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Módulo de Didáctica de Ciências

Naturais para o Ensino Básico

Universidade Pedagógica
Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo

Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720

Fax: (+258) 21-322113

Centro de Educação Aberta e à Distancia


Programa de Formação à Distância

Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto

Telefone: (+258) 82 3050353

e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com

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Ficha técnica

Autoria: Pedro Teresa Sitoe


Revisão Científica: Susann Müller
Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Suzete Buque
Edição Linguística: João Armazia
Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro
Capa: Gaël Epiney

Primeira Edição © 2016


Impresso e Encadernado por:

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.

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Índice
Visão Geral do Módulo .................................................................................................................................................... 5

Unidade no 1: Objectivos e Conteúdos das Ciências Naturais ...................................................................................... 13

Lição no 1: Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” ............................................................................................ 14


Conceito de Didáctica e Didáctica de Ciências Naturais ............................................................................ 15
Conceito de Didáctica ............................................................................................................................... 15
Conceito “Didáctica de Ciências Naturais” ................................................................................................ 15
Objecto de Estudo da Didáctica de Ciências Naturais ................................................................................ 15
Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras Ciências ........................................................... 17
Importância da Didáctica de Ciências Naturais ......................................................................................... 18
o
Lição n 2: Conteúdos das Ciências Naturais” ....................................................................................................... 21
Conceito de Conteúdo e sua classificação ............................................................................................... 22
Conceito de Conteúdo .............................................................................................................................. 22
Classificação dos Conteúdos ................................................................................................................... 22
Critérios de Selecção dos Conteúdos ...................................................................................................... 22
Procedimentos metodológicos para a formulação de conteúdos ............................................................. 25
Lição no 3: Objectivos ............................................................................................................................................ 31
Conceito de Objectivo e sua classificação................................................................................................ 32
Conceito Objectivo ................................................................................................................................... 32
Classificação dos Objectivos .................................................................................................................... 32
Características, Propriedades e Elementos dos Objectivos ..................................................................... 36
Formulação dos Objectivos ...................................................................................................................... 37
Unidade no 2: Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino das Ciências Naturais................................................... 43

Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos ....................................................................................................... 44


Actividades cognitivas ............................................................................................................................. 45
Função das Actividades Cognitivas........................................................................................................... 45
Classificação das Actividades Cognitivas ................................................................................................. 45
o
Lição n 2: Meios de Ensino................................................................................................................................... 52
Conceito e Função Geral de Meios Didácticos .......................................................................................... 53
Conceito Meios Didácticos ....................................................................................................................... 53
Função geral dos Meios Didácticos .......................................................................................................... 53
Funções específicas dos Meios Didácticos ............................................................................................... 53
Factores para a escolha dos Meios Didácticos ........................................................................................ 54
Classificação dos Meios Didácticos .......................................................................................................... 57
Importância dos Meios Didácticos ........................................................................................................... 58
Propostas de Temas para Investigação ....................................................................................................................... 61

Unidade no 3: Organização do ensino das Ciências Naturais ..................................................................................... 64

3
Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos ....................................................................................................... 65
Fundamentos para a Planificação ............................................................................................................ 66
Elaboração do Plano de aula .................................................................................................................... 69
o
Lição n 2: Excursão ..............................................................................................................................................77
Excursão Didáctica .................................................................................................................................. 78
Excursão Didáctica .................................................................................................................................. 78
Etapas da Planificação da Excursão ......................................................................................................... 78
Importância da Excursão para Estudo das Ciências Naturais .................................................................. 79
Propostas de Temas para Investigação ....................................................................................................................... 81

Bibliografia Geral .......................................................................................................................................................... 85

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Visão Geral do Módulo
Introdução
Bem vindo ao Módulo “Didáctica de Ciências Naturais”
O Homem sempre soube da importância da educação para a sua formação integral.
Os fenómenos naturais são objectos muito fascinantes de interpretação para o
Homem e por isso, se preocupou em procurar formas de sistematizar todo o
conhecimento a eles relacionados, numa área denominada Ciências Naturais.
A Didáctica de Ciências Naturais surge como resposta à necessidade de viabilizar o
ensino dessa disciplina científica.
Terminado o estudo do módulo de Didáctica de Ciências Naturais você poderá ser
capaz de planificar e executar com sucesso as aulas de Ciências Naturais para o
ensino básico. Este módulo possui três unidades temáticas e um total de 7 lições

5
Objectivos do Módulo
O módulo tem o objectivo de tornar você capaz de:
 Adquirir conhecimentos metodológicos de trabalho que permitam uma
futura intervenção inovadora, globalizante, integrada, activa e flexível;
 Promover a interdisciplinaridade do conhecimento e da avaliação de
diferentes áreas de competências visando a iniciação à prática profissional;
 Compreender a importância e a necessidade da articulação dos
conhecimentos científicos nas suas vertentes natural e na compreensão do
mundo;
 Desenvolver metodologias activas e integradoras dos diferentes saberes,
que permitam o desenvolvimento de competências cognitivas, socio-
afectivas e psicomotoras da criança;
 Elaborar materiais didácticos, que permitam um desenvolvimento e
formação harmoniosos da criança.

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Estrutura do Módulo
O curso está estruturado em unidades. Cada unidade inclui uma introdução,
objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de
aprendizagem, um sumário da unidade e uma ou mais actividades para auto-
avaliação.

Para permitir maior compreensão no seu estudo, o módulo apresenta a seguinte


estrutura:
Páginas introdutórias
Um índice completo.
Uma visão geral detalhada do curso/módulo, resumindo os aspectos-chave que
você precisa conhecer para completar o estudo. Recomenda-se vivamente que leia
esta secção com atenção antes de começar o seu estudo.
Conteúdo do módulo
O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade tem uma introdução,
objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de
aprendizagem, um sumário da unidade e exercícios com uma ou mais
actividades para auto-avaliação no final de cada lição e de cada unidade.

A quem se destina o Módulo


Este Módulo foi concebido para todos aqueles que estão inscritos no Curso de
Licenciatura em Ensino Básico à distância, fornecido pela Universidade
Pedagógica. Constitui-se como um dos instrumentos fundamentais para que você
realize com sucesso o ensino de Ciências Naturais, usando técnicas e métodos
necessários para interpretar os fenómenos naturais e, a partir deles elaborar
conteúdos acessíveis à compreensão dos alunos durante a sua planificação de aulas.

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Avaliação
Serão realizados dois testes escritos e quatro trabalhos para investigação com oito
temas que se encontram no final de cada unidade, incluindo a planificação de
unidades temáticas, aulas e produção de material didáctico.

No final do módulo, a avaliação final poderá ser através de um exame escrito ou


oral.

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Ícones de Actividades
Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e
facilmente localizar cada um dos elementos da lição, foram usados marcadores de
texto do tipo ícones. Os ícones (na sua maioria) foram concebidos pelo CEMEC
(Centro de Estudos Moçambicanos e Etnociência) da Universidade Pedagógica.
Tomou-se em consideração a diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a
seguir, a lista de ícones, o que a figura representa e a descrição do que cada um
deles indica no módulo:

1. Exercício 2. Actividade 3. Auto-Avaliação

[enxada em actividade] [colher de pau com alimento [peneira]


para provar]

4. Exemplo/estudo de caso 5. Debate 6. Trabalho em grupo

[Jogo Ntxuva]
[à volta da fogueira] [mãos unidas]

7. Tome nota/Atenção 8. Objectivos 9. Leitura

[estrela cintilante] [livro aberto]


[batuque soando]

9
10. Reflexão 11. Tempo 12. Resumo

[sentados à volta da
[sol]
fogueira]
[embondeiro]
13. Terminologia/ 14. Vídeo/Plataforma 15. Comentários
Glossário

[computador] [balão com texto]

1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com um tipo de trabalho, indica que é
preciso trabalhar e pôr em prática ou aplicar o aprendido.
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é momento de realizar uma
actividade diferente da simples leitura, e verificar como está a ocorrer a aprendizagem.
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso indica que existe uma proposta
para verificação do que foi ou não aprendido.
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido comparativamente ao jogo de
Ntxuva em que cada jogo é um caso diferente.
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente ou usando a plataforma digital)
para troca de experiências, para novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.
6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de entreajuda, que se apoiem uns aos
outros
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo que deverá aprender a fazer ou a
fazer melhor
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter informações adicionais através de livros
ou outras fontes.

10
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento para fortalecer as suas ideias,
para construir o seu saber.
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á realização de uma tarefa ou
actividade, estudo de uma unidade ou lição.
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira como é costume fazer-se para se
contar histórias. É o momento de sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na
unidade.
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta, indica que se apresenta a
terminologia importante nessa lição ou então que se apresenta um Glossário com os termos mais
importantes.
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo para ser visto ou que existe uma
actividade a ser realizada na plataforma digital de ensino e aprendizagem.
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar a verificar as suas respostas às
actividades, exercícios e questões de auto-avaliação.

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Conteúdos

Unidade no 1: Objectivos e Conteúdos das Ciências Objectivos e


Naturais Conteúdos das
Lição no 1: Conceito “Didáctica de Ciências Naturais”
Ciências Naturais
Conceito de Didáctica e Didáctica de Ciências Naturais
Conceito de Didáctica
Conceito “Didáctica de Ciências Naturais”

UNIDADE
1
Objecto de Estudo da Didáctica de Ciências Naturais
Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras
Ciências
Importância da Didáctica de Ciências Naturais
Lição no 2: Conteúdos das Ciências Naturais”
Conceito de Conteúdo e sua classificação
Conceito de Conteúdo
Classificação dos Conteúdos
Critérios de Selecção dos Conteúdos
Procedimentos metodológicos para a formulação de
conteúdos
Princípios
Lição no 3: Objectivos
Conceito de Objectivo e sua classificação
Conceito Objectivo
Classificação dos Objectivos
Características, Propriedades e Elementos dos Objectivos
Formulação dos Objectivos

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o
Unidade n 1: Objectivos e Conteúdos das Ciências Naturais
Introdução Bem vindo à primeira unidade do Módulo de Didáctica de Ciências Naturais. No
nosso quotidiano, qualquer actividade que executamos possui uma finalidade
objectiva ou subjectiva e, tendo em conta isso, a executamos de forma específica.
Em relação ao ensino de Ciências Naturais, cada fenómeno ou processo que se
ensina constitui um conteúdo e para medirmos a materialização da sua
transmissão é necessário definirmos com clareza os objectivos. Nesta unidade
abordaremos os conceitos básicos de Didáctica, sua aplicação no âmbito do
ensino das Ciências Naturais, bem como os objectivos e conteúdos das Ciências
Naturais.
Esta unidade tem 3 lições. O tempo de leitura da unidade é de 125 minutos e o
tempo de resolução das actividades é de 100 minutos.

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Conhecer os objectivos e conteúdos das Ciências Naturais;
 Seleccionar os conteúdos de ensino de Ciências Naturais para a
planificação de uma aula;
 Operacionalizar os objectivos de uma aula de Ciências Naturais através
Objectivos da planificação das aulas.

13
o
Lição n 1: Conceito “Didáctica de Ciências Naturais”
Introdução Para iniciarmos a nossa abordagem sobre a conceptualização da Didáctica de
Ciências Naturais, iremos discutir a origem da palavra Didáctica e seguidamente
faremos o seu enquadramento no contexto das Ciências Naturais. Por isso, nesta
lição apresentamos o conceito da Didáctica de Ciências Naturais, bem como os
objectivos que norteiam o seu estudo e a sua pertinência para você ter sucesso no
ensino das Ciências Naturais.

Ao terminar esta lição você será capaz de:


• Conceituar a Didáctica de Ciências Naturais;
• Relacionar a Didáctica de Ciências Naturais com outras ciências;

Objectivos • Descrever a importância da Didáctica de Ciências Naturais.

Tempo de Leitura: 30 minutos

Tempo

Didáctica, Ciências Naturais


Terminologia

14
Conceito de Didáctica e Didáctica de Ciências Naturais

Conceito de Didáctica
A palavra “Didáctica” vem da expressão grega techné didaktiké, que se pode
traduzir como arte ou técnica de ensinar.

Segundo LIBÂNEO (1992: 25), Didáctica é a teoria de ensino que investiga os


fundamentos, as condições e as formas de realização do ensino.

Conceito “Didáctica de Ciências Naturais”


A Didáctica de Ciências Naturais é uma das ramificações da Didáctica que
especifica as técnicas e métodos para a transmissão ou mediação dos conteúdos
específicos das Ciências Naturais.
Como área específica, a Didáctica de Ciências Naturais observa, analisa e
controla os sistemas de parâmetros das aulas de Ciências Naturais, explorando
todos os mecanismos necessários para dotar o professor de instrumentos úteis na
planificação das suas aulas, tendo em conta a observação e experimentação.

Objecto de Estudo da Didáctica de Ciências Naturais


O objecto de estudo da Didáctica de Ciências Naturais é a educação como um
todo onde esta observa:
 O saber e a transposição didáctica do conhecimento;
 O trabalho do aluno;
 O trabalho do professor;
 O sistema do conhecimento científico das Ciências Naturais;
 Os métodos de pesquisa e as estratégias metodológicas de ensino de
Ciências Naturais.

Uma coisa deve ficar clara quando falamos de transposição didáctica, é que o
conhecimento científico organizado em áreas do saber científico precisa de ser
tansformado pelo professor num saber escolar útil para o quotidiano do aluno,
respeitando as suas potencialidades e limitações concretas. Por exemplo, se

15
você quer ensinar técnicas de conservação de pescado aos alunos, poderá
recorrer a transposição didáctica para permitir a adaptabilidade das técnicas
científicas existentes às condições materiais concretas da comunidade onde a
escola e o aluno estão inseridos, podendo privilegiar as técnicas de frio,
salgamento ou fumagem adequadas.

1. Enquadre o conceito Didáctica no contexto da Pedagogia.


2. Como podemos aplicar o conceito de Didáctica no âmbito das
Ciências Naturais?

Actividade

Antes de reponder as actividades acima colocadas, deve se recordar que


aprendeu a relação entre a Didáctica e a Pedagogia no módulo de Didáctica
Geral. Entretanto, deve ter se lembrado que a Didáctica é a parte da Pedagogia
que se ocupa dos métodos e técnicas de Ensino, destinados a colocar em
prática as directrizes da teoria pedagógica. Mas estaria ainda num caminho
Feedback certo se tivesse referido que a Didáctica é entendida como a Ciência que
investiga as regularidades durante o processo de transmissão ou mediação de
conteúdos pelo professor assim como de aquisição de conhecimentos pelos
alunos. Portanto, se tomarmos em consideração a reflexão de SOUSSAN
(2003: 48), a Didáctica deve ser considerada como o estudo das relações entre
o sujeito de aprendizagem (aluno) e o objecto da aprendizagem ou seja os
conteúdos a serem ensinados, no nosso caso, as Ciências Naturais.
De acordo com NIVAGARA (s.d.: 22), o educador Jan Amos Komenský,
mais conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da didáctica
moderna, e foi um dos maiores educadores do século XVII.

16
Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras Ciências

A Didáctica de Ciências Naturais não pode ser vista de forma isolada, mas sim de
forma integrada, considerando que ela se insere no grupo de outras ciências.
Neste âmbito, a Didáctica de Ciências Naturais, como toda outra didáctica,
insere-se dentro da Pedagogia, concretamente na Pedagogia do Ensino Escolar.
Por ser uma ciência pedagógica, enquadra-se no contexto das ciências humanas e
interactua com elas, buscando delas alguns subsídios para a sua viabilização.

Preste atenção na figura abaixo:

Fig. 1 – Relação entre a Didáctica de Ciências Naturais e outras ciências


(MÜLLER, 2005: 6 - adaptado)

De acordo com a figura acima, cada ponta da estrela representa uma área de
conhecimento com um conjunto organizado de conteúdos que fornecem bases
para o aprofundamento da compreensão na abordagem da Didáctica de Ciências
Naturais. Por exemplo, no contexto do ensino das Ciências Naturais, se por um
lado a Didáctica fornece as bases metodológicas de ensino de uma maneira geral,
a Psicologia fornece os pressupostos psicológicos que devem ser tomados em

17
conta no âmbito da planificação e leccionação das aulas, alinhados com os
conteúdos específicos das Ciências Naturais.

Importância da Didáctica de Ciências Naturais

A importância da Didáctica de Ciências Naturais insere-se na necessidade de


viabilizar a leccionação das Ciências Naturais no Ensino Básico.

Segundo COSTA (1999: n.p.), durante muitos anos o ensino das ciências nos
diferentes níveis de escolaridade esteve centrado na memorização de conteúdos,
na realização de actividades de mecanização e na aplicação de regras para a
resolução de questões semelhantes às anteriormente apresentadas e resolvidas
pelo professor. Esta visão mecanicista entendia as ciências como um corpo
organizado de conhecimentos e regras a aprender e a aplicar sem qualquer ligação
com a realidade.

Uma das razões que justifica a inclusão das Ciências da Natureza no currículo do
Ensino Básico é a necessidade de os alunos adquirirem um conjunto de
conhecimentos e competências essenciais para se iniciarem no estudo das
Ciências. Este é o papel da disciplina de Ciências Naturais visto na perspectiva da
própria ciência. O papel desta disciplina no currículo justifica-se também na
perspectiva do indivíduo, pelo seu importante contributo para o desenvolvimento
de capacidades na criança. Justifica-se, ainda, na perspectiva da sociedade ao
permitir à criança adquirir uma compreensão científica dos fenómenos e
acontecimentos que compõem o mundo físico e social de que faz parte
(PEREIRA, 1992: n.p. apud COSTA 1999: n.p.).

Segundo LIBÂNEO (1990: 55), é típico da Didática investigar os nexos e


relações entre o acto de ensinar e o acto de aprender. Neste contexto, a Didáctica
de Ciências Naturais permite compreender a actividade de mediação para
promover um encontro formativo e educativo entre o aluno e a matéria de ensino,
estabelecendo-se um vínculo entre a teoria de Ensino e a teoria de
Conhecimento.

18
Resumo  A Didáctica é a parte da Pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de
ensino, destinados a colocar em prática as directrizes da teoria pedagógica.
 A Didáctica de Ciências constitui-se como uma das ramificações da
Didáctica que especifica as técnicas e métodos para a transmissão ou
mediação dos conteúdos específicos das Ciências Naturais.
 A Didáctica de Ciências Naturais não pode ser vista de forma isolada, mas
sim de forma integrada, considerando que ela se insere no grupo de
ciências as quais é dependente e outras que dela dependem (veja a figura
1).
 A importância da Didáctica de Ciências Naturais insere-se na necessidade
de viabilizar a leccionação das Ciências Naturais, permitindo compreender
a actividade de mediação para promover um encontro formativo e
educativo entre o aluno e a matéria de ensino.

Auto-Avaliação 1. Explique por palavras suas o conceito de Didáctica de Ciências


Naturais.
2. Mencione o objecto de estudo da Didáctica de Ciências Naturais.
3. Enquadre a Didáctica de Ciências Naturais nas Ciências Pedagógicas.
4. A Didáctica é a Ciência que ensina Ciências. Argumente.

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Comentários 1. Para responder essa pergunta deve inicialmente ter em conta o conceito
Didáctica e, em seguinda, fazer um enquadramento no contexo das
Ciências Naturais. No final compare a sua resposta com a que se encontra
na parte inicial desta lição.

2. Se tiver optado por responder que o objecto de estudo da Didáctica de


Ciências Naturais é o saber e a transposição didáctica do conhecimento, o
sistema do conhecimento científico das Ciências Naturais e os métodos de
pesquisa bem como as estratégias metodológicas, está no caminho certo.

3. A Didáctica de Ciências Naturais insere-se dentro da Pedagogia,


concretamente a Pedagogia do Ensino Escolar.

4. Para esta pergunta, deve explorar a sua capacidade de argumentar, sem


se esquecer de entre outros aspectos, referir-se ao facto de ser através da
Didáctica que as demais ciências são ensinadas, isto é, todo o
conhecimento para ser aprendido, precisa de ser transformado e adequado
didacticamente para o seu ensino.

20
o
Lição n 2: Conteúdos das Ciências Naturais
Introdução Na lição anterior você aprendeu a definir a Didáctica de Ciências Naturais e a
fazer o seu enquadramento e relacionamento com as outras ciências. Ora, agora
vamos entender como seleccionar e combinar os conteúdos a leccionar. Nesse
contexto, devemos estar sempre em alerta pelo facto de que os conteúdos
científicos que representam as Ciências Naturais são de uma vasta variedade e
complexidade, pelo que, caberá a si no futuro, como professor, definir de acordo
com o programa de ensino o que dever ser ensinado e como deve ser ensinado.

Ao terminar esta lição você será capaz de:


• Definir o conceito de conteúdo;
• Classificar os conteúdos das Ciências Naturais;

Objectivos • Identificar os critérios de selecção dos conteúdos

Tempo de Leitura: 45 minutos

Tempo

Conteúdo, interdisciplinaridade, assimilação activa.

Terminologia

21
Conceito de Conteúdo e sua classificação

Conceito de Conteúdo
Conteúdo é a escolha consequente dos resultados duma ciência
organizados pedagógica e didacticamente, tendo em vista a assimilação
activa e a aplicação pelos alunos na sua prática da vida (MÜLLER,
2005: 14).

Classificação dos Conteúdos


Segundo MÜLLER (2005: 14), o conteúdo de Ciências Naturais pode
ser classificado em duas categorias: conteúdo do programa de ensino e
conteúdo de processo de aquisição.
O conteúdo do programa de ensino é aquele que você encontra patente
nos programas para as diversas classes, por exemplo a matéria nova e
as orientações metodológicas. Entretanto, existe uma segunda categoria
de conteúdos que, não estando necessariamente inscrito nos programas
de ensino, eles influenciam a aprendizagem do aluno, através do seu
contacto permanente, por exemplo, as imagens patentes no espaço
público (cartazes, panfletos, placas, etc.), revistas, bem assim as
informações que o aluno recebe no seu convívio do quotidiano através
da aquisição emocional.

Critérios de Selecção dos Conteúdos


Quando se pretende seleccionar o conteúdo da matéria nova a ser
objecto de leccionação é preciso ter em conta vários critérios de modo a
adequar o conteúdo existente nos programas de ensino.

22
1. Imagine que você tenha que planificar uma aula e tem consigo o
programa de ensino e o manual do professor, como vai decidir que
conteúdo deve incluir na sua aula?

Actividade 2. Como vai avaliar a aplicabilidade do conteúdo ensinado?

Em relação às actividades de reflexão acima colocadas, compare as suas


reflexões com as que se seguem.
 Tendo em conta que o sujeito de aprendizagem é o aluno, logo, o
primeiro elemento a ter em conta na selecção do conteúdo é o aluno.
Este, torna-se crucial pois é o epicentro da actividade docente, por
Feedback isso, todo o conteúdo seleccionado deve ter em conta inicialmente sua
natureza, suas particularidades e anseios de forma a corresponder aos
seus interesses, no âmbito do desenvolvimento da sua personalidade.
Em segundo vamos ter em consideração a sociedade onde decorre a
aprendizagem, tendo em consideração que o aluno não é um sujeito
isolado, está inserido numa sociedade e a actividade docente deve
igualmente centrar a sua actuação na satisfação presente e futura da
sociedade onde o aluno está inserido. Por último, mas não menos
importante, é necessário que os conteúdos seleccionados
correspondam à disciplina que se está a leccionar, no caso particular,
as Ciências Naturais, reflectindo o conjunto de conhecimento
organizado desta ciência.
 Em relação a aplicabilidade do conteúdo, é necessário que depois da
aula, você avalie se a matéria aprendida teria gerado mudanças de
comportamento, atitudes e convicções nos alunos para o seu
quotidiano. Certamente que o momento mais marcante desta avaliação
será nas provas que você irá administrar aos alunos.

23
Em suma, um dos principais critérios para a selecção dos conteúdos é
considerar o aluno, sociedade e disciplina científica. Esta relação pode ser
representada da seguinte maneira:

Fig. 2 – Critério de selecção dos conteúdos

Entretanto, você pode usar um outro sistema de critérios, que nos remete
analisar a:
 Utilidade: os conteúdos devem ter aplicação no quotidiano dos alunos;
 Validade: os conteúdos devem representar o conjunto de conhecimento
organizado e actualizado;
 Significância: os conteúdos devem ter impacto na vida dos alunos;
 Flexibilidade: os conteúdos devem ser susceptíveis a renovação constante;
 Viabilidade: os conteúdos devem ser compatíveis com todos os recursos
(tempo disponível e meios de ensino).

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Procedimentos metodológicos para a formulação de conteúdos

Para a formulação dos conteúdos, podemos considerar dois procedimentos


metodológicos ou métodos: métodos dedutivo e indutivo.

Método Indutivo

De acordo com LAKATOS (1991: 47) este método consiste em partir de uma
situação particular, para tirar uma conclusão, ou seja, parte-se do específico para
o geral.
Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou
universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objectivo dos
argumentos é levar à conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das
premissas nas quais se basearam. Esse processo ocorre em três etapas,
nomeadamente, a observação dos objectos, fenómenos ou processos, em seguida
descobrir a relação entre eles e finalmente generalizar a relação. Para as Ciências
Naturais, podemos ter os seguintes exemplos:

25
Método Dedutivo

De acordo com LAKATOS (1991: 56), este método caracteriza-se em partir de


uma situação geral e genérica para uma situação particular.
A dedução é o processo mental contrário à indução. Através da indução, não
produzimos conhecimentos novos, porém explicitamos conhecimento que antes
estava implícito.

Exemplos:
Todo mamífero tem um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos.
Logo, todos os cães têm um coração.

Todo vertebrado possui vértebras.


Ora, todos os macacos são vertebrados.
Logo, todos macacos possuem vértebras.

Princípios didácticos da estruturação dos conteúdos

A estruturação dos conteúdos significa em outras palavras a selecção e a


combinação destes.

Deve-se sempre ter em conta que do vasto conteúdo existente na disciplina de


Ciências Naturais podemos encontrar conteúdo importante e conteúdo essencial,
tal como mostra o diagrama abaixo.

26
Fig. 3 – Hierarquia do conteúdo tendo em conta a sua relevância

Na combinação dos conteúdos a leccionar, o professor deve ter em conta alguns


princípios didácticos, tais como:
 Princípio de espiral;
 Princípio da interdisciplinaridade;
 Princípio da centralização do Homem;
 Princípio da situação;
 Princípio da ecologia;
 Princípio da aplicação;
 Princípio de consideração do empírico e teórico;
 Princípio de consideração dos aspectos históricos;
 Princípio da hierarquia da matéria viva.

Cada princípio didáctico acima indicado apresenta suas características


específicas. Veja em seguida a descrição de cada princípio didáctico na tabela que
se segue:

27
Tabela 1: Princípios didácticos para a estruturação da matéria nova

Princípios
Características básicas
didácticos
Baseia-se no fundamento de que a criança não é um adulto em miniatura e nem
uma tábua rasa. Por isso, a estruturação dos conteúdos deve sempre ter em conta os
Princípio de conhecimentos prévios dos alunos, as suas necessidades presentes e as
espiral necessidades futuras. No princípio de espiral deve-se ter em consideração a
possibilidade de abordar o mesmo assunto ao longo de vários níveis de ensino com
vários níveis de complexidade ou profundidade.
Princípio da Tendo em conta este princípio, o professor deve estruturar os conteúdos,
situação respeitando as vivências dos alunos, baseadas em situações quotidianas.
Os conteúdos devem ser estruturados tendo em conta os componentes individuais,
Princípio da
sociais e ecológicos, isto é, deve-se respeitar a relação entre o Homem e o meio
ecologia
ambiente.
Os conteúdos devem ser estruturados tendo em conta a satisfação das necessidades
dos alunos. Todo o processo de aprendizagem deve ter como consequência uma
Princípio da
modificação no comportamento do educando, como resultado dos conhecimentos,
aplicação
habilidades e atitudes adquiridas. Neste âmbito, a aprendizagem ocorre tendo em
conta o contexto do aluno.
Princípio da De acordo com este princípio, o professor deve ter em conta que o Homem está no
centralização do centro das atenções de toda a actividade educativa.
Homem
Princípio da A estruturação do conteúdo deve ter em conta as diversas áreas do saber que estão
interdisciplinarid estritamente relacionadas com as Ciências Naturais, tendo em conta uma
ade abordagem transversal dos diversos conteúdos.
Princípio de Segundo este princípio, o professor deve valorizar os conhecimentos dos alunos,
consideração do adquiridos com a sua experiência, combinando-os e sistematizando-os em teorias e
empírico e leis.
teórico
Princípio de A história da ciência é um elemento importante e encorajador para os alunos, pois
consideração dos mostra que o conhecimento actualmente existente foi se acumulando ao longo de
aspectos várias gerações e que os alunos participam activamente nessa acumulação.
históricos
Princípio da De acordo com este princípio, o professor deve sempre ter em consideração que os
conteúdos devem ser aprendidos de forma hierárquica.
hierarquia da
matéria viva
Segundo MÜLLER, 2005 (adaptado)

28
Resumo  O conteúdo é a escolha consequente dos resultados duma ciência
organizados pedagógica e didacticamente, tendo em vista a assimilação
activa e a aplicação pelos alunos na sua prática da vida.
 O conteúdo pode ser classificado em duas categorias: conteúdo do
programa de ensino e conteúdo de processo de aquisição.
 Um dos sistemas de critérios para a selecção do conteúdo da matéria nova
considera: aluno, sociedade e disciplina específica.
 Um outro sistema de critérios para a selecção do conteúdo da matéria nova
considera: Utilidade, Validade, Significância, Flexibilidade e Viabilidade.
 Para a estruturação dos conteúdos da matéria nova é necessário ter em
conta os seguintes princípios didácticos: princípio de espiral, princípio da
interdisciplinaridade, princípio da centralização do Homem, princípio da
situação, princípio da ecologia, princípio da aplicação, princípio de
consideração do empírico e teórico, princípio de consideração dos aspectos
históricos e princípio da hierarquia da matéria viva.

Auto-Avaliação 1. Defina o conceito de Conteúdo.

2. Classifique os conteúdos de Ciências Naturais.

3. Indique os critérios que devem ser considerados na selecção do


conteúdo da matéria nova.

4. Explique a importância do princípio da interdisciplinaridade na


estruturação dos conteúdos da matéria nova.

29
Comentários 1. Conteúdo é a escolha consequente dos resultados duma ciência
organizados pedagógica e didacticamente, tendo em vista a assimilação
activa e a aplicação pelos alunos na sua prática da vida.

2. O conteúdo pode ser classificado em conteúdo de introdução, matéria


nova, consolidação, controle/avaliação e as orientações metodológicas
constantes nos programas de ensino.

3. Existem dois critérios usados na selecção de conteúdos da matéria nova,


que são: 1º sistema de critérios considera o aluno, a sociedade e a
disciplina de Ciências Naturais. O 2º sistema de critérios considera que o
conteúdo deve ter utilidade, validade significância e deve ser viável e
flexível.

4. Segundo o princípio da interdisciplinaridade, para estruturar o conteúdo


de Ciências Naturais o professor deve ter em conta as diversas áreas do
saber que estão estritamente relacionadas com as Ciências Naturais,
recorrendo a elas quando for necessário. A grande vantagem da aplicação
deste princípio didáctico é de, além de poupar tempo, evitar uma
aprendizagem de factos isolados.

30
o
Lição n 3: Objectivos
Introdução No nosso dia-a-dia temos utilizado com certa frequência a palavra objectivo.
Recorremos a ela para indicar a finalidade de uma acção, a meta de um percurso,
entre outros aspectos. Na actividade docente, a reflexão sobre objectivos pode ser
considerada um complemento à reflexão sobre as estratégias, pois é necessário
analisar a realidade para se saber onde é que estávamos, onde estamos e para onde
é que vamos. Nesta lição vamos aprender a definir os objectivos de uma aula, a
partir dos objectivos e competências emanados no programa de ensino.

Ao terminar esta lição você será capaz de:


 Definir o conceito de objectivo;
 Classificar os objectivos, tendo em conta o critério de projecção e de
Objectivos nível de complexidade das operações a realizar pelo aluno;
 Descrever as características, propriedades e elementos dos objectivos;
 Formular objectivos para uma aula.

Tempo de Leitura: 50 minutos

Tempo

Objectivos, níveis, cognitividade, psicomotricidade, afectividade

Terminologia

31
Conceito de Objectivo e sua classificação

Objectivo é a transformação das orientações estratégicas, quer funções ou


finalidades, em resultados pré-concebidos e concreto-operacionalizados
(MÜLLER, 2005: 11).

No conceito em análise, é necessário ter em conta que no contexto da definição,


traça-se de forma prévia (significado de objectivos pré-concebidos) uma série de
propósitos educativos que de maneira estruturada serão alcançados de forma
satisfatória (significado de objectivos concreto-operacionalizados).

Classificação dos Objectivos

Os objectivos podem ser classificados tendo em conta vários critérios. Para a


Didáctica, existem dois critérios fundamentais: critério de projecção (taxonomia
de Möller) e critério de níveis de complexidade de operações mentais a realizar
pelo aluno (taxonomia de Bloom).

Critério de Projecção

Na classificação dos objectivos tendo em conta o critério de projecção, de acordo


com a taxonomia de Möller, considera-se o seguinte: objectivos gerais,
específicos e mais específicos. (MÜLLER, 2005: 11)
Agora observe atentamente o esquema abaixo.

32
Objectivos

podem ser

Gerais Epecíficos Mais Específicos

Correspondem a Correspondem a Correspondem a

Projecção de um Projecção de Projecção de uma


ano ou vários anos unidades didácticas aula ou fases da aula
ou várias aulas

Ex: Programa de Ex: Plano analítico Ex: Plano de lição


ensino

Fig. 4 – Classificação dos objectivos segundo o critério de projecção (Möller)


Existe uma outra terminologia para esta taxonomia dos objectivos: os objectivos
gerais também podem ser designados educacionais e os objectivos específicos e
mais específicos também podem ser designados por objectivos instrucionais.
No exercício da operacionalização dos objectivos, deve-se considerar que, de
acordo com a sua hierarquia, os objectivos específicos subordinam-se aos
objectivos gerais, isto é, consistem numa especificação dos objectivos gerais.

Critério de nível de complexidade das operações a realizar pelo aluno

Na classificação dos objectivos tendo em conta o critério de nível de


complexidade das operações a realizar pelo aluno, de acordo com a taxonomia de
Bloom (1956), considera-se o seguinte: nível cognitivo, nível psicomotor e nível
afectivo.
Tal como no critério anterior, podemos esquematizar este critério da seguinte
forma:

33
Objectivos

podem ser definidos no

Nível Cognitivo Nível Psicomotor Nível Afectivo

Referem-se a Referem-se a Referem-se a

Conhecimento Aptidões perceptivas Organização


Compreensão Destrezas físicas Exactidão
Aplicação Capacidades Prontidão
Análise Habilidades Valorização
Actividades semi- Interesse
Síntese
intelectuais Atitudes, Convicções
Avaliação Valores, Sentimentos

Fig. 5 – Classificação dos objectivos segundo o critério dos níveis de


complexidade das operações (Taxonomia de Bloom)
O domínio cognitivo engloba os objectivos que implicam uma mobilização de
conhecimentos e que incidem sobre o desenvolvimento das habilidades e
capacidades mentais.
O domínio psicomotor implica operações mentais de cognição e acção, isto é, a
prontidão em responder às situações de aprendizagem e da vida com destreza,
flexibilidade, rapidez e exactidão.
O domínio afectivo compreende os objectivos que descrevem as modificações de
interesse, as atitudes e os valores, assim como o progresso na capacidade de
decisão e na capacidade de adaptação.
Segundo FERRAZ e BELHOT (2010: 424), em relação ao domínio cognitivo,
Bloom e seus colaboradores categorizaram o domínio cognitivo em seis estágios
que representam diferentes níveis de complexidade de operações: conhecimento,
compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação.

Fig. 6 - Categorias do domínio cognitivo (FERRAZ e BELHOT, 2010: 424)

Para a definição de objectivos do domínio cognitivo, existe um conjunto de


verbos a usar em cada estágio, tal como se ilustra na tabela seguinte:

34
Tabela 2 - Definição das diferentes categorias do domínio cognitivo

Categoria Definição Verbos usados


Habilidade de lembrar informações e Enumerar, definir, descrever, identificar,
conteúdos previamente abordados como denominar, listar, nomear, combinar, realçar,
Conhecimento factos, datas, palavras, teorias, métodos, apontar, relembrar, recordar, relacionar,
classificações, lugares, regras, critérios, reproduzir, solucionar, declarar, distinguir,
procedimentos, etc. rotular, memorizar, ordenar e reconhecer.
Habilidade de compreender e dar Alterar, construir, converter, descodificar,
significado ao conteúdo. Essa defender, definir, descrever, distinguir,
habilidade pode ser demonstrada por discriminar, estimar, explicar, ilustrar,
Compreensão meio da tradução do conteúdo generalizar, dar exemplos, inferir,
compreendido para uma nova forma reformular, prever, reescrever, resolver,
(oral, escrita, diagramas, etc.) ou resumir, classificar, discutir, identificar,
contexto. interpretar, reconhecer, redefinir, situar,
seleccionar e traduzir.
Aplicar, alterar, programar, demonstrar,
Habilidade de usar informações,
desenvolver, descobrir, dramatizar,
métodos e conteúdos aprendidos em
empregar, ilustrar, interpretar, manipular,
Aplicação novas situações concretas. Isso pode
modificar, operacionalizar, organizar, prever,
incluir aplicações de regras, métodos,
preparar, produzir, relatar, resolver,
modelos, conceitos, princípios, leis e
transferir, usar, construir, esboçar, escolher,
teorias.
escrever, operar e praticar.
Habilidade de subdividir o conteúdo em Analisar, reduzir, classificar, comparar,
partes menores com a finalidade de contrastar, determinar, deduzir, distinguir,
entender a estrutura final, incluindo a diferenciar, identificar, ilustrar, apontar,
Análise identificação das partes, análise de inferir, relacionar, seleccionar, separar,
relacionamento entre a identificação das subdividir, calcular, discriminar, examinar,
partes, análise de relacionamento entre experimentar, testar, esquematizar e
as partes e reconhecimento dos questionar.
princípios organizacionais envolvidos.
Categorizar, combinar, compilar, compor,
conceber, construir, criar, desenhar, elaborar,
Habilidade de agregar e juntar partes estabelecer, explicar, formular, generalizar,
Síntese com a finalidade de criar um novo todo inventar, modificar, organizar, originar,
ou ainda combinar partes não planificar, propor, reorganizar, relacionar,
organizadas para formar um todo. rever, reescrever, resumir, sistematizar,
escrever, montar, desenvolver, estruturar e
projectar.
Avaliar, averiguar, escolher, comparar,
Habilidade de julgar o valor do material concluir, contrastar, criticar, decidir,
Avaliação (proposta, pesquisa, projecto) para um defender, discriminar, explicar, interpretar,
propósito específico. justificar, relatar, resolver, resumir, apoiar,
validar, detectar, estimar, julgar e
seleccionar.
Segundo FERRAZ e BELHOT, 2010 (adaptado)

35
Características, Propriedades e Elementos dos Objectivos

Características e propriedades

Os objectivos definidos para as aulas de Ciências Naturais devem ter em conta


algumas características e propriedades a saber: pertinentes, compatíveis,
alcançáveis, lógicos, inequívocos, concretos, observáveis, realizáveis,
mensuráveis, relevantes, congruentes e observáveis.
Estas características e propriedades visam reduzir ou eliminar as ambiguidades,
se não, ora vejamos: (Tabela 3)
Tabela 3 - Características e Propriedades dos objectivos

Característica/
Significado
propriedade
Pertinentes Devem estar relacionados com o conteúdo.
Compatíveis Devem estar de acordo com os pré-requisitos necessários para a sua materialização.
Alcançáveis Devem ter um horizonte palpável e possível.
Lógicos Devem apresentar os mesmos resultados, não devem apresentar contradições.
Inequívocos Devem ser definidos com precisão indicando o que se pretende exactamente.
Concretos Não devem apresentar ambiguidades.
Observáveis Devem possibilitar o alcance do objecto pelo qual foram traçados.
Realizáveis Devem estar relacionados com o ambiente real do aluno.
Mensuráveis Devem ser possíveis de medir através de uma escala de avaliação do aluno.
Relevantes Devem estar relacionados com os interesses reais do sujeito de aprendizagem.
Congruentes O conteúdo não pode ser diferente dos objectivos.
Equilibrados Deve haver um equilíbrio entre os âmbitos e níveis pelos quais foram traçados.

Segundo MÜLLER, 2005 (adaptado)

36
Elementos dos Objectivos

Os objectivos apresentam os seguintes elementos: Sujeito, Actividade, Conteúdo,


Contexto e Critério.
Agora observe o esquema abaixo que ilustra as características dos elementos dos
objectivos:

Tabela 4 - Elementos dos objectivos


Elementos Características
Sujeito Quem vai practicar a acção: o aluno
Actividade Designação do comportamento activo a executar pelo aluno
Conjunto de conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes
Conteúdo
correspondentes à actividade a desempenhar
Indicação das condições importantes nas quais a actividade se deve
Contexto
reproduzir, por exemplo a circunstância requerida ou desejada
Critério Expressão de um resultado positivo

Segundo MÜLLER, 2005 (adaptado)

Formulação dos Objectivos


Tendo em conta todos os elementos que foram descritos acima, para formularmos os objectivos
de uma aula, devemos reflectir profundamente e actuarmos de acordo com os instrumentos
recomendados.
De seguida apresenta-se um exemplo onde você vai aprender a formulação de objectivos mais
específicos nos níveis cognitivo, psicomotor e afectivo:

Tema: Introdução ao estudo da Poluição (6ª classe - Unidade Temática: Poluição)

Objectivos da aula
Nível cognitivo Nível psicomotor Nível afectivo
O aluno deve: O aluno deve ser capaz de: O aluno deve:
 Conhecer os agentes  Classificar os tipos de  Dar o seu contributo
poluentes. poluição tendo em conta para preservar o meio
os agentes poluentes. ambiente livre da
poluição.

37
Resumo  Objectivo é a transformação das orientações estratégicas, quer funções ou
finalidades, em resultados pré-concebidos e concreto-operacionalizados;
 Os objectivos podem ser classificados tendo em conta vários critérios.
Existem dois critérios fundamentais: critério de projecção (taxonomia de
Möller) e critério de níveis de complexidade (taxonomia de Bloom).
 De acordo com a taxonomia de Möller consideram-se três níveis ou esferas
de projecção: objectivos gerais, específicos e mais específicos. De acordo
com a taxonomia de Bloom, consideram-se três níveis: cognitivo,
psicomotor e afectivo.
 No nível cognitivo, os objectivos focam a aprendizagem de conhecimentos,
desde a recordação e compreensão de algo estudado, aplicar, analisar e
reorganizar a aprendizagem de um modo singular e criativo, reordenando o
material ou combinando-o com ideias ou métodos anteriormente
aprendidos.

 No nível psicomotor, os objectivos estão ligados à habilidade motora,


manipulação de objectos ou acções que requerem coordenação
neuromuscular. São, geralmente, relacionados à caligrafia, arte mecânica,
manuseamento de aparelhos ou ferramentas como o microscópio, balanças,
globos, etc.

 Em relação ao nível afectivo, os objectivos dão ênfase aos sentimentos,


emoções, aceitação ou rejeição de algo.

 Objectivos devem ser: pertinentes, lógicos, observáveis, relevantes,


compatíveis, realizáveis, inequívocos, congruentes, concretos,
mensuráveis, equilibrados e alcançáveis.
 Para a formulação dos objectivos é necessário ter em conta
fundamentalmente o sujeito, a actividade e o conteúdo, sendo que em
algumas vezes, deve-se indicar o contexto e o critério.

38
Tempo de Resolução: 35 minutos.

1. Defina o conceito de objectivo.


2. Classifique os objectivos segundo a taxonomia de Bloom.
3. “Os objectivos específicos subordinam-se aos objectivos gerais”.
Argumente esta afirmação.
Exercícios 4. “Os objectivos devem ser mensuráveis”. Fundamente.
5. Mencione os elementos a ter em conta para formularmos objectivos
para uma aula.
6. Indique na seguinte formulação os elementos dos objectivos.
“O aluno deve classificar os tipos de flores tendo em conta o número
de pétalas.”
7. Classifique os seguintes objectivos segundo a Taxonomia de Möller
e de Bloom.

Objectivo Taxonomia de Möller Taxonomia de Bloom


No fim da aula, o aluno deve
ser carpaz de desenhar uma flor
completa.
No fim da 9ª classe, o aluno
deve ter interesse para o estudo
das plantas.
No fim da unidade
“Metabolismo”, o aluno deve
ter conhecimentos sobre os
diferentes processos
metabólicos.

39
1. Objectivo é a transformação das orientações estratégicas, quer funções ou
Possíveis finalidades em resultados pré-concebidos e concreto-operacionalizados.

respostas 2. De acordo com a taxonomia de Bloom, os objectivos podem ser


cognitivos, psicomotores e afectivos.
3. Os objectivos específicos subordinam-se aos objectivos gerais pois os
objectivos específicos constituem a especificação dos gerais e o seu
alcance constitui a materialização intermediária dos objectivos gerais.
4. O objectivos devem ser possíveis de medir através de uma escala de
avaliação do aluno.
5. Os elementos dos objectivos são: aluno, actividade e conteúdo (em alguns
casos, o critério).
Critério

6. O aluno deve classificar os tipos de flores tendo em conta o número de pétalas.

Sujeito Actividade Conteúdo

7.

Objectivo Taxonomia de Möller Taxonomia de Bloom


No fim da aula, o aluno deve
ser carpaz de desenhar uma flor Objectivo mais específico Objectivo no nível psicomotor
completa.
No fim da 9 classe, o aluno
deve ter interesse para o estudo Objectivo geral Objectivo no nível afectivo
das plantas.
No fim da unidade
“Metabolismo”, o aluno deve
ter conhecimentos sobre os Objectivo específico Objectivo no nível cognitivo
diferentes processos
metabólicos.

40
Actividade de GRUPO
Tarefa: Formule objectivos de acordo com a taxonomia de Bloom para as
aulas, com os seguintes temas:

 Pesca artesanal;
 Movimentos Respiratórios;
Actividade  Processo Digestivo no Homem;
 Características dos rios.

Orientações: devem ser formados grupos de 4 a 6 pessoas para resolver a


tarefa. O tempo para a resolução da mesma é de 30 minutos. Após a sua
conclusão, comparem os verbos usados com os sugeridos na tabela 2 e
avaliem as principais características e elementos dos objectivos na vossa
formulação, usando as tabelas 3 e 4 da lição 3 desta unidade.
No final dos trabalhos, o tutor geral ou de especialidade poderá fazer a
avaliação do trabalho.

Bibliografia Básica da Unidade 1


1. BLOOM, B. S, et al, Taxonomy of Educational Objectives: The
Classification of Educational Objectives. Hand Book I and II. New York,
David Mckay, 1956
2. FERRAZ, Ana Paula do Carmo Marcheti e BELHOT, RenatoVairo,
Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do
instrumento para definição de objectivos instrucionais, Revista Gestão da
Produção e Sistemas, São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010
3. LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A., Metodologia Científica,
São Paulo, Editora Atlas S.A., 1991
4. LIBÂNEO, J. Didáctica, São Paulo, Cortez Editora, 1992
5. MÜLLER, Susann, Didáctica das Ciências Naturais, 1ª Edição, Maputo,
Texto Editores, 2005
6. NIVAGARA, Daniel, Didáctica Geral, Maputo, Universidade
Pedagógica, s.d.;
7. PILETTI, Claudino. Didáctica Geral, São Paulo, Editora Atica; 2004;
8. SOUSSAN, Georges, COMO ENSINAR AS CIÊNCIAS
EXPERIMENTAIS?: Didática e Formação, Brasília, ©UNESCO, 2003.

41
Conteúdos

Unidade no 2: Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino


Métodos, Procedimentos e
das Ciências Naturais Meios de Ensino das
Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos Ciências Naturais
Actividades cognitivas
Função das Actividades Cognitivas
Classificação das Actividades Cognitivas
Lição no 2: Meios de Ensino

UNIDADE
2
Conceito e Função Geral de Meios Didácticos
Conceito Meios Didácticos
Função geral dos Meios Didácticos
Funções específicas dos Meios Didácticos
Factores para a escolha dos Meios Didácticos
Classificação dos Meios Didácticos
Importância dos Meios Didácticos
Propostas de Temas para Investigação

Pág. 43 - 63

42
o
Unidade n 2: Métodos, Procedimentos e Meios de Ensino das
Ciências Naturais

Introdução Bem vindo à segunda unidade do Módulo de Didáctica de Ciências Naturais.


Certamente que você aprendeu bastante na primeira unidade e já se encontra em
condições de embarcar para esta unidade. Nesta unidade iremos abordar os
métodos, procedimentos e meios de ensino para as Ciências Naturais. Tendo
aprendido na unidade anterior a definição dos objectivos e os critérios para
seleccionar conteúdos de aprendizagem, já é chegado o tempo de aprender a
seleccionar os métodos e os meios didácticos adequados para uma determinada
aula.
Esta unidade tem 2 lições. O tempo de leitura da unidade é de 80 minutos e o
tempo de resolução das actividades é de 60 minutos.

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Conhecer as actividades cognitivas do aluno;
 - Compreender a necessidade de usar os meios didácticos nas aulas de
Ciências Naturais.

Objectivos

43
o
Lição n 1: Actividades Cognitivas dos Alunos
Introdução Como professor, você deve ter sempre em mente que a melhor maneira de ajudar
o seu aluno a aprender é dar-lhe uma actividade para exercer durante a aula. Para
tal, deve sempre apostar num ensino que deve ser construtivista, para promover a
mudança conceitual e facilitar a aprendizagem duradoura dos alunos.
A preocupação actual do ensino de Ciências centra-se na qualidade acima da
quantidade, o significado acima da memorização e a compreensão acima do
conhecimento.
As actividades cognitivas dos alunos são importantes para o desenvolvimento da
personalidade do aluno e contribuem para a aprendizagem significativa.

Ao terminar esta lição você será capaz de:


 Definir o conceito de actividades cognitivas;
 Classificar as actividades cognitivas;
Objectivos  Aplicar as actividades cognitivas na sala de aulas.

Tempo de Leitura: 45 minutos

Tempo

Observação, descrição, experimentação, fundamentação, classificação


Terminologia

44
Actividades cognitivas

Função das Actividades Cognitivas


As actividades cognitivas servem para a obtenção de conhecimentos,
capacidades/habilidades e atitudes/convicções através dum comportamento activo
do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem.

Classificação das Actividades Cognitivas


As actividades cognitivas dos alunos manifestam-se durante o processo de
ensino-aprendizagem e servem para o desenvolvimento integral da personalidade
do aluno.
As actividades cognitivas decorrem no nível empírico e teórico. Por sua vez, as
actividades empíricas são: actividade de observar e experimentar. As actividades
teóricas são: actividade de classificar, actividade de explicar, actividade de
fundamentar, actividade de definir. A actividade de descrever pode decorrer tanto
no nível empírico como no nível teórico.

Actividade Cognitiva de Observar

Na actividade cognitiva de observar, o aluno verifica as propriedades e


características dum objecto ou o decorrer dum fenómeno ou processo sem alterar
o objecto, fenómeno ou processo (MÜLLER, 2005: 21).

A actividade cognitiva de observar pode fazer parte de um método científico. Este


método é o método de observação. De acordo com MÜLLER (2005: 21), o
método de observação apresenta a seguinte estruturação:
1. Identificação do problema
2. Colocação da hipótese
3. Revisão da hipótese segundo o método de observação
3.1. Dedução das conclusões da hipótese
3.2. Observação (formulação da tarefa para a observação; planificação da
realização da observação e preparação das bases técnico-materiais;
realização da observação; registo dos resultados da observação)
3.3. Comparação dos resultados da observação com as conclusões da

45
hipótese
3.4. Revisão da veracidade da hipótese
4. Resposta ao problema

Actividade cognitiva de Descrever

De acordo com MÜLLER (2005: 20), na actividade cognitiva de descrever, os


alunos devem indicar afirmações sobre as características de um objecto,
fenómeno ou processo. Durante essa actividade, o aluno reflecte um conjunto de
conhecimentos sistematizados acerca das propriedades do que se pretende
descrever. Assim, a descrição apresenta a seguinte estrutura lógica:

Fig. 7 –Estrutura da actividade cognitiva de descrever (adaptado de MÜLLER,


2005).

Actividade cognitiva de Experimentar

Na actividade cognitiva de experimentar, o aluno participa no desenrolar do


processo ou fenómeno.
Segundo MÜLLER (2005: 22), a actividade cognitiva de experimentar está
directamente ligada com o método experimental. Este método apresenta a
seguinte estruturação:
1. Identificação do problema
2. Colocação da hipótese
3. Revisão da hipótese segundo o método de experimentação
3.1. Dedução das conclusões da hipótese experimentalmente prováveis
3.2. Experimentação (formulação da tarefa para a observação;
planificação da realização das actividades práticas e preparação das bases
técnico-materiais; realização da experimentação ou da experiência;
observação; registo dos resultados da experimentação ou da experiência)

46
3.3. Comparação dos resultados da observação com as conclusões da
hipótese experimentalmente prováveis
3.4. Revisão da veracidade da hipótese
4. Resposta ao problema

A actividade cognitiva de experimentar está directamente ligada à actividade de


explicar.

Actividade cognitiva de Explicar

Na actividade cognitiva de Explicar, o aluno indica afirmações sobre o ‘’porquê’’


da existência das características de um objecto, fenómeno ou processo. Para isso,
utilizam-se afirmações sobre leis ou afirmações condicionais.
O resultado da actividade cognitiva de explicar é a explicação.
Pode se incluir aqui a estrutura duma explicação: Explicans e Explicandum.
De acordo com MÜLLER (2005: 20), para realizar a actividade cognitiva de
explicar utiliza-se o seguinte procedimento:
1. Procurar conceitos ou afirmações que estão relacionados com o
objecto, fenómeno ou processo observado e/ou descrito.
2. Indicar as condições/leis sobre as quais aparece o objecto, fenómeno
ou processo.
3. Deduzir a partir dos passos 1 e 2 a explicação das características do
objecto, fenómeno ou processo observado e/ou descrito.

Actividade cognitiva de Fundamentar

Na actividade cognitiva de Fundamentar, os alunos devem apresentar argumentos


que justifiquem a veracidade ou falsidade duma tese.
Nesta actividade cognitiva, os alunos devem combinar os seguintes elementos:

1. Tese: afirmação que os alunos devem fundamentar.


2. Argumentos: afirmação que fundamenta a tese.
3. Metodologia: modo de ordem de argumentos para conclusões a partir das quais
se deduz a tese.
O resultado da actividade de fundamentar é o fundamento que possui a seguinte
estrutura lógica:

47
Fig. 8 –Estrutura da actividade cognitiva de Fundamentar (adaptado de
MÜLLER, 2005)

Ao fundamentar os alunos justificam a veracidade ou a falsidade de uma tese.


Neste sentido, pode-se distinguir entre:
Comprovar: Para fundamentar a verdade de afirmações, os alunos devem
argumentar afirmações seguras. A tese resulta obrigatoriamente de argumentos.
Refutar: Fundamentar a falsidade de uma tese.

Actividade cognitiva de Classificar

Na actividade cognitiva de Classificar, os alunos devem repartir ou dividir um


conjunto (uma classe) de objectos, fenómenos ou processos em partes desta classe
na base duma característica comum.
De acordo com MÜLLER (2005: 22), o resultado da actividade cognitiva de
classificar é um sistema de conceitos ou mapa de conceitos.
No nível básico, por exemplo, a classificação dos seres vivos pode-se apresentar
através de um mapa de seguinte configuração:

Fig. 9 –Mapa de conceitos sobre os seres vivos

Os sistemas de conceitos foram inicialmente desenvolvidos pelo investigador

48
Joseph Novak por volta 1970, nos Estados Unidos da América. São usados para
representar e organizar um conjunto de conhecimentos.
De acordo com MÜLLER (2005: 27), quando se estabelece um sistema de
conceitos ou mapa de conceitos, é necessário que se tenha em conta os seguintes
aspectos:
1. Um conceito precisa sempre de um outro;
2. Os conceitos devem ser comparáveis;
3. É necessário assegurar que haja uma comparação intra e
interespecífica para identificar as características gerais e essenciais.

Os conceitos adquirem significado quando se associam numa unidade semântica


– a proposição, adquirindo significado quando unidos por palavras de enlace,
como no exemplo que se segue, para a classificação dos seres vivos:

Fig. 10 –Mapa de conceitos sobre os seres vivos

As palavras de enlace servem para estabelecer a relação supra ou sub específica


existente entre os diversos conceitos que constituem o sistema.
No ensino básico o professor pode se deparar com um problema que, de certa
forma, pode comprometer o sucesso da acção docente: o domínio dos símbolos
universais de represetação de macho e fêmea.
A aprendizagem é maioritariamente feita através de símbolos e signos que,
quando combinados, ganham significado. Entretanto, quanto mais habilidoso for
o aluno em descodificar os signos e símbolos, mais facilmente poderá aprender.
Existem alunos que, embora conheçam o sistema alfabético e apresentem um
domínio aceitável da leitura e escrita enfretam grandes dificuldades na
interpretação da simbologia científica, para tal, o professor deve ser criativo e
procurar mecanismos de tornar possível e fácil a compreensão dessa simbologia

49
para reduzir o excesso de texto na representação de um conhecimento.

Resumo  As actividades cognitivas servem para a obtenção de conhecimentos,


capacidades/habilidades e atitudes/convicções, através dum comportamento
activo do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem;
 Existem várias actividades cognitivas, dentre elas: observar, descrever,
experimentar, fundamentar e classificar, que decorrem ou no nível empírico ou
no nível teórico.
 Na actividade cognitiva de observar, o aluno verifica as propriedades e
características dum objecto ou o decorrer dum fenómeno ou processo sem
alterar o objecto, fenómeno ou processo;
 Na actividade cognitiva de descrever, os alunos têm de formular afirmações
sobre as características de um objecto, fenómeno ou processo;
 Na actividade cognitiva de experimentar, o aluno, participa no seu desenrolar;
 Na actividade cognitiva de explicar, os alunos verificam o porquê da
existência das propriedades e características dum objecto ou decorrer dum
fenómeno ou processo.
 Na actividade cognitiva de fundamentar, os alunos devem apresentar
argumentos que justifiquem a veracidade ou falsidade duma tese;
 Na actividade cognitiva de classificar, os alunos devem repartir ou dividir um
conjunto (uma classe) de objectos, fenómenos ou processos em partes desta
classe na base duma característica comum, formando um mapa de conceitos.

Tempo de Resolução: 35 minutos.

1. Defina o conceito de actividade cognitiva.


2. Classifique as actividades cognitivas.
3. Fundamente a seguinte afirmação: “As actividades cognitivas dos
alunos são importantes para o desenvolvimento da personalidade do
Exercícios aluno e contribuem para a aprendizagem significativa”.
4. Descreva como se pode aplicar a actividade cognitiva de classificar
para a sistematização dos conteúdos da matéria nova.

50
5. Usando a actividade cognitiva de classificar, desenvolva um mapa de
conceitos, para o tema “Constituição do Solo”.

1. Actividade cognitiva é o meio pelo qual os alunos adquirem


Possíveis conhecimentos, capacidades e habilidades em Ciências Naturais,

respostas didacticamente estruturada.


2. As actividades cognitivas classificam-se em: empíricas e teóricas. Por sua
vez, as teóricas podem ser: actividade de classificar, actividade de
descrever, actividade de experimentar e actividade de fundamentar. As
actividades de observar e experimentar decorrem no nível empírico. A
actividade de descrever também pode decorrer no nível empírico.
3. É através das actividades cognitivas que os alunos adquirem os conceitos
básicos e percebem processos e fenómenos complexos estudados nas
Ciências Naturais.
4. A actividade cognitiva de classificar pode ser aplicada para sistematizar
os conhecimentos dos alunos através de desenvolvimento de mapas de
conceitos que estabelecem entre si significado de acordo com a relação
existente.
5. Mapas de Conceitos: considerar outros mapas, desde que se respeite a
super e subordinação dos conceitos.
Exemplo de um mapa de conceitos para o tema ”Constituição do solo”.

51
o
Lição n 2: Meios de Ensino
Introdução Com certeza você já entendeu que para a planificação de uma aula de Ciências
Naturais existe um conjunto de regras que deve ser seguido. Para a efectivação de
uma determinada aula sobre a abordagem de um objecto, fenómeno ou processo,
nem sempre é possível levá-lo a sala de aulas, daí que você deve criar condições
de representar esse objecto, fenómeno ou processo através de meios de ensino.
Nesta lição vamos tratar dos meios de ensino em Ciências Naturais. Existe uma
diversidade de meios para condução das aulas. A eficácia de cada meio para tratar
um determinado conteúdo, depende da sua escolha consciente, associando todos
os elementos importantes a ter em conta.
Tempo de Leitura: 35 minutos

Ao terminar esta lição você será capaz de:


 Conhecer as funções dos meios didácticos;
 Identificar os factores para escolha dos meios didácticos;
 Classificar os meios didácticos tendo em conta o grau de abstração;
Objectivos  Reconhecer a importância dos meios didácticos.

Tempo de Leitura: 35 minutos

Tempo

Meio didáctico, grau de abstração.

Terminologia

52
Conceito e Função Geral de Meios Didácticos

Conceito Meios Didácticos


Os meios didácticos, também designados meios de ensino ou recursos didácticos
são todos os meios e recursos materiais e humanos utilizados pelo professor e
pelos alunos para a organização e condução metódica do processo de ensino e
aprendizagem.

Você pode encontrar o aprofundamento deste conceito na unidade 5, lições 26 e


27 do Módulo de Didáctica Geral.

Função geral dos Meios Didácticos


Antes de escolher um determinado meio de ensino ou didáctico, é necessário
reflectir sobre o seu papel. No geral, existem duas categorias de funções que os
meios didácticos podem assumir, nomeadamente, a função geral e as funções
específicas.
Tendo em conta a sua finalidade geral, os meios didácticos são um instrumento
para auxiliar o professor a alcançar os objectivos previamente traçados e
contribuem para a redução do grau de abstração nos alunos.

Funções específicas dos Meios Didácticos

Os meios didácticos possuem seis funções específicas: motivação, efectivação,


representação, informação, organização e consolidação (segundo MÜLLER,
2005: 33).

Atente na figura abaixo:

53
Meios Didácticos

Têm a função de:

Motivação Efectivação Representação Informação Organização Consolidação

Significa que Significa que Significa que Significa que Significa que Significa que

Facilitam o Transmitem Possibilitam a


processo de
Estimulam o Representam a um certo Ajudam a aquisição
compreensão e de
interesse e aquisição de realidade conteúdo estruturar os duradoura dos
levam a conhecimentos e objectiva que é científico processos de conhecimentos
participação capacidades/ objecto de condução
através de e capacidades/
habilidades,
dos alunos poupando tempo
estudo modelo didáctica habilidades

Fig. 11 Funções específicas dos meios didácticos

Como você pôde concluir na figura acima, as funções específicas dos meios
didácticos permitem a sua escolha consciente, tendo em conta a natureza do
conteúdo a transmitir. Portanto, se você pretende decidir por um ou outro meio
didáctico, deve ter sempre em mente que as funções devem ser conjugadas com
alguns factores que veremos a seguir.

Factores para a escolha dos Meios Didácticos


Para a escolha dos meios didácticos, existem vários factores a saber: tipo de
aluno, nível de desenvolvimento do pensamento do aluno, o professor,
conteúdo de ensino-aprendizagem, local de ensino, número de alunos, tempo
disponível, objectivo de ensino-aprendizagem.

De forma específica, você deve ter em conta que o tipo de aluno, quer seja tipo
visual, tipo táctil, tipo auditivo ou abstrato idiomático, define o tipo de meio
didáctico a usar para uma determinada aula. Entretanto, é necessário que haja
um equilíbrio ou combinação da categoria de meios, assumindo que estes
devem satisfazer a necessidade de cada aluno existente na turma.

O nível de pensamento do aluno está associado à linguagem, na sua vertente de


instrumento de suporte do pensamento. Desta forma, o desenvolvimento
cognitivo do aluno está assente na sua capacidade de articular a linguagem para
construção de novos conceitos.

54
O nível de pensamento do aluno pode ser aferido tendo em conta a sua idade,
sendo:
 Pensamento situativo: desde o nascimento aos 5 anos;
 Pensamento empírico: entre os 4 a 12 anos de idade;
 Pensamento teórico: a partir da adolescência.
Portanto, você deve ter em conta que na maior parte das vezes, o seu aluno do
ensino básico se encontra no nível empírico logo, na escolha dos meios
didácticos deve partir de algo que ele já teve contacto anterior no seu
quotidiano.
Os meios didácticos devem também responder ao comportamento e
desempenho do professor, nesse caso, você também é um dos factores
importantes para equilibrar os demais factores, de acordo com a sua
criatividade, potencialidades e limitações na operação de alguns meios. Para as
Ciências Naturais, o local da aula determina também a escolha de conteúdos, se
por exemplo, a aula for dada dentro da sala de aulas, os meios devem
corresponder a essa realidade mas, se esta for dada fora da sala, por exemplo,
através de uma excursão, os meios se encontram de forma expressiva no local
da excursão (pátio escolar, jardim zoológico, fábrica, praia, etc.) e você deverá
prestar atenção na selecção dos meios de registo e manipulação dos objectos,
fenómenos ou processos.
Agora preste atenção na figura que ilustra de forma resumida os factores para a
escolha dos meios didácticos:

55
Fonte: MÜLLER, 2005

Fig. 12 Factores para a escolha dos meios didácticos

Agora que você já sabe quais são as funções dos meios didácticos e
reflectiu também sobre os factores que influenciam na sua escolha, resolva
as seguintes actividades:

1. Fundamente a necessidade de aplicação dos meios didácticos nas aulas de


Ciências Naturais.
Actividade 2. Imagine que você queira leccionar uma aula sobre os movimentos da terra.
Como você pode decidir que meio usar para aula?

3. Assumindo as diversas funções dos meios didácticos, diga em que


circunstâncias pode recorrer a eles para uma aula de controle e avaliação.

56
1. Com certeza que esta reflexão não pode deixar de trazer as questões de
Possíveis fundo relacionadas com as funções dos meios didácticos. Por isso,

Respostas concordamos consigo quando levanta a questão da redução do grau de


abstração como principal propósito do uso dos meios didácticos. Devido a
complexidade dos fenómenos naturais estudados nas Ciências Naturais, para a
efectivação da sua leccionação é necessário recorrer a mecenismos que
simpliquem o processo de mediação do conhecimento. De uma ou de outra
maneira, uma das incontornáveis funções dos meios didácticos é a de
Feedback
representação ou seja, sempre que não for possível levar o objecto, fenómeno
ou processo à sala de aulas ou levar os alunos até ele (objecto, fenómeno ou
processo) recorremos a uma representação do mesmo através de esquemas,
fotografias, desenhos e símbolos.

2. Na segunda actividade de reflexão, você devia ter em conta,


fundamentalmente, a função de representação dos meios didácticos pois, para
leccionar os conteúdos relacionados com os movimentos da terra, você
precisa demostrar ao aluno todos os aspectos, nomeadamente, o tipo de órbita
que a terra executa, o referencial que se usa como marcador e as
consequências dos movimentos. Ora, a maneira mais fácil de demostrar tudo
isso é construindo um modelo tridimensional que representa o planeta terra
fixo no seu eixo imaginário e a estrela central (sol) desempenhando a sua
função de fonte de energia.

3. Concordamos plenamente consigo, os meios didácticos como as figuras,


imagens e objectos tridimensionais sem a respectiva indicação dos elementos
integrantes (legenda) podem ser usados para as provas escritas ou orais, de
acordo com a sua função de consolidação.

Classificação dos Meios Didácticos


Segundo o critério de grau de abstração, os meios didácticos podem ser
classificados como está indicado na figura abaixo. Na terminologia filosófica, a
abstração é o processo de pensamento em que as ideias são distanciadas dos

57
objectos. A abstração usa a estratégia de simplificação, em que detalhes
concretos são deixados ambíguos, vagos ou indefinidos.

Fonte: MÜLLER, 2005

Fig. 13 Classificação dos meios didácticos segundo o critério de abstração.

Como se pode observar na figura acima, os objectos reais têm um menor grau de
abstração do que os objectos representativos, sendo que, a palavra escrita, por
exemplo «planta» representa o maior grau de abstração, por isso não é
acoselhável ser usado como único meio didáctico.

Importância dos Meios Didácticos


Infelizmente a maior parte do conteúdo que é transmitido ao aluno se encontra na
forma de símbolos (palavra escrita ou falada) e representa o maior grau de
abstração, contribuindo desta forma para o fracasso na compreensão de muitos
fenómenos ou processos que se pretendem ensinar. É neste contexto que os
meios didácticos, como por exemplo os modelos, assumem um protagonismo no
processo de mediação dos conteúdos.

Os meios didácticos são um instrumento importante para auxiliar o professor no


tratamento de alguns conteúdos que, pela sua natureza seriam de difícil
compreensão. Contribuem também para estimular no aluno a criatividade
necessária para a aprendizagem baseada em padrões de competência.

58
A utilização dos meios didácticos nas aulas de Ciências Naturais é um
imperativo, se tomarmos em consideração a complexidade dos fenómenos
naturais que são tratados durante o processo de ensino-aprendizagem.

Um dos meios didácticos mais usados nas aulas de Ciências Naturais é o


modelo. Sob ponto de vista de classificação, tendo em conta o grau de abstração,
o modelo é um objecto representativo.

O modelo é usado quando não é possível obter os objectos reais para a sua
utilização nas aulas.

0s modelos podem ser materiais, quando são tridimensionais ou ainda ideais,


quando são planeares.

A B

Fig. 14 Modelo tridimensional (A) e ideal (B) de uma flor

59
Resumo  Os meios didácticos são um instrumento para auxiliar o professor a
alcançar os objectivos previamente traçados e contribuem para a
redução do grau de abstração nos alunos;
 Os meios didácticos têm várias funções, dentre elas a de motivação,
efectivação, representação, informação, organização e consolidação;
 Para a escolha dos meios didácticos, o professor deve ter em conta os
seguintes factores: tipo de aluno, objectivos de ensino, tempo
disponível, número de alunos na turma, local do ensino, conteúdo de
aprendizagem, nível de pensamento do aluno e o seu próprio
desempenho didáctico;
 Os meios didácticos podem ser classificados tendo em conta o seu
grau de abstração em objectos reais e objectos representativos. Os
objectos reais por sua vez, podem estar em conexão com a realidade
ou fora da conexão com a realidade e os objectos representativos
podem ser representações ou simbolizações.

Tempo de Resolução: 25 minutos.

1. O que são meios didácticos?

2. Mencione os critérios para a escolha dos meios didácticos.

3. Nomeie as funções específicas dos meios didácticos.

Exercícios 4. Classifique os meios didácticos, tendo em conta o grau de abstração.

60
Possíveis 1. Os meios didácticos são um instrumento para auxiliar o professor a
Respostas alcançar os objectivos previamente traçados e contribuem para a redução do
grau de abstração nos alunos

2. Para a escolha dos meios didácticos, o professor deve ter em conta os


seguintes factores: tipo de aluno, objectivos de ensino, tempo disponível,
número de alunos na turma, local do ensino, conteúdo de aprendizagem,
Feedback nível de pensamento do aluno e o seu próprio desempenho didáctico.
3. Os meios didácticos possuem seis funções específicas: motivação,
efectivação, representação, informação, organização e consolidação.

4. Os meios didácticos podem ser classificados tendo em conta o seu


grau de abstração em objectos reais e objectos representativos. Os objectos
reais por sua vez, podem estar em conexão com a realidade ou fora da
conexão com a realidade e os objectos representativos podem ser
representações ou simbolizações.

Propostas de Temas para Investigação


 Elaborar dois modelos didácticos para representar os Movimentos Respiratórios e o processo
digestivo no Homem.
Nota: Depois de elaborar os modelos, deverá entregar ao tutor geral ou de especialidade para
efeitos de avaliação.

61
Bibliografia Básica da Unidade 2
1. LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A., Metodologia Científica,
São Paulo, Editora Atlas S.A., 1991;

2. LIBÂNEO, J. Didáctica, São Paulo, Cortez Editora, 1992;

3. MÜLLER, Susann, Didáctica das Ciências Naturais, 1ª Edição, Maputo,


Texto Editores, 2005;

4. PILETTI, Claudino. Didáctica Geral, São Paulo, Editora Atica; 2004;

5. PLANCHARD, Emile. Conhecer, Compreender e Ajudar os Alunos


Coimbra, Coimbra Editora, 1979

6. NIVAGARA, Daniel, Didáctica Geral, Universidade Pedagógica, Maputo, sd.

7. NOVAK, J. D.; MINTZES, J. J. e WANDERSEE, J. H., Ensinando Ciência


para a Compreensão: Uma Visão Construtivista, Lisboa, Plátano Edições
Técnicas, 2000.

62
Conteúdos

Organização do ensino
Unidade no 3: Organização do ensino das Ciências Naturais das Ciências Naturais
Lição no 1: Actividades Cognitivas dos Alunos
Fundamentos para a Planificação
Elaboração do Plano de aula
Lição no 2: Excursão

UNIDADE
3
Excursão Didáctica
Excursão Didáctica
Etapas da Planificação da Excursão
Importância da Excursão para Estudo das
Ciências Naturais
Propostas de Temas para Investigação

Pág. 64 - 63

63
o
Unidade n 3: Organização do ensino das Ciências Naturais
Introdução Bem vindo à terceira e última unidade temática. Nas primeiras duas unidades,
abordamos os elementos indispensáveis para o sucesso de uma aula. Para que
você tenha certeza de que a sua aula vai decorrer de forma produtiva, deve prever
todos os momentos da mesma, num diagrama denominado plano de aula.
Nesta unidade abordam-se os elementos importantes a ter em consideração para a
elaboração do plano de lição.
Esta unidade tem 2 lições. O tempo de leitura da unidade é de 80 minutos e o
tempo de resolução das actividades é de 120 minutos.

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Planificar uma aula de Ciências Naturais;
 Identificar os elementos indispensáveis para a planificação de excursão.
 Elaborar um plano de excursão.

Objectivos

64
o
Lição n 1: Actividades Cognitivas dos Alunos
Introdução Nesta lição vamos tratar da planificação das aulas.
O plano de aulas é uma concretização ideal dos vários momentos do decurso de
uma aula.
O plano de aula permite eliminar dois dos grandes males que enfermam o ensino:
a rotina e a improvisação na sala de aulas.

Ao terminar esta lição você será capaz de:


 Identificar as fases da planificação;
 Descrever as fases do decurso da aula;
Objectivos  Elaborar um plano de aula;
 Reconhecer a importância do plano de aula no processo de ensino-
aprendizagem.

Tempo de Leitura: 45 minutos

Tempo

Plano de aula, planificação, redução didáctica

Terminologia

65
Fundamentos para a Planificação

De acordo com LIBÂNEO (1990: 177), a aula é um conjunto de meios e


condições pelas quais o professor dirige e estimula o processo de ensino em
função da actividade própria do aluno no processo de aprendizagem escolar, ou
seja, assimilação activa dos conhecimentos.

Portanto, a aula é a espinha dorsal do processo de ensino e aprendizagem ou


podemos considerar como o epicentro da actividade docente.
A aula que o professor lecciona encontra-se estruturada num diagrama
detalhadamente descrito denominado plano de lição. O processo pelo qual o
professor elabora o plano de lição denomina-se planificação da aula.
De acordo com PILETTI (2004: 62), planificação consiste em traduzir em termos
mais concretos e operacionais o que o professor fará na sala de aula, para
conduzir os alunos a alcançar os objectivos educacionais propostos. Por outras
palavras, é uma previsão das actividades, suas fases e prioridades, bem como dos
recursos didácticos necessários para a efectivação da aula.

Durante a condução da aula, o professor deve ter em mente que está a


implementar os esforços feitos pelo governo e pela sociedade no âmbito da
transformação das futuras gerações no domínio da ciência e tecnologia. Não deve
deixar também de lado o interesse no desenvolvimento profissional, usando a
aula como campo de aplicação teórico-prática dos conhecimentos pedagógico-
didácticos.
A acção docente deve estar centrada em três elementos, como ilustra o triângulo
pedagógico que se segue.

66
Triângulo Pedagógico de Houssayes

Fig. 15- Triângulo pedagógico de Houssayes

Segundo: PEREIRA, 2003

No triângulo em análise, Jean-Baptiste Cotton des Houssayes (1727–1783)


defende que o acto pedagógico põe em interacção o professor, o aluno e os
saberes instituídos, que constituem os vértices do triângulo.

Assim, quando o pólo saber-professor é dominante, predomina uma pedagogia


centrada sobre os conteúdos, o que conduzirá necessariamente à passividade do
aluno e o professor torna-se o centro do processo de ensino-aprendizagem,
transmitindo os conteúdos, ele ensina. Entretanto o processo dominante é de
ensinar.
Quando o pólo aluno-professor é privilegiado, o professor favorece uma
pedagogia mais ou menos directiva em relação ao saber, existe uma certa
dessacralização dos saberes, o que não significa que eles não sejam importantes.
Entretanto, o acto pedagógico é olhado pelo lado da aprendizagem e pelo lado das
relações sociais entre o professor e o aluno, predominando assim, o processo de
formar.
Quando o pólo aluno-saber é dominante, o papel do professor é o de mediador e
facilitador da aprendizagem. A pedagogia predominante é a de descoberta em que
o professor desempenha um papel mais passivo, prevalecendo o aprender como
processo dominante.
Deste modo, o triangulo pedagógico em análise pode tomar configurações
diferentes como as que se seguem:

67
Professor
Professor

Aluno Saber Aluno Saber


Relação equitativa entre Relação de distância do Professor em relação
Professor-Aluno-Saber. ao Aluno. Ele observa a actividade do Aluno,
mas praticamente não intervém.

Professor
Professor
Aluno Saber Aluno Saber

A relação forte é entre o Aluno e Saber. O Presença muito forte do Professor, em que a
Professor exerce uma mediação ligeira, tal direcção do processo de ensino-aprendizagem
como para realçar actividades ou estabelecer é por ele conduzida.
uma ordem.
Segundo: PEREIRA, 2003 (adaptado)

Fig. 16- Diferentes configurações do triângulo pedagógico de Houssayes

No exercício da planificação das aulas de Ciências Naturais, você deve aplicar


todos os conhecimentos relativos ao processo de ensino-aprendizagem e
estruturar a sua aula num plano.
Para elaborar o plano de lição, você deve responder a muitas questões: antes,
durante e depois da aula.
Apresenta-se em seguida algumas perguntas que você deve fazer a si próprio e
algumas possíveis respostas que poderão possibilitar-lhe o melhor enquadramento
dos aspectos gerais e específicos das Ciências Naturais.
Antes da aula:

O que me leva a O que devo A quem devo O que deve ser Como devo
PERGUNTAS
ensinar? ensinar? ensinar? aprendido? ensinar?

- motivações - conteúdos - características - objectivos - actividades


pessoais da disciplina dos alunos específicos cognitivas
POSSÍVEIS
- concepções de - conceitos - características - objectivos dos alunos
RESPOSTAS aprendizagens - métodos da turma mais
- objectivos gerais específicos

Fonte: Adaptado de SOUSSAN, 2003

68
Durante da aula:

PERGUNTAS Como é a minha O que está sendo O que está sendo


actuação dito pelo aluno? feito pelo aluno?

- cumpro com as - o aluno - cumpre as


exigências do consegue actividades
POSSÍVEIS plano relacionar o que correctamente
aprende com a
RESPOSTAS - satisfaço as - interpreta os
realidade
necessidades dos fenómenos e
alunos processos

Fonte: Adaptado de SOUSSAN, 2003

Depois da aula:

PERGUNTAS Qual foi o efeito Consegui atingir Como posso


da aula? os objectivos? aperfeiçoar a aula?

- os alunos - avaliação do - transformar os


conseguem aplicar nível de pontos fracos em
POSSÍVEIS os novos assimilação dos desafios
conhecimentos no conteúdos
RESPOSTAS - adequar cada vez
seu cotidiano
- classificação mais as aulas à
realidade do aluno
Fonte: Adaptado de SOUSSAN, 2003
Fig. 17- Reflexão efectuada antes, durante e depois da aula

Elaboração do Plano de aula


O plano de aula deve reflectir tanto aspectos científicos da disciplina de Ciências
Naturais assim como, os aspectos didáctico-metodológicos que foram
anteriormente enunciados. É importante ainda referir que na análise didáctico-
metodológica, uma das mais importantes tarefas que o professor vai realizar é a

69
transformação e redução didáctica.

Segundo MÜLLER (2005: 32), a redução didáctica como forma de


transformação didáctica é uma restrição e simplificação dos conteúdos científicos
através dos métodos de redução didáctica sectorial e de redução didáctica
estrutural.

A redução didáctica sectorial, consiste na apresentação do essencial do aspecto


científico e na redução didáctica estrutural; ocorre uma simplificação da extensão
e da complexidade dos objectos, fenómenos ou processos científicos.

70
Eis alguns modelos de esquema de plano de aula.

Modelo 1:

Quadro mural

Nesta parte do plano, você deve colocar a síntese dos conteúdos que devem ficar registados nos cadernos
dos alunos em forma de apontamentos. Estes conteúdos, devem ser estruturados tendo em conta todos os
aspectos didáctico-metodológicos anteriormente referidos. Muitas vezes, você poderá recorrer ao uso de
um dos três tipos de quadro mural: quadro mural do tipo texto, quadro mural do tipo desenho e tipo
combinado (texto+desenho). O quadro mural do tipo texto é caracterizado por textos referentes a algum
conteúdo que se pretende transmitir e o tipo desenho é caracterizado por desenhos de objectos,
feonómenos ou processos. No tipo combinado, você recorre aos dois tipos descritos acima.

Fig. 18- Modelo de Esquema de Plano de aula

71
Modelo 2:

Quadro mural

Fig. 19- Modelo de Esquema de Plano de aula

No modelo de plano, você deve preencher o cabeçalho e definir os objectivos da


aula, tendo em conta os objectivos definidos na planificação analítica. Tanto
quanto possível, deve sempre fazer a distinção dos objectivos tendo em conta o
nível de complexidade das operações a serem realizadas pelo aluno, isto é,
definir no nível cognitivo, psicomotor e afectivo.

72
Em relação às funções didácticas é importante recordar que se trata de uma
reflexão das regularidades do processo de transmissão, direcção e aquisição que
inclui uma selecção e um decurso específico das actividades do professor e do
aluno (MÜLLER, 2005: 28).

A sua combinação na estrutura do plano, determina as actividades do professor e


do aluno.

Deve – se garantir uma interconexão entre as funções didácticas, uma vez que
durante a aula as actividades do professor e do aluno devem garantir a
aprendizagem através das actividades cognitivas. É importante ainda recordar
que não existe uma sequência fixa entre elas.

O diagrama que se segue ilustra a interconexão das funções didácticas.

Segundo MÜLLER, 2005 (Adaptado)


Fig. 20- Interconexão das funções didácticas

Depois de definir as funções didácticas e os conteúdos da aula, é necessário que a


actividade do professor seja determinada pelo método básico, isto é, o método
básico é a actividade do professor durante o processo de assimilação de
conhecimentos, desenvolvimento de capacidades/habilidades e
convicções/atitudes pelos alunos.

Os métodos básicos podem ser classificados segundo a lógica de obtenção dos

73
conhecimentos em: indutivos e dedutivos.
Indutivos - baseia-se em experiências e observação de factos.
Dedutivos - inicia do geral para o particular e o professor apresenta conceitos e
com base nestes, tira as conclusões.
Podem ainda ser definidos segundo a fonte em: apresentação, trabalho conjunto e
trabalho independente do aluno.

Apresentação - assume a forma de palestra do professor, leitura, demonstração


de objectos, mapas e modelos. Este método é normalmente mais usado pelo
professor nas aulas em que o aluno tem pouco domínio sobre os conteúdos de
aprendizagem. Em alguns casos, pode também ser usado pelo aluno.

Trabalho conjunto – consiste no diálogo entre o professor e aluno. A discussão


é a forma mais sublime do diálogo e deve sempre ser assumido como a forma
mais dominante do que a apresentação.

Trabalho independente do aluno – é um método que consiste na busca


incessante do conhecimento pelo aluno, durante a resolução das actividades de
aprendizagem. Fazem parte deste método as seguintes actividades: leitura e
interpretação de textos, colecção de objectos naturais, trabalhos de casa,
realização de experiências, entre outras.

Em relação aos métodos básicos¸ é importante recordar que durante a aula¸ a


actividade do aluno deve ser frequentemente superior do que a actividade do
professor. Por isso, o método básico de apresentação não deve ser predominante,
devendo preveligiar o método básico de trabalho conjunto e trabalho
independente do aluno.

74
 O processo pelo qual o professor elabora o plano de lição denomina-se
Resumo planificação da aula;
 Planificação é a previsão das actividades lectivas do professor e do aluno;
 Para elaborar o plano de lição, o professor deve responder a muitas
questões: antes, durante e depois da aula;
 O plano de aula deve reflectir tanto aspectos científicos da disciplina de
Ciências Naturais assim como, os aspectos didáctico-metodológicos;
 A redução didáctica é uma restrição e simplificação dos conteúdos
científicos;
 Existem dois métodos de redução didáctica: redução didáctica sectorial e
redução didáctica estrutural;
 A redução didáctica sectorial, consiste na apresentação do essencial do
aspecto científico e, na redução didáctica estrutural ocorre uma simplificação da
extensão e da complexidade dos objectos, fenómenos ou processos científicos;
 Função didáctica é uma reflexão das regularidades do processo de
transmissão, direcção e aquisição que inclui uma selecção e um decurso
específico das actividades do professor e do aluno;
 Método básico é a actividade do professor durante o processo de
assimilação de conhecimentos, desenvolvimento de capacidades/ habilidades e
convicções/atitudes, pelos alunos;
 Os métodos básicos podem ser classificados segundo a lógica de
obtenção dos conhecimentos em: indutivos e dedutivos;
 Tendo em conta a fonte, os métodos básicos podem ser definidos em:
apresentação, trabalho conjunto e trabalho independente do aluno.

Tempo de Resolução: 65 minutos.

1. Descreva as fases do decurso da planificação.


2. Indique a importância de um plano de lição para o professor.
3. Faça a planificação analítica da Iª Unidade Didáctica (Saúde) da 7ª
Classe de Ciências Naturais.
Exercícios 4. Faça a planificação da primeira e da última aula da respectiva unidade,
tendo em conta todos os procedimentos previstos para a elaboração de
um plano de lição.

75
1. Na planificação é importante considerar os três momentos determinantes:
Possíveis antes, durante e depois da aula, sendo que, para a elaboração do plano é

respostas determinante efectuar a redução didáctica sectorial e redução didáctica


estrutural.
2. O plano de aula contribui para a efectivação com sucesso da aula,
contribuindo para evitar a rotina e a improvisação.
3. Para a resolução da tarefa 3, você deve inicialmente lembrar-se da
classificação dos objectivos tendo em conta o critério de projecção, isto é,
definir objectivos para uma unidade didáctica (objectivos específicos), sem
deixar de equilibrá-los na perspectiva de Bloom (nível cognitivo, nível
psicomotor e nível afectivo). Em seguida, com base nos conteúdos contidos no
programa de ensino, seleccionar aqueles que correspondam ao tema em questão
(Iª Unidade Didáctica - Saúde) e registar no diagrama ou mapa de planificação
analítica, combinando, sempre que necessário, com os conteúdos do currículo
local ou oculto.

4. Para a resolução da tarefa 4, você deve inicialmente preencher o


cabeçalho do esquema do plano (ver figuras 18 e 19 da Unidade III deste
módulo). Na definição dos objectivos, deve ter em conta o critério de projecção,
isto é, definir objectivos para uma aula ou fases dela (objectivos mais
específicos). É indispensável a definição equilibrada na perspectiva de Bloom
(nível cognitivo, nível psicomotor e nível afectivo). Em seguida, com base nos
conteúdos contidos no seu plano analítico, seleccionar aqueles que
correspondam a primeira aula e registar no diagrama do plano de aula.
Combinar criteriosamente as funções didácticas, métodos básicos, tempo para
cada conteúdo e fases da aula, bem como definir claramente as actividades do
professor e do aluno. Finalmente, com base no livro do aluno e/ou outras fontes
bibliográficas, elaborar um resumo sobre o conteúdo essencial necessário para o
registo ou sistematização do aluno em forma de quadro mural (não se esqueça
de fazer uma redução didáctica estrutural e sectorial).

76
o
Lição n 2: Excursão
Introdução Nesta lição vamos tratar da planificação de uma excursão.
O estudo das Ciências Naturais não se esgota na sala de aula. Há necessidade de
entrar em contacto directo com a natureza para melhor entender os seus
complexos fenómenos e processos. Nesse âmbito surge a excursão como
complemento do aprendizado na sala de aulas.

Ao terminar esta lição você será capaz de:


 Definir os objectivos da excursão;
 Explicar as etapas da planificação de uma excursão;
Objectivos  Reconhecer a importância da excursão para o estudo das Ciências
Naturais.

Tempo de Leitura: 35 minutos

Tempo

Excursão, Grau de abstração, aprendizagem por descoberta

Terminologia

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Excursão Didáctica

Excursão Didáctica
A primeira tarefa que o professor deve realizar no âmbito da planificação da
excursão é sensibilizar a Direcção da Escola sobre a necessidade de uma
actividade lectiva a ser realizada fora da sala de aulas. Se a excursão for feita
numa área muito distante das imediações da escola, pode carecer ainda da
autorização dos pais e encarregados de educação dos alunos.

Os principais elementos da planificação de aula na sala de aulas, também


constituem elementos importantes para a excursão. É preciso ter em
consideração que a principal actividade cognitiva dos alunos durante a excursão
será a observação.

Uma vez que a aula se concretiza no ambiente natural, os meios de ensino


disponíveis para a sua condução facilitam o alcance dos objectivos, por serem
objectos reais e exigem menor grau de abstração por parte dos alunos. A
aprendizagem ocorre por descoberta.

Etapas da Planificação da Excursão


Na planificação da excursão temos que ter em conta as actividades antes da
visita, durante a visita e depois da visita.

Antes da visita do campo de estudo


 Definir a actividade para a observação;
 Prever os prováveis custos para o suporte da logística da visita;
 Preparar o material necessário durante a visita, tendo em conta a tarefa
específica a realizar (blocos de nota ou cadernos, esferográficas, lápis, redes para
recolha, frascos, tesouras de poda, sacos plásticos, máquina fotográfica etc.);
 Conhecer o local a ser visitado (o professor, sempre que possível, deve
antes visitar o local para melhor explorá-lo durante a visita com os alunos);
 Conferir o número de alunos da turma e registar num bloco de notas;
 Ter uma informação prévia sobre as especificidades de saúde dos alunos
(alergias, fobias, etc.) e preparar um kit para primeiros socorros.

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Durante a visita do campo de estudo

 Orientar os alunos para a tarefa definida no plano de observação;


 Acompanhar a realização da tarefa;
 Ajudar os alunos em concentrar-se no essencial da questão em estudo;
 Garantir que os elementos do grupo não se espalhem demasiado uns dos
outros;
 Assegurar que os alunos não colham mais material do que o necessário
(ex: ramos de plantas, flores, etc.);
 Garantir que todo o material que eventualmente for colhido, seja
devidamente catalogado com as convenientes etiquetas;
 Assegurar a observância das mínimas regras de segurança no
manuseamento dos objectos naturais, como por exemplo, observação e
colheita de animais, plantas, amostras de solo, rochas, entre outros.

Depois da visita do campo de estudo

 Garantir que não se tenha criado alterações de vulto no ambiente natural


visitado;

 Certificar-se de que não se tenha deixado lixo no ambiente visitado;

 Assegurar que todos os objectos estejam nos seus devidos lugares ou nos
lugares anteriores à visita;

 Elaborar o relatório da visita ou da excursão.

Importância da Excursão para Estudo das Ciências Naturais

A excursão assume um papel fundamental no ensino de Ciências


Naturais pois garante em primeiro lugar a quebra de fronteiras entre as
ciências particulares e permite o exercício da interdisciplinaridade.
Permite ainda uma aplicação plena do método científico da observação,
contribuindo para o aperfeiçoamento do método científico, no geral.

Para compreendermos com profundidade a importância de uma


excursão didáctica para o ensino das Ciências Naturais vamos comparar
duas aulas sobre o estudo das características e propriedades do solo,

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uma na sala de aula e a outra leccionada através de uma excursão numa
área propícia para o efeito. Na sala de aula não poderemos trazer todos
os elementos que contribuem para a formação do solo e, mesmo que
tenhamos pequenas amostras, estas por sua vez não nos poderão
oferecer todas as propriedades que queremos estudar. Em contrapartida,
no terreno, os nossos alunos podem observar as camadas ou horizontes
do solo, características de cada camada, as consequências das diversas
características, o nível de sedimentação, a fertilidade, entre outros
aspectos, com maior clareza.

Resumo  A primeira tarefa que o professor deve realizar no âmbito da planificação


da excursão é criar as condições materiais e logísticas para o suporte da
visita de estudo;

 A planificação da excursão segue basicamente os mesmos procedimentos


da planificação de lição;

 Sob ponto de vista de grau de abstração dos meios didácticos, a excursão


é mais vantajosa que as aulas tradicionais dentro da sala de aula;

 Antes de executar a excursão, o professor deve preparar o material e


meios;

 A excursão permite o exercício pleno da interdisciplinaridade.

Tempo de Resolução: 55 minutos.

1. Nomeie as etapas da planificação da excursão.


2. Mencione a importância da excursão para as aulas de Ciências
Naturais.
3. Elabore um plano completo de uma excursão para uma turma de 45
Exercícios alunos, num parque para o estudo da biodiversidade local.

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1. Na planificação é importante consider os três momentos
Possíveis determinantes: antes, durante e depois da aula, sendo que para a elaboração

Respostas do plano é determinante efectuar uma avaliação completa das


potencialidades e das fraquezas do local a ser visitado.
2. A excursão contribui para a redução do grau da abstração para o
conhecimento dos seres vivos, na interpretação dos fenómenos e processos e
permite o exercício pleno da interdisciplinaridade.

Feedback 3. Para a resolução da tarefa 3, você deve inicialmente rever as etapas


para a planificação da excursão. Antes de efectuar a visita, preparar o
material necessário para tal, tendo em conta a exploração da biodiversidade:
blocos de nota ou cadernos, esferográficas, lápis, redes para recolha, frascos,
tesouras de poda, sacos plásticos, máquina fotográfica e etiquetas. Dividir a
turma em grupos de 4 a 6 alunos para permitir a colheita de pouca
quantidade de material natural e facilitar a discussão das matérias após a
visita. Preencher o esquema do plano (ver figuras 18 e 19 da Unidade III
deste módulo), respeitando os procedimentos descritos no exercício número
4 da lição anterior. Cumprir com as formalidades de autorização na escola e
na comunidade. Se o parque a ser visitado estiver sob gestão de uma
entidade, é necessário solicitar autorização para a sua visita através da
direcção da escola. Depois da visita, activar os grupos previamente
formados para fazerem o balanço da mesma, observando o fluxo de
informação entre os grupos e orientar para que cada um deles sintentize a
informação num relatório. Não é obrigatório que o relatório assuma a forma
escrita, pode ser oral se os alunos não tiverem ainda o domínio da escrita.

Propostas de Temas para Investigação


 Planificar uma unidade temática e uma das aulas da unidade ( 6ª classe - Unidade Temática:
Poluição)

 Elaborar um plano de uma aula exploratória no pátio escolar. (Para esta actividade você deve
inicialmente elaborar um guião de observação, tomando como tema da aula: introdução ao
estudo das plantas).

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1. Para a resolução do primeiro trabalho de investigação, você deve ter
em conta a classificação dos objectivos tendo em conta o critério de
projecção, isto é, definir objectivos para uma unidade didáctica (objectivos
específicos). Recorde-se que deve criar equilíbrio dos objectivos na
perspectiva de Bloom (nível cognitivo, nível psicomotor e nível afectivo). Em
Notas seguida, com base nos conteúdos contidos no programa de ensino, seleccionar
aqueles que correspondam ao tema em questão (Unidade Didáctica -
Poluição) e registar no diagrama ou mapa de planificação analítica,
combinando, sempre que necessário, com os conteúdos do currículo local ou
oculto. Depois de terminar a planificação da Unidade, deve planificar em
seguida uma das aulas. Use como sugestão a última aula. Para tal, você terá
que preencher inicialmente o cabeçalho do esquema do plano (ver figuras 18 e
19 da Unidade III deste módulo). Na parte referente aos objectivos, deve ter
em conta o critério de projecção, isto é, definir objectivos para uma aula ou
fases dela (objectivos mais específicos), sendo indispensável a definição
equilibrada na perspectiva de Bloom (nível cognitivo, nível psicomotor e
nível afectivo). Em seguida, com base nos conteúdos contidos no seu plano
analítico, seleccionar aqueles que correspondam a última aula e registar no
diagrama do plano de aula. Combinar criteriosamente as funções didácticas,
métodos básicos, tempo para cada conteúdo e fases da aula, bem como definir
claramente as actividades do professor e do aluno. Finalmente, com base no
livro do aluno e/ou outras fontes bibliográficas, elaborar um resumo sobre o
conteúdo essencial necessário para o registo ou sistematização do aluno em
forma de quadro mural. A avaliação do trabalho será feita pelo tutor geral ou
de especialidade.

2. Para a resolução do segundo trabalho de investigação, você deve


rever as etapas para a planificação da excursão e elaborar o plano da aula
tendo em conta esses aspectos. Resumidamente, você terá de definir
claramente os aspectos essenciais que pretende que os alunos observem no
pátio escolar, tendo em conta ao tópico de introdução ao estudo das plantas.
Uma vez que o local de estudo se situa no recinto escolar e é sobejamente
conhecido pelos alunos, dispensa muitas formalidades de pedido de
autorização às várias entidades. Depois de preparar o material e dividir a
turma em grupos de 4 a 6 alunos, é necessário explicar-lhes com muita clareza

82
o que devem fazer para não tomar a aula como um recreio e se distrairem do
essencial. No seu plano de aula, deverá ter preenchido o esquema do plano
(ver figuras 18 e 19 da Unidade III deste módulo), respeitando todos os
procedimentos descritos no exercício número 4 da lição anterior. Depois da
visita, activar os grupos previamente formados para fazerem o balanço da
mesma, observando o fluxo de informação entre os grupos e orientar para que
cada um deles sintentize a informação num relatório. A avaliação do trabalho
será feita pelo tutor geral ou de especialidade

83
Bibliografia Básica da Unidade 3
1. COSTA, José António Marques, Educação Em Ciências: Novas Orientações
[disponível on line em www.ipv.pt/millenium/19_spec6.htm , artigo capturado em 02 de
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3. INDE/MINED, Plano curricular do Ensino Básico, Maputo, INDE/MINED s.d.;

4. ARENDS, RichardI I. Aprender a Ensinar, s.l, Editora MacGraw-Hill, 1994;

5. LAKATOS, Eva M. e MARCONI, Marina A., Metodologia Científica, São Paulo,


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10. PILETTI, Claudino. Didáctica Geral, São Paulo,Editora Atica; 2004;


11. PLANCHARD, Emile. Conhecer, Compreender e Ajudar os Alunos; Coimbra,
Coimbra Editora, 1979;

12. SOUSSAN, Georges, COMO ENSINAR AS CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS?:


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84
Bibliografia Geral
1. ARENDS, RichardI I. Aprender a Ensinar, s.l, Editora MacGraw-Hill, 1994;

2. BLOOM, B. S, et al, Taxonomy of Educational Objectives: The Classification of


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3. BORDENAVE, Juan Dias. Estratégia de ensino-aprendizagem. 9ªed.


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4. CANIATO, Rodolpho. A Terra em que vivemos. Campinas, São Paulo, Papirus,
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5. CARMO-NETO, Dionίsio. Metodologia Cientifica para Principiantes. Salvador,
Bahia, Universitária Americana, 1992;
6. COSTA, José António Marques, Educação Em Ciências: Novas Orientações
[disponível on line em www.ipv.pt/millenium/19_spec6.htm , artigo capturado em
02 de Março de 2014];
7. DEMO, Pedro. Pesquisa: Princίpio Cientifico e Educativo.6ªed. São Paulo,
Cortez, 1999;
8. FELIZARDO, Diana, Combater Dificuldades de Aprendizagem- Actividades de
Apoio Educativo, Lisboa, Texto Editora, 1997;

9. FERRAZ, Ana Paula do Carmo Marcheti e BELHOT, RenatoVairo, Taxonomia


de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para
definição de objectivos instrucionais, Revista Gestão da Produção e Sistemas, São
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Classe, Maputo, Texto Editores, 2002;

11. INDE – Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação, Programa do


Ensino Ensino Básico – 2º Ciclo 3ª, 4ª e 5ª Classe, Maputo, INDE/MINED, 2004;

12. INDE – Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação, Programa do


Ensino Ensino Básico – 3º Ciclo 6ª e 7ª Classe, Maputo, INDE/MINED, 2004;

13. INDE/MINED, Plano curricular do Ensino Básico, Maputo, INDE/MINED s.d.;

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14. KOCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Cientifica. 14ªed. São Paulo,
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16. LAU, Francisco Apό et al. La enseñanza de las Ciencias Naturales en la escuela
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17. LIBÂNEO, J. Didáctica, São Paulo, Cortez Editora, 1992;
18. MARTINS, Hélder , Metodologia de Aprendizagem por Solução de Problemas,
Vol. II, Maputo, Editorial Milénio, 2000;
19. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 10 Regras Fáceis para Educar , in Ministério
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incondicional pelo seu filho, vol. 30, Maputo , 2003;
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Editores, 2005;

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Classe, Maputo, Plural Editores, 2010;

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Compreensão: Uma Visão Construtivista, Lisboa, Plátano Edições Técnicas, 2000.

25. PATO, Maria Helena, Trabalho de Grupo no Ensino Básico- Guia prático para
professores, 3ª Edição, Lisboa, Texto Editora, 2001
26. PEREIRA, José Luís, História e Ensino de História, in Contacto: Valorizar a
aula, Eduacação para todos, Maputo, MINED, 2003;
27. PILETTI, Claudino. Didáctica Geral, São Paulo, Editora Atica; 2004;
28. PLANCHARD, Emile. Conhecer, Compreender e Ajudar os Alunos; Coimbra,
Coimbra Editora, 1979;
29. SOUSSAN, Georges, COMO ENSINAR AS CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS?:
Didática e Formação, Brasília, ©UNESCO, 2003.

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