LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - OS DIFERENTES OLHARES SOBRE A
COMUNIDADE SURDA
São Paulo
2021 Os diferentes olhares sobre a comunidade surda
A dicotomia entre a visão clínica e a visão socioantropológica da surdez tem
reflexo direto nas esferas política, social e cultural e por consequência, na educação. Encarar o humano surdo como um deficiente não se justifica em nenhum dos aspectos cognitivos, reflexivos e de raciocínio lógico, intelectuais, relacionais, interpretativos ou de qualquer outra esfera que caracterize um déficit, uma diminuição ou um potencial inferior. Dessa forma, é extremamente antissocial para os dias atuais classificar surdez enquanto deficiência e não diferença. Evoluindo da concepção clínica que tem, a priori, a medicalização, o tratamento e a normalização de um ser débil (debilitado em algum aspecto corrigível); a concepção socioantropológica reconhece no ser surdo a diferença pautada na experiência visual e singular de conceber o mundo. Segundo Skliar (1997), existe uma diferença crucial entre entender a surdez como uma deficiência e entendê-la como uma diferença. Ao contrário do que muitos definem como surdez: impedimento auditivo; as pessoas surdas definem-se em termos culturais e linguísticos. No caso dos humanos ouvintes (definição dada pelos próprios surdos), caracterizados como “normais” clinicamente, há uma identificação e um subjugamento muito forte com a deficiência e há dificuldade em entender a existência de uma cultura surda. Essa cultura está relacionada com as formas de organizar o pensamento e a linguagem que transcendem as formas ouvintes. Elas são de ordem visual e por isso não são compreendidas puramente pelos ouvintes. A questão central de toda essa discussão de esfera socio cultural vai esbarrar na educação. Educação para todos conforme garante a Constituição Brasileira (1988), então, deveria ser entendida como a educação que reconhece as diferenças e não somente as deficiências. A própria Declaração de Salamanca ( 1994) aponta algumas linhas de ações específicas buscando reconhecer as diferenças, mas que ainda são dúbias nas definições dos órgãos competentes para a educação para todos. Isso posto, o que se conclui é que pela educação, as diferenças podem ser consideradas em uma resolução política educacional que busca garantir o acesso à educação para surdos como uma experiência visual, com identidade e identificação linguística, politicamente reconhecida e localizada.
REFERÊNCIAS
QUADROS, Ronice Müller. Situando as diferenças implicadas na educação de
surdos: inclusão/exclusão. Ponto de Vista, Florianópolis, n.05, p. 81-111, 2003. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/pontodevista/article/view/1246/3850
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