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SUMARIO

1 — PALAVRAS INICIAIS

2 _ CONCEITOS BÁSICOS

3 — BRASIL
3.1 — POPULAÇÃO — DENSIDADE DEMOGRÁFICA
3.2. — JUVENTUDE DA POPULAÇÃO
3.3. — RAÇA E POPULAÇÃO
3 .4 . — CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO BRA-
SILEIRA

4 — PANORAMA DO MUNDO ATUAL

5 — INTERESSES E ASPIRAÇÕES NACIONAIS


5 . 1 . — ORDEM PROGRESSO
5.2. — PRINCIPAIS INTERESSES E ASPIRAÇÕES

6 — OBJETIVOS NACIONAIS PERMANENTES

7 — ANTI — BRASIL

8 — CONCLUSÃO
— 3—
1 — PALAVRAS INICIAIS
Ao dar início ao Período Conjuntural do V I I CICLO
DE ESTUDOS SÔBRE DOUTRINA DE SEGURANÇA NACIO-
NAL, organizado pela DELEGACIA DE SÃO PAULO da AS-
SOCIAÇÃO DOS DIPLOMADOS DA ESCOLA SUPERIOR DE
GUERRA, cabe-nos pesquisar os interêsses e aspirações do po-
vo brasileiro, definir os Objetivos Nacionais Permanentes do
Brasil e pôr em evidência as manifestações contrárias aos
mesmos.
O estudo que apresentaremos não é nosso apenas. Nasceu
êle de dois Trabalhos de Grupo (1) que tivemos a honra de
relatar em 1963. Os cem estagiários que, naquele tormentoso
ano, concluíram o Curso Superior de Guerra e o Curso de
Estado Maior e Comando das Fôrças Armadas (2), elegendo-
nos orador da turma, levaram-nos a apresentar, em discurso
proferido na presença do então Presidente da República (3),
uma síntese da preleção de hoje, a qual, nos três últimos
anos, tem sido submetida a debate em diversos Ciclos de Es-
tudos promovidos pela ADESG no Brasil .

2 _ CONCEITOS BÃSICOS
Lembremos algumas noções já apresentadas na parte
doutrinária dêste Ciclo.
2.1 — Interesses nacionais
Todo o Estado, para o preenchimento de seus fins, fica
na dependência de certos interêsses nacionais supremos, de
natureza interna e externa, cuja formulação pressupõe a na-
cionalidade composta do homem, da terra e das instituições.
Os interêsses nacionais são, portanto, os interêsses do
homem, da terra e das instituições. Têm algo de concreto.
Existem em si mesmos. Podem até ser ignorados, durante
muito tempo, pela maioria dos cidadãos. E podem também
opor-se ao contigente dominante da nacionalidade.

2.2 — Aspirações nacionais


Se a Nação não descobre os seus interêsses, perecerá como
o homem que descure de tomar ciência dos seus. Será como
o demente, incapaz de conhecer a sí próprio. E, como o
demente, não poderá sobreviver sozinha.
— 4—
Quando os interêsses nacionais se integram na conciên-
cia coletiva da Nação, em suas classes dirigentes e dirigidas,
constituem-se em aspirações nacionais.
São elas os ansêios, os desejos intensos e profundos de
um povo. São a forma subjetiva e emotiva de que se revestem
os interêsses nacionais na consciência popular.

2.3 — Objetivos nacionais


Não basta, entretanto, ter conciência do próprio interêsse.
Indispensável se torna um esforço para, de acôrdo com as
aspirações nacionais, concretizá-lo.
A nação que apenas conhecesse seus interêsses e dese-
jasse realizá-los, sem nada fazer de concreto para tal, perma-
neceria num platonismo suicida e vazio.
Devem, assim, os interêsses e aspirações próprios de uma
Nação, serem traduzidos, em determinada etapa de sua evo-
lução, em Objetivos Nacionais que serão Permanentes quan-
do se referirem aos interêsses ou aspirações vitais, que sub-
sistem durante longos períodos de tempo, como um bem a
ser preservado ou um f i m de ser alcançado sem prazo de-
terminado .

3 — BRASIL
Na pesquisa dos interêsses e aspirações de um povo, há
necessidade de conhecer êste povo. É o que procuraremos
fazer agora com o nosso.

3.1 — População do Brasil — Densidade demográfica.


Quem somos nós os brasileiros ?
Setenta milhões de indivíduos, ou, para sermos exátos,
de acôrdo com o nosso censo de 1960: 70.967.183. Êste o
nosso total comprovado.
Pouco menos de trinta e dois milhões residem nas cida-
des e outros quase trinta e nove milhões se espalham pelos
campos. O Sul concentra a maior populaão: 24.848.194; a
seguir vem o Leste: 24.832.611; depois, o Nordeste: 15.677.995.
O Centro-Oste é vasio: 3.006.866. E o Norte, pràticamente um
deserto demográfico: 2.601.519.
— 5—
A repartição da população apresenta, assim, extrema de-
sigualdade. A densidade quilométrica média é de 6,18 mas
essa cifra só adquire real valor se nos lembrarmos de que
na Amazónia e no Mato Grosso ela se avislnha do zero.
3.2 — Juventude da população
Somos setenta milhões de indivíduos, em maioria jovens.
O número de nascimentos no Brasil é bastante elevado, mas
a longevidade muito reduzida. Vivemos pouco em nosso país.
A maioria da população é constituída de elementos jovens e,
mesmo de crianças de pouca idade. De certo modo, o peso
da juventude no Brasil é comparável ao da velhice na França.
3.3 — Baça e população
Setenta milhões de habitantes, espalhados por um terri-
tório imenso, em maioria jovens, a que raça pertencemos?
Os estudos relativos à diferenciação racial que preocupa-
vam, até fins do I I império, os meios culturais brasileiros,
sobretudo no campo médico, entraram em declínio justamente
quando cientistas europeus procuraram fundar em tais estu-
dos a teoria de uma raça superior, base do pan-germanismo.
Para os estudiosos brasileiros, o conhecimento das raças não
tem por f i m o estabelecimento do predomínio de uma sóbre
as demais. Visa ao conhecimento do homem para sua mais
completa valorização.
Setenta milhões de habitantes, em maioria jovens, não
pretendemos, salvo desejos isolados de grupos inexpressivos,
criar uma raça em oposição às demais. Com os elementos de
que dispomos, numa base predominantemente branca, esta-
mos, elaborando um tipo humano em progressão rápida.
Queremos que êste tipo se afirme, como ser humano, como
integrante da raça humana. E punimos, em consequência,
qualquer manifestação de preconceito racial.

3.4 — Condições de vida da população brasileira


Como vivemos, como agimos uns em relação aos outros,
que espécie de vida gozamos ou sofremos ? Está tranquila ou
inquieta a nossa gente ?
— 6—
Um retrato de nossa vida, há três anos, foi oferecida
pela Comissão Central da Conferência dos Bispos do Brasil em
documento, que traz, entre outras, a respeitável assinatura de
d. Jayme de Barros Câmara, Cardeal do Rio de Janeiro:
«Ninguém pode pensar que a ordem em que vivemos
seja aquela enunciada pela nova Encíclica como funda-
mento inabalável da paz. Nossa ordem é, ainda, viciada
pela pesada carga de uma tradição capitalista, que do-
minou o Ocidente nos séculos passados. E uma ordem
de coisas na qual o poder económico, o dinheiro, ainda
detém a última instância das decisões económicas, polí-
ticas e sociais.
É uma ordem de coisas na qual a minoria, que tem re-
cursos, tem abertas tôdas as portas de acesso à cultura
e a altos padrões de vida, de saúde, de conforto e de
luxo; e a maioria, que não tem recursos, é por isso mes-
mo privada do exercício de muitos dos direitos funda-
mentais e naturais enunciados na «Pacem in Terris»;
direito à existência e a um digno padrão de vida, ao
respeito à sua dignidade e à liberdade, direito de parti-
cipar dos benefícios da cultura, direitos enfim relativos
à vida do homem em sociedade.
A angústia do momento presente se acentua ainda, pelo
fato de se tentar a substituição dessa ordem antí-huma-
na, por soluções marxistas, não menos desumanizantes,
pois atentam contra os direitos fundamentais da pessoa.
humana. Ninguém pode supor que tal ordem de coisas
seja. uma ordem cristã.
Para vir a ser tal, exígem-se profundas e sérias trans-
formações cuja concretização não pode ser mais adiada,
sob pena de prepararmos para o Brasil dias calamitosos
que talvez nos reservem a surprêsa de subversões impre-
visíveis dos valores democráticos e cristãos, que tão pe-
nosamente vimos construindo e preservando».
Êste documento não nos parece de todo desatualizado,
embora sob muitos aspectos, o panorama nacional tenha me-
lhorado .
As palavras lidas revelam a gravidade e a complexidade
da hora presente.
ÀM fSí l>\f ibh

— 7 —
4 — PANORAMA DO MUNDO
Gravidade e complexidade maiores ainda em face da
conjuntura internacional em que, queiramos ou não, estamos
mergulhados.
O mundo de nossos dias cresceu e diminuiu com os saté-
lites artificiais e com o vôo orbital dos astronautas. A con-
quista do espaço leva alguns ao pavor. Para nós tem, todavia,
algo semelhante à descoberta das Américas: o mundo possui
uma dimensão a mais!
Os prodígios da técnica aproximam os homens, destruin-
do distâncias. Não fôra o desrespeito à liberdade de trans-
missão das idéias, tudo se saberia, em qualquer parte da
Terra, quase imediatamente. As notícias, entretanto, mes-
mo assim, correm céleres. Os jornais cedem lugar ao rádio
e o rádio à televisão. O analfabeto já pode ver os fatos e in-
terpretá-los de acôrdo com suas possibilidades. Materialmente,
o mundo é cada vez mais «um mundo só». Social e econô-
micamente, entretanto, ainda não o é. E, justamente por-
que todos sabem de tudo, as diferenças se fazem gritantes,
as desigualdades, das quais os jornais e os livros apenas davam
notícia, passam a ferir os sentimentos, não apenas de inveja,
porém de justiça dos menos afortunados. Surgem reações de
todos os tipos. Nunca, talvez, o nosso «mundo só» tenha sido
tão diferenciado como nos dias de hoje.

Tão diferente e tão faminto: um bilhão e meio de seres


humanos, dois terços da população mundial, vivem em per-
manente estado de fome.
Frutos das desigualdades, surgiram no mundo as dou-
trinas libertícidas. Não resolvem os problemas que as gera-
ram. Concorrem para agravá-los.
Clamando por justiça, tornaram-se o nazismo e o facís-
mo males do mundo contra os quais numerosos brasileiros
tiveram de lutar.
Possuí também o comunismo a pretensão de corrigir in-
justiças. Quem o mostra é um documento publicado pela
Igreja do Silêncio, pela Igreja dos países sob regime comu-
nista, contendo lições e conselhos para a Igreja Livre, para
aquela «que ainda tem tempo de lutar»: «O comunismo é
uma reação. E uma reação contra certas injustiças sociais.
— 8—
Êle o é também contra nossa falta de caridade para com os
pobres. O Cristo fêz dos pobres seus amigos. Nós os esque-
cemos. Agora, o comunismo os chama para testemunharem
contra nós». Ao mostrar os erros e as injustiças sociais, os
teóricos maxistas impressionam. Entretanto, propõem so-
luções inaceitáveis.
No X I I Congresso Internacional dos Advogados, reahzado
em 1950, bem próximo ao termino da guerra, tivemos opor-
tunidade de ouvir um idoso advogado francês narrar o que
era, àquela época, o passeio do mêdo pela Europa. Infeliz-
mente, não cremos tenha, hoje, o panorama melhorado muito.
Há, em primeiro lugar, o temor de uma destruição total. As
armas atómicas, entregues muitas vêzes à vontade misteriosa
e desconhecida de um só, podem, a qualquer momento, des-
truir a humanidade ou feri-la de modo cruel. Há o temor dos
males não físicos, porém morais, de uma guerra. Há também, a
angústia provocada pelo receio ou pelo desejo da mudança de
posição. Os que se encontram no grupo de um têrço da popula-
ção bem alimentada tudo fazem para não passar ao grupo
majoritário dos famintos. E os outros, os desesperados dois
terços, querem, ainda em sua vida, em sua geração, transpor-
tar-se a qualquer preço, o da liberdade, ou da alma, para o
grupo dos bem alimentados. Ou, pelo menos, lutar para que
nêle penetrem seus filhos desnutridos. Todos êstes mêdos indi-
viduais ou coletivos surgem aos nossos olhos. Aumenta o nú-
mero dos suicidas, dos que buscam na morte o mal menor,
sobe a incidência das doenças mentais, atingindo os que de-
sejam, mas não conseguem, resistir. E a vida se torna cada
dia mais penosa e incerta.

5 — INTERÊSSES E ASPIRAÇÕES NACIONAIS


5.1 — Ordem e Progresso
Como caminhamos nós, os setenta milhões de brasileiros,
neste mundo complexo e difícil ?
Abraçamos o desespêro, como aquêles que parecem en-
golfados na ânsia de gozar a vida, antes que caía a última
bomba e chegue o fim dos tempos ?
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(

— 9—
Imitamos os que compram a esperança pelo preço da l i -
berdade e se escravisam a monótona e sempre igual, mas de
efeitos positivos, atuação partidária para implantação do co-
munismo marxista no Universo ?
Ou nos entregamos a um radicalismo, de sabor totali-
tário que conduz a gestos brutais e a atitudes de violência
desumana ?
Antes de responder, remontemos aos princípios da nacio-
nalidade, para saber se ainda somos brasileiros, se continua-
mos fiéis àquilo que, nos séculos passados, constituiu ou ideias
de nossa gente.
A história pátria não tem somente 466 anos. Em 1.500, deu-
se apenas o encontro de um povo, cujo passado mergulhava
numa antiguidade remota, com uma terra em que viviam ou-
tros homens de história até hoje pouco conhecida em seus
primórdios. Muitas de nossa convicções atuais, raizes de nos-
sos objetivos permanentes se encontravam nas caravelas aqui
aportadas.

Duas fôrças, segundo filósofos e historiadores, inspiraram


a vida portuguêsa: Fé e Império. Iluminaram ambas, tam-
bém, as origens do Brasil. Sem dúvida, a preocupação religiosa
dos portugueses estava estreitamente ligada aos interêsses do
país, muitos dêles de natureza nitidamente económica.
Nossa primeira Constituição Republicana omitiu qual-
quer referência a Deus, em seu preâmbulo. Primou em de-
clarar o Estado leigo, indiferente a tódas as religiões. Inspi-
rava-se, sem dúvida, nas lições da época e nos ensinamentos
positivistas. Seus autores, quando quiseram resumir os obje-
tivos do nóvo regime, fizeram-no com sabedoria no lema: Or-
dem e Progresso.

Segurança e Desenvolvimento, como Ordem e Progresso,


unem-se de tal modo que é difícil afirmar ter decorrido uma
atitude histórica exclusivamente de um dêste elementos sem
levar em conta o segundo.
Ordem n ã o pode ser encarada como simples dado estáti-
co. Tem um conteúdo, insere-se no tempo, existe para reali-
zação de determinados anseios, é respeitada porque satisfaz
certos interêsses e vem de encontro a aspirações nacionais.
— 10 —
Ordem, no Brasil Colónia, foi a organização de Estado de
acôrdo com os ensinamentos então aceitos e pregados pela
ortodoxia católica. Ordem, no Brasil Império, foi a organi-
zação social cristã, vivamente influenciada pelo individualis-
mo da revolução francesa. Ordem, na primeira Constituição
Republicana, foi a soma das lições norte americanas e do
pensamento de Augusto Conte, o ideólogo de uma reUgião sem
DEUS, de elevado conteúdo moral. Ordem, na Carta de 1937,
representou a tentativa de transplante para o Brasil de lições
ditadas para salvação de países europeus convulsionados e
ameaçados sèriamente pelo comunismo. Ordem, nas duas
Constituições Republicanas, de 34 e 46 e nos Atos que as
acompanharam é o retrato da perplexidade atual ante os
dramas sociais e económicos de nossos dias e o esforço para
realizar mais do que a democracia liberal e a democracia social:
a democracia substantivo, sem adjetívos.
Como a Fé foi a base sóbre a qual se assentou o Reino
e sôbre a qual se construiu o Império, a Ordem, nas diversas
acepções e conteúdos que deve sempre objetivou o Progresso .
Isto sem prejuízo de haverem influído, nas diversas Consti-
tuições Brasileiras, maior ou menor dose de interêsse pessoais
desvinculados do bem da Pátria.
Em quatro séculos de existência, sentimos que o binómio
Ordem e Progresso foi o resultado da soma de diversos fa-
tôres que podem ser considerados como Objetivos Nacionais
Permanentes do povo brasileiro. Tais objetivos nasceram de
nossos interêsses e aspirações, que procuraremos focalizar ago-
ra em sua evolução histórica.

5 .2 — Principais interêsses e aspirações


5.2.1 — Independência e Soberania
A Independência foi, sem dúvida, a primeira aspiração
nacional Graças à sabedoria de D . João V I e ao tempera-
mento brasileiro, que prefere a evolução à revolução, conquis-
tâmo-la sem excesivo derramamento de sangue.
Com a noção de independência confunde-se a de soberania
— direito de o Estado conduzir o seu próprio destino, sem a in-
terferência de qualquer ordem, por parte de outro Estado. Mais
de uma vez tivemos necessidade de mostrar ao mundo que so-
mos uma Nação soberana e que devemos, como tal, ser consi-
derados .
Somos sem dúvida «menos soberanos», se fôr possível dizer
assim, do que os Estados das Nações Unidas que possuem, em
determinadas circunstâncias, o direito de veto.

5.2.2 — Integridade territorial


A vastidão do nosso território, sua fronteira imensa e sua
costa enorme, fazem-nos e fizeram-nos sempre pensar nos pe-
rigos de vê-lo retalhado, como sucedeu à América Espanhola.
Em todos os pontos em que se deram ataques tendentes
a quebrar nossa integridade, uniram-se os homens aqui resi-
dentes, sem distinção de côr, de raça, de classe social e de reli-
gião, em defesa do solo comum. Somos, neste ponto, profun-
damente ciosos. Nem um metro de terra desejamos perder.
Além da repulsa aos invasores que chegaram ostensivamente,
franceses, holandeses, também soubemos lutar contra os que,
sorrateiramente, procuraram estabelecer fundamentos jurídi-
cos e quistos raciais para uma futura ação de desmembra-
mento .
Entre os heróis de nossa nacionalidade, que aprendemos
a amar desde meninos, estão os que com o seu sangue, com o
sacrifício de sua presença em locais inóspitos e com o brilho de
sua inteligência nas disputas diplomáticas, nos deram o imenso
solo que possuímos.
De certo modo podemos dizer que a aspiração de garantir
a integridade territorial já vivia em nós antes mesmo de nossa
existência como Estado.

5.2.3 — Ocupação efetiva do território


O Brasil é quase um continente. Aspiração nacional pas-
sada, contemporânea e futura há de ser a efetiva ocupação do
vasto território brasileiro.
Os bandeirantes tiveram a intuição disto. Não só finca-
ram marcos em regiões inatíngídas como alargaram também
nossas fronteiras.
Firmado o domínio político, a idéia de ocupação pratica-
mente adormeceu, embora a defendessem homens notáveis como
José Bonifácio, um dos pioneiros da mudança da capital para
o interior.
Êste desejo de interiorização política do Brasil se trans-
formou em dispositivo constitucional, mero ornamento do texto
legislativo, até a discutida construção de Brasília.
— 12 —
O trabalho de abrir rotas e fundar núcleos de população
está porém longe de ser satisfatório. O Brasil reclama para
sua grandeza outros Anchietas que plantem novas São Paulo.

5.2.4 — Unidade nacional


Se não f o i no Rio de Janeiro que primeiro se concebeu a
idéia da Noção Brasileira, ah, na frase de um historiador, pelo
menos, se realizou êste sonho que bem perto esteve de esvair-
se em sonho. A vinda de D . João V I consolidou a união de fato
do país. Pedro I , às margens do Ipíranga, assegurou a inde-
pendência política. A longa vida e o prestígio imperial de Pedro
I I resguardaram a Nação.
Não cabe no momento a análise e o exame do real conteúdo
de cada um dos nossos movimentos ditos separatistas. Hoje,
o sentimento nacional é, como, sem dúvida, sempre o foi, favo-
rável à permanência da unidade.
5.2.5 — Fundamento popular do Poder
Mesmo antes do estabelecimento de uni regime constitu-
cional, achavam os portugueses que o Poder se origina do Povo,
como vemos nas Córtes de Lamego, que deram o Reino de
Portugual a Afonso Henriques. Êle só se tornou Rei quando
Arcebispos, Bispos, Pessoas da Córte, Procuradores da Boa
Gente de numerosas cidades e grande multidão de Cléricos e
Monges, concordaram com isto. Talvez haja algo de simbólico
na descrição das Córtes, mas mostram elas o germem da con-
vicção portuguêsa e brasileira de que a base do Poder está no
Povo.
As correntes imigratórias vindas para nosso país, quando
as repúblicas já dominavam a terra, tinham o mesmo senti-
mento .
O princípio do Fuhrer, a figura do Duce e a sagrada pes-
sóa do Imperador do Japão, podem ter exercido alguma influ-
ência apenas num determinado momento, quando as armas do
Eixo obtinham vitórias impressionantes.
Mesmo os imigrantes, sobretudo os italianos aqui aporta-
dos muito antes do fascismo, conservaram intactas as lições de
hberdade aprendidas em sua terra.
O desejo de que o Povo seja a base do Poder traduz-se em
tódas as nossas Constituições. Até a pregação marxista a que
presenciamos se faz na base de que, nos regimes comunistas,
o povo é realmente a fonte do Poder e suas democracias se
dizem populares.
JM 4 ^ /1^3

— 13 —

5.2.6 — Valorização e dignificação do homem


Chegam ao Brasil homens de todas as raças, de todas as
cores e de tôdas as religiões. E serão bem-vindos, se por bem
vierem. Com seus braços para o trabalho, com sua técnica
adiantada, com seus capitais geradores de riqueza.
Quantas dificiências, entretanto encontramos no setor da
saúde, no campo da educação e no da posse dos bens!
Mas, já temos caminhado. Lemos que, durante a escravi-
dão, a duração média de vida de um escravo era de 10 anos.
Na ausência de dados acreditamos todavia que os mais mal pa-
gos trabalhadores de hoje vivam mais tempo.
r Em alguns raros pontos do país, como São Paulo, já é pos-
sível a qualquer um ir gratuitamente do curso primário às uni-
versidades .
No esfôrço da valorização do homem, devemos salientar
também as conquistas obtidas por êle no campo das relações
de trabalho. Tem havido, sem dúvida, abusos neste setor As
greves frequentes contrariavam o espírito com -•ue foi criada a
legislação trabalhista. E da deturpação de textos legais nasceu
uma fauna de exploradores que deve ser difínitívamente des-
truída.

5-2.7 — Desenvolvimento económico


Pretendem os marxistas que a economia escreve a história
dos povos. Nao admitimos tamanha prevalência do fator eco-
nómico sóbre todos aqueles de diversa natureza que condicio-
nam a história. De modo algum, todavia, poderíamos negar a
importância da econónia na vida de um povo.
Muito do que somos hoje decorre das vicissitudes económi-
cas que vivemos. Não são poucos os que atribuem a queda do
Império à abolição da escravatura.
As grandes modificações no panorama económico mundial
repercutiram e repercutem ainda em nossa vida.
Temos sentido necessidade de adequar nossa economia
aquela capaz de fazer um país sub-desenvolvído e desprezado
transformar-se em potência mundial.
Mesmo internamente sentimos a gritante necessidade do
desenvolvimento económico para possibilitar a integração na
vida do país de regiões inteiramente inaproveiLadas, de nível de
vida baixíssimo.
— 14 —
Aspiração tímida no passado, preocupação apenas de al-
guns, o desenvolvimento económico é hoje a aspiração integrada
na alma do brasileiro.
Desejamos êste desenvolvimento, não feito base de uma
predominância do económico sóbre os demais valores da vida
social.
Prezamos muito — e esta é uma das nossas características
a liberdade. Queremos o desenvolvimento económico como
forma de preservá-la. E urge atingMo, pois a miséria de certas
regiões de nossa terra e as angústias atuais estimuladas pela
inflação, ainda não debelada, podem subverter a ordem demo-
crática que buscamos conservar.

5.2.8 — Projeção internacional


Nada seremos, porém, neste mundo de hoje, se não levar-
mos com autoridade nossa voz às assembléias internacionais.

6 — OBJETIVOS NACIONAIS PERMANENTES


Sem dúvida, em sua longa história, outros interêsses e as-
pirações animaram o povo brasileiro.
Os que apresentamos, todavia, foram os que nos parece-
ram ter tido um caráter de permanência maior, pois, vindos do
passado, persistem hoje e parecem caminhar para o futuro.
Acreditamos que tenham adquirido, portanto, aquela dura-
ção no tempo capaz de transformá-los em OBJETIVOS NACIO-
NAIS PERMANENTES.
Cumpre relambrá-los:-
O primeiro dêles, nosso desejo de independência e sobera-
nia;
O segundo, a vontade de assegurar a nossa integridade
territorial com a ocupação dos espaços vazios;
O terceiro, a garantia da unidade da Pátria, sem prejuízo
do respeito às características regionais;
O quarto profundamente impregnado no sentimento nacio-
nal, o anseio de que o govêrno tenha um fundamento realmente
popular.
— 15

A êstes quatro objetivos mais ligados à idéia de ORDEM,


juntam-se três outros, que dizem principalmente respeito ao
PROGRESSO trabalho pela valorização e dignificação do Ho-
mem, luta pelo desenvolvimento económico, esfôrço para dar
ao Brasil projeção internacional.
Em suas pesquisas do corrente ano, a A . D . E . S . G deu
mais precisa definição a cada objetivo:

I — INTEGRIDADE TERRITORIAL
Manter as atuais fronteiras do país e viver a comunidade
brasileira no território nacional sem qualquer intromissão es-
trangeira, direta ou indireta;

I I — INTEGRAÇÃO NACIONAL
Manter a comunidade nacional social e económica e politi-
camente integra, através da participação ativa e contínua de
todas as pessoas, grupos e classes sociais no esfôrço comum de
superar os obstáculos de qualquer natureza à i.nídade nacional
e de promover o aproveitamento ordeiro, dosado e conjugado
de todos os valores e energias para o progresso equilibrado de
toda a Nação;

I I I — SOBERANIA NACIONAL
Manter a comunidade nacional, social e económica e polití-
de acôrdo com as peculiaridades nacionais, e c onviver com as
demais nações em têrmos de igualdade de direitos e oportuni-
dades;

IV — PROSPERIDADE NACIONAL
Evoluir e progredir com ordem e equilíbrio em todos os
campos de atividade nacional, e alcançar padrões sociais e
económicos para tóda a comunidade, comparáveis aos melho-
res padrões mundiais;

V — PRESTÍGIO INTERNACIONAL
Caracterizar a personahdade nacional no conceito das na-
ções e influir nas decisões da política internacional em função
dos interêsses nacionais, do relativo equilíbrio do poder de tô-
das as nações e da preservação da paz;
— 16 —

V I — PAZ SOCIAL
Solucionar os conflitos de interêsses entre os grupos e clas-
ses sociais sob a égide do direito, pela prática efetiva e perma-
nente da justiça social, em função do Bem Comum, e elevar os
valores morais a níveis que os façam prevalecer na distribuição
da justiça;
V I I — DEMOCRACIA-REPRESENT ATIVA
Praticar o regime democrático-representativo sem interrup-
ção, e alcançar o grau jurídico-político mais evoluído dêsse re-
gime, em função dos princípios fundamentais da filosofia de
vida democrática.
Colocando lado a lado os resultados da pesquisa de 1963 e
a definição atual da ADESG, temos:
1966 | 1963
Integridade Territorial | Integridade Territorial
Integração Nacional | Unidade da Pátria
Soberania Nacional | Independência e Soberania
Prosperidade Nacional Desenvolvimento Económico
Prestígio Internacional | Projeção Internacional
Valorização e Dignificação
Paz Social do Homem
Democracia Representativa Fundamento Popular do Poder

Como vemos, é valida a pesquisa de nossa turma. Os es-


tudos de 1966, todavia, dão mais nitidez aos objetivos focali-
zados há três anos.

7 — ANTI-BRASIL
Setenta milhões de brasileiros, com objetivos definidos e
seculares, ínexoràvelmente integrados num mundo inquieto,
participamos da ansiedade geral ou já satisfizemos nosso dese-
jo de Ordem e de Progresso?
Nação alguma pode considerar-se plenamente realizada.
Há sempre mais um passo a dar e para dá-lo indispensável se
torna vencer antagonismo e pressões.
— 17 —
Dentre as ameaças mais graves à nossa vida como povo
brasileiro e cristão podemos apontar o comunismo Internacio-
nal, o apêgo a doutrinas e métodos superados, a inflação e o
conjunto de males morais a que denominaremos «complexo das
deficiências do caráter nacional».
A marcha do comunismo e dos Comunistas se faz sentir a
cada momento, gerando discórdia, dividindo democratas, le-
vando-os à perplexidade.
1
Ainda que sua vitória não signifique, por exemp o, a per-
da de nossa soberania e de nossa independência, esta soberania
e esta independência terão de ser entendidas como tudo mais
de modo diferente, dentro de concepção diversa daquela que
adotamos e amamos nos dias de hoje.
Por outro lado, muitos homens de nossas elites se apegam
ainda a formulas políticas e sistemas de ação já superados.
Muitos teimam também em encarar o ser humano, complexo
difícil, como o «homo economicus», nada mais, uma espécie de
máquina de trabalho, sem estômago e sem alma.
Vivemos, também, uma crise ecónomica de sérias pro-
porções, a despeito do notável incremento industrial que teve
o país e dos esfórços do atual govêrno. A inflação a tudo
tem corroído. Ou nós a contemos, agora, definitivamente, ou
ela acaba com o Brasil, com a dignidade dos seus homens, com
a esperança dos seus jovens, com a tranquilidade de seus che-
fes de família.
Há quem atribua os nossos males a uma generalizada falta
de caráter e de preparo. Não cremos que sejamos, no conjunto,
piores que os nacionais de outros países. Entretanto, atos e
fatos por vezes parecem demonstrar que muitos brasileiros
reclamam melhor formação. O preparo de homens públicos
diz respeito não apenas à competência, mas a seu caráter,
embora a ignorância possa conduzir a erros tão grandes que
chegam até a superar os danos provocados pela corrupção.
Quando se aliam, entretanto, incompetência e desonesti-
dade, e quando semelhantes defeitos servem para aglutinar in-
divíduos em grupos, que se espalham pela Nação e se prolon-
gam no tempo, só um milagre poderá salvar o país. Feliz-
mente, entre nós, tais grupos, que existem, são minoritários,
pois, do contrário, a Patria já teria desaparecido.
— 18 —
Não basta, entretanto, para garantir a nossa segurança e
realizar o nosso desenvolvimento, vencer o comunismo, destruir
doutrinas e métodos antiquados, debelar a inflação e superar
as dificiências de caráter nacional.
Necessário se faz remover os óbices que se opõem a cada
um dos interêsses e aspirações nacionais. Não nos é possível
focalizar todos êles. Destacaremos apenas os mais graves.
J á f o i dito que constituímos um arquipélago de regiões
geográficas distintas, isoladas pela deficiência das rêdes de
comunicação. Urge integrar o país abrindo estradas e preen-
chendo os enormes espaços vazios de nosso território. Que
obstáculos devem ser vencidos para isso? Três nos parecem
mais salientes:- exiguidade de nossa população; precárias con-
dições de vida em muitas regiões vazias; falta de atrativo, de-
corrente de uma estrutura social anacrónica, em zonas em
que a natureza é propícia. Enfrentados os imensos problemas,
contrários à criação de boas condições de vida nos desertos
demográficos, removidos os óbices de natureza jurídica, que
roubam os atrativos das terras desocupadas, onde buscar os
habitantes para ela? — No aumento da população, pelo estí-
mulo à natalidade, ou na imigração? A explosão demográfica
mundial constitui uma ameaça ao Brasil. Corremos o risco
de vêr multidões e multidões de estrangeiros, inspirados numa
doutrina moderna de espaço vital quererem, num futuro não
muito remoto, preencher os hiatos do nosso solo. Se tal ocor-
rer, passaremos a ser estrangeiros em nossa própria terra.

Desequilíbrios económicos entre regiões são apontados


como manifestações ofensivas à integração nacional. Todavia,
é profundo o sentimento brasileiro em todo o país. Duvida-
mos que alguém busque, no abandono da Pátria Maior, a solu-
ção para dificiências regionais ou para ampliação de um po-
derio económico e de um desenvolvimento cultural já obtidos.
Integração nacional não significa, todavia, uniformidade. De-
vemos buscar a integração respeitando as peculiaridades lo-
cais, sem ferir desnecessariamente as autonomias dos Estados.
Para que se firme a democracia representativa, indispen-
sável se torna uma participação cada vez maior de um maior
numero de brasileiros na direção da nossa terra. Não quere-
mos de modo algum uma Ditadura. Seja do proletariado, como
pregam os comunistas; seja de direita, a pretexto de combate
ao comunismo. Ou seja, simplesmente, pessoal, vazia de con-

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