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O Galego e a Lusofonia

Conference Paper · May 2014

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1 author:

Xavier Frias Conde


National University of Distance Education, Madrid, Spain
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O Galego e a Lusofonia

Xavier Frias Conde


UNED / Cercle Linguistique de Prague

Introdução
Qual a relação entre o galego e a Lusofonia? Desde há décadas, do lado
galego não há uma resposta única. Por um lado, desde o ponto de vista político,
o galego é uma língua diferente do português, com uma norma diferente (de
facto, uma fraca adaptação do sistema espanhol para o galego), oficializada em
1982 através das Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego, elaboradas
pelo Instituto da Língua Galega (ILG) e aprovadas pela Real Academia Galega
(RAG). Por outro lado, existem grupos, provavelmente com uma presença cada
vez maior na sociedade galega, que defendem que a unidade linguística entre
galego e português não está quebrada. Porém, não se pode falar de dois blocos
enfrentados, mas de tendências misturadas, que passam por duas soluções
principais: uma é o uso de uma grafia de base espanhola para o galego, outra
é a adaptação da ortografia portuguesa para a escrita do galego. No primeiro
grupo há pessoas que defendem a total independência do idioma (oficialistas),
a pertença do galego à Lusofonia apesar da grafia (possibilistas), enquanto no
segundo bloco há pessoas que defendem a autonomia do galego frente ao
português (reintegracionistas), frente a outros que promulgam o uso do português
padrão europeu diretamente (lusistas).
E qual a visão que se tem desde Portugal do galego? Desde os tempos de Leite
de Vasconcelos, quando afirmava que o galego e o português são co-dialetos, qual
a situação atual? Todavia, a denominação de co-dialetos requer uma atualização;
essa é uma questão que abordaremos depois.

Pelos mares da língua portuguesa I 347


P lo a a língua o ugu a

Trata se de uma situação complexa que tentaremos analisar, tentando mostrar


as diferentes hipóteses. Partiremos de uma pergunta para a qual não há, como
dissemos no início, uma só resposta: se os galegos não falam português e os
portugueses não falam galego, falam portanto a mesma língua?

O que é o galego?
O galego é, segundo todos os manuais, a fala românica própria do noroeste
da Península Ibérica na Galiza e áreas vizinhas das províncias espanholas das
Astúrias, Leão e Samora. Oficialmente é uma língua independente com status
de co oficialidade na Galiza, algo que também é reconhecido pelo Estado
espanhol, o qual envolve que se trata de uma língua independente do português.
A realidade é que se trata de uma língua ameaçada, com evidente perigo de
extinção. O que a maioria das pessoas falam é um híbrido de espanhol e galego
conhecido como chapurreado. Além disso, a transmissão geracional do idioma
é muito baixa, apenas 10%. A maioria dos habitantes da Galiza falam espanhol
regional da Galiza. O governo galego eleito em 2009 não protege mais o galego,
o seu uso diminui ano após ano nos média, na administração e na escola.
Muitas pessoas não concordam com a visão isolacionista do galego, partem
de uma pergunta que a boa parte da povoação não interessa: que é o galego para
além da língua própria da Galiza? Há quem creia que a salvação do galego passa
por se reintegrar no português, na Lusofonia. Desta maneira a visão segundo
a qual a essência do galego tem duas respostas: uma é a oficial, já mencionada
anteriormente, e outra alternativa, que grosso modo é conhecida no seu conjunto
como reintegracionismo, pelo motivo que já foi mencionado: o galego deve
reintegrar se na Lusofonia.
A questão é capital porque existe uma ampla confusão terminológica sobre
o que é o galego. Embora seja plenamente aceite a ideia do galego português
como um diassistema, a sua natureza, pelo menos no concernente à Galiza, não
faz mais do que criar confusão.

A norma oficial do galego


As oficiais Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego (2003) adaptam,
do ponto de vista ortográfico, o sistema espanhol para o galego. É bem certo
que o sistema consonântico galego fica muito mais perto do espanhol que do
português, inclusive com a existência do fonema /θ/. θ De facto, a norma oficial
introduz <x> com o valor de /ʃ/ʃ e o dígrafo <nh> para sinalar o fonema /η/.η As
regras de acentuação são quase idênticas com o espanhol, enquanto há absoluta
coincidência quanto ao uso distributivo de <c/z>.

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É interessante, aliás, compreender quais os critérios seguidos na elaboração do


padrão galego atual em relação com o português, bem como o uso do argumento
pelo governo galego da Lusofonia para promover o galego. De facto, as normas
galegas são ambíguas quanto à relação com o português. Enquanto se diz no
texto que o português, por razões históricas, é um referente para o galego, a
influência portuguesa é recusada constantemente, preferindo-se por norma as
soluções coincidentes com o espanhol.
Além disso, na escolha de formas normativizadas entre todas as que oferecem
os dialetos galegos, houve uma clara tendência a escolher na maioria dos casos
aquelas mais afastadas do português. Parece assim que a construção do padrão
galego seguiu o critério de procurar a diferença com o português padrão, embora
existam geoletos que possuem formas coincidentes com ele. O seguinte é apenas
um quadro onde se mostram as soluções escolhidas nuns poucos casos, junto
com as soluções do português padrão (as formas em vermelho são as oficiais):

G. Ocidental G. Central G. Oriental Português


irmán irmao irmao irmão
tu
ti tu tu
ti
escuitar
escoitar escuitar escutar
escutar
son
son sou sou
sou
falades falades
falades falais
falais falais
leóns leós leois leões
falástedes
falástedes falastes falastes
falastes
partiu
partiu partiu partiu
parteu
ca min
ca min que eu que eu
que eu

No entanto, não todas as pessoas que usam esta norma oficial concordam com
a visão isolacionista de o galego ser uma língua independente do português. Há
uma corrente que defende que o galego, embora utilize esta norma, é lusofonia.
Estão nessa primeira fase a que nos referíamos anteriormente de que não chegou

O Galego e a Lusofonia 349


P e l o s m a res d a l í n g u a p o rt u g u es a I

o momento de propor uma mudança ortográfica do galego. Referimo-nos a


eles antes como os possibilistas1. A razão defendida por eles para manterem o
padrão oficial é que a situação do galego é tão crítica quanto à sua conservação
que falar numa modificação radical do sistema da escrita não faz mais do que
acelerar a perda de falantes. Portanto, mantêm-se dentro da oficialidade, mas
procurando sempre achegar-se ao português dentro das opções que permite a
norma2. Esta opção no uso do idioma é conhecida como galego convergente,
estando os seus principais ideólogos na Universidade da Corunha e contando
com o melhor linguista galego atual como o seu primeiro promotor: Xosé
Ramón Freixeiro Mato.
Existem, portanto, duas correntes dentro do uso da norma oficial: a isola‑
cionista e a convergente ou possibilista. Enquanto a primeira tenta afastar-se
do português, até ao ponto de procurar o encontro com o espanhol em muitos
casos3, a segunda procura o contrário, procurando, aliás, reforçar o galego em
todos os sentidos como ferramenta de comunicação recorrendo ao português
sem qualquer complexo. As diferenças entre ambos os modelos podem ser vistas
no seguinte gráfico que recolhe, de uma forma simples, as duas visões do galego
dentro da normativa oficial.

1 A origem deste grupo está na chamada norma de mínimos, surgida em 1980 da mão da Associação
Psicopedagõgica Galega. Tratava-se de uma norma de compromisso entre a norma oficial de 1982 e o
reintegracionismo. A Gramática Elemental del Idioma Gallego de Carvalho Calero (1966) já estava redigida
mais ou menos nesta norma, que utilizava elementos portugueses gráficos como <vr> em livro ou palavra e
seguia o português no uso de <v> frente ao espanhol: cavalo, falava (a norma oficial segue quasi literalmente
o espanhol, porém). Além disso, seguia as regras de acentuação do português, mas apenas com o acento
grave: insisténcia, carícia. Também separava o verbo do clítico com hífen: vian-se. Pelo resto, coincidia no
ortográfico com a norma oficial, embora houvesse outros pontos de coincidência com o português, como
os plurais do tipo túneis, tais, etc. Os oficialistas e os minimistas acabaram negociando a reforma da norma
e modificaram-na em 2003, incluindo algumas das suas demandas na norma oficial, mas foi uma questão
de imagem que, em teoria, achegava ligeiramente o padrão galego do português. Despois de 2003, nem
todos os defensores desta teoria abraçaram a norma oficial; alguns deles optaram pelo reitegracionismo.

2 Refere-se, por exemplo, aos casos em que há duas possibilidades. Quando a norma permita escolher entre
amable e amábel; ata ou até, escolhem sempre a segunda forma. Chegam mesmo a introduzir elementos de
que não fala a norma, como o uso do artigo determinado com os nomes próprios, ou bem desaconselha
certos elementos gramaticais ou léxicos normativos por os considerarem influência do espanhol.
3 Chega-se até o absurdo de preferir ordenador a computador; luns, martes, etc. a segunda, terça-feira, etc.; evitar

formas como predio, andar, calzas e muitas outras por evitar a coincidência com o português, embora tais
formas apareçam nos dicionários galegos. Esta escolha é conhecida como o galego amável, referido a que
um galego fortemente espanholizado é muito mais compreensível para os cidadãos galegos falantes de
espanhol. O critério nem só é aplicado pelo Governo autónomo, mas também por outras instituições e até
agências de tradução que pedem abertamente o afastamento do português, o qual parece uma manifestação
de lusofobia.

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P e l o s m a res d a l í n g u a p o rt u g u es a I

A norma reintegracionista do galego


Ao mesmo tempo em que nos anos 70 do século XX o movimento de recupe‑
ração do galego entrava nas universidades e daria lugar ao nascimento do Instituto
da Língua Galega (1971), a visão reintegracionista ia também formando-se
entre muitos intelectuais. A ideia de o galego e o português serem sempre
um só idioma (as matizações nesta altura não interessam) fez com que junto
aos partidários da independência crescessem aqueles outros que olhavam para
Portugal como a única hipótese de a língua encontrar o mundo. Um dos pais
deste movimento foi Ricardo Carvalho Calero (1910-1990), cujo pensamento
deu lugar à criação da Associaçom Galega da Língua (AGAL). Toma-se como
ponto de partida o trabalho A recuperação literária do galego precisamente de um
português: Manuel Rodrigues Lapa.
Um ano depois da proclamação das normas oficiais do galego, a AGAL publica
as suas próprias em 19834. Tais normas sofreram também, com o passo do tempo,
modificações, para lentamente ir-se achegando cada vez mais para o português.
Neste contexto convém introduzir o conceito de português da Galiza5. Para
muitos falantes galegos, esta denominação é uma autêntica incongruência, porque
se se referir à língua da Galiza, tem que ser galego.

4 Um pequeno resumo delas em espanhol pode ser lido em: http://es.wikipedia.org/wiki/Normativa_


reintegracionista_del_idioma_gallego
5 Este argumento recolhe ideias já manifestadas em Frias Conde, X. “Galego na Galiza e português...

também?”, em http://pivonauta.wordpress.com/2013/08/16/galego-na-galiza-e-portugues-tambem/
(consultado agosto, 2014)

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P e l o s m a res d a l í n g u a p o rt u g u es a I

Porém, dentro do reintegracionismo não há uma visão homogênea da ques‑


tão. Por um lado, a norma AGAL mantém ainda muitos elementos iniciais e
distintivos do galego, como as terminações -çom, -som ou o artigo umha (=/
uηa/), que muitos utentes abandonaram para usar as formas concordantes com
o português, isto é: -ção, -são e uma, embora em todos os casos se mantenha
uma pronúncia galega diferente da portuguesa. Pelo outro, com o nascimento
da Academia Galega da Língua Portuguesa (2008) e que vem usando prati‑
camente o português europeu, em alguns casos com pequenas concessões de
tipo morfológico às falas galegas. Daí que denominemos os primeiros como
reintegracionistas e os segundos como lusistas.

O conceito de paraleto no caso galego-português


Oficialmente, como já ficou dito, galego e português são idiomas diferentes.
Tem cada um o seu padrão, de maneira que a partir da unidade medieval, a
realidade oficial é hoje esta que representamos no seguinte gráfico:

Oficialmente, até do galego se esgalhou um ramo, o eonaviego, que é o galego


falado nas Astúrias e que o governo regional asturiano elevou à categoria de
idioma (Frias Conde, 2012). Para o português, dentro de um só padrão, é possível
reconhecer várias normas (portuguesa, africana, brasileira).
Desde uma perspetiva sociolinguística e atendendo para a realidade de
que o galego e o português começaram a se afastar a partir da confirmação

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da independência de Portugal no século XIV, mas que a unidade linguística,


apesar de tudo, não ficou totalmente rota, podemos afirmar que o uso do padrão
português europeu para a escrita do galego não funcionaria. O galego pode ser
escrito de conformidade com a ortografia portuguesa. Nesse sentido, desde os
inícios da recuperação do galego a partir da morte de Franco, tentou encontrar
um modo de o galego confluir com o português, o que na altura se entendeu
como a reintegração do galego no âmbito português (daí o nome de reintegra‑
cionismo que recebe o movimento). O primeiro passo seria, portanto, a mudança
ortográfica do sistema oficial de base espanhola para outro de base portuguesa.
Tal mudança ortográfica mal afeta a estrutura morfossintática do galego. Mas
quando o disfarce ortográfico desaparece, vê-se que as diferenças entre galego
e português são muito menores do que parece. Porém, também é certo que o
galego escrito com ortografia reintegrada admite diversos graus de aproximação
do português padrão europeu. Dito de um modo simples, pode-se escrever
numa forma linguística mais galega ou menos, com maiores concessões para
o português.
Tal forma de escrever vem-se conhecendo ultimamente sob a denominação
de português da Galiza. E é galego, tanto como o é o galego escrito na norma
RAG. Para um falante comum português, o português da Galiza tem aparência
de português, mas apresenta traços indiscutivelmente galegos. Citaremos alguns
deles aqui:

• falais, bebeis, partis por falam, bebem, partem (fenómeno comum com falares
portugueses transmontanos e beirãos)
• falei-che por falei-te
• falárom por falaram (porque falaram também se usa em galego, mas apenas
para o mais-que-perfeito)
• dixo, fizo/fezo, quijo/quiso por disse, fez, quis
• formas próprias galegas que podem ser também arcaísmos ou dialetalismos
portugueses, como ment(r)es por enquanto, aginha, e logo, etc.

No vocabulário há dúzias de palavras que são galegas e seguem a ser empregues


com total naturalidade, embora muitas delas sejam arcaísmos portugueses ou
sejam utilizadas ainda no norte de Portugal.
Se ainda tivessem a impressão que galego e português não são iguais, é certo.
Nem os portugueses falam galego nem os galegos falam português, mas falam
algo que tem mais pontos em comum do que pontos diferentes. O conceito
de galego-português serve para isto, mas como tudo precisa dum nome mais
concreto, a denominação de português da Galiza para a escrita do galego com

O Galego e a Lusofonia 353


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o alfabeto português dá, mantendo em maior ou menor medida as suas feições


principais aos níveis gramatical e lexical.
E com isto chegamos a uma tentativa de definição de qual a relação entre
galego e português entre eles. Visto que o português é um idioma internacional, o
que é o galego? Neste sentido, seria bom recuperar o conceito de codialeto cunhado
por Leite de Vasconcelos (1970, 29), porém com substanciais diferenças, visto
que os falares asturo-leoneses pertencem a um diassistema diferente. A definição
que oferece Leite de Vasconcelos é:
Idiomes particuliers que, quoique n’étant pas aujourd’hui rigoureusement portugais,
sont cependant dans un intime rapport avec cette langue.

Fiquemos, portanto, com que galego e português são codialetos, mas não o
mirandês, o rionorês e o guadramilês, que são falares asturo-leoneses. Porém, o
conceito de dialeto tem nos dias de hoje conotações muito negativas, portanto
também o de codialeto. Tentámos pôr em dia a terminologia, partindo do
conceito de diassistema que engloba o galego e o português para falar de
paraletos, um conceito diferente de geoleto, socioleto ou dialeto. O galego não
é mesmo um geoleto do português, como pode ser o minhoto, o trasmontano ou
algarvio, também não é um dialeto em qualquer uma das aceções que tem este
termo. Porém, se considerarmos que não é mesmo uma língua independente
do português, o conceito de paraleto vem refletir qual a relação entre galego e
português e que não tem equivalência na Europa, pois não é equivalente, por
exemplo, à relação que existe entre checo e eslovaco; se calhar, o caso mais
próximo seria o do catalão e o occitano, onde ambos falares podem ser paraletos.
Os paraletos mantêm uma unidade linguística, mas não usam necessaria‑
mente o mesmo padrão. Neste sentido falaríamos em parapadrão (Frias Conde,
2006, p. 54). Esta é uma diferença importante, porque o português tem um só
padrão, mas com duas normas principais: a europeia e a brasileira. Porém, tal
padrão sofre modificações importantes no caso galego, pelo qual preferimos
falar em parapadrão (e não subpadrão) permite que o galego mantenha, dentro
da lusofonia, uma autonomia de que carece qualquer variedade do português.
Portanto, dentro das hipóteses atuais de parapadrão galego reintegrado, a
denominação de português de Galiza, formulada ainda na segunda década do
século XXI, serve perfeitamente para situar o galego dentro da Lusofonia com
um parapadrão próprio. Convém insistir na importância do parapadrão, porque a
distância entre galego e português nem só no linguístico, mas também no social,
deve ser abordada desde o reconhecimento dessa distância, mas sem quebrar a
unidade linguística galego-portuguesa.
Tudo o anterior fica refletido no seguinte gráfico:

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Tudo o visto até agora sobre a evolução das normas do galego pode ser
resumido nos dois seguintes gráficos, que recolhem o período que se abre em
1975 e que chega até hoje. O primeiro descreve qual a evolução dos grupos
apresentados anteriormente.

O segundo descreve a evolução das teorias linguísticas quanto à sua pertença


à Lusofonia:

O Galego e a Lusofonia 355


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Conclusões
Todas as normas presentes e passadas do galego olharam para o português,
já para se afastar dele ou bem pelo contrário. Porém, quando até os mais isola‑
cionistas reconhecem que o galego é uma língua útil para se comunicar com mais
de duzentos e cinquenta milhões de pessoas é evidente que não querem dizer que
o galego tenha tal número de falantes. Usam-se, aliás, circunlocuções como
que “saber galego é uma porta de entrada para fazer negócios no Brasil”. Esta
é a publicidade institucional, portanto, há um reconhecimento implícito da
continuidade do galego-português. Bem parece que a grande maioria das pessoas
que tem interesse na questão do galego reconhece que o galego tem que fazer
parte da Lusofonia, seja isto dito explicitamente ou simplesmente insinuado.
E à Lusofonia convém que o galego faça parte dela? A resposta tem que
vir da própria Lusofonia. Até agora há nomeadamente desconfiança, temor (a
uma eventual reação da Espanha se o galego fizesse parte de uma “instituição”
estrangeira) e desconhecimento. Porém, esperemos que as coisas mudem em breve.
A meu ver, há várias estratégias que se podem marcar para reforçar a ideia
de uma Lusofonia que inclua o galego. São estas:
Redefinir o conceito de “galego-português” em todos os âmbitos, nem só
académicos, mas também políticos, culturais e principalmente editoriais, atua‑
lizando a visão de uma língua do século XXI, não como algo medieval..
Valorizar a aceitação do galego como lusofonia com a ortografia oficial, algo
de que já temos falado, porque simplificaria muito as coisas.

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Formular a existência de um espaço único cultural desde A Corunha até


Faro, sem esquecer o Brasil.
Projeção da literatura galega em Portugal.
Introdução do ensino de português nas escolas e liceus galegos (para isso foi
aprovada recentemente a Iniciativa Popular “Valentim Paz Andrade”, a 14 de
maio 2014 pelo Parlamento regional de Galiza, segundo a qual, impulsionar-
se-á o ensino de português nos centros escolares galegos, entre outras medidas).

Referências bibliográficas
Associaçom Galega da Língua (1983): Estudo crítico das “Normas ortográficas e
morfolóxicas do idioma galego”. Santiago de Compostela : AGAL.
Carvalho Calero, R. (1966). Gramática elemental del gallego común. Galaxia:Vigo.
Frias Conde, X (2004). Su galitzianu, su catalanu e su sardu: comente arribare
a una standardizatzione. Modellos e tzircustàntzias. In Mensching G &
Grimaldi, L., Su sardu. Limba de Sardigna e limba de Europa. Cagliar:CUEC.
Frias Conde, X. (2006). A normalización lingüística na Romania. A normaliza‑
ción da lingua e normalización dos falantes (o caso dos neofalantes). Ianua, 6.
Disponível em http://ianua.romaniaminor.net/Ianua06/08.pdf (agosto 2014).
Frias Conde, X. (2012). Nos limites nordestinos do galego-português europeu:
o eonaviego. In Quem fala a minha língua, Santiago de Compostela:Através
Editora.
Instituto da Lingua Galega (1982): Normas ortográfias e morfolóxicas do idioma
galego. Santiago:Xunta de Galicia.
Vasconcelos, J. Leite de (1970). Esquisse d’une dialectologie portugaise. 2ª ed.
Lisboa: Centro de Estudos Filológicos.

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