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EDITORA
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Maria de Lourdes de Souza - Presidente
Dilvo I. Ristoff
Phillipp Humblé
Marcos Caroli Rezende
Nilcéa Lemos Pelandré
Sylvio Monteiro Júnior
AMBIENTES FLUVIAIS
2- Edição
Revista
Florianópolis
1990 UFPR
© 1979 dos Autores
a
2 - Edição 1990
Editora da UFSC
Campus Universitário - Trindade
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FICHA CATALOGRÁFICA
Catalogação na Fonte pelo Departamento de Biblioteconomia e
Documentação da UFSC
CDU 551.3.051
CDD 551.303
1. Sedimentação. I Bigarella, João José, colab. II. Tftulo.
1 - Sedimentação 551.3.051
As correntes fluviais, representam possivelmen- os rios erodem para formar os seus próprios vales.
te um dos mais importantes agentes geológicos, que O padrão irregular exibido pelos sistemas de dre-
desempenham papel de grande relevância não só na nagem também parece constituir uma prova de que
escultura do modelado da superfície terrestre, como os vales são escavados pela ação das águas cor-
também no condicionamento ambiental da própria rentes.
vida do Homem. Civilizações antigas floreceram às S o r b y (1859) preocupou-se com o estudo
margens dos grandes rios, como por exemplo, no das formas de leito, enquanto que P o w e I I
Tigres e no Nilo. Ainda hoje grandes cidades si- (1876) foi um dos primeiros a demonstrar as leis
tuam-se e desenvolvem-se ao longo das margens da fundamentais da ação fluvial. Este autor estabeleceu
maioria dos rios principais que fluem nos diferentes o conceito de nível de base de erosão fluvial, a par-
continentes. Na antiguidade os rios constituíram um tir do qual formulou a idéia de ciclo de erosão que,
meio de penetração natural do Homem em direção na fase final, conduziria à peneplanização do relevo.
ao interior dos continentes. Até hoje, muitos rios Este conceito clássico ainda é aceito por muitos pes-
prestam-se à navegação. Contudo, seu papel mais quisadores, entretanto, são necessárias reformula-
importante reside no abastecimento de água, irriga- ções do problema em face a evolução dos conheci-
ção e na produção de energia elétrica. mentos sobre o assunto.
- 3 -
pitadas sâo distribuidas pela superficie terrestre de 7 — parte é retida nas raízes ou tecidos vegetais,
varias maneiras (fig. 2-4): não voltando ao ciclo até a morte da planta;
8 — pequena parte reage quimicamente no subsolo,
participando da constituição dos minerais alte-
rados;
9 — parte pode ser retida em lagos para evaporar
mais lentamente.
- 4 -
O escoamento superficial se faz na superfície Do total das precipitações 77% cai sobre os
do terreno, podendo o fluxo ser confinado em ca- oceanos e 23% sobre a terra emersa. Os oceanos
nais ou então em forma de fluxo em lençol. No pre- contribuem com 84% da evaporação verificada no
sente livro trataremos tanto dos depósitos de canais globo terrestre, enquanto que as terras emersas com
como daqueles resultantes do fluxo em lençol. apenas 16%. Os oceanos evaporam 7% de água a
mais do que a percentagem de chuvas que recebem.
Por sua vez, as terras emersas, pela evapotranspira-
Distribuição das águas no globo terrestre
ção devolvem à atmosfera 7% a menos das preci-
pitações, sendo que o excesso delas vai pelos rios
Os dados que apresentamos a seguir baseiam-se
aos oceanos onde o cicio é fechado (fig. 2-7).
em B a r r y (1973). Cerca de 7 1 % da superfície
terrestre encontra-se coberta pelas águas. Os ocea- A evaporação e evapotranspiração constituem
nos contêm 97% do total da água existente na Terra a fonte da umidade atmosférica. As maiores evapo-
(fig. 2-5). rações (excedendo 2000 mm anuais) ocorrem no in-
verno nas áreas ocidentais subtropicais do Atlântico
e Pacífico setentrionais, bem como na região dos
alísios dos oceanos meridionais. Nas áreas continen-
tais os máximos de evaporação ocorrem nas regiões
equatoriais em conseqüência da alta radiação solar
e da luxuriante vegetação tropical. A umidade at-
mosférica resulta da evaporação local, da tempera-
em area F/% e&f área 29% tura do ar e do aporte lateral de umidade. Ela con-
Í/O/Uwe de água $7% do/ume de água 3% siste de vapor d'água, bem como de gotículas e cris-
Fig. 2-5 — D i s t r i b u i ç ã o das águas na s u p e r f í c i e t e r r e s t r e .
tais de gelo nas nuvens. Nestas a quantidade de
água constitui apenas 4% do total existente na at-
De toda água disponível na terra emersa 75% mosfera. A quantidade de umidade existente sobre
encontra-se nas geleiras e nos lençóis de gelo, en- os continentes é em média 2 a 3 vezes menor do
quanto que quase 24,5% forma os reservatórios de que aquela sobre o oceano.
água subterrânea. Apenas 0,33% encontra-se nos la-
As diferenças climáticas entre as várias regiões
gos, 0,035% na atmosfera e somente 0,03% flui nos
dependem do transporte da umidade atmosférica de
rios (fig. 2-6).
uma região para outra. A quantidade de umidade
existente na atmosfera, bem como o regime de pre-
cipitações são de fundamental importância no esta-
belecimento de um determinado tipo de padrão de
drenagem regional.
Os aspectos atuais da distribuição dos continen-
tes e dos diversos regimes hidrológicos diferem
muito daqueles do passado geológico. Durante o
Quaternário ocorreram mudanças climáticas profun-
das que ocasionaram alternâncias de longas fases cli-
TfHtfdade do&/o 0,06% máticas secas ou úmidas. Estas mudanças, natural-
atmosfera 0,035%
mente interferiram na natureza variada dos depósi-
Fig. 2-6 — Á g u a d i s p o n í v e l n a s u p e r f í c i e e m e r s a d o g l o b o t e r r e s t r e
e na sua a t m o s f e r a . tos sedimentares.
nos ^ / ^ - - ~ ^
•/• / / ? / / / / / / . ' / / / / / • /
/ / / / /
- 5 -
O exame das várias seqüências estratigráficas São Gabriel (Amazonas) 2956 mm
de origem fluvial demonstra, via de regra, a predo- Remate de Males (Amazonas) 2936 mm
minância de quadros climáticos semi-áridos caracte- Belém (Pará) 2805 mm
rizados por chuvas concentradas e regime torrencial
dos cursos d'água. Na zona serrana do Brasil Sudeste e Meridional
ocorrem os maiores índices de pluviosidade (vide
A desigualdade das condições climáticas do tab. 2-1).
passado deve-se à configuração e relevo dos conti-
nentes, extensão dos oceanos e variações das taxas Do total das chuvas caídas na bacia hidrográ-
2
de radiação solar. Estas, influenciadas muito prova- fica do Ipiranga, PR (área de 49 k m ) , a montante da
velmente, pelas mudanças da excentricidade da ór- Estação de Véu de Noiva (Ferrovia Curitiba-Para-
bita terrestre, da obliqüidade da eclítica e da longi- naguá), 6 2 % das precipitações são devolvidas à
tude do periélio. Este conjunto de fatores deve ter atmosfera (fig. 2-8). O deflúvio anual deste rio, junto
influído sobre a distribuição das precipitações e so- ao posto pluviométrico apresenta os seguintes valo-
bre o regime hidrológico dos antigos sistemas f l u - res:
viais. d e f l ú v i o médio 1415 mm
d e f l ú v i o máximo 2200 mm (em 1947)
Relação entre precipitação e escoamento deflúvio mínimo 1002 mm (em 1941)
- 6 -
Tabela 2-1
Valores médios, máximos e mínimos da precipitação na Serra do A/lar do Brasil Sudeste e Meri-
dional.
Precipitação Precipitação
Precipitação Precipitação
máxima anual máxima em
média anual mínima anual
24 horas
(mm) (mm) (ano) (mm) (ano) (mm)
Bracinho (SC) 3470 7473 (1937) 2112 (1941) 404
Véu de Noiva (PR) 3728 5363 (1947) 2487 (1942) 223
Salto do Pirai (SP) — 6575 (1947) 3319 (1948) —
Serra do Cubatão (SP) 5400 (1967) 3000 (1960) —
Curva da Onça (SP) - 4600 (1966) 2900 (1968) —
-
- 7 -
4 — da precipitação antecedente e da umidade do coamento corresponde aproximadamente a 3 0 % das
solo; precipitações ( T a n n e r , 1968: 952). N a bacia
5 — de outras condições climáticas q u e afetam a do rio Ipiranga, em Véu de Noiva, na Serra do Mar
evaporação e transpiração. (Paraná) verificou-se um escoamento médio de 3 8 %
das precipitações ( B i g a r e l l a , 1974).
As características físicas que afetam o deflúvio
4oo
relacionam-se com:
300
1 — área, forma e altitude da bacia de drenagem;
2 — declividade e orientação da drenagem; 26,0 20O
3 — tipo de drenagem; 7392 Hl**
ÍOO
4 — tipo de solo e sua utilização.
• 80
3ô •60
300 -40
so
10H -20
j u a z e i r o f%a) 3?3 ^
80
4
2 6 ° 3 2500 -76 11
gr
3200 -79 510
K\\\\\\\\v
42^ 16
4000 65
f/km
O
Fig. 2-10 — Diagrama ombrotérmico da localidade de Juazeiro 60
6700 1SÕ- 5ÔÕ
(BA). Temperatura média anual: 2 6 , 3 ° C . Precipitação média anual: f/km 2
502 mm. Ordenada à direita: precipitação em mm. Ordenada à o 20 40 60 80 100 120 140 !60 180
esquerda temperatura em °C. Área pontilhada: estação seca. Fíg. 2-12 — Bacias de drenagem, descarga anual e carga média
Á r e a com hachurias verticais: estação ú m i d a . Paisagem de caatinga anual de alguns d o s p r i n c i p a i s rios do m u n d o (baseado em dados
(Segundo G a l v ã o , 1967). de H o I e m a n , 1968 referidos por S t r a h I e r &
S t r a h l e r , 1973).
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que o débito médio do rio Amazonas pode chegar A capacidade de infiltração de um determinado
a 1 1 % do escoamento superficial anual do mundo solo durante uma chuva depende da textura e es-
todo ( O t t m a n et al., 1963). Esta cifra mostra frutura do solo, da cobertura vegetal, das estruturas
a importância do rio Amazonas na superfície terres- biológicas, da umidade prévia do solo e das condi-
tre. O gráfico da figura 2-12 compara a descarga ções da superfície. A textura refere-se ao tamanho e
anual dos principais rios do mundo. arranjo dos grãos que constituem o solo. Ela deter-
mina a porosidade e a permeabilidade, ou o volume
A relação entre precipitação e escoamento em
de água que pode ser absorvido pelo solo e a ve-
uma determinada bacia, deve levar em consideração
locidade de movimentação através do mesmo. Em
a situação anterior da mesma. Se houver uma preci-
geral, os solos mais permeáveis apresentam maicr
pitação sobre a bacia previamente supersaturada, o
capacidade de infiltração. A estrutura do solo está
escoamento será totalmente superficial, não havendo
ligada ao estado de agregação das suas partículas.
mesmo evaporação se a umidade do ar estiver satu-
Agregados "soltos" e abertos promovem rápida in-,
rada. Devido a estes e outros fatores torna-se difícil
filtração das águas. A cobertura vegetal auxilia a
o estabelecimento de uma relação chuva-escoamen-
infiltração difundindo o fluxo, preservando o solo
to. Gráficos desta relação, obtidos empiricamente,
de estrutura mais aberta. As raízes das plantas, as
são aplicáveis apenas a uma certa bacia hidrográfi-
perfurações de vermes e outras estruturas biológicas
ca, onde as medidas foram efetuadas. As diferentes
aumentam a capacidade de infiltração. A umidade
bacias são representadas por gráficos distintos.
prévia do solo, remanescente da chuva anterior, di-
A água subterrânea contribui em média com minui a capacidade de infiltração. Quando o solo
aproximadamente 30% do escoamento total. Con- fica ressequido e endurecido a capacidade de infil-
tudo, estes dados podem variar consideravelmente tração pode ser diminuída.
de acordo com as diferentes regiões geográficas
O efeito da umidade do solo deve ser consi-
( B a r r y , 1973). Nas terras emersas a média derado sob dois aspectos. No caso do solo estar com-
anual global das precipitações é de 857 mm, en- pletamente seco antes do início da chuva, o umede-
quanto que a do escoamento (deflúvio) corresponde cimento de sua parte superior desenvolve um forte
á 267 mm. Este valor é acentuadamente maior em potencial de capilaridade, imediatamente abaixo da
grandes extensões da América do Sul, Sudeste Asiá- superfície, o qual se soma a força da gravidade para
tico e arquipélago Malaio. Do valor total do escoa- provocar a infiltração (Wisler & Brater,
mento global 22% corresponde ao continente Sul- 1964). Quando os solos encontram-se umedecides, al-
americano. guns colóides incham e a capacidade de infiltração
é reduzida durante o período inicial chuva. A
ação das gotas de chuva provoca a compactação me-
Capacidade de infiltração cânica dos solos, principalmente daqueles argilosos,
reduzindo assim grandemente a capacidade de infil-
A taxa de absorção de água por um solo cons- tração das águas.
titui sua capacidade de infiltração. Ela começa por
A retirada da vegetação facilita o escoamento
um valor inicial que decresce muito rapidamente
superficial. As águas que fluem sobre o solo e nele
para atingir um valor estacionário que corresponde
se infiltram encontram-se carregadas de partículas
à capacidade de infiltração de um determinado selo.
finas (silte e argila), as quais tendem a se depositar
A precipitação que ocorrer após atingida a ra- entre os poros do solo diminuindo consideravelmen-
zão de infiltração constante, isto é, o valor da ca- te a capacidade de infiltração. Com a diminuição da
pacidade de infiltração, corresponde ao excesso de taxa de infiltração as águas correntes adquirem
precipitação, o qual fluirá cemo escoamento super- maior capacidade de erosão dos solos.
ficial. Se a chuva cair com intensidade menor do
A infiltração influi nas características hidrológi-
que a capacidade de infiltração não haverá excesso cas dos cursos d'água. Alguns rios apresentam fluxo
de precipitação. Desse modo não haverá escoamen- relativamente constante durante o ano, enquanto
to-superficial, em virtude da taxa de infiltração da que, outros são extremamente variáveis ou mesmo
água ser menor do que a capacidade do selo em intermitentes (fig. 2-1). Não resta dúvida que o fa-
absorvê-la. Donde se conclui que a capacidade de tor que desempenha maior influência na variabili-
infiltração é muito importante no controle do es- dade ou constância do fluxo dos rios, constitui a
coamento de uma bacia hidrográfica, bem como, nes fonte do abastecimento. Se esta depender principal-
problemas regionais de erosão. mente do escoamento superficial o rio apresentará
(T967-W77 )
¿00-1
'Precipi-
tação
iâapofatâ-
piração
JFMAMJJASQND J F M A M sJ J A S 0 N D
fluxo muito variável, com grandes cheias ou peque- que nas frias. A alta temperatura favorece o cresci-
nos volumes mínimos. Quando a bacia hidrográfica mento da vegetação e aumenta a transpiração das
é formada de solos mais permeáveis ou encontra-se plantas. A quantidade de água devolvida à atmos-
recoberta de vegetação fechada, e portanto, sem fera é muito maior numa floresta do que num cam-
uma camada impermeável acima do lençol freático, po. A floresta reduz o f l u x o de água na superfície,
o escoamento superficial será mínimo ou nulo e o tornando a infiltração no subsolo mais lenta.
fluxo mais uniforme durante o ano.
A vegetação, principalmente a floresta, retarda
o escoamento superficial das águas das chuvas. Os
Evapotranspiração emaranhados das hastes de capim ou o tapete de fo-
lhas, raminhos e detritos vegetais (serrapilheira), que
A evapotranspiração compreende a evaporação recobrem o solo da floresta, absorvem a água das
da água na superfície e aquela devida a transpira- chuvas como um "mata-borrão"! A infiltração na par-
ção pelos estômatos das folhas das plantas. te superior dos solos de uma área rica em vegetação
O fato de um determinado gráfico de "precipi- é favorecida pelas minhocas e outros animais perfu-
tação x escoamento" ser válido apenas para uma radores, que abrem túneis no solo. O escoamento
superficial das águas de chuva aumenta considera-
bacia particular, está ligado ao fato de que o regi-
velmente nas regiões onde a cobertura vegetal foi
me fluvial recebe influência de vários outros fato-
removida, facultando assim grandemente sua capaci-
res além da precipitação.
dade erosiva. A erosão constitui problema sério nas
Elementos climáticos importantes são o volume, regiões montanhosas desflorestadas e de alta pluvio-
duração, intensidade e distribuição das precipitações sidade.
em uma determinada bacia. A insolação, temperatu-
ra, umidade e vento afetam a evaporação total, a A perda de água por transpiração e seu uso
umidade do solo e o crescimento da vegetação e, pelo tecido vegetal e a evaporação das superfícies
portanto, influem no escoamento. A vegetação afeta de massas de água, dos poros dos solos e da neve
o escoamento ocasionando a interceptação da água são todos grupados sob designação de evaporação,
pe!a folhagem, promovendo a infiltração e subdivi- evapotranspiração ou perda de água.
dindo o f l u x o superficial, dessa forma contribuindo
Na maioria dos casos a evapotranspiração é cal-
no armazenamento de água na subsuperfície. O efei-
culada medindo-se a quantidade de precipitação e
to da vegetação varia com seu tipo e densidade.
subtraindo-se a água escoada pelos rios (deflúvio).
A evaporação é maior nas regiões quentes do A relação entre escoamento e a evapotranspiração é
10
1250 - Í500#f*f 3 0 0 0 - 5 5 0 0 1 ? 0 0 -2200
muito variável. Existem rios nos quais o escoamento plantas, pois ele encontra-se constantemente em sua
é superior a 50% da quantidade total das precipita- "capacidade de campo". Quando o solo não está
ções, enquanto que, em outros casos a evapotrans- com seu teor de umidade próximo à capacidade de
piração pode chegar a mais de 95% do total. campo, isto é, quando a evapotranspiração é restrin-
gida pela deficiência de umidade tem-se a evapo-
O balanço hídrico de uma bacia de drenagem
transpiração real.
tem a finalidade de fornecer a disponibilidade de
água no solo, isto é, permite quantificar as reservas
de umidade de um solo, indicando os volumes e Influência geológica
épocas das deficiências e excedentes hídricos. As f i -
guras 2-13 e 2-14 apresentam as curvas de precipi- Cada um dos fatores acima mencionados é
tação, evapotranspiração (potencial e real) e os res- grandemente influenciado pelas condições topográ-
pectivos balanços hídricos. A evapotranspiração po- ficas (fisiográficas), e geológicas da bacia de drena-
tencial corresponde àquela que ocorre num terreno gem. Entre os elementos importantes na definição
coberto de vegetação, livremente exposto à atmos- das características hidrológicas de um sistema fluvial
fera, nunca faltando umidade no solo para uso das citam-se: 1) — a altitude e orientação da bacia hidro-
gráfica; 2) — o relevo, forma e declividade da bacia
de drenagem e; 3) — a estrutura geológica, tipos de
rocha e manto de intemperismo.
Influência climática
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3 - CONCEITOS FJSIOGRÁFICOS F U N D A M E N T A I S
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Fig. 3-2 — C l a s s i f i c a ç ã o g e n é t i c a d o s r i o s c o n f o r m e sua r e l a ç ã o à s e s t r u t u r a s g e o l ó g i c a s .
Fig. 3-3 — Blocos diagramas ilustrando a formação de um rio Os rios resseqüentes são aqueles que fluem no
antecedente. Note-se a passagem de um rio conseqüente ( d i a g r a m a
superior) a antecedente (diagrama inferior).
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"Marmeleiro Almirante Tamandarê
Rio Barigüi
[y J% - Quarfzito
F i g . 3-6 — N o m e n c l a t u r a r e f e r e n t e a rios
superimpostos em terrenos d o b r a d o s .
mesmo rumo dos rios conseqüentes. Nascem em ní- sentam qualquer controle geológico visível na dis-
vel topográfico mais baixo, possuem curso menor e posição espacial da drenagem. Devido à falta do
desaguam num rio subseqüente tributário do rio t r o l e estrutural tais rios tendem a desenvolver-se
c o n
conseqüente principal.
sobre rochas homogêneas representadas tanto por
Os rios inseqüentes são aqueles que não apre sedimentos horizontais como por rochas ígneas.
- 15 -
Fig. 3.7 - Aspectos morfológicos do Estado do Paraná. As letras no d e s e n h o r e f e r e m : D — G r u p o C a m p o s G e r a i s ; C = G r u p o T u b a r ã o ;
P — G r u p o Passa Dois; TJ — G r u p o São B e n t o . As linhas c o n t o r c i d a s e as cruzes r e p r e s e n t a m r e s p e c t i v a m e n t e , o c o m p l e x o c r i s t a l i n o meta-
m ó r f i c o e as intrusões g r a n í t i c a s não separadas ( s e g u n d o B i g a r e I I a , 1953).
Classificação geométrica dos padrões de drenagem regional. O conjunto apresenta forma dendrítica,
sem contudo, serem os rios inseqüentes (fig. 3-10).
Utilizando-se o critério geométrico da disposi-
ção espacial dos rios e seus afluentes, sem qualquer
conotação genética, os tipos fundamentais dos pa-
drões de drenagem são os seguintes: dendrítico ou
arborescente, em treliça, retangular, paralelo, radial,
Fig. 3-10 — O p a d r ã o de
anelar e irregular. drenagem pinada constitui
uma m o d i f i c a ç ã o d o t i p o d e n -
drítico.
F i g . 3-9 — O p a d r ã o retan-
g u l a r d e n d r í t i c o estabelece-se
sob 2 rochas de c o m p o r t a -
mento h o m o g ê n e o , cortadas
p o r f r a t u r a s r e l a t i v a m e n t e es-
pacejadas . Os rios p r i n c i p a i s
sulcam o t e r r e n o s u b s e q ü e n -
temente formando um padrão
retangular ou angular, en-
q u a n t o q u e o s demais a f l u e n -
tes são de caráter inseqüer.te
e padrão dendrítico.
F i g . 3-12 — A — P a d r ã o de d r e n a g e m r e t a n g u l a r c a r a c t e r i z a d o
O padrão de drenagem pinada ( R i c c i & por muitos cotovelos em â n g u l o r e t o . Difere do padrão em treliça
P e t r i , 1965) constitui uma modificação da den- por apresentar-se mais i r r e g u l a r e com cursos menos a l o n g a d o s .
Encontra~se nas regiões o n d e as díáclases e falhas c r u z a n r s e em
drítica propriamente dita. Na verdade, os rios prin-
â n g u l o r e t o . B — Á r e a com d r e n a g e m r e t a n g u l a r em Rio Branco do
cipais são conseqüentes e controlados pelo declive Sul, P R .
A drenagem paralela caracteriza-se por cursos isolados, etc. No tipo centrípeto os rios convergem
de água que fluem quase paralelamente uns aos para um ponto central mais baixo, como as drena-
outros, em extensão considerável do terreno. Devido gens de crateras vulcânicas, depressões topográfi-
a sua disposição recebem também o nome de pa- cas, etc. (fig. 3-15).
drão em "rabo de cavalo". Este tipo de drenagem
localiza-se em áreas onde há presença de vertentes
com declividades acentuadas ou onde existam con-
troles estruturais (fig. 3-13).
F i g . 3-13 — A — O p a d r ã o de d r e n a g e m p a r a l e l a revela a pre- De acordo com este critério podem ser reconhe-
sença de d e c l i v i d a d e u n i d i r e c i o n a l , c o n s t i t u í d a p o r camadas resis-
tentes de inclinação u n i f o r m e ; B — D r e n a g e m paralela a s u b p a r a -
cidos os seguintes tipos de bacias de drenagem:
l e l a , Rio São Francisco, M G ; C — D r e n a g e m p a r a l e l a a s u b p a r a l e l a , exorreica, endorreica, arreica e criptorreica. Nas ba-
Rio M a t o P r e t o , Tunas, PR. cias exorreicas a drenagem se faz em direção ao
mar. Nas endorreicas o escoamento é interno, isto é,
A drenagem radial é formada por correntes flu-
não se faz para o oceano. Neste caso as águas fluem
viais que se apresentam como raios de uma roda em
para uma depressão (playa ou lago) ou então, dissi-
relação a um ponto central. Ela pode ser do tipo
pam-se nas areias do deserto.
centrífuga quando os rios divergem a partir de um
centro mais elevado (fig. 3-14). Este tipo desenvol- No tipo de drenagem em bacias arreicas não se
ve-se em áreas de domos, cones vulcânicos, morros verifica uma estruturação hidrográfica. Este tipo é
- 18
Os canais de primeira ordem são os que não pos-
suem tributários; os de segunda ordem recebem so-
mente afluentes de primeira ordem. Os rios de ter-
ceira ordem podem receber um ou mais tributários
de segunda ordem, mas também podem receber
afluentes de primeira ordem. Os canais de quarta
ordem recebem tributários de terceira ordem e, tam-
bém de ordem inferior (fig. 3-17).
encontrado nas áreas desérticas, onde a precipitação Usando-se estes conceitos podem ser feitas aná-
é insignificante. Nas bacias criptorreicas as águas lises lineares e areais das redes hidrográficas (Para
fluem subterraneamente, como acontece nas áreas maiores detalhes vide: C h r i s t o f o l e t t i ,
cársticas. Nestas bacias as águas podem surgir em 1974: 85-92).
fontes ou reintegrar-se à drenagem superficial.
Padrões de canais
Leis da organização de uma rede de drenagem
A geometria de um sistema fluvial reflete um
A composição de uma rede hidrográfica obe- estado de quase equilíbrio entre vários fatores in-
dece certos conjuntos de "leis" ( H o r t o n , terrelacionados. Alguns desses fatores como descar-
1945). A idéia de hierarquia fluvial permite uma ga, carga sedimentar e diâmetro dos sedimentos
análise das bacias hidrográficas através do compor- transportados, atuam independentemente dentro do
tamento das características dos rios numa ou em di- canal, pois são controlados por elementos externos,
ferentes bacias. O conceito de número de ordem foi tais como, litologia e estrutura do substrato, relevo
estabelecido para definir a hierarquização fluvial e clima ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o ,
(fig. 3-17). O sistema de H o r t o n modificado 1965). O declive do canal, por sua vez, é um fator
por S t r a h I e r encontra-se em uso corrente. dependente, comumente ajustado aos processos
•i
- 19 -
atuantes dentro do canal. Outros fatores básicos de- um canal pode ser meandrante durante os estágios
pendentes incluem a largura e profundidade do ca- de cheias e anastomosado em períodos de seca.
nal, velocidade de fluxo e rugosidade do leito. As
interrelações desses vários fatores constituem a geo-
metria hidráulica do canal.
- 20 -
(PR) e nos depósitos dos cinco terraços da Formação largura. No entanto, seu talvegue é geralmente si-
itaipava ( B i g a r e l l a & B e c k e r , 1975), nuoso devido ao desenvolvimento de barras laterais
no vale do Itajaí-Mirim (SC). dispostas alternadamente em cada margem (fig.
3-18).
F i g . 3-22 — D u r a n t e os d e s m o r o n a m e n t o s o c o r r i d o s na r e g i ã o de
C a r a g u a t a t u b a (1967) as planícies aluviais c o m canais m e a n d r a n t e s
f o r a m t e m p o r a r i a m e n t e t r a n s f o r m a d a s n u m sistema a n a s t o m o s a d o .
em v i r t u d e ao excesso de carga t r a n s p o r t a d a pelas áquas c o r r e n t e s .
1I
\ o flua.
•ÇTfféá
O
^>
o
1
o
Y IX . o
Os canais retilíneos são relativamente pouco O fluxo e o modelo deposicional dos canais re-
freqüentes quando comparados aos outros padrões. tilíneos são semelhantes aos dos canais meandran-
Possuem sinuosidade desprezível em relação a sua tes, caracterizados por baixo volume de carga de
- 21 -
apresentar canais largos, rápido transporte de sedi-
mentos e contínuas migrações laterais. Os desloca-
mentos laterais dos canais ligam-se às flutuações na
vazão líquida (descarga) dos rios. Segundo D o e -
g I a s (1962) podem ser enumerados quatro fato-
res principais que, coexistindo ou não, podem de-
terminar as variações do fluxo fluvial favorecendo,
em conseqüência, o estabelecimento do padrão anas-
tomosado. Estes fatores compreendem as condições
climáticas, a natureza do substrato, a cobertura ve-
getal e o gradiente.
Canais anastomosados
- 22 -
c) Cobertura vegetal — A cobertura vegetal O padrão meandrante é característico de rios
pouco desenvolvida ocasiona forte escoamento su- com gradiente moderadamente baixo. Nestes rios as
perficial e conseqüentemente denudação rápida do cargas em suspensão e de fundo encontram-se em
terreno com fornecimento de muitos detritos para os quantidades mais ou menos equivalentes. Os rios
sistemas fluviais. de canais meandrantes são caracterizados por fluxo
contínuo e regular. Eles possuem, em geral, um
d) Gradiente — O fator gradiente torna-se im-
único canal que transborda as suas águas no perío-
portante quando a declividade é muito acentuada,
do das chuvas.
como aquelas encontradas em zonas de piemontes
ou em regiões próximas às escarpas de falhas. Os canais meandrantes são encontrados mais
comumente nos rios das regiões úmidas cobertas por
Aqui cabe um lembrete de ordem prática a
respeito do manejo do meio ambiente. Toda vez vegetação. Nestas regiões as proporções de descar-
que o Homem interfere na paisagem, surgem dese- ga sazona! são estáveis e a carga de sedimentos
quilíbrios de caráter mais ou menos grave. Dos fa- transportados é relativamente baixa em virtude da
tores acima referidos, o Homem pode atuar de ma- topografia suavizada e da cobertura vegetal. A ve-
neira muito significativa na cobertura vegetal. O getação tem um efeito inibidor sobre a erosão tanto
uso do solo e o desmatamento desenfreado vêm cau- nas cabeceiras quanto nas margens do canal.
sando sérios problemas que tendem a agravar-se
com o tempo. Em algumas regiões amazônicas como, O mecanismo que controla o estabelecimento
por exemplo, no trecho do rio Purus, compreendido
entre Serra Madureira (Acre) e Boca do Acre (Ama-
zonas), está se procedendo a um intenso e extensivo
desmatamentc. A cobertura vegetal aí constitui o
agente minimizador das diferenças de vazão líquida
entre os períodos de cheia e de vazante. A retirada
da vegetação, nesta e noutras regiões drenadas por
rios que fluem sobre sedimentos cenozóicos pouco
coerentes, resultará em futuro próximo, em mudan-
ças nos regimes fluviais, os quais passarão a carac-
terizar-se por vazantes acentuadas e cheias catas-
tróficas. Com estas mudanças surgirão padrões típi-
cos de canais anastomosados durante as estiagens.
Canais meandrantes
- 23 -
dos canais meandrantes não é perfeitamente conhe- g o , 1973). A paisagem da planície aluvial apre-
cido. A circulação helicoidal (em redemoinho) é con- senta grande desenvolvimento de linhas de escoa-
siderada como fator dominante no processo de sedi- mento, bem como, numerosos canais abandonados,
mentação de um meandro. lagunas, banhados, pântanos, etc. Como elementos
Os canais meandrantes possuem competência e morfológicos são notórios os diques marginais, que
capacidade de transporte mais baixas e uniformes aparecem como elevações paralelas aos cursos de
do que os canais anastomosados. Portanto, os pri- água (atuais ou abandonados). De acordo com
meiros transportam materiais de granulação mais I r i o n d o (1972) a planície aluvial do curso mé-
fina e mais selecionada. Outros fatores, tais como, dio do Rio Paraná é composta das seguintes unida-
duração dos picos de descarga, geometria do canal des geomorfoiógicas:
e desenvolvimento de diques naturais são também
importantes na definição do padrão do canal. 1 — Depósitos de canal: a) — plaino de bancos; b)
plaino de meandros. No plaino de bancos po-
dem ocorrer depósitos de rompimento de di-
O médio Rio Paraná — um exemplo de padrões de
ques.
canais na Argentina.
2 — Depósitos de inundação: plaino com "escoamen-
No presente item, além dos aspectos geomor- to impedido".
foiógicos da paisagem dos canais, são igualmente
referidos assuntos relativos aos processos e sedi- Nas figuras 3-27, 3-28 e 3-29 estão represen-
mentos fluviais. Na Argentina, a planície aluvial do tados vários padrões de canais encontrados no curso
Rio Paraná amplia-se para jusante, reduzindo-se ao médio do Rio Paraná na Argentina. Demais detalhes
mesmo tempo a largura do canal principal ( D r a - sobre a formação dos sedimentos vide capítulo 7.
- 24 -
4 - D I N Â M I C A DA Á G U A CORRENTE
A turbulência das águas e a velocidade relacio- c) Densidade — Massa por unidade de volume
nam-se cem o trabalho que o rio executa, isto é, (Q = ). A massa relaciona-se com a inércia. Os
erosão, transporte e deposição dos sedimentos detrí- V
ticos. Para analisar-se a importância do trabalho flu- fluidos densos exigem maiores quantidades de ener-
vial deve-se considerar a energia do rio, tanto na gia para alterar o seu estado de movimento. Entre-
sua forma potencial como cinética. O fluxo das águas tanto, eles possuem maior capacidade de transporte
transferma, como sabemos, a energia potencial em por arraste. P. ex.: o ar e a água são dois fluidos de
energia cinética deduzidas as perdas para vencer as densidades muito diferentes; o primeiro necessita de
forças resistentes ao movimento (fricção). muito pouca energia para ser colocado em movimen-
to, contudo, sua capacidade de arraste (ou erosão) é
No curso superior, a energia potencial trans-
muito pequena quando comparado com a da água.
forma-se parcia!mente em energia cinética que mo-
A densidade da água pura a 1 atm. e a 0°C é de
dela o curso e vence a resistência ao movimento. Ao 8
999,8 k g / m .
longo do trecho considerado, a velocidade do fluxo,
sofre modificações devidas a obstáculos diversos que d) Peso específico — Peso por unidade de vo-
causam maior ou menor resistência (fricção) ao mo- lume (y)
vimento das águas. No curso inferior estável a ener- P gm
gia potencial é utilizada na conservação do movi-
mento. Neste trecho a energia potencia! é quase que
e) Viscosidade (fi) - É a resistência apresen-
totalmente consumida para vencer as forças resisten-
tada pelos fluidos a uma deformação. Quanto maior
tes ao fluxo.
a viscosidade tanto maior a capacidade de arraste.
A energia disponível para o trabalho fluvial A viscosidade da água a latm. e a 0°C é de 17,9 x
4
- 25 -
g) Temperatura — afeta ligeiramente a densi- em metros. O raio hidráulico traduz a eficiência da
dade e significativamente a viscosidade. secção transversal. Quanto maior for o valor de Rh
tanto maior é a facilidade de f l u x o , independente-
Ao longo do curso de um rio a energia poten-
mente da natureza do leito.
cial é igual ao peso da água multiplicado pela d i -
ferença de cota entre dois pontos considerados no Compondo as equações (5) e (6):
cálculo. A energia cinética é igual a metade da mas-
^a da água multiplicada pelo q u a d r a d o da veloci- 1
Rh / 6
1
V Rh^.S ^
dade. Estas relações são expressas pelas seguintes
fórmulas:
1
Rh^.S ^
E-p = P.h (2) V = (8)
2
mV
Ec = (3)
IT
Et = Ep + Ec (4)
- 26 -
7T r* rio mantém-se em condições estáveis. Se existir um
mato quadrado teremos a área de . O lado excesso de energia, esta é usada para ercdir os la-
2
da secção quadrada será: dos e o fundo do canal contribuindo para um au-
mento de carga para juzante. Se a energia for me-
nor do que aquela capaz de transportar toda carga,
VÍlrW
parte dela é depositada diminuindo assim o total da
I = ^ = 1,25 r
2 carga.
2 3 ,/2
A capacidade de erosão de um rio depende,
0,63r / .S principalmente, das partículas por ele transportadas,
V =
n n do que do volume de água. A ação corrasiva tende
a eliminar a rugosidade do fundo. Os movimentos
b) Para a secção quadrada: turbulentcs verticais ou horizontais são de grande
r \ 2/3
2/3 importância, abrindo caldeirões nas rochas (fig. 4-3).
1/2
2,39 S 2
0,56 r / . S 3 1/2
Z
fperíwefro wo/hado é igtía/ a
L
3,/4f6A 3^=3,75-
(£etfff-âÍFetf/0r) (quadrado)
4-2 — Relação e n t r e p e r í m e t r o m o l h a d o e v e l o c i d a d e do f l u x o .
- 27 -
trolados por importantes níveis de base regionais
q u e subdividem o curso em setores com perfis de
equilíbrio próprios.
<?eea
Wa¿/e/?a
1
s. d. = sa/s disso/o /c/os
cs = carga suspensa
F i g . 4-4 — D i a g r a m a i l u s t r a t i v o das cargas s ó l i d a s e d i s s o l v i d a p a r a
alguns rios brasileiros nos períodos das chuvas e das estiagens
( b a s e a d o em d a d o s de G i b b s , 1967).
em suspensão ou por saltação depende da turbu- Fig. 4-4b — Variação da concentração de sólidos em suspensão
com a vazão do rio Ivaí, em N o v o P o r t o T a q u a r a (PR) (segundo
lência do f l u x o e da velocidade de precipitação da
B i t t e n c o u r t , 1978).
partícula. A ação de remoção de uma partícula do
leito é função não apenas das forças hidrodinámi-
cas sobre ela exercidas, bem como de uma série de partículas vizinhas. Existe uma força crítica de tra-
outros fatores, incluindo f o r m a , tamanho, saliência ção, bem como uma velocidade crítica do fluido
sobre o f u n d o e das relações de contacto com outras para que a partícula se movimente.
- 28 -
A velocidade crítica corresponde a menor velo- sam ao repouso. A área em forma de cunha entre as
cidade requerida para que uma partícula de deter- duas curvas corresponde ao regime de transporte.
minado tamanho movimente-se no leito do canal. A
importância da velocidade crítica para o movimento
e transporte das partículas acha-se ilustrada no grá-
fico clássico d e H i u l s t r õ m (fia. 4-5).
f\| Cr, IA
53" Cí
TTTtti DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS EM MM *~
J A S i O IV D
"Verão • Üufotf0 Fig. 4-5 — G r á f i c o i l u s t r a n d o o e f e i t o da v e l o c i d a d e da c o r r e n t e
sobre sedimentos de diferentes granulações. N o g r á f i c o e s t ã o assi-
naladas as áreas o n d e verifica-se a ação da e r o s ã o , do t r a n s p o r t e
Fig. 4-4c — Variação mensal da pluviosidade, concentração de
e da d e p o s i ç ã o { s e g u n d o H j u I s t r õ m , 1935: 29&).
s ó l i d o s e m suspensão a v a z ã o l í q u i d a , r e s p e c t i v a m e n t e n o R i b e i r ã o
do Rato e no Arroio Guaçu, bacia do rio Ivaí (segundo B i t -
t e n c o u r t , 1978).
Uma vez iniciada a movimentação de uma par- Competência, capacidade e carga de transporte
tícula, o comportamento subseqüente desta, é, em
grande parte, função de sua velocidade de precipi- A maior parte dos detritos originados pela in-
tação (decantação). Por exemplo, são necessárias temperização das rochas são transportados para o
maiores forças para colocar em suspensão as argilas mar em várias etapas pela ação dos rios. As corren-
encontradas no fundo do que os sedimentos areno- tes fluviais carream a carga sedimentar de diferen-
sos. Estes por sua vez depositam-se mais rapidamen- tes maneiras, conforme a granulação das partículas e
te, enquanto que as argilas permanecem em suspen- as características inerentes às próprias correntes.
são em virtude de sua menor velocidade de decan- O fluxo fluvial é caracterizado pela descarga (lí-
tação. quida) de acordo com a expressão:
O gráfico de H j u l s t r õ m (fig. 4-5) mos-
tra as relações hidrodinámicas envolvendo erosão, Q = A . V (9)
transporte e sedimentação. A curva superior indica as
velocidades críticas necessárias para iniciar a movi- Esta equação demonstra que a vazão (Q) depende
mentação das partículas de diferentes diâmetros. da área (A) da secção do canal e da velocidade (V)
Para movimentar partículas de um micron de diâ- do fluxo.
metro são necessárias velocidades superiores a 100
cm/s (3,6 k m / h ) . A velocidade crítica diminui até A relação da secção do canal com a velocidade
um valor mínimo de cerca de 20 cm/s (0,72 k m / h ) de fluxo determinará o tamanho máximo do mate-
para diâmetros entre 0,1 a 0,5 mm. Para partículas rial que pode ser movido (competência do rio) e o
maiores a velocidade crítica aumenta novamente pa- volume de carga transportada (capacidade do rio).
ra mais de 100 cm/s no caso de seixos com mais Ambos dão a idéia quantitativa de trabalho das cor-
de 10 cm de diâmetro. rentes fluviais. A carga é a quantidade de material
transportado seja em suspensão (carga suspensa) ou
Na área situada acima da curva superior (fig. ao longo do leito do rio (carga de fundo). A carga
4-5) verifica-se o regime erosivo, no qual as partí- suspensa ou carga de sedimentos em suspensão é
culas são colocadas em movimento. Na área locali- constituída de partículas de granulação reduzida (sil-
zada abaixo da curva inferior tem-se o regime de te e argila), que são tão pequenas que se conservam
deposição, no qual as partículas transportadas pas- em suspensão na água em fluxo turbulento. A carga
- 29 -
de fundo ou carga de leito do rio é formada por siva do rio sobre o fundo e sobre as margens, mas
partículas maiores com granulação de areia, casca- também da lavagem das vertentes efetuada por es-
lho ou fragmentos de rochas que deslizam ou saltam coamento superficial. Tais fatos sugerem também
ao longo do leito (fig. 4-6). Têm-se ainda os consti- que a maior parte da carga detrítica é transportada
tuintes intemperizados das rochas que são transpor- durante as fases iniciais de enchente, quando as
tados em solução química formando a carga dissol- descargas líquidas são muito altas.
vida
As cargas suspensa e dissolvida são transporta- A granulometria dos sedimentos fluviais de-
das na mesma velocidade em que a água flui. Os cresce gradativamente rumo a jusante, indicando
sedimentos em suspensão são carregados enquanto uma diminuição na competência do rio. Os diâme-
a turbulência e velocidade de transporte forem sufi- tros dos materiais que constituem a carga de fundo
cientes para mantê-los suspensos. Quando a veloci-
decrescem de acordo com a equação:
dade do fluxo decresce atingindo o limite crítico,
as partículas sedimentam. Enquanto isso a carga de K s L
D = D . e" 0 - (11)
leito move-se muito mais lentamente do que a água,
porque os grãos deslocam-se de modo intermitente onde: D = diâmetro médio das partículas a uma
(saltação). distância L ao longo do canal; D = diâmetro, mé- 0
- 3n -
éórrego Ufo £o¿trenco
Í%to õratfcfe
AZ M
D e acordo com Simons & Richard- que o rio Paraíba, em Barra do Pirai, transporta 43 g
s o n (1961) a tensão tangencial é expressa pela de material dissolvido e 550 g de material em sus-
seguinte fórmula: pensão por metro cúbico de água durante o mês de
agosto (estação seca), enquanto que no mês de ja-
r = y.P.S (12)
0
neiro (estação chuvosa) ele carrega 10g de material
dissolvido e 1200g de material em suspensão por
onde: T = tensão tangencial; Y — pesos específi-
0
metro cúbico d e água ( C h r i s t o f o l e t t i ,
cos do fluido e do sedimento; P — profundidade da 1974).
corrente e S = declividade do gradiente energético.
A tensão tangencial quando multiplicada pela velo- De acordo com G i b b s (1967) o rio Amazo-
3
cidade V, define um parâmetro denominado "ener- nas transporta em média 3 6 g / m de sais dissolvidos
3
- 31 -
sentava-se encaixado nos arenitos da Formação Caiuá. contribui para o entulhamento das grandes represas,
No leito não havia grande acúmulo de sedimentos. limitando consideravelmente sua utilização em f u -
A perda de solo por erosão era mínima. Com o des- turo relativamente próximo.
matamento, seguido do plantio do café, a superfície
do terreno ficou desprotegida (perfil II, f i g . 4-4a) e Tipos de movimento e energia da água corrente
sujeita a forte erosão. O excesso de detritos proveni- Nos canais abertos pode-se encontrar vários ti-
entes da erosão das encostas não pôde ser eva- pos de movimentos do fluido. Entre eles destacam-se
cuado pelo rio. Dessa forma õ vale foi entulhado por os fluxos laminares e os turbulentos. O tipo e as ca-
sedimentação intensa, quando a taxa de erosão era racterísticas do fluxo variam grandemente em fun-
máxima nas vertentes. Com o abandono do cultivo ção de certos parâmetros não dimensionais.
do café, por exaustão e erosão dos solos, seguiu-se
a fase de pastagem com refreamento do processo Fluxo laminar
erosivo. O rio por sua vez, agora menos carregado
de sedimentos, iniciou a remoção dos detritos acu- A água corrente apresenta fluxo laminar quan-
mulados em seu vale durante o cultivo do café do as várias "camadas de f l u i d o " deslizam umas em
relação as outras, sem que haja mistura de material.
( B i t t e n c o u r t , 1978), deixando terraços re-
Isto acontece quando a velocidade de fluxo é relati-
presentativos desta fase.
vamente lenta e cada elemento do fluido move-se
D e acordo com B i t t e n c o u r t (1978), ao longo de um caminho específico com velocidade
no rio Ivaí, em Porto Taquara (PR), a concentração uniforme. As linhas de fluxo, neste tipo de regime,
3 envolvem suavemente as irregularidades do leito
média de sólidos em suspensão é de 1 1 8 g / m , o que
fluvial e os objetos encontrados em seu caminho,
representa na bacia uma erosão média anual de 774
sem formar redemoinhos e correntes turbilhonares
k g / h a / a n o . A erosão máxima verifica-se nos meses durante a sua passagem (fig. 4-9). Os escoamentos
de outubro a dezembro (576 kg/ha) e a mínima laminares não dependem da rugosidade do canal.
nos meses de julho a setembro (52 kg/ha). A relação Via de regra, as perturbações do fluxo são tantas,
entre vazão e concentração de sólidos para o rio que o fluxo laminar é raramente encontrado. Com
Ivaí, enccntra-se ilustrada na figura 4-4b. O gráfico o aumento da velocidade ou profundidade da cor-
apresenta grande dispersão de pontos. Entre os fa- rente, uma dada condição de fluxo laminar atingirá
tores que contribuem para esta dispersão, alguns um ponto crítico tcrnando-se o fluxo turbulento.
são de difícil equaclonamento: estágio de desenvol-
vimento de um rio, amostragem não representativa,
uso e manejo do solo, chuvas variáveis durante o
ano, compartimentação geológica, etc. (Bitten-
c o u r t , 1978).
Os diagramas da figura 4-4c ilustram a preci- Fig. 4-9 — O diagrama da esquerda indica esquematicamente as
pitação, a quantidade de sólidos em suspensão e a áreas de fluxo laminar e turbulento num canal. No d'agrama da
descarga líquida para o Ribeirão do Rato e para o direita estão representadas as linhas de fluxo desviadas por um
c i l i n d r o ( a d a p t a d o de R u b e y , 1938).
Arroio Guaçu, ambos pertencentes à bacia do Ivaí.
- 32 -
escoamento é caracterizado por vórtices irregulares e
o corante dilui-se em toda secção transversal (fluxo
turbulento).
V.D.é
Re — (14)
t*
onde: V == velocidade; D = profundidade; Q =
peso específico; fi = viscosidade. O valor de JJL é
4 2 5
F i g . 4-10 — D i a g r a m a i l u s t r a n d o a t u r b u l ê n c i a da c o r r e n t e j u n t o igual a 1,12 x l ( T m . s ( l , 2 1 x ! 0 ~ pés quadrados
às m a r g e n s do c a n a l , b e m c o m o os p e r f i s vertical e h o r i z o n t a l da por segundo). A relação entre a viscosidade e o peso
velocidade do f l u x o .
específico ifi/g) constitui uma propriedade do flui-
do expressa como v , de modo que o número de
0 fluxo turbulento é desenvolvido quando a Reynolds pode ser representado por:
velocidade excede os limites da "força viscosa". Pa-
V.D
ra água fluindo através de um tubo de 15 cm de
Re = (15)
diâmetro o fluxo laminar requer uma velocidade in- v
ferior 1,4 cm/s. Os fatores que afetam a velocidade
crítica, permitindo que o fluxo laminar se torne tur-
bulento são: viscosidade e densidade do fluido, bem
como, profundidade e rugosidade da superfície do
canal. Os fluxos laminares e turbulentos estão rela-
cionados aos efeitos da viscosidade sobre a inércia F i g . 4-11 — Representação e s q u e m á t i c a dos f l u x o s l a m i n a r e tur-
das partículas de fluido. No regime laminar, os efei- bulento ilustrando o conceito d o número d e R e y n o l d s (vide
tos viscosos são preponderantes impedindo a agita- texto).
- 33 -
1974). O fluxo turbulento corrente é o comumente bulento. A passagem do fluxo de um curso fluvial
encontrado nos cursos fluviais, enquanto que o f l u - de "corrente" para "encachoeirado" é acompanhada
xo turbulento encachoeirado ocorre nos trechos de por um aumento considerável da velocidade e abai-
velocidades mais elevadas, tais como nas cachoeiras xamento do nível superficial da água. Quando ocor-
e corredeiras, implicando na possibilidade de au- re diminuição de velocidade, há passagem do fluxo
mento de erosão. Para definir se o fluxo é corrente "encachoeirado" para o "corrente" e elevação do
ou encachoeirado emprega-se usualmente o valor do nível superficial da água.
número de F r o u d e .
Quando uma corrente turbulenta flui sobre um
Número de Froude — Este número constitui ou- fundo arenoso (incoesivo), os grãos de areia podem
tro parâmetro não dimensional empregado na des- ser levantados pelas flutuações verticais instantâneas
crição das condições de fluxo. Ele é um índice da da velocidade e serem espalhados por toda seção
influência da força da gravidade em situações de transversal do canal. A movimentação de uma par-
fluxo onde existe uma interrelação entre um meio tícula tem lugar no momento em que a "força de
líquido e um gasoso, como num canal fluvial aberto arraste'' (drag force) de um fluido em movimento
( S i m o n s , 1975). O número de F r o u d e é suplanta as forças coesivas e gravitacionaís que
dado pela expressão: agem sobre as partículas. As partículas deslocadas
rolam com o fluido e, se a flutuação instantânea de
velocidade for maior do que a velocidade de de-
Fr — 16)
cantação, as partículas são colocadas em suspensão
(fig. 4-13).
400 fooo
4 10 40
- 34 -
dentro da camada ( A I I e n , 1965). Quando as
irregularidades da superfície, formadas pelos grãos
de sedimentos, movem-se através da subcamada, a
coerência desta ultima é perdida. Neste caso os se-
dimentos oferecem resistência ao fluxo e o limite
deixa de ser suave. A condição limite entre fluxo
áspero e suave é função inversa da velocidade e do
tamanho do grão (fig. 4-16).
F i g . 4-15 — V a r i a ç ã o vertical da v e l o c i d a d e na camada l i m i t e
f o r m a d a sob condições d e f l u x o t u r b u l e n t o . Uma subcamada la-
m i n a r encontra-se no c o n t a t o c o m o l i m i t e . Para cima a camada
Quando um fluxo flui sobre obstruções do leito
t u r b u l e n t a limita-se c o m o f l u x o l i v r e . (fig. 4-17), ele sofre modificações com respeito à
aceleração e retardamento do movimento, bem como
originam-se fluxos turbulentos de sentido contrário
se para montante. Nos fluxos rápidos (Fr > 1), tais
que absorvem energia do fluxo gerai.
t
ondas podem ser arrastadas para jusante. A figura
4-12 mostra o limite entre os regimes de fluxo rá-
pido e tranqüilo.
- ^ 5
Um fluxo supercrítico (rápido) pode ser desace- \ ^
lerado num fluxo subcrítico (tranqüilo) por um res- -
salto hidráulico, o qual constitui uma frente de onda
i <^
altamente turbulenta (fig. 4-14). Numa corrente na- \ : 5?; v \ c b
- 35 -
fluxos de diferentes velocidades e direções, consti-
tuindo-se uma camada de descontinuidade de na-
tureza instável (fig. 4-17-C).
oo /
As obstruções e as formas de leito apresentam
resistência morfológica ao fluxo e, originam como u
vimos, a separação de camada limite. Dependendo
I
1
da configuração do leito e do caráter do fluxo, as
camadas limites separadas podem subdividir-se em
vórtices livres e novamente serem absorvidas e sua- d . ••'
vizadas pelo fluxo geral.
/4
Estes são devidos a turbulências secundárias origina- é ' a
das em diferentes escalas de separações de cama- /1
das limites. As ondulações do leito estão associadas
com turbulências cujo eixo situa-se quase horizontal- / /
mente, enquanto que, as curvaturas dos canais e a 1 2 ^ 8
mudança de direção do fluxo dão origem a turbu- ^e/oâtdade (pée/s)
lências com eixo quase vertical ( A I I e n , 1965). F i g . 4-18 — C o r r e l a ç ã o e n t r e o r a i o h i d r á u l i c o e a v e l o c i d a d e da
c o r r e n t e . Rio G r a n d e , p r o x i m i d a d e s d e B e r n a i i l l o , N o v o M é x i c o
A turbulência aumenta da superfície em dire- (baseado em D a w d y , 1961).
- 36 -
a zona de máxima turbulência. A velocidade e a
turbulência decrescem em direção ao banco convexo
de menor profundidade. No entanto, durante a es-
tação das cheias, o rio sobe, aumentando seu gra-
diente hidráulico e sua velocidade. Altas velocidades
tendem a retificar o canal, simulando uma distribui-
ção de velocidade e turbulência próprias de rios re-
tilíneos. Nestas condições, o banco convexo é esca-
vado, formando-se corredeiras sobre a barra de areia
aí construída (fig. 4-20).
- 37 -
Perfil longitudinal dos rios
Fig. 4-22 — Perfil longitudinal de alguns rios brasileiros {baseado no Atlas Nacional do Brasil,
IBGE. 1966).
~ 38 -
obstáculos, diminuindo assim o gradiente. Nos pon- as condições de fluxo, o transporte por tração con-
tos onde há decréscimo de velocidade, tem lugar a tinua. Quando ocorrer uma redução na velocidade
sedimentação. Com este mecanismo o rio tende à média da corrente ou na intensidade de turbulência,
eliminação das irregularidades para adquirir um per- as partículas maiores e mais densas e de menor es-
fil longitudinal côncavo e liso, designado de perfil fericidade são deixadas para trás.
de equilíbrio.
O movimento das partículas por tração, pelo
O perfil longitudinal em toda sua extensão re- fato de estar restrito ao leito fluvial, é mais limitado
sulta do trabalho que o rio executa para manter o e sensível às condições de variação de velocidade e
equilíbrio entre a capacidade e a competência de um de turbulência do que o transporte por suspensão.
lado, com a quantidade e a granulometria da carga Embora a carga de tração seja mais sensível às pe-
detrítica de outro lado. Se a capacidade e a compe- quenas variações de velocidade do que a carga de
tência do rio forem maiores do que as requeridas suspensão, esta também responde pela modificação
para o transporte da carga, o rio deverá diminuí-las correspondente nas curvas de concentração de ma-
realizando modificações na morfologia e declividade teriais sólidos. Geralmente o grau de turbulência
do canal. Inversamente, se a capacidade e competên- tende a variar com a velocidade da corrente. Os fa-
cia forem menores do que as requeridas para o tores que afetam a velocidade (vide expressão 5)
transporte da carga, o rio deverá aumentá-las modi- exercem um efeito de controle sobre o transporte.
ficando a forma e declividade do canal. Deste medo, um decréscimo no valor numérico do
gradiente da corrente ou do raio hidráulico, causam
Embora existam muitas variáveis modificado-
uma diminuição da velocidade, e parte da carga é
ras, foram feitas numerosas tentativas para dar tra-
depositada.
tamento matemático às curvas dos talvegues, rela-
cionando formas e processos. A maioria dos autores A carga em contato com o leito apresenta-se,
reconhece que existe uma estreita relação entre a geralmente, como uma fina camada de partículas
declividade e o comprimento. Uma das fórmulas móveis com um limite superior difuso.
propostas é a seguinte:
Transporte por saltação — É uma forma de
n
transporte na qual as partículas avançam ao longo
D = k . C (17)
do leito fluvial, através de uma série de saltos cur-
tos. O movimento por saltação pode ser considerado
onde: D = declividade em determinado ponto; C = como fase intermediária entre o transporte por tra-
comprimento da cabeceira até o referido ponto; " k " ção e por suspensão (fig. 4-6). As partículas que não
e " n " são constantes empíricas. sejam suficientemente grandes para manter-se sobre
o leito, sofrendo tração, nem suficientemente pe-
Mecanismos cie transporte por água corrente quenas para serem arrastadas em suspensão, po-
dem ser momentaneamente levantadas, movendo-se
Em princípio, pode-se agrupar os modos de para diante em uma série de saltos e avanços su-
transporte dos sedimentos pelas correntes fluviais cessivos.
em três categorias: por tração, por saltação e em so-
lução. O modo e a natureza do transporte do sedi- A altura relativa de levantamento das partí-
mento é de grande importância para a composição culas, durante o processo de saltação em meio flui-
e estrutura dos depósitos aluviais. do, depende do peso específico da partícula e do
fluido. Segundo K a I i n s k e (1942) ela é ex-
Transporte por tração — Este tipo de transporte pressa pela fórmula seguinte:
relaciona-se com as tensões, tangenciais ao longo do
fundo da corrente, provocadas pela água em movi-
mento. O efeito das tensões tangenciais é reforçado H = C (18)
pelas forças ascencionais devidas ao fluxo turbu- 0,
lento.
onde: H = altura do salto; C = constante; Q =
Q
39
Aplicando-se a f ó r m u l a (18) temos Observou-se q u e a concentração de partículas
em transporte por suspensão é muito maior perto
03
a) esferas no ar do leito da corrente do q u e junto à superfície (fig.
H = C
4-23). A concentração relativa de material muito f i n o
(silte fino) pode ser quase igual da superfície até o
H = C - - 2
- 6
l f u n d o , enquanto q u e as partículas mais grosseiras,
ar 0,0012 como as areias, exibem gradientes de granulação
H = C . 2208 com aumento da concentração a medida q u e se apro-
ar xima do leito da corrente.
i
isto é:
o&a
50
d . d :
(19)
j
^ 0
o ,2 ,4 .8 r
onde: Ci == constante que abrange os fatores: densi-
dades da partícula e do líquido, aceleração da gra-
vidade e viscosidade do líquido.
- 40 -
1) as partículas do fluido são extremamente TABELA 4-1
pequenas em relação às partículas sólidas em de-
cantação. Esta condição é satisfatória quando os Velocidade de queda de esferas com peso es-
4 7
corpos em queda são IO a IO vezes maiores do pecífico 2,65 (correspondente ao quartzo) em água
que as moléculas do fluido; destilada a 20°C.
- 41 -
! m e
"A velocidade de decantação de partículas
grandes é independente da viscosidade do f l u i d o ; é
diretamente proporcional à raiz quadrada do diâme-
tro da partícula e à diferença entre as densidades
da partícula e do fluído dividida pela densidade do
1 / Á
^ei c/q/'tupacte
fluido."
I vmm&tta/
A apreciação dos problemas relativos à veloci-
dade de decantação mostrou que para uma determi-
nada granulação, as esferas decantam mais rapida-
- 42 -
praia, onde são acentuados os efeitos das correntes O contínuo "fracionamento" (segregação) das
longitudinais à costa. Estas mudanças sistemáticas partículas em função da granulação, forma e densi-
consistem no decréscimo de diâmetro, no aumento dade durante o transporte e deposição, sugere que
de esfericidade média e algumas mudanças na den- os sedimentos melhor selecionados são aqueles que
sidade (eventual alteração química), de montante foram submetidos a retrabalhamentos longos e con-
tínuos por agentes geológicos, ou foram sedimen-
para jusante da corrente.
tados em ambientes deposicionais altamente ener-
Nas áreas fontes dos sedimentos, onde as ro- géticos, tais como os eólicos e praiais.
chas são submetidas aos processos de intemperismo
Na figura 4-25 as várias curvas mostram as mu-
e erosão, os detritos são de formas, tamanhos e den-
danças nas propriedades das partículas em condições
sidades muito variáveis, enquanto que os produtos
ideais de transporte por tração. O tamanho médio
sedimentares finais, observados na natureza, são
das partículas diminui no sentido do transporte, par-
constituídos de cascalhos, areias, siltes e argilas re- te como resultado do transporte seletivo e parte
lativamente selecionados. Disto resulta que, durante como fruto do gradual decréscimo por abrasão du-
os processos de transporte e deposição, dependendo rante o transporte. O valor numérico do coeficiente
da energia e viscosidade do meio, os detritos ori- de seleção decresce para jusante, enquanto o grau
ginais ficam sujeitos a diferentes graus de trans- de seleção aumenta. A esfericidade média das partí-
porte seletivo. culas aumenta gradualmente no sentido da corrente.
- 43 -
5 - A T I V I D A D E S M O R F O L Ó G I C A S DAS CORRENTES
Relações entre regime de fluxo e forma de leito S i m o n s et al, 1965) numerosos pesquisadores,
principalmente engenheiros hidráulicos, têm tentado
Num canal o leito granular móvel pode ser mol-
interpretar hidrodinámicamente as formas de leitos.
dado pelo f l u x o corrente seja por erosão ou por de- G i l b e r t (1914) obteve muitos dados experi-
posição. A presença do leito granular móvel intro- mentais das relações entre as configurações dos lei-
duz duas complicações não encontradas no f l u x o tur- tos e a velocidade do f l u x o .
bulento de águas completamente isentas de sedimen-
tos. Os dados obtidos nos trabalhos experimentais
executados por S i m o n s, R i c h a r d s o n
A primeira delas, implica em alterações da na- e colaboradores, desde 1956 a 1 9 6 1 , foram resumi-
tureza da turbulência causadas pela simples presen- dos por S i m o n s, Richardson & Nor-
ça de partículas na corrente turbulenta. Quando as d i n J r . (1965). Neste trabalho foi introduzido
concentrações de sedimentos são altas os efeitos o conceito de regime de fluxo.
podem ser muito importantes.
í?{4PERF/&e da
FAXO D¿?DG¿/¿7
Fig. 5-1 — Representação diagramática dos tipos de forma de leito que se sucedem de acordo com as mudanças das condições hidráu-
licas. A s u p e r f í c i e das águas encontra-se fora de fase com as dunas e em fase c o m as antidunas.
- 44 -
Tabela 5-1 — Classificação dos regimes de fluxo e suas características
(segundo S i m o n s et al., 1965).
Relação de fase
Concentração de Modo de Tipo de entre o leito e a
Regime de fluxo Forma do leito material do leito transporte rugosidade superfície da
em pp m
água
Micro- 10-200
ondulada
Micro-ondulada Predomina forma
Fluxo inferior Pequenos saltos Fora de fase
sobre mega on- 100-1200 rugosa
dulada
Mega-ondulada 200-2000
Mega-ondulada
Transição 1000-3000 Variável
lavada
Carnadas planas 2000-6000
Predomina
Fluxo superior Antidunas 2000 Contínuo "rugosidade Em fase
granular"
Com depressões 2000
dem até certo ponto, serem extrapolados para a No regime de fluxo superior a resistência ofe-
natureza. Nas correntes fluviais as formas de leito recida ao fluxo é pequena, sendo grande o trans-
podem ser reconhecidas pelo aspecto da superfície porte de sedimentos. As ondulações da superfície
do fluxo. da água e as do leito estão em fase. As configura-
ções comuns dos leitos são as camadas planas e as
O fluxo em canais fluviais pode ser classificado
antidunas. O principal mecanismo de transporte dá-se
em regimes de fluxo inferior e fiuxo superior, com
pelo rolamento quase contínuo dos grãos indivi-
uma transição entre ambos. Esta classificação é ba-
duais em "lençóis de areia" com espessura corres-
seada na forma do leito, modo de transporte do se-
pondente ao diâmetro de alguns g^ãos. O numero
dimento, processo de dissipação de energia e re-
de F r o u d e é superior a 1,00 e o padrão da
lação de fase entre o leito e a superfície da água
corrente caracteriza-se por fluxo rápido encarpe-
(vide tabela (5-1).
lado ou encachoeiradc.
No regime de fluxo inferior a resistência ofe-
recida ao fluxo é grande e o transporte de sedi- Em resumo: com aumento da energia de cor-
mentos é relativamente pequeno. As ondulações da rente passa-se das formas de fluxo inferior para
superfície da água não estão em fase com as on- aquelas do fluxo superinr. As mega-òndulações ou
dulações do sedimento do leito. A configuração do "dunas" desaparecem, criginando-se uma camada
leito é de pequenas ondulações (micro-cndulações)
ou de grandes ondulações (macro-ondulaçÕes), ou &TFXFU#A& Fonda? EM FAFE)
combinação de ambas. O mecanismo de transporte
do material do leito ocorre por grãos individuais
movendc-se para cima através da superfície poste-
rior das ondulações (micro e/ou macro) e, em segui-
da, caindo em avalanche pela superfície frontal. O
número de F r o u d e é inferior a 1,00 e o pa-
drão do fluxo tranqüilo (vide fórmula 16).
corrente 'baseado e m
l e i t 0 c o m 0 t a m a n n o d o
S o u t h a r d
9 e
velocidade
& B o q
m é d i a da
h w a I
torno de 1,00. 1973).
- 45
plana sobre a qual forma-se uma lineação paralela
ao f l u x o (lineação de corrente), a qual nos arenitos
aparece como lineação de partição. Com incremento
de energia formam-se as antidunas (fig. 5-2).
Formas de leito (Generalidades)
A interação dinâmica entre fluido e sedimentos
em transporte desenvolve no leito da corrente uma
série de formas características. Em ambientes de
águas rasas elas constituem estruturas sedimentares
de grande importância geológica. A partir delas po-
de-se reconstituir as condições paleogeográíicas da
bacia de sedimentação.
é??frafo<P para/e/o?
10*
)o
I
£<?frafofpara/
I
I io z
g&mwoâ/wétffação de grão?
I I I I I 1 1 L
0,2 0,4 0,6 QÔ f,0
tyàweffo em fffm
F i g . 5-3 — R e p r e s e n t a ç ã o e s q u e m á t i c a de várias f o r m a s de leito e
suas relações c o m a granulometria e energia de corrente (baseado
em S i m o n i et a l . , 1965; A I 1 e n , 1966).
mada plana sem movimentação; 2) pequenas on- Geralmente as formas de leito constituem as-
dulações; 3) mega-ondulações; 4) camada plana com pectos morfológicos de distribuição regular. As li-
movimentação de sedimentos; 5) antidunas (vide fór- nhas de cristas de um conjunto de ondulações apre-
mula 13; figuras 5-3 e 5-4). sentam espaçamentos uniformes no sentido do f l u x o .
Várias formas de leitos constituídos por grãos As alturas das ondulações, via de regra, dependem
soltos podem coexistir, originando combinações hie- do arranjo espacial. Um aumento de espaçamento é
rárquicas, ajustadas a um único f l u x o . As formas acompanhado por um aumento do v o l u m e e do ta-
apresentam uma organização gradacional, na qual manho da forma (figs. 5-5 e 5-6).
cada espécie de forma resulta do arranjo hierárqui-
co comandado pela escala física. Exemplifiquemos: O conjunto das formas, e cada forma em si, re-
os rios comumente apresentam barras convexas (bar- presenta a interação dinâmica entre o material do
ras de meandro) sobre as quais são superimpostas leito e o f l u x o da corrente. Desse modo, a forma
mega-ondulações (dunas). Estas por sua vez possuem nunca é inteiramente independente do f l u x o . As pro-
micro-ondulações, q u e por seu turno podem apre- priedades deste podem variar periodicamente com a
sentar lineações menores paralelas a direção da cor- distância em escala idêntica com aquela da f o r m a ,
rente (A I I e n , 1968).
embora não necessariamente em fase com ela.
46 -
100 r—i l i l i 1 1 i M 1 1 i i i i l i l i ' r
Fig. 5-7 — A s p e c t o s de um f l u x o i n s t á v e l b i d i r e c i o n a l . U n h a s de
c o r r e n t e selecionadas para u m f l u x o s o b r e u m a o n d u l a ç ã o (baseado
em A I I e n , 1968).
- 47 -
A S A S A
I
_) I 1 L—l 1
I 1 I L_10
0.1 100
d (metros)
0.1
0.01 d (metros)
^ròfund/dade média do f/c/xo
H g . 5-10 — Correlação e n t r e p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o e a
l a r g u r a d o canal (baseado e m d a d o s d e L e o p o l d & M a d -
d o c k , 1 9 5 3 ) . A l a r g u r a do canal de um r i o é f u n ç ã o da p r o -
fundidade média d o f l u x o .
F i g . 5"9 — C o r r e l a ç ã o e n t r e a p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o e o
c o m p r i m e n t o de o n d a da a n t i d u n a . O c o m p r i m e n t o de o n d a é
tridimensional, a qual modifica a forma da crista
f u n ç ã o d a p r o f u n d i d a d e m é d i a d o f l u x o (dados c o m p i l a d o s p o r retilínea da ondulação formada na instabilidade bi-
A I I e n , 1968). dimensional.
Marcas de ondulação origínam-se em areia mé-
As mega-ondulações (dunas) encontradas nos
dia ou mais fina quando o valor limiar de movimen-
ambientes naturais raramente estão em equilíbrio
tação dos grãos é justamente excedido pelo fluxo
com as condições predominantes. Basicamente as
unidirecional. Em outras palavras, as marcas de on-
dunas são geradas por condições de instabilidade bi-
dulação formam-se quando a velocidade do fluxo ex-
dimensional, na qual as propriedades do fluxo são
cede o valor da velocidade limiar de movimentação
perturbadas paralelamente ao sentido da corrente.
dos grãos.
Sobre as mega-cndulações comumente superimpõe-
De acordo com observações de campo e labo- se uma instabilidade tridimensional, que faz com
ratório as micro-ondulações constituem populações que elas sofram variações em altura, bem como de-
de aspectos distintos quanto ao tamanho e forma, senvolvam protuberâncias para jusante formando
quando confrontadas com estruturas maiores conhe- cristas fortemente curvas.
cidas como "dunas" ou mais propriamente mega-on-
As mega-ondulações são formadas quando
dulações. Ambas populações apresentam semelhan-
as condições do fluxo apresentam um número de
ças em seus perfis ( A I I e n , 1968). O tamanho
F r o u d e baixo a moderado. Com o aumento da
das ondulações independe da profundidade do flu-
energia da corrente, nos sedimentos de granulação
xo.
grosseira (diâmetro de queda > 0 , 7 m m ) , após a de-
As marcas onduladas originam-se de condições posição das camadas paralelas, segue-se o desenvol-
de instabilidade bidimensionais, nas quais o fluxo é vimento das mega-ondulações (vide fig. 5-2). No
perturbado para jusante da crista. Sobre as marcas caso de sedimentos arenosos mais finos, elas são for-
onduladas pode se superimpor uma instabilidade madas após a deposição das micro-ondulações.
— 4y -
As antidunas constituem camadas onduladas bilidade centrífuga do mesmo tipo daquela dos vór-
sinuosoidais de pequena amplitude. Elas encontram- tices de Ta y I o r - G õ r t I er . Esta instabilidade
se grandemente em fase com ondas similares (mais é tridimensional e é produzida por um único vórtice
salientes) formadas na superfície das águas. As on- espiral em cada curva do meandro (fig. 5-11).
das podem deslocar-se para montante, para jusante,
ou então, serem estacionárias.
As antidunas não se formam em fluxos de ca-
nais amplos, a menos que a velocidade média V e
a profundidade média do fluxo d sejam tais que o
número de F r o u d e aproxime-se da unidade.
No campo, as antidunas são geradas dentro de uma
faixa restrita de variação do número de F r o u d e .
Elas registram um ajustamento do grão do leito à
uma instabilidade bidimensional da superfície livre
do fluxo.
No caso de suprimento restrito de sedimentos
sobre uma superfície de natureza menos erodível
ffityeefoe de &m
(rochosa ou rudácea), as areias são transportadas e FÍUXO FRX/METF&OTRA/
depositadas em forma de cordões paralelos entre si m?/áde/ em EAM/ emk?
e alongados no sentido do fluxo. O relevo dos cor- de um meandro.
dões é pequeno ou então apresenta-se aplainado. F i g . 5-11 — Instabilidade tridimensional esquemática p r o d u z i d a por
um único vórtice espiral na curva do meandro.
O espaçamento transversal entre eles aumenta com
a profundidade do fluxo. O desenvolvimento de
ÍOOOÕO
cordões de areia pode ser atribuído à condições de I I l 1 / 1
mê
meandros (point bars), bem como na repetição de
barras alternantes transversais encontradas em ca-
nais de sinuosidade negligenciável nas águas altas
•I 1ÕO
- / ' > / / » v
I
7 •
V
( L e o p o l d & W o I m a n , 1957).
IO w
A grosso modo o comprimento de onda do
l
meandro é empiricamente proporcional à descar-
ga da corrente elevada a potência de cerca de 0,5. 10-
C a r I s t o n (1965) concluiu que o comprimento J/IW/fe PUPERIOF DA? ôMdu/AÇÕEE
I
0,01
L e o p o l d & M a d d o c k (1953) con-
cluíram que a largura da corrente é igual a 42 vezes
a profundidade média elevado a 1,11 (fig. 5-10): 0,001 i i i i i
o ooi
t Õ,07 oi t 1 to roo 1000
1 # 1 1
Profundidade média do f/uxo ew
W = 42d (22)
Fig. 5-12 — Espaçamento característico das formas de leito em
donde o comprimento de onda do meandro seria
função da p r o f u n d i d a d e m é d i a do f l u x o , ( A I I e n , 1968).
1
MEANDRO MEANDRO AREIA
QURRA
ÚORDDODE DARTA
3 — Na terceira condição, a energia da cor- 9 EORRENFE
DE MARÉ
if '§1
M ÂORDAO
DE
rente varia dentro de ampla faixa, sendo o leito X 1 SLARRA
DE
MTEANDRA
SARRA
DE
MEANDRO
9j §
AREIA
- 51 -
Condição n.° 2 radores, a partir de pesquisas em laboratório, tem
sido extensivamente utilizado pelos geólogos na in-
A condição 2 praticamente é exclusiva dos ca-
terpretação das estruturas sedimentares. Quando se
nais fluviais e das planícies de marés. Ela depende
diz no afloramento que uma ocorrência de estratos
da ocorrência de um regime de fluxo superior sobre
cruzados foi originada em regime de fluxo superior,
um fundo arenoso espesso e contínuo. Nestas con-
isto significa que a interpretação foi feita a partir de
dições a hierarquia pode abranger um dos seguintes
um modelo de laboratório.
casos:
a) — lineações de partição e barras de mean- As relações gerais entre os diferentes regimes
dro; de fluxo é conhecido de estudos em laboratório. O
b) — lineações de partição e antidunas; gráfico da figura 5-3 mostra as relações entre o
c) — lineações de partição, antidunas e barras diâmetro e a potência da corrente. Esta é definida
de meandro. como o produto da velocidade média V pelo esforço
No campo é conhecida a associação de antidu- de arraste (Shear stress) 7T . De acordo com este
nas e barras de meandro. Nos canais de escoamento o
de pequeno tamanho e forte inclinação, são encon- diagrama pode-se esperar o desenvolvimento de vá-
rios tipos de leito: micro-e macro-ondulações, cama-
tradas as hierarquias lineações-antidunas e linea-
das planas e antidunas.
ções-barras de meandro. Quando se compara a con-
dição 2 com a condição 1 verifica-se que as barras Uma corrente de velocidade decrescente origi-
de meandro não possuem face de escorregamento e na uma seqüência de sedimentos arenosos compos-
o leito do canal é liso ao longo do talvegue < A I - ta de baixo para cima de: antidunas (caso sejam pre-
servadas), camadas planas, camadas com estratifica-
len, 1968).
ção cruzada de médio a grande porte, camadas com
Condição n.° 3
Iami nação cruzada de pequeno tamanho. Com ex-
A condição 3 é em alguns aspectos peculiar. ceção das estruturas de antidunas, muitas seqüên-
Ela é limitada pela disponibilidade de sedimentos de cias similares têm sido interpretadas em termos de
certo tamanho que possam ser transportados nas de mudança do regime de fluxo (fig. 5-13).
condições predominantes. São formadas as barras
de meandro, ou alternativamente:
a) lineações de partição, ondulações de cor-
rente e cordões de areia;
b) lineações de partição micro-e macro-ondu-
Iações e cordões de areia.
- 52 -
superfície limitante inferior não é uma superfície de c) laminações planas essencialmente horizon-
erosão, mas uma de não deposição ou de mudança tais com um milímetro ou mais de espessura, com a
de caráter. A estratificação cruzada plana é aquela superfície das lâminas marcadas por lineações pri-
cuja superfície limitante inferior é uma superfície márias de corrente.
de erosão plana. A estratificação cruzada acanalada
A interpretação do regime de fluxo em rochas
é aquela cuja superfície limitante inferior é uma
antigas é baseada na correlação entre o tipo de es-
superfície de erosão curva (fig. 5-14).
tratificação presente e as formas do leito. O tipo de
Os três tipos mais comuns de estruturas sedi-
estratificação desenvolvida depende do tipo, confi-
mentares originados em areias bem lavadas são:
guração e escala da forma do leito, de sua migração
a) cosseqüências de estratos cruzados de pe- e da forma da superfície sobre a qual se movimenta.
queno tamanho, nas quais a espessura de cada se-
qüência individual mede de poucos milímetros a Os principais tipos de estratificação, geralmente
vários centímetros. A forma de cada seqüência é ge- presentes em sedimentos fluviais, classificam-se em:
ralmente tabular ou em forma de concha.
1 — Estratificação cruzada
b) cosseqüências de estratos cruzados de gran-
de tamanho, nas quais a espessura de uma seqüên- Neste tipo os estratos encontram-se inclinados
cia individual mede decímetros ou metros. A forma em relação ao plano horizontal. Em geral, resultam
da seqüência é tabular ou em forma de concha. do transporte de sedimentos arenosos de carga de
fundo. Somente um exame tridimensional das estra-
tificações cruzadas fornece uma idéia precisa de sua
configuração. Os principais tipos de estratificações
cruzadas são:
a) Estratificação cruzada acanalada — Cada se-
qüência, em forma de canal, consiste de estrutura
c/a d?gm/?¿/e
jjj
1 /a
1
1 zaa*a aa¿?#a/ad? ¿fe
•1
!
l
Fig. 5-14 — Tipos f u n d a m e n t a i s de e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a , s e g u n d o
M c K e e e W e i r (1953). A — Estratificação cruzada s i m p l e s ;
1
B — Estratificação cruzada p l a n a ; C — Estratificação cruzada aca- Fig. 5-15 — Principais t i p o s de estratificações cruzadas ( m o d i f i c a d o
nalada. de A II e n , 1965).
- 53 -
de escavação por erosão preenchida por sedimentos rizontal; o limite superior pode ser plano como o
com lâminas recurvadas, mergulhando das bordas inferior ou apresentar conjuntos de marcas o n d u l a -
para o eixo do canal e de montante para jusante da das, com passagem transicional.
paleocorrente ( f i g . 5-15). O eixo maior do canal in-
£/rieaçàb deewre/rfe
dica então a direção da paleocorrente. Este tipo de
estratificação pode ocorrer tanto em escala pequena
como grande. A p r o f u n d i d a d e mínima de formação
desta estrutura corresponde ao d o b r o da espessura
de cada seqüência acanalada. Porém, como estas es-
truturas são encontradas t a m b é m em grandes pro-
fundidades, não se pode estimar a profundidade
máxima. Fig. 5-17 — Estratificação h o r i z o n t a l p r o d u z i d a p o r r e g i m e de f l u x o
b) Estratificação cruzada de camadas frontais s u p e r i o r , a p r e s e n t a n d o lineações de c o r r e n t e .
- 54 -
ções de suprimento de sedimentos (fig. 5-19). As cias formadas pelas macro-ondulações dependem das
micro-ondulações são formadas com intensidades de formas destas e do suprimento de sedimento. Foi de-
fluxo relativamente baixas dentro do regime do flu- monstrado por S i m o n s que as macro-ondula-
xo inferior. Aliás, elas têm origem a partir de in- ções são formadas no regime de fluxo inferior, nu-
tensidades tais que sejam capazes de iniciar o mo- ma intensidade de fluxo relativamente alta, acima
vimento dos grãos. daquela necessária para originar as micro-ondula-
ções. As macro-ondulações são importantes na for-
mação da estratificação cruzada de grande tamanho.
Laminação e lineação
Arenitos com laminação plana e com lineações
de corrente registram repetidas agradações, acom-
panhadas de deslocamento de grãos para jusante
sobre a interface sedimento-água, a qual é essencial-
mente plana.
- 55 -
As lineações de corrente, como aspecto sedi- limiar para o movimento do grão, seria o da micro-
mentar primário, consistem de ondulações e depres- ondulação e não de lineações.
sões paralelas, de baixo relevo q u e aparecem nas
As lineações podem somente ser preservadas
superfícies de partição de arenitos de granulação re-
em regime de f l u x o superior e, não em intensidades
lativamente f i n a , bem lavados e de laminação plana
pequenas no início da movimentação dos grãos. As
(figs. 5-17 e 5-21). A orientação da lineação está
estruturas permitem caracterizar quais foram as con-
associada a uma disposição preferencial do eixo
dições hidrodinámicas do ambiente.
longo dos grãos de quartzo que tendem a orientar-se
paralelamente à lineação e imbricar para montante Esta estrutura compreende uma série de cordões
ífias. 5-22 e 5-23). e depressões paralelas de relevo geralmente menor
do que 1 mm e comprimentos de até cerca de 30
cm (fig. 5-24). A geometria do leito é tridimensional;
os cordões e depressões são escalonados, desapare-
cem ou amplificam-se no sentido do seu comprimen-
to. As lineações desenvolvem-se na superfície de lâ-
minas planas o u suavemente onduladas ( A l i e n ,
1966). Nos cordões os sedimentos são ligeiramente
mais grosseiros do que nas depressões.
- 56 -
Fig. 5-25 — Micro-ondulações desenvolvidas em leito fluvial.
'so J (25) tre as cristas d e mais de uma dezena de metros. As marcas on-
duladas formadas pelo esparrinhamento das águas são separadas
em duas categorias pela unha horizontal no valor i 0 ™ 72 de
As marcas onduladas originadas por fluxo de a c o r d o c o m a p r e s e n ç a ou n ã o de r e s s a l t o h i d r á u l i c o ( T a n n e r,
1967).
água, geralmente possuem o índice \ inferior a q
15, enquanto que aquelas originadas pelos ventos lores de i x i p a r a as marcas onduladas desen-
o so
têm índices maiores. Por sua vez, as marcas ondu- volvidas em vários ambientes ( T a n n e r , 1967).
ladas desenvolvidas pelas correntes ou ventos apre- As propriedades da geometria da laminação
sentam índice de simetria i superior a 4, e aquelas
so cruzada das micro-ondulações, nos depósitos fluviais
formadas pelas ondas ou pelo seu esparrinhamento ou de correntes de turbidez, dependem da altura da
na praia possuem valores inferiores a 1,5. No dia- marca ondulada e das taxas predominantes de depo-
grama da figura 5-27 estão correlacionados os va- sição e de transporte junto ao leito.
útorrerife O f l u x o uniforme constante (ou equilibrado)
praticamente não existe na natureza. Em geral, nos
ambientes naturais, as propriedades dinâmicas do
fluxo transportador de sedimentos são funções com-
plexas do espaço e do tempo, isto é, a taxa de
transporte varia com o tempo e distância, podendo
ocorrer erosão ou deposição. Em ambos os casos, as
taxas de transferência de material entre o fluxo e o
F i g . 5-26 — M l c r o - o n d u l a ç õ e s . X = c o m p r i m e n t o de o n d a ; h == al- leito dependem da distância e/ou do tempo de
t u r a ; M = lado m o n t a n t e ; J ~ lado jusante.
transporte. Por exemplo: a deposição ocorre quando
- 58 -
a taxa de transporte diminui na direção do fluxo. por superfícies erosivas quando tg £ > tg £. As
Neste caso o transporte de sedimentos não é uni- lâminas da face de montante são preservadas quando
forme. t<3 £ > t g £. No caso de tg £ ~ tg. £ não ocorre
erosão ( A I I e n , 1968). A inclinação da face
Verifica-se igualmente deposição num determi- o
de montante varia de cerca de 4 para as pequenas
nado ponto da corrente, quando a taxa de transpor- o
micro-ondulações a cerca de 9 para as grandes.
te diminui com o tempo, como por exemplo, após
uma cheia. Diz-se então, que o fluxo de sedimentos Até há pouco tempo era quase que impossível
é inconstante. quantificar os processos de erosão, transporte e sedi-
mentação envolvidos na formação das rochas sedi-
As micro-ondulações constituem uma das estru-
mentares. Experiências de laboratório ( A I I e n ,
turas sedimentares mais comuns indicadoras de f l u -
1971a) permitiram estimar até certo ponto, de forma
xo de sedimentos não uniforme e inconstante ( A l -
quantitativa, os processos de deposição de areia
i e n , 1970b). Essencialmente, elas apresentam
(fig. 5-30). A laminação cruzada desenvolvida pelas
estratificação cruzada, onde existe a superposição
micro-ondulações ascendentes prestam-se para indi-
de uma série de ondulações, as quais avançam sem-
car qual a relação entre as taxas de deposição e de
pre para jusante por sobre a face de montante in-
transporte de carga, a qual vem expressa pela se-
ferior.
guinte fórmula:
A ascensão das ondulações pode ser acompa-
HR
nhada de processos erosivos ou deposicionais. No
tg i = (26)
primeiro caso verifica-se a erosão das faces de mon- ~2¡"
tante, o que faz com que as seqüências de estratos
onde: £ corresponde ao ângulo de ascensão, H à al-
cruzados sejam separadas por superfícies erosivas
tura da ondulação em cm; R é a média por área da
(fig. 5-28, nos. 1 e 2). No segundo caso ocorre de-
taxa de deposição em gramas (sedimento seco) por
posição na face de montante da micro-ondulação, 2
c m e por segundo; j refere-se à quantidade do fluxo
de sorte a originar contatos gradacionais entre as se-
do sedimento contido nos corpos de ondulação que
qüências de estratos cruzados (fig. 5-28, nos. 3 e 4).
passa por um plano fixo normal ao vetor corrente.
O ângulo de ascensão expressa em termos gerais as
propriedades do fluxo e as condições de transporte e
deposição.
F i g . 5-28 — Tipos e p a d r õ e s de l a m i n a ç ã o cruzada r e l a c i o n a d o s c o m
as m i c r o - o n d u l a ç õ e s ascendentes ( b a s e a d o em A II e n , 1970).
Os n.°s 1 e 2 r e p r e s e n t a m f o r m a s e r o s i v a s e os n . ° s 3 e 4 f o r m a s
deposicionais.
F i g . 5 30 — Estrutura da m i c r o - o n d u l a ç ã o . A — D e s l o c a m e n t o t r a -
cyáee de ;
cional d e a r e a nas m i c r o o n d u l a ç õ e s sem p r e c i p i t a ç ã o d e s e d i m e n -
t o s . As l â m i n a s da o n d u l a ç ã o estão t r u n c a d a s na p a r t e s u p e r i o r .
B — D e s l o c a m e n t o de areia com p r e c i p i t a ç ã o de s e d i m e n t o s . As
lâminas internas n ã o estão e r o d i d a s (baseado e m S a n d e r s ,
1963).
- 59 -
apenas uma única corrente de energia decrescente le da inclinação da face de montame da micro-ondu-
foi responsável pela deposição. Situações semelhan- lação, podendo atingir mais de 60°. No tipo 1 o ân-
tes são referidas por A I I e n (1964), M c K e e , gulo de ascensão aparentemente não ultrapassa 9 , o
- 60 -
Os sedimentos depositados nas ondulações as- te. Erosão importante tem lugar com ângulos bai-
cendentes procedem de duas fontes: 1 — da sus- xos, resultando apenas a preservação dos depósitos
pensão fluindo sobre o leito, e 2 — da fina carga do lado de jusante da ondulação.
fluindo em contacto com o leito. Os sedimentos var-
ridos da face de montante (fm) da ondulação são
transportados para jusante como carga de leito (fig.
5-32cl). Eles são arrastados para uma área livre de
tensão tangencial com forte turbulência (fig. 5-32-t),
na qual são difundidos e conveccionados antes de
serem depositados na face de jusante (fj) da ondu-
lação. Foi demonstrado por A I I e n (1968 a, b) F i g . 5 3 4 — Laminação c r u z a d a d e m t c r o - o n d u l a ç ã o a s c e n d e n t e .
Plano p a r a l e l o à s u p e r f í c i e da c a m a d a . Direção da c o r r e n t e de-
que a taxa local de deposição destes sedimentos na
b a i x o para c i m a . Esta f i g u r a j u n t a m e n t e c o m a f i g u r a 5-33 c o m -
face de jusante diminui no sentido da corrente. De- p l e t a o a s p e c t o t r i d i m e n s i o n a l das e s t r u t u r a s ( s e g u n d o A l l e n ,
vido a este fato forma-se uma face de escorrega- 1971b).
mento (fe) seguida de uma zona de depósitos de Quando o ângulo de ascensão da laminação
fundo (df) (fig. 5-32). cruzada diminui, os modelos experimentais mostra-
O gradiente da taxa de deposição com a dis- ram que a topografia da ondulação exerce uma in-
tância depende do tamanho do grão. Ele é relati- fluência progressivamente maior sobre a variação da
vamente baixo para as areias mais finas, de sorte granulação de areia depositada. Quando os ângulos
a formar-se uma seqüência importante de lâminas referidos são mais íngremes a relação é pequena,
de fundo, as quais rivalizam-se com as da face de indicando ligeira tendência dos grãos mais grossei-
escorregamento. Estas últimas, em casos extremos, ros disporem-se para jusante das cristas. Relaciona-
podem mesmo faltar. As areias mais grosseiras pro- mento mais importante ocorre nos ângulos de ascen-
duzem um gradiente mais abrupto, com pequeno são moderados, quando os grãos mais grosseiros si-
desenvolvimento ou mesmo ausência de lâminas de tuam-se entre a crista e a depressão. Relações discor-
fundo ( A l l e n , 1971b). dantes entre as unidades de laminação cruzada sur-
gem quando os ângulos de ascensão são moderada-
As figuras 5-33 e 5-34 ilustram as reconstitui-
mente fracos. Neste caso não há acumulação no lado
ções das estruturas internas encontradas nas expe-
de montante das ondulações. Dois padrões alternati-
rimentações d e laboratório realizadas por A l l e n
vos são desenvolvidos. O tamanho médio local pode
(1971b). Quando os ângulos de ascensão são íngre-
encontrar-se a jusante, a meio caminho entre a crista
mes as lâminas a montante e a jusante da crista dás e a depressão, ou então, crescer até um máximo na
ondulações apresentam espessuras similares. Quan- extremidade a jusante. O último padrão, provavel-
do os ângulos de ascensão são moderados as lâminas mente reflete a maior importância do processo de
depositadas a montante são muito menos espessas avalanche ( A l l e n , 1971b).
do que aquelas de jusante. Quando os ângulos são
moderadamente baixos os depósitos de uma ondu- As pequenas ondulações dão origem a üma
lação são, via de regra, ligeiramente erodidos pela laminação cruzada caracterizada pela riqueza de de-
ondulação subseqüente, embora muitas das ondula- talhes e pelo seu aspecto intrincado. Nos depósitos
ções retenham lâminas finas depositadas a montan- do delta do Colorado (México) a laminação cruzada
resulta inteiramente do desenvolvimento das marcas
onduladas formadas durante a deposição ( M c K e e ,
1939). Muitos dos bancos de areia do rio Paraná,
entre Foz do Iguaçu e Guaíra, caracterizam-se pela
presença de laminação cruzada originada de marcas
onduladas. Igualmente, no Rio São Francisco (BA),
entre os depósitos de areia fina ocorre laminação
cruzada de origem similar (fig. 5-35). Entre os sedi-
mentos periglaciais das imediações de Berlim des-
tacam-se algumas camadas com laminação ondulante
ou cruzada (figs. 5-36 e 5-37).
- 61 -
seções verticais. O seu caráter depende em princí- zontal. A laminação cruzada uniforme é relativa-
pio, se as sucessivas séries de ondulações são su- mente rara, pois a maioria das ondulações não são
perimpostas ou não no mesmo ritmo e direção uniformes em caráter e nem sempre são sobrepostas
( M c K e e , 1939). A l é m disto, entre as estru- no mesmo sentido e ritmo.
turas desenvolvidas com ondulações uniformes, dois
Um tipo de laminação cruzada de forma con-
tipos podem ser reconhecidos. No primeiro deles, o
sistente é desenvolvido pela superposição sucessiva
sedimento é distribuído uniformemente sobre a su-
de lâminas de ondulações de mesmo ritmo e sentido,
perfície ondulada. No segundo, há uma concentra-
ção no lado de jusante da ondulação. apresentando concentração de sedimentos no lado de
jusante do fluxo. Nos locais onde as ondulações as-
cendem uma superfície inclinada as linhas de sepa-
ração das seqüências de lâminas cruzadas mergu-
lham fortemente para montante (fig. 5-38"b"), en-
quanto que as lâminas frontais aproximam-se da ho-
rizontal.
- 62 -
Nas áreas onde a deposição se faz seguindo a desaparecem com o aumento da velocidade (fig
inclinação do leito, as linhas de separação das se- 5-40).
qüências de lâminas cruzadas situam-se aproxima-
As macro-ondulações são similares em forma às
damente na horizontal e os estratos frontais incli-
micro-ondulações e o seu comprimento de onda va-
nam-se no sentido da corrente (fig. 5-38"d").
ria de 60 cm a vários metros. Em contraste com as
Uma situação intermediária ocorre quando a de- pequenas ondulações o comprimento de onda das
posição se faz num leito aproximadamente horizon- macro-ondulações pode aumentar com a profundi-
tal ( M c K e e , 1939). dade da água (fig. 5-6). A l é m disso, o comprimento
de onda e forma das macro-ondulações dependem
O aspecto da laminação cruzada originada pe- da granulometria do material do leito.
las marcas onduladas depende da continuidade de O processo de avalanche provoca o deslocamen-
superimposição das lâminas. No caso de deposição to da macro-ondulação para jusante numa ordem que
de apenas 6 a 12 lâminas similares, o aspexto em depende da velocidade do f l u x o e da altura da on-
seção vertical é semelhante a uma série de sulcos dulação. As ondulações menores são mais velozes
preenchidos com lâminas ( M c K e e , 1939). do que as maiores.
Por outro lado, quando as lâminas cruzadas das on-
dulações depositam-se, sem mudanças durante certo
tempo, forma-se um padrão de "camadas aparentes"
dentro das quais encontram-se numerosas lâminas
inclinadas tangenciando a base.
- 63 -
Forma do estrato frontal
, J
r / ^ w í i f o ' * ^ / » » » mon-
ffeaüêmèri' aeatut/adar ds tacanho Sefrato? ho/ fèo'fn7& te ¿ ea^é/fú/aff fâèu/areí' oua^am/ada^?'
nta/ eêfrat/fteadas' ou e£>/rafora.
•
c
Sape te de ...
fração
- 67 -
Fig. 5-49 — B l o c o - d i a g r a m a i l u s t r a n d o os aspectos e s t r u t u r a i s o r i -
ginados simultaneamente por dois f l u x o s antagônicos. A macro-
o n d u l a ç ã o c o n s t i t u í d a de areias mais grosseiras, representa a ação
do f l u x o principal. As micro-ondulações formadas de sedimentos
mais f i n o s relacíonam-se com as c o n t r a c o r r e n t e s secundárias ( m o -
dificado d e B o e r s m a , v a n M e e n e & T j a l s m a ,
1968).
- 68 -
parte superior, quando acompanhados para baixo,
podem ser vistos na interface incorporando-se ou en-
trelaçando-se com a parte terminal das mkro-onduia-
ções da parte inferior (figs. 5-49 e 5-50).
69 -
&ed/M/&ffaP
a f
% 0,030
ll |i
^0,025
1
^0,020
1
frontais
Fig.
&
5-56
dorsais em
— Representação
modelo de
R i c h a r d s o n ,
esquemática da formação
laboratório, mostrando o abastecimento de
a r e i a e o s u p r i m e n t o c o n s t a n t e de á g u a ( a d a p t a d o de
1966).
de estratos
J o p I I n g
X
I
Wtfxo/ff&r/or-<
0,4-
0,6 OJ3 W
9/ujcorap/do
},2
14 0
número de WPoude
Qeface/ewgâo ¿7ee¡e/&$ao Fig. 5-58 — Relação entre os números de M a n n i n g e
poof ehvte f¡u3CO
F r o u d e eas formas d e leito (baseado e m A l i e n ,
1965). Rugosidade e m canal f l u v i a l ,
- 70 -
6 - PROCESSOS DE EROSÃO FLUVIAL E
FORMAÇÃO DE TERRAÇOS FLUVIAIS
O trabalho total de um rio é medido pela finalmente os córregos e riachos até rios de grandes
quantidade de material que ele é capaz de erodir, dimensões.
transportar e depositar. A erosão fluvial é reali-
Os canais aumentam os seus comprimentos por
zada através dos processos de corrosão, corrasão e erosão remontante, que resulta geralmente de sola-
cavitação. pamento da base, especialmente onde a superfície
A corrosão compreende todo e qualquer pro- é protegida por uma camada resistente, solo ou ve-
getação. A erosão do subsolo pode ser causada por
cesso de reação química que se verifica entre a
percolação de água subterrânea, que remove o ma-
água e as rochas que estão em contato.
terial fino subjacente, formando túneis.
A corrasão ou abrasão é o desgaste pelo atrito O alargamento dos canais fluviais pode ocorrer
mecânico, geralmente através do impacto das partí- de várias maneiras e pode se processar por vigorosa
culas carregadas pelas águas. A eversão representa corração lateral contra as paredes durante as enchen-
um tipo especial de corrasão originada pelo movi- tes, ou quando a migração de meandros age contra
mento turbilhonar sobre as rochas do leito. Depres- os lados do canal. Freqüentemente ocorre o alarga-
sões de vários tamanhos podem ser escavadas, em mento dos vales como resultado do intemperismo e
geral, de forma circular, tais como as marmitas ou conseqüentes movimentos de massa nas vertentes do
caldeirões. vale a medida que o rio aprofunda o seu leito. Ocor-
rem muitos rastejos de detritos, escorregamentos e
A cavitação ocorre somente sob condições de ve- quedas de blocos que vão ter ao rio, sendo por ele
locidades elevadas da água, quando as variações de removidos periodicamente (figs. 8-2 e 8-3).
pressão sobre as paredes do canal fluvial facilitam a
Alguns vales têm seção transversal em "V", en-
fragmentação das rochas.
quanto que outros têm paredes mais abruptas com
seção em "U". A idéia consagrada antigamente era
Desenvolvimento de canais e vales a de que estas formas eram características dos está-
dios do ciclo erosivo do rio. Deste modo, o vale em
Parte das águas que não é infiltrada no solo e "V" era interpretado como rio jovem, (fig. 6-1), en-
nem é evaporada para a atmosfera, sofre escoamen- quanto que os vales mais alargados indicariam fase
to declive abaixo em função da força de gravidade. matura ou senil. Entretanto, mais do que estádios de
Inicialmente a água corre em finos filetes, que pro- erosão, as formas dos vales resultam da interação
gressivamente aumentam de volume, desenvolvendo do clima, relevo, tipo de rocha e estrutura geoló-
- 71 -
Fíg. 6-1 — Vale do Ribeira (PR). Paisagem profundamente dissecada a partir do nível do pediplano P d , . A dissecação o r i g i n o u um
vale em "V", em cujas paredes encontram-se remanescentes de níveis embutidos.
gica. A vegetação controla parcialmente o v o l u m e aluviais. Os terraços podem igualmente, ser escul-
de escoamento, bemo como tem papel de cobertura pidos sobre o embasamento rochoso, q u a n d o então
de proteção. De fato, em regiões de cÜmas tempe- são designados de terraços rochosos ("strath terrace").
rados e úmidos, os solos das paredes dos vales so- Estes não devem ser confundidos com os d e n o m i -
f r e m rastejo constante, atribuindo a forma típica de nados terraços estruturais, q u e são patamares ao
" V " . Por outro lado, em regiões áridas, os vaies pos- longo das vertentes, mantidos pela existência de ca-
suem paredes abruptas de f u n d o plano resultando na madas de rochas mais resistentes.
f o r m a em " U " . O relevo existente determina as
Os terraços consistem de uma área plana ou em
taxas de aprofundamento e alargamento de um vale
bancadas, limitadas por escarpas em direção ao curso
f l u v i a l . O tipo de rocha influi na f o r m a do vale e do
atual dos rios ( f i g . 6-2). Os terraços p o d e m situar-se
canal, pois ele determina parcialmente o v o l u m e de
bem acima do nível atual do rio, não sendo atin-
escoamento e a resistência da superfície à erosão.
gido pelas águas nem mesmo durante as enchentes.
- 72 -
vertical, evolução pedogenética, correlação asimé-
trica, datação ,etc.
Do estudo dos terraços podem ser inferidas
conclusões relativas aos paleoclimas e condições hi-
drológicas da bacia de drenagem. Mudanças climá-
ticas profundas causaram modificações extremas no
regime das correntes. Estas mudanças foram cíclicas
incluindo: 1 — fases de agradação num sistema f l u -
vial anastomosado, sob condições climáticas do tipo
semi-árido; 2 — fases de erosão dissecando o terre-
no e removendo grande quantidade de material pre-
viamente depositado, bem como aprofundando o
fundo do vale; 3 — fases de desenvolvimento de
planícies de inundação sob condições de clima úmido.
A ocorrência extensiva de terraços de cascalho
tem sido interpretada por alguns autores como ex-
F i g . 6-3 — Tipos d e terraços f l u v i a i s d e p e n d e n t e s d a f o r m a d e
clusivamente de origem tectónica, e por outros como
abandono da planície de inundação inicial. A — terraços e m b u t i -
d o s ; B — terraços e n c a i x a d o s (baseado e m C h r i s t o f o - documentos de condições climáticas rigorosas. Os
I e t t i , 1974). movimentos tectónicos por si só não são os únicos
responsáveis pela formação dos terraços e pela na-
do de vale, ocasionando a origem dos terraços en- tureza dos depósitos. Durante os movimentos tectó-
caixados (fig. 6-3). nicos, os terraços e seus depósitos não teriam sido
Quando os terraços se dispõem de modo seme- formados se as condições climáticas e hidrológicas
lhante ao longo das vertentes opostas do vale, eles não tivessem sido apropriadas. O escalonamento dos
podem ser considerados "parelhados" e, em caso con- diferentes níveis de terraços pode ser completamente
trário, são chamados isolados. O primeiro tipo re- independente dos movimentos tectónicos, sendo so-
flete um longo período de aplainamento lateral se- mente devido a variações no regime e na intensi-
guido de rápido entalhamento vertical. O segundo dade das condições hidrológicas ( B i g a r e I I a
caso, mostra deslocamento lateral do curso durante & B e c k e r , 1975, p . 231).
o processo de entalhe, como acontece nos rios mean-
drantes. Terraços fluviais no Brasil
Os terraços são freqüentemente utilizados como
chaves na interpretação da história geológica de A interpretação dos terraços fluviais no Brasil
uma região. Em geral, mudanças ambientais levam cegue duas linhas básicas e distintas de conceituação:
os rios a erodirem os seus próprios depósitos pre- tectónica (vide Fr e i t a s , 1951, entre outros) e
viamente formados. A literatura clássica, geralmente climática (vide Bigarella & Mousinho,
refere estas mudanças como tectónicas, isto é, a 1965, entre outros). Os fatores climáticos parecem
região pode ter sido levantada ou basculada alteran- ser os condicionantes, enquanto que os tectónicos
do o nível de base dos rios. Entretanto, mudanças contribuem para acentuar com o tempo as diferenças
muito mais importantes são devidas a modificações de nível entre os vários terraços.
de clima, as quais afetam a hidrodinâmica do siste- As múltiplas e profundas mudanças climáticas
ma fluvial influindo na descarga líquida ou na car- ocorridas durante o Quaternário teriam influência
ga sedimentar do rio. Em regiões instáveis, como no decisiva nas mudanças das condições hidrodinámicas
Japão, os terraços comumente são interpretados como do sistema fluvial, devido a implicações no revesti-
resultantes de um levantamento tectónico. Em mui- mento vegetal e na distribuição das chuvas ( B i -
tos lugares os terraços são referidos à mais recente g a r e l l a & Becker, 1975). O s aspectos
e mais acentuada mudança climática, quando houve da morfologia ligados às calhas de drenagem têm
a passagem de um período glacial para interglacial. sido exaustivamente pesquisados em todo mundo,
Diferentes critérios devem ser empregados a existindo sobre o assunto vasta bibliografia. B i -
fim de melhor correlacionar e precisar a sucessão de g a r e l l a & M o u s i n h o (1965) refor-
terraços de uma região. Entre os mais importantes mularam vários prob'emas relativos aos terraços e
devem-se citar os estudos sedimentolcgicos incluindo várzeas, analisando-os sob o ponto de vista dos pro-
a composição do sedimento, granulometria, sucessão cessos envolvidos, sedimentologia e condições am-
- 73 -
plica necessariamente em movimentação crustal. M u -
danças nas condições climáticas constituem os agen-
tes mais eficazes no controle da dinâmica f l u v i a l , es-
pecialmente nas áreas onde se constata certa esta-
bilidade crustal e o n d e a ação endógena é represen-
tada por uma epeirogênese positiva muito lenta, co-
mo é o caso do escudo cristalino brasileiro, durante
o Quaternário ( B i g a r e l l a & M o u s i -
n h o , 1965). Alterações nas condições climáticas,
e portanto, mudanças nos elementos inerentes à d i -
nâmica f l u v i a l , representam nestas áreas o fator in-
dependente em função do qual varia o comporta-
mento dos cursos de água e seu papel morfológico.
- 74 -
têm lugar mudanças no regime hidrológico, afetando
o fornecimento de água e sedimento.
L e o p o l d , W o l m a n & M i l l e r
L 1
(1964) salientam que vales separados da drenagem
' ) f ^ ) ( V H A
principal por um nível de base fixo (escarpa na
borda de um platô) possuem preenchimentos flu-
viais e terraços que indicam ter havido agradação e
degradação. Estas foram causadas por mudanças nas
relações entre precipitações e escoamento superficial
associadas a variações climáticas, independendo por-
tanto, de mudanças no nível de base.
faz-se permitindo a remoção acelerada do manto de mentos inclinados para jusante e controlados quando
intemperismo. Tem-se dessa forma um aumento da de sua elaboração, por níveis de base locais (B i -
carga e uma diminuição da descarga e, conseqüen- g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). A alti-
temente, a agradação do fundo do vale. Na passagem tude dos remanescentes do Pd] cresce progressiva-
do clima semi-árido para o úmido ocorre um aumen- mente para montante, sendo de 50 a 100 m no li-
to da descarga concomitantemente com o adensa- toral, chegando a 900 m ou mais nos planaltos. A in-
mento da vegetação. Dessa forma as vertentes ten- clinação da superfície aplainada é maior na fachada
dem a estabilizar-se fornecendo quantidade bem me- atlântica, na Serra do Mar, e menor na planície cos-
nor de detritos. Os cursos de água passam a encai- teira ou nos planaltos do interior.
xar-se, sendo a abrasão mecânica do leito facilitada.
O fundo do vale anteriormente agradado, sofre ero- Os depósitos correlativos do aplainamento Pd 1#
são até o restabelecimento de um novo equilíbrio. no Brasil, realizado sob condições climáticas semi-ári-
das, estão englobados em várias formações estrati-
O desenvolvimento dos terraços segundo L e o - gráficas ( B i g a r e l l a & A b ' S á b e r ,
pold, Wolman & Miller (1964) tem, 1964; B i g a r e l l a & A n d r a d e , 1964;
em última análise, dois controles fundamentais: tec-
tónico e climático. De acordo com estes autores, as
forças tectónicas provocam mudanças no gradiente,
colocando os divisores de água em meio climático
diferente, bem como modificam as formas das ver-
tentes e o fornecimento de sedimentos para o rio.
Esta opinião é discutível. Os movimentos tectónicos
são extremamente lentos e um longo período de
tempo seria necessário para causar uma notável mu-
dança de altitude do relevo e das condições hidro-
lógicas dentro das bacias brasileiras. Sendo os ter-
raços de idade relativamente recente, é pouco pro-
vável que os movimentos epeirogênicos positivos, se-
F i g . 6-6 — E s t r u t u r a d o p e d i p l a n o P d , . C a s c a l h e i r o c o m cerca d e
jam os únicos responsáveis pelo seu desenvolvimen- um m e t r o de espessura f o r m a d o p o r seixos s u b a r r e d o n d a d o s a
to ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). i r r e d o n d a d o s , d e n o t a n d o t r a n s p o r t e a p r e c i á v e l . A base d o d e p ó -
Leopold, Wolman & Miller (1964) sito de c a s c a l h o jaz s o b r e r o c h a s p r e c a m b r i a n a s a l t e r a d a s , e a
;apa é f o r m a d a p o r m a t e r i a l c o l ú v i o a l u v i o n a r . I m e d i a ç õ e s d e Ita-
referem-se também ao controle climático sob o qual gimirim, B A (segundo B i g a r e l l a , 1975Í.
- 75 -
B i g a r e l l a , Mousinho & S i l v a , calha de drenagem, provocaram o entulhamento
1965). Eles correspondem ao membro mais antigo das depressões do terreno, através de um contínuo
das formações: Itaipava (vale do Itajaí-Mirtm, SC), preenchimento do vale, elevando assim o nível de
Pariquera-Açu (vale do Ribeira, SP), e Riacho Morno base local até um ponto em que se estabelecia
(Grupo Barreiras) entre outras. um equilíbrio aparente entre o material fornecido
pelos processos erosivos e aquele evacuado pela
Na época semi-árida em que se iniciou a pedi- calha d e drenagem ( B i g a r e l l a & M o u -
planação do Pdi no Brasil, a paisagem encontrava-se sinho, 1965).
muito dissecada, em virtude da época climática úmi-
da anterior. Com a mudança do clima para semi- Da calha de drenagem desta época, subsistem
árido, o manto de intemperismo foi removido desor- vestígios nos altos terraços, próximos às margens
denadamente para as deprestões do terreno, por das bacias, os quais correspondem lateralmente ao
processos de movimentos de massa e corridas de nível do pediplano Pd,. Os terraços são mantidos
lama, originando um entupimento da calha de dre- por cascalheiras de seixos subarredondados até ar-
nagem. A continuação dos processos de agradação rendodados, denotando transporte apreciável (figs.
contribuiu para um levantamento do nível de base 6-5 e 6-6). Eles foram arredondados pela passagem
local (por sedimentação), o qual passou a controlar sucessiva através de alvéolos diferentes, ou foram
os processos de morfogênese mecânica, responsá- retrabalhados de níveis de terraços correspondentes
veis pela elaboração do pediplano Pd! e pelo pre- a épocas de pedimentação mais antigas. Este fato
enchimento da parte dissecada do vale, por um pa- contrasta com os aspectos dos cascalheiros do pedi-
cote detrítico, até o nível correspondente ao do aplai- plano detrítico, constituídos por seixos angulares a
namento d o Pd! ( B i g a r e l l a & M o u s i - subangulares de transporte reduzido. Os detritos
nho, 1965). grosseiros angulares resultantes dos processos de
morfogênese mecânica, trazidos englobados em fluí-
Os processos de degradação lateral atuantes dos de alta densidade, ao entrarem nas calhas de
durante a fase climática semi-árida conduziram à drenagem, sofreram transporte em lençol, perdendo
formação de vastas superfícies aplainadas, gerando para jusante as arestas angulares e arredondando-se
grande quantidade de depósitos grosseiros e finos. progressivamente ( B i g a r e l l a & Mou-
Os detritos mais grosseiros restringem-se normal- sinho, 1965).
mente à periferia das depressões, exceto os repre- Ao longo da calha de drenagem deveriam Si-
sentativos dos depósitos da calha de drenagem, tuar-se os canais anastomosados, cujos vestígios de-
os quais ocorrem mais para o centro da bacia. Os sapareceram, em grande parte, com a remoção pos-
depósitos mais finos foram depositados em ambi- terior da maior parte dos depósitos da porção cen-
ente de bajada, em playa ou na cafha de drena- tral da bacia (figs. 6-7 e 6-8).
gem.
Embutidos nos remanescentes do pediplano
Os produtos da erosão, transportados para a Pd] existem vestígios de mais dois níveis de pedi-
- 76 -
Fig. 6-8 — C o r t e a 1,4 k m d e J a c j p i r a n g a na estrada para Cananéía, SP. Nível correspondente ao aplainamento Pd-,.
I — filito decomposto; II — superfície de erosão i r r e g u l a r p r é - f o r m a ç ã o do t e r r a ç o correlacionado c o m o P d , ; Ml —
eascalheiro com seixos subangulares e subarredondados de quartzo e quartzito c o m dimensões variando em t o r n o de 5
a 8 c m , c o m alguns blocos eventuais d e até 30cm d e d i â m e t r o . Intercaladas n o -Rosito r u d á c e o o c o r r e m lentes d e sedi-
mentos siltico-argilosos; IV — superfície de agradaçao do eascalheiro relativo ao terraço correlacionado ao Pd,; V —
colúvio-alúvio mosqueado com delimitação indecisa; VI — colúvio-alúvio avermelhado contendo ocasionalmente grânu-
los e pequenos seixos de q u a r t z o de 2 a 3 cm de d i â m e t r o ; V I I — linha de p e q u e n o s seixos s e p a r a n d o as unidades
VI e V I I I ; V I I I — c o l ú v i o - a l ú v i o c a s t a n h o c o n t e n d o p e q u e n o s grânulos e seixos esporádicos, (segundo B i g a r e II a
& M o u s i n h o , 1965).
grattef
tf/f/r fétâpe&b/ef
- 77 -
os processos de pedimentação abriram numerosos
compartimentos, modelando o pedimento P . Na fa-
2
- 78 -
Jtarcfpatf (//man/fie t'mptffijw¿rf/o/t)
r
~~~—•—•—• • — ~ — . • — *" "7,. • •"•j¿r \-•
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•' Óm 1 2m
I : * — i — H J-
- 79 -
do Tc e Tci, com espessura de até 1 m ou mais,
2
Várzeas
por camadas colúvio-aluvionares. A dissecação posterior ao Tp, é seguida p o r sucessivos e p i s ó d i o s c o l ú v i o - a l u v i o n a r e s i n t e r c a l a d o s com li-
nhas d e s e i x o s ( s e g u n d o B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). Descrição d a seção: I — filito decomposto; II — inconformidade
erosiva representada p o r uma calha f l u v i a l ; III — seqüência de camadas de cascalho de quartzo subanguloso a s u b a r r e d o n d a d o de até 5
cm de d i â m e t r o . Sotoposta ao cascalho aparece uma camada arenácea muito rica em seixos de quartzo subangulosos a subarredondados,
sem a p r e s e n t a i sinal de estratificação. Dentro da estrutura de corte e p r e e n c h i m e n t o , segue-se um d e p ó s i t o s í l t í c o - a r g i l o s o c i n z a , m o s t r a n d o
estratificação cruzada acanalada (am. 92) t e n d o n a sua base uma camada bastante arenosa (am. 93). No t o p o aparece outra camada are-
nosa ( a m . 94); I V — d i a s t e m a ; V — sucessão d e c a m a d a s d e c a s c a l h o s u b a n g u l o s o a subarredondado com dimensões variando em torno
de 5 c m . Entre a s c a m a d a s d e c a s c a l h o e n c o n t r a m - s e d e p ó s i t o s a r e n o - s í l t i c o - a r g i l o s o s , bem estratificados (am. 9l); VI — diastema; VII —
d e p ó s i t o d e cascalho c o m c a r a c t e r í s t i c a s s e m e l h a n t e s à s d a u n i d a d e V ; V I I I — i n c o n f o r m i d a d e erosiva; IX — camada de cascalho, retrabalhada
do cascalheiro superior, f o r m a n d o linha contínua que s e espessa na parte basal; X — material colúvio-aluvial mosqueado constituído por
m a l e r i a l a r e n o - s í l t i c o - a r g M o s o ' a m . 88) c o n t e n d o p e q u e n o s s e i x o s s u b a r r e d o n d a d o s . Ao colúvio-aiúvio superpõe-se uma linha de seixos; Xa —
material areno-argiloso estratificado; XI — colúvio-alúvio de cor castanho-avermelhada, rico em grânulos e pequenos seixos de quartzo e
apresentando no seu interior paleopavimentação incipiente (am. 89); XII — inconformidade erosiva na parte direita do corte; X I I I — colú-
vio-alúvio de coloração avermelhada; X I V — colúvio-alúvio avermelhado m o s q u e a d o ; X l V a — p a l e o p a v i m e n t o d e t r í t i c o ; X V — sucessão d e c o -
lúvio-aiúvios de cor vermelho-castanha ( a m . 95), areno-síltico-argilosos, ricos e m g r â n u l o s e p e q u e n o s s e i x o s e c o r t a d o p o r p e q u e n a s e des-
c o n t í n u a s linhas d e s e i x o s ; X V I — colúvio-alúvio avermelhado; XVII — paleopavimento detrítico descontínuo, com grânulos e pequenos seixos
de quartzo angulosos e subangulosos, acompanhando em subsuperfície a p r o x i m a d a m e n t e a t o p o g r a f i a atual; X V I I I — colúvio-alúvio de colora-
ção c a s t a n h a , a r e n o - s í l t i c o - a r g i l o s o , p o u c o c o n s o l i d a d o ( a m . 90) e c o n t e n d o g r â n u l o s e s p o r á d i c o s d e q u a r t z o ; X I X — s o l o a g r í c o l a .
- 80 -
existir a várzea (planície de inundação), a qual, em
alguns casos não passa de fino recobrimento detríti-
2 fP6j(/0t* co sobre o embasamento rochoso truncado. Geral-
mente quando o rio atinge o equilíbrio, a espessu-
ra do alúvio já é grande, não aflorando mais o subs-
trato rochoso. Apesar de, durante as cheias haver es-
cavação e preenchimento, a cobertura de alúvio ten-
de sempre a se expandir.
N a opinião d e T h o r n b u r y (1958), a s
várzeas dos grandes rios com espesso enchimento
aluvial sobre o substrato rochoso, não poderiam ter
se originado pela agradação fluvial, sem que antes
tivessem sido abertos largos vales por erosão late-
ral. Embora este autor admita a importância das va-
F i g . 6-16 — Estrutura d o b a i x o t e r r a ç o d e c a s c a l h e i r o T c . Canhan-
2
riações cimáticas na explicação das mudanças do
duba, Itajaí SC (segundo B i g a r e l l a & B e c k e r ,
1975). Impregnation w i t h hydrous iron oxide — impregnação com regime hidrológico, ele não dá ênfase ao clima para
ó x i d o h i d r a t a d o d e f e r r o ; Paleo soil ( h o r i z o n A ) — p a l e o s s o l o (ho- a interpretação dos fenômenos acima expostos.
r i z o n t e A ) ; C o l l u v i u m - c o l ú v i o ; A r k o s i c s a n d — areia a r c o s i a n a ; G r a -
vel — cascalho; P h y i l i t e — f i l i t o . Pera Leopold, W o l m a n & M i l -
I e r 0 9 6 4 ) , a várzea constitui um aspecto deposi-
cional do vale dos rios, associada com um clima par-
ticular ou regime hidrológico da bacia de drenagem.
Os sedimentos deslocando-se ao longo do vale, são
temporariamente retidos na várzea. Em condições de
equilíbrio, a entrada e saída de sedimentos são equi-
valentes. Um rompimento das condições de equilí-
brio por mudanças tectónicas ou no regime hidroló-
gico (incluindo mudanças no suprimento de água e
sedimentos), resulta na alteração da várzea, condu-
zindo à agradação ou degradação da mesma. Quan-
do há levantamento crusta! segue-se uma fase de de-
gradação, mas a ordem de encaixamento é geral-
mente suficientemente lenta para permitir o movi-
mento do canal e formação da várzea.
A largura da várzea depende do tamanho do
rio, da ordem relativa de encaixamento e da resis-
tência das rochas das paredes do vale. As várzeas
são mais estreitas onde o vale se estrangula. Seu
gradiente também torna-se mais íngreme nos locais
onde o rio tem um perfil longitudinal mais acentua-
do (Leopold, W o l m a n & M i l l e r ,
1964). B a u I i g (1954) refere que um leito alu-
vial muito largo implicaria num aluvionamento es-
pesso. Lembra também que um rio muito carregado
Fig. 6-17 — Terraços de várzea d o s rios Paraíba (RJ) e São J o ã o , de detritos, não podendo rebaixar seu perfil, é ca-
Garuva (PR-SC).
paz de erosão lateral atacando a margem e deixan-
do um leito coberto por um lençol aluvial.
jando o canal fluvial, e situado entre as paredes do Na elaboração de um plaino aluvial, os proces-
vaie (AGI, 1960), (fig. 6-17). Ainda de acordo com sos envolvidos na deposição do cascalho basal di-
T h o r n b u r y (1958), o plaino aluvial corta a ferem daqueles relativos ao enchimento do vale com
rocha e encontra-se recoberto por um fino revesti- formação d a várzea ( B i g a r e l l a & M o u -
mento aluvial. Ele seria formado com a eliminação s i n h o , 1965). Ambas as formas não são con-
dos relevos entre os meandros através da erosão la- temporâneas. Na maioria das várzeas do Brasil Me-
teral. Com a formação do plaino aluvial começa a ridional e Sudeste, os sedimentos apresentam espes-
- 81 -
sura apreciável. Em Curitiba eles atingem de 8 a condições de climas rigorosos pré-deposicionais. O
15 m, desconhecendo-se ainda sua maior espessura. embasamento dos sedimentos da várzea constitui
Ainda nas várzeas de Curitiba, nos terrenos da anti- uma superfície elaborada em fase climática seca, a
ga Estação Experimental do Trigo, atualmente EM- qual foi rebaixada e alargada após a dissecação do
BRAPA, foi ^possível identificar-se o processo respon- pedimento Pi e dos terraços T p Tc e Tci.
w 2
- 82 -
entre eles depende das características das enchen- baixos do plaino aluvial, correspondendo aos terra-
tes, além da disponibilidade e do diâmetro dos de- ços de várzea, estão diretamente ligados a pequenas
tritos. L e o p o I d, Wo I m a n & AA i I I e r modificações nas características hidrológicas dos cur-
(1964) referem que em muitas várzeas, 60 a 80% sos de água. Nestas condições formou-se uma série
dos sedimentos provêm da acreção lateral. L a t t - de terraços embutidos, todos caracterizados como ter-
m a n (1960) menciona para um pequeno rio na raços de preenchimento. O caráter recente e o fraco
Pensilvânia que a maior parte dos sedimentos pro- desnivelamento entre eles dá origem a uma série
vinha da acreção lateral, enquanto que, um quinto de problemas. Em primeiro lugar, a seqüência dos
era de colúvio procedente das vertentes do vale. baixos níveis não é encontrada em todos os vales.
Leopold, Wolman & M i l l e r (1964) O esquema é bastante complexo em vales de núme-
assinalam que parte das várzeas está sujeita à depo- ro de ordem elevado, enquanto que ao longo das
sição de colúvio, resultante do escoamento superfi- principais calhas de drenagem a seqüência de níveis
cial e movimentos de massa locais. O colúvio tende torna-se imperceptível, com o aiuvionamento inten-
a interdigitar-se com o alúvio da agradação fluvial. sivo das várzeas atuais. Nos pequenos afluentes, on-
Em alguns casos o preenchimento do vale com colú- de o aluv'onamento torna-se menos espesso face ao
vio pode ser predominante. gradiente relativamente mais elevado e característi-
cas mais torrenciais a preservação e o soterramento
Os depósitos de várzea permitem reconhecer as
das formas são dificultados. Por outro lado, ligan-
várias fases climáticas envolvidas nos processos de
do-se tais formas a pequenas flutuações nos proces-
deposição e erosão que originaram os terraços for-
sos da dinâmica fluvial e, portanto, essencialmente
mados pe!as antigas várzeas.
a variações na relação entre carga e descarga dos
Os níveis mais baixos existentes no plaino alu- cursos de água torna-se bem possível e mesmo pro-
vial, correspondendo a antigos depósitos de enchen- vável, que não tenha havido perfeita homogeneida-
tes, são designados como terraços de várzea. Mate- de da evolução de toda uma vasta área geográfica
rial colúvio-aluvionar pode recobrir estes níveis for- ( B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).
mando rampas colúvio-aluvionares. As rampas apre-
A diversidade climática numa região é flagran-
sentam desenvolvimento variável, em alguns casos
te e, dentro de uma visão em pequena escala no
atingem o meio do plaino aluvial, enquanto que
tempo, deve-se levar em consideração as variações
outras vezes encontram-se na área periférica. Nos
das condições meteorológicas locais de cada uma das
vales onde as rampas mais recentes estão pouco de-
áreas. Outro problema de importância que deve ser
senvolvidas, os terraços de várzea estão melhor pre-
levado em consideração no estudo do problema das
servados (fig. 6-18). Entretanto, este fato não exclui
várzeas, é o do desmatamento de origem antrópica,
que em subsuperfície ocorram camadas colúvio-alu-
que provocou erosão acelerada das vertentes e mo-
vionares interdigitadas com sedimentos fluviais.
dificação nos regimes hidrológicos dos cursos de
O modelado e a dissecação de pequena ampli- água, dando origem a formação de terraços "antró-
tude responsáveis pela formação dos terraços mais picos", (vide f i g . 4-4a).
- 83 -
7 - PROCESSOS SEDIMENTARES FLUVIAIS
Os processos sedimentares que atuam dentro e tam aspectos de acreção vertical, enquanto que o u -
fora de um canal fluvial são fundamentais, tanto na tras possuem canais com diques marginais, depósitos
caracterização das fácies fluviais, bem como dos t i - de espargimento de crevassa (rompimento de diques
pos básicos de sistemas deposicionais fluviais. Por- marginais) e, de bacias de inundação bem desenvol-
tanto, da compreensão dos processos sedimentares, vidos.
depende o reconhecimento das fácies específico e,
Os depósitos de acreção lateral são comuns a
em conseqüência, do tipo particular de canal ou de
qualquer outra feição pertinente. todas as planícies de inundação. Quando ocorre acre-
ção vertical significativa, isto depende provavelmen-
Na planície de inundação encontram-se: barras te, tanto de fatores inerentes ao regime da corrente,
de meandros e de canais, ilhas aluviais, cortes e en- bem como de fatores externos ( A I I e n , 1965).
chimentos de canais, diques marginais, espargimento
Os fatores internos mais importantes parecem de-
de crevassas e bacias de inundação.
pender: a) do tamanho do grão da carga em suspen-
De acordo com o modo de formação e a natu- são e da carga total; b) da velocidade do f l u x o so-
reza dos depósitos existem dois tipos fundamentais bre os bancos e; c) da taxa de migração dos canais.
de formas, dependendo do tipo de acreção ser " l a - Os fatores externos relacionam-se com as mudanças
teral" o u "vertical" ( A l i e m , 1965). Dos pro- do nível de base da corrente ou com mudanças de-
cessos de acreção lateral da carga do leito resultam
as barras de meandro, as barras de canais e as ilhas
aluviais. A acreção vertical se faz à custa da carga 1. <¿)epdi>rfo de dique
margina/.
suspensa durante as cheias, quando as águas trans-
Z.Qepd^ifo de depres.
põem os diques marginais. A acreção vertical é res-
ponsável pela formação dos depósitos dos diques Séanai fiuv/ai
- 84 -
vidas à subsidência ou soerguimento do terreno. Formação de barras de meandros
( A l i e n , 1965).
Os meandros e as barras de meandros consti-
Como foi mencionado acima, o tamanho da car- tuem os aspectos mais notáveis da paisagem aluvial.
ga da corrente constitui fator importante no controle Cada curva de meandro ativo ou cortado possui bar-
da estrutura da planície fluvial e de sua morfolo- ras de meandros grosseiramente concordantes com a
gia. Nas correntes anastomosadas, com carga gros- curva do canal. Um cordão de barra representa agra-
seira e gradiente relativamente elevado, os canais dação de material do leito de encontro ao banco con-
entrelaçados mudam rapidamente de posição e mi- vexo do canal. As cristas das barras podem situar-se
gram no plaino aluvial mantendo relevo baixo e mi- mais elevadas do que os diques marginais ( F i s k ,
nimizando a extensão dos depósitos das cheias 1947). Entre os cordões encontram-se áreas mais bai-
( A l i e n , 1965). xas com banhados, poças ou braços rasos da cor-
rente (fig. 7-3). S u n d b o r g (1956), refere
Os depósitos dos canais meandrantes de sinuo- cordões distantes uns dos outros de 10 a 30 m e,
sidade relativamente baixa originam planícies de com altura de 1 m sobre as depressões, no plaino
inundação planas e as águas das cheias movem-se aluvial do rio Klarãlven, Suécia. Para as barras de
livremente sobre os plainos aluviais. Quando o ta-
manho da carga diminui verifica-se um aumento da
sinuosidade da corrente (fig. 7-2), ( S c h u m m ,
1960, 1961 e 1963). Com o aumento de sinuosidade
aumenta a estabilização dos cinturões de meandros
com formação de tampões de argila.
F i g . 7-4 — F l u x o h e l i c o i d a l n u m a c u r v a de m e a n d r o a c o m p a -
F i g . 7-2 — D i a g r a m a i l u s t r a n d o as relações entre a e s t a b i l i d a d e do
nhado de superelevação do nível de água j u n t o a m a r g e m côn-
canal, sua s i n u o s i d a d e e caráter da carga da c o r r e n t e ( S e g u n d o
cava, s e n t i d o do m o v i m e n t o de á g u a na s u p e r f í c i e (seta cheia) e
A I I e n , 1965).
n o f u n d o (seta i n t e r r o m p i d a ) .
- 85 -
meandro do rio Mississipi são referidas diferenças
de altura de até 4,5 m ( F i s k , 1947).
- 86 -
mentos. Estes mecanismos foram discutidos por As faces de montante apresentam macro-ondu-
F i s k (1947) para o rio Mississipi, onde contri- lações, enquanto que as de jusante possuem pen-
buem significativamente para sua carga sedimentar dentes de avalanche. Nelas desenvolve-se a estra-
e representam as principais fontes de sedimentos tificação cruzada tabular (planar).
das barras de meandros.
Transbordamento
Os fragmentos síltico-argilosos ou argilosos des-
prendidos do banco côncavo, e reduzidos em tama- O transbordamento dos rios constitui outro pro-
nho peia ação das águas, originam as "bolotas" (clay cesso sedimentar, especialmente importante em sis-
galss) tão freqüentes nos sedimentos arenosos dos temas fluviais, cuja relação entre carga em suspen-
canais fluviais. são e carga de leito é moderada ou elevada. No en-
tanto, enquanto que a migração lateral dos c i m i s
Os escorregamentos e desbarrancamentos da
e o desenvolvimento de meandros são processos de
margem côncava predominam onde os sedimentos
sedimentação por acreção lateral, o transbordamento
:ão mais coerentes, sendo facilitados pela ocorrên-
acarreta uma acumulação por acreção vertical (fig.
cia de material menos coerente em profundidade.
7-1).
O solapamento constitui a principal causa do deslo-
camento do canal. A migração dos meandros para A deposição ocorre, evidentemente, durante
jusante deve-se à concentração de energia erosiva oeríodos de cheias; ao transbordar, as águas têm a
contra o banco côncavo a alguma distância abaixo sua velocidade bruscamente diminuída, provocando
do ponto de inflexão do canal ( A I I e n , 1965). a deposição da fração mais grosseira de sua carga
A umidificação e o congelamento do terreno facili- suspensa imediatamente às margens do canal cons-
tam a erosão do banco côncavo ( W o I m a n , tituindo os depósitos de diques naturais ("natural
1959). levees"), que flanqueiam os canais. A fração mais
fina constituindo a carga em suspensão é espalhada
Barras laterais pela planície de inundação, originando os depósitos
de planícies de inundação ou de várzea ("fiood plain
São encontradas em canais de baixa sinuosida- deposits").
de. Elas correspondem às barras de meandro das
As bacias de inundação constituem depressões
correntes meandrantes. A geometria das barras la-
na planície de inundação, as vezes preenchidas com
terais é tridimensional. Um dos lados da barra en-
água, outras vezes pantanosas. Os pântanos for-
costa na parede do canal, enquanto que o outro
mam áreas planas de drenagem pobre, situadas jun-
avança até cerca de 65% da largura do canal. As
to, ou entre canais ativos ou abandonados de um
barras laterais dispõem-se alternadamente de cada
cinturão de meandros. Os feixes de meandros en-
lado do canal (fiq. 7-6).
contram-se topograficamente um pouco mais eleva-
As faces de montante apresentam formas sua- dos em relação às bacias de inundação. Estas, atuam
ves freqüentemente cobertas por macro-ondulações como corpos de água calma, nos quais os detritos
e outras formas de rugosidade. As faces de jusante finos transportados em suspensão podem sedimen-
constituem superfícies íngremes de avalanche, distri- tar.
buídas obliquamente no canal (fig. 7-6). As barras
laterais deslocam-se lentamente para jusante por ero- Os detritos finos procedem do transbordamen-
são das faces de montante. O fluxo sobre a barra to dos canais por sobre os bancos ou dos espargi-
apresenta instabilidade tridimensional. mentos das crevassas. Em ambos casos, o material
mais grosseiro sedimenta-se sobre o dique marginal
As barras definem um canal sinuoso dentro do ou junto à crevassa.
canal principal. Devido a fricção do fluxo sobre o
leito e margens, forma-se um fluxo secundário heli- Freqüentemente as bacias de inundação pos-
coidal em cada curva como ocorre nos canais mean- suem um conjunto de pequenos canais, em par-
drantes. Nas curvas à esquerda o fluxo superficial te herança de sistemas de drenagem mais ve-
dirige-se para a direita (fig. 7-6) e junto ao fundo lhos ( F i s k , 1944). Estes canais facilitam a
para a esquerda. Junto a face de jusante de cada entrada da água nas bacias durante as enchentes
barra ocorre nítida instabilidade tridimensional. Con- bem como, auxiliam a drenagem das mesmas du-
dições gerais de fluxo rugoso, turbulento e tran- rante as vazantes.
qüilo podem ser conjecturadas para as barras late-
rais. O tamanho, a forma e o posicionamento das
- 87 -
regional caracteriza o fenômeno designado por avul-
são.
- 88 -
porção significativa da carga de f u n d o é transpor-
H ffluxo eoíffwado A
"* S/uscomo eoufi, tada pelo atalho formado. O fluxo através da corre-
Zona de fraxe/çào
deposição deira é rápido, confinado e ocorre em condições de
priMcrpaf da
çuepetffão regime de f l u x o superior. No f i m do canal o fluxo
espraia-se, a corrente perde a sua competência e
deposita sua carga mais grosseira sobre a barra de
meandro parcialmente erodida (fig. 7-8).
TO
Zona defluxo^ /
O processo de formação das barras de corredei-
ras, pelo fato de impedir o registro completo da se-
F i g . 7-8 — P a d r ã o de f l u x o em c o r r e d e i r a ( b a s e a d o em M c G o • dimentação das barras de meandro, modifica em par-
w e n & G a r n e r , 1 9 7 0 ) . V i s t a e m p l a n t a . A s setas i n d i -
te o padrão do conceito clássico de seqüência verti-
cam o s sentidos d o f l u x o das c o r r e n t e s .
cal com estratificação gradacional ("fining upward"),
encontrado comumente nas barras de meandros.
kv-v.v.i Qepoff/fo ma/garoffo
r.v.v.vJ do çi/r o ortgwa/
I—~| <De/?ó?tfo ma/? fi/fo
Anastomosamento fluvial
- 89 -
passa a constituir um obstáculo no leito, propiciando orientadas perpendicularmente à direção do f l u x o .
a acumulação de sedimentos mais finos a jusante. O A possança das barras transversais está diretamente
crescimento do volume do depósito, localizado no relacionada com a p r o f u n d i d a d e da água, quantida-
meio do canal, promove o desvio das linhas de f l u - de de carga e velocidade da corrente. Q u a n d o o ní-
xo para as duas margens do canal, q u e assim pas- vel da água abaixa, as barras transversais p o d e m f i -
sam a sofrer erosão. A secção do canal no trecho car expostas, contribuindo para o desenvolvimento
cons iderado a I a rg a-se e a superfície aq uos a sof *e do padrão anastomosado,
um rebaixamento, fazendo com q u e o banco, até
então submerso, seja exposto adquirindo caracterís- S m i t h (1970) demonstrou q u e a s barras
ticas de uma ilha. Outros bancos podem ser o r i g i - longitudinais são melhor desenvolvidas em sedimen-
nados no meio dos canais resultantes de um canal tos mais grosseiros, ao passo que, as barras trans-
inicial único, levando o rio a um padrão anastomo- versais são tipicamente constituídas por partículas
sado. A figura 7-9 ilustra uma seqüência de estádios do tamanho de areia. Assim, nas partes das cabecei-
de evolução da sedimentação de barras arenosas em ras dos rios anastomosados, o caráter anastomosan-
um canal, observada em modelo hidráulico de labo- te é conferido, principalmente pelo desenvolvimen-
ratórios em escala reduzida. to de barras longitudinais; nas partes de cursos mais
baixos desses sistemas, esse padrão é conseqüên-
As barras transversais, por sua vez são origina-
cia do maior desenvolvimento de barras transversais.
das pelo movimento de ondas de areia, geralmente
- 90 -
8 - SEDIMENTOS DE O R I G E M FLUVIAL
Os sedimentos depositados pelos rios têm sido cipais fatores que, em última análise, controlam os
classificados de várias maneiras diferentes. No capí- comportamentos dos rios e que regem todos os as-
tulo anterior referimos os depósitos de acreção ver- pectos da sedimentação fluvial, mas as influências
tical e os de acreção lateral. Salientamos que os úl- desses fatores são comumente sutis e evidentes so-
timos resultam da migração do canal e da redistri- mente em termos globais.
buição dos sedimentos disponíveis. Os depósitos de
Os detalhes de estratificação, por exemplo, po-
acreção vertical contribuem para o espessamento da
dem refletir, ao invés de flutuações locais e de cur-
planície de inundação pela deposição de material
ta duração, uma resposta ao regime fluvial resultan-
da carga em suspensão durante as cheias.
te das mudanças climáticas e conseqüentes impli-
Os depósitos fluviais podem, grosso modo, ser cações na hidrodinâmica fluvial. As respostas mais
reunidos em três grandes grupos: significativas a todas as influências ligam-se às mu-
1) os depósitos de canal — formados pela ati- danças de geometria do canal: gradiente, largura,
vidade do canal, compreendendo os depósitos resi- profundidade e padrão.
duais e aqueles das barras de meandro, barras de Basicamente podem ser distinguidos dois con-
canais e dos preenchimentos de canais; juntos deposicionais de origem fluvial: sedimentos
2) os depósitos dos bancos, incluindo aque- de vales aluviais e sedimentos de leques aluviais.
les dos diques naturais e os dos rompimentos de
diques e,* A — Sedimentos de vales aluviais
3) os depósitos das bacias de inundação.
Os vales aluviais constituem os principais ca-
Embora os ambientes continentais compreen- minhos por onde se deslocam os sedimentos a par-
dam uma ampla variedade de sistemas deposicionais, tir de suas fontes elásticas rumo aos oceanos. Os
desde lacustrinos a eólicos e glaciais, a sedimenta- sedimentos em trânsito podem ser temporariamente
ção fluvial por água corrente apresenta os proces- "armazenados" em camadas das planícies de inun-
sos mais característicos, sendo também de distri- dação ou nos canais, e somente quando ocorre uma
buição geográfica mais ampla. mudança climática ou algum fenômeno tectônico,
o vale pode ser preenchido, sendo os sedimentos
Somente os sedimentos fluviais abrangem um preservados no registro geológico (fig. 8-1). A me-
amplo espectro de tipos de depósitos que diferem, lhor maneira de classificar os sedimentos fluviais li-
principalmente, na textura e nos tipos de estrutu- ga-se aos seus ambientes e subambientes depos*cio-
ras sedimentares. O clima e a tectônica são os prin- nais.
- 91 -
WÊ-1
F i g . 8-1 — C i c l o c o m p l e x o d e s e q ü ê n c i a f l u v i a l c o m d e c r é s c i m o
ascendente de granulometria e estruturas sedimentares (seg.
A I I e n , 1970). 1 — Silte e argila c o m Iami nação h o r i z o n t a l ;
2 — S i l t e e a r e i a em l e n t e s ; 3 — A r e i a c o m m i c r o - o n d u l a ç ã o e la-
minaçao cruzada; 4 — Areia com estratificação horizontal; 5 —
A r e i a c o m m e g a - o n d u l a ç ã o e estratificação cruzada; 6 — Cascalho
de d e p o s i ç ã o r e s i d u a l ; 7 — S u p e r f í c i e e r o s i v a .
- 92 -
processos cie movimento de massa que transportou
o manto de intemperismo para o fundo do vale. A
ação fluvial eliminou os detritos finos do manto co-
luvial, deixando no leito do rio um depósito resi-
dual extremamente grosseiro, dificilmente transpor-
tável mesmo nas maiores enchurradas. Entretanto,
este material pode ser facilmente transportado pelas
torrentes de lama. Apenas o material rudáceo mais
fino é passível de transporte regular.
F i g . 8-5 — Barras d e m e a n d r o n o r i o P a r a g u a i , r e g i ã o d e C o r u m b á ,
Mato Grosso do S u l .
- 93
r a n á , i m e d i a ç õ e s d e Santa Fé, A r g e n t i n a .
11
111
n
ni
lllhí 1
Fig. 8-6 — Barras d e m e a n d r o . P l a n í c i e d e i n u n d a ç ã o d o r i o Pa-
r a n á , i m e d i a ç õ e s d e Santa Fé, A r g e n t i n a .
- 94 -
/preá/atra fraé/eP
li
pes
m/fro-ondtf/açfe
ê&trafor
F i g . 8-9 — S e q ü ê n c i a v e r t i c a l d e u m a b a r r a
£çtrato? de d e m e a n d r o d o r i o Brazos, Texas ( s e g .
tHaero-onJu- B e r n a r d & M a j o r , 1963).
/a£Ses>
Tffadfo -ottdu/a.
çâes* a adama,
mento podre
w
m
.062.125 250 SOO tOOOjnm
!••• âaeea//fô
g/lte are/a
crita por B e r n a r d & M a j o r (1963) em R e y n o l d s , o fluxo torna-se instável a acele-
estudos ao longo do rio Brazos, Texas e serviu de rações centrífugas, sendo incapaz de assumir um ca-
base para o conceito de perfil vertical de V i s h e r minho retilíneo ( A l I e n , 1970).
(1965), como se vê na figura 8-9. O decréscimo as- É fato conhecido, que a sedimentação lateral
cendente em granulometria, também designado de origina uma seqüência de depósitos caracterizados
estratificação gradacional, é devido a um equiva- por mudanças verticais e sistemáticas de granulação
lente decréscimo da competência da corrente. e de estruturas sedimentares. A deposição lateral
constrói o banco interno do canal para contrabalan-
De maneira geral, as camadas de sedimentos
çar as perdas do banco externo. Devido a migração
finos síltico-argilosos (lama) encontram-se no topo
do canal, o talvegue estende lateralmente uma su-
da seqüência formando uma fina cobertura. Quando
perfície de erosão sobre a qual são depositados os
esta- camada está presente, ela marca o topo de uma
sedimentos do banco interno. Durante a deposição
seqüência geneticamente relacionada ( R e i n e c k
da barra de meandro, de acordo com os esforços
& S i n g h , 1973). No caso do rio transportar
tangenciais sobre o fundo, são originadas macro-on-
cascalho e areia, a sucessão sedimentar compreende:
dulações, micro-ondulações camadas planas e mes-
cascalho, areia grosseira a areia fina e silte no topo.
mo antidunas, dependendo da potência do fluxo e
No caso do rio transportar apenas material fino, a
sucessão compreende areia fina próximo ao fundo e
lama e sedimentos argilosos próximo ao topo. No
registro estratigráfico, a parte superior finamente
granulada pode ser erodida antes da deposição da
seqüência seguinte. Dessa forma apenas seqüências
incompletas são preservadas ( R e i n e c k &
S i n g h , 1973).
- 95 -
r O cm mf
ff- gfffffo
mí- metí/fe /¡/¿///o ff tf o
f- arew'fo f/t?o
m- arev/fa tftéd/à
da granulometria da carga. Numa curva do rio Vir- sitados pelas macro-ondulações. Os arenitos com es-
g i n , Utah ( K e n n e d y , 1961) refere próximo tratificação plana são de granulação fina ou muito
à margem externa, grandes ondulações e um fluxo fina e são considerados como depósitos formados em
tranqüilo, enquanto que próximo à barra de mean- regime de fluxo superior. Os arenitos com laminação
dro, assinala a presença de antidunas n u m f l u x o rá- cruzada apresentam textura muito fina. Do exame
pido. A l i e n , (1966) baseado em S h a n t - das várias secções pode-se inferir o tipo de sinuosida-
z e r , ilustra uma curva do rio Oka (USSR), onde de do canal.
as cristas das macro-ondulaçÕes menos curvas ja- Embora as previsões a partir de modelos con-
zem obliquamente ao canal e dirigem-se em direção cordem satisfatoriamente com as características de
ao banco interno, em resposta a orientação das cor- depósitos laterais conhecidos ou inferidos, as pro-
rentes de fundo (fig. 8-10). priedades do modelo requerem cuidados na inter-
pretação. Eles constituem simplificações de uma si-
Embora não existam informações suficientes so-
tuação física natural complexa e, dessa forma não se
bre a deposição lateral nos canais de meandro, um
pode aceitar uma única interpretação, em virtude do
modelo qualitativo pode ser considerado. Ainda que
grande número de variáveis, q u e admitem diversas
o modelo não seja inteiramente satisfatório, podemos
soluções para o problema. Os perfis naturais com
compará-lo com os membros grosseiros dos cicios
muitos contatos erosivos entre as unidades sedimen-
fluviais, cuja granulação d i m i n u i para cima, conheci- tares representam um registro muito mais complexo
do das rochas devonianas da Europa e América do dos eventos do passado (fig. 8-12). Contudo, algu-
Norte ( A l i e n , 1963, 1964 e 1965; A l i e n mas generalizações são possíveis no exame do mo-
& F r i e n d , 1968; M o o d y - S t u a r t , delo. Todas as variantes do modelo predizem, por
1966). Estes membros grosseiros foram considerados exemplo, que a proporção de arenitos planos num
como depositados peio processo de acreção lateral, membro grosseiro aumenta com o decréscimo da si-
(fig. 8-11). Elej são constituídos no máximo de 4 fá- nuosidade do canal. Esta é uma constatação impor-
cies sedimentares principais: 1) conglomerado intra- tante, uma vez que o grau de sinuosidade aumenta
formacional; 2) arenito com estratificação cruzada; com a distância da área fonte ( A I I e n , 1970).
3) arenito com camadas plano-paralelas; 4) arenito
com micro-laminação e siltito grosseiro. Os arenitos Quando no membro grosseiro as únicas estru-
com estratificação cruzada são de granulação média turas são a estratificação cruzada e a laminação cru-
a fina e apresentam evidências de terem sido depo- zada, podemos inferir que o canal era fortemente
- 96 -
m a n & M i I I e r 1964). Durante o período de
estudo (1953-1959), o canal deslocou-se lateralmente
por uma distância pouco superior a sua largura. A
sedimentação não interrompida durante a migração
manteve a largura do canal constante (fig. 8-13). O
volume do material erodido correspondeu ao do ma-
terial depositado. Os depósitos de transbordamento
dos bancos foram insignificantes. As linhas na f i -
gura 8-13 indicam as sucessivas deposições ocorri-
das nos vários anos considerados.
- 97 -
vial produzem aumento e diminuição da energia am-
biental tornando a sedimentação complexa. Uma se-
qüência ideal com decréscimo ascendente da gra-
nulação e das estruturas primárias das barras de
Fig. 8-14 — Estrutura sedimentar na barra de meandro do rio meandro encontra-se ilustrada na figura 8-13a.
Arkansas em Wekiwa, Oklahoma. Estratificação cruzada de gran-
de porte (segundo S t e i n m e t z , citado por R e i n e c k Outro estudo detalhado de uma barra de mean-
& S i n g h , 1973).
dro foi realizado por S t e i n m e t z (citado por
Reineck & S i n g h , 1973) n o rio Arkan-
sas em Wekiwa, Oklahoma. A barra de meandro foi
rapidamente depositada durante duas cheias (19 a
22-V-1957 e 3 a 6-X-1959). Durante este tempo (156
3
horas) foram depositados cerca de 459.0O0m de
areia com 13 m de espessura. A estratificação pre-
dominante é a entrecruzada de tamanho grande
(fig. 8-14). Para cima nota-se uma diminuição da es-
pessura da estratificação cruzada (fig. 8-15). No topo
da seqüência ocorrem camadas sílticas bem lami-
nadas, depositadas em ambientes de águas vagaro-
Fig. 8-15 — Detalhes das estruturas referidas na figura 8-14. A
estratificação cruzada d i m i n u i de tamanho para cima. Os estratos
sas ou paradas. Dentro da secção encontram-se bol-
paralelos superiores foram depositados durante a segunda cheia sões de varrimento onde são encontrados restos or-
(baseado e m S t e i n m e t z , 1967).
gânicos, principalmente de vegetais. No topo da
secção ocorrem areias eólicas até 1 m de espessura.
pretacios como pertencentes ao regime de fluxo su-
perior. Entretanto, R e i n e c k & S i n g h Nos dois exemplos citados a deposição nas
(1973) consideram estes estratos como depositados barras de meandro foi muito rápida. Entretanto,
de "nuvens" de material em suspensão, devido ao Su n d b o r g (1956) refere para o rio Klaralven
decréscimo de turbulência ou flutuações na velo- (Suécia) uma deposição lenta, a qual começa com
cidade da corrente. A maior parte dos sedimentos uma barra longitudinal no lado convexo do canal.
seria depositada durante a última fase de uma cheia, Esta barra, apresenta um lado mais íngreme voltado
quando as águas estariam baixando e a velocidade para o banco, o qual desenvolve-se gradualmente,
e competência do fluxo estariam diminuindo. Estes migrando para a margem do canal onde emerge co-
fatos resultariam na eventual deposição da areia mo dique marginal. Este processo repete-se sucessi-
em suspensão na forma de laminações horizon- vamente.
tais ( R e i n e c k & S i n g h , 1973).
Outras barras de meandro, situadas nos rios
Como já foi mencionado, o topo das barras de Amite (Louisiana) e Colorado (Texas) foram estuda-
meandro seriam constituídas por camadas sílticas e das por A A c G o w e n & G a r n e r (1970).
síltico-argilosas. Contudo, o perfil ideal nem sem- Ambos rios possuem baixa sinuosidade e gradientes
pre encontra-se bem desenvolvido. Algumas vezes acentuados. Eles transportam sedimentos grosseiros
as laminações de micro-ondulações ascendentes po- (areias, seixos e blocos). Os autores citados reconhe-
dem estar presentes junto com a estratificação cru- cem duas barras, uma inferior e outra superior (fig.
zada de grande porte. As flutuações do regime flu- 8-16). A barra superior apresenta corredeiras ("chu-
:
í g . 8-17 — Associação e n t r e d e p ó s i t o s d e b a r r a d e m e a n d r o e
» r r a d e corredeira (segundo M c G o w e n & G a r n e r ,
¡970).
///
- 99 -
Depósitos de barras de corredeira camadas frontais de grande escala é seguida pelos
("chute bar deposits") depósitos de barras de corredeira, ricos em estratos
frontais de grande tamanho (figs. 8-18 e 8-19). Con-
São depósitos relacionados com o processo de
seqüentemente, não há decréscimo ascendente ("fin-
formação de atalhos de corredeiras e são constituí-
ing upward") da textura e diminuição do tamanho
dos por areias provenientes da carga de fundo, de-
das estruturas sedimentares.
positadas sobre a parte basal das barras de mean-
dros. O regime de fluxo inferior, presente nestas Os sistemas fluviais caracterizados por rios
condições, reflete-se na abundância de camadas com meandrantes ricos em carga de fundo e baixa rela-
estratificação cruzada de tamanho moderado a gran- ção carga suspensa/carga de fundo desenvolvem
de. A corredeira, onde predomina o regime de flu- estes tipos de depósitos.
xo superior, é preenchida por depósitos residuais,
comumente seixos, intercalados com argilas com es- Depósitos de barras longitudinais e transversais
tratificação paralela, oriundas da carga suspensa da
Em rios anastomosados os depósitos provenien-
enchente anterior (fig. 8-17).
tes de carga de fundo ocorrem, principalmente, como
Em virtude da interrupção de sedimentação com- barras longitudinais e transversais. São depositados
pleta da barra de meandro, o processo de formação durante fases de escoamento rápido. Os sedimentos
das barras de corredeira modifica substancialmente gradam de areias a seixos finos. A textura é variá-
a seqüência vertical daqueles depósitos. No presente vel, podendo apresentar-se com grãos pobremente,
ca:o, a porção basal grosseira, com acanalamentos e selecionados, com areia e silte intersticiais em abun-
100 -
dância, até areias bem selecionadas ( D o e g I as, elevados apresentam sedimentos grosseiros. O anas-
1962). tomosamento com sedimentos finos pode ocorrer no
curso inferior de grandes rios com alta descarga de
As barras transversais, formadas pela migra-
sedimentos finos, do qual o Brahmaputra é um exem-
ção de ondas de areia, são caracterizadas interna-
plo ( C o I em a n , 1969).
mente por camadas frontais de diversos tamanhos.
As barras longitudinais, por sua vez, apresentam A deposição nas barras de canal é controlada
internamente estratificação horizontal, flanqueada la- por processos de deposição lateral e vertical, jun-
teralmente e a jusante, por camadas frontais. Os se- tamente com o corte e abandono de canais ( R e i -
dimentos que preenchem pequenas cavidades de es- n e c k & S i n g h , 1973). Para montante a
cavação do leito do rio podem apresentar acanala- inclinação de uma barra de canal é muito mais acen-
mentos de pequeno tamanho, mas essa estrutura tuada do que aquela de jusante. A barra migra cor-
não é muito comum em depósitos de rios anastomo- rente abaixo ou lateralmente pela deposição de es-
sados. tratos frontais. Sobre as barras de canal encontram-
se várias formas de leito, como por exemplo, as
Barras de canal e depósitos de rios anastomosados macro-ondulações, que são responsáveis pela migra-
ção da barra para jusante. A deposição principal nas
Os rios anastomosados são caracterizados por
barras de canal ocorre durante as cheias.
barras anastomosadas e barras ou ilhas de canais.
Via de regra, os rios anastomosados com gradientes Dois tipos de barras de canal anastomosado são
- 101 -
mencionados: 1 — barras de material grosseiro, bem estruturas de escavação e preenchimento. Vertical-
desenvolvidas em rios de gradientes acentuados; 2 mente, sobre os sedimentos rudáceos ocorrem depó-
— barras de material finamente granulado, desenvol- sitos arenosos ou síitico argilosos. As camadas are-
vidas no curso inferior de rios com cargas elevadas nosas de granulação média, apresentam estratifica-
de sedimentos e descargas sazonais grandes ( R e i - ções cruzadas desenvolvidas pelas macro-ondulações.
neck & S i n g h , 1973). Seguem-se areias finas com estratos cruzados de mi-
cro-ondulações, em parte ascendentes. No topo, en-
Nas regiões montanhosas D o e g I a s (1962) contram-se camadas horizontais de areia e lama. Nos
estudou a formação de barras de canal nos rios Du- depósitos síltico-argilosos podem ocorrer gretas de
rance e Ardéche. A parte inferior da seqüência é contração, marcas de ravinamento e impressões de
composta de estratos cruzados de grande tamanho, gotas d e chuva ( R e i n e c k & S i n g h ,
os quais foram formados pela migração lateral e cor- 1973). Nas camadas de lama ocorrem ocasionalmen-
rente abaixo das barras de canal. Estes sedimentos te fenômenos erosivos e marcas de varrimento, bem
são mais grosseiros e compostos de material rudáceo, como estruturas convolutas e aspectos devido a bio-
dispostos em camadas inclinadas com gradação para turbação.
sedimentos mais finos depositados em águas baixas
(fig. 8-20). Para cima, segue-se nova unidade de se- Nos canais cortados e isolados depositam-se se-
dimentos mais grosseiros. O contato entre ambas uni- dimentos síltico-argilosos e ocasionalmente areia f i -
dades, geralmente, é muito irregular e marcado por na. Nos canais de gradientes mais íngremes de re-
•<rv
- 102 -
giões montanhosas predominam os sedimentos gros- tificação cruzada de pequeno tamanho ocorre entre
seiros, embora neles possa ocorrer toda gama de gra- os depósitos de areia (média a fina) e de silte. Os
nulação desde seixos até argila. sedimentos síltico-argilosos ocorrem no topo da sec-
Outro estudo detalhado de rios anastomosados ção (fig. 8-21).
foi realizado por W i l l i a m s & R u s t (1969).
Estes autores concluíram pelo decréscimo ascendente
da granulação e das estruturas primárias. As unida-
des são, via de regra, lenticulares e entrecortadas. A
maioria das unidades grosseiras inicia-se a partir de
um contato erosivo. Sobre elas encontram-se camadas
de granulação mais fina com contato gradacional. A
diminuição ascendente da granulação acha-se melhor
desenvolvida nos canais preenchidos com sedimen-
tos. A seleção melhora para cima. As vezes as uni-
dades grosseiras e finas alternam-se de forma com- F i g . 8-20 — Seqüência e s q u e m á t i c a d e u m d e p ó s i t o d e r i o anas-
t o m o s a d o . 1 — e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a de g r a n d e t a m a n h o c o m
plexa. s e i x o s ; 2 — m a c r o - o n d u l a ç õ e s em areia m é d i a ; 3 — l a m i n a ç ã o
c r u z a d a de n r c o - o n d u l a ç õ e s , areia f i n a ; 4 — areia f i n a e l a m a ,
A estratificação de grande tamanho caracteriza l a m i n a ç ã o h o r i z o n t a l , o c a s i o n a l m e n t e e s t r u t u r a s convcHutas (ba-
os estratos de areias grosseiras e de seixos. A estra- s e a d o em D o e g I a s , 1962).
- 103 -
arg//a-á>//fe
O rio Brahmaputra em sua planfcie deltaica,
apresenta-se anastomosado com barras de canais
( C o I e m a n , 1969). Os canais deste rio mi-
gram lateralmente. Devido à grande quantidade de
F i g . 8-21 — Decréscimo ascen-
sedimentos existentes no rio durante a estação chu-
d e n t e da g r a n u l a ç ã o e das es- vosa formam-se barras de canais que migram ativa-
t r u t u r a s nos d e p ó s i t o s d e p r e -
e n c h i m e n t o d e canal n u m r i o
mente durante as cheias. A parte inferior da barra
anastomosado (baseado em de canal começa com estratificação cruzada de gran-
W i l l i a m s & R u s t ,
1969).
de porte, com seqüências individuais com mais de
1 m e em conjunto com até mais de 7 m. Estes es-
tratos formados pela migração de macro-ondulações
1 estão associados a escavações irregulares, devidas
I à ação de varrimento no material do fundo. Dentro
desta zona ocorrem localmente micro-ondulações e
pequenas estruturas de escavação e preenchimento,
bem como estratos síltico-argilosos depositados so-
bre estratos frontais ou sobre planos de estratifi-
cação. Freqüentemente detritos orgânicos ficam re-
tidos nesta zona, principalmente na base dos estra-
tos cruzados e nos estratos frontais ( C o f e m a n ,
1969; Reineck & S i n g h , 1973). Sobre
esta unidade ocorrem sedimentos sílticos e arenosos
com várias estruturas, entre elas as micro-ondula-
ções ascendentes. Esta seqüência foi depositada
quando a migração das macro-ondulações cessou e
a sedimentação teve lugar em suas depressões. As
camadas de textura mais síltica apresentam estrati-
ficação horizontal podendo atingir cerca de 1 m de
espessura (fig. 8-22).
Fig. 8-23 — Medições da atitude dos estratos cruzados num trecho significativo do rio Brahmaputra (segundo C o l e -
m a n , 1969).
- 104 -
F i g . 8-24 — Calha d e d r e n a g e m d o r i o I g u a ç u e m U b e r a b a ,
C u r i t i b a . A s hachurias r e p r e s e n t a m o s areeis e x p l o r a d o s . No
d e s e n h o e n c o n t r a m - s e assinalados os a n t i g o s canais m e a n d r a n t e s
abandonados e preenchidos com sedimentos síltico-argilosos. O
rosa d i a g r a m a i l u s t r a a a t i t u d e dos estratos c r u z a d o s (188 m e d i -
das), cuja r e s u l t a n t e é S 5 8 ° W p a r a l e l a à d i r e ç ã o local da calha
d e d r e n a g e m (baseado e m B i g a r e l l a & M o u s i -
n h o , 1965).
- 105
C o I e m a n (1969) realizou estudos deta-
lhados da estratificação cruzada no curso inferior do
rio Brahmaputra. N u m rio anastomosado, o sentido
do f l u x o , a tendência dos corpos arenosos e a d i -
reção da estratificação cruzada são concordantes
quando se considera um número suficiente de me-
didas tomadas dentro de uma área representativa.
N u m determinado ponto a variação da direção dos
estratos cruzados é relativamente baixa. Entretan-
to, grandes variações são encontradas quando se
consideram separadamente as seqüências nos poços,
nas corredeiras, nas margens dos canais e nas par-
tes mais íngremes dos mesmos. O efeito da geo-
metria local do canal é muito significativa. Porém,
quando o conjunto é considerado, o vetor resultante
da medição dos estratos cruzados coincide com a d i -
reção do canal (fig. 8-23).
- 106 -
B — Depósitos de transbordamento grande parte responsável pela sobrelevação dos cor-
dões aluviais acima do nível geral da planície de
São depôsitos orig ínados por processos sed í-
inundação (fig. 8-28).
mentares atuantes fora dos canais. Incluem os sedi-
mentos mais finos db sistema, acumulados por acrés- A deposição nos diques ocorre quando a cor-
cimo vertical. rente transborda sobre os bancos (figs. 8-28a —
8-28c). Os sedimentos dos diques são provenientes
Diques naturais ("natural levees") da fração mais grosseira da carga suspensa (siltes e
areias finas), decrescendo gradualmente em direção
Os diques naturais constituem cordões sinuosos
à planície de inundação. Ao transbordar a velocidade
grosseiramente triangulares em secção transversal.
da corrente diminui, de modo que nem toda carga
Sua altura é maior perto da margem do canal, onde
prévia pode ser transportada, e os sedimentos mais
formam bancos íngremes e altos, de onde afinam
grosseiros depositam-se próximo aos bancos e, os
em direção das bacias de inundação. Os diques mar-
mais finos mais além e, a maior distância do canal.
ginais são melhor desenvolvidos nos bancos côn-
A taxa de deposição é maior próximo ao canal, di-
cavos, o que não acontece no lado convexo, onde
minuindo em direção à bacia de inundação.
raramente apresentam bom desenvolvimento. Nos
rios ret i I í n eo s s ao bem d es en vol v i dos em a mb a s A extensão e a espessura dos diques naturais
margens. A formação dos diques naturais é em dependem principalmente do tamanho do rio, da
.Hás*?,..
_
Fig. 8 28a — Sedimentos pleïstocênïcos do plaino
aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, C u r i t i b a . A —
p a s s a g e m dos s e d i m e n t o s de canal an as t o m osa -
d o para o s d e p ó s i t o s d e t r a n s b o r d a m e n t o , ca-
racterizados p o r alternâncias d e estratos d e areia
f i n a e camadas s í l t i c o - a r g i l o s a s c o m e s t r u t u r a s
c o n t o r c i d a s ; B — d e p ó s i t o s de canal c o m e s t r a t i -
f i c a ç ã o c r u z a d a e i n t e r c a l a ç ã o de camada s í l t i c o -
a r g i l o s a . A s seqüências arenosa» p o s s u e m t e x t u -
ras q u e v a r i a m d e s d e areia f i n a a g r o s s e i r a c o m
grânulos e pequenos seixos.
- 107 -
granulometria de sua carga e do volume de des- bem desenvolvidos nos sistemas fluviais de alta re-
carga durante as enchentes. Praticamente todos os lação carga suspensa/carga de fundo.A posição des-
rios possuem diques marginais. Aqueles do rio Mis- tes depósitos em relação às areias de canal constitui
sissipi ( F i s k , 1944, 1947) têm usualmente um elemento diagnóstico do reconhecimento dos de-
mais de 1800 m de largura e uma altura acima das pósitos antigos. Isto é, permite reconhecer se eles
bacias de inundação de 4,5 a 7,5 m. No delta a al- estão dispostos lateralmente ao canal dos distributá-
tura do dique diminui para 0,3 a 1,2 m ( K o I b , rios retilíneos das planícies deltaicas, ou se eles es-
1962, 1963). Algumas correntes meandrantes não tão sobrepostos às barras de meandro em rios mean-
possuem diques naturais. drantes políticos. Nos canais fortemente meandran-
tes a geometria dos depósitos dos diques naturais é
Os diques são inundados somente poucos dias extremamente complexa.
durante o ano. Nestas condições, sobre eles desen-
volve-se uma vegetação abundante. A boa porosi- A granulação dos diques naturais é mais fina do
dade e permeabilidade dos sedimentos favorecem que aquela correspondente às barras de meandro.
as condições oxidantes com desenvolvimento de co- Apenas a parte superior destas assemelha-se aos di-
res amarelas e alaranjadas. São também freqüentes ques naturais. Da mesma forma as estruturas sedf-
grande variedade de estruturas sedimentares de ori- mentares dos diques são muito similares àquelas da
gem orgânica. As estruturas de corrente mais abun- parte superior das barras de meandro. Entre elas são
dantes são os acanalamentos de pequena escala e a encontradas: estratificação cruzada de micro-ondula-
laminação paralela. Os diques naturais encontram-se ções, laminações de micro-ondulação ascendente, aca-
F i g . 8-28b — S e d i m e n t o s pieistocênicos d o f u n -
d o d o vaie d o I g u a ç u , U b e r a b a , C u r i t i b a . A —
passagem d o s s e d i m e n t o s de canal para os d e -
p ó s i t o s d e t r a n s b o r d a m e n t o , caracterizados p o r
alternâncias de estratos de areia f i n a e camadas
sí!tÍco~argilosas. O c o n j u n t o da seqüência de
t r a n s b o r d a m e n t o o s t e n t a estratos c o n t o r c i d o s , o n -
de são e v i d e n t e s as estruturas de c a r g a . B —
alternância de estratos de areia f i n a e de s e d i -
m e n t o s s í l t i c o - a r g i l o s o s com estruturas c o n t o r c i -
d a s . Esta s e q ü ê n c i a é recoberta p o r d e p ó s i t o s de
canal.
- 108 -
F i g . 8-28c — D e p ó s i t o s d e t r a n s b o r d a m e n t o c o m
e s t r u t u r a s c o n t o r c i d a s e de c a r g a , j a z e n d o s o b r e
* - — s e d i m e n t o s de canais a n a s t o m o s a d o s c o m e s t r a t i -
• " l.
: . f i c a ç ã o c r u z a d a . Os p r i m e i r o s são c o n s t i t u í d o s
*?> v.^ por alternâncias de estratos de areia fina e de
2^*?^' sedimentos síltico a r g i l o s o s . Seqüências pleisto-
gjP cênicas d o p l a i n o a l u v i a l d o r i o I g u a ç u , U b e r a b a ,
Curitiba.
- 109 -
F i g . 8-30 — S e q ü ê n c i a de e s t r u t u r a s se- de rompimento de diques, os quais podem atingir
dimentares nos depósitos de dique na-
tural do rio Brahmaputra (baseado em
as bacias de inundação.
C o l e m a n , 1969 e R e i n e c k
& S i n g h , 1973). A deposição nas planícies de inundação ocorre
1 — siltes a r g i l o s o s e s t r a t i f i c a d o s c o m em ambiente de energia muito baixa, de modo que
p e r f u r a ç õ e s ; 2 — taminação de m i c r o -
ondulação ascendente; 3 — laminação
os depósitos exibem, caracteristicamente, laminações
cruzada de micro-ondulação de pequeno paralelas. Os corpos de sedimentos são alongados,
tamanho; 4 — acamamento horizontal;
tabulares e possuem comprimento duas a oito vezes
5 — e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a de escala
g r a n d e ; 6 — a r e i a e sllte p o b r e m e n t e maior do que a largura. Ocorre um decréscimo as-
selecionado e sem estrutura interna, com cendente de granulometria de siltes argilosos a ar-
micro-ondulações ocasionais.
gilas sílticas. Em geral formam litossomas mais ou
menos homogêneos. A taxa de sedimentação, via de
sentam-se úmidas e densamente vegetadas (pânta-
regra é baixa; usualmente a deposição é de 1 a 2 cm
nos e alagadiços), favorecendo a acumulação de gran-
por enchente (Reineck & Singh, 1973),
de quantidade de matéria orgânica. Nestas condições
ou pode atingir até 50 cm, como na enchente catas-
pode ter lugar a formação de depósitos de turfa com
trófica de Tubarão (SC) em 1974 ( B i g a r e I I a
vários metros de espessura. Argilas turfosas são co-
& B e c k e r , 1975).
muns nas bacias de inundação do rio Iguaçu, entre
outros exemplos. Nos depósitos orgânicos são fre- Os depósitos de transbordamento mostram ten-
qüentes as estruturas de marca de raízes, tubos de dência para apresentar cores avermelhadas ( K ry-
vermes, entre outras. n i n e , 1950); D u n b a r & R o d g e r s ,
Em muitos sistemas fluviais, principalmente nas 1957), porque fora da estação das enchentes perma-
regiões costeiras, onde vários rios juntam-se são for- necem expostos à oxidação subaérea. Esta é a ra-
madas, entre os diques naturais, grandes bacias de zão porque são também comuns as gretas de con-
inundação, particularmente pantanosas, onde tam- tração formadas por dessecação dos sedimentos pelí-
bém podem ocorrer lagos rasos. Em tais áreas for- ticos. Porém, é também comum o desenvolvimento
mam-se espessos depósitos argilosos com acumula- de folhelhos pretos, carbonosos e turfeiras em áreas
ção de matéria orgânica, principalmente vegetal. mal drenadas. No vale do Paraíba, Estado de São
Paulo, são comuns as "bacias orgânicas" preenchidas
Nas regiões extremamente quentes, as bacias
por 6 a 8 m até cerca de 20 m de camadas de
de inundação não se desenvolvem como áreas pan-
turfas ( V e r d a d e & H u n g r i a , 196ó).
tanosas. Nestas condições a incorporação de matéria
orgânica nos sedimentos é pequena. Se a enchente Nos sistemas fluviais meandrantes de alta taxa
for vagarosa, podem formar-se lagos salinos. No carga suspensa/carga de fundo e nos distributários
caso de evaporação alta os sais podem incorporar-se deltaicos, os depósitos de planícies de inundação
aos sedimentos ( R e i n e c k & S i n g h , 1973). ocupam volumes muito importantes.
Entre todos os sedimentos aluviais, os das ba-
cias de inundação são os mais finos. Nos sedimentos Depósitos de planícies de inundação
depositados em cada enchente pode verificar-se um ("flood plain deposits").
ligeiro decréscimo ascendente da granulação. De
De maneira ampla, os depósitos das planícies
maneira geral, os sedimentos são síltico-argilosos a
de inundação abrangeriam não apenas os das bacias
argilosos. Intercalados, podem ocorrer, as vezes, se-
de inundação, como também uma série de depósitos
dimentos areno-sílticos representativos de pequenos
ligados ao transbordamento do canal durante as
canais. Horizontes de solo são comuns. A ação da
cheias. Nas regiões de clima úmido, como em grande
vegetação tende a destruir as estruturas sedimenta-
parte do Brasil, as planícies de inundação com ba-
res originais. As bacias de inundação estão sujeitas
cias de inundação caracterizam a paisagem do fundo
a dessecação, quando se formam gretas de contração,
do vale. Nas regiões de climas mais severos do co
impressões de gotas de chuva, entre outros aspectos
lígono das secas, as planícies da inundação apre-
superficiais. Nos climas áridos são encontrados pró-
sentam características diversas. Na literatura encon-
ximo ou junto a superfície: nódulos de carbonatos,
tra-se a tendência de restringir a expressão "depó-
concreções ferruginosas e sais alcalinos.
sitos de planície de inundação" àqueles dos rios
O contato entre os sedimentos finos das bacias que mudam sua posição rapidamente não apresen-
de inundação com os sedimentos arenosos dos canais tando bacias bem desenvolvidas ( R e i n e c k &
pode ser tanto abrupto, como transicional. O contato S i n g h , 1973). Neste tipo d e r i o s , via d e regra,
gradacional está relacionado à presença de depósitos as velocidades das águas do transbordamento são
- 110 -
rápidas e os depósitos resultantes contém, além dos
sedimentos finos, consideráveis quantidades de
areias. Nestes casos, os depósitos da planície de
inundação assemelham-se àqueles dos diques natu-
rais e dos rompimentos de diques naturais, sendo
portanto de difícil diferenciação. Entretanto, nas con-
dições mencionadas não existe um bom desenvolvi-
mento dos diques naturais.
- 111 -
laminação ondulada ascendente; 2 — estratos fron- Tubarão (1974), os desmoronamentos forneceram
tais da estratificação cruzada do tipo planar; e 3 — grandes quantidades de sedimentos, os quais foram
laminação convoluta (fig. 8-32). rapidamente transportados em direção à planície alu-
vial inundada. A ação das águas correntes selecionou
A laminação ondulada ascendente é caracterís-
arealmente os vários tamanhos de grãos. Na planície
tica de ambientes onde existe abundância de sedi-
aluvial foram depositadas grandes quantidades de
mentos em suspensão e nos quais a água flui numa
areias e cascalho com estratificação predominante-
fase lenta do regime de menor energia ( M c
mente paralela.
Kee, 1966; M c K e e e t al., 1967). A lamina-
ção ondulada ascendente, representa velocidades in-
Estruturas convolutas
feriores daquelas das fortes enchentes responsáveis
pela deposição dos estratos planos. Aliás elas carac- A laminação convoluta constitui estrutura sedi-
i a m a fase de diminuição da intensidade da gran- mentar relativamente comum em muitos depósitos
de enchente. A estratificação cruzada tabular-planar de planície de inundação. É encontrada, principal-
orígiria-se nos lugares onde o fluxo transportador dos mente, nos diques naturais e nos depósitos de trans-
sedimentos atinge maiores profundidades e onde as bordamento. Este tipo de estrutura parece desen-
águas passam a mover-^e com velocidades menores. volver-se num estágio tardio da enchente quando a
velocidade das correntes diminui e os sedimentos en-
As camadas de areia com estratificação para-
o contram-se em condições de areia movediça ( M c
lela apresentam mergulhos inferiores a 5 e raramen-
K e e e t al., 1967).
te superiores a 10°. Estratos cruzados frontais são en-
contrados na margem dos depósitos arenosos. Nos
depósitos arenosos das enchentes foram encontradas C — Depósitos transkionais
poucas estruturas erosivas. Entre os estratos parale-
São originados por processos sedimentares tí-
los ocorrem truncamentos em ângulo raso. Estrutu-
picos de um dos grupos anteriores atuando em am-
ras de escavação e preenchimento são raras ( AA c
bientes característicos do outro. Neste grupo in-
K e e e t al., 1967).
cluem-se os depósitos de rompimento de diques e
Nas catástrofes de Caraguatatuba (1967) e de preenchimento de canais abandonados.
- 112 -
fina a média, moderadamente selecionada. Por últi- Muitos dos canais abandonados tornam-se ver-
mo deposita-se a carga suspensa em gradação com dadeiros lagos com flora e fauna abundantes, com
os depósitos de planície de inundação (fig. 7-1). baixa taxa de sedimentação. O depósito de preenchi-
mento de canal apresentará uma geometria que de-
A deposição é relativamente rápida, mas a fá- pende da forma e profundidade do canal abandona-
cies pode ser construída durante várias enchentes. do. Os depósitos de canal abandonado formados pe-
Eventualmente, a fenda original de rompimento pode lo processo de atalho de corredeira são relativamen-
tornar-se um ponto de avulsão com o estabelecimen- te pequenos e menos curvos em comparação com
to de um novo curso. aqueles originados por atalhos em colo. Rios efême-
ros em climas áridos também apresentam freqüen-
As estruturas sedimentares mais abundantes in-
temente depósitos de preenchimento de canais.
cluem estratificações cruzadas acanaladas e com ca-
madas frontais, marcas onduladas assimétricas, apre- Inicialmente a sedimentação nos canais abando-
sentando no topo uma configuração de pequeno sis- nados é rápida junto às áreas dos atalhos, d i m i -
tema distributário anastomosante. Marcas onduladas nu i ndo posteriormente com o bloqueio prog ressi-
ascendentes, são também encontradas, bem como es- vo do canal isolado. Material fino é depositado du-
tratos paralelos. As camadas arenosas são capeadas rante as enchentes. Nos lagos formados, os depósi-
por sedimentos síltico-argilosos. Estruturas de esca- tos são constituídos, principalmente, de argila e ma-
vação e preenchimento e restos vegetais são comuns. téria orgânica. Com o entulhamento e maior desen-
Os depósitos de rompimento de diques constituem volvimento da vegetação origina-se um banhado que
uma das fácies importantes na identificação de sis- se transforma em terreno pantanoso, o qual pode
temas fluviais de distributários deltaicos. ser soterrado por nova fase de sedimentação.
Os depósitos de preenchimento de canais são
D — Depósitos de preenchimento de canal constituídos, principalmente, por areias sílticas, siltes
Estes depósitos representam a sedimentação e o arenosos e argilas sílticas. Unidades finas e grossei-
preenchimento de canais abandonados pelos rios. ras podem estar intercaladas à montante nas proxi-
Ocorrem freqüentemente associados a rios meandran- midades do atalho. As camadas podem apresentar
tes, pela tendência que estes rios têm para cortar ata- iaminações finas ou íaminações cruzadas e raramen-
;
lhos, seja através de corredeiras, em colo ou por te, gretas de contração. No rio Mississipi são conhe-
avulsão. cidos depósitos de argila com até 40 m de espessure.
O enchimento de canais intermitentes em cli-
O braço de rio formado por atalho de corredeira
ma semi-árido, durante a enchente de junho de 1965
continua a acumular carga de fundo em toda a sua
no Bijou Creek, Colorado, foi descrita por M c K e e
extensão até que os extremos fiquem fechados por et al. (1967). Os canais foram preenchidos com sedi-
sedimentação. Quando a conexão ao canal principal mentos arenosos. Entre as principais estruturas en-
foi interrompido, o material fino em suspensão é de- contradas citam-se: 1) camadas planas constituídas de
positado. Um lago formado por atalho em colo é ra- areia depositada provavelmente sob condições de re-
pidamente bloqueado pela corrente devido a grande gime de fluxo superior; 2) seqüências de estratos
mudança de ângulo na direção do fluxo. O canal cruzados dos tipos acanalado e planar desenvolvi-
principal do lago é preenchido pelos materiais fi- dos pela migração de macro-ondulações em regime
nos decantados das fases de enchente. Em ambos os de fluxo inferior; 3) camadas formadas de Iamina-
casos, o lado côncavo do preenchimento é erosivo e ções onduladas ascendentes situadas próximas ao
a margem convexa é gradativa e concordante sobre topo do ciclo da enchente,* 4) camadas ou lentes oca-
sionais formadas principalmente de bolotas de ar-
os depósitos de barras de meandro (fig. 8-33).
gila.
Além das camadas com bolotas de argila, dois
outros tipos de estrutura podem ser encontrados. O
primeiro é representado pelos estratos cuneiformes
constituídos de areia laminada, depositados na mar-
gem do canal sobre depósitos pretéritos e truncados.
O outro tipo, mostra falhas formadas em estágio
subseqüente quando fatias de areia escorregaram
ao longo dos barrancos do canal ( M c K e e et al.,
F i g . 8-33 — D e p ó s i t o s d e p r e e n c h i m e n t o d e c a n a l . A — a t a l h o • m
c o r r e d e i r a ; B — a t a l h o em c o l o ( b a s e a d o em Al I e n , 1965). 1967).
- 113 -
ções arenosas e sílticas são subordinadas. Nos de-
B K H 0 ü pósitos ocorrem variações abruptas na granulometria
Qepôgjfo? de ^epo^ifoS* " Q/que&mtrtgL Qèpâ&fas' Vobop de
fratf?àoràa#fPrt- de ot&iaig ttafé"de eom. reçíde/a/k» ¿orr/da? e na forma das partículas.
fo e wm/f a/d/g. Pfi/d/a/£ da?de'éefr/fúS âedefrifoe
b) — Textura e composição
- 116 -
areia e silte depositados pela rede de canais anas- mente ao longo dos planos de diaclasamento de des-
tomosados. Estes lençóis não possuem margens dis- compressão. Estes, geralmente, apresentavam certo
tintas e as espessuras diminuem lateralmente até se grau de intemperização; entretanto, em alguns casos
transformarem em finos filmes que se confundem as diáclases não encontravam-se alteradas (fig. 8-38).
com os depósitos subjacentes. O segundo tipo con-
O atrito das massas rochosas, (incipientemente
siste de areia e cascalho depositados nos leitos dos
alteradas ou não) sobre o plano de deslizamento,
canais da corrente principal. Os depósitos grosseiros
originou enormes quantidades de grânulos e areia
são mais pobremente selecionados que os depósitos
grosseira a fina, constituídas predominantemente por
em forma de lençol.
feldspatos (frescos ou ligeiramente alterados) e
quartzo (fig. 8-39). Este material, durante a movi-
mentação vertente abaixo, foi incorporado, junta-
mente com seixos e matacões ao material mais fino
da média e baixa encostas, também sujeito ao mo-
vimento de massa. Os desmoronamentos convergi-
ram para os vales, seguindo o sentido da drenagem
e espalhando-se em forma de lóbulos nos pontos
onde a corrente emerge num vale de f u n d o chato
lüjjjjjjffl] Qepo&fos- de corrida de /ama, estratificação (fig. 8-40). Formaram-se aí os depósitos de corridas
\§j£i% âatHadas e /ente? de Seiccos de detritos.
bgl=] Ureta eotfgiomerática, entrait ficada
Seixos /'rubricados
F i g . 8-37 — e s t r u t u r a » s e d i m e n t a r e s características da s e d i m e n t a -
ção s u b a q u á t i c a d e u m l e q u e a l u v i a l (Serra Santa C a t a l i n a , A r i z o n a ,
U S A ) . D i r e ç ã o d e t r a n s p o r t e d a d i r e i t a p a r a e s q u e r d a (baseado e m
B l i s s e n b a c h , 1954).
- 117 -
Os lóbulos de corrida de detritos, derivados dos Durante o retrabalhamento as águas sobrecar-
movimentos de massa, tiveram duração efêmera. O regadas de sedimentos deram origem a um sistema
material heterogêneo constituído por partículas des- anastomosado de pequeno tamanho. Os materiais
de matacão até argila, sofreu posterior retrabalha- transportados a pequena distância (cascalho e areia)
mento. As partículas mais finas, bem como seixos de entulharam rapidamente as depressões do terreno.
2 a 8 cm, foram remobilizadas* pelas águas correntes. A deposição nos canais deu origem a estratificação
O material mais grosseiro, englobado na massa ori- cruzada. A esrratif icação paralela predominante indi-
ginal do depósito de corrida de detritos, permane- dica condições de regime de fluxo superior (fig.
ceu no local da deposição original, como depósito 8-44).
residual (fig. 8-41), enquanto que o material mais
Os depósitos arenosos são constituídos, princi-
fino foi removido. As partículas do tamanho areia,
palmente, por quartzo, além da presença freqüente
grânulo e seixo com até cerca de 8 cm ou pouco
de feldspatos e mica. Normalmente, os feldspatos
mais, foram retrabalhadas e depositadas em forma
não são encontrados no material alterado do mantc
de leque aluvial (fig. 8-42) ou como camada de co-
de intemperismo químico existente nas partes médie
bertura arenosa cobre a planície de inundação (fig.
e inferior das encostas; eles procedem das vertente*
8-43).
superiores, graças ao processo de "britagem" cau
sado pelo deslizamento de matacões nos planos de
escorregamento. A intemperização incipiente das ro
chas graníticas diminuiu a coesão original entre os
constituintes minerais, favorecendo assim a desagre-
gação. Quando ocorre um desmoronamento rochoso
na parte superior da encosta, o granito ligeiramente
alterado é facilmente " m o í d o " peia massa de frag-
mentos em movimento que atuam como um con-
junto de "pedras de mó". O produto resultante é for-
mado por um material arenáceo constituído de felds-
patos quase inalterados, bem como por um material
mais fino com aspecto de "farinha" de rocha ( B í -
g a r e l l a & B e c k e r , 1975). Este pro-
cesso esclarece a ocorrência de grande quantidade
de feldspatos encontrados nos depósitos pleistocê-
Fig. 8-39 — Areis arcosiana, contendo fragmento* de rocha, ori- nicos do Brasil.
ginada pelo atrito dos blocos e matacões d u r a n t e os desmorona
mentos. O p l a n o de d e s l i z a m e n t o , e m b o r a rochoso, apresentava-se Nas imediações dos desmoronamentos não são
l i g e i r a m e n t e a l t e r a d o , f a v o r e c e n d o a ação d e " b r i t a g e m " pela pas-
mais encontrados os depósitos síltico-argilosos con-
sagem dos m a t a c õ e s .
temporâneos, os quais foram quase que completa-
mente removidos subseqüentemente. Nesta á ea f i -
caram apenas os depósitos rudáceos residuais e os
depósitos arenosos dos leques aluviais com 0,6 a
1,5 m ou mais de espessura. A planície de inunda-
ção do vale do Tubarão foi recoberta com cerca de
0,3 a 0,6 m de sedimentos síltico-argilosos (fig. 8-45)
- 118 -
F i g . 8-41 — Os l ó b u l o s de c o r r i d a
de detritos tem duração efêmera.
O m a t e r i a l mais g r o s s e i r o e n g l o -
b a d o n o m o v i m e n t o d e massa o r i -
g i n a l p e r m a n e c e n o local c o m o
d e p ó s i t o r e s i d u a l . O m a t e r i a l are-
náceo e os p e q u e n o s seixos são
remobilizados originando depósr
tos mais a j u s a n t e , e n q u a n t o q u e
o m a t e r i a l mais f i n o é t r a n s p o r -
tado a maior distância, Rodovia
T u b a r ã o - G r a v a t a l (SC). C a t á s t r o f e
de março de 1974.
O exame dos cortes permitiu uma visão tridi- Nos cortes paralelos ao fluxo, os estratos mergulham
mensional da estrutura interna da rampa. A sucessão com pequena inclinação para ¡usante. As estruturas
de estratos mostra que a sedimentação compreende são constituídas por estratos paralelos, estratificação
uma seqüência de camadas depositadas como "on- cruzada, estratos contorcidos e estruturas de escava-
das de areia". Algumas camadas, são aparentemen- ção e preenchimento.
te desprovidas de estruturas e constituídas de areia
fin^ >m grânulos. Eventualmente contêm "bolotas" G — Depósitos fluviais do Quaternário Brasileiro
de material coluvial. Geralmente são ma! seleciona-
das. Outras camadas são bem estratificadas e cons- No presente item são ilustrados alguns aspectos
tituem provavelmente o retrabaíhamento das corri- dos sedimentos fluviais do Quaternário Brasileiro.
das de areia, Nos cortes perpendiculares ao sentido
do fluxo, as estruturas apresentam um padrão ondu- a) — Plaino aluvial do rio Iguaçu
lado com alguma estratificação cruzada, pequenas Nos depósitos do fundo de vale do rio Iguaçu,
falhas, estratos contorcidos e aspectos de corte e em Uberaba, Curitiba, são encontradas camadas pleis-
preenchimento (figs. 8-46 a 8-51). Junto com se- tocênicas com estratos cruzados originados pela mi-
qüências bem estratificadas ocorrem camadas apa- gração de macro-ondulações (figs. 8-52 e 8-53). Ge-
rentemente maciças ( B i g a r e I I a , 1974). ralmente, estes sedimentos são constituídos por areia
- 119 -
H g . 8-42« — A t i t u d e d o e i x o l o n g o d o s s e i x o s e n c o n t r a d o s n u m
l e q u e a l u v i a l , e m Pouso A l t o , r o d o v i a T u b a r ã o - G r a v a t a l , f o r m a d o
d u r a n t e a c a t á s t r o f e de m a r ç o de 1 9 7 4 . 1 — r o s a - d i a g r a m a re-
presentando a direção de 208 seixos de todos tamanhos encon-
t r a d o s na s u p e r f í c i e do l e q u e a l u v i a l ; 2 — i d e m p a r a 38 s e i x o s
m a i o r e s d o q u e 3 0 c m ; 3 — a t i t u d e d e 3 9 seixos i n c l u í d o s n o
depósito arenáceo do leque aluvial; 3a — sentido de inclinação
do e i x o longo; 3b — direção do eixo i o n g o . Na superfície do
l e q u e a l u v i a l o e i x o l o n g o d o s e i x o dispõe-se p e r p e n d i c u l a r m e n t e
ao f l u x o , isto é na p o s i ç ã o de> r o l a m e n t o . O s e i x o e n c o n t r a d o no
i n t e r i o r do d e p ó s i t o t e n d e a i m b r i c a r p a r a m o n t a n t e e sua d i r e ç ã o
é a p r o x i m a d a m e n t e p a r a l e l a à do f l u x o . Os s e i x o s e n c o n t r a d o s
na superfície do leque indicam uma parada rápida do f l u x o , e n -
q u a n t o que aqueles encontrados no interior do depósito mostram
u m r e t r a b a l h a m e n t o q u e p e r m i t i u uma rotação d o e i x o l o n g o ,
acompanhado de imbricação. A atitude do eixo longo do seixo
p o d e f o r n e c e r uma i n d i c a ç ã o d e q u a i s f o r a m a s c o n d i ç õ e s d o f l u x o
durante a sedimentação (segundo B i g a r e l l a & B e c k e r ,
1975).
F l g . 8-42 — Leques a l u v i a i s f o r m a d o a j u s a n t e d o s l ó b u l o s de
m o v i m e n t o d e massa d u r a n t e a c a t á s t r o f e d e m a r ç o d e 1 9 7 4 e m
T u b a r ã o (SC). A s p a r t í c u l a s d o t a m a n h o a r e i a , g r â n u l o e seixos c o m
até cerca de 8 cm de d i â m e t r o f o r a m r e t r a b a l h a d o s e d e p o s i t a d o s bertura de vegetação aberta, facilitando a ação dos
e m f o r m a d e l e q u e a l u v i a l o u c o m o camada d e c o b e r t u r a are-
nosa s o b r e a p l a n í c i e de i n u n d a ç ã o (vide f i g u r a 8 - 4 3 ) . Estrada
agentes erosivos.
T u b a r ã o - G r a v a t a ! (SC).
Na porção superior dos depósitos dos canais
anastomosados ocorrem freqüentes lâminas ou ca-
média a grosseira e contêm grânulos e pequenos sei- madas síltico-argilosas, na maioria das vezes apre-
xos depositados num ambiente de canais anastomo- sentando-se contorcidas. As dobras recumbentes in-
sados pela migração das barras. As estratificações traformacionais são comuns em depósitos fluviais.
cruzadas dos tipos planar e acanalado são típicas do Elas resultam provavelmente de movimento de mas-
regime de fluxo inferior (figs. 8-54 a 8-59). sa de sedimentos, subitamente forçadas por um flu-
xo de água, ou por correntes mais densas das en-
Nem todos os rios meandrantes possuem barras chentes (figs. 8-60 e 8-61).
de meandro bem desenvolvidas. No piai no aluvial
do rio Iguaçu, nos meandros atuais não são encon- M c K e e , R e y n o l d s & B a k e r
tradas barras de meandro arenosas dotadas das es- (1962), baseados na forma dos estratos, mención:' .
truturas típicas referidas para outros cursos mean- quatro classes principais de estratos contorcidos: 1)
drantes. As condições de clima úmido com chuvas — estruturas altamente irregulares nas quais os es-
bem distribuídas durante o ano, bem como a presen- tratos aparecem amarrotados e retorcidos, antes do
ça de cobertura florestal, parecem ter reduzido o que dobrados; 2) — estratos regularmente dobrados
fornecimento de areia para ser transportado pelo rio, nos quais os planos axiais são horizontais ou fraca-
o qual tem seu curso em terrenos predominantemen- mente inclinados; 3) estratos dobrados com planos
te síltico-argilosos. Os sedimentos arenosos existen- axiais essencialmente verticais; e 4) — estratos que-
tes no plaino aluvial do rio Iguaçu, nas imediações brados numa série separada de acavalamentos e do-
de Curitiba, foram depositados sob condições am- bras espremidas aproximadamente paralelas. Os es-
bientais diversas das atuais, i.é. durante a vigência tratos altamente irregulares são designados por "es-
de clima semi-árido, com chuvas concentradas e co- tratos irregularmente contorcidos". Os estratos re-
- 120 -
F í g . 8-43 — A s p e c t o a n a s t o m o s a d o dos d e p ó s i -
tos dos leques aluviais o r i g i n a d o s na c a t á s t r o f e
d e T u b a r ã o , SC, e m m a r ç o d e 1 ° 7 4 . Longos
trechos de f u n d o de vale f o r a m soterrados p o r
uma cobertura arenosa, com vestígios de uma
drenagem anastomosada, contrastando com o pa-
d r ã o m e a n d r a n t e usual d a r e g i ã o .
gul ármente dobrados e deitados são referidos como meadas com areia. Da mesma forma, os estratos oon-
"dobras recumbentes intraformacionais". Os estratos volutos originaram-se por cargas verticais. As dife-
formando dobras com plano axial aproximadamente renças de estruturas dependem, até certo ponto, do
vertical são designados de "estratos convolutos". Pa- sedimento encontrar-se saturado com água ou seco.
ra a repetição de miniaturas de falhas de empurrão
e de dobras reviradas é dado o nome de "estrutu- Quatro são os principais processos responsáveis
ras de empurrão intraformacionais". pela formação de estratos contorcidos. 1) — escorre-
gamento por gravidade; 2) arraste por uma força
O tipo de estrutura contorcida resultante, de- sobrepassante; 3) — sobrecarga de cima ou lateral;
pende em grande parte da composição granulomé- e 4) — modificações por perfuração de organismo,
trtca do sedimento. As partículas de areia, silte e ar- crescimento de raízes ou bolhas de gás ascenden-
gila reagem diferentemente às ações de tensão e tes (McKee, R e y n o l d s & B a k e r ,
compressão ( M c K e e , R e y n o l d s & 1962).
B a k e r , 1962). De acordo com trabalhos expe-
r i men ta i s rea I izados po r estes a uto res, as dobr as Nos depósitos pleistocênicos de Uberaba, Curi-
recumbentes intraformacionais ocorrem apenas em tiba, a laminação cruzada produzida pelas micro-
sedimentos arenosos, ao passo que as estruturas de ondulações apresentam desenvolvimento limitado
empurrão intraformacionais foram melhor desenvol- quando comparado com o da estratificação cruzada
vidas quando as camadas de argila ocorriam entre- originada pelas macro-ondulações (fig. 8-62). Como
- 121 -
Rg. 8-46 — M i n i a t u r a de l e q u e s a l u v i a i s . A — coalescência de
vários leques; B — estrutura de u m leque aluvtai cortado paralela
• t r a n s v e r s a l m e n t e a o s e n t i d o d o f l u x o ( v i d e d e t a l h e s nas f i g u r a s
8-47 e 8 - 4 8 ) . M o r r o da J o a q u i n a , Ilha de Santa C a t a r i n a (SC),
(segundo B i g i r t l l i , 1974).
F t g . 8-47 — E s t r u t u r a d e u m a m i n i a t u r a d e l e q u e a l u v i a l ( v i d e f i g .
8-46). C o r t e p a r a l e l o a o s e n t i d o d o f l u x o . A s camadas i n c l i n a m
F i g . 8-45 — D e p ó s i t o s s í l t i c o - a r g i l o s o s f o r m a d o s d u r a n t e a i n u n - p a r a j u s a n t e . A s linhas escuras c o n t é m m a i o r p r o p o r ç ã o d e a r g i l a ,
d a ç ã o q u e a c o m p a n h o u a c a t á s t r o f e d e m a r ç o d e 1974 e m Tu- d e p o s i t a d a c o m o " n a t a " s o b r e cada u n i d a d e i n d i v i d u a l , e m v i r t u d e
b a r ã o , S C . E m a m p l a s áreas h o u v e d e p o s i ç ã o d e 3 0 a 6 0 c m d e d o s e f e i t o s da t e n s ã o s u p e r f i c i a l ( B i g a r e I I e , 1974).
l a m a . V a l e do T u b a r ã o , p r ó x i m o à p o n t e na BR-101 . M o r r o d a J o a q u i n a , Ilha d e Santa C a t e r i n a (SC).
- 122 -
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seria de se esperar, as laminações cruzadas deriva- Os terraços de distribuição mais ampla situa-
das das micro-ondulações ocorrem mais freqüente- vam-se entre 3 e 3,5m acima do nível do rio em 9-IX-
mente na parte superior dos sedimentos arenosos e 1976 (fig. 8-63). Caracterizam-se pela riqueza de
muitas vezes associadas com as camadas contorcidas. estruturas sedimentares desenvolvidas pela alternân-
A laminação cruzada de pequeno tamanho tem sua cia de camadas arenosas e síltico-arenosas ou síltico-
gênese iigada aos depósitos de transbordamento. argilosas. As seqüências arenosas de estratos cruza-
dos originadas pela migração de macro-ondulações
b — Terraços do Rio São Francisco sugerem um regime de fluxo inferior, que contrasta
No presente item são descritos de forma sucin- com as camadas arenosas com estratificação plano-
ta os terraços do plaino aluvial do Rio São Francisco, pare lela desenvolvidas em regime de fluxo superior.
situados entre Xique-Xique e Iquira (BA), ora inun- As camadas síltico-arenosas ou síltico-argilosas foram
dados pelas águas da represa de Sobradinho. O es- depositadas nos plainos aluviais (bacias de inunda-
tudo foi realizado sob os auspícios da Academia Bra- ção) durante os períodos de enchentes pelo trans-
bordamento dos canais fluviais. Elas também podem
sileira de Ciências e Universidade Federal da Bahia
representar depósitos de canais abandonados.
( B i g a r e l l a & S i l v a , inédito). Nesta
área, ocorrem dois grupos de terraços com estrutu- Na figura 8-63 estão representadas alternâncias
ras características, as quais podem ser acompanha- de camadas arenosas e síltico-arenosas caracteriza-
das, às vezes por mais de uma centena de metros. das por estruturas primárias originadas em ambien-
- 123 -
tes fluviais. Estruturas de eorte e preenchimento, ver-
dadeiras inconformidades erosivas ou diastemas, se-
param os depósitos dos dois níveis principais de ter-
raços do f u n d o do vale.
Na f i g u r a 8-64 estão representados diversos
afloramentos e x p o n d o as estruturas dos terraços de
3 a 3,5 m. Nos vários cortes pode-se observar a al-
ternância entre as camadas arenosas e síltico-areno-
sas ou síltico-argilosas, bem como a presença de dias-
tema separando duas seqüências distintas (vide f i g .
8-64, letras B, C, D, F, G e H). O diastema representa
uma fase erosiva traduzindo variações no regime h i -
i
drológico. Quando o diastema separa os sedimentos
de dois níveis distintos de terraços ele constitui mais
propriamente uma inconformidade erosiva indicando
mudanças de condições climáticas q u e influem no re-
g i m e hidrológico, bem como no nível de base local.
Os sedimentos arenosos dos terraços do Rio São
Francisco apresentam grande variedade de estrutu-
ras sedimentares. Entre elas predominam as estrati-
ficações cruzadas do tipo planar (fig. 8-65, letra B).
Como estruturas primárias de menor p o r t e encon-
tram-se as laminações cruzadas ascendentes o r i g i -
nadas pela migração das micro-ondulações (fig. 8-65,
letras C & E). Fig. 8-49 — Estrutura de um leque aluvial em miniatura no
do Morro da Joaquina, Ilha de Santa Catarina (SC). A — corte
As areias fluviais expostas nos bancos emersos
perpendicular ao sentido do f l u x o ; B — corte paralelo ao sentido
durante as estiagens podem ser retrabaíhadas pelo do f l u x o ( s e g u n d o B i g a r e i I a , 1974).
Fig. 8-50 — Estruturas e x p o s t a s n u m corte d e uma miniatura de leque aluvial f o r m a d o no M o r r o da Joaquina, Ilha de Santa Catarina (SC).
Corte aberto paralelamente ao sentido do f l u x o . Camadas paralelas, contorcidas e estruturas de corte e preenchimento. As linhas escuras
representam enriquecimento com material coloidal (principalmente argila) concentrado p o r tensão superficial, durante a deposição, na super-
fície de cada seqüência de estratos (vide figura 8-51) (segundo B i g a r e 1 I a , 1974).
- 124 -
F i g . 8-51 — Estruturas e x p o s t a s n u m c o r t e p e r p e n d i c u l a r a o s e n t i d o d e f l u x o , a b e r t o n u m a m i n i a t u r a d e l e q u e a l u v i a l , f o r m a d o n o M o r r o
d a J o a q u i n a , Ilha d e Santa C a t a r i n a (SC). O c o r t e r e p r e s e n t a d o p e l a f o t o " B " é p e r p e n d i c u l a r a o c o r t e " D " i l u s t r a d o n a f i g u r a 8 - 5 0 . Ca-
madas c o n t o r c i d a s e e s t r u t u r a s d e escavação e p r e e n c h i m e n t o ( s e g u n d o Bi a a r e l i a , 1974).
- 125 -
vento e formar depósitos eólicos. Estes podem con- processos fluviais, porém em grande parte é conse-
sistir de pequenos escudos arenosos (ante-dunas) ou qüência do escoamento difuso superficial. Tratam-se
então formar dunas propriamente ditas. As ante-du- mais propriamente de depósitos de uma rampa alu-
nas são visíveis nos bancos emersos (fig. 8-65, le- vial, cujos sedimentos procedem de vertentes situa-
tra A). As dunas recobrem terraços fluviais da mar- das a montante.
gem esquerda do rio a oeste de Iquira. Estruturas
Sobre o embasamento constituído pelo Grupo
deformacionais são igualmente freqüentes. Estratos
Bambuí encontram-se seqüências alternadas de se-
frontais revirados, contorcidos e falhados foram en-
dimentos síltico-arenosos ou síltico-argilosos de as-
contrados sobrepostos a seqüências de laminações
pecto coluvial. Menos freqüentemente ocorrem ca-
cruzadas ascendentes e sotopostos a seqüência de
madas arenosas com horizontes de cascalho residual,
estratos frontais (fig. 8-66).
bem como depósitos de cascalho. Intercalados n~
c — Planície aluvial em Riachão (BA) camadas mais finas encontram-se níveis de paleosso-
los, alguns deles com horizonte orgânico.
A estrutura da planície aluvial situada a cerca
de 50 km ao norte de Barreiras (BA), na estrada pa- As camadas de cascalho com maior espessura
ra Formosa, encontra-se ilustrada na figura 8-67. O jazem em inconformidade erosiva sobre o Grupo
entalhe produzido por um curso de água efêmero Bambuí. Os fenoclastos são constituídos predomi-
expôs a estrutura local, a qual resulta em parte de nantemente de quartzito e de quartzo. O arredonda-
- 126 -
mento é apreciável. A granulação via de regra é englobados na massa. A seqüência de bancos repre-
grosseira podendo alguns fenoclastos atingir até 1 m senta sucessivos depósitos de inundação do plaino
de diâmetro. aluvial. Tratam-se de sedimentos formados sob con-
dições hidrográficas de fluido mais ou menos denso
d — Terraços do rio Gurguéia (PI) responsáveis peia agradação do vale até a altura do
terraço.
No vale do rio Gurguéia (PI), na estrada Floria-
no-Boa Esperança, encontram-se dois terraços situa- Terminada a deposição sobreveio uma fase ero-
dos respectivamente a 8-10 m e a 2-3 m acima do siva que dissecou os sedimentos representados pela
nível do rio (figs. 8-66 e 8-69). No conjunto sedi- letra " A " (fig. 8-68). A superfície de erosão (dias-
mentar distinguem-se cinco seqüências separadas por tema ou mesmo inconformidade erosiva) é referida
cinco inconformidades erosivas (fig. 8-68). por a. Novo episódio sedimentar preenche o plaino
A seqüência mais antiga, referida pela letra " A " aluvial até o nível atingido pela seqüência " A " . Tra-
(fig. 8-68), é constituída por sedimentos finos, are- tam-se de sedimentos de natureza análoga referidos
no-sílticos, pouco argilosos dispostos em bancos com pela letra " B " (fig. 8-68). Nova fase erosiva (dias-
10 a 30 cm de espessura, sem estratificação visível. tema p) separa os sedimentos " B " e " C " . O plaino
Localmente os sedimentos encontram-se endurecidos aluvial é novamente preenchido até a altura de " A " .
peia presença de óxidos hidratados de ferro. Nos se- A natureza do sedimento muda, aparecendo vários
dimentos são encontrados alguns seixos de arenito horizontes de paleossolos (horizonte orgânico). Uma
- • ;|PJ|
- 127 -
fase erosiva menos intensa origina o diastema repre- e — Plaino aluvial do rio Maurício (PR)
sentado por " y " (fig. 8-68). Sobre este ocorre uma
As estruturas e texturas dos depósitos de várzea
camada " D " de aspecto coluvial, porém de natureza
da parte plana do fundo do vale do rio Maurício fo-
aluvial.
ram estudadas por Bigarella & Mousi-
Uma época de dissecação removeu parte dos se- n h o (1965). A área em questão situa-se nas ime-
dimentos correspondentes ao terraço 8-10 m, apro- diações do km 30 da BR 116, entre Curitiba e Rio
fundando o vale e originando a inconformidade ero- Negro. O vale encontra-se circundado por terraços
siva referida por "S". Sobre esta foram depositados pré-cambrianos do complexo gnáissico-migmatítico
os sedimentos do terraço de inundação inferior (2-3 nos quais estão esculpidos os níveis escalonados cor-
m) representado pela letra "E" (fig. 8-68). Em " F " respondentes aos aplainamentos Pd,, P e Pi ( B i -
2
- 128 -
Na várzea do rio Maurício foram realizadas 47 caracteriza especialmente os depósitos dos lobos co-
perfurações com trado, equidistantes na maioria das lúvio-aluvionares sedimentados em rampas ( B i -
vezes de 50 m e menos freqüentemente de 100 m. g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965). A s per-
As perfurações foram orientadas segundo três linhas centagens das frações cascalho, areia, silte e argila
(fig. 8-70). A profundidade dos furos ficou condicio- encontram-se ilustradas na figura 8-73. O comporta-
nada ao aparecimento da primeira camada de areia, mento lateral e vertical dos vários tipos de sedimen-
que impossibilitava a continuação da perfuração, por tos é altamente variável. Este aspecto da deposição
ocorrer desabamento, a qual atingiu no máximo cin- sob condições climáticas úmidas contrasta com a
co metros, (fig. 8-73). forma característica de sedimentação em lençol pró-
pria dos ambientes semi-áridos. Os lobos oolúvio-
Na várzea do rio Maurício predomina a argila- aluvionares recobrem os sedimentos das enchentes
síltica seguida de silte argiloso, areia-síltico-argilosa, ou dos canais, bem como interdigitam-se com os
areia e arei^ síltica (vide f i g . 8-71). Nas seções re- mesmos. Os depósitos arenosos acompanham o ca-
presentadas na figura 8-72 os sedimentos foram gru- nal do rio meandrante no preenchimento do plaino
lhados resumidamente em quatro tipos: argilosos, aluvial ou na sua dissecação, dispondo-se vertical-
sílticos, arenosos e areno-síltioargilosos. Os dois pri- mente em zig-zag. Os sedimentos argilosos, via de
meiros referen,-se principalmente a depósitos de en- regra, foram depositados nas bacias de inundação
chentes, o terce ro aos canais meandrantes e o último (fig. 8-72).
- 129 -
F i g . 8-58 — " B o l o t a s " de a r g i l a presentes na
e s t r a t i f i c a ç ã o cruzada d o s d e p ó s i t o s pleistocêni-
cos e n c o n t r a d o s n o p l a i n o aluvial d o rio I g u a ç u ,
U b e r a b a , C u r i t i b a . A m b i e n t e d e canais anasto-
mosados .
- 130 -
Fig. 8-59 — Parte superior dos depósitos das barras em canais anastomosados passando a depósitos de transbor-
damento. Aspecto tridimensional das camadas contorcidas representadas em detalhe nas fotos inferiores. Sedi-
mentos pleistocenicos. Plaino aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, Curitiba.
- 131 -
F i g . 8-60 — S e d i m e n t o s p l e i s t o c ê n i c o s d o p l a i -
no aluvial do rio Iguaçu, Uberaba, Curitiba.
A m b i e n t e f l u v i a l d e canais a n a s t o m o s a d o s . A
f o t o i n f e r i o r , c o m estratos arenosos c o n t o r c i -
d o s , i n d i c a a p a r t e s u p e r i o r d e u m ciclo d a
deposição em canal. A f o t o superior, representa
depósitos de transbordamento constituídos pela
a l t e r n â n c i a d e estratos d e a r e i a f i n a e d e s e d i -
mentos síltico-argilosos. Nesta f o t o destaca-se
uma d o b r a d e e m p u r r ã o , j u n t a m e n t e c o m u m a
f a l h a , p r o d u z i d a p o r esforços p r o c e d e n t e s d a
direita, penecontemporâneos à deposição.
- 132 -
WÈÊÈÈÈÈÈ
F i g , 8-61 — S e d i m e n t o s p l e i s t o c ê n i c o s d o f u n d o
de vale do rio Iguaçu, Uberaba, C u r i t i b a . Na
f o t o i n f e r i o r a p a r t e basal é c o n s t i t u í d a p o r se-
d i m e n t o s arenosos c o m e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a , de-
f o r m a d o s j u n t a m e n t e c o m a camada s o b r e j a c e n -
t e c o n s t i t u í d a p o r a l t e r n â n c i a d e camadas are-
nosas e s í l t i c o - a r g i l o s a s a l t a m e n t e c o n t o r c i d a s .
A camada basal r e p r e s e n t a s e d i m e n t o s de ca-
nais a n a s t o m o s a d o s , e n q u a n t o q u e a s u p e r i o r re-
fere-se a d e p ó s i t o s de t r a n s b o r d a m e n t o . A f o t o
s u p e r i o r m o s t r a a a l t e r n â n c i a de estratos de
areia f i n a e d e s e d i m e n t o s s í l t i c o a r g i l o s o s o n d e
salienta-se a presença de e s t r u t u r a s de carga no
c o n j u n t o das f o r m a s c o n t o r c i d a s .
- 133 -
3,55/rt 3.75**
F i g . 8-63 — Terraço» d o rio São Francisco entre Xíque-XIque e Iquíra (BA). Estrutura» sedimentares desenvorvkSu
pela a l t e r n â n c i a de camadas arenosas e síltico-arenosas ou s í l t i c o - e r g i l o s a s . A e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a s u g e r e um re-
g i m e de f l u x o i n f e r i o r , e n q u a n t o que a estratificação p l a n o paralela indica um regime de f l u x o superior na depo-
sição das areias. A s camadas síltíco-argilosas f o r a m d e p o s i t a d a s e m bacias d e i n u n d a ç ã o . A m b i e n t e f l u v i a l anasto-
mosado-,
- 134 -
:
¿freía <?¿/feargi/oeo golúóio-atáàfò fftrfoatua/ftorèÀ) I • • • •'• '' ••- ' '——^i:-:—_—; •: •,'•'•1
- 135 -
F i g . 8-65 — Estruturas s e d i m e n t a r e s d e s e n v o l v i d a s em canais a n a s t o m o s a d o s do r i o São Francisco e n t r e X i q u e - X i q u e e I q u i r a Í B A ) . A —
d e c o r a ç ã o e ó l i c a s o b r e b a n c o e m e r s o d e a r e i a . O s estratos c r u z a d o s f o r a m d e p o s i t a d o s pela ação dos v e n t o s e c o r r e s p o n d e m a f o r m a s d o
t i p o a n t e - d u n a ; B — estratos c o n t o r c i d o s , e s t r a t i f i c a ç ã o cruzada do t i p o p l a n a r e h o r i z o n t e r e s i d u a l de s e i x o s ; C & € — m i c r o - l a m i n a ç ã o
cruzada ascendente o r i g i n a d a p e l a m i g r a ç ã o das m i c r o - o n d u l a ç õ e s ; D — m i c r o - e s t r a t i f i c a ç ã o cruzada em f o r m a de " e s c a l o p e " .
- 136 -
Hgs, 8-67 e 8-67a — Estrutura da planície aluvial de Riachão n o k m 50 da estrada Barreiras-Formosa (BA). A maior parte da se-
q ü ê n c i a deve-se a o e s c o a m e n t o d i f u s o s u p e r f i c i a l , o u t r a p a r t e r e p r e s e n t a areias e cascalhos f l u v i a i s . N o s c o r t e s são e n c o n t r a d o s n í -
reis d e p a l e o s s o l o s c o m h o r i z o n t e o r g e n k o . Errata: n o d e s e n h o d o c a n t o d i r e i t o s u p e r i o r , o n d e está e s c r i t o " s i l i t o " leia-se " s f l t i c o " .
ô~/0m
- 138 -
F i g . 8-69 — Terraços do rio G u r g u e i a na estrada Floriano-Boa E s p e r a n ç a ( P l ) . A — a s p e c t o g e r a l da m a r g e m côncava do r i o , o n d e se
nota a presença d e e s t r a t i f i c a ç ã o e i n c o n f o r m i d a d e erosiva s e p a r a n d o o s s e d i m e n t o s d o t e r r a ç o d e 8-10 m d a q u e l e s d o t e r r a ç o d e
2 a 3 m; B — d e t a l h e do a s p e c t o r e f e r i d o em A. No l a d o e s q u e r d o , acima d o s s e d i m e n t o s arenosos e n c o n t r a m - s e bancos de se-
d i m e n t o s de aspecto c o l u v i a l . As camadas arenosas a d i r e i t a e s t ã o b e m e s t r a t i f i c a d a s e a p r e s e n t a m i g u a l m e n t e e s t r a t i f i c a ç ã o c r u z a d a ;
C — seqüências d e s e d i m e n t o s f i n o s a r e n o s í l t i c o s c o m e s t r a t i f i c a ç ã o p o u c o v i s í v e l o u i n c i p i e n t e . N a p o r ç ã o s u p e r i o r o c o r r e u m a
camada arenosa sem e s t r a t i f i c a ç ã o v i s í v e l ; D — i n c o n f o r m i d a d e e r o s i v a s e p a r a n d o camadas laterizadas ( r e p r e s e n t a d a s p o r s í m b o l o
d e n d r í t i c o ) de camadas a r e n o - s í l t i c a s . A b a i x o das camadas l a t e r i z a d a s o c o r r e m s e d i m e n t o s arenosos c o m e s t r a t i f i c a ç ã o i n c i p i e n t e ; E —
seqüências d e camadas areno-sílticas c o m a l g u m a s e s t r u t u r a s c o n t o r c i d a s recobertas p o r camadas arenosas.
- 139 -
f — Terraços do vale do rio Ribeira (SP)
amostras n o p l a i n o aluvial d o r i o M a u r í c i o , k m 3 0 d a r o d o v i a
BR 116, t r e c h o C u r i t i b a - f ò i o N e g r o . No m a p a estão i n d i c a d o s os
pondentes às antigas calhas de drenagem. Os re-
v á r i o s n í v e i s de e r o s ã o e de s e d i m e n t a ç ã o ( s e g u n d o B i g a r e I - manescentes do nível de terraço Tpdi encontram-se
la & M o u s i n h o , 1965).
próximos às margens da bacia, como por exemplo
nos topos das elevações na cidade de Brusque. Neste
local o Tpdi é mantido por depósitos de cascalho
constituídos de seixos arredondados a subarredonda-
dos indicativos de apreciável transporte. Os seixos
foram arredondados por sucessivos retrabalhamentos
a partir de níveis de terraços correspondentes a épo-
cas de pedimentação mais antigas.
- 140 -
1 1 1 1—
Fig. 8-72 — Perfis de variação textural referentes aos sedimentos fluviais do plaino aluvial do rio Maurício (vide f i g . 8-70). Quatro tipos fundamen-
tais de sedimentos acham-se referidos apresentando grande variação quer vertical, quer horizontal. Os sedimentos arenosíltico-argilosos correspondem
principalmente aos lobos colúvio-aluvionares. Os sedimentos arenosos correspondem a deposição nos canais meandrantes, enquanto que os sedimen-
tos sílticos e o s argilosos referem-se a deposição durante a s enchentes (segundo B í g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).
Fig. 8-75 — Terraço T p d , e x p o n d o sedimentos da Formação Pariquera-Açu, BR-116, 0,9 km de Jacupiranga ru-
mo a Curitiba. A secção corresponde a dois n í v e i s de cascalhemos referentes ao e p i s ó d i o T p d ! . I — filito
decomposto; II — superfície de erosão pré-deposição dos sedimentos rudáceos elaborados d u r a n t e o processo de
pediplanação do Pd,; l!l — depósito de cascalho constituído por seixos de quartzo e quartzito subarredonda-
dos de dimensões dominantemente entre 5 e 8 cm. Estratificação incipiente com finos leitos arenosos inter-
calados; IV — s u p e r f í c i e de e r o s ã o c o r t a n d o os f i l i t o s e depósitos de cascalho 111; V — depósito de cascalho
com seixos de q u a r t z o e q u a r t z i t o subarredondados normalmente de 5 a 8 cm. Estratificação incipiente, com
finos leitos arenosos intercalados; VI — superfície de agradação do cascalheiro V; VII — camada de casca-
lho depositada nos flancos do cascalheiro 111 e sobre parte do cascalheiro V; VIM — colúvio rosado claro; IX
colúvio avermelhado; X — paleopavimento rudáceo; XI — depósito colúvio-aluvionar castanho claro amarelado
(segundo B i g a r e l l a & M o u s i n h o , 1965).
Fig. 8-76 — Terraço Tpd,, expondo sedimentos da Formação Pariquera-Açu. Bft-116, 1,2 km de Jacupiranga rumo a Curitiba.
I — filito d e c o m p o s t o ; II — superfície irregular pré-deposição dos cascalhos f o r m a d o r e s do t e r r a ç o c o r r e l a c i o n á v e l ao p e d i p l a n o Pd,;
III — a l t e r n â n : i a de camadas rudáceas com arenáceas p r e e n c h e n d o as depressões do terreno da época da superfície I I ; IV — superfície
de agradação contemporânea do Pd,; V — depósito colúvio-aluvionar castanho amarelado (baseado em B i g a r e l l a &
M o u s i n h o , 1965).
- 142 -
H — Depósitos fluviais do Grupo Barreiras
©
F i g . 8-79 — Estrutura d e u m b a i x o t e r r a ç o d e cascalheiro T c 2
11
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1
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subangulosos; VI — depósito colúvio-aluvionar contendo grânulos
e p e q u e n o s seixos de q u a r t z o ( a m . 8 6 ) ; V I I — p a l e o p a v i m e n t o
d e t r í t i c o f o r m a d o p o r g r â n u l o s e p e q u e n o s seixos d e q u a r t z o d e F i g . 8-80 — Estruturas s e d i m e n t a r e s dos d e p ó s i t o s f l u v i a i s da For-
até 1 c m ; V I I I — d e p ó s i t o c o l ú v i o - a l u v i o n a r castanho com g r â n u l o s mação Guararapes e m S a t u b a , A l a g o a s f s e g u n d o B i g a r e l l a ,
e p e q u e n o s seixos d e q u a r t z o ( a m . 8 7 ) . 1975).
- 143 -
CABO BRANCO - PARAÍBA
semi-áridas em ambiente desértico de topografia pla- Em vários afloramentos associados aos sedimen-
na suavemente inclinada similar ao das grandes ba- tos de canais anastomosados, existem evidências de
jadas. um ou mais níveis de paleossoios. Nos sedimentos
Nas áreas de drenagem onde as correntes não arenosos são encontradas estruturas características de-
estavam tão carregadas de sedimentos a estratifica- senvolvidas pelo crescimento de raízes (fig. 8-83, nú-
ção é visível e os depósitos arenáceos apresentam meros 5 e 8).
estratificação cruzada. O sistema fluvial neste caso
apresentava-se anastomosado. As camadas com abun- As estruturas dos sedimentos da Formação Ria-
dantes estratos cruzados de porte médio a grande cho AAôrno são complexas. Na seqüência sedimentar
caracterizam os principais sistemas de drenagem da desta formação são reconhecidos pelo menos três
época Guararapes. Eles encontram-se localizados na membros separados por inconformidades erosivas.
altura de Salvador (proto rio Paraguaçu), de Aracaju As unidades mais características são aquelas liga-
e São Miguel dos Campos (proto rio São Francisco), das aos processos de formação do Pdi, P2 e Pi dos
de São José da Mipibu (proto rio Potengi), entre ou quais resultou a elaboração dos terraços Tpdi, Tp2 e
tros (figs. 8-80 a 8-83).
Tp,.
As camadas de cascalho ocorrem como depósi-
A formação Riacho Morno inclui depósitos de
tos residuais intraformacionais em forma de lençol.
Sedimentos de granulação mais fina, síltico-argilosos, corridas de lama e areia bem como depósitos de ca-
as vezes apresentam estratificação paralela. Trata-se lha de drenagem com estratificação cruzada desen-
de deposição em pequenos corpos de água na planí- volvida em sistema fluvial anastomosado, além de
cie de inundação. depósitos residuais de cascalho (figs. 8-84 a 8-87).
ESii ^ 7 ****** •™<»*x com «fr.rificçío c r u a d . prtaooM,», 1 F o m » ç » o G u . i . n p M aflorando na » 1 0 1 p r t x l m o « o rio T « l r i
ü - '' , *
d a9 amaS #
zados sao d e g r a n d e
8
u
m O S t
« t u b H b m » d e v o l v i d a , pelo cretómento dTraízes. AlguTas
r a m
" t r u t u r
d T eTtrJL ^
tamanho, e n q u a n t o q u e outras s ã o d e porte menor. A l g u m a s seqüências possuem g r a r m l a ^ T n á J M £ £ £ !^
outras q u e contém seixos d e q u a r t z o ( s e g u n d o B i g a r e I I a , 1975). H m granuiaçao tina contrastando c o m
- 145 -
R g . 8-84 — A ) E s t r u t u r a d o p e d i p l a n o P d e m I t a g i m i r i m (BA) c o n s t i t u í d a p o r d e p ó s i t o s i r r e g u l a r e s d e cascalho r e s i d u a l j a z e n d o s o b r e
t
m i g m a t i t o s a l t e r a d o s . A c a m a d a d e seixos é c o m p o s t a p r e d o m i n a n t e m e n t e d e f e n o c l a s t o s d e q u a r t z o . B ) O u t r o a s p e c t o d a e s t r u t u r a d o
P d , a o l o n g o d a BR-101 nas p r o x i m i d a d e s d e I t a g i m i r i m . C ) C a m a d a d e cascalho c o r t a d a p o r f a l h a . O cascalho está e n g l o b a d o e m s e d i m e r
tos c o m a s p e c t o c o l u v i a l . A f a l h a t a l v e z r e p r e s e n t e uma l i g e i r a r e a t i v a ç ã o d e u m a l i n h a t e c t ó n i c a . B R - 1 0 1 , 5 4 k m a o sul d a j u n ç ã o c o m a
r o d o v i a Feira d e Santana-Salvador { B A ) . D ) Terraço d e cascalho T p d c o r r e s p o n d e n t e a o p e d i p l a n o P d , . O cascalho jaz s o b r e rochas a l t e r a -
1
m
¿ 3 4 Om / ¿
F I g . 8-85 — E s t r u t u r a d o s d e p ó s i t o s f l u v i a i s d e canais a n a s t o m o -
sados d a F o r m a ç ã o Riacho M o r n o , v i s í v e i s e m c o r t e s d e t e r r a -
ç o s . A & B — r o d o v i a A r a c a j ú - S a l v a d o r 8,7 km a p ó s o p o s t o
f i s c a l ; C — estrada L a r a n j e i r a s - R i a c h u e l o , km 7. 1 — d e p ó s i t o s
argiio-síltico-arenosos, mosqueados, aparentemente sem estrutura;
2 — d i a s t e m a ; 3 — p r e e n c h i m e n t o de areia e c a s c a l h o . A a t i t u d e
dos estratos c r u z a d o s está i l u s t r a d a n o r o s a - d i a g r a m a a o l a d o
[segundo B i g a r e I I a , 1975).
- 146 -
F i g . 8-86 - Estrutura d o p e d i p l a n o P d , , n a r o d o v i a BR-101 (58 k m a o N de Macaxeira, Recife, Pernambuco) e x p o n d o depósitos fluviais Os
1 6 0 5 C O n S t t U e m p a r t e d a F o r m a ã o R i a c h o M ô r n o
WS) "* ' S c o m p o s t a d e cascalho, areia e m a t e r i a l s í l t i c o - a r g i l o s o ( s e g u n d o B i g a r e I I a
- 147 -
F t g . 8-87 — E s t r u t u r a d o a d e p ó s i t o s d a F o r m a ç ã o R i a c h o M o r n o s i t u a d o s e m i n c o n f o r m i d a d e e r o s i v a s o b r e a F o r m a ç ã o M e c a i b a , a o l o n g o
da r o d o v i a N a t a l - M o s s o r ó (RN) e n t r e os km 14 e 16 a p a r t i r da j u n ç ã o c o m a r o d o v i a do a e r o p o r t o . As s e q ü ê n c i a s de cascalho e areia
f o r a m d e p o s i t a d a s em a m b i e n t e f l u v i a l t o r r e n c i a l possivelmente anastomosado (segundo B i g a r e II a , 1975).
I — Arenitos fluviais pré-Cenozóicos tratos cruzados. Estruturas fluviais típicas são encon-
tradas na Formação Rio Bonito, as quais foram utili-
As ocorrências de arenitos fluviais pré^Cenozói-
zadas para determinação do padrão de paleocorren-
cos não têm merecido grande destaque na litera-
tes fluviais ( B i g a r e l l a & S a l a m u n i ,
tura geológica brasileira. Eles ocorrem em diversas
1967; B i g a r e l l a , 1972).
formações. Características são as estruturas da For-
mação Guaritas do Rio Grande do Sul, na qual ca- O aspecto geral da sedimentação da Formação
madas de cascalho alternam-se com arenitos com es- Rio do Rasto sugere deposição predominantemente
tratificação cruzada sedimentadas provavelmente em em planícies de inundação, onde são freqüentes as
canais anastomosados. estruturas de corte e preenchimento. A estratificação
O Subgrupo Itararé contém seqüências de areni- cruzada é do tipo acanalado de tamanho médio a
tos flúvio-glaciais depositados em ambiente perigla- grande (figs. 8-88 e 8-89). Na parte superior da se-
cial .Estes arenitos formam bancos maciços nos quais qüência da Formação Santa Maria foi reconhecido o
é relativamente pouco freqüente a presença de es- ambiente fluvial, possivelmente de canais anastomo-
- ¡48 -
Fig., 8-88 — Estrutura d o s arenitos d a Formação Rio d o Rasto c o n s i d e r a d o s de origem fluvial. Os arenitos estão intercalados em siltitos.
O s estratos cruzados são d o t i p o a c a n a l a d o e m e n o s f r e q ü e n t e m e n t e p l a n a r . A f l o r a m e n t o s na r o d o v i a São M a t e u s d o Sul — União da V i -
tória, Paraná (segundo B i g a r e l l a & S a l a m u n i , 1967).
- 149 -
-60
Fig. 8-90 — Estrutura encontrada no membro superior da Formação Santa Maria, representativa do ambiente fluvial (segundo B I g i •
r e l i a & S a l a m u n i , 1967).
- 150 -
9 - SISTEMAS DEPOSICIONAIS
- 151 -
Sistemas deposicionais fluviais As barras de meandros são fácies característi-
cas deste sistema e oferecem uma seqüência verti-
As fácies fluviais podem ser integradas em qua-
cal diagnostica e geralmente previsível. Esta consti-
tro sistemas básicos, definidos em termos de pro-
tui-se de texturas e estruturas sedimentares, aqui de-
cessos sed i menta res dom inantes e associ ações fa-
signada como seqüência de decréscimo ascendente
ciológicas. As principais feições que definem cada
(fig. 8-9). Os tamanhos das estruturas sedimentares
um dos sistemas fluviais são: a) — geometria do cor-
po arenoso; b) — disposição espacial (trend) dos cor-
pos arenosos; c) — seqüências de estruturas sedimen-
tares; d) — textura dos sedimentos; e) — tipo e abun-
dância das fácies de transbordamento; f) — feições
sedimentares direcionais e g) — seqüências vertical e
horizontal de fácies.
- 152 -
decrescem verticalmente rumo ao topo do depósito, drante pelítico; o mesmo ocorre com a granulometria,
acompanhando o decréscimo geral em granulometria. já que ambas as fácies são geradas pela mesma car-
•
ga de fundo.
Os depósitos de diques naturais são bem de-
senvolvidos nestes sistemas, superpondo-se às bar- Em mapas as isólitas de areias exibem espessos
ras de meandros, já que esses são o produto de corpos dispostos sub-paralelamente ao paleodeclive
acréscimo lateral, resultante do padrão divagante dos deposicional. As estruturas sedimentares, como indi-
meandros. cadores direcionaís, apresentam baixo grau de dis-
persão.
Em mapas, as isólitas de areia mostram um pa-
drão grosseiramente paralelo ao declive deposicio- As feições básicas deste sistema foram delinea-
nal. As estruturas sedimentares exibem um vetor di- das por H i c k i n (1969) e M c G o w e n &
recional médio, geralmente paralelo à tendência are- G a r n e r (1970).
nosa, localmente com alto grau de dispersão.
As feições básicas deste sistema foram inicial-
mente delineadas por B e r n a r d & M a j o r
(1963) e por B e r n a r d e outros( 1970) em es-
tudos do rio Brazos, Texas (Estados Unidos).
largura/espessura desses depósitos é alta, com cada _ Qepóe/fo deóa/a ^Çt/çtfe #afará/
w/erd/efr/âi/ta-
uma de suas unidades apresentando desenvolvimen- r/a
to multilateral, em oposição ao multicíclico do siste-
ma meandrante pelítico.
- 153 -
Sistema fluvial anastomosado uniforme. A carga transportada por esses rios é pre-
dominantemente por suspensão, ou seja, alta relação
O sisteyna fluvial anastomosado desenvolve-se
lama/areia. A ausência de sinuosidade é devida a
sob condições de alto declive em rios portadores de
dois fatores principais: abundância de fácies argilosa,
elevada quantidade de carga de fundo e descarga
que propicia rápida subsidência por compactação di-
alta e periódica. Essas condições ocorrem normal-
ferencial dos canais arenosos, estabilizando conse-
mente nas partes superiores das bacias fluviais, ge-
qüentemente o seu curso; e presença de diques na-
ralmente em regiões de relevo acidentado, razão
turais bem desenvolvidos que confinam o canal.
pela qual, associam-se, comumente, com leques alu-
viais. As principais fácies deste sistema são: canal
distributário, diques naturais, depósitos de rompi-
As fácies arenosas de canal, barras longitudi-
mento de diques, depósitos de planície de inundação
nais e transversais, são distinguíveis somente atra-
e de preenchimento de canais abandonados. Outras
vés do estudo de estruturas internas. Há uma quase
fácies, comumente associadas com este sistema, são:
total ausência de sedimentos argilosos de fácies de
lacustre, baía interdistributária, etc. que já partici-
transbordamento (fig. 9-5).
pam do complexo deltaico (fig. 9-6).
O depósito mapeável deste sistema, composto
de uma série de unidades arenosas anastomosadas, Em razão da ausência de sinuosidade, a fácies
tende para a forma tabular em razão do seu desen- de canal deste sistema é formada por agradação de
volvimento multilateral. As unidades individuais apre- seu leito. As estruturas sedimentares presentes, da
sentam forma lenticular em seções transversais, com base para o topo, são :areias maciças ou altamente
sua base grosseiramente horizontal a levemente con- convolutas com algumas feições de injeção, acanala-
vexa. mentos de escala moderada, camadas frontais e aca-
nalamentos de pequena escala. As marcas ondula-
As estruturas sedimentares presentes em depó-
das caracterizam as margens do canal. Em geral, e¿-
sitos anastomosados são predominantemente consti-
tas estruturas são normalmente obliteradas pela in-
tuídas de estratificação horizontal e camadas frontais
tensa distorção resultante da subsidência diferencial.
e, secundariamente, ocorrem alguns acanalamentos.
A abundância relativa de estratos horizontais e ca- Os diques naturais, ao contrário dos correspon-
madas frontais é uma função da predominância de dentes do sistema meandrante pelítico, ocorrem pre-
barras longitudinais o u transversais. S m i t h dominantemente nos flancos dos depósitos de canal.
(1970), em estudos de sedimentos recentes do rio São muito bem desenvolvidos, constituindo-se em
Platte, Estados Unidos, mostrou que as barras longi- feições topográficas mais proeminentes da planície
tudinais, que são portadoras de estratos horizontais, deltaica. A persistência topográfica dos diques natu-
predominam nas partes superiores dos rios anasto- rais é suficiente para permitir múltiplos abandonos e
mosados; as barras transversais, caracterizadas por
camadas frontais de estratificações cruzadas, ocor-
rem nas partes inferiores deste sistema. Q/e/r/óit/ar/0
<7#(7ffaw¿7í'¿7<db
pe////eo \ fiâtm/ffito tfe/fá/eo
Os depósitos do sistema anastomosado são fre-
qüentemente, mas nem sempre, constituídos de areias a a/A? aóa/xa
SBa/xa a/fa
grosseiras e cascalhos. A seleção gran-ulométrica é c
/f/od?r&tfo
a//a
pobre. As variações texturais e as tendências a fa/xo a £7/fo
duais. <J/fe//?/*#fe
<?&t*//ca/ 0&de*f£/e>vfe
Estudos básicos deste sistema foram realizados
por O r e (1963, 1965), D o e g I a s (1962), W#////a/e/& 7//u///<?/W/¿?0
Sistema fluvial retilíneo ou de distributários deltaicos d/fc/er retraté, dro wsomafeA?, /ár/àf, atòpwezs'
ro#rp/me/tfo d? ef/- GSwra ¡te eevnp #&/#/&/?, sw*p/-
ffir/tre/pa/r 2o*f/a/f & énãv/b ded/çaeç
que¿", depoe/fo de
Desenvolvendo-se caracteristicamente em planí- ttárJtea e ea>#a/s>
aóatrdotf&dos: Zétr ff /*raA?r/a
cies deltaicas tipo Mississipi, o sistema fluvial retilí- orgasr/da.
- 154 -
recuperações dos canais individuais, resultando em neadas por P e p p e r e outros (1954), F i s h e r
uma superposição das fácies de canal; este processo & A A c G o w e n (1967), F e r m & C a -
também contribui para o seu espessamento. v a r o c (1968), B r o w n (1969) e D o n a I -
Em mapas, as isólitas da areia exigem um pa- s o n e outros (1969).
drão distributário, com as tendências arenosas leve-
mente subparalelas ao paleodeclive deposicional. As Estudo comparativo dos quatro modelos básicos
unidades arenosas apresentam relação largura/es-
Os quatro modelos básicos foram estabelecidos
pessura muito baixa e desenvolvimento multicíclico.
em função de exemplos recentes e antigos. Repre-
As estruturas sedimentares, como indicadores direcio-
sentam membros extremos de um espectro contínuo,
nais, exibem baixo grau de dispersão em relação ao
o que reflete a possibilidade de existência de inúme-
paleodeclive.
ros tipos intermediários. As feições diagnósticas de
As principais feições deste sistema foram deli- cada modelo estão na tabela 9-1.
- 155 -
10 - IMPORTÂNCIA DOS SEDIMENTOS FLUVIAIS NA
GEOLOGIA ECONÔMICA E APLICADA
INTRODUÇÃO M a t e r i a i s d e construção
- 156 -
As areias e cascalhos são normalmente extraí- leocanais e terraços de rios situados dentro ou nas
das de depósitos recentes e sub-recentes de canais proximidades de grandes cidades. Nas cercanias das
e de terraços fluviais, geralmente de idade pleisto- cidades d e São Paulo ( S u g u i o & T a k a -
cênica. Em alguns casos, a sua efetiva exploração h a s h i , 1970 e S u g u i o e t al, 1971) e d e
econômica pode exigir uma definição precisa de suas Curitiba ( B i g a r e l l a & S a l a m u n i ,
propriedades físicas, tais como, granulometria, mor- 1962) as aluviões antigas dos rios Tietê e Pinheiros
foscopia e seleção das partículas, bem como a geo- (SP) e Iguaçu (PR), respectivamente, têm contribuído
metria dos corpos sedimentares potencialmente ex- com importantes reservas de areia e de cascalho pa-
ploráveis (fig. 10-1). A profundidade e a porção ex- ra construções. No va!e do rio Itajaí Mirim (SC) os
plorável podem ser determinadas por eletroresisti- espessos cascalheiros pleistocênicos ( B i g a r e l -
vidade, sísmica ou sondagem mecânica. Antes da ex- la & M o u s i n h o , 1965) têm sido utilizados
tração dos depósitos de cascalho e de areias fluviais principalmente para construção de rodovias. Outros
é necessário mapear a distribuição do corpo a ser ex- depósitos de areia e cascalho têm sido explorados
plorado, seja ele de paleocanal ou de terraços an- intensamente, como por exemplo nos arredores de
tigos. Para avaliar corretamente as reservas devem Aracaju (SE), entre muitas outras áreas.
ser localizados os antigos "braços mortos" de rios
preenchidos com silte e argila, os quais se não con- Na indústria de vidro são utilizadas areias flu-
siderados, diminuem as reservas calculadas de areia viais de alto conteúdo de sílica, além de rochas sili-
e cascalho. cosas de um modo geral, contendo alumina e po-
tássio, arenitos puros e quartzitos. A areia ideal deve
No Brasil, os depósitos de areia e cascalho utili- conter praticamente 100% de sílica e ser formada de
zados como materiais de construção estão associados grãos angulosos bem selecionados, variando em gra-
a sedimentos fluviais recentes e sub-recentes de pa- nulometria entre areia fina a média. Devido a estes
requisitos é muito difícil encontrar-se depósitos de
areia fluvial em condições apropriadas para a fabri-
...
cação de vidro. As areias quartzosas são igualmente
utilizadas como abrasivos e como fundentes.
Minérios sedimentares
- 157 -
rentes fluviais transportadoras de cargas com con- ambientes sujeitos à forte diferenciação sedimentar,
teúdo anômalo de algum metal, até as técnicas de tanto no sentido vertical quanto no horizontal.
levantamentos magnetométricos, etc. Os estudos fa- Entre os três tipos de depósitos de minérios se-
ciológicos podem também contribuir na localização dimentares (Tabela 10-1), apenas o epigenético (se-
de minérios sedimentares, já que as mineralizações cundário) e o aluvionar ("plácer") são importantes
ligadas a rochas sedimentares aparecem sempre em nos sedimentos fluviais.
TABELA 10-1
Minérios de urânio
- 158 -
carnotita. Como cimentos desses arenitos podem ser Fora dos canais a concentração de U 0 reduz-se con- 3 6
encontrados a calcita e a pirita. Os arenitos hospe- sideravelmente para 0,02 a 0,09%. Nos paleocanais
deiros são conglomerárteos, com estratificação cruza- da Formação Rio Bonito, em Figueira (PR), as espes-
da e base erosiva, feições típicas de sedimentos de suras mais significativas dos corpos de minério estão
paleocanal fluvial (Figura 10-2). compreendidas entre 1,5 e 3,5 m ( S a a d , 1973).
A fonte original de urânio é assunto de discus- As formas geométricas das zonas mineraliza-
são, mas a sua migração estaria ligada à água sub- das parecem seguir um controle estratigráfico. O
terrânea ácida percolante. A carnotita é precipitada comprimento do corpo mineralizado (algumas cente-
em zonas adjacentes às barreiras de permeabilidade, nas de metros) predomina sobre a largura (dezenas
tais como as superfícies de discordância, ou em for- de metros) e esta sobre a espessura (alguns metros).
mações superficiais com razão areia/argila entre 0,25 Deste modo, a orientação dos corpos mineralizados
a 1,00. é influenciada pelos antigos canais fluviais.
- 159 -
vas pesquisas revelaram além da presença de lan- Em determinadas condições de fluxo de corren-
tânio a de neodineo, praseodineo, gadilineo, samário tes, as partículas maiores e menos densas do sedi-
e európio ( R . Spitzner, comunicação ver- mento podem ser "varridas", deixando atrás um de-
bal). pósito residual de minerais pesados de granulação
mais fina. As condições de fluxo que causam este
A concentração de terras raras, faz-se ao longo
tipo de separação são de grande interesse na indús-
do sistema de drenagem pretérito caracterizado por
tria mineral, tanto como chave para a compreensão
depósitos de areias arcosianas contendo estratos cru-
da origem dos depósitos aluvionares, bem como pa-
zados. A mineralização de caráter epigenético afetou
ra que possam ser idealizados métodos de separação
principalmente os sedimentos mais permeáveis re-
de minerais em que o minério moído é lavado para
presentados pelos depósitos dos canais de drenagem.
concentrar os minerais de interesse econômico.
As soluções contendo terras raras procederam das
áreas de intemperização das rochas graníticas situa- Em geral, deve-se esperar por uma concentra-
das a leste e nordeste da Bacia de Curitiba. ção mecânica de minerais pesados onde a veloci-
dade de fíuxo diminui (Fig. 10-3). Nestes locais, ao
Os depósitos arenáceos do sistema de drena-
lado dos minerais metálicos duráveis, como o ouro
gem favoreceram as migrações destas soluções e a
ou a platina e cassiterita, podem ser encontrados mi-
deposição subseqüente dos minerais de terras raras
nerais não metálicos como o diamante, rubi, safira e
junto com as impregnações de carbonatos (caliche).
outras gemas. Os depósitos de "plácer" são contro-
Determinações do teor de terras raras revelaram lados essencialmente pela geoquímica da fonte de
que apenas os depósitos de caliche ligados ao an- sedimentos, pelo c ima que condiciona a profundi-
tigo sistema de drenagem são os que apresentam dade de intemperismo, pela geomorfologia que dita
maiores teores destes elementos ( N . C . B i - as taxas de erosão e gradiente topográfico e pela hi-
g a r e I I a , comunicação pessoal). drodinâmica dos processos de transporte e deposi-
ção.
Minérios sedimentares aluvionares
Os depósitos de "plácer" ocorrem tanto em ca-
As partículas detríticas de sedimentos arenosos
nais fluviais, como em praias e sobre superfícies de
comuns são constituídas predominantemente de
abrasão marinha.
quartzo e feldspato, com densidades em torno de
2,7 e raros máficos. Entretanto, algumas areias po-
dem conter minerais de peso específico superior a 3,
I Çkrnfano âe#f drenado
que são compostos de minerais transparentes como
?/fO /Joóre#f&m*e drenado
o zircão, turmalina e granada ou opacos como a i l -
menita, magnetita, etc.
- 160 -
Esses depósitos são desenvolvidos através da
concentração de um ou mais minerais por processos
mecânicos devidos à água em movimento. Histori- ÇP/a/r/c/e de fp/a/f/e/e de
- 161 -
mejo ( B i l l i n g s l e y , 1978) argilitos cinza águas e periodicamente drenados (secos). O outro é
claros, não carbonosos, com vestígios de raízes ja- constituído pelas áreas baixas permanentemente re-
zem diretamente sobre os depósitos mais grosseiros cobertas pelas águas. Quando a profundidade é
de crevassa. falta de material carbonoso é indica- maior o ambiente torna-se lacustre ( W e i m e r ,
tivo de condições oxidantes em pântanos bem dre- 1977).
nados. Com a subsidência da área da margem do
canal retornam as condições redutoras com a volta Os processos deposicionais operantes nas mar-
da deposição das argilas carbonosas e das camadas gens de grandes rios encontram-se ilustrados nas f'
de carvão. A deposição parece obedecer ciclos. Nes- guras 10-3 a 10-8.
ta formação a geometria das camadas de carvão está
relacionada com a orientação dos principais canais Geologia ambiental e aplicada
distributários (Billingsley, 1978).
Os planos de utilização de determinadas bacias
Os fatores críticos necessários à formação de hidrográficas com múltiplos objetivos devem ser
carvão economicamente explorável são os seguin- acompanhados de estudos integrados, com previsão
tes ( W e i m e r , 1977): de obras de usinas hidroelétricas, de controle de en-
chentes, de captação de águas para uso urbano (in-
1) ambiente com águas límpidas não salinas.
dustrial e/ou doméstico) e agrícola (irrigação), etc.
A presença de silte e argila nas águas originaria um
folhelho carbonoso. O ambiente deve estar isolado Ocorre um decréscimo na infiltração natural das
de rios ou de canais de marés; águas pluviais em áreas com construção de edifícios
2) acumulação de detritos orgânicos proceden- e estradas, cem conseqüente rebaixamento do len-
tes unicamente de terra emersa; çol freático. A captação de águas dos rios para uso
urbano diminui a descarga a jusante do ponto de
3) equilíbrio entre o lençol freático e a inter-
captação. O despejo de dejetos não tratados, inclu-
face de sedimentação. A superfície do terreno deve
sive de esgotos, ocasiona a poluição, que pode ser
estar abaixo do lençol de água, evitando-se assim,
letal para a vida aquática e impede o uso da água,
o contato dos detritos vegetais com a atmosfera. A
a jusante, como fonte de suprimento ou para recrea-
profundidade não deve ser excessiva a fim de não
ção. O contínuo crescimento das cidades nas suas
prejudicar o desenvolvimento da vegetação. Profun-
margens aumenta a demanda de água para indústria,
didades maiores limitam o crescimento vegetal, redu-
que por seu turno pode despejar poluentes químicos
zindo a formação de carvão. Dois tipos de ambientes
na drenagem natural.
alagadiços ocorrem. Um deles é representado pelos
terrenos pantanosos periodicamente cobertos pelas A necessidade crescente de água pode conduzir
à construção de barragens a montante ou exigir a
captação de águas das bacias adjacentes. Todas essas
mudanças devem ser estudadas e o seu controle efe-
tuado no contexto das propriedades físicas dos sis-
temas de drenagem, inclusive dos processos de sedi-
mentação e erosão, eventualmente confrontando-se
os resultados com os de áreas não urbanizadas, para
avaliar as modificações introduzidas pelo homem.
- 162 -
Amazonia entre os 10% de solos melhores, encon- citam-se as planícies de aluvião do Iraque e do Egito.
tram-se os de várzea e a terra roxa. Para os solos de As últimas são férteis e apresentam manchas de ter-
várzea existe forte tendência de usá-los no plantio ras alcalinas. As águas do Nilo com baixo teor de
do arroz e na criação de búfalo. Entretanto, há urna carbonatos depositam material síltico-argiloso proce-
importante consideração a fazer: a floresta da vár- dente das áreas tropicais. As aluviões do Iraque são
zea é extremamente útil para a manutenção da pes- excessivamente salinas.
ca. O peixe constitui a maior fonte de proteína na
dieta da Amazonia. Durante as cheias, muitas das No nordeste da Turquia, o Eufrates deposita nas
espécies comerciais alimentam-se de frutas e se- enchentes aluvião alcalina de coloração castanho-cla-
mentes derivadas das matas de várzea. Estas espé- ra, ao passo que o Tigre que transborda no sudeste
cies, por sua vez são devoradas por outras carnívo- deste país, bem como no Curdistão e em Zagros dá
ras. As florestas de várzea desempenham pois, um origem a aluviões cinzento-pardas, ricas em carbo-
papel fundamental no desenvolvimento dos peixes nato de cálcio e magnésio ( B u n t i n g , 1971).
d a Amazônia ( L o v e j o y & S c h u b a r t , Ao sul de Bagdá entre ambos rios, existem três pai-
1979). sagens interfluviais representadas: 1) pelos níveis
sub-recentes; 2) pelas bacias nas proximidades de
Anteriormente à construção da represa de Assuã, ambos rios; 3) pelos desertos de permeio. Nos ní-
no baixo vale do Nilo todos os anos, em meados de veis de limo adjacentes aos canais de irrigação, os
junho, tinha lugar as cheias anuais trazendo para o soles não apresentam salinidade e são cultiváveis,
mar cerca de cinqüenta milhões de toneladas de limo tornando-se mais profundos com o decorrer do tem-
e vinte milhões de toneladas de sais em solução. O po. Os depósitos do rio principal são igualmente de
nível do rio subia vários metros, submergindo as limo, homogeneizado pelas tamareiras e pomares. Os
áreas ribeirinhas. As águas baixavam em outubro e o canais inferiores, mais antigos, naturais ou artificiais
rio entrava em seu leito em novembro. ostentam solos salinos originados pelo sal das águas
de irrigação. Existe grande contraste entre os férteis
Durante quatro meses a água impregnava o pomares de tamareiras que abrigam outras culturas
solo. Sobre ele depositavam-se sedimentos finos que e as bacias salinas estéreis das vizinhanças ( B u n -
contribuíam para fertilização das terras agriculturá- ting, 1971).
veis. As inundações benéficas podiam tornar-se ca-
tastróficas, caso não se tomassem cuidados na pro- Os solos do delta do Nilo e do vale desse rio,
teção das cidades e dos animais. variam desde as argilas fluviais até os solods e solos
solonétsicos muito transformados pela longa ativi-
No caso de enchentes insuficientes, as terras não
dade antrópica. Os solonets e os solods são solos
são irrigadas, fracassando a colheita, sobrevindo a fo-
alcalinos. Os últimos apresentam-se lixiviados e de-
me. Entretanto, o manejo da agricultura no vale do
gradados.
Nilo, principalmente no delta, vem sendo realizado
desde épocas protohistóricas. Célebres são as men- Os solos aluviais são classificados de acordo com
ções de anos de fartura e pobreza referidas na Bí- suas texturas e seus perfis texturais, o u , pela sua
blia, conseqüentes de controle climático de caráter zonal idade ou grau de evolução. São geralmente en-
cíclico. tissolos de cores claras, desenvolvidos sobre terrenos
A construção dos grandes diques que protegiam planos. Os processos de redução predominam de ma-
Memphis contra as grandes inundações é atribuída a neira discreta no subsolo, uma vez que as águas das
Mena, fundador da primeira dinastia. Bem antes, a planícies de inundação raramente são estagnadas
exploração dos solos negros necessitava do esforço fora das áreas pantanosas. Os solos aluviais de tex-
coletivo e do trabalho perseverante de uma popula- tura fina ou de nível hidrostático muito raso pos-
ção disciplinada, bem como da organização social suem baixa permeabilidade vertical, apresentando
apropriada. A construção, manutenção da rede de ca- camadas superficiais sempre úmidas, ricas em ma-
nais e distribuição da água constituía tarefa funda- téria orgânica e subsolos pouco desenvolvidos. Quan-
mental do governo responsável pelo bem-estar do do a textura é mais grosseira são melhor drenados
povo. Quando o governo dos faraós enfraqueceu, o e suas camadas superficiais secam mais facilmente
entusiasmo e a confiança das sociedades comunitárias ( B u n t i n g , 1971).
esmoreceram igualmente, tendo início as invasões,
sobrevindo a ruína da nação. Os perfis dos solos aluviais são multifásicos
apresentando camadas alternadas de cascalho, ma-
Muitas áreas desérticas mostram forte contraste terial fino e detritos orgânicos. Essas camadas rara-
entre os solos salinos e os áridos. Entre os exemplos mente são contínuas e sua textura é variada. Nas
- 163 -
grandes bacias hidrográficas com amplas planícies de detritos derivados de áreas montanhosas ou áridas,
inundação, as aluviões são transportadas a longas podem ser mais ricas em bases do que r-* solos
distâncias, sendo muito misturadas e desgastadas pe- encontrados em seus arredores formados a partir
la ação das águas. Nos terrenos aluviais mais estrei- das rochas locais.
tos, com rios menores, o material das aluviões é
muito semelhante ao dos solos adjacentes. Problemas relacionados com a erosão e as enchentes
Pode-se fazer referência a solos aluviais gerais O problema das enchentes afeta sobremodo as
e locais, de diversas idades. A posição dos solos alu- planícies aluviais (fig. 10-9). É bem conhecido o fato
viais com relação ao curso de água principal e às de que elas resultam de precipitações excessivas que
terras adjacentes mais elevadas, constitui fator de afetam as bacias hidrográficas. A cobertura florestal,
diferenciação pedológica. Podem ser distinguidos exercer até certo ponto um controle sobre o f l u x o das
cinco tipos principais de localização dos solos alu- águas pluviais, regularizando-o. Entretanto, mesmo
viais: 1) nos diques naturais, formados de detritos com a cobertura florestal da bacia hidrográfica os
mais grossos com nível hidrostático mais profundo;
2) nas aluviões arenosas, que possuem nível hidrostá-
tico de profundidade moderada situados no centro
das planícies de inundação; 3) nas faixas úmidas si-
tuadas nas proximidades dos níveis; 4) nos sítios
mais próximos das encostas dos vales, constituídos
de material fino, seco e muitas vezes esbranquiça-
dos; e 5) nas áreas constituídas de solo úmido tur-
foso. O processo de formação de turfa é mais ex-
tenso nas grandes planícies de inundação das zonas
climáticas mais frias.
- 164 -
plainos aluviais podem sofrer a ação de grandes
cheias, por ocasião de chuvas intensas e prolonga-
das. Muito antes da expansão da colonização do
vale do Itajaí-Açu, portanto anteriormente a derru-
bada de largos tratos de floresta, já Blumenau sofria
a ação ocasional de grandes cheias.
- 165 -
gião de Tubarão (SC) a maioria das pontes causando pequena, o q u e motivou o desmatamento irracional
danos a edificações, vias de comunicação e de trans- das vertentes íngremes. Blumenau e outras cidades
missão de energia (fig. 10-10). do vale sofreriam muito menos com as inundações
se as áreas montanhosas ainda fossem florestadas!
Durante a enchente de Tubarão, tanto no cam-
po como nas cidades e dentro das casas e lojas inun- Hoje constatamos que o rendimento agrícola au-
dadas, foram depositadas grandes quantidades de ferido com a utilização das vertentes íngremes (to-
sedimentos finos síltico-argilosos. talmente imprestáveis nos dias atuais com seus solos
A i n d a , com referência às enchentes, citemos co- erodidos e empobrecidos) não compensa em abso-
mo exemplo o vale do Itajaí-Açu (SC). Este rio dre- luto os prejuízos causados pelas cheias.
na uma área relativamente montanhosa com verten- O problema das enchentes no vale do Itajaí-
tes íngremes, teoricamente protegidas pelo Código Açu, ou de qualquer outro vale, continuará se agra-
Florestal Brasileiro. A extensão das áreas agricultu- vando consideravelmente no f u t u r o , mesmo com a
ráveis de aproveitamento racional é relativamente construção de barragens de controle.
- 166 -
No vale do Itajaí-Açu existe perigo de catás- são. Pouco ou quase nada se fez ou se faz para
trofe idêntica à que ocorreu no vale do Tubarão, combatê-la. E bem pouco são os agricultores de um
em março de 1974, caso as condições cismáticas pro- país subdesenvolvido, que empregam técnicas agrí-
piciem chuvas muito prolongadas, que venham cau- colas visando também a conservação dos solos. An-
sar deslizamentos generalizados nas regiões desflo- tes das derrubadas, os rios, transportavam pequena
restadas. O desastre, neste caso, será de conseqüên- carga de sedimentos. Agora esta é elevada; provém
cias mais graves do que na área de Tubarão, dadas da erosão dos solos das extensas áreas de agricul-
as características da bacia hidrográfica com seu es- tura primitiva e degradativa. Enormes e crescentes
trangulamento em Blumenau ( B i g a r e I I a , quantidades de lama e areia estão sendo levadas dos
1974). campos de cultura em direção ao mar. Antes de aí
chegarem, podem ser empilhadas nas encostas mais
Em conclusão, com a derrubada das florestas pa-
baixas, depositadas no leito ou nas várzeas dos rios,
ra fins agrícolas, os solos ficaram expostos à ero-
retidas nas barragens, reservatórios, canais de dre-
nagem ou baías, sempre causando prejuízos ( B i -
g a r e I I a , 1974).
- 167 -
laterais variam de 1:3 a 1:1, dependendo da nature- Tipos de revestimentos
za do terreno. Para terrenos arenosos pouco coesivos
O tipo mais simples de revestimento é o man-
a inclinação mínima (vertical: horizontal) é de 1:3,
to de grama cujo crescimento pode ser expontâneo
enquanto que para terrenos argilosos compactos a
ou artificial. Em terrenos muito permeáveis, uma ca-
Inclinação máxima seria de 1:1. No caso de esca-
mada de material argiloso cobrindo o perímetro mo-
vação em rocha a parede do canal pode ser vertical.
lhado, tem função de impermeabilizar parcialmente
A f o r m a , as dimensões da seção, bem como a as paredes e o f u n d o do canal. Ao contrário se o ca-
inclinação do canal dependem em grande parte da nal possui margens argilosas, torna-se aconselhável
velocidade da correnteza e da magnitude do f l u x o um revestimento de proteção.
e de sua carga. Estes valores devem ser levados em
Os tipos mais usados de revestimento são os
conta a f i m de evitar-se, seja um rápido assoreamen-
flexíveis representados pelos colchões Reno e pelos
to, ou seja um processo de erosão do f u n d o e das
gabiões (figs. 10-14 e 10-15). Os revestimentos de
margens do canal.
"pedras a seco" colocadas desordenadamente, trata-
0 canal natural geralmente apresenta proble- das ou não com betume, encontram grande aplicação
mas. O revestimento, quando necessário, contribui nas obras de proteção dos cursos de água naturais,
na solução de vários poblemas, como: mas são pouco utilizadas na proteção dos canais. As
"pedras a seco" constituem um revestimento muito
1 — Redução das perdas de água do canal, onde desordenado e irregular.
a água é escassa;
Outros tipos de revestimentos têm sido utiliza-
2 — Redução da drenagem do lençol freático; dos, como os regulares, os de alvenaria simples, os
3 — Melhoramento da estabilidade dos taludes. de conglomerado de cimento e os de material betu-
Os revestimentos são, via de regra apoiados sim- minoso. Cabe ao técnico a tarefa de escolher aquele
plesmente nas margens, porém as vezes constituem mais apropriado que possua as características de i m -
verdadeiros muros de contenção. Os taludes corta- permeabilidade, robustez, flexibilidade, aspereza,
dos em terrenos argüosos são instáveis com as va- durabilidade econômica, entre eles adotar o tipo de
riações do nível de água. O revestimento aumenta maior segurança. Os revestimentos flexíveis apre-
consideravelmente sua estabilidade; sentam determinadas vantagens sobre os rígidos ou
semi-rígidos devido a: 1) sua adaptabilidade as pe-
4 — Controle da erosão das margens e do f u n - quenas variações do ambiente; 2) sua capacidade de
do, oferecendo proteção mecânica aos agentes ero-
sivos. A seção transversal dos canais artificiais é cal-
culada de sorte q u e a velocidade da corrente não
supere o valor limite característico do material de
fundo. O revestimento pode ev\tar a queda dos
taSudes das margens, bem como protege os canais
naturais sujeitos a erosão na época das cheias;
- 168 -
acompanhar as acomodações da superfície; 3) — sua As estruturas em colchão Reno e os gabiões
construção simples, tanto fora como dentro da água; encontram grande emprego em vi rtude, principal-
4) — o emprego de mão-de-obra não especializada. mente, de três características importantes: 1) — defor-
mabilidade; 2) permeabilidade e; 3) — possibilidade
de trabalhar à tração. As estruturas são apoiadas di-
retamente sobre o terreno a ser protegido, para
isso, é necessário que o terreno seja suficientemen-
te estável e que sua inclinação não provoque desli-
zamento da obra. Estas condições, entretanto, não
são rígidas, pois ao contrário de outras estruturas,
os revestimentos em colchão Reno ou gabiões têm
capacidade de adaptar-se também aos movimentos
das margens, e podem em parte, sustentar-se apoian-
do-se ao sopé, principalmente quando sua espessu-
Fig. 10-15 — Estrutura básica das obras de gabiões às margens ra for elevada.
de r i o s . A base constitui uma p l a t a f o r m a de p r o t e ç ã o a p o i a d a so-
bre o l e i t o do r i o . Em caso de erosão, ela é f l e x í v e l a c o m p a n h a n d o
a erosão até detê-ía (baseado em C a m u z z i , 1978).
O colchão Reno encontra grande campo de em-
prego nas obras de proteção de canais, sendo utili-
zado, principalmente em obras cie defesa dos cur-
Gabiões e colchões Reno sos naturais com fundo estável e dos cursos de água
de qualquer natureza, onde é necessário defender
Os gabiões constituem embalagens de pedras da erosão as margens e as canalizações, devido à
dentro de redes -metálicas. Os gabiões tipo caixa são ação lenta e contínua das águas (figs. 10-16 e 10-17).
amplamente empregados na construção de obras de
defesa e regularização hidráulica e nos revestimentos No caso de riachos, nos quais as águas tenham
de margens de consideráveis espessuras (fig. 10-14). um forte poder erosivo, o revestimento em colchão
Reno pode complementar outras estruturas mais re-
Os colchões Reno podem ser empregados espe- sistentes e apropriadas à situação local.
cificamente para revestimentos hidráulicos de peque-
na espessura e de grande flexibilidade em canais e Os colchões Reno geralmente são colocados
cursos de água canalizados. Os colchões Reno com transversalmente às margens do curso de água (figs
diafragmas são constituídos por estruturas metálicas 10-18 e 10-19). Esta disposição, entretanto não é
em. forma de paralelepípedo de grande tamanho e obrigatória, sendo as vezes preferível dispô-los lon-
pouca espessura, divididos em celas. São fabrica- gitudinalmente à corrente nos revestimentos de fun-
dos com redes metálicas de malha hexagonal de du- do, e nos casos de cursos rápidos, também no mes-
pla torção, duplamente galvanizada e, as vezes pro- mo sentido sobre as margens. A espessura do re-
tegida com um revestimento plástico. O colchão Re- vestimento em colchões Reno depende da natureza e
no é enchido na obra com seixos rolados ou casca- do grau de estabilidade do terreno de apoio, da ve-
lhos de dimensões apropriadas. Apresenta muitas locidade da corrente e da sua capacidade de trans-
semelhanças com os gabiões tipo caixa, tendo como porte. Evidentemente, a espessura da estrutura pode
eles, a regularidade geométrica e o mesmo esquema ser tanto menor quanto mais estável e menos incli-
construtivo. Nos aspectos funcionais diferencia-se dos nado for o talude e quanto menor for a velocidade
da corrente (vide tabela 10-2).
gabiões, pois constituem estruturas destinadas a re-
vestimentos contínuos de alta flexibilidade.
- 169 -
gabiões tipo caixa com espessura de 0,5 a 1 m.
As obras mistas de colchões e gabiões tipo caixa
apresentam bons resultados. Prestam-se também à re-
gularização dos cursos de água de correnteza rápida
e de grande transporte de sólidos (figs. 10-20 e
10-21).
se/o
í/a eroeão
F i g . 10-17 — G a b i õ e s de p r o t e ç ã o do pé de um a t e r r o j u n t o a
curva d e u m r i o . N o corte e s q u e m á t i c o o n í v e l d a enchente m á - ^ffar^em ez/eferfe
x i m a d e v e ficar a b a i x o da crista do d i q u e (baseado em C a -
SEÇÃO A-A
m u z z i , 1978).
M * ** * k l
Os colchões Reno não são aconselháveis nos 1
j oo 'j ao '
t f
- 170 -
xifoüidade aumentando sua compacidade, bem como
dando maior eficácia protetora da estrutura. A ope-
ração pode ser feita tanto a seco como abaixo do
nível da água.
F i g . 10-21 — Barragens de a s s o r e a m e n t o e c o n t e n ç ã o de e n c h e n t e s ,
c o n s t r u í d a s c o m f i n a l i d a d e d e d i m i n u i r a v e l o c i d a d e das águas das
Fig. 10-19 — E m p r e g o d e g a b i õ e s e m d i q u e s o u e s p i g õ e s o b l í q u o s t o r r e n t e s ( b a s e a d o em C a m u z z i , 1978).
a o l e i t o d o r i o p a r a c o n t e r a e r o s ã o das m a r g e n s . N a área e n t r e
os e s p i g õ e s o c o r r e s e d i m e n t a ç ã o ( b a s e a d o em C a m u z z i ,
1978).
F i g . 10-22 — D e t a l h e d a r e c u p e r a ç ã o d e cabeceira d e u m a p o n t e
F i g , 10-20 - Barragens d e a s s o r e a m e n t o e c o n t e n ç ã o d e e n c h e n t e s c o m g a b i õ e s - c a i x a f u n d e a d o s s o b r e u m a e s t i v a d e gabiões-saco
(baseado e m C a m u z z i , 1978). (baseado em C a m u z z i ' , 11978).
- 171 -
Os gabiões podem ser igualmente empregados
em obras específicas como a construção de pilares PfiOTEÇAÕ 0£ EtVCOtfrPO M POtflf
COM 6A3/â£S/AfAA/r,4
de pequenas pontes, na defesa de pilares e da ca-
beceira de pontes, bem como na proteção de rodo-
vias ou ferrovias, entre outras aplicações (figs. 10-22
a 10-25).
d/e$ipadbro (BB) V
5$cx/otr/o
Superfície do fa/udr
- <?risfo do reiiestijne/tto
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L-H
F i g . 10-23 — P r o t e ç ã o de pilares de p o n t e s c o n t r a a e r o s ã o , c o m
um revestimento f l e x í v e l de gabiões (desenho superior). Em b a i x o , F i g . 10-25 — Proteção de pilares de p o n t e com g a b i õ e s d i s p o s t o s
a recuperação d a cabeceira d e u m a p o n t e com estruturas d e em f o r m a de a n e l . A e s t r u t u r a n ã o é presa ao p i l a r , e em caso
g â b i õ e s - c a i x a , f u n d e a d a s o b r e u m a estiva d e gabiões-saco ( b a s e a d o de e r o s ã o a c o m p a n h a esta, até estabilizá-la ( b a s e a d o em C a -
em C a m u z z Í , 1978). m u z z i 1978).
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Nota: A foto apresentada na figura 5-25 foi tirada por Erico Zwick e gentilmente cedida por Maria T.
Langer. As demais fotos são originais .
- 178 -
ÍNDICE DE AUTORES
- 179 -
Iriondo, M. — 24 Reineck, H . E . — 95, 97, 98, 101, 102, 104, 105, 109,
110, 111, 114
Janda, R.J| — 69 Reynolds, M . A . — 120, 121
Jopling, A . V . — 54, 60, 64, 65, 67, 70 Ricci, M. — 17
Kalinske, A . A . — 39 Richardson, E . V . — 31, 44, 46, 57, 70
Kennedy, J.F. — 96 Rodgers, J. —110
Knill, J. — 156 Rubey, W . W . —32, 42
Kolb, C.R. — 108 Rüssel, R.J. — 20
Koste — 40 Rust, B . R . — 103, 104, 153
Krumbein, W . C . —42 Saad, S. — 159
Krynine,P.H. — 110
Kutner, A . S . — 30 Salamuni, R. — 15, 106, 114, 148, 149, 150, 157
Sarkar, S.K. —106
Lattman, L . H . — 83 Schubart, H.O.R. — 163
Leighley, J.B. — 36 Schümm, S.A. — 38, 85
Leliavsky, S. — 37, 86 Selley, R . C . — 158
Leopold, L . B . — 20, 21, 30, 49, 50, 72, 74, 75, 81, Shamov — 86
82, 83, 85, 89, 92, 97 Schantzer — 95, 96
Love joy, T.E. — 163 Sharp, C.F.S. — 74
Shepard, F . P . —114
Maack, R. — 2 Siemers, Ch.T. — 161
Maddock, T. — 49, 50, 92 Silva, J.X. —20, 76, 114
Major Jr., C.F. — 95, 153 Simons, D . B . — 25, 31, 34, 44, 45, 46, 55, 56, 57
Marques Fo., P.L. — 114 Singh, I . R . — 95, 97, 98, 101, 102, 104, 105, 109,
Mc Cullach, D . S . — 69 110, 111, 114
McGee J . W . 72 Skinner, B.J. — 159
McGowen, J.H. — 89, 98, 99, 151,153, 155 Sloss, L.L. — 42
McKee, E.D. — 52, 53, 60, 61, 62, 63, 64, 67, 111, Smith, N . D . — 90, 154
112, 113, 114, 120, 121 Sorby, H . C . — 1, 56
Southard, J.B. — 45
Miller, J.P. — 72, 75, 81, 82, 83, 89, 97 Spearing, D . R . — 115
Moody-Stuart, M. — 96 Spitzner, R. — 160
Morales, R . G . — 151 Steinmetz, R. — 98
Morisawa, M. — 37, 72 Strahler, A . N . —19
Mousinho, M . R . — 19, 20, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, Suguio, K. —20, 30, 157
80, 81, 82, 83, 105, 106, 114, 125, 128, 129, 133, Sundborg, A. — 34, 35, 37, 57, 85, 98
140, 141, 142, 143, 157 Sykes, G . C . — 92
Muller, G. — 40
Takahashi, L . I . — 157
Nedeco — 92 Tanner, W.F. — 8, 58
Nordin Jr., C.F. — 44, 57 Thornbury, N . D . — 80, 81
Thornthwaite, C . W . — 74
Ojeda, H . A . O . y— 151 Tjalsma, R . C . — 65, 67, 68
Ore, H . T . — 154
Ottman, R . E . — 9 Van Meene, E . A . — 65, 67, 68
Verdade, F . C . — 110
Papetti, A. —167,169 Visher, G . S . —95
Pepper, J.F. — 155
Petri, S. — 17 Walker, R.G. — 60
Piazza, H. Delia — 151 Weimer, R.J. — 160, 161, 162
Picard, M . D . — 60 Weir, G . W . —52, 53
Pienaar, P.J. — 158 Williams, G . E . — 68, 69
Powell, J . W . —1 Williams, P.E. — 103, 104, 153
Wisler C O 9
Radesca, M . L . P . S . — 13 W o l m a n / M . G . — 20, 21, 50, 72, 74, 75, 81, 82, 83,
Ramos, J.R.A. — 159 85, 89, 92, 97
Reid, W . H . —50 Wooldridge, S.W. —156
- 180 -
C O N T E Ú D O
Prefácio v
1 - GENERALIDADES 1
2 - HIDROLOGIA 3
Qual é o conceito de rio? 3
O ciclo hidrológico 3
Distribuição das águas no globo terrestre 5
Relação entre precipitação e escoamento 6
Capacidade de infiltração 9
Evapotranspiração 10
Influência geológica 11
Influência climática 12
- 181 -
Transporte por tração 39
Transporte por saltação 39
Transporte por suspensão 40
Velocidade de decantação das partículas 40
Lei de Stokes 40
Lei do impacto 41
Transporte seletivo das partículas 42
- 182 -
Depósitos de barras de corredeira 100
Depósitos de barras longitudinais e transversais . . . 100
Barras de canal e depósitos de rios anastomosados . . 101
B — Depósitos de transbordamento 107
Depósitos de bacias de inundação 109
Depósitos de planícies de inundação 110
Estruturas convolutas 112
C — Depósitos de rompimento de diques 112
D — Depósitos de preenchimento de canais 113
E — Depósitos de leques aluviais 114
a) Tamanho e forma 114
b) Textura e composição 115
c) Fácies sedimentares e processos deposicionais . . 115
Depósitos de corridas de detritos 116
Depósitos residuais 116
Depósitos transicionais 116
Sedimentos subaquáticos 116
F — Alguns exemplos de leques aluviais no Brasil 117
Catástrofe de Tubarão (março 1974) 117
Miniatura de leques aluviais 118
G — Depósitos fluviais do Quaternário Brasileiro 119
a) Plaino aluvial do rio Iguaçu 119
b) Terraços do Rio São Francisco 123
c) Planície aluvial em Riachão (BA) 126
d) Terraços do rio Gurgueia (PI) 127
e) Plaino aluvial do rio Mauricio 128
f) Terraços do vale do rio Ribeira 140
g) Terraços do vale do rio Itajaí-Mirim (SC) 140
H — Depósitos fluviais do Grupo Barreiras 143
I — Arenitos fluviais pré-Cenozóicos 148
BIBLIOGRAFIA 173
CONTEÚDO 181
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Impresso na Imprensa Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis - Santa Catarina - Brasil
em Novembro de 1990