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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S
MBO
Nº 71003128865
2011/CÍVEL

CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL.


PRESCRIÇÃO E DECANDÊNCIA NÃO
OCORRENTE. APARELHO “REVITALIZADOR”.
PROMESSA DE RECUPERAÇÃO DE PROBLEMAS
DE SAÚDE COM A UTILIZAÇÃO DO PRODUTO
QUE NÃO ATENDE À FINALIDADE ANUNCIADA.
VENDA RECONHECIDAMENTE ARDILOSA EM
DOMICÍLIO E A PESSOA IDOSA, DE POUCA
INSTRUÇÃO E APOSENTADA. PRÁTICA ABUSIVA.
APLICAÇÃO DO ART. 39, INC. IV DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. INVALIDAÇÃO DO
CONTRATO. RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO.
DANO MORAL CONFIGURADO.
RECURSO PROVIDO.

RECURSO INOMINADO PRIMEIRA TURMA RECURSAL


CÍVEL
Nº 71003128865 COMARCA DE CAÇAPAVA DO SUL

EPAMINONDAS DOS SANTOS RECORRENTE


SOARES

BANCO BRADESCO RECORRIDO


FINANCIAMNETOS S.A.

PHISYCAL REST RECORRIDO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Juízes de Direito integrantes da Primeira Turma
Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do
Sul, à unanimidade, em dar provimento ao recurso.
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes
Senhores DR. RICARDO TORRES HERMANN (PRESIDENTE) E DRA.
FERNANDA CARRAVETTA VILANDE.
Porto Alegre, 19 de dezembro de 2011.

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DR.ª MARTA BORGES ORTIZ,


Relatora.

RELATÓRIO
Trata-se de ação de desconstituição de negócio jurídico
cumulada com reparação de danos ajuizada por ESPAMINONDAS DOS
SANTOS SOARES em face de PHISYCAL REST e BANCO BRADESCO
FINANCIAMENTOS S/A em que o autor postula a desconstituição do
contrato de compra e venda, alegando a existência de decisão judicial neste
sentido, bem como a ocorrência de propaganda enganosa. Postula, assim, a
suspensão dos descontos em seu benefício previdenciário, com a restituição
dos valores descontados e indenização por danos morais pelos descontos
efetuados.
O Banco Bradesco, sucessor do Banco Finasa BMC, em
defesa, alega que o autor foi excluído da primeira demanda judicial ajuizada,
razão por que os efeitos da sentença naquela demanda exarada não lhe
alcançam.
A sua vez, a ré Phisycal-Rest comércio de Produtos
Fisioterápicos Ltda, em contestação, argui, preliminarmente, a inépcia da
inicial bem como a prescrição e a decadência do direito do requerente. No
mérito, refere a impossibilidade de devolução do produto após o prazo de
arrependimento disposto no CDC. Postula a improcedência do pedido.
O juízo a quo julgou o feito extinto, acolhendo a preliminar de
decadência.
Inconformado, o autor interpõe recurso.
Apresentadas as contrarrazões, os autos, distribuídos a esta
Relatoria, vieram conclusos.

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É o relatório.

VOTOS
DR.ª MARTA BORGES ORTIZ (RELATORA)
O recurso merece ser provido.
O autor adquiriu o produto denominado “revitalizador” da ré
Physical Rest Ltda., em agosto de 2007 pelo valor de R$ 1.035,00, a ser
pago em 36 prestações descontadas em seu benefício previdenciário. Neste
sentido, o pagamento das parcelas se deu até o mês de agosto do ano de
2010, mês em que foi ajuizada a presente demanda, não havendo falar,
portanto, em prescrição do direito do autor. Ademais, igualmente não se está
tratando da hipótese prevista no art. 49 do CDC, uma vez que não há pedido
de devolução desmotivada do produto.
Registra-se que o requerente vem desde longa data
tencionando a suspensão dos descontos e a devolução do produto, por meio
de ações judiciais, as quais, porém apresentam-se mal patrocinadas a
exemplo desta, razão pela qual não alcançou seu singelo objetivo.
O autor, inicialmente e em conjunto com diversos outros
consumidores, ingressou com pedido judicial de devolução do valor pago
pelo produto diante da venda a domicílio, sem explicações claras do produto
e do pagamento, bem como em razão de que o mesmo não atende o fim
para o qual foi anunciado ao consumidor. Tal ação tomou o tombamento
040/3.07.0001276-5, porém foi extinta em relação ao autor diante do não
seu não comparecimento na audiência de conciliação.
Neste sentido, é inócuo alegar, como vem alegando a
Procuradora do requerente, que seu direito estaria baseado em decisão
judicial liminar ou sentencial, uma vez que os atos judiciais do apontado
processo não alcançaram o autor, porquanto houve sua exclusão da lide.

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Entretanto, mesmo que não possa valer-se da decisão judicial,


o autor não deixou de ter direito à devolução do produto e a restituição do
valor pago, porquanto, assim como os demais litigantes daquela demanda,
foi vítima da demandada, razão pela qual ora se conhece e acolhe seu
pedido.
Igualmente não há falar em coisa julgada em relação à
segunda demanda ajuizada pelo autor (040/3.09.0000777-3), uma vez que
esta foi apresentada tão-somente em relação ao Banco BMC e com base na
já mencionada decisão judicial que, repito, não alcançou o autor, razão por
que, por óbvio, teve o mérito julgado improcedente.
A procuradora do autor, embora ressinta de boa técnica, na
inicial, traz argumentação sucinta no sentido de que teria havido vício de
consentimento na contratação do produto, já que o autor, aposentado e de
pouca instrução, procurado em sua residência, foi iludido com a oferta de
produto que sabidamente não possui o efeito divulgado para redução de
dores musculares, dentre outros problemas de saúde anunciados.
É o que restou assentado, na decisão lançada no feito ajuizado
inicialmente pelo autor, citada anteriormente e acostada às fls. 34-42, a
intenção ardilosa da empresa demandada que focava suas vendas em
pessoas aposentadas e de pouca ou nenhuma instrução para vender
produto com promessa de resolução de problemas de saúde, cujo
pagamento se daria por meio de empréstimo consignado com desconto no
benefício previdenciário dos consumidores, conforme financiamento
viabilizado pelo banco demandado (de onde emana a sua legitimidade a
responder a presente ação), em clara atitude abusiva, conforme dispõe o art.
39, inc. IV do CDC.
Não servindo o produto para a finalidade anunciada pelos
vendedores prepostos da requerida Phisycal Rest, verifica-se o vício de

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consentimento na compra e venda do produto, o que dá ensejo a invalidação


do ajuste, com a restituição dos valores pagos pelo autor.
No mesmo trilho, o dano moral vai reconhecido uma vez que se
configura ínsita a situação noticiada nos autos e reside nos dissabores
experimentados pelo requerente ao ser privado de dispor da totalidade de
seus rendimentos em razão de empréstimo consignado realizado por meio
de contratação abusiva.
Resta apenas quantificar o dano moral.
Tento em vista as circunstâncias do fato, o tempo de duração
dos descontos no benefício previdenciário do autor, bem como o valor pago
pelo produto, fixo o montante de R$ 2.500,00, a título de danos morais.
Ante o exposto, o voto é para dar provimento ao recurso
para julgar procedente o pedido do autor, para condenar a requerida a
restituir o valor pago pelo produto integralmente (R$ 1.035,00)
devidamente atualizado pelo IGP-M, com incidência de juros de mora
de 1% ao mês a contar da data da citação, bem como ao pagamento de
R$ 2.500,00 a título de indenização por danos morais, com atualização
monetária pelo IGP-M e juros de mora de 1% ao mês a contar desta
data.
Sem sucumbência, ante o resultado do julgamento.

DRA. FERNANDA CARRAVETTA VILANDE - De acordo com o(a)


Relator(a).

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DR. RICARDO TORRES HERMANN (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DR. RICARDO TORRES HERMANN - Presidente - Recurso Inominado nº


71003128865, Comarca de Caçapava do Sul: "DERAM PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME."

Juízo de Origem: 1. VARA JUDICIAL CACAPAVA DO SUL - Comarca de


Caçapava do Sul

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