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DIREITO DE FAMÍLIA

Compilado por Magda B. De Marchi

FORMALIDADES DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO - CASAMENTO POR


PROCURAÇÃO - CASAMENTO POR MOLÉSTIA GRAVE - CASAMENTO
NUNCUPATIVO - PROVAS DO CASAMENTO - POSSE DO ESTADO DE CASADO -
EFEITOS DO CASAMENTO

Parece pacificado o entendimento de que o casamento é um contrato


especial de Direito de Família segundo o qual os nubentes estabelecem, de
conformidade com o regramento jurídico, suas relações de natureza afetiva
e patrimonial. Não obstante, é regrado por normas de ordem pública,
imperativas, que não podem ser afastadas pela vontade das partes. Sua
celebração é ato formal e solene, dependente da presença de uma
autoridade celebrante. Ou seja, a intervenção estatal é condição inafastável
para que o casamento produza efeitos civis.

Além das formalidades inerentes a todos os contratos, o casamento


também possui formalidades específicas, estabelecidas nos artigos 1.525 e
seguintes do Código Civil.

Uma delas é o "processo de habilitação", disciplinado nos artigos 1.525 a


1.532, fase preliminar à celebração do casamento. Como a lei procura
evitar casamentos inválidos, nulos ou anuláveis, tendo em vista as
conseqüências pessoais e patrimoniais que dele decorrem, o processo de
habilitação é tido como um instrumento que visa declarar que ambos os
nubentes possuem condições para casar.

O casamento civil celebrado de forma ordinária deve passar pelas seguintes


fases do processo de habilitação:

1)Documentação (arts. 1.525 a 1.526);

2)Publicação dos Proclamas (art. 1.527);

3)Apreciação das oposições oferecidas (de impedimentos ou de causas


suspensivas) (arts. 1.528 a 1.530);

4)Certificação (art. 1.531).

A certificação é a última etapa do processo de habilitação, na qual se extrai


uma certidão em que o Oficial do Registro Civil afirma que os nubentes
estão aptos para se casar.

Sem a observação de todas as formalidades preliminares acima, o


casamento pode, em alguns casos, ser nulo ou anulável.

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Celebração do Casamento

Casamento válido é aquele precedido e finalizado com os requisitos e cerimônia


que a lei (CC) estabelece. O casamento precisa de formalidade escritural, e
também todo um ritual que faz parte dos inúmeros requisitos que a lei estabelece.

Art. 1533- Celebrar-se-á o casamento no dia, hora e lugar previamente


designados pela autoridade que houver de presidir ao ato, mediante petição dos
contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art. 1.531.
** Ou seja, é necessário que o local e o horário do casamento sejam previamente
designados pela autoridade a que competir zelar pelo ato formal e solene. E é ainda
exigida a apresentação de certidão expedida pelo Oficial do Registro Civil,
evidenciando que foram apresentados os documentos essenciais para habilitação,
bem como publicados os proclamas (editais) de casamento.
Art. 1.534 - A solenidade celebrar-se-á sede do cartório, com toda a publicidade, a
portas abertas, presentes, pelo menos, duas testemunhas, parentes ou não dos
contraentes, ou, em caso de força maior, querendo as partes, e consentindo o juiz,
noutro edifício, público, ou particular.
Parágrafo primeiro - Quando o casamento for em casa particular, ficará esta de
portas abertas durante o ato.

Parágrafo segundo – Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo


anterior e se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever.
Art. 1.535 - Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial,
juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida
dos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade,
declarará efetuado o casamento, nestes termos:
"De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de
vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro
casados".

A reafirmação da manifestação de vontade dos nubentes é fundamental para


validar a união legal. A lei exige que cada um deles, de viva voz, confirme seu
propósito de casamento, por livre e espontânea vontade.
Cumprido o ritual e atendidos os requisitos legais, incumbirá ao Oficial do Registro
Civil lavrar o assento no livro de registros para que dele possa ser extraída, em
seguida e no futuro, a certidão do casamento aos interessados. Nessa certidão
constará, inclusive, o regime do casamento. Se os nubentes assinaram pacto
nupcial antenupcial, estabelecendo condições especiais sobre seu patrimônio,
precisam apresentá-lo ao Oficial do Registro Civil antes do casamento, para que
conste da certidão.

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Art. 1.536- Do casamento, logo depois de celebrado, se lavrará o assento no livro
de registro. No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as
testemunhas e o oficial do registro, serão exarados: (...)
Art. 1.537- 0 instrumento da autorização para casar transcrever-se-á
integralmente na escritura antenupcial.
Art. 1.538- A celebração do casamento será imediatamente suspensa, se algum
dos contraentes: I - Recusar a solene afirmação da sua vontade; II - Declarar que
esta não é livre e espontânea; III - Manifestar-se arrependido.
Parágrafo único - 0 nubente que, por algum destes fatos, der causa à suspensão do
ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.

Havendo qualquer dúvida sobre a liberdade dos nubentes em manifestar e decidir


sobre o casamento, a celebração será paralisada. E a cerimônia não poderá ter
prosseguimento no mesmo dia. Essa cautela do legislador tem o sentido de evitar a
possibilidade de que o casamento esteja sendo realizado por pressão de quaisquer
terceiros, pais ou não.

Art. 1.539 - No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o


presidente do ato irá celebrá-lo onde estiver o impedido, e, sendo urgente, ainda à
noite, perante duas testemunhas, que saibam ler e escrever.
§ 1º - A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir ao
casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do
registro civil por outro "ad hoc", nomeado pelo presidente do ato.
§ 2º - 0 termo avulso, que o oficial "ad hoc" lavrar, será levado ao registro dentro
de 5 dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

A Doutrina Pátria é unânime quando se trata de


casamento em "iminente risco de vida".

Esta modalidade de casamento, chamada por Carlos de Carvalho de


"Nuncupativo" por analogia ao testamento in extremis, constitui uma
exceção por dispensar importantes formalidades, como o processo de
habilitação, a publicação dos proclamas e a própria presença da autoridade
celebrante. Alguns doutrinadores o chamam também de casamento "in
articulo mortis" ou "in extremis".

Trata-se de um remédio excepcional àqueles casos de extrema urgência,


em que um dos nubentes, face ao seu estado demasiadamente grave, não
possui tempo suficiente para se submeter às formalidades preliminares

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ordinariamente exigidas, nem tampouco para aguardar o comparecimento
da autoridade celebrante.

A celebração dar-se-á pessoalmente pelos contraentes, na presença de seis


testemunhas, que com eles não tenham parentesco em linha reta, ou na
colateral, em segundo grau. Esta restrição se justifica pelas próprias
características do casamento nuncupativo, tendo acertado nosso legislador
em procurar evitar fraudes e o favorecimento de "oportunistas" e
"aventureiros".

Os nubentes deverão manifestar, de algum modo, perante estas


testemunhas, sua livre e espontânea vontade em contrair matrimônio.

Se for possível o comparecimento de um juiz de paz ou do oficial do


cartório, o casamento não perderá sua natureza de nuncupativo ou in
extremis, porque é caracterizado tão somente pela dispensabilidade das
formalidades exigidas nos artigos 1.525, 1.526 e 1.527 do Código Civil.

Aquele nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se
representar (art. 1542, §2o do CC), mediante procuração, por instrumento
público, com poderes especiais. Mas o outro, ante a precariedade de seu
estado de saúde, deverá participar do ato pessoalmente, para que o
celebrante e as testemunhas possam atestar não só a existência do risco de
vida, mas também o seu estado de lucidez e consciência, além da vontade
livre e espontânea de se casar com aquela determinada pessoa.

Após a celebração, as formalidades posteriores elencadas no artigo


1541 do CC deverão ser atendidas dentro do prazo de dez dias, para
que o casamento nuncupativo tenha eficácia.

Art. 1.540 - Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida,
não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu
substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas,
que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta ou, na colateral, até
segundo grau.
Art. 1.541 - Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a
autoridade judicial mais próxima, dentro de dez dias, pedindo que lhes tome por
termo a seguinte declaração de: I – que foram convocados por parte do enfermo; II –
que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; III – que, em sua presença,
declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher.

§ 1º - Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências


necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado para o
casamento, na forma ordinária, ouvidos os interessados, que o requererem, dentro

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em quinze dias.
§ 2º - Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a
autoridade competente, com recurso voluntário às partes.
§ 3º - Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar
dos recursos interpostos, o juiz mandará transcrevê-la no livro do registro dos
casamentos.
§ 4º - 0 assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao
estado dos cônjuges, à data da celebração e, quanto aos filhos comuns, à data do
nascimento.
§ 5º - Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo anterior, se o enfermo
convalescer e puder ratificar o casamento em presença da autoridade competente e
do oficial do registro.

Art. 1.542- 0 casamento pode celebrar-se mediante


procuração, por instrumento público, com poderes
especiais.

A procuração outorgada por um dos nubentes, além de ser lavrada por instrumento
público, deve dispor clara e explicitamente os fins e limites a que se destina o
mandato, mais o nome e qualificação do outro nubente com o qual estará o
outorgado autorizado a representá-lo no ato do casamento.

 
PROVA DO CASAMENTO

A celebração do casamento é provada pela certidão do registro (art.


1.543;). Em princípio, ninguém pode alegar estado de casado sem essa
prova mas, em sua ausência, o casamento pode ser provado pelos meios
admitidos em direito para justificar a perda ou a falta do documento (art.
1.543, parágrafo único).

Primeiramente, o interessado deve provar que o registro não mais existe ou


nunca existiu. A prova do casamento pode decorrer também de sentença
judicial em processo movido para esse fim (ação declaratória), cuja
sentença deverá ser inscrita no Registro, provocando todos os efeitos desde
a data do casamento (art. 1.546).

O início de prova deve partir do reconhecimento do estado de casado,


situação pela qual os cônjuges mostram-se como marido e mulher em seu
meio social. Outros documentos e provas devem ser acrescidos, para
evidenciar a existência do casamento.

O casamento celebrado no exterior prova-se de acordo com a lei do


local da celebração. Se realizado perante autoridade consular, a prova é
feita pela certidão do assento no registro do consulado. O art. 1.544 dispõe
que o casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro perante as

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autoridades ou cônsules brasileiros, deverá ser registrado em 180 dias, a
contar da volta (retorno definitivo, com residência) de um ou de ambos os
cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no
1º Ofício da capital do Estado em que passarem a residir.

POSSE DO ESTADO DE CASADO

A posse de estado de casado é a melhor prova do casamento, na ausência


de registro, embora não seja peremptória, pois deve ir cercada de
circunstâncias que induzem a existência do matrimônio. Sua utilização,
contudo, é excepcional na lei. O ordenamento protege o estado de casado
na hipótese de cônjuges que não possam manifestar sua vontade e de
falecimento dos cônjuges nesse estado, em benefício da prole comum. A
presunção de casamento somente não ocorrerá mediante certidão do
registro civil, provando que algum dos cônjuges falecidos já era casado
quando contraiu o matrimônio impugnado (art. 1.545; antigo, art. 203). A
finalidade do dispositivo é beneficiar a prole comum. Nessa situação,
presume-se o casamento, impedindo-se sua contestação se há filhos do
casal falecido.

Para que essa presunção opere, há necessidade de quatro requisitos: (1)


que os pais tenham falecido ou que possam manifestar sua vontade; (2)
que tenham vivido na posse de estado de casados; (3) a existência de prole
comum e (4) a inexistência de certidão do registro que ateste ter algum dos
pais já contraído casamento anteriormente. Desse modo, não há que se
admitir a presunção, se não há filhos e se um dos cônjuges ainda sobrevive
ou pode validamente manifestar sua vontade.

Somente os filhos podem alegar essa posse de estado, depois da morte dos
pais. Trata-se, no entanto, de exceção à regra geral, somente aplicável na
hipótese descrita: pela regra geral, casamento se prova por sua realização,
e, mais que isso, pela certidão respectiva.

Por outro lado, o legislador adota ainda o princípio in dúbio pro matrimônio
no art. 1.547:
“Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo
casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou
tiverem vivido na posse do estado de casados.”

Para a conceituação de posse do estado de casados, é necessário que se


examinem, como tradicionalmente aponta a doutrina, três requisitos:
nominatio, tractatus e reputativo (fama). A lei não define esse instituto. O
casal deve ter um comportamento social, público e notório, de marido e
mulher, assim se tratando reciprocamente. Quem assim se comporta,
presumivelmente encontra -se no estado de casado. No entanto, a prova
cada vez mais deve ser vista com restrições, porque a união estável, com
mais ou menos profundidade, também traduz uma posse nesse sentido.
Casamento não se presume. Impõe-se, nesse sentido, que se prove que
efetivamente ocorreu a celebração do casamento, sob pena de se abrir
margem a fraudes.

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A doutrina lembra ainda que a posse de estado de casado, afora essas duas
situações legais enfocadas em nosso Código, também tem o condão de
funcionar como elemento saneador de eventuais defeitos de forma no
casamento. Nosso ordenamento não menciona expressamente essa
possibilidade.

EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO

Conceito – conseqüências que se refletem no ambiente social, nas relações


pessoais e econômicas dos cônjuges, nas relações pessoais e patrimoniais
entre pais e filhos, dando origem a direito e deveres próprios e recíprocos,
disciplinados por normas jurídicas.

EFEITOS SOCIAIS – 1) criação da família legítima, considerada como o


primeiro e principal efeito matrimonial; 2) emancipação do cônjuge menor
de idade, tornando-o plenamente capaz; 3) estabelece o vínculo de
afinidade entre cada consorte e os parentes do outro; 4) conferem aos
cônjuges um status, o estado de casado, fator de identificação na
sociedade.

EFEITOS PESSOAIS - com o ato do casamento nascem, automaticamente,


para os consortes, situações jurídicas que impõem direitos e deveres
recíprocos, reclamados pela ordem pública e interesse social, e que não se
medem em valores pecuniários tais como: fidelidade recíproca, vida em
comum no domicílio conjugal, mútua assistência.

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