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2020.

Anatomia topográfica
dos animais domésticos
Marina Morena
mmorenacg@gmail.com
Marina Morena

Sumário
DENTIÇÃO......................... 14 BOLSA ESCROTAL.................44
Equinos ..................... 15 TESTÍCULO .........................45
Ruminantes ............... 16 FUNÍCULO ESPERMÁTICO.......46
Felinos ....................... 16 GLÂNDULAS ACESSÓRIAS.......47
Sistema tegumentar...... 2
Caninos ..................... 16 PÊNIS ...............................47
PELO .................................. 2 Suínos........................ 16 Glande .......................49
COXIM................................ 2 CAVIDADE ORAL ................. 16 URETRA ............................50
UNHAS, GARRAS E CASCOS ...... 3 Língua ....................... 17
Sistema circulatório ..... 50
Unhas .......................... 3 OROFARINGE ..................... 18
Garras.......................... 3 Tuba auditiva ............ 19 CORAÇÃO ..........................50
Casco equino................ 4 GLÂNDULAS SALIVARES ........ 20 Átrios .........................52
CORNOS ............................. 4 Gl. parótida ............... 20 Ventrículos .................53
CHIFRE ............................... 4 Gl. mandibular .......... 20 Pericárdio ..................54
GLÂNDULAS ......................... 5 Gl. sublingual ............ 21 Pontos de ausculta
Glândula circum-orais .. 5 Gl. bucais ................... 21 cardíaca .....................54
Glândulas cornuais ...... 5 Mucocele ................... 21 VASCULARIZAÇÃO ...............54
Glândulas do seio infra- ESÔFAGO .......................... 21 Vasos da base ............54
orbital .......................... 5 ESTÔMAGO ....................... 22 Vascularização cardíaca
Glândulas cárpicas ....... 5 ..................................55
Monogástrico ............ 22
Glândulas do seio Artéria aorta ..............56
Poligástrico ............... 24
interdigital ................... 5 Tributárias das veias
INTESTINO......................... 27
Glândulas do seio cavas..........................59
Intestino delgado ...... 27
inguinal ....................... 5
Intestino grosso ......... 28 Segunda avaliação ....... 60
Glândula prepucial ...... 5
ÂNUS............................... 31
Glândulas da cauda ..... 5
GLÂNDULAS ANEXAS ........... 31
Glândulas dos seios
Fígado ....................... 31
paranais ...................... 5
Pâncreas ................... 33
Glândula mamária ....... 5
Sistema urinário ......... 34
Esplancnologia e cavidades
corporais ....................... 6 RINS ................................ 34
Topografia ................ 37
CAVIDADE TORÁCICA ............. 8
Considerações clínicas 38
Mediastino .................. 8
URETERES ......................... 38
CAVIDADES ABDOMINAL E
Considerações clínicas 38
PÉLVICA .............................. 9
BEXIGA ............................ 39
Cavidade peritoneal... 10
Considerações clínicas 39
Cavidade pélvica ........ 10
Sistema genital feminino
Sistema respiratório ..... 10
.................................. 39
NARINAS........................... 10
CAVIDADE NASAL ................ 11 OVÁRIOS .......................... 40
SEIOS PARANASAIS .............. 12 TUBA UTERINA ................... 41
LARINGE ........................... 12 ÚTERO ............................. 41
TRAQUEIA ......................... 13 Considerações clínicas 43
PULMÃO ........................... 13 VAGINA ............................ 43

Sistema digestório ........ 14 Sistema genital


masculino .................. 43
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se suturar a hipoderme, assim como a derme e a

Sistema tegumentar
epiderme, ou então usar um dreno.

Composto pela pele e seus anexos,


Pelo
como glândulas, garras, cascos, cornos, Presente os mamíferos terrestres,
chifres etc., o sistema tegumentar recobre recobre o corpo dos animais, exceto em
totalmente o corpo, sendo considerado o locais de pele grossa, como nas superfícies
maior órgão. É um importante reservatório digital e próximo à orifícios naturais.
de água, especialmente na derme e Os pelos podem ser divididos em três
hipoderme. tipos: proteção, que são os pelos mais
A camada mais externa, a epiderme, é superficiais; subpelo, comum em gatos e
um tecido epitelial estratificado cachorros de pelo longo, são os que se
pavimentoso queratinizado que está em soltam em épocas de muda; e pelos táteis,
constante renovação. A presença da que são as vibrissas, que possuem
queratina fornece às especializações finalidade sensorial.
epidérmicas de dureza e resistência, O pelo de proteção é o mais superficial
agindo também como uma e seu tamanho varia de acordo com o local
impermeabilidade seletiva. do corpo. A sua disposição e cobertura
Em contraponto com a epiderme, a com sebo permite o escoamento de água,
derme é altamente vascularizada e garantindo a impermeabilidade.
inervada. Além disso, possui projeções em O subpelo está profundo ao pelo de
direção à epiderme que aumenta a troca proteção, exceto em espécies de locais
de nutrientes e resíduos. muito frios (como ovelhas, coelhos etc.).
Abaixo da derme, há a hipoderme, ou Esses atuam no isolamento térmico do
tela subcutânea, que é composta por animal, formando uma camada de ar que
tecido conjuntivo propriamente dito isola a pele.
frouxo e tecido adiposo. A quantidade e Por fim, os pelos táteis são os primeiros
espessura dessa camada varia a serem formados no feto e estão
dependendo da localização. Um exemplo é localizados normalmente no rosto. Auxilia
visto no suíno, onde a hipoderme é o animal a se localizar, além de ter um
altamente aderida e com muita gordura papel importante no equilíbrio. É um pelo
(bacon). mais espesso e longo que o de proteção.
O sistema tegumentar é o primeiro a ser Além disso, é muito sensível, com uma raiz
afetado em casos de desidratação do extremamente vascularizada e com muitas
animal, assim, pode ser utilizado para terminações nervosas.
análises rápidas, como nos testes de TPC e Coxim
tugor da pele. Em animais desidratados
ocorre a vasoconstrição na derme, além da Composto por uma epiderme glabra,
perda de elasticidade da hipoderme. Esses grossa e densamente queratinizada. A
testes se baseiam nessas características e derme é entremeada com a hipoderme e
avaliam o tempo de perfusão capilar e a possui bastante tecido adiposo, bem como
capacidade de elasticidade da pele. glândulas sudoríparas (cães e gatos).
Obs.: espaço morto cirúrgico – é o espaço Os carnívoros possuem os coxins
aberto não suturado entre as camadas da pele. Esse digitais, um para cada dígito de apoio
espaço deixado pode acumular líquido, seroma, funcional, metacárpicos/metatársicos e os
gerado pelo tecido conjuntivo justamente para coxins cárpicos.
preencher o vazio. Para que isso não ocorra deve-
Diferentemente dos cães, os gatos
possuem coxim no digito 1. Além disso, os

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gatos possuem, acima do coxim cárpico, Unhas


uma glândula e pelo tátil, que servem para
Presente nos
marcar as fêmeas na época da monta e os
primatas, a unha cresce a
machos que são submissos/dominados.
partir da epiderme,
lamelas epidérmicas.
Apresenta uma sola
córnea produzida nas
bordas livres da unha.
A porção
queratinizada mais
externa da unha é
chamada de muralha. Em
Os animais que volta dela, existe um
possuem casco tecido que produz
(ungulados) constantemente a
apresentam apenas queratina, chamado de períoplo. Abaixo da
coxins digitais muralha está um tecido epitelial
funcionais. Nos responsável por fixar a muralha no cório,
suínos os coxins camada de derme, chamada de lamela
estão presentes fora epidérmica. As lamelas apresentam a
da sola do casco, mesma forma que as papilas dérmicas
sendo encorpados ao casco, e são presentes no cório, agindo como um
chamados de bulbos. Por sua vez, nos encaixe (estilo chave fechadura).
bovinos, o coxim está fechado dentro da Vale lembrar que o cório é
sola do casco. extremamente vascularizado e inervado,
Em equinos, tanto o carpo quanto o por ser composto por derme.
Garras
tarso possuem coxins, porém são
afuncionais, chamados de castanha. Entre
o metacarpo/metatarso e as falanges Encontrada em carnívoros, a estrutura
proximais, na região do boleto, existe o da garra é semelhante à da unha, a
coxim chamado de esporão, que é coberto diferença é que a garra possui a camada
por pelos. Por só possuir um dígito, o coxim córnea achatada latero-lateralmente, a
dos equinos é muito bem desenvolvido e borda dorsal apresenta uma curva
localizado dentro do casco. O coxim digital, acentuada e está ligada ao processo
que é o único funcional, é chamado de unguicular (processo ósseo), onde o cório
ranilha. A sola do casco também é bem cresce ao redor.
desenvolvida, para sustentar o peso do
animal.
Unhas, garras e cascos
Relacionado diretamente com a falange
distal, servem para proteger os tecidos
subjacentes.
Obs.: os equinos apresentam uma diminuição Na parte mais palmar/plantar há um
da concussão/retorno venoso no casco. Assim, para
o sangue fluir eles precisam caminhar.
tecido esbranquiçado mole, que é a sola
(sola córnea). Possui a função de proteger
a garra.

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Casco equino cornoária. O sulco coronal é onde se apoia


tanto o períoplo quanto o cório.
A parede é dividida em regiões, onde a
parte mais pontuda e dorsal, é a pinça da
muralha. Mais palmar/plantar, tanto
lateral quanto medialmente, encontram-
se os quartos do casco. A muralha faz uma
volta para trás, continuando com a sola e a
ranilha (coxim). Essa parte que está em
contato com a ranilha é chamada de talão
(parece um V), e a continuidade, ao lado da
ranilha, é chamada de barra.
Ao pisar, a sola, a muralha e apenas uma
porção anterior da ranilha entram em
A própria falange distal apresenta contato com o solo.
ranhuras na parede/borda parietal, a partir A ranilha possui um formato triangular,
dela cresce o cório, especialmente muito e é dividido em base, ápice (que encosta no
vascularizado, servindo de porta de solo), dois sulcos laterais e a crista.
entrada para diversas infecções. O cório, também é separado por partes,
Assim como na unha, o casco apresenta tendo a coronal (que fica dentro do sulco
períoplo, que dá origem a muralha do coronal), lamelar (que fica em contato com
casco (também chamada de parede). As a muralha), da sola, da ranilha (mais fino e
lamelas epidérmicas também estão menos vascularizado. Por ser um coxim a
presentes para aderir a muralha ao cório, ranilha possui mais gordura) e o períoplo.
que possui as papilas dérmicas.
Cornos
Encontrado em ruminantes domésticos,
segue o mesmo princípio de crescimento
das garras e unhas. O corno cresce a partir
do processo cornual do osso frontal. Em
volta desse processo tem-se o cório
Obs.: a ferradura é colocada no casco do equino (derme), seguido de lamelas epidérmicas e
sobre a linha branca, entre a sola e a muralha. É a porção mais externa de parede do corno.
importantíssimo colocar corretamente, uma vez Obs.: pelo processo cornual estar no osso
que a sola é extremamente vascularizada e frontal, ele possui uma conexão com os seios
enverada. frontais, que se estende até dentro do processo.
O casco possui uma parede interna que Quando é feita a descorna, se não for feita a
se encontra voltada para o cório, nela é assepsia e o fechamento correto pode levar a
possível ver as ranhuras, que são as sinusite.
lamelas/papilas que conecta com o cório. Chifre
A muralha também possui uma borda
Presente em cervídeos, o chifre
que está em contato com o solo, chamada
também cresce a partir do processo
de borda solear, e uma borda mais acima,
cornual, porém a queratina se funde com o
chamada de borda cornoária, próxima a
osso, desse modo, o chifre é uma mistura
falange média. Essa parte mais proximal é
de osso com queratina. Diferente do
chamada de coroa do casco. O períoplo
corno, o chifre é vascularizado ao redor,
está em contato direto com a borda

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pois junto com ele cresce uma camada de Glândulas do seio inguinal
pele (veludo).
Também pode ser encontrada em
A galhada, quando muito grande, vai
ovinos, entre o úbere/escroto e a face
perdendo a vascularização gradualmente
medial da coxa. Possui a função de
(do topo para a base). A isquemia leva a
reconhecimento interespécie.
perda de veludo e, consequentemente,
isquemia óssea. Por isso que o chifre Glândula prepucial
depois de determinado tamanho cai. Esta é uma glândula que pode ser
encontrada em todos os mamíferos
machos, entre o prepúcio e o pênis. Essa
glândula libera secreção para lubrificar a
região e evitar lesão, além de servir de
Glândulas reconhecimento interespécie.
Obs.: Esmegma é comum em animais com pênis
Glândula circum-orais cavernoso, quando o animal passa muito tempo
sem ereção e é acumulado entre o prepúcio e o
Presente nos felídeos, essa glândula pênis sebo e sujeira. Pode formar pedras e é
possui a finalidade de marcação de extremamente doloroso.
território.
Glândulas da cauda
Glândulas cornuais Presente nos carnívoros encontra-se
Encontrada em caprinos de ambos os dorsal próximo da base. É importante no
sexos, embora em machos seja mais reconhecimento interespécie.
desenvolvida, especialmente na época de Obs.: relevância clínica – pode acumular seco e
monta. apresentar inflamações e escamações.

Glândulas do seio infra-orbital Glândulas dos seios paranais


Presente nos ovinos, essa glândula Embora seja vista em todos os canídeos,
encontra-se entre os ossos nasal e maxilar. essa glândula é especialmente importante
Importante diferenciá-la da glândula para os lobos, como modo de marcação
lacrimal, a infra-orbital libera feromônios e territorial. Ao defecar, a glândula é
é mais desenvolvida nos machos. pressionada e libera sua secreção junto
com as fezes.
Glândulas cárpicas
Pode ser encontrada na região palmar
Glândula mamária
tanto de felinos quanto de suínos. Em É uma glândula sudorífera especializada
felinos possui apenas um óstio de saída, com característica tuboalveolar. Ao
enquanto em suínos há vários. É entorno possui inúmeros capilares e
importante em ambos os casos para a algumas células mioepiteliais (com
marcação de fêmeas durante a cópula. capacidade contrátil).
As unidades secretoras (alvéolos) estão
Glândulas do seio interdigital agrupadas em lóbulos, que drenam para
Vista em ovinos de ambos os sexos, a um ducto. Este ducto, juntamente com
glândula do seio interdigital possui a outros, desembocam em um lobo,
função principal de marcação de território, responsável por drenar para um ducto
formando uma trilha por onde os ovinos maior, chamado de ducto lactífero. Por
passaram. fim, o ducto lactífero desemboca em uma
cisterna, responsável por acumular o leite,
que está conectada diretamente com o

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teto. Em equinos, ruminantes e pequenos


ruminantes há uma segunda cisterna Esplancnologia e
cavidades corporais
dentro do próprio teto.

As vísceras são os órgãos internos das


cavidades torácica, abdominal e pélvica,
bem como os órgãos digestórios e
respiratórios localizados na região da
cabeça e do pescoço.
Os órgãos digestórios, respiratórios,
urogenitais são basicamente sistemas de
canais, que se abrem para a superfície do
corpo através da boca, do nariz, do ânus,
da vagina ou da uretra. Tais aberturas
possibilitam exames não invasivos dos
órgãos internos, como a endoscopia.
Obs.: Em animais de fazendo o colostro é ainda O lúmen da maioria dos órgãos ocos
mais importante, pois a mãe possui uma placenta está, de uma forma ou de outra, conectado
epiteliocorial, que não permite a passagem dos ao ambiente externo. O revestimento
anticorpos da mãe para o feto. Em carnívoros a interno desses órgãos é uma camada de
placenta é do tipo endocorial e em primatas e
mucosa que normalmente produz muco.
roedores hemocorial.
A estrutura geral das
Cada teto possui uma glândula mamária
vísceras é composta por uma
e o parênquima delas é dividido.
mucosa visceral, tecido
conectivo (interstício), túnica
muscular e túnica serosa. A
porção mucosa é composta de
duas camadas: um
revestimento epitelial na face
interna do órgão e uma camada subjacente
de tecido conjuntivo frouxo. Determinadas
secções de órgãos também exibem uma
O úbere é o complexo de tetos presente fina terceira camada de células
em vacas, cabras, ovelhas e éguas. A pele musculares, a lâmina muscular da mucosa.
presente é fina e maleável, diferente do O tecido conectivo da víscera apresenta
teto, que possui uma pele bem aderida, uma ampla gama de funções. Ele forma
grossa e glabra. É composto de um uma cápsula externa que envolve os
ligamento medial ou longitudinal, de órgãos, estabiliza a forma dos mesmos e
tecido elástico, que compõe o sulco fornece caminhos para vasos e nervos. O
intermamário; e o ligamento lateral, que grau elevado de flexibilidade fornecido
recobre externamente o úbere, tecido pelo tecido conectivo permite que os
conjuntivo denso cuja função é sustentar o órgãos se adaptem a volumes variáveis e
úbere. possibilita o movimento sem atrito entre
os órgãos.

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Podem-se encontrar dois tipos de passam os nervos do tronco simpático e


tecido conectivo em um órgão: não esplâncnicos de cada lado.
específico/intersticial ou A cavidade pélvica é uma comunicação
específico/parênquima. O interstício caudal da cavidade abdominal. A linha
envolve as porções parenquimáticas dos terminal da pelve divide essas duas
órgãos e envolve os vasos e nervos. Ele cavidades e se prolonga desde o
forma uma lâmina própria da mucosa, a promontório sacral, percorrendo
túnica adventícia no exterior do órgão e a lateralmente as duas linhas arqueadas dos
cápsula dele. Fibras de tecido conectivo ílios até se unir a borda cranial do púbis.
que se originam na cápsula penetram no
Limite/Cavidade Torácica Abdominal Pélvica
parênquima dos órgãos.
1º par de
A túnica muscular é composta por uma costelas e
camada interna circular de células e uma diafragma; Vértebras
camada externa longitudinal. Dorsal
vértebras lombares e Asa do ílio
A maioria das vísceras está situada nas torácicas e torácicas e sacro.
parte dorsal (caudais).
cavidades do corpo, restando pouco
das
espaço livre. Além disso, o mesentério costelas.
flexível e os pequenos espaços Músculo
preenchidos com fluidos entre os órgãos Parte obliquo
reduzem o atrito a um nível mínimo e, Laterais ventral das interno e
desse modo, permitem que os órgãos costelas. externo e M.
transverso.
deslizem livremente um contra o outro Músculo reto
como, por exemplo, durante a respiração Esterno e abdominal,
Ventral Púbis.
ou no processo digestivo. costelas. aponeuroses
As cavidades do corpo se encontram no e linha alba.
tronco e, de modo semelhante às Linha
arqueada
vértebras, podem ser divididas em três Cranial Diafragma.
do osso
zonas: tórax, abdome e pelve. coxal.
Em um estágio embrionário inicial, o Linha
Diafragma
diafragma se desenvolve a partir do septo Caudal arqueada do
pélvico.
transverso perpendicular e do músculo osso coxal.
mesenquimal próximo a ele. Assim, o As paredes internas das cavidades
diafragma separa a cavidade corporal em corporais têm estruturas semelhantes,
torácica e abdominal, a qual permanece apesar das modificações que ocorrem
conectada à cavidade pélvica. conforme a região onde se localizam. As
As cavidades torácica e abdominal se camadas da parede apresentam-se
comunicam por meio de três aberturas, o externamente com um tegumento
forame da veia cava caudal; hiato comum, fáscia superficial do tronco,
esofágico, pelo qual passam o esôfago, os músculos esqueléticos, fáscia interna do
troncos do nervo vagal e os vasos tronco e membrana serosa.
esofágicos; e o hiato aórtico, por onde As membranas serosas revestem o
passam a aorta, o ducto torácico e duas corpo ou as cavidades serosas quase
outras veias. Entre o limite dorsal dos completamente, sendo elas: as cavidades
músculos do pilar diafragmático e da pleurais esquerda e direita, cavidade
musculatura psoas, uma pequena área peritoneal e cavidade pericárdica.
permanece preenchida por tecido A túnica serosa é composta de uma
conectivo, o arco lombocostal, por onde única camada de epitélio de revestimento

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e uma camada subjacente de tecido


conectivo, a lâmina própria serosa. Esta é
responsável por cobrir a superfície dos
órgãos e revestir as paredes internas das
cavidades do corpo. Sua aparência
fisiológica é transparente, úmida, lisa e
brilhante. A túnica serosa é capaz de
excretar e reabsorver fluidos seroaquosos,
além de prover uma proteção física
(lubrificação) e imunológica (macrófagos),
formando uma barreira serosa.
A tela subserosa é uma camada de
tecido conjuntivo frouxo que posiciona
abaixo da túnica serosa. Essa camada
A parte do mesentério que cobre o
contém tecido adiposo e vasos sanguíneos
órgão se chama serosa visceral. Cada
e linfáticos. Uma delicada rede de plexos
porção recebe o prefixo “epi” em
nervosos na camada subepitelial é sensível
combinação com a nomenclatura do
a estímulos táteis, mecânicos, térmicos e
órgão, como epicárdio, por exemplo.
químicos que atuam sobre as superfícies
Os mesentérios dorsal e ventral do
serosas.
estômago e a porção cranial do duodeno
A parede das cavidades serosas se
forma uma estrutura singular no que se
divide em três tipos gerais: parietal,
refere a seu revestimento no fígado. O
intermediária e visceral. A serosa parietal é
omento maior se desenvolve a partir do
uma membrana serosa que reveste a
mesentério dorsal do estômago, o qual se
parede interna das cavidades do corpo. Ao
prolonga e retorna sobre si mesmo,
contrário das outras serosas, a parietal é
formando uma espécie de evaginação, a
extremamente sensível à dor. Para
bolsa omental. O ligamento
procedimentos cirúrgicos, deve-se aplicar
hepatogástrico e o único mesentério
anestesia local na parede corporal para
intestinal ventral, o ligamento
que a serosa fique insensível. Pode ser
hepatoduodenal, formam o omento
dividida conforme a sua localização em:
menor.
pleura, peritônio ou pericárdio.
A serosa intermediária é a continuação Cavidade torácica
da serosa parietal dos lados esquerdo e Situada dentro da caixa torácica,
direito que unem para formar uma serosa contém duas cavidades pleurais, as quais
de duas camadas que se origina da parede se situam a esquerda e direita do
da cavidade, o chamado mesentério. Isso mediastino, envolvem os pulmões e são
ocorre tanto na parte superior quanto na revestidas com uma membrana serosa
parte inferior da cavidade do corpo, (pleura). Entre as pleuras viscerais e
criando mesentérios dorsais e ventrais. parietais há um líquido seroso lubrificante.
Alguns mesentérios recebem o prefixo
“meso” e o nome do órgão que alcançam, Mediastino
como mesogástrio, que abriga o estômago O mediastino é o espaço entre as
e sustenta a cavidade abdominal. pleuras mediastinais, direita e esquerda, e
pode ser dividido em três partes:
cranial/pré-cardíaco, médio/cardíaco e
caudal/pós-cardíaco.

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O mediastino pró-cardíaco se inicia na


abertura torácica cranial. As estruturas que
passam por essa porção e levam o
suprimento sanguíneo e inervação desde a
cavidade torácica até a cabeça são: tronco
braquiocefálico; veia cava cranial; nervos
vagos esquerdo e direito; ducto torácico; e
etc. É também onde se localizam os nervos,
os vasos linfáticos, as veias, a traqueia e o
esôfago. Vale ressaltar que em animais
jovens o timo também se encontra no
mediastino cranial.

O mediastino pós-cardíaco se expande


entre o coração e o diafragma. A aorta
corre através do segmento dorsal do
mediastino causal em seu caminho até o
diafragma. Ventralmente à aorta encontra-
se o esôfago, acompanhado pelos troncos
dorsal e ventral do nervo vago.

O mediastino cardíaco contém o


coração no pericárdio, os grandes vasos
sanguíneos na base do coração, o ducto
torácico, o esôfago e a traqueia. No quinto
espaço intercostal, a traqueia se bifurca
nos dois brônquios principais. Apenas no
suíno e nos ruminantes há um brônquio
extra, o brônquio traqueal, que se destaca Os linfonodos do mediastino pertencem
do lado direito da traqueia antes da ao linfocentro mediastinal. Entre os
bifurcação. Assim como no mediastino pré- linfonodos, estão os mediastinais craniais,
cardíaco, no cardíaco também médios (acima da base do coração) e
encontramos o timo em animais jovens. caudais.
Outras estruturas que podem ser
encontradas no mediastino cardíaco são: Cavidades abdominal e
pélvica
aorta ascendente; tronco pulmonar; veias
pulmonares; extremidades da veia cava
caudal e cranial; nervo vago direito e A cavidade abdominal e a parte cranial
esquerdo; e etc. da cavidade pélvica são revestidas com
peritônio, que forma um saco, criando a
cavidade peritoneal. As cavidades
abdominal e pélvica são conectadas por
uma abertura ampla. A cavidade

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peritoneal se comunica com a cavidade de gases até as células como os processos


pleural por meio de três aberturas no oxidativos em seu interior.
diafragma: hiato aórtico, esofágico e O sistema respiratório pode ser dividido
forame da veia cava. A aorta e o esôfago em vias respiratórias, composta por nariz
passam através do diafragma cercados por externo, cavidade nasal, porção nasal da
tecido conjuntivo frouxo. O vaso linfático faringe, laringe, traqueia, brônquios e
central das cavidades abdominal e pélvica, pulmões; e locais de troca gasosa, que
o ducto torácico, acompanha a aorta inclui os bronquíolos, ductos alveolares,
através do diafragma. sacos alveolares e alvéolos.
Além disso, podem ser divididos
também em trato respiratório superior
(localizados na cabeça – nariz, seios
paranasais e porção nasal da faringe) e
inferior (laringe, traqueia e pulmões).
Narinas
Tem início no nariz, que é composto por
narinas externas e suas cartilagens;
cavidade nasal com o meato e as conchas
Cavidade peritoneal nasais; e os seios paranasais.
Contém todo o trato gastrointestinal, O nariz é formado pelos ossos nasais
exceto pelos segmentos retroperitoneais dorsalmente, pela maxila lateralmente e
do reto e do ânus, além de incluir também pelos processos palatinos dos ossos
o fígado, pâncreas, baço e uma grande incisivos, pela maxila e ossos palatinos
parte do trato urogenital. ventralmente. Caudalmente ele é
delimitado pela lâmina cribriforme do osso
Cavidade pélvica etmoide. Ventralmente prossegue com a
Inclui o reto, ânus, bexiga e partes do porção nasal da faringe. O septo mediano
trato urogenital. Nas fêmeas, a uretra, o é a continuação rostral da crista etmoidal
corpo uterino, o colo do útero, a vagina e do osso etmoide e consiste em cartilagem
seus vestíbulos estão todos na cavidade hialina, a qual divide a cavidade nasal nos
pélvica. Enquanto nos machos estão: o lados direito e esquerdo; a parte caudal
segmento pélvico da uretra, o ducto dessa cartilagem ossifica com o avançar da
deferente e as glândulas sexuais idade.
acessórias. A forma e o tamanho do focinho e a
O diafragma pélvico é a região que natureza do tegumento exibem diferenças
compreende músculos e fáscias e fecha a significativas entre as espécies. O
abertura pélvica caudal. O ânus e a tegumento ao redor das narinas não possui
extremidade do canal urogenital perfuram pelos e sua delimitação da pele não sofre
o diafragma pélvico e fazem limite com os modificações, sendo bastante evidente em
músculos pares levantadores do ânus. todos os mamíferos domésticos com
exceção do equino, no qual a pele não
Sistema respiratório modificada com alguns pelos táteis
circunda as narinas.
O sistema respiratório é essencial para No bovino, o tegumento da região
a troca de gases entre ar e sangue. A rostral é modificado para formar o plano
respiração compreende tanto o transporte nasolabial liso e sem pelos. A mucosa é

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coberta por um epitélio estratificado e principal aplicação clínica dessa diferença


cornificado, umedecido por glândulas anatômica é quando se usa um tubo
serosas da mucosa. Em pequenos nasogástrico, onde é essencial guiá-lo
ruminantes, no cão e no gato, a pele ao ventralmente.
redor das narinas também é glabra. A narina forma a abertura da cavidade
O plano nasal é dividido por um sulco nasal e cerca o vestíbulo nasal. No equino
mediano, o filtro, que prossegue e no asinino, o tegumento continua dentro
ventralmente e divide o lábio superior. A da cavidade nasal e forma uma delimitação
superfície do plano nasal dos carnívoros é precisa com a mucosa nasal. No equino, o
umedecida pela secreção da glândula nasal ponto nasal do ducto lacrimonasal situa-se
lateral, situada no interior do recesso no assoalho ventral do vestíbulo, próximo
maxilar e por algumas glândulas menores a essa transição mucosa. No cão, as
da mucosa. aberturas muito menores e mais
A superfície do plano nasal possui uma indistintas das flândulas nasais laterais
grande quantidade de sulcos finos, cujo serosas desembocam mais caudalmente.
Cavidade nasal
padrão acredita-se ser individual e pode
ser usado como meio de identificação, de
modo semelhante às impressões digitais
dos humanos.
No suíno, o ponto móvel em formato de
disco do focinho é denominado rostro ou
focinho. O focinho é sustentado pelo osso
rostral e coberto por pele modificada, a
qual forma o plano rostral e inclui os pelos
táteis e glândulas mucosas, que
umedecem a superfície.
As narinas externas são sustentadas
pelas cartilagens nasais. As cartilagens A cavidade nasal se prolonga das
nasais laterais se fixam à extremidade narinas até a lâmina cribriforme do osso
rostral do septo nasal, de onde se etmoide, sendo dividida pelo septo nasal
prolongam ventral e dorsalmente. Elas em um lado direito e outro esquerdo. As
determinam o formato da apertura da conchas nasais se projetam para o interior
narina. da cavidade nasal e servem para aumentar
No equino, a cartilagem nasal dorsal a superfície da área respiratória. Plexos
não se prolonga muito e a cartilagem nasal vasculares situam-se sob a mucosa e são
ventral é indefinida ou inexistente. Em vez formados por vasos anastomóticos
disso, as cartilagens alares, as quais são múltiplos.
divididas em uma lâmina dorsalmente e Caudoventralmente, a cavidade nasal se
um corno, sustentam as narinas amplas e comunica com a porção nasal da faringe
espaçadas. As cartilagens alares são pelas coanas.
responsáveis pela forma de vírgula As conchas nasais são tubos
característica, a qual divide a narina em cartilaginosos ou ossificados com mucosa
uma parte ventral, chamada de narina nasal que ocupam a maior parte da
verdadeira, que conduz à cavidade nasal, e cavidade nasal. As conchas maiores
uma parte dorsal, ou falsa narina, que dividem a cavidade nasal em uma série de
conduz ao divertículo revestido de pele sulcos e meatos que se ramificam em um
que ocupa a incisura nasoincisiva. A meato comum próximo ao septo nasal. Há

11
Marina Morena

três meatos nasais nos mamíferos extremamente delgada e pouco


domésticos: meato nasal dorsal, médio e vascularizada. Os seios paranasais que
ventral. podem ser encontrados no crânio dos
O meato nasal dorsal é a passagem animais domésticos são: seio maxilar,
entre o teto da cavidade nasal e a concha frontal, palatino e esfenoidal. Em suínos e
nasal dorsal. Ele conduz diretamente ao ruminantes são vistos também o seio
fundo da cavidade nasal e canaliza o ar lacrimal e células etmoidais. Por fim, em
para a mucosa olfativa. Por sua vez, o equinos, ruminantes e suínos há o seio da
meato nasal médio situa-se entre as concha dorsal e o seio da concha ventral
conchas nasais dorsal e ventral e se também.
Laringe
comunica com os seios paranasais. O
meato nasal ventral é o caminho principal
para o fluxo de ar que conduz à faringe e A laringe é um órgão
situa-se entre a concha nasal ventral e o musculocartilaginoso cilíndrico e
assoalho da cavidade nasal. bilateralmente simétrico que conecta a
O meato nasal comum é o espaço faringe à traqueia. É suspensa pelo
longitudinal de cada lado do septo nasal. aparelho hióide, que consistem em um
Ele se comunica com todos os outros conjunto de ossos planos que articulam
meatos nasais. A faringe pode ser acessada com o processo estiloide do osso temporal,
pela passagem de tubos nasogástricos e com o processo lingual inserido na raiz da
endoscópicos por seu ponto mais largo, língua. O aparelho hióide é responsável por
entre o meato ventral e o meato comum. coordenar o movimento da língua/faringe

Seios paranasais
no momento da deglutição.
As paredes da laringe são formadas por
Os seios paranasais são divertículos da cartilagens laríngeas e por seus músculos
cavidade nasal formados por ossos conectores e ligamentos, os quais unem a
pneumáticos, que compõe cavidades laringe ao aparelho hióideo rostralmente e
preenchidas com ar entre as lâminas à traqueia caudalmente.
externa e interna dos ossos do crânio. Durante a deglutição a epiglote pende
Eles sofrem uma expansão significativa para trás com a finalidade de cobrir
após o nascimento e continuam a parcialmente a abertura rostral da laringe.
aumentar de tamanho com o avançar da Caudalmente, a cavidade laríngea une-se
idade. Os seios paranasais de bovinos e ao lúmen da traqueia.
equinos são bastante desenvolvidos e A maior parte da cavidade laríngea é
respondem pela confirmação da cabeça revestida por epitélio escamoso
nessas espécies. estratificado, embora a mucosa
respiratória esteja presente caudalmente.
O esqueleto da laringe é composto das
seguintes cartilagens laríngeas
bilateralmente e simétricas: epiglótica,
tireóidea, aritenóidea e cricóidea.
A cartilagem epiglótica forma a base da
epiglote e é composta por cartilagem
elástica. Os processos cuneiformes estão
presentes em alguns animais de cada lado
da base da epiglote, projetando-se
Histologicamente, são revestidos pela
dorsalmente. Eles podem estar livres ou
mucosa respiratória, a qual é

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Marina Morena

fusionados com a cartilagem epiglótica ou chamado de carina traqueal. Em


aritenóidea. ruminantes e no suíno emerge um
brônquio traqueal separado proximal à
bifurcação da traqueia que ventila o lobo
cranial do pulmão direito presente nessas
espécies.
Obs.: Próximo a traqueia há um ponto de
encontro entre as camadas superficial e profunda
da fáscia cervical profunda, que forma a bainha
carotídea (plexo vasculonervoso). Por esse plexo
vasculonervoso a artéria carótida comum; veia
As cartilagens tireóidea, aritenóide e jugular interna (exceto em equinos), ventral a A.
carótida; nervo laríngeo recorrente, que é um ramo
cricóidea são formadas por cartilagem
do nervo vago; e o tronco vagossimpático, por onde
hialina, sendo que tanto a tireóidea e a passa o nervo vago e fibras do sistema nervoso
cricóidea podem ossificar com a idade. A simpático.

Pulmão
cartilagem tireoide possui um formato de
escudo que faz um assoalho para a laringe;
além disso, é a cartilagem mais ventral. O pulmão direito e o pulmão esquerdo
Por fim, as cartilagens aritenóides são as são basicamente semelhantes e se
mais móveis e as mais dorsais. São nelas conectam um ao outro na bifurcação da
que estão as cordas/pregas vocais. traqueia. Eles são órgãos elásticos
Traqueia
preenchidos com ar dotados de uma
textura suave e esponjosa. Ocupam a
A traqueia se prolonga desde a maior parte da cavidade torácica e cada
cartilagem cricóidea da laringe até sua um deles é invaginado no saco pleural
bifurcação. É composta por uma série de correspondente. Uma cavidade estreita
cartilagens hialinas em forma de “C” preenchida com líquido está presente
conectadas por ligamentos. A quantidade entre as pleuras visceral e parietal, a qual
de cartilagens traqueais varia de acordo serve para reduzir o atrito durante a
com a espécie: equinos, bovinos, ovinos e respiração.
caprinos possuem de 48-60; suínos de 19- Cada pulmão possui uma face costal
36; cães de 42-46; e gatos de 38-43. convexa adjacente à parede torácica, uma
As cartilagens traqueais se abrem face mediastinal em direção ao
dorsalmente e apresentam formas mediastino, e uma face diafragmática, a
diferentes em cada espécie doméstica. O qual se posiciona em oposição à face do
espaço que surge quando essas cartilagens diafragma.
não se encontram dorsalmente é coberto Dorsalmente, as faces mediastinal e
pelo músculo traqueal transverso e tecido costal se encontram na margem dorsal, a
conjuntivo. Os anéis resultantes são unidos qual é arredondada e espessa e ocupa o
na direção longitudinal por faixas de tecido espaço em forma de vala entre as costelas
fibroelástico. e as vértebras. Ventralmente, essas faces
A traqueia é revestida por mucosa se encontram na margem ventral, a qual é
respiratória com um epitélio ciliado fina e recua sobre o coração para formar a
pseudoestratificado e apresenta glândulas incisura cardíaca, a qual permite que o
secretoras de muco em toda a sua pericárdio entre em contato com a parede
extensão. torácica lateral.
Na altura do 5º espaço intercostal, a A área de cada pulmão que recebe o
traqueia sofre uma bifurcação dorsal, local brônquio principal acompanhado pelos

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Marina Morena

vasos pulmonares (artéria e veia


pulmonar; artéria e veia brônquica; e vasos Sistema digestório
linfáticos) e nervos é conhecida como raiz O sistema digestório é responsável pela
do pulmão ou hilo pulmonar. quebra dos alimentos em partes menores,
O parênquima pulmonar é composto de forma que possa ser utilizado para gerar
pelos bronquíolos, seus ramos e os energia, para o crescimento e para a
alvéolos pulmonares terminais. O renovação celular. O sistema digestório
interstício compõe-se de tecido mole compõe-se do canal alimentar, que se
elástico e colágeno, onde se inserem prolonga desde a boca até o ânus e inclui
glândulas mistas, fibras musculares lises, glândulas anexas, glândulas salivares, o
fibras nervosas, vasos sanguíneos e fígado e o pâncreas, cujas secreções
linfáticos. digestivas penetram o canal alimentar.
Dentição
Os lobos do pulmão são definidos pela
ramificação da árvore brônquica. Cada
brônquio lobar abastece seu próprio lobo, Cada espécie apresenta sua dentição
que segue a mesma denominação, por característica quanto à forma e quantidade
exemplo: brônquio cranial – lobo cranial; de dentes. Os dentes se desenvolvem de
brônquio acessório – lobo acessório. forma diferente em cada região da boca
conforme seu uso e são divididos em
incisivos, caninos, pré-molares e molares.
Com base na distribuição do esmalte, os
dentes podem ser braquiodontes ou
hipsodontes. Os dentes braquiodontes
surgem totalmente antes da maturidade e
costumam ser longos e resistentes o
suficiente para sobreviver durante a vida
inteira do indivíduo. Os dentes
hipsodontes crescem constantemente
durante toda a vida do animal.
Braquidonte Hipsodonte
De acordo com esse sistema, o pulmão Maioria dos dentes de
Primatas
esquerdo é dividido em um lobo cranial e equino
um lobo caudal. Além dos lobos cranial e Carnívoros Canino de suíno
Maioria dos dentes de
caudal, o pulmão direito possui o lobo Canino de equino
ruminantes
médio e o lobo acessório. Em algumas Maioria dos dentes
espécies, os lobos craniais subdividem-se de suíno
também em partes cranial e caudal. Incisivo de ruminante
Pulmão esquerdo Pulmão direito A estrutura geral de ambos é parecida,
Lobo cranial Lobos cranial, entretanto, no hipsodonte o cemento
Cão e gato (dividido) e lobo médio, caudal e recobre o dente todo, sendo externo ao
caudal acessório
Lobo cranial Lobos cranial,
esmalte. Além disso, possui também uma
Suíno (dividido) e lobo médio, caudal e cavidade (≠ de polpa), chamado de
caudal acessório infundíbulo dentário, que também é
Bovino, Lobo cranial Lobos cranial recoberto do cemento e esmalte
caprino e (dividido) e lobo (dividido), médio, secundários.
ovino caudal caudal e acessório
Lobos cranial,
A coroa é a parte exposta do dente, a
Lobo cranial e qual se projeta para além da gengiva e é
Equino caudal e acessório
lobo caudal
(bem pequeno) coberta por esmalte. O colo é a ligeira

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Marina Morena

constrição localizada na linha da gengiva, normalmente consiste no pasto contínuo


onde termina o esmalte. A raiz é a parte de gramíneas ásperas de difícil digestão.
abaixo da gengiva, cuja maior parte se Enquanto os dentes incisivos são
encerra no alvéolo ósseo. especializados para preensão e corte do
A cavidade dentária alimento, os pré-molares equinos e os três
se ramifica em uma molares funcionam como moedores para
elevação maior da mastigação. Todos os dentes do equino,
coroa e para dentro de com exceção dos dentes caninos e do
cada raiz. Ela é primeiro pré-molar, quando presente, são
preenchida com a dentes hipsodontes.
polpa (№4), a qual é Vale destacar que as fêmeas raramente
composta de tecido possuem caninos, tendo de 36 a 38 dentes
conectivo, nervos, no total, sendo 2x (I3/3 C0/0 P3 ou 4/3
artérias e veias. Um M3/3). Por sua vez, a fórmula geral dos
pequeno forame apical machos é 2x (I3/3 C1/1 P3 ou 4/3 M3/3),
(№5) se abre na extremidade de cada raiz tendo no total 40 ou 42 dentes.
e permite a livre passagem de vasos e O pré-molar extra (que é o primeiro pré-
nervos para dentro e para fora do dente molar nos equinos que possuem) é
pelo canal do dente. chamado de dente de lobo, um dente em
Cada dente é composto por três tecidos processo de remissão. Quando o animal
mineralizados diferentes, os quais possui esse dente e necessita utilizar a
envolvem a cavidade dentária, sendo o embrocadura, é feita a incisura, uma vez
esmalte (№1), a dentina (№2) e o cemento que é o local em que ela deveria ficar.
(№3). O esmalte dentário é composto por A regularidade da erupção, do
carbonato de cálcio e é a substância crescimento, do desgaste e outras
biológica mais dura. A dentina forma alterações características dos dentes do
grande parte do dente, envolvendo a equino permitem que um cavalo tenha sua
cavidade pulpar, e sua cor é idade determinada pelos dentes incisivos.
brancoamarelada. O cemento é o tecido Descobriu-se que a erupção dos dentes é o
calcificado menos rígido no dente e é método mais confiável, já que alterações
bastante semelhante ao tecido ósseo. causadas por desgaste sofrem maior
O dente se fixa na cavidade alveolar interferência de fatores individuais, como
pelo ligamento ou membrana periodontal, os hábitos alimentares.
o qual contém fibras de colágeno Como resultado do desgaste, a face
conectadas ao cemento e ao osso. oclusal dos dentes incisivos se altera: o
A quantidade e a classificação da cálice se torna menor até finalmente
dentição podem ser descritas pela fórmula desaparecer (rasamento), a estrela
dentária de cada espécie. A abreviatura dentária (polpa do dente) surge e muda de
representa cada tipo de dente (I = incisivos, uma linha para uma mancha redonda.
C = caninos, P = pré-molares, M = molares),
seguida pela quantidade de dentes da
categoria em um lado das arcadas superior
e inferior.
Equinos
A dentição do equino é adaptada a seus
hábitos alimentares e dieta, que

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Marina Morena

Idade aproximada Estruturas 2x (I3/3 C1/1 P4/4 M3/3). Diz-se que os


5 anos Todas as estruturas suínos possuem a arcada dental completa.
Infundíbulo menor;
8 anos Polpa começa a Cavidade oral
aparecer
Final do infundíbulo;
11 anos Polpa maior e mais
pronunciada
Sem infundíbulo;
13/14 anos
Polpa maior
Polpa fica cada vez
18 anos
maior

Ruminantes
Os ruminantes não possuem dentes
incisivos ou caninos superiores, uma vez
que a captação do alimento é feita com a A cavidade oral se divide em vestíbulo e
língua. Portanto, a fórmula geral é 2x (I0/3 cavidade oral propriamente dita, que é o
C0/3 P3/3 M3/3), totalizando 32 dentes. espaço delimitado pelas arcadas dentárias.
O único canino do ruminante, o inferior, Ela é cercada dorsalmente pelo palato
é projetado rostralmente e faz o papel de duro; ventralmente pela mucosa, músculo
um incisivo, mantendo-se próximo aos milo-hióide e pele; lateral e rostralmente
outros incisivos. A dentição molar e pré- pelos dentes, arcos dentais e gengiva; e
molar são as mais importantes para esses caudalmente pelo istmo das fauces. O
animais. istmo das fauces se prolonga ventralmente
No lugar dos incisivos e caninos ao palato mole desde a cavidade oral até o
superiores há um coxim (almofada de óstio intrafaríngeo. Ele faz limite
gordura), chamado de polvino dentário. dorsalmente com o palato mole,
Felinos ventralmente com a raiz da língua, e
O gato doméstico possui apenas 30 lateralmente com os arcos palatoglossos,
dentes, sendo a espécie com menos um par de rugas do palato mole que se
dentes. A fórmula geral é 2x (I3/3 C1/1 prolonga até o tecido adjacente.
P3/2 M1/1). Portanto, o gato não possui os No bovino e no suíno, o lábio superior
dentes moedores de coroa plana, se modifica para formar o plano nasolabial
deixando-o com uma mordida no bovino e o plano rostral no suíno,
exclusivamente cortante. ambos constituindo extensões úmidas e
glandulares. Acredita-se que a
Caninos insensibilidade dos lábios do bovino,
Os cachorros possuem 42 dentes no juntamente com as papilas orientadas para
total, sendo 2x (I3/3 C1/1 P4/4 M2/3). O trás no palato e na língua, expliquem a
dente pré-molar superior é chamado de tendência do bovino em engolir corpos
dente carniceiro, sendo o maior de todos estranhos. O lábio superior é dividido por
os dentes. Na natureza, os caninos utilizam um sulco mediano ou filtro em carnívoros
o dente carniceiro especialmente para e em pequenos ruminantes.
quebrar ossos. O palato é uma divisória composta
Suínos
parcialmente de tecido ósseo e
parcialmente de tecido mole que separa as
É a espécie doméstica com o maior passagens digestiva e respiratória da
número de dentes, sendo 44 no total, onde cabeça. O palato duro ósseo posiciona-se

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Marina Morena

rostral ao palato mole membranoso. O próximas umas das outras e músculos e


palato duro é formado pelos processos suas aponeuroses.
palatinos da maxila, pelos ossos incisivos e Em animais braquicefálicos, tendem a
pela lâmina horizontal do osso palatino. ter problemas respiratórios pois os ossos
da face são achatados/reduzidos na região
caudal. As estruturas da cavidade oral e da
faringe continuam do tamanho de um
animal normal. As estruturas ósseas
pressionam para caudal as estruturas
moles. Acaba faltando espaço e, no caso do
palato mole alongado por exemplo, acaba
ocupando espaço da laringofaringe,
atrapalhando a passagem do ar.
Língua
A língua é composta principalmente por
músculo esquelético e ocupa a maior parte
da cavidade própria da boca, prolongando-
se até a parte oral da faringe. A língua é
responsável pela captação de água e
alimento, pela manipulação do alimento
dentro da boca e pela deglutição. Ela
1, filtro; 2, papila incisiva; 3, palato duro com cristas; possui receptores para paladar,
4, palato mole; 5, arco palatoglosso; 6, óstio
intrafaríngeo; 7, arcos palatofaríngeos; 8, esôfago.
temperatura e dor. No cão é usada para
intensificar a perda de calor pela
O lado oral do palato duro é coberto por respiração, facilitada pela intensa
uma mucosa espessa e cornificada, vascularização e por numerosas
atravessada por uma série de rugas anastomoses arteriovenulares juntamente
palatinas. Uma pequena saliência com ventilação (laringe, traqueia e
mediana, a papila incisiva, se localiza brônquios do tronco principal) do espaço
imediatamente caudal aos dentes incisivos morto.
e está cercada em cada lado pelos orifícios A língua apresenta um ápice (mais
dos ductos incisivos, os quais perfuram o rostral), um corpo e uma raiz (mais caudal).
palato. Esses ductos se ramificam e O corpo da língua está unido ao assoalho
conduzem para a cavidade nasal e para o oral por uma prega mucosa, o frênulo
órgão vomeronasal, um canal cego lingual. A face dorsal da língua canina é
revestido por mucosa olfativa. marcada longitudinalmente por um sulco
O palato mole ou véu palatino mediano do qual se projeta um septo até a
prossegue caudalmente desde o palato língua. A raiz da língua articula com o
duro até o óstio intrafaríngeo, cuja aparelho hióide e está associado com o
margem rostral é formada pela borda arco palatoglosso.
caudal do palato duro. A face ventral do Nos ruminantes, parte caudal do dorso
palato mole é coberta por mucosa oral, a da língua é elevada para formar uma
qual forma diversas pregas longitudinais e grande proeminência definida (tôrus
algumas pregas transversas maiores. A lingual) por uma transversa fossa lingual,
face dorsal é coberta pela mucosa na qual há tendência de acúmulo de
respiratória. A camada intermediária alimentos. Outra diferença na língua de
consiste em glândulas salivares muito

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Marina Morena

ruminantes é a presença de um tipo


especial de papila na raiz da língua,
Orofaringe
especialmente no tôrus lingual, as
lentiformes.
Há uma quantidade maior de papilas
mecânicas que de papilas gustativas. As
papilas filiformes são as menores, mais
numerosas de todas e estão localizadas
majoritariamente na região dorsolateral.
As papilas cônicas são maiores, mas
ocorrem com menos frequência. Elas estão
espalhadas em uma região ampla pela face
dorsal da língua dos felinos e na base da
língua do bovino, deixando sua superfície A faringe é a cavidade comum através
áspera, característica dessas espécies. da qual passam o ar e o material ingerido.
Obs: em felinos as papilas filiformes são Ela conecta a cavidade oral ao esôfago, e a
queratinizadas. cavidade nasal à laringe.
O epitélio das papilas gustativas contém A chave para entender a faringe é
botões gustativos, os quais são sensíveis ao fornecida pelo palato mole, continuação
sabor. A nomenclatura indica sua forma: do palato duro além da margem das
papilas fungiformes, valadas e folhadas. As coanas. Em repouso, o palato mole situa-
papilas fungiformes são pequenos pontos se sob a língua, mas quando o animal
encontrados entre as papilas filiformes. deglute ergue-se em uma posição mais
Por sua vez, as valadas são localizadas na horizontal, e então divide mais
raiz da língua e tem aparência de vala, por evidentemente a faringe em porções
serem muito grandes. As folhadas são dorsal e ventral. Dois pares de arcos
vistas lateralmente entre o corpo e a raiz conectam o palato mole às estruturas
da língua. Vale ressaltar que os equinos adjacentes. Os arcos palatofaríngeos
possuem papilas valadas enormes. passam sobre a parede lateral da faringe e
podem ser longos o suficiente para ser
encontrados sobre a entrada do esôfago.
Juntamente com a margem livre do
palato circunscrevem a constrição do lume
— o óstio intrafaríngeo —, que marca a
divisão da faringe em compartimentos
dorsal e ventral. O compartimento dorsal é
conhecido como nasofaringe. Os arcos
palatoglossais mais rostrais passam sobre
os lados da língua e sua base; eles
delimitam a passagem da cavidade oral
para a orofaringe. A orofaringe é, de
1, ápice; 2, corpo; 3, raiz, formando o assoalho da orofaringe; 4,
sulco mediano; 5, papila valada; 6, papilas fungiformes; 7, arco
alguma forma, dividida arbitrariamente a
palatoglosso; 8, tonsila palatina na fossa tonsilar; 9, epiglote; partir da terceira subdivisão, a
10, frênulo laringofaringe, na região da epiglote. A
laringofaringe situa-se sobre a laringe, com
a qual corresponde em extensão.

18
Marina Morena

O estreitamento da orofaringe limita o tubas auditivas localizam-se nas paredes


tamanho das porções que podem ser laterais da nasofaringe e são marcadas por
deglutidas. Suas paredes laterais são aglomerados de tecido linfoide (tonsilas
sustentadas por uma fáscia e são a tubárias). A cartilagem da tuba auditiva
localização das tonsilas palatinas. Estas são estende-se pela parede medial da abertura
dispostas diferentemente nas diversas faríngea e a enrijece.
espécies; em algumas (p. ex., equinos) são
difusas, enquanto em outras constituem
uma massa compacta com estrutura
ovoide, como a do cão. A tonsila palatina é
alojada em uma fossa, chamada de fossa
tonsilar, localizada entre o arco
palatoglosso e arco palatofaríngeo.

50. óstio da tuba auditiva

As tubas auditivas permitem a


equalização das pressões dos dois lados
das delicadas membranas do tímpano. As
tubas auditivas se abrem
temporariamente a cada vez que
engolimos ou boce
1, cavidade nasal; 2, cavidade oral; 3, palato mole; 4, jamos. Isso permite o escape da discreta
nasofaringe; 5, raiz da língua; 6, laringe (evidenciada através secreção das células caliciformes e das
do assoalho da faringe); 7, laringofaringe (recesso piriforme); glândulas existentes no revestimento da
8, extremidade caudal do arco palatofaríngeo; 9, esôfago; 10, cavidade timpânica.
lâmina da cartilagem cricoide; 11, traqueia
Um divertículo
Quando o animal ingere um alimento (dilatação) da tuba
sólido ele é direcionado para o esôfago auditiva, a bolsa gutural, é
pelo deslocamento do palato mole encontrada em equinos. É
dorsalmente e fechamento da glote pela formada pelo escape do
epiglote. Um alimento líquido pode não revestimento mucoso da
forçar suficientemente o deslocamento tuba através de uma fenda
dessas estruturas e acabar indo para o entre as cartilagens de
trato respiratório inferior. No entanto, a suporte medial e lateral. Localiza-se
presença dos recessos piriformes faz com dorsalmente entre a base do crânio e o
que isso não aconteça, pois agem como atlas, e ventralmente entre a faringe e o
calhas laterais a epiglote, direcionando o início do esôfago; é coberta lateralmente
líquido para o esôfago. pelos músculos pterigoideos e glândulas
Tuba auditiva parótida e mandibular. Medialmente, as
partes dorsais dos sacos direito e esquerdo
A tuba auditiva é um canal que liga a
são separadas pelos músculos retos
orelha média dos mamíferos à faringe e
ventrais da cabeça, porém abaixo podem
que ajuda a manter o equilíbrio da pressão
se encontrar, formando um delgado septo
do ar entre os dois lados da membrana
mediano. O assoalho se localiza
timpânica. As aberturas faríngeas das
principalmente sobre a faringe, mas

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Marina Morena

também recobre e é modelado ao espécies, a glândula parótida estende-se


estiloióideo, que dá origem a uma crista rostralmente sobre o músculo masseter,
que divide de forma incompleta os ventralmente para o ângulo da mandíbula
compartimentos medial e lateral. e caudalmente para a fossa atlantal. Em
É um local de importância clínica devido todas as espécies, fica inclusa em um
a sua proximidade com os seios paranasais. revestimento fascial que emite trabéculas
Em sinusites infecciosas, o pus pode ir para para o interior, dividindo a glândula em
a nasofaringe, passar pela tuba auditiva e lóbulos evidentes.
cair na bolsa gutural. Os forames próximos, Os ductos coletores (parotídeos)
especialmente forame lácero (passagem maiores correm dentro dessas trabéculas
dos nervos cranianos), podem ser e, no final, juntam-se para formar um
comprimidos em infecções. Além disso, ducto único que a deixa na face rostral. No
outra complicação é a infecção atingir carnívoro esse ducto toma um atalho
essas estruturas que passam por esses através da superfície lateral do masseter e
forames. se abre no vestíbulo da boca, do lado
Glândulas salivares
oposto ao quarto dente pré-molar
superior. Nos grandes animais domésticos,
o ducto segue um caminho mais longo,
porém mais protegido, medial ao ângulo
da mandíbula, e volta-se sob a mandíbula,
para entrar na face ao longo da margem
rostral do masseter.

Laranja: glândula parótida; branco: glândula mandibular; amarelo: glândulas


sublinguais; vermelho: glândulas bucais. 1, ducto parotídeo; 2, ducto mandibular; Gl. mandibular
3, parte compacta (monostomática) da glândula sublingual; 4, parte difusa
(polistomática) da glândula sublingual; 5, glândulas bucais dorsais (glândula
A glândula mandibular produz secreção
zigomática no cão); 6, glândulas bucais médias; 7, glândulas bucais ventrais. mista mucosa e serosa. Em geral menor
A saliva mantém a mucosa da boca que a parótida, é mais compacta e se
úmida e se mistura ao alimento durante a localiza próximo ao ângulo da mandíbula. É
mastigação para lubrificar a passagem do uma estrutura ovoide muito regular,
bolo alimentar durante a deglutição e moderadamente grande no cão. É muito
iniciar a digestão química do alimento. maior nos herbívoros, nos quais tem
posição mais profunda. Essa glândula
Gl. parótida também drena por meio de um ducto
Órgão pareado, que se situa na união grande e único que corre ventral à
entre cabeça e pescoço, ventral à membrana mucosa do assoalho da boca,
cartilagem auricular na fossa próximo ao frênulo da língua, abrindo-se
retromandibular. Ela é particularmente na carúncula (papila) sublingual.
desenvolvida em herbívoros. Nessas

20
Marina Morena

em número, nos animais domésticos. São


glândulas polistomáticas com ductos
curtos que liberam a secreção próximo de
onde estão localizadas.
O ruminante tem necessidade de muita
saliva, uma vez que passa muito tempo
mastigando. Assim, suas glândulas
salivares são muito desenvolvidas.
Os carnívoros, especialmente canídeos,
Gl. sublingual possuem uma glândula bucal deslocada
caudalmente em relação ao arco
As glândulas sublinguais consistem em zogomático, portanto chamada de
duas glândulas em cada lado, exceto no glândula zigomática.
equino, no qual só existe a glândula
sublingual polistomática. A glândula Mucocele
subligual monostomática situa-se mais Consiste no acúmulo de saliva mucoide
caudalmente e é uma glândula compacta que extravasa de uma glândula ou ducto
com um único ducto de drenagem. O ducto lesado. A glândula sublingual é a mais
salivar sublingual maior compartilha uma frequentemente afetada. A saliva
abertura comum com o ducto salivar extravasada mais comumente se acumula
mandibular acima da carúncula sublingual nos tecidos subcutâneos das áreas
que projeta a partir da porção pré-frenular intermandibular, tecidos sublinguais
do assoalho da cavidade oral. (rânula) ou cervical cranial. Um local
A extensa glândula sublingual menos comum é a parede da faringe. O
polistomática se situa mais rostralmente e tratamento requer a remoção do
se abre por meio de diversos ductos complexo glandular mandibular-
menores na crista sublingual. Essas sublingual.
Esôfago
aberturas se localizam em uma prega
longitudinal nos recessos sublinguais
laterais e, no bovino, acima das papilas O esôfago conduz alimento da faringe
cônicas situadas na prega. ao estômago. Esse tubo relativamente
estreito tem início dorsalmente à
cartilagem cricoide da laringe e segue a
traqueia ao longo do pescoço, inicialmente
inclinando-se para a esquerda (altura de
C4), mas reassumindo uma posição
mediana acima da traqueia antes ou logo
depois da entrada do tórax. No tórax, corre
no mediastino (à direita da aorta) e,
continuando além da bifurcação traqueal,
passa sobre o coração antes de penetrar
no hiato esofágico do diafragma. Segue
Gl. bucais então seu caminho sobre a margem dorsal
Podemos encontrar glândulas bucais na do fígado, onde se junta ao estômago na
região mais dorsal ou na região mais região do cárdia. Portanto, é constituído de
ventral do maxilar. Possuem uma grande partes cervical, torácica e abdominal,
variação de formação, seja em tamanho ou embora a última seja muito curta.

21
Marina Morena

O estômago possui paredes reforçadas


por musculatura lisa, inclusive possui uma
camada extra de músculo, chamada
A estrutura do esôfago obedece a um
camada obliquas, além das longitudinais e
padrão que é comum ao restante do canal
circulares.
alimentar, com uma mucosa pregueada
Quando comparamos o tubo digestório
mais interna. O revestimento externo é um
do carnívoro com o do equino, notamos
tecido conjuntivo frouxo (adventícia) no
que o do equino também possui um
pescoço, mas este é largamente
estômago monocavitário, mas apresenta
substituído pela serosa no tórax e no
um tubo digestório muito mais comprido,
abdome. O músculo é estriado na origem
devido a sua alimentação. O ruminante,
do esôfago, mas em algumas espécies (p.
embora o estômago seja policavitário,
ex., gatos, suínos e cavalos) o músculo
também possui um tubo digestório muito
estriado é substituído por músculo liso em
comprido. A digestão de plantas é muito
algum ponto no interior do tórax.
mais complexa, por isso que o tubo
É importante saber que a bainha
digestivo desses animais precisa ser mais
carotídea, com a artéria carótida, tronco
comprido.
vagossimpático e veia jugular interna,
passa dorsalmente a traqueia, próximo ao Monogástrico
esôfago. Esta proximidade precisa ser O estômago unicavitário é uma
levada em conta no momento de realizar dilatação em forma de saco do canal
um corte, caso precise fazer uma alimentar. As principais divisões do
sondagem. estômago são: cárdica, fundo, corpo e
Estômago pilórica. Ele possui uma face visceral,
voltada para o intestino; uma face parietal,
O estômago se interpõe entre o esôfago voltada para o fígado e o diafragma; uma
e o intestino delgado. Nos mamíferos curvatura maior; e uma curvatura menor.
domésticos, o estômago apresenta grande Além disso, possui duas extremidades,
variação quanto à forma e distribuição dos esquerda e direita.
diferentes tipos de mucosa que o
revestem. Considerando sua forma, eles
podem ser divididos em estômago
monogástrico, com apenas um
compartimento (carnívoros, suínos e
equinos), e poligástrico, com diversos
compartimentos (ruminantes).

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Marina Morena

A entrada do estômago é denominada


1, aorta; 2, esôfago; 3, veia cava caudal; 4, diafragma; 5, fígado; 6, omento
cárdia e a saída se chama piloro, ambas menor; 7, pâncreas; 8, raiz do mesentério; 9, cólon transverso; 10, estômago;
controladas por esfincteres. Na porção 11, bolsa omental; 12, intestino delgado; 13, lâmina dorsal do omento maior;
14, lâmina ventral do omento maior; 15, peritônio parietal; 16, fossa pararretal;
pilórica é onde ocorre a digestão física e 17, bolsa retogenital; 18, bolsa vesicogenital; 19, bolsa pubovesical; 20, bexiga
química é mais exacerbada. Uma vez que urinária; 21, próstata; 22, reto; 23, ísquio; 24, ânus.
está digerida e em uma consistência A curvatura menor é a margem dorsal
pastosa, chamado de quimo, passa pelo côncava do estômago e segue o trajeto da
esfíncter pilórico para o duodeno. cárdia até o piloro. Ela está conectada ao
O corpo é a parte média maior do fígado pelo omento menor. A curvatura
estômago, a qual se prolonga desde o menor não é uniformemente côncava, pois
fundo gástrico à esquerda até o piloro na apresenta a incisura angular.
direita. A parte pilórica pode ser dividida Saindo da curvatura maior do estômago
em antro pilórico e canal pilórico em está o omento maior, que se direciona
direção ao duodeno. O fundo gástrico é caudalmente, dobrando sobre si mesmo e
uma invaginação cega que emerge acima continuando para formar o peritônio
do corpo e da cárdia. Ele tem a forma de visceral do pâncreas. O omento maior
um saco cego no equino e forma o possui a camada/lâmina ventral e a
divertículo ventricular ou gástrico no camada/lâmina dorsal. Ao dobrar sobre si,
suíno. o omento forma uma cavidade, chamada
A face parietal do estômago se situa de bolsa omental.
contra o diafragma e o fígado, enquanto a O recesso supra-omental é a região que
face visceral está em contato com os o omento maior recobre os intestinos na
órgãos abdominais adjacentes situados na região dorsal. A raiz do mesentério é onde
direção caudal. o mesentério começa a se formar e
envolve o pâncreas e irá revestir também
os intestinos. Assim, o omento maior tem
uma conexão com o mesentério nessa
porção que envolve o pâncreas.
O peritônio parietal recobre os rins, por
isso que são chamados de retoperitoneais.
Os dois folhetos do peritônio parietal se
unem e formam a raiz do mesentério. Além
disso, o mesentério também envolve o
baço, local que também há um ligamento
entre o mesentério e o omento maior.
Desse modo, une o baço ao estômago,

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Marina Morena

chamado de ligamento gastro-esplênico microbiota. São responsáveis pela


(gastrolienal). Em casos de destruição enzimática dos carboidratos
deslocamento/torção do estômago, essa complexos, especialmente a celulose, a
ligação faz com que o baço também se qual constitui uma grande parte da dieta
movimente, provocando isquemia pela regular de ruminantes, e a produção de
oclusão do hilo. ácidos graxos de cadeia curta (propionato,
butirato e acetato) com auxílio de
micróbios.

A última câmara, o abomaso, possui


Na altura da 12º vértebra torácica, há
uma mucosa glandular, que realiza a
uma abertura que permite a entrada na
digestão química e é comparável ao
bolsa omental, no antímero direito,
estômago unicavitário dos outros
passando pela veia porta, pâncreas, lobos
mamíferos domésticos. Portanto, é
do fígado e a veia cava caudal. Essa
chamado de estômago verdadeiro.
passagem é chamada de forame omental
(forame epiplóico) e seu principal Rúmen
significado clínico é a possibilidade de Pelo rúmen ser o maior, apresenta
ocorrer hérnia. Como por exemplo, o diversos pilares e sulcos, dividido em
duodeno sofrer uma herniação e se grandes câmeras/sacos ventral e dorsal.
projetar para a bolsa omental. Ocorrência Entre os sacos dorsal e ventral há o
comum de cólica em equinos idosos. sulco longitudinal esquerdo. Internamente
são formadas pregas/pilares, que dá
Poligástrico origem ao sulco, portanto é chamada de
pilar longitudinal esquerdo. Do mesmo
modo, na vista direita é possível observar o
sulco longitudinal direito que divide os
sacos dorsal e ventral.
Os sulcos coronários dividem, tanto o
Retículo; Omaso; Abomaso; Rúmen
A. Lado esquerdo; B. Lado esquerdo/visceral saco ventral quanto o dorsal, dando
origem as porções do rúmen chamadas de
O estômago dos ruminantes é saco cego caudodorsal e saco cego
composto por quatro partes: rúmen, caudoventral, nas porções mais caudais do
retículo, omaso e abomaso. rúmen. O sulco caudal do rúmen separa os
O rúmen, o retículo e o omaso sacos cegos entre si. O saco dorsal tem
costumam ser referidos coletivamente uma continuação que é de difícil
como proventrículos, os quais possuem delimitação, chamado de saco cranial do
uma mucosa aglandular, onde é realizada a
fermentação dos alimentos pela

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Marina Morena

rúmen, separado do saco ventral pelo Retículo e omaso


sulco cranial. No reticulo são vistos o sulco reticular,
de grande importância clínica, entre a
Dorsal cárdia (entrada do esôfago) e o óstio
reticulo-omasal. Em animais que já
Cranial caudal desmamados, ou seja, jovens, o alimento
Ventral passa pela cárdia e cai no rúmen, onde
passa por um processo de fermentação
complexo. O alimento então volta em
direção ao esôfago, retorna para a
cavidade oral e é triturado mais uma vez.
Depois que ela deglute pela segunda vez, o
alimento passa pelo esôfago e cai no
Dorsal
retículo. Mais uma vez fermentado, dessa
vez pelo retículo, o alimento passa pelo
caudal Ventral
Cranial óstio reticulo-omasal e se dirige para o
omaso.
Em bezerros ainda jovens, que mamam,
não possuem retículo e rúmen
completamente desenvolvido. Uma vez
Longitudinal esquerdo, longitudinal direito; coronário dorsal que o leite é um alimento que não precisa,
direito, coronário dorsal esquerdo; coronário ventral direito,
coronário ventral esquerdo; saco cego caudoventral, saco cego nem deve, ser fermentado, não passa por
caudodorsal; Sulco caudal; Sulco cranial; saco cranial essas cavidades. A posição de mamar faz
com que o esôfago se estique, juntamente
com a pressão negativa do ato de mamar,
leva as extremidades do sulco reticular
colabem, formando um tubo, chamada de
goteira esofágica. Desse modo, o leite
passa direto para o omaso.
A mucosa reticular é aglandular e
Entre o retículo e o saco cranial do revestida com um epitélio estratificado,
rúmen há o sulco ruminoreticular, onde há semelhante ao da mucosa do rúmen. Ela
a prega ruminoreticular. A proximidade e apresenta um padrão de fava
conexão entre o rúmen e o retículo, com característico formado por cristas.
uma grande abertura do óstio O omaso se localiza na parte
ruminoreticular faz com que as duas intratorácica do abdome, à direita da linha
porções sejam até mesmo consideradas média, entre o rúmen e o retículo à
quase como um só, chamado de esquerda, e o fígado e a parede do corpo à
ruminoreticulo. direita.
O conteúdo do rúmen demonstra O orifício (óstio) reticulomasal está
alguma estratificação: o alimento de situado na terminação dorsal do curto
ingesta recente é empilhado sobre o canal; na outra extremidade, o grande e
material remastigado pesado e mais oval óstio omasoabomasal é parcialmente
umedecido. Portanto, é o material mais ocluído pelo prolapso das pregas
leve que está mais sujeito a ser regurgitado abomasais. O assoalho do canal (conhecido
para posterior mastigação e insalivação. como sulco do omaso) é liso, exceto por
poucas cristas baixas que correm ao longo

25
Marina Morena

de sua extensão e por uma difusão de posteriormente para o mesoduodeno. A


projeções semelhantes a garras que fixação omental é refletida onde o
guardam a abertura superior. duodeno vira cranialmente, e ele
Abomaso retrocede sua fixação ao longo do duodeno
O abomaso corresponde ao estômago descendente até ser levado de volta à
unicavitário dos outros mamíferos flexura duodenal cranial na porta do
domésticos e, de forma análoga, pode ser fígado. Retorna então para a face direita do
dividido em corpo gástrico e piloro. Ele rúmen via pâncreas.
apresenta uma curvatura maior voltada O omento menor surge da superfície
para a direção ventral e uma curvatura visceral do fígado, entre a veia porta e a
menor voltada para a direção dorsal. impressão esofágica, e passa para a região
O abomaso é revestido por uma mucosa do sulco do retículo, a face direita do
glandular que contém as glândulas omaso, e daí ao longo da curvatura menor
gástricas próprias e as glândulas pilóricas. do abomaso para a primeira parte do
Assim como na língua o ruminante duodeno, o qual retorna o omento para o
apresenta um tórus, no abomaso há o fígado.
tórus pilórico, pouco antes do esfíncter. É
apenas um espessamento, que estreita a
passagem do quimo para o duodeno.
Omento
A fixação do omento maior se inicia
dorsal ao esôfago. As duas lâminas serosas,
das quais ele é composto passam
diretamente sobre o rúmen, mas são tão
amplamente separadas que permitem a
adesão da parte imediatamente pós-
cárdica do teto ruminal diretamente ao
teto abdominal. Esse espaço
retroperitoneal é fechado caudalmente,
onde as duas lâminas serosas se juntam na
metade do caminho ao longo do sulco Topografia das vísceras abdominais. A, Relação das vísceras
longitudinal direito para formar uma prega abdominais com a parede abdominal esquerda. B, O interior do
convencional, a qual se fixa ao estômago. estômago visto da esquerda. C, Relação das vísceras abdominais com a
parede abdominal direita; o fígado foi removido. D, Posição das partes
A fixação dessa prega pode ser do estômago vista da direita. 1, esôfago; 2, contorno do baço; 3,
acompanhada ao longo do sulco retículo; 4, saco dorsal do rúmen; 5, saco ventral do rúmen, recoberto
longitudinal direito através do sulco caudal pela lâmina superficial do omento maior; 6, fundo do abomaso,
entre os sacos cegos caudais e, então, recoberto pela lâmina superficial do omento maior; 7, sulco do
adiante ao longo do sulco longitudinal retículo; 8, corpo do abomaso; 9, átrio do rúmen; 10, saco cego
caudodorsal; 11, saco cego caudoventral; 12, saco ventral do rúmen
esquerdo. Ela cruza o átrio do rúmen e se
(aberto); 13, omaso, recoberto pelo omento menor; 14, duodeno
amplia para formar uma ampla fixação ao descendente; 15, parte pilórica do abomaso; 16, omento maior
retículo, antes de se curvar abruptamente recobrindo a massa intestinal; 17, omento menor seccionado do
para a direita, ventral ao ruminorretículo, fígado; 18, posição da margem caudoventral do fígado.
para alcançar a curvatura maior do
abomaso, a qual segue até o piloro e
continua sobre a face caudal da primeira
parte (vertical) do duodeno, da qual se
estende sobre o duodeno descendente e

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Marina Morena

Intestino na direção do baço, cólon, duodeno e


jejuno. O mesentério propriamente dito é
O intestino é a parte o que vai de encontro ao jejuno; a porção
caudal do canal do mesentério que se projeta e forma a
alimentar. Ele se inicia prega do cólon é chamada de mesocólon;
no piloro e prossegue por fim, a prega que envolve o duodeno é
até o ânus. Divide-se em chamada de mesoduodeno. Todos são
intestino delgado do provenientes da raiz do mesentério, sendo
piloro até o ceco e basicamente a mesma coisa, porém o
intestino grosso do ceco mesentério propriamente dito, é o
até o ânus. O diâmetro conectado ao jejuno, pois é a maior
dessas partes nem porção. A prega do mesentério que liga a
sempre é diferente, região do íleo com o ceco é chamada de
como sugere a prega ileocecal. Entre o duodeno e o cólon
denominação. descendente há uma prega, chamada de
O intestino delgado prega duodenocólica, também formada
compreende três partes: pelo mesentério.
duodeno, jejuno e íleo. O A artéria mesentérica cranial é um ramo
duodeno está relacionado com a digestão da aorta abdominal de calibre bem
química do alimento, associado com as considerável. Ela acompanha desde a raiz
glândulas anexas, e o jejuno e íleo com a do mesentério até quando ele se abre para
absorção dos nutrientes, especialmente o envolver o jejuno e o íleo e se ramifica,
jejuno. O intestino grosso é dividido em formando uma rede de ramos que sofrem
ceco (em humanos é o apêndice), cólon e anastomose próximo as pregas intestinais.
reto. Assim como em humanos, em Além de vascularizar o intestino delgado,
carnívoros [A] o ceco é afuncional, por isso ela também é responsável por vascularizar
é pequeno quando comparado com o parte do intestino grosso, na porção do
equino [B] e o ruminante [C]. No equino é ceco, cólon ascendente, cólon transverso e
onde ocorre parte da fermentação do parte do cólon descendente.
alimento, por isso é tão desenvolvido
(fermentador pós gástrico). No ruminante,
onde a fermentação é pré-gástrica, o ceco
é mais desenvolvido que nos carnívoros,
porém é apenas semi-funcional.

Intestino delgado
O duodeno tem início após o esfíncter
pilórico, onde essa primeira porção é
chamada de flexura cranial. Seguindo o
O mesentério é uma serosa duodeno, encontramos a parte
intermediária que emite prolongamentos descendente, que vai em direção caudal e

27
Marina Morena

é a maior parte dele. Na altura da asa do Herbívoro Carnívoro


ílio, o duodeno faz uma segunda flexura,
chamada de flexura caudal, onde ele se
dobra da direita para a esquerda do
animal. A seguir temos a porção
ascendente, no qual ele se volta
novamente para cranial, fazendo uma
última flexura, que o conecta com o jejuno,
chamada de flexura duodenojejunal.
Os ductos que saem das glândulas
anexas, fígado e pâncreas, desembocam
no duodeno através de uma papila
(elevação da mucosa com óstio), a papila
duodenal maior (ducto colédoco e o ducto
Herbívoro: 5- íleo; 7- ceco; óstio ileal; prega ileal
pancreático principal) e menor (ducto Carnívoro: 1- íleo; 2- ceco; 3; cólon; 4- óstio ileal; 5-
pancreático acessório). Elas se encontram orifício cecocólico
no interior da mucosa do duodeno, na
parte descendente. Intestino grosso
Carnívoro
No carnívoro é um intestino grosso
simples e curto, onde o primeiro segmento
é o ceco. No cão, o formato é de saca-rolha
e no gato é mais semelhante a uma vírgula.
O intestino grosso se inicia no lado direito
do animal, próximo ao duodeno, na região
mais dorsal do abdômen.
Após o ceco, há o cólon ascendente,
1- Baço; 2- estômago (fundo); 4- fígado; 5- esfíncter
pilórico; 6- flexura cranial; 7- papila duodenal maior; 8- porção bem reduzida nesses animais,
papila duodenal menor; 9- pâncreas seguida da primeira flexura, chamada de
flexura direita. O cólon transverso se inicia
O jejuno é a maior parte do intestino
na flexura direita e vai até a flexura
delgado, onde ocorre menos digestão e
esquerda, onde começa o cólon
mais absorção dos alimentos previamente
descendente, que é a maior porção do
digeridos, por isso que tem a necessidade
intestino grosso. A porção final é o reto,
de ser tão grande. Não existe delimitação
que fica dorsal a bexiga urinária, e serve
macroscópica/anatômica entre o jejuno e
apenas como um reservatório temporário
o íleo, a única indicação do final do
para as fezes que ainda não podem ser
jejuno/começo do íleo é a conexão do íleo
expelidas pelo animal.
com o intestino grosso.
Em herbívoros, o íleo desemboca no
ceco através do óstio ileal, onde ao redor
ocorre um dobramento da musculatura
lisa que forma uma elevação, chamada de
papila ileal. No carnívoro, que possui um
ceco pouco desenvolvido/rudimentar, o
íleo se conecta diretamente com o cólon.

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Marina Morena

O ceco é dividido em base, corpo e


ápice. A base é onde o íleo desemboca, ou
seja, a primeira porção do ceco que forma
uma flexura. O corpo e o ápice se
diferenciam pela fixação pela prega
cecocólica, onde o ápice encontra-se
desprendido dela.

8- Ceco; 9- cólon ascendente; 10- cólon


transverso; 11- cólon descendente; 12- raiz
do mesentério; 13- prega duodenocólica;
14- bexiga; flexura direita; flexura esquerda
Equino
Nos herbívoros, especialmente no
O equino é um herbívoro não ruminante
equino, o cólon ascendente é muito
ceco funcional, portanto, considerado um
grande, apresentando uma diferença
fermentador pós-gástrico. A fermentação
gritante para o do carnívoro. Devido a essa
microbiana ocorre no ceco, portanto este
característica, pode-se também chamar de
é muito bem desenvolvido. A parede é
cólon maior, enquanto o cólon
revestida de saculações/divertículos,
descendente é chamado de cólon menor.
chamados de haustros, não só no ceco,
O cólon ascendente pode ser
como no cólon também. A tênia é uma fita
subdividido em quatro segmentos
de musculatura lisa que abrange
paralelos conectados por três flexuras. Ele
longitudinalmente o intestino grosso, é
se inicia com o cólon ventral direito no
uma adaptação da camada muscular
óstio cecocólico, ou seja, se projetando de
longitudinal do intestino.
caudal para cranioventralmente. Ao
alcançar a região da cartilagem xifoide do
esterno, ele é desviado por sobre a linha
média com a flexura esternal, dobrando da
direita para a esquerda, seguindo
ventralmente, seguindo com o cólon
ventral esquerdo. Quando essa porção
chega na cavidade pélvica, há uma dobra
chamada de flexura pélvica, dando início
ao cólon dorsal esquerdo. Uma
característica desse seguimento é a
ausência de tênia e haustro. Seguindo de
caudal para cranial, há uma outra flexura,
chamada de diafragmática por estar na
altura do diafragma. Após essa última

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Marina Morena

flexura, o cólon dorsal direito tem início e último giro, em direção cranial, tem início
corre na direção crânio-caudal. a alça distal do cólon ascendente.

Vista lateral direita do trato intestinal bovino


esquemática. 1, parte pilórica do abomaso; 2,
Uma importante consideração clínica é duodeno; 3, jejuno; 4, íleo; 5, ceco; 6, prega
a cólica, especialmente a cólica por ileocecal; 7-10, cólon ascendente; 7, alça proximal
impactação, que consiste na obstrução do cólon ascendente; 8, giros centrípetos do cólon
luminal por massas desidratadas de espiral; 9, giros centrífugos do cólon espiral; 10, alça
distal do cólon ascendente; 11, cólon transverso; 12,
ingesta. Embora as compactações sejam cólon descendente; 13, reto; 14, linfonodos jejunais;
diagnosticadas frequentemente na flexura 15, artéria mesentérica cranial.
pélvica, elas podem ocorrer em qualquer Pelo tamanho do rúmen, as estruturas
segmento do trato gastrintestinal. Suas do intestino são compactadas basicamente
causas no manejo inadequado da no antímero direito e, é por isso, que elas
alimentação dos equinos, onde o animal se organizam nesses espirais.
deita ou se movimenta pouco após uma
refeição. Nesses casos o bolo fecal tem
dificuldade de se movimentar pelo
intestino grosso, com os movimentos
peristálticos diminuídos.
Ruminantes
O ceco dos ruminantes é mais
desenvolvido que o dos carnívoros, porém
não é tão funcional, uma vez que a
fermentação ocorre nos pré-estômagos.
Após o ceco, o cólon se inicia com uma
flexura, chamada de flexura sigmóide (em
formato de S), que dá origem a primeira
alça, chamada de proximal. Depois da alça
proximal, temos a alça espiral, que possui
diversos giros em direção ao centro (giro
centrípeto). Quando o giro centrípeto
chega ao limite, ocorre uma flexura,
chamada de central, para que tenha novos
giros que vão em direção a periferia,
chamado de giro centrífugo. Após esse

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Marina Morena

Ânus O fígado é majoritariamente voltado


para o lado direito, especialmente nos
O ânus não faz parte do tubo digestório ruminantes, onde está quase todo neste
propriamente dito, que vai apenas até o antímero. É composto por duas faces, uma
reto. É apenas uma continuação anexa do parietal e outra visceral. A face parietal é a
reto. que está voltada para o diafragma, por isso
É formado por dois esfíncteres, o também pode ser chamada de
primeiro é o anal interno, que é formado diafragmática ou cranial. Em contraponto,
por músculo liso, e o segundo é o esfíncter a face visceral é a que está voltada para as
anal externo, formado por músculo vísceras, em direção caudal.
estriado esquelético (voluntário). Juntos,
os esfíncteres agem na continência fecal
do animal.

Além disso, possui também quatro


bordas, dorsal, ventral, esquerda e direita.
No equino e no ruminante a borda dorsal é
Quando o reto está muito cheio, o projetada a esquerda, devido a topografia
músculo do esfíncter anal interno começa do órgão, que está compactado a direita.
a relaxar devido a vasta enervação local. Passando pela borda dorsal do animal,
Glândulas anexas passa tanto o esôfago (impressão
esofágica no lado mais esquerdo) quanto a
O fígado e o pâncreas são as duas veia cava caudal (no lado mais direito).
glândulas intimamente associadas ao canal O fígado é dividido de modo geral, e
alimentar. Entre várias outras funções quatro lobos. O lobo direito é único em
importantes, os dois órgãos produzem equinos e ruminantes, enquanto em
substâncias que desempenham um papel carnívoros e suínos possuem o lobo direito
essencial na digestão gastrintestinal. subdivido em medial direito e lateral
Fígado direito. O lobo esquerdo também é
dividido em medial e lateral, exceto nos
É a maior glândula do corpo humano e
ruminantes, que é único. O lobo quadrado
possui função endócrina e exócrina. Na
é muito relacionado com o plano mediano
função exócrina possui um suco digestivo
e ventral do fígado, especialmente em
chamado bile, que possui a função de
carnívoros. Por fim, o lobo caudado, que é
emulsificação de gordura.
o mais dorsal, possui o processo caudado
do lobo caudado em todas as espécies, em

31
Marina Morena

carnívoros e ruminantes, também possui o É importante ressaltar que os equinos


processo papilar do lobo caudado. não possuem vesícula biliar, assim como os
Carnívoro: ratos. Nos animais que a possuem, a
vesícula biliar está situada entre o lobo
quadrado e o lobo direito (medial, no caso
de carnívoros e suínos).
Qualquer ducto que conduza a bile
pode ser chamado de ducto biliar. Saindo
de todos os lobos do fígado tem diversos
ductos biliares, que se unem para formar
um maior/principal (ducto hepático), que
leva a bile produzida no lobo. Os ductos
hepáticos se unem e formam o ducto
cístico, que conduz a bile até a vesícula. O
Suíno: ducto que leva a bile da vesícula até o
intestino é o ducto colédoco.
O hilo hepático é composto pela artéria
hepática, veia porta hepática e os ductos
biliares, além de outros nervos e vasos de
menor importância e alguns linfonodos.
Localizado entre os processos caudado e
papilar do lobo caudado.
Outra estrutura importante no fígado é
o ligamento redondo, que está sempre
Bovino: entre o lobo esquerdo (medial, no caso de
carnívoros, suínos e equinos) e o lobo
quadrado, e é responsável por fixar a borda
ventral do fígado. Esse ligamento é um
resquício da veia umbilical, que está ativa
na vida fetal do animal e passa por um
processo de fibrose por não ser mais
utilizada.
Ainda na vida fetal, quando o ligamento
redondo era uma veia, ele precisava ser
fixado no abdômen e, portanto, era
Equino: revestido por peritônio visceral e serosa
intermediária (ligamento falciforme).
Assim, ainda que o ligamento redondo
tenha passado pelo processo de fibrose, o
ligamento falciforme continua
envolvendo-o.

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Marina Morena

composto por dois lobos (direito e


esquerdo) e um corpo.

O lobo associado ao duodeno


descendente e a flexura caudal do
Vista crânio-dorsal do fígado de um carnívoro: a- lobo lateral
duodeno é o lobo pancreático direito. O
esquerdo; a’- lobo medial esquerdo; b- lobo lateral direito; b’- lobo esquerdo está associado ao corpo do
lobo medial direito; c- lobo quadrado; d- processo caudado do estômago e a sua curvatura maior.
lobo caudado; d’- processo papilar do lobo caudado; e- Conectando os dois lobos, há uma região
vesícula biliar; 3- veia porta4- veia cava caudal; 5- ligamento flexionada, associada a flexura cranial do
triangular esquerdo; 6- ligamento triangular direito; 8-
ligamento coronário.
duodeno, que consiste no corpo do
pâncreas. Nessa região do corpo há uma
Além desses, o fígado possui outros fissura/incisura por onde passa a veia
ligamentos mais visíveis na face parietal, porta hepática para chegar até o fígado.
de vital importância para sustentar o peso Pâncreas canino:
do órgão. Esses ligamentos são compostos
por serosas intermediárias que aderem o
fígado a parede abdominal e ao diafragma.
Dentre eles, há o ligamento coronário,
responsável por fixar o fígado no
diafragma. É uma projeção do peritônio
parietal, que cobre o diafragma e se
direciona para o fígado. Os ligamentos
triangulares direito e esquerdo fixam o
fígado na parte do diafragma que se liga as
costelas, lateralmente. Assim, o ligamento
triangular direito liga o lobo direito ao
diafragma, enquanto o triangular direito
Tanto no cão como no equino, há dois
fixa o lobo esquerdo ao diafragma.
ductos pancreáticos, o ducto pancreático
Pâncreas principal e o acessório. Bovinos, suínos e
O pâncreas é uma glândula, órgão felinos só possuem um ducto pancreático
parenquimatoso, intimamente relacionada funcional, portanto, só possuem uma
com o duodeno descendente na parte papila duodenal. Em contraponto, no cão e
dorsal da cavidade abdominal. Combina no equino são vistas duas papilas
funções exócrinas e endócrinas. É duodenais: uma maior, (próximo a flexura
cranial do duodeno) por onde sai o ducto

33
Marina Morena

colédoco e o ducto pancreático principal, e Além disso, o rim também possui


uma menor. função endócrina importantíssima, no
No equino, a região de união do ducto órgão justaglomerular. Esse órgão é
pancreático principal e do ducto colédoco responsável pela produção da renina, que
gera uma dilatação antes de chegar à regula a pressão sanguínea. Os néfrons
papila duodenal maior, a ampola também são responsáveis pela produção
hepatopancreática, seguida por um óstio da eritropoietina.
elevado. A ampola contém um esfíncter de Tanto o sistema reprodutor masculino
musculatura lisa que é relaxada quando as quanto o feminino dividem a parte mais
secreções biliares e pancreáticas são distal/caudal com o sistema urinário. No
eliminadas. macho a uretra peniana conduz tanto a
urina como o sêmen. Na fêmea, a vagina é
separada na vagina propriamente dita e no
vestíbulo da vagina. A uretra pélvica da
fêmea desemboca ventralmente no ponto
de encontro entre as duas porções da
vagina através do óstio uretral externo.

Órgãos urinários e reprodutivos da fêmea (cadela). 1, rim


Sistema urinário direito; 2, ureter; 3, bexiga urinária; 4, ovário; 5, tuba uterina; 6,
corno uterino; 7, cérvix; 8, vagina; 9, uretra; 10, vestíbulo; 11,
Os órgãos urinários estão intimamente clitóris; 12, vulva; 13, processo vaginal; 14, reto.
relacionados aos órgãos reprodutores,
assim, os dois conjuntos de órgãos Rins
costumam ser descritos sob uma única São órgãos parenquimatosos
rubrica, o aparelho urogenital. localizados na região retroperitoneal
Os órgãos urinários são os rins, (dorsais ao peritônio). Os rins possuem
ureteres, vesícula ou bexiga urinária e duas faces, uma ventral/visceral (mais
uretra. Os rins pares produzem urina a convexa) e outra dorsal/parietal
partir do sistema circulatório por meio de (achatada/reta). Também são compostos
filtração, secreção, reabsorção e por dois polos, cranial e caudal, e duas
concentração. Os ureteres transportam a bordas, lateral e medial. É na borda medial
urina desde os rins até a vesícula urinária, que consta o hilo renal, por onde passam
onde ela é armazenada até sua eliminação vasos (artéria renal, ramo da aorta; veia
pela uretra. renal, tributária da veia cava caudal) e

34
Marina Morena

nervos importantes, bem como o ureter, Um método de distinguir os polos, no


que conduz a urina até a vesícula urinária. caso de uma peça solta, é observando o
Na região do hilo renal pode ser vista uma ureter, que segue em direção da bexiga.
incisura onde há um grande depósito de Caso o ureter esteja dissecado, observa-se
gordura, para proteger as estruturas a artéria renal, que tende a manter a
presentes, que se projeta para dentro do posição apontada para cranial, uma vez
rim e forma uma pequena cavidade que sua camada de músculo é mais
chamada de seio renal. Por fim, são espessa.
revestidos por uma cápsula fibrosa, A forma mais familiar, que introduziu o
chamada de cápsula renal. termo em forma de rim ou reniforme no
vocabulário comum, é encontrada nos
cães, gatos e pequenos ruminantes. Os rins
dos suínos são mais achatados (parecido
com o dos humanos), enquanto os dos
equinos apresentam forma semelhante a
um coração. Os rins dos equinos podem ser
diferenciados entre direito e esquerdo
com maior facilidade, pois possuem
formas diferentes (assimetria renal). O rim
esquerdo é um pouco mais achatado e com
menos forma de coração do que o direito.
Desse modo, os rins dos cães, gatos,
pequenos ruminantes, suínos e equinos
são considerados unilobados, ou seja,
possuem apenas um lobo.
Em contraste, os rins dos bovinos (e
bubalinos) são muito diferentes e
apresentam uma superfície
profundamente fissurada, formando vários
lobos (multilobado).
As unidades funcionais dos rins são os
néfrons, compostos por túbulos renais,
arteríola aferente, capilares (glomérulo –
envolto pela cápsula glomerular ou de
Bowman) e arteríola eferente. O conjunto
de glomérulo e cápsula glomerular é
chamado de corpúsculo renal. O sangue
que chega pela arteríola aferente precisa
ser filtrado, é chamado de sangue sujo, o
que ocorre dentro do glomérulo nos
capilares fenestrados. O material filtrado
fica retido no espaço capsular e segue pelo
sistema de túbulos, onde cada parte realiza
uma função específica de
reabsorção/secreção. Por fim, o último
túbulo do sistema é conectado com o
ducto coletor, que está externo e recebe o

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Marina Morena

filtrado de diversos néfrons. Diversos Por sua vez, nos animais com rins
ductos coletores desembocam no ducto multipiramidais, cada papila renal envia o
papilar (muito maior – macroscópico; urina conteúdo recebido pelos ductos papilares
já formada). para uma região adjacente, chamada cálice
renal. Todos os cálices desembocam em
uma cavidade no interior do rim chamada
de pelve renal.
Mesmo os rins unipiramidais, possuem
uma origem embrionária de uma medula
multipiramidal, podendo ser visto um
resquício em peças dissecadas muito
profundamente. Durante o
desenvolvimento os cálices e as papilas se
fundem, deixando a pelve maior (mais
dilatada) do que nos rins multipiramidais.
Além disso, a crista renal fica mais ao meio,
entre as fusões dos cálices.
O parênquima renal é dividido em duas Os recessos da pelve renal são
regiões macroscopicamente distintas, o característicos do rim unipiramidal, pois
córtex e a medula. É na região cortical que são formados pelas invaginações da pelve
está concentrada a intensa circulação pelos resquícios dos cálices.
sanguínea, bem como os corpúsculos O seio renal é uma cavidade onde
renais. Por sua vez, na medula estão porção da pelve e as estruturas do hilo
presentes os ductos coletores e papilares, renal estão alojadas. É uma porção com
que desembocam na região da papila bastante tecido adiposo para dar suporte e
renal. proteção não só para a pelve, como
A medula renal pode ser multipiramidal, também para as estruturas do hilo.
como em bovinos e suínos, ou unipiramidal
(medula única), como nos equinos, caninos
e felinos. A medula multipiramidal possui
um padrão de formatos triangulares
(cones invertidos). No caso dos bovinos,
cada lobo possui um córtex e uma
medula/pirâmide renal.
Animais com rim unipiramidal possuem
apenas uma papila renal, que é chamada
de crista renal. Nessa região é possível
visualizar diversos óstios, que são os
pontos de saída dos ductos papilares.
No sistema pielocalicinal dos rins
multipiramidais, os cálices presentes nas
regiões dos polos cranial e caudal são
menores, chamados de cálices renais
menores. Esses cálices desembocam em
um tubo mais grosso, resultante da fusão
deles, chamados de cálices renais maiores,
que podem ser formados a partir de dois,

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Marina Morena

três ou até quatro cálices menores. Na


região mesorenal são vistos cálices
menores desembocando diretamente na
pelve renal.
Por sua vez, o sistema coletor dos rins
unipiramidais são mais simples,
Rim equino esquerdo:

No caso dos carnívoros, os rins estão


posicionados na altura da última costela,
paralelamente as vértebras. O rim direito é
O sistema coletor do rim equino é um ligeiramente mais cranial que o esquerdo,
pouco diferente, pois possui os recessos devido a sua associação com o fígado.
terminais. Assim, o polo cranial do rim direito está
profundo à última costela. O polo cranial
Topografia do rim esquerdo está associado ao arco da
O peritônio parietal passa ventralmente última costela, portanto, mais fácil de
aos rins sem englobá-lo dentro do saco palpar, especialmente em felinos.
peritoneal; assim, estão localizados na Em equinos, que possuem 18 pares de
região retroperitoneal. O espaço costela, mesmo o rim esquerdo é
retroperitoneal direito é mais restrito, intratorácico, portanto, de difícil acesso.
portanto, o rim direito está mais próximo a Devido essa proximidade com as costelas,
parede abdominal dorsal. Isso ocorre pela o rim do equino possui uma face dorsal
conexão com o fígado, pelo ligamento mais convexa e uma face ventral mais
hepatorenal no processo caudado do lobo côncava, em oposição ao relatado nos
caudado, e têm como consequência uma demais animais.
fixação forte do rim, tornando-o pouco Cadela:
móvel. Por sua vez, o rim esquerdo não
está preso a nenhuma estrutura, estando
um pouco suspenso e solto, tornando-se
mais maleável (pendular). Em casos
cirúrgicos, o rim esquerdo é de mais fácil
acesso do que o direito, uma vez que no
direito há o fígado bem próximo.

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Marina Morena

Equino: posição retroperitoneal, ventral aos


músculos sublombares.
Os ureteres entram no cólo
dorsalmente, passando pelo músculo da
parede da bexiga – intramural. A abertura
é chamada de óstio ureteral. Conforme a
vesícula urinária recebe a urina produzida,
a pressão hidrostática aumenta, até que
esteja repleta e pressiona a região da valva
ureterovesical, fechando a passagem de
urina do ureter para a bexiga.
Os ureteres passam caudodorsal ao
ducto deferente (nº 8 em vermelho), que
traz os espermatozoides do epidídimo.

Considerações clínicas
A nefrectomia, remoção do rim, é
realizada de forma total na medicina
veterinária, a parcial é apenas utilizada em
casos raros e específicos. É um tratamento
utilizado em casos de neoplasia,
hidronefrose, em casos graves de cálculos
renais, ruptura renal e outros.
Nefrolitíase são os cálculos renais e é
cada vez mais comum na clínica de O ureter também segue caudalmente
pequenos animais. O tratamento é a nas fêmeas, passando dorsalmente ao
nefrostomia, abertura do rim, corno do útero. Durante a castração de
normalmente através da borda lateral (por fêmeas, ovariossalpingo histerectomia
ser oposto ao hilo renal). (OSH), deve-se ter muito cuidado com o
Se o cálculo estiver na região da junção ureter, pois este passa muito conectado
uteropelvica, é necessária uma com a serosa do útero.
pielolitotomia, que é uma abertura da Considerações clínicas
pelve renal dilatada através do seio renal.
A hidronefrose é uma consequência da
Ureteres obstrução do ureter, levando ao acúmulo
São estruturas tubulares que levam a de urina no ureter (hidroureter) e pelve
urina dos rins até a bexiga. Possuem uma renal, elevando a pressão da pelve e

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Marina Morena

isquemia dos tecidos adjacentes importância extrema na clínica cirúrgica,


(parênquima renal). pois qualquer dano pode levar a fibrose e,
Bexiga
consequentemente, obstrução. Desse
modo, a bexiga é sempre manipulada pela
A vesícula urinária pode ser dividida em face ventral.
um ápice cranial, um corpo (maior parte) e
um colo. É na região do colo da bexiga que
os dois ureteres desembocam; é também
dessa região que ocorre o estreitamento
que forma a uretra pélvica.
A vesícula urinária é sustentada pelo
peritônio, os quais formam os ligamentos
que sustentam e estabilizam na cavidade
pélvica. O ligamento mediano fixa a bexiga
no peritônio parietal (ventral) e os
ligamentos laterais unem a bexiga na A mucosa da vesícula urinária é repleta
parede abdominal lateral. Pelos de pregas, visualmente semelhante com a
ligamentos laterais da bexigam há a do estomago, embora seja
passagem dos ureteres indo de encontro a fisiologicamente bem diferente. Essas
vesícula. Também há o ligamento redondo pregas são cruciais por ser um órgão que
da bexiga, que são bem finos e passam por tem a capacidade de dilatar.
dentro dos ligamentos laterais – No ápice da bexiga há uma cicatriz
degeneração fibrótica das artérias embrionária, a cicatriz do úraco. Na vida
umbilicais, resquícios fetais. intrauterina há um canal que conecta a
bexiga com o cordão umbilical chamado de
úraco. Após o nascimento, o cordão
umbilical regride, torna-se fibrosado, o
úraco fecha e sofre autólise fisiológica.
Algumas más formações congênitas
podem afetar o úraco, como a persistência
dele. Nesses casos, o animal se mantém
urinando pelo umbigo.
Considerações clínicas
Uma condição comum na clínica de
pequenos animais é a urolitíase, presença
de cálculos na bexiga urinária.

Disposição peritonial na região caudal do


abdome. 1, cólon; 2, útero; 3, bexiga
Sistema genital
urinária; 4, ligamentos vesicais laterais; 5,
ligamento vesical mediano; 6, ureter; 7, feminino
ligamento largo do útero (mesométrio). Composto por um par de ovários
A abertura inicial da uretra é o óstio (mesovário), par de tubas uterinas, par de
uretral interno, que consiste no início da cornos do útero com uma serosa
uretra. Esse óstio ureteral forma um intermediária (mesométrio). Os cornos do
triângulo com os óstios ureterais chamado útero desembocam em uma região
de trígono vesical. É uma região de comum, conhecida como corpo do útero. É

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Marina Morena

uma estrutura ímpar, localizada no plano envolvidos por uma bolsa formada por sua
mediano. Caudalmente ao corpo do útero serosa, o mesovário.
há a cérvix (cólo do útero), a vagina, o O parênquima é composto por um
vestíbulo da vagina (com o óstio uretral córtex (parte externa - parênquima) e
externo) e a vulva. medula (porção interna - estroma). Os
folículos ovarianos, em diferentes fases de
desenvolvimento, estão presentes no
córtex do ovário. É possível visualizar
macroscopicamente algumas estruturas,
como o folículo pré-ovulatório, folículos
terciários, secundários, corpos
hemorrágicos e corpo lúteo (≠ do folículo
pré-ovulatório por ser amarelado e o
folículo ter um aspecto mais bolhoso).

A serosa intermediária do ovário é


chamada de mesovario e forma uma bolsa
de gordura, chamada de bolsa ovárica,
onde este se aloja. Próximo ao ovário há
uma estrutura própria para a captação de
gametas, o infundíbulo, que pertence a
tuba uterina. A tuba uterina possui sua
própria serosa intermediária, chamada de
mesossalpinge. Representação esquemática das diferentes fases funcionais da
A tuba uterina desemboca no corno do atividade ovariana. 1, medula; 2, mesovário; 3, epitélio
útero, que é onde o feto se desenvolve superficial; 4, túnica albugínea (pouco desenvolvida); 5, folículo
após a fecundação ocorrer na tuba uterina. primordial; 6, folículo primário; 7, folículo secundário; 8, folículo
O corpo do útero consiste na união dos terciário inicial; 9, folículo maduro; 10, oócito; 11, folículo
rompido; 12, folículo atrésico; 13, corpo lúteo; 14, corpo lúteo
dois cornos, portanto é ímpar, e atrésico; 15, corpo albicans.
desemboca na cérvix. A cérvix é um canal
As éguas possuem um ovário diferente
estreito e bem muscular que conecta o
das demais espécies domésticas, com um
corpo do útero a vagina, sendo parte do
formato reniforme com a superfície lisa,
útero. O ligamento/serosa intermediária
pois a medula do ovário está na porção
que sustenta os cornos do útero, o corpo e
externa, enquanto o córtex/parênquima
a cérvix é chamado de ligamento largo do
funcional está no interior do órgão. Os
útero ou mesométrio.
folículos pré-ovulatórios só se rompem na
O clitóris apenas apresenta importância
região da fossa da ovulação.
clínica nas éguas, que expõe no momento
do cio. Está localizado ventralmente, na
região da adjacente a vulva.
Ovários
São as gônadas, órgão produtor de
gametas, das fêmeas. Órgãos pares
localizados na região dorsal do abdômen,
no início da cavidade pélvica. Se mantêm

40
Marina Morena

Topograficamente, os ovários da égua O infundíbulo é uma região que parece


estão craniais a asa do ílio, na cavidade um funil frisado com projeções em direção
abdominal. A cérvix/colo do útero está na a superfície do ovário, as fímbrias. A ação é
região do púbis (pécten). guiada pelos estímulos hormonais do
estradiol para captar o gameta liberado. O
óstio abdominal da tuba uterina, presente
no infundíbulo, é a abertura da tuba
uterina na porção da cavidade abdominal
por onde passam os gametas liberados
pelos ovários.

Na vaca, os cornos do útero são bem


flexionados caudalmente, assim, os
ovários estão ventrais ao corpo do ílio.

Útero
É uma continuação da tuba uterina, que
possui uma característica bicornual nas
espécies domésticas. Entre os dois cornos
há um ligamento, chamado de ligamento
interconual.
Os cornos do útero da cadela e da gata
são bem finos e retilíneos. Em oposição, o
da porca é tortuoso e calibroso, lembrando
o intestino. Os cornos do útero da vaca são
Obs: o ovário é parte do sistema, porém não é flertidos, com os ovários caudais. Por fim,
parte do trato reprodutor. O trato é um sistema
tubular contínuo que inicia na tuba uterina. O
os cornos do útero da égua são menos
ovário é um órgão parenquimatoso independente flexionados, com uma aparência
da tuba uterina. semelhante a um Y.
Os dois cornos do útero se unem e
Tuba uterina formam o corpo do útero, que é
curto/pequeno. Na égua é um pouco
É dividida em três regiões: infundíbulo maior, porém ainda muito menos
(fímbria e óstio abdominal), ampola (onde desenvolvido que o das primatas.
ocorre a fecundação – larga) e o istmo
(estreito e comprido – óstio uterino;
conecta no corno do útero).

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Marina Morena

Na vaca a cérvix é bem rígida, composta


de músculo e tecido fibroso (em formato
de anel – anéis cervicais). O corpo uterino
é bem curto e divide as camadas serosa e
muscular com os cornos uterinos.

O corpo do útero desemboca na cérvix


(canal cervical), que corresponde ao colo
do útero da humana. É um canal muscular,
que em algumas espécies é um pouco mais
rígida devido a uma camada de tecido
fibroso e elástico (vaca e porca). É o canal
que conecta o corpo do útero a vagina. A
cérvix se mantém fechada durante grande
parte do tempo, abrindo-se apenas no Outra característica interessante das
período do cio, para que o macho ejacule e vacas é a mucosa uterina é marcada pela
os espermatozoides sigam até a ampola da presença de carúnculas, que são projeções
tuba uterina. Além disso, durante o parto a do endométrio. Possuem a função de fixar
cérvix também se abre para a passagem do a placenta através dos cotilédones; cada
feto. cotilédone se fixa em uma carúncular
Topograficamente o útero está (placenta cotiedonária). São pontos que
localizado ventral ao cólon descendente e facilitam a troca de nutrientes e gases
reto e dorsal a bexiga. entre a mãe e o feto. As carúnculas
A cérvix da égua é formada puramente possuem uma superfície convexa nas
por músculo e possui dois esfincteres vacas, enquanto em pequenas ruminantes
(esfíncter cervical interno e externo), onde a superfície é côncava. A carúncula com o
há uma abertura entre eles. O óstio uterino cotilédone forma o placentoma, que é
interno conecta a cérvix ao corpo do útero palpável através da parede do útero.
e o óstio uterino externo conecta a cérvix à Assim, é importante tomar cuidado em
vagina. casos de cesariana para não atingir os
placentomas, uma vez que são
extremamente vascularizados.
Os cornos do útero da porca são muito
convolutos, pois as ninhadas são muito
numerosas. A cérvix é bem longa e possui
uma camada de tecido fibroso. A mucosa é
marcada por elevações/projeções para o
lúmen (pulvinos cervicais), característico
das suínas. Assim, a cérvix é tortuosa,
compatível com a genitália do macho, que
é fina e espiralada.

42
Marina Morena

maiores e menores (nº27). Essas glândulas


são responsáveis por produzir um muco,
que protege e lubrifica a vagina. Por ser
uma glândula extremamente sensível ao
estradiol, secreta muitos feromônios, que
atraem o macho durante o cio.

Considerações clínicas
Na inseminação artificial, tanto de vacas
quanto de éguas, através do reto deve-se
segurar a cérvix e passar o aplicador pelo
vestíbulo da vagina e encaixá-lo no cérvix. A abertura mais caudal, próximo aos
É importante ir manuseando a cérvix para lábios da vagina, é a fossa clitoriana (nº30).
que o aplicador consiga passar pelos anéis
cervicais e possa aplicar o sêmen na cérvix,
simulando o ocorrido na monta natural.
Sistema genital
Vagina masculino
Continuação caudal do trato genital O sistema genital masculino é composto
feminino, é um órgão com capacidade de pela bolsa escrotal, testículos, epidídimo,
extensão, por ser o canal de parto e órgão funículo espermático, glândulas sexuais
copulatório. acessórias, pênis e prepúcio.
É dividida em duas porções, a vagina Assim como os ovários, a bolsa escrotal
propriamente dita e o vestíbulo da vagina, faz parte do sistema genital, porém não é
delimitado anatomicamente pela abertura parte do trato genital. É uma cavidade
do óstio uretral externo. As porções formada por pele e estruturas de tecido
possuem diferentes origens embrionárias. conjuntivo, cuja função é alojar os
O vestíbulo é a entrada para o trato testículos e epidídimo.
genital feminino. A parede ventral é maior O testículo precisa ficar externo a
do que a parede dorsal. É através do cavidade abdominal, pois a
vestíbulo da vagina que é feita a sondagem espermatogênese só ocorre em uma
para acesso do trato urinário. temperatura abaixo da abdominal. O
A vaca possui o divertículo sub-uretral, epidídimo é uma continuação dos ductos
um saco cego, que pode ser confundido do testículo, cuja função é maturar os
com o óstio uretral externo caso seja espermatozóides.
necessário passar uma sonda. O funículo espermático é composto por
Lateralmente ao óstio uretral externo um conjunto de estruturas importe para a
podem ser vistos dois óstios, que são manutenção dos testículos e do epidídimo.
aberturas das glândulas vestibulares Além disso, contém o ducto deferente,

43
Marina Morena

estrutura tubular responsável por trazer os contrai, afastando e aproximando da


espermatozóides da cauda do epidídimo parede abdominal).
até a uretra. Em algumas espécies, o ducto
deferente se dilata ao se aproximar da
uretra, formando a ampola do ducto
deferente, que serve como um
reservatório de espermatozóides
maduros.
Associado ao ducto deferente há um
par de glândulas vesiculares/vesícula
seminal (glândulas sexuais acessórias).
Outra glândula sexual presente nessa
região próxima ao ducto deferente é a
próstata. O par de glândulas bulbouretrais
estão localizadas mais caudalmente,
próximo a raiz do pênis; são responsáveis
pela produção de um líquido lubrificante
da uretra.
Vista cranial do escroto aberto de um touro. 1, pele
escrotal e dartos; 2, septo escrotal; 3, fáscia espermática
externa; 4, lâmina parietal da túnica vaginal; 5, lâmina
visceral (dissecada da superfície do testículo); 6, músculo
cremaster; 7, lâmina visceral da túnica vaginal cobrindo as
estruturas no cordão espermático; 7′; lâmina visceral no
testículo; 8, ducto deferente; 9, cauda do epidídimo

Adjacente a túnica dartos há uma fáscia


espermática, oriunda da fáscia abdominal
O pênis é o órgão copulatório do macho, que desceu juntamente com os testículos;
responsável por depositar os bem como parte do peritônio parietal que
espermatozoides no trato genital da também desceu com os testículos. Assim,
fêmea. É dividido em três porções: raiz, ocorre uma evaginação do peritônio
corpo e ápice (onde há a glânde com o parietal e da fáscia abdominal para o
óstio uretral externo do macho). interior da bolsa escrotal. Essa evaginação
Por fim, o prepúcio consiste em uma do peritônio parietal passa a ser chamada
prega de pele e mucosa que aloja/protege de túnica vaginal parietal. Entre a túnica
o pênis em seu estado relaxado. vaginal visceral e a parietal forma-se uma
cavidade, denominada cavidade vaginal,
Bolsa escrotal preenchida com um fluído seroso (fluído
É formada externamente por pele, vaginal). É uma microcavidade peritoneal
podendo ser glabra ou não dependendo da contínua com a cavidade peritoneal.
espécie. Em equinos, por exemplo, é glabra Dentro da bolsa escrotal há o septo
e possui diversas glândulas sudoríparas. interescrotal, que divide a bolsa em dois,
Internamente a pele há uma camada de separando os dois testículos.
músculo liso, chamada de túnica dartos, As espécies possuem diferenças em
que é uma das responsáveis pela relação a posição da bolsa escrotal: felino
termorregulação testicular (relaxa e e do suíno – região perineal; ruminante –
posição inguinal (virilha); cão e garanhão –

44
Marina Morena

posição intermediária, entre a perineal e a


inguinal (caudal à face medial das coxas).
Testículo
Os testículos são órgãos elipsoides
sólidos cujo volume não tem relação fixa
com o tamanho corporal. Dentre as
espécies domésticas, são evidentemente
pequenos em gatos e notavelmente
grandes em carneiros e bodes. Sua
orientação também varia. Apresentam seu
maior eixo longitudinal na posição vertical
nos ruminantes, na horizontal nos equinos
e cães, e inclinado em direção ao ânus em
suínos e gatos (oblíquo). Essa diferença
está diretamente relacionada à posição da
bolsa escrotal.
Além de estar envolto pelas camadas da
bolsa escrotal, o testículo também possui o Os espermatozóides recém fabricados,
seu peritônio visceral (túnica vaginal ainda imaturos, seguem o caminho para a
visceral – vagina = bainha), que comprime extremidade cranial/proximal
o parênquima. Interiormente a essa túnica, (dependendo da orientação do testículo)
existe uma outra túnica extremamente pela rede testicular e entram nos ductos
fina, chamada de túnica albugínea. eferentes, que se ligam à cabeça do
O parênquima testicular é composto epidídimo. Em seguida, se dirigem pelo
pelos túbulos seminíferos, que se corpo em direção à cauda, passando por
organizam em lóbulos e lobos (pouco um processo de maturação. O epidídimo é
visíveis macroscopicamente). Esses um ducto extremamente comprido, que se
túbulos se organizam em direção ao centro mantém enovelado. A porção final é mais
do testículo (mediastino), onde há um calibrosa e passa por uma transição, onde
canal como a todos os túbulos, chamado torna-se um tubo reto e com um lúmen
de rede testicular. Conforme os maior que segue em direção inguinal
espermatozoides são produzidos pelos (cavidade abdominal) chamado de ducto
túbulos seminíferos, são enviados para a deferente.
rede testicular e ascendem cranialmente Todo macho possui o epidídimo
pela contração da musculatura lisa da completo, ou seja, com cabeça, corpo e
rede. cauda. A cauda serve como reservatório de
O testículo possui uma prega bem espermatozóides maduros. As espécies
desenvolvida de serosa intermediária que possuem a ampola do ducto
chamada de mesórquio (nº6 – equivalente deferente, esta também serve como um
ao mesovário da fêmea). A serosa segundo reservatório. Dependendo da
equivalente ao mesossalpinge da fêmea, posição dos testículos na bolsa escrotal, a
que no macho conecta o ducto deferente, cauda do epidídimo fica proeminente e
(nº4) é chamada de mesoducto deferente pode ser palpada.
(nº4’). Por fim, há uma prega intermediária
(nº9) que conecta a túnica vaginal parietal
ao mesórquio e ao mesoducto deferente.

45
Marina Morena

Dentre as estruturas presentes temos:


artéria testicular, ramo da aorta abdominal
que se adapta à migração testicular; veia
testicular, tributária da veia cava caudal –
possui ramificações bem finas formando
Funículo espermático um plexo ao redor da artéria testicular,
chamado de plexo pampiniforme; nervos
O músculo cremaster é um
testiculares; vasos linfáticos; ducto
destacamento do músculo oblíquo interno
deferente; túnica vaginal visceral com um
do abdome na altura do anel inguinal
pouco de músculo liso entremeado.
profundo/interno por onde passam as
O sangue vindo pela artéria testicular
estruturas do funículo espermático, que
possui a mesma temperatura da cavidade
estão envoltas pela túnica vaginal. É
abdominal, que não é a ideal para a
chamado de anel vaginal o afunilamento
espermatogênese. Por sua vez, o sangue
da túnica vaginal que passa pelo canal
da veia testicular, que está retornando
inguinal, formando um orifício natural. Por
para a cavidade abdominal, está com uma
estar externo a túnica vaginal, o músculo
temperatura mais baixa, pois já irrigou o
cremaster não faz parte do funículo
testículo. Assim, as tributárias da veia
espermático (cordão espermático),
testicular estão em íntimo contato com a
estando envolto apenas pela fáscia
artéria testicular, para que haja a troca de
espermática (mais externa).
calor e o sangue arterial atinja a
Eventualmente, quando há um
temperatura ideal para a irrigação do
aumento da pressão abdominal, uma alça
parênquima.
do intestino ou parte do omento forma Obs: Uma técnica de castração muito eficaz em
uma hérnia. Essa condição (hérnia gato é após dissecar a porção do mesoducto
inguinal) é mais comum em espécies com deferente, utilizá-lo para fazer um nó de sutura no
um anel vaginal amplo, como o equino e o funículo espermático antes de retirar as outras
suíno. É um quadro grave de cólica ou estruturas e o testículo. Desse modo, além de ser
rápido, o animal se recupera muito bem porque não
abdome agudo emergencial, deve ser feita é utilizado fio de sutura.
uma cirurgia rapidamente para reverter o
quadro.

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Marina Morena

Direita – anel inguinal


superficial: saída do
funículo espermático e
com a fáscia
espermática
Esquerda – anel inguinal
interno: saindo funículo
espermático e músculo
cremaster

Secção transversa do cordão espermático e seus anexos


imediatos, esquemático. 1, ducto deferente; 2, artéria
testicular (espiralada); 3, plexo pampiniforme; 4, nervos e
vasos linfáticos testiculares; 5, lâmina visceral da túnica
vaginal; 6, lâmina parietal da túnica vaginal; 7, músculo
Glândulas reprodutivas acessórias do
cremaster; 8, fáscia espermática externa; 9, cavidade
garanhão (A), touro (B), cachaço (C) e cão
vaginal; 10, mesórquio; 11, mesoducto.
(D); vista dorsal. 1, ureter; 2, bexiga urinária;

Glândulas acessórias
3, ducto deferente; 4, ampola do ducto
deferente; 5, glândula vesicular; 6, corpo da
O conjunto de glândulas é formado próstata; 7, glândula bulbouretral; 8, uretra;
9, bulbo do pênis.
pelas ampolas (par), glândulas vesiculares
(par), próstata (ímpar) e glândulas No garanhão, a principal contribuidora
bulbouretrais (par), embora nem todas de secreção para a composição do líquido
estejam presentes em todas as espécies. seminal é a glândula vesicular (≈70%). Do
mesmo modo, a próstata é a principal
Presença de glândulas acessórias:
glândula do gato, produzindo cerca de 95%
Ampola do ducto deferente – Cão,
do líquido seminal.
cavalo e boi;
Obs: Entre as duas ampolas ou entre os ductos
Glândula vesicular – Porco, cavalo e deferentes há um ligamento (assim como no
boi; ligamento cornual das fêmeas), onde muitos
Próstata – TODOS autores chamam essa região de útero masculino,
Glândula bulbouretral – Cavalo, pois os ductos deferentes e o epidídimo são os
equivalentes à tuba uterina e ao útero da fêmea.
gato, porco e boi;
A ampola do ducto deferente é bem
Pênis
desenvolvida apenas no garanhão e no O pênis se origina como dois pilares do
touro, onde o líquido produzido contribui arco isquiático. Os pilares convergem para
com o plasma seminal. No caso dos cães, a formar a raiz do pênis, a qual prossegue
ampola não é bem desenvolvida, servindo como o corpo do pênis até a glande do
apenas como reservatório de pênis. Existem dois tipos de pênis, o
espermatozoide maduro.

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Marina Morena

musculocarvenoso (carnívoro e cavalo) e o especializada nos cães, apresentando uma


fibro-elástico (ruminante e suíno). parte bulbar (bulbo da glande), que é
As duas colunas dorsais de tecido erétil responsável por prender o macho na
são conhecidas como os pilares do pênis e fêmea durante a cópula, e uma parte longa
consistem em um centro de tecido (onde tem o óstio uretral externo). O pênis
cavernoso envolvido por uma camada do gato é o único (entre as espécies
espessa de tecido conjuntivo, a túnica domésticas) a apontar caudoventralmente
albugínea. Na parte proximal do corpo do a partir do arco isquiático; outra diferença
pênis existe um septo entre os dois corpos é a apresentação de espículas,
cavernosos, contudo, na maioria das responsáveis por induzir a fêmea a ovular.
espécies, o septo diminui gradativamente Em algumas espécies, o corpo
e finalmente desaparece quando caminha cavernoso apresenta pequenos espaços
distalmente em direção à glande do pênis. sanguíneos confinados e divididos por
Nos carnívoros, o septo é completo. A grande quantidade de tecido fibroelástico
estrutura unida apresenta ventralmente firme. Relativamente, pequena quantidade
um sulco para acomodar o terceiro de sangue deve ser retida para fazer com
componente, a uretra contida por seu que esse pênis do tipo fibroelástico se
envoltório vascular, o corpo esponjoso, torne ereto; essa forma de construção é
avançando na direção do ápice para formar encontrada no pênis dos cachaços e dos
a glande do pênis. Os espaços sanguíneos ruminantes, espécies nas quais o órgão em
no interior dos pilares e do corpo quiescência exibe uma flexura sigmoide
cavernoso se comunicam livremente. (ou S peniano) da parte de seu corpo
Corpo cavernoso – dois pilares localizado entre as coxas.
Corpo esponjoso – uretra e glande Pênis do touro:

Nos cães, a parte distal do corpo


esponjoso é transformada em tecido
ósseo, o osso peniano. Assim, o osso
peniano é um ponto de complicações
médicas, especialmente relacionado a
urolitíase. Gatos até possuem osso
peniano também, porém é bem pequeno.
Pênis do cão:

No outro tipo, os espaços sanguíneos


são relativamente maiores, e o
revestimento e os septos são mais
delicados e mais musculares; uma
quantidade relativamente maior de
sangue é necessária para atingir a ereção,
o que envolve significativo aumento no
A glande apresenta formas variadas. É comprimento e na espessura. Esse tipo de
minimamente desenvolvida nos suínos, pênis, musculocavernoso, é encontrado
pouco substancial nos ruminantes, mas em garanhões e, de forma atípica, nos
bem desenvolvida e em forma de cães.
cogumelo nos equinos. É mais

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Marina Morena

Pênis do garanhão: animal ejacula na cérvix da vaca. Além


disso, a uretra se projeta para fora do
pênis, formando o processo uretral. Nos
podes e carneiros esse processo uretral é
bem longo, parecido como um verme e,
por isso, também é chamado de processo
vermifome. Nesses pequenos ruminantes,
o processo uretral é importante no
momento da cópula para espalhar o sêmen
pela parede do trato reprodutivo da
fêmea.

Os músculos isquiocavernosos pares


são fortes, emergem do arco isquiático e
envolvem os pilares até a altura de sua
fusão com os corpos cavernosos na raiz do
pênis. O músculo bulboesponjoso é a
continuação espessa extrapélvica do
músculo uretral. Tem início abrupto e se
estende distalmente até terminar na
superfície do corpo esponjoso a uma
distância variada além do ponto onde é A glande do garanhão é composta por
incorporado ao pênis. duas porções: a coroa (ápice – região mais
O músculo retrator do pênis também é dilatada) e o colo (região mais estreita). A
par e emerge das vértebras caudais, coroa possui um formato de cogumelo e no
descendo através do períneo ao redor do momento da ejaculação dilata ainda mais.
ânus para alcançar o pênis. Em espécies Como a entrada do corpo do útero da égua
com uma flexura sigmoide (ruminantes e é muito muscular, portanto, expande
suíno), ele se fixa ao arco caudal dessa muito e, se a coroa não dilatasse no
flexura e é um dos principais responsáveis momento da ejaculação formaria um
pela ereção; em espécies com pênis vácuo e o sêmen sairia quando o macho
musculocavernoso, ele segue o músculo retirasse o pênis. O que acontece é que a
bulboesponjoso até a extremidade do coroa dilata quando ocorre a ejaculação e
pênis. conforme o macho retira o pênis, ela vai
A ereção dos pênis fibroelástico diminuindo de tamanho e evita a formação
depende da contração dos músculos do vácuo.
isquiocarvenosos, para que os corpos O processo dorsal da glande do equino
cavernosos se encham de sangue, e do consiste em uma pequena projeção na
relaxamento do músculo retrator do pênis, região dorsal. Ventralmente a ele, tem-se
que resulta na exteriorização do órgão o processo uretral, que é composto
copulador. dorsalmente pelo seio uretral e
Glande ventralmente pela fossa da glande –
A glande do pênis fibrocarvenoso é fina porções que costuma acumular esmegma.
e no touro é levemente torcida, pois o

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Marina Morena

Uretra Coração
A uretra pélvica está envolta pelo O coração é o órgão central do sistema
músculo uretral, tecido esponjoso e, em circulatório. Ele é composto
algumas espécies, a próstata é principalmente de músculo estriado
disseminada e entremeia na uretra cardíaco, o miocárdio, o qual forma uma
(ruminante). bolsa dividida em quatro câmaras: átrio
No ruminante, a região mais caudal da direito, átrio esquerdo, ventrículo direito e
uretra, logo no início da uretra peniana – ventrículo esquerdo.
dorsalmente, na região do arco isquiático,
possui um divertículo uretral (recesso
uretral – saco cego). O S peninano já torna
a sondagem do ruminante muito difícil,
mas a existência desse recesso uretral
torna quase impossível essa técnica.

Sistema circulatório
O sistema circulatório compreende o
coração, os vasos sanguíneos e os vasos
linfáticos. O coração é a bomba muscular
do sistema circulatório. Os vasos
sanguíneos, que consistem em artérias,
capilares e veias, formam um sistema
contínuo no qual o sangue circula pelo
corpo.

Topograficamente, o coração está


situado no mediastino, ocupando
basicamente todo o espaço e dividindo as
duas cavidades pleurais. É usado para
dividir o mediastino nas porções pré-
cardíaca, cardíaca e pós-cardíaca. De modo
geral, o coração está situado entre o
segundo e o sexto espaço intercostal.
Como nos quadrupedes o tórax é
achatado latero-lateralmente, o coração é

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Marina Morena

levemente rotacionado, podendo observar


as quatro câmaras em uma vista lateral.
Humano – Quadrupede
Direito – Cranial
Esquerdo – Caudal Base

O coração possui uma base, que está


voltada craniodorsalmente, e um ápice, Borda
voltado caudoventralmente. Assim, a base esquerda
é o local de entrada e saída dos grandes VD
vasos. O coração também possui duas
bordas, uma borda ventricular direita e VE
Borda
outra esquerda. A borda ventricular direita direita
possui uma forma mais convexa, enquanto
a borda ventricular esquerda é mais reta e Ápice
voltada caudalmente.
Em ambos os átrios são encontrados
dois divertículos, pequenas câmaras, que
são chamadas de aurículas esquerda e
direita. A face do coração que é possível
observar ambas aurículas, é chamada de
face auricular (face esquerda). Por sua vez,
na face direita não é possível visualizar
nenhuma das aurículas, nem mesmo a
direita; ao mesmo tempo o átrio direito
está bem visível e, por isso, pode ser
chamada também de face atrial.
Externamente é possível visualizar
alguns sulcos, que são importantes para
identificar as divisões das câmaras que
ocorre internamente. O sulco coronário é o
que separa os átrios dos ventrículos, na
Vistas esquerda (A) e direita (B) do coração bovino. 1,
base do coração. O ramo circunflexo da ventrículo direito; 2, ventrículo esquerdo; 3, aurícula esquerda;
artéria coronária esquerda recebe esse 4, ramo interventricular paraconal da artéria coronária
nome circunflexo por seguir o caminho do esquerda; 4′, ramo circunflexo da artéria coronária esquerda;
sulco coronário, em direção a face direita. 4″, ramo interventricular subsinuoso da artéria coronária
esquerda; 5, tronco pulmonar; 6, aurícula direita; 7, aorta; 8,
Desse modo, na face direita o ramo
ligamento arterioso; 9, veia cava cranial; 10, 10′, artérias
circunflexo segue por um sulco chamado pulmonares esquerda e direita; 11, 11′, veias pulmonares
de sulco interventricular direito esquerda e direita; 12, veia ázigos esquerda; 13, veia ázigos
(subsinuoso), que divide os ventrículos direita; 14 veia cava caudal; 15, artéria coronária direita.
direito e esquerdo, e passa a ser Em um corte longitudinal é possível
classificado como ramo interventricular diferenciar os ventrículos através da
subsinuoso da artéria coronária esquerda. espessura da parede, onde o miocárdio do
O sulco interventricular esquerdo ventrículo esquerdo é consideravelmente
(paraconal) separa o ventrículo direito do mais espesso, uma vez que esse necessita
esquerdo. bombear sangue para todo o corpo. Entre

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Marina Morena

os ventrículos há o septo interventricular, a se abrirem. Por fim, as trabéculas


que é bem destacado e espesso. septomarginais conectam a parede do
ventrículo com o septo interventricular,
formando uma importante conexão
neuromuscular que facilita a passagem do
estímulo nervoso do septo para as
margens dos ventrículos.
Átrios
Direito

Os óstios atrioventriculares direito e


esquerdo são intermediados pelas valvas Vista da face crânio-lateral direita em uma posição laterodorsal.
atrioventriculares. Portanto, no óstio É a câmara mais cranial do coração. A
atrioventricular direito há a valva aurícula possui a parede abaulada com os
tricúspide e no óstio atrioventricular músculos pectiados e pode ser visualizada
esquerdo tem a valva bicúspide (mitral). como uma cavidade sacular dos átrios,
Essas valvas são formadas por paredes de representando boa parte da cavidade
tecido conjuntivo chamadas de cúspides. atrial. Os músculos pectinados são
Além disso, também existem os óstios evaginações da parede que auxiliam na
entre os ventrículos e os vasos. O óstio contração do átrio.
aórtico comunica o ventrículo esquerdo O tubérculo intervenoso é uma
com a raiz da a. aorta, intermediado pela elevação da parede do septo interatrial
valva aórtica. Por sua vez, o óstio tronco entre os óstios das veias cavas cranial e
pulmonar conecta o ventrículo direito com caudal. A principal função é impedir um
o tronco pulmonar. choque/turbilhonamento dos sangues
A parede interna dos ventrículos possui chegando em direções opostas. Quando o
projeções musculares do miocárdio sangue proveniente das veias cavas se
(músculo papilar). Destas projeções saem choca com o tubérculo intervenoso, há
filetes de tecido conjuntivo chamados de uma diminuição da pressão hidrostática e
cordas tendíneas, que estão ligadas às conflui para o centro do átrio com uma
valvas atrioventriculares. Quando os pressão menor.
músculos papilares se contraem, as cordas Caudalmente ao tubérculo intervenoso
tendíneas são puxadas, o que leva as valvas existe uma depressão chamada de fossa

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Marina Morena

oval. Essa fossa consiste em uma


cicatriz/resquício da comunicação entre os
dois átrios presente na circulação fetal
(forame oval).
Além dessas características, o átrio
possui abertura para veias que
desembocam nele. O óstio do seio
coronário é por onde a veia cardíaca
magna (maior – drena o miocárdio).
Esquerdo
O átrio esquerdo é o ponto de chegada
do sangue oxigenado (arterial)
proveniente das veias pulmonares, que
passam pelo óstio das veias pulmonares.
Ademais, as estruturas internas das
aurículas são semelhantes a do átrio
direito. Vista dorsal da base do coração bovino após a
Ventrículos remoção do átrio. 1, valva atrioventricular direita;
2, valva atrioventricular esquerda; 3, valva da
Direito aorta; 4, valva pulmonar (valva do tronco
pulmonar); 5, ossos cardíacos; 6, artéria coronária
esquerda; 7, artéria coronária direita.
Esquerdo

A valva do tronco pulmonar é formada


por três válvulas semilunares (direita,
esquerda e intermédia), que permite a O óstio aórtico conecta o ventrículo
passagem do sangue venoso para o tronco esquerdo com a artéria aorta através da
pulmonar durante a sístole. valva aórtica, que é composta pelas
válvulas semilunares direita, esquerda e
septal.

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Marina Morena

Pericárdio do ombro, tem-se a área aórtica. Por fim, a


valva mitral está caudalmente a pulmonar,
também na junção costocondral, no 5° EI.
No lado direito é possível auscultar o
funcionamento da valva tricúspide na
região do 3° e 4° EI, na altura da junção
costocondral.

O coração é quase completamente


envolvido pelo pericárdio, que se encaixa
perfeitamente sobre ele. O pericárdio é
essencialmente um saco seroso fechado
que está tão profundamente invaginado
pelo coração que seu lume é reduzido a
uma mera fenda capilar. O espaço contém
fluido seroso, normalmente em
quantidade suficiente apenas para facilitar
a movimentação da parede cardíaca contra
sua cobertura. As camadas visceral e
parietal do pericárdio são contínuas uma à
outra em uma complicada reflexão que
segue sobre o átrio e as raízes dos grandes
vasos. A camada visceral é tão
proximamente aderida à parede do
coração que pode ser considerada um
componente dela, o epicárdio.
A camada parietal possui grossa
cobertura externa fibrosa (pericárdio
fibroso) que forma ligamentos de fixação
no esterno (ligamento esternopericárdico)
e no diafragma (ligamento
frenicopericárdico).
Pontos de ausculta cardíaca Vascularização
Uma das principais aplicações clínicas Vasos da base
da importância de saber a localização A artéria aorta e o tronco pulmonar
correta do coração é a ausculta cardíaca. seguem um caminho inicial próximo, na
As regiões de ausculta são as valvas saída do coração. Em todas as espécies
pulmonar, aórtica e atrioventricular existe uma estrutura que liga o tronco
esquerda (mitral). Nos 3° e 4° espaços pulmonar e a a. aorta, que é um resquício
intercostais (EI) esquerdos, na junção da circulação fetal chamado ducto
costocondral, temos a área pulmonar, arterioso. Depois do nascimento, este
onde é possível avaliar o funcionamento da ducto regride e forma o ligamento
valva pulmonar. Ligeiramente dorsal, arterioso.
também nos 3° e 4° EI esquerdos, na altura

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Marina Morena

Os ruminantes apresentam duas veias do ventrículo esquerdo. O suprimento é


ázigos, uma direita e outra esquerda, conduzido pelas artérias coronárias que
enquanto os suínos apresentam apenas a são as primeiras ramificações da artéria
esquerda e os carnívoros e equinos aorta. São duas a. coronárias, uma direita
possuem apenas a direita. e outra esquerda, com um padrão variável
dependendo da espécie. Em algumas
espécies a direita é mais desenvolvida,
enquanto em outras a esquerda que é
predominante.
Tanto a a. coronária direita como a
esquerda saem do bulbo da aorta. A a.
coronária direita segue cranialmente pelo
suco coronário até o sulco subsinuoso
(carnívoro e ruminante) ou até o ápice do
coração (equino e suíno; ramo
interventricular subsinuoso).
Por sua vez, a a. coronária esquerda
segue caudal com o ramo interventricular
paraconal pelo sulco de mesmo nome em
direção ao ápice do coração. A irrigação
continua com o ramo circunflexo que
Vasos da base: segue o sulco coronário em direção à face
Tronco pulmonar – raiz arterial com caudal do coração. Nos ruminantes e
sangue venoso bem visível na face carnívoros o ramo circunflexo emite um
auricular; sai do ventrículo direito e da ramo terminal chamado de ramo
origem às duas artérias pulmonares. interventricular subsinuoso. Assim, nestes
Artéria aorta – medial ao tronco animais a a. coronária esquerda é a
pulmonar; saindo do ventrículo principal responsável pela irrigação do
esquerdo, é a artéria responsável por coração. Em contraponto, nos equinos e
levar sangue para todo o corpo. suínos a irrigação do coração é dividida de
Veia cava – pode ser mais bem modo igualitário entre as a. coronárias
visualizada pela face direita; é dividida direita e esquerda.
nos ramos cranial e caudal, que se Ruminante e carnívoro – ramo
encontram para desembocar no átrio interventricular subsinuoso é originado
direito. da artéria coronária esquerda.
Veia ázigos – dividida em direita e ≠
esquerda (apenas em ruminantes); Equino e suíno – ramo interventricular
drena os espaços intercostais e passa subsinuoso é originado da artéria
pelo hiato aórtico no diafragma. coronária direita.
Veias pulmonares – provenientes Entre os ramos terminais das artérias
dos pulmões direito e esquerdo com coronárias algumas anastomoses, que são
sangue arterial, desembocam no átrio ligações entre elas que permitem que todo
esquerdo. o coração seja irrigado mesmo que um dos
Vascularização cardíaca ramos seja obstruído.
O sangue retorna ao coração
O coração é ricamente suprido com principalmente por meio da veia cardíaca
sangue, recebendo cerca de 15% do débito

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Marina Morena

magna, que segue paralela ao ramo carnívoros as artérias carótidas comuns


circunflexo da a. coronária esquerda e são ramos independentes do tronco
desemboca no átrio direito através óstio braquiocefálico.
do seio coronário. Ramos da artéria subclávia
Artéria aorta As artérias subclávias levam esse nome
devido a referência à clavícula, por onde
A artéria aorta tem início ao lado direito
ela passa logo abaixo nos seres humanos.
do tronco pulmonar com a região chamada
Assim, ainda que os animais domésticos
de raiz da aorta ou bulbo da aorta. Essa
não possuam essa estrutura, a artéria
região inicial é curta e logo dá lugar ao
manteve-se com o nome. Consiste em um
seguimento chamado de aorta
par de artérias, direita e esquerda, que
ascendente. A aorta volta-se
possui a função de nutrir os membros e a
dorsocaudalmente para a esquerda com a
parede ventral do tórax. Como já citado,
região do arco da aorta, formando uma
nos carnívoros e no suíno, a a. subclávica
dobradura. No final do arco, a partir da 6ª
esquerda tem origem no arco da aorta,
vértebra torácica a esquerda do plano
enquanto nos ruminantes e equinos é um
mediano, tem início o seguimento da aorta
ramo do tronco braquiocefálico.
descendente torácico. Após a passagem
Tanto a a. subclávia direita como a
pelo hiato aórtico, inicia-se o segmento
esquerda seguem o mesmo padrão de
abdominal da aorta descendente.
ramificações, iniciando pelo tronco
costocervical e a artéria cervical profunda,
que irrigam a base do pescoço e cernelha e
a região dorsal do pescoço. A artéria
vertebral também é um ramo da a.
subclávia e segue o caminho pelo pescoço
do animal entre os processos transversos
das vértebras no forame transverso,
vascularizando a região da musculatura
cervical cranial e parte caudal do encéfalo.
Quando chega na região ventral da ponte,
onde há o sulco basilar, ela forma a artéria
basilar, que será responsável pela irrigação
A principal ramificação do arco da aorta dessa parte caudal do pescoço.
é o tronco braquiocefálico (artéria Outro ramo da a. subclávica é a artéria
braquiocefálica), um vaso bem calibroso. torácica interna, que se ramifica na artéria
Nos ruminantes e no equino ele é o único musculofrênica (diafragma) e a artéria
ramo do arco da aorta, enquanto no epigástrica cranial (estômago e parede
carnívoro e no suíno ele é o primeiro, mas torácica). Por sua vez, a artéria epigástrica
também há a artéria subclávica esquerda. cranial se ramifica em a. epigástrica cranial
O tronco braquiocefálico emite ramos para profunda, que vasculariza o estômago, e
a irrigação do membro torácico, do uma a. epigástrica cranial superficial, que
pescoço, da cabeça e da parte ventral do irriga a parede torácica e as glândulas
tórax. mamárias craniais.
O tronco bicarotídeo está presente nos A artéria axilar é uma continuação da a.
ruminantes, equinos e suínos, onde dá subclávia com origem logo após a
origem a duas artérias carótidas comuns passagem cranialmente pela primeira
(direita e esquerda). Por sua vez, nos costela, sendo responsável pela irrigação

56
Marina Morena

do membro torácico. Um de seus ramos é interna é menor, responsável por


a artéria subescapular, que vasculariza a vascularizar as regiões média e rostral do
região do cíngulo do membro torácico, encéfalo. É importante ressaltar que
com o auxílio da a. cervical superficial e da ocorre uma rede de anastomoses entre a
a. torácica interna, e da musculatura do a. carótida interna e a a. basilar, chamado
ombro. Depois de emitir a a. subescapular, de polígono de willis. Por sua vez, a a.
a a. axilar descende na altura da epífise carótida externa é bem claibrosa e irriga
proximal do úmero e passa a ser chamada toda a região dos músculos, ossos e órgãos
de artéria braquial. No gato a a. braquial, da cabeça. Uma de suas ramificações, a
junto com o nervo mediano, passam por artéria facial está localizada rostralmente a
dentro do forame supracondilar. crista facial. Esta possui uma importância
Na altura da articulação do cotovelo, a clínica por ser uma opção para a avaliação
a. braquial emite a artéria colateral ulnar, de pulso do equino, quando não é possível
um ramo fino que se dirige caudalmente fazê-lo na região digital.
para a ulna. Continuando mais Aorta descendente torácica
distalmente, a a. braquial se ramifica em A aorta descendente torácica emite
artéria interóssea comum, que passa pelo ramos segmentares que vascularizam toda
espaço interósseo entre o rádio e a ulna. a região do dorso do animal – espaço
Depois de emitir a a. interóssea comum, intercostal, musculatura dorsal, pele etc.
ela segue na região do antebraço como A artéria broncoesofágica é originada
artéria mediana. O principal ramo emitido de um dos ramos segmentares da aorta
pela a. mediana é a artéria digital palmar descendente torácica e segue
comum, que quando chega distalmente na cranialmente para irrigar a região do
altura da articulação do boleto se divide esôfago, traqueia e árvore brônquica,
em dois ramos: um lateral e um medial (a. embora não seja a única ramificação
digital palmar medial e a. digital palmar presente.
lateral), que acabam sofrendo A artéria costoabdominal é o último
anastomoses (no fim formam o arco ramo da aorta descendente torácica,
terminal que passam pelos forames responsável por vascularizar as costelas,
soleares da falange distal). parede torácica e a parede abdominal
Ramos da artéria carótida comum cranial (parte intra torácica).
As artérias carótidas comuns direita e Aorta descendente abdominal
esquerda seguem cranialmente na direção Assim como a porção torácica, na aorta
do pescoço, passando pela bainha descendente abdominal também são
carotídea – plexo vasculonervoso que emitidos ramos segmentares, que vão para
passa dorsolateral a traqueia. Os primeiros a região intercostal dorsal e lombar.
ramos emitidos são as artérias tireóideas O primeiro ramo que segue em direção
caudal e cranial, que irão vascularizar a às vísceras é o tronco celíaco (artéria
tireóide, paratireóide, laringe e a faringe. celíaca), emitindo ramos para o esôfago,
Em seguida ocorre uma dilatação da estômago, baço, fígado, pâncreas e
parede, formando o órgão sensorial duodeno. Seguindo caudalmente está o
visceral chamado de seio carotídeo – ramo chamado de artéria mesentérica
contém os barorreceptores de pressão cranial, que irriga as estruturas envoltas
arterial. pelo mesentério (pâncreas, duodeno,
Após a região do seio carotídeo, a a. jejuno, íleo, ceco, cólon ascendente e
carótida comum divide-se em a. carótida cólon transverso). A sua origem é onde os
externa e interna. O ramo da a. carótida dois folhetos do peritônio parietal se

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encontram para formar o mesentério – raiz vez se ramifica em artéria pudenda externa
do mesentério. (canal inguinal) e a artéria epigástrica
Além disso, têm-se também as artérias caudal superficial. Ambas vascularizam a
renais direita e esquerda e as artérias glândula mamária, porém a a. pudenda
gonadais (ovarianas ou testiculares). As externa está mais na região inguinal e
artérias ovarianas são ramos curtos, profunda, causando menos problemas
devido a localização próxima dos ovários; durante a retirada das glândulas mamárias
por sua vez, as artérias testiculares são em condições cirúrgicas. Por outro lado, a.
longas, pois esse se encontra fora do epigástrica caudal superficial é bem
abdômen na região inguinal. Por fim, a superficial e calibrosa, claramente visível.
artéria mesentérica caudal, responsável As artérias epigástricas caudal e cranial
por vascularizar o restante do tubo sofrem anastomoses.
digestório (cólon descendente e reto). A a. ilíaca externa passa caudal ao canal
Quando a aorta passa pela penúltima inguinal, pela lacuna/anel vascular, onde
vértebra lombar (L5 ou L6, dependendo da começa a ser chamada de artéria femoral.
espécie), ela emite ramos terminais, que Em pequenos animais a a. femoral faz
consiste na artéria ilíaca externa, artéria parte do trígono femoral, que é delimitada
ilíaca interna e a artéria sacral mediana, pelo músculo sartório e músculo pectíneo.
que é basicamente a continuação caudal Justo com a a. femoral, passa também a
da aorta (calibre bem fino) que irriga o sua satélite, veia femoral, e o nervo safeno.
canal vertebral, medula espinhal e a região Essa região é utilizada para a aferição da
da cauda do animal. Dentre os ramos frequência/pulso cardíaca dos pequenos
terminais, a a. ilíaca externa é a mais animais. Nos grandes animais também
calibrosa, sendo responsável por existem essas estruturas, porém são
vascularizar alguns órgãos pélvicos, recobertos pelo músculo grácil, que forma
glândula mamária, escroto, prepúcio, uma parede e as estruturas passam pelo
músculos abdominais e os membros canal femoral. Devido a presença desse
pélvicos. A a. ilíaca interna possui a função músculo, essa não é uma região utilizada
de irrigar todos os órgãos pélvicos, bem para a aferição de pulso neles.
como a musculatura glútea e lombar. A O principal ramo da a. femoral é a
artéria pudenda interna é a continuação da artéria safena. Caudalmente ao joelho, na
a. ilíaca interna na pelve. Na fêmea, a a. região da fossa poplítea, a a. femoral passa
pudenda interna se ramifica na artéria a se chamar de artéria poplítea, passando
uterina (exceto a égua – ramo da ilíaca no meio da incisura poplítea. A a. poplítea
externa nelas), que irá vascularizar o útero. é bem curta, quando chega na região da
A a. pudenda interna também se ramifica tíbia já se ramifica nas artérias tibiais
em artéria vaginal (vagina, vestíbulo e caudal e cranial. A a. tibial caudal sofre
clitóris) ou prostática (gl. sexuais anastomose com a a. safena, que descende
acessórias e pênis), que irriga também a na região do calcâneo); por sua vez, a a.
bexiga e a uretra pélvica, além das tibial cranial segue para a região do tarso,
estruturas específicas dos gêneros. formando a artéria dorsal do pé.
A artéria femoral profunda é o primeiro Plantarmente, na região do metatarso, há
ramo intrapélvico da a. ilíaca externa, as artérias digitais comuns e artérias
responsável por vascularizar a musculatura metatarsais plantar. Na região do boleto,
profunda do cíngulo pélvico. as artérias digitais comuns se dividem em
Outra ramificação da a. ilíaca externa é artéria digital plantar medial e outra
o tronco pudendoepigástrico, que por sua lateral.

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Considerações clínicas Tributárias das veias cavas


A persistência de ducto arterioso (PDA)
Os afluentes da veia cava cranial
é uma alteração congênita com
coletam o sangue da cabeça, do pescoço,
prognóstico reservado. O principal fator
do tórax e dos membros torácicos. A veia
que influência no prognóstico é o tamanho
facial e a veia maxilar se unem para
do ducto arterioso e qual dos vasos (A.
começar a formar a veia jugular externa. A
aorta ou tronco pulmonar) o fluxo é
veia cefálica, veia ombrobraquial e veia
predominante. Nessa patologia o sangue
axilar, junto com todas as demais da
arterial se mistura com o venoso, além do
região, incluindo a veia jugular interna, se
aumento de pressão da aorta poder levar a
unem para formar a veia cava cranial. A v.
uma insuficiência cardíaca no átrio direito.
cefálica é proveniente da região cranial
A persistência do arco aórtico direito
membro torácico, possuindo importância
(dextraposição da aorta) é uma alteração
clínica por servir de local para punção e
congênita com prognóstico reservado a
acesso venoso nos pequenos animais. Nos
ruim, devido ao posicionamento invertido
carnívoros, ruminantes e no equino, a
da aorta para o lado direito e,
região dos espaços intercostais dorsais é
consequentemente, a sobrecarga das
drenada pela veia ázigos direita, que
estruturas adjacentes (esp. esôfago). A
também desemboca na v. cava cranial. No
aorta deveria originar do quarto arco
ruminante e no suíno, a veia ázigos
aórtico esquerdo, porém, nessa condição,
esquerda desemboca diretamente no
a aorta origina-se do quarto arco aórtico
átrio direito.
direito e o esquerdo regride.
É importante destacar que a veia
Normalmente, a persistência do arco
jugular externa é um importante ponto de
aórtico está associada a PDA, o que forma
punção em todos os animais domésticos,
um garrote/anel na passagem do esôfago.
além de servir como um acesso venoso
Essa associação das duas condições leva a
nos grandes animais.
um quadro de mega esôfago
Nos membros pélvicos o sangue é
drenado pelas veias safenas lateral e
medial, que são as veias mais importantes
dessa região. Elas se unem para formar a
veia femoral. A v. fomoral é uma tributária
da veia ilíaca externa, que se une a veia
ilíaca interna e veia sacral mediana, bem
A artéria epigástrica cranial superficial como as veias renal e testicular/ovariana,
possui importância clínica cirúrgica para formar a veia cava caudal.
especialmente em cadelas e gatas devido a As veias responsáveis por drenar a
sua localização próxima as glândulas região do sistema digestório se unem e
mamárias. Durante a cirurgia de retirada formam uma rede de tributárias
das glândulas mamárias é uma das independente da v. cava caudal para
preocupações que o médico veterinário formar a veia porta, que chega no fígado.
cirurgião deve estar atento e evitar.
Nas vacas lactantes a veia epigástrica
superficial se torna bem proeminente na
região lateoventral abdominal, que drena
o úbere. Caso não seja possível realizar a
punção venosa na jugular, o clínico pode
utilizar essa veia como alternativa.

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Segunda avaliação
Parte teórica – junho de 2020
1.Você observa uma vaca em lactação dar de mamar ao bezerro durante seu
horário de descanso. O animal tem pelagem predominante branca, o que
evidencia uma calibrosa veia que percorre a face lateroventral do abdômen do
animal e faz parte da drenagem do úbere. Qual é o nome dessa veia?
(40 Pontos)
V. Torácica Interna
V. Cefálica Superficial
V. Ázigos Direita
V. Epigástrica Superficial
V. Jugular Externa
2.Você realiza um exame de palpação retal em uma vaca. Ao palpar um dos
ovários, você sente uma superfície convexa e macia, como uma pequena
cavidade repleta de líquido. A fêmea apresenta uma mancha de tinta no
dorso, o que representa que foi positivamente rufiada. Que estrutura seria
essa que você palpou?
(40 Pontos)
Corpo lúteo
Folículo pré-ovulatório
Corpo albicans
Corpo hemorrágico
Folículo primordial
3.Uma cadela Cocker Spainel obesa de 10 anos de idade, não castrada,
apresentou tumoração de crescimento rápido em uma glândula mamária
torácica e foi submetida à mastectomia unilateral radical e
ováriosalpingohisterectomia (OSH). Ao 7º dia de pós-operatório, o tutor
retorna à clínica preocupado e irritado, se queixando de uma “bolsa de
líquido” ao redor da ferida cirúrgica. Qual seria o nome desse líquido e em
qual camada corporal ele se acumula?
(40 Pontos)
Hematoma; Epiderme
Seroma; Epiderme
Seroma; Hipoderme
Seroma; Fáscia
Sinovial; Hipoderme
4.O tronco braquiocefálico é o primeiro ramo do arco da aorta e irriga parte
ventral do tórax, membros torácicos, pescoço e cabeça. Com relação à

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ramificação do tronco braquiocefálico dos cães, assinale a alternativa que traz


a afirmativa correta.
(40 Pontos)
O tronco braquiocefálico ramifica-se em duas artérias carótidas comuns e uma artéria
subclávia direita. A artéria subclávia esquerda origina-se diretamente do arco aórtico.
O tronco braquiocefálico ramifica-se em um tronco bicarotídeo e uma artéria subclávia
direita. A artéria subclávia esquerda origina-se diretamente do arco aórtico.
O tronco braquiocefálico ramifica-se em duas artérias carótidas comuns e duas artérias
subclávias.
O tronco braquiocefálico ramifica-se em um tronco bicarotídeo e duas artérias subclávias.
O tronco braquiocefálico ramifica-se em uma artéria carótida comum direita e uma artéria
subclávia direita. As artérias carótidas comuns esquerda e subclávia esquerda originam-se do
arco aórtico.
5.Assinale a alternativa que traz as palavras corretas para completar esta frase:
Em mamíferos monogástricos as artérias que irrigam o estômago são ramos
da ________________ e as veias que drenam este órgão desembocam na
__________________.
(40 Pontos)
Artéria celíaca; veia cava caudal.
Artéria mesentérica caudal; veia porta.
Artéria celíaca; veia porta.
Artéria mesentérica cranial; veia hepática.
Artéria mesentérica cranial; veia abdominal cranial.
7.Um paciente canino apresenta uma tumoração maligna em um dos lobos do
fígado e é submetido a uma lobectomia hepática para tratamento. O lobo a
ser retirado se localiza entre a vesícula biliar e o ligamento redondo do fígado.

Qual seria esse lobo?


(40 Pontos)
Lateral esquerdo
Lateral direito
Caudado
Quadrado
Medial esquerdo
9.Você recebe em seu consultório um cão Dinamarquês macho saudável de 40
Kg que foi trazido pelo tutor para doar sangue a um outro cão que se
encontra internado. Você posiciona o animal em decúbito lateral, desinfeta a
região __________ da coxa e sente o pulso da ______________ na região do
___________ para punciona-la. A opção que preenche corretamente as lacunas
é:

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Marina Morena

(40 Pontos)
medial, veia femoral, trígono femoral
lateral, veia femoral, canal femoral
medial, artéria femoral, trígono femoral
lateral, artéria femoral, trígono femoral
medial, artéria femoral, canal inguinal
10.Com relação à anatomia do coração dos mamíferos domésticos, analise as
afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.
I) No átrio direito existe um tubérculo intervenoso entre o óstio da veia cava
cranial e o óstio da veia cava caudal. - V
II) A valva atrioventricular direita possui três cúspides. - V
III) A valva do tronco pulmonar possui cordas tendíneas fixas em músculos
papilares.
IV) As artérias coronárias direita e esquerda se originam diretamente da artéria
aorta. As veias coronárias escoam para as veias cardíaca magna e média, que
se conectam ao seio coronário. - V
V) O sistema condutor do coração é formado por um tecido com capacidade
de gerar atividade elétrica espontaneamente. As trabéculas cárneas auxiliam
nessa condução elétrica.
(40 Pontos)
As afirmativas III e V estão erradas.
As afirmativas II, III e V estão erradas.
As afirmativas I e III estão erradas.
As afirmativas II e V estão erradas.
As afirmativas I, IV e V estão erradas.
11.Você acaba de ser aprovado para residência em um hospital veterinário
equino e realiza, junto aos R2, a rotina matinal de exames clínicos nos animais.
Eles pedem para que você ausculte o ceco de um paciente recém operado
para verificar o peristaltismo. Para ter acesso a essa área de ausculta, você
deve:
(40 Pontos)
Se colocar à esquerda do animal, posicionado o estetoscópio na região dorsal caudal do
tórax.
Se colocar à direita do animal, posicionado o estetoscópio na região dorsal caudal do tórax.
Se se colocar à direita do animal, posicionado o estetoscópio na região lateroventral caudal
do abdômen.
Se colocar à esquerda do animal, posicionado o estetoscópio na região lateroventral cranial
do abdômen.
Nenhuma das alternativas.

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Marina Morena

12.Você auxilia o cirurgião na redução de uma hérnia inguinal estrangulada


em um paciente equino. Quais são as estruturas que passam pelo anel que
estrangulou o conteúdo da hérnia no macho?
(40 Pontos)
Funículo espermático, M. Obturador, Artéria e Veia femoral, N. Genitofemoral
Processo vaginal, M. Cremaster, Artéria e Veia pudenda externa, N. Genitofemoral
Funículo espermático, M. Cremaster, Artéria e Veia pudenda externa, N. Genitofemoral
Funículo espermático, M. Cremaster, Artéria e Veia femoral, N. Genitofemoral
Processo vaginal, M. Cremaster, Artéria e Veia femoral, N. Safeno
13.Você estagia há um tempo na clínica e tem mostrado excelente trabalho e
evolução. O cirurgião deixa que você realize uma orquiectomia, sob
supervisão, em um gato. Ele pede para que você realize a técnica com "cordão
espermático aberto" para que possa manipular o ducto deferente. Quais as
camadas, da mais externa para a mais interna, você incisará com o bisturi?
(40 Pontos)
Pele, túnica dartos, fáscia espermática, túnica vaginal visceral
Pele, fáscia espermática, túnica vaginal parietal, túnica dartos
Pele, túnica vaginal visceral, túnica vaginal parietal, fáscia espermática
Pele, túnica dartos, fáscia espermática, túnica vaginal parietal
Pele, túnica dartos, túnica vaginal visceral, fáscia espermática
14.Você realiza um exame ultrassonográfico em um gato com suspeita de
obstrução das vias urinárias. Ao posicionar a probe próxima ao arco costal
mais lateralmente, você consegue visualizar, em cor mais escura, devido à
presença de urina:
(40 Pontos)
Os cálices renais
A uretra
A pelve renal com recessos
A cápsula renal
A bexiga
15.Um pequeno produtor rural te chama para que examine uma bezerra de
três dias de vida, relatando que o animal goteja urina pelo umbigo. Após
realizar o exame clínico na bezerra, você relata ao produtor que conseguirá
reverter o quadro do animal com um procedimento cirúrgico. Qual seria a
estrutura persistente que causa tal quadro?
(40 Pontos)
Artéria umbilical
Veia umbilical
Úraco

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Marina Morena

Ligamento falciforme
Ducto arterioso
16.Com relação ao formato e à posição dos úteros das mamíferas domésticas,
correlacione as colunas assinalando a alternativa que traz a ordem correta de
números de cima para baixo.
I) Carnívoras
II) Porcas
III) Ruminantes
IV) Éguas
(IV) Cérvix relativamente curta, corpo amplo e dois cornos curtos, divergentes
e direcionados dorsalmente.
(II) Cérvix longa com pulvinos, corpo curto, cornos longos, tortuosos e
extremamente móveis na cavidade abdominal.
(I) Cérvix e corpo curtos, cornos longos, retos e direcionados dorsalmente.
(III) Cérvix longa com anéis, corpo muito curto e cornos longos, curvados
ventralmente.
(40 Pontos)
III, I, IV, II
III, I, II, IV
I, III, IV, II
II, IV, III, I
IV, II, I, III
17.Você realiza a necrópsia de um cão da raça American Bully "inbreed" de 4
meses de idade com histórico de apatia, taquipneia, subdesenvolvimento e
morte súbita. As mucosas do animal estão cianóticas. Após separar os
conjuntos de órgãos, você examina o coração, disseca os vasos da base e
diagnostica uma anomalia congênita entre a aorta e o tronco pulmonar. Qual
seria?
(40 Pontos)
Persistência da artéria umbilical
Persistência do forame oval
Dextraposição da aorta
Persistência da veia umbilical
Persistência do ducto arterioso

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