
é a verdade-limite de todo temor: o temor da morte funda o contrato social”. Portanto, a lex naturalis (Lei
Natural) de preservação da vida e busca da paz deve ser racionalmente contratada pelos agentes, que deverão
aliená-la ao Soberano.

Capa do livro “O Leviatã”, de 1651

Segue-se que a adesão ao contrato deve ser unânime. Se um indivíduo se opusesse, abriria margem a que
outros também o fizesse. E o soberano designado pelos indivíduos seria o único a conservar todas as suas liberda-
des naturais e, portanto, agir livremente em busca da paz e do bem comum. Somente ele teria o Direito e o Dever
de impor a violência sobre os demais. Hobbes conclui, também, que não seria racional os indivíduos se rebelarem
contra o Soberano, posto que a soberania foi pelo povo conferida. O soberano, portanto, não deve ser destronado.
Por outro lado, a manutenção do poder deve ser feita por legislação sábia, mas o filósofo deixa claro que
“Sem a espada, os pactos não são senão palavras e carecem de força para garantir plenamente a segurança do
homem”. Contudo, nesse estado de dominação quase que absoluta, donde subsistiria a liberdade do súdito? A
resposta está no momento em que o soberano se volta contra o povo, gerando novamente estado de guerra e
medo. Nesse caso em específico, desapareceria a razão que leva o súdito a obedecer.
Cabe ressaltar ao leitor que o advento teórico do Estado de Natureza, tanto em Hobbes quanto em outros
autores contratualistas, não significa uma tentativa de recomposição histórica da formação do Estado, mas um mé-
todo de construção lógica de sua fundamentação. Como pano de fundo dessa construção, vê-se a imposição de um
projeto político. O plano de Hobbes ambicionava afirmar o Estado Absolutista – visto por ele como a única forma
de governo capaz de gerir conflitos e garantir a paz dentro contexto belicoso no qual o império inglês se inseria.

285
Rei Luís XIV, exemplo clássico de monarca absoluto

Hobbes e a Liberdade: ruptura com a tradição greco-romana

[...] é coisa fácil os homens se deixarem iludir pelo especioso nome de liberdade e, por falta de
capacidade de distinguir, tomarem por herança pessoal e direito inato seu aquilo que é apenas
direito do Estado. E quando o mesmo erro é confirmado pela autoridade de autores reputados por
seus escritos sobre o assunto, não é de admirar que ele provoque sedições e mudanças de governo.
Nestas partes ocidentais do mundo, costumamos receber nossas opiniões relativas à instituição
e aos direitos do Estado, de Aristóteles, Cícero e outros autores, gregos e romanos, que viviam
em Estados populares, e em vez de fazerem derivar esses direitos dos princípios da natureza os
transcreviam para seus livros a partir da prática de seus próprios Estados, que eram populares. Tal
como os gramáticos descrevem as regras da linguagem a partir da prática do tempo, ou as regras
da poesia a partir dos poemas de Homero e Virgílio. E como os atenienses se ensinava (para neles
impedir o desejo de mudar de governo) que eram homens livres, e que todos os que viviam em
monarquia eram escravos, Aristóteles escreveu em sua Política (livro 6, cap.2): Na democracia deve
supor-se a liberdade; porque é geralmente reconhecido que ninguém é livre em qualquer outra
forma de governo. Tal como Aristóteles, também Cícero e outros autores baseavam sua doutrina
civil nas opiniões dos romanos, que eram ensinados a odiar a monarquia, primeiro por aqueles que
depuseram o soberano e passaram a partilhar entre si a soberania de Roma, e depois por seus su-
cessores. Através da leitura desses autores gregos e latinos, os homens passaram desde a infância
a adquirir o hábito (sob uma falsa aparência de liberdade) de fomentar tumultos e de exercer um
licencioso controle sobre os atos de seus soberanos. E por sua vez o de controlar esses controlado-
res, com uma imensa efusão de sangue. E creio que em verdade posso afirmar que jamais uma coisa
foi paga tão caro como estas partes ocidentais pagaram o aprendizado das línguas grega e latina.”
Hobbes, O Leviatã

286
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831)

O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, no ano de 1770. Conhecido por ter uma
obra permeada de uma escrita difícil, chegou a lecionar nas universidades de Iena, Heidelberg e Berlim. Seu projeto
filosófico engloba temas diversos, como ética, estética e metafísica, e é um dos últimos filósofos que abrangem
temas variados em sua obra.
Sem dúvida alguma, Hegel foi um filósofo muito influente para seu tempo e para a posteridade. Ter sido tão
reconhecido ainda em seu tempo foi algo impressionante, dada a dificuldade de compreensão de sua obra. Seu
pensamento tem importância fundamental para filósofos como Karl Marx, por exemplo. Veremos o porquê adiante.

Um homem de seu tempo, como todos nós


Hegel cresceu na época da Revolução Francesa, que derrubou o antigo regime e instaurou uma nova ordem política
na França, estendendo-se, em seguida, pela Europa. Isso o fez pensar que muito do que se entendia como “imutá-
vel” (como era o caso das monarquias absolutistas) poderia ser, na verdade, alterado.
Este pensamento se desdobra, na filosofia hegeliana, na percepção de que todas as ideias que temos, tudo
aquilo que pensamos, estão, de certa forma, relacionadas à época em que vivemos, a um determinado contexto
histórico. Não se pode, simplesmente, desvencilhar tais coisas umas das outras, dizia o filósofo. Não existem, para
ele, verdades eternas ou pressupostos atemporais. E é interessante notar que tal concepção pode ser verificada em
sua própria obra – já que mesmo esta reflete muito do tempo em que Hegel viveu.

Protesto contra o casamento entre negros e brancos nos EUA, na década de 1960

287
Imaginemos, por um momento, a título de exemplo, que uma pessoa defenda a proibição de casamentos
entre negros e brancos em pleno século XXI. Essa defesa seria, com certeza, descabida e ridícula – nenhum ar-
gumento racional pode fundamentá-la, hoje em dia, sabemos disso. Não seria, contudo, um absurdo defender tal
ideia na década de 1950 – a maioria da população dos EUA, nessa época, era contra os chamados casamentos
inter-raciais ou contra a ideia de negros frequentarem universidades. O mesmo vale para muitos outros assuntos,
de meio-ambiente a direitos civis dos LGBT. É mais ou menos isto que quer dizer Hegel quando afirma que as per-
cepções e a mentalidade dos indivíduos variam de acordo com sua época.

Hegel e a crítica à filosofia kantiana


Fortemente influenciado pela filosofia de Kant, Hegel dialoga com o filósofo em sua obra e tece algumas críticas a
ele. Hegel rejeita, por exemplo, a visão kantiana de que a realidade numênica (isto é, o mundo como ele realmente
é, e não como o podemos perceber) não pode ser alcançada pela experiência sensorial e que está, portanto, além
da percepção humana.
Para Hegel, o fato de a mente moldar a realidade à sua volta faz dela a própria realidade. Não há, conclui o
filósofo, nada além da mente humana. Entretanto, é necessário cuidado: isso não significa dizer que esta realidade
é estática, imutável. Como já dissemos anteriormente, Hegel tem o entendimento de que tudo está em eterno
processo de mudança, e esse processo passa por um aumento gradual de autoconsciência – termo que pode ser
entendido como um estado determinado, em grande parte, pelo período em que vivemos. Retomaremos este con-
ceito mais adiante.

Hegel e o papel da história


Para Hegel, a realidade está em constante movimentação rumo ao seu objetivo maior, que é compreender a si mesma.
Para o filósofo, a história não é uma sucessão aleatória de eventos; ela caminha com rumo certo, está indo para al-
guma direção. Ao olharmos para trás, diz ele, podemos constatar que a história se desdobrou exatamente da maneira
como tinha de se desdobrar. Há um sentido geral na história, na maneira como Hegel a interpreta. Algo como um
padrão inevitável, um futuro bem definido.
Em sua obra, a história desempenha um papel central: para Hegel, filosofia e história estão entrelaçadas, sendo
indissociáveis uma da outra. Como vimos, Hegel acreditava que a história possuía direção certa, que caminhava rumo
a um fim glorioso. Mas qual era este fim? Para o filósofo, ele era a vinda gradual (e inexorável, importante lembrar) de
uma espécie de “espírito” (geist, em alemão, ou zeitgeist, o “espírito do tempo”) para a humanidade.

Este espírito representaria algo como a mente única, o somatório do pensamento e das manifestações
de toda a raça humana. E este espírito deveria ser plenamente consciente de si mesmo. Para Hegel, a história da
humanidade é a história da emancipação dos indivíduos, do aumento gradual de suas liberdades individuais. Este
processo, diz ele, é um processo ocasionado, acima de tudo, pelo embate de ideias opostas entre si

288
Aula 2

Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,
15, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24 e 25

BREVIÁRIO

JOHN LOCKE (1632-1704)


Formação do Estado legal
Além de defensor da liberdade e da tolerância religiosa, Locke é considerado o fundador do empirismo, doutrina
segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência, sendo a mente humana uma tábula rasa.
John Locke é considerado como um dos autores clássicos do liberalismo. Sua concepção da natureza huma-
na e da ordem político-social é tida como base para diversos autores dessa corrente. Em seu primeiro tratado sobre
o governo civil, Locke desenvolveu uma visão crítica a respeito da teoria divina do direito dos reis, rechaçando a
ideia de que a autoridade política fora concedida por Deus a Adão e transmitida, por sucessão, a seus descendentes.
O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da propriedade.
Para ele, a vantagem da sociedade política é tanto maior quanto mais eficientemente protege, sob o amparo
da lei, a liberdade e os bens dos súditos, isto é, princípios incompatíveis com o Absolutismo.
Ressalta-se, diante disso, que como nenhum indivíduo ou grupo está acima do contrato social, um governo
que constantemente viola a lei estabelecida e atenta contra a propriedade, torna-se ilegal, ou seja, degenera-se
em tirania, visto que não atende mais ao bem público. Sob tais circunstâncias, Locke defende a doutrina da
legitimidade da resistência, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência armada aos que atentam
contra os direitos individuais e naturais. Tal doutrina ajudou a insuflar inúmeras revoluções liberais que eclodiram
posteriormente na Europa e na América.

Voltaire(1694-1778)
O principal satírico do Iluminismo, François-Marie Arouet, mais conhecido por seu pseudônimo Voltaire (1694–
1778), entrou no mundo literário como dramaturgo. Ele rapidamente tornou-se famoso por sua inteligência e sátira,
bem como as alegações de difamação, que muitas vezes lhe resultaram punições, dentro e fora da França. Voltaire
passou um período de exílio na Inglaterra durante o qual ele foi introduzido para as obras de Locke e Newton. Os
dois pensadores tiveram um profundo impacto no jovem Voltaire, que se tornou extremamente prolífico nos anos
que se seguiram, sendo autor de mais de sessenta peças e romances e inúmeras outras letras e poemas.
Voltaire era um deísta declarado, acreditando em Deus, mas odiando a religião organizada. Como resultado,
ele tornava o cristianismo - que ele chamou de “superstição glorificada” - um alvo frequente de sua inteligente
crítica. Voltaire também foi um fervoroso defensor da monarquia e passou um tempo considerável trabalhando na
reforma judicial.
289
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)
Rousseau, diferentemente dos iluministas de sua época, argumenta que as ciências e as artes não aprimoraram a
humanidade, mas ajudaram a corrompê-la, contribuindo para criar sociedades desiguais e dotadas de inúmeros
males. O filósofo, então, tentará distinguir o homem autêntico, o homem ainda não corrompido pela sociedade, isto
é, o homem em seu estado de natureza do homem organizado em um estado civil. Para ele, tal estado é a situação
em que se encontrariam os homens antes da criação das sociedades organizadas, em que somente houvesse direi-
tos naturais para guiá-los. Já o estado civil representa a sociedade política organizada, com leis e governo.

Estado de Natureza
Rousseau diz que não podemos observar os homens em estado de natureza, pois tal estado já não existe; e
mais: pode nunca ter existido. Para pensar na natureza humana, o autor procura excluir tudo aquilo que a so-
ciedade nos impõe: desigualdade econômica e política, paixões, desejos, artes, ciências, convenções sociais, etc.
O que sobraria dessa exclusão seria o homem natural, o homem em estado de natureza.

O Contrato Social
Rousseau diz que, em um primeiro momento, os homens descobriram que a união lhes proporcionava certas
vantagens para defender seus interesses. O costume de viverem unidos criou-lhes laços afetivos e paixões antes
desconhecidas, como o amor conjugal e paterno. Depois, em segundo momento, surgiu a propriedade privada,
que trouxe consigo o trabalho forçado, a rivalidade, interesses difusos e insegurança. Por conta da instituição da
propriedade privada e pela desigualdade por ela gerada, portanto, é que os homens constituíram Estados, governos
e leis.

MONTESQUIEU (1689-1755)

A teoria de separação de poderes


As funções de um Estado são vastas e variadas. É necessário confiar essas funções a órgãos específicos, de modo
que a responsabilidade pela execução dessas funções possa ser efetiva. A divisão do poder governamental sob
quaisquer constituições pode ser de dois tipos; a divisão funcional, como legislativa, executiva e judicial, e a divi-
são territorial do federalismo. Assim, o governo consiste em três ramos que têm para suas funções: 1) legislação
ou criação da lei; 2) sua execução ou administração; e 3) interpretação dessas leis. Os três ramos aos quais estas
funções pertencem são conhecidos como Legislativo, Executivo e Judiciário, respectivamente.

RENÉ DESCARTES
O filósofo e matemático francês René Descartes nasceu no ano de 1596, na antiga cidade de La Haye en Touraine
- atualmente nomeada Descartes graças a seu célebre cidadão -, e morreu em Estocolmo, capital sueca, no ano de
1650. Muito embora tenha se notabilizado também no campo da matemática pelo desenvolvimento da geometria
analítica, é no campo da filosofia que Descartes exerce sua maior influência, inaugurando o pensamento raciona-
lista moderno, como veremos mais adiante.

290
O Racionalismo de Descartes
Seguindo a tradição platônica, Descartes acreditava que a única forma válida de se adquirir conhecimento era por
meio da razão. Para o filósofo, os sentidos não eram confiáveis como fonte de conhecimento. Podemos concluir,
portanto, que Descartes rejeitava o empirismo como forma satisfatória de busca pelo conhecimento.
Pode se dizer que Descartes é o grande pai da filosofia moderna, já que foi ele o responsável por organizar
o pensamento filosófico de todo o período renascentista em um sistema filosófico sólido e inovador.

O método
O método cartesiano é um método essencialmente matemático. Descartes desejava empregar o método matemá-
tico também em suas reflexões filosóficas, pois como vimos, na visão do filósofo somente seria possível construir
algum tipo de conhecimento sólido e confiável por meio da razão.
Para Descartes, para solucionarmos qualquer problema, devemos sempre partir de questões menores, como se
o desmembrássemos. Ele acreditava que o filósofo deveria sempre partir de pensamentos mais simples para alcançar
pensamentos mais sofisticados. Tal qual na matemática, Descartes acreditava que todas as hipóteses poderiam ser
falseadas e que todas elas deveriam ser testadas; era necessário também ter certeza de que não se havia descartado
nenhuma hipótese sem que houvesse sido testada apropriadamente. Em suma, deveria se desconfiar de tudo, mas
sempre assumindo que tudo é possível - até que se prove, com auxílio da razão, o contrário.

DAVID HUME
David Hume foi um filósofo escocês nascido em Edimburgo, no ano de 1711, e falecido em 1776. O filósofo se
tornou notável por, entre outras coisas, seu empirismo radical e sua influência na obra de outro importante pensa-
dor, Immanuel Kant. Por ter vivido durante o período do Iluminismo, o chamado “século das luzes”, o filósofo foi
contemporâneo de pensadores como Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Com apenas 28 anos, Hume publica sua
obra mais importante, “Tratado sobre a natureza humana”.

O empirismo de Hume
Seguindo a tradição empirista, David Hume acreditava que somente a reflexão acerca da vida cotidiana e a expe-
rimentação do mundo poderiam fornecer as respostas buscadas pela humanidade.
O filósofo dizia que noções falsas, raciocínios abstratos... Em suma, tudo aquilo que não passasse de mero
produto da mente e da imaginação humana deveria ser eliminado antes de se iniciar o processo de busca pelo
conhecimento. Qualquer forma de raciocínio rebuscado seria incapaz de explicar as questões com as quais a hu-
manidade tipicamente se preocupa. O verdadeiro conhecimento seria encontrado na observação e experimentação
da realidade, da vida cotidiana, dizia ele.

291
A lei da causalidade
Como vimos, a mente de uma criança funciona de maneira diferente da mente adulta. Isso porque a mente adulta
já experimentou infinitas situações da realidade, enquanto a mente infantil é como uma “folha em branco”, livre
de opiniões preconcebidas e preconceitos. Se perguntarmos a um adulto o que aconteceria se alguém soltasse um
copo de cristal no chão, ele responderia que com toda a certeza o copo cairia e se despedaçaria. E mais: o adulto
ficaria chocado caso isso não acontecesse (imagine que o copo flutuasse suavemente, por exemplo, até encontrar
o chão, e nele repousasse intacto). Se um bebê observasse essa cena extraordinária, contudo, ele provavelmente
não ficaria tão espantado assim. Isso porque o bebê ainda não adquiriu a noção plena daquilo que chamamos de
leis naturais, e não teria como saber que um copo flutuante as contraria (no caso, a gravidade). Como diria Hume,
a natureza ainda não se tornou habitual para ele; assim, o bebê percebe o mundo e o experimenta tal como ele
é - sem acrescentar qualquer coisa às suas experiências.

FRANCIS BACON
Francis Bacon foi um pensador inglês nascido em 1561, em Londres, e falecido em 1626. É considerado por muitos
um dos primeiros grandes pensadores modernos.
Fortemente influenciado pelo espírito de sua época, Bacon se dedica ao desenvolvimento de um método
experimental que rejeitasse formulações especulativas e distantes da realidade cotidiana. Suas principais obras são
Novum Organum, em que o autor tece uma crítica à metodologia empregada por Aristóteles em seu pensamento,
e O progresso do saber, no qual o autor explana sua concepção de método científico.

IMMANUEL KANT (1724-1804)

A “Revolução Copérnica”
Conforme visto anteriormente, Kant diz que, de antemão, pode-se afirmar que qualquer humano perceberá as
coisas como processos temporais e espaciais. Este é o pressuposto racional intrínseco a todo ser humano. Para
o filósofo, nossas impressões sensoriais se moldam às formas intuitivas. É assim que se dá o processo de conhe-
cimento para Kant: ele começa, antes de tudo, na própria razão humana - ainda que deva fazer uso também do
empirismo. Isso equivale a dizer, de certa maneira, que nossa consciência, a consciência humana, não apenas
responde passivamente à realidade, mas se impõe ativamente à nossa visão de mundo. A consciência humana se
adapta à realidade, mas a realidade também se adapta à consciência humana. Para Kant, a consciência é uma
instância ativa e transformadora.
O fato de se colocar a razão e a consciência humana em posição tão central (e não mais a realidade exterior)
é uma concepção tão revolucionária para o pensamento filosófico que Kant passa a chamá-la de revolução copér-
nica (em alusão ao astrônomo polonês Nicolau Copérnico, pai da teoria heliocêntrica). Antes de Kant, os filósofos
faziam afirmações sobre a realidade sem antes refletir sobre as categorias razão e experiência - bem como sobre
quais são suas possibilidades e limitações. Kant argumenta que isso é um erro dos mais vulgares. Aqui fica bastan-
te claro um dos outros grandes projetos filosóficos de Kant: perguntar-se o que é possível saber, compreendendo
assim os limites do conhecimento (a área que estuda este tipo de questão, ligada à própria ciência, chama-se
epistemologia).

292
KANT E O ESCLARECIMENTO
Como vimos, Kant considera que todo ser humano maduro é dotado de razão e tem, portanto, capacidade para
formular questões e buscar suas respostas. Mas como o homem alcança, entretanto, essa maturidade?
Em sua obra, Kant tenta responder a pergunta “O que é esclarecimento?”. Segundo ele, o esclarecimento é a saída
do homem de sua menoridade - isto é, condição de incapacidade de fazer uso da razão sem a orientação de outro indivíduo.
O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condição pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua
motivação ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mesmo. Para o filósofo, todo indivíduo vive uma
situação de menoridade em algum momento de sua vida: neste caso, a menoridade é natural, pois é o mesmo
que imaturidade. O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente pronto para o raciocínio; uma criança
demora até atingir a autossuficiência, por exemplo. Kant critica, contudo, autoridades (especialmente religiosas)
que, através do medo ou constrangimento, deliberadamente mantêm seus seguidores em menoridade – bem como
ironiza indivíduos que vivem uma situação de menoridade “auto imposta” (neste caso, por comodismo). Kant
afirma, explicitamente, que a preguiça e a covardia são os grandes motivos pelos quais tantos homens continuem
presos à menoridade – e frisa que, caso seja de sua vontade (e caso não haja barreiras para isso, como restrições à
liberdade), todo e qualquer homem é capaz de abandonar a menoridade e concluir o processo de esclarecimento.
Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para haver esclarecimento, a liberdade é condição fun-
damental: só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for amplamente garantido. O filósofo reconhece,
contudo, que as restrições à liberdades são bastante comuns (ainda mais em sua época). Finalmente, o filósofo
conclui que ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um profundo conhecimento sobre determinado
tema, mas sim combinar este conhecimento à conquista da autonomia e da emancipação humana.

A ética kantiana (ou a ética do dever)

Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões relativas à esfera moral. Aqui, o filósofo David Hume
também influencia de maneira substancial sua obra: segundo o empirista, não seria possível determinar o que é
certo e o que é errado; não é possível, segundo Hume, realizar a passagem de sentenças positivas para sentenças
normativas (isto é, do “ser” para o “dever ser”). Isso porque, para o filósofo britânico, a razão humana e a suas
experiências não são capazes de tal discernimento: isso ficaria a cargo das emoções.
Kant, contudo, não concorda com Hume. Seguindo a tradição racionalista, ele afirma que a capacidade de tal
distinção se encontra, sem dúvida, na razão humana. Para ele, todo ser humano sabe o que é certo e o que é errado:
este conhecimento é intrínseco à condição humana. Kant diz que todos somos dotados de uma razão prática, isto é,
de uma capacidade racional inata de discernir o que é certo e o que é errado.

293
O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão inata quanto qualquer outra faculdade da razão. Tal
afirmação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é o fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que
há algo como uma lei moral universal, tão absoluta quanto qualquer lei natural. Tal lei seria, segundo Kant, válida para
qualquer momento histórico, sociedade e situação. E seria também imperativa, pois não se pode escapar dela. Kant a
formula, portanto, como um imperativo categórico. E um de seus maiores pressupostos, juntamente com a ideia de que
a moralidade está relacionada à maneira universal de se agir, é a proibição de se utilizar outrem como meios para atingir
quaisquer objetivos: todos devem ser tratados como um fim em si mesmo.
Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifestação da própria consciência humana – que também é
intrínseca a todo homem e não pode ser comprovada racionalmente, apesar de ser possível conhecê-la.
Kant diz que muito mais importante para a moralidade do que se perguntar o que fazer, é se perguntar o mo-
tivo pelo qual se faz alguma coisa. Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa é abordada na rua por um pedinte e,
ao sentir pena de sua situação, lhe dá uma esmola. Uma segunda pessoa também é abordada pelo pedinte e, apesar
de não se compadecer de sua situação, lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a segunda pessoa agiu mais
moralmente do que a primeira. Por quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de maneira descolada de suas
próprias emoções. Ela ofereceu ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo a se fazer, porque era seu dever
(por essa razão, inclusive, a ética kantiana também é chamada de ética do dever); a primeira pessoa, por sua vez,
ofereceu ajuda por pena, pela maneira como se sentiu. Da mesma forma Kant veria alguém que pratica boas ações
para se promover socialmente ou ficar bem aos olhos de Deus. Se esta é a motivação de suas boas ações, ele diria,
elas de nada valem.

JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980)

O existencialismo de Sartre
Embora, quando velho, tenha se apartado do existencialismo, Sartre ficou marcado como um de seus expoentes.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a destruição e as mortes geradas pelo conflito desencadearam uma forte
desconfiança aos postulados de progresso engendrados pelo discurso positivista. Com isso, temas como o da sub-
jetividade, da finitude, da liberdade e da solidão ganharam cada vez mais destaque.
Em tal contexto, Sartre constrói seu pensamento. Ele afirma, como já foi dito, que a existência sempre pre-
cede a essência. Mas o que de fato isso significa? Para compreendermos, consideremos exatamente o oposto: “a
essência precede a existência”, como artefatos criados pelo homem.
Imagine a criação de uma tesoura. Primeiramente, o homem precisava cortar papel. Para tal, ele cria uma
tesoura. A tesoura, por sua vez, faz a função de cortar o papel.
Vê-se que a ideia de coisa precede a criação efetiva do objeto. Mas se o invento do homem não cumpre
seu objetivo (não corta papel), seria um invento ruim. Esse é, portanto, o exemplo claro de quando a essência pre-
cede a existência. Sartre aponta que essa premissa norteou toda a filosofia ocidental desde Sócrates: seja a ideia
platônica de essência até a noção de que Deus nos criou à sua imagem e semelhança (semelhantes às tesouras
criadas pelos homens). De acordo com essa concepção, os humanos, igualmente às tesouras, são valorizados pelo
grau em que correspondem à essência. Um homem que não satisfaz a essência, da mesma forma que a tesoura, é
um homem ruim.
Para Sartre, por outro lado, essa premissa foi enterrada no século XIX, quando Nietzsche trouxe à tona a ideia
de que Deus está morto. Se Deus está morto (em sentido figurado, claro), não há nenhuma ideia divina para que o
homem siga. O homem está só, abandonado e livre. Cada qual cria e recria sua essência a todo momento, graças às
suas escolhas e ações. É por isso que o existencialista é aquele que crê que a existência precede a essência.

294
C H Sociologia

ENTRE
SOCIEDADES

Breviário ENEM

C H
Aula 1

Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,
15, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24 e 25

BREVIÁRIO

ÉMILE DURKHEIM (1858–1917)


O Fato Social
Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que existem independentemente das manifestações indivi-
duais, ou seja, são exteriores ao indivíduo e são generalizados na sociedade. Ademais, são dotados de uma força
imperativa e coercitiva sobre os indivíduos. Esses fenômenos nascem no seio da sociedade e nela residem, a des-
peito do arbítrio de um sujeito isolado.
Nas Regras do Método Sociológico, Durkheim estabelece as diferenças entre os fatos que pertencem à psicologia,
que são internos ao homem, e os que são estudados pela sociologia, que são externos e coercitivos. Os fatos sociais são
impostos por meio de normas oriundas da consciência coletiva e das regras do direito, isto é, estão tanto nos costumes
como nas leis escritas. Funcionam, portanto, como reguladoras de conduta, dentro, é claro, dos limites da moralidade.
Quando dissemos que os fatos sociais existem a despeito das consciências individuais, afirmamos que existe uma
cronologia subjacente: os fatos sociais antecedem a existência de um indivíduo isolado. Significa dizer que já nascemos
em uma sociedade organizada, com regras e valores preestabelecidos. Tais normas nos são impostas tanto pela educação
escolar como pelo hábito coletivo, fazendo com que o indivíduo socializado as considere como naturais.
Embebidos nesses valores, os sujeitos não percebem que os fatos sociais provêm deles mesmos. As instituições
são criadas pelos indivíduos, mas com o passar do tempo, elas se consolidam e ganham certa autonomia. Assim, se forma
a consciência coletiva, para Durkheim, que estaria longe de ser a soma das consciências individuais, mas algo exterior a
cada um. A consciência coletiva seria a síntese de crenças e sentimentos comuns a uma sociedade. Sabemos que a força
imperativa da consciência coletiva é sempre presente, uma vez que o indivíduo que resistir a ela é quase sempre coagido
pela sociedade. Quem foge das crenças e sentimentos comuns é moralmente ou legalmente penalizado. Assim, desde
cedo, aprende-se a respeitar o conjunto de normas da sociedade.
regras, leis, FATO SOCIAL
costumes, rituais (CARACTERÍSTICAS)

realidade do seria
composta de indivíduo caracteriza-se
por generalidade

força que os fatos ou seja


coerção exterioridade
exercem sobre como
os indivíduos social
tudo aquilo
ou seja que é
apresenta-se manifesta-se repetido em
quando todos os
é exterior indivíduos
ao indivíduo
sob formas
de SANÇÕES assim
adotamos um
idioma ou uma como
forma de família
regras e
leis sociais

297
Durkheim, portanto, notabiliza o poder da educação e diz que ela consiste em um esforço contínuo de imposi-
ção de modos de viver, sentir e agir. Ao passar do tempo, tal coerção educativa deixa de ser sentida pela criança e os
novos aprendizados tornam-se normais para ela. Com isso, cria-se uma ordem natural de comportamentos e valores,
passada e reproduzida pelas gerações.
Cabe ressaltar que há duas formas de manifestação dos fatos sociais. A primeira representa condicionamentos
sociais, como o idioma, os costumes, o sistema monetário, as formas de produção, entre outros; e as regras de direito
que determinam como agir (código civil) e como punir (código penal). A segunda manifestação dos fatos sociais vê-se
na morfologia dos espaços culturais, no ambiente cotidiano; trata-se dos sinais de trânsito, das regras do comércio,
nas regras de comunicação, entre outras. Seriam maneiras de se comportar e agir compartilhadas pela coletividade.

O Método Sociológico
Durkheim defende que os fatos sociais devem ser vistos como coisas, uma vez que são realidades concretas e com
grau de existência exterior ao homem. Todo objeto científico seria uma coisa. Para ele, devemos observar os fatos
sociais como um físico observa a natureza. A sociologia, portanto, é uma ciência empírica e pouco introspectiva. O
oposto da matemática, portanto.
É necessário ao sociólogo suprimir seus juízos e valores pessoais para não chegar a conclusões precipitadas.
O maior erro do pesquisador seria o de conduzir suas pré-concepções sobre o fato social durante a pesquisa. Por
isso, o pesquisador deve ser neutro ao objeto analisado. Trata-se de uma concepção científica chamada de neu-
tralidade axiológica, na qual o pesquisador prescinde de suas paixões e trata o objeto de pesquisa rigorosamente
como coisa.
É evidente a afinidade de Durkheim com o positivismo. Ele herdou toda a base empirista de Comte e, como
tal, defendeu que a sociologia deveria realizar um retrato fiel da realidade, baseando-se nos fatos que a compõem.
Tal seria a condição necessária para se criar um conhecimento objetivo e plausível sobre as relações sociais. Por
conta dessa preocupação formal, e tendo como base tais premissas, a Sociologia se consolidou como disciplina
autônoma.

KARL MARX (1818-1883)


A luta de classes

A afirmação de que toda a infraestrutura de uma sociedade é determinada por sua classe dominante evidencia
outro importante elemento da análise social marxista: a luta de classes. Para Marx, toda a história da humanidade
pode ser contada pela perspectiva da luta de classes, isto é, pelas tensões e relações conflituosas entre classes
dominantes e classes dominadas. Somente mudanças na infraestrutura social poderiam girar a roda da história; e
estas mudanças, afirma, foram sempre conquistadas pelo choque entre estas duas classes.
No feudalismo, por exemplo, a luta de classes teria se dado entre nobreza e campesinato. O choque
decorrente daí teria possibilitado a superação do modo de produção feudal. Na sociedade capitalista, contexto
em que se insere Marx, ela se daria entre burgueses (ou capitalistas) e proletariado. Em suma, é essa a visão
marxista da história humana: trata-se do choque e da relação conflituosa entre os detentores dos meios de
produção e aqueles que não os detêm.

298
A alienação do trabalhador
Pela maneira desigual que se dão suas relações de produção (dadas as vantagens dos capitalistas em relação ao
proletariado pelo fato de deterem os meios de produção), Marx analisa que o capitalismo teria uma terrível conse-
quência: a alienação do trabalhador.
Seguindo a tradição hegeliana, Marx identifica o trabalho como uma atividade extremamente positiva, a
origem da condição humana. Ele alerta, entretanto, de que no modo de produção capitalista o trabalhador não
trabalha para si mesmo; trabalha, sim, para o capitalista – o detentor dos meios de produção. Assim, o trabalho, tão
intimamente ligado à condição humana, torna-se externo ao trabalhador. Ao alienar-se em relação ao seu próprio
trabalho, o trabalhador aliena-se também em relação à sua própria humanidade.

Exploração e mais-valia

A partir do conceito de alienação do trabalhador fica claro que, na visão de Marx, o modo de produção capitalista
se apresenta como um grande inimigo da condição humana. Mas a alienação traria ainda mais consequências,
segundo o autor.
Uma vez alienado – e, portanto incapaz de perceber sua condição humana –, o trabalhador perde a capa-
cidade de se enxergar como parte essencial da produção capitalista (veremos, mais à frente, que na visão marxista
é o trabalho o grande responsável por qualquer geração de valor). Sem essa consciência, a percepção do papel
fundamental que desempenha no processo produtivo, o trabalhador se torna ainda mais vulnerável à exploração
pela classe detentora dos meios de produção.
Marx chama esta exploração de mais-valia – a diferença entre o valor gerado pelo trabalhador e a remu-
neração que este recebe por seu trabalho. Em outras palavras, a mais-valia nada mais é do que o lucro auferido
pelo detentor dos meios de produção. É, também, a confirmação da exploração sofrida pela classe trabalhadora; a
consumação de um processo destrutivo causado pelo modo de produção capitalista.

MAX WEBER (1864–1920)


Para Weber, a Sociologia é uma ciência que pretende entender a Ação Social. Esta, é aquela que se
realiza em um sentido pensado pelos indivíduos e que se refere à conduta de outros. Toda ação social tem certos
requisitos: I) o ator lhe dá um sentido; II) tal sentido se remete a outro. A inação também deve ser considerada uma
ação social, mesmo quando o indivíduo não esteja dando-lhe sentido consciente. Mesmo diante dessa situação, o
sociólogo pode interpretá-la.
A realidade social, tomada em sua totalidade, para o sociólogo alemão, é incognoscível. Isso, porque o
investigador nunca consegue apreendê-la completamente, recorrendo a tipos ideais ao analisar um processo e
compará-lo a outros. Os tipos ideais localizam o objeto de estudo e são meios de pensamento com o objetivo de

299
dominá-lo teoricamente e empiricamente. Significa dizer que um conceito nunca pode refletir exatamente a reali-
dade, sendo concebível apenas representá-la a partir de alguns pontos de vista.
A ação social pode tipificar-se em quatro tipos ideais:
Ação Afetiva: determinada por sentimentos, sendo essencialmente irracional;
Ação Tradicional: determinada por costumes arraigados que se reproduzem irracionalmente pelo hábito;
Ação Racional com relação a Valores: a ação está determinada por um valor e se realiza pelo mesmo,
independentemente de seus resultados;
Ação Racional com relação a Fins: determinada pelos fins que perseguem, sendo predominante na vida
econômica.

Dominação
Dominação é o exercício da autoridade. A posse de poder em uma determinada esfera resulta em dominação.
Weber articula três tipos ideais de dominação: Carismática, Tradicional e Racional-Legal.

Dominação Carismática

A dominação carismática é legitimada pela característica do líder. Por meio de inspiração, coerção ou capacidade
de comunicação e liderança um indivíduo pode ocupar papel central no papel de planejar e coordenar as ações do
público. O carisma, acredita Weber, emerge em tempos sociais de crise, quando pessoas perdem a confiança nas
formas existentes de autoridade, gerando um campo fértil para o líder carismático ganhar vantagem.
Por conta de tal forma de dominação ser baseada na figura do líder, ela tende a ser instável. Tende a não
sobreviver diante da morte do líder original ou ser repentinamente abandonada pelos seguidores. Para a dominação
carismática ser sustentada, ela deve “rotinizar-se”.

Dominação Tradicional

A dominação tradicional é legitimada pela crença nas bem estabelecidas e conhecidas formas de poder. Tradição
implica inerência, naturalidade, ou até um estado de coisas guiado por pressupostos metafísicos, dificilmente
combatidos pela razão. A Tradição é frequente em sociedades que operam sob rígidas formas de hierarquia social,
calcadas no hábito e nos costumes.
A autoridade tradicional é baseada em lealdade e liderança. Poder é exercido pelos comandos assumidos
pelo líder ou grupo de líderes. Seus funcionários são-lhes obedientes, embora o limite da ação dos poderosos não
seja explicitamente definido. A autoridade tradicional tende a não distinguir assuntos públicos e provados. A tarefa
de especialização, em termos de exercício de poder, é mínima.

Dominação Racional-Legal

A autoridade da dominação racional-legal é baseada na definição de regras e leis, legitimadas na crença de sua
boa criação e aplicação. Essa forma de dominação é cristalizada pela burocracia. Ela tende a manter-se indepen-
dente das arbitrariedades de certos indivíduos, pois a autoridade reside numa estrutura hierárquica burocrática e
no papel dos cargos previamente estabelecidos.
Na burocracia, o poder racional-legal é exercido em base no conhecimento e na experiência, e não pelos
costumes e personalismos. As funções da autoridade são garantidas pela obediência às regras e leis, separando a
esfera pública da privada. Especialização e conhecimento técnico-científico são necessários nesse tipo de domina-
ção.

300
O Espírito do Capitalismo

O que significa “o espírito do capitalismo”? Este termo só pode ser aplicado a algo que é “um complexo
de elementos associados à realidade histórica que nos unimos em um todo conceitual do ponto de vista de seu
significado cultural”.
Para apresentar uma formulação, Weber apresenta um longo trecho dos escritos de Benjamin Franklin. Ele
diz que as atitudes de Franklin ilustram o ethos do capitalismo. Franklin escreve que o tempo é dinheiro, que o
crédito é dinheiro e que o dinheiro pode gerar dinheiro. Ele encoraja as pessoas a pagarem todas as suas dívidas
a tempo, porque incentivaria a confiança dos outros. Ele também encoraja as pessoas a se apresentar como indus-
triosas e confiáveis em todos os momentos. Weber diz que esta “filosofia da avareza” vê o capital crescente como
um fim em si mesmo. É uma ética, e o indivíduo é visto como tendo o dever de prosperar.

301
Aula 2

Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,
15, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24 e 25

BREVIÁRIO

CULTURA

Definição de cultura
O conceito de cultura compreende, de um modo geral, a soma das atividades humanas (e dos produtos dessas
atividades) que surgem no âmbito da sociedade. Isto é, toda ação humana é, em algum nível, uma ação cultural. O
uso da palavra em diferentes contextos, no entanto, torna esse problema mais complexo. Por isso, o teórico inglês
Terry Eagleton afirma: “‘cultura’é uma das duas ou três palavras mais complexas da língua inglesa”. Já em outros
idiomas, como o alemão, o termo correlato a “cultura” (“kultur”) pode também significar “sociedade”. Afinal,
então, o que é “cultura”?
A princípio, pode-se dizer que tudo faz parte da cultura, na medida em que qualquer ato humano se insere
em uma ambiente social específico. Ir ao banheiro, por exemplo, é um ato da cultura: só se vai a um banheiro, por-
que a ideia de “banheiro” foi inventada por seres humanos como uma forma socialmente (e culturalmente) aceita
de realizar suas necessidades fisiológicas. Do mesmo modo, só se vai ao banheiro de uma forma X ou Y porque
essa é a forma socialmente (e culturalmente) aceita de ir ao banheiro. Ou seja: não existe uma ação humana que
não seja um ato da cultura. Tudo é cultural.

Aculturação
Como já vimos, portanto, as culturas se formam em meio à interação dos seres humanos entre si e com a natureza
– ou seja: acompanham os processos sociais. Eventualmente, porém, diferentes culturas podem se chocar, o que
dá origem a conflitos.
Um exemplo de choque cultural muito significativo foi a colonização da América Latina. Nesse processo
histórico, a cultura indígena entrou em conflito aberto com a cultura europeia: Os indígenas possuíam sua própria
religião, sua própria língua, sua própria arte, sua própria culinária, sua própria economia, seus próprios costumes
– enfim, sua própria cultura; e o mesmo era válido para os portugueses e espanhóis.
Esse conflito era, sobretudo, um problema econômico, pois os europeus desejavam, como se sabe, colonizar
o chamado “novo mundo”, dominando-o economicamente. Nesse cenário, a solução foi a mais violenta possível:
os europeus impuseram sua cultura sobre os indígenas, proibindo elementos da cultura destes últimos e os exter-
minando. Com o passar do tempo, os indígenas assimilaram a cultura do dominador, passaram a falar sua língua,
a adorar seus Deuses, adotar seus costumes e assim por diante. A esse processo se dá o nome de “aculturação”.

303
O que é Patrimônio Cultural? Patrimônio Históri-
co? Patrimônio Ambiental ou Natural?
Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Natural)
"O Patrimônio Cultural de uma nação, de uma região ou de uma comunidade é composto de todas as expressões
materiais e espirituais que lhe constituem, incluindo o meio ambiente natural".
(Declaração de Caracas - 1992).

Mas, afinal, o que é Patrimônio?


O conceito de Patrimônio não existe isolado. Só existe em relação a alguma coisa. Podemos dizer que Patrimônio é
o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente.
É o legado que herdamos do passado e que transmitimos a gerações futuras.
O Patrimônio pode ser classificado em Histórico, Cultural e Ambiental.

1. Patrimônio Histórico
É o conjunto de bens que contam a história de uma geração através de sua arquitetura, vestes, acessórios, mobílias,
utensílios, armas, ferramentas, meios de transportes, obras de arte, documentos.
Até final da década de 1970, tinha caráter político/elitista. A partir de 1980, passaram a ser consideradas outras
etnias e classes sociais.
O Patrimônio Histórico é importante para a compreensão da identidade histórica, para que os seus bens não se
desarmonizem ou desequilibrem, e para manter vivos os usos e costumes populares de uma determinada sociedade.
Um exemplo de patrimônio histórico é a Universidade Federal do Paraná. Localizada no centro de Curitiba, capital do estado,
foi a primeira universidade criada no Brasil.

2. Patrimônio Cultural
É o conjunto de bens materiais e/ou imateriais, que conta a história de um povo através de seus costumes, comidas
típicas, religiões, lendas, cantos, danças, linguagem superstições, rituais, festas.
Uma das principais fontes de patrimônio cultural está nos sítios arqueológicos que revelam a história de civilizações
antiquíssimas.
Através do patrimônio cultural é possível conscientizar os indivíduos, proporcionando aos mesmos a aquisição de conhecimen-
tos para a compreensão da história local, adequando-os à sua própria história. Daí a sua importância.
Um exemplo de patrimônio cultural é o chamado “Ruínas de São Francisco”, em Curitiba. Trata-se de uma igreja origi-
nalmente dedicada a São Francisco, mas que ficou inacabada. Anos depois, foi erguida em local próximo, no que é hoje
chamado Largo da Ordem de São Francisco das Chagas, no centro da cidade.

O trabalho deve ser visto como algo inerente à natureza humana, isto é, desde a pré-história até o mundo
contemporâneo o trabalho sempre esteve presente na vida humana.
A importância do trabalho é crucial na vida dos homens, pois é através do trabalho que temos a intervenção do
homem na natureza, que procura explorar ou transformar os recursos naturais existentes para sua vida; desse modo, o
trabalho pode ser visto como uma condição humana necessária para existência do homem em sua plenitude.
Para uma melhor compreensão podemos definir trabalho como um conjunto de atividades
realizadas, é o esforço feito por indivíduos, com o objetivo de atingir uma meta. O trabalho também pode
ser abordado de diversas maneiras e com enfoque em várias áreas, como na economia, na física, na filosofia, a
evolução do trabalho na história etc., porém, para ter uma visão que fuja do senso comum, é importante lembrar
que o sentido etimológico da palavra trabalho, que deriva do latim tripalium (tri= três e palum = madeira), ou seja,
o trabalho era uma forma de castigo que os romanos aplicavam aos escravos considerados preguiçosos.
O trabalho na sociedade atual envolve praticamente quase que a totalidade dos diversos grupos sociais,
pois devido ao fato de vivermos na sociedade capitalista, nosso sustento está vinculado à venda de nossa força de
trabalho para empresas privadas ou públicas, quando não somos os proprietários dos meios de produção.

304
Essa relação social de produção existente no mundo do trabalho no sistema capitalista vem passando por
inúmeras transformações, pois é através do modo de produção predominante que se estabelece a priori a forma
pelo qual os produtos do trabalho são apropriados pela classe dominante.
No Brasil, o longo período da existência do trabalho escravo fez com que as atividades feitas entre homem e
natureza mediadas pelo trabalho produzisse uma sociedade que via no trabalho uma atividade inferior. Porém, com o
estabelecimento da industrialização, a partir dos anos de 1930, o trabalho foi deixando de possuir esse significado ne-
gativo e foi gradativamente sendo valorizado, já que o processo de industrialização não alterou apenas a paisagem do
Brasil com as indústrias e a urbanização, mas também com o nascimento de uma classe média urbana e de um opera-
riado que juntos tornaram-se consumidores das diversas mercadorias produzidas no interior da sociedade capitalista.

A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

Disponível em: <http://questoessociologicas.blogspot.com.br/2014/08/alienacao-do-trabalho.html>

A divisão do trabalho corresponde à especialização de tarefas com funções específicas, com finalidade de dinami-
zar e otimizar a produção industrial. Esse processo produz eficiência e rapidez ao sistema produtivo. Os grandes
teóricos que procuraram discutir essa forma de produção foram Karl Marx e Adam Smith.
Podemos situar o aparecimento da divisão social do trabalho após a Revolução Industrial, que passou a
produzir mercadorias em larga escala e, por isso, necessitava de método que fosse capaz de aumentar a produção
de bens sem a necessidade de contratar novos trabalhadores.

A DIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA


A definição de diversidade pode ser entendida como o conjunto de diferenças e valores compartilhados pelos
seres humanos na vida social. Este conceito está intimamente ligado aos conceitos de pluralidade, multiplicidade,
diferentes modos de percepção e abordagem, heterogeneidade e variedade. Desse modo, para compreender a
diversidade social existente no Brasil, é necessário conhecer o processo de formação da nossa população, a partir
do encontro entre índios, europeus e africanos, ocorrido durante a expansão marítima e comercial europeia entre
os séculos XV e XVI.
A diversidade social brasileira vem dos diferentes costumes das civilizações europeia, indígena e africana
que se misturaram ao longo do tempo, criando uma matriz cultural híbrida, da qual somos herdeiros diretos. É
através dessa cultura híbrida, fruto da miscigenação entre o europeu, o africano e o indígena, que a sociedade
brasileira foi sendo desenvolvida.
A forma como as pessoas se organizam em sociedade – através da cultura presente nas roupas, linguagem,
religião, ao lado das heranças físicas e biológicas – são características humanas que promovem nossas diversidades
social, cultural, étnica etc.

305
A VIOLÊNCIA
A palavra violência é derivada da palavra latina violentia, que significa “veemência“, porém, sua gênese está rela-
cionada com o termo “violação“. Desse modo, violência significa usar a agressividade de forma intencional contra
algo ou alguém que possa resultar em acidente, morte ou trauma psicológico.
A violência pode se manifestar de inúmeras maneiras, como em guerras, conflitos étnicos ou religiosos,
contra a mulher, a criança ou o idoso. A sua prática pode ocorrer no espaço público ou privado, na cidade ou no
campo. Existe também a violência simbólica e verbal, que mesmo não provocando dano físico, acaba promovendo
sérios problemas psíquicos para quem sofreu esse tipo de ação.
Atualmente, os jovens estudantes brasileiros vêm tendo um grande contato com a violência, que pode se
manifestar em inúmeros locais, como a casa, o bairro, a escola, a cidade etc. Há também o contato com a violência
simbólica presente, por exemplo, nos jogos de videogame.
Outro fator importante a ser destacado é o fato de muitos dos jovens serem os próprios agentes da vio-
lência. Todos os dias, as manchetes dos jornais trazem casos de atrocidades cometidas por adolescentes e jovens.
Muitos desses jovens acabam morrendo em confronto, seja com a polícia ou mesmo com gangs rivais. Nos últimos 30
anos, o índice de assassinatos de crianças e adolescentes no Brasil, entre zero e 19 anos, cresceu 346%. Esses dados
fazem parte da pesquisa “Mapa da Violência 2014: Crianças e Adolescentes do Brasil“, do sociólogo Julio Jacobo Wai-
selfisz, divulgado recentemente pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso) e pelo Centro Brasileiro
de Estudos Latino-americanos (Cebela). A pesquisa é baseada em dados colhidos pelo Ministério da Saúde.

TIPOS DE VIOLÊNCIA
A violência simbólica se baseia na fabricação de crenças no processo de socialização que induzem o indivíduo
a se enxergar e a avaliar o mundo de acordo com critérios e padrões definidos por alguém. Trata-se da construção
de crenças coletivas e faz parte do discurso dominante.
Como exemplo de violência simbólica fomentados pela religião, podemos citar o machismo (pois a mulher
entregou a maçã a Adão), o preconceito contra homossexuais (Sodoma e Gomorra), o texto do catecismo católico
sobre homossexualidade (que a classifica como intrinsecamente desordenada), o racismo (Cain gerou o povo que
vivia nas tendas), a reiterada aclamação da família pai-mãe-filhos como a única legítima pela hierarquia católica,
e assim por diante.

306
A violência psicológica é caracterizada pela tentativa de degradar ou controlar outra pessoa por meio de
condutas de intimidação, manipulação, ameaça, humilhação e isolamento ou qualquer conduta que prejudique a
saúde psicológica, autodeterminação ou desenvolvimento de uma pessoa.
A violência física é aquela que utiliza a agressividade no sentido de machucar ou mesmo matar alguém.

A QUESTÃO DE GÊNERO
A questão de gênero não estava presente apenas na classe trabalhadora, mas também na classe dominante, pois
o homem burguês continuou mantendo como base social o patriarcalismo. No final do século XVIII e ao longo de
todo século XIX, a mulher burguesa estava presa ao mundo privado, não podendo participar dos debates políticos
ou econômicos, pois sua função era o de ser apenas uma boa esposa e mãe. Para possuir essa qualidade, a mulher
não devia contrariar o homem em hipótese alguma, fosse no âmbito público ou privado, e estar sempre disponível
para qualquer necessidade dos filhos. Esse modelo de família burguesa acabou sendo adotado por uma grande
parte da classe média, que se formou ao longo da primeira metade do século XX.
Desse modo, é importante perceber que o estabelecimento da sociedade industrial foi permeado ao longo
dos séculos pela questão de gênero.
Foi ao longo do século XX que as mulheres realmente conseguiram se organizar em movimentos sociais
para que os direitos entre homens e mulheres fossem realmente iguais. O primeiro desses movimentos foi o da
participação política através do direito ao voto, ocorrido nos anos de 1920.

FOUCAULT (1926 - 1984)


Foucault deixou instruções de que não deveria haver publicação póstuma de seus escritos que ele não havia pu-
blicado em sua vida. Mas havia permitido a gravação de suas palestras, e sua herança decidiu que isso significava
permissão para publicar versões editadas de suas palestras públicas com base em suas anotações e gravações.
As séries de palestras “Segurança, território, população“ (1977-1978) e “O nascimento da biopolítica“ (1978-
1979) foram especialmente influentes e apresentam as ideias de Foucault sobre governo e governamentalidade.
“Governo” se torna o termo preferido de Foucault para o poder, enquanto “governamentalidade” funciona como sua
principal ferramenta teórica para analisar sua racionalidade, técnicas e procedimentos no mundo moderno.
Foucault mostra que, embora o governo tenha se referido historicamente a uma gama de práticas, desde
a orientação religiosa da alma até o governo de um território e seus habitantes, no contexto do Estado moderno,
passou a significar governar uma população. A população como objeto das formas modernas de governo exigiu
e incentivou o desenvolvimento de formas específicas de conhecimento, como a análise estatística, bem como o
conhecimento macroeconômico e biocientífico. O Estado moderno tinha que cuidar da vida e do bem-estar de sua
população, e Foucault, portanto, chama a política da biopolítica do Estado moderno.

307
BOURDIEU (1930 - 2002)
O conceito habitus foi criado para superar a oposição entre objetivismo e subjetivismo. O habitus faz com que as
pessoas que convivam em um mesmo grupo social tenham estilos de vida parecidos, bem como formas de agir,
pensar e sentir. Define-se como um “sistema de disposições para a ação”. É uma noção mediadora entre a estru-
tura e o agente em que se procura incorporar todos os graus de liberdade e determinismo presentes na ação dos
agentes sociais. Assim, o habitus é a “interiorização da exterioridade e a exteriorização da interioridade”, ou seja,
ele capta o modo como a sociedade se deposita nas pessoas sob a forma de disposições duráveis, capacidades
treinadas e modos de pensar, agir e sentir, e capta também as respostas criativas dos agentes às solicitações do
meio social envolvente, respostas essas que são guiadas pelas disposições apreendidas no passado.
O nosso habitus constrói-se no processo de socialização: um processo inacabado porque nunca se
extingue no decorrer da vida, mas não uniforme porque a socialização tem múltiplos graus e matizes. É no nosso
encontro com a sociedade que se cria o habitus, e é ele que nos permite avançar em cada situação, já que é na sua
constituição que adquirimos todas as matrizes ou estruturas mentais para agir. No fundo, o habitus é uma espécie
de bússola social que nos foi oferecida pela própria sociedade; é uma “competência prática adquirida na e para a
ação”; é uma aptidão social incorporada, durável no tempo, mas não eterna.

São quatro os principais tipos de capital:


1. Econômico: ligado aos meios de produção e renda.
2. Cultural: subdivide-se em três tipos, a saber: institucionalizado (diplomas e títulos); incorporado (expressão
oral); e objetivo (posse de quadros ou obras de arte).
3. Social: é o conjunto das relações sociais de que dispõe um indivíduo, sendo que, é necessária a manuten-
ção das relações sociais, das redes (convites recíprocos).
4. Simbólico: está ligado à honra, ao reconhecimento e corresponde ao conjunto de rituais (etiquetas, pro-
tocolo).

308
Enem - Gramática e Literatura

Interpretação de Textos, 58%

Redação, 2%
Estilística, 3%

Gramática, 6%

Teoria da Comunicação, 11%


Literatura, 21%

Enem - Inglês e Espanhol

Interpretação de Texto, 100%

*Em função do curto período de aplicação dos vestibulares UERJ, não existem dados quantitativos para uma análise estatística precisa.
Enem - História
Brasil, 44%

América, 1%

Temática, 28%

Geral, 27%

Enem - Filosofia

Temática, 35%

Filosofia Antiga, 29%

Filosofia Medieval, 6%

Filosofia Contemporânea, 10%

Filosofia Moderna, 20%

*Em função do curto período de aplicação dos vestibulares UERJ, não existem dados quantitativos para uma análise estatística precisa.
Enem - Sociologia

Temática, 31%

Poder, Estado e Política, 23%

Socialização e Instituições So..., 1%

Trabalho e Produção, 6%

Movimentos Sociais, 8%
Diversidade Cultural e Estrati..., 21%
Teoria Sociológica, 10%

Comentário de filosofia e sociologia:

Este material tem como intuito preparar para o Enem o aluno do Hexag Medicina, fornecendo-lhe
as questões mais condizentes com os temas trabalhados nos cursos de Sociologia e de Filosofia.
Como o aluno do Hexag Medicina deve ter percebido durante seus estudos, as questões
de Sociologia e de Filosofia do Enem têm um caráter eminentemente interdisciplinar e interpre-
tativo. A maioria das questões lança mão de charges, artigos de jornal e excertos de livros para
se fundamentar.
No caso específico da Sociologia, vê-se uma grande interdisciplinaridade com
História e Geografia, além de temas ligados a Atualidades. A Filosofia, por outro lado, exige uma
compreensão mais aprofundada acerca das escolas filosóficas e de seus principais pensadores.
Portanto, cabe ao aluno organizar seus conhecimentos e interpretar corretamente os textos for-
necidos pelas questões.

*Em função do curto período de aplicação dos vestibulares UERJ, não existem dados quantitativos para uma análise estatística precisa.
Enem - Geografia

Geral, 54%

Brasil, 46%

*Em função do curto período de aplicação dos vestibulares UERJ, não existem dados quantitativos para uma análise estatística precisa.

Você também pode gostar