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Motricidade © FTCD/CIDESD

2011, vol. 7, n. 1, pp. 3-12 ISSN 1646−107X

Análise do efeito de diferentes intensidades e intervalos de


recuperação na percepção subjetiva de atletas
Analysis of the effect of different intensities and rest interval on the
perceived exertion of athletes
M.S. Silva, T.S. Silva, M.R. Mota, V.O. Damasceno, F. Martins da Silva

RESUMO
A pesquisa analisou os efeitos de diferentes intensidades e diferentes intervalos de recuperação do
treinamento resistido na percepção subjetiva de esforço (PSE) em atletas jovens. Foram selecionados
23 adolescentes, homens, com 17.06 ± .73 anos de idade, 68.01 ± 8.09 kg massa corporal e 173.65 ±
5.61 cm de estatura. Submetidos à adequação de cargas (5 RM, 10 RM ou 15 RM) e intervalo de
recuperação (30, 60 ou 120 s), onde ao final de cada série foi pedido para apontar o esforço percebido
na escala OMNI-RES. A estatística utilizada foi a two-way ANOVA. As diferenças significativas foram
analisadas pelo post-hoc de Bonferroni. Na PSE não foram encontradas diferenças significativas entre as
intensidades nos intervalos de recuperação avaliados. Com relação aos intervalos com a mesma
intensidade, verificou-se diferença entre 15 RM e intervalo de 120 e 60 s com 15 RM e intervalo de 30
s. Para as intensidades de 10 e 5 RM, apenas o intervalo de 120 s apresentou diferença em relação a 5 e
10 RM com intervalo de 30 s demonstrou que entre as intensidades e intervalos de recuperação
ocorreram diferenças significativas. Conclui-se que quanto menor o intervalo de recuperação maior
serão os níveis de fadiga, independente do número de repetições executadas em todas as intensidades,
podendo inferir que a PSE mostrou-se sensível a diminuição do intervalo de recuperação
Palavras-chave: treinamento resistido, intervalos de recuperação, PSE, adolescentes

ABSTRACT
The research examined the effects of different intensities and different rest intervals of strength
training on the rating of perceived exertion (RPE) in young athletes. Participated in the study 23 young
men, aged 17.06 ± .73 years, 68.01 ± 8.09 kg of body mass, and 173.65 ± 5.61 cm of height. They
were submitted to the appropriateness of charges (5 RM, 10 RM or 15 RM) and rest intervals (30, 60
or 120 s) and then asked to point perceived exertion according to the OMNI-RES scale. A two-way
ANOVA was used and significant differences were analyzed by post-hoc Bonferroni. For RPE there
were no significant differences between the intensities in the recovery intervals evaluated. For intervals
with the same intensity, there were differences between 15 RM and range of 120 and 60 s with 15 RM
and 30 s intervals. Intensities of 10 and 5 RM, in the range of 120 s showed significant differences. It
follows that the smaller the rest interval the greater the levels of fatigue regardless of the number of
repetitions performed in all intensities and it may be inferred that the RPE was sensitive to reduction
in the rest interval.
Keywords: resistance exercise, rest interval, RPE, adolescents

Submetido: 09.10.2009 | Aceite: 29.06.2010

Michel Santos Silva. Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil.
Thiago Santos Silva. Graduado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil.
Márcio Rabelo Mota. Doutor em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil.
Vinícius Oliveira Damasceno. Doutorando em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais e
docente da Universidade Salgado de Oliveira – Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.
Francisco Martins da Silva. Doutor em Educação Física e diretor do curso de Graduação de Educação Física da
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil.
Endereço para correspondência: Michel Santos Silva, Rua 34 Norte, lote 04, Ed. Real Flat, Apto. 207, CEP: 71918-
720, Águas Claras, Distrito Federal, Brasil.
E-mail: michellsantos@uol.com.br
4 | M.S. Silva, T.S. Silva, M.R. Mota, V.O. Damasceno, F. Martins da Silva

O treinamento resistido é uma atividade de esforço no treinamento resistido e,


que está ganhando muita popularidade entre consequentemente, na forma de manipular as
crianças e jovens, mas ainda existem diversas variáveis metodológicas da prescrição, para
discussões quanto aos benefícios do almejar objetivos desejáveis com níveis
treinamento entre pais e profissionais de saúde menores de fadiga, pode ser a percepção
(Rafferty, 2005). Na última década, estudos subjetiva de esforço (PSE). Entretanto, a
mostraram as evidências e eficácia do utilização da PSE no treinamento resistido é
treinamento de força para crianças e incomum, como demonstram poucas
adolescentes, tornando sua utilização indicada referências na literatura. Alguns estudos (Boér,
por profissionais de saúde, desde que os Robertson, & Wilson, 2003; Lagally &
mesmos tenham planejamento adequado e Robertson, 2006; Robertson et al., 2003)
supervisão competente (Blinkie, 1993; apontam que a PSE pode refletir a intensidade
Faigenbaum, 2003; Falk & Mor, 1996; Fleck & de esforço na musculatura ativa durante o
Kraemer, 2004; Hoffman, 2002; Kraemer, exercício. A literatura, porém, é escassa quanto
2001; Lagally, 2002). Atualmente, à utilização da PSE para verificar a influência
organizações como a American Academy of das diferentes variáveis metodológicas sobre a
Pediatrics (2002), a American College of fadiga muscular localizada (Simão, Farinatti,
Sports Medicine (2000, 2002), a American Polito, Maior, & Fleck, 2005; Simão, Farinatti,
Orthopaedic Society of Sports Medicine (1988) Polito, Viveiros, & Fleck, 2007; Woods, Bridge,
e a National Strength and Conditioning Nelson, Risse, & Pincivero, 2004).
Association (Faigenbaum et al., 2009) apoiam O conceito de esforço percebido foi
a participação de jovens em programas de introduzido por Borg e Dahlströn, entre as
treinamento resistido. décadas de 50 e 60, através de uma escala que
De acordo com Fleck e Kraemer (2004), a demonstrou que a tensão fisiológica aumenta
eficácia de um programa de treinamento é de forma linear com a intensidade e a
dependente de vários fatores, como exemplo, o percepção do esforço (Borg, 2000), porém
intervalo entre sessões e séries. No entanto, o essas escalas não foram elaboradas com o
controle inapropriado e a grande diversidade objetivo específico de avaliar as intensidades
de manipulação dessa variável nos estudos de do exercício resistido. Robertson et al. (2003)
treinamento de força têm contribuído para desenvolveram uma escala, a OMNI-RES
uma grande variação e inconsistência nos (OMNI − Resistance Exercise Scale),
resultados de diversos estudos (Fleck & desenvolvida especialmente para classificar a
Kraemer, 2004). O intervalo de recuperação intensidade no exercício resistido e apresenta
entre séries de exercícios com pesos determina como diferenciais, descritores visuais, além dos
a magnitude da formação dos estoques de descritores numéricos e verbais similares aos
energia fosfagênica (ATP-PC) e da glicólise da escala de Borg. Essa escala apresenta relação
anaeróbia. A extensão do período de forte e significativa com a intensidade e o
recuperação aumenta significativamente as volume do treinamento (Lagally, Robertson,
respostas agudas metabólicas, hormonais e Gallagher, Gearhart, & Goss, 2002; Lagally,
cardiovasculares do treinamento resistido. Robertson, Gallagher, Goss et al., 2002;
O controle da intensidade de esforço em Shimano et al., 2006).
trabalhos de exercitação corporal e a busca de A escala OMNI-RES vem sendo utilizada
métodos confiáveis para a prescrição e em diferentes metodologias de treinamento
monitoramento de cargas de treino, sempre foi resistido (Coelho, Hamar, & Araújo, 2003;
uma preocupação dos profissionais da área de Lagally, McCaw, Toung, Medema, & Thomas,
Educação Física (Moura, Peripolli & Zinn, 2004; Shimano et al., 2006; Simão et al., 2005;
2003). Uma forma de controle da intensidade Sweet, Foster, McGuigan, & Brice, 2004;
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Veloso, Monteiro, & Farinatti, 2003), exercícios propostos nesta pesquisa, porém
entretanto, observou-se que existe uma não foi relatado nenhum caso. As avaliações
carência de estudos que investiguem o efeito foram realizadas na Universidade Católica de
de diferentes intervalos de recuperação entre Brasília – UCB, no Laboratório de Estudos de
series sobre o desempenho da força muscular, Força (LABEF). Cada participante recebeu
especificamente em atletas jovens. Além disso, previamente um termo de consentimento livre
nenhum experimento analisando os efeitos e esclarecido, para ser assinado pelo seu
agudos da PSE comparando diferentes responsável legal, conforme as diretrizes e
intensidades de treinamento com diferentes normas regulamentadoras de pesquisas
intervalos do exercício resistido pôde ser envolvendo seres humanos e da resolução n.º
encontrado. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Sendo assim, o objetivo do estudo consistiu Antes da assinatura do termo de
em analisar os efeitos de diferentes consentimento, todos os indivíduos e
intensidades do treinamento resistido (5 RM, responsáveis foram informados dos propósitos,
10 RM, 15 RM) e intervalos de recuperação riscos e benefícios do estudo, que foi
(30, 60 e 120 s) na percepção subjetiva de autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
esforço de atletas jovens. Universidade Católica de Brasília – UCB, por
meio do parecer 120/2008.
MÉTODO
Amostra Instrumentos
Este estudo, de natureza descritiva e A mensuração da estatura foi realizada com
desenvolvimento transversal (Thomas & o corpo o mais alongado possível por um
Nelson, 2002) envolveu uma amostra de 23 estadiômetro (Country Tecnology®) com
voluntários do sexo masculino (Tabela 1), com resolução de um centímetro. As mensurações
idades entre 15 e 18 anos (17.06 ± .73), foram tomadas em triplicata e a média da
alunos do Centro Educacional Católica de estatura foi registrada (Lohman, Roche, &
Brasília (CECB), integrantes do programa de Martorell, 1991).
treinamento das modalidades futsal e futebol 7 Para a mensuração da massa corporal foi
society. utilizada a balança Filizola® eletrônica/digital,
com resolução de 100 g (modelo “Personal
Tabela 1 Line”). O avaliado se posicionou em pé, de
Média (M) e desvio padrão (DP) das variáveis idade, massa costas para a escala da balança, com
corporal, estatura e IMC (n = 23) afastamento lateral dos pés, estando à
Variável M DP plataforma entre os mesmos. Em seguida, o
Idade (anos) 17.06 .73 sujeito foi colocado sobre o centro da
Massa corporal (kg) 68.01 8.09 plataforma, ereto, com o olhar em um ponto
Estatura (cm) 173.65 5.61 fixo a sua frente.
IMC (kg/m²) 21.75 2.42
Para adequação das intensidades ao número
de repetições propostas foi realizado o teste de
Os voluntários deste estudo e seus repetições máximas (RM) adaptado de Baechle
respectivos responsáveis foram informados do e Earle (2000) para cada uma das repetições
propósito da pesquisa e assinaram o termo de propostas no protocolo da pesquisa (5 RM, 10
consentimento informado. O critério de RM e 15 RM) (ver Figura 1).
exclusão adotado foi o histórico de doença
cardiovascular ou doenças osteomioarticulares Procedimentos
de qualquer segmento dos membros inferiores Os voluntários fizeram dez visitas ao
que pudessem impedir a realização dos Laboratório de Estudos de Força (LABEF).
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madamente 5 minutos afim de pré-ativar a


15 RM
musculatura extensora de joelho.
10'
Em seguida realizaram um aquecimento
10 RM
 kg
específico executando o movimento do
10' exercício de cadeira extensora, com a carga
5 RM variando entre 30% e 40% de sua carga
 kg encontrada para cada intensidade (ver Tabela
1' a 3' 2).
Aquecimento

Figura 1. Modelo de teste de repetições máximas Extensão dos Joelhos


(adaptado de Baechle & Earle, 2000) Os movimentos foram realizados em uma
cadeira extensora da marca Righeto®, modelo
Na primeira visita foram adequadas as cargas High On®.
compatíveis para cada intensidade estudada. Foi observada a execução correta do
Em cada visita subsequente foi avaliada uma movimento, sendo consideradas as
intensidade (5 RM, 10 RM ou 15 RM) e um recomendações de Eloranta (1989), que sugere
intervalo de recuperação (30, 60 ou 120 s). Em o indivíduo em posição inicial sentado, com o
cada encontro os voluntários realizaram 3 “arco dos pés” ou dorso apoiados no
séries no exercício de cadeira extensora, sendo implemento do aparelho, joelhos flexionados
que as intensidades e os intervalos de aproximadamente 90º (determinado pelo
recuperação entre as séries foram realizados e aparelho) e tronco totalmente apoiado no
analisados de forma randomizada (Tabela 2). encosto. As coxas apoiadas no acento até a
Para cada sessão de treinamento foi articulação do joelho. Os braços no
respeitado o intervalo mínimo de 48 horas e prolongamento do corpo, junto ao tronco e
máximo de 72 horas, entre cada intensidade mãos apoiadas no suporte lateral do aparelho.
avaliada. Durante esse período de repouso foi Partindo da posição inicial, o movimento
aconselhado aos participantes que não começou com o executante fazendo a extensão
executassem nenhum tipo de exercício. máxima (180º) das duas pernas
Todos os voluntários realizaram um simultaneamente e finalizando o movimento
aquecimento em bicicleta ergométrica numa ao voltar à posição inicial.
potência de 25-50 W durante aproxi-

Tabela 2
Cronograma de visitas ao (LABEF) de um participante do estudo
Intensidade IR entre IR entre
Dias Intervenção Aquecimento
(RM) séries (s) sessões
1 Teste de RM Aparelho − − 48 - 72 h
2 Exercício Aparelho/Bicicleta 5 120 48 - 72 h
3 Exercício Aparelho/Bicicleta 15 30 48 - 72 h
4 Exercício Aparelho/Bicicleta 10 60 48 - 72 h
5 Exercício Aparelho/Bicicleta 15 60 48 - 72 h
6 Exercício Aparelho/Bicicleta 5 30 48 - 72 h
7 Exercício Aparelho/Bicicleta 10 120 48 - 72 h
8 Exercício Aparelho/Bicicleta 5 60 48 - 72 h
9 Exercício Aparelho/Bicicleta 15 120 48 - 72 h
10 Exercício Aparelho/Bicicleta 10 30 48 - 72 h
Percepção subjetiva de atletas jovens | 7

Percepção Subjetiva de Esforço as intensidades e os intervalos foi utilizada a


A percepção subjetiva de esforço (PSE) foi two-way ANOVA [intervalo entre as séries
registrada através da OMNI-RES (OMNI − (30, 60 e 120 s) × intensidade (5 RM, 10 RM e
Resistance Exercise Scale) desenvolvida por 15 RM) de medidas repetidas]. As diferenças
Robertson et al. (2003) para utilização significativas na ANOVA foram analisadas pelo
específica em exercícios com pesos. A escala de teste post-hoc de Bonferroni. O nível de
percepção foi explicada e o teste só foi significância adotado foi de .05. A análise dos
realizado mediante a compreensão dos dados foi realizada por meio do pacote
descritores visuais, além dos descritores estatístico SPSS for Windows, versão 11.5
numéricos e verbais da mesma. Foi pedido para (SPSS, Chicago, IL).
cada avaliado apontar na escala o esforço
percebido imediatamente após o término de RESULTADOS
cada série de exercício. Na tabela 3 estão representados os valores
médios das cargas obtidas pelos voluntários
nos testes de RMs realizados na cadeira
extensora.

Tabela 3
Valores médios (kg) das cargas nos testes de RM (n = 23)
Variável M DP
15 59.30 14.27
10 68.69 15.99
5 79.00 14.64
Figura 2. Escala OMNI-RES para exercícios resistidos
em adultos (adaptado de Robertson et al., 2003) Na tabela 4 são apresentadas as estatísticas
descritivas da PSE em diferentes intensidades
Análise Estatística por intervalo (120, 60 e 30 s).
Para a análise dos dados foi utilizada a Com relação ao intervalo de 120 segundos,
análise estatística descritiva, obtendo-se observa-se que a mediana foi 7.0, o que
medidas de tendência central e dispersão, a fim demonstra que 50% da amostra esta
de caracterizar a amostra e as variáveis concentrada acima do escore 7.0 na escala
dependentes. A normalidade dos dados foi OMINI-RES, independente das intensidades,
verificada por meio do teste Shapiro-Wilks (p tendo uma assimetria positiva, estando mais
< .05). Para verificar a diferença na PSE entre concentrada para lado direito da escala.

Tabela 4
Características descritivas da PSE em diferentes intensidades por intervalo (120, 60 e 30 s)
Intervalo Intensidade Frequência DP
Média Mediana Moda Mín. Máx.
(s) (RM) Modal
15 6.7 7.0 6.0 6.0 4.0 9.0 1.6
120 10 6.9 7.0 Múltipla 6.0 5.0 9.0 1.3
5 7.0 7.0 Múltipla 7.0 5.0 9.0 1.1
15 7.7 8.0 8.0 8.0 6.0 10.0 1.1
60 10 7.4 8.0 8.0 8.0 6.0 9.0 1.1
5 7.2 7.0 7.0 8.0 6.0 9.0 1.1
15 8.8 9.0 9.0 8.0 7.0 10.0 1.0
30 10 8.4 8.0 9.0 8.0 7.0 10.0 1.0
5 8.1 8.0 8.0 11.0 7.0 10.0 .9
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Tabela 5
Características descritivas da PSE em diferentes intervalos por intensidade (120, 60 e 30 s)
Intervalo
Intensidade Frequência DP
(s) Média Mediana Moda Mín. Máx.
(RM) Modal

120 7.0a 7.0 Múltipla 7 5.0 9.0 1.1


5 60 7.2 7.0 7.0 8 6.0 9.0 1.1
30 8.1a 8.0 8.0 11 7.0 10.0 .9
120 6.9a 7.0 Múltipla 6 5.0 9.0 1.3
10 60 7.4 8.0 8.0 8 6.0 9.0 1.1
30 8.4a 8.0 9.0 8 7.0 10.0 1.0
120 6.7a 7.0 6.0 6 4.0 9.0 1.6
15 60 7.7b 8.0 8.0 8 6.0 10.0 1.1
30 8.8a,b 9.0 8.0 8 7.0 10.0 1.0
Nota: a b Diferenças significativas (p < .05) entre intervalos na mesma intensidade

Para o intervalo de 60 e 30 segundos diferença significativa quando comparado ao


observa-se a mesma tendência, porém a moda intervalo de 30 segundos e quando o intervalo
ficou a direita da mediana, ou seja, assimetria de 60 segundos foi comparado ao de 30
negativa demonstrando uma concentração para segundos. Pode ser observado também que a
o lado esquerdo da escala OMINI-RES. percepção de esforço nos intervalos de 120 e
Observa-se, também, uma diminuição do 60 segundos das intensidades de 5 RM e 10
desvio padrão em relação aos intervalos e RM são muito semelhantes, o que sugere que
intensidades. O coeficiente de variação, que é para essa população o desgaste desse intervalo
uma medida percentual, era 23% com o seja bem próximo.
intervalo de 120 segundos e intensidade de 15
RM, foi de apenas 11% no intervalo de 30 DISCUSSÃO
segundos e intensidade de 15 RM. Isto poderia O presente estudo demonstrou que à
demonstrar que à medida que o intervalo medida que os intervalos de recuperação iam
diminui os níveis de fadiga são mais visíveis. diminuindo a sensação de desgaste era maior.
Na análise de variância (ANOVA) verifica-se Esse fato foi percebido em todas as
que não há diferença entre as médias de intensidades, independente do número de
percepção entre as intensidades para o mesmo repetições executadas. Supostamente, a
intervalo, ou seja, realizar 15 RM, 10 RM e 5 elevação das concentrações de metabólitos nos
RM, com intervalo de 30 segundos, a músculos exercitados seria o principal
percepção da carga é a mesma. Isto vale para o responsável pela elevação da PSE nesse tipo de
intervalo de 60 e 120 segundos. tarefa (Robertson et al., 2003).
Na tabela 5 são apresentadas as estatísticas A PSE demonstrou que entre as
descritivas da PSE em diferentes intervalos por intensidades e intervalos de recuperação
intensidade (15 RM, 10 RM e 5 RM). Ao ocorreram diferenças significativas, mesmo
invertemos a análise, observando o intervalo com a orientação de realizarem o máximo
em diferentes intensidades foi constatado, esforço em cada série, entre 9 e 10 da escala
como na tabela 4, que o intervalo de OMINI-RES. A PSE demonstrou que à medida
recuperação causa efeito na percepção dentro que o intervalo de recuperação diminuiu os
da mesma intensidade. Isso pode ser níveis de fadiga aumentaram, tornando-se
comprovado quando para a carga de 15 RM os assim, mais visíveis. Tal condição contraria os
intervalos de 120 segundos apresentaram resultados de Larson e Potteiger (1997)
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10,0

9,5
b

9,0 c

d
8,5
a
PSE (Omini)

8,0

c d
7,5
ab

7,0

6,5

Intensidade
6,0 15 RM
Intensidade
10 RM
5,5
Intensidade
120 seg 60 seg 30 seg
5 RM
Intervalo

Figura 3. Comparação da PSE com intensidades e intervalos de recuperação


diferentes no exercício de cadeira extensora
abcd
Letras iguais − diferenças significativas entre intervalos da mesma intensidade (p < .05)

que reportaram PSE máxima em todos os Os resultados encontrados por Simão et al.
intervalos de recuperação utilizados em 4 (2005, 2007) também discordam dos
séries de agachamento a 85% de 10 RM. resultados aqui apresentados, pois ao
Pincivero, Gear, Moyna e Robertson (1999) e avaliarem a PSE em uma sessão de
Woods et al. (2004) também utilizaram a treinamento no exercício resistido em ambos
extensão de joelhos (cadeira extensora) no os sexos, porém, analisando a influência da
intuito de avaliar a percepção subjetiva de ordem de execução dos exercícios, os autores
esforço, porém a 70% de 10 RM e 40 e 160 reportaram não existir diferença significativa
segundos de intervalo de recuperação. Os na PSE nas ordens de execução dos exercícios.
resultados dos dois estudos também não Vários são os exemplos de estudos (Utter et
reportaram diferenças significativas na PSE. al., 2005; Wernbom, Augustsson, & Thomee,
Smolander et al. (1998) investigaram o 2006; Woods et al., 2004) onde os resultados
comportamento da PSE em diferentes não apresentaram diferenças na PSE em
intensidades de treinamento no exercício diferentes protocolos de treinamento de força.
resistido em jovens e idosos. Os voluntários O fato de os estudos citados terem utilizado
realizaram extensão de joelhos a 20, 40 e 60% uma população adulta parece comprometer a
da contração voluntária máxima. Não foi comparação com o presente estudo, mesmo a
observada nenhuma diferença significativa na escala de percepção tenha sido explicada aos
PSE entre as diferentes intensidades. Os adolescentes e o teste somente realizado
resultados encontrados não são semelhantes mediante a compreensão adequada da mesma.
aos achados no presente estudo, já que a PSE Corroborando com os resultados do
apresentou diferenças significativas entre as presente estudo, Lagally et al. (2004)
intensidades analisadas. apontaram valores significativamente maiores
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na PSE quando avaliaram o treinamento CONCLUSÕES


resistido realizado a 60 e 80% de 1RM, o que O presente experimento verificou que
concorda com os resultados encontrados pelo quanto menor o intervalo de recuperação
mesmo autor em estudo posterior (Lagally & maior serão os níveis de fadiga, independente
Robertson, 2006). Esses resultados também do número de repetições executadas em todas
foram confirmados por outros estudos as intensidades (5 RM, 10 RM, 15 RM),
(Gearhart et al., 2002, Sweet et al., 2004; podendo inferir que a PSE mostrou-se sensível
Suminski, Robertson, & Arslanian, 1997), a diminuição do intervalo de recuperação. Na
embora o presente estudo tenha executado intensidade de 15 RM a PSE em 30 s (8.8)
apenas um exercício de forma isolada para mostrou-se estatisticamente diferente aos
coleta da PSE e nos demais estudos (Gearhart intervalos de 60 s (7.7) e 120 s (6.7). Já na
et al., 2001; Lagally et al., 2004; Suminski et intensidade de 10 RM a PSE em 30 s (8.4)
al., 1997; Sweet et al., 2004) foram feitas séries apresentou diferença significativa quando
entre quatro e sete exercícios, supõe-se que os comparada ao intervalo de 120 s (6.9) e na
resultados semelhantes possam ter ocorrido intensidade 5 RM a diferença significativa foi
em função do aumento do número de unidades constatada entre os intervalos de 30 s (8.1) e
motoras recrutadas afetarem diretamente a 120 s (7.0).
percepção do esforço realizado no treinamento Dessa forma, a escala OMNI-RES pode ser
resistido (Gearhart et al., 2001). uma estratégia interessante para a mensuração
Esse comportamento da PSE parece ser dos níveis de fadiga e intensidade de esforço
explicado por um maior número de impulsos em atletas jovens. Contudo, um maior número
do córtex motor para o centro de controle de estudos é necessário para se obter uma
cardiovascular, estando diretamente fidedignidade entre os períodos de recuperação
relacionado à sensação do esforço realizado e a PSE, aperfeiçoando assim, o desempenho
durante o exercício, acreditando contribuir ideal do treinamento resistido. Para melhor
para o aumento da PSE (Mitchell, Payne, esclarecer a influência dos intervalos de
Saltin, & Schibye, 1980). recuperação na PSE, sugere-se a realização de
Uma maior ativação dos sensores estudos futuros que investiguem o
musculares (fusos musculares) e tendíneos comportamento da capacidade de recuperação
(órgãos tendinosos de Golgi), que parecem ser em outros grupos musculares, em diferentes
os principais responsáveis pela percepção do populações e amostras compostas por
esforço nos exercícios de contra-resistência, indivíduos com diferentes graus de
juntamente com o custo metabólico (Lagally et condicionamento físico.
al., 2002; Mihevic, 1981) parece ser uma
possível explicação para esse comportamento REFERÊNCIAS
da PSE. American Academy of Pediatrics (2002). Strength
As escalas que avaliam a PSE vêm sendo training by children and adolescents. Pediatrics,
107(6), 1470-1472.
utilizadas em diferentes metodologias do
American College of Sports Medicine (2000).
treinamento de força (Lagally et al., 2004;
Strength training in children and adolescents.
Shimano et al., 2006; Simão et al., 2005; Sweet Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.
et al., 2004; Veloso et al., 2003), entretanto, American College of Sports Medicine (2002).
em relação à escala OMINI-RES, percebe-se ACSM’s guidelines for exercise testing and
que existe uma carência de estudos que prescription (6th ed.). Baltimore: Lippincott
comparem diferentes intensidades de Williams & Wilkins.
treinamento e diferentes intervalos de American Orthopaedic Society for Sports Medicine
recuperação muscular, especificamente entre (1988). Proceedings of the conference on strength
training and the prepubescent. Chicago: Autor.
adolescentes e crianças.
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Baechle, T. R., & Earle, W. R. (2000). Essentials of Lagally, K. M., & Robertson, R. J. (2006). Construct
strength training and conditioning. Champaign, IL: validity of the OMNI resistance exercise scale.
Human Kinetics. Journal of Strength and Conditioning Research, 20,
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