Você está na página 1de 16

ROTEIRO – AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO

ENTREVISTA COM A PESSOA PRESA


1 - Identificar-se e explicar o que é a Defensoria
Apesar de simples, essa etapa é importante, pois ainda é comum que as
pessoas nã o saibam a funçã o da Defensoria Pú blica e considerando que o
momento da prisã o é um momento bastante confuso, sendo importante que a
pessoa confie nas nossas orientaçõ es.

2 - Informar o objetivo da audiência de apresentação


- Verificar a regularidade da prisã o em flagrante;
- Verificar se há possibilidade de concessã o da liberdade ou de prisã o domiciliar;
- Verificar se a pessoa foi vítima de maus tratos ou tortura.

3 - Informar que a pessoa deve permanecer em silencia sobre o mérito


Em regra, considerando que as mídias têm sido anexadas aos processos (já há
atuaçã o da Defensoria buscando a exclusã o das mídias), é importante explicar que
a pessoa deve permanecer em silêncio sobre os fatos, já que uma eventual
confissã o poderá ser usada contra ela no processo.
No entanto, há casos em que a discussã o sobre os fatos será importante para a
desqualificaçã o da prisã o e/ou descaracterizaçã o do crime imputado. Nestes
casos, excepcionalmente, a orientaçã o deve ser em sentido contrá rio. Exemplos:
causas de exclusã o da tipicidade, antijuridicidade ou da culpabilidade, casos de
negativa de autoria etc.

4 - Informar os fatos que motivaram a prisão

5 – Perguntas a serem feitas à pessoa presa durante a entrevista

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
a) Há familiares com quem possamos entrar em contato para tratar do
caso? Se sim, pedir nome e telefone.
b) Tem antecedentes criminais? Em que consistem?
c) Idade? (OBS: pergunta importante quando a pessoa é idosa, para fins de
prisã o domiciliar, bem como quando a pessoa é mais velha e sem
antecedentes, como fundamento extra para o pedido de soltura).
d) Grau de escolaridade? Está estudando?
e) Tem filhos/as? Quantos? Sã o menores de idade?
f) Tem residência fixa? Qual o endereço?
g) Trabalha? Se sim, qual a funçã o e o local? Qual a renda mensal?
h) Tem alguma doença? Qual? Faz tratamento contínuo?
i) Para os casos em que a pessoa já esteve presa e/ou já cumpriu pena:
houve descumprimento da cautelar? Houve descumprimento de alguma
condiçã o do livramento condicional ou do regime aberto (como
recolhimento noturno, comparecimento mensal em juízo etc)? Caso a
pessoa tenha cumprido corretamente, essa resposta pode ser usada
como fundamento extra para pedir a soltura, ante o indicativo de que
nã o há risco para a aplicaçã o da lei.
j) Sofreu agressã o no momento da prisã o?
k) Que tipo de agressã o, verbal ou física? SE SIM: USAR QUESTIONÁ RIO
PRÓ PRIO, em anexo.
l) No momento da prisã o, os policiais o entrevistaram, em cará ter
informal, a respeito do seu envolvimento nos fatos apurados?
m) Em caso positivo, antes da entrevista, te avisaram do seu direito de nã o
responder a tais perguntas, de permanecer em silêncio?
n) Foi ouvido formalmente na delegacia? Se nã o, por qual razã o?

MANIFESTAÇÃO ORAL EM AUDIÊNCIA

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
1 – Perguntas:
Complementar as perguntas do/a juiz/a, quando nã o abrangerem questõ es
relevantes identificadas na entrevista prévia. Exemplo: existência de doença
grave, filhos/as dependentes etc.
Caso nã o tenham sido feitas quaisquer perguntas sobre agressõ es sofridas e
caso a pessoa presa tenha indicado que sofreu agressõ es e deseja reportá -las,
complementar com perguntas sobre isso, conforme roteiro contido em
questioná rio pró prio.

2 – Pedidos possíveis da defesa relacionados ao direito à liberdade:


a) Relaxamento do flagrante
 A pessoa acusada nã o for advertida quanto a ao direito de
permanecer em silêncio (art. 5º, inciso LXIII, CF). O privilégio contra
a autoincriminaçã o, erigido em garantia fundamental pela
Constituiçã o, traz o dever de que o inquiridor, mesmo que se trate
de policial, advirta o interrogado sobre seu direito ao silêncio. A
falta de advertência torna ILEGAL A PRISÃ O. O fato de o acusado ser
posteriormente, na Delegacia, cientificado do seu direito ao silencia,
nã o convalida o ato anterior, pois é ó bvio que tal informaçã o deve
ser fornecida quando da prisã o, ANTES DE EVENTUAL CONFISSÃ O.
 No ato da prisã o, o acusado for vítima de maus tratos/tortura.
PRISÃ O ILEGAL.
 Caso em que a pessoa portava droga para uso pró prio.
OBSERVAÇÃ O: caso haja relaxamento do flagrante, mas pedido do Ministério Pú blico
para a decretaçã o da prisã o preventiva, recomenda-se sustentar que o auto de prisã o
em flagrante é ilícito e nã o pode ser utilizado, em consequência, para fundamentar
eventual decretaçã o da prisã o preventiva, devendo, inclusive, ser desentranhado,
ante o que prevê o artigo 157 do Có digo de Processo Penal.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
b) Concessão da liberdade provisória sem imposição de qualquer outra cautelar
 Requisitos de admissibilidade da prisã o cautelar (art. 313, CPP):
- crime doloso com pena má xima superior a 04 anos
- reincidências
- garantir a execuçã o das medidas protetivas de urgência, em crimes
que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência.
 Pressupostos para a prisã o cautelar (art. 312, CPP):
- Indícios de autoria: a coisa foi encontrada com a pessoa presa? Houve
reconhecimento pessoal com observâ ncia do artigo 226 do CPP? OBS:
eventual confissã o informal e extrajudicial sã o NULAS, ante a ausência
de advertência sobre o direito de permanecer em silêncio, bem como
ante a ausência de defensor/a.
- Prova da materialidade: comprovaçã o de circunstâ ncias elementares
do crime. Ex: nã o há dolo, nã o houve grave ameaça etc.
 Requisitos da prisã o cautetar
- risco à garantia da ordem pú blica/ordem econô mica
- risco à conveniência da instruçã o criminal
- risco à aplicaçã o da lei penal
- proporcionalidade entre cautelar e prová vel pena e prová vel regime

c) Concessão da liberdade provisória com medida cautelar diversa da fiança


Possíveis alegaçõ es para evitar a fixaçã o de fiança ou a dispensa daquela
fixada pelo delegado:
- Impossibilidade de pagar a fiança: renda mensal, nú mero de filhos/as; se
tivesse o valor, já teria pago no DP (casos de fiança fixada pelo delegado); é
pessoa assistida pela Defensoria Pú blica, presumindo-se a hipossuficiência.
- Outras medidas sã o suficientes para garantir a vinculaçã o ao processo.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
d) Concessão da liberdade provisória com fiança
Expediçã o de alvará de soltura imediatamente, com a concessã o de
prazo para efetuar o pagamento do valor. Nã o cabe à família cumprir a
medida cautelar. Caso nã o haja o recolhimento, cabe apreciar se é caso de
alteraçã o da medida cautelar ou, no má ximo, se há necessidade da prisã o
cautelar. O contrá rio equivale a manter a prisã o sem título (prisã o ilegal),
pois já se reconheceu que nã o estã o configurados os requisitos da prisã o e,
mesmo assim, o indiciado permanecerá preso cautelarmente e por prazo
indeterminado. De fato, apenas duas sã o as hipó teses de prisã o legal: em
flagrante e por ordem judicial fundamentada, o que nã o é o caso.
Caso indeferido o pedido acima, pegar contato de familiares e contatá -
los, para verificar possível pagamento. Caso ele nã o seja possível,
peticionar diretamente, no mesmo dia ou no dia seguinte, no DIPO,
informando que a família nã o pode ser contatada, ou que, apesar de
contatada, nã o pode pagar a fiança, requerendo-se a dispensa.

e) Concessão da prisão domiciliar (art. 318, CPP)


Hipó teses legais:
- maior que 80 anos;
- extremamente debilitado/a por doença grave (o que abrange deficiência)
- imprescindível aos cuidados especiais de criança menor de 06 anos ou de
pessoa com deficiência
- gestante a partir do 7º mês de gravidez ou sendo esta de risco

3 – Pedidos possíveis relacionados a declaração de ocorrência de violência


policial
Sempre que houver lesõ es aparentes, recomenda-se que seja realizado pedido
de que o juiz determina a instauraçã o de inquérito, com fundamento no artigo 5º,
inciso II e artigo 13, inciso II, ambos do Có digo de Processo Penal.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Caso nã o estejam presentes lesõ es aparentes, mas a pessoa presa declare que
foi agredida, recomenda-se que seja realizado pedido de apuraçã o, nos termos da lei
(eu sugiro que o pedido seja da mesma forma de instauraçã o de inquérito, com
fundamento no artigo 5º, inciso II e artigo 13, inciso II, ambos do Có digo de Processo
Penal).
OBSERVAÇÃ O 01: é comum que os/as juízes/as determinem a instauraçã o de
expediente no DIPO 5, que corresponde ao Juízo Corregedor da Polícia Judiciá ria.
Recomenda-se oposição a este encaminhamento, uma vez que corresponde a uma
instâ ncia administrativa desnecessá ria à apuraçã o do suposto crime narrado. Quando
tratar-se de acusaçã o contra a polícia militar, há o acréscimo de ausência de
atribuiçã o para apuraçã o de ilegalidades perpetradas pela polícia militar.
OBSERVAÇÃ O 02: a Recomendaçã o 49/2014 do CNJ, em anexo, traz roteiro
destinado aos/à s juízes/as sobre como proceder em caso de suspeita de ocorrência
de tortura.
OBSERVAÇÃ O 03: sempre que houver lesõ es aparentes, fotografar a parte do
corpo lesionada e orientar a pessoa a deixar visível para a câ mera a parte lesionada.

4 – Pedido para os casos em que a pessoa precisa dos serviços do Sistema


Único de Assistência Social ou de alguma auxílio material emergencial
Sempre que necessá rio, pedir ao Juízo encaminhamento para o CEAPIS, que é
um serviço localizado no pró prio Fó rum e composto por assistentes sociais, podendo
ser acionado nos seguintes casos, entre outros:
- encaminhamento para instituiçã o de acolhimento (“albergue”);
- encaminhamento para serviços de tratamento para uso problemá tico de á lcool e
outras drogas;
- fornecimento de passagem para voltar para casa;
- fornecimento de passagem para comparecimento no fó rum, caso fixada a medida
cautelar de comparecimento;
- fornecimento de alimentaçã o.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Além disso, em casos complexos, que demandem em especial uma intervençã o
interdisciplinar, é possível o acionamento de agentes do CAMCRIM par atuaçã o
conjunta.

5 – Pedidos para os casos em que a pessoa deixa de ser apresentada para a


audiência de apresentação, com base na exceção prevista no Provimento
do TJ
Apesar de já terem sido iniciadas tratativas com o intuito de modificar o
provimento, nesse aspecto, segue em vigor o seguinte dispositivo:

“Artigo 3º
(...)
§2º Fica dispensada a apresentação do preso, na forma do
parágrafo 1º, quando circunstâncias pessoais, descritas pela
autoridade policial no auto de prisão em flagrante, assim
justificarem.”

Por conseguinte, caso nã o haja apresentaçã o do preso em razã o dele estar


hospitalizado, pedir na audiência para que seja oficiado o hospital, solicitandos
informaçõ es a respeito do estado de saú de do indiciado, bem como determinando sua
apresentaçã o assim que ele receber alta.
Caso, no entanto, a nã o apresentaçã o ocorrer de forma injustificada, requerer o
relaxamento da prisã o.

ATUAÇÃO POSTERIOR À AUDIÊNCIA

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
1 – Ligar para a família (informando da prisã o e pedindo documentos que possam
ajudar no processo ou na liberdade). As famílias podem ser encaminhadas para o
atendimento do DIPO.

2 – Feitura de pedidos e peças pertinentes ao caso. Exemplos: pedido de liberdade,


HC, dispensa de fiança, contrarrazõ es de RESE, manifestaçã o em autos de insanidade
etc.

3 – Explicar à pessoa que é solta em audiência sobre as medidas cautelares impostas,


a forma de seu cumprimento, bem como que podemos fazer eventuais pedidos de
exclusã o de alguma(s) das medidas, se forem inexequíveis.

4 - Quando for fixado algum tipo de comparecimento em juízo, orientar a pessoa a


comparecer na Defensoria antes de ir ao cartó rio (principalmente no caso de roubo e
trá fico), porque é comum que haja revisã o da decisã o de soltura na Vara Singular,
com decretaçã o de preventiva, havendo risco de que a pessoa seja presa em cartó rio.

VULNERABILIDADES ESPECÍFICAS
A) Política Mães em Cárcere

IDENTIFICAÇÃ O DOS CASOS E ENCAMINHAMENTO AO CONVIVE


A deliberaçã o 291/2014 trata da política institucional voltada à s mã es e
gestantes presas, sendo importante que os fluxos sejam observados também na
atuaçã o perante as audiências de apresentaçã o.
No caso de mulheres presas e conduzidas à audiência, assim, essencial, em
observâ ncia ao artigo 11 da Deliberaçã o, a formulaçã o de perguntas a fim de
identificar as seguintes situaçõ es:
I - Quando a mã e presa declarar que desconhece o paradeiro de seus filhos;
II - Quando os filhos estiverem acolhidos;
ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE
E-MAIL
III - Quando houver pessoa que tem a guarda de fato dos filhos, havendo necessidade
de regularizaçã o;
IV - Quando os filhos estiverem cumprindo medida socioeducativa ou submetidos à
medida protetiva, nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente;
V - Quando se identificar a existência de processo judicial de aplicaçã o de medida
que implique no acolhimento institucional da criança, destituiçã o de poder familiar,
adoçã o em curso ou quando se identificar que a criança já foi adotada sem o
consentimento desimpedido da mã e;
VI - Quando se identificar a existência de ó bices à promoçã o de visitas da criança ao
estabelecimento prisional em que a mã e se encontra recolhida;
VII - Quando a mulher declarar estar grá vida ou ser lactante (em consonâ ncia com o
que dispõ e o Caderno n.º 23 do Ministério da Saú de, considerar, para esse fim, a
existência de filhos/as até 03 anos de idade.
VIII - Quando se identificar a possibilidade de qualquer pleito judicial específico
acerca da maternidade perante o juízo criminal.
Identificada qualquer uma dessas situaçõ es, o Convive deve ser comunicado,
fornecendo-se informaçõ es bá sicas sobre a mulher presa e a indicaçã o de qual a
situaçã o identificada.
Sempre que possível, colher e fornecer ao Convive contato de alguém da família
que talvez possa se responsabilizar pelos/as filhos/as.
Ainda, a fim de viabilizar o acesso aos prontuá rios de saú de, solicita-se, caso a
mulher esteja grá vida e/ou tenha algum problema de saú de, o preenchimento do
termo anexo, no qual a mulher autoriza o acesso da Defensoria ao seu prontuá rio de
saú de e aos documentos relacionados à sua situaçã o.
Ressalte-se que a comunicaçã o de casos ao Convive tem como um dos principais
objetivos a atuaçã o integrada com a Defensoria Pú blica da Infâ ncia, sendo o Convive
responsá vel pelo encaminhamento dos caso que demanda essa atuaçã o, bem como
por viabilizar a atuaçã o integrada entre as diferentes á reas da Defensoria.
As comunicaçõ es podem ser feitas para o endereço eletrô nico do Convive, que é
convive@defensoria.sp.gov.br.

PEDIDOS POSSÍVEIS

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Para além do fluxo de informaçõ es ao Convive, importante ressaltar a
possibilidade de pleito de substituiçã o da prisã o preventiva pela prisã o domiciliar,
previsto no artigo 318 do Có digo de Processo Penal, que assim dispõ e:

Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o


agente for:
(...)
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis)
anos de idade ou com deficiência;
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta
de alto risco.
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos
requisitos estabelecidos neste artigo.” (NR)

Caso haja indeferimento do pedido de prisã o domiciliar com fundamento na


ausência de prova idô nea dos requisitos estabelecidos, sugere-se que a comunicaçã o
do caso ao Convive seja acompanhada de SOLICITAÇÃ O de auxílio na obtençã o de tais
documentos, para impugnaçã o da decisã o ou renovaçã o do pedido.
Ainda, o Nú cleo de Situaçã o Carcerá ria disponibiliza modelos de habeas corpus
com pedidos de prisã o domiciliar nos seguintes casos:

- gravidez a partir do 7º mês;

- gravidez anterior ao 7º mês, sustentando-se que as condiçõ es de aprisionamento do


CDP de Franco da Rocha (para onde quase todas as presas provisó rias sã o levadas),
agravadas pela superlotaçã o, tornam a gravidez uma gravidez de alto risco;

- mulher com filho/a de até 03 anos e, portanto, em fase de amamentação, sustentando-


se a imprescindibilidade da mã e, em razã o da idade da criança e das recomendaçõ es
do Ministério da Saú de e da OMS sobre o período de amamentaçã o e cuidados com a
criança em tenra idade.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
- mulher com filho/a em instituição de acolhimento, o que aponta a
imprescindibilidade da mã e à criança.

B) Pessoas com deficiência


Há algumas informaçõ es importantes sobre a realidade das pessoas com
deficiência encarceradas, que podem ajudar na fundamentaçã o de pedidos de
liberdade ou de prisã o domiciliar, em casos de pessoas com deficiência.
A partir das informaçõ es prestadas pelos Estados, o DEPEN produziu relató rio
sobre a realidade dos estabelecimentos prisionais brasileiros, com dados
relacionados ao ano de 2014.
O relató rio indica que em apenas 6% das unidades registrou-se a existência de
mó dulos, alas ou células acessíveis, em consonâ ncia com a legislaçã o em vigor.
Ainda, quase metade das unidades prisionais do Brasil informou nã o ter
sequer condiçõ es de levantar informaçõ es sobre a existência de pessoas presas na
unidade e sobre a natureza da deficiência.
Por fim, outro dado alarmante constante do relató rio é o de que, dentre as
pessoas identificadas como pessoas com deficiência presas, apenas 5% delas
encontram-se em unidades adaptadas.
Diante do quadro caó tico exposto e a partir dos diversos casos concretos
verificados nos estabelecimentos prisionais paulistas, em visitas de inspeçã o, a
Defensoria Pú blica de Sã o Paulo e a Defensoria Pú blica da Uniã o enviaram
comunicado ao Comitê da Pessoa com Deficiência da ONU, o qual recomendou, no
mês de setembro de 2015, que o Brasil adote todas as medidas necessá rias para que
haja acessibilidade para as pessoas com deficiência.
Observa-se, no entanto, que a realidade das unidades prisionais brasileiras e a
violaçã o diá ria de direitos das pessoas com deficiência demanda intervençã o urgente,
nã o se admitindo o aprisionamento de pessoas com deficiência nessas condiçõ es.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Assim sendo, possível e necessá ria, se nã o a concessã o da liberdade, a
concessã o da prisã o domiciliar.
A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, em vigor no Brasil desde 31 de agosto de 2008, tendo cará ter de norma
constitucional, já que aprovada nos termos do § 3º do artigo 5º da Constituiçã o
Federal, determina que sejam tomadas todas as medidas judiciais necessá rias para
que a pessoa com deficiência nã o seja submetida a tratamento cruel, desumano ou
degradante. O artigo 14, item 2 da Convençã o, assim estabelece:

“Os Estados Partes assegurarã o que, se pessoas com deficiência


forem privadas de liberdade mediante algum processo, elas, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, façam jus a
garantias de acordo com o direito internacional dos direitos
humanos e sejam tratadas em conformidade com os objetivos e
princípios da presente Convenção, inclusive mediante a provisão
de adaptação razoável.” (grifamos)

Ainda, diz o artigo 15, da Convençã o:

Artigo 15
Prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes
1. Nenhuma pessoa será submetida à tortura ou a tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes. Em especial, nenhuma pessoa
deverá ser sujeita a experimentos médicos ou científicos sem seu livre
consentimento.
2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas efetivas de
natureza legislativa, administrativa, judicial ou outra para evitar
que pessoas com deficiência, do mesmo que as demais pessoas,

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
sejam submetidas à tortura ou a tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes. (grifamos)

Observa-se, assim, que as normas internacionais de direitos humanos exigem


que sejam tomadas as medidas, inclusive de cunho judicial, para evitar que pessoas
com deficiência sejam submetidas a tratamentos ou penas cruéis desumanas e
degradantes.
Ainda, nos termos do artigo 318, incido II:

“Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisã o preventiva pela domiciliar


quando o agente for:
(...)
II- extremamente debilitado por motivo de doença grave”

O conceito de deficiência trazido na convençã o é o seguinte:

“Pessoas com deficiência sã o aquelas que têm impedimentos de longo


prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interaçã o com diversas barreiras, podem obstruir sua participaçã o
plena e efetiva na sociedade em igualdades de condiçõ es com as demais
pessoas.”

Assim sendo, fica claro que a previsã o contida no inciso II abrange a situaçã o da
pessoa com deficiência, se nã o por decorrência ló gica, ao menos por analogia in
bonan partem.

C) Pessoas com indícios de transtorno ou doença mental

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Nos casos de indícios de que a pessoa presa tem transtorno ou doença mental,
é importante, preferencialmente, que essa circunstâ ncia nã o seja levantada na
audiência de custó dia, uma vez que a imposiçã o de medida de segurança costuma ser
mais gravosa que a pena, em razã o de sua indeterminabilidade.
No entanto, quando houver levantamento dessa questã o, na audiência, pelo MP
ou pelo Juiz/a, cumpre lembrar que nã o é possível a determinaçã o de internaçã o
cautelar, sem a realizaçã o de perícia, ante a disposiçã o expressa do artigo 319, inciso
VII do Có digo de Processo Penal.
Ainda, caso seja determinado o exame de insanidade mental, cabe destacar a
Portaria 94/2014 do Ministério da Saú de, cumprindo ressaltar que já houve adesã o
formal do Estado de Sã o Paulo à s normas da portaria (portaria anexa)
Essa portaria institui, no â mbito do ,Sistema Ú nico de Saú de (SUS), o serviço
de avaliaçã o e acompanhamento de medidas terapêuticas aplicá veis à pessoa com
transtorno mental em conflito com a Lei, vinculado à Política Nacional de Atençã o
Integral à Saú de das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP).
Destacam-se os seguintes dispositivos da portaria:

“Art. 4º A EAP tem por objetivo apoiar açõ es e serviços para atençã o à
pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei na Rede de
Atençã o à Saú de (RAS), e terá as seguintes atribuiçõ es:
I - Realizar avaliações biopsicossociais e apresentar proposições
fundamentadas na Lei 10.216 de 2001 e nos princípios da PNAISP,
orientando, sobretudo, a adoção de medidas terapêuticas,
preferencialmente de base comunitária, a serem implementadas
segundo um Projeto Terapêutico Singular (PTS);
II - Identificar programas e serviços do SUS e do SUAS e de direitos de
cidadania, necessá rios para a atençã o à pessoa com transtorno mental
em conflito com a Lei e para a garantia da efetividade do PTS;
III - Estabelecer processos de comunicaçã o com gestores e equipes de
serviços do SUS e do SUAS e de direitos de cidadania e estabelecer
dispositivos de gestã o que viabilizem acesso e corresponsabilizaçã o
pelos cuidados da pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei;
IV - Contribuir para a ampliaçã o do acesso aos serviços e açõ es de
saú de, pelo beneficiá rio, em consonâ ncia com a justiça criminal,
observando a regulaçã o do sistema;

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
V - Acompanhar a execuçã o da medida terapêutica, atuando como
dispositivo conector entre os ó rgã os de Justiça, as equipes da PNAISP e
programas e serviços sociais e de direitos de cidadania, garantindo a
oferta de acompanhamento integral, resolutivo e contínuo;
VI - Apoiar a capacitaçã o dos profissionais da saú de, da justiça e
programas e serviços sociais e de direitos de cidadania para orientaçã o
acerca de diretrizes, conceitos e métodos para atençã o à pessoa com
transtorno mental em conflito com a Lei; e
VII - Contribuir para a realizaçã o da desinternaçã o progressiva de
pessoas que cumprem medida de segurança em instituiçõ es penais ou
hospitalares, articulando-se à s equipes da PNAISP, quando houver, e
apoiando-se em dispositivos das redes de atençã o à saú de, assistência
social e demais programas e serviços de direitos de cidadania.
§ 1º Os procedimentos da EAP terã o, preferencialmente, cará ter de
agendamento regulado e serã o requisitados: pela Coordenaçã o da
PNAISP, em â mbitos estadual ou local; pela equipe de saú de no sistema
prisional (ESP); por determinaçã o judicial; por requerimento
apresentado pelo Ministério Pú blico ou representante da pessoa
beneficiá ria; por iniciativa dos serviços de referência para realizaçã o do
PTS ou da pró pria EAP, desde que previamente acordado com as
instâ ncias responsá veis pela custó dia e/ou pela medida terapêutica
destinada à pessoa a ser avaliada/acompanhada e com a devida
comunicaçã o à Coordenaçã o da PNAISP, em â mbitos estadual ou local.
§ 2º As avaliações decorrentes dos incidentes de insanidade
mental deverão respeitar o caráter de urgência e as singularidades
de cada caso, não podendo exceder a 30 (trinta) dias, a contar da
data da sua instauração pelo judiciário.”

Assim, importante a formulaçã o de pedidos no sentindo de que haja atuaçã o da


EAP, para que indique a melhor medida terapêutica par a pessoa, no â mbito do SUS e
em conformidade com a Lei 10.216/2001.
Por fim, segue em anexo sugestã o de quesitaçã o, caso determinada a
instauraçã o de incidente de insanidade.

D) Problemas de saúde
A fim de auxiliar os pedidos de prisão domiciliar, previsto no artigo 318, do
Có digo de Processo Penal, segue ao final tabela com informações sobre a questã o
da saú de nos CDPs para onde sã o encaminhadas as pessoas presas na Capital.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL
Uma das principais facetas das condiçõ es degradantes de aprisionamento no
Brasil diz respeito à violaçã o ao direito à saú de da populaçã o presa.
As condiçõ es degradantes de aprisionamento contribuem sobremaneira com o
surgimento e o agravamento de diversas doenças e a ausência de equipes mínimas de
saú de nos estabelecimentos prisionais torna esse quadro ainda mais caó tico.
Nã o à toa, portanto, foi editada, em janeiro de 2014, a Portaria Interministerial
n.º 1/2014, que institui a Política Nacional de Atençã o Integral à Saú de das Pessoas
Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no â mbito do Sistema Ú nico de
Saú de (SUS) e a Portaria 482/2014, que institui normas para a operacionalizaçã o da
PNAISP. (portarias anexas)
Uma das principais estratégias de operacionalizaçã o dessa política consiste
exatamente na instalaçã o de equipes mínimas de saú de nos estabelecimentos
prisionais, determinadas de acordo com a populaçã o prisional de cada unidade.
Assim, o panorama da ausência de médico e de equipe mínima de saú de, nos
termos da PNAISP, à qual o Estado de Sã o Paulo já aderiu formalmente, somado à s
condiçõ es desumanas de aprisionamento e à superlotaçã o, pode contribuir com a
fundamentaçã o nos pedidos de liberdade e prisã o domiciliar.
Inserir tabela.

ENDEREÇO DA UNIDADE - TELEFONE


E-MAIL

Você também pode gostar