Você está na página 1de 192

AMBIENTES FLUVIAIS

Universidade Federal do Paraná

Reitor
Carlos Alberto Faraco

Vice-Reitor
Mário P. Pederneiras

Pró-Reitora de Órgãos Suplementares


Márcia Scholz de Andrade Kersten

Editora da UFPR

Diretor

Roberto Gomes

Conselho Editorial
Wanda M. M. R. Paranhos, Antonio Pianaro, Clenir de Assis Lopes (Presidente)
Joâni Giacomitti, Inês Lacerda de Araújo, Carlos E. Kantek G. Navarro, Eleidi A. C.
Freire Maia, Carlos Avosani, Carlos A. Picanço de Carvalho, Affonso Coelho.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Bruno Rodolfo Schlemper Júnior - Reitor
Osvaldo Momm - Vice-Reitor

EDITORA
DA UFSC

CONSELHO EDITORIAL
Maria de Lourdes de Souza - Presidente
Dilvo I. Ristoff
Phillipp Humblé
Marcos Caroli Rezende
Nilcéa Lemos Pelandré
Sylvio Monteiro Júnior

Salim Miguel - Diretor-Executivo


da Editora da UFSC
Kenitiro Suguio
João J. Bigardía

AMBIENTES FLUVIAIS
2- Edição
Revista

Florianópolis
1990 UFPR
© 1979 dos Autores
a
2 - Edição 1990
Editora da UFSC
Campus Universitário - Trindade
Caixa Postal 476 - Tel. (0482) 31-9408
88.049 - Florianópolis - SC - Brasil

Editorada UFPR
Travessa Alfredo Buírem, 140 - térreo
Tel. (041) 26-42522- R. 174
80.020-Curitiba-PP

FICHA CATALOGRÁFICA
Catalogação na Fonte pelo Departamento de Biblioteconomia e
Documentação da UFSC

S947 Suguio, Kenitiro, 1 9 3 7 -


Ambiente fluvial/Kenitiro Suguio; João José Bigarella. - 2. ed. —
Florianópolis: Editora da UFSC: Editora da Universidade Federal do
Paraná, 1990.
183 p. : i l .

CDU 551.3.051
CDD 551.303
1. Sedimentação. I Bigarella, João José, colab. II. Tftulo.

Indice para catálogo sistemático (CDU)

1 - Sedimentação 551.3.051

Reservados todos os direitos de publicação total


ou parcial pela Editora da UFSC/Editora da UFPR

Impresso no Brasil/Printed in Brazil


AMBIENTES FLUVIAIS
O c o n j u n t o i m p o n e n t e das Sete Quedas ou Saltos do G u a í r a c o n s t i t u i beleza natural de v a l o r estético í m p a r . O a m p l o curso do
A l t o Paraná t e r m i n a em numerosas q u e d a s , n u m e s t r e i t o canhão c o m cerca de d u z e n t o s metros de l a r g u r a . A b a r r a g e m de I t a í p ú
situada à jusante o r i g i n a e x t e n s o l a g o , c u j o e s p e l h o de água i n u n d a as maravilhosas quedas de água e c o r r e d e i r a s . A c o l o r a ç ã o
v e r m e l h a d a s águas, o u t r o r a l í m p i d a s , revela o t e r r í v e l f a n t a s m a da erosão dos solos q u e p r o g r e s s i v a m e n t e vai e m p o b r e c e n d o e
d e g r a d a n d o o p o t e n c i a l a g r í c o l a b r a s i l e i r o da Bacia do P a r a n á . Os s e d i m e n t o s t r a n s p o r t a d o s são em g r a n d e p a r t e d e p o s i t a d o s no
r e s e r v a t ó r i o de I t a í p ú , r e d u z i n d o em poucas décadas sua c a p a c i d a d e e n e r g é t i c a avaliada em cerca de d o z e m i l h õ e s de m e g a w a t t s .
(Foto: N i c o l a u Carlos B i g a r e l l a ) .
G e n t i l e z a : G r a v a r t e x Clicheria Líder L t d a .
PREFÁCIO

Os professores João José Bigarella, Kenitiro Suguio e


Rosemari Dora Becker pretendem editar uma série de livros
sobre "Ambientes de Sedimentação". Iniciam esta série com
o presente volume sobre "Ambiente Fluvial", de autoria de
Suguio e Bigarella, que há tempo se dedicam ao estudo de
sedimento e sua importância para história geológica de uma
região.

As rochas sedimentares, tanto as mais recentes como as


antigas, adquirem importância crescente, tanto científica co-
mo econômica, já que a crosta terrestre é recoberta por uma
película quase contínua de sedimento. Quase todos os ele-
mentos energéticos, como os combustíveis fósseis (carvão, li-
nhito e petróleo) e até mesmo os elementos físseis provém
do ciclo sedimentar. O homem usa e abusa desta película se-
dimentar.

É elogiável que alguns cientistas brasileiros tomem a


iniciativa de escrever livros, divulgando entre nós os resulta-
dos de pesquisas pessoais e alienígenas. As geociências são
essencialmente "ciências regionais". Os princípios básicos são
naturalmente universais, mas a aplicação deles é comandada
por condições regionais ou mesmo locais.

Os autores, Bigarella e Suguio, conhecidos dentro e fo-


ra do Brasil como especialistas no assunto, iniciam uma tare-
fa das mais meritórias.

São Paulo, 10 de junho de 1979.


Viktor Leinz
1 - GENERALIDADES

As correntes fluviais, representam possivelmen- os rios erodem para formar os seus próprios vales.
te um dos mais importantes agentes geológicos, que O padrão irregular exibido pelos sistemas de dre-
desempenham papel de grande relevância não só na nagem também parece constituir uma prova de que
escultura do modelado da superfície terrestre, como os vales são escavados pela ação das águas cor-
também no condicionamento ambiental da própria rentes.
vida do Homem. Civilizações antigas floreceram às S o r b y (1859) preocupou-se com o estudo
margens dos grandes rios, como por exemplo, no das formas de leito, enquanto que P o w e I I
Tigres e no Nilo. Ainda hoje grandes cidades si- (1876) foi um dos primeiros a demonstrar as leis
tuam-se e desenvolvem-se ao longo das margens da fundamentais da ação fluvial. Este autor estabeleceu
maioria dos rios principais que fluem nos diferentes o conceito de nível de base de erosão fluvial, a par-
continentes. Na antiguidade os rios constituíram um tir do qual formulou a idéia de ciclo de erosão que,
meio de penetração natural do Homem em direção na fase final, conduziria à peneplanização do relevo.
ao interior dos continentes. Até hoje, muitos rios Este conceito clássico ainda é aceito por muitos pes-
prestam-se à navegação. Contudo, seu papel mais quisadores, entretanto, são necessárias reformula-
importante reside no abastecimento de água, irriga- ções do problema em face a evolução dos conheci-
ção e na produção de energia elétrica. mentos sobre o assunto.

Este relacionamento com a vida cotidiana fez D a v i s (1909) sistematizou e integrou a s


com que os cientistas se interessassem pelo seu es- idéias de autores anteriores num princípio geomor-
tudo desde a mais remota antiguidade e, assim sur- fológico de denudação fluvial, conhecido como ciclo
giram teorias sobre a origem dos vales fluviais. A de erosão. De acordo com este princípio, o rio se
idéia da esculturação do relevo ligada à ação dos desenvolveria, por sucessivos estádios denominados
rios foi desenvolvida pelos pesquisadores do sé- de juventude, maturidade e senilidade. Um rio é jo-
culo XVlil, porém no início, persistia o conceito de vem quando possui fluxo torrencial através de decli-
que os vales fluviais fossem o resultado de uma ve irregular, em geral passando por cachoeiras e cor-
ação catastrófica, isto é, os rics teriam passado a redeiras, ladeado por um vale em forma de "V". É
drenar vales anteriormente formados. No fim da- caracterizado por uma carga sedimentar pouco vo-
quele século o conceito de ação catastrófica passou lumosa, porém de granulometria grosseira. Segundo
a ser refutado, estabelecendo-se o princípio de que Davis esses rios têm excesso de energia em rela-
ção ao trabalho que devem executar, isto é, o trans-
porte da carga sólida; portanto, esta sobra de ener-
gia é gasta no aprofundamento do leito da corrente.

Com o aprofundamento do vale ocorre uma


diminuição progressiva do declive e a energia total
envolvida chega a atingir um nível apenas suficiente
para o transporte da carga sólida. Neste ponto, o
rio atinge o estádio de maturidade, o qual é carac-
terizado por um gradiente mais suave e com um
vale mais largo. É nesta fase que o rio preenche o
seu vale com sedimentos, e, depois começa a mean-
drar e erodir lateralmente. Deste modo, de acordo
com D a v i s o rio aproxima-se da senilidade,.
quando ele passa a meandrar em vales amplos e ex-
tensas planícies de inundação, incapaz de transpor-
tar materiais mais grosseiros que siltes e argilas.

O estádio "jovem" dos rios situa-se, geralmen-


te no seu curso superior. O rio Iguaçu e numerosos
cursos d'água do planalto Meridional Brasileiro apre-
sentam aspecto "senil" no curso superior próximo às
cabeceiras e aspecto "jovem" mais para jusante. No
trecho superior do curso destes rios desenvolvem-se
extensas várzeas com canais meandrantes.

O estudo dos processos fluviais sofreu grande


impulso nas últimas décadas graças ao trabalho de
numerosos pesquisadores quer no campo da En-
genharia Hidráulica, como também no campo das
Geociências. A caracterização e o reconhecimento do
Fig. 1-1 — O r i o I g u a ç u possui uma e x t e n s ã o de cerca de 910 k m , ambiente fluvial de sedimentação é importante na
2
d r e n a n d o c o m seus a f l u e n t e s uma bacia de 7 0 . 8 0 0 k m . É nave-
interpretação paleogeográfica das rochas sedimenta-
g á v e l n u m t r e c h o de 239 km e n t r e P o r t o A m a z o n a s e U n i ã o da
V i t ó r i a . A m a i o r parte de seu curso é e n c a c h o e i r a d o . O curso su- res formadas pela ação dos rios.
p e r i o r ostenta aspecto " s e n i l " r e p l e t o de m e a n d r o s e extensos
plainos d e i n u n d a ç ã o .
O reconhecimento de antigos depósitos fluviais
P r ó x i m o a sua f o z no rio Paraná e n c o n t r a m - s e as famosas Ca-
taratas do Iguaçu de beleza í m p a r . A cerca de duas dezenas de encontra aplicação prática na prospecção de bens
q u i l ô m e t r o s a m o n t a n t e da f o z , após u m a a m p l a curva e u m a
c o r r e d e i r a , as águas precipitam-se n u m p r o f u n d o canhão de e c s ã o _ minerais, cuja concentração e deposição estão liga-
r e m o n t a n t e , cujas cabeceiras são conhecidas c o m o " G a r g a n t a do das ao ambiente fluvial (ouro, diamante, cassiterita
Diabo".
A m o n t a n t e das quedas o r i o m e d e 1200 m de l a r g u r a . No entre muitos outros). No presente livro, procura-se
canhão sua largura reduz-se a 65-100 m. O n ú m e r o t o t a l de q u e -
dar ênfase à identificação de aspectos sedimentares
das isoladas chega a 2 7 2 . O d e s n í v e l do Salto Santa Maria a t i n g e
72 m. A vazão do rio varia e n t r e 3 0 0 a 6.500 m / s , sendo em ; i
que permitam reconhecer o ambiente de sedimen-
3
m é d i a de 1.800 m / s (Maack, 1968). A estas vazões c o r r e s p o n d e m
potências d e 2 5 0 . 0 0 3 a 5 . 5 0 0 . 0 0 0 C . V . (em m é d i a 1 4 8 5 0 0 0 C . V . ) .
tação fluvial.
2 - HIDROLOGIA

Qual é o conceito de rio? após as chuvas, permanecendo secos a maior parte


do ano, são chamados de efêmeros.
Geomorfologicamente o termo rio aplica-se ex-
clusivamente para designar "corrente canalizada" ou Rios intermitentes são aqueles que contêm água
confinada. Ele também pode referir-se aos canais em certa época do ano e apresentam-se secos nou-
sem água das regiões mais secas. Geologicamente tra. Eles recebem fluxo d'água a partir do lençol
a palavra rio é empregada geralmente para referir freático, quando este encontra-se suficientemente
o tronco principal de um sistema de drenagem. Em alto. Os rios que sempre apresentam água no seu
outras palavras^o rio ccnstitui um corpo de água canal, sendo alimentados por um fluxo mais ou
corrente confinada num canaf.\ menos estável do lençol subterrâneo, são chamados
perenes.
As precipitações e o fluxo do lençol subterrâ-
neo influem sobre as características do deflúvio dos
rios. De acordo com o fornecimento d'água os rios O Ciclo Hidrológico
podem ser efêmeros, intermitentes ou perenes (fig.
2-1). Os rios que não são alimentados pelo lençol O aquecimento desigual da superfície terrestre
subterrâneo e que contêm água somente durante e no equador e nas regiões polares pela energia solar,
origina o movimento das massas de ar e os ventos.
A energia solar eleva a temperatura dos mares e da
terra, evaporando a água da superfície, bem como
estimula o crescimento das plantas e provoca a trans-
piração de vapor d'água através das folhas (fig. 2-2).

A água evaporada das massas superficiais (ma-


res, lagos e rios) e do solo eleva-se na atmosfera,
umidificando o ar. Forma nuvens ou origina nevoei-
ros. Quando condensada retorna à superfície da
\—gafuracão ftrferHtifetffe
terra sob forma de chuva, neve, granizo ou orvalho.
A umidade presente na atmosfera e as nuvens des-
F i g . 2-1 — Classificação dos rios em e f ê m e r o s , i n t e r m i t e n t e s ou
locam-se de uma região para a outra pela ação dos
perenes de a c o r d o com o f o r n e c i m e n t o de água p e l o lençol sub-
t e r r â n e o e p e l o e s c o a m e n t o s u p e r f i c i a l . Os rios e f ê m e r o s n ã o são ventos.
a l i m e n t a d o s p e i o lençol s u b t e r r â n e o . Eles c o n t ê m água d u r a n t e e
após as chuvas, p e r m a n e c e n d o secos d u r a n t e a m a i o r parte do A água contida nas nuvens representa energia
a n o . O s i n t e r m i t e n t e s são a l i m e n t a d o s t e m p o r a r i a m e n t e p e l o n í v e l
potencial. Quando cai sob a forma de chuva é ca-
f r e á t i c o e l e v a d o , e n q u a n t o q u e o s perenes r e c e b e m u m f l u x o mais
o u menos e s t á v e l . paz de realizar trabalho (fig. 2-3). As águas preci-

- 3 -
pitadas sâo distribuidas pela superficie terrestre de 7 — parte é retida nas raízes ou tecidos vegetais,
varias maneiras (fig. 2-4): não voltando ao ciclo até a morte da planta;
8 — pequena parte reage quimicamente no subsolo,
participando da constituição dos minerais alte-
rados;
9 — parte pode ser retida em lagos para evaporar
mais lentamente.

Através dos rios, parte da água atinge o mar,


onde é novamente evaporada. As relações entre as
várias formas do comportamento das águas consti-
tui um sistema fechado designado ciclo hidrológico.

A infiltração ocorre até o ponto em que o supri-


mento de água exceda a capacidade do soio em ab-
sorvê-la. A capacidade de infiltração constitui o equi-
líbrio entre suprimento e ordem de infiltração. Quan-
F i g . 2-2 — A e n e r g i a soiar aquece a s u p e r f í c i e da t e r r a e das do a capacidade de infiltração for superada inicia-se
águas, p r o v o c a n d o * e v a p o r a ç ã o , u m i d i f i c a n d o o ar e o r i g i n a n d o o escoamento superficial.
as n u v e n s . Uma f l o r e s t a d e v o l v e à atmosfera na e v a p o t r a n s p i r a ç ã o
cerca de 40 a 6 0 % das c h u v a s .
O ciclo hidrológico é expresso pela seguinte
equação:

precipitação = escoamento + infiltração + evapotranspiração

F i g . 2-3 — A água e v a p o r a d a o r i g i n a as n u v e n s . As chuvas c a i n d o


sobre a s u p e r f í c i e realizam t r a b a l h o , r e g a n d o a v e g e t a ç ã o , abas-
t e c e n d o os lençóis s u b t e r r â n e o s d ' á g u a e a l i m e n t a n d o os cursos
d'água.

1 — algumas fluem superficialmente indo ter aos


córregos e riachos;
2 — outras infiltram-se e deslocam-se através do
solo indo ter aos rios ou emergindo como fon-
tes;
Fig- 2-4 — Caminhos seguidos pelas águas das chuvas ao a t i n g i r e m
3 — algumas são armazenadas no subsolo como a s u p e r f í c i e do t e r r e n o . P — p r e c i p i t a ç ã o ; e = e v a p o r a ç ã o ; et —
água subterrânea e outras permanecem adsor- evapotranspiração; i — infiltração.
vidas como umidade do solo;
4 — parte das chuvas caídas sobre o terreno e so- A evapotranspiração inclui a evaporação su-
bre a vegetação evapora-se, retornando à at- perficial e a transpiração pela vegetação. Na maio-
mosfera; ria das regiões do mundo, a maior parte das preci-
pitações é perdida por evaporação.
5 — parte é absorvida pelo tapete de detritos ve-
getais (serrapilheira) que recobre o solo das A precipitação inclui todos os tipos de água
florestas; condensada sobre o solo e o escoamento refere-se
6 — parte é absorvida pelas raízes das plantas e a quantidade total de água que chega aos rios, in-
transpirada pelas folhas, voltando igualmente cluindo o escoamento superficial imediato somado
à atmosfera; à água que chega ao curso depois da infiltração.

- 4 -
O escoamento superficial se faz na superfície Do total das precipitações 77% cai sobre os
do terreno, podendo o fluxo ser confinado em ca- oceanos e 23% sobre a terra emersa. Os oceanos
nais ou então em forma de fluxo em lençol. No pre- contribuem com 84% da evaporação verificada no
sente livro trataremos tanto dos depósitos de canais globo terrestre, enquanto que as terras emersas com
como daqueles resultantes do fluxo em lençol. apenas 16%. Os oceanos evaporam 7% de água a
mais do que a percentagem de chuvas que recebem.
Por sua vez, as terras emersas, pela evapotranspira-
Distribuição das águas no globo terrestre
ção devolvem à atmosfera 7% a menos das preci-
pitações, sendo que o excesso delas vai pelos rios
Os dados que apresentamos a seguir baseiam-se
aos oceanos onde o cicio é fechado (fig. 2-7).
em B a r r y (1973). Cerca de 7 1 % da superfície
terrestre encontra-se coberta pelas águas. Os ocea- A evaporação e evapotranspiração constituem
nos contêm 97% do total da água existente na Terra a fonte da umidade atmosférica. As maiores evapo-
(fig. 2-5). rações (excedendo 2000 mm anuais) ocorrem no in-
verno nas áreas ocidentais subtropicais do Atlântico
e Pacífico setentrionais, bem como na região dos
alísios dos oceanos meridionais. Nas áreas continen-
tais os máximos de evaporação ocorrem nas regiões
equatoriais em conseqüência da alta radiação solar
e da luxuriante vegetação tropical. A umidade at-
mosférica resulta da evaporação local, da tempera-
em area F/% e&f área 29% tura do ar e do aporte lateral de umidade. Ela con-
Í/O/Uwe de água $7% do/ume de água 3% siste de vapor d'água, bem como de gotículas e cris-
Fig. 2-5 — D i s t r i b u i ç ã o das águas na s u p e r f í c i e t e r r e s t r e .
tais de gelo nas nuvens. Nestas a quantidade de
água constitui apenas 4% do total existente na at-
De toda água disponível na terra emersa 75% mosfera. A quantidade de umidade existente sobre
encontra-se nas geleiras e nos lençóis de gelo, en- os continentes é em média 2 a 3 vezes menor do
quanto que quase 24,5% forma os reservatórios de que aquela sobre o oceano.
água subterrânea. Apenas 0,33% encontra-se nos la-
As diferenças climáticas entre as várias regiões
gos, 0,035% na atmosfera e somente 0,03% flui nos
dependem do transporte da umidade atmosférica de
rios (fig. 2-6).
uma região para outra. A quantidade de umidade
existente na atmosfera, bem como o regime de pre-
cipitações são de fundamental importância no esta-
belecimento de um determinado tipo de padrão de
drenagem regional.
Os aspectos atuais da distribuição dos continen-
tes e dos diversos regimes hidrológicos diferem
muito daqueles do passado geológico. Durante o
Quaternário ocorreram mudanças climáticas profun-
das que ocasionaram alternâncias de longas fases cli-
TfHtfdade do&/o 0,06% máticas secas ou úmidas. Estas mudanças, natural-
atmosfera 0,035%
mente interferiram na natureza variada dos depósi-
Fig. 2-6 — Á g u a d i s p o n í v e l n a s u p e r f í c i e e m e r s a d o g l o b o t e r r e s t r e
e na sua a t m o s f e r a . tos sedimentares.

nos ^ / ^ - - ~ ^

•/• / / ? / / / / / / . ' / / / / / • /
/ / / / /

Fig. 2-7 — Ciclo h i d r o l ó g i c o e s q u e m á t i c o r e l a c i o n a n d o a p r e c i p i t a ç ã o e e v a p o r a ç ã o das águas s o b r e Os c o n t i n e n t e s e o c e a n o s .

- 5 -
O exame das várias seqüências estratigráficas São Gabriel (Amazonas) 2956 mm
de origem fluvial demonstra, via de regra, a predo- Remate de Males (Amazonas) 2936 mm
minância de quadros climáticos semi-áridos caracte- Belém (Pará) 2805 mm
rizados por chuvas concentradas e regime torrencial
dos cursos d'água. Na zona serrana do Brasil Sudeste e Meridional
ocorrem os maiores índices de pluviosidade (vide
A desigualdade das condições climáticas do tab. 2-1).
passado deve-se à configuração e relevo dos conti-
nentes, extensão dos oceanos e variações das taxas Do total das chuvas caídas na bacia hidrográ-
2

de radiação solar. Estas, influenciadas muito prova- fica do Ipiranga, PR (área de 49 k m ) , a montante da
velmente, pelas mudanças da excentricidade da ór- Estação de Véu de Noiva (Ferrovia Curitiba-Para-
bita terrestre, da obliqüidade da eclítica e da longi- naguá), 6 2 % das precipitações são devolvidas à
tude do periélio. Este conjunto de fatores deve ter atmosfera (fig. 2-8). O deflúvio anual deste rio, junto
influído sobre a distribuição das precipitações e so- ao posto pluviométrico apresenta os seguintes valo-
bre o regime hidrológico dos antigos sistemas f l u - res:
viais. d e f l ú v i o médio 1415 mm
d e f l ú v i o máximo 2200 mm (em 1947)
Relação entre precipitação e escoamento deflúvio mínimo 1002 mm (em 1941)

Mais a jusante, o rio Ipiranga junta suas águas


A distribuição do vapor d'água na atmosfera no Nhundiaquara, o qual na cidade de Morretes (PR)
varia de acordo com as massas de ar responsáveis apresenta os seguintes valores para o deflúvio:
pelas diferenciações climáticas regionais. Existem
médio 2409 mm
massas mais secas e massas mais úmidas. As preci-
máximo 3043 mm (em 1966)
pitações estão ligadas à ascensão das massas de ar
mínimo 1847 mm (em 1941)
seja por convecção térmica, pelo relevo ou pela
ação frontal entre elas. Estes dados referem-se a uma área de 208 k m 2

de bacia hidrográfica localizada a montante da ci-


A média anual mundial das precipitações (chu-
dade de Morretes. Nesta localidade a precipitação é
va e neve) é de 1014mm, o que corresponde a um
3
bem menor do q u e aquela verificada para a Serra
v o l u m e d'água de 145.793 k m , dos quais apenas
3
do Mar de onde provém a maior parte das águas do
33.360 k m atingem o oceano. No globo terrestre,
deflúvio. Os valores da precipitação anual em Mor-
as precipitações são irregularmente distribuídas,
retes são os seguintes:
sendo a América do Sul o continente mais úmido e
a Austrália o mais seco. Nas regiões áridas chove médio 1754 mm
menos de 100 m m , enquanto nas regiões tropicais máximo 2393 mm (em 1957)
úmidas as precipitações vão muitas vezes além de mínimo 1078 mm (em 1964)
2000 mm e mesmo 3000 a 5000 mm por ano, como
O alto valor do deflúvio em Morretes constitui
por exemplo na Serra do Mar.
um alerta contra as conseqüências do desmatamento
A distribuição das precipitações no Brasil é bas- na bacia hidrográfica do Nhundiaquara e seus aflu-
tante irregular, seja quanto ao total pluviométrico entes. A destruição da cobertura florestal aumentará
anual ou mensal. Existem regiões onde as chuvas o deflúvio (como já vem aumentando) e modificará
distribuem-se o ano todo e outras onde elas con- as condições hidrológicas regionais, com o perigo
centram-se em determinados meses. Do regime das das corridas de lama de alto poder destrutivo ( B i -
chuvas dependem as características hidrológicas do g a r e i I a , 1974).
sistema fluvial. Os dados acima referidos nos fazem meditar
Temperatura e umidade elevadas acarretam as muito seriamente sobre as conseqüências das chuvas
chuvas de convecção na Amazônia (1500-2000 mm torrenciais prolongadas. Elas constituem sempre
de média anual). Importantes setores dessa região ameaça à estabilidade das vertentes e à segurança
recebem mais de 2500 mm (regiões do estuário, ambiental a jusante das áreas de relevo acidentado.
Amazônia Central e Ocidental — f i g . 9). Na altura Na região semi-árida do Nordeste Brasileiro as
de Óbidos-Santarém a média anual situa-se entre chuvas concentram-se em poucos meses do ano, não
1500 e 2000 m m . Os locais mais chuvosos da A m a - permitindo desenvolvimento de florestas (fig. 2-10).
zônia são: Na região dos campos cerrados há uma nítida dife-
Clevelândia (Pará) 3240 mm renciação entre estação seca e úmida (fig. 2-11).

- 6 -
Tabela 2-1

Valores médios, máximos e mínimos da precipitação na Serra do A/lar do Brasil Sudeste e Meri-
dional.

Precipitação Precipitação
Precipitação Precipitação
máxima anual máxima em
média anual mínima anual
24 horas
(mm) (mm) (ano) (mm) (ano) (mm)
Bracinho (SC) 3470 7473 (1937) 2112 (1941) 404
Véu de Noiva (PR) 3728 5363 (1947) 2487 (1942) 223
Salto do Pirai (SP) — 6575 (1947) 3319 (1948) —
Serra do Cubatão (SP) 5400 (1967) 3000 (1960) —
Curva da Onça (SP) - 4600 (1966) 2900 (1968) —
-

Fig. 2 8 — Totais das chuvas e valores d o d e f l ú v i o n o r i o Ipiranga. Véu de N o i v a , Serra do Mar,


Paraná ( s e g u n d o B i g a r e l l a e t al, 1978).

A determinação dc deflúvio depende de duas A influência do clima depende:


sérieü de fatores independentes entre si, isto é, os 1 — do tipo de precipitação;
fatores climáticos e as características físicas da bacia 2 — da intensidade e duração da chuva;
de drenagem. 3 — da distribuição da chuva sobre a bacia;

- 7 -
4 — da precipitação antecedente e da umidade do coamento corresponde aproximadamente a 3 0 % das
solo; precipitações ( T a n n e r , 1968: 952). N a bacia
5 — de outras condições climáticas q u e afetam a do rio Ipiranga, em Véu de Noiva, na Serra do Mar
evaporação e transpiração. (Paraná) verificou-se um escoamento médio de 3 8 %
das precipitações ( B i g a r e l l a , 1974).
As características físicas que afetam o deflúvio
4oo
relacionam-se com:
300
1 — área, forma e altitude da bacia de drenagem;
2 — declividade e orientação da drenagem; 26,0 20O
3 — tipo de drenagem; 7392 Hl**
ÍOO
4 — tipo de solo e sua utilização.
• 80

3ô •60

300 -40
so

10H -20

Fjg. 2-11 — D i a g r a m a o m b r o t é r m i c o de Teresina Í P l ) . Temperatura


média anual: 26,9°C. Precipitação média anual: 1392 mm. Orde-
nada à direita: precipitação em mm. Ordenada à esquerda: tem-
peratura em °C. Á r e a escura: chuvas acima de 100 mm mensais.
As áreas escuras e c o m hachurias verticais representam a estação
úmida. A á r e a p o n t i l h a d a r e p r e s e n t a a estação s e c a . Paisagem de
cerrados (segundo G a l v ã o , 1967).

7/aatfua; éan&Mtiêàfa ama/m


J p M A M %/ A S O /V D ewm/fTtaref e/f km 2 1 s
m/Jttare? de fotfek?daf~~\
em mi/ka^í d? m /
Fig. 2-9 — D i a g r a m a o m b r o t é r m i c o d a l o c a l i d a d e d e Taracua ( A M ) .
640 éb/orado lk 560
Temperatura média anual de 24,9°C, precipitação média anual de -0,77 2
no
3 4 9 6 m m . Abcissa: meses d o a n o . O r d e n a d a à d i r e i t a : precipitação
f/km
em m m . Ordenada à esquerda: temperatura em ° C . Área escura:
chuva acima de 100 mm mensais. A s áreas escuras e c o m h a c h u r i a s 775 mo
2
verticais representam a estação úmida (segundo Ga I v ã o , i/km
19Ó7).

960 -72 Í5ÕÕ:


fooo 'f/km

j u a z e i r o f%a) 3?3 ^
80
4
2 6 ° 3 2500 -76 11

gr
3200 -79 510
K\\\\\\\\v

42^ 16
4000 65
f/km
O
Fig. 2-10 — Diagrama ombrotérmico da localidade de Juazeiro 60
6700 1SÕ- 5ÔÕ
(BA). Temperatura média anual: 2 6 , 3 ° C . Precipitação média anual: f/km 2

502 mm. Ordenada à direita: precipitação em mm. Ordenada à o 20 40 60 80 100 120 140 !60 180
esquerda temperatura em °C. Área pontilhada: estação seca. Fíg. 2-12 — Bacias de drenagem, descarga anual e carga média
Á r e a com hachurias verticais: estação ú m i d a . Paisagem de caatinga anual de alguns d o s p r i n c i p a i s rios do m u n d o (baseado em dados
(Segundo G a l v ã o , 1967). de H o I e m a n , 1968 referidos por S t r a h I e r &
S t r a h l e r , 1973).

O escoamento fluvial indica a quantidade total O volume de água escoada em determ"nado


das águas das precipitações que a'cançam c canal do canal varia no decorrer do tempo em função de inú-
rio. A relação entre a precipitação e o escoamento é meros fatores, tais como, regime de precipitação,
variável de região para região dependendo de vá- condições de infiltração, drenagem subterrânea, re-
rioj fatores, entre eles, principalmente do recobri- vestimento vegetal, entre outros. Essa variação do
mento florestal. A literatura refere que da precipita- nível das águas fluviais no decorrer do ano corres-
ção média anual de cerca de 1000 mm sobre a su- ponde ao regime f l u v i a l , e o volume de água me-
perfície terrestre emersa, apenas 20% atinge o mar dido em metros cúbicos por segundo, é o débito,
através do f l u x o fluvial. Nos Estados Unidos o es- vazão ou módulo f l u v i a l . Medidas recentes indicam

- 8 -
que o débito médio do rio Amazonas pode chegar A capacidade de infiltração de um determinado
a 1 1 % do escoamento superficial anual do mundo solo durante uma chuva depende da textura e es-
todo ( O t t m a n et al., 1963). Esta cifra mostra frutura do solo, da cobertura vegetal, das estruturas
a importância do rio Amazonas na superfície terres- biológicas, da umidade prévia do solo e das condi-
tre. O gráfico da figura 2-12 compara a descarga ções da superfície. A textura refere-se ao tamanho e
anual dos principais rios do mundo. arranjo dos grãos que constituem o solo. Ela deter-
mina a porosidade e a permeabilidade, ou o volume
A relação entre precipitação e escoamento em
de água que pode ser absorvido pelo solo e a ve-
uma determinada bacia, deve levar em consideração
locidade de movimentação através do mesmo. Em
a situação anterior da mesma. Se houver uma preci-
geral, os solos mais permeáveis apresentam maicr
pitação sobre a bacia previamente supersaturada, o
capacidade de infiltração. A estrutura do solo está
escoamento será totalmente superficial, não havendo
ligada ao estado de agregação das suas partículas.
mesmo evaporação se a umidade do ar estiver satu-
Agregados "soltos" e abertos promovem rápida in-,
rada. Devido a estes e outros fatores torna-se difícil
filtração das águas. A cobertura vegetal auxilia a
o estabelecimento de uma relação chuva-escoamen-
infiltração difundindo o fluxo, preservando o solo
to. Gráficos desta relação, obtidos empiricamente,
de estrutura mais aberta. As raízes das plantas, as
são aplicáveis apenas a uma certa bacia hidrográfi-
perfurações de vermes e outras estruturas biológicas
ca, onde as medidas foram efetuadas. As diferentes
aumentam a capacidade de infiltração. A umidade
bacias são representadas por gráficos distintos.
prévia do solo, remanescente da chuva anterior, di-
A água subterrânea contribui em média com minui a capacidade de infiltração. Quando o solo
aproximadamente 30% do escoamento total. Con- fica ressequido e endurecido a capacidade de infil-
tudo, estes dados podem variar consideravelmente tração pode ser diminuída.
de acordo com as diferentes regiões geográficas
O efeito da umidade do solo deve ser consi-
( B a r r y , 1973). Nas terras emersas a média derado sob dois aspectos. No caso do solo estar com-
anual global das precipitações é de 857 mm, en- pletamente seco antes do início da chuva, o umede-
quanto que a do escoamento (deflúvio) corresponde cimento de sua parte superior desenvolve um forte
á 267 mm. Este valor é acentuadamente maior em potencial de capilaridade, imediatamente abaixo da
grandes extensões da América do Sul, Sudeste Asiá- superfície, o qual se soma a força da gravidade para
tico e arquipélago Malaio. Do valor total do escoa- provocar a infiltração (Wisler & Brater,
mento global 22% corresponde ao continente Sul- 1964). Quando os solos encontram-se umedecides, al-
americano. guns colóides incham e a capacidade de infiltração
é reduzida durante o período inicial chuva. A
ação das gotas de chuva provoca a compactação me-
Capacidade de infiltração cânica dos solos, principalmente daqueles argilosos,
reduzindo assim grandemente a capacidade de infil-
A taxa de absorção de água por um solo cons- tração das águas.
titui sua capacidade de infiltração. Ela começa por
A retirada da vegetação facilita o escoamento
um valor inicial que decresce muito rapidamente
superficial. As águas que fluem sobre o solo e nele
para atingir um valor estacionário que corresponde
se infiltram encontram-se carregadas de partículas
à capacidade de infiltração de um determinado selo.
finas (silte e argila), as quais tendem a se depositar
A precipitação que ocorrer após atingida a ra- entre os poros do solo diminuindo consideravelmen-
zão de infiltração constante, isto é, o valor da ca- te a capacidade de infiltração. Com a diminuição da
pacidade de infiltração, corresponde ao excesso de taxa de infiltração as águas correntes adquirem
precipitação, o qual fluirá cemo escoamento super- maior capacidade de erosão dos solos.
ficial. Se a chuva cair com intensidade menor do
A infiltração influi nas características hidrológi-
que a capacidade de infiltração não haverá excesso cas dos cursos d'água. Alguns rios apresentam fluxo
de precipitação. Desse modo não haverá escoamen- relativamente constante durante o ano, enquanto
to-superficial, em virtude da taxa de infiltração da que, outros são extremamente variáveis ou mesmo
água ser menor do que a capacidade do selo em intermitentes (fig. 2-1). Não resta dúvida que o fa-
absorvê-la. Donde se conclui que a capacidade de tor que desempenha maior influência na variabili-
infiltração é muito importante no controle do es- dade ou constância do fluxo dos rios, constitui a
coamento de uma bacia hidrográfica, bem como, nes fonte do abastecimento. Se esta depender principal-
problemas regionais de erosão. mente do escoamento superficial o rio apresentará
(T967-W77 )

tfftitvàe: m altitude- 1610 m fflitWs.. 1019 m


Precipitação média attuai 1316 mm 9reâipita<*ãõ média auyah 5269 mm9reeipiiaçâo média ar uai. .14-39 mm
ÕM^ofrwfpirocm) potewití- f076mm (bMpctrawptrtcdo potenciais .752 mm £Mpotra*epMC*opoteMâi--Ô49 mm
Temperatura média'... 21,3°â Temperatura média: 14° â Temperatura média: c
1?,2 é
Wmüfo&o excedei .248#fm TteâptatÕB excedei. 2517 mm &recipita(ã> excedente:.. .592mm
Oêfiâiênda: :.&w_m 9efíâiêneia- O mm deficiência- 2 mm
hídriââ.*.- 23 mm 0'ndiâe Mídr/éo- 334,? mm Dndiâe hídrico; 69,6mm

¿00-1
'Precipi-
tação
iâapofatâ-
piração

Figi, 2-13 • 2-14 — Representação grá-


fica do balanço hídrico. I — Jacarezl-
nho (baseado em H o l z m a n n ,
1 9 6 7 ) , II e III - Bacia do A l t o Rio G r a n -
de, (baseado e m C u n h a , 1978).

JFMAMJJASQND J F M A M sJ J A S 0 N D

fluxo muito variável, com grandes cheias ou peque- que nas frias. A alta temperatura favorece o cresci-
nos volumes mínimos. Quando a bacia hidrográfica mento da vegetação e aumenta a transpiração das
é formada de solos mais permeáveis ou encontra-se plantas. A quantidade de água devolvida à atmos-
recoberta de vegetação fechada, e portanto, sem fera é muito maior numa floresta do que num cam-
uma camada impermeável acima do lençol freático, po. A floresta reduz o f l u x o de água na superfície,
o escoamento superficial será mínimo ou nulo e o tornando a infiltração no subsolo mais lenta.
fluxo mais uniforme durante o ano.
A vegetação, principalmente a floresta, retarda
o escoamento superficial das águas das chuvas. Os
Evapotranspiração emaranhados das hastes de capim ou o tapete de fo-
lhas, raminhos e detritos vegetais (serrapilheira), que
A evapotranspiração compreende a evaporação recobrem o solo da floresta, absorvem a água das
da água na superfície e aquela devida a transpira- chuvas como um "mata-borrão"! A infiltração na par-
ção pelos estômatos das folhas das plantas. te superior dos solos de uma área rica em vegetação
O fato de um determinado gráfico de "precipi- é favorecida pelas minhocas e outros animais perfu-
tação x escoamento" ser válido apenas para uma radores, que abrem túneis no solo. O escoamento
superficial das águas de chuva aumenta considera-
bacia particular, está ligado ao fato de que o regi-
velmente nas regiões onde a cobertura vegetal foi
me fluvial recebe influência de vários outros fato-
removida, facultando assim grandemente sua capaci-
res além da precipitação.
dade erosiva. A erosão constitui problema sério nas
Elementos climáticos importantes são o volume, regiões montanhosas desflorestadas e de alta pluvio-
duração, intensidade e distribuição das precipitações sidade.
em uma determinada bacia. A insolação, temperatu-
ra, umidade e vento afetam a evaporação total, a A perda de água por transpiração e seu uso
umidade do solo e o crescimento da vegetação e, pelo tecido vegetal e a evaporação das superfícies
portanto, influem no escoamento. A vegetação afeta de massas de água, dos poros dos solos e da neve
o escoamento ocasionando a interceptação da água são todos grupados sob designação de evaporação,
pe!a folhagem, promovendo a infiltração e subdivi- evapotranspiração ou perda de água.
dindo o f l u x o superficial, dessa forma contribuindo
Na maioria dos casos a evapotranspiração é cal-
no armazenamento de água na subsuperfície. O efei-
culada medindo-se a quantidade de precipitação e
to da vegetação varia com seu tipo e densidade.
subtraindo-se a água escoada pelos rios (deflúvio).
A evaporação é maior nas regiões quentes do A relação entre escoamento e a evapotranspiração é

10
1250 - Í500#f*f 3 0 0 0 - 5 5 0 0 1 ? 0 0 -2200

F i g . 2-15 — Perfil t o p o g r á f i c o através da p o r ç ã o o r i e n t a l do Paraná, atravessando o p r i m e i r o p l a -


n a l t o , a Serra do M a r e o l i t o r a l . No p e r f i l estão assinaladas as f a i x a s de p r e c i p i t a ç ã o a n u a l , b e m
c o m o as médias p l u v i o m é t r i c a s anuais de a l g u n s p o s t o s . A v e g e t a ç ã o passa da f l o r e s t a de Araucária
para a p l u v i a l t r o p i c a l . As partes elevadas da serra são cobertas de v e g e t a ç ã o a b e r t a .

muito variável. Existem rios nos quais o escoamento plantas, pois ele encontra-se constantemente em sua
é superior a 50% da quantidade total das precipita- "capacidade de campo". Quando o solo não está
ções, enquanto que, em outros casos a evapotrans- com seu teor de umidade próximo à capacidade de
piração pode chegar a mais de 95% do total. campo, isto é, quando a evapotranspiração é restrin-
gida pela deficiência de umidade tem-se a evapo-
O balanço hídrico de uma bacia de drenagem
transpiração real.
tem a finalidade de fornecer a disponibilidade de
água no solo, isto é, permite quantificar as reservas
de umidade de um solo, indicando os volumes e Influência geológica
épocas das deficiências e excedentes hídricos. As f i -
guras 2-13 e 2-14 apresentam as curvas de precipi- Cada um dos fatores acima mencionados é
tação, evapotranspiração (potencial e real) e os res- grandemente influenciado pelas condições topográ-
pectivos balanços hídricos. A evapotranspiração po- ficas (fisiográficas), e geológicas da bacia de drena-
tencial corresponde àquela que ocorre num terreno gem. Entre os elementos importantes na definição
coberto de vegetação, livremente exposto à atmos- das características hidrológicas de um sistema fluvial
fera, nunca faltando umidade no solo para uso das citam-se: 1) — a altitude e orientação da bacia hidro-
gráfica; 2) — o relevo, forma e declividade da bacia
de drenagem e; 3) — a estrutura geológica, tipos de
rocha e manto de intemperismo.

Os efeitos da altitude e da orientação são prin-


cipalmente climáticos. Há um aumento na precipita-
ção e decréscimo na temperatura em altas altitudes,
que resultam em escoamentos mais pronunciados.
Veja-se por exemplo, o caso da Serra do Mar no Pa-
raná, na qual a pluviosidade é duas vezes superior a
do litoral e duas vezes e meia a do primeiro pla-
nalto (fig. 2-15). Nas montanhas em geral, isto é
válido até a linha das neves perenes, pois acima
deste limite a perda de umidade por sublimação da
neve tende a diminuir o escoamento. A orientação
da bacia hidrográfica pode influir tanto no clima
como na insolação.

A forma da bacia é importante porque influi


no tempo de distribuição da água de escoamento.
Fig. 2-16 — D i s t r i b u i ç ã o das chuvas no Brasil (isoietas m é d i a s Em geral, o escoamento direto diminui em regiões
a n u a i s ) . As regiões mais pluviosas encontram-se na A m a z ô n i a , na de relevo mais suave, favorecendo mais a infiltra-
f a i x a serrana e costeira do Brasil Sudeste e M e r i d i o n a l , e na f a i x a
costeira do leste e n o r d e s t e b r a s i l e i r o ( f o n t e : IBGE). ção.
Os tipos de rocha e do manto de intemperismo
afetam a capacidade de infiltração. Os solos ou ro-
chas permeáveis favorecem a rápida percolação da
água para o lençol subterrâneo, o qual é lentamente
descarregado nas correntes fluviais. Em conseqüên-
cia, o escoamento superficial direto é diminuído.

As atitudes das camadas, bem como outras es-


truturas geológicas são muito importantes, pois elas
influem não somente na topografia, como também
no padrão de drenagem e na forma da bacia.

Influência climática

O tipo climático regional influencia e é respon-


sável pelo recobrimento vegetal de uma determinada
área ou região. A vegetação por sua vez afeta d i -
retamente a infiltração e o escoamento. Nos referi-
mos aqui principalmente ao Brasil. Os climas com
boa distribuição anual das chuvas favorecem o re-
cobrimento florestal (vários tipos de floresta amazô-
F i g , 2'M — M a p a do Brasil com as isotermas anuais ( d i s t r i b u i ç ã o
nica, floresta pluvial atlântica, floresta de araucária,
das t e m p e r a t u r a s m é d i a s ) . A m a i o r p a r t e do Sul do País, de clima
entre outras). Quando as chuvas são mal distribuí- a m e n o , possui t e m p e r a t u r a m é d i a anual i n f e r i o r a 1 8 ° C , e n q u a n t o
das a floresta cede lugar à vegetação aberta. De q u e mais da m e t a d e do Brasil, s i t u a d o nas regiões e q u a t o r i a l e
t r o p i c a l , apresenta t e m p e r a t u r a m é d i a s u p e r i o r a 2 4 ° C ( f o n t e :
acordo com a duração da estação seca o tipo de ve- IBGE).
getação pode ser de cerrado cu de caatinga. Entre-
tanto, muitos enclaves de vegetação aberta (campo
natural, cerrado ou caatinga) são encontrados em A circulação das águas na atmosfera e nos ocea-
regiões de chuvas bem distribuídas. Contudo, eles nos depende da energia global disponível. A radia-
representam formas relíquias de paleoclimas mais ção anual recebida pelo sistema terra-atmosfera e a
severos. perda de radiação terrestre produz um saldo posi-
tivo de energia nas baixas latitudes e negativo nas
Os mapas das figuras 2-16 e 2-17 mostram va- latitudes médias e altas. Este desequilíbrio origina o
riações de precipitação e temperatura em diversas deslocamento das correntes atmosféricas e oceânicas.
regiões do Brasil. Estes parâmetros influenciam di- Qualquer mudança num dos parâmetros climáticos
retamente as relações entre escoamento e infiltra- pode causar alterações mais ou menos profundas no
ção, além de determinar as principais características conjunto precipitação-evaporação-escoa mento. Estas
dos cursos de água. mudanças, devem sem dúvida, serem consideradas
Notável é a diversificação do comportamento na interpretação dos vários terraços fluviais do Qua-
das vertentes situadas a barlavento e a sotavento no ternário. Os depósitos dos terraços mostram que não
leste e nordeste brasileiro. As primeiras apresentam só os rios brasileiros, como também os de outras re-
um recobrimento florestal, enquanto que, as segun- giões do mundo sofreram mudanças profundas no
das possuem vegetação mais aberta. Em ambas no- seu regime e dinamismo. Durante o máximo do es-
ta-se uma diferenciação morfológica e do tipo de in- tágio glacial nas regiões subtropicais a temperadas,
temperismo, causada pelas taxas diversas da infiltra- a evaporação e precipitação devem ter decrescido
ção e do escoamento, e conseqüentemente da impor- de 20%, criando aí condições de semi-aridez ( B a r -
tância dos fenômenos erosivos. ry, 1973).

- 12 -
3 - CONCEITOS FJSIOGRÁFICOS F U N D A M E N T A I S

Padrões de drenagem mos: antecedente, superimposto, conseqüente, sub-


seqüente, obseqüente, resseqüente e inseqüente.
A drenagem de uma região depende não só da
pluviosidade e topografia, como também da cober-
tura vegetal, do tipo de solo, da litologia e estru-
tura das rochas. Terrenos relativamente impermeá-
veis apresentam densa rede de drenagem, enquanto
que os mais permeáveis possuem densidade menor.
A drenagem fluvial é constituída por um con-
junto de canais de escoamento interligados forman-
do a bacia de drenagem. Esta é definida como a
área abrangida por um rio ou por um sistema flu-
vial composto por um curso principal e seus tribu-
tários (fig. 3-1). As bacias de drenagem exibem vá-
rias peculiaridades conhecidas como padrões de dre-
nagem. Estes dizem respeito à situação espacial dos
rios, a qual é em grande parte controlada pela estru-
tura geológica do terreno.
Denomina-se padrão de drenagem ao arranjo,
em planta, dos rios e riachos dentro da bacia de dre-
F i g . 3-1 — Rede de d r e n a g e m b r a s i l e i r a . Bacias h i d r o g r á f i c a s í b a
nagem ( A I I e n , 1965). Os diferentes padrões
seado em R a d e s c a , 1964).
de drenagem determinam vários esquemas de classi-
ficação dos rios e das respectivas bacias. As classifica- Os rios que entalham o terreno penetrando nas
ções podem basear-se na gênese, na geometria ou estruturas dobradas ou nas áreas cristalinas podem
no padrão de escoamento do sistema fluvial. ser classificados como antecedentes ou superimpos-
tos, dependendo da ocasião em que se verificou o
Classificação genética dos rios aprofundamento do curso. O rio antecedente é aque-
le que contrabalanceou os efeitos dos levantamentos
Nesta classificação consideram-se os rios con- tectónicos, entalhando seu curso de maneira sufici-
forme sua posição em relação às camadas rochosas. entemente rápida (fig. 3-3). Ele é pois, contemporâ-
Davis (1954) propôs várias designações considerando neo do episódio tectónico, enquanto que o rio su-
a disposição dos cursos d'água em relação a atitude perimposto produziu a incisão após o dobramento
das camadas geológicas (fig. 3-2). São usados os ter- regional.

- 13 -
Fig. 3-2 — C l a s s i f i c a ç ã o g e n é t i c a d o s r i o s c o n f o r m e sua r e l a ç ã o à s e s t r u t u r a s g e o l ó g i c a s .

eles já possuem cursos definidos, independentes da


natureza e estrutura das rochas subjacentes. Com o
tempo, toda cobertura sedimentar poderá ser remo-
vida ficando os vales profundamente embutidos nas
rochas antigas.

Os rios conseqüentes são aqueles cujo curso foi


determinado pela declividade do terreno, em geral,
coincidindo grosso modo com o mergulho das cama-
das geológicas. Estes rios f o r m a m cursos retilíneos e
paralelos fluindo rumo às partes baixas. Na Bacia
do Paraná, como exemplos de rios conseqüentes ci-
tam-se o Tietê, Paranapanema e Iguaçu.

Os rios subseqüentes são rios cujo sentido de


fluxo é controlado pela estrutura rochosa, sempre
acompanhando zonas de fraqueza, tais como falhas,
diaclasamento, rochas menos resistentes, etc. O rio
dos Patos (afluente do Tibagi) constitui exemplo de
rio subseqüente.

Os rios obseqüentes são rios q u e correm em


sentido inverso ao mergulho das camadas geológi-
cas, isto é, em sentido oposto ao dos rios conse-
qüentes. Estes rios, via de regra, possuem pequena
extensão. Em geral descem de escarpas e terminam
nos rios subseqüentes.

Fig. 3-3 — Blocos diagramas ilustrando a formação de um rio Os rios resseqüentes são aqueles que fluem no
antecedente. Note-se a passagem de um rio conseqüente ( d i a g r a m a
superior) a antecedente (diagrama inferior).

Muitos dos rios que atualmente correm sobre


as formações geológicas dcbradas, via de regra, fo-
ram nelas superimpostos a partir de uma superfície
de erosão plana, ou a partir de uma cobertura sedi-
mentar (figs. 3-4 a 3-7). A superimposição constitui
aspecto típico de muitos rios de terrenos pré-cam-
brianos do Brasil.

Todo sistema de drenagem instalado sobre co-


berturas sedimentares capeando velhas superfícies
de erosão (truncando as estruturas antigas) segue
obrigatoriamente a declividade geral do terreno.
Com o aprofundamento dos cursos, os rios passam
Fig, 3-4 — Padrão de drenagem superimposta. Aspecto típico de
a cortar as rochas do embasamento. Nessa ocasião, várias regiões pré-cambrianas brasileiras. Rio superimposto.

- 14 -
"Marmeleiro Almirante Tamandarê

Rio Barigüi

Pré- Cambriano Triassico - Jurássico


•Série Âçunguî— Formação Capirú
Piábás io

- fi/ilo Escala aproximada

[y J% - Quarfzito

F i g . 3-5 — Bloco d i a g r a m a i l u s t r a n d o a d r e n a g e m s u p e r i m p o s t a nas rochas d o b r a d a s do G r u p o A ç u n g u i nas imediações de A l m i r a n t e


T a m a n d a r ê , PR. D r e n a g e m r e t a n g u l a r c o m presença de w m d - g a p s e w a t e r - g a p s e cabeços de estratos f o r m a n d o linhas de crista ( s e g u n d o
B í g a r e l l a & S a l a m u n i , 1959).

F i g . 3-6 — N o m e n c l a t u r a r e f e r e n t e a rios
superimpostos em terrenos d o b r a d o s .

mesmo rumo dos rios conseqüentes. Nascem em ní- sentam qualquer controle geológico visível na dis-
vel topográfico mais baixo, possuem curso menor e posição espacial da drenagem. Devido à falta do
desaguam num rio subseqüente tributário do rio t r o l e estrutural tais rios tendem a desenvolver-se
c o n

conseqüente principal.
sobre rochas homogêneas representadas tanto por
Os rios inseqüentes são aqueles que não apre sedimentos horizontais como por rochas ígneas.

- 15 -
Fig. 3.7 - Aspectos morfológicos do Estado do Paraná. As letras no d e s e n h o r e f e r e m : D — G r u p o C a m p o s G e r a i s ; C = G r u p o T u b a r ã o ;
P — G r u p o Passa Dois; TJ — G r u p o São B e n t o . As linhas c o n t o r c i d a s e as cruzes r e p r e s e n t a m r e s p e c t i v a m e n t e , o c o m p l e x o c r i s t a l i n o meta-
m ó r f i c o e as intrusões g r a n í t i c a s não separadas ( s e g u n d o B i g a r e I I a , 1953).
Classificação geométrica dos padrões de drenagem regional. O conjunto apresenta forma dendrítica,
sem contudo, serem os rios inseqüentes (fig. 3-10).
Utilizando-se o critério geométrico da disposi-
ção espacial dos rios e seus afluentes, sem qualquer
conotação genética, os tipos fundamentais dos pa-
drões de drenagem são os seguintes: dendrítico ou
arborescente, em treliça, retangular, paralelo, radial,
Fig. 3-10 — O p a d r ã o de
anelar e irregular. drenagem pinada constitui
uma m o d i f i c a ç ã o d o t i p o d e n -
drítico.

Na drenagem em treliça os rios principais con-


seqüentes correm paralelamente e recebem rios sub-
seqüentes, que fluem transversalmente aos primei-
ros. Os rios subseqüentes, por sua vez, recebem
afluentes obseqüentes e resseqüentes. O controle
estrutural sobre este padrão de drenagem é muito
acentuado devido à desigual resistência das cama-
das inclinadas que afloram em faixas estreitas e pa-
ralelas. O padrão em treliça é encontrado em estru-
turas sedimentares homoclinais, em estruturas fa-
lhadas e nas cristas de anticlinais (fig. 3-11).

F i g . 3-8 — A — Padrão de d r e n a g e m d e n d r í t i c a . Os rios são


inseqüentes, aparentemente não controlados por fatores de o r d e m F i g . 3-11 — Padrão de d r e n a -
t o p o g r á f i c a ou e s t r u t u r a l . Este t i p o de d r e n a g e m d e s e n v o l v e se g e m e m t r e l i ç a , O s rios são
sobre rochas de resistência u n i f o r m e ou s o b r e o r e g o l i t o . As c o n t r o l a d o s p o r seqüências d e
rochas p o d e m ser í g n e a s , s e d i m e n t a r e s ou m e t a m ó r f i c a s . A c o m - estratos i n c l i n a d o s e paralelos
posição l i t o l ó g i c a p o d e ser u n i f o r m e ou v a r i á v e l , p o r é m a resis- apresentando resistência va-
tência à erosão d e v e ser u n i f o r m e . B — D r e n a g e m d e n d r í t i c a na riada à e r o s ã o .
r e g i ã o d e C a m p o L a r g o , PR.
A configuração da drenagem retangular consti-
A drenagem dendrítica ou arborescente apre tui uma variedade da drenagem em treliça, caracte-
senta desenvolvimento semelhante à configuração de rizada pelo reticulado ortogonal devido a bruscas
ramos de uma árvore. Este padrão desenvolve-se ti- mudanças em ângulo reto nos cursos fluviais. Este
picamente sobre rochas de resistência uniforme ou padrão é conseqüência da influência exercida por
em rochas estratificadas horizontais (fig. 3-8). A pre- falhas ou pelos sistemas de diaclasamentos (fig.
sença de confluências em ângulos retos, no padrão 3-12).
dendrítico (retanguIar-dend rítico), constitui anomalia
que freqüentemente pode ser atribuída aos fenôme-
nos tectónicos (fig. 3-9).

F i g . 3-9 — O p a d r ã o retan-
g u l a r d e n d r í t i c o estabelece-se
sob 2 rochas de c o m p o r t a -
mento h o m o g ê n e o , cortadas
p o r f r a t u r a s r e l a t i v a m e n t e es-
pacejadas . Os rios p r i n c i p a i s
sulcam o t e r r e n o s u b s e q ü e n -
temente formando um padrão
retangular ou angular, en-
q u a n t o q u e o s demais a f l u e n -
tes são de caráter inseqüer.te
e padrão dendrítico.

F i g . 3-12 — A — P a d r ã o de d r e n a g e m r e t a n g u l a r c a r a c t e r i z a d o
O padrão de drenagem pinada ( R i c c i & por muitos cotovelos em â n g u l o r e t o . Difere do padrão em treliça
P e t r i , 1965) constitui uma modificação da den- por apresentar-se mais i r r e g u l a r e com cursos menos a l o n g a d o s .
Encontra~se nas regiões o n d e as díáclases e falhas c r u z a n r s e em
drítica propriamente dita. Na verdade, os rios prin-
â n g u l o r e t o . B — Á r e a com d r e n a g e m r e t a n g u l a r em Rio Branco do
cipais são conseqüentes e controlados pelo declive Sul, P R .
A drenagem paralela caracteriza-se por cursos isolados, etc. No tipo centrípeto os rios convergem
de água que fluem quase paralelamente uns aos para um ponto central mais baixo, como as drena-
outros, em extensão considerável do terreno. Devido gens de crateras vulcânicas, depressões topográfi-
a sua disposição recebem também o nome de pa- cas, etc. (fig. 3-15).
drão em "rabo de cavalo". Este tipo de drenagem
localiza-se em áreas onde há presença de vertentes
com declividades acentuadas ou onde existam con-
troles estruturais (fig. 3-13).

F i g . 3-14 — A — No p a d r ã o radial c e n t r í f u g o os cursos d ' a g u a


i r r a d i a n v s e de uma área c e n t r a l . É t í p i c o de estruturas dômicas
ou dos relevos residuais situados acima do n í v e l g e r a l da super-
f í c i e de e r o s ã o . B — Padrão radial e n c o n t r a d o na Folha Rio Par-
d i n h o , PR, p r ó x i m o a divisa com o Estado de São P a u l o .

A drenagem anelar apresenta um padrão for-


mado por anéis concêntricos. É típica de áreas dômi-
cas profundamente entalhadas em estruturas forma-
das por camadas moles e duras (fi. 3-16).

O padrão de drenagem irregular ocorre em


áreas de levantamento ou sedimentação recentes, nas
quais a drenagem ainda não conseguiu se organiza».

Clasisficação segundo o padrão de escoamento

F i g . 3-13 — A — O p a d r ã o de d r e n a g e m p a r a l e l a revela a pre- De acordo com este critério podem ser reconhe-
sença de d e c l i v i d a d e u n i d i r e c i o n a l , c o n s t i t u í d a p o r camadas resis-
tentes de inclinação u n i f o r m e ; B — D r e n a g e m paralela a s u b p a r a -
cidos os seguintes tipos de bacias de drenagem:
l e l a , Rio São Francisco, M G ; C — D r e n a g e m p a r a l e l a a s u b p a r a l e l a , exorreica, endorreica, arreica e criptorreica. Nas ba-
Rio M a t o P r e t o , Tunas, PR. cias exorreicas a drenagem se faz em direção ao
mar. Nas endorreicas o escoamento é interno, isto é,
A drenagem radial é formada por correntes flu-
não se faz para o oceano. Neste caso as águas fluem
viais que se apresentam como raios de uma roda em
para uma depressão (playa ou lago) ou então, dissi-
relação a um ponto central. Ela pode ser do tipo
pam-se nas areias do deserto.
centrífuga quando os rios divergem a partir de um
centro mais elevado (fig. 3-14). Este tipo desenvol- No tipo de drenagem em bacias arreicas não se
ve-se em áreas de domos, cones vulcânicos, morros verifica uma estruturação hidrográfica. Este tipo é

- 18
Os canais de primeira ordem são os que não pos-
suem tributários; os de segunda ordem recebem so-
mente afluentes de primeira ordem. Os rios de ter-
ceira ordem podem receber um ou mais tributários
de segunda ordem, mas também podem receber
afluentes de primeira ordem. Os canais de quarta
ordem recebem tributários de terceira ordem e, tam-
bém de ordem inferior (fig. 3-17).

1 \ Ordem do^ ¿>a Mate


V 1? ordem
:
- i ) 29 ordem
-o- / \j I 39 ordem
( 4?ordes#
^>— r"\ T "X, N. 5? ordem

Fig. 3-15 — A — O p a d r ã o r a d i a l c e n t r í p e t o encontra-se em de- —/•••• / "\ /(''( /" ' y \


clives i n t e r n o s d-e crateras e caldeiras vulcânicas e nas depressões
fechadas. B — D r e n a g e m radial c e n t r í p e t a numa grande dolina nas 0 1000 2000 \¿ ~ / t~ V. J

imediações de Rio Branco do S u l , em Tacaniça, PR. **•* >Íi^J—

F i g . 3-17 — H i e r a r q u i z a ç ã o d o s canais f l u v i a i s na Baeta do A t t o


Rio G r a n d e , N o v a F r i b u r g o , R J ( S e g u n d o C u n h a , 1978).

Numa bacia hidrográfica, o número de rios de


F i g . 3-16 — O p a d r ã o de diferentes ordens diminui de modo regular com o
drenagem anular caracteriza-
se p o r cursos d ' á g u a de f o r -
aumento do número de ordem (H o r t o n , 1945).
ma c i r c u l a r , c o n c ê n t r i c o s e O mesmo tipo de relação parece existir entre os nú-
com p o u c o s cursos de p a d r ã o
meros de ordem dos rios e vários outros parâmetros,
radial. Ocorre em regiões
com estruturas dômicas. tais como comprimento, áreas, gradientes e relevo
da bacia.

encontrado nas áreas desérticas, onde a precipitação Usando-se estes conceitos podem ser feitas aná-
é insignificante. Nas bacias criptorreicas as águas lises lineares e areais das redes hidrográficas (Para
fluem subterraneamente, como acontece nas áreas maiores detalhes vide: C h r i s t o f o l e t t i ,
cársticas. Nestas bacias as águas podem surgir em 1974: 85-92).
fontes ou reintegrar-se à drenagem superficial.

Padrões de canais
Leis da organização de uma rede de drenagem
A geometria de um sistema fluvial reflete um
A composição de uma rede hidrográfica obe- estado de quase equilíbrio entre vários fatores in-
dece certos conjuntos de "leis" ( H o r t o n , terrelacionados. Alguns desses fatores como descar-
1945). A idéia de hierarquia fluvial permite uma ga, carga sedimentar e diâmetro dos sedimentos
análise das bacias hidrográficas através do compor- transportados, atuam independentemente dentro do
tamento das características dos rios numa ou em di- canal, pois são controlados por elementos externos,
ferentes bacias. O conceito de número de ordem foi tais como, litologia e estrutura do substrato, relevo
estabelecido para definir a hierarquização fluvial e clima ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o ,
(fig. 3-17). O sistema de H o r t o n modificado 1965). O declive do canal, por sua vez, é um fator
por S t r a h I e r encontra-se em uso corrente. dependente, comumente ajustado aos processos

•i

- 19 -
atuantes dentro do canal. Outros fatores básicos de- um canal pode ser meandrante durante os estágios
pendentes incluem a largura e profundidade do ca- de cheias e anastomosado em períodos de seca.
nal, velocidade de fluxo e rugosidade do leito. As
interrelações desses vários fatores constituem a geo-
metria hidráulica do canal.

A configuração de um rio, em planta, dentro


de uma visão ampla, é denominada como padrão de
um canal fluvial. Os rios podem adquirir várias for-
mas, como resultado do ajustamento do canal à se-
ção transversal, sendo aparentemente controladas
pela carga sedimentar transportada e pelas suas ca-
racterísticas.

A configuração de um canal é geralmente des-


crita como retilínea, anastomosada ou meandrante
(figs. 3-18, 3-19 e 3-20) (Leopold & Wol-
F í g . 3-20 — P a d r ã o de canal m e a n d r a n t e . L = c o m p r i m e n t o do
m a n , 1964; A I I e n , 1965). Na paisagem
m e a n d r o ; A — a m p l i t u d e ; r — r a i o m - d i o da c u r v a t u r a do m e a n -
m

genfido da corrente dro.

As pesadas chuvas que caíram sobre a Serra do


Mar em São Paulo e os desmoronamentos verifica-
dos no acidente catastrófico de março de 1967 em
Caraguatatuba, transformaram os cursos d'água
barra ife &d/Hietftõ depré^ao uwbral meandrantes da planície costeira em um sistema
(agradagao) anastomosado efêmero (fig. 3-22).

Embora vários fatores concorram na determina-


ção do padrão de um canal, estudos realizados por
L e o p o l d & W o l m a n (1957) demonstra-
ram que o fator básico é a relação entre declive e
descarga líquida (fig. 3-23. Essa relação é definida
7 pela expressão:
degradação
F i g . 3-18 — P a d r ã o de canal r e t i l í n e o , a ssi n ala n do a posição das 044
0,06 x Q (D
barras e os locais de a g r a d a ç ã o e d e g r a d a ç ã o .

a qual indica que para um certo declive (S) existe


determinada descarga (Q), além da qual o canal em
forma de meandros pode mudar para anastomosado.

Segundo estudos realizados por Bandeira


J r . & S u g u i o (1975) o rio Doce (ES) mu-
dou seu padrão de canal, de meandrante para anas-
tomosado (situação atual), nos últimos milênios. Pes-
quisas realizadas por B i g a r e l l a , M o u s i -
nho & Silva (1965) e B i g a r e l l a &
M o u s i n h o (1965) mostraram que durante
F i g . 3-19 — R e p r e s e n t a ç ã o e s q u e m á t i c a de um canal a n a s t o m o s a d o o Quaternário as redes fluviais brasileiras sofreram
cem barras e Ühas. profundas mudanças cíclicas em seus padrões de dre-
nagem. Em conseqüência, nas bacias hidrográficas
pode ocorrer uma gradação completa entre os vá- alternaram-se periodicamente padrões de drenagem
rios tipos extremos acima referidos. Todas as três representados, respectivamente, por canais anasto-
formas podem ocorrer associadas em uma bacia de mosados e meandrantes. No Brasil Meridional, as
drenagem (fig. 3-21). Da mesma maneira variações evidências de canais anastomosados pretéritos (em
temporais podem ocorrer na evelução de um siste- regiões onde atualmente apenas ocorrem canais
ma fluvial. Deste modo, segundo R u s s e I (1954,) meandrantes) são encontrados no alto vale do Iguaçu

- 20 -
(PR) e nos depósitos dos cinco terraços da Formação largura. No entanto, seu talvegue é geralmente si-
itaipava ( B i g a r e l l a & B e c k e r , 1975), nuoso devido ao desenvolvimento de barras laterais
no vale do Itajaí-Mirim (SC). dispostas alternadamente em cada margem (fig.
3-18).

F i g . 3-22 — D u r a n t e os d e s m o r o n a m e n t o s o c o r r i d o s na r e g i ã o de
C a r a g u a t a t u b a (1967) as planícies aluviais c o m canais m e a n d r a n t e s
f o r a m t e m p o r a r i a m e n t e t r a n s f o r m a d a s n u m sistema a n a s t o m o s a d o .
em v i r t u d e ao excesso de carga t r a n s p o r t a d a pelas áquas c o r r e n t e s .

1I
\ o flua.
•ÇTfféá
O

^>
o
1

o
Y IX . o

F i g . 3"21 — Planície a l u v i a l do Rio Paraná na r e g i ã o de Santa Fé,


A r g e n t i n a . A — mapa assinalando trechos anaitomosados e mean-
Í/ÍOOOO 1/WOO
f r/roo r/fô
d r a n t e s ; B — canais a n a s t o m o s a d o s ; C — canais m e a n d r a n t e s .
Fig. 3-23 Relação e n t r e d e c l i v e e descarga (modificado de
L e o p o I & W o I m a n , 1957).
Canais reti líneos

Os canais retilíneos são relativamente pouco O fluxo e o modelo deposicional dos canais re-
freqüentes quando comparados aos outros padrões. tilíneos são semelhantes aos dos canais meandran-
Possuem sinuosidade desprezível em relação a sua tes, caracterizados por baixo volume de carga de

- 21 -
apresentar canais largos, rápido transporte de sedi-
mentos e contínuas migrações laterais. Os desloca-
mentos laterais dos canais ligam-se às flutuações na
vazão líquida (descarga) dos rios. Segundo D o e -
g I a s (1962) podem ser enumerados quatro fato-
res principais que, coexistindo ou não, podem de-
terminar as variações do fluxo fluvial favorecendo,
em conseqüência, o estabelecimento do padrão anas-
tomosado. Estes fatores compreendem as condições
climáticas, a natureza do substrato, a cobertura ve-
getal e o gradiente.

a) Condições climáticas — Os climas áridos ou


semi-áridos com precipitações violentas e longos pe-
ríodos de estiagem, bem como, os climas frios com
pesadas nevadas e degelo rápido favorecem a for-
mação de canais anastomosados. Estes ocorrem não
apenas nas regiões tropicais e subtropicais semi-ári-
das, como também nas regiões periglaciais.

b) Natureza do substrato (solo) — Quando na


área de drenagem a natureza do terreno é consti-
tuída por solos impermeáveis, verifica-se uma d i f i -
culdade de infiltração e de suprimento contínuo de
água, no subsolo, o que por sua vez, propicia um
escoamento rápido na superfície.

Fig, 3-24 — Canais a n a s t o m o s a d o s n o n o r t e d o A l a s c a .

fundo, alto volume de carga suspensa e declividade


acentuadamente baixa. A erosão ocorre ao longo das
margens mais profundas e a deposição nas barras
de sedimentos. Este padrão é bem desenvolvido em
planícies deltaicas de deltas construtivos.

Canais anastomosados

Os rios de canais anastomosados caracterizam-


se por sucessivas ramificações e posteriores reen-
contros de seus cursos, separando ilhas assimétri-
cas de barras arenosas (figs. 3-24 e 3-25). Estas
barras de sedimentos que dividem o canal fluvial
em múltiplos canais durante os períodos de secas,
podem ficar submersas em períodos de enchentes.

Uma vez formadas, estas barras arenosas po-


dem ser estabilizadas pe!a deposição de sedimentos
mais finos em fase subseqüente a um período de
enchente. Em etapa posterior pode-se estabelecer
uma cobertura vegetal que, além de díficuitar a
erosão, favorece a deposição de mais sedimentos
finos.

Os rios anastomosados caracterizam-se por Fig. 3-25 — Canais a n a s t o m o s a d o s no n o r t e do A l a s c a

- 22 -
c) Cobertura vegetal — A cobertura vegetal O padrão meandrante é característico de rios
pouco desenvolvida ocasiona forte escoamento su- com gradiente moderadamente baixo. Nestes rios as
perficial e conseqüentemente denudação rápida do cargas em suspensão e de fundo encontram-se em
terreno com fornecimento de muitos detritos para os quantidades mais ou menos equivalentes. Os rios
sistemas fluviais. de canais meandrantes são caracterizados por fluxo
contínuo e regular. Eles possuem, em geral, um
d) Gradiente — O fator gradiente torna-se im-
único canal que transborda as suas águas no perío-
portante quando a declividade é muito acentuada,
do das chuvas.
como aquelas encontradas em zonas de piemontes
ou em regiões próximas às escarpas de falhas. Os canais meandrantes são encontrados mais
comumente nos rios das regiões úmidas cobertas por
Aqui cabe um lembrete de ordem prática a
respeito do manejo do meio ambiente. Toda vez vegetação. Nestas regiões as proporções de descar-
que o Homem interfere na paisagem, surgem dese- ga sazona! são estáveis e a carga de sedimentos
quilíbrios de caráter mais ou menos grave. Dos fa- transportados é relativamente baixa em virtude da
tores acima referidos, o Homem pode atuar de ma- topografia suavizada e da cobertura vegetal. A ve-
neira muito significativa na cobertura vegetal. O getação tem um efeito inibidor sobre a erosão tanto
uso do solo e o desmatamento desenfreado vêm cau- nas cabeceiras quanto nas margens do canal.
sando sérios problemas que tendem a agravar-se
com o tempo. Em algumas regiões amazônicas como, O mecanismo que controla o estabelecimento
por exemplo, no trecho do rio Purus, compreendido
entre Serra Madureira (Acre) e Boca do Acre (Ama-
zonas), está se procedendo a um intenso e extensivo
desmatamentc. A cobertura vegetal aí constitui o
agente minimizador das diferenças de vazão líquida
entre os períodos de cheia e de vazante. A retirada
da vegetação, nesta e noutras regiões drenadas por
rios que fluem sobre sedimentos cenozóicos pouco
coerentes, resultará em futuro próximo, em mudan-
ças nos regimes fluviais, os quais passarão a carac-
terizar-se por vazantes acentuadas e cheias catas-
tróficas. Com estas mudanças surgirão padrões típi-
cos de canais anastomosados durante as estiagens.

Os rios anastomosados são caracterizados por


grande volume de carga de fundo e gradiente rela-
tivamente alto. Tais cursos desenvolvem-se, normal-
mente, associados a leques aluviais, leques deltaicos,
ambientes semi-áridos e planícies de lavagem de
depósitos glaciais. Secções transversais de seus vales
evidenciam canais rasos e grosseiramente simétricos,
enquanto que, o perfil longitudinal ao longo do
seu canal principal apresenta cavidades relativamen-
te profundas e protuberâncias irregulares.

Canais meandrantes

São canais sinuosos, assim denominados a par-


tir do rio Meandro na Ásia Menor, que possui esta
forma. Secções transversais no ponto de máxima in-
flexão evidenciam um canal assimétrico, bastante
profundo e abrupto na margem côncava, ascenden-
do suavemente na margem convexa. Em trechos re-
tilíneos entre dois meandros adjacentes os canais são F i g . 3"26 — Canais m e a n d r a n t e s do r i o I t a j a r A ç u na r e g i ã o de
I t a j a ! SC. As barras de m e a n d r o o c o r r e m associadas aos f e i x e s
aproximadamente simétricos (fig. 3-26). d e restinga d e o r i g e m m a r i n h a .

- 23 -
dos canais meandrantes não é perfeitamente conhe- g o , 1973). A paisagem da planície aluvial apre-
cido. A circulação helicoidal (em redemoinho) é con- senta grande desenvolvimento de linhas de escoa-
siderada como fator dominante no processo de sedi- mento, bem como, numerosos canais abandonados,
mentação de um meandro. lagunas, banhados, pântanos, etc. Como elementos
Os canais meandrantes possuem competência e morfológicos são notórios os diques marginais, que
capacidade de transporte mais baixas e uniformes aparecem como elevações paralelas aos cursos de
do que os canais anastomosados. Portanto, os pri- água (atuais ou abandonados). De acordo com
meiros transportam materiais de granulação mais I r i o n d o (1972) a planície aluvial do curso mé-
fina e mais selecionada. Outros fatores, tais como, dio do Rio Paraná é composta das seguintes unida-
duração dos picos de descarga, geometria do canal des geomorfoiógicas:
e desenvolvimento de diques naturais são também
importantes na definição do padrão do canal. 1 — Depósitos de canal: a) — plaino de bancos; b)
plaino de meandros. No plaino de bancos po-
dem ocorrer depósitos de rompimento de di-
O médio Rio Paraná — um exemplo de padrões de
ques.
canais na Argentina.
2 — Depósitos de inundação: plaino com "escoamen-
No presente item, além dos aspectos geomor- to impedido".
foiógicos da paisagem dos canais, são igualmente
referidos assuntos relativos aos processos e sedi- Nas figuras 3-27, 3-28 e 3-29 estão represen-
mentos fluviais. Na Argentina, a planície aluvial do tados vários padrões de canais encontrados no curso
Rio Paraná amplia-se para jusante, reduzindo-se ao médio do Rio Paraná na Argentina. Demais detalhes
mesmo tempo a largura do canal principal ( D r a - sobre a formação dos sedimentos vide capítulo 7.

- 24 -
4 - D I N Â M I C A DA Á G U A CORRENTE

Conceitos básicos O fluxo das águas e a geometria do canal são


influenciados pelos seguintes parâmetros, os quais
O conhecimento das características fluviais é auxiliam a compreensão do transporte dos sedimen-
importante não somente no que concerne aos recur- tos ( S i m o n s , 1973).
sos hídricos, tanto do ponto de vista da hidráulica e
a) Massa (m).
do controle da erosão, como também do ponto de
vista sedimentológico, geomorfológico e do planeja- b) Peso (P = gm), onde " g " corresponde a
mento regional. aceleração da gravidade.

A turbulência das águas e a velocidade relacio- c) Densidade — Massa por unidade de volume
nam-se cem o trabalho que o rio executa, isto é, (Q = ). A massa relaciona-se com a inércia. Os
erosão, transporte e deposição dos sedimentos detrí- V
ticos. Para analisar-se a importância do trabalho flu- fluidos densos exigem maiores quantidades de ener-
vial deve-se considerar a energia do rio, tanto na gia para alterar o seu estado de movimento. Entre-
sua forma potencial como cinética. O fluxo das águas tanto, eles possuem maior capacidade de transporte
transferma, como sabemos, a energia potencial em por arraste. P. ex.: o ar e a água são dois fluidos de
energia cinética deduzidas as perdas para vencer as densidades muito diferentes; o primeiro necessita de
forças resistentes ao movimento (fricção). muito pouca energia para ser colocado em movimen-
to, contudo, sua capacidade de arraste (ou erosão) é
No curso superior, a energia potencial trans-
muito pequena quando comparado com a da água.
forma-se parcia!mente em energia cinética que mo-
A densidade da água pura a 1 atm. e a 0°C é de
dela o curso e vence a resistência ao movimento. Ao 8
999,8 k g / m .
longo do trecho considerado, a velocidade do fluxo,
sofre modificações devidas a obstáculos diversos que d) Peso específico — Peso por unidade de vo-
causam maior ou menor resistência (fricção) ao mo- lume (y)
vimento das águas. No curso inferior estável a ener- P gm
gia potencial é utilizada na conservação do movi-
mento. Neste trecho a energia potencia! é quase que
e) Viscosidade (fi) - É a resistência apresen-
totalmente consumida para vencer as forças resisten-
tada pelos fluidos a uma deformação. Quanto maior
tes ao fluxo.
a viscosidade tanto maior a capacidade de arraste.
A energia disponível para o trabalho fluvial A viscosidade da água a latm. e a 0°C é de 17,9 x
4

aumenta quando a fricção diminui, seja pela suavi- IO" kg/m.s.


zação do curso ou pela redução do perímetro mo- f) Tensão tangencial (r) relaciona-se com a vis-
lhado. cosidade.

- 25 -
g) Temperatura — afeta ligeiramente a densi- em metros. O raio hidráulico traduz a eficiência da
dade e significativamente a viscosidade. secção transversal. Quanto maior for o valor de Rh
tanto maior é a facilidade de f l u x o , independente-
Ao longo do curso de um rio a energia poten-
mente da natureza do leito.
cial é igual ao peso da água multiplicado pela d i -
ferença de cota entre dois pontos considerados no Compondo as equações (5) e (6):
cálculo. A energia cinética é igual a metade da mas-
^a da água multiplicada pelo q u a d r a d o da veloci- 1
Rh / 6

1
V Rh^.S ^
dade. Estas relações são expressas pelas seguintes
fórmulas:
1
Rh^.S ^
E-p = P.h (2) V = (8)

2
mV
Ec = (3)
IT
Et = Ep + Ec (4)

o n d e : Ep = energia potencial; Ec = energia cinéti-


ca; Et = energia total; P — peso da água; h = d i -
ferença de cota entre dois pontos; m = massa da
água e V = velocidade. úrea pao/hada
^eríweffo ni o/h a do
A velocidade das águas de um rio depende da
declividade, do v o l u m e das águas, da f o r m a da sec- Fig. 4-1 — Secção t r a n s v e r s a l de um canal indicando o perímetro
molhado e a área molhada.
ção, do coeficiente de rugosidade e da viscosidade
da água. Para quantificar a velocidade a fórmula
mais usada é a d e C h è z y , q u e define a ve- Qualquer alteração da eficiência do f l u x o (Rh),
locidade em função do raio hidráulico (Rh) e da de- da declividade (S) ou mudança da natureza do con-
clividade: torno " n " (rugosidade), altera a velocidade das águas,
e conseqüentemente as condições de transporte, de-
V = C V Rh.S (5) posição ou erosão. Um decréscimo no valor numé-
rico da declividade cu do raio hidráulico, ou um
o n d e : V = velocidade média; C = parâmetro q u e aumento do número de M a n n i n g (rugosidade) oca-
traduz a fricção; Rh — raio hidráulico e S = decli- sionam um decréscimo na velocidade e portanto,
vidade. O valor de C é inversamente proporcional parte da carga é depositada. De maneira análoga,
ao número de M a n n i n g (n): condições opostas aumentam a capacidade de trans-
porte do rio.
1 6
Rh /
(6) O seguinte exemplo numérico baseado na mor-
n
fologia de dois canais diferentes, isto é, de períme-
Nesta expressão " n " é função somente das caracte- tros molhados distintos, esclarece a variação do raio
rísticas do contorno (liso, rugoso, muito rugoso, e t c ) . hidráulico, supondo-se que ambos canais possuem
áreas molhadas iguais e mesmos valores de rugosi-
O raio hidráulico corresponde ao quociente da dade e declividade.
área da secção transversal molhada pelo perímetro
molhado (fig. 4-1). Para uma secção molhada semicircular com área
Q
7TV

área molhada (7)


Rh = de — o p e r í m e t r o molhado será 7 r r . De acor-
perímetro molhado
do com a equação (7):
No perímetro molhado atuam as forças resisten- 77 r 1
Rh =
tes ao escoamento (tensão tangencial). Quanto me- 77 r
nor for o perímetro molhado para uma mesma área
molhada tanto maior será o valor de Rh, expresso Para uma mesma área molhada, porém com for-

- 26 -
7T r* rio mantém-se em condições estáveis. Se existir um
mato quadrado teremos a área de . O lado excesso de energia, esta é usada para ercdir os la-
2
da secção quadrada será: dos e o fundo do canal contribuindo para um au-
mento de carga para juzante. Se a energia for me-
nor do que aquela capaz de transportar toda carga,
VÍlrW
parte dela é depositada diminuindo assim o total da
I = ^ = 1,25 r
2 carga.

O perímetro molhado da secção quadrada é A erosão, transporte e deposição são proces-


igual a 3 I, ou 3,75 r. sos que não podem ser separados. Eles são interde-
pendentes dentro de relações constantemente mu-
Aplicando-se a modificação da equação de Chè- táveis do fluxo e da carga existente. Não se pode
zy (8) teremos: considerá-los separadamente. Eles alternam-se com o
decorrer do tempo de acordo com a velocidade do
a) Para a secção semicircular:
fluxo da água.

2 3 ,/2
A capacidade de erosão de um rio depende,
0,63r / .S principalmente, das partículas por ele transportadas,
V =
n n do que do volume de água. A ação corrasiva tende
a eliminar a rugosidade do fundo. Os movimentos
b) Para a secção quadrada: turbulentcs verticais ou horizontais são de grande
r \ 2/3
2/3 importância, abrindo caldeirões nas rochas (fig. 4-3).
1/2

2,39 S 2
0,56 r / . S 3 1/2

O fluxo da maioria dos rios aumenta para ju-


V =
zante, assim como sua carga. Esta aumenta de tal
sorte a não haver um incremento na capacidade ero-
Dos dados acima podemos verificar que na sec- siva. Se por qualquer razão o fluxo diminuir ocorre-
ção semicircular a velocidade é 12,5% maior do que rá deposição.
na secção quadrada de maior perímetro molhado
Nas soleiras a dissecação é pequena ou quase
(fig. 4-2).
nula; conseqüentemente, a montante delas o enta-
Ihamento é dificultado. O excesso de energia aí exis-
tente é empregado no alargamento do vale. Teori-
camente as ações erosivas e deposicionais propa-
gam-se para montante, onde o gradiente é cada vez
maior. Na prática, porém, os rios apresentam-se con-

Z
fperíwefro wo/hado é igtía/ a
L
3,/4f6A 3^=3,75-
(£etfff-âÍFetf/0r) (quadrado)

4-2 — Relação e n t r e p e r í m e t r o m o l h a d o e v e l o c i d a d e do f l u x o .

Quando uma corrente supera a fricção interna,


ela dispõe de excesso de energia que a torna capaz
de vencer a fricção externa contra os lados do leito,
bem como de transportar o material sólido que lhe é
fornecido.

As partículas sólidas desgastam-se entre si,


além de exercerem ação corrasiva no leito. Este pro-
cesso de corrasão verifica-se sempre que o material
sólido em movimento esteja em contato direto sobre
o substrato rochoso. Se a energia disponível para o
F i g . 4-3 — Caldeirões a b e r t o s no leito rochoso do rio Tietê por
transporte da carga sólida for suficiente, o leito do m o v i m e n t o s t u r b u l e n t o s verticais. Salto, SP.

- 27 -
trolados por importantes níveis de base regionais
q u e subdividem o curso em setores com perfis de
equilíbrio próprios.

As águas correntes provocam erosão não só


peio impacto hidráulico, como por ações corrasivas
e corrosivas. Na corrasão as partículas em transporte
apresentam um efeito abrasivo sobre as rochas e
sobre as outras partículas. A corrosão resulta na dis-
solução de material solúvel por ocasião da percola-
ção da água. A erosão provê a carga a ser trans-
portada peia corrente. A carga compreende não ape-
nas o material sólido arrastado no fundo ou carre-
gado em suspensão, como também o material solú-
vel de origem diversa (fig. 4-4).

<?eea

Wa¿/e/?a

Fig. 4-4a — Evolução de uma seção transversal ao Ribeirão do


R a t o ( N W d o Paraná) d e s d e q u a n d o a área era c o b e r t a p o r f l o r e s t a s
50 ?0O 200
-I I —I até a situação hodierna (modificado de B i t t e n c o u r t ,
1978).

1
s. d. = sa/s disso/o /c/os
cs = carga suspensa
F i g . 4-4 — D i a g r a m a i l u s t r a t i v o das cargas s ó l i d a s e d i s s o l v i d a p a r a
alguns rios brasileiros nos períodos das chuvas e das estiagens
( b a s e a d o em d a d o s de G i b b s , 1967).

Na corrente são encontradas partículas que se


deslocam em suspensão, bem como aquelas que se
K ZO 40 60 80 KC 100 *0o SOO SOO 1000 1OO0
movem por saltação ou rolamento. O deslocamento Concentração de £Ó/idoí> et*i t*fg/£

em suspensão ou por saltação depende da turbu- Fig. 4-4b — Variação da concentração de sólidos em suspensão
com a vazão do rio Ivaí, em N o v o P o r t o T a q u a r a (PR) (segundo
lência do f l u x o e da velocidade de precipitação da
B i t t e n c o u r t , 1978).
partícula. A ação de remoção de uma partícula do
leito é função não apenas das forças hidrodinámi-
cas sobre ela exercidas, bem como de uma série de partículas vizinhas. Existe uma força crítica de tra-
outros fatores, incluindo f o r m a , tamanho, saliência ção, bem como uma velocidade crítica do fluido
sobre o f u n d o e das relações de contacto com outras para que a partícula se movimente.

- 28 -
A velocidade crítica corresponde a menor velo- sam ao repouso. A área em forma de cunha entre as
cidade requerida para que uma partícula de deter- duas curvas corresponde ao regime de transporte.
minado tamanho movimente-se no leito do canal. A
importância da velocidade crítica para o movimento
e transporte das partículas acha-se ilustrada no grá-
fico clássico d e H i u l s t r õ m (fia. 4-5).

f\| Cr, IA

53" Cí
TTTtti DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS EM MM *~
J A S i O IV D
"Verão • Üufotf0 Fig. 4-5 — G r á f i c o i l u s t r a n d o o e f e i t o da v e l o c i d a d e da c o r r e n t e
sobre sedimentos de diferentes granulações. N o g r á f i c o e s t ã o assi-
naladas as áreas o n d e verifica-se a ação da e r o s ã o , do t r a n s p o r t e
Fig. 4-4c — Variação mensal da pluviosidade, concentração de
e da d e p o s i ç ã o { s e g u n d o H j u I s t r õ m , 1935: 29&).
s ó l i d o s e m suspensão a v a z ã o l í q u i d a , r e s p e c t i v a m e n t e n o R i b e i r ã o
do Rato e no Arroio Guaçu, bacia do rio Ivaí (segundo B i t -
t e n c o u r t , 1978).

Uma vez iniciada a movimentação de uma par- Competência, capacidade e carga de transporte
tícula, o comportamento subseqüente desta, é, em
grande parte, função de sua velocidade de precipi- A maior parte dos detritos originados pela in-
tação (decantação). Por exemplo, são necessárias temperização das rochas são transportados para o
maiores forças para colocar em suspensão as argilas mar em várias etapas pela ação dos rios. As corren-
encontradas no fundo do que os sedimentos areno- tes fluviais carream a carga sedimentar de diferen-
sos. Estes por sua vez depositam-se mais rapidamen- tes maneiras, conforme a granulação das partículas e
te, enquanto que as argilas permanecem em suspen- as características inerentes às próprias correntes.
são em virtude de sua menor velocidade de decan- O fluxo fluvial é caracterizado pela descarga (lí-
tação. quida) de acordo com a expressão:
O gráfico de H j u l s t r õ m (fig. 4-5) mos-
tra as relações hidrodinámicas envolvendo erosão, Q = A . V (9)
transporte e sedimentação. A curva superior indica as
velocidades críticas necessárias para iniciar a movi- Esta equação demonstra que a vazão (Q) depende
mentação das partículas de diferentes diâmetros. da área (A) da secção do canal e da velocidade (V)
Para movimentar partículas de um micron de diâ- do fluxo.
metro são necessárias velocidades superiores a 100
cm/s (3,6 k m / h ) . A velocidade crítica diminui até A relação da secção do canal com a velocidade
um valor mínimo de cerca de 20 cm/s (0,72 k m / h ) de fluxo determinará o tamanho máximo do mate-
para diâmetros entre 0,1 a 0,5 mm. Para partículas rial que pode ser movido (competência do rio) e o
maiores a velocidade crítica aumenta novamente pa- volume de carga transportada (capacidade do rio).
ra mais de 100 cm/s no caso de seixos com mais Ambos dão a idéia quantitativa de trabalho das cor-
de 10 cm de diâmetro. rentes fluviais. A carga é a quantidade de material
transportado seja em suspensão (carga suspensa) ou
Na área situada acima da curva superior (fig. ao longo do leito do rio (carga de fundo). A carga
4-5) verifica-se o regime erosivo, no qual as partí- suspensa ou carga de sedimentos em suspensão é
culas são colocadas em movimento. Na área locali- constituída de partículas de granulação reduzida (sil-
zada abaixo da curva inferior tem-se o regime de te e argila), que são tão pequenas que se conservam
deposição, no qual as partículas transportadas pas- em suspensão na água em fluxo turbulento. A carga

- 29 -
de fundo ou carga de leito do rio é formada por siva do rio sobre o fundo e sobre as margens, mas
partículas maiores com granulação de areia, casca- também da lavagem das vertentes efetuada por es-
lho ou fragmentos de rochas que deslizam ou saltam coamento superficial. Tais fatos sugerem também
ao longo do leito (fig. 4-6). Têm-se ainda os consti- que a maior parte da carga detrítica é transportada
tuintes intemperizados das rochas que são transpor- durante as fases iniciais de enchente, quando as
tados em solução química formando a carga dissol- descargas líquidas são muito altas.
vida

F i g . 4-6 — T r a n s p o r t e da carga d e t r í t i c a em f u n ç ã o cb g r a n u l a ç ã o F i g . 4-7 — C o r r e l a ç ã o e n t r e carga s ó l i d a e descarga l í q u i d a do rio


do material e velocidade do f l u x o . C u b a t ã o , SP. ( s e g u n d o S u g u i o & K u t n e r , 1969).

As cargas suspensa e dissolvida são transporta- A granulometria dos sedimentos fluviais de-
das na mesma velocidade em que a água flui. Os cresce gradativamente rumo a jusante, indicando
sedimentos em suspensão são carregados enquanto uma diminuição na competência do rio. Os diâme-
a turbulência e velocidade de transporte forem sufi- tros dos materiais que constituem a carga de fundo
cientes para mantê-los suspensos. Quando a veloci-
decrescem de acordo com a equação:
dade do fluxo decresce atingindo o limite crítico,
as partículas sedimentam. Enquanto isso a carga de K s L
D = D . e" 0 - (11)
leito move-se muito mais lentamente do que a água,
porque os grãos deslocam-se de modo intermitente onde: D = diâmetro médio das partículas a uma
(saltação). distância L ao longo do canal; D = diâmetro, mé- 0

dio das partículas onde L — 0; e = número " e "


Admite-se, em geral, que a carga de leito seja
(base dos logaritmos naturais) e; K — constante 5
aproximadamente 10% a 20% da carga em suspen-
relacionada à variação de energia de montante para
são. Entretanto, nos rios anastomosados a carga de
jusante (fig. 4-8).
leito pode exceder a 50% da carga total.
Esta redução no tamanho das partículas era ex-
Existe, em certos casos, boa correlação entre a
plicada pela suposta diminuição da velocidade das
carga em suspensão e a vazão líquida dos rios. Para
águas. Porém, esta hipótese foi abandonada uma
o rio Cubatão em São Paulo, esta correlação foi de-
vez que foi verificado que a velocidade permanece
monstrada por Suguio & Kutner (1969)
constante, ou mesmo aumenta pelo aprofundamento
(fig. 4-7). Esta relação representada por uma linha
do leito do rio tornando o fluxo mais eficiente.
reta em papel bÜogaritmo pode ser definida pela
L e o p o I d (1953) concluiu que a redução na
expressão:
competência ao longo de um curso de água era de-
Q = p(Q )
s L
j
(10) vida à diminuição da tensão tangencial. Esta, por
sua vez, no leito de um rio, é proporcional ao pro-
onde: Q = carga em suspensão em toneladas por
s duto da declividade pelo raio hidráulico. Como para
dia; G = descarga líquida (débito) em metros cúbi-
L muitos casos, o raio hidráulico é aproximadamente
cos por dia; p e ¡ = constantes numéricas. Os valo- igual à profundidade média, pode-se dizer que a
res típicos para ¡ estão entre 2,0 e 3,0, indicando tensão tangencial é proporcional ao produto da de-
que a carga sólida em suspensão e, portanto, tam- clividade pela profundidade média. Nos cursos de
bém a carga de leito, aumentam em proporção mui- água verifica-se um aumento de profundidade à ju-
to maior que qualquer outro elemento em função da sante, bem como uma diminuição de declividade que
descarga líquida. A causa principal dií;so é que a contribuem para reduzir a tensão tangencial e conse-
carga detrítica não provém semente da ação abra- qüentemente a competência fluvial.

- 3n -
éórrego Ufo £o¿trenco
Í%to õratfcfe

AZ M

F i g . 4-8 — C o m p o s i ç ã o g r a n u l o m é t r i c a do m a t e r i a l de f u n d o do l e i t o do A l t o Rio G r a n d e . A — p e r f i l l o n g i t u d i n a l do r i o c o m a localização


das a m o s t r a s ; B — h i s t o g r a m a s da c o m p o s i ç ã o g r a n u l o m é t r i c a ; C — d i a g r a m a de f r e q ü ê n c i a a c u m u l a d a ao l o n g o do p e r f i l do r i o (baseado
em C u n h a , 1978).

D e acordo com Simons & Richard- que o rio Paraíba, em Barra do Pirai, transporta 43 g
s o n (1961) a tensão tangencial é expressa pela de material dissolvido e 550 g de material em sus-
seguinte fórmula: pensão por metro cúbico de água durante o mês de
agosto (estação seca), enquanto que no mês de ja-
r = y.P.S (12)
0
neiro (estação chuvosa) ele carrega 10g de material
dissolvido e 1200g de material em suspensão por
onde: T = tensão tangencial; Y — pesos específi-
0
metro cúbico d e água ( C h r i s t o f o l e t t i ,
cos do fluido e do sedimento; P — profundidade da 1974).
corrente e S = declividade do gradiente energético.
A tensão tangencial quando multiplicada pela velo- De acordo com G i b b s (1967) o rio Amazo-
3

cidade V, define um parâmetro denominado "ener- nas transporta em média 3 6 g / m de sais dissolvidos
3

g i a " ou "potência" da corrente (stream power): e 9 0 g / m de sólidos em suspensão. A concentração


de sais dissolvidos é maior na estação seca, verifi-
Ec = r . V 0 (13) cando-se uma diluição durante a época chuvosa. A
carga sólida em suspensão é, via de regra, maior
onde: Ec = energia da corrente e V = velocidade.
na estação das chuvas. Na bacia Amazônica, os aflu-
Quando se aumenta progressivamente a veloci- entes oriundos da região andina ou das áreas de cer-
dade da corrente aquosa em função da granulação rados, possuem carga detrítica mais elevada em com-
do material do fundo, o valor do parâmetro "energia paração com aqueles que drenam as regiões flores-
da corrente" é muito importante na compreensão tadas (fig. 4-4).
das sucessivas formas de leito assumidas pelo fundo
A influência do recobrimento florestal é bem
arenoso movediço e incoesivo.
demonstrada no vale do Ribeirão do Rato, no Noro-
Nos rios brasileiros a carga em suspensão é este do Paraná. No perfil I da figura 4-4a está es-
bem maior que a carga dissolvida, principalmente quematizado o aspecto do vale do Ribeirão do Rato
nos períodos mais chuvosos. As medições mostram com a floresta. O talvegue era então íngreme e apre-

- 31 -
sentava-se encaixado nos arenitos da Formação Caiuá. contribui para o entulhamento das grandes represas,
No leito não havia grande acúmulo de sedimentos. limitando consideravelmente sua utilização em f u -
A perda de solo por erosão era mínima. Com o des- turo relativamente próximo.
matamento, seguido do plantio do café, a superfície
do terreno ficou desprotegida (perfil II, f i g . 4-4a) e Tipos de movimento e energia da água corrente
sujeita a forte erosão. O excesso de detritos proveni- Nos canais abertos pode-se encontrar vários ti-
entes da erosão das encostas não pôde ser eva- pos de movimentos do fluido. Entre eles destacam-se
cuado pelo rio. Dessa forma õ vale foi entulhado por os fluxos laminares e os turbulentos. O tipo e as ca-
sedimentação intensa, quando a taxa de erosão era racterísticas do fluxo variam grandemente em fun-
máxima nas vertentes. Com o abandono do cultivo ção de certos parâmetros não dimensionais.
do café, por exaustão e erosão dos solos, seguiu-se
a fase de pastagem com refreamento do processo Fluxo laminar
erosivo. O rio por sua vez, agora menos carregado
de sedimentos, iniciou a remoção dos detritos acu- A água corrente apresenta fluxo laminar quan-
mulados em seu vale durante o cultivo do café do as várias "camadas de f l u i d o " deslizam umas em
relação as outras, sem que haja mistura de material.
( B i t t e n c o u r t , 1978), deixando terraços re-
Isto acontece quando a velocidade de fluxo é relati-
presentativos desta fase.
vamente lenta e cada elemento do fluido move-se
D e acordo com B i t t e n c o u r t (1978), ao longo de um caminho específico com velocidade
no rio Ivaí, em Porto Taquara (PR), a concentração uniforme. As linhas de fluxo, neste tipo de regime,
3 envolvem suavemente as irregularidades do leito
média de sólidos em suspensão é de 1 1 8 g / m , o que
fluvial e os objetos encontrados em seu caminho,
representa na bacia uma erosão média anual de 774
sem formar redemoinhos e correntes turbilhonares
k g / h a / a n o . A erosão máxima verifica-se nos meses durante a sua passagem (fig. 4-9). Os escoamentos
de outubro a dezembro (576 kg/ha) e a mínima laminares não dependem da rugosidade do canal.
nos meses de julho a setembro (52 kg/ha). A relação Via de regra, as perturbações do fluxo são tantas,
entre vazão e concentração de sólidos para o rio que o fluxo laminar é raramente encontrado. Com
Ivaí, enccntra-se ilustrada na figura 4-4b. O gráfico o aumento da velocidade ou profundidade da cor-
apresenta grande dispersão de pontos. Entre os fa- rente, uma dada condição de fluxo laminar atingirá
tores que contribuem para esta dispersão, alguns um ponto crítico tcrnando-se o fluxo turbulento.
são de difícil equaclonamento: estágio de desenvol-
vimento de um rio, amostragem não representativa,
uso e manejo do solo, chuvas variáveis durante o
ano, compartimentação geológica, etc. (Bitten-
c o u r t , 1978).

Os diagramas da figura 4-4c ilustram a preci- Fig. 4-9 — O diagrama da esquerda indica esquematicamente as
pitação, a quantidade de sólidos em suspensão e a áreas de fluxo laminar e turbulento num canal. No d'agrama da
descarga líquida para o Ribeirão do Rato e para o direita estão representadas as linhas de fluxo desviadas por um
c i l i n d r o ( a d a p t a d o de R u b e y , 1938).
Arroio Guaçu, ambos pertencentes à bacia do Ivaí.

A estimativa de perda diária de sólidos sus- Fluxo turbulento


pensos nas áreas devastadas da Formação Serra Ge-
ral e das formações supra-basálticas é respectiva- O fluxo torna-se turbulento quando através das
mente de 1,26 t o n / h a / d i a e 2,72 t o n / h a / d i a , en- linhas de fluxo verificam-se flutuações de velocida-
quanto que na região basáltica da bacia do rio Itabó des que excedem um determinado valor crítico (fig.
4-10). Estas flutuações são causadas por redemoinhos
(80% com floresta) no Paraguai é de 0,16 t o n / h a /
produzidos quando a água passa por obstáculos ou
dia ( B i t t e n c o u r t , 1978). A perda mé-
irregularidades de contornos rugosos do fundo. Uma
dia de solos por erosão situa-se em torno de lem pequena partícula transportada em suspensão por
por ano. Estes dados são alarmantes no que con- uma corrente turbulenta, não segue uma trajetória
cerne tanto às atividades agropecuárias como àque- uniforme e suave como no caso do fluxo laminar,
les ligados a produção de energia hidroelétrica. A mas move-se para cima e para baixo, de um lado
erosão além de empobrecer a economia do Estado, para outro e mesmo para montante.

- 32 -
escoamento é caracterizado por vórtices irregulares e
o corante dilui-se em toda secção transversal (fluxo
turbulento).

Para se predizer o tipo de fluxo pode ser uti-


lizado o número de R e y n o l d s (Re). Este
número não possui dimensão. Ele inclui os efeitos
das características do fluxo, velocidade e profundi-
dade do canal, bem como as propriedades do fluido,
representadas pela densidade e viscosidade. O nú-
mero d e R e y n o l d s é determinado pela
expressão:

V.D.é
Re — (14)
t*
onde: V == velocidade; D = profundidade; Q =
peso específico; fi = viscosidade. O valor de JJL é
4 2 5
F i g . 4-10 — D i a g r a m a i l u s t r a n d o a t u r b u l ê n c i a da c o r r e n t e j u n t o igual a 1,12 x l ( T m . s ( l , 2 1 x ! 0 ~ pés quadrados
às m a r g e n s do c a n a l , b e m c o m o os p e r f i s vertical e h o r i z o n t a l da por segundo). A relação entre a viscosidade e o peso
velocidade do f l u x o .
específico ifi/g) constitui uma propriedade do flui-
do expressa como v , de modo que o número de
0 fluxo turbulento é desenvolvido quando a Reynolds pode ser representado por:
velocidade excede os limites da "força viscosa". Pa-
V.D
ra água fluindo através de um tubo de 15 cm de
Re = (15)
diâmetro o fluxo laminar requer uma velocidade in- v
ferior 1,4 cm/s. Os fatores que afetam a velocidade
crítica, permitindo que o fluxo laminar se torne tur-
bulento são: viscosidade e densidade do fluido, bem
como, profundidade e rugosidade da superfície do
canal. Os fluxos laminares e turbulentos estão rela-
cionados aos efeitos da viscosidade sobre a inércia F i g . 4-11 — Representação e s q u e m á t i c a dos f l u x o s l a m i n a r e tur-
das partículas de fluido. No regime laminar, os efei- bulento ilustrando o conceito d o número d e R e y n o l d s (vide
tos viscosos são preponderantes impedindo a agita- texto).

ção no interior do tubo. No regime turbulento, a


inércia das partículas vence as resistências visco- Quando o valor de Re é menor do que 500
sas estabelecendo-se um movimento caótico e irre- prevalece o fluxo laminar, enquanto que para va-
gular. lores maiores do que 750 predomina o fluxo turbu-
lento. Para canais naturais, o valor limite crítico en-
Número de Reynolds — O parâmetro que de-
contra-se ao redor de Re = 500, devido à rugo-
termina qual o tipo de fluxo é o número de Rey-
sidade do leito ( S i m o n s , 1975).
n o l d s , o qual pode ser melhor compreendido
na experiência ilustrada na figura 4-11 e descrita a Denomina-se grau de turbulência a medida da
seguir. Um tubo plástico transparente é adaptado intensidade e rapidez do movimento turbilhonar. A
num recipiente. Este possui um dispositivo capaz de turbulência imprime às partículas um movimento
produzir um filete colorido junto à saída do tubo. giratório de maior ou menor intensidade. O movi-
Observando-se o comportamento do filete de coran- mento turbulento é desenvolvido não somente pelas
te para várias vazões, verifica-se que: correntes fluviais, mas também pelos ventos, ondas
1 — para vazões abaixo de determinado limi- e correntes marinhas. As leis de transporte dos sedi-
te, o filete de corante mantém-se bem definido, re- mentos por estes agentes são fundamentalmente re-
tilínio e estável (fluxo laminar); gidas pelos princípios do fluxo turbulento.
2 — ultrapassando-se este valor limite, o fi- O fluxo normalmente encontrado nos rios é o
lete, tende a ondular, tornando-se gradativamente turbulento, portanto, este é o único tipo de interesse
mais instável a acréscimos de vazão; prático, podendo classificar-se em duas categorias:
3 — a partir de um certo valor de vazão, o corrente e encachoeirado ( C h r i s t o f o l e t t i ,

- 33 -
1974). O fluxo turbulento corrente é o comumente bulento. A passagem do fluxo de um curso fluvial
encontrado nos cursos fluviais, enquanto que o f l u - de "corrente" para "encachoeirado" é acompanhada
xo turbulento encachoeirado ocorre nos trechos de por um aumento considerável da velocidade e abai-
velocidades mais elevadas, tais como nas cachoeiras xamento do nível superficial da água. Quando ocor-
e corredeiras, implicando na possibilidade de au- re diminuição de velocidade, há passagem do fluxo
mento de erosão. Para definir se o fluxo é corrente "encachoeirado" para o "corrente" e elevação do
ou encachoeirado emprega-se usualmente o valor do nível superficial da água.
número de F r o u d e .
Quando uma corrente turbulenta flui sobre um
Número de Froude — Este número constitui ou- fundo arenoso (incoesivo), os grãos de areia podem
tro parâmetro não dimensional empregado na des- ser levantados pelas flutuações verticais instantâneas
crição das condições de fluxo. Ele é um índice da da velocidade e serem espalhados por toda seção
influência da força da gravidade em situações de transversal do canal. A movimentação de uma par-
fluxo onde existe uma interrelação entre um meio tícula tem lugar no momento em que a "força de
líquido e um gasoso, como num canal fluvial aberto arraste'' (drag force) de um fluido em movimento
( S i m o n s , 1975). O número de F r o u d e é suplanta as forças coesivas e gravitacionaís que
dado pela expressão: agem sobre as partículas. As partículas deslocadas
rolam com o fluido e, se a flutuação instantânea de
velocidade for maior do que a velocidade de de-
Fr — 16)
cantação, as partículas são colocadas em suspensão
(fig. 4-13).

onde: V = velocidade média; g aceleração da


gravidade e D = profundidade.

Quando o número de F r o u d e é menor


do que 1, o rio apresenta-se com fluxo tranqüilo,
corrente, sendo denominado de fluxo subcrítico; se
o valor de Fr for maior do que 1, o fluxo será mais F i g . 4-13 — Papel da t u r b u l ê n c i a para conservar s e d i m e n t o s em
rápido, encachoeirado e designado de supercrítico. s u s p e n s ã o . A concentração é m a i o r no f u n d o e na c o r r e n t e as-
c e n d e n t e (A) e m e n o r no t o p o e na c o r r e n t e d e s c e n d e n t e ( B ) .
Na figura 4-12 estão representados quatro regimes
ou tipos de fluxo, definidos em função da profun-
didade e velocidade da corrente e dos valores assu- Ressalto hidráulico (hydraulic jump) — Um flu-
midos pelos números d e R e y n o l d s ede xo laminar passa a turbulento quando a relação en-
Froude. tre as forças de inércia e fricção (número de Rey-
n o l d s ) é aproximadamente igual a 500. Para
A profundidade e a velocidade são os elementos uma determinada vazão através de um canal aberto,
principais que determinam o estado de regime tur- existem duas possíveis combinações de profundi-
dade e velocidade média, na qual o fluxo pode
ocorrer, isto é, um fluxo raso e rápido dito super-
crítico, ou um fluxo mais profundo e mais lento
descrito como tranqüilo ou subcrítico. A velocidade
crítica para passar de um fluxo tranqüilo para um
rápido depende apenas da ordem do fluxo (S u n d -
b o r g , 1956; A l i e n , 1965). A velocidade
na profundidade crítica de transição entre ambos os
fluxos corresponde ao número de F r o u d e igual
a 1.

Quando Fr < 1 o fluxo é tranqüilo e peque-


nas ondas na superfície das águas podem deslocar-

400 fooo
4 10 40

F i g . 4-12 — Regime d e f l u x o e m canal a b e r t o l a r g o ' m o d i t i c a d o


de S u n d b o r g , 1956). R e e F r c o r r e s p o n d e m respectiva-
m e n t e aos n ú m e r o s d e R e y n o l d s ede F r o u d e . Fíg. 4-14 — Ressalto h i d r á u l i c o . ( V , > V

- 34 -
dentro da camada ( A I I e n , 1965). Quando as
irregularidades da superfície, formadas pelos grãos
de sedimentos, movem-se através da subcamada, a
coerência desta ultima é perdida. Neste caso os se-
dimentos oferecem resistência ao fluxo e o limite
deixa de ser suave. A condição limite entre fluxo
áspero e suave é função inversa da velocidade e do
tamanho do grão (fig. 4-16).
F i g . 4-15 — V a r i a ç ã o vertical da v e l o c i d a d e na camada l i m i t e
f o r m a d a sob condições d e f l u x o t u r b u l e n t o . Uma subcamada la-
m i n a r encontra-se no c o n t a t o c o m o l i m i t e . Para cima a camada
Quando um fluxo flui sobre obstruções do leito
t u r b u l e n t a limita-se c o m o f l u x o l i v r e . (fig. 4-17), ele sofre modificações com respeito à
aceleração e retardamento do movimento, bem como
originam-se fluxos turbulentos de sentido contrário
se para montante. Nos fluxos rápidos (Fr > 1), tais
que absorvem energia do fluxo gerai.

t
ondas podem ser arrastadas para jusante. A figura
4-12 mostra o limite entre os regimes de fluxo rá-
pido e tranqüilo.
- ^ 5
Um fluxo supercrítico (rápido) pode ser desace- \ ^
lerado num fluxo subcrítico (tranqüilo) por um res- -
salto hidráulico, o qual constitui uma frente de onda
i <^
altamente turbulenta (fig. 4-14). Numa corrente na- \ : 5?; v \ c b

tural, a transição de um fluxo rápido para tranqüi-


lo é freqüentemente marcada por um ressalto hidráu- 1 i 11 1 III I M l i i \ V 1 III
lico, disposto transversalmente, onde o fluxo au-
menta em profundidade e altura. Ele ocorre freqüen- I
temente onde a corrente aumenta de largura ou pro- Q/awefro em mí m
fundidade. F i g . 4-16 — C a m p o s de o c o r r ê n c i a d o s f l u x o s suave, transicional e
á s p e r o de a c o r d o c o m a variação da g r a n u l a ç ã o e v e l o c i d a d e da
Camada limite (boundary layer) — Num canal c o r r e n t e ( v á l i d o para s e d i m e n t o s c o m p e s o e s p e c í f i c o 2 , 6 5 (baseado
em S u n d b o r g , 1956).
aberto o fluxo não é constante nem vertical e nem
horizontalmente. Dentro de uma corrente, as diver- ffîtsxo aee/erado f/axo retardado gaperf/âfe da agua
sas faixas de fluxo são referidas como camadas en-
tre limites cu mais simplesmente como camadas li-
mites. Uma faixa de fluxo turbulento é dita camada
limite turbulenta. Por sua vez uma faixa de fluxo
laminar constitui a camada limite laminar. Nas pro-
ximidades da parede do canal, o fluido é retardjado
pela fricção contra o limite de fluxo. Para fora deste
limite, a velocidade aumenta primeiro mais rapida-
mente e após mais gradativamente até um máxijno.

A zona de apreciável retardamento do fluxp é


designada de camada limite (fig. 4-15). O fluxo nesta
camada pode ser ou laminar, ou turbulento ou ¿m-
bos, dependendo da velocidade e do grau de suavi- eamada //m/Ye
dade d o limite ( A l i e n , 1965). Nas correntes
naturais, a camada limite é altamente turbulenta es- * camada fitff/fe
tendendo-se apreciavelmente em profundidade.
F i g . 4-17 — Padrão de f l u x o e separação de " c a m a d a l i m i t e " .
Mesmo quando a camada limite for turbulenta, A — linhas de f l u x o ? B — í a x n a d a j i m i t e na v i z i n h a n ç a i m e d i a t a da
sempre existe uma fina camada do fluido em con- crista d a o n d u l a ç ã o ( s e g u n d o A l l e n , 1*965); C — separação
tato com o limite no qual o fluxo é laminar. Esta é d e camadas l i m i t e s ( s e g u n d o S u n d b o r g , 1956).

a subcamada laminar da camada limite turbulenta.


Quando o fluxo reverso assume espessuras ca-
O fluxo laminar subsiste como fluxo hidrodi- da vez maiores, o fluxo externo perde o contato di-
námicamente suave, enquanto as irregularidades reto com a superfície subjacente originando-se a
existentes no limite, encontrarem-se inteiramente "separação de camada limite". Esta passa a separar

- 35 -
fluxos de diferentes velocidades e direções, consti-
tuindo-se uma camada de descontinuidade de na-
tureza instável (fig. 4-17-C).
oo /
As obstruções e as formas de leito apresentam
resistência morfológica ao fluxo e, originam como u
vimos, a separação de camada limite. Dependendo
I
1
da configuração do leito e do caráter do fluxo, as
camadas limites separadas podem subdividir-se em
vórtices livres e novamente serem absorvidas e sua- d . ••'
vizadas pelo fluxo geral.

Sendo as obstruções freqüentes nos canais na-


turais (ondulações, seixos, sinuosidade do curso), a
turbulência geral está sujeita a incrementos locais.
i
f1

/4
Estes são devidos a turbulências secundárias origina- é ' a
das em diferentes escalas de separações de cama- /1
das limites. As ondulações do leito estão associadas
com turbulências cujo eixo situa-se quase horizontal- / /
mente, enquanto que, as curvaturas dos canais e a 1 2 ^ 8
mudança de direção do fluxo dão origem a turbu- ^e/oâtdade (pée/s)
lências com eixo quase vertical ( A I I e n , 1965). F i g . 4-18 — C o r r e l a ç ã o e n t r e o r a i o h i d r á u l i c o e a v e l o c i d a d e da
c o r r e n t e . Rio G r a n d e , p r o x i m i d a d e s d e B e r n a i i l l o , N o v o M é x i c o
A turbulência aumenta da superfície em dire- (baseado em D a w d y , 1961).

ção ao fundo do canal, possivelmente porque pró-


ximo ao leito forma-se a maior parte da turbulência são rápidas, aumentando com pulsações dos movi-
secundária. Para propósitos práticos, o fluxo nas mentos das águas e propiciando o aparecimento de
correntes naturais é considerado sempre turbulento. redemoinhos e outros tipos de movimentos.
Com o aumento de velocidade da corrente, o regime
de fluxo passa de tranqüilo a rápido, uma vez que A velocidade das águas de um rio varia de pon-
a profundidade permaneça constante ou não aumen- to a ponto ao longo do perfil transversal. Em geral
te muito abruptamente. O gráfico da figura 4-18, a área de maior velocidade situa-se abaixo da su-
representando a correlação entre raio hidráulico x perfície das águas, enquanto que as de menor ve-
velocidade, demonstra uma quebra significativa na locidade situam-se junto ao fundo e próximo às pa-
curva da região onde o fluxo rápido é substituído redes laterais do canal. Em corte transversal, uma
pelo tranqüilo. Nas correntes naturais, o regime de zona de máxima velocidade margeia áreas de maior
fluxo rápido é mais comum do que o tranqüilo. turbulência. As variações verticais de relevo (ondu-
lações, desníveis, etc.) atuam sobre a turbulência
máxima.
Distribuição da velocidade e turbulência

A distribuição da velocidade de fluxo e da tur-


bulência em canais fluviais é importante na defini- tDistriòufÇões dag tfetoeidadeg ^
ção dos processos deposicionais e erosivos das cor-
rentes e, conseqüentemente, nos tipos das fácies se-
dimentares resultantes.

A baixas velocidades (poucos milímetros por


segundo) a água transporta por fluxo laminar par-
tículas muito finas. No fluxo turbulento, a capaci-
dade de transporte é bem maior transportando par-
tículas grandes. A velocidade máxima com que a
água pode fluir é de aproximadamente 80 k m / h . F i g . 4-19 — Seções transversais assinalando a d i s t r i b u i ç ã o das ve-
locidades e t u r b u l ê n c i a s m á x i m a s em canais simétricos ( g r á f i c o B)
Acima desta velocidade toda energia é consumida na e assimétricos (C) ( s e g u n d o L e i g h I y , 1 9 3 4 ) . No g r á f i c o A,
criação de turbulência, nada restando para acele- d i s t r i b u i ç ã o das velocidades n u m a seção do r i o K l a r ã i v e n , na Suécia
ração do movimento. No fluxo turbulento, as varia- (segundo S u n d b o r g , 1956). m . t . = z máxima turbulência:
I = e i x o de alta v e l o c i d a d e ; II = intensa t u r b u l ê n c i a e v e l o c i d a d e
ções das velocidades em torno dos valores médios m o d e r a d a ; IN — áreas laterais de t u r b u l ê n c i a e v e l o c i d a d e s b a i x a s .

- 36 -
a zona de máxima turbulência. A velocidade e a
turbulência decrescem em direção ao banco convexo
de menor profundidade. No entanto, durante a es-
tação das cheias, o rio sobe, aumentando seu gra-
diente hidráulico e sua velocidade. Altas velocidades
tendem a retificar o canal, simulando uma distribui-
ção de velocidade e turbulência próprias de rios re-
tilíneos. Nestas condições, o banco convexo é esca-
vado, formando-se corredeiras sobre a barra de areia
aí construída (fig. 4-20).

Relação entre erosão, transporte e sedimentação

Muitas experiências têm sido feitas para medir


a velocidade crítica de erosão, particularmente para
sedimentos arenosos ( H j u l s t r õ m , 1935;
L e i i a v s k y , 1955).

De uma maneira geral, acredita-se que a veloci-


dade crítica para iniciar o movimento de uma partí-
Fig. 4-20 — Esquema i l u s t r a t i v o dos p a d r õ e s d e f l u x o e m m e a n -
d r o s , d e s t a c a n d o as áreas de e r o s ã o e d e p o s i ç ã o (baseado em
cula livre é função da densidade da água, do coefi-
M o r i s a w a , 1968. ciente de fricção entre a partícula e o leito, do coefi-
ciente de arraste dependente do tamanho da partí-
cula e do número de R e y n o l d s e, do raio
Cada zona de máxima velocidade é acompanha-
da partícula. No entanto, experiências utilizando par-
da por duas zonas de máxima turbulência (fig. 4-19).
tículas do tamanho silte e argila, registram veloci-
Nos locais onde as irregularidades de fundo pro-
vocam turbulência muito intensa, as águas são ca- dades críticas acima das esperadas e maiores do que
pazes de movimentar muito mais material. As in- a velocidade crítica das areias. Esta aparente discre-
tensificações locais de turbulência determinam gros- pância foi explicada por S u n d b o r g (1956)
seiramente a natureza do material de fundo (areno- em função das forças de coesão entre os minerais
so, areia com seixos, etc). A quantidade de sedi- de argila presentes nessas frações granulométricas.
mentos movimentados no leito diminui com a redu- O hábito placóide desses minerais, ocasionando
ção do grau de turbulência. maior superfície específica, bem como a existência
de cargas elétricas insatisfeitas, etc. devem contri-
A zona I representada na figura 4-19 é carac- buir para que ocorra o fenômeno. No entanto, o
terizada por correntes de máxima velocidade, as
problema encontra-se ainda em aberto, necessitando
quais transportam quaisquer sedimentos em suspen-
mais pesquisas à respeito.
são difundidos em seu interior. Na zona II tem-se in-
tensa turbulência e velocidade moderada. A zona III Uma vez colocada em movimento, a partícula
(fig. 4-19) determina o local para onde a turbulên- será transportada e entrará novamente em repouso
cia pode migrar ocasionando a deposição da matéria quando atingida a velocidade crítica de deposição.
em suspensão difundida na zcna II.
Esta é aproximadamente dois terços inferior à ve-
Em um canal retilíneo e simétrico, o eixo de má- locidade crítica de erosão para a mesma partícula.
xima velocidade ocorre no centro do canal, decres- H j u l s t r õ m (1935) foi o primeiro autor a
cendo lentamente em direção às margens. Nas pro-
ccrrelacionar a velocidade crítica de erosão e a equi-
ximidades destas e junto ao leito do canal, a dimi-
valente de deposição das partículas num diagrama,
nuição da velocidade se faz abruptamente. Na su-
delimitando os campos de ocorrência de erosão,
perfície da água, a velocidade é também menor em
função do atrito com o ar. transporte e deposição (vide figura 4-5). Este dia-
grama foi modificado por S u n d b o r g (1956)
Em rios meandrantes, onde os canais são assi- que incluiu também a concentração de sedimentos em
métricos, o eixo de máxima velocidade situa-se mais suspensão (fig. 4-21). Esta curva não é válida para
próximo do banco côncavo, o mesmo ocorrendo com concentrações elevadas.

- 37 -
Perfil longitudinal dos rios

O ajuste de um rio às várias condições hidroló-


gicas reflete-se na sua morfologia, isto é, em seus
perfis longitudinal e transversal. Ênfase especial é
dada ao ajuste do seu gradiente ou perfil longitu-
dinal.

Uma corrente é dita em equilíbrio quando nela


não se verifica nem erosão e nem deposição de ma-
terial em qualquer ponto do seu curso. Nas condi-
ções de equilíbrio, o rio é capaz de transportar todo
material fornecido pelas vertentes. O perfil longitu-
dinal de equilíbrio da corrente apresenta forma côn-
cava contínua, com declividade suficiente para trans-
portar a carga do rio. A inclinação do perfil acentua- 9/âmetrop daeparf/M/a? f mm).
se em direção às cabeceiras e decresce a medida Fig. 4-21 — Relação e n t r e v e l o c i d a d e d e f l u x o , g r a n u l o m e t r i a e e s
q u e o rio se aproxima da foz (fig. 4-22). tado d o sedimento (modificado d e S u n d b o r g , 1956 in
A l l e n , 1965).

Numa região de rochas relativamente homogê-


neas, o rio atinge seu perfil de equilíbrio quando sai do trecho considerado. Sendo os valores do es-
cerca da quarta parte do material da bacia f o r ero- coamento e da carga muito variáveis durante o ano,
dido ( S c h u m m , 1956). Após este estágio, o o perfil de equilíbrio sofre contínuas flutuações.
perfil do talvegue permanece gradacional, mesmo Dessa f o r m a , a planície de inundação tem sido con-
com o prosseguimento da erosão nas vertentes, a siderada como o melhor critério para a determinação
menos que venha ocorrer uma mudança de nível de do talvegue da corrente.
base. O tempo necessário para atingir-se este está-
gio é muito variável, dependendo fundamentalmen- As mudanças cíclicas das condições climáticas
te do clima. regionais influem consideravelmente no regime hi-
drológico, isto é, nas relações carga-caudal, e con-
O perfil de equilíbrio de um rio é influenciado
seqüentemente na forma do canal e no perfil de
por muitos fatores (volume e carga da corrente, ta-
equilíbrio do rio.
manho e peso da carga, declividade, e t c ) . A carga
transportada é de grande importância no estabele- Comumente, os rios apresentam muitas irre-
cimento do perfil gradacional. Cada trecho do canal gularidades ao longo do seu curso, como corredei-
tende a alterar sua declividade e forma a f i m de ras ou depressões. Nos pontos o n d e a velocidade
atingir um equilíbrio entre a carga q u é entra e que aumenta, ocorre erosão que faculta a remoção dos

ff^oao do îPûragi/aç'u Ûapiûar/ !000Sè Sfardo de 'fflMaj?


âoo-
âtffotfh I e o Jfetmùé'
1 Z&.dois'jïote Sè.pûtûcffpe °

tPerf//"do r/o ^ar&a&t&gi/ ÇPerfii do rio ïParofo


<
58.$egi/£> do Tforfe
'Pojtfe Jfoâa H&iofP/rasi/daAa ûîmoreg

perfil do rio $ôce ffierfi/ do fio Jfaiapoœtra


g'£édi>' do&orà/fffiga
¿¡acare/' ffindu-ftfotf/rajigaóa '¿¡SarraTt/att^c*
{?.¿)o<?e'dík âawpoff ! J?oret/a SSe&effcfe I ffiarra do îP/'raf
1 1
'Zterafàa dogis/

^ârf/Y do r/o Sê/óe/ra do Jgaape cfierfi'/ do r/o dfa/a/

Fig. 4-22 — Perfil longitudinal de alguns rios brasileiros {baseado no Atlas Nacional do Brasil,
IBGE. 1966).

~ 38 -
obstáculos, diminuindo assim o gradiente. Nos pon- as condições de fluxo, o transporte por tração con-
tos onde há decréscimo de velocidade, tem lugar a tinua. Quando ocorrer uma redução na velocidade
sedimentação. Com este mecanismo o rio tende à média da corrente ou na intensidade de turbulência,
eliminação das irregularidades para adquirir um per- as partículas maiores e mais densas e de menor es-
fil longitudinal côncavo e liso, designado de perfil fericidade são deixadas para trás.
de equilíbrio.
O movimento das partículas por tração, pelo
O perfil longitudinal em toda sua extensão re- fato de estar restrito ao leito fluvial, é mais limitado
sulta do trabalho que o rio executa para manter o e sensível às condições de variação de velocidade e
equilíbrio entre a capacidade e a competência de um de turbulência do que o transporte por suspensão.
lado, com a quantidade e a granulometria da carga Embora a carga de tração seja mais sensível às pe-
detrítica de outro lado. Se a capacidade e a compe- quenas variações de velocidade do que a carga de
tência do rio forem maiores do que as requeridas suspensão, esta também responde pela modificação
para o transporte da carga, o rio deverá diminuí-las correspondente nas curvas de concentração de ma-
realizando modificações na morfologia e declividade teriais sólidos. Geralmente o grau de turbulência
do canal. Inversamente, se a capacidade e competên- tende a variar com a velocidade da corrente. Os fa-
cia forem menores do que as requeridas para o tores que afetam a velocidade (vide expressão 5)
transporte da carga, o rio deverá aumentá-las modi- exercem um efeito de controle sobre o transporte.
ficando a forma e declividade do canal. Deste medo, um decréscimo no valor numérico do
gradiente da corrente ou do raio hidráulico, causam
Embora existam muitas variáveis modificado-
uma diminuição da velocidade, e parte da carga é
ras, foram feitas numerosas tentativas para dar tra-
depositada.
tamento matemático às curvas dos talvegues, rela-
cionando formas e processos. A maioria dos autores A carga em contato com o leito apresenta-se,
reconhece que existe uma estreita relação entre a geralmente, como uma fina camada de partículas
declividade e o comprimento. Uma das fórmulas móveis com um limite superior difuso.
propostas é a seguinte:
Transporte por saltação — É uma forma de
n
transporte na qual as partículas avançam ao longo
D = k . C (17)
do leito fluvial, através de uma série de saltos cur-
tos. O movimento por saltação pode ser considerado
onde: D = declividade em determinado ponto; C = como fase intermediária entre o transporte por tra-
comprimento da cabeceira até o referido ponto; " k " ção e por suspensão (fig. 4-6). As partículas que não
e " n " são constantes empíricas. sejam suficientemente grandes para manter-se sobre
o leito, sofrendo tração, nem suficientemente pe-
Mecanismos cie transporte por água corrente quenas para serem arrastadas em suspensão, po-
dem ser momentaneamente levantadas, movendo-se
Em princípio, pode-se agrupar os modos de para diante em uma série de saltos e avanços su-
transporte dos sedimentos pelas correntes fluviais cessivos.
em três categorias: por tração, por saltação e em so-
lução. O modo e a natureza do transporte do sedi- A altura relativa de levantamento das partí-
mento é de grande importância para a composição culas, durante o processo de saltação em meio flui-
e estrutura dos depósitos aluviais. do, depende do peso específico da partícula e do
fluido. Segundo K a I i n s k e (1942) ela é ex-
Transporte por tração — Este tipo de transporte pressa pela fórmula seguinte:
relaciona-se com as tensões, tangenciais ao longo do
fundo da corrente, provocadas pela água em movi-
mento. O efeito das tensões tangenciais é reforçado H = C (18)
pelas forças ascencionais devidas ao fluxo turbu- 0,
lento.
onde: H = altura do salto; C = constante; Q =
Q

As partículas esféricas rolam mais facilmente


peso específico da partícula sólida e Q = peso es-
do que as menos esféricas. Além da forma, inter-
pecífico do fluido.
vém neste processo, o tamanho e a densidade, dan-
do origem a uma carga de tração ajustada às con- Os efeitos da saltação no ar e na água podem
dições locais. Enquanto permanecerem inalteradas ser ilustrados por esferas de quartzo (Q = 2,65).

39
Aplicando-se a f ó r m u l a (18) temos Observou-se q u e a concentração de partículas
em transporte por suspensão é muito maior perto
03
a) esferas no ar do leito da corrente do q u e junto à superfície (fig.
H = C
4-23). A concentração relativa de material muito f i n o
(silte fino) pode ser quase igual da superfície até o
H = C - - 2
- 6
l f u n d o , enquanto q u e as partículas mais grosseiras,
ar 0,0012 como as areias, exibem gradientes de granulação
H = C . 2208 com aumento da concentração a medida q u e se apro-
ar xima do leito da corrente.

b) esferas na água H Velocidade de decantação das partículas


agua

2,65 A propriedade fundamental de extrema impor-


=
H tância durante o transporte e deposição de uma par-
agua
tícula em meio f l u i d o é a sua velocidade de decan-
H 2,65 tação. Ela depende de fatores inerentes à partícula
agua em decantação, tais como tamanho, f o r m a e peso es-
d o n d e se conclui que o levantamento das partículas pecífico. A l é m disso, ela d e p e n d e t a m b é m de fato-
de quartzo no ar é de cerca de 830 vezes superior res ligados ao meio f l u i d o como, por exemplo, vis-
à saltação correspondente na água. cosidade, peso específico, etc. O conhecimento do
comportamento das partículas em meios fluidos e a
Transporte por suspensão — Neste caso, as par- compreensão das leis que regem o transporte e a
tículas são carreadas de forma completamente inde- deposição, progrediram muito graças aos estudos
pendente do leito f l u v i a l . O transporte por suspen- experimentais realizados em modelos de laborató-
são é propiciado q u a n d o a intensidade de turbulên- rio.
cia for maior do que a velocidade de deposição das
partículas movimentadas pelas tensões tangenciais As leis da mecânica dos fluidos e a velocidade
e pelas forças de ascensão. de decantação constituem aspectos fundamentais que
intervêm no transporte dos sedimentos. Durante a
As partículas que compõem um leito fluvial va- decantação em meio f l u i d o , as partículas obedecem
riam em tamanho, f o r m a e densidade, e as menores, basicamente à s leis d e S t o k e s e d o Impacto.
menos esféricas e menos densas dessas partículas
são levantadas e transportadas em suspensão. Lei d e S t o k e s — Uma esfera com u m
determinado diâmetro (d) e de densidade conhecida,
200
decantando em água, precipita com uma força q u e
depende do volume da partícula, da aceleração da
gravidade e da diferença entre as densidades da
partícula e do f l u i d o . Se a esfera for muito pequena
%Í50
( < 0 , 1 mm), a resistência oferecida pelo f l u i d o é pro-
porcional ao produto do diâmetro pela velocidade da
partícula e pela viscosidade do líquido. Igualando-se
estas relações para partículas pequenas, pode-se
100 demonstrar que a velocidade de decantação (V) é
proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula,

i
isto é:
o&a
50
d . d :
(19)

j
^ 0
o ,2 ,4 .8 r
onde: Ci == constante que abrange os fatores: densi-
dades da partícula e do líquido, aceleração da gra-
vidade e viscosidade do líquido.

A lei d e S t o k e s somente é perfeita e m


Fig. 4-23 — G r a d i e n t e s d e c o n c e n t r a ç ã o d e a r e i a g - o s s a , a r e i a f i n a condições ideais determinadas por K õ s t e (ci-
e s i l t e f i n o em u m a c o r r e n t e de á g u a { a d a p t a d o de H j u I s -
t r õ m , 1939).
tado por Müller, 1967) quando:

- 40 -
1) as partículas do fluido são extremamente TABELA 4-1
pequenas em relação às partículas sólidas em de-
cantação. Esta condição é satisfatória quando os Velocidade de queda de esferas com peso es-
4 7
corpos em queda são IO a IO vezes maiores do pecífico 2,65 (correspondente ao quartzo) em água
que as moléculas do fluido; destilada a 20°C.

2) o corpo fluido apresenta extensão "infini-


t a " em relação às partículas sólidas em queda. Esta Diâmetro em mm Velocidade de queda em cm/s
condição é aproximadamente satisfeita, quando o
diâmetro do cilindro de sedimentação for de no mí- 1/16 0,062 0,347
nimo 5 cm; 1/32 0,031 0,0869
1/64 0,016 0,0217
3) as partículas sólidas em queda apresentam 1/128 0,008 0,00543
superfícies lisas e rígidas. A condição de rigidez é 1/256 0,004 0,00136
geralmente satisfeita, ao passo que a superfície das 1/512 0,002 0,00034
partículas freqüentemente são bastante rugosas; 1/1024 0,001 0,000085
4) existe ausência de atrito entre o fluido e 1/2048 0,0005 0,000021
a partícula. Em geral, esta condição não se verifica
nos fluidos normalmente usadcs, em parte devido a vimentação é proporcional ao produto da densidade
rugosidade das partículas; da esfera pelo quadrado do seu diâmetro e pelo qua-
drado de sua velocidade. Igualando-se a força de
5) a velocidade de queda for relativamente atração para baixo às novas condições de resistência
baixa. O diâmetro máximo passível de aplicação da pode-se demonstrar que para partículas grandes a
lei de S t o k e s é de aproximadamente 0,05 velocidade de assentamento é proporcional à raiz
mm; quadrada do diâmetro da partícula multiplicada por
6) as partículas forem esferas perfeitas. Nas uma constante C , segundo a fórmula:
2

partículas sílticas e argilosas (abaixo de 0,062 mm)


as formas das mesmas freqüentemente afastam-se
V = C 2 M d (20)
da esférica. onde C abrange várias constantes, analogamente à
2

A r n o l d (1911) mostrou que grãos com Ci (vide expressão 19).


superfícies providas de pequenos orifícios não alte- Quando se constrói um gráfico com as veloci-
ram apreciavelmente a velocidade de queda. O grau dades de decantação em cm/s sobre o eixo das or-
de esfericidade das partículas muitas vezes não se denadas e os diâmetros das partículas em mm sobre
reveste de grande importância. Um mesmo sedimen- o eixo das abcissas verifica-se que a curva que re-
to com grãos variando desde angulares a esferas per- presenta a lei de S t o k e s aparece como uma
feitas ou placas, apresenta pequenas divergências parábola e a lei do Impacto como uma parabolóide
na velocidade de queda real e teórica para as dife- convexo (fig. 4-24).
rentes formas de partículas
Observando-se as velocidades de decantação dos
A lei de S t o k e s não é aplicável a par- grãos de quartzo (curva experimental), verifica-se
tículas menores do que 2 micra em virtude da in- que os grãos muito pequenos (principalmente silte e
terferência do movimento browniano, bem ccmo argila) seguem a lei de S t o k e s , enquanto
pa'a partículas maiores do que 60 micra. A lei não que as partículas maiores (areias) seguem a lei do
se aplica às partículas grandes em virtude delas não Impacto. Em uma zona de transição entre 0,1 e 1 mm
atingirem velocidade constante exigida durante a de diâmetro, os dados experimentais concordam com
análise, em provetas normais. As velocidades de a média das duas leis, indicando efeitos mútuos. As
queda para os diferentes tamanhos de partículas en- partículas finas como silte e argila decantam sob con-
contram-se referidas na tabela 4-1. dições de resistência viscosa, enquanto que as par-
tículas maiores (areias e seixos) decantam sob con-
dições de inércia.
Lei do impacto
Correntes ascendentes muito fracas são sufici-
Se a esfera for demasiadamente grande para entes para manter as partículas síltico-argilosas em
que a sua velocidade de decantação seja controlada suspensão, uma vez mobilizadas, enquanto que um
pela viscosidade do líquido, a resistência a sua mo- seixo de 10 mm de diâmetro exigiria uma corrente

- 41 -
! m e
"A velocidade de decantação de partículas
grandes é independente da viscosidade do f l u i d o ; é
diretamente proporcional à raiz quadrada do diâme-
tro da partícula e à diferença entre as densidades
da partícula e do fluído dividida pela densidade do

1 / Á
^ei c/q/'tupacte
fluido."

Transporte seletivo das partículas

I vmm&tta/
A apreciação dos problemas relativos à veloci-
dade de decantação mostrou que para uma determi-
nada granulação, as esferas decantam mais rapida-

I5¡ mente do que os discos, bem como os minerais pe-


sados assentam-se antes dos minerais leves. Dessa
forma, quando uma " n u v e m " do material é lançada
Sj
em suspensão, as partículas mais achatadas (menos
Q5 1 15 esféricas) sobem mais alto e permanecem mais tem-
po em suspensão do que as partículas mais esféri-
cas. A medida que o transporte por suspensão pro-
Fig. 4-24 — Comparação de dados experimentais de velocidade gride, os grãos mais pesados e mais esféricos são
d e decantação com a s leis d e S t o k e s e do impacto (dados os primeiros a atingirem o fundo, e como resultado,
adaptados d e R u b e y , 1933).
as partículas mais achatadas e mais leves são favo-
recidas pelo processo de transporte em suspensão.
ascendente com cerca de 90 cm/s de velocidade.
Mesmo entre as partículas menores verificam-se di- Por outro lado, durante o transporte por tra-
ferenças significativas nas velocidades de decanta- ção, as esferas rolam mais facilmente e vão dei-
ção. Deste modo, uma partícula de argila de 0,001 xando para trás as partículas mais achatadas. O re-
mm decanta 0,0001 c m / s , isto é, cerca de 30 cm sultado fina! da interação destes fatores, combina-
em três dias, enquanto que uma partícula de silte dos com a intensidade variável da corrente e grau
de turbulência, mostra um complexo transporte se-
com diâmetro de 0,02 mm decanta 0,04 c m / s , isto
letivo de partículas, baseado, principalmente, na
é 30 cm em 10 minutos.
granulação, forma e densidade. Este processo, que
A maioria dos grãos de quartzo apresenta valo- ocorre durante o transporte de partículas por água
res de esfericidade 0,7 ou mais altos, e somente al- corrente, recebe o nome de transporte seletivo.
guns tipos especiais de grãos de minerais, como
Como conseqüência do transporte seletivo, os
hornblenda e mica, afastam-se bastante das formas
agentes geológicos exibem mudanças sistemáticas
esferoidais. Estudos experimentais têm demonstrado
nas características dos materiais da carga transpor-
que uma partícula de quartzo com esfericidade 0,8
tada e depositada a medida que eles são acompa-
assenta-se com velocidade correspondente a 8 0 %
nhados para jusante de um rio ou ao longo de uma
daquela referente a uma esfera de quartzo de mes-
mo volume.

Introduzindo-se a influência da forma da partí-


cula na velocidade de decantação, a lei de S t o k e s
pode ser enunciada da seguinte maneira:

"A velocidade de decantação de partículas pe-


quenas é diretamente proporcional às diferenças de
densidades entre a partícula e o f l u i d o ; inversamen-
te proporcional à viscosidade do fluido; diretamen-
te proporcional à esfericidade da partícula e ao qua-
drado do diâmetro da partícula."

Similarmente, modificada pela influência da


Fig. 4-25 — Modificações das propriedades dos sedimentos por
forma das partículas, a lei do Impacto pode ser ex-
t r a n s p o r t e em f u n ç ã o da d i s t â n c i a p e r c o r r i d a ( s e g u n d o K r u m -
pressa do seguinte modo: b e i n & S I o s s , 1963).

- 42 -
praia, onde são acentuados os efeitos das correntes O contínuo "fracionamento" (segregação) das
longitudinais à costa. Estas mudanças sistemáticas partículas em função da granulação, forma e densi-
consistem no decréscimo de diâmetro, no aumento dade durante o transporte e deposição, sugere que
de esfericidade média e algumas mudanças na den- os sedimentos melhor selecionados são aqueles que
sidade (eventual alteração química), de montante foram submetidos a retrabalhamentos longos e con-
tínuos por agentes geológicos, ou foram sedimen-
para jusante da corrente.
tados em ambientes deposicionais altamente ener-
Nas áreas fontes dos sedimentos, onde as ro- géticos, tais como os eólicos e praiais.
chas são submetidas aos processos de intemperismo
Na figura 4-25 as várias curvas mostram as mu-
e erosão, os detritos são de formas, tamanhos e den-
danças nas propriedades das partículas em condições
sidades muito variáveis, enquanto que os produtos
ideais de transporte por tração. O tamanho médio
sedimentares finais, observados na natureza, são
das partículas diminui no sentido do transporte, par-
constituídos de cascalhos, areias, siltes e argilas re- te como resultado do transporte seletivo e parte
lativamente selecionados. Disto resulta que, durante como fruto do gradual decréscimo por abrasão du-
os processos de transporte e deposição, dependendo rante o transporte. O valor numérico do coeficiente
da energia e viscosidade do meio, os detritos ori- de seleção decresce para jusante, enquanto o grau
ginais ficam sujeitos a diferentes graus de trans- de seleção aumenta. A esfericidade média das partí-
porte seletivo. culas aumenta gradualmente no sentido da corrente.

- 43 -
5 - A T I V I D A D E S M O R F O L Ó G I C A S DAS CORRENTES

Relações entre regime de fluxo e forma de leito S i m o n s et al, 1965) numerosos pesquisadores,
principalmente engenheiros hidráulicos, têm tentado
Num canal o leito granular móvel pode ser mol-
interpretar hidrodinámicamente as formas de leitos.
dado pelo f l u x o corrente seja por erosão ou por de- G i l b e r t (1914) obteve muitos dados experi-
posição. A presença do leito granular móvel intro- mentais das relações entre as configurações dos lei-
duz duas complicações não encontradas no f l u x o tur- tos e a velocidade do f l u x o .
bulento de águas completamente isentas de sedimen-
tos. Os dados obtidos nos trabalhos experimentais
executados por S i m o n s, R i c h a r d s o n
A primeira delas, implica em alterações da na- e colaboradores, desde 1956 a 1 9 6 1 , foram resumi-
tureza da turbulência causadas pela simples presen- dos por S i m o n s, Richardson & Nor-
ça de partículas na corrente turbulenta. Quando as d i n J r . (1965). Neste trabalho foi introduzido
concentrações de sedimentos são altas os efeitos o conceito de regime de fluxo.
podem ser muito importantes.

A outra, de maior interesse do ponto de vista Regimes de fluxo


da geometria ou forma do leito, constitui a possi-
Logo que o transporte de sedimentos é iniciado
bilidade de haver interação mútua entre o leito e a
num canal, originam-se numerosas formas de leitos.
corrente. Em outras palavras, o fluxo pode moldar o
As formas classificam-se como micro ou macro-ondu-
leito, porém quando isto acontece a natureza da
lações, antidunas e camadas planas. Ambos tipos de
própria corrente é alterada.
ondulações são similares porém diferem em tama-
A interação mútua entre leito e corrente torna nho. Várias combinações de formas de leito são pos-
possível o desenvolvimento da grande variedade de síveis. Por exemplo: micro-ondulações podem ocor-
formas de leitos encontrada na natureza. rer sobre as macro-ondulações. As diversas formas
sucedem-se no leito de acordo com as mudanças das
Marcas onduladas e outras feições são produzi-
condições hidráulicas (fig. 5-1).
das pela água em movimento sobre superfícies de
materiais incoerentes (móveis). Desde as investiga- O conceito de regimes de f l u x o , deriva essen-
ções d e D a r c y e B a z i n e m 1865 (in cialmente dos estudos de laboratório, os quais po-

í?{4PERF/&e da

FAXO D¿?DG¿/¿7

¿?¿?t*fada i/ff à/a/ TFAFFDC/NC?

Fig. 5-1 — Representação diagramática dos tipos de forma de leito que se sucedem de acordo com as mudanças das condições hidráu-
licas. A s u p e r f í c i e das águas encontra-se fora de fase com as dunas e em fase c o m as antidunas.

- 44 -
Tabela 5-1 — Classificação dos regimes de fluxo e suas características
(segundo S i m o n s et al., 1965).

Relação de fase
Concentração de Modo de Tipo de entre o leito e a
Regime de fluxo Forma do leito material do leito transporte rugosidade superfície da
em pp m
água
Micro- 10-200
ondulada
Micro-ondulada Predomina forma
Fluxo inferior Pequenos saltos Fora de fase
sobre mega on- 100-1200 rugosa
dulada
Mega-ondulada 200-2000
Mega-ondulada
Transição 1000-3000 Variável
lavada
Carnadas planas 2000-6000
Predomina
Fluxo superior Antidunas 2000 Contínuo "rugosidade Em fase
granular"
Com depressões 2000

dem até certo ponto, serem extrapolados para a No regime de fluxo superior a resistência ofe-
natureza. Nas correntes fluviais as formas de leito recida ao fluxo é pequena, sendo grande o trans-
podem ser reconhecidas pelo aspecto da superfície porte de sedimentos. As ondulações da superfície
do fluxo. da água e as do leito estão em fase. As configura-
ções comuns dos leitos são as camadas planas e as
O fluxo em canais fluviais pode ser classificado
antidunas. O principal mecanismo de transporte dá-se
em regimes de fluxo inferior e fiuxo superior, com
pelo rolamento quase contínuo dos grãos indivi-
uma transição entre ambos. Esta classificação é ba-
duais em "lençóis de areia" com espessura corres-
seada na forma do leito, modo de transporte do se-
pondente ao diâmetro de alguns g^ãos. O numero
dimento, processo de dissipação de energia e re-
de F r o u d e é superior a 1,00 e o padrão da
lação de fase entre o leito e a superfície da água
corrente caracteriza-se por fluxo rápido encarpe-
(vide tabela (5-1).
lado ou encachoeiradc.
No regime de fluxo inferior a resistência ofe-
recida ao fluxo é grande e o transporte de sedi- Em resumo: com aumento da energia de cor-
mentos é relativamente pequeno. As ondulações da rente passa-se das formas de fluxo inferior para
superfície da água não estão em fase com as on- aquelas do fluxo superinr. As mega-òndulações ou
dulações do sedimento do leito. A configuração do "dunas" desaparecem, criginando-se uma camada
leito é de pequenas ondulações (micro-cndulações)
ou de grandes ondulações (macro-ondulaçÕes), ou &TFXFU#A& Fonda? EM FAFE)
combinação de ambas. O mecanismo de transporte
do material do leito ocorre por grãos individuais
movendc-se para cima através da superfície poste-
rior das ondulações (micro e/ou macro) e, em segui-
da, caindo em avalanche pela superfície frontal. O
número de F r o u d e é inferior a 1,00 e o pa-
drão do fluxo tranqüilo (vide fórmula 16).

A configuração do leito é caótica na transição


entre os regimes de fluxo inferior e superior. O re-
gime de fluxo inferior apresenta micro e macro-on-
dulações, enquanto que o superior é constituído por
camadas planas e antidunas. Na transição as formas 0,6 O.Ö 1,0
0,2 0,3 OA
do leito podem apresentar-se variáveis desde os as- Y¿RWA*F/FO DO GR&O EM MM
pectos típicos do fluxo inferior até aqueles do fluxo í&Fig. 5-2 — Representação e s q u e m á t i c a das relações e n t r e as várias
rão
superior. O número de F r o u d e situa-se em f o r m a s d a

corrente 'baseado e m
l e i t 0 c o m 0 t a m a n n o d o

S o u t h a r d
9 e
velocidade
& B o q
m é d i a da
h w a I
torno de 1,00. 1973).

- 45
plana sobre a qual forma-se uma lineação paralela
ao f l u x o (lineação de corrente), a qual nos arenitos
aparece como lineação de partição. Com incremento
de energia formam-se as antidunas (fig. 5-2).
Formas de leito (Generalidades)
A interação dinâmica entre fluido e sedimentos
em transporte desenvolve no leito da corrente uma
série de formas características. Em ambientes de
águas rasas elas constituem estruturas sedimentares
de grande importância geológica. A partir delas po-
de-se reconstituir as condições paleogeográíicas da
bacia de sedimentação.

é??frafo<P para/e/o?
10*

)o

I
£<?frafofpara/

I
I io z

g&mwoâ/wétffação de grão?
I I I I I 1 1 L
0,2 0,4 0,6 QÔ f,0
tyàweffo em fffm
F i g . 5-3 — R e p r e s e n t a ç ã o e s q u e m á t i c a de várias f o r m a s de leito e
suas relações c o m a granulometria e energia de corrente (baseado
em S i m o n i et a l . , 1965; A I 1 e n , 1966).

Com o aumento da intensidade de f l u x o , ex- ^ F i g . 5-4 — V a r i a ç ã o d a s f o r m a s d e l e i t o d e a c o r d o c o m o a u m e n t o


presso em termos de energia de corrente crescente, da energia da corrente. Tipos de leitos observados em sedimentos
S i m o n s & R i c h a r d s o n reconhecem a arenosos durante experiências de l a b o r a t ó r i o (baseado em S i -

seguinte seqüência de configurações do leito: 1) ca- m o n s & R i c h a r d s o n , 1961).

mada plana sem movimentação; 2) pequenas on- Geralmente as formas de leito constituem as-
dulações; 3) mega-ondulações; 4) camada plana com pectos morfológicos de distribuição regular. As li-
movimentação de sedimentos; 5) antidunas (vide fór- nhas de cristas de um conjunto de ondulações apre-
mula 13; figuras 5-3 e 5-4). sentam espaçamentos uniformes no sentido do f l u x o .
Várias formas de leitos constituídos por grãos As alturas das ondulações, via de regra, dependem
soltos podem coexistir, originando combinações hie- do arranjo espacial. Um aumento de espaçamento é
rárquicas, ajustadas a um único f l u x o . As formas acompanhado por um aumento do v o l u m e e do ta-
apresentam uma organização gradacional, na qual manho da forma (figs. 5-5 e 5-6).
cada espécie de forma resulta do arranjo hierárqui-
co comandado pela escala física. Exemplifiquemos: O conjunto das formas, e cada forma em si, re-
os rios comumente apresentam barras convexas (bar- presenta a interação dinâmica entre o material do
ras de meandro) sobre as quais são superimpostas leito e o f l u x o da corrente. Desse modo, a forma
mega-ondulações (dunas). Estas por sua vez possuem nunca é inteiramente independente do f l u x o . As pro-
micro-ondulações, q u e por seu turno podem apre- priedades deste podem variar periodicamente com a
sentar lineações menores paralelas a direção da cor- distância em escala idêntica com aquela da f o r m a ,
rente (A I I e n , 1968).
embora não necessariamente em fase com ela.
46 -
100 r—i l i l i 1 1 i M 1 1 i i i i l i l i ' r

Fig. 5-7 — A s p e c t o s de um f l u x o i n s t á v e l b i d i r e c i o n a l . U n h a s de
c o r r e n t e selecionadas para u m f l u x o s o b r e u m a o n d u l a ç ã o (baseado
em A I I e n , 1968).

F i g . 5-7a — Padrão d e f l u x o i n f e r i d o p a r a m i c r o - o n d u l a ç õ e s linea-


res, o n d e se destaca a i n s t a b i l i d a d e b i d i m e n s i o n a l ( b a s e a d o em
A l i e n . 1966).

Formas de leito e estabilidade do f l u x o


F i g . 5-5 — A a l t u r a das m e g a - o n d u l a ç õ e s é p r o p o r c i o n a l ao c o m -
p r i m e n t o d e o n d a (baseado e m A l i e n , 1968). O fluxo pode ser descrito como hidrodinámica-
mente instável, se a velocidade, a tensão tangencial
junto ao leito e a intensidade de turbulência varia-
rem periodicamente com a distância, paralela ou
transversalmente a o fluxo ( A l i e n , 1968).
As formas de leito são consideradas como pro-
dutos de "fluxos bifásicos de superfície livre" (two-
phase, free-surface flows) onde os grãos transporta-
dos como carga de leito ou carga suspensa estão
sendo continuamente intercambiados entre o leito e
o fluxo.
Um fluxo tangencial (Shear-flow) instável unidi-
recional pode assumir duas estruturas cinemáticas
distintas. Uma delas representa um movimento ins-
tável bidimensional, no qual as propriedades do flu-
xo são perturbadas apenas na direção paralela ao
seu movimento médio (fig. 5-7). As dimensões mais
longas das formas de leito, que se encontram ajus-
tadas ao movimento, dispõem-se transversalmente
d (metros) ao fluxo médio. As linhas de fluxo são onduladas
^rofmdidade méd/a do fluxo no plano paralelo ao fluxo. No caso das micro- e
macro-ondulações o transporte é máximo na crista e
mínimo nas depressões.
A segunda estrutura, muitas vezes referida
como fluxo secundário, associa-se com perturbações
perpendiculares ao sentido do movimento médio.
Ela representa um movimento tridimensional. Este ge-
ralmente, compreende conjuntos de pares de vórtices
de espirais helicoidais (vórtices de Taylor Gõrtler)
girando em sentido oposto (fig. 5-8). Os eixos
Fig. 5-6 — A a l t u r a das m e g a - o n d u l a ç õ e s naturais é f u n ç ã o da
p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o (baseado em A l I e n , 1968). dos vórtices são paralelos ao fluxo. O problema do

- 47 -
A S A S A

F i g . 5-8a — Padrões de f l u x o inferidos para micro-ondulações: (l)


s i n u o s a s , (2) l i n g u ó i d e s e , (3) e m c ú s p i d e s . Em t o d o s os diagramas
destaca-se a instabilidade tridimensional (baseado em A l l a n ,
1966).
que a ordem de transporte aumenta de A para B
(fig. 5-8). Torna-se evidente q u e o leito aumenta de
altura ao longo da linha SS' e d i m i n u i na Ifnha A A ' .
As dimensões mais longas das formas de leito são
originadas paralelamente ao f l u x o , enquanto que as
perturbações são transversais ao movimento médio.
O comprimento de onda das antidunas depende
apenas da velocidade do f l u x o , desde q u e sejam
atingidas as condições supercríticas ou quase super-
críticas necessárias. Sendo a ocorrência das antidunas
provavelmente limitada por um valor superior do
Fig. 5-8 — Aspectos de um f l u x o instável tridimensional. Vórtices
de T a y l o r - G o r t l e r assinalando a s linhas d e m o v i m e n - número de F r o u d e , podemos esperar ampla
tação ( b a s e a d o em A I I e n , 1968). O diagrama inferior re- correlação entre o comprimento de onda e a pro-
presenta as linhas d e f l u x o junto ao f u n d o do leito.
fundidade do f l u x o (fig. 5-9).
movimento do grão ao longo das linhas da película
de fricção não se encontra totalmente elucidado. Su- As camadas planas não são totalmente lisas,
pondo-se q u e os grãos da carga do leito seguem tra- elas apresentam discretas ondulações e sulcos para-
jetórias representadas pelas linhas de f l u x o , tem-se lelos ao f l u x o , tanto durante o transporte como após
- 48
~[ 1 — i — n r i i r~r
a cessação cio movimento. Estas formas não exce- 1000
dem 30 cm de comprimento e distam entre si cerca
de 2,5 cm. A amplitude dos cordões é de várias
vezes o diâmetro médio das partículas. O padrão
de sulcos e cordões paralelos é bastante comum nos
arenitos bem estratificados (A I I e n , 1968). Eles
originam as lineações de partição ou lineações de 100
corrente.
l i
1
7--

I
_) I 1 L—l 1
I 1 I L_10
0.1 100
d (metros)

ÇProfwd/dade media do f/tfXQ

0.1
0.01 d (metros)
^ròfund/dade média do f/c/xo

H g . 5-10 — Correlação e n t r e p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o e a
l a r g u r a d o canal (baseado e m d a d o s d e L e o p o l d & M a d -
d o c k , 1 9 5 3 ) . A l a r g u r a do canal de um r i o é f u n ç ã o da p r o -
fundidade média d o f l u x o .
F i g . 5"9 — C o r r e l a ç ã o e n t r e a p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o e o
c o m p r i m e n t o de o n d a da a n t i d u n a . O c o m p r i m e n t o de o n d a é
tridimensional, a qual modifica a forma da crista
f u n ç ã o d a p r o f u n d i d a d e m é d i a d o f l u x o (dados c o m p i l a d o s p o r retilínea da ondulação formada na instabilidade bi-
A I I e n , 1968). dimensional.
Marcas de ondulação origínam-se em areia mé-
As mega-ondulações (dunas) encontradas nos
dia ou mais fina quando o valor limiar de movimen-
ambientes naturais raramente estão em equilíbrio
tação dos grãos é justamente excedido pelo fluxo
com as condições predominantes. Basicamente as
unidirecional. Em outras palavras, as marcas de on-
dunas são geradas por condições de instabilidade bi-
dulação formam-se quando a velocidade do fluxo ex-
dimensional, na qual as propriedades do fluxo são
cede o valor da velocidade limiar de movimentação
perturbadas paralelamente ao sentido da corrente.
dos grãos.
Sobre as mega-cndulações comumente superimpõe-
De acordo com observações de campo e labo- se uma instabilidade tridimensional, que faz com
ratório as micro-ondulações constituem populações que elas sofram variações em altura, bem como de-
de aspectos distintos quanto ao tamanho e forma, senvolvam protuberâncias para jusante formando
quando confrontadas com estruturas maiores conhe- cristas fortemente curvas.
cidas como "dunas" ou mais propriamente mega-on-
As mega-ondulações são formadas quando
dulações. Ambas populações apresentam semelhan-
as condições do fluxo apresentam um número de
ças em seus perfis ( A I I e n , 1968). O tamanho
F r o u d e baixo a moderado. Com o aumento da
das ondulações independe da profundidade do flu-
energia da corrente, nos sedimentos de granulação
xo.
grosseira (diâmetro de queda > 0 , 7 m m ) , após a de-
As marcas onduladas originam-se de condições posição das camadas paralelas, segue-se o desenvol-
de instabilidade bidimensionais, nas quais o fluxo é vimento das mega-ondulações (vide fig. 5-2). No
perturbado para jusante da crista. Sobre as marcas caso de sedimentos arenosos mais finos, elas são for-
onduladas pode se superimpor uma instabilidade madas após a deposição das micro-ondulações.
— 4y -
As antidunas constituem camadas onduladas bilidade centrífuga do mesmo tipo daquela dos vór-
sinuosoidais de pequena amplitude. Elas encontram- tices de Ta y I o r - G õ r t I er . Esta instabilidade
se grandemente em fase com ondas similares (mais é tridimensional e é produzida por um único vórtice
salientes) formadas na superfície das águas. As on- espiral em cada curva do meandro (fig. 5-11).
das podem deslocar-se para montante, para jusante,
ou então, serem estacionárias.
As antidunas não se formam em fluxos de ca-
nais amplos, a menos que a velocidade média V e
a profundidade média do fluxo d sejam tais que o
número de F r o u d e aproxime-se da unidade.
No campo, as antidunas são geradas dentro de uma
faixa restrita de variação do número de F r o u d e .
Elas registram um ajustamento do grão do leito à
uma instabilidade bidimensional da superfície livre
do fluxo.
No caso de suprimento restrito de sedimentos
sobre uma superfície de natureza menos erodível
ffityeefoe de &m
(rochosa ou rudácea), as areias são transportadas e FÍUXO FRX/METF&OTRA/
depositadas em forma de cordões paralelos entre si m?/áde/ em EAM/ emk?
e alongados no sentido do fluxo. O relevo dos cor- de um meandro.
dões é pequeno ou então apresenta-se aplainado. F i g . 5-11 — Instabilidade tridimensional esquemática p r o d u z i d a por
um único vórtice espiral na curva do meandro.
O espaçamento transversal entre eles aumenta com
a profundidade do fluxo. O desenvolvimento de
ÍOOOÕO
cordões de areia pode ser atribuído à condições de I I l 1 / 1

instabilidade tridimensional. Os cordões de maior U


porte podem ter superimpostos pequenas mega-on-
^ 10000
dulações. V
A geometria hidráulica dos meandros é bastan- I
te conhecida. Ela é aplicável à repetição caracterís- 1000

tica das restingas fluviais formando as barras de I


meandros (point bars), bem como na repetição de
barras alternantes transversais encontradas em ca-
nais de sinuosidade negligenciável nas águas altas
•I 1ÕO
- / ' > / / » v

I
7 •
V
( L e o p o l d & W o I m a n , 1957).
IO w
A grosso modo o comprimento de onda do

l
meandro é empiricamente proporcional à descar-
ga da corrente elevada a potência de cerca de 0,5. 10-
C a r I s t o n (1965) concluiu que o comprimento J/IW/fe PUPERIOF DA? ôMdu/AÇÕEE

de onda do meandro é 16 vezes maior do que a lar-


gura do canal:
l 47
X
M
=
W (21)
I J?imde per/o r daâ /irteaçoes de parf/gão 1

I
0,01
L e o p o l d & M a d d o c k (1953) con-
cluíram que a largura da corrente é igual a 42 vezes
a profundidade média elevado a 1,11 (fig. 5-10): 0,001 i i i i i
o ooi
t Õ,07 oi t 1 to roo 1000

1 # 1 1
Profundidade média do f/uxo ew
W = 42d (22)
Fig. 5-12 — Espaçamento característico das formas de leito em
donde o comprimento de onda do meandro seria
função da p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o , ( A I I e n , 1968).

1,11 1,11 As formas de leito originadas por instabilidade


X = 16x42d — 642d (23)
AA tridimensional alongam-se paralelamente ao fluxo,
O s trabalhos d e D e a n (1928) R e i d enquanto que as bidimensionais aíongam-se trans-
(1958) e B a g n o I d (1960) mostraram que a versalmente à corrente. Os dados ilustrados na fi-
formação dos meandros pode ser atribuída a insta- qura 5-12 permitem investigar a composição das
- 50 -
possíveis hierarquias de formas de leito em função te ordem crescente de hierarquia: lineações de par-
do seu espaçamento característico e da profundidade tição, micro-ondulações, macro-ondulações (dunas) e
média do fluxo. Entretanto, temos a considerar dois barras de meandros. ( A I I e n , 1968).
pontos: 1 — cada linha representando uma equação
está associada a uma zona de distribuição dos da- Se o fluxo for lateralmente extenso, como por
dos empíricos; 2 — a profundidade nem sempre é o exemplo, em amplos meandros ou em mares rasos,
único parâmetro responsável pela forma do leito. para profundidades d ^ 0 , ó m, além das formas men-
cionadas, temos os cordões de marés.
Hierarquização das formas de leito
Se o diâmetro do sedimento for > 0 , 7 mm as
As diferentes hierarquias das formas de leito micro-ondulações desaparecem. As macro-cndula-
são devidas às numerosas condições de fluxo, que ções não se formam se a energia da corrente estiver
permitem a existência de várias combinações mu- abaixo do valor da velocidade limiar das areias re-
tuamente instáveis. Cada combinação é expressa em lativamente finas ( A I I e n , 1968).
termos de forma de leito de uma escala física ca- Em profundidades < 0 , 6 m as micro- e macro-
racterística e orientação relativa do fluxo ( A l I e n , ondulações tornam-se indistinguíveis com respeito ao
1968). seu comprimento de onda característico. No caso
Na tabela 5-2 encontra-se relacionada a forma da energia da corrente ser conhecida pode-se esta-
de leito ao tipo de instabilidade. belecer a hierarquia: lineação de partição, micro- ou
mega-ondulações. As micro-ondulações podem coin-
TABELA 5-2 cidir com as mega-ondulações quando estas, são de-
vidas a forte instabilidade tridimensional.
Tipo de No caso de profundidades milimétricas, muito
Forma de Leito
Instabilidade pequenas (d — 1,7 mm), são originadas lineações e
barras transversais de grande escala. Nas profundi-
Lineações de partição Tridimensional dades muito pequenas, para o transporte dos sedi-
AAicro-ondulações Bidimensional mentos, seriam necessárias condições nas quais, o
Dunas Bidimensional número d e F r o u d e fosse relativamente alto
Antidunas Bidimensional e possivelmente dentro do regime de fluxo superior.
Cordões de areia Tridimensional No campo, são conhecidas associações de me-
Barras de meandro Tridimensional ga-ondulações com barras de meandros. AAicro-on-
Cordões de corrente de maré Tridimensional dulações podem ocorrer superimpostas sobre barras
de meandros. Da energia da corrente, depende até
que ponto as micro-ondulações podem coexistir e
Ao tratarmos da hierarquização das formas de superimpor-se sebre as mega-ondulações. Assim, as
leito, examinaremos três condições gerais: micro-ondulações podem ocorrer sobre a face de
— Na primeira condição, a energia da corrente montante da mega-ondulação quando a energia do
é pequena ou moderada. O número de F r o u d e fluxo possuir um valor baixo apropriado à última.
é muito menor do que a unidade. O regime de flu- Com energia maior as micro-ondulações restringem-
xo é classificado como inferior e o leito é formado se às partes mais baixas, situadas nas depressões das
por camada de areia espessa e contínua. mega-ondulações (vide tab. 5-3).
T a b . 5"3 — H i e r a r q u i z a ç ã o t e ó r i c a das f o r m a s de l e i t o (várias h i e r a r -
2 — Na segunda condição, a energia da cor-
q u i a s p o s s í v e i s ) ( b a s e a d o em A I I e n , 1968).
rente é grande e o número de F r o u d e é apro-
ximadamente igual a unidade. O regime de fluxo é
F?OMT//GÃO 2 ÂÕMdição J
do tipo superior e o leito é formado por camada
SARRA SARRA ÂORDÃO
DE DE SARRA
de areia espessa e contínua. «*.

1
MEANDRO MEANDRO AREIA
QURRA
ÚORDDODE DARTA
3 — Na terceira condição, a energia da cor- 9 EORRENFE
DE MARÉ
if '§1
M ÂORDAO
DE
rente varia dentro de ampla faixa, sendo o leito X 1 SLARRA
DE
MTEANDRA
SARRA
DE
MEANDRO
9j §
AREIA

constituído de camada de areia pouco espessa e des- 1


•1 FARDAI? DE CORDÃO
9 CORRADE DÊ
contínua.
! n
DEMERE' ARE/A
ÃARRA
Condição n.° 1 1 DE
MEANDRO
QATJA IONTÔODT
A condição 1 compreende várias hierarquias. W CORRENTE
DE MA RD
SIERRA
Por exemplo: num canal confinado lateralmente, DE
í MEANDRO
com profundidade média d ^ 0 , 6 m , temes a seguin-

- 51 -
Condição n.° 2 radores, a partir de pesquisas em laboratório, tem
sido extensivamente utilizado pelos geólogos na in-
A condição 2 praticamente é exclusiva dos ca-
terpretação das estruturas sedimentares. Quando se
nais fluviais e das planícies de marés. Ela depende
diz no afloramento que uma ocorrência de estratos
da ocorrência de um regime de fluxo superior sobre
cruzados foi originada em regime de fluxo superior,
um fundo arenoso espesso e contínuo. Nestas con-
isto significa que a interpretação foi feita a partir de
dições a hierarquia pode abranger um dos seguintes
um modelo de laboratório.
casos:
a) — lineações de partição e barras de mean- As relações gerais entre os diferentes regimes
dro; de fluxo é conhecido de estudos em laboratório. O
b) — lineações de partição e antidunas; gráfico da figura 5-3 mostra as relações entre o
c) — lineações de partição, antidunas e barras diâmetro e a potência da corrente. Esta é definida
de meandro. como o produto da velocidade média V pelo esforço
No campo é conhecida a associação de antidu- de arraste (Shear stress) 7T . De acordo com este
nas e barras de meandro. Nos canais de escoamento o
de pequeno tamanho e forte inclinação, são encon- diagrama pode-se esperar o desenvolvimento de vá-
rios tipos de leito: micro-e macro-ondulações, cama-
tradas as hierarquias lineações-antidunas e linea-
das planas e antidunas.
ções-barras de meandro. Quando se compara a con-
dição 2 com a condição 1 verifica-se que as barras Uma corrente de velocidade decrescente origi-
de meandro não possuem face de escorregamento e na uma seqüência de sedimentos arenosos compos-
o leito do canal é liso ao longo do talvegue < A I - ta de baixo para cima de: antidunas (caso sejam pre-
servadas), camadas planas, camadas com estratifica-
len, 1968).
ção cruzada de médio a grande porte, camadas com
Condição n.° 3
Iami nação cruzada de pequeno tamanho. Com ex-
A condição 3 é em alguns aspectos peculiar. ceção das estruturas de antidunas, muitas seqüên-
Ela é limitada pela disponibilidade de sedimentos de cias similares têm sido interpretadas em termos de
certo tamanho que possam ser transportados nas de mudança do regime de fluxo (fig. 5-13).
condições predominantes. São formadas as barras
de meandro, ou alternativamente:
a) lineações de partição, ondulações de cor-
rente e cordões de areia;
b) lineações de partição micro-e macro-ondu-
Iações e cordões de areia.

Tanto as micro-ondulações como as macro-on-


dulações podem desaparecer desta hierarquia, con-
forme a granulação do sedimento, isto é, se ele
for mais fino ou mais grosseiro do que 0,7 mm.

A figura 5-12 mostra que nas profundidades


de 0,1 a 1 m os comprimentos de onda dos cordões
de areia são da mesma ordem daqueles das micro-
Fig. 5-13 — C i c l o t e m a do A r e n i t o O l d Red ( I n g l a t e r r a ) i n t e r p r e -
e macro-ondulações. Estas formas de leito podem aí tado em termos de regimes de f l u x o . O regime de f l u x o superior
coexistir. A condição 3 não é restrita ao regime de é r e p r e s e n t a d o p o r um d e p ó s i t o rudáceo residual b a s a l . A c i m a d e l e
-
nos f l a n c o s d o cana! depositaram-se s e d i m e n t o s e m o r d e m d e c r e s
fluxo inferior. Ela pode ocorrer também no regime
cente do r e g i m e de f l u x o ( m o d i f i c a d o de A I 1 e n 1963).
de fluxo superior, quando as lineações de parti-
ção são seguidas pelos cordões de areia ( A I I e n , Classificação da estratificação cruzada.
1968). No campo ela é referida principalmente ao As classificações encontradas na literatura são
ambiente marinho (vide tab. 5-3). variadas. Aquelas de ordem genética não têm sido
muito bem sucedidas, enquanto que aquelas pura-
Estratificação originada pela migração das formas de mente descritivas parecem mais apropriadas. M c
K e e & W e i r (1953) classificam os estratos
leito.
cruzados de acordo com três caracteres fundamen-
A migração das formas de leito contribui, via
tais: superfície limitante inferior, forma aparente e
de regra, para o desenvolvimento de estruturas pri-
estrutura interna (fig. 5-14).
márias nos depósitos arenosos. O conceito de regime
de. fluxo desenvolvido por S i m o n s e colabo- A estratificação cruzada simples é aquela cuja

- 52 -
superfície limitante inferior não é uma superfície de c) laminações planas essencialmente horizon-
erosão, mas uma de não deposição ou de mudança tais com um milímetro ou mais de espessura, com a
de caráter. A estratificação cruzada plana é aquela superfície das lâminas marcadas por lineações pri-
cuja superfície limitante inferior é uma superfície márias de corrente.
de erosão plana. A estratificação cruzada acanalada
A interpretação do regime de fluxo em rochas
é aquela cuja superfície limitante inferior é uma
antigas é baseada na correlação entre o tipo de es-
superfície de erosão curva (fig. 5-14).
tratificação presente e as formas do leito. O tipo de
Os três tipos mais comuns de estruturas sedi-
estratificação desenvolvida depende do tipo, confi-
mentares originados em areias bem lavadas são:
guração e escala da forma do leito, de sua migração
a) cosseqüências de estratos cruzados de pe- e da forma da superfície sobre a qual se movimenta.
queno tamanho, nas quais a espessura de cada se-
qüência individual mede de poucos milímetros a Os principais tipos de estratificação, geralmente
vários centímetros. A forma de cada seqüência é ge- presentes em sedimentos fluviais, classificam-se em:
ralmente tabular ou em forma de concha.
1 — Estratificação cruzada
b) cosseqüências de estratos cruzados de gran-
de tamanho, nas quais a espessura de uma seqüên- Neste tipo os estratos encontram-se inclinados
cia individual mede decímetros ou metros. A forma em relação ao plano horizontal. Em geral, resultam
da seqüência é tabular ou em forma de concha. do transporte de sedimentos arenosos de carga de
fundo. Somente um exame tridimensional das estra-
tificações cruzadas fornece uma idéia precisa de sua
configuração. Os principais tipos de estratificações
cruzadas são:
a) Estratificação cruzada acanalada — Cada se-
qüência, em forma de canal, consiste de estrutura

c/a d?gm/?¿/e
jjj
1 /a

1
1 zaa*a aa¿?#a/ad? ¿fe

•1

!
l
Fig. 5-14 — Tipos f u n d a m e n t a i s de e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a , s e g u n d o
M c K e e e W e i r (1953). A — Estratificação cruzada s i m p l e s ;
1
B — Estratificação cruzada p l a n a ; C — Estratificação cruzada aca- Fig. 5-15 — Principais t i p o s de estratificações cruzadas ( m o d i f i c a d o
nalada. de A II e n , 1965).

- 53 -
de escavação por erosão preenchida por sedimentos rizontal; o limite superior pode ser plano como o
com lâminas recurvadas, mergulhando das bordas inferior ou apresentar conjuntos de marcas o n d u l a -
para o eixo do canal e de montante para jusante da das, com passagem transicional.
paleocorrente ( f i g . 5-15). O eixo maior do canal in-
£/rieaçàb deewre/rfe
dica então a direção da paleocorrente. Este tipo de
estratificação pode ocorrer tanto em escala pequena
como grande. A p r o f u n d i d a d e mínima de formação
desta estrutura corresponde ao d o b r o da espessura
de cada seqüência acanalada. Porém, como estas es-
truturas são encontradas t a m b é m em grandes pro-
fundidades, não se pode estimar a profundidade
máxima. Fig. 5-17 — Estratificação h o r i z o n t a l p r o d u z i d a p o r r e g i m e de f l u x o
b) Estratificação cruzada de camadas frontais s u p e r i o r , a p r e s e n t a n d o lineações de c o r r e n t e .

— As camadas frontais desta estratificação cruzada


Para a maior parte dos depósitos das areias e
apresentam formas variáveis: tabulares, tangenciais
siltes a configuração horizontalmente estratificada,
e côncavas. Estas diferenças de f o r m a são em parte
sugere velocidades de f l u x o maiores do q u e a das
atribuídas aos vários teores de material transpor-
marcas onduladas e menores do q u e a das antidu-
tado seja como carga de leito ou suspensão (figs.
nas, bem como profundidades de correntes suficien-
5-15 e 5-16).
temente grandes i m p e d i n d o o desenvolvimento de
ondas em fase. Entretanto, mesmo em depósitos de
areia com diâmetro superior a 6 mm podem ser de-
senvolvidas estratificações horizontais em regime de
gaperftâ/e daâgaa > f l u x o inferior. Neste caso, como a taxa de transporte
-5fâtfgette/a/^ ^ é muito baixa, as dimensões vertical e horizontal
desses depósitos devem ser muito limitadas. A l é m
V =$>rofutrd/d da baeta
h
disso, a lineação de partição associada às camadas
Vt^&rófttJtdda âorr&ffe Saâc/Zar* horizontais de regime de f l u x o superior, não f o i re-
âaraa tfametr/ode âatvaetfe gistrada em camadas horizontais de regime de f l u x o
de aargaettf /e/to i-ew inferior.
/e/fo st/spettfão Suspeição
Fig. 5-16 — G e o m e t r i a das camadas f r o n t a i s e suas relações com ¿Fórrente &vperfíb/e //e reaf/daçáo
as razões representativas da carga ( l e i t o / suspensão) e da profundi-
dade (corrente/bacial). (Baseado em J o p I i n g , 1965).

As seqüências deste tipo de estratificação cru-


zada também sugerem p r o f u n d i d a d e mínima corres-
pondente ao d o b r o da espessura da seqüência. Po- Fig. 5-18 — Superfície de reativação no interior de cossequencia
de lâminas aparentemente concordantes. A vista corresponde a
rém, como no caso das estratificações cruzadas aca- uma face vertical, na direção do fluxo.
naladas, a p r o f u n d i d a d e máxima de formação não
pode ser determinada. Alguns autores, como P o t - 3 — Superfície de reativação
t e r (informação verbal), sugerem q u e a espessu-
Algumas seqüências de estratificação cruzada
ra de uma seqüência corresponde no máximo a 1/6
podem ser interrompidas por superfícies inclinadas
da p r o f u n d i d a d e de água por ocasião da deposição
q u e separam seqüências de lâminas aparentemente
dos sedimentos q u e contém estratificação cruzada.
concordantes (fig. 5-18). A principal implicação da
Isto significaria q u e uma seqüência de estratificação
superfície de reativação liga-se à interrupção mo-
cruzada com um metro de espessura teria sido de-
mentânea da f o r m a de leito em processo de migra-
positada em p r o f u n d i d a d e máxima de 6 m de água.
ção. A identificação deste tipo de depósito tem va-
Entretanto, esta relação é empírica e aproxVnada.
lor interpretativo, podendo indicar mudanças no pro-
2 — Estratificação paralela e horizontal cesso ou na direção do f l u x o durante épocas de va-
A estratificação horizontal é d e f i n i d a por con- zante dos rios ( C o I I i n s o n , 1970).
juntos tabulares de lâminas ou camadas horizontais
ou aproximadamente horizontais, constituídas por Estratificação cruzada de pequeno porte
silte, areia ou grânulo ( f i g . 5-17). As lâminas são
Origina-se pela migração de micro-ondulações
localmente distintas ou podem ser pouco nítidas.
assimétricas. A f o r m a tridimensional das seqüências
O limite inferior de tal conjunto é plano e ho- depende da f o r m a da marca ondulada e das condi-

- 54 -
ções de suprimento de sedimentos (fig. 5-19). As cias formadas pelas macro-ondulações dependem das
micro-ondulações são formadas com intensidades de formas destas e do suprimento de sedimento. Foi de-
fluxo relativamente baixas dentro do regime do flu- monstrado por S i m o n s que as macro-ondula-
xo inferior. Aliás, elas têm origem a partir de in- ções são formadas no regime de fluxo inferior, nu-
tensidades tais que sejam capazes de iniciar o mo- ma intensidade de fluxo relativamente alta, acima
vimento dos grãos. daquela necessária para originar as micro-ondula-
ções. As macro-ondulações são importantes na for-
mação da estratificação cruzada de grande tamanho.
Laminação e lineação
Arenitos com laminação plana e com lineações
de corrente registram repetidas agradações, acom-
panhadas de deslocamento de grãos para jusante
sobre a interface sedimento-água, a qual é essencial-
mente plana.

F i g . 5-19 — D i f e r e n t e s f o r m a s de marcas o n d u l a d a s . A — linear; B


— s i n u o s a ; C — em c a t e n a r i a ; D — i i n g u ó i d e ; E — em f o r m a de
arco.

Estratificação cruzada de grande porte

As cosseqüências de estratos cruzados de ta


manho grande foram depositadas durante a migração
de sucessões de macro-ondulações (fig. 5-20). Se-
melhantemente às seqüências pequenas desenvolvi-
das pelas micro-ondulações, as formas das seqüên-

F i g . 5-20 — Estratificação cruzada de g r a n d e p o r t e associada à de


p e q u e n o t a m a n h o . Terraço f l u v i a l d o Rio São Francisco, e n t r e X i -
q u e - X i q u e e Pilão A r c a d o (BA). O b s e r v e m - s e as s u p e r f í c i e s de r e a t i - F i g . 5-21 — Lineações de c o r r e n t e no l e i t o de um p e q u e n o riacho
vação m e n c i o n a d a s n a f i g u r a 5-18. temporário, York, Ontário. Canadá.

- 55 -
As lineações de corrente, como aspecto sedi- limiar para o movimento do grão, seria o da micro-
mentar primário, consistem de ondulações e depres- ondulação e não de lineações.
sões paralelas, de baixo relevo q u e aparecem nas
As lineações podem somente ser preservadas
superfícies de partição de arenitos de granulação re-
em regime de f l u x o superior e, não em intensidades
lativamente f i n a , bem lavados e de laminação plana
pequenas no início da movimentação dos grãos. As
(figs. 5-17 e 5-21). A orientação da lineação está
estruturas permitem caracterizar quais foram as con-
associada a uma disposição preferencial do eixo
dições hidrodinámicas do ambiente.
longo dos grãos de quartzo que tendem a orientar-se
paralelamente à lineação e imbricar para montante Esta estrutura compreende uma série de cordões
ífias. 5-22 e 5-23). e depressões paralelas de relevo geralmente menor
do que 1 mm e comprimentos de até cerca de 30
cm (fig. 5-24). A geometria do leito é tridimensional;
os cordões e depressões são escalonados, desapare-
cem ou amplificam-se no sentido do seu comprimen-
to. As lineações desenvolvem-se na superfície de lâ-
minas planas o u suavemente onduladas ( A l i e n ,
1966). Nos cordões os sedimentos são ligeiramente
mais grosseiros do que nas depressões.

Fig. 5-24 — R e p r e s e n t a ç ã o d í a g r a m á t i c a das lineações de partição.


1 — fábrica do grão no plano do leito; 2 — grãos grosseiros;
3 — g r ã o s f i n o s ; 4 — vórtices (Seg. A I I e n , 1966).

Formas de leito (descrição)

1 — Camada plana sem movimentação

Esta forma de leito caracteriza-se pelo seu as-


pecto plano e horizontal sem qualquer configuração
superficial (fig. 5-1). Após iniciada a movimentação
a camada plana passará a apresentar pequenas on-
dulações em areias de diâmetro inferior a 0,6 mm
F i g . 5-23 — R o s a - d i a g r a m a referente à orientação dos eixos longos e mega-ondulações no caso de areias de diâmetro
d o s g r ã o s nas l i n e a ç õ e s s e g u n d o o s p i a n o s p a r a l e l o e p e r p e n d i c u l a r superior a 0,6 m m . No caso de areias mais gros-
ao acamamento (baseado e m dados de A l i e n , 1964). f =
seiras a camada plana poderia ainda persistir se a
vetor resultante.
Já em 1859, S o r b y referia q u e as linea- velocidade do f l u x o for muito baixa ( A I I e n ,
ções formavam-se pela atividade das correntes com 1968).
intensidades menores ou maiores do que aquelas
2 — Micro-ondulações
necessárias para formar as micro-ondulações. Contu-
do, S i m o n s et al (1961) conseguiram produzir As pequenas marcas onduladas são formas do
lineações em camadas planas no regime de f l u x o su- leito determinadas por ondulações assimétricas de
perior, q u a n d o o número d e F r o u d e aproxi- declive suave a montante e mais abrupto a jusante
mava-se ou excedia a unidade. Dessa forma o es- da corrente (fig. 5-25). 0 comprimento de onda, me-
tado de equilíbrio da configuração do leito, com ve- dido pela distância entre calhas ou picos sucessivos,
locidade (intensidade de fluxo) próximo ao valor é em geral inferior a 30 cm, nunca excedendo 60

- 56 -
Fig. 5-25 — Micro-ondulações desenvolvidas em leito fluvial.

cm. No início da formação apresentam pequena am- É geralmente aceito q u e as micro-ondulações se


plitude e caracterizam-se por cristas longas e para- originam em fluxo tranqüilo turbulento de pequena
lelas. Porém, com o aumento da intensidade do intensidade, tão logo o material arenoso inicia sua
fluxo são formadas grandes ondulações. O compri- movimentação ( S u n d b o r g , 1956). Traba-
mento de onda das ondulações independe da gra- lhos de campo e experimentais mostraram q u e as mi-
nulometria do sedimento. A velocidade mínima para cro-ondulações não se formam quando o tamanho
formação de micro-ondulações em areia fina é de médio de decantação da partícula é > 0 , 6 mm ( S i -
cerca de 20 c m / s . m o n s , R i c h a r d s o n & N o r d i n ,
1965). Tão logo formadas, as" micro-ondulações ten-
O mecanismo básico da formação das micro-on-
dem a migrar para jusante, através da erosão de sua
dulações não é bem conhecido. O transporte da car- face de reverso (montante) e deposição na de jusante.
ga do leito, a rugosidade e a forma das micro-ondu-
lações são aspectos interatuantes do transporte do O desenvolvimento da laminação de micro-on-
dulação requer um suprimento ccnstante de sedimen-
sedimento e a solução de qualquer um deles resulta-
to, de sorte que as micro-ondulações desenvolvam-
rá na melhor compreensão dos outros dois ( B r u s h
se para cima, mais por superposição do que mera-
Jr., 1965).
mente para frente. A estrutura interna das micro-on-
Em termos hidrodinámicos as micro-ondulações dulações assimétricas, depende de sua forma exter-
representam formas de rugosidade do leito desen- na, do modo de avanço no fluxo e da quantidade e
volvidas subaquaticamente pela interação entre o caráter do sedimento transportado.
material do leito e o fluxo. Elas refletem a natureza Dois tipos fundamentais de marcas onduladas
deformável do leito de uma corrente constituída de foram desde há muito tempo reconhecidos. São a3
sedimentos não coesivos ( S i m o n s & R i - ondulações simétricas e assimétricas. Eles foram in-
chardson, 1961). terpretados como devidos, respectivamente à ação
57 -
das ondas e das correntes. Muitas variações dos tipos
acima mencionados foram descritas para os diversos
ambientes de sedimentação. Distinções têm sido es-
tabelecidas entre as marcas onduladas de origem
eólica e aquelas dos vários tipos de águas correntes.

Em muitos casos é possível identificar-se o am-


biente de sedimentação através de medições de vá-
rios aspectos geométricos das marcas onduladas. Es-
tas medições devem ser rigorosas a fim de serem
evitados erros graves de interpretação. As medições
devem ser controladas pela estrutura interna da on-
dulação que define corretamente o seu comprimento
e altura. As ondulações desenvolvidas pelas corren-
tes fluviais são relativamente fáceis de serem dife-
renciadas das outras formas de correntes, ondas,
ventos e esparrinhamento de água no fluxo e refluxo
das ondas na praia (vide T a n n e r , 1967).

O índice de marca ondulada ( i Q ) é represen-


tado pelo quociente entre o comprimento de onda
(A.) pela altura (h):
k
(24)

As projeções horizontais das distâncias às de-


pressões dos lados montante e jusante da crista, res-
pectivamente representadas pelas letras M e J (fig.
5-26) servem de base para determinação do índice 3 4 5 6 7 8 910
de simetria da ondulação (i ), o qual vem expresso
pelo quociente entre elas: Fig. 527 — Correlação entre o í n d i c e da marca ondulada e o ín-
dice de s i m e t r i a . A área A representa cordões de marés, os quais
M se diferenciam das micro-ondulações eólicas pelo espaçamento en-

'so J (25) tre as cristas d e mais de uma dezena de metros. As marcas on-
duladas formadas pelo esparrinhamento das águas são separadas
em duas categorias pela unha horizontal no valor i 0 ™ 72 de
As marcas onduladas originadas por fluxo de a c o r d o c o m a p r e s e n ç a ou n ã o de r e s s a l t o h i d r á u l i c o ( T a n n e r,
1967).
água, geralmente possuem o índice \ inferior a q

15, enquanto que aquelas originadas pelos ventos lores de i x i p a r a as marcas onduladas desen-
o so

têm índices maiores. Por sua vez, as marcas ondu- volvidas em vários ambientes ( T a n n e r , 1967).
ladas desenvolvidas pelas correntes ou ventos apre- As propriedades da geometria da laminação
sentam índice de simetria i superior a 4, e aquelas
so cruzada das micro-ondulações, nos depósitos fluviais
formadas pelas ondas ou pelo seu esparrinhamento ou de correntes de turbidez, dependem da altura da
na praia possuem valores inferiores a 1,5. No dia- marca ondulada e das taxas predominantes de depo-
grama da figura 5-27 estão correlacionados os va- sição e de transporte junto ao leito.
útorrerife O f l u x o uniforme constante (ou equilibrado)
praticamente não existe na natureza. Em geral, nos
ambientes naturais, as propriedades dinâmicas do
fluxo transportador de sedimentos são funções com-
plexas do espaço e do tempo, isto é, a taxa de
transporte varia com o tempo e distância, podendo
ocorrer erosão ou deposição. Em ambos os casos, as
taxas de transferência de material entre o fluxo e o
F i g . 5-26 — M l c r o - o n d u l a ç õ e s . X = c o m p r i m e n t o de o n d a ; h == al- leito dependem da distância e/ou do tempo de
t u r a ; M = lado m o n t a n t e ; J ~ lado jusante.
transporte. Por exemplo: a deposição ocorre quando

- 58 -
a taxa de transporte diminui na direção do fluxo. por superfícies erosivas quando tg £ > tg £. As
Neste caso o transporte de sedimentos não é uni- lâminas da face de montante são preservadas quando
forme. t<3 £ > t g £. No caso de tg £ ~ tg. £ não ocorre
erosão ( A I I e n , 1968). A inclinação da face
Verifica-se igualmente deposição num determi- o
de montante varia de cerca de 4 para as pequenas
nado ponto da corrente, quando a taxa de transpor- o
micro-ondulações a cerca de 9 para as grandes.
te diminui com o tempo, como por exemplo, após
uma cheia. Diz-se então, que o fluxo de sedimentos Até há pouco tempo era quase que impossível
é inconstante. quantificar os processos de erosão, transporte e sedi-
mentação envolvidos na formação das rochas sedi-
As micro-ondulações constituem uma das estru-
mentares. Experiências de laboratório ( A I I e n ,
turas sedimentares mais comuns indicadoras de f l u -
1971a) permitiram estimar até certo ponto, de forma
xo de sedimentos não uniforme e inconstante ( A l -
quantitativa, os processos de deposição de areia
i e n , 1970b). Essencialmente, elas apresentam
(fig. 5-30). A laminação cruzada desenvolvida pelas
estratificação cruzada, onde existe a superposição
micro-ondulações ascendentes prestam-se para indi-
de uma série de ondulações, as quais avançam sem-
car qual a relação entre as taxas de deposição e de
pre para jusante por sobre a face de montante in-
transporte de carga, a qual vem expressa pela se-
ferior.
guinte fórmula:
A ascensão das ondulações pode ser acompa-
HR
nhada de processos erosivos ou deposicionais. No
tg i = (26)
primeiro caso verifica-se a erosão das faces de mon- ~2¡"
tante, o que faz com que as seqüências de estratos
onde: £ corresponde ao ângulo de ascensão, H à al-
cruzados sejam separadas por superfícies erosivas
tura da ondulação em cm; R é a média por área da
(fig. 5-28, nos. 1 e 2). No segundo caso ocorre de-
taxa de deposição em gramas (sedimento seco) por
posição na face de montante da micro-ondulação, 2
c m e por segundo; j refere-se à quantidade do fluxo
de sorte a originar contatos gradacionais entre as se-
do sedimento contido nos corpos de ondulação que
qüências de estratos cruzados (fig. 5-28, nos. 3 e 4).
passa por um plano fixo normal ao vetor corrente.
O ângulo de ascensão expressa em termos gerais as
propriedades do fluxo e as condições de transporte e
deposição.
F i g . 5-28 — Tipos e p a d r õ e s de l a m i n a ç ã o cruzada r e l a c i o n a d o s c o m
as m i c r o - o n d u l a ç õ e s ascendentes ( b a s e a d o em A II e n , 1970).
Os n.°s 1 e 2 r e p r e s e n t a m f o r m a s e r o s i v a s e os n . ° s 3 e 4 f o r m a s
deposicionais.

O ângulo de ascensão das micro-ondulações


pode variar desde poucos graus até quase vertical.
A figura 5-29 representa o movimento das micro-
ondulações ascendentes onde £ indica o ângulo de ¿Zorreóte
ascensão. As ondulações deslocam-se no espaço no
^reâ/pitagao c/e a/*é>/a
sentido OV. O ângulo de ascensão é função da al-
tura H. A relação entre as seqüências de estratos
cruzados compreende o comprimento de onda e a
assimetria, ou alternativamente o ângulo £ de incli-
nação da face de montante ( A II e n , 1970b).
As seqüências de estratos cruzados são separadas

F i g . 5 30 — Estrutura da m i c r o - o n d u l a ç ã o . A — D e s l o c a m e n t o t r a -
cyáee de ;
cional d e a r e a nas m i c r o o n d u l a ç õ e s sem p r e c i p i t a ç ã o d e s e d i m e n -
t o s . As l â m i n a s da o n d u l a ç ã o estão t r u n c a d a s na p a r t e s u p e r i o r .
B — D e s l o c a m e n t o de areia com p r e c i p i t a ç ã o de s e d i m e n t o s . As
lâminas internas n ã o estão e r o d i d a s (baseado e m S a n d e r s ,
1963).

Freqüentemente, constata-se que a laminação


cruzada das micro-ondurações jazem diretamente so-
bre areias de textura similar, porém de laminação
X? âfgtdo de a#se#£ao
paralela ( A I I e n , 1971b). Estas estruturas se-
F i g . 5-29 — D i a g r a m a r e p r e s e n t a t i v o das m i c r o - o n d u l a ç õ e s ascen- dimentares e o arranjo das partículas sugerem que
dentes (baseado e m A l i e n , 1970 b ) .

- 59 -
apenas uma única corrente de energia decrescente le da inclinação da face de montame da micro-ondu-
foi responsável pela deposição. Situações semelhan- lação, podendo atingir mais de 60°. No tipo 1 o ân-
tes são referidas por A I I e n (1964), M c K e e , gulo de ascensão aparentemente não ultrapassa 9 , o

C r o s b y & B e r r y h i l l (1967) e P i - embora nos sedimentos dos terraços do Rio São


c a r d & H u l e n (1969). O mesmo tipo d e Francisco (BA) ele atinja até 25° (fig. 5-31).
relação é igualmente mencionado para os depósitos
de corrente de turbidez. Os tipos 2 e 3 representam formas intermediá-
Comumente, as ondulações na base da camada rias entre as micro-ondulações com ângulos de as-
de laminação cruzada ascendem com ângulos de 5 - o censão suaves (tipo 1) e aqueles muito íngremes
15° ( A I I e n , 1971b), podendo entretanto, (tipo 4). O tipo 2 caracteriza-se por ângulos de as-
atingir d e 40°-50° ( M c K e e , C r o s b y & censão de até 35°, enquanto que no tipo 3 este ân-
Berryhill, 1967). gulo está compreendido entre 35° e 60°. A passa-
gem entre os vários tipos faz-se gradacionalmente.
Vários "tipos" ou "variedades" de laminação
cruzada de ondulação ascendente têm sido esboça- Para os sistemas de fluxo não uniformes o ân-
dos ( J o p l i n g & W a l t e r , 1968). Eles gulo de ascensão das micro-ondulações aumenta na
constituem simplesmente pontos de referência numa direção do fluxo e cem o aumento da profundidade.
série morfológica contínua (fig. 5-28). Dessa forma deve-se esperar o maior desenvolvimen-
to do tipo 1 de laminação cruzada (fig. 5-28) nas
No tipo 1 (fig. 5-28) as superfícies de separa- partes de montante do depósito e as do tipo 4 nas
ção das várias seqüências de estratos cruzados são de jusante ( A I I e n , 1970b). Não existem ainda
erosivas ou não deposicionais (fig. 5-31). O tipo 4, informações seguras sobre a distribuição dos vários
também designado laminação sínuosoidal ( J o p - tipos de laminações cruzadas no campo, bem como
ling & W a l t e r , 1968), caracteriza-se por de suas relações com os sistemas de fluxo. Os da-
relações gradacionais entre as seqüências de estra- dos acima mencionados referem-se principalmente a
tos. O ângulo de ascensão ultrapassa de muito àque- estudos de laboratório.

Para os sistemas de fluxo inconstante deve-se


esperar numa seqüência vertical a passagem dos ti-
pos 1 a 4. Em outras palavras, o ângulo de ascensão
da laminação cruzada das micro-ondulações aumenta
com a diminuição da velocidade. Numerosos são os
exemplos de laminação cruzada, nas quais o ângulo
de ascensão aumenta de baixo para cima numa se-
ção ( M C K e e , 1965; D a v i s , 1966), em-
bora em caso algum a seqüência de formas esteja
completa.

Na passagem gradacional entre os tipos 1 e 4


pode ou não haver um decréscimo do tamanho da
granulação do sedimento.
Os sedimentos com laminação cruzada geral-
mente apresentam uma seleção local do tamanho de
grão, estando os grãos mais finos nas lâminas de-
positadas no lado de montante da ondulação e os
mais grosseiros nas lâminas formadas no lado de ju-
sante.

F i g . 5-32 — M o v i m e n t o de areia na m i c r o - o n d u l a ç ã o . fm = face de


montante; fj = face de jusante; fe — face de escorregamento;
Fig. 5-31 — Marcas onduladas ascendentes. Baixo terraço do Rio cl = carga de leito; df = d e p ó s i t o de f u n d o ; t = área de f o r t e
São Francisco entre Xique-Xrque e Pilão Arcado, Bahia. turbulência.

- 60 -
Os sedimentos depositados nas ondulações as- te. Erosão importante tem lugar com ângulos bai-
cendentes procedem de duas fontes: 1 — da sus- xos, resultando apenas a preservação dos depósitos
pensão fluindo sobre o leito, e 2 — da fina carga do lado de jusante da ondulação.
fluindo em contacto com o leito. Os sedimentos var-
ridos da face de montante (fm) da ondulação são
transportados para jusante como carga de leito (fig.
5-32cl). Eles são arrastados para uma área livre de
tensão tangencial com forte turbulência (fig. 5-32-t),
na qual são difundidos e conveccionados antes de
serem depositados na face de jusante (fj) da ondu-
lação. Foi demonstrado por A I I e n (1968 a, b) F i g . 5 3 4 — Laminação c r u z a d a d e m t c r o - o n d u l a ç ã o a s c e n d e n t e .
Plano p a r a l e l o à s u p e r f í c i e da c a m a d a . Direção da c o r r e n t e de-
que a taxa local de deposição destes sedimentos na
b a i x o para c i m a . Esta f i g u r a j u n t a m e n t e c o m a f i g u r a 5-33 c o m -
face de jusante diminui no sentido da corrente. De- p l e t a o a s p e c t o t r i d i m e n s i o n a l das e s t r u t u r a s ( s e g u n d o A l l e n ,
vido a este fato forma-se uma face de escorrega- 1971b).

mento (fe) seguida de uma zona de depósitos de Quando o ângulo de ascensão da laminação
fundo (df) (fig. 5-32). cruzada diminui, os modelos experimentais mostra-
O gradiente da taxa de deposição com a dis- ram que a topografia da ondulação exerce uma in-
tância depende do tamanho do grão. Ele é relati- fluência progressivamente maior sobre a variação da
vamente baixo para as areias mais finas, de sorte granulação de areia depositada. Quando os ângulos
a formar-se uma seqüência importante de lâminas referidos são mais íngremes a relação é pequena,
de fundo, as quais rivalizam-se com as da face de indicando ligeira tendência dos grãos mais grossei-
escorregamento. Estas últimas, em casos extremos, ros disporem-se para jusante das cristas. Relaciona-
podem mesmo faltar. As areias mais grosseiras pro- mento mais importante ocorre nos ângulos de ascen-
duzem um gradiente mais abrupto, com pequeno são moderados, quando os grãos mais grosseiros si-
desenvolvimento ou mesmo ausência de lâminas de tuam-se entre a crista e a depressão. Relações discor-
fundo ( A l l e n , 1971b). dantes entre as unidades de laminação cruzada sur-
gem quando os ângulos de ascensão são moderada-
As figuras 5-33 e 5-34 ilustram as reconstitui-
mente fracos. Neste caso não há acumulação no lado
ções das estruturas internas encontradas nas expe-
de montante das ondulações. Dois padrões alternati-
rimentações d e laboratório realizadas por A l l e n
vos são desenvolvidos. O tamanho médio local pode
(1971b). Quando os ângulos de ascensão são íngre-
encontrar-se a jusante, a meio caminho entre a crista
mes as lâminas a montante e a jusante da crista dás e a depressão, ou então, crescer até um máximo na
ondulações apresentam espessuras similares. Quan- extremidade a jusante. O último padrão, provavel-
do os ângulos de ascensão são moderados as lâminas mente reflete a maior importância do processo de
depositadas a montante são muito menos espessas avalanche ( A l l e n , 1971b).
do que aquelas de jusante. Quando os ângulos são
moderadamente baixos os depósitos de uma ondu- As pequenas ondulações dão origem a üma
lação são, via de regra, ligeiramente erodidos pela laminação cruzada caracterizada pela riqueza de de-
ondulação subseqüente, embora muitas das ondula- talhes e pelo seu aspecto intrincado. Nos depósitos
ções retenham lâminas finas depositadas a montan- do delta do Colorado (México) a laminação cruzada
resulta inteiramente do desenvolvimento das marcas
onduladas formadas durante a deposição ( M c K e e ,
1939). Muitos dos bancos de areia do rio Paraná,
entre Foz do Iguaçu e Guaíra, caracterizam-se pela
presença de laminação cruzada originada de marcas
onduladas. Igualmente, no Rio São Francisco (BA),
entre os depósitos de areia fina ocorre laminação
cruzada de origem similar (fig. 5-35). Entre os sedi-
mentos periglaciais das imediações de Berlim des-
tacam-se algumas camadas com laminação ondulante
ou cruzada (figs. 5-36 e 5-37).

Muitas são as condições naturais sob as quais


F l g . 5-33 — L a m i n a ç ã o cruzada o r i g i n a d a pelas m i c r o - o n d u l a ç õ e s são formadas as várias seqüências de lâminas das
ascendentes d u r a n t e e x p e r i ê n c i a s d e l a b o r a t ó r i o . C o l u n a d a es- ondulações. Portanto, os padrões de laminação cru-
q u e r d a : perfis verticais paralelos ao f l u x o . Coluna da d i r e i t a : per-
fis verticais p e r p e n d i c u l a r e s a o f l u x o ( s e g u n d o A l l e n , 197l).
zada resultantes são diversos quando examinados em

- 61 -
seções verticais. O seu caráter depende em princí- zontal. A laminação cruzada uniforme é relativa-
pio, se as sucessivas séries de ondulações são su- mente rara, pois a maioria das ondulações não são
perimpostas ou não no mesmo ritmo e direção uniformes em caráter e nem sempre são sobrepostas
( M c K e e , 1939). A l é m disto, entre as estru- no mesmo sentido e ritmo.
turas desenvolvidas com ondulações uniformes, dois
Um tipo de laminação cruzada de forma con-
tipos podem ser reconhecidos. No primeiro deles, o
sistente é desenvolvido pela superposição sucessiva
sedimento é distribuído uniformemente sobre a su-
de lâminas de ondulações de mesmo ritmo e sentido,
perfície ondulada. No segundo, há uma concentra-
ção no lado de jusante da ondulação. apresentando concentração de sedimentos no lado de
jusante do fluxo. Nos locais onde as ondulações as-
cendem uma superfície inclinada as linhas de sepa-
ração das seqüências de lâminas cruzadas mergu-
lham fortemente para montante (fig. 5-38"b"), en-
quanto que as lâminas frontais aproximam-se da ho-
rizontal.

Fig. 5-35 — Micro-ondulação ascendente em terraços do R i o São


Francisco, entre X i q u e - X i q u e e Pilão A r c a d o . Bahia.

Os fatores que afetam o aspecto de toda lami-


nação de ondulação, bem como controlam as estru-
turas desenvolvidas nas concentrações de jusante
(fig. 5-38), residem em variações devidas à deposi-
ção ascendente, em nível e descendente ( M c K e e,
1939). Para o delta do Colorado, este autor reconhe-
ceu os seguintes tipos de laminação de ondulações:

1 — Lâminas superimpostas em ritmo ou fase;


A — deposição uniforme;
B — concentração no lado de jusante;
a) ondulação ascendente;
b) ondulação descendente;
c) ondulação em nível;

2 — Lâminas superimpostas fora de^. ritmo ou


fase.

A laminação de ondulação mais simples é for-


mada por uma seqüência de marcas onduladas assi-
métricas uniformemente sobrepostas (fig. 5-38a), Ou-
tras formas de laminação mostram as ondulações as-
cendendo ou descendendo na direção do movimen- Fig. 5-36 — Depósitos periglaciais com e&tratificação ondulante
entre sequências de estratos frontais, imediações de Grunewald,
t o , ou então apresentam-se essencialmente na hori- Berlim.

- 62 -
Nas áreas onde a deposição se faz seguindo a desaparecem com o aumento da velocidade (fig
inclinação do leito, as linhas de separação das se- 5-40).
qüências de lâminas cruzadas situam-se aproxima-
As macro-ondulações são similares em forma às
damente na horizontal e os estratos frontais incli-
micro-ondulações e o seu comprimento de onda va-
nam-se no sentido da corrente (fig. 5-38"d").
ria de 60 cm a vários metros. Em contraste com as
Uma situação intermediária ocorre quando a de- pequenas ondulações o comprimento de onda das
posição se faz num leito aproximadamente horizon- macro-ondulações pode aumentar com a profundi-
tal ( M c K e e , 1939). dade da água (fig. 5-6). A l é m disso, o comprimento
de onda e forma das macro-ondulações dependem
O aspecto da laminação cruzada originada pe- da granulometria do material do leito.
las marcas onduladas depende da continuidade de O processo de avalanche provoca o deslocamen-
superimposição das lâminas. No caso de deposição to da macro-ondulação para jusante numa ordem que
de apenas 6 a 12 lâminas similares, o aspexto em depende da velocidade do f l u x o e da altura da on-
seção vertical é semelhante a uma série de sulcos dulação. As ondulações menores são mais velozes
preenchidos com lâminas ( M c K e e , 1939). do que as maiores.
Por outro lado, quando as lâminas cruzadas das on-
dulações depositam-se, sem mudanças durante certo
tempo, forma-se um padrão de "camadas aparentes"
dentro das quais encontram-se numerosas lâminas
inclinadas tangenciando a base.

O exame tridimensional da laminação cruzada


dos depósitos do delta do Colorado ( AA. c K e e ,
1939) mostra o verdadeiro caráter das lâminas das
ondulações e facilita o seu reconhecimento (fig. 5-39).
Nestes diagramas a seção horizontal mostra depo-
sição e ausência de erosão. Este fato diferencia es-
tas estruturas daquelas de "escavação e preenchi-
mento".
Via de regra, a laminação cruzada representa
combinações de vários tipos e tamanhos de marcas
onduladas e desta forma a estrutura é extremamen-
te variável. Nos rios atuais, o exame da superfície
com marcas onduladas mostra que a maior parte
das cristas e depressões é muito irregular na f o r m a ,
bem como não apresenta uma direção constante.
Dessa maneira torna-se muito difícil que as seqüên-
cias de ondulações sobrepostas sejam concordantes
com as lâminas inferiores. A l é m do mais, a forma
irregular da maioria dessas ondulações contribui pa-
ra perda da uniformidade e caráter rítmico das lâmi-
nas vistas em seção vertical não paralela ao sentido
do movimento ( M c K e e , 1939).
3 — Macro-ondulações

A formação de macro-ondulações tem lugar


dentro de determinadas condições de energia da cor-
rente evidenciadas pela taxa de sedimentos em trân-
sito sobre o leito, pela velocidade e grau de tur-
bulência do fluxo, A transição de micro-ondulações
para macro-ondulações é bastante abrupta. As ma-
cro-ondulações apresentam, no início, pequenas on-
Fig. 5-37 — Depósitos perigladais com estratificação originada de
dulações superimpostas nas faces posteriores, que micro-ondulações ascendentes. Imediações de Grunewaid, Berlim.

- 63 -
Forma do estrato frontal

As várias formas assumidas pelos estratos fron-


tais foram estudadas experimentalmente em labora-
tório ( J o p l i n g , 1965; A I I e n , 1965).
A forma dos estratos frontais originados pela migra-
ção das macro-ondulações depende de uma série de
fatores: a) tipo do sedimento, b) descarga do fluxo,
c) transporte do sedimento, d) velocidade da corren-
te, e) profundidade do fluxo, f) profundidade da
bacia em frente a macro-ondulação, g) grad ente de
energia, h) esforço de tração junto ao leito, i) tem-
peratura da água, j) relação entre as cargas suspensa
e de leito, e, k) concentração de elásticos finos.

Nos trabalhos experimentais d e J o p l i n g


(1965) foram considerados: a) velocidade e tensão
e
Fig. 5-38 — Laminação cruzada desenvolvida a partir de micro-
tangencial do leito, b) relação entre profundidade do
ondulações em ritmo, a — deposição uniforme; b, c, d - con- fluxo e da bacia, e c) tipo de sedimento.
centração n a face d e e s c o r r e g a m e n t o c o m d e p o s i ç ã o a s c e n d e n t e , e m
nível e descendente; e — efeito geral da e s t r u t u r a de m í c r o - o n d u -
A forma do estrato frontal constitui uma res-
lações descendentes ( r e p e t i ç ã o d a e s t r u t u r a representada em " d " ) posta morfológica às partículas sedimentadas na par-
(modificado d e M c K e e . 1030) te superior da face de escorregamento da macro-on-
dulação. Em outras palavras, ela é função da traje-
tória dos grãos de areia.

Para o geólogo, a velocidade da corrente repre-


senta um parâmetro significativo, como medida da
dinâmica de transporte e deposição. Entretanto, do
ponto de vista da hidráulica, o esforço de cisalha-
mento (tensão tangencia!) junto ao leito constitui o
parâmetro relevante. Devido a mudança do limite de
rugosidade, criado pela transformação da forma de
leito, a velocidade e cisalhamento são apenas indi-
retamente relacionadas. O esforço de cisalhamento
junto ao leito representa uma medida mais objetiva
do transporte do sedimento, isto é, da descarga e
composição das partículas na frente dos estratos fron-
tais.
Em veleeidade pequena, pouco acima da limiar
(relativa ao movimento do grão), as partículas arras-
tam-se no leito e depositam-se na parte superior do
estrato frontal. Neste caso, o transporte é mínimo
e restringe-se ao leito. O material acumulado na
parte superior do estrato frontal move-se pela ação
da gravidade, isto é, sofre avalanche. A face de es-
corregamento que representa o estrato frontal é es-
sencialmente plana e encontra a camada basal em
contato angular (fig. 5-41 " a " e " b " ) .

Com o aumento da velocidade da corrente,


maior quantidade de sedimento entra em suspensão
e é carregado para a área de turbulência situada a
jusante da crista da macrc-ondulação. Parte deste ma-
terial deposita-se na base do estrato frontal e o con-
Fig. 5-39 — A s p e c t o s tridimensionais da micro-laminação cruzada
da porção superior do delta do C o l o r a d o ( m o d i f i c a d o de M c -
tato com a camada basal não é mais angular, po-
K e e , 1939). rém tangencial (fig. 5-41 "c").
et -J/úwefo d?

, J
r / ^ w í i f o ' * ^ / » » » mon-
ffeaüêmèri' aeatut/adar ds tacanho Sefrato? ho/ fèo'fn7& te ¿ ea^é/fú/aff fâèu/areí' oua^am/ada^?'
nta/ eêfrat/fteadas' ou e£>/rafora.

ãorretife de a/to grad/enfe/pereife


eatfaefo

Fig. 5-40 — Formas de leitos de areia relacionadas c o m os r e g i m e s de f l u x o . A — s u p e r f í c i e da á g u a ; B — f o r m a do l e i t o ; C — m o -


v i m e n t a ç ã o da p a r t í c u l a (areia ou cascalho); D — curvas r e p r e s e n t a t i v a s : a) n ú m e r o de M a n n i n g , b) t r a n s p o r t e de s e d i m e n t o , c) v e l o -
&
cidade relativa p r ó x i m o ao leito; E F — t i p o d e e s t r a t i f i c a ç ã o ; G , H & I — t i p o d e c o r r e n t e (baseado e m H a r m s & F a h -
ne s t o c k , 1965).

Qrattde fôrtteewetrtõ 3?!teft&dade 1965; A l l e n , 1 9 6 5 ; B o e r s m a , van


efe ê&fM&ffa} da delocidade d e M e e n e & T j a I s m a , 1968).
âátperfíâíe da agua} {_ \
Com o aumento da velocidade da corrente a
forma do estrato frontal segue a seguinte linha evo-
lutiva:
angular ^ incipientemente tangencial —>* for-
temente tangencial • côncava (fig. 5-41).
O ângulo de inclinação do estrato frontal é má-
ximo quando o contato é angular ou ligeiramente
tangencial, e é mínimo « 20°) quando o perfil do
estrato é côncavo. Neste último caso, as vezes é di-
fícil, separar um estrato basal de um frontal.
A instabilidade na parte superior da face de
escorregamento é aí induzida pela maior deposição
de sedimentos. Ela é reequilibrada pela avalanche
de areia em direção à base. A instabilidade origi-
nada pelo empilhamento de grãos pode atingir ân-
gulos de 34,5° a 43,5° (A I I e n , 1965). Com a
avalanche a inclinação do estrato frontal diminui pa-
F i g . 5-41 — Diagramas i l u s t r a n d o a i n f l u ê n c i a d o a u m e n t o d e v e l o -
ra 29° a 33°.
c i d a d e n a f o r m a ç ã o d o estrato f r o n t a l e m l a b o r a t ó r i o . A p r o f u n -
didade do f l u x o é considerada constante. A baixa velocidade em A macro-ondulação migra para jusante pela su-
" a " f a v o r e c e a f o r m a ç ã o d e estratos p l a n o s q u e a t i n g e m o f u n d o cessão alternada de empilhamentos e avalanches. O
d a bacia d e f o r m a a n g u l a r a b r u p t a . C o m a u m e n t o d e v e l o c i d a d e
verifica-se u m e s t á g i o d e transição " b " e u m c o n t a c t o t a n g e n c i a !
processo de avalanche pode ser contínuo ou intermi-
e m " c " . A s v e l o c i d a d e s maiores o p e r f i l d o e s t r a t o f r o n t a l é suave- tente, dependendo da relação entre a quantidade
m e n t e c ô n c a v o em " d " ( s e g u n d o J o p I i n g , 1965).
de sedimento fornecida e o esforço de cisalhamento
por gravidade que remove os grãos por avalanche.
Em velocidades maiores intervém maiores quan- No caso da remoção dos grãos ser mais rápida do
tidades de sedimentos na área de turbulência e o que a deposição o processo de avalanche é contí-
sopé do estrato frontal aumenta de tamanho. Neste nuo. Ele será descontínuo no caso de haver empi-
estágio podem desenvolver-se micro-ondulações re- lhamento e conseqüente instabilidade da parte su-
gressivas na seqüência de fundo ( J o p I i n g , perior da face de escorregamento. A velocidade crí-
- 65 -
¿Fertiido do f/uxo A avalanche constitui um dos mais importantes
processos agindo na escultura do perfil frontal das
formas de leito. Ela determina, aparentemente em
grau significativo a espessura, a agradação e o ar-
ranjo interno dos estratos.
Quando uma face frontal torna-se muito íngre-
me por sedimentação sobrevem a avalanche que
neutraliza o excesso de inclinação resultante de
acúmulo de sedimento na parte superior da face.
Este acúmulo na face de jusante das ondulações, faz-
se por processo de convecção combinado com difu-
Fig. 5-42 — D i s t r i b u i ç ã o d o g r ã o n o estrato f r o n t a l . Seleciona m e n t o
d e v i d o a o processo d e a v a l a n c h e . são turbulenta, durante a qual os grãos projetados
além da crista, precipitam muito mais junto a mes-
Superficie Ordem de forne- Jrtteu&idade
da agua i cimento de cedi- da Velocidade ma do que mais abaixo ( A. I I e n , 1970).
mentor
A avalanche ocorre quando a taxa de sedimen-
tos da parte superior do estrato ultrapassa a da par-
te inferior do mesmo. O gradiente resultante da
acumulação torna-se instável e a avalanche f l u i , dei-
xando uma face com inclinação menor do que antes ;

do movimento. Teoricamente, a freqüência e espes-


sura da avalanche depende do gradiente, da taxa
de deposição, da concentração das partículas preci-
pitadas, do tamanho e densidade dos grãos e do
meio onde se realiza a avalanche. Para taxas sufi-
cientemente elevadas de deposição a avalanche é
contínua e as partículas em toda face afetada estão
em movimento. De outro modo a avalanche é inter-
mitente.
As avalanches têm forma de línguas. Nela os
grãos mais grosseiros concentram-se lateralmente,
F i g . 5-43 — Representação e s q u e m á t i c a , em m o d e l o de l a b o r a t ó - bem como na parte inferior (fig. 5-42). Por sua vez,
r i o , d e p e r f i s resultantes d e u m r e b a i x a m e n t o r e l a t i v a m e n t e r á p i d o os grãos mais finos concentram-se no centro e na
e p r o g r e s s i v o no n í v e l de base. O f l u x o e o s u p r i m e n t o de sedi-
m e n t o s são c o n s i d e r a d o s c o n s t a n t e s . O a u m e n t o de v e l o c i d a d e e parte supericr da avalanche. Em outras palavras, nas
do e s f o r ç o t a n g e n c i a l é r e f l e t i d o na m a i o r concentração de sedi- áreas de maior esforço de cisalhamento (tensão tan-
m e n t o s em suspensão. O c o n t a t o basal passa de a n g u l a r ("a") p a r a
gencial) verifica-se a tendência de deposição dos
s u a v e m e n t e c ô n c a v o ( " d " ) . E m " c " e " d " verifica-se a presença d e
contra correntes ¡ u n t o a o f u n d o . N o d i a g r a m a " d " nota-se a pre- grãos mais finos, ao passo que, as partículas mais
sença d e ressalto h i d r á u l i c o . N o d i a g r a m a " e " a ação r á p i d a d a grosseiras tendem a acumular-se nas áreas de menor
c o r r e n t e d e s t r ó i p a r t e d o s estratos f r o n t a i s , o r i g i n a n d o uma e s t r u -
tura ondulada (segundo J o p I i n g . 1965). esforço de cisalhamento ( B r u s h J r : , 1965).
A velocidade de fluxo acima da macro-ondula-
ção controla a estrutura interna e o grau de seleção
e a gradação granulométrica originada durante o pro-
cesso de avalanche.
A evolução do perfil do estrato frontal pede ser
racionalmente explicada em termos da movimentação
das partículas. O contato basal muda de angular para
tangencial com o incremento da relação de profun-
didade (profundidade do fluxo/profundidade da ba-
Fig. 5 44 — P r e e n c h i m e n t o de u m a depressão s o b condições u n i -
f o r m e s de f l u x o e de t r a n s p o r t e . A m u d a n ç a do c o n t a c t o basal é cia), isto é, com a diminuição da profundidade da
c o r r e l a c i o n a d a c o m a v a r i a ç ã o da relação de p r o f u n d i d a d e (se- bacia (fig. 5-43).
gundo J o p I i n g , 1965). No d i a g r a m a i n f e r i o r as setas i n -
f e r i o r e s r e f e r e m da e s q u e r d a p a r a d i r e i t a : a) a c a m a m e n t o aca- A importância da relação de profundidade é
n a l a d o , b) c o n t a t o a n g u l a r , c) c o n t a t o t a n g e n c i a l .
bem demonstrada no enchimento de uma depressão,
tica para que a avalanche seja contínua é diretamen- permanecendo o fluxo e o transporte dos sedimen-
te proporcional a altura da macro-onchíiaçâo { A I - tes relativamente constantes. Nos estágios iniciais do
l e n , 1965). preenchimento, quando a frente dos estratos frontais
- 66 -
Fig. 5-45 — Esquema de um m o d e l o
ilustrando o desenvolvimento simul-
t â n e o d e duas d i f e r e n t e s es-truturas
de estratos f r o n t a i s e basais ( m o d i -
ficado d e B o e r s m a , v a n
d e M e e n e & T j a l s m a .
1968).

a.€. -cargado leite -ondulações eottt ^Wiâro-odda/ações ââttf ^hfiúro-OMduiaizõee âom^)


deposição deposição para matifarrfe

penetra na depressão, a relação de profundidade é O crescimento das macro-ondulações de areia


elevada e o contato basal entre o estrato frontal e a em laboratório foi objeto de estudo de vários autores
seqüência de fundo é tangencial (fig. 5-44). Na par- (Mc Kee, 1957a; J o p l i n g , 1965; Al-
te mais profunda da depressão, onde a relação de ie n , 1965; entre outros). As ondas de areia des-
profundidade é baixa, o contato é angular. A me- locam-se de acordo com o sistema de fluxo originado
dida que a frente dos estratos frontais avança para
1,0
a outra margem da depressão desenvolve-se uma
estratificação acanalada e no final formam-se estra-
tos quase horizontais (fig. 5-44).

A I I e n (1965) refere que estratos frontais


muito curvos e tangenciais ao fundo formam-se com
correntes relativamente fortes, enquanto que as cor-
rentes fracas originam estratos frontais retos.

Turbulência a jusante do estrato frontal


0,7
Ondas de areia e corpos semelhantes resultam âargado /eito
+ea/ga £W£petfgã da aarga emfafpettfao
da interação entre um fluxo de velocidade apropria-
F i g . 5-47 — Relação e s q u e m á t i c a e n t r e o m o d o de t r a n s p o r t e , a
da e um leito de sedimentos adequados. Qualquer relação de p r o f u n d i d a d e e o t i p o de c o n t a t o basal d e s e n v o l v i d o e n -
irregularidade inicial verificada no leito ou no fluxo t r e o s estratos f r o n t a i s e o s basais ( b a s e a d o e m J o p l i n g ,
provoca mudanças que afetam o parceiro, até que 1965).

novo equilíbrio seja atingido. Esta interação tende a


aumentar o relevo local do leito e permitir o desen- pelo rompimento da camada limite, que se verifica
volvimento de uma macro-turbulência onde se veri- na crista da onda, incluindo também, as contracor-
fica o rompimento da camada limite. rentes formadas a jusante (fig. 5-45). Nestas condi-
ções desenvolvem-se quatro elementos estruturais:
1 — estratos frontais;
2 — micro-ondulações orientadas para montan-
guperfíc/e dd ãaua
te do fluxo principal e originadas pelas contracor-
^ A
rentes. Os estratos frontais em sua migração podem
recobrir as micro-ondulações, embora sua preserva-

Quebra ç/a da- B


ma da* //mffe~f- f/#XO k-
%o*faç-'.*'.' •;. •
.V Manaa'
•A . .


c
Sape te de ...
fração

——>• Urayefôr/a dofgraos'

F i g . 5 4 6 — Trajetórias g e n e r a l i z a d a s seguidas p e l o s g r ã o s d e areia


s o b r e uma o n d u l a ç ã o . A — p a d r ã o do f l u x o ; B — m o v i m e n t o de F i g . 5-48 — B l o c o - d i a g r a m a i l u s t r a n d o a d e p o s i ç ã o s i m u l t â n e a de
a r e i a ; em e b o c o r r e a f o r m a ç ã o de marcas o n d u l a d a s ; C —
2 m a c r o o n d u l a ç õ e s e m i c r o - o n d u l a ç õ e s . As ú l t i m a s são o r i g i n a d a s
t a p e t e d e t r a ç ã o d e areia e t r a j e t ó r i a s d e a l g u n s g r ã o s ( m o d i f i - pelas c o n t r a correntes ( b a s e a d o e m B o e r s m a , v a n de
cado d e A l i e n , 1965). M e e n e & T j a l s m a , 1968).

- 67 -
Fig. 5-49 — B l o c o - d i a g r a m a i l u s t r a n d o os aspectos e s t r u t u r a i s o r i -
ginados simultaneamente por dois f l u x o s antagônicos. A macro-
o n d u l a ç ã o c o n s t i t u í d a de areias mais grosseiras, representa a ação
do f l u x o principal. As micro-ondulações formadas de sedimentos
mais f i n o s relacíonam-se com as c o n t r a c o r r e n t e s secundárias ( m o -
dificado d e B o e r s m a , v a n M e e n e & T j a l s m a ,
1968).

Fig. 5-51 — Duas seqüências de estratos cruzados entrelaçadas e


s u p e r i m p o s t a s . Cada uma consiste de estratos f r o n t a i s . A corres-
p o n d e n t e à m a c r o - o n d u l a ç ã o é de t e x t u r a g r o s s e i r a , e n q u a n t o q u e
a q u e l a relativa às m i c r o - o n d u l a ç õ e s é de g r a n u l a ç ã o mais f i n a .
A m b a s m e r g u l h a m e m s e n t i d o o p o s t o . Depósitos d o b a i x o Reno
(baseado e m f o t o g r a f i a d e B o e r s m a , v a n M e e n e &
Tj a I s m a , 1 9 6 8 ) .

Fig. 5-50 — Representação e s q u e m á t i c a dos sucessivos estágios da


f o r m a ç ã o da z o n a de i n t e r l i g a ç ã o e n t r e os estratos f r o n t a i s e as m i - Fig. 5-52 — Relações esquemáticas e n t r e estratos f r o n t a i s (dunas
cro-ondulações formados p o r f l u x o s antagônicos (modificado de subaquátiras) e micro-ondulações (baseado e m W i l l i a m s ,
B o e r s m a , v a n M e e n e & T j a l s m a , 1968). A 1966). 1 — S e n t i d o da inclinação dos estratos f r o n t a i s das macro-
— o m a t e r i a l g r o s s e i r o a c u m u l a d o na crista da m a c r o - o n d u l a ç ã o so- o n d u l a ç õ e s ; 2 — s e n t i d o da laminação c r u z a d a das m i c r o - o n d u l a -
f r e a v a l a n c h e e i n t e r a g e c o m o m a t e r i a l da m i c r o - o n d u l a ç ã o f o r m a d o ções.
no f l u x o r e v e r s o ; B e C — a d e p r e s s ã o em f r e n t e da m i c r o - o n d u l a -
As estruturas sedimentares refletem o padrão
ção reversa é p r e e n c h i d a c o m m a t e r i a l g r o s s e i r o , a q u a l causa o le-
v a n t a m e n t o local do n í v e l de s e d i m e n t a ç ã o e a a c u m u l a ç ã o de m a - de fluxo, bem como a estrutura da turbulência à
t e r i a l f i n o e s t r a t o f r o n t a l a c i m a ; D — depressão p r e e n c h i d a e m i c r o - jusante da macro-ondulação, facilitando assim, a in-
o n d u l a ç ã o s o t e r r a d a ; a avalanche d e m a t e r i a l g r o s s e i r o segue a b a i -
xo até encontrar a p r ó x i m a micro-ondulação.
terpretação do ambiente de deposição (fig. 5-47).
ção seja relativamente rara (Boersma, van B o e r s m a , v a n de M e e n e &
de M e e n e & T j a l s m a , 1968; A I - T j a l s m a (1968) descrevem um tipo pouco co-
I e n , 1965) (fig. 5-45); mum de estratificação cruzada. A estrutura é com-
3 — formação de depressão erosiva onde a posta de duas partes, a superior de material gros-
contracorrente encontra o fundo (fig. 5-45); seiro com estratos frontais de tamanho grande, e a
inferior de material mais fino e com estratificação
4 — micro-ondulações deslocando-se no mes-
cruzada de pequeno porte (figs. 5-45 e 5-48). As di-
mo sentido do fluxo principal (fig. 5-45).
reções de inclinação dos estratos cruzados nas duas
A área a jusante da macro-ondulação pode ser partes são opostas uma a outra. A separação ou in-
dividida em 3 zonas (A, B e C), cada qual caracte- terface entre ambas partes não é abrupta, nem reti-
rizada por estruturas de pequeno porte (fig. 5-46). línea. Os estratos frontais de grande tamanho, da

- 68 -
parte superior, quando acompanhados para baixo,
podem ser vistos na interface incorporando-se ou en-
trelaçando-se com a parte terminal das mkro-onduia-
ções da parte inferior (figs. 5-49 e 5-50).

Onde a gradação lateral dos estratos frontais é


bem desenvolvida, a concentração de grãos grossei-
ros na interface acentua mais claramente as protu-
berâncias formadas pelos estratos inferiores dentro
dos estratos superiores. As porções terminais dos
F i g . 5-53 — Duna s u b a q u á t i c a c o m f o r m a d e b a r c a n e . Leito d o r i o estratos das micro-ondulações apresentam-se como
N o m e , Alasca (baseado e m Mc C u l l o c h & J a n d a ,
protrusões em forma de nariz intercalados nos es-
1964).
tratos frontais de grande tamanho (fig. 5-51). Mesmo
assim, os estratos frontais passam gradualmente aos
estratos menores com mergulhos opostos. Esta com-
plicação estrutural mostra que os estratos grandes
6 pequenos formaram-se simultaneamente.
O entrelaçamento simultâneo de ambos tipos
de estratos, resulta da migração de macro-ondula-
ções sobre a face de ¡usante de um sistema de mi-
cro-ondulações movendo-se em sentido oposto.
A ocorrência de micro-ondulações desenvolvi-
... ^
das pelo fluxo reverso na face de jusante da macro-
ondulação, constitui fenômeno pouco freqüente. Nes-
te local, geralmente formam-se camadas tangenciais.
A migração das micro-ondulações do fluxo reverso
se faz em geral, obliquamente ao fluxo responsável
pela deposição dos estratos frontais das macro-ondu-
lações.
' ^ "" -,, ' • -
W i I i a m s (1966) refere direções diferentes
para o movimento das macro-ondulações e micro-
ondulações (fig. 5-52). McCulloch & Jan-
d a (1964) reconheceram uma pequena forma de
barcana subaquática em pequeno cana! com fundo
F i g . 5-54 — Camadas planas s o b r e e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a o r i g i n a d a de cascalho (fig. 5-53). Estes autores ccncluiram que
na m i g r a ç ã o de m a c r o - o n d u l a ç Õ e s . As camadas planas r e p r e s e n t a m
u m r e g i m e d e f l u x o s u p e r i o r . C u r s o d o r i o Paraná a jusante d e a barcana foi formada em virtude do suprimento de
Sete Q u e d a s , G u a í r a , Paraná. areia ser limitado e o fluxo unidirecional.

4 — Camada plana com movimentação de se-


dimento
A camada plana, via de regra, não apresenta
elevações ou depressões maiores do que granula-
ção máxima do material do leito. A resistência ao
fluxo é relativamente pequena, e resulta na maior
parte da "rugosidade granular", que está relacionada
à granulometria do material do leito.
A grandeza da energia de corrente ( r V), ne-
0

cessária para que as macro-ondulações de transição


se transformem em camadas planas, depende princi-
palmente da granulometria do material do leito. A
superposição dos grãos, ao acaso, provavelmente é
suficiente para fornecer o contraste granulométrico
F i g . 5-55 — Representação d i a g r a m á t i c a das a n t i d u n a s . Relação e n t r e
necessário para o aparecimento da estrutura lamina-
a s u p e r f í c i e das águas e a f o r m a do l e i t o . A — a n t i d u n a s b i d i m e n - da (fig. 5-54). A carnada plana desenvolve-se no re-
sionais; B — a n t i d u n a s t r i d i m e n s i o n a i s . As setas i n d i c a m as linhas
gime de fluxo superior (fig. 5-40).
de f l u x o (baseado em A I I e n , 1966).

69 -
&ed/M/&ffaP

a f
% 0,030

ll |i
^0,025

1
^0,020
1
frontais

Fig.

&
5-56
dorsais em
— Representação
modelo de

R i c h a r d s o n ,
esquemática da formação
laboratório, mostrando o abastecimento de
a r e i a e o s u p r i m e n t o c o n s t a n t e de á g u a ( a d a p t a d o de
1966).
de estratos

J o p I I n g
X
I
Wtfxo/ff&r/or-<
0,4-
0,6 OJ3 W
9/ujcorap/do

},2
14 0
número de WPoude
Qeface/ewgâo ¿7ee¡e/&$ao Fig. 5-58 — Relação entre os números de M a n n i n g e
poof ehvte f¡u3CO
F r o u d e eas formas d e leito (baseado e m A l i e n ,
1965). Rugosidade e m canal f l u v i a l ,

tratificação caracteriza as antidunas e as formas ori-


ginadas nos fluxos de "corredeira e p o ç o " (chute &
pool) resultantes de acelerações e desacelerações al-
ternadas da corrente (fig. 5-57).
Fig. 5-57 — Representação e s q u e m á t i c a da estratificação reversa ou
dorsal formada em modelo de laboratório por f l u x o de "corredeira
Na natureza os estratos cruzados inclinando con-
e p o ç o " (chulé & pool). L = 9 m ; h = c a . de 30 c m . A p r o f u n d i d a d e tra a direção da corrente são pouco freqüentes. As
do f l u x o varia entre 12 e 30 c m . A inclinação do estrato reverso
possibilidades de preservação são pequenas, a me-
a t i n g e cerca d e 3 0 ° (segundo J o p l i n g & R i c h a r d -
s o n , 1966). nos q u e ocorra uma lenta agradação no leito. P o -
w e r (1961) refere que a o r i g e m da estratificação
5 — Antidunas
dorsal relaciona-se com a migração das antidunas
As antidunas são configurações de leito q u e es- para montante dentro de um leito em agradação. Os
tão em fase com as ondulações da superfície da estratos reversos formados na fase antiduna do f l u x o
água ( f i g . 5-55). A altura e comprimento das ondas inclinam suave a moderadamente para montante
dependem da escala do sistema de f l u x o , das ca- ( < 2 0 ° ) . Contudo, nas formas de "corredeira e poço"
racterísticas do f l u i d o e do material do leito. As an- a inclinação chega a 2 5 ° ou mais ( J o p l i n g &
tidunas não ocorrem como uma seqüência contínua R i c h a r d s o n , 1966).
de ondas homogêneas. As ondas da superfície da
O f l u x o de "corredeira e poço" consiste de
água podem subir até tornarem-se instáveis e " q u e -
uma longa " c o r r e d e i r a " na qual o f l u x o acelera e o
b r a r e m " , d a n d o o r i g e m às antidunas " d e q u e b r a " ,
ou descerem gradualmente resultando nas ondas per- número de Froude é > 1 . A "corredeira" termina
manentes ou estacionárias (figs. 5-1 e 5-40). A me- num ressalto hidráulico. Para jusante deste o f l u x o
dida q u e as antidunas se f o r m a m e aumentam de passa através de um " p o ç o " (pool) num estágio de
altura, elas p o d e m deslocar-se para montante ou ju- f l u x o tranqüilo (Fr. < 1 ) . Na área de " c o r r e d e i r a " o
sante, ou permanecer estacionárias. Devido a sua leito é erodido, enquanto q u e no " p o ç o " o sedimen-
possibilidade de movimentação para montante f o i to é depositado. Imediatamente a jusante do ressalto
que G i l b e r t (1914) denominou-as d e antidu- o material ê depositado de f o r m a reversa, e com um
nas. mergulho acentuado. Mais para jusante, o material
é sedimentado como uma camada horizontal no topo
Estratificação dorsal ou reversa f o i obtida em
dos estratos reversos (Jopling & Richar-
laboratório fornecendo-se areia a um f l u x o rápido
son, 1966).
supercrítico q u e termina a jusante n u m ressalto hi-
dráulico. No local do ressalto os sedimentos acumu- Este tipo de estratos reversos formados em f l u -
lam-se na f o r m a de um montículo q u e cresce tanto xo supercrítico d i f e r e hidráulicamente dos estratos
para montante como para jusante. Em ambos os ca- suavemente inclinados para montante situados no re-
sos o depósito apresenta-se estratificado. Para jusan- verso das micro- ou macro-ondulações (fluxo subcríti-
te formam-se estratos frontais, enquanto q u e para co). V i d e também as relações entre os números de
montante a estratificação é dorsal ou reversa, isto é M a n n i n g e F r o u d e e o s tipos d e f o r m a
inclina contra a corrente ( f i g . 5-50). Este tipo de es- de leito (fig.5-58).

- 70 -
6 - PROCESSOS DE EROSÃO FLUVIAL E
FORMAÇÃO DE TERRAÇOS FLUVIAIS

O trabalho total de um rio é medido pela finalmente os córregos e riachos até rios de grandes
quantidade de material que ele é capaz de erodir, dimensões.
transportar e depositar. A erosão fluvial é reali-
Os canais aumentam os seus comprimentos por
zada através dos processos de corrosão, corrasão e erosão remontante, que resulta geralmente de sola-
cavitação. pamento da base, especialmente onde a superfície
A corrosão compreende todo e qualquer pro- é protegida por uma camada resistente, solo ou ve-
getação. A erosão do subsolo pode ser causada por
cesso de reação química que se verifica entre a
percolação de água subterrânea, que remove o ma-
água e as rochas que estão em contato.
terial fino subjacente, formando túneis.
A corrasão ou abrasão é o desgaste pelo atrito O alargamento dos canais fluviais pode ocorrer
mecânico, geralmente através do impacto das partí- de várias maneiras e pode se processar por vigorosa
culas carregadas pelas águas. A eversão representa corração lateral contra as paredes durante as enchen-
um tipo especial de corrasão originada pelo movi- tes, ou quando a migração de meandros age contra
mento turbilhonar sobre as rochas do leito. Depres- os lados do canal. Freqüentemente ocorre o alarga-
sões de vários tamanhos podem ser escavadas, em mento dos vales como resultado do intemperismo e
geral, de forma circular, tais como as marmitas ou conseqüentes movimentos de massa nas vertentes do
caldeirões. vale a medida que o rio aprofunda o seu leito. Ocor-
rem muitos rastejos de detritos, escorregamentos e
A cavitação ocorre somente sob condições de ve- quedas de blocos que vão ter ao rio, sendo por ele
locidades elevadas da água, quando as variações de removidos periodicamente (figs. 8-2 e 8-3).
pressão sobre as paredes do canal fluvial facilitam a
Alguns vales têm seção transversal em "V", en-
fragmentação das rochas.
quanto que outros têm paredes mais abruptas com
seção em "U". A idéia consagrada antigamente era
Desenvolvimento de canais e vales a de que estas formas eram características dos está-
dios do ciclo erosivo do rio. Deste modo, o vale em
Parte das águas que não é infiltrada no solo e "V" era interpretado como rio jovem, (fig. 6-1), en-
nem é evaporada para a atmosfera, sofre escoamen- quanto que os vales mais alargados indicariam fase
to declive abaixo em função da força de gravidade. matura ou senil. Entretanto, mais do que estádios de
Inicialmente a água corre em finos filetes, que pro- erosão, as formas dos vales resultam da interação
gressivamente aumentam de volume, desenvolvendo do clima, relevo, tipo de rocha e estrutura geoló-

- 71 -
Fíg. 6-1 — Vale do Ribeira (PR). Paisagem profundamente dissecada a partir do nível do pediplano P d , . A dissecação o r i g i n o u um
vale em "V", em cujas paredes encontram-se remanescentes de níveis embutidos.

gica. A vegetação controla parcialmente o v o l u m e aluviais. Os terraços podem igualmente, ser escul-
de escoamento, bemo como tem papel de cobertura pidos sobre o embasamento rochoso, q u a n d o então
de proteção. De fato, em regiões de cÜmas tempe- são designados de terraços rochosos ("strath terrace").
rados e úmidos, os solos das paredes dos vales so- Estes não devem ser confundidos com os d e n o m i -
f r e m rastejo constante, atribuindo a forma típica de nados terraços estruturais, q u e são patamares ao
" V " . Por outro lado, em regiões áridas, os vaies pos- longo das vertentes, mantidos pela existência de ca-
suem paredes abruptas de f u n d o plano resultando na madas de rochas mais resistentes.
f o r m a em " U " . O relevo existente determina as
Os terraços consistem de uma área plana ou em
taxas de aprofundamento e alargamento de um vale
bancadas, limitadas por escarpas em direção ao curso
f l u v i a l . O tipo de rocha influi na f o r m a do vale e do
atual dos rios ( f i g . 6-2). Os terraços p o d e m situar-se
canal, pois ele determina parcialmente o v o l u m e de
bem acima do nível atual do rio, não sendo atin-
escoamento e a resistência da superfície à erosão.
gido pelas águas nem mesmo durante as enchentes.

Conceito de terraço Q u a n d o não ocorre entalhamento no embasa-


mento rochoso do f u n d o do vale e, tanto o terraço
De acordo com M c G e e (1897) o terraço cons- como a planície de inundação localizam-se sobre a
titui um plano horizontal ou aproximadamente ho- mesma calha rochosa, verifica-se a formação de ter-
rizontal, de maior ou menor extensão, limitado de raços embutidos (fig. 6-3). A outra alternativa reflete
um lado por um terreno mais elevado e do outro por a possibilidade de formação de uma planície de inun-
uma escarpa. Comumente está implícito na d e f i n i - dação em nível mais baixo, acompanhada de nova
ção que o plano encontrava-se o r i g i n a l m e n t e no ní- face erosiva cobre o embasamento rochoso do f u n -
vel da água ou abaixo dele, e q u e agora situa-se
acima (AGI, 1957). L e o p o l d , W o l m a n &
AA i 1 I e r (1964) consideram o terraço como uma
planície de inundação abandonada. Os terraços são
basicamente os produtos da erosão fluvial e do en-
$~erra#of
caixamento do talvegue.
W
v v vv V
r/o V
Formação de terraços fluviais y v V VV v
v v v v v V W
Outra feição erosiva dos rios é representada pe- V V VVV
vvv vv VV V v v
los terraços fluviais, os quais são formados quando
V V V vv V V V V v v y V V V V V V VVV
o rio corta os sedimentos previamente depositados
Fig. 6-2 — Esquema de um vale preenchido por aluviões, poste-
em sua planície de inundação. Neste caso, os as-
r i o r m e n t e e r o d i d o s em f o r m a de t e r r a ç o s ( s e g u n d o M o r i s a -
pectos morfológicos são denominados de terraços w a , 1968).

- 72 -
vertical, evolução pedogenética, correlação asimé-
trica, datação ,etc.
Do estudo dos terraços podem ser inferidas
conclusões relativas aos paleoclimas e condições hi-
drológicas da bacia de drenagem. Mudanças climá-
ticas profundas causaram modificações extremas no
regime das correntes. Estas mudanças foram cíclicas
incluindo: 1 — fases de agradação num sistema f l u -
vial anastomosado, sob condições climáticas do tipo
semi-árido; 2 — fases de erosão dissecando o terre-
no e removendo grande quantidade de material pre-
viamente depositado, bem como aprofundando o
fundo do vale; 3 — fases de desenvolvimento de
planícies de inundação sob condições de clima úmido.
A ocorrência extensiva de terraços de cascalho
tem sido interpretada por alguns autores como ex-
F i g . 6-3 — Tipos d e terraços f l u v i a i s d e p e n d e n t e s d a f o r m a d e
clusivamente de origem tectónica, e por outros como
abandono da planície de inundação inicial. A — terraços e m b u t i -
d o s ; B — terraços e n c a i x a d o s (baseado e m C h r i s t o f o - documentos de condições climáticas rigorosas. Os
I e t t i , 1974). movimentos tectónicos por si só não são os únicos
responsáveis pela formação dos terraços e pela na-
do de vale, ocasionando a origem dos terraços en- tureza dos depósitos. Durante os movimentos tectó-
caixados (fig. 6-3). nicos, os terraços e seus depósitos não teriam sido
Quando os terraços se dispõem de modo seme- formados se as condições climáticas e hidrológicas
lhante ao longo das vertentes opostas do vale, eles não tivessem sido apropriadas. O escalonamento dos
podem ser considerados "parelhados" e, em caso con- diferentes níveis de terraços pode ser completamente
trário, são chamados isolados. O primeiro tipo re- independente dos movimentos tectónicos, sendo so-
flete um longo período de aplainamento lateral se- mente devido a variações no regime e na intensi-
guido de rápido entalhamento vertical. O segundo dade das condições hidrológicas ( B i g a r e I I a
caso, mostra deslocamento lateral do curso durante & B e c k e r , 1975, p . 231).
o processo de entalhe, como acontece nos rios mean-
drantes. Terraços fluviais no Brasil
Os terraços são freqüentemente utilizados como
chaves na interpretação da história geológica de A interpretação dos terraços fluviais no Brasil
uma região. Em geral, mudanças ambientais levam cegue duas linhas básicas e distintas de conceituação:
os rios a erodirem os seus próprios depósitos pre- tectónica (vide Fr e i t a s , 1951, entre outros) e
viamente formados. A literatura clássica, geralmente climática (vide Bigarella & Mousinho,
refere estas mudanças como tectónicas, isto é, a 1965, entre outros). Os fatores climáticos parecem
região pode ter sido levantada ou basculada alteran- ser os condicionantes, enquanto que os tectónicos
do o nível de base dos rios. Entretanto, mudanças contribuem para acentuar com o tempo as diferenças
muito mais importantes são devidas a modificações de nível entre os vários terraços.
de clima, as quais afetam a hidrodinâmica do siste- As múltiplas e profundas mudanças climáticas
ma fluvial influindo na descarga líquida ou na car- ocorridas durante o Quaternário teriam influência
ga sedimentar do rio. Em regiões instáveis, como no decisiva nas mudanças das condições hidrodinámicas
Japão, os terraços comumente são interpretados como do sistema fluvial, devido a implicações no revesti-
resultantes de um levantamento tectónico. Em mui- mento vegetal e na distribuição das chuvas ( B i -
tos lugares os terraços são referidos à mais recente g a r e l l a & Becker, 1975). O s aspectos
e mais acentuada mudança climática, quando houve da morfologia ligados às calhas de drenagem têm
a passagem de um período glacial para interglacial. sido exaustivamente pesquisados em todo mundo,
Diferentes critérios devem ser empregados a existindo sobre o assunto vasta bibliografia. B i -
fim de melhor correlacionar e precisar a sucessão de g a r e l l a & M o u s i n h o (1965) refor-
terraços de uma região. Entre os mais importantes mularam vários prob'emas relativos aos terraços e
devem-se citar os estudos sedimentolcgicos incluindo várzeas, analisando-os sob o ponto de vista dos pro-
a composição do sedimento, granulometria, sucessão cessos envolvidos, sedimentologia e condições am-

- 73 -
plica necessariamente em movimentação crustal. M u -
danças nas condições climáticas constituem os agen-
tes mais eficazes no controle da dinâmica f l u v i a l , es-
pecialmente nas áreas onde se constata certa esta-
bilidade crustal e o n d e a ação endógena é represen-
tada por uma epeirogênese positiva muito lenta, co-
mo é o caso do escudo cristalino brasileiro, durante
o Quaternário ( B i g a r e l l a & M o u s i -
n h o , 1965). Alterações nas condições climáticas,
e portanto, mudanças nos elementos inerentes à d i -
nâmica f l u v i a l , representam nestas áreas o fator in-
dependente em função do qual varia o comporta-
mento dos cursos de água e seu papel morfológico.

Certos autores admitem q u e os rios aprofundam


os seus leitos sob condições climáticas mais úmidas,
quando a descarga é suficiente para o transporte da
carga, sendo o seu excedente energético utilizado
para a dissecação linear ( H u n t i n g t o n ,
1914). Por outro lado, A n t e v s (1961) liga a
degradação às épocas mais secas, quando a vegeta-
ção rarefeita permite às chuvas intensas um escoa-
mento rápido f o r m a n d o torrentes. A agradação, por
outro lado, corresponderia às épocas mais úmidas,
quando a cobertura vegetal p r o t e g e o solo contra a
intensidade do escoamento superficial. H a c k
(1942) defende pontos de vista semelhantes. Já
T h o r n t h w a i t e , S h a r p & D o s c h
Fig. 6-4 — Representação esquemática de uma bacia no Brasil
(1942) relacionam a degradação e agradação fluvial
M e r i d i o n a l , antes e após mudança climática (condições úmidas para
semi-áridas). I — Paisagem desenvolvida sob clima úmido (com principalmente à torrendalidade do regime de chu-
distribuição mais uniforme das chuvas) formando espesso manto vas. Chuvas mais intensas provocariam a erosão li-
de intemperismo coberto por florestas. II — Paisagem após a
mudança para semi-aridez. Durante a transição climática a vege-
near, enquanto q u e chuvas menos intensas e mais
tação tornou-se aberta e mais rarefeita expondo o solo à erosão bem distribuídas conduziriam à agradação. De acor-
rápida pelo novo regime de chuvas concentradas. A ocorrência
d o com L e o p o l d , W o l m a n & M i l l e r
d e m o v i m e n t o s d e massa e x t e n s i v o s s o b r e c a r r e g o u todos o s canais
de drenagem, entupindo a saída dos compartimentos, portanto, (1964), em áreas de pouca precipitação e vegetação
elevando por sedimentação os n í v e i s d e base locais até um ponto escassa, o aumento da pluviosidade acarretará maior
no qual, se estabelecia o equilíbrio dinâmico entre chegada e
saída de sedimentos. Em conseqüência, formou-se um nível de
fornecimento de sedimentos para os canais. Poste-
agradação correspondente a um nível de p e d i m e n t o e l a b o r a d o nas riormente, quando se desenvolve a cobertura ve-
áreas marginais do compartimento, pelo recuo das encostas.
getal, a carga sólida tenderá a d i m i n u i r nos cursos
de água. Enquanto aumenta a carga haverá agrada-
ção, mas a partir do momento em q u e o fornecimen-
bientais. As estruturas sedimentares, a mineralogia to de carga sólida começa a d i m i n u i r , ao mesmo
do sedimento e sua textura contribuíram para re- t e m p o em que aumenta a descarga, haverá a de-
constituição das características ambientais, inclusive gradação do canal.
dos paleoclimas.
Quando existe equilíbrio entre a entrada e a
Os cascalheiros constituem em grande parte a
saída de sedimentos, o perfil longitudinal dos rios é
estrutura fundamental de muitos terraços fluviais.
mantido. O equilíbrio é função da relação entre car-
Os plainos aluviais, também de caráter climático, re-
ga e descarga, bem como das características do es-
presentam o preenchimento mais recente dos vales
coamento superficial, vegetação e solos. As mudan-
com sedimentos. Alguns terraços possuem apenas
ças climáticas para o semi-árido ou para clima mais
delgados cascalheiros, enquanto que outros são cons-
seco favorecem a agradação do vale ocorrendo de-
tituídos por espessas seqüências de sedimentos.
gradação nas vertentes (fig. 6-4). Nas mudanças cli-
O entulhamento rápido de uma bacia de drena- máticas para o úmido predomina a degradação. No
g e m , assim como a degradação da mesma, não i m - primeiro caso, com a diminuição das precipitações e

- 74 -
têm lugar mudanças no regime hidrológico, afetando
o fornecimento de água e sedimento.
L e o p o l d , W o l m a n & M i l l e r
L 1
(1964) salientam que vales separados da drenagem
' ) f ^ ) ( V H A
principal por um nível de base fixo (escarpa na
borda de um platô) possuem preenchimentos flu-
viais e terraços que indicam ter havido agradação e
degradação. Estas foram causadas por mudanças nas
relações entre precipitações e escoamento superficial
associadas a variações climáticas, independendo por-
tanto, de mudanças no nível de base.

C o 11 o n (1940) dá ênfase ao fator climático


na formação dos terraços fluviais na Nova Zelândia.
Este autor sugere que, quando há uma concordân-
Fig. 6-5 — E s t r u t u r a d o p e d i p l a n o P d , na rodovia BR-101 (35 km
cia entre o padrão dos terraços em vales separados,
ao norte de Macacheira, Recife, PE). A seqüência compreende de-
pósitos semelhantes a colúvio, laterizados, recobertos por cas- a causa de sua formação é climática e não de mu-
calho d e n o t a n d o um g r a u acentuado de transporte. Os se xos apre- ;
dança relativa dos níveis da terra e mar.
sentam-se subarredondados a arredondados. O material da capa
h formado por colúvio-alúvio (segundo B i g a r e I l a , 1975). Ao longo das principais calhas de drenagem
do Brasil Meridional e Sudeste, existem remanes-
centes do pediplano Pd,, embutidos na superfície
concentração das chuvas, a cobertura vegetal rare- do pediplano Pd . Tratam-se de grandes comparti-
2

faz-se permitindo a remoção acelerada do manto de mentos inclinados para jusante e controlados quando
intemperismo. Tem-se dessa forma um aumento da de sua elaboração, por níveis de base locais (B i -
carga e uma diminuição da descarga e, conseqüen- g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). A alti-
temente, a agradação do fundo do vale. Na passagem tude dos remanescentes do Pd] cresce progressiva-
do clima semi-árido para o úmido ocorre um aumen- mente para montante, sendo de 50 a 100 m no li-
to da descarga concomitantemente com o adensa- toral, chegando a 900 m ou mais nos planaltos. A in-
mento da vegetação. Dessa forma as vertentes ten- clinação da superfície aplainada é maior na fachada
dem a estabilizar-se fornecendo quantidade bem me- atlântica, na Serra do Mar, e menor na planície cos-
nor de detritos. Os cursos de água passam a encai- teira ou nos planaltos do interior.
xar-se, sendo a abrasão mecânica do leito facilitada.
O fundo do vale anteriormente agradado, sofre ero- Os depósitos correlativos do aplainamento Pd 1#

são até o restabelecimento de um novo equilíbrio. no Brasil, realizado sob condições climáticas semi-ári-
das, estão englobados em várias formações estrati-
O desenvolvimento dos terraços segundo L e o - gráficas ( B i g a r e l l a & A b ' S á b e r ,
pold, Wolman & Miller (1964) tem, 1964; B i g a r e l l a & A n d r a d e , 1964;
em última análise, dois controles fundamentais: tec-
tónico e climático. De acordo com estes autores, as
forças tectónicas provocam mudanças no gradiente,
colocando os divisores de água em meio climático
diferente, bem como modificam as formas das ver-
tentes e o fornecimento de sedimentos para o rio.
Esta opinião é discutível. Os movimentos tectónicos
são extremamente lentos e um longo período de
tempo seria necessário para causar uma notável mu-
dança de altitude do relevo e das condições hidro-
lógicas dentro das bacias brasileiras. Sendo os ter-
raços de idade relativamente recente, é pouco pro-
vável que os movimentos epeirogênicos positivos, se-
F i g . 6-6 — E s t r u t u r a d o p e d i p l a n o P d , . C a s c a l h e i r o c o m cerca d e
jam os únicos responsáveis pelo seu desenvolvimen- um m e t r o de espessura f o r m a d o p o r seixos s u b a r r e d o n d a d o s a
to ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). i r r e d o n d a d o s , d e n o t a n d o t r a n s p o r t e a p r e c i á v e l . A base d o d e p ó -
Leopold, Wolman & Miller (1964) sito de c a s c a l h o jaz s o b r e r o c h a s p r e c a m b r i a n a s a l t e r a d a s , e a
;apa é f o r m a d a p o r m a t e r i a l c o l ú v i o a l u v i o n a r . I m e d i a ç õ e s d e Ita-
referem-se também ao controle climático sob o qual gimirim, B A (segundo B i g a r e l l a , 1975Í.

- 75 -
B i g a r e l l a , Mousinho & S i l v a , calha de drenagem, provocaram o entulhamento
1965). Eles correspondem ao membro mais antigo das depressões do terreno, através de um contínuo
das formações: Itaipava (vale do Itajaí-Mirtm, SC), preenchimento do vale, elevando assim o nível de
Pariquera-Açu (vale do Ribeira, SP), e Riacho Morno base local até um ponto em que se estabelecia
(Grupo Barreiras) entre outras. um equilíbrio aparente entre o material fornecido
pelos processos erosivos e aquele evacuado pela
Na época semi-árida em que se iniciou a pedi- calha d e drenagem ( B i g a r e l l a & M o u -
planação do Pdi no Brasil, a paisagem encontrava-se sinho, 1965).
muito dissecada, em virtude da época climática úmi-
da anterior. Com a mudança do clima para semi- Da calha de drenagem desta época, subsistem
árido, o manto de intemperismo foi removido desor- vestígios nos altos terraços, próximos às margens
denadamente para as deprestões do terreno, por das bacias, os quais correspondem lateralmente ao
processos de movimentos de massa e corridas de nível do pediplano Pd,. Os terraços são mantidos
lama, originando um entupimento da calha de dre- por cascalheiras de seixos subarredondados até ar-
nagem. A continuação dos processos de agradação rendodados, denotando transporte apreciável (figs.
contribuiu para um levantamento do nível de base 6-5 e 6-6). Eles foram arredondados pela passagem
local (por sedimentação), o qual passou a controlar sucessiva através de alvéolos diferentes, ou foram
os processos de morfogênese mecânica, responsá- retrabalhados de níveis de terraços correspondentes
veis pela elaboração do pediplano Pd! e pelo pre- a épocas de pedimentação mais antigas. Este fato
enchimento da parte dissecada do vale, por um pa- contrasta com os aspectos dos cascalheiros do pedi-
cote detrítico, até o nível correspondente ao do aplai- plano detrítico, constituídos por seixos angulares a
namento d o Pd! ( B i g a r e l l a & M o u s i - subangulares de transporte reduzido. Os detritos
nho, 1965). grosseiros angulares resultantes dos processos de
morfogênese mecânica, trazidos englobados em fluí-
Os processos de degradação lateral atuantes dos de alta densidade, ao entrarem nas calhas de
durante a fase climática semi-árida conduziram à drenagem, sofreram transporte em lençol, perdendo
formação de vastas superfícies aplainadas, gerando para jusante as arestas angulares e arredondando-se
grande quantidade de depósitos grosseiros e finos. progressivamente ( B i g a r e l l a & Mou-
Os detritos mais grosseiros restringem-se normal- sinho, 1965).
mente à periferia das depressões, exceto os repre- Ao longo da calha de drenagem deveriam Si-
sentativos dos depósitos da calha de drenagem, tuar-se os canais anastomosados, cujos vestígios de-
os quais ocorrem mais para o centro da bacia. Os sapareceram, em grande parte, com a remoção pos-
depósitos mais finos foram depositados em ambi- terior da maior parte dos depósitos da porção cen-
ente de bajada, em playa ou na cafha de drena- tral da bacia (figs. 6-7 e 6-8).
gem.
Embutidos nos remanescentes do pediplano
Os produtos da erosão, transportados para a Pd] existem vestígios de mais dois níveis de pedi-

F i g . 6-7 — C o r t e na r o d o v i a BR-116 e n t r e Ja u p i r a n g a e R e g i s t r o (SP). I — f í l t t o s a l t e r a d o s ; II — s u p e r f í c i e i r r e g u l a r p r é - f o r m a ç ã o do


t e r r a ç o c o r r e l a c i o n a d o a o a p l a i n a m e n t o P d , ; III — d e p ó s i t o s d e c a s c a l h o c o m seixos s u b a r r e d o n d a d o s c o m até 8 c m d e d i â m e t r o m á x i m o .
Intercalações f r e q ü e n t e s de camadas de areia em p a r t e a r c o s i a n a ; IV e V — s u p e r f í c i e de e r o s ã o s o b r e a q u a l assenta um c o l ú v i o - a l ú v i o ; V —
d e cor rosada c o n t e n d o p e q u e n o s seixos; V I — s u p e r f í c i e d e a g r a d a ç ã o d o cascalheiro r e l a t i v o a o t e r r a ç o c o r r e s p o n d e n t e a o P d , ; V I I — su-
p e r f í c i e d e erosão r e f e r e n t e à d i s s e - a ç ã o d o n í v e l d o cascalheiro I I I ; V I I I — p a l e o p a v i m e n t o c l e t r í t i c o r u d á c e o e l a b o r a d o p o r r e t r a b a l h a -
m e n t o do cascalheiro 111; IX — c o l ú v i o - a l ú v i o de cor castanho c l a r o a m a r e l a d a c o m n u m e r o s o s g r â n u l o s e p e q u e n o s s e x o s , e v e n t u a l m e n t e
c o m até 1 0 c m d e d i â m e t r o ( s e g u n d o B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).

- 76 -
Fig. 6-8 — C o r t e a 1,4 k m d e J a c j p i r a n g a na estrada para Cananéía, SP. Nível correspondente ao aplainamento Pd-,.
I — filito decomposto; II — superfície de erosão i r r e g u l a r p r é - f o r m a ç ã o do t e r r a ç o correlacionado c o m o P d , ; Ml —
eascalheiro com seixos subangulares e subarredondados de quartzo e quartzito c o m dimensões variando em t o r n o de 5
a 8 c m , c o m alguns blocos eventuais d e até 30cm d e d i â m e t r o . Intercaladas n o -Rosito r u d á c e o o c o r r e m lentes d e sedi-
mentos siltico-argilosos; IV — superfície de agradaçao do eascalheiro relativo ao terraço correlacionado ao Pd,; V —
colúvio-alúvio mosqueado com delimitação indecisa; VI — colúvio-alúvio avermelhado contendo ocasionalmente grânu-
los e pequenos seixos de q u a r t z o de 2 a 3 cm de d i â m e t r o ; V I I — linha de p e q u e n o s seixos s e p a r a n d o as unidades
VI e V I I I ; V I I I — c o l ú v i o - a l ú v i o c a s t a n h o c o n t e n d o p e q u e n o s grânulos e seixos esporádicos, (segundo B i g a r e II a
& M o u s i n h o , 1965).

os dois níveis de terraços com eascalheiro (Tp e 2

Tp,) ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).


Após o término da fase semi-árida, que origi-
nou o Tpd), seguiu-se uma fase úmida responsável

grattef

mo ff/e ffight' brotàff-

tf/f/r fétâpe&b/ef

Fig. 6-9 — Secções da Formação Riacho M o r n o , de idade pleisto-


cênica, ao longo da rodovia Natal-Mossoró, a 1 e 7 km a p ó s a
junção com a rodovia do a e r o p o r t o . A ilustração superior mostra
os três níveis Pd,, Tp 2 e Tp, . A ilustração do m e i o apresenta a
estrutura do terraço equivalente ao P d ] , a qual é composta de baixo
para cima de: 1 — sedimentos arenosos mosqueados vermelho-cinza
com seixos esparsos; 2 — camada de cascalho; 3 — sedimentos
colúvjo-aluvionares; 4 — areia v e r m e l h a de o r i g e m e ó l i c a . A parte
exposta corresponde a 10 m de espessura. A ilustração inferior
refere-se a estrutura do Tp ,9 a qual consiste de sedimentos are-
nosos mosqueados, castanho cla-ro-cinzento com alguns seixos,
seguem-se depósitos de cascalho e de areia amarelada (segundo
B i g a r e I I a , 1975).

mentação. Relação similar à existente entre o pedi-


Fig. 6-10 — Representação esquemática da origem das seqüências
plano Pd] e o eascalheiro do alto terraço (Tpd ) 5
sedimentares componentes do Membro Canhanduba da Formação
ocorre igualmente entre os pedimentos P e Pi e 2 Itaipava (segundo B i g a r e l l a & B e c k e r , 1975).

- 77 -
os processos de pedimentação abriram numerosos
compartimentos, modelando o pedimento P . Na fa-
2

se úmida, a paisagem foi dissecada muito abaixo


da altura em q u e seria esculpido o P (fig. 6-9). Na
2

transição climática do úmido para o semi-árido,


ocorreu uma rarefação da cobertura vegetal. Nessa
ocasião o espesso manto de intemperismo despro-
tegido era removido rapidamente, vertente abaixo,
durante as chuvas concentradas, por processos de
movimento de massa, preenchendo as depressões
Fig. 6-11 — Representação esquemática de parte da sequência de do terreno (fig. 6-10). A agradação do vaie conti-
terraços do rio Itajaí-Mirim (SC).
nuou através dos processos de morfogênese mecâ-
nica, elevando o nível de base local de erosão, até
um ponto em que se estabelecia um aparente equi-
líbrio entre o material fornecido pelos processos de
pedimentação e aquele evacuado pela calha de
drenagem. A este nível correspondem o pedimento
P e o terraço contemporâneo T p
2 2 ( B i g a r e I Ia
& M o u s i n h o , 1965).

No vale do Itajaí-Mirim ocorre uma seqüência


de espessos depósitos de agradação, constituídos de
cascalho formado quase que exclusivamente por
seixos de quartzo e quartzito. (fig. 6-11). Os feno-
clastos possuem geralmente de 3 a 8 cm de diâ-
metro apresentando-se subarredondados a arredon-
dados (fig. 6-1 l a ) . Eles foram depositados em su-
cessivos lençóis alternando com sedimentos areno-
sos ou síltico-argilosos. Em alguns pontos, as cama-
das de cascalho apresentam estratificação cruzada
de tamanho grande. As camadas arenosas algumas
vezes são aparentemente maciças, outras vezes mos-
tram estratificação paralela ou entrecruzada (figs.
6-12 e 6-13).

Subseqüentemente à formação do pedimento


P e terraço T p , nova época de clima úmido pro-
2 2

moveu a dissecação do terreno com a remoção de


grande quantidade dos depósitos anteriores. Nas
condições de clima úmido a floresta voltou a reco-
brir a paisagem. Novo manto de intemperismo quí-
mico era formado. O retorno de novo período se-
mi-árido culminou com a elaboração do pedimento
Fig. 6-1 l a — D e p ó s i t o s d e c a s c a l h o d o t e r r a ç o T p 2 pertencentes a
Formação Itaipava, localidade de Itaipava, vale do Itajaí-Mirim, SC.
Pi e terraço Tp, (fig. 6-11). Os cascalheiros do
Tpi são menos espessos, porém constituídos igua'-
mente por seixos de quartzo e quartzito, via de re-
pela dissecação e remoção de grande quantidade gra de 3 a 8 cm de diâmetro (figs. 6-14 e 6-15).
do material sedimentado durante a elaboração do
Na periferia do vale, os depósitos rudáceos
Pdi e do terraço correspondente (Tpdi). Formaram-
correspondentes aos terraços jazem discordante-
se nesta ocasião, numerosas soleiras, funcionando
mente sobre as rochas do embasamento precam-
como níveis de base locais. A paisagem revestiu-se
briano. Os depósitos do terraço foram obliterados
novamente de florestas.
por novas fases de deposição de material coiúvio-
Subseqüentemente a esta fase úmida pós-Pd, aluvionar, o qual mascarou a morfologia original.
instalou-se novo período semi-árido, durante o qual O terraço nestas condições pode ser apenas iden-

- 78 -
Jtarcfpatf (//man/fie t'mptffijw¿rf/o/t)
r
~~~—•—•—• • — ~ — . • — *" "7,. • •"•j¿r \-•

• . ;» . .. . fy^

;
*"."*". * \ * *.* •.*•"•.* *-

•' Óm 1 2m
I : * — i — H J-

F i g . 6-12 — Localidade t i p o d a Formação I t a i p a v a c o m d e p ó s i t o s f l u v i a i s c o r r e s p o n d e n t e s a o t e r r a ç o T p . A — vista g e r a l


2 do aflora-
m e n t o ; B, E & G — d e t a l h e s da f a l h a q u e afeta t a n t o os s e d i m e n t o s c o m o o c o l ú v i o - a l ú v i o ; C & F — e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a ; H — bolotas
d e a r g i l a d e n t r o das a r e a s arcosianas; D — f e r r i f i c a ç ã o dos d e p ó s i t o s arenáceos ( s e g u n d o B i g a r e l l a & B e c k e r , 1975).
Tradução da l e g e n d a : A r k o s i c sand — areia a r c o s i a n a ; P e b b l e m o s t l y q u a r t z a n d q u a ¡ t z i t e ) — seixos p r e d o m i n a n t e m e n t e q u a r t z o e quartzi-
t o ; Clay pellets — bolotas de argila; Colluvium-colúvio; Mottle colluvium-colúvio m o s q u e d o ; Hard pan ílimonitic impregnation) — crosta fer-
ruginosa (impregnação limonttica).

tif içado pela estrutura interna (fig. 6-15) ( B i g a -


rella & M o u s i n h o , 1965).

Após a deposição dos sedimentos do terraço


T p i , seguiu-se novo período úmido com dissecação
da paisagem e recobrimento florestal. A drenagem
encaixou-se abaixo do nível atual do plaino alu-
vial, i. é, topograficamente abaixo do nível dos
baixos terraços com cascalheiro Tc e Tcv, respec- 2

tivamente, mais antigo (nível superior) e mais re-


cente (nível inferior).
Os sedimentos dos terraços Tc e Tci foram 2

depositados sob condições climáticas semi-áridas. En-


Fig. 6-13 — Estruturas e t e x t u r a s d o s s e d i m e n t o s do terraço T p 2
tre ambos medeia uma época úmida de dissecação
na localidade de Itaipava, Vale do Itajaí-Mírim, SC (segundo do terreno e recobrimento florestal. Os dois baixos
B i g a r e l l a & B e c k e r , 1975). Clay-argila; Arkosic
sand — areia arcosiana; G r a v e i — cascalho; C l a y p e l l e t — b o l o t a de
terraços com cascalheiro não possuem níveis corres-
argila. pondentes a pedimentos. Os depósitos de cascalho

- 79 -
do Tc e Tci, com espessura de até 1 m ou mais,
2

na área periférica, são constituídos por seixos de


quartzo e quartzito, de tamanho inferior a 8 cm,
subarredondados a arredondados, retrabalhados su-
cessivamente dos níveis superiores. Os vazios entre
os seixos encontram-se preenchidos normalmente por
material arenáceo, podendo ocorrer intercaladas ca-
madas arenosas ou síltico-argilosas (fig. 6-16).

Na maioria dos vales a dissecação subseqüente


à formação dos baixos terraços com cascalheiro re-
moveu a totalidade ou a maior parte dos depósitos
correlativos das diferentes épocas semi-áridas. Tam-
bém existe a possibilidade, não comprovada, destes
depósitos terem sido soterrados em certos vales pe-
lo preenchimento posterior q u e originou o plaino
aluvial atual (Bigarella & M o u s i n h o ,
1965).

Várzeas

Considerações gerais — A várzea é parte integrante


d o plaino aluvial. D e acordo com T h o r n b u r y
(1958) o plaino aluvial ("valley fíat") é a forma f u n - ^ékbMm, m *™>*'
damental produzida pela erosão lateral d o s rios c- * i> C * . A * A ... T

r- y ^.^ouv luictai u u a i ias». p _


i g ^4 — Estrutura do terraço de cascalheiro T p , capeado por
E definido Como terreno baixo e plaino borde- colúvio-alúvio com intercalações de cascalho ou linhas d e s e i x o s .
Vale do I t a j a í - M i r i m (SC) r o d o v i a d e Brusque a 11 k m d e BR-101
(segundo B i g a r e l l a & B e c k e r , 1975). Colluvium-
colúvio; Arkosic sand — areia arcosiana; Gravei — cascalho.

F i g . 6-15 — C o r t e n a e s t r a d a B r u s q u e - G a s p a r (SC) a 5,2 k m d a p r i m e i r a cidade. O t o p o da elevação c o r r e s p o n d e ao n í v e l Tp 2 rebaixado, o


qual foi inteiramente dissecado no local. O cascalheiro V representa o nível de agradação correspondente ao T p , encontrando-se recoberto }

por camadas colúvio-aluvionares. A dissecação posterior ao Tp, é seguida p o r sucessivos e p i s ó d i o s c o l ú v i o - a l u v i o n a r e s i n t e r c a l a d o s com li-
nhas d e s e i x o s ( s e g u n d o B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). Descrição d a seção: I — filito decomposto; II — inconformidade
erosiva representada p o r uma calha f l u v i a l ; III — seqüência de camadas de cascalho de quartzo subanguloso a s u b a r r e d o n d a d o de até 5
cm de d i â m e t r o . Sotoposta ao cascalho aparece uma camada arenácea muito rica em seixos de quartzo subangulosos a subarredondados,
sem a p r e s e n t a i sinal de estratificação. Dentro da estrutura de corte e p r e e n c h i m e n t o , segue-se um d e p ó s i t o s í l t í c o - a r g i l o s o c i n z a , m o s t r a n d o
estratificação cruzada acanalada (am. 92) t e n d o n a sua base uma camada bastante arenosa (am. 93). No t o p o aparece outra camada are-
nosa ( a m . 94); I V — d i a s t e m a ; V — sucessão d e c a m a d a s d e c a s c a l h o s u b a n g u l o s o a subarredondado com dimensões variando em torno
de 5 c m . Entre a s c a m a d a s d e c a s c a l h o e n c o n t r a m - s e d e p ó s i t o s a r e n o - s í l t i c o - a r g i l o s o s , bem estratificados (am. 9l); VI — diastema; VII —
d e p ó s i t o d e cascalho c o m c a r a c t e r í s t i c a s s e m e l h a n t e s à s d a u n i d a d e V ; V I I I — i n c o n f o r m i d a d e erosiva; IX — camada de cascalho, retrabalhada
do cascalheiro superior, f o r m a n d o linha contínua que s e espessa na parte basal; X — material colúvio-aluvial mosqueado constituído por
m a l e r i a l a r e n o - s í l t i c o - a r g M o s o ' a m . 88) c o n t e n d o p e q u e n o s s e i x o s s u b a r r e d o n d a d o s . Ao colúvio-aiúvio superpõe-se uma linha de seixos; Xa —
material areno-argiloso estratificado; XI — colúvio-alúvio de cor castanho-avermelhada, rico em grânulos e pequenos seixos de quartzo e
apresentando no seu interior paleopavimentação incipiente (am. 89); XII — inconformidade erosiva na parte direita do corte; X I I I — colú-
vio-alúvio de coloração avermelhada; X I V — colúvio-alúvio avermelhado m o s q u e a d o ; X l V a — p a l e o p a v i m e n t o d e t r í t i c o ; X V — sucessão d e c o -
lúvio-aiúvios de cor vermelho-castanha ( a m . 95), areno-síltico-argilosos, ricos e m g r â n u l o s e p e q u e n o s s e i x o s e c o r t a d o p o r p e q u e n a s e des-
c o n t í n u a s linhas d e s e i x o s ; X V I — colúvio-alúvio avermelhado; XVII — paleopavimento detrítico descontínuo, com grânulos e pequenos seixos
de quartzo angulosos e subangulosos, acompanhando em subsuperfície a p r o x i m a d a m e n t e a t o p o g r a f i a atual; X V I I I — colúvio-alúvio de colora-
ção c a s t a n h a , a r e n o - s í l t i c o - a r g i l o s o , p o u c o c o n s o l i d a d o ( a m . 90) e c o n t e n d o g r â n u l o s e s p o r á d i c o s d e q u a r t z o ; X I X — s o l o a g r í c o l a .

O perfil corresponde a uma s e ç ã o c o r t a n d o a n t i g o canal d e drenagem referente à época de elaboração do P, e do T p j . A estru-


tura de corte e p r e e n c h i m e n t o e as nítidas diferenciações texturais dos sedimentos que preenchem o canal, demonstram fortes variações no
regime hidroióg'co do agente de deposição. Aos depósitos finos estratificados corresponderam condições de transporte e deposição em
1
cursos d e á g u a a n a s t o m o ^ a d o s ( f l u i d o l í m p i d o " . Aos depósitos de areia e cascalho sem estratificação o agente seria, necessariamente, fluido
de alta d e n s i d a d e (corridas de lama e areia). A dssecação e preenchimentos posteriores deve-se a períodos de coiuviaçao e / o u aluviação,
bem c o m o erosão linear posteriores ao P, ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).

- 80 -
existir a várzea (planície de inundação), a qual, em
alguns casos não passa de fino recobrimento detríti-
2 fP6j(/0t* co sobre o embasamento rochoso truncado. Geral-
mente quando o rio atinge o equilíbrio, a espessu-
ra do alúvio já é grande, não aflorando mais o subs-
trato rochoso. Apesar de, durante as cheias haver es-
cavação e preenchimento, a cobertura de alúvio ten-
de sempre a se expandir.
N a opinião d e T h o r n b u r y (1958), a s
várzeas dos grandes rios com espesso enchimento
aluvial sobre o substrato rochoso, não poderiam ter
se originado pela agradação fluvial, sem que antes
tivessem sido abertos largos vales por erosão late-
ral. Embora este autor admita a importância das va-
F i g . 6-16 — Estrutura d o b a i x o t e r r a ç o d e c a s c a l h e i r o T c . Canhan-
2
riações cimáticas na explicação das mudanças do
duba, Itajaí SC (segundo B i g a r e l l a & B e c k e r ,
1975). Impregnation w i t h hydrous iron oxide — impregnação com regime hidrológico, ele não dá ênfase ao clima para
ó x i d o h i d r a t a d o d e f e r r o ; Paleo soil ( h o r i z o n A ) — p a l e o s s o l o (ho- a interpretação dos fenômenos acima expostos.
r i z o n t e A ) ; C o l l u v i u m - c o l ú v i o ; A r k o s i c s a n d — areia a r c o s i a n a ; G r a -
vel — cascalho; P h y i l i t e — f i l i t o . Pera Leopold, W o l m a n & M i l -
I e r 0 9 6 4 ) , a várzea constitui um aspecto deposi-
cional do vale dos rios, associada com um clima par-
ticular ou regime hidrológico da bacia de drenagem.
Os sedimentos deslocando-se ao longo do vale, são
temporariamente retidos na várzea. Em condições de
equilíbrio, a entrada e saída de sedimentos são equi-
valentes. Um rompimento das condições de equilí-
brio por mudanças tectónicas ou no regime hidroló-
gico (incluindo mudanças no suprimento de água e
sedimentos), resulta na alteração da várzea, condu-
zindo à agradação ou degradação da mesma. Quan-
do há levantamento crusta! segue-se uma fase de de-
gradação, mas a ordem de encaixamento é geral-
mente suficientemente lenta para permitir o movi-
mento do canal e formação da várzea.
A largura da várzea depende do tamanho do
rio, da ordem relativa de encaixamento e da resis-
tência das rochas das paredes do vale. As várzeas
são mais estreitas onde o vale se estrangula. Seu
gradiente também torna-se mais íngreme nos locais
onde o rio tem um perfil longitudinal mais acentua-
do (Leopold, W o l m a n & M i l l e r ,
1964). B a u I i g (1954) refere que um leito alu-
vial muito largo implicaria num aluvionamento es-
pesso. Lembra também que um rio muito carregado
Fig. 6-17 — Terraços de várzea d o s rios Paraíba (RJ) e São J o ã o , de detritos, não podendo rebaixar seu perfil, é ca-
Garuva (PR-SC).
paz de erosão lateral atacando a margem e deixan-
do um leito coberto por um lençol aluvial.
jando o canal fluvial, e situado entre as paredes do Na elaboração de um plaino aluvial, os proces-
vaie (AGI, 1960), (fig. 6-17). Ainda de acordo com sos envolvidos na deposição do cascalho basal di-
T h o r n b u r y (1958), o plaino aluvial corta a ferem daqueles relativos ao enchimento do vale com
rocha e encontra-se recoberto por um fino revesti- formação d a várzea ( B i g a r e l l a & M o u -
mento aluvial. Ele seria formado com a eliminação s i n h o , 1965). Ambas as formas não são con-
dos relevos entre os meandros através da erosão la- temporâneas. Na maioria das várzeas do Brasil Me-
teral. Com a formação do plaino aluvial começa a ridional e Sudeste, os sedimentos apresentam espes-

- 81 -
sura apreciável. Em Curitiba eles atingem de 8 a condições de climas rigorosos pré-deposicionais. O
15 m, desconhecendo-se ainda sua maior espessura. embasamento dos sedimentos da várzea constitui
Ainda nas várzeas de Curitiba, nos terrenos da anti- uma superfície elaborada em fase climática seca, a
ga Estação Experimental do Trigo, atualmente EM- qual foi rebaixada e alargada após a dissecação do
BRAPA, foi ^possível identificar-se o processo respon- pedimento Pi e dos terraços T p Tc e Tci.
w 2

sável pela abertura do plaino aluvial, isto é, do as-


O preenchimento do plaino aluvial com mate-
soalho da várzea sobre o qual se depositaram cerca
de 3 m de sedimentos arenosos e síltico-argilosos. Os rial rudáceo e arenoso deu-se sob condições climá-
depósitos são caracterizados por duas seqüências se- ticas mais rigorosas do que as hodiernas. As cama-
dimentares distintas. A mais antiga, é constituída das de cascalho e areia evidenciam transporte em
por depósitos de cascalho de natureza variável (sei- canais anastomosados. A estratificação cruzada apa-
xos de quartzo, migmatito e outras metamórficas), ou rece freqüentemente. Intercaladas nos cascalhos
de areia grosseira. A mais recente jaz sobre a ante- encontram-se lentes de argilas turfosas ricas em de-
rior sendo formada por elásticos mais finos (síltico- tritos vegetais. A seqüência mais recente jaz em dis-
argilosos). A primeira assenta em discordância erosi- cordância sobre a anterior e representa depósitos
va sobre os migmatitos do Complexo Cristalino. Es- formados sob condições climáticas úmidas. O con-
tes, embora estejam hoje ligeiramente alterados, junto é recoberto por um manto colúvio-aluvionar
conservam sua estrutura. Este fato denota q u e à épo- ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). O
ca da deposição da porção basal da várzea, os mig- conjunto sedimentar da várzea representa duas épo-
matitos constituíam rocha fresca, praticamente inalte- cas climáticas distintas, respectivamente seca e úmi-
rada (Bigarella & M o u s i n h o , 1965). da. Na várzea da antiga Estação Experimental do
O assoalho da várzea, ao que parece em toda sua Trigo, a transição deu-se a cerca de 2.400 anos B.P.
extensão, apresenta esta característica, sem que se (Bigarella, 1964). Esta datação não pode ain-
verifique a presença de regolito soterrado. Este as- da ser generalizada, uma vez q u e as várzeas de ou-
pecto da base da sedimentação da várzea, revela tras áreas mostram evidências de outras flutuações
climáticas, como por exemplo, no rio Pirabeiraba on-
de a transição deu-se a 10.200 anos B . P . (Biga-
rella, 1971).

Deposição: — Os depósitos das inundações, segundo


L e o p o l d , Wolman & M i l l e r (1964),
compreendem a porção mais importante da agrada-
ção das várzeas. Contudo, o preenchimento do plai-
no aluvial é realizado muitas vezes por uma sucessão
sedimentar de origem diversa, composta por depó-
sitos de canais anastomosados e uma seqüência rít-
mica de lobos colúvio-aluvionares, os quais encon-
tram-se interdigitados com depósitos típicos das
inundações.

De acordo com L e o p o l d , Wo I m a n &


M i l l e r (1964), a elevação progressiva d a vár-
zea é limitada: a) pela migração lateral contínua do
canal, removendo parte do material anteriormente
depositado; b) pela deficiência de sedimentos nas
enchentes.

Os aspectos erosivos e deposicionais nos leitos


fluviais são relativamente complexos. Eles depen-
dem, fundamentalmente, da carga detrítica como fa-
tor independente. Os fatores hidráulicos variam em
resposta às mudanças da carga. Entre os processos
responsáveis pela formação das várzeas são citados:
a) deposição lateral no canal nas partes convexas
(barras de meandro); b) deposição nas enchentes por
F i g . 6-18 — Terraços de várzea na região de Santo Amaro da
I m p e r a t r i z (SC).
sobre os diques naturais; c) coluviação. A proporção

- 82 -
entre eles depende das características das enchen- baixos do plaino aluvial, correspondendo aos terra-
tes, além da disponibilidade e do diâmetro dos de- ços de várzea, estão diretamente ligados a pequenas
tritos. L e o p o I d, Wo I m a n & AA i I I e r modificações nas características hidrológicas dos cur-
(1964) referem que em muitas várzeas, 60 a 80% sos de água. Nestas condições formou-se uma série
dos sedimentos provêm da acreção lateral. L a t t - de terraços embutidos, todos caracterizados como ter-
m a n (1960) menciona para um pequeno rio na raços de preenchimento. O caráter recente e o fraco
Pensilvânia que a maior parte dos sedimentos pro- desnivelamento entre eles dá origem a uma série
vinha da acreção lateral, enquanto que, um quinto de problemas. Em primeiro lugar, a seqüência dos
era de colúvio procedente das vertentes do vale. baixos níveis não é encontrada em todos os vales.
Leopold, Wolman & M i l l e r (1964) O esquema é bastante complexo em vales de núme-
assinalam que parte das várzeas está sujeita à depo- ro de ordem elevado, enquanto que ao longo das
sição de colúvio, resultante do escoamento superfi- principais calhas de drenagem a seqüência de níveis
cial e movimentos de massa locais. O colúvio tende torna-se imperceptível, com o aiuvionamento inten-
a interdigitar-se com o alúvio da agradação fluvial. sivo das várzeas atuais. Nos pequenos afluentes, on-
Em alguns casos o preenchimento do vale com colú- de o aluv'onamento torna-se menos espesso face ao
vio pode ser predominante. gradiente relativamente mais elevado e característi-
cas mais torrenciais a preservação e o soterramento
Os depósitos de várzea permitem reconhecer as
das formas são dificultados. Por outro lado, ligan-
várias fases climáticas envolvidas nos processos de
do-se tais formas a pequenas flutuações nos proces-
deposição e erosão que originaram os terraços for-
sos da dinâmica fluvial e, portanto, essencialmente
mados pe!as antigas várzeas.
a variações na relação entre carga e descarga dos
Os níveis mais baixos existentes no plaino alu- cursos de água torna-se bem possível e mesmo pro-
vial, correspondendo a antigos depósitos de enchen- vável, que não tenha havido perfeita homogeneida-
tes, são designados como terraços de várzea. Mate- de da evolução de toda uma vasta área geográfica
rial colúvio-aluvionar pode recobrir estes níveis for- ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).
mando rampas colúvio-aluvionares. As rampas apre-
A diversidade climática numa região é flagran-
sentam desenvolvimento variável, em alguns casos
te e, dentro de uma visão em pequena escala no
atingem o meio do plaino aluvial, enquanto que
tempo, deve-se levar em consideração as variações
outras vezes encontram-se na área periférica. Nos
das condições meteorológicas locais de cada uma das
vales onde as rampas mais recentes estão pouco de-
áreas. Outro problema de importância que deve ser
senvolvidas, os terraços de várzea estão melhor pre-
levado em consideração no estudo do problema das
servados (fig. 6-18). Entretanto, este fato não exclui
várzeas, é o do desmatamento de origem antrópica,
que em subsuperfície ocorram camadas colúvio-alu-
que provocou erosão acelerada das vertentes e mo-
vionares interdigitadas com sedimentos fluviais.
dificação nos regimes hidrológicos dos cursos de
O modelado e a dissecação de pequena ampli- água, dando origem a formação de terraços "antró-
tude responsáveis pela formação dos terraços mais picos", (vide f i g . 4-4a).

- 83 -
7 - PROCESSOS SEDIMENTARES FLUVIAIS

Os processos sedimentares que atuam dentro e tam aspectos de acreção vertical, enquanto que o u -
fora de um canal fluvial são fundamentais, tanto na tras possuem canais com diques marginais, depósitos
caracterização das fácies fluviais, bem como dos t i - de espargimento de crevassa (rompimento de diques
pos básicos de sistemas deposicionais fluviais. Por- marginais) e, de bacias de inundação bem desenvol-
tanto, da compreensão dos processos sedimentares, vidos.
depende o reconhecimento das fácies específico e,
Os depósitos de acreção lateral são comuns a
em conseqüência, do tipo particular de canal ou de
qualquer outra feição pertinente. todas as planícies de inundação. Quando ocorre acre-
ção vertical significativa, isto depende provavelmen-
Na planície de inundação encontram-se: barras te, tanto de fatores inerentes ao regime da corrente,
de meandros e de canais, ilhas aluviais, cortes e en- bem como de fatores externos ( A I I e n , 1965).
chimentos de canais, diques marginais, espargimento
Os fatores internos mais importantes parecem de-
de crevassas e bacias de inundação.
pender: a) do tamanho do grão da carga em suspen-
De acordo com o modo de formação e a natu- são e da carga total; b) da velocidade do f l u x o so-
reza dos depósitos existem dois tipos fundamentais bre os bancos e; c) da taxa de migração dos canais.
de formas, dependendo do tipo de acreção ser " l a - Os fatores externos relacionam-se com as mudanças
teral" o u "vertical" ( A l i e m , 1965). Dos pro- do nível de base da corrente ou com mudanças de-
cessos de acreção lateral da carga do leito resultam
as barras de meandro, as barras de canais e as ilhas
aluviais. A acreção vertical se faz à custa da carga 1. <¿)epdi>rfo de dique
margina/.
suspensa durante as cheias, quando as águas trans-
Z.Qepd^ifo de depres.
põem os diques marginais. A acreção vertical é res-
ponsável pela formação dos depósitos dos diques Séanai fiuv/ai

marginais, das crevassas e das bacias de inundação,


(fig. 7-1).
4. Qepd&ifo de
rompi me rifo dedi-
O enchimento dos canais resulta, em geral, de que marginai(eretit
processos mistos de acreção lateral e acreção verti- 5. Qepóeito de barra de
meandro.
cal, embora os depósitos possam consistir totalmente Ó.Çiepôçito dep/anieie deinundação, ZQepdsitoresiduai'de eanai 8.$o-
de sedimentos da carga de leito ou da carga em ekaf pre-exiefenfe?. 9. êurüa de meandro abandonado. fÔ.Qepó&to de pre-
enchimento de danaL ff. Çtepoe/fog de romp/ffretr/o de d/çve.
suspensão.
Fig. 7-1 — Processos sedimentares e fácies fluviais modificado de
Algumas planícies de inundação não apresen- A l I e n , 1964).

- 84 -
vidas à subsidência ou soerguimento do terreno. Formação de barras de meandros
( A l i e n , 1965).
Os meandros e as barras de meandros consti-
Como foi mencionado acima, o tamanho da car- tuem os aspectos mais notáveis da paisagem aluvial.
ga da corrente constitui fator importante no controle Cada curva de meandro ativo ou cortado possui bar-
da estrutura da planície fluvial e de sua morfolo- ras de meandros grosseiramente concordantes com a
gia. Nas correntes anastomosadas, com carga gros- curva do canal. Um cordão de barra representa agra-
seira e gradiente relativamente elevado, os canais dação de material do leito de encontro ao banco con-
entrelaçados mudam rapidamente de posição e mi- vexo do canal. As cristas das barras podem situar-se
gram no plaino aluvial mantendo relevo baixo e mi- mais elevadas do que os diques marginais ( F i s k ,
nimizando a extensão dos depósitos das cheias 1947). Entre os cordões encontram-se áreas mais bai-
( A l i e n , 1965). xas com banhados, poças ou braços rasos da cor-
rente (fig. 7-3). S u n d b o r g (1956), refere
Os depósitos dos canais meandrantes de sinuo- cordões distantes uns dos outros de 10 a 30 m e,
sidade relativamente baixa originam planícies de com altura de 1 m sobre as depressões, no plaino
inundação planas e as águas das cheias movem-se aluvial do rio Klarãlven, Suécia. Para as barras de
livremente sobre os plainos aluviais. Quando o ta-
manho da carga diminui verifica-se um aumento da
sinuosidade da corrente (fig. 7-2), ( S c h u m m ,
1960, 1961 e 1963). Com o aumento de sinuosidade
aumenta a estabilização dos cinturões de meandros
com formação de tampões de argila.

F i g . 7-4 — F l u x o h e l i c o i d a l n u m a c u r v a de m e a n d r o a c o m p a -
F i g . 7-2 — D i a g r a m a i l u s t r a n d o as relações entre a e s t a b i l i d a d e do
nhado de superelevação do nível de água j u n t o a m a r g e m côn-
canal, sua s i n u o s i d a d e e caráter da carga da c o r r e n t e ( S e g u n d o
cava, s e n t i d o do m o v i m e n t o de á g u a na s u p e r f í c i e (seta cheia) e
A I I e n , 1965).
n o f u n d o (seta i n t e r r o m p i d a ) .

F i g . 7-3 — Fácies f l u v i a i s . 1 — Estratificação cruzada de p o r t e


m é d i o a g r a n d e ; 2 — s e d i m e n t o s arenosos de r o m p i m e n t o de
d i q u e s m a r g i n a i s ; 3 — d e p ó s i t o de cascalho r e s i d u a l ; 4 - d e p ó - F i g . 7-5 — Padrões de f l u x o em canais f l u v i a i s m e a n d r a n t e s .
sitos síltico-arenosos de d i q u e m a r g i n a l ; 5 — s e d i m e n t o s a r g i l o s o s ; As setas i n d i c a m as i n t e n s i d a d e s e os s e n t i d o s das c o r r e n t e s ( S e g .
6 — depósitos síltico-argilosos. L e o p o l d & W o l m a n , 1960).

- 85 -
meandro do rio Mississipi são referidas diferenças
de altura de até 4,5 m ( F i s k , 1947).

O desenvolvimento de meandros constitui uma


das feições mais conspícuas de rios com declive bai-
xo a moderado e alta relação entre carga suspensa e
carga de f u n d o , dando origem a rios altamente si-
nuosos.

O fluxo da água em canais curvos é tridimen-


sional envolvendo componentes transversais. De
acordo com B a g n o I d (1960), o fluxo trans-
versal é inevitável, uma vez que as paredes do ca-
nal exercem uma fricção de "arraste" no fluxo tan-
gencial. A aceleração radial dá origem a excesso de
pressão sobre o banco externo, onde se processa a Fig. 7-6 — Representação diagramática das barras laterais. Forma
erosão, e um déficit de pressão na margem, interna, das b a r r a s e p a d r ã o de f l u x o i n f e r i d o . 1 — fluxo superficial; 2 —
fluxo no f u n d o e; 3 — instabilidade tridimensional (modificado de
onde ocorre a sedimentação.
A I I e n , 1966 e baseado em L e l i a v s k y e em
S h a m o v ) .
O padrão de fluxo num canal meandrante está
intimamente ligado com a formação das barras de
meandro. O fluxo é helicoidal acompanhando uma constitui uma área de erosão. Um arco de meandro
super-elevação do nível da água junto à margem engloba geralmente uma associação de muitas bar-
côncava, em conseqüência do desvio do eixo de má- ras de meandro. A superfície da barra, via de regra,
xima velocidade do centro do canal (fig. 7-4). Resul- representa uma superfície de sedimentação. A barra
ta, a¿sim, q u e na curva, além da componente prin- estende-se desde o fundo do canal até o nível das
cipal da velocidade (orientada para jusante no sen- águas altas. Elas formam estruturas tridimensionais.
tido longitudinal da corrente), desenvolve-se ó^tra,
secundária e mais fraca, orientada no sentido lateral Em planta, a parte mais elevada da barra apre-
(fig. 7-5). senta-se como uma faixa arqueada, representando
uma ondulação q u e sobressai cerca de 1 m sobre
Próximo à superfície, a componente secundária as áreas adjacentes.
orienta-se no sentido da margem côncava, ocorrendo
A i n d a , em conseqüência da componente lateral
o inverso em profundidade, junto ao leito do rio.
do f l u x o sobre o f u n d o , o material grosseiro é trans-
Seu valor chega a atingir até 2 0 % da componente
portado desde o f u n d o do canal até posições relati-
principal quando no centro de curvatura do mean-
vamente altas na barra de meandro ( F i s k ,
dro. O máximo da intensidade do f l u x o é encon-
1947). O material mais f i n o é levado mais para cima.
trado junto à margem côncava e íngreme. A veloci-
As variações na descarga originam interestratifica-
dade diminui junto à margem convexa onde estão
ções de material grosseiro e fino.
as barras de meandro. Na curva de meandro seguin-
te, o eixo de máxima velocidade desvia-se no sen- A sedimentação nas barras de meandro resulta
tido inverso, completando assim o período do movi- na formação de estratificação gradacional caracterís-
mento hel'coidal. tica e diagnostica desta fácies. A deposição é máxi-
ma nas cheias. A granulação diminui do f u n d o do
O material erodido na margem côncava de uma
do canal em direção ao topo das barras de meandro.
curva de meandro, tende a ser depositado na pró-
xima margem convexa da curva seguinte, a jusante, Em virtude da contínua erosão do banco côn-
e não na margem oposta. Forma-se assim, a fácies cavo e sedimentação no banco convexo, o canal man-
designada por barra em pontal ou barra de meandro tém-se em contínua migração lateral desenvolvendo
("point bar"). O f l u x o cruzando o canal e o declínio sua deposição por acréscimo lateral (figs. 7-1 e 7-3).
da sua intensidade na margem convexa constituem
os mecanismos mais importantes na sedimentação A taxa de erosão da margem côncava é parcial-
da barra de meandro. mente determinada por sua composição. Sedimentos
incoerentes tendem a desintegrar-se, sendo carrea-
A barra de meandro consiste na acumulação de dos pelas correntes, ao passo que, os mais coerentes
sedimentos relativamente grosseiros no lado inter- ou compactados, em conseqüência do solapamento
no do canal meandrante. O lado externo do mesmo pelas correntes, desprendem-se em grandes frag-

- 86 -
mentos. Estes mecanismos foram discutidos por As faces de montante apresentam macro-ondu-
F i s k (1947) para o rio Mississipi, onde contri- lações, enquanto que as de jusante possuem pen-
buem significativamente para sua carga sedimentar dentes de avalanche. Nelas desenvolve-se a estra-
e representam as principais fontes de sedimentos tificação cruzada tabular (planar).
das barras de meandros.
Transbordamento
Os fragmentos síltico-argilosos ou argilosos des-
prendidos do banco côncavo, e reduzidos em tama- O transbordamento dos rios constitui outro pro-
nho peia ação das águas, originam as "bolotas" (clay cesso sedimentar, especialmente importante em sis-
galss) tão freqüentes nos sedimentos arenosos dos temas fluviais, cuja relação entre carga em suspen-
canais fluviais. são e carga de leito é moderada ou elevada. No en-
tanto, enquanto que a migração lateral dos c i m i s
Os escorregamentos e desbarrancamentos da
e o desenvolvimento de meandros são processos de
margem côncava predominam onde os sedimentos
sedimentação por acreção lateral, o transbordamento
:ão mais coerentes, sendo facilitados pela ocorrên-
acarreta uma acumulação por acreção vertical (fig.
cia de material menos coerente em profundidade.
7-1).
O solapamento constitui a principal causa do deslo-
camento do canal. A migração dos meandros para A deposição ocorre, evidentemente, durante
jusante deve-se à concentração de energia erosiva oeríodos de cheias; ao transbordar, as águas têm a
contra o banco côncavo a alguma distância abaixo sua velocidade bruscamente diminuída, provocando
do ponto de inflexão do canal ( A I I e n , 1965). a deposição da fração mais grosseira de sua carga
A umidificação e o congelamento do terreno facili- suspensa imediatamente às margens do canal cons-
tam a erosão do banco côncavo ( W o I m a n , tituindo os depósitos de diques naturais ("natural
1959). levees"), que flanqueiam os canais. A fração mais
fina constituindo a carga em suspensão é espalhada
Barras laterais pela planície de inundação, originando os depósitos
de planícies de inundação ou de várzea ("fiood plain
São encontradas em canais de baixa sinuosida- deposits").
de. Elas correspondem às barras de meandro das
As bacias de inundação constituem depressões
correntes meandrantes. A geometria das barras la-
na planície de inundação, as vezes preenchidas com
terais é tridimensional. Um dos lados da barra en-
água, outras vezes pantanosas. Os pântanos for-
costa na parede do canal, enquanto que o outro
mam áreas planas de drenagem pobre, situadas jun-
avança até cerca de 65% da largura do canal. As
to, ou entre canais ativos ou abandonados de um
barras laterais dispõem-se alternadamente de cada
cinturão de meandros. Os feixes de meandros en-
lado do canal (fiq. 7-6).
contram-se topograficamente um pouco mais eleva-
As faces de montante apresentam formas sua- dos em relação às bacias de inundação. Estas, atuam
ves freqüentemente cobertas por macro-ondulações como corpos de água calma, nos quais os detritos
e outras formas de rugosidade. As faces de jusante finos transportados em suspensão podem sedimen-
constituem superfícies íngremes de avalanche, distri- tar.
buídas obliquamente no canal (fig. 7-6). As barras
laterais deslocam-se lentamente para jusante por ero- Os detritos finos procedem do transbordamen-
são das faces de montante. O fluxo sobre a barra to dos canais por sobre os bancos ou dos espargi-
apresenta instabilidade tridimensional. mentos das crevassas. Em ambos casos, o material
mais grosseiro sedimenta-se sobre o dique marginal
As barras definem um canal sinuoso dentro do ou junto à crevassa.
canal principal. Devido a fricção do fluxo sobre o
leito e margens, forma-se um fluxo secundário heli- Freqüentemente as bacias de inundação pos-
coidal em cada curva como ocorre nos canais mean- suem um conjunto de pequenos canais, em par-
drantes. Nas curvas à esquerda o fluxo superficial te herança de sistemas de drenagem mais ve-
dirige-se para a direita (fig. 7-6) e junto ao fundo lhos ( F i s k , 1944). Estes canais facilitam a
para a esquerda. Junto a face de jusante de cada entrada da água nas bacias durante as enchentes
barra ocorre nítida instabilidade tridimensional. Con- bem como, auxiliam a drenagem das mesmas du-
dições gerais de fluxo rugoso, turbulento e tran- rante as vazantes.
qüilo podem ser conjecturadas para as barras late-
rais. O tamanho, a forma e o posicionamento das

- 87 -
regional caracteriza o fenômeno designado por avul-
são.

O atalhamento está associado com a meandra-


gem e ocorre toda vez que a corrente p o d e encur-
tar seu curso e assim aumentar localmente seu gra-
diente.
afa/ko de corredeira tffa/ho em eolo tfâLtieão
O atalho de corredeira desenvolve-se quando a
Fig. 7-7 — D i f e r e n t e s t i p o s d e a b a n d o n o d e c a n a l ( S e g . A l l e n ,
curva do meandro é encurtada pelo corte de um no-
1965). vo canal por entre as barras de meandro, aprovei-
tando a depressão pantanosa. O alargamento do no-
vo canal e o entupimento do velho progridem gra-
bacias dependem da evolução da planície de inunda-
dualmente. O arco de meandro abandonado é isola-
ção. Geralmente, são mais alongadas do que largas
do do novo curso por um tampão constituído de se-
e, dispõem-se paralelamente aos cursos de água.
dimentos da carga de f u n d o . O meandro abandonado
O número de bacias tende a aumentar para jusante.
é, por sua vez, progressivamente preenchido com
sedimentos da carga em suspensão trazidos pelas en-
Rompimento de diques naturais chentes.
Os diques naturais, que margeiam os canais,
Os atalhos em colo contribuem para formação
podem ser rompidos em alguns pontos durante as
dos arcos de meandro característicos das planícies
enchentes, dando origem a outro processo sedimen-
de inundação. O atalho em f o r m a de colo resulta do
tar fluvial. Estabelecida a ruptura, o f l u x o de água
corte através de estreito pescoço entre duas curvas
divergente escava o seu curso através do dique,
de meandro que se aproximam. Os sedimentos da
carreando consigo parte da carga de f u n d o do ca-
carga de leito entopem as extremidades do canal
nal principal (fig. 7-3). O decréscimo da velocidade
abandonado, originando um lago em forma de "chi-
da corrente na planície de inundação resulta na
fre de b o i " . O preenchimento é progressivamente
formação de um depósito em forma de leque, aqui
efetivado, pelos sedimentos em suspensão, durante
designado por depósito de rompimento de dique ou
as enchentes.
de espargimento de crevassa ("crevasse splay de-
posit"). Esses depósitos contribuem, normalmente, os O fenômeno da avulsão é também muito co-
sedimentos mais grosseiros depositados fora do ca- mum em rios meandrantes. Consiste no abandono
nal. relativamente brusco de parte do conjunto de mean-
É interessante salientar que, se o rompimento dros, quando o rio se move ao longo de novo curso
do dique se verificar no lado externo de um mean- em um nível mais baixo da planície de inundação.
dro, o volume de água que sai do canal será muito
A atividade de uma corrente limitada dentro
grande, mas a perda de sedimentos será relativa-
do cinturão de meandro, combinada com a depo-
mente pequena, em virtude da menor disponibili-
sição, origina uma elevação local na planície de inun-
dade de carga de fundo. Deste modo, os depósitos
dação, formando o cordão aluvial ( F i s k , 1947).
de rompimento de diques da margem côncava serão
Quanto mais elevado for este cordão, tanto maior a
insignificantes, quando comparados com os da mar-
possibilidade que o rompimento do mesmo resulte
gem convexa, onde a carga de fundo está concen-
trada. numa mudança definitiva do curso para fora do
cordão aluvial original. N o v o curso estabelece-se
dentro de bacias marginais adjacentes onde um no-
Abandono e preenchimento de canal
vo cinturão de meandros é formado (fig. 7-7).
O crescimento dos meandros e o desenvolvi-
Como exemplo de uma fase especial do pro-
mento dos anastomosamentos conduzem a mudan-
cesso de avulsão cita-se o caso do rio Atchafalaya,
ças graduais nos cursos dos rios. O abandono tem-
atualmente em processo de captura das águas do
porário ou permanente do canal ocorre tanto em
rio Mississipi. Anualmente investem-se grandes so-
escala regional como locai (fig. 7-7). O abandono
mas para impedir a avulsão do rio Mississipi e para
local processa-se através de atalhos ("cut-off")
conservar suas águas confinadas ao canal atual
que se desenvolvem de duas maneiras diferentes
( F i s k , 1952).
( F i s k , 1947): atalhos de corredeira ("chute cut-
o f f " ) e atalhos em colo ("neck cut-off"). O abandono Em todas as formas de canal abandonado, a

- 88 -
porção significativa da carga de f u n d o é transpor-
H ffluxo eoíffwado A
"* S/uscomo eoufi, tada pelo atalho formado. O fluxo através da corre-
Zona de fraxe/çào
deposição deira é rápido, confinado e ocorre em condições de
priMcrpaf da
çuepetffão regime de f l u x o superior. No f i m do canal o fluxo
espraia-se, a corrente perde a sua competência e
deposita sua carga mais grosseira sobre a barra de
meandro parcialmente erodida (fig. 7-8).
TO
Zona defluxo^ /
O processo de formação das barras de corredei-
ras, pelo fato de impedir o registro completo da se-
F i g . 7-8 — P a d r ã o de f l u x o em c o r r e d e i r a ( b a s e a d o em M c G o • dimentação das barras de meandro, modifica em par-
w e n & G a r n e r , 1 9 7 0 ) . V i s t a e m p l a n t a . A s setas i n d i -
te o padrão do conceito clássico de seqüência verti-
cam o s sentidos d o f l u x o das c o r r e n t e s .
cal com estratificação gradacional ("fining upward"),
encontrado comumente nas barras de meandros.
kv-v.v.i Qepoff/fo ma/garoffo
r.v.v.vJ do çi/r o ortgwa/
I—~| <De/?ó?tfo ma/? fi/fo
Anastomosamento fluvial

6 Morae Constitui o processo sedimentar responsável pe-


lo padrão de canal anastomosado dos rios ricos em
carga de fundo, alto declive e descargas "instantâ-
7hora<? neas". O anastomosamento começa num trecho ori-
ginalmente não anastomosado, com a deposição de
uma pequena barra submersa de material grosseiro
durante a enchente. Uma vez iniciada, a barra cresce
aproximadamente ao nível da planície de inundação.
A barra desenvolve-se com sua extensão maior para
jusante. O crescimento lateral e longitudinal reduz
a largura dos canais tornando-os instáveis e lateral-
mente erodíveis ( A I I e n , 1965).

Os canais de barra aumentando sua profundi-


dade permitem a barra emergir como ilha aluvial, a
qual torna-se estabilizada pela vegetação. A repeti-
ção deste processo nos trechos divididos pode ori-
F i g . 7-9 — D e s e n v o l v i m e n t o d e a n a s t o m o s a m e n t o f l u v i a l e m m o - ginar um canal anastomosado marcado por nume-
d e l o f l u v i a l e m m o d e l o r e d u z i d o d e l a b o r a t ó r i o (baseado e m rosas ilhas em seção transversal (A I I e n , 1965).
( L e o p o l d , W o l m a n & M i l l e r , 1964).
O fluxo rápido é dominante em muitas corren-
tes anastomosadas mesmo com descargas modera-
carga de fundo à montante do ponto de desvio é das ou baixas. Os depósitos acumulados entre os
aí depositada sob a forma de um "tampão" arenoso. anastomosamentos apresentam estratificação carac-
A parte remanescente do canal abandonado conver- terística.
te-se em uma bacia de sedimentação de forma alon-
gada, que é preenchida, com o decorrer do tempo, As partículas movendo-se ao longo da barra
por sedimentos argilosos provenientes da carga em são depositadas além da extremidade de jusante,
onde o aumento de profundidade e o decréscimo de
suspensão. Estes depósitos são freqüentemente ricos
velocidade, contribuem para a sedimentação.
em matéria orgânica carbonosa de origem vegetal.
Nos canais anastomosados desenvolvem-se dois
Formação de barras de corredeiras tipos de barras: longitudinais e transversais. As bar-
ras longitudinais originam-se quando, a um determi-
As barras de corredeira constituem uma fácies nado momento, a corrente é incapaz de transportar
importante dos sistemas fluviais meandrantes, ricos sua carga mais grosseira. Esta deposita-se dentro do
em carga de fundo. Durante as enchentes são es- canal, formando um banco submerso que vai adqui-
cavadas depressões alongadas sobre as barras de rindo expressão a medida que vai aproximando-se
meandros anteriormente formadas. Dessa forma, uma da superfície da água. Este banco semi-submerso

- 89 -
passa a constituir um obstáculo no leito, propiciando orientadas perpendicularmente à direção do f l u x o .
a acumulação de sedimentos mais finos a jusante. O A possança das barras transversais está diretamente
crescimento do volume do depósito, localizado no relacionada com a p r o f u n d i d a d e da água, quantida-
meio do canal, promove o desvio das linhas de f l u - de de carga e velocidade da corrente. Q u a n d o o ní-
xo para as duas margens do canal, q u e assim pas- vel da água abaixa, as barras transversais p o d e m f i -
sam a sofrer erosão. A secção do canal no trecho car expostas, contribuindo para o desenvolvimento
cons iderado a I a rg a-se e a superfície aq uos a sof *e do padrão anastomosado,
um rebaixamento, fazendo com q u e o banco, até
então submerso, seja exposto adquirindo caracterís- S m i t h (1970) demonstrou q u e a s barras
ticas de uma ilha. Outros bancos podem ser o r i g i - longitudinais são melhor desenvolvidas em sedimen-
nados no meio dos canais resultantes de um canal tos mais grosseiros, ao passo que, as barras trans-
inicial único, levando o rio a um padrão anastomo- versais são tipicamente constituídas por partículas
sado. A figura 7-9 ilustra uma seqüência de estádios do tamanho de areia. Assim, nas partes das cabecei-
de evolução da sedimentação de barras arenosas em ras dos rios anastomosados, o caráter anastomosan-
um canal, observada em modelo hidráulico de labo- te é conferido, principalmente pelo desenvolvimen-
ratórios em escala reduzida. to de barras longitudinais; nas partes de cursos mais
baixos desses sistemas, esse padrão é conseqüên-
As barras transversais, por sua vez são origina-
cia do maior desenvolvimento de barras transversais.
das pelo movimento de ondas de areia, geralmente

- 90 -
8 - SEDIMENTOS DE O R I G E M FLUVIAL

Os sedimentos depositados pelos rios têm sido cipais fatores que, em última análise, controlam os
classificados de várias maneiras diferentes. No capí- comportamentos dos rios e que regem todos os as-
tulo anterior referimos os depósitos de acreção ver- pectos da sedimentação fluvial, mas as influências
tical e os de acreção lateral. Salientamos que os úl- desses fatores são comumente sutis e evidentes so-
timos resultam da migração do canal e da redistri- mente em termos globais.
buição dos sedimentos disponíveis. Os depósitos de
Os detalhes de estratificação, por exemplo, po-
acreção vertical contribuem para o espessamento da
dem refletir, ao invés de flutuações locais e de cur-
planície de inundação pela deposição de material
ta duração, uma resposta ao regime fluvial resultan-
da carga em suspensão durante as cheias.
te das mudanças climáticas e conseqüentes impli-
Os depósitos fluviais podem, grosso modo, ser cações na hidrodinâmica fluvial. As respostas mais
reunidos em três grandes grupos: significativas a todas as influências ligam-se às mu-
1) os depósitos de canal — formados pela ati- danças de geometria do canal: gradiente, largura,
vidade do canal, compreendendo os depósitos resi- profundidade e padrão.
duais e aqueles das barras de meandro, barras de Basicamente podem ser distinguidos dois con-
canais e dos preenchimentos de canais; juntos deposicionais de origem fluvial: sedimentos
2) os depósitos dos bancos, incluindo aque- de vales aluviais e sedimentos de leques aluviais.
les dos diques naturais e os dos rompimentos de
diques e,* A — Sedimentos de vales aluviais
3) os depósitos das bacias de inundação.
Os vales aluviais constituem os principais ca-
Embora os ambientes continentais compreen- minhos por onde se deslocam os sedimentos a par-
dam uma ampla variedade de sistemas deposicionais, tir de suas fontes elásticas rumo aos oceanos. Os
desde lacustrinos a eólicos e glaciais, a sedimenta- sedimentos em trânsito podem ser temporariamente
ção fluvial por água corrente apresenta os proces- "armazenados" em camadas das planícies de inun-
sos mais característicos, sendo também de distri- dação ou nos canais, e somente quando ocorre uma
buição geográfica mais ampla. mudança climática ou algum fenômeno tectônico,
o vale pode ser preenchido, sendo os sedimentos
Somente os sedimentos fluviais abrangem um preservados no registro geológico (fig. 8-1). A me-
amplo espectro de tipos de depósitos que diferem, lhor maneira de classificar os sedimentos fluviais li-
principalmente, na textura e nos tipos de estrutu- ga-se aos seus ambientes e subambientes depos*cio-
ras sedimentares. O clima e a tectônica são os prin- nais.

- 91 -
WÊ-1

F i g . 8-1 — C i c l o c o m p l e x o d e s e q ü ê n c i a f l u v i a l c o m d e c r é s c i m o
ascendente de granulometria e estruturas sedimentares (seg.
A I I e n , 1970). 1 — Silte e argila c o m Iami nação h o r i z o n t a l ;
2 — S i l t e e a r e i a em l e n t e s ; 3 — A r e i a c o m m i c r o - o n d u l a ç ã o e la-
minaçao cruzada; 4 — Areia com estratificação horizontal; 5 —
A r e i a c o m m e g a - o n d u l a ç ã o e estratificação cruzada; 6 — Cascalho
de d e p o s i ç ã o r e s i d u a l ; 7 — S u p e r f í c i e e r o s i v a .

Depósitos efe canal

São formados por processos sedimentares atuan-


tes dentro do canal e correspondem aos sedimentos
mais grosseiros do sistema fluvial, constituídos de
areias e seixos da carga de fundo.

Depósitos residuais de canal

Os depósitos residuais de canal ("channel lag


deposits") são compostos de sedimentos grosseiros, F i g . 8-2 — A s p e c t o d o c u r s o d o r i o São J o ã o n o s o p é d a S e r r a
conglomeráticos, formados em rio de canal mean- d o M a r n a é r e a d e G a r u v a (PR-SC). O l e i t o c o n t é m g r a n d e q u a n -
tidade de blocos e matacões i n t r o d u z i d o s no t a l v e g u e pelos p r o -
drante, selecionados e deixados como acumulação cessos d e c o l u v i a ç ã o , s e g u i d o d a r e m o ç ã o d o s f i n o s p e l a a ç ã o
residual nas partes mais profundas dos leitos dos s u b s e q ü e n t e das águas c o r r e n t e s .

rios (fig. 8-1). Apresentam normalmente forma len-


ticular e, quando constituídos de cascalhos, esses se-
dimentos formam os conglomerados basais das se- A erosão de sedimentos em canais previamente
qüências fluviais antigas. Na ausência de cascalho, estabelecidos estende-se sobre amplas escalas, desde
durante as cheias, o leito do canal pode ser esca- o aprofundamento de uma seção inteira até as pe-
vado e preenchido por ondas de areias migrantes. quenas estruturas de varrimento. O aprofundamen-
Neste caso, os depósitos residuais são constituídos to do canal relaciona-se com as descargas elevadas
predominantemente por areias ricas em estratifica- e leitos facilmente erodíveis ( S y k e s , 1937).
ção cruzada acanalada de escala moderada a grande. Muitos "varrimentos" ("scour") tomam a forma de
Esta fácies desenvolve-se, comumente, em rios re- "canais em canais". De acordo com N E D E C O
tilíneos onde, em virtude da ausência de processos (1959)e com L e o p o l d & W o l m a n (1960)
sedimentares geradores de outros tipos de barras, a os altos estágios fluviais comumente causam o varri-
deposição da carga de fundo fica restrita ao leito mento do fundo nos "poços" ("pool") e a sedimen-
do canal. Os depósitos residuais de canal são fre- tação nas "corredeiras" ("rifle"). O inverso se dá nos
qüentemente formados em ambiente submetido a baixos estágios que causam a sedimentação nos "po-
regime de fluxo superior. ços" e erosão nas "corredeiras". Nos rios Colorado e
Rio Grande, as curtas enchentes de verão tendem a
Os depósitos residuais acumulam-se em man-
depositar no leito rebaixado pelo varrimento reali-
chas lenticulares descontínuas nas partes mais pro-
zado pelas cheias de primavera ( L e o p o l d &
fundas dos canais. Estas manchas podem ser cober-
M a d d o c k , 1953).
tas por sedimentos mais finos e então preservadas.
Os depósitos residuais nunca formam grandes espes- No leito de muitos rios que correm em terrenos
suras e são invariavelmente descontínuos. Eles si- acidentados encontram-se depósitos rudáceos forma-
tuam-se na parte mais profunda do canal ou de uma dos por seixos, blocos e até matacões (figs. 8-2 e
seqüência de sedimentos de barra de meandro (fig. 8-3). O material mais grosseiro não constitui propria-
8-1). mente a carga do rio. Ele aí encontra-se devido a

- 92 -
processos cie movimento de massa que transportou
o manto de intemperismo para o fundo do vale. A
ação fluvial eliminou os detritos finos do manto co-
luvial, deixando no leito do rio um depósito resi-
dual extremamente grosseiro, dificilmente transpor-
tável mesmo nas maiores enchurradas. Entretanto,
este material pode ser facilmente transportado pelas
torrentes de lama. Apenas o material rudáceo mais
fino é passível de transporte regular.

Os seixos deslocam-se no leito do rio de me-


nor gradiente durante as cheias por rolamento, com
o eixo maior perpendicular ao fluxo (fig. 8-4). Quan-
do o fluxo diminui rapidamente de velocidade, o
seixo que vinha sendo transportado por rolamento,
estaciona com seu eixo perpendicular à corrente
( B i g a r e l l a & Becker, 1975; Bec-
k e r , 1976). Nas águas baixas verifica-se uma
tendência dos seixos para imbricação, inclinando seu
eixo longo para montante. Nos rios de maior gra-
diente o deslocamento dos seixos é mais efetivo e,
muitas vezes realiza-se de forma mais contínua.
F i g . 8-4 — O r i e n t a ç ã o d o e i x o l o n g o d o s seixos e n c o n t r a d o s nos
bancos submersos dos rios N h u n d i a q u a r a , Tagaçaba e C a c h o e i r a
na r e g i ã o costeira do Estado do P a r a n á . ,

F i g . 8-5 — Barras d e m e a n d r o n o r i o P a r a g u a i , r e g i ã o d e C o r u m b á ,
Mato Grosso do S u l .

Nas barras de canais de rios anastomosados em


F i g . 8-3 — Detalhe do material r u d á c e o e n c o n t r a d o no r i o São
regiões montanhosas, D o e g I a s (1962) che-
J o a o G a r u v a (PR-SC) r e f e r i d o e i l u s t r a d o n a f i g . 8 - 2 .
/
gou a conclusão semelhante com referência aos sei-

- 93
r a n á , i m e d i a ç õ e s d e Santa Fé, A r g e n t i n a .

11
111
n
ni
lllhí 1
Fig. 8-6 — Barras d e m e a n d r o . P l a n í c i e d e i n u n d a ç ã o d o r i o Pa-
r a n á , i m e d i a ç õ e s d e Santa Fé, A r g e n t i n a .

Fig. 8-8 — Barras d e m e a n d r o . Planície d e i n u n d a ç ã o d o r i o Pa-


raná, imediações de Santa Fé, Argentina.
xos alongados, cujos eixos longos estão orientados
perpendicularmente ao f l u x o .

Em virtude da ação meandrante, as várias se-


Depósitos de barras de meandro ("point bars")
qüências de barras de meandro encontram-se entre-
cruzadas (figs. 8-5 a 8-8). O aspecto ilustrado nas
Os depósitos de barras de meandro geralmente
várias figuras referidas, demonstra a grande com-
apresentam proporções menores de seixos do q u e os
plexidade estrutural apresentada pelos depósitos das
depósitos residuais de f u n d o de canal. As barras de
barras de meandro, originadas pela ação divagante
meandro são, via de regra, constituídas de sedi-
do canai f l u v i a l .
mentos arenosos, síltico-argilosos ou conglomeráti-
cos, pobremente selecionados ou mais ou menos A litologia e o tamanho do grão dos sedimen-
bem selecionados granuiometricamente. tos das barras de meandro dependem do tamanho
de grão disponível. Os depósitos residuais do canal
A espessura de cada unidade da barra repre-
são formados pelos sedimentos mais grosseiros exis-
senta uma fração de sua altura vertical medida en-
tentes na corrente. Sobre estes encontram-se os se-
tre o leito do canal e o t o p o da ondulação. Uma se-
dimentos das barras de meandro. Se o material dis-
qüência de barra corresponde a uma série de ca-
ponível f o r composto de ampla gama de tamanhos
madas concordantes inclinadas em direção ao canal.
de grãos, a granulometria da barra descrece seção
A inclinação aumenta em direção ao centro do ca-
acima.
nal. A espessura total das seqüências de barras de
meandro é equivalente à profundidade do canal, va- Em virtude do singular processo responsável
riando entre 5 a 20 m, podendo localmente atingir pela formação das barras de meandro, esse tipo de
30 m. Os depósitos de barras de meandros apre- depósito é caracterizado pela seqüência vertical de
sentam-se sobrejacentes aos depósitos residuais de decréscimo ascendente ("fining u p w a r d " ) da granu-
canal (fig. 8-1). lometria. Esta seqüência f o i , pela primeira vez, des-

- 94 -
/preá/atra fraé/eP

li
pes
m/fro-ondtf/açfe
ê&trafor
F i g . 8-9 — S e q ü ê n c i a v e r t i c a l d e u m a b a r r a
£çtrato? de d e m e a n d r o d o r i o Brazos, Texas ( s e g .
tHaero-onJu- B e r n a r d & M a j o r , 1963).
/a£Ses>

Tffadfo -ottdu/a.
çâes* a adama,
mento podre
w
m
.062.125 250 SOO tOOOjnm

!••• âaeea//fô
g/lte are/a
crita por B e r n a r d & M a j o r (1963) em R e y n o l d s , o fluxo torna-se instável a acele-
estudos ao longo do rio Brazos, Texas e serviu de rações centrífugas, sendo incapaz de assumir um ca-
base para o conceito de perfil vertical de V i s h e r minho retilíneo ( A l I e n , 1970).
(1965), como se vê na figura 8-9. O decréscimo as- É fato conhecido, que a sedimentação lateral
cendente em granulometria, também designado de origina uma seqüência de depósitos caracterizados
estratificação gradacional, é devido a um equiva- por mudanças verticais e sistemáticas de granulação
lente decréscimo da competência da corrente. e de estruturas sedimentares. A deposição lateral
constrói o banco interno do canal para contrabalan-
De maneira geral, as camadas de sedimentos
çar as perdas do banco externo. Devido a migração
finos síltico-argilosos (lama) encontram-se no topo
do canal, o talvegue estende lateralmente uma su-
da seqüência formando uma fina cobertura. Quando
perfície de erosão sobre a qual são depositados os
esta- camada está presente, ela marca o topo de uma
sedimentos do banco interno. Durante a deposição
seqüência geneticamente relacionada ( R e i n e c k
da barra de meandro, de acordo com os esforços
& S i n g h , 1973). No caso do rio transportar
tangenciais sobre o fundo, são originadas macro-on-
cascalho e areia, a sucessão sedimentar compreende:
dulações, micro-ondulações camadas planas e mes-
cascalho, areia grosseira a areia fina e silte no topo.
mo antidunas, dependendo da potência do fluxo e
No caso do rio transportar apenas material fino, a
sucessão compreende areia fina próximo ao fundo e
lama e sedimentos argilosos próximo ao topo. No
registro estratigráfico, a parte superior finamente
granulada pode ser erodida antes da deposição da
seqüência seguinte. Dessa forma apenas seqüências
incompletas são preservadas ( R e i n e c k &
S i n g h , 1973).

Nas barras de meandro predominam depósi-


tos arenosos com estratificação cruzada e laminação
cruzada, a maior parte dos quais sedimentados du-
rante as cheias e principalmente quando as águas
tendem a baixar.
O processo de deposição lateral implica na
acumulação de sucessivas camadas inclinadas de se-
dimentos na parte interna, suavemente inclinada da
curva de meandro, em harmonia com a erosão dos
bancos externos mais íngremes. A deposição lateral
é encontrada em canais relativamente retos com tal-
vegues sinuosos, bem como em canais nitidamente
meandrantes. Em ambos os casos, o canal ou o tal-
vegue desloca-se de um e de outro lado da direção F i g . 8 10 — M a c r o - o n d u l a ç õ e s n u m a c u r v a do r i o O k a , U.S.S.R.
baseado numa ilustração d e S h a n t z e r , referida por
média do fluxo. Com valores altos do número de A l l e n , 1966).

- 95 -
r O cm mf

ff- gfffffo
mí- metí/fe /¡/¿///o ff tf o
f- arew'fo f/t?o
m- arev/fa tftéd/à

Wpowwfofrâ?àetffe: ffipo mu/fã ffg&üètf/e:


flrmfo ¿?/¿fSte/Mti f/rm/fo 0/¿$ed
fàwa?aoâatMfãSil) ¿frewft? tf/dSte/ armação âaM/ff ^òma^ao âafeòff
âbmfé d? óa/xa ei. ¿?at7a/¿> efe affa ei /?a#a/¿ ¿fef/mcT&d/- ¿¡maté ¿fe affamm
âam/f ¿fe &/>ra(?0-¿?aw/<?cfe0>?¿/og/¿fa_
âam/e de g/mae/i
fí&o&dífffe. /Tuog/tfac/e. de Mermecf/arfa, ?/¿fa¿/e. ¿fef/ffermed/ar/à.
F i g . 8-11 - D e c r é s c i m o a s c e n d e n t e d a g r a n u l a ç ã o d o s m e m b r o s g r o s s e i r o s d o A r e n i t o O l d R e d Í G B . ) e d a F o r m a ç ã o C a t s k i l l (USA) c o m p a -
r a d o s c o m p e r f i s c a l c u l a d o s d e a c o r d o c o m o m o d e l o d e d e p o s i ç ã o l a t e r a l . O p e r f i l d e c a m p o está r e p r e s e n t a d o n a c o l u n e d a e s q u e r d a
de cada p a r ( s e g c n d o A I I e n , 1970).

da granulometria da carga. Numa curva do rio Vir- sitados pelas macro-ondulações. Os arenitos com es-
g i n , Utah ( K e n n e d y , 1961) refere próximo tratificação plana são de granulação fina ou muito
à margem externa, grandes ondulações e um fluxo fina e são considerados como depósitos formados em
tranqüilo, enquanto que próximo à barra de mean- regime de fluxo superior. Os arenitos com laminação
dro, assinala a presença de antidunas n u m f l u x o rá- cruzada apresentam textura muito fina. Do exame
pido. A l i e n , (1966) baseado em S h a n t - das várias secções pode-se inferir o tipo de sinuosida-
z e r , ilustra uma curva do rio Oka (USSR), onde de do canal.
as cristas das macro-ondulaçÕes menos curvas ja- Embora as previsões a partir de modelos con-
zem obliquamente ao canal e dirigem-se em direção cordem satisfatoriamente com as características de
ao banco interno, em resposta a orientação das cor- depósitos laterais conhecidos ou inferidos, as pro-
rentes de fundo (fig. 8-10). priedades do modelo requerem cuidados na inter-
pretação. Eles constituem simplificações de uma si-
Embora não existam informações suficientes so-
tuação física natural complexa e, dessa forma não se
bre a deposição lateral nos canais de meandro, um
pode aceitar uma única interpretação, em virtude do
modelo qualitativo pode ser considerado. Ainda que
grande número de variáveis, q u e admitem diversas
o modelo não seja inteiramente satisfatório, podemos
soluções para o problema. Os perfis naturais com
compará-lo com os membros grosseiros dos cicios
muitos contatos erosivos entre as unidades sedimen-
fluviais, cuja granulação d i m i n u i para cima, conheci- tares representam um registro muito mais complexo
do das rochas devonianas da Europa e América do dos eventos do passado (fig. 8-12). Contudo, algu-
Norte ( A l i e n , 1963, 1964 e 1965; A l i e n mas generalizações são possíveis no exame do mo-
& F r i e n d , 1968; M o o d y - S t u a r t , delo. Todas as variantes do modelo predizem, por
1966). Estes membros grosseiros foram considerados exemplo, que a proporção de arenitos planos num
como depositados peio processo de acreção lateral, membro grosseiro aumenta com o decréscimo da si-
(fig. 8-11). Elej são constituídos no máximo de 4 fá- nuosidade do canal. Esta é uma constatação impor-
cies sedimentares principais: 1) conglomerado intra- tante, uma vez que o grau de sinuosidade aumenta
formacional; 2) arenito com estratificação cruzada; com a distância da área fonte ( A I I e n , 1970).
3) arenito com camadas plano-paralelas; 4) arenito
com micro-laminação e siltito grosseiro. Os arenitos Quando no membro grosseiro as únicas estru-
com estratificação cruzada são de granulação média turas são a estratificação cruzada e a laminação cru-
a fina e apresentam evidências de terem sido depo- zada, podemos inferir que o canal era fortemente

- 96 -
m a n & M i I I e r 1964). Durante o período de
estudo (1953-1959), o canal deslocou-se lateralmente
por uma distância pouco superior a sua largura. A
sedimentação não interrompida durante a migração
manteve a largura do canal constante (fig. 8-13). O
volume do material erodido correspondeu ao do ma-
terial depositado. Os depósitos de transbordamento
dos bancos foram insignificantes. As linhas na f i -
gura 8-13 indicam as sucessivas deposições ocorri-
das nos vários anos considerados.

A natureza dos depósitos é variada, passando a


sedimentos mais finos no topo da secção. As unida-
des individuais são descontínuas e lenticulares. A
estratificação cruzada e as estruturas de corte e
preenchimento ocorrem mais freqüentemente na par-
te inferior da secção. Acima detsa unidade encontra-
se uma zona de laminação cruzada, seguida de ca-
madas com estratificação paralela. As vezes, os es-
tratos horizontais ocorrem entre as macro- e micro-
F i g . 8-12 — S e q ü ê n c i a g e n e r a l i z a d a e i n t e r p r e t a ç ã o do c i c l o t e m a ondulações. Os estratos horizontais têm sido inter-
D i t t o n i a n o em T u g f o r d , S h r o p s h i r e ( G . B . ) . ( S e g u n d o A I I e n ,
1 9 6 4 ) . A — S i l t i t o v e r m e l h o c o m f u r o s de i n v e r t e b r a d o s e a b u n -
dantes concreções d e c a r b o n a t o d e c á l c i o . Esta camada jaz s o b r e
arenitos vermelhos de granulação fina com estratificação plana ou
d e m i c r o - o n d u l a ç ã o . N e l a são f r e q ü e n t e s a s p e r f u r a ç õ e s d e i n v e r -
t e b r a d o s . Trata-se d e u m d e p ó s i t o d e acreção v e r t i c a l f o r m a d o
d u r a n t e o s t r a n s b o r d a m e n t o s nas c h e i a s . D i q u e m a r g i n a l r e c o b e r t o
tytéfâtfe/a em mefrog
p o r d e p ó s i t o s d e p l a n í c i e d e i n u n d a ç ã o . Flutuação d o lençol d e
&er?/'¿> fí/cegg/àoé ¿/f/zw eawa/demeandro e de
á g u a d u r a n t e os p e r í o d o s de e m e r s ã o ; B — e n c h i m e n t o s e c o b e r -
¿mía óarra de trrea/idro wo/?er/odo fgdj- ¿g5g.
turas d e canal. A r e n i t o f i n o , v e r m e l h o c o m e s t r a t i f í c a ç c o p a r a l e l a
e l i n e a ç ã o de p a r t i ç ã o . Estruturas de v a r r i m e n t o e p r e e n c h i m e n t o ,
e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a l o c a l . Fenoclastos esparsos de s i l t i t o e ca-
madas lenticulares d e siltitos c o m g r e t a s d e c o n t r a ç ã o . Trata-se
d e u m d e p ó s i t o d e p r e e n c h i m e n t o d e canal e d e acreção l a t e r a l .
A r e i a t r a n s p o r t a d a c o m o carga d e l e i t o e r e t r a b a l h a d a p e l a m i -
g r a ç ã o do canal s o b r e bancos p l a n o s ; C — c o r t e em s i l t i t o ou
a r e n i t o m u i t o f i n o , n a f o r m a d e c a n a l . Trata-se d a e r o s ã o d e u m
canal m e a n d r a n t e ; D — a r e n i t o m u i t o f i n o , v e r m e l h o , c o m la-
m i n a ç ã o d e m i c r o - o n d u l a ç ã o o u p l a n a , p a s s a n d o para c i m a a Q/^fâ/re/a emwe/ro^
s i l t i t o g r o s s e i r o c o m concreções d e c a r b o n a t o . Trata-se d e d e p ó - gjçfa/fasag do? étedmesffof em re/ação aoé perf/s*.
sito de canal e de t r a n s b o r d a m e n t o em canal f e c h a d o ; E — c o r t e
7623 ' B i -?ül *WM sMWl tff~T~1
• m a r e n i t o f i n o n a f o r m a d e c a n a l . Trata-se d e u m a t e n t a t i v a d e
1959 1958 1956 1955 1953
r e a b e r t u r a de canal b l o q u e a d o ; F — r e p e t i ç ã o de u n i d a d e s g r a -
F í g . 8-13 — Esquema r e p r e s e n t a t i v o d o s d i f e r e n t e s e s t á g i o s d a
dacionais r e c o b r i n d o s u p e r f í c i e s d e v a r r i m e n t o . A r e n i t o s m u i t o
m i g r a ç ã o d o canal e d a b a r r a d e m e a n d r o e m W a t t s B r a n c h , p e r t o
f i n o s , d o m i n a n t e m e n t e c o m l a m i n a ç ã o d e m i c r o - o n d u l a ç ã o . Trata-se
d e R o c k v i l l e , M d , U S A . E s t r u t u r a d a área a f e t a d a p e l a s e d i m e n t a -
de d e p ó s i t o de canal; G — c o n g l o m e r a d o intraformacional em f o r -
ção na b a r r a de m e a n d r o . 1 — c a m a d a de cascalho; 2 — silte ar-
m a d e c u n h a , com lentes d e a r e n i t o . Trata-se d e d e p ó s i t o residual
g i l o s o c o m m a t é r i a o r g â n i c a , c o l o r a ç ã o o l i v a c i n z e n t a ; 3 — silte
f o r m a d o nas partes mais p r o f u n d a s d o l e i t o d e u m canal m e a n -
a r e n o s o c o m um p o u c o de a r g i l a , c o l o r a ç ã o laranja c a s t a n h a ; 4 —
d r a n t e ; H — c o r t e em s i l t i t o . Erosão na base de um r i o m e a n -
areia grosseira com manchas castanhas e c o m s e i x o s e lentes de
drante .
silte; 5 — silte a r e n o s o c a s t a n h o ; 6 — areia f i n a c o m um p o u c o
d e silte ( m o d i f i c a d o d e L e o p o l d , W o l m a n & M i l -
le r , 1964).

sinuoso (meandrante) e, portanto, situado não muito


longe do seu nível de base. Um aumento de sedi- Fig. 8-13a — D e c r é s c i m o a s c e n d e n -
mentos com estratificação cruzada no membro gros- te da g r a n u l a ç ã o e das e s t r u t u r a s
p r i m á r i a s e n c o n t r a d a s nas b a r r a s
seiro significa um aumento da potência da corrente, d e m e a n d r o , e m c o n d i ç õ e s ideais
mas também pode ser devido a um aumento da pro- ( b a s e a d o em R e i n e c k &
S i n g h , 1973). 1 — camada
fundida do canal ou de sua inclinação, ou ainda
de l a m a ; 2 — l a m i n a ç ã o c r u z a d a
d e ambos ( A l i e n , 1970). de m i c r o - o n d u l a ç ã o ; 3 — l a m i -
nação d e m i c r o - o n d u l a ç ã o ascen-
Os processos de erosão e sedimentação numa dente; 4 — laminação horizontal;
5 — estratificação cruzada de
barra de meandro (Watt Branch, Rockville, M d . ,
g r a n d e t a m a n h o ; 6 — d e p ó s i t o re-
USA), foram estudados por Leopold, W o I - sidual de canal.

- 97 -
vial produzem aumento e diminuição da energia am-
biental tornando a sedimentação complexa. Uma se-
qüência ideal com decréscimo ascendente da gra-
nulação e das estruturas primárias das barras de
Fig. 8-14 — Estrutura sedimentar na barra de meandro do rio meandro encontra-se ilustrada na figura 8-13a.
Arkansas em Wekiwa, Oklahoma. Estratificação cruzada de gran-
de porte (segundo S t e i n m e t z , citado por R e i n e c k Outro estudo detalhado de uma barra de mean-
& S i n g h , 1973).
dro foi realizado por S t e i n m e t z (citado por
Reineck & S i n g h , 1973) n o rio Arkan-
sas em Wekiwa, Oklahoma. A barra de meandro foi
rapidamente depositada durante duas cheias (19 a
22-V-1957 e 3 a 6-X-1959). Durante este tempo (156
3
horas) foram depositados cerca de 459.0O0m de
areia com 13 m de espessura. A estratificação pre-
dominante é a entrecruzada de tamanho grande
(fig. 8-14). Para cima nota-se uma diminuição da es-
pessura da estratificação cruzada (fig. 8-15). No topo
da seqüência ocorrem camadas sílticas bem lami-
nadas, depositadas em ambientes de águas vagaro-
Fig. 8-15 — Detalhes das estruturas referidas na figura 8-14. A
estratificação cruzada d i m i n u i de tamanho para cima. Os estratos
sas ou paradas. Dentro da secção encontram-se bol-
paralelos superiores foram depositados durante a segunda cheia sões de varrimento onde são encontrados restos or-
(baseado e m S t e i n m e t z , 1967).
gânicos, principalmente de vegetais. No topo da
secção ocorrem areias eólicas até 1 m de espessura.
pretacios como pertencentes ao regime de fluxo su-
perior. Entretanto, R e i n e c k & S i n g h Nos dois exemplos citados a deposição nas
(1973) consideram estes estratos como depositados barras de meandro foi muito rápida. Entretanto,
de "nuvens" de material em suspensão, devido ao Su n d b o r g (1956) refere para o rio Klaralven
decréscimo de turbulência ou flutuações na velo- (Suécia) uma deposição lenta, a qual começa com
cidade da corrente. A maior parte dos sedimentos uma barra longitudinal no lado convexo do canal.
seria depositada durante a última fase de uma cheia, Esta barra, apresenta um lado mais íngreme voltado
quando as águas estariam baixando e a velocidade para o banco, o qual desenvolve-se gradualmente,
e competência do fluxo estariam diminuindo. Estes migrando para a margem do canal onde emerge co-
fatos resultariam na eventual deposição da areia mo dique marginal. Este processo repete-se sucessi-
em suspensão na forma de laminações horizon- vamente.
tais ( R e i n e c k & S i n g h , 1973).
Outras barras de meandro, situadas nos rios
Como já foi mencionado, o topo das barras de Amite (Louisiana) e Colorado (Texas) foram estuda-
meandro seriam constituídas por camadas sílticas e das por A A c G o w e n & G a r n e r (1970).
síltico-argilosas. Contudo, o perfil ideal nem sem- Ambos rios possuem baixa sinuosidade e gradientes
pre encontra-se bem desenvolvido. Algumas vezes acentuados. Eles transportam sedimentos grosseiros
as laminações de micro-ondulações ascendentes po- (areias, seixos e blocos). Os autores citados reconhe-
dem estar presentes junto com a estratificação cru- cem duas barras, uma inferior e outra superior (fig.
zada de grande porte. As flutuações do regime flu- 8-16). A barra superior apresenta corredeiras ("chu-

Fig. 8-16 — Perfil através das várias u n i d a d e s d e u m a b a r r a d e m e a n d r o f o r m a d a d e s e d i m e n t o s g r o s s e i r o s ( s e g u n d o M c G o w m


& G a r n e r , 1970).
te") e sedimentos de corredeiras. As corredeiras são
sinuosas e caracterizadas por lados relativamente ín-
gremes e fundos planos (fig. 8-17). Suas dimensões
variam de 2 a 5 m de profundidade por 5 a 7 m
de largura, podendo atingir centenas de metros de
comprimento. Nem todas as barras de meandro cons-
tituídas de sedimentos grosseiros apresentam corre-
deiras e barras de corredeiras.

:
í g . 8-17 — Associação e n t r e d e p ó s i t o s d e b a r r a d e m e a n d r o e
» r r a d e corredeira (segundo M c G o w e n & G a r n e r ,
¡970).

///

Fig. 8-19 — Seqüência v e r t i c a l c o m p l e t a d e t i p o s d e e s t r a t i f i c a ç ã o


de um depósito de barra de meandro de granulação fina (se-
Fig. 8-18 — Seqüência v e r t i c a l c o m p l e t a de t i p o s de estratificações gundo M c G o w e n & G a r n e r , 1970).
de um depósito de barra de meandro de granulação grosseira 1 — Estratificação c r u z a d a a c a n a l a d a ;
(segundo M c G o w e n & G a r n e r , 1970). 2 — Estratificação c r u z a d a de camadas f r o n t a i s ;
I — Escavação e p r e e n c h i m e n t o ; 3 — Laminação p a r a l e l a ;
II — Barra de m e a n d r o i n f e r i o r ; , 4 — Laminação cruzada de m i c r o - o n d u l a ç õ e s ;
I I I — Barra de c o r r e d e i r a ; 5 — P e q u e n o s canais de p r e e n c h i m e n t o ;
IV — Depósito de planície de i n u n d a ç ã o . 6 — Lençóis de l a m a .

- 99 -
Depósitos de barras de corredeira camadas frontais de grande escala é seguida pelos
("chute bar deposits") depósitos de barras de corredeira, ricos em estratos
frontais de grande tamanho (figs. 8-18 e 8-19). Con-
São depósitos relacionados com o processo de
seqüentemente, não há decréscimo ascendente ("fin-
formação de atalhos de corredeiras e são constituí-
ing upward") da textura e diminuição do tamanho
dos por areias provenientes da carga de fundo, de-
das estruturas sedimentares.
positadas sobre a parte basal das barras de mean-
dros. O regime de fluxo inferior, presente nestas Os sistemas fluviais caracterizados por rios
condições, reflete-se na abundância de camadas com meandrantes ricos em carga de fundo e baixa rela-
estratificação cruzada de tamanho moderado a gran- ção carga suspensa/carga de fundo desenvolvem
de. A corredeira, onde predomina o regime de flu- estes tipos de depósitos.
xo superior, é preenchida por depósitos residuais,
comumente seixos, intercalados com argilas com es- Depósitos de barras longitudinais e transversais
tratificação paralela, oriundas da carga suspensa da
Em rios anastomosados os depósitos provenien-
enchente anterior (fig. 8-17).
tes de carga de fundo ocorrem, principalmente, como
Em virtude da interrupção de sedimentação com- barras longitudinais e transversais. São depositados
pleta da barra de meandro, o processo de formação durante fases de escoamento rápido. Os sedimentos
das barras de corredeira modifica substancialmente gradam de areias a seixos finos. A textura é variá-
a seqüência vertical daqueles depósitos. No presente vel, podendo apresentar-se com grãos pobremente,
ca:o, a porção basal grosseira, com acanalamentos e selecionados, com areia e silte intersticiais em abun-

100 -
dância, até areias bem selecionadas ( D o e g I as, elevados apresentam sedimentos grosseiros. O anas-
1962). tomosamento com sedimentos finos pode ocorrer no
curso inferior de grandes rios com alta descarga de
As barras transversais, formadas pela migra-
sedimentos finos, do qual o Brahmaputra é um exem-
ção de ondas de areia, são caracterizadas interna-
plo ( C o I em a n , 1969).
mente por camadas frontais de diversos tamanhos.
As barras longitudinais, por sua vez, apresentam A deposição nas barras de canal é controlada
internamente estratificação horizontal, flanqueada la- por processos de deposição lateral e vertical, jun-
teralmente e a jusante, por camadas frontais. Os se- tamente com o corte e abandono de canais ( R e i -
dimentos que preenchem pequenas cavidades de es- n e c k & S i n g h , 1973). Para montante a
cavação do leito do rio podem apresentar acanala- inclinação de uma barra de canal é muito mais acen-
mentos de pequeno tamanho, mas essa estrutura tuada do que aquela de jusante. A barra migra cor-
não é muito comum em depósitos de rios anastomo- rente abaixo ou lateralmente pela deposição de es-
sados. tratos frontais. Sobre as barras de canal encontram-
se várias formas de leito, como por exemplo, as
Barras de canal e depósitos de rios anastomosados macro-ondulações, que são responsáveis pela migra-
ção da barra para jusante. A deposição principal nas
Os rios anastomosados são caracterizados por
barras de canal ocorre durante as cheias.
barras anastomosadas e barras ou ilhas de canais.
Via de regra, os rios anastomosados com gradientes Dois tipos de barras de canal anastomosado são

F i g , 8-19b — Estratificação cruzada do t i p o aca-


V***- < m £>
n a l a d o d e s e n v o l v i d a pela m i g r a ç ã o das m a c r o -
o n d u l a ç õ e s , nos canais anastomosados p l e i s t o c ê -
nicos d o p l a i n o aluvial d o r i o I g u a ç u . O s estra-
tos são c o m p o s t o s p o r areia f i n a a g r o s s e i r a ,
grânulos e pequenos seixos. Uberaba, C u r i t i b a .

- 101 -
mencionados: 1 — barras de material grosseiro, bem estruturas de escavação e preenchimento. Vertical-
desenvolvidas em rios de gradientes acentuados; 2 mente, sobre os sedimentos rudáceos ocorrem depó-
— barras de material finamente granulado, desenvol- sitos arenosos ou síitico argilosos. As camadas are-
vidas no curso inferior de rios com cargas elevadas nosas de granulação média, apresentam estratifica-
de sedimentos e descargas sazonais grandes ( R e i - ções cruzadas desenvolvidas pelas macro-ondulações.
neck & S i n g h , 1973). Seguem-se areias finas com estratos cruzados de mi-
cro-ondulações, em parte ascendentes. No topo, en-
Nas regiões montanhosas D o e g I a s (1962) contram-se camadas horizontais de areia e lama. Nos
estudou a formação de barras de canal nos rios Du- depósitos síltico-argilosos podem ocorrer gretas de
rance e Ardéche. A parte inferior da seqüência é contração, marcas de ravinamento e impressões de
composta de estratos cruzados de grande tamanho, gotas d e chuva ( R e i n e c k & S i n g h ,
os quais foram formados pela migração lateral e cor- 1973). Nas camadas de lama ocorrem ocasionalmen-
rente abaixo das barras de canal. Estes sedimentos te fenômenos erosivos e marcas de varrimento, bem
são mais grosseiros e compostos de material rudáceo, como estruturas convolutas e aspectos devido a bio-
dispostos em camadas inclinadas com gradação para turbação.
sedimentos mais finos depositados em águas baixas
(fig. 8-20). Para cima, segue-se nova unidade de se- Nos canais cortados e isolados depositam-se se-
dimentos mais grosseiros. O contato entre ambas uni- dimentos síltico-argilosos e ocasionalmente areia f i -
dades, geralmente, é muito irregular e marcado por na. Nos canais de gradientes mais íngremes de re-

•<rv

F i g . 8-19c — Estratificação cruzada d e s e n v o l v i d a


pela m i g r a ç ã o das m a c r o - o n d u l a ç õ e s , nos canais
anastomosados pleistocênicos d o p l a í n o a l u v i a l
d o r i o I g u a ç u , U b e r a b a , C u r i t i b a . O s estratos
são f o r m a d o s p o r areia-fina a g r o s s e i r a , b e m
como grânulos e pequenos seixos.

- 102 -
giões montanhosas predominam os sedimentos gros- tificação cruzada de pequeno tamanho ocorre entre
seiros, embora neles possa ocorrer toda gama de gra- os depósitos de areia (média a fina) e de silte. Os
nulação desde seixos até argila. sedimentos síltico-argilosos ocorrem no topo da sec-
Outro estudo detalhado de rios anastomosados ção (fig. 8-21).
foi realizado por W i l l i a m s & R u s t (1969).
Estes autores concluíram pelo decréscimo ascendente
da granulação e das estruturas primárias. As unida-
des são, via de regra, lenticulares e entrecortadas. A
maioria das unidades grosseiras inicia-se a partir de
um contato erosivo. Sobre elas encontram-se camadas
de granulação mais fina com contato gradacional. A
diminuição ascendente da granulação acha-se melhor
desenvolvida nos canais preenchidos com sedimen-
tos. A seleção melhora para cima. As vezes as uni-
dades grosseiras e finas alternam-se de forma com- F i g . 8-20 — Seqüência e s q u e m á t i c a d e u m d e p ó s i t o d e r i o anas-
t o m o s a d o . 1 — e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a de g r a n d e t a m a n h o c o m
plexa. s e i x o s ; 2 — m a c r o - o n d u l a ç õ e s em areia m é d i a ; 3 — l a m i n a ç ã o
c r u z a d a de n r c o - o n d u l a ç õ e s , areia f i n a ; 4 — areia f i n a e l a m a ,
A estratificação de grande tamanho caracteriza l a m i n a ç ã o h o r i z o n t a l , o c a s i o n a l m e n t e e s t r u t u r a s convcHutas (ba-
os estratos de areias grosseiras e de seixos. A estra- s e a d o em D o e g I a s , 1962).

- 103 -
arg//a-á>//fe
O rio Brahmaputra em sua planfcie deltaica,
apresenta-se anastomosado com barras de canais
( C o I e m a n , 1969). Os canais deste rio mi-
gram lateralmente. Devido à grande quantidade de
F i g . 8-21 — Decréscimo ascen-
sedimentos existentes no rio durante a estação chu-
d e n t e da g r a n u l a ç ã o e das es- vosa formam-se barras de canais que migram ativa-
t r u t u r a s nos d e p ó s i t o s d e p r e -
e n c h i m e n t o d e canal n u m r i o
mente durante as cheias. A parte inferior da barra
anastomosado (baseado em de canal começa com estratificação cruzada de gran-
W i l l i a m s & R u s t ,
1969).
de porte, com seqüências individuais com mais de
1 m e em conjunto com até mais de 7 m. Estes es-
tratos formados pela migração de macro-ondulações
1 estão associados a escavações irregulares, devidas
I à ação de varrimento no material do fundo. Dentro
desta zona ocorrem localmente micro-ondulações e
pequenas estruturas de escavação e preenchimento,
bem como estratos síltico-argilosos depositados so-
bre estratos frontais ou sobre planos de estratifi-
cação. Freqüentemente detritos orgânicos ficam re-
tidos nesta zona, principalmente na base dos estra-
tos cruzados e nos estratos frontais ( C o f e m a n ,
1969; Reineck & S i n g h , 1973). Sobre
esta unidade ocorrem sedimentos sílticos e arenosos
com várias estruturas, entre elas as micro-ondula-
ções ascendentes. Esta seqüência foi depositada
quando a migração das macro-ondulações cessou e
a sedimentação teve lugar em suas depressões. As
camadas de textura mais síltica apresentam estrati-
ficação horizontal podendo atingir cerca de 1 m de
espessura (fig. 8-22).

Estruturas deformacionais são encontradas fre-


qüentemente na parte superior da secção. Elas são
devidas principalmente à subida e descida rápida do
nível do rio, às correntes densamente carregadas
F i g . 8-22 — Seqüência r e p r e s e n t a t i v a das estruturas s e d i m e n t a r e s
de uma b a r r a de canal do rio B r a h m a p u t r a (baseado em C o I e - com sedimentos finos, ao varrimento intensivo do
m a n , 1 9 6 9 ) . D — s e d i m e n t o s a r g i l o s o s , z o n a de s o l o a l t a - fundo e à formação de superfícies íngremes. Estra-
m e n t e p e r t u r b a d a ; C — silte a r g i l o s o , silte, a c a m a m e n t o p r i n c i -
p a l m e n t e h o r i z o n t a l , a l g u m a s vezes camadas c o n v o l u t a s ; B — la- tos frontais revirados e contorcidos são abundantes
m i n a ç ã o cruzada de m i c r o - o n d u l a ç ã o ascendente ( p r e d o m i n a n t e ) e na unidade inferior com estratificação de grande ta-
c a m a d a s de m i c r o - o n d u l a ç ã o , a l g u m a l a m i n a ç ã o h o r i z o n t a l ; A —
p r e d o m í n i o d e estratificação cruzada d e g r a n d e t a m a n h o .
manho. A parte superior da seqüência compreende

Fig. 8-23 — Medições da atitude dos estratos cruzados num trecho significativo do rio Brahmaputra (segundo C o l e -
m a n , 1969).

- 104 -
F i g . 8-24 — Calha d e d r e n a g e m d o r i o I g u a ç u e m U b e r a b a ,
C u r i t i b a . A s hachurias r e p r e s e n t a m o s areeis e x p l o r a d o s . No
d e s e n h o e n c o n t r a m - s e assinalados os a n t i g o s canais m e a n d r a n t e s
abandonados e preenchidos com sedimentos síltico-argilosos. O
rosa d i a g r a m a i l u s t r a a a t i t u d e dos estratos c r u z a d o s (188 m e d i -
das), cuja r e s u l t a n t e é S 5 8 ° W p a r a l e l a à d i r e ç ã o local da calha
d e d r e n a g e m (baseado e m B i g a r e l l a & M o u s i -
n h o , 1965).

estratos horizontais, estratos contorcidos, micro-ondu-


lações ascendentes e laminação paralela ( C o l e -
m a n , 1969).

As estruturas convolutas podem ser devidas ao


aumento do esforço tangencial produzido pelo in-
cremento rápido da turbulência e da velocidade do
fluxo ( C o I e m a n , 1969). Elas podem repre- Fig. 8-25 — Resultantes das medições dos estratos cruzados dos
sentar uma zona de transição entre os depósitos do arenitos fluviais: A — Subgrupo Itararé; B — Formação Rio Bo-
nito. O s mapas m o s t r a m a inversão da drenagem verificada após
regime de fluxo inferior e aqueles do fluxo supe-
o t r a n s c u r s o da d e p o s i ç ã o do S u b g r u p o Itararé ( b a s e a d o em B t -
rior. As estruturas convolutas podem originar-se du- g a r e I I a , 1973).
rante fases de emersão dos depósitos, quando es-
forços internos conduzem à liquefação e fluxo dos
sedimentos subjacentes.

A literatura refere que não existe uma dife-


renciação bem definida entre as seqüências dos de-
pósitos das barras de meandro e aquelas das bar-
ras de canal, principalmente quando se trata de se-
dimentos de granulação fina ( R e i n e c k &
S i n g h , 1973). Vários rios possuem tanto barras
de meandro, como barras de canal, seja simultanea-
mente ou então em tempos diferentes. No curso in-
ferior do rio Paraná, na Argentina, são encontrados
simultaneamente num lado, canais meandrantes e
noutro canais anastomosados. Já no curso superior
do rio Iguaçu, nas imediações de Curitiba, ocorrem
depósitos pleistocênicos de canais anastomosados re-
cobertos por sedimentos holocênicos de canais mean- Fig. 8-26 — Rosa d i a g r a m a s d o s e n t i d o d e i n c l i n a ç ã o d o s e s t r a t o s
cruzados dos arenitos pós-glactats ( D w y k a Superior) na região do
drantes. Os primeiros foram depositados sob condi- V a b do H u a b na Mamíbía ( t i g • r • II a , 1972, 1*73).

- 105
C o I e m a n (1969) realizou estudos deta-
lhados da estratificação cruzada no curso inferior do
rio Brahmaputra. N u m rio anastomosado, o sentido
do f l u x o , a tendência dos corpos arenosos e a d i -
reção da estratificação cruzada são concordantes
quando se considera um número suficiente de me-
didas tomadas dentro de uma área representativa.
N u m determinado ponto a variação da direção dos
estratos cruzados é relativamente baixa. Entretan-
to, grandes variações são encontradas quando se
consideram separadamente as seqüências nos poços,
nas corredeiras, nas margens dos canais e nas par-
tes mais íngremes dos mesmos. O efeito da geo-
metria local do canal é muito significativa. Porém,
quando o conjunto é considerado, o vetor resultante
da medição dos estratos cruzados coincide com a d i -
reção do canal (fig. 8-23).

Como exemplo brasileiro, citamos os areais de


Uberaba, e m Curitiba, descritos por B i g a r e l l a
& M o u s i n h o (1965). Trata-se d e sedimentos
arenosos pleistocênicos do antigo curso do rio Igua-
çu depositados em canais anastomosados durante um
episódio climático semi-árido. A resultante das me-
dições da atitude dos estratos cruzados concorda com
a orientação do paleovale, a qual é praticamente
coincidente com a do vale atual (fig. 8-24).

As resultantes das medições dos estratos cru-


zados dos arenitos fluviais do Subgrupo Itararé e da
Fig. 8 - 2 7 — Rosa diagramas do sentido de inclinação dos estratos
cruzados dos arenitos fluviais da Formação Guaritas ao longo da Formação Rio Bonito, no Paraná, encontram-se ilus-
estrada Caçapava do Sul C a m a q u ã , Rio Grande do Sul (segundo
trados na f i g u r a 8-25. Por ocasião da deposição dos
B i g a r e l l a , 1973).
sedimentos fluviais do Itararé, o transporte fazia-se
para o norte; a drenagem inverteu-se durante a de-
posição dos arenitos fluviais da Formação Rio Boni-
to, em virtude de suaves movimentos tectónicos
(epeirogênicos) diferenciais ( B i g a r e l l a &
S a I a m u n i , 1967; B i g a r e l l a , 1973).

Nos arenitos fluviais do pós-glacial, D w y k a Su-


perior da África Sudoeste (Namíbia) o transporte de
sedimentos fazia-se para o sul, como demonstram os
rosa-diagramas da atitude dos estratos cruzados re-
presentados n a f i g u r a 8-26 ( B i g a r e l l a , 1972,
1973).
Fig. 8-28 — Dique natural d o rio Mississipi (segundo A l l e n
1 9 6 5 b a s e a d o em F i s k , 1947).
Na f i g u r a 8-27 encontram-se ilustrados os rosa-
diagramas da atitude dos estratos cruzados dos are-
nitos fluviais medidos em várias localidades de ocor-
ções de climas mais severos e os últimos em clima rência da Formação Guaritas ao longo da estrada Ca-
úmido. D e acordo com S a r k a r & Ba s u - çapava d o Sul-Camaquã, Rio Grande d o Sul ( B i -
ma II i c k (1968), u m a barra d e meandro p o d e g a r e l l a , 1973). A atitude média d e 333 estra-
crescer e algumas vezes transformar-se em barra de tos cruzados indica paleocorrentes f l u i n d o para
canal com desenvolvimento subseqüente. S 70° W.

- 106 -
B — Depósitos de transbordamento grande parte responsável pela sobrelevação dos cor-
dões aluviais acima do nível geral da planície de
São depôsitos orig ínados por processos sed í-
inundação (fig. 8-28).
mentares atuantes fora dos canais. Incluem os sedi-
mentos mais finos db sistema, acumulados por acrés- A deposição nos diques ocorre quando a cor-
cimo vertical. rente transborda sobre os bancos (figs. 8-28a —
8-28c). Os sedimentos dos diques são provenientes
Diques naturais ("natural levees") da fração mais grosseira da carga suspensa (siltes e
areias finas), decrescendo gradualmente em direção
Os diques naturais constituem cordões sinuosos
à planície de inundação. Ao transbordar a velocidade
grosseiramente triangulares em secção transversal.
da corrente diminui, de modo que nem toda carga
Sua altura é maior perto da margem do canal, onde
prévia pode ser transportada, e os sedimentos mais
formam bancos íngremes e altos, de onde afinam
grosseiros depositam-se próximo aos bancos e, os
em direção das bacias de inundação. Os diques mar-
mais finos mais além e, a maior distância do canal.
ginais são melhor desenvolvidos nos bancos côn-
A taxa de deposição é maior próximo ao canal, di-
cavos, o que não acontece no lado convexo, onde
minuindo em direção à bacia de inundação.
raramente apresentam bom desenvolvimento. Nos
rios ret i I í n eo s s ao bem d es en vol v i dos em a mb a s A extensão e a espessura dos diques naturais
margens. A formação dos diques naturais é em dependem principalmente do tamanho do rio, da

.Hás*?,..

_
Fig. 8 28a — Sedimentos pleïstocênïcos do plaino
aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, C u r i t i b a . A —
p a s s a g e m dos s e d i m e n t o s de canal an as t o m osa -
d o para o s d e p ó s i t o s d e t r a n s b o r d a m e n t o , ca-
racterizados p o r alternâncias d e estratos d e areia
f i n a e camadas s í l t i c o - a r g i l o s a s c o m e s t r u t u r a s
c o n t o r c i d a s ; B — d e p ó s i t o s de canal c o m e s t r a t i -
f i c a ç ã o c r u z a d a e i n t e r c a l a ç ã o de camada s í l t i c o -
a r g i l o s a . A s seqüências arenosa» p o s s u e m t e x t u -
ras q u e v a r i a m d e s d e areia f i n a a g r o s s e i r a c o m
grânulos e pequenos seixos.

- 107 -
granulometria de sua carga e do volume de des- bem desenvolvidos nos sistemas fluviais de alta re-
carga durante as enchentes. Praticamente todos os lação carga suspensa/carga de fundo.A posição des-
rios possuem diques marginais. Aqueles do rio Mis- tes depósitos em relação às areias de canal constitui
sissipi ( F i s k , 1944, 1947) têm usualmente um elemento diagnóstico do reconhecimento dos de-
mais de 1800 m de largura e uma altura acima das pósitos antigos. Isto é, permite reconhecer se eles
bacias de inundação de 4,5 a 7,5 m. No delta a al- estão dispostos lateralmente ao canal dos distributá-
tura do dique diminui para 0,3 a 1,2 m ( K o I b , rios retilíneos das planícies deltaicas, ou se eles es-
1962, 1963). Algumas correntes meandrantes não tão sobrepostos às barras de meandro em rios mean-
possuem diques naturais. drantes políticos. Nos canais fortemente meandran-
tes a geometria dos depósitos dos diques naturais é
Os diques são inundados somente poucos dias extremamente complexa.
durante o ano. Nestas condições, sobre eles desen-
volve-se uma vegetação abundante. A boa porosi- A granulação dos diques naturais é mais fina do
dade e permeabilidade dos sedimentos favorecem que aquela correspondente às barras de meandro.
as condições oxidantes com desenvolvimento de co- Apenas a parte superior destas assemelha-se aos di-
res amarelas e alaranjadas. São também freqüentes ques naturais. Da mesma forma as estruturas sedf-
grande variedade de estruturas sedimentares de ori- mentares dos diques são muito similares àquelas da
gem orgânica. As estruturas de corrente mais abun- parte superior das barras de meandro. Entre elas são
dantes são os acanalamentos de pequena escala e a encontradas: estratificação cruzada de micro-ondula-
laminação paralela. Os diques naturais encontram-se ções, laminações de micro-ondulação ascendente, aca-

F i g . 8-28b — S e d i m e n t o s pieistocênicos d o f u n -
d o d o vaie d o I g u a ç u , U b e r a b a , C u r i t i b a . A —
passagem d o s s e d i m e n t o s de canal para os d e -
p ó s i t o s d e t r a n s b o r d a m e n t o , caracterizados p o r
alternâncias de estratos de areia f i n a e camadas
sí!tÍco~argilosas. O c o n j u n t o da seqüência de
t r a n s b o r d a m e n t o o s t e n t a estratos c o n t o r c i d o s , o n -
de são e v i d e n t e s as estruturas de c a r g a . B —
alternância de estratos de areia f i n a e de s e d i -
m e n t o s s í l t i c o - a r g i l o s o s com estruturas c o n t o r c i -
d a s . Esta s e q ü ê n c i a é recoberta p o r d e p ó s i t o s de
canal.

- 108 -
F i g . 8-28c — D e p ó s i t o s d e t r a n s b o r d a m e n t o c o m
e s t r u t u r a s c o n t o r c i d a s e de c a r g a , j a z e n d o s o b r e
* - — s e d i m e n t o s de canais a n a s t o m o s a d o s c o m e s t r a t i -
• " l.
: . f i c a ç ã o c r u z a d a . Os p r i m e i r o s são c o n s t i t u í d o s
*?> v.^ por alternâncias de estratos de areia fina e de
2^*?^' sedimentos síltico a r g i l o s o s . Seqüências pleisto-
gjP cênicas d o p l a i n o a l u v i a l d o r i o I g u a ç u , U b e r a b a ,
Curitiba.

mamento horizontal, camadas de sedimento síltico- 3i 7


2
argiloso com laminação paralela e, localmente, es-
tratificação cruzada de macro-ondulações (figs. 8-29
e 8-30). As camadas arenosas alternam-se com sedi-
mentos síltico-argilosos. As espessuras destas unida-
des são variáveis. Na superfície das camadas encon-
tram-se com freqüência gretas de contração e im-
pressões de gotas de chuva ( R e i n e c k &
S i n g h , 1973). Nos depósitos dos diques natu- 2
rais a proporção de sedimentos síltico-argilosos é
maior do que aquela encontrada nas barras de mean- 3
dro.
2
O crescimento da vegetação com a expansão do
sistema radicular promove a destruição da maior par- 3
te das estruturas sedimentares. Por outro lado, detri-
tos vegetais são incorporados aos sedimentos. A ati-
vidade pedogenética na parte superior dos depósi-
tos é bastante considerável.

Depósitos de bacias de inundação

Os sedimentos das bacias de inundação ("flood


basin deposits") são exclusivamente de granulação
fina (silte e argila) provenientes da carga suspensa
F i g . 8-29 — R e p e t i ç ã o d e e i d o s c o m a f i n a m e n t o v e r t i c a l . D e p ó -
em períodos de transbordamento (enchentes). A ex- sitos d e d i q u e s m a r g i n e i s d o r i o G o m t i , í n d i a . 1 — h o r i z o n t e d e
tensão e desenvolvimento dos depósitos das bacias s o l o ; 2 — c a m a d a l a m i n a d a de l a m a ; 3 — l a m i n a ç ã o c r u z a d a de
m i c r o - o n d u i a ç ã o ; 4 — areia c o m e s t r a t i f i c a ç ã o h o r i z o n t a l ( b a s e a d o
de inundação é controlada fundamentalmente pelo
em R e i n e c k & S i n g h , 1973).
padrão e forma dos canais. Tanto a migração late-
ral rápida dos canais nos rios anastomosados, como
de sedimentação encontram-se intercaladas com de-
o deslocamento rápido dos canais meandrantes, di-
pósitos de canais. Quando os canais são menos mó-
ficultam ou mesmo impedem a formação de depó-
veis, a deposição nas bacias de inundação é mais es-
sitos espessos nas bacias de inundação. Nestes ca-
pessa ( R e i n e c k & S i n g h , 1973).
sos os depósitos de inundação são constituídos por
camadas finas, as quais com o decorrer dos processos Nos climas úmidos as bacias de inundação apre-

- 109 -
F i g . 8-30 — S e q ü ê n c i a de e s t r u t u r a s se- de rompimento de diques, os quais podem atingir
dimentares nos depósitos de dique na-
tural do rio Brahmaputra (baseado em
as bacias de inundação.
C o l e m a n , 1969 e R e i n e c k
& S i n g h , 1973). A deposição nas planícies de inundação ocorre
1 — siltes a r g i l o s o s e s t r a t i f i c a d o s c o m em ambiente de energia muito baixa, de modo que
p e r f u r a ç õ e s ; 2 — taminação de m i c r o -
ondulação ascendente; 3 — laminação
os depósitos exibem, caracteristicamente, laminações
cruzada de micro-ondulação de pequeno paralelas. Os corpos de sedimentos são alongados,
tamanho; 4 — acamamento horizontal;
tabulares e possuem comprimento duas a oito vezes
5 — e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a de escala
g r a n d e ; 6 — a r e i a e sllte p o b r e m e n t e maior do que a largura. Ocorre um decréscimo as-
selecionado e sem estrutura interna, com cendente de granulometria de siltes argilosos a ar-
micro-ondulações ocasionais.
gilas sílticas. Em geral formam litossomas mais ou
menos homogêneos. A taxa de sedimentação, via de
sentam-se úmidas e densamente vegetadas (pânta-
regra é baixa; usualmente a deposição é de 1 a 2 cm
nos e alagadiços), favorecendo a acumulação de gran-
por enchente (Reineck & Singh, 1973),
de quantidade de matéria orgânica. Nestas condições
ou pode atingir até 50 cm, como na enchente catas-
pode ter lugar a formação de depósitos de turfa com
trófica de Tubarão (SC) em 1974 ( B i g a r e I I a
vários metros de espessura. Argilas turfosas são co-
& B e c k e r , 1975).
muns nas bacias de inundação do rio Iguaçu, entre
outros exemplos. Nos depósitos orgânicos são fre- Os depósitos de transbordamento mostram ten-
qüentes as estruturas de marca de raízes, tubos de dência para apresentar cores avermelhadas ( K ry-
vermes, entre outras. n i n e , 1950); D u n b a r & R o d g e r s ,
Em muitos sistemas fluviais, principalmente nas 1957), porque fora da estação das enchentes perma-
regiões costeiras, onde vários rios juntam-se são for- necem expostos à oxidação subaérea. Esta é a ra-
madas, entre os diques naturais, grandes bacias de zão porque são também comuns as gretas de con-
inundação, particularmente pantanosas, onde tam- tração formadas por dessecação dos sedimentos pelí-
bém podem ocorrer lagos rasos. Em tais áreas for- ticos. Porém, é também comum o desenvolvimento
mam-se espessos depósitos argilosos com acumula- de folhelhos pretos, carbonosos e turfeiras em áreas
ção de matéria orgânica, principalmente vegetal. mal drenadas. No vale do Paraíba, Estado de São
Paulo, são comuns as "bacias orgânicas" preenchidas
Nas regiões extremamente quentes, as bacias
por 6 a 8 m até cerca de 20 m de camadas de
de inundação não se desenvolvem como áreas pan-
turfas ( V e r d a d e & H u n g r i a , 196ó).
tanosas. Nestas condições a incorporação de matéria
orgânica nos sedimentos é pequena. Se a enchente Nos sistemas fluviais meandrantes de alta taxa
for vagarosa, podem formar-se lagos salinos. No carga suspensa/carga de fundo e nos distributários
caso de evaporação alta os sais podem incorporar-se deltaicos, os depósitos de planícies de inundação
aos sedimentos ( R e i n e c k & S i n g h , 1973). ocupam volumes muito importantes.
Entre todos os sedimentos aluviais, os das ba-
cias de inundação são os mais finos. Nos sedimentos Depósitos de planícies de inundação
depositados em cada enchente pode verificar-se um ("flood plain deposits").
ligeiro decréscimo ascendente da granulação. De
De maneira ampla, os depósitos das planícies
maneira geral, os sedimentos são síltico-argilosos a
de inundação abrangeriam não apenas os das bacias
argilosos. Intercalados, podem ocorrer, as vezes, se-
de inundação, como também uma série de depósitos
dimentos areno-sílticos representativos de pequenos
ligados ao transbordamento do canal durante as
canais. Horizontes de solo são comuns. A ação da
cheias. Nas regiões de clima úmido, como em grande
vegetação tende a destruir as estruturas sedimenta-
parte do Brasil, as planícies de inundação com ba-
res originais. As bacias de inundação estão sujeitas
cias de inundação caracterizam a paisagem do fundo
a dessecação, quando se formam gretas de contração,
do vale. Nas regiões de climas mais severos do co
impressões de gotas de chuva, entre outros aspectos
lígono das secas, as planícies da inundação apre-
superficiais. Nos climas áridos são encontrados pró-
sentam características diversas. Na literatura encon-
ximo ou junto a superfície: nódulos de carbonatos,
tra-se a tendência de restringir a expressão "depó-
concreções ferruginosas e sais alcalinos.
sitos de planície de inundação" àqueles dos rios
O contato entre os sedimentos finos das bacias que mudam sua posição rapidamente não apresen-
de inundação com os sedimentos arenosos dos canais tando bacias bem desenvolvidas ( R e i n e c k &
pode ser tanto abrupto, como transicional. O contato S i n g h , 1973). Neste tipo d e r i o s , via d e regra,
gradacional está relacionado à presença de depósitos as velocidades das águas do transbordamento são

- 110 -
rápidas e os depósitos resultantes contém, além dos
sedimentos finos, consideráveis quantidades de
areias. Nestes casos, os depósitos da planície de
inundação assemelham-se àqueles dos diques natu-
rais e dos rompimentos de diques naturais, sendo
portanto de difícil diferenciação. Entretanto, nas con-
dições mencionadas não existe um bom desenvolvi-
mento dos diques naturais.

Nas seqüências das planícies de inundação de-


positam-se geralmente camadas de areia fina, silte e
argila, muito semelhantes àquelas, dos diques na-
turais ( R e i n e c k & S i n g h , 1973). A
sedimentação inicia-se com areia, tornando-se poste-
riormente síltica. Laminações de marcas onduladas as-
cendentes são freqüentes, juntamente com estratifi-
cação cruzada de pequeno tamanho e estratos hori-
zontais. Um decréscimo ascendente de granulação é
verificado quando as camadas passam de areia para
silte e argila finamente laminada. A espessura das
unidades variam de poucos centímetros até vários
decímetros. Algumas vezes nota-se intercalada nos
sedimentos finos, a presença de mais de uma cama-
da grosseira, depositada numa única enchente, o que
indica provavelmente flutuações durante a cheia. In-
corporados aos sedimentos das planícies de inunda-
ção encontram-se abundantes detritos vegetais. Ho-
rizontes de solo comumente são bem desenvolvidos
(Reineck & S i n g h , 1973).

A enchente de junho de 1965, em Bijou Creek


(Colorado), estudada por M c K e e et al. (1967)
constitui um exemplo de deposição nas planícies de
inundação das regiões semi-áridas. Nas fortes en- m m m a
chentes nessas regiões, ou em regiões onde haja 1 2 3 4-
abundante fonte de material, os depósitos são do-
minantemente constituídos por sedimentos com es- F í g . 8"31 — Estruturas s e d i m e n t a r e s nos s e d i m e n t o s da e n c h e n t e
tratificação horizontal ou quase horizontal, os quais d e j u n h o d e 1965, e m B i j o u C r e e k , Colorado (baseado em
M c K e e et al 1 9 6 7 ) . P r e d o m i n â n c i a d e estratos p a r a l e l o s .
preenchem o canal estendendo-se para além dos di- 1 — estratos p a r a l e l o s ; 2 — estratos f r o n t a i s ; 3 — e s t r u t u r a s de
ques marginais. corte e preenchimento; 4 — superfície pré-deposicional.

Nos sedimentos acumulados durante a enchente


tensidade do fluxo. Estes estratos caracterizam áreas
de Bijou Creek, 90 a 95% deles apresentam estra-
relativamente protegidas situadas fora do fluxo prin-
tificação paralela. O segundo tipo mais comum é re-
cipal ( M c K e e e al., 1967).
presentado pela estratificação cruzada tabular planar
(fig. 8-31). Estes estratos são encontrados mais co- A predominância de estratos planos aproxima-
mumente nas margens da cobertura deposicional damente horizontais em sedimentos grosseiros e a
( M c K e e et al., 1967). Aparentemente este tipo ausência de laminações de micro- ou macro-ondula-
de estrutura desenvolveu-se onde as águas perde- ções indicam deposição por correntes de velocidade
ram parte de sua força, depositando areia ao longo relativamente altas do regime de fluxo superior. Se-
de uma frente inclinada de sedimentos (estratos dimentos com estratificação paralela recobertos por
frontais). Entre outros tipos de estruturas desenvol- depósitos com laminação ondulada ascendente su-
vidas encontram-se a laminação ondulante ascenden- gerem a passagem de um regime de fluxo mais ve-
te e o acamamento convoluto, os quais se formam loz para um de menor velocidade. O regime de
durante a deposição nos estágios da diminuição da in- menor energia é responsável peia formação de: 1 —

- 111 -
laminação ondulada ascendente; 2 — estratos fron- Tubarão (1974), os desmoronamentos forneceram
tais da estratificação cruzada do tipo planar; e 3 — grandes quantidades de sedimentos, os quais foram
laminação convoluta (fig. 8-32). rapidamente transportados em direção à planície alu-
vial inundada. A ação das águas correntes selecionou
A laminação ondulada ascendente é caracterís-
arealmente os vários tamanhos de grãos. Na planície
tica de ambientes onde existe abundância de sedi-
aluvial foram depositadas grandes quantidades de
mentos em suspensão e nos quais a água flui numa
areias e cascalho com estratificação predominante-
fase lenta do regime de menor energia ( M c
mente paralela.
Kee, 1966; M c K e e e t al., 1967). A lamina-
ção ondulada ascendente, representa velocidades in-
Estruturas convolutas
feriores daquelas das fortes enchentes responsáveis
pela deposição dos estratos planos. Aliás elas carac- A laminação convoluta constitui estrutura sedi-
i a m a fase de diminuição da intensidade da gran- mentar relativamente comum em muitos depósitos
de enchente. A estratificação cruzada tabular-planar de planície de inundação. É encontrada, principal-
orígiria-se nos lugares onde o fluxo transportador dos mente, nos diques naturais e nos depósitos de trans-
sedimentos atinge maiores profundidades e onde as bordamento. Este tipo de estrutura parece desen-
águas passam a mover-^e com velocidades menores. volver-se num estágio tardio da enchente quando a
velocidade das correntes diminui e os sedimentos en-
As camadas de areia com estratificação para-
o contram-se em condições de areia movediça ( M c
lela apresentam mergulhos inferiores a 5 e raramen-
K e e e t al., 1967).
te superiores a 10°. Estratos cruzados frontais são en-
contrados na margem dos depósitos arenosos. Nos
depósitos arenosos das enchentes foram encontradas C — Depósitos transkionais
poucas estruturas erosivas. Entre os estratos parale-
São originados por processos sedimentares tí-
los ocorrem truncamentos em ângulo raso. Estrutu-
picos de um dos grupos anteriores atuando em am-
ras de escavação e preenchimento são raras ( AA c
bientes característicos do outro. Neste grupo in-
K e e e t al., 1967).
cluem-se os depósitos de rompimento de diques e
Nas catástrofes de Caraguatatuba (1967) e de preenchimento de canais abandonados.

Depósitos de rompimento de diques


("crevasse splay deposits").

Durante as enchentes grande quantidade de


água e sedimentos fluem nas bacias adjacentes de
inundação. Muitos dos transbordamentos dão-se nos
bancos côncavos por sobre os diques naturais ou
através de canais nestes abertos {rompimento de di-
ques). As águas que fluem nestes canais ("crevasses")
dão origem aos depósitos de rompimento de diques,
que de acordo com o tamanho da corrente pedem
atingir centenas de metros de largura e espessuras
entre algumas dezenas de centímetros até poucos me-
tros. São depósitos de forma sinuosa ou lobada, re-
lativamente delgados, e representam os sedimentos
mais grosseiros depositados fora do canal em vales
fluviais. São classificados como transicionais porque
são oriundos da carga de fundo depositada fora do
canal. Os sedimentos mais grosseiros, normalmente
não ultrapassando a granulação de areia, são depo-
sitados dentro dos principais canais de rompimento,
F i g . 8-32 — Estruturas s e d i m e n t a r a s nos s e d i m e n t o s da e n c h e n t e que exibem um padrão distrtbutário de tipo deltaico.
e m Bijou C r e e k , C o l o r a d o , e m j u n h o d e 1965 (baseado e m
M c K e e e t al, 1 9 6 7 ) . 1 — estratos p a r a l e l o s h o r i z o n t a i s ; Uma fração significativa da carga de fundo espalha-
2 — estratos f r o n í a i s ; 3 — e s t r u t u r a s c o n v o l u t a s ; 4 — l a m i n a ç ã o se sobre as planícies de inundação, formando um
cruzada de m i c r o - o n d u l a ç ã o a s c e n d e n t e ; 5 — camada de l a m a ; 6 —
s u p e r f í c i e p r é - d e p o s i c i o n a l ; 7 — c a m a d a sem e s t r u t u r a ; 8 — base
depósito mais ou menos tabular, geralmente com
da trincheira. menos de 30 cm de espessura, com granulação areia

- 112 -
fina a média, moderadamente selecionada. Por últi- Muitos dos canais abandonados tornam-se ver-
mo deposita-se a carga suspensa em gradação com dadeiros lagos com flora e fauna abundantes, com
os depósitos de planície de inundação (fig. 7-1). baixa taxa de sedimentação. O depósito de preenchi-
mento de canal apresentará uma geometria que de-
A deposição é relativamente rápida, mas a fá- pende da forma e profundidade do canal abandona-
cies pode ser construída durante várias enchentes. do. Os depósitos de canal abandonado formados pe-
Eventualmente, a fenda original de rompimento pode lo processo de atalho de corredeira são relativamen-
tornar-se um ponto de avulsão com o estabelecimen- te pequenos e menos curvos em comparação com
to de um novo curso. aqueles originados por atalhos em colo. Rios efême-
ros em climas áridos também apresentam freqüen-
As estruturas sedimentares mais abundantes in-
temente depósitos de preenchimento de canais.
cluem estratificações cruzadas acanaladas e com ca-
madas frontais, marcas onduladas assimétricas, apre- Inicialmente a sedimentação nos canais abando-
sentando no topo uma configuração de pequeno sis- nados é rápida junto às áreas dos atalhos, d i m i -
tema distributário anastomosante. Marcas onduladas nu i ndo posteriormente com o bloqueio prog ressi-
ascendentes, são também encontradas, bem como es- vo do canal isolado. Material fino é depositado du-
tratos paralelos. As camadas arenosas são capeadas rante as enchentes. Nos lagos formados, os depósi-
por sedimentos síltico-argilosos. Estruturas de esca- tos são constituídos, principalmente, de argila e ma-
vação e preenchimento e restos vegetais são comuns. téria orgânica. Com o entulhamento e maior desen-
Os depósitos de rompimento de diques constituem volvimento da vegetação origina-se um banhado que
uma das fácies importantes na identificação de sis- se transforma em terreno pantanoso, o qual pode
temas fluviais de distributários deltaicos. ser soterrado por nova fase de sedimentação.
Os depósitos de preenchimento de canais são
D — Depósitos de preenchimento de canal constituídos, principalmente, por areias sílticas, siltes
Estes depósitos representam a sedimentação e o arenosos e argilas sílticas. Unidades finas e grossei-
preenchimento de canais abandonados pelos rios. ras podem estar intercaladas à montante nas proxi-
Ocorrem freqüentemente associados a rios meandran- midades do atalho. As camadas podem apresentar
tes, pela tendência que estes rios têm para cortar ata- iaminações finas ou íaminações cruzadas e raramen-
;

lhos, seja através de corredeiras, em colo ou por te, gretas de contração. No rio Mississipi são conhe-
avulsão. cidos depósitos de argila com até 40 m de espessure.
O enchimento de canais intermitentes em cli-
O braço de rio formado por atalho de corredeira
ma semi-árido, durante a enchente de junho de 1965
continua a acumular carga de fundo em toda a sua
no Bijou Creek, Colorado, foi descrita por M c K e e
extensão até que os extremos fiquem fechados por et al. (1967). Os canais foram preenchidos com sedi-
sedimentação. Quando a conexão ao canal principal mentos arenosos. Entre as principais estruturas en-
foi interrompido, o material fino em suspensão é de- contradas citam-se: 1) camadas planas constituídas de
positado. Um lago formado por atalho em colo é ra- areia depositada provavelmente sob condições de re-
pidamente bloqueado pela corrente devido a grande gime de fluxo superior; 2) seqüências de estratos
mudança de ângulo na direção do fluxo. O canal cruzados dos tipos acanalado e planar desenvolvi-
principal do lago é preenchido pelos materiais fi- dos pela migração de macro-ondulações em regime
nos decantados das fases de enchente. Em ambos os de fluxo inferior; 3) camadas formadas de Iamina-
casos, o lado côncavo do preenchimento é erosivo e ções onduladas ascendentes situadas próximas ao
a margem convexa é gradativa e concordante sobre topo do ciclo da enchente,* 4) camadas ou lentes oca-
sionais formadas principalmente de bolotas de ar-
os depósitos de barras de meandro (fig. 8-33).
gila.
Além das camadas com bolotas de argila, dois
outros tipos de estrutura podem ser encontrados. O
primeiro é representado pelos estratos cuneiformes
constituídos de areia laminada, depositados na mar-
gem do canal sobre depósitos pretéritos e truncados.
O outro tipo, mostra falhas formadas em estágio
subseqüente quando fatias de areia escorregaram
ao longo dos barrancos do canal ( M c K e e et al.,
F i g . 8-33 — D e p ó s i t o s d e p r e e n c h i m e n t o d e c a n a l . A — a t a l h o • m
c o r r e d e i r a ; B — a t a l h o em c o l o ( b a s e a d o em Al I e n , 1965). 1967).

- 113 -
ções arenosas e sílticas são subordinadas. Nos de-
B K H 0 ü pósitos ocorrem variações abruptas na granulometria
Qepôgjfo? de ^epo^ifoS* " Q/que&mtrtgL Qèpâ&fas' Vobop de
fratf?àoràa#fPrt- de ot&iaig ttafé"de eom. reçíde/a/k» ¿orr/da? e na forma das partículas.
fo e wm/f a/d/g. Pfi/d/a/£ da?de'éefr/fúS âedefrifoe

Verifica-se um decréscimo exponencial no diâ-


metro máximo dos seixos contidos, a partir do ápice,
tanto para a os depósitos de correntes (subaquáticos)
como para os de corridas de detritos. Este fato re-
sulta de uma incipiente seleção que ocorre durante
o transporte.
:
Bolas de arg la englobando seixos ("armoured
mud balis") são comuns em alguns leques. Os ta-
manhos destas bolas variam de 2 a 50 cm. A matriz
dos conglomerados é constituída de areia ou argila,
de origem primária ou secundária.
As litologias de arcósios e grauvacas predomi-
nam em depósitos de leques aluviais, e refletem
mais ou menos diretamente a composição da área
aluv'?l (segundo Spe a r i n g , 1974). fonte. Este é o resultado do transporte por pequena
distância, de materiais com limitado intemperismo
químico e pouca mistura de materiais de leques la-
são são transportados para o leque por um único
canal e, como resultado, um leque aluvial possui terais adjacentes. A mistura dos materiais proceden-
somente um ápice. A área de cabeceira de um le- tes de leques adjacentes aumenta com a coalescên-
que situa-se próxima ao ápice e a sua base é for- cia progressiva, a medida que se afasta da zona do
mada peia porção mais baixa. ápice.

Os leques modernos variam em dimensões de 1 c) — Fácies sedimentares e processos deposicionais


2
a 900 k m . Alguns ieques nos Estados Unidos, pos-
suem um raio superior a 10 km e espessuras em tor- A deposição nos leques é causada, principal-
no de 700 m, enquanto que muitos depósitos anti- mente, pelos decréscimos na profundidade e veloci-
gos associados a zonas de escarpas de falhas apre- dade do fluxo, que resultam muito mais do aumen-
sentam vários milhares de metros de espessura. to de largura do canal, quando o fluxo se espraia
sobre o leque, do que devido ao abrupto decréscimo
Os principais fatores que influem no tamanho de gradiente.
de um leque são: a superfície e a litologia da área
Os materais são transportados para os leques
fonte. Outras variáveis importantes compreendem o
como corridas de detritos e fluxos aquosos, que se-
clima, história tectónica e espaço disponível para de-
guem o canal principal e emergem em nível acima
posição. A área do leque é, em geral, proporcional
da superfície próximo ao ponto médio do leque,
à área da bacia hidrográfica. Em geral, para áreas
chamado "ponto de interseção" (fig. 8-35).
de drenagem equivalentes, os leques derivados de
rochas peííticas apresentam maior área e espessura A maior parte da deposição acima do ponto de
do que os ieques derivados de fonte psamítica de interseção processa-se por corridas de detritos que
tamanhos comparáveis. ultrapassam a profundidade do canal e transbordam
pelas margens. Abaixo do ponto de interseção pre-
O declive da superfície diminui com o aumento
domina a deposição fluvial.
da área do leque. Os leques formados em ambien-
tes úmidos são comumente mais planos do que os A estrutura interna de um leque reflete a oeo-
formados em climas semi-áridos a áridos.

b) — Textura e composição

As fácies dos depósitos de leques aluviais são,


em geral, caracterizadas por fragmentos grosseiros,
mas, em condições excepcionais, podem ser cons-
F i g . 8-35 — E s q u e m a das relações e n t r e o p o n t o de i n t e r s e c ç ã o ,
tituídos de detritos finos. Os tamanhos das partículas
p e r f i l do canal e l o b o d e p o s i c i o n a l ( b a s e a d o em H o o k e ,
variam normalmente de matacões a argilas. As fra- 1967).
metria das corridas individuais. Tanto os depósitos As distinções entre os depósitos de corridas de
subaquáticos como as corridas de detritos são sedi- detritos e os residuais são as seguintes: 1) — depósi-
mentados como línguas estendendo-se radialmente, tos residuais recentes são isentos de finos, sendo
declive abaixo, a partir do ápice do leque. constituídos de seixos e matacões; 2) — os depósitos
residuais raramente contêm matacões muito grandes
Depósitos de corridas de detritos ("debris f l o w (mais de 1 m de diâmetro), encontrados em muitas
deposits") — Normalmente, as corridas de detritos corridas de lama; 3) — corridas de detritos relativa-
têm lugar em períodos de chuvas concentradas. As mente intatas podem ter 0,5 a 3 m de altura, mas
condições que favorecem a formação de corridas de em virtude da dissecação são comumente estreitos e
detritos são: 1) material inconsolidado que contenha arredondados em seção transversal; 4) — os conta-
bastante argila, que o torne escorregadio quando tos das corridas de detritos são bruscos e bem defi-
molhado; 2) declives bastante íngremes para indu- nidos e os de depósitos residuais são geralmente
zir erosão rápida; 3) chuvas concentradas, e 4) co- gradativos e sem relações de superposição; 5) — as
bertura vegetal insuficiente. corridas de detritos podem ser seguidas por alguma
distância subindo a encosta do leque e possuem apro-
Estas corridas ocorrem sob condições de alta
ximadamente o mesmo declive deste. Os depósitos
densidade e viscosidade e, portanto, elas movem-se
residuais são mais localizados e possuem ângulos
pela encosta sob a forma de "espasmos". Quando
mais suaves do que o declive do leque; 6) — os de-
uma corrida de detritos se aproxima da extremidade
pósitos residuais recentes estão nitidamente relacio-
inferior do canal fluvial, ela pode ultrapassar as mar-
nados a um canal proveniente das cabeceiras do le-
gens formando lobos de lamas. Mais abaixo, ela
que, mas os depósitos de corridas de detritos não
transborda sobre ambas as margens do canal ori-
mostram qualquer relação visível com canal.
ginando um depósito em forma de lençol acima do
leque aluvial. Depósitos transicionais ("intermedíate deposits")
As características principais dos materiais de — Estes depósitos são caracterizados pelas proprie-
corridas de detritos são: 1) — orientação caótica dos dades transicionais entre os sedimentos subaquáti-
calhaus e matacões incluídos em uma matriz de ma- cos e depósitos de corridas de detritos, isto é: 1) —
terial fino; 2) — ocorrência deste material fino em di- os depósitos não possuem margens bem definidas e
ques, lobos e lençóis ou em línguas estendendo-se a os sedimentos argilosos adelgaçam-se para fora até
partir dos depósitos em lençol; 3) — contatos litoló- que eles parecem misturar-se com o solo; 2) — estes
gicos abruptos; 4) — presença freqüente de mata- sedimentos apresentam um grau de seleção visivel-
cões com várias toneladas; 5) — corridas de lama com mente pobre, porém não tão extremamente pobre
detritos pobremente selecionados e com baixa po- quanto aquele das corridas de lama; 3) — a argila
rosidade; 6) — aumento de seleção granulométrica ocorre como filmes ao redor de grãos de areia e
dos fragmentos mais grosseiros declive abaixo; 7) — preenchendo parcialmente os vazios intergranulares;
argila em forma de filme em torno dos grãos de 4) — a maioria dos depósitos transicionais possui
areia e seixos, ou como matriz preenchendo parcial- seixos que são orientados horizontalmente e estão
mente os espaços intergranulares; 8) depósitos de concentrados na base das camadas, dando origem a
corridas individuais de lama com espessura de 30 cm uma estratificação gradacional.
ou menos até vários metros.
Sedimentos subaquáticos — A deposição dos se-
Depósitos residuais ("sieve deposits") — Quando dimentos subaquáticos ocorre a partir de materiais
o material do leque é bastante grosseiro e permeá- de corridas que passam a ter menor participação de
vel, toda uma corrida pode infiltrar-se neste material. detritos. A quantidade maior de água faz com que
Nestas condições uma massa de detritos em forma os mais finos sejam eliminados e os depósitos se-
de lóbulo pode ser depositada quando a água já é jam constituídos de areias e siltes, bem selecionados,
incapaz de efetuar o seu transporte (fig. 8-36). com cerca de 6% de matriz argilosa e depositados
como lençóis irregulares por canais anastomosados.
^sr?^- ÇParfe posrériof do/obo
^y^. —demater/a/ ma/ef//fc? Estes sedimentos podem ser maciços ou apresentar
laminações e estratificações cruzadas. Fragmentos
Z*' : °^oYK^r-\ Partefrvffta/*do/obo
placóides de folhelho, por exemplo, apresentam ori-
do cana/ ^rrr-r^SL 0
°&í/-v*
entação preferencial horizontal ou imbricação (fig.
8-37).

Existem dois tipos de sedimentos subaquáticos


F i g . 8~3ó — Representação esquemática do l o b o de d e p ó s i t o resi-
dual (baseado em H o o k e , 1967). em leques aluviais. O primeiro consiste de lençóis de

- 116 -
areia e silte depositados pela rede de canais anas- mente ao longo dos planos de diaclasamento de des-
tomosados. Estes lençóis não possuem margens dis- compressão. Estes, geralmente, apresentavam certo
tintas e as espessuras diminuem lateralmente até se grau de intemperização; entretanto, em alguns casos
transformarem em finos filmes que se confundem as diáclases não encontravam-se alteradas (fig. 8-38).
com os depósitos subjacentes. O segundo tipo con-
O atrito das massas rochosas, (incipientemente
siste de areia e cascalho depositados nos leitos dos
alteradas ou não) sobre o plano de deslizamento,
canais da corrente principal. Os depósitos grosseiros
originou enormes quantidades de grânulos e areia
são mais pobremente selecionados que os depósitos
grosseira a fina, constituídas predominantemente por
em forma de lençol.
feldspatos (frescos ou ligeiramente alterados) e
quartzo (fig. 8-39). Este material, durante a movi-
mentação vertente abaixo, foi incorporado, junta-
mente com seixos e matacões ao material mais fino
da média e baixa encostas, também sujeito ao mo-
vimento de massa. Os desmoronamentos convergi-
ram para os vales, seguindo o sentido da drenagem
e espalhando-se em forma de lóbulos nos pontos
onde a corrente emerge num vale de f u n d o chato
lüjjjjjjffl] Qepo&fos- de corrida de /ama, estratificação (fig. 8-40). Formaram-se aí os depósitos de corridas
\§j£i% âatHadas e /ente? de Seiccos de detritos.
bgl=] Ureta eotfgiomerática, entrait ficada
Seixos /'rubricados

F i g . 8-37 — e s t r u t u r a » s e d i m e n t a r e s características da s e d i m e n t a -
ção s u b a q u á t i c a d e u m l e q u e a l u v i a l (Serra Santa C a t a l i n a , A r i z o n a ,
U S A ) . D i r e ç ã o d e t r a n s p o r t e d a d i r e i t a p a r a e s q u e r d a (baseado e m
B l i s s e n b a c h , 1954).

F — Alguns exemplos de leques aluviais no Brasil

Catástrofe de Tubarão (março de 1974) — O vale


do Tubarão (SC) e seus afluentes drenam uma região
constituída de rochas graníticas precambrianas e de
rochas gondwânicas. O clima úmido regional coní-
tribuiu para uma intemperização química profunda
das rochas. O relevo, via de regra acidentado, apre
senta vertentes íngremes, as quais foram instabili-
zadas antropicamente pelo uso inadequado do solo.
Nesta região, em março de 1974, choveu durante 17
dias consecutivos (748 mm em Urussanga (SC), dos
quais 251 mm em 24 horas). Os valores da des-
carga fluvial elevaram-se rapidamente e a região so-
freu uma enchente descomunal, inundando áreas pre-
viamente nunca atingidas. As perdas em vidas e os
danos materais foram consideráveis ( B i g a r e -
la & Becker, 1975).

Na região de Tubarão ocorreram movimentos


de massa que afetaram as vertentes, desde sua par-
te inferior (com espesso manto de intemperismo)
até a parte superior mais íngreme, de natureza ro-
chosa, capeada por fina camada de detritos. Na re-
gião de Tubarão, os movimentos de massa afeta- H g . 8-38 — D e s m o r o n a m e n t o s e m São G a b r i e l d u r a n t e a c a t á s t r o f e
d e m a r ç o d e 1 9 7 4 . O s m o v i m e n t o s d e massa n a r e g i ã o d e T u b a -
ram também a parte superior das vertentes, onde o
rão, a f e t a r a m as v e r t e n t e s d e s d e a sua p a r t e i n f e r i o r , c o m es-
manto de intemperismo, comumente possui espessu- pesso m a n t o d e i n t e m p e r i s m o , até a p a r t e s u p e r i o r , m a i s í n g r e m e ,
ra menor do que 1 m. Nestas condições ocorreram rochosa e capeada p o r f i n a c a m a d a de d e t r i t o s . O sistema de
d i a c l a s a m e n t o , m u i t a s vezes a l t e r a d o p e l o i n t e m p e r i s m o f a v o r e -
desmoronamentos de massas rochosas, freqüente- ceu o m o v i m e n t o de m a s s a .

- 117 -
Os lóbulos de corrida de detritos, derivados dos Durante o retrabalhamento as águas sobrecar-
movimentos de massa, tiveram duração efêmera. O regadas de sedimentos deram origem a um sistema
material heterogêneo constituído por partículas des- anastomosado de pequeno tamanho. Os materiais
de matacão até argila, sofreu posterior retrabalha- transportados a pequena distância (cascalho e areia)
mento. As partículas mais finas, bem como seixos de entulharam rapidamente as depressões do terreno.
2 a 8 cm, foram remobilizadas* pelas águas correntes. A deposição nos canais deu origem a estratificação
O material mais grosseiro, englobado na massa ori- cruzada. A esrratif icação paralela predominante indi-
ginal do depósito de corrida de detritos, permane- dica condições de regime de fluxo superior (fig.
ceu no local da deposição original, como depósito 8-44).
residual (fig. 8-41), enquanto que o material mais
Os depósitos arenosos são constituídos, princi-
fino foi removido. As partículas do tamanho areia,
palmente, por quartzo, além da presença freqüente
grânulo e seixo com até cerca de 8 cm ou pouco
de feldspatos e mica. Normalmente, os feldspatos
mais, foram retrabalhadas e depositadas em forma
não são encontrados no material alterado do mantc
de leque aluvial (fig. 8-42) ou como camada de co-
de intemperismo químico existente nas partes médie
bertura arenosa cobre a planície de inundação (fig.
e inferior das encostas; eles procedem das vertente*
8-43).
superiores, graças ao processo de "britagem" cau
sado pelo deslizamento de matacões nos planos de
escorregamento. A intemperização incipiente das ro
chas graníticas diminuiu a coesão original entre os
constituintes minerais, favorecendo assim a desagre-
gação. Quando ocorre um desmoronamento rochoso
na parte superior da encosta, o granito ligeiramente
alterado é facilmente " m o í d o " peia massa de frag-
mentos em movimento que atuam como um con-
junto de "pedras de mó". O produto resultante é for-
mado por um material arenáceo constituído de felds-
patos quase inalterados, bem como por um material
mais fino com aspecto de "farinha" de rocha ( B í -
g a r e l l a & B e c k e r , 1975). Este pro-
cesso esclarece a ocorrência de grande quantidade
de feldspatos encontrados nos depósitos pleistocê-
Fig. 8-39 — Areis arcosiana, contendo fragmento* de rocha, ori- nicos do Brasil.
ginada pelo atrito dos blocos e matacões d u r a n t e os desmorona
mentos. O p l a n o de d e s l i z a m e n t o , e m b o r a rochoso, apresentava-se Nas imediações dos desmoronamentos não são
l i g e i r a m e n t e a l t e r a d o , f a v o r e c e n d o a ação d e " b r i t a g e m " pela pas-
mais encontrados os depósitos síltico-argilosos con-
sagem dos m a t a c õ e s .
temporâneos, os quais foram quase que completa-
mente removidos subseqüentemente. Nesta á ea f i -
caram apenas os depósitos rudáceos residuais e os
depósitos arenosos dos leques aluviais com 0,6 a
1,5 m ou mais de espessura. A planície de inunda-
ção do vale do Tubarão foi recoberta com cerca de
0,3 a 0,6 m de sedimentos síltico-argilosos (fig. 8-45)

Miniatura de leques aluviais

No Morro da Joaquina, Ilha de Santa Catarina,


no dia 22-7-1973, após uma tempestade com 247
mm de precipitação, a cobertura arenosa de origem
eólica passou a deslizar formando uma série de pe-
quenos leques aluviais coalescentes, originando uma
F i g . 8-40 — Os m o v i m e n t o s de massa o r i g i n a r a m leques de d e t r i t o s
nas partes mais baixas do t e r r e n o . Blocos e matacões desceram
rampa de dissipação ( B i g a r e I I a , 1974,
as encostas englobados na massa material areno-síltico-argiloso. 1975). A estrutura destes leques foi estudada em
Catástrofe de 1974 em Tubarão, SC. A remoção dos finos deu trincheiras abertas perpendicular e paralelamente ao
origem aos depósitos rudáceos ou arenáceos, ilustrados na fi-
g u r a 8-41 .
sentido do fluxo.

- 118 -
F i g . 8-41 — Os l ó b u l o s de c o r r i d a
de detritos tem duração efêmera.
O m a t e r i a l mais g r o s s e i r o e n g l o -
b a d o n o m o v i m e n t o d e massa o r i -
g i n a l p e r m a n e c e n o local c o m o
d e p ó s i t o r e s i d u a l . O m a t e r i a l are-
náceo e os p e q u e n o s seixos são
remobilizados originando depósr
tos mais a j u s a n t e , e n q u a n t o q u e
o m a t e r i a l mais f i n o é t r a n s p o r -
tado a maior distância, Rodovia
T u b a r ã o - G r a v a t a l (SC). C a t á s t r o f e
de março de 1974.

O exame dos cortes permitiu uma visão tridi- Nos cortes paralelos ao fluxo, os estratos mergulham
mensional da estrutura interna da rampa. A sucessão com pequena inclinação para ¡usante. As estruturas
de estratos mostra que a sedimentação compreende são constituídas por estratos paralelos, estratificação
uma seqüência de camadas depositadas como "on- cruzada, estratos contorcidos e estruturas de escava-
das de areia". Algumas camadas, são aparentemen- ção e preenchimento.
te desprovidas de estruturas e constituídas de areia
fin^ >m grânulos. Eventualmente contêm "bolotas" G — Depósitos fluviais do Quaternário Brasileiro
de material coluvial. Geralmente são ma! seleciona-
das. Outras camadas são bem estratificadas e cons- No presente item são ilustrados alguns aspectos
tituem provavelmente o retrabaíhamento das corri- dos sedimentos fluviais do Quaternário Brasileiro.
das de areia, Nos cortes perpendiculares ao sentido
do fluxo, as estruturas apresentam um padrão ondu- a) — Plaino aluvial do rio Iguaçu
lado com alguma estratificação cruzada, pequenas Nos depósitos do fundo de vale do rio Iguaçu,
falhas, estratos contorcidos e aspectos de corte e em Uberaba, Curitiba, são encontradas camadas pleis-
preenchimento (figs. 8-46 a 8-51). Junto com se- tocênicas com estratos cruzados originados pela mi-
qüências bem estratificadas ocorrem camadas apa- gração de macro-ondulações (figs. 8-52 e 8-53). Ge-
rentemente maciças ( B i g a r e I I a , 1974). ralmente, estes sedimentos são constituídos por areia

- 119 -
H g . 8-42« — A t i t u d e d o e i x o l o n g o d o s s e i x o s e n c o n t r a d o s n u m
l e q u e a l u v i a l , e m Pouso A l t o , r o d o v i a T u b a r ã o - G r a v a t a l , f o r m a d o
d u r a n t e a c a t á s t r o f e de m a r ç o de 1 9 7 4 . 1 — r o s a - d i a g r a m a re-
presentando a direção de 208 seixos de todos tamanhos encon-
t r a d o s na s u p e r f í c i e do l e q u e a l u v i a l ; 2 — i d e m p a r a 38 s e i x o s
m a i o r e s d o q u e 3 0 c m ; 3 — a t i t u d e d e 3 9 seixos i n c l u í d o s n o
depósito arenáceo do leque aluvial; 3a — sentido de inclinação
do e i x o longo; 3b — direção do eixo i o n g o . Na superfície do
l e q u e a l u v i a l o e i x o l o n g o d o s e i x o dispõe-se p e r p e n d i c u l a r m e n t e
ao f l u x o , isto é na p o s i ç ã o de> r o l a m e n t o . O s e i x o e n c o n t r a d o no
i n t e r i o r do d e p ó s i t o t e n d e a i m b r i c a r p a r a m o n t a n t e e sua d i r e ç ã o
é a p r o x i m a d a m e n t e p a r a l e l a à do f l u x o . Os s e i x o s e n c o n t r a d o s
na superfície do leque indicam uma parada rápida do f l u x o , e n -
q u a n t o que aqueles encontrados no interior do depósito mostram
u m r e t r a b a l h a m e n t o q u e p e r m i t i u uma rotação d o e i x o l o n g o ,
acompanhado de imbricação. A atitude do eixo longo do seixo
p o d e f o r n e c e r uma i n d i c a ç ã o d e q u a i s f o r a m a s c o n d i ç õ e s d o f l u x o
durante a sedimentação (segundo B i g a r e l l a & B e c k e r ,
1975).
F l g . 8-42 — Leques a l u v i a i s f o r m a d o a j u s a n t e d o s l ó b u l o s de
m o v i m e n t o d e massa d u r a n t e a c a t á s t r o f e d e m a r ç o d e 1 9 7 4 e m
T u b a r ã o (SC). A s p a r t í c u l a s d o t a m a n h o a r e i a , g r â n u l o e seixos c o m
até cerca de 8 cm de d i â m e t r o f o r a m r e t r a b a l h a d o s e d e p o s i t a d o s bertura de vegetação aberta, facilitando a ação dos
e m f o r m a d e l e q u e a l u v i a l o u c o m o camada d e c o b e r t u r a are-
nosa s o b r e a p l a n í c i e de i n u n d a ç ã o (vide f i g u r a 8 - 4 3 ) . Estrada
agentes erosivos.
T u b a r ã o - G r a v a t a ! (SC).
Na porção superior dos depósitos dos canais
anastomosados ocorrem freqüentes lâminas ou ca-
média a grosseira e contêm grânulos e pequenos sei- madas síltico-argilosas, na maioria das vezes apre-
xos depositados num ambiente de canais anastomo- sentando-se contorcidas. As dobras recumbentes in-
sados pela migração das barras. As estratificações traformacionais são comuns em depósitos fluviais.
cruzadas dos tipos planar e acanalado são típicas do Elas resultam provavelmente de movimento de mas-
regime de fluxo inferior (figs. 8-54 a 8-59). sa de sedimentos, subitamente forçadas por um flu-
xo de água, ou por correntes mais densas das en-
Nem todos os rios meandrantes possuem barras chentes (figs. 8-60 e 8-61).
de meandro bem desenvolvidas. No piai no aluvial
do rio Iguaçu, nos meandros atuais não são encon- M c K e e , R e y n o l d s & B a k e r
tradas barras de meandro arenosas dotadas das es- (1962), baseados na forma dos estratos, mención:' .
truturas típicas referidas para outros cursos mean- quatro classes principais de estratos contorcidos: 1)
drantes. As condições de clima úmido com chuvas — estruturas altamente irregulares nas quais os es-
bem distribuídas durante o ano, bem como a presen- tratos aparecem amarrotados e retorcidos, antes do
ça de cobertura florestal, parecem ter reduzido o que dobrados; 2) — estratos regularmente dobrados
fornecimento de areia para ser transportado pelo rio, nos quais os planos axiais são horizontais ou fraca-
o qual tem seu curso em terrenos predominantemen- mente inclinados; 3) estratos dobrados com planos
te síltico-argilosos. Os sedimentos arenosos existen- axiais essencialmente verticais; e 4) — estratos que-
tes no plaino aluvial do rio Iguaçu, nas imediações brados numa série separada de acavalamentos e do-
de Curitiba, foram depositados sob condições am- bras espremidas aproximadamente paralelas. Os es-
bientais diversas das atuais, i.é. durante a vigência tratos altamente irregulares são designados por "es-
de clima semi-árido, com chuvas concentradas e co- tratos irregularmente contorcidos". Os estratos re-

- 120 -
F í g . 8-43 — A s p e c t o a n a s t o m o s a d o dos d e p ó s i -
tos dos leques aluviais o r i g i n a d o s na c a t á s t r o f e
d e T u b a r ã o , SC, e m m a r ç o d e 1 ° 7 4 . Longos
trechos de f u n d o de vale f o r a m soterrados p o r
uma cobertura arenosa, com vestígios de uma
drenagem anastomosada, contrastando com o pa-
d r ã o m e a n d r a n t e usual d a r e g i ã o .

gul ármente dobrados e deitados são referidos como meadas com areia. Da mesma forma, os estratos oon-
"dobras recumbentes intraformacionais". Os estratos volutos originaram-se por cargas verticais. As dife-
formando dobras com plano axial aproximadamente renças de estruturas dependem, até certo ponto, do
vertical são designados de "estratos convolutos". Pa- sedimento encontrar-se saturado com água ou seco.
ra a repetição de miniaturas de falhas de empurrão
e de dobras reviradas é dado o nome de "estrutu- Quatro são os principais processos responsáveis
ras de empurrão intraformacionais". pela formação de estratos contorcidos. 1) — escorre-
gamento por gravidade; 2) arraste por uma força
O tipo de estrutura contorcida resultante, de- sobrepassante; 3) — sobrecarga de cima ou lateral;
pende em grande parte da composição granulomé- e 4) — modificações por perfuração de organismo,
trtca do sedimento. As partículas de areia, silte e ar- crescimento de raízes ou bolhas de gás ascenden-
gila reagem diferentemente às ações de tensão e tes (McKee, R e y n o l d s & B a k e r ,
compressão ( M c K e e , R e y n o l d s & 1962).
B a k e r , 1962). De acordo com trabalhos expe-
r i men ta i s rea I izados po r estes a uto res, as dobr as Nos depósitos pleistocênicos de Uberaba, Curi-
recumbentes intraformacionais ocorrem apenas em tiba, a laminação cruzada produzida pelas micro-
sedimentos arenosos, ao passo que as estruturas de ondulações apresentam desenvolvimento limitado
empurrão intraformacionais foram melhor desenvol- quando comparado com o da estratificação cruzada
vidas quando as camadas de argila ocorriam entre- originada pelas macro-ondulações (fig. 8-62). Como

- 121 -
Rg. 8-46 — M i n i a t u r a de l e q u e s a l u v i a i s . A — coalescência de
vários leques; B — estrutura de u m leque aluvtai cortado paralela
• t r a n s v e r s a l m e n t e a o s e n t i d o d o f l u x o ( v i d e d e t a l h e s nas f i g u r a s
8-47 e 8 - 4 8 ) . M o r r o da J o a q u i n a , Ilha de Santa C a t a r i n a (SC),
(segundo B i g i r t l l i , 1974).

F i g . 8-44 — E s t r u t u r a d o s d e p ó s i t o s arenáceos d o s l e q u e s aluviais


formados durante a catástrofe d e março d e 1974, e m Tubarão.
A estratificação p l a n o paralela indica u m regime d e f l u x o superior.
Rodovia Tuberão-Gravatal (SC).

F t g . 8-47 — E s t r u t u r a d e u m a m i n i a t u r a d e l e q u e a l u v i a l ( v i d e f i g .
8-46). C o r t e p a r a l e l o a o s e n t i d o d o f l u x o . A s camadas i n c l i n a m
F i g . 8-45 — D e p ó s i t o s s í l t i c o - a r g i l o s o s f o r m a d o s d u r a n t e a i n u n - p a r a j u s a n t e . A s linhas escuras c o n t é m m a i o r p r o p o r ç ã o d e a r g i l a ,
d a ç ã o q u e a c o m p a n h o u a c a t á s t r o f e d e m a r ç o d e 1974 e m Tu- d e p o s i t a d a c o m o " n a t a " s o b r e cada u n i d a d e i n d i v i d u a l , e m v i r t u d e
b a r ã o , S C . E m a m p l a s áreas h o u v e d e p o s i ç ã o d e 3 0 a 6 0 c m d e d o s e f e i t o s da t e n s ã o s u p e r f i c i a l ( B i g a r e I I e , 1974).
l a m a . V a l e do T u b a r ã o , p r ó x i m o à p o n t e na BR-101 . M o r r o d a J o a q u i n a , Ilha d e Santa C a t e r i n a (SC).

- 122 -
• mm
i •

WBÊm •

• , •* „ ,<*
, s
..... • « i - " - ' ~ * "* ^-
•F ' y* ;
\. - - - "
- >«w'jrtàv-

•ÈmÈ
M i ¡üi

l i H p j

:
K • i •-

F i g . 8-48 — Estrutura d e u m a m i n i a t u r a d e l e q u e a l u v i a l n o s o p é d o M o r r o d a J o a q u i n a , Ilha d e Santa C a t a r i n a (SC). C o r t e p e r p e n d i c u l a r


a o s e n t i d o d o f l u x o ( v i d e f i g . 8 - 4 6 ) . A s camadas a p r e s e n t a m - s e o n d u l a d a s , a s vezes l e n t i c u l a r e s , o u c o m e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a . A s linhas
escuras argilosas r e p r e s e n t a m a " n a t a c o l o i d a l " f o r m a d a p e n e c o n t e m p o r a n e a m e n t e à d e p o s i ç ã o , e m v i r t u d e d o s f e n ô m e n o s l i g a d o s a t e n s ã o
superficial (segundo B i g a r e I I a , 1974).

seria de se esperar, as laminações cruzadas deriva- Os terraços de distribuição mais ampla situa-
das das micro-ondulações ocorrem mais freqüente- vam-se entre 3 e 3,5m acima do nível do rio em 9-IX-
mente na parte superior dos sedimentos arenosos e 1976 (fig. 8-63). Caracterizam-se pela riqueza de
muitas vezes associadas com as camadas contorcidas. estruturas sedimentares desenvolvidas pela alternân-
A laminação cruzada de pequeno tamanho tem sua cia de camadas arenosas e síltico-arenosas ou síltico-
gênese iigada aos depósitos de transbordamento. argilosas. As seqüências arenosas de estratos cruza-
dos originadas pela migração de macro-ondulações
b — Terraços do Rio São Francisco sugerem um regime de fluxo inferior, que contrasta
No presente item são descritos de forma sucin- com as camadas arenosas com estratificação plano-
ta os terraços do plaino aluvial do Rio São Francisco, pare lela desenvolvidas em regime de fluxo superior.
situados entre Xique-Xique e Iquira (BA), ora inun- As camadas síltico-arenosas ou síltico-argilosas foram
dados pelas águas da represa de Sobradinho. O es- depositadas nos plainos aluviais (bacias de inunda-
tudo foi realizado sob os auspícios da Academia Bra- ção) durante os períodos de enchentes pelo trans-
bordamento dos canais fluviais. Elas também podem
sileira de Ciências e Universidade Federal da Bahia
representar depósitos de canais abandonados.
( B i g a r e l l a & S i l v a , inédito). Nesta
área, ocorrem dois grupos de terraços com estrutu- Na figura 8-63 estão representadas alternâncias
ras características, as quais podem ser acompanha- de camadas arenosas e síltico-arenosas caracteriza-
das, às vezes por mais de uma centena de metros. das por estruturas primárias originadas em ambien-

- 123 -
tes fluviais. Estruturas de eorte e preenchimento, ver-
dadeiras inconformidades erosivas ou diastemas, se-
param os depósitos dos dois níveis principais de ter-
raços do f u n d o do vale.
Na f i g u r a 8-64 estão representados diversos
afloramentos e x p o n d o as estruturas dos terraços de
3 a 3,5 m. Nos vários cortes pode-se observar a al-
ternância entre as camadas arenosas e síltico-areno-
sas ou síltico-argilosas, bem como a presença de dias-
tema separando duas seqüências distintas (vide f i g .
8-64, letras B, C, D, F, G e H). O diastema representa
uma fase erosiva traduzindo variações no regime h i -
i
drológico. Quando o diastema separa os sedimentos
de dois níveis distintos de terraços ele constitui mais
propriamente uma inconformidade erosiva indicando
mudanças de condições climáticas q u e influem no re-
g i m e hidrológico, bem como no nível de base local.
Os sedimentos arenosos dos terraços do Rio São
Francisco apresentam grande variedade de estrutu-
ras sedimentares. Entre elas predominam as estrati-
ficações cruzadas do tipo planar (fig. 8-65, letra B).
Como estruturas primárias de menor p o r t e encon-
tram-se as laminações cruzadas ascendentes o r i g i -
nadas pela migração das micro-ondulações (fig. 8-65,
letras C & E). Fig. 8-49 — Estrutura de um leque aluvial em miniatura no
do Morro da Joaquina, Ilha de Santa Catarina (SC). A — corte
As areias fluviais expostas nos bancos emersos
perpendicular ao sentido do f l u x o ; B — corte paralelo ao sentido
durante as estiagens podem ser retrabaíhadas pelo do f l u x o ( s e g u n d o B i g a r e i I a , 1974).

Fig. 8-50 — Estruturas e x p o s t a s n u m corte d e uma miniatura de leque aluvial f o r m a d o no M o r r o da Joaquina, Ilha de Santa Catarina (SC).
Corte aberto paralelamente ao sentido do f l u x o . Camadas paralelas, contorcidas e estruturas de corte e preenchimento. As linhas escuras
representam enriquecimento com material coloidal (principalmente argila) concentrado p o r tensão superficial, durante a deposição, na super-
fície de cada seqüência de estratos (vide figura 8-51) (segundo B i g a r e 1 I a , 1974).

- 124 -
F i g . 8-51 — Estruturas e x p o s t a s n u m c o r t e p e r p e n d i c u l a r a o s e n t i d o d e f l u x o , a b e r t o n u m a m i n i a t u r a d e l e q u e a l u v i a l , f o r m a d o n o M o r r o
d a J o a q u i n a , Ilha d e Santa C a t a r i n a (SC). O c o r t e r e p r e s e n t a d o p e l a f o t o " B " é p e r p e n d i c u l a r a o c o r t e " D " i l u s t r a d o n a f i g u r a 8 - 5 0 . Ca-
madas c o n t o r c i d a s e e s t r u t u r a s d e escavação e p r e e n c h i m e n t o ( s e g u n d o Bi a a r e l i a , 1974).

F i g . 8-52 — E s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a d e s e n v o l v i d a p e l a m i g r a ç ã o das m a c r o - o n d u l a ç õ e s nos canais a n a s t o m o s a d o s p l e i s t o c ê n i c o s , d o p l a i n o


a l u v i a l éo r i o I g u a ç u , U b e r a b a , C u r i t i b a . C o r t e a p r o x i m a d a m e n t e p e r p e n d i c u l a r ao s e n t i d o do t r a n s p o r t e ( s e g u n d o 6 i g a r e I I a &
M o f l i n h o , 1965).

F i g . 8-53 — E s t r a t i f i c a ç ã o cruzada d e s e n v o l v i d a p e l a m i g r a ç ã o das m a c r o - o n d u l a ç õ e s nos canais a n a s t o m o s a d o s pleistocênicos d o plaino


aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, C u r i t i b a . Corte a p r o x i m a d a m e n t e paralelo ao s e n t i d o do f l u x o , da d i r e i t a para a esquerda (segundo B i -
g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).

- 125 -
vento e formar depósitos eólicos. Estes podem con- processos fluviais, porém em grande parte é conse-
sistir de pequenos escudos arenosos (ante-dunas) ou qüência do escoamento difuso superficial. Tratam-se
então formar dunas propriamente ditas. As ante-du- mais propriamente de depósitos de uma rampa alu-
nas são visíveis nos bancos emersos (fig. 8-65, le- vial, cujos sedimentos procedem de vertentes situa-
tra A). As dunas recobrem terraços fluviais da mar- das a montante.
gem esquerda do rio a oeste de Iquira. Estruturas
Sobre o embasamento constituído pelo Grupo
deformacionais são igualmente freqüentes. Estratos
Bambuí encontram-se seqüências alternadas de se-
frontais revirados, contorcidos e falhados foram en-
dimentos síltico-arenosos ou síltico-argilosos de as-
contrados sobrepostos a seqüências de laminações
pecto coluvial. Menos freqüentemente ocorrem ca-
cruzadas ascendentes e sotopostos a seqüência de
madas arenosas com horizontes de cascalho residual,
estratos frontais (fig. 8-66).
bem como depósitos de cascalho. Intercalados n~
c — Planície aluvial em Riachão (BA) camadas mais finas encontram-se níveis de paleosso-
los, alguns deles com horizonte orgânico.
A estrutura da planície aluvial situada a cerca
de 50 km ao norte de Barreiras (BA), na estrada pa- As camadas de cascalho com maior espessura
ra Formosa, encontra-se ilustrada na figura 8-67. O jazem em inconformidade erosiva sobre o Grupo
entalhe produzido por um curso de água efêmero Bambuí. Os fenoclastos são constituídos predomi-
expôs a estrutura local, a qual resulta em parte de nantemente de quartzito e de quartzo. O arredonda-

F i g . 8-54 — Estratificação cruzada d o t i p o p l a -


nar d e s e n v o l v i d a pela m i g r a ç ã o das m a c r o - o n d u -
laçoes, nos canais a n a s t o m o s a d o s pleistocênicos
do plaino aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, Curi-
tiba.

- 126 -
mento é apreciável. A granulação via de regra é englobados na massa. A seqüência de bancos repre-
grosseira podendo alguns fenoclastos atingir até 1 m senta sucessivos depósitos de inundação do plaino
de diâmetro. aluvial. Tratam-se de sedimentos formados sob con-
dições hidrográficas de fluido mais ou menos denso
d — Terraços do rio Gurguéia (PI) responsáveis peia agradação do vale até a altura do
terraço.
No vale do rio Gurguéia (PI), na estrada Floria-
no-Boa Esperança, encontram-se dois terraços situa- Terminada a deposição sobreveio uma fase ero-
dos respectivamente a 8-10 m e a 2-3 m acima do siva que dissecou os sedimentos representados pela
nível do rio (figs. 8-66 e 8-69). No conjunto sedi- letra " A " (fig. 8-68). A superfície de erosão (dias-
mentar distinguem-se cinco seqüências separadas por tema ou mesmo inconformidade erosiva) é referida
cinco inconformidades erosivas (fig. 8-68). por a. Novo episódio sedimentar preenche o plaino
A seqüência mais antiga, referida pela letra " A " aluvial até o nível atingido pela seqüência " A " . Tra-
(fig. 8-68), é constituída por sedimentos finos, are- tam-se de sedimentos de natureza análoga referidos
no-sílticos, pouco argilosos dispostos em bancos com pela letra " B " (fig. 8-68). Nova fase erosiva (dias-
10 a 30 cm de espessura, sem estratificação visível. tema p) separa os sedimentos " B " e " C " . O plaino
Localmente os sedimentos encontram-se endurecidos aluvial é novamente preenchido até a altura de " A " .
peia presença de óxidos hidratados de ferro. Nos se- A natureza do sedimento muda, aparecendo vários
dimentos são encontrados alguns seixos de arenito horizontes de paleossolos (horizonte orgânico). Uma

- • ;|PJ|

- 127 -
fase erosiva menos intensa origina o diastema repre- e — Plaino aluvial do rio Maurício (PR)
sentado por " y " (fig. 8-68). Sobre este ocorre uma
As estruturas e texturas dos depósitos de várzea
camada " D " de aspecto coluvial, porém de natureza
da parte plana do fundo do vale do rio Maurício fo-
aluvial.
ram estudadas por Bigarella & Mousi-
Uma época de dissecação removeu parte dos se- n h o (1965). A área em questão situa-se nas ime-
dimentos correspondentes ao terraço 8-10 m, apro- diações do km 30 da BR 116, entre Curitiba e Rio
fundando o vale e originando a inconformidade ero- Negro. O vale encontra-se circundado por terraços
siva referida por "S". Sobre esta foram depositados pré-cambrianos do complexo gnáissico-migmatítico
os sedimentos do terraço de inundação inferior (2-3 nos quais estão esculpidos os níveis escalonados cor-
m) representado pela letra "E" (fig. 8-68). Em " F " respondentes aos aplainamentos Pd,, P e Pi ( B i -
2

estão representados os depósitos de talude. A idade g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). N a pai-


sagem ocorrem dois níveis expressivos de rampas
absoluta de ambos terraços é ainda desconhecida,
colúvio-aluvionares dissecadas (fig. 8-70). A rampa
embora ambos sejam quaternários, o mais elevado
mais recente recobre os sedimentos de várzea e não
talvez de idade pleistocênica e o mais baixo holocê-
apresenta vestígios bem marcados de dissecação.
nica.
Esta última rampa colúvio aluvionar espalha-se em
A figura 8-69 ilustra mais alguns aspectos da forma de leque a partir de um pequeno vale seco
estrutura dos terraços do rio Gurguéia. (fig. 8-70).

Fig. 8-56 — Aspecto tridimensionaI da estratif i- yr^-: . :


^•mMi^S.,^^'' > .
cação cruzada nos d e p ó s i t o s pleistocênicos d e
canais a n a s t o m o s a d o s , U b e r a b a , C u r i t i b a ( p l a i n o
aluvial do rio Iguaçu). Vide detalhes na f i g u r a £*%
8-57. <
mm mmz

- 128 -
Na várzea do rio Maurício foram realizadas 47 caracteriza especialmente os depósitos dos lobos co-
perfurações com trado, equidistantes na maioria das lúvio-aluvionares sedimentados em rampas ( B i -
vezes de 50 m e menos freqüentemente de 100 m. g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). A s per-
As perfurações foram orientadas segundo três linhas centagens das frações cascalho, areia, silte e argila
(fig. 8-70). A profundidade dos furos ficou condicio- encontram-se ilustradas na figura 8-73. O comporta-
nada ao aparecimento da primeira camada de areia, mento lateral e vertical dos vários tipos de sedimen-
que impossibilitava a continuação da perfuração, por tos é altamente variável. Este aspecto da deposição
ocorrer desabamento, a qual atingiu no máximo cin- sob condições climáticas úmidas contrasta com a
co metros, (fig. 8-73). forma característica de sedimentação em lençol pró-
pria dos ambientes semi-áridos. Os lobos oolúvio-
Na várzea do rio Maurício predomina a argila- aluvionares recobrem os sedimentos das enchentes
síltica seguida de silte argiloso, areia-síltico-argilosa, ou dos canais, bem como interdigitam-se com os
areia e arei^ síltica (vide f i g . 8-71). Nas seções re- mesmos. Os depósitos arenosos acompanham o ca-
presentadas na figura 8-72 os sedimentos foram gru- nal do rio meandrante no preenchimento do plaino
lhados resumidamente em quatro tipos: argilosos, aluvial ou na sua dissecação, dispondo-se vertical-
sílticos, arenosos e areno-síltioargilosos. Os dois pri- mente em zig-zag. Os sedimentos argilosos, via de
meiros referen,-se principalmente a depósitos de en- regra, foram depositados nas bacias de inundação
chentes, o terce ro aos canais meandrantes e o último (fig. 8-72).

F i g . 8-57 — D e t a l h e d a f i g u r a 8 - 5 6 . Estratificação c r u z a d a d e s e n v o l v i d a pela m i g r a ç ã o das barras no ambiente de


canais anastomosados p l e i s t o c ê n í c o s . Plaino a l u v i a l d o r i o I g u a ç u , U b e r a b a , C u r i t i b a .

- 129 -
F i g . 8-58 — " B o l o t a s " de a r g i l a presentes na
e s t r a t i f i c a ç ã o cruzada d o s d e p ó s i t o s pleistocêni-
cos e n c o n t r a d o s n o p l a i n o aluvial d o rio I g u a ç u ,
U b e r a b a , C u r i t i b a . A m b i e n t e d e canais anasto-
mosados .

- 130 -
Fig. 8-59 — Parte superior dos depósitos das barras em canais anastomosados passando a depósitos de transbor-
damento. Aspecto tridimensional das camadas contorcidas representadas em detalhe nas fotos inferiores. Sedi-
mentos pleistocenicos. Plaino aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, Curitiba.

- 131 -
F i g . 8-60 — S e d i m e n t o s p l e i s t o c ê n i c o s d o p l a i -
no aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, Curitiba.
A m b i e n t e f l u v i a l d e canais a n a s t o m o s a d o s . A
f o t o i n f e r i o r , c o m estratos arenosos c o n t o r c i -
d o s , i n d i c a a p a r t e s u p e r i o r d e u m ciclo d a
deposição em canal. A f o t o superior, representa
depósitos de transbordamento constituídos pela
a l t e r n â n c i a d e estratos d e a r e i a f i n a e d e s e d i -
mentos síltico-argilosos. Nesta f o t o destaca-se
uma d o b r a d e e m p u r r ã o , j u n t a m e n t e c o m u m a
f a l h a , p r o d u z i d a p o r esforços p r o c e d e n t e s d a
direita, penecontemporâneos à deposição.

- 132 -
WÈÊÈÈÈÈÈ
F i g , 8-61 — S e d i m e n t o s p l e i s t o c ê n i c o s d o f u n d o
de vale do rio Iguaçu, Uberaba, C u r i t i b a . Na
f o t o i n f e r i o r a p a r t e basal é c o n s t i t u í d a p o r se-
d i m e n t o s arenosos c o m e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a , de-
f o r m a d o s j u n t a m e n t e c o m a camada s o b r e j a c e n -
t e c o n s t i t u í d a p o r a l t e r n â n c i a d e camadas are-
nosas e s í l t i c o - a r g i l o s a s a l t a m e n t e c o n t o r c i d a s .
A camada basal r e p r e s e n t a s e d i m e n t o s de ca-
nais a n a s t o m o s a d o s , e n q u a n t o q u e a s u p e r i o r re-
fere-se a d e p ó s i t o s de t r a n s b o r d a m e n t o . A f o t o
s u p e r i o r m o s t r a a a l t e r n â n c i a de estratos de
areia f i n a e d e s e d i m e n t o s s í l t i c o a r g i l o s o s o n d e
salienta-se a presença de e s t r u t u r a s de carga no
c o n j u n t o das f o r m a s c o n t o r c i d a s .

F i g . 8-62 — Caracterização t r i d i m e n s i o n a l da a t i t u d e d o s estratos


cruzados nos d e p ó s i t o s d e a n t i g o s canais a n a s t o m o s a d o s d e i d a d e
pleistocênica superior, encontrados no plaino aluvial do Iguaçu, em
Uberaba, C u r i t i b a . N o bloco-diagrama d o canto esquerdo inferior
o c o r r e m i c r o - l a m i n a ç ã o cruzada o r i g i n a d a pelas m i c r o - o n d u l a ç õ e s ,
b e m c o m o estratos arenosos c o n t o r c i d o s ( m o d i f i c a d o de B i g a -
r e l i a & M o u s i n h o , 1965).

- 133 -
3,55/rt 3.75**

F i g . 8-63 — Terraço» d o rio São Francisco entre Xíque-XIque e Iquíra (BA). Estrutura» sedimentares desenvorvkSu
pela a l t e r n â n c i a de camadas arenosas e síltico-arenosas ou s í l t i c o - e r g i l o s a s . A e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a s u g e r e um re-
g i m e de f l u x o i n f e r i o r , e n q u a n t o que a estratificação p l a n o paralela indica um regime de f l u x o superior na depo-
sição das areias. A s camadas síltíco-argilosas f o r a m d e p o s i t a d a s e m bacias d e i n u n d a ç ã o . A m b i e n t e f l u v i a l anasto-
mosado-,

- 134 -
:
¿freía <?¿/feargi/oeo golúóio-atáàfò fftrfoatua/ftorèÀ) I • • • •'• '' ••- ' '——^i:-:—_—; •: •,'•'•1

R g . 8-64 — Estrutura» dos t e r r a ç o s de 3 a 3,5 m e x p o s t a s no r i o São Francisco e n t r e X í q ú e - X i q u e e I q u i r a ( B A ) e d e -


s e n v o l v i d a s e m s i s t e m a f l u v i a l e n a s t o m o s a d o . Nas v á r i a s ilustrações nota-se a a l t e r n â n c i a e n t r e camadas arenosas
e síltico-arenosas o u s í l t i c o a r g i l o s a s b e m c o m o a s i n c o n f o r m i d a d e s erosivas s e p a r a n d o s e q ü ê n c i a s d i s t i n t a s .

- 135 -
F i g . 8-65 — Estruturas s e d i m e n t a r e s d e s e n v o l v i d a s em canais a n a s t o m o s a d o s do r i o São Francisco e n t r e X i q u e - X i q u e e I q u i r a Í B A ) . A —
d e c o r a ç ã o e ó l i c a s o b r e b a n c o e m e r s o d e a r e i a . O s estratos c r u z a d o s f o r a m d e p o s i t a d o s pela ação dos v e n t o s e c o r r e s p o n d e m a f o r m a s d o
t i p o a n t e - d u n a ; B — estratos c o n t o r c i d o s , e s t r a t i f i c a ç ã o cruzada do t i p o p l a n a r e h o r i z o n t e r e s i d u a l de s e i x o s ; C & € — m i c r o - l a m i n a ç ã o
cruzada ascendente o r i g i n a d a p e l a m i g r a ç ã o das m i c r o - o n d u l a ç õ e s ; D — m i c r o - e s t r a t i f i c a ç ã o cruzada em f o r m a de " e s c a l o p e " .

- 136 -
Hgs, 8-67 e 8-67a — Estrutura da planície aluvial de Riachão n o k m 50 da estrada Barreiras-Formosa (BA). A maior parte da se-
q ü ê n c i a deve-se a o e s c o a m e n t o d i f u s o s u p e r f i c i a l , o u t r a p a r t e r e p r e s e n t a areias e cascalhos f l u v i a i s . N o s c o r t e s são e n c o n t r a d o s n í -
reis d e p a l e o s s o l o s c o m h o r i z o n t e o r g e n k o . Errata: n o d e s e n h o d o c a n t o d i r e i t o s u p e r i o r , o n d e está e s c r i t o " s i l i t o " leia-se " s f l t i c o " .

ô~/0m

H g . 8-68 — E s t r u t u r a d a p l a n í c i e aluvial» d o v a l e d o r i o G u r g u c i a n a e s t r a d a Floriarvo-Boa Esperança t P U . N o c o n j u n t o e s t i o ilustrad


cinco seqüências s e d i m e n t a r e s separadas p o r i n c o n f o r m i d a d e s e r o s i v a s ( v i d e m a i o r e s d e t a l h e s n o t e x t o e n a f i g . 8-69).

- 138 -
F i g . 8-69 — Terraços do rio G u r g u e i a na estrada Floriano-Boa E s p e r a n ç a ( P l ) . A — a s p e c t o g e r a l da m a r g e m côncava do r i o , o n d e se
nota a presença d e e s t r a t i f i c a ç ã o e i n c o n f o r m i d a d e erosiva s e p a r a n d o o s s e d i m e n t o s d o t e r r a ç o d e 8-10 m d a q u e l e s d o t e r r a ç o d e
2 a 3 m; B — d e t a l h e do a s p e c t o r e f e r i d o em A. No l a d o e s q u e r d o , acima d o s s e d i m e n t o s arenosos e n c o n t r a m - s e bancos de se-
d i m e n t o s de aspecto c o l u v i a l . As camadas arenosas a d i r e i t a e s t ã o b e m e s t r a t i f i c a d a s e a p r e s e n t a m i g u a l m e n t e e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a ;
C — seqüências d e s e d i m e n t o s f i n o s a r e n o s í l t i c o s c o m e s t r a t i f i c a ç ã o p o u c o v i s í v e l o u i n c i p i e n t e . N a p o r ç ã o s u p e r i o r o c o r r e u m a
camada arenosa sem e s t r a t i f i c a ç ã o v i s í v e l ; D — i n c o n f o r m i d a d e e r o s i v a s e p a r a n d o camadas laterizadas ( r e p r e s e n t a d a s p o r s í m b o l o
d e n d r í t i c o ) de camadas a r e n o - s í l t i c a s . A b a i x o das camadas l a t e r i z a d a s o c o r r e m s e d i m e n t o s arenosos c o m e s t r a t i f i c a ç ã o i n c i p i e n t e ; E —
seqüências d e camadas areno-sílticas c o m a l g u m a s e s t r u t u r a s c o n t o r c i d a s recobertas p o r camadas arenosas.

- 139 -
f — Terraços do vale do rio Ribeira (SP)

Nos terraços T p d , , T p e Tp,, correspondentes ao


2

pediplano Pd] e aos pedimentos P2 « P são encon-


x

trados sedimentos fluviais da Formação Pariquera-


Açu (Bigarella & Mousinho, 1965).

A figura 8-74 ilustra o terraço Tp2, cuja estru-


tura acha-se exposta num corte da BR-116 a 2,7 km
de Jacupiranga em direção a Registro. O terraço si-
tua-se a cerca de 20 m acima do nível da várzea.

As figuras 8-75 e 8-76 referem-se a terraços


Tpdi. Suas estruturas acham-se expostas nos cortes
da BR-116, respectivamente a 0,9 e 1,2 km de Ja-
cupiranga rumo a Curitiba.

G — Terraços do vale do rio Itajaí-Mírím (SC)

O vale do Itajaí-Mirim representa talvez o me-


lhor exemplo da distribuição de uma seqüência es-
calonada de terraços com cascalheiros (fig. 8-77). O
conjunto dos depósitos destes terraços constitui a
Formação Itaipava (Bigarella & Becker,
1975; Becker, 1976).

No vale do Itajaí-Mirim existe uma correlação


nítida entre os remanescentes do pediplano Pdi e dos
F i g . 8-70 — Localização das l i n h a s de p e r f u r a ç õ e s e de c o l e t a de pedimentos P e P, com os níveis de terraços corres-
2

amostras n o p l a i n o aluvial d o r i o M a u r í c i o , k m 3 0 d a r o d o v i a
BR 116, t r e c h o C u r i t i b a - f ò i o N e g r o . No m a p a estão i n d i c a d o s os
pondentes às antigas calhas de drenagem. Os re-
v á r i o s n í v e i s de e r o s ã o e de s e d i m e n t a ç ã o ( s e g u n d o B i g a r e I - manescentes do nível de terraço Tpdi encontram-se
la & M o u s i n h o , 1965).
próximos às margens da bacia, como por exemplo
nos topos das elevações na cidade de Brusque. Neste
local o Tpdi é mantido por depósitos de cascalho
constituídos de seixos arredondados a subarredonda-
dos indicativos de apreciável transporte. Os seixos
foram arredondados por sucessivos retrabalhamentos
a partir de níveis de terraços correspondentes a épo-
cas de pedimentação mais antigas.

Embutidos no nível do Pd ocorrem dois níveis


x

de pedimentação com os correspondentes terraços de


cascalho Tp e f p i - Embutidos no Pi existem dois ní-
2

veis-de terraços com cascalho T02 e T c i . As estrutu-


ras dos terraços do vale do Itajaí-Mirim encontram-se
ilustradas nas figuras 6-11 a 6-16, 8-Z8 e 8-79.

Fig. 8-71 — Diagrama triangular representativo da composição gra-


n u l ó m e t r i c a dos s e d i m e n t o s f l u v i a i s d o p l a i n o a l u v i a l d o r i o M a u -
r í c i o r e f e r i d o n a f i g u r a 8-70 ( s e g u n d o B i g a r e l l a & M o u -
s i p h o , 1965).

- 140 -
1 1 1 1—

£¡¿3 Areio e sedimentos arenosos.


Sand and sandy sediments.
Sedimentos argilosos.
h-2
Clayey sediment
E§ Sedimentos sifticos.
Siltic sediment,
33 Sedimentos areno-siffico-argilosos.
5Q™ Sand-silt-clayey sediments.

Fig. 8-72 — Perfis de variação textural referentes aos sedimentos fluviais do plaino aluvial do rio Maurício (vide f i g . 8-70). Quatro tipos fundamen-
tais de sedimentos acham-se referidos apresentando grande variação quer vertical, quer horizontal. Os sedimentos arenosíltico-argilosos correspondem
principalmente aos lobos colúvio-aluvionares. Os sedimentos arenosos correspondem a deposição nos canais meandrantes, enquanto que os sedimen-
tos sílticos e o s argilosos referem-se a deposição durante a s enchentes (segundo B í g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).

Fíg. 8-73 — Diagrama retangular de composição granulométrica ilus-


trando variações textura is ao longo de algumas perfurações realizadas
no plaino aluvial do rio Maurício referentes aos sedimentos de canais
meandrantes (modificado d e B í g a r e l l a & M o u s i n h o ,
1965).
- 141
Fig. 8-74 — Terraço Tp , 2 expondo sedimentos da Formação Pariquera-Açu. M M 16, 2,7 km de Jacupiranga rumo a Re-
gistro, t — filito alterado; II — superfície de erosão irregular; III — d e p ó s i t o He cascalho em canal; IV — cascalheiro f o r m a d o
por seixos de q u a r t z o e q u a r t z i t o s u b a r r e d o n d a d o s de t a m a n h o entre 5 e 8 cm. Depósito de terraço contemporâneo à elabo-
ração do pedimento P ; 2 V — superfície de erosão pre-deposição da camada VI. Concentração local de seixos; VI — sedi-
mento síltico-areno-argiloso (am. 106) de coloração cinza m o s q u e a d a , sem estratificação e c o m seixos esparsos. Na parte mé-
dia encontra-se uma linha de seixos; VII — superfície de erosão; VIII — depósito de cascalho relativo a terraço fluvial indi-
cando um encaixãmento do v a l e ; IX — superfície de erosão dissecando o terraço VIII e a camada VI; X — preenchimento
do canal até o n í v e l do t e r r a ç o V I I I . ' S e q ü ê n c i a de s e d i m e n t o s síltico-arenosos, cascalho e silre-argiloso (am. 107) de colora-
ção cinza m o s q u e a d a , sem estratificação, rica em seixos e grâ-nulos de quartzo com arredondamento variado. O conjunto é
recoberto por uma linha de seixos retrabalhados a partir dos níveis de terraço IV e V I I I ; XI — linha de seixos e superfície
pré-deposição das seqüências colúvio-aluvionares; XII a XV — seqüências colúvio-aluvionares de coloração castanho amarela-
d a , separadas p o r linhas d s seixos ( s e g u n d o B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). A s f i g u r a s 8 - 7 4 (B) e 8 - 7 4 (C)
referem-se a terraços T p d , . Suas estruturas acham-se expostas respectivamente nos cortes da BR-116 a 0,9 e 1,2 k m de Ja-
cupiranga rumo a Curitiba.

Fig. 8-75 — Terraço T p d , e x p o n d o sedimentos da Formação Pariquera-Açu, BR-116, 0,9 km de Jacupiranga ru-
mo a Curitiba. A secção corresponde a dois n í v e i s de cascalhemos referentes ao e p i s ó d i o T p d ! . I — filito
decomposto; II — superfície de erosão pré-deposição dos sedimentos rudáceos elaborados d u r a n t e o processo de
pediplanação do Pd,; l!l — depósito de cascalho constituído por seixos de quartzo e quartzito subarredonda-
dos de dimensões dominantemente entre 5 e 8 cm. Estratificação incipiente com finos leitos arenosos inter-
calados; IV — s u p e r f í c i e de e r o s ã o c o r t a n d o os f i l i t o s e depósitos de cascalho 111; V — depósito de cascalho
com seixos de q u a r t z o e q u a r t z i t o subarredondados normalmente de 5 a 8 cm. Estratificação incipiente, com
finos leitos arenosos intercalados; VI — superfície de agradação do cascalheiro V; VII — camada de casca-
lho depositada nos flancos do cascalheiro 111 e sobre parte do cascalheiro V; VIM — colúvio rosado claro; IX
colúvio avermelhado; X — paleopavimento rudáceo; XI — depósito colúvio-aluvionar castanho claro amarelado
(segundo B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).

Fig. 8-76 — Terraço Tpd,, expondo sedimentos da Formação Pariquera-Açu. Bft-116, 1,2 km de Jacupiranga rumo a Curitiba.
I — filito d e c o m p o s t o ; II — superfície irregular pré-deposição dos cascalhos f o r m a d o r e s do t e r r a ç o c o r r e l a c i o n á v e l ao p e d i p l a n o Pd,;
III — a l t e r n â n : i a de camadas rudáceas com arenáceas p r e e n c h e n d o as depressões do terreno da época da superfície I I ; IV — superfície
de agradação contemporânea do Pd,; V — depósito colúvio-aluvionar castanho amarelado (baseado em B i g a r e l l a &
M o u s i n h o , 1965).

- 142 -
H — Depósitos fluviais do Grupo Barreiras

O Grupo Barreiras foi subdividido em duas for-


mações: Guararapes e Riacho Morno ( B i g a r e l -
la & A n d r a d e , 1964), separadas por acen-
tuada inconformidade erosiva. A primeira delas, de
idade miocênica superior a pliocênica inferior, foi
correlacionada com a fase de elaboração do aplaina-
mento do Pd ultimado no Plioceno Inferior ( B i -
2

F i g . 8-77 — SucessSo d e terraços n o V a l e d o I t a j a î - M i r i m , e n t r e


g a r e l l a & A n d r a d e , 1964; B i g a -
Brusque e Itajaî (SC). O c o n j u n t o s e d i m e n t a r f a z p a r t e da Forma- r e l l a & A b ' S á b e r , 1964). A segunda
çâo Itaipava ( s e g u n d o B e c k e r , 1976). caracterizou-se por seqüências de sedimentos pleis-
tocênicos depositados durante os aplainamentos do
Pdi e dos pedimentos P e P,, 2
XI I V VI I

_ J J LU JkA Os sedimentos da Formação Guararapes foram


depositados em grande parte pela ação de fluxos de
alta densidade como corridas de lama ou de areia.
Este fato explica o pequeno grau de seleção do se-
dimento e a distribuição esparsa e caótica de seixos
e grânulos de quartzo e feldspato através da forma-
F i g . 8-76 — Terraço T p , p e r t e n c e n t e à Formação I t a i p a v a . Rodo-
via Brusque-Gaspar km 2 , 5 . 1 — f i l i t o s d e c o m p o s t o s ( a m . 81); ção. As corridas de lama alternam-se com as de areia.
II — i n c o n f o r m i d a d e e r o s i v a ; III — cascalheiro c o m seixos de Os depósitos apresentam geralmente forma tabular.
q u a r t z o angulosos a s u b a r r e d o n d a d o s ; IV — p a l e o p a v i m e n t o de
As corridas de lama e areia ocorreram sob condições
seixos de q u a r t z o a n g u l o s o s a s u b a r r e d o n d a d o s j a z e n d o s o b r e
uma s u p e r f í c i e de erosão i r r e g u l a r ( i n c o n f o r m i d a d e e r o s i v a ) ; V —
d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r arenáceo d e coloração v e r m e l h a mos-
q u e a d a ( a m . 77); V I — p a l e o p a v i m e n t o com seixos d e q u a r t z o
angulosos a subarredondados; V I I — d e p ó s i t o colúvio-aluvionar
castanho a v e r m e l h a d o , síltico^arenoso, c o n t e n d o seixos esparsos;
V I I I — linha de seixos p o u c o espessa e d e s c o n t í n u a ; IX — d e p ó -
sito c o l ú v i o - a l u v i o n a r castanho a v e r m e l h a d o e m i n c o n f o r m i d a d e so-
bre os f i l i t o s ; X — d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r castanho a v e r m e l h a -
d o e m i n c o n f o r m i d a d e sobre o s f i l i t o s ( a m . 8 2 ) ; — X I d e p ó s i t o
c o l ú v i o - a l u v i o n a r castanho a v e r m e l h a d o ( a m . 83) s e p a r a d o d o de-
p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r X p o r uma linha de seixos p o u c o espessa;
X I I — d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r castanho a v e r m e l h a d o , síltico-are-
noso c o m p e q u e n o s s e i x o s ; XIII — p a l e o p a v i m e n t o p o u c o espesso
e d e s c o n t í n u o com p e q u e n o s s e i x o s ; X I V - - d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o -
nar c a s t a n h o c o n t e n d o p e q u e n o s g r â n u l o s d e q u a r t z o ( a m . 8 0 e
a m . 84) ( s e g u n d o M o u s i n h o & B i g a r e l l a 1965).

• ArgUa (Clay) E3 Areia (Sand) U Cascalho (Pebble)

©
F i g . 8-79 — Estrutura d e u m b a i x o t e r r a ç o d e cascalheiro T c 2
11
w
cs Os* O
J o

O
^

p O
u

s i t u a d o a 3,7 km de B r u s q u e na estrada para G a s p a r ( s e g u n d o


M o u s i n h o & B i g a r e l l a , 1 9 6 5 ) . I — cascalheiro X ±-rrj-rr—T———
de q u a r t z o s u b a n g u l o s o a s u b a r r e d o n d a d o com seixos de a t é 15 cm
de d i â m e t r o ;ll — depósito colúvio-aluvionar castanho-avermelhado
sem m a t e r i a l g r o s s e i r o ( a m . 85); III — p a l e o p a v i m e n t o de q u a r t z o
s u b a r r e d o n d a d o , em geral c o n s t i t u í d o de seixos de 3 a 7 cm de
d i â m e t r o , as vezes até de 15 c m ; IV — d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r
castanho c o m g r â n u l o s e p e q u e n o s seixos de q u a r t z o ; V — l i n h a de
seixos d e s c o n t í n u a , f o r m a d a de fenoclastos s u b a r r e d o n d a d o s a

1
1i
subangulosos; VI — depósito colúvio-aluvionar contendo grânulos
e p e q u e n o s seixos de q u a r t z o ( a m . 8 6 ) ; V I I — p a l e o p a v i m e n t o
d e t r í t i c o f o r m a d o p o r g r â n u l o s e p e q u e n o s seixos d e q u a r t z o d e F i g . 8-80 — Estruturas s e d i m e n t a r e s dos d e p ó s i t o s f l u v i a i s da For-
até 1 c m ; V I I I — d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r castanho com g r â n u l o s mação Guararapes e m S a t u b a , A l a g o a s f s e g u n d o B i g a r e l l a ,
e p e q u e n o s seixos d e q u a r t z o ( a m . 8 7 ) . 1975).

- 143 -
CABO BRANCO - PARAÍBA

F i g . 8-81 — A f l o r a m e n t o do G r u p o Barre i rae em C a b o B r a n c o , J o i o Pessoa (PBJ. A seqüência i n f e r i o r representa a Formação G u a r a r a -


p e s , a q u a l é c o n s t i t u í d a d o m i n a n t e m e n t e de s e d i m e n t o s arenosos c o m e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a a l t e r n a n d o c o m d e p ó s i t o s s í l t i c o - a r g i l o s o s .
Esta seqüência p o s s i v e l m e n t e f o i d e p o s i t a d a em curso de águ& a n a s t o m o s a d o . O rosa-diagrama assinala o s e n t i d o de i n c l i n a ç ã o dos e s t r a -
t o s c r u z a d o s . A seqüência s u p e r i o r de s e d i m e n t o s e s b r a n q u i ç a d o s , c o n s t i t u i a Formação Riacho M o r n o , a q u a l ¡az s o b r e a G u a r a r a p e s em
i n c o n f o r m i d a d e erosiva ( s e g u n d o B i g a r e I I a , 1 9 7 5 ) .

F i g . 8-82 — A f l o r a m e n t o d e s e d i m e n t o s d a Formação G u a r a r a p e s e x p o s t a n u m c o r t e d a BR-101 p r ó x i m o a o r i o Traírí, a o sul


d e São José d o M + p i m b ô ( R N ) . A m a i o r p a r t e d o a f l o r a m e n t o consiste d e s e d i m e n t o s arenosos c o m estratificação cruzada
d e p o s i t a d o s em canais a n a s t o m o s a d o s . Para marores detalhas v i d e f i g u r a 8 8 3 ( s e g u n d o B i g a r e I I a , 1975).

semi-áridas em ambiente desértico de topografia pla- Em vários afloramentos associados aos sedimen-
na suavemente inclinada similar ao das grandes ba- tos de canais anastomosados, existem evidências de
jadas. um ou mais níveis de paleossoios. Nos sedimentos
Nas áreas de drenagem onde as correntes não arenosos são encontradas estruturas características de-
estavam tão carregadas de sedimentos a estratifica- senvolvidas pelo crescimento de raízes (fig. 8-83, nú-
ção é visível e os depósitos arenáceos apresentam meros 5 e 8).
estratificação cruzada. O sistema fluvial neste caso
apresentava-se anastomosado. As camadas com abun- As estruturas dos sedimentos da Formação Ria-
dantes estratos cruzados de porte médio a grande cho AAôrno são complexas. Na seqüência sedimentar
caracterizam os principais sistemas de drenagem da desta formação são reconhecidos pelo menos três
época Guararapes. Eles encontram-se localizados na membros separados por inconformidades erosivas.
altura de Salvador (proto rio Paraguaçu), de Aracaju As unidades mais características são aquelas liga-
e São Miguel dos Campos (proto rio São Francisco), das aos processos de formação do Pdi, P2 e Pi dos
de São José da Mipibu (proto rio Potengi), entre ou quais resultou a elaboração dos terraços Tpdi, Tp2 e
tros (figs. 8-80 a 8-83).
Tp,.
As camadas de cascalho ocorrem como depósi-
A formação Riacho Morno inclui depósitos de
tos residuais intraformacionais em forma de lençol.
Sedimentos de granulação mais fina, síltico-argilosos, corridas de lama e areia bem como depósitos de ca-
as vezes apresentam estratificação paralela. Trata-se lha de drenagem com estratificação cruzada desen-
de deposição em pequenos corpos de água na planí- volvida em sistema fluvial anastomosado, além de
cie de inundação. depósitos residuais de cascalho (figs. 8-84 a 8-87).
ESii ^ 7 ****** •™<»*x com «fr.rificçío c r u a d . prtaooM,», 1 F o m » ç » o G u . i . n p M aflorando na » 1 0 1 p r t x l m o « o rio T « l r i
ü - '' , *
d a9 amaS #

zados sao d e g r a n d e
8
u
m O S t
« t u b H b m » d e v o l v i d a , pelo cretómento dTraízes. AlguTas
r a m
" t r u t u r
d T eTtrJL ^
tamanho, e n q u a n t o q u e outras s ã o d e porte menor. A l g u m a s seqüências possuem g r a r m l a ^ T n á J M £ £ £ !^
outras q u e contém seixos d e q u a r t z o ( s e g u n d o B i g a r e I I a , 1975). H m granuiaçao tina contrastando c o m

- 145 -
R g . 8-84 — A ) E s t r u t u r a d o p e d i p l a n o P d e m I t a g i m i r i m (BA) c o n s t i t u í d a p o r d e p ó s i t o s i r r e g u l a r e s d e cascalho r e s i d u a l j a z e n d o s o b r e
t

m i g m a t i t o s a l t e r a d o s . A c a m a d a d e seixos é c o m p o s t a p r e d o m i n a n t e m e n t e d e f e n o c l a s t o s d e q u a r t z o . B ) O u t r o a s p e c t o d a e s t r u t u r a d o
P d , a o l o n g o d a BR-101 nas p r o x i m i d a d e s d e I t a g i m i r i m . C ) C a m a d a d e cascalho c o r t a d a p o r f a l h a . O cascalho está e n g l o b a d o e m s e d i m e r
tos c o m a s p e c t o c o l u v i a l . A f a l h a t a l v e z r e p r e s e n t e uma l i g e i r a r e a t i v a ç ã o d e u m a l i n h a t e c t ó n i c a . B R - 1 0 1 , 5 4 k m a o sul d a j u n ç ã o c o m a
r o d o v i a Feira d e Santana-Salvador { B A ) . D ) Terraço d e cascalho T p d c o r r e s p o n d e n t e a o p e d i p l a n o P d , . O cascalho jaz s o b r e rochas a l t e r a -
1

das d o e m b a s a m e n t o p r é - C a m b r i a n o . Este n í v e l f o i d i s s e c a d o e s u b s e q ü e n t e m e n t e p r e e n c h i d o c o m m a t e r i a l c o J ú v i o - a J u v i o n a r , o q u a l jaz


s o b r e u m p a l e o - p a v i m e n t o r u d á c e o . D e n t r o d o d e p ó s i t o c o l ú v i o - a t u v i o n a r são e n c o n t r a d a s linhas d e s e i x o s d e s c o n t í n u a s . R e g i ã o d e I t a g i m i -
rim, B A (segundo B i g a r d í a , 1975).

m
¿ 3 4 Om / ¿

F I g . 8-85 — E s t r u t u r a d o s d e p ó s i t o s f l u v i a i s d e canais a n a s t o m o -
sados d a F o r m a ç ã o Riacho M o r n o , v i s í v e i s e m c o r t e s d e t e r r a -
ç o s . A & B — r o d o v i a A r a c a j ú - S a l v a d o r 8,7 km a p ó s o p o s t o
f i s c a l ; C — estrada L a r a n j e i r a s - R i a c h u e l o , km 7. 1 — d e p ó s i t o s
argiio-síltico-arenosos, mosqueados, aparentemente sem estrutura;
2 — d i a s t e m a ; 3 — p r e e n c h i m e n t o de areia e c a s c a l h o . A a t i t u d e
dos estratos c r u z a d o s está i l u s t r a d a n o r o s a - d i a g r a m a a o l a d o
[segundo B i g a r e I I a , 1975).

- 146 -
F i g . 8-86 - Estrutura d o p e d i p l a n o P d , , n a r o d o v i a BR-101 (58 k m a o N de Macaxeira, Recife, Pernambuco) e x p o n d o depósitos fluviais Os
1 6 0 5 C O n S t t U e m p a r t e d a F o r m a ã o R i a c h o M ô r n o
WS) "* ' S c o m p o s t a d e cascalho, areia e m a t e r i a l s í l t i c o - a r g i l o s o ( s e g u n d o B i g a r e I I a

- 147 -
F t g . 8-87 — E s t r u t u r a d o a d e p ó s i t o s d a F o r m a ç ã o R i a c h o M o r n o s i t u a d o s e m i n c o n f o r m i d a d e e r o s i v a s o b r e a F o r m a ç ã o M e c a i b a , a o l o n g o
da r o d o v i a N a t a l - M o s s o r ó (RN) e n t r e os km 14 e 16 a p a r t i r da j u n ç ã o c o m a r o d o v i a do a e r o p o r t o . As s e q ü ê n c i a s de cascalho e areia
f o r a m d e p o s i t a d a s em a m b i e n t e f l u v i a l t o r r e n c i a l possivelmente anastomosado (segundo B i g a r e II a , 1975).

I — Arenitos fluviais pré-Cenozóicos tratos cruzados. Estruturas fluviais típicas são encon-
tradas na Formação Rio Bonito, as quais foram utili-
As ocorrências de arenitos fluviais pré^Cenozói-
zadas para determinação do padrão de paleocorren-
cos não têm merecido grande destaque na litera-
tes fluviais ( B i g a r e l l a & S a l a m u n i ,
tura geológica brasileira. Eles ocorrem em diversas
1967; B i g a r e l l a , 1972).
formações. Características são as estruturas da For-
mação Guaritas do Rio Grande do Sul, na qual ca- O aspecto geral da sedimentação da Formação
madas de cascalho alternam-se com arenitos com es- Rio do Rasto sugere deposição predominantemente
tratificação cruzada sedimentadas provavelmente em em planícies de inundação, onde são freqüentes as
canais anastomosados. estruturas de corte e preenchimento. A estratificação
O Subgrupo Itararé contém seqüências de areni- cruzada é do tipo acanalado de tamanho médio a
tos flúvio-glaciais depositados em ambiente perigla- grande (figs. 8-88 e 8-89). Na parte superior da se-
cial .Estes arenitos formam bancos maciços nos quais qüência da Formação Santa Maria foi reconhecido o
é relativamente pouco freqüente a presença de es- ambiente fluvial, possivelmente de canais anastomo-

- ¡48 -
Fig., 8-88 — Estrutura d o s arenitos d a Formação Rio d o Rasto c o n s i d e r a d o s de origem fluvial. Os arenitos estão intercalados em siltitos.
O s estratos cruzados são d o t i p o a c a n a l a d o e m e n o s f r e q ü e n t e m e n t e p l a n a r . A f l o r a m e n t o s na r o d o v i a São M a t e u s d o Sul — União da V i -
tória, Paraná (segundo B i g a r e l l a & S a l a m u n i , 1967).

F i g . 8-89 — Estruturas dos a r e n i t o s d a Formação Rio d o Rasto c o n s i d e r a d o s d e o r i g e m f l u v i a l . O s a r e n i t o s estão i n t e r c a l a d o s e m s i l t i t o s .


A estratificação cruzada acanalada é mais f r e q ü e n t e do q u e a p l a n a r . O b l o c o d i a g r a m a m o s t r a uma e s t r u t u r a de e s c o r r e g a m e n t o (e — e l ú -
v i o ; c — c o l ú v i o ) . Cortes n a r o d o v i a São M a t e u s d o Sul-União d a V i t ó r i a , Paraná ( s e g u n d o B i g a r e l l a & S a l a m u n i , 1967).

- 149 -
-60

Fig. 8-90 — Estrutura encontrada no membro superior da Formação Santa Maria, representativa do ambiente fluvial (segundo B I g i •
r e l i a & S a l a m u n i , 1967).

sados ( B i g a r e l l a & S a l a m u n i , bem estratificados onde são freqüentes os estratos


1967). Na seqüência mencionada ocorrem estratos cruzados desenvolvidos em ambiente fluvial, nos
cruzados de tamanho médio a grande alternados com oueds localizados entre as dunas. Intercaladas nas se-
sedimentos síltico-argilosos (fig. 8-90). qüências eólicas do Arenito Caiuá ocorrem camadas
O Arenito Pirambóia é considerado fluvial e relativamente espessas de arenitos com estratifica-
jaz sotoposto ao Arenito Botucatu. Este predominan- ção plano-paralela, os quais foram provavelmente de-
temente de origem eólica, contêm intercaladas se- positados num regime fluvial de fluxo superior ope-
qüências de arenitos fluviais que ocorrem principal- rante intermitentemente num ambiente semi-desérti-
mente no Paraná e São Paulo. Trata-se de arenitos co a desértico.

- 150 -
9 - SISTEMAS DEPOSICIONAIS

Conceito de sistemas deposicionais 1970; F i s h e r , G a m a & O j e d a ,


1972, 1973; Fisher, Morales, Piaz-
Embora os conhecimentos sobre os ambientes e
za & B r o w n , 1974), onde a interpretação de
os fenômenos envolvidos na deposição de sedimen- sedimentos, até então completamente desconhecidos,
tos sejam muito antigos, o tratamento sistemático no de plataforma continental, requeria estudos regio-
contexto de um modelo explícito, para estudo da nais bastante elaborados.
evolução dos ambientes, em termos de sistemas de-
A exemplo do estudo de sedimentos recentes
posicionais, data de no máximo 20 anos
em unidades fisiográficas ou geomórficas modernas,
Um dos aspectos mais importantes, no conceito a aplicação do conceito de sistemas deposicionais
dos sistemas deposicionais integrados está no fato em análises regionais implica em dar-se maior ên-
de que a elaboração de modelos corretos de compor- fase à geometria, distribuição e interrelações das fá-
tamento permite a previsão de seqüências de ambi- cies componentes, composições litológica e fossilífe-
entes sedimentares que devem ser esperados em um ra e estruturas sedimentares, do que à correlação e
determinado local. Como os sucessivos ambientes de persistência de unidades estratigráficas localmente
sedimentação acham-se registrados nos sedimentos estabelecidas.
depositados, a análise dos sistemas deposicionais
A unidade principal aqui empregada é o sis-
permite predizer a natureza do registro estratigrá-
tema deposicional, reconhecido por critérios específi-
fico.
cos e designados por um termo genético, por exem-
Em geral, a evolução dos sistemas deposicionais plo, sistema deltaico, incluindo um ou mais deltas.
é caracterizada pela migração dos ambientes de se- Os componentes do sistema deposicional são refe-
dimentação. Exemplos: a) — migração dos canais ridos simplesmente como fácies, por exemplo, fá-
meandrantes sobre uma planície de inundação; b) — cies de frente deltaica ou de canal distributário de
progradação de uma planície de maré ou de cor- um sistema deltaico. Componentes menores são de-
signados por termos, tais como, unidades, camadas
dões litorâneos sobre uma planície costeira, etc. Es-
o u depósitos ( F i s h e r & M c G o w e n ,
tas migrações nos ambientes podem ser isoladas ou,
1967). Basicamente, a aplicação do conceito de sis-
como acontece em muitos casos, cíclicas. A. evolu-
tema deposicional em sedimentos antigos, baseada
ção dos eventos depende das propriedades ineren-
primordialmente na integração das fácies, envolve o
tes dos sistemas deposicionais e, em parte, das in-
reconhecimento das unidades genéticas correlacioná-
fluências externas, tais como, tectónica, eustasia, etc.
veis aos modernos complexos deposicionais, pronta-
No Brasil, este conceito encontrou muita re- mente reconhecidas por suas características fisiográ-
ceptividade n o âmbito d a Petrobrás ( G a m a , ficas.

- 151 -
Sistemas deposicionais fluviais As barras de meandros são fácies característi-
cas deste sistema e oferecem uma seqüência verti-
As fácies fluviais podem ser integradas em qua-
cal diagnostica e geralmente previsível. Esta consti-
tro sistemas básicos, definidos em termos de pro-
tui-se de texturas e estruturas sedimentares, aqui de-
cessos sed i menta res dom inantes e associ ações fa-
signada como seqüência de decréscimo ascendente
ciológicas. As principais feições que definem cada
(fig. 8-9). Os tamanhos das estruturas sedimentares
um dos sistemas fluviais são: a) — geometria do cor-
po arenoso; b) — disposição espacial (trend) dos cor-
pos arenosos; c) — seqüências de estruturas sedimen-
tares; d) — textura dos sedimentos; e) — tipo e abun-
dância das fácies de transbordamento; f) — feições
sedimentares direcionais e g) — seqüências vertical e
horizontal de fácies.

As características aqui utilizadas resultam da


história completa do sistema fluvial englobando, in-
clusive, efeitos temporais como mudanças na carga
transportada e no volume de descarga. Em certos sis-
temas, um rio pode ser temporariamente anastomo-
sado ou meandrante como resultado de variações sa-
zonais da descarga, no entanto, através de sua his-
tória um dos processos prevalecerá sobre o outro,
resultando em maior possança de suas fácies.

Os quatro tipos básicos de sistemas fluviais, re-


presentando membros extremos de um espectro con-
tínuo, são: 1) — meandrante pelítico; 2) — meandran-
te psamítico; 3) — anastomosado (figs. 9-1, 9-2 &
9-3); 4) — retilíneo ou de distributário deltaico.

Sistema fluvial meandrante pelítico

O sistema fluvial meandrante pelítico está rela-


cionado a rios extremamente sinuosos, desenvolvi-
dos em planícies aluviais de agradação ou em planí-
cies deltaicas arenosas. Estes rios são caracteriza-
dos por uma moderada a alta relação lama/areia,
baixo declive, e descarga relativamente alta e uni-
forme. O termo pelítico deriva da predominância das
fácies de transbordamento sobre a fácies de canal.

As principais fácies constituintes deste sistema


são: barras de meandros, diques naturais, depósitos
de rompimento de diques e depósitos de planícies de
inundação. Secundariamente, ocorrem ainda depósi-
tos de preenchimento de canais abandonados e, em
menor quantidade, depósitos orgânicos.

O corpo arenoso, formado pela migração late-


ral das barras de meandro, é multicíclico, isto é, for-
mado isoladamente em vários ciclos da evolução se-
dimentar. A espessura de cada unidade arenosa va-
ria entrei 2 e 30 m, equivalentes à profundidade mí-
nima original do canal; maiores espessuras envol-
Fig. 9-3 — Sistema fluvial p e l í t i c o ( m o d i f i c a d o de A I I « n .
vem superposições de canais (fig. 9-4).
1965).

- 152 -
decrescem verticalmente rumo ao topo do depósito, drante pelítico; o mesmo ocorre com a granulometria,
acompanhando o decréscimo geral em granulometria. já que ambas as fácies são geradas pela mesma car-

ga de fundo.
Os depósitos de diques naturais são bem de-
senvolvidos nestes sistemas, superpondo-se às bar- Em mapas as isólitas de areias exibem espessos
ras de meandros, já que esses são o produto de corpos dispostos sub-paralelamente ao paleodeclive
acréscimo lateral, resultante do padrão divagante dos deposicional. As estruturas sedimentares, como indi-
meandros. cadores direcionaís, apresentam baixo grau de dis-
persão.
Em mapas, as isólitas de areia mostram um pa-
drão grosseiramente paralelo ao declive deposicio- As feições básicas deste sistema foram delinea-
nal. As estruturas sedimentares exibem um vetor di- das por H i c k i n (1969) e M c G o w e n &
recional médio, geralmente paralelo à tendência are- G a r n e r (1970).
nosa, localmente com alto grau de dispersão.
As feições básicas deste sistema foram inicial-
mente delineadas por B e r n a r d & M a j o r
(1963) e por B e r n a r d e outros( 1970) em es-
tudos do rio Brazos, Texas (Estados Unidos).

Sistema fluvial meandrante psamítico

A drenagem formadora do sistema fluvial me-


andrante psamítico é constituída por rios com mo-
derada a baixa sinuosidade. O termo psamítico de-
riva da predominância das fácies de canal sobre as
de transbordamento. Esses rios apresentam, em con-
tra-posição ao seu homônimo pelítico, maior declive,
descarga menos uniforme e predominância de carga F i g . 9-4 — Sistema f l u v i a l m e a n d r a n t e p e l í t i c o { m o d i f i c a d o de A I
de fundo (fig. 9-2). e n , 1965, 1970).

As principais fácies constituintes deste sistema


são: barras de meandro (somente sua parte inferior
é preservada) e barras de corredeira. Os diques na-
turais são pobremente desenvolvidos e as demais
fácies de transbordamento praticamente não se pre-
servam. A única fácies argilosa, presente ainda que
escassamente neste sistema, é a de preenchimento
de canais abandonados por atalhos de corredeira .

O depósito mapeável deste sistema, composto 1/77

de uma série de unidades genéticas superpostas, é


>
3tfu&S'S ã 0 r
de depoe/Yos
O/r?
comumente de forma tabular com alguns quilômetros F i g . 9-5 — Sistema f l u v i a l pelítico (modificado de A I l e n ,
de largura e espessura superior a 60 m. A relação (segundo W i l l i a m s & R u s t , 1969).

largura/espessura desses depósitos é alta, com cada _ Qepóe/fo deóa/a ^Çt/çtfe #afará/
w/erd/efr/âi/ta-
uma de suas unidades apresentando desenvolvimen- r/a
to multilateral, em oposição ao multicíclico do siste-
ma meandrante pelítico.

Cada unidade arenosa é composta da parte in-


ferior das barras de meandro superposta por barras
de corredeira fácies característica deste sistema. Aos
Çtepóe/Yo OÍP /
acanalamentos e camadas frontais de estratificações d/çue t?a
Qepde/Yûds
cruzadas de grande escala da base, seguem-se as ca- tyè#Yed?YYa/da
madas frontais de moderada a grande escala da bar- Ç)epâ?/Yo ae^a/ra
ra de corredeira; assim, não se verifica a seqüência
F i g . 9-6 — M o d e l o d e s e d i m e n t a ç ã o d o sistema f l u v i a l d e d i s t r i -
de decréscimo ascendente, típica do sistema mean- b u t á r i o d e l t a i c o ( m o d i f i c a d o de F r a z i e r , 1967)

- 153 -
Sistema fluvial anastomosado uniforme. A carga transportada por esses rios é pre-
dominantemente por suspensão, ou seja, alta relação
O sisteyna fluvial anastomosado desenvolve-se
lama/areia. A ausência de sinuosidade é devida a
sob condições de alto declive em rios portadores de
dois fatores principais: abundância de fácies argilosa,
elevada quantidade de carga de fundo e descarga
que propicia rápida subsidência por compactação di-
alta e periódica. Essas condições ocorrem normal-
ferencial dos canais arenosos, estabilizando conse-
mente nas partes superiores das bacias fluviais, ge-
qüentemente o seu curso; e presença de diques na-
ralmente em regiões de relevo acidentado, razão
turais bem desenvolvidos que confinam o canal.
pela qual, associam-se, comumente, com leques alu-
viais. As principais fácies deste sistema são: canal
distributário, diques naturais, depósitos de rompi-
As fácies arenosas de canal, barras longitudi-
mento de diques, depósitos de planície de inundação
nais e transversais, são distinguíveis somente atra-
e de preenchimento de canais abandonados. Outras
vés do estudo de estruturas internas. Há uma quase
fácies, comumente associadas com este sistema, são:
total ausência de sedimentos argilosos de fácies de
lacustre, baía interdistributária, etc. que já partici-
transbordamento (fig. 9-5).
pam do complexo deltaico (fig. 9-6).
O depósito mapeável deste sistema, composto
de uma série de unidades arenosas anastomosadas, Em razão da ausência de sinuosidade, a fácies
tende para a forma tabular em razão do seu desen- de canal deste sistema é formada por agradação de
volvimento multilateral. As unidades individuais apre- seu leito. As estruturas sedimentares presentes, da
sentam forma lenticular em seções transversais, com base para o topo, são :areias maciças ou altamente
sua base grosseiramente horizontal a levemente con- convolutas com algumas feições de injeção, acanala-
vexa. mentos de escala moderada, camadas frontais e aca-
nalamentos de pequena escala. As marcas ondula-
As estruturas sedimentares presentes em depó-
das caracterizam as margens do canal. Em geral, e¿-
sitos anastomosados são predominantemente consti-
tas estruturas são normalmente obliteradas pela in-
tuídas de estratificação horizontal e camadas frontais
tensa distorção resultante da subsidência diferencial.
e, secundariamente, ocorrem alguns acanalamentos.
A abundância relativa de estratos horizontais e ca- Os diques naturais, ao contrário dos correspon-
madas frontais é uma função da predominância de dentes do sistema meandrante pelítico, ocorrem pre-
barras longitudinais o u transversais. S m i t h dominantemente nos flancos dos depósitos de canal.
(1970), em estudos de sedimentos recentes do rio São muito bem desenvolvidos, constituindo-se em
Platte, Estados Unidos, mostrou que as barras longi- feições topográficas mais proeminentes da planície
tudinais, que são portadoras de estratos horizontais, deltaica. A persistência topográfica dos diques natu-
predominam nas partes superiores dos rios anasto- rais é suficiente para permitir múltiplos abandonos e
mosados; as barras transversais, caracterizadas por
camadas frontais de estratificações cruzadas, ocor-
rem nas partes inferiores deste sistema. Q/e/r/óit/ar/0
<7#(7ffaw¿7í'¿7<db
pe////eo \ fiâtm/ffito tfe/fá/eo
Os depósitos do sistema anastomosado são fre-
qüentemente, mas nem sempre, constituídos de areias a a/A? aóa/xa
SBa/xa a/fa
grosseiras e cascalhos. A seleção gran-ulométrica é c
/f/od?r&tfo
a//a
pobre. As variações texturais e as tendências a fa/xo a £7/fo

("trend") das estruturas sedimentares desenvolvem- V/foderac/a Sa/xa a//a


&#/&s me,
re/â/rrpaga" u/7/for/rré'
se regionalmente, mas não se fazem presentes nas
seqüências verticais das unidades arenosas indivi- âajfa/ ¿?a#¿?/

duais. <J/fe//?/*#fe
<?&t*//ca/ 0&de*f£/e>vfe
Estudos básicos deste sistema foram realizados
por O r e (1963, 1965), D o e g I a s (1962), W#////a/e/& 7//u///<?/W/¿?0

Smith (1970) e outros.


abi* cfâj$fe& /2afe/&/

Sistema fluvial retilíneo ou de distributários deltaicos d/fc/er retraté, dro wsomafeA?, /ár/àf, atòpwezs'
ro#rp/me/tfo d? ef/- GSwra ¡te eevnp #&/#/&/?, sw*p/-
ffir/tre/pa/r 2o*f/a/f & énãv/b ded/çaeç
que¿", depoe/fo de
Desenvolvendo-se caracteristicamente em planí- ttárJtea e ea>#a/s>
aóatrdotf&dos: Zétr ff /*raA?r/a
cies deltaicas tipo Mississipi, o sistema fluvial retilí- orgasr/da.

neo é o produto da sedimentação fluvial de rios com


T a b . 9-1 — C o m p a r a ç ã o das características d o s sistemas deposício-
muito baixo declive e descarga relativamente alta e nais f l u v i a i s .

- 154 -
recuperações dos canais individuais, resultando em neadas por P e p p e r e outros (1954), F i s h e r
uma superposição das fácies de canal; este processo & A A c G o w e n (1967), F e r m & C a -
também contribui para o seu espessamento. v a r o c (1968), B r o w n (1969) e D o n a I -
Em mapas, as isólitas da areia exigem um pa- s o n e outros (1969).
drão distributário, com as tendências arenosas leve-
mente subparalelas ao paleodeclive deposicional. As Estudo comparativo dos quatro modelos básicos
unidades arenosas apresentam relação largura/es-
Os quatro modelos básicos foram estabelecidos
pessura muito baixa e desenvolvimento multicíclico.
em função de exemplos recentes e antigos. Repre-
As estruturas sedimentares, como indicadores direcio-
sentam membros extremos de um espectro contínuo,
nais, exibem baixo grau de dispersão em relação ao
o que reflete a possibilidade de existência de inúme-
paleodeclive.
ros tipos intermediários. As feições diagnósticas de
As principais feições deste sistema foram deli- cada modelo estão na tabela 9-1.

- 155 -
10 - IMPORTÂNCIA DOS SEDIMENTOS FLUVIAIS NA
GEOLOGIA ECONÔMICA E APLICADA

INTRODUÇÃO M a t e r i a i s d e construção

Os materiais de construção podem ser subdivi-


Os depósitos fluviais podem ser estudados com
didos em dois grandes grupos. O primeiro inclui
enfoque essencialmente científico, quando são trata-
aqueles que são usados diretamente como provém
dos tópicos ligados à dinâmica ambiental, proveniên- do subsolo, sem qualquer tratamento químico, en-
cia dos sedimentos, paleocorrentes, estruturas sedi- volvendo no máximo corte, moagem e / o u peneira-
mentares, textura, etc. ou como fonte de subsídios na mento. Neste grupo incluem-se areia e o cascalho,
exploração econômica de recursos naturais, na geo- além da pedra britada e pedra cortada. Os depósi-
tos de areia e cascalho são freqüentes entre os sedi-
logia ambiental e na geologia de engenharia.
mentos fluviais. O segundo grupo abrange os mate-
As atividades ligadas ao aproveitamento eco- riais que devem ser tratados quimicamente, queima-
nômico de sedimentos fluviais, como acontece com dos, fundidos, misturados com outros materiais, ou
; transformados por outros meios até que eles possam
outros t pos de depósitos sedimentares, podem en-
ser moldados adquirindo novas formas. Neste grupo
volver remoção total de certas camadas sedimentares
de materiais de construção incluem-se as matérias
ou extração de fluidos (líquidos ou gases) contidos primas para fabricação de cimento, gesso, vidro, ce-
nos poros, deixando neste caso as camadas sedimen- râmica, etc. Os depósitos síltico-argilosos dos plainos
tares intactas. aluviais têm considerável importância na fabricação
de tijolos, telhas, refratários, etc.
A geologia ambiental, em franco desenvolvi-
mento na última década, lança mão freqüentemente Ao lado das chamadas pedras de construção,
dos estudos de processos deposicionais de sedimen- utilizadas após corte ou sob forma britada, as areias
tos quaternários. Segundo K n i I I (1970), esses e cascalhos constituem os principais materiais de
construção. Os maiores problemas associados ao uso
estudos são de vital importância no manejo de am-
desses materiais estão relacionados: a) aos custos de
bientes atuais. Esses estudos são de enorme inte-
processamento (custos unitários muito baixos); b) lo-
resse não somente nas áreas de influência de siste-
calização dos depósitos em áreas aceitáveis em ter-
mas fluviais mas também na implantação de moder-
mos ambientais (fora das grandes cidades) e c) dis-
nos esquemas de defesa contra a erosão costeira, tância mínima dos centros de consumo, isto é, pró-
lançamento de cabos submarinos, construção de oleo- ximo a grandes cidades ( W o o l d r i d g e &
dutos e portos, etc. Be a v e r, 1952).

- 156 -
As areias e cascalhos são normalmente extraí- leocanais e terraços de rios situados dentro ou nas
das de depósitos recentes e sub-recentes de canais proximidades de grandes cidades. Nas cercanias das
e de terraços fluviais, geralmente de idade pleisto- cidades d e São Paulo ( S u g u i o & T a k a -
cênica. Em alguns casos, a sua efetiva exploração h a s h i , 1970 e S u g u i o e t al, 1971) e d e
econômica pode exigir uma definição precisa de suas Curitiba ( B i g a r e l l a & S a l a m u n i ,
propriedades físicas, tais como, granulometria, mor- 1962) as aluviões antigas dos rios Tietê e Pinheiros
foscopia e seleção das partículas, bem como a geo- (SP) e Iguaçu (PR), respectivamente, têm contribuído
metria dos corpos sedimentares potencialmente ex- com importantes reservas de areia e de cascalho pa-
ploráveis (fig. 10-1). A profundidade e a porção ex- ra construções. No va!e do rio Itajaí Mirim (SC) os
plorável podem ser determinadas por eletroresisti- espessos cascalheiros pleistocênicos ( B i g a r e l -
vidade, sísmica ou sondagem mecânica. Antes da ex- la & M o u s i n h o , 1965) têm sido utilizados
tração dos depósitos de cascalho e de areias fluviais principalmente para construção de rodovias. Outros
é necessário mapear a distribuição do corpo a ser ex- depósitos de areia e cascalho têm sido explorados
plorado, seja ele de paleocanal ou de terraços an- intensamente, como por exemplo nos arredores de
tigos. Para avaliar corretamente as reservas devem Aracaju (SE), entre muitas outras áreas.
ser localizados os antigos "braços mortos" de rios
preenchidos com silte e argila, os quais se não con- Na indústria de vidro são utilizadas areias flu-
siderados, diminuem as reservas calculadas de areia viais de alto conteúdo de sílica, além de rochas sili-
e cascalho. cosas de um modo geral, contendo alumina e po-
tássio, arenitos puros e quartzitos. A areia ideal deve
No Brasil, os depósitos de areia e cascalho utili- conter praticamente 100% de sílica e ser formada de
zados como materiais de construção estão associados grãos angulosos bem selecionados, variando em gra-
a sedimentos fluviais recentes e sub-recentes de pa- nulometria entre areia fina a média. Devido a estes
requisitos é muito difícil encontrar-se depósitos de
areia fluvial em condições apropriadas para a fabri-
...
cação de vidro. As areias quartzosas são igualmente
utilizadas como abrasivos e como fundentes.

As argilas fluviais têm diversas aplicações de


acordo com sua composição, podendo ser usadas em
tijolos, telhas, material cerâmico refratário, etc. No
Estado de São Paulo, por exemplo, a indústria ce-
râmica é particularmente desenvolvida em áreas de
sedimentos argilosos permocarboníferos do Grupo
Tubarão, que são utilizados após retrabalhamento e
sedimentação em vaies fluviais atuais, como acon-
tece nas regiões de Itu, Mogi Guaçu, etc.

A utilização desses materiais sedimentares apre-


senta dois problemas fundamentais. O primeiro de-
les reside na determinação das propriedades físicas
e químicas específicas requeridas para o uso pre-
visto, envolvendo determinações mineralógicas e
geoquímicas. O segundo problema é o da previsão
da geometria do depósito para cálculo da reserva de
interesse econômico, compreendendo estudos sedí-
mentológicos e estratigráficos. Para um aproveita-
mento racional desses recursos, além dos aspectos
geológicos, devem ser considerados problemas de
desmonte ou escavação, custo de transporte, etc.

Minérios sedimentares

f i g . 10 1 — B e n e f i d a m e n t o de areia e cascalho f u v í a i s periglacials As modernas técnicas de prospecção de miné-


d o vale d o rio O h i o , localizados p e r t o d o c ó r r e g o D e W e e s e , a
rios sedimentares podem envolver desde métodos
cerca d e 9 k m d e M a d i s o n , I n d i a n a , U S A . D e p ó d t o s d o t e r r a ç o
Quaternário de idade T a z e w e l l . geoquímicos ,aplicados na tentativa de detectar cor-

- 157 -
rentes fluviais transportadoras de cargas com con- ambientes sujeitos à forte diferenciação sedimentar,
teúdo anômalo de algum metal, até as técnicas de tanto no sentido vertical quanto no horizontal.
levantamentos magnetométricos, etc. Os estudos fa- Entre os três tipos de depósitos de minérios se-
ciológicos podem também contribuir na localização dimentares (Tabela 10-1), apenas o epigenético (se-
de minérios sedimentares, já que as mineralizações cundário) e o aluvionar ("plácer") são importantes
ligadas a rochas sedimentares aparecem sempre em nos sedimentos fluviais.

TABELA 10-1

Resumo dos principais processos de formação de minérios sedimentares.

Nome Processo Exemplos

1. Singenético Precipitação direta durante a sedimentação a) Nódulos de Mn


(primário) (processo essencialmente químico) b) Fe oolítico

2. Epigenético Diagenese pós-deposicional (processo físico-quí- a) Carnotita


(secundário) mico) b) Associação C u / P b / Z n
c) Alguns minérios de Fe

3. Aluvionar Areia e cascalho detríticos (processo essencial- a) Ouro


("plácer") mente físico) b) Diamante
c) Cassiterita

Os minérios sedimentares singenéticos foram Witwatersrand do Precambriano da África do Sul,


formados simultaneamente à deposição, por precipi- onde o urânio é encontrado junto com ouro. Segun-
tação química direta em ambiente subaquoso, em ge- do P i e n a a r (1973), foi verificada uma íntima
ral marinho. relação entre o conteúdo metálico do conglomerado
e as características sedimentares, tais como espessu-
A mineralização epigenética pode processar-se,
ra, padrões de dispersão do material (paleocorren-
após a deposição da rocha hospedeira, por substi-
tes), forma dos leitos, população de seixos e por-
tuição físico-química diagenética de parte da rocha centagem de componentes rudáceos. Todos esses pa-
sedimentar, ocorrendo mais comumente em calcários râmetros são empregados como guias na procura de
e dificilmente em sedimentos fluviais. novos corpos mineralizados.
As jazidas aluvionares são formadas por segre-
Arenitos fluviais arcosianos, mal selecionados e
gação hidrodinâmica da carga de tração (de fundo),
com abundantes detritos vegetais (fragmentos de
sendo em geral constituídas pelos chamados mine-
plantas e troncos de árvores) podem ser ricos em
rais pesados.

Minérios de urânio

As formas de ocorrência de urânio são muito


variadas: veio hidrotermal primário (pitchblenda),
depósito de "plácer" (monazita) e mineral epigené-
tico como a carnotita (vanadato de potássio e urâ-
nio). Concentrações de minerais de urânio ocorrem
também em certos folhelhos negros, tanto de ori-
gem marinha quanto não marinha. Esses folhelhos
são tipicamente carbonosos e muitas vezes fosfáti-
cos.
Outro modo de ocorrência bastante comum é
F i g . }0-2 — Esquema i l u s t r a n d o a o c o r r ê n c i a de c a r n o t i t a em d e p ó -
em conglomerado não marinho como na Bacia de sitos f l u v i a i s (baseado em S e I 1 e y , 1976).

- 158 -
carnotita. Como cimentos desses arenitos podem ser Fora dos canais a concentração de U 0 reduz-se con- 3 6

encontrados a calcita e a pirita. Os arenitos hospe- sideravelmente para 0,02 a 0,09%. Nos paleocanais
deiros são conglomerárteos, com estratificação cruza- da Formação Rio Bonito, em Figueira (PR), as espes-
da e base erosiva, feições típicas de sedimentos de suras mais significativas dos corpos de minério estão
paleocanal fluvial (Figura 10-2). compreendidas entre 1,5 e 3,5 m ( S a a d , 1973).

A fonte original de urânio é assunto de discus- As formas geométricas das zonas mineraliza-
são, mas a sua migração estaria ligada à água sub- das parecem seguir um controle estratigráfico. O
terrânea ácida percolante. A carnotita é precipitada comprimento do corpo mineralizado (algumas cente-
em zonas adjacentes às barreiras de permeabilidade, nas de metros) predomina sobre a largura (dezenas
tais como as superfícies de discordância, ou em for- de metros) e esta sobre a espessura (alguns metros).
mações superficiais com razão areia/argila entre 0,25 Deste modo, a orientação dos corpos mineralizados
a 1,00. é influenciada pelos antigos canais fluviais.

Nos sedimentos fluviais da parte inferior da No Quadrilátero Ferrífero encontram-se meta-


Formação Rio Bonito do Paleozóico da Bacia do Pa- conglomerados uraníferos na base da Formação Moe-
raná, encontram-se zonas ambientais bem definidas da ( R a m o s & F r a e n k e l , 1974). Acre-
intimamente ligadas à deposição do urânio. A lito- dita-se que estas rochas tenham sido depositadas em
logia em questão compreende arenitos muito finos, ambiente fluvial variando desde o tipo piemôntico
médios, grosseiros a conglomeráticos. Neles encon- à montante, até o deltaico a ¡usante.
tram-se intercalações de arcósios, síltitos, carvão e
folhelhos escuros com intercalações de calcários de Embora os depósitos de urânio possam ser en-
coloração cinza. O cimento calcífero é freqüente e a contrados simplesmente vagando-se com um conta-
presença de pirita é comum. Os arenitos apresentam- dor Geiger-Müller, cintilômetro ou espectrómetro de
se freqüentemente com estratificação cruzada e pla- raio-gama, a análise faciológica regional pode aju-
no-paralela. Os sedimentos foram depositados em dar a selecionar áreas onde barreiras de permeabili-
planícies de inundação, canais fluviais, pantanais cos- dade podem ser esperadas. A geometria e as dire-
;

teiros e ambientes neríticos ( S a a d , 1973). ções de desenvolvimento de paleocanais fiuvia s, por


exemplo, podem ser previstas por urna simples aná-
A mineralização uranífera na Formação Rio Bo- lise do padrão de paleocorrentes.
nito é de dois tipos: singenética e epigenética. A
Na Formação Guabirotuba (Cenozoico, Bacia
primeira originou-se em ambientes paludais pelíti-
cos ricos em matéria carbonosa. A mineralização epi- de Curitiba), encontram-se nos depósitos de caliche
genética ocorre nos paleocanais fluviais, onde os se- enriquecimentos de minerais de terras raras. C o u -
dimentos arenosos predominam sobre os síltico-ar- t i n h o (1953) referiu a presença de lantanita. No-
gilosos.

Os sedimentos arenosos de natureza permeável


facilitaram a percolação das soluções mineraÜzado-
ras durante e após a diagênese ( S a a d , 1973).
A mineralização está associada a arenitos, argilitos
carbonosos e níveis de carvão. Nos arenitos o enri-
quecimento uranífero sob forma de uraninita, ocorre
nos interstícios dos grãos de quartzo não preenchi-
dos por cimento calcífero. Nos siltitos argilosos car-
bonosos bem como no carvão a mineralização apre-
senta-se na forma de complexos organo^minerais di-
ficilmente dissociáveis.

O molibdênio, chumbo, zinco, cobre, arsénio e


tório são os principais elementos associados ao urâ-
nio. A distribuição dos teores de urânio na Formação
Rio Bonito relaciona-se diretamente com os aspectos
F i g . 10-3 — Os obstáculos e n c o n t r a d o s nos leitos d o s rios retém os
paleogeográficos da área. Nos paleocanais os teores minerais mais densos d a n d o o r i g e m aos d e p ó s i t o s d e p l a c e r . Estes,
médios de U 0 atingem 0,2 a 0,5%, enquanto que
3 6
t a m b é m p o d e m ser f o r m a d o s n o l a d o c o n v e x o d o s m e a n d r o s o u a
jusante de c o n f l u e n c i a s ( m o d i f i c a d o de> F I i n t & S k i n -
os de M 0 estão compreendidos entre 0,12 e 0,42%.
3
n e r , 1974).

- 159 -
vas pesquisas revelaram além da presença de lan- Em determinadas condições de fluxo de corren-
tânio a de neodineo, praseodineo, gadilineo, samário tes, as partículas maiores e menos densas do sedi-
e európio ( R . Spitzner, comunicação ver- mento podem ser "varridas", deixando atrás um de-
bal). pósito residual de minerais pesados de granulação
mais fina. As condições de fluxo que causam este
A concentração de terras raras, faz-se ao longo
tipo de separação são de grande interesse na indús-
do sistema de drenagem pretérito caracterizado por
tria mineral, tanto como chave para a compreensão
depósitos de areias arcosianas contendo estratos cru-
da origem dos depósitos aluvionares, bem como pa-
zados. A mineralização de caráter epigenético afetou
ra que possam ser idealizados métodos de separação
principalmente os sedimentos mais permeáveis re-
de minerais em que o minério moído é lavado para
presentados pelos depósitos dos canais de drenagem.
concentrar os minerais de interesse econômico.
As soluções contendo terras raras procederam das
áreas de intemperização das rochas graníticas situa- Em geral, deve-se esperar por uma concentra-
das a leste e nordeste da Bacia de Curitiba. ção mecânica de minerais pesados onde a veloci-
dade de fíuxo diminui (Fig. 10-3). Nestes locais, ao
Os depósitos arenáceos do sistema de drena-
lado dos minerais metálicos duráveis, como o ouro
gem favoreceram as migrações destas soluções e a
ou a platina e cassiterita, podem ser encontrados mi-
deposição subseqüente dos minerais de terras raras
nerais não metálicos como o diamante, rubi, safira e
junto com as impregnações de carbonatos (caliche).
outras gemas. Os depósitos de "plácer" são contro-
Determinações do teor de terras raras revelaram lados essencialmente pela geoquímica da fonte de
que apenas os depósitos de caliche ligados ao an- sedimentos, pelo c ima que condiciona a profundi-
tigo sistema de drenagem são os que apresentam dade de intemperismo, pela geomorfologia que dita
maiores teores destes elementos ( N . C . B i - as taxas de erosão e gradiente topográfico e pela hi-
g a r e I I a , comunicação pessoal). drodinâmica dos processos de transporte e deposi-
ção.
Minérios sedimentares aluvionares
Os depósitos de "plácer" ocorrem tanto em ca-
As partículas detríticas de sedimentos arenosos
nais fluviais, como em praias e sobre superfícies de
comuns são constituídas predominantemente de
abrasão marinha.
quartzo e feldspato, com densidades em torno de
2,7 e raros máficos. Entretanto, algumas areias po-
dem conter minerais de peso específico superior a 3,
I Çkrnfano âe#f drenado
que são compostos de minerais transparentes como
?/fO /Joóre#f&m*e drenado
o zircão, turmalina e granada ou opacos como a i l -
menita, magnetita, etc.

A fração pesada associada a um sedimento de-


trítico é muito mais fina do que a fração leve (quar-
tzo e feldspato). Muitas são as razões que explicam
este fato. Primeiramente, os minerais pesados ocor-
rem já originalmente em cristais menores do que os
F i g . 10-4 — Relações e n t r e os d e p ó s i t o s de t r a n s b o r d a m e n t o áo
de quartzo e feldspato nas rochas cristalinas. Em se- d i q u e s naturais e os a m b i e n t e s de m a r g e m de canal ( s e g u n d o
gundo lugar, a seleção granulométrica e a compo- W e i m e r , 1977).
sição mineralógica de um sedimento detrítico subme-
tido a transporte subaquoso são controladas pela
densidade e tamanho das partículas, que é a chama-
da razão hidráulica. Isto explica porque os arenitos
contêm em geral somente traçds de minerais pesa-
dos, cuja granulação é mais fina do que a média dos
grãos de quartzo e feldspato. Por outro lado, pode
ocorrer uma inversão nesta relação de tamanho e
densidade se as formas forem completamente dife-
rentes. Deste modo, a biotita que é mais densa do
que o quartzo, mas de forma placóide, pode ser de- drefâjmenfo tterfaa/
do d/fae rafara/
positada juntamente com grãos de quartzo de diâ-
F i g . 10-5 — A m b i e n t e s de d e p o s i ç ã o e processos r e l a c i o n a d o s «o
metro menor, porém mais esféricos. canal e áreas m a r g i n a i s ( s e g u n d o W e ¡ m e r , 1977).

- 160 -
Esses depósitos são desenvolvidos através da
concentração de um ou mais minerais por processos
mecânicos devidos à água em movimento. Histori- ÇP/a/r/c/e de fp/a/f/e/e de

camente, os depósitos de "plácer" são considerados W /Wvtfdafâd,


como constituídos de minerais de alto peso especí-
a jffoderaddáHfjf,
fico e estabilidade química e resistência física eleva-
âemama/ te drettado?
das ( B a t e m a n , 1955). Porém, hoje em dia,
particularmente em relação ao ambiente marinho o
termo é aplicado para qualquer depósito inconsoli- fo /ttot/tfo

dado de minerais ou rochas sobre ou próximo ao


assoalho oceânico.
me/fto motivo
Podem ser reconhecidos depósitos de "plácer"
metálicos, como os que produzem a cassiterita, mag-
netita, etc. e os não metálioos ligados ao diamante
e outras pedras preciosas e semi-preciosas. F i g . 10-6 — M o d e l o s de seqüências l í t o l ó g i c a s p a r a a F o r m a ç ã o
M e n e f e e . A — s e q ü ê n c i a c o m c a r v ã o ; B — s e q ü ê n c i a isenta de
c a r v ã o . L i t o i o g i a s : a r e n i t o s , l a m i t o s c o m v e s t í g i o s de r a í z e s . H —
Jazidas de carvão ligadas à atividade fluvial camada c o m h u m a t o s ; C — depósitos de r o m p i m e n t o s de diques
naturais. Á r e a em p r e t o refere camada de carvão (baseado em
S i e m e r s , 1978).
As seqüências cretácicas e terciárias da região
das Montanhas Rochosas nos Estados Unidos con-
têm importantes depósitos de carvão acumulados na
planície costeira em ambiente aluvial ( W e i m e r ,
1977). Os ambientes pantanosos e de banhador for-
madores de carvão compreendem os pântanos de
margem de canal, brejos costeiros e pântanos de
preenchimento de canal.

A formação de oarvão pode restringir-se aos


pântanos situados no reverso dos diques naturais, ou
então relacionar-se às bacias de inundação mais ex-
tensas, associando-se assim a depósitos lacustres ou
lagunares ( W e i m e r, 1977), (Vide figs. 10-4 e
10-5).

Nas camadas de carvão da Formação Menefee


( S i e m e r s , 1978) a seqüência modelo consiste
de: 1) uma unidade inferior com 3 m de espessura
com afinamento ascendente de granulação represen-
tando um preenchimento de canal ativo; 2) uma uni-
dade sobrejacente com 12 m de espessura, compre-
F i g . 10-7 — M a p a d a o r g a n i z a ç ã o s e d i m e n t a r d o d e l t a d o Piceane
endendo o preenchimento de canais inativos com la-
d u r a n t e a d e p o s i ç ã o do a r e n i t o T r o u t C r e e k - R o l l i n s e rochas asso-
ma, os depósitos de diques marginais, os sedimentos l a d a s (segundo C o I I i n s , 1977). 1 — distributário primário;
de planície de inundação, bem como os sedimentos 2 — d i q u e s n a t u r a i s ; 3 — p â n t a n o de á g u a d o c e ; 4 — d e p ó s i t o s
de r o m p i m e n t o de d i q u e ; 5 — l a g o de á g u a d o c e ; 6 — p â n t a n o de
arenosos de crevassa (rompimento de diques natu- água s a l o b r a ; 7 — p â n t a n o s a l i n o ; 8 — d i s t r i b u t á r i o a b a n d o n a d o ;
rais) e dos pântanos bem a mal drenados com de- 9 — c o r d ã o l i t o r â n e o ( r e s t i n g a ) ; 10 — l e g o a de á g u a s a l o b r a ; 11 —
b a í a ; 12 — d i q u e n a t u r a l s u b a q u á t i c o ; 13 — b a r r a d i s t a i ; 14 —
pósitos de material húmico ou carvão. Nesta seqüên-
f o z do d i s t r i b u t á r i o ; 15 — rios de m a r é ; 16 — b a í a i n t e r d i s t r i b u t á -
cia ocorrem duas camadas de carvão com 0,3 a 0,5 m
de espessura. A camada de carvão representa o
membro final da seqüência, sendo comumente re- O carvão acumulou-se em áreas pantanosas po-
coberto por outro arenito depositado em canal (fig. bremente drenadas até um ponto em que o influxo
10-6). O modelo que contém o carvão é considerado de detritos levantasse o nível do pântano e oxidasse
como depósito de delta médio a inferior (figs. 10-7 o material carbonoso. O influxo elástico é represen-
e 10-8). O depósito isento de carvão corresponderia tado por argilito, siltito com laminação ondulada a
ao delta médio ( S i e m e r s , 1978). arenito com estratificação cruzada. Na Formação Ver-

- 161 -
mejo ( B i l l i n g s l e y , 1978) argilitos cinza águas e periodicamente drenados (secos). O outro é
claros, não carbonosos, com vestígios de raízes ja- constituído pelas áreas baixas permanentemente re-
zem diretamente sobre os depósitos mais grosseiros cobertas pelas águas. Quando a profundidade é
de crevassa. falta de material carbonoso é indica- maior o ambiente torna-se lacustre ( W e i m e r ,
tivo de condições oxidantes em pântanos bem dre- 1977).
nados. Com a subsidência da área da margem do
canal retornam as condições redutoras com a volta Os processos deposicionais operantes nas mar-
da deposição das argilas carbonosas e das camadas gens de grandes rios encontram-se ilustrados nas f'
de carvão. A deposição parece obedecer ciclos. Nes- guras 10-3 a 10-8.
ta formação a geometria das camadas de carvão está
relacionada com a orientação dos principais canais Geologia ambiental e aplicada
distributários (Billingsley, 1978).
Os planos de utilização de determinadas bacias
Os fatores críticos necessários à formação de hidrográficas com múltiplos objetivos devem ser
carvão economicamente explorável são os seguin- acompanhados de estudos integrados, com previsão
tes ( W e i m e r , 1977): de obras de usinas hidroelétricas, de controle de en-
chentes, de captação de águas para uso urbano (in-
1) ambiente com águas límpidas não salinas.
dustrial e/ou doméstico) e agrícola (irrigação), etc.
A presença de silte e argila nas águas originaria um
folhelho carbonoso. O ambiente deve estar isolado Ocorre um decréscimo na infiltração natural das
de rios ou de canais de marés; águas pluviais em áreas com construção de edifícios
2) acumulação de detritos orgânicos proceden- e estradas, cem conseqüente rebaixamento do len-
tes unicamente de terra emersa; çol freático. A captação de águas dos rios para uso
urbano diminui a descarga a jusante do ponto de
3) equilíbrio entre o lençol freático e a inter-
captação. O despejo de dejetos não tratados, inclu-
face de sedimentação. A superfície do terreno deve
sive de esgotos, ocasiona a poluição, que pode ser
estar abaixo do lençol de água, evitando-se assim,
letal para a vida aquática e impede o uso da água,
o contato dos detritos vegetais com a atmosfera. A
a jusante, como fonte de suprimento ou para recrea-
profundidade não deve ser excessiva a fim de não
ção. O contínuo crescimento das cidades nas suas
prejudicar o desenvolvimento da vegetação. Profun-
margens aumenta a demanda de água para indústria,
didades maiores limitam o crescimento vegetal, redu-
que por seu turno pode despejar poluentes químicos
zindo a formação de carvão. Dois tipos de ambientes
na drenagem natural.
alagadiços ocorrem. Um deles é representado pelos
terrenos pantanosos periodicamente cobertos pelas A necessidade crescente de água pode conduzir
à construção de barragens a montante ou exigir a
captação de águas das bacias adjacentes. Todas essas
mudanças devem ser estudadas e o seu controle efe-
tuado no contexto das propriedades físicas dos sis-
temas de drenagem, inclusive dos processos de sedi-
mentação e erosão, eventualmente confrontando-se
os resultados com os de áreas não urbanizadas, para
avaliar as modificações introduzidas pelo homem.

As planícies aluviais dos fundos de vale têm


sido muito procuradas para a agricultura. Parte des-
tas planícies são periodicamente inundadas e fertili-
zadas. Na Ásia Oriental tropical úmida muitos dos
grandes rios apresentam extensas planícies de inun-
Fig. 10-8 — Perfis c o r t a n d o as seqüências depôs'cionais do delta dação de gradiente mínimo, nas quais foram abertos
do Piceance d u r a n t e a sedimentação do a r e n i t o T r o u t Creek-Rolltns
e rochas r e l a c i o n a d a s . A l o c a l i z a ç ã o d o s p e r f i s está assinalada na
sistemas de canais artificiais favorecendo a comuni-
f i g u r a 10-7 ( b a s e a d o em C o I I i n s , 1977). 1 — d i s t r i b u t á r i o ; cação entre os vários campos de cultura dispensando
2 — p â n t a n o de água doce b e m d r e n a d o ; 3 — i d e m mal d r e n a d o ;
a construção de rodovias ou estradas em terrenos via
4 — p â n t a n o de á g u a s a l o b r a ; 5 — pântano salino; 6 — baía in-
terdistributários; 7 — r i o de m a r é ; 8 — r e s t i n g a ; 9 — d i q u e na- de regra pantanosos. Nestes terrenos são produzidas
tural; HO — t u r f a ; 11 — depósito de r o m p i m e n t o de d i q u e natural; grandes safras de arroz.
12 — i d e m juntamente com preenchimento de ínterdistributários ou
d e b a í a s ; '13 e 14 — i n t e r d i s t r i b u t á r i o a b a n d o n a d o c o m seu d i q u e
natural; 15 — p r e e n c h i m e n t o de i n t e r d i s t r i b u t á r i o ; 16 — d e p ó s i t o s
Grandes extensões de várzeas são aproveitadas
de fente de delta; 17 — depósitos do prodelta. no Brasil para fins agrícolas ou mesmo pastoris. Na

- 162 -
Amazonia entre os 10% de solos melhores, encon- citam-se as planícies de aluvião do Iraque e do Egito.
tram-se os de várzea e a terra roxa. Para os solos de As últimas são férteis e apresentam manchas de ter-
várzea existe forte tendência de usá-los no plantio ras alcalinas. As águas do Nilo com baixo teor de
do arroz e na criação de búfalo. Entretanto, há urna carbonatos depositam material síltico-argiloso proce-
importante consideração a fazer: a floresta da vár- dente das áreas tropicais. As aluviões do Iraque são
zea é extremamente útil para a manutenção da pes- excessivamente salinas.
ca. O peixe constitui a maior fonte de proteína na
dieta da Amazonia. Durante as cheias, muitas das No nordeste da Turquia, o Eufrates deposita nas
espécies comerciais alimentam-se de frutas e se- enchentes aluvião alcalina de coloração castanho-cla-
mentes derivadas das matas de várzea. Estas espé- ra, ao passo que o Tigre que transborda no sudeste
cies, por sua vez são devoradas por outras carnívo- deste país, bem como no Curdistão e em Zagros dá
ras. As florestas de várzea desempenham pois, um origem a aluviões cinzento-pardas, ricas em carbo-
papel fundamental no desenvolvimento dos peixes nato de cálcio e magnésio ( B u n t i n g , 1971).
d a Amazônia ( L o v e j o y & S c h u b a r t , Ao sul de Bagdá entre ambos rios, existem três pai-
1979). sagens interfluviais representadas: 1) pelos níveis
sub-recentes; 2) pelas bacias nas proximidades de
Anteriormente à construção da represa de Assuã, ambos rios; 3) pelos desertos de permeio. Nos ní-
no baixo vale do Nilo todos os anos, em meados de veis de limo adjacentes aos canais de irrigação, os
junho, tinha lugar as cheias anuais trazendo para o soles não apresentam salinidade e são cultiváveis,
mar cerca de cinqüenta milhões de toneladas de limo tornando-se mais profundos com o decorrer do tem-
e vinte milhões de toneladas de sais em solução. O po. Os depósitos do rio principal são igualmente de
nível do rio subia vários metros, submergindo as limo, homogeneizado pelas tamareiras e pomares. Os
áreas ribeirinhas. As águas baixavam em outubro e o canais inferiores, mais antigos, naturais ou artificiais
rio entrava em seu leito em novembro. ostentam solos salinos originados pelo sal das águas
de irrigação. Existe grande contraste entre os férteis
Durante quatro meses a água impregnava o pomares de tamareiras que abrigam outras culturas
solo. Sobre ele depositavam-se sedimentos finos que e as bacias salinas estéreis das vizinhanças ( B u n -
contribuíam para fertilização das terras agriculturá- ting, 1971).
veis. As inundações benéficas podiam tornar-se ca-
tastróficas, caso não se tomassem cuidados na pro- Os solos do delta do Nilo e do vale desse rio,
teção das cidades e dos animais. variam desde as argilas fluviais até os solods e solos
solonétsicos muito transformados pela longa ativi-
No caso de enchentes insuficientes, as terras não
dade antrópica. Os solonets e os solods são solos
são irrigadas, fracassando a colheita, sobrevindo a fo-
alcalinos. Os últimos apresentam-se lixiviados e de-
me. Entretanto, o manejo da agricultura no vale do
gradados.
Nilo, principalmente no delta, vem sendo realizado
desde épocas protohistóricas. Célebres são as men- Os solos aluviais são classificados de acordo com
ções de anos de fartura e pobreza referidas na Bí- suas texturas e seus perfis texturais, o u , pela sua
blia, conseqüentes de controle climático de caráter zonal idade ou grau de evolução. São geralmente en-
cíclico. tissolos de cores claras, desenvolvidos sobre terrenos
A construção dos grandes diques que protegiam planos. Os processos de redução predominam de ma-
Memphis contra as grandes inundações é atribuída a neira discreta no subsolo, uma vez que as águas das
Mena, fundador da primeira dinastia. Bem antes, a planícies de inundação raramente são estagnadas
exploração dos solos negros necessitava do esforço fora das áreas pantanosas. Os solos aluviais de tex-
coletivo e do trabalho perseverante de uma popula- tura fina ou de nível hidrostático muito raso pos-
ção disciplinada, bem como da organização social suem baixa permeabilidade vertical, apresentando
apropriada. A construção, manutenção da rede de ca- camadas superficiais sempre úmidas, ricas em ma-
nais e distribuição da água constituía tarefa funda- téria orgânica e subsolos pouco desenvolvidos. Quan-
mental do governo responsável pelo bem-estar do do a textura é mais grosseira são melhor drenados
povo. Quando o governo dos faraós enfraqueceu, o e suas camadas superficiais secam mais facilmente
entusiasmo e a confiança das sociedades comunitárias ( B u n t i n g , 1971).
esmoreceram igualmente, tendo início as invasões,
sobrevindo a ruína da nação. Os perfis dos solos aluviais são multifásicos
apresentando camadas alternadas de cascalho, ma-
Muitas áreas desérticas mostram forte contraste terial fino e detritos orgânicos. Essas camadas rara-
entre os solos salinos e os áridos. Entre os exemplos mente são contínuas e sua textura é variada. Nas

- 163 -
grandes bacias hidrográficas com amplas planícies de detritos derivados de áreas montanhosas ou áridas,
inundação, as aluviões são transportadas a longas podem ser mais ricas em bases do que r-* solos
distâncias, sendo muito misturadas e desgastadas pe- encontrados em seus arredores formados a partir
la ação das águas. Nos terrenos aluviais mais estrei- das rochas locais.
tos, com rios menores, o material das aluviões é
muito semelhante ao dos solos adjacentes. Problemas relacionados com a erosão e as enchentes

Pode-se fazer referência a solos aluviais gerais O problema das enchentes afeta sobremodo as
e locais, de diversas idades. A posição dos solos alu- planícies aluviais (fig. 10-9). É bem conhecido o fato
viais com relação ao curso de água principal e às de que elas resultam de precipitações excessivas que
terras adjacentes mais elevadas, constitui fator de afetam as bacias hidrográficas. A cobertura florestal,
diferenciação pedológica. Podem ser distinguidos exercer até certo ponto um controle sobre o f l u x o das
cinco tipos principais de localização dos solos alu- águas pluviais, regularizando-o. Entretanto, mesmo
viais: 1) nos diques naturais, formados de detritos com a cobertura florestal da bacia hidrográfica os
mais grossos com nível hidrostático mais profundo;
2) nas aluviões arenosas, que possuem nível hidrostá-
tico de profundidade moderada situados no centro
das planícies de inundação; 3) nas faixas úmidas si-
tuadas nas proximidades dos níveis; 4) nos sítios
mais próximos das encostas dos vales, constituídos
de material fino, seco e muitas vezes esbranquiça-
dos; e 5) nas áreas constituídas de solo úmido tur-
foso. O processo de formação de turfa é mais ex-
tenso nas grandes planícies de inundação das zonas
climáticas mais frias.

As mudanças dos cursos dos rios afetam a dis-


tribuição dos solos aluviais através dos processos de
erosão e sedimentação. As inundações anuais dos
plainos de aluviões originam uma multiplicidade de
perfis sepultados.

Os solos aluviais evoluem no sentido de se tor-


narem solos zonais pela diminuição do hidromorfis-
mo ou por intensificação das condições zonais. Os
regimes de água do subsolo são governados pelas
chuvas e pelas águas freáticas. Quando o nível hi-
drostático baixa acentua-se a lixiviação pelas águas
das chuvas percebendo-se melhor a influência zo-
nal. Os horizontes " A " tornam-se mais profundos,
desenvolvendo-se vestígios de horizontes iluvíais
" B " , quando os materiais lixiviados não atingem di-
retamente o rio ( B u n t i n g , 1971). O hidro-
morfismo diminui quando se verifica uma redução da
vazão dos rios.

Os solos desenvolvidos sobre os terraços são


mais antigos, melhor drenados e revelam tendên-
cias zonais mais acentuadas quando comparados com
os solos das planícies de inundação.

Os solos aluviais ou dos terraços que ocorrem


numa área, podem entretanto ter sido transportados
de outra área onde tiveram lugar os processos de
intemperismo. As planícies de aluvião do AAekong
F i g . 10-9 — A s p e c t o s da I n u n d a ç ã o de m a r ç o de 1974 na cidade
subtropical e do Ganges derivadas da acumulação de de T u b a r ã o (SC).

- 164 -
plainos aluviais podem sofrer a ação de grandes
cheias, por ocasião de chuvas intensas e prolonga-
das. Muito antes da expansão da colonização do
vale do Itajaí-Açu, portanto anteriormente a derru-
bada de largos tratos de floresta, já Blumenau sofria
a ação ocasional de grandes cheias.

A altura atingida pelas cheias em muitos vales


tende a aumentar com o desmatamenfo, assim que
mais recentemente foram alcançados terraços outrora
I ivres das i nu nd ações. Estas ocorrências devem-se
ao fato da não existência atual de importantes cober-
turas florestais, nas quais as águas das chuvas sejam
absorvidas ou em parte retidas pela serra pi I hei ra. Es-
tas águas agora passam a fluir de forma mais direta
para os cursos de água arrastando igualmente detri-
tos de rocha e do solo.

As águas das precipitações que caem nas ver-


ten tes nuas das r eg i ões mo n t anho s a s, des p ro v i d as
de solo, correm quase que integralmente para as
partes mais baixas do terreno, originando torrentes
intermitentes de grande ação erosiva (figs. 10-10 a
10-12). Nas regiões montanhosas com vertentes flo-
restadas e providas de solos mais ou menos es-
pessos, as águas das chuvas são mais controladas e
sua ação erosiva é bem menor. F i g . 10-11 — Danos causados petas e n c h e n t e s c a t a s t r ó f i c a s de mar-
ç o d e 1974 n a r e g i ã o d e T u b a r ã o (SC).

Quando a água é límpida, quase que desprovi-


da de sedimentos, pouca ação erosiva se verifica no
leito do rio. Entretanto, uma corrente carregada com
detritos da erosão das vertentes, principalmente
areia, possui capacidade erosiva fortemente acen-
tuada.

Nas áreas desmaiadas, parte dos materiais des-


lizam para dentro dos canais e a água corrente passa
a remover o material mais fino, como areia, silte e
argila, concentrando os blocos e matacões no leito
do rio. Nestas condições, durante as enchentes,
grande quantidade de material fino é depositada nas
planícies de inundação (fig. 10-13).

Nos des I izamentos catastróficos de Ca ragu atatu ba


(SP), Serra das Araras (RJ) e Tubarão (SC) os plainos
aluviais situados mais a montante foram soterrados
por areia, tendo sua fertilidade diminuída. Aqueles
situados a jusante foram cobertos por camadas de
silte e argila. Durante estes eventos a ação destrui-
dora das águas das enchentes foi acentuada pela
ação dos fluxos densos carregados de lama. Estes
fluxos com toda sorte de material flutuante arras-
tados pelas águas (árvores, troncos, vegetação aquá-
F i g . 10-10 — Eventos c a t a s t r ó f i c o s r e s u l t a n t e s das cheias de m a r ç o
d e 1974 n a r e g i ã o d e T u b a r ã o (SC). tica flutuante, restos de madeira, etc.) destruiu na re-

- 165 -
gião de Tubarão (SC) a maioria das pontes causando pequena, o q u e motivou o desmatamento irracional
danos a edificações, vias de comunicação e de trans- das vertentes íngremes. Blumenau e outras cidades
missão de energia (fig. 10-10). do vale sofreriam muito menos com as inundações
se as áreas montanhosas ainda fossem florestadas!
Durante a enchente de Tubarão, tanto no cam-
po como nas cidades e dentro das casas e lojas inun- Hoje constatamos que o rendimento agrícola au-
dadas, foram depositadas grandes quantidades de ferido com a utilização das vertentes íngremes (to-
sedimentos finos síltico-argilosos. talmente imprestáveis nos dias atuais com seus solos
A i n d a , com referência às enchentes, citemos co- erodidos e empobrecidos) não compensa em abso-
mo exemplo o vale do Itajaí-Açu (SC). Este rio dre- luto os prejuízos causados pelas cheias.
na uma área relativamente montanhosa com verten- O problema das enchentes no vale do Itajaí-
tes íngremes, teoricamente protegidas pelo Código Açu, ou de qualquer outro vale, continuará se agra-
Florestal Brasileiro. A extensão das áreas agricultu- vando consideravelmente no f u t u r o , mesmo com a
ráveis de aproveitamento racional é relativamente construção de barragens de controle.

Fig. 10-12 — A f o r ç a das á g u a s l a m a c e n t a s d a e n c h e n t e d e m a r ç o d e 1974, causou grandes prejuízos materiais na r e g i ã o de T u b a r ã o (SC),


além d a m o r t e d e 1 9 7 pessoas e d e i n ú m e r o s a n i m a i s .

- 166 -
No vale do Itajaí-Açu existe perigo de catás- são. Pouco ou quase nada se fez ou se faz para
trofe idêntica à que ocorreu no vale do Tubarão, combatê-la. E bem pouco são os agricultores de um
em março de 1974, caso as condições cismáticas pro- país subdesenvolvido, que empregam técnicas agrí-
piciem chuvas muito prolongadas, que venham cau- colas visando também a conservação dos solos. An-
sar deslizamentos generalizados nas regiões desflo- tes das derrubadas, os rios, transportavam pequena
restadas. O desastre, neste caso, será de conseqüên- carga de sedimentos. Agora esta é elevada; provém
cias mais graves do que na área de Tubarão, dadas da erosão dos solos das extensas áreas de agricul-
as características da bacia hidrográfica com seu es- tura primitiva e degradativa. Enormes e crescentes
trangulamento em Blumenau ( B i g a r e I I a , quantidades de lama e areia estão sendo levadas dos
1974). campos de cultura em direção ao mar. Antes de aí
chegarem, podem ser empilhadas nas encostas mais
Em conclusão, com a derrubada das florestas pa-
baixas, depositadas no leito ou nas várzeas dos rios,
ra fins agrícolas, os solos ficaram expostos à ero-
retidas nas barragens, reservatórios, canais de dre-
nagem ou baías, sempre causando prejuízos ( B i -
g a r e I I a , 1974).

A erosão dos campos de cultura no Brasil con-


duz a médio e longo prazo não só a decadência da
agricultura, como também constitui séria ameaça à
vida de nossas barragens hidroelétricas. Ninguém
pode negar o problema do entulhamento das bar-
ragens com os produtos da erosão das bacias hidro-
gráficas. Este problema deve ser considerado muito
seriamente e abordado no projeto, planificação e exe-
cução das obras. O entulhamento das barragens vai
afetar a produção de energia hidroelétrica no Bra-
sil em momento crítico, quando as reservas de pe-
tróleo já se encontrarem muito reduzidas ( B i -
g a re I l a , 1974).

Controle da erosão fluvial

No presente item são tratados os tipos de re-


vestimentos empregados em cursos de água canali-
zados ou em canais naturais, tendo por base os tra-
balhos d e C a m ú z z i (1978) e d e A g o s t i -
ni & P a p e t t i (1979), publicados respec-
tivamente pela Industrial e Mercantil Profér S/A.
(Gabiões Profer) e pela Maccaferri Gabiões do Brasil
Ltda. Aqui não estão incluídos os canais navegáveis
que exigem revestimentos especiais.

Os canais artificiais são projetados em função


dos aspectos topográficos e geológicos, bem como
em relação a localização das vias de comunicação
terrestres (rodovias e ferrovias) e distribuição dos
centros populacionais.

Os canais são construídos mediante escavações


ou aterros. As seções molhadas são, geralmente tra-
pezoidais, embora possam ser igualmente poligonais,
circulares, parabólicas, triangulares, retangulares, etc.
A seção pode apresentar ou não banquetas. A in-
clinação das margens depende principalmente do
F i g . 10-13 — Depósitos de s e d i m e n t o s f i n o s , s í l t l c o - a r g i l o s o s , nas material de que são formadas. Para os canais esca-
ruas e i n t e r i o r e s de residências em T u b a r ã o (SC), o r i g i n a d o s pelas
enchentes d e m a r ç o d e 1 9 7 4 .
vados no terreno e não revestidos, as inclinações

- 167 -
laterais variam de 1:3 a 1:1, dependendo da nature- Tipos de revestimentos
za do terreno. Para terrenos arenosos pouco coesivos
O tipo mais simples de revestimento é o man-
a inclinação mínima (vertical: horizontal) é de 1:3,
to de grama cujo crescimento pode ser expontâneo
enquanto que para terrenos argilosos compactos a
ou artificial. Em terrenos muito permeáveis, uma ca-
Inclinação máxima seria de 1:1. No caso de esca-
mada de material argiloso cobrindo o perímetro mo-
vação em rocha a parede do canal pode ser vertical.
lhado, tem função de impermeabilizar parcialmente
A f o r m a , as dimensões da seção, bem como a as paredes e o f u n d o do canal. Ao contrário se o ca-
inclinação do canal dependem em grande parte da nal possui margens argilosas, torna-se aconselhável
velocidade da correnteza e da magnitude do f l u x o um revestimento de proteção.
e de sua carga. Estes valores devem ser levados em
Os tipos mais usados de revestimento são os
conta a f i m de evitar-se, seja um rápido assoreamen-
flexíveis representados pelos colchões Reno e pelos
to, ou seja um processo de erosão do f u n d o e das
gabiões (figs. 10-14 e 10-15). Os revestimentos de
margens do canal.
"pedras a seco" colocadas desordenadamente, trata-
0 canal natural geralmente apresenta proble- das ou não com betume, encontram grande aplicação
mas. O revestimento, quando necessário, contribui nas obras de proteção dos cursos de água naturais,
na solução de vários poblemas, como: mas são pouco utilizadas na proteção dos canais. As
"pedras a seco" constituem um revestimento muito
1 — Redução das perdas de água do canal, onde desordenado e irregular.
a água é escassa;
Outros tipos de revestimentos têm sido utiliza-
2 — Redução da drenagem do lençol freático; dos, como os regulares, os de alvenaria simples, os
3 — Melhoramento da estabilidade dos taludes. de conglomerado de cimento e os de material betu-
Os revestimentos são, via de regra apoiados sim- minoso. Cabe ao técnico a tarefa de escolher aquele
plesmente nas margens, porém as vezes constituem mais apropriado que possua as características de i m -
verdadeiros muros de contenção. Os taludes corta- permeabilidade, robustez, flexibilidade, aspereza,
dos em terrenos argüosos são instáveis com as va- durabilidade econômica, entre eles adotar o tipo de
riações do nível de água. O revestimento aumenta maior segurança. Os revestimentos flexíveis apre-
consideravelmente sua estabilidade; sentam determinadas vantagens sobre os rígidos ou
semi-rígidos devido a: 1) sua adaptabilidade as pe-
4 — Controle da erosão das margens e do f u n - quenas variações do ambiente; 2) sua capacidade de
do, oferecendo proteção mecânica aos agentes ero-
sivos. A seção transversal dos canais artificiais é cal-
culada de sorte q u e a velocidade da corrente não
supere o valor limite característico do material de
fundo. O revestimento pode ev\tar a queda dos
taSudes das margens, bem como protege os canais
naturais sujeitos a erosão na época das cheias;

5 — Mudança do grau de rugosidade. Em al-


guns casos procurasse reduzir o grau de rugosidade
para canalizar a vazão em seções menores. Em o u -
tros casos, procura-se aumentá-la, para dissipar a
energia da correnteza por atrito nas paredes do ca-
nal, sem necessidade de construção de escadas dis-
sipadoras. A presença de revestimento permite a
obtenção de maior constância na vazão. Os canais de
terra estão sujeitos a serem cobertos de vegetação a
qual aumenta a rugosidade e reduz a vazão que o
canal deveria conduzir. A presença do revestimento
dificulta o crescimento da vegetação evitando de
certo modo a diminuição da vazão;
F i g . 10-14 — G a b i õ e s . Detalhe de u m a malha de tela de G a b i ã o .
6 — Redução das despesas de manutenção. (baseado e m C a m u z z i , 1978).

- 168 -
acompanhar as acomodações da superfície; 3) — sua As estruturas em colchão Reno e os gabiões
construção simples, tanto fora como dentro da água; encontram grande emprego em vi rtude, principal-
4) — o emprego de mão-de-obra não especializada. mente, de três características importantes: 1) — defor-
mabilidade; 2) permeabilidade e; 3) — possibilidade
de trabalhar à tração. As estruturas são apoiadas di-
retamente sobre o terreno a ser protegido, para
isso, é necessário que o terreno seja suficientemen-
te estável e que sua inclinação não provoque desli-
zamento da obra. Estas condições, entretanto, não
são rígidas, pois ao contrário de outras estruturas,
os revestimentos em colchão Reno ou gabiões têm
capacidade de adaptar-se também aos movimentos
das margens, e podem em parte, sustentar-se apoian-
do-se ao sopé, principalmente quando sua espessu-
Fig. 10-15 — Estrutura básica das obras de gabiões às margens ra for elevada.
de r i o s . A base constitui uma p l a t a f o r m a de p r o t e ç ã o a p o i a d a so-
bre o l e i t o do r i o . Em caso de erosão, ela é f l e x í v e l a c o m p a n h a n d o
a erosão até detê-ía (baseado em C a m u z z i , 1978).
O colchão Reno encontra grande campo de em-
prego nas obras de proteção de canais, sendo utili-
zado, principalmente em obras cie defesa dos cur-
Gabiões e colchões Reno sos naturais com fundo estável e dos cursos de água
de qualquer natureza, onde é necessário defender
Os gabiões constituem embalagens de pedras da erosão as margens e as canalizações, devido à
dentro de redes -metálicas. Os gabiões tipo caixa são ação lenta e contínua das águas (figs. 10-16 e 10-17).
amplamente empregados na construção de obras de
defesa e regularização hidráulica e nos revestimentos No caso de riachos, nos quais as águas tenham
de margens de consideráveis espessuras (fig. 10-14). um forte poder erosivo, o revestimento em colchão
Reno pode complementar outras estruturas mais re-
Os colchões Reno podem ser empregados espe- sistentes e apropriadas à situação local.
cificamente para revestimentos hidráulicos de peque-
na espessura e de grande flexibilidade em canais e Os colchões Reno geralmente são colocados
cursos de água canalizados. Os colchões Reno com transversalmente às margens do curso de água (figs
diafragmas são constituídos por estruturas metálicas 10-18 e 10-19). Esta disposição, entretanto não é
em. forma de paralelepípedo de grande tamanho e obrigatória, sendo as vezes preferível dispô-los lon-
pouca espessura, divididos em celas. São fabrica- gitudinalmente à corrente nos revestimentos de fun-
dos com redes metálicas de malha hexagonal de du- do, e nos casos de cursos rápidos, também no mes-
pla torção, duplamente galvanizada e, as vezes pro- mo sentido sobre as margens. A espessura do re-
tegida com um revestimento plástico. O colchão Re- vestimento em colchões Reno depende da natureza e
no é enchido na obra com seixos rolados ou casca- do grau de estabilidade do terreno de apoio, da ve-
lhos de dimensões apropriadas. Apresenta muitas locidade da corrente e da sua capacidade de trans-
semelhanças com os gabiões tipo caixa, tendo como porte. Evidentemente, a espessura da estrutura pode
eles, a regularidade geométrica e o mesmo esquema ser tanto menor quanto mais estável e menos incli-
construtivo. Nos aspectos funcionais diferencia-se dos nado for o talude e quanto menor for a velocidade
da corrente (vide tabela 10-2).
gabiões, pois constituem estruturas destinadas a re-
vestimentos contínuos de alta flexibilidade.

O colchão Reno é formado por uma tela contí-


'ifle/oc/i/at/d' ^speesv/saab
nua, sobre a qual de metro em metro estão costu- ¿/¿? cosr/e/f/ie
radas pequenas paredes de tela formando uma es-
trutura celular com diafragmas de largura constante
de 2 m. No enchimento do colchão com fragmentos 0$ a f,8 Q/5
de rocha não deve ser usado material friável. A ope- i8 a 3.6 0,15 a 0,25
ração obedece a seguinte ordem: 1) preparação de 3.6 a 4,5 0,25a 0.30
4,5 a 5,4 â30aõ5âe/fraà
cada elemento fora da obra; 2) colocação na obra
e união dos elementos; 3) — enchimento dos elemen- Tabela 10-2 — Espessura i n d i c a t i v a do r e v e s t i m e n t o em colchões
Reno o u g a b i õ e s e m f u n ç ã o das diversas v e l o c i d a d e s das c o r r e n -
tos; 4) costura das tampas. tes ( s e g u n d o A g o s t i n i & P a p e t t i , 1979).

- 169 -
gabiões tipo caixa com espessura de 0,5 a 1 m.
As obras mistas de colchões e gabiões tipo caixa
apresentam bons resultados. Prestam-se também à re-
gularização dos cursos de água de correnteza rápida
e de grande transporte de sólidos (figs. 10-20 e
10-21).

As defesas das margens a serem construídas


abaixo do nível da água são executadas, geralmen-
te, com pedras soltas ou rachões jogados do alto
diretamente sobre as margens submersas. As opera-
ções de colocação, apresentam desta forma, grandes
incertezas, pois torna-se difícil obter uma distribuição
uniforme do material sobre toda a superfície a ser
protegida. Este inconveniente pode ser superado pelo
sistema de lançamento de colchões Reno executado
através de pontões ou meios similares. Tal processo
de execução relativamente fácil apresenta bons re-
F i g . 10-16 — C a n a l i z a ç ã o do r i o J u n d i a í , na cidade h o m ô n i m a .
sultados técnicos e econômicos.
A base da e s t r u t u r a é f o r m a d a de gabíões-saco, em duas camadas
dispostas p e r p e n d i c u l a r e s às m a r g e n s , s o b r e o f u n d o do r i o . Os colchões Reno e os gabiões podem ser con-
A c i m a dos sacos encontram-se cordões de gabiÕes-caixa. A c i m a solidados ou impermeabilizados com mastique de
destes, sobre o t a l u d e , uma f a i x a de gabiões-manta (baseado em
C a m u z z i 1978). betume asfáltico, com vantagem de manter sua fle-

ísPta/afos/rra ^*\ãeffo do córrego

se/o

í/a eroeão

F i g . 10-17 — G a b i õ e s de p r o t e ç ã o do pé de um a t e r r o j u n t o a
curva d e u m r i o . N o corte e s q u e m á t i c o o n í v e l d a enchente m á - ^ffar^em ez/eferfe
x i m a d e v e ficar a b a i x o da crista do d i q u e (baseado em C a -
SEÇÃO A-A
m u z z i , 1978).

M * ** * k l
Os colchões Reno não são aconselháveis nos 1
j oo 'j ao '
t f

canais e cursos de água naturais onde os desmorona- SfÇAO&S -krk } Jr k k k~H


mentos das margens são freqüentes, uma vez que •k 3>°°k*
eles oferecem pouca resistência nessas condições. seçÃó c-c
Neste tipo de margem seria recomendável a utiliza-
F i g . 10 18 — Sistema de espigões em g a b i õ e s para p r o t e ç ã o da
ção de revestimentos mais robustos e pesados em m a r g e m de um rio ( s e g u n d o C a m u z z i , 1978).

- 170 -
xifoüidade aumentando sua compacidade, bem como
dando maior eficácia protetora da estrutura. A ope-
ração pode ser feita tanto a seco como abaixo do
nível da água.

F i g . 10-21 — Barragens de a s s o r e a m e n t o e c o n t e n ç ã o de e n c h e n t e s ,
c o n s t r u í d a s c o m f i n a l i d a d e d e d i m i n u i r a v e l o c i d a d e das águas das
Fig. 10-19 — E m p r e g o d e g a b i õ e s e m d i q u e s o u e s p i g õ e s o b l í q u o s t o r r e n t e s ( b a s e a d o em C a m u z z i , 1978).
a o l e i t o d o r i o p a r a c o n t e r a e r o s ã o das m a r g e n s . N a área e n t r e
os e s p i g õ e s o c o r r e s e d i m e n t a ç ã o ( b a s e a d o em C a m u z z i ,
1978).

F i g . 10-22 — D e t a l h e d a r e c u p e r a ç ã o d e cabeceira d e u m a p o n t e
F i g , 10-20 - Barragens d e a s s o r e a m e n t o e c o n t e n ç ã o d e e n c h e n t e s c o m g a b i õ e s - c a i x a f u n d e a d o s s o b r e u m a e s t i v a d e gabiões-saco
(baseado e m C a m u z z i , 1978). (baseado em C a m u z z i ' , 11978).

- 171 -
Os gabiões podem ser igualmente empregados
em obras específicas como a construção de pilares PfiOTEÇAÕ 0£ EtVCOtfrPO M POtflf
COM 6A3/â£S/AfAA/r,4
de pequenas pontes, na defesa de pilares e da ca-
beceira de pontes, bem como na proteção de rodo-
vias ou ferrovias, entre outras aplicações (figs. 10-22
a 10-25).
d/e$ipadbro (BB) V

5$cx/otr/o
Superfície do fa/udr
- <?risfo do reiiestijne/tto
sS$e0esdfM*errfc do fa/itdr

secçAo CC

F i g . 10-24 — Proteção d e e n c o n t r o d e ponte com gabiões-manta


(baseado em C a m u z z i , 1978).

L-H

F i g . 10-23 — P r o t e ç ã o de pilares de p o n t e s c o n t r a a e r o s ã o , c o m
um revestimento f l e x í v e l de gabiões (desenho superior). Em b a i x o , F i g . 10-25 — Proteção de pilares de p o n t e com g a b i õ e s d i s p o s t o s
a recuperação d a cabeceira d e u m a p o n t e com estruturas d e em f o r m a de a n e l . A e s t r u t u r a n ã o é presa ao p i l a r , e em caso
g â b i õ e s - c a i x a , f u n d e a d a s o b r e u m a estiva d e gabiões-saco ( b a s e a d o de e r o s ã o a c o m p a n h a esta, até estabilizá-la ( b a s e a d o em C a -
em C a m u z z Í , 1978). m u z z i 1978).

- 172 -
BIBLIOGRAFIA

AGI (American Geological Institute) — 1957 — Glos- climbing ripples and their cross-laminated
sary of Geology and related sciences. 2nd ed. deposits. Sedimentology, 14: 5-26.
A.G.L, "Washington. Allen, J.R.L. — 1970c — The avalanching of granu-
Agostini, R. & Papetti, A. — 1979 — Revestimentos lar solids on dune and similar slopes. J. Geol.,
flexíveis com colchões Reno e gabiões para 78(3): 326-351.
canais e cursos de água canalizados, 155 p. Allen, J.R.L. — 1970d — Studies in fluviatile sedi-
Maccaferri Gabiões do Brasil Ltda. mentation: a comparison of fining-upwards
Allen, J.R.L. — 1963 — Asymmetrical ripple marks cyclotems, with special reference to coarse-
and the origin of water-laid cosets of cross member composition and interpretation.
strata. Liverpool Manchester Geol. J., 3: Journ. Sed. Petrol., 40(1): 298-323.
187-236. Allen, J.R.L. — 1971a — Instantaneous sediment
Allen, J.R.L. — 1963 — Internal sedimentation deposition rates deduced from climbing-rip-
structures of wellwashed sands and sandsto- ple cross-lamination. J. Geol. Soc. 127: 553-
nes in relation to flow conditions. Nature, 200 561.
(4904): 326-327. Allen, J.R.L. — 1971b — A theoretical and experi-
Allen, J.R.L. — 1963 — Henry Clifton Sorby and mental study of climbing ripple cross-lamina-
sedimentary structures of sands, and sandsto- tion, with a field application to the Uppsala
nes in relation to flow conditions. Geol. en Esker. Geografiska Annaler 53 A (3-4): 157-
Mijnbouw, 42: 223-228. 187.
Allen, J.R.L. — 1964 — Studies in fluviatile sedi- Allen, J.R.L. & Friend, P.F. —- 1968 — Deposition
mentation: six cyclothems from the Lower of the Catskill facies, Appalachian region:
Old Red Sandstone, Anglo-Welsh Basin. Se- with notes on some other Old Red Sandstone
dimentology, 3(3): 163-198. basins. Spec. Pap. Geol, Soc. Am., 106-21.
Allen, J.R.L. — 1964 — Primary current lineation Antevs, E. — 1951 — Arroyo cutting and filling.
in the Lower Old Red Sandstone (Devonian), Journ. Geol. 60: 375-385.
Anglo-Welsh Basin. Sedimentology, 3: 89-108. Arnold, H . D . — 1911 — Limitations imposed by
Allen, J.R.L. — 1965 — Sedimentation to the lee slip and inertia terms upon Stokes' law for
of small underwater sand waves: an experi- the motion of spheres trough liquids. Phil. Mag.
mental study. J. Geol., 73(1): 95-116. vol. 22: 755-775.
Allen, J.R.L. — 1966 — On bed forms and paleo-
currents. Sedimentology, 6: 153-190. Bagnold, R . A . — 1960 — Some aspects of the shape
Allen, J.R.L. — 1967 — Depth indicators of clastic of river meanders. U.S. Geol. Surv., Profes-
sequences. Marine Geology, 5: 429-446. sional Papers, 282 E: 135-144
Allen, J.R.L. — 1968a — Current ripples. North- Bandeira Jr., A . N . & Suguio, K. — 1975 — Estudos
Holland, Amsterdam 433 p. sedimentológicos do delta do Rio Doce. Rela-
Allen, J.R.L. — 1968b — The diffusion of grains tório inédito (Convenio Petrobrás-Univ. Sao
in the lee of ripples, dunes and sand deltas. Paulo, 151 p.)
J. Sedim. Petrol. 38: 621-633. Bateman, A . M . — 1955 — Economic mineral de-
Allen, J.R.L. —1968c — The nature and origin of posits, 916 p. John Wiley & Sons. New York.
bed-form hierarchies. Sedimentology, 10: 161- Barry, R . G . — 1973 — The world hydrological cycle,
182. in Chorley, R.J. — Introduction to physical
Allen, J.R.L. — 1970a — An introduction to sedi- hydrology, p. 8-26, Methuen & Co. Ltd.
mentary structures. Geology 2: 8-20. Baulig, H. — 1954 — Quaternaire et morphologie
Allen J.R.L. — 1970b — A quantitative model of CNRS — Collogues Nationau du CNRS, Lyon.

- 173 -
Becker, R . D . — 1976 — Sedimentologia e estratigra- zilian Gondwana Geology, pp 235-301 Pap.
fia do Quaternário do baixo vale do Rio Ita- Max Roesner Ltda. Curitiba.
jaí-Mirim (Santa Catarina). Dissertação de Bigarella, J.J.; Marques F.°, P . L . & Ab'Saber, A . N .
Mestrado, Univ. Fed. Rio Grande do Sul. — 1961 — Ocorrência de pedimentos remanes-
Bernard, H. A. & Major Jr., C F . — 1963 — Recent centes nas fraldas da Serra do Iquererim
meander belt deposits of the Brazos river: an (Garuva, S C ) . Bol. Paran. Geogr., 4/5: 82-93.
alluvial sand model. Abstract. Am. Assoc. Bigarella, J.J.; Mousinho, M . R . & Silva, J.X. da —
Petrol. Geol. Bull., vol. 47(2): 350. 1965 — Pediplanos, pedimentos e seus depósi-
Bernard, H.A.; Major Jr. C.F.; Parrot, B.S. & Le tos correlativos no Brasil. Bol. Paran. Geogr.
Blanc, R.J. — 1970 — Recent sediments of 16/17: 117-151.
Southeast Texas. A field guide to the Brazos Bigarella, J.J. & Mousinho, M . R . — 1965 — Consi-
Alluvial and deltaic plains and the Galveston derações a respeito dos terraços fluviais, ram-
barrier island complex. The Univ. Texas. Bu- pas de colúvio e várzeas. Bol. Par. Geog.,
reau of Economic Geology, Guidebook 11. 16/17: 153-197.
Bigarella, J.J. — 1954 — Esboço da geomorfologia Billingsley, L . T . — 1978 — Stratigraphy of the
do Estado do Paraná. IBPT, Bol. 32, 22 pp. Pierre Shale, Trinidad Sandstone, and Verme-
Bigarella, J.J. — 1964 — Variações climáticas no jo Formation, Walsenburg Area, Colorado: a
Quaternário e suas implicações no revestimen- deltaic model for sandstone and coal deposi-
to florístico do Paraná. Boi. Par. Geogr. n.° tion, in H.E. Hodgson (Ed.), Proc. 2nd. Symp.
10/15: 211-231. on the Geol. Rocky Mountain Coal 1977. Colo-
Bigarella, J.J. — 1971 — Variações climáticas no rado Geol. Surv., Res. Series 4: 23-34.
Quaternário Superior do Brasil e sua datação Bittencourt, A . V . L . — 1978 — Sólidos hidrotrans-
radiométrica pelo método do carbono 14. Univ. portados na bacia hidrográfica do rio Ivaí;
S. Paulo. Inst. Geogr. Paleoclimas, 1, 22 p. aplicação de balanços hidrogeoquímicos na
Bigarella, J.J. — 1972 — Eolian environment; their compreensão da evolução dos processos da di-
characteristics, recognition and importance. nâmica externa. Tese de doutorado. Inst.
In: Rigby, J.K. & Hamblin, W.K. (eds) Re- Geoc., Univ. S. Paulo.
cognition of ancient sedimentary environ- Blissenbach, E. — 1954 — Geology of alluvial fans
ments. Soc. Econ. Paleont. Miner., Special in semi-arid regions. Geol. Soc. Am. Bull.,
Publ. 16: 12-62. 65: 175-190.
Bigarella, J.J. — 1973 — Paleocorrentes e deriva Boersma, J.R.; van de Meene, E . A . & Tjalsna, R.C.
continental (comparação entre América do Sul — 1968 — Intricated cross-stratification due
e África). Boi. Paran. Geoc., 31: 141-224. to interaction of a mega ripple with its lee-
Bigarella, J.J. — 1974 — Segurança ambiental, uma side system of back-flow ripples (upper-point-
questão de consciência... e muitas vezes de bar deposits, Lower Rhine). Sedimentology,
segurança nacional ADESG. Curitiba. 11:147-162.
Bigarella, J.J. — 1975 — The Barreiras Group in Brown Jr., L . F . — 1969 — Geometry and distribu-
Northeastern Brazil. An. Acad. Bras. Cien. tion of fluvial and deltaic sandstones (Penn-
vol. 47 (Suplemento) pp. 365-393. sylvanian and Permian). North Central Te-
Bigarella, J.J. et al. — 1978 — A Serra do Mar e a xas. Gulf Coast Geol. Soc. Trans, vol. 19.
porção oriental do Estado do Paraná... Um Brush Jr., L . M . — 1965a — Sediment sorting in
problema de segurança ambiental e nacional. alluvial channels, in Middleton, G . V . , ed. Pri-
Contribuição à geografia, geologia e ecologia mary sedimentary structures and their hydro-
regional. Editado pela Secret, do Planejamen- dynamic interpretation. S . E . P . M . , sp. Publ.,
to do Est. do Paraná em colaboração com a 12:
Ass. Def. Ed. Amb. (ADEA), 249 p. Brush Jr., L.M. — 1965b — Experimental work on
Bigarella, J.J. & Ab'Saber, A . N . — 1964 — Palaeo- primary sedimentary structures, in Middleton
geographische und Palaeoklimatische Aspekte G.V., ed., Primary sedimentary structure and
des Kaenozoikums in Suedbrasilien. Zeitschrift their hydrodynamic interpretation. S.E.P.M.,
f. Geomorphologie, 8(3): 286-312. sp. Publ., 12:
Bigarella, J.J. & Andrade, G O . — 1964 — Conside- Bucher, W . H . — 1919 — On ripples and related sedi-
rações sobre a estratigrafia dos sedimentos ce- mentary surface forms and their paleogeo-
nozóicos em Pernambuco (Grupo Barreiras). graphic interpretations. Am. Jour. Sci., 47:
Inst. Ciênc. da Terra, Arq. vol 2: 2-14. Re- 149-210, 241-269.
cife. Bull, W . B . — 1964 — Geomorphology of segmented
Bigarella, J.J. & Becker, R . D . (Ed.) — 1975 — In- alluvial fans in western Fresno County, Cali-
ternational Symposium on the Quaternary. fornia. U.S. Geol. Surv., Profess. Papers
Bol. Par. Geoc. 33: 1-370. 352 E: 89-129.
Bigarella, J.J. & Salamuni, R. — 1959 — Notas com- Camuzzi Fo., D. — 1978 — Gabiões Profer. Indus-
plementares à planta geológica da cidade de trial e Mercantil Profer S. A.
Curitiba e arredores. IBPT. Bol. 40, 14 p. Carlston, C . W . — 1965 — The relation of free mean-
Bigarella, J.J. & Salamuni, R. — 1961 — Ocorrên- der geometry to stream discharge and its
cias de sedimentos continentais na região li- geomorphic implications. Am. J. Sci. 263:
torânea de Santa Catarina e sua significação 864-885.
paleoclimática. Bol. Paran. Geogr. 4/5: 179- Cassyhap, S.M. — 1968 — Huronian stratigraphy
187. and paleocurrent analysis in the Espanola-
Bigarella, J.J. & Salamuni, R. — 1962 — Caracte- Willisville area, Sudbury District, Ontario, Ca-
res texturais da bacia de Curitiba (contribui- nadá. J. Sedim. Petrology, 38(3): 920-942.
ção à geologia geral). Bol. Univ. Paraná, Christofoletti, A. — 1974 — Geomorfologia, Edit.
Geol. 3. Edgard Bliicher Ltda. — Edit. Univ. S. Pau-
Bigarella, J.J. & Salamuni, R. — 1967 — Some pa- lo, 149 p.
laeogeographic and palaeotectonic features of Coleman, J.M. — 1969 — Brahmaputra River: Chan-
the Paraná Basin, in Bigarella, J.J.; Becker, nel processes and Sedimentation. Sediment.
R . D . & Pinto, I . D . (Ed.) Problems in Bra- Geol. 3: 129-239.

- 174 -
Coleman, J.M. & Gagliano, S.M. — 1965 — Sedi- Fisk, H . N . — 1944 — Geological investigation of
mentary structures; Mississippi River deltaic the alluvial valley of the lower Mississippi
plain, in G. V. Middleton (Ed.) Primary sedi- river. Mississippi River Commission, Vicks-
mentary structures and their hydrodynamic burg, Miss., 78 pp.
interpretation. Soc. Econ. Paleont. & Mine- Fisk, H . N . — 1947 — Fine grained alluvial deposits
ral., Spec. Pub., 12: 133-148. and their effects on Mississippi River activity.
Collins, B.A. — 1977 — Coal deposits of the Eastern Mississippi River Commission, Vicksburg, Miss.,
Piceance Basin, in D . K . Murray (Ed.), Geolo- 82 pp.
gy of Rocky Mountain, A Symposium 1976. Fisk, H . N . — 1952 — Mississippi River Valley geo-
Colorado Geol. Surv., Resource Series 1: logy relation to river regime. Trans. Am. Soc.
29-44. Civil Engrs., 117: 667-682.
Collinson, J.D. — 1970 — Bedforms of the Tana Flint, R.F. & Skinner, B.J. — 1974 — Physical Geo-
river, Norway. Geogr. Annaler, vol. 52: 31-56. logy. 2nd edition, 594 p. John Wiley & Sons.
Cotton, C.A. — 1940 — Classification and correla- New York.
tion of rivers terraces. Journ. of Geomorph., Frazier, D.E. — 1967 — Recent deltaic deposits of
3: 27-37. the Mississippi river: Their development and
Coutinho, J.M.V. — 1955 — Lantanita de Curitiba, chronology. Gulf Coast Geol. Soc. Trans.,
Paraná. Univ. S. Paulo. Fac. Fil. Cie. Letr. vol. 9.
Bol. 186 (Mineralogía n. 13), pp. 119-126. Freitas, R.O. — 1951 — Ensaio sobre o relevo tec-
Cunha, S.B. — 1978 — Ambiente e características tónico do Brasil. Rev. Bras. Geografia, Ano
hidrológicas da Bacia. do Alto Rio Grande XIII, n. 2, pp 171-222.
(Nova Friburgo — RJ) Dissertação de Mes- Freitas, R . O . — 1951 — Relevos policíclicos na tec-
trado. Univ. Fed. Rio de Janeiro. tónica do escudo brasileiro. Bol. Paulista de
Geografia, vol. 7, p. 3-19.
Davies, D . K . — 1966 — Sedimentary structures and
subfacies of a Mississippi River point bar. J. Galvão, M . V . — 1967 — Regiões bioclimáticas do
Geol. 74: 234-239. Brasil Rev. Bras. Geogr., 29(1): 3-36.
Davis, W . M . — 1909 — Geographical Essays Dover Gama Jr., E . G . — 1970 — Modelo geológico das
Publications, Inc. (reimpresso em 1954). bacias do Recôncavo e Tucano. Anais XXIV
Dawdy, D.R. — 1961 — Depth-discharge relations Congr. Bras. Geol. pp. 191-200.
of alluvial streams-discontinuous rating cur-
ves. U.S. Geol. Surv., Water Supply Papers, Gibbs, R.J. — 1967 — The geochemistry of the Ama-
1498C, 16 p. zon river system: part I — the factors that
Dean, W . R . — 1928 — Fluid motion in a curved control the salinity and the composition and
channel. Proc. Roy. Soc. (London), Ser. A . , concentration of the suspended solids. Geol.
121: 402-420. Soc. Am. Bull., 78(10): 1203-1232.
Doeglas, D.J. — 1962 — The structure of sedimen- Gilbert, C . G . — 1914 — The transportation of debris
tary deposits of braided rivers. US. Geol. Sur- by running water. U.S. Geol. Surv., Prof.
vey, Prof. Paper 262-B, 85 p. Paper 86. 262 p.
Donalson, A . C . (Ed.) — 1969 — Some Appalachian Gilbert, G . K . — 1899 — Ripple-marks and cross-
coals and carbonate models of ancient shallow- bedding. Geol. Soc. Am. Bull., 10: 135-140.
water deposition. West Virginia Geol. Econ.
Survey, 384 p. Hack, J.T. — 1942 — The changing physical envi-
ronment of the Hopi Indians of Arizona. Pa-
Drago, E.C. — 1973 — Caracterización de la llanura pers of the Peabody Museum of Am. Archeo-
aluvial del Paraná Medio y de sus cuerpos de logy and Ethenology, Harvard Univ., 35(1).
agua. Bol. Paran. Geoc, 31: 31-44.
Harms, J.C. & Fahnestock, R . K . — 1964 — Strati-
Dunbar, C O . & Rodgers, J. — 1957 — Principles of fication, bed forms and flow phenomena. Bull.
stratigraphy. New York, John Wiley and Sons Am. Assoc. Petrol. Geologists, 48: 530.
Inc.
Hickin, E.J. — 1969 — A newly identified process
Perm, C. & Cavaroc Jr., V . V . — 1968 —- A non of point bar formation in natural streams. Am.
marine sedimentary model for the Alleghany J. Sci., 267 (8): 999-1010.
rocks of West Virginia. Geol. Soc. Am., Spe- Hjulstrõm, F. — 1935 — Studies of the morphologi-
cial Paper, 106. .> cal activity of rivers as illustrated by the river
Fisher, W . L . ; Gama Jr., E . G . & Ojeda, H . A . O . Y . Fyris. Univ. Upsala, Geol. Inst. Bull. 25:
1972 — Depositional systems of the Espírito 221-527.
Santo Group and the Urucutuca Formation in Hjulstrõm, F. — 1939 — Transportation of detritus
the Espírito Santo Basin, Rel. Int. <ia Petro- by moving water, in Trask, P . D . (ed.) —
brás, no. 1292. Recent marine sediments, pp. 5-31. Tulsa.
Fisher, W . L . ; Gama Jr., E.G. & Ojeda, H . A . O . y Am. Assoc. Petrol. Geol.
— 1973 — Estratigrafía sismica e sistemas de- Holzmann, M. — 1967 — Contribuição ao estudo do
posicionais da Formação Pinçabuçu, Bacia clima do Paraná. CODEPAR, Curitiba (114 p.
Sergipe/Alagoas. Anais XXVII Congr. Bras. mimeografado).
Geol., vol 3: 123-133.
Hooke, R . L . B . — 1967 — Process on arid-region
Fisher, W . L . ; Morales, R . G . ; Piazza, H. Delia &
Brown Jr., L.F. — 1974 — Sistemas deposicio- alluvial fans. The Jour. Geology, 75(4): 438-
nais das bacias de Mucuri, Cumuruxatiba e 460.
Jequitinhonha. Anais do XXVIII Congr. Bras. Horton, R. F. — 1945 — Erosional development of
Geol., vol. 1: 13-26. streams and their drainage basins. Hydro-
Fisher, W.L. & McGowen, J.H. — 1967 — Deposi- physical approach to quantitative morphology.
tional systems in the Wilcox Group of Texas Geol. Soc. Am. Bull., 56(3): 275-370.
and their relationship to occurrence of oil Huntigton, E. — 1914 — The climatic factor as
and gas. Gulf Coast Geol. Soc. Trans., vol. 17. illustrated in arid America. Carnegie Inst.
Wash. Publ. 192, 341 pp.

- 175 -
Iriondo, M. — 1972 — Mapa geomorfológico de la Lovejoy, T . E . & Schubart, H . O . R . — 1979 — The
llanura aluvial del rio Paraná desde Helvecia ecology of Amazonian development, (manus-
hasta San Nicolás, República Argentina. Rev. crito, preprint). Conference on the develop-
de la Asoc. Geol. Argentina, T. XXVII, no. 2. ment of Amazonia in seven countries Centre
Buenos Aires. of Latin-American Studies, Univ. of Cam-
bridge .
Jopling, A . V . — 1965 — Hydraulic factors controll- Maack, R. — 1968 — Geografia Fisica do Estado do
ing the shape of laminae in laboratory deltas. Parana. 350 p. Curitiba.
J. Serum. Petrol., 35(4): 777-791. McCulloch, D.S. & Janda, R.J. — 1964 — Suba-
Jopling, A . V . & Richardson, E . V . — 1966 — Back- queous river channel barchan dunes. J. Se-
set bedding developed in shooting flow in la- dim. Petrology,
boratory experiments. J. Sedim. Petrology, McGee, J.W. — 1897 — Sheetflood erosion. Bull.
(9): 821-825. Geol. Soc. Am., 8: 87-112.
Jopling, A.V. & Walker, R.G. — 1968 — Morphology McGowen, J.H. & Garner, L . E . — 1970 — Physio-
and origin of ripple-drift cross lamination, graphic features and stratification types of
with examples from the Pleistocene of Massa- coarse grained point bars: modern and ancient
chusetts. J. Sed. Petrol. 38: 971-984. examples. Sedimentology, 14(1/2): 77-111.
McKee, E . D . — 1939 — Some types of bedding in
Kalinske, A . A . — 1942 — Criteria for determining the Colorado river delta. J. Geol., 47: 64-81.
sand transport by surface-creep and saltation. McKee, E . D . — 1957a — Flume experiments on
Am. Geophys. Union Trans., 2: 639-643. production of stratification and cross-stratifi-
Kennedy, J.F. — 1961 — Stationary waves and anti- cation. Jour. Sed. Petrology, 27: 129-134.
dunes in alluvial channels. W . M . Keck Lab. McKee, E . D . — 1957b — Primary structures in some
Hydraulic Water Res., Calif. Inst. Technol., recent sediments. Am. Assoc. Petrol. Geol.
Report, KH-R-2: 146 pp.
Bull., 41: 1704-1747.
Kindle, E . M . — 1917 — Recent and fossil ripple-
marks. Geol. Survey Canada, Mus. Bull., 25, McKee, E . D . — 1965 — Experiments on ripple la-
56 p. mination, in: G . V . Middleton (Ed.) Primary
Knill, J. —1970 — Environmental geology. Proc. sedimentary structures and their hydrodyna-
Geol. Assoc., 81: 529-537. mic interpretation. Soc. Econ. Paleontologists
Kolb, C . R . — 1962 — Distribution of soils border- Mineralogists, Spec. Publ., 12: 66-83.
ing the Mississippi River from Donaldsonville McKee, E.D. — 1965 — Significance of climbing-rip-
to Head of Passes. U . S . Army Waterways ple structure. U . S . Geol. Survey Prof. Paper,
Expt. Sta., Techn. Rept., 3/601, 61 pp. 550-D: D-94-D103.
Kolb, C . R . — 1963 — Sediments forming the bed McKee, E . D . ; Crosby, E.J. & Berryhill, H . L . —
and banks of the Lower Mississippi River and 1967 — Flood deposits, Bijou Creek, Colorado,
their effect on river migration. Sedimento- June 1965. J. Sedim. Petrol., 37: 829-851.
logy, 2: 227-234. McKee, E . D . ; Reynolds, M . A . & Baker Jr., C . H . —
Krumbein, W . C . & Sloss, L . L . — 1963 — Stratigra- 1962 — Laboratory studies on deformation in
phy and sedimentation. 2nd ed. W . H . Free- unconsolidated sediment. U . S . Geol. Surv.,
man and Co., Gan Francisco and London. Profess. Paper 450-D: 151-165.
Krynine, P . H . — 1950 — Petrology, stratigraphy McKee, E . D . & Weir, G . W . — 1953 — Terminology
and origin of Triassic sedimentary rocks of for stratification and cross-stratification in
Connecticut. Connecticut State Geol. and Nat. sedimentary rocks. Geol. Soc. Am. Bull., 64:
Hist. Surv., Bull. 73. 381-390.
Miller, V . C . and Miller, C.F. — 1961 — Photogeolo-
Langbein, B. & Schumm, S.A. — 1958 —- Yield of gy. McGraw Hill Book Co., Inc.
sediment in relation to mean annual precipi- Moody-Stuart, M. — 1966 — High-and low-sinuo-
tation. Am. Geophys. Union. Trans. V. 39, sity stream deposits, with examples from the
pp. 1076-1084. Devonian of Spitsbergen, J. Sedim. Petrol.
Lattman, L . H . — 1960 — Cross section of a flood 36, 1102.
plain in a moist region of moderate relief.
Journ. Sedim. Petrol. 30(2): 1355-1402. Morisawa, M. — 1968 — Streams: Their dynamics
Leighley, J.B. — 1934 — Turbulence and transpor- and morphology, McGraw Hill Book Co., 175p.
tation of rock debris by streams. Geographi- Mousinho, M . R . & Bigarella, J.J. — 1965 — Movi-
cal Review, 24: 453-464. mentos de massa no transporte dos detritos da
Leliavsky, S. — 1955 — An introduction to fluvial meteorizacao das rochas. Bol. Paran. Geogr.,
hydraulics. Constable. London. 16/17: 43-84.
Leopold, L . B . — 1953 — Downstream change of Muller, G. — 1967 — Methods in sedimentary pe-
velocity in rivers. Am. Jour. Sci., 251(8): trology. Stuttgart, E. Schweizerbartische
606-624. Verlagbuchhandlung, 283 p.
Leopold, L . B . & Maddock, T. — 1953 — The hy-
draulic geometry of stream channels and some Nedeco (Netherlands Engineering Consultants) —
physiographic implications U . S . Geol. Surv., 1959 — River studies and recommendations
Prof. Papers, 252: 1-57. on improvement of Niger and Benue. North
Leopold, L . B . & Wolman, M . G . — 1957 — River Holland, Amsterdam, 1000 pp.
channel patterns: braided, meandering and
straight. US Geol. Surv. Prof. Paper 282 B: O'Brien, M . P . — 1933 — Review of theory of tur-
29-84. bulent flow and its relation to sediment trans-
Leopold, L . B . & Wolman, M . G . — 1960 — River portation. Am. Geophys. Union, T r . , p 487-
meanders. Bull. Geol. Soc. Am., 71: 769-794. 491.
Leopold, L . B . ; Wolman, M . G . & Miller, J.P. — Ore, H . T . — 1963 —The braided streams depositio-
1964 — Fluvial processes in geomorphology. nal environment, Univ. Wyoming, PhD. The-
Freeman, San Francisco. 522 pp. sis.

- 176 -
Ore, H.T. — 1965 — Characteristic deposits of ra- Schumm, S.A. — 1961 — Effect of sediment cha-
pidly aggrading streams. Wyoming Geol. racteristics on erosion and deposition in ephe-
Assoc., 19th Field Conference Guidebook. meral-stream channels. U.S. Geol. Surv.,
Ottman, R.E.; Sternberg, H . O . R . ; Ames, F.C. & Prof. Paper, 352-C: 31-70.
Davies, L . C . — 1963 — Amazon river investi- Schumm, 1963 — A tentative classification of alluvial
gations, Reconnaissance measurements of Ju- river channels, U.S. Geol. Surv. Circular, 477:
ly 1963. U.S. Geol. Surv. Circ. 486. 1-10.
Schumm, S.A. — 1963 — Sinuosity of alluvial rivers
Pepper, J.F.; De Witt Jr., W. & Demarest, D.F. — on the Great Plains, Bull. Geol. Soc. Am., 74:
1954 — Geology of the Bedford Shale and 1089-1100.
Berea Sandstone in the Appalachian Basin. Schumm, S.A. — 1968 — Speculations concerning
U.S. Geol. Surv., Prof. Paper 259, 109 p. paleohydrologic controls of terrestrial sedi-
Picard, M . D . & High Jr., L.R. — 1973 — Sedimen- mentation, Geol. Soc. Am., Bull. 79: 1573-1588.
tary structures of ephemeral streams. Elsevier Selley, R.C. — 1976 — An introduction to sedimen-
Scientific Publishing Co., 223 p. tology. Academic Press, London 408 p.
Picard, M . D . & Hulen, J.B. — 1969 — Parting linea- Shepard, F.P. & Dill, R.F. — 1966 — Submarine ca-
tion in siltstone. Bull. Geol. Soc. Am., 80: nyons and other sea valleys, 381 p. Rand
2631-2636. McNally, Chicago.
Pienaar, P.J. — 1973 — Exploration for auriferous
and uraniferous conglomerates in the Witwa- Siemers, Ch. T. — 1978 — Generation of a simpli-
tersrand (Super-Group pf South Africa). fied working depositional model for repetitive
Anais do XXVII Congr. Bras. Geol. Vol. 1: coal-bearing sequences using field data: an
47-71. example from the Upper Cretaceous Menefee
Potter, P.E. & Pettijohn, F.J. — 1963 — Paleo- Formation (Mesaverde Group), Northwestern
current and basin analysis. Springer Verlag. New Mexico, in H.E. Hodgson (Ed.) Proc.
Berlin, 296 p. 2nd. Symp. on the Geol. Rocky Mountain
Powell, J.W. — 1876 — Exploration of the Colorado Coal 1977. Colorado Geol. Surv., Resource
Series 4: 1-22.
river of the west and its tributaries. U.S.
Govt. Printing Office, Washington D . C . , 291 p. Simons, D.B. — 1973 — Open channel flow, in Chor-
Power, W . R . , Jr. — 1961 — Backset bedding in the ley, J. (Ed.) Introduction to physical hydro-
Coso Formation, Inyo County, California. J. logy, pp. 131-152.
Sedim. Petrology, 31. 603-607. Simons, D.B. — 1975 — Open channel flow, in
Chorly J. (Ed.) Introduction to fluvial pro-
Radesca, M . L . P . S . — 1964 — A hidrografia, in cesses, pp. 124-145. Methuen & Co. Ltd.
A. de Azevedo (Ed.) — Brasil a Terra e o Ho- Simons, D . B . & Richardson, E.V. — 1961 — Forms
mem. Vol. 1, pp. 537-571. Comp. Editora Na- of bed roughness in alluvial channels. Am.
cional. São Paulo. Soc. Civil Eng. Proc, 87 no. HY, pp. 87-105.
Ramos, J.R.A. & Fraenkel, M.O. — 1974 — Prin- Simons, D . B . ; Richardson, E.V. & Albertson, M . L .
cipais ocorrências de uranio no Brasil. Anais — 1961 — Flume studies using medium sand
do XXVIII Congr. Bras. Geol. Vol. 1: 185-201. (0.45 mm). U.S. Geol. Survey Water Supply
Reid, W.H. — 1958 — On the stability of viscous Paper 1498-A: 76 pp.
flow in a curved channel. Proc. Roy. Soc. Simons, D . B . ; Richardson, E.V. & Nordin, C.F. Jr.
(London), Ser. A, 244: 186-198. — 1965 — Sedimentary structures generated
Reineck, H.E. & Singh, I.R. — 1973 — Depositio- by flow in alluvial channels, in Middleton, G.
nal sedimentary environments. Springer V., ed., Primary sedimentary structures and
Verlag, Berlin-Heidelberg-New York. 439 p. their hydrodynamic interpretation. S.E.P.M.,
Ricci, M. & Petri, S. — 1965 — Princípios de aero- Sp. Publ. 12: 34-52.
fotogrametria e interpretação geológica. 226p. Simons, D . B . ; Richardson, E.V. & Nordin Jr., C.F.
Biblioteca Universitária. Ciências Aplicadas 2. — 1965 — Forma generated by flow in allu-
Companhia Editora Nacional. vial channels, i n : Middleton, G . V . ( E d . ) : Pri-
Rubey, W . W . — 1937 — The force required to move mary sedimentary structures and their hy-
particles on a stream bed. U.S. Geol. Surv., drodynamic interpretation, Soc. Econ. Pa-
Prof. Paper, 189-E. leont. and Mineralogists, Spec. Publ., 12: 34-52.
Russel, R.J. — 1954 — Alluvial morphology of Ana- Smith, N . D . — 1970 — The braided stream depo-
tolian rivers. Ann. Assoc. Am. Geogr., 44: sitional environment: comparison of the
363-391. Platte river with some Silurian clastic rocks,
Saad, S. — 1973 — Evidências de paleodrenagem North-central Appalachians. Geol. Soc. Am.
na Formação Rio Bonito e sua importancia Bull., 81(10): 2993-3013.
na concentração de uranio. Anais do XXVII Sorby, H.C. — 1859 — On the structures produced
Congr. Bras. Geol., vol. 1: 129-160. by the currents present during the deposi-
Sanders, J.E. — Concepts of fluid mechanics pro- tion of stratified rocks. The Geologist, 2:137-
vided by primary sedimentary structures. J. 147.
Sedim. Petrol., 33(1): 173-179. Sorby, H.C. — 1908 — On the application of quanti-
Sarkar, S.K. & Basumallick, S. — 1968 — Morpho- tative methods to the study of the structure
logy, structure, and evolution of a channel and history of rocks. Q. Jl. Geol. Soc. Lon-
island in the Barakar river, Barakar, West don, 64: 171-233.
Bengal. J. Sediment. Petrol. 38: 747-754. Southard, J.B. & Boguchwal, L . A . — 1973 — Flume
Schumm, S.A. — 1956 — Evolution of drainage sys- experiments on the transition from ripples to
tems and slopes in badlands at Perth Amboy, lower flat bed with increasing sand size. Jour.
New Jersey. G.S.A. Bull. 67: 597-646. Sedim. Petrol., 43: 1114-1121.
Schumm, S.A. — 1960 — The shape of alluvial Spearing, D.R. — 1974 — Summary sheets of sedi-
channels in relation to sediment type. U.S. mentary deposits (Alluvial fan deposits: sheet
Geol. Surv. Prof. Paper, 352-B: 17-30. 1). Geol. Soc. Am.
Steinmetz, R. — 1967 — Depositional history, pri- Visher, G . S . — 1965 — Use of vertical profile in en-
mary sedimentary structures, cross bed dips, vironmental reconstruction. Am. Assoc. Petrol.
and grain size of an Arkansas river point bar Geol. Bull. 49(1) 41-61.
at Wekiwa, Oklahoma. Rep. F67-G-3. Amoco
Production Co. Walker, R . C . — 1963 — Distinctive types of ripple-
Strahler, A.N. & Strahler, A.H. — 1973 — Environ- drift cross-lamination. Sedimentology, 2: 173-
mental geoscience. Hamilton Publ. Co. 188.
Suguio, K. <fe Kutner, A.S. — 1969 — Estudo dos sedi- Weimer, R.J. — 1977 — Stratigraphy and tectonics
mentos do rio Cubatão (Estado de São Paulo). of Western coals, in D . K . Murray (Ed.), Geo-
Boi. Soc. Bras. Geol., 18(1): 57-78. logy of Rocky Mountain. A Symposium 1976.
Suguio, K. & Takahashi, L . I . — 1970 — Estudo Colorado Geol. Surv., Resource Series 1: 9-28.
dos aluviões antigos dos rios Pinheiros e Tietê, Whitaker, J.H.McD. — 1973 — "Gutter casts", a
São Paulo, S.P. Anais da Acad. Bras. Ciênc, new name for scour-and-fill structures: with
42: 555-570. examples from the Llandoverian of Ringerike
Suguio, K. et al. — 1971 — Novos dados sedimen- and Malmöya, Southern Norway. Nork Geo-
tológicos dos aluviões antigos do rio Pinheiros, logisk Tidsskrift, 53(4): 403-417.
São Paulo e seus significados na interpretação
do ambiente deposicional. Anais do X X V Williams, G . E . — 1966 — Planar cross-stratification
Congr. Bras. Geol., 2: 219-225. formed by the lateral migration of shallow
Sundborg, A. — 1956 — The River Klarãlven: a streams. J. Sedim. Petrology, 36(3): 742-746.
study of fluvial processes. Geograf. Ann. 38: Williams, P.F. & Rust, B.R. — 1969 — The sedi-
127-316. mentology of a braided river. Journ. Sedim.
Sykes, G.C. — 1937 — The Colorado delta. Carnegie Petrol. 39: 649-679.
Inst. Wash. Publ., 460: 193 pp.
Wisler, C O . & Bra ter, E.F. — 1964 — Hidrologia.
Tanner, W . F . — 1967 — Ripple mark indices and Trad, de Leonino Jr., Revisão de A . L . Perei-
their uses. Sedimentology, 9: 89-104. ra. Ao Livro Técnico S.A. 484 p.
Tanner, W.F. — 1968 — Rivers meandering and Wolman, M . G . — 1959 — Factors influencing ero-
braiding, in Fairbridge, R.W. (Ed.) The Ency- sion of a cohesive river bank. Am. J. Sei.,
clopedia of Geomorphology. Encyclopedia of 257: 204-216.
Earth Sciences Series, vol. 3; 957-963. Dow-
den, Hutchinson & Ross, Inc. Wooldridge, S.W. & Beaver, S.H. — 1950 — The
Thornbury, N . D . — 1958 — Principles of geomor- working of sand and gravel in Britain: a pro-
phology. John Wiley & Sons, 118 p. New blem in land use, Geogr. Jour., 115: 42-57.
York. Wurster, P. — 1958a — Geometrie und Geologie von
Thornthwate, C . W . ; Sharp, C . F . S . & Dosch, E.F. Kreuzschichtungskörpern. Geol. Rundschau,
— 1942 — Climate and accelerated erosion in 47(1): 322-359.
the arid and semi-arid southwest with special Wurster, P. — 1958b — Schüttung des Schilf S a n d -
reference to the Polaca Wash drainage basin, steins in mittleren Württemberg. Neues Jb.
Arizona. U . S . Dept. Agr. Tech. Bull. 808, Geol. Paläont., Mh., 11: 479-489.
134 p.
Verdade, F . C . & Hungria, L . S . — 1966 — Estudo Yalin, S . M . — 1964 — Geometrical properties of
genético da bacia orgânica do vale do Paraíba. sand waves. J. Hydraulics Div., Am. Soc. Ci-
Bragantia, 25(16): 189-202. vil Engrs. 90(HY5): 105-119.

Nota: A foto apresentada na figura 5-25 foi tirada por Erico Zwick e gentilmente cedida por Maria T.
Langer. As demais fotos são originais .

- 178 -
ÍNDICE DE AUTORES

Ab' Saber, A . N . — 75, 114, 143 Collins, B.A. — 162, 163


AGI — 72, 81 Collinson, J.D. — 54
Agostini, R. — 167, 169 Cotton, C.A. — 75
Allen, J.R.L. — 13, 20, 34, 35, 36, 38, 46, 47, 48, Coutinho, J.M.V. — 159
49, 50, 51, 52, 53, 56, 59, 60, 61, 64, 65, 66, Crosby, E.J. — 60
67, 68, 69, 70, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 92, 95, 96, Cunha, S.B. — 10, 19, 31
97, 106, 113, 152, 153
Andrade, G.O. — 75, 143 Darcy — 44
Antevs, E. — 74 Davies, D.K. —60
Arnold, H . D . — 41 Davis, W . M . — 1, 2, 13
Dawdy, D.R. — 36
Bagnold, R.A. — 50, 86 Dean, W . R . — 50
Baker J r . , C . H . —120, 121 Dill, R.F. — 114
Bandeira J r . , A . N . —20 Doeglas, D.J. — 22, 93, 101, 102, 103, 154
Barry, R . G . — 5, 9, 12 Donalson, A . C . —155
Basumallick, S. — 106 Dosch, E.F. —74
Bateman, A . M . —161 Drago, E.C. —24
Baulig, H. — 81 Dunbar, C O . — 110
Bazin — 44
Beaver, S.H. — 156 Fahnestock, R.K. — 65
Becker, R . D . — 21, 73, 77, 79, 80, 81, 93, 110, 117, Ferm, C. — 155
118,120, 140, 143 Fisher, W . L . —151, 155
Bernard, H.A. — 95,153 Fisk, H . N . — 85, 86, 87, 88, 106, 108
Berryhill, H.L. — 60 Flint, R.F. — 159
Bigarella, J.J. — 6, 7, 8, 15, 16, 19, 20, 21, 73, 74, Fraenkel, M . O . — 159
75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 93, 105, 106, Frazier, D.E. — 153
110, 114, 117, 118, 119, 120, 122, 123, 124, 125,
128, 129, 133, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146, Freitas, R . O . — 73
147, 148, 149, 150, 157, 167 Friend, P.F. — 96
Bigarella, N . C . —160 Galvão, M.V. — 8
Billingsley, L.T. — 162 Gama Jr., E . G . — 151
Bittencourt, A . V . L . — 28, 29, 32
Blissenbach, E. — 114,117 Garner, L.E. — 89, 98, 99, 153
Boersma, J.R. — 65, 67, 68 Gibbs, R.J. —28,31
Boquchwal, L.A. — 45 Gilbert, C G . —44, 70
Brater, E.F. — 9
Brown Jr., L . F . — 151, 155 Hack, J.T. —74
Brush Jr., L . M . — 57, 66 Harms, J. C — 65
Bull, W . B . —114 Hickin, E.J. — 153
Bunting — 163, 164 Hjulstrõm, F. — 29, 37, 40
Holzmann, M. — 10
Camuzzi Fo., D. — 167, 168, 169, 170, 171, 172 Hooke, R . L . B . — 114, 115, 116
Carlston, C . W . — 50 Horton, R.F. — 19
Cavaroc Jr., V . V . — 155 Hulen, J.B. — 60
Christofoletti, A. — 19, 31, 33, 73 Hungria, L.S. — 110
Coleman, J.M. — 101,104, 105, 106, 110 Huntington, E. — 74

- 179 -
Iriondo, M. — 24 Reineck, H . E . — 95, 97, 98, 101, 102, 104, 105, 109,
110, 111, 114
Janda, R.J| — 69 Reynolds, M . A . — 120, 121
Jopling, A . V . — 54, 60, 64, 65, 67, 70 Ricci, M. — 17
Kalinske, A . A . — 39 Richardson, E . V . — 31, 44, 46, 57, 70
Kennedy, J.F. — 96 Rodgers, J. —110
Knill, J. — 156 Rubey, W . W . —32, 42
Kolb, C.R. — 108 Rüssel, R.J. — 20
Koste — 40 Rust, B . R . — 103, 104, 153
Krumbein, W . C . —42 Saad, S. — 159
Krynine,P.H. — 110
Kutner, A . S . — 30 Salamuni, R. — 15, 106, 114, 148, 149, 150, 157
Sarkar, S.K. —106
Lattman, L . H . — 83 Schubart, H.O.R. — 163
Leighley, J.B. — 36 Schümm, S.A. — 38, 85
Leliavsky, S. — 37, 86 Selley, R . C . — 158
Leopold, L . B . — 20, 21, 30, 49, 50, 72, 74, 75, 81, Shamov — 86
82, 83, 85, 89, 92, 97 Schantzer — 95, 96
Love joy, T.E. — 163 Sharp, C.F.S. — 74
Shepard, F . P . —114
Maack, R. — 2 Siemers, Ch.T. — 161
Maddock, T. — 49, 50, 92 Silva, J.X. —20, 76, 114
Major Jr., C.F. — 95, 153 Simons, D . B . — 25, 31, 34, 44, 45, 46, 55, 56, 57
Marques Fo., P.L. — 114 Singh, I . R . — 95, 97, 98, 101, 102, 104, 105, 109,
Mc Cullach, D . S . — 69 110, 111, 114
McGee J . W . 72 Skinner, B.J. — 159
McGowen, J.H. — 89, 98, 99, 151,153, 155 Sloss, L.L. — 42
McKee, E.D. — 52, 53, 60, 61, 62, 63, 64, 67, 111, Smith, N . D . — 90, 154
112, 113, 114, 120, 121 Sorby, H . C . — 1, 56
Southard, J.B. — 45
Miller, J.P. — 72, 75, 81, 82, 83, 89, 97 Spearing, D . R . — 115
Moody-Stuart, M. — 96 Spitzner, R. — 160
Morales, R . G . — 151 Steinmetz, R. — 98
Morisawa, M. — 37, 72 Strahler, A . N . —19
Mousinho, M . R . — 19, 20, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, Suguio, K. —20, 30, 157
80, 81, 82, 83, 105, 106, 114, 125, 128, 129, 133, Sundborg, A. — 34, 35, 37, 57, 85, 98
140, 141, 142, 143, 157 Sykes, G . C . — 92
Muller, G. — 40
Takahashi, L . I . — 157
Nedeco — 92 Tanner, W.F. — 8, 58
Nordin Jr., C.F. — 44, 57 Thornbury, N . D . — 80, 81
Thornthwaite, C . W . — 74
Ojeda, H . A . O . y— 151 Tjalsma, R . C . — 65, 67, 68
Ore, H . T . — 154
Ottman, R . E . — 9 Van Meene, E . A . — 65, 67, 68
Verdade, F . C . — 110
Papetti, A. —167,169 Visher, G . S . —95
Pepper, J.F. — 155
Petri, S. — 17 Walker, R.G. — 60
Piazza, H. Delia — 151 Weimer, R.J. — 160, 161, 162
Picard, M . D . — 60 Weir, G . W . —52, 53
Pienaar, P.J. — 158 Williams, G . E . — 68, 69
Powell, J . W . —1 Williams, P.E. — 103, 104, 153
Wisler C O 9
Radesca, M . L . P . S . — 13 W o l m a n / M . G . — 20, 21, 50, 72, 74, 75, 81, 82, 83,
Ramos, J.R.A. — 159 85, 89, 92, 97
Reid, W . H . —50 Wooldridge, S.W. —156

- 180 -
C O N T E Ú D O

Prefácio v

1 - GENERALIDADES 1

2 - HIDROLOGIA 3
Qual é o conceito de rio? 3
O ciclo hidrológico 3
Distribuição das águas no globo terrestre 5
Relação entre precipitação e escoamento 6
Capacidade de infiltração 9
Evapotranspiração 10
Influência geológica 11
Influência climática 12

3 - CONCEITOS FISIOGRÁFICOS FUNDAMENTAIS 13


Padrões de drenagem . . . ; 13
Classificação genética dos rios 13
Classificação geométrica dos padrões de drenagem 17
Classificação segundo o padrão de escoamento 18
Leis da organização de uma rede de drenagem 19
Padrões de canais 19
Canais retilíneos 21
Canais anastomosados 22
a) Condições climáticas 22
b) Natureza do substrato (solo) 22
c) Cobertura vegetal 23
d) Gradiente 23
Canais meandrantes 23
O médio rio Paraná — um exemplo de padrões de canais na
Argentina 24

4 - DINÂMICA DA ÁGUA CORRENTE 25


Conceitos básicos 25
Competência, capacidade e carga de transporte 29
Tipos de movimento e energia da água corrente 32
Fluxo laminar 32
Fluxo turbulento 32
Número de Reynolds 33
Número de Froude 34
Ressalto hidráulico 34
Camada limite 35
Distribuição da velocidade e turbulência 36
Relação entre erosão, transporte e sedimentação 37
Perfil longitudinal dos rios 38
Mecanismos de transporte por água corrente 39

- 181 -
Transporte por tração 39
Transporte por saltação 39
Transporte por suspensão 40
Velocidade de decantação das partículas 40
Lei de Stokes 40
Lei do impacto 41
Transporte seletivo das partículas 42

5 - ATIVIDADES MORFOLÓGICAS DAS CORRENTES 44


Relações entre regime de f l u x o e forma de leito 44
Regimes de f l u x o 44
Formas de leito (Generalidades) 46
Formas de leito e estabilidade do f l u x o 47
Hierarquização das formas de leito 51
Condição n.° 1 51
Condição n.° 2 52
Condição n.° 3 >. . 52
Estratificação originada pela migração das formas de leito ... 52
Classificação da estratificação cruzada 52
1 — Estratificação cruzada 53
a) Estratificação cruzada acanalada 53
b) Estratificação cruzada de camadas frontais ... 54
2 — Estratificação paralela e horizontal 54
3 — Superfície de reativação 54
Estratificação cruzada de pequeno porte 54
Estratificação cruzada de grande porte 55
Laminação e lineação 55
Formas de leito (descrição) 56
1 — Camada plana sem movimentação 56
2 — Micro-ondulações 56
3 — AAacro-ondulações 63
Forma do estrato frontal 64
Turbulência a jusante do estrato frontal 67
4 — Camada plana com movimentação de sedimento ... 69
5 — Antidunas 70

6 - PROCESSOS DE EROSÃO FLUVIAL E FORMAÇÃO DE TERRAÇOS


FLUVIAIS 71
Desenvolvimento de canais e vales 71
Conceito de terraço 72
Formação de terraços fluviais 72
Terraços fluviais no Brasil 73
Várzeas 80
Considerações gerais . 80
Deposição 82

7 - PROCESSOS SEDIMENTARES FLUVIAIS 84


Formação de barras de meandros 85
Barras laterais 87
Transbordamento 87
Rompimento de diques naturais 88
Abandono e preenchimento de canal 88
Formação de barras de corredeiras . 89
Anastomosamento fluvial 89

8 - SEDIMENTOS DE ORIGEM FLUVIAL 91


A — Sedimentos de vales aluviais 91
Depósitos de canal 92
Depósitos residuais de canal 92
Depósitos de barras de meandro 94

- 182 -
Depósitos de barras de corredeira 100
Depósitos de barras longitudinais e transversais . . . 100
Barras de canal e depósitos de rios anastomosados . . 101
B — Depósitos de transbordamento 107
Depósitos de bacias de inundação 109
Depósitos de planícies de inundação 110
Estruturas convolutas 112
C — Depósitos de rompimento de diques 112
D — Depósitos de preenchimento de canais 113
E — Depósitos de leques aluviais 114
a) Tamanho e forma 114
b) Textura e composição 115
c) Fácies sedimentares e processos deposicionais . . 115
Depósitos de corridas de detritos 116
Depósitos residuais 116
Depósitos transicionais 116
Sedimentos subaquáticos 116
F — Alguns exemplos de leques aluviais no Brasil 117
Catástrofe de Tubarão (março 1974) 117
Miniatura de leques aluviais 118
G — Depósitos fluviais do Quaternário Brasileiro 119
a) Plaino aluvial do rio Iguaçu 119
b) Terraços do Rio São Francisco 123
c) Planície aluvial em Riachão (BA) 126
d) Terraços do rio Gurgueia (PI) 127
e) Plaino aluvial do rio Mauricio 128
f) Terraços do vale do rio Ribeira 140
g) Terraços do vale do rio Itajaí-Mirim (SC) 140
H — Depósitos fluviais do Grupo Barreiras 143
I — Arenitos fluviais pré-Cenozóicos 148

9 - SISTEMAS DEPOSICIONAIS . 151


Conceito de sistemas deposicionais 151
Sistemas deposicionais fluviais 152
Sistema fluvial meandrante pelítico 152
Sistema fluvial meandrante psamítico 153
Sistema fluvial anastomosado 154
Sistema fluvial retilíneo ou de distributários deltaicos 154
Estudo comparativo dos quatro modelos básicos 155

10 - IMPORTÂNCIA DOS SEDIMENTOS FLUVIAIS NA GEOLOGIA ECO-


NÔMICA E APLICADA 156
Introdução 156
Materiais de construção 156
Minérios sedimentares 157
Minérios de urânio 158
Minérios sedimentares aluvionares 160
Jazidas de carvão ligadas à atividade fluvial 161
Geologia ambiental e aplicada 162
Problemas relacionados com a erosão e as enchentes . . . . . . . 164
Controle da erosão fluvial 167
Tipos de revestimentos 168
Gabiões e colchões Reno 169

BIBLIOGRAFIA 173

ÍNDICE DE AUTORES 179

CONTEÚDO 181

- 183 -
Impresso na Imprensa Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis - Santa Catarina - Brasil
em Novembro de 1990

Você também pode gostar