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Elec serviu-se do jantar sem dizer palavra alguma, enquanto eu fixei meu
olhar no piercing em seu lábio. Randy estava olhando para ele com desdém.
Minha mãe encheu sua taça de vinho mais do que apenas uma vez. Sim,
aquela era nossa própria versão de A Família Dó-Ré-Mi.
Fingi estar apreciando o Tetrazzini enquanto ruminava o fato de ele ter
ouvido minha conversa, principalmente a parte de ele ser atraente, para mim.
Minha mãe foi a primeira a falar: — Elec, o que achou de Boston até
agora?
— Vendo pelo lado de que eu ainda não fui a lugar nenhum além desta
casa, por enquanto está uma merda.
Randy jogou o garfo no prato.
— Será que você pode mostrar um pouco de respeito pela sua madrasta,
pelo menos por cinco segundos?
— Isso depende. Será que ela pode parar de beber pela mesma quantidade
de tempo? Eu sabia que você tinha se casado com uma traidora, papai, mas
ela é bêbada, também?
— Seu pedaço de merda. — Randy colocou para fora.
Uau!
Mais uma vez, Randy me deixou sem chão com a escolha de palavras para
se dirigir a seu filho. Elec estava mesmo agindo como um babaca, mas ainda
me chocava ouvir aquele tipo de linguajar vindo da boca do meu padrasto.
Elec arrastou a cadeira para trás e jogou seu guardanapo na mesa,
levantando-se.
— Já terminei — ele olhou para mim. — O Frango Titica, ou seja lá qual
for o nome dessa merda, estava delicioso, irmãzinha. — A palavra
“irmãzinha” rolou em sua língua cheia de sarcasmo.
Assim que ele saiu da mesa, o silêncio tornou-se ensurdecedor. Minha mãe
colocou a mão sobre a de Randy, e eu fiquei ponderando o que poderia ter
acontecido entre Elec e seu pai para causar tamanha desavença.
Impulsivamente, eu levantei e subi as escadas. Meu coração estava batendo
forte, enquanto batia na porta do quarto de Elec. Ele não atendeu, então,
lentamente, eu virei a maçaneta e o vi sentado na beira da cama, fumando um
cigarro. Estava com fones no ouvido e não me viu entrar. Fiquei parada
pouco depois da soleira da porta, a observá-lo. Estava balançando as pernas
nervosamente, parecendo frustrado e derrotado. Pouco depois ele largou o
cigarro, mas imediatamente abriu a gaveta e pegou outro.
— Elec! — Eu gritei.
Ele deu um pulo e tirou os fones.
— Mas que merda! Você me assustou!
— Me desculpe.
Ele acendeu o novo cigarro e gesticulou em direção à porta.
— Saia daqui.
— Não.
Ele revirou os olhos e balançou a cabeça devagar, colocando os fones
novamente em seus ouvidos e dando uma longa tragada.
Sentei-me ao lado dele.
— Esse negócio vai te matar.
Saiu um pouco de fumaça de sua boca quando ele disse: — Perfeito.
— Você não está falando sério.
— Por favor, me deixe sozinho.
— Tudo bem.
Saí do quarto e voltei para o andar de baixo. Vê-lo tão deprimido naquele
momento, enquanto ele não sabia que eu o estava observando, me deixou
mais determinada do que nunca a me aproximar dele. Precisava saber se
aquilo era só uma fachada ou se ele era um babaca genuíno. Quanto mais ele
era cruel comigo, mais eu queria fazer com que gostasse de mim. Era um
desafio.
Voltei para a cozinha e pedi o número do telefone de Elec para Randy,
antes de salvá-lo nos contatos do meu telefone. Então, digitei um texto:
Já que você não quer falar comigo, vou digitar.
ELEC: Como conseguiu meu número?
GRETA: Seu pai.
ELEC: Foda-se ele.
Decidi acabar com o assunto “Randy”.
A “doçura” de Elec não durou muito tempo. Alguns dias depois de nosso
momento do sorvete, ele apareceu na cafeteria onde eu trabalhava, bem no
meio da tarde, depois da escola. O Kilt Café ficava logo na rua de baixo do
nosso colégio e servia sanduíches, saladas e café.
Se só a presença de Elec já era ruim, ele ainda estava acompanhado da
garota mais bonita da escola. Leila era uma loira platinada e alta, com seios
grandes. Sua aparência era totalmente o oposto da minha. Meu corpo parecia
mais o de uma bailarina ou ginasta. Meu cabelo loiro era liso e simples,
totalmente diferente do dela, cheio de balanço e com estilo Barbie texana.
Qualquer um poderia pensar que ela era uma vaca, por causa de sua
aparência, mas a verdade é que ela era bem legal.
Leila acenou.
— Oi, Greta.
— Oi. — Disse, enquanto colocava os cardápios sobre a mesa. Elec olhou
para mim rapidamente, como se não tivesse me reconhecido. Acho que ele
nem sabia que eu trabalhava ali, porque nunca cheguei a lhe dizer.
Senti um pouco de ciúme quando reparei que ele estava olhando para as
pernas de Leila, por debaixo da mesa.
Não tinha certeza se Leila sabia que ele era meu meio-irmão. Nunca falei
sobre ele para as pessoas do colégio e, ali, entendi que ele também nunca
tinha feito qualquer menção a mim.
— Vou dar dois minutos para vocês escolherem. — Disse, antes de voltar
para a cozinha. Vi quando Leila se debruçou sobre a mesa e deu um beijo nos
lábios dele. Me senti enjoada. Ela deu um leve puxão em seu piercing, com
os dentes. Depois, pareceu que ela ronronou. Arg! Nunca quis tanto
desaparecer, em toda minha vida.
Relutantemente, voltei para perto deles.
— Já decidiram o que vão querer?
Elec deu uma olhada no quadro-negro que listava os pratos do dia e sorriu.
— Qual a sopa de hoje?
Aquele desgraçado.
— Frango.
— Não está correto. Você a está diminuindo.
— É a mesma coisa.
Ele repetiu.
— Qual é… a sopa… de hoje?
Olhei para ele por um bom tempo, enrijecendo meu maxilar.
— Sopa de galo com alho poró.
O dono do estabelecimento era escocês e, aparentemente, aquela era a
especialidade da casa.
Ele sorriu com malícia.
— Obrigada, vou ficar com essa. Leila?
— Vou querer a salada mista. — Ela disse, alternando o olhar entre mim e
Elec, parecendo confusa.
Tive um minuto de paz antes de retornar à mesa com os pratos. Nem me
importava se a sopa tivesse esfriado.
Depois de alguns minutos, Elec levantou o dedo indicador para que eu
fosse até a mesa.
— Sim? — Bufei.
— O galo21 está aguado. E também mole e frio. Você pode, por favor,
trocá-lo e pedir ao cozinheiro que coloque algum tempero nele?
Ele parecia estar segurando uma risada. Leila estava calada.
Levei a sopa de volta à cozinha e a derramei violentamente na pia por toda
cuba de cerâmica. Ao invés de falar com o chefe, tive uma ideia e decidi
fazer tudo com minhas próprias mãos. Peguei uma concha e servi um pouco
mais de sopa em outro prato. Abri um frasco de molho picante e derramei
uma porção mais do que generosa na sopa.
Agora ela estava mais do que temperada. Voltei à mesa deles e a coloquei
cuidadosamente na frente de Elec.
— Mais alguma coisa?
— Não.
Voltei para a cozinha e me escondi em um canto para observá-lo. A
ansiedade estava me matando. Sua língua iria praticamente cair quando
provasse o gosto da minha especiaria.
Elec tomou a primeira colherada. Nenhuma reação.
Mas como?
Ele deu outra colherada, então seus olhos me procuraram. Sua boca se
curvou em um sorriso cheio de malícia, antes de pegar o prato nas mãos e
começar a beber a sopa como se fosse uma bebida. Limpou a boca com as
costas das mãos, sussurrou algo para Leila e pediu licença.
Leila estava virada de costas para mim quando Elec veio em minha direção
e me agarrou pelo braço, levando-me até o corredor escuro que levavaaos
banheiros.
Ele me encostou na parede.
— Você se acha muito espera, não é? — Meu coração estava batendo
muito forte Sem fala, balancei a cabeça, quando ele disse. — Bem, você é a
piada.
Antes que eu pudesse responder, Elec segurou meu rosto com ambas as
mãos e assaltou meus lábios com os dele. O metal em seu lábio arranhou
levemente minha boca enquanto ele a abria com sua língua faminta e
começava a me beijar intensamente. Gemi durante o beijo, tão chocada estava
quanto excitada pela armadilha que era sua língua.. Meu corpo estava
tremendo. Ele tinha um cheiro maravilhoso. E eu sentia como se fosse
desmaiar por causa da descarga sensorial.
Segundos depois, a ardência do molho picante começou a ser passada para
mim, começando a queimar. Por mais que sentisse que minha língua estava
prestes a cair, não queria nunca sair dali.
Nunca tinha sido beijada daquele jeito.
Então, da mesma forma como começou, ele arrancou sua boca da minha.
— Você já não deveria saber que não pode tentar me foder?
Ele se afastou, e eu fiquei ali no corredor, ofegante, com minha mão no
peito.
Puta merda!
Minha boca estava pegando fogo, assim como todos os outros orifícios. Eu
sentia o vão entre minhas pernas latejando. Quando, finalmente, recuperei a
compostura para caminhar, vi que eles estavam pedindo a conta.
Decidi deixar aquilo para trás, e coloquei a conta sobre a mesa deles, em
frente a Elec, sem estabelecer contato visual.
Eu o ouvi dizendo a Leila que o esperasse lá fora porque ele tinha algo a
resolver. Ele colocou a mão no bolso, então deixou algo dentro da pastinha da
conta. Depois, saiu.
Provavelmente ele não tinha me deixado uma gorjeta. Abri a pasta e
ofeguei quando vi que, junto da nota de vinte, estava minha calcinha preta
favorita. Além disso, ele ainda tinha escrito na conta, a caneta:
ELEC E EU NUNCA MENCIONAMOS O BEIJO, EMBORA A CENA ESTIVESSE
passando na minha cabeça constantemente, como um filme. Eu tinha quase
certeza de que não significava nada, para ele e que ele só estava tentando se
gabar. Mesmo assim, a sensação que experimentei foi a mesma como se o
beijo tivesse sido baseado em uma paixão real. Eu ansiava por sentir aquilo
de novo, o que tornou a batalha entre minha mente e meu coração ainda mais
difícil.
Era uma maldição estar interessada em uma pessoa com quem você era
obrigada a morar, principalmente quando ele levava garotas da escola para
casa.
Em uma tarde, enquanto nossos pais não estavam em casa, ele levou Leila,
e os dois ficaram em seu quarto. Na tarde seguinte, foi Amy. Na semana
seguinte, outra Amy.
E eu ficava em meu quarto, cobrindo meus ouvidos para não ouvir o som
de sua cama balançando ou a risada daquelas garotas estúpidas.
Especificamente no dia em que a segunda Amy deixou seu quarto para ir para
casa, eu enviei uma mensagem de texto para ele logo depois.
Greta: Sério? Duas Amys? Será que a Amy número três virá amanhã? No
que está pensando?
Elec: Acho que você queria que seu nome fosse Amy… irmãzinha.
Greta: Meia! Meia-irmã.
Elec: Acho que você é uma irmã-peste.
Greta: Você é um retardado.
Elec: E você é uma peste.
Levantei da cama bufando e fui direto ao quarto dele, entrando sem bater
na porta. Ele estava jogando videogame e nem sequer olhou para mim.
— Eu realmente tenho que começar a trancar a porta.
Meu coração estava batendo muito rápido.
— Por que você tem que ser uma porra de um babaca?
— Que bom te ver também, irmãzinha.
Ele deu alguns tapinhas no colchão da cama, bem perto de onde estava
sentado, com seus olhos ainda fixos no jogo.
— Já que você não vai sair mesmo, senta aqui.
— Não tenho vontade de me sentar na sua cama imunda.
— Só porque você preferiria sentar no meu pau imundo?
Meu coração quase parou.
Sua boca se curvou em um sorriso diabólico, enquanto continuava a jogar.
Ele tinha me deixado rendida, sem palavras. Na verdade, eu me sentia
rendida e sem palavras porque, assim que as palavras “sentar no meu pau
imundo” saíram de sua boca, senti a necessidade de cruzar minhas pernas e
conter minha excitação. Minha vagina era um caso perdido. Quanto mais
cruel ele era, mais atraída por ele eu me sentia.
Ao invés de dignificá-lo com uma resposta, olhei ao redor do quarto e fui
em direção às suas gavetas, começando a remexer suas coisas.
— Onde estão minhas calcinhas?
— Já disse que elas não estão aí.
— Não acredito em você.
Continuei procurando, até que algo chamou minha atenção. Era um
fichário com uma grande quantidade de papéis dentro. Impressas na frente
dele estavam as palavras “Lucky e o Menino”, por Elec O’Rourke.
— O que é isso?
Pela primeira vez, Elec parou de jogar e, praticamente, voou da cama.
— Não toque nisso.
Desviei o mais rápido que pude, mas ele arrancou o fichário das minhas
mãos. Havia alguns diálogos, e algumas linhas estavam riscadas e corrigidas
com caneta vermelha. Meus olhos se arregalaram.
— Você escreveu um livro?
Ele engoliu em seco e, pela primeira vez desde que o conheci, Elec parecia
verdadeiramente desconfortável.
— Não é da sua conta.
— Talvez você tenha mais coisas a seu favor além da aparência. —
Brinquei.
Meus olhos vagaram pela tatuagem com a palavra “Lucky” em seu bíceps
direito, e as engrenagens da minha cabeça começaram a funcionar. A
tatuagem tinha ligação com a história que ele aparentemente escrevera.
Elec me lançou um último olhar mortal antes de caminhar em direção ao
closet e colocar o fichário na prateleira mais alta. Ele se sentou na cama e
continuou seu jogo.
Desesperada para me conectar com ele de qualquer jeito, sentei-me ao seu
lado e observei enquanto ele destruía seu inimigo virtual no combate.
— Dá para jogar com duas pessoas?
Ele parou por um momento e congelou, suspirando em exasperação, até
que me entregou o controle. Depois, mudou as configurações para duas
pessoas e começamos a batalha.
Levei algum tempo para aprender a jogar. Depois de ele ganhar inúmeras
vezes, meu personagem finalmente matou o dele, o que fez com que ele se
virasse para mim com um olhar, se me permite dizer, de… admiração. Ele
abriu um sorriso relutante, mas genuíno, e eu senti como se meu coração
fosse se desintegrar. Só era preciso um pequeno gesto para que eu me
tornasse uma causa perdida. O que eu iria fazer se ele realmente fosse legal
comigo? Perder minha cabeça completamente e começar a me esfregar nele?
Por causa daquele pensamento, decidi que era hora de voltar para o meu
quarto.
Passei o resto da noite tentando entendê-lo e concluí que havia muito mais
coisas a respeito do meu querido meio-irmão do que meus olhos podiam
enxergar.
Aconteceu dois dias antes da sexta-feira, quando seria meu encontro com
Bentley. Eu e Victoria estávamos na cozinha, quando Elec entrou para, como
sempre, beber leite direto da embalagem.
Os olhos de Victoria se fixaram na camiseta de Elec, que subia um pouco
conforme ele erguia o leite. As tatuagens em seu abdômen ficaram expostas.
Ela estava praticamente babando.
— Oi, Elec.
Elec resmungou em resposta, ainda com a boca na caixa, antes de colocá-la
de volta na geladeira. Então, começou a procurar por algum lanche no
armário.
Victoria mergulhou um pretzel em um pote de Nutella e falou, com a boca
cheia: — Então, já decidiu que filme vai ver com Bentley na sexta à noite?
— Não, ainda não conversamos sobre isso.
Do outro lado da cozinha, não pude deixar de reparar, Elec parou de
vasculhar o armário e congelou. Parecia que estava tentando ouvir o que
estávamos falando. Olhou para mim por um momento, com uma expressão
perturbada.
— Bem, acho que deveriam assistir àquela nova comédia romântica com a
Drew Barrymore. Faça-o sofrer com um filminho de mulher. O que você
acha, Elec?
— O que eu acho do quê?
— Qual filme Greta deveria assistir em seu encontro com Bentley?
Ele ignorou a pergunta dela e olhou para mim.
— Aquele cara é um babaca.
Ele começou a se afastar, mas Victoria o chamou.
— Ei, Elec…
Ele se virou.
— Quer ir também? Quer dizer… podemos ir com eles. Seria divertido.
Como um encontro duplo.
Ele riu e olhou para ela por um bom tempo, com um olhar que gritava: sem
chance.
Balancei a cabeça.
— Não acho que seja uma boa ideia.
Ele se virou para mim com um sorriso malicioso.
— Por que não?
Por que não?
— Porque é o meu encontro. Não quero ninguém por perto.
— Você ficaria muito chateada, se eu fosse?
— Sim, ficaria.
Ele olhou para Victoria.
— Nesse caso, eu adoraria ir.
O olhar de satisfação no rosto dela me deixou enjoada. Ela achava que era
sua grande chance de tentar alguma coisa com ele. Contudo, ele estava
basicamente admitindo que só estava fazendo aquilo para me torturar.
— Te vejo sexta à noite. — Ele disse, antes de desaparecer.
Victoria abriu a boca em um gritinho silencioso e sapateou cheia de
empolgação, o que me fez querer vomitar. Eu teria que vivenciar o que seria
o pior encontro da minha vida. Mas nada poderia me preparar para o que
estava realmente por vir, na noite do encontro.
ELEC IRIA NOS ENCONTRAR NO CINEMA. TINHA CONSEGUIDO UM EMPREGO DE
meio expediente em uma loja de bicicletas, então queria ir para casa tomar
um banho depois do trabalho.
Eu, Victoria e Bentley compramos seu ingresso antes que esgotasse.
— Victoria, tem certeza de que seu acompanhante vai chegar? — Bentley
riu.
— Ele vem. — Ela olhou para mim, cheia de incerteza. Honestamente, eu
não fazia ideia se Elec estava mesmo planejando aparecer, mas rezava para
que não. Quando Victoria mandou uma mensagem para ele dizendo que
estávamos planejando entrar para guardar os lugares, ele não respondeu.
Enquanto esperávamos na fila para entrar na sala, Bentley colocou o braço
em volta dos meus ombros, fazendo meu corpo enrijecer. Me parecia um
pouco apressado, já que estávamos apenas nos conhecendo. Ele estava
cheiroso e muito bonito, vestindo um jeans e uma camiseta preta. Seu cabelo
castanho claro estava espetado, penteado com gel. Lembro que eu costumava
achar Bentley muito gatinho. Hoje em dia, todos os caras pareciam pálidos
demais em comparação com Elec no termômetro de atração física. E eu
queria esmagar aquele termômetro com uma marreta.
Victoria tinha recebido instruções para não contar a Bentley que Elec era
meu meio-irmão. Uma vez que Elec nunca falava comigo no colégio, a
maioria das pessoas ainda não fazia ideia de que morávamos juntos. E eu
preferia dessa forma.
Senti um alívio quando as luzes do cinema se apagaram e os trailers
começaram a passar. Coloquei meu telefone para vibrar. Talvez ele realmente
não fosse aparecer. Meu corpo começou a relaxar conforme Victoria checava
seu telefone a cada dois minutos e procurava com os olhos por ele.
Os créditos de abertura do filme começaram. Afundei na minha cadeira e
coloquei meus pés no assento em frente ao meu. Bentley gesticulou para
mim, para que eu pegasse um pouco de sua pipoca. Eu já estava comendo há
algum tempo e começando a gostar do filme quando senti um cheiro
característico de cigarro misturado com colônia.
Bem, lá estava ele.
Meus joelhos tremeram enquanto ele passava por nós no escuro, indo em
direção ao assento vazio do lado de Victoria.
Eu queria dar um soco nela, que parecia tão feliz.
Quando Elec se inclinou e a beijou no rosto, meu apetite por aquela pipoca
se tornou náusea. Entreguei o pacote para Bentley e fingi estar interessada no
filme. Com toda honestidade, eu estava olhando diretamente para a tela, mas
Drew Barrymore poderia estar falando mandarim, que não faria a menor
diferença.
Tudo o que eu estava fazendo era resmungar internamente e sentir o cheiro
de Elec. Sua presença me deixou mais irritada do que achei que deixaria.
Naquele momento, Bentley pegou minha mão e a envolveu com a sua.
Congelei.
Victoria, que tinha bebido uma Coca Diet gigante antes de Elec chegar,
sussurrou para mim que estava indo ao banheiro.
Meu coração começou a bater mais forte, porque, sem ela ali, não havia
nada bloqueando minha visão dele. Eu podia ver, com o canto do olho, que
ele estava olhando para mim. Embora o público estivesse rindo ao meu redor,
o peso de seu olhar parecia abafar todo o resto. Eu não ousaria olhar para ele,
nem me mover.
Só continue olhando para o telão, Greta.
Meu telefone vibrou sobre minha perna.
Elec: E se eu gostar?
Desejando nunca ter dito nada, eu não tinha resposta. Por isso, fiquei
olhando para o meu telefone. Então ele mandou outra mensagem:
Elec: Não gosto.
Eu nem tinha percebido que vinha segurando tanto minha respiração até
que um suspiro de alívio escapou de mim.
Ah, meu Deus! Até agora eu não tinha percebido o quão óbvios eram meus
sentimentos por ele, o quão estúpida e desesperada eu deveria parecer esse
tempo todo.
Eu mal conseguia acreditar que ele tinha escrito aquilo para mim. Meus
olhos começaram a se encher de água, mas eu estava determinada a não
deixá-lo me ver chateada. Demorei alguns minutos para me recompor, antes
de voltar ao lobby. Por mais difícil que fosse, me recusei a olhar para ele. Me
Recusei.
— Por que demorou tanto? — Bentley perguntou.
— Tive um probleminha, mas já resolvi.
Victoria colocou a mão no meu ombro.
— Está tudo bem?
— Sim. Podemos ir.
Victoria e Elec começaram a andar na nossa frente. Ela ainda estava
pendurada em seu braço, enquanto ele mantinha as mãos nos bolsos.
Nós quatro entramos no carro de Bentley e fomos para um restaurante 24h.
Evitar meu meio-irmão tornou-se um desafio muito maior dentro do espaço
pequeno do restaurante, especialmente porque ele estava sentado na minha
diagonal. Porém, mantive minha palavra. Foquei em sua tatuagem no braço e
brinquei com os saleiros, mas não olhei para seu rosto. Fingi estar muito
interessada na conversa com Bentley, que estava sentado à minha esquerda.
Pedimos nossa comida e, até aí, eu estava tendo sucesso na tentativa de não
olhar em seus olhos.
— Então, Greta, vai ter uma festa na sexta que vem, na casa do Alex
Franco. Queria que você fosse comigo. — Bentley disse.
— Claro. Parece divertido.
— Ótimo. — Ele encostou na cadeira e deu um beijo no meu rosto.
Elec estava despretensiosamente brincando com uns pacotinhos de açúcar.
Se eu fosse Victoria, iria achar um pouco estranho que meu acompanhante
nem sequer conversasse comigo. Mas como eu poderia saber o que ela pensa?
Ela tentou estabelecer uma conversa.
— Elec, quais são seus planos para quando se formar?
— Dar o fora de Boston.
E foi tudo que ela conseguiu.
Alguns minutos depois, ele parecia estar digitando no celular por debaixo
da mesa.
Então, meu telefone vibrou.
1 Personagem do livro O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson, de 1886, no qual um homem
tem um lado demoníaco revelado, chamado de “Mr. Hyde”.
211 Galo em inglês é “cock”, o que também significa “pinto”. Por isso o trocadilho de Elec.
A IDA PARA CASA DE TÁXI, COM ELEC E VICTORIA, FOI EXTREMAMENTE
desconfortável. Bentley enlouqueceu e saiu de carro logo depois de descobrir
que Elec era, na verdade, meu meio-irmão. O motivo para tudo que aconteceu
no restaurante continuava sendo um mistério, para mim. Durante todo o
caminho de volta, Elec não disse nada para nenhuma de nós duas. Sentou-se
no banco da frente, enquanto nós ficamos no de trás.
Quando chegamos em casa e ele foi para seu quarto, bateu a porta com
tanta força que me fez pular. Até pensei em tentar falar com ele, mas meus
instintos me disseram que era melhor deixá-lo sozinho.
Assim que acordei, no dia seguinte, que era sábado, Elec já tinha saído
para trabalhar o dia inteiro na loja de bicicletas.
Minha mãe se sentou no balcão de granito de nossa cozinha, no banco de
frente para mim.
— Quer me contar o que aconteceu na noite passada? Randy recebeu uma
ligação de um policial amigo dele, dizendo que Elec estava envolvido em
uma briga em um restaurante, e que você estava com ele.
Coloquei meu café sobre o balcão e esfreguei minhas têmporas.
— Estávamos jantando… Elec, Victoria, eu e um garoto, Bentley, da
escola. Elec e ele começaram a brigar. Não sabemos o que iniciou a briga,
porque aconteceu quando Vic e eu estávamos no banheiro. Então, eu
realmente não sei muito mais do que você..
— Bem, seu padrasto está muito irritado, e eu não sei o que fazer.
— Ele precisa esquecer isso. Garotos brigam, às vezes, e pode não ter sido
culpa do Elec. Você precisa explicar isso a ele.
— Não tem como conversar com Randy quando se trata de Elec. Não
entendo isso.
— Nem eu.
Decidi que iria falar com Elec naquela mesma noite, por isso fiquei
esperando por ele o dia inteiro. A loja de bicicletas fechava às seis, então
pensei que ele chegaria às sete, mas ele não voltou para casa.
Sem conseguir dormir, um sentimento terrível se apoderava de mim. Mas,
finalmente, por volta da meia-noite, ouvi passos e o barulho da maçaneta da
porta do quarto de Elec sendo girada devagar.
Ao menos ele estava em casa.
Depois de um minuto, ouvi o som de sua porta sendo aberta com violência.
— Mas que merda, Elec! Você está bêbado. — Ouvi Randy gritar.
Dei um pulo e encostei meu ouvido à parede.
— Ei, pai-pai. — Elec parecia estar embolando as palavras.
— Garoto, você continua a me orgulhar. Primeiro começa uma briga só
para me humilhar na frente de toda comunidade e, agora, tem a coragem de
colocar os pés na minha casa completamente bêbado? Você vai desejar nunca
ter voltado para casa.
— Sério? O que vai fazer? Me bater? Essa é a única coisa que você ainda
não fez. Estou pronto.
— Você adoraria isso, não é? Não. Não vou bater em você.
— Certo… Você não vai bater em mim. Você só vai me odiar… como
sempre fez. Às vezes, eu preferiria que você me batesse de uma vez por todas
e me deixasse em paz.
— Você é um perdedor, Elec.
— Me diga algo que nunca tenha dito antes.
— Ok, então. Tenho novidades para você. Não vou te ajudar a pagar a
faculdade. Está por sua conta. Tomei essa decisão esta noite. Vou pegar o
dinheiro que guardei para você e dar a Greta.
O quê? Não!
Randy continuou: — Não vou gastar meu dinheiro suado com um
merdinha que quer ser escritor. Se decidir ter uma carreira de verdade algum
dia, venha conversar comigo. Até lá, não vou gastar nem mais um centavo
com você.
— Você nunca planejou pagar minha faculdade mesmo, e sabe disso.
— Por que eu iria querer fazer isso… por alguém que não faz nada além de
me desapontar, desde o dia em que nasceu?
— Foi aí que começou, não é? No dia em que eu nasci? Você nunca me
deu uma porra de chance, não é? Porque minha mãe nunca abortou como
você queria que ela fizesse.
— Isso é uma porra de uma mentira. Ela te disse isso?
— Mesmo que não tivesse dito, eu teria adivinhado. É por isso que vem
tentando me matar com suas palavras só para compensar o que ela não fez.
Meu coração estava destruído.
— Estou mesmo? Então por que você ainda não está morto, Elec?
Perdi a respiração, aterrorizada. Não podia ficar ali, ouvindo tudo aquilo.
Corri para o quarto ao lado e fiquei ainda mais horrorizada quando vi Elec
sentado na beira da cama, com a cabeça nas mãos. O cheiro de álcool nele era
pungente. Suas costas estavam subindo e descendo com cada respiração que
escapava de seus pulmões.
— Randy… pare! Por favor, pare! — Meu padrasto estava ali, parado, com
os braços cruzados e olhando para mim sem nenhuma expressão. Naquele
momento, o homem parado à minha frente parecia um total estranho. — Ele é
seu filho. Seu filho! Não importa o que te fez acreditar que ele merecia isso,
mas não há nada que justifique a forma como está falando com ele.
— Greta, você não entende nossa história… — disse Randy.
— Não preciso saber de nada para entender que as palavras que saíram de
sua boca esta noite ferem mais do que qualquer arma poderia ferir. E eu não
vou ficar aqui deixando que abuse dele dessa forma.
Nenhum dos dois disse nada. O quarto estava em silêncio. A respiração de
Elec parecia ter se acalmado e, com isso, a minha também.
Então, me virei na direção de Randy.
— É melhor que você saia.
— Greta…
— Saia! — Gritei com toda minha força.
Randy balançou a cabeça e saiu do quarto, me deixando sozinha com Elec,
que ainda estava na mesma posição.
Corri até meu quarto e voltei com uma garrafa de água, encostando-a em
sua boca.
— Beba isso.
Ele engoliu todo o líquido rapidamente, então amassou a garrafa e jogou-a
fora. Ajoelhei-me para tirar os seus sapatos.
Ele estava embolando as palavras e murmurando coisas que eu não
conseguia entender.
Levantei-me e puxei os lençóis.
— Deite-se.
Ele tirou a jaqueta, jogando-a de qualquer jeito no chão, e engatinhou em
direção ao travesseiro. Deitou-se de barriga para cima e fechou os olhos.
Sentei-me ao lado da cama ainda me sentindo um pouco afetada pelo que
tinha acontecido. Me senti muito mal por Elec e completamente
envergonhada por Randy. Sabia que precisava conversar com minha mãe, no
dia seguinte. Como ela poderia não ter ouvido aquilo e interferido?
A respiração de Elec tinha abrandado, o que significava que tinha
adormecido. Passei a mão por seu cabelo negro aveludado, saboreando a
oportunidade de poder tocá-lo livremente, sem que ele soubesse. Meu dedo
indicador tocou o corte em seu lábio, que sobrara da briga com Bentley.
Ficava bem próximo do piercing, então estremeci quando percebi que aquilo
poderia ter rasgado sua boca.
O motivo da raiva constante que ele exibia estava mais clara do que nunca,
mas, mesmo assim, eu sentia como se não soubesse nada da vida de Elec.
Ele parecia muito inocente, enquanto dormia. Sem sorrir e sem aquele
brilho em seus olhos, era mais fácil ver além de sua beleza exterior e
vislumbrar o menino que se escondia dentro dele – o mesmo menino que,
agora, eu compreendia ter sido prejudicado pelo homem casado com a minha
mãe.
Uma lágrima desceu pelo meu rosto enquanto eu ajeitava o lençol, antes de
sair do quarto.
De volta à minha própria cama, pensei o quão irônico era o fato de que o
único cara que tinha feito tudo para me afastar e me intimidar fosse a única
pessoa no mundo que eu queria proteger.
Que conveniente. Eu tive certeza que meu padrasto tinha arranjado aquela
viagem para evitar ter que lidar com o que aconteceu na noite passada.
Imediatamente peguei meu celular e enviei uma mensagem:
Aproveite sua viagem, mas quando você voltar precisamos conversar
sobre o que está acontecendo com Randy e Elec.
Elec não desceu até as duas da tarde. Ele parecia um morto-vivo enquanto
arrastava os pés até a cafeteira, com os cabelos desarrumados e os olhos
vermelhos como sangue.
— Bom dia, flor do dia. — Eu disse.
Sua voz estava embolada quando ele sussurrou: — Olá. — Colocou um
pouco de café em uma caneca e bebeu.
— Então, aparentemente, nossos pais vão passar a noite fora. Vão voltar na
segunda à noite.
— Que pena. — Ele disse.
— Que eles viajaram?
Ele deu um gole no café e disse: — Não, que eles vão voltar.
— Sinto muito por…
— Não posso fazer isso — ele fechou os olhos e estendeu a palma da mão
na minha direção. — Não posso falar com você. Cada vez que fala comigo,
soa como uma serra elétrica.
— Me desculpa. Entendi, você está de ressaca.
— Bem, tem isso também.
Revirei os olhos e pisquei, fazendo meu coração palpitar.
Sentei com as pernas cruzadas no sofá adjacente à cozinha.
— Quais são os planos para hoje?
— Bem, primeiro tenho que achar a porcaria da minha cabeça.
Eu ri.
— E depois?
— Não sei. — Ele disse, dando de ombros.
— Quer sair mais tarde? — Perguntei, tentando parecer casual.
Ele parecia apreensivo, esfregando o queixo.
— Humm…
— O que foi?
Ele checou o celular.
— Não, na verdade… eu tenho um encontro.
— Com quem?
— Com… humm…
— Você não sabe? — Eu ri.
Ele coçou a cabeça.
— Me dê um minuto…
Balancei a cabeça.
— Que triste.
— Ah! Com Kylie… Sim… Kylie.
Se Kylie soubesse o quão permutável ela era…
Eu estava aliviada por ele não ter falado que iria sair com Victoria, porque
eu sabia que ela ainda tentava entrar em contato com ele, mesmo depois da
cena que ele causou no nosso “encontro duplo”. Ela mandou, pelo menos,
uma mensagem para ele, no dia anterior, e seu desespero realmente me
incomodava.
Mais cedo, naquela mesma noite, eu me enrolei no sofá com um livro
quando Elec veio para o andar de baixo. Instintivamente, eu me sentei e
ajeitei minha roupa. O cheiro de sua colônia flutuando por todo o cômodo já
era afrodisíaco suficiente antes que eu me virasse para olhar para ele. Estava
vestindo uma calça preta e uma camiseta marrom com as mangas
arregaçadas. Seu cabelo estava penteado de forma desarrumada, e, apesar
daquele machucado em seu lábio, ele estava mais bonito do que nunca. Na
verdade, até mesmo aquele corte era sexy. A energia do ambiente parecia
mudar cada vez que ele chegava. Todos os meus sentidos estavam
completamente cientes de sua presença.
Precisava me lembrar de sua mensagem na outra noite: Você deveria ter
um pouco mais de respeito por si mesma. Eca. Forcei-me a voltar ao livro
que, aparentemente, conseguia esconder meu interesse toda vez que eu
olhava para ele. Só pensar naquela mensagem já me deixava de mau humor.
Eu meio que tinha esquecido da minha promessa de nunca mais olhar para
ele, depois de tudo que aconteceu com Bentley e com Randy.
Ele pegou as chaves.
— Vou sair.
— Ok. — Disse, mantendo meus olhos fixos no livro.
Ele bateu a porta, e eu suspirei aliviada. Já fazia um bom tempo que não
tinha a casa inteira para mim e, por mais que o meu lado mais patético
quisesse que Elec ficasse, privacidade era sempre muito importante.
Acabei pedindo comida chinesa. Pouco depois de abrir a caixinha da
comida, ouvi o barulho de mensagem no meu telefone.
Elec saiu da minha cama naquela noite pouco depois de repetir que eu
tinha passado muito dos limites e que nada poderia acontecer entre nós. Não
fazia sentido para mim que suas convicções fossem tão fortes, considerando
que nem éramos realmente parentes. Então, eu senti que havia muito mais
coisas, naquela história.
A pior parte do que aconteceu no meu quarto foi que Elec começou a se
distanciar. Não havia mais mensagens rudes, nem convites para jogar
videogame. Quando estávamos em casa ao mesmo tempo, ele ficava no
quarto dele e, eu, no meu. Ele também passava mais tempo na loja de
bicicletas, ou fora de casa.
Nunca pensei que sentiria falta de seus insultos e das palavras cruéis, mas
daria qualquer coisa para que tudo voltasse a ser como era, antes de eu beijá-
lo – e dizer que queria foder com ele.
Eca!
Eu estremecia só de pensar nisso. Mas, naquele momento, eu estava
embriagada por ele e queria saber como era, mais do que já quis qualquer
outra coisa. Eu estava pronta.
Eu e Elec fizemos dezoito anos nas semanas seguintes àquela noite.
Nossos aniversários aconteciam com apenas cinco dias de diferença. Então,
eu me sentia madura o suficiente para dar aquele passo com alguém. Não era
como se eu estivesse intencionalmente me guardando para o casamento ou
algo assim. Eu era virgem simplesmente porque nunca quis fazer nada com
ninguém antes… até chegar Elec. Mas ele passou as semanas seguintes
deixando bem claro que isso nunca iria acontecer entre nós.
Mas eu sentia falta dele.
Então, numa noite depois do jantar, tudo mudou e eu tive um pedacinho
dele de volta. Normalmente Elec não comia em casa, mas, naquela quarta-
feira em particular, por alguma razão, ele decidiu se juntar a nós. Desde a
noite em que eu vi Randy tratá-lo tão mal, fiz de tudo para evitar meu
padrasto, exceto me sentar à mesa para jantar. Eu e minha mãe não estávamos
nos dando muito bem, porque ela continuava a insistir que não estava em
suas mãos interferir nos problemas de Randy com Elec.
Elec não estava nem olhando para mim, à mesa. Ele só olhava para baixo e
enrolava a massa no garfo. Em um dado momento, olhei pela janela e fiquei
olhando para as roupas do vizinho, estendidas e secando com a brisa. Foi
então que senti os olhos dele em mim. Era como se estivesse esperando que
eu me virasse para que pudesse me olhar, sem que eu notasse. Mas é claro
que, quando me virei na direção dele, sua cabeça se moveu para baixo outra
vez, e ele voltou a brincar com a comida.
Randy estava reclamando que um jantar de macarrão com molho
bolonhesa não era suficiente para matar sua fome. Abruptamente, ele se
levantou e se dirigiu ao armário da cozinha.
— Greta, o que você está fazendo, colocando todas essas calcinhas dentro
de uma latinha de Pringles? — Ele gritou.
Fiquei boquiaberta e olhei direto para Elec. Olhamos um para o outro por
alguns segundos, antes que Elec não pudesse controlar mais. Ambos
começamos a rir simultaneamente. Nenhum dos dois conseguia parar.
Eu adorava o som de sua risada genuína.
Olhar para a expressão confusa no rosto de Randy me fez rir ainda mais.
Quando paramos de rir, Elec ainda estava sorrindo e disse, bem baixinho,
deixando que só nós dois ouvíssemos: — Eu te disse que elas não estavam no
meu quarto.
Randy jogou a lata na mesa, na minha frente. Eu a abri e as chequei.
— Não estão todas aqui.
Elec deu uma piscadinha.
— Guardei algumas para mim. — Ele disse, de forma sedutora.
Revirei os olhos e joguei uma em seu rosto. Prontamente ele a colocou em
sua cabeça, como se fosse uma bandana. Só mesmo meu meio-irmão para
ficar extremamente sexy usando uma calcinha na cabeça. Ele continuou
olhando para mim, com aquele sorriso maldoso que eu tanto esperara. Era
bom ter sua atenção de novo, mesmo que fosse por pouco tempo.
Naquela noite, eu já estava vestindo meu pijama quando o telefone vibrou:
Você pode vir aqui um minuto?
Meu coração acelerou enquanto eu percorria o corredor. Quando ele abriu
a porta, estava incrivelmente sexy.
Ele cheirava a pasta de dente.
— Oi. — Ele disse, sorrindo e mostrando seus lindos dentes brancos, que
contrastavam com sua pele bronzeada e o cabelo preto.
— Oi. — Entrei no quarto e respirei fundo. Seu peito estava nu e seu
cabelo ainda estava molhado do banho. Olhei para seus lábios, no ponto onde
havia o corte, que já havia se curado há tempos. O piercing brilhou, e eu
nunca desejei algo como desejava lambê-lo ali, sentir sua boca e sua língua
contra as minhas, outra vez.
Me beijando.
Me lambendo.
Me mordendo.
Melhor mudar de assunto.
— Por que este lugar está cheirando tanto a limpeza?
Ele se deitou na cama, com as mãos atrás da cabeça. Não consegui evitar
olhar para o “V” bem debaixo de seu abdômen, nem sentir vontade de me
deitar sobre sua pele.
— Você está querendo dizer que, normalmente, meu quarto cheira a
merda?
— Você parou de fumar?
— Estou tentando.
— Sério?
— Sim… Tem uma garota que fica por aí dando ordens, e ela me disse
uma vez que isso era ruim para mim. Então… pensei sobre isso e, finalmente,
dei ouvidos.
— Estou orgulhosa de você.
Ele se sentou ereto e olhou para mim.
— Bem, a verdade é que… você estava certa. Aquela porcaria vai me
matar, algum dia. Muitos aspectos da minha vida podem ser uma droga, mas
outras coisas fazem viver valer a pena.
Alguma coisa no ar pareceu mudar quando ele disse isso, e um silêncio
desagradável se formou.
Pigarreei.
— Por que queria que eu viesse aqui?
Ele foi até o armário e pegou alguma coisa. Então, percebi que era seu
livro. Ele me entregou o fichário.
— Queria te dar isso. Quero que você o leia.
— Sério?
— Não diga a ninguém que leu minhas porcarias, Greta. Isso é um grande
passo para mim. Não importa o que você faça, não mostre isso a Randy. Não
quero que ele chegue perto disso.
— Ok. Eu prometo. Obrigada por confiar em mim.
— Seja honesta na sua opinião. Posso suportar.
— Serei. Vou ler no meu tempo livre.
Fui direto para o meu quarto, naquela noite, e comecei a ler. Minutos se
tornaram horas. Disse a Elec que iria lê-lo no meu tempo livre, mas a verdade
era que eu não conseguia largá-lo. Acabei ficando a noite inteira acordada
para terminá-lo.
Por mais que a história fosse contada em terceira pessoa, e o menino, cujo
nome era Liam, fosse apenas levemente baseado em Elec, eu sentia como se
tivesse encontrado uma janela para sua mente e sua alma, através do
protagonista.
Havia muitas similaridades que eu sabia serem derivadas de sua vida,
especialmente o fato do pai de Liam ser abusivo verbalmente. O início da
história, antes de Lucky entrar em cena, era um pouco triste. Ao mesmo
tempo que me fez chorar em uma certa parte, também me fez rir em outras.
Havia muitas cenas engraçadas separadas do enredo principal.
Em uma cena, Liam ficou a fim de uma garota de uma casa vizinha, então,
ele pediu a Lucky que fosse até lá. Ele esperava que a menina pensasse que
Lucky estava perdido e que o cachorro iria guiá-la até a casa de Liam. Ao
invés disso, Lucky, que era um cachorro grande, acabou encoxando o
filhotinho de Lulu da Pomerânia da garota. Liam os observou pela janela,
enquanto ela pegava o cachorrinho e o levava para dentro, batendo a porta.
Lucky ainda fez suas necessidades no gramado da casa dela, antes de correr
de volta para Liam, de mãos vazias.
Mas o enredo principal se baseava na habilidade de Liam em sentir o mal
através de sua audição hipersensível. As informações que ele recebia não
eram sempre claras, muitas vezes eram desordenadas, a não ser que Lucky
estivesse por perto. Em certo ponto, Liam leva informações sobre o
assassinato de uma garota da cidade para a polícia. O problema foi que um
policial corrupto estava por trás do crime. Ele sequestrou Lucky para que
Liam não conseguisse ajudar as autoridades a desvendar o mistério. Lucky
acabou escapando, e a cena do reencontro entre Liam e o cachorro foi tão
emocionante que me deixou chorando copiosamente.
Tudo fora escrito de forma muito realista, desde as vívidas descrições das
paisagens da Irlanda até as emoções que Liam experimentou. Havia um
capítulo extra muito divertido, escrito pelo ponto de vista do cachorro, no
final do livro. Eu só encontrei alguns erros gramaticais e os reuni em um
caderno, para Elec.
No final da história, estava apaixonada pelos personagens, o que era um
elogio à sua escrita. Ao mesmo tempo, me senti mais próxima dele e honrada
por ele ter me permitido ter um vislumbre de sua mente incrivelmente
criativa. Eu precisava encontrar as palavras certas para explicar com
propriedade o quão maravilhoso era seu trabalho… o quão maravilhoso ele
era.
Então, no dia seguinte, eu decidi que iria me sentar debaixo de uma árvore
depois da escola e colocar em uma carta todos os meus sentimentos, e eu a
entregaria a ele, junto do livro. Derramei todo meu coração nela e expliquei
por que sentia que ele tinha nascido para escrever, e não importava se seu pai
não sentia orgulho dele, porque eu estava extremamente orgulhosa dele.
Naquela tarde, eu planejei deixar a carta em seu quarto. Quando cheguei no
topo das escadas, meu estômago se revirou quando ouvi uma voz feminina do
outro lado da porta.
Risadas.
Som de beijos.
Elec não tinha levado ninguém para casa desde aquela noite em que
tínhamos nos beijado na minha cama. Pensei que, talvez, pudesse estar
tentando respeitar meus sentimentos, ou que ele tivesse mudado.
Eu estava errada.
Saber que ele estava com outra garota sempre me deixava irritada e com
ciúmes, mas daquela vez era diferente. Aquilo me deixou extremamente
triste. Eu não pude nem suportar ficar na casa, então deixei o livro e o bilhete
em frente à sua porta e corri pelas escadas, arrependida por não ter me
apaixonado apenas por sua escrita.
FIQUEI TRISTE POR SABER QUE ELE NEM SEQUER SOUBE DA MINHA CARTA POR
vários dias.
Victoria não me deu outra escolha a não ser finalmente contar para ela
sobre meus sentimentos por Elec. Ela não parava de falar que não entendia o
porquê de ele não tê-la convidado para sair novamente, depois do beijo no
restaurante. Eu já não tinha mais paciência para isso e contei a ela tudo o que
tinha acontecido entre nós. Ela ficou chocada, mas, ao menos, consegui que
parasse de falar sobre ele.
Elec continuou a me ignorar durante toda a semana. Passava mais horas na
loja de bicicletas e, durante outros momentos, ficava em seu quarto, com a
porta fechada. Ele, obviamente, sabia que eu tinha ouvido aquela garota em
seu quarto, uma vez que eu tinha deixado o livro no chão, do lado de fora.
Ele, com certeza, sequer se importara em pedir desculpas ou perceber o
impacto que aquilo poderia ter causado nos meus sentimentos.
Então, quando Corey Jameson me convidou para sair naquela semana, eu
disse sim. Corey era, provavelmente, um dos garotos mais doces do colégio.
Na verdade, eu não me sentia fisicamente atraída por ele, mas precisava de
uma distração e sabia que, ao menos, nos divertiríamos juntos. Ele era um
dos únicos rapazes que eu considerava um amigo, embora fosse óbvio que ele
quisesse ser algo mais.
A sexta-feira chegou. Penteei meu cabelo cheio de ondas e vesti um
vestido azul royal que comprei em liquidação no shopping, mas meu nível de
entusiasmo seria o mesmo se eu estivesse indo ao cinema com Victoria.
Quando Corey chegou na minha casa, minha mãe abriu a porta e gritou em
direção ao segundo andar: — Greta, o rapaz com quem você vai sair chegou.
Havia uma música tocando baixinho no quarto de Elec, e a porta estava
fechada. Parte de mim queria que ele me visse saindo com Corey, mas outra
não queria ter que lidar com ele.
Corey estava esperando na base das escadas com flores, e me deixou
extremamente constrangida. Eu nunca poderia imaginar Elec indo buscar uma
garota com gérberas nas mãos. E, vamos admitir, ele nem precisava disso.
— Oi, Corey.
— Oi, Greta. Você está linda.
— Obrigada.
— Tudo bem se eu usar o seu banheiro rapidinho, antes de irmos?
Hesitei em deixá-lo subir as escadas, já que Elec poderia sair de seu quarto.
— Claro, fica lá em cima. Vire à esquerda no final do corredor.
Esperei sentada em um banquinho, na cozinha.
— Ele parece ótimo. — Minha mãe disse.
— Ele é. — Eu disse, colocando as flores em um vaso.
Aquele era o problema. Eu tinha aprendido a amar coisas um pouco mais
cruéis.
Depois de cinco minutos de espera, Corey voltou com uma expressão
estranha no rosto.
— Você está pronto? — Perguntei.
— É claro. — Ele disse, sem olhar para mim. Ele caminhou na minha
frente e me guiou até seu carro, um Focus estacionado na frente da casa.
Ele ainda estava agindo com estranheza quando entramos no carro e, antes
que pudéssemos dar a partida, ele se virou para mim.
— Encontrei seu meio-irmão, lá em cima.
Engoli em seco.
— Ah, sim?
— Ele me pediu para te entregar isso aqui, que você tinha deixado em seu
quarto. — Corey me entregou um par de calcinhas cor-de-rosa, uma das duas
que Elec ainda não tinha me devolvido.
Eu peguei a peça de sua mão e olhei para a rua sem acreditar, sem saber se
estava irritada ou extremamente divertida.
Quando me recompus, virei-me para ele: — Ele só está tentando criar
problemas entre você… e eu. É isso que ele gosta de fazer. Eu sei que parece
bobeira, mas ele pegou todas as minhas calcinhas como uma brincadeira e
não as devolveu. Nada está acontecendo.
Ele suspirou, mas ainda parecia um pouco desconfortável.
— Ok. Mas foi muito estranho.
— Eu sei disso, pode acreditar. Me desculpe.
Corey estava olhando direto para a estrada, então, peguei meu telefone e,
discretamente, enviei uma mensagem para Elec.
Fiquei boquiaberta.
Desliguei o telefone e olhei para Corey, que seguia olhando para frente,
ainda em silêncio.
Elec estava louco. Quem ele pensava que era, tentando me impedir de ter
um encontro casual, uma vez que ele continuava a me afastar?
Elec criou uma sombra que durou pelo resto da noite, e, enquanto
tentávamos estabelecer uma conversa no restaurante mexicano, eu reparava
que Corey estava totalmente desanimado, depois do que Elec fez. A pior
coisa era que eu não estava nem irritada. Se eu fosse realmente honesta
comigo mesma, perceberia que estava satisfeita por Elec se importar o
bastante para querer sabotar o meu encontro.
Tentei focar minha atenção somente em Corey e estava fazendo um
péssimo trabalho, enquanto comia meu pudim de sobremesa. Só conseguia
pensar em Elec. Ele não tinha apenas me atazanado naquela noite, tinha
sequestrado minha mente inteira.
Meu telefone apitou no exato momento em que nos aprontávamos para
pagar a conta.
Ouvi uma suave batida na porta do meu quarto. Pensando bem, “suave”
não parecia uma palavra muito apropriada para o que aconteceu depois de eu
abri-la.
O peito dele estava subindo e descendo com uma respiração muito pesada.
— Você está bem?
Por alguns segundos, Elec estava olhando para mim como se não soubesse
como tinha chegado à minha porta.
— Não.
— O que houve?
Seus olhos demonstravam uma fome frenética.
— Foda-se o amanhã.
Antes que eu pudesse processar o que ele queria dizer, suas mãos cálidas
seguraram meu rosto, aproximando minha boca da dele. Um gemido baixo,
do fundo de sua garganta, fez a minha vibrar, e eu o respondi com um
suspiro. Seu peito pressionava meus seios, enquanto ele me empurrava para
dentro do quarto. A porta se fechou atrás dele.
O que estava acontecendo?
Sua boca estava quente e molhada ao devorar a minha, sua língua girava
em círculos, quase desesperadamente. Havia mais intensidade do que nas
outra duas vezes em que nos beijamos, e eu compreendi que Elec não estava
mais se controlando. Aquilo era diferente, e o prelúdio para algo maior.
Ele parou de me beijar por um momento, e suas mãos deslizaram do meu
rosto para minha nuca. Puxou meu cabelo, fazendo minha cabeça se inclinar
para trás. Ele lambeu a base do meu pescoço antes de trilhar um caminho de
beijos até minha boca.
Minha língua foi passando por seu piercing, e ele mordeu meu lábio
inferior em resposta, enquanto gemia por entre os dentes.
Eu queria mais.
Eu estava pronta.
Não havia nenhuma dúvida em minha mente; eu ia deixá-lo ir até o fim.
Quando ele parou para olhar para mim, aproveitei para perguntar o que eu
realmente precisava saber.
— O que aconteceu?
Ele pegou minha mão e me guiou até a cama, onde ele se sentou e me
ergueu, colocando-me sentada em seu colo, de frente para ele. O calor de sua
ereção pressionava meu clitóris, que parecia pulsar. Ele colocou a cabeça
bem no meio do meu peito e falou, grudado à minha camiseta, fazendo meus
mamilos ficarem eriçados.
— Quer saber o que aconteceu comigo? — Ele sussurrou, com a voz
rouca. — Eu finalmente abri a carta que escreveu para mim depois de ler o
meu livro. Foi isso que aconteceu. Ninguém nunca falou nada assim para
mim, Greta. Eu não mereço.
Corri meus dedos por seu cabelo, que mais pareciam seda.
— Você merece, sim. Reafirmo cada palavra.
Ele me olhou profundamente.
— As coisas que li naquela carta… vou carregá-las comigo para sempre.
Nunca vou poder retribuir o que acabou de me dar. Então, eu pensei em como
não pude te dar a única coisa que me pediu. Fiquei irritado assim que
comecei a guardar minhas coisas. Decidi que também prefiro ter uma noite
com você do que nenhuma. É uma merda de um ato egoísta, mas eu quero ser
o seu primeiro. Quero ser o primeiro a te ensinar tudo e quero ser aquele de
quem você vai se lembrar por toda vida. Mas só vou fazer isso se você tiver
certeza do que quer.
— Quero, mais do que tudo. — Abracei-o com mais força contra meu
peito.
Ele resistiu, olhando para mim novamente. Sua expressão estava séria.
— Olhe para mim, Greta. Porque eu preciso ter certeza que você está
mesmo decidida sobre o fato de que isso aqui vai acabar amanhã. Você nunca
vai poder contar para ninguém. Vou te dar tudo o que quiser esta noite,
contanto que entenda isso. Você precisa me prometer que pode lidar com
isso.
— Posso lidar com isso. Já te disse que eu quero que minha primeira vez
seja com você, mesmo que seja a única. Não quero que hesite. Quero que me
mostre tudo. Quero experimentar as mesmas coisas que aquelas garotas
experimentaram. Não quero que me trate diferente delas.
— Não vou te dar exatamente a mesma coisa… mas posso te dar mais.
Ok? Posso fazer melhor com você. Pode durar só por uma noite, mas vou
fazer com que cada segundo valha a pena.
Estava mesmo acontecendo.
Quando meus nervos me venceram, Elec percebeu e colocou as mãos nos
meus ombros.
— Você está tremendo. Talvez não seja uma boa ideia.
Eu ainda estava sentada em seu colo quando ele olhou para mim, em um
último momento de hesitação. Segurei seu rosto em minhas mãos e o beijei
de forma ainda mais profunda, na intenção de provar que eu estava mais
pronta do que nunca. Olhei bem dentro de seus olhos uma última vez, e disse:
— Eu quero.
Ele estudou meus olhos por muitos segundos antes de me tirar de cima dele
e levantar-se. Esfregando a ponta de seus dedos pelo meu pescoço, ele os
moveu devagar, até colocar as mãos ao redor dele como… se fosse me
enforcar. Mas não era nada disso. Só ficou segurando meu pescoço,
massageando-o gentilmente com seus polegares. Senti que começava a ficar
molhada só pela forma como ele estava me olhando, como se não houvesse
nada que ele quisesse mais no mundo do que me ter.
— Adoro seu pescoço. Foi a primeira coisa que eu quis beijar em você. É
tão longo e delicado.
Fechei meus olhos e inclinei minha cabeça para trás. Ele ainda não estava
me beijando, apenas acariciando meu pescoço gentilmente.
Finalmente, ele moveu suas mãos e levantou minha blusa. Seus olhos
pareciam de vidro ao olhar para meus seios.
Em um estúpido momento de insegurança, eu disse: — Eles são pequenos.
Elec beijou minha bochecha e falou bem perto do meu ouvido: — Que
bom. Eles cabem perfeitamente na minha boca.
Então, suas mãos apertaram a lateral do meu corpo e abaixaram meu short.
— Merda! — Ele murmurou e olhou para mim com um sorriso endiabrado
quando compreendeu que eu não estava usando nenhuma calcinha. Chutei
meu short para longe e fiquei de pé, de frente para ele, me sentindo
vulnerável.
Ele apenas continuou a olhar para mim por algum tempo, e o fato de ele
estar mantendo certa distância estava me enlouquecendo.
Enquanto seu olhar viajava pelo meu corpo, dos pés à cabeça, cada
movimento de seus olhos fazia com que eu sentisse que eles estavam me
tocando.
Ele deu um passo à frente e falou de forma suave, bem perto do lóbulo da
minha orelha.
— Tem alguma coisa que você queira que eu te ensine, primeiro?
Meu corpo estava tremendo por antecipação.
Eu queria tudo.
— Quais são minhas opções?
Ele coçou o queixo.
— Cordas, correntes, algemas… um cinto.
— Hummm…
Imediatamente ele tocou meu rosto com suas mãos.
— Ah, meu Deus. Você é tão fofa — ele me beijou com firmeza nos
lábios. — Uma pequena parte de você achou que eu estava falando sério. Foi
uma piada.
— Eu entendi. Só não tinha cem por cento de certeza.
— Então… nada em particular?
— Você podia começar me tocando, ou talvez possa tirar suas roupas
também.
— Você quer que eu tire minhas roupas, hein?
— Não é assim que funciona, normalmente?
Ele balançou a cabeça e apertou meu nariz.
— Não.
— Não?
— Você vai tirar minhas roupas. Mas não antes de brincarmos um
pouquinho.
— Brincar?
— Você não tem experiência. Não posso só ficar pelado e começar a te
foder. Você precisa estar pronta para mim. Vai doer na primeira vez de
qualquer forma, então precisamos ter certeza de que você está o mais
molhada possível. Às vezes, menos é mais, na primeira vez, porque quanto
mais eu demorar, mais você vai querê-lo, então, estará cada vez mais pronta.
Guiando-me até a cama, ele se deitou com as costas na cabeceira da cama e
me puxou para que eu ficasse sentada sobre ele. Ele estava completamente
duro, embaixo de mim.
— Você já está pronto. — Brinquei.
— Eu estou pronto desde o dia em que entrei por aquela porta, dei uma
olhada em você e compreendi que estava ferrado.
— Você sempre me quis assim?
Ele assentiu.
— Fiz um bom trabalho em esconder por um tempo, não fiz?
— Parece que sim.
Ele me puxou ainda mais de encontro à ereção que parecia explodir para
fora de seu short de estampa militar.
— Agora está bem óbvio, não está?
O vão entre minhas pernas estava latejando enquanto eu esfregava minhas
mãos na camiseta preta colada em seu peito.
— Sim.
Como a escuridão de um cinema antes do início de um filme, o brilho da
expressão em seus olhos desapareceu, indicando que as coisas estavam
prestes a começar. Ele colocou as mãos no meu pescoço outra vez. Depois as
deslizou para baixo, cobrindo meus seios, massageando-os devagar e com
firmeza. Esfreguei-me em seu pênis para satisfazer a excitação que crescia
em mim a cada movimento de suas mãos.
Ele manteve uma das mãos em meu seio e ergueu a outra até meu rosto,
esfregando o polegar na minha boca, colocando dois dedos dentro dela.
— Chupe.
Sua pele tinha um gosto salgado. Eu apertei os músculos entre minhas
pernas, sentindo-me muito estimulada por seu olhar, enquanto ele observava
seus dedos se movendo para dentro e para fora da minha boca.
Quando ele os tirou de lá, esfregou a umidez da minha saliva no meu
mamilo direito e lambi sua outra mão antes que ele esfregasse os dedos no
meu lado esquerdo.
— Eles são perfeitos — Elec deslizou ambas as mãos para baixo do meu
corpo e as colocou ao meu redor, apertando minha bunda. — E, ela, também
— ele me deu um selinho e sorriu. — Eu quero fazer coisas com ela. — Ele
disse, enquanto a apertava com mais força.
Eu queria tanto que ele me beijasse ou que colocasse a boca em mim de
alguma forma enquanto me tocava, mas ele só continuou a olhar para mim,
massageando minha bunda. Deslizando minhas mãos por sob sua blusa,
continuei a me esfregar em seu pênis.
— Posso tirar suas roupas?
— Ok… mas só a camisa.
Eu a tirei por sobre sua cabeça, fazendo com que seu cabelo desgrenhado
ficasse mais bagunçado ainda. Maravilhei-me com o contorno de seu peito
sarado e bronzeado. Ele tinha um pequeno piercing no mamilo esquerdo. Já o
tinha visto sem camisa várias vezes antes, mas nunca estivera tão perto ou
com liberdade para tocá-lo.
Passei minhas mãos pelas tatuagens em seus braços, pela palavra “Lucky”
no direito e a maior, que parecia uma manga de camisa, no esquerdo, depois
pelos trevos em sua barriga. Corri meus dedos pelo caminho de pelos que
guiava até o seu short. Ele enrijeceu o abdômen por causa do meu toque, e eu
senti seu pênis se contorcer.
— Ponto sensível?
— Foi… quando você tocou minha barriga.
Em me inclinei e beijei seu peito gentilmente, e aquele gesto íntimo
pareceu ter algum efeito sobre ele. Quando recuei, ele me pegou de surpresa,
me puxando para baixo dele e me segurando ali por um tempo. Meu peito nu
estava espalhado contra seu coração, que batia desconfortavelmente rápido.
— Por que seu coração está acelerado? — Perguntei.
— Porque você não é a única que está tentando algo novo.
— Do que você está falando?
— Nunca fui o primeiro de ninguém.
— Sério?
— Sim… sério.
— Está nervoso?
— Só não quero te machucar. — Pela forma como olhou para mim ao
dizer isso, fez com que eu entendesse que ele não estava falando sobre dor
física. Não queria que eu me apegasse.
Meu coração se apertou, e tive quase certeza que era mentira quando eu
disse: — Você não vai.
Vai sim, mas eu te quero da mesma forma.
— Eu te quero tanto agora, mas estou me segurando porque estou com
medo do que isso vai fazer com você.
— Elec, você me perguntou o que eu queria. O que eu quero é que você
não se segure. Só temos esta noite. Por favor… não se segure.
Pela primeira vez desde que ele entrara naquele quarto, ele me beijou com
a mesma fome fervorosa que eu desejava, me prendendo com sua língua e
gemendo dentro da minha boca. Virou-me de costas e se ajoelhou sobre mim,
me fazendo prisioneira em seus braços. Seu cabelo bagunçado caiu por sobre
seus lindos olhos cinzentos enquanto ele olhava para baixo e mais uma vez
enfiava dois dedos dentro da minha boca. Compreendi que, se quisesse deixá-
lo mais confortável, fazê-lo desapegar-se de sua apreensão, eu precisava dar o
primeiro passo.
Segurei sua mão e chupei seus dedos com força, fazendo-os chegarem
quase até minha garganta. Seus olhos estavam semicerrados, enquanto lambia
seus lábios, ao intencionalmente me observar fazer isso. Então, ele tateou
minhas pernas e as abriu.
— Linda — ele sussurrou enquanto deslizava um dedo para dentro de
mim. — Deus, você está tão molhada. — Ele o retirou e trocou-o por dois
dedos, afundando-os o máximo que pôde. Perdi o fôlego.
— Está bom?
— Sim.
Ele começou a mover os dedos para dentro e para fora com mais força e
mais rapidez. Eu chegava a ouvir o quão molhada eu estava. Unindo meus
seios e apertando-os, inclinei a cabeça para trás, e meu corpo estremeceu.
Comecei a perder o controle, movendo meus quadris para que encontrassem
sua mão. Ele sentiu isso quando tirou de repente os dedos de dentro de mim.
— Não goze ainda. — Ele disse.
Ele me girou até que eu estivesse por cima dele novamente, e me moveu
para frente e para trás em cima de seu pênis. Seu short ficou encharcado de
mim. Em um dado momento, eu teria gozado, se deixasse.
Parecia que ele tinha a habilidade de perceber quando eu estava prestes a
chegar ao ponto máximo. Sendo assim, parou e recuou.
— Está pronta, agora?
— Sim, já estou pronta.
— Quero que se toque.
Eu estava ajoelhada sobre ele enquanto meus dedos esfregavam meu
clitóris. Meus joelhos começaram a tremer.
— O que você quer, Greta?
— Quero te ver nu.
— Então, pegue o que você quer.
Abri seu short com minha mão livre, e ele me ajudou a abaixá-los. Quando
seu pênis saltou para fora de sua cueca, me senti tão chocada quanto na
primeira vez em que o vi.
Ele sorriu, sabendo muito bem o motivo da minha reação.
— Algo errado?
— Eu só…
Ele estava abafando uma risada.
— Parece que você quer me fazer algumas perguntas.
— Não mesmo… Eu…
— Pode fazê-las, agora.
Dei uma olhada no piercing redondo.
— Ele pode rasgar a camisinha?
— Nunca aconteceu. Eu uso uma extra-grande por causa disso… e por
outra razão, também. — Ele deu uma piscadinha.
Ri de nervoso, realmente não entendendo como ele iria caber dentro de
mim.
— Machuca?
— Levou algum tempo para parar de doer, mas não mais.
— Vai me machucar?
— Já me disseram que ele aumenta o prazer.
— Uau.
— Mais alguma coisa?
— Não. Estou satisfeita.
— Tem certeza? É sua chance de fugir.
Inclinei-me e pressionei meus lábios contra os dele, e nós dois rimos
através do beijo.
Senti o metal do piercing enquanto seu pênis deslizava por meu estômago.
Encolhi os músculos entre minhas pernas com uma nova necessidade de me
satisfazer.
Ele me tirou de cima dele e colocou minha mão em seu pênis.
— Toque em mim enquanto toca a si mesma, e pare quando eu pedir para
parar.
Com uma mão em meu clitóris e a outra nele, fiz o que Elec pediu. Nada
nunca me deixou tão excitada quanto sentir a umidade na ponta de meus
dedos, senti-lo quente e escorregadio, ficando ainda maior do que antes.
Adorei observá-lo enquanto ele me observava.
Ele estava respirando fora de controle.
— Pare.
— Quero te sentir dentro de mim. Agora. — Eu disse.
— Vai sentir. Tem uma coisa que eu preciso fazer antes… só para saber se
está pronta.
— O quê?
Ao invés de responder, ele deslizou o corpo para debaixo de mim e me fez
subir na cama. Eu ainda não tinha certeza do que ele estava fazendo, mas
ficou claro que ele estava posicionando seu rosto bem debaixo da minha
virilha. Ofeguei quando senti a melhor sensação da minha vida. Eu não podia
imaginar o quanto seria bom ter sua boca pressionada contra mim. Ele
esfregava sua língua de forma lenta, mas firme. Quando ele gemeu, vibrou
bem no centro do meu corpo, e eu deixei escapar um som ininteligível.
— Shhh — ele disse, contra mim. — Temos que ficar quietos.
Era impossível.
— Você precisa parar.
— Não quero. Você tem um gosto muito bom. — Ele disse, enquanto sua
língua continuava a me lamber. Então, ele deslizou pela minha abertura
enquanto pressionava sua boca com ainda mais força no meu clitóris.
Ah, meu Deus!
— Vou gozar se não parar, Elec.
Ele chupou meu clitóris pela última vez e, bem devagar, libertou-me da
pressão de sua boca. Sentia uma pulsação entre minhas pernas, me fazendo
tremer enquanto lágrimas saíam dos meus olhos.
Elec deslizou por debaixo de mim, pegou meu rosto em suas mãos e sorriu
para mim.
— Agora… você está pronta.
Ele colocou a mão no bolso de seu short, que estava no chão, e pegou uma
camisinha. Rasgou o pacote com seus dentes, e a expressão em seus olhos me
encheu de antecipação. Elec desenrolou a borracha por seu pênis e apertou a
ponta.
Posicionei-me debaixo dele, ele me beijava profundamente enquanto
esfregava seu pênis contra meu sexo. Eu não pude mais aguentar e o peguei
em minhas mãos, guiando-o até minha fenda.
— Vá com calma — ele avisou. — Vai doer.
— Não me importo.
— Vai se importar — ele abriu meus joelhos o máximo que pôde. —
Segure-se em minhas costas e me aperte, me bata, me morda… faça o que
tiver que fazer se sentir dor, mas, por favor, não grite. Eles não podem saber
que estamos aqui.
Por mais molhada que eu estivesse, senti queimar como o inferno na
primeira vez que ele tentou entrar em mim. Afundei as unhas em suas costas
para conter o desconforto. Respirei fundo. Não demorou muito para a dor se
tornar tolerável. Nunca vou me esquecer da forma como me senti quando ele
já estava completamente dentro de mim pela primeira vez, nem o som que ele
emitiu. Elec mantivera o controle até aquele momento, quando fechou os
olhos e gemeu: — Greta… Isso aqui… Você… Ah, merda!
Com cada movimento subsequente, a penetração antes dolorosamente
desconfortável começou a se tornar dolorosamente incrível. Ele ainda estava
pegando leve, mas, honestamente, pela expressão em seu rosto, não sei se ele
conseguiria aguentar por muito mais tempo.
Ele o retirou bem devagar e, então, o colocou de volta ainda mais devagar.
— Está mais difícil me controlar do que eu pensei que seria. Você é tão
apertada. Está tão bom, indescritível. Preciso gozar, mas o prazer precisa ser
seu.
Como se ele tivesse ordenado, meus músculos começaram a contrair.
— Eu vou. Agora. Ah, Deus, Elec! — Gritei seu nome alto demais.
Ele colocou a mão sobre minha boca.
— Shhh… Ah, meu Deus, Greta! Merda… Greta. — Ele sussurrou
enquanto gozava, com seu pênis pulsando dentro de mim. Eu podia sentir o
calor de seu gozo pela camisinha enquanto seu coração pulsava de encontro
ao meu.
— Essa foi a coisa mais incrível que já senti na vida. — Eu disse.
— É… — Ele beijou meu nariz. — E eu ainda nem te fodi de verdade.
O FATO DE ME SENTIR VAZIA SÓ PORQUE ELE SE LEVANTOU PARA IR AO
banheiro não era um bom sinal de como eu me sentiria amanhã. Faltavam
poucas horas para sua partida, e eu já estava desejando sentir de novo seu
cheiro e seu toque naqueles dois minutos de separação.
Era conveniente ter uma pequena suíte em meu quarto, uma vez que ele
acabaria acordando Randy e minha mãe se tivesse de ir até o final do
corredor. Elec logo voltou com uma pequena toalhinha e se deitou ao meu
lado.
— Abra suas pernas — ele colocou a toalha no meio delas e a segurou ali.
— Melhorou?
— Sim, melhorou. Obrigada.
Eu não estava sentindo assim tanta dor, mas o calor do tecido era
confortante.
— Está doendo?
— Não. Não está tão mal assim. Em breve já estarei bem para tentarmos de
novo.
— Vamos tentar. Só quero que descanse um pouco.
O quarto estava escuro, com exceção de uma luz que vinha do banheiro.
Durante a hora seguinte, nos levantamos algumas vezes para trocar o tecido
por um mais quente. Ele só se deitava ao meu lado, segurando-o entre minhas
pernas. Nós dois estávamos completamente nus, e me surpreendeu o fato de
que eu me sentia completamente confortável dessa forma. Eu quase desejei
que ele não estivesse sendo tão carinhoso e doce comigo.
Conversamos muito durante aquela hora: sobre sua escrita, sobre minhas
dúvidas em me tornar professora, sobre nossos planos para o próximo ano.
Ele iria para uma faculdade comunitária próximo à sua casa, em Sunnyvale.
Estaria sempre em casa, de olho em Pilar, e planejava arrumar um emprego
próximo, também.
Elec falava de tudo abertamente, menos sobre sua história com Randy.
Aquilo ainda estava fora dos limites, quando tentei trazer o assunto à tona.
Os números vermelhos do relógio digital zombavam de mim. Já eram três
da manhã. Meu coração começou a palpitar, e eu comecei a entrar em pânico.
Não havia muito mais tempo. Ele deve ter lido minha mente porque, de
repente, me virou de costas, me fazendo ficar encostada nele.
— Não vá para este lugar. — Ele disse, perto dos meus lábios.
— Para onde?
— Para onde quer que sua mente esteja te levando.
— É difícil.
— Eu sei. O que posso fazer para que se sinta melhor?
— Me faça esquecer.
Ele ficou olhando para mim por um bom tempo antes de colocar sua mão
ao redor do meu pescoço gentilmente.
Era isso que ele fazia. E eu adorava.
— Sei que já disse isso antes, mas você realmente quer que te mostre como
eu faço isso?
— Sim.
— Você não quer que eu guarde algo?
— Não pegue leve desta vez, Elec. Por favor.
Ele olhou para mim pelo que pareceu um minuto inteiro e disse: — Vire-
se.
Só esse comando já me deixou molhada entre as pernas.
Senti um arrepio quando sua mão forte deslizou por toda extensão das
minhas costas. Então, com ambas as mãos, ele apertou com firmeza minha
bunda, antes de abaixar sua boca e mordê-la gentilmente… várias vezes.
Ele sussurrou contra minha pele.
— Adoro sua bunda. — Suas palavras fizeram meus músculos enrijecerem
de antecipação.
Suspirei quando sua boca quente pousou entre minhas pernas, com ele
ainda atrás de mim. A sensação de tê-lo daquele ângulo era demais para
suportar. Eu estava pulsando inteira enquanto ele me lambia e chupava como
se eu fosse sua última refeição. Os sons que ele fazia estavam me
enlouquecendo.
— Deus, você tem um gosto tão bom. Podia ficar fazendo isso a noite
inteira. — Ele gemeu para mim.
Quase gritei bem alto em um certo ponto, mas ele puxou meu cabelo para
aproximar meu rosto do dele.
— Shhh. Você vai nos criar problemas. — Ele disse, antes de deslizar a
língua por minha boca e me beijar com o gosto do meu próprio gozo.
Seu beijo percorreu a extensão das minhas costas, e ele, de repente, parou.
— Merda, não posso mais suportar. Precisamos ir para o chão, porque essa
cama vai fazer muito barulho.
Joguei alguns travesseiros no chão sem demora e desci, me apoiando nos
cotovelos e nos joelhos.
Estava quieto. Quando virei minha cabeça para vê-lo, seus olhos estavam
fixos em mim, enquanto ele acariciava o próprio pênis.
— Você assim, de quatro… Nada nunca me excitou tanto em toda minha
vida.
Observá-lo dando prazer a si mesmo enquanto olhava para mim foi a coisa
que mais me excitou na vida.
Quando me virei, eu o ouvi rasgar a embalagem da camisinha, enquanto eu
olhava para trás pela última vez para vê-lo se masturbar.
— Relaxe. — Ele disse, enquanto deslizava uma das mãos pelas minhas
costas e a colocava na base do meu pescoço. Passei a amar a erótica sensação
daquele jeito como ele me segurava. Depois de sentir uma ardência inicial,
seu pênis afundou em mim com facilidade, e eu soube que aquela experiência
seria diferente do que da primeira vez.
— Diga se começar a ficar intenso demais.
Eu sabia que eu nunca diria isso.
A cada momento tornava-se mais intenso. Ele deixava escapar um suspiro
a cada estocada que eu sentia em minhas costas enquanto ele continuava a
segurar meu pescoço. Ele estava em uma zona só dele, finalmente deixando
de lado toda apreensão.
E lá estava Elec me fodendo.
Eu queria que ele continuasse, ver até onde poderia ir.
— Me foda com mais força.
Aquilo fez com que ele agarrasse meus quadris enquanto fazia com mais
força. Era impossível não gritar, porque estava muito bom. De uma forma
estranha, ter que refrear qualquer barulho engarrafava o prazer dentro de mim
e o intensificava. Comecei a combinar o ritmo de seus movimentos com o
meu corpo, e isso pareceu levá-lo ao limite.
— Comece a se tocar, Greta.
Massageei meu clitóris inchado enquanto ele começava a ir mais devagar
para encorajar o meu clímax. Eu podia senti-lo cada vez mais fundo dentro de
mim, agora. Ele gentilmente empurrou meu torso para baixo, para que minha
bunda se empinasse mais. A penetração naquele ângulo tornava-se mais
intensa, tão profunda que eu podia sentir-me à beira do orgasmo.
— Está sentindo isso? — Ele sussurrou.
— Sim. Sim. Está incrível.
— Eu nunca fui tão fundo em ninguém, dessa maneira. Nunca foi assim,
para mim — ele ofegou. — Nunca.
— Ah, Deus… Elec…
— Quero que goze primeiro, e, então, quero gozar nas suas costas.
Ouvi-lo dizer aquilo me fez desmoronar. Minha mão estava pressionada no
carpete para mascarar o som do orgasmo que pulsava dentro de mim.
Quando ele sentiu que eu estava prestes a gozar, começou a ir com mais
força. Ele o tirou de mim e arrancou a camisinha. Então eu senti o líquido
quente se espalhar pelas minhas costas. Não era algo que eu pensei que fosse
gostar… mas eu amei.
— Já volto. — Ele disse, correndo até o banheiro para pegar uma toalha.
Depois de me limpar, ele me levantou do chão e me levou para a cama.
Os números vermelhos do relógio digital continuavam a me deixar
extremamente nervosa. Já eram quatro da manhã. Deitamos, um de frente
para o outro, com nossos lábios muito próximos.
Ele acariciou meu rosto com o polegar.
— Você está bem?
— Sim — eu sorri. — Isso foi louco.
— Esperava por aquele grand finale?
— Não… hum… foi uma surpresa. — Ri.
— Nunca fiz isso antes. Queria tentar algo novo, também.
— Sério?
— Queria que tivéssemos mais tempo. Queria fazer tudo com você.
— Eu também.
Queria que tivéssemos o para sempre.
Mais tarde, naquela noite, meu telefone apitou. Era uma mensagem de
texto de Elec, com um link.
No avião, eu compreendi que seu nome tem a ver com você. Você é
GRANDE. Greta = Great. Você é maravilhosa, na verdade. Não se
esqueça disso. E essa música sempre vai me fazer me lembrar de você.
Ainda sonho com seu pescoço. Ainda penso em você todos os dias. Por
alguma razão, só precisava que você soubesse disso, esta noite. Por favor,
não responda.
Não respondi.
Apesar de sentir as lágrimas caindo facilmente enquanto lia a mensagem,
não respondi. Ele não fazia contato há muito tempo, então, entendi que ele
deveria estar bêbado. Mesmo que não estivesse, não teria mudado nada.
Entendo isso, agora. Na verdade, tornei-me expert em enterrar meus
sentimentos por Elec. A distância tornou isso possível. Nas poucas vezes que
desapontei a mim mesma, me deixando levar pela curiosidade de checar
online, vi que ele não estava nas redes sociais.
Randy também tinha parado de ir à Califórnia, agora que Elec tinha se
tornado um adulto.
Mesmo depois de muitos anos, meu coração ainda doía, sempre que me
permitia pensar naquela única noite que passamos juntos. Então, controlei-me
o máximo que pude para não ir até lá – O que os olhos não veem o coração
não sente, certo? Este lema é só uma solução temporária – até que você seja
forçado a ficar cara a cara com aquilo do que fugia. Mas foi assim que as
paredes mentais que construí para me esconder vieram abaixo, com apenas
um golpe.
— O RANDY ESTÁ MORTO.
Em um primeiro momento, pareceu ser um sonho. Foi no meio da noite, e
eu tinha bebido muito em uma saída com meus amigos, em Greenwich
Village, na noite anterior. Quando o telefone tocou, às três da manhã, meu
coração começou a bater mais forte, e só ouvir aquelas palavras, logo de cara,
o fez parar de uma só vez.
— Mãe?
Ela perdeu o fôlego com tantos soluços.
— Randy morreu, Greta. Teve um ataque cardíaco. Estou no Mass
General. Não conseguiram salvá-lo.
— Mamãe, respire. Por favor.
Minha mãe estava chorando incontrolavelmente, me fazendo me sentir
impotente, porque não havia nada que eu pudesse fazer do meu apartamento
em Nova York.
O casamento dela com Randy permaneceu intacto por anos, embora, nos
últimos meses, estivessem passando por tempos difíceis. Randy nunca
demonstrou, com minha mãe, o mesmo desrespeito que tinha para com Elec,
mas sempre tivera um temperamento cheio de altos e baixos, com o qual era
difícil conviver.
A verdade era que minha mãe tinha perdido sua alma gêmea quando meu
pai morrera, muitos anos atrás. Seu casamento com Randy tinha muito mais a
ver com conveniência e estabilidade. Mesmo com seu salário modesto de
vendedor de carros, ele provinha nosso sustento muito bem. Minha mãe
nunca trabalhou, e não era do tipo que se virava bem sozinha. Randy foi a
primeira pessoa com quem ela se envolveu após a morte de papai. Eu sempre
tive a impressão de que Randy era muito mais apaixonado por ela do que ela
por ele. Mesmo assim, perdê-lo iria colocar seu mundo de cabeça para baixo.
Comigo vivendo longe dela, ele se tornou seu mundo inteiro, sem mencionar
que era o segundo marido que perdia prematuramente. Eu não sabia como ela
iria lidar com isso.
Comecei a tremer.
— Ah, meu Deus! — Respirei fundo na tentativa de me recompor. —
Sinto muito. Sinto muito, mãe.
— Ele morreu antes que eu conseguisse chegar ao hospital.
Levantei-me e, imediatamente, tirei uma mala pequena do armário.
— Olha, eu vou ver onde consigo alugar um carro a essa hora. Vou tentar
chegar aí pela manhã. Fique em contato comigo por telefone e me avise
quando chegar em casa. Tem alguém com você?
Ela fungou.
— Greg e Clara.
Isso me fez me sentir melhor. Greg era um dos amigos mais antigos de
Randy, que se mudou com sua esposa para os subúrbios de Boston alguns
anos depois de conseguir uma transferência do emprego.
Quando eu, finalmente, consegui encontrar uma locadora de carros aberta,
peguei a estrada, e já era por volta das cinco da manhã.
Durante as quatro horas de viagem até Boston, minha mente encheu-se de
pensamentos sobre o que significaria a morte de Randy. Será que eu teria de
deixar meu emprego na cidade e voltar para Boston por causa da minha mãe?
Será que ela teria que trabalhar pela primeira vez na vida para se sustentar?
Quanto tempo eu demoraria para encontrar um trabalho? E foi então que me
lembrei.
Elec.
Elec.
Ah, meu Deus, Elec.
Será que ele sabia sobre Randy? Será que ele viria para Boston, para o
enterro?
Será que eu teria que encará-lo?
Minha mão agarrava o volante ansiosamente, enquanto a outra trocava a
música no rádio, sem conseguir encontrar nada que pudesse abafar o barulho
na minha cabeça.
Mesmo depois de sete anos, e de um noivado frustrado com outro homem,
minha única desilusão amorosa continava nas mãos de meu meio-irmão.
Agora, meu coração se partia por causa dele de uma forma diferente; não só
porque minha mãe estava perdendo seu marido, mas porque Elec tinha
acabado de perder o pai.
Randy era muito jovem para morrer. Além disso, por mais que sua relação
com Elec fosse horrível, o fato de eles nunca terem feito as pazes me
entristecia. Nada mexia tanto com minhas emoções quanto pensar no meu
meio-irmão. Mesmo me separando de mamãe e Randy, nada nunca mudou.
Dois anos depois de me formar na faculdade comunitária de Boston, me
transferi para uma universidade pequena fora de Manhattan, onde me formei
em Artes. Assim que saí da escola, consegui um emprego administrativo na
cidade. Já estava vivendo em Nova York há três anos, quando conheci Tim.
Ficamos juntos por dois anos. Tim trabalhava com venda de softwares e
viajava muito. Moramos juntos por um ano, até que seu chefe solicitou que
fosse transferido para um cargo na Europa. Ele o aceitou sem nem discutir
comigo, e, quando me recusei a me mudar com ele, acabamos terminando.
Sua mudança me obrigou a tomar uma decisão que acabaria tomando mais
cedo ou mais tarde. Ele era um homem bom, mas não tinhamos a paixão que
eu tanto desejava. Mesmo no início do nosso relacionamento, nunca houve a
adrenalina ou o frio na barriga que experimentei durante o breve tempo que
passei com Elec. Quando aceitei o pedido de Tim, esperava que as coisas
mudassem e que eu passasse a amá-lo como ele merecia. Isso nunca
aconteceu.
Eu tive dois namorados antes de Tim, e aconteceu a mesma coisa. Sempre
comparava meus sentimentos por ele à minha louca atração por Elec. Por
mais que eu soubesse que Elec já tinha saído da minha vida, eu não podia
evitar comparações com ele, tanto sexual quanto intelectualmente. Por mais
que não demonstrasse na superfície, Elec era profundo. Possuía muitas
camadas, e sua escrita mostrava isso. E devia haver muito mais que eu nunca
chegara a conhecer ou desvendar. Eu queria encontrar alguém com as
mesmas qualidades que ele. Uma coisa que meu tempo com Elec demonstrou
foi que, desejo sexual e um sentimento pleno, eram tão importantes para mim
quanto conexão emocional.
Meus outros namorados eram caras legais, mas simples demais. Era triste,
mas eu preferia ficar sozinha do que me entregar a alguém que não me
provocava nenhuma faísca. Eu esperava que, algum dia, ainda chegasse a
sentir uma química real com alguém.
Ver a placa Bem-vindo a Massachusetts me deixou ansiosa. Havia muitas
coisas que eu ainda não sabia a respeito do que iria acontecer nos próximos
dias. Eu tinha de ajudar minha mãe com o funeral, e isso com certeza iria
acionar flashbacks daquele período horrível, quando tivemos que fazer a
mesma coisa pelo meu pai.
Quando estacionei na frente da casa, o Nissan de Randy estava parado à
esquerda, e eu me encolhi só de vê-lo. Usei minha chave para entrar e
encontrei minha mãe olhando fixamente para uma xícara de chá, na cozinha,
com as luzes apagadas. Ela nem percebeu, quando entrei no cômodo.
— Mãe?
Minha mãe olhou para mim, com olhos vermelhos e inchados. Corri na
direção dela e a abracei.
As louças sujas do jantar de mamãe e Randy da noite passada ainda
estavam na pia, me fazendo pensar em como a vida podia mudar em um
instante.
— Estou aqui, agora. Estou aqui. Só precisa me dizer o que tenho de fazer.
Vai ficar tudo bem. Vou te ajudar a passar por isso. Você vai ficar bem.
Ela falou, ainda olhando para a xícara: — Ele acordou no meio da noite
reclamando de dores e desmaiou antes que os paramédicos chegassem aqui.
Acariciei suas costas.
— Sinto muito.
— Obrigada por estar aqui, Greta.
— Onde… Você sabe… Onde ele está agora?
— Eles o levaram para a casa onde vai acontecer o velório. Clara está
arranjando tudo para mim. Ela e Greg têm sido maravilhosos. Eu não iria
suportar fazer isso… outra vez.
Abracei-a com mais força.
— Eu sei.
Naquela noite, dormi perto da minha mãe para não deixá-la sozinha.
Parecia surreal dormir onde Randy tinha dormido há apenas uma noite, mas,
agora, ele tinha partido.
O dia seguinte foi como um borrão na minha mente: as pessoas começavam a deixar
caçarolas e flores na nossa casa, enquanto minha mãe ficava dentro do quarto, só
chorando. Victoria passou para demonstrar seu respeito. Acabamos nos separando
desde que me mudei, mas sempre marcávamos de nos encontrar, quando eu vinha
para casa, mesmo que fosse só para tomarmos um café juntas.
Então, quando minha mãe tirou uma soneca, naquela tarde, eu e Victoria
fomos até o Dunkin’ Donuts da esquina. Era só um pequeno pedaço de
normalidade, naquela época surreal.
— Quanto tempo de folga do trabalho você pode tirar? — Ela perguntou.
— Eu só liguei para eles nesta manhã. Eles me deram um dia, e eu tirei o
resto da semana de férias. Posso levar minha mãe comigo para a cidade, até
decidir como as coisas vão ficar.
— Alguém já falou com Elec?
Só a menção de seu nome me fez sentir um nó no estômago.
— Greg e Clara estão entrando em contato com as pessoas. Tenho certeza
de que já ligaram para ele. Mas ele e Randy já não estavam se dando bem há
algum tempo, então não tenho certeza se ele virá.
— E o que você vai fazer, se ele vier?
Dei uma mordida nervosa no meu donut de baunilha.
— O que eu posso fazer?
Victoria sabia sobre minha noite com Elec. Contei para ela por alto, mas
mantive alguns detalhes em segredo. Alguns eram íntimos demais para serem
compartilhados, e eu não queria demonstrar o quanto a experiência tinha
significado para mim. Por mais que tivesse durado apenas uma noite, mexera
comigo de várias formas, e acabou com futuras expectativas.
Ela deu um gole no café.
— Então, eu acho que você só tem de esperar para ver…
— Minha mãe é minha prioridade. Não posso perder o sono pensando se
Elec vem ou não.
Mas só conseguia pensar nisso.
Naquela noite, Greg e Clara levaram minha mãe e eu para jantar. Eles
insistiram em tirá-la de casa quando lhes contei que ela passou a maior parte
do dia chorando em seu quarto, enquanto pessoas aleatórias passavam para
deixar comida.
Durante o jantar, minha mãe ficou quieta e mal tocou em seu frango, ou
nos bolinhos. Mas bebeu muito vinho.
O funeral estava marcado para depois do dia seguinte. O aperto em meu
estômago crescia a cada segundo.
Eu só precisava saber.
Eu finalmente perguntei.
— Entrou em contato com Elec? — Engoli em seco por antecipação pela
resposta de Clara.
— Sim, falei com ele hoje. Ele ficou triste quando lhe contei, mas não sei
se vem.
Só saber que ela tinha falado com ele fez com que meu coração batesse
mais rápido.
— Onde ele está?
— Ainda está morando na Califórnia, com Pilar.
— Você tem o telefone dele?
Ela olhou para o marido e respondeu, hesitante: — Humm… Greg
manteve contato com ele. Sabemos que ele e Randy tinham um péssimo
relacionamento. Greg tentou interferir, anos atrás. Ele e Elec meio que
ficaram próximos, depois disso. Randy nunca soube.
Olhei para Greg, como se ele estivesse guardando para si as informações
que mais me importavam no mundo.
— O que ele tem feito? — Minha voz soou insegura.
— Ele se formou na faculdade, conseguiu sua licença para trabalhar. Está
trabalhando com crianças carentes. Faz seis meses que falei com ele pela
última vez.
— Sério..?
Uau.
Aquilo era mais informação do que eu tinha recebido em anos. Fiquei feliz
e triste ao mesmo tempo, por saber que ele estava indo bem, mas que não o
conhecia mais, nem o homem que tinha se tornado.
Pigarreei.
— Então você não sabe se ele vem?
— Não. Ele não disse — falou Clara. — Acho que ele estava em choque.
Passei para ele todos os detalhes.
Meu coração se apertou em agonia ao pensar o que poderia estar
acontecendo na mente de Elec, onde quer que ele estivesse, naquele
momento.
Eu podia sentir seu cheiro e logo soube que ele estava atrás de mim.
Mesmo antes disso, meu corpo o sentira ali. As janelas da igreja estavam
abertas, e um vento soprou na minha direção o cheiro de colônia e cigarro.
Era estranhamente confortador. O único outro aroma que eu sentia era o de
velas queimando em volta do altar e a ocasional baforada de lírios que tinham
sido levados para lá.
Minha mãe e eu estávamos sentadas na fileira da frente. Virei-me para ver
Elec, sentado ao lado de Greg e Clara. Eles tinham chegado alguns minutos
depois de nós. Vestindo uma camisa de botão de cetim, preta, sem gravata,
ele olhava para o chão. Ou ele nem chegou a me ver olhando para ele,
naqueles breves segundos, ou fingiu não reparar.
Não havia nem metade das pessoas que haviam estado no funeral, ali.
Estava silencioso, com exceção de alguns sons do trânsito à distância e o eco
dos sapatos enquanto as pessoas caminhavam em direção a seus lugares.
Um órgão começou a entoar a música On Eagle’s Wings, e a música fez
com que as lágrimas da minha mãe caíssem de forma mais pesada.
O padre começou o louvor, um pouco genérico e impessoal. Quando ele se
referiu a Randy como um “pai amoroso”, cada músculo do meu corpo se
enrijeceu. Tecnicamente, se Randy e Elec tivessem um relacionamento
normal, seu filho teria se levantado para falar. Eu não podia imaginar o que
Elec diria, se tivesse a oportunidade. Ao invés disso, ele se manteve quieto
durante toda a cerimônia. Não estava chorando. Não estava olhando para
cima. Estava apenas… ali, o que eu acho que era melhor do que não estar. Eu
tinha de lhe dar crédito por isso.
A cerimônia foi breve, e, ao final, o padre nos deu o endereço do cemitério
e anunciou que a família gostaria de convidar a todos para uma refeição em
um restaurante local, logo após o enterro.
Observei enquanto Elec, Greg e alguns outros homens, que eram amigos
de Randy, faziam seu papel e carregavam o caixão para fora da igreja. Elec
continuou a não demonstrar nenhuma emoção.
Minha mãe optara por não usar uma limusine, então fomos até lá em meu
carro alugado, seguindo o carro fúnebre. Greg, Clara e Elec estavam no carro
logo atrás.
Quando chegamos ao cemitério, nos reunimos ao redor da cova que tinha
sido cavada no chão bem em frente a uma lápide com a inscrição O’Rourke
gravada. A pergunta sobre onde minha mãe seria enterrada – se ao lado dele
ou ao lado do meu pai – passou pela minha cabeça.
Elec saiu do carro e caminhou até onde eu estava, olhando em direção ao
buraco, da mesma forma como eu estava fazendo. Quando ele se virou em
minha direção, seus olhos sustentavam um olhar apavorado.
É engraçado o quão rápido você pode colocar seu orgulho de lado quando
percebe que alguém de quem gosta precisa de ajuda. Estendi a mão na
direção dele, que não resistiu.
— Não posso fazer isso. — Ele disse.
— O quê?
— E se eles me pedirem para ajudar a descer o caixão até o chão? Não
posso fazer isso.
— Tudo bem, Elec. Você não precisa fazer nada que não queira. Não
pense que eles esperam que você faça, de qualquer forma.
Ele estava apenas assentindo e piscando, mas sem dizer nada. Ele engoliu
em seco, cheio de ansiedade. Então, soltou a minha mão, virou-se e passou
por entre as pessoas que começavam a chegar. Ele continuou a caminhar para
mais e mais longe do local onde Randy seria enterrado.
Sem pensar no que fazia, me apressei para alcançá-lo.
— Elec… espere!
Quando ele parou, sua respiração estava mais pesada do que a minha, por
mais que eu tivesse corrido. Se eu achava que ele tinha desmoronado na noite
passada, eu estava errada. Eu tinha certeza de que aquele era o momento no
qual ele estava, literalmente, se desfazendo.
— Tem alguma coisa nisso tudo que parece definitivo demais, para mim.
Não posso assisti-los baixando o caixão para o chão, muito menos participar
disso.
— Tudo bem. Você não precisa fazer isso.
— Eu acho que ele nem ia me querer aqui, Greta. Mesmo assim, não posso
testemunhar isso.
— Elec, é uma reação perfeitamente normal. Não precisamos voltar para
lá. Vou ficar aqui, com você.
Ele continuou balançando a cabeça, olhando para mim. Parecia ter
pensamentos profundos.
Um corvo negro pousou perto de nós, e eu comecei a me perguntar o que
aquilo poderia significar.
Depois de muitos segundos de silêncio, começamos a falar: — Foi em uma
de nossas piores brigas, provavelmente um ano antes de eu te conhecer.
Randy disse que preferia estar morto e enterrado do que ter que viver para ver
o fodido que eu me tornaria — ele olhou para os próprios sapatos e balançou
a cabeça repetidamente. — Eu disse algo em resposta, algo como: “Bem,
então, eu vou estar sorrindo o tempo todo, enquanto eles estiverem baixando
seu caixão até o chão”. – Elec deixou escapar um suspiro, como se o tivesse
segurado durante todo o tempo em que estivéramos conversando.
Eu estava começando a chorar.
— Elec…
Ele falou em um sussurro, olhando para o céu: — Não era isso que eu
queria dizer. — Era difícil ouvi-lo, e eu compreendi que ele estava falando
com Randy, naquele momento.
Elec olhou para mim com sua mão no peito.
— Preciso sair daqui. Não posso ficar. Estou desmoronando. Não consigo
respirar.
Começou, então, a caminhar rápido, e eu o segui.
— Ok. Para onde? Para onde você quer ir? Para o aeroporto?
— Não… não. Você está de carro, não está?
— Sim.
— Só me tire daqui.
Assenti com a cabeça, enquanto ele me seguia em direção à área de
estacionamento. Uma multidão estava reunida ao redor da sepultura de Randy
a alguns metros de distância. Atrapalhei-me com minhas chaves, destranquei
o carro e Elec entrou, fechando a porta.
Imediatamente dei a partida e saí do terreno, seguindo em direção à saída.
— Para onde você quer ir?
— Para qualquer lugar longe desse pesadelo. Só dirija por um tempo.
Elec inclinou a cabeça para trás, encostando-a no banco com os olhos
fechados. Seu peito estava subindo e descendo enquanto ele abria os três
primeiros botões de sua camisa. Quando chegamos a um sinal vermelho,
mandei uma mensagem de texto para minha mãe:
Está tudo bem. Elec teve algo parecido com um ataque de pânico, e
estamos dando uma volta. Certifique-se de que Greg vai te dar uma carona
até o restaurante e avise a ele que Elec está comigo. Não tenho certeza se
iremos comer com vocês.
Eu não esperava que ela fosse responder, uma vez que o enterro ainda
estava acontecendo, mas esperava que ela checasse seu telefone assim que
percebesse termos saído dali.
Ele grunhiu.
— Merda!
— O que foi?
— Meus cigarros ficaram no carro de Greg. Eu preciso muito de um.
— Podemos parar para comprar alguns.
Ele estendeu a mão.
— Não. Não pare. Só dirija.
Então foi isso que eu fiz. Por duas horas, eu dirigi na estrada. Estávamos
no meio do dia, então o trânsito estava tranquilo. Elec ficou quieto quase o
tempo todo, só olhando pela janela.
Eu tive que parar em um dado momento, ou acabaríamos saindo do estado.
Tinha quase certeza de que, quinze minutos antes, tínhamos passado pela
placa de Bem-vindo a Connecticut. Ele me pedira para ir para bem longe do
cemitério, para fazê-lo esquecer. De repente, tive uma ideia brilhante, e sabia
exatamente aonde deveríamos ir.
— Daqui a vinte minutos teremos de parar em algum lugar, ok?
Ele se virou para mim e falou, pela primeira vez em horas: — Obrigado.
Eu queria pegar sua mão, mas resisti. Alguns minutos depois, ele pareceu
ter caído no sono. Lembrei-me de Chelsea dizendo que ele não tinha
conseguido dormir desde que descobriu sobre a morte de Randy.
Meu telefone tocou, e eu o atendi.
— Oi, mãe.
— Greta, estamos preocupados. O almoço já terminou. Está tudo bem?
— Tudo bem. Ainda estamos dirigindo. Vamos parar em breve. Não se
preocupe, ok? Me desculpe por te deixar sozinha.
— Estou bem. O pior já passou. Estou com Greg e Clara. Cuide de Elec.
Ele não pode ficar sozinho.
— Ok. Obrigada por entender, mãe. Eu te amo.
— Também te amo.
Estávamos nos aproximando de nosso destino, então eu cutuquei Elec.
— Acorde. Já chegamos.
Ele esfregou os olhos e olhou por cima de mim, enquanto continuávamos
seguindo pela estrada.
— Você vai me levar para visitar o Mágico de Oz?
Ele estava certo. O prédio meio que me lembrava a estrada de tijolos
amarelos com o enorme castelo no final.
— Não, seu bobo. É um cassino.
— Escapamos de um funeral para que você me trouxesse para jogar? Mas
que merda foi essa?
Quando me virei para olhar para ele, esperava encontrar uma expressão
confusa, mas, ao invés disso, ele sorria de forma genuína. Era o mesmo
sorriso que eu tinha visto algumas poucas vezes, aquele que dizia que ele
estava zombando de mim. Era o mesmo olhar que sempre fizera meu coração
se agitar.
Então ele começou a rir histericamente, escondendo o rosto com as mãos.
Talvez ele estivesse delirando.
— Acha que foi de mau gosto?
Ele secou os olhos.
— Não, acho que foi brilhante!
Quando parei no estacionamento, ele ainda estava rindo.
— Bem, você me pediu para te levar a algum lugar diferente de um
cemitério, Elec.
— Sim, eu estava pensando em um restaurante japonês zen ou… sei lá…
uma praia?
— Você quer ir embora?
— Porra, não! Eu nunca teria pensado nisso, mas, que merda! Se tem um
lugar onde você pode afogar suas mágoas, é aqui — ele olhou pela janela e,
então, virou-se para mim, com um olhar que me provocou calafrios. — Me
ajude a afogar minhas mágoas, Greta.
Por que você se importa se algum dos outros caras der em cima de mim?
Você não deveria se importar.
Depois de alguns minutos, não recebi resposta. Aquele não era mais o seu
número. Bem, de qualquer forma foi bom digitar aquelas palavras.
Escolhi uma máquina Lucky Sevens e me coloquei ao lado de uma senhora
idosa, cujo cabelo parecia azul, de tanto creme rinse que havia nele.
Ela sorriu para mim. Seu batom era de um tom de rosa fluorescente, e tinha
uma mancha dele em seu dente da frente.
Puxei a alavanca repetidas vezes, sem nem prestar atenção se estava
ganhando alguma coisa.
Sua voz me surpreendeu: — Parece que você tem alguma coisa em mente.
— Parece?
— Quem é ele, e o que ele fez?
Nunca mais veria aquela mulher, depois daquele dia. Talvez eu devesse
colocar para fora.
— Você quer a versão longa ou a versão curta dos fatos?
— Tenho noventa anos, e o jantar começa em cinco minutos. Me dê a
versão curta.
— Ok. Estou aqui com meu meio-irmão. Sete anos atrás dormimos juntos,
antes de ele se mudar para outro estado.
— Tabu… gosto disso. Continue.
Eu ri.
— Ok… Bem, ele foi o primeiro e último homem de quem eu realmente
gostei. Achei que nunca mais o veria de novo. O pai dele morreu esta
semana, e ele veio para o funeral. E não veio sozinho. Trouxe uma garota que
ele supostamente parece amar. Sei que ela o ama. E é uma boa pessoa. Ela
teve de voltar para a Califórnia mais cedo. De alguma forma, entramos nesse
cassino. Mas ele vai embora amanhã.
Uma lágrima caiu do meu olho.
— Parece que você ainda gosta dele.
— Gosto.
— Bem, então, você tem vinte e quatro horas.
— Não. Não estou planejando causar problemas para ele.
— Ele está casado?
— Não.
— Então, você tem vinte e quatro horas. — Ela olhou para o relógio e se
apoiou na bengala para se levantar. Estendeu a mão para mim.
— Meu nome é Evelyn.
— Oi, Evelyn! O meu é Greta.
— Greta, o destino te deu uma oportunidade. Não desperdice. — Ela disse,
antes de se afastar com sua bengala.
Durante os minutos seguintes, fiquei pensando no que ela tinha dito,
enquanto puxava a alavanca da máquina caça-níqueis despretensiosamente.
Mesmo que Elec não estivesse com Chelsea, nós nunca poderíamos ficar
juntos, por causa de Pilar. Não sei se as coisas tinham mudado em relação
àquilo.
Meu telefone vibrou. Era Elec.
Sei que não deveria me preocupar com isso. Mas quando tem a ver com
você, o que eu deveria realmente sentir nunca importa.
Naquele momento, tomei uma decisão. Não iria ser eu a dar o primeiro
passo com Elec, mas me manteria de mente aberta. Não imporia regras. Teria
esperança. Porque, antes que eu percebesse, já teria noventa anos e estaria
esperando o jantar em um lugar como aquele. Quando chegasse esse dia, não
queria ter nenhum arrependimento.
AS LUZES COMEÇARAM A PISCAR NA MINHA MÁQUINA, QUE APITAVA COMO
louca. Um grupo de números sete estavam alinhados de forma correta. O
número de créditos na tela continuava a aumentar e aumentar.
Olhei ao meu redor e vi que todos os olhos estavam em cima de mim.
As pessoas começaram a bater palmas.
Meu coração estava acelerado.
Puta merda. Eu tinha ganhado.
Eu tinha ganhado!
Mas o que eu tinha ganhado?
Eu ainda não sabia. Não entendia muito bem aquela máquina. Ela mostrava
o número de créditos, mas nada da quantidade de dinheiro. Quando tudo
parou finalmente, peguei meu ticket e levei à cabine do caixa.
— Acho que eu ganhei, mas não sei quanto.
— Quer pegar o dinheiro?
— Bem… Sim!
A pessoa não parecia nada entusiasmada em me atender.
— Quanto eu ganhei?
— Mil.
— Mil moedas?
— Não, mil dólares.
Cobri minha boca e falei: — Ah, meu Deus!
— Você quer em notas de cinquenta ou de cem?
— Humm… de cem.
Ela me entregou um maço de dinheiro, e eu o cheirei antes de ir em direção
a Elec.
Enquanto caminhava em direção às luzes e ao caos, com o dinheiro quase
queimando e abrindo um buraco na minha bolsa, finalmente o localizei em
uma das mesas de pôquer. Ele estava pensativo, coçando o queixo, sem saber
que eu o estava observando. Tinha aberto ainda mais a camisa, e as mangas
estavam arregaçadas. O cabelo estava bagunçado, como se tivesse passado a
mão por ele várias vezes, por pura frustração. Passava a língua pelo piercing,
enquanto se concentrava. Havia algo dolorosamente sexy no contraste entre
seu novo visual intelectual com as tatuagens em seus braços.
Finalmente ele colocou as cartas na mesa e disse: — Merda — com isso,
ele checou o telefone e levantou-se da mesa. Caminhou na minha direção e,
finalmente, me viu sorrindo para ele. ― Perdi minha camisa de duzentos
dólares. Eu me dei bem por um tempo, mas o último jogo me ferrou. Como
você se saiu?
Coloquei a mão dentro da bolsa e tirei o dinheiro de lá.
— Ah, você sabe… Naquelas maquininhas bobas…
— Está brincando comigo?
— Mil dólares! — Eu disse, balançando o dinheiro na frente do rosto dele,
pulando para cima e para baixo.
— Porra, Greta! Parabéns!
Quando me puxou para um abraço rápido, mas apertado, eu rapidamente
fechei meus olhos, porque a sensação de estar em seus braços novamente era
boa demais. Todos os nervos do meu corpo renasceram naquele breve
momento.
Continuei ouvindo a voz de Evelyn em minha cabeça.
Você tem vinte e quatro horas.
Tinha menos que isso, agora. Uma imagem engraçada de Evelyn
apontando uma arma para minha cabeça surgiu na minha mente.
Coloquei o dinheiro de volta na minha bolsa.
— Vamos jantar para comemorar.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, procurando um restaurante, o
telefone dele tocou. Paramos de repente.
— Oi, amor. — Ele rapidamente olhou para mim ao falar isso, e eu,
instintivamente, me virei.
Com meu coração na boca, caminhei alguns passos, ainda ouvindo cada
palavra.
— Que bom que você chegou bem. Eu meio que dei uma surtada no
enterro, na verdade. Greta me levou para passear um pouco até que eu me
acalmasse. Acabamos parando em um cassino em Connecticut. Estamos aqui
— pausa. — Tudo bem — pausa. — Eu também. Divirta-se. Diga a todos
que mandei um oi — pausa. — Também te amo.
Também te amo.
Bem, aquilo era um choque de realidade. E por que eu estava tão triste por
ele ter contado a verdade a ela sobre esta viagem, que deveria ser um
encontro secreto? Naquele momento, entendi que estava um pouco iludida. É
claro que os sentimentos dele depois de me ver poderiam estar confusos, mas
ele a amava, não a mim. Pura e simplesmente era essa a verdade. Seu coração
estava em um lugar diferente do meu, e eu precisava aceitar isso.
Ele caminhou na minha direção.
— Ei!
— Ei!
— Era Chelsea. Ela te mandou um oi e agradeceu por você estar me
ajudando hoje.
Ensaiei um sorriso falso.
— Mande olá e um não há de quê.
— E aí, já sabe o que vai querer?
Admito que a verdadeira resposta para aquela pergunta me colocaria em
uma situação difícil.
Vendo que o cuba-libre começava a fazer efeito em mim, disse: — Vou ao
banheiro. Pode decidir o que preferir.
Aproveitei para me refrescar, embora eu ainda estivesse cheirando ao
álcool que espirrara no meu vestido mais cedo. Acho que eu mesma deveria
ter comprado um vestido para mim, com o dinheiro que ganhei.
Quando saí do banheiro, Elec estava olhando para seu telefone. Quando
voltou os olhos para mim, parecia pálido.
— Você está bem?
Suas mãos tremiam, e ele não conseguia me responder.
— Elec?
— Recebi esta mensagem agora. Veio de um número desconhecido.
Ele me entregou o telefone.
Fiquei confusa.
— “22”?
— Olha só que horas a mensagem chegou.
— Duas e vinte e dois da tarde. Que estranho! Mas por que está te
incomodando?
— 22 de Fevereiro é o aniversário de Randy.
Senti um arrepio.
— Você acha que a mensagem é de Randy?
Seus olhos estavam fixos no telefone.
— Não sei o que pensar.
— Deve ser só uma coincidência. Por que ele te enviaria o número 22?
— Eu, normalmente, não acredito nesse tipo de merda. Não faço ideia. Só
achei muito estranho.
— Consigo entender o porquê.
Elec ficou preocupado durante todo nosso jantar na churrascaria que
escolhemos. Eu sabia que ele tinha ficado obcecado com a mensagem. Para
ser honesta, também me fez surtar um pouco.
Voltar para o cassino depois do almoço não animou Elec em nada. Em um
dado momento, me afastei para pegar bebidas para nós.
Quando voltei para onde estávamos sentados, meu coração quase saiu pela
boca. Ele estava limpando lágrimas dos olhos. Fiquei chocada em ver meu
meio-irmão, tão frio, chorando de forma tão intensa.
Era uma prova de que não podemos escolher quando a realidade de uma
perda irá nos atingir. Às vezes é previsível, mas pode acontecer quando você
menos espera. Ele não tinha chorado na cerimônia, nem no enterro, mas
escolheu aquele momento, naquele cassino lotado, para desabafar.
— Não olhe para mim, Greta.
Ignorando seu pedido por privacidade, coloquei as bebidas sobre a mesa e
empurrei minha cadeira mais para perto dele. Puxei-o de encontro a mim e
segurei-o bem próximo do meu peito. Ele não resistiu. Uma mancha de suas
lágrimas se formou em meu vestido. Suas unhas afundaram em minhas
costas, como se ele precisasse me segurar para sobreviver. Quanto mais ele
chorava, mais eu queria confortá-lo e mais forte eu o abraçava.
Ninguém parecia prestar atenção em nós, no canto daquele salão, embora
isso não importasse nem um pouco, para mim.
Seus tremores pareceram diminuir, e, eventualmente, começou a respirar
de encontro ao meu peito.
— Odeio isso — ele disse. — Eu não deveria estar chorando por causa
dele. Por que estou chorando por causa dele?
— Porque você o amava.
Sua voz estava tremendo novamente.
— Ele me odiava.
— Ele odiava alguma coisa que via em você e que fazia com que
lembrasse de si mesmo. Mas não te odiava. Não poderia. Só não sabia como
ser um pai.
— Tem muita coisa que eu não te contei. E a maior merda de todas era
que, apesar de tudo que passamos, eu ainda queria que ele se orgulhasse de
mim, algum dia. Queria que ele me amasse.
— Eu sei que amava.
Ele continuou a se apoiar em mim. Em um dado momento, olhou para
cima, e eu vi que seus olhos cinzentos estavam vermelhos.
— O que seria de mim sem você, esta noite?
— Fico feliz por estar com você.
— Eu nunca tinha chorado na frente de ninguém. Nenhuma vez.
— Sempre há uma primeira vez.
— Eu podia fazer uma piada com essa frase. Sabe disso, não sabe?
Nós dois rimos. Imaginei como ele se sentia ao rir, daquela forma. Para
mim, uma risada era sempre mais gostosa depois de chorar.
— Você me faz sentir coisas, Greta. Sempre fez. Quando estou perto de
você, seja bom ou ruim… eu sinto tudo. Às vezes, não lido muito bem com
isso, e acabo agindo como um babaca. Não sei o que há em você, mas, seja o
que for, faz com que eu veja quem sou de verdade. No instante em que eu te
vi novamente, na casa de Greg, de pé naquele jardim… foi como se eu não
conseguisse mais me esconder ― ele acariciou meu rosto com seu polegar.
— Sei que foi difícil para você me ver com Chelsea. Sei que ainda gosta de
mim. Posso sentir isso, por mais que tente fingir o contrário.
— Foi difícil, mas valeu a pena só por te ver de novo.
— Não quero chorar mais, esta noite.
— Também não quero mais que você chore. Mas, se achar que precisa, não
tenha medo. É bom desabafar.
Ele estava olhando para meus lábios. E eu olhava para os dele. Os últimos
minutos tinham me enfraquecido. Eu queria beijá-lo. Sabia que não era certo,
mas a necessidade era tão intensa que precisei me levantar.
Eu estava prestes a explodir – tanto física quanto emocionalmente.
Estávamos sentados na diagonal, de frente para a roleta. Era um dos únicos
jogos que eu sabia como jogar. Precisava focar minha impulsividade em
alguma coisa, e tive uma ideia.
Quando você está apostando o próprio coração, tentar a chance com
dinheiro parece algo muito pequeno. Caminhei em direção à roleta e joguei
algumas fichas, apostando em um número.
— Aposto tudo neste número. – Eu disse.
O cara que trabalhava no cassino olhou para mim como se eu fosse louca.
Elec apareceu bem atrás de mim.
— O que está fazendo?
Ele não tinha visto qual era a minha aposta. Meu coração batia mais rápido
a cada girada da roleta, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta.
As mãos de Elec estavam em meus ombros, enquanto nossos olhos
permaneciam presos à roleta.
Até que ela parou.
Os olhos do funcionário do cassino quase pularam das órbitas.
Alguém me entregava uma bebida que não era minha.
Mais álcool espirrava no meu vestido.
As pessoas batiam palmas, gritavam, assobiavam.
— 22 é o vencedor!
— Sou eu! Eu ganhei!
Elec me ergueu no ar, me fazendo girar.
Quando me colocou no chão, olhou para mim em choque.
— Você apostou no 22? Apostou tudo no 22? Tem ideia de quanto
dinheiro acabou de ganhar?
Virei-me para o homem atrás da mesa.
— Quanto eu acabei de ganhar?
— Dezenove mil dólares.
— Puta merda, Greta! — Elec pegou meu rosto em suas mãos, bem nas
minhas bochechas, e repetiu: — Puta merda! — Estava prestes a me dar um
beijo em comemoração, mas parou a tempo.
Eu tinha acabado de ganhar um monte de dinheiro, mas não parecia tão
importante quanto o fato de estar compartilhando aquele momento com ele.
Nada se comparava à sensação de ter suas mãos em meu rosto, de ver seus
olhos sorrindo para os meus, de transformar a agonia do número 22 em algo
positivo. Se aquele dinheiro fosse capaz de me comprar mais tempo com ele,
eu daria cada centavo.
Elec e eu caminhamos em direção ao caixa quase em transe. Enquanto eu
pegava o dinheiro, ele estava logo atrás conversando com algumas pessoas
que estavam na mesa no momento em que eu ganhei.
Optei por receber a maior parte da quantia em cheque, mas pedi mil
dólares em dinheiro. Ainda me deram a chave para passar a noite em um dos
quartos do hotel do cassino. Aquilo me pegou de surpresa, e não tinha certeza
se deveria mencionar o fato para Elec.
No momento em que eu me virei para ele, o vi sozinho com um enorme
sorriso no rosto.
Entreguei a ele o maço de notas de cem.
— Quero que fique com isso.
O sorriso dele desapareceu, enquanto ele tentava devolver o dinheiro para
mim.
— Não vou ficar com o seu dinheiro.
— Se não fosse por você, eu não teria jogado no 22. Escolhi esse número
por você.
— Nem pensar — ele colocou o dinheiro na minha frente. — Fique com
ele.
Eu não ia ceder.
— Isso é só uma parte dos ganhos. Peguei um cheque pelo resto. Vou
depositar no banco para ajudar minha mãe. Se você não pegar o dinheiro, vou
apostar tudo.
— Não faça isso. Não tem nenhuma chance de você ter sorte uma terceira
vez nesta noite.
Cruzei os braços.
— Não vou pegar de volta. Ou você pega, ou vou apostar tudo.
Ele suspirou.
— Escute bem. Vou pegar o dinheiro, mas vamos gastá-los juntos esta
noite. Vamos passar os melhores momentos das nossas vidas.
— Ok — minha boca se abriu em um sorriso. — Posso aceitar isso.
Ele olhou para o cartão que eu estava segurando.
— O que é isso?
— Ah, bem… Eles me deram uma chave de brinde. Acho que querem que
eu fique por aqui para devolver todos os meus ganhos para o cassino. Não
vou usá-la. Vamos voltar para Boston mais tarde, não é?
— Nenhum de nós está em condições de dirigir.
— Quer passar a noite aqui? Não podemos dormir no mesmo quarto.
— Eu não estava sugerindo isso, Greta. Vou pegar um quarto para mim.
É claro. Agora eu me sentia estúpida por perceber que era isso que ele
tinha sugerido.
— Certo. Tudo bem. Se você acha uma boa ideia, podemos ficar.
— A verdade é que não estou pronto para deixar que a noite acabe. Não
quero encarar a realidade até que não possa mais fugir dela. Meu voo só sai
amanhã à noite. Se temos que sair daqui só de manhã, então temos tempo
suficiente.
Acariciei o braço dele.
— Ok — decidi segui-lo para fora da sala de jogos. — Aonde vamos
primeiro?
— Comprar uma nova roupa. Você precisa tirar esta. Vamos para a boate
mais tarde. Não pode ir com isso aí.
— Boate?
— Sim. Tem uma no andar de baixo.
— Devo me preocupar? O que você imagina como uma roupa para se usar
em uma boate?
Ele olhou para o que eu estava vestindo.
— Algo que não te faça parecer com uma mulher grega de oitenta e cinco
anos em um velório.
Ajeitei meu vestido.
— O que está tentando dizer?
— Ou melhor, uma bêbada grega de oitenta e cinco anos, já que você está
cheirando a um balde de bebida.
— Obrigada.
— Vamos gastar dinheiro.
— QUE TAL ESTE AQUI? — MOSTREI UM MINI-VESTIDO DE CHIFFON, AMARELO
canário.
— Você vai parecer uma banana.
Escolhi outro.
— Este?
Elec balançou a cabeça.
— Não.
Ele pegou um de cetim, lantejoulas e paetês, fazendo com que deslizasse
pelas tatuagens em seu braço, e o mostrou para mim.
— Este é sexy. Vai ser este aqui.
Em um primeiro momento achei-o muito exagerado, mas concordei em
experimentá-lo.
Dos três vestidos que experimentei, o que ele escolheu foi o que caiu
melhor no meu corpo. Fez com que parecesse que eu tinha seios, e o
comprimento acentuava minhas pernas. Tinha de dar algum crédito a ele. As
lantejoulas eram um pouco chamativas, mas, afinal, estávamos nos
preparando para ir a uma boate.
O vestido caiu tão bem, na verdade, que não queria nem sair de mim. O
zíper ficou preso, e eu não conseguia puxar o vestido pela minha cabeça. Eu
estava começando a suar, porque não conseguia alcançar a base do problema.
— Está tudo bem aí? — Elec perguntou.
— Eh… Você pode ver se a vendedora pode me ajudar?
— O que aconteceu?
— Não consigo tirar o vestido.
— Bem, você não deveria ter comido o meu bife além do seu, no jantar.
— O zíper está preso.
Ele riu.
— Eu posso te ajudar.
— Não. Vou ficar mais à vontade se…
A cortina foi aberta de repente, e ele entrou na cabine.
— Vem aqui.
O calor de seu corpo era tangível no pequeno espaço onde estávamos. Ele
jogou meu cabelo para frente e puxou o tecido que estava preso. Minha
respiração acelerava a cada segundo, enquanto suas mãos trabalhavam no
zíper, nas minhas costas.
A imagem em minha cabeça, dele arrancando o vestido e entrelaçando
minhas pernas em sua cintura, não estava ajudando.
— Você não estava brincando — ele disse, enquanto continuava tentando.
Depois de um minuto, o ouvi dizer: — Consegui.
— Obrigada.
Ele abaixou alguns centímetros e então parou: — Tudo resolvido. — Mas
suas mãos continuavam em meus ombros. Permaneci olhando para baixo, e
quando ergui os olhos, ele estava olhando para mim através do espelho.
Virei-me abruptamente. Nossos rostos estavam muito próximos, e seus
olhos se fixaram em minha boca, permanecendo ali por um tempo. Daquela
vez não tentou esconder que parecia hipnotizado por meus lábios.
Ele fechou os olhos brevemente como se refreasse a urgência em me
beijar. Perturbava-me o fato de ele estar tentando, pois eu sabia, sem a menor
dúvida, que não seria capaz de resistir. Eu o teria beijado e dado tudo de
mim. Aquela falta de controle me assustava.
Era impossível pensar em qualquer coisa que não fosse nele, naquele
momento. Nem em Chelsea, nem nas consequências. A lembrança de sua
boca por todo meu corpo, de tê-lo dentro de mim, estava me consumindo.
Minha mente poderia estar gritando, mas meu corpo sabia o que queria.
Sabia que tinha a seu alcance exatamente o que vinha desejando todos os dias
nos últimos sete anos.
Ninguém fora capaz de se comparar a ele ou substituí-lo.
Elec tinha me destruído.
Ele podia estar com Chelsea agora, mas meu corpo ainda acreditava que
lhe pertencia, não importando que ele não soubesse disso, não importando se
era certo ou errado.
Ele pertencia a ela.
Eu pertencia a ele.
Isso. Era. Uma. Merda.
A vendedora da loja apareceu.
— Está tudo bem aí?
— Sim! — Gritei.
Não. Não está.
Nada aconteceu.
Elec saiu da cabine assim que a atendente interrompeu nosso momento.
Acabamos pegando algumas roupas na seção masculina para que ele
usasse naquela noite.
Fomos ao saguão do hotel para reservar um quarto para ele. Ele insistiu em
pagar no cartão de crédito, para não usar o dinheiro.
Fomos para nossos quartos separados para tomar banho, e planejamos nos
encontrar em meia hora para irmos à boate Roxy.
Enquanto a água caía sobre mim, sentia-me bem ao me livrar do álcool e
do suor que estavam no meu corpo. Por mais que aquele parecesse o dia mais
longo da minha vida, saber que ele iria chegar ao fim me aterrorizava.
Nem precisava dizer que estava tomando banho de água fria. Apesar da
temperatura, a necessidade de aliviar a tensão que vinha surgindo no meio
das minhas pernas era desesperadora. Deslizei até o chão da banheira,
deixando a água cair enquanto massageava meu clitóris, pensando em Elec.
Pensando no rosto dele entre minhas pernas, seu piercing labial fazendo
cócegas no meu clitóris enquanto ele me lambia desesperadamente…
O piercing de seu pênis entrando na minha boca…
A sensação de tê-lo dentro de mim…
Seus olhos fixos nos meus durante o orgasmo…
Eu gozei quase que violentamente.
Minhas costas ainda estavam pressionadas no chão de cerâmica da
banheira, quando ouvi uma batida na porta.
Merda! Ou eu tinha perdido a noção do tempo ou ele estava adiantado.
— Só um minuto!
Sequei-me o mais rápido que pude. Coloquei o vestido novo e escovei
rapidamente meu cabelo molhado, abrindo a porta em seguida.
— Uau! — Depois de uma longa pausa, ele acrescentou: — Você,
definitivamente, não parece mais uma senhora de luto.
— Com o que eu me pareço, então?
— Você parece corada, na verdade. Está se sentindo bem?
Ter que encarar a pessoa em quem você estava pensando durante uma
masturbação que acontecera segundos antes não era algo que tivesse
acontecido comigo antes.
— Estou bem.
— Tem certeza?
Mordi meus lábios, tentando não parecer culpada.
— Sim.
Ele estava vestido para matar, com um jeans escuro e uma blusa azul
marinho que comprou na loja do primeiro andar, na seção masculina. O look
mais casual o transformara no Elec de quem eu me lembrava. Seu cabelo
ainda estava molhado, e a forma como estava penteado acentuava seus olhos.
E estava usando aqueles malditos óculos.
— Foi bom tomar um banho. — Ele disse.
— Concordo com você.
O meu banho foi particularmente muito bom.
— Você precisa secar o cabelo?
— Sim. Me dê um minuto.
Fui ao banheiro e passei o secador o mais rápido que pude, e prendi os
cabelos em um rabo de cavalo.
Quando voltei ao quarto, Elec tinha ligado a TV na ESPN, e estava deitado
na cama com as mãos descansando atrás da cabeça. Sua camisa estava
levantada, me provocando com um vislumbre de uma de suas tatuagens de
trevo na barriga. Ficou bem claro, para mim, que me masturbar no banho não
resolvera meus “problemas”. Quanto mais rápido conseguíssemos sair
daquele quarto, melhor.
— Estou pronta.
Ele se levantou e desligou a televisão. Eu o segui em direção à porta.
— Você está bonita — ele disse, quando entramos no elevador. —Gosto
de seu cabelo assim.
— Gosta?
— Sim. Era assim que ele estava na noite em que te conheci.
— Estou surpresa por se lembrar disso.
Um sentimento de nostalgia me preencheu quando me lembrei daquela
primeira noite, quando fiquei esperando por ele, na janela. Não tinha ideia do
tipo de aventura em que me meteria com Elec.
— Você era tão inocente. Estava tentando ser gentil, e eu agi como um
babaca.
— Agiu mesmo. Mas eu passei a gostar disso em você.
— Isso quando eu não te fazia chorar, né?
— De vez em quando eu te levava a sério, mas, apesar disso, suas
cutucadas eram engraçadas. Eu não me lembro de nenhuma delas de forma
negativa.
— Você era um pouco masoquista. Isso meio que arruinou meu plano
maligno, naquela época.
— Bem, você não era tão mau quanto queria que eu acreditasse que era.
— E você não era assim tão inocente.
A tensão sexual desta lembrança terminou assim que chegamos ao andar
da Roxy. Entramos nos confins do breu da boate, e Elec desapareceu sob as
luzes estroboscópicas para pegar alguns driques para nós.
O grave da música vibrou dentro de mim enquanto eu me balançava para
frente e para trás, tentando entrar no clima.
Quando ele voltou com sua cerveja e o meu drinque, eu dei um bom gole.
Minha garganta congelou por causa do gelo picado do daiquiri. Ficamos no
segundo andar, olhando para baixo, observando o enxame de pessoas na pista
de dança, enquanto tomávamos nossas bebidas. O álcool se tornaria meu
melhor amigo, naquela noite. Eu não queria ficar completamente bêbada, mas
esperava que isso me ajudasse a esquecer do amanhã.
Uma tontura gostosa começava a se desenvolver em mim quando senti o
aperto firme de Elec em minha cintura.
— Venha. — A ponta de seus dedos tocou a parte de baixo das minhas
costas enquanto ele me guiava pelas escadas.
Eu sabia que ele estava me levando para a pista de dança. O que eu não
fazia ideia era de que ele era um dançarino excepcional.
Os olhos de várias mulheres na boate seguiam vários de seus movimentos,
enquanto eu descobria, pela primeira vez, que meu meio-irmão dançava
muito bem.
Quem poderia adivinhar?
Apesar disso, será que eu deveria mesmo ficar tão surpresa com o fato de
alguém que trepava tão bem quanto Elec ser capaz de mover seu corpo
daquele jeito?
Eu tinha pena daquelas mulheres. Tínhamos algo em comum. Todas nós
queríamos um pedaço dele, e nenhuma de nós teria nenhum.
É sério. Seus movimentos eram iguais aos de um stripper, mas ainda mais
provocadores, porque sabíamos que ele não iria tirar a roupa.
Era como um show erótico: a forma como ele movia os quadris, como seu
traseiro balançava no ritmo da música e a maneira como sua língua brincava
com seu piercing enquanto ele se perdia no ritmo.
Imagine você, assistindo Magic Mike, e o DVD para bem antes da
primeira cena de strip começar? Era assim que me sentia vendo Elec dançar.
Eu movia meu corpo no ritmo da música, acompanhando-o, mas ele não
encostava as mãos em mim, enquanto dançávamos juntos.
Em um dado momento, senti seu hálito quente em meu ouvido, quando ele
se inclinou na minha direção: — Vou procurar o banheiro. Fique aqui para
que eu possa te encontrar.
Depois que Elec me deixou sozinha, um homem usando uma camisa rosa
começou a dançar comigo. Ele começou a falar bem alto, tentando sobressair-
se à música, me fazendo perguntas que eu respondi de forma monossilábica.
Alguns minutos depois, senti um braço envolvendo minha cintura por trás.
O cheiro viciante da pele de Elec fez com que eu o identificasse, então eu não
resisti, quando ele me puxou para si. Depois de me virar para ficar frente a
frente com ele, seus olhos se fixaram nos meus com um olhar ameaçador.
Não podia falar nada a respeito da minha dança com o outro rapaz, porque
seria inapropriado devido à sua própria situação. Ele não tinha o direito de
me fazer parar de dançar com alguém. Ainda assim, sabia que poderia me
controlar pelo efeito que tinha sobre mim.
Um flashback das mensagens de Elec para mim, na noite em que saí com
Corey, muito tempo atrás, surgiu na minha mente.
Está acordado?
Elec: Eu estava prestes a comprar um espremedor de frutas maravilhoso.
Se eu comprá-lo agora, eles me enviam um mini-helicóptero de brinquedo
por apenas 19,90.
Greta: Podemos nos falar? Por telefone?
Naquele final de semana, me senti melhor pela primeira vez, desde o que
acontecera com Elec. Por mais que nada tivesse mudado, as palavras de
encorajamento de Sully me ajudaram a tirar um pouco da minha depressão.
No domingo, eu finalmente decidi trocar minhas roupas de inverno pelas
de verão. Normalmente, eu adiava essa troca até o limite, quase já no meio do
verão. Passei o dia inteiro lavando roupas, separando itens para doação e
organizando meus armários com cuidado. O clima estava seco e agradável, e
as janelas do meu apartamento ficaram abertas.
Decidi que eu merecia uma taça de vinho Moscato depois do meu longo
dia de trabalho doméstico. Sentei-me na varanda e fiquei olhando para a rua.
Uma brisa gostosa de verão se manifestava, enquanto o sol começava a se
pôr; estava um final de tarde perfeito.
Fechei meus olhos e fiquei ouvindo os sons da vizinhança: o trânsito, as
pessoas gritando, as crianças brincando num quintal próximo. Um cheiro de
churrasco veio em minha direção, de alguma varanda adjacente. Isso me fez
lembrar que eu não tinha comido nada o dia inteiro, o que explicava por que
o vinho tinha me afetado tão rápido.
Disse a mim mesma que eu adorava minha independência: poder fazer o
que eu quisesse, ir aonde eu quisesse, comer o que e onde eu quisesse… Mas,
bem lá no fundo, eu desejava compartilhar minha vida com alguém.
Meus pensamentos sempre pareciam voltar a ele, não importando o quanto
eu lutasse contra. O que eu não esperava, naquela noite silenciosa de verão,
era reciprocidade.
Quando meu celular alertou que havia uma mensagem de texto, eu não o
chequei imediatamente. Eu tinha certeza de que deveria ser Sully me
convidando para assistir algo na televisão, ou minha mãe, para ver se eu
estava bem.
Meu coração começou a bater fora de controle quando vi o nome dele. Eu
não tive coragem de ler a mensagem imediatamente, porque eu sabia que ela
iria destruir a tranquilidade daquela noite. Eu não sabia por que estava tão
assustada. Não era como se as coisas com Elec pudessem piorar, a não ser
que ele estivesse entrando em contato comigo para anunciar formalmente o
seu noivado, o que iria me deixar devastada.
Respirei fundo, terminei o meu vinho, em um rápido e longo gole, e contei
até dez, antes de dar uma olhada na mensagem:
Quero que você leia.
UMA ÚNICA FRASE, E TODO O PEQUENO PROGRESSO QUE EU FIZERA NAQUELE
final de semana, em tentar esquecê-lo caiu por terra. Minha mão estava
tremendo enquanto eu pensava em uma resposta.
Ele queria que eu lesse a autobiografia na qual ele estava trabalhando. Por
que agora? De todas as coisas que ele poderia dizer, aquela era a última coisa
que eu esperava.
Saber que eu iria descobrir todas as coisas que sempre me intrigaram era
absolutamente excitante e assustador ao mesmo tempo – mais assustador, na
verdade. Por mais que eu tivesse certeza que algumas partes iriam me deixar
triste, eu já sabia qual seria minha resposta para ele. Como poderia dizer não?
Vou adorar.
Elec: Sei que é um pouco estranho, ainda mais depois de como as coisas
ficaram entre nós.
Coloquei o resto do vinho na taça e senti que não conseguia respirar rápido
o bastante. O cheiro do churrasco do vizinho, que antes parecia tão apetitoso,
agora estava me deixando enjoada.
Saí da varanda e entrei no meu quarto pela janela. Abri meu notebook e
digitei a senha do meu e-mail rápido demais, tendo que tentar várias vezes
antes de conseguir escrevê-la corretamente.
Em negrito, no topo, estava o e-mail de Elec O’Rourke. O assunto dizia
apenas: Meu livro. Não havia mensagem no corpo de e-mail, apenas um
documento de Word em anexo. Imediatamente o converti para outro formato,
para que pudesse lê-lo no meu Kindle.
Eu sabia que aquela história iria me deixar devastada. Com certeza,
encontraria revelações que explicariam o comportamento de Randy e Elec um
com o outro.
O que eu não esperava era que já me sentiria destruída logo na primeira
frase.
Alguns dias depois, eu a ouvi dizer a uma amiga que me achava gato – super… hiper…
gato – para ser exato. Honestamente, por mais que eu soubesse que causava algum efeito
nela, eu não tinha muita certeza se era uma atração física. Então, ouvir isso foi como uma
mudança no jogo. O lado bom: eu sabia que podia usar isso em meu benefício. O lado ruim:
Eu me sentia completamente atraído por ela também, e precisava me certificar de que ela não
descobriria isso.
Morar naquela casa se tornava mais fácil a cada dia. Embora eu nunca fosse admitir isso,
já não me sentia mais tão miserável. Longe disso.
Comecei a gostar de fazer pequenas coisas para deixá-la irritada, como roubar todas as
suas calcinhas e o seu vibrador. Ok, talvez não fosse uma coisa tão pequena assim. No final
das contas, comecei a perceber que a motivação por trás das minhas ações era diferente da
que planejara a princípio.
Vingar-me de Randy não era mais uma prioridade. Agora, eu estava atazanando a vida de
Greta só para chamar a sua atenção.
Em uma questão de dias, eu já tinha esquecido meu “plano malígno”.
Em uma tarde, a merda toda se tornou real quando eu, intencionalmente, levei uma garota
da escola para o Kilt Café, onde Greta trabalhava. Vou admitir: eu não tinha problema para
ficar com garotas, e já tinha ficado com algumas das mais gatas do colégio, só no primeiro
mês. Mas todas elas me entediavam. Tudo me entediava, exceto torrar a paciência da minha
meio-irmã.
Greta nunca me entediava.
A primeira coisa que pensei, quando acordei naquela manhã, foi em como eu iria mexer
com ela daquela vez.
Aquele dia, no café, não foi uma exceção, mas um ponto inicial — um que não me
permitiu voltar atrás.
Greta estava esperando em nossa mesa, e eu estava dificultando as coisas,
intencionalmente. No final das contas, ela tentou se vingar jogando molho picante na minha
sopa. Quando percebi, engoli a coisa toda só para irritá-la. Por mais que estivesse ardendo
pra caramba, eu não demonstraria. Estava tão impressionado com ela que poderia tê-la
beijado.
E foi o que eu fiz.
Sob o disfarce de uma retaliação, usei a sopa como desculpa para encurralá-la em um
corredor escuro, e fazer o que eu vinha querendo há semanas. Eu nunca vou esquecer o som
que ela fez quando eu a agarrei pela primeira vez e tomei posse de sua boca com a minha.
Era como se ela estivesse faminta por um beijo. Eu poderia tê-la beijado o dia inteiro, mas
precisava fazer com que parecesse que tinha a ver com o molho apimentado, e não com um
beijo de verdade. Então, eu, relutantemente, me afastei e voltei para a mesa.
Era difícil para diabo e nada bom. Pedi à minha acompanhante para me esperar lá fora
para que ela não reparasse.
Eu tinha que fazer com que parecesse que não tinha me afetado em nada, e precisava,
rapidamente, reforçar a ideia de que se tratava de uma piada. Eu carreguei uma das calcinhas
de Greta comigo por vários dias só esperando a oportunidade perfeita para provocá-la. Então,
deixei a calcinha como parte de sua gorjeta, com um bilhete que sugeria que ela deveria
trocar a que estava usando porque a dela deveria estar um pouco molhada.
Eu queria muito ter visto sua reação.
Começamos a passar mais tempo juntos. Ela vinha até o meu quarto para jogar
videogame, e eu ficava olhando furtivamente para seu pescoço, quando ela não estava vendo.
Eu ficava lembrando do beijo constantemente, às vezes até mesmo quando estava com
outras garotas.
Eu e Greta ficávamos tomando sorvete juntos, e a vontade de lamber as gotinhas no canto
de sua boca era enorme.
Eu sentia que estava me apaixonando por ela de várias maneiras, e não estava gostando
disso.
Não estava apenas atraído, mas ela era a primeira garota cuja companhia me agradava.
Precisava me manter no controle, pois não era uma opção ir mais longe, com ela. Então
eu continuei levando garotas para casa, fingindo que não me importava com Greta.
Isso vinha funcionando muito bem, até que descobri que ela ia sair com um cara da
escola: Bentley. O que era uma má notícia. A amiga dela acabou me convidando para ir com
eles em um encontro duplo, e eu aproveitei para ficar de olho
nos dois.
O encontro foi uma tortura. Tinha de esconder meu ciúme. Fui forçado a ficar sentado e
observar enquanto aquele babaca colocava as mãos nela. Ao mesmo tempo, a amiga de
Greta, Victoria, ficava em cima de mim, mas eu tinha zero interesse nela. Eu só queria levar
Greta para casa, em segurança, mas a noite acabou se tornando muito mais intensa do que eu
esperava. Antes que terminasse, eu quase mandei Bentley para o hospital, depois de ele
confessar que fizera uma aposta com o ex-namorado de Greta de que seria capaz de
desvirginá-la. Fiquei irado. Nunca na minha vida senti a necessidade de proteger alguém
como eu queria protegê-la, naquele momento.
No dia seguinte, Greta retribuiu o favor de uma forma impressionante.
Randy entrou no meu quarto e começou uma de suas investidas abusivas. Ela ouviu tudo
e ficou do meu lado de uma forma como nunca ninguém tinha feito. Por mais que eu tivesse
fingido estar bêbado demais para lembrar, agarrei-me em cada palavra, até que ela o
expulsou do quarto.
Pensando bem, tenho certeza de que foi naquele momento que eu me apaixonei por ela.
Naquele mesmo final de semana, nossos pais viajaram. Foi em um péssimo momento,
porque meus sentimentos por ela estavam em seu nível máximo. Inventei uma história sobre
um encontro só porque não queria ficar sozinho com ela.
Naquela noite, ela me acordou no meio de um sonho. Eu estava tendo um dos meus
pesadelos sobre a noite em que Mami quase se matou.
Tentei melhorar o clima, porque eu devia estar parecendo uma pessoa louca. Disse algo
para ela como: — Como vou saber que não está vindo aqui fazer coisas comigo quando
estou dormindo?
Era uma piada.
Mas ela começou a chorar.
Merda.
Eu tinha atingido um novo patamar.
Todas as palhaçadas que vinha fazendo para mascarar meus verdadeiros sentimentos a
tinham, finalmente, atingido. Eu tinha de parar, mas, sem os insultos e sem as piadas para me
esconder, aqueles sentimentos se tornariam óbvios.
Quando ela fugiu para seu quarto, eu sabia que não conseguiria dormir até que a fizesse
sorrir novamente. Tive uma ideia. Por isso, peguei seu vibrador, que vinha escondendo até
então, e o levei para o quarto dela. Comecei a lhe fazer cócegas com ele.
Não demorou para que ela começasse a gargalhar. Passamos o resto da noite deitados em
sua cama conversando. Foi a primeira vez que eu realmente me abri e cometi o erro de
admitir minha atração por ela.
Ela tentou me beijar, e eu cedi. Era bom sentir o gosto de sua boca novamente e não ter
de fingir que não era real. Segurei seu rosto e tomei o controle da situação. Disse a mim
mesmo que nada de mau poderia acontecer, contanto que fosse apenas um beijo. Eu estava
quase convencido, quando ela me surpreendeu com palavras que seriam capazes de me
arruinar.
— Quero que me mostre como você fode, Elec.
Surtei e a afastei de mim. Foi a coisa mais difícil que tive que fazer, mas foi necessário.
Expliquei a ela que nunca poderíamos ter deixado as coisas chegarem tão longe.
Eu, realmente, tentei manter distância entre nós. Ainda assim, aquelas palavras
perseguiram minha mente à noite, no chuveiro, durante o dia inteiro. Perdi o interesse em
outras garotas, e preferi me masturbar para colocar para fora a tensão que os pensamentos
sobre atender ao pedido de Greta, de formas que ela nem imaginava, me causaram.
Você tem de tratar um vício por um pessoa, assim como trata a dependência de drogas.
Se eu não podia ficar com Greta, então não podia manter contato com ela, porque isso me
faria sair do controle.
Nem mesmo telefonar ou mandar mensagens de texto seria possível. Parecia severo
demais, mas eu não seria capaz de suportar nem mesmo o som de sua voz, se não podíamos
ficar juntos.
Mas isso não queria dizer que eu não pensava nela todos os dias. Aquele primeiro ano foi
um inferno.
Mami não estava melhor do que quando fui para Boston. Ela ficava me interrogando,
pedindo informações sobre Randy e Sarah. Fuçava a página do Facebook de Sarah, e me
acusava de ser um traidor, depois que admiti que minha madrasta não era tão ruim, uma vez
que a conhecíamos melhor. Eu não podia sequer mencionar o nome de Greta, porque minha
mãe podia suspeitar de alguma coisa. Mami tinha voltado a tomar pílulas para dormir, e eu
tinha de ficar de olho nela como um falcão.
Eu estava certo, quando assumi que ela não poderia sequer cogitar meu envolvimento
com Greta. Era uma triste ironia: Mami estava obcecada por Sarah, e, sem que ela soubesse,
eu fiquei obcecado pela filha de Sarah. Formávamos uma dupla muito fodida.
Não havia nenhum dia em que eu não pensasse em Greta com outro cara. Isso me
enlouquecia. Eu estava tão longe e impotente. Ironicamente, uma parte de mim queria estar
perto dela, mesmo que fosse para protegê-la como minha irmã, mesmo que nunca ficássemos
juntos. Nojento, não é? Mas, e se alguém a magoasse? Eu não iria nem saber e não ia poder
dar uma lição nele. Não podia nem pensar nela trepando com outro cara. Eu acabaria fazendo
um buraco na parede do meu quarto, com apenas um soco, só de pensar nisso.
Então, em uma noite, perdi o controle e enviei uma mensagem, dizendo que sentia falta
dela. Pedi que não respondesse. Ela não respondeu, e isso me fez me sentir pior. Prometi que
nunca mais iria repetir aquele erro.
Minha vida voltou para o ponto exato no qual me encontrava antes de me mudar para
Boston: fumar, beber e trepar com garotas com quem eu não me importava. Eu estava vazio.
A única diferença de antes era que, em algum lugar, no meio daquela lama toda, eu desejava
mais… Eu a desejava. Ela me fez provar o gosto do tipo de relacionamento que eu vinha
perdendo durante todo aquele tempo.
Esperava que aquele sentimento que corroía o meu peito finalmente desaparecesse com o
tempo. Mas nunca desapareceu, apenas se intensificou. Acho que, bem dentro de mim, eu
sempre senti que, onde quer que estivesse, Greta estava pensando em mim, sentindo-se da
mesma forma. Eu sentia, e isso me consumiu por anos.
Dois anos depois, o estado mental de Mami finalmente melhorou, depois que ela
encontrou alguém. Foi seu primeiro namorado desde que Randy a abandonara. George era
libanês e dono de uma loja de conveniência no final da nossa rua. Ele sempre estava na nossa
casa, e sempre nos levava pão, massa e azeitonas. Pela primeira vez, a obsessão de Mami
para com Randy parecia ter amenizado.
George era um cara muito legal, mas quanto mais feliz ela ficava com ele, mais amargo
eu me tornava. Tinha desistido da única garota de quem gostava, porque pensara que isso
deixaria minha mãe destruída, sem qualquer chance de cura. Agora, ela estava feliz, e, eu,
me sentindo miserável. E tinha perdido Greta.
Eu sentia como se tivesse cometido o maior erro da minha vida.
Precisava falar com alguém sobre isso, porque minha raiva vinha me devorando dia após
dia. Eu não mencionei o que aconteceu com Greta para uma viva alma sequer. A única
pessoa em quem eu podia confiar era Greg, o amigo de Randy, que se tornara um segundo
pai, para mim.
Durante uma ligação, ele me passou algumas informações: aparentemente, Greta tinha se
mudado para Nova York. Ele até tinha o endereço dela por causa da lista para envio de
cartões de Natal. Greg tentou me convencer a ir até lá e dizer a ela como eu me sentia. Eu
achava que ela não ia querer me ver, mesmo se ainda gostasse de mim. Eu a tinha magoado
tanto, que não compreendia como ela poderia me perdoar. Greg achava que, se eu fosse falar
com ela pessoalmente, causaria uma boa impressão. Apesar dos meus medos, comprei uma
passagem para o dia seguinte, que seria noite de Réveillon.
Eu disse a Mami que eu ia visitar um amigo que conheci anos atrás, e comemorar o ano
novo na cidade. Eu não falaria nada a ela sobre Greta, a não ser que desse certo.
As seis horas de voo tornaram-se a experiência mais assustadora da minha vida. Eu só
queria chegar lá. Só queria abraçá-la outra vez. Eu não sabia o que dizer ou o que faria
quando colocasse meus olhos nela. Eu nem sabia se ela estava com alguém. Estava indo às
cegas.
Seria a primeira vez, na minha vida, que colocaria minha vontade em primeiro lugar e
seguiria meu coração.
Esperava que não fosse tarde demais, porque eu queria muito ter a oportunidade de dizer
a ela todas as coisas que deveria ter dito três anos antes. Ela nunca soube que eu a amava, na
noite em que me entregou sua virgindade.
Se a viagem de avião levou uma eternidade, o trajeto de metrô até o apartamento dela
pareceu ainda mais frustrantemente longo. Enquanto o trem balançava, cada lembrança que
eu tinha dela surgia na minha mente como um filme. Não conseguia não sorrir enquanto
pensava nas merdas que tinha falado para ela e o quão divertido era provocá-la. Ela me fazia
feliz. Na maioria das vezes, minha mente vaiajava até aquela noite em que ela me deu total
posse de seu corpo. E foi quando o trem parou, então houve um ligeiro atraso. Encontrá-la
parecia ainda mais urgente.
Eu precisava chegar até ela.
Quando eu, finalmente, cheguei em seu prédio, chequei duas vezes o endereço que havia
anotado em um pedaço de papel. Seu sobrenome, Hansen, estava gravado em uma caixa de
correio, ao lado do apartamento 7B, na lista ao lado da entrada principal.
Ninguém atendeu. Deixei de lado a ideia de ligar ou enviar uma mensagem de texto,
porque eu fiquei com medo de ela dizer que não queria me ver antes que eu tivesse a chance
de vê-la. Já tinha ido até ali. Precisava, ao menos, ver o rosto dela.
O restaurante embaixo do prédio dela serviu como ponto de espera perfeito, antes que eu
tentasse bater em sua porta novamente.
Bati naquela porta hora após hora, de quatro da tarde às nove da noite. Cada vez que
ninguém atendia, eu voltava para o pub Charlie’s e esperava.
Foi às nove e quinze da noite. Eu nunca vou esquecer do momento em que meu desejo foi
atendido.
Eu consegui vê-la.
Mas não da forma como eu queria que acontecesse.
Greta.
Ela vestia uma parca marfim quando entrou no Charlie’s. Mas não estava sozinha. Um
cara, que parecia muito mais apropriado do que eu para ela, estava com os braços ao redor
dela.
A comida gordurosa que eu tinha comido começou a se remexer em meu estômago.
Ela estava rindo, enquanto os dois se sentavam numa mesa no meio do restaurante.
Parecia feliz. Sequer reparou em mim, porque estava de costas, uma vez que eu estava
sentado em um canto.
Seu cabelo estava preso em um coque. Fiquei olhando enquanto ela tirava a echarpe cor
de lavanda que ela estava usando, revelando a parte de trás de seu lindo pescoço – o pescoço
que eu deveria estar beijando naquela noite, depois de dizer o quanto eu a amava.
O cara se inclinou e beijou-a gentilmente no rosto.
Uma voz dentro de mim gritou: Não toque nela!.
Os lábios dele murmuraram as palavras: Te amo.
O que eu poderia fazer? Ir lá e dizer: Ah, oi! Eu sou o meio-irmão de Greta. Eu a fodi
uma vez e a abandonei no dia seguinte. Ela parece feliz, e você, provavelmente, a merece,
mas eu queria que você saísse e me deixasse assumir daqui.
Meia hora se passou. Vi o garçom lhes trazer a comida. Observei enquanto eles comiam.
Vi o cara se inclinar umas doze vezes para beijá-la. Fechei meus olhos e ouvi o som da
risada doce de Greta. Nem sei por que fiquei. Só não conseguia deixá-la. Eu sabia que aquela
seria a última vez em que a veria.
Dez e quinze da noite. Greta levantou-se de sua cadeira e deixou que ele colocasse o
casaco em seus ombros. Ela nunca olhou na minha direção. Nem sei dizer o que faria, se ela
tivesse me visto. Eu estava entorpecido demais para pensar com clareza.
Observei-a cada segundo até que a porta se fechasse, atrás deles.
Naquela noite, eu vaguei pela cidade e acabei no meio da multidão, na Times Square,
observando a bola que marca a virada de ano cair. No meio dos confetes, barulhos e da
alegria, eu me perguntava como tinha chegado ali, porque ainda estava um pouco tonto,
depois de deixar o restaurante.
Uma mulher desconhecida, de meia-idade, me agarrou e me abraçou quando o relógio
anunciou a meia-noite. Ela provavelmente não sabia, mas eu realmente precisava de um
abraço mais do que em qualquer outro momento.
Peguei um avião de volta para a Califórnia na manhã seguinte.
Depois de alguns meses, Randy ligou para minha casa, pela primeira vez em um ano.
Casualmente, eu perguntei sobre Greta, e ele me contou que ela estava noiva. Aquela foi a
última vez em que mencionei seu nome.
Levou, pelo menos, três anos até que eu realmente conseguisse partir para outra.
Eu tive de parar. Joguei meu Kindle longe. Meus olhos estavam tão cheios
de lágrimas que as palavras começaram a ficar borradas perto do final.
Fechei meus olhos bem apertado, para ver se eu conseguia me lembrar de
alguma coisa daquela noite que pudesse ter me dado qualquer ideia de que
Elec estava lá. Ele estava lá. Como eu não percebi que ele estava bem atrás
de mim?
Ele tinha ido me procurar.
Eu ainda não tinha absorvido essa ideia muito bem.
Eu me lembrava daquela noite.
Lembrava-me de que eu e Tim ainda estávamos no estágio “lua-de-mel” do
namoro. As coisas estavam indo bem.
Lembrava-me de que, embora fosse véspera de Ano Novo, passamos o dia
inteiro comprando um computador novo para mim.
Lembro-me de que paramos no meu apartamento para deixá-lo lá, e fomos
ao Charlie’s para jantar, antes de partirmos para a Times Square para assistir
a bola cair.
Lembro-me de que, quando o relógio marcou meia-noite, Tim me aqueceu
com seus beijos.
Lembro-me de ter me perguntado por que, mesmo no meio daquela noite
mágica, com um homem que parecia perfeito e que realmente gostava de
mim, tudo que eu queria era Elec. Eu só conseguia pensar em Elec: onde ele
estaria naquele momento, se estava assistindo às festividades na TV, se
estava pensando em mim, também.
E durante todo aquele tempo, Elec estava bem ali.
O destino zombou de nós.
Ela estava sentada no canto mais distante da mesa da sala de jantar, quando chegamos ao
primeiro andar. Nem olhava para mim.
Odiava quando você fazia isso, Greta.
Sarah levantou-se e me abraçou. Cumprimentei-a brevemente, disse a ela que sentia
muito por Randy, mas, durante todo o tempo, fiquei pensando em que merda iria dizer para
Greta. Olhei para ela, e ela estava olhando para mim. Dei um passo atrás, enquanto Chelsea
abraçava Sarah e lhe dava os pêsames.
Eu ia ter de morder a isca.
Caminhei na direção dela, e quase não consegui pronunciar o seu nome.
— Greta…
Ela deu um pulinho nervoso, como se proferir o seu nome tivesse acendido uma fogueira
embaixo de sua bunda. Ela gaguejou um pouco.
— Eu… eu sinto muito por Randy.
Os lábios dela estavam tremendo. Estava desconsertada – perdida, disse a mim mesmo.
Eu não queria admitir que ela estava ainda mais linda do que eu me lembrava, agora que
havia novas mechas em seu cabelo, destacando o tom dourado de seus olhos castanhos.
Aquelas três pequenas sardas em seu nariz, e a forma como seu vestido preto se ajustava em
seus seios, fazia com que me lembrasse de coisas que precisavam ser esquecidas
imediatamente.
Não conseguia me mover, só fiquei ali, analisando-a. O cheiro familiar de seu cabelo era
intoxicante.
Meu corpo se encolheu, quando ela se aproximou para me abraçar. Eu estava mesmo
tentando não sentir nada, mas seus braços eram o epicentro de tudo. Seu coração estava
batendo de encontro ao meu peito, e o meu, imediatamente, respondeu acompanhando o
ritmo. Nossos corações estavam se comunicando de uma maneira que não nos permitia falar.
As batidas do coração eram a mais pura forma de honestidade.
Coloquei minha mão em suas costas e toquei na alça de seu sutiã. Antes que eu pudesse
processar o que aquilo me fez sentir, a voz de Chelsea me atingiu, enquanto Greta se
afastava de mim. O espaço que se formou entre nós parecia infinitamente vasto.
Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo: meu passado colidindo com o
meu presente. Aquela que eu tinha deixado para trás estava cara a cara com a que tinha me
feito a superar.
A mão esquerda de Greta estava nua. Não havia nenhum diamante nela. Onde estava seu
noivo ou marido? Onde aquele maldito estava?
Perdido em meus pensamentos, nem sequer ouvi o que elas estavam falando uma para a
outra.
Clara salvou a situação, quando entrou com a comida e Greta decidiu ajudá-la.
Greta voltou para a sala de jantar e começou a posicionar a louça na mesa. Ela estava tão
tensa que algumas peças começaram a escorregar e tilintar, enquanto ela se atrapalhava com
elas. Eu queria fazer uma piada com isso e perguntar quando ela tinha começado a praticar
percurssão com colheres. Mas não fiz.
Quando ela finalmente se sentou, Greg perguntou: — Então, como vocês se conheceram?
Greta levantou os olhos de seu prato pela primeira vez, enquanto Chelsea explicava como
nos conhecemos no centro de menores. Quando Chelsea se inclinou para me beijar, senti que
Greta nos observava, e o clima ficou muito desconfortável.
Começamos a falar sobre minha mãe, e Greta voltou a fingir que estava focada em seu
prato.
Meu corpo se encolheu outra vez, quando Chelsea lhe fez uma pergunta.
— Onde você mora, Greta?
— Em Nova York. Só cheguei na cidade dois dias atrás.
“Cheguei” na cidade, não “chegamos”.
Eu queria ter uma câmera para capturar a expressão no rosto de Greta quando Chelsea
sugeriu que fôssemos visitá-la em Nova York.
O clima ficou tranquilo novamente, e eu a olhei de soslaio algumas vezes, quando ela não
estava olhando. Quando ela me pegou fazendo isso, voltei minha atenção para o prato.
— Elec nunca me contou que tinha uma meio-irmã. — Chelsea disse.
Não sei para quem ela estava dirigindo aquela afirmativa, mas eu não mencionaria esse
assunto, nem se me pagassem. Greta ainda não estava olhando para mim.
Sarah falou:
— Elec morou conosco por muito pouco tempo, quando eles eram adolescentes — ela
olhou para Greta. — Os dois não se deram muito bem naquela época.
Por alguma razão, o olhar desconfortável no rosto de Greta quase entrou por debaixo da
minha pele. Ela ainda estava olhando para baixo, sem prestar atenção na afirmação da mãe,
sem prestar atenção em mim. Senti uma necessidade inexplicável de fazê-la prestar atenção
em mim, de falar sobre nós, de conseguir um melhor julgamento. Fiz meu velho
comportamento reviver por alguns minutos, e comecei a provocá-la para conseguir sua
atenção.
— É verdade, Greta?
Ela pareceu confusa.
— O que é verdade?
Ergui minha sobrancelha.
— Que não nos demos bem.
Seu maxilar se contraiu, e seus olhos não pararam de olhar para os meus, enquanto
parecia, silenciosamente, me alertar para não pressioná-la.
Ela, finalmente, respondeu: — Tivemos nossos momentos.
Minha voz tornou-se mais gentil.
— Sim, tivemos.
Seu rosto ficou vermelho. Eu continuaria a provocá-la. Tentei controlar os danos
melhorando o clima.
— Como é que você costumava me chamar?
— Não entendi.
— “Meu querido meio-irmão”, não era? Por causa da minha personalidade brilhante? ―
E me virei para Chelsea. ― Eu era um fodido miserável, naquela época.
Eu fui mesmo… Até que Greta me fez querer ser uma pessoa melhor.
— Como sabe sobre esse apelido? — Greta perguntou.
Ri por dentro, lembrando como costumava bisbilhotar as conversas dela com a amiga
pelo telefone.
Era bom poder vê-la sorrir, enquanto dizia: — Ah, sim! Você costumava ficar me
espionando.
Chelsea olhava para nós.
— Parece que vocês se divertiram.
Eu não conseguia tirar meus olhos de Greta. Eu queria que ela soubesse que aqueles dias
foram os melhores da minha vida.
— Isso é verdade. — Eu disse.
A única coisa boa em focar em meus sentimentos não resolvidos por Greta era esquecer
um pouco de Randy.
Porém, quando consegui escapar para ficar sozinho no quintal depois do jantar, a situação
começou a me atingir.
Nunca tivemos a chance de fazer as pazes. Era interessante perceber que nunca fez muita
diferença quando ele estava vivo, mas, depois de sua morte, começou a me assombrar. Eu,
pelo menos, queria ter provado que ele estava errado, que eu tinha feito algo de bom com a
minha vida. Agora, ele estava em outra dimensão, possivelmente frente a frente com Patrick.
Pensar nisso, por um tempo, sem qualquer distração, fodeu com a minha mente. Peguei
um cigarro e tentei apenas meditar. Não estava funcionando, porque minhas emoções
mudaram da tristeza para a raiva.
Ouvi a porta de vidro deslizando, e alguém se aproximando por trás de mim. Não me
pergunte como, mas eu sabia que era ela.
— O que está fazendo aqui, Greta?
— Chelsea me pediu para conversar com você.
Mas que merda elas tinham conversado? Interpretei da maneira errada. Chelsea não podia
descobrir o que tinha acontecido entre nós. Deixei escapar uma risada sarcástica.
— Ah, é mesmo?
— Sim.
— Estão trocando figurinhas agora?
— Não é engraçado.
Não, não era, mas o meu clássico mecanismo de proteção, de agir como um babaca em
momentos de estresse, surgiu com força total. Era tarde demais. E, porra, eu queria que ela
pensasse em nós.
Joguei meu cigarro fora.
— Você acha que ela teria te mandado aqui fora para conversar comigo se soubesse que
na última vez que nos vimos nós fodemos como coelhos?
A cor sumiu de seu rosto.
— Você tem de colocar dessa forma?
— Mas é a verdade, não é? Ela iria surtar, se soubesse.
— Bem, eu não pretendo contar a ela, então você não tem que se preocupar. Eu nunca
faria isso.
O olho de Greta começou a tremer, o que me provava que eu estava fazendo algum efeito
sobre ela. Velhos hábitos nunca morrem. E eu já estava viciado agora.
— Por que está piscando para mim?
— Não estou… Meu olho está piscando porque…
— Porque você está nervosa, eu sei. Você costumava fazer isso, quando eu te conheci.
Fico feliz em ver que você não mudou.
— Acho que algumas coisas nunca mudam, não é mesmo? Já faz sete anos, mas é como
se…
— Tivesse sido ontem — interrompi. — Parece que foi ontem, e isso é uma merda. A
situação inteira é.
— Isso nunca deveria ter acontecido.
Meus olhos, subitamente, pousaram em seu pescoço, e eu não consegui tirá-los de lá. Eu
sabia que ela estava percebendo isso. Sentime um pouco possessivo, de repente, algo que eu
não podia sentir, mas, mesmo assim, precisava saber o que estava acontecendo.
— Onde ele está?
— Quem?
— Seu noivo.
— Não estou noiva. Eu estava… mas não estou mais. Como você sabia que eu estava
comprometida?
Eu tive de olhar para baixo. Não podia deixar que ela visse o efeito que surtira em mim
ao dizer aquilo.
— O que aconteceu?
— É uma longa história, mas fui eu que terminei. Ele aceitou um emprego na Europa.
Não era para ser.
— Você está com alguém, agora?
— Não.
Merda.
Ela continuou.
— Chelsea é bem legal.
— Ela é ótima; uma das melhores coisas que aconteceu para mim, na verdade.
E ela era mesmo. Eu amava Chelsea, amava mesmo. Eu não poderia magoá-la. Precisei
convencer tanto Greta quanto eu mesmo de que Chelsea era tudo para mim. Mas ainda me
sentia abalado por ouvir que Greta não estava com nenhum outro homem. Isso me irritou.
Greta, rapidamente, mudou o assunto, voltando para Randy e minha mãe.
Começou a chover, então, eu usei isso como desculpa para pedir que ela entrasse.
Mas ela não queria ir embora.
Seus olhos começaram a ficar molhados.
De repente, meu coração parecia estar se partindo. Precisava lutar contra essas emoções,
e eu não conhecia nenhuma outra forma de lidar com Greta a não ser agir como um babaca.
Perguntei a ela: — O que está fazendo?
— Chelsea não é a única que se preocupa com você.
— Ela é a única que tem o direito de se preocupar. Você não precisa. Não é seu dever.
Meu coração estava batendo muito rápido, protestando contra o que tinha acabado de sair
da minha boca. Porque, bem lá no fundo, eu queria que ela se preocupasse.
Eu a tinha magoado. E magoaria novamente, porque precisava lutar contra aqueles
sentimentos.
— Quer saber? Se eu não estivesse me sentindo tão mal por tudo que você está passando,
eu mandaria você à merda. ― Ela disse.
Suas palavras atingiram direto o meu pênis. Minha vontade era agarrá-la ali mesmo e
beijá-la até deixá-la inconsciente. Eu tinha de cortar esse mal pela raiz.
― E se eu quisesse ser um babaca, eu diria que você só está dizendo isso porque se
lembrou de como adorou quando eu a fodi.
Mas que merda eu tinha acabado de dizer? Eu precisava sair dali antes que fizesse algo
ainda mais estúpido, embora fosse difícil superar aquilo. Enquanto me afastava dela, disse:
― Cuide de sua mãe hoje à noite.
Deixei-a sozinha no jardim. Quando abri a porta, beijei Chelsea de forma mais violenta
do que nunca, em uma tentativa de expulsar Greta da minha cabeça
Caí na real de forma mais intensa do que esperava. Recusei-me a olhar para o caixão. Eu
não conhecia ninguém. Não deveria estar ali.
Vozes se misturavam. Eu não ouvia nada. Não via nada. Estava contando os minutos para
entrar outra vez naquele avião e voltar para a Califórnia.
Chelsea estava me mantendo de pé.
Eu só senti dor quando acabei esbarrando com Greta. No único instante em que saí dali
para escapar de tudo, acabei parando em uma espécie de porão da capela. Ela tentou fingir
que não me viu, depois de sair do banheiro, mas eu sabia que era minha chance de pedir
desculpas pelo meu comportamento de mais cedo.
Eu não esperava que ela iria aproveitar a oportunidade para dizer que ainda sentia alguma
coisa por mim.
Isso acabou com toda a minha decisão. Tudo a respeito daquele dia me enfraqueceu. Seu
cabelo estava preso e, em um dado momento, segurei seu pescoço com a minha mão. O
trauma de toda aquela experiência nublou totalmente o meu julgamento. Parecia irreal, quase
como se eu estivesse sonhando. Mas não havia nada de que eu precisasse mais naquele
momento.
Os passos de Chelsea interromperam meu transe. Ela tinha vindo me procurar, mas não
viu nada. Sentime envergonhado quando olhei para os olhos apaixonados da minha
namorada. Estava preocupada comigo, mas, enquanto isso, eu me via no meio de um sonho
molhado.
Odiava a mim mesmo.
Logo depois de voltarmos lá para cima, insisti que deveríamos sair mais cedo para voltar
para a casa de Greg e Clara. Desesperado para tirar qualquer resquício de Greta das minhas
mãos e da minha mente, praticamente ataquei Chelsea quando chegamos ao quarto.
Disse a ela que precisava de sexo naquele momento, naquele local. Ela nem questionou,
só começou a se despir. Esse era o tipo de namorada que ela era, que me amava
incondicionalmente, mesmo no meu estado mais maníaco.
O problema era que… o que meu corpo realmente desejava naquele momento não estava
naquele quarto.
Enquanto me movia para dentro e para fora de Chelsea, fechei meus olhos e não vi nada
além de Greta: o rosto de Greta, o pescoço de Greta, a bunda de Greta.
Aquela foi a coisa mais baixa que já fiz. A culpa me consumiu, e eu parei abruptamente.
Sem qualquer explicação, corri para o banheiro e abri o chuveiro. A necessidade de me
aliviar era enorme. Então, comecei a me masturbar, imaginando Greta de joelhos olhando
para mim, enquanto envolvia seu pescoço com meu esperma. Só levou um minuto.
Eu estava doente.
Depois de chegar ao orgasmo, me senti pior do que antes.
Naquela noite, meus pensamentos pareciam alternar entre Greta e Randy. Eu não dormi
nem por um minuto. Randy venceu quase a noite inteira, enquanto eu tinha flashbacks dele
me atormentando.
Chelsea ia pegar um avião para a Califórnia na manhã seguinte, para ir ao casamento da
irmã. Eu nem conseguia imaginar como poderia suportar o enterro sem Chelsea para me
apoiar… Ou como conseguiria me manter longe de Greta.
Embaralhando as letras da palavra funeral, temos “real fun”1. Mas, é claro, não tinha
nada a ver com isso.
Eu só tinha de não olhar. Foi isso que disse a mim mesmo. Não olhe para o caixão no
altar. Não olhe para as costas de Greta. Só continue olhando para o relógio, e cada minuto
que passar estará mais perto do fim.
Aquela regra funcionou para mim, até que chegamos no ponto onde ele seria enterrado,
que foi quando eu surtei e acabei parando no Honda de Greta, na estrada para lugar nenhum.
Eu precisava fumar, mas a necessidade não era tão grande a ponto de parar o carro por
tempo suficiente para comprar cigarros.
Tudo era um borrão na minha frente: o funeral, meu ataque de pânico.Por mais que as
árvores estivessem alinhadas, formando um caminho na interestadual, Greta dirigia tão
rápido que elas pareciam se misturar formando uma única linha verde embaçada.
Tudo era uma porcaria de borrão.
Continuei olhando pela janela pelo que pareceram horas, até que ela falou pela primeira
vez.
— Daqui a vinte minutos teremos de parar em algum lugar, ok?
Observei-a. Ela estava cantarolando baixinho.
Doce Greta.
Merda!
Meu peito se apertou. Eu tinha agido como um babaca com ela até hoje, e, então, eu a
tinha praticamente sequestrado. Ela me salvou de mim mesmo, naquela tarde, e eu não fizera
nada para merecer que ela usasse seu tempo para me levar para passear, daquele jeito. Eu
não tinha energia para dizer a ela o quanto aquilo significava para mim. Eu só disse: —
Obrigado.
Um fio de seu cabelo loiro caiu e foi parar em cima da minha calça preta. Comecei a
brincar com ele e acabei relaxando o suficiente para cair no sono. Foi a primeira vez que
dormi em dias.
Acordei delirante. Quando percebi para onde ela tinha me levado, comecei a rir.
Um cassino.
Era uma ideia brilhante.
Quando entramos no prédio, Greta começou a tossir incessantemente e começou a
reclamar da fumaça. Podia ser ridículo, mas meu próprio desejo por um cigarro tinha
desaparecido. A adrenalina de estar naquele ambiente desviou meu foco dos meus
problemas. Eu estava empolgado.
— Tente se divertir, irmãzinha. — Brincando, sacudi seus ombros e, imediatamente, me
arrependi de colocar as mãos nela, porque, aparentemente, não podia confiar no meu próprio
corpo sem reagir como um animal.
— Por favor, não me chame assim.
— Como prefere que eu te chame? Ninguém nos conhece. Podemos inventar nomes para
nós. Estamos, ambos, vestidos de preto. Parecemos altos apostadores da máfia.
— Qualquer coisa, menos irmãzinha.
Nos olhamos por alguns instantes.
— O que quer jogar? — Ela me perguntou.
— Quero ir para uma das mesas. E você?
— Eu só vou nas máquinas.
As máquinas caça-níqueis. Deus, ela era uma gracinha.
— Nas máquinas? Vai aloprar hoje, hein?
— Não ria.
— Não se vai a um cassino como este para brincar nas máquinas caça-níqueis,
especialmente nas de moedas baixas.
— Não sei jogar mais nada.
— Posso te ensinar, mas primeiro precisamos de umas bebidas — pisquei para ela. —
Sempre dê aquela lubrificada antes de jogar o jogo.
Ela enrubesceu. Quase tinha me esquecido o quanto era viciante fazê-la corar.
Greta revirou os olhos.
— Meu Deus, algumas coisas nunca mudam. Pelo menos você voltou a fazer piadinhas
sujas. Isso significa que eu fiz alguma coisa certa, hoje.
— É sério, essa ideia — olhei ao redor, para o caos à nossa volta, e depois, voltei-me para
ela. — De vir para cá… foi perfeita.
O que eu queria era dizer a ela que o fato de passarmos algum tempo juntos era a melhor
parte.
Compramos algumas fichas, e eu fui pegar algumas bebidas para nós. Estava me sentindo
mesmo muito bem, até que voltei para perto de onde Greta estava me esperando. Um cara
gordo, usando um chapéu de cowboy, apertava sua bunda, enquanto ela ficava imóvel, em
frente à mesa de craps.
Sem pensar duas vezes, meu corpo entrou em modo de briga.
— Me diz se eu vi direito e aquele babaca de merda estava apertando sua bunda? —
Entreguei as bebidas para ela. — Segure as bebidas.
Comecei a estrangulá-lo. As duas mãos foram parar ao redor do pescoço dele.
— Quem você pensa que é para colocar as mãos nela, assim?
Ele estendeu as mãos.
— Eu não sabia que ela estava com alguém. Ela só estava me ajudando.
— Parece que você estava ajudando a si mesmo ― acidentalmente cuspi nele quando as
palavras saíram da minha boca. Então, arrastei-o para perto de Greta. ― Peça desculpas
agora mesmo.
— Olha, cara…
— Peça desculpas. — Gritei, enquanto apertava seu pescoço ainda mais.
— Me desculpe.
Minhas orelhas estavam queimando. Eu queria matá-lo.
Greta estava implorando.
— Vamos, Elec. Deixe isso para lá.
Seu rosto assustado fez com que eu compreendesse que espancar aquele cara não valia a
pena, ainda mais colocando-a naquela situação. Peguei o drinque da mão dela e comecei a
me afastar.
Então eu o ouvi, bem atrás de nós: — Você tem sorte de ter chegado a tempo. Eu estava
prestes a pedir que ela soprasse os dados.
Virei-me na direção dele, aproximando-me, e quase machuquei Greta, que tentou usar seu
corpo pequeno para bloquear minha passagem.
— Não, Elec! Não quero que expulsem a gente daqui. Por favor. Estou te implorando.
Percebi, naquele momento, que, se eu o tocasse, acabaria matando-o ou machucando-o
seriamente. Eu precisava me afastar.
— Agradeça a ela por ainda ter um rosto. — Eu ainda estava enfurecido, enquanto
saíamos do salão. A última vez que eu coloquei as mãos em alguém daquela forma também
tinha sido em defesa de Greta. Será que eu a estava protegendo como um irmão ou como um
ex-amante? Essa era a questão.
Seu cabelo estava selvagemente despenteado, e, seu vestido, ensopado de bebida.
— Que merda, Greta. Você está toda bagunçada.
Na verdade, ela nunca parecera tão bonita.
Ela riu:
— Uma bagunçada sexy.
— Vamos. Vou te comprar uma roupa nova.
— Não precisa. Só estou um pouco molhada.
Um pouco molhada. Merda. Mantenha sua mente em outra coisa, Elec.
— Não, é claro que precisa. Foi minha culpa.
— Vai secar. Mas te digo uma coisa, se você ganhar alguma coisa hoje à noite, pode
gastar tudo em uma roupa nova para mim em uma dessas lojas caras. Só assim vou te deixar
gastar dinheiro comigo.
Me senti como um idiota, e sabia que não iria embora sem comprar o vestido mais bonito
para ela, só para compensar o que eu tinha feito.
Depois de pegar mais algumas bebidas, disse a ela que era melhor que nos separássemos
enquanto eu jogava pôquer. Havia um bando de caras perambulando pela sala de pôquer, e
eu não queria ter de bater em ninguém, naquela noite. Greta não tinha noção do quanto era
bonita.
Fiquei surpreso quando ela me ouviu e concordou em jogar nas máquinas caça-níqueis
por um tempo.
Quando sentei-me à mesa, meu telefone vibrou.
Por que você se importa se algum dos outros caras der em cima de mim?
Você não deveria se importar.
Merda. Não deveria ser uma surpresa que ela tivesse percebido meu comportamento.
Ela estava certa.
E eu estava sendo egoísta. Eu não tinha medo de algum cara dar em cima dela. O que me
assustava era a possibilidade de ter que assisti-la retribuindo o interesse ou se divertindo com
isso. Ela era solteira, e, eu, não. O que poderia impedi-la? Eu estava enciumado como nunca,
mas não tinha direito de estar. Era algo irracional e errado. Então, eu não respondi à
mensagem, porque não conseguia pensar em uma boa resposta.
Eu não conseguia me concentrar no jogo, e continuei perdendo. Minha mente estava
focada demais na mensagem e em meu comportamento inaceitável. Peguei meu telefone e
fiquei olhando para as fotos de Chelsea: nossa viagem até San Diego, ela e minha mãe
preparando um prato equatoriano, nós dois nos beijando, nosso gato chamado Dublin… o
anel que ela ainda não tinha visto. Tentei voltar minha atenção para o jogo, mas a pergunta
de Greta ainda me consumia. Então, eu enviei uma mensagem de texto, que não era bem uma
resposta, mas apenas a verdade.
Sei que não deveria me preocupar com isso. Mas quando tem a ver com
você, o que eu deveria realmente sentir nunca importa.
Por volta de vinte minutos depois, eu já tinha perdido duzentos dólares, quando ela me
encontrou e esfregou mil dólares em dinheiro na minha cara. Eu nem consegui acreditar que
ela tinha ganhado todo aquele dinheiro em máquinas caça-níqueis.
— Porra, Greta! Parabéns!
Quando abracei-a para parabenizá-la, senti o quão rápido meu coração estava batendo.
Disse a mim mesmo que meu coração estava explodindo por ela ter ganhado, e não por
qualquer outra razão.
Decidimos procurar por algum lugar para comer e optamos por uma churrascaria.
Durante toda a refeição, eu fiquei obcecado por uma estranha mensagem que recebi um
pouco mais cedo, de um número desconhecido. Era o número vinte e dois, e tinha chegado
exatamente às duas e vinte e dois da tarde. O aniversário de Randy era em vinte e dois de
Fevereiro. Eu estava convencido de que ele tinha enviado a mensagem, que tinha encontrado
um jeito de me foder lá do além. Então, eu mal toquei na comida.
Greta, por sua vez, não teve problema em comer o meu bife e o dela. Ela afogou a carne
em molho.
Provoquei-a:
— Que tal esse bife cheio de molho?
— Adoro. Faz com que eu me lembre do meu pai. Ele sempre colocava molho em tudo.
Observá-la comer me fez sorrir. Ela não sabia o quanto seu apoio significava, para mim.
Eu já tinha surtado de inúmeras formas diferentes, mas ela ainda estava ali por mim… cheia
de molho espalhado pelo rosto.
Ela viu que eu estava rindo dela.
— O que foi? — Perguntou, com a boca cheia.
Peguei meu guardanapo e o estendi para limpar o canto de sua boca.
— Nada, sua desleixada.
Foi então que me dei conta de que o dia seguinte poderia ser a última vez em que veria
Greta.
Meu corpo inteiro ficou tenso. Aquele dia colocou em voga todos os tipos imagináveis de
sentimentos. Percebi, então, outra coisa: a resposta para a pergunta que ela me enviou por
mensagem mais cedo, a razão para eu me importar que os outros caras dessem em cima dela.
Antes eu conseguira esquecê-la só porque pensei que ela estava feliz e com alguém que a
amava. Tudo em que eu acreditara para superá-la era uma mentira. Perceber isso trouxe
meus sentimentos de volta à superfície, por mais que eu não estivesse pronto para lidar com
eles.
Joguei minha cabeça para trás no sofá e suspirei longamente. Ter aquele
vislumbre de seus pensamentos estava me matando. Eu precisava parar de ler
por mais um tempo, porque uma forte ansiedade começava a surgir para saber
onde aquela história ia parar.
Eu já estava atrasada para a festa de aniversário de trinta anos do meu
amigo, no Club Underground. E eu não podia faltar, porque tinha sido uma
das organizadoras, junto com outros dois colegas.
Decidi tomar um banho, me vestir e levar meu Kindle comigo para ler
sempre que possível enquanto estava fora de casa. O aplicativo mostrava que
só faltava 15% do livro. Supus que não haveria qualquer problema em
terminá-lo em público.
Mas você sabe o que dizem sobre ficar supondo coisas.
A NOITE ESTAVA INESPERADAMENTE QUENTE, ENQUANTO EU ESPERAVA POR UM
táxi na esquina. O vestido vermelho justo que eu estava usando combinava
perfeitamente com o Club Underground, mas eu, provavelmente, deveria ter
pegado uma jaqueta.
Sully me enviou uma mensagem:
Divirta-se!
Tentei convencê-la a ir comigo, mas ela disse que tinha um encontro com
um barbeador elétrico para depilar suas partes femininas. Eu não precisava de
tantos detalhes, especialmente quando, na realidade, não havia nenhuma parte
feminina ali.
Alugamos uma sala privada, com um bar, para a festa. Poderia ser uma
noite épica, se eu não estivesse tão preocupada em finalizar o livro.
Finalmente consegui pegar um táxi.
— Rua West, número 16.
Fechei a porta e não perdi tempo antes de pegar meu Kindle.
Depois que deixamos a churrascaria, meu medo estava em seu extremo. Greta se afastou
para pegar alguns drinques, enquanto eu comprava mais fichas.
Sentei-me à mesa para esperar por ela, quando lágrimas começaram a descer do nada pelo
meu rosto. Não fazia sentido, porque eu não tinha pensado em nada. Parecia, apenas, uma
forma de liberar tudo o que eu vinha guardando para mim. Aquele era o último lugar onde eu
poderia desmoronar. Assim que as lágrimas começaram, não pareciam querer parar.
Como uma forma de me punir, adicionei combustível ao fogo e comecei a focar em
coisas que me faziam me sentir pior. Às vezes, culpava a mim mesmo por ter vindo ao
mundo e tornar a vida de Randy miserável. Eu me perguntava se o casamento dele com
Mami teria durado, se não fosse por mim. Bem lá no fundo, sempre tive esperança de que as
coisas ainda iriam mudar, que nós poderíamos olhar nos olhos um do outro e veríamos algo
além de ódio, e que ele me diria que me amava, mesmo que não soubesse demonstrar.
Isso nunca mais aconteceria.
Levantei meus olhos e vi Greta parada, ali, me observando, enquanto segurava um
drinque em cada mão.
Passei a língua em uma lágrima que tinha caído em meus lábios.
— Não olhe para mim, Greta.
Ela colocou os drinques em cima da mesa, e, imediatamente, me puxou para ela.
Nos braços de Greta, as lágrimas se multiplicaram. Minhas mãos foram parar em suas
costas em uma súplica silenciosa para que ela não se afastasse. Assim, fui me acalmando.
— Odeio isso. Eu não deveria estar chorando por causa dele. Por que estou chorando por
causa dele?
— Porque você o amava.
— Ele me odiava.
― Ele odiava alguma coisa que via em você, e que fazia com que lembrasse de si mesmo.
Mas não te odiava. Não poderia. Só não sabia como ser um pai.
Fiquei surpreso por ela ter chegado tão perto, embora não soubesse meu segredo. Randy
odiava olhar para mim e lembrar-se de Patrick.
— Tem muita coisa que eu não te contei. E a maior merda de todas era que, apesar de
tudo que passamos, eu ainda queria que ele se orgulhasse de mim, algum dia. Queria que ele
me amasse.
Deixei escapar um suspiro, porque nunca tinha admitido aquilo para ninguém.
— Eu sei que sim. — Ela falou, gentilmente.
Olhar em seus olhos fez com que eu me lembrasse que estava olhando para a alma da
primeira pessoa que me fez me sentir amado. Por isso, eu seria eternamente grato a ela.
— O que seria de mim sem você, esta noite?
— Fico feliz por estar com você.
— Eu nunca tinha chorado na frente de ninguém. Nenhuma vez.
— Sempre há uma primeira vez.
— Eu podia fazer uma piada com essa frase. Sabe disso, não sabe?
Rimos juntos. Adorava sua risada.
— Você me faz sentir coisas, Greta. Sempre fez. Quando estou perto de você, seja bom
ou ruim… eu sinto tudo. Às vezes, não lido muito bem com isso, e acabo agindo como um
babaca. Não sei o que há em você, mas, seja o que for, faz com que eu veja quem eu sou de
verdade. No instante em que eu te vi novamente, na casa de Greg, de pé naquele jardim… foi
como se eu não conseguisse mais me esconder ― toquei seu rosto. ― Sei que foi difícil para
você me ver com Chelsea. Sei que ainda gosta de mim. Posso sentir isso, por mais que tente
fingir o contrário.
Foi a coisa mais sincera que eu disse a ela naquela noite. Greta sempre agiu com o
coração, e, por mais que ela estivesse tentando não tornar isso óbvio, seu desconforto a
respeito de Chelsea era evidente, ainda que Chelsea parecesse completamente alheia a isso.
Eu não podia imaginar como iria lidar, se a situação fosse inversa.
Minhas lágrimas finalmente secaram. Enquanto continuávamos presos naquele abraço,
seus lábios estavam implorando para serem beijados. Queria que houvesse uma borracha
mágica, que me permitisse experimentá-los apenas uma vez, e deletar as consequências,
depois. É claro que isso nunca seria possível. Mas eu achava que ninguém mais era
merecedor daqueles lábios, além de mim. Então, olhei para sua boca, querendo beijá-la, mas
sabendo não poder.
Talvez ela conseguisse ler minha mente, e eu acabei assustando-a, pois ela acabou se
afastando, rapidamente, como o diabo foge da cruz.
A única coisa que eu vi, depois disso, foi ela correr em direção à mesa de roleta, jogar
uma quantidade de dinheiro no número vinte e dois, e o resto foi história. Aquela garota
tinha uma sorte danada.
Dezenove mil dólares. Eu não sabia o que tinha me chocado mais: ela ter ganho uma
segunda vez em tão pouco tempo, ou ela ter dado uma guinada na minha noite com aquela
jogada maravilhosa no número vinte e dois. A mensagem misteriosa não me preocupava
mais. Ao invés disso, eu estava novamente feliz por estar ali, e prometi que, pelo resto da
noite, naquelas últimas horas juntos, viveríamos os melhores momentos de nossas vidas.
Ela me fez pegar mil dólares em dinheiro. Eu não tinha intenção de gastá-los. Fiquei
usando meu dinheiro o tempo todo. Não me importaria em gastar cada centavo que tinha
com ela; afinal, nunca poderia lhe pagar o suficiente por ela estar ali, comigo, naquela noite.
Não fiz nada para merecer aquilo.
Acabamos em uma loja de roupas do cassino, e foi ali que o clima da noite mudou,
definitivamente, até o final da viagem.
Escolhi um vestido que eu achei que ficaria perfeito nela, e, então, ela entrou no provador
para experimentá-lo. Fiquei brincando com meu telefone para me distrair das imagens dela
se despindo a alguns metros de distância.
Ela estava demorando muito, então perguntei: — Está tudo bem aí?
Ela disse que o zíper estava preso. Sem pensar duas vezes, abri a cortina e entrei no
provador.
— Vem aqui.
No instante em que olhei para suas costas maravilhosas, naquele lindo vestido, percebi
que ter me colocado naquela posição tinha sido um erro terrível. Meus dedos coçavam ao
segurar seu cabelo gentilmente, movendo-o por sua pele sedosa para a frente de seus ombros.
Enquanto eu puxava o tecido, sua respiração começou a acelerar. Saber que era o meu
toque que estava provocando isso fez com que eu respirasse mais rápido, também. Eu estava
perdendo o controle. Pensamentos libertinos invadiram meu cérebro. Um, em particular,
tinha a ver com rasgar o vestido violentamente e pegá-la por trás, enquanto observava seu
rosto refletido no espelho.
Eram apenas pensamentos, eu disse a mim mesmo. Eu precisava focar na tarefa que tinha
em mãos.
— Você não estava brincando ― eu disse, tentando consertar o fecho para que
pudéssemos sair logo dali. Eu, finalmente, terminei: — Consegui.
— Obrigada.
Eu não precisava me abaixar alguns centímetros, mas não podia resistir a um vislumbre
da pele sedosa de suas costas.
— Tudo resolvido.
Isso fez com que eu me lembrasse de outra parte de seu corpo que ela me entregou por
inteiro uma vez, em uma noite. Pode ter sido apenas uma vez, mas, dentro de mim, eu sabia
que uma parte dela ainda me pertencia. Sua linguagem corporal provava isso, e me fazia
imaginar se eu tinha sido a primeira e última pessoa a lhe proporcionar verdadeiro prazer.
Minhas mãos ainda não tinham soltado seus ombros. Ela estava olhando para baixo, e eu
sabia que seus sentimentos também estavam em guerra. Era a primeira vez, desde nosso
reencontro, que eu realmente compreendia o quanto Greta me desejava sexualmente. Nosso
desejo de um pelo outro era tão poderoso, dentro daquele pequeno espaço, que eu quase
podia senti-lo no ar.
Continuei olhando para ela através do espelho, até que ela olhasse para cima e seus olhos
encontrassem os meus. Quando ela se virou de repente, eu não me sentia preparado. Nossos
rostos estavam a centímetros de distância, e eu nunca desejei beijá-la tanto quanto naquele
momento. Meus olhos foram parar em sua boca, e eu contei até dez, mentalmente, para me
manter sob controle. A contagem não estava funcionando, então fechei meus olhos.
Quando eu os abri, já não sentia mais a urgência em beijá-la. Estava muito pior. Graças a
Deus ela não podia ler minha mente, porque a imagem daquela maldita boca linda estava tão
clara na minha cabeça que eu senti que estava tendo uma ereção, e torcia para que ela não
olhasse para baixo.
Eu precisava sair dali, mas não conseguia me mover.
Chelsea.
Chelsea.
Chelsea.
Você ama Chelsea.
Não havia qualquer problema em sentir aquelas coisas, contanto que não fizesse nada a
respeito, disse a mim mesmo. Era natural. Não há como impedir os desejos do corpo, a não
ser que você os coloque em prática. E eu merecia um troféu bem grande e brilhante pela
resistência.
A vendedora da loja surgiu: — Está tudo bem aí?
— Sim! — Greta berrou.
Mas eu sabia, só de ouvir sua voz, que não estava. Aquilo estava confundindo sua mente,
e eu amaldiçoaria a mim mesmo se ela terminasse a noite magoada.
Por mais que não verbalizássemos o que estava acontecendo conosco, instintivamente, eu
disse: — Me desculpe.
Então, fechei a cortina e saí.
Decidimos passar a noite no hotel, já que tínhamos bebido. Depois que nós dois nos
separamos para tomar banho, antes de seguirmos para a boate do cassino, fui encontrar Greta
em seu quarto. Quando ela abriu a porta, vê-la naquele vestido quase me derrubou
novamente. Seu cabelo ainda estava encharcado, mas ela estava linda.
— Uau! — Respirei fundo, sem intenção de dizer isso em voz alta. A palavra saiu da
minha boca antes que meu cérebro pudesse me avisar de que eu não deveria soar tão óbvio:
― Você, definitivamente, não parece mais uma senhora de luto.
— Com o que eu me pareço, então?
— Você parece corada, na verdade. Está se sentindo bem?
Com toda sinceridade, parecia que ela tinha sido fodida com vontade, e isso fez com que
meu pau doesse.
— Estou bem.
— Tem certeza?
— Sim.
— Foi bom tomar um banho. — Eu disse.
Isso incluía o orgasmo que tive, pensando em um final alternativo para nosso encontro no
provador.
— Concordo com você. — Ela disse.
— Você precisa secar o cabelo?
— Sim. Me dê um minuto.
Liguei a TV na ESPN e deitei-me na cama.
— Estou pronta.
Seu cabelo estava preso, seu pescoço estava exposto em toda sua glória, e eu sabia que
estava encrencado pelo resto da noite.
Dei um pulo e desliguei a televisão.
Caminhamos pelo corredor, e o cheiro de sabonete de sua pele estava invadindo meus
sentidos. Olhei para ela, querendo demonstrar o quanto ela estava linda ao dizer: — Você
está bonita — quando entramos no elevador, acrescentei: — Gosto de seu cabelo assim.
— Gosta?
— Sim. Era assim que ele estava na noite em que te conheci.
— Estou surpresa por se lembrar disso.
Eu não tinha esquecido de nada.
Nem. Um. Detalhe.
Começamos a nos lembrar de como eu costumava torturá-la e, em um dado momento, ela
disse: — Bem, você não era tão mau quanto queria que eu acreditasse ser.
Respondi: — E você não era assim tão inocente.
O tom em minha voz não escondia ao que estava me referindo. Olhamos um para o outro
com uma silenciosa compreensão de que aquela conversa deveria terminar ali.
Se eu pensava que aquela noite iria ficar mais fácil quando nos distraíssemos na boate, eu
estava errado.
Amo você.
Eu considerava um milagre que aquela noite tivesse terminado sem que qualquer merda
acontecesse. Greta acabou me enviando uma mensagem por estar com insônia.
Imediatamente, liguei para ela, e conversamos até que ela adormecesse, depois das quatro da
manhã. Fiquei no telefone ouvindo os sons de sua respiração.
A ida para casa na manhã seguinte foi ainda mais dolorosa. Uma serra elétrica não seria
suficiente para cortar a tensão que havia no ar.
Greta ia me levar ao aeroporto. Acabamos parando na casa da mãe dela, primeiro. Estar
de volta àquele lugar, one tudo começou, foi mais difícil do que eu pensei que seria.
Greta me serviu um pouco de seu sorvete feito em casa. Era nostálgico compartilhar a
mesma tigela. Por alguma razão, de tudo o que vivemos durante nossa pequena aventura,
aquele momento significou muito para mim, e funcionou como um adeus definitivo.
Tive que colocar meu Kindle de lado quando Hetty entrou no banheiro. Ela
devia pensar que eu era patética.
— Aí está você. Estávamos te procurando.
— Ah, perdi a noção do tempo. Você ainda não tinha chegado, então vim
aqui para relaxar um pouco antes de a festa começar — abracei-a. – Feliz
aniversário, querida.
— Obrigada. Você estava lendo?
— Sim — ri e acenei com a mão, despretensiosamente. — Você sabe
como é começar um livro e não conseguir largá-lo.
— É erótico?
Tive de pensar a respeito.
— Não exatamente.
— Tudo bem. Ok, bem, vamos lá! Já está quase todo mundo aqui.
Eu a segui até a sala e, imediatamente, corri para o bar para pegar outra
vodka com soda. Prometi não pegar o livro por, pelo menos, uma hora.
Então, dei uma caminhada pelo salão e me vi olhando para as pessoas sem
ouvir o que elas estavam dizendo. Suas bocas se moviam, mas meu cérebro
não processava; minha mente ainda estava com Elec.
Assim que a hora que impus a mim mesma terminou, corri para o banheiro.
Meus amigos estavam, provavelmente, pensando que eu estava usando
cocaína, mas eu precisava terminar o livro, já que só faltava uma pequena
porcentagem. Daquela forma, eu conseguiria continuar a noite sem qualquer
preocupação.
Respirei fundo.
Greta não fez contato visual comigo durante a ida ao aeroporto. Compartilhamos tantos
momentos especiais, mas ela não conseguia nem olhar para mim. Foi assim que tudo ficou,
mas eu sequer podia culpá-la.
Eu estava desmoronando e não sabia o que dizer a ela. Nós, praticamente, fomos do céu
ao inferno juntos naquelas últimas vinte e quatro horas, e, então, eu a estava abandonando…
novamente.
Quando saímos do carro, o vento estava selvagem. Quase parecia a cena de um filme.
Aquela poderia ter sido a parte triste, na qual toca uma música dramática.
O som trovejante de aviões decolando tornava ainda mais difícil articular o que eu queria
dizer. O que falar para alguém a quem você está abandonando pela segunda vez?
Ela se segurou, mas estava olhando para qualquer lugar, menos para meu rosto.
Finalmente, eu disse: — Olhe para mim.
Greta negou com a cabeça repetidamente, e uma lágrima caiu por seu rosto.
Era oficial, agora. Eu era a escória do universo.
Meus próprios olhos começaram a se encher de água, porque eu não conseguia suportar a
dor que ela estava sentindo. Até porque eu não podia fazer a única coisa que queria: ficar.
Ela estava acenando para mim: — Está tudo bem. Vá. Por favor. Mande mensagens, se
quiser. É só que… eu não vou conseguir dizer adeus… Não para você.
Ela estava certa. Já que aquilo não ia terminar bem, por que prolongar?
— Ok.
Ela me surpreendeu ao se inclinar e me dar um beijo rápido no rosto. Então, correu de
volta para o carro e fechou a porta antes que eu pudesse processar isso.
Ainda sentia resquícios de sua saliva em minha bochecha enquanto caminhava para a
entrada do aeroporto, me sentindo quase tonto.
Queria olhar para ela uma última vez, então, virei-me em sua direção. Grande erro.
Através do vidro, vi que sua cabeça estava encostada no volante. Imediatamente, corri para
fora do local, até o carro, e bati na janela. Ela se recusou a olhar para mim e deu a partida,
então, eu bati com mais força. Ela, então, se virou e começou a secar as lágrimas, saindo do
carro.
— Esqueceu alguma coisa?
Antes que eu percebesse, minha boca estava sobre a dela. Meu coração estava tomando as
rédeas, àquela altura. Não abri os lábios, porque estava convencido de que seria inocente, já
que eu não sentiria seu gosto. Foi um beijo firme e desesperado, e eu nem sabia dizer o que
significava.
Eu me sentia vazio e confuso.
Ela finalizou.
— Saia daqui. Você vai perder o seu voo.
Minhas mãos ainda estavam em seu rosto.
— Eu nunca superei ter te magoado na primeira vez, mas, fazer isso duas vezes… Pode
acreditar em mim quando eu digo que era a última coisa que eu gostaria de fazer em toda
minha vida.
— Por que voltou logo agora?
— Eu me virei e te vi chorando. Que tipo de babaca sem coração seria capaz de te deixar
assim?
— Bem, não era para você ter visto isso. Você deveria ter continuado a andar, porque,
agora, está tornando tudo muito pior.
— Eu não queria que aquela fosse minha última visão de você.
— Se você realmente a ama, não deveria ter me beijado. — Ela gritou.
— Eu a amo. — Soou extremamente defensivo. Olhei para o céu, porque precisava
pensar por um segundo.
Como explicar a descoberta que fiz na pista de dança?
— Você quer saber a verdade? Merda, eu amo você também. Acho que não tinha ideia do
quanto, até te ver novamente.
— Você ama as duas? Isso é uma baita confusão, Elec.
— Você sempre me disse que prefere a sinceridade. Estou te dando isso. Me desculpe se
a verdade é uma maldita confusão.
— Bem, ela tem a vantagem de morar com você. Você vai me esquecer, logo, logo. Isso
vai simplificar as coisas.
Ela estava entrando de novo no carro.
— Greta… Não vá embora assim.
— Não sou eu que estou indo embora.
Ai!
Ela saiu dali e me deixou sozinho, o que eu merecia, porque, sem nenhuma intenção, eu
tinha feito a mesma coisa com ela… Duas vezes, na verdade.
Eu estava, mesmo, tentado a me jogar em um táxi e segui-la. Mas entrei no avião, de
volta para a Califórnia, porque, pela primeira vez na minha vida, eu precisava fazer a coisa
certa.
Merda.
Eu estava chorando, e tinha de voltar para perto dos meus amigos.
Devastada, estava determinada a fazer com que o resto daquela noite me
fizesse esquecê-lo de uma vez por todas.
Me ajude a afogar minhas mágoas, foi o que ele me disse, no cassino.
Bem, era isso o que eu precisava, naquele momento.
Meus amigos estavam na pista de dança e comemoraram, quando me
viram. Eles me puxaram, e dançamos juntos por pelo menos uma hora.
Quanto mais eu pensava em Elec, mais rápido e mais forte eu balançava meus
quadris e minha cabeça, até um ponto em que meu cabelo deveria estar com
aspecto de ter sido eletrocutado. Perdendo-me na música, não queria parar
para sentir todas as emoções dolorosas causadas por sua história. Eu,
certamente, não queria aceitar que a personagem Greta Hansen tinha sido
apagada de sua vida.
Meia hora depois, o telefone vibrou.
Greta: Porque não queria me magoar. O resto não tem nada a ver comigo.
Elec: Tem certeza disso?
Greta: O que está querendo dizer?
Elec: Pare de balançar a bunda por cinco minutos, e talvez eu te conte.
O quê?
Antes que eu pudesse me virar, senti mãos fortes segurando as laterais do
meu corpo por trás, e parei de me mover, subitamente. Ele começou a descer
devagar por minha cintura e parou no meu traseiro com muita segurança.
Aquela pressão. Aquele cheiro. A forma como meu corpo respondeu
imediatamente.
Não. Não podia ser.
VIREI-ME E VI SEUS OLHOS ENEVOADOS, INCANDESCENTES, MESMO NA
escuridão da boate. As batidas do meu coração estavam intensas. Era como se
estivesse duelando com o grave da música. Tudo ao meu redor pareceu
desaparecer, quando compreendi que Elec estava bem na minha frente,
segurando-me, como se soubesse que sua presença seria capaz de me fazer
cambalear, e que eu precisaria de equilíbrio.
Eu estava tão nervosa que minha primeira pergunta foi muito idiota, e
minha voz tremeu quando eu a fiz.
— O que aconteceu com seus óculos?
— Lentes de contato.
— Ah.
Finalmente, o choque começou a desaparecer por tempo suficiente para
que eu pudesse pensar em perguntar alguma coisa que fizesse sentido.
— Eu tenho um milhão de perguntas. Como chegou aqui? Como me
encontrou? Como…
— Cale a boca, Greta.
Sua boca quente envelopou meus lábios, e, abruptamente, interrompeu
qualquer questionamento. Ele me devorou com um abandono imprudente. Se
ainda houvesse qualquer dúvida a respeito de como as coisas estavam entre
nós, o sentimento possessivo de seu beijo, a forma como ele pressionava seu
corpo inteiro contra o meu, a teriam aniquilado.
Sem ter de usar palavras, seu beijo falou muito mais. Sua língua se
enroscava na minha, os sons guturais que saíam de sua garganta enquanto ele
fazia isso provavam, pela primeira vez, desde que o conheci, que ele era meu.
Todas as reservas do passado, cada resquício do que vinha nos impedindo de
ficar juntos, tinham desaparecido.
Eu não conhecia toda a história até o ponto em que ele chegou naquele
lugar, mas eu não tinha certeza de se importava.
Meus dedos percorreram seu cabelo desesperadamente, enquanto eu o
puxava mais para mim.
Nunca mais me abandone, Elec.
Ainda estávamos em nosso pequeno mundinho, apesar das pessoas ao
nosso redor, esbarrando na gente. Ele suspirou de encontro a meus lábios, sua
testa colada à minha.
— Eu fiquei esperando você terminar de ler o livro para me aproximar.
Esse era o plano.
— Você estava em Nova York durante todo esse tempo?
— Eu já estava esperando em Nova York quando o enviei.
— Ah, meu Deus! — Enterrei meu rosto em seu peito, e saboreei o cheiro
de seus cigarros. Ergui meus olhos em sua direção e tive de fazer a pergunta,
mesmo que parecesse óbvio: – Você terminou com ela?
Ele assentiu, com seu rosto muito próximo do meu.
Continuei: — Mas, no final do livro… Você escreveu que estava fazendo a
coisa certa. Eu pensei…
Ele me interrompeu com outro beijo, e disse: — Imaginei que você ia
acreditar nisso. Mas a coisa certa… era admitir que eu não poderia amá-la
completamente, se meu coração batia mais rápido por outra pessoa – suas
mãos tocaram meu rosto. – Meu coração não calou a boca desde que te vi. em
pé, naquele jardim. Eu, finalmente, o ouvi. Precisei de um tempo para clarear
minhas ideias, o suficiente para entender o que ele queria.
Eu tinha certeza de que deveria ser uma longa história, de que terminar as
coisas com Chelsea não deveria ter sido fácil para ele. Sabia que ele a amava
de verdade, e que me contaria tudo em seu devido tempo, mas aquele não era
o momento para isso.
Como se lesse minha mente, ele disse: — Prometo que vou te contar tudo o
que aconteceu, mas não agora, ok? Só quero ficar com você.
— Ok.
Coloquei meus braços ao redor dele, e deixei escapar um suspiro, tão
intenso que qualquer um poderia pensar que eu o vinha segurando há sete
anos. E, talvez, fosse verdade. Nos beijamos como se nossa vida dependesse
disso, não parando para respirar pelo tempo de três músicas consecutivas. Eu
tinha certeza de que meus amigos estavam nos vendo, mas não conseguia
tirar meus olhos dele para checar suas reações. Eles, provavelmente, estavam
pensando que era uma ficada casual, e eu teria de dar muitas explicações no
trabalho. Pressionei meu corpo contra o dele, e pude sentir sua ereção de
encontro ao seu jeans. Estávamos praticamente fazendo amor na pista de
dança.
Isso era surreal.
Ele falou ao meu ouvido, me causando arrepios: — Você me quer, Greta?
— Sim.
— Confia em mim?
— Confio.
— Preciso que me deixe tê-la agora.
— Na boate?
Ele sorriu bem perto da minha boca.
— Queria que você terminasse de ler, para que soubesse de tudo, antes de
transar comigo. Tenho vagado por essa cidade há três dias, só pensando em
ficar com você. Seu apartamento é muito longe daqui. Não posso mais
esperar.
— Aonde podemos ir? — Perguntei.
— Não me importa, mas preciso resolver isso antes que te agarre, aqui
mesmo, na pista de dança — ele segurou minha mão. — Venha.
Ele entrelaçou seus dedos nos meus e me guiou através do ar pesado e
úmido da boate. Todos os pelos do meu corpo se eriçaram. O que estávamos
fazendo parecia perigoso. Elec era um homem feito, agora. Quando fizemos
sexo pela última vez, ele era apenas um menino. Eu tenho certeza de que ele
tinha ficado ainda melhor, com o passar dos anos, e eu não tinha certeza de se
estava preparada para isso. Já fazia algum tempo desde a última vez que
havia ficado com alguém. Ele ia perceber isso.
Havia uma porta que dava para um salão dos fundos, mas, quando Elec
tentou abrir, estava trancada. Ele olhou para mim, com um sorriso que me
deu calafrios.
— Você disse que confiava em mim, não disse?
— Sim.
— Espere aqui.
Ele abriu a porta dos fundos, que mais parecia uma saída de emergência, e
saiu, depois voltou até o ponto onde eu estava esperando.
— Quero te dar uma escolha, dependendo de seu desejo.
— Ok.
— Podemos procurar um motel, para fazer amor em uma cama, ou…
— Ok. Ou?
— Podemos ir lá fora agora e foder naquele beco.
Eu nunca tinha sentido os músculos do meu corpo tão contraídos, ansiosos
por algo. Meu corpo tinha, claramente, escolhido por mim, desejando se
render a ele completamente. Eu precisava daquilo tanto quanto ele. Queria
muito, e queria naquele momento.
— Quero a segunda opção.
— Boa escolha.
Ele abriu a porta e me levou para fora. O beco estava deserto. Uma fina
camada de névoa cobria o ar. Caminhamos um pouquinho, até que chegamos
a uma espécie de muro escondido.
— Ninguém vai nos ver, aqui — ele disse, enquanto, gentilmente, me
encostava na parede de tijolos. — Estou desesperado para te tirar da zona de
conforto.
Minha respiração estava pesada de excitação, sem saber exatamente o que
ele iria fazer comigo. Eu só sabia que não ia pará-lo. Estava completamente
cega. E tremendo, um pouco.
— Está nervosa? Não tenha medo.
— Só estou excitada. Já faz algum tempo.
— Seu corpo vai se lembrar de mim.
Elec puxou as alças do meu vestido para baixo, para que meus seios
ficassem expostos. Gentilmente, ele puxou todo meu cabelo para trás antes
de, não tão gentilmente, segurar meu pescoço. Era bom. Depois, abaixou sua
boca até ele, me mordendo.
— Esse maldito pescoço… foi quase a morte para mim… É a coisa que
mais gosto, no mundo inteiro — disse, enquanto o sugava e gemia de
encontro a ele, vibrando em minha pele. — Quase posso sentir o cheiro do
quanto você me quer, Greta — ele manteve uma mão em meu pescoço, e,
suavemente, beliscou meu mamilo com a outra. — Veja como eles estão
duros. Acho que sempre vi seus mamilos enrijecidos como aço, perto de
mim. E eu queria que você pudesse ver seu próprio rosto. Mesmo no escuro,
consigo ver o quanto está corada. Fico excitado em saber que causo esse tipo
de efeito em você. Quero que saiba que eu nunca quis tanto algo quanto
reivindicar cada centímetro de você. E vou fazer isso agora. Ok?
Assenti, tão excitada que mal conseguia respirar. Enfiei meus dedos dentro
das ondas negras e revoltas de seus cabelos, enquanto ele trilhava um
caminho de beijos até chegar na minha boca. Saboreei o doce gosto de sua
respiração, e o arranhar de sua barba em meu rosto. Não havia nada de
delicado em estar com Elec, mesmo quando ele agia de forma gentil. Passei
minha língua por seu piercing labial, e ele gemeu quando eu o puxei devagar.
Nunca me cansaria de sua boca. Eu a queria em todo meu corpo.
Senti umidade se acumulando entre minhas pernas, enquanto ele se
ajoelhava no concreto para erguer meu vestido e puxar minha calcinha para
baixo, bem devagar. Ele olhou para mim, mostrando seus lindos dentes.
— Você não vai precisar disso aqui – ele sorriu, e acrescentou: — por pelo
menos uma semana. — Com isso, colocou minha calcinha em seu bolso.
Minhas pernas estavam trêmulas.
Ele se levantou devagar, e a sequência de eventos seguintes foi nada mais
do que uma perfeita coreografia de provocações eróticas. Cada som, cada
movimento era mais sexy do que o anterior: ele tirando o cinto, abrindo o
zíper, seus dentes rasgando a embalagem da camisinha, enquanto olhava para
mim, o som da borracha se espalhando por seu belo pênis, que já começava a
umedecer seu piercing. Eu pulsava de desejo.
Seus olhos se tornaram um pouco sombrios, atingindo uma tonalidade de
carvão. Mantendo seu jeans, ele me ergueu do chão e entrelaçou minhas
pernas em sua cintura, me encostando na parede de tijolos.
— Me avise, se for intenso demais. — Ele disse, com aspereza.
— Não vai…
Ah!
Ele me penetrou em uma investida como uma punhalada. Colocou a mão
atrás da minha cabeça como um escudo, porque percebeu que quase me
causou uma concussão.
Sua boca permaneceu em meu pescoço, me mordendo gentilmente
enquanto me fodia. O calor de seu pênis era enlouquecedor. Cada movimento
era ainda mais forte do que o anterior, com apenas um segundo de diferença.
Ele gemia alto com cada investida. Alguém ia nos pegar em flagrante.
Aquele era o sexo mais selvagem da minha vida, perdendo, apenas, para
aquela vez em que ele me pegou no chão do meu quarto, sete anos atrás. Eu
já não fazia sexo há quase dois anos, e não poderia imaginar com que
facilidade meu corpo se acostumaria com ele, apesar de ele ser tão grande.
Acho que já fiquei molhada e pronta para ele desde quando o vi naquele
jardim.
Elec continuou a me foder, com raiva e de forma desenfreada.
— Ninguém nunca deveria ter usufruído disso aqui, além de mim — ele
disse, beijando a pele do meu pescoço. Mais uma investida. — Eu te
abandonei – investiu com mais força. — Te joguei fora.
Comecei a mover meus lábios, me aproximando ainda mais.
— Então me pegue de volta. Me foda com mais força.
Minhas palavras quase o desestabilizaram, mas ele aceitou o desafio. Ele
me virou, deixando suas próprias costas coladas na parede, para que não
tivesse mais que proteger minha cabeça com sua mão. Ele reposicionou
minhas pernas ao redor dele e colocou a mão ao redor do meu pescoço,
usando a outra para me segurar. Olhou em meus olhos enquanto entrava e
saía de mim, enquanto me asfixiava levemente, só ao ponto de ser prazeroso.
Sabendo o quanto isso o excitava me enlouquecia.
Foi uma sorte ninguém ter aparecido. Ainda estávamos sozinhos na névoa
da noite. Os únicos sons ao redor eram os do encontro de nossas peles, o
tilintar da fivela de seu cinto e nossas respirações.
Estendi a mão para levantar sua camisa, o suficiente para que eu pudesse
ver seu abdômen. Estava ainda mais rijo do que eu me lembrava, e parecia
esculpido. Gostaria de podermos estar despidos, pele com pele, mas ficar
completamente nus, ali, poderia ser um risco.
— Não se preocupe. Mais tarde tiraremos tudo – ele disse. — Vamos fazer
tudo, hoje à noite.
Um orgasmo começou a rodopiar dentro de mim, de repente. Eu não
precisei dizer nada. Era incrível como ele conhecia meu corpo.
— Você vai gozar — ele disse. — Me lembro muito bem. Olhe para mim.
Ele segurou meu pescoço e olhou em meus olhos, enquanto movimentava
os quadris, me fodendo com o máximo de força que conseguia, até
estremecer.
Levei alguns minutos para acalmar minha respiração. Ele continuou a
segurar meu corpo, enquanto beijava meu pescoço.
— Eu te amo, Greta.
Eu o amava tanto que não conseguia nem formar as palavras. Tantos
sentimentos tinham vindo à tona, mas o medo sobressaía a todos.
— Não me deixe, Elec. Não volte para ela. – Eu disse.
Ele me abraçou com mais força.
— Não vou, amor — ele disse, erguendo meu rosto para que olhasse em
seus olhos. – Olhe para mim. Você nunca mais vai precisar se preocupar com
isso. Não vou a lugar nenhum. Sei que vou ter de provar a você, mas vou
fazer isso.
Ele me colocou no chão e abotoou as calças, antes de me erguer no colo
outra vez. Seus pés rangiam contra o cascalho, enquanto ele me carregava
nos braços até a calçada mais próxima, onde pegamos um táxi.
Parecia um sonho.
No banco de trás, encostei a cabeça em seu peito. Seu coração estava
batendo acelerado de encontro à minha orelha, enquanto ele, gentilmente,
acariciava meu cabelo durante todo o caminho até o meu apartamento.
Quando entramos no meu prédio, suas mão estavam em meus ombros,
enquanto ele beijava minha nuca até chegarmos ao andar de cima.
Atrapalhei-me com as chaves e, uma vez lá dentro, senti a súbita urgência
de fazer algo que nunca tinha feito antes.
Encurralei-o contra a porta, que tinha acabado de ser fechada, e levantei
sua camisa. A expressão em seus olhos era um misto de fome, choque e
divertimento por conta de minha ousadia.
Minha língua desenhou círculos ao redor do seu piercing no mamilo, e
lambeu cada músculo de seu peito, bem abaixo dos trevos tatuados. Ajoelhei-
me, e, quando ele percebeu o que eu estava prestes a fazer, sua respiração
começou a ficar mais pesada.
— Puta merda! — Ele disse, com a voz rouca. — Isso está mesmo
acontecendo?
Ele não perdeu tempo e arrancou o cinto, jogando-o no chão. Abaixei sua
cueca e ergui seu pênis, perdendo um segundo para maravilhar-me com seu
diâmetro, seu comprimento e o calor que emanava dele, além da pequena
argola em sua ponta. Fantasiei sobre chupá-lo mais do que qualquer outra
coisa, porque nunca tinha feito isso, antes.
Elec pegou um punhado do meu cabelo e enrolou em seus dedos.
— Não sei quantas vezes sonhei em foder essa sua boca linda. Tem certeza
de que quer fazer isso?
Ao invés de responder, passei a língua pela argola de metal e saboreei o
gosto salgado de sua umidade, enquando acariciava seu pênis. A cada
movimento, a cada lambida, ele ficava mais molhado.
Seu abdômen se contraiu e sua respiração estava incerta.
— Merda. Você está me provocando.
Parei e lambi meus lábios enquanto olhava para ele, que fechou os olhos
em resposta. Elec não conseguia mais se controlar, mas, agora, estava sob
meu controle, o que me excitava.
Seus olhos ainda estavam fechados quando o enfiei na minha boca pela
primeira vez. Os sons de prazer que emanavam dele eram tão sexy que só me
encorajavam a ir mais fundo e mais rápido. Adorava senti-lo preenchendo
minha boca. Não conseguia me cansar daquilo, e chupava cada vez mais
forte. Eu estava tão molhada que poderia ter gozado facilmente, se começasse
a me tocar.
Ele enfiou os dedos no meu cabelo e puxou minha cabeça para trás.
— Pare. Você vai me fazer perder a cabeça, e eu quero gozar dentro de
você.
Chupei-o com mais força.
— Não. — Eu disse, querendo que ele gozasse dentro da minha boca.
Sua respiração estava incerta.
— Por acaso você está tomando pílula?
Assenti.
— Tomo há anos. Regula meu ciclo.
Ele saiu de dentro da minha boca.
— Fique de pé e vire-se.
Meu coração estava batendo forte, quando ele levantou meu vestido por
cima da minha cabeça. Agarrou meus quadris e mergulhou dentro de mim.
Sem camisinha, a sensação quente e molhada de sua pele dentro de mim,
além do toque de seu piercing de metal, era muito para suportar. Cada
sentimento foi aprimorado.
Suas mãos agarravam minha bunda enquanto ele me fodia. Eu podia ouvir
o quão molhada eu estava, enquanto ele entrava e saía. Estava pronta para
gozar a qualquer momento, completamente excitada depois de chupá-lo e de
ele, finalmente, estar me pegando nua.
— Nunca mais vou usar camisinha com você — ele suspirou. — Isso aqui
é tão bom.
Eu estava prestes a gozar.
— Goze dentro de mim, agora.
Ele começou a investir com tanta força, que eu tinha certeza que haveria
hematomas no meu traseiro no dia seguinte.
— Porra… Greta… Ah! — Ele continuou se movendo, entrando e saindo,
até que não houvesse mais nada. E, mesmo depois, ele continuou a me foder
mais devagar, por um tempo.
Elec, finalmente, saiu de mim e me virou para beijá-lo. Estava rindo.
— Nem conseguimos passar da porta da frente. Percebeu isso?
— Acho que eu faria de novo.
— Bom, porque não estou nem perto de terminar. — Ele disse, me
arrastando até o quarto, enquanto suas calças caíam da cintura.
Alguns meses depois, era Natal em Nova York. Era minha época favorita
do ano, porque muitas luzes e decorações especiais adornavam a cidade.
Aquele Natal não tinha comparação com nenhum outro, porque eu e Elec o
estávamos passando juntos e apaixonados, pela primeira vez.
Fomos para São Francisco para passar o feriado com Pilar. Elec sugeriu
que eu falasse com ela ao telefone para tirar a primeira má impressão. Ela foi
surpreendentemente cordial comigo, e me fez me sentir muito melhor a
respeito da viagem. As coisas nunca estiveram mais perfeitas entre nós, mas
eu tinha certeza que ela preferiria que ele estivesse com Chelsea. Pelo menos,
com a morte de Randy e com o passar do tempo, ela aprenderia a me aceitar.
Alguns dias antes de acertarmos nosso voo, Elec e eu fomos convidados
para uma festa de Natal na casa de Sully.
O apartamento de Sully era classicamente nova-iorquino: muitos móveis
em madeira escura e uma estante de livros embutida, com títulos que iam do
erótico à história militar. Ela tinha pendurado viscos artificiais por todo o
apartamento. Havia, até, um banner que dizia: “Beba, coma e seja feliz”. Ela,
ainda, tinha arrumado uma mesa com ovos de codorna e aperitivos variados.
Eu e Elec estávamos nos sentindo muito satisfeitos, depois de algumas
canecas de gemada.
Ele estava muito sexy, com um gorro de Papai Noel, quando me levou para
um canto da sala.
Puxei a bolinha de seu gorro.
— Você sabia que é o Papai Noel mais sexy que eu já vi?
Ele passou as mãos pela minha cintura.
— Sorte a sua que vou aparecer mais de uma vez ao ano.
Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço e me inclinei em sua
direção.
— Vou deixar mais do que meias na janela, para quando você chegar.
— Eu não me importaria em me trancar com você naquele banheiro agora.
— Ele disse.
Então, foi o que fizemos.
Quando saímos de lá, era hora de abrir os presentes. Sully entregou o de
Elec primeiro. Eles tinham se tornado muito próximos e, constantemente,
zombavam um do outro.
— Ah, Sully, não precisava. — A casa inteira caiu na gargalhada quando
Elec mostrou uma camiseta com a foto na qual ele estava sem camisa,
segurando a plaquinha “cara de babaca”. Tinha, também, uma caneca e um
mouse pad com a mesma imagem.
Sully riu.
— Com esse negócio do livro, não quero que esqueça suas raízes.
Elec aceitou seu presente verdadeiro, que era um vale da Starbucks, onde
ele passava a maior parte do tempo escrevendo, depois do trabalho.
Recentemente, tínhamos conseguido um contrato para a publicação de Lucky
e o menino e, também, para uma sequência na qual ele vinha trabalhando. Ele
ainda trabalhava na escola, durante o dia.
O presente de Elec para mim foi o último a ser entregue. Eu estava
surpresa por ele ter comprado algo para mim, já que tínhamos combinado de
trocar presentes na Califórnia. Vamos dizer que, quando eu abri a caixa, fez
todo sentido. Não era um presente de verdade, era a última calcinha que ele
tinha roubado de mim todos aqueles anos atrás. Era uma azul turquesa. Eu me
lembrava dela muito bem, então balancei a cabeça.
— Não acredito que guardou isso todos esses anos.
— Foi a lembrança que guardei de você..
Sussurrei em seu ouvido.
— Você tem sorte que minha bunda ainda cabe nela.
Ele também sussurrou: — Acho que sou ainda mais sortudo por eu caber
dentro da sua bunda.
Dei um leve soquinho em seu braço.
— Você é muito levado. Mas eu adoro isso.
— Você ainda não leu o cartão. — Ele disse.
Então eu o abri. Tinha uma foto de um casal de velhinhos se beijando sob
uma árvore de Natal. Era um daqueles cartões em branco, onde você podia
escrever sua própria mensagem lá dentro.
Am merry.5
— Eu não sabia o que era amor até conhecer você, Greta. Não só como
dar, mas, também, como receber. Eu te amo muito. Por favor, diga que vai se
casar comigo.
Cobri meu rosto em choque.
— Eu vou. Sim. Sim!
Todos na sala bateram palmas. Sully já devia saber de tudo, pois uma rolha
de champanhe pulou no ar.
Quando Elec colocou o anel no meu dedo, cheguei a ofegar.
— Elec, este é o anel mais lindo que eu já vi, mas deve ter sido muito caro.
O anel tinha, pelo menos, dois quilates, e havia um conjunto de pequenas
pedrinhas, ornadas com ouro e platina.
Ele se levantou e encostou o nariz no meu.
— Foi esse anel que Patrick deu a Pilar, muitos anos atrás. Ele não tinha
problemas com gastar dinheiro. Mami parou de usá-lo, depois da morte de
Patrick, mas não quis se desfazer dele. Ela o guardou por todos esses anos.
Eu nunca o tinha visto, mas ela me mostrou, antes de eu me mudar para cá.
Ela o deu para mim, mas eu insisti em pagar. Este anel já representou muita
dor para minha família, mas eu não vejo mais dessa forma. Se não fosse tudo
isso, não haveria nós, e eu não posso nem imaginar como seria. Esse anel foi
uma peça indestrutível de luz no meio de toda a escuridão do meu passado.
Faz com que eu me lembre de seu amor por mim. Esse é o anel certo para
você.