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Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 01

Prof. Daniel Sousa – 01.08.2018

MACROECONOMIA

A Economia, de uma forma geral, lida com o problema da escassez, pois trata de recursos finitos
e desejos que são, do ponto de vista material, infinitos e ilimitados. Enquanto a Microeconomia
lida com a questão da escassez no plano individual – pessoas e empresas –, a Macroeconomia
estuda o problema da escassez no âmbito agregado, coletivo – no âmbito dos países.

CONTABILIDADE NACIONAL

PIB (Produto Interno Bruto)


→ Trata-se do primeiro e mais importante agregado macroeconômico a ser estudado neste
curso. É um conceito muito conhecido do público em geral, mas é necessário que haja um rigor
teórico na definição e na utilização da noção de PIB daqui para frente.

O PIB pode ser mensurado de 3 (três) formas diferentes:


(∑ = somatório)

1) PIB = ∑ Produção (finais)

PIB pode ser visto como o somatório da produção de bens e serviços finais (que não são usados
na produção de outros bens) numa economia, durante um período determinado de tempo.

Existem dois tipos de bens: os bens intermediários e os bens finais. Os bens intermediários não
são contabilizados no cálculo do PIB, pois já têm seu valor embutido no valor dos bens finais.

2) PIB = ∑ Rendas

PIB também pode ser considerado como o somatório das rendas de todos os agentes
econômicos em um determinado período de tempo.

Importante ressaltar que PIB mede renda e não riqueza. Riqueza é estoque (patrimônio
acumulado), enquanto renda é fluxo.

3) PIB = ∑ Demandas

PIB também pode ser visto como o somatório das demandas por bens e serviços finais numa
economia em um determinado período de tempo.
Idealmente, se o PIB for calculado por meio de qualquer uma dessas três formas, chegaremos
ao mesmo resultado. Para que a economia de um país cresça, gerando um aumento do PIB, os
três resultados (P; R; D) precisam estar aumentando.

Aumento do ∑ Produção

Para que haja um aumento da capacidade produtiva, depende-se da quantidade de fatores de


produção que o país em questão possui: mão-de-obra, capital (máquinas e equipamentos),
poupança (renda não consumida para financiar a produção), tecnologia (maneira de organizar
os fatores de produção) e recursos naturais.

Aumento do ∑ Demandas

A demanda pode crescer por meio do consumo das famílias, do investimento das empresas
(compra de fatores de produção), dos gastos do governo e do setor externo (exportações
líquidas).

Obs.: exportações líquidas (x – m) são as exportações de bens e serviços (x) menos as


importações de bens e serviços (m).

Idealmente, para que possa crescer, um país precisa apresentar equilíbrio entre o crescimento
da capacidade produtiva e o crescimento da demanda. Trata-se de um equilíbrio delicado e
nem sempre simples.

Portanto, para que haja crescimento na renda das pessoas, produção e demanda precisam
crescer juntas. Não adianta que haja apenas crescimento da produção, o que pode
eventualmente gerar uma crise de superprodução, não permitindo o crescimento do PIB.
Tampouco basta apenas o crescimento da demanda, pois preços irão subir, prejudicando
também o crescimento.

Aumento do ∑ Rendas

A expansão da renda pode representar o crescimento dos salários, do aluguel, do pagamento


de juros e também do pagamento de lucros e dividendos.

∑ Produção = ∑ Rendas = ∑ Demandas


→ Mão-de-obra → Salário → Consumo
→ Capital (máquinas) → Aluguel → Investimento
→ Poupança → Juros → Gastos do governo
→ Tecnologia → Lucros → Exportações líquidas
→ Recursos naturais (x – m)
Pelo acima exposto, podemos entender muitos dos problemas estruturais que a economia
brasileira apresenta. O Brasil tem, tradicionalmente, muita facilidade para expandir a demanda,
que está sempre crescendo mais rápido do que a produção. O consumo no Brasil é altíssimo,
representando por volta de 60% do PIB. Também somos um país que investe pouco, deixando
de expandir sua capacidade produtiva, que gasta muito e cujas exportações líquidas são,
geralmente, negativas.

O Brasil é um país que acaba sendo muito impactado pelo consumo das famílias e pelos gastos
do governo (ambos chegam a representar mais de 80% do PIB). Nosso país tem, usualmente,
uma pressão de demanda muito forte que não é acompanhada por uma capacidade de
produção que se expanda na mesma velocidade.

O crescimento da demanda de forma mais acelerada do que o crescimento da capacidade


produtiva prejudica o crescimento, pois não haverá produtos suficientes para consumir,
pressionando a inflação.

CELSO FURTADO:
“Brasil tem problema estrutural de irregularidade na expansão da oferta agregada”

ENTENDENDO MELHOR A SITUAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO NO BRASIL*:

Mão-de-obra → embora numerosa, é muito pouco produtiva.


Capital → carência de máquinas, equipamentos e infraestrutura.
Poupança → níveis de poupança baixíssimos em proporção do PIB.
Tecnologia → salvo alguns pequenos nichos de excelência, Brasil é importador de tecnologia.
Recursos naturais → temos em abundância, mas os que faltarem podem ser importados.

*Descrição acima explica a dificuldade que Brasil tem para crescer de forma sustentada e veloz.

POR QUE A CHINA CRESCE A TAXAS MUITO ELEVADAS?

Mão-de-obra → produtividade de trabalhadores chineses cresce a taxas avassaladoras.


Capital → China já produz máquinas e equipamentos, apresentando oferta gigantesca.
Poupança → níveis de poupança elevadíssimos em proporção do PIB chinês.
Recursos naturais → China não tem abundância de recursos, mas importam do Brasil.
EQUAÇÃO MACROECONÔMICA FUNDAMENTAL

O PIB de um país é calculado por meio da equação macroeconômica fundamental, que


representa a soma dos seguintes agregados:

PIB =
→ Consumo das famílias (C) +
→ Investimentos das empresas (I) +
→ Gastos do governo (G) +
→ Exportações de bens e serviços (x) menos importações de bens e serviços (m) → (x – m)

CONSUMO DAS FAMÍLIAS (C)

O consumo das famílias (C) depende, fundamentalmente, da renda disponível (RD)*


→ C (RD)

*RD = renda bruta – impostos (salário líquido)

Há duas alternativas quando existe renda disponível (RD):


- Consumo (C); ou
- Poupança (S) – do inglês savings.

- Quando há um aumento da RD, considerando tudo mais constante, C irá aumentar também.
- Quando a RD diminui, considerando tudo mais constante, a tendência é que C diminua também.

*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++


INVESTIMENTO DAS EMPRESAS (I)
*Investimento produtivo: comprar fatores de produção para produzir, objetivando lucro.

Investimento das empresas (I) em função da taxa de juros (r) – do inglês rate.
→ I (r)

- Quanto maior a taxa de juros (r), considerando tudo mais constante, menor será o
investimento (I), pois é maior o incentivo para deixar o dinheiro parado no banco.
- Quanto a menor a taxa de juros (r), considerando tudo mais constante, maior será o
investimento (I).

*RELAÇÃO NEGATIVA entre essas duas variáveis. - -

Comentário do Professor →Alta taxa de juros no Brasil tem razões estruturais:

➢ Considerando-se que os juros são o preço de aluguel da poupança, os baixíssimos níveis


de poupança no Brasil tornam o crédito muito caro (questão de oferta x demanda).

➢ Governo brasileiro é grande captador de poupança. Déficit nominal das contas públicas
(que inclui gastos com juros) está em meio trilhão de reais. Governo vai a mercado vender
títulos do Tesouro Direto, a fim de captar recursos para cobrir esse déficit expressivo,
absorvendo a pouca poupança disponível no país. País deixa de ter poupança para
investimentos na expansão da oferta agregada.

➢ Sistema bancário do Brasil é altamente concentrado, com apenas 5 bancos. Um cenário de


maior concorrência entre um número maior de bancos levaria a taxas de juros menores.
Bancos estrangeiros não querem atuar no Brasil devido a uma série de problemas, como a
falta de previsibilidade regulatória e tributária, gastos com sistemas de segurança bancária
caríssimos e os enormes passivos trabalhistas. Diversos bancos estrangeiros que tentaram
operar no Brasil, vieram a desistir (Citibank, ABN Amro, Bilbao Viscaya, BankBoston – exceção:
Santander).

➢ Mais da metade do crédito no Brasil está nas mãos de bancos públicos (BNDES, BB, Caixa),
o que significa que o governo decidirá quem poderá ter acesso a esse crédito mais barato. O
pouco crédito disponível ao correntista – pessoa física – acaba tendo juros altíssimos.

➢ Juros do cheque especial são altíssimos porque bancos nada podem fazer contra
inadimplência. Mesmo que correntistas inadimplentes sejam negativados em órgãos de
proteção ao crédito, em 5 anos seus nomes estarão limpos, pois dívidas prescrevem. Bancos,
não podendo reaver legalmente dinheiro emprestado e não pago, recuperam todo o prejuízo
decorrente dessas operações com os bons pagadores.

GASTOS DO GOVERNO (G)


*Variável essencialmente POLÍTICA

→ Emissão de papel-moeda para poder gastar mais.


→ Aumento de tributos.
EXPORTAÇÕES LÍQUIDAS (x – m)

➢ Exportações líquidas (EL) em função do nível de preços internos (P) → EL (P)


*Preços que influenciam nos custos de produção dentro do país.

- Se nível de preços internos (P) estiver maior, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país perde competitividade e acaba tendo exportações líquidas (EL) menores.
- Se nível de preços internos (P) estiver menor, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país torna-se mais competitivo e acaba tendo exportações líquidas (EL) maiores.
*RELAÇÃO NEGATIVA entre essas duas variáveis. - -

➢ Exportações líquidas (EL) em função do nível de preços externos (P*) → EL (P*)


*Preços no mundo todo, exceto no país que se está analisando.

- Se nível de preços externos (P*) estiver maior, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país torna-se mais competitivo e acaba tendo exportações líquidas (EL) maiores.
- Se nível de preços internos (P) estiver menor, considerando tudo mais constante, inclusive o
câmbio, país perde competitividade e acaba tendo exportações líquidas (EL) menores.
*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++

➢ Exportações líquidas (EL) em função da taxa de câmbio (TC) → EL (TC)

- Se taxa de câmbio (TC) estiver mais alta, o país torna-se mais competitivo, pois produtos
brasileiros em dólar ficam mais baratos, estimulando as exportações. As importações serão
desestimuladas, pois produtos estrangeiros ficarão mais caros. Considerando tudo mais
constante, serão maiores as exportações líquidas (EL).
- Se taxa de câmbio (TC) estiver mais baixa, país perde competitividade, pois produtos
brasileiros em dólar ficam mais caros, desestimulando as exportações. As importações serão
estimuladas, pois produtos estrangeiros ficarão mais baratos. Considerando tudo mais
constante, serão menores as exportações líquidas (EL).
*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++
➢ Exportações líquidas (EL) em função do crescimento doméstico (PIB) → EL (PIB)

- Se o crescimento doméstico (PIB) estiver mais forte, importações sofrem estímulo e


exportações são desestimuladas, pois produtor pode vender produtos no mercado interno. País
acaba tendo exportações líquidas (EL) menores.

Obs.: Essa lógica não impede que um país cresça muito e também exporte muito, pois outros
vetores da economia podem mitigar esse efeito e, eventualmente, mais do que compensá-lo.

- Se o crescimento doméstico (PIB) estiver mais fraco, ou houver retração da economia, as


importações costumam despencar e as exportações crescem, pois há menos demanda do
mercado consumidor interno. País acaba tendo exportações líquidas (EL) maiores.
*RELAÇÃO NEGATIVA entre essas duas variáveis. - -

➢ Exportações líquidas (EL) em função do crescimento mundial (PIB*) → EL (PIB*)

- Se crescimento mundial (PIB*) estiver mais forte, país terá exportações líquidas (EL) maiores.
- Se crescimento mundial (PIB*) estiver mais fraco, país terá exportações líquidas (EL) menores.
*RELAÇÃO POSITIVA entre essas duas variáveis. ++

→ No caso do Brasil em particular, o crescimento mundial está cada vez mais atrelado ao
conceito de crescimento chinês – principal parceiro comercial brasileiro, essencial para nossos
resultados comerciais. A China tem expressivo déficit comercial com o Brasil, pois importa de
nós os recursos naturais que não tem (maior vulnerabilidade chinesa).

Com praticamente todo o resto do planeta, a China tem superávits comerciais, sendo o maior
deles com os EUA (mais de US$ 300 bilhões, em 2017, quase metade do déficit comercial total
dos EUA), o que explica a recente “guerra comercial” entre chineses e estadunidenses.

Exportações líquidas da China – EL (P, P*, TC, PIB, PIB*)


➢ Dentre os vetores acima, os que mais impactam no resultado das EL na China são:
→ Preços internos (P): custos de produção muito reduzidos.
→ Taxa de câmbio (TC): câmbio artificialmente desvalorizado, aumentando competitividade.

Exportações líquidas do Brasil – EL (P, P*, TC, PIB, PIB*)


➢ Dentre os vetores acima, os que mais impactam no resultado das EL no Brasil são:
→ Preços externos (P*):
- Preço internacional das commodities.
→ Crescimento mundial (PIB*):
- Desaceleração do crescimento chinês afeta exportações brasileiras (e também o câmbio).

Obs.: Exportações líquidas no Brasil não têm grande peso sobre o seu PIB (apenas 13%).
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO – CHINA x BRASIL

CHINA:

Nos anos 1970, a China era um país miserável e fechado para o resto do mundo. Governo chinês
criou as ZEEs (zonas econômicas exclusivas), para que empresas estrangeiras usassem o
território chinês como plataforma de exportação.

Nas ZEEs, a China oferecia:


- Custos de produção muito baixos: mão-de-obra barata (miserável e semiescrava).
- Câmbio extremamente desvalorizado.

A China atraiu grande quantidade de IED (investimento estrangeiro direto), dólares que
entravam para abrir fábricas e negócios no território chinês. Esse investimento notadamente
industrial vai ampliar as exportações líquidas (EL) do país, que vai se tornar a alavanca de
crescimento do PIB chinês.

Esse modelo vai se retroalimentar e atrair cada vez mais IED para a China, o que vai significar
um significativo aumento na demanda por trabalho. Cada vez mais pessoas vão sendo
empregadas e mais partes do território chinês serão usados como plataforma de exportação.

Uma parte desse crescimento do PIB e da renda na China começa a ser poupada, convertendo-
se em capacidade de investimento dos próprios chineses (tanto do governo como de cidadãos).
Com o passar dos anos, quanto mais a demanda por trabalho vai aumentando, os salários
também sofrem aumento. No caso chinês, como existe uma abundância enorme de mão-de-
obra, esse aumento dos salários foi acontecendo de forma lenta e gradual.

Esses aumentos salariais geram 2 (dois) efeitos:


→ Crescimento do mercado consumidor interno (lentamente, cresce classe média chinesa); e
→ Perda de competitividade nas exportações (países ainda mais pobres exportarão também).

Esse movimento representa uma transição, pois o crescimento, que antes era alavancado pelo
setor externo, começa a ser cada vez mais alavancado pelo setor interno. Nos últimos anos, esse
movimento ficou ainda mais claro na China, com medidas como a concessão da propriedade
privada a agricultores e a desestatização (e aumento da concorrência) do sistema bancário.

Esse fomento ao mercado interno ocorre dentro de uma perspectiva de perda de relevância do
setor externo como alavanca de crescimento do PIB chinês. Consequentemente, também se
inicia um processo de gradativa desaceleração da economia chinesa. Há um enorme cuidado, na
China, para que esse processo se mantenha gradativo, sempre com incentivos à formação de
poupança.
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO – CHINA x BRASIL

BRASIL:

O Brasil adotou um modelo de crescimento baseado em seu mercado interno, por meio do
fechamento de sua economia. A partir do governo Vargas (1930-1945), o eixo dinâmico da
economia brasileira passa a ser o seu mercado interno, com a indústria nacional responsável
pelo abastecimento do país.

O governo brasileiro oferecia:


- Crédito (muitas vezes subsidiado por bancos públicos).
- Subsídios (por meio de desonerações à indústria e setores selecionados).
- Legislação trabalhista (geração de um mercado consumidor interno).
- Controle cambial (governo determina quem pode ter acesso a moeda estrangeira).

Segundo esse modelo, a indústria nacional abastecerá o mercado interno, numa economia
muito fechada, inclusive de tarifas de importação muito elevadas.

Obs.: o Brasil continua com grande parte desse modelo ainda vigente, exceto o controle cambial.

Esse modelo fazia ainda muito sentido até os anos 1960. Até então, o crescimento mundial era
maior do que o crescimento do comércio internacional. Cresciam acima da média aqueles países
cujas economias estavam ancoradas no mercado interno.

Essa lógica inverteu-se dos anos 1970 para cá, quando o comércio mundial passou a crescer mais
do que o PIB mundial. Isso significa dizer que passaram a crescer acima da média aqueles países
que faziam mais comércio. O Brasil passou então a crescer abaixo da média mundial, o que se
mantém até os dias de hoje.

A manutenção desse modelo econômico pelo Brasil faz com que o país esteja desacoplado de
cadeias mundiais de valor, apresentando uma baixa corrente de comércio. Além dessas
consequências, o Brasil também mantém um lobby muito forte do setor industrial, que luta para
manter esquemas de proteção e de desoneração.
RENDA NACIONAL BRUTA (RNB)

A Renda Nacional Bruta (RNB) pode ser calculada da seguinte forma:

→ RNB = PIB + RREP - REEP

➢ Subtraindo do PIB:
- Renda enviada ao exterior de forma primária (REEP).

➢ Acrescentando ao PIB:
- Renda recebida do exterior de forma primária (RREP).

*Renda primária = juros, lucros e salários.

A Renda Nacional Disponível (RND) pode ser calculada da seguinte forma:

→ RND = RNB + RRES - REES

➢ Subtraindo da RNB:
- Renda enviada ao exterior de forma secundária (REES).

➢ Acrescentando ao PIB:
- Renda recebida do exterior de forma secundária (RRES).

*Renda secundária = doações.

A RND pode ser ramificada em 2 itens:


- Renda Privada Disponível (RPD); e
- Renda Líquida do Governo (RLG)
→ RND = RPD + RLG

➢ Renda Privada Disponível (RPD) pode tornar-se Consumo (C) ou Poupança Privada (SP):
→ RPD = C + SP

➢ Renda Líquida do Governo (RLG) pode tornar-se Gasto do Governo (G) ou Poupança do Governo (SG):
→ RLG = G + SG
INVESTIMENTO (I):

Investimento (I) produtivo pode ser marcado como igual a Poupança (S), que pode ser
desmembrada em Poupança Privada (SP), Poupança do Governo (SG) e Poupança Externa (SEXT).

→ I = S = SP + SG + SEXT

Poupança Privada (SP) é Renda Privada Disponível (RPD) menos o Consumo (C):
→ SP = (RPD – C)

Poupança do governo (SG) é Renda Líquida do Governo (RLG) menos os Gastos do Governo (G):
→ SG = (RLG – G)

Poupança Externa (SEXT) é o Saldo de Transações Correntes (STC), com o sinal invertido:
→ SEXT = (- STC)

A Poupança Privada (SP) acrescida da Poupança do Governo (SG) também pode ser chamada de
Poupança Nacional (SN) ou de Poupança Doméstica (SD):
→ SP + SG = SN ou SD

→ Essa tendência à igualdade entre Investimento (I) e Poupança (S) acaba sendo garantida pela
flutuação da taxa de juros. Como funciona isso?

Se houver uma desigualdade entre esses indicadores, sendo o Investimento (I) maior do que a
Poupança (S), juros acabam subindo. Essa alta dos juros desestimulará o investimento e
estimulará a poupança, fazendo com que se restabeleça a igualdade.

Se houver uma desigualdade entre esses indicadores, sendo o Investimento (I) menor do que a
Poupança (S), juros acabam caindo. Essa queda dos juros estimulará o investimento e
desestimulará a poupança, fazendo com que se restabeleça a igualdade.

→ I = SP + SG + SEXT
SP → Brasil tem poupança privada muito pequena e propensão ao consumo muito alta.
SG → poupança do governo é negativa, pois seus gastos são superiores à renda líquida do governo.
SEXT → poupança externa tem papel muito importante como alavanca de investimento no Brasil.

Essa Poupança Externa (SEXT) pode ser captada como:


- Investimento Estrangeiro Direto (IED);
- Empréstimos; ou
- Capital especulativo.
DÉFICITS GÊMEOS:

Quando um país tem um déficit fiscal, ou seja, quando ele gasta mais do que tributa (t < G), isso
acaba contaminando o lado comercial, fazendo com que as importações sejam maiores do que
as exportações (m > x). Por que isso ocorre?

→ Análise coeteris paribus (considerando que todos os demais fatores estão constantes):

Supondo-se uma situação de equilíbrio, em que as exportações estão em nível igual às


importações (x = m), e com os gastos do governo iguais ao valor da tributação (G = t):

Se gastos do governo aumentam (G > t), haverá, na prática, uma diminuição da poupança do
governo (SG). Nesse caso, a situação de equilíbrio acabará e teremos investimentos em níveis
maiores do que a poupança (I > S), ocasionando aumento de juros.

O aumento dos juros desincentivará investimentos, estimulando todos os tipos de poupança,


inclusive poupança externa (SEXT). Essa entrada de dólares (US$) na economia terá como
consequência a valorização cambial (serão necessários menos reais para comprar um dólar).

Essa valorização cambial vai diminuir as exportações e aumentar as importações, fazendo com
que, na prática, as exportações sejam menores do que as importações (x < m).

Portanto, segundo a Teoria dos Déficits Gêmeos, o desequilíbrio fiscal afetará os resultados
comerciais de um país. No Brasil, se não houvesse um desequilíbrio fiscal tão expressivo (meio
trilhão de reais de déficit nominal), juros seriam menores e, consequentemente, os resultados
comerciais brasileiros seriam mais significativos.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 02
Prof. Daniel Sousa – 08.08.2018

MACROECONOMIA

Na aula passada, foi feita uma comparação entre o modelo brasileiro de crescimento, muito
ancorado no mercado interno (ou absorção interna), e o modelo chinês de crescimento, que
vem sendo pautado pelas exportações líquidas (ou absorção externa).

No caso do Brasil, tem sido verificado um modelo baseado numa economia fechada, com:
- Tarifas médias de importação altas.
- Subsídios ao produtor local (desonerações).
- Crédito por meio dos bancos públicos (com juros menores do que os praticados no mercado).
- Controle cambial (que hoje já não existe mais).

No caso da China, verifica-se um modelo baseado nas plataformas de exportação, com:


- Exportações líquidas (alavancáveis por custos locais de produção reduzidos).
- Câmbio desvalorizado como mecanismo de impulso ao crescimento.

→ Setor externo acaba transbordando renda para o mercado macroeconômico doméstico.


Ranking dos PIBs mundiais:

1o lugar: EUA - 25% do PIB mundial.


2o lugar: China - 15% do PIB mundial.
→ EUA + China + União Europeia = 65% do PIB mundial.
*Somente a empresa norte-americana Apple tem US$ 1 trilhão em valor de mercado. Se a Apple
fosse um país, estaria em 16o lugar, à frente do México e da Turquia.

3o lugar: Japão - 6% do PIB mundial.


→ Acreditou-se, por muito tempo, que a economia do Japão ultrapassaria a dos EUA. Japoneses
teriam uma capacidade de expansão da oferta agregada muito veloz, devido à sua capacidade
inovativa. Essa percepção durou até a década de 1990, quando a economia do Japão estagnou.

*A China, por sua vez, tem sim a capacidade de superar a economia dos EUA, pois a taxa de
crescimento chinesa segue com uma taxa considerável. Grande parte das barreiras comerciais
impostas à China pelos EUA advém do pavor que os americanos têm de que a China ultrapasse
a economia dos EUA.

4o lugar: Alemanha - maior economia da União Europeia.


5o lugar: Reino Unido

6o lugar: Índia
- Taxas de produtividade em ascensão veloz.
- Desenvolvimento expressivo do setor de serviços.
- Aumento acelerado do mercado consumidor interno.
- Organização macroeconômica (metas de inflação, metas fiscais).
- Estabilidade política (maior democracia do mundo, com eleições livres e diretas há décadas).

7o lugar: França
8o lugar: Brasil - PIB anual 9 vezes menor do que o americano.
WORLD ECONOMIC OUTLOOK – APRIL 2018
→ Perspectivas para o crescimento mundial em 2018

http://www.imf.org/external/datamapper/NGDP_RPCH@WEO/OEMDC/ADVEC/WEOWORLD

*América do Sul é a região que menos crescerá este ano, segundo o FMI. Brasil tem previsão
oficial de crescer 2,3%, mas, de fato, deve crescer só 1,5%. O mundo crescerá 3,9% em 2018.

→ Por que o Brasil tem tido recentemente tanta dificuldade em crescer acima da média mundial?

O Brasil é um país que faz pouco comércio. Suas exportações líquidas são o indicador que está
se comportando melhor atualmente (em 2017, o Brasil teve o maior superávit de sua história),
sobretudo por causa da alta nos preços das commodities, mas isso tem um impacto pequeno
no PIB (cerca de 12%).

No que se refere aos gastos do governo (situação fiscal), União, Estados e municípios tiveram
um déficit de R$ 513 bilhões em 2017 (resultado completo e não apenas primário), não sendo
possível qualquer expansão de gastos. O governo terá que vender R$ 1,2 trilhões em títulos do
Tesouro Direto para pagar esse déficit e os títulos que estão vencendo. Isso significa que o
governo irá retirar esses R$ 1,2 trilhões da economia, poupança que poderia financiar
investimentos e, até mesmo, consumo.

*A venda de títulos só pode legalmente acontecer para pagar títulos que estão vencendo, para
pagar juros da dívida; ou para financiar obras, por exemplo. A regra de ouro é uma regra da
legislação brasileira que proíbe o governo de vender títulos para pagar despesas de custeio
(como salários do funcionalismo, por exemplo), mas isso já está quase ocorrendo.

Os investimentos no Brasil são muito dependentes das empresas estatais, mas elas estão,
atualmente, sem capacidade de investimento por causa de seu endividamento. As empresas
nacionais também estão com as expectativas muito deterioradas, tanto pelo ambiente político
de muita imprevisibilidade quanto pela falta de demanda. Níveis de confiança do empresariado
estão muito ruins.

Em relação ao consumo das famílias, temos ainda uma taxa de desemprego muito alta, que
trava os resultados positivos nesse sentido. As famílias estão ainda relativamente endividadas
e consumidores com expectativas muito pessimistas para o futuro.
→ O crescimento do PIB brasileiro apresenta extrema irregularidade.

O Brasil tem, tradicionalmente, uma tendência de expansão da demanda agregada mais veloz
do que a expansão da oferta agregada. O Brasil tem muita dificuldade de expandir sua oferta
agregada, aumentando a dotação de fatores de produção. A oferta agregada depende da
quantidade de capital, tecnologia, poupança, recursos naturais, produtividade da mão-de-obra.

Quando o Brasil consegue expandir a oferta de forma mais forte, isso normalmente ocorre
mediante captação de poupança externa, como ferramenta para alavancar investimentos. Isso,
entretanto, não ocorre de forma contínua. Em geral, a demanda agregada cresce muito mais do
que a oferta agregada e, por isso, o Brasil não consegue apresentar crescimento sustentável.

Durante o período do milagre econômico (1969-1974), momento de grande crescimento


econômico, o Brasil apresentou a maior taxa de investimento em proporção do seu PIB na sua
história. Durante o II PND (1975-1979), houve uma desaceleração, mas o crescimento
permanece robusto. No governo Figueiredo (1979-1985), o Brasil entrou em recessão. Ocorre
que o crescimento verificado no milagre foi baseado, sobretudo, em poupança externa, em
momento de altíssima liquidez mundial (política expansionista dos EUA).

Entre 1984 e 1989, a economia brasileira terá alguma recuperação, devido aos bons resultados
na balança comercial. Essa melhora nos resultados comerciais brasileiros foi fruto dos
investimentos realizados durante o II PND. O país teve uma queda expressiva das importações
e um crescimento considerável da exportação de produtos de maior valor agregado (máquinas
e equipamentos).

Em seguida, temos o Plano Collor (1990), colocando a economia novamente em recessão. Ao


longo da primeira metade dos anos 1990, verificou-se um nível médio de crescimento da
economia, que foi freado pela crise da maxidesvalorização do real (1999).

Depois de uma recuperação econômica ao longo dos anos 2000, o Brasil sentiu os efeitos da
crise de 2008. Houve recuperação a partir de 2010, influenciada pelas commodities e por altas
taxas de investimento estrangeiro direto. Há uma crise econômica do final do governo Dilma,
que inviabilizou politicamente seu governo, culminando, em 2016, no impeachment.
THE WORLD FACTBOOK (CIA) – BRASIL / 2017

→ 2018: previsão de crescimento da economia brasileira em torno de 1,5%.

→ De 2015 para cá, o PIB per capita vem diminuindo, devido à variação negativa do PIB.

Agricultura: 6,2% do PIB.


Indústria: 21% do PIB.
Serviços: 72,8% do PIB.

*Alta de 9% do setor agropecuário, em 2017, teve pouco impacto no crescimento brasileiro,


devido a sua menor representatividade na composição do PIB. Mesmo assim, crescimento de
1% do PIB brasileiro em 2017 foi, sobretudo, devido ao setor agrícola e ao setor exportador.

→ 2017:
- Poupança nacional em torno de 14,8% (SP + SG)
- Consumo representou 63,4% do PIB.
- Gastos do governo foram de 20% do PIB.
- Investimentos foram 15,6% do PIB
- Exportações de bens e serviços foram 12,6% do PIB
- Importação de bens e serviços representaram -11,6%.
→ (x – m) foi positivo em 2017.

*Investimentos podem ser definidos como formação bruta de capitais fixos mais a variação de
estoques (I = FBCF + VE). Variação de estoques é uma forma de investimento. Se você produziu e
ninguém comprou, é como se você tivesse comprado de sua empresa através de variação de
estoques.
EXERCÍCIOS DE 1a FASE:
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 03
Prof. Daniel Sousa – 15.08.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR - INSTRUMENTOS & TEORIA

INSTRUMENTOS:

TARIFA DE IMPORTAÇÃO:

→ Análise do impacto da tarifa de importação sobre o mercado local:


Of./O:
Curva de oferta doméstica.
Dem./D:
Curva de demanda doméstica.
Exc. Cons./EC:
Excedente do consumidor.
Exc. Prod./EP:
Excedente do produtor
PF:
Preço em economia fechada
PI:
Preço internacional
qo:
Quantidade ofertada
qd:
Quantidade demandada

Em uma ECONOMIA FECHADA (gráfico acima, à esquerda), considerando-se qualquer produto,


o ponto de encontro entre as curvas de oferta doméstica e de demanda doméstica (ponto de
equilíbrio) definirão o preço e a quantidade ofertada desse produto (que será equivalente à
quantidade demandada).

Nesse cenário de economia fechada, há alguns excedentes, proporcionados tanto a produtores


quanto a consumidores. No caso dos consumidores, percebe-se que muitas unidades do
produto estão sendo adquiridas por um preço menor do que o consumidor estaria disposto a
desembolsar. Trata-se do Excedente do Consumidor, o bem-estar proporcionado ao
consumidor pela comercialização desse produto (região listrada em vermelho).

Com o produtor ocorreu algo semelhante, pois ele estava disposto a receber menos pelo
produto e acabou recebendo mais. Esse Excedente do Produtor é tudo o que ele não estava
disposto a receber, mas recebeu (região listrada em azul).

Já uma ECONOMIA TOTALMENTE ABERTA, que pratica o LIVRE-COMÉRCIO (gráfico acima, à


direita), está sujeita ao preço internacional*.

*Preço internacional é aquele praticado no mundo, em geral, para esse produto hipotético. Se o
produtor local não adotar esse preço internacional, numa economia aberta, o consumidor
doméstico irá preferir um produto importado. Assim, o produtor local tender a adaptar o preço
de seu produto para um patamar mais compatível com o preço internacional.

Obs.: no CACD, o enunciado das questões costuma informar que se trata de uma economia
pequena, que, aberta ou fechada, não consegue influenciar nos preços internacionais.
Sob a influência do preço internacional, que tende a ser mais baixo que o doméstico, a
quantidade oferta costuma cair, já que o preço também caiu e o produtor é desestimulado a
produzir e vender. Por outro lado, a demanda aumentará bastante. Essa diferença entre a
quantidade demandada e a quantidade ofertada – em outras palavras, o excesso de demanda
gerado pelo livre-comércio – será suprida pelas importações.

Em termos de excedentes, também haverá, na economia exposta ao livre-comércio, um impacto


interessante. O consumidor será muito beneficiado pela prática do livre-comércio, pois passará
a poder comprar uma quantidade maior por um preço bem mais baixo (Excedente do
Consumidor, em listras vermelhas). Já o Excedente do Produtor será reduzido (em listras azuis).
Apesar do menor benefício aos produtores, o total de excedente para a sociedade é bem maior
numa economia aberta, sendo esse um dos argumentos usados pelos defensores do livre-
comércio: a ideia de ampliação de um bem-estar coletivo.

→ Produto internacional passa a entrar no mercado acrescido da tarifa de importação.


→ Quantidade ofertada domesticamente passa a ser maior com a cobrança da tarifa.
→ Quantidade demandada, com a tarifa, acaba encolhendo.
→ Excedente do consumidor menor, pois consumidor é prejudicado por preços mais altos
*A arrecadação do governo é o volume importações X tarifa praticada.
*Triângulos laterais (em amarelo) são o PESO MORTO = a perda líquida de bem-estar.

VANTAGENS DA TARIFA
*Aumento da produção nacional
*Crescimento da renda e do emprego
*Queda nas importações
*Proteção e viabilização de uma indústria nascente

DESVANTAGENS DA TARIFA
*PESO-MORTO (diminuição do excedente de mercado).
*Diminuição do bem-estar geral.
*Aumento dos preços (inflação).
*Ineficiência.

Geralmente se argumenta que tarifa é temporária, até que o setor de desenvolva e se torne
mais competitivo. Também há argumentos políticos, tanto internos quanto externos.
INDÚSTRIA NASCENTE:

*Tarifa (temporária)
→ Estimula produção nacional
→ Aumento das economias de escala (custo médio reduz com a expansão da produção)
→ Redução de custos
→ Know-how

Proteção tarifária temporária para estimular setores que têm potencial. Um dos pontos de
fragilidade nesse argumento é sobre a definição do que seria uma indústria nascente. E, em
segundo lugar, até quando essa indústria será considerada nascente.

SUBSÍDIOS:

*Renúncia fiscal
*Aporte financeiro em empresas
- São proibidos pela OMC, a não ser que existam para aumentar eficiência tecnológica.

O preço internacional define uma quantidade ofertada em Livre-comércio e uma quantidade


demandada em livre-comércio.

Com os subsídios, o país, que no livre-comércio era importador, torna-se exportador, causando
uma possível distorção no comércio.

Aumento do subsídio na produção agrícola → Queda na eficiência da produção.


RESOLUÇÃO DE EXERCÍCIOS:
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 04
Prof. Daniel Sousa – 22.08.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR – INSTRUMENTOS & TEORIA

MERCANTILISMO

Num primeiro momento, havia uma visão primitiva: comércio servia para acumular metais
preciosos (ouro e prata) para os Estados.

→ Metalismo: acumulação de riquezas naqueles países com acesso primário a minas de metais
preciosos, como Portugal e Espanha.

→ Balança comercial favorável: estratégia adotada para acumular metais aos quais alguns
Estados não tinham acesso de forma primária, como Inglaterra e França.

FISIOCRACIA

Os fisiocratas defenderão a ideia de que a riqueza vem de Deus. Segundo os fisiocratas, o setor
agrícola seria o único setor capaz de criar riquezas. As demais atividades econômicas seriam
estéreis. O comércio seria uma forma de transbordamento dessa riqueza.

A economia seria regida por leis naturais. Os fisiocratas eram influenciados pelas descobertas
da Física. Economia se autorregularia segundo leis naturais definidas por Deus (primeira vez em
que se falou do não intervencionismo estatal – laissez-faire, laissez-passer).

ADAM SMITH (1723-1790)


→ Fundador da Escola Clássica.
LIVRO: Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações (1776)

Seres humanos são egoístas e, sendo assim, a melhora maneira de organizar a economia seria
usar o egoísmo das pessoas para beneficiar o coletivo. A busca do interesse individual pode
contribuir para o atingimento do interesse coletivo. Pessoas devem ser autorizadas a acumular
riquezas e seu enriquecimento também deve ser protegido. A propriedade privada e a livre
iniciativa devem ser protegidas.

Ex.: cervejeiro não faz cerveja porque é seu amigo, mas porque quer ganhar dinheiro.

A competição deve ser sempre protegida e estimulada, pois faz com que produtos sejam mais
baratos, melhores e faz com que a sociedade tenha mais bem-estar. De fato, após a ascensão
do pensamento liberal clássico, a renda per capita mundial cresceu significativamente a partir
do século XVIII.

A economia é regida pelas leis do mercado, que é previsível, compreensível e racional. O


mercado é o conjunto dos interesses individuais em choque. Segundo a lógica smithiana, o
mercado definirá quais produtos serão produzidos e quais deixarão de ser produzidos.
→ MÃO INVISÍVEL DO MERCADO.
Conforme o mercado se desenvolve, há uma divisão do trabalho, que seria algo inerente à
condição humana (toda sociedade apresenta divisões de trabalho, mesmo as mais primitivas).
O mercado potencializa e acelera esse processo, intensificando as divisões, especializando cada
vez mais as funções: mais eficiência, aumento da produção, redução dos custos e maior
qualidade.

Assim como não deve haver interferência na economia em nível local e nacional, países também
não devem interferir no mercado global. Essa divisão do trabalho também ocorreria em nível
internacional.

“Teoria das vantagens absolutas”:

→ Segundo Smith, em um ambiente de livre-comércio, cada país vai especializar-se em um tipo


de produção, na qual ele tem mais vantagens absolutas, ou seja, custos absolutos mais baixos.

- Se o país X produz tecidos mais baratos que o país Y, terá vantagem absoluta nesse produto e
será mais especializado na produção de tecidos, vendendo-os ao país Y.
- Se o país Y produz alimentos mais baratos que o país X, terá vantagem absoluta nesse produto
e será mais especializado na produção de alimentos, vendendo-o ao país X.
*Ambos os países terão acesso a tecidos e alimentos, com preços menores e qualidade superior.

→ ECONOMIAS DE ESCALA DEVIDO A ESSA ESPECIALIZAÇÃO – custo médio de produto cairá.

2 (dois) furos nessa teoria:


1) Se os dois países tiverem vantagens absolutas no mesmo produtos, não haveria comércio.
2) Se um país tem vantagens em todos os produtos e outro país não tem vantagens em nenhum,
também não haveria comércio.

DAVID RICARDO (1772-1823)


LIVRO: Princípios da economia política e tributação (1817)

Equivalência Ricardiana: quando o governo aumenta gastos, para estimular economia, sem
aumentar os respectivos impostos, pessoas vão retrair o seu consumo como forma de se
prepararem para um aumento futuro de impostos. Assim, governo, por meio de sua política de
tributação, não consegue gerar nem mais e nem menos crescimento econômico.

Enquanto Smith se concentrou mais na investigação da origem da riqueza, Ricardo dará mais
importância à questão da distribuição. Nesse sentido, Ricardo irá argumentar que todos os
setores tendem a ter uma lucratividade igual.

Se a agricultura tem, momentaneamente, lucro menor do que a manufatura, pessoas vão migrar
para a manufatura. Porém, com mais gente na manufatura, lucros reduzirão e agricultura voltará
a ter mais lucros. Refinamento do argumento da mão invisível: interesses individuais vão
autorregulando a economia, mas isso também se aplicaria para os diferentes setores.

Ao longo do século XX, países agrícolas deixam de dar preferência ao setor agrícola, pois
indústrias estavam dando mais lucro. Porém, agricultura passa a ter lucros maiores.
1) Terras mais férteis, renda da terra baixa e abundância de terras – LUCRO ALTO
2) Terras menos férteis, renda da terra fica mais alta, escassez de terras – LUCRO MENOR

Com lucros menores no setor agrícola, empresas vão migrar para o setor manufatureiro. Com o
crescimento desse setor, lucro também irá cair. Crescimento também cairá, pois está baseado
nos lucros. Com isso, se entende que economias mais desenvolvidas tendem a crescer menos.

“Teoria das vantagens comparativas”:


→ Ricardo propõe-se a resolver as fragilidades da teoria de Smith.

Não seriam apenas as vantagens absolutas que determinariam o comércio. Embora alguém
tenha vantagens absolutas em relação a outro, o que vale é a vantagem comparativa.

Custo Comparativo = Custo Absoluto + Custo Oportunidade

Ricardo desafia a ideia de Smith de que o livre-comércio será bom para todos os países.
Vantagem absoluta seria uma parte da explicação. Vantagens absolutas estão dentro das
vantagens comparativas.

MODELO HECKSHER-OHLIN
→ É uma teoria neoclássica.

- Tentativa de sofisticar argumentos de Ricardo.


- Vantagens comparativas realmente determinam e organizam o comércio.

Vantagens comparativas vêm da dotação (quantidade) relativa de fatores de produção.

Em ambiente de livre-comércio, você vai exportar bens intensivos no fator abundante


(relativamente) e vai importar bens intensivos no fator escasso (relativamente).

Mão de obra:
- 2 países passam a praticar livre-comércio entre si.
- 1 país que tem abundância de mão de obra e outro que tem escassez de mão de obra.

Um desses países exporta produtos de alta intensividade de mão de obra. País com escassez de
mão de obra acaba parando de usar a sua mão de obra.

País com abundância de MDO País com escassez de MDO


ANTES Remuneração baixa Remuneração alta
DEPOIS Aumento da remuneração Redução da remuneração.
CEPAL (COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA)
→ Teoria da Crítica de Prebisch.

Crítica às teorias clássica e neoclássica – ao desprezar o fator tecnológico, estão cometendo um


erro. Existe uma dicotomia entre Centro e Periferia.

Países do Centro: exportadores de produtos manufaturados.


Periferia: exportadores de produtos agrícolas.

Produtos manufaturados estão constantemente agregando valor, devido avanços tecnológicos,


enquanto os produtos agrícolas não → tendência de deterioração dos termos de troca.

→ Se no ano 1, Brasil consegue comprar 1 produto manufaturado com 1 saca de café...


- No ano 2, o mesmo produto custará 1,3 sacas de café...
- No ano 3, o mesmo produto custará 1,5 sacas de café...
(...)

→ Solução seria vender mais?


- No caso do café, não é possível, pois o café tem demanda inelástica à renda. Se a renda das
pessoas aumenta, não irão tomar mais café.

→ Há uma transferência de renda da periferia para o centro:


- Periferia enfrenta isso desvalorizando o câmbio e aumentando sua dívida externa.
- Isso não é enfrentar as causas do problema.

→ Solução seria o protecionismo e desenvolver a indústria nacional:


- Industrialização de substituição de importações.
- Tarifas de importação elevadas para proteger a indústria nascente.
- Crédito subsidiado para promover a indústria nacional.
- Reserva de mercado (governo).
- Controle cambial (limitação a importações).

*Brasil ainda mantém esse modelo, com exceção do controle cambial.

1a Fase: Desenvolvimento das indústrias de base + bens não duráveis.


2a Fase: Bens duráveis.
3a Fase: Bens de Capital + novas tecnologias.
QUESTÃO 73 – TPS 2016

Em seu discurso de posse, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou: “Nas
políticas de comércio exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da
boa análise econômica”. À luz dessa afirmação e das teorias de comércio internacional,
julgue (C ou E) os itens subsecutivos.

1. David Ricardo aperfeiçoou as ideias de Adam Smith e desenvolveu a chamada Teoria das
Vantagens Comparativas. No livro Sobre os Princípios da Economia Política e da Tributação,
Ricardo defende que o comércio internacional é benéfico a todos os países que mantêm
vínculos comerciais entre si, pois o importante, segundo ele, são as vantagens
comparativas, não as absolutas, de todos os fatores de produção de uma economia.
Gabarito: ERRADO – vantagens comparativas são relativas a um produto, não a todos os
fatores de produção.

2. Segundo a teoria neoclássica do comércio internacional, também conhecida como


Teorema de Hecksher-Ohlin, o comércio internacional resulta de dotações distintas dos
fatores de produção entre os países, e a vantagem comparativa é determinada pela
escassez relativa desses fatores.
Gabarito: CERTO.

3. Segundo uma vertente da teoria neoclássica de comércio internacional, conhecida como


Teorema Heckscher-Ohlin-Samuelson, a eliminação das barreiras ao comércio entre dois
países resulta na convergência dos preços de seus fatores de produção.
Gabarito: CERTO.

4. Uma das críticas da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) à teoria clássica
é que a sua análise do comércio internacional é estática, não dinâmica, de modo que as
elevadas elasticidades-renda e preço dos produtos básicos tendem a produzir deterioração
nos termos de intercâmbio ao longo do tempo, o que é desfavorável aos países
exportadores de bens primários.
Gabarito: ERRADO. A demanda por produtos básicos tem baixa elasticidade-renda.

Questão 73 – TPS 2017

A respeito do comércio internacional, julgue (C ou E) os itens que se seguem.

1. A introdução de uma tarifa alfandegária causará efeitos de longo prazo sobre a balança
comercial se houver livre mobilidade de capital e regime cambial flexível.
Gabarito: ERRADO. Tarifas não surtem efeitos a longo prazo. Esse efeito se dissipa a longo
prazo. Apreciação posterior do câmbio vai ...XXXXOUVIR

2. No Brasil, apesar de décadas de tentativas de aumento da participação industrial nas


exportações, commodities ainda têm importância para a pauta de exportações, com o
aumento, em anos recentes, da relevância de países asiáticos como destinatários de
produtos.
Gabarito: CERTO.
3. A hipótese de tecnologia semelhante entre países, adotada pelo modelo tradicional de
dotação relativa de fatores de Heckscher-Ohlin, não é compatível com um cenário em que
a tecnologia seja considerada um bem público.
Gabarito: ERRADO. Tecnologia como algo dado, não seria variável relevante.

4. Em um modelo de dotação relativa de fatores em que os fatores modelados sejam o


trabalho qualificado e o não qualificado, o aumento salarial provocado por uma intensa
demanda relativa por trabalho não qualificado e associado a baixos níveis de produtividade
poderia explicar a chamada armadilha da renda média em países relativamente abundantes
em trabalho não qualificado.
Gabarito: CERTO. Descrição do Brasil. Armadilha da renda média: país não consegue superar
a renda média, devido à baixa qualificação da mão-de-obra e sua baixa produtividade.

Questão 63 – TPS 2013

Acerca das teorias de comércio internacional e do sistema multilateral de comércio, julgue


(C ou E) os itens a seguir.

1. As teorias clássicas do comércio internacional baseiam-se na produtividade relativa da


mão de obra, e a teoria neoclássica do comércio internacional, na diferença relativa de
dotação dos fatores de produção.
Gabarito: CERTO. Porém, isso é controverso, pois não são todas as teorias clássicas que
consideram a produtividade relativa da mão de obra.

2. A salvaguarda, e não uma medida antidumping, é aplicada contra as importações


originárias de todos os países envolvidos na transação.
Gabarito: ANULADA.

3. Não existem regras multilaterais aplicáveis a investimentos.


Gabarito: ERRADO. Há regras que regulam os investimentos em nível internacional. Dica: há
regras multilaterais para praticamente tudo.

4. Acordos comerciais regionais são incompatíveis com as normas multilaterais, a menos


que a liberalização neles prevista abranja a totalidade do universo tarifário.
Gabarito: ERRADO. Há inclusive normas multilaterais que regem acordos regionais.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 05
Prof. Daniel Sousa – 29.08.2018

MACROECONOMIA → Oferta e demanda agregadas – Clássicos x Keynesianos

PENSAMENTO CLÁSSICO – lógica liberal, ortodoxa e menos intervencionista

∑ = somatório

Premissa:


∑ Produção = ∑ Demandas = PIB

→ A mão invisível do mercado (Adam Smith) aloca melhor os fatores de produção do que a
intervenção do Estado.

Toda vez que o governo interfere nos setores produtivos, são criadas distorções. Os problemas
causados por essas distorções geram a necessidade de mais interferência para corrigi-las, e
assim por diante.

→ A oferta agregada depende da quantidade de fatores de produção.


- Mão de obra
- Tecnologia
- Recursos naturais
- Poupança
- Capital

Segundo o pensamento clássico, cada um desses fatores de produção deve ser livremente
negociado no seu mercado próprio e particular.
Análise do mercado de mão de obra (fator de produção)

- A oferta de mão de obra é dada pelo trabalhador.


- A demanda por mão de obra é dada pela empresa.

Se governo não interferir, o mercado de mão de obra tenderá ao equilíbrio. Haverá um salário
de equilíbrio, de tal maneira a igualar a quantidade ofertada de trabalho e a quantidade
demandada (situação de pleno emprego do fator), o que significa que toda a mão de obra que
aceita a remuneração paga pelo mercado está empregada.

Quando o governo estabelece um salário mínimo, a quantidade demanda de mão de obra pelas
empresas será menor do que a quantidade ofertada de mão de obra pelos trabalhadores. Ocorre
situação de desemprego.

Número de pessoas trabalhando acaba sendo menor do que no cenário em que não há
intervenção. Trabalhadores que estão protegidos pelo salário mínimo estão recebendo esse
benefício em detrimento daqueles que estão desempregados.

Ex.: no Brasil, há mais gente fora do que dentro da CLT.

Segundo a lógica classicista, é necessário respeitar a flexibilidade dos preços dos fatores de
produção. Na prática, sendo respeitada essa flutuação (sem intervenção do Estado), haverá
sempre uma tendência ao pleno emprego (equivalência entre a quantidade ofertada e a
quantidade demandada).

Se a quantidade ofertada é maior do que a quantidade demandada, havendo flexibilidade, o


preço do fator vai cair. Ao cair o preço, a quantidade ofertada cai e a quantidade demandada
sobe. Isso acaba corrigindo a desigualdade e igualando a quantidade ofertada com a quantidade
demandada.

CONCLUSÃO: se for respeitada a flexibilidade de preços, TODOS os fatores de produção


tenderão ao pleno emprego. Haverá desequilíbrios, mas a flutuação corrigirá essas situações.
→ Em termos de oferta e demanda agregada...

P = preço
Y (∑ q) = PIB
Y Pot = PIB potencial (de pleno emprego)

Segundo o pensamento classicista, se for respeitada a flexibilidade, a oferta agregada tende a


ser vertical, partindo de um ponto denominado PIB potencial (Y Pot), atingido quando estão
sendo empregados plenamente os fatores de produção.

Qual é a relação entre capacidade produtiva e nível de preços? → NENHUMA!

Os preços não terão nenhuma influência sobre o PIB potencial, pois ele é dado pela quantidade
de fatores de produção que sua economia possui. Ao se expandir os fatores de produção, haverá
um deslocamento da oferta agregada para a direita (e um PIB potencial mais alto).

Em cenário de tendência de longo prazo, se quisermos ampliar o PIB potencial é aumentar a


dotação de fatores de produção que possui. Não há crescimento do PIB potencial dado pelo
aumento da inflação.

Ex.: se todos os preços e todos os salários aumentam 20%, nada muda em relação ao PIB.
→ ANÁLISE DE LONGO PRAZO (tendência garantida pela flexibilidade)

Há uma oferta agregada vertical que é definida pelo Y Pot. Se juntarmos a oferta agregada à
demanda agregada (curvatura comum), a economia vai atingir seu equilíbrio num ponto
definido pelo Y Pot e por um determinado nível de preços (P0).

Segundo a lógica classicista, essa estrutura de longo prazo, a oferta agregada é o mais
importante, pois é ela quem dá a quantidade (PIB). Não adianta ter mais demanda, sem ter
expansão dos fatores de produção para atender a essa demanda.

Se demanda agregada expandir, os preços sobem, mas o PIB permanece igual (oferta agregada
vertical). Estratégias de aumentar o PIB por meio da expansão ou da contenção da demanda não
fazem sentido (não são sustentáveis).

A oferta agregada tem primazia sobre a demanda agregada na definição do PIB (apesar de que
o PIB se dá com a igualdade entre oferta e demanda agregada). É a oferta quem dita os rumos
e limites do crescimento de uma economia. Isso porque a demanda é potencialmente infinita,
mas a oferta não. Oferta depende de capacidade produtiva e fatores de produção.

Se a oferta agregada se expande, em decorrência de um aumento da quantidade de fatores de


produção, a demanda acompanha essa expansão. Isso confirma a primazia da oferta agregada
na definição do PIB.
→ Não existe relação entre INFLAÇÃO e CRESCIMENTO
→ Não existe relação entre INFLAÇÃO e VARIÁVEIS REAIS
- Emprego
- Crescimento (PIB)
- Produção

→ Oscilações da demanda agregada terão impacto nominal (inflação), mas não têm impacto
real (poder de compra, etc.)

→ Primazia da Oferta Agregada sobre a Demanda Agregada na determinação do PIB:


- “Lei de Say”

→ ANÁLISE DE CURTO PRAZO

Num horizonte de curto prazo (que não deve ser referencial decisório), é possível que a
flexibilidade não tenha ocorrido em sua plenitude e tenha ocorrido “desemprego de fatores”.

*Oferta agregada, em cenário de curto prazo, é positivamente inclinada (curvatura comum).

Se estimularmos a demanda agregada (crédito, gastos do governo), pode haver crescimento nos
próximos meses. Preços ficarão pressionados, devido à expansão da demanda agregada. Isso,
segundo classicistas, seria estúpido. O crescimento em algum momento vai parar e fica a inflação
(assim como outros desajustes e desequilíbrios) para ser resolvida pelo governo.

Estratégias de contenção da demanda (corte de gastos e de crédito) são desejáveis para conter
a inflação, com efeitos de curto prazo. Os classicistas negam, entretanto, que esse efeito seja
permanente. A economia, em médio prazo, deverá convergir para situação de mesmo PIB, mas
com inflação mais baixa. A estratégia mais eficiente é controlar a demanda, pois excesso de
demanda vai trazer pressões inflacionárias.

Ao expandir a demanda agregada, preços irão subir. Com a alta de preços, empresas são
estimuladas a contratar fatores de produção que estão desempregados e produzir mais.

→ Aumento no emprego dos fatores de produção.


→ Aumento da produção.
→ Aumento do crescimento econômico.
Porém, conforme se tem esse crescimento efêmero, de curto prazo, o preço dos fatores de
produção começa a subir. O crescimento passa, então a desacelerar até que ele para. O
crescimento para numa situação em que os preços estão mais altos (economia inflacionada).
Economia vai estagnar-se num ambiente de inflação alta.

Da mesma forma, se houver uma política de contenção da demanda agregada (a fim de manter
a inflação baixa), empresas passam a produzir menos e os fatores de produção, desempregados,
baixam de preço. Com isso, as empresas voltam a contratar e a economia se recupera, mas com
um nível de preços mais baixo.

Em várias sociedades onde um modelo classicista é adotado, costuma-se desestimular o


consumo para estimular poupança. A lógica de não haver um sistema de proteção social na
China é proposital, para desestimular consumo e acumular poupança. A China tem nível tão alto
de poupança que consegue exportar poupança (investimentos estrangeiros).
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 06
Prof. Daniel Sousa – 05.09.2018

MACROECONOMIA → KEYNESIANISMO

OFERTA AGREGADA = DEMANDA AGREGADA = PIB

→ Teoria geral de Keynes (1936) – contexto:


- Crise de 1929.
- Grande Depressão.
- Política anticíclica de Vargas.
- Governo volta ao centro das discussões.

→ Crise de 1929:
- Excesso de oferta (sem ajuste automático).
- Expansão da oferta agregada ACIMA da expansão da demanda agregada.
- Excesso de oferta: desestimulou a produção e o crescimento – QUEDA DE PREÇOS.

Apesar da queda de preços, houve ainda menos crescimento, com um agravamento da crise
mundial, devido ao ambiente de falta de demanda. Menos produção significa contratar menos
pessoas e, consequentemente, menos demanda. Com a queda da demanda, o quadro se tornou
ainda mais agudo.

*Desconsiderando o (x – m) – análise apenas do âmbito doméstico.

Com o excesso de oferta, empresas começam a produzir e investir menos (I). Pessoas serão
dispensadas e param de consumir (C). Com isso, o investimento irá recuar ainda mais, por faltar
ainda mais demanda. Esse processo se retroalimenta, formando um CICLO RECESSIVO, no qual
a crise vai se agravando, sem qualquer tipo de ajuste automático.

Não ocorre o ajustamento, pois, apesar de haver queda de preços, a produção não se recupera,
pois falta demanda. Esse é o diagnóstico da Teoria Keynesiana, segundo a qual a flexibilidade
de preços não é suficiente para o autoajustamento da economia.

Segundo a visão classicista, com a queda dos preços, a produção aumentava e a economia
voltava para o patamar de equilíbrio. Já de acordo com Keynes, com a queda de preços, a
tendência é que a produção caia ainda mais e, com ainda menos consumo, a queda progressiva
na produção leve a um ciclo recessivo.

Porém, Keynes vai além, afirmando que não existe, na prática, uma flexibilidade de preços,
nem no curto e nem no longo prazo. No mundo real, temos um mercado imperfeito, no qual
agentes econômicos resistem, o tempo inteiro, a possíveis quedas na sua arrecadação.
Ponto de partida da teoria keynesiana → Não existe flexibilidade nos preços dos fatores de
produção. O longo prazo classicista não chegaria nunca.

“No longo prazo, estaremos todos mortos”.


(Keynes)

→ Não existe tendência ao PLENO EMPREGO:


- Mercado é imperfeito → falhas de mercado.
- Rigidez de preços.
- Agente econômicos resistem à queda na sua remuneração (não há flexibilidade).

Portanto, toda a racionalidade da teoria clássica está assentada em bases erradas. Se não há
tendência ao pleno emprego, então observa-se, de maneira empírica, que o desemprego de
fatores é a regra. Desemprego que acaba sendo ainda mais agudo em momentos de ciclo
recessivo, como no período da Grande Depressão.

A situação de pleno emprego é exceção. A flexibilidade de preços não garante o pleno emprego,
porque essa flexibilidade NÃO EXISTE. A Teoria Keynesiana parte, portanto, de bases
antagônicas ao que havia sido proposto pelos classicistas. Keynes evitava realizar análises de
longo prazo, pois a economia estaria sempre no curto prazo e não chegaríamos nunca a esse
longo prazo.

Numa ótica keynesiana segundo a qual o desemprego é a regra, qual seria a melhor maneira
de se organizar a economia, de se enxergar o processo de igualdade entre a oferta agregada e
a demanda agregada?

DEMANDA EFETIVA
→ Ponto da demanda agregada que se efetiva.
→ Inversão de raciocínio: demanda é que gera a oferta e não o contrário.

A demanda efetiva é um conceito absolutamente central que determina:


- Emprego de fatores de produção.
- Produção.
- Crescimento.

*Quanto mais demanda efetiva, mais emprego e mais crescimento.


*Quanto menos demanda efetiva, menos emprego e menos crescimento.

Inversão da lógica: demanda vai criar a oferta e o indutor do crescimento é a demanda efetiva
EXPECTATIVAS

*Papel central das expectativas na formação da demanda efetiva.

Se há mais otimismo em relação ao futuro, consumidor consome mais e empresa investe mais.
→ Há um crescimento da demanda efetiva.

Se as expectativas estiverem deterioradas, haverá menos consumo e menos investimento.


→ Contração da demanda efetiva.

CONSUMO não é afetado somente pela renda disponível, mas também pelas expectativas.
→ Com renda disponível constante, se expectativas estiverem positivas, consumo irá aumentar.
→ Com renda disponível constante, se expectativas estiverem deterioradas, consumo irá cair.

INVESTIMENTO não é afetado apenas pela taxa de juros, mas também pelas expectativas.
→ Se taxa de juros for constante, com empresas otimistas, haverá ampliação do investimento.
→ Se taxa de juros for constante, com empresas pessimistas, haverá queda do investimento.

O monitoramento de expectativas passa a ser muito importante. O papel das expectativas ganha
uma maior centralidade com a Teoria Keynesiana. Segundo o argumento classicista, as
expectativas não são capazes de mudar a realidade, uma vez que as pessoas vão ajustando suas
expectativas à realidade, conforme as coisas vão acontecendo.

Profecia autorrealizável (visão keynesiana) – se todos pensam que a economia vai crescer, ela
crescerá, mas também vale no sentido contrário.

Questionamento: como ampliar / reduzir investimento se taxa de juros está no mesmo lugar?
Pode-se financiar o investimento, em momentos de otimismo, por meio da poupança ociosa
(poupança desempregada). A lógica de que o desemprego dos fatores de produção é a regra
vale para todos os fatores, inclusive para a poupança. Assim, a flutuação das taxas de juros (que
são o custo da poupança) não garante a igualdade entre poupança e investimento. Não
garante a igualdade entre oferta e demanda por poupança. Isso, na prática, causa, na prática, o
desemprego da poupança.

A igualdade entre investimento e poupança seria o pleno emprego de poupança. Porém,


segundo a teoria keynesiana, não há tendência ao pleno de emprego de poupança garantida
pela flexibilidade de preços.
Para ampliar os investimentos, com taxa de juros que não se modifica, pode-se usar poupança
gerada pela expansão da demanda efetiva, gerada pelo crescimento. Quando uma economia
cresce, aumenta o nível de poupança para financiar investimentos. Poupança não é pré-
condição para o crescimento, mas sim consequência do crescimento e, por isso, pode continuar
alimentando o crescimento econômico.

→ Por que investimento não é, necessariamente, igual a poupança?

→ Por que, via de regra, há o desemprego de poupança?

Segundo os classicistas, se o investimento estiver menor do que a poupança, a tendência seria


que a taxa de juros caísse, estimulando o investimento, desestimulando a poupança e fazendo
com que a igualdade fosse restabelecida.

Porém, o argumento keynesiano é de que isso não necessariamente é verdade. A taxa de juros
pode estar caindo e as empresas podem eventualmente investir ainda menos, e as pessoas
podem poupar ainda mais, se elas estiverem pessimistas em relação ao futuro. Ou seja, a queda
da taxa de juros não necessariamente leva ao aumento dos investimentos e à diminuição da
poupança.

Pode-se argumentar o contrário: se o investimento estiver maior do que a poupança, não


haveria aumento da taxa de juros que desestimularia investimentos e estimularia poupança?
Não necessariamente. A taxa de juros pode aumentar e, se as empresas estiverem otimistas em
relação ao futuro, o investimento pode até aumentar, utilizando poupança ociosa e poupança
gerada pelo crescimento econômico. Da mesma forma, se consumidor estiver otimista em
relação ao futuro, poderá poupar menos e consumir ainda mais. Ou seja, a alta da taxa de juros
não necessariamente leva à diminuição dos investimentos e ao aumento da poupança.

Via de regra, a poupança está desempregada (como fator de produção). O emprego dos fatores
de produção será proporcional à demanda efetiva. A demanda efetiva acaba sendo o elemento
que impulsiona o crescimento da economia e não a oferta. A preocupação dos governos,
portanto, deve ser manter a demanda efetiva estimulada.
No que diz respeito à formação de processo de crise (ciclo recessivo), tinha-se a queda do
investimento que fazia com que pessoas fossem demitidas e houvesse interrupção do consumo,
num processo que se retroalimenta.

A expansão dos gastos públicos pode quebrar o ciclo recessivo (política anticíclica). Nesse caso,
os gastos do governo agem para aumentar a demanda efetiva, com a realização de obras,
contratação de pessoas, compra de produtos de empresas. Governo empurra a roda da
economia no sentido contrário, fazendo com que a economia volte a se expandir .

Se a raiz da crise é a falta de demanda efetiva, resolve-se a crise aumentando a demanda efetiva.

Efeito multiplicador → Política anticíclica como uma maneira eficaz de quebrar o ciclo recessivo,
por meio do aumento dos gastos do governo.

KEYNES X CLÁSSICO – visões antagônicas em termos de politica econômica, pois as premissas


são antagônicas.
→ Confusão – haverá recomendações simultâneas, mas com o sinal trocado.

Ao se falar em política anticíclica, pode-se pensar que a expansão da demanda efetiva, de forma
mais veloz do que a capacidade produtiva, acaba sendo, na prática, um elemento que pressiona
a inflação.

Na visão keynesiana, ter alguma inflação é algo até saudável (não uma inflação fora do controle,
obviamente). Se o crescimento econômico é puxado pela demanda, a demanda vai,
inevitavelmente, pressionar a inflação, que estimulará as empresas a empregar mais fatores de
produção, a produzir mais e estimulará a economia a crescer.

O argumento keynesiano é de que não há crescimento sem inflação: tolerar inflação é tolerar o
próprio crescimento. Como a economia depende de demanda efetiva em expansão para crescer,
haverá pressão sobre a inflação. O pior cenário possível seria de deflação (inflação negativa), no
qual empresas param de investir, pois rentabilidade está caindo, o consumidor para de
consumir, pois ele é estimulado a retardar seu consumo para consumir mais barato, e a
economia mergulha num quadro recessivo.
INFLAÇÃO
→ Demanda

Se há mais demanda efetiva do que produção, haverá mais inflação, mas haverá mais emprego
dos fatores de produção e mais crescimento.

→ Custos
- Contração da oferta.
- Rigidez de preços.
- Efeito do aumento de custos permanece.

→ Aumento do papel do governo


- Tamanho proporcional à sua importância na economia (não pode ser Estado mínimo).
- Governo que é um demandante.
- Governo exercendo sua demanda efetiva para impulsionar crescimento.
- Governo deve coordenar expectativas.

→ BEM-ESTAR SOCIAL
*Estimula o consumo → Desestimula a poupança
- Educação
- Saúde
- Leis trabalhistas
- Previdência social

→ Políticas de Vargas está associada à visão keynesiana. CLT, por exemplo. Salário mínimo
(acima do salário de equilíbrio). Estímulo ao consumo. Ao contrário do pensamento classicista,
salário mínimo aumenta o emprego, pois aumenta a demanda efetiva.

1776-------------------------------------1929---------1936----------------------1980------------------------2008
Smith Crise Teoria KEYNES Crise Neoclássico Crise
Geral

2008------------------------→ HOJE
Crise Keynes no
Combate
à Crise

CLÁSSICO – mais usado em momentos normais – clássicos teriam medo de BOOM (auge)
KEYNES – mais usado em momentos de CRISE – keynesianos teriam medo de BUST (crise).
1a FASE – 2017

QUESTÃO 70

Na década de 30, durante a Grande Depressão, a teoria econômica debatia, entre outros
temas, as causas do persistente desemprego, que assolava grandes contingentes
populacionais. Uma das publicações que ganhou maior destaque nesse debate foi a Teoria
geral do emprego, do juro e da moeda (1936), de John Maynard Keynes. Nessa obra, Keynes
marcou os princípios teóricos que revolucionaram o pensamento econômico e até hoje é
referência nas discussões sobre os determinantes do emprego, da renda e da produção
agregados.

Acerca das contribuições de Keynes à teoria macroeconômica e das deliberações produzidas


durante a Conferência de Bretton Woods (1944), da qual Keynes participou ativamente, julgue
(C ou E) os itens seguintes.

1. Na Conferência de Bretton Woods, Keynes, como representante do Reino Unido, teve papel
ativo e central na construção de uma governança financeira global. Nessa conferência, Keynes
sugeriu um regime de taxas de câmbio flutuantes como forma de apoiar o crescimento do
comércio internacional, que foi fundamental para a recuperação econômica do pós-guerra.

Gabarito: ERRADO. Keynes defendia que mercado cambial devia sofrer interferência do
governo, com o estabelecimento de taxas de câmbio fixas. Classicistas é que defendiam câmbio
flutuante (livre mercado – flexibilidade).

2. Conforme Keynes, o nível de emprego agregado não se define meramente como um ponto
de equilíbrio parcial, dado no encontro de curvas agregadas de oferta e de demanda por
trabalho. Para ele, em uma dada estrutura produtiva, o nível de emprego resulta da decisão dos
empresários de empregar a força de trabalho em função das expectativas de consumo e de
investimento na economia. Assim, poderá persistir o desemprego involuntário enquanto o nível
de demanda efetiva for demasiadamente baixo.

Gabarito: CERTO. Se há desemprego é porque falta demanda efetiva.

3. A suposição feita por Keynes de que os salários nominais e outros elementos de custo
permanecem constantes altera a natureza do raciocínio que ele desenvolveu para explicar os
determinantes do volume de emprego agregado.

Gabarito: ERRADO. Keynes, na verdade, diz que salários são rígidos (resistentes a mudança) e
não exatamente constantes.

4. Para um quadro de crise, uma proposição de política econômica keynesiana seria o governo
ampliar os gastos públicos como forma de elevar a demanda agregada e recuperar o nível de
emprego, ao passo que, para um momento de superaquecimento, a recomendação keynesiana
seria reduzir gastos.

Gabarito: CERTO. Keynes não nega o conceito de pleno emprego, mas nega a tendência ao pleno
emprego.
3a FASE - 2005

Explique por que a hipótese de flexibilidade – tanto de preços como de salários – desempenha
um papel crucial na controvérsia entre os economistas clássicos e keynesianos.

CLÁSSICOS – Existe flexibilidade de preços e salários – tendência ao pleno emprego – oferta


agregada vertical – variações na demanda agregada terão impacto nominal – “Lei de Say” (oferta
cria a sua própria demanda) – inflação apenas de demanda.

KEYNESIANOS – não existe flexibilidade de preços e salários, mas sim rigidez – não existe
tendência ao pleno emprego – oferta agregada positivamente inclinada – demanda efetiva
determina emprego de fatores de produção – produção e crescimento também – expectativas
passa a ter papel importante na expansão de demanda efetiva – existe inflação da demanda,
mas também a inflação de custos.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 07
Prof. Daniel Sousa – 12.09.2018

MACROECONOMIA → MOEDA, BANCOS E INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA

MOEDA
A moeda é, acima de tudo, uma convenção social. As pessoas conhecem as funções da moeda
e, consequentemente, ela acaba funcionando no âmbito de uma sociedade, cumprindo todas
essas funções. A moeda é uma convenção social para qualquer padrão monetário que se utilize,
até para ouro e prata.

O ouro foi usado, durante séculos como padrão monetário, mas não há utilidade para o ouro
senão a função de adorno. Da mesma forma, se pensarmos no padrão monetário
contemporâneo, o papel-moeda não passa de pedaços de papel colorido. Trata-se de uma
convenção social capaz de cumprir 3 (três) funções, a saber:

i) MEIO DE TROCA:

A moeda é capaz de mediar e viabilizar trocas. Caso a moeda não tivesse essa função, a
sociedade teria que viver na base do escambo, e, consequentemente, todos os dias teríamos
que encontrar quem tivesse mercadorias para trocar conosco por outras, sem o intermédio da
moeda. Isso dificultaria muito a vida em sociedade, com um número de trocas muito menor e
um nível de bem-estar reduzido.

Nenhuma sociedade consegue se imaginar sem um referencial de troca, justamente porque a


qualidade de vida das pessoas se deterioraria bastante. O problema não é e nem nunca foi a
moeda ou o dinheiro em si. O dinheiro é, em verdade, a solução para uma série de problemas
decorrentes das limitações que as sociedades possuem.

Grupos sociais ao redor do planeta, mesmo aqueles que nunca tiveram contato entre si,
desenvolveram algum tipo de padrão monetário, alguns mais sofisticados e outros mais
rudimentares. Todas as sociedades naturalmente evoluíam para a troca e, além de evoluir para
a troca, passavam para algum padrão monetário. Nenhum grupo é totalmente autossuficiente,
capaz de produzir todo, o que torna a troca algo natural. O padrão monetário é, de fato, algo
que facilita as trocas, pois é meio de troca.

ii) UNIDADE DE CONTA

Moeda também é unidade de conta porque ela cota o valor das mercadorias. Para se realizar
comércio, é necessário haver um referencial que cote o valor dos produtos vendidos.

iii) RESERVA DE VALOR

Reserva de valor é a capacidade que a moeda tem de entesouramento, ou seja, de transferência


de poder de compra no tempo. Se há moedas guardadas no bolso de um cidadão, ele pode
guardar e utilizar numa data futura com um mínimo de preservação do seu poder de compra.
Obviamente, a moeda só faz sentido se ela é adquirida na base da troca, no comércio. Se a
moeda fosse algo a ser encontrado no meio da rua, ela perderia o seu sentido. A moeda deve
ter um mínimo de escassez e, é claro, imprimir dinheiro nunca é a solução.

Até hoje, há quem acredite que imprimir dinheiro seria uma solução. Trata-se de algo antigo,
tentado pelos fenícios, pelo Império Romano, mas isso nunca acabou bem. Mesmo assim, ainda
há quem insista nessa medida, achando que, “desta vez vai dar certo”.

Importante notar que essas funções da moeda são demandadas pelas pessoas. Se a moeda não
estiver desempenhando uma ou mais dessas funções, as pessoas, na prática, irão buscar outra
moeda para cumpri-las.

CLASSIFICAÇÕES – TIPOS DE MOEDA

M1 = MP = PMPP + DV

A moeda do tipo 1 (M1) é chamada também de meio de pagamento (MP). Só existem 2 (dois)
tipos de meio de pagamento: (i) papel moeda em poder do público (PMPP), que é o dinheiro
vivo nas mãos das pessoas, e (ii) depósitos à vista (DV), o dinheiro em contas correntes que
pode ser usado como forma de pagamento, passando um cheque, usando o cartão de débito,
pagando um boleto ou fazendo uma transferência bancária, por exemplo.

Obs.: o cartão de crédito não é um meio de pagamento, e sim uma promessa de pagar no futuro.

M2 = M1 + Depósitos de curto prazo

A moeda do tipo 2 (M2) é a moeda do tipo 1 (M1), acrescida dos depósitos de curto prazo, que,
conforme exemplo dado pelo Banco Central (BACEN), é a caderneta de poupança, que tem o
prazo de apenas 1 mês, renovável.

M3 = M2 + Depósitos de longo prazo


A moeda do tipo 3 (M3) é a moeda do tipo 2 (M2), acrescida dos depósitos de longo prazo, que,
conforme exemplo dado pelo BACEN, são os fundos de renda fixa, atrelados a títulos públicos,
que têm prazos e vigências bem maiores.

PMC = PME – caixa do BACEN


O papel moeda em circulação (PMC) é o papel moeda emitido pelo BACEN (PME) menos o
Caixa do BACEN, que são os recursos no caixa do BACEN não estão em circulação.

PMPP = PMC – caixa dos bancos comerciais

O papel moeda em poder do público (PMPP) é igual ao papel moeda em circulação (PMC)
menos o caixa dos bancos comerciais. Na prática, o PMC está nas mãos das pessoas ou nas mãos
dos bancos.
BM = PMPP + ET
A base monetária (BM) é o papel moeda em poder do público (PMPP) acrescido dos encaixes
totais dos bancos comerciais (ET), ou seja, o dinheiro que os bancos têm em caixa. Esses encaixes
totais dos bancos podem ser desmembrados em:
(i) Caixa do próprio banco comercial;
(ii) Depósitos feitos pelo banco comercial voluntariamente junto ao BACEN; e
(iii) Depósitos que o banco comercial faz compulsoriamente junto ao BACEN.

Considera-se o BACEN como o “Banco dos bancos”. Ele tanto concede empréstimos aos bancos
comerciais como recebe depósitos desses bancos.

*IMPORTANTE: em termos de política monetária, os conceitos mais importantes para o CACD


são os meios de pagamento (MP) e a base monetária (BM).

Portanto, vejamos novamente esses dois conceitos:

MP = PMPP + DV

BM = PMPP + ET

Qual é o maior numa economia? Os MP ou a BM? Pode-se dizer que a resposta está numa
comparação entre o DV e os ET de uma economia, já que ambos os conceitos têm em comum o
PMPP.

O que é maior? O valor dos depósitos feitos pelas pessoas nos bancos comerciais (DV) ou a
quantidade de dinheiro que os bancos têm em caixa (ET)?

Resposta: DV – os bancos têm muito mais depósitos à vista do que dinheiro em caixa. Os bancos
são, na sua essência, alavancados. Essa alavancagem é a própria essência dos bancos.

HISTÓRICO DOS BANCOS:

Os bancos surgiram na Itália, no final da Idade Média, de uma maneira absolutamente


espontânea. Surgiram devido à acumulação que os comerciantes italianos (Gênova, Veneza)
começaram a obter por causa do controle que tinham de rotas com o Oriente (por Alexandria e
Constantinopla).

Esses comerciantes italianos acumulavam, portanto, a moeda internacional, que era feita de
metais preciosos, fundamentalmente o ouro, e, cada vez que alguém ia se aventurar numa
empreitada comercial, era necessário guardar aquele ouro em algum lugar. Escolhiam as casas
dos ourives locais, pois já tinham todo um aparato de segurança para proteger o ouro dos graves
perigos de segurança dessas cidades italianas.

Esses ourives concediam recibos para esses depósitos de ouro feitos, originalmente, por
comerciantes. Começaram a perceber o óbvio: nem todos apareciam ao mesmo tempo para
recolher o ouro que estava guardado. Os ourives passaram então a emprestar parte desse ouro
a juros, mas na forma de um outro recibo.
Em pouco tempo, já havia mais recibos em circulação do que o ouro propriamente dito nessas
casas, que se tornaram casas bancárias. Esses recibos são o que conhecemos até hoje como
papel moeda. Até hoje, o papel moeda tem o formato de recibo, sendo que muitas moedas
ainda preservam nomes associados ao peso dos metais preciosos depositados na casa bancária:
o PESO e a LIBRA.

Aos poucos, as pessoas passaram a usar esses recibos – o papel moeda – como a moeda, pois
eram mais seguros, portáteis, divisíveis (podendo ter diversos valores para troco) e não
perecíveis, mas valendo ouro e podendo ser sacados na casa bancária que os emitiu. Até tempos
recentes, circulavam num único país, vários papéis moeda, oriundos de diferentes casas
bancárias, pois estavam lastreados no ouro que havia em depósito nesses bancos.

Ex.: no Brasil-Império, o Banco do Barão de Mauá emitia seu próprio papel moeda. Mauá chegou
a obter empréstimo em ouro de bancos ingleses a fim de garantir o valor de seu papel moeda
quando ocorreu uma enorme corrida de correntistas a seus caixas, após um boato espalhado na
corte de que seu banco era inseguro.

BALANÇO PATRIMONIAL DE UM BANCO COMERCIAL

ATIVO PASSIVO
Empréstimo de 1000 Depósito de 1000
Empréstimo de 400 Depósito de 400
Empréstimo de 100 Depósito de 100

Em realidade, o caixa do banco tem 1500 reais que foram depositados à vista (DV = 1500), mas
como encaixes totais tem apenas 1000 (ET = 1000).

Se todos os correntistas aparecerem simultaneamente para sacar seus depósitos, o banco


quebra, pois não tem liquidez para oferecer o que deve a todos os clientes ao mesmo tempo.
Um simples boato de que um banco vai quebrar, leva a uma crise bancária, pois pessoas irão
correr até para outros bancos, com receio de que outros quebrem.

Bancos comerciais podem enfrentar 2 (dois) tipos de crises:

→ CRISE DE LIQUIDEZ
- Quando o banco não tem liquidez para oferecer aos seus clientes todos ao mesmo tempo.
- Aconteceu com o Banco do Barão de Mauá – seu banco entrou em processo de liquidação.

→ CRISE RELACIONADA A CRÉDITOS PODRES


- Bancos emprestam, mas pessoas não pagam.
- Banco está momentaneamente insolvente.
- Não há patrimônio para honrar depósitos realizados, pois não foram pagos empréstimos.
- Aconteceu na Crise de 2008 - EUA.
MULTIPLICADOR BANCÁRIO
→ Medição do descolamento entre os meios de pagamento e a base monetária.

m= 1 .
1 – d x (1 – r)

d = % DV / MP
→ Porcentagem que os depósitos à vista (DV) representam nos meios de pagamento (MP).
Se 80% dos meios de pagamento forem depósitos à vista, d será 0,8.

r = % Reservas / Depósitos
→ Porcentagem que os bancos guardam dos depósitos na forma de reservas (encaixes).
Se os bancos têm 30% dos depósitos na forma de reserva, o r será 0,3.

m = 7,14
→ meios de pagamento dessa economia são 7,14 vezes maiores do que a base monetária.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA


→ O BACEN, ao fazer política monetária, terá como sua maior preocupação os meios de
pagamento, pois, são eles que irão, afinal, alimentar a demanda agregada – podem
potencialmente influenciar a economia.
OBS.: a emissão de papel moeda é considerada um instrumento de política monetária, mas que
é proibido no Brasil. Muitos manuais de Macroeconomia sequer citam a emissão (anacrônico).

I) TAXA DE REDESCONTO: taxa cobrada pelo BACEN para bancos realizarem operações de
redesconto (empréstimo do BACEN aos bancos comerciais).

Se há aumento na taxa de redesconto, os bancos realizarão menos operações de redesconto.


Assim, bancos emprestarão menos a seus clientes. Emprestando menos, o multiplicador
bancário será menor e, consequentemente, a oferta de moeda tipo 1 (meios de pagamento)
será menor também.
→ Como política monetária contracionista, BACEN pode aumentar a taxa de redesconto.

Se há redução na taxa de redesconto, os bancos realizarão mais operações de redesconto.


Assim, bancos emprestarão mais a seus clientes. Emprestando mais, o multiplicador bancário
será maior e, consequentemente, a oferta de moeda tipo 1 (meios de pagamento) será maior
também.
→ Como política monetária expansionista, BACEN pode diminuir a taxa de redesconto.

A taxa de redesconto é um instrumento é irrelevante no Brasil, pois bancos comerciais não têm
o hábito de obter empréstimos do BACEN, mas sim de realizar depósitos no BACEN. Isso ocorre
porque os juros no Brasil são muito altos e, depositado no BACEN, esse dinheiro rende SELIC
(historicamente alta no Brasil).

Além disso, no Brasil, o recurso à operação de redesconto é visto como algo característico de
bancos comerciais em processo pré-falimentar. Aqui bancos só recorrem ao redesconto em
situações de emergência. Já no exterior, o redesconto é extremamente comum.
II) DEPÓSITO COMPULSÓRIO: depósito obrigatório que bancos devem realizar no BACEN.

Se aumentar a alíquota do depósito compulsório, haverá, na prática, menos recursos no caixa


do banco, que vai emprestar menos. Emprestando menos, o multiplicador bancário será menor
e a oferta de moeda será também menor.
→ Aumento da alíquota do compulsório é uma política monetária contracionista.

Se diminuir a alíquota do depósito compulsório, haverá, na prática, mais recursos no caixa do


banco, que vai emprestar mais. Emprestando mais, o multiplicador bancário será maior e a
oferta de moeda será também maior.
→ Diminuição da alíquota do compulsório é uma política monetária expansionista.

O compulsório não é um instrumento comum em países ricos e desenvolvidos, mas sim em


países emergentes e em desenvolvimento. No Brasil, o depósito compulsório é um instrumento
muito importante e está, atualmente, na casa de 25% (já esteve em 40%).

III) OPERAÇÕES DE MERCADO ABERTO: compra e venda de títulos públicos.

BACEN realiza essas operações todos os dias.

Se BACEN vende títulos para a sociedade, está tirando moeda de circulação, “enxugando” a base
monetária (política contracionista – contração da oferta de moeda).

Se BACEN compra títulos da sociedade, está injetando moeda na economia, ampliando a base
monetária (política expansionista – expansão da oferta de moeda).
→ Instrumento usado hoje pelo Banco Central Europeu – quantative easing – injeção de euros
na economia com a retirada de títulos do mercado, com o objetivo de estimular a economia.

A compra e a venda de títulos pelo BACEN é uma forma de manipulação da taxa de juros.

→ Como funcionam os títulos?


Governo assume compromisso de pagar 10 mil reais em data futura. Ao apresentar esse título
em leilão, quem oferecer mais por esse título levará o título e receberá 10 mil no futuro. A
diferença são os juros.

Quando o BACEN vende mais títulos, ele empurra os juros para cima.
Quando o BACEN vende menos títulos, ele empurra os juros para baixo.
QUADRO DE AULA:
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 08
Prof. Daniel Sousa – 19.09.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA MONETÁRIA

A política monetária está relacionada com o mercado de fundos emprestáveis, ou seja, o


mercado de fundos disponíveis para empréstimos.

Há uma determinada quantidade de moeda (q) e há também o preço da moeda – chamado de


juros (r de rate). Há uma oferta de fundos emprestáveis (O) e uma demanda de fundos
emprestáveis (D). A interação entre oferta e demanda, nestes casos, levará a uma taxa de juros
de equilíbrio (JE) e também a uma quantidade de equilíbrio (qE).

A política monetária do BACEN altera a disponibilidade da oferta de fundos emprestáveis.

→ Quando for realizada uma política monetária expansionista, a oferta de fundos emprestáveis
irá aumentar, a taxa de juros de equilíbrio vai cair e a quantidade de equilíbrio vai aumentar.

→ Quando for realizada uma política monetária contracionista, a oferta de fundos emprestáveis
irá se contrair, a taxa de juros de equilíbrio vai aumentar e a quantidade de equilíbrio vai cair.

Quando o BACEN utiliza a política monetária como mecanismo de política macroeconômica,


haverá impacto sobre os juros do mercado de fundos emprestáveis. Não é a taxa SELIC. São os
juros com que o correntista se depara quando vai obter um empréstimo nos bancos comerciais.
Existe, portanto, um efeito real sobre a economia, quando se realiza a política monetária, seja
ela expansionista ou contracionista.

A política monetária expansionista pode ser feita por meio de:


→ Redução da taxa de redesconto;
→ Redução da taxa do compulsório; e
→ Reduzir venda de títulos e comprar títulos.

A política monetária contracionista pode ser feita por meio de:


→ Aumento da taxa de redesconto;
→ Aumento da taxa do compulsório; e
→ Aumentar a venda de títulos e reduzir a compra de títulos.
VISÃO CLÁSSICA → horizonte de longo prazo

Tem-se um PIB (Y) e um nível de preços (P). A oferta agregada (OA), que é vertical, define um
PIB potencial (YPot), de pleno emprego. Há também a demanda agregada (DA), que é
negativamente inclinada como qualquer demanda.

O ponto de equilíbrio entre a oferta agregada e a demanda agregada definirá um nível de preços
denominado (P0) e o PIB potencial (YPot).

→ Quando há uma política monetária expansionista, verifica-se o aumento da oferta de fundos


emprestáveis e, consequentemente, uma expansão da demanda agregada, com um nível de
preços mais alto (P1) e o PIB inalterado.

→ Quando há uma política monetária contracionista, verifica-se a diminuição da oferta de


fundos emprestáveis e, consequentemente, uma retração da demanda agregada, com um nível
de preços mais baixo (P2) e o PIB inalterado.

Segundo a lógica classicista, se houver uma política monetária expansionista, aumentará a


oferta de fundos emprestáveis (aumento do multiplicador bancário, independente do
instrumento utilizado).

Como consequência, ocorrerá uma expansão da demanda agregada, que vai gerar mais
inflação, já que os preços irão subir devido à expansão da demanda. Essa expansão da demanda
agregada vai levar, momentaneamente, em um ambiente de curto prazo, a um maior emprego
dos fatores de produção, gerando mais crescimento. Nesse cenário de mais emprego e mais
crescimento, vai-se chegar a um PIB potencial que vai estabilizar nesse patamar.

Com uma política monetária expansionista, haverá, portanto, um crescimento momentâneo e


efêmero, mas não sustentável. Como consequência de longo prazo, os preços ficarão mais altos,
mas o PIB continuará no mesmo lugar.
Segundo a lógica classicista, se houver uma política monetária contracionista, reduzirá a oferta
de fundos emprestáveis (juros mais altos). Como consequência, esses juros mais altos levarão
a uma queda da demanda agregada, que vai fazer com que os preços caiam.

Com os preços mais baixos, haverá menos emprego e menos produção, que representará
menos crescimento. Nesse cenário de menos emprego dos fatores de produção e menos
crescimento, haverá uma redução de custos, que levará a uma recuperação da economia e do
crescimento. Chegaremos também a um PIB potencial, de pleno emprego, que também irá se
estabilizar nesse patamar.

Conclui-se, segundo a lógica classicista, que moeda não gera nada além de inflação. A política
monetária nada mais é do que uma política de administração de demanda, de tal maneira que
ela não venha a gerar inflação. Política monetária não gera empregos ou crescimento do PIB,
apenas mais ou menos inflação no horizonte de longo prazo, que é aquele que nos interessa.

PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE DA MOEDA


→ Colocar mais ou menos moeda em circulação não tem efeito real (sobre quantidade), e sim
efeito nominal (sobre preços).

TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA


→ Essa teoria argumenta que a oferta de moeda (M) multiplicada pela velocidade de circulação
da moeda (V) é igual ao nível de preços (P) multiplicado pelo PIB (Y) real de uma economia.

Em outras palavras, a moeda circula, comprando produtos em um determinado nível de preços.

O argumento classicista é que, num horizonte de longo prazo, tanto o PIB, que atinge seu
potencial (patamar de pleno emprego), quanto a velocidade de circulação da moeda são
constantes. Dessa forma, aumentos na oferta de moeda terão como consequência direta
aumentos proporcionais no nível de preços – e apenas isso.

De acordo com essa lógica, a política monetária serve exclusivamente como instrumento de
controle da inflação. Uma política monetária classicista implantará um regime de metas de
inflação, que é adotado por quase 100 países, e também pelo Brasil, desde 1999.
REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO

→ CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN)


- Determina as diretrizes de política monetária a serem seguidas pelo Brasil.
- CMN = Presidente do BACEN + Ministro da Fazenda + Ministro do Planejamento.
- CMN estabelece as metas de inflação, que são recebidas pelo BACEN.

→ IPCA – Índice de Preços ao Consumidor (IBGE)


- Janeiro a dezembro – meta anual e estática.
- Meta de inflação escolhida para o Brasil em 2018: 4,5 % (tolerância entre 3% e 6%).
2019: 4,25%
2020: 4,00%
2021: 3,75%

Para cumprir a meta de inflação, o BACEN tem reuniões periódicas (a cada 45 dias) do COPOM
(Conselho de Política Monetária) para avaliar o cumprimento da meta de inflação.

Análise pelo COPOM da expectativa de inflação x meta de inflação – possíveis cenários:

A) Expectativa de inflação ACIMA DA META – aumentar a SELIC.


- COPOM decide “apertar” a política monetária.

B) Expectativa de inflação DENTRO DA META (ou próxima) – manter a SELIC.

C) Expectativa de inflação ABAIXO DA META – há espaço para a redução da SELIC.

O regime de metas de inflação tem como vantagens:


- Grande previsibilidade;
- Compromisso formal com o combate à inflação; e
- Convergência de expectativas (profecia autorrealizável).
INFLAÇÃO RECENTE NO BRASIL

2008: CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL!


- Escalada da taxa de cambio e pressão inflacionaria; inflação mais próxima do topo da meta.

2009: mais tranquilidade.

2010: inflação dispara devido ao forte crescimento do PIB, causado pelos incentivos do governo.

Na campanha eleitoral de 2010, ambos os candidatos à Presidência da República (Dilma Rousseff


e José Serra) prometeram reduzir a autonomia do BACEN. Dilma Rousseff escolheu como
presidente do BACEN um técnico, Alexandre Tombini, mas que foi visto como subordinado à
Presidente (era visto saindo do Palácio do Planalto às vésperas de reuniões do COPOM).

2011: Dilma reduziu a taxa SELIC em ambiente de alta da inflação. Promoveu também o
represamento de reajustes de tarifas de serviços públicos, como eletricidade.

2015: após a reeleição de Dilma, o aumento de tarifas que estava represado foi liberado, e os
preços dispararam, descumprindo a meta de inflação.

2016: a recessão ajudou, juntamente com os juros muito altos, na derrubada da inflação.

Com a nomeação de Ilan Goldfajn para a presidência do BACEN, foram estabelecidas margens
de tolerância menores e reduzidas as metas de inflação para os anos seguintes. Há hoje uma
expectativa de autonomia do BACEN.
VISÃO DE KEYNES

Segundo a visão keynesiana, a demanda efetiva é o que impulsiona o emprego de fatores de


produção e o crescimento econômico. A política monetária é uma forma de se criar demanda
efetiva, expandindo o próprio crescimento econômico.

O aumento da demanda efetiva pode pressionar a inflação, mas faz parte do processo. O
governo está disposto a tolerar mais inflação para abrir espaço a mais crescimento econômico.
A expansão da demanda efetiva causará, na prática, uma alta nos preços, que fará com que
empresas empreguem mais fatores de produção, gerando mais crescimento econômico.

Na visão keynesiana, a política monetária não deve, necessariamente, estar comprometida com
o combate à inflação. O governo pode, nesse contexto, criar alguma política de contenção de
demanda quando a economia estiver próxima do pleno emprego. Keynes não nega a existência
do conceito de pleno emprego. Ele nega, em verdade, que exista uma convergência em direção
ao pleno emprego, garantida pela flexibilidade de preços. Keynes alega que só é possível
aproximar-se do pleno emprego com a expansão da demanda efetiva.

A política monetária é capaz de gerar crescimento econômico. A expansão da oferta de moeda


tem impacto nominal (sobre os preços), mas também tem impacto real (sobre a quantidade).

Segundo Keynes, a moeda não é neutra, pois existe uma preferência pela liquidez (“teoria da
preferência pela liquidez”). Quando se coloca mais moeda em circulação, uma parte dessa
moeda será entesourada e não existe impacto proporcional sobre os preços. As pessoas têm
preferência pela liquidez e retêm um pouco de moeda por precaução, para as transações que
precisam ser feitas e para a especulação (aproveitar as oscilações do mercado).

Keynes desenvolveu o conceito da armadilha de liquidez, provando que a neutralidade da


moeda não existe. Seria um cenário de extrema incerteza em relação ao futuro, em que pessoas
entesouram moeda, cada vez mais, por precaução. Esse entesouramento desaba a demanda
efetiva, o que leva a um cenário recessivo. Nesse cenário, a política monetária fica sem efeito,
pois, se mais moedas são injetadas na economia, as pessoas vão entesourar essa moeda.

Se a Empresa A estiver com medo do futuro, ela


começa a entesourar moeda em seu caixa, parando de
investir e de contratar. A Empresa A demite o
Consumidor B, que, com medo de continuar
desempregado, também irá entesourar moeda. Esse
Consumidor B, que passou a entesourar, para de
comprar produtos da Empresa C, que, devido à queda
em suas vendas, também vai entesourar, deixando de
comprar produtos da Empresa A.

Esse processo recomeça e se retroalimenta, assim sucessivamente, devido a uma armadilha


causada pelo excesso de retenção de liquidez. Numa situação como essa, os juros podem ser
zero, mas as pessoas continuarão retendo moeda. Nesse cenário, a demanda por moeda é
infinitamente elástica à taxa de juros.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 09
Prof. Daniel Sousa – 26.09.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA MONETÁRIA: INFLAÇÃO

ÍNDICES DE PREÇO:

A inflação é medida pelos chamados índices de preço, sendo que o mais famoso deles, no Brasil,
é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é calculado pelo IBGE e serve
de referência para o regime de metas de inflação.

Método de cálculo dos índices de preço:


i) Escolha de uma cesta – conjunto de bens e serviços.
ii) Escolha de um período – são possíveis diferentes periodicidades.
iii) Coleta dos preços que fazem parte da cesta em um momento “zero” (t = 0).
iv) Coleta dos mesmos preços em um momento posterior (t = 1).
v) Média ponderada – cálculo da média ponderada resulta no índice de preço.

TIPOS DE INFLAÇÃO:

A) Inflação de demanda:

→ Classicismo:
Na visão clássica, toda inflação é resultado do excesso de demanda e ela deve ser combatida,
não é tolerável (horizonte de longo prazo).

→ Keynes:
Na visão keynesiana, a inflação de demanda não é o único tipo de inflação e ela pode ser
tolerada. Uma maior tolerância em relação à inflação pode trazer mais crescimento e um maior
emprego dos fatores.

B) Inflação de custos (ou de oferta):

→ Classicismo:
A inflação de custos é causada pela contração da oferta e não existe na teoria clássica, pois a
flexibilidade de preços absorverá qualquer aumento de custos. No longo prazo, a oferta estará
onde ela deve estar, no pleno emprego dos fatores de produção e PIB potencial. Portanto, não
se pode argumentar que há pressão inflacionária permanente causada por aumento de custos.

→ Keynes:
Segundo a visão keynesiana, a inflação de custos existe, pois não há flexibilidade de preços e, na
prática, o efeito do aumento de custos permanece. Há, portanto, um efeito permanente
causado pelo aumento de custos. Idealmente, a inflação de custos deveria ser combatida por
meio da redução de custos.
Porém, expandir a oferta (movimento contrário à inflação de custos) por meio da redução de
custos é algo que demanda tempo. Por isso, recorre-se, muitas vezes, a uma contenção de
demanda para conter essa inflação de custos, devido à excessiva demora em obter resultados
satisfatórios pela redução de custos.
C) Inflação inercial:
*Referência à Lei de Newton.

A inflação inercial é aquela alimentada pela indexação, quando os preços são corrigidos
automaticamente por índices de preços (ex.: contratos de aluguel estipulam correção por
determinados índices de inflação). A inflação do ano que passou, medida pelo índice escolhido
contaminará a inflação do ano seguinte.

O problema da indexação generalizada numa economia é a contaminação da inflação do


presente, ou do futuro, por uma inflação do passado. Essa contaminação se dá pelo uso de
certos mecanismos de transmissão, como, por exemplo, os indexadores, que corrigem
automaticamente os preços em função de indexações previamente estabelecidas em contratos.

Isso explica por que, no Brasil, historicamente, os chamados preços administrados sobem mais
do que os preços livres. Os preços livres, como o próprio nome sugere, são aqueles que possuem
precificação totalmente livre.

O preço da banana na feira, por exemplo, é dificilmente administrável – ninguém pode


determinar seu preço previamente. Diferentemente, o preço da energia elétrica é um preço
administrado. A tarifa de energia elétrica sobe, via de regra, levando em consideração um índice
de preços que foi fixado no contrato de concessão. Se a inflação for alta neste ano, já se sabe
que os preços de serviços públicos (que são administrados) deverão subir consideravelmente
também.

Combater inflação no Brasil é ainda muito difícil por conta da quantidade ainda considerável de
preços indexados, que refletem a inflação passada no momento presente. Os preços livres
precisam cair consideravelmente, puxando a média para baixo, se quisermos ter um aumento
menor dos preços administrados.

POLÍTICA MONETÁRIA DOS EUA (2008 – HOJE)

Em 2008, devido à crise mundial, a taxa de juros de redesconto nos EUA foi estabelecida em
apenas 0,25% a.a. (seu menor patamar histórico). Paralelamente a isso, o governo americano
implantou o quantitative easing (ou “afrouxamento monetário”), realizando a emissão de
dezenas de bilhões de dólares por mês, lançados em circulação a fim de estimular a economia.

O Federal Reserve (FED) retirou títulos privados e públicos do mercado, utilizando-se de papel
moeda recém-emitido. Essa injeção de dólares na economia retirava-se títulos muitas vezes
“podres” do mercado (sem valor), com o objetivo de aquecer a economia estadunidense, em
um contexto de crise. Entre 2008 e 2014, os EUA tiveram a política monetária mais expansionista
de sua história.

Foram muitos os efeitos positivos dessa política. Houve grande estímulo ao multiplicador
bancário, com mais concessão de crédito (gerando mais consumo e mais investimentos). Além
disso, com esse expansionismo monetário, o dólar se enfraqueceu, tornando os produtos
americanos “Made in the USA” mais competitivos. Isso significou uma melhora considerável das
contas externas dos EUA, devido à melhora dos números da balança comercial americana. O
Brasil, assim como muitos outros países, criticou essa política monetária dos EUA, pois ela
estaria fomentando o início de uma guerra cambial, que nos atingiria como um “tsunami
monetário” (expressão criada pela presidente Dilma Rousseff).
Esse risco de um “tsunami monetário” é verdadeiro, pois a liquidez disponível no sistema
financeiro internacional, num cenário de política monetária tão expansionista pelos EUA, fica
muito elevada. Criou-se, portanto, ambiente de altíssima liquidez dentro dos EUA e, por tabela,
no sistema financeiro internacional (devido ao enorme peso dos EUA na economia mundial).

Por outro lado, essa alta liquidez ajudava o Brasil, estimulando a expansão da demanda por
commodities. Essa política teve grande êxito em fomentar a expansão da demanda efetiva nos
EUA, levando, paralelamente, a uma desvalorização do dólar. Portanto, a valorização do Real
verificada nos anos de 2010 e 2011, por exemplo, não teve influência das políticas internas
brasileiras, mas sim da desvalorização do dólar causada pelo quantitative easing nos EUA.

Essa política expansionista começou a ser desmontada em 2014, com a gradativa redução do
quantitative easing e com o aumento dos juros iniciando em dezembro de 2014. Isso porque a
economia crescia com bons índices, mas com muito endividamento e aumento da inflação. Isso
ocorreu dentro de um contexto de muita liquidez no sistema financeiro internacional. Ao mesmo
tempo, o preço do petróleo aumentou, gerando pressão inflacionária.

A política expansionista que vinha sendo feita desde 2008 foi revertida, com o aumento muito
gradual da taxa de juros de 2014 até hoje. Esse aumento de juros tem sido feito lentamente, a
“passos de tartaruga”, para não repetirem o que foi feito em 2008, quando os juros foram
elevados muito velozmente, fazendo com que o endividamento das famílias ficasse impagável.
De lá para cá, a taxa de juros dos EUA foi de 0,25% a.a. para 1,75% a.a., o que, entretanto, não
significa que a política monetária dos EUA seja necessariamente contracionista, mas é, de fato,
mais contracionista do que em outros momentos da história.

Com o aumento de juros nos EUA, a tendência é que investidores estrangeiros levem seu
dinheiro para os EUA, o que afeta justamente os países emergentes como o Brasil. A simples
expectativa de que haja aumento de juros nos EUA já faz com que aconteça essa transferência
de investimentos dos emergentes para o mercado americano.

Ao mesmo tempo, é muito mais fácil fazer política macroeconômica no Brasil quando os EUA
estão fazendo uma política expansionista. Captar a poupança externa de que o Brasil tanto
precisa é muito mais fácil, devido à enorme liquidez no sistema financeiro internacional (levando
a um maior acúmulo de reservas em moeda estrangeira). Controlar a inflação também é mais
fácil, pois o dólar mais desvalorizado permite que os custos em geral sejam contidos.

Daqui para frente, o Brasil terá um cenário mais difícil, pois a janela de oportunidade que
tivemos no passado está gradualmente se fechando (política monetária dos EUA ainda é
bastante expansionista). Com o aumento de juros nos EUA, aumentam também os juros no
Brasil, pois mais títulos do Tesouro Americano são comprados. Consequentemente, menos
títulos do Tesouro Brasileiro são comprados. Diante disso, o valor de arremate dos títulos
brasileiros cai e os juros, que são a diferença entre o valor de arremate e o valor de face,
aumentam.

Conclui-se, assim, que o espaço para a redução da SELIC diminui consideravelmente, dentro
de um contexto de alta de juros nos EUA. Os juros no Brasil não continuarão caindo, pois:
(i) a inflação está muito próxima da meta;
(ii) porque existem pressões adicionais à inflação causadas pelo dólar e pelo petróleo; e
(iii) porque os juros americanos ainda estão subindo.
POLÍTICA MONETÁRIA DOS PAÍSES DA ZONA DO EURO

A política monetária da Zona do Euro, após um contexto de crise (Grécia, Portugal, Chipre),
caracterizou-se como consideravelmente expansionista. O quantitative easing emissionista na
Zona do Euro começou apenas em 2015, quando o emissionismo dos EUA já estava sendo
interrompido e o do Japão já estava a pleno vapor.

O quantitative easing emissionista na Zona do Euro só foi ter início em 2015, porque a Alemanha
sempre foi contra, considerando o potencial inflacionário que tal medida poderia acarretar.

❖ Taxa de redesconto → – 0,35%

→ Quantitative Easing – EMISSIONISMO (política violentamente expansionista)

Títulos

BCE Países


→ Crescimento do endividamento.
→ Alta do preço de imóveis.
→ Alta do consumo.
→ Mais investimento.

❖ Quantitative easing europeu foi feito num contexto de risco de recessão + deflação.
❖ Vendas sucessivas de títulos pelos países-membros para financiar seu déficit.
❖ Crescimento veloz do endividamento, acima do crescimento da renda.

POLÍTICA MONETÁRIA DO JAPÃO

❖ Política monetária expansionista desde a crise financeira de 2008.


❖ Taxa de redesconto negativa em termos nominais.
❖ Quantitative easing (emissionismo).
❖ Inflação de 2% a.a. – meta vem sendo descumprida.
1. CERTO.
2. CERTO.
3. ERRADO
→ Trata-se de um futuro tópico de aula: a política cambial. A política monetária com taxa
de juros básica é inalcançável no cambio fixo.
4. ERRADO
→ Na crise de 2008, o FED realizou operações de redesconto com taxa baixa (USD 700 bi).
Na crise de 1929 não fez.

1. CERTO.
→ Na visão keynesiana há 3 motivos para entesouramento da moeda – precaução,
especulação e transação.
2. ERRADO.
→ A expansão dos meios de pagamento não é exercida exclusivamente pela autoridade
monetária, mas também pelos bancos comerciais, via empréstimos.
3. ERRADO.
→ Há décadas, não há mais padrão-ouro. Em 1973, acabou o padrão dólar-ouro.
4. CERTO.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 10
Prof. Daniel Sousa – 03.10.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA FISCAL

*Política Fiscal Expansionista – expandir a demanda agregada.


→ Mais gastos
→ Menos tributos

*Política Fiscal Contracionista – contrair a demanda agregada.


→ Menos gastos
→ Mais tributos

*Tamanho do governo
→ Pequeno: gasta pouco e tributa pouco.
→ Grande: gastos elevados e tributos elevados.

*Disciplina Fiscal
→ Equilíbrio das contas públicas.

POLÍTICA FISCAL – VISÃO CLASSICISTA

*ESTADO MÍNIMO
→ Tributa pouco: para não desincentivar a produção, o emprego, a renda e o crescimento.
→ Gasta pouco: para evitar o “efeito deslocamento” (crowding out ou “efeito expulsão”).

Quando o governo resolve gastar mais, há um impacto sobre a taxa de juros, que aumenta, pois
a poupança do governo diminuiu (e ficou mais cara). Governo tem que vender mais títulos e
por um preço menor, então o valor do arremate cai. A diferença entre o valor de arremate e o
valor de face desses títulos do governo aumenta. Essa diferença é a taxa de juros.

Portanto, o aumento dos gastos públicos gera um aumento da taxa de juros, levando a um
desestímulo dos investimentos produtivos e um estímulo à poupança, que, na prática, é um
desestímulo ao consumo. No final das contas, trata-se de um processo em que o aumento do
tamanho no governo acaba gerando um deslocamento, expulsão ou constrangimento da
iniciativa privada.

*DISCIPLINA FISCAL
→ Muito importante!

O desequilíbrio causado pela indisciplina fiscal (quando o poder público gasta mais do que
arrecada) tem como consequência o aumento do endividamento do governo, que acaba
captando poupança para si, a fim de financiar o seu déficit. Com isso, há menos poupança
disponível para investimentos produtivos privados, que são, efetivamente, o que impacta
positivamente a economia, gerando crescimento econômico. No futuro, essa dívida terá que ser
paga por meio do aumento de impostos, o que atrapalhará os investimentos e o consumo.
Fazer política fiscal é mexer na demanda e não na oferta. Mexer na oferta é aumentar a
capacidade produtiva, a quantidade de fatores de produção. Se o governo gastar mais, a
poupança (que é um fator de produção) cai, atrapalhando o crescimento e o atingimento de um
PIB potencial mais alto.

Representação gráfica de uma política fiscal expansionista – LONGO PRAZO:

Y = PIB
P = nível de preços
Oferta agregada (OA) vertical → sobre PIB potencial (Ypot)
Demanda agregada (DA) negativamente inclinada

No ponto de equilíbrio entre a oferta agregada e a demanda agregada, encontra-se um nível de


preços (P0) de equilíbrio. Quando o governo implementa uma política fiscal expansionista,
expande-se a demanda agregada. Essa expansão da demanda agregada não gera crescimento
do PIB, mas sim um aumento do nível de preços (P1). Cria-se um cenário de inflação alimentado
pelo excesso de gastos públicos.

Na prática, o PIB continua no mesmo lugar, pois esse aumento de gastos pelo governo diminuirá
o consumo, devido ao aumento da poupança, e os investimentos. A pressão inflacionária pode
ser explicada pelo excesso de demanda que é resultado de uma política fiscal expansionista.
O Classicismo não nega que haja um efeito positivo oriundo da politica fiscal, mas sim que
esse efeito positivo permaneça.

Representação gráfica de uma política fiscal expansionista – CURTO PRAZO:

Y = PIB
P = nível de preços
Oferta agregada (OA) positivamente inclinada
Demanda agregada (DA) negativamente inclinada

No ponto de equilíbrio entre a oferta agregada e a demanda agregada, encontra-se um nível de


preços (P0) e um produto (Y0) de equilíbrio. Com uma política expansionista, num horizonte de
curto prazo, haverá alguma pressão inflacionária (P1) e algum crescimento (Y1). Pode haver
crescimento no curto prazo, com o emprego de fatores de produção que estão
momentaneamente desempregados. Porém, isso não é sustentável.
Segundo a visão classicista, quando há uma política fiscal expansionista, implementada no
intuito de impulsionar o crescimento, tem-se, na prática, o aumento da demanda agregada por
bens e serviços. Esse aumento da demanda agregada faz com que os preços subam. Esse
aumento de preços acaba estimulando o emprego de fatores de produção momentaneamente
desempregados e também a produção, gerando crescimento.

O problema é que esse crescimento começa a se esgotar, na medida em que, empregando mais
fatores de produção (utilização de mais insumos), os preços desses fatores começam a subir.
Verifica-se, devido a esse aumento de preços, uma estabilização do emprego e da produção, e,
consequentemente, também, uma estabilização do crescimento econômico. Atinge-se o PIB
potencial dessa economia.

A política fiscal expansionista, num horizonte de longo prazo, levará a preços maiores e
estabilização do PIB. Porém, mesmo que no curto prazo haja algum aumento do crescimento
econômico, esse crescimento será efêmero (durando poucos anos), não sustentável no longo
prazo. Se essa expansão dos gastos, for acompanhada de indisciplina fiscal, o crescimento não
se sustentará e ficará a inflação e o desequilíbrio das contas públicas. Esse alto endividamento
levará inevitavelmente ao aumento de impostos, atrapalhando o crescimento em longo prazo.

A expansão da demanda agregada por meio de política fiscal expansionista ocorre de forma mais
acelerada que a expansão da oferta agregada, causando esse desequilíbrio e a estagnação da
economia. Para haver crescimento econômico, a demanda agregada deve crescer no mesmo
ritmo que a oferta agregada. A política fiscal deve andar junta com a política monetária, que
deve ser usada para conter os efeitos da expansão da demanda agregada. O Banco Central não
deve permitir o aumento dos juros num cenário de aumento excessivo dos gastos públicos. O
governo é obrigado a vender uma grande quantidade de títulos do Tesouro para financiar o
crescimento desse endividamento, o que impede a alta dos juros.

→ A política monetária afetará a política fiscal.


→ A política fiscal afetará a política monetária.

Segundo a visão classicista, o Estado deve ser mínimo, gastando e tributando pouco para que a
economia possa avançar de forma mais acelerada. Também há uma recomendação de que o
Estado seja disciplinado. Política fiscal não gera crescimento sustentável a longo prazo. A
expansão da oferta agregada, com a expansão da quantidade de dotação de fatores de
produção, é que gera crescimento.
POLÍTICA FISCAL – BRASIL

Desde a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar no 101/2000), a política fiscal


brasileira segue o regime de metas de superávit primário. Trata-se de um resultado primário
preliminar positivo (meta definida anualmente segundo a lei de diretrizes orçamentárias).

→ Arrecadação (União, Estados, Municípios, empresas estatais)


MENOS Despesas (exceto juros)
= Resultado primário
MENOS Juros
= Resultado nominal (completo)

Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Brasil passou a ter a disciplina fiscal como princípio
legal. Os governos passaram a ter um compromisso legal com a responsabilidade fiscal, com
metas que deverão ser cumpridas. O Brasil vem apresentando superávit primário todos os anos
desde a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas, desde 2013, os resultados têm sido negativos.

Durante o segundo mandato do governo FHC, o Brasil teve leves superávits. Ao longo da gestão
de Palocci na Fazenda, durante o primeiro mandato de Lula, o superávit primário brasileiro
atingiu recordes. Já no segundo governo Lula, durante a gestão de Guido Mantega, os superávits
foram caindo. Caíram ainda mais ao longo do primeiro governo Dilma.

Para o ano de 2018, o Brasil tem uma meta de déficit primário de R$ 159 bilhões. Caso o
governo tenha que gastar mais do que o necessário para atingir essa meta, terá que pedir
autorização ao Congresso Nacional. Caso contrário, incorrerá em crime de responsabilidade.

Se for considerado o gasto do governo com juros (déficit nominal), o resultado é muito pior. O
déficit nominal do Brasil no ano de 2017 foi de R$ 511 bilhões. Isso significa que o governo teve
de ir ao mercado para vender títulos nesse montante, a fim de cobrir esse déficit nominal. Isso
sem contar os títulos que o Tesouro teve que vender para pagar os títulos que estavam
vencendo. No ano de 2018, o Tesouro tem a expectativa de vender por volta de R$ 1 trilhão e
300 bilhões em títulos.

Em 2018, o governo brasileiro pagará aproximadamente R$ 316 bilhões em juros da dívida


pública, menos de 10% de um total de R$ 3,57 trilhões do orçamento anual. Se o governo deixa
de gastar essa quantia no pagamento de juros, isso representaria um calote nos cidadãos e
empresas que detêm títulos do governo, gerando um enorme impacto recessivo. E um governo
que dá calote pagará juros ainda mais altos no futuro. Um dos motivos pelos quais o Brasil paga
juros tão altos hoje é o nosso imenso histórico de calotes.

O Brasil tem hoje uma dívida no tamanho de 78% do PIB. O maior problema, entretanto, não
é a relação dívida-PIB em si, que é muito maior em diversos países, mas sim o tamanho do déficit
e o seu ritmo acelerado de crescimento sem qualquer medida concreta para contê-lo. Segundo
projeções do governo, se nada for feito em relação ao aumento da dívida pública brasileira, até
2022, poderemos ter uma relação dívida-PIB de 100%.

No ano de 2017, o Brasil teve um déficit nominal em proporção do PIB que só não foi maior do
que o da Arábia Saudita, equivalente a 8% do PIB. O Brasil tem um déficit gigantesco e o
crescimento desse endividamento ocorre num ritmo insustentável – esse é o maior perigo, e
não o tamanho da dívida em si. O Brasil está numa situação relativamente delicada do ponto de
vista fiscal.
Durante o governo Dilma, teve início o que se chamou de NOVA MATRIZ ECONÔMICA, em que
se deixou de focar o centro da meta de inflação, focando no topo da margem de tolerância. No
que se refere à política fiscal, houve mudança na metodologia de cálculo do superávit primário.
O governo passou a desconsiderar certos gastos:

Considerou no cálculo a arrecadação, menos as despesas (exceto juros), mas excluindo desse
cálculo das despesas os seguintes gastos públicos:

- Programa Minha Casa Minha Vida;


- Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); e
- Investimentos da Petrobrás.

Essa “contabilidade criativa” foi feita para inflar os resultados fiscais, no intuito de criar espaço
para o governo gastar mais. Foram feitos outros “malabarismos fiscais” (também chamados de
“pedaladas fiscais”), como:

→ Gastos com o seguro-desemprego, apenas pagos pela Caixa Econômica Federal, que
funcionava como intermediário, deviam ter sido realizados com recursos do Tesouro, mas o
governo ordenou que a Caixa realizasse esses pagamentos, atrasando o repasse desses recursos
pelo Tesouro.
→ Gastos com o Plano Safra, que concede subsídios a agricultores, intermediados pelo Banco
do Brasil, foram cobertos pelo Tesouro com atraso.

Apesar da crise fiscal, o Brasil não está falido, pois ainda tem crédito. O governo realiza,
portanto, sucessivas vendas de títulos, a fim de refinanciar sua dívida e pagar títulos que
vencem. Entretanto, a crise fiscal realmente se materializa quando o governo apresenta um lote
de títulos para vender, a fim de pagar os títulos que estão vencendo, e ninguém quer comprar.

É difícil prever quando isso pode ocorrer, pois envolve questões relacionadas à credibilidade de
um país. A relação dívida-PIB do Brasil, como já foi dito anteriormente, está em 0,78 (dívida é
78% do PIB). Porém, o maior problema é o ritmo acelerado de crescimento que essa dívida vem
apresentando e a expectativa de que ela continuará crescendo nos próximos anos, sem nada ser
feito para frear esse processo.

Há muitos países bem mais endividados que o Brasil, uns em crise e outros não. A Grécia é um
exemplo de país com relação dívida-PIB de 180% que recentemente viveu uma crise fiscal, tendo
dificuldades de vender títulos de seu Tesouro. O mercado considerava que o governo grego não
teria capacidade de honrar o pagamento desses títulos no futuro. Já o governo do Japão, que é
muito mais endividado do que o governo grego, devendo quase 230% de seu PIB, consegue
vender títulos sem problemas. O governo do Japão tem enorme credibilidade perante a sua
população e perante os investidores.

O Brasil tem um péssimo histórico de “rasgar contratos”, com promessas de candidatos


geralmente de desfazer o que foi feito por seus antecessores. Num horizonte de longo prazo,
esse desrespeito aos contratos é algo que pode ser prejudicial para a credibilidade de um país,
gerando desconfiança de investidores.

Normalmente, os países mais endividados são países desenvolvidos. Países emergentes


costumam ter um nível de endividamento mais baixo, pois são países cujo PIB cresce muito e
acabam tendo uma relação dívida-PIB bem menor.
COMPOSIÇÃO DAS DESPESAS PRIMÁRIAS – GOVERNO FEDERAL – 2017

Obs.: o quadro acima não inclui despesas financeiras (com juros da dívida).

46,5% do orçamento público brasileiro é gasto com Previdência, seja com benefícios
continuados ou com aposentadorias. É algo preocupante, sobretudo quando se considera que o
Brasil ainda não é um país idoso e estamos gastando uma quantidade tão expressiva com o INSS.
Esse percentual só vem aumentando a cada ano. Esses recursos usados cada vez mais na
Previdência representam menos investimentos em outras áreas. Qualquer governo que vier,
será obrigado a realizar uma reforma da Previdência, pois o aumento sucessivo dos gastos com
seguridade social tende a inviabilizar o governo.

22% do orçamento público brasileiro é gasto com pessoal. Somando esses gastos com pessoal
às despesas com Previdência, já se chega a quase 70% do orçamento. Com essas despesas
crescendo sem parar, cada vez mais sobram menos recursos para investimentos. Também vale
dizer que esses 70% são gastos sobretudo com poucas pessoas. E pouco é gasto para a massa
da população.

11% do orçamento público brasileiro é gasto com despesas obrigatórias. São despesas que
estão estabelecidas em lei e que o governo não pode deixar de realizar.

11,3% do orçamento público brasileiro é gasto com despesas discricionárias com vinculação.
São gastos com Saúde (7,8%), com Educação (2,6%) e com os Poderes Legislativo, Judiciário e
com o Ministério Público da União (0,9%).

Os 9% que sobram no orçamento são gastos com despesas discricionárias sem vinculação. São
as despesas que o governo ainda tem alguma margem para mexer. Porém, esse percentual vem
encolhendo, ano a ano, pois tem sido engolido pelas demais despesas. Aqui estão inseridas as
obras públicas, programas sociais, despesas de custeio, tudo que não está “carimbado”,
vinculado.
Cada vez mais, esses gastos vêm desaparecendo, com o aumento das demais despesas, com
sérios riscos de que o governo fique paralisado. As discussões do Congresso em torno do
orçamento limitam-se a emendas e reajustes. É necessária, de forma emergencial, uma reforma
da Previdência e o adiamento dos reajustes do funcionalismo.

Para o ano de 2019, a depender de quem vencerá as eleições presidenciais, haverá duas
opções: RASGAR ou MANTER a PEC do Teto.

O problema de se rasgar a PEC do Teto é que o crescimento do endividamento, que já acontece


de forma constante, poderá ter ritmo ainda mais acelerado. E mais: ao rasgar a PEC do Teto, os
juros que o governo paga subirão, pois haverá menos interessados em comprar títulos brasileiro,
tendo em vista que a chance de as contas públicas entrarem em colapso será muito elevada.

Ao que tudo indica, independentemente de quem for o Presidente da República, a PEC do Teto
cairá de qualquer jeito, pela simples inviabilização da estratégia que foi desenhada
originalmente. Isso é algo dramático para a situação fiscal do país, que já não está nada bem.

Uma boa parte dessas despesas primárias já está sendo coberta pela venda de títulos, sobretudo
aquelas discricionárias sem vinculação. Em um dado momento, com o ritmo do aumento do
endividamento cada vez mais acelerado, o governo precisará vender títulos para cobrir até
mesmo as despesas obrigatórias, o que é ilegal. Essa vedação é conhecida como “regra de ouro”.

Já se fala, no Congresso Nacional, das chamadas “férias para a regra de ouro”. Durante esse
período, o governo poderia cobrir despesas obrigatórias com a venda de títulos do Tesouro,
enquanto seriam adotadas medidas de ajuste das contas públicas para quando essas “férias”
deixassem de vigorar.

POLÍTICA FISCAL – VISÃO KEYNESIANA


→ Demanda efetiva impulsiona o crescimento econômico.

*POLÍTICA FISCAL:
O Estado não tem que ser mínimo. Deve ter tamanho capaz de influenciar a demanda efetiva,
com seus gastos, deve ser capaz de coordenar expectativas e de fazer política anticíclica. Deve,
também, corrigir falhas de mercado.

*EFEITO MULTIPLICADOR:

*CONSUMO é afetado pela renda disponível e pelas expectativas.


*INVESTIMENTO é afetado pela taxa de juros e também pelas expectativas.

Se o governo aumentar seus GASTOS (com obras públicas, por exemplo), haverá um impacto
positivo sobre os demais agregados macroeconômicos. Isso estimulará os INVESTIMENTOS
(empresas serão contratadas para realizar essas obras) e o CONSUMO irá se expandir (pessoas
empregadas nessas obras passarão a ter renda).
Segundo a visão keynesiana, o efeito dos gastos públicos sobre o PIB é multiplicado (“efeito
multiplicador” – exatamente o contrário do “efeito deslocamento”). Enquanto os classicistas
diziam que o aumento de gastos públicos reduziria os investimentos e o consumo, Keynes afirma
que é exatamente o contrário.

Com o aumento dos gastos, investimentos e consumo serão estimulados, fazendo com que a
própria economia cresça mais rápido do que o aumento dos gastos públicos. Para se calcular o
impacto que a política fiscal terá sobre uma economia, deve-se encontrar o efeito multiplicador.

O EFEITO MULTIPLICADOR será tão maior ou tão mais eficaz quanto maior for a propensão
marginal a consumir das pessoas. O efeito multiplicador se calcula da seguinte forma:

PMGC = propensão marginal a consumir

*LÓGICA DO “NEW DEAL”:

→ Crescimento da oferta agregada acima do crescimento da demanda:


- Começam a ser formados os estoques.
- Empresas cortam investimentos e mandam pessoas embora.
- Desemprego faz consumo cair, causando aumento de estoques
- Queda ainda maior de investimentos.
*CICLO RECESSIVO...

→ Para quebrar o ciclo recessivo, o governo pode recorrer a uma política fiscal expansionista:
- Aumentando os gastos do governo, esse ciclo recessivo pode ser quebrado.

→ A política fiscal tem vários papéis:


- Corrigir falhas de mercado;
- Quebrar ciclo recessivo;
- Coordenar expectativas; e
- Gerar efeitos multiplicados e potencializados sobre o PIB.

*A política fiscal não pode ser esquecida e o Estado não pode ser mínimo. Precisa ter o
tamanho proporcional à sua importância, o seu peso na economia.
A criação de uma rede de proteção social, tutelada pelo Estado, levará as pessoas a consumir
mais e poupar menos, com a segurança de que o Estado irá acolhê-las no futuro. Há, portanto,
na visão keynesiana, uma centralidade da política fiscal e do governo em si.

*ARMADILHA DE LIQUIDEZ:
- Empresa A tem uma queda nas vendas e passa a entesourar dinheiro em torno de si.
- Empresa A demite trabalhador, que é o Consumidor B
- Consumidor B, desempregado e com medo do futuro, vai entesourar mais moeda.
- Consumidor B entesourando, para de comprar da Empresa C
- Empresa C começa a entesourar moeda em torno de si e para de comprar da Empresa A.
→ Processo recomeça...

Não adianta colocar mais moeda na mão das pessoas. Com uma política monetária
expansionista, essa moeda adicional será entesourada pelas pessoas da mesma forma. Já uma
política fiscal pode surtir efeitos. Se o governo expandir seus gastos, contratando pessoas para
fazer parte de uma obra pública, esses trabalhadores vão consumir das empresas, que
contratarão mais...assim, a roda da economia volta a girar, em função de uma política anticíclica
feita pelo governo.

Mas e o déficit público que será gerado?


Na concepção keynesiana, em alguns cenários, o déficit publico chega a ser desejável como
forma de impulsionar a economia. Esse déficit significa que você está injetando mais demanda
efetiva na forma de gastos do que retirando na forma de impostos. Esse déficit será coberto pela
aceleração do crescimento que a politica fiscal está gerando.

→ Estado não deve ser mínimo. Precisa ter um tamanho proporcional a seu peso na economia.
→ Estado não precisa ser, necessariamente, disciplinado. Em alguns momentos, é até desejável
que o Estado não o seja, pois poderá ser capaz de impulsionar o crescimento econômico.

COMENTÁRIO SOBRE O BRASIL:

Em 2009, o governo Lula resolveu fazer uma política anticíclica para enfrentar os efeitos da crise
de 2008. O governo brasileiro reduziu os impostos, aumentou os gastos e reduziu a meta de
superávit primário. Isso não gerou um impacto expressivo sobre a taxa de juros no Brasil, pois,
naquela época, o Brasil tinha resultados primários elevadíssimos e tinha grau de investimento,
ou seja, era considerado um país seguro.

Em 2015, o governo Dilma tentou fazer o mesmo. Porém, não era um momento propício para
uma política expansionista. Havia um déficit primário enorme, o país já não tinha grau de
investimento e a inflação estava em aceleração.

A implementação (ou não) de política anticíclicas dependerá do cenário específico. O Japão,


por exemplo, tem muito mais facilidade de implementar políticas keynesianas do que o Brasil,
pois tem contas públicas mais estruturadas e melhor gerenciadas. Se o governo do Japão decide
aumentar o déficit, a população e o mercado encaram isso com naturalidade.

Conclusão: ambas as teorias (classicista e keynesiana) são estáticas, mas o mundo real é
dinâmico. O que às vezes é recomendável para um país pode não ser recomendável para outro.
Cada realidade momentânea pode exigir um ou outro tipo de política fiscal.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 11
Prof. Daniel Sousa – 10.10.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA FISCAL → Estados Unidos da América / Zona do Euro

POLÍTICA FISCAL DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA)

Num passado recente, até o fim do governo de Bill Clinton (1993-2001), os EUA apresentavam
superávit fiscal nominal (sempre que forem feitas análises fiscais internacionais, serão
mencionados os resultados em termos nominais e não primários). Era um período de muito
crescimento na economia americana, quando cresceu consideravelmente a arrecadação e as
despesas eram bastante controladas.

A partir do governo de George W. Bush (2001-2009), houve corte de impostos já de início,


sobretudo para os mais ricos, no intuito de atrair grandes fortunas para o país. Houve também
um aumento de despesas públicas, principalmente devido aos gastos com guerras, e um
aumento bastante expressivo do déficit público, o que foi usado como política anticíclica.

Durante o governo de Barack Obama (2009-2017), houve a continuidade do uso do déficit como
política anticíclica, havendo, porém, uma pequena melhora ao final do governo. O déficit era um
elemento anticíclico, pois havia um cenário de crise financeira. Depois, houve queda no déficit
e uma melhora da economia americana, com aumento também da arrecadação.

No governo de Donald Trump (2017-hoje), houve uma extensa reforma tributária, com redução
agressiva de impostos cobrados de empresas. A lógica era de que empresas com a Apple
obtinham lucros fora dos EUA, que não eram repatriados, devido à alta carga tributária
americana. Esses recursos eram mantidos em paraísos fiscais, o que diminuía a arrecadação do
governo americano e causava efeitos negativos nas contas públicas. A intenção era incentivar o
retorno de capitais para os EUA, incentivando investimentos.

Entretanto, houve um aumento do déficit, com a redução da arrecadação e com o aumento do


endividamento. A dívida pública americana já ultrapassou os 100% do PIB, ultrapassando 20
trilhões de dólares. Isso é um elemento de insegurança e instabilidade para o futuro econômico
do mundo. Se o governo tiver dificuldade de refinanciar suas dívidas devido ao aumento
excessivo de seu endividamento, o mercado exigirá juros maiores para a compra de títulos
americanos.

O aumento da taxa de juros nos EUA não tem ocorrido apenas devido ao endividamento, mas
também como forma de conter a pressão inflacionária. O governo americano ainda continuou
tendo muita facilidade para refinanciar suas dívidas, ainda têm prazos maiores para o
vencimento de seus títulos, que ainda têm juros baixos. A situação está sob controle, mas esse
endividamento representa, inegavelmente, um risco para o futuro.
POLÍTICA FISCAL DA ZONA DO EURO

Os países da Zona do Euro não podem emitir moeda individualmente como forma de conter
suas crises fiscais, pois há uma moeda única que só pode ser emitida com a autorização do Banco
Central Europeu. Em 1992, no Tratado de Maastricht, ficou estabelecido que o máximo de
endividamento aceitável para os países da Zona de Euro seria de 60% do PIB. Nenhum país
conseguiu até hoje atingir essa meta.

Na Zona do Euro, os países apresentam baixo crescimento, no máximo até 2%, pois já são
economias maduras, onde existem menos oportunidades de novos negócios e investimentos e
custos muito elevados. O crescimento dentro da Zona do Euro é baixo e continuará sendo baixo.
O grande problema é que o crescimento de grande parte desses países foi associado a déficits
elevados.

A adoção do Euro inicialmente representou um fator de estabilidade, com o aumento da liquidez


nos países da Zona do Euro. A partir de 2002, por mais de 10 anos, economias periféricas da
Zona do Euro tiveram cada vez mais facilidade de financiar seus déficits. Antes, esses países
tinham que pagar juros altos, mas com moedas nacionais pouco seguras. Juros continuaram
altos, mas baseados numa moeda segura como o Euro. Porém, fato é que o endividamento
desses países em proporção do PIB cresceu de forma muito acelerada.

A crise de 2008 colocou em xeque uma série de princípios e dogmas que estavam até então
estabelecidos. A crise foi enfrentada por meio de políticas anticíclicas, o que tornou os déficits
ainda maiores. O aumento do endividamento levou a uma crise fiscal. O primeiro país da Zona
do Euro que teve dificuldades de financiar suas dívidas foi a Grécia, que não conseguiu vender
seus títulos. Para sair dessa situação, a Grécia teve de implementar medidas de austeridade, a
fim de diminuir seu déficit (causador da crise), mas também como medida punitiva e exemplar,
para prevenir que isso ocorresse em outros países.

Mesmo assim, houve um recuo no apetite por títulos de países periféricos da Zona do Euro
(como Portugal, Chipre, Irlanda e Itália). Não demorou para que a Zona do Euro tivesse que
socorrer esses países, exigindo deles também a adoção de medidas austeras. O “pacote de
maldades” era um receituário que demandava, sobretudo aumento de impostos e redução de
despesas com seguridade social (reforma da previdência, com aumento da idade mínima e
redução dos benefícios mais altos). Essas medidas geravam tensões nesses países, mas também
nos países centrais da Zona do Euro que estavam ajudando os periféricos.

Em 2015, o governo grego resolveu realizar um plebiscito para consultar a população para saber
se queriam que continuassem as medidas de austeridade. A população escolheu que não
continuasse a austeridade, mas o Banco Central Europeu não deu importância para essa decisão
popular da população local. O governo grego, em razão desse impasse, entrou em default com
a Zona do Euro. A Grécia parou de receber Euros do Banco Central Europeu e houve carestia de
Euros em circulação no mercado europeu.

Diante desse impasse, o governo grego chegou a cogitar o retorno a sua antiga moeda, o
Dracma, o que seria um problema, já que a dívida continuaria sendo em Euros, ficando cada vez
mais cara, já que o Dracma iria rapidamente se desvalorizar. Outro problema é que seria uma
medida extremamente impopular, pois o patrimônio dos gregos, que é totalmente em Euros,
sofreria enorme desvalorização ao ser convertido para o Dracma. Esses possíveis problemas
fizeram com que o governo grego voltasse atrás e concordasse em adotar o pacote de medidas
impopulares exigidas do Banco Central Europeu.
Desde 2015, o Banco Central Europeu tem adotado o quantitative easing, emitindo Euros em
maior quantidade. As economias da Zona do Euro não têm tido dificuldades para refinanciar
suas dívidas desde então. A própria Grécia recentemente saiu da supervisão do Banco Central
Europeu, passando a andar com as próprias pernas, pois não tem tido dificuldades em vender
títulos para refinanciar sua dívida. O próprio Banco Central Europeu tem comprado esses títulos
gregos por meio da emissão de moeda.

Esse quantitative easing pôde ser feito naquele momento, pois o barril de petróleo havia sofrido
uma expressiva queda, o que representava um risco de deflação da economia europeia,
associada à recessão. Para evitar isso, o Banco Central começou a imprimir Euros. De lá para cá,
o cenário mudou e a economia europeia se recuperou, devido a essa política expansionista e
também por conta do recente aumento do preço do barril de petróleo.

Esses fatores estão gerando pressão inflacionária sobre a Zona do Euro, o que denota que o
quantitave easing deverá parar, o que poderá fazer com que os países periféricos da Zona do
Euro voltem a ter problemas de financiamento de suas dívidas. Desde 2015, a relação dívida-PIB
nesses países vem aumentando – devagar, mas aumentando – o que muito perigoso.
Atualmente, os governos de Portugal e Itália têm uma relação dívida-PIB de 130%; o governo
grego 180%. Governos importantes da Zona do Euro, como Espanha, França e Alemanha, já têm
uma relação dívida-PIB de 100%.

Se o Banco Central Europeu emitisse os títulos públicos, assumindo as dívidas dos países, seria
ainda mais fácil financiar a dívida dos países da Zona do Euro. Parece ser uma solução definitiva
para essa dificuldade de financiamento, mas é algo a ser decidido pela política. Isso aumenta
tensões nos países da Zona do Euro, que não aceitariam ficar subordinados ao Banco Central
Europeu, sem terem a liberdade de emitir seus próprios títulos.

Com o final do quantitative easing, há a possibilidade de que aumente o pensamento


eurocético, com ameaças de saída de países da Zona do Euro. Ressurge a ideia dos “Estados
Unidos da Europa”, que era originalmente a meta para a integração europeia, com uma perda
ainda maior de soberania dos poderes locais. Haveria uma capacidade de financiamento ainda
maior, se a política fiscal fosse feita coletivamente. Essa ideia não é de fácil implementação e
gera enorme resistência localmente pois os países europeus perderiam ainda mais suas
soberanias, em nome de um projeto supranacional.

Os cada vez mais fortes “eurocéticos” acreditam na inexistência de uma estabilidade na


integração. Ou se aprofunda a integração ou se recua. Os eurocéticos também pensam que o
aprofundamento da integração não é desejável, pois não querem abrir mão da soberania, ou
que não seria nem mesmo possível ou viável. O grupo dos eurocéticos é muito heterogêneo, e
não necessariamente de extrema-direita.
TRADE-OFF

É uma escolha que tem ônus e bônus, vantagens e desvantagens. O trade-off mais conhecido é
aquele entre inflação e desemprego. Se você quiser ter desemprego mais baixo, terá que tolerar
uma inflação mais alta. Se você quiser inflação mais baixa, terá que tolerar um desemprego mais
alto. Seria necessário escolher uma ou outra situação.

→ A primeira vez que essa ideia aparece é na chamada Curva de Phillips (1958):

O neozelandês William Phillips (1914-1975) tentou


observar a relação que existiria entre inflação e
desemprego. Para isso, lançou dados de países em
diferentes momentos em uma curva negativamente
inclinada, e encontrou um padrão entre combinações
de inflação e desemprego.

De acordo com esse padrão, quando a inflação


estivesse mais alta, o desemprego estaria mais baixo.
Por outro lado, quando o desemprego estivesse mais
alto, a inflação estaria mais baixa.

Os resultados obtidos nessa curva comprovariam a existência de um trade-off entre inflação e


desemprego. Há uma escolha a ser feita entre inflação e desemprego, que deve ser levada em
consideração quando for pensada a política econômica de um país. O trade-off explicado pela
Curva de Phillips ficará associado a uma visão mais keynesiana.

VISÃO KEYNESIANA – TRADE-OFF

Com inflação de 8%, desemprego será de 2% (ponto A). Mas,


com inflação de 2%, haverá desemprego de 10% (ponto B).
Cabe ao governo decidir se prefere o ponto A ou o ponto B.

Para passar do ponto B para o ponto A, é preciso realizar uma


política econômica expansionista (tanto monetária quanto
fiscal). Para passar do ponto A para o ponto B, é preciso
realizar uma política econômica contracionista (tanto
monetária quanto fiscal).

Há uma escolha a ser feita (trade-off):

Política econômica expansionista → aumento da demanda efetiva → aumento da inflação →


gerando mais emprego e estimulando a produção → mais crescimento econômico.

Política econômica contracionista → redução da demanda efetiva → queda da inflação →


gerando menos emprego e desestimulando a produção → menos crescimento econômico.

A crítica dos classicistas em relação à Curva de Philips é de que se trata de uma análise de curto
prazo; não é permanente, valendo para um período relativamente curto. Ao se pensar em um
horizonte de longo prazo, esse argumento proposto por Phillips não se sustentaria. Surge,
portanto, uma resposta classicista à Curva de Phillips, o Modelo Friedman-Phelps (1968).
VISÃO CLÁSSICA

Na versão criada em 1968 por Milton Friedman (1912-2006) e Edmund Phelps (1933-*), em um
horizonte de longo prazo, a Curva de Philips não seria negativa inclinada, mas sim vertical. Essa
curva vertical definiria uma taxa de desemprego natural, que envolve dois outros conceitos:

(i) Desemprego voluntário, quando pessoas ou fatores de produção não aceitam a remuneração
oferecida pelo mercado, ficando voluntariamente desempregados; e

(ii) Desemprego friccional, quando pessoas estão procurando um novo emprego ou trocando
de um emprego para o outro.

Quando a taxa de desemprego está no seu patamar natural, a economia está no pleno
emprego. Pleno emprego não significa inexistência de desemprego, mas sim inexistência de
desemprego involuntário.

Numa economia em que o desemprego natural seja de 5%, pode-se escolher um ponto A ou um
ponto B, pode-se escolher entre uma inflação de 10% (ponto A) ou de 3% (ponto B).

Para passar do ponto A para o ponto B, é preciso realizar uma política econômica contracionista
(tanto monetária quanto fiscal). Para passar do ponto B para o ponto A, é preciso realizar uma
política econômica expansionista (tanto monetária quanto fiscal). A política econômica
expansionista não faz sentido, pois trará mais inflação, sem nenhuma alteração da taxa de
desemprego.

Política econômica expansionista → expansão da demanda agregada → aumento de preços →


estímulo à produção → aumento dos custos de produção → produção e emprego se estabilizam
→ situação de produção e emprego estáveis.
Política econômica contracionista → redução da demanda agregada → queda dos preços →
desestimulo à produção → queda dos custos de produção → recuperação e pleno emprego a
custos mais baixos.

Conclusão: não existe, no longo prazo, uma escolha (trade-off) entre inflação e desemprego.
Não importa se há um cenário de inflação mais alta ou mais baixa. Haverá, em ambos os casos,
o mesmo desemprego natural (cenário de pleno emprego).

Esse debate acadêmico surgiu, ao final da década de 1960, porque, durante a hegemonia do
pensamento keynesiano, a inflação passou a subir de forma acentuada. Questionava-se se o
papel da inflação na economia seria mesmo aquele proposto por Keynes. Nos anos 1970, esse
debate ganha ainda mais força, com a ascensão da ideia de que inflação não é mais capaz de
gerar crescimento econômico, colocando a teoria keynesiana em xeque.
RESUMO DE POLÍTICA FISCAL

❖ CLASSICISMO
Na teoria Clássica, verifica-se a existência da flexibilidade nos preços dos fatores de produção,
garantindo a tendência ao pleno emprego. Com isso, a oferta agregada fica vertical, e as
variações na demanda agregada passa a ter impacto nominal nos preços, mas não real.

Política Monetária:
O único objetivo da política monetária deve ser o combate à inflação, afinal ela vai mexer na
demanda, não tendo impactos sobre variáveis nominais, mas apenas em variáveis reais. Por isso
recomenda-se o regime de metas de inflação, mas não um regime de meta de crescimento
econômico. Há também a ideia da neutralidade da moeda.

Política Fiscal:
→ Estado mínimo (efeito deslocamento / desestímulo à produção);
→ Disciplina fiscal; e
→ Não existe um trade-off entre inflação e desemprego.

❖ KEYNESIANISMO

Não há flexibilidade nos preços dos fatores de produção e não existe tendência ao pleno
emprego (apesar de existir o pleno emprego como conceito). A demanda efetiva faz com que a
economia se aproxime do pleno emprego, influenciada pelas expectativas, que determinam o
emprego dos fatores e o crescimento.

Política Monetária:
Aumentar a demanda efetiva, gerando mais inflação e mais emprego.

Política Fiscal:
O governo deve ter um tamanho proporcional à sua importância (capaz de corrigir falhas de
mercado, coordenar expectativas, aumentar a demanda efetiva e fazer a economia crescer).
Deve haver uma certa tolerância com a indisciplina fiscal; em cenários de crise, indisciplina fiscal
torna-se uma recomendação.

→ Existe um trade-off entre inflação e desemprego.


- Uso da curva de Philips segundo a proposição original.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 12
Prof. Daniel Sousa – 17.10.2018

MACROECONOMIA → BALANÇO DE PAGAMENTOS

O resultado do Balanço de Pagamentos (BP) não representa apenas as contas do governo, mas
o país como um todo. O governo, as empresas e os cidadãos terão impacto sobre o BP. O BP é
um registro das relações econômicas de um país com o resto do mundo. Um país como o Brasil
precisa ter um BP equilibrado, pois operacionaliza suas relações com o setor externo
majoritariamente em dólares, uma moeda que o país não emite.
→ Sistema BPM6: Brasil adotou essa nova metodologia do FMI, a partir de 2015.

I. CONTA DE TRANSAÇÕES CORRENTES (OU CONTA CORRENTE);


II. CONTA CAPITAL; e
III. CONTA FINANCEIRA.

Obs.: embora sejam 2 contas separadas, a conta capital e a conta financeira são às vezes
analisadas em conjunto.

O Brasil recebe dólares do exterior por conta de investimentos


estrangeiros, exportações e relações econômicas em geral com o
setor externo. Também envia dólares para o exterior por conta de
importações de mercadorias e serviços, remessas de lucros, etc.

❖ CONTA DE TRANSAÇÕES CORRENTES (OU CONTA CORRENTE)

As transações correntes são medidas em 4 (quatro) subcontas:

A) BALANÇA COMERCIAL:
→ Exportações de bens e mercadorias (X) – sinal positivo.
→ Importações de bens e mercadorias (M) – sinal positivo.
Saldo da balança comercial = X – M

O Brasil é um país tradicionalmente superavitário na balança comercial, dependendo muito do


preço das commodities exportadas pelo Brasil. No ano passado, o Brasil teve seu maior superávit
comercial da história, acima de US$ 60 bilhões.

B) BALANÇA DE SERVIÇOS:
→ Exportações de serviços (X) – sinal positivo.
→ Importações de serviços (M) – sinal positivo.
Saldo da balança de serviços = X – M

O Brasil é um país tradicionalmente deficitário na balança de serviços, pois entram nessa conta
o turismo, fretes, seguros, alugueis de equipamentos, setores em que o Brasil não é competitivo.
C) BALANÇA DE RENDA PRIMÁRIA
→ Renda primária recebida do exterior (RREP): sinal positivo.
→ Renda primária enviada ao exterior (REEP): sinal positivo.
Saldo da conta de renda primária = RREP - REEP

Essa conta registra lucros, juros e salários. O Brasil é um país tradicionalmente deficitário nesta
conta, pois envia mais do que recebe (principalmente lucros, enviados ao exterior por filiais ou
sucursais de empresas estrangeiras).

C) BALANÇA DE RENDA SECUNDÁRIA (BRS)


→ Renda secundária recebida do exterior (RRES): sinal positivo.
→ Renda secundária enviada ao exterior (REES): sinal positivo.
Saldo da conta de renda secundária = RRES - REES

Essa conta registra doações feitas por pessoas, empresas e governos. O Brasil é um país
tradicionalmente superavitário, mas é um superávit muito pequeno de até US$ 2 bilhões no
máximo. Em verdade, ser muito superavitário em doações não é algo exatamente positivo.

Para se encontrar o saldo em transações correntes, realiza-se a seguinte conta:

Saldo da balança comercial (superávit)


Saldo da balança de serviços (déficit)
Saldo da conta de renda primária (déficit)
+ Saldo da conta de renda secundária (minúsculo superávit)
= Saldo em transações correntes (ou em conta corrente)
(déficit em transações correntes)

O Brasil tem tido, historicamente, um dos maiores déficits em transações correntes no mundo.
No ano passado, o Brasil teve uma ligeira melhora nesse ranking, devido ao superávit recorde
da balança comercial (US$ 60 bilhões).

Os países que figuram em primeiro e segundo lugar no ranking mundial de déficit em transações
correntes são os EUA e o Reino Unido, respectivamente. Isso ocorre devido aos seus enormes
déficits na balança comercial. Para os EUA, esse resultado negativo não é tão grave assim e não
traz tanta fragilidade, já que são os emissores do dólar, que é a hegemônica.

Por outro lado, o altíssimo déficit em transações correntes traz grande fragilidade para o Brasil,
pois precisamos financiar esse déficit o tempo inteiro, por meio de poupança externa. Não por
acaso, a poupança externa é definida com o resultado do saldo em transações correntes com
o sinal invertido.

SEXT = - STC

→ Há, segundo essa lógica, 2 (dois) tipos de países:


Países do TIPO 1: saldo em transações correntes negativo e poupança externa positiva, ou seja,
países que recebem poupança externa para ajudar no financiamento do investimento como
alavanca para o crescimento econômico (ex.: Brasil).

Países do TIPO 2: saldo em transações correntes positivo e poupança externa negativa, ou seja,
países que podem enviar poupança externa para financiar o déficit de outros países (ex.: China).
I = S = SP + SG + SEXT

Lembremos da identidade macroeconômica fundamental, segundo a qual INVESTIMENTO (I) é


igual a POUPANÇA (S), que pode ser POUPANÇA PRIVADA (SP), POUPANÇA DO GOVERNO (SG)
ou POUPANÇA EXTERNA (SEXT).

Se um país tem uma SEXT positiva, ela será somada à SP e à SG, para alavancar o investimento.
É o caso do Brasil, que tem o saldo em transações correntes negativo e, consequentemente,
uma poupança externa positiva, que aumenta o nível de poupança da economia brasileira. É
um país que recebe poupança do exterior para financiar o seu déficit em transações correntes.

Há países, como o Japão, a China e a Alemanha, que têm saldo em transações correntes
positivo, e enviam poupança para outros países, diminuindo os investimentos nas suas
economias domésticas.

Voltando aos conceitos da aula de CONTABILIDADE NACIONAL:

→ X – M = saldo da balança comercial (BC) + saldo da balança de serviços (BS)

Ou seja, BC e BS são considerados no cálculo do PIB.

→ PIB = BC + BS
→ RREP – REEP = balança de renda primária (BRP).

Ou seja, se o PIB considera apenas BC e BS, a renda nacional bruta considera BC, BS e BRP.

→ RNB = BC + BS + BRP
→ RRES – REES = BRS

Ou seja, a renda nacional disponível é definida pela soma das 4 contas usadas para o cálculo do
saldo em transações correntes (BC + BS + BRP + BRS).

Portanto, se um país tem o saldo em transações correntes negativo, significa que ele gasta mais
do que sua renda permite. A absorção (consumo de bens e serviços) do Brasil acaba sendo
maior do que sua renda disponível.
❖ CONTA CAPITAL

A conta capital não tem quase importância, pois os valores envolvidos nela são muito pequenos.
Ela registra a transferência de propriedade de ativos não financeiros e não produzidos.
Ex.: venda de passe de um jogador de futebol, transferência de propriedade intelectual).

SALDO = valores recebidos por essas transferências MENOS valores gastos / enviados com elas.

Superávit → vendas de ativos não financeiros e não produzidos forem maiores que as compras.
Déficit → vendas de ativos não financeiros e não produzidos forem menores que as compras.

Obs.: devido à irrelevância da conta capital, ela muitas vezes é mesclada com a conta financeira,
sendo chamadas, em conjunto, genericamente, de “conta capital e financeira”.

❖ CONTA FINANCEIRA

A conta financeira registra fluxos financeiros, principalmente os fluxos a seguir:

→ Investimento Estrangeiro Direto (IED):


Investimento produtivo, de maior qualidade e maturação, que tanto pode ser recebido como
pode ser feito pelo Brasil. O Brasil recebe, tradicionalmente, uma quantidade considerável de
IED. Porém, houve uma queda expressiva neste ano, devido às incertezas políticas, com a
proximidade das eleições. Para o Brasil, o IED é importantíssimo para financiar o déficit em
transações correntes e para captar poupança externa.

→ Investimentos em Carteira:
É o capital especulativo, recursos que entram para compras ações, títulos do governo. A
importância da conta financeira para o balanço de pagamento faz com que o Brasil não reduza
demais os juros, pois os juros relativamente altos atraem mais capital especulativo.

→ Empréstimos.
→ Derivativos.
→ Outros investimentos.

O cálculo da conta financeira, segundo o sistema BPM6, é feito da seguinte forma:

Variação de ativos (ou ativos líquidos)


– Variação de passivos (ou passivos líquidos)
= CONTA FINANCEIRA

Ativos líquidos = tudo o que brasileiros investiram no exterior, menos o que desinvestiram.
Passivos líquidos = tudo o que estrangeiros investiram no Brasil, menos o que desinvestiram.
Brasil tem déficit na conta financeira pois passivos líquidos são maiores do que ativos líquidos.

→ BRASIL: US$ 380 bilhões em reservas internacionais, uma das maiores do mundo.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 13
Prof. Daniel Sousa – 24.10.2018

MACROECONOMIA → BALANÇO DE PAGAMENTOS (continuação)

❖ SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES (STC):

→ Balança comercial;

→ Balança de serviços;

→ Renda Primária; e

→ Renda Secundária.

O Saldo em Transações Correntes é a Poupança Externa com o sinal invertido:

STC = – SEXT

❖ PAÍSES TIPO A:

→ Saldo em transações correntes POSITIVO (STC +)

→ Poupança externa NEGATIVA (SEXT –)

*Países exportadores de poupança; financiadores dos déficits no STC do resto do mundo.

❖ PAÍSES TIPO B:

→ Saldo em transações correntes NEGATIVO (STC –)

→ Poupança externa POSITIVA (SEXT +)

*Países importadores de poupança externa; precisam financiar seus déficits no STC.


RANKING DE PAÍSES – BALANÇO DE PAGAMENTOS – COMPARAÇÕES – STC

→ MAIORES SUPERÁVITS:

1o - ALEMANHA: + US$ 296 bilhões


- País com enorme superávit na balança comercial, na balança de serviços e na renda primária;
- Boa parte desse superávit alemão acaba sendo com países da própria União Europeia (UE);
- Muitas empresas alemãs ao redor do mundo;
- Grande capacidade de importar e reexportar (alta competitividade logística / portuária);
- Interesse alemão em manter a UE. Nenhum país ganha tanto com a UE como a Alemanha; e
- Se ainda existisse o marco alemão, seria uma moeda extremamente valorizada.

2o - JAPÃO: + US$ 175 bilhões


- Muitas empresas japonesas ao redor do mundo. Renda primária bastante superavitária;
- Pauta de exportações extremamente qualificada (valor agregado superior); e

3o - CHINA: + US$ 162,5 bilhões


- Superávit chinês não é tão grande, pois ainda são muito dependentes da balança comercial; e
- Além disso, a China ainda é muito pouco competitiva em serviços;

4o - COREIA DO SUL: + US$ 85,1 bilhões


- Exportadores de produtos de alto valor agregado, como máquinas e equipamentos; e
- Exportadores de alta tecnologia, sobretudo digital (touch screen, telas 4K, etc).

5o - HOLANDA: + US$ 82,4 bilhões


- Tal qual a Alemanha: grande capacidade de importar e reexportar;
- Força logística: Porto de Roterdã;
- Holanda tem muita força no setor de serviços (seguros, frete e serviços financeiros);
- Holanda é um dos principais parceiros comerciais do Brasil; e
- É um dos principais beneficiários da UE – o florim certamente seria uma moeda valorizada.

6o - TAIWAN: + US$ 79 bilhões


- Mesmo padrão que a República Popular da China.

7o - SUÍÇA: + US$ 67,3 bilhões


- É um hub de serviços financeiros – enorme impacto positivo na balança de serviços; e
- Exporta muitos produtos de alto valor agregado (produtos farmacêuticos, etc.).

9o - CINGAPURA: + US$ 59,7 bilhões


- Especializou-se como um hub de distribuição de mercadorias para a Ásia; e
- É muito mais barato concentrar a distribuição em um único país.

10o - ITÁLIA: + US$ 52, 8 bilhões


- Exportador de produtos de alto valor agregado (automóveis); e
- Excelência em design (serviços).
→ MAIORES DÉFICITS:

201o - EUA: – US$ 462 bilhões


- Déficit na balança comercial de quase US$ 800 bilhões em 2017;
- Bons resultados na balança de serviços e na renda primária melhoraram o resultado no STC;
- Mercado consumidor gigante, mas é um país que não consegue produzir tudo que consome;
- Explica a postura tão hostil do governo Trump em relação ao comércio internacional; e
- EUA argumenta que a China pratica dumping social, ambiental, etc., obtendo ganhos artificiais.

200o - REINO UNIDO: – US$ 91,4 bilhões


- A libra esterlina é uma moeda extremamente valorizada;
- Porém, o Reino Unido tem déficits comerciais muito expressivos;
- Britânicos passaram por um processo de desindustrialização importante;
- A tendência, com o Brexit, é que esse quadro se agrave e que haja piora no STC;
- Piora na renda primária, devido à aquisição de empresas britânicas por outros países;
- Gradativa perda de relevância da economia britânica, mas não é culpa da EU; e
- Entretanto, ainda é uma das maiores economias do mundo; membro do CSNU.

(...)

196o - BRASIL: – US$ 28,9 bilhões


- Brasil avançou no ranking, pois teve o maior superávit comercial de sua história em 2017;
- Resultados no STC do Brasil tornaram-se menos deficitários;
- Resultados comerciais muito impactados pela supersafra de grãos;
- Também pelo alto preço das commodities em geral; e
- Porém, somos muitos suscetíveis ao clima, o que é sempre um risco.

197o - FRANÇA: – US$ 28,9 bilhões


- Problemas parecidos com os do Reino Unido;
- Gradativamente vem perdendo sua relevância econômica;
- Déficits comerciais expressivos; e
- Legislação trabalhista muito pesada.
RESERVAS INTERNACIONAIS

O Brasil conseguiu acumular reservas internacionais mesmo sendo deficitário em transações


correntes. Até o ano de 2007, o Brasil tinha superávits em transações correntes, devido ao boom
das commodities. Mesmo depois de 2007, o Brasil continuou acumulando reservas
internacionais, por causa do ambiente externo de altíssima liquidez

O ingresso de recursos na conta capital e financeira (principalmente os Investimentos


Estrangeiros Diretos e os investimentos em Carteira) ocorreu num volume muito superior do
que o déficit em transações correntes. O ambiente de alta liquidez no Sistema Financeiro
Internacional, causado por politicas monetárias fortemente expansionistas nos EUA e na Europa
fez com que muitos desses recursos acabassem vindo para o Brasil, favorecendo o acúmulo de
reservas internacionais.

A Crise de 2008 foi causada por excesso de liquidez (aumento do endividamento, bolhas no
mercado de subprimes, etc.), mas, mesmo assim, foi enfrentada pelos países centrais por meio
da oferta ainda maior de liquidez no sistema. Nunca houve tanta liquidez no Sistema Financeiro
internacional em tão pouco tempo, o que explica o enorme acúmulo de reservas internacionais
pelo Brasil (atualmente de quase US$ 380 bilhões). É claro que a taxa de juros relativamente alta
do Brasil ajuda a atrair esses recursos, mas é preciso que esses recursos estejam disponíveis.

Conforme esses dólares vão entrando no país, vão sendo colocados pelo Banco Central Brasileiro
(BACEN) nas reservas. O BACEN realiza leilões de compras de dólares, vendendo-os para quem
pagar mais barato. O BACEN paga por esses dólares em reais, tirando moeda nacional de
circulação e aumentando a reserva em moeda estrangeira. Para que esses reais que são
colocados em circulação na provoquem alta da inflação, o BACEN emite títulos públicos para
retirar reais de circulação (chamada de “operação de esterilização”). As altas reservas
internacionais do Brasil são extremamente importantes, pois oferecem estabilidade ao país no
que tange suas contas externas. O Brasil não tem um problema em suas contas externas.

Em comparação com a Argentina, o déficit fiscal do Brasil em proporção do PIB chega a ser o
dobro. Porém, a ineficiência do governo argentino em aprovar no Congresso medidas para
equilibrar suas contas públicas, gerou um clima de incerteza. Isso levou investidores a tirar
dólares da Argentina, fazendo com que os nossos vizinhos tivessem que pedir ajuda ao FMI, pois
não têm reservas internacionais para manter a estabilidade macroeconômica. No Brasil,
acontecendo algo semelhante, o BACEN pode jogar dólares das reservas no mercado, segurando
a oscilação. Isso ajuda a explicar por que o peso argentino se desvalorizou 120% no ano de 2018
e o real apenas 25%.

A maior parte das reservas internacionais do Brasil são colocadas em títulos do tesouro
americano, que rendem juros muito pequenos. O acumulo de reservas internacionais não é
gratuito, tem um custo financeiro que não pode ser ignorado. Na gestão de Henrique Meirelles
no BACEN, momento em que o país começou a acumular reservas de forma mais forte, os
críticos diziam que estávamos trocando dívida externa por dívida interna. O BACEN contra-
argumentava dizendo que era mais fácil lidar com a dívida em nossa moeda local.

Em momentos de desvalorização do real, os resultados nas contas públicas do Brasil melhoram,


pois é um credor externo líquido, ou seja, o montante das reservas internacionais é maior do
que a dívida externa. Se o dólar passa a valer mais, nossos resultados melhoram, pois somos
credores de dívidas em dólares.
RANKING DE PAÍSES – RESERVAS INTERNACIONAIS – 2017 – World Factbook

1o - CHINA: US$ 3,19 trilhões


- Um dos maiores superávits em transações correntes do mundo;
- Recebe pesados Investimentos Estrangeiros Diretos e recursos de Carteira;
- Usa reservas internacionais para comprar títulos do tesouro americano;
- Política de juro baixo EUA só pôde acontecer com financiamento chinês;
- Isso dá à China um poder de barganha interessante perante os EUA;
- Capacidade chinesa de investir em infraestrutura no mundo; e
- Há risco de perda da relevância de instituições financiadoras, como o Banco Mundial.

2o - JAPÃO: US$ 1,21 trilhões

3o - UNIÃO EUROPEIA: US$ 740 bilhões

4o - SUÍÇA: US$ 679 bilhões

5o - ARÁBIA SAUDITA: US$ 509 bilhões


- Já não é mais o mais produtor de petróleo do mundo – EUA superou;
- Brasil produz mais petróleo que alguns países da OPEP;
- Porém, Brasil e EUA não são membros – não são grandes exportadores.

(...)

10o - BRASIL: US$ 377 bilhões


- Brasil adquiriu mais respeito internacional por causa do acúmulo de reservas.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 14
Prof. Daniel Sousa – 31.10.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA CAMBIAL

→ Política cambial é a política de precificação da moeda estrangeira.

Se, numa data, com 1 dólar é possível comprar 3 reais, e, em outra data, o mesmo dólar compra
4 reais, o que flutua é a quantidade de reais necessários para comprar uma unidade da moeda
americana. Isso faz com que a nossa taxa de cambio seja invertida, pois a referência acaba sendo
a moeda estrangeira, e não a moeda nacional.

O Brasil usa essa taxa de câmbio invertida, utilizando como referência a moeda estrangeira,
desde 1942, quando foi introduzido o cruzeiro na economia brasileira. Isso causa uma certa
confusão. Quando há aumento da taxa de câmbio, está ocorrendo, na prática, uma
desvalorização cambial, com depreciação da taxa de câmbio. O contrário também é verdadeiro.
Quando há uma diminuição da taxa de câmbio, ocorre valorização cambial, com apreciação da
taxa de câmbio.

→ DÓLAR COMERCIAL (‘dólar à vista’ ou ‘dólar spot’):


É a cotação oficial da moeda estrangeira na economia brasileira. O nome ‘dólar comercial’ vem
de uma época em que se precisava de autorização do BACEN para comprar dólares, o que
somente era autorizado para operações comerciais. O dólar comercial não vale apenas para
comércio, mas também para outras operações (financeiras, por exemplo).

→ DÓLAR TURISMO:
Cotação utilizada quando se quer comprar pequenas quantidades de papel moeda para fazer
turismo no exterior. A cotação é um pouco maior do que aquela do dólar comercial, justamente
porque envolve o manuseio da moeda estrangeira em pequenas quantidades.

→ DÓLAR PARALELO:
Na época em que era necessária a autorização do BACEN para a compra de dólares, as pessoas
recorriam ao mercado paralelo, já que o mercado oficial não supria as necessidades de quem
queria comprar dólares. Muita gente não conseguia a autorização do BACEN e havia, portanto,
uma demanda reprimida. É, entretanto, um crime, mas que era tolerado, tendo inclusive suas
cotações anunciadas no noticiário. Essa tolerância se deve ao fato de que, em dado momento,
o mercado paralelo havia se tornado muito maior do que o mercado oficial, que era incapaz de
suprir as pessoas com moeda estrangeira.

→ DÓLAR FUTURO:
É aquele que se promete comprar ou vender em data futura, mas com a cotação estabelecida
hoje. Se um contrato de câmbio futuro é fechado hoje, com promessa de compra com a cotação
em R$ 3,90, independe o valor da cotação no momento do pagamento da obrigação. A cotação
já foi pré-definida em contrato.
MERCADO CAMBIAL

q = quantidade de moeda estrangeira.


TC = preço da moeda estrangeira, que se chama taxa de câmbio.
O = oferta de dólares no mercado.
D = demanda por dólares no mercado.

No cruzamento entre as curvas de oferta e de demanda, tem-se uma taxa de câmbio de


equilíbrio (TCE) e uma quantidade de equilíbrio (qE).

Em um momento em que a quantidade ofertada de dólares estiver maior do que a quantidade


demandada, o preço do dólar cai – processo de apreciação cambial.

Em um momento em que a quantidade ofertada de dólares estiver menor do que a quantidade


demandada, o preço do dólar sobe – processo de depreciação cambial.

Oferta de dólares:
- Exportadores;
- Investidores estrangeiras;
- Empresas brasileiras que captam recursos ou recebem lucro no exterior; e
- Brasileiros que têm parentes no exterior e recebem recursos vindos do exterior.

Demanda por dólares:


- Importadores;
- Investidores nacionais que querem levar recursos para o exterior;
- Empresas nacionais que podem estar pagando empréstimos feitos no exterior;

A expansão da oferta de dólares, considerando que a demanda permanece a permanece a


mesma, acarreta a queda da taxa de câmbio de equilíbrio. A contração da oferta de dólares leva
a uma taxa de câmbio de equilíbrio mais alta.

Uma grande vantagem da flutuação do preço da moeda estrangeira é que, na prática, temos
uma tendência ao equilíbrio. A flutuação cambial acaba equilibrando oferta com demanda. Se
há oferta demais, o preço do dólar cai, desincentivando a oferta. Se há demanda demais, o preço
do dólar sobe, desincentivando a demanda.
❖ REGIME DE CÂMBIO FIXO
O regime de câmbio fixo acontece quando a taxa de câmbio é definida pelo Banco Central de
um país, que fica obrigado a comprar e vender dólares de tal maneira a equilibrar o mercado.

Se houver mais gente querendo vender dólares do que gente querendo comprar dólares, o
Banco Central precisa comprar dólares para evitar a queda da taxa de câmbio, o que faria com
que o câmbio deixasse de ser fixo.

Se houver mais gente querendo comprar dólares do que gente querendo vender dólares, o
Banco Central precisa vender dólares para evitar a alta da taxa de câmbio, fazendo também
com que o câmbio deixe de ser fixo.

→ As reservas internacionais do país ficam subordinadas ao regime cambial fixo vigente:


Se o Banco Central for obrigado a comprar dólares, a fim de manter o câmbio fixo,
consequentemente aumentarão as reservas internacionais do país.
Se o Banco Central for obrigado a vender dólares, a fim de manter o câmbio fixo,
consequentemente diminuirão as reservas internacionais do país.

Num regime de câmbio fixo, a política monetária perde a eficácia. Se é implementada uma
política monetária contracionista, que tem como consequência o aumento de juros, o juro
doméstico ficará momentaneamente maior do que o juro internacional. Nesse cenário, entrarão
dólares no país, atraídos por esse juro doméstico mais alto, ou seja, pessoas estarão trocando
dólares por reais. Isso acaba fazendo com que a quantidade de moeda nacional em circulação
aumente e os juros domésticos voltem a cair. Essa política monetária contracionista não surtirá,
portanto, o efeito esperado.

→ O regime de câmbio fixo está mais suscetível a ataques especulativos:

O mercado, atraído por uma taxa de câmbio fixa muito atraente, começa a comprar dólares e,
se houver mais gente comprando do que vendendo dólares, o Banco Central terá que vender
dólares a fim de manter a taxa fixa. Consequentemente, teremos um processo em que estarão
sendo queimadas reservas internacionais.

Ataques especulativos são uma aposta de parte do mercado de que o Banco Central não será
capaz de segurar a taxa de câmbio que ele mesmo definiu. Se isso realmente ocorrer, o câmbio
pode ser solto pelo Banco Central, fazendo com que o preço do dólar dispare e os especuladores,
que compraram muitos dólares baratos apostando nesse aumento, obtenham lucros oriundos
dessa nova taxa mais alta.

→ Regime de câmbio fixo na China:


Na China, o câmbio é fixo e extremamente desvalorizado. São necessários muitos yuans para
comprar um dólar. O objetivo estratégico do Banco Central chinês é aumentar a competitividade
dos produtos chineses, ampliando as exportações e inibindo as importações. Isso acaba tendo,
na prática, um impacto muito positivo sobre o crescimento econômico, sobre o saldo em
transações correntes e sobre as reservas internacionais da China.
Porém, na China, o câmbio não é completamente fixo. O Banco Central chinês permite uma
pequena flutuação, comprando e vendendo dólares para manter o equilíbrio. Na China, o mais
comum é que a taxa de câmbio bata no piso, devido à enorme entrada de dólares na economia,
que ocorre em decorrência dos gigantescos superávits em transações correntes e do pesado
ingresso de investimentos estrangeiros diretos feitos na economia chinesa.

Com tanto dólar entrando e pouco dólar saindo, o Banco Central chinês é obrigado a comprar
dólares em enormes quantidades, a fim de reforçar as reservas internacionais, que vão
aumentando.

→ Regime de câmbio fixo no Brasil, até 1999:


Outro exemplo de regime de câmbio fixo foi o Brasil até 1999, ano em que teve início o regime
de câmbio flutuante.

Havia na época um sistema de flutuação em bandas, que eram limites para a taxa de câmbio
estabelecidos pelo BACEN. Na época do abandono do regime de câmbio fixo, a banda inferior
estava na casa de 1 real para 1 dólar e a banda superior em 1,20 real para 1 dólar.

A taxa de câmbio podia flutuar livremente dentro desses parâmetros. Quando ela batia no teto,
o BACEN vendia dólares e a cotação caía. Quando ela batia no piso, o BACEN comprava dólares,
e assim sucessivamente. Nessa época, o BACEN brasileiros sofria ataques especulativos
constantes e tinha que vender dólares com muita frequência, com a consequente diminuição
das reservas internacionais.

Com tantos ataques especulativos, o BACEN decidiu soltar a taxa fixa e a cotação subiu
significativamente, até aproximadamente 1,70 real, num período de tempo relativamente curto.
Aqueles especuladores que compraram muitos dólares em preços tão baratos acabaram
obtendo lucros enormes com isso.

O câmbio estava artificialmente valorizado, com o real muito forte e com a entrada de produtos
importados com preços muito baratos. Nesse cenário de câmbio muito valorizado, o objetivo
macroeconômico era o combate à inflação, pois os insumos importados entravam muito baratos
e abriam espaço para um processo em que não se podiam aumentar preços no Brasil, pois era
muito difícil para os produtos brasileiros competirem com os produtos estrangeiros.
❖ REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE

No regime de câmbio flutuante (ou de câmbio flexível), a taxa de câmbio é determinada pelo
mercado, ou seja, pela livre interação entre oferta de dólares e demanda por dólares.

Se a quantidade ofertada de dólares for maior do que a quantidade demandada, o preço do


dólar irá cair. Se a quantidade ofertada de dólares for menor do que a quantidade demanda, o
preço do dólar irá subir.

→ A maior vantagem do regime de câmbio flutuante é a sua tendência ao equilíbrio.

Se há entrada de dólares na economia maior do que a saída de dólares, a taxa de câmbio vai
cair, estimulando a saída e desestimulando a entrada de dólares.

Se há entrada de dólares na economia menor do que a saída de dólares, a taxa de câmbio vai
subir, desestimulando a saída e estimulando a entrada de dólares.

*Existe uma tendência ao equilíbrio do balanço de pagamentos e do mercado cambial.

No regime de câmbio flutuante, a política fiscal perde força e eficácia. Se for feita uma política
fiscal expansionista com o aumento dos gastos públicos, haverá aumento na taxa de juros.
Esse aumento dos juros incentiva a entrada de dólares na economia. Essa entrada de dólares
levará a uma apreciação do câmbio, que diminuirá as exportações e aumentará as
importações.

Se, de um lado, o governo tentará gerar crescimento por meio do aumento dos gastos, do outro,
a diminuição das exportações líquidas estará mitigando esse efeito positivo dos gastos sobre o
PIB. Trata-se de um processo no qual, ao tentar gerar crescimento com o aumento dos gastos,
o câmbio trabalhou contra o país. Haverá uma apreciação cambial causada pelo aumento desses
gastos públicos.

→ No câmbio flutuante...
- Há menos chances de ataques especulativos.
- Há uma maior imprevisibilidade. O câmbio é uma variável de difícil previsão.
- Essa imprevisibilidade, chamada de risco cambial, gera incertezas.
- Essas incertezas podem ser mitigadas por operações no mercado futuro.

→ “FLUTUAÇÃO SUJA”:
Chama-se de “flutuação suja” quando o BACEN atua no mercado cambial, para interferir na
flutuação da taxa de câmbio. Se o preço do dólar estiver subindo rápido demais, o BACEN
venderá muitos dólares, a fim de conter a escalada da moeda americana. O contrário também
é verdadeiro. Se o BACEN considerar que o preço do dólar está caindo demais, entrará
comprando dólares, para empurrar a taxa de câmbio para cima. A taxa de câmbio continua
sendo definida pelo mercado, mas o BACEN está interferindo na flutuação.
TRIPÉ MACROECONÔMICO
→ Política monetária – regime de metas de inflação.
→ Política fiscal – regime de metas de superávit primário.
→ Política cambial – regime de câmbio flutuante.

O tripé macroeconômico tem sido respeitado, desde seu início em 1999, tendo sido flexibilizado
apenas durante o governo Dilma Rousseff, trazendo problemas para a economia. Essa
flexibilização se deu por meio da NOVA MATRIZ MACROECONÔMICA:

→ Regime de metas de inflação: tolerância à inflação acima do centro da meta. Foco na margem
de tolerância. Mais inflação traria mais crescimento.

→ Regime de metas de superávit primário: alteração da forma como se calculava o superávit


primário, a fim de liberar governo para gastar mais, o que estimularia o crescimento econômico.

→ Regime de câmbio flutuante: BACEN atuou de forma mais forte a fim de gerar maior
desvalorização do real, no intuito de aumentar a competitividade dos produtos brasileiros e
defender a indústria nacional. Isso foi feito num momento em que havia muita liquidez no
sistema financeiro internacional. Apesar das atuações muito fortes do BACEN, o Brasil
experimentou um câmbio muito apreciado.

De lá para cá, o Brasil conseguiu recuperar o regime de câmbio flutuante e o regime de metas
de superávit primário, mas ainda não conseguiu solucionar seus problemas fiscais.

PARIDADE DO PODER DE COMPRA

Há uma tendência a acreditar que o dólar é mais forte do que o real, pois ele pode comprar uma
quantidade grande de reais com apenas uma unidade. Isso não é verdade. O valor nominal da
taxa de câmbio não quer dizer absolutamente nada.

Podemos ter uma taxa de câmbio de 1 para 100, como já ocorreu com o yen, mas, mesmo assim,
não havia nenhuma dúvida em dizer que o yen era mais forte e tinha mais poder de compra do
que o dólar. Ou seja, o valor nominal da taxa de câmbio não significa poder de compra.

Se o preço de um produto no Brasil estiver igual ao preço de um produto nos EUA corrigido pela
respectiva taxa de câmbio, significa que a paridade cambial está sendo respeitada e que as duas
moedas estão com o mesmo poder de compra. Na prática, com as flutuações e desequilíbrios
que ocorrem, uma moeda pode estar mais forte do que a outra. Estará sempre mais forte a
moeda cujo produto estiver mais caro em dólares, usando a cotação cambial em vigor.

A revista The Economist tem um índice chamado ÍNDICE DO BIG MAC, que ajuda a ilustrar as
diferenças na paridade do poder de compra de um país para o outro.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 15
Prof. Daniel Sousa – 14.11.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA CAMBIAL (continuação)

POLÍTICA CAMBIAL DA ZONA DO EURO


Com a instituição do euro como moeda comum, uma grande quantidade de países passou a ter
a mesma taxa de câmbio de uma hora para a outra, com diferentes implicações para cada país.

ALEMANHA tinha o marco alemão, uma moeda muito mais valorizada do que o euro.
X
ITÁLIA – lira ]
PORTUGAL – escudo ] → moedas menos valorizadas do que o euro.
ESPANHA – peseta ]
GRÉCIA – dracma ]

A moeda alemã puxou o euro para cima e as moedas desses países mediterrâneos puxaram o
euro para baixo. O euro acabou sendo criado como uma moeda mais fraca do que o marco, mas
muito mais forte do que as moedas dos países europeus periféricos.

A unificação cambial representou um enorme ganho de competitividade para os alemães, com


um impulso para o crescimento do seu saldo em transações correntes. Por outro lado,
representou uma perda de competitividade para os países mediterrâneos. Houve, por exemplo,
deslocamento de investimentos industriais desses países mediterrâneos para países europeus
próximos que estão fora da zona do euro, com moedas nacionais mais fracas, como a Polônia.

→ POLÍTICA MACROECONÔMICA NA ZONA DO EURO:


- Política cambial comum;
- Política monetária comum (juros básicos); e
- Política fiscal não é exatamente coordenada. Cada país tem autonomia. ]

A zona do euro tem vivido anos relativamente tranquilos, pois tem sido praticada recentemente
uma política monetária expansionista, o quantitative easing, que consiste no emissionismo de
euros e na compra de títulos da dívida de países da zona do euro pelo Banco Central Europeu
(BCE). Os governos dos países que adotam o euro não têm tido, portanto, dificuldades em
financiar seus endividamentos. Esse excesso de liquidez disponível não deverá durar mais tanto
tempo, pois os alemães, que controlam o BCE, poderão recuar tendo em vista que as pressões
inflacionárias podem arriscar a estabilidade macroeconômica da zona do euro.

Essa provável mudança de política monetária comum poderá criar tensões dentro da zona do
euro, pois países não podem monetizar suas dívidas, ou seja, imprimir euros para financiar seu
endividamento. Somente o BCE pode fazê-lo. Os países mais endividados em proporção do PIB
na zona do euro não têm conseguido diminuir suas dívidas. Talvez seja necessário que as
políticas fiscais sejam efetivamente unificadas na zona do euro.

A unificação monetária completa só ocorreria se apenas o BCE pudesse emitir títulos da dívida,
extinguindo os títulos dos países da zona do euro. O BCE assumiria as dívidas públicas nacionais,
substituindo os papéis desses países com seus credores por papéis do BCE. Os países passariam
a dever para o BCE e não mais para o público. Esse projeto é chamado de EURO BOND.
EFEITOS DE POLÍTICAS MACROECONÔMICAS SOBRE OS REGIMES CAMBIAIS

→ Legenda dos gráficos a seguir:


Vertical: taxa de juros real (r).
Horizontal: PIB real (Y).
Curva IS: investments & savings.
- Inúmeras combinações de taxas de juros e PIB que equilibram o mercado de bens e serviços.
- Expansão do mercado de bens e serviços conforme os juros caem.
Curva LM: liquid money.
- Inúmeras combinações de taxas de juros e PIB que equilibram o mercado monetário.
- Expansão do mercado monetário conforme os juros sobem (aumento do preço da moeda).
Curva BP: balanço de pagamentos, que define uma taxa de juros internacional (rI).
- A curva BP é horizontal denotando uma perfeita mobilidade de capitais.
- Nem sempre a mobilidade de capitais é perfeita, mas...
- Como hipótese simplificadora, vamos supor que não há restrições à mobilidade de capitais.

REGIME DE CÂMBIO FIXO – EFEITOS DA POLÍTICA MONETÁRIA

→ País decide fazer uma POLÍTICA MONETÁRIA EXPANSIONISTA:


Ex.: Redução da taxa de redesconto, do compulsório ou da venda de títulos da dívida pública.

POLÍTICA MONETÁRIA SEMPRE DESLOCA A CURVA LM.


Ocorrerá uma expansão da curva LM, fazendo com que
o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saia do ponto
preto (1) e vá para o ponto azul (2).

Haverá, portanto, uma expansão do mercado


monetário, como resultado de uma política monetária
expansionista.

→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente menores do que juros internacionais (rI).

Juros externos mais altos incentivarão a fuga de capitais, ou seja, reais estarão sendo trocados
por dólares, que sairão do país. Se há mais gente trocando reais por dólares, num regime de
câmbio fixo, o Banco Central (BACEN) terá que oferecer a contrapartida, vendendo os dólares e
comprando os reais.

Toda a oferta monetária que havia se expandido, começará a se contrair. Como o BACEN
começará a comprar os reais todos de volta, a curva LM retornará para o mesmo exato ponto
original (ponto 3 coincidirá com o ponto 1).

Conclusão: a eficácia da política monetária dentro de um regime de câmbio fixo é ZERO, se a


mobilidade de capitais for perfeita (com o retorno completo da curva LM). Se a mobilidade de
capitais for imperfeita, o retorno da curva LM não será completo, e, portanto, a política
monetária terá alguma eficácia.

ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política monetária contracionista.
REGIME DE CÂMBIO FIXO – EFEITOS DA POLÍTICA FISCAL

→ País decide fazer uma POLÍTICA FISCAL EXPANSIONISTA:


Ex.: Redução de impostos ou aumento de gastos públicos.

POLÍTICA FISCAL SEMPRE DESLOCA A CURVA IS. Ocorrerá a expansão da curva IS, fazendo com
que o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saia do ponto preto (1) e vá para o ponto azul (2).

Haverá, portanto, uma expansão do mercado de bens e serviços como resultado de uma política
fiscal expansionista.

→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente maiores do que juros internacionais (rI).

Juros domésticos mais altos incentivarão a entrada de capitais, ou seja, pessoas estarão
trocando dólares por reais, atraídas por esse juro doméstico mais alto. Se há mais gente
trocando dólares por reais, num regime de câmbio fixo, o Banco Central (BACEN) terá que
oferecer a contrapartida, comprando os dólares e entregando os reais.

Como há mais reais em circulação, ocorrerá uma expansão da oferta monetária, com o
deslocamento da curva LM, que encontrará um novo ponto de equilíbrio com a curva IS: o
ponto vermelho (3).

Conclusão: a política fiscal dentro de um regime de câmbio fixo tem efeito.

ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política fiscal contracionista.
REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE – EFEITOS DA POLÍTICA FISCAL

→ PAÍS DECIDE FAZER UMA POLÍTICA FISCAL EXPANSIONISTA:

POLÍTICA FISCAL SEMPRE DESLOCA A CURVA IS. Ocorrerá a expansão da curva IS, fazendo com
que o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saia do ponto preto (1) e vá para o ponto azul (2).

Haverá, portanto, uma expansão do mercado de bens e serviços, como resultado de uma política
fiscal expansionista.

→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente maiores do que juros internacionais (rI).

Juros domésticos mais altos incentivarão a entrada de capitais, ou seja, pessoas estarão
trocando dólares por reais, atraídas por esse juro doméstico mais alto. A taxa de câmbio cairá,
pois o câmbio é flutuante (BACEN não fará nada). Ocorrerá uma apreciação cambial, pois haverá
mais dólares em circulação.

Como o câmbio apreciado afeta negativamente as exportações líquidas do país, ocorrerá uma
contração da curva IS (ponto 1 coincidirá com o ponto 3).

→ O câmbio terá trabalhado CONTRA os efeitos da política fiscal!

Conclusão: a política fiscal num regime de câmbio flutuante não tem efeito, se a mobilidade de
capitais for perfeita (retorno completo da curva IS). Se a mobilidade de capitais for imperfeita,
o retorno da curva IS não será completo, e, portanto, a política fiscal terá alguma eficácia, tão
maior quanto mais imperfeita for a mobilidade de capitais.

ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política fiscal contracionista.
REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE – EFEITOS DA POLÍTICA MONETÁRIA

→ PAÍS DECIDE FAZER UMA POLÍTICA MONETÁRIA EXPANSIONISTA:

POLÍTICA MONETÁRIA SEMPRE DESLOCA A CURVA LM. Ocorrerá a expansão da curva LM, com
o equilíbrio entre a curva IS e a curva LM saindo do ponto preto (1) e indo para o ponto azul (2).

Haverá, portanto, uma expansão do mercado monetário como resultado de uma política
monetária expansionista.

→ Juros domésticos (rD) ficarão momentaneamente menores do que juros internacionais (rI).

Juros externos mais altos incentivarão a fuga de capitais, ou seja, pessoas estarão trocando reais
por dólares, que sairão do país. A taxa de câmbio aumentará, pois o câmbio é flutuante (BACEN
não fará nada). Ocorrerá uma depreciação da moeda local, pois haverá menos dólares em
circulação.

Como o câmbio depreciado afeta positivamente as exportações líquidas do país, ocorrerá uma
expansão do mercado de bens e serviços, com o deslocamento da curva IS, que encontrará um
novo ponto de equilíbrio com a curva LM: o ponto vermelho (3), onde o PIB é maior.

→ O câmbio terá trabalhado A FAVOR dos efeitos da política monetária!

Conclusão: a política monetária num regime de câmbio flutuante tem efeito!

ATENÇÃO:
*O contrário também é verdadeiro, caso seja adotada uma política monetária contracionista.

A maior parte dos países relevantes em termos de fluxo financeiro tem uma mobilidade de
capitais muito próxima da perfeição. O Brasil, por exemplo, não tem uma perfeita mobilidade
de capitais, mas está muito próximo. Há, no Brasil, pequenos impostos e taxas sobre o fluxo de
capitais. A perfeita mobilidade de capitais ocorre apenas quando não há NENHUMA restrição,
como na Suíça (e em outros paraísos fiscais).

No regime de câmbio flutuante, política fiscal e câmbio caminham em sentidos opostos, mas
política monetária e câmbio caminham no mesmo sentido. Não é possível ter as 3 políticas
macroeconômicas todas sempre “amarradas” – é uma trindade impossível. É necessário que
uma dessas políticas sirva como válvula de escape.
❖ PARIDADE DO PODER DE COMPRA – ÍNDICE DO BIG MAC

→ Não usa uma metodologia muito precisa, mas dá uma noção do poder de compra em países.

https://www.statista.com/statistics/274326/big-mac-index-global-prices-for-a-big-mac/

Não se pode deixar confundir pelo valor nominal da taxa de câmbio. Há que se entender o poder
de compra de cada país, que é definido por diversos outros fatores.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 16
Prof. Daniel Sousa – 21.11.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA CAMBIAL (exercícios)

TPS 2016 – Questão 72

O diplomata responsável pelo setor econômico da embaixada brasileira em determinado país


elaborou e enviou à Secretaria de Estado um relatório sobre a situação econômica desse país.
Considerando o fato de que uma das funções do diplomata é manter o governo brasileiro
informado a respeito do contexto político, econômico e cultural do país onde ele esteja
temporariamente vivendo, julgue (C ou E) os itens a seguir.

1. Para não cometer o erro denominado “ilusão monetária”, o diplomata deve informar, em
seu relatório, o PIB real do país, em vez do nominal, dos últimos cinco anos. Para deflacionar
esses números, o diplomata deve utilizar o deflator (implícito) do PIB, que é calculado pelo
quociente entre o PIB real, medido a preços constantes, e o PIB nominal.

Gabarito: ERRADO.

2. Considere que o referido país esteja em recessão e seja uma economia aberta, com câmbio
flutuante e mobilidade de capitais forte, porém não perfeita. Nesse caso, de acordo com o
modelo IS-LM-BP, a implementação de uma política fiscal expansionista, para tentar
impulsionar a atividade econômica, seria ineficaz.

Gabarito: ERRADO. Quando a mobilidade de capitais não é perfeita, a política fiscal acaba
tendo alguma eficácia, porque o retorno da curva IS não é completo.

3. Considere que o referido país esteja em recessão e seja uma economia aberta, com câmbio
fixo e fraca mobilidade de capitais. Nesse caso, de acordo com o modelo IS-LM-BP, a
implementação de uma política fiscal expansionista, para tentar impulsionar a atividade
econômica, seria ineficaz.

Gabarito: ERRADO. No regime de câmbio fixo, a política fiscal expansionista tem efeito.

4. Considere que, no referido país, os níveis de inflação sejam elevados e o regime de câmbio
seja fixo. Nesse caso, é correto afirmar que a inflação alta provoca, geralmente, efeitos
nocivos sobre a economia, uma vez que reduz o poder de compra dos indivíduos, tende a
gerar concentração de renda e pode contribuir para aumentar os déficits na balança
comercial do balanço de pagamentos.

Gabarito: CERTO.
TPS 2015 – Questão 70

Considerando que, ao se analisar a formação de preços no mercado cambial, constata-se a


existência de dois tipos básicos e de diversos tipos intermediários de regimes cambiais, julgue
(C ou E) os itens a seguir.

1. A política de fixação de câmbio com reajustes sistemáticos em prazos determinados —


crawling peg — caracterizou a fase das minidesvalorizações no Brasil, em que a taxa de
câmbio era revista no dia primeiro de cada mês.

Gabarito: ERRADO. Não havia essa regularidade para as minidesvalorizações no Brasil.

2. No sistema conhecido como crawling band, fixa-se uma faixa dentro da qual a cotação da
moeda pode flutuar livremente; o piso e o teto não podem ser alterados durante todo o
período em que o sistema for adotado.

Gabarito: ERRADO. A “banda” pode ser alterada pelo governo.

3. Ao se adotar como moeda local uma moeda comum com outros países, abre-se mão da
política cambial própria. Nesse caso, a administração monetária e cambial passa a ser exercida
conjuntamente, como no caso da união monetária europeia.

Gabarito: CERTO.

4. O chamado currency board, considerado muito severo, foi bastante utilizado no final do
século XX, associado aos planos de estabilização, como no caso argentino, e caracteriza-se
por uma vinculação com a política monetária.

Gabarito: CERTO. O chamado currency board está associado ao padrão ouro. Era muito
severo, pois estava lastreado no ouro ou outros metais preciosos. A política monetária fica
amarrada ao lastro da moeda em metal.
TPS 2014 – Questão 72

Acerca dos fluxos internacionais de bens e capital, dos regimes de câmbio e da relação
câmbio-juros, julgue (C ou E) os itens a seguir.

1. Os fluxos financeiros são impactados por expectativas e políticas cambiais e monetárias das
diferentes economias; assim, se a taxa de juros de um país for superior à de outro país, espera-
se um fluxo positivo de recursos em direção ao país com taxa de juros mais elevada, com
mesmo perfil de risco.

Gabarito: CERTO.

2. A política de desvalorização da moeda nacional, que cria a necessidade de mais unidades


de moeda nacional para manter a equivalência com uma unidade de moeda estrangeira,
resulta em aumento das exportações, diminuição das importações e proteção do mercado
interno contra a competição externa.

Gabarito: CERTO.

3. A vantagem do regime de taxas de câmbio fixas é a de ajustar automaticamente a


economia, o que facilita as transações internacionais e desonera o Banco Central do Brasil
dessa incumbência.

Gabarito: ERRADO. Essas características pertencem ao regime de câmbio flutuante.

4. A adoção do câmbio flutuante apresenta a desvantagem de ficar o câmbio condicionado à


movimentação especulativa dos capitais externos, que são muito voláteis e implicam
excessivo ônus para a autoridade reguladora da estabilidade econômica do país.

Gabarito: ERRADO. No câmbio flutuante, não há ônus para o Banco Central. O mercado
resolve.
FLUXO DE CAPITAIS

O fluxo de capitais é o fluxo de poupança não consumida pelas pessoas ou pelos governos. Pode
ter origem em agentes privados ou em governos. A poupança está preocupada com:

i) Rentabilidade;
ii) Risco (imprevisibilidade); e
iii) Liquidez (facilidade de converter um ativo em dinheiro vivo).

Diante de um risco maior, exige-se uma rentabilidade maior. Se o investidor não estiver disposto
a correr riscos, terá que se contentar com uma rentabilidade menor.

→ Se abrir mão de liquidez, será em troca de uma rentabilidade maior.


→ Para ter maior liquidez, haverá uma rentabilidade menor.

❖ MERCADO DE RENDA FIXA:

É o mercado em que o investidor aplica em ativos de rentabilidade fixa e bastante previsível.

- Títulos públicos; ou
- Debêntures (privados).

O governo brasileiro pode vender um título, com um valor de face de 10 mil reais, com
vencimento numa data futura. Alguém pode arrematar esse título em leilão por 7 mil reais, mas
irá receber 10 mil numa data futura. Essa diferença são os juros.

Se o governo brasileiro começa a oferecer riscos maiores, o valor de arremate de seus títulos
sofrerá queda, pois há menos interessados em comprar um título brasileiro – juros aumentarão.
Se houver, no futuro próximo, a aprovação de uma Reforma da Previdência, com impacto
substantivo de economia de recursos públicos, aumentará a quantidade de investidores
interessados em comprar o título brasileiro. Os juros cairão, pois haverá uma expectativa de que
as contas públicas serão sustentáveis. Os impactos da reforma sobre os juros seriam imediatos.

No Brasil, o mercado de renda fixa é desproporcionalmente elevado, pois tem baixo risco e
rentabilidade alta. O mercado de renda variável no Brasil acaba ficando menor, já que o governo
brasileiro paga juros muito altos, atraindo a preferência dos investidores. Os juros são muito
altos porque há pouca poupança interna para financiar a economia. O mercado de capitais só
não é menor no Brasil devido aos números da poupança externa. Além disso, o governo
brasileiro já deu calote inúmeras vezes e tem pouca estabilidade institucional.

No Brasil, quando empresas querem vender debêntures, devem oferecer juros mais altos do
que os do governo. Afinal, se o governo brasileiro estiver pagando 6,5%, não faz sentido que se
empreste dinheiro a uma empresa com os mesmos juros. Empresas são mais arriscadas do que
o governo, pois não têm como imprimir dinheiro ou aumentar impostos para pagar a dívida.
❖ PARIDADE DE JUROS:

A paridade de juros é análoga à paridade do poder de compra.

Existe uma tendência à igualdade entre juros domésticos e juros internacionais, que seria
garantida pela livre mobilidade de capitais.

A) Se os juros domésticos estiverem maiores do que os juros internacionais, a entrada de


capitais acaba derrubando os juros domésticos, equilibrando-o com os juros internacionais.

B) Se os juros domésticos estiverem menores do que os juros internacionais, a fuga de capitais


acaba aumentando os juros domésticos, equilibrando-o com os juros internacionais.

A livre mobilidade de capitais acabaria gerando uma tendência à igualdade entre o juro
doméstico e o juro internacional. Se for adotada a libre mobilidade de capitais, não há como a
taxa de juros domésticos ser menor do que a taxa internacional.

O Brasil, em particular, adota a livre mobilidade de capitais, há algumas décadas, pois precisa de
poupança externa para financiar seu crescimento. O governo e as empresas vão ao mercado de
capitais para captar recursos para financiar seus déficits e suas operações.

A taxa de juros de equilíbrio no Brasil tem sempre como base a taxa de juros paga pelos EUA,
pois, em tese, nenhuma aplicação é mais segura do que o título do Tesouro Americano.

Taxa de equilíbrio = TAXA dos EUA + RISCO BRASIL + ∆% esperada do câmbio

Se há uma expectativa de que o real vai se valorizar, os juros podem ser um pouco mais baixos.
Se há uma expectativa inversa, de que o real vai se desvalorizar, os juros precisam ser um pouco
mais altos para compensar essa desvalorização.

→ Se a taxa americana sobe, é natural que a taxa brasileira também tenha que subir.
→ Se a taxa americana desce, é natural que a taxa brasileira também tenha que descer.

A taxa de juros americana esteve, entre 2008 e 2014, em seu menor patamar histórico. O Brasil
perdeu essa janela de oportunidade para colocar a casa em ordem. Ela tem se fechado
lentamente, pois o Federal Reserve tem aumentado a taxa de juros gradativamente.

→ Se o Risco Brasil for mais baixo, juros brasileiros serão mais altos.
→ Se o Risco Brasil for mais alto, juros brasileiros serão mais baixos.

Em 2008, o Brasil atingiu grau de investimento, perdendo-o posteriormente em 2015, devido à


sua preocupante situação fiscal. O crescimento da relação dívida-PIB ocorreu em nível
insustentável. As agências de risco foram criticadas, pois demoraram a tirar o grau de
investimento do Brasil. Ou seja, o país ainda teve tempo para acertar suas contas. A maior parte
do fluxo de capitais global está concentrado nos países com grau de investimento. Os capitais
que entram no Brasil vêm com consciência do risco.

→ Se há expectativa de desvalorização do real, os juros brasileiros poderão ser mais altos.


→ Se há expectativa de valorização do real, os juros brasileiros poderão ser mais baixos.
❖ MERCADO DE RENDA VARIÁVEL:

O mercado de renda variável é o que apresenta os riscos e as oscilações mais significativas. O


Brasil tem um mercado de renda variável muito subdesenvolvido, devido à rentabilidade maior
e o risco mais baixo do mercado de renda fixa.

→ Mercado de ações;
→ Moedas;
→ Commodities;
→ Imóveis; e
→ Derivativos.

❖ REGIME DE CONTROLE DE CAPITAIS

→ Sistema em que o governo estabelece limites para o fluxo de capitais.

- Impostos, autorizações, quarentenas, etc.


- Objetivo de proteger a economia das oscilações externas.
- Juros domésticos poderão ser menores que os juros internacionais.
- Objetivo: incentivar investimentos e crescimento econômico.

Esse controle de capitais pode desestimular entrada de poupança externa, de investimentos


estrangeiros, estimula o mercado paralelo e o país passa a ter menos informações qualitativas
sobre o que está acontecendo na economia.

❖ REGIME DE LIVRE MOBILIDADE DE CAPITAIS:

→ Há liberdade para o fluxo de recursos.

Capitais podem entrar e sair do país sem maiores constrangimentos. Em tese, há maior
eficiência, pois recursos vão para países que mais precisam deles. Passa a haver mais
transparência e mais informações sobre o que está acontecendo. Esse regime representa um
incentivo à poupança externa, que pode virar mais investimentos e mais crescimento. Há,
entretanto, um maior risco envolvido. É um sistema em que se está sujeito a mais oscilações
externas. O país fica mais suscetível a crises externas.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 17
Prof. Daniel Sousa – 28.11.2018

MACROECONOMIA → FLUXO DE CAPITAIS (exercícios)

TPS 2011 – Questão 63

1. Os aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre os


investimentos estrangeiros constituem exemplos de controles de capitais de curto prazo,
cujo objetivo é neutralizar os impactos decorrentes da volatilidade dos fluxos desse tipo de
capital sobre os mercados cambial e de capitais.

Gabarito: CERTO. O IOF é cobrado, no Brasil, quando se realiza remessa de capitais para o
exterior. Se for uma remessa para a mesma pessoa física, é cobrado 1% de IOF. Se for por
meio do cartão de crédito usado no exterior, são cobrados 6,38% de IOF. O aumento do IOF
em 2011 (ano deste TPS) ocorreu devido à existência de um “tsunami monetário”. Devido à
política fortemente expansionista dos EUA – o quantitative easing – o preço das commodities
no mercado internacional estava num patamar muito elevado e o Brasil estava sendo
inundado por dólares, tanto em sua conta financeira, devido à altíssima liquidez disponível no
sistema financeiro internacional, quanto na balança comercial, por conta dos enormes
superávits. Uma maneira encontrada pelo governo brasileiro para desincentivar a entrada de
dólares, controlar o fluxo de capitais e diminuir a volatilidade, foi esse aumento do IOF.

2. A imposição de tarifas, além de transferir recursos dos consumidores para o governo,


conduz ao aumento dos preços dos bens domésticos e eleva a ineficiência na economia.

Gabarito: CERTO. Os consumidores estão pagando a tarifa, que é arrecadada pelo governo.
Há, portanto, uma transferência de recursos dos consumidores para o governo. Isso conduz
ao aumento nos preços dos bens domésticos (preço internacional acrescido da tarifa), que
será o valor também cobrado pelo produto importado. Eleva-se a ineficiência na economia
com a formação de peso morto.

3. Nos sistemas de câmbio fixo, as políticas monetárias expansionistas são particularmente


eficazes para elevar a demanda agregada porque, nesses sistemas, o efeito deslocamento
é minimizado.

Gabarito: ERRADO. A política monetária não é eficaz no regime de câmbio fixo (a curva LM
retorna e se há perfeita mobilidade de capitais o efeito é zero). O efeito deslocamento faz
referência à política fiscal e não à política monetária.

4. Por elevar o custo de oportunidade do consumo, a especialização constitui uma das bases
do comércio internacional, o que contradiz a lei das vantagens comparativas.

Gabarito: ERRADO. O custo de oportunidade na verdade fica menor com a especialização.


A especialização é um elemento essencial do comércio internacional e, na verdade, corrobora
a lei das vantagens comparativas. A especialização é recomendada, por David Ricardo, para o
livre-comércio.
TPS 2017 – Questão 71

1. O Arranjo Contingente de Reservas (CRA) e o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD)


constituem passos importantes na criação de uma arquitetura financeira conjunta do BRICS.
Com função similar à do Fundo Monetário Internacional, o CRA pretende complementar a
rede global de proteção financeira, ajudando a prevenir pressões de curto prazo, reais ou
potenciais, sobre o balanço de pagamentos dos países do grupo. Para isso, cada país
contribuirá, inicialmente, com um quinto do total de recursos (US$ 100 bilhões)
comprometidos.

Gabarito: ERRADO. O CRA é um arranjo no qual os países BRICS podem disponibilizar reservas
internacionais entre si, em momentos de dificuldades no balanço de pagamentos. Seria uma
forma de evitar pedidos de ajuda ao FMI, que seria muito mais invasivo e exigente. O NBD é
uma importante fonte alternativa de financiamento, com a disponibilização de poupança
externa. Os diferentes membros contribuem em quantias diferentes, sendo a China o que
mais contribui e a África do Sul o que menos contribui. Esse arcabouço nunca teria surgido
sem que a liquidez mundial estivesse tão alta, com a China acumulando reservas brutais.

2. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Banco Asiático de Investimento


em Infraestrutura (AIIB) liderado pela China circunscreve-se a contexto no qual o papel dos
bancos de desenvolvimento voltou ao debate, seja por sua atuação anticíclica em
momentos de crise, seja pela função que exercem como canalizadores de recursos (públicos
e privados) para financiamento de projetos de longo prazo. Nessa direção, os mandatos do
NDB e do AIIB vão ao encontro dos compromissos assumidos pelo G20 em 2016 com a
Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável.

Gabarito: CERTO.

3. Em meio às turbulências da crise financeira global eclodida em 2008, a Cúpula do G20
emitiu declaração em 2009, na qual seus líderes se comprometeram com reformas na
governança do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. No primeiro, por
meio de mudança na quota de participação no FMI de, no mínimo, 5% em favor dos
mercados emergentes e países em desenvolvimento; no segundo, pela adoção de uma
fórmula que refletisse o peso econômico dos países em desenvolvimento e que acarretasse
o aumento de seu poder de voto em pelo menos 3%, neles incluídos os países em transição.

Gabarito: CERTO. O FMI estava refletindo uma distribuição de poder que não refletia o peso
dos países emergentes e sua capacidade de financiamento na atualidade.

4. Em várias reuniões do G-20 foram apontadas falhas graves de regulamentação e


supervisão, além dos riscos irresponsavelmente assumidos por parte de bancos e outras
instituições financeiras, que acabaram criando fragilidades que contribuíram para o
agravamento da crise econômica de 2008. Um ponto ausente nessas pautas foi a
necessidade de reforma das agências de classificação de risco, pois elas têm subestimado
os impactos que uma classificação equivocada de riscos podem provocar no mercado e nas
economias sob suas análises.

Gabarito: ERRADO. Houve sim muitas críticas às agências de risco, nas reuniões do G-20, com
a sugestão de que fossem criadas agências de risco dos BRICS ou da União Europeia, a fim de
evitar a dependência de agências de risco dos EUA.
SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

A alta liquidez é uma importante característica do Sistema Financeiro Internacional (SFI), o que
acaba facilitando o trabalho de países como o Brasil, pois leva os juros internacionais a
patamares mais baixos. Nos EUA, a política monetária fortemente expansionista dos últimos
anos tem sido desacelerada, mas os juros reais americanos (valor dos juros nominais menos a
inflação) continuam muito baixos, bem próximos a zero. Ou seja, ainda não se pode dizer que
há, hoje, uma política monetária contracionista nos EUA.

Parece razoável e correto que o Federal Reserve – FED (Banco Central americano) esteja
aumentando gradualmente a taxa de juros. Não faz sentido manter uma política monetária
fortemente expansionista numa economia que está tão próxima do pleno emprego como a
americana. Isso pode acarretar riscos de (i) pressão inflacionária, (ii) excesso de
endividamento e (iii) excesso de concessão de crédito.

Veremos, daqui para frente, um cenário da alta de juros nos EUA e de alta nas taxas de juros
internacionais. Isso criará dificuldades para o Brasil por conta da lógica de que, internamente, a
taxa de juros de equilíbrio tem como base a taxa de juros americana. A taxa de juros do Brasil
tem que ser necessariamente mais alta, em termos reais, do que a taxa de juros americana.

A chance de o Brasil reduzir sua taxa de juros nos próximos meses é zero, pois a inflação para
2018 está próxima do centro da meta e porque existe a previsão de que haja mais elevações na
taxa de juros dos EUA. O Brasil também terá que evitar a redução de juros pois terá que manter
sua inflação ainda mais baixa em 2019, já que foi definida meta menor do que a deste ano.

Outro elemento a se levar em consideração é a pressão inflacionária que o dólar tem gerado. O
Brasil tem uma economia que é muito influenciada pelo preço do dólar e a alta do dólar que
aconteceu ao longo do ano de 2018 acabou pressionando a inflação no Brasil. Essa alta do dólar
reflete uma tendência global de valorização da moeda americana em relação a praticamente
todas as moedas do mundo.

Não faz sentido o Brasil adotar um mecanismo de controle de capitais para conter uma situação
como esta, pois, como foi visto anteriormente, o Brasil tem déficit de transações correntes.
Precisa de um influxo de dólares na conta financeira para compensar esse déficit. O Brasil
também precisa manter a taxa doméstica um pouco acima da paridade de juros, pois isso
funciona para atrair recursos externos. Se o Brasil estiver respeitando essa paridade de juros, os
investidores estrangeiros ficam indiferentes a aplicar recursos no Brasil ou fora, não havendo a
entrada desses capitais e a compensação do déficit em transações correntes que o Brasil precisa
para manter a sua economia e as suas contas externas equilibradas.

Um ponto importante que tem sido discutido atualmente pela equipe econômica do futuro
governo Bolsonaro é a ideia de se diminuir o volume de reservas internacionais do Brasil. O
argumento é que o Brasil teria reservas internacionais grandes demais. Já vimos anteriormente
que acumular reservas não é algo gratuito. A ideia aventada pelo próximo governo é de diminuir
um pouco o volume dessas reservas para abater dívida.

A questão é que, ao implementar esse movimento, não estaríamos atacando a raiz do problema,
mas sim a consequência. Além disso, estaríamos apenas desfazendo a dívida que foi gerada no
acúmulo de reservas internacionais. Finalmente, podemos dizer que reduzir as reservas
internacionais, num momento de tendência da redução de liquidez no SFI por conta das altas
dos juros americanos, não parece o movimento mais oportuno.
Esses arranjos, como o NBD e o aumento da quota do Brasil no FMI, nunca teriam acontecido
sem a grande robustez das reservas internacionais do Brasil. Pudemos alocar esses recursos
nessas instituições para aumentar nosso peso político no SFI.

Importante ressaltar a importância do papel dos paraísos fiscais, lugares onde não há qualquer
tipo de restrição ao fluxo de capitais ou cobrança de impostos. Há perfeita mobilidade de
capitais e, em geral, são países que se notabilizaram por não oferecer informações financeiras a
autoridades estrangeiras quando solicitado. Acontece, frequentemente, que nesses paraísos
fiscais tendem a ser escondidos recursos provenientes de corrupção, tráfico de drogas, tráfico
de armas e outras ilegalidades.

O mais conhecido e tradicional paraíso fiscal sempre foi a Suíça. Porém, tem ocorrido, cada vez
mais, ao longo dos últimos 30 anos, maior cooperação da Suíça com as autoridades
internacionais, como resultado de fortes pressões mundialmente. A partir do ano de 2019, os
bancos suíços passarão a prestar informações às autoridades dos países de origem dos
depositantes, para os depósitos a partir de um determinado valor. Consequentemente, muita
gente está fechando suas contas na Suíça e levando seu dinheiro para outros paraísos fiscais.

Países pequenos como as Ilhas Cayman e o Panamá não podem fazer o mesmo que a Suíça, pois
dependem fortemente desses depósitos. Excepcionalmente, como no caso dos Panama Papers,
alguns desses países realizaram a divulgação de informações quando foram obrigados a isso.
Não é um crime ter conta em paraísos fiscais, e sim não informar às autoridades tributárias do
país de origem. No Brasil, não há problema nenhum em se colocar na declaração do IRPF a
existência de recursos em contas em paraísos fiscais.

→ Como funcionam os esquemas de corrupção e de lavagem de dinheiro em paraísos fiscais?

1) Políticos corruptos têm contas em paraíso fiscal, abertas pessoalmente ou por doleiro.
2) Empresas brasileiras que prestam serviços ao governo também têm contas em paraíso fiscal.
3) Esses políticos e essas empresas têm suas contas também no Brasil.
4) Em esquemas de corrupção, empresas que corrompem políticos pagam-lhes no paraíso fiscal.
5) Esses políticos não podem desfrutar do dinheiro no Brasil e têm luxuosas viagens ao exterior.
6) O Banco Central do Brasil não receberá informações desses enormes gastos feitos no exterior.
7) A fim de desfrutar desse dinheiro no Brasil, esses políticos abrem consultorias e institutos.
8) Essas consultorias são contratadas no Brasil por essas empresas que praticaram corrupção.
9) Quando essas consultorias são contratadas, recebem recursos dessas empresas no Brasil.
10) Esses políticos corruptos então devolvem esses recursos às empresas no paraíso fiscal.
11) Como autoridades locais não veem a movimentação, faz-se a compensação desses recursos.
12) Esses políticos alegam a competência como consultores para justificar o enriquecimento.
13) Há um custo para essa lavagem de dinheiro, pois essas transações pagam taxas no Brasil.
14) O segredo está no fato de que essas consultorias podem ser livremente precificadas.

Essas transações costumam evitar a passagem pelo sistema financeiro americano, pois os EUA
são o país mais sofisticado em relação às investigações sobre crimes financeiros, contando com
a expertise do Federal Bureau of Investigation (FBI). O combate a crimes financeiros tem
melhorado muito no Brasil, com a “Lei das Delações”, o que facilita rastrear esses recursos.
EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

É, na verdade, a evolução do padrão monetário como referência para o fluxo de comércio


exterior e para o fluxo de capitais. Esse padrão monetário deve cumprir, internacionalmente,
as funções da moeda, servindo como:

(i) Meio de troca: capacidade de mediar e viabilizar trocas;


(ii) Unidade de conta: capacidade de cotar o valor das mercadorias; e
(iii) Reserva de valor: capacidade de transferir o poder de compra no tempo.

❖ ERA DOS METAIS:

Remontando à Antiguidade e perpassando a Idade Média, foi o período em que os metais


preciosos tornaram-se, naturalmente, referência global monetária. No período entre o fim da
Idade Média e o início da Idade Moderna, os ducados de Florença eram aceitos da Europa
inteira, mas não no Oriente, onde se aceitava o ouro. A China, em particular, mesmo nos
momentos em que sua economia foi mais fechada, aceitava o ouro como forma de pagamento
por mercadorias. A Índia também aceitava metais preciosos dos portugueses como forma de
pagamento por suas especiarias.

Os metais preciosos eram aceitos como moeda, tendo em vista que:


- Como meio de troca são portáteis;
- Como unidade de conta são divisíveis; e
- Como reserva de valor não são perecíveis.

Isso pôde ser aferido como verdadeiro quando da descoberta de enormes jazidas de metais
preciosos nas Américas pelos espanhóis. Essas descobertas geraram enorme inflação no sistema
financeiro mundial àquela época, pois funcionaram como emissionismo, aumentando
inacreditavelmente a quantidade de moeda em circulação. Quando os portugueses descobriram
o ouro no Brasil também houve um forte efeito sobre a inflação mundial.

Alguns dizem que isso permitiu a acumulação primitiva de capital necessária para a Revolução
Industrial, pois monetizou a economia mundial. É válida a ideia de que se precisava de moeda
circulando para que as transações pudessem acontecer. Rui Barbosa, quando ministro da
Fazenda do governo de Deodoro da Fonseca, promoveu o “encilhamento”, baseando-se na ideia
de que o Brasil não se desenvolvia porque não havia acumulação primitiva de capital já que
também não havia moeda para realizar as transações e trocas comerciais.

As reservas dos diferentes países acabaram sendo em metais preciosos, como referenciais
monetários. Há uma discussão importante sobre o período da Era dos Metais e o sistema de
balança comercial favorável. Se o objetivo de um país, nesse período, era acumular metais
preciosos e esse mesmo país tinha acesso a jazidas de ouro e prata, ele podia praticar o
“Metalismo”.

Se um país não tinha acesso a jazidas de ouro e prata, que eram a referência do SFI, era
necessário que esse país tivesse uma balança comercial favorável com os países que tinham
acesso a essas jazidas de forma primária. Não faria nenhum sentido, hoje, que um país tivesse a
preocupação de acumular ouro, que é apenas um ativo entre muitos outros, mas fazia sentido
em outras épocas, ocorrendo até o século XVIII.
❖ SURGIMENTO DO PAPEL-MOEDA:

O papel-moeda lastreado em metais preciosos surgiu em decorrência da acumulação desses


metais utilizados no comércio e nos investimentos feitos mundo afora. Esses metais preciosos
eram depositados junto aos ourives, os quais emitiam recibos em papel que passaram a circular
como papel-moeda.

No território europeu, havia, cada vez mais, diferentes papéis-moeda em circulação, lastreados
em metais preciosos. No século XIX, surgiu um arranjo para tentar organizar esse sistema: o
“padrão-ouro”. Cada país tinha o compromisso de manter suas moedas lastreadas nesse metal
precioso. Até o século XIX, alguns países chegaram a ter mais de uma moeda, inclusive o Brasil.
Não existiam, necessariamente, autoridades monetárias centralizadas e cada banco era
responsável por dar lastro ao seu papel-moeda.

❖ SISTEMA DO PADRÃO-OURO

O sistema do padrão-ouro surgiu, portanto, no início no século XIX, como uma tentativa de
organizar todas essas moedas em circulação, lastreadas em ouro, particularmente no continente
europeu, mas também em países como os EUA e o Brasil.

Nesse sistema, os países assumiram o compromisso de que suas moedas teriam o lastro fixo
em ouro, resolvendo vários problemas:
- Credibilidade ao papel-moeda;
- Estabilidade monetária;
- Adoção de um regime de câmbio fixo;
- Aprofundamento do fluxo de comércio e do fluxo de capitais;
- SFI mais integrado do ponto de vista comercial e financeiro; e
- Circulação em escala global.

→ O sistema de padrão-ouro representou uma promessa de equilíbrio comercial. COMO?

Se um país é superavitário (X > M), ele se torna importador de ouro, recebendo esse metal dos
países com quem é superavitário. Ocorre um aumento de oferta de moeda doméstica e um
aumento dos preços domésticos, que, num ambiente de câmbio fixo, desestimulam as
exportações e estimulam as importações, corrigindo o superávit comercial.

Se um país é deficitário (X < M), ele se torna exportador de ouro, entregando esse metal aos
países com quem é deficitário. Ocorre uma queda de oferta de moeda doméstica e uma queda
dos preços domésticos, que, num ambiente de câmbio fixo, estimulam as exportações e
desestimulam as importações, corrigindo o déficit comercial.

Um dos preceitos do padrão-ouro é a neutralidade da moeda, ou seja, se é aumentada a oferta


de moeda, o impacto sobre os preços é proporcional ao aumento na oferta de moeda. Se é
reduzida a oferta de moeda, o impacto sobre os preços é proporcional à redução na oferta de
moeda. Ou seja, mexer na oferta da moeda tem impacto apenas proporcional ao nível de preços.

O padrão-ouro pode trazer credibilidade, estabilidade e um aumento dos fluxos de capitais, mas,
não haverá equilíbrio comercial, considerando-se que o único elemento que afeta a
competitividade de um país é a oferta de moeda local. Na verdade, não.
Um país como a Inglaterra tinha forte tendência inflacionária em função de seus superávits e da
oferta de moeda local, mas, por outro lado, como havia constantes inovações tecnológicas que
reduziam os custos da produção, a pressão de alta nos preços pôde ser compensada por uma
pressão de baixa nos preços. Mantendo constante seu aumento de produtividade, em um
cenário permanentemente superavitário do ponto de vista comercial, a Inglaterra pôde se
manter superavitária. Ou seja: competitividade não se dá apenas pela oferta de moeda.

Outro problema é o das jazidas de ouro, que, no século XIX, estavam, particularmente, na África,
sobretudo em colônias inglesas, que serviam de fontes primárias de metais preciosos. Como
ninguém tinha mais reservas de ouro do que os ingleses, a libra tornou-se a principal moeda em
circulação naquele período.

Tudo era cotado e precificado em libras. Era a moeda com maior quantidade em circulação com
lastro, pois nenhum país tinha mais reservas de ouro que a Inglaterra. Em meados do século XIX,
a Inglaterra crescia com taxas de dois dígitos, o que se aprofundou com o aumento do fluxo de
comércio e de capitais no mundo.

No padrão-ouro, existe uma lógica de “jogo de soma zero”. Como a quantidade de ouro no
mundo é finita e a quantidade de papel-moeda, por tabela, também é, para que eu acumule,
alguém terá que desacumular. Se alguém tem +2, alguém vai ter -2, e as relações comerciais
acabam sendo mais tensas.

As disputas por colônias e por mercados, no final século XIX, foram potencializadas pelo padrão-
ouro. Alguém que ficasse de fora poderia estar exportando e não estava. Essa disputa foi algo
agressivo e foi se tornando crescentemente tenso com o passar dos anos. Uma das causas da
Primeira Guerra Mundial foi a disputa por mercados, o que foi potencializado pelo padrão-ouro.

Após a Primeira Guerra Mundial, o padrão-ouro foi interrompido, pois os países passaram a
emitir papel-moeda sem lastro para financiar o esforço de guerra. Havia duas alternativas:
adotar o padrão ouro ou não.

Analisando esse cenário segundo a Teoria dos Jogos, se ambos os adversários na guerra
abandonassem o padrão-ouro, tudo ficaria empatado. Se um abandonasse e o outro não, quem
abandonasse ficaria à frente, com vantagem econômica sobre seu inimigo. Se um país
abandonasse o padrão-ouro, ele poderia empatar ou vencer a guerra. Se não abandonasse o
padrão-ouro, poderia empatar ou perder a guerra. Por isso, durante a Primeira Guerra, os países
abandonaram o padrão-ouro, na intenção de vencer a guerra.

Ao final da Primeira Guerra, durante a década de 1920, houve uma tentativa de reconstrução
do padrão-ouro que teve até algum êxito momentâneo. Porém, a Crise de 1929 foi fatal para o
padrão-ouro, com o surgimento das ideias keynesianas. Durante o período da Grande
Depressão, começou-se a usar a moeda sem lastro como forma de estimular a economia.
❖ O BRASIL NO PADRÃO-OURO

→ IMPÉRIO: sempre que pôde, o Brasil Imperial foi fiel ao padrão-ouro. Sempre que as
exportações de café iam mal, o lastro em ouro era suspenso, sendo depois retomado quando
tudo melhorava. O Visconde de Ouro Preto pensava ser um erro o lastro no ouro, já que o Brasil
não tinha reservas em ouro suficientes para ter papel-moeda que financiasse sua economia.

→ 1890-1906: o Brasil está fora do padrão-ouro, embora, já no governo de Campos Sales, tivesse
ocorrido uma tentativa de retomar o que ocorrera no passado – o funding loan, que foi uma
renegociação da dívida, feita com a promessa de retomar o padrão-ouro, que tirou moeda local
de circulação. Em 1906, o Brasil estabeleceu a Caixa de Conversão, voltando ao câmbio fixo e ao
padrão-ouro.

→ 1906-1914: Volta ao padrão-ouro. Em 1914, a Caixa de Conversão quebra e o Brasil volta a


não adotar mais o padrão ouro.

→ 1914-1926: o Brasil estava fora do padrão-ouro e emitia moeda sem lastro.

→ 1926-1931: criação da Caixa de Estabilização. Brasil volta ao padrão-ouro.

→ 1931: Vargas sai do padrão-ouro para emitir moeda que seria usada para comprar café.

CONCLUSÃO: historicamente, o Brasil tem posicionamento irregular em relação ao padrão-ouro.

Nos anos de 1930 e no período da Segunda Guerra Mundial, não haverá padrão (“vale tudo”). O
que havia eram negociações caso a caso, sem um padrão previamente organizado para o SFI.
Com isso, muitas transações simplesmente não aconteceram. Foi um período caracterizado por
uma forte queda no comércio mundial.

Países se fecharam e esse fechamento das economias foi propício e fértil para a eclosão de uma
guerra. Do ponto de vista econômico, a Segunda Guerra Mundial foi facilitada pela
desintegração financeira e comercial que o mundo experimentara nos anos de 1930, devido à
ausência de um padrão que organizasse o SFI.

O Brasil, na Primeira República, era uma economia muito aberta. Houve um crescimento
violento, pois a integração economia mundial fazia com que houvesse crescimento econômico.
Na década de 1930, o Brasil se fechou e também cresceu muito, pois o mundo também estava
fechado. Da década de 1970 para cá, o mundo passou a crescer baseado no comércio, mas o
Brasil não faz tanto comércio e tem perdido oportunidades de crescimento econômico.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 18
Prof. Daniel Sousa – 05.12.2018

MACROECONOMIA:

→ EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E CRISES FINANCEIRAS RECENTES

❖ CONFERÊNCIA DE BRETTON WOODS (1944-1971)

- Dólar com lastro em ouro;


- Moedas com câmbio fixo em relação ao dólar;
- BRASIL: 1 US$ = Cr$ 18,46.
- 1951: Brasil abandona Bretton Woods.

O dólar torna-se instantaneamente a moeda hegemônica, pois é a única lastreada em ouro. Os


PIBs e as commodities passam a ser cotados em dólar, que passa a ser o meio de troca, a
unidade de conta e a reserva de valor, globalmente. É um período de maior integração no
mundo, com o aprofundamento do fluxo de comércio internacional e do fluxo de capitais. Países
que fazem muito comércio entre si tendem a não fazer guerra entre si.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi criado, em 1945, para socorrer com recursos os
países que estivessem com problemas para manter as taxas de câmbio fixadas na Conferência
de Bretton Woods. O câmbio fixo não oferece a possibilidade de ajuste automático do balanço
de pagamentos como no regime de câmbio flutuante. Até hoje, o FMI representa a distribuição
de poder ao fim da Segunda Guerra Mundial, momento em que ele havia sido formado.

Ao longo dos últimos anos, os BRICS têm se esforçado para criar arranjos paralelos e alternativos
ao FMI, justamente porque hoje os países emergentes – particularmente a China – têm um
volume de reservas internacionais muito elevado, podem colocar parte dessas reservas num
fundo ou banco, que pode socorrer países em dificuldades no que tange seu balanço de
pagamentos.

O período de Bretton Woods também um período de muita estabilidade no Sistema Financeiro


Internacional (SFI), com algumas crises que não chegam a afetá-lo. É um padrão de muita
credibilidade, e de hegemonia do dólar, pois a política monetária dos EUA está sob controle. Os
EUA tinham o compromisso de não emitir dólares sem lastro em ouro.

A coisa vai relativamente bem até os anos 1960, até o início da Guerra do Vietnã, quando os
EUA tentaram impedir o avanço do comunismo na metade Sul desse país. Essa guerra alongou-
se de forma imprevista, o que fez com que os gastos militares dos EUA crescessem de forma
exponencial.

Os EUA começam a emitir dólares sem lastro em ouro, o que aumenta significativamente a
liquidez no SFI. Vários países passam, ao mesmo tempo, a acumular mais reservas internacionais
em dólar. Foi nessa época que aconteceu o Milagre Econômico no Brasil, que não teria ocorrido
sem essa política monetária emissionista dos EUA. A entrada de dólares no Brasil foi muito forte
nesse período, o que permitiu a ampliação do crescimento econômico brasileiro.
O primeiro país central a pedir ouro em troca de dólares foi a França de Charles de Gaulle, que
anteriormente havia criticado duramente o padrão de Bretton Woods. A França queria uma
parte desse poder que havia sido apropriado pelos EUA, assim como outros países europeus,
que se incomodavam com a predominância dos EUA nessa agenda. Criou-se uma crise
diplomática entre França e EUA, pois os americanos ficaram ofendidos devido à desconfiança
francesa, justamente em relação àqueles que socorreram os franceses na Segunda Guerra.

Não havia mais como os EUA esconderem o fato de que a quantidade de dólares em circulação
estava muito maior do que as reservas americanas de ouro. Em 1971, o Presidente Nixon
recebe um informe da CIA de que os principais bancos centrais da Europa Ocidental estavam
organizando uma grande troca de reservas internacionais do dólar para o ouro. Porém, não
havia ouro suficiente no Tesouro americano para fazer frente a esses saques.

Em agosto de 1971, Nixon anuncia que o dólar está sofrendo um ataque dos especuladores
internacionais e, para proteger a moeda do cidadão americano comum, que estaria
suspendendo, temporariamente, a conversão de dólares para ouro. Teria sido o maior calote da
história, pois havia, desde Bretton Woods, o compromisso dos EUA de trocarem esses dólares
por ouro. De uma hora para a outra, os EUA decidiram, unilateralmente, que o Acordo de
Bretton Woods não valia mais.

O temporário, entretanto, se tornou permanente. Até hoje, o dólar nunca mais foi conversível
em outra coisa que não fosse o próprio dólar. Os EUA apostaram que o dólar continuaria sendo
a moeda hegemônica, apesar de não valer mais ouro, pois os EUA eram a maior potência militar
e a maior economia. De fato, o dólar continua sendo, até hoje, a moeda usada como referência
para investimentos e comércio.

❖ PERÍODO DÓLAR-DÓLAR:
O lastro na credibilidade do emissor, o governo dos EUA. No período dólar-dólar, que dura até
hoje, a hegemonia do dólar não foi linear. Trata-se de uma hegemonia subjetiva. Até então, era
um fator objetivo que tornava o dólar hegemônico: o lastro em ouro.

➢ SUBPERÍODOS:

→ 1971-1979: período de diminuição da hegemonia do dólar.


- Fim do lastro e continuidade do emissionismo (muita liquidez disponível no SFI).
- Déficit fiscal expressivo nos EUA (aumento da dívida pública; ponto de insegurança).
- Inflação de dois dígitos nos EUA (sinais de fragilidade).
- II PND no Brasil, graças à liquidez do SFI, apesar do Choque do Petróleo.
- Exportadores de petróleo (OPEP) com o Choque do Petróleo, acumularam muitas reservas.
- Essas reservas dos países da OPEP vão para bancos europeus, que emprestam muito a países.
- A hegemonia foi mantida, pois a economia dos EUA ainda era muito maior do que as demais.

→ 1979-1982:
- Paul Volcker: presidente do Banco Central americano (Federal Reserve – FED).
- FED independente precisa proteger o valor e o poder de compra do dólar.
- Diminuir o desequilíbrio causado pelo excesso de dólares em circulação.
- Política brutalmente contracionista, emitindo e vendendo muito títulos do Tesouro.
- Disparada da taxa de juros nos EUA (“choque de juros”).
- Período de recessão nos EUA, com reflexos no mundo.
- Volcker diz que os EUA iriam ressurgir economicamente, com o dólar protegido.
Países como o Brasil que havia aproveitado para promover seu crescimento com base em
endividamento, ficariam em maus lençóis. O Brasil, ao final da década de 1970, tinha a maior
dívida externa do mundo, na qual incidiam os maiores juros da história. O Brasil estava
virtualmente quebrado em 1979, quebrando literalmente em 1982, pois não tinha como obter
dólares (por meio de empréstimos ou exportações) num cenário de recessão mundial.

O Brasil foi o caso mais grave, mas não foi um caso isolado. Dezenas de países que aproveitaram
esse período de dólar barato e juros baixos também passaram por problemas graves. As reservas
internacionais do Brasil esgotaram-se muito rapidamente, a fim de cobrir os déficits enormes
no balanço de pagamentos. O FMI veio em socorro ao Brasil, impondo uma agenda
extremamente restritiva, por influência dos credores brasileiros, como o Chase Manhattan
Bank, o maior deles.

O Brasil entra num dos momentos mais delicados de sua história. Os militares pensavam que os
desafios de desenvolvimento eram muito mais importantes do que o controle da inflação. Esse
aperto monetário feito pelo FED, e o desequilíbrio sobre o balanço de pagamentos que
acarretou no Brasil, levou o governo brasileiro a desvalorizar o câmbio. Em dezembro de 1979,
ocorre uma maxidesvalorização do cruzeiro, fazendo com que a inflação, que já era alta, fique
ainda maior e, em breve, fora de controle.

As contas externas do Brasil estavam beirando o colapso, pois as reservas internacionais


caminhavam para o esgotamento. Além disso, o crescimento econômico foi interrompido, com
medidas de austeridade, a partir de 1981, a fim de diminuir as importações e aumentar um
pouco as exportações, pagando um pouco da dívida externa.

*Inflação fora do controle + situação fiscal fora do controle = RECESSÃO!


O colapso do regime militar é explicado pelo fracasso da economia. Chegaram a adiar os ajustes
em 1979 e 1980, mas, em 1981, foi inevitável. A abertura política tornou-se inevitável, num
ambiente de recessão e crise da dívida externa.

→ 1982-2000: DÓLAR FORTE!


- Dólar com hegemonia forte, que vive dias excelentes.
- Período em que a economia americana apresenta boas taxas de crescimento.
- Momento em que se dá o fim da guerra Fria – Hegemonia americana fica mais evidente.
- Superávits fiscais nos EUA – culminando com Bill Clinton nos anos 1990.
- Política monetária disciplina e controlada.
- Ausência de guerras de ocupação (exceção: Guerra do Golfo, que durou pouco tempo).

→ 2001-2008: George W. Bush


- Redução de impostos.
- Aumento dos gastos (sobretudo militares).
- Déficits fiscais expressivos (aumento da dívida pública).
- Queda dos juros americanos (2001: juros de 1%, menor patamar histórico até então).
- Crise da NASDAQ e 11 de setembro: expectativas deterioradas
- FED promove política monetária expansionista.

*2002: implantação do EURO. 1 EURO = 0.8 US$

*2008: 1 EURO = 1.64 US$ (reservas europeias em dólares dobram de valor, em euro).
➢ QUESTIONAMENTOS:
→ Dólar começa a ser questionado como unidade de conta:
- Euro começa a ser visto como uma moeda mais estável.
→ Dólar começa a ser questionado como meio de troca:
- Comércio internacional começa a utilizar outras moedas como meio de troca.
→ Dólar começa a ser questionado como reserva de valor:
- Reservas em dólares trocadas por outras moedas.
- Há uma tendência de que o dólar deixe de ser a moeda hegemônica.

Com a Crise de 2008, países vão se refugiar na segurança do dólar, devido à confiança na moeda
americana, mesmo que a crise tenha tido estopim nos EUA. Crises em países periféricos da
Europa fazem com que o euro comece a perder sua credibilidade. Há uma recuperação da
hegemonia do dólar, que não volta a ser como era nos anos 1990, mas continua hegemônica.

→ 2008 – HOJE: interrupção do processo de perda de hegemonia.


- Gradativa recuperação da hegemonia do dólar, mas não voltou ao nível dos anos 1990.
- Principal unidade de conta do planeta, mas ainda há outras moedas usadas para cotar.
- Principal meio de troca do planeta, mas não é o único.
- Principal moeda usada como reserva de valor, mas não é a única.
- Expectativa que dólar continue hegemônico por muito tempo.
- Porém, não voltará àquela hegemonia do passado.
- Tendência de que cada vez mais moedas sejam usadas como referência.

→ O yuan, moeda da China, pode vir a ser hegemônico?


- Ainda não, pois o PIB da China ainda está distante do PIB americano.

A China também não parece querer que isso ocorra. Enquanto o Banco Central chinês decretar
o valor da moeda, isso não ocorrerá, pois câmbio que não flutua não permitirá que moeda seja
hegemônica. O SFI ainda não confia na China e chineses ainda não têm feito nenhum movimento
para que essa confiança ocorra.

❖ CRISE DA DÍVIDA EXTERNA

→ Antecedentes:
- Excesso de liquidez no SFI em ultimas décadas, alimentada por política monetária frouxa (EUA).
- Aumento da dívida externa em países periféricos: mais crescimento, com indústrias.

→ ESTOPIM: aperto monetário do FED, que tornará a dívida externa impagável.


- Aumento da saída de dólares torna-se maior do que a entrada de dólares.
- Diminuição das reservas internacionais.

→ ALTERNATIVAS:
1979/1980: desvalorização cambial com o objetivo de estimular exportações e desestimular
importações. É uma alternativa possível, com uma desvalorização que equilibra o balanço de
pagamentos e que também evita um impacto recessivo. Essa estratégia se mostrou insuficiente
e continuamos a perder reservas internacionais, piorando a situação externa do Brasil.
TPS 2017 – Questão 70:

Na década de 30, durante a Grande Depressão, a teoria econômica debatia, entre outros temas,
as causas do persistente desemprego, que assolava grandes contingentes populacionais. Uma
das publicações que ganhou maior destaque nesse debate foi a Teoria geral do emprego, do juro
e da moeda (1936), de John Maynard Keynes. Nessa obra, Keynes marcou os princípios teóricos
que revolucionaram o pensamento econômico e até hoje é referência nas discussões sobre os
determinantes do emprego, da renda e da produção agregados. Acerca das contribuições de
Keynes à teoria macroeconômica e das deliberações produzidas durante a Conferência de
Bretton Woods (1944), da qual Keynes participou ativamente, julgue (C ou E) os itens seguintes.

1. Na Conferência de Bretton Woods, Keynes, como representante do Reino Unido, teve papel
ativo e central na construção de uma governança financeira global. Nessa conferência, Keynes
sugeriu um regime de taxas de câmbio flutuantes como forma de apoiar o crescimento do
comércio internacional, que foi fundamental para a recuperação econômica do pós-guerra.

Gabarito: ERRADO. Keynes propôs um regime de câmbio fixo.

2. Conforme Keynes, o nível de emprego agregado não se define meramente como um ponto
de equilíbrio parcial, dado no encontro de curvas agregadas de oferta e de demanda por
trabalho. Para ele, em uma dada estrutura produtiva, o nível de emprego resulta da decisão dos
empresários de empregar a força de trabalho em função das expectativas de consumo e de
investimento na economia. Assim, poderá persistir o desemprego involuntário enquanto o nível
de demanda efetiva for demasiadamente baixo.

Gabarito: CERTO. Essa é a essência da teoria keynesiana. O que determina o nível de emprego
na economia é a demanda efetiva.

3. A suposição feita por Keynes de que os salários nominais e outros elementos de custo
permanecem constantes altera a natureza do raciocínio que ele desenvolveu para explicar os
determinantes do volume de emprego agregado.

Gabarito: ERRADO. Keynes nunca disse que salário nominais permanecem constantes. Disse
que são resistentes a queda, que há flexibilidade nos preços dos fatores de produção.

4. Para um quadro de crise, uma proposição de política econômica keynesiana seria o governo
ampliar os gastos públicos como forma de elevar a demanda agregada e recuperar o nível de
emprego, ao passo que, para um momento de superaquecimento, a recomendação keynesiana
seria reduzir gastos.

Gabarito: CERTO. Keynes não despreza o conceito de pleno emprego. Diz que se aproxima ao
pleno emprego. Se a economia estiver próxima do pleno emprego, recomenda que se
diminuam os gastos. Não concorda, entretanto, que exista uma tendência ao pleno emprego.
TPS 2016 – Questão 68:

A respeito de teoria monetária e política monetária, julgue (C ou E) os itens a seguir.

1. Em um sistema econômico, a taxa de juros é um importante determinante da demanda de


moeda; ela influencia as decisões de investimento dos agentes e, por conseguinte, o volume de
moeda que será destinado à especulação.

Gabarito: CERTO. Demanda por moeda – 3 tipos – para fins de transação, para fins de
precaução e para fins especulativos. Todos esses tipos são influenciados pela taxa de juros; é
variável central.

2. A expansão de meios de pagamento é realizada exclusivamente pela autoridade monetária,


uma vez que depende da impressão de mais papel-moeda.

Gabarito: ERRADO. Meios de pagamento são o papel moeda em poder do público, acrescidos
dos depósitos à vista (MP = PMPP + DV). Os bancos privados também concedem empréstimos,
criando depósitos à vista, não apenas a autoridade monetária.

3. Na atualidade, para que uma moeda seja aceita como meio de troca, o país que a emite deve
ter reservas em ouro em quantidades suficientes, de acordo com o denominado padrão-ouro.

Gabarito: ERRADO. O padrão é dólar-dólar. O padrão dólar-ouro foi abandonado em 1971.

4. As três funções principais de uma moeda em um sistema econômico são a de meio de troca,
a de unidade de conta e a de reserva de valor.

Gabarito: CERTO.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 19
Prof. Daniel Sousa – 12.12.2018

MACROECONOMIA → CRISES FINANCEIRAS RECENTES

❖ CRISE DA DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA:

A crise da dívida externa brasileira, causada pelo excesso de endividamento externo do Brasil
nas décadas de 1960 e 1970, teve como estopim o aperto monetário feito pelo FED, que levou
ao desequilíbrio do balanço de pagamentos no Brasil. O desequilíbrio do balanço de pagamentos
é finito, pois as reservas internacionais chegam ao fim, levando a um colapso nas contas
externas. Essa crise não se restringiu ao Brasil, atingindo dezenas de países.

Em um primeiro momento, entre 1979 e 1980, o governo brasileiro tentou realizar uma
maxidesvalorização do câmbio a fim de estimular as exportações e desestimular as
importações, reequilibrando assim o balanço de pagamentos. No início do governo Figueiredo,
realizou-se também um programa de estímulo às exportações agrícolas. Entretanto, essa
estratégia mostrou-se insuficiente, pois as reservas internacionais continuaram sangrando.

No biênio 1981-1982, o Brasil acabou sendo forçado a recorrer ao ajuste recessivo, que significa
colocar o país propositalmente em recessão, diminuindo a absorção interna (consumo de bens
e serviços, gastos públicos e investimentos). Isso acaba estimulando as exportações, pois, com
a economia interna em recessão, não há para quem vender e a busca pelo mercado externo
acaba sendo uma alternativa. Diminuem também as importações, pois num ambiente recessivo
ninguém importa nada.

Não é difícil colocar um país em ajuste recessivo. Basta adotar uma política monetária
brutalmente contracionista, aumentando juros, contraindo violentamente o crédito e cortando
investimentos das empresas estatais e aumentando impostos. O peso do Estado na economia
brasileira nessa época era ainda maior do que hoje e o governo tinha um efeito brutal no
crescimento econômico.

Em 1982, o Brasil foi socorrido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com quase US$ 5
bilhões, para equilibrar o balanço de pagamentos e recompor as reservas em moeda
estrangeira. Há, portanto, uma melhora discreta da situação. Em 1983 e 1984, houve
recuperação nas contas externas e no crescimento econômico, puxada pelo fim do aperto
monetário do FED (que ocorreu até 1982), que acarretou a retomada do crescimento mundial.

Além disso, também houve um amadurecimento dos investimentos brasileiros na


industrialização por substituição de importações. Esses investimentos haviam sido mantidos
durante o período da maxidesvalorização e acabaram tendo um efeito razoável em termos de
melhora dos resultados comerciais. O PIB brasileiro acaba sendo impulsionado pela balança
comercial.

Em 1986, o governo de José Sarney concentrou-se em resolver a questão do desequilíbrio


inflacionário, por meio do congelamento de preços, durante o Plano Cruzado. A grande
consequência do congelamento de preços foi o desabastecimento, que também prejudicou as
exportações brasileiras, pois mal se conseguia atender ao mercado interno. Sarney abriu o país
às importações e, com isso, os resultados comerciais declinaram de forma significativa.
Diante desse cenário, os dólares que vinham dos saldos comerciais, e mantinham o fluxo regular
de pagamentos da dívida externa, deixam de aparecer. Em 1987, o Brasil decretou a moratória
da dívida externa, que levou ao início de um litígio com os credores externos. Ao suspender
unilateralmente o pagamento de sua dívida externa, o Brasil entrou numa situação de default.

Em 1989, é oferecido um plano de renegociação da dívida externa, chamado de Plano Brady,


que foi intermediado pelo FMI e pelo Tesouro dos EUA. Essa renegociação foi oferecida a
dezenas de países, entre eles o Brasil, pelos diversos credores, que são, sobretudo, bancos
privados dos EUA. Gradativamente, cada país foi aderindo a esse plano, após negociações
individualizadas, com base nas diferentes realidades nacionais.

O Plano Brady consistia no alongamento do prazo das dívidas, no perdão aos atrasos nos
pagamentos e em abatimentos. Em troca, o país deveria aderir a uma agenda de reformas
baseada no Consenso de Washington, para que esse tipo de situação não voltasse a ocorrer. Os
devedores se comprometeram a promover privatizações, a liberalizar o comércio e o fluxo de
capitais, a buscar a disciplina fiscal e a austeridade das contas públicas e a controlar a inflação.

O Brasil concluiu a renegociação de sua dívida externa, em 1993. A negociação brasileira foi
muito bem-feita, conseguindo termos melhores do que os demais países latino-americanos. A
dívida foi sendo paga ao longo dos anos, até que, desde 2006, o Brasil tem sido, até hoje, credor
externo líquido, o que significa que o valor de suas reservas internacionais supera o montante
de sua dívida externa.

Desde 2006, tem ocorrido algo singular. Quando o câmbio se desvaloriza, o resultado das contas
públicas melhora. Curiosamente, o que tem ocorrido recentemente é que a desvalorização
cambial acaba ajudando, pois o Brasil tem mais a receber em dólares do que a pagar. É o
contrário do que ocorre com a Argentina, que é um devedor externo líquido, pois tem mais a
pagar em dólares do que a receber em dólares.

Entre 1993 e 2006, o Brasil foi gradativamente abatendo sua dívida externa. Em alguns
momentos, a dívida chegou a aumentar, devido a novos empréstimos com o FMI, mas aquela
dívida negociada em 1993 foi sendo progressivamente abatida.

Hoje, qualquer cenário de crise em relação à dívida externa parece muito distante, pois as
reservas internacionais do país estão muito elevadas, acima dos padrões recomendados
internacionalmente. O histórico caótico do Brasil em sua relação com o setor externo explica
por que o Brasil tem muita resistência em relação a reduzir o seu volume de reservas
internacionais.
❖ CRISE DO MÉXICO (1994):

→ Antecedentes:

- Privatizações (Consenso de Washington);


- Livre-comércio; e
- Liberalização do fluxo de capitais.

O México irá adotar um câmbio fixo e valorizado, com a finalidade de atrair investimentos
estrangeiros no contexto de um processo de abertura, já que, sem oscilação cambial, é mais
seguro aplicar recursos em um país. Outro objetivo desse câmbio valorizado era de asfixiar a
inflação, pois produtos estrangeiros passariam a entrar no país com preços muito baixos,
reduzindo os custos para as empresas mexicanas. Essa medida também ajudaria a aumentar a
concorrência, pois os produtos importados entrariam no país com preços muito competitivos.

O problema desse tipo de estratégia é que, no câmbio fixo, não é possível equilibrar o balanço
de pagamentos. Esse modelo é insustentável, pois, se o câmbio está valorizado, o Saldo em
Transações Correntes (STC) tende a ficar cada vez mais deficitário, porque a Balança Comercial
(BC) tem também essa tendência deficitária.

A Conta Capital e Financeira (SKF) precisa de cada vez mais recursos, com mais Investimentos
Estrangeiros Diretos (IED) e mais capital especulativo. Porém, há um limite para esse modelo,
pois não há como atrair crescentes somas de IED e de capital especulativo para compensar os
crescentes déficits no STC em função de um câmbio fixo e valorizado de forma incessante. Em
algum momento, esse modelo irá se esgotar.

Em 1994, diante de uma crise política, houve uma grande fuga de capitais, com grande procura
por dólares. O México, que era totalmente dependente do capital estrangeiro para compensar
seus crescentes déficits no STC, ficou com seu Balanço de Pagamentos (BP) extremamente
desequilibrado. Diante dessa crise, o governo mexicano decidiu desvalorizar o câmbio em 15%,
a fim de desestimular as importações e estimular exportações, equilibrando o .

Os investidores pensaram, entretanto, ter sido uma quebra de confiança, e, conforme a


paridade do poder de compra, essa seria a primeira de muitas desvalorizações para que o
câmbio do México atingisse um patamar de sustentabilidade. Na prática, ao invés de minimizar
o desequilíbrio no BP, a desvalorização cambial aumentou esse desequilíbrio, pois intensificou
a fuga de capitais.

→ O México não teve outra opção senão adotar o câmbio flutuante.

Na gestão do presidente Bill Clinton, o México foi socorrido pelo Tesouro dos EUA no total de
US$ 15 bilhões, para a recomposição das reservas internacionais, com a possibilidade de mais
US$ 50 bilhões. A ideia era garantir que o México não quebrasse, por sua relevância como
vizinho, devido às pressões relativas à imigração, e porque acabava de ser criado o NAFTA.
❖ CRISE ASIÁTICA (1997):

*Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Tailândia, Malásia, Filipinas e Indonéisa)

→ Antecedentes:

No início dos anos 1990, o Japão tinha a maior poupança do mundo, tendo sido o país que mais
crescera desde a década de 1950. Na década de 1990, o Japão parou de crescer, pois teria,
segundo os classicistas, atingido o seu PIB potencial (como país pequeno que é) e, segundo os
keynesianos, devido à falta de consumo, e de demanda efetiva, e ao excesso de poupança. Num
contexto de recessão, os bancos japoneses não tinham para quem emprestar e deslocaram seus
recursos para países vizinhos. Os Tigres Asiáticos já apresentavam razoáveis taxas de
crescimento e o capital japonês serviu para financiar oportunidades de negócio nesses países
que não existiam no Japão.

Esses países estavam passando por processos de abertura e de flexibilização no fluxo financeiro
e no mercado de capitais. Não havia, portanto, grande supervisão ou controle sobre o mercado
de capitais desses países. De uma hora para a outra, passa a haver um boom de crédito nos
Tigres Asiáticos, com taxas de juros muito baixas. Cada vez mais, esses empréstimos foram
sendo feitos para projetos que não teriam condições de retorno, por não serem ideias boas ou
sustentáveis. Havia um enorme excesso de liquidez, mas esses empréstimos começaram a
sofrer com a inadimplência dos devedores.

→ Estopim: bancos vão à falência no Sudeste Asiático, por causa da inadimplência.

Com a falência dos bancos na região, o crédito desaparece e começam a cair o consumo e os
investimentos, afetando a economia real. Formou-se um quadro recessivo que levou à fuga de
capitais, desequilibrando o BP desses países. Foi uma crise causada pelo excesso de moeda.
Formaram-se bolhas, com preços de ativos descolados da realidade, pois há muito dinheiro
sendo oferecido. Em 1997, esses países foram socorridos pelo FMI.
❖ CRISE DO BRASIL (1999):
*Trata-se de crise relacionada ao desequilíbrio do BP causada pelo câmbio fixo e valorizado.

→ Antecedentes:
- Privatizações;
- Liberalização do fluxo de capitais; e
- Liberalização do comércio.

→ Problema: câmbio fixo e valorizado – lançamento do Plano Real, em 1994.

Inicialmente, a taxa de câmbio fixa era 1:1, mas, em um segundo momento, essa taxa de câmbio
fixa virou um teto. A taxa poderia flutuar livremente abaixo desse teto. Em um terceiro
momento, passou a existir também um piso. Esses valores de teto e piso foram sendo
progressivamente alterados

Em 1999, quando esse sistema foi abandonado, o teto era de R$ 1,20 e o piso de R$ 1,00. Havia
liberdade para a flutuação da taxa dentro desses parâmetros. Quando a taxa batia no teto, o
BACEN vendia dólares e quando batia no piso, o BACEN comprava dólares.

Aos poucos, a taxa de câmbio passou a bater no teto sucessivamente, já que esse modelo era
absolutamente insustentável, com o real muito valorizado a fim de asfixiar a inflação e atrair
IED. O Brasil necessitava cada vez mais de IED e de capital especulativo para compensar os
crescentes déficits em transações correntes causados pela valorização do câmbio, que
desestimulava as exportações e estimulava as importações.

A cada crise em países emergentes, o Brasil aumentava sua taxa de juros, a fim de evitar a fuga
de capitais. Havia o temor no Brasil de que, quando fosse abandonado o controle cambial,
pudesse haver o retorno da inflação. Os custos das empresas aumentariam e haveria menos
concorrência, já que os produtos importados entrariam em condições menos competitivas.

Em 1998, a situação chegou a seu limite, pois o governo brasileiro já não tinha mais reservas
internacionais suficientes para manter a taxa de câmbio controlada dentro da flutuação
estabelecida. Nesse ano, o Brasil obteve US$ 30 bilhões emprestados do FMI para recompor
suas reservas internacionais, pois a fuga de capitais havia se intensificado após a Crise da Ásia
(1997) e a Crise da Rússia (1998).

Foi proposto, em 1998, o sistema de bandas diagonais, com a taxa de câmbio gradativamente
subindo, de forma administrada pelo BACEN. Porém, se o BACEN já avisa de antemão que o
preço do dólar irá subir, a tendência é que mais dólar seja comprado. Se todos compram dólares
ao mesmo tempo, não haverá dólares suficientes para vender.

Em janeiro de 1999, depois dessa operação desastrada, o governo desiste de continuar


controlando o mercado cambial e o Brasil passa a ter um regime de câmbio flutuante. O Brasil
substituirá a âncora cambial pela âncora fiscal. Deixa de ter o câmbio como mecanismo para
asfixiar a inflação e passa a ter o regime de metas de superávit primário a fim de manter a
disciplina fiscal.

→ TRIPÉ DE POLÍTICA MACROECONÔMICA:


= Regime de metas de inflação + câmbio flutuante + metas de superávit primário.
❖ CRISE ARGENTINA (2001):

→ Antecedentes:
- Liberalização comercial;
- Privatizações; e
- Liberalização dos fluxos de capitais.

→ Conversibilidade Plena (1991)


A taxa de câmbio foi fixada em lei (US$ 1 = 1 peso), a fim de dar segurança a investidores
estrangeiros. Garantia-se que o Banco Central argentino jamais alteraria a taxa de câmbio, pois
a taxa estava fixada em lei. Podia-se depositar dólares no sistema bancário argentino. O dólar
podia ser usado como meio de troca no país (o que ocorre até hoje).

O Ministro da Economia, Domingo Cavallo, argumentava que a Argentina devia se preparar para
uma enxurrada de dólares que inundaria o país, afinal, a Argentina oferecia o que ninguém mais
oferecia: a conversibilidade plena. Porém, isso colocava a Argentina numa camisa de força. A
conversibilidade plena funciona em países pequenos como o Panamá, pois é um paraíso fiscal,
tem o Canal do Panamá e a Copa Airlines, que garantem receitas interessantes em dólar.

A Argentina, por outro lado, era uma das 20 maiores economias do mundo, que vivia, há séculos
da sua produção agrícola – sobretudo exportando grãos e carne – e de um importante setor
industrial. Esses segmentos produtivos serão duramente afetados pelo câmbio valorizado, pois
será mais barato importar para a Argentina do que produzir na Argentina.

Esse cenário piorava a cada ano, pois a inflação na Argentina era maior do que no resto do
mundo. Criava-se um ambiente de absoluta insustentabilidade em relação ao resto do mundo
não havendo como essa conversibilidade plena ser mantida. Os resultados em transações
correntes serão cada vez piores, com o governo obtendo empréstimos com o FMI ou
aumentando a taxa de juros para manter o investimento estrangeiro no país.

O governo também emitiu grande quantidade de títulos da dívida pública, e os vendeu nos EUA,
para trazer dólares para o país. Isso gerou uma sensação de prosperidade muito grande na
Argentina, mas a deterioração dessa situação se acelera em 1999, com a maxidesvalorização do
real. Houve uma inundação de produtos brasileiros na Argentina e o Brasil, que exigia dólares
nessas transações, começou a drenar as reservas internacionais argentinas, acelerando a crise.

→ 2001: estopim – De la Rúa anuncia que a Argentina está suspendendo o pagamento da


dívida, pois reservas estão esgotadas. Pessoas buscam bancos para sacar dólares, levando a
uma crise bancária, pois não havia dólares suficientes. Há uma diminuição drástica do crédito e
recessão, com queda do consumo e dos investimentos.

Após a renúncia do presidente, sucederam-se vários presidentes. A lei de conversibilidade


plena foi revogada, a dívida começou a ser renegociada e estabeleceu-se o curralito, com
devolução ordenada e gradativa dos dólares das pessoas.

O balanço de pagamentos desequilibrado levou ao esgotamento das reservas internacionais


argentinas, o que desencadeou a crise bancária, pois os dólares não puderam ser sacados,
causando, assim, recessão. Essa crise afetou o Brasil pois a Argentina é o nosso terceiro maior
parceiro comercial e porque houve fuga de capitais, já que os investidores tiram dinheiro de
todos os emergentes quando há crise em um deles.
❖ CRISE DOS EUA (2008):

→ Antecedentes:
- Desregulamentação (Clinton-Bush);
- Política monetária expansionista (taxa de juros em menor patamar da história – FED – 1% a.a.).

O objetivo era estimular o crescimento americano, que havia sido afetado pela crise da NASDAQ
(excessiva valorização dos mercados de empresas “.com” – bolha estourou em 2000) e pelo 11
de setembro.

Houve grande exploração do mercado de crédito subprime, que são os clientes de baixa renda,
que pagam juros mais altos. Devido à centralidade do mercado imobiliário nos EUA, já que os
financiamentos são feitos por meio das hipotecas sucessivas de imóveis, o valor dos imóveis
subiu muito, incentivando, por sua vez, mais e mais hipotecas.

→ 2001-2004: queda de juros.

→ 2004-2007: aumento de juros.


- Crescimento da inadimplência no mercado imobiliário.
- Retomada de casas hipotecadas e queda de preços dos imóveis.
- Créditos podres.

→ 2007-2008: nova redução de juros.


- FED considerava que a alta de juros havia sido rápida demais.

→ Estopim: falência do Lehman Brothers – outros bancos estavam na mesma situação.

O FED socorreu os bancos, emprestando US$ 700 bilhões para que não quebrassem.
Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 20
Prof. Daniel Sousa – 14.12.2018

CONJUNTURA MACRECONÔMICA ATUAL

❖ EFEITOS DE UMA CRISE EXTERNA NA ECONOMIA BRASILEIRA


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→ Os dois efeitos primários de uma crise externa sobre a economia brasileira são:

(i) diminuição das exportações líquidas devido à queda da demanda externa por commodities.
(ii) declínio da poupança externa e, consequentemente, do investimento.

→ Efeitos secundários: queda no consumo e na capacidade de o governo gastar.

Durante a Crise de 2008, os fundamentos macroeconômicos do Brasil eram relativamente


sólidos em comparação a crises anteriores. As reservas internacionais do Brasil, em 2008,
estavam no seu maior volume histórico até então, US$ 200 bilhões, o que fez com que os efeitos
da crise externa sobre a economia brasileira tivessem sido bem menores do que se esperava. A
flutuação do câmbio absorveu boa parte do desequilíbrio externo, pois, quando saíam muitos
dólares, o aumento da taxa de câmbio desincentivava a saída de mais moeda estrangeira.

Além disso, naquele momento, o risco-Brasil era baixo, pois acabara de receber o grau de
investimento das agências de risco. Isso desincentivava a fuga de capitais, tendo em vista que o
país tinha um selo de bom pagador (perdido depois em 2015). O relevante mercado interno do
Brasil também serviu de válvula de escape durante a crise.

O Brasil adotava o regime de metas de inflação, que vinham sendo cumpridas. Também
conseguia cumprir com suas metas de superávit primário, tendo inclusive resultados
suficientemente bons para implementar políticas expansionistas.

O governo brasileiro pôde implementar uma política monetária anticíclica porque o Brasil tinha
a inflação sob controle. Havia margem para medidas que visavam a estimular o crédito, como a
redução da SELIC e do compulsório e com o aumento do crédito de bancos públicos. O governo
pôde implementar uma política fiscal anticíclica, pois o Brasil tinha resultados primários muito
bons. Houve espaço para a redução de impostos, para o aumento dos gastos com o PAC, com o
Bolsa-família e para o aumento do seguro-desemprego.

Em 2015, ano em que o PIB brasileiro retraiu, não foi possível realizar política monetária
anticíclica, pois a inflação não estava exatamente sob controle. No que se refere à situação fiscal,
já havia um déficit primária que alcançava R$ 100 bilhões, o que impedia uma redução ainda
maior da meta de déficit primário. Não era possível cortar impostos ou aumentar gastos em um
cenário de tamanha fragilidade.

Em 2015, as reservas internacionais do Brasil eram de US$ 400 bilhões, devido à altíssima
liquidez no SFI desde 2008 e o governo estava conseguindo manter o câmbio flutuante. Porém,
o risco-Brasil estava muito alto (perda do grau de investimento) e o mercado interno andava
muito fraco, devido à alta do desemprego. As metas de inflação e de superávit primário já
vinham sendo descumpridas, com atualização para metas de déficit.
RELATÓRIO FOCUS – BANCO CENTRAL – 07/12/2018
https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus

→ A previsão do IPCA para 2018 está em 3,71 % a.a., abaixo do centro da meta (4,5 % a.a.).

→ A previsão do IPCA para 2019 está em 4,09 % a.a., abaixo do centro da meta (4,25 % a.a.*).
*O centro da meta de inflação para 2019 foi definido em 4,25 % a.a.
*A taxa SELIC foi mantida em 6,5 % a.a., na última reunião do COPOM de 2018, pois a previsão
do IPCA para 2019 não está muito distante do centro da meta.

→ PIB
A previsão para o crescimento do PIB brasileiro em 2018 está em 1,3 %. Este ano, o crescimento
foi muito comprometido por uma série de incertezas na área econômica relacionadas ao cenário
eleitoral. Para 2019, é esperado um leve aquecimento da economia, com uma previsão de alta
de 2,5 % do PIB. Essa pequena recuperação se deve à melhora do ambiente de expectativas. Os
maiores riscos ao crescimento brasileiro em 2019 são a questão fiscal (necessidade de uma
reforma da previdência) e o risco de uma recessão nos EUA, por conta do superaquecimento da
economia americana.

→ Câmbio
A taxa de câmbio prevista para 2019 é de R$ 3,80, podendo ser ainda maior caso haja mesmo
uma recessão nos EUA.

→ SELIC
A meta para a taxa SELIC em 2019 é de 7,50 % a.a. A SELIC pode ser pressionada pela leve
aceleração do crescimento brasileiro, que tende a aumentar a inflação, e pela provável alta dos
juros nos EUA, que levam o Brasil a aumentar seus juros a fim de manter capital no país.

→ STC
Está previsto um aumento do déficit no saldo de transações correntes de 2018 para 2019, de
US$ 15 bilhões para US$ 27 bilhões. Esse resultado é fortemente influenciado pela balança
comercial, que deve ter resultados piores em 2019, devido à queda prevista na safra brasileira
e ao aumento das importações causado pela desaceleração do crescimento.
→ IED
Espera-se que o investimento estrangeiro direto tenha um crescimento de 10% de 2018 para
2019, por conta da maior previsibilidade que um novo governo tende a propiciar.

→ Dívida líquida (% do PIB)


Há uma expectativa de alta da dívida líquida em proporção do PIB para 2019, o que significa
que a dívida bruta (aquela que realmente importa) também aumentará. É o elemento de maior
preocupação, com expectativas de um déficit primário de 1,8 % do PIB para 2018.

Para 2019, o resultado primário deve melhorar, com o país apresentando déficits nominais e
primários um pouco menores, por causa da aceleração da atividade econômica e do provável
aumento de impostos pelo novo governo.

❖ TRIPÉ MACROECONÔMICO

→ Continua em vigor o tripé macroeconômico:


1. Regime de câmbio flutuante.
2. Regime de metas de inflação.
3. Regime de metas de déficit primário.

No que diz respeito às despesas públicas, os problemas de maior peso do Brasil são a
previdência, a folha salarial e as despesas vinculadas. Só a previdência representa 50% das
despesas totais do governo.

❖ RELATÓRIO TRIMESTRAL DO FMI – World Economic Outlook (outubro de 2018)

EUA: crescimento expressivo, de 2,9%, em 2018, com desaceleração prevista para 2019, tendo
em vista que existe um temor de superaquecimento da economia americana.

Zona do Euro: desaceleração prevista para 2019 devido a preocupações na área fiscal, com o
crescimento do endividamento em proporção do PIB em países como a Itália (e o efeito dominó
que isso pode acarretar).

Japão: o crescimento japonês é cada vez mais desacelerado. Para classicistas, teria atingido o
seu PIB potencial. Para keynesianos, é devido à baixa demanda efetiva.
Rússia: crescimento fraco devido a uma série de embargos econômicos vigentes.

China: continua seu processo de desaceleração, um pouco mais forte do que o previsto, gerando
impacto nos preços das commodities, o que é ruim para o comércio exterior do Brasil.

Índia: crescimento consistente acima dos 7%.

Leste Europeu: desaceleração relacionada à queda no crescimento europeu.

América Latina: alguma recuperação puxada pelo Brasil.

Há alguns anos, o fluxo de comércio internacional vem crescendo com taxas superiores ao PIB
mundial. Isso explica por que os países que fazem mais comércio têm tido mais crescimento
econômico.

Há uma expectativa de alta expressivas nas taxas de juros internacionais (sobretudo nos EUA),
em um momento que o Brasil terá um déficit maior em sua conta corrente e precisará de mais
poupança externa.

O Federal Reserve tem demonstrado hesitação em mexer nas taxas de juros dos EUA, pois, se
aumentar rápido demais, pode colocar o país num quadro recessivo, mas, se aumentar devagar
demais, pode permitir um superaquecimento da economia americana, que, chegando no seu
PIB potencial, poderá entrar num quadro recessivo de qualquer maneira. Com o aumento da
taxa de juros americana, a tendência é a valorização do dólar em relação às demais moedas.

→ Questões relevantes para a economia mundial em 2019:


- Trégua na guerra comercial EUA x China?
- “Hard Brexit” ou “No Brexit”?

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