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1.

A Ditadura Civil-Militar (1964-1985)

Objetivos:

• Compreender o período que se extende desde o golpe de 1964 até o início do


processo de redemocratização, em 1985;
• Dentro desse contexto, entender as características políticas, sociais e
econômicas do Brasil.

1.1 Introdução

Esta semana de estudo será dedicada ao período da Ditadura Civil-Militar,


que pôs fim à mais longa experiência democrática que o Brasil havia
experimentado até então. Iremos abordar os fatos políticos mais relevantes e as
principais mudanças institucionais, passando por todos os governos.

Ao mesmo tempo, será abordado o aspecto econômico desse período, desde


a estabilização da inflação, logo no começo do regime, passando pelo Milagre
Econômico, até o desenvolvimento baseado no endividamento externo e no
descontrole das contas públicas.

Sob o prisma social, não se pode deixar de abordar os movimentos de


resistência à Ditadura, o recrudescimento da repressão e as mudanças na
sociedade brasileira, consequência do rápido desenvolvimento econômico e da
urbanização acelerada.

Façamos aqui, uma cronologia dos governos que se sucederam nesse


período:
• 1964-1967: governo na mão de Castelo Branco e seus seguidores
(castelistas), grupo que pretende afastar a quebra de hierarquia, o risco
do comunismo, e garantir o respeito à constituição.
• 1967-1969: Costa e Silva é presidente, representando a linha dura.
• 1969-1969: a junta militar governa por 2 meses, período em que
ocorre o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick.
• 1969-1974: Médici, representando a contradição do Milagre
Econômico e o auge da repressão e da censura.
• 1974-1979: Ernesto Geisel, com retorno dos castelistas ao poder e o
início do processo de abertura.
• 1979-1985: Figueiredo, responsável por coordenar a transição de
poder para os civis.

1.2 O processo de desestruturação da Democracia

Podemos fazer um resumo esquemático de como foi a derrocada da


democracia e o fim do governo de João Goulart, após a articulação entre civis e
militares que culminou no golpe de 1964.
O Governo Goulart terminou em radicalização, no que se convencionou
chamar de “consenso negativo sobre a manutenção das regras democráticas”,
os atores políticos não mais queriam seguir o jogo democrático (tanto à esquerda
como à direita).

Resumidamente, o Golpe Civil-Militar de 1964 seguiu a seguinte cadeia de


(principais) eventos:
• Outubro de 1963: Goulart isolado.
• Goulart aposta na radicalização à esquerda, nacionalista.
• As esquerdas passam à ofensiva.
• No Congresso, há duas frentes parlamentares: Ação Democrática
Parlamentar, de direita, com grande parte da UDN e do PSD x Frente
Parlamentar Nacionalista, com quase todo o PTB e uma parte ínfima
do PSD.
• Para o alto oficialato das forças armadas, Goulart passou a significar
uma possível ameaça à hierarquia; Goulart faz um discurso aos
sargentos no Automóvel Clube, anistia os marinheiros revoltosos da
marinha.
• A partir disso, a conspiração fica mais clara:
o Marchas da Família com Deus pela Liberdade.
o Operação Brother Sam (garantia ao golpe dado pelos Estados
Unidos – que prontificou forças de sua Marinha, caso
necessário fosse), Operação Gaiola (projetada para neutralizar
os sindicatos), Operação Popeye, Operação Silêncio.

1.3 1964-1967 – Governo Castelo Branco

Antes da posse de Castelo Branco, quem assume o poder é Ranieri Mazzili,


político do PSD que já havia governado o Brasil por 13 dias quando Jânio Quadros
renunciou, mas quem comanda o país, de fato, é o Comando Supremo da
Revolução (composto por militares). Nesse momento, é baixado o Ato
Institucional I, que impôs:
• Eleição indireta em 1964.
• A constituição de 1946 foi mantida.
• Eleições diretas para presidente em 1965 mantidas.

Castelo Branco é empossado, após ser eleito indiretamente. Nesse momento,


Golbery do Couto e Silva é uma das eminências do regime, sendo o criador do
Serviço Nacional de Informações (SNI). No governo de Castelo Branco,
podemos destacar:
• A Emenda Constitucional nº 9, que prorroga o mandato de Castelo
Branco até 1967, contrariando interesses de políticos civis que
apoiaram o golpe, como Carlos Lacerda e JK.
• A União Nacional dos Estudantes (UNE) é extinta.
• Combate à inflação de acordo com os interesses americanos, por meio
do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG).
o As medidas do PAEG deram ao governo Castelo forte apoio do
FMI.

Em 1965, nas eleições diretas para governador, são eleitos candidatos ligados
a JK: na Guanabara, é eleito Negrão de Lima, e, em MG, Israel Pinheiro. Isso
motiva a edição de um novo Ato Institucional, na medida em que JK esperava se
candidatar à presidência assim que a normalidade institucional se restabelecesse.
O Ato Institucional II:
• Extingue os partidos existentes e cria regras para a criação de novos
partidos, que não podem ter nomes iguais aos anteriores.
• Exige que a fundação de um partido deveria ter a assinatura de 1/3 dos
parlamentares.
• Suspende a eleição direta para presidente em 1967.
Na prática, só se conseguiu assinaturas suficientes para a criação do partido
governista Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Mas, como o governo
queria aparentar uma normalidade democrática, viabilizou a criação do
Movimento Democrático Brasileiro (MDB) (oposição consentida), com
assinaturas de parlamentares que, a princípio, iriam para a ARENA (e, após a
criação do MDB, trocaram de partido).

Na sequência do AI2, ocorre o fechamento do Congresso, que só será


reaberto para aprovar o próximo Ato Institucional. O Ato Institucional III, de
1966, estabelece:
• A nomeação de prefeitos das capitais e de áreas de segurança nacional
pelos governadores.
• Eleições indiretas para governador e para presidente, em outubro
de 1966.

Desse modo, em outubro de 1966, Costa e Silva é eleito sucessor de Castelo


Branco, tendo como vice Pedro Aleixo. Em dezembro de 1966, o Ato
Institucional IV tem como único objetivo convocar o Congresso para aprovar a
Constituição de 1967, de modo que ela não fosse outorgada.

É também nesse momento, 1966, que surge a Frente Ampla como forma de
resistência, aproximando JK, Jango e Carlos Lacerda, políticos que haviam
perdido seus direitos políticos.

1.4 1967-1969 – Governo Costa e Silva

O Governo Costa e Silva inicia-se sob a vigência da Constituição de 1967,


por isso, devemos entender as características dessa constituição:
• Promulgada, ou semi-outorgada, na medida em que o parlamento
praticamente não teve voz em sua elaboração.
• Direitos civis garantidos.
• Direitos políticos:
o O direito ao voto é mantido sem mudanças formais.
o O calendário de eleições proporcionais é mantido. Nesse
momento, há um aumento considerável do eleitorado.
• Direitos sociais foram ampliados.
o O direito de greve foi restringido, mas a CLT foi mantida, pois
o governo precisava legitimar-se.
• Há uma aparência de Estado de Direito.
• Encerra a incongruência entre a Constituição de 1946 e os Atos
Institucionais.

Em fevereiro de 1967, é publicada a nova Lei de Imprensa. Em março de


1967, é publicada a nova Lei de Segurança Nacional, sustentada no binômio
segurança/desenvolvimento. O cerne da Lei de Segurança Nacional é a ideia de
“inimigo interno”, que justificava a necessidade de medidas internas de
segurança. Em março de 1967 toma posse Costa e Silva, já sob a égide de todo
esse aparato institucional para sustentar um governo de linha dura.

No final de 1967 o ex-governador Carlos Lacerda — um dos líderes da Frente


Ampla, movimento nacional de oposição civil ao regime militar que se vinha
articulando desde meados de 1966 — iniciou uma campanha contra a política do
governo Costa e Silva. No início de 1968, ao mesmo tempo em que se intensificava
a reação da “linha dura” à Frente Ampla, começaram a surgir conflitos políticos
na área estudantil, que era apoiada por setores da classe média e da Igreja. Em
resposta à mobilização oposicionista, o governo proibiu as atividades da Frente
Ampla sob a forma de manifestações, reuniões, comícios ou passeatas.

Enquanto o movimento estudantil era duramente reprimido, sofrendo


ataques ostensivos de tropas de choque da Polícia Militar em conflitos de rua, em
meados de julho ocorreu na cidade industrial de Osasco (SP) a primeira greve
operária desde a ascensão dos militares. É nesse contexto que o governo impõe
o Ato Institucional V (13 de dezembro de 1968):
• Permite ao presidente decretar o recesso do Congresso.
• Permite a suspensão do habeas corpus.
• Permite a intervenção em Estados e Municípios.
• Permite decretar a censura prévia.
• O presidente pode confiscar bens oriundos de enriquecimento ilícito.
• O presidente pode decretar Estado de Sítio sem precisar de
autorização do Congresso.

Em 1969, Costa e Silva é afastado, por problemas de saúde. Assim, por


meio do Ato Institucional XII, é impedida a posse de Pedro Aleixo (político civil)
e ascende ao poder a Junta Governativa Provisória. É nesse momento que é
sequestrado o embaixador americano Charles Burke Elbrick, que é trocado por
15 presos políticos, enviados ao exílio; além disso, requerem a leitura de manifesto
em cadeia nacional.

A reação do governo vem pelo Ato Institucional XIII, que institui a pena de
banimento, e o Ato Institucional XIV, que institui a pena de morte. Além disso,
o próximo governo dá carta branca ao aparato de repressão, instituindo a tortura
como política de Estado. A eleição de Médici é feita por meio de uma consulta ao
oficialato das forças armadas. É o momento de endurecimento da repressão.

1.5 1969-1974 – Governo Médici

A posse de Emílio Garrastazu Médici representa um Governo de União


Nacional, visando a enfrentar o suposto inimigo interno. A Comunidade de
Segurança e Informações ganha maior autonomia, reforçando o poder da linha
dura e intensificando o uso da tortura como política de estado. É nesse contexto
que se aprova a Emenda Constitucional no 1, de 1969, que, basicamente,
incorpora os AIs emitidos entre 1967 e 1969, inclusive o AI 5 e os AIs 13 e 14.

Nesse momento, predomina a luta armada urbana, pela tática do “foquismo”


(focos revolucionários). A fase urbana seria uma etapa preliminar, para
arrecadação de dinheiro e armas para uma segunda etapa, rural, com focos
revolucionários. Eram, de modo geral, grupos dissidentes do PCB. O PCB foi
pacifista, de modo geral, por isso existiram divergências de grupos que
acreditavam na luta armada.

O maior exemplo de resistência ao regime no campo foi a guerrilha do


Araguaia, maoísta, do PCdoB. Foi a única guerrilha que sobreviveu ao governo
Médici. A repressão desproporcional derrota a luta armada até 1973/1974, exceto
a guerrilha do Araguaia, que é reprimida no governo Geisel.

O outro lado do governo Médici foi responsável pela legitimação do regime,


por meio do bom desempenho econômico. Esse período, que ficou conhecido
como o Milagre Econômico, marcou a história brasileira com anos de crescimento
de dois dígitos, em que suas principais características foram:
• Crescimento do PIB acima de 10% ao ano.
• Inflação estabilizada em torno de 20% ao ano.
• Arrocho salarial, gerando o barateamento da mão de obra e a grande
concentração da renda.
• Sustentado por capital estrangeiro, em um momento no qual ainda
havia grande liquidez internacional. Com o choque do petróleo, a
liquidez caiu, com aumento dos juros, inclusive daquelas dívidas
contraídas no passado.
• Como o milagre foi sustentado pelo capital externo, o período foi
definido pelo grande aumento da dívida externa.
• Exportações: como a produção aumenta em ritmo maior do que o
crescimento do mercado interno, mostrou-se imperioso aumentar as
exportações do país. Em 1973, com o choque do petróleo, as
exportações foram reduzidas.

1.6 1974-1979 – Governo Geisel

Geisel venceu confortavelmente no colégio eleitoral. Seu grande desafio


havia sido conseguir a indicação dos militares, já que Geisel era castelista (grupo
moderado).

A anticandidatura de Ulisses Guimarães, em contestação à eleição


colegiada, trouxe ganhos ao MDB, que se expressaram especialmente na primeira
eleição parlamentar seguinte, em que há uma derrota da ARENA. O MDB não se
tornou o partido majoritário na Câmara, mas tirou da ARENA a maioria
qualificada, que lhe permitia promover alterações na Constituição. No Senado, o
MDB teve mais votos na eleição para o 1/3 que se renovava, mas isso não significa
que tenha se tornado maioria na bancada no Senado.

O cerne do governo Geisel era o projeto de abertura, que seria lenta,


gradual e segura, baseado na lógica de sístoles e diástoles, cunhada por Golbery
para explicar os movimentos da história brasileira. O processo de abertura
brasileira seguiu a lógica de endurecimento, e de relaxamento, uma vez que Geisel
tinha de lidar com a oposição contra a abertura, dentro das forças armadas, e a
oposição que queria acelerar a abertura, fora das forças armadas.

O contexto internacional, nesse momento, era de:


• Redemocratizações tardias de Portugal, em 1974; e de Espanha,
1975. Resquícios do fascismo na Europa.
• Governo de Jimmy Carter nos Estados Unidos, com forte apelo à
defesa dos direitos humanos.
• Igreja católica, com influência da teologia da libertação (influências
marxistas no trabalho de clérigos latino-americanos).
Internamente, pode-se destacar:
• O engajamento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB).
• Ameaças de quebra na hierarquia militar.
• Crise de legitimidade, tendo em vista as eleições de 1975 (na qual o
MDB logrou melhores resultados) e a percepção de que a eficácia
econômica do milagre estava perdendo força.

A abertura lenta, gradual e segura enfrenta a oposição daqueles que querem


acelerar a abertura e daqueles que, na linha dura, querem barrar a abertura. Isso
leva o governo a adotar medidas autoritárias e liberalizantes, simultaneamente:
• Medidas liberalizantes:
o Fim gradual da censura prévia, iniciando pela redação do
Estado de São Paulo e, em seguida, para outros jornais (sem
revogar a censura, que só foi retirada quando acabou o AI5).
o Revogação do AI5 (1978), por um ato que valeria a partir de
1979.
o Nova Lei de Segurança Nacional, mais branda, em 1979.
(Figueiredo faz outra em 1983, mais branda ainda).
• Medidas autoritárias:
o Lei Falcão (1976), que tinha como objetivo limitar a
propaganda política e, consequentemente, enfraquecer o MDB.
o Pacote de abril (1977):
▪ Fechamento do Congresso por 15 dias;
▪ Aprovação da reforma do judiciário;
▪ Aumento do mandato do próximo presidente para 6
anos;
▪ Alteração da regra de proporcionalidade da
representação na Câmara, causando a sub-representação
dos Estados mais populosos;
▪ Criação do senador biônico, eleito pela assembleia
legislativa estadual.

No que diz respeito à economia, pode-se caracterizar esse período como uma
“marcha forçada” – salto na industrialização brasileira, traduzida no II Plano
Nacional de Desenvolvimento (II PND). A ênfase é aproveitar os últimos
resquícios do capital internacional disponível para investir na produção de bens de
capital, de forma a dar autonomia à economia brasileira. Por exemplo:
• No setor de energia, foi descoberto o petróleo na bacia de Campos;
• Há grande investimento em energia hidrelétrica (ex., Itaipu, que foi
construída no governo Figueiredo);
• Outro exemplo é o projeto nuclear, com o acordo com a República
Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental).
• Outro projeto foi o Proálcool.

O Segundo PND, apesar de ter mantido os elevados índices de crescimento,


incrementou ainda mais a dívida externa brasileira e ampliou a inflação. Além
disso, aumentou ainda mais o buraco da desigualdade social, que já era bastante
considerável após o período do Milagre – em função do arrocho salarial.

1.7 1979-1985 – Governo Figueiredo

Com o país livre do AI-5, o presidente eleito tomou posse em 15 de março


de 1979 perante o Congresso, reafirmando seu propósito de “fazer desse país uma
democracia”. Desde o início, o novo governo deixou clara sua intenção de conduzir
a abertura em um ritmo compatível com a segurança do regime.

Figueiredo e Golbery promovem a Lei da Anistia, em 1979, que não foi


ampla, geral e irrestrita, como anunciada. O benefício atingiu estudantes,
professores e cientistas afastados das instituições de ensino e pesquisa nos anos
anteriores, mas o reaproveitamento de servidores civis e militares ficou
subordinado à decisão de comissões especiais criadas no âmbito dos respectivos
ministérios para estudar cada caso. Outra restrição dizia respeito às pessoas
condenadas pelos chamados “crimes de sangue”, atos terroristas cometidos no
período em que grupos de esquerda usaram a luta armada para combater o regime
militar. Além disso, anistiou os torturadores; por outro lado, permitiu o retorno dos
exilados.

É nesse momento de abertura que surge o “Novo” sindicalismo, priorizando


a negociação direta com o patrão e condenando o imposto sindical, que seria um
mecanismo de desmobilização sindical. Outra crítica era dirigida à unicidade
sindical, defendendo-se a pluralidade. As greves eram feitas a partir de comitês de
fábricas, e não vinham de cima para baixo. Com isso, buscavam combater o
“cupulismo”, ou seja, o poder concentrado em poucos representantes de cúpula, e
o “peleguismo” (submissão aos industriais).

Em 1979-1980, Golbery sugere a reforma partidária, que é uma maneira


de dividir as oposições que se reorganizavam, com o retorno das lideranças
exiladas. Basicamente, as implicações dessa reforma são as seguintes:
• MDB vira PMDB.
• ARENA vira PDS.
• Novo sindicalismo + CPT + intelectuais = PT.
• Trabalhismo = PDT.
• PTB.
• Resultado: divisão das oposições. Os partidos comunistas só são
legalizados no emendão de 1985. Em 1985 é constituído o PFL, com
dissidentes do PDS.

O processo de abertura não foi fácil. É nesse momento que acontecem casos
de “Terrorismo de Estado”, com ataques contra bancas de jornais que vendiam
jornais clandestinos, atentados contra a OAB e a ABI, atentado contra o
Riocentro (1981), plano de explosão do gasômetro. Mas o movimento rumo à
redemocratização não tinha volta. Em 1982, acontecem eleições diretas para
governador. Em São Paulo, elege-se Franco Montoro (PMDB); Em Minas
Gerais, ganha Tancredo Neves (PP); no Rio de Janeiro, vence Leonel Brizola.

Entre 1983 e 1984, ocorre a campanha da Diretas Já, que unifica não só as
esquerdas como todas as oposições. Contudo, a despeito da grande mobilização, a
emenda Dante de Oliveira, que aprovaria a realização de eleições diretas, não foi
aprovada no congresso, não tendo atingido os 2/3 necessários à aprovação de uma
emenda constitucional.

Na eleição indireta para presidente, em 1985, o colégio eleitoral foi


formado por senadores, deputados federais e estaduais. O contexto é intricado, por
isso, vamos por partes para ficar didático:
• PMDB lança Tancredo Neves e PDS lança Paulo Maluf.
• Tancredo se articula com a dissidência do PDS, chamada Frente
Liberal, com liderança de Aureliano Chaves; o nome de consenso
desse grupo é José Sarney.
• Forma-se a Aliança Democrática, com PMDB mais Frente Liberal.
• Tancredo tem 480 votos e Maluf, 180.

Tancredo anuncia a Nova República. Contudo, seu ministério é formado por


velhos políticos. Desafortunadamente, antes mesmo de ser empossado, Tancredo
Neves vem a falecer, deixando a presidência nas mãos de José Sarney, um político
que passou todo o regime Civil-Militar no partido governista, o ARENA.

1.8 1985-1990 – Governo José Sarney

Apesar de não fazer parte do Regime Militar, incluímos o governo de José


Sarney por sua característica de continuidade no processo de abertura política e
redemocratização.
Sarney, diante das polêmicas sobre a duração de seu mandato, lançou o
“Emendão”, que serviu como uma espécie de cortina de fumaça. Fazem parte do
“Emendão”:
• Voto dos analfabetos.
• Legalização dos partidos comunistas.
• Instituição da eleição em 2 turnos.
Dentre as medidas políticas mais importantes do governo Sarney, além do
“Emendão”, estão a remoção do “entulho autoritário”, com extinção dos órgãos
repressivos, à exceção do SNI, que evoluiu até chegar na ABIN; e a
Constitucionalização do país – com eleições para Assembleia Nacional
Constituinte em 1986.

Na Assembleia Constituinte, há uma predominância do PMDB, com uma


maioria dos setores de centro-direita, com a formação do “Centrão”. Nas eleições
para governador, também em 1986, o PMDB elege todos os governadores, exceto
um (a “mexicanização” do Brasil).

Sobre a Constituição de 1988, podemos destacar as seguintes características:


• Constituição cidadã, nas palavras de Ulisses Guimarães.
• O “Centrão” repercute lobbies de diversos setores, o que dá à CF um
caráter de certo corporativismo.
• A Constituição resgata todos os direitos civis, políticos e sociais que
haviam sido restringidos pela ditadura e acrescentou novos direitos,
de forma vanguardista:
o Direitos civis:
▪ Habeas corpus, habeas data, mandado de injunção.
▪ Racismo e tortura tornam-se crimes inafiançáveis.
▪ O ministério público assume papel de extrema
importância, e a defensoria pública torna-se um
instrumento de acesso dos mais pobres à justiça.
o Direitos políticos:
▪ Voto dos analfabetos e dos maiores de 16 anos.
▪ Incorporação da eleição em 2 turnos.
o Direitos sociais:
▪ SUS.
▪ Manutenção da CLT, com imposto sindical, unicidade
sindical, etc.
o Novas dimensões de direitos:
▪ Mulheres;
▪ Meio ambiente;
▪ Idosos, crianças e adolescentes;
▪ Consumidor;
▪ Índios e remanescentes de quilombos;
▪ Direito de greve no serviço público.

Na economia, inicialmente, o governo Sarney adota políticas de austeridade.


Como isso não deu certo, em 1986, Sarney optou por uma política mais
heterodoxa, com o plano cruzado, que inaugurou a era de “planomania” (diversos
planos econômicos como tentativa de controlar a inflação que só aumentava –
Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão).

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