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ENGANANDO A SI MESMO

Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir,
tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de
Deus.
Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece, e aceitem
humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los.
Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.
Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem
que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo
esquece a sua aparência.
Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita que traz a liberdade, e
persevera na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu mas praticando-o, será
feliz naquilo que fizer.
Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si
mesmo. Sua religião não tem valor algum!
A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos
órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.

Tiago 1:19-27

INTRODUÇÃO

Ser enganado é uma sensação terrível e causadora de revolta e prejuízos. Contudo,


existe um tipo de engano que é o pior de todos, o AUTOENGANO.

O autoengano é uma postura que adotamos tentando nos convencer de que algo
errado é certo, algo ruim é bom, algo danoso é benéfico.

Infelizmente, muitas vezes nos autossabotamos e nos levamos a situações danosas e


até desastrosas.

A MENTIRA COMO COMPANHEIRA DE VIDA

Os enganos e as mentiras são inerentes à vida em todos os seus aspectos. Mesmo a


natureza os usa como recurso. Os vírus, por exemplo, são capazes de enganar o
nosso sistema imunológico para entrar em nosso corpo, para conseguir seu objetivo
que é a sobrevivência. Mas, o que dizer de nós?

Além das mentiras revestidas de alguma intenção para conseguirmos algo concreto,
existem as mentiras que nos sustentam durante um certo tempo ou até mesmo pela
vida toda. Inventamos essas mentiras para fugirmos da realidade, e preferimos a
inconsciência.

DOSTOIEVSKI ESCREVEU EM “MEMÓRIAS DO SUBSOLO”:

“Todo ser humano tem algumas memórias que contaria somente aos seus
melhores amigos. Da mesma forma, podemos dizer que todo ser humano tem
preocupações que não contaria nem aos seus melhores amigos, mas apenas a
si mesmo e, mesmo assim, no maior segredo. Mas existem coisas que as
pessoas não se atrevem a contar nem para si mesmas. Mesmo os homens mais
honestos têm uma grande quantidade desses pensamentos guardados em
algum lugar da sua mente”.

MENTIRAS PARA FUGIR DA REALIDADE

Existe uma rede de mentiras que nos sustentam e que muitas vezes são as algemas
que nos prendem a determinadas situações sem que percebamos. Por isso, temos a
sensação de que não importa o que façamos, não conseguimos seguir em frente.

“A verdade tem a estrutura da ficção”. Jacques Lacan

Quando a força dos fatos se torna ameaçadora, por vezes, o medo do


sofrimento nos faz tentar fugir da realidade, bloqueando a nossa atenção e nos
enganando. Por isso, preenchemos os espaços vazios com explicações
imaginárias ou fantasiosas, de maneira automática. Diz o ditado popular: “o que
os olhos não veem, o coração não sente”.

Dessa forma, se eu não vejo, se não percebo o que está acontecendo, o perigo e a
ansiedade diminuem e eu consigo seguir em frente. Os fatos foram ignorados e
modificaram o significado da experiência. A mentira está presente, sem que
percebamos, oculta atrás dos silêncios, das justificativas, das negações e dos castelos
de areia.

A mentira se mantém pelo poder da nossa atenção seletiva para esconder e modificar
as verdades dolorosas, criando uma realidade mais aceitável para nós.

O AUTOENGANO NO DIA A DIA

O autoengano pode ser gerado para satisfazer as nossas próprias expectativas ou as


dos outros; ou como uma forma de justificarmos que não queremos ver a realidade
como ela é.

Isso pode acontecer nos relacionamentos de casal quando, por exemplo, não nos
damos conta de que a situação está insustentável e de que os nossos sentimentos
mudaram. Pode acontecer também, nos casos de dependência química, quando a
pessoa acredita que pode controlar o seu consumo; nas relações sociais e políticas…

O autoengano é uma importante defesa contra as ameaças de perigo, que se


destaca como uma armadura que nos protege das experiências difíceis de
assimilar, uma couraça do caráter como dizia Willhelm Reich. Um escudo atrás
do qual o “eu” se esconde, utilizado para proteger-se da ansiedade de viver em
um mundo considerado hostil.

Então, quanto melhor enganarmos a nós mesmos, melhor enganaremos os outros. A


melhor maneira de esconder uma decepção profunda é não estar ciente dela.

Os efeitos do autoengano

O autoengano pode ter muitos aspectos e, por vezes, um custo muito elevado. Nestes
casos, o mundo da pessoa está fragmentado e a informação ignorada está no seu
inconsciente, escondida pela mentira da consciência.
Assim, como Daniel Goleman afirma em seu livro “O ponto cego”, o primeiro passo
para despertar do autoengano é perceber de que forma estamos “dormindo”. Ou seja,
em primeiro lugar, considerar a possibilidade de que estamos nos enganando em
algum aspecto da nossa vida e, em seguida, entrarmos nessa teia de aranha que nós
mesmos construímos para fugir da realidade.

Muitas vezes não percebemos o que nos desagrada e também não percebemos
que não percebemos nada… A maioria de nós fez um pacto, sem saber, com
este velho provérbio árabe:

“Não desperte o escravo porque talvez ele esteja sonhando que é livre”. Mas, o sábio
dirá: “Desperte o escravo! Especialmente se sonha com a liberdade. Se despertar e
perceber que ainda é um escravo, talvez possa se libertar”.

COMO SAIR DESSA SITUAÇÃO?

Vivemos num tempo em que há uma grande distância entre o dizer e o fazer, pregar e
praticar, e dar exemplo. Que Deus nos ajude a viver na prática de sua palavra. Fé
prática na vida pessoal.

Mas, como poderemos escapar desta tendência humana pelo engano de si mesmo?
Aproximando-nos das Escrituras com nossos corações dados a Deus e não com um
interesse acadêmico ou institucional. Temos que enfrentar o que o Filho de Deus
realmente disse, não importa que isso seja custoso, ou penoso, ou fora de moda.

E então, à clara luz do ensinamento de Deus, temos que nos engajar constantemente
no mais sincero sondar dos nossos próprios corações (2 Coríntios 13:5). Sem exame
próprio, o engano de si mesmo é inevitável.

Temos que perguntar-nos não somente se o que estamos fazendo está de acordo
com a vontade de Deus, mas se o estamos fazendo pelo amor de seu Filho. Muito do
que é feito "em nome de Cristo" é executado para a glória dos homens.

Como é imperativo a nós o espírito de Davi: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu


coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum
caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Salmo 139:23-24).

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