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CLIMACOM CULTURA CIENTÍFICA - PESQUISA, JORNALISMO E ARTE | ANO


02 - VOLUME 02

Territórios preparando para o evento havia

de
uma grande quantidade de anos. A
entrega do título, sem dúvida, não

diferença: foi o último passo numa história

a ontologia
que hoje já tem um final feliz.
Entretanto, exemplifica as lutas

política dos das comunidades negras e suas

“direitos ao organizações na defesa de seus


territórios e sua cultura.
território” De um lado, no ano 2000, a
maioria dos territórios coletivos de
Arturo Escobar[1]
afrodescendentes no Pacífico já
  fazia parte do cenário do conflito
armado interno na Colômbia. No
  Yurumanguí a incursão do exército
e grupos paramilitares, assim como
I. TERRITÓRIO, ANCESTRALIDADE,
a intimidação e as ameaças a
COSMOVISÃO E VIDA
líderes e pessoas da comunidade,
  intensificaram-se a partir dessa
época. Nos rios vizinhos (como o
Yurumanguí Cajambre, o Naya e o Raposo, do
município de Buenaventura), a
No dia 24 de novembro de 1999, o
incursão de atores armados de
Conselho Comunitário do Território
todo tipo (exército, paramilitares,
do rio Yurumanguí, no município
guerrilha, narcotraficantes), assim
de Buenaventura, no Pacífico sul
como os deslocamentos de
colombiano — com uma população
centenas de famílias e o
de seis mil habitantes, em sua
assassinato e massacre de líderes,
grande maioria afrodescendentes
tornaram-se cada vez mais
—, recebeu seu título coletivo de
frequentes, criando uma
propriedade de 52.144 hectares,
verdadeira “geografia do terror”
ocupando mais de 82% da bacia do
na região (OSLENDER, 2008).
rio e abrangendo treze veredas[2].
Nesse contexto, os líderes de
Ainda que a assembleia
comunidades como as do rio
comunitária para a entrega pública
Yurumanguí começaram a elaborar
do título por parte do governo
estratégias para fortalecer o
tivesse que esperar muitos meses,
controle sobre o território, a
as organizações do rio vinham se
prevenção dos deslocamentos e o
direito à paz, à liberdade e à vida Apesar disso tudo, as comunidades
nos territórios coletivos. Entre as seguem com suas denúncias ao
estratégias desenvolvidas a partir Estado e aos organismos
do ano 2000, contam-se a internacionais, e, mais ainda, com
recuperação do cultivo de arroz, a sua inamovível decisão de retornar
produção de adoçante de cana de a seus territórios. Em várias sub-
açúcar, a autonomia alimentar, a regiões do Choco e do Urabá,
promoção de saberes e práticas milhares de mulheres e homens
tradicionais e o fortalecimento das continuam hoje em dia
organizações étnico-territoriais defendendo suas vidas, territórios
(Proceso de Comunidades Negras, e culturas através de projetos
2004). alternativos de uso e manejo de
recursos naturais, criando “zonas
Uma situação ainda mais difícil foi humanitárias”, “comunidades de
vivida durante o mesmo período paz” e “zonas de biodiversidade”
nas comunidades de Curvaradó e como alternativas à devastação
Jiguamiandó, na região do Baixo causada pelo desenvolvimento
Atrato, departamento do Chocó. promovido por atores vinculados
Esse caso é bastante conhecido aos mercados globais.
nacional e internacionalmente, em
parte pelo nefasto papel Duas perguntas surgem
desempenhado pelas imediatamente dessa conjuntura:
multinacionais bananeiras, em
especial Chiquita Brands e Banacol Em primeiro lugar, “por que tanta
violência e sevícia — com
Marketing Corporation.
frequência crueldade e selvageria,
Muito antes de receber seus títulos mesmo em nome da civilização e
coletivos (46.084 hectares no caso do progresso — contra as
de Curvaradó e 54.973 para populações afrodescendentes e
Jiguamiandó), ações coordenadas indígenas desses territórios?” E
por parte de militares e “por que tanto interesse nessas
paramilitares aliados a negociantes terras?”. Sem dúvida, uma boa
interessados na expansão da parte da resposta será encontrada
palmeira africana — e sob o nas dinâmicas do capital global e
pretexto de combater a guerrilha e nacional. Entretanto, é suficiente
levar o “desenvolvimento” à região uma tal resposta?
— tinham propiciado massacres e
deslocamentos forçados massivos Em segundo lugar: “como se
em 1996 e 1997. Desde então e até explica a tenacidade com a qual

março de 2012 essas duas muitas populações e organizações


comunidades tinham sido vítimas locais não apenas lutam para
defender seus territórios, mas o
de quinze deslocamentos forçados
e de 148 assassinatos de líderes. O fazem em nome de outra
motivo: apropriar-se dos territórios concepção de desenvolvimento,

para expandir o cultivo da uma relação harmônica com a


palmeira, a banana, a pecuária natureza e uma forma diferente de
extensiva e outros produtos, vida social?”. Num primeiro

principalmente para mercados de momento, a resposta a esta


exportação[3]. segunda questão também poderia
parecer óbvia: as comunidades
lutam por seus recursos e seus entrada da mineração de ouro de
direitos, talvez por sua autonomia; grande escala.
mas nos perguntamos de novo:
Com seis mil habitantes e um
“seria esta uma resposta
suficientemente ampla para gerar território de sete mil hectares (dos
o espaço de pensamento e ação quais pelo menos seis mil e

das comunidades e movimentos quinhentos foram solicitadas em


nas lutas por seus territórios?” concessão pela transnacional
Anglo-Gold Ashanti e por grupos
É importante esclarecer desde o locais, de tal modo que tais
começo que essas respostas não concessões incluiriam até “o povo
estão erradas. Ao contrário, ainda e inclusive o cemitério”, como
são necessárias e é muito enfatizam com tristeza os líderes);
importante mostrá-las; mas, como La Toma é uma das regiões que
se argumentará, elas são conseguiram documentar a
insuficientes. permanência contínua no território
desde a primeira metade do século
Uma ativista de uma terceira
XVII. Isso é uma das demonstrações
comunidade, também emblemática mais patentes daquilo que os
das lutas na Colômbia e em muitas ativistas chamam de
partes do mundo, nos sugere uma
“ancestralidade”: a ocupação
resposta: “Sabemos bem que antiga, às vezes muito antiga, de
estamos enfrentando uns certo território; a continuidade de
monstros, como o são as um “mandato ancestral” que
corporações transnacionais, e persiste ainda no presente na
estamos enfrentando o poder que memória dos mais velhos e do qual
é o Estado. Ninguém está disposto testemunham tanto a tradição oral
a deixar seu território; que me quanto a investigação histórica e a
matem aqui, mas eu não vou experiência histórica de longa
embora”[4]. Outro líder já tinha se data, mas uma ancestralidade
expressado com similar
também sempre renovada, de
contundência em 2009, quando o viver sob outro modelo de vida,
conflito começava a se outra cosmovisão, no pensamento
intensificar: “Nossa aposta é dos movimentos e no que adiante
defender o território; tiraram de se chamará de “ontologia”.
nós a planície e fomos para as
encostas. Agora para onde Acrescentava o mesmo líder já
correremos? As pessoas dizem que citado: “Em Gelima (La Toma) há o
é preferível ser morto por um tiro maior número de gente com
do que ir viver nos corredores de sobrenomes de origem africana;
miséria das cidades. […] Mas Gelima é para o norte do Cauca o
somente seremos escravos de novo que a África é para a
quando o último filho tiver vendido humanidade”. E entoam os
o último metro de terra”[5]. Esta habitantes da comunidade na cena
comunidade, La Toma, localizada seguinte: “Da África chegamos com
na região do norte do Cauca um legado ancestral; a memória do
(município de Suárez), de histórica mundo devemos recuperar”[6].
importância para as comunidades
negras, encampou durante vários Não termina aí o fundo histórico.
anos uma corajosa resistência à Falando da reparação coletiva no
contexto dos deslocamentos indígenas, e talvez se possa
produzidos durante décadas pela acrescentar alguns movimentos
cana de açúcar, a guerra ou a camponeses e ecologistas)
construção de usinas enfatizam esta outra dimensão: a
hidroelétricas, os habitantes do dimensão da vida ou dimensão
norte do Cauca afirmam de forma ontológica.
contundente: “Estes são os temas
inconclusos depois da abolição da Assim, é possível anunciar o
escravidão. Para reparar é argumento central deste trabalho

necessário resolver a desigualdade da seguinte maneira: a


de poder que surgiu desde a perseverança das comunidades e
abolição, [assim] como restaurar a movimentos de base étnico-
autonomia das comunidades”[7]. territorial envolve resistência,
oposição, defesa e afirmação dos
Ancestralidade, história, territórios, mas com frequência
autonomia e poder andam de mãos pode ser descrita de modo mais
dadas, como se explicará adiante. radical como ontológica. Da
mesma maneira, ainda que a
  ocupação de territórios coletivos
Territorialidade, ancestralidade e usualmente suponha aspectos

mundos armados, econômicos, territoriais,


tecnológicos, culturais e
Esses e muitos outros testemunhos ecológicos, sua dimensão mais
similares nos remetem a uma importante é a ontológica.
dimensão mais fundamental que
aquela do capital e dos direitos nas Nesse contexto, aquilo que

dinâmicas territoriais (sem sugerir “ocupa” é o projeto moderno de


que elas não sejam fundamentais), Um Mundo que procura
e que em grande medida subjaz a transformar os muitos mundos
elas: a defesa da vida. existentes num só (o mundo do
indivíduo e do mercado); e aquilo
Como pensamos essa defesa da que persevera é a afirmação de
vida? O pensamento dos uma multiplicidade de mundos.
movimentos sociais
contemporâneos nos oferece Ao interromper o projeto
pautas para abordar essa questão. globalizador neoliberal de
Ao falar em cosmovisão, por construir Um Mundo, muitas

exemplo, ou ao afirmar que a crise comunidades indígenas


ecológica e social atual é uma afrodescendentes e camponesas
crise de modelo civilizatório, ao podem ser vistas como avançando
apostar na diferença ou ao fazer lutas ontológicas. Noutras
referência à identidade e palavras: subjacente à máquina de
especialmente, como se verá no devastação que se debruça sobre

próximo ponto, ao insistir no os territórios dos povos, há toda


exercício de sua autonomia; em uma maneira de existir que foi se
todas essas expressões percebe-se consolidando a partir do que
que muitos dos movimentos usualmente chamamos de
denominados “étnico-territoriais” “modernidade”. Em sua forma

(na Colômbia principalmente dominante, essa modernidade —


afrocolombianos e de povos capitalista, liberal e secular —
estendeu seu campo de influência olhamos a cena com os olhos da
para a maior parte dos cantos do “ontologia”, ou da “cultura”,
mundo desde o colonialismo. começamos a ver muitas coisas
mais: o potrillo foi feito de uma
Baseada no que aqui se árvore do mangue graças aos
denominará como uma “ontologia saberes aprendidos pelo pai de
dualista” (que separa o humano e seus ancestrais; o mangue foi
o não humano, a natureza e a percorrido em todas as suas
cultura, o indivíduo e a quebradas pelos habitantes do
comunidade, “nós” e “eles”, o lugar, aproveitando a rede fractal
corpo e a mente, o secular e o de charcos que as cruzam e
sagrado, a razão e a emoção, comunicam; há uma conexão com
etc.), essa modernidade arrogou- o mar e com a lua representada
se o direito de ser “o” Mundo pelo ritmo das marés que os locais
(civilizado, livre, racional), em conhecem à perfeição e que supõe
detrimento de outros mundos outra temporalidade; ali também
existentes ou possíveis. está o próprio mangue, que é uma
No transcurso histórico, esse grande rede de inter-relações
projeto de se consolidar como Um entre minerais, micro-organismos,
Mundo — que hoje chega a sua vida aérea (raízes, árvores,
máxima expressão com a chamada insetos, pássaros), vida aquática e

globalização neoliberal de corte anfíbia (caranguejos, camarões,


capitalista, individualista e outros moluscos e crustáceos,
seguindo certa racionalidade — peixes) e até seres sobrenaturais
levou à erosão sistemática da base que às vezes estabelecem
ontológico-territorial de muitos comunicação entre os diversos
mundos e seres.
outros grupos sociais,
particularmente aqueles nos que É toda essa densa rede de inter-
primam concepções de mundo não relações e materialidade que
dualistas, isto é, não fundadas nas chamamos de “relacionalidade” ou
oposições já indicadas. “ontologia relacional”. Desde esse

Essas outras experiências serão ponto de vista, não há “pai” nem


chamadas de mundos ou ontologias “filha” nem “potrillo” nem
relacionais. Para dar um exemplo “mangue” como seres discretos
muito breve dos rios do Pacífico autocontidos que existem em si
sul, imaginemos uma cena simples: mesmos ou por sua própria
um pai se desloca com sua filha em vontade, mas o que existe é um

seu potrillo (canoa), cada um com mundo inteiro que se atualiza


seu canalete (remo), rio acima, minuto a minuto, dia a dia, através
voltando para casa aproveitando o de uma infinidade de práticas que
refluxo da maré depois de ter vinculam uma multiplicidade de
conseguido peixe no povoado, humanos e não-humanos. Para
resumir: uma ontologia relacional
talvez com algo de “remessa” para
a casa. O pai ensina a sua pequena pode ser definida como aquela em
filha a maneira correta de navegar que nada (nem humanos nem não-
o potrillo, que será uma habilidade humanos) preexiste às relações
que, se permanecer no rio, lhe que nos constituem. Todos
servirá para toda a vida; mas se existimos porque existe tudo.
Ainda que essas ontologias armada e extrativista da última
caracterizem muitos povos étnico- década, estão desse modo na
territoriais, não se restringem a vanguarda das lutas por outros
eles (de fato, dentro da mesma modelos de vida, economia e
experiência da modernidade sociedade.
ocidental existem expressões de
mundos relacionais não Ao falar de transições (como
dominantes). diriam muitos ativistas: a outros
modelos civilizatórios
É importante destacar, desde nossa verdadeiramente sustentáveis e
perspectiva, que a pressão sobre plurais, ou transições ao pós-
os territórios que se está extrativismo e ao imaginar
evidenciando hoje em dia a nível alternativas para o
mundial — especialmente pela desenvolvimento), põe-se de
mineração e os agrocombustíveis — relevo a dimensão planetária das
pode ser vista como uma lutas locais, especialmente frente
verdadeira guerra contra os à mudança climática global[8].
mundos relacionais, e mais uma
tentativa de desmantelar tudo o Para o caso do rio Yurumanguí, isso
que é coletivo. Dentro dessa significou uma estratégia com
complexa situação, as lutas pelos quatro componentes: a
territórios tornam-se luta pela conceituação e a potenciação do
defesa dos muitos mundos que projeto de vida das comunidades
habitam o planeta. Nas palavras do baseadas em práticas e valores
pensamento zapatista, trata-se de próprios de sua cosmovisão; a
lutas por um mundo no qual defesa do território como espaço

caibam muitos mundos, isto é, que sustenta o projeto de vida


lutas pela defesa do pluriverso. desde a perspectiva étnico-
territorial (no marco da Lei 70 de
A sabedoria dos e das 1993); a dinâmica organizativa
companheiras zapatistas nos relacionada à apropriação e
oferece uma chave para a segunda controle social do território, base
parte do argumento deste da segurança alimentar e da
trabalho: essas lutas podem ser autonomia; e a participação em
interpretadas como contribuições estratégias de transformação mais
importantes para as transições amplas, especialmente através de
ecológicas e culturais em direção sua vinculação com organizações
ao pluriverso. Essas transições são étnico-territoriais afrocolombianas
necessárias para enfrentar as e com redes transnacionais de
múltiplas crises ecológicas e solidariedade (Proceso de
sociais produzidas pela ontologia Comunidades Negras, 2004, pp. 38-
Uni-Mundista e suas concomitantes 40). Todas essas dimensões são
narrativas e práticas. aspectos importantes daquilo que
neste trabalho se chamará de
As lutas afrodescendentes em prática política ontológica.
regiões como o Pacífico
colombiano, particularmente a  
radicalização dessas lutas pelo
II. Território, territorialidade e
território e a diferença, e contra a
avalanche desenvolvimentista, territorialização
Este artigo inscreve-se no espírito ao mercado e à economia
de celebração dos vinte anos da capitalista. Isto é, a
Lei 70, promulgada no dia 27 de territorialidade tem raízes
agosto de 1993. Não é este o profundas no processo de
espaço para descrever e discutir a escravização e na resistência
Lei mais do que para mencionar frente a esse processo. Como
seus aspectos essenciais: afirma um texto recente do
reconhece as comunidades negras Proceso de Comunidades Negras
da Colômbia como grupo étnico (PCN):
com direitos coletivos a seus
territórios e a sua identidade As comunidades
cultural; identifica aqueles negras
assentamentos ancestrais que construímos
mantiveram ocupação coletiva e historicamente,
cria mecanismos para a titulação durante
coletiva desses territórios; quinhentos
estabelece parâmetros para o uso anos, territórios
dos territórios e a proteção do ancestrais a
meio ambiente de acordo com as partir das lutas
práticas tradicionais de de nossos
agricultura, caça e pesca, antepassados

mineração artesanal e outras; cria por se libertar


mecanismos para a proteção e da escravidão e
desenvolvimento da identidade mantendo a
cultural das comunidades e memória
compromete o Estado com a recriada pelos
adoção de medidas para garantir negros vindos
às comunidades negras “o direito a da África.
se desenvolver econômica e Nesses
socialmente atendendo aos territórios
elementos de sua cultura recriamos
autônoma” (Artigo 47), incluindo nossas culturas,

suas próprias formas de economia ressignificamos


(por exemplo, o Artigo 52). nossas crenças,
conseguimos a
Vinte anos depois, e apesar do reprodução de
caráter inconcluso da Lei, tantos nossas vidas. A
em seus aspectos legais como nos Constituição de
práticos, a maioria das 1991 e a
organizações afrodescendentes posterior
ressalta sua crucial importância e emissão da Lei
estão dispostas a seguir batalhando 70, de 1993,
por sua total implementação. representaram
um avanço,
Na visão de algumas organizações ainda que
de comunidades negras, as limitado, em
dinâmicas territoriais começam nossas
com o projeto histórico libertário aspirações pelo
do cimarronaje [9] e continuam no reconhecimento
presente com a resistência cultural de nossa
ancestralidade planetária cada vez mais ineludível
e nossas raízes e ameaçadora pela que passamos
culturais (mudança climática global,
étnicas (Proceso destruição acelerada da
de Comunidades biodiversidade), frente à qual se
Negras, 2012, impõem mudanças radicais no
p. 3). modelo de economia e
desenvolvimento (que na América
Para alguns críticos da Lei, essas Latina alguns chamam de
concepções procuram manter a “transições para o pós-
comunidade no passado; mais extrativismo”, outros de “mudança
ainda, dizem as vozes críticas de de modelo civilizatório”); e
hoje que, junto a mecanismos tais manifesta um sentido de utopia
como a consulta prévia e o realista em relação à grande
consentimento prévio, livre e multiplicidade de tramas humano-
informado, a Lei faz com que as naturais que os humanos teremos
comunidades e os territórios de seguir cultivando desde lugares
coletivos se tornem um “obstáculo específicos do planeta para
para o desenvolvimento”. Este é promover as transições para “um
um debate ativo na Colômbia, que mundo onde caibam muitos
nestas páginas não poderia mundos”.
resenhar satisfatoriamente.
O restante deste trabalho está
Portanto, é importante explicar dedicado a explicar
bem por que a concepção étnico- detalhadamente alguns dos
territorial de autonomia e de elementos dessa proposição,
diferença cultural encarnada na particularmente a relacionalidade,
Lei 70 e, com mais clareza ainda, as tramas humano-naturais e as
na concepção e prática de algumas
transições para o pós-extrativismo
manifestações dos movimentos e o pluriverso. Ao final da
sociais afrocolombianos e exposição se estará capacitado
indígenas não só não permanece no para entender a noção de “prática
passado, nem é “romântica” ou política” ontológica com a qual
irreal, nem constitui uma “pedra encerrou-se o primeiro ponto.
no sapato” daqueles projetos do
Estado que procuram “o Começaremos essa tarefa nos
progresso”, mas ao contrário: está apoiando no trabalho do geógrafo
ancorada num entendimento brasileiro Carlos Walter Porto
profundo da vida (como se Gonçalves (2002). Para esse
explicará, fundamentada na intelectual, o interesse pelo
relacionalidade); põe em “território” que surge no final da
funcionamento uma estratégia década de 1980 e começo da
política de vanguarda no contexto década seguinte em muitas partes
regional e nacional em muitas da América Latina — aquele que
áreas (por exemplo, frente aos primeiro levanta o estandarte de
direitos dos grupos étnicos, a “não queremos terra, queremos
consulta prévia, as atividades território” — ocorre graças aos
extrativas e o processo de paz grupos sociais indígenas,
atual); evidencia uma aguda camponeses e afrodescendentes,
consciência da conjuntura em países como Bolívia, Equador,
Peru, Colômbia e Brasil, que Continuaremos com uma
introduzem pela primeira vez o apresentação bastante breve da
tema do território nos debates perspectiva étnico-territorial do
teórico-políticos, impondo assim Proceso de Comunidades Negras
uma grande ressignificação ao (PCN) antes de concluir este ponto
debate sobre terras e territórios no retornando à distinção sugerida
continente. por Porto Gonçalves entre
território, territorialidade e
É durante esses anos que tais territorialização.
grupos começam a se mobilizar em
grandes números, formulando as  
posturas mais de vanguarda da
época sobre temas como o Estado, A ecologia política do Processo de

o poder, a natureza e as Comunidades Negras da Colômbia


identidades. Alguns desses temas Ao longo dos últimos vinte anos, o
já estavam circulando em diversos PCN elaborou toda uma
discursos globais, mas eles foram conceituação e um pensamento
capazes de rearticulá-los da político, ecológico e cultural como
maneira mais efetiva, como no base de sua estratégia. Esse
caso da questão ambiental, que pensamento desenvolveu-se de
teve uma radical ressignificação de uma maneira dinâmica no encontro
temas tais como a conservação, os com as comunidades, com o
bosques e os direitos de Estado, a academia, as ONGs e
propriedade intelectual, tudo isso outros movimentos, mas sempre
desde perspectivas territoriais- com a intenção de produzir um
culturais. pensamento próprio desde a
Esse foi um momento de força e autonomia (ver Proceso de
visibilidade das propostas político- Comunidades Negras e
epistêmicas dos movimentos, para Investigadores Académicos, 2007;
o que também em muito ESCOBAR, 2010).
contribuiu o movimento zapatista A primeira pedra angular dessa
com sua visão da relação entre conceituação foi o enunciado de
dignidade e território, que destaca cinco princípios básicos em sua II
o fato básico de que sem as Assembleia Nacional, em 1993. Ao
condições materiais e culturais longo dos anos 1990 expandiu-se
para a reprodução da vida (o toda a proposta territorial, de
território) não há dignidade. E conservação e desenvolvimento
embora esses posicionamentos próprio centrada no conceito de
desde a equação território-cultura “território-região”. A partir de
— desde aquilo que chamamos de 2001, os temas centrais de
territórios de diferença — tenham elaboração teórico-política têm
se banalizado pelas tentativas de incluído os direitos econômicos,
apropriação do Banco Mundial e sociais e culturais (DESC); a
dos Estados neoliberais, seguem memória e reparação coletiva; os
sendo propostas historicamente censos de população e as
importantes, que seguem se identidades negras; o racismo e a
renovando ao calor das lutas e dos discriminação, assim como a
debates, como se verá adiante. consulta prévia (CP) e o
consentimento prévio, livre e
informado (CPLI). Ainda que as propriedade e
questões territoriais deixem de ser continuidade
tão centrais como o foram na dos territórios
década de 1990, não desaparecem, coletivos das
mas trabalham desde esses outros comunidades
ângulos. negras e
indígenas —
A referência crucial de toda como
análise e estratégia política do
concepção e
PCN são os princípios com os quais prática na
se começará esta breve exposição, definição de
a ser seguida pela apresentação do uma estratégia
marco territorial. Esses princípios de defesa
são os seguintes (ressalto em social, cultural
itálico aqueles aspectos mais e ambiental do
diretamente ligados a expressões espaço de vida
de ontologia política, que será — em direção à
discutida no próximo ponto): 1. A estruturação de
afirmação e reafirmação do ser: o uma região
direito a ser negros, a ser
autônoma que
comunidades negras (direito à propenda por
identidade); 2. O direito a um uma opção de
espaço para ser (direito ao desenvolvimento
território); 3. O direito ao compatível com
exercício do ser (autonomia, seu entorno
organização e participação) e 4. O ambiental e as
direito a uma visão própria de relações que
futuro: trata-se de construir uma nele
visão própria de desenvolvimento tradicionalmente
ecológico, econômico e social, mantiveram as
partindo da visão cultural, das
comunidades
formas tradicionais de produção e (Proceso de
de organização das comunidades. Comunidades
O território é definido como um Negras e
espaço coletivo composto por todo Investigadores
o lugar necessário e indispensável Académicos,
onde homens e mulheres, jovens e 2007, p. 11)
adultos, criam e recriam suas [10].
vidas. É um espaço de vida onde se  
garante a sobrevivência étnica,
histórica e cultural. Ontologias relacionais:
perspectivas territoriais, além da
Por sua parte, “cultura”
o Território- Sintetizando alguns dos pontos
Região do centrais de trabalhos anteriores
Pacífico é uma (BLASER, DE LA CADENA e
unidade ESCOBAR, 2009; DE LA CADENA,
geográfica 2010; BLASER, 2010; ESCOBAR,
desde a
2012b), ressaltamos dois aspectos instrumentais e de uso. Assim, o
chave de muitas ontologias conceito de comunidade, a
relacionais: o território como princípio centrado nos humanos,
condição de possibilidade e as expande-se para incluir os não-
diversas lógicas comunais que com humanos (que podem ir desde
frequência subjazem a ele, ainda animais a montanhas passando por
que neste texto só se discuta o espíritos, tudo dependendo dos
primeiro aspecto, por questões de territórios específicos).
espaço. Consequentemente, o terreno da
política abre-se aos não-humanos.
Nessas ontologias, os territórios Que impacto tem sobre a
são espaços-tempos vitais de toda concepção moderna da política o
comunidade de homens e fato dela não ficar restrita aos
mulheres; entretanto, não é humanos? (DE LA CADENA, 2010,
apenas isso, mas também o 2015).
espaço-tempo de inter-relação
com o mundo natural que circunda A maneira com que os humanos e
e é parte constitutiva dele. Ou os não-humanos manejam suas
seja, a inter-relação gera cenários relações sociais e sua comunicação
de sinergia e de num determinado território varia,
complementaridade, tanto para o mas em cada caso a participação
mundo dos homens e mulheres de não-humanos é um aspecto
como para a reprodução do resto (relativamente) “normal” da
dos outros mundos que circundam política relacional. Isso não é assim
o mundo humano. Dentro de na política moderna baseada na
muitos mundos indígenas e em noção de representação que
algumas comunidades prevalece em certo tipo de
afrodescendentes da América modernidade, em que a oposição a
Latina, esses espaços materiais se um projeto de mineração
manifestam como montanhas ou formulada como “a montanha é um
lagos que são entendidos como ser sensível e por isso não pode ser
tendo vida ou como espaços destruída” apenas pode ser aceita
animados. enquanto uma demanda
“cultural”, em termos de
O território concebe-se como algo “crenças”, mas não como um
mais do que uma base material enunciado válido sobre a
para a reprodução da comunidade realidade.
humana e suas práticas. Para
poder captar esse algo mais, é É possível que se dê alguma
crucial prestar atenção às consideração a essas “crenças”,
diferenças ontológicas. Quando se mas o que conta em última
está falando de uma montanha ou instância é a “realidade”
de uma lagoa ou de um rio como (verdadeira), e ela só nos é
de um ancestral ou como entidade oferecida pela ciência (ou ao
viva, fala-se de uma relação social, menos pelo senso comum moderno
não uma relação de sujeito a que nos diz que a montanha é uma
objeto. Cada relação social com formação rochosa inerte, e nada
não-humanos pode ter seus mais). Procedendo dessa maneira,
protocolos específicos, mas não como se verá no último ponto,
são (ou não são apenas) relações
ignoramos a natureza ontológica desenvolvendo sem cessar. Como
do conflito em questão. demonstra a perseverança de
mundos relacionais, sempre há
A premissa de que em última algo em todos esses mundos que
instância todos vivemos dentro de “excede” a influência do moderno;
uma mesma realidade — um mundo esse “excesso” que resiste à
que se considera constituído por definição e redução ao moderno, é
Um Só Mundo (Law, 2011) e não também um fundamento
por muitos mundos, como nos importante da ontologia política e
sugerem tanto os zapatistas como da prática política ontológica (DE
os filósofos da multiplicidade e a LA CADENA, 2015).
diferença e os pesquisadores dos
estudos sociais da ciência — exclui A ontologia política é então a
a possibilidade de ontologia análise de mundos e dos processos
múltiplas, já que se assume que as por meio dos quais eles se
diferenças são entre diversas constituem enquanto tais; isso
“perspectivas” de uma única inflige, obviamente, a própria
realidade “objetiva”; mas, o que modernidade. A ontologia política
acontece se questionamos essa reposiciona o mundo moderno
premissa fundadora do Ocidente como um mundo entre muitos
racional moderno? outros mundos. Essa é uma tarefa
teórico-política fundamental que
Para Mario Blaser (2010, 2013), se está encarando desde as
esse questionamento cria a academias críticas e desde certos
possibilidade de todo um campo de movimentos sociais.
ontologia política como única saída
para evitar sermos capturados na Desde essas perspectivas, não
armadilha epistêmica da visão apenas não pode haver um Mundo
dominante da modernidade. A Único (um universo), como
ontologia política, como vimos, também não pode haver um único
toma como ponto de partida a princípio ou conjunto de princípios
existência de múltiplos mundos a que se possam referir todos esses
que, embora entremeados, não mundos. Como sabemos,
podem ser completamente usualmente esses princípios são os
reduzidos uns aos outros (por da tradição liberal e secular
exemplo, não podem ser europeia. Embora todos os mundos
explicados por nenhuma “ciência do planeta vivam à sombra da
universal” como perspectivas expansão do liberalismo como
diferentes sobre Um Mesmo sistema político e cultural
Mundo). capitalista e secular — com seus
princípios de democracia,
Cada mundo é atualizado por suas mercados, indivíduos, ordem e
práticas específicas, sem dúvida racionalidade a ser impostos pela
em contextos de poder tanto em força a outras sociedades se
seu interior quanto a respeito de necessário, como tentam fazer os
outros mundos. Esses mundos Estados Unidos com frequência —,
constituem um pluriverso, isto é, não podem ser integralmente
um conjunto de mundos em explicados em termos desses
conexão parcial uns com os outros, princípios.
e todos se atualizando e se
Fazendo eco à sociologia das desses mundos em suas
ausências e à sociologia das múltiplas inter-relações.
emergências propostas por 3. Para alguns movimentos
Boaventura de Sousa Santos étnico-territoriais, a
(2007), a ontologia política busca autonomia surge como
visibilizar as múltiplas formas de conceito chave de sua
“mundificar” a vida, enquanto a prática política ontológica. A
prática política ontológica autonomia refere-se à
contribui para defender criação de condições que
ativamente esses mundos em seus permitam modificar as
próprios termos. Como afirma normas de um mundo desde
Blaser (2013), esses mundos que dentro. Pode incorporar a
abrigam formas de diferença defesa de algumas práticas
radical continuam existindo diante de longa data, a
de nossos narizes; o fato de que transformação de outras e a
com frequência envolvam práticas invenção de novas práticas.
modernas e a utilização da ciência Como nos lembram os
e da tecnologia (como Internet, zapatistas, a autonomia
evidentemente) não os invalida implica a condição de ser
como mundos diferentes ao que comunal: “nosso método de
chamamos de “modernidade”. governo autônomo […]
provém de vários séculos de
Gostaria de sugerir, como resistência autônoma, assim
conclusão provisória para a
como da própria experiência
discussão, as seguintes zapatista. É o autogoverno
possibilidades de leitura das das comunidades” (Sexta
dinâmicas territoriais: Declaración, 2005). Quando
1. Muitos dos movimentos o PCN fala em articular o
étnicos territoriais na projeto de vida (ontológico)
América Latina são espaços das comunidades com o
vitais de produção de projeto político do
conhecimento e de movimento está
estratégias sobre as desenvolvendo uma prática
identidades e a vida; política ontológica.
constituem uma proposta de 4. Repensar o
vanguarda frente à crise “desenvolvimento” e a
social e ecológica dos “economia” surgem como
territórios. tarefas importantes para a
2. O “território” é o espaço — ontologia política,
a um só tempo biofísico e especialmente no contexto
epistêmico — onde a vida se do avanço de formas de
atualiza de acordo com uma entender o indivíduo, a
ontologia particular, onde a economia e o real que cada
vida se faz “mundo”. Nas vez erodem mais o sistema
ontologias relacionais, de inter-relações que

humanos e não-humanos (o tornam possíveis os mundos


orgânico, o não-orgânico e o relacionais. As múltiplas
sobrenatural ou espiritual) buscas por alternativas ao
formam parte integral desenvolvimento e “outras
economias” podem, dessa base de conexões parciais
maneira, ser vistas como que não os esgotam em sua
ingredientes cruciais para inter-relação. Daí surge uma
uma ontologia política dos das perguntas mais cruciais
territórios. Outro enunciado da ontologia política: como
possível dessas metas é que desenhar encontros através
fomentem formas não- da diferença ontológica, isto
capitalistas e não-liberais de é, encontros entre mundos?
organizar as tramas humano- (Blaser, 2010, Law, 2011, De
naturais. la Cabana, 2015). O
5. Os territórios não são contexto para isso não será
estáticos, como também não nada fácil sempre e quando
o são os mundos, e nunca o prime uma concepção da
foram. Ao propor que os globalização como
territórios das comunidades universalização da
negras “constituem uma modernidade, mas se a
rede complexa de relações interpretação apresentada
nas quais se desenvolve uma neste artigo tem alguma
proposta político- validade, abre-se a
organizativa que procura possibilidade histórica de
contribuir para a outro grande projeto: a
conservação da vida, a globalidade como estratégia
consolidação da democracia para preservar e fomentar o
a partir do direito à pluriverso (Blaser, 2010).
diferença e a construção Chamamos essa estratégia
alternativa de sociedade” de “ativação política da
(Proceso de Comunidades relacionalidade” (Blaser, De
Negras e Investigadores la Cadena e Escobar, 2009).
Académicos, 2007, p. 48),
esse movimento não apenas À guisa de conclusão: ocupações,
perseveranças, transições
está demonstrando clareza
conceitual e política a É pouco sabido internacionalmente
respeito das conjunturas que a Colômbia ocupa o primeiro
atuais, como também está lugar em nível mundial nos
proporcionando um deslocamentos forçados, com mais
parâmetro para as relações de cinco milhões de deslocados
entre mundos — uma internos, sendo um número
proposta para a desproporcional deles
interculturalidade. Setores afrodescendentes. Os
do Estado, graças à pressão deslocamentos agudizaram-se com
dos movimentos, tentam os megaprojetos de
reconhecer a negociação desenvolvimento e as atividades
inter-mundos como uma extrativistas, incluindo a
possibilidade historicamente mineração e os agrocombustíveis,
viável. como a palmeira africana.
6. Em termos gerais, os mundos
se entremeiam uns com os A situação da palmeira tem sido
outros, se coproduzem e bastante estudada por missões
afetam, tudo isso sobre a
internacionais, e num dos em relação com comunidades,
relatórios resultantes se lê que, rios, esteiros e mangues é
destruído para dar passagem à
a missão monotonia da plantação moderna,
determinou que a serviço da qual se subordina a
o impacto mais trama relacional de humanos e
preocupante da não-humanos, cuja base ontológica
expansão da vai se erodindo.
palmeira é a
perda de Propõe-se que os direitos dos povos
autodeterminação indígenas, afrodescendentes e
territorial das camponeses e seus territórios
comunidades. sejam vistos em termos de três
[Em muitas processos entrecruzados:
zonas] as ocupações, perseveranças e
empresas da transições.
palmeira
efetivaram um Ainda que a “ocupação” de
processo de territórios coletivos usualmente
desterritorialização, envolva aspectos armados,
invadindo os territoriais, tecnológicos, culturais
territórios das e ecológicos, sua dimensão mais
comunidades, importante é a ontológica.
ou em alguns As “perseveranças”, da mesma
casos as maneira, envolvem resistências,
cercando e oposição, defesa e afirmação,
confinando ainda que com frequência possam
(Misión ser descritas de forma mais radical
Internacional, como ontológicas. Ao resistir ao
2009, pp. 4, 7), projeto globalizador capitalista
prática essa chamada de neoliberal de construir Um Mundo,
“emplazamiento” pelas muitas comunidades, como se
organizações. Algo similar tentou demonstrar aqui, adiantam
aconteceu com a cana de açúcar, lutas ontológicas.
em algumas regiões como o norte Essas lutas podem ser
do Cauca, e ameaça acontecer interpretadas como contribuições
com a mineração (caso La Toma).
importantes às “transições”
Os meios utilizados para a ecológicas e culturais em direção
expansão ilícita das operações ao pluriverso. Essas transições são
extrativas vão desde a intimidação necessárias para enfrentar as
até as ameaças e os assassinatos, múltiplas crises ecológicas e
passando pela cooptação de líderes sociais produzidas pela ontologia
locais e substituição de gente local Uni-Mundista e suas concomitantes
por trabalhadores de outras narrativas, práticas e atualizações.
regiões. Os efeitos são Faz já quase duas décadas que as
devastadores para as comunidades organizações étnico-territoriais de
e ecossistemas locais. Assim, o comunidades afrodescendentes
bosque tropical diverso que existe declararam suas comunidades
como territórios de vida, alegria,
esperança e liberdade. Desde Practice Across Andean Worlds .
então se invoca e se referenda Durham: Duke University Press.
esse acordo em muitas reuniões,
declarações, relatórios e DE LA CADENA, Marisol. 2010.
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borrador. Bogotá: PCN. Cuadernos de Antropología Social
a partir da participação do autor
PROCESO DE COMUNIDADES
nas VII Jornadas Santiago Wallace
NEGRAS. 2004. Construyendo Buen
de Investigação em Antropologia
Vivir en las Comunidades Negras
Social, Instituto de Ciências
del rio Yurumanguí y en Pílamo,
Antropológicas da Faculdade de
Cauca. Cali: PCN-Solsticio.
Filosofia e Letras da Universidade do documentário de Paola Mendoza
de Buenos Aires. existe outro, realizado pela Public
Television Stations (PBS) dos
[2]Na Colômbia, vereda designa Estados Unidos, intitulado The War
uma subdivisão administrativa do We Are Living (2011), que mostra o
município, geralmente rural (NT). trabalho das líderes Francia
[3]Sobre o caso das comunidades Márquez y Clemencia Carabalí.
de Curvaradó e Jiguamiandó, ver o Encontra-se disponível em:
excelente relatório preparado pela http://www.pbs.org/wnet/
Comissão Intereclesial de Justiça e women-war-and-peace/full-
Paz para o Hands off the Land episodes/the-war-we-are-living/.
Project sobre as práticas da [6] Ver o trailer do documentário 
Banacol e o caso de Chiquita La Toma, de Paola Mendoza.
Brands (Comisión Intereclesial,
2012). [7] Conversa com líderes de La
Toma sobre a reparação coletiva.
[4]Trailer do documentário La Cali, 14 de agosto de 2009.
Toma, de Paola Mendoza.
Disponível em: [8]Sobre as alternativas para o
http://www.youtube.com/ watch? desenvolvimento e transições ao
v=BrgVcdnwU0M. Acesso em: 20 de pós-extrativismo, ver Gudynas
mayo de 2013. (2011); Gudy-nas & Acosta (2011) e
Acosta (2012).
[5]A maior parte da informação
deste trecho sobre La Toma [9]Chama-se cimarronaje, na
provém de duas reuniões nas que América hispânica a toda forma de
participei: no dia 14 de agosto de rebelião de escravos, índios ou
2009 com membros da organização negros, contra seus senhores,
de La Toma e membros do Proceso durante o período colonial (NT).
de Comunidades Negras (PCN-
Cali); e em julho de 2012, com [10]Para uma explicação exaustiva
membros do Palanque del Alto da ecologia política do PCN, ver
Cauca del PCN (Jamundí). Vale ESCOBAR, 2010.
destacar que a ativista norte-  
americana Angela Davis visitou La
Toma em setembro de 2011. Além

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