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PROCESSO PENAL)1
1 INTRODUÇÃO
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Resenha do livro O direito de não produzir provas contra si mesmo (o princípio nemo tenetur se
detegere e suas decorrências no processo penal), de Maria Elizabeth Queijo (resenha apresentada
como requisito parcial para aprovação da discliplina Teoria da Prova Penal, ministrada pelo Msc.
Josenildo Santos, no Curso de Especialização Lato Sensu em Ciências Criminais, da Universidade
Católica de Pernambuco – trabalho avaliado com nota máxima).
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Advogada, pós-graduanda em Ciências Criminais pela Universidade Católica de Pernambuco.
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Tratando do princípio nemo tenetur se detegere, Maria Elizabeth Queijo (2003, p. 1),
uma vez que, o mesmo viabiliza o direito do acusado de não se auto-incriminar, intervindo,
até como conseqüência própria da atual feição do processo penal, contra a visão do acusado
de provas que dependam da cooperação do acusado, ainda trata das conseqüências da violação
Não obstante, anteriormente, pode-se encontrar, por assim dizer, germes do princípio,
a saber, quando na Antigüidade, apesar da possibilidade do acusado ser ouvido sob juramento,
passível de exceção, inclusive a confissão era tida como estado de loucura (ibid., p. 5 e 6).
Ainda cabe ressaltar que, no direito romano, quando da República, em seus últimos séculos, o
não fora uniforme, neste sentido vale salientar, ao passo em que indicava a contradição entre a
Beccaria sustentava que sendo o acusado silente, pena mais grave deveria lhe ser aplicada por
ofender à Justiça, excetuando-se os casos em que não houvesse dúvida quando à autoria (ibid.,
p. 8 e 9). Algumas legislações também adotaram a punição ao acusado silente por desrespeito
não era direito fundamental, mas protegia a vida privada das intromissões dos poderes
públicos (ibid., p. 12 e 13). Esclareça-se que, mesmo o princípio nemo tenetur prodere se
ipsum tendo sua aparente origem no direito da Igreja, as cortes eclesiásticas impunham aos
acusados o juramento ex officio, apesar de, quando a prática do crime fosse desconhecida
publicamente, o princípio vigorar, evitando a investigação abstrata da vida das pessoas, salvo
outras exceções (ibid., p. 13 e 14). Tal princípio era mais utilizado em processos civis do que
em criminais (ibid., p. 14). No século XVI, imbuídas pelo princípio nemo tenetur prodere se
ipsum, as recusas ao juramento, tornaram-se mais freqüentes nas cortes eclesiais (ibid., p.14).
Nas cortes common law da Inglaterra, até o final do século XVIII, apesar de
acusado, o que tornava impraticável o direito de silêncio (ibid., p. 16 e 17). No final do século
para os seus dos direitos que eram dos ingleses, tanto que, o referido direito não fora
reconhecido inicialmente como autônomo, mas, como parte das garantias aclamadas, só com
desqualification for interest poderia ser aplicada em processos civis e criminais, consistia na
proibição da parte funcionar como testemunha no próprio processo, tendo em vista seu
manifesto interesse, bem como, na proibição da parte ser ouvida sob juramento, entendendo-
se que a parte não poderia ser compelida a produzir prova contra si mesma (ibid., p. 23). A
confession rule não admitia as confissões extorquidas por compulsão (ibid., p. 23). O witness
privilege permitia a recusa da testemunha em depor sobre questão que a pudesse incriminar
ou expor a persecução (ibid., p. 24). A confession rule e o witness privilege eram remédios de
exclusão (o último, não originalmente) (ibid., p. 24). Com a abolição da desqualification for
interet, o privilege against self-incrimination passou a ser aplicado mais amplamente, sendo
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia Geral das
Nações Unidas, em 1948, não se referiu expressamente ao princípio nemo tenetur se detegere,
Internacional sobre Direito Civis e Políticos, adotado pela Assembléia Geral das Nações
A verdade é sempre relativa, quando vinculada à realidade das coisas, e pode ser
relativa, fora alcançada no seu mais alto grau de probabilidade (ibid., p. 31).
iniciativa das partes quando da produção das provas na instrução processual, e, a verdade
material associa-se ao processo penal e ao princípio da livre investigação das provas, onde o
juiz não depende da iniciativa das partes quando da produção das provas na instrução
processual (ibid., p. 31). A doutrina, não obstante, indica outras distinções, acenadas no plano
da investigação, a saber, a verdade material está relacionada com a investigação sem limites
legais, abrangendo quaisquer meios, independendo do modo como foram obtidos, e, a verdade
formal está relacionada com a investigação dentro dos preceitos legais, inclusive no que diz
da realidade, da verdade material, podem não ser idênticas, diante dos limites de investigação
juiz, na tradicional limitação, como acima elucidado, o juiz no processo civil obedecia ao
o juiz, seja no processo civil ou no processo penal, “[...] deverá empenhar-se, ao máximo,
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para apurar a verdade, que é processual, buscando aproximar-se, tanto quanto possível, da
realidade.” (ibid., p. 38 e 39). Outrossim, da mesma forma que a verdade processual tem seus
(ibid., p. 40).
como objeto da prova (ibid., p. 41 e 42). Mesmo quando aceito, o referido princípio é
principalmente representado pelo direito ao silêncio, porém, o mesmo ainda cabe quanto à
verdade material (ibid., p. 44). Ocorre que, a verdade buscada no processo é a verdade
limites dos poderes instrutórios do juiz penal, e esta se coaduna com a aplicação do princípio
nemo tenetur se detegere, pois a verdade processual, em um Estado de Direito, não pode ser
alcançada violando-se direitos e garantias do acusado, até porque o valor da verdade não é
CONSTITUCIONAL BRASILEIRA
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os direitos humanos positivados, sendo tal positivação necessária à proteção desses direitos, e,
fundamentais têm uma dimensão individual e outra institucional (ibid., p. 53). Todavia, os
direitos fundamentais não são absolutos, a própria coexistência dos vários direitos
fundamentais gera restrições, que devem ser reguladas por lei, respeitando certos limites,
devendo ser claras, determinadas, gerais e proporcionais, obedecendo ainda alguns critérios
segundo o princípio da proporcionalidade: “[...] a legitimidade dos meios utilizados e dos fins
perseguidos pelo legislador; a adequação desses meios à consecução dos objetivos almejados
excessos cometidos na persecução penal, que não se resume ao direito ao silêncio, desta feita,
insere-se entre os direitos de primeira geração, liberdades públicas, mas também há interesse
público em sua tutela, pois repercute na legitimação da jurisdição (ibid., p. 54 e 55). É ainda
Possíveis restrições serão excepcionais, por ser direito fundamental, e deverão ser reguladas
Convenção Americana sobre Direito Humanos (Decreto n.º 592, de 6.7.1992 e Decreto n.º
(ibid., p. 58).
De acordo com Maria Elizabeth Queijo (ibid., p. 66), ao ratificar estes diplomas
não sendo o rol dos direitos fundamentais taxativo, e, admitindo que o integram os direitos
Brasileiro é parte, como direito de hierarquia constitucional (ibid., p. 65). Observa-se que,
teriam estes direitos, aplicação imediata, por não estarem sujeitos ao procedimento rotineiro
Além de direito fundamental o nemo tenetur se detegere, como vária vezes aqui já
Antes da ratificação dos diplomas internacionais pelo Estado brasileiro, já era possível
extrair a incidência do nemo tenetur se detegere do direito constitucional (ibid., p. 69). Assim
o é diante do respeito ao devido processo legal, que fomenta no nemo tenetur se detegere uma
das garantias que asseguram os direitos processuais das partes e legitimam o correto exercício
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direito à ampla defesa, que engloba a autodefesa e a defesa técnica, insere-se o nemo tenetur
inocência, ao não considerar culpado aquele que responde a processo penal antes do trânsito
prova, que demonstra a culpabilidade, para o acusador, pois ao acusado, tido como inocente
do acusado na investigação dos fatos, desta feita, refutando o acusado como objeto da prova,
detegere (ibid., p. 76 a 78). O Nemo tenetur se detegere, igualmente se relaciona com a tutela
dispõe o inciso LXIII do Art. 5 º da Constituição Federal, o direito ao silêncio (ibid., p. 80).
INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
No modelo inquisitório a tendência era a busca de provas por meio do acusado ou com
sua cooperação, o acusado era objeto da prova, existia uma presunção de sua culpabilidade,
por conta disto era obrigado a falar, mesmo que para tanto fosse necessário o uso da força, e a
obtenção da confissão era o principal intento, pois tida como a mais convincente das provas,
neste passo não cabia lugar para o nemo tenetur se detegere (ibid., p. 82 e 83). Já no modelo
sua contribuição para o processo, o nemo tenetur se detegere ganha aplicabilidade (ibid., p.
84).
não do nemo tenetur se detegere (ibid., p. 84). Assim, quando o interrogatório tem natureza
de meio de prova, o acusado não tem direito ao silêncio, e quando o interrogatório tem
quando é tido como meio de prova, reconhece-se valor probatório às declarações prestadas
pelo acusado, quando tido como meio de defesa, atribui-se escasso valor probatório às
91). A confissão, neste caso, é meio de prova e não tem valor absoluto, devendo ser valorada
doutrina e a jurisprudência mais recentes não reconhecem valor probatório à delação, quando
isoladamente considerada, devendo ser confortada por provas, seja conjunta ou não à
acusado que acusa outro tem o dever de dizer a verdade e não tem direito ao silêncio, também
o direito norte-americano reconhece os riscos deste tipo de testemunho, para o direito francês,
ao delatar, o acusado é testemunha, assistida por defensor, devendo dizer a verdade e não
podendo recusar-se a responder, mas, com relação a sua responsabilidade, tem direito ao
maioria da doutrina, tinha o interrogatório como meio de defesa, apesar de não reconhecer o
direito do silêncio ao acusado (ibid., p. 100). Com o atual Código de Processo Penal, de 1941,
e, antes da Constituição Federal de 1988, o interrogatório, para a maior parte da doutrina, era
tido na época como meio de prova, o acusado não era obrigado a dizer a verdade, nem a
colaborar ou responder as indagações do interrogatório, mas seu silêncio pesava contra ele
(Art. 186 do Código de Processo Penal), e as perguntas por ele não respondidas seriam
consignadas, bem como as razões pelas quais o acusado deixou de respondê-las (Art. 191 do
Código de Processo Penal), e, mesmo seu silêncio não importando em confissão, constituiria
elemento para formação da convicção do julgador (Art. 198 do Código de Processo Penal),
além do que, o interrogatório era ato obrigatório se presente o acusado, prevendo-se até a
condução coercitiva do mesmo, no caso de não atender à intimação (Art. 260 do Código de
silêncio (ibid., p. 102, 103 e 105). Com o advento da Constituição Federal de 1988, em seu
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defesa (ibid., p. 105 e 107), inclusive considerando revogado o Art. 186 do Código de
acusado quando do interrogatório, também visto como revogado o Art. 191 do Código de
perguntas não respondidas e as respectivas razões do acusado para não respondê-las, pois do
exercício do direito ao silêncio não se pode extrair nada em desfavor do acusado e referida
consignação serviria para tanto, nesta mesma linha, o Art. 198 do Código de Processo Penal é
tido como parcialmente revogado, prevalecente quando discorre que o silêncio não importa
convencimento do julgador; uma vez que, como já mencionado, sendo o silêncio direito do
acusado, não se poderá extrair dele qualquer conseqüência prejudicial, sob pena de esvaziar-
se por completo o direito, ainda tem-se como revogado o Art. 260 do Código de Processo
Penal, uma vez que, em, decorrência do direito ao silêncio, o interrogatório é expressão de
defesa podendo ser renunciável, desta feita, inviável que o acusado, que fora devidamente
intimado, seja compelido, por meio de condução coercitiva, a comparecer (ibid., p. 108 a
110). Na Lei de Impressa o interrogatório é requerido pelo acusado, cabe a ele decidir se
deseja ou não sua realização, assume neste caso feição exclusiva de direito do acusado,
conjunto com as demais provas produzidas (ibid., p. 119 e 120), não obstante, as decisões do
Supremo Tribunal Federal têm firmado a tutela efetiva do direito ao silêncio, como
decorrência do princípio nemo tenetur se detegere (ibid., p. 123). A Lei n.º 10.792 de
adoção do direito ao silêncio pela Constituição Federal de 1988, assim, dentre muitas outras
modificações, o Art. 186 do Código de Processo Penal passou a indicar a comunicação sobre
o direito de permanecer calado ao acusado, acrescentando que seu silêncio não importa em
confissão, nem pode ser interpretado em prejuízo da defesa, o Art. 191 do Código de Processo
Penal teve sua redação completamente modificada, não mais vigendo a regra que determinava
a consignação das perguntas não respondidas pelo acusado e das razões por ele invocadas,
ressalte-se que, o Art. 198 e o Art. 260, ambos do Código de Processo Penal, não sofreram
modificações.
interrogatório, primeiro o acusado era estimulado a falar, mas caso se negasse o juiz deveria
adverti-lo de que o processo teria seguimento, depois esta advertência passou a ser prévia,
ainda fora suprimida diante do ideário fascista, até que o direito ao silêncio o fora amplamente
admitido, representado pela faculdade do acusado não responder e pela incumbência do juiz
ressaltando-se que o referido direito também abrangia pessoas não acusadas, de tal forma,
emergindo indicio de culpabilidade, incumbia ao juiz advertir o depoente de que suas palavras
poderiam ser utilizadas contra si, as declarações já prestadas, nestas condições, não poderiam
ser utilizadas, saliente-se ainda que, o acusado poderia ser coercitivamente conduzido para o
interrogatório, bem como não poderia silenciar quanto a sua identificação (ibid., p. 123 a
submetido, é meio de prova, e nele o silêncio é passível de valoração, devendo ser consignada
a falta de resposta (ibid., p.130 e131). Recentes mudanças acresceram a advertência dada pelo
juiz no interrogatório, agora, além da faculdade do acusado não responder, salvo quanto a sua
identificação, menciona-se também que suas declarações poderão ser utilizadas em relação a
advertência quanto ao direito do acusado de não responder, apesar de não tida como
responsabilidade de terceiro o acusado será ouvido como testemunha (ibid., p. 139 a 140).
entendimento de que nenhum prejuízo poderá advir ao acusado em decorrência de seu silêncio
testemunha só no caso de processos diferentes, vale ressaltar que, a testemunha também tem o
dever de informação e advertência quanto a este direito, que só não será realizado quando
inserido no âmbito da identificação, uma vez exercido o direito ao silêncio, não se admite, na
igualmente tem o direito de recusar-se a responder determinadas perguntas (ibid., p. 148, 149
e 151).
advertência com relação ao mesmo, e, caso o acusado silencie, será advertido de que o
cabendo ao juiz dar ao acusado conhecimento deste seu direito, e o seu silêncio não pode
silêncio não era expresso, mas mesmo assim existia, pois se previa que quando o acusado
fosse silente, o juiz o advertiria de que sua atitude não impediria o seguimento do processo,
podendo inclusive privá-lo de uma oportunidade de defesa, mas que não ensejaria presunção
silêncio passou a ser expresso, não incidindo apenas quando da identificação do acusado, as
testemunhas têm direito de recusar a responder determinadas perguntas (ibid., p. 164 a 168).
direito de recusar-se a prestar declarações, devendo o mesmo ser advertido de tal direito, bem
como de que, o que disser pode ser usado contra si, seu silêncio de forma alguma poderá ser
valorado em seu prejuízo, ressalte-se que é proibida a presunção quanto à renúncia privilege
imunidade da testemunha, o acusado pode optar por ser ouvido como testemunha (ibid., p.
direito amplo e geral ao silêncio dos acusados, o acusado pode permanecer em silêncio, mas
do seu silêncio seriam extraídas inferências adversas caso não alegasse para tanto uma escusa
razoável, algumas situações não admitem sequer o uso de escusas, o acusado pode optar por
varia bastante entre os diversos ordenamentos, e, apesar do direito ao silêncio ser sua
mas tem sua tradicional expressão no direito ao silêncio, que também configura manifestação
uso do direito ao silêncio por porte do acusado vincula-se uma preconceituosa interpretação
para o silêncio, além de se visualizá-lo como obstáculo para apuração dos fatos, entretanto, o
silêncio não é antinatural, não é positivo ou negativo, não tem conotação valorativa, não é
defesa técnica, é direito contemplado pelo respeito à liberdade e a dignidade do homem (ibid.,
Parlamentares de Inquérito) (ibid., p. 194 e 196). Têm o direito de exercer o direito ao silêncio
testemunha, mas como tem o dever de dizer a verdade, seu direito ao silêncio restringe-se a
pessoa jurídica também tem direito ao silêncio (ibid., p. 197 a 199). Quanto à extensão do
que tal direito não prevalece quando da identificação, pois a correta identificação do acusado
é necessária para uma adequada persecução penal (não estão abrangidas na identificação
questões quanto aos antecedentes criminais) (ibid., p. 200 e 202), estende-se ainda o direito ao
silêncio quando de perguntas que versem sobre a responsabilidade penal de terceiros (ibid., p.
204), vale ressaltar que, o direito ao silêncio do acusado durante o interrogatório de mérito é
livre, podendo incidir sobre todas ou algumas das perguntas (ibid., p. 204 e 205). Para garantir
lei, o acusado deve necessariamente ser advertido de seu direito, bem como de que seu
recusar-se a dar resposta que possa incriminá-la (ibid., p. 210). Tem-se estimulado a
advertência do direito ao silêncio, e não caracterizado qualquer tipo de coação para compelir a
colaboração, ficando o acusado livre para decidir ou não sobre sua colaboração, não obstante,
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faz-se imperioso para tanto que a correspondência entre a colaboração e o benefício seja certa
(ibid., p. 215). Incompatível com o princípio nemo tenetur se detegere e o direito ao silêncio é
a consignação das perguntas que o acusado deixou de responder e das razões que motivaram o
seu silêncio, pois ensejariam conseqüências prejudiciais ao exercício do direito (ibid., p. 216).
Tendo-se o silêncio como direito do acusado, o seu exercício não poderá lhe acarretar
não admite nenhum tipo de valoração a seu respeito, não se equipara à falta de argumentos de
defesa, confissão, ou presunção de culpabilidade, não serve a favor da acusação, nem como
elemento para formação do convencimento do julgador, muito menos para justificar aumento
devem ser claras, precisas, unívocas e não complexas, renegando-se as perguntas sugestivas,
tendenciosas, capciosas, obscuras e equívocas (ibid., p. 222 e 223). Não se admite qualquer
por ter o acusado faltado com a verdade (ibid., p. 230), além do que, a eventual mentira não
pode ser avaliada como indício de culpabilidade, conduzir ao agravamento da pena, nem
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servir para a fixação de pena quando da análise da personalidade e conduta do acusado (ibid.,
p, 236).
De tudo que fora exposto observa-se que os ordenamentos adotaram o nemo tenetur se
conseqüências advindas do seu uso, mas, polêmica maior gira em torno da problemática de se
reconhecer o referido princípio diante das provas cuja produção depende da colaboração do
acusado (ibid., p. 240 e 241). Normalmente no processo penal algumas provas são produzidas
limitador da atividade probatória, neste diapasão surge um impasse entre o interesse público
fundamentais (ibid., p. 240 e 241). No entanto, este impasse é apenas aparente, pois é
interesse público tanto a persecução penal como a observância dos direitos e garantias
seja, a prova é obtida no corpo do acusado, podendo ser invasivas, quando indicam penetração
freqüentemente, empregados em busca pessoais (ibid., p. 245). São provas não invasivas
perícias como os exames de matérias fecais, os exames de DNA realizados a partir de fios de
radiografia, esta última empregada em buscas pessoais (ibid., p. 245 e 246). Os exames de
urina, espermas e saliva podem ser provas invasivas ou não invasivas, a depender da forma
Outras provas, mesmo não indicando intervenção corporal, têm suas produções a
também, na prova documental, nos casos de intimação para entrega de documentos que
prova pelo réu, fora primeiramente abordada na esfera civil, uma vez que o ordenamento
processual civil destaca que ninguém se exime do dever de colaborar com o judiciário na
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acenada legislação também estabelece o dever de submissão à inspeção judicial (Art. 340 do
resolvendo-se o impasse segundo as regras do ônus da prova (de acordo com o elucidado, o
Supremo Tribunal Federal decidiu pela não sujeição obrigatória do réu a exame de DNA em
só servirá como presunção de paternidade se existirem outras provas) (ibid., p. 261 a 263). Já
dever de cooperação do acusado na produção de provas, não obstante, tratar de diversos meios
nemo tenetur se detegere, tem-se entendido que, o acusado que se recusar a colaborar na
produção de provas que dependam de sua cooperação, não está cometendo crime de
desobediência, nem pode sua recusa ser interpretada em seu desfavor, pois tal recusa implica
colaboração ativa do acusado na produção de provas que dependam de sua cooperação (ibid.,
p. 266 e 268).
normativa (ibid., p. 274), a doutrina e a jurisprudência têm entendido que não há direito do
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acusado a não colaborar quando ele é objeto de prova, desde que não se exija sua participacão
(ibid., p. 276), admiti-se a condução coercitiva para o reconhecimento e para a acareação, mas
o acusado pode negar-se a participar ativamente de ambos (ibid., p. 276 a 279), ressalte-se
O ordenamento francês também não é expresso quanto ao tratamento das provas que
dependam para sua produção da colaboração do acusado, porém, observa-se que a coleta de
material pode ser executada coercitivamente, quando o acusado não consentir, e, a recusa à
produção de prova de verificação da embriaguez implicaria outro delito (ibid., p. 280 e 281).
permitido tirar fotos e impressões digitais do acusado, mesmo contra sua vontade, e apesar de
exame etilométrico (ibid., p. 281 a 284). Outrossim, o direito alemão indica o dever do
execução coercitiva diante de sua não concordância, é a visão do acusado como objeto de
não se relacionando com o princípio nemo tenetur se detegere (ibid., p. 289). Contudo, a
recusa do acusado em submeter-se a perícias não revela confissão, mas poderá ser
ser compelido a cooperar por decisão judicial, assumindo-se uma feição de meio de coerção
serão realizadas com o seu consentimento, não o suprindo a ordem judicial, muito embora,
suspeitas contra o acusado (ibid., p. 294 e 296). O acusado poderá recusar-se à reconstituição
O direito chileno admite os exames corporais no acusado, o qual não pode recusar-se a
se submeter aos supracitados exames, o acusado também não pode recusar o exame
acusado, classificando-as de invasivas e não invasivas, as últimas podendo ser realizadas sem
não consentir, não haverá execução forçada ou aplicação de sansão, mas sua recusa
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injustificada será valorada no conjunto probatório, vale salientar que, mesmo prescindindo de
autorização do acusado para realização das provas não invasivas, cabe para sua verificação a
colaboração do acusado, sem que com isto compreenda violado o privilege against self-
na coleta de sangue poderá haver condução coercitiva, o acusado não é obrigado, mas é
sua produção, além do nemo tenetur se detegere, a dignidade humana, o direito à intimidade,
311).
produzir provas que dependam de sua cooperação, é, nos diversos ordenamentos, muito
restrito, por vezes sendo admitida nos casos em que é necessária uma postura ativa do
produzir provas que dependam de sua cooperação, uma vez que sua atitude pode indicar auto-
viabilização da persecução penal (ibid., p. 312). Nesta linha, não sendo o acusado objeto de
prova, não é obrigado a colaborar em sua produção, principalmente porque assim o fazendo
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poderá se auto-incriminar, e sua recusa não poderá configurar crime de desobediência, nem
muito menos cabe execução coercitiva, contudo, em determinados casos este direito poderá
ser restrito em função da viabilidade da persecução penal, neste diapasão entende-se que não
fere o nemo tenetur se detegere a exigência de participação passiva do acusado, mas a posição
obscuridades, além de que mesmo uma atitude passiva pode indicar auto-incriminação,
portanto, permanece o dilema, necessitando-se de critérios para uma solução (ibid., p. 312,
Para consagração do princípio nemo tenetur se detegere o acusado não tem o dever de
colaborar na produção de provas que dependam de sua cooperação e deve ser advertido deste
de preferência por escrito, concreto, sério, e não decorrente de erro ou coação (ibid., p. 319 e
320).
conflitos entre eles, com o princípio nemo tenetur se detegere não é diferente, desta feita,
excessos, especificando-se depois quanto ao controle das restrições a direitos, exigindo para
desenvolvido bem antes do que no direito alemão, sendo decorrente do due process of law,
compatibilidade entre o meio e os fins visados, além da aferição de legitimidade dos fins
(ibid., p. 323 e 326 a 331), no direito brasileiro o princípio de proporcionalidade embora não
jurídico (ibid., p. 332 a 334). Como os direitos fundamentais não são absolutos, suas
coexistência destes direitos onde um se limita no outro, mas este limite advindo do conflito
entre direitos fundamentais deve ser estabelecido sem o aniquilamento de qualquer dos
prática, bem como o princípio da proporcionalidade (ibid., p. 335 a 337). Pelo princípio da
escolha de medida menos lesiva dentre aquelas consideradas aptas a realizar o fim desejado,
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significado da medida para o atingido e os fins desejados (ibid., p. 342 a 345). Como
principalmente diante da persecução penal, estas exceções são veiculadas através do princípio
essência do direito em questão, sejam reguladas por lei, tenham justificação teológica na
(ibid., p. 355 a 357). As exceções ao nemo tenetur se detegere deverão ser: adequadas, a
além de sua utilidade ao caso concreto, indicando-se suficiente quando houver indícios de
forma de produção da prova, e sendo a forma menos gravosa aos direito do acusado, em
a intromissão mas sensível nos direitos do acusado deve ser proporcional a maior relevância
participação (ibid., p. 358 e 359). No mais, de acordo com o exposto, supondo o advento de
provas produzidas através de intervenção corporal não invasiva, poderiam ser realizadas sem
o consentimento do acusado desde que não implicassem colaboração ativa deste, e verificado
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colaboração ativa do acusado, ficavam com a realização a depender da observação dos moldes
cooperação do acusado, mas sem intervenção corporal, poderiam ser determinadas por
da medida (ibid., p. 361 a 365). A qualquer título, não se admite a restrição do nemo tenetur
(ibid., p. 360).
produzir prova que dependa de sua colaboração, não se pode extrair conseqüências em
desfavor do mesmo, assim, não admitida a valoração de sua atitude como indício de
ativa do acusado, podendo no máximo, para estes casos, prever-se sanções penais (ibid., p.
370 e 371).
DETEGERE
temática da ilicitude das provas (ibid., p. 374). O direito à prova, como outros direitos
de condições na produção probatória (ibid., p. 374 e 376). Quando a prova é obtida violando
natureza material, é considerada ilícita, neste sentido, é também ilícita a prova obtida com
o entendimento pela inadmissibilidade das provas ilícitas, os que admitem a prova ilícita
indicam eventuais sanções para seus produtores, os que não admitem a prova ilícita indicam
que o ordenamento não pode utilizar o que coíbe, ou seja, a licitude, principalmente tendo em
vista sua unidade, ou que, a prova ilícita não poderá ser utilizada por ser expressão da
tem atenuado a inadmissibilidade das provas ilícitas, acenando-se que as regras de exclusão
probatória não devem ser absolutas, inclusive referindo-se a admissibilidade da prova ilícita
pro reo, e da colhida pelo próprio acusado como em legitima defesa (ibid., p. 382 a 384). O
direito norte-americano desenvolveu a teoria dos frutos da árvore envenenada, como regra de
exclusão das provas ilícitas, segundo a qual tanto a prova ilícita em si, como a prova dela
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derivada, são inadmissíveis, contudo, surgiram várias exceções à regra, a primeira é a da fonte
independente, e de acordo com a mesma a prova ilícita poderia ser admitida se pudesse ser
obtida de uma outra fonte independente, são também exceções o testemunho dotado de
purgação do vício anterior por ato voluntário do acusado, o fato da prova obtida ilicitamente
requerendo-se intervenção imediata por parte da polícia (ibid., p. 384 a 387). No ordenamento
brasileiro, a exclusão das provas era regulada pelo Código de Processo Penal antes do advento
proporcionalidade, especialmente quando a prova ilícita é pro reo, a jurisprudência ainda não
julgados de prova ilícita pro reo em virtude do princípio da proporcionalidade (ibid., p. 388,
As provas colhidas com violação ao princípio nemo tenetur se detegere são ilícitas,
que o seu exercício não será prejudicial ao acusado, é inadmissível, bem como a confissão
decorrência: a denúncia fundada nesta confissão é nula, devendo a mesma ser desentranhada e
nova denúncia ser oferecida embasada em outras provas, caso contrário o inquérito será
arquivado (ibid., p. 399); se referida confissão for produzida ou trazida aos autos no curso da
instrução, deverá ser desentranhada, se não for desentranhada, não poderá ser valorada em
nenhuma decisão do julgador, se vier a ser valorada, a sentença deverá ser decretada nula por
instância superior, para que outra seja proferida após o desentranhamento, admite-se que o
próprio Tribunal, com o desentranhamento da confissão ilícita, poderá julgar (ibid., p. 399);
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sendo a confissão ilícita colhida pela autoridade judicial em interrogatório, havendo prejuízo
subseqüentes, para renovação (ibid., p. 400); havendo trânsito em julgado, cabe revisão
prova ilícita, pode-se também impetrar habeas corpus para decretação da nulidade da
pronúncia, devendo outra ser proferida (ibid., p. 401); ainda, sendo a confissão ilícita objeto
de referência nos debates do Tribunal do Júri, o Conselho de Sentença deverá ser dissolvido,
se não o for, o veredicto será nulo (ibid., p. 401). Outrossim, no caso de produção de provas
SUBSTANCIAL?
para encobrir outro, notadamente este posicionamento era minoritário, pois o entendimento
era que o princípio não comporta tamanha extensão, era direito de defesa na fase processual,
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portanto, não atuando no plano do direito substancial, não devendo ser tratado como causa de
de certos delitos diante do direito de não fornecer provas auto-incriminantes, seja como causa
pois não se pode exigir conduta auto-incriminante do indivíduo, seja também como causa
doutrina nacional, considerada como exercício regular de direito, seja ainda como causa de
tenetur se detegere não tem incidência no âmbito do direito penal, restringindo sua esfera ao
processo penal, justificando-se que não se comporta conduzir uma extensão generalizada do
auto-incriminação, esta recusa, de certa forma, repercute no direito penal, na medida em que
desta atitude não se pode configurar qualquer delito (ibid., p. 419). Entretanto, para tanto,
deve haver um nexo direto entre a incriminação e a declaração, cuja recusa possibilita
Desta feita, do exposto, depreende-se que, o nemo tenetur se detegere não é causa de
exclusão da culpabilidade, nem causa de exclusão da ilicitude, muito menos causa de não-
9 CONCLUSÕES
A título de conclusões, Maria Elizabeth Queijo (ibid., p. 422 a 435) faz uma
princípio, sua relação com os poderes instrutórios do juiz e a busca da verdade no processo,
acusado, sopesando-se o direito ao silêncio, sua aplicação quando da produção de provas que
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: (o princípio
nemo tenetur se detegere e suas decorrências no processo penal). São Paulo : Saraiva, 2003.