“A Escolha Técnica: Uma abordagem sobre a produção autogerida da
moradia”
Introdução
Aqui são apresentados experiências pautadas no processo de aprendizagem
de produção por autogestão onde não é imposto um projeto arquitetônico onde as pessoas precisam se adequar, mas o projeto é concebido através de um processo que envolve a principio o reconhecimento do local e a percepção das necessidades das pessoas daquela comunidade através de oficinas, após todo esse processo o projeto é concebido e se inicia então a construção visando a utilização de materiais locais e técnicas construtivas que são executadas pelas próprias pessoas da comunidade.
Seminário de Pesquisa
O primeiro estudo apresentado fica em uma localidade em que a população
tem como fonte de renda principal a produção de farinha de mandioca, nesta comunidade não existem comércios, apenas casas, uma escola, igreja e a biblioteca “Semente Viva” que é o objeto do estudo e que tem como objetivo a melhoria do espaço que abriga a biblioteca, mas que acabou tomando proporções maiores. Isso foi possível através da observação das tipologias das casas que seguem o mesmo padrão com uma planta regular e materialidades semelhantes entre si e como o clima que é predominantemente de calor intenso acaba influenciando na composição arquitetônica da casa em que são construídas varandas onde os habitantes da residência ficam aguardando o resfriamento do seu interior também foi observado que várias dessas casas possuem hortas e pomares que proporcionam conforto e reforçam a relação dessas pessoas com a natureza. Após as primeiras percepções foram realizadas oficinas e atividades para compreender ainda melhor as necessidades da comunidade local e foi possível constatar a importância de se pensar em estratégias para que o conhecimento na nova biblioteca não fosse passado apenas através dos livros, mas que de alguma forma também fosse transmitido à relação com a natureza. Consolidado as percepções junto à comunidade, a primeira proposta que era de reforma a biblioteca tomou um novo rumo e passou a ser de construir uma nova sede em um terreno que foi cedido, além de um novo rumo também foi agregado um novo significado em que o local também se tornasse o centro de resistência da comunidade pela a manutenção da mata, contra as pressões exercidas pelos criadores de gados da região que utilizam aquela localidade para pastagem que sem as devidas precauções podem trazer prejuízos ambientais. O projeto foi pensado para atender as necessidades da comunidade local em todos os sentidos a primeiro momento o que se observa e a quebra de um padrão o que antes era uma “caixa fechada” agora se tornou dois volumes que são conectados por uma praça e a vegetação do entorno em que a ideia é possibilitar a leitura não apenas dentro do volume edificados, mas nas áreas ao ar livre, também foi pensado uma forma de estabelecer uma conexão com o elemento água em que era possível ao visitante molhar os pés na parte externa do projeto. A materialidade foi disposta pensando na ventilação e iluminação proporcionado assim um maior conforto térmico. Os materiais utilizados assim como o sistema construtivo envolveram a comunidade local, pois como sabiam as técnicas construtivas prestaram a mão de obra para a execução da obra, dois elementos podem ser destacados no processo construtivo o concreto ciclópico e a taipas de pilão. O segundo estudo apresentado e o Assentamento Edson Nogueira (MST), que fica em Macaé – RJ onde as pessoas se sustentam através dos recursos garantidos pelo fruto do trabalho na terra fazendo o uso da mesma de forma consciente e tendo como ideal o menor impacto possível, o objetivo é a construção de uma Unidade Pedagógica em desenvolvimento Territorial Agroecológico onde se constatou a necessidade de um extenso programa onde se priorizou a principio as unidades de moradia campesinas. Tendo em vista isso foram feitas oficinas para compreender melhor as necessidades da comunidade local, utilizando uma linguagem compreensível a todos e questionando a técnica em relação ao trabalho e como isso se correlaciona com a politica. Em uma tentativa de sensibilizar a comunidade local sobre o uso da terra no sistema construtivo, respeitando a relação dessa comunidade com a mesma, se introduziu a possibilidade da bioconstrução que foi demostrada através de uma oficina com prática de construção com terra onde a técnica escolhida foi taipa de pilão e logo após foi solicitado que eles fizessem desenhos do que para eles era a casa ideal, depois de todo esse processo foi feito um copilado dos resultados alcançado em que gerou as plantas das unidades de moradia camponesa. O terceiro estudo é a Ocupação Solano Trindade (Movimento Nacional de Luta pela Moradia) Duque de Caxias – RJ que não luta apenas pelo direito a moradia, mas o de habitar a cidade em um sentido mais amplo. No Rio de Janeiro o movimento atual em cinco principais ocupações em que uma delas será o nosso objeto de estudo a ocupação Solano Trindade, no Município de Duque de Caxias. O movimento defende a criação de um espaço de experimentação de estudos, onde ocorra a formação de espaços para se obter estratégias de novas técnicas e modelos de produção isso foi possível através de um acordo entre o movimento e a Universidade do Rio de Janeiro. Após analisar vários locais foi decidido que a melhor decisão seria ocupar o Centro Pan-americano de Febre Aftosa na área da antiga Fazenda São Bento, propriedade do INCRA essa área seria desmembrada e o lote em questão seria cedido ao Movimento, através da SPU (Secretaria de Patrimônio da União). Então se iniciou processo participativo primeiro dos moradores que fizeram a limpeza do terreno e as primeiras manutenções necessárias, após iniciou uma força tarefa junto à universidade que além de levantamentos projetuais relevantes também promoveram oficinas onde foi possível a definição de programa de necessidade e até a confecção de uma maquete de uma unidade habitacional produzida por um morador. O NIDES (Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social) da UFRJ era responsável por uma escola em Cabo Frio (Instituto Politécnico) que foi desativada e como sua estrutura era toda de madeira parafusada se optou por transferir para a Ocupação Solano Trindade. Então foram reunidos além da comunidade local e as pessoas que estavam fornecendo ajuda em parceria com a universidade também os professores da antiga escola para se estuda possibilidades de implantação que ao final do processo foram nove no total, foram arrecadado recursos para possibilitar a execução da obra em que ficou decidido que seria contratado mão de obra externa e mão de obra do próprio movimento e que seria construído um primeiro módulo comercial em que seria vendido hortaliças que são fruto dos trabalhos do movimento então se deu inicio aos trabalhos de sondagem.
A Fábrica Experimental de Cidades
A liga urbana cooperativa de trabalho Cooperativa Liga Urbana
Parafraseando David Harvey: o capitalismo sempre encontra uma forma de
gerar renda a partir do que é produzido socialmente. É preciso encontrar novos meios e recursos naturais. As cidades consomem essas mercadorias que não param de ser produzidas. A partir desta epígrafe, desenvolve-se o texto a seguir.
A Ocupação Manoel Congo, Cinelândia, se depara com uma contradição:
carestia de alimentos e trabalho exaustivo. Isso enseja uma reflexão coletiva de seus integrantes visando superar tal problemática. Como resultado, decidem estabelecer novas formas de trabalho capazes de subverter as lógicas tradicionais existentes na cidade.
Origina-se, com isto, a Cooperativa Liga Urbana. Atualmente a cooperativa
produz comida nordestina durante o dia e à noite é uma Casa de Samba. Essas atividades viabilizam a geração de renda, formação profissional e a permanência local da Ocupação.
Essa iniciativa da cooperativa aponta para uma nova forma de trabalho. O
trabalho passa a ser uma luta política associado à vida urbana, promovendo acesso a serviços urbanos e a participação popular nas decisões na medida em que há uma apropriação coletiva da mais-valia.
Por assim dizer, a cooperativa se revela um sucesso capaz até mesmo de
inspirar políticas públicas. Seduz porque proporciona aos trabalhadores autonomia e os torna donos dos meios de produção. Provoca porque se instala no coração da metrópole. Ela se revela uma forma potente de escapar da opressão social.
Alimentação, construção civil e cultura se unem na cooperativa.
A cooperativa possibilita a inovação técnica na construção civil ao se tornar
dona dos processos. Com isso, há um controle democrático do dinheiro e das decisões. O coletivo passa a operar na produção de excedentes. Se a cooperativa atuar com a associação de crédito, terá condições de participar da produção do espaço urbano. É uma nova forma de garantir um controle mais democrático da produção e uso dos excedentes no processo de urbanização. Assim, o coletivo torna-se um agente da urbanização.
A reorganização do trabalho neste coletivo tem um novo desafio: criar relações
de comunicação e organização política em diferentes escalas. Cooperação entre pares vizinhos contribuirá na coleta de informações e consolidação das necessidades locais. Isso pode se efetivar por meio de fóruns que suscitarão o surgimento de novos coletivos a partir dos quais cria-se uma rede. Com poder de transformação aumentados, esses serão “sujeitos políticos eficazes”, no dizer de Harvey.