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Primeiro livro da série Match Point

Kristel Ralston
©Kristel Ralston 2021.
O último risco.
Série Match Point.
Livro 1.
Todos los derechos reservados.
SafeCreative N. 2106148091844.

Designer de capa: Karolina García Rojo ©AdobeStock.

Tradução e revisão: Rosângela Mazurok Vieira e Vanessa Rodrigues Thiago.

Todos os direitos reservados.

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meio eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro meio, sem a autorização prévia e expressa do proprietário dos direitos autorais.

Todos os personagens e circunstâncias deste romance são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é uma coincidência.
ÍNDICE

ÍNDICE

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24

EPÍLOGO

SOBRE A AUTORA
“Aponta para a lua. Mesmo que falhes, terás aterrissado entre as estrelas.”
(Autor desconhecido).
CAPÍTULO 1

—Você não pode estar falando sério, Theo! —Jake gritou, batendo na mesa do produtor da
rede esportiva SWC, a mais popular da Califórnia. Ele chegara à estação de televisão quinze minutos
antes, quando seu coapresentador, Patrick Lombardo, o informou que eles sairiam do ar para sempre.
— Como você pode cancelar meu programa? É o mais bem avaliado em toda a costa oeste dos
Estados Unidos!
O produtor se preparou para o que estava por vir.
Todos conheciam a natureza temperamental e o cinismo de Jake Weston. Ele foi o queridinho
da imprensa esportiva desde que começou sua carreira no tênis ainda muito jovem, e também o
vencedor de sete troféus do Grand Slam e um título de Masters. Jake havia deixado sua carreira com
uma lesão grave no braço esquerdo quatro anos antes.
— Sinto muito, garoto — Theo ajustou um botão em sua camisa verde com a evidência de sua
falta de exercício aparecendo — são ordens de cima. A rede está com problemas financeiros e seu
salário e o de Lombardo são os mais altos que pagam, além disso, alguns patrocinadores relutam em
investir o que custa para anunciar o Stars Match.
Theodore Artemini estava no ramo de produção de televisão há mais de trinta anos. E aos
sessenta já pensava em se aposentar. Também era doloroso para ele que Jake e o famoso jogador de
futebol Patrick Lombardo saíssem da programação. Na verdade, ambos atraíram a parte do público
que outros canais de esportes não conseguiam: o feminino. Nos dias em que o programa ia ao ar,
havia um desfile de mulheres esperando do lado de fora do SWC apenas para ver Jake e Patrick
passarem ou pedir seus autógrafos e fotos.
— Merda! — rugiu. — Você vai dar espaço ao idiota do Kruster? Para falar só sobre o
estúpido golfe! Stars Match ganhou o California Television Awards de Melhor Programa Esportivo
desde que começamos, cinco edições atrás. — Curvou os dedos ligeiramente calejados de anos
empunhando a raquete de tênis na beirada da mesa do produtor e olhou para ele com ar desafiador.
Nossa classificação nos apoia. O público nos ama, droga —rosnou.
Theo suspirou pacientemente ao notar a veia do pescoço de Jake parar de latejar. O ex-
jogador sentou-se relutantemente em uma das poltronas caras do escritório.
— Acalme-se, Jake. Kruster não vai trabalhar aqui, ele foi chamado de Atlanta para um
projeto. Ouça garoto, eu sou o que menos gosta da ideia de deixar o programa. Estava pensando em
me aposentar no ano que vem, mas se isso acabar, eu também vou — soltou um suspiro de cansaço.
— Quero passar um tempo com minha esposa e minhas filhas. Este negócio de televisão é muito
sacrificado. — Acendeu um charuto. Deu algumas tragadas e se recostou mais relaxado. — Eu sei o
que Stars Match significa para você, mais do que para Lombardo. Talvez você possa se dedicar ao
treinamento de jovens tenistas. Já pensou sobre isso?
O olhar de Jake se incendiou de raiva.
—Sou um maldito astro do tênis internacional aposentado, não tenho vontade de ensinar
crianças que mal sabem o que é o esforço e o sacrifício de uma carreira. — Ele ficou andando de um
lado para o outro no chão acarpetado. O irritava deixar o lugar que fora seu único ponto de apoio nos
últimos anos. Depois de se aposentar, os milhões de dólares em sua conta não lhe deram satisfação e,
para ser honesto, sentiu como se a notícia que acabara de receber o tivesse tirado de seu Norte e o
enfurecido. Havia demorado muito para se recuperar do golpe que representou não voltar para as
quadras profissionalmente, e agora acontecia isso. — Não precisamos do dinheiro, nem Patrick nem
eu. Por acaso Fred Dillon quer tudo de graça em seu canal? Podemos ir para outra rede!
Theo balançou a cabeça, seus fios de cabelo branco esvoaçando.
—Você tem trinta e cinco anos e décadas pela frente para encontrar uma direção para sua
carreira como locutor esportivo ou o que quer que queira fazer. Olha, Jake, são ciclos e o nosso
acabou. Não podemos ir para outro canal, você sabe que assinamos os direitos para o SWC.
Portanto, o projeto é deles. —Theo tocou sua espessa barba pensativamente. — Você me disse que
foi convidado para ser ator. Por que não se envolve nesse campo? As mulheres se esforçam por você
e com certeza ficarão felizes em vê-lo seminu na tela — disse rindo. — Eu sei que algumas atrizes
estariam mais do que dispostas a serem suas parceiras em um set.
Jake resmungou algo baixinho sobre a falta de perspectiva.
— Fingir não é minha praia — retrucou relutantemente. — E eu já estou farto de mulheres
jogando lingerie em mim e enchendo meu Aston Martin com números de telefone e propostas quentes
— respondeu amargamente, passando a mão cansada sobre seu espesso cabelo loiro escuro.
O produtor o encarou por um tempo antes de continuar.
—Você precisa de uma pausa — ele sugeriu suavemente, deixando o tom de provocação para
trás. — Os chefes não vão mudar de ideia sobre o programa.
— Eu posso pedir ao meu agente para falar com Dillon. Apesar de ser um pouco estúpido às
vezes, o dono do canal sabe quando está cometendo um erro.
Theo olhou para o rosto determinado de Jake. Notou a mandíbula firme, o nariz reto e os ossos
angulosos. Não em vão o chamavam de O Gladiador quando era ativo nas quadras. O menino sabia
como explorar seu físico e seu sucesso. Infelizmente, desta vez, suas mãos estavam amarradas. Em
termos de números, ou caprichos como no caso do dono do canal, não havia muito o que fazer. O
cancelamento do programa não tinha volta.
— Seu agente geralmente não é muito legal. — Jake sorriu com o comentário. Gordon Rister
não era nada doce, mas sabia negociar muito bem. — Falei com Dillon esta manhã, Jake. Me
encontrei com ele por quatro longas horas e com alguns novos criativos. Esses caras cada vez mais
insanos que colocam ideias na cabeça e você sabe como Fred Dillon fica quando se entusiasma com
alguma coisa. Ele me disse que vai mudar o formato da programação esportiva, quer algo mais leve
— balançou a cabeça, desapontado. — Além disso, quer adicionar um reality show — disse a Jake
com resignação. — Sei que somos bons em TV, mas Dillon é dono da rede e dos direitos — ele
concluiu com um suspiro cansado.
—O dinheiro não é problema. Patrick e eu podemos ficar de graça, mas odeio ver a
quantidade de estupidez e inconsistência que os comentaristas dizem nas notícias esportivas. As
reportagens são cada vez menos apoiadas em fatos e os atletas não recebem o destaque que merecem.
Eu sei o que é viver na quadra, a competição, a adrenalina e como um comentário ruim pode arruinar
o seu dia! Patrick também sabe disso, e nós dois fizemos um bom trabalho, não apenas para nós
mesmos, mas para nossos colegas que sofrem com a desinformação dos jornalistas — argumentou
com ímpeto.
Theo olhou para ele pensativamente.
—Talvez deveria pensar que essa coisa que acabou de acontecer com o programa é um sinal
da vida, Jake. Haverá outra coisa que você poderá fazer, talvez seja a hora de mudar o curso do
navio. Sei o quão pouco você tolera o assédio da imprensa...
— Não tenho tempo para pensar nos malditos sinais da vida — interrompeu ele. — Já passei
minha época de farra logo depois de me aposentar Theo, agora a imprensa tem outros objetivos
jovens na mira da lente Eu uso a mídia conforme minha conveniência; depois de toda a fofoca que foi
inventada sobre mim, não tenho escrúpulos em fazer isso. Portanto, não me dê sermões. O que eu
quero é trabalhar na área de esportes; e isso é o que estava fazendo, até vinte minutos atrás — disse
com aborrecimento, olhando para seu relógio Tag Heuer.
Os olhos azuis de Theo brilharam com sabedoria e se fixaram no olhar cinza do jovem à sua
frente. Soltou a fumaça do charuto que estava consumindo, lentamente, como se refletisse sobre o que
iria dizer a seguir.
—Já se passaram quase dois anos desde que aquela garota saiu de sua vida, Jake. A imprensa
esqueceu e acho que você já deveria ter feito isso. Vire a página desse episódio. Talvez fosse melhor
assim. Eu sei que estar ocupado tem sido seu meio de relaxamento. Mas é hora de parar de se
esforçar tanto. Não sei se notou que, desde o caso com aquela garota, tem mais obrigações do que
talvez seja capaz de suportar. No começo, Stars Match era uma terapia, muito boa, mas agora, quando
você descansa ou faz uma pausa? Se não está no estúdio, viaja para assistir a uma partida de tênis
beneficente no outro lado do mundo ou administra seu negócio de vinhos em Napa Valley...
A boca sensual de Jake se curvou em uma careta que era a sombra do sorriso deslumbrante
que lhe proporcionou alguns contratos comerciais de TV bem pagos. Tolerava Theo falando com ele
dessa maneira, porque com ou sem razão, foi uma das poucas pessoas de quem ouviu conselhos e
soube que era sincero. No entanto, a simples menção de sua ex-noiva o irritava.
Lauren Jovinella o fez se arrastar aos seus pés por um ano, até que finalmente concordou em
se casar com ele... e então tudo deu errado. Ele a conheceu em um jantar beneficente para crianças
carentes e deficientes, na época em que Stars Match estava no ar havia três anos. O que havia
acontecido entre eles ainda o incomodava.
A imprensa fez um circo na mídia com sua história. Tudo mentira. E se concedeu algo a
Lauren, foi que manteve em silêncio os verdadeiros motivos do rompimento. A mídia publicou a
versão que melhor lhes convinha, que ela o trocou por um rico criador de cavalos puro-sangue do
Kentucky.
Para Jake, essa invenção foi menos prejudicial do que a verdade amarga.
Ele se inclinou para a frente na cadeira e apoiou os cotovelos nos joelhos. Olhou para Theo
com cinismo.
— Lauren é uma coisa do passado. Você não é a porra do meu psicólogo.
O amigo de Jake suspirou tentando não perder a paciência.
— Não pretendo ser, mas filho, você não parou de trabalhar e de fazer campanha publicitária
e tem que dar um tempo. Se você viu o excesso de atividades profissionais como forma de
relaxamento, já teve o suficiente. Por que não se retira para um lugar mais silencioso por um tempo?
Talvez lhe faça bem mudar o ar e começar a desfrutar de todos aqueles milhões que acumulou ao
longo da carreira.
Jake ergueu uma sobrancelha com arrogância.
— Está começando a falar como minha mãe. Theo tire o nariz da minha vida pessoal — ele
apontou o dedo indicador — e é melhor pensar em como você vai fazer seus netos te aturarem se
você pensa em se aposentar. Não acho que vão suportar um avô tão opressor por muito tempo, o
destino os proteja!
Theodore riu com vontade. Apagou o charuto no cinzeiro. Não ia insistir no assunto, no final
sabia que Jake iria ruminar sobre a ideia de levar as coisas com mais calma. Deixaria a ideia
funcionar. Ele era um velho negociante, conhecia o psicológico das estrelas, dos egos e, embora Jake
tivesse um temperamento medonho, reconheceu que era um menino que havia amadurecido e agora
mantinha os pés no chão, mas acima de tudo, era uma pessoa íntegra.
— Quando quer que Patrick e eu façamos o anúncio de despedida? —perguntou praticamente
cuspindo as palavras.
O produtor exalou de alívio porque a batalha havia acabado. Entrelaçou os dedos
rechonchudos sobre a mesa.
Olhou para Jake sabendo como essa discussão terminaria.
— Hoje.
— Hoje!?
Theo encolheu os ombros em resposta e Jake saiu batendo a porta.

***
Colette estava batendo um pouco de creme para colocar no café, observando os últimos traços
de luz se apagarem em Santa Monica. Estava grata porque sua estação favorita do ano, a primavera,
chegaria em duas semanas.
Da varanda de seu apartamento perto da praia, o vento estava suave, mas ainda frio. Ela
ajeitou o suéter e tomou um gole do líquido quente em suas mãos. Acrescentou um pouco mais de
creme e açúcar. Sorriu depois de prová-lo. “Delicioso”.
Venha aqui, Colie! — sua melhor amiga gritou da sala de estar, chamando-a pelo apelido. —
Estão dando o resumo dos esportes e o docinho do tênis está na tela. Deveriam empacotar para
viagem — ela riu.
Colette também riu e foi para a sala. Não gostava do programa Stars Match, apresentado por
dois atletas aposentados. Para ela, eram uma dupla de arrogantes, sem nenhuma contribuição especial
para dar durante o programa de quarenta e cinco minutos. Kate, sua amiga de longa data, parecia
conhecer a biografia de todos os homens famosos da Califórnia.
—Coloque no canal de notícias — murmurou, tomando um gole do líquido com sabor de
amaretto. Sempre ouviram que o elixir da vida para os jornalistas era o café, e ela não podia deixar
de concordar com aquele magnífico apreço da classe. — Vamos, Kate — se inclinou e puxou o rabo
de cavalo loiro para cima, sorrindo para ela. — Somos jornalistas e precisamos ver informações
mais interessantes.
Kate Blansky rejeitou as palavras de sua amiga com um aceno de mão. Em seguida, tomou
vários goles do copo de água Evian.
— Esportes são coisas sérias, Colie — rosnou, ainda olhando para a TV de plasma de alta
resolução. — Preste atenção — apontou o dedo enfaticamente. — Esses são homens de verdade!
Estão apenas esperando a mulher perfeita se casar — comentou com um suspiro enquanto os
apresentadores surgiam na tela.
Colette sentou-se na cadeira verde. Tirou um pouco do Doritos da tigela de Kate e olhou para
a televisão. Um grande pôster do SWC estava ao fundo, e os dois apresentadores impecavelmente
vestidos sorriam e falavam com camaradagem sobre as notícias esportivas.
— Eu não acho que se casar é o que eles estão procurando — ela murmurou, focando no
anfitrião de cabelo loiro escuro. Ele olhava para a câmera com orgulho e parecia muito satisfeito
consigo mesmo. Embora já o tivesse visto várias vezes no programa, forçada por Kate, e anos antes
em partidas de tênis na televisão, naquele dia o rosto de Jake Weston parecia irritado. “Certamente a
amante de plantão deixou esperando”, pensou com um sorriso cínico, tomando um gole de café. Ela
sabia melhor do que ninguém como Weston se comportava com uma mulher que deixará de ser
novidade.
— Vou te dar esse ponto com Jake. Sabia que sua última namorada, bem, sua noiva, o deixou
por um criador de cavalos do Kentucky? — Kate soltou, antes de tomar vários goles de água. Dobrou
as pernas bronzeadas para se acomodar melhor. — Pelo menos é o que dizem os tabloides. Foi a
maior fofoca há dois anos, e dizem que Jake não levou nenhuma mulher a sério desde então.
Colette revirou os olhos.
— Provavelmente o deixou por ser um mulherengo.
Kate lhe jogou uma almofada, que Colette agarrou no ar antes de atingir seu rosto.
— Vamos, Colie, se ficou noivo não é... Espere! — pegou a mão dela, pedindo que prestasse
atenção no que estava acontecendo na tela. Os apresentadores acabavam de se levantar, algo
incomum, pelo menos para Kate que assistia ao programa todos os dias. — Patrick diz que eles têm
um anúncio importante a fazer. Pegou o controle remoto e aumentou o volume. — Vamos ouvir.
—…portanto, a todo o nosso público que nos acompanhou nos últimos cinco anos, queremos
agradecer a sua fidelidade e apoio. Infelizmente todas as coisas boas chegam ao fim, não é, Jake?
Com olhos cinzentos e traços perfeitamente esculpidos, Jake parecia estar transmitindo uma
mensagem íntima e pessoal. Algo mexeu com ela quando ouviu a voz grave, profunda, o que azedou
seu humor. Era difícil fingir que o desencanto com Jake havia desaparecido completamente, mas com
Kate em busca de qualquer informação, especialmente se ela era louca por aqueles apresentadores,
era melhor continuar com seu desinteresse fingido. Sua melhor amiga era astuta, e se reconhecesse
qualquer indicação de que ela e Jake se conheciam, não a deixaria em paz até que extraísse a última
sílaba de informação.
Colie descartou qualquer emoção e se concentrou no que o ex-tenista estava dizendo.
—Eu não duvido disso. É um prazer compartilhar todas as noites de segunda a sexta-feira com
vocês. Quero agradecer aos nossos patrocinadores, que sempre apostaram em um trabalho
responsável e experiente. Deixamos vocês em seguida com Directo 24, o noticiário das estrelas! Até
logo, Califórnia.
—Boa noite e obrigado de novo —Patrick secundou para a tela, e então se virou dando um
aperto de mão em Jake, enquanto a câmera se afastava, deixando os dois apresentadores conversando
como última imagem.
O final da transmissão encerrou com um vídeo com os melhores momentos dos últimos cinco
anos do Stars Match.
—Oh, por Deus! Eu não esperava essa bomba! — Kate exclamou tão intensa como sempre era
com tudo. Virou-se para Colie, que estava olhando para ela com um sorriso. — Você não pode
sorrir! É uma notícia triste.
—Para a população feminina ou para fãs de esportes?
Kate a fulminou com o olhar e Colette sufocou o riso.
— É uma insensível. Esse foi o melhor programa de todo o estado. Duas lendas jovens do
esporte! — suspirou como se tivesse passado por uma experiência traumática. — Eu não esperava.
— Colocou dois doritos em sua boca. — Amanhã eles serão o centro das fofocas, você verá. Tenho a
impressão de que Weston está cada vez menos atraído pela imprensa.
— Você deveria fazer relações públicas se se preocupa tanto com a imagem dele — disse
Colette com uma risada, enquanto se levantava, evidenciado seu um metro e sessenta e cinco de
altura e o cabelo preto e liso que caía sobre os ombros. Ela tinha uma figura esguia com as curvas
certas, embora desejasse ter seios menos generosos. Suas duas irmãs, que moravam com seus
maridos e filhos em Nova York, costumavam dizer a ela que seus seios eram maiores do que uma
passarela poderia permitir e que desistir de ser modelo a salvou de muitas rejeições da indústria.
Como lhes disse que realmente queria apenas ser uma modelo por elas... para se sentir menos
ofuscada por suas realizações? Ainda bem que essa bobagem de seguir o exemplo profissional das
irmãs nunca prosperou e ela encontrou no jornalismo uma fonte inesgotável de possibilidades para
ser mais ela mesma.
—Haha. Tão engraçada como sempre.
Colette deu de ombros, ainda sorrindo, em seguida, pousou a xícara de café na mesinha de
centro da pequena sala de estar do apartamento que dividiam há vários anos.
— É apenas um programa bobo, Kate, anda, vamos fazer um pouco de exercício? —perguntou,
indo para seu quarto para colocar sua roupa esportiva.
— Ok, já estou usando essas roupas de ioga, que são igualmente boas para correr. —Ela
caminhou até a porta do quarto de Colette, enquanto ajustava a blusa e fazia um rabo de cavalo. — A
propósito, sei que o departamento pagou pela metade, não quero incomodar, mas...
Colie se virou quando ficou pronta.
—Você sabe que pode me pedir qualquer coisa. Esse seu namorado vem passar uns dias e
quer o espaço só para você? — perguntou, começando a fazer um aquecimento suave.
—Eh, não exatamente — disse um tanto nervosa. — Damon está vindo para a cidade. Te
incomoda?
Colette e o irmão mais velho de Kate tiveram uma espécie de romance anos atrás, alguns
meses antes de seus pais a mandarem para a França. Ele era seis anos mais velho, e ela não podia
deixar de amar seu otimismo e maturidade. Damon foi seu primeiro beijo, mas quando quis chegar à
segunda base, ela pesou sua amizade com Kate e o que aconteceria se um relacionamento com Damon
desse errado. Nunca iria sacrificar seu vínculo com sua melhor amiga. Quando disse isso a Damon,
ele garantiu que entendia. Quatro anos haviam se passado e, nas poucas vezes em que se encontraram,
ele agia como se nada tivesse acontecido.
Às vezes ela se arrependia de não ter deixado Damon ter sido sua primeira experiência
sexual, porque se tivesse permitido, então não teria que carregar lembranças que preferia relegar às
profundezas de sua memória.
— Nem um pouco, você sabe que nos damos bem.
Kate deu um suspiro de alívio. Ela lamentou que seu irmão e Colie não tivessem se tornado
mais do que apenas um caso de verão. Mas, no fundo, era grata por isso, porque teria sido terrível se
sua melhor amiga e seu irmão se odiassem e ela tivesse que ser uma mediadora.
— Ótimo! Ele vai ficar apenas alguns dias, ainda não tem a data exata de chegada. Disse que
quer trocar o ar de Burbank pela praia de Santa Monica, — deu de ombros — não o culpo. Depois
de Orange County, e depois de morar aqui por um tempo também, precisa se reconectar.
— Com certeza ainda está namorando Valerie? — perguntou enquanto conectava o iPod.
Kate tentou encontrar algum indício de interesse em Colie, além de uma simples pergunta, mas
não encontrou nenhum.
— Terminaram há alguns meses. Gostava dela. Eu a conheci quando fui a Burbank para ver o
novo escritório do meu irmão. Você sabia que trabalha com parceria com a Disney?
— Sim, ele me contou sobre isso em algum momento em um daqueles e-mails que raramente
trocamos. Nunca imaginei que a indústria da animação e dos quadrinhos pudesse ser tão intensa.
Podemos levá-lo a um bar, talvez ele conheça alguém e se esqueça de Valerie — sorriu.
— Já sabe que ser casamenteira é o meu terreno, não o seu — respondeu brincando — e por
enquanto não quero ver meu irmão vivendo uma decepção. — Colette sabia que Kate, apesar de
negar, costumava ter muito ciúme do irmão. — Portanto, vamos deixar para uma noite de bebedeira,
para relembrar os velhos tempos.
— Você fala como uma velha e nós temos vinte e cinco anos — brincou Colette. — Agora vá
pegar seu Ipod, que logo começa a se enrolar e não me deixa cumprir a rotina.
— Sim, meu comandante!
Com uma risada, Colette ajustou a lista de reprodução em seu iPod antes de sair com a amiga
para o píer de Santa Monica.

***
Depois de fazer o anúncio no ar, Jake se despediu da equipe de produção. Theodore pediu-lhe
que tentasse ver o lado bom da situação e recebeu um grunhido em resposta.
Quando abriu a porta dos fundos do estúdio, o ar fresco da noite atingiu Jake, assim como os
flashes das câmeras dos paparazzi que procuravam declarações sobre o cancelamento repentino de
Stars Match. Não tinha vontade de falar com a imprensa, tinha lidado com eles desde que se
lembrava e estava farto de fofocas e entrevistas. Estava repentinamente cansado de todo aquele
mundo de atenção da mídia.
Começou a caminhar rapidamente em direção ao carro, abrindo espaço para si mesmo entre o
grupo de jornalistas que podiam ser tão vermes quanto bem-intencionados. Odiava a imprensa,
principalmente depois daquele acidente que tirou a vida de seu pai, irmã e cunhado. A mídia não
respeitou sua necessidade de privacidade e ele quase enlouqueceu ao ver como seu nome e as fotos
do acidente de trânsito apareciam todos os dias na imprensa com novas versões, testemunhos do nada
e mil pessoas fazendo conjecturas. Odiava essa época da sua vida mais do que qualquer outra.
—Jake, como você se sente em deixar o programa? — gritou um jornalista. — É verdade que
você está namorando a protagonista de Pecado Ardente, Deanna Jonas?
—Jake para seus fãs, uma mensagem! —pediu outro. — Conte-nos se é verdade que propôs
uma noite de paixão à modelo Olga Kaster em Dubai.
—Pose para El Meridiano, Jake! — um fotógrafo quase implorou.
—Um sorriso para os fãs de El Ojo del Surf — exigiu um profissional alto de cabeça raspada
e vários brincos na orelha.
—Qual será o próximo passo em sua vida agora, Jake?
Na última pergunta, Jake parou de andar abruptamente. Se virou. Todos ao redor pareciam
estar em silêncio. Temiam a explosão de gênio do Gladiador. Isso não aconteceu, e Jake quase teve
vontade de rir dos rostos aliviados.
O jornalista esticou o microfone, ciente de que era o único que havia chamado a atenção do
ex-garoto de ouro do tênis. Os flashes das câmeras começaram a disparar com veemência. À
distância, Jake ouviu os passos apressados de seus fãs gritando frases ininteligíveis tentando
alcançá-lo. Se ele não fosse embora logo, ficaria preso, mas sentiu a necessidade de responder à
pergunta.
—De qual jornal?
—Crônicas espetaculares, sou Frank Timbrell.
—Bom, Frank. Mudar de rumo. Essa é a próxima etapa. — E ao dizer isso, percebeu que era o
que Teodoro havia sugerido, e o velho estava certo. Era hora de buscar alguma garantia e uma
abordagem diferente. A única coisa que ficou claro para ele foi que não voltaria mais para o estúdio
de televisão. — Vou sair da televisão.
As exclamações dos repórteres encheram o círculo em torno de Jake.
—Você está bravo com Fred Dillon por cancelar seu programa? — Perguntou uma repórter
magra e um pouco mais velha que conseguiu abrir espaço no meio da multidão de colegas até chegar
a Jake. Trabalhava no Los Angeles Times vinte e cinco anos, cobrindo a área de entretenimento.
— Nem um pouco, Katty. — A mulher foi muito útil em aconselhá-lo sobre como lidar com
repórteres. Se podia dar uma exclusiva a alguém e garantir que fosse fiel à verdade, seria Katty
Williams. — Acho que tudo na vida merece ser renovado. Vou buscar um novo rumo na minha
carreira e, quanto à SWC, posso garantir que não sentiremos falta — deixou seu famoso sorriso
cativar os repórteres.
Todos riram do comentário e os flashes dispararam em sequência.
— Jake, você está pensando em ficar em Beverly Hills? — Ela perguntou.
Ele negou.
— Então você está deixando a Califórnia?
— Califórnia é minha casa, não poderia morar em nenhum outro estado. Eu só quero descansar
longe das câmeras. É tudo.
— Uma decisão final?
— Katty —disse em seu tom de provocação—, está mais curiosa do que nunca. Mas, como se
comportou tão bem hoje e não me bateu com o microfone — os jornalistas riram, — direi que não há
como voltar atrás na aposentadoria da televisão, e quando souber algo sobre meus planos, Gordon
certamente enviará a todos um comunicado à imprensa. — Ele não pretendia comentar nada sobre sua
vida daquela noite em diante, a menos que seus planos coincidissem com a necessidade de usar a
mídia em seu proveito.
— Onde vai? — Outro repórter interrompeu, empurrando um ao outro até chegar a Jake e
fazendo com que Katty ficasse para trás. Era assim que caçava notícias em Los Angeles. — Vai
vender sua mansão?
— Eu ainda não sei. — Sim, sabia. Deixaria sua casa por um tempo no luxuoso bairro
residencial de Bel Air. Na verdade, acabara de descobrir o tipo de lugar perfeito para morar e não
sabia como havia demorado tanto para reconhecer que precisava de mais natureza em seu ambiente
cotidiano. — E se souber, tenho certeza de que vou me proteger de você, nem tente me perseguir para
uma entrevista.
Todos riram. Se o adoravam por alguma coisa, era porque conseguia se livrar das perguntas
sem parecer rude e conseguia deslumbrar os jornalistas com suas piadas, ou com seu fabuloso
sorriso charmoso. Exceto quando estava com raiva, ele se tornava completamente inacessível.
Os gritos dos fãs foram ouvidos cada vez mais perto.
— Mais uma pergunta... — vários começaram a gritar, quando perceberam que ele pretendia
se afastar.
— Até logo, pessoal — disse adeus tentando abrir caminho. Segundos depois, fez os guardas
da emissora espantarem várias garotas que tentavam tocá-lo, enquanto entrava em seu Aston Martin
azul e dirigia para sua mansão de sete milhões de dólares.
CAPÍTULO 2

Jake estacionou na garagem para oito carros de sua mansão em Bel Air, entre o Porsche e o
Jaguar. No caminho de volta para casa, ele quis aceitar o convite para ir com um grupo de amigos a
um famoso e exclusivo clube de striptease. Então imaginou quantas manchetes a imprensa iria
receber e as fotos obtidas por algum estranho que tentaria obter seus cinco minutos de fama às suas
custas, e descartou a possibilidade.
Lembrava-se claramente que nos primeiros meses após anunciar sua aposentadoria do esporte,
ganhou o título de “playboy festeiro”, e era manchete semanal da imprensa do coração. Podia dizer
que conhecia todas as melhores casas noturnas de Hollywood. Foi Stars Match o projeto que o
ajudou a recuperar a sua imagem profissional como era nos seus dias de glória desportiva:
impecável, saudável e positiva. O espaço da televisão foi sua terapia emocional na qual, dedicou-se
completamente, mas não só quando anunciou sua aposentadoria, mas também quando seus parentes
morreram naquele terrível acidente, e quando tudo terminou com Lauren. Para ele, Stars Match era
mais do que um show, por isso estava com tanta raiva que o dono da emissora o tenha surpreendido.
Mas se considerava um lutador, e encontraria seu Norte, novamente. Tinha certeza.
Não voltaria a ser o Jake Weston que desfrutava da fama e das mulheres fáceis quando era o
número um no ranking da ATP; quando havia sido um dos melhores jovens jogadores da América do
Norte. Aquele Jake que gostava de gastar dinheiro em abundância, dar festas loucas quando não
estava treinando e podia fugir de seu treinador porque se considerava muito brilhante para falhar na
quadra, e que estava disposto a devorar o mundo sem se importar com ninguém, não o conhecia mais.
Este menino estava a centenas de anos-luz do homem que era agora.
Por outro lado, sabia que nunca se recuperaria totalmente do impacto emocional do acidente
de trânsito em que morreram seu pai, sua irmã Carole e Orson, seu cunhado, situação que o marcou;
isso o acordou brutalmente daquela vida despreocupada, após sua aposentadoria. Uma vida que
muitos consideraram invejável, e talvez fosse, mas desde o dia em que seus entes queridos morreram
tudo virou um inferno.
Lembrou-se daquela noite fatídica do acidente. Estava chovendo muito e ele estava visitando
sua mãe, que ficou cuidando de seu sobrinho Brad, que na época tinha um ano de idade. Tinha
acabado de voltar de um torneio na Europa e trouxe de volta lembranças para o pequeno. Estava
muito feliz, pelo resultado que havia obtido no Masters de Monte Carlo, quando sua mãe recebeu por
telefone a terrível notícia.
As autoridades solicitaram alguém próximo para reconhecer os corpos. Com o coração cheio
de dor, ofereceu-se para fazê-lo. Não podia suportar a ideia de sua mãe ter que engolir mais um gole
de dor observando como os corpos estavam despedaçados. Sua mãe teria sofrido muito ao ver o
marido praticamente queimado. Eles tiveram um casamento feliz, e Jake preferia que ela se
lembrasse de seu pai, irmã e cunhado, sem as marcas do terrível acidente.
O processo foi um pesadelo, e tudo ao seu redor parecia uma piada de mau gosto. Depois do
funeral, houve uma audiência para determinar quem ficaria com a custódia do pequeno Brad. Sua mãe
e ele concordaram em compartilhar. Jake estava ciente de que mais cedo ou mais tarde seria deixado
encarregado da educação e dos cuidados de seu sobrinho. Ele ficou encantado com a ideia, mas
também tinha um pouco de medo de não conseguir fazer o certo.
Brad mudou sua vida no exato momento que seu mundo virou de cabeça para baixo. Estava
ciente de que o menino precisava de uma imagem masculina para se orgulhar, então o comportamento
errático não tinha mais lugar.
Antes que pensasse mais no assunto do Stars Match, seu sobrinho apareceu para recebê-lo na
porta da casa.
—Tio, Jake! — correu e abraçou suas pernas. Ele se abaixou para levantá-lo, enquanto o
menino enlaçava seu pescoço. — A vovó me trouxe hoje porque disse que você precisava de um
abraço! — Jake olhou sobre o ombro do garotinho, que era a cara de sua irmã, e viu sua mãe
aparecer com um cabelo branco perfeitamente penteado e um vestido florido elegante.
Page Weston tinha setenta anos, mas estava muito bem conservada. Mãe e filho
compartilhavam os olhos cinzentos e um sorriso encantador.
—Claro que sim, campeão, sempre preciso de um abraço seu — respondeu ele, apertando-o
carinhosamente.
—Desculpe aparecer sem avisar — disse Page, aproximando-se do filho.
—Está tudo bem, estou feliz que você veio. — Abraçou a mãe e segurou Brad nos braços, que
falava que aprendera a misturar cores com aquarelas e a somar até cinquenta. — Viu a notícia —
afirmou, notando o rosto inquieto de sua mãe.
—Sim, é por isso que viemos — deu um tapinha gentil em seu ombro. Brad escorregou do
pescoço do tio e correu para encontrar o Play Station de Jake na sala de jogos que ele construiu para
o menino. — Desistir da televisão é um passo importante. Tem certeza de que não deseja procurar
outras opções na telinha?
Entraram na casa e se acomodaram em uma das cadeiras de vime que dava para a piscina e o
gigantesco pátio. O vento soprava pela varanda e ele estava grato por contar com seu próprio
refúgio.
— Tenho. Antes do anúncio, tive uma conversa agridoce com Theodore. Isso me fez pensar
que é hora de tirar férias. E ele está certo. Já se passaram cinco anos de trabalho ininterrupto... —
suspirou. — Eu preciso de uma motivação diferente.
Sua mãe olhou para ele com simpatia.
— Ter uma namorada seria o primeiro passo — sugeriu ela com cautela, tomando um gole do
chá gelado de pêssego que a governanta lhe trouxera. Page sabia que essa era uma questão espinhosa.
Mas era sua mãe, então pouco ou nada se importava se ele ficasse com raiva.
— Neste momento, não estou aqui para perder meu tempo brincando de ser namorado de
ninguém agora, mãe. E eu acho que nenhuma mulher gosta de um homem que tem como adereço uma
criança no pacote de responsabilidades — respondeu ele pensativo.
Page estendeu a mão livre e apertou a do filho com firmeza.
— Isso só as mulheres egoístas e sem coração pensam. — Jake sabia que sua mãe estava se
referindo a uma em específico. — Tire essa máscara de cinismo que assusta a todas.
“Não as afugento da minha cama”, mas ele não podia responder isso a sua mãe.
— Você quer pegar o emprego de Gordon?
Page riu. Ela costumava pensar que o agente de seu filho era um homem muito duro, embora,
no fundo, fosse grata a ele pelos bons contratos que havia conquistado para Jake ao longo de sua
carreira profissional.
— Quero mais netos. — Jake ficou tenso. Esse assunto trazia de volta memórias amargas
sobre as quais tinha falado apenas com um dos seus dois melhores amigos, e não iria fazer isso com
mais ninguém. Ele confiava muito em Rexford e Cesare. — Brad precisa de um companheiro de
brincadeiras, ou uma companheira para fazer travessuras, e também quero uma nora que possa
chamar de filha. — Ambos ficaram em silêncio. Ele estava ciente da dor que sua mãe sempre
carregaria em seu coração pela perda de Carole. — Já sofremos o suficiente, Jake, e quero ver você
feliz mais do que tudo. Depois daquela garota, Lauren, você não é o mesmo — sussurrou tristemente.
— Mãe... — ele disse baixinho.
— Tudo bem — sussurrou. — Eu não vou falar sobre isso.
Page sabia que essa parte emocional estava fora dos limites para as mães, mas ela odiava ver
o filho tão mal-humorado. Ele precisava de uma mulher para lhe dar esperança e, para devolver a
ela, o filho divertido e brincalhão que era antes de suas vidas mudarem. Se Jake tivesse seguido seu
conselho quando disse que essa Lauren não seria uma boa esposa, talvez tudo tivesse sido diferente.
Mas não havia mais voltas para dar, o estrago estava feito.
Nunca gostou daquela garota, especialmente quando a encontrou com a mão levantada prestes
a bater em Brad. Teve que se interpor, e empurrou aquela bruxa com todas as suas forças, levando
seu neto chorando em seus braços. Ela não contou a Jake, porque ele estava tão cego que a acusaria
de querer interferir. Foi uma época em que os dois se separaram. Foi um momento difícil e graças a
Deus agora estavam se recuperando aos poucos. Não sabia por que Lauren deixou seu filho, mas
estava grata.
Jake sorriu para a mãe e se levantou.
— Fique para o jantar — ele olhou para o relógio, — e para dormir também, é tarde demais
para você e Brad voltarem para casa. Dei folga ao motorista, então não poderia levá-los. Não quero
que corram riscos.
— Ok, querido. Ficaremos.
— Excelente. Agora, tenho algumas ligações para fazer, por falar nisso, gostaria de morar aqui
por um tempo?
— Não, filho, a escola de Brad é perto de nossa casa, e não gosto de como seus vizinhos de
Bel Air são arrogantes. — Jake riu, porque sua mãe estava certa. — Prefiro a nossa casa de toda a
vida, que é menor. Aqui com tantos quartos e salas, me perco, embora sua governanta seja uma
senhora encantadora. Para onde planeja se mudar? — perguntou, franzindo a testa.
Jake esticou os ombros cansados.
— Vou tomar uma decisão em alguns dias, ainda não decidi, primeiro quero falar com meu
corretor de imóveis. A única coisa certa é que não viverei muito mais tempo nesta mansão; mas não
quero que fique vazia... — ficou em silêncio por alguns segundos, antes de adicionar: — Talvez eu
deva dizer a Rex que ele pode ficar aqui por um tempo.
— Rexford Sissley? — Page questionou. Rexford e seu filho eram companheiros de quadra
desde muito jovens; também rivais. A única diferença era que o jovem, de São Francisco, conseguira
ficar na quadra por muito mais tempo do que Jake. Se lembrou que Rex, Jake e um menino de pais
italianos chamado Cesare Ferlazzo, sempre foram muito próximos, até que conseguiram um agente
para contratá-los, e aos poucos inevitavelmente começaram a se afastar para se dedicarem às viagens
próprias da carreira. — Faz muito tempo que não ouço falar dele. Como está?
— Se aposentou há dois anos. Conversamos algumas semanas atrás, durante um jantar de
negócios em Milão. Fizeram uma oferta muito boa para que começasse sua própria escola de tênis de
elite aqui em Los Angeles. Precisa de uma casa com urgência, porque o contrato é iminente e a
questão imobiliária às vezes leva tempo. Ele acabou de se estabelecer em um hotel há alguns dias
aqui na área. Eu ofereci de alugar esta casa. Veremos o que acontece.
— Seria ótimo se pudesse ajudá-lo. E o que aconteceu com o outro garoto, o menino Ferlazzo?
— Não sei. — Ele não ia contar para sua mãe que uma noite de farra, anos atrás, ele estava
prestes a cortar sua amizade com Cesare, que com seu maldito charme italiano estava flertando com
uma mulher com quem ele queria dormir durante uma noite de diversão na Sicília. Embora depois de
recuperar a sanidade, ele soubesse que bater em Cesare era uma idiotice, porque o que seu amigo
queria mesmo era que ele entendesse que a família da garota, cujo rosto nem lembrava agora, era
filha de um capo de uma conhecida máfia siciliana. Jake não se desculpou, embora soubesse que, ao
livrá-lo dessa garota, Cesare evitou o desastre de sua reputação e provavelmente de sua carreira no
tênis aos 23 anos de idade. Desde aquela noite de festa na Sicília, eles se distanciaram um pouco, e
quando costumavam se encontrar no campo em alguns circuitos, quem mediava a tensão entre eles, se
surgissem, era sempre Rex; embora isso não tenha impedido de pedir a opinião de Cesare quando a
coisa com Lauren aconteceu. Apesar de tudo, eles sabiam que entre os três podiam se proteger. —
Acho que ele está vivendo como um rei em algum lugar...
Antes que Page pudesse dizer qualquer outra coisa, Brad veio correndo com um brilho de
triunfo em seus olhos azuis, herdado de seu avô. Se lançou contra as saias de sua avó, então se
recostou para olhar para Jake.
— Eu ganhei, ganhei o jogo de corrida, sou o mais rápido!
— Você é um grande campeão, venha cá, pequenino — disse Jake, pegando-o e jogando-o no
ar com entusiasmo.

Colette esperava ansiosamente no saguão do rádio. Passaram-se dois meses desde que ela
tentou, sem sucesso, ser contratada por várias revistas e jornais desde seu último emprego nada
notável. Ainda tinha um pouco de dinheiro guardado, mas não o suficiente para manter sua
independência. Vivia do pagamento de artigos jornalísticos que enviava aqui e ali, e de aulas
particulares de redação que dava a alunos que estavam iniciando a carreira de jornalista. Precisava
de algo estável.
A emissora se chamava Rádio Costa Azul. Uma antena pequena, mas com grandes
possibilidades de expansão, ou pelo menos foi o que o homem que a chamou lhe disse para dizer que
seu currículo havia sido recomendado pela universidade. “Um trabalho é um trabalho”, disse a si
mesma, e apesar de o rádio não ter sido exatamente sua ideia de fazer jornalismo, era um bom passo
para ter uma renda estável e fazer contatos. Talvez pudesse produzir notícias que dessem voz às
necessidades sociais da comunidade, porque política não era o seu negócio.
— Senhorita Kessler, por favor, entre — anunciou com acidez uma mulher gorda, óculos
grandes demais para o rosto e cabelos precisando de uma boa tintura. — O Sr. Murdock está
esperando por você em seu escritório. Colette descobriu mais tarde que o nome da mulher era
Vivianne.
O escritório consistia em uma salinha com muitos diplomas, jornais espalhados sobre uma
mesinha de centro, duas cadeiras que já haviam visto melhores dias, uma cafeteira, a pequena
biblioteca da qual pendia uma manchete que ela conseguiu decifrar como Penthouse. “Interessante”,
pensou Colette, contendo uma risada.
O homem atrás da cadeira era careca, de constituição ligeiramente atarracada, olhos negros
como carvão e pele pálida. Ele sorriu ao vê-la, e Colie sentiu suas feições suavizarem
completamente.
— Bem-vinda. — O homem pôs-se de pé, revelando sua baixa estatura e sua voz tão firme
como quando ligou para ela. — Murdock — disse ele como forma de saudação—, mas as senhoritas
podem me chamar de Francis.
A decoração era um pouco triste com toques de tinta desgastados. Isso a fez pensar no baixo
salário que receberia, embora talvez, se o completasse com seus artigos como freelancer, sua renda
mensal seria decente.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Murdock.
— Francis apenas, por favor. Sente-se.
Temia que o estofamento da cadeira afundasse com ela, então se acomodou com cuidado e o
mais próximo possível da borda. Se sentia muito elegante com as roupas que vestia. Estava usando
uma calça social levemente ajustada, uma camisa roxa com decote em V com babados de seda na
cintura, salto alto, que já faziam bolhas, e um rabo de cavalo sofisticado, cortesia de Kate, além de
um toque bem leve de maquiagem, pois ela não gostava muito.
— Obrigada, Francis — disse suavemente.
— Quero ir direto ao ponto. Estamos pensando em expandir a rádio. Somos três sócios, mas
os outros só colocam o dinheiro; sou eu que estou fazendo o trabalho nos meus ombros — se inclinou
para pegar uma caneta esferográfica ligeiramente mordida na ponta onde estava sendo segurada. —
Decidimos mudar o conceito de rádio musical. Queremos lançar uma revista informativa, nova e
diferente. O público está cansado de notícias chatas.
— Mudar e inovar é importante — acrescentou.
Francis assentiu.
— O problema é que não temos ideia de como fazer isso e, mesmo que soubéssemos, nossa
criatividade é limitada pela idade — riu de sua própria piada. — Somos especialistas no mundo da
música, da notícia, mas uma revista com temática mais variada ou juvenil é outra questão. — Ele se
recostou na cadeira que rangeu com seu peso. — Sei que sua especialidade é a imprensa escrita, mas
gostaria de saber se teria interesse em levar esse projeto adiante. Vai demorar um pouco para tomar
forma. O pagamento não será muito alto. — Ela já havia descoberto, e a quantia que ele mencionou
confirmou. — No entanto, à medida que os patrocinadores chegarem, vai melhorar. Para isso,
precisamos que a revista seja magnífica. Como o salário não será tão generoso, vamos recompensá-
la com alguns dias de folga, desde que deixe tudo organizado. A revista será três vezes por semana,
embora nos outros dias úteis você tenha que trabalhar cada edição. Isso é desnecessário de falar, mas
para que não haja mal-entendidos...
Colette sorriu genuinamente e assentiu. Esses dias de folga que ele oferecia permitiriam que
continuasse dando aulas particulares e escrevesse seus textos. Tentaria ser eficiente para que pudesse
reservar o tempo necessário, uma vez que preparasse o programa para cada dia. A tensão em seu
corpo se dissipou.
— Gosto de desafios, Francis, e acho que essa é uma grande oportunidade para minha
carreira. Claro, se no final do processo decidirem me escolher.
Os olhos do empresário se arregalaram.
— Magnífico! — exclamou com um tapa. — Você é nossa escolha número um, Colette, não
gosto de perder tempo. O trabalho é seu, se quiser.
Ela sorriu com entusiasmo.
— Quando eu começo?
— Se você puder hoje para conhecer o pessoal. Será a produtora e o que importa para mim no
final são os resultados: audiência e anunciantes. Faça tudo no menor tempo possível e com
qualidade. De acordo? Vou dar uma prévia das datas que meus sócios têm para lançar a revista de
rádio, embora não importe muito se estão viajando ou não, já que temos a versão online e ao vivo da
emissora — sorriu. — Já contamos com você. Bem-vinda à Rádio Costa Azul.
“Liberdade criativa. O que mais uma jornalista cansada de chefes tiranos em trabalhos
esporádicos poderia pedir?”, refletiu entusiasmada. A ideia de ajudar aquela rádio a ser reconhecida
colocou sua adrenalina para funcionar.
Francis a guiou pelas instalações, mostrando-lhe a cabine de controle, o espaço que seria seu
minúsculo escritório, as quatro cabines de voz e toda a equipe de trabalho que somava vinte pessoas
no total. A rádio era espaçosa, mas a área estava mal distribuída.
A primeira coisa que pensou foi conseguir um anunciante que se encarregasse da decoração,
outro pela pintura e outro pela readequação dos espaços; gostaria de falar com a pessoa encarregada
de cuidar da publicidade. Em geral, Colette poderia dizer que ela tinha um diamante bruto e faria o
possível para lapidá-lo e fazer um nome para si mesma no meio.
— De agora em diante, você está em casa, Colette.
— Obrigada, Francis — respondeu emocionada.
Arrumar seu novo escritório levou o resto da tarde. Ela estava sem os sapatos e, enquanto
caminhava pelo tapete macio, seus pés doloridos se acalmaram. No final, ficou satisfeita com o
resultado. A mesa estava vazia e o pequeno laptop que lhe fora dado horas antes estava funcionando.
A prateleira mal continha uma coleção decente de livros especializados, mas ela cuidaria de estocá-
los mais tarde. As paredes pareciam nuas, mas logo teriam seu diploma universitário com a Summa
Cum Laude que endossava seu sacrifício nos estudos. Também encarregou Boris, o mensageiro da
rádio, de lhe trazer algumas flores bonitas. Algo da natureza sempre era ótimo.
— Uau — disse uma voz da porta. — Agora, isso parece um escritório.
Ela se virou e sorriu. Era o garoto que se chamava... Qual era o nome dele?
Ele deve ter interpretado seu rosto perplexo, porque se aproximou com um sorriso gentil.
— Zack Jensen — ele apertou sua mão—, programador de console. Você tem um ótimo senso
de organização, Colette — disse olhando ao redor. — Fez um trabalho maravilhoso em algumas
horas. O chefe queria esse programa de rádio há meses. Francis é um pouco exigente, então seu perfil
deve ter sido impecável.
Colie inclinou a cabeça ligeiramente.
— Ou talvez houvesse outros candidatos que preferiram fugir quando perceberam no que iam
se meter — explicou com humor. Zack relaxou imediatamente diante do comentário de qual seria sua
nova chefe. — A propósito, me chame de Colie. Como todos me chamam.
O homem de trinta anos balançou a cabeça e colocou as mãos nos bolsos.
— Há algo que deve ter em consideração com Francis.
Ela o olhou interrogativamente, então Zack continuou.
— Ele é meio... — franziu a testa — digamos, inquieto com seus projetos.
— Não entendo.
— Se entedia facilmente. Pode estar animada com esta revista de rádio agora, mas logo
poderá desistir e explodir todo o plano. — Olhou para as pontas dos sapatos, um tanto sujos pelo uso
e desgaste diário. — Já aconteceu conosco.
Colette sorriu com otimismo.
— Não se preocupe. Francis ficará tão feliz com o resultado que ficará encantado por muito
tempo.
Zack assentiu.
— Bem, Colie. Se precisar de ajuda... bom... estou a cinco escritórios do seu. Talvez você
precise das minhas habilidades de programação musical quando começar a rodar seu programa. Já
pensou em um nome ou algo assim?
Ela se interessou por Zack. Bastante atraente, com sobrancelhas bastante espessas, nariz
aristocrático, lábios amáveis e cabelos louros muito claros e despenteados. Ele estava vestido
casualmente, e algo dentro dele, dizia que era uma pessoa em quem podia confiar.
— Eu mal tive tempo para me dedicar ao projeto — seu estômago escolheu aquele momento
para soltar um rosnado constrangedor. — Veja, estou morrendo de fome — começou a rir.
Zack abriu a porta com cerimônia.
— Eu conheço um ótimo lugar onde fazem hambúrgueres deliciosos.
Sem hesitar, ela caminhou até sua mesa e pegou sua bolsa para sair. Não era exigente quando
se tratava de comer.
— Fabuloso. Vamos!

Nas duas semanas seguintes, Colette se alimentou de cafeína e donuts. Quase se sentia como se
estivesse vivendo em uma série de policiais em treinamento de canais pagos. Ela acordava para
correr às seis da manhã, tomava banho, ouvia as notícias, enquanto Kate reclamava de sua posição
como balconista de uma famosa rede de joias onde trabalhava, por se recusar a fazer parte do quadro
de funcionários da revista de seu pai. Em seguida, se vestia e entrava no carro para dirigir até a rádio
a vinte minutos de distância.
Assim que colocava os pés na rádio, era inundada com e-mails, perguntas, reuniões. Ficava
até quase meia-noite terminando de planejar a revista de variedades que chamou de Oxigen
California. Depois, havia a questão dos patrocinadores. Ela e Deirdre Santorum, a gerente de
publicidade, estavam visitando clientes em potencial, e Colette tinha que explicar a revista em
detalhes.
Ao final dos primeiros quinze dias tinha cinco anunciantes que cobririam pelo menos a
reforma da rádio, o que em sua opinião não era um mau começo.
— Colette, estou impressionado — comentou seu chefe ao mostrar a pasta com os segmentos,
o tempo de cada um e os anunciantes patrocinadores. — Para uma novata em questões de rádio, você
alcançou ótimos resultados, e estou satisfeito que seu diploma universitário não seja uma desculpa,
mas um fato verificável. — Ela assentiu. — Há apenas um problema que me preocupa — murmurou,
inclinando-se sobre o documento.
Ela ficou intrigada, pois os detalhes do programa foram garantidos ponto a ponto.
— E que é?
Francis acomodou-se em sua cadeira atrás da mesa, que rangeu sob seu peso.
— Oh, não se preocupe, eu vou cuidar disso. Nada importante, mas absolutamente necessário.
— Colette olhou para ele sem expressão. — Quando o programa vai ao ar?
— Segunda-feira.
O empresário sorriu com confiança.
— Até então tudo estará resolvido. Temos quatro dias.
— Não entendo o que quer dizer, Francis. O esboço está pronto, fiz um piloto em que Zack
tratava do som e eu era a locutora. Deirdre serviu como convidada especial. Acho que a amostra está
aqui — vasculhou os documentos que carregava com um pen drive. — Aqui está — lhe entregou. —
Escute isto. Na verdade, não falta nada.
— Eu sei, moça, você é eficiente, o que eu queria te dizer...
— Sr. Murdock, o agente na linha três — interrompeu a secretária, espiando pela porta.
Francis pediu desculpas a Colette para atender a ligação, depois voltou toda a atenção para a pessoa
do outro lado da linha — Que bom que me ligou! — gesticulou para Colette, e ela sabia que a
reunião havia acabado.
Intrigada, ela foi para seu escritório e se trancou até terminar de produzir um comunicado à
imprensa que enviaria antes que a Oxigen California fosse ao ar pela primeira vez. O nervosismo
tomou conta dela, mas também uma sensação de excitação porque agora era responsável por um
grande projeto. Produtora, nada menos!
Ao completar sua lista de contatos, pensou no fim de semana. A ideia de ir para a casa dos
pais a deixou de mau humor. O escrutínio persistente, as críticas constantes de sua mãe a tudo o que
ela fazia e a maneira sutil de seu pai de humilhá-la publicamente tornaram-se razão suficiente para se
recusar a vê-los. Quando estava com Greta e Phillip Kessler, ela era mais uma vez a insegura
adolescente de quatorze anos que vivia à sombra de suas irmãs deslumbrantes e bem-sucedidas e era
criticada por não se parecer com elas.
Em sua casa em Newport Beach era Colette, a pobre coitada que fingia ser jornalista e havia
se mudado de sua luxuosa residência para viver uma aventura em Santa Monica com sua melhor
amiga. Doía a maneira como seus pais acreditavam que ela era incapaz de continuar com sua vida.
Quando era adolescente, costumava ser mimada e causar problemas, mas essa garota estava no
passado. Pena que sua família não tinha percebido e ainda a considerava um "problema" para
consertar.
A princípio, pensou em ligar e dizer que não poderia comparecer ao jantar de sexagésimo
aniversário de seu pai. Os dois brigavam constantemente, e ela não conseguia entender por que ele
sempre tinha que se comportar de forma mais severa, distante e exigente com ela, do que com suas
irmãs. Esse fato sempre a ressentiu, e as birras que costumava fazer eram para chamar sua atenção.
Nunca teve sucesso, ou se conseguiu, foi apenas para receber uma punição ou uma palavra ofensiva.
Sua mãe também não era sua defensora.
Quando ela tinha dezenove anos, seu relacionamento com os pais ficou tenso, especialmente
porque sua mãe raramente, ou nunca, saía em apoio ou defesa, então, cansada de tentar ir contra a
corrente, decidiu ficar longe de Newport Beach para sempre. Era ótimo que Kate tivesse seus
mesmos interesses profissionais, além de ser sua melhor amiga. Ela sempre se sentiu mais próxima
dos Blanskys do que de sua própria família.
Com um suspiro resignado, foi tomar uma bebida quente no pequeno refeitório no final do
corredor. Quando perceberam sua presença, todos sorriram para ela.
— Não posso acreditar! — Wanda exclamou, dirigindo-se a ela. A garota trabalhava no turno
da manhã na área de programação, o que a tornava parceira e concorrente de Zack. — É sério?
Colie olhou para ela com um ar de "perdi alguma coisa"?
— Você sabe que minhas informações são confiáveis — disse Deirdre, aproximando-se com
um sorriso malicioso. — Não sei como podem esperar que o próprio Francis venha lhes contar. Era
para ser confidencial... — e começou a rir — bem, era.
— Estou perdida — disse Colette, colocando o saquinho de chá na água quente.
Zack foi ao seu encontro com um sorriso.
— Colie, nós dois ficamos um pouco surpresos por você não ter nos contado nada.
“O que aconteceu com as pessoas naquele trabalho? Não percebiam que ela não tinha ideia do
que diabos eles estavam falando?”
— Não sei do que você está falando. — Acrescentou um pouco de açúcar à xícara. Se me
contarem talvez... — bebeu um pouco do líquido quente.
Zack se sentou e a olhou como se esperasse que ela revelasse algo para ele.
— Ei, Colie! O chefe acabou de dizer a Vivianne quase gritando. Queremos sua confirmação.
— Saí do escritório de Francis há cerca de três horas, mas ele não me disse nada. Tenho
trabalhado em meu escritório desde então. Não tenho ideia.
Deirdre se aproximou com sua minissaia de costume e maquiagem pesada. Sorriu
conscientemente para Colie.
— Não seja modesta. Você conta a eles ou eu repito? — a gerente de publicidade perguntou
retoricamente, depois deu uma risadinha. — O patrão conseguiu fechar um negócio com uma ótima
contratação! Aparentemente, alguém lhe devia um pequeno favor e ele ajustou uma coisinha aqui e
outra ali.
— Ah, sim? — notou que seu chá não tinha um gosto estranho, então ela não entendia o que
aquelas pessoas estavam bebendo para serem tão loucas.
— O próprio Jake Weston apresentará o show.
Colette começou a tossir desesperadamente.
— C... como isso aconteceu? — perguntou incrédula. Aquela notícia se assemelhava ao seu
pior pesadelo.
Ela havia pensado em contratar um conhecido jornalista da cidade, com experiência em
programas de variedades de televisão, que queria trabalhar três horas por semana na rádio. Na
verdade, já tinha o contato e demorou muito para negociar a entrevista por telefone.
Colocou o copo meio bebido sobre a mesa.
Zack se espreguiçou na cadeira, ainda sorrindo igual uma criança que recebe ingressos grátis
para a Disneylândia.
— Vivianne acabou de dizer a Deirdre que o agente de Weston queria confirmar o nome do
programa que a Gearforce patrocinaria nos próximos meses, já que é a marca oficial de bebidas de
Jake Weston. Muito bem, Colie. Ficamos felizes porque assim vão nos pagar na hora certa... e nem
preciso dizer que Jake é um dos ídolos do esporte a nível internacional e vai disparar a audiência.
Na Rádio Costa Azul nada menos! — exclamou com entusiasmo, seus olhos brilhando de alegria.
“Nada menos”, ela pensou ironicamente. E o engraçado de tudo é que ela não tinha ideia do tal
patrocinador. Mas já que era um assunto negociado diretamente por Francis, e envolvia dinheiro para
a rádio. Quem era ela para entrar em uma discussão?
Todos começaram a se afastar para retornar aos seus postos com um humor especialmente
alegre. Todos, exceto ela, que estava fumaça pelos seus ouvidos. “O que faria trabalhando com um
sem cérebro do tênis, quando o foco principal da sua revista eram tendências de melhoria de
qualidade de vida e questões familiares?”
E por mais que tenha dito no caminho para casa que o passado não iria afetá-la, não se
convenceu com a ideia de ter Jake Weston por perto com a possibilidade de arruinar a oportunidade
perfeita para mostrar a sua família que ela não era uma garota brincando de ser adulta com tendência
para o fracasso profissional, mas uma mulher capaz de abrir caminho e deixar a sua marca no seu
trabalho como jornalista.
Depois, havia também o pequeno detalhe que não havia confessado a Kate. Para ninguém
realmente. Jake Weston era o homem a quem ela havia dado sua virgindade enquanto estudava
francês em Paris, e ele estava participando do torneio de Roland Garros. Mas não queria se dedicar
a pensar naqueles dias.
Acelerou seu pequeno Peugeot e virou à direita. Antes de ir para casa, se daria uma massagem
relaxante.
Sua necessidade de assimilar a ideia de que Jake estivesse trabalhando muito próximo era
urgente. Ela era especialista em colocar máscaras para enfrentar tempestades mais difíceis, como sua
família, por exemplo. Jake Weston não seria problema. Com a quantidade de mulheres com quem
namorou e dormiu, como iria se lembrar do que vivenciou com uma garota ingênua e apaixonada que
praticamente derretera em seus braços, quando seis anos se passaram desde aqueles dias na França?
CAPÍTULO 3

Jake ficou satisfeito com o pagamento dos três milhões de dólares que transferiu para seu
corretor de imóveis. A casa, localizada na esquina da Ocean e Hollister, era linda e tinha vista para o
oceano.
O cômodo principal de sua mansão tinha uma confortável cama king-size, jacuzzi e vista para
a costa. Ele garantiu que tivesse dois quartos de hóspedes para a família, além de uma sala de estar
confortável, uma cozinha equipada porque sua mãe adorava fazer doces e um piso de mármore para
que Brad pudesse deslizar com facilidade enquanto brincava.
“O que mais poderia pedir por três milhões de dólares de investimento? Uma companhia
feminina agradável e descomplicada”, questionou-se e respondeu a si mesmo com bom humor.
Depois de passar pelo menos seis meses em um celibato que nada tinha a ver com sua
vontade, mas com as campanhas promocionais de programas para pessoas necessitadas em que
contribuía, além das extenuantes sessões de exercícios que fazia para se manter em forma, a libido
estava começando a protestar. Nunca tinha passado tanto tempo sem uma mulher. Geralmente, não
achava inconvenientes para ter companhia, de fato, tinha o luxo de rejeitar aqueles que não lhe
interessavam. Tinha um encontro naquela noite e esperava que terminasse em uma noite de sexo
selvagem para compensar o tempo de abstinência.
Recostando-se na espreguiçadeira acolchoada, observou as ondas irem e virem ao longe,
enquanto a lareira do terraço o aquecia. Estava em Santa Monica há uma semana e, pela primeira vez
em muito tempo, não tinha pressa em fazer nada em relação à sua imagem profissional, ou suportar os
paparazzi em cada esquina quando ia a um restaurante. Pelo menos não tanto quanto em Beverly
Hills. Não que Santa Monica ficasse muito longe de Bel Air, mas pelo menos era um local diferente
com o cheiro do mar disponível e a praia a poucos metros de distância. Uma mudança era uma
mudança.
A mãe dele estava se organizando, segundo havia lhe dito, para ir de férias com Brad para a
casa de sua única tia, que morava em Delaware. Ele teria gostado de ir com ela, mas esta era a hora
de tentar apagar os fantasmas do passado que ainda rastejavam em sua mente de vez em quando,
assombrando-o.
O telefone começou a tocar. Levantou-se e foi até o frigobar, onde a garrafa de vinho que
havia aberto minutos antes ainda estava guardada.
— Weston — ele cumprimentou sem olhar para quem estava ligando. De qualquer maneira,
poucas pessoas tinham acesso a seu número privado.
— Meu cliente estrela!
Jake revirou os olhos. “Seu agente”.
— O que há de novo para mim, Gordon? Espero que tenha procurado aquela promissora fuga
profissional que combinamos.
— Oh, eu tenho, é claro que tenho! A Gearforce está patrocinando uma revista de rádio de
atualidades em uma pequena rádio, exatamente o que deseja para manter um perfil ativo, mas não
excessivamente exposto. Serão apenas três dias por semana, durante cerca de quarenta minutos ou
mais, e isso permitirá que continue com sua programação ou faça uma viagem.
Jake terminou de servir o resto do vinho e deu um longo gole no Cabernet Sauvignon do
vinhedo da família Bryant. Um capricho de seiscentos dólares a garrafa para a tarde. A textura era
requintada e única, então o preço era o mínimo.
— Uma pequena rádio? Por que meu patrocinador deveria se interessar por eles? Erick
Pagalle não perde tempo com bobagens.
Gordon esclareceu.
— O dono da Gearforce não nasceu em berço de ouro, sabe, e deve um favor a um dos donos
daquela rádio, que aliás é o mais ganancioso. Um certo Francis Murdock. Pelo menos, aparentemente
se encontraram por acaso em uma reunião recentemente, e esse Francis não deixou nada em sua lista
de tarefas. Como teve a ideia dessa revista de rádio, a colocou como prato principal. Pagalle não
recusou. Dívidas precisam ser pagas... eu acho — disse, e soltou uma risada. — No pacote você
entrou porque assinou um contrato com eles por seis anos e ainda tem oito meses. A menos que você
queira renovar — ele explicou suavemente.
— Como se fosse uma bagatela, hein, Gordon? — expressou aborrecimento. — E o que meu
patrocinador ganha? — perguntou desconfiado. — Minhas taxas são muito altas. Ficarão no prejuízo.
O silêncio do agente não agradou nem um pouco a Jake.
Gordon?
— Você terá que fazer algumas aparições públicas para a marca.
— Droga! Já havíamos conversado sobre isso. Não quero saber da imprensa ou de uma
estação de rádio decadente. Espero que não tenha aceitado, sabe muito bem que não quero
interferências. Com passar despercebido se entende um negócio longe da mídia ou continuar
contribuindo para temas da fundação sem a imprensa. Por acaso falo japonês?
Do outro lado da linha, Gordon Rister revirou os olhos. Seus clientes às vezes eram muito
exigentes, infelizes ou, como Jake, um pé no saco. Por que não podia simplesmente apreciar uma
oportunidade de dinheiro fácil?
— Eu...
Jake soltou vários impróprios próprios de um marinheiro de favelas.
— Eu quero um limite de tempo. Não mais do que três meses. Então eu saio, e não me importo
com o que acontecer com esse assunto; se decola ou afunda. Estou farto deste circo. Ou você vai
negociar meus termos ou se considere demitido.
— Será algo bastante leve — respondeu ele naquele tom que conseguia apaziguar seus
clientes mais polêmicos ou temperamentais. — A imprensa não vai incomodar muito, e dificilmente
alguém vai notar que você está naquela rádio. Pense nisso como uma questão de caridade. — Jake
rosnou baixinho. — Vai ser algo discreto sem dúvida, vamos rapaz, entendo que sua vida deu uma
guinada inesperada, mas isso é algo fácil. Se pudesse te tirar disso, eu o faria, mas este é o seu
patrocinador por excelência. O que digo é que tentarei negociar para que suas aparições públicas em
eventos como representante da Gearforce sejam limitadas a cinco.
— Muito.
— Três.
— Dois. Não haverá mais disso.
Um suspiro cansado ressoou do outro lado da linha.
— Feito. Há apenas um ponto adicional a ser considerado. A produtora.
Jake, ao longo de sua carreira, encontrou pessoas que eram muito exigentes com o trabalho ou
que o tratavam com muita deferência, o que levou à revelação de seu gênio. Se ia se encontrar com
uma produtora rabugenta e queixosa, preferia continuar admirando o mar e gastando sua fortuna em
paz. Não precisava trabalhar para ganhar dinheiro, mas porque gostava de ajudar, por isso suas
atividades eram voltadas diretamente para as fundações.
— O que tem ela?
— O plano piloto para o programa Oxigen Califórnia é o seu experimento. Nunca trabalhou
em rádio, porque sua especialidade é a imprensa escrita...
Jake deu um longo gole em seu copo. O líquido escorregou por sua garganta confortando-o,
enquanto o céu começava a escurecer e o vento ficava mais frio ao pôr do sol, apesar do fogo que se
movia incessantemente na lareira.
— Oxigen California... — repetiu como se estivesse refletindo sobre isso. — Hmm, suponho
que alguém que pense nesse nome tem uma imaginação transbordante, e com certeza é uma daquelas
mulheres com piercings, cabelo verde com azul... — suspirou. — Contanto que ela me deixe agir
livremente no programa, não me importo se ela se veste como uma forasteira ou a última princesa
velhota do deserto.
A única coisa que importava para ele como agente era que um patrocinador iria pagar Jake e,
portanto, ele como seu assessor recebia uma comissão. Se fosse Oxigen California ou “o clube do
patinho”, ele não se importava.
— Oh, você pode negociar com certeza, Jake. Eles esperam por você na tarde de segunda-
feira para o primeiro ensaio.
— Entendido.
— É para isso que você me paga as verdinhas.
— Você vai ficar sem elas se não negociar este contrato sangrento da Gearforce como eu
expliquei. Três meses naquela rádio, dez por cento a mais do dinheiro normal e apenas duas
aparições para a marca. É tudo. Eu não quero saber mais sobre isso. — Encheu outro copo. — Ficou
claro?
— Totalmente. — Gordon odiava perder dinheiro ou uma oportunidade de obter uma boa fatia
nas comissões. E Jake era um de seus melhores clientes. “A birra iria passar”.

***
Aos sábados, as rodovias ficavam lotadas, mas não tanto quanto os horários de pico. Isso era
um desastre. Estava com o tempo contado para a casa de seus pais. O vestido de noite, ultrajante o
suficiente para chamar atenção e constrangê-los, como sempre faziam com ela quando minimizavam
suas aspirações profissionais; um biquíni, para curtir as ondas frias; e uma roupa casual para
qualquer eventualidade.
Quando era pequena, costumava desfrutar da mansão em estilo toscano que seus pais
construíram. O dinheiro que Phillip Kessler ganhou como Prêmio Nobel de Economia foi usado para
renovar a casa e expandir a área da piscina, também para renovar a sala de jantar e retocar as
suntuosas banheiras de mármore rosa. O quarto das irmãs foi modificado com madeira de nogueira
importada do Brasil, assim como as vigas do teto alto que coroavam o hall de entrada da frente, que
era adornado com piso de pedra.
Quanto ao quarto, era lindo, não podia reclamar, e quando seus pais começaram a insistir em
que fosse mais dócil como as irmãs, Colette se rebelava e se perdia pelo rápido acesso que a casa
tinha à baía. Sua adolescência não foi fácil. Houve dias de cabelos tingidos de verde, cachos
alisados, cortes das madeixas com tesouras de cozinha, unhas com esmalte azul vibrante e toques
fosforescentes, maquiagem de roqueira, namorados excêntricos ou motoqueiros — esses eram o
pesadelo de sua mãe — e uma infinidade de ideias que ela colocava em prática sempre que seus pais
ou irmãs a criticavam.
O último confronto com sua família ocorreu quando decidiu estudar jornalismo. Recebeu
sermões de seus pais, suas irmãs explicaram que não era uma carreira de prestígio. Então, por um
tempo, ela foi forçada a comparecer às reuniões com altos executivos que a hostilizavam apenas por
ser uma Kessler, e até mesmo seus pais se ofereceram para pagar o custo acadêmico da Sorbonne, se
ela estudasse economia. Rejeitou as propostas de emprego, porque não conseguia se sentir presa,
precisava de variedade, adrenalina e interação com outras pessoas, e se não fossem arrogantes como
os amigos de seus pais milionários, melhor ainda. Não se recusou a fazer uma turnê para ver a
Europa aos dezenove anos com o dinheiro economizado. E em vez de ir para a Sorbonne como seus
pais tanto queriam, recusou o dinheiro, preferindo se candidatar a uma bolsa de jornalismo. A
conseguiu, é claro. E enquanto estudava francês, ela se viu imersa em uma tarefa de cobertura
jornalística: conseguir uma entrevista com um dos jogadores de tênis que participavam de Roland
Garros.
Kate era sua amiga e se juntou a sua cruzada para deixar o Condado de Orange em busca de
uma vida. Os pais de Kate e Damon adoraram mergulhar na Grande Barreira de Corais australiana,
em algumas ocasiões a convidaram, e ela não poderia experimentar uma sensação mais deliciosa de
liberdade do que estar cercada por aquela fauna maravilhosa. Por outro lado, sentir a aceitação do
excêntrico casamento de Blansky, já que os pais de seus amigos se consideravam hippies, sempre foi
um bálsamo para seu ressentimento com a própria família, especialmente com o pai. Com os
Blanskys, poderia ser ela mesma sem medo de críticas. Talvez seja por isso que grudar em Damon
não foi tão difícil.
Depois de se formar como jornalista no Santa Monica College, Colie queria mostrar aos pais
que sair de casa não era um ato de rebeldia, mas que ela realmente amava o jornalismo. Conseguir
que a Rádio Costa Azul, por meio da Oxigen Califórnia, fosse reconhecida, seria o seu grande feito.
Depois de quase uma hora e meia dirigindo na rodovia, estacionou em frente à casa de seus
pais. O ar iodado inflamou seus pulmões. Fazia quase um ano que não voltara à Cypress Street.
Arrastou a mala de mão até a entrada. Sua mãe parecia tão resplandecente como sempre.
Estendeu os braços para ela. A desconfortável Colette aceitou o gesto de saudação.
— Colie, querida, você está... mais magra! — exclamou com um sorriso perfeito. Nem um
único fio de cabelo cobre fora do lugar.
Colette fez o possível para não revirar os olhos com o comentário. Por que achavam que dizer
a ela que estava mais magra era o melhor elogio logo depois de vê-la? Um, “como vai a carreira?”,
viria bem.
— Oi mãe. Você está ótima também.
— Obrigado filha. Você fez uma boa viagem? Estava preocupada que não quisesse que o
motorista da família fosse te buscar. Por que andar sozinha nas rodovias quando pode ter a segurança
de um motorista? Na próxima tente me fazer feliz e concordar em vir com o motorista. Você irá fazer
isto? — perguntou, sorrindo.
— Vou pensar no assunto, mãe...
Greta assentiu e passou a mão pelo rosto com carinho. Então inclinou a cabeça ligeiramente,
franziu a testa e pegou uma das mechas de cabelo dela nas mãos.
— Este lindo cabelo que você tem cresceu um pouco, querida. Sabe? Tenho um amigo
cabeleireiro...
E assim começou uma ladainha de informações sobre moda, tendências, o que suas amigas da
alta sociedade falavam e claro, o que seu pai achava de ter ido para longe de casa e rejeitado as
maravilhosas oportunidades de ter um trabalho mais adaptado à natureza familiar. O sermão de
costume.
Lizzie e Moira não poderiam ser mais diferentes dela.
Lizzie, sete anos mais velha, tinha lindos cabelos ondulados que caíam como uma cascata de
mogno no meio das costas, olhos azuis amendoados como os do pai e pele de alabastro. Era quinze
centímetros mais alta que ela e, além de modelo, tinha a especialidade por excelência no ramo
familiar, em macroeconomia.
Por sua vez, Moira, seis anos mais velha, tinha belos traços faciais, uma figura esguia e bem
proporcionada, dez centímetros mais alta que ela, olhos verdes felinos, um sorriso deslumbrante e um
senso de humor que seu pai adorava. E sua especialidade era Microeconomia e Gerenciamento de
Projetos.
Ambas tinham maridos que beijavam o chão que pisavam, homens bem-sucedidos e com um
elegante pedigree para a felicidade de seus pais, e tinham dois e três filhos lindos, respectivamente,
que Colie adorava loucamente, embora os visse muito pouco.
Ela era a curiosidade da família. Cabelo preto liso, olhos verdes azulados, às vezes ela
pensava que nem isso seus pais podiam apreciar claramente, tinha apenas um metro e meio de altura,
puxou algo de sua mão, pelo menos, e ao contrário da perfeita Lizzie e Moira, sua figura era marcada
por curvas generosas. Ah, o detalhe imperdoável, ela era uma jornalista. Estranheza total.
O único que a aceitou sem hesitação foi seu adorado tio Robert, Bob Meadows, um dos
amigos mais próximos de seu pai. Embora não tivesse seu sangue, para ela era como se tivesse. Teve
longas conversas com ele, um carinho imenso e sempre agradecia pelo apoio incondicional que teve
em todas as escolhas de vida que fez. Ele deu a ela os melhores conselhos. Em seus momentos
difíceis, sempre estava lá para ela.
— Minhas irmãs foram modelos, mãe, não eu. Então não sei por que insiste em me criticar e
fazer sugestões que sabe muito bem que não estou interessada — murmurou, enquanto Greta apontava
com os dedos, orientando o serviço doméstico. — Lamento ser uma decepção para a perfeita família
que você formou, mas tem que aceitar que eu não sou um molde, não gosto de Economia, odeio estar
trancada em um escritório vendo números e pessoas se matando para conseguir subir ou abaixar os
índices do que seja que estudam.
Greta parou por um momento, como se refletisse sobre suas palavras.
— Não é certo que manifeste inveja delas, querida — respondeu em seu tom indiferente,
acompanhando Colie até o quarto dela. O vestido cor de anil sem alças se movia no ritmo do andar
gracioso de Greta. — Não somos uma família perfeita, apenas respeitada e conhecida. Não pode
esperar menos quando seu pai ganhou um Nobel por seu trabalho profissional e pesquisa. — Colette
contou ovelhas e burros mentalmente, para não refazer seus passos e arrancar com o carro para Santa
Monica. — Não quero ouvir discussões neste fim de semana. Lizzie e Moira deixaram as crianças em
Nova York porque tinham escola, então será o momento perfeito para interagirem como costumava
ser antes de você partir e parar de frequentar reuniões familiares.
“Não podia faltar o lembrete de suas ausências nos últimos tempos”, pensou com amargura.
— Certo — respirou o cheiro familiar de seu quarto.
Sua mãe se virou para ela, dando-lhe um sorriso afetuoso.
— Seu pai quer ver você, querida. — Ela acariciou seu cabelo suavemente. Uma das poucas
demonstrações de afeto que tinha. — Ele está no clube de golfe agora, mas assim que voltar, procure
por ele. Ficará feliz por você estar em casa.
— Mãe...
Greta já estava com a mão na maçaneta. Ela manteve o rosto perfeito, livre de muitas rugas e
maquiagem de primavera perfeita, atenta à filha mais nova.
— Sim?
— Só por este fim de semana, tente não deixar meu pai me humilhar em público. Pode
conseguir isso, por favor? Eu realmente tenho muito trabalho e a última coisa que quero é voltar para
Santa Monica estressada.
Ela pareceu notar um certo arrependimento nos olhos da mãe, mas o choque logo desapareceu
e Greta voltou ao seu semblante calmo de sempre. Colette poderia dizer que nunca tinha visto a mãe
mostrar-se chateada, ela se perguntava como poderia conviver com uma máscara na frente da própria
filha. Nunca soube dos problemas entre os pais, pois os dois eram como uma empresa de segurança:
dava conforto, mas não dava para saber o que se passava lá dentro. E suas irmãs eram um mundo à
parte.
— Seu pai não quer humilhar você, minha querida, como pode pensar nisso? É somente muito
direto. Você sabe que esta noite é importante para ele.
Colie suspirou. “Falou para as paredes”.
— Vou desfazer a mala...
— Linette fez biscoitos de aveia, chocolate, baunilha e outros que são apenas dietéticos, se
quiser. Fico feliz em ter você em casa, filha.
Não esperou a resposta de Colette e saiu do quarto.
Colie olhou para a porta e balançou a cabeça. Só tinha que suportar quarenta e oito horas para
ser livre novamente e retornar à sua vida independente.
Depois de tomar banho e se trocar, desceu para procurar seu pai.
A conversa foi exatamente o que esperava. Dura Ela não o via há quase sete meses, e parecia
que a idade estava aparecendo cada vez mais em seu rosto anguloso. Seus olhos estavam
profundamente enrugados, embora seu sorriso ainda fosse tão diáfano como sempre, e seu olhar
mantivesse o brilho severo que sempre costumava oferecer.
— Obrigado por vir ao meu aniversário, Colie. — Ela deu um ponto a favor: o fato de ele
chamá-la pelo apelido carinhoso.
A sala de leitura e pintura costumava ser o lugar preferido dos pais para conversar com as
filhas. Era um espaço adorável e acolhedor, com uma coleção das primeiras edições de livros
famosos e uma parede cheia de pinturas de pintores espanhóis, ingleses e franceses. Também tinha
uma antessala moderna, que seu pai escolhera como ponto de encontro, e onde se encontravam
naquele momento.
— Já faz um tempo, pai — sorriu depois de dar um abraço nele. — Espero que goste da
coleção de tacos de golfe que lhe enviei.
— Eu amei. Um presente perfeito. Eu os estreei hoje e venci o presunçoso Roger Shannon.
“Primeiro teste: Superado.”
— Como vão as coisas na empresa? — continuou com um sorriso.
Aparentemente, não estavam passando por um terreno pedregoso, pensou Colie.
Sua opinião mudou muito rápido.
— Seria ótimo se pudéssemos contar com sua preparação para assumir cargos de gestão de
alto nível, pois talvez pode se interessar pelos números mais tarde. — Colie sentiu o sorriso sumir
de seu rosto. — Eu disse a sua mãe que queria vê-la em particular por um motivo muito específico.
— Claro pai. — Por reflexo, ela alisou o vestido vermelho curto que usava para a ocasião.
Seu pai usava um smoking elegante, e de onde estavam podia ouvir o murmúrio dos convidados
começando a chegar. O voo de suas irmãs atrasou devido ao mau tempo em Nova York. Estava grata
por não ter que enfrentá-las ainda.
A música de fundo de Vivaldi tocava na sala privada. Seu pai era um amante da música e,
ocasionalmente, convidava músicos famosos para concertos particulares. Despesa excessiva e
ostensiva para sua consideração pessoal, especialmente quando não gostava daquela música. Ela
preferia pop, incluindo rock e, às vezes, techno.
— Um importante empresário grego milionário está chegando hoje. Alexandros Karimidis.
Seu filho, Nikos, precisa de uma anfitriã para convencê-lo a desistir de sua tentativa de retornar à
Grécia e deixar os negócios na América delegados a seu irmão mais novo, Andreas. Este último não
me convém. “Lá vamos nós. Arranjando encontros com outro filho de seus amigos”, pensou
amargamente. — Eu sei que você conhece muito sobre a cultura da Grécia, porque quando foi estudar
francês também passou um tempo em Mykonos, Creta e outros lugares. — Ela assentiu. — Suponho
que seja seu treinamento como jornalista — disse ele com um certo sarcasmo na voz. Colette apertou
as mãos no colo, — você pode me ajudar desta vez a dar uma boa impressão da família e do seu
intelecto em temas mais... digamos diversos, e use essa habilidade persuasiva que tenho certeza de
que aprendeu bem de mim, com Nikos.
Ela olhou para ele com perspicácia.
— Pai, eu já te disse...
— Escuta, Colette! Desta vez não estou interessado em suas necessidades de liberdade e
independência — ele interrompeu, franzindo a testa. Qualquer um que o visse no momento duvidaria
que fosse um pesquisador bastante paciente com seus números. Além disso, com o físico forte e
robusto, estava muito longe dos "nerds" cujos estereótipos associavam aos ganhadores do Nobel. —
A empresa familiar precisa de você. Um dos sócios pediu demissão. Para ser mais claro, Bob.
Ela arregalou os olhos. Seu tio era o homem mais leal que conhecia, então, para se desligar da
empresa, a discussão com seu pai tinha que ser impressionante. E muito séria. Com pesar, sabia que
seu tio provavelmente não estava na festa naquela noite. Detalhes sobre o motivo da discussão só
poderiam ser obtidos com Bob, caso ele já não estivesse em um de seus amados cruzeiros pelo
Caribe ou Mediterrâneo.
— Eu também fiquei surpreso — disse, vendo a expressão no rosto em forma de coração da
filha —, mas não posso segurá-lo contra a sua vontade. Tivemos algumas diferenças recentemente.
Ele se demitiu da corporação têxtil e eu preciso de um ponto de apoio. Alexandros tem o perfil para
preencher a posição de Bob, e ele também nos ajudaria a continuar nossa expansão na Europa, não
posso permitir que saia. Se seu filho o convencer de que morar na América não é o ideal, terei sérias
dificuldades para encontrar um candidato melhor. Na verdade, não quero outra pessoa. Eu realmente
não me importo com o que Nikos faz, mas a influência sobre Alexandros sim.
“E quando seu pai era teimoso, não havia ninguém que o fizesse mudar de ideia”, ela refletiu,
observando o olhar penetrante de Phillip Kessler.
— E qual é o meu papel aqui? Puxar conversa? Por que não pede a uma de suas outras filhas
eruditas para se dar ao luxo e entreter esse Nikos com suas experiências cosmopolitas?
Phillip se levantou da cadeira confortável e foi até Colette, que de repente se sentiu muito
pequena. Ele era um homem tão alto quanto suas irmãs. Nunca havia levantado a mão para nenhuma
de suas filhas, mas não era necessário, porque seus comentários ásperos ou ofensivos poderiam
causar mais danos.
— O filho de Alexandros é jornalista — deixou escapar de sua altura, como se isso explicasse
tudo. E funcionou, na verdade. — Se ele vê um ponto favorável em ficar na América, então pode
aconselhar seu pai e convencê-lo a ficar. Quero que sintam a importância que atribuímos ao conceito
de família aqui no país, como é na Grécia, e preciso que dê a eles um vislumbre do panorama dos
negócios por dentro. Sei que ganhou muitos debates na escola, então espero que transforme sua
conversa com Nikos Karimidis em algo sutil e, claro, que vença.
Colette não pôde evitar e riu da ironia da situação diante do olhar furioso de seu pai.
— Entendo... — comentou, levantando-se. A luz do lustre refletia em seus saltos altos
amarelos, combinando com seus brincos de ametista e maquiagem preta esfumada. Era linda, e pelo
menos naquela noite pretendia usar a máscara de Kessler para sustentar o número de convidados que
certamente, até que suas irmãs chegassem do aeroporto, a notariam. — Suponho que entre colegas
nos entenderemos melhor — disse ela, dando de ombros, e agora entendia a insistência da mãe para
que ela fosse à reunião de família. Sempre havia alguma intenção por trás quando eram
particularmente bons com ela. — Você dá a minhas irmãs uma recompensa toda vez que fazem a filial
de Nova York exceder as metas que estabeleceu. O que vou receber em troca, se esse Nikos
finalmente decidir ficar na América em vez de voltar para a Grécia com o pai? Você sabe, os
jornalistas tendem a ser um pouco errantes...
Fez isso para cutucá-lo. Não queria nada deles. “Como se a sua profissão fosse apenas uma
desculpa para uma conversa”. Por dentro, estava agitada de raiva.
— Pela primeira vez na sua vida, Colette, não me faça sentir arrependimento de ter lhe dado
meu sobrenome. — Dito isso, ajustou a gravata e saiu para comemorar seu aniversário, deixando
Colie com uma sensação familiar de rejeição.
CAPÍTULO 4

Colette não se divertia tanto na companhia de homens como nesse instante. Nikos Karimidis
era sedutor; um clássico espécime grego masculino. Alto, muito viril, com um olhar profundo da cor
da noite, nariz forte e queixo firme. Sua maneira pragmática de encarar a vida pôs fim à acidez que
permaneceu depois de conversar com o pai, e ela até ficou tentada a agradecê-lo por tê-lo
apresentado a Nikos.
— Você é uma mulher adorável, embora eu suponha que já saiba disso — disse o belo grego
com um sorriso. O ar da noite agitou o cabelo preto e espesso, e por um segundo ela quis saber como
seria ser amada por um homem forte, aventureiro e determinado como Nikos. Sabia como eram os
jornalistas. Não tinham um lugar fixo para morar e ansiavam pela adrenalina que só uma boa história
poderia provocar. “Ela podia sentir que Nikos não era o tipo de homem que iria dominá-la ou tentar
mudá-la como seu pai. Pelo contrário, ele a compreenderia e...”. — Está me escutando? —
perguntou, ainda sorrindo, enquanto se movia com ela no ritmo da música.
Colette ergueu os olhos para ele, o rosto corado.
— Sinto muito. Estava pensando em como podemos ser diferentes simplesmente escolhendo
uma profissão. Meus pais insistem que eu deveria ter me dedicado à economia. Não tem ideia do
quanto isso me mortifica. O mercado é muito bom, mas prefiro a área de notícias sociais, ou de
atualidades, alheios à questão da inflação, superávit e outros, embora entenda tudo muito bem. — Se
não tivesse tomado pelo menos três taças de champanhe, não teria aberto a boca sobre esse assunto.
A risada grave de Nikos retumbou contra seu corpo. Ao redor, as duzentas pessoas criavam
um bulício que se arrastava pela brisa do mar que chegava até a casa.
— Eu entendo — deram um giro suave com a balada ao fundo — meu pai quer ficar na
América, ainda parece uma terra promissora para ele. Está um pouco mal de saúde e às vezes prefiro
que fique com minha mãe em Santorini.
— Você não está interessado em ficar? Existem oportunidades de trabalho muito boas, Nikos.
Em que país você reside agora?
Ele ficou em silêncio por um longo tempo, apenas se movendo no ritmo da música na voz de
Sting.
— Eu vou e volto entre Grécia, Inglaterra e Estados Unidos. — Ele a olhou fixamente. Ela
sentiu como se lesse seus pensamentos em seu rosto com facilidade. — Eu gostaria que fosse sincera
— ela finalmente disse.
— Do que você está falando? — perguntou cativada pela voz dele e pela cadência marcada
pelo sotaque estrangeiro.
— Colette, tenho certeza de que sou pelo menos dez anos mais velho e mais experiente que
você. Seu pai me apresentou a suas irmãs, e agora a você, aparentemente para me dar um discurso
semelhante...
— Ah, é? — Ela havia cumprimentado Lizzie e Moira meia hora atrás. Suas irmãs
examinaram as roupas que ela usava para a ocasião. Houve alguns comentários sobre o que ela vinha
fazendo ultimamente, e trouxeram à tona suas magníficas vidas em Nova York. Depois de cinco
minutos, não suportaram que naquela noite a aparição da irmãzinha estava irrepreensível, porque
fizeram uma crítica sobre como as costas eram baixas para o vestido Carolina Herrera que ela usava,
e como era inadequado para sua baixa estatura. Colie preparou uma resposta mordaz e estava pronta
para falar quando sua mãe interrompeu a conversa para pedir que ela se encontrasse com Byron
Goshltheron, um dos convidados. Deveria agradecer a sua mãe porque ela tinha acabado de salvar a
noite. Seu temperamento estava prestes a explodir, ainda mais, depois da conversa agridoce com seu
pai. — Você já as conhecia antes de meu pai apresentá-las há pouco?
Sting finalizou Fields of Gold, para dar lugar a Hey Jude na voz dos Beatles com o DJ de
plantão. A banda que Phillip Kessler contratou estava preparando os instrumentos musicais,
afinando-os antes de começar a tocar.
— Antes de virmos para Orange County, meu pai e eu paramos na filial de Nova York de sua
empresa para conhecê-la. Moira e Lizzie tentaram nos convencer de que ficar na América do Norte
seria ótimo. Você tem alguns cunhados muito persuasivos — disse ele com humor — sugeriram que
eu contatasse alguns editores. National Geographic, New York Times ou onde eu quisesse. — Colette
parou em seu caminho, e ele parou também, conduzindo-a cortesmente a uma mesa no canto do
jardim, que estava vazia no momento. “Portanto, não fora a primeira escolha de seu pai, mas a
segunda. Mais uma vez”, Colie pensou sem surpresa, mas não por isso deixaria de doer. — Sei que
seu pai está interessado em eu assumir um cargo na Textileras Kessler e expandi-la para a Europa.
Estou mais preocupado com a saúde e felicidade de meu pai do que adicionar alguns milhões aos
cofres de nossa família, dos quais não precisamos.
— Eu... não sei o que dizer.
Ele descartou sua preocupação apertando seus dedos fortes sobre os dela, mais delicados.
— Suas irmãs me deram a impressão de que tendem a menosprezar a profissão que temos em
comum, Colie. — Seu apelido soava fabuloso em seus lábios, e ela se deixou levar pela tempestade
no fundo de seus olhos. “Se pudesse se inclinar um pouco sobre sua boca... só um pouquinho”. —
Não sei por que pensaram que eu precisava desses contatos. Os proprietários dessas publicações são
amigos pessoais. Suas irmãs acham que jornalistas estão morrendo de fome ou algo assim? —
perguntou, humor em sua voz.
— Algo assim — admitiu, sorrindo, mas sem alegria. — Não posso culpá-las... é assim que
são. Eu sou diferente. Na verdade, elas acham que é errado ser independente da empresa familiar.
Veem isso como falta de lealdade. Algo que nunca fui capaz de entender — disse com sinceridade.
Inesperadamente, Nikos riu. Sua voz profunda ferveu o sangue de Colie, e queria beijá-lo,
porque aquela boca que ele tinha era definitivamente tentadora. Jamais como aquela que havia
devorado a dela anos atrás, uma noite em Paris, mas quase. O tempo fez seu trabalho, e a marca dos
lábios sensuais de Jake Weston era quase inexistente.
— E você é independente.
— Sim...
— Bem, Colie. Se não fosse porque tenho uma namorada me esperando em Santorini, eu já
teria te beijado e tentado te seduzir. — Ela o olhou sem demonstrar seu desapontamento por ele ter
uma namorada. O que esperava? Um homem muito bonito, perspicaz e bem-sucedido... não podia se
fixar na filha “estranha” de um ganhador do Prêmio Nobel de Economia. — Você é uma
preciosidade, embora não ache que tenha percebido isso totalmente — ele correu um dedo pela
bochecha dela. — Lamento que seu pai a use para tentar me convencer com sua conversa inteligente
sobre os horizontes profissionais que poderiam me abrir na América do Norte de forma perene e a
conveniência para meu pai assumir novas rotas empresariais.
Colette virou ligeiramente a cabeça, notando que Phillip a observava como um falcão
enquanto dançava com a mãe e cumprimentava os outros convidados. Seu pai transmitia com os olhos
que falhar com Nikos não era uma opção.
— Suponho que nem sempre se pode conseguir o que deseja... respondeu, imaginando as mil e
uma reprovações que seu pai lhe faria quando descobrisse que os Karimidis preferiam família a
negócios ou reputação social.
— Às vezes o destino tem projetos interessantes — continuou ele, alheio aos pensamentos de
Colette. — Minha namorada é americana e eu a pedi em casamento. Portanto, independentemente dos
planos persuasivos de Phillip, eu já pensei em deixar de lado as idas e vindas como um jornalista
itinerante e estabelecer-se para começar uma família na América do Norte. Posso trabalhar viajando
em seu país, mas de agora em diante minha âncora será Chantelle e os filhos que teremos.
— Sinto muito que meu pai tentou enganá-lo me colocando no meio — disse ela
envergonhada. — Parabéns pelo seu noivado, Nikos.
Ele a olhou sorrindo.
— Obrigado. Olha, pequena, tenho trinta e oito anos. Se não quero fazer algo, simplesmente
não faço, por mais encantadora e inteligente que seja a companhia. — Ela corou. — Meu pai me deu
mais de um sermão quando decidi embarcar na aventura de caçar notícias, em vez de assumir como
herdeiro das companhias marítimas Karimidis e da rede de roupas de alta-costura da família. No
final, ele entendeu que esse não era o meu caminho. E aceitou. Eu entendo o que você sente por seu
pai. Se tem algo semelhante ao meu, é sua necessidade natural ter tudo sob controle. Meu irmão
Andreas cuida do negócio agora, e às vezes dou uma mãozinha, mas eles respeitam minha decisão de
viajar pelo mundo para captar histórias de pessoas com menos recursos, e também aquelas notícias
que são responsáveis por esclarecer as mensagens por trás das mentiras de políticos.
— Que sortudo. Ainda pago o carma de ser a ovelha negra da família — respondeu, sem
esconder a amargura.
— Tendo conhecido o resto dos Kessler, eu entendo como deve ser difícil para você. Mora
aqui com eles?
— Não, me mudei para Santa Monica quando comecei minha carreira.
— Uma decisão coerente — disse alegremente. — Adoraria continuar conversando com você,
mas já está quase amanhecendo na Grécia e tenho algumas ligações para fazer. Direi ao meu pai que
pode ser uma excelente opção ficar na América do Norte e curtir o clima californiano, bem como a
oportunidade de se tornar sócio de uma nova empresa em um mercado diferente do nosso, como o
têxtil. Mas é tudo que farei em homenagem a uma colega que tem uma conversa tão boa e encantadora
quanto você. Não sei por que Phillip acha que meu pai segue meu conselho — explicou com uma
risada. — Suponho que ele considere aquela famosa questão da importância da família na Grécia,
estende-se à possibilidade de poder persuadir os teimosos como meu pai a fazer a vontade de seu
filho mais velho. Nada está mais longe da realidade. Pelo menos não na família Karimidis.
— Nikos, eu... — suspirou levemente envergonhada. — Eu queria te convencer a ficar na
América como minhas irmãs tentaram em Nova York. Por isso passei a maior parte da noite
chamando sua atenção — os dois riram — e fazendo aquele discurso sobre mercados emergentes,
quando na verdade prefiro falar de países em desenvolvimento, seus sistemas de governo, desastres
naturais, novas tendências do jornalismo... — suspirou mais relaxada. “Nikos era perfeito… e já
tinha encontrado a mulher ideal. Uma pena”. — Você me entende. Lamento não ter sido honesta
desde o início.
— Você não negou suas intenções, então isso também é sinceridade. Espero vê-la novamente
algum dia, talvez você goste de Chantelle, ela é uma mulher adorável.
— Eu adoraria ver você de novo, é claro. E obrigado por tomar uma decisão que, sem pensar,
me salvou de uma grande discussão com papai.
Ele balançou a cabeça sorrindo, e se despediu com um beijo, antes de seguir em direção à
saída da área onde a festa estava acontecendo.
Colette sabia que acabara de ganhar um amigo.
A viagem de volta a Santa Monica foi feita com a música do grupo Imagine Dragons. Amava a
música Demons. Foi cantarolando durante todo o caminho, mas sem esquecer que, no café da manhã,
seu pai faria todo tipo de pergunta sobre Nikos, enquanto suas irmãs comiam com moderação, e sua
mãe, como de costume quando seu pai estava com ela, ficava em silêncio e opinava muito pouco.
— Quando souber da decisão de Alexandros, poderei dizer se fez um bom trabalho, Colette —
disse seu pai, tomando um gole de café. — E espero vê-la com mais frequência pela casa.
“Se fosse um pedido, e não uma ordem, talvez.”
— Já tem Lizzie e Moira, não precisa de mim.
Seu pai grunhiu e suas irmãs balançaram a cabeça.
— Está errada — sua mãe interrompeu milagrosamente — nós somos uma família. Portanto, é
importante que fique conosco com mais frequência. Da próxima vez, traga um namorado para que
possamos conhecê-lo. Você está sempre sozinha e não é bom para uma garota tão jovem dedique todo
seu tempo somente a trabalhar. Além disso, assim coincide com as visitas de suas irmãs que desta
vez não puderam conversar muito devido ao atraso do voo.
“Um sopro do céu”, pensou Colette, sorrindo com o fato de que não teve de suportar a
tagarelice e as críticas das irmãs.
— Claro, mãe. — “Nem louca lhes apresentaria a ninguém”.
— Você tem 25 anos e nunca apresentou um namorado formal... motoqueiros tatuados com
piercings e aqueles roqueiros sem aspirações com os quais andava na sua adolescência não contam
— disse Lizzie, olhando para ela condescendentemente. — Somos mais velhas e sabemos o que é
melhor para você. Essa sua profissão não permite que se cerque de pessoas mais... bem, mais como
nós.
— Não seja esnobe — se limitou a dizer, dando uma mordida no croissant. “Não a
reconheciam vinte e cinco anos, ou ela tinha ouvido mal e quis dizer dez? Céus”!
Os olhos de Lizzie brilharam.
— Vai trazer alguém quando achar conveniente, não é Colette? — disse Moira, intervindo
diante da discussão iminente que se aproximava. Havia amanhecido curiosamente amável e antes
mesmo de descer para o café da manhã deixou para ela uma bolsa de maquiagem e elogiou o brilho
de seus cabelos negros. Não a atormente Lizzie. Quando você vier para Nova York em algum
momento, terá a oportunidade de conhecer alguém interessante. Ainda há tempo.
Colie sorriu agradecida.
— Vai contar agora? — Greta perguntou a Moira com entusiasmo.
— O que? — Phillip acrescentou.
— Eu vou ser mãe de novo! — Moira exclamou, resplandecente.
Então era isso, pensou Colette, feliz pela irmã. Quando Moira estava grávida, ela era mais
doce, ou bem, não a agredia com tanta insistência, mas Peter, seu cunhado, era quem sofria as
exigências de sua personalidade.
— Parabéns — disse Colie, levantando-se para dar-lhe um abraço.
Havia saído de casa sem contar a eles sobre a Oxigen Califórnia. Seria uma grande surpresa
quando as manchetes começassem a reconhecer seu trabalho, então a respeitariam como profissional
e deixariam de vê-la como a rebelde da família. Esperava também que isso lhes desse uma outra
visão do jornalismo, porque sua profissão era dar voz a quem precisava, informar para ajudar, fazer
a diferença, e isso era uma responsabilidade, não qualquer coisa.
Quando estava a alguns quarteirões de seu apartamento em Santa Monica, o sistema de som de
seu carro começou a falhar. Apagou de repente. Consertar seu rádio era uma prioridade agora que
teria seu programa na Rádio Costa Azul. Com um sorriso, contornou os últimos semáforos e
estacionou seu carro velho na garagem do prédio.
“Lar Doce Lar”.

***
Jake estava deitado em uma cama estranha. Franziu a testa. Abriu os olhos e, aos poucos,
recuperou a consciência sobre a noite anterior. O bar, as bebidas, as luzes e uma mulher sexy
dançando com ele por muito tempo, até que o convidou para sua casa. Não se fez de difícil.
Se esticou no colchão e logo sentiu a carícia de uma mão deslizar até sua virilha e tomá-lo
possessivamente. A memória da sessão de sexo nas últimas três horas arrancou-lhe um sorriso de
presunção masculina. A mulher que estava colocando a camisinha em seu membro ereto era uma loira
fabulosa. Tinha seios perfeitamente arredondados com pequenos mamilos rosados, uma cintura fácil
de abraçar enquanto enlaçava as pernas em volta dos quadris antes de ser penetrada. Ele mal se
lembrava de seu nome. Abril? Donna? Mandy? Isso não importava. Com isso, encerrou seu período
de abstinência. E se sentia...
Se sentia vazio.
Antes que a mulher se inclinasse para frente, para colocar seus mamilos eretos em sua boca
com a intenção imediata de deslizar para baixo em seu membro, para encaixá-lo em sua umidade
feminina, Jake agarrou seus quadris e puxou-a rapidamente. Se levantou da cama com a facilidade de
um felino, indo ao banheiro se livrar do látex não utilizado.
— Ei, Jake! Não há razão para me rejeitar — exclamou a mulher da cama em um tom de voz
frustrado, enquanto observava as costas musculosas de pele bronzeada e o traseiro firme que até
recentemente ela acariciava, desaparecerem atrás da porta. — Se não gosta de ser acordado com
sexo, me diga e tudo bem... Mesmo que seu membro não pense o mesmo...
A resposta de Jake foi bater à porta e começar a tomar banho. Parecia estranhamente sujo. Seu
corpo se recusava a parar de sentir prazer, mas sua mente tinha uma opinião diferente. A sensação de
vazio era muito forte. Não conseguia explicar para si mesmo e isso azedou seu temperamento.
Faltava algo e ele não sabia o quê.
Deixou a água fria correr por sua pele.
Quando terminou de se vestir, sua amante da noite anterior ainda estava nua nos lençóis cinza
da cama. Ela o olhou com ressentimento.
— Você pode me explicar o que foi todo esse número de homens ofendido? — perguntou
ronronando e expondo seus seios. — Acho que te agradei e você me agradou. Que tal repetir? —
sorriu com aqueles lábios que pareciam pálidos e pouco atraentes à luz do dia.
Ele a olhou com indiferença.
— Eu nem me lembro do seu nome, então não acho que você merece uma explicação. A
mulher olhou para ele ofendida, mas não lhe deu tempo para responder. — Obrigado pela transa. Foi
um ótimo sexo, como você disse. Espero que não tenha a ideia de que nos encontraremos novamente.
— Ele tirou um pedaço de papel do bolso da calça com o número de telefone que ela havia anotado
em algum momento que ele não lembrava e o jogou de lado. — Eu também não vou te ligar.
Com isso em mente e ainda furioso consigo mesmo por ter rompido sua intenção de não flertar
com qualquer uma. Saiu do quarto. A última coisa que ouviu foi uma frase cheia de insultos e um
abajur batendo contra a porta que acabava de fechar. Não era seu estilo se comportar dessa maneira,
mas no momento ele não se sentia confortável com seu comportamento. Algo estranho porque
raramente era se questionava.
Foi buscar seu Jaguar e se dirigiu ao único lugar onde poderia relaxar.
Chegou à praia, tirou a camisa e deitou-se de costas. O sol mal brilhava forte, talvez por ser
primavera, mas a brisa fresca acompanhava o balanço das ondas. Ele fechou os olhos para ouvir o
mar.
Risos à distância trouxeram de volta memórias de uma noite em que ele não pensava com
frequência. Paris. Ainda se sentia um pouco o cretino que havia se comportado com aquela jovem.
Colette. Mas já haviam se passado seis anos desde então. Seis anos nos quais nunca mais
experimentou a alegria e a satisfação de tocar algo puro e genuíno. Na época ele era jovem, estúpido
e estragou tudo, quando os olhos verdes azulados brilharam com mais do que apenas prazer. A ideia
de se amarrar a alguém o assustava. Queria viver, experimentar, se divertir. Aqueles olhos
sonhadores esperavam por algo duradouro. O máximo que ele poderia dar eram os quatro dias até
que fosse eliminado de Roland Garros. Aos vinte e sete anos, não queria amarras. Não as queria
agora, menos ainda depois de Lauren. Provavelmente, aquela garota de Paris o odiava, e as
lembranças de sua primeira vez eram de um cretino que partiu no quarto dia sem explicação. E por
um bom motivo.
Estava quase anoitecendo quando ele acordou.
O ruído embalador das ondas o adormeceu. Consultou o relógio e ficou surpreso por dormir
quase seis horas seguidas sem ser pego por um ladrão de passagem. Olhou ao redor e viu que os
postos de salva-vidas estavam funcionando, ainda no domingo, e alguns policiais estavam vagando a
vários metros de distância.
Ele juntou as pernas e cruzou os braços, marcados pelo exercício, sobre os joelhos, apoiando-
se.
Olhou para o horizonte sentindo-se verdadeiramente descansado, de uma forma que não fazia
há muito tempo. A sensação que tomou conta dele quando acordou na cama da mulher na noite
anterior havia desaparecido.
Não se sentia mais enojado, embora agora tivesse plena consciência de que havia um grande
vazio emocional em sua vida e que não tinha nada a ver com sua família. Teria gostado de continuar a
bloquear as memórias, como fazia nos últimos anos, sempre que a cena do rompimento com Lauren
entrava em seus pensamentos. Desta vez, foi inevitável.
As imagens começaram a chegar como um filme.
Lauren tinha uma beleza deslumbrante, etérea, diria. Era quase tão alta quanto ele, tinha uma
figura delicada e proporcional. Elegante. Seu cabelo encaracolado caía sedoso nas costas, e sua
risada poderia facilmente tirar seu mau humor. Se conheceram durante uma de suas visitas de ajuda
social a um centro para pessoas com doenças incuráveis. Ela era a assistente pessoal do presidente
de um de seus patrocinadores.
Desde o primeiro dia em que a conheceu, queria que ela fosse sua. Poderia garantir que estava
apaixonado por ela. E mesmo agora, apesar de tudo, também se atrevia a afirmar que ela esteve... em
algum momento. Eles ficaram juntos por mais de um ano.
Houve um período em que brigas sérias se tornaram comuns e ele quase acreditou que a estava
perdendo. Uma noite Lauren estava voltando de uma viagem de trabalho e estava mais carinhosa do
que nunca, e ele sabia que não poderia viver sem ela. Quando finalmente conseguiu convencê-la a se
casar com ele, recebeu em troca o sorriso mais glorioso que vira desde que estavam juntos. Aquela
noite ele a tinha amado ternamente, imaginando um futuro sólido e indefinido ao seu lado.
Embora sua mãe estivesse relutante com a presença de Lauren, nunca fazia comentários na
frente da namorada para fazê-la se sentir mal ou desacreditá-la. O que sempre chamou sua atenção
foi a atitude de seu sobrinho. Brad evitava Lauren quando o presenteava ou tentava abraçá-lo. Não
encontrava motivos, pois sua noiva era encantadora.
Três semanas após sua proposta, Lauren anunciou que estava grávida. Ele aceitou a gravidez
com alegria. Um filho gerado pela mulher com quem iria passar o resto da vida. O que mais poderia
querer? “Que durasse”.
Lauren estava grávida de seis semanas quando sofreu um aborto espontâneo. Foi então que seu
mundo desmoronou.
— Preciso falar com você — lhe disse quando voltaram do hospital.
Ele ficou arrasado e admirou a calma que ela exibia. Uma mulher forte, embora seu rosto
estivesse pálido e marcado pela tristeza.
Estavam sentados na sala de estar do apartamento de Lauren em Beverly Hills.
— Você tem sido um namorado maravilhoso, Jake — ela disse, depois de chorar em seu
ombro por um longo tempo. — Sempre tão atento e ciente de mim. Desistiu de seus hábitos de
playboy por mim, sempre me fez sentir especial, e acho que não retribuí o suficiente...
Ele pegou as mãos de Lauren, confortando-a.
— Eu te amo, não é difícil ser fiel — apertou as mãos dela com firmeza, infundindo-lhe calor.
— Não quero que você se sinta triste. Podemos tentar ter outro bebê, querida...
Então as lágrimas começaram a fluir dos olhos de Lauren novamente, e tentou estender a mão
para confortá-la, mas desta vez ela o empurrou.
— Não fui completamente honesta com você — ela disse com a voz trêmula.
Ele a olhou confuso tentando ler as emoções que se refletiam no belo rosto de Lauren.
— O que você está falando…?
— Este é o pior e também o melhor momento para falar sobre isso — torceu as mãos, olhando
para ele com profundo pesar. — O filho que perdi não era seu...
Demorou muito para assimilar.
Infiel.
Lauren tinha sido infiel.
As esperanças que depositou naquele filho vieram à sua cabeça como um vendaval. Ele sentiu
o sangue deixar seu corpo para dar lugar a uma fúria irreprimível, raiva e ódio. Nunca pensou que
sentiria tanto desprezo por alguém que amava. Mas tinha acontecido com ele.
— Vadia... — disse, cuspindo as palavras e cerrando os punhos. A própria ideia de tocá-la
novamente o consumia como ácido.
Ela ficou de pé quando ouviu a voz aguda, carregada de raiva e dor, que saiu de sua garganta.
— Jake... — ela começou a soluçar — Jake... fui a um bar depois de uma reunião na
Filadélfia, eu o conheci e não sei o que aconteceu comigo. Naquelas semanas tivemos muitas brigas e
eu estava pensando em deixar o nosso... e... — Ela olhou para ele com aqueles olhos indefesos e por
um instante ele estava prestes a abraçá-la, mas o que Lauren fez foi imperdoável. Tentando passar o
filho de um caso de uma noite como um dos seus, quando ele estava praticamente disposto a
confrontar sua própria mãe quando lhe disse que Lauren poderia não ser a mulher certa para ele. —
Então eu soube que estava grávida e você me pediu em casamento... não... não poderia... — enxugou
as lágrimas —, oh Deus, Jake... sinto muito...
Quando Lauren quis alcançá-lo e tocá-lo procurando um conforto que não merecia mais, Jake
se afastou.
— Não quero ver você de novo — cerrou os dentes enquanto Lauren soluçava sem parar. Seu
corpo parecia ter sido espancado; moído a pauladas. A dor era insuportável e a decepção cortou
fundo. A traição e a infidelidade eram imperdoáveis. Ele poderia ter casos, mas quando se
comprometia com algo ou alguém, era 100 por cento. E Lauren sabia disso, mas aparentemente não
tinha sido o suficiente. — E espero que seja sensata em não dar a entender para a imprensa o que
aconteceu. Tenho recursos suficientes para derrubá-la, Lauren. E acredite em mim, ficarei feliz em
fazer isso se você se atrever a causar um escândalo.
— Jake... me dê uma chance... o que eu fiz foi terrível..., mas perder meu filho... Deus. — Ela
se sentou, cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar. — Você não tem ideia de como é isso...
A compaixão pelo que aconteceu com Lauren desapareceu. Ele veio à clínica, desesperado, e
também chorou por um filho que não era seu, que foi resultado de uma traição. Ele tinha se
apaixonado por uma mulher que não tinha pensado duas vezes antes de abandonar seu afeto e transar
com outro. Não poderia justificar isso.
— Suponho que seja o mesmo que perder uma mulher que você considerou digna de amor.
Adeus, Lauren.
Ela o olhou com os olhos cheios de lágrimas.
— Jake...
— Acho que deveria ligar para o pai e confessar. Pelo menos tenha a decência de fazer isso.
Com cuidados médicos adequados, você ficará bem. Não quero ver você de novo.
Havia deixado aquele apartamento com bile na garganta. Não podia ficar nenhum um segundo
a mais, porque se tivesse, talvez tivesse violado o princípio de que os homens não podem bater em
uma mulher e que nunca se perdoaria. Nunca.
Ele havia descido os seis andares da escada de emergência com o coração partido e uma
sensação de traição que o levou a querer destruir tudo ao seu redor. Naquela noite ficou bêbado e
também aprendeu uma lição.
O amor só conseguiu destruir sua vida.
Stars Match se tornou sua terapia pessoal, não só para continuar focado em algo relacionado
ao esporte após sua aposentadoria das quadras, mas também contra as manchetes e especulações
sobre o rompimento com Lauren Jovinella. Em honra a sua condição de cavalheiro, embora não
quisesse fazê-lo, deu a entender que quem o deixou foi ela. Os detalhes foram finalizados pela
imprensa.
Agora, olhando para o mar, pela primeira vez ele sentiu que a dor que havia demorado tanto
para enfrentar estava desaparecendo.
CAPÍTULO 5

— E então, o que você acha?


Colette olhou para Zack sem entender.
— Sobre?
O rapaz franziu a testa.
— Estive explicando a vocês nos últimos cinco minutos como vamos alternar a música, os
intervalos comerciais e o roteiro que Jake Weston deve ler hoje durante o ensaio — declarou ele
impaciente. Tinha muitas coisas a fazer, e repetir as mesmas informações pela terceira vez para sua
produtora não estava entre elas. — Está distraída desde as duas da tarde, quando cheguei no meu
turno. Está preocupada que não tenhamos sucesso?
Se recuperando, Colette negou.
— Estava tentando pensar sobre qual seria a melhor apresentação para o apresentador — ela
mentiu, mas Zack não sabia, nem intuía como ela se sentia inquieta com a ideia de ver Jake
novamente. Era praticamente uma artista que escondia suas emoções e, embora tenha passado apenas
alguns dias com ele durante o torneio de Roland Garros, seis anos atrás, Jake foi a única pessoa
diante de quem suas inseguranças e medos vieram à tona sem medo de se sentir vulnerável ou
rejeitada. Se cuidava muito de seguir seus instintos, mas com ele havia falhado. E de uma forma
monumental.
Paris estava a seis anos de distância. Talvez não sentisse nada além de uma leve pontada de
como Jake se comportou no final, e se não fosse por Cesare Ferlazzo, seu coração provavelmente não
teria sobrevivido.
Já fazia muito tempo que não tinha notícias de Cesare, um dos melhores amigos e rivais de
Jake nas quadras, de acordo com que se lembrava. Talvez poderia pesquisar no banco de dados de
seus colegas esportivos. “Um confronto de egos daria ao programa uma elevação na audiência”,
pensou maliciosamente. Embora nunca colocaria Cesare em uma posição como essa. Ele tinha sido
um cavalheiro, embora vulnerável como estava naquele momento pelo abandono de Jake, pudesse ter
tirado vantagem. Não o fez e, por esse motivo, Cesare Ferlazzo sempre teria sua amizade.
— Então não se preocupe. O que escrevemos parece ótimo. Tem certeza de que não vamos
exigir um coapresentador?
— A rádio não pode pagar esse orçamento. É um luxo e uma sorte que a Gearforce contrate
Jake para estar aqui e fazer as menções publicitárias de sua marca. Quero tudo pronto, como se
estivéssemos no ar. Mandei alguns comunicados à imprensa e espera-se que a chegada de Jake traga
não apenas os paparazzi, mas também uma alta na audiência. Você pode ligar para Wanda? Eu sei que
ela trabalha de manhã, mas agora a pouco pensei ter a visto ainda por aí. Se por algum motivo
precise faltar um ou dois dias, será Wanda quem virá em seu lugar. Eu preciso que ela saiba minha
maneira de trabalhar.
— Relaxa, Colie.
— Eu estou — mentiu novamente. — Vejo você na cabine em uma hora. Temos o piloto das
quatro às quatro e quarenta da tarde. Alguns minutos de intervalo, e então começamos ao vivo às
cinco horas.
— Está certo.

***

Jake estava descansado e pronto para começar a trabalhar na Rádio Costa Azul. Ele recebera
um telefonema surpresa de Rexford na noite anterior, no momento em que se preparava para jantar
sozinho em casa, depois de deixar sua mãe e Brad no aeroporto para ir para Delaware. A princípio
pensou em recusar a acompanhar Rex a um conhecido restaurante em Santa Monica, mas depois disse
a se mesmo que talvez a imprensa estivesse mais interessada no último processo Kardashian do que
na vida de um jogador de tênis cujo programa de televisão acabara de ser cancelado. Então acabou
indo para Cusket. Um restaurante com duas estrelas Michelin. Além disso, queria ver seu amigo de
longa data.
— Você se acostuma a não estar no circuito? — Rex perguntou a ele quando estavam tomando
uma bebida no final da refeição.
— Tive cinco anos para assimilar. De alguma forma os jogos beneficentes me ajudaram a
manter aquela adrenalina de estar cercado pelo público, pelas luzes, pelo aroma da quadra... Você
entende. — Rex assentiu.
Loiro e de olhos verdes, Rexford Sissley era a referência típica para um jogador de tênis
atraente que poderia ter o que quisesse. Ele sempre teve sorte. Desde muito jovem foi contratado
pelo melhor treinador que um aspirante a tenista profissional poderia desejar. Seus patrocinadores
eram Rolex, Cartier, Babolat e isso que Rex, como todos o conheciam, tinha apenas 12 anos e ainda
estava em treinamento quando o mundo do tênis se abriu diante dele. Havia sido a estrela dos
circuitos, e com grande sucesso entre as mulheres. No entanto, seu passado foi mais duro do que
muitos fãs e jornalistas poderiam imaginar. Um passado conhecido apenas por seus dois amigos mais
próximos, Cesare e Jake.
— Eu nunca imaginei que pudesse ser um treinador, te via mais como modelo para comerciais
quando se aposentou. Já pensou se vai ficar na minha casa em Bel Air?
Rex tinha rido daquele jeito jovial que conseguia dissipar a tensão nas conversas mais
estranhas.
— Algumas coisas aconteceram — comentou ele com cautela. Jake sabia que estava fora dos
limites e não ia para onde não o chamavam, porque também não gostava que outras pessoas
entrassem em sua vida. — Por isso prefiro por agora me dedicar aos treinos. Sua casa parece boa,
morar em hotéis, sabe, nunca foi minha praia. Eu prefiro meu apartamento em minha terra natal, San
Francisco, mas agora tenho esse emprego, então é hora de sossegar.
— Não tenho as chaves de Bel Air comigo, mas podemos marcar um encontro quando preferir,
ou ligarei para Gordon, que tem uma cópia, que envie o motorista com as chaves.
— Haverá uma festa no Bacci na terça-feira. Você sabe, o bar da moda. E o melhor de tudo,
tem uma entrada lateral anti-paparazzi.
— Ótimo. Vou te dar as chaves lá então. Na garagem está o Porsche e o Aston Martin, ficarei
com o Jaguar por enquanto, então esses carros estão à sua disposição, a menos que queira comprar
algo para a temporada.
Rex assentiu.
— Feito. Obrigado.
Então, já tinha uma agenda para os primeiros dias longe do Stars Match.» Não tinha planos de
pegar uma garota para dormir com ele. Com a mulher do fim de semana, acreditava ter colocado os
pontos claros em sua cabeça. No bar queria apenas curtir um pouco de boa música, exclusividade e
um bom drink. Embora ele tivesse mais do que certeza de que Rex levaria a namorada que tinha de
plantão, e ela, sem dúvida, teria uma amiga. Ele já havia decidido que uma noite com mulheres não
existia mais, e pretendia manter sua palavra.
Tentaria ir dia após dia. Ele já havia dito a Gordon que teria que cuidar de grande parte de sua
programação de eventos a partir de agora, pois ficaria só com assuntos pessoais.
Jake ajustou sua camisa azul e enfiou a carteira no bolso de trás da calça branca. Trabalhar na
rádio não seria um problema, pensou, enquanto descia à garagem para pegar seu Jaguar. Começaria a
se acostumar com seu novo ritmo de vida.

***
Ela estava trancada no banheiro minúsculo de seu escritório. Graças a Deus tinha um espelho.
O cabelo parecia impecável. Nada fora do lugar. Tentou se lembrar das aulas de dicção em que
aprendera a respirar para não falar apressadamente. Estava usando um vestido marrom escuro com
decote em V e botas combinando. Ela se perguntou se Jake a reconheceria ou faria um comentário
zombeteiro. Estava nervosa, mas não podia deixá-lo perceber. Ela iria fingir que não o conhecia.
Houve uma batida na porta.
— Colie, você está aí há quase quinze minutos, está tudo bem? — perguntou Wanda que havia
ficado para fazer o teste.
Não, não estava bem.
— Tudo em ordem. Eu estava retocando minha maquiagem. — Esperava que sua colega de
trabalho não notasse que ela costumava usar nada além de batom e blush.
— Ok, Jake já está na rádio. Como ele é bonito pessoalmente! — deu uma risadinha — É
melhor você se apressar.
Colette revirou os olhos.
— Eu saio em um minuto.
Perfeito. Zack já está na cabine. Tudo pronto. Basta sair para fazer a apresentação, embora eu
ache que o chefe já cuidou disso, e com entusiasmo suficiente para ter um astro como Jake na rádio
— expressou com entusiasmo.
— Sim. Estou com vocês em breve.
Quando ouviu a porta de seu escritório fechar, respirou aliviada. Abriu a porta do banheiro
lentamente, e quando estava na frente da porta da frente de seu escritório, respirou fundo, pedindo
aos deuses que por nada no mundo tivesse que viver um momento constrangedor.
Quando ela saiu para o corredor, os murmúrios excitados de seus companheiros a alcançaram.
A verdade é que ela também estava animada, mas por motivos muito diferentes dos da chegada de
Jake Weston a rádio. Para ela, começou a aventura que a levaria a mostrar aos pais que era uma
jornalista de sucesso, que não se enganara ao escolher uma profissão e que valia exatamente o
mesmo que uma economista famosa, como suas irmãs. Não ia deixar ninguém estragar essa
oportunidade.
Com um passo firme, se dirigiu para a cabine. Percebeu que a sua era a mais moderno de
todas. O console de som era quase novo, os microfones seriam estreados naquela tarde, e o material
que cobria as paredes estava intocado, pelo menos, ao contrário das outras cabines onde o material
que impedia o barulho de chegar estava saindo em alguns lugares. Enquanto caminhava, passou por
Vivianne, a recepcionista, que fez um sinal de positivo com os polegares para ela, e também estava
com as bochechas coradas. “Não posso acreditar nisso”, disse a si mesma, segurando uma risada.
Era verdade que Jake era muito atraente, mas para que a ácida da recepcionista se tivesse
ruborizado, ele deve ter lhe dito algo encantador. “Aha, como com você em Paris”, se lembrou,
tirando o sorriso do rosto.
Entrou no escritório e então o viu. Ele estava de costas, mas a constituição atlética de Jake era
inconfundível. Ela o havia memorizado durante os poucos dias em que estiveram juntos. Alto, costas
largas, pernas musculosas cobertas por calças brancas que só conseguiam destacá-las, além daquela
bunda que…
— Colie! — Francis exclamou ao vê-la, e ela esqueceu por um momento o desejo de continuar
analisando aquele corpo perfeito e atlético. — Venha aqui e conheça nosso apresentador estrela
pessoalmente.
Inevitavelmente, Jack Weston se voltou para ela. Ele a olhou com uma avaliação masculina
fugaz. Colette estava feliz por estar vestida com um estilo muito profissional. Jake estreitou os olhos
como se tentasse se lembrar de algo, mas ela bloqueou qualquer lacuna de memória que o homem
pudesse ter quando se aproximou dele. Caminhou rapidamente até os dois homens.
— Jake Weston — disse ele naquele tom profundo e aveludado que era tão natural para ele.
Estendeu a mão e Colette apertou.
Quando seus dedos se tocaram, ela tentou não os soltar como se tivesse pressionado uma
cerca elétrica. Embora essa fosse exatamente a sensação que tivera. Seis anos, pelo amor de Deus!
Como aquilo podia acontecer?
— Sou Colette Kessler, sua produtora — respondeu com um sorriso profissional e mantendo
um tom de voz firme e modulado.
— A melhor que já tivemos! — disse um Francis entusiasmado, enquanto Zack acomodava os
fones de ouvido e experimentava a música, ao lado de Wanda, na sala de controle. — Ela é uma
garota muito profissional e organizou todos nós — e começou a rir. — Um sopro de ar fresco.
— Prazer em conhecê-la, Colette — disse Jake, e soltou a mão dela. Dedos pequenos e
macios que tempos atrás haviam percorrido sua pele, primeiro timidamente, depois com a habilidade
de quem aprende cedo a transformar desejo em paixão, Jake se lembrou ao reconhecê-la. Mas seria
melhor para ele se não andasse nessas direções.
Colette não sabia se afetava seu ego ou não, que Jake não tivesse dado sinais de reconhecê-la.
— Oh, pode chamá-la Colie, certo? — Francisco perguntou com a mesma força com que a
apresentara. — Essa garota é brilhante. Será a combinação perfeita para tornar este programa o
melhor e mais bem avaliado da Costa Leste. Oxigen California! — exclamou, batendo palmas.
— Colie, então — disse Jake, dando a ela um daqueles sorrisos dignos de comercial de pasta
de dente.
— Claro — admitiu. “Que diferença faz?”. — Tudo bem, Jake. Vamos fazer um teste de voz
primeiro. Quero que seja afável, sem parecer falso. Sente-se por favor. — Francis saiu da cabine. —
Você está familiarizado com o funcionamento de uma estação de rádio? — perguntou, totalmente
focada em seu elemento, embora seus sentidos estivessem bastante cientes de Jake.
— Um pouco.
Nos cinco minutos seguintes, Colette deu-lhe uma breve palestra sobre como funcionava uma
rádio e como iriam lidar com a dinâmica do trabalho em equipe. Concreto, conciso e informativo.
Nada do outro mundo.
Jake a ouviu em silêncio.
— Gostaria de ter ligações no ar? Francis me disse que deveria perguntar para o caso de não
se sentir à vontade para improvisar.
Colette estava sentada ao lado de Jake, e ele, enquanto ela falava, começou a fazer conjecturas
em sua memória. não era estúpido. Desde o primeiro momento em que viu aquele par de olhos verdes
azulados, soube que era a garota de Paris. Foi como levar uma pancada no estômago. Sabia
dissimular muito bem e, como ela não dava sinais de reconhecê-lo, ele também não pretendia bancar
o idiota naquele momento. Precisava se acostumar com a ideia de vê-la novamente. Afinal, ele tinha
sido um canalha.
No entanto, o perfume floral que ela exalava e a cadência suave da voz de Colette estavam
começando a cobrar seu preço. Ele sabia como uma rádio funcionava? Claro que sim! Era só a ideia
de se acostumar com a situação de vê-la depois de tanto tempo. Não tinha imaginado em hipótese
alguma encontrá-la novamente, na verdade, Francis não a havia mencionado, a não ser como "a
produtora".
Ele tinha muita experiência em saber como esconder suas reações, aprendeu tentando enganar
seus rivais na quadra de tênis, e que agora fosse útil com Colette era apreciado. “Colette Kessler”.
Que mulher! Estava linda. Seu cabelo estava perfeitamente preso em um rabo de cavalo, quase
não usava maquiagem, mas não precisava; seus traços suaves e elegantes, em combinação com a
aparência mais madura e firme, o impressionaram. O vestido simples que usava, em vez de esconder
como parecia ser a intenção, marcava cada curva de sua atraente figura.
— Acho que seria uma boa ideia — respondeu, lembrando-se parcialmente do que perguntara
segundos atrás. — Afinal, é um programa que busca a proximidade com os ouvintes. Não? —
comentou levemente.
Ela cerrou os dentes. Não esperava que Jake entendesse a importância de sua revista
informativa, mas iria deixar isso claro para ele.
Se levantou, porque já havia perdido dez minutos.
— Escute, Jake — começou séria. Ele ergueu seu olhar de olhos cinzentos para ela. — Esta é
uma revista de rádio que busca expor fatos importantes. Não temos tempo para colocar um toque
engraçado nisso. Queremos respeitabilidade, confiança no que sai no ar. Pode se adaptar a isso?
— Claro, chefa — disse ele zombeteiramente.
Ela não entrou no jogo. Poderia lidar com isso melhor se não estivesse falando sério, ou fosse
brincalhão, do que se tivesse a ideia de tentar ser charmoso. Isso não apenas a perturbaria, mas
testaria sua tenacidade em não mencionar que aqueles truques não funcionavam mais com ela.
— Perfeito. Começamos o piloto. O roteiro está na tela do computador para você acompanhar,
fisicamente também — apontou algumas folhas impressas perto do microfone — e pode nos sinalizar
se precisar de alguma coisa, já que estamos na sua frente, na sala de controle e som.
Com um assentimento de Jake, Colette saiu da cabine e, quando fechou a porta atrás dela,
exalou todo o ar e a tensão que a consumia por estar tão perto. Meu Deus! Seria uma tortura vê-lo a
cada dois por três. “Mas tenho uma meta a cumprir”, ela se lembrou. E a própria ideia de tolerar as
críticas da família bastava para tirar o absurdo de se deixar envolver pelo encanto e a autoconfiança
do único homem que soube despedaçar as suas ilusões juvenis de amor.
O ensaio foi ótimo.
Colette era justa e deu a Jake a voz ideal, que a princípio achou que não funcionaria para a
revista de rádio. Também observou que era muito profissional. Ele errou uma vez, pediu desculpas e
retomou o roteiro sem questionar. Wanda fingiu ser uma ouvinte fazendo uma pergunta no ar, e Jake
improvisou lindamente. O horário combinava perfeitamente com a programação e, às dez para as
cinco, eles estavam prontos.
Zack não perdeu tempo, abordou Jake para pedir um autógrafo que ele não se recusou a dar. E
mais, com um sorriso, perguntou a Wanda se ela não queria um. Sua companheira não só conseguiu
seu autógrafo, mas também uma foto. “Que profissionais eles eram!”, pensou Colette, sorrindo.
— E você Colie, também vai querer um autógrafo?
Ela ficou com um sorriso congelado. Sua incapacidade de reagir durou alguns segundos.
— Verei você continuamente, acho que é o suficiente. Mas obrigado pela oferta — respondeu
educadamente, e segundos depois deixou a cabine. Para ele era indiferente, pois não dava sinais de
querer iniciar uma conversa. Na verdade, começou a rir de uma anedota sobre Zack, quando ela
estava fechando a porta do escritório.
Vivianne o informou que vários repórteres de entretenimento estavam do lado de fora da rádio
pedindo para falar com Jake. Mas Colie explicou que não poderia deixar ninguém passar, até depois
de o programa ir ao ar. Se manteve calma e se certificou de que até as seis da tarde, quando o
programa terminaria, nada desviasse Jake de seu foco. Ninguém a contradisse.
Às quinze para as seis, saíram do ar.
Quando Jake removeu seus fones de ouvido, ele a olhou. E ela não pôde deixar de lhe dar um
sorriso e um aceno de cabeça, deixando-o entender, da sala de controle, que havia feito um excelente
trabalho. Aos poucos, seus colegas começaram a entrar na cabine para parabenizá-la, e mal
conseguiu sair furtivamente do estúdio e deixar o apresentador da Oxigen California receber os
comentários e os parabéns, antes de ir atender os jornalistas que o esperavam do lado de fora o
rádio.
O programa foi um sucesso. Colette estava em êxtase. As chamadas ao ar foram inúmeras e
muitas foram deixadas de fora devido o tempo. A pauta do programa tinha sido cumprida à risca.
Quando entrou em seu escritório, pulou de alegria. O primeiro teste foi aprovado. Segundos
depois, tinha Deirdre ao telefone dizendo que representantes de vários anunciantes ligaram para dizer
que estavam satisfeitos com o resultado. Colie esperava que mais patrocinadores começassem a
chegar logo. Francis então ligou, dizendo-lhe que a audiência era a mais alta que um programa da
Rádio Costa Azul havia obtido em vários meses.
Mais calma, tirou os sapatos, como sempre fazia. “Agora que certamente começariam a
aparecer releases referentes ao programa, a rádio aos poucos ganharia notoriedade”. Ela estava
otimista. Melhor de tudo, não veria Jake até quarta-feira. Estava começando a colocar seus pertences
na bolsa quando a porta de seu escritório se abriu.
A única pessoa que entrava sem bater era Francis. Então supôs que queria parabenizá-la
pessoalmente. Colette ergueu o rosto com um sorriso. Ela congelou com a caneta na mão. Não era seu
chefe, era Jake Weston.
Seu pequeno escritório de repente se tornou um lugar sufocante. A mera presença daquele
homem parecia envolver tudo.
Deixando o murmúrio de vozes para trás, Jake fechou a porta. E a encarou por um longo
tempo, o que ela achou desconfortável.
— Sim? — perguntou com uma calma que não sentia. — Precisa de algo?
Ele encostou as costas na porta e cruzou os braços. A camisa azul esticou em seus músculos.
Era tudo elegância e masculinidade. Ele desviou o olhar de Colette, para olhar ao redor do escritório
organizado e simples. Então voltou sua atenção para o ponto inicial. Ela
— Você mudou muito. Está mais bonita — expressou com sua voz firme e profunda.
— Não sei do que você está falando — respondeu e começou a calçar os sapatos. —
Acabamos de nos conhecer, mas obrigada pelo elogio.
Depois de conversar com repórteres e se livrar de seus fãs malucos, ele havia tomado uma
decisão. Se iria trabalhar com essa mulher nos próximos meses, três vezes por semana, ao menos
pretendia ser sincero. Era impossível que não se lembrasse. Tinha percebido a maneira como o
observava, interrogativamente, como se ela se perguntasse se ele também a reconhecia; aquela
postura defensiva que tentava esconder atrás de uma formalidade distante era outro sinal.
Ele tinha trinta e cinco anos. Não ia jogar aquele jogo de "se eu te vi não me lembro" e não ia
permitir que ela jogasse.
— Você não sabe?
Colette fechou a bolsa e pendurou-a no ombro. Jake aproveitou aquele momento para avançar
e ficar bem perto, sem invadir o espaço pessoal da garota.
Ela negou.
— Não acha que somos adultos? — perguntou intrigado. Ele estava tentando colocar as coisas
em perspectiva.
— Isso mesmo, e é por isso que funcionamos perfeitamente. Charadas não são exatamente meu
jogo favorito, então vou agradecer que, se você não tem nada para consultar relacionado ao trabalho,
encerre a conversa, porque eu tenho coisas para fazer.
Quando ela tentou avançar, Jake bloqueou seu caminho.
— Paris.
Os músculos de Colette ficaram tensos ao ouvir o nome da cidade do amor, o que para ela na
verdade trouxe de volta memórias decepcionantes.
— O que há com essa cidade? — inquiriu observando um impasse atrás de Jake.
Ele estendeu a mão e ergueu o queixo de Colie. Seus olhares se encontraram, e não houve
necessidade de palavras para explicar mais detalhes.
— Acho que temos uma conversa pendente — disse Jake.
Ela soltou um suspiro resignado. Concordando. Apesar da fila de mulheres por quem Jake
certamente a substituiu, se lembrava dela. Seu ego não estava em um canto enxugando suas lágrimas,
mas era tarde demais de qualquer maneira. Especialmente quando já não importava.
Não queria reviver o quão ridícula se sentiu ao saber que tinha sido apenas uma aventura
sexual para ele, apesar dos belos momentos que passaram caminhando por Paris, comendo em
restaurantes com vistas maravilhosas e, claro, aquelas quatro noites apaixonantes na cidade... que ele
lhe dera suas mais sinceras ilusões românticas. Mas Jake não estava fazendo nada pela metade, e o
golpe de misericórdia viera quando, depois de tentar falar com ele por telefone, o encontrou no
saguão do hotel, beijando apaixonadamente uma ruiva escultural. A mensagem foi clara. O que havia
entre eles havia acabado. No dia seguinte, Jake deixou a França, deixando-a humilhada e com o
coração partido.
— Ouça — começou com seriedade e tom suave. — Desculpe, não posso motivar seu ego
como você está acostumado, mas nem me lembro disso o suficiente para trazer à tona. Se o fez, fico
feliz que tenha uma memória privilegiada — disse com tom cínico. — Agora, a única coisa que me
interessa em você é que trabalhe bem, sem escândalos que possam prejudicar a imagem da rádio ou
do meu programa. Eu quero o Jake Weston profissional, porque o engraçado, o zombeteiro ou o
mulherengo, preciso dele longe assim que começar a trabalhar na cabine. Esse projeto é muito
importante e vou levá-lo adiante.
Jake estava prestes a responder quando a porta se abriu. Colette estremeceu. Ele, por outro
lado, costumava aos sobressaltos, se virou com calma.
— Desculpe interromper — disse Zack olhando de um para o outro. — Pedimos pizza para
comemorar o novo programa no ar. Se juntam a nós? — perguntou com um sorriso entusiasmado.
O momento de tensão de Colie se dissipou, mas o olhar que Jake deu a ela disse que o assunto
estava pendente. Não queria fazer nada além de esquecer isso e tentaria de todas as maneiras
possíveis evitar ficar sozinha com ele.
— Claro — Jake respondeu afavelmente, como se a conversa anterior nunca tivesse
acontecido, embora por dentro estivesse bastante furioso. Ele nunca deixou de lado uma
responsabilidade, e ninguém poderia sequer tentar acusá-lo de negligência ou falta de
profissionalismo. Como Colette se atrevia a ser tão cínica? Talvez ele não tenha se comportado como
o esperado, tudo bem, mas se ele se gabava de alguma coisa, era de ser um bom amante. A chance de
refrescar a memória arrogante de Colette aguçou seu apetite. — Adoro pizza.
— Colie? — perguntou Zack, com o mesmo ímpeto de uma criança quando recebe a
aprovação de seu professor favorito na escola.
“E ter que aturar a pizza com gosto de papelão, por causa da tensão depois daquela menção de
Jake? Não, obrigada”.
— Eu adoraria, mas tenho uma reunião que já tinha agendado — começou a caminhar até a
porta. — Zack, por favor, deixe-me uma lista das ligações que não foram ao ar, talvez possamos fazer
um concurso.
Quando Zack abriu espaço para ela passar pela porta, Colie se virou para Jake.
— Vejo você na quarta-feira. Se tiver alguma dúvida pode me escrever por e-mail, ou ligar
para a rádio — comentou em tom profissional e distante.
Em troca, ele deu a ela um sorriso encantador. Despreocupado.
— Absolutamente — respondeu com um tom engraçado.
Enquanto comia pizza com seus novos companheiros, ele pensou que talvez a reação de
Colette não fosse nada incomum. Afinal, tinha sido um idiota. Embora tivesse certeza de uma coisa,
mulheres e homens costumavam se lembrar perfeitamente da primeira vez que fizeram sexo com
alguém. Bem como do primeiro beijo.
Dando uma mordida em um pedaço de azeitona, considerou que o vínculo com aquela rádio
seria muito divertido. Pediria desculpas a Colette, com certeza, mas primeiro a faria aceitar que se
lembrava, tão vividamente quanto ele, do que havia acontecido entre eles.
CAPÍTULO 6

Kate estava em casa. O dia na joalheria onde ela trabalhava não tinha sido exatamente o
melhor. E isso que era apenas terça à noite. A meta de vendas não foi atingida, e seu chefe, que aliás
era muito chato, enfatizou com todos os sinais possíveis. Deus, já queria arrumar um emprego de
jornalista, não de vendedora! Mas trabalhar para a revista de seu pai não era uma opção, então ela
teria que encontrar uma maneira de conseguir o que queria. Para piorar as coisas, mal havia falado
com Colette, que também lhe devia as fofocas da rádio. Como era possível que trabalhava com Jake
o sexy Westone e não tivesse lhe contado, mas a deixado descobrir por outra amiga que fofocou no
dia anterior ao ouvir o rádio por casualidade? Mas ela iria ouvi-la.
Às sete da noite, Colette entrou no apartamento parecendo exausta.
— Aha! — Colie olhou para ela com uma cara de poucos amigos, mas quando percebeu que
estava desanimada, mudou de atitude. — O que aconteceu? Você não deveria estar além de feliz por
ter Jake como seu parceiro? — perguntou se aproximando.
Relutantemente, Colette colocou a bolsa no sofá e revirou os olhos para ela. Foi até a cozinha
e se serviu de um copo d'água.
— Não está sendo um bom dia — expressou virando o pescoço da esquerda para a direita,
para tentar amenizar o estresse que apenas se concentrava naquela região e nos ombros.
Kate franziu a testa.
— Por quê?
— Minha mãe me ligou para dizer que não consegue acreditar como passei de querer escrever
notícias sérias a um programa sem importância, e também com esses tópicos supérfluos na rádio —
esfregou as têmporas com os dedos. — Eu nem tinha a intenção de contar a eles até que tivéssemos
alcançado o reconhecimento. Então, mais uma vez, fui a decepção da família.
— Terão lido nos jornais...
— Talvez tivesse sido bom receber os parabéns pela minha iniciativa. Embora na minha
família isso me pareça esperar muito — respondeu, encolhendo os ombros. Pensou que não falava
com Kate há vários dias porque estava concentrada na organização Oxigen California; se sentiu
culpada. — Desculpe por não ter falado sobre Jake, eu sei que você é fã do antigo programa dele, só
queria que esse lançamento fosse um sucesso. E sei que você é falante, mas sim, eu trabalho com ele.
Um dia você pode me acompanhar a rádio, se quiser.
— Sério? — O olhar de Kate se iluminou. — Seria fantástico! Para que eu pudesse pedir a ele
para me apresentar a Patrick Lombardo. — Vendo Colie franzir a testa, continuou — Jake é lindo,
você viu o calendário beneficente que ele fez alguns anos atrás? Ufff. — Colie riu, pela primeira vez
no dia. Como era bom rir. Tinha perdido aqueles momentos com a louca Kate. — Mas ele é bonito
demais para o meu gosto. Eu prefiro Patrick, parece mais... não sei, normal eu acho.
— O que há de anormal em Jake? — perguntou rindo.
— Bem, é muito perfeito. Embora — disse tocando o dedo no queixo, olhando calculadamente
para a amiga, — você e ele fariam uma boa combinação. Você é linda, e ele nem precisa dizer, por
quê...?
— Pare aí! — exclamou cobrindo a boca de Kate com a mão. — Não vá por aí. Weston é um
colega de trabalho e eu sou sua chefe. Não me interessa.
— Não? — ela estreitou os olhos e afastou a mão que tentava calá-la. — Então você deve
estar cega.
— Aceito que seja atraente. — Kate revirou os olhos. “Quão atraente? Era um deus pagão que
se tornou jogador de tênis! Bem, ex-tenista”, pensou a melhor amiga de Colie. — Aparentemente, ele
vai colaborar profissionalmente e sem levar seus escândalos usuais a rádio. Então, até esse ponto se
limita meu interesse por ele.
— Você é impossível, Colie. — Colette suprimiu a vontade de lhe contar sobre seu passado
com Jake, mas achou que seria melhor não mergulhar nessas águas profundas. — Mas em qualquer
caso, você sabe o que penso da importância que costuma dar à opinião de sua família. Por que não
pode simplesmente ignorar seus comentários desanimadores?
Colie suspirou.
— Porque nunca me senti aprovada por eles, nunca, e sabe disso muito bem. Mesmo que eu
tentasse o meu melhor, eles sempre encontravam um obstáculo. Para tudo. E quero provar que estão
errados.
Kate se aproximou e a abraçou.
— Você é uma profissional e lutadora — colocou a mão em cada ombro. — Eu sei que são
seus pais, e sei que dói, mas você vai deixá-los estragar esse projeto que está decolando? Vamos,
Colette! Deve ter saído em alguns meios de comunicação. De relance, consegui ler um no caminho
para casa, e era apenas elogios pelo programa, a voz de Jake, e geralmente gostavam. Por que não
colocamos seus pais um pouco de lado e nos concentramos no que você está começando?
— Acho que Jake não gostou que eu chamasse a imprensa — disse mudando de assunto.
Porque a verdade é que quando ela o informou que havia imprensa, ele a olhou com cara de poucos
amigos, mas logo disfarçou com seu habitual olhar de indiferença.
Kate olhou para ela.
— Você vê o que acontece por não ler a seção de homens bonitos? — perguntou brincando,
soltando os ombros dela.
— Bem, me esclareça — respondeu sorrindo.
— Pelo que disseram, ele deixou a região de Beverly Hills, porque quer se dedicar à outra
coisa. Ele está tentando deixar a televisão de lado, uma pena é claro, e o coitado acha que por vir
aqui em Santa Monica não vão prestar atenção nele. Uma doçura da ingenuidade.
— Muito ingênuo, é claro — comentou rindo.
— Ou talvez seja uma estratégia para dar outra imagem, algo mais discreto. Então tudo o que
você fez foi estragar esse plano.
— Oh... — fingiu consternação. Kate achou que estava falando sério.
— Não se preocupe, o agente de Jake, um certo Gordon alguma coisa, é um selvagem e
perturbado. — Colette riu. — Se ele achou que a imprensa não vai favorecer o que quer que Jake
faça, acredite, mesmo que você tenha mandado centenas de newsletters, só teriam chegado pequenos
meios...
— Nem ao menos saiu no TMZ, nem no Perez Hilton...
O olhar irônico de Kate disse o contrário.
— Então?
— Então, senhorita publicidade não desejada, o que precisa fazer para manter a harmonia é
permitir que ele mostre um perfil discreto. E pronto. Embora a mídia esteja mais interessada em
escândalos de celebridades em outros lugares.
— Parece que você o conhece a vida toda — franziu a testa. — Conhece?
Kate encolheu os ombros.
— Uma vez tive que investigar a fundo a vida dele, porque uma amiga que trabalhava para a
seção de entretenimento de um jornal não podia fazer a entrevista, um assunto com sua filhinha, então
cobri. Tão bom... Digamos que entendo um pouco.
Colette a olhou com os olhos arregalados.
— Você gosta da imprensa de espetáculo! Mais do que quer admitir! — a acusou, rindo. —
Não posso acreditar nisso, e pensei durante toda a minha vida que o seu negócio eram as crônicas da
polícia.
Kate encolheu os ombros.
— Bem... uma pessoa pode mudar.
— Quando essa mudança ocorreu? — perguntou sem perder o sorriso.
— Cerca de oito meses atrás, quando eu acompanhava...
— Sim, eu sei, outro de seus amigos misteriosos de shows para fazer alguma notinha e te
convidaram para um daqueles restaurantes caríssimos. Bla bla.
— Algo assim, mas pelo que sei você nunca reclamou dos passes VIPs que me davam para os
shows — colocou as mãos na cintura. — Não é?
Colette estava de melhor humor, graças a Kate.
— Bem, é verdade — sorriu. — Agora, vamos, é melhor me contar sobre o seu dia.
Conversaram por um longo tempo, até que o telefone de casa tocou. Muito poucas pessoas
tinham acesso a esse número e raramente ligavam. Se entreolharam de forma estranha. Kate foi
atender, enquanto Colie foi tomar banho.
A água quente relaxou seus músculos. Colocou um roupão e foi até a sala de estar apenas para
encontrá-la vazia. Onde Kate tinha ido? Com a toalha enrolada na cabeça como um turbante para
segurar o cabelo úmido, ela caminhou até a pequena varanda com vista para a praia. O ar frio atingiu
seu rosto, mas não se importou. Ela se sentiu mais calma, mas não menos angustiada com a reação da
mãe. O engraçado é que seu pai não tinha pegado no telefone para terminar de criticá-la. Felizmente,
suas irmãs moravam longe e não tiveram chance de esmagá-la.
A pressão que tinha sobre si mesma para seguir em frente com a Oxigen California era grande,
e agora mais do que nunca estava disposta a deixar seus pais acreditarem em suas recriminações. Os
escândalos em sua vida não tinham mais lugar, desde a última vez que se embriagou em uma festa
com Kate, há dois anos, e teve a infelicidade de encontrar o filho de um dos melhores amigos de seu
pai, enquanto vomitava na calçada. Um doloroso incidente que não teria tido impacto se o menino em
questão não tivesse sofrido seus contínuos desprezos cada vez que declarava amor eterno.
Provavelmente como vingança, ele tirou uma fotografia dela que foi dada na seção social de uma
pequena revista do Condado de Orange. Uma revista de golfe para ser mais específica, e que chegava
pontualmente em sua casa, pois era o título que seu pai assinava semanalmente. Ela teve que receber
uma reprimenda como se ainda fosse uma louca de quinze anos.
Kate riu do incidente, porque era a natureza de sua amiga, levava tudo da melhor maneira.
Sempre conseguia aliviar o fardo ou a dor quando as coisas não iam bem para sua família. O que era
normal.
Também sentia falta de falar com seu tio Robert. Eles costumavam conversar com frequência,
mas não tinha notícias dele há muito tempo. Percebeu que viajava com bastante regularidade, no
entanto, sempre encontrava um e-mail com novidades. Desta vez, não foi assim. Queria pensar que os
negócios estavam mais apertados do que o normal. Que outra explicação poderia ter para explicar a
falta de notícias? De qualquer forma, lhe enviaria um e-mail contando sobre seu programa de rádio e
aproveitaria para perguntar por que ele havia abandonado a fábrica de tecidos.
Se virou quando ouviu a porta da frente se abrir. Atrás de Kate apareceu uma figura que era
mais do que familiar para ela. Não se importando com sua aparência, caminhou rapidamente para
abraçar Damon Blansky.
— Eu não posso acreditar! Como não me disse que viria hoje? — perguntou dando-lhe um
leve soco no ombro. Ele começou a rir quando Kate fechou a porta e colocou as chaves no console
da sala de estar.
— Liguei há uma hora para dizer à minha irmã que estava no posto de gasolina, e ela não pôde
esperar, tomou um táxi a muito louca — olhou para a irmã. — Assim, aqui estou. De volta a Santa
Monica.
— Então, bem-vindo.
— Obrigado por me permitir ficar com vocês — ele expressou tirando o paletó.
Colette o observou. Ele ainda mantinha aqueles movimentos ágeis e seu sorriso constante,
assim como sua irmã. Quando estava por perto, apesar de que tinham se envolvido por um tempo
breve, a amizade continuava a mesma. Foi um alívio para ela, porque os Blanskys eram a coisa mais
próxima de uma família compreensiva e afetuosa, pelo menos para ela. Se parabenizou por não ter
continuado além de alguns beijos e carícias atrevidas com Damon.
— Bah! Faz tempo que não mostra o seu rosto, Blansky — disse Colie rindo e tirando a toalha
da cabeça, pois já estava começando a pesar. A deixou no encosto de uma cadeira. — O quarto de
hóspedes está limpo, basta colocar os lençóis e os edredons no colchão e pronto. Recentemente,
instalamos uma linha telefônica privada, se estiver interessado. Você pode trabalhar a partir daí se
surgir algo.
Damon assentiu.
— Meu irmão quer ouvir sobre você na rádio — Kate interveio, feliz que seu irmão e Colette
se davam tão bem.
— Você já foi com a fofoca? — perguntou Colie, fingindo estar horrorizada.
— Bem… é um projeto que eu apoio, e nosso cartunistas especialista também. Certo,
irmãozinho?
— Totalmente. Que tal comemorar minha estada em Santa Monica com uns drinks no bar da
moda?
Colie olhou para si mesma. Estava vestindo pijama sob o roupão. Estava de chinelos e seu
cabelo estava úmido. Só queria fechar seus olhos e planejar o programa para o dia seguinte.
— Seria ótimo! — exclamou Kate.
— Numa terça à noite? — Colette olhou para eles com um sorriso. O cabelo preto de Damon
contrastava com o cabelo loiro de sua irmã, mas fora isso tinham o mesmo ar descontraído e
autoconfiante que era francamente contagioso. — Acho que passo...
— Oh, vamos, serão apenas alguns drinks! Você passou as últimas semanas com a cabeça
enfiada naquele programa, ele já foi lançado. Precisa relaxar — disse Kate — Vamos comemorar.
— Amanhã tenho que me levantar às oito da manhã...
— Não me disse que o horário era flexível desde que cumprisse a jornada de trabalho?
Aí sim a tinha pegado.
— Bem...
— Colie, faça isso por este velho amigo. Há quanto tempo não nos vemos? No mínimo alguns
anos! Não seja desmancha-prazeres — ele estendeu a mão para bagunçar um pouco o cabelo úmido.
— Diga sim, vamos.
— Você não está cansado, Damon...?
Ele riu.
— Beverly Hills não fica a cinco estados de distância. É muito perto, além disso, eu realmente
gostei de dirigir, apesar do trânsito infernal a esta hora. Parte das férias. Se quiser voltar mais cedo
ou ficar entediada no bar, podemos ir em carros separados. Que tal?
— Você vai tolerar Kate tentando encontrar uma companhia para você naquele bar? — ela
perguntou suprimindo uma risada, quando sua amiga a olhou. Tinha tanto ciúme do irmão que era
engraçado ver seus olhos cor de mel escurecerem de raiva. Gostava de cutucá-la, assim como Kate
insistindo em que flertasse nos bares quando saíam.
— Claro que sim. Eu adoraria saber quem Kate vai escolher para cunhada — comentou
brincando.
“Dois contra um. Como dizer não à força dos olhares dos irmãos Blanksy?”, pensou Colie,
enquanto os dois se calavam, aguardando sua decisão.
— Ok. — Kate e Damon sorriram. — Carros separados.
— Feito — respondeu Damon.
— Meia hora e estou pronta.
— Enquanto isso, vou ajudar meu irmão a se acomodar.

O bar estava lotado. E assim como Rex havia lhe assegurado, a porta lateral garantia que não
havia paparazzi esperando por ele. A atmosfera era agradável. A música não estava muito alta e, o
melhor de tudo, logo avistou conhecidos que apertaram sua mão, e Jake se aproximou para
cumprimentá-los.
Um garçom atencioso perguntou se ele tinha reserva e deu-lhe o nome de Rex. Assim, após se
despedir de seus amigos, se aproximou de uma mesa estrategicamente localizada perto do bar, mas
longe o suficiente do palco onde um famoso grupo logo estaria se apresentando. Pediu uma das
bebidas mais caras, e não exatamente pelo preço definido pelo bar, mas porque Last Drop 1950 tinha
apenas 478 garrafas no mercado, e Bacci tinha pelo menos dez dessas cópias. Ele poderia facilmente
se dar ao luxo de um copo daquele delicioso conhaque. Não hesitou em pedi-lo e agradar o seu
paladar.
Enquanto saboreava o conhaque raro e exótico, seus olhos pousaram em uma mesa em frente
ao local onde ele estava. “Não seria possível!”, disse a si mesmo, estreitando os olhos ao ver que
Colette Kessler estava rindo ruidosamente com um casal. Não. Correção, o casal parecia ser ela, e
além disso havia outra garota. Este homem tinha Colette em volta dos ombros como se pertencesse a
ele.
Vê-la rir tão levemente o lembrou de como ela realmente era. Sempre tinha um sorriso, seu
senso de humor era bastante aguçado e estava pronta para se divertir. Talvez seja por isso que
seduzi-la na França não foi tão difícil para ele. Ou talvez fosse por sua inexperiência feminina em
questões sexuais e o desejo de viver um pouco. Mas a Colette que seus olhos analisavam agora, na
multidão, estava em total contraste com a mulher que o enfrentou no dia anterior na rádio. Pareciam
duas mulheres diferentes. Uma contida, e agora outra, descontraída e exultante. A combinação podia
ser enlouquecedora e talvez não positiva para um homem.
Estava com raiva porque aquele idiota estava com ela. Era ridículo, sabia, mas não podia
evitar, pior depois que Colette ofendeu seu orgulho masculino fazendo-o se sentir com mais um
entalhe em seu histórico. Com quantos mais teria dormido durante esse tempo? Certo! Era hipócrita
fazer essa pergunta a si mesmo, já que não havia vivido exatamente o celibato.
— Jake! — Rex o cumprimentou chegando com uma bela loira ao seu lado, cujo vestido prata
deixava mais descoberto, ao invés de cobrir. — Este lugar é ótimo. Te apresento Shanon. — Muito
cavalheiresco como era, Jake se levantou, cumprimentou a garota e também estendeu a mão para o
amigo. — E esta é Bella — continuou Rexford. O ritual de saudação se repetiu.
Jake percebeu que essa Bella tinha uma aparência discreta. Na verdade, parecia estar
pensando coisas pecaminosas sobre ele, e quando uma mão nada tímida deslizou sobre sua coxa, ele
não teve dúvidas. Essa morena de peitos grandes ia com tudo. Com um sorriso encantador, Jake
puxou a mão dela e colocou-a sobre a mesa. Gostava do desafio da conquista. Ele também achava
normal quando uma mulher sutilmente tomava a iniciativa, era lisonjeiro e sexy, mas quando uma
mulher se comportava sem aquele toque de mistério — como a amiga que acompanhava Rex — ele
pensava duas vezes. Quando Rex percebeu o que estava acontecendo, em vez de ficar chocado,
piscou para o amigo e chamou o garçom para trazer algumas entradas.
Claro que ela percebeu que Jake Weston estava no bar, Colette respondeu a Kate que parecia
ter descoberto o último tesouro escondido dos Incas ao vê-lo. O que não podia dizer à amiga é que
tinha vontade de fugir dali. Mal teve tempo de escovar o cabelo, então suas ondas negras se
enrolaram irremediavelmente de acordo com o corte, estilo em camadas que ela tinha.
Esta noite estava usando um vestido verde sem alças na altura do joelho e botas lindas que
comprou semanas atrás. Estava se divertindo como nunca com as piadas tão próprias de Damon,
quando sua melhor amiga teve a ideia de dar aquela notícia que caiu como um balde de água fria.
— É, Colie — Damon disse dando um beijo na bochecha dela. — Por que está com essa cara
azeda?
Kate começou a rir.
— Porque acabei de dizer que um de seus colegas de trabalho está aqui. E eu acho que ela
particularmente não gosta dele.
Damon manteve o braço em volta dos ombros de Colie. Talvez ela e a irmã pensassem que
tinha ido para Santa Monica de férias, e parte disso era verdade, embora realmente quisesse tentar
novamente com Colette. Iria aproveitar os próximos dias que estivesse em suas casas. Iria devagar.
Precisava estudar o terreno, não queria causar problemas com sua irmã. Por outro lado, fazia muito
tempo que ele e Colette não se falavam, mas estava feliz porque, apesar do tempo, quando a viu
novamente, a sensação de proximidade permanecia. Estava ciente de que haviam concordado no
passado que permaneceriam amigos, mas queria tentar fazê-la mudar de ideia. Depois de namorar
várias garotas e perceber que sempre as comparou a melhor amiga de sua irmã, entendeu por que
seus relacionamentos mal duravam. Colette valia a pena tentar.
— Não é verdade.
— E quem é? — Damon indagou sorrindo e bebendo o mojito.
— Jake Weston, e vem acompanhado por uma beldade que não tira a mão de cima dele. Ei,
isso é novidade.
Colie franziu a testa.
— Pare de olhar, o que ele vai pensar...
— Deixe que ele pense o que quiser — interrompeu Kate, enquanto pegava seu iPhone.
— O que está fazendo?
— Bem, trabalhar para viver, Colie.
— Do que está falando?
Com um sorriso, Kate atendeu ao telefone, falando baixinho. Ficou assim por um breve
momento e, em seguida, com satisfação, olhou para seus dois acompanhantes.
— Liguei para um dos meus amigos que trabalham em um programa de televisão.
Colie revirou os olhos e aproveitou a oportunidade para dar uma espiada na mesa onde Jake
estava. Na verdade, a morena ao seu lado estava grudada nele, e ele não parecia se importar. Uma
estranha sensação de aborrecimento tomou conta de seu bom humor. Não podia permitir isso. Era
uma bobagem! Estava prestes a tirar os olhos da mesa quando o olhar de Jake e o dela se
encontraram. Ele sorriu para ela. “Abra o chão do bar, por favor”, quase gemeu, enquanto uma
música do One Republic tocava ao fundo.
Voltou sua atenção para Kate, que estava em seu quinto coquetel Sidecar, cantarolando
Counting Stars totalmente desafinado.
— E para que diabos você o chamou? — seu irmão perguntou, intrigado.
— Vocês dois não sabem nada sobre furos, hein? — olhou significativamente para Colette,
quase semicerrando os olhos por causa do efeito do álcool, e Colie teve vontade de rir, mas se
segurou. — Você me surpreende, colega jornalista. Bem, informo que quem está ao lado de Jake é
Rexford Sissley, um igualmente famoso tenista que se aposentou há dois anos. Ele mora em San
Francisco desde sua aposentadoria oficial das quadras e que está na cidade é notícia, porque
recentemente disse em uma entrevista que estava feliz morando em sua cidade natal. Então, o que está
fazendo aqui?
Colette não aguentou e riu. Ela não tinha bebido porque era sua vez de dirigir, então sua risada
foi tão espontânea como costumava ser quando sua amiga ficava intensa. Damon juntou-se ao seu
bom humor, para desgosto de Kate.
— Deus, Kate, deixe-os em paz.
— Você não está reclamando de estar nesse bar exclusivo, certo Colette? — perguntou
fingindo indignação. Nesse momento um garçom apareceu e Kate pediu um Manhattan. Damon
revirou os olhos com a audácia de sua irmã. Mas ela era assim, sem noção, intensa, espontânea, e ele
a adorava.
— Você troca ingressos para lugares como esses fazendo esse tipo de chamada? Damon quis
saber.
Kate sorriu.
— Bem, tem que manter amizades — expressou em um tom que fez os três começarem a rir
alto.
Jake estava naquele bar há mais de duas horas. Estava se divertindo muito, exceto pelas
constantes pegadas da morena ao seu lado, mas, vamos lá, teve que suportar coisas piores sendo um
jogador de tênis em turnê com a torcida se jogando em cima dele. Já havia dado a Rex as chaves de
Bel Air, quando as duas mulheres pediram licença para ir ao banheiro feminino.
Rex lhe disse que Bella era solteira, mas Jake confessou que não estava interessado. Então
deixou escapar a sequência de sua louca noite de domingo e suas reflexões. E como se não bastasse
ver Colette flertando tão livremente com outra pessoa, aparentemente sua ex-noiva havia decidido ir
ao bar com um grupo de amigos. Não havia outro lugar em Santa Monica além de Bacci?
Quando Rex percebeu o curso de seu olhar, balançou a cabeça.
— Desculpe, Jake... se você quiser, podemos ir para outro lugar. Eu sei que não é a pessoa
que mais te encorajaria a ver depois do que me disse.
— Acho que vou tomar mais alguns copos de conhaque.
— Não te viu e no meio dessa multidão, não acho que vai apenas se aproximar da nossa mesa.
Também temos companhia feminina.
A mandíbula de Jake apertou.
— Não estou com vontade de topar com ela, mas não sou um covarde de merda. Então
ficamos.
Naquele momento as duas mulheres voltaram e o garçom que os atendia levava e trazia vários
copos. Rex se mantinha sóbrio, porque ele estava dirigindo, mas aparentemente seu amigo poderia ter
que pegar um táxi de volta.
Jake estava começando a sentir os efeitos do álcool, embora estivesse acostumado a mais
quantidades, então era uma tontura um tanto intensa, mas nada para nublar seus sentidos. Não poderia
dizer o mesmo para as mulheres que Rex usou naquela noite, pensou maliciosamente.
Por volta de uma hora da manhã, Rexford, vendo que o clima no bar havia esquentado e a pista
de dança estava aberta para que os presentes pudessem curtir o ritmo do grupo ao vivo, decidiu ir se
divertir com Shannon também.
— Ei, Jake — chamou. Mas seu amigo parecia bastante satisfeito com Bella. “Ah, os efeitos
do álcool”, Rex pensou com um sorriso. — Vou dançar. Por que você não vem também?
Jake ergueu a cabeça e assentiu.
Enquanto se movia na pista, imagens de Lauren iam e vinham em sua cabeça. Sua companheira
se contorcia contra ele, pressionando os quadris contra sua pélvis. Ele era humano! Então não pôde
conter a ereção que emergiu contra suas calças em resposta. A pista de dança estava lotada e,
tentando se divertir o máximo que podia, esqueceu sua promessa de não pegar uma mulher naquela
noite. Porque era relembrar Lauren e seu passado amargo em comum, ou tentar mitigar o
aborrecimento com a primeira coisa que estava perto. Ou seja, sua acompanhante fácil.
Descaradamente, na escuridão da pista de dança e sob as luzes de néon, ele deslizou as mãos
sobre a bunda firme de Bella, que deliciosamente começou a beijá-lo. Não poderia dizer há quanto
tempo Jake estava fazendo isso, até que um flash ofuscante explodiu em seu rosto. Atordoado pela luz
do que com certeza seria uma maldita foto, parou de tocar sua acompanhante.
— Escute — disse em seu ouvido. A própria ideia dessa fotografia estar na mídia o
incomodava. Maldita Lauren! — Eu tenho que ir, querida. Rex com certeza vai te levar.
Fazendo beicinho, mas sem muito drama, a garota deu-lhe um último beijo e depois se virou.
Quando Jake estava saindo da pista, o que ele menos queria aconteceu. Lauren Jovinella, a mesma,
estava sorrindo para ele. “Diabos”.

Colette havia tentado muito não notar Jake quando ele entrou na pista. Ela também tentou não o
encarar, enquanto ele praticamente fazia a ressuscitação boca a boca em sua acompanhante. Mas o
que fez conscientemente foi dizer a Kate que lhe parecia de péssimo gosto que tivesse ido até a pista,
aproveitando o fato de Jake se distrair para tirar uma foto dele em um bar exclusivo como aquele em
que estavam, e onde supostamente, esse tipo de coisa não deveria acontecer.
— Você não pode enviar isso para o seu amigo! — repreendeu-a quando conseguiram sair do
bar às duas da manhã. Damon praticamente carregava todo o peso da irmã nos braços, enquanto ela
brandia o iPhone como arma contra Colette, ameaçando mandar, assim que encontrasse uma forma de
fazê-lo, pois ela alegava que os comandos do telefone haviam mudado de lugar.
— Por que não? — respondeu relutantemente, enquanto Damon tentava colocar sua irmã no
banco do passageiro.
— Porque se você fizer isso, vai me arruinar — ela respondeu ajustando o vestido verde.
Estava além da raiva. Não tinha nenhum motivo para estar com Kate, essa era sua natureza
intrometida. Mas estava com Jake. Como se atrevia a ir a algum lugar fingir que estava morrendo de
sede e aquela vadia era a única capaz de saciá-lo? E não foi nem por isso, mas porque qualquer um
poderia ter fotografado, e se isso saísse pela manhã na imprensa ou se espalhasse pelas redes
sociais, arruinaria a reputação antes mesmo de decolar da Oxigen California. Não tinha nada a ver
com vê-lo, depois de tantos anos, e beijando daquele jeito na frente dela. Claro que não. “Mentirosa”
—. Por favor, Kate, me dê o telefone.
Para evitar discussões, Damon praticamente o arrancou das mãos da irmã e o entregou a
Colette. Sem pensar duas vezes, ela apagou a fotografia.
— Você violou minha privacidade! — exclamou Kate tentando tirar o cinto de segurança. —
Era uma exclusiva.
— Bem, sua exclusividade ia estragar meu programa de rádio, porque Jake é a estrela
principal! Lembra? — explicou Colette. Mas vendo a reação de Kate, bateu o calcanhar no asfalto.
Estava dormindo!
Damon riu, fechou a porta do passageiro e colocou as mãos nos ombros de Colie.
— Não se preocupe, não se lembrará de nada amanhã. Sinto muito por termos que ir. Tem
certeza de que não quer ficar com sua amiga Margo aí? Você me disse que não a via há muito tempo e
que o ambiente era bom.
— Ok, lembre-se que tenho que ir trabalhar amanhã cedo — notou que a cabeça de Kate
estava colada no vidro da janela. — É melhor irmos para casa. Embora primeiro tenha que ir colocar
gasolina no meu carro.
Damon acariciou seu rosto.
— Estou feliz por estar de volta.
Ela sorriu para ele.
— É bom ver você de novo. Eu te sigo com meu carro?
— Não é necessário, é uma área segura. Em pouco tempo estou em casa.
Ele queria beijar aqueles lábios rosados e provocantes. Como ela era bonita! Mas não queria
afugentá-la. Então a beijou na bochecha, se virou e saiu.
Inquieta, Colette pegou o telefone e começou a pesquisar todas as redes sociais de fofocas de
celebridades para encontrar uma foto de Jake. Quando teve certeza de que não era um assunto do
Twitter, ela se acalmou. Entrou em seu velho Peugeot e se dirigiu ao posto de gasolina.

A aparência de Lauren retinha aquele halo imponente de sensualidade, mas seu olhar não
brilhava. Só de vê-la, rapidamente afastou a vaga tontura causada pelo álcool ingerido. Seu cabelo
estava cortado na altura do queixo. Estava linda, mas havia perdido seu charme para ele. Vê-la
naquele momento confirmou isso.
— Oi, Jake. Aos velhos tempos! — expressou um sorriso. Sempre teve um sorriso
maravilhoso. Não demonstrou que se lembrava do passado, ou que sentia remorso por qualquer
coisa. Pelo contrário, parecia que eram grandes amigos. — É estranho ver você em Santa Monica.
“Digo o mesmo”.
— Lauren — deu um beijo na bochecha dela. — Como está?
Com aquele vestido azul com um decote de matar e cabelos ruivos ondulados, ela estava
fantástica. Mas ele não foi movido por um pingo de desejo. Isso não tinha acontecido com essa Bella
também, se deixou levar. Era um homem com testosterona no seu melhor. Ele tinha que escolher
melhor o que faria.
— Tudo ótimo, vim porque meus amigos são primos de um dos sócios do Bacci e me
convidaram. Este lugar não é ótimo?
— Fantástico — começou a se afastar. — Mas eu estava indo embora. Divirta-te.
Ela olhou para ele com surpresa e agarrou seu braço para contê-lo.
Surpreso com aquele contato, ele não conseguiu medir sua reação e se soltou como se tivesse
sido mordido por uma cobra. Lauren então percebeu que não queria saber dela, e que vir
cumprimentá-lo tinha sido uma má ideia. Disfarçou sorrindo.
— O quê? Mas se este lugar é o melhor depois das duas da manhã! Venha, eu te apresento aos
meus amigos. — Um trio impressionante se aproximou. Lauren o apresentou. — Gente, este é Jake
Weston, um…
— Amigo — ele completou, dando um passo à frente. — Muito prazer garotas. Lauren, espero
que tudo corra bem e você se divirta esta noite.
As amigas de Lauren disseram que estariam na pista e se afastaram.
— Você não acha que é o destino? — ela perguntou olhando para ele com um vislumbre de
esperança. — Dois anos se passaram sem nos vermos e nos encontramos em um bar. Gostaria de
retomar minha amizade com você. Sinto muito...
Ele ergueu a mão para que ela ficasse quieta.
— Sério, Lauren, não estou interessado em nada que tenha a ver com você.
Ela o olhou com pena.
— Sempre esperei que...
— Você não tem esperança de nada comigo. Tchau e boa sorte.
Deixando-a de boca aberta com sua maneira cortante incomum. Jake se afastou. Estar perto de
Lauren, além de prejudicar seu humor, o deixava mais ciente de tudo que ele não queria: pessoas
desleais e mulheres manipuladoras.
Enquanto caminhava para o carro, mandou uma mensagem para Rex dizendo que estava indo
embora e que poderia ficar em Bel Air o tempo que quisesse. Mal-humorado por ter visto Lauren
novamente, dirigiu pelas ruas de Santa Monica. Seu apartamento era um pouco longe. Então parou em
uma cafeteria próxima para pedir um café. Não era irresponsável. Esperou que o efeito do álcool
passasse completamente. Alguns fãs que comiam naquela hora vieram pedir um autógrafo. Não
hesitou em posar com eles quando também pediram uma foto.

***
Colette amaldiçoou sua própria tolice. Checou seu telefone celular. Sem bateria! Estava mal
estacionado, a rua não tinha boa iluminação e também o carro não queria pegar. Mas tinha acabado
de colocar gasolina! Reclamou em voz alta. Olhou pelo retrovisor e não havia mais carros à vista. As
luzes no final da rua à sua frente estavam acesas, mas ela estava longe para pensar em caminhar para
encontrar um café ou restaurante que ficasse aberto 24 horas.
Com relutância, abriu o porta-luvas do carro e jogou sua bolsa lá. Irritada, pensou que não
poderia passar a noite no carro. Teria que esperar a passagem de um táxi milagroso. Moedas! Talvez
pudesse encontrar um orelhão próximo. Ansiosamente, abriu o porta-luvas novamente e vasculhou a
bolsa em busca de alguns centavos. Dez, vinte e cinco. Bum!
Um forte estrondo a tirou de sua tarefa concentrada, fazendo com que os centavos que ela
contava se espalhassem pelos assentos e carpete. Assustada, se virou. Algum idiota acabara de bater
nela!
Por mais zangada que estivesse, Colette arrancou o cinto de segurança. Queria ver a
identidade do motorista, mas o idiota, ou a idiota, estava com luz alta. Ia ouvi-la! “Adeus, noite de
comemoração”.
CAPÍTULO 7

Jake estava dirigindo em alta velocidade, até que chegou a uma parte da cidade que não
reconhecia muito bem. Não que as ruas de Santa Monica fossem particularmente familiares para ele,
já que morava nas redondezas havia poucos dias. Verificou o GPS. Estava no caminho certo. Embora
talvez o problema fosse que estava bastante escuro, exceto por algumas luzes de edifícios à distância.
Ele continuou sua marcha até que um golpe o fez parar imediatamente. “Que diabos?” Tinha
acabado de bater! Pior de tudo: o motorista imprudente tinha os faróis apagados. Isso só aumentou
seu mau humor. Seu Jaguar nada menos, pensou com raiva. Abriu a porta e saiu do carro para ver o
estrago.
— Você! — gritou uma voz feminina com as mãos cruzadas no peito. — É por que seus olhos
não estão funcionando bem?
“O que me faltava. Uma batida e uma mulher histérica.”
— Não acredito que você estava me esperando no meio da estrada — disse ele
sarcasticamente ao reconhecer a identidade daquela mulher, que movia os quadris sensualmente, sem
querer — e o que era ainda pior para ele, avançava brandindo o dedo indicador como se fosse a
maior ameaça do mundo. — Verde fica bem em você, baby.
Ela bufou. Odiava ser chamada de baby. O que pensava?
— Você quebrou as lanternas traseiras do meu carro, Weston — fez uma careta. — Não tem
senso de direção?
Jake apenas abaixou a cabeça e deu uma olhada. Era verdade, estavam destruídas e o que as
luzes de seu Jaguar iluminavam mostraram que o para-lama também estava amassado. Pelo menos
isso serviu para verificar o bom material de seu carro, que aliás mal tinha tido um arranhão, o que o
aliviou.
— Ah, mas foi minha culpa que você apagou os faróis em uma rua escura? — perguntou com
um tom divertido. A raiva passou quando ele viu que seu Jaguar estava praticamente intacto. — Não
acredito. — Colette se aproximou até estar encostada no capô do carro de Jake.
Ela afastou uma mecha do resto com um gesto de aborrecimento.
— Meu carro quebrou, então, devido à sua irresponsabilidade, você vai ter que me pagar os
custos do conserto.
Jake sorriu de uma forma que a alarmou. Não porque não soubesse o efeito que aquele sorriso
poderia produzir, pior quando era cara a cara, mas porque ele se inclinou na direção dela; e essa
proximidade a deixava inquieta. Além disso, estava com raiva, frustrada, porque tinha salvado não
só a pele dele, mas o programa de rádio graças à bebedeira de Kate. E agora, isso a chocava!
Ah, mas de quem era a culpa de seu celular ficar sem bateria? Dele. De quem foi a culpa pelo
acidente e pelas moedas espalhadas por todos os lados, impedindo-a de procurar uma cabine
telefônica para pedir ajuda a Damon? Dele. E quem pensava que era para falar com ela naquele tom
como se não a levasse a sério?
— Você acha? — indagou sem perder o tom engraçado da voz. Seu rosto estava a meio metro
de Colette. O cheiro másculo a alcançou. Essa força contida que Jake exalava a pegou, roubando-lhe
sua capacidade de falar.
Colie assentiu, porque não queria que sua voz vacilasse.
— Ok — ele sorriu. Plantou as mãos, de cada lado do corpo de Colette, na altura dos quadris,
sobre o capo em que ela estava encostada. Ele se inclinou até que seus narizes se encontrassem. A
viu prender a respiração e quase ficar sem folego. Ela tinha os olhos mais lindos que já tinha visto, o
brilho da luz do Jaguar mal iluminava, mas o jogo de sombras parecia suficiente e envolvente.
Estavam acompanhados pelo quebrar das ondas ao longe.
— Jake... — sussurrou Colie, vendo a expressão em sua boca e a forma como os músculos de
seus braços ficavam tensos enquanto ao apoiá-los.
— Aha?
— Acho que você deveria ficar longe.
— É mesmo?
— Mhum.
— Você não me disse que eu deveria pagar pelos danos causados ao seu carro? — ele
praticamente murmurou nos lábios dela.
— Isso...
— Deixe-me te compensar então — disse finalmente, e segurou os lábios de Colie com os
seus. Deus! Sua boca era suave, fresca e seu sabor era magnífico. Ele se inclinou um pouco mais, e
logo sua língua penetrou até ficar enterrada em sua boca, com aquele beijo devorando o ar de seus
pulmões. Foi um beijo que confundiu os dois... pelo menos no início. Em seguida, adquiriu uma
lentidão sensual e, logo, um tom íntimo.
Com um gemido, ela saiu para encontrá-lo, provando-o e moldando sua língua com a de Jake.
Foi um beijo carregado de necessidade, avassalador, e os dois deram um ao outro acesso à boca.
Ainda a beijando, Jake deslizou a mão por sua pequena cintura para segurá-la contra sua pélvis. Ele
percebeu como ela relaxou, se rendeu e se ajustou ao corpo dele, enquanto aceitava o calor do beijo.
O coração de Colette batia com a mesma força de uma máquina a vapor, como se de repente
tudo tivesse ficado mais lento e só existisse o sabor daquela boca masculina avassaladora. Ela sentiu
a mão de Jake afundar em seu cabelo enquanto ele a segurava firmemente pela cintura. Estava ciente
da firme ereção masculina.
De repente, sentiu que o tempo estava voltando ao passado. Estar em seus braços fortes era
como Paris. Naquela primeira vez que a beijou, e seu mundo balançou completamente. Exatamente
como estava acontecendo agora. Com medo de ter sucumbido a ele como uma idiota, ela parou o
beijo. Mas, aparentemente, Jake não percebeu que tinha parado de responder aos avanços dele, até
que ela pigarreou.
Como se tivesse saído de uma névoa densa, Jake olhou para ela estranhamente, ainda a
segurando possessivamente.
— O quê? — perguntou roucamente.
— Deixe-me descer daqui — sussurrou ela, pigarreando. Envergonhada por ter respondido ao
beijo. — Agora — disse com uma voz mais firme, embora seu corpo continuasse a tremer por dentro.
Jake franziu a testa quando finalmente percebeu que não havia mais vestígios da mulher
apaixonada de um segundo atrás. Olhos velados pelo desejo agora pareciam furiosos. Isso o fez
reagir, embora não rápido o suficiente, para quase tropeçar quando ela o empurrou com todas as suas
forças, forçando-o a soltá-la.
Com um salto indelicado, Colette desceu do capô do Jaguar.
Ele não iria deixá-la fugir duas vezes. A segurou pelos braços com firmeza. Ela ergueu o
queixo desafiadoramente, sem se intimidar.
— Me solta — balbuciou.
— Acredito que esse pagamento pelos imperfeitos é o que qualquer de meus fãs teria
aceitado — lentamente ergueu as mãos para colocá-las nas bochechas de Colette. — Mas você não
fez nada mal, considerando que mal me conhece, não é? — disse com intenção.
Ela podia muito bem ter escapado sob o braço musculoso e firme, mas seus pés se recusaram
a fazê-lo. “É um presunçoso.”
— Detecto uma necessidade de que adulem seu ego?
Em vez de ficar com raiva, Jake riu. Embora tivesse preferido gemer quando o vento carregou
o perfume de Colette até suas narinas.
— Eu não preciso disso, embora se você quiser — ele se inclinou para falar no ouvido dela
— você pode me beijar de novo como fez antes. Ou talvez você quisesse se lembrar — ele passou o
polegar pelo lábio inferior e Colette lutou contra a vontade de mordê-lo — como passamos aquelas
noites em Paris.
— Qual parte exatamente? — perguntou com desdém, soltando Jake. — Aquela em que você
me disse que estava se divertindo ou aquela em que simplesmente desapareceu depois de beijar
aquela mulher na minha frente? Ou talvez quando fingiu estar interessado nas coisas sobre as quais
conversamos apenas para me levar para a cama?
Ele esfregou o queixo, tentando não pensar na ereção dolorida que pressionava contra suas
calças por tê-la tão perto, tão quente e combativa. Ele havia esquecido o gênio de Colette, sua
determinação. Ok, ela se lembrava perfeitamente sua canalhice beijando outra na frente dela como
um covarde, então não teve que dizer a ela que não queria um relacionamento sério, embora ver os
olhos magoados de Colette naquela época foi ainda pior.
— Então você se lembra perfeitamente, certo?
A Colette cruzou os braços e virou a cara, zangada consigo mesma por ter falado demais.
— A coisa é que...
Jake se inclinou mais perto, gentilmente segurando o queixo de Colette e virando-o em sua
direção. Sabia que estava tentando recuperar a pose fria e indiferente com que o saudara na rádio no
dia anterior. E ele também estava ciente de que era uma reação muito natural e esperada. Afinal, tinha
sido um idiota anos atrás.
— Por que negar?
Ela ia se afastar, mas ele não a deixou. A segurou pelos pulsos.
— Não entendo por que você quer trazer isso à tona, sério. É ridículo.
— Porque eu me lembro de você — disse ele quase irritado.
Colette olhou para ele intrigada. Ele estreitou os olhos e riu.
— Por favor! Você não estava noivo?
— Você tem me acompanhado, depois de tudo — ele respondeu inclinando a cabeça para
observá-la com cuidado.
As mãos de Jake subiram para os cotovelos macios de Colie e ele a puxou um pouco mais
perto. Um pouco. O suficiente para estar perto, sem pesar, sem se tentar. Ela era linda e seus lábios
ainda estavam inchados de seus beijos.
— Ah! Você gostaria — o olhou arqueando uma sobrancelha. — Minha melhor amiga vive
para notícias de esportes e entretenimento. Impossível não saber o que acontece por aí quando eu
sempre a tenho tagarelando sobre isso e aquilo. Sinto muito, não posso ajudar a inflar seu ego.
— Terei que agradecer a sua amiga, então — zombeteiramente se manifestou.
— Em qualquer caso, não venha até mim com bobagens, está bem? É tarde e tenho que
encontrar um jeito de ir para casa. Aqui trabalhamos de manhã cedo, não como outros que chegam e
se sentam com tudo pronto.
Ele ignorou o comentário.
— Meu noivado foi um erro grave...
— Assim como foi comigo.
— ...que me ensinou uma ou duas coisas — continuou como se não tivesse dito nada. —
Sempre tentei me lembrar de você ao longo dos anos, e de repente te encontro na rádio.
— Não queira passar por esperto — tentou soar firme, mas aparentemente não conseguiu.
Jake a sentiu tremer. Não era o frio da noite disso ele tinha mais que certeza.
— Colette?
Ela o encarou.
— O quê?
— Vou beijar você de novo. — Desta vez, o beijo foi suave, possessivo e intenso, mas quando
Colette colocou as mãos em volta do pescoço dele, o gosto foi glorioso para Jake. Se deliciou com
sua boca, bebia de seu gosto e gemia contra seus lábios, ao mesmo tempo que com a mão aproximava
seu corpo feminino do dele. Se esfregou contra ela, com movimentos precisos que a deixaram
entender que ele a queria. Claro que fazia.
A sensação de ter Colette nos braços era como nenhuma outra. Claro, muitas mulheres já
haviam passado por sua cama e por seus braços, mas tê-la naquele momento assim, tão calorosa e
devotada, se sentiu confortável, consolado, como... como se estivesse voltando para casa. E essa
certeza o atingiu como um raio. Isso não estava em sua equação. Talvez tivesse muito a ver com o
fato de que ele se sentia um canalha por ela. Ela foi a primeira garota virgem com quem ele esteve —
e a única desde então. — Ele preferia uma mulher com experiência, sem vínculos nem expectativas.
Ainda não conseguia entender o que o levou a se deixar levar por Colette, quando sua inocência era
palpável na forma como beijou e reagiu. Talvez ele estivesse farto da mesma coisa, e ela era uma
lufada de ar fresco naqueles anos... e ainda é agora. Ele não queria complicar a revelação das
sensações que Colette lhe causava, mas estava claro que havia a machucado.
— Desculpe, Colie — disse ele suavemente. Ele pareceu notar uma sombra de pesar em seus
olhos femininos, mas desapareceu tão rapidamente que teve medo de tê-lo imaginado. — Eu era
jovem e estúpido.
— Você ainda é estúpido — respondeu defensivamente, apontando para o amassado em seu
velho Peugeot. Seu coração estava disparado, sua pele ardia e seus lábios estavam inchados. Fazia
muito tempo, tanto tempo, que não sentia faíscas... não, mais como fogos de artifício, ao beijar
alguém. Entrar em contato com a boca de Jake foi reviver aquela paixão ardente que nenhum outro
homem foi capaz de despertar nela. Era deprimente. Frustrante.
Ele sorriu.
— É verdade, mas não tanto mais que eu não diga que sinto muito.
Colette olhou para ele com desconfiança.
— Foi há muito tempo — disse com indiferença. As botas a estavam matando, sua adrenalina
estava subindo pelo telhado, e ter Jake Weston em uma rua praticamente vazia não era o melhor
cenário para seus nervos se acalmarem. — Não importa mais — acrescentou, mesmo sabendo que
estava mentindo. Não esperava um pedido de desculpas de Jake em mil anos. Pior vê-lo de novo... ou
tocá-lo, ou beijá-lo, ou...
— Quero que o clima seja suportável na rádio, Colette, e não será se eu tiver uma produtora
com quem compartilho algo no passado, e não sei se por acaso me odeia.
“Claro, ela era apenas mais um caso, sem dúvida. Como acontecia com sua família.” Isso a
tirou da névoa ridícula de calor que a invadiu quando o beijou. Faria bem em lembrar a si mesma que
estava com um mulherengo sem escrúpulos. Queria dar um tapa em si mesma.
— Eu não te odeio, para ter uma emoção deveria me importar com você, e acredite em mim
você me dá o mesmo que qualquer pessoa.
Esse argumento de Colette o irritou. Então ele assumiu sua postura indolente de costume.
— Eu estava dizendo isso por consideração. As mulheres geralmente...
Colette pressionou o peito musculoso de Jake com o dedo indicador.
— Ouça-me bem. Eu não sou as outras mulheres, e cometeria um gravíssimo erro ao me
confundir com elas. Sou sua produtora. A sua chefe. Se você não gostar, acredite, tenho contatos
suficientes para conseguir alguém melhor do que você. Mas se estiver disposto a seguir as regras da
rádio, então vamos nos dar bem.
— Eu só jogo pelas minhas próprias regras — ele respondeu irritado com aquela tentativa de
enquadramento.
— Você sabe, Jake? — se aproximou dele com desconfiança. — Você começa a se comportar
um pouco estranho para o Gladiador ou o mulherengo em você. Muito atencioso. O que suas hordas
de fãs e mulheres diriam?
Jake olhou para ela.
— Agora você me escuta bem — ele adotou um tom sério. — O fato de ter sido mulherengo
não significa que seja egoísta. Sempre me preocupei que minhas amantes estivessem satisfeitas...
— Oh, por favor, não tenho interesse — disse mortificada. Precisava escapar de lá.
— Então não mencione isso.
— Por que alguns homens pensam que tudo gira em torno de suas habilidades sexuais? —
levantou as mãos como se pedisse ajuda a alguma estrela perdida. — E você tem que consertar meu
carro — lembrou a ele. — Talvez seus beijos ou carícias valham a pena para seus fãs e amantes, não
eu.
Decidiu não voltar por aquele caminho, pois lhe dava vontade de saquear aquela boca
deliciosa.
— A imprudência foi sua, então não preciso.
— Que falta de cavalheirismo.
— É chamado de justiça. Se você é irresponsável o suficiente para deixar as luzes apagadas
no meio do nada e um carro bate em você, a culpa é sua.
Ela ficou rígida.
— Meu carro parou de repente! Eu não fui irresponsável! — retrucou.
— E se você tivesse chamado seu namorado no bar para vir em seu auxílio?
— Meu...? Fiquei sem bateria no celular — explicou. — E tudo para salvar sua pele. Portanto,
em vez de me acusar e não aceitar sua culpa, você deveria ser grato a mim.
— Por ter respondido ao meu beijo com tanto entusiasmo apesar de ter namorado? —
aventurou-se a dizer, voltando a adotar seu tom despreocupado, embora o que mais desejasse era
acariciar Colette. Quanto seu corpo teria mudado nesses anos?
— Ele não é meu namorado! — disse com aborrecimento. Por que ele tinha que deixá-la de
mau humor?
Jake sorriu com a ideia de Colette ser uma pessoa leal. Ele tinha certeza de que ela não o teria
beijado se estivesse com alguém.
— Ah — comentou como se fosse alguma coisa. — Então, como você salvou minha pele, Srta.
Produtora?
Ela estreitou os olhos.
— Evitei que sua foto amassando aquela mulher na pista de dança saísse nas redes sociais e
estragasse o programa de rádio antes mesmo que pudesse decolar — defendeu vigorosamente.
O sorriso sumiu do rosto de Jake.
— Do que você está falando? É um bar privado com entrada exclusiva… Quem frequenta este
tipo de local não tem o hábito de fotografar celebridades para depois expô-las à imprensa. É
nojento...
Colette olhou para ele.
— Kate. Minha melhor amiga é jornalista — foi a explicação que ela deu a ele.
Seus olhos se arregalaram e ele perdeu a pose relaxada.
— Ia vender minha foto?
— Não, ela não vende fotos. Troca por informações em primeira mão por favores como
ingressos exclusivos para bares, shows e outras coisas...
Jake esfregou o rosto. Ele protegia sua vida privada com grande zelo. Por isso, ao contrário
de antes, agora tornava discretas suas visitas a bares e restaurantes. Costumava frequentar alguns
bares, preferindo festas particulares, exceto quando, como no caso de Bacci, um amigo seu o
convidava e era um local com entrada VIP.
— Ok...
— Você vai pagar os danos? — perguntou Colette. Não porque não tivesse dinheiro, mas
queria que este homem assumisse a responsabilidade por algo. Era tão superficial que parecia não se
dar conta das coisas que estava fazendo. Bem, ela não iria consentir.
— Não. Eu concordo que você fez algo de bom para manter o programa nos trilhos, sem
conseguir as fofocas dos jornalistas de entretenimento. Então você fez isso mais por si mesmo do que
por mim. Não é certo?
— Você deveria estar me agradecendo em vez de tentar abordar o assunto conforme sua
conveniência.
— Obrigado então — respondeu como se ela tivesse dito que o céu era azul.
Isso exauriu a paciência de Colette. Queria ir para casa, mas havia apenas um carro. Então
elaborou um plano. Muito simples, mas do jeito que as coisas estavam, ia ser muito útil.
— Jake? — de repente sussurrou seu nome com tal ladainha que seus cabelos se arrepiaram.
— Huh? Por que me olha assim? — ele perguntou prendendo a respiração, vendo-a morder o
lábio sensualmente.
— Como estou olhando para você? — murmurou em um tom baixo e cadenciado.
Jake engoliu em seco quando a sentiu deslizar as mãos por suas costas, em seguida, colocá-las
em sua bunda. Ela ergueu o rosto para ele e moveu os quadris sugestivamente contra os dele. Era um
homem de pleno direito e muito humano, seu membro estava instantaneamente alerta. E suas fantasias
foram despertadas de repente. Nunca tinha feito isso no meio da rua, o cenário era ideal. Não haveria
testemunhas... E por alguma razão, a verdade é que não ligava, e Colette parecia deixá-lo beijá-la
novamente. E cara, ele faria muito mais do que isso.
Jake estava prestes a estender a mão para tocar seus seios, algo que desejou fazer a noite toda,
quando de repente ela removeu algo de seu bolso.
— O quê...!
Foi uma questão de segundos. Colette tirou as chaves do Jaguar do bolso de trás. Se virou e,
em um piscar de olhos, estava no banco do motorista.
— Droga, mulher! Abra a porta!
Ela sorriu maliciosamente para ele e ligou o motor. Apenas baixou a janela.
— Eu tenho que trabalhar amanhã. Veja como você faz para arrancar o Peugeot. Afinal, o
acidente foi sua culpa. Considere o empréstimo do seu Jaguar, um pagamento considerável. E não
espere que eu encha o tanque com gasolina, hein. Boa noite, Jake.
— Volte aqui! — ele gritou ao vê-la dar a ré, virar à esquerda e ultrapassá-lo. — Colette
Kessler, droga, venha aqui!
Inútil continuar gritando, porque aquela bruxa estava indo a toda velocidade com seu Jaguar.
Relutantemente, ele olhou para o Peugeot danificado e chutou-o. O som do para-choque
batendo no pavimento encheu o ar. Aborrecido, ele tirou o celular da jaqueta e chamou um táxi.
CAPÍTULO 8

Colette estava pronta para trabalhar. Felizmente mantinha o celular na jaqueta, não saberia
como sobreviver sem seus contatos para fazer negócios. Kate ainda estava dormindo e,
aparentemente, Damon também. Então ela terminou sua xícara de chá rapidamente e pegou o elevador
até o Jaguar que estava estacionado perto da garagem. Naquela hora, sete da manhã, seus vizinhos
ainda dormiam.
Um policial estava esperando no portal do condomínio. Isso era estranho, pensou Colette,
porque a área onde morava era bastante segura. E os únicos policiais costumavam patrulhar de vez
em quando, mas nunca ficar de guarda.
— Senhorita Colette Marie Kessler?
Parou bruscamente.
— Eh, sim. Em que posso ajudar? — perguntou com cautela, e notando que o homem tinha
todas as marcas de identificação. O oficial tinha cabelos pretos e grossos, uma barba por fazer, era
alto e pesado, e calculou que ele não tivesse mais de cinquenta anos. Como jornalista, desconfiava e
sabia que, quando se tentava um roubo ou sequestro, os criminosos podiam se passar por qualquer
profissão que melhor lhes conviesse. Portanto, estava atento a quaisquer movimentos estranhos que o
indivíduo pudesse fazer. Talvez ela não fosse páreo para o peso que ele representava, e ela estava
estudando mentalmente as rotas de fuga, caso algo pudesse acontecer.
— Eu sou o oficial Marshall — ele mostrou a ela o distintivo, que ela olhou com grande
interesse. — Vim aqui com um relatório de roubo.
Ela olhou para ele com surpresa. Agora ele tinha toda a atenção dela.
— Oh, por que está procurando por mim?
— O Sr. Jake Thomas Weston fez uma denúncia. — Colette praguejou baixinho. — Segundo
reportou você roubou um Jaguar XJ13 verde-escuro ontem por volta das duas e meia da manhã,
deixando seu dono no meio da avenida e à sem rumo. — Ele continuou com sua ladainha expondo
isso e aquilo. — E pelas evidências — olhou para o Jaguar estacionado, coçando o queixo — é
correto, senhorita Kessler.
Colette não esperava que o astuto Jake tivesse feito uma denúncia. Claro, ela não esperava
tudo o que aconteceu entre eles também, mas não iria gastar um único pensamento sobre suas
emoções sobre isso. Porque teria, claro que não.
Teve uma ideia para sair da situação.
— Este foi um erro completo, oficial.
O olhar do policial parecia dizer sim-com-certeza-me-diga-mais-sobre-isso.
— Foi? — perguntou condescendente.
Ir para a prisão era uma possibilidade que a assustava. Isso não poderia acontecer com ela,
iria manchar sua carreira, iria arruiná-la. E é claro que iria atrás de Weston, e se não tivesse mais
uma carreira, isso arruinaria sua reputação, o arrastaria na lama, o...
— Veja, policial — começou com uma voz doce. — Ontem tivemos uma daquelas brigas de
namorados. — O policial franziu a testa e olhou para o papel em suas mãos. Encorajada continuou,
— Bem, eu disse que não queria saber mais nada sobre ele, mas não é verdade. Sabe? Então deixei
claro que traria o Jaguar comigo e que de manhã, ou seja, conversaríamos sobre isso. Acho que Jake
se precipitou. Eu tinha toda a intenção de buscá-lo em sua casa hoje para devolver o carro e
consertar as coisas.
— É mesmo?
— Totalmente — respondeu inocentemente. “Talvez ela devesse ter levado as aulas de teatro
na universidade mais a sério”, ela pensou.
O homem colocou o caderno no bolso. E acenou com a cabeça para o colega que bebia um
café dentro do carro patrulha.
— Para deixar claro. Você é a namorada do Sr. Weston?
Estava prestes a ter um ataque de tosse, mas era a mentira que havia contado, então iria mantê-
la até o fim.
— Isso... isso mesmo, oficial. É meu namorado. Sim.
— Bem — soou menos severo — suponho que não terá inconveniente em que me certifique
que levará o automóvel com seu dono esta manhã. Afinal, um procedimento justo.
“Onde Jake morava?” Ela se perguntou alarmada. Não iria dar voltas por toda Santa Monica.
— Claro que não. Além do mais, vou agradecer, porque com um carro tão caro eu não gostaria
que acontecesse um acidente. Ou alguém tentasse roubá-lo.
O oficial reprimiu um sorriso que ela não pôde ver.
— Claro. Venha então, Srta. Kessler.
Dirigir o Jaguar foi uma experiência e tanto. Assentos de couro, maciez, potência, intensidade.
Quase como seu dono, ela pensou de repente. “GPS!” Ele quase gemeu de alívio com o pequeno
dispositivo irritante com o qual nunca tentou se dar bem. Naquele momento, acreditava que era a
melhor invenção da humanidade.
Respirou fundo e ligou o motor. Mal rugiu. Teria que comprar um carro novo e funcional,
lembrou a si mesmo. Não pensava correr o risco de voltar a ficar a pé em algum lugar nunca mais.
Ligaria para o caminhão de reboque para pegar seu carro. Deu a partida na maior invenção da
humanidade e deu a ordem: “casa”. Imediatamente, as coordenadas foram ativadas e ela estava a
caminho.

Jake estava vestido com um jeans Levi's que cabia nele como uma luva; e uma camisa estilosa
que se ajustava ao seu corpo tonificado, pronto para iniciar sua agenda de reuniões para assuntos de
negócios pessoais. Ele havia acordado às cinco da manhã, como fazia quase todos os dias, para
caminhar na praia. Gostava do ar puro, de respirar o perfume do mar e depois relaxar na banheira de
hidromassagem da casa para soltar os músculos.
Tinha acabado de comer a omelete quando seu celular tocou.
— Oi, Jake — cumprimentou uma voz grossa.
Ele o reconheceu imediatamente.
— Travis Marshall! — sorriu, enquanto colocava o prato na máquina de lavar louça. — Como
foi com nossa delinquente? — perguntou verificando a hora. Sete e meia da manhã.
O oficial riu.
— Eu me senti um pouco culpado por assustar uma garota tão bonita. Acho que por um
momento ela pensou em fugir — o policial estava dizendo, enquanto seguia Colette pelas ruas. — No
momento, estamos a caminho de sua casa.
— É o que aquela patife merecia por ter me largado. Obrigado por me ajudar.
— Não tem problema, garoto, sabe que sou grato por tudo que você fez para ajudar as pessoas
que sofrem de Parkinson. Além disso, a casa da Srta. Kessler estava no caminho. Acho que está um
pouco nervosa. Chegaremos em breve.
— Perfeito.
Quinze minutos depois, Jake ouviu a patrulha chegar em sua casa e também observou seu
Jaguar virando a curva da estrada principal. Depois de seus exercícios, ele ligou para seu amigo
policial, Travis. Era um bom homem. O conheceu anos atrás, durante uma das festas de caridade em
que recursos foram levantados para diferentes causas. Nesse caso, era para ajudar os portadores de
Parkinson com poucos recursos, ou possibilidades limitadas, e entre os beneficiários estava o avô do
policial.
Ele se lembrou de que Travis o abordou para agradecê-lo por seu tempo, e também alegou ser
um fã de tênis. Disse que tinha um filho de 12 anos que sempre assistia aos jogos de Jake e que ele
foi sua inspiração porque o menino disse que aspirava ser jogador de tênis quando crescesse. Desde
então, o policial disse a ele que para qualquer favor que precisasse estaria disponível. E a verdade é
que, com Colette, não hesitou em pedir esse favor.
Na noite anterior, ele havia tomado uma decisão. Queria tirar de Colie todas as razões pelas
quais ela se recusava a parar de ficar distante ou na defensiva com ele. A maneira como ela
respondeu aos seus beijos, todo calor e generosidade, quase o deixou louco. Mal conseguiu dormir e
naquela manhã havia se exigido o dobro de exercícios para tentar exaurir seu corpo o suficiente e
esquecer a sensação de placidez que sentiu ao tê-la em seus braços. Aproveitaria todas as frentes
para derrubar suas barreiras. Talvez isso o ajudasse a mantê-lo alerta quando descobrisse o que
diabos precisava para preencher aquele vazio incômodo que sentia. Colette não poderia ser
considerada um caso de uma noite; ela era mais do que tudo, um desafio atraente. E ele adorava
superar a corrida de obstáculos da vida.
O olhar furioso de Colette, quando abriu a porta para encontrá-la cara a cara, não o
surpreendeu.
— Senhorita, obrigado por colaborar — o oficial Marshall disse. Então se virou para Jake. —
Ela disse que era apenas uma briga de namorados. — Jake ergueu uma sobrancelha, ela corou e
desviou o olhar. — Eu acreditei nela, pois a Srta. Kessler trouxe seu Jaguar sem questionar, Sr.
Weston.
— Uau, obrigado oficial — Jake disse apertando a mão e parecendo se divertir com Colette.
— Pois é, sim, foi uma briga boba de amantes, vamos nos reconciliar não é, meu amor? — ele
perguntou, puxando-a pelos ombros com seu braço forte e musculoso, em seguida, erguendo-a
ligeiramente em sua direção e dando-lhe um beijo profundo, o que fez Travis limpar a garganta para
esconder um sorriso. “Afinal, depois de lutar com os bandidos, foi bom ajudar um bom amigo”,
pensou o oficial enquanto se afastava.
Quando teve certeza de que o policial tinha ido embora, Colie deu um empurrão em Jake. Sua
reação foi rir com vontade, como queria, já que mandou seu amigo policial ir buscá-la no lugar onde
ela morava.
Mal-humorada, jogou as chaves do Jaguar na mesa da aconchegante sala de estar. Era uma
bela casa. Acolhedora, espaçosa e com detalhes em madeira.
— Acho desprezível o momento ruim em que você me fez passar, Jake.
Ignorando-a, ele foi para a cozinha e logo voltou com uma xícara de café. Ofereceu a ela.
Relutantemente, ela aceitou, porque a verdade é que havia passado um susto. Para evitar falar com
ele, começou a beber. Estava delicioso. E não apenas o café, ela pensou consigo mesma, sem poder
evitar. Com aquela Levi's justa, sapatos elegantes e aquela camisa azul marinho que realçava o olhar
cinza, Jake estava devorável.
— Você me largou em uma rua escura — disse com um sorriso quando ela deu de ombros,
aceitando a culpa. — Gostou do café?
— Tem gosto de glória — respondeu ela com sinceridade, olhando para ele por cima da
borda do copo. — Acho que foi sua governanta ou algo assim.
Ele balançou um dedo na frente dela da esquerda para a direita.
— Não. Eu moro sozinho, mas ao longo de minha carreira assumi a responsabilidade de me
alimentar. Eu sigo meu próprio ritmo de nutrição. Uma das coisas que mais gosto é um bom café, ou
um chá quente à tarde quando esfria. Do lado de fora tenho lareira e um terraço muito acolhedor,
permite-me ter privacidade e conforto.
— Então você faz tudo sozinho? — ela perguntou intrigada, por considerar Jake uma criança
mimada. Ela se sentia estranhamente segura por estar com ele, mas seus alarmes estavam ligados. A
casa era muito bonita e agradável aos olhos; na verdade, teria esperado uma decoração mais
espartana, visto que um solteiro morava ali, mas ficou agradavelmente surpresa com o quão
aconchegante e familiar era. Na verdade, estava morrendo de vontade de ver aquele terraço
maravilhoso.
Ele assentiu.
— Não tenho tempo para fazer uma limpeza pesada ou essas bobagens. Uma empresa cuida
disso duas ou três vezes por semana. O resto eu faço do meu jeito. É também uma casa nova, por isso
não tem muito o que arrumar. Na verdade, você é a primeira pessoa a vir aqui. Minha mãe e meu
sobrinho estão em Delaware, então acho que virão mais tarde.
— Eu não sabia que você tinha um sobrinho.
Jake sorriu ao se lembrar do menino.
— Brad é um menino muito inteligente. Imagino que sua amiga, a fã do programa, tenha lhe
contado em algum momento que parte da minha família morreu em um acidente de carro anos atrás.
— Ela assentiu e sussurrou “Sinto muito”. — Obrigado. Tudo o que tenho é minha mãe e Brad. Eu
cuido da minha privacidade ao máximo por esse motivo — afirmou veementemente.
Ela fez uma careta lembrando-se das manchetes ultrajantes que havia lido sobre as festas de
Jake. Ele pareceu ler sua mente, quando disse:
— Eu costumava ir de festa em festa é verdade. Não me importava com nada. Estava
determinado a me divertir. Depois que me afastei das quadras, nada fez sentido — comentou com
uma ponta de raiva ao lembrar-se de ter sido forçado a abandonar o que mais gostava de fazer na
vida. — Então aconteceu o acidente e sou praticamente a referência paterna de Brad, e não gostaria
que meu sobrinho crescesse com um mau exemplo.
— Você é um bom tio.
Ele encolheu os ombros.
— Minha família é tudo para mim — ele respondeu como a única resposta.
“Como poderia continuar a guardar rancor de Jake quando encontrou aquele lado protetor e
judicioso com o dele?”
— Por que você está sendo tão... legal? — perguntou intrigada.
— Porque você parou de ser mandona, aceitou meu café e está linda.
Colette começou a tossir e ele estendeu a mão para dar um tapinha nas costas dela.
Gentilmente tirou a xícara da mão dela e a colocou em um banquinho ao seu alcance.
— Vejo que não acredita nos meus elogios — comentou acariciando a bochecha dela com o
polegar. Gostava de sentir como sua pele era lisa e, ao contrário de outras mulheres, não usava
excesso de maquiagem. Ainda assim, ela conseguia ficar deslumbrante.
Colette não tinha motivo para discutir. Naquela manhã, estava vestindo uma saia laranja, uma
blusa branca, sua legging preta, botas e um casaco laranja. Bonita? Tinha certeza de que as mulheres
com quem ele estava acostumado eram deslumbrantes e magras. Nada a ver com ela. Jake deve ter
namorado mulheres no estilo de suas irmãs. Talvez se as conhecesse, estaria genuinamente
interessada em um deles, porque Moira e Lizzie, ainda que casadas, retinham aquele ar de
sensualidade e elegância que ela nunca possuiria.
Por outro lado, odiava ver aquele lado charmoso de Jake, porque não conseguia resistir. Ele
criou uma atmosfera que a convidava a querer conversar e desabafar. Exatamente como quando lhe
contara as loucuras que fizera para tentar punir os pais, depois de tantas críticas que recebeu. Ele era
compreensivo e até fazia piadas que tiraram a tensão dela e a predispunham a acreditar no melhor
dele. E talvez aí estivesse seu erro, ao permitir que chegasse às suas reflexões mais pessoais,
convidando-a a expor seus ressentimentos familiares, suas inseguranças femininas. Jake havia sido
avassalador, persuasivo e insistente. Em seus braços ela se sentiu a garota mais sortuda do mundo;
acreditava que finalmente havia encontrado alguém que a aceitaria como ela era, sem questioná-la ou
fazê-la se sentir inadequada. Na manhã em que ele a deixou sem dizer uma palavra, sabia que havia
cometido um erro muito sério.
Agora, seis anos depois, estavam sozinhos mais uma vez; e aparentemente isso estava
começando a se tornar um hábito impróprio, que ela tinha toda a intenção de quebrar.
— Jake — olhou para o relógio. — Eu tenho que ir para o escritório. Não gosto de me atrasar
— manifestou colocando as mãos nos bolsos do casaco.
— Antes de ir, quero ter certeza de que me desculpou por deixá-la sem um bilhete, ou mesmo
a decência de lhe dizer que não poderia continuar um relacionamento com você em Paris. Eu gostaria
de encerrar esse capítulo — ele disse sinceramente olhando nos olhos dela. — Vamos começar um
novo.
“Deus, por que deu a Jake a habilidade de ser atraente?”
Jake se inclinou um pouco mais perto e sorriu. Não era tola e captou perfeitamente as nuances
de sua voz. A intensidade daqueles olhos cinzentos a oprimiu. Estava ciente de que, além da
honestidade na declaração de desculpas de Jake, havia também um tom óbvio de desejo sensual.
Podia sentir em cada poro de sua pele; a química era inevitável.
— Eu...
— Tem medo de que eu derrube essa barreira opressora e hostil que você ergue ao seu redor e
veja a doce garota que conheci? É isso? Tem medo de que veja sua vulnerabilidade? Porque, deixe-
me garantir que somos todos vulneráveis de alguma forma, você não é a única...
Ela corou e reagiu exatamente como Jake esperava.
— Eu ainda sou a mesma de sempre. — Limpou a garganta quando estreitou os olhos em
descrença. — Eu concordo. Vamos deixar o passado onde está — estendeu a mão para Jake. Para o
seu dever de mostrar aos seus que, como jornalista, era séria, preferia deixar as más recordações de
fora. Jake estava firmando uma trégua, e ela pensava aceitá-la de boa vontade. — Trato feito?
Com uma risada, a puxou pela mão atraindo-a para ele.
Jake observou com prazer as pupilas de Colette escurecerem e a maneira sensual como seus
lábios se separaram. Uma visão como nenhuma outra. Colie poderia rejeitá-lo e fingir tanta
indiferença quanto quisesse, mas as faíscas e o desejo que surgiram eram tão intensos nela quanto
nele.
Ele abaixou a cabeça e a beijou. Acariciou seus lábios com os seus, delineando-os, correndo
sobre eles, uma, duas, três vezes. Colette prendeu a respiração, mas não se afastou. E esse padrão
permitiu que Jake fizesse um avanço mais ousado. Começou a desabotoar o casaco um a um, com a
mesma lentidão com que se deliciava com o sabor daquela boca deliciosa.
Colie sentiu a boca quente e faminta de Jake na dela. Seu cheiro quente a envolveu
completamente, cativando-a. Ele aprofundou seu avanço quando ela soltou um gemido de prazer. A
explorou com entusiasmo, dando um novo significado à palavra beijo. Quando Jake conseguiu
desabotoar todos os botões do casaco, foi impossível para ela não se curvar para se agarrar àquele
corpo robusto, forte e atlético.
Sentiu como aquelas mãos quentes e grandes abraçaram a plenitude de seus seios, roçando os
polegares sobre seus mamilos doloridos de desejo, eretos e prontos para serem mimados por aqueles
dedos que começaram a pressioná-los e torturá-los no tecido macio de sua blusa e sutiã de renda.
— Você tem seios perfeitos — ele sussurrou enquanto começava a beijar suas bochechas,
pescoço e massagear aqueles bicos generosos, — e adoro sentir o peso entre minhas mãos. São
deliciosos.
— Jake... — murmurou com um gemido, rendendo-se à paixão que os envolvia. Para a
eletricidade que vibrava no ar.
— Deixe-me olhar você, querida — disse ele antes de continuar seu beijo e jogar o casaco no
chão. Fez contato com o olhar velado de Colette, então deslizou as mãos sob sua blusa branca,
maravilhando-se com a pele macia de sua barriga, — Vou beijar cada centímetro da sua pele, Colette
— afirmou em uma voz profunda e sensual, esquecendo-se de tudo que era para não ficar atento a
cada reação da bela mulher em seus braços.
— Sim... — ela sussurrou, acariciando os braços de Jake. Eram fortes, sólidos e, ao mesmo
tempo, ela se sentia extasiada com a maneira como aquelas mãos tocaram sua pele e subiram aos
poucos até que se acomodaram logo abaixo de seus seios. — Este... este não é o negócio do qual
estávamos falando — conseguiu dizer em um tom quase inaudível, quando os dedos de Jake
encontraram o fecho frontal de seu sutiã, mas em vez de soltá-lo, ele abriu os dedos para inseri-los
no bojo de rendas macio, até tocar os dois mamilos e apertá-los entre o indicador e o polegar,
criando em Colette uma insuportável necessidade de que a tocasse mais, muito mais.
As pernas de Colie pareciam moles, seu sexo queimando e inchado, e ela ansiava há muito
tempo por matar aquela sede. Precisava dele para despi-la, tocá-la, tomá-la. Era um absurdo negar a
si mesma como ele sempre a afetara, qualquer notícia dele, e a verdade é que assistir isso na
televisão era um prazer masoquista de sua parte. Porque embora se ressentisse dele, não parava de se
perguntar por quê. Agora isso não importava mais. Afinal, a memória de Jake nunca havia perdido
sua nitidez, talvez sua intensidade, mas agora parecia redobrar com vigor a força da paixão que
haviam compartilhado.
O toque de um telefone os interrompeu de repente.
Respirando com dificuldade, se entreolharam, e uma onda de emoções se desenrolou entre
eles. Com um gemido, Jake deslizou as mãos pelas costas de Colette, puxando suas nádegas contra
ele. Acariciou aquela bunda tão gostosa ao toque, apertou e ela retribuiu o favor, pegando com a mão
o fecho do jeans onde a ereção masculina era evidente. Acariciou o tecido que parecia inexistente
para Jake, pois o calor daqueles dedinhos parecia penetrar no tecido da Levi's. Ela sussurrou seu
nome, antes de permitir que ele devorasse sua boca novamente, engajando-se em uma batalha
prazerosa, deliciosa, convincente e sugestiva.
O telefone continuou tocando.
— Droga — Jake murmurou. Era seu celular. Olhou para Colette, as bochechas dela coradas,
os seios subindo e descendo com sua agitação. — Isso não vai ficar assim — sentenciou olhando
para ela com desejo absoluto.
Ela mordeu o lábio e ajeitou a blusa, pois Jake a puxou sobre os seios, para que pudesse tocá-
la e senti-la.
— Eu... — provou seus próprios lábios e ele quis gemer de frustração. — Tenho que ir, Jake...
Vou chamar um táxi e...
— Nada disso — Jake respondeu. Eu vou te levar. — Com um gesto, pediu que ela esperasse
um momento. Não a soltou, pelo contrário, com a mão livre a pegou pela cintura e deu-lhe um beijo
suave antes de atender a chamada.
Gordon estava dizendo que ele precisava se organizar, porque em uma semana haveria um
jogo beneficente para os afetados por um terremoto na Ásia. Algumas estrelas do tênis estavam se
reunindo e queriam que ele participasse.
— Parece bom para mim, mas não quero que a imprensa se intrometa nos meus negócios.
Quando eu precisar deles, irei usá-los, não eles a mim.
Seu agente riu.
— Ah cara, você tem o melhor agente. Deixe isso comigo.
— Por isso eu pago você. Até mais Gordon.
Ele se virou para Colette, que o observava, mais composta agora, mas com os olhos um pouco
envergonhados. Sua consciência estava pelo menos mais calma. Não sabia por que, mas a opinião
dela sobre ele importava. Era ridículo, já que sempre viveu de acordo com suas próprias regras. O
fato de ela ter aceitado suas desculpas pelo passado o fez se sentir leve.
Era engraçado como beijar Jake a fazia se sentir viva, alerta, sensual, esperançosa, mas sabia
que sua prioridade envolvia mostrar a sua família que ela poderia tomar decisões acertadas,
independentes e sérias. Confundir as coisas com Jake, por mais bonito e sexy que fosse, podia custar
caro. E Jake Weston não valia o preço de arruinar as chances da Oxigen California e tudo o que
estava envolvido por trás disso para ela.
— Jake — disse com um tom vacilante. Ele colocou o telefone no bolso e olhou para ela com
aqueles olhos penetrantes da cor do aço. — Eu não quero que isso aconteça de novo...
Ele continuou silenciosamente, forçando-a a completar sua ideia.
— Quer dizer... isso, nos beijarmos ou nos tocarmos — suspirou. — O mais importante para
mim é o projeto da rádio. Todas as minhas expectativas estão nele. Prefiro — terminou de abotoar o
casaco — que mantermos distância e apenas trabalharmos juntos. Não quero escândalos, não quero
problemas...
“Lá estava ela de novo, a mulher contida e defensiva”, Jake notou.
— Por que você nega a si mesmo o prazer de desejar e desfrutar? — perguntou intrigado por
como estava queimando em um momento e frio no seguinte. — Já deixei bem claro para você — ele
colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela, ela não se afastou. — Eu quero você e sei que
também me quer. Você concordou em deixar o passado para trás. Não quero desculpas, não estou
interessado em um caso de uma noite. Você pode lidar com um caso em um prazo que seja
confortável para nós dois, Colette?
— Não acho que seja o melhor...
Ele sorriu. Sabia que estava lutando consigo mesma. Conhecia em primeira mão a natureza
sensual dessa mulher e ficou muito feliz em saber o que fez com que sua represa explodisse ao tocá-
la e beijá-la.
— Pense — gentilmente colocou as mãos nos ombros dela e se inclinou. — E independente da
resposta que você me der, acredite, farei uma campanha para enfraquecer seus argumentos se você
recusar — disse com uma voz firme e sedutora.
Esse era o Jake que Colette se lembrava. Determinado e insistente. Quando queria algo, ele ia
sem hesitar. Ela já havia sido cativada por essa determinação antes. Agora o tinha de volta ao seu
redor, e embora isso lhe desse uma sensação de segurança, isso não era o equivalente a confiança.
Não era mais a garota idiota e idealista que acreditava ou esperava finais felizes para todo o sempre.
Seu coração estava blindado, era mais forte, mas tinha certeza de que as habilidades persuasivas de
Jake haviam melhorado com o tempo, e agora que sabia que ela correspondia a seu desejo, o usaria
contra ela.
— Eu não confio em você — enfatizou em voz alta o que estava pensando. — E isso não tem
nada a ver com seduzir ou ser seduzida.
Se ele estivesse no lugar de Colie, não precisaria confiar, apenas desejar e ser desejado. Os
homens em face da luxúria funcionam de maneira diferente. Porém, sua missão era convencê-la a se
tornarem amantes novamente, já com plena consciência de ambas as partes do tipo de negócio que
estavam fazendo. Ou seja, uma aventura com prazo de validade, mas com um caráter exclusivo.
— Você vai negar que me quer, então?
— Eu tenho que ir a rádio — respondeu de volta. Por que discutir? Mesmo que ela não
quisesse admitir, já sabia qual seria o resultado das tentativas de persuasão de Jake... Em qualquer
caso, esperava que a sua resistência durasse o máximo possível. — Alguns de nós trabalham em
horário normal, sabe?
Jake a observou por alguns segundos em silêncio. Deixaria o assunto por enquanto. Já havia
feito uma descoberta. Encolheu os ombros, dando-lhe um sorriso carregado de promessas. Nenhuma
dessas promessas levou Colette a acreditar que ele poderia jogar limpo para atingir o objetivo. Quer
dizer, ela.
CAPÍTULO 9

Quando Jake descobriu que Colette realizava uma reunião de pauta matinal em dias de
programa, insistiu em comparecer. Então teria uma desculpa para vê-la nos três dias que ia a rádio
apresentar o programa, duas vezes; uma pela manhã e outra à tarde. Claro, ela lhe disse que não era
necessário, mas ele não cedeu.
A pequena força-tarefa dedicada à Oxigen California, Zack e Deirdre, apoiou a moção de
Jake. Desde então, aparecia pontualmente às dez da manhã com seu jeito elegante de se vestir, aquele
andar despreocupado e usando seu sorriso familiar que fazia, instintivamente e sem motivos, Colie
cruzar as pernas com firmeza. Costumavam se encontrar em uma sala minúscula e, por causa do
espaço apertado, era impossível que a presença de Jake não causar estragos em Colette.
Além de como sua respiração perdia a normalidade cada vez que Jake falava com ela naquela
voz profunda e cadenciada, como se fosse um segredo íntimo, Colie percebeu que estava feliz com o
desenvolvimento do programa, e isso que tinham apenas duas semanas no ar. Cada sessão tinha uma
entrevista especial agendada. Ou um artista, um grupo ambientalista ou um porta-voz de uma entidade
que era interessante. Era um pequeno segmento das entrevistas, de apenas seis minutos, mas Colette
percebeu que era o momento em que o maior público sintonizava. Isso lhe dava uma pauta de tentar
conseguir entrevistados com histórias talvez um pouco mais polêmicas, embora ainda não tivesse se
decidido, pois tentava manter a linha de equilíbrio e sobriedade em sua revista de rádio. Sua revista.
Aquela sensação de estar no comando e realizar um projeto tão importante sendo uma novata era
encorajadora.
Embora, claro, nem tudo fosse admiração e entusiasmo. Pelo menos não quando se tratava de
Jake, e dos toques "acidentais" que tinha com ela: uma carícia disfarçada no ombro, se inclinava
muito para falar em seu ouvido quando não havia necessidade de murmurar ou quando fingia que não
roçou os dedos nos dela ao passar. Isso estava começando a solidificar sua determinação de se
afastar dele. “Maldito homem”.
Certa manhã, Jake acompanhou Colette até o escritório após o término da reunião temática.
Normalmente, depois de terminada a sessão, ele ia embora para fazer o que tinha que fazer, longe da
Rádio Costa Azul. Mas naquela sexta-feira, não. Naquela sexta-feira, tinha uma proposta para
aumentar ainda mais a audiência do programa.
— Adivinha, Srta. Produtora — ele disse em um tom insolente.
— Não me chame assim, Jake. Ok? — pediu abrindo a porta que dava para seu pequeno
escritório.
Ele se encostou na soleira enquanto Colette se acomodava atrás da mesa e organizava seus
papéis.
— Você deveria me dar um sorriso que não seja hostil.
— Eu não lhe dou nada, sou simplesmente a chefe aqui. Entendido? — Ele apenas sorriu e
encolheu os ombros. — Tenho muito o que fazer e meu dia está apenas começando. Então me diga o
que aconteceu — estalou os dedos. — Já sei! Você vai parar de vir às reuniões de pauta, é isso? —
perguntou esperançosamente.
— Não, claro que não. Gosto de estar em certos processos e acho interessante ver você
trabalhando e planejando — respondeu ele com seu sorriso preguiçoso. Ela teria desejado apagá-lo
de seu rosto, mas a verdade é que teria cometido um crime contra o sexo feminino. O sorriso de Jake
Weston poderia derreter o iceberg mais pesado.
— Organizei um evento para melhorar a imagem desta rádio, dando-lhe mais exposição na
mídia. Então pode ver que não me dedico apenas a olhar para suas admiráveis qualidades — Colie
olhou para ele com advertência, mas isso não impediu um rubor que ele não sentiu — e quero dizer
as profissionais, é claro.
— Claro — resmungou ele. Jake cruzou os braços. Ela o olhou interrogativamente e então se
acomodou em sua cadeira gasta. Teria que pedir a Francis para dar-lhe um orçamento extra para itens
básicos como uma poltrona e uma mesa sem avarias. — Te escuto.
Ele deu um passo à frente e se sentou em frente a Colette, que por sua vez sentiu o pequeno
espaço físico encolher ainda mais.
Jake havia tentado durante essas duas semanas fazer com que Colie se acostumasse a tê-lo por
perto. Depois daquelas carícias e beijos em sua casa, percebeu como evitava tocá-lo, ou olhá-lo nos
olhos quando estavam saindo do programa, antes que ele saísse para cumprir seus compromissos e
ela se isolasse em seu escritório para fazer uma análise da transmissão do programa. No entanto, a
maneira como Colette prendeu a respiração pensando que ele não notava quando estavam próximos,
deu-lhe a satisfação de confirmar que não era só ele que era torturado pela química inegável entre os
dois.
Colette parecia alheia ao quão bonita era, e talvez isso a tornasse ainda mais atraente aos
olhos dele. Ela não tinha poses, nenhum artifício, e era delicioso vê-la corar cada vez que a cutucava
com alguma coisa. Ele tinha que ganhar sua confiança; disso era consciente. Não era o cara burro de
seus vinte anos, e ela iria descobrir. Isso se aplicaria até que ele fizesse Colie baixar as defesas
novamente, mas desta vez definitivamente.
— Meu amigo Hugh Hefner — Colette estreitou os olhos, porque não tinha certeza se gostaria
do que viria a seguir. — me convidou para o café da manhã ontem pelos velhos tempos. E eu
comentei com ele que estava tentando ser discreto, mas por uma boa causa — ele abriu os braços
como se estivesse cobrindo a sala — como nesta rádio, não me importaria um pouco de
reconhecimento.
— Direto ao ponto, Jake.
Colie queria que ele saísse do escritório logo. Estar perto de outras pessoas, podia lidar com
isso, mas estar sozinha com ele era algo totalmente diferente. Ele a atormentava desde o dia em que
mandou o policial procurá-la em sua casa. Tentou esquecer sua presença, mas não foi tão fácil
quando ligou para ela para perguntar bobagens, ou quando — como agora — foi buscá-la no
escritório para qualquer ideia que passasse por sua mente. Em uma ocasião perguntou a ela sobre a
possibilidade de convidar um cantor que era seu amigo, ela o deixou em paz e deu sinal verde para
ele. Posteriormente, apareceu perguntando se lhe parecia adequado entrevistar um amigo que se
dedicava a fazer strip-tease, desta vez controlou seu temperamento e a deixou saber que uma revista
de notícias não era sinônimo de uma categoria restrita ao público. E assim, a cada vez, surgia com
um novo absurdo. Talvez fosse um masoquista, mas ela se divertia com a maneira aparentemente
inocente como ele deixou escapar seus comentários. Sabia que estava tentando se aproximar dela,
mas não queria voltar a ficar na sarjeta, uma experiência era o suficiente. Não podia confiar em Jake.
Portanto, o mais saudável era manter distância. E não apenas porque ele poderia ser prejudicial para
sua sanidade, mas porque ela mesma duvidava de sua capacidade de rejeitar quando se tratava de
Jake Weston.
— Como você pode ser tão mandona... — sorriu inclinando a cabeça. Algumas mechas de
cabelo loiro escuro se agitaram. Ela quis levantar a mão e arrumá-los.
Jake havia proposto um caso. Ela não era uma idiota, pior ainda, puritana, mas não queria
mais perder tempo. Namorou alguns caras e, pelo que se lembrava, dormiu com dois. Péssimos
amantes, e não se considerava uma mártir. Sabia que com Jake tudo seria fogos de artifício, e
combustão daquelas selvagens e escaldantes, mas ela estava resistindo a brincar com fogo. Em Paris,
acreditou que o que haviam criado juntos em tão poucos dias era precioso e único, mas Jake a
desapontou.
Agora parecia que as cartas estavam claras em ambos os lados, ou pelo menos no de Jake,
porque a única coisa que ela sabia era que não permitiria que jogasse com ela novamente. Não podia
arriscar a colocar seu coração em apuros.
— Me pagam para trabalhar para não sair para jantar com celebridades ou coelhinhas da
Playboy — respondeu com desdém à ideia de Jake brincar com as mulheres perfeitas de Hugh
Hefner. Tinha pensado durante aquelas semanas que se reencontraram, que o garoto paquerador da
França que os tabloides falavam frequentemente, não existia mais. Não sabia por que estava tentando
encontrar qualquer lacuna de seriedade em Jake. Estava sendo uma idiota.
— Ah, mas eu não disse tal coisa sobre jantar com coelhinhas — ele piscou quando percebeu
que Colie não achou graça que ele pudesse estar brincando com outra mulher. Isso era interessante,
Jake pensou. Pelo menos para alguém que estava tentando escapar a cada dois por três. — Veja,
vamos dar uma festa no clube Stolish, está muito na moda, e vamos convidar muitos atores e, claro,
as coelhinhas que Hugh tão gentilmente pode arranjar para comparecer. — Ela revirou os olhos para
ele, o que fez Jake sorrir. — A questão é ...
— A questão é — disse levantando-se e interrompendo-o — estou ocupada, Jake, por vir
ouvir ideias infantis de dar uma festa com mulheres seminuas só para saciar sua libido em
homenagem a suposta ajuda que quer oferecer a rádio.
— Eu posso fazer isso sozinho. Não é necessário que a rádio coloque um centavo, tenho
muitos amigos que...
— Até mais, Jake — cortou secamente.
— Isso é um não? — perguntou sem esconder um tom falsamente ofendido.
Ela estreitou os olhos.
— É um retumbante não.
Os problemas com seus pais continuavam tão tensos como sempre. Às vezes, simplesmente
preferia não falar com eles, mas também não podia deixar o telefone tocar sem parar. Isso é o que ela
gostaria de fazer de qualquer maneira, quando seu pai ligou enquanto terminava seu almoço. Phillip
explicou que Alexandros decidira morar nos Estados Unidos na maior parte do tempo e que era bom
para ele que, afinal, o hobby de ser jornalista tivesse valido a pena na festa de aniversário em que
falou com Nikos. Como não poderia doer que seu pai a desprezasse assim?
Doeu-lhe saber que tinha o apoio dos amigos, mas não de quem queria. Não conseguia
entender as críticas constantes de sua família. Ela se considerava uma mulher forte, mas durante a
adolescência, quando viveu aquele período rebelde de cabelos pintados e namorados excêntricos, a
ideia de tomar remédio para dormir e esquecer o mundo, e a incompreensão, tornou-se atraente para
ela. Se não fosse pelo calor da família Blansky, talvez tivesse feito.
Às vezes, não entendia como havia conseguido viver em um ambiente tão pouco próximo.
Graças a Deus, Kate nunca falhou com ela. Damon foi uma adição fantástica. O que não entendia
eram os constantes convites para jantar ou dançar, que fazia ultimamente, ou também aquelas
sugestões para passear sempre que a visse em casa. Não que isso não fosse algo comum entre os
mortais, mas que Damon, primeiro, não gostava de andar e, segundo, dançar não era sua praia. Se por
acaso, estava começando a entreter a ideia de pegar algum assunto sentimental com ela, teria que
falar sobre isso seriamente. Tinha problemas suficientes para tentar abrir espaço para si mesma como
jornalista na cidade para ferir os sentimentos de Damon, se as suposições que estava fazendo
estivessem corretas. Realmente esperava que estivesse descobrindo tudo sobre Damon.
A noite de sábado finalmente chegou e Colie queria dar um passeio no cais. Embora não fosse
exatamente temporada de praia, muitos turistas costumavam vir a Santa Monica. A praia quando não
estava lotada era maravilhosa e a brisa do mar era sempre perfeita para os pulmões.
Vestiu jeans justos, botas, uma blusa azul clara e uma jaqueta de couro. Prendeu o cabelo em
um rabo de cavalo confortável, usou brincos de prata e um pouco de brilho labial. Colocou a câmera
digital em sua bolsa. Sempre havia alguma imagem boa para capturar; gostava de fotografar. Gostaria
de ter ido com Kate, mas os Blanskys estavam visitando parentes em outro estado no fim de semana,
acompanhados pelos pais.
Estava prestes a colocar a bolsa no ombro quando ouviu uma batida na porta. Com uma
carranca, se aproximou para espiar pelo olho mágico. “Não pode ser possível”.
— Estou prestes a sair, o que você quer Jake? — perguntou de dentro.
Jake queria que ela parasse de fingir que nada estava acontecendo entre eles, então ele tinha
uma proposta que Colette não poderia recusar. Foi uma ideia maravilhosa que teve.
— Venho para lhe oferecer a oportunidade da semana. Na verdade, se você jogar bem as
cartas, pode torná-lo o melhor hit desde que começou seu trabalho na rádio.
Ela franziu o cenho.
— Diga-me do que se trata.
Ciente de que Colette o observava, deu um sorriso radiante. Estava vestido casualmente.
Afinal, quando ia a uma festa em sua própria casa, ficava mais relaxado.
— Conversar com portas ou objetos inanimados não é a ideia de um bate-papo agradável. Eu
poderia divagar aqui, mas acho que seus vizinhos não vão gostar quando eu começar a gritar algumas
das ótimas ideias que tenho para você e para mim, se é que algo...
A porta se abriu rapidamente. Ela não queria fofoca dos vizinhos.
— Obrigado por me convidar a entrar — disse ele, sem ser convidado precisamente. — Você
está muito bonita — elogiou quando esteve dentro do departamento.
Colie fechou com relutância, sem responder. Cruzou os braços, enquanto Jake olhava ao redor.
Jake gostou imediatamente do calor que o lugar exalava. Simples, pintado em tons de branco e
pêssego, assentos de couro, uma pequena, mas bem equipada cozinha e uma varanda. Tudo
combinava com a personalidade pragmática de Colette e a falta de artifício. Era um lugar limpo e
muito agradável. Ele notou alguns porta-retratos. Ela e uma amiga apareciam em várias fotos,
deduziu que era a perseguidora compulsiva de celebridades e fofoca de celebridades.
— Kate? — perguntou ainda de costas para ele e apontando para uma das pinturas à distância.
Colette captou sua imagem. Estava muito atraente com as calças pretas justas e a camisa roxa
que combinava com seu corpo atlético. Se lembrou de que cada centímetro de pele cobria
incontáveis músculos perfeitamente definidos. Às vezes, ter uma boa memória visual e sensorial
pode ser uma tortura, disse a si mesmo. Mas ela não deixou de notar que Jake agora parecia mais
imponente e duro, como se sua força física fosse mais letal.
— Aha. Está fora no fim de semana, acho que quando eu contar a ela que você esteve aqui, vai
reclamar — riu. — Para que Kate não diga que sou uma má amiga, confesso que ela quer que você a
apresente a Patrick Lombardo. Você pode fazer isso?
Ele se virou.
— Ele tem namorada, caso sua amiga tenha esse tipo de interesse. — Colette não poderia lhe
dizer que Kate tinha um acervo de fotos, vídeos, pôsteres e quantos livros biográficos havia de
Lombardo. — Mas ele é um cara muito legal. Com certeza não se importa em aceitar uma refeição ou
algo assim. Eu posso conseguir.
— Namorada? Ele não é tão mulherengo quanto...?
— Eu? — completou com humor. Ele poderia não fazer mais escândalos na mídia, mas a
reputação de playboy não sumia da noite para o dia, e pior ainda contra uma mulher que testemunhou
em primeira mão o que ele tinha sido. Colette não precisava saber de suas intenções de parar de
brincar com mulheres.
— Sim.
Ele não respondeu imediatamente, mas notou outra fotografia onde havia um menino que em
sua opinião estava olhando com muito interesse para Colie. Ele franziu a testa.
— Bem, aparentemente recentemente encontrou alguém que o fez quebrar esse padrão de ir de
mulher em mulher — disse com um certo toque irônico.
— Esse padrão é chamado de amor Jake.
Ele não pôde deixar de fazer uma careta. Estavam sozinhos, então o menor gesto era absorvido
pelo outro.
— Uma estupidez.
— Você não acredita no amor? — perguntou com uma carranca. Talvez em sua vida familiar
faltasse amor, mas ela acreditava. Era uma otimista. Havia recebido golpes e decepções, mas não
havia deixado de acreditar no amor. Que a chamassem de ingênua, mas não iria passar a vida sendo
cínica e amarga. Quando algo ruim acontecia, trazia coisas boas também. Às vezes eram
experiências, outras, pessoas ou situações que ofereciam uma nova perspectiva de vida.
— Paixão é a única coisa que tem plena satisfação e com as condições à mesa; vai por prazer
e encontra prazer; fora da cama, o resto não importa — respondeu ele.
— Uau, Jake — respondeu suavemente com o tom masculino mordaz. — Eu não sabia disso...
— É melhor não tentar fazer conjecturas, Colette — decidiu sem um pingo de gentileza. —
Não acredito no amor. É para idiotas. Eu me tornei um uma vez e aprendi minha lição.
“Inferno, como chegaram a esse ponto ridículo?”, pensou Jake.
— Eu sinto muito por você. — A ideia de saber que uma vez ele amou tanto, a ponto de se
magoar e não querer saber sobre o amor, entristecia-a. Ela tinha certeza de que a mulher que
machucou Jake recebeu um amor apaixonado; claro que ele também tinha que ser impetuoso,
constante... Não parecia o tipo de homem que fazia as coisas pela metade, então certamente quando
amava tinha que fazer isso conscienciosamente.
Talvez agora pudesse entender sua tendência para o cinismo, para levar tudo com indiferença,
exceto o trabalho; mas também a alertou de que nunca lhe ocorreu fixar sua atenção em outra coisa
senão na atração física por Jake Weston. Ele já havia quebrado seu coração uma vez, uma segunda
vez iria destrui-la.
— Não faça isso. Estou feliz como estou. — Ele passou os dedos pelos cabelos e, em seguida,
cruzou os braços, apertando o tecido da camisa com os músculos.
— Foi... foi sua noiva? — perguntou de repente, sentindo-se curiosa.
Ele estreitou os olhos.
— Se eu responder a essa maldita pergunta, você vai parar de tentar começar a me analisar?
— Não fique emburrado. Afinal, você veio me ver e eu poderia muito bem dar um passeio
como planejado — respondeu com um sorriso. Ele poderia ficar com raiva do que quisesse, ela não
se sentia afetada.
— Se você quiser uma resposta, terá que me dar uma em troca.
— Huh?
— Se você começar a fazer perguntas, Srta. Repórter, começarei a fazer também. A menos que
você esteja disposta a responder, não ouse perguntar.
“Um desafio”.
— Concordo. — Que bobagem poderia lhe perguntar?
— Foi ela — disse secamente, encurtando a distância que os separava. Colette sentiu vontade
de correr. Responder de repente à sua pergunta foi tão ameaçador quanto um coquetel molotov.
— Eu entendo. Posso te oferecer algo para beber? — perguntou em troca.
Ele a sacudiu e deu uma risada curta e rouca. Colette se engasgou. “Ele cheirava muito bem”,
pensou silenciosamente.
— Fico feliz por você ser tão hospitaleira, mas o que realmente me interessa é que você
responda à minha pergunta.
— Cla ... claro — respondeu levantando o rosto até que seus olhos se conectassem com os de
Jake.
Ele sorriu.
— Você me quer?
Ai não. Isso não poderia responder a ele. Por que estava continuando com esse tópico?
— Jake…
— Eu respondi sua pergunta. Suponho que, se dá sua palavra, a cumprirá.
— Eu cumpro, sim — respondeu levantando mais o queixo.
— Então...? — Jake insistiu. Estendeu a mão para acariciar sua bochecha.
— Eu...
— Aha...?
— Sim, eu o desejo — murmurou ela perdida no aço líquido que se condensava naqueles
olhos cheios de promessa e paixão. O ar estava começando a permear uma rede elétrica invisível que
prendia até as menores células de Colette. Teria sido mais fácil não abrir a porta para ele... embora
ele tivesse exposto a seus vizinhos que ouvissem a conversa. A verdade era que ela não queria que a
Sra. Harris, a fofoqueira do apartamento ao lado, começasse a fazer perguntas quando a encontrasse
pegando a correspondência na porta do prédio. — O que te trouxe aqui? Se fosse alguma de suas
múltiplas dúvidas ou sugestões, poderia ter me enviado um e-mail ou uma mensagem de texto —
adicionou para não se perder.
— Como já te expliquei — ele se inclinou para falar no ouvido dela — tenho uma proposta
muito interessante que vai beneficiar a rádio — disse ele, mas não sem antes depositar um beijo
rápido, logo abaixo da orelha de Colette, fazendo-a tremer.
Ela se afastou instintivamente. Sobrevivência, com certeza não, porque ela queria beijá-lo
tanto quanto tinha certeza de que ele queria. Em vez disso, era uma questão de não permitir que ele
invadisse o espaço de sua casa. Se tomasse muitas liberdades, quem estaria em apuros seria ela.
Estaria mentindo se dissesse que as piadas, comentários e humor de Jake o tornaram menos charmoso
aos olhos dela. Pelo contrário, agora que estava interagindo com ele, passou a conhecê-lo um pouco
mais. Ele tinha um alto senso de responsabilidade, era astuto e exigente no trabalho, embora seu
salário fosse pago pelo próprio patrocinador e não pela rádio; também sabia que ele praticava atos
de caridade, o que mostrava que não era mimado e egoísta.
Se ela continuasse a encontrar atributos de Jake, começaria a se encontrar em problemas, e
bastante grandes.
— Estou ocupada — comentou ela tentando deixar a voz firme. Colocou distância entre eles e
Jake foi se sentar. Ela o imitou, mas o fez no sofá oposto, apenas para ficar cara a cara. Se ele
percebeu que ela queria sair, ele não disse nada. — Se você não vai me dizer o que veio dizer, então
vou fazer minhas coisas.
— Não precisa ficar emburrada, Colie — respondeu. Ela já tinha sua primeira admissão
verbal de que o queria, porque a admissão física era tão óbvia para os dois que negar seria um
completo absurdo. Ia deixar o assunto de lado por um tempo. — Eu vou para uma festa em uma hora.
Em minha mansão em Bel Air. Eu quero que você venha comigo.
Ela olhou para ele com desconfiança.
— Por quê?
— Como por quê? Porque... — então ele percebeu no que ela acreditava. — Não vou te
seduzir, muito menos tentar. — Colette continha uma réplica. — Não tem nada a ver que a seduzir
não me interesse, pelo contrário, mas são assuntos de negócios. Já que você não achou que minha
ideia com Hugh Hefner fosse boa. — Colie revirou os olhos. — Certamente essa nova ideia parece
para você. Minha casa em Bel Air está sendo ocupada por um grande amigo meu, Rex Sissley, e ele
organizou um churrasco fabuloso. Haverá vários amigos, inclusive alguns empresários que costumam
patrocinar eventos esportivos. E como sou bastante conhecido, e agora trabalho em rádio, de
repente... — deixou que ela preenchesse o que estava nas entrelinhas. Ela entendeu instantaneamente.
— Então você está me dizendo que me convida para falar com esses patrocinadores e explicar
a eles sobre a Oxigen California — perguntou com um toque de desconfiança.
— Eu já sabia que você era uma garota esperta!
— Onde está o truque da sua proposta, Jake? Seja honesto, porque eu tive semanas realmente
difíceis.
Ele ergueu as mãos em paz.
— Eu quero algo em troca. Muito fácil.
— O que poderia ser? — quis saber nervosa.
— Pare de ser defensiva comigo. Seja minha amiga. — De onde veio essa imbecilidade?
— Sua amiga? — olhou para ele com irritação. — Eu sou sua chefe, Jake.
— Não vou discutir as nuances ou questões do passado e várias circunstâncias. É o que eu
quero em troca. — Já que havia soltado tal estupidez, agora tinha que ficar na casa dos treze anos. De
repente, se ela se convencesse de que ele pretendia conhecê-la um pouco melhor, em vez de seduzi-la
ou flertar como vinha fazendo nas últimas duas semanas, Colie seria menos estranha com ele.
— Ei, mas você está pronto. Me fez uma proposta de ouro, apenas para pedir minha amizade
em troca. Eu não acredito... me diga a verdade, Jake.
O sorriso de Jake desapareceu. E então ela viu O Gladiador. Aquele jogador que media seus
oponentes e os destruía na quadra. Vislumbrou o empresário de sucesso, o amante apaixonado e o ser
humano capaz de dar tudo por uma causa. Uma causa que nunca seria uma mulher, é claro. Pelo
menos não ela.
— É minha oferta — olhou para o relógio. — A festa começa em uma hora. Primeiro há um
churrasco e depois os convidados começam a chegar para dançar. Alguns dos patrocinadores
amigáveis irão para a primeira parte, outros para a segunda. Você decide. Prefere continuar perdendo
tempo e me questionando, ou aceita o acordo?
Colette não sabia como as pessoas com quem Jake andava se vestiam. Mas supôs que seria
algo semelhante àqueles que geralmente cercavam seus pais.
Se não aceitasse, se arrependeria. Talvez a tensão entre ela e Jake se resolvesse, se ela
tentasse não ficar na defensiva. Assim, ele não estaria inclinado a cutucá-la. Não foi um mau negócio.
Se conseguisse atrair um dos proprietários dessas empresas para seu programa, Francis ficaria feliz,
e isso poderia incluir sorteios para os ouvintes e aumentar a classificação e...
— Ok, Jake — aceitou se associar, e não por causa do olhar de aço, mas porque era um bom
negócio. — Dê-me um momento me aprontar.
Ele soltou com suavidade o ar que estava segurando. O fato de Colette ter concordado em
parar de ser tão defensiva foi um ponto positivo para ele. Apresentá-la a outras pessoas era natural e
não custava nada, pois tinha muitos contatos. Colette estava fazendo o favor a ele, não o contrário.
Ele tinha acabado de ganhar um acordo naquela noite, e uma admissão. Definitivamente, um avanço
com Colette Kessler.
— Você está perfeita assim. E não é um elogio falso.
Ela acenou com a cabeça.
— Obrigado, mas prefiro ser um pouco menos casual. Se vou fazer negócios, tentarei causar
uma boa impressão.
— Como você preferir. Eles não sabem que você seguirá esse plano, então terá que ser sutil.
Colette deu um sorriso tão brilhante que Jake teve que colocar as mãos atrás das costas para
evitar que seus braços a puxassem para perto e a beijassem até se perder em seu gosto.
— Sutileza é meu nome do meio.

A mansão de Jake era fabulosa. Localizada na Stone Canyon Road, a casa tinha dois andares.
Totalmente branca, com grandes janelas que lhe davam muita luz, chão em madeira e uma decoração
primorosa. Ao contrário da casa de Santa Monica, a de Bel Air era mais sofisticada, com uma
mescla de cores como branco, cinza e detalhes em amarelo escuro; era o lugar perfeito para um único
homem desfrutar do conforto de uma piscina grande e bem iluminada que podia ser vista dos vitrais.
O pátio era grande e ideal para se divertir com um churrasco, além disso notou uma jacuzzi afastada
na extrema direita e cercada por pilares que pareciam dar a impressão de estar em algum lugar
exótico e grego. No entanto, o que praticamente tirou o fôlego foram as vistas espetaculares e
privilegiadas do Stone Canyon Preserve.
A opulência e ela não se davam bem como aliadas, exceto estrategicamente de vez em quando,
mas desta vez era na companhia de Jake que tornava a experiência diferente. Ela costumava fugir do
lado frívolo de sua família, mas desta vez ninguém estava prestando atenção em seus movimentos ou
fazendo-a se sentir desconfortável. Pelo contrário, muito além do que Jake estava planejando em sua
cabeça, se sentia confortável com tudo ao seu redor. Na verdade, não parecia a nota discordante na
noite. Isso a surpreendeu agradavelmente, porque não era algo que ela experimentava com
frequência.
Para a noite ela havia escolhido um vestido verde de comprimento médio, com mangas três
quartos transparentes, decote redondo e fechado nas costas com um broche delicado. O vestido
acentuava suas curvas sem parecer exibicionista; parecia bastante sóbria e jovem. Estava usando
legging preta e botas de salto alto. A jaqueta bege estava quente, mas com o aquecimento, a deixou no
armário de hóspedes. Ela pensou que talvez o churrasco fosse do lado de fora; enganou-se. Os que
estavam do lado de fora era o serviço de buffet, levando a comida para uma mesa comprida e
suntuosa para os convidados.
A atmosfera estava no auge, embora fosse relativamente cedo. Nove horas da noite. As
mulheres se vestiam casualmente, mas com elegância; e os homens, um estilo bem descontraído e
parecido com o de Jake.
— Pronta? — perguntou a ela, quando fechou a porta da frente. — Você ficou bem quieta
durante o caminho.
— Às vezes gosto de ficar em silêncio. Nada pessoal — antecipou dizer, apenas no caso de
interpretar mal. Estava se divertindo e, após o momento tenso em seu apartamento, foi bom voltar ao
caminho cordial. E ela não estava na defensiva. Agora podia entender Jake um pouco melhor; não
justificava, compreendia. — Você não me disse por que deixou a casa com seu amigo — expressou
suavemente.
Jake a pegou delicadamente pelo cotovelo e a conduziu pelo corredor.
— Estava farto da imprensa, queria algo mais ligado à natureza. Não sei como não pensava
em Santa Monica para morar antes, agora aproveito muito mais o tempo. Rex estava procurando uma
casa, então como não estou usando, emprestei a ele.
— Uma decisão generosa de sua parte.
Ele encolheu os ombros.
— Provavelmente. — Colie começou a cantarolar mentalmente a música que estava tocando
ao fundo. Uma do Coldplay. — Aí vem Rex, vou apresentá-lo a você. Acho que naquele ano em que
nos conhecemos ele não pôde comparecer ao torneio na França devido a uma luxação.
Um homem de um metro e oitenta de elegância masculina se aproximou, caminhando com
fluidez. Cabelo loiro e olhos verdes deslumbrantes que davam um detalhe muito atraente a seu rosto
anguloso. Quando Rexford sorriu, Colette não pôde deixar de sorrir de volta. Percebeu como uma
covinha imperceptível se formou na bochecha direita do amigo de Jake, dando-lhe um ar malicioso e
adorável ao mesmo tempo. Devia ter mulheres babando por ele, Colie pensou. Se comparasse os
dois amigos, diria que fisicamente eram masculinos e imponentes, mas Jake tinha um ar sombrio e
despreocupado que o tornava mais atraente.
— Jake! Estou feliz por você ter vindo. — Eles apertaram as mãos com entusiasmo e deram
um tapinha nas costas. Rexford voltou-se para Colette. — Uau, e quanto a essa beldade, quem é ela?
— perguntou dando-lhe um beijo na bochecha.
Colie sentiu Jake enrijecer ao lado dela, mas o ignorou.
— Sou a chefe de Jake. Colette Kessler — sorriu. — Mas me chamam de Colie.
— Colie, então a chefe, hein?
— Gosta de se gabar que por quarenta e cinco minutos dirige o que é apresentado no meu
programa de rádio — Jake acrescentou.
— Você já sabe que Jake precisa ser guiado para fazer as coisas direito — respondeu Colie,
incapaz de conter sua provocação, e Rex soltou uma gargalhada.
— Eu gosto dessa garota — respondeu ele colocando o braço em volta dos ombros de Colette.
Com um olhar, Jake comunicou a Rex que estava passando, e Rex imediatamente acenou com a
cabeça, desfazendo o gesto. Conheciam certas regras implícitas entre eles, e quando alguém estava
saindo com uma garota por quem outra pessoa tinha interesse, um olhar ou outro gesto de aviso era
necessário e tudo fluía. — Bem, estão em casa — pigarreou, rindo — desculpe Weston, é o costume.
— Jake deu um tapinha no ombro de Rex. Colette sorriu encantada para o anfitrião antes que ele
começasse a se afastar. Ela percebeu como Rex logo foi cercado por várias mulheres. Era um homem
muito lisonjeiro e ela realmente gostava dele.
— Não confie na fachada de Rex — Jake disse de repente enquanto se aproximavam da sala
de estar. Algumas pessoas cumprimentaram Jake com entusiasmo, e ele apresentou Colie como uma
amiga. Ela, em uma de suas contradições, teria preferido deixar que as mulheres esculturais e esguias
que o saudavam soubessem que estavam juntos e parassem de babar, mas seria de mau gosto e fora
do lugar. — Ele é uma pessoa excelente, mas não acho que você queira entrar nessa areia movediça.
Ela franziu a testa com o comentário velado.
— Não entendo o que quer dizer — respondeu com um murmúrio, enquanto cumprimentava um
tal Randy, e um Bruno de não sei de que país, e que estavam visitando a Califórnia naquela época
para um torneio de tênis.
— Atrás desse sorriso existem muitas sombras.
— Não estou tentando pegar ninguém, Jake. Eu estava simplesmente retribuindo a gentileza
com que seu amigo me cumprimentou. Além disso, sobre o que é o comentário?
— Você está comigo.
Em vez de ficar irritada com aquele comentário ridículo, extravagante e possessivo, ela
colocou a mão na dele. O olhou calorosamente.
— Claro, como sua amiga. E nesse status eu tenho o mesmo direito de que você tem de ser
legal com as outras pessoas. Ou espera que eu passe o resto da noite colada em você como um
adesivo? Vamos, Jake, relaxa... Se você ia se sentir desconfortável comigo, por que me convidou
então? E não me fale sobre os contatos, porque eu sei que é uma desculpa.
Jake riu. Quando ele terminou de cumprimentar o maior número de pessoas possível, pegou a
mão dela como se fosse a coisa mais normal do mundo, e a conduziu até uma das cadeiras perto da
lareira secundária, onde havia menos pessoas.
Ela se sentou e seus pés descansaram. As botas eram confortáveis, mas repetindo o monólogo
de que ela era amiga de Jake, de que trabalhavam juntos; que não, eles não eram um casal ou
namorando; e a troca de frases de cortesia, a incomodavam um pouco. Gostava de falar com as
pessoas e devia estar habituada às festas que sempre tinha em casa, mas por qualquer motivo teria
preferido algo mais íntimo, com menos gente. Jake pareceu ler sua mente quando a convidou para se
sentar no confortável sofá de veludo branco e cinza, em seguida, entregou-lhe uma taça de Sauvignon
Blanc. Bebeu com gratidão. Estava gostoso.
— Gosto da sua companhia. Feliz? — replicou ao comentário.
— Um pouco de honestidade é revigorante. Você poderia ter me convidado dizendo isso, eu
não teria recusado.
— Tem certeza?
Ela olhou para ele por cima da borda da taça e conseguiu sorrir.
— Não. — Ambos riram. — Obrigado por me ajudar, não sei por que você faz isso, mas...
— Você sabe, — ele interrompeu e lhe lançou um olhar penetrante. — Você sabe disso tanto
quanto eu. Mas disse que queria começar a ser seu amigo e é verdade — afirmou. E não estava
mentindo. A verdade é que ele não tinha muitos amigos com quem pudesse conversar, porque de
alguma forma seu vínculo com as mulheres sempre teve um tom sexual. Era revigorante que, mesmo
sabendo que Colette o queria, ele gostava mais de seus breves diálogos e de sua reação a suas
provocações ainda mais. Ele não se considerava irresistível, mas sabia que às vezes atraía mulheres
sem tentar. Talvez fama, ou sei lá o quê, mas agora que vira Colette novamente, sentiu pela primeira
vez que poderia falar com uma mulher sem fazer isso como um preâmbulo apenas para dormir com
ela. Colette era inteligente, engraçada e não deixava passar uma. Ao contrário de outras que
costumavam ser complacentes e tinham conversas vazias. Era uma sensação muito boa. — Além
disso, se esse programa for bem-sucedido, meu nome sendo vinculado será beneficiado. Fiz minha
carreira individualmente, mas no tênis você também joga em equipe, e a verdade é que acredito que
mesmo que o projeto seja novo e pequeno, ele tem consistência para ser mantido.
— Uau...
Jake se aproximou para colocar a mão sobre a mão livre de Colie. Ela se inclinou para
colocar o copo em uma mesa de centro com borda vermelha.
— Acho que você tem potencial como produtora. Lembre-se de que fiz anúncios para
comerciais de televisão, vi pessoas trabalhando em diferentes áreas e eu mesmo sou um empresário.
Por isso exijo o melhor. Se não tivesse visto sua determinação em trabalhar, já teria desistido ou
deixado o projeto pela metade. Eu sigo minhas próprias regras. Se eu não gostar, vou embora. Mas eu
sei que você fará o seu melhor para ser a melhor. É por isso que continuo a apoiar seu discurso
tirânico — ele limitou com humor.
— Quantos elogios, Jake Weston — respondeu com uma risada, tentando desfazer o nó que se
formou em sua garganta. Depois dos comentários amargos de seu pai, as palavras de Jake vieram
como um bálsamo.
Ele pareceu notar o desconforto de Colette e se perguntou o que poderia ter sido. Ela era a
única mulher que ele conhecia, a quem os elogios, longe de fazê-la se sentir bem, fossem sinceros ou
intencionais, a faziam se sentir indisposta. Ele não estava acostumado a se interessar abertamente
pela profundidade das emoções femininas, mas Colie às vezes era um enigma.
— Não são meros elogios — expressou com indiferença. — Em todo caso, como já disse, os
patrocinadores ainda não chegaram. Esperançosamente eles irão em breve. Preciso pegar um
documento que deixei na minha biblioteca particular. Você se sentirá confortável aqui ou quer se
juntar a mim?
“E ficar sozinha com ele? Nem louca”.
— Vou ficar bem, talvez vou bater um papo com a garota que está naquele canto quase fora do
caminho — expressou apontando para a esquerda disfarçadamente. Jake se virou e franziu a testa.
— Ela é Charlotte Jenkins, uma jogadora de tênis de vinte e poucos anos. Parece aluna do Rex
para mim.
— Ela não parece muito feliz — murmurou Colie.
Jake encolheu os ombros. Não era problema dele.
— Eu já volto.
— Claro.
Colette não tirou os olhos da garota de cabelos ondulados. Ela realmente era uma garota
bonita. Sua maneira de se sentar era elegante, mas ao mesmo tempo tensa, como se estivesse na
reunião por obrigação. Aparentemente, seu olhar tinha duas direções. As bebidas que passavam os
garçons e Rexford Sissley.
A beleza da garota não era exuberante; suas feições eram delicadas, mas foi seu olhar que a
impressionou. Olhos grandes, amendoados e azuis. Um azul impressionante. Colie decidiu que, até
que Jake voltasse, poderia conversar com ela.
— Oi, eu sou Colie — disse quando chegou até a garota, que estava de saia preta e blusa
combinando. Talvez por isso aqueles olhos azuis emoldurados com delineador preto tenham ficado
mais impressionantes, além da boca sedutora pintada de rosa claro.
A garota ergueu os olhos. Estudando-a. Deu de ombros, como se isso não importasse, e
estendeu a mão.
— Charlie... Charlotte. O que você preferir — respondeu quase cuspindo as palavras. Era
óbvio que ela estava chateada com alguma coisa.
— Também sou nova por aqui, Charlie. Cheguei recentemente e cumprimentar todas essas
pessoas é um tanto quanto impressionante.
— Você é a nova namorada de Jake, eu acho — comentou desviando o olhar. Não precisava
puxar conversa com uma estranha. Ela estava realmente irritada com o que acabara de descobrir
sobre Rexford e precisava traçar um plano para exigir uma explicação dele. Mas essa Colie não tinha
que pagar pela situação. Então decidiu ser mais amigável, acrescentando. — Desculpe, não é da
minha conta. Eu disse a primeira coisa que me passou pela cabeça, porque os vi chegarem juntos há
pouco tempo.
— Eu trabalho com ele. Somos amigos.
Charlie olhou para ela como se tivesse dito que a Terra era quadrada, mas não insistiu. Ela
conheceu Jake Weston dias atrás, quando Rex a apresentou durante o treinamento nas quadras.
— OK. Hoje não sou uma boa companhia. A verdade é que geralmente não sou assim.
— Por que você continua aqui se não se sente confortável? — perguntou gentilmente. —
Talvez eu possa acompanhá-la para chamar um táxi...
A garota balançou a cabeça.
— É complicado — respondeu olhando para a direita em um ponto bem longe de onde uma
cabeça loira se projetava, que aliás estava rodeada por outras cabeças com cabelos de diferentes
tonalidades.
Colie seguiu o curso do olhar de Charlie.
— O Rex é seu...?
— Meu treinador. Um idiota, mas não tenho escolha a não ser aturá-lo.
Havia muito mais lá do que apenas um treinador idiota, Colette pensou, mas ela deixou estar.
Só queria uma pequena conversa, até que Jake voltasse. Não gostava de importunar os outros com
assuntos pessoais, a menos que fossem notícias, e Charlie não era.
— Entendo, que tal irmos para a fonte de frutas? Estou com vontade de comer um pouco
depois do vinho que tomei.
— Sinto muito, mas agora eu tenho que cuidar de um assunto — explicou. Pela primeira vez na
noite, sorriu. E Colie pensou que qualquer que fosse o problema que envolvia Rex e aquela garota
bonita, não era uma coisa fácil de resolver. — Eu não tive a intenção de ser rude. Espero que nos
vejamos outra vez — levantou-se. — Prazer em te conhecer.
— Claro. O prazer é meu, Charlie... — disse para o ar, pois a garota caminhava bastante
determinada para o grupo onde estava Rex.
Colie estava terminando de comer e Jake ainda não havia retornado; Já fazia quase meia hora
desde que anunciou que iria ver tudo o que precisava. Nesse período, ela conheceu algumas pessoas
legais. Conversou, riu e estava se divertindo muito. Foi ótimo conhecer outras pessoas em uma festa,
sem ter a voz de sua mãe ou de seu pai dizendo a quem poderia ou não conversar, isso e aquilo.
A música ficou animada e a casa começou a se encher de convidados. Balançando a cabeça ao
ritmo da música, com algumas taças que a animavam ainda mais, Colette se misturou às pessoas que
começavam a dançar. Incentivada pelas boas vibrações, ela entrou na dança. Falava com um e com o
outro, mas no final não lembrava dos nomes. Sabia que estava se divertindo muito.
Patrocinadores? Havia os conhecido sem dúvida e sem que Jake os apresentasse! Os
encontros ocorreram naturalmente com risos à medida que um grupo começou a se reunir em um
espaço adequado para a dança. Na verdade, com um daqueles magnatas, ela agora dançava La
Conga, uma canção bem latina com muito ritmo. Entre dança e dança, eles comentaram sobre Oxigen
California. Trocaram números de telefone e prometeram marcar um encontro em breve. Não havia
dúvida, a ideia de Jake tinha sido fabulosa.
Entre voltas e reviravoltas, risos e conversas, se deparou com uma massa de músculos.
Surpresa, ela ergueu os olhos. Vendo quem era, e sem hesitar, estendeu as mãos para abraçar o
homem. Quanto tempo havia passado! Ele era tão bonito. Seus traços italianos esculpidos, aquela
boca sensual e o olhar penetrante de seus olhos negros. Um espécime típico da terra dos homens mais
masculinos que os deuses puderam criar.
— Eu não acredito! Cesare Ferlazzo — exclamou rindo.
Ele, tão espontâneo e alheio como era, a abraçou de volta e deu um beijo rápido em sua boca.
As mãos de Colie estavam na frente da camisa que injustamente cobria as costas musculosas dos
exercícios.
— Colette Kessler, minha pequena Colie. Como vai querida? Eu não sabia que você era amiga
de Rex — expressou acariciando sua bochecha.
— Não é, ela veio comigo — uma voz rouca interveio, e nada feliz, atrás de Cesare.
CAPÍTULO 10

Colette olhou de um para o outro. Cesare, da mesma altura de Jake, estava olhando para ele
com altivez, e o outro, com arrogância. “Que par”, ela pensou, sentindo-se no meio de uma batalha
silenciosa. A sua volta estava borbulhando com testosterona. Decidiu aliviar um pouco a carga, já
que nenhum dos dois parecia querer desviar o olhar.
Homens ridículos.
— Jake, demorou um pouco — sorriu, se afastando de Cesare. — Eu conheci alguns amigos
seus. A verdade é que a festa está muito divertida, obrigado por me convidar.
— Você não perdeu seu tempo, hein? — expressou sarcástico.
Ela estava prestes a rir. Estava com ciúmes?
— Acontece, meu bom amigo — Cesare começou com sua voz grave, que mais parecia uma
carícia, — que a pequena Colie e eu nos conhecemos há vários anos. Na verdade — passou o braço
a Colette, que, diante da força daquele homem musculoso, não conseguiu se livrar do gesto. — temos
um passado comum. E fiquei feliz em ver como ela está linda, não é que não era antes, só que agora
sua maturidade é mais sensual.
Por toda parte a música continuou a tocar, as pessoas se movendo.
Colette enrubesceu. Cesare não mudou nada. Ele ainda era um Don Juan onde quer que
olhasse. Seu charme italiano inato era irresistível, mas ele sempre seria um grande amigo para ela.
Estava feliz em vê-lo, embora não achasse que Jake pudesse dizer o mesmo agora.
— Bem... — ia começar, quando o condutor de Oxigen California olhou para ela de cima a
baixo. Ela corou com o que ele estava pensando. Engoliu em seco e continuou. — Não é o que você
pensa, Jake. E no final, o que isso importa? Você e eu somos apenas amigos.
— O que você está fazendo na Califórnia, não deveria estar com sua família na Sicília? —
Jake perguntou, ignorando-a. Colette teria gostado de lhe dizer uma ou duas coisas, mas não queria
estragar o que tinha feito até agora.
— Rex me convidou para passar alguns dias aqui, para uma proposta de ingressar em um
negócio que ele tem em mente. Estava sentindo um pouco a falta do ar da Califórnia. Tem garotas
muito bonitas — comentou olhando para Colette. — Aliás, há um tempo acabou de chegar uma
pessoa que acho que você não quer ver. E antes que você pense sobre isso, também não acho que foi
culpa de Rexford. Se puder evitar, acredite, seria a melhor coisa a fazer.
Colie olhou de um para o outro.
Jake franziu a testa.
— De onde se conhecem? — perguntou Colette. Não se importou com o que Cesare disse.
Uma coisa é que seu amigo o salvou anos atrás de cometer a estupidez de dormir com a filha de um
mafioso siciliano, tirando-a do caminho, e outra bem diferente descobrir que Cesare e Colie tiveram
um caso e ele acabara de propiciar um encontro ao convidá-la. Descer da biblioteca para observá-la
rindo e recebendo um beijo de Cesare prejudicou o bom humor que usava desde que saíram de seu
apartamento.
Com ciúmes? Sim, caramba, ele estava com ciúmes. Costumava ser bastante territorial quando
estava com alguém a médio prazo, já que seus relacionamentos geralmente não eram sérios, mas
Colette foi a única mulher que conseguiu fazer com que ele se comportasse de forma tão possessiva.
Quando Lauren o traiu, sentiu raiva pela traição e decepção. Mas se fosse Colie, ele teria
enlouquecido. E a própria ideia da capacidade de Colette de afetá-lo o deixava inquieto, mas
aparentemente não o suficiente para afastá-lo dela.
— Cesare e eu...
Antes que ela pudesse continuar, a voz zombeteira de Cesare interveio.
— Quando você saiu de Paris, sem remorso ou consciência, fiquei com ela. Não é verdade,
preciosa?
Era mais do que compreensível que houvesse rivalidade entre eles. E Colette tinha certeza que
não apenas nas quadras.
O rosto de Jake assumiu uma expressão sombria.
— Claro, então, você não perdeu uma chance. Se não foi um, foi com outro, o importante era
viver a experiência. Hein, Colette? — disse com intenção referindo-se à virgindade dela. Algo que, é
claro, Cesare não precisava entender. Colie ficou muito ofendida. — E eu todo esse tempo pensando
que...
Colie pressionou a mão contra o antebraço firme de Cesare pedindo-lhe com aquele gesto que
ficasse fora disso. Não era possível que tudo estivesse se confundindo. Não devia nenhuma
explicação a Jake, mas também não tinha intenção de permitir que uma interpretação errônea se
infiltrasse.
— Não é assim — esclareceu Colette, olhando severamente para Jake, que era zombeteiro e
indolente. — Não dormi com Cesare. E o comentário que você acabou de fazer parece muito baixo
de sua parte. Esse tipo de coisa não se faz a um amigo.
Jake deu dois passos, agarrou Colie pelo pescoço e puxou-a para perto dele. Sem lhe dar
tempo para afastar, ele envolveu os lábios em um beijo possessivo, apaixonado e cru. Ela ia
protestar, mas ele usou aquele momento para deslizar a língua sobre sua boca, como se estivesse
marcando um território na frente de Cesare. Ela sabia que era sobre isso, porém, isso não a impedia
de gozar aquela boca pecaminosa que a devorava com sensualidade. Talvez tenha sido um beijo de
cinco segundos ou cinco horas, ela não teve certeza, pois só percebeu que Jake havia se afastado,
quando ouviu uma risada do siciliano.
— Você deixou bem claro, colega — Cesare disse dando um tapa no braço de Jake, que o
encarou, antes de uma Colette corar. — É verdade o que ela diz, não dormimos juntos. Embora eu
tivesse gostado...
— Droga, Ferlazzo para de me provocar.
Isso arrancou outra risada do italiano.
— Você é fácil, Weston. — Ele se virou para Colette que estava olhando feio para os dois. —
Desculpe, princesa. Esse cara pode ser bastante previsível às vezes e é divertido provocá-lo.
Irritada por se sentir no meio de uma absurda demonstração masculina de superioridade, sem
dizer mais nada, e ainda tonta daquele beijo, ela se dirigiu ao banheiro. Pelo menos assim poderia
encher de ar seus pulmões e acalmar a adrenalina que veio ao entrar em contato físico com Jake.
Os dois tenistas começaram a conversar como se nada tivesse acontecido. Um garçom trouxe
alguns drinques e eles aproveitaram a festa. Jake ficou atento para que Colette emergisse do banheiro
de hóspedes a qualquer momento. Era ridículo como permitiu que um de seus melhores amigos o
provocasse. Quando Cesare lhe disse quem era a pessoa na festa, seu sorriso desapareceu
completamente.
— Como isso é possível?
— Lauren está namorando um conhecido de Rexford; e bem, ele não poderia impedi-lo de
trazer sua acompanhante. Rex me disse que não sabia quem era a mulher, até que a viu aqui. Tenho
certeza de que Lauren achou que era sua festa e é por isso que ela veio. Eu te disse várias vezes que
quando foi com seu patrocinador para a Europa, e estava em um torneio atuando como representante
da marca Shuttle Box, sempre quis saber você. Não deixou o interesse. — Jake praguejou baixinho.
— Em todo caso, ia te procurar para te cumprimentar e te contar, mas olha a surpresa do destino que
me distraiu quando vi Colette, e então você apareceu como um brasílico. — Jake lançou um olhar de
advertência. — Enfim. O que há entre você e Colie?
— Não é da sua conta.
Cesare não insistiu, mas seu amigo iria ouvi-lo.
— Não a machuque. Ela passou por momentos muito difíceis quando você a deixou sem
qualquer explicação. Na verdade, estou surpreso que ela até te acompanhou a uma festa. Tenho
certeza de que deixaram o passado para trás. — Jake acenou com a cabeça. — O que só mostra que a
garota vale ouro.
— Então se tornaram melhores amigos... — ele respondeu.
O tom brincalhão desapareceu completamente da voz do italiano.
— Jake — disse — sério, quando você saiu, ela estava passando por uma crise com a família.
Não deveria estar lhe contando isso, mas só para ficar claro para você, os pais dela a consideram
pouco mais do que uma garotinha burra. Suas irmãs a medem com uma vara muito alta e não lhe dão
chance de ser ela mesma. Ela tem uma amiga, uma certa Kate, aparentemente ela e o irmão são os
únicos que a aceitam como ela é ... Quando você saiu — balançou a cabeça, — comparou sua
rejeição com a que sua família costuma ter com ela. Se ela não te contou nada disso, apesar de terem
sido amantes, foi porque talvez você não tenha realmente visto a garota que é ela. Você se conformou
com um corpo sedutor e um sorriso cativante.
Jake não gostou nada disso, porque o fez se sentir culpado. Muito culpado.
— Não é isso que você também faz? Não tente me ensinar, droga.
Os dois começaram a caminhar para o lado da sala onde havia menos gente, e não
interromperam os que dançavam alegremente perto deles. Também desse ângulo, era mais fácil para
Jake esperar que Colette aparecesse novamente.
— Mas não é de mim que estamos falando. Gosto de me divertir com as mulheres, mas nunca
me ocorreria fugir como um covarde porque estava com medo da possibilidade de uma mulher me
pegar.
Jake soltou um suspiro alto. Ele contou mentalmente até três para não socar Cesare por chamá-
lo de covarde.
— Era eu no passado Cesare — murmurou entre os dentes. — Você sabe. A ideia de
compromisso me apavorou ... e a ela. Merda, eu tinha vinte e sete anos. Estava vivendo uma fase
excepcional. E quando a conheci — ele fez uma careta de decepção consigo mesmo, porque agora
sabia o que havia estragado — Colette estava olhando para mim de um jeito que...
— Ela estava olhando para você com amor, seu idiota. Nunca uma mulher olhou para mim
como ela o olhou, mesmo quando ela protestou contra você. Se apaixonou por você e você partiu o
coração dela. E ela foi sensível o suficiente para se abrir comigo, me conhecendo praticamente ao
mesmo tempo que você, quando ofereci meu apoio. Mantivemos contato esporadicamente. Ouça, ela
é uma amiga que eu realmente aprecio. Como se fosse uma das minhas três irmãs. Se tivesse feito
mais do que confortá-la e ouvi-la, teria sido um bastardo. E embora goste de mulheres, não vou para
a cama com minhas amigas. Código de honra.
— Eu sei, eu sei — ele pediu desculpas por ter se deixado ser cutucado por Cesare. —
Desculpe minha explosão. Eu não estava pensando com clareza. Sei que temos um código de honra.
— Cesare assentiu. — Inferno, Colette deve estar com raiva de mim.
— Ela é uma mulher de pleno direito. Não gosta de ser ridicularizada... — olhou para ele
significativamente — acho que ninguém.
— Bem, não...
— Vamos ver se você consegue sair dessa ileso.
Jake franziu a testa.
— O que você quer dizer?
Cesare baixou as mãos em sinal de rendição. Como siciliano, ele tinha pouca paciência e, às
vezes, Jake era teimoso demais para seu próprio bem.
— Se você ainda não descobriu, é porque ainda é um idiota, Weston.
Ele estava prestes a responder quando viu Colette se aproximar. Ela não estava com raiva,
entretanto, seu rosto mostrava uma expressão abatida que nunca tinha visto nela antes. Ele deixou
Cesare para trás sem dizer nada e foi andando até ela; quando a alcançou, ele gentilmente emoldurou
seu rosto com as mãos.
— Querida, o que há de errado?
A aparência perdida e assombrada de Colie o preocupava.
— Jake — sussurrou desesperadamente. — Por favor, me leve ao hospital.
Ele ficou alarmado e rapidamente verificou qualquer sinal de que ela estivesse ferida ou algo
semelhante. Não havia nenhum sinal físico à vista para mostrar que havia se machucado. Ele agarrou
a mão dela, entrelaçou os dedos e, sem dizer mais nada, começou a sair de casa. Estava tão focado
em Colette, que quando Lauren foi cumprimentá-lo, apenas murmurou “Me deixe em paz” e foi direto
para o Jaguar.
Como um autômato, Colie acomodou-se no banco do passageiro sem dizer uma palavra. Ela
estava angustiada. Estava lavando as mãos quando seu celular começou a vibrar no discreto bolso
interno do vestido. Ela deixou tocar, pois pensava que era Jake ligando para se desculpar por ter se
comportado como um homem das cavernas, fazendo-a de boba na frente de Cesare. A vibração dentro
do bolso continuou, até que cansou, sem ver o número, ela respondeu com relutância.
Era sua mãe, histérica ao lhe dizer que seu tio Bob estava na UTI do Hospital Valle Labrado,
em Orange County. Ele havia sofrido um grave acidente de trânsito e perdido muito sangue, gaguejou
em meio às lágrimas. Sua mãe, a mulher mais controlada que conhecia. Isso a assustou terrivelmente,
pois Greta Kessler nunca perdia a compostura. As primeiras palavras que seu tio aparentemente
disse no caminho para o hospital foram “Colie”.
Precisava vê-lo. A simples ideia de ficar longe de seu tio a oprimia.
Jake se virou para ela. Pelo menos no carro podiam conversar sem interrupção.
— O que aconteceu, Colie? — ele indagou preocupado, acariciando seus cabelos com tanta
doçura que as lágrimas vieram. Ela tentou conter os soluços na casa, mas agora não conseguia se
controlar. — Não, baby, não chore. Fala-me por favor.
— Eu não estou ferida, não. Nada dói também — reafirmado com a cabeça. — Leve-me, por
favor, eu imploro, para Orange County — murmurou com a voz quebrada.
Ele a olhou sem entender.
— Você quer ir para um hospital lá? — perguntou suavemente. — Por quê?
— Meu tio Bob sofreu um acidente — a torrente de lágrimas começou. — Prec... eu preciso
ver... vê-lo — soluçou.
Jake não suportava vê-la assim. Tão frágil, quando era tão forte. Ele a tomou nos braços e a
colocou em seu colo, abraçando-a. E a deixou chorar o que ela precisava, enquanto a embalava,
beijava sua têmpora, dizendo palavras suaves para ela. Depois de alguns minutos, o choro de Colette
começou a diminuir. Jake enxugou suas lágrimas com os polegares e beijou seu nariz.
— Diga-me que hospital é...
Então percebeu que estava pedindo para levá-la por mais de uma hora de viagem. Não podia
abusar da confiança de Jake. Não estava bem. Iria em seu carro.
— Me deixe em casa, eu vou dirigindo. Não...
— Impossível permitir que vá nesse estado de nervosismo. Eu me sentiria culpado se algo
acontecesse com você, Colie.
— Acho que você sempre acaba se sentindo culpado por mim — murmurou.
Ele segurou o rosto dela com as mãos, forçando-a a olhar para ele.
— Se me sinto culpado é porque fui um idiota, e sinto muito por te machucar. Não vou ser
idiota duas vezes com você. Então, estou te levando para Orange County. Você verá seu tio Bob e eu
ficarei com você até que tenha permissão para vê-lo. De acordo? — expressou com firmeza que não
havia espaço para respostas.
Colette era independente e se apegou a sua independência com unhas e dentes. Em outra
circunstância, ela o teria mandado para o inferno, saído do carro e dirigido sozinha. Mas era seu tio
Bob, não era qualquer situação, e Jake estava sendo tão protetor que, pela primeira vez, permitir que
outra pessoa cuidasse de seu problema sem ferir seu orgulho.
— Ok.
— Bom — deu-lhe um beijo fugaz nos lábios, e ela se acomodou no banco do passageiro. —
Afivele seu cinto de segurança. Imagino que você se lembre de como meu GPS funciona, certo? —
perguntou para arrancar um sorriso dela. E conseguiu, e isso lhe permitiu respirar novamente. Céus,
nunca tinha estado tão preocupado com alguém além de sua família.
Colie colocou o endereço do hospital no GPS, depois de procurá-lo no Google Maps do
iphone.
Poucos minutos depois, estavam a caminho da rodovia.
Durante a viagem, Colette ficou em silêncio. E Jake respeitou esse espaço. Quando ela queria
conversar, fazia isso para contar uma anedota com seu tio. Como se todas as belas lembranças
estivessem apenas com ele. De vez em quando falava sobre sua família, mas seus comentários eram
um tanto vagos.
— Meu tio Bob é o melhor — sussurrou quando já estavam em Orange County a vinte e cinco
minutos do hospital. — Meus pais não são exatamente afetuosos comigo. Mas sou otimista…
— Com relação a isso eles deixam de ser pouco afetivos?
— Sobre ser aceita como sou.
— Você é uma mulher maravilhosa. Não precisa esperar que os outros a aprovem, quando
você já se aprova.
Ela colocou a mão sobre a de Jake gentilmente.
— Obrigada — sussurrou, depois puxou lentamente a mão. — Eles não gostam que eu seja
uma jornalista. Pensaram que estava fazendo isso por rebeldia. Como todos aqueles namorados que
os apresentava — ela riu, mas a risada parecia vazia. — Quando eu era adolescente, precisava de
sua atenção. Fazia um monte de bobagens. Eu iria para o mar e tomaria banho nua quando soubesse
que os filhos dos amigos dos meus pais poderiam vir e contar a eles. Namorei com meninos sem
ambição, ou com motoqueiros, punks, tudo que pudesse incomodá-los, embora não levasse a sério
nenhum deles, nem durava mais do que alguns dias, até que cumpria a tarefa de irritar meus pais. —
Jake riu, porque não conseguia imaginar Colette naquele plano. — Pintei meu cabelo de todas as
cores — sorriu. — Eles tentaram me fazer seguir a linha familiar. Ser economista! Imagine.
— Você teria sido boa. Coloca muita paixão em tudo que faz, eu sei — disse com intenção
tentando afastar qualquer possibilidade de que ela pudesse ficar triste ou angustiada novamente.
Haveria tempo para isso quando chegassem ao hospital.
Ela deu-lhe um empurrão suave com o punho, no braço dele.
— Então, para parar de me incomodar, concordei em estudar no exterior. Eles me deram
dinheiro para estudar economia na Sorbonne. Recusei-me a investir meu tempo em algo de que não
gostava e, no fim, fiquei sem dinheiro. Candidatei-me e ganhei uma bolsa para um seminário de
jornalismo na mesma universidade, que incluía despesas de viagem. Também usei o fundo para me
matricular em aulas de francês, e bem… — ela sorriu — entre as matérias do seminário que tive que
fazer uma entrevista em Roland Garros. — Ele assentiu. — Eu amei a França. Depois do curso fiquei
em viagens internas. É um país divino, especialmente nas regiões do sul. A Riviera. Foi magnífico.
— Roland Garros é a pior experiência? — perguntou sem perder o humor. Colie ficou em
silêncio, olhando pela janela para as luzes da estrada. E Jake se amaldiçoou por mencionar. — Eu
não queria...
— Foi uma experiência de vida muito bonita — interrompeu de repente, seu olhar ainda para
fora, através do lado direito da janela. Ele pressionou os dedos com força contra o volante. — Eu
valorizei até que acabou. Talvez não fosse a maneira ideal de esperar que as coisas acabassem, mas
suponho que sempre há um motivo para tudo — respondeu gentilmente. — Fiquei com muita raiva e
doeu. Eu acho que não é preciso ser um gênio para descobrir que essas são as emoções que podem
causar um abandono repentino e uma cena no saguão quando você pensa que é uma pessoa especial
para alguém, e você não é — continuado sem ressentimento. — Mas já está no passado. Todos nós
sempre aprendemos algo com os outros, com as circunstâncias, é para isso que serve a vida. Isso nos
torna mais fortes...
— Sinto muito, Colie...
— Você já se desculpou, e eu aceitei — expressou virando a cabeça para olhar o perfil
masculino. — Eu apenas respondi à sua pergunta, não foi uma acusação, nem uma tentativa de fazê-
lo. De verdade.
Jake acenou com a cabeça, mas não o fez se sentir melhor. Com o que Cesare disse a ele na
casa, ainda pior. As palavras de Colie apenas adicionaram sal à sua consciência. Ele queria
conversar um pouco mais, mas haviam acabado de chegar ao estacionamento do hospital. Quando ele
desligou o motor, Colette ficou tensa novamente. Foi abrir a porta para ela prontamente e a ajudou a
sair.
Em silêncio, caminharam até a recepção do centro médico. Durante todo o tempo, a mão de
Jake estava ligada à de Colie. Como se fosse a coisa mais natural a se fazer.
A recepcionista indicou que deveriam descer pelo corredor à esquerda e, em seguida, pegar o
elevador até o segundo andar, onde estava Robert Meadows. No elevador, ela se permitiu ser
abraçada por Jake. Era reconfortante ter um ponto de apoio; sem se sentir julgada ou criticada. E
ficou ainda mais quando viu seus pais no final do corredor. Incluindo Gertudris, irmã de Bob.
— Colette! — exclamou Gertrudis Meadows, uma prestigiosa professora de biologia,
aposentada. Seu cabelo era da cor de prata, preso em um coque elegante. Vestido azul marinho com
jaqueta branca e sapatos combinando. Sempre a considerou uma mulher boa e genuína. Curiosamente,
era a única pessoa que conhecia capaz de enfrentá-la, não apenas diante de sua mãe, mas também de
seu pai. Ela tinha personalidade e, embora raramente a visse, cada encontro com ela era uma delícia.
— Oh minha garota Venha cá — deu um abraço nela, mas a mão de Colie nunca largou a de Jake.
— Olá, Gert... — sussurrou.
— Quem é este jovem bonito? — perguntou em seu tom atrevido. Mesmo nos momentos mais
difíceis, Gertrudis conseguiu manter seu equilíbrio.
— É...
— Sou o namorado da Colette — Jake respondeu sem hesitar.
Ela apertou a mão dele, mas ele não se importou. Quando Jake viu o pai de Colette, o associou
ao homem tenso e exigente com a reputação que mencionavam nos grupos empresariais de elite da
Califórnia. Estava imerso nesses grupos e sabia que Phillip Kessler era um esnobe. Até então, não
tinha percebido que o pai de Colie era aquele Kessler. Com tudo o que disse a ele no caminho, mais
os comentários de Cesare, sabia como lidar com a situação para o benefício de Colette. Era óbvio
que adorava esse tio Bob e conhecia homens como Kessler, e sabia que ele nunca tentaria humilhar
sua própria filha ou fazê-la se sentir desconfortável na frente de um igual; na frente de alguém que
poderia fazer um comentário que afetaria sua reputação tão bem cuidada. Nesse caso, ele.
— Uau, você guardou muito bem mocinha — então respondeu Greta se aproximando da filha e
cumprimentando-a com voz trêmula. Se virou para Jake. — Você é o famoso ex-tenista, certo? —
quando ele assentiu, Greta apertou a mão masculina—. Obrigada por trazer Colette.
— Foi um prazer — respondeu ele, colocando o braço em volta dos ombros de Colie.
Phillip se aproximou e cumprimentou os dois.
— Eu conheço você de algo além do tênis...? — perguntou ao pai de Colette com um olhar
pensativo.
— Encontro algumas vezes no Club de Golf Atenas.
— Claro. Estou feliz que você veio com Colie. Bob é alguém que ela ama muito e foi meu
sócio até pouco mais de um mês atrás.
Ter Jake ao seu lado a impedia de tremer. Ele deu a ela segurança, e ela poderia enfrentar seus
pais sem problemas. Que tivesse dito que era seu namorado parecia um absurdo para ela. Mas se não
tivesse feito isso, seus pais provavelmente teriam começado a especular sobre quanto tempo o
namorado poderia durar para ela desta vez. Mesmo que Jake fosse famoso, e talvez por causa disso,
não ficaria surpreso se seus pais pensassem que não era boa o suficiente para ele. Mas como era tudo
ficção da parte de Jake, não importava.
— Onde está? O que aconteceu? — perguntou impaciente. Estava angustiada. E as
apresentações de cortesia apenas aumentaram sua ansiedade.
Sua mãe, surpreendentemente, soltou um soluço. E ainda mais surpreendente foi que seu pai
não se aproximou para confortá-la como esperava. Podiam não ser afetuosos com ela, mas como um
casal, geralmente são muito próximos. Não muito expressiva, sua mãe disse que era de mau gosto em
público. Então, mesmo que não estivessem contando a ela, provavelmente consideravam o braço de
Jake em volta dela como algo malvisto. Mas não se importou.
— Não vão nos deixar entrar, querida — disse Gert com olhos tristes, alheia aos Kessler que
se sentaram novamente. Logo chegaram dois casais, aparentemente amigos íntimos de Bob e Ger,
pois este último os cumprimentou com muita familiaridade e sentimento, antes de continuar a falar
com Colette. — Os policiais que o trouxeram nos informaram que meu irmão vinha dirigindo a
poucas ruas de casa quando um adolescente louco e bêbado bateu forte nele. Infelizmente, o menino
morreu no local, mas o carro de Bob capotou várias vezes antes de bater em uma árvore, chovia e a
estrada estava escorregadia. A patrulha estava passando no momento do impacto e os policiais
conseguiram tirar Bob a tempo e levá-lo ao pronto-socorro.
Colette pôs as mãos no rosto.
— O que dizem os médicos? — perguntou em um sussurro. Jake acariciou suas costas,
confortando-a.
— Que ele perdeu muito sangue e se machucou muito... Está na Unidade de Terapia Intensiva.
Teve que ser operado em uma emergência para suturá-lo e fazer curativos. Sua vida...
Não precisava completar a frase. Isso a assustou, mas o braço de Jake se manteve firme. Ele
até deu um beijo em seu cabelo para mostrar a ela que tudo ficaria bem.
— Oh, Deus...
— A primeira coisa que ele disse quando ficou consciente por um momento foi o seu nome. Eu
sei que ele te adora, me desculpe se a tirarmos de uma festa — expressou ao ver as vestes que ambos
tinham.
— Não seja boba, Gert. Meu tio é mais importante do que qualquer festa boba. Já disseram
quanto tempo vai demorar para que possa vê-lo?
Gertrude negou.
Sem humor para conversar, todos ficaram sentados em silêncio, e Jake se ofereceu para
comprar algo para beber, mas recusaram educadamente, exceto por Colette, que lhe pediu um chá
quente. Não demorou muito para que ele o levasse, e apesar do fato de que o relógio estava contando
uma da manhã, ela percebeu que Jake não fez nenhum movimento para sair do seu lado.
Se sentiu um pouco mal por tê-lo arrastado para o hospital e, pior ainda, por estar sem
descanso. Ele não tinha nenhum compromisso com ela; nem queria se acostumar com a ideia de que
podia contar com ele. Por isso, sugeriu que pudesse passar a noite em um hotel e que ela pagaria o
quarto sem problemas. Jake a olhou ofendido, garantindo-lhe que nenhuma mulher, enquanto ele fosse
amante, namorada ou amiga, pagaria nada, e que era melhor parar de falar besteiras se não quisesse
que ele a beijasse na frente de todos os seus família. Isso serviu para calar a boca e evitar perguntar
qualquer coisa relacionada a deixá-la sozinha.
Quando o relógio bateu duas da manhã, Phillip e Greta decidiram deixar o hospital, insistindo
que a enfermeira que estava monitorando o corredor fosse chamada em qualquer eventualidade, já
que o clínico de Bob explicou que era altamente improvável que ele saísse da Unidade de
atendimento naquela manhã ou acordar. Gertrudis, por insistência de Colie para que ela também
descansasse, concordou.
Minutos após a saída de seus parentes, Colette foi até a central telefônica do corredor pedir às
enfermeiras que ligassem novamente para o médico de plantão. Ele concordou em falar com ela,
apenas para repetir que não poderia dar um prognóstico sobre o estado de Bob, porque ainda era
cauteloso, mas se alguma reação ocorresse, entrariam em contato com os parentes mais próximos o
mais rápido possível.
— Não tem que ficar a noite toda, Srta. Kessler. É melhor dormir. Não há nada que você possa
fazer a não ser enviar sua vibração positiva. Já vi muitos casos assim...
— E qual tem sido o resultado usual?
Jake estava ao lado dela, mas não comentava nada. Estar no hospital o lembrou do dia em que
perdeu sua família. Só que ele nunca pisou em um quarto para visitá-los ou esperar sua recuperação.
Ele teve que ir ao necrotério para reconhecer três corpos. Podia entender a angústia de Colette, mas
pelo menos esperava que Bob saísse da UTI.
— Contar a eles faria com que a balança se inclinasse para um resultado que pode não ser o
caso desta vez. Não quero lhe dar falsas esperanças. Mas posso dizer que está fora de perigo esta
noite e esperamos que seu corpo responda em breve à cirurgia no baço. Ele teve sorte de as costelas
quebradas não perfurarem o pulmão, isso poderia ter causado uma hemorragia fatal. Tente ser
otimista. É a melhor coisa a fazer nesses casos.
— Obrigado, Dr. Tatte — murmurou. Então tomou uma decisão e aceitou que ficar no hospital
era uma tolice. Então começou a se dirigir ao elevador. Jake a acompanhou, é claro.
A ideia de ir para a casa de seus pais com Jake à meia-noite parecia absurda. Embora
certamente eles teriam esperado como certo que faria. Os Kessler eram um tanto liberais, pelo menos
nesse sentido ela tinha sido capaz de experimentar seus próprios limites. Mas não era
desconsiderada.
— Jake... — começou quando eles estavam no estacionamento ao lado do Jaguar.
— Iremos para um hotel. Enquanto ia tomar seu chá, liguei para o Montage Laguna Beach para
reservar dois quartos. Eles têm uma loja aberta 24 horas para o caso de você precisar se trocar. A
menos que tenha algo na casa dos seus pais, eu levo você e...
Colette foi até ele. Ela acariciou sua bochecha com a mão, silenciando-o. Correu o polegar
pelo lábio inferior dele e olhou em seus olhos.
— Obrigada — sussurrou. — Obrigada por tudo que você fez por mim esta noite. — Se
inclinou até a boca de Jake e o beijou suavemente. Ele a beijou de volta, e Colette o pegou pela nuca
para puxá-lo para mais perto dela. Suas bocas se fundiram em um beijo apaixonado. Suave,
profundo, sob o encanto do silêncio da noite, mal interrompido pelo murmúrio noturno dos insetos e
o guincho dos pneus de algum carro ao longe. A brisa bagunçou os cabelos de ambos, e acariciou a
pele de cada um, transformando aquele beijo em uma fusão de natureza e paixão humana; uma mistura
quase mística e mais tangível do que qualquer outra.
Jake enterrou as mãos em seus cabelos sedosos, acariciou seu couro cabeludo, massageando-
o, transmitindo com os dedos e a boca que estava ali. Que se importava. Colie mordiscou seus
lábios; mordiscadas lentas e suaves; chupou e lambeu. Tudo ficou para trás, e então aos poucos o
ímpeto do beijo foi diminuindo, mas não a paixão. Isso não era possível entre eles.
— Uau... — disse ele com uma respiração irregular. Ele a abraçou com força. — Gosto
quando você é sincera — comentou, levantando delicadamente o queixo de Colie, com o dedo
indicador, ela sorriu e retribuiu o gesto com olhos brilhantes.
Ele não tentou mais nenhum movimento. Entendia que, quando as pessoas passavam por um
período de vulnerabilidade, tendiam a ser mais acessíveis e, no caso de Colette, as barreiras
emocionais eram postas de lado. Ele não iria tirar vantagem disso, embora o céu soubesse que ele
estava morrendo de vontade de beijá-la, tocá-la e confortá-la.
— Melhor irmos — comentou Colette. Ele assentiu. — O estacionamento está quase vazio e
não acho uma boa ideia nos expor a algo acontecendo, mesmo que seja um lugar seguro. Também
quero tomar banho, foi um dia cansativo. Gostaria de voltar ao hospital para ficar de olho em
qualquer novidade.
— Querida, eles disseram que ligariam. Você deixou seu número de celular. Eles farão seu
trabalho. Preocupar-se é inútil.
Quando eles estavam no carro, enquanto colocavam o cinto de segurança, Colie se virou para
Jake.
— Pensei que você voltaria para Santa Monica amanhã... Você não tem que ficar, realmente
não. Já fez o suficiente... Não precisa me mostrar que não é frívolo ou indiferente ao que acontece
aos outros. Sei que você trabalha em causas solidárias, é um bom amigo, se preocupa com as pessoas
que ama, e de verdade que...
— Colette — interrompeu-a com voz firme. — Por favor, nem mais uma palavra.
Ele ligou o motor. Colocou uma música e começou a dirigir.
Enquanto viajavam para o hotel, ela fechou os olhos. Estava cansada, mas não o suficiente
para não pensar em duas coisas. A primeira, que Jake lidou com a crise como se fosse algo natural;
ele sabia o que fazer, o que dizer e também quando ficar em silêncio. Isso era muito estranho, porque
a menos que ele tivesse experiências com hospitais ou tragédias pessoais que envolvessem muito
tempo vivendo com esse tipo de circunstâncias, era raro que uma pessoa pudesse oferecer tal
equilíbrio aos outros quando demonstrassem desespero.
Em segundo lugar, ela praticamente contou sua vida a Jake naquela longa viagem para Orange
County. Assuntos que só conversava com Kate, como a questão de seus pais, ou seu desejo de
mostrar a eles que tinha valor como jornalista, que não era um capricho e que seu mérito era o
mesmo que se tivesse escolhido ser uma economista, porque tinha ganhado com esforço. No entanto,
ele não tinha lhe contado sobre si mesmo. Tinha acabado de ouvi-la, apoiá-la ou dizer as palavras
certas. Aquele Jake legal e atencioso era novo. Tanto que só agora percebeu o quão pouco sabia
sobre sua vida privada.
CAPÍTULO 11

O hotel cinco estrelas os recebeu com o aquecimento ideal. Lá fora a temperatura havia caído
consideravelmente e, de frente para o mar, o frio parecia mais penetrante. Quando estiveram na
recepção, deram a cada um a chave eletrônica de seus respectivos quartos.
Colie não sabia se estava desapontada ou não por Jake ter decidido dormir em quartos
separados. Ela estava começando a se preocupar com as contradições que estavam sendo criadas em
sua cabeça ultimamente em relação a Jake. Embora não fosse por menos, o homem tirava a cada vez,
como um mágico do chapéu, uma faceta diferente que a surpreendia.
A recepcionista, uma senhora idosa com um sorriso caloroso e nenhum sinal de cansaço,
apesar de já serem três da manhã, explicou que a loja Diamond Palm funcionava 24 horas para o
caso de precisarem comprar alguma coisa. Também garantiu que, se quisessem algo, poderia ligar
para a linha direta e solicitar que o catálogo de luxo fosse levado para o quarto.
— Você está bem? — Jake perguntou quando chegaram ao terceiro andar, onde ficavam seus
quartos; um ao lado do outro. O corredor coberto por um tapete marrom e paredes bege, parecia
aconchegante.
Colette concordou. Tê-lo por perto, em um ambiente tão íntimo, deixou seus nervos à flor da
pele. Ela estava mais sensível, um pouco vulnerável e também bastante cansada. Embora não o
suficiente para ignorar a maneira como ele a estava observando; com vontade. Ela não era uma
provocadora e sabia que Jake estava se segurando no momento, por qualquer motivo. Então decidiu
que o melhor para esta noite seria cada um dormir.
— Muito obrigada... por tudo — sussurrou colocando a mão no peito de Jake. Eles estavam
muito próximos, e naquela altura, um podia sentir o calor irradiando do corpo do outro. — Você não
precisava, e eu realmente aprecio isso — olhou para ele com doçura.
Jake colocou sua mão grande e quente sobre a de Colette, apertando-a com firmeza.
— É para isso que servem os amigos, certo? — perguntou sem fingir ser sarcástico, mas seu
tom falhou. Para sua surpresa, ela apenas riu. — Gosto de ouvir você rir — ele disse naquela voz
profunda e aveludada.
Ela engoliu em seco. O som da voz de Jake ecoando no silêncio, num sussurro para não
incomodar os outros hóspedes, mesmo que não pudessem ouvi-los, percorreu sua pele como uma
carícia. A corrente sexual que vibrava entre eles era tão palpável que quase podia tocá-la com os
dedos; sentir na pele. Por estar perto de Jake, ela inevitavelmente se lembrou das noites em que
viveram seu apaixonado caso de amor na França, após se conhecerem enquanto ela seguia seu
seminário de jornalismo na Sorbonne e estava imersa no circuito de tênis como parte de um dos
exercícios do curso. Era impossível não lembrar quando ele saiu furtivamente para procurá-la no
pequeno apartamento que alugou no bairro do Marais e onde passaram a primeira noite juntos.
Também se lembrava de quando, entre risos e beijos, eles entravam silenciosamente no quarto do
hotel onde ele estava hospedado, pedindo uma variedade de sobremesas que degustavam no corpo
um do outro de forma decadente.
Era precisamente por causa dessas belas lembranças que ela não conseguia guardar rancor
dele, mesmo que Jake a tivesse machucado no final. Ambos eram imaturos e suas expectativas,
diferentes. Por essa razão, entre outras, ela o desculpou quando ele disse que sentia muito. Agora
podia ver que Jake obviamente não era o mesmo homem despreocupado e egoísta de então.
Charmoso, sem dúvida, e era parte de sua personalidade, mas Jake havia amadurecido, talvez ele
continuasse a ser indolente às vezes, indiferente quando sentia vontade, mas seu apelo agora estava
em seus modos mais controlados, naquele jeito perspicaz de compreendendo e analisando as
circunstâncias, mas principalmente porque não havia perdido sua perseverança característica quando
queria alcançar algo. Ele ainda era o Gladiador. Não era difícil acompanhá-lo agora que ela estava
trabalhando perto dele.
Ela sabia que Jake era reservado, mas sua curiosa mente feminina queria desvendar o que
tinha acontecido com aquela ex-noiva. Ela tinha que ser uma garota espetacular para ter ganhado um
anel de noivado e caçado um cara como Jake Weston, que sem dúvida era a fantasia de qualquer
mulher. Ela estava convencida de que a ideia de que a menina o havia deixado por um suposto
criador de cavalos era apenas a superfície do bolo. Não era à toa que ela tinha instintos, e não à toa
que Jake tinha sido tão azedo com a ideia do amor. Havia algo mais profundo ali e, para melhor ou
para pior, despertou seus instintos jornalísticos.
Ela tinha os meios para descobrir o que ele estava tramando. Sua lista de contatos com a
imprensa pode não ter sido tão extensa quanto a de Kate, mas ela certamente poderia fazer
maravilhas puxando os fios certos para desfazer a poeira onde as pessoas não queriam que mexesse.
No entanto, ela conteria a curiosidade, já que Jake estava sendo franco e direto com ela, retribuiria o
favor.
— Vejo você amanhã, Jake.
Ele acariciou sua bochecha com os nós dos dedos. E ele ia dizer mais alguma coisa, mas
aparentemente pensou melhor. Em vez disso, se inclinou e deu-lhe um beijo no canto dos lábios,
perguntando se ela precisasse de alguma coisa para ligar para ele. Ela assentiu, antes de deslizar seu
cartão magnético preto na fenda em sua porta.
Depois de tomar um banho, Jake vestiu a boxer e deitou-se. Ele pensou que o sono o pegaria
rapidamente, mas estava acordado há quase vinte minutos sem conseguir pregar o olho. Ele se sentia
como se tivesse corrido uma maratona e a adrenalina pulsava em todos os poros. É verdade que
estava um pouco cansado, embora não o suficiente.
Quando ele viu Colette em sua casa, o rosto dela estava assustado, algo dentro dele se
contraiu, impulsionando-o a limpar de sua cabeça qualquer coisa que não fosse ela. Se fosse outra
pessoa, estava convencido de que teria agido com mais calma. Com Colette, o pânico explodiu, e não
era algo que acontecia com frequência, na verdade, quase nunca. Viajar para Orange County ao bater
da meia-noite não parecia uma má ideia. Teria sido uma má ideia permitir que ela dirigisse sozinha e
enfrentar sua angústia sem ninguém ao seu lado.
Estava começando a assustá-lo a maneira como Colie despertava seus instintos protetores,
apesar de saber que ela era uma mulher independente e capaz de cuidar de si mesma. Fazia pouco
mais de duas semanas desde que se encontraram novamente, mas aos poucos descobriu facetas dela
que não teve tempo de conhecer em Paris. Ela era rígida e organizada no trabalho, constante e
também justa. Seu senso de humor precisava de um bom impulso, mas quando ria, era a risada
cantante mais deliciosa que ele conseguia se lembrar de ter ouvido. E era sexy pra caralho. Ele não
vivia para agradar, ou para bajular, e isso era impossível de ignorar, para uma pessoa que recebia
elogios a cada dois em três e também sorrisos falsos em busca de aprovação. Ela não tinha medo de
confrontá-lo, e cada uma de suas brigas fazia seu sangue disparar, porque ele sabia muito bem que,
assim como Colette defendia seus argumentos, agia sob os lençóis: com paixão e ardor. Inferno, e ele
estava morrendo de vontade de tentar novamente.
Ele se virou e tentou pensar em outra coisa, porque tão vulnerável como Colette estava, não
conseguia encontrar nenhum prazer em tentar seduzi-la. Preferiu, naquele momento, lembrar que na
quinta-feira haveria o torneio de demonstração para tenistas aposentados. Um show que Gordon
havia anunciado que era necessário para dar um impulso ao seu lado lúdico. Jake não tinha ideia do
que seu agente quis dizer com isso, mas não se importou. Gordon sempre conseguiu bons contratos e
aparições para ele. Pelo menos, por enquanto, seu agente estava concordando em mantê-lo em um
perfil discreto e moderado na frente da imprensa.
Estava começando a fechar os olhos novamente quando ouviu uma batida na porta. Pensou que
talvez estivesse imaginando. Enfiou os braços sob o travesseiro e ajustou o cobertor quente. A ideia
de que estava frio lá fora, e por dentro tão bom, era magnífica. A batida na porta foi repetida, desta
vez o som foi mais alto.
Franzindo a testa, o cabelo despenteado e um tanto irritado com a interrupção, foi atender. Ele
ligaria para a recepção para reclamar se um dos mensageiros ou garçons do hotel havia confundido o
quarto. Odiava ser incomodado quando estava prestes a adormecer.
Abriu a porta com relutância.
— O quê...? — intrigado, ele olhou para a pessoa parada à sua frente. — Colie? — perguntou
retoricamente. Ela estava vestida com o roupão preto do hotel, e o cinto era tão apertado na cintura
que marcava cada curva. Ele estava meio adormecido, não cego. Ela estava olhando para ele com um
sorriso tímido. Pensou que estava tentando dizer a ele que o hospital tinha ligado com más notícias e
estava tentando esconder sua angústia. Ele imediatamente acordou, acendeu a luz e a convidou para
entrar.
Colette já havia pensado muito antes de vir bater na porta de Jake. No final, disse a si mesma
que o pior que poderia acontecer seria terminar em desastre, mas não era tão negativa por natureza.
Quando ele abriu a porta, ela estava prestes a refazer seus passos. Jake era um homem grande e
musculoso e olhou para ela com olhos sonolentos. Ele estava com cabelo rebelde, em cueca boxer
preta; parecia saído de um calendário erótico. O torso musculoso com a quantidade certa de cabelo
e, também na barriga, até que desaparecia sob o elástico da cueca. Os braços eram fortes, os
abdominais estavam perfeitamente definidos e, meu Deus, que pernas! Já o conhecia, havia tocado
aquele corpo, mas também fazia muito tempo desde então... e queria tocá-lo novamente. Seu coração
disparou, mas já estava lá, ela não podia recuar sem parecer uma covarde.
Não tinha sido uma decisão rápida aparecer na porta de Jake, mas ela estava cansada daquele
cabo de guerra exasperante com ele. Eles podiam se atormentar até ficarem exaustos, e não negava,
podia ser divertido, mas já era hora que, com ou sem passado no meio, acabassem com aquela
provocação que — era mais do que certa. — os incomodava igualmente. Jake podia ser mais
expressivo, mas ela sentia por ele o mesmo desejo que ele sentia por ela. Por que continuar dando
voltas? Não eram adolescentes. Jake era quase dez anos mais velho que ela, isso era verdade, então
brincar com um homem que tinha tantos anos de experiência poderia funcionar. Melhor enfrentar a
tentação, sucumbindo a ela. Ou não?
— Aconteceu alguma coisa? — Jake perguntou inquieto ao notar seu silêncio, enquanto ela
mordia o lábio nervosamente. Ele a pegou pela mão e a conduziu até uma espreguiçadeira branca
com listras azuis. Ficou sentado esperando que Colette se juntasse a ele, mas em troca, ela
permaneceu de pé, olhando para ele. — Colie? — insistiu.
Ela o olhou nos olhos, para evitar devorar seu olhar e ser distraída por aquele corpo de capa
para a Men's Health. Pretendia tomar as rédeas. Ela não era uma mulher de muitos riscos, mas depois
de pensar sobre isso, sabia o que queria. Ela o queria. Também estava ciente de que Jake não poderia
oferecer a ela nada mais do que uma aventura, como ele havia deixado claro horas atrás. E ela não
exigiria algo diferente dele.
— Eu... isso... Jake — começou com uma voz suave, — lembra que me disse que em troca de
ir à festa você queria minha amizade?
Ele assentiu. Não fez nenhuma tentativa de vestir nada. Vamos lá, nenhum deles iria esconder
do outro algo que não sabiam.
— Você me acorda às três e meia da manhã para me perguntar isso...? — perguntou ele,
intrigado.
— Apenas me responda.
— Sim. Lembro-me de ter dito, sim.
— Bem, depois de tudo que você fez por mim, acho que nem preciso dizer que você já tem
minha amizade, mas queria deixar isso claro.
— Obrigado, eu acho... — ele se expressou confuso. — Está tudo em ordem? — perguntou
percebendo seu nervosismo. Normalmente ela não tinha escrúpulos em falar, perguntar, exigir e
mandá-lo para o inferno, então não conseguia descobrir o que poderia estar acontecendo em sua
mente. As mulheres às vezes tinham as horas mais estranhas para ansiar por falar.
— Eu quero — engolido. Não iria recuar. — Eu gostaria de saber se ainda está de pé ter uma
aventura enquanto estivermos ambos interessados um no outro — deixou escapar as palavras
rapidamente. — Quer dizer, isso de ser amantes.
— Eu sei o que significa — respondeu ele, passando os dedos pelos cabelos despenteados. —
Ouça — ele ia se xingar pelo resto do fim de semana, — você não precisa fazer isso. Eu entendo que
você está aflita, você se sente um pouco triste, na verdade...
— Pare aí, Jake. Não estou oferecendo um pagamento por sua gentileza. Você me ofende se é o
que realmente pensa que estou tentando fazer.
Ele passou a mão pelo rosto. Ele olhou para ela. Suas bochechas estavam vermelhas, seu
cabelo caindo suavemente sobre os ombros. Ele percebeu que os pés dela estavam descalços.
Pezinhos preciosos com unhas de verniz azul. Sorriu. O sono havia desaparecido completamente; não
poderia estar mais alerta agora.
— Então, explique-me, para não a interpretar mal ou ofendê-la, querida. — Se pôs de pé.
Ela cruzou os braços e olhou para ele. Ergueu o queixo orgulhosa e determinada.
— Este é um tema só de amantes. Supõe-se. — Ele a escutava com atenção absorvendo cada
uma de suas palavras—. Eu quero você e você me quer. Exatamente como me disse naquele dia na
rua. Por que não se deixar levar pelo que se quer, se somos adultos?
— O que aconteceu hoje... — Deus, só de saber que estava na frente dele, pedindo o que
queria, tão determinada e olhando para ele com desejo, o deixou duro. — Às vezes, quando há muitas
emoções envolvidas, as pessoas geralmente ficam mais vulneráveis do que o normal e confundem as
coisas. Não gostaria que fosse assim, porque então você me odiaria e faria me odiar por sentir que
me aproveitei de você.
Colette se aproximou dele, não muito perto. Colocou suas pequenas mãos em volta de cada
pulso — sem chegar a rodear porque eram mais grossas do que poderia cobrir — e então foi
subindo, correndo pela pele de seus antebraços, braços, até que foram colocados em seus peitorais.
Ele respirou fundo com dificuldade, segurando o desejo de tocá-la; precisava que ela ficasse segura.
— Meu estado emocional não tem nada a ver com isso. Eu só quero prazer. Gostaria de
colocar uma condição — sussurrou olhando em seus olhos. As mãos de Jake não resistiram a deslizar
sobre o cinto do robe e desfazer o nó fácil que ela amarrou.
— Não?
— Nada...
— Tem certeza?
— Muita — sussurrou.
Jake sentiu sua boca secar quando viu que ela estava usando um conjunto de lingerie roxa. Tão
apertado que a protuberância macia de seus seios se projetava tentadoramente das copas com bordas
de renda branca; não tinha alças. Ela sorriu maliciosamente para ele. Jake passou os dedos pela seda
lisa e transparente que cobria o abdômen de Colette; Ela deslizou as mãos para os lados, abrindo
mais o robe, e soltou um grunhido de complacência quando percebeu que estava usando uma cinta-
liga. A calcinha era minúscula. Olhou para ela com fome e desejo. Apertou as mãos em volta da
cintura dela, tentando se conter, enquanto ela esperava em silêncio que o olhar de aço voltasse para
seus olhos verde azulados.
— Quando... em que momento...? — perguntou ele com os olhos cinzentos impregnados de
uma luxúria promissora e sensual.
— Catálogo VIP da loja do hotel — respondeu com um sorriso.
— Darei uma grande gorjeta amanhã — ele rosnou de prazer, agora que ela havia lhe
assegurado que estar com ele era o que queria, e sob os termos de ser apenas amantes, sem nenhum
vínculo entre eles.
Colette riu e, ao fazê-lo, pressionou-se contra ele. Jake fez um som quase primitivo quando
sentiu aqueles seios maravilhosos colidirem com seu torso. Não pensou mais nisso e tomou conta de
sua boca sedutora, convidativa e sensual. Colette o beijou avidamente, e ele estava disposto, inferno,
mais do que disposto, saciá-la, enchê-la e festejar com ela ao mesmo tempo. Ele sentiu a língua
feminina, úmida, macia, acariciando seus lábios. Jake pegou aquela língua travessa com a sua; se
envolveram em um duelo apaixonado.
Ambos desfrutaram de cada centímetro da doce boca um do outro.
Colette ergueu as mãos para prendê-las atrás do pescoço de Jake, ele era um pouco mais alto,
mas ao se curvar sobre ela, beijando-a, deu a ela mais acesso e ela pôde abraçá-lo. Era tão forte,
agradável ao toque, e a maneira como ele a beijou foi como experimentar uma onda de adrenalina mil
vezes maior. Em seus braços se sentia aceita, sensual, e seus beijos pareciam acariciar seu corpo
inteiro.
— Jake... — ela sussurrou de repente, quando ele a puxou gentilmente para tirar o robe. Ele
fez isso delicadamente. Com uma lentidão deliberada, de modo que, quando removeu o tecido
grosso, friccionou contra a seda e a pele, enviando-lhe choques de leve, mas bem-vindo de prazer.
Os dedos de Jake não pararam, e sua boca não parou de beijá-la intermitentemente, até que o robe
finalmente caiu no chão.
A temperatura confortável do quarto envolvia sua pele exposta. Jake ficou boquiaberto,
excitado, olhando para o corpo curvilíneo de Colette naquela linda e sexy lingerie. Uma peça que ela
comprou com seu próprio prazer em mente e o deleite visual de Jake; certamente tinha conseguido.
Ele gesticulou para que ela se virasse. Com um sorriso malicioso, ela se virou, e Jake teve
que respirar fundo várias vezes para não a empurrar contra o colchão e deslizar dentro dela ali
mesmo. Ele sentiu que a cueca boxer estava apertada demais e ele ia explodir a qualquer momento. A
maldita lingerie era totalmente transparente nas costas, e o que aquela bruxinha deliciosa estava
vestindo era uma tanga. Aquele par perfeito de nádegas logo sumiu de vista, e ela o encarou
novamente.
— Você não teve um pingo de misericórdia comigo — disse ele puxando-a para mais perto e
delineando com um dedo, um a um, os mamilos eretos e enrugados contra o tecido do sutiã, que ele
tinha certeza de que poderia deslizar para baixo com um rápido movimento. Mas, enquanto ela
estivesse disposta a torturá-lo, ele faria o mesmo em troca—. Seu corpo é uma ode à luxúria e o que
ser mulher implica. Você é linda, Colette.
— Você também é muito viril, e eu amo cada parte do seu corpo — respondeu ao elogio, que o
sentiu sincero, com outro de igual qualidade.
— Estamos soltos na língua e ousados hoje, hein? — sussurrou contra a boca feminina.
— Por que se conter? — ela respondeu brincalhona.
Colie admirou a maneira como Jake se conteve, mas a barreira de contenção logo pareceu
quebrar quando as mãos masculinas seguraram seus seios. Ele os massageou sobre o tecido, enquanto
colocava a língua em sua boca, saqueando-a. Suas pernas pareciam geleia, e ela se agarrou aos
ombros masculinos firmes para se equilibrar. Os polegares de Jake fizeram maravilhas em seus
mamilos; então o indicador e o polegar, em cada seio, apertaram, contornaram e excitaram. A boca
de Jake tinha gosto de glória e ela queria tocá-lo também.
Colette abaixou as mãos para colocá-las na ereção protegida sob o tecido preto da cueca
boxer de algodão. Queria tudo, queria loucamente, como não queria ninguém. Só ele, sempre foi ele.
E se a única maneira de o ter fosse como um amante, não se importava. Teria isso. Talvez fosse
loucura, porque ela estava arriscando muito por estar tão atraída por ele, mas foi sincera ao
expressar que entendia o que era ser apenas uma amante. Ela conhecia o cinismo de Jake sobre o
amor agora, isso doía nela, sim, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito; e tentar seria
suicídio emocional. Então, iria apenas aproveitar o que pudesse, sem falsas esperanças.
Enfiou os dedos no elástico de sua cueca boxer. As mãos de Jake pararam de se mover, sua
boca parou de beijá-la e seus olhos se encontraram, intensamente, com os dela quando ela começou a
deslizar a roupa masculina para baixo. Logo o deixou completamente nu. Lambeu os lábios. Agora
ela se lembrava de porque seus ex-amantes poderiam não ter passado no teste, até por causa de sua
falta de habilidade, mas era impossível não os ter comparado a Jake. Ele era um homem bem-dotado.
Já fazia um tempo que ela não fazia sexo com alguém, e seu corpo poderia ter alguns
problemas para se ajustar ao tamanho de Jake. Mas pensaria nisso mais tarde, porque diante de seus
olhos tinha um maravilhoso membro masculino em plena excitação. Por ela. Isso dava uma
redimensão ao seu ego feminino. E a sensação era fantástica.
Ele absorveu aquela imagem sensual. O corpo de Colette era todo cheio de curvas sinuosas,
uma barriga lisa, pernas delgadas, seios generosos e pele suave. Seu lindo rosto corado de beijos e
desejo era um afrodisíaco desenvolvido. Queria ir devagar. Porque sabia que eles não tinham muito
tempo para fazer tudo o que queria fazer com ela. Inferno, poderia pensar em tantas maneiras de
possuí-la e dar-lhe prazer que teria que se esconder em uma cabana isolada por um mês inteiro, e
achava que não seria o suficiente para se satisfazer dela. Colette era uma visão deslumbrante. Tão
entregue e disposta...
— Fique nua — disse com voz rouca. — Fique nua para mim — pediu.
Em vez de mostrar-se tímida, Colette piscou para ele. Estendeu a mão e pegou a pele
aveludada da ereção masculina completamente; moveu a mão para frente e para trás, gerando atrito.
Jake inclinou a cabeça para trás e sua boca se abriu ligeiramente para respirar com a impudência de
Colette. Ela também podia sentir o sangue correndo e bombeando em seu sexo. Antes que aquela
carícia erótica o fizesse chegar ao clímax, segurou a mão dela com firmeza. Estava tão excitado que
se ela insistisse em qualquer movimento com seus dedos travessos, ejacularia como um adolescente
em suas primeiras tentativas de se divertir com uma mulher.
— Querida — ele comentou com uma voz gutural, e esfregando o interior do pulso dela com o
polegar. — Se você me tocar assim, o pouco tempo que temos não será suficiente para ficarmos
ambos satisfeitos. Então vamos — ele a virou rapidamente e bateu em sua bunda. Ela estremeceu.
Então deu as costas para ele, — fique nua para mim. E deixe-me dar-lhe prazer primeiro.
— Você é muito mandão — sussurrou, antes de começar a deslizar sua lingerie suavemente
para baixo. Jake não sabia por que diabos havia pedido a ela por tal tortura; o mais certo é que sua
excitação começava a fazê-lo delirar, e o masoquista dentro dele ocupava o lugar de seu lado
pragmático, isto é, aquele que queria penetrá-la naquele instante e sem consideração. — Mas acho
que posso tolerar você — acrescentou maliciosamente.
Jake amaldiçoou quando a lingerie convidativa ficou presa, de propósito, é claro, bem no
início dos mamilos rosados. Suas mãos queimavam para rasgar suas malditas peças, mas pediu que
ela mesma fizesse isso, e se ela o estava torturando sob demanda, então ele poderia tocá-la. Ele
descruzou os braços e caminhou para colocar o dedo médio da mão direita, sobre a calcinha molhada
que escondia aqueles segredos que ele queria redescobrir naquela noite.
Embora estivesse tentando parecer controlada, Colette estava ansiosa para se despir. Então
parou de torturar os dois e acabou com aquele absurdo. Ela puxou a mão de Jake longe de seu sexo, e
em uma respiração ela estava completamente nua. Podia não ser esguia como suas irmãs, ou uma
modelo com curvas discretas, mas Jake a fazia se sentir única e desejada, que nada mais importava.
— Colette... você é magnífica — disse ele olhando-a nos olhos, enquanto suas mãos quentes
tomavam conta dos seios macios e generosos. Não demorou muito para os polegares de Jake
acariciarem os botões delicados e sensíveis, que se enrugaram ainda mais. Colette sentiu seus
mamilos se erguerem, quase dolorosamente; seu corpo tremia de desejo. Autocombustão? Bem, isso
é exatamente o que estava para acontecer com ela, quando a boca de Jake se curvou para tomar um
daqueles botões inflamados em sua boca com força, até que ela soltou um grito de prazer. Ele repetiu
o mesmo exercício no outro seio, com o mesmo resultado de varredura. — Delicioso, simplesmente
delicioso... — disse ele com voz rouca.
Eles estavam perto da beira da cama e ele agora a segurava pela cintura com firmeza.
— Eu quero... desejo — Colie murmurou quando suas bocas se encontraram novamente, e a
mão livre de Jake abaixou para inserir um dedo entre seus cachos, alcançando a umidade. «Deus, que
delícia. Estava pronta para ele.» Afundou o dedo mais fundo, saboreando-a, e ela se arqueou contra
ele, oferecendo-lhe os seios, que ele não hesitou em atender com a boca. Não conseguia se lembrar
de sentir tanto desejo por uma mulher quanto sentia por Colette. Era impressionante lembrar que ele
já havia experimentado essa sensação de plenitude e loucura sensual com ela; mas agora era mais
forte, tudo mais intenso. Jake parou de atormentar aqueles lábios íntimos e estendeu a mão para
acariciar suas nádegas macias e lisas. Femininas absolutamente. — Jake... — ofegou. — Deixe-me
tocar em você... Eu quero tocar em você...
Ele sorriu.
— Já te avisei que se o fizer...
— Eu sei, eu sei. Cale a boca, por favor, e deixe-me fazer um pouco — gemeu inclinando-se
para beijar o abdômen perfeito. Seis gomos magníficas de chocolate. Ela os mordeu. Poderia ficar
viciado no sabor da pele masculina salgada. Sua boca subiu, deixando beijos por toda parte. Suas
mãos deslizaram por suas costas, e enquanto corria sobre ela, não só sentiu os músculos responderem
ao toque de seus dedos, mas também sentiu um formigamento quando os pelos do peito de Jake
excitaram seus seios, e como sua ereção pressionou contra sua barriga. Quão duro e quente ele
estava. Já sabia que estava tentando a sorte quando começou a mover os quadris e suas mãos
seguraram o traseiro de Jake. Cara, que nádegas perfeitas, e ela bem sabia que eram trabalhadas à
base de puro exercício! Pele dura, firme e ao mesmo tempo deliciosa. Ela as apertou e Jake riu. Foi
uma risada que soou quase suplicante.
— Impertinente — acusou-a com um meio sorriso. Colette logo se viu deitada no colchão,
com as mãos longe de Jake e seguradas em cada lado de sua cabeça pela dele. O peso masculino se
acomodou em seus antebraços para não a esmagar. Ele era poderoso, conquistador, sensual e quente.
— Agora, eu quero que você fique quieta. Entendido?
Colie assentiu, erguendo os quadris na direção dele, seu sorriso tão tortuoso quanto o que Jake
lhe dera recentemente. Então ele se abaixou, puxou e mordeu o lábio inferior de Colette, e ela não
hesitou em atrair os dois para um beijo tentador.
— Você é a mesma garota generosa na cama de que me lembro. Adoro ter você assim... — sua
mão alcançou a região sul e começou a acariciá-la, lubrificando-a com sua umidade. Mais do que
molhada, caramba, ela estava encharcada de desejo. Jake, sem perder o contato visual, enfiou o dedo
médio dentro dela. Ele começou a criar círculos, entrando e saindo, enquanto seu polegar acariciava
seu clitóris, estimulando-a. — Tão molhada, querida — sussurrou antes de se inclinar para lamber
um seio. Ela se mexeu e arqueou ligeiramente as costas. Ele puxou o mamilo entre os dentes, foi um
toque suave e preciso, e a dor e o prazer se misturaram, fazendo Colette gemer. — Extremamente
úmida. É isso, baby, sente o clímax chegando. Você gosta do ritmo? — perguntou retoricamente. Ela
respondeu fechando os olhos. — Olhe para mim. Quero que você olhe para mim quando chegar e
saiba que sou eu com você. — Ela concordou, porque também queria vê-lo, para observar a mudança
de expressão que acontecia naquele rosto atraente e masculino. — Isso Colie, só mais um pouco —
ele rosnou ao inserir um segundo dedo, e o polegar continuou a atormentar o clitóris sensível.
— Jake... Jake... isto é... oh, Deus... — ela repetiu o nome dele com a voz quebrada, até que
estava prestes a gozar. Ele continuou a estimulá-la, até que soube que ela não aguentaria mais.
Desceu do colchão até o kit do banheiro e pegou alguns preservativos. Ele colocou o látex e voltou
para ela. — Quero que goze comigo... — Colie segurou o rosto dele com as mãos e puxou-o para
beijá-lo. Um beijo forte, devorador e carregado não apenas de paixão; aquele beijo foi uma
recompensa pelo passado, uma recompensa pelo presente e uma promessa do que viria a seguir nas
circunstâncias acordadas entre eles.
— Colette, você me deixa louco — ele sussurrou, antes de penetrá-la com um único golpe.
Poderoso, firme. Os dois começaram a se mover ao ritmo de seus corpos, a fricção era o tom perfeito
da música de prazer que ecoava no quarto. O ar estava impregnado deles; do aroma pessoal de cada
um como afrodisíaco que os envolvia, dos gemidos e súplicas mútuas de desejo.
Seus suspiros e murmúrios íntimos soaram como a melhor sinfonia já composta. O silêncio da
noite os acompanhava, e o quebrar das ondas ao longe era uma testemunha passiva de um ato que se
consumava com êxtase, devassidão e um desejo de satisfação urgente.

A força do orgasmo pegou os dois igualmente, levando-os a se quebrar em mil pedaços e a


voltar daquele vendaval de prazer aos poucos, saciados.
Jake se levantou lentamente, uma vez que recuperou o fôlego. Quando deixou de aspirar o
cheiro delicioso do pescoço e cabelo de Colie, olhou em seus olhos. O sorriso deslumbrante e
satisfeito o fez se gabar em seu ego masculino.
— Uau... — disse ela tocando suavemente sua bochecha. — Foi…
— Incrível? — ele perguntou brincando, antes de colocar um dedo nos lábios. Ele se inclinou
e a beijou suavemente; um beijo lento, espontâneo e satisfeito. — Você tem sido maravilhosa. Você é
simplesmente uma fantasia em carne e osso, preciosa. Está bem?
— Mais do que bem — sorriu. — E sim, tem sido incrível. Acho que compensamos um pouco
o tempo perdido.
— Temos muito que recuperar — ele respondeu beijando-a novamente.
Colette se sentia leve, contente e saciada. Jake ainda estava dentro dela. Parecia tão
apropriado estar assim, embora sua parte sensata lhe dissesse para ter cuidado para não se envolver
mais do que já estava. Mas tinha vivido tanto tempo esperando o que suas ações poderiam provocar,
que agora só queria se divertir.
Tê-la sob seu corpo, tão quente e receptiva, era ainda melhor do que Jake conseguia se
lembrar. Melhor do que qualquer fantasia que teve com ela nos últimos dias. Seria uma grande tolice
perguntar quantos homens passaram por sua cama no tempo em que cada um viveu sua vida sem
contato com o outro. Isso tinha assumido; E por isso era absurdo o sentimento de ciúme que o invadia
com a simples ideia de saber que outros homens haviam desfrutado daquele corpo sensual e da
maneira generosa e erótica que Colette tinha de responder aos estímulos sexuais. Ele não era um
hipócrita, pois estivera com várias mulheres desde Paris, até mesmo noivo. Mas a última não
contava; Lauren foi um grande erro. Ele acreditava na igualdade sexual, no entanto, seu instinto
primitivo escondido bem no fundo dele, sabia que tendo sido o primeiro homem a mostrar a Colette o
significado do que era a paixão, isso implicava em algo especial. E isso o fez se sentir um tanto
possessivo com ela, incapaz de se conter.
Colie pareceu ler sua mente quando ela falou.
— Não houve muitos. — Jake fez uma careta quando saiu de dentro dela. Colette gostaria que
ele ficasse dentro dela, mas não disse nada. Esperou que Jake se livrasse do látex e, quando voltou
para a cama, ele a segurou e puxou-a para seu lado.
— O que você quer dizer?
Colette riu e se acomodou contra o corpo grande e quente. Ela colocou uma de suas pernas
macias sobre as de Jake, pressionou os seios contra o lado masculino e descansou a mão direita
naquele abdômen maravilhoso. Sua cabeça estava na curva do ombro de Jake, e ele começou a
acariciar suas costas com a mão.
— Você quer que eu diga em todas as palavras, hein?
— A verdade é que sim.
Colie riu, antes de beijar Jake.
— Não tive muitos amantes. Estava ocupado estudando, também tinha um trabalho absorvente
do qual não gostava muito, mas tinha que pagar as contas e o aluguel com a Kate em um local seguro.
Então, não foi fácil abrir caminhos e os relacionamentos sempre estiveram em segundo plano.
— Não muitos... — repetiu como se fosse a única coisa que ela expressou.
Colette sorriu.
— A verdade é que isso não importa. Verdade? — deu a ela um sorriso malicioso e não
convincente. “Seu lado de homem das cavernas”, ela pensou, e tomou isso como uma piada.” O que
seu passado poderia importar para ele, ou para qualquer amante?” Colie refletiu. — Pelo menos
tenho certeza de que não como você, que provavelmente tomava uma para cada dia. E olha que não
estou julgando.
Jake riu, mas evitou comentar a piada de Colie. Em vez disso, ele estendeu a mão por trás de
sua cabeça para acariciar seu mamilo rosa exposto. Aquele botão suave respondeu imediatamente ao
estímulo.
— Não?
Ela olhou para ele e negou. Era incrível como os olhos cinzentos podiam se tornar tão
penetrantes quando o desejo queimava.
— Jake... terminamos. — Foi quando ele se mexeu um pouco. Apenas o suficiente para que a
ereção que estava começando a crescer novamente atingisse suavemente a coxa de Colie que estava
perto de sua virilha. — Oh…
— Desejo você de novo. — Ele se virou ligeiramente para verificar a hora na mesinha de
cabeceira. Eram quase seis da manhã e ninguém havia dormido. A verdade é que ele tinha muita
intenção de agir em relação ao seu desejo, mas os dois precisavam descansar. Eles poderiam ligar do
hospital a qualquer minuto com notícias sobre o tio de Colette, e não gostaria de interromper uma
sessão de sexo com Colette caso eles ligassem. Como o diabo que não se colocaria naquela situação
de propósito. — Mas você precisa dormir um pouco. — Ele deu um tapa na bunda dela.
— Pelo que sei os homens precisam de um tempinho para se recuperar — comentou.
Ele estreitou os olhos.
— Não quando esses homens são Jake Weston, e para que conste, há apenas um e você o tem
nu na cama. — Colette riu. Às vezes ele podia ser tão arrogante. — E para registro de elogios, que
espero que você acredite — acariciou o nariz com a ponta do dedo indicador — nunca me senti tão
excitado com nenhuma mulher quanto com você.
O coração de Colie disparou, mas seu cérebro deu um salto a tempo de lembrá-la que esse era
o tipo de coisa que os homens costumavam dizer às mulheres. Não havia nada além disso. Aceitava
que pelo menos para Jake seu corpo curvilíneo — e não esguio como o de uma modelo ou ex-modelo
como uma de suas irmãs — parecia sensual e o excitava. E era tudo o que deveria contar. Tentaria
aceitar elogios sem se questionar tanto. Embora não fosse difícil quando tinha uma família que
criticava até mesmo a frase “bom dia” não dita com a entonação correta.
— Suponho que seja normal — acrescentou com altivez, mas com um tom brincalhão. —
Afinal, existe apenas uma Colette Kessler.
Jake soltou uma risada.
— Você é uma sedutora renomada — disse ele com uma piscadela.
Colette se lembrou do que queria dizer a ele antes de ir para a cama.
— Jake, sobre o que comecei há pouco. Tem condição de continuar fazendo isso... claro, se
quiser continuar — disse, não sem medo de que ele dissesse naquela noite, e repetisse um pouco
mais durante o dia, seria a única coisa.
— Claro que quero fazer amor até que você peça misericórdia — ele sorriu. — Acho que
ambos fizemos este acordo. Não pense em se retratar — ele acariciou o rosto dela, e a olhou
esboçando aquele meio sorriso que derreteu seus ossos, antes de acrescentar. — Se você tentar
mudar de ideia, vou te convencer do contrário.
— Eu gostaria de ser influenciada por você, então — ela flertou e Jake se inclinou para beijá-
la. Um beijo longo e profundo. Quando terminaram, os dois estavam ofegantes. Mas ela não podia
deixar esse momento passar. — Em qualquer caso, a condição é simples. Pelo menos é para mim.
— Que condição é essa? Se for sado, não vou — comentou brincando, o que fez com que os
cantos dos lábios de Colie se elevassem. Jake era tão charmoso, e quando ele quisesse outra amante
–não era estúpida, sabia que gostava de variedade–, sabia que teria dificuldade em encontrar alguém
que pudesse se comparar a ele; e desta vez seria mais difícil. Embora talvez a essa altura fosse tão
bem-sucedido que não teria tempo de se lembrar, e nada além de seu trabalho importasse para ela e
sua reputação. Ou então preferia acreditar em todo caso. Antecipar era uma ninharia desnecessária.
Desfrutaria do presente. Nada além do presente.
— Sinceridade — respondeu olhando em seus olhos. — Isso é tudo.
— Eu quero você, você me quer. O que é mais sincero do que isso, Colie?
— Se você quiser terminar, diga na minha cara. Eu retornarei o favor. Sem ressentimentos. A
isso que eu me refiro. Sei que não há expectativas emocionais, isso é claro. Mas a sinceridade é a
única condição ou requisito que coloco no caminho.
Entendeu que ela estava falando por causa da canalhice que fez com ela em Paris. Nem louco
faria isso com ela novamente. A condição que Colette estava pedindo era mais do que justa. E
embora o arranjo de ser amantes fosse tudo o que ele queria, algo dentro dele não estava totalmente
satisfeito. Algo não se encaixava e não sabia o que diabos poderia ser. Ele não iria estragar o que
havia conquistado por meio de reflexões estúpidas e inoportunas.
— Parece ótimo para mim. É uma condição muito válida.
Então ele a sentiu relaxar contra seu corpo novamente.
Ciente de que havia dito que seria melhor dormir, a verdade é que não tinha vontade de fechar
os olhos. Não quando ela sentiu o sexo de Jake pressionado contra sua coxa.
— Jake, tudo bem se eu... se eu provar você com minha boca? — perguntou em um tom
sugestivo, e ao mesmo tempo movendo a mão sobre seu abdômen perfeitamente definido.
Poderia haver algo mais erótico do que aquela mulher deliciosa fazendo esse tipo de
proposta? E estava fodidamente bem que ela o tomasse com a boca e fizesse o que quisesse com ele.
Mas não seria justo, porque então ele não poderia satisfazê-la.
— Daqui a pouco temos que... — Mas ela já estava descendo sobre sua barriga, passando as
unhas na virilha. Ela lançou um olhar malicioso. — Colette... baby... — A boca de Colie não
respondeu, porque se apropriou de seu sexo, e começou a saboreá-lo com tanto entusiasmo, que
gemer e sofrer, até que o levou à loucura, foi a única coisa que pôde fazer.
Quando Jake voltou à Terra, Colie sorriu para ele.
— Você não gozou, querida — expressou em uma voz séria. Essa mulher era toda paixão e
ardor, exatamente como ele sempre soube. Que jeito de fazê-lo enlouquecer com aquela boquinha
pecaminosa! — Eu me considero um amante generoso...
Ela sorriu. Colocou os dedos nos lábios dele. Passou por cima deles suavemente e Jake os
mordeu inofensivamente.
— Agora durma, Jake. Você vai me compensar por isso — piscou para ele, antes de se
acomodar contra ele como se aquele tivesse sido o seu lugar desde sempre. — Em breve... —
acrescentou em um sussurro sonolento.
“Bom Deus!” E foi o último pensamento de Jake antes de adormecer com Colette nos braços.
CAPÍTULO 12

Havia se arrastado para fora do quarto antes do amanhecer. Não foi difícil, já que Jake
parecia estar em um sono profundo. Ela teria gostado de ficar aconchegada contra ele, olhando o
oceano pela janela, enquanto sentia o calor daquele corpo que tanto prazer lhe dera na madrugada.
Não tinha remorso nem peso na consciência. Estava simplesmente curtindo o que queria, não se
importando com a opinião de ninguém além da sua.
Jake poderia ter mais experiência, ele era quase dez anos mais velho afinal, mas o que
compartilhavam era uma química impressionante; e tinha certeza de que a experiência não tinha nada
a ver com isso. Ele a fazia se sentir segura, feminina e confortável, então não iria estragar o que
estavam começando por ficar sentimental. Nunca tentaria fazer demandas implícitas, pior ainda
explícitas, por laços que eles concordaram em não criar.
A única coisa que a preocupava agora era sua família. Jake se apresentou como seu namorado.
Claro, seus pais fizeram uma cara que não podiam acreditar que ela tinha conseguido um partido
como aquele. O que, é claro, não a surpreendeu em nada. Quando iriam parar de dizer coisas que a
faziam se questionar? Sim, ela se sentia segura, mas tudo mudou quando pensou nas críticas de seu
pai, mais do que de suas irmãs ou de sua mãe. A situação a ressentia.
Quando ela estava vestida com jeans e um suéter verde, ligou para uma das poucas pessoas em
quem confiava.
— Onde você esteve? — perguntou Kate com seu tom sorridente ao atender o telefone.
Música estava tocando no fundo. — Estou dirigindo com Damon e meus pais, e estamos indo para
Orange County agora, e então meu irmão e eu iremos para Santa Monica. Foi um passeio de fim de
semana. Meus pais compraram uma cabana no Lago Tahoe. Dos sonhos! Saíamos para longas
caminhadas, comíamos e conversávamos. Minha mãe tenta se reconectar consigo mesma, ela diz que
Wicca seria um bom começo. Está estudando junto com papai. Que tal isso?
Colie esboçou um sorriso. A mãe de Kate estava sempre procurando por uma nova tendência
religiosa ou espiritual para entender o mundo. Já havia começado a estudar o budismo. Os Blanskys
formavam um casal adorável e ela não conhecia um casamento mais díspar e, ao mesmo tempo, tão
complementado.
— Parece ótimo para mim. Eu... estou em Orange.
— Huh? — perguntou em um tom estranho. — Por quê? Alguma daquelas reuniões que só seus
pais fazem?
Com serenidade, embora a lembrança a deixasse triste, ela começou a relatar o que havia
acontecido, exceto o caso de Jake. Kate perdeu o tom humorístico e lhe garantiu que estariam no
hospital em algumas horas.
— Sinto muito — se ouviu interferência de comunicação. — Por aqui eu perco o sinal muito
rápido. Vamos nos falando. Tudo bem?
— Ok, Kate. — Ela desligou.

Jake estendeu a mão para abraçar Colette. Ele abriu os olhos. O espaço estava vazio. Apenas
sentiu a frieza do lençol. O único vestígio de que passaram a noite juntos foi o cheiro em sua pele e a
marca no travesseiro ao lado dela. Se deitou de costas com a respiração relaxada. Certamente teve
uma das melhores noites de sexo em muito tempo. Tentou encontrar algum sinal de desconforto ou
vazio, como aconteceu da última vez que esteve com a mulher do bar, mas só sentiu satisfação total.
Sossego.
Normalmente, tomava cuidado para não se demorar na cama com sua parceira de noitada.
Desta vez, Colie o surpreendeu ao deixá-lo primeiro. Ela era engraçada, generosa e sensual, uma
combinação explosiva, se a isso acrescentasse que pedia e exigia, tanto quanto se entregava ao
prazer.
Já vestido, depois de comprar roupas novas na loja do hotel, pensou em ir ver Colette. Então
reconsiderou. Não queria que pensasse que o que eles haviam compartilhado implicava que tinha que
estar interessado além de se ver debaixo das cobertas. E embora fosse o tipo de arranjo que ele teria
feito com qualquer mulher, por algum motivo que o iludia, sentiu que não combinava muito com o que
queria de Colette.
O telefone tocou quando Jake estava prestes a descer para o café da manhã. Eram onze horas
da manhã.
— Alô.
— Jake — disse Colette. Sua voz era quase um sussurro. — Eu tenho que ir para o hospital.
Meu tio precisa de uma transfusão de sangue. Seu grupo sanguíneo não é facilmente compatível e eu
quero saber se posso ajudá-lo... Eu preciso ir...
A determinação de Jake de ser indiferente não tinha lugar no momento. Afinal, eles tinham
vindo a Orange para cuidar da saúde de Bob.
— Te espero no saguão. Tudo vai ficar bem, Colie.
— Obrigada...
Durante a viagem de carro falaram sobre banalidades. Aparentemente, nenhum deles queria
mergulhar no que haviam compartilhado horas atrás. Quando chegaram ao hospital, os pais de Colette
ficaram inquietos. Ela os cumprimentou e, curiosamente, sua mãe e seu pai a seguraram por mais
tempo do que o normal. Jake foi saudado com o mesmo brilho de aceitação do dia anterior. Um
brilho que nunca existiu para Colie, exceto quando seu pai conseguia o que queria de seu
comportamento. Algo estranho, é claro. Gertrudis, ao contrário de outras ocasiões, tinha o rosto tenso
e preocupado. Bob era seu único irmão e família restantes; Dois anos atrás, o helicóptero em que
seus pais idosos viajavam colidiu em um campo aberto, matando-os instantaneamente.
— Gert — sussurrou Colette dando-lhe um abraço. — O que aconteceu?
— Lá vem o médico — murmurou quando o Dr. Tatte se aproximou deles. — Ele pode
explicar para você, querida.
— Bom dia, Srta. Kessler. Seu tio melhorou, mas ele precisa de uma transfusão. Fizemos
testes com seus pais e a Sra. Meadows. Nenhum deles tem o tipo de sangue de que precisa. Você
indicou à nossa enfermeira, quando chamada esta manhã, que não se importaria em se considerar uma
doadora. — Colie acenou com a cabeça. — Por favor siga-me. Veremos a tabela de compatibilidade
e faremos uma análise.
Ela lançou um olhar nervoso para Jake. Ele piscou para ela dizendo que tudo ficaria bem,
enquanto se sentava com os Kessler.
Phillip começou a conversar, tentando quebrar a tensão, sobre as bolsas e as negociações que
o governo estava fazendo com a China. Embora Jake não fosse exatamente um economista, ele era
bom nos negócios. Tiveram uma conversa educada e divertida, da qual Greta participava de vez em
quando. Gert, por outro lado, estava constantemente recebendo telefonemas e quase não interveio.
— Como você conheceu Colette? — perguntou Greta. Estava muito nervosa com o acidente e
com a condição de Bob. — Você é o primeiro namorado formal que ela traz para algum lugar.
Jake sorriu, lembrando-se do que havia dito a eles no dia anterior.
— Nós nos conhecemos na França.
Phillip franziu a testa.
— Ela foi fazer não sei que bobagem de jornalismo — apontou com desaprovação óbvia.
— Atualmente trabalhamos juntos — respondeu ele, ignorando um comentário mordaz para
Phillip. Como Colette podia ser tão vital e apaixonada por sua carreira, quando aparentemente só
recebera desaprovação em casa? — Temos um programa de rádio. Oxigen California. Temos mais de
duas semanas no ar. Sua filha é muito boa em sua profissão.
Greta pareceu surpresa.
— Achei que Colette faria outro tipo de jornalismo.
— Economia? — Jake se atreveu a perguntar, não se importando em soar irônico. A mãe de
Colie corou.
— Bom... — Phillip começou, — suponho que se você trabalha naquela rádio perdida das
mãos de Deus, é porque tem a visão necessária para fazer funcionar.
Jake olhou atentamente para o pai de Colette.
— Pelo contrário, é Colette quem tem a visão e está trabalhando muito para torná-la um
sucesso. Eu sou apenas o apresentador do programa. Ela fica ali a semana toda, e não descansa até
que tudo esteja perfeito — disse. Não tinha sentido tanto desejo de defender ninguém como naquele
momento. Outro detalhe atribuível aos sentimentos que estava experimentando com Colie. Costumava
manter suas emoções e seu temperamento sob controle, mas de alguma forma conseguia mudar a
perspectiva da zona de conforto.
— Não queríamos insultar sua escolha — Greta interrompeu gentilmente.
Jake deu a ela um de seus sorrisos deslumbrantes como se nada tivesse acontecido, enquanto
ele terminava seu café com um último gole.
— Meus patrocinadores e eu não fazemos escolhas levianamente, Greta. O projeto tinha
potencial e por isso decidimos participar — mentiu. Outro detalhe que não se explicava. Primeiro,
ele nunca justificou nada a ninguém; segundo, nunca falou pela reputação dos outros. — Espero que
você possa sintonizar em algum momento.
— Claro, Jake — comentou Phillip, conciliador e visivelmente constrangido ao perceber que
talvez o tivesse ofendido. Afinal, ele estava conversando com um tenista de elite e um empresário
conhecido, então não podia desprezá-lo, embora achasse a profissão de Colette inútil. — Talvez
tenhamos sido rápidos demais para julgar este projeto.
Segundos depois, Colette voltou com o médico. Ele tinha um sorriso no rosto.
— Eu sou compatível! Tio Bob e eu temos o mesmo tipo de sangue. Tenho que ir para o quarto
para começar a doar dois litros de sangue.
Gert olhou para ela aliviado.
— Oh, filha, que bom. — Veio até Colie e a abraçou. — Graças a Deus.
Greta e Phillip perguntaram a Colie se queriam que ficassem no hospital com ela, já que ainda
não permitiam visitas para Bob.
— Não, Jake vai me acompanhar. — Ela o olhou interrogativamente, e ele assentiu. — Vou
ficar até mais tarde em Orange.
— Gostaríamos de convidá-lo para almoçar em nossa casa, Jake — disse Greta solicitamente.
— O que você acha Colette? É assim lhe mostra a praia e podemos comer frutos do mar. Nosso
cozinheiro faz pratos deliciosos.
Colie na verdade teria preferido não envolver mais Jake com sua família, mas também seria
rude, depois de como ele se comportou durante aquelas horas.
— Não sei...
— Adoraria, mas alguns dias difíceis me aguardam e prefiro chegar a Santa Monica logo,
depois de terminar os procedimentos aqui em Orange — Jake respondeu afavelmente. “Juntar-se à
família de uma amante não é exatamente uma forma de estabelecer distância”, ele pensou.
“Procedimentos. Isso é o que eu sou para Jake, e tenho que deixar isso claro”, Colie disse a si
mesma.
— Claro — Phillip expressou seu sorriso diplomático. Ele estava acostumado a lidar com
pessoas nos altos escalões do mundo financeiro; ele aceitava e recusava convites tanto quanto Jake
Weston, então entendia os horários de trabalho ou atividades específicas de pessoas ocupadas.
Apertaram-se as mãos e Greta também se despediu da filha, antes de sair do hospital, seguida
por Gertrudis que garantiu que voltaria para verificar o estado do irmão.
Jake decidiu acompanhar Colette até a sala onde os dois litros de sangue seriam colhidos. Ele
sentou-se ao lado dela, e durante o tempo que durou o procedimento médico, conversaram sobre
anedotas profissionais, pois havia outras pessoas doando sangue na sala. Ambos tentavam não dar
muita importância ao que aconteceu horas atrás entre eles, mas era inevitável que o menor atrito
causasse estragos, como se ao se tocarem, por mais superficial que fosse o contato, uma corrente
elétrica passasse por eles, agitando a respiração e tornando-os mais conscientes um do outro.
Estavam colocando um algodão embebido em álcool em Colie onde a agulha estivera minutos
antes, quando uma figura conhecida apareceu na porta. Vestida com um jeans roxo, um suéter branco
e uma jaqueta branca nas mãos, somada a uma maquiagem colorida, estava Kate. Um sorriso
iluminou seu lindo rosto ao ver Colette. Fechou a distância entre eles, inclinou-se e deu-lhe um
abraço que durou vários segundos.
— Aqui estamos! — exclamou Kate. E notando sua saudação estridente, ela se desculpou com
a pessoa na outra maca. Tão animada em ver sua amiga como estava, ela não reparou na única pessoa
que a teria feito dar pulos de alegria.
— Kate — Colie sorriu, abraçando a amiga. — Quem estamos? — perguntou quebrando o
abraço.
— Damon está estacionando o carro. Demoramos um pouco mais, porque tivemos que deixar
nossos pais em casa no caminho... Eu estava preocupada com você.
Os olhos de mel de Kate brilharam de alegria. Houve poucas ocasiões em que Colie viu sua
melhor amiga desanimada ou chateada. Parecia uma fonte inesgotável de entusiasmo. Às vezes Colie
sofria por Kate, sabendo que por trás dessa alegria aparente estava uma tentativa de esconder um
episódio amargo do passado. A força interior de Kate era tão forte que ela estava sempre repensando
tentando confortá-la. Colette esperava que algum dia pudesse reabrir o assunto que tanto afetara sua
amiga, sem sofrer a dor de vê-la chorar ou estremecer de angústia.
— Errr… Kate, quero apresentá-la a alguém. — Sua amiga olhou para ela com uma careta.
Era muito típico dela focar sua atenção nas coisas que a excitavam e esquecer o resto. — Jake, esta é
Kate Blansky. Kate, este é Jake Weston.
Os olhos de Kate se arregalaram e Colette não pôde deixar de rir. Kate virou à esquerda para
ficar cara a cara com um de seus ex-apresentadores de TV favoritos. Abriu a boca, fechou-a
novamente. E foi então que ela experimentou, em primeira mão, o famoso sorriso de Jake.
Deslumbrante, sedutor e atraente. Uau!
— Olá — ele cumprimentou com sua voz profunda e aveludada, estendendo a mão. — Você é
a famosa Kate, então.
— Eu... — Se virou para Colie. — Você contou a ele sobre mim? — perguntou com
expressões faciais de choque, sem soltar a mão de Jake.
Colie encolheu os ombros.
— Eu disse a ele que minha melhor amiga é capaz de conseguir boas mesas nos melhores
bares e restaurantes — ela sorriu.
— Oh, sim, sim, eu sou — disse, finalmente soltando a mão de Jake, a quem lhe disse. —
Como você está aqui com Colette? Ela não me disse nada e...
— Não seja intrometida Kate — Colie a interrompeu sem perder o bom humor, quando a
enfermeira anunciou que agora ela poderia ir embora e que deveria tentar não fazer nada de brusco
pelos próximos minutos. — A notícia me surpreendeu e eu não poderia dirigir até Orange naquele
estado e já era tarde. Estávamos em uma festa, então ele me fez o favor de me trazer.
— Oh sim? — perguntou sem perder o tom casual, mas com visível interesse olhando de um
para o outro, enquanto saíam para o corredor.
Colette corou ligeiramente. Tempo suficiente para que Kate soubesse que algo estava
acontecendo ali. Era curiosa, não rude. Descobriria o que queria mais tarde.
— Sim — Jake respondeu sem perder o bom humor. Colie percebeu que ele estava lindo em
sua camisa preta e calça cinza-carvão. Era tão sexy que tirava os soluços. Ela estava morrendo de
vontade de beijá-lo. E talvez ele tenha percebido isso, porque piscou para ela, o que a levou a limpar
a garganta e desviar o olhar. Ele sorriu. — Agora esperamos que o médico permita que o tio de
Colette receba uma visita após a transfusão.
— Isso pode levar várias horas... — disse Kate.
Jake deu de ombros, caminhando em direção à sala de espera.
— É por isso que viemos. Está bem? — perguntou a Colie, percebendo-a um pouco inquieta.
— Sim, só espero que meu tio Bob saia dessa situação em breve. Imaginei que ele estaria fora
do país, e encontro esta notícia, depois de semanas sem ter notícias dele. Isso me preocupa... Espero
que tudo corra bem...
— Por que não deveria estar bem? — em um gesto reflexo, colocou o braço em volta do
ombro dela e deu um beijo em sua testa. Esse gesto deixou tudo claro para Kate, mas ela não se
atreveu a comentar, ao invés disso preferiu ir buscar uma garrafa de água na máquina de bebidas. —
Vamos esperar um pouco. Que tal comermos alguma coisa? — Ele se inclinou até que sua boca
estivesse no nível da orelha de Colie. — Gastamos muita energia ontem à noite — sussurrou, não
antes de dar uma mordidinha no lóbulo da orelha, deixando-a com uma sensação de antecipação e um
formigamento que percorreu sua pele.
— Kate está muito desconfiada — murmurou Colie.
— E eu muito discreto — respondeu com o mesmo tom baixo. Então ele se virou para Kate,
que parecia ter achado a máquina de venda automática de bebidas muito divertida. — Você gostaria
de almoçar conosco?
— Eu? — pareceu surpresa. Ter uma celebridade a convidando, Kate Blansky, para almoçar.
Nem louca ela perderia isso. — Claro que sim! — respondeu destampando a tampa da garrafa e
dando alguns goles. O tempo estava frio, graças a Deus era Califórnia, e o frio não machucava muito
os ossos, como Nova York ou outras partes do país em estações do ano que tendiam a ser
particularmente frias, e outras, geladas.
Colette riu.
— Espere — Kate disse quando estavam saindo do hospital. — Damon... Eu vim com meu
irmão — comunicou a Jake.
— Convide-o também, cadê ele? — indagou procurando seu Jaguar no estacionamento.
— Lá! Ei, Damon! — exclamou Kate chamando seu irmão, que se afastou da BMW ao ver o
trio se aproximando.
Quando Damon avistou Colette, seu olhar se iluminou, assim como seu sorriso. Ele havia
planejado convidá-la para jantar quando voltasse para Santa Monica. Percebeu que Colie estava
linda em sua jaqueta e aqueles olhos enigmáticos. Ele conhecia o cara que estava com elas de algum
lugar, mas não tinha certeza.
— O que se passa, irmãzinha? — perguntou sarcasticamente. Então ele se virou para Colie. —
Olá, linda — ele se inclinou para pegar o rosto dela nas mãos e dar-lhe um beijo suave no nariz. —
Como vai?
Colie sentiu Jake ficar tenso atrás dela. Talvez eles não estivessem muito ligados fisicamente,
mas era como se de alguma forma estivessem conectados às suas reações. Com um sorriso, ela
empurrou as mãos de Damon e se virou para o homem bonito que era seu amante.
— Agora muito melhor. Damon, eu quero que...
— Jake Weston — se adiantou apertando a mão de Damon.
— O jogador de tênis...? — olhou para a irmã, que parecia ter descoberto a última Coca-Cola
no deserto, olhando aquele famoso.
— Ex-tenista — esclareceu Jake colocando um braço em volta dos ombros de Colette em um
gesto inconfundível de territorialidade, que fez Kate sorrir.
Damon não gostou do que o gesto implicava. Havia pensado em dar tempo a Colie para se
acostumar com ele, mas não estava disposto a deixar que outra pessoa o ultrapassasse. Mas ele tinha
uma vantagem sobre Jake. Moraria com elas, pelo menos por mais uma semana, quando suas férias
terminariam.
— Ah, aquele que minha irmã fotografou beijando naquela discoteca?
Jake praguejou baixinho.
— Kate já sabe que não deve fazer de novo — olhou para ela. — Certo?
Obedientemente, a melhor amiga de Colie assentiu.
— Foi um deslize.
Colette riu.
— Bem, vamos, estou morrendo de fome — Kate disse para que seu irmão parasse de olhar
para Jake como se quisesse desafiá-lo para uma luta a qualquer minuto. O que aconteceu com ele?
Ela estava feliz por ele ser amigo de Colette, e se sua melhor amiga tivesse um caso com Jake, não
permitiria que seu irmão se envolvesse. E não porque fosse uma celebridade, mas porque conhecia
Colie e sabia que nunca poderia retribuir seu irmão de outra forma que não fraterna. Isso já tinha
ficado claro. Damon estava cego? Ele não conseguia ver que havia uma espécie de química
expansiva entre Colie e Jake? — Queria algo leve — pegou o braço do irmão e olhou para Colette,
que estava calada. — Que restaurante?
Jake estava olhando para Damon com irritação. Não passou despercebido que o olhar para
Colette era mais do que apenas amizade, e o rosto dela corado quando ele a beijou também lhe disse
que não esperava aquele gesto do irmão de Kate. Um ponto a seu favor, sem dúvida. Enquanto fossem
amantes, não permitiria que tivesse esperanças com outros.
— Vamos para o Arthur's Bistrot. Eles servem um espaguete delicioso — respondeu Colette.
— Escolha fantástica! — Kate comentou. — Vá com Jake, meu irmão e eu os alcançamos.
O almoço foi tão normal quanto possível. Comentários sobre esportes, jornalismo, sem alusão
pessoal. Até que Damon deixou escapar que estava morando no mesmo apartamento que Colette e
Kate até a próxima semana, e Jake começou a sentir que a comida tinha gosto de papelão, mas ele
permaneceu impassível. Colie, por sua vez, o ignorou e continuou sua conversa normal, tentando
permanecer otimista em relação ao tio Bob.
Kate pediu a Jake que a apresentasse a Patrick Lombardo, e ele concordou com uma risada.
Mais feliz do que nunca, a melhor amiga de Colette falava sobre todas as coisas que achava
interessantes no mundo do tênis. Damon estava olhando para Colie, que tentava esconder o fato de
que a observava com insistência. Quando terminaram de comer, os Blanskys decidiram seguir para
Santa Monica, já que Kate precisava ir à joalheria para cumprir o turno da tarde de domingo. Colie
assegurou-lhes que os manteria informados sobre a saúde do tio.
Jake voltou com Colette ao hospital e se obrigou a não perguntar sobre o tipo de
relacionamento que tinha com Damon. Mas ela não se perdeu no tom ligeiramente hostil com que ele
falou com seu amigo de longa data, ou na tensão no carro enquanto eles dirigiam pela rodovia. Então,
no caminho, resolveu ligar o rádio e deixar que a Rádio Costa Azul fosse o dial que tocasse.
— Jake — sussurrou Colie, agarrando seu braço quando estavam perto da porta do centro
médico.
Ele se virou e ergueu uma de suas sobrancelhas arrogantes.
— Sim?
— Não quero presumir erroneamente, mas Damon te incomodou de alguma forma? Notei certa
tensão, eu...
— A menos que ele durma com você, não — ele respondeu secamente, interrompendo.
— Não seja injusto em seu comentário — respondeu com uma resposta igualmente
contundente, mas eles não chegariam a lugar nenhum dessa maneira. — Eu perguntei, porque Damon
é um amigo que amo muito. Os Blanskys são importantes para mim.
— Ouça, Colette. Eu só durmo com você. — Colie assentiu, embora esse lembrete não tenha
lhe agradado, por mais verdadeiro que fosse. — Estou te ajudando com sua situação familiar, não me
importo em fazer isso. Mas se você tentar justificar meu comportamento associando-o ao seu passado
ou algo assim, cometerá um erro grave.
Ela estava olhando para ele impassível. Isso que acontecia por tentar ser... Idiota! Era isso
mesmo.
— Concordo — expressou com a mesma forma distante de Jake. — Minha única intenção era
te dizer se moro com eles ou não, não durmo com dois homens ao mesmo tempo, e que apesar de
Damon fazer o que faz, agora estamos nós dois juntos, nas condições que temos. Eu não sou
promíscua. Espero que você retribua o favor.
Olhos cor de aço brilharam.
— Quando estou com uma mulher, fico só com ela. Talvez beijar outra na sua frente, enquanto
namorava você na França, foi um erro. Mas não cometo o mesmo erro duas vezes. Portanto, não se
confunda. Se você quiser encerrar nosso negócio na noite passada, por favor, faça isso. Mas não
procuro ver nuances ou similares na minha personalidade ou modo de agir. Isso depende de uma
namorada. E você é apenas minha amante — ele retrucou. Mas percebendo como os olhos de Colette
o olhavam magoados, se amaldiçoou. Não era o tipo de machucar mulheres, mas ela simplesmente o
fazia se sentir como nenhuma outra mulher. E tinha que colocar distância. Era apenas uma coisa
física, ele não queria entrar de cabeça em nada, mas não queria machucá-la. — Ouça...
— Não, escute você! — ela expressou com um olhar cheio de raiva. — Eu nunca tentaria ver
nuances em você, Jake. Pode ser um bom amigo e um amante fantástico, mas está claro que não tem
tato ou sensibilidade com as mulheres com quem está. Talvez seja por isso que Lauren o deixou por
outra pessoa? — Jake estreitou os olhos, estava mais do que furioso com a mera alusão à ex-noiva e
a versão tão errada que todos tinham do assunto. Cada vez que o problema começava a incomodá-lo
mais. — E já que você me lembrou de algo tão importante quanto o único elo que nos une fora da
rádio, pode voltar para Santa Monica — começou a se afastar, mas então se voltou para Jake, que
estava passando uma mão sobre seu rosto. — Não preciso da sua amizade, não preciso da sua
compaixão. Na rádio coloca sua voz, e embaixo dos lençóis — olhou para ele com insolência, —
então suas habilidades — descaradamente soltou, antes de entrar no hospital. O estacionamento
estava praticamente deserto.
Jake não ficou estático. Em duas passadas, ele pegou o braço dela, virando-a em sua direção.
Ele a segurou perto de seu corpo até que ambos se olharam desafiadoramente, sua respiração
irregular e mais do que apenas paixão na superfície.
— Nunca mencione Lauren entre nós dois novamente. Em nenhum outro contexto. — Ela não
se intimidou e levantou sua mente com desafio. — Ficou claro?
— Por quê? Você ainda a ama e tenta esquecê-la com outros corpos? — respondeu com
altivez. Ela não deveria sentir nada além do desejo por ele, mas não podia evitar, porque conhecia o
outro lado do cínico Jake que todo mundo costumava ver.
A resposta de Jake foi beijá-la. Um beijo urgente, furioso e cheio de luxúria. Ele varreu a
boca feminina, possuiu-a de uma forma primitiva, e ela com um gemido respondeu em termos iguais.
Colocou as mãos nos ombros de Jake enquanto ele a segurava por trás e aprofundou o beijo.
Devoravam-se mutuamente, entre gemidos e carícias cada vez mais apaixonadas. As mãos de Jake
logo seguraram as nádegas femininas para trazê-la para mais perto e se esfregar contra ela, de tal
forma que percebeu o quanto a queria naquele momento.
Colette não esperava reagir daquela forma com Jake, depois de discutir como acabaram de
fazer. Esses tipos de experiências e emoções tão opostas, da raiva ao desejo, só viveu com ele. Isso
a fez enlouquecer, dizer coisas que não queria dizer e agir de acordo com seus desejos, e não de
forma consistente. Senti-lo se esfregando contra ela, fazendo-a perceber o quanto o excitou,
desarmou-a, porque o que mais queria era senti-lo dentro dela, preenchendo-a, enchendo-a de prazer;
precisava sentir sua pele, contra a dela, enquanto se beijavam e se tocavam no meio do
estacionamento. Isso a fez reagir. “Estavam em público, à vista de qualquer pessoa. Até mesmo seus
pais ou Gert podem aparecer a qualquer momento!”
Jake sentiu as mãos de Colie empurrando-o.
— Não... — ela sussurrou contra a boca masculina. — Jake, pare… — ofegou, —, estamos
em público.
Ciente de que havia perdido mais uma vez o controle, ele interrompeu dizendo um palavrão e
tentando acalmar sua libido ardente.
— Colette. — Ele a pegou pelos braços, e quando viu seus lábios inchados de seus beijos,
quis devorar aquela boca macia e suave novamente. Ele acariciou seus braços sobre sua jaqueta,
para cima e para baixo suavemente, como se assim também pudesse se acalmar. Ouça... Lauren não é
uma boa memória. Eu nunca usaria você para esquecer outra. Principalmente essa mulher. Está claro?
Notando a ferocidade com que ele falou, Colie soube que era sincero. E também sentiu um
grande alívio. Afinal, podia confiar nele.
— Não me diz nada sobre você — murmurou ela, enquanto ele a observava como um falcão
observando sua presa. — Acho que você praticamente conhece toda a minha história, mas não sei...
— É melhor assim — ele ergueu a mão para acariciar a bochecha dela.
— Para não se envolver muito? — disse com um toque de amargura na voz que não pode
evitar. — Já expliquei que entendo o acordo...
— Colie... — interrompeu suavemente, — não quero te machucar. Você entende?
— É ridículo, como poderia me machucar se eu sei como as coisas são?
“Conte a ela sobre o contrato que expira em três meses. Diga a ela”, uma voz gritava para
Jake, mas ele ignorou. Contaria mais tarde. Ainda havia tempo para isso. As coisas entre eles não
eram sólidas, mas sim frágeis, e ele não queria estragar a possibilidade de continuar a se divertir
com Colette. Eles também trabalhavam juntos e seria um erro grave dar um passo errado que poderia
arruinar o bom tempo que tinham com a equipe de rádio.
Jake olhou para ela.
— Lamento ter sido tão rude agora a pouco. — Ela assentiu. — Não quero que pense que há
algo além da minha bondade ou gestos de interesse, do que realmente existe.
— O problema também é, Jake, por que acha que só eu preciso de um lembrete? Você não
precisa disso? — perguntou quando ele a soltou. — Não sei por que você se considera uma espécie
de homem emocionalmente invencível.
— Ao contrário de você, eu não acredito no amor; Eu sou cínico quanto a isso. E minha vida
pessoal é isso. Eu não gosto de falar sobre ela.
— Por que sou jornalista e você acha que vou publicar a sua vida?
— Não, mas porque aprendi que é inútil. Falar sobre o passado não resolve. Só traz de volta
memórias que o deixam amargo.
Uau, pensou Colie, ele estava realmente preso ao passado, embora estivesse se iludindo ao
acreditar no contrário.
— Desde sua aposentadoria? Isso te afetou muito? É por isso? — perguntou colocando a mão
no peito dele. — Suponho que parar de fazer o que você ama, se ver forçado por situações além do
seu controle deve ter sido muito difícil.
— Foi. É um período bastante difícil sobre o qual não costumo falar muito, Colie. Foi a
aposentadoria, a morte de meus entes queridos, Lauren — engasgou com dificuldade em pensar em
seu pai, cunhado e irmã. — Talvez outra hora possamos conversar... ou talvez não.
Ela sorriu para ele. E embora as nuvens tivessem coberto o céu do Condado de Orange, Jake
sentiu como se o Sol o estivesse iluminando. Colette tinha um sorriso sincero, claro e sexy. Isso o
tocou, mas ele não queria permitir que ela quebrasse sua barreira. Ele tinha ido para Santa Monica
em busca de um sentido para sua vida, um novo Norte. Talvez a aventura deles tenha sido
maravilhosa, mas não tinha a intenção de se envolver emocionalmente com nenhuma mulher por um
longo período, até descobrir o que diabos era isso que gerava essa sensação constante de vazio. Ele
precisava encontrar aquela peça de seu quebra-cabeça pessoal que havia perdido em algum ponto ao
longo da estrada nos últimos anos.
— Você a amava muito?
— Eu disse que não quero falar sobre Lauren, Colie — praticamente rugiu, mas ela não se
intimidou.
A curiosidade de Colette estava além de qualquer entrevista que já tivesse dado. Sabia que
estava entrando em terreno perigoso tentando encontrar os fantasmas de Jake, mas infelizmente ela
não podia evitar. Talvez porque não fosse uma especialista no assunto dos casos amorosos, mas no
caso dela ia ser um tanto difícil estar com alguém de quem mal conhecia certos aspectos. Ela podia
ver o que estava escondido atrás daquela armadura, gostava de algumas características de Jake e
outras, a cativaram; mas queria saber algo mais a fundo. Pelo menos para ter certeza com quem
exatamente estava dormindo. Não queria fazer sexo com uma imagem pública ou distorcida, queria o
verdadeiro Jake.
— Se você não a amava, por que ficou bravo quando a mencionei?
— Não tente fazer jogos de frases. Não neguei ou aceitei que a amava, mas como você tem
tanta fome de informações... — balançou a cabeça. — Achei que estava apaixonado por ela, e a
verdade é que havia mais paixão do que qualquer outra coisa. Na época, talvez eu achasse que a
amava, mas com o passar dos anos percebi que não era assim. E me curei de ter que sentir esse tipo
de mistura de emoções. A raiva de um tempo atrás é que você supõe coisas que não são verdadeiras.
— Desculpe...
Jake bufou.
— Não tem por quê.
— Não por ela, mas para sua família e para sua carreira profissional. E também porque isso o
tornou desconfiado e cínico. Acredito que quando alguém diz que está curado dos sentimentos, é
porque seu coração está tão ferido que mente para si mesmo tentando esconder a dor com cinismo.
Ele apontou o dedo indicador e estreitou os olhos.
— A última coisa que preciso é de um conselheiro emocional, Colette.
Ela encolheu os ombros. “Tinha tocado na ferida”.
— Eu sei que se tirassem o que eu mais amo fazer, me sentiria perdida. Adoro fazer
jornalismo — começou por ignorar a expressão severa de Jake, — e embora a rádio não seja o meu
ideal de prática profissional, a verdade é que estou colocando toda a paixão e esforço de que sou
capaz. É como se fosse parte de mim. Vou levar esse projeto adiante e ele será reconhecido aos
poucos pela comunidade e outras mídias da Califórnia — expressou com emoção. — Sei que parece
uma coisa muito pequena para você em comparação com os projetos em que sempre trabalhou, e por
isso sou grata por ter aceitado o contrato da Gearforce. Juntos, faremos da Oxigen California um
sucesso.
“Diga a ela, Jake. Diga a ela para não ficar muito animada com o programa. Que não vai
durar, e que você vai embora em algumas semanas, deixando-a na mão”.
— Já conversamos muito, Colette. Acho que quebrei meu recorde de palavras até o ano que
vem — comentou sarcasticamente, antes de começar a se mover em direção ao hospital. Mas ela deu
um passo na frente dele, bloqueando seu caminho.
Ele poderia erguê-la em seus braços, mas se conteve.
— E ela ...? Por que te irrita ao mencioná-la, ou que te mencionem?
Jake olhou para ela se sentindo irritado. Colette não o deixaria em paz, nunca. Ela estava
muito curiosa para seu próprio bem.
— O que você quer saber? — perguntou relutantemente.
— Por que você a pediu em casamento se não a amava?
— Eu pensei que sim! — exclamou passando as mãos pelo cabelo loiro escuro, despenteando-
o ligeiramente. — E ela estava esperando um filho. Você está feliz com a informação? —
praticamente gritou de exasperação.
Colie ficou em branco.
— Eu...
Jake a deixou sozinha e entrou como um carro de corrida no hospital.
CAPÍTULO 13

Não tinha sido sua intenção jogar parte de seu passado na cara. Ainda mais essa parte. Colette
o havia instigado, até que algo dentro dele só queria empurrar essa parte para fora de sua vida.
Talvez fosse uma desculpa para dizer que ela o pressionava, já que ele nunca se deixava incomodar
por nenhuma pergunta. Então teve que aceitar que uma parte dele queria que ela soubesse. Ela era
muito corajosa ou muito tola para se aproximar dele.
Foi fácil para ele ler os sentimentos de Colette através do olhar limpo de seus olhos. Não
queria que se apaixonasse por ele, porque eles só voltariam a ser o que eram antes: duas pessoas,
uma com o coração ferido e a outra cheia de culpa. Não queria repetir o cenário. Não depois de
conhecê-la melhor. Mas ao mesmo tempo era egoísta e a queria com ele. Sob os lençóis ou não; e
essa última certeza o dominou.
— Jake — disse a voz suave de Colette as suas costas, quando encontrou o andar onde Bob
estava. Jake sentiu uma pequena mão em seu ombro e estremeceu. Esta pequena mulher conseguiu
abrir um buraco dentro de sua armadura e não podia permitir.
Virou-se.
— Acho que é hora de você ir ver seu tio — respondeu olhando para ela com aborrecimento.
Sentindo sua hostilidade, ela imediatamente retirou a mão e olhou para ele com olhos
inquietos.
— Eu não queria...
— Claro que sim, Colette. Você gosta de bisbilhotar, fazer perguntas e refletir sobre as coisas
até conseguir o que se propôs a fazer. Se você alguma vez tentar falar com a imprensa... — ele parou
de cruzar os braços. — Agora faça o que você tem que fazer. Se você precisa de uma carona de volta
para Santa Monica, será melhor que se apresse para saber a que me ater com os horários. Tenho um
jantar esta noite.
Ela olhou para ele confusa, embora entendesse que uma pessoa tão reservada como Jake se
sentiria incomodada por ter expressado algo tão pessoal. Onde estava aquele filho? O havia dado
para adoção? Essa Lauren teria a custódia e a existência daquela criança era um segredo? Ela
tentaria ser compreensiva, embora ele obviamente não tivesse vontade de conversar sobre isso.
Queria lhe garantir que lhe nunca ocorreria discutir esse assunto com ninguém. Que podia confiar
nela, como ela confiava nele, mesmo que não quisesse contar a ela sobre seu passado.
— Eu gostaria de conversar...
Jake se inclinou sobre ela, perfurando-a com seu olhar. O corredor estava vazio, exceto pelo
posto de enfermagem, bem ao fundo do corredor do andar onde Bob estava.
— Não tenho nada para falar com você — ele rosnou. Então lançou um olhar grosseiro, como
se a estivesse despindo com o olhar. Ela estremeceu. — A menos que queira transar no fim neste
corredor — ele disse impertinentemente.
Ela negou com a cabeça.
— Sabe, Jake? — ela respondeu suavemente, ciente de que ele estava propositalmente
tentando ser rude para afastá-la. Não achava que tinha um pingo de afeto por ela, mas estava ciente
de que a atração entre eles era perigosa, viciante e poderia acabar machucando os dois. — Se você
quiser transar como diz, acredite, não faria isso em um lugar como este. Na verdade, sei que, se
concordasse, você se desprezaria. Só queria saber um pouco mais sobre você... Sinto muito pelo que
aconteceu entre você e aquela garota que o fez agir de forma tão cínica. Lamento que não queira falar
sobre isso, porque acho que te ajudaria muito. Afinal, talvez você não tenha superado isso. E lembre-
se de algo importante, Jake... — Ele ergueu uma sobrancelha. — Não sou Lauren, nem sou as
mulheres com quem você fodeu antes — terminou com desdém.
As narinas de Jake dilataram-se em seu esforço para respirar. Ele estava ficando cada vez
mais furioso. Não sabia se era porque ela estava tocando um acorde tão sensível, ou porque o que
mais queria naquele momento era afundar-se entre aquelas coxas deliciosas e quentes, se perder em
Colette e esquecer de tudo. Mas ela estava certa, se ele a seduzisse na sala vazia onde os
suprimentos médicos eram mantidos, se desprezaria. Ele estava sendo vulgar e Colette nada fizera
para merecer tal tratamento.
— Colette... disse para o espaço, enquanto se dirigia para o posto de enfermagem.
Jake tentou se recompor. Ele pensou que naquela tarde na praia havia superado Lauren, mesmo
depois de vê-la na discoteca sem sentir nada. Mas não era verdade. Ela tinha ferido seu orgulho, o
traiu e talvez aquele rancor não o permitisse ficar completamente calmo. Lauren não era uma pessoa
má, apesar de sua mentira... Na verdade, ela poderia tê-lo levado para longe e se casado com ele.
Seu corpo relaxou. Teria que fazer algo a respeito desse capítulo de sua vida. Não queria viver com
os fantasmas do passado.

O Dr. Tatte acompanhou Colette ao quarto de Bob. Disse-lhe que estava dormindo e que havia
sido transferido recentemente da Unidade de Terapia Intensiva, e que deveria ter cuidado para não o
incomodar. A transfusão dos litros de sangue já havia sido feita, durante as duas horas e meia que
Colie e Jake estavam comendo fora com os Blanskys. O médico disse que o prognóstico para Bob
era mais encorajador, mas teria de ficar vários dias no hospital.
Gertrudis apareceu na porta do quarto, alguns segundos depois, e os dois olharam tristemente
para o rosto sereno e machucado de Bob. Colie queria segurar a mão do tio ou dizer que estava ao
seu lado, que o amava, mas não queria acordá-lo ou incomodá-lo. Ela enxugou as lágrimas que
começaram a rolar pelo rosto, diante do olhar angustiado de Gertrudis, que a envolveu em um
abraço, enquanto o Dr. Tatte verificava os sinais vitais e fazia anotações atualizando o estado da
paciente.
— Que bom que você pôde doar sangue, Srta. Kessler. O grupo sanguíneo AB- só tem três
tipos compatíveis possíveis, e você, sendo B-, era perfeitamente compatível.
Colie sorriu.
— Espero que se recupere logo, para que eu possa falar com ele — ela sussurrou esperançosa
olhando para o tio com um nó na garganta. Tinha sentido muito a sua falta.
O médico colocou a caneta David Oscarson no bolso, retribuindo o sorriso.
— Com certeza. A previsão é mais otimista agora. Ele saiu da UTI. Além disso, não há nada
como compatibilidade de sangue entre pai e filha.
Um silêncio constrangedor se instalou na sala.
Colette sentiu que estava com falta de ar. Deve ter ouvido errado. Não pode ser. Pai e filha?
Olhou para Bob, que manteve os olhos fechados. Tio Bob... Ela se virou para Gertrude, que a olhava
com pena. Ela sabia disso! A irmã de Bob, com seus olhos inquietos, acabara de confirmar o que o
médico acabara de dizer. Um sentimento de apreensão e mal-estar a invadiu.
— O que... o que isso significa doutor? — perguntou em voz baixa, tentando suprimir a
vontade de fugir.
Gertrude pôs a mão em seu braço afetuosamente, mas Colette parecia imune a qualquer gesto,
especialmente dela; ignorou o toque e Gert se arrependeu, mas não podia culpá-la. Com um aceno de
cabeça do médico, deixaram o quarto em direção à antessala da suíte privada, fechando a porta que
conectava à cama de Bob.
O sentimento de traição estava começando a se aninhar dentro de Colette. Como era possível
que Bob fosse seu pai? Como Gert poderia saber e nunca ter dito? Seus pais! Quem eram essas
pessoas realmente? Milhares de perguntas começaram a se acumular em sua cabeça e ela se sentiu
tonta, atordoada. Mas precisava que o médico se explicasse.
Vendo o rosto da garota e o olhar desesperado da mulher ao seu lado, o Dr. Tatte percebeu o
sério erro não intencional que acabara de cometer.
— Desculpe... eu pensei... — ele ajustou o estetoscópio desconfortavelmente. — Estou me
retirando, mas peço que faça o mesmo. O paciente precisa de tranquilidade.
Colette conteve o médico, puxando-o pelo ombro para contê-lo. O médico se virou para ela.
— O que você quis dizer com aquilo doutor? Por favor... — sussurrou ansiosamente.
O especialista suspirou. E em um gesto incomum para ele para com os pacientes ou suas
famílias, pegou a mão de Colette nas suas.
— O Sr. Meadows é seu pai biológico, Srta. Kessler. Os níveis de compatibilidade de sangue
e DNA são os de um pai com um filho. Somos muito minuciosos nos testes que fazemos... Não há
engano. Lamento ter divulgado a informação dessa forma, eu realmente não sabia que... — suspirou.
— Sinto muito.
— Por que fizeram um teste de DNA, quando estávamos falando apenas de uma simples
transfusão de sangue?
— O laboratório confundiu a ordem de análise do sangue com a ordem de pedir um teste de
DNA, que já havia feito antes... Aqui no centro somos muito escrupulosos com todos esses
procedimentos, mas aparentemente em seu caso uma análise de mais, e embora o teste de DNA
geralmente demore muito mais para obter resultados, usamos um sistema experimental moderno da
tecnologia mais recente que nos permite ter uma resposta bastante precisa em questão de horas.
Atordoada, Colette assentiu.
— Ok doutor... não é sua culpa. Existe a possibilidade de que este novo sistema falhe? —
perguntou, mesmo sabendo que estava sendo uma idiota. Os avanços tecnológicos nos Estados
Unidos eram um monstro de exatidão, e nunca seriam colocados em um centro médico sem ter a
certeza de sua eficácia. Odiava tecnologia médica naquele momento. — Esqueça... Não tem como
isso falhar... — ela respondeu a si mesma em voz baixa.
O médico gentilmente soltou sua mão, triste ao ver o rosto pálido da garota.
— Se você quiser que façamos uma nova varredura com os sistemas tradicionais, não tenho
nenhum problema em executá-lo. E não vou cobrar nada por esse lapso que cometi, lamento muito
que tenha descoberto assim, Srta. Kessler.
— Eu… — respirou fundo. — Faça. Eu quero essas provas, por favor. — Porque essa era a
única maneira de enfrentar a realidade. Com evidências. Precisava de respostas de Greta e Phillip,
mas não poderia exigi-las se não tivesse evidências físicas para apoiar suas perguntas.
— Claro. Deixe-nos seu endereço residencial para fazer o envio. Os dados podem ser
deixados no posto de enfermagem.
— Não se preocupe, voltarei pessoalmente para pegar o teste.
O médico assentiu e saiu da antessala, deixando Colette e Gert em silêncio, mais do que
constrangidas, desoladas.
— Gert? — olhou interrogativamente para a mulher com cabelos ondulados e um rosto
cansado e amigável.
— Temos muito que conversar, querida — sussurrou. Sabia que Bob não podia ouvi-las, mas
não queria arriscar, então continuou falando naquele tom baixo que o médico também havia usado. —
Vamos sair daqui, Colie. Podemos conversar no corredor ou ir a um café. Sei que foi um golpe muito
duro para você, entendo que esteja chocada. Vamos tentar nos acalmar e conversar sobre isso.
Colette tentou conter as lágrimas que queimaram sua garganta. Ela queria correr e correr, até
que estivesse exausta, para que o sentimento de desamparo e traição se dissipasse.
Respirou fundo e recusou a oferta de Gert.
— Sou... sou... Bob me entregou para adoção para os Kessler?
Gert negou com a cabeça.
— Por favor, Colette — tentou segurar seu cotovelo com delicadeza, mas ela se afastou. —
Existem respostas que não tenho o direito de lhe dar. Você pode conversar comigo, desabafar, e eu
responderei o máximo que puder...
Colie a empurrou, colocando as palmas das mãos como escudo.
— Quem então? — perguntou com insistência e raiva. — Quem pode me salvar desse furacão
que me lançaram?
Gertrudis não teve escolha a não ser respondê-la.
— Sua mãe, querida. Greta é quem deve falar com você e lhe dar algumas respostas.
Colette concordou.
— Eu... eu preciso pensar.
— Por favor, não vá fazer nada estúpido... — ela pediu preocupada ao ver a expressão
impotente da garota.
Uma risada seca e acida saiu da garganta de Colie.
— Eu te respeito muito, mas acredite, Gert, que no momento nem você nem meus pais são
minhas pessoas favoritas para conversar. Me deram um golpe do qual duvido que algum dia consiga
me recuperar...
Ger se aproximou um pouco mais para tentar abraçá-la, e dessa vez Colette permitiu. Mas
logo se livrou do gesto.
— Não me odeie, por favor — implorou Gert, olhando para ela com seus olhos azuis. — Eu
não tinha o direito de falar sobre esse assunto. Eu nunca quis...
Colette ergueu a mão, pedindo silêncio.
— Chega. Não posso lidar com isso agora. Tenho que ir... voltarei para ver Bob, então... eu...
— ela murmurou, antes de sair com uma cara de arrependimento e lágrimas rolando pelo rosto.

Jake, vendo o rosto de Colette quando ela saiu da sala, temeu o pior. Sua raiva se dissipou.
Ele não conseguiu evitar que as imagens de sua mãe chorando por sua família, no dia do funeral, após
o acidente de trânsito, chegassem a sua mente. O sentimento de tal perda emocional repentina, em
uma tragédia injusta, era terrível para qualquer ser humano.
Ele se aproximou de Colie e abriu os braços, convidando-a a ser abraçada. Logo, ele sentiu a
bochecha dela contra seu peito e a abraçou, enquanto chorava. Por cima da cabeça de Colette, olhou
para Gert, que lhe disse para levá-la para fora. E foi o que ele fez.
Ele foi até a saída abraçado a ela.
Perguntou onde ela queria ir, apenas deu de ombros e olhou fixamente enquanto Jake ligava o
Jaguar.
— O que você quer fazer, Colie?
— Preciso pensar — respondeu com um soluço e uma voz abatida. Colocou a mão na de
Colette e acariciou os nós dos dedos dela com o polegar.
Vinte minutos depois, Jake encontrou uma praia bastante remota. Seu relógio marcava cinco da
tarde. As ondas batiam furiosamente na areia. E do carro, estava tentando ver se haveria um lugar um
pouco mais privado ao redor. Mesmo que não houvesse ninguém na praia, graças a Deus, queria ter
certeza de que ela teria paz de espírito, se ela apenas quisesse caminhar e caminhar. Ele podia
entender a dor que Colette estava sentindo.
Ela saiu como um autômato do carro. Por reflexo, Jake entrelaçou os dedos com os de Colie e
ela não o rejeitou. Algo que apenas indicava a gravidade do assunto. Ele começou a caminhar pela
areia até chegar perto da praia onde a espuma das ondas acariciava a areia da cor do trigo com café.
Avistou um conjunto de pedras, alto o suficiente para que, ao sentar-se, não pudessem ser vistos por
quem estava caminhando na praia; embora este último não importasse, pois a praia estava vazia.
Colette foi guiada por Jake. Talvez ele fosse o único ponto certo conhecido, o único que,
apesar de seu cinismo, era sincero sobre isso. Um verdadeiro ponto no meio da raiva e da
perplexidade que a carregava.
Quando chegaram à ponta das rochas, Colie não hesitou em sentar-se nas formas planas e
ondulantes para contemplar o mar. Jake fez o mesmo. O local estava seco, por isso não se molhou.
Era uma espécie de caverna em forma de concha, mas ambos se encaixavam perfeitamente e havia
espaço para esticar as pernas ou até deitar.
O interior da caverna cheirava a mar, natureza e sal. A maré estava baixa, mas as ondas
quebravam furiosamente a poucos metros deles. A praia era muito longa e, se Colie quisesse
caminhar, ela poderia ir e voltar cobrindo toda a extensão de areia, embora isso levasse pelo menos
quatro horas. Momento ideal para desabafar, mas ele sabia que não teria como sair daquela praia
sem carro.
Ela se virou para Jake, que estava esperando silenciosamente que ela falasse.
— O médico me disse que Bob está melhor — disse finalmente, quando acariciou sua
bochecha com cautela.
— É isso? — perguntou com um tom suave.
Ela acenou com a cabeça.
— Por que você estava chorando então?
Colette ficou em silêncio por um longo tempo. Ela se levantou para tirar o casaco, colocá-lo
nas pedras e sentou-se sobre ele. Ambos estavam protegidos do vento e muito próximos um do outro;
seus ombros se tocaram.
— Ele… — pigarreou. — Robert Meadows é meu pai verdadeiro — confessou em voz baixa.
— Eu... — olhou para as mãos dele, — nunca me passou pela minha cabeça que meus pais não
fossem meus pais biológicos... Não tenho respostas, mas tenho muitas perguntas... Essa notícia caiu
sobre mim como um balde de água fria...
Jake a observou, quando as lágrimas começaram a cair. Ele se virou, segurou o rosto dela com
as mãos e enxugou as gotas salgadas com os polegares. Ela parecia tão frágil naquele momento, como
se tivesse sido atingida por um terremoto e não soubesse para onde ir. E provavelmente era assim
que se sentia. Não tinha o direito de perguntar, não depois da maneira como ele reagiu ao caso de
Lauren. Mas poderia fazer outra coisa em troca.
— Venha aqui — ele sussurrou antes de tomá-la nos braços, colocando-a sobre seus joelhos,
enquanto ela pressionava o rosto contra seu peito. Ele a abraçou por um longo tempo, enquanto
Colette dava vazão às suas lágrimas. Acariciou seus cabelos enquanto ela desabafava, molhando a
jaqueta, mas Jake não se importou. Depois de muito tempo, quando os soluços diminuíram aos
poucos, ele começou a proferir palavras suaves de conforto contra os cabelos de Colie,
acompanhadas dos sons da natureza ao redor. Era uma situação tão íntima e pessoal, mas não se
sentia como se eles estivessem fora de lugar; pelo contrário, se sentia confortável. Decidiu abrir uma
parte de sua vida para ela, e começou com uma voz calma: — Na noite em que ligaram para casa
para dizer que meu pai, meu cunhado e minha irmã sofreram um acidente, meu mundo desabou — ele
disse olhando para o horizonte. — Eu estava voltando de um torneio em que me saí de maneira
fantástica, o Monte Carlo Masters. Eu ganhei. Lembro que nessa final, bati o recorde de quinze aces,
e ganhei com uma vantagem de 6-1 três sets, cada um, meu adversário era muito bom, mas eu estava
no meu melhor momento no tênis. Me senti na glória. Depois da celebração e da festa com meus
colegas, voltei aos Estados Unidos no dia seguinte. Minha mãe estava hospedada em Bel Air com
meu pai, e minha irmã veio cumprimentar com seu marido e com Brad, mas eles tiveram que ir
embora, e meu pai resolveu acompanhá-los, deixando meu sobrinho com minha mãe.
— Sua casa onde...? — perguntou, desculpando-se ao ver a mancha úmida que havia deixado
na jaqueta de Jake, colocou a mão sobre ela, mas ele gesticulou para não se preocupar. Colette
desceu das pernas de Jake, para se acomodar pegando suas pernas, enquanto ele colocava um braço
em volta dela, puxando-a para perto de si, para que pudesse descansar a cabeça no ombro de Jake e
observar o perfil masculino que olhava para o horizonte.
— Onde Rex está morando agora, sim — ele expressou tirando sua jaqueta e colocando-a de
lado. — Minha mãe costumava ficar na mansão de vez em quando.
Colie olhou para as ondas.
— Você era um bom jogador de tênis...
Jake sorriu com saudade.
— Eu fui, sem dúvida. Embora naquele momento, quando ligaram para casa para nos dar a
notícia, nada importasse. — O vento bagunçou levemente seu cabelo. — Minha irmã era tão alegre e
determinada, e meu cunhado, um homem com um futuro próspero como corretor de imóveis. Meu pai
era ótimo, sempre vinha conosco para nos apoiar. Convidei todos para me verem em Mônaco, sabe?
— começou a acariciar o braço de Colette quase automaticamente, sem tirar os olhos do mar. — Mas
disseram que precisavam organizar alguns documentos no país... Talvez se tivesse insistido, eles
ainda estariam vivos — disse amargamente.
— Não, Jake, não se torture assim... Às vezes é o destino. O momento de cada pessoa é
diferente.
Ele a ignorou e continuou.
— Perder parte da minha família foi um golpe muito duro. Assistir a mamãe envelhecer dez
anos da noite para o dia; ouvi-la chorar e lamentar a morte não só de minha irmã, mas do amor de sua
vida. Meus pais se adoravam..., Mas mamãe é uma mulher forte. Tive que ir ao necrotério para
reconhecer os corpos. São imagens que jamais esquecerei. Nada fazia sentido, e tudo parecia uma
piada macabra do destino. O funeral foi muito privado. Apenas alguns poucos amigos, os mais
próximos. E a imprensa começou a publicar histórias sem sentido, quando me recusei
terminantemente a dar declarações; Eles me perseguiram, me irritaram até à saciedade. Tentaram
especular. Um circo da mídia, mas não abri a boca. Quando perceberam que não iam arrancar uma
palavra de mim, trocaram-me por outra notícia mais sensacionalista...
— É por isso que odeia tanto a imprensa? Como se intrometem?
— Porque são desonestos e desprezíveis. Quando encontram um rastro de sangue, vão como
abutres buscar comida nos restos mortais de outro alimento.
— Isso é muito cruel, Jake. Não somos todos assim.
— É o que vivi, Colette. E acredite em mim, ser o centro da tempestade se torna um estigma
com o qual você não quer viver. Mas é impossível abandoná-lo, quando você é uma figura pública.
— Você poliu sua imagem, você a mudou.
Ele praguejou.
— Eu parei de ser um playboy?
— Pelo menos para a imprensa.
— Quando colocam uma etiqueta em você, nunca pode retirá-la.
— Chamavam você de Gladiador, acho que era um bom rótulo — se limitou a tentar arrancar
o traço de sarcasmo e ironia de Jake.
Ele encolheu os ombros. Pegou uma pequena pedra que estava a seus pés e atirou-a o mais
longe que pôde. Não atingiu a água e afundou na orla.
— Meu sobrinho Brad em algum momento estará sob meus cuidados, e ele foi a razão pela
qual minha mãe tirou todas as suas forças internas para lutar pelas perdas emocionais, ela não podia
dar a Brad uma avó chorosa e fraca — tocou no assunto dela família. — O menino precisava de um
ponto de força, e ela lhe deu. Deus sabe que eu tentei fazer isso também, mas às vezes não conseguia.
Eu não tinha carreira, nem família...
— Jake... — abraçou-o pela cintura e moveu sua bochecha contra seu ombro forte.
Colie entendeu o que Jake estava fazendo. Ele estava tentando confortá-la, dizendo a ela que
pelo menos tinha toda a sua família, e para isso estava abrindo uma parte muito privada para ela, que
ela estava convencida de que ele nunca revelou a ninguém. E foi nesse preciso momento que ela
soube que estava começando a se apaixonar por ele. Era assustador, já que eles só voltaram a se ver
há algumas semanas, e pior quando a ideia dela era apenas ter um relacionamento físico com ele.
Mas ela também era sincera; depois de Jake, nunca houve outro que a fizesse se sentir mais viva e
consciente de si mesma como mulher, como ele. Teria que salvar suas emoções se não quisesse se
machucar, e afastá-lo antes que terminassem o que tinham entre eles. Embora a própria ideia de
deixá-lo lhe causasse um nó na garganta.
— Sempre será uma ferida que não sarará completamente, mas pelo menos sei que tenho que
ser um exemplo para o Brad. Antes de toda essa confusão pessoal, minha carreira acabou. Um
problema físico no braço esquerdo arruinou anos de trabalho e muitas ilusões de uma carreira que
estava no topo. Não sabia para onde ir, o que fazer... Aí tinha farras, mulher, noitadas, era um
acúmulo de muitas coisas. Uma loucura. E a imprensa fez muitas manchetes às minhas custas.
— Kate deixava os jornais da seção de entretenimento na mesa do café da manhã. Sempre te
via com uma mulher diferente pelo braço... — expressou. Mal pensava em Jake naquela época, mas
nunca lhe caía bem o café quando via aquelas fotos; tinha sido ridículo, mas inevitável.
Jake riu. Ele parou de olhar para longe e se virou para ela.
— Nenhuma delas significava nada. Nunca foram remédios, mas genéricos de baixa
qualidade. Eram boas por uma noite... ou um tempo no bar. — “Eu também sou um genérico então?”,
Colette se perguntou em silêncio, apreensiva. — Fiz muitas manchetes, eu sei. Mas então pensei em
Brad. Não queria que meu sobrinho tivesse uma imagem paterna, um homem dissoluto e sem
propósito. Então veio o Stars Match. Foi minha terapia. Para muitas coisas... — relatou evitando
comentar sobre Lauren. Ela não era estúpida e percebeu isso, mas ficou quieta e não pensou em
perguntar, no entanto, a ideia de que Jake estivesse pelo motivo que fosse amarrado a outra mulher,
entristecia-a, porque era como se uma parte dele estivesse escapando dela.
— Lamento muito pela sua família — comentou com doçura e sinceramente. — E também que
você viveu tempos tão difíceis.
— Obrigado.
— Por que você escolheu ir para Santa Monica?
— Minha vida perdeu o sentido — ele respondeu como se isso englobasse tudo.
— E você acha que vai encontrar lá?
Ele encolheu os ombros.
— Pelo menos é uma residência diferente de Bel Air, Burbank ou Beverly Hills. Uma
mudança de ar é uma mudança de ar.
— Não que Santa Monica fosse muito longe — sorriu.
— É uma mudança de ambiente, não pude me afastar de Brad ou da minha mãe, então me mudo
para um lugar um pouco longe, perto da natureza, mas a uns quarenta minutos da minha família.
— Espero que você encontre o que foi procurar em Santa Monica. — “Se eu soubesse o que
estou procurando”, pensou Jake, irritado consigo mesmo. Ele estava desorientado. Colette era uma
âncora, mas ele não queria precisar dela. Não queria precisar de ninguém. — Independentemente do
que queira considerar, você tem um coração generoso que vem à tona quando você acha que ninguém
percebe.
— Não se engane nem se confunda, Colie. Só tentei pular as ondas para não me afogar. Eu
estava segurando as placas que estavam disponíveis para sobreviver. E embora minha reputação de
playboy tenha aumentado naquela época em que nada realmente importava para mim, com o tempo eu
consegui melhorá-la... ou isso acredito — comentou.
Colette sorriu.
— Obrigada por me contar tudo isso... Eu... — levantou a mão para acariciar a bochecha de
Jake, que já tinha pontas de barba, dando-lhe um ar sexy. — Acho que pelo menos tenho uma família,
só que agora não sei realmente onde... ou quem realmente são. — a voz dela tremeu. — Eu nem sei a
verdade do meu passado. Gertrudis negou que fosse adotada e, acredite, eu não teria me importado
nem um pouco — riu sem alegria. — mesmo que isso explicasse muitas coisas. Gert me disse que eu
teria que falar com minha mãe, que ela tinha as respostas. Então eu me pergunto se ela é minha mãe
verdadeira... Ou se Bob confiou me confiou a eles, e por que ele não me contou? Por que escondeu
isso de mim por tantos anos? O que aconteceu? — perguntou amargamente.
Jake pegou a mão dela e beijou seus nós dos dedos.
O céu estava começando a perder o brilho do sol. As nuvens se condensaram em cadeias de
formas infinitas, combinando cores e tons de azul, laranja, branco e cinza.
— Você não tem que enfrentar a verdade se não quiser ainda — disse ele baixinho, olhando
para ela. — Talvez seja bom que você reserve um tempo para si mesma. Embora talvez sair em uma
farra não seja o que você quer — disse tentando brincar.
Colette finalmente riu de verdade.
— Talvez, e sim — olhou para ele com um sorriso.
— Seus pais relutam que seja jornalista, você continuou estudando por rebeldia ou porque
queria muito essa carreira? — perguntou de repente.
Ela fez uma careta.
— Eu adoro isso. Nunca me vi como parte do mundo dos economistas. Odeio ficar trancada
em um escritório me entediando com números e estatísticas ou curvas de déficit e não sei que outras
bobagens. Prefiro conversar com as pessoas, relatar suas vidas para que outros saiam de suas bolhas
pessoais e descubram que o mundo não acaba nem começa com elas. Queria expor as necessidades
das pessoas comuns, aquelas que não têm acesso aos privilégios que você ou eu temos, aquelas
pessoas que às vezes lutam a vida inteira apenas para conseguir uma carreira profissional, quando
outros reclamam que o carro mais recente tem uma edição limitada. É esse contato com o mais real e
o mais tangível. A capacidade de fazer a diferença com uma história é o que me motiva. Sempre tive
vontade de trabalhar em uma revista de prestígio, mas infelizmente as oportunidades não surgiram
dessa forma. Então, eu combino dar aulas quando posso, ou o envio de pequenos artigos para certos
jornais, com a organização do programa de rádio. Por algo se começa.
Jake acenou com a cabeça.
— Você conversa frequentemente com suas irmãs?
— Não. Quase nada. Além disso, agora não sei se elas também farão parte de algum plano
estranho e não compartilhamos o mesmo DNA...
— Os Kessler criaram você — respondeu com cautela. Seu nariz estava um pouco vermelho e
seus olhos ainda tinham vestígios de lágrimas. Ele acariciou seu cabelo suavemente, então abaixou
sua mão. Ela olhou para ele com um sorriso tão doce que ele quis beijá-la, mas eles ainda não
haviam terminado de conversar. Então ele continuou. — Eles sempre estiveram lá para você, assim
como suas irmãs. Por que o simples fato de um DNA não corresponder implicaria que todos aqueles
anos iriam para o inferno? Muitas famílias foram criadas com filhos adotivos, sei que não é o seu
caso, mas se receberam amor, proteção e apoio, o que importa não compartilhar laços de sangue?
Ela o encarou por um longo tempo.
— Não me sinto apreciada pela minha família, Jake. Eles me criticam por tudo, eu sou a
ovelha negra. A única que se recusou a seguir suas regras. A única que os desafiou. Nenhum projeto
meu era bom o suficiente... é por isso que me rebelei, e fui para Santa Monica alguns anos atrás com
a Kate. Fiz todas as coisas tolas que pude para tirá-los de suas caixas, para chamar sua atenção, mas
no final não consegui nada — manifestou com acidez.
— Talvez dada a natureza da profissão de seus pais, tão lógica e pragmática, uma pessoa
como você, viva e com ideias mais liberais, ou talvez apenas diferente, acharam difícil de controlar.
Inclusive de prever. Talvez eles estivessem apenas procurando o que achavam ser melhor para você,
de acordo com seus próprios parâmetros. É o que os pais fazem...
Ela suspirou. Um suspiro cansado e derrotado. Talvez Jake estivesse certo. Talvez não. Mas
pelo menos era um ponto de vista diferente e ajudou a ter outra perspectiva.
— Mas agora me sinto traída e magoada. Não estou interessada em entender suas motivações.
Se eles não me amavam... por que...? — engoliu um soluço. — Não importa.
— Você acabou de descobrir sobre toda essa situação, Colie. Tem que dar a si mesma algum
tempo para colocar tudo em perspectiva. Mas, diga-me uma coisa, mesmo apesar da resposta ou
respostas que eles dão quando você os enfrenta, estaria disposta a desculpá-los?
— Eu não sei...
Ele assentiu.
— As únicas pessoas que sempre estiveram lá para mim foram os Blanskys, Jake. Eles são um
pouco excêntricos, mas gostava de viajar com eles no verão. São meio hippies, e eu me diverti muito,
rindo e fazendo o que nasci para fazer sem medo de errar ou ofender alguém com meus comentários
— relatou com saudade. — Pelo menos agora tenho Kate.
Jake sorriu. E ela queria se envolver em seus braços e sentir seu calor e seu perfume
masculino, misturado com seu odor pessoal. Uma combinação letal para seus sentidos. Mas eles
precisavam terminar essa conversa. Ela teria pensado que Kate sempre estaria em seu pior cenário,
mas nunca teria acreditado que Jake Weston era seu ponto de consolo. Não do jeito que ele estava se
abrindo com ela. Era conhecido por seu temperamento explosivo, mas com ela, embora pudesse ser
limítrofe ou rude, os tons de calor e ternura que devotava a ela tendiam a se destacar e fazer seu
coração bater mais rápido. E quando era apaixonado...
— Damon e você...? — começou, sem concluir a pergunta. Disse a si mesmo que não
perguntaria sobre isso, mas não pode evitar.
— Uma vez, há um tempo, saímos juntos. Um amor de verão. Antes de te conhecer. Mas
decidimos não continuar por Kate. Não queríamos que, se as coisas não dessem como o esperado,
nossa amizade sofresse, porque ela ficaria no meio.
Colette viu como o rosto de Jake ficou sombrio.
— Entendo...
Ela negou. Graças a Jake, se sentia mais leve, embora o arrependimento e a sensação de
impotência continuassem dentro dela como uma bomba-relógio. Talvez ele tivesse apenas acalmado
no momento em que explodisse, mas ela estava convencida de que, assim que visse seus pais cara a
cara, as coisas mudariam. Não falaria com eles até que tivesse os testes de DNA em suas mãos. Se
ela era filha de Bob, o que Phillip estava fazendo lá na clínica, então? O que Greta estava fazendo?
— Não, você não vê — ele respondeu, — porque você está curioso para me perguntar mais
sobre Damon, mas não o faz porque é orgulhoso. Porque quer me fazer entender que talvez se importe
comigo como amigo, e é por isso que abriu uma porta para sua privacidade, para me confortar, para
me fazer entender que pelo menos eu tenho uma família, e que deveria levar a situação com mais
estoicismo, e muito obrigado, de todo coração. Mas eu sei que você também está tentando me fazer
entender que não se preocupa o suficiente comigo, a ponto de querer saber do meu passado, porque
somos apenas amantes, como você disse antes. E a única coisa com que se preocupa é transar...
certo?
Jake a encarou por alguns segundos, o que pareceu uma eternidade. Então ele começou a se
inclinar, até que ela teve que se apoiar em seu próprio peso, colocando as mãos para trás e esticando
as pernas para não cair para trás na rocha coberta com a jaqueta.
— Ouça-me bem. Nunca contei a nenhum amigo sobre minha família como acabei de fazer
com você, e nunca contaria. Está claro para você?
— Eu… — vendo aquele olhar penetrante, engoliu. — Sim. Está claro para mim. Então... por
que eu?
Ele sorriu enigmaticamente.
— Você está muito curiosa para o seu próprio bem, Srta. Kessler — respondeu ele inclinando-
se mais, até que ela não teve escolha a não ser deitar de costas contra a rocha. Ele colocou uma mão
em cada lado da cabeça de Colette, em seguida, moveu a perna, pegando Colie entre as dele,
montando nela. Encostou o nariz no de Colie e sussurrou bem perto de sua boca. — Você quer
esquecer tanto quanto eu?
— Eu… — assentiu—. O que você quer esquecer?
— Talvez eu possa te dar essa resposta — respondeu ele mordendo o lábio inferior dela. Não
queria falar mais sobre si mesmo ou sobre seu passado. Não queria abrir aquelas comportas
novamente. Conversar com Colette foi um alívio. E se sentia leve. Ele nunca pensou que poderia
falar sobre si mesmo sem se sentir ameaçado ou fraco. Colette parecia ter um feitiço sobre ele, e isso
o perturbava mais do que deveria.
— S... Sim?
— Mhum — insistiu, desta vez ele lambeu os lábios dela. — Quero esquecer como é difícil
para mim ficar longe de você.
Ela sentiu seu coração palpitar.
— É mesmo?
Jake deu um sorriso malicioso antes de colocar o casaco nas pedras e colocá-lo atrás da
cabeça de Colette, para que ela não sentisse o desconforto das imperfeições rochosas em seu couro
cabeludo. Ela se acomodou, olhando-o nos olhos. Era uma conexão impressionante que os dois
tinham um com o outro.
— Sim.
CAPÍTULO 14

O bater das ondas, a névoa do vento assobiando pelas fendas das rochas e o aroma do mar
encheram o espaço, criando um som maravilhoso. Uma obra-prima da natureza que não poderia ser
mais perfeita.
— Jake... — sussurrou, Colie, quando ele começou a tirar seu suéter com facilidade. Ela não
se opôs. Queria isso desesperadamente. Ela poderia se concentrar nele e excluir o mundo. E era
disso que precisava.
— Mmm — respondeu com sensualidade contemplando como o bojo do sutiã de renda preta
cobria aqueles lindos seios macios e perfeitamente arredondados. Ele os havia provado na noite
anterior com luxúria e ganância, e pretendia repetir o banquete.
Ela o olhou com expectativa, sua respiração irregular. Com um sorriso, Jake tirou a camisa e
depois o cinto. Tirou um preservativo do bolso de trás e o colocou de lado.
— Oh, que precavido — disse ela com uma risada nervosa, vendo como ele começou a se
despir. Tinha um físico que lhe tirava o fôlego. Sentiu um vazio no estômago enquanto seu olhar
viajava por aquele corpo magnífico feito para pecar, e que estava pronto para ela. Cada músculo de
Jake parecia esculpido. Nem um grama de gordura, e a pele dourada convidava a tocá-la, a prová-la.
Seus dedos coçaram com o desejo de acariciá-lo e se perder em seus beijos.
Jake ergueu uma sobrancelha e tirou os sapatos; e cada peça de roupa. Até que finalmente
estava de pé na frente dela. Totalmente nu e com uma ereção latejante ansiosa por encontrar aquele
lugar quente e íntimo que os levaria a um abismo de sensações indescritíveis.
— A verdade é que eu estava ansioso para estar com você de novo, pensei em esperar até
voltar para Santa Monica...
Ela riu e estendeu as mãos pedindo que ele se aproximasse.
— Que bom que não tive que esperar — ela sussurrou enquanto Jake se inclinava para tirar o
sutiã. Quando seus seios estavam nus, ele ficou em silêncio, olhando para ela em êxtase. Correu um
dedo ao longo do canal que separava seus seios e acariciou a barriga lisa, como se estivesse
desenhando e reconhecendo a peça mais requintada.
Jake sentiu seu coração disparar com o simples fato de tocá-la. Cada vez que ele conjurava o
corpo nu de Colette sob o seu em sua mente, estava morrendo de desejo, e uma dolorosa excitação o
dominou. E agora que as pupilas azul-esverdeadas de Colie haviam escurecido e os lábios deliciosos
daquela boca convidativa estavam entreabertos, queria afundar-se nela, sem a menor cerimônia. Mas
sabia que a espera tornaria o clímax da paixão mais delicioso. E fingiu saboreá-la, até que a dor do
desejo os atingiu igualmente. Gostava de tudo nela. Colette era simplesmente primorosa. E isso
certamente foi dito por um homem por cuja cama muitas mulheres passaram. Ela era única de tal
forma que conseguiu perturbá-lo.
Colette sentiu a boca de Jake beijar suas pálpebras, bochechas, nariz e, quando alcançou seus
lábios, ela o deixou entrar, saborear, saquear, enquanto suas mãos suaves acariciavam seus braços
fortes e firmes. Enquanto a beijava, provocando gemidos e criando uma sensação de placidez
ansiosa, ele começou a desabotoar seu jeans. Abaixou o zíper, então deslizou a roupa para baixo, sua
língua quente correndo sobre sua boca, marcando-a e conquistando-a.
Ela sentiu uma faísca de fogo percorrer todo o seu corpo quando os peitorais de Jake entraram
em contato com seus seios sensíveis. Com um movimento ágil de suas pernas, ela terminou de
desfazer o jeans que tinha prendido em seus tornozelos. Estava sob o calor sensual de Jake, em
calcinhas combinando com o sutiã que descansava em seu suéter verde, empilhado ao lado da roupa
masculina. As mãos de Jake desceram por seus lados, desceram por suas pernas esguias; ele a
acariciou, apertou, e aquela boca quente continuou possuindo-a com grunhidos de prazer.
— Você é uma mulher muito sensual e linda, Colette — disse em voz rouca, ao erguer as mãos
para contemplar o rosto ruborizado com os lábios inchados pelos seus beijos, e os seios magníficos.
— E eu quero te provar até que o prazer seja tão intenso que me implore para possuí-la...
— Jake... você também... — praticamente gemeu quando a boca masculina segurou um de seus
mamilos. Primeiro ele o lambeu, depois o tomou totalmente com a boca, chupando com força; então
começou a variar o ritmo, tornando-a ciente da umidade entre suas coxas que queimava como mel
quente. Então ela o sentiu em seu outro seio, passando a língua ao longo do contorno de sua aréola
rosa, então repetindo a tortura anterior, chupando seu mamilo, até que ela gritou de prazer. Ele fez
exatamente o mesmo procedimento repetidamente, criando sensações maravilhosas que esquentaram
seu sangue. Quando os dois mamilos estavam deliciosamente doloridos, as carícias se tornaram
suaves e a língua intercalou uma e a outra com a ajuda dos dedos experientes de Jake, o que
provocou gemidos incoerentes — você também é muito sensual... — terminou a frase com um
suspiro, quando Jake apertou os dedos e chupou um seio com decisão, correndo sobre ele, moldando-
o e dando-lhe um prazer indescritível.
Colette desceu por seus peitorais firmes, por sua barriga musculosa, até que seus dedos
tocaram sua ereção. Ele deu um passo para o lado para não permitir.
— Se você fizer isso, não duraremos muito e só trouxe uma camisinha — murmurou ele, antes
de se inclinar para beijá-la. Foi um beijo longo, uma troca de iguais, duas línguas ansiosas, gemidos
e carícias, nenhum dos dois queria deixar de dar ou receber prazer; aquele beijo rápido e apaixonado
os consumiu.
— Mmm…
— Você gosta disso? — perguntou contra a boca de Colette, contornando seus quadris de
forma que a ponta de seu sexo brincasse no tecido de sua calcinha, contra a umidade feminina. As
mãos de Colie se entrelaçaram em seu pescoço, puxando-o para mais perto dela.
— Eu... — senti o sexo de Jake bater contra o dela, pressionando, provocando, brincando,
enlouquecendo. Ela não estava molhada, mas encharcada de desejo. — Oh sim. Eu realmente gosto...
Jake a beijou novamente; um beijo ardente. Abriu as pernas dela, colocando-se entre elas, e
sem pensar duas vezes, puxou sua calcinha de seda, rasgando-a. Ela começou a protestar, mas a boca
masculina interveio, sufocando qualquer palavra.
Ela sentiu os dedos masculinos separando as dobras suaves de seu sexo, procurando a
umidade que dizia o quanto ela o queria. Jake a olhou nos olhos, enquanto acariciava a abertura
sensível, umedecendo-a com um dedo com sua própria essência feminina, ao mesmo tempo em que
pousava o polegar em seu clitóris, preparando-o, seduzindo-o, fazendo-a arquear contra sua mão lhe
pedindo sem palavras que lhe desse a libertação. Uma liberação que ele a negou.
Colette sentiu seus seios queimando, sua pele sensível e seu sexo latejante enquanto ela se
movia contra aqueles dedos experientes, seu olhar perdido nas profundezas dos olhos cor de aço de
Jake. O olhar masculino era intenso, vibrante e poderoso, tanto quanto suas carícias; seu sexo era
grande e firme.
Jake começou a massagear o sexo de Colette implacavelmente, ele o fez com delicadeza e
precisão, liberando um choque de estremecimentos que a deixou atordoada, sem fôlego, ofegante,
mas ainda assim, parecia calcular cada um de seus movimentos para que ela não o alcançasse à beira
do êxtase. E, ao fazer isso, as mãos de Colie o acariciaram com urgência e desejo.
Os toques de Jake geraram um delicioso fluxo de prazer que se espalhou por seu corpo como
uma torrente de mel derretido. Colie separou as coxas, como se assim o prazer pudesse ser mais
intenso, mais devastador. Precisava dele dentro dela, mas ele se recusou a possuí-la e dar-lhe o que
desejava. Isso a estava deixando louca, e sua única defesa era gemer, tentar tocar o sexo duro de Jake
e cravar as unhas na pele de suas costas musculosas para incitá-lo a cumprir seu desejo. Ela se
contorceu e seus quadris dançaram ao ritmo de suas necessidades. Estava prestes a gozar, mas então
Jake parou.
— Por favor ... Oh, não...
Ele riu roucamente e a silenciou deslizando um dedo dentro dela. Imediatamente, Colette
contraiu seus músculos íntimos em torno daquele invasor bem-vindo. Jake brincou com ela, então a
deixou à deriva novamente. Ele se inclinou, até que sua boca estivesse perto da orelha de Colie,
enquanto pressionava seu sexo duro contra sua virilha feminina lisa, apenas para mostrar o quanto
estava morrendo de desejo.
— É mais agradável assim, querida...
Com um grunhido, Colie puxou o rosto de Jake até o dela e o beijou, mordendo o lábio
inferior, puxando-se para cima e depois chupando-o. Ele seguia o ritmo da dança daquela boca,
enquanto sua mão direita brincava com o sexo úmido de Colette, acariciando-o com a ponta dos
dedos, provocando-a, mas não dando o que ela desejava.
O corpo de Jake estava impregnado de uma fina camada de suor, do esforço para se conter,
para dar-lhe prazer, enquanto as suas costas o mar rugia e o céu começava a perder a cor da luz. O
reflexo dos últimos raios de sol iluminou-o por trás, e Colette jazia como uma Vênus tentadora à sua
frente; nua, altiva, desejosa e pecaminosa. Ela o enfeitiçou, o cativou, o seduziu, sem tentar; e quando
flertava, se sentia perdido, como naquele momento a ouviu gemer, e balançar contra ele. Seria
impossível se cansar de Colette, porque seu corpo parecia um instrumento do qual ele conhecia o
segredo para fazê-lo vibrar e criar as sensações certas; sensações que agradando Colette também o
agradaram.
Abandonou a cálida região sul, para massagear seus seios com as duas mãos, roçando os
mamilos com o polegar antes de se abaixar para colocá-los na boca. Chupando um e depois outro.
Gratos porque suas jaquetas serviam como proteção contra a superfície irregular em que Colette
estava encostada.
Jake soltou um grunhido gutural quando ela deslizou as unhas pelas costas dele, até as
nádegas, e ao mesmo tempo moveu os quadris tentando segurar sua ereção. Mas ele não a deixou.
Agitado e excitado, acariciou seu lábio inferior com o polegar. Colie o encarou com os olhos
nublados de desejo e isso aumentou seu ego.
— Você é grande... — ela sussurrou com admiração feminina. — Eu gosto...
Ele riu, satisfeito com seu ego masculino, e então pegou suas nádegas com as duas mãos e a
ergueu ligeiramente para que seus sexos estivessem perfeitamente alinhados. Então a penetrou
lentamente, seus olhares se conectando em um nível que ia além do físico. Quando estava totalmente
embutido nela, a balançou suavemente para dentro e para fora de seu centro escorregadio. Com as
mãos acariciou sua pele, desceu por seus braços, sua barriga, suas pernas e então seus dedos
alcançaram aquela abertura suave entre suas coxas macias.
— Deus... você é uma delícia — expressou-se quando ela rodeava seus quadris com as
pernas, seguindo o ritmo de suas estocadas poderosas e gritando de prazer, enquanto seus seios
deliciosos eram eroticamente sacudidos a cada estocada determinada. — Você me mata de prazer...
A fricção de seus corpos ecoou na pequena caverna. Os sussurros, gemidos, súplicas e
grunhidos ininteligíveis de prazer geraram uma harmonia erótica de sons. As mãos de um e do outro
escorregaram na pele de seu amante, imprimindo seus anseios; pressionando e acariciando.
Colette mergulhou no calor do desejo e da paixão que estava experimentando dentro dela.
Estava mais ciente do que nunca da reação que Jake despertou em seu corpo; cada pequena parte dela
estava sendo possuída, devastada e reconstruída pelas sensações que ele criava com as mãos, com a
boca, com seu sexo. A força de seu próprio desejo a surpreendeu quando sentiu o último de seus
nervos aquecer, agitar e responder ao calor de seu amante. Um amante que ela nunca poderia
esquecer. Estava com medo de estar perdendo a cabeça no prazer do momento, mas também estava
ciente de que seu coração estava se rendendo lentamente a Jake a cada segundo que passavam juntos.
Era uma perspectiva perigosa e ao mesmo tempo emocionante. Fechou os olhos por um momento
para tentar apagar quaisquer pensamentos que não tivessem nada a ver com desfrutar, sentir e
experimentar.
— Olhe para mim... — Jake pediu, e ela fez. — Adoro ver suas pupilas dilatarem e a
expressão em seu rosto quando me quer — expresso enquanto se maravilhava com a maneira perfeita
como ambos se encaixam. Juntos, criaram uma sincronia perfeita; uma sincronicidade que Jake não
tivera com nenhuma outra amante.
Ele gemia com cada impulso enquanto sentia os músculos de Colette se fechando ao redor de
seu pênis, embalando-o em sua suavidade e calor. Suas penetrações tornaram-se mais frenéticas
quando sentiu que ela estava prestes a atingir o êxtase. Ele segurou seus quadris com firmeza com as
mãos, afundando mais profundamente, e quando ela arqueou as costas, sabia que os dois teriam
orgasmo ao mesmo tempo.
— Jake... — sussurrou com a voz quebrada. Sua mente foi esvaziada de tudo, exceto as
sensações que ele lhe causou.
— Eu sei, querida... — engasgou, e com uma última estocada, profunda e forte, os dois
sentiram uma emoção intensa, semelhante a um salto em queda livre, com a adrenalina envolvendo
seus corpos, a tensão invadindo seus músculos, e o prazer de jogá-los em um abismo delicioso com
um orgasmo devastador.
Jake ficou inclinado sobre Colette, tentando com os braços não a esmagar, enquanto seu rosto
estava enterrado em cabelos com aroma de ervas frescas e lavanda. Ficaram juntos, até que suas
respirações diminuíssem e voltassem ao normal. Colette se sentia exausta, mas animada. Queria ficar
naquela sensação de plenitude carnal e ficar onde estava, sentindo aquela frouxidão indefinidamente.
O céu estava praticamente escuro, e apenas um lampejo de luz filtrada pelas nuvens. Jake
relutantemente saiu do corpo de Colette, para remover o látex. Olhou para ela com um sorriso e, em
seguida, baixou a boca para beijá-la. Foi um toque suave e entregue. Ela respondeu deslizando a
língua na boca de Jake de uma forma sensual, mas desta vez foi uma troca calma; intensos, mas com a
intenção de mostrar o quanto estavam saciados um do outro. Quando se separaram, ele acariciou seu
rosto com os dedos.
— Vamos tomar um banho — disse de repente levantando-se. O ar frio atingiu Colie, e ela
imediatamente sentiu falta do contato com Jake. O olhou para ele confusa. — Qual é, você não é
aventureira?
Ela riu quando sua mente começou a processar novamente, e deixou Jake ajudá-la a se
levantar. Não, ela não era totalmente aventureira, mas com ele se sentia mais viva do que nunca.
— Você pretende se banhar no mar a essa hora, Jake? Está quase escuro...
Ele a olhou. Colette estava ciente de sua nudez, mas ao mesmo tempo se sentia confortável
sendo como Deus a trouxe ao mundo. O vento frio a acariciou, e ela só queria aninhar-se contra Jake,
mas era uma bobagem quando o céu estava praticamente terminando de fechar.
— Quase. Você disse isso, mas está com medo? — a desafiou com um sorriso malicioso e
com as costas da mão acariciou seus seios.
Ela mordeu o lábio e se abaixou para abraçá-lo. Jake acariciou suas costas por um tempo, e
então colocou as mãos em seu traseiro macio e firme. Ele deu um tapa de brincadeira, e ela retribuiu
com um olhar travesso e astuto.
A praia estava deserta, eram só eles e a natureza; eles e seus desejos, seus medos, seus
anseios e suas paixões.
— Uma corrida? — ela perguntou dando-lhe um beijo fugaz nos lábios.
Ele sorriu.
— Um... dois... Ei, trapaceira! — exclamou quando a viu correr em direção à água e chegar
antes dele.
Quando Jake se juntou a ela, a pegou e mergulhou os dois na água fria, com nada além do calor
do corpo para conter a temperatura. Estavam se beijando, se tocando e brincando com as ondas, até
que o horizonte ameaçou escurecer completamente. Então, ele a pegou pela mão, para guiá-la até o
lugar onde haviam dado rédea solta aos seus desejos.
— Então — começou de repente, quando Colie estava terminando de colocar a roupa no corpo
molhado, estremecendo, — você e Damon não tem nada?
Ela o encarou sem entender, até que sua mente ligou os pontos da conversa anterior. Sorriu.
— Não.
Jake ajustou sua camisa, gotas de água caindo de seu cabelo loiro escuro.
— Não é difícil perceber que ele quer você de volta — comentou desconfiado. Depois de
Lauren ele teve aventuras, mas apenas de uma noite. E no dia seguinte, se te vi, não me lembro. Algo
que obviamente não planejava fazer com Colette. Que não era um santo, não tinha dúvida, mas as
mulheres que dormiam com ele sabiam o que pretendia; apenas prazer, sem compromissos. Uma noite
era tudo. Colette não sabia até que ponto com ela estava quebrando todas as regras que havia imposto
às mulheres. Era verdade que ele havia decidido não brincar, então pretendia estar com Colie até que
a química entre eles evaporasse, mas uma parte de seu cérebro lhe disse que isso nunca aconteceria.
Então, se as coisas ficassem difíceis, ele estava determinado a deixá-la. Não havia outra solução.
Colie calçou as botas. Tirou um lenço de papel de sua bolsa e entregou a Jake.
— Tampouco é difícil que saiba que se estou contigo não estarei com outro. Certo?
Ele olhou para ela por um momento, enquanto fechava o último botão de sua camisa. Encolheu
os ombros. E ela franziu a testa.
— Você vai voltar para o hospital? — perguntou mudando de assunto, quando percebeu que
ela ia argumentar um pouco mais.
Colette negou, percebendo o que ele pretendia e deixou estar. Mas já tinha uma pista. Jake não
confiava em mulheres. Ele fingiu ser indiferente, mas era algo mais. Essa Lauren deve ser a culpada.
O que aquela mulher teria feito com ele?
— Estou encharcada. Também preciso de um tempo... para refletir sobre minha família. Vou
ligar para o médico para ver como está o Bob, e então bem... — encolheu os ombros—veremos.
Tenho que vir buscar os testes de DNA em alguns dias, depois irei visitá-lo. Eu deveria estar com
raiva dele, sabe? — suspirou. — Não sei... não sei como me sentir.
Jake inclinou a cabeça, olhando para ela. Estava linda. Sem maquiagem, com o cabelo úmido
e a pele macia e brilhante. Ele queria fazer amor com ela novamente, mas se conteve. Com Colette,
tudo era difícil de prever.
— O sexo ajudou?
— Não acredito que você fez essa pergunta — respondeu olhando para ele com uma raiva
falsa.
— Por que a resposta é óbvia?
Colette deu-lhe um pequeno empurrão sem força. Ele dedicou-lhe um sorriso brilhante e
encantador. Um sorriso diferente do que ela costumava ver Jake oferecer a outras pessoas. Seria
especial para ele? Ou era assim que se comportava com todas as suas amantes? Teria sido assim com
esta Lauren? Sim. Ok, estava começando a agir como uma namorada. E não estava nessa categoria.
Ele tinha deixado isso claro, e ela deveria manter isso em mente também.
— Nunca fiz isso na praia — comentou, passando a mão pelos cabelos úmidos. Ele pegou a
mão dela, virou-a e beijou a palma.
— Que bom que foi sua primeira vez… Pela segunda vez?
Ela apenas riu. O ego de Jake era impossível, mas ele fez os comentários em um tom tão
alegre que suas palavras soaram como uma piada. E não eram, é claro. Ele era um homem orgulhoso
e bastante confiante.
— Eu acho — respondeu ainda rindo. — Talvez eu seja sua primeira vez em algo também,
certo? — perguntou brincando. Mas ele não riu, mas a fitou intensamente, e teve a impressão de que
estava tentando dizer outra coisa com aqueles olhos cinzentos, mas o momento se perdeu quando uma
gaivota passou por cima deles.
— Por alguma coisa — Jake disse sorrindo, e então a puxou contra seu corpo, para beijá-la.
Um beijo rápido, fugaz, mas possessivo. — Vamos sair da praia que já está escura. A luz do celular
servirá para o caminho. Graças a Deus, são apenas dez minutos de caminhada.
— Jake — gritou para ele quando uniu sua mão com a dela, e começou a puxá-la para
caminhar até o Jaguar.
— Sim? — respondeu parando. Em uma das mãos ele carregava os sapatos e na outra
segurava a mão de Colette. Parecia um daqueles modelos de catálogo, todo molhado e provocante.
Ela teria desejado abraçá-lo, pele com pele, de novo... Ela foi feita de luxúria, e na verdade, se
sentia ótima.
— Obrigada por me fazer esquecer um pouco... — umedeceu os lábios com a língua. — O que
fizemos foi...
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Estamos tendo problemas com adjetivos de novo? — perguntou maliciosamente
lembrando-se do início da manhã.
Colette sorriu, balançando a cabeça.
— Você está insuportável.
— Mas você me quer — respondeu caminhando com ela.
— Sim, que tragédia — acrescentou olhando para ele com humor e se sentindo leve.
Eles caminharam em silêncio para voltar ao carro que os levaria de volta a Santa Monica. Os
problemas que ela tinha que resolver, os trataria aos poucos. Pelo menos tinha o consolo de que,
enquanto o mundo de sua família estava virado de cabeça para baixo, Jake não estava mentindo para
ela. Confiar nas pessoas não lhe era fácil, e sabia que compartilhava o mesmo ponto com ele.
Durante o trajeto pela rodovia, Colie ligou para o hospital. O Dr. Tatte a informou que Bob
estava nas mesmas condições de quando ela saiu e que seus sinais vitais estavam estáveis, mas que
sua condição exigia descanso e que estava proibido de receber visitas até segunda ordem.
Ela perguntou por que, quando recentemente pôde vê-lo, o médico disse-lhe que, se houvesse
conflitos familiares, não queria arriscar que alguém fizesse perguntas que pudessem incomodar seu
paciente. Colette disse que não era imprudente, mas aceitou a decisão do médico.
— Colie na quinta-feira há um evento com ex-tenistas. Um show que nossos agentes organizam
de vez em quando — disse Jake.
A princípio, não tinha intenção de vincular Colette a nada que tivesse a ver com qualquer
coisa fora dos lençóis ou da rádio. Então, de repente, deixar escapar o convite o surpreendeu, mas
ele já havia falado as palavras e não iria desistir. Pareceria ridículo e a ofenderia.
Colette o fez sentir. Isso o apavorou, então tentou encontrar uma maneira de escapar, mas suas
ações contradiziam seus pensamentos. Ele nunca trocou carícias detalhadas com suas amantes; sexo
era sexo; despindo-se, tocando-se e satisfazendo-se, mas com Colette havia gostado de todos os
encontros; ele tinha saboreado cada toque, gemido, e se deliciava em acariciá-la e buscar seu prazer
para fazê-la se sentir satisfeita de todas as maneiras possíveis.
Ela estava começando a ter algum poder sobre ele, e a própria ideia o estava deixando louco.
Era tão deliciosa e suave, inteligente e vulnerável, agressiva e forte, que às vezes queria mantê-la
com ele, e outras vezes, gostaria de ficar longe. O último no final teria sido impossível. Estava com
medo de começar a abrigar emoções que ele havia deixado enterradas há muito tempo, não queria
que nenhuma mulher o tornasse estúpido novamente. Certamente toda a bagunça que ela carregava
não era nada mais do que o resultado de sexo apaixonado. Sim. Era isso. Isso passaria quando ele se
acostumasse e a novidade começasse a minguar.
— Fins de caridade? — ela perguntou desconfiada. O mínimo que queria era se socializar
com os outros quando tinha muito em que pensar. Mas, novamente, não via Jake jogar há muito tempo.
Quando fez isso em Paris, ficou extasiada com a maneira elegante e enérgica de bater na bola,
correndo pela quadra para marcar um ponto, a ferocidade de seus movimentos e a força de seu jogo.
Jake era um estrategista de tênis e lamentava que sua carreira tivesse terminado tão cedo, privando o
mundo de um titã branco do esporte.
Ele aumentou um pouco mais a temperatura dentro do carro, enquanto Armin van Buuren soava
baixo ao fundo.
— Não, é para o público que quer se divertir. Em vez disso, é um programa de patrocinadores
e coisas assim, para as pessoas experimentarem novas bebidas ou algum fornecedor — virou uma
curva. — Bobagem de agente sobre a qual não me preocupo em perguntar muito. Me pagam por isso,
e pronto. Você gostaria de me acompanhar? — quase rugiu. A ideia de ela rejeitá-lo, não lhe
agradava.
— Se eu não tiver nada para fazer, claro — respondeu olhando pela janela.
Jake olhou para ela por um segundo, antes voltar a olhar para frente.
— Bom.
Fizeram o resto da viagem em silêncio. Cada um perdido em seus pensamentos; ciente de que
aquele fim de semana intenso havia mudado algo dentro de cada um em relação ao outro.

Realmente estava exausta. Não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Jake sugeriu que
jantasse com ele assim que chegassem a Santa Monica, mas ela recusou. O que precisava era de
descanso. Abriu a porta de seu apartamento, pensando em tomar um banho quente e depois dormir.
Mas, aparentemente, os planos não iam nessa direção.
Encontrou a sala iluminada por velas.
Fechou a porta atrás de si e colocou de lado uma sacola com roupas sujas. Ouviu Jazz ao
fundo, um tom muito baixo. Avançou e encontrou a mesa da sala de jantar com uma bela toalha de
mesa azul e um candelabro no centro; arrumado para dois. Pelo que sabia, Kate não estava
namorando ninguém. Na verdade, fazia muitos anos desde que ela teve um encontro. Ia a festas,
divertia-se, mas não permitia que nenhum cara se aproximasse muito, pois tinha medo de que a
machucassem como no passado. Seria Damon quem convidou alguém? Nesse caso, estava pensando
seriamente em fugir o mais rápido possível, não queria ficar de vela.
Ela começou a recuar em direção a seu quarto quando Damon apareceu. Ele era muito bonito,
tinha que admitir. Vestida com calça cáqui e camiseta branca. Era alto, magro, mas em forma. Ao
contrário de Jake, que tinha um físico impressionante e trabalhado a base de exercícios, Damon não
criava a sensação de encher a sala inteira com testosterona apenas com sua presença. No entanto,
algo no olhar de seu amigo a informou que quem iria a um encontro naquela noite era ela.
— Damon — disse a título de saudação com um tom de voz expectante, e arrependido, vendo
a expectativa do amigo nos olhos.
Ele sorriu.
— Olá, Colie. Não sabia até que horas te esperar, então deixei tudo aceso para quando
voltasse — expressou se aproximando para dar um abraço que ela retribuiu.
“Quão mal se sentia, porque não tinha se equivocado. Ele estava tentando recuperar o que
haviam deixado no passado”, ela disse a si mesma com tristeza, porque não queria machucá-lo, ou ter
que rejeitá-lo.
— Por que fez isso...?
Ele pegou suas mãos e a levou para a mesa. Moveu a cadeira para acomodá-la, sem se
importar se ela cheirava a mar, o cabelo ainda estava úmido ou não estava usando maquiagem.
Colette não sabia como rejeitá-lo sem ferir seus sentimentos. Ela o amava muito, mas não para
retomar seu relacionamento. Damon era fantástico, engraçado, ele a fazia rir, mas ela descobriu que
as faíscas entre eles empalideciam em comparação com o que Jake a fazia sentir quando estavam
juntos.
— Tentei dar-lhe vários sinais nestas semanas, mas você está sempre ocupada indo de um
lugar para outro. Então hoje eu decidi ser mais direto — riu, mas estava obviamente nervoso. —
Acho que você e esse Jake são amigos, então...
— Damon... — ela sussurrou, incapaz de encontrar as palavras certas, ouvindo o quão errado
sobre ela e Jake estava.
O irmão de Kate foi até a cozinha e ela ouviu as suas costas que ele estava tirando algo do
forno. O aroma delicioso de lasanha fez seu estômago roncar quando ele colocou o prato no centro da
mesa.
— Você deveria trabalhar um pouco menos, e descansar como eu fiz vindo para Santa Monica
— expressou ele sentando na frente dela. — Posso trabalhar daqui, embora às vezes não tenha todas
as ferramentas para desenhar da maneira que gosto. Sabia que o contrato com a Marvel é por tempo
indeterminado?
— Uau! Isso é fantástico, estou muito feliz por você — respondeu com sinceridade. Ele era
um rapaz trabalhador e havia mais do que merecido o prestígio que estava adquirindo em seu campo
profissional, sem a influência de seus pais.
— Ei, eu... — olhou para ela sorrindo. — Sei que há muitos anos decidimos ser apenas
amigos... — Ela engoliu. — Não é tão fácil dizer isso.
— Damon, não... — ela sussurrou, quando ele colocou as mãos dela na mesa, apertando-as
carinhosamente, enquanto olhava em seus olhos.
— Eu sei, eu sei que Kate está no meio, mas ela saberá como entender — interpretou mal o
olhar ansioso e preocupado de Colie. — Eu sei que você me ama e eu... Bem, a verdade é que já
namorei algumas mulheres, mas com nenhuma me sinto completo. Eu ainda estou apaixonado por
você. — O coração de Colette ficou triste, pois o que viu em Damon foi um homem sincero e com um
senso de lealdade impecável. No entanto, não poderia mais retribuir, lamentou. — Você viu a rosa
que eu te deixei todas as noites em sua cama desde que cheguei aqui?
“É claro que a tinha visto, mas toda vez que o encontrava em casa, tentava fingir que aquele
detalhe estava sendo esquecido”.
— Foi um gesto muito bonito da sua parte.
Damon acenou com a cabeça.
— Os convites para jantar e sair esses dias... Bom, eu queria ficar sozinho com você para
falar sobre isso, mas você está sempre trabalhando. E agora que Kate está jantando na casa de um
amigo e vai voltar bem tarde, achei que era o momento ideal para nós dois. Eu cozinhei seu prato
favorito. — “Sim, outra das qualidades de Damon era ser chef”, pensou. “A mulher que ficasse com
ele teria muita sorte”. — Você não precisa conter seus sentimentos. Será como sempre entre nós,
sincero e direto. Saia comigo de novo, seja minha namorada Colette. Eu te amo.
Ela pegou o copo d'água que estava perto e deu três goles, observando o rosto expectante de
Damon. Sabia que abrir o coração para outra pessoa era a situação mais difícil e, acima de tudo,
valorizava a coragem que estava tendo. Ao contrário dela que tinha sido covarde ao não o enfrentar,
quando começou a perceber certos sinais estranhos em seu comportamento.
— Eu... eu não sei como...
— Oh, baby, você pode dizer como quiser. Você me ama certo Não estou sendo presunçoso
por não dar como certo, verdade?
“Mas não da maneira que você espera”, lamentou.
— Eu te amo, claro que te amo, mas não do jeito que costumava ser anos atrás. — Respirou
fundo. — Damon, eu te amo como um irmão. — O rosto de Damon mudou repentinamente, como se o
tivesse esbofeteado. A esperança se desvaneceu e em troca veio um olhar questionador. — É um
carinho fraternal que sinto por você — disse com pesar. — Não posso retribuir como você espera, e
isso está quebrando meu coração, especialmente por todo o esforço que fez — acabou olhando em
volta, enquanto as notas do jazz borbulhavam.

— Tenho dado sinais, você os estava ignorando de propósito? — perguntou com um tom
dolorido.
“Culpada”. Havia sido uma covarde por não enfrentar a situação, antes que se tornasse o que
estava vivendo naquele momento com ele.
— Eu não queria... não queria machucar você.
Ele riu e pegou a taça de vinho para enchê-la. Semicerrou os olhos para ela e bebeu até que o
líquido vermelho desapareceu do copo.
— Não? Por que você simplesmente não falou comigo para descobrir o que eu estava
fazendo? Estava esperando por sua romântica declaração de amor? Sua natureza romântica esperava
algo assim, com certeza. Eu fiz bem? — perguntou sarcasticamente.
Ela mereceu, porque era verdade. Tinha visto os sinais, tinha se enganado achando que estava
imaginando coisas, quando a realidade era que não queria confrontar Damon, ou desapontá-lo. Mas
aparentemente tinha feito isso de qualquer maneira.
— Sinto muito... realmente sinto muito. Eu deveria ter discutido isso com você quando
comecei a ver suas rosas na minha cama — balançou a cabeça. — devia ter perguntado, eu...
desculpe-me Damon.
Se levantou e deu a volta na mesa para alcançá-la.
— É ele, certo?
Ela olhou para o rosto bonito desse homem fantástico, a quem ela amava como um irmão,
como parte de sua família e a quem havia magoado.
— Responda-me. É esse Weston que tem ocupado sua cabeça e te colocou de tal forma que
não consegue ver que ele ainda é um mulherengo. Verdade?
Colette se recusou a responder, mas as mãos de Damon emolduraram seu rosto, levantando-o
para olhá-lo. Sem lhe dar a opção de virar a cabeça.
— Damon... — ela sussurrou com lágrimas nos olhos, sem derramar. — Não faça isso.
— Droga — ele a deixou cair. — Está apaixonada por ele? Está? Não tenho chance de
conquistá-la de alguma forma? — ele estalou com dor nos olhos. Ele havia pensado que poderia
retomar o assunto com Colette. Não era do tipo que desistia, mas ela não era igual a nenhuma outra
mulher com quem ele tinha estado; quando Colette amava alguém, ela o amava profundamente,
exatamente como tinha acontecido com eles antes. Se tivesse entregado seu coração àquele bastardo
do Weston, não haveria chance para ele, porque Colette não jogava em dois lados. — Eu mereço
saber — ele insistiu quando ela silenciosamente pediu para deixar de lado. — Diga-me!
— Sim... Estou apaixonada por ele. — E lá ele tinha sua verdade. Ela não estava meio
apaixonada por Jake. Não. Estava irrevogavelmente apaixonada por ele, e seu coração iria se
despedaçar quando tudo acabasse. Porque tinha certeza de que não sentiria por outro homem o que
sentia por Jake, mas decidiu aproveitar seu tempo com ele, sem colocar cargas emocionais na
equação.
Damon a soltou e, sem dizer mais nada, começou a se afastar em direção ao quarto de
hóspedes.
— Espere! — disse ela, levantando-se. Ela caminhou até ele e o abraçou pela cintura. — Por
favor... eu não queria te machucar. Eu deveria ter discutido isso com você como sempre foi entre
nós... Eu me acovardei, e lamento que você pensasse que havia dúvidas da minha parte, ou que
estava esperando que você desse um passo como hoje para compensar minha mente ou me esclarecer.
O rosto de Damon se suavizou e relutantemente a abraçou de volta.
— Espero que Weston saiba o que está fazendo — sussurrou contra o cabelo de Colie.
— Sinto muito... — repetiu Colette. Não queria perdê-lo como amigo. — Não pare de falar
comigo. Eu te amo e eu...
— Sim, eu sei. Como um irmão — expressou amargamente. Ele a soltou para olhar para ela.
— Ouça, talvez eu precise de mais algum tempo longe de você.
— Achei que sua vinda para Santa Monica nos colocaria de volta em contato, porque
ultimamente não temos conversado muito — comentou com tristeza. — Senti sua falta e fiquei muito
feliz em saber que você estava vindo. Sempre consegue me fazer rir e...
— Faça o que um bom amigo faz. Ouvir, aconselhar, certo?
Ela acenou com a cabeça.
— As coisas nem sempre acontecem conforme o esperado. Não se pode ter tudo. Talvez com o
tempo meus sentimentos por você se tornem fraternos, ou talvez não. Mas, por enquanto, prefiro não
ter contato com você.
— Damon…
— Não estou ressentido, mas tenho um grande senso de autopreservação. Vou voltar para
Burbank esta noite.
— São quase dez horas. É tarde. Durma e amanhã...
— Não importa — ele interrompeu. — Gosto de dirigir à noite, e nesse horário de domingo
não tem muito trânsito — beijou Colie na testa, antes de ir fazer as malas.
CAPÍTULO 15

— Como Damon foi embora? — perguntou a Kate quando encontrou Colette à sua espera na
sala de estar. — Por quê?
Então, Colie pediu que se sentasse ao lado dela e, entre risos e lágrimas, desencadeou tudo o
que havia acontecido no fim de semana. Ela incluiu Jake em sua história, o caso de Bob e seus pais, e
então a declaração de Damon e como a magoou por não ter falado com ele na hora certa. Kate a
ouviu sem comentar, ela apenas a abraçou quando as lágrimas deslizaram por seu rosto. Conversaram
por várias horas, até que sentiram o vento frio da manhã soprar pela janela da sacada que havia sido
deixada aberta.
— Agora eu entendo... Eu não te culpo por Damon. Ele é meu irmão, eu o amo, mas ele é
realmente estúpido por não ter percebido que, se você ignorou seus sinais, foi porque não queria
machucá-lo.
Colie concordou com a cabeça.
— Obrigado pela compreensão.
— Eu conheço os dois e gostaria que Damon tivesse ficado um pouco mais, mas também sei
como teria sido estranho depois de sua confissão. Ele vai superar — deu um tapinha afetuoso na mão
de Colie. — você verá que supera. Tudo voltará a ser como era antes. Pode demorar um pouco, mas
ele vai reagir.
— Eu não queria...
— Esqueça meu irmão agora — insistiu. — Acho que você tem muito o que pensar sobre sua
família e são mais importantes. Nunca imaginei algo assim dos Kessler — expressou sinceramente
surpresa. — Você acha que é por isso que eles foram tão estúpidos com você?
Colie sorriu. Kate sempre tão direta.
— Eu não sei. Eles fizeram o melhor por mim. Fui às melhores escolas, nunca faltou nada...
— Exceto a compreensão e o apoio que toda criança precisa — interrompeu Kate, quando
Colie estava prestes a responder, ela acrescentou. — Mas não pode julgar sem saber o que estava
por trás de tudo isso. Phillip não é um homem que gosta de estar na boca dos outros, ele te deu seu
sobrenome, mas o que mais havia por trás disso? Você tem que exigir a verdade, Colie.
— Sim — olhou para as mãos. Antes de chegar, Kate havia tomado um banho e, embora se
sentisse mais calma, a dor que a dominava não a deixou sozinha. — Será um momento difícil. O pior
é que Bob está no hospital, não quero incomodá-lo e talvez seja com ele quem devo falar primeiro...
— É melhor enfrentar Phillip e Greta. Você acha que suas irmãs odiosas sabiam alguma coisa
sobre isso?
Colette negou. Talvez suas irmãs estivessem reclamando dela, mas tinha certeza de que não
tinham ideia do que tinha acontecido.
— Não sabem. Meus pais sempre foram herméticos entre eles...
— Você vai resolver isso. Quer que eu vá com você a Orange da próxima vez?
— Não. Este é um passo que devo dar sozinha.
— Mas você sempre tenta resolver tudo sozinha, e essa situação é muito diferente das outras
que já viveu. Entendo que ser independente é importante, mas às vezes precisamos nos apoiar em
outra pessoa.
Colette suspirou.
— Eu já fiz, Kate.
— Jake o gostoso Weston?
Colie riu.
— Algo assim — sorriu.
— Que surpresa para você. Ele era seu amor de Paris, certo?
— Como...?
— Oh qual é, você acha que eu deixei aqueles jornais abertos e te fiz assistir Stars Match, só
porque eu gostava? Eu estava tentando fazer com que você confirmasse minhas suspeitas, mas
respeitei que não quisesse falar sobre isso.
Colette olhou para ela surpresa.
— Como você pode suspeitar disso? Fomos muito discretos... Ah, não me diga, você tinha um
amigo de um amigo de outro amigo que por acaso estava cobrindo Roland Garros naquele ano e
pediu a ele para fotografar algo interessante. Especificamente se eu aparecesse lá.
— Não foi assim, você me disse que estava no seminário de jornalismo e que ia entrevistar
alguns tenistas. Então, como você não tinha uma câmera profissional, pedi ajuda a um amigo que me
devia um favor e que na época trabalhava como freelancer em Paris. Estava pensando em te
surpreender com a fotografia para ilustrar seu texto e que deslumbraria seus professores da
Sorbonne, mas a surpresa foi minha — explicou com seu olhar travesso, e o sorriso característico.
Colette riu alto.
— Você foi muito discreta — Kate continuou, — mas meu amigo conhecia Jake. E ele sabia
que mulherengo era; tudo que Jake fez foi manchete; de seus triunfos a suas conquistas. Então, quando
ele me disse que o rosto da garota que estava namorando parecia familiar e me enviou a foto, quase
tive um ataque. Pedi a ele que não publicasse a foto, bem, chantageei — riu — dizendo que em troca
publicaria uma foto dele em pose comprometedora com a filha do diretor da escola de arte que
frequentou. Ele respondeu que era uma exclusividade, que ninguém tinha fotos de vocês dois rindo e
se beijando no Les Marais. Mas no final ele aceitou.
— Não posso acreditar em tudo isso... — expressou com os olhos arregalados. “Se Kate se
tornasse uma detetive, ela estaria melhor do que uma jornalista”.
— Bem, acredite querida. Agora, quero que me conte toda a história. Mas primeiro, e você e
Jake?
— Nós temos um relacionamento... — franziu a testa, — bastante físico.
— Ok, são amantes. Ei, centenas de mulheres estão fazendo fila para ele, mas você não é esse
tipo de mulher — estreitou os olhos, — principalmente porque você não tem nenhuma experiência na
área, e aposto minha coleção de autógrafos da liga da NFL, que não só não entende esse tipo de
relacionamento em sua totalidade, mas é louco por ele. Mais do que isso... — a examinou com os
olhos — você está apaixonada!
Colette suspirou em derrota.
— Bem... sim. — Qual era o sentido de mentir para Kate, que a conhecia desde sempre?
— E você vai fazer algo a respeito ou vai esperar que eu o substitua por outra?
— Kate…
— Você já me conhece. Direto e sem anestesia.
— Talvez eu não devesse ter pedido sinceridade, já que não fui sincera com ele.
— Parece-me que você está errada. Quando bateu na porta dele para seduzi-lo, e também
quando deixou claro que entendia a questão dos laços não emocionais, foi sincera. Sabia que o que
sentia por ele era atração física desde o início. Estou certa? — Colie acenou com a cabeça. — Se
depois deste fim de semana intenso, e das semanas trabalhando juntos, ou seja, o que for que você
viveu ou soube disso, percebeu que está apaixonada é outra coisa. Você já sabe que essas
circunstâncias de paixão são estranhas. Mas em nenhum momento deixou de ser sincera.
Colie sabia que Kate estava certa.
— O que não significa que você tenha sido sensata — limitou Kate.
— O que você quer dizer?
— Sim, muitas mulheres gostariam de estar no seu lugar, mas Jake Weston é um mulherengo
conhecido. Talvez ele não faça mais os escândalos que fazia há um tempo, mas não se compromete
com ninguém.
— Jake já esteve com muitas mulheres, sim, mas algo me diz que comigo é diferente. Sei que
ele não sente mais do que desejo por mim, porém, há algo na maneira como às vezes me olha, que me
faz entender que sou diferente...
— As mulheres tendem a pensar que nós somos as diferenciadoras, fator nunca antes visto
pelo homem de nossos desejos ou receptor de nosso coração. Estou otimista, mas também realista. E
eu não conheço a personalidade do gostosão de Weston, mas ele é conhecido por ser insuportável.
Além disso, não recomendo nutrir muitas esperanças emocionais por ele, pelo menos não, quando
todos sabem que ele não leva seus relacionamentos a sério desde...
— Lauren? — interrompido.
— A muito idiota o deixou por outra pessoa. Estava no noticiário, já te disse — respondeu,
levantando-se, e o relógio do quarto marcava duas e meia da manhã.
“E talvez ela tenha levado seu filho e é por isso que ele a odeia tanto. E talvez ele queira
proteger aquele menino ou menina da imprensa, porque se descobrissem seria um escândalo”, Colette
pensou em silêncio, meditando sobre o passado daquele relacionamento e aquele sobre o qual Jake
se recusava a falar.
— Você sabe algo mais sobre esse relacionamento, certo?
Kate balançou a sobrancelha com uma carranca. Ela não queria que Colette entendesse que ela
mergulharia no passado de Jake Weston apenas para satisfazer sua curiosidade. Ela mesma se
recusou a falar sobre o dela, então estava convencida de que se Jake não quisesse revelar nada sobre
isso, teria que respeitá-lo. E a verdade era que não tinha ideia de nada além do que foi publicado na
mídia do coração sobre Jake e Lauren. Apesar de sua curiosidade transbordante e dos recursos de
contato borbulhando em sua agenda, ela tinha limites.
— Acho que você pensa que sou a máquina para investigar os segredos de outras pessoas, mas
se tem algo a perguntar sobre o passado de Jake com Lauren Jovinella, acho que deveria discutir isso
com ele.
— Uma amante não faz isso — murmurou relutantemente.
Kate sorriu.
— Então, senhorita aventureira, é melhor você se acostumar com a ideia de que haverá partes
de Jake que estão fora dos limites para você.
— Não é fácil.
— Nunca é fácil, Colie. Os homens podem ser idiotas e é melhor ter cuidado. Não confie
neles.
Colette balançou a cabeça.
— Talvez se você tentasse namorar alguém, não fosse tão dura com os homens... — ela
respondeu suavemente. — Jake disse que iria apresentá-la a Patrick Lombardo — ela disse
esperando que sua amiga começasse a namorar alguém.
— Lombardo é apenas um blefe, e posso estar interessado em vê-lo de longe ou pedir um
autógrafo. Eu só estava tentando ser legal — ela retrucou asperamente. Mas quando ela viu o rosto
triste de sua amiga, colocou a mão em seu braço e acrescentou. — Desculpe, minha explosão saiu do
lugar... — suspirou — talvez com o tempo perca o pânico de ter um contato sozinha com alguém do
sexo oposto em um encontro. Colie, realmente não quero falar sobre isso. Nós prometemos...
— Quando você estiver pronta, Kate. Somente quando você estiver pronta. Lembro-me da
nossa promessa — respondeu afetuosamente, interrompendo-a. Se sua melhor amiga não queria falar
sobre o passado, não era ela quem insistia e lembrava de situações que a haviam causado tanto
sofrimento. Entendia perfeitamente sua relutância em namorar alguém romanticamente, mas ela
esperava que aos poucos concordasse em se dar uma chance no amor.
— Você sabe? Tive um dia ruim na joalheria hoje — disse baixinho. — Também me falaram
que terei que cuidar da questão administrativa por algumas semanas, porque a bruxa da minha chefe
pediu demissão, e aí... Deus! Já faz muito tempo que não tive um susto como hoje, Colette...
— O que aconteceu? — perguntou preocupado, vendo o rosto tenso de Kate. O olhar
assustado da amiga a fez pensar o pior.
— Eu... — houve silêncio por alguns segundos antes de continuar. — Fiquei com medo
quando um cliente chegou. Estava tudo quieto, porque as outras lojas da rua haviam fechado mais
cedo, mas eu estava limpando algumas correntes de prata. Ele estava... eu não sei. Muito imponente e
entrei em pânico. Então, apertei o botão silencioso de chamada da polícia.
— Simples assim? Sem trocar uma palavra com o homem?
Kate acenou com a cabeça.
— Até os agentes chegarem, eu estava tentando falar com aquele estranho para testar as águas.
Ele começou a examinar as prateleiras com cuidado. E eu senti um arrepio inexplicável percorrer
meu corpo. Então, enquanto ele estava em um lugar, me movia para o oposto.
— Oh...
— Acontece que aquele homem tinha uma história de roubo de outras joalherias. E se eu não
tivesse seguido meus instintos, não sei onde estaria. Ele me insultou, me chutou e me ameaçou ao ver
a polícia chegar, que ao perceber que o homem começava a tirar alguma coisa do bolso, jogou-o no
chão. Uma pistola de nove milímetros foi tirada dele e uma pequena faca — tocou nervosamente sua
garganta. Foi terrível, Colie — com uma expressão assustada.
— Oh, Kate — levantou-se para abraçá-la. — Fico feliz que você tenha seguido seus
instintos, mas isso não significa que todo homem por aí seja mau ou perigoso. Você precisa seguir em
frente. Este incidente foi apenas um caso aleatório. Isso pode acontecer com qualquer pessoa.
Kate ficou em silêncio por um tempo. Fez-lhe bem desabafar com Colette. Ela teve um grande
susto no trabalho, mas agora estava mais calma.
— Eu sei...
Colie sorriu.
— Eu gostaria de ver você feliz com alguém.
Kate assentiu com tristeza.
— Veremos — encolheu os ombros. — Por enquanto, é a minha vez de tentar ser feliz dando
conta de todo aquele pesado trabalho de vendas, bem como de administração. Minha agora ex-chefe,
Marion, me disse que o próprio dono me monitoraria até que tivesse certeza de que eu estava fazendo
as coisas certas. E que poderia aparecer a qualquer momento. Que nojo! Como se quisesse ficar
vendendo joias pelo resto da vida. Estou farta de trabalhar aos domingos, fins de semana quando
tenho turno. Arrggg!
Colette sorriu.
— Não é bom ter me livrado da odiosa Marion?
— Não tenho ideia da gestão administrativa de uma joalheria — reclamou. — Claro e me
demitirão em breve. Os proprietários são italianos, nem os conheço, mas sei que são bastante
temperamentais. Pufff, como se eu me importasse com o humor que têm, quando a única coisa que me
interessa é que me paguem no dia certo — fez uma careta— eu sei que muitos italianos tendem a se
comportar com pouca paciência, então não sei o que será de mim quando um daqueles homens ricos
aparecer na loja, porque não sou muito doce se me provocam também. — Colette riu. — Além disso,
minha política é que, se as pessoas não quiserem comprar de mim, não insisto e os envio para outro
lugar onde possam obter mais descontos e preços competitivos.
“Típico de Kate”, Colie pensou com humor. O principal é que a amiga estava a salvo, após a
tentativa de roubo na joalheria.
— Você vai se dar muito bem com ou sem chefe — a encorajou, também se sentindo um pouco
mais leve, mas não por isso mais calma sobre sua situação pessoal, depois de conversar com sua
melhor amiga. — Vamos cruzar os dedos. Melhores perspectivas de emprego certamente surgirão em
breve.
— Acho que sim — bocejou. — Vamos dormir.
— Sim. Foram alguns dias difíceis para nós duas, hein?
Kate acenou com a cabeça.
— Ah, mas você está em débito de me contar sobre os detalhes tórridos do fim de semana com
o sexy Jake Weston — expressou fingindo que estava beijando alguém com paixão, contorcendo a
boca nas costas da mão, em um gesto engraçado e despreocupado isso fez Colette rir.
— Ok — ela respondeu sorrindo, feliz que o medo nos olhos de Kate havia desaparecido.

O programa de segunda-feira foi muito bom. Chamadas no ar eram divertidas e Jake exalava
seu charme inato no microfone. No entanto, não olhou para ela de uma forma especial, nem deu
nenhuma pista sobre o que havia acontecido entre eles no fim de semana. Colette achou que ele a
ignoraria enquanto estivessem trabalhando, o que era ótimo. Mas estava errada.
Quando ela estava em seu escritório, uma vez que estavam fora do ar, Jake entrou atrás, fechou
a porta, pressionou-a contra ela e beijou-a até que ambos estivessem a ponto de perder o controle.
Respirando com dificuldade, ele se afastou, olhando para ela com olhos ardentes.
— Passaram-se horas sem te tocar, e para mim como se tivesse se passado um ano —
expressou olhando para ela com intensidade.
Ela sorriu de volta para ele.
— É mesmo? — perguntou sentindo a corrente estimulante que costumava correr por sua pele
quando ele estava muito perto.
Jake aproximou seu rosto do dela. Ele assentiu.
— Jantei com alguns clientes dos meus vinhedos esta noite — sussurrou ele, encostando a
testa na de Colie. Ele acariciou sua bochecha, fascinado pela suavidade de sua pele. — Desejo
você..., mas se eu ficar um pouco mais — se afastou — então provavelmente daremos às pessoas por
aqui muito o que falar — sorriu ao se afastar.
Colette lambeu os lábios por reflexo, e ele cerrou os punhos, tentando não a tocar de novo,
porque se o fizesse perderia o controle.
— Seria melhor então você ir à sua reunião — respondeu com as bochechas rosadas.
— Você gostaria de vir comigo? — nunca levou ninguém para suas reuniões de negócios,
mesmo que clientes ou outros executivos estivessem acompanhados. Quando estava negociando ou
jogando tênis, a tendência era a mesma: intensidade, diplomacia, concentração absoluta e nenhum
flerte idiota para tentar parecer manipulador. É por isso que se surpreendeu convidando Colie.
— Hoje prefiro ficar em casa um pouco sozinha. Aconteceram muitas coisas, e além da saída
de Damon ontem à noite... — Ele olhou para ela interrogativamente, então ela respondeu a sua
preocupação. — Você estava certo, ele queria algo mais comigo...
Jake não gostou disso em absoluto.
— Você o expulsou porque ele se declarou?
Ela franziu o cenho.
— Por acaso você acredita que sou esse tipo de mulher?
— Você sempre me surpreende com reações inesperadas — respondeu ele com seu tom de voz
encantador.
Colette inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se tentasse decifrar algo por trás
daquelas palavras. Não havia nada. Apenas os olhos cinza olhando para ela.
Começou a mexer com uma caneta.
— Ele tinha me preparado um jantar romântico... Acho que não queria ver os sinais durante o
tempo que ele passou em casa, tentando pensar que eu era a errada. Eu não o encarei, não fui sincera
e o magoei. Ele saiu porque disse que não poderia me ver de outra forma senão um homem para uma
mulher a quem deseja — soltou um suspiro de pena. — Lamento não ser mais sensata sobre ele,
porque o amo. Fraternalmente, mas o amo.
A reação dela apenas indicou o quão generosa era. Tão acostumada com mulheres frívolas,
para Jake Colette ela era mais do que uma lufada de ar fresco; era a calidez que fazia seu coração
bater mais rápido do que o normal. Algo que ele não queria, mas infelizmente aconteceu. Por outro
lado, já havia experimentado o amor com Lauren, ou o que ele pensava que era; duas vezes não
beberia a mesma bebida amarga. O que ele sentia por Colette era uma atração apaixonada. E não
pensaria mais nisso.
— Entendo... Quando tem que voltar para Orange? — ele perguntou de repente. Não queria se
interessar pelas emoções em torno desse Damon. O que importava era que ele não estaria mais perto
dela e Colette perderia a ansiedade sobre o que havia acontecido.
— Amanhã... — ela suspirou, alheia aos pensamentos de Jake, — talvez sexta-feira, ou talvez
eu adie a viagem por alguns dias.
— Soube algo sobre o estado de Bob?
— Dr. Tatte diz que ele está estável. É o que conta.
— E quanto à sua família?
Ela negou.
— Não é fácil, Jake... Nem mesmo com Gertrudis. Eu nunca esperei algo assim. Não tenho
vontade de falar com eles, mas sei que tenho que ir fazer os testes de DNA e enfrentá-los...
O único gesto inofensivo que Jake conseguiu pensar, para não a seduzir naquele consultório,
foi roçar os dedos em sua bochecha, acariciá-la. E foi o que ele fez.
— Eu entendo — ele murmurou olhando para ela. — A vida sempre nos atinge quando menos
esperamos. Não é?
Colette não sabia se ele falava de si mesmo ou se referia à situação pela qual estava passando.
Ao sentir terno gesto da mão masculina, Colette fechou a distância. Ela ficou na ponta dos pés
para trazer seus lábios aos de Jake e tocá-los suavemente. Um contato breve, quase delicado e
impregnado de doçura. Surpreso, ele hesitou por apenas um segundo, antes de pegá-la nos braços e
beijá-la de volta completamente. Aquele beijo foi diferente, havia desejo, sim, mas também ternura e
conforto. Ambos saborearam a essência um do outro e se perderam em segundos maravilhosos
daquela troca que nada tinha a ver com luxúria.
— Se continuarmos assim... — Jake sussurrou, acariciando os cabelos dela. Era tão sedoso e
cheirava tão bem que queria soltá-lo do rabo de cavalo e enterrar as mãos naquela cascata de fios
negros.
Colie colocou a mão no peito de Jake.
— Eles vão nos interromper ou vamos começar algo que não conseguimos terminar — ele
completou maliciosamente.
O ar de nostalgia se dissipou e ele riu, meio frustrado, meio ansioso. Um beijo com ela não foi
suficiente. Ele queria tirar todas aquelas roupas, deixar o cabelo solto e poder colocá-la sobre a
mesa daquele maldito escritório e se perder lá dentro. Mas se não se controlasse, qualquer um
poderia entrar e, embora ele não se importasse, a verdade é que a reputação de Colette como
profissional era outra coisa. Talvez ele fosse um idiota em alguns aspectos, mas sabia que ela nunca
o perdoaria.
— Amanhã à noite vou buscá-la, acho que você vai gostar da jacuzzi da minha casa —
expressou. Agora que ele tinha saboreado suas curvas novamente, preferia tê-la nua. Todas aquelas
roupas que ela estava vestindo não faziam justiça a ela.
— Você não me perguntou se eu quero ir — ela respondeu, ciente de que seu corpo estava
respondendo às insinuações e olhares de Jake. Por tê-lo por perto, sua incerteza se dissipou, e foi
como entrar em um momento atemporal, em que um único toque, um único olhar ou uma carícia dele,
poderiam deslocar sua angústia ou tristeza.
— Você quer isso? — perguntou com uma carranca.
Colette tinha certeza de que muito poucas mulheres rejeitavam Jake Weston ou hesitavam em
aceitar seus convites. Mas ela, embora estivesse apaixonada, não queria que seu mundo girasse em
torno dele; tinha suas próprias responsabilidades e sua própria agenda. Por mais que quisesse, e cada
partícula de seu coração batesse ao vê-lo, também precisava daquela noite para colocar um pouco de
calma em sua mente. Ir para a cama à meia-noite e depois ir para o trabalho mal lhe deu tempo para
refletir. “Se não enlouquecia, provavelmente era por causa da cafeína”.
Ela encolheu os ombros.
— Vou pensar sobre isso — sorriu.
— Faça — ele rosnou.
Ambos sabiam qual era a resposta final. Jake piscou para ela antes de sair do escritório,
deixando seu coração disparado e uma sensação de ansiedade por um prazer que só ele poderia
acalmar.
Nessa segunda-feira à noite, Colette ficou acordada em sua cama. Não conseguia dormir. Ela
pesou sobre o que tinha acontecido com Damon, mas havia algo mais que a estava impedindo de
dormir, e era o vazio que ela sentia e a sensação de deslealdade daqueles que deveriam ser sinceros
com ela, a impedia de enfrentar a situação.
Ela não era covarde, mas as circunstâncias pareciam cruéis e era difícil lidar com a situação.
A quem devia suas feições físicas, ou aquele impulso rebelde que às vezes sentia? Quem era sua mãe
verdadeira? Morreu? Estaria morando com outras crianças em outro estado? Phillip sabia, ou por
acaso a única que sabia sobre esta situação era Greta e Phillip foi enganado? Estava morrendo de
vontade de saber as respostas, mas ao mesmo tempo não queria assumir que essa era sua realidade
agora; ainda não. Ela preferia mergulhar em outras pessoas e atividades que a ajudassem a esquecer.
Mas também sabia que não poderia continuar a fazê-lo indefinidamente.
CAPÍTULO 16

Na manhã de quinta-feira, decidiu não prolongar mais sua incerteza. Não queria continuar
ponderando as possíveis explicações para seu nascimento. Tirou o dia de folga do escritório. Francis
não se opôs, sabendo que ela havia planejado a agenda com antecedência. Só esperava poder chegar
a tempo para o evento de tênis de Jake naquela noite. Pediu a Kate para acompanhá-la e ela
concordou alegremente. Afinal, sua melhor amiga não iria deixar de conhecer seus atletas favoritos
pessoalmente. Embora com Kate nunca se sabia. Em uma temporada amava jogadores de tênis, em
outra amava futebol, e até teve um flerte ocasional com golfe.
Terminou de tomar seu Chai-Tea Latte, que comprara no Starbucks a dez minutos de seu
apartamento, e depois foi para Orange County. No dia anterior, fora com Kate comprar um carro
novo. Como não era luxo o que estava procurando, um Ford Focus cor de mostarda foi a escolha.
Enquanto dirigia pela rodovia, decidiu visitar seu tio Bob. Sua garganta se apertava cada vez
que pensava em chamá-lo de “papai”. Nos últimos dias, manteve contato com o hospital, ignorando
as ligações de sua mãe. Embora fosse mais provável que Greta não soubesse que agora sabia a
verdade, a verdade é que ela não tinha vontade de ouvi-la, pelo menos não, até que estivesse cara a
cara.
Quando chegou ao hospital, suas pernas estavam um pouco trêmulas. Era o início de uma crise
familiar iminente. Se aproximou para perguntar onde poderia fazer os exames, e a pessoa da
Recepção lhe deu as instruções. Pegou o envelope, pagou os exames e foi para uma pequena sala de
espera, que graças a Deus estava vazia, e olhou para o envelope como se tivesse uma bomba nas
mãos. Sabia o resultado, mas uma coisa era o médico ter contado a ela sobre isso, e outra era ver por
si mesma.
Respirou fundo e lentamente abriu o envelope. Pegou o papel e leu o documento médico.
Olhou para o resultado. Releu tantas vezes que as letras começaram a se mover e se misturar com
suas lágrimas.
“Ela era filha de Bob, não havia dúvida disso”.
Com as bochechas ligeiramente úmidas e os olhos um pouco inchados de tanto chorar, ela se
aproximou do quarto onde Bob estava. O Dr. Tatte disse-lhe que agora ele poderia receber visitas e
em dois dias teria alta para que pudesse terminar a recuperação em casa. Então lá estava ela, seu
coração batendo forte, seus nervos agitados e a incerteza batendo em seu intestino. Passou a mão
pelo rosto, até que estivessem livres do rastro de lágrimas.
Se aproximou da porta que dividia o compartimento onde ficava a antessala com o quarto
onde Bob estava. Ela o abriu suavemente e colocou a cabeça. Pensou que tinha sido furtivo, mas não
foi. Os olhos azuis de Bob estavam arregalados, olhando para ela. Ela congelou no lugar, sua mão na
maçaneta, e metade de seu corpo dentro do quarto.
— Colie — sussurrou Bob com um leve sorriso. — Eu estava esperando por você... O médico
me disse que você veio no fim de semana.
Ela apenas acenou com a cabeça.
— Ele me contou sobre a análise errada — acrescentou com cautela, observando-a tensa e
silenciosa.
Colette continuou em silêncio.
— Entre, por favor, querida — ele murmurou fazendo um gesto com a mão, para que ela se
sentasse na cadeira ao lado da cama onde ele estava deitado. — Aproxime-se, Colie.
Obedeceu praticamente arrastando os pés, e com o envelope queimando nas mãos. Ele não
tirou sua jaqueta roxa. Ficou perto da cama, mas não perto o suficiente para os dedos masculinos
alcançarem os dela. No final, ele desistiu e colocou a mão de volta na cama.
— Olá, Bob...
Um sorriso triste apareceu no rosto do belo empresário; ele ainda tinha hematomas do
acidente. Os dispositivos médicos colocados para monitorar seu coração piscaram ao lado da cama.
Sua mão direita passou ligeiramente pela intravenosa, onde o antibiótico e outros fluidos que seu
corpo precisava para se recuperar. Estava ciente de que havia sobrevivido praticamente
milagrosamente.
— Olá, querida. Já faz um tempo sem nos falarmos, não é?
Ela assentiu olhando para ele com milhares de perguntas em seus olhos. Olhos que pela
primeira vez notou eram idênticos aos de Bob, não era uma casualidade. Não.
— Suponho que não seja a circunstância ideal para retomá-lo — respondeu secamente.
— Sente-se, por favor — respondeu suavemente. Ela se acomodou na cadeira forrada de
couro. — Não sei por onde começar...
— Eu não ia vir te ver, sabe? Na verdade, no começo pensei em ir direto para casa..., Mas
acho que sempre me senti mais próxima de você. Agora eu entendo por que — interrompeu
amargamente. — Que situação.
— Lamento muito a dor que lhe causou descobrir desta forma que eu...
— Você é meu pai biológico. — Ela queria gritar com ele. Não podia. Ele estava em um
quarto de hospital e foi praticamente salvo por um milagre. Além disso, a raiva foi se dissipando aos
poucos nos dias anteriores. Graças ao trabalho, graças a Jake, Kate…— É difícil de te chamar de
outra maneira que não seja Bob, sabe?
Ele assentiu.
— Você planejava me contar a verdade um dia?
Bob ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder com voz rouca.
— Não. A verdade é que não.
Foi um grande golpe. Ela o interrompeu com resignação, mas não parava de doer por isso. Ela
acreditava que seu relacionamento com Bob sempre foi sincero.
— Uau...
Bob a olhou com tristeza.
— Estou sendo sincero. Não quero que carregue respostas ambíguas. — Ela apertou as mãos
no colo, ainda olhando para Bob. — Quer a verdade, você merece. Eu não ia te contar, porque não
queria ver seu rosto como agora. Com o coração partido e triste. Nunca gostei de te ver triste, Colie.
— Você gostaria de viver o resto da sua vida apenas desempenhando o papel de um tio para
mim, a quem eu via de vez em quando, mas com quem eu poderia conversar sobre qualquer coisa que
me sentindo confortável e compreendida? Isso teria sido o suficiente para você pelo resto de sua
vida? Minutos emprestados? — perguntou amargamente.
Bob deixou escapar um suspiro de pesar.
— Antes do acidente — começou a relatar com uma voz monótona, evitando as perguntas de
Colette, — deixei a empresa têxtil.
— Eu fiz várias perguntas, planeja respondê-las?
Ele assentiu novamente. Afinal, sua filha era jornalista, como a impediria de continuar fazendo
perguntas? As perguntas de Colette pareciam fáceis de responder, mas a verdade é que traziam muita
dor. Ela era uma garota maravilhosa, e nada teria desejado mais do que formar um lar para cuidar
dela de perto. Mas ele havia tomado uma decisão e, com o tempo, aprendeu a conviver com ela. Não
porque fosse fácil, mas porque tudo o que fazia sempre pensava no bem-estar emocional de sua única
filha.
— Tenho vivido de acordo com a decisão que tomei há vinte e cinco anos — expressou ao
verbalizar suas reflexões com sinceridade. — Nunca os minutos, horas ou dias, foram emprestados.
Cada momento que compartilhamos era para acontecer.
— Não me venha com suas filosofias de vida — bufou.
— Não acho que nos atacar assim nos levará a lugar nenhum.
— Nos atacar? Nos atacar? — apontou. — Meu mundo está de cabeça para baixo, Bob. De
pernas para o ar! — ergueu as mãos como se sua paciência tivesse se esgotado de repente. Então ela
as abaixou, derrotada. Balançou sua cabeça. — Eu só quero respostas — reconheceu perturbada, —
explicações. Eu as mereço.
— Sim — concordou Bob.
— Continuemos então com a questão da fábrica têxtil, pois aparentemente é a partir daí que
quer começar a se explicar. Não sei se você tem acessado sua conta de e-mail pessoal, mas escrevi
um e-mail perguntando, semanas atrás, sobre os motivos de sua renúncia. Também lhe contei pelo e-
mail, como estava me saindo, pois estava sentindo sua falta — disse tentando suprimir um soluço. —
Fazia muito tempo que não tinha notícias suas e isso nunca aconteceu — se levantou. — Mas o que
mais me magoou, Bob, foi a sua mentira. Cresci com um pai que nunca me aprovou, me repreendeu e
me fez sentir mal-recebida naquela casa. Agora eu entendo tudo...
— Colie...
— Não! Deixa-me falar! — exclamou, enxugando as lágrimas que estavam começando a rolar
pelo seu rosto. Lembrando que estava em um hospital, mesmo que fosse um quarto particular, tentou
se recompor respirando várias vezes. — Passei minha vida inteira tentando fazer com que Phillip e
Greta me aceitassem, mas nunca era o suficiente. Sempre houve um olhar de reprovação para mim.
Eu queria parecer boa o suficiente como minhas irmãs. Nunca acertava. Só agora... É por sua causa
que Phillip me odeia? E se ele me odeia, por que me deu seu sobrenome? Por que sou filha dele para
o mundo e não sua? — perguntou chorando.
Impotente, incapaz de se levantar para consolá-la por algo que era sua culpa, estendeu a mão
pedindo que ela se aproximasse. Uma decisão do passado transformou sua vida e a de Colette. O
segredo havia sido descoberto da maneira mais inesperada, e agora o tempo que tinham pela frente
estava suspenso em uma espécie de desconhecido. Não tinha ideia de como lidar com a situação.
Talvez fosse um empresário de sucesso, mas nunca teve que enfrentar sua filha e ver a dor em seu
rosto. Os ferimentos do acidente eram apenas um arranhão em comparação com o que ela estava
sentindo. Se sentia miserável. Mas tentaria lhe contar a verdade. Ele devia sinceridade.
— Por favor... não me odeie — ele pediu baixinho, sentindo como se o ar-condicionado do
quarto tivesse caído vários graus, quando estava em dezenove graus Celsius.
Ela deu uma risada amarga.
— Te odeio? Sinto que não te conheço, Bob!
— Eu ainda sou seu tio Bob. Aquele que comprou algodão doce para você quando te
castigavam, aquele que lhe ensinou como fugir de casa para ir a festas de adolescentes, desde que
você me deixasse colocar guarda-costas discretos, aquele que te ama muito e a quem custará o resto
de sua vida, para ganhar seu perdão.
Ela olhou para ele com censura.
— Eu quero que você me diga. Preciso saber por que... — sussurrou com angústia na voz.
Bob fechou os olhos por um momento, antes de reunir forças para continuar.
— É uma história complicada — ele expressou tristeza ao ver o sofrimento de sua filha. A
única pessoa no mundo que era importante para ele, e a quem ele magoou, quando pensou que sua
decisão, na época em que a tomou, tinha sido a certa.
— Eu tenho tempo, acredite — respondeu sarcasticamente, e então entregou-lhe um copo
d'água quando Bob começou a tossir. Ela estava com raiva, sim, mas não era imatura e desconhecia a
condição de Bob. Ela sentou-se novamente e pegou um lenço de papel para enxugar as lágrimas. —
Então é momento de você esclarecer tudo de uma vez, por que fui enganada todo esse tempo?
— Você me promete que, depois de falar comigo, tentará julgar a situação com empatia.
— Bob, você não está em condições de me pedir nada — retrucou asperamente.
Ele suspirou.
— Sim, é verdade — sussurrou com pesar, — não estou em posição de te pedir absolutamente
nada, a não ser tentar ganhar seu perdão por ter escondido isso de você por tanto tempo... e também
por não ter tido a intenção de lhe contar a verdade. Mas a meu favor tenho que deixar claro que meu
propósito sempre foi buscar o melhor para você.
— Me deixando com um esnobe como Phillip Kessler e uma mulher que eu nem sei se ela é...?
— suspirou. — No momento, não consigo pensar em perdoar algo que não conheço profundamente...
— Esfregou as têmporas com os dedos, de repente sua cabeça parecia prestes a explodir. Mas
precisava se acalmar para continuar.
Resignado, Bob assentiu.
— Antes de ingressar na empresa de Phillip, dirigi meus negócios em São Francisco, Los
Angeles, Orange County, Nova York e Washington. Conheci seus pais em uma festa para Thyssen,
uma família muito rica com influência nos negócios. Phillip e Greta pareciam um casamento normal e
feliz, pelo menos foi o que deduzi de sua maneira de se comportar perante os outros. Minha opinião
mudou quando vi Greta em uma das varandas da cobertura da Gigitte Thyssen em Nova York,
isolada. A princípio pensei em ir embora, não gosto de interromper a solidão dos outros, mas desisti
ao ouvir um soluço entrecortado. Eu me aproximei e Greta pensou que fosse Phillip. Me deu um tapa,
sem pensar duas vezes.
— O quê?
Bob sorriu tristemente.
— Seus olhos estavam cheios de lágrimas e, quando percebeu o que havia feito, desculpou-se
e chorou ainda mais. Ele nunca tinha visto uma mulher tão triste quanto ela. Talvez fosse o momento,
ou eu fosse a pessoa ideal para desabafar, mas confessou que seu casamento estava acabado.
— Quem diria que Greta Kessler poderia dar um show ou manchar sua imagem imaculada
diante da sociedade — expressou sarcasticamente tão conhecedora do caráter controlado da esposa
de Phillip.
— Você conheceu a mulher em que ela se tornou, após superar uma grande crise pessoal,
Colette. Ela costumava sorrir, contida quando precisava, mas no geral tinha um ótimo senso de
humor.
Colette encolheu os ombros.
— Não quero analisar Greta, continue com a história...
Ele assentiu.
— Naquela época, Lizzie e Moira já haviam nascido; eram muito pequenas. Naquela noite,
Greta descobrira que a amante de Phillip estava na mesma reunião dos Thyssen. E essa mulher não
teve escrúpulos em ir até Greta para lhe contar e esfregar na sua cara quando estavam no banheiro
feminino. No meio de todas aquelas pessoas de alto escalão, quando milhões de dólares estavam em
jogo nos negócios e conexões, Greta sabia que não poderia fazer um escândalo. A amante de Phillip
lhe disse que não iria deixá-lo, e que era melhor ela se acostumar com a ideia. — Colette ouvia cada
vez mais assombrada. — Desde aquela noite, ela e eu, passamos a nos ver com mais frequência em
eventos, já que eu tinha contato frequente com Phillip para tentar iniciar um vínculo. Havia jantares
de negócios, jogos de golfe, bailes de personalidades do mundo dos negócios, em que conversava
com Greta, ou dançávamos, com muito respeito, enquanto negociava com Phillip, um osso duro de
roer em questões financeiras. Trabalhei com materiais europeus e peruanos para a área têxtil, e ele
queria ter uma oferta mais ampla de produtos, achamos interessante ver como poderíamos nos
conectar, e comecei a ficar um pouco mais em Orange, por esse motivo. Não foi difícil para mim ver,
desde que comecei a ter mais contato, que o relacionamento matrimonial dos Kessler ainda estava
tenso e Greta estava tentando ser forte, mas Phillip era muito teimoso.
— Eles não mudaram — murmurou Colette.
— Ela e eu começamos a nos aproximar. Talvez demais — continuou Bob. — Uma noite,
quando Phillip estava viajando a negócios, Greta me convidou para jantar em sua casa. Ela estava
resignada com o marido, porque a secretária de Phillip ligou para ela para confirmar que ele havia
viajado com aquela mulher. Greta me pediu para ouvi-la, que ela precisava conversar com um amigo,
pois podia falar mais livremente, já que suas duas filhas estavam na casa da avó. Não tinha ninguém
em quem confiar. Greta sempre me pareceu uma mulher atraente, e entre uma coisa, conversa... —
Bob estalou a língua. — Não direi que você é um erro, Colette, acho que você é a maior alegria da
minha vida. Na manhã seguinte, não houve nada além de arrependimento. Não de mim. Deixo isso
bem claro.
— Então — sussurrou, — ela é minha mãe biológica?
— Sim...
— Por que então...?
Ele entendeu o que precisava saber, mas pretendia terminar a história. Ignorou a pergunta e
continuou o que havia começado.
— Eu disse a ela que se não fosse feliz em seu casamento, eu estava disposto a me casar com
ela, e que não precisava se arrepender de nada do que passamos naquela noite, muito menos se
Phillip não a amasse como eu. Porque em todo esse tempo de nos vermos, falar, e nos conhecermos,
cheguei a me apaixonar por Greta, Colette. Ela me explicou que teria que pensar sobre isso, que se
sentia confusa e magoada, mas que não tinha certeza sobre as coisas de sua vida, mas que se ela tinha
certeza é que também me amava. E eu estava contente com isso, esperando. Nunca me apaixonei tanto
por uma mulher como por sua mãe. Então você foi concebida com amor. Nós dois te amamos naquela
época, e te amamos agora. Mesmo que não estejamos juntos.
— Eu… — Estava assustada. Mas Bob, além de esconder que era o pai biológico dela,
sempre foi tão franco quanto naquele momento.
— Você sabe que os Kessler, antes de se casarem, vinham de famílias muito ricas e seus
círculos de amigos sempre foram influentes. A ele importava-lhe muito o que diriam, muito mais que
a ela. — Colie acenou com a cabeça. — Phillip soube da aventura, porém, nessa época, nossos
advogados já haviam feito um acordo para se tornarmos sócios da empresa têxtil, na verdade, ele já
estava assinado. Phillip sempre foi um esnobe, e o coisa assunto de Greta, nunca tentamos concertar
com socos. Ela tentou reorganizar suas ideias, tinham duas meninas, e eu dei espaço a ela. Talvez
demais.
— Não é uma situação fácil.
Bob acenou com a cabeça, em seguida, trouxe o copo sobre a mesa ao lado da cama e tomou
vários goles com a mão livre da intravenosa.
— Um dia Phillip me ligou porque havia algo importante para conversar.
— Greta estava grávida de um filho seu.
— Sim.
— Por que continuou casada com ele? Ambos arruinaram seu casamento por serem infiéis.
Talvez ele por luxúria, e talvez ela por amor, e se foi o último no caso de Greta, então por que não
lutou por ela?
— Porque no casamento às vezes as coisas boas valem mais do que os erros. E foi isso que
Greta fez. Me considerou errado, e Phillip aceitou sua culpa por seu caso. Ele deixou sua amante —
olhou para o teto, branco e imaculado, antes de olhar para sua filha. — Teria sido ridículo brigar
quando ela pretendia tentar salvar o casamento deles. Como já disse, no balanço que Greta fez, as
ações do marido foram mais positivas do que negativas. Decidiu apostar por ele.
— Os três falaram civilizadamente? E quanto ao atrevimento de Phillip de ter uma amante e
Greta teve de aturar isso?
Para Colette, a traição era imperdoável, mas cada experiência era diferente e, nesse sentido,
ela não se sentia capaz de julgar os outros. A única coisa que o interessava era saber por que tinha o
sobrenome Kessler, e não o sobrenome Meadows.
— Bem, existem todos os tipos de conversas quando há terceiros em um relacionamento,
Colette. Às vezes há socos, outros assassinatos, outros... bem, uma conversa civilizada. E cada
pessoa tem seus motivos. O meu era o amor, o dela...
— A dor da traição? A solidão? A confusão? Fez promessas quando se casou! — exclamou
incapaz de se conter. Mas sabia que era uma birra, porque embora ela defendesse seu ponto de
lealdade, os outros poderiam não levar isso muito a sério. — Eu… — respirou fundo, — continue.
— Ambos cometeram erros e eu estava me relacionando com uma mulher que era
emocionalmente sensível e também casada. Eu nunca deveria ter cruzado essa linha, mas ninguém
havia me tocado tanto quanto sua mãe. Eu realmente pensei que tínhamos uma chance.
— Sei... — olhou para as mãos, agora tremiam menos.
— Quando vi o rosto frio de Greta naquela noite do encontro entre nós três na mansão Kessler,
soube que ela havia tomado uma decisão, que incluía esquecer quaisquer sentimentos que pudessem
ter nascido entre nós dois. Eu também sabia que queria lutar pela guarda compartilhada, com o resto
ficando em segundo plano.
— Por que você não lutou pela custódia então? O que deu errado? Eu não valia a pena? Só
porque fui concebida em um momento de luxúria e fraqueza humana? — perguntou tristemente.
— Não! — pela primeira vez em toda a conversa, Bob levantou a voz. — O fato de sua mãe
se sentir perturbada, confusa ou culpada não significa que, na época em que a concebemos, não
houvesse sinceridade. Houve. Você não foi produto de um relacionamento acalorado, nós a
concebemos com amor e esperança. Um mês se passou desde aquele momento. Como eu disse a
você, sua mãe me pediu um tempo. E foi nesse tempo que tudo mudou...
— Você deixou de amá-la?
— Com o tempo. — Não foi fácil esquecer a mulher exótica que era Greta, mas a decepção
com a rejeição dela, e todo o tempo decorrido, havia transformado aqueles meses de vinte e cinco
anos atrás, em apenas uma lembrança. Agridoce. A melhor parte sempre foi sua filha. — O tempo é
sábio.
— O que aconteceu comigo?
— Meus negócios ocupavam noventa por cento do meu tempo. Tive que tomar uma decisão,
porque você não era uma negociação; você era minha filha. Nunca gostei de decepcionar as pessoas.
— Colette fez uma careta. — E me dói saber que fiz isso com você, a pessoa que mais amo no
mundo.
— Por favor...!
— Eu te amo filha, você é minha filha! — quase rugiu com a força que havia acumulado nos
dias que passara na cama.
Ela não se intimidou, mas sua voz falhou quando o repreendeu novamente.
— Por que você não ficou comigo então? Por que deixou que me dessem o sobrenome Kessler
quando eu era uma Meadows? — perguntou em meio às lágrimas.
— Eles não queriam escândalos. — Ela cruzou os braços, sem se importar que o quarto
tivesse se enchido de soluços de desamparo, ressentimento e raiva. — E eu não poderia te dar uma
família... Eu estava constantemente viajando a negócios. Você merecia um lar, Colette, não um homem
que se apresentava como seu pai sem realmente estar presente constantemente em sua vida cotidiana.
— Isso é o que todo mundo faz, em que século você vivia?!
Bob gostaria de pedir que ela parasse de chorar como estava fazendo, mas isso só traria mais
lágrimas. Liberar tudo o que ele estava trazendo foi como uma catarse. Ele estava começando a se
sentir livre do passado e pronto para ganhar a confiança da filha, mesmo que isso custasse o resto da
sua vida.
— Achei a coisa mais honesta de minha parte dar-lhe uma família — insistiu. — Phillip e
Greta chegaram a um acordo entre si. Não sei o qual seria, mas de qualquer forma o casamento deles
foi adiante. Imagino que tenham desculpado seus erros, não sei. Concordamos em manter isso em
segredo entre nós, e eu seria seu tio Bob e poderia estar em todas as ocasiões especiais de sua vida.
E eu estava...
— Tão simples você decidiu sobre minha vida? Não começou a pensar que talvez fosse
demais para o orgulho de um homem dar o sobrenome à bastarda da esposa?
— Cale a boca! Neste exato momento! — exclamou. Colette estremeceu, porque Bob nunca
tinha falado com ela daquele jeito. — Eu a proíbo de falar assim, Colette. Você não é uma bastarda.
Você é minha filha.
— Então você deveria ter me reconhecido como tal, em vez de me deixar à mercê de um
casamento frio que tentou me fazer de mim o que não era, o que nunca fui, o que nunca serei! —
retrucou tremendo e seus olhos se encheram de lágrimas não derramadas.
— Esse foi o maior e mais alto preço que tive que pagar na minha vida... Que minha única
filha não tinha meu sobrenome. Foi parte dessa tentativa de todos os meios para se sentir parte de um
lar. Agora que você me disse que nunca se sentiu parte dos Kessler, isso só me causa grande mal-
estar... — lamentou com a voz impregnada de pesar. Colette ficou em silêncio, ela se sentia
despedaçada. Bob continuou. — Enquanto suavizávamos as arestas com Phillip, eu tratava dos
negócios com ele de longe, por meio de representantes, e só nos víamos nas ocasiões necessárias. No
dia em que você nasceu, eu a segurei em meus braços primeiro. E eu queria me retratar, queria exigir
que lhe dessem meu sobrenome porque senti todo o amor que ver você me deu, além de uma sensação
de proteção e posse que nunca havia vivido com ninguém. Mas eu tinha dado minha palavra de honra
e, acima de tudo, sabia que lhe proporcionar um não era negociável. Fiquei muito tempo abraçando
você, aninhado em mim, sentindo seu cheiro de bebê, vendo como você era perfeita, até que
começava a chorar de fome e tinha que te devolver aos braços de Greta. Depois do seu nascimento,
fiquei muito tempo longe de Orange. Voltava para seus aniversários, Natal ou Ação de Graças.
Tratando do assunto da fábrica têxtil com quadros de executivos, ou por telefone. Quando comecei a
namorar outras pessoas, quando tinha certeza de que não sentia nada por sua mãe, voltei para Orange
com mais frequência. Eu poderia passar mais tempo com você. Phillip tinha conseguido levar o
casamento adiante com sucesso, porque quando voltei a ver Greta tive certeza de que ela também não
sentia nada por mim. Entre nós três, começamos a ter um relacionamento cordial sem rancores. E é
assim desde que você fez dois anos.
— Algo muito estranho — comentou.
Bob deu a ela um meio sorriso.
— Bem, cada caso é diferente. E para mim foi importante mediar, porque queria fazer parte da
sua vida com mais frequência. Portanto, a maturidade emocional com que assumiu a situação foi
indispensável. Sabia que eles concordavam com isso também.
— Porque se preocupam com o que diriam — expressou amargamente. Não havia mais
lágrimas. Não daria em nada. Já havia desabafado o suficiente nos últimos dias.
— Além disso, foi porque fizemos uma promessa e a cumprimos. O importante para mim é que
você teve um núcleo familiar, e o que pode sentir, Colette. Eu estava errado, agora eu sei..., Mas se
há uma coisa de que tenho certeza é que Greta ama você como qualquer mãe ama sua filha.
— Eu duvido...
— Não. Talvez em sua tentativa de ser justa e não mostrar preferência, você pensou que ele
não gostava de você.
— Nunca me defendeu... — ela murmurou para si mesma.
— Teria que perguntar a ela, querida, para poder entender suas motivações. Já lhe dei minha
versão. Embora, como jornalista, imagino que você vai contrastar com o que eles podem te dizer.
— Que história a minha... Sinto como se tivesse levado uma surra.
— Você não sabe quanta dor isso me causa saber. Só pensei que minha decisão tinha sido a
melhor para todos.
— Bem, não foi, Bob. Sempre me senti uma intrusa na casa. Nunca me encaixava.
— Suponho que sejam os genes rebeldes dos Meadows — respondeu sorrindo pela primeira
vez. — Nunca pensei em revelar isso a você, porque não queria ver a dor e a perplexidade que isso
lhe causou. Se o acidente não tivesse acontecido... e...
— Você não precisaria de um doador de sangue — suspirou. — Gertudris, sabia?
— Só lhe contei muito recentemente. Uns anos. Talvez cerca de três. Ela sempre me disse que
não entendia aquele apego e preocupação que tinha por você, que não era normal eu gostar muito de
outras pessoas... Então, eu confessei para ela.
— Por que você saiu da fábrica têxtil? — perguntou.
— Tive uma grande discussão com Phillip. Ele queria lhe dizer que não era seu pai, porque
acreditava que você tinha idade suficiente para saber e assumir isso. E eu me opus veementemente.
— Porque você não queria me ver sofrer... — afirmou, ao invés de perguntar. Depois de ouvir
toda a história, pelo menos sabia que Bob era sincero.
— Isso principalmente.
— E qual foi o motivo secundário?
— Meu ciclo na fábrica têxtil acabou. Eu tinha o meu negócio, queria viajar mais… Então o
deixei.
— E eu também fazia parte desse momento de afastamento com seu entorno?
— Não querida, só estava tentando reajustar minha vida. Quando passarmos dos sessenta,
precisamos fazer isso. E bem... — esclareceu, — estou namorando alguém.
Colette franziu a testa. Não que tivesse conhecido muitas das namoradas de Bob, na verdade,
apenas se lembrava de duas. Ele costumava ser muito discreto sobre sua vida amorosa.
— Ela deveria estar aqui — expressou amargamente.
— Vive em Lyon, França. Eu tinha pensado em pedir a ela em casamento, mas é algo que ainda
não poderei fazer. Minha irmã entrou em contato com ela.
— Eu entendo...
— Eu quero que você faça parte dessa nova vida. Eu gostaria que você a conhecesse.
— Quando eu digerir tudo isso, Bob, talvez... Por enquanto — se levantou, — acho que isso é
muita informação. Muito tudo. Tenho que ir.
Ele assentiu. Exausto. Como se ele tivesse expulsado todos os seus demônios.
— Você vai falar com eles?
— Sim — respondeu e começou a se afastar.
A voz de Bob a deteve.
— Espere. Você vai voltar…?
O olhar triste e vulnerável de Bob fez seu coração afundar. Talvez ela também não tenha
tomado as melhores decisões, então não podia culpá-lo por acreditar que estava fazendo a coisa
certa ao deixá-la com sua mãe e com um homem diferente de seu pai. Pelo menos ele não a
abandonou completamente. Sempre estivera nos momentos mais importantes de sua vida.
— Sim...
Os olhos de Bob se encheram de lágrimas.
— Eu te amo, Colie. Nunca parei de fazer isso nem por um momento. E cada momento que não
passei com você partiu minha alma, mas sempre pensei que fiz o que era melhor para você. Me
desculpe, eu estava errado...
— Pelo menos você não me abandonou completamente... — Parecia demais para um dia.
Precisava sair de lá. — Eu vou ligar. Estou feliz que você esteja melhor — se despediu seca.
Com o rosto cansado, Colette saiu do hospital.
Quando chegou no carro, se sentia mais calma. Não esperava experimentá-la, mas era o efeito
que a verdade tinha. Dolorosa ou não, ela conseguiu explicar as perguntas, e para ela não havia nada
melhor do que desvendar o desconhecido. Muito mais quando se tratava de sua vida. Bob sentiu
remorso por não ter dado a ela seu sobrenome, e talvez de alguma forma ela pudesse fazer algo a
respeito. Mais adiante. Quando a tempestade passasse completamente e conseguisse acalmar suas
emoções.
Não tinha nada para conversar com Phillip. No final, ele fez o que pôde para dar a ela seu
sobrenome, criando diariamente a filha de outro homem. “Pela primeira vez na vida, Colette, não me
faça sentir arrependido de ter lhe dado meu sobrenome”. Se lembrava claramente daquela frase na
festa em que conheceu Nikos, o jornalista grego. Agora a entendia completamente.
Phillip nunca tinha batido nela, ou a tratado mal, mas ele sempre a criticou ou ridicularizou
publicamente de uma maneira tão diplomática que parecia inofensiva; mas nunca tinha sido para ela.
Afinal, ele a fizera pagar pelo erro de Bob e Greta.
Embora só tivesse passado uma hora no quarto de Bob, parecia que havia estado falando por
vinte horas. Estava exausta. Ela ligou o carro, pronta para voltar para Santa Monica.

***
Bob olhou para o teto do quarto. Sua filha. Colette sempre foi sua garotinha. Vê-la crescer,
tornar-se uma pequena mulher determinada, um tanto obstinada, mas com uma mente afiada, tinha
sido um bálsamo ao pensar que ela poderia nunca saber que ele era seu pai biológico. Mas agora, o
acidente, e a possibilidade iminente de morrer, havia virado tudo de cabeça para baixo, até que
chegaram à situação em que se encontravam.
Em seu coração, ele nunca poderia esquecer a primeira vez que Colette, aos cinco anos, disse
que ele era o melhor tio do mundo. Greta e Phillip não viram nenhum problema em permitir que ele
levasse Colie para a Disneylândia. Ela riu muito, e seus olhos, assim como os dele, brilharam de
entusiasmo, enquanto compartilhavam os jogos no parque de diversões. No final da tarde, Colette
tropeçou e machucou o joelho. Ela chorou, é claro, e ele imediatamente a sentou em um banquinho e
fez um curativo. Não era à toa que pegou uma bolsa com tudo que uma garota poderia precisar.
Curativo, algodão e álcool foram incluídos.
— Tio Bob, dói — choramingava, embora já estivesse usando o curativo com estatuetas de
Tribillin e Mickey Mouse.
— Te darei um beijinho no joelho e vai ver como para de doer.
— Tão rápido?
— Claro. É que é um beijo cheio de amor. Isso cura tudo.
Então fez cócegas nela, ela esqueceu a dor e o abraçou. Quando a risada parou, a pequena
Colie ergueu o rosto para ele.
— Eu te amo, tio Bob. Você é o melhor tio do mundo.
Naquela tarde, pela primeira vez em muitos anos, seus olhos se encheram de lágrimas.
A risada de sua filha foi algo que sempre esteve em seu coração. Seus gestos de carinho. A
confiança criada entre eles ao longo dos anos, e como Colette sempre recorreu a ele em busca de
conselhos, apoio ou apenas para ouvi-la. Agora doía saber que seu silêncio, e o de Greta, magoara
Colie.
O ferimento da operação começou a incomodá-lo enquanto ele tentava se acomodar na cama
do hospital. Chamou a enfermeira para administrar uma dose um pouco mais forte para a dor. Fechou
os olhos, disposto a acreditar que o coração generoso de sua filha o perdoaria em algum momento.
Ele apenas teria que esperar. E esperaria o tempo que fosse preciso.
CAPÍTULO 17

Jake encontrou sua mãe e Brad no aeroporto. Os dois chegaram com um sorriso no rosto. Sua
mãe, sinônimo de que havia fofocado sem parar com a irmã em Washington; e seu sobrinho, porque
sem dúvida o estragaram comprando brinquedos para ele. Agora entendia o motivo da bagagem
extra.
Pararam para comer em um dos restaurantes do aeroporto, porque Brad insistiu que estava
morrendo de fome. Um exagero, claro, já que o menino havia comido no avião. Jake adorava agradar
ao sobrinho, então eles foram ao TGI Friday's.
Enquanto Brad devorava algumas asas de frango com um refrigerante gigante, sua mãe
começou a lhe contar sobre a viagem. Jake a ouviu entre mordidas em seu hambúrguer e batatas
fritas. Entre as interrupções de Brad para dizer, de boca cheia, como eram lindos os netos da tia-avó
Yasey, mãe e filho colocavam as novidades em dia.
— Seu rosto parece menos preocupado — Page apontou, apertando o cinto de segurança do
Aston Martin de Jake. Brad queria alguns palitos de queijo frito para levar para casa. Então agora o
carro chique cheirava a comida. — Combina muito com você, querido.
Ele fez uma careta para ela.
— Eu não sei o que você quer dizer com isso mãe. Meu rosto continua o mesmo de sempre.
Page negou com um sorriso. Satisfeito não apenas por estar em casa novamente, mas porque
sua irmã Yasey, depois de ficar viúva cinco meses atrás, parecia ter recuperado o desejo de
continuar vivendo. Na família Page, os casamentos por amor eram lendários; eram carregados com
muita paixão e lealdade feroz. Infelizmente, ela e sua irmã eram viúvas agora. Sobreviver ao pai de
Jake era difícil todos os dias, mas tinha Brad e seu filho, seus motivos para acordar todos os dias.
Graças a Deus Yasey, seis anos mais velha que ela, aceitou que seus três filhos e oito netos
precisavam dela com saúde. Foi uma viagem muito agradável e Brad se divertiu muito.
— Eu só o vejo mais feliz. Existe uma garota envolvida? — perguntou sorrindo, ao mesmo
tempo em que pedia ao pequeno Brad que parasse de pular nos assentos, pois estavam saindo na
estrada e ele poderia se machucar. — Eu sou sua mãe e te conheço...
— Não há garota — ele respondeu rápido demais. Muito estranho. Ele não gostava quando sua
mãe vinha com suas observações. Naquele dia teria a partida de tênis com os amigos, para um grupo
exclusivo de convidados. Alguns patrocinadores estariam presentes. Nenhum dos anunciantes e
agentes perdeu a oportunidade de buscar gerar lucratividade. A imprensa convidada era mínima,
Gordon lhe disse. “Que bom, porque ele não queria tolerar a horda de jornalistas que normalmente o
perseguia”, Jake pensou. — Abandone o assunto, mãe. Sim?
— Mmm — conhecia seu filho. Jake tinha um brilho diferente nos olhos. O brilho que só uma
pessoa especial podia dar, pensou Page. Estava morrendo de vontade de conhecer a mulher que havia
conseguido isso em seu filho, mas primeiro, teria que aceitar que havia uma. Algo complicado para
uma mãe. — Certo?
— Mãe, pare — ele pediu com um grunhido. — Estou trabalhando em um projeto mais
tranquilo. Essa é a razão. Já te falei que a rádio me dá mais liberdade de movimento, não tenho que
aguentar tantos fãs por perto; salvo alguma louca que costuma se encostar fora da emissora, ou um
jornalista em busca de uma entrevista sobre os pontos de vista do tênis.
— Então você não está namorando ninguém, hein?
— Mãe...disse com um aviso. — Não tenho relacionamentos sérios. Eles complicam a vida.
— Gostaria de ouvir você na rádio um dia desses — disse Page mudando de assunto, só por
um momento, sem perder o tom caloroso da voz. — Se eu soubesse que você estaria imerso em um
programa de rádio, teria dito a sua tia Yasey para ouvi-lo. Ah, e seus primos.
— Foi um projeto que surgiu quando você saiu. Não adiantava lhe contar se você não podia
ouvir, porque só vai ao ar na Califórnia. Vou te dar o dial mais tarde, para sintonizar. Vai ao ar três
vezes por semana.
Page ficou em silêncio enquanto desciam as pistas da rodovia. A música no carro era a trilha
sonora de um filme da Disney de que Brad gostava.
— E eu também gostaria que levasse uma garota para casa — finalmente expressou retornando
à sua intenção inicial. — Não uma daquelas cabeças vazias que costumava sair nas manchetes, mas
uma que realmente vale a pena...
— Tio Jake, você sabia que meu tio Hunter tem namorada? — Brad interrompeu, pensando
naquele homem grande que jogava na Liga Nacional de Futebol e que era filho da tia-avó Yasey.
— Oh sim? — respondeu com um sorriso, olhando para o sobrinho pelo espelho retrovisor. O
menino olhou para ele com olhos surpresos, como se contasse um grande segredo.
— E eles estavam se beijando. Que nojo!
Paige riu, mas aproveitou a oportunidade para cutucar o filho.
— Brad, seria ruim para você se um dia seu tio Jake tivesse uma namorada?
Jake não conseguia olhar para sua mãe. Era sua mãe. Ele manteve os olhos fixos à frente e
seus dedos se apertaram com mais firmeza no volante. Fez uma curva, até chegar à rua onde moravam
sua mãe e seu sobrinho, em Burbank. O menino ficou em silêncio por um longo tempo. Jake
estacionou na garagem da casa.
— Só se não for como aquela outra garota — ela finalmente expressou, quando entraram na
casa e Jake deixou as malas no corredor que levava aos quartos.
— Que garota? — perguntou Jake, preocupado que seu sobrinho tivesse visto fotos dele com
outras mulheres.
O menino ergueu a cabeça e seu rosto estava triste.
— Aquela que quis me bater uma vez, porque eu disse que queria que você ficasse e brincasse
comigo... Vovó disse que era uma pessoa má.
Jake empalideceu. Estava prestes a proferir um palavrão asqueroso. Ele mal se conteve.
Paige tentou levar o menino, mas Jake a impediu, agachando-se para pegar Brad pelos ombros
e virá-lo em sua direção.
— Olhe para mim, Bradley — perguntou chamando-o pelo nome completo, mas falando
baixinho. Paige lamentou que seu neto tivesse uma memória tão boa, especialmente para assuntos que
ela acreditava que uma criança tão pequena não conseguia se lembrar. — O que você está falando?
— Não estou mentindo — disse o menino começando a fazer beicinho.
— Claro que não, pequenino — Jake disse. Ele respirou e suavizou sua voz muito mais. —
Foi Lauren? — perguntou sentindo a bile subir por sua garganta. Ela foi a única namorada que
conheceu Brad. Que ela era desavergonhada por tê-lo feito acreditar que estava grávida de um filho
seu, quando era de outra pessoa, era uma coisa, mas se ela ousou tratar mal seu sobrinho, isso
custaria caro a Lauren. As crianças costumavam não mentir com esse tipo de acusação. — Se refere a
ela, Bradley?
O menino assentiu. O coração de Jake começou a bater forte. Ela queria quebrar alguma coisa
e apertar o pescoço de Lauren com as mãos nuas.
— Fiz algo errado ao dizer isso? — perguntou o menino assustado ao ver o rosto feroz de seu
único tio.
Jake negou, e Paige foi até o filho para colocar a mão em seu ombro. Ele deu uma olhada
rápida antes de se virar para o sobrinho.
— Claro que não — o abraçou. — Claro que não. Eu só quero que você tenha certeza de que
foi Lauren. A garota com o cabelo ondulado avermelhado.
— Sim. Ela.
— Ok, agora vá para o seu quarto, e então vamos brincar um pouco com o Play Station. Que
tal? — disse com um entusiasmo que era difícil mostrar. Estava furioso.
— Siiimmm! — exclamou com o rosto iluminado de alegria, antes de correr para o quarto.
Jake se levantou.
— Desculpe, querido — Page foi rápida em dizer quando Brad estava fora de vista. — Você
teria me acusado de mentir se tivesse lhe contado. Você estava completamente cego por aquela
garota. Nunca encostou um dedo no meu neto. Cheguei a tempo. E eu a avisei para não tentar se
aproximar do menino novamente.
Jake passou a mão pelo rosto. Fiquei chocado.
— Deus...
— Você não deve se culpar. Todos nós cometemos erros, filho — tentou acalmar os olhos
cinzentos assustados.
— É sobre Brad — ele murmurou, respirando pesadamente.
— Não, querido. Não é sobre Brad. Nada aconteceu com ele. Na verdade, é sobre você. —
Jake olhou em um par de olhos idênticos ao seu. — Acredite em mim, não tenho interesse em saber
detalhes sobre seu relacionamento com Lauren, porque tudo que me importa é que acabou. Mas é
hora de deixar a desconfiança das mulheres no passado. Nem todas são como aquela garota.
— Mãe, não vou ter essa conversa — respondeu ele com os dentes cerrados. Adorava sua
mãe, mas os sermões nunca foram bons para ele.
— Você foi morar em outro lugar porque está inquieto, porque se sente vazio, como se algo
estivesse faltando. As mães têm um sexto sentido e mais experiência de vida. Então me escute,
querida, as respostas que você busca não estão do lado de fora. Você pode mudar de casa ou de
cidade quantas vezes quiser — expressou olhar com amor para o filho. — mas continuará sentindo
que algo não cabe. Porque você está procurando no lugar errado.
— Do que você está falando?
Page suspirou.
— Quando chegar a hora, você vai entender — respondeu, antes de beijá-lo na bochecha. —
Vou levar Bradley para um banho — terminou antes de se afastar, deixando Jake com a palavra na
boca e parado no corredor, carrancudo.

***

Não estava sendo uma conversa fácil. Sua mãe, pela primeira vez desde que se lembrava,
começou a chorar sem preâmbulos quando praticamente jogou os testes de DNA na saia do vestido
branco, encontrando-a na sala de leitura e pintura. Estava prestes a voltar para Orange e não falar
com ela durante um bom tempo, mas a necessidade de terminar de encaixar a última peça do quebra-
cabeça de seu nascimento era mais forte.
A conversa começou áspera e sincera, e Colette sentiu empatia por Greta Kessler. Empatia em
sua perplexidade. Greta corroborou tudo o que Bob havia lhe contado uma hora antes no hospital. Ela
se desculpou por ter escondido a verdade por tanto tempo, mas justificou referindo-se ao acordo de
manter o segredo que ela, Phillip e Bob haviam feito.
— E que culpa eu tenho de suas decisões amorosas, ou de seu casamento desastroso com
Phillip? Qual foi a minha culpa para que me tratassem como se tudo o que eu fizesse estava errado?
Por que sempre era a que recebia mais punições, com mais críticas? — perguntou amargamente.
Observou o lábio inferior de Greta tremer com os soluços que lentamente diminuíam. Colette não
sentiu pena. Era como se suas emoções tivessem sido anestesiadas naquele dia.
— Sinto muito — disse estendendo a mão para segurar a mão dela com firmeza. Estavam
sentados nas cadeiras de veludo cinza da sala de estar, uma de frente para o outra, e o único som era
o tique-taque do relógio cuco de parede. — Sinto muito... — repetiu. — Estava tentando não criar
uma preferência entre as três, porque...
— Estava com medo de que Phillip pensasse que você me amava mais e, portanto, que seus
sentimentos por Bob ainda estivessem vivos e seu casamento fosse abalado — completou com a
decepção.
— Sim... No começo era assim, mas quando você cresceu não tinha mais desculpas, porque
nosso casamento tinha sobrevivido àquele momento difícil. Continuei fazendo isso por hábito... Não
tenho desculpas, fui uma mãe muito dura e você não merecia. Você sempre teve essa veia rebelde dos
Meadows — sorriu tristemente, — você era a centelha diferenciadora na família. E porque eu
conhecia aquela centelha em você, tentei não me contentar com menos do que você poderia alcançar.
Colette fez uma careta.
— Se você se refere a ser jornalista, saiba que não é uma profissão fácil e é o que eu amo
fazer. Se não gosta de rádio, não me importo. Se não gosta que eu trabalhe intermitentemente,
escrevendo ou ensinando, eu também não me importo. Antes de tudo isso, me proponho a mostrar o
quanto eu valho como profissional, o quanto posso conquistar sozinha, a mostrar que sou capaz de
alcançar coisas com meu esforço, e que não precisava ser uma economista. Queria a sua aprovação,
uma aprovação que sempre me negaram, porque sempre pressionaram, e pressionaram — a voz
falhou, mas continuou: — As palavras de encorajamento eram raras, se eu não seguisse o exemplo de
Moira ou Lizzie, então eu estava errada. Mas agora... — tirou a mão de Greta que já segurava a dela,
— não estou interessada. Eu não me importo mais com o que vocês pensam. E não sabe como isso é
libertador. Se tirei alguma coisa de toda essa trama de mentiras, é que não preciso da aprovação de
ninguém, exceto de mim mesma. E de agora em diante vai ser assim — retrucou, sentindo como
respirar estava mais fácil agora. Talvez fosse verdade; conhecer a verdade foi difícil, ainda era, mas
também tinha acabado de perceber que nunca precisava provar nada para ninguém. Que, na
realidade, os desafios e o sucesso devem fazê-la feliz primeiro; por ela; então, compartilhá-lo com
outras pessoas era apenas uma extensão dessa alegria, mas não precisava provar nada.
— Oh… — Greta olhou para ela com tristeza, — eu entendo como isso deve ser difícil.
Porque parte meu coração ver você aflita e magoada. Achei que estava tudo bem, achei que não se
importava com a minha opinião, ou com a do seu pai... — esclareceu, — quero dizer, Phillip.
— Eu o chamei de “pai” toda a minha vida, suponho que será difícil abandonar o hábito de
fazer isso. Não vou questionar seus motivos para trair Phillip, e certamente não me importo com o
que ele fez com sua vida. Não vou me desculpar pela mentira, e que você nunca, jamais, teria
impedido Phillip de minar minha autoestima quando criança, de dizer palavras para mim na frente de
outras pessoas que se ressentiam de mim e de me tratar como uma pessoa cuja única missão era
manter o bom nome dos Kessler, e quando falhava, a sensação de fracasso gerada por suas
reprimendas era monumental.
— Querida... você nunca me contou... Se tivéssemos conversado sobre isso.
— Isso teria ajudado? Você teria enfrentado seu marido por mim?
Greta olhou nos olhos dela.
— Sim, Colie. Eu teria, porque você é minha filha. Porque eu amo você. Porque me preocupo
com você, e sempre será assim, mesmo que agora esteja chateada e decepcionada. Interpretei o seu
desconforto como parte do seu caráter ou da sua teimosia, porque você é orgulhosa e quando as
coisas não dão certo você tende a se trancar no seu próprio mundo; e quando eu tentava falar com
você, sempre dizia que não precisava de mim porque estava tudo bem. Cometi o erro de acreditar e
seguir em frente. Cometi erros, mas estou disposta a pedir-lhe que tente construir nosso
relacionamento a partir de uma nova perspectiva.
Colette riu amargamente.
— Você acha que está negociando uma fusão empresarial?
— Não seja dura, filha...
— Você não prestou atenção às minhas emoções porque temia que seu casamento
desmoronasse — deixou escapar um suspiro de cansaço. — Estou exausta — expressou com a
intenção de sair. Greta percebeu.
— Por favor, não vá assim...
— Por que deveria ficar? Para ouvir desculpas?
— Não — sussurrou Greta. — Foi um momento muito difícil — começou a relatar
suavemente, — e quando Heather, aquela mulher que era amante de Phillip, se aproximou de mim,
meu casamento desmoronou. Havia passado por momentos difíceis antes da festa, quando a conheci.
Perdi um bebê, um aborto espontâneo. — Colie olhou para ela com espanto e murmurou “Sinto
muito”. — Discutimos muito e o fato de ele ter uma amante foi o gatilho final. Eu amei Robert,
Colette. Mas eu me arrependi, porque apesar da infidelidade de Phillip, eu nunca deveria ter me
deixado levar, embora achasse que nada poderia fazer pela minha vida de casada.
— Foi então por despeito que você esteve com meu pai? — perguntou.
— Foi porque pensei que tudo estava acabado com Phillip, mas quando descobri que estava
grávida e contei a ele, se desculpou. Falamos sobre muitas coisas. Nosso casamento foi maravilhoso,
mas não conseguimos lidar com a perda de nosso bebê. Aceitamos que ambos tomamos decisões
erradas. E decidimos, em homenagem ao amor com que nos casamos, e por nossas filhas, tentar
salvar a família que havíamos construído. Ele deixou sua amante, e eu...
— Você deixou o seu.
Greta assentiu.
— Deixar Bob foi muito difícil... — franziu os lábios, — e bem, deixar de amá-lo foi ainda
mais difícil, mas Phillip trabalhou para o nosso casamento; ele realmente tentou. Chegamos a um
consenso, discutimos, choramos e vivemos uma fase de reconciliação. Foi uma circunstância muito
difícil, Colette. Muito dura. E, além de zelar pelo meu casamento, também tive que pensar em minhas
duas filhas, Bob e sua reação à minha decisão de deixar tudo, e também tive que pensar na pequena
pessoinha crescendo dentro de mim.
— Um erro essa pequena — disse com acidez.
— Não, Colette. Você não foi um erro. Você foi...
— Concebida com amor — ela completou ironicamente quando se lembrou do que Bob lhe
disse.
Greta assentiu.
— Sim — afirmou com firmeza, — as decisões erradas foram outras. Você foi um presente
maravilhoso no meio de uma situação emocional difícil. Bob queria lhe dar uma família e eu já tinha
uma. Você é minha filha, e o acordo que nós três chegamos… — baixou os ombros, —apenas
pensamos que era o melhor para você.
— Phillip nunca me amou, me via como filha do seu amante, nunca me perdoou que existisse...
Greta ia responder, quando Phillip entrou, como se tivesse sido invocado. Ele estava pronto
para jogar golfe. Eram quatro da tarde. Colette imaginou que Phillip teria mais uma daquelas
reuniões de negócios que eram melhores no campo de golfe do que no escritório.
— Colie? — perguntou estranhamente. Ela não costumava ir a Orange ultimamente, pior no
meio da semana.
Colette o encarou por um segundo sem dizer nada, antes de voltar a olhar para a mãe.
— Bob disse a verdade... — Greta disse suavemente. Phillip se aproximou e, vendo os olhos
marejados de sua esposa, a abraçou. Ele a abraçou por um tempo, até que ela se afastou para pegar
um lenço e enxugar os olhos com delicadeza.
Colette ficou pasma, ela nunca tinha visto nada parecido entre eles. Costumavam ser pouco
expressivos. E pareciam viver em um mundo à parte, exceto quando estavam com a família e
conversavam. Mas os gestos afetivos eram quase inexistentes.
— Entendo — comentou Phillip sentando ao lado de sua esposa. — Como isso aconteceu?
Em um tom chato e monótono, Colette explicou.
— Pensei em te contar e no final soube que a decisão não era minha. Discuti com Bob, mas ele
estava certo. Era algo que correspondia a Greta e a ele. Lamento que você tenha descoberto dessa
forma. Eu realmente sinto muito — expressou olhando para ela com sinceridade.
Colette se levantou. Se ela não fosse embora logo, não só iria começar a chorar, mas também
se atrasaria para voltar para Orange, e não tinha vontade de ficar na casa de sua família.
— Bem — sorriu com uma careta que insinuava seu sarcasmo, — você já teve minha vida
inteira para me fazer sentir o aborrecimento da minha existência em sua família, e a vergonha de
levar seu sobrenome, e maculá-lo com os meus escândalos juvenis.
Phillip olhou para ela por um longo tempo.
— Sempre acreditei que a família não se dá por ter o mesmo tipo de sangue. Você é inteligente
e engenhosa, algo que suas irmãs acham que possuem. Além disso, elas costumam usar mais as
aparências e seus contatos. Não você, porque sempre quis ganhar coisas sem a ajuda dos outros, e é
por isso que exigi mais de você do que Moira e Lizzie, para aproveitar ao máximo seu senso de luta
e determinação. Você é minha filha, não porque eu te dei meu sobrenome, mas porque você ganhou
meu coração no momento em que sua mãe a colocou em meus braços.
— Você me humilhou... — acusou com raiva, lembrando-se dos momentos incômodos pelos
quais passou muitas vezes.
— Não, Colette, eu estava ensinando você a ser forte e se defender. Você chamou assim, não
foi a intenção — expressou de forma equânime, mas ao mesmo tempo duramente. — Lidar com luvas
de seda nunca foi minha política. Meu pai foi muito duro comigo, e isso me tornou o homem confiante
e determinado que sou — balançou a cabeça. — Seu temperamento nunca foi fácil para mim entender
ou controlar. Talvez seja sua veia paterna.
— Talvez...
— Então você pode dizer que tem dois pais. E cada um a ama à sua maneira.
— Mas...
— Espero que aos poucos você pare de pensar no seu passado como um assediador constante
de suas emoções. Acaba de sofrer um impacto muito forte e difícil de digerir, mas tem que se acalmar
e não fazer uma bola de neve disso que comece a se transformar em uma avalanche que pode te
esmagar — continuou com um tom calmo e fluido. — Greta e eu estávamos em um inferno
matrimonial. Não vou contar nada porque suponho que Bob tenha lhe contado e, pelas lágrimas de
sua mãe, presumo que ela tenha contado sua parte para você. — Colette assentiu. — Lamento ter
manipulado você para tentar fazer de você o que pensei que deveria ser, e não a deixar voar com sua
essência. Lamento que tenha pensado que eu estava a humilhando, quando o que eu estava tentando
fazer era que fosse tão forte que nada iria te dobrar, especialmente os comentários dos outros. E,
finalmente, sinto muito se minhas ações ao longo dos anos a fizeram pensar que eu não a amo, ou te
machucaram. Sou um homem que cometeu muitos erros e, se a magoei, sinto muito. Não é fácil passar
pelo que Greta e eu passamos, ainda menos quando Bob continuou a fazer parte de nossas vidas por
tantos anos.
— Aceito suas desculpas — respondeu. Phillip aceitou seus erros, pediu perdão, mostrando
não só que seu orgulho não estava presente, mas que aparentemente ele realmente se importava com
seus sentimentos e com o que acontecia.
— Eu só quero que você tenha algo claro quando sair de casa. Nós somos sua família. Nós a
amamos. Você não precisa provar nada para nós. Estamos orgulhosos de você e lamento ter
menosprezado sua escolha de carreira. Nunca deveríamos ter...
— Eu... — Colette pegou sua bolsa e começou a se sentar. Foram muitas emoções para um dia.
— Acho que vou precisar de um tempo longe. Talvez... talvez mais tarde seja fácil para mim falar
com você de novo, mas agora.
— Filha — Greta disse com súplica e com lágrimas rolando pelo rosto, e tentou se levantar,
mas Phillip a impediu, segurando-a com firmeza.
— Está tudo bem, Colie. Sem pressa. Vamos respeitar isso. Se você puder perdoar toda essa
turbulência emocional que lhe causamos, sempre estaremos aqui. E se você não for capaz de nos
perdoar, estaremos sempre aqui de qualquer maneira.
— Vamos começar de novo... Dê-nos uma chance de reparar a tristeza que inconscientemente
causamos a você — sussurrou Greta olhando para ela desamparada.
Colette conteve as lágrimas. Phillip estava aceitando seus erros, pedindo seu perdão e
dizendo-lhe que o que quer que fosse, estariam lá para ela. Não tinha força para falar. Então se
levantou e, com um aceno de cabeça para os pais, saiu da sala.

***
A primeira coisa que Jake fez ao chegar em casa foi tomar banho e ligar para Colette. O
telefone o enviou diretamente para o correio de voz. A mesma coisa acontecera seis vezes. Ele
imaginou que a bateria de seu celular estava esgotada. Sentiu a necessidade de vê-la. Era uma
situação incomum, pois não gostava de precisar dos outros. No entanto, ela simplesmente não podia
ser classificada como o resto das pessoas ao seu redor. Colette se tornou uma pessoa especial. Uma
amante especial, ele se corrigiu mentalmente. Sim. Era isso.
Gostaria de vê-la antes do jogo. Gostava de seus beijos e do sabor de suas curvas. Juntos,
criaram sensações explosivas que o deixaram não apenas exausto e saciado, mas sempre querendo
mais daquele corpo feminino sensual.
Enquanto dava o nó nos cadarços do Adidas, pensava nas vezes em que haviam feito amor em
casa. A cama, o balcão de mármore da cozinha, os sofás da sala, a banheira, o quarto de hóspedes, a
jacuzzi. Sorriu. Que par! Ele não achava que era possível ver aquela Jacuzzi novamente sem deixar
de pensar em Colette nua, com o calor da água quente fumegando no ar, e o frio do vento lavando seu
lindo rosto e seus seios nus, enquanto dava a ela prazer com os dedos, E então a tomava na borda da
jacuzzi. Foi uma ocasião emocionante para fazer amor ao ar livre, na privacidade de sua casa, sob a
meia luz da lua californiana.
Tirou aquelas memórias da cabeça, porque estar duro e fazer uma apresentação pública era
uma combinação ruim. Então foi buscar suas raquetes Babolat, e as colocou em sua bolsa de tênis da
mesma marca. Quando terminou de ajustar o colarinho da camisa, começou a se alongar.
Sabia que Colette estava em Orange e ciente de que devia estar tendo dificuldades para
enfrentar sua família, não esperava que ela fosse ao jogo naquela noite, embora não quisesse nada
mais do que vê-la nas arquibancadas do complexo esportivo privado.
Quando ele trancou o porta-malas do Aston Martin, já que tinha que ir a Bel Air trocar de
carro para pegar sua mãe e Brad primeiro, ligou para Gordon. Se certificou de que a Shuttle Box, a
empresa de reabilitação de esportes e protetor solar para a qual Lauren trabalhava, estivesse lá. Ele
não pensava ignorar a coisa do Brad. Era hora de abandonar o passado e deixá-lo ir para ser livre.
CAPÍTULO 18

Assim que voltou para Santa Mônica, por volta das 17h30, Colette buscou uma receita natural
para desinchar as pálpebras. Cara, ela tinha chorado. Pegou alguns saquinhos de chá e executou o
processo simples, até que estivessem mornas para usar. Ela entrou na banheira e deixou a água morna
aquecê-la enquanto os saquinhos de chá faziam seu trabalho. Apreciou o glorioso silêncio, ciente de
que a questão da calma e do perdão, por tudo o que tinha ouvido naquele dia, iria progredir com o
tempo. Estava pronto para seguir em frente. Ela não queria ficar amarrada ao passado, então
precisava lentamente se livrar do choque, da dor e do ressentimento. No final, os Kessler e os
Meadows eram sua família.
Agora que ia desfrutar o que restava de quinta-feira, merecia se distrair.
Estava um pouco impaciente para ver Jake, para beijá-lo e deixá-lo percorrer seu corpo; e ela,
maravilhada com aqueles músculos perfeitos. Evocar todas aquelas posições em que ele a fez chegar
ao êxtase, a fez corar e a agradavam. Nunca sentiu tanta liberdade para dar e pedir. Jake era um
amante versátil, apaixonado e complacente e não parava de beijar ou acariciar um único centímetro
de seu corpo. Ela se rendeu sem restrições, não apenas porque era fácil se ajustar ao ritmo do desejo
que ambos sentiam, mas porque seu coração, seu coração tolo, estava muito envolvido.
Saiu do banheiro e começou a se arrumar. Levou vinte minutos para secar o cabelo, até que
ficasse brilhante. Ela terminou de aplicar uma camada de rímel preto nos cílios e sorriu para seu
reflexo no espelho de corpo inteiro no canto da sala. Seu cabelo estava solto e a franja a fazia
parecer casual e sedutora. Por baixo da jaqueta vermelha, ela usava um vestido de gola redonda,
mangas três quartos, costas abertas e com um detalhe logo abaixo dos seios, o que ajudava a destacar
seus atributos. Havia escolhido um tom branco para o vestido de coquetel — visto que Jake havia
dito a ela que haveria uma festa depois do jogo, — e ela decidiu por umas lindas botas Christian
Louboutin de couro vermelho.
Assim que ela estava pronta, foi bater na porta de Kate. Já eram seis e meia. Teria que ser um
carro de corrida para chegar a tempo, embora tais eventos geralmente não começassem pontualmente.
Kate sorriu ao ver sua melhor amiga, enquanto pendurava a bolsa no ombro. Ela vestia uma
calça verde-escura justa e, enquanto abotoava a jaqueta branca, que escondia uma elegante blusa
lilás com babados, começou a dizer a Colette que seu salário seria aumentado na joalheria porque
ela tinha que trabalhar em dobro.
— Fabuloso, Kate — disse Colette sorrindo. — Imagino que sua alegria hoje não seja só por
causa desse aumento salarial, mas porque seus amigos misteriosos estão esperando por uma foto
exclusiva do evento. Certo? — perguntou com uma piscadela.
— Na verdade, você deve conhecer um deles. Valente Markosso. Ele é convidado como
representante de sua revista de esportes Tie Break. É um dos poucos meios de comunicação
convidados. Ele me disse que tudo era muito restrito, porque aparentemente não é uma questão de
caridade ou de lucro, mas sim lúdica e social. Privado. Embora, sem dúvida, alguns patrocinadores
irão.
Colette sorriu.
— Agora que você mencionou, Valente não era seu melhor amigo da faculdade? Parece-me
que se espalhou o boato de que ele se casou com uma herdeira britânica, razão pela qual deixou os
Estados Unidos assim que se formou.
Kate fez uma careta.
— Eles se divorciaram há três anos, quando Valente se recusou a morar indefinidamente em
Brighton e, como filho desse império da construção, deixou o jornalismo de lado. A menina era
apegada à família e os preferia ao invés de apoiar o marido. Decidiram se divorciar e Valente voltou
para a Califórnia.
— Uau... Embora saísse mais com você do que comigo, a verdade é que eu gostava muito do
Valente. Talvez ele pudesse lutar por seu casamento, certo?
Kate franziu a testa.
— Não quando você encontra sua esposa fazendo sexo com outra mulher em sua cama.
Colette ficou boquiaberta.
— O quê?!
— Acho que ele já superou a questão da bissexualidade de sua ex-mulher, e também o golpe
em seu orgulho — Kate respondeu com pesar. — Valente é uma pessoa maravilhosa.
Colette pôs a mão em seu ombro.
— Pelas conversas que às vezes tínhamos, ele sempre me pareceu um homem muito
inteligente, com uma perspectiva de mundo, como jornalista, ótimo. Que pena o que tinha que
acontecer.
Kate acenou com a cabeça.
— Como foi em Orange? — perguntou.
— Conto para vocês no caminho para o evento — respondeu com um suspiro.
— Parece tranquila, suponho que se recuperou bem do impacto.
— Estou tentando. Quando você tem as duas versões da história, as conclusões tendem a
limitar as especulações — encolheu os ombros, — vou tentar sair dessa. É questão de tempo.
— Sim. Você também é uma pessoa forte Colie, vai conseguir que esse episódio e seus efeitos,
cada vez, te impactem menos.
— Você está pronta para a partida de tênis? — perguntou Colette para mudar de assunto,
tinham mais de trinta minutos para dirigir e falariam sobre o assunto.
Um sorriso brilhante e entusiasmado cruzou o rosto de Kate.
— Totalmente.
— A propósito, acho que Patrick Lombardo não vai comparecer. Jake me contou sobre isso
anteontem.
— Valente ficará encarregado de substituir então aquele autógrafo por outras celebridades
durante a partida.
— Pobre Valente — disse brincando, e Kate riu, antes de sair do apartamento, seguida por
Colette.

***
O complexo privado não acomodava mais de quatrocentas pessoas e pertencia a Bruce
Shalvis, um magnata entusiasta do tênis e amigo dos grandes organizadores de circuitos
internacionais. Esse evento era uma de suas peculiaridades. Assim como quando organizava jogos de
futebol trazendo, de onde quisesse, astros do esporte, independentemente do custo; ele só queria se
dar ao luxo de tê-los ao seu redor e se divertir com os amigos.
Os convidados estavam animados, enquanto os jogadores de tênis jogavam entre si na quadra
de saibro. Saque, bola alta, bola baixa, giro, todos os movimentos começaram a fluir de um lado a
outro da superfície. O evento teve a característica de jogar em dupla em duplas mistas, masculino e
feminino, para o tornar diferente, agradável e divertido. A dinâmica consistia em que cada grupo,
eram oito tenistas, jogassem por trinta minutos; os vencedores de cada partida conquistavam, sem
dúvida, os aplausos do público, além de um troféu simbólico. Afinal, era um evento cujo interesse
estava ligado à boa convivência com os amigos.
O assento de Colette permitia uma ótima visão da quadra, para que ela pudesse observar os
movimentos muito bem. Os painéis publicitários já estavam colocados e jornalistas autorizados
parados perto do campo, tirando fotos. A atmosfera geral era de boas vibrações e entusiasmo;
contagiante. Kate estava sentada do lado direito de Colette, mas o resto dos assentos à sua esquerda
estavam vazios. O resto do local estava lotado.
Seu olhar começou a procurar por Jake. Não foi difícil localizá-lo. Ele estava lindo. No short
curto, revelava pernas poderosas; a camisa branca revelava costas largas, fortes e musculosas. O
movimento que fez com as mãos ao falar com outro jogador, que ela identificou como Rex, fez os
músculos de seus antebraços ficarem tensos. E seu rosto viril quando ele sorriu, tirou seu fôlego.
Não podia acreditar que este homem era o dono de suas fantasias eróticas tornadas realidade.
Ela o viu rir, fazer exercícios e brincar não apenas com os amigos, mas com as tenistas que também
iam jogar. Uma delas, uma loira monumental, deu-lhe um tapa na bunda e ele fingiu estar ofendido,
mas a imprensa festejou e fez várias tomadas. Ela queria descer as escadas e explicar a esta mulher
que Jake pertencia a ela. “Você é apenas sua amante”, uma vozinha irritante a lembrou.
Por se tratar de uma exibição privada e seleta, não era difícil para os jogadores observarem
os rostos das pessoas desde a quadra. Jake estava se divertindo muito com seus amigos. Ele gostava
de camaradagem. Henka Petrova, uma jogadora russa espetacular que ela conhecia há anos, disse-lhe
que, se não fosse casada, teria a sorte de lhe roubar um beijo. Quando ela deu um tapa na bunda dele,
ele não pôde deixar de rir. Foi nesse preciso momento, quando ele virava a cabeça para o público,
rindo, que a viu.
Jake sentiu uma alegria inexplicável ao ver o rosto de Colette. Seus olhares se conectaram,
mas a primeira coisa que ele percebeu foi que ela estava olhando para ele com a testa franzida. Foi
um gesto tão rápido que se ele não a conhecesse tão bem, teria perdido. Ele tinha certeza de que tinha
a ver com o que Henka acabara de fazer. A ideia de que Colie pudesse estar com ciúmes o agradou.
A satisfação, para seu ego masculino, durou alguns segundos, já que a pessoa responsável por
quebrar o contato visual muito breve que acabara de ter com ela foi Cesare. Seu amigo não hesitou
em mostrar seu maldito sorriso.
Determinado a se divertir e engolindo uma maldição, Jake começou a tomar posições com seu
parceiro de duplas; seu time era o branco. A dinâmica do jogo era jogar uma série completa por
times, e dar toques cômicos, para os quais todos tinham um microfone embutido; assim, eles podiam
falar, comentar e compartilhar com o público, da mesma forma que costumava fazer em exibições de
massa por causas humanitárias ou sociais.
— Que sorte a minha! A mulher mais bonita deste lugar tem um assento disponível — Cesare
expressou quando chegou perto de Colie. Ele a beijou na bochecha.
Colette se arrependeu de ter quebrado o contato visual com Jake. Mas talvez fosse a melhor
coisa manter sua pele livre daquela eletricidade perturbadora que a percorria toda vez que o
hipnótico olhar cinza pousava sobre ela com intensidade
— Olá, Cesare — ela respondeu sorrindo. O homem era, além de bonito, um Don Juan
charmoso. Mas acima de tudo, seu amigo. — Achei que talvez fosse vê-lo na quadra.
— Fui jogar boliche ontem à noite. Fiz um movimento errado e desloquei meu tornozelo. Uma
bobeira. Vou esperar até me recuperar. A propósito, querida, me preocupei com você no sábado. O
que aconteceu? Está melhor?
Ela sorriu. Gostava da maneira como Cesare tratava as mulheres. Isso a fazia se sentir como o
centro de seu universo, mesmo que apenas por alguns minutos. Não era incompreensível que muitos
se apaixonassem por ele. Não ela. Não. Seu coração pertencia ao sexy tenista que naquele momento
estava conversando afetuosamente com Rexford e duas outras pessoas na quadra. Jake não olhou para
as arquibancadas novamente.
— Estou melhor — não estava mentindo, — foi um assunto de família. Um acidente de carro,
mas não havia nada do que lamentar, a não ser os machucados e a preocupação. — “E a dor de um
segredo”, mas isso não ia contar a ele. Pareceu-lhe que meses se passaram desde sábado, e não
apenas alguns dias. “Mas que dias”.
— Que bom, querida.
O árbitro, um veterano do tênis, disse ao microfone que a partida começaria em cinco minutos.
Todos aplaudiram de forma encorajadora os jogadores, que assumiram posições em campo. Alguns
usavam camisas brancas, outros verdes, para se identificarem pelas equipes. Os que entraram para
jogar no segundo turno, sentaram-se nos bancos, mas mantiveram os microfones abertos para
interagir.
— Você planeja ficar na América do Norte por muito tempo? Você costumava me dizer que
preferia passar em suas casas na Europa.
Ele assentiu.
— Sim, fixei minha residência aqui indefinidamente — respondeu ele com um tom amargo.
— Preferia estar na Sicília?
— Nem um pouco — ele expressou asperamente. Percebendo que o tom tinha sido
desnecessário, ele abaixou a voz quando acrescentou: — Não tenho nada para fazer na Itália; meus
planos são diferentes. Mas por que não me conta o que está acontecendo entre você e Jake? —
perguntou com um meio sorriso.
Colette riu.
— Só posso dizer que fizemos as pazes pelo passado.
Cesare deu-lhe um sorriso encantador.
— Minha querida, acredite em mim, aquele olhar assassino que Jake acabou de me dar um
segundo atrás não tem a ver apenas com ter feito as pazes — ele piscou e Colette deu-lhe um pequeno
empurrão no ombro, mas não antes de olhar para a quadra para verificar o que Cesare acabara de lhe
dizer. — Como foi fácil — disse rindo ao ver que ela havia caído em sua armadilha.
— Você é um mentiroso — ela respondeu olhando feio para ele, fingindo estar com raiva.
O sorriso de Cesare desapareceu e ele a olhou de volta com uma expressão preocupada.
— Eu só quero que você tome cuidado, Colie. Eu não me importaria em confortá-la, mas vê-la
magoada de novo por Jake não seria agradável. Você sabe que a considero uma irmã.
Ela o olhou com ternura. Quando ela ficou na Europa, depois de romper com Jake, Cesare a
convidou para sua mansão na Riviera Francesa, onde os pais de seu amigo e três irmãs estavam de
férias. Teve um fim de semana fantástico, e o calor daqueles italianos turbulentos foi um bálsamo
para seu coração ferido.
— Obrigado, Cesare. É um bom amigo. Vou considerar sua sugestão.
— Faça isso — respondeu suavemente.
Colette queria mudar de assunto, então aproveitou o fato de Kate estar ao seu lado, e claro de
olhos abertos e atentos ao que estava acontecendo entre os jogadores que estavam se aquecendo, para
iniciar o jogo a qualquer momento. A música dos alto-falantes tocava com Pharrell Williams.
— Cesare, por falar nisso, esta é minha melhor amiga, Kate. — A citada se virou e olhou para
ele fazendo um grande esforço para não ficar boquiaberta. — Ela também é jornalista e uma garota
muito inteligente.
O homem mostrou aqueles dentes perfeitos em um sorriso sexy. Um sorriso natural, que só a
confiança em sua capacidade inata de encantar as mulheres poderia gerar.
— Um prazer, — disse o tenista esticando os dedos longos e elegantes, para pegar a mãozinha
de Kate e apertá-la.
“Esse sotaque, junto com a voz de barítono, poderia envolvê-la como um cobertor quente e
aconchegante”, Kate pensou, sacudindo a mão dele. Houve um choque que atingiu o centro de seu
corpo. Isso a assustou. Cesare parecia sentir isso também, porque com elegância ágil, ele se apressou
em soltá-la, com uma sobrancelha ligeiramente franzida.
Embora Cesare fosse lindo, Kate imediatamente ouviu alarmes em sua cabeça. Ele não lhe
causou o medo ou a suspeita que outros homens costumavam produzir nela. No caso do amigo de
Colette, era algo mais perigoso. Seria melhor ignorá-lo. Afinal, era improvável que ela o visse
novamente.
— Igualmente — murmurou Kate virando o rosto para a quadra quando o árbitro começou o
jogo. Colette a cutucou, insinuando que estava sendo rude, mas ela não se importou. Nesse momento
chegou Valente, e após fazer as respectivas apresentações, Kate começou a conversar com ele, em
voz baixa para não incomodar.
O riso dos jogadores quando faziam um ponto vencedor ao outro time, a tagarelice e os
comentários do árbitro bem-humorado, criaram uma agradável hora de jogo. O público aplaudia, ria,
enquanto a imprensa tirava fotos, e os patrocinadores organizavam os estandes para distribuir seus
produtos e folhetos informativos ao final do evento.
Colette olhou com admiração para os movimentos fluidos de Jake. Vê-lo na quadra a
emocionou. A maneira como corria a cada entrega, a força do saque e seu backhand impressionante,
só percebia o quanto as quadras de tênis do mundo tinham perdido sem ele. O rosto bonito parecia
completamente dedicado ao jogo. Ele se voltava para o público às vezes, mas era como se não
estivesse realmente olhando para ninguém. Ela gostava de vê-lo em seu elemento.
O jogo continuou, até que o time verde venceu o time branco. As telas gigantes instaladas de
cada lado, para que os gestos dos jogadores pudessem ser vistos, mostravam as poses para as fotos
dos tenistas, quando o jogo terminava.
Aos poucos, o público foi se retirando das arquibancadas. Os tenistas trocaram comentários,
já desligados do microfone, e a música da Pink soou com força.
Kate sussurrou no ouvido de Colette que iria para casa, já que não ia à festa no hotel. Tinha
que conversar com Valente depois que ele entrevistasse algumas pessoas na quadra, assim como
alguns jornalistas já estavam fazendo, antes que famosos jogadores de tênis se retirassem. Kate
estava silenciosamente grata por Cesare estar verificando o que quer que estivesse no celular, para
não ter que encontrar aqueles olhos negros intensos.
Colie ajeitou a jaqueta. Estava prestes a se levantar, mas uma mulher chamou sua atenção ao
cruzar seu campo de visão. Parecia estar mandando um homenzinho tirar um anúncio em uma das
esquinas. Quando aparentemente cumpriu sua tarefa, Colette a observou caminhar firmemente até
Jake. Alguns jogadores de tênis estavam dando entrevistas e outros, como Jake, estavam guardando
seus equipamentos esportivos. Colette conhecia as reações físicas de seu amante muito bem, então
ela poderia dizer com certeza que ele estava tenso, mas escondeu seu aborrecimento muito bem.
Colette ficou surpresa com a reação.
Jake demorou a beber água e, em um movimento que nada tinha a ver com exibicionismo, mas
com o costume do esporte, tirou a camisa suada, jogando-a de lado, para vestir uma limpa. Colette
não pôde deixar de admirar aquele corpo polido pelo exercício; um corpo que gostava de viajar com
as mãos, com os lábios, com a pele. Aparentemente, aquela mulher não pôde deixar de olhar. Na
verdade, a estranha deu um passo adiante, tocou nele. Passou a mão em uma carícia rápida pelas
costas, para chamar sua atenção. Colette deu um salto em sua cadeira. Tinha um mau pressentimento.
Se levantou e Cesare fez o mesmo. Ele havia dito que a acompanharia em seu carro até a
recepção particular no hotel, para a qual apenas cem pessoas foram convidadas. A princípio Colette
pensou em recusar, pois Jake parecia estar ocupado com seus colegas, então a melhor coisa a fazer
seria ir sozinha e se encontrarem no hotel.
Antes que o italiano começasse a se afastar, Colette o segurou pelo braço, impedindo.
— Cesare — sussurrou. O belo italiano olhou para ela com atenção. — Quem é a mulher ao
lado de Jake?
Houve um silêncio constrangedor. Colette esperou.
— Por que você quer saber? — ele perguntou depois de um momento, cruzando os braços. —
Pode ser uma desses fãs. Ele tem muitas, você sabe. Elas são difíceis de se livrar. E quando fazem
parte dos patrocinadores fica ainda mais difícil.
Colette assentiu, mas sentia que estava evitando.
— Cesare — colocou a mão no antebraço coberto por uma camisa da Hugo Boss. — Você
geralmente é muito sincero comigo — respondeu suavemente, olhando-o nos olhos.
Ele murmurou uma maldição.
— É Lauren Jovinella, ex-noiva de Jake.
Ela absorveu a informação. Olhou para a mulher novamente. O vestido laranja apertado que
usava mostrava um corpo esguio. Uma cintura estreita e uma bunda inchada. Em suma, um corpo
esguio de modelo de passarela. O tipo de mulher que Jake costumava sair com frequência, pensou
Colette, não sem uma ponta de aborrecimento.
Ela não permitiu que a ideia de se sentir inadequada se infiltrasse nela. Mas o ciúme a
consumiu por dentro. Lauren havia conquistado algo que Colette nunca poderia ter. Uma promessa de
longo prazo de Jake e a ideia de começar uma família. Se não acreditasse no amor, muito menos
gostaria de ter compromissos emocionais com alguém. E, claro, embora já soubesse disso, não
parava de doer conhecer a mulher que causava o cinismo de Jake. Talvez a melhor coisa a fazer fosse
começar a colocar distância pouco a pouco, antes que ela pudesse se machucar irreversivelmente.
Ainda havia tempo. «Ou isso esperava.»
Cesare percebeu que as arquibancadas começaram a esvaziar rapidamente, e logo, Jake e
Lauren, saberiam que estavam sendo vigiados. Ele não queria que Colette se fizesse de boba. Ele a
pegou pelo braço e começou a se mover em direção à saída.
— Vamos, querida. Acho que Jake ligará para você quando chegarmos à recepção. Tem que
tomar banho, e o organizador vai querer conversar com suas estrelas antes que deixem este lugar.
Você sabe, obrigado, blá, blá.
Ela assentiu. Estava com um nó na garganta.
Estavam prestes a sair quando Colette voltou. Gostaria de não ter feito isso, e seguir o
conselho de Cesare de sair cedo para chegar ao hotel. Seu olhar captou o momento em que Lauren
colocou a mão na bochecha de Jake, e ele não a impediu. Se virou abruptamente. Ferida, ela se
permitiu ser guiada por Cesare para deixar o local.
Jake descartou a mão de Lauren com aborrecimento. Embora não tão rápido o suficiente como
gostaria, pois percebeu que Colette, de pé na arquibancada, vira aquela imagem. Se Cesare estivesse
com ela e sabendo que seu amigo tendia a ser muito sincero com Colette, ele já teria lhe contado a
identidade da mulher que estava ao seu lado. Uma espécie de pânico se apoderou dele. Queria pular
a cerca que separava a quadra das arquibancadas e ir procurá-la para dizer que não entendesse mal a
situação, mas Colette e Cesare se afastaram rapidamente. “Teria que falar com ela na recepção”.
Ainda havia pessoas na quadra de saibro. Henka e Rexford estavam em um canto discutindo
negócios, já que ambos planejavam abrir, junto com o marido de Henka, um restaurante na cidade. Os
encarregados da limpeza da quadra passaram de um lado para o outro, enquanto os gandulas
aproveitaram para pedir autógrafos aos jogadores.
— Jake — sussurrou Lauren com emoção em sua voz. — Você não sabe que prazer me deu
saber que estaríamos neste evento exclusivo.
Ele tinha fingido não reparar na presença de Lauren desde que ela chegou ao pequeno coliseu
coberto, e ainda bem, ela também não se aproximou no início. Talvez porque estava com seu chefe,
ou porque Gordon tinha tão diligentemente montado o local para a publicidade da Shuttle Box em um
dos cantos mais difíceis de colocar. Como Chefe de Marketing, Lauren precisava zelar para que tudo
que envolvesse parte da marca ficasse perfeitamente exposto e qualquer distração poderia custar-lhe
uma multa da empresa.
— Você sai com um amigo do Rex... — disse quando ela começou a tocá-lo novamente.
— Ele é um grande amigo da minha família, não há nada entre nós — interrompeu
apressadamente. Talvez houvesse esperança com Jake, ela pensou.
— Você me interrompeu dando informações que não me interessam — ele respondeu
friamente. — Quero que saiba que não estaria neste evento hoje, se não fosse por mim.
Lauren franziu a testa.
— O que você quer dizer?
— Gordon providenciou para que sua empresa participasse deste show privado, mas apenas
Babolat, Adidas e Gearforce comparecerão à recepção, e presumo os representantes dos anunciantes
dos outros jogadores; você não. Está aqui porque queria falar com você, e por isso preferi fazê-lo em
um lugar que não causasse confusão de sua parte.
— Eu não entendo muito bem...
Jake queria terminar esse assunto para ir buscar Colette. Ele a conhecia e poderia começar a
construir histórias em sua cabeça.
— Quero deixar uma coisa bem clara, Lauren — aproximou-se até quase tocar o nariz, —
você não me interessa em absoluto. Eu fui claro?
Ela acenou com a cabeça, visivelmente angustiada.
— Então, por que você armou este cenário? — perguntou perplexa, e no mesmo tom baixo que
Jake estava usando. — Só para me dizer isso? Que você não está interessado em mim de forma
alguma?
Nenhum deles percebeu quando um dos fotógrafos da imprensa que havia ficado para trás tirou
uma foto deles. Não precisou de flash, já que os refletores de luz na quadra estavam no máximo. O
fotógrafo, sorrindo pelo que certamente seria uma fotografia vendida por um bom preço aos seus
colegas de entretenimento, guardou rapidamente o equipamento e saiu discretamente do local.
— Descobri hoje o que tentou fazer com meu sobrinho na minha casa, alguns anos atrás. E eu
não deixaria passar — retrucou ele, destilando raiva. Lauren empalideceu. — Brad me contou esta
tarde. — Como você ousa. Aquele garoto é uma parte importante de mim — sibilou.
A mulher soltou a respiração e balançou a cabeça.
— Tive um dia ruim. Você estava me ignorando, o menino teve um acesso de raiva... Eu nunca
quis...
— Bem, você teve sorte que minha mãe me disse que ela o tirou do seu caminho, e que você
não tocou em um fio de cabelo — disse ele com firmeza, interrompendo-a. — Porque acredite em
mim Lauren, se o caso fosse diferente, neste momento você estaria procurando um novo emprego.
Lauren olhou para ele com tristeza.
— Desculpe, Jake — expressou sinceramente. — Não tenho orgulho de muitas coisas que fiz
na minha vida. Eu mudei muito neste tempo — suspirou. — Aquela vez que perdi meu bebê, isso me
marcou... Eu — olhou para as mãos por um tempo, antes de erguer os olhos novamente e continuar a
falar. — Por favor, me desculpe. Sinto muito. Quando sua mãe chegou, eu estava a ponto de afastar
minha mão, não ia bater nele... foi um impulso idiota. Confie em mim.
Ele a examinou com os olhos. Depois de um momento, assentiu. Lauren sabia que tinha
acreditado nela, e isso lhe deu um grande alívio.
— Aceito suas desculpas.
Logo perceberam que eram apenas eles e uma equipe que começou a desinstalar os refletores
com a ajuda de um dos transeuntes no campo.
— Ouça, lamento que todo o nosso relacionamento tenha terminado do jeito que aconteceu...
— Jake se expressou sem ressentimento, e olhando nos olhos dela. — Estava muito zangado naquela
noite, muito magoado. Mesmo assim, deveria ter ligado para você para verificar se estava bem após
o aborto; mesmo que seja por um sentido humano. Eu não fiz, e eu também sinto muito.
Lágrimas brotaram dos olhos de Lauren. Pegou a mão de Jake na sua. Sorriu calorosamente.
— Não há nada pelo que se desculpar, Jake. Eu entendi que você não queria saber sobre mim.
Eu entendi que me odiava. Você é um homem maravilhoso, só que eu... — suspirou, — pensava de
outra maneira. Não sabia te valorizar e te perdi. Tenho nutrido a falsa esperança de voltar ao que
tínhamos — balançou a cabeça com um sorriso triste, — um grande erro da minha parte. Outro para
adicionar à lista.
— Eu não te odeio mais, Lauren. Não mais — Jake manifestou. — Muito tempo se passou
para viver no passado e alimentar ressentimentos. — Ela acenou com a cabeça. — Eu só quero
encerrar este capítulo da minha vida. Fechar de verdade. E não posso fazer isso sem primeiro dizer
com sinceridade, cara a cara, que tudo isso é passado. Que te desculpo, sinceramente, inclusive pelo
assunto do meu sobrinho.
— Obrigada, Jake. Eu... — engoliu em seco. — Eu realmente espero que você possa encontrar
a pessoa que pode alcançar seu coração, e aprecie o que eu estraguei — ela soltou sua mão
gentilmente. Ao desculpá-la, Jake a livrou do sentimento de arrependimento pela traição. — Acho
que vou aceitar aquela oferta de emprego que recebi ontem — disse de repente com um brilho nos
olhos.
— Algo interessante? — perguntou educadamente, colocando a mala com suas raquetes em
seu ombro. Ele finalmente sentiu que seu passado estava no lugar certo.
— Eu estou indo para Xangai. Há um projeto de marketing muito importante em uma nova
empresa, e o proprietário soube do meu trabalho com a Shuttle Box. Ele me fez uma oferta. Preciso
de um pouco de distância da Califórnia. Vai ser bom mudar de cena — sorriu.
— Boa sorte, Lauren.
Ela assentiu.
— Adeus, Jake.

***
Jake esperou por Colette várias horas. Quando o relógio bateu onze horas da noite, sabia que
ela não compareceria. Assim que viu Cesare, tentou evitar seu olhar, que o deixou de mau humor.
Aproximou-se.
— Onde diabos está Colette? — perguntou com os dentes cerrados, cansado de ter que sorrir,
tirar fotos e conversar sobre assuntos que não lhe interessavam, enquanto esperava em vão que
aparecesse a única mulher que queria ver.
Cesare olhou para ele com aquele maldito gesto indolente nos olhos.
— Você fez bem, Weston — apenas respondeu tomando um gole de um uísque. — Duas vezes
a mesma história. Hein?
Jake rosnou para ele, mas Cesare não vacilou. Na verdade, aproveitou quando uma garçonete
muito bonita passou entregando canapés, lhe piscou, deu uma mordida e depois olhou para o amigo,
que obviamente tinha níveis de paciência no chão.
— Não é assim — ele rangeu os dentes.
— Ela viu quando Lauren te acariciou e você não a impediu. Quando me perguntou quem era a
garota do vestido laranja, teria sido um insulto esconder isso dela. O que diabos há de errado com
você, Jake? Você enlouqueceu? Colette é uma mulher maravilhosa, e eu avisei...
Naquele momento Rexford aproximou-se deles, interrompendo-os. Ele usava uma calça cinza
de corte impecável e uma camisa azul que destacava a virilidade de seus músculos. Os três, juntos,
eram uma visão para os olhos femininos. Embora talvez a pupila de Rex, Charlotte Jenkins, não
pensasse o mesmo, porque enquanto dançava com um simpático publicitário, fulminava seu treinador
com um olhar. Rex parecia alheio a isso; Jake, não.
— Por que você convidou Charlotte, se realmente não planeja ficar com ela? — perguntou.
— Não estamos falando de mim aparentemente — Rex respondeu sem perder o bom humor.
Cesare ria com aquele tom gutural que deixava as mulheres loucas. — Mas se você estiver
interessado, é minha obrigação... — expressou com uma careta. — Eu prometi a seu pai. Levá-la a
eventos desse tipo faz parte do meu trabalho.
— Espero que aquela promessa idiota que você fez não acabe explodindo na sua cara —
Cesare apontou.
Rex encolheu os ombros.
— É uma menina de vinte e três anos. Não me importo se as decisões que tomo em relação à
carreira dela pareçam boas ou não.
— Uma menina? Rexford, você é cego. Essa garota é linda — Jake apontou.
Rex o fulminou com o olhar.
— É minha aluna. Se ela é bonita ou simplória, não me importo.
— Por que você tem tanta certeza de que quer continuar sendo jogadora de tênis? Em algum
momento eu li que ser designer de moda era o que procurava, ou modelo...
O sorriso de Rex sumiu.
— Ficar se exibindo seminua não é exatamente interessante.
— Uau, que eu saiba você está saindo com uma modelo da Victoria's Secret agora — Jake
sorriu. — Acho as passarelas muito interessantes — adicionou divertido.
O olhar de advertência de Rex foi o suficiente.
Cesare riu.
— Vocês são dois idiotas — ele expressou minimizando os comentários de seus melhores
amigos. Então acrescentou: — Jake, por que Lauren estava lá hoje? Shuttle Box não é o estilo para
esse tipo de atividade privada. Eles preferem arremessos abertos com uma grande multidão...
— Eu não tinha percebido. Você e Lauren voltaram? — Rexford perguntou, intrigado, enquanto
tomava um gole de seu uísque duplo.
— Eu precisava ver Lauren para consertar alguns problemas — ele respondeu com azia. —
Ela irá morar em Xangai.
O italiano franziu a testa. Rexford arregalou os olhos verdes brilhantes de surpresa.
— Então você não está pensando em ficar com ela de novo? — Cesare insistiu.
— Inferno, não. Eu só queria... — encolheu os ombros, —queria deixar o passado para trás.
Eu tinha que falar com ela por isso, e eu tinha que fazer isso em um lugar que não desse pistas falsas
sobre a intenção por trás do meu interesse em falar com ela. Gordon providenciou para que a Shuttle
Box estivesse lá.
— Entendo... Esse seu agente tem seus truques, hein? — adicionado Rex.
Encolheu os ombros.
— Onde está, Colie? — Jake perguntou a Cesare, resolvendo a questão anterior.
Rex se absteve de fazer mais perguntas e, em vez disso, voltou seu olhar para Charlotte, que
esta noite estava usando um vestido curto que deixava suas pernas longas e finas exposta. Ele apertou
a mandíbula. Teria que falar com ela. Não era um evento para se exibir, mas para fazer contatos. Se
os homens estivessem olhando para suas pernas, não a levariam a sério. Apertou a mão ao redor do
copo. Charlotte era sua dor de cabeça pessoal e ele estava ansioso para se livrar dessa
responsabilidade. Estava amarrado a uma promessa maldita. Mas se tudo corresse bem, logo poderia
se livrar dela.
— Disse que precisava pensar — olhou para ele com advertência. — Foi para casa depois do
jogo. Tentei convencê-la a vir, mas foi inútil.
Assim que Cesare terminou de falar, Jake saiu pela porta do luxuoso hotel como se estivesse
sendo perseguido pelo próprio diabo.
Rexford observou a partida de Jake perplexo. Ele olhou para Cesare, que estava sorrindo para
uma garçonete linda que lhe trouxe um copo novo. Então olhou para seu amigo de longa data.
— É sobre a garota de Paris? Aquela que foi na minha festa, certo?
— Sim.
— Ele está apaixonado — comentou com um sorriso malicioso. — Quem diria...
— Só existe um detalhe — adicionou Cesare. Ele franziu a testa um pouco antes de continuar.
— Ele não percebeu ainda e pode estragar tudo. Você conhece Lauren...
Rex assentiu. Ambos tinham visto como Jake tinha passado de mulher em mulher, sem se
importar em absoluto. Desprezando tudo que tivesse a ver com laços emocionais como se fosse uma
praga. Nenhuma mulher, depois de Lauren, durou mais de duas noites com ele. E de acordo com o
que ambos sabiam agora, Colette estava há muito mais tempo do que qualquer uma delas.
— Você parece conhecer bem a garota — Rex esfregou o queixo com seus dedos elegantes. —
Não me diga que você e Colette...?
— Inferno, claro que não. Eu a conheci em Paris, a ouvi quando ela precisava de um pouco de
apoio e nos tornamos amigos. Eu a amo como uma de minhas irmãs. Eu nunca violei o código de
honra masculino. — “Exceto uma vez”, ele queria dizer. Uma vez que ele acabou com a vida da única
mulher que já amou.
CAPÍTULO 19

Na noite anterior, enquanto estava aninhada entre os lençóis, ouvira o interfone do prédio
tocar insistentemente. Sabia que era Jake, porque ao lado do interfone, o identificador do iphone não
parava de piscar. Ignorou deliberadamente qualquer forma de contato. Graças a Deus, Kate havia
avisado para dizer que estava na casa de Damon em Beverly Hills e passaria a noite lá. Colette
estava convencida de que sua melhor amiga teria aberto a porta para Jake, sem pensar duas vezes.
Para ela, a ideia de desistir de um pouco de sua independência usual era difícil de aceitar, mas
com Jake não se sentiu ameaçada. Só de pensar em ter que se apoiar inteiramente em outra pessoa a
deixava desconfortável; Principalmente porque durante toda a sua vida tentou travar suas próprias
batalhas. Com ele, sentiu que era a coisa certa a fazer.
Tinha se apaixonado por Jake. Muito mais que isso. Ela o amava. Sabia que não podia exigir
reciprocidade, mas isso não a impediu de sentir dor quando viu a mão de Lauren em sua bochecha.
Pelo que ambos haviam concordado, o relacionamento não permitia terceiros. Ou talvez ela estivesse
tendo problemas para entender a implicação da frase “amantes sem compromissos”.
A cena na quadra de tênis com Jake e Lauren a trouxe até aquela manhã amarga em Paris,
quando ele estava beijando outra mulher. Mas, colocando em perspectiva, se Jake quisesse terminar
o relacionamento deles da mesma forma que anos atrás, então ele não teria ligado para ela mais de
quinze vezes em seu telefone celular, nem teria deixado o interfone do prédio sem sinal. Certo?
Por outro lado, Cesare se comportou como sempre, muito bem com ela. Era engraçado como
as mulheres olhavam criteriosamente. E ele parecia indiferente a isso. Sabia que o italiano estava
bastante relutante em se abrir em um nível pessoal. Seu charme não estava apenas em seu sotaque, ou
quão atraente ele era, mas tinha uma aura de mistério, quase impenetrável, que parecia atrair
mulheres como abelhas ao mel. No entanto, o seu olhar, aquele de olhos negros sicilianos, além de
profundo era de um homem atormentado. Ou talvez apenas ela tivesse notado, não estando ciente de
sua impressionante atratividade física como os outros.
Ela nunca perguntou além do que Cesare dava a oportunidade. Mas, incapaz de resistir à sua
inquietação, ela lhe fez uma pergunta enquanto os dois estavam no estacionamento na noite anterior,
antes de sair para a recepção, após a partida de tênis.
— Cesare...
— Sim?
— Isso... — ela mordeu o lábio nervosamente. — Sei que você não é dado a falar sobre a
vida de ninguém e que se limita a manter as pessoas afastadas.
— Direto ao ponto, Bella — ele murmurou com seu sotaque italiano sedoso.
— Vários dias atrás, Jake e eu estávamos conversando. Ele me disse que tinha... — pigarreou,
— que teve um filho com Lauren...
Cesare permaneceu em silêncio, sem tirar o olhar escuro de seus olhos.
— Essa é uma afirmação — respondeu ele, cauteloso.
Ela se preparou.
— Por que Jake nunca fala sobre o menino... ou a menina? Em sua casa existem apenas fotos
de sua família. Mas nada de um bebê. Pelo menos não dele... Eu sei que não é da minha conta, mas
Cesare — disse quase como um apelo, — ele não me deixa entrar. Não tenho o direito de...
— Colette, há algo que você deve saber sobre Jake — interrompeu. Ele não era idiota e sabia
que ela havia se apaixonado novamente por seu amigo cabeçudo. — Se ele tocou no assunto de
Lauren, não foi porque você o pressionou. Ninguém pode obter respostas de Weston se ele não
quiser. Muitos jornalistas tentaram se intrometer e ele mantém seu segredo. — Ela olhou para ele
intrigada. — Se ele te contou foi porque queria, mas não completou a história porque não se sentiu
em condições de envolvê-la.
— Mesmo assim...
— Inferno — ele passou os dedos pelo cabelo preto e espesso. — Colette...
— Me tortura por não conseguir ultrapassar seu cinismo e entender suas razões, Cesare —
lamentou com tristeza em sua voz. — Sei que não deveria querer, sei que...
— Ela perdeu o filho — disse ao ver que as lágrimas pareciam querer sair dos olhos azul
esverdeado. Ele odiava ver uma mulher chorar.
Colette ficou boquiaberta. Então cobriu a boca com a mão.
— Oh, Deus... — sussurrou com a voz quebrada. Agora entendia a dor de Jake, talvez a dor da
perda o separasse de Lauren.
Vendo-a taciturna, ele colocou a mão em sua bochecha.
— Ei, não é o que você pensa. A história não é sobre o trauma emocional de crianças que
ainda não nasceram. — Ela franziu a testa. — Acho que você deveria falar com ele... Se ele deixar
você entrar novamente. O que eu espero que aconteça. Deixe-me esclarecer uma coisa — sussurrou,
pegando seu rosto nas mãos, — você é como uma irmã para mim, e sabe — ela balançou a cabeça
com um sorriso nervoso para o que ele acabara de lhe dizer, — assim que, em honra disso, te contei
isso. Mas não posso trair a confiança de Jake. Nem trairia a sua também. Não há mais nada que eu
possa fazer ou dizer sobre esse assunto — deixou cair a mão e cruzou os braços.
— Você acha... Você acha que eu deveria tentar lutar por ele?
Cesare respirou fundo.
— Não sei exatamente que tipo de envolvimento têm, mas...
— Somos amantes — comentou interrompendo com um pouco de timidez. — Eu deveria...
Bem, foi uma questão de conveniência para ambas as partes... Quer dizer... Olha, eu entendo que não
tenho voto para exigir ou pedir nada além do que o acordo implica. E de qualquer maneira.
Cesare sorriu ao ouvi-la se envolver na explicação desnecessária.
— Os amantes não contam coisas privadas entre si, Colie. Tampouco se preocupam se o outro
tem ou não uma maneira de ir de um lugar a outro, no meio da noite. Lembre-se disso — ele disse
como resposta e deu uma piscadela. — Agora entre no carro, terminamos esta conversa.
— Obrigada... — acrescentou sinceramente, embora não tenha gostado do tom autoritário do
amigo.
Com um sorriso e um aceno de cabeça, Cesare ajudou-a a entrar em seu Ford Focus, antes que
cada um deles seguisse para a rodovia.
O alarme do forno a trouxe de volta ao apartamento.
Foi buscar a torrada com queijo e começou a comer aos poucos.
Um exaustivo dia de trabalho a esperava. Eles tinham Jimmy Fallon como convidado no
programa. O famoso apresentador de televisão e amigo de Jake aceitou uma entrevista, quando estava
passando por Beverly Hills para participar de um evento de celebridades. A visita de Jimmy sem
dúvida aumentaria a audiência da rádio.
A Rádio Côte d'Azur estava indo de forma fantástica e Colette estava se matando todos os
dias. Havia descoberto que embora nunca tivesse se imaginado trabalhando em uma cabine de rádio,
se sentia parte daquele mundo de sons, programação e entretenimento que poderia alcançar toda a
Califórnia. Francis estava satisfeito, os patrocinadores aumentavam a cada dia, ou os que já existiam
aumentaram sua cota de pagamento de publicidade. A mídia começou a ecoar o programa. O que era
um bom sinal. Não era um anúncio com alto nível de exposição na mídia, mas ajudava a explicar a
existência do Oxigen California.
Como Jake era discreto, a imprensa do programa não havia parado de disparar o botão do
obturador da câmera na partida de tênis da noite anterior. Sem dúvida, o encontro com o famoso
tenista foi a garantia de que muitos exemplares impressos seriam vendidos no dia seguinte. Havia
apenas mídia escrita no caso do que ela pôde perceber. As câmeras de televisão não tiveram acesso.
Curiosamente, agora que ela era totalmente devotada à Oxigen Califórnia, havia sido chamada
de três locais diferentes para uma entrevista de emprego. Uma das ligações correspondia ao editor
do Los Angeles Times, precisava de uma pessoa de Santa Monica para colaborar com um blog no
qual reportava temas da moda na população feminina entre 20 e 30 anos. A proposta vinha
acompanhada da possibilidade de realizar uma ou duas coberturas jornalísticas por mês, se
necessário. Era uma proposta muito tentadora, mas disse não. Ela era leal e tinha um contrato com
Francis. Tinha total confiança e paixão por seu programa. Estava conseguindo, assistia o ranking de
audiência todos os dias e a tendência estava aumentando.
O editor do famoso jornal disse-lhe que, se a qualquer momento se interessasse, gostaria que
lhe respondesse e comentasse. Ela garantiu que sim. Mas a verdade é que planejava continuar com
seu programa de rádio indefinidamente.
Com o café escorrendo pela garganta, após oito horas de descanso, se sentia mais vital. Estava
pronta para enfrentar o dia. Ou assim pensava.

***

Estava furioso. Nenhuma mulher jamais rejeitou suas tentativas de conversar, flertar, namorar
ou dormir com ele. Colette o ignorou deliberadamente na noite anterior. Amaldiçoando, ele acelerou
os pés para correr mais rápido pela praia. Mesmo os exercícios matinais não conseguiam diminuir
sua raiva.
O fato de ele ter deixado Lauren para trás não significava que pareceria um idiota, caindo no
mesmo padrão de ir atrás de uma mulher. Por mais doce, inteligente e sensual que fosse. Por mais que
isso fizesse seu coração disparar, ou inflamar seu sangue com apenas um daqueles sorrisos
calorosos. Tanto quanto... Inferno. Ele precisava vê-la.
Exausto, ao chegar em casa deixou que a pressão da ducha quente relaxasse seus músculos.
Naquela manhã, ele teve um importante café da manhã para decidir comprar um novo vinhedo em
Napa Valley. Era um negócio interessante e, no curto prazo, poderia trazer lucros interessantes. A
reunião usual de tópicos na rádio às dez da manhã iria direto para o esquecimento. Assim tinha tempo
para se acalmar, mas assim que voltasse da reunião com os empresários, Colette Kessler iria ouvi-lo.
Ele socou a parede do chuveiro, frustrado, mas principalmente confuso com as emoções que
Colette produzia nele. Até mesmo seu banheiro estava permeado com as memórias de ambos se
fundindo.
Enquanto a água caiu sobre seu corpo nu, podia se lembrar claramente da pele lisa e úmida de
Colette entre os dedos. A maneira como ela havia oferecido seus seios para ele lamber as gotas
d'água que passavam. Não hesitara; se deleitou com cada centímetro daqueles seios empinados.
Devorou os mamilos, enquanto sua mão acariciava o clitóris sensível, ao mesmo tempo em que sentia
as pequenas mãos femininas envolvendo seu sexo e o masturbando. As pernas de Colette eram
perfeitas, ele havia passado as mãos sobre elas, cobrindo suas nádegas firmes também, depois
acariciando a pele lisa de suas costas. Entre gemidos e murmúrios de prazer, ambos alcançaram um
clímax que os deixou ofegantes, mas não suficientemente satisfeitos um com o outro, pois assim que a
viu retornar daquele delicioso orgasmo, ele a tirou do chuveiro, levando-a nos braços, para depois
de enxugá-la rapidamente com a toalha, deitá-la na cama, e tomá-la de volta em um turbilhão de
paixão. Foi na noite de terça-feira. Eles se amavam de uma forma intensa e devastadoramente
erótica. Nenhum deles entregou, sem ter recebido prazer em troca.
Só de lembrar fez seu sexo enrijecer. Resmungando um palavrão, ele fechou a torneira do
chuveiro e saiu aos tropeções. Não iria se aliviar. De maneira nenhuma. Se a culpada desse estado de
excitação em seu corpo e confusão de suas emoções estivesse perto, ele a deixaria saber, com fatos,
o que havia causado. Ela seria a única que acalmaria seu desejo. Porque ela era a única que podia.
Com movimentos ágeis, vestiu calça preta, paletó combinando, camisa branca e mocassins
mostarda. Pegou as chaves Bentley da gaveta onde as mantinha e se dirigiu para a porta. Como todas
as manhãs, os jornais esperavam por ele. Com relutância, os pegou. Estava prestes a colocá-los na
mesa de centro quando uma foto dele na primeira página chamou sua atenção. Ou melhor, o título.
O solteiro dourado deixou de existir? Jake e Lauren juntos novamente!
Sentindo a bile correr por seu estômago, ele jogou o jornal de lado e pegou outro.
A apaixonante história de Jake e Lauren, de volta?
Ele sentiu as panquecas do café da manhã virarem ácido quando leu a última manchete.
Weston deixa seus encantos na quadra. Olhares cumplices de Jake e Lauren!
“Diabos! Se ele tinha esses jornais, como uma jornalista que se alimentava das notícias todos
os dias não poderia lê-los?” Sentindo-se mal com a perspectiva de perder Colette, ele saiu batendo a
porta. Não parou de praguejar, ao ligar para cancelar o encontro com os donos do vinhedo,
desculpando-se por ter uma emergência para atender. “E cara, era uma emergência. Malditos
jornalistas de fofoca!”

***
Com uma foto tão nítida quanto a dos jornais em sua mesa, não era difícil ver que Lauren era
linda, Colette notou. Em todas as fotos, os narizes de Jake e da ruiva quase se tocaram. Como se
fossem se beijar. Foi um grande esforço tentar não ler as notícias. Mas não teve sucesso.
Em homenagem a sua ridícula tentativa de se recompor e afastar a onda de ciúme que a
invadiu, ela leu primeiro as notícias sobre política, economia, saúde, educação e assim por diante,
até que não teve escolha a não ser ir para a primeira página da seção de entretenimento. Começou a
ler as manchetes. Cada uma mais sensacionalista do que a outra, mas a essência era a mesma. Todas
deixavam em primeiro plano a questão de saber se o casal havia retomado o romance deixado anos
atrás por uma infidelidade de Lauren.
No entanto, ela que o conhecia muito bem, poderia dizer que olhando a expressão de Jake em
detalhes nas fotos, não parecia a de um homem prestes a beijar uma mulher. Na verdade, havia
ferocidade em seu olhar. Paixão contida, talvez? As nuances das fotos eram confusas.
Se quisesse ser imparcial, poderia dizer que Lauren e Jake eram uma combinação fisicamente
perfeita. Algo que ela, Colette Kessler, estaria longe de ser. Não tinha um estilo glamoroso ao se
vestir, nem a figura esguia de uma modelo de passarela. Pelo contrário, se vestia tão
confortavelmente quanto possível, e sua figura... bem, a natureza a dotou de atributos bastante
indulgentes.
— Colie — Zack abriu a porta interrompendo-a. Ela colocou os jornais de lado e pegou uma
rosquinha. — Temos um problema.
Ficou alerta.
— Sobre o que?
— Francis me enviou com Deirdre para ajudá-la a trazer algumas caixas com adesivos e
material de transmissão da rádio. Você se lembra que um de nossos patrocinadores é a 3M? — Ela
assentiu. — Bem, foram muito gentis e nos deram vários lotes de seus produtos para rifar. Deirdre
me disse que deveríamos ir buscá-los por volta das dez da manhã. Mas a central está um pouco
distante, então temos que ir um pouco mais cedo... — ele a olhou com tristeza. — Sei que a reunião
de assuntos importantes que...
Não tinha vontade de ir a nenhuma reunião importante. Portanto, se a suspendesse, poderia
ficar em paz com seus pensamentos por um tempo. Não tinha muita vontade de socializar. Pelo menos
até a hora do programa.
— Fique calmo — interrompeu ao ver o rosto preocupado. — Deixei tudo organizado ontem.
O programa de hoje vai ser um pouco diferente do que combinamos, porque vamos dar um pouco
mais de tempo ao entrevistado. Não há muitos tópicos para falar. Faça o que o chefe diz — disse com
uma piscadela.
— Jimmy Fallon é o melhor apresentador! Me faz me dobrar de rir. Certamente me dará seu
autógrafo — expressou feliz. — Prometo que tentaremos chegar ao meio-dia. Hoje é o dia de ir ao
Sizgag, a nova lanchonete. Se você quiser almoçar lá.
“Pelo menos isso nunca mudava. Comida lixo nunca era desprezada”.
— Claro que sim. A propósito, recentemente tentei me comunicar com o Francis…
— Ele foi jogar golfe não sei com quem. Isso é o que sua assistente me disse. Como sabem,
neste momento só existe a programação musical, porque o âncora do noticiário das seis já saiu há
cinco minutos. Respiramos tranquilidade!
Colette riu. Sabia que Zack não gostava do apresentador Peter Kawasji.
— É sempre melhor ouvir a música estrondosa de Wanda.
— Oh, bem, ela está na sala de controle como todas as manhãs, e desta vez fechou bem a porta
da cabine, para que sua música não saia — sorriu. — Francis acha que gosto de fazer turnos duplos
só porque me viu em nossa reunião de pauta — riu. — Em todo caso, não me importo de me juntar à
Deirdre hoje. Afinal, não posso deixá-la carregar os pacotes sozinha.
— Claro, mas e quanto a Charlie, o mensageiro? Ou, que tal Rocco, da adega?
— Eles estão ocupados lá fora. Saíram super cedo para fazer recados. Como segunda-feira é
um feriado prolongado, talvez tenham mais trabalho do que os outros dias. Ou querem terminar mais
rápido.
Colette consultou o relógio.
— São quase oito e meia. De qualquer forma, sem problemas Zack, está tudo sob controle
durante a tarde. A propósito, ia te falar, mas como, embora não seja tua obrigação vir uma hora pela
manhã, e que só o faz para a reunião de pauta que impus, quero que saiba que falarei com Francis
para que lhe pague hora extra por isso. — O olhar de Zack se iluminou. — Agora temos
patrocinadores suficientes, estamos indo muito bem e você faz parte desse projeto.
— Uau, eu...
— Vejo você à tarde.
— Claro, claro, sim. Obrigado, Colie — murmurou enquanto saía e fechava a porta.
Com um suspiro, ela se recostou. Por fim, Francis trocou a cadeira por uma que não rangia
como uma coisa velha e cujo material não estava gasto. Descansou a cabeça no encosto acolchoado.
Fechou os olhos.
Minutos depois, a porta do escritório se abriu sem aviso e Colette estremeceu. Seus olhos se
abriram, apenas para encontrar Jake cara a cara. Ele estava olhando para ela intensamente. Colette
queria sair do escritório, mas seria um ato de covardia. Então ele olhou para ela.
— Fui te procurar ontem à noite...
— Bom dia para você também.
— Liguei para você — continuou como se ela não tivesse falado. — Eu ia pedir as chaves ao
porteiro, e não exatamente de forma civilizada — expressou ele com voz áspera. Não sem antes
trancar a porta. Um detalhe que Colette não perdeu, mas não conseguiu reagir. Jake exalava
masculinidade em todos os quatro lados. Isso a deixou nervosa e a respiração mais rápida. Era um
efeito que não conseguia evitar. Ela o odiava por isso.
— Eu estava dormindo — Colie respondeu. — Não gosto que meu sono seja interrompido.
Ele, é claro, esperava mais do que uma resposta tão concisa. É por isso que avançou até ficar
na sua frente. Colocou as mãos sobre a mesa e se abaixou.
Colette recostou-se automaticamente, mas o espaço entre a cadeira e a parede era mínimo.
Não teve escolha a não ser se levantar e contornar a mesa. Ela não era tola o suficiente para encará-
lo, então ficou ao lado da mesa e cruzou os braços, como se assim pudesse se proteger de algo.
— Resposta errada, — disse ele, caminhando devagar até estar na frente dela.
— Você não pode vir ao meu escritório, nos trancar e começar a me fazer perguntas como...
— Tivéssemos um relacionamento?
Ela assentiu.
— Bem, nós temos. Somos amantes. É um tipo de relacionamento — ele retrucou.
— Então, se bem me lembro, os amantes não se perguntam, não se exigem, não sei...
— Acho que você tem um problema de conceito — disse com um meio sorriso muito sensual.
— Podemos nos fazer perguntas, exigir prazer...
— Nenhuma pergunta que envolva explicações que não queira dar — interrompeu.
— E que explicação é essa que não gostaria de me dar, Colie? — perguntou em um tom
perigosamente sedoso.
Eles estavam perto. Muito perto.
— Não sou eu que tenho que me explicar — estendeu a mão apontando para os jornais, — mas
eu insisto, não me importo, no final, suponho que seja à sua maneira de me dizer que acabou tudo —
expressou. Tarde demais para perceber que ele estava mostrando a ela que se importava mais do que
gostaria de admitir. — Você poderia me dizer na minha cara. É um covarde.
Jake tentou não perder a paciência. Ela o estava chamando de covarde. Ninguém jamais teria
ousado insultar seu orgulho dessa maneira. Ele tentou ignorar. Realmente tentou, mas seu
temperamento não deixou.
— Esperei por você na recepção — olhou para ela com raiva. — E eu tive que saber por
Cesare que você tinha ido embora — estreitou os olhos, — teríamos conversado então.
Ela olhou para ele desafiadoramente. O que ele estava dizendo? Que a esperou na recepção
para encerrar seu relacionamento com ela?
— Não sou um brinquedo sexual que você afasta se algo desagradável surgir como um
segredo sujo. Eu disse a você desde o início que a única condição era a sinceridade. Pretendia me
dizer que o que tínhamos...
— Temos — a corrigiu.
Ela acenou com a mão para ele ficar quieto.
— …estava acabado no meio de um evento social? Não sei como funciona o seu mundo, no
meu fazemos as coisas de maneira diferente. Existe um lugar para cada situação. Ou talvez seja essa
questão de relacionamentos esporádicos...
— Você está interpretando mal, Colette — a interrompeu, cerrando os dentes para conter a
vontade de sacudi-la e silenciá-la com um beijo como desejava.
— Você não foi sincero — olhou para ele com altivez.
— O que te faz pensar que não fui? — ele perguntou estreitando os olhos que lançaram brilhos
de aço. Um claro sinal de alerta que ela não percebeu.
— Você estava flertando com outra mulher.
Algo dentro de Jake relaxou.
— Você está com ciúmes?
Ela odiava o tom complacente com que ele perguntou.
— Para que isso acontecesse, você realmente teria que ser importante para mim — disse com
orgulho.
Isso acabou com a pequena margem de diplomacia do caráter de Jake.
— Então, não te importo mais do que como um garanhão que te dê prazer? — se expressou
com uma calma suspeita, embora Colette pudesse ver como o cinza daqueles olhos parecia derreter
em chamas de aço.
— Você não precisa ser rude. É meu amante, ponto final. Isso significa dar prazer. Ou não?
Agora, se você se considera um mero garanhão a meu serviço para isso, não é problema meu.
— Chega — ele respondeu bruscamente, antes de estender a mão, pegando-a pelo pescoço, e
trazendo-a para mais perto para dar-lhe um beijo brutal. Não por causa de sua força, pelo contrário.
Ele era devastadoramente suave, quase terno, mas ela não estava errada, porque o conhecia. A
ternura era uma ilusão de sua mente amorosa estúpida. Uma mente que parecia naquele momento
incapaz de encadear corretamente as perguntas que deveria estar fazendo a ele, em vez de permitir
que seu corpo reagisse, como se fosse uma massa de barro e ele um oleiro experiente.
As mãos de Jake deslizaram da nuca até a cintura de Colette, passando pelos contornos
laterais dos seios, sem tocá-los como ela tanto desejava. Seus seios estavam pesados, inchados e
ansiosos para serem acariciados. Ela estava bem ciente da dureza masculina pressionada contra seu
próprio sexo, coberta pela saia do vestido azul. O beijo foi ficando cada vez mais atraente,
envolvente, enquanto aqueles braços fortes a abraçavam. Jake devorou sua boca como se sua vida
estivesse correndo para fora dele. Mas ela não estava muito atrás. Como poderia ser o gosto da boca
de um homem tão maravilhosamente erótico?
Esse beijo ateou fogo no corpo de cada um. Corpos que começaram a se acariciar com
urgência, insistência, saudade. Suas mãos se moveram para todos os lados, retirando o que estava no
caminho: as roupas, por inteiro. Completamente nu e ofegante, esquecendo-se de onde estavam. Por
um breve momento, ficaram surpresos, olhando nos olhos um do outro, no nível primitivo com que se
acariciavam.
— Uau... — Jake gemeu, e ela o puxou para um beijo. Esqueceram tudo, de novo.
Os seios de Colette eram marcados pela barba de dois dias de Jake; seus mamilos rosados
estavam eretos, úmidos e sua boca estava inchada. Ele não estava melhor. Havia deixado sua marca
em seu pescoço, algo que não fazia desde o colégio com algum namorado idiota sem importância. O
sexo masculino era uma vara de veludo pulsante e impressionante, e uma pequena gota cobria a
glande. Incapaz de se conter, Colette estendeu a mão e espalhou a essência pela superfície sensível
da pele com o dedo. Ele contraiu o estômago e, em resposta, agarrou o pulso dela para impedir o
avanço, inclinou a cabeça e chupou com força um de seus mamilos, que parecia um doce néctar
derretendo em sua língua. Colie arqueou as costas e apoiou as mãos na mesa.
— Você me deixa louco, eu queria você esta manhã — ele rosnou mordiscando o outro mamilo
— ontem. A cada maldita hora — ele confessava, passando a língua sobre a pele macia de seus seios
tentadores, enquanto ela sentia suas dobras íntimas se lubrificarem em sinal de desejo sexual
latejante.
— Jake...
Ele pegou suas nádegas e a apertou contra seu sexo, enquanto a beijava apaixonadamente. Ele
se esfregou contra ela, deixando-a ainda mais consciente, se possível, do quanto ansiava por penetrá-
la, se abrigar dentro dela, se cercar daquelas paredes suaves e úmidas. Colette não pôde deixar de
gemer e desfrutar da tortura sensual, porque seu cérebro se recusava a reagir ou criar qualquer
pensamento coerente.
A mesa era bem grande, então a única coisa que a fez perceber onde estavam foi sentir a
madeira fria contra suas costas. Virou a cabeça e encontrou papéis espalhados pelo chão, assim como
algumas canetas. Não sabia quando ele jogou tudo sobre a mesa para colocá-la na beira da
superfície. Sua pele estava embotada de sensações.
— Eu queria te ver ontem... — disse a ela, enquanto, inclinando-se sobre seu corpo,
continuava a beijá-la. Tinha um braço atrás da nuca feminina, e com a mão livre aplicou uma carícia
tentadora na entrada do sexo molhado. — Por que você não me deixou entrar? — perguntou
roucamente. Ela tentou se levantar, mas ele não deixou. Em troca, ele abaixou a cabeça e devorou sua
boca com tanta urgência que a fez gemer.
— Eu estava... eu estava cansada... — ela mentiu, enquanto ele a acariciava com os dedos
implacavelmente, e sua grossa ereção pressionava contra uma de suas coxas. Ela o queria dentro,
Deus! Que tortura era essa! Nem conseguia se lembrar por que estava com raiva dele.
— Sim...? — enfiou o dedo dentro de Colette e ela se arqueou. Jake acrescentou mais um dedo
e o esfregou lentamente.
— Alguém pode...
— Tarde demais. Além disso, tenho a impressão de que esta rádio está praticamente deserta.
— Mas não podemos...
— Podemos — respondeu ele, calando-a com um beijo profundo. Ele a acomodou de tal
forma que o sexo brilhante de Colette ficou totalmente exposto aos seus olhos. Olhos que ardiam e
ansiavam.
Ciente do que viria a seguir, Colette teve vontade de sair da mesa. Em que ponto havia
perdido a sanidade para se despir e começar a fazer amor em seu escritório? Ela não era impulsiva!
Suas tentativas de recuperar a sanidade foram frustradas quando um movimento rápido da mão de
Jake a colocou de volta contra a madeira, e imediatamente ela sentiu uma língua invasora,
pecaminosa, orgulhosa e experiente lambendo seu sexo.
— Oh...
Jake saboreou aquele cheiro almiscarado, o produto do desejo dela e nada além. Ele a
saboreou, chupou e entrou com sua língua, contorcendo-se até sentir Colette à beira da loucura,
enquanto com uma das mãos acariciava seus seios, alternadamente. Ele deixou o sul de seu corpo
para percorrer a pele acetinada com sua língua, até chegar a sua boca sensual, para que ela pudesse
se provar em um beijo insano. Jake sentiu que não poderia aguentar nem um momento a mais...
— Espere aqui, querida... — ele sussurrou. Rapidamente enfiou a mão na calça, que estava no
chão, e puxou um preservativo do bolso de trás. Ele o arrancou e se acomodou. Voltou para ela, e
antes que pudesse protestar, ele a pegou, até que Colie estava sentada na beirada da mesa. — Quero
que desfrute comigo — murmurou contra os lábios sensuais de Colette.
— Acho que já estamos fazendo...
— Você é muito receptiva — comentou com um sorriso, antes de segurá-la pelas nádegas. Ela
sorriu. — Vamos acomodá-lo de forma que nos encaixemos facilmente. — Colie abraçou o pescoço
de Jake, e logo o sentiu entrar nela com uma estocada forte que sugou o ar de seus pulmões. Ela
respirou fundo, enquanto olhava em seus olhos, e o sentiu se mover entre suas dobras suaves.
— Parece... tão profundo — ele gemeu, enquanto as estocadas se tornavam primitivas,
convincentes e eletrizantes.
— Isso é bom — Jake engasgou, — porque para mim é a mesma coisa... Eu amo o seu corpo.
Ele é tão receptivo que me deixa louco.
Os seios de Colette balançavam para cima e para baixo contra seu peito masculino, em
sincronia com o choque de ambos os corpos quentes e suados. A boca de Jake devorou seus lábios,
enquanto suas mãos em suas nádegas a moviam ao ritmo das estocadas. Eles se mexeram como se
fosse uma dança para a qual tivessem sido convidados para sempre. Se encaixavam em perfeita
sincronia. Ela quase o levou ao limite. E ele, a ela, até a loucura.
Com uma última estocada, Jake foi embalado por um arrepio de prazer no momento exato em
que as dobras íntimas de Colette começaram a se contrair em torno de seu sexo quente e vibrante. Os
espasmos sacudiram os dois com uma força alarmante. Ele a beijou para pegar seus gemidos e abafar
os seus. Um segundo depois, a cabeça de Colie encostou-se no peito de Jake e ele a abraçou.
Eles ficaram em silêncio. Jake ainda dentro de Colette, e ela se permitindo ser protegida por
aqueles braços fortes e poderosos. Minutos depois, saiu de dentro de Colie, e ela lamentou a perda.
Mas uma vez que seus cinco sentidos começaram a funcionar, se repreendeu por ser tão fraca.
Com a maior dignidade possível, se levantou da mesa, grata por suas pernas terem decidido
apoiá-la, e começou a se vestir com rapidez e precisão, ciente de que Jake a observava, enquanto
também arrumava suas roupas.
Quando terminou de recolher os papéis e toda a bagunça no chão, não teve escolha a não ser
olhar para ele. Jake não parecia ter feito amor com ela como um maníaco. A única coisa que
denunciava sua falta de perfeição era seu cabelo desgrenhado. Cabelo que seus dedos ficaram
maravilhados, enquanto ela o beijava e o puxava para mais perto. Balançou sua cabeça.
Jake observou enquanto Colette tentava controlar os movimentos de suas mãos trêmulas. Eles
tinham acabado de fazer amor descontroladamente e sem consideração. Ela o fez perder o controle e
respondeu de uma forma que nenhuma mulher jamais havia feito.
— Eu não tenho nada com Lauren — Jake disse quebrando o silêncio plácido. Ele colocou as
mãos nos bolsos para evitar tocá-la como se quisesse fazer de novo. — Queria falar com ela por
motivos do passado.
— Você não precisa me explicar nada, Jake... — comentou com uma voz que tentou ser firme,
mas não conseguiu.
Ele percebeu.
Ele se aproximou de Colie, levantou lentamente a mão para acariciar sua bochecha, mas a
deixou cair. Como se tivesse sido derrotado. Como se ele não pudesse adiar o que deveria dizer a
ela. Não queria terminar o que tinham. Ainda não. E se tivesse que contar a ela sobre aquele episódio
fatídico de seu passado com Lauren, então o faria.
— Talvez não, mas eu quero.
Ela estava em dúvida.
— Por quê?
— Não queria falar com você ontem à noite para terminar o nosso caso, nem o que aconteceu
na quadra foi uma repetição de Paris. Eu disse que tinha mudado. Eu o fiz. Nós concordamos em ser
sinceros e eu tenho sido, Colette. Não me acuse de outra forma.
Colette sentou-se na cadeirinha ao lado da estante.
— Não acho que ter uma conversa aqui seja a melhor coisa a fazer — expressou com um gesto
de mão para abranger seu escritório.
Ele sorriu maliciosamente.
— Tampouco ter sexo, mas fizemos mesmo assim, certo?
Ela corou e ele aproveitou a oportunidade para se sentar ao lado dela.
De repente, o sorriso de Jake desapareceu, sendo substituído por uma expressão taciturna.
Algo disse a Colette que Jake não havia mentido sobre Lauren e o que acontecera no dia anterior. As
sombras dos olhos cinzentos lhe diziam que sua maneira de reagir ao que viria a seguir definiria
muitas coisas entre eles.
Talvez nenhum deles aceitasse na frente do outro que o relacionamento havia dado um passo
perigoso à frente, muitos dias atrás. Talvez ignorar fosse um mecanismo de defesa comum, porque
desde que se encontraram novamente, as faíscas saltaram entre eles. Talvez nenhum dos dois
soubesse dizer o que mais temia, se reconhecessem que havia um sentimento além da luxúria e
enfrentassem a possibilidade de serem rejeitados pelo outro ao confessá-lo ou rompendo todos os
laços entre eles.
CAPÍTULO 20

O relato de Jake começou com detalhes gerais sobre como ele conheceu Lauren. Continuou
por alguns eventos em que foram fotografados, como se encaixavam no meio social, o assédio da
imprensa, até chegar ao ponto em que ele mencionou sua paternidade.
— Foi difícil para mim convencê-la a se casar comigo — comentou olhando para o infinito.
— Acreditava que era uma mulher diferente e que valia a pena lutar. Valia a pena fazê-la minha
esposa — balançou a cabeça. — Foi um erro grave.
— Todos nós cometemos erros às vezes — disse suavemente, colocando a mão sobre a de
Jake. — O que aconteceu depois?
Ele entrelaçou os dedos com os de Colette e se virou, olhando para ela.
— Não tem nada a ver com o que eu sinto por ela, porque não há sentimentos contraditórios,
longe disso.
Ela assentiu.
— Ok.
— Você confia em mim?
— Sim. Sim.
Isso pareceu acalmar o olhar inquieto de Jake e, com isso, a pressão de seus dedos sobre os
de Colette diminuiu.
— Bom. Tínhamos comprado a casa, ela contratou decoradores e tínhamos data de casamento
e mudança. Organizamos tudo muito rapidamente. Estávamos prestes a enviar os convites quando
Lauren me confessou que estava grávida; a essa altura, três semanas haviam se passado desde meu
pedido de casamento. Eu fiquei exultante. A ideia não me assustou nem um pouco, pois aquele bebê
seria um membro da minha família que receberia todo o amor e carinho que merecia.
— Claro que sim — adicionou Colette. Ouvir como o homem que ela amava tinha estado com
outra e planejando sua vida juntos a magoou, especialmente porque, no fundo de seu coração, ela
nunca tinha deixado de estar apaixonada por ele. Mas sabia que aquela conversa era importante, e as
emoções de Jake por Lauren estavam no passado.
— Não contei para minha mãe, porque queria esperar o momento certo para surpreendê-la.
Também pensei em Brad e em como ele ficaria feliz em saber que teria um primo com quem brincar.
Pensei em várias maneiras de contar a eles, porque estava muito animado. Nunca pensei que a ideia
de ser pai pudesse me trazer tanta alegria. Uma criança era um presente, mesmo que não tivesse sido
planejada.
Ela assentiu, a emoção presa em seu peito. Como a imprensa poderia rotular um homem como
Jake de frio ou indiferente?
— Eu geralmente preferia morar em casas separadas, porque às vezes precisava me
concentrar e Lauren era uma distração. Em qualquer caso, não é importante... — ele se interrompeu
ao ver o rosto de Colette. Tampouco queria contar sua vida com outra mulher, pois de alguma forma
sentia que ele não gostaria de ouvir falar de Colette e de outros homens. Ele olhou para ela se
desculpando, e seu silêncio o convidou a continuar. — Lauren começou a sangrar no meio da noite.
Assustados ao percebermos o que estava acontecendo, fomos correndo ao hospital. Estava com medo
de que algo ruim acontecesse ao bebê. Eu tive um momento muito ruim. Mil imagens surgiram em
minha cabeça. Não achei que o destino pudesse me punir de novo como se não bastasse ter perdido
meu pai, minha irmã e meu cunhado.
— Oh, Jake... — acariciou as juntas de alguns dedos com o polegar. — Sinto muito que você
tenha passado por um momento tão difícil...
Uma risada quebrada explodiu da garganta de Jake.
— Não se engane, ainda não terminei.
Ela ficou em silêncio e olhou para ele com a testa franzida.
— Eu estava indo de um lugar para outro desesperado, conversando com enfermeiras, fazendo
perguntas e averiguando na internet sobre as consequências de um sangramento inesperado durante a
gravidez. Considerei centenas de hipóteses, enquanto esperava Lauren sair da sala. Estava confiante
de que tudo ficaria bem, que não havia problemas e que era apenas um susto — balançou a cabeça.
— Eles fizeram uma curetagem, então passamos uma noite na clínica. Durante o tempo em que ela
estava na sala de cirurgia, não cheguei perto. Estava sobrecarregado e me sentindo oprimido. Quando
entrei para vê-la assim que ela foi trazida para o quarto, ela estava com uma expressão vazia, um
rosto pálido e eu me senti péssimo. O médico falou, mas para mim como se estivesse longe. Foi
como se eu tivesse perdido o fôlego.
— Perdeu o filho... — murmurou com tristeza na voz.
— Sim respondeu friamente. — Foi um golpe difícil de receber, mas tentei ser forte por ela.
Abortos espontâneos não são incomuns.
— Não. Eles não são.
— Quando chegamos ao apartamento de Lauren em Beverly Hills, ela se acomodou na sala e
eu a abracei, até que as lágrimas parassem de sair de seus olhos.
— Qualquer mulher que perdeu um filho deve passar por momentos terríveis; deve ser
realmente muito difícil. Que sorte ela ter contado com você. Muitas mulheres solteiras e grávidas
passam por essas experiências sem ninguém ao seu lado...
— Acho que sim — respondeu. — Vivi esses momentos com uma angústia brutal. Lauren me
pediu que conversássemos — levantou a mão de Colie e beijou sua palma. Ele ficou olhando para
ela por um longo tempo. — Minha mãe não sabe sobre a gravidez. Eu nunca contei a ela. E estou feliz
por não ter feito isso.
— Por quê?
— Lauren me confessou que durante nosso relacionamento ela teve um caso. E o resultado foi
a gravidez — confessou seu segredo.
Colette tentou assimilar a informação. Ela ficou furiosa, porque não entendia como era
possível uma mulher de moral tão baixa enganar daquele jeito e causar dor. Onde estava a dignidade?
— Jake — sussurrou colocando a mão na bochecha.
Ele encolheu os ombros.
— É passado — ele pegou a mão dela e entrelaçou os dedos. — Eu a odiei por muito tempo.
Dediquei-me a ir de uma mulher a outra, só para perceber que nenhuma era autêntica, nenhuma
realmente valia a pena. Não me ajudaram a esquecer e, no final, eu realmente não sentia nada além de
rancor por Lauren. Todas aquelas mulheres queriam algo de mim, mas não realmente de mim.
Gostavam da ideia do status de ser minha parceira, do acesso a lugares exclusivos, e se por
coincidência a minha amante de plantão fosse modelo ou atriz, então a possibilidade de ter suas
aspirações profissionais potencializadas era um ponto positivo que me deixou ainda mais atraente em
seus olhos. — Colette não podia deixar de sentir desprezo por Lauren e por todas aquelas mulheres
que não tinham sido capazes de ver além da fachada presunçosa e indiferente de Jake. Enganá-lo?
Lauren definitivamente tinha sido estúpida. — Mas nenhuma durou o suficiente para obtê-lo. Eu não
estava apegado a ninguém. Fiquei cínico... E entendi que o amor é só para idiotas.
— Talvez sua posição seja compreensível... Pelo menos agora posso entendê-lo melhor.
— É mesmo? — perguntou se perdendo nos olhos verde azulados de Colette. Falar com ela
envolvia abrir partes dele que eram proibidas para o resto. Isso o fez querer correr e fugir. Mas era
um absurdo tentar fugir dela, porque ele imediatamente ansiava vê-la novamente. Colette estava
rastejando sob sua pele, e era assustador perceber que não podia se limitar a uma explicação de
mero desejo sexual.
— Nem todas as mulheres são mentirosas, nem buscamos bajular por status ou fama...
Ele não disse nada sobre isso, e então contou brevemente sobre como ele tinha descoberto que
Lauren tentou bater em Bradley há muito tempo, e como ele arranjou para ela estar no evento de
enfrentá-la e encerrar aquele capítulo de sua vida.
— Acho que foi por você, de qualquer forma, que decidi encarar aquele capítulo
definitivamente. Eu poderia ter deixado o tempo passar, mas você estava certa.
— Eu?
— Quando me disse que talvez eu não tivesse superado. Tinha razão. Mas não era porque
continuava a ter sentimentos por Lauren, mas porque não a perdoei de verdade. E foi isso que não me
permitiu me desligar das emoções daquele episódio.
— E agora?
— Eu a perdoei. Do tudo.
— A mídia disse que o deixou por um criador de cavalos.
Jake riu.
— A mídia diz muitas coisas estúpidas, mas, nesse caso, foi a versão que ela e eu
concordamos em dizer.
Colette olhou para ele sem entender. Como isso não importava para ele?
— Ela havia perdido seu bebê, Colie, eu não queria que a decepção e aquele episódio fossem
conhecidos. Porque isso não só me afetaria ao montar um circo na mídia, mas também a ela. O
homem com quem ela teve um caso estava afastado de sua esposa quando isso aconteceu, mas eles
não eram divorciados. Já tinha dois filhos. Pode imaginar como teria sido para aquela família, para
aqueles dois filhos, serem perseguidos pela imprensa?
Colie sentiu que o amava um pouco mais naquele momento do que há algumas horas. Apesar
da dor da traição e da mentira, ele pensou na família do homem com quem sua noiva o traíra, em vez
de vingança. Esse não era o homem frio e cínico de que a mídia estava falando. Ela passou a
conhecer e amar o verdadeiro Jake... Ela se perguntou se ele deixaria a desconfiança de lado e se
aventuraria a abrir seu coração...
— Independentemente do que você quer que eu acredite, eu sei que é um bom homem.
O olhar de Jake se tornou insondável.
— Eu não quero que você veja qualidades em mim que eu não tenho.
— Eu vi além do que deseja que outras pessoas saibam sobre você.
— Colette — avisou. Ele não queria que ela começasse a analisá-lo. Não estava lhe contando
tudo isso para que se sentisse mais próxima dele, mas para que não deixasse de ser sua amante
pensando que ele a havia deixado por outra pessoa. “Mentiroso”.
— Por que você está em Santa Monica, em vez de continuar nos famosos bairros de Beverly
Hills, Bel Air…?
— Estou procurando respostas.
— Para quê?
— Encontrar um Norte.
Franziu a testa.
— Por causa do cancelamento do seu programa?
Jake assentiu e sorriu. Desta vez, foi um sorriso pleno e brilhante. O sorriso de amante de
Colette Kessler; uma expressão que a fez estremecer de antecipação.
— Normalmente não falo muito, mas suponho que isso seja consequência de suas habilidades
jornalísticas e que você saiba dizer as palavras exatas para estimular a confissão — disse ele
brincando.
Ela se inclinou e o beijou. Um beijo suave e lento que continha uma emoção que Jake não
conseguia interpretar, mas que subia e descia, instigando um pânico que ele não sentia desde... Ele
nunca havia sentido nada assim. Como se ela estivesse jogando uma corda invisível para segurá-lo.
Ele não era de ninguém. Não queria ser.
Ele se virou.
— O que ganhou as manchetes hoje foi, como agora sabe, uma imagem que não capturou tudo
o que realmente aconteceu ontem — disse em pé. Ela o imitou. — Não tente analisar muito o que eu
disse a você. Vou continuar sem querer me comprometer com ninguém.
— Isso é um aviso?
Jake estreitou os olhos, mas mudou deliberadamente de assunto.
— Também não conversamos sobre o que aconteceu com sua família.
Colette ficou tensa automaticamente.
Com isso, houve uma batida na porta.
Preocupada, ela percebeu que nada ao seu redor denunciava o que havia acontecido. Correu
para a janela e deixou o ar frio passar, para que qualquer dica fosse desfeita. Rapidamente pegou
tudo o que estava espalhado no chão, enquanto Jake a observava. Ela alisou o vestido e ajeitou o
cabelo. Olhou para Jake, que teve a audácia de lhe dar uma piscadela. Uma piscada! O muito pirata.
Colette abriu e encontrou Francis. Um Francis sorridente poderia dizer. A convidou para se
juntar a ele, mas não antes de cumprimentar Jake com um aperto de mão efusivo.
Antes de Colie sair, Jake segurou seu pulso. Olhou para o relógio da parede.
— Aparentemente, estivemos entretidos por quase uma hora. Quem diria.
Ela se soltou em aborrecimento.
— Rápido demais para o meu gosto — respondeu desafiadoramente. Em que ponto perdeu a
noção do tempo? Uma hora, que pareceu um suspiro!
Jake riu.
Colette olhou feio para ele.
— Temos uma conversa pendente sobre Orange County, Colette.
— Acho que não... — murmurou antes de se virar para sair do escritório.
Sem lhe dar tempo, Jake a puxou contra seu corpo e a beijou suavemente.
— Vamos conversar — respondeu com um sorriso sensual, antes que ela desaparecesse atrás
da porta, para ir ao seu encontro com Francis.
***
Horas depois, era impossível para ela não se sentir confortável com a capacidade de Jake de
ouvi-la e entendê-la quando contou a ele o que tinha acontecido com Bob e seus pais.
CAPÍTULO 21

O relacionamento com Bob ainda tinha aquele toque de desconfiança; Colette não teve
coragem de ignorar. Afinal, ele havia sobrevivido a um acidente complicado e agora estava se
recuperando em casa. E o mais importante é que Bob era seu pai. Ela tinha ido visitá-lo por um fim
de semana, mas em vez de ir para a casa dos pais ou ficar na casa de Bob, ela escolheu ficar em um
hotel. Retomar o relacionamento com a família ia ser um processo bastante lento, porém, era preciso
atuar na vida familiar e não estagnar.
Ligou para suas irmãs em Nova York. Lizzie e Moira receberam a notícia de que ela era filha
de Bob, consternadas, e também demonstraram empatia. A conversa durou pouco mais de duas horas
no Skype. Recusou o convite de Lizzie e Moira para passar uma temporada com elas na Costa Leste,
mas assegurou-lhes que pensaria em visitá-las mais cedo ou mais tarde.
Jake era outro assunto.
Infelizmente, desde que descobriu a verdade sobre Lauren, ele parecia se afastar cada vez
mais. Tópicos pessoais não eram mais mencionados; na verdade, quando ela tentou fazer isso,
durante uma caminhada pelo píer de Santa Monica, o silêncio foi constrangedor — algo que nunca
havia acontecido antes entre eles — se fez presente. Suas perguntas não eram mais bem-vindas, mas
as noites de prazer continuaram sendo tão excitantes e eróticas como sempre, às vezes até mais. “Um
affaire em toda a regra”, ela pensou, confortando seu coração inquieto e tentando entender os motivos
de Jake para restringir o acesso a uma porta que gostaria que ele mantivesse aberta.
A Oxigen California completaria em alguns dias, três meses no ar. A sensação de triunfo não
tinha preço para ela. Afinal, o programa era a única aposta constante e segura. Para o programa de
aniversário, preparou um programa especial que incluía um concurso cujo prêmio era uma viagem de
cinco dias com tudo pago para um casal no Havaí. Mais um vale compra de $5.000 na Target.
— Colette? — Kate entrou em seu quarto tirando-a de seu balanço mental das últimas
semanas. — Hoje trabalharei até depois das sete da tarde. Viva o sábado, aeeee! — exclamou
sarcasticamente. Colie riu. — Eu tenho que fazer um inventário. E espero que não, mas posso chegar
atrasada para o jantar em nossa primeira noite de garotas em muito tempo. Sinto muito…
— Oh… — ela comentou desanimada. — Eu tinha feito reservas naquele restaurante grego
que você tanto ama.
— Conseguiu uma mesa no Paloupos? Uau! Leva pelo menos um mês para conseguir uma mesa
— colocar dramaticamente a mão na testa. — E eu pensei que era a especialista nesses locais VIP.
Colette sorriu.
— Vou começar pedindo uma garrafa de um bom vinho. Trabalhei tão duro nessas semanas e
merecemos uma noite de garotas completa.
— Bem isso! — exclamou. De repente, ela franziu a testa, olhando para sua melhor amiga. —
Você está um pouco pálida... Você está bem?
— Sim. Tudo está perfeito, só estou muito exausta... Tem sido um tempo, pelo menos
emocionalmente, muito difícil.
— É sobre Jake? — interrompido com um sorriso malicioso.
Encolheu os ombros.
— Muito trabalho, coisas da minha família, projetos em mente. E Jake, bem, ele está em Napa
Valley. Já te disse que tem algumas vinhas. — Kate acenou com a cabeça. — Ele me disse que talvez
tivesse que passar a noite por lá — encolheu os ombros— e eu disse que tinha uma noite das garotas
com você em Paloupos hoje. Além disso, ele tem estado meio estranho ultimamente. Distante. Essa
seria a melhor palavra para descrevê-lo.
— Sei — Kate disse pensativamente, — talvez seja hora de terem um pouco de espaço. Você
não é uma mulher acostumada a estar com alguém se não sentir algo. Você o ama, mas ele...
— Eu sei. Eu sei... — começou a andar no carpete cinza de seu quarto, — só de pensar que
isso vai acabar me apavora, Kate. Você sabe que não sou impulsiva — comentou com tom resignado,
— mas com ele essa parte de mim veio à tona. Não sei como te explicar...
A garota se aproximou de Colie e deu-lhe um abraço.
— Por que você não arrisca dizer a ele o que sente?
— Não quero pressioná-lo... — suspirou. — Agora entendo melhor muitas coisas sobre ele e
seu passado.
— São sobre mulheres do seu passado?
— Muito além disso. Mas não posso falar sobre isso. É algo muito particular de Jake...
— Soa como uma manchete exclusiva — disse tentando arrancar um sorriso da amiga. E
conseguiu. — Ouça, Colie — mudou para um tom mais sério, — você está agindo como uma covarde
e certamente não é. Acho que você e Jake são atormentados por desconfiança e insegurança, e não
são capazes de se abrir um com o outro. O que vocês têm não é apenas sexo, E sei que bem dentro de
você, sabe com certeza há muito tempo. Me disse que ele confia em você, que você confia nele,
depois que falaram sobre seus passados mútuos. Tenho certeza de que Jake tem uma queda por você.
— E se eu contar a ele o que sinto e...?
— Não acho que você queira passar o resto da vida se perguntando "e se..." Você já deu o
passo mais difícil. Reconhecer o que você sente para si mesma. Só precisa ir um pouco mais longe.
Diga a ele.
— Vou pensar sobre isso, Kate — sorriu. — Agora vá para o seu trabalho, assim quem sabe
sai mais cedo e chega a tempo no Paloupos.
— Faça exercícios ou vá ao cinema para relaxar. Vejo você à noite — expressou antes de sair.

Ela não gostava muito de comida grega. No entanto, ultimamente havia negligenciado um
pouco sua amizade com Kate, e fazer algo por ela parecia uma maneira justa de compensá-la.
Imediatamente pensou no restaurante favorito de sua amiga. Então, pela primeira vez, parecia justo
usar o nome de Phillip Kessler, para conseguir um espaço em um lugar exclusivo. Ela se divertiu
posando como Jude, assistente de Phillip, que sempre conseguia os melhores lugares em qualquer
lugar do país. “O que era justo, era justo”, pensou sem o menor sinal de culpa em sua consciência,
enquanto mexia o canudo em torno de uma Smoothie laranja que acabara de pedir.
A atmosfera do restaurante era muito íntima e acolhedora. Tinha uma decoração tipicamente
grega; uma mistura de pedra em tons castanhos e paredes lisas. O cenário tinha um toque entre o
vintage e o moderno. As toalhas de mesa, assim como as mesas e cadeiras, mantinham uma
combinação das cores da Grécia: branco e azul.
Verificou a hora. Oito horas da noite. Estava faminta. Depois da conversa com Kate, seguiu
seu conselho e foi nadar na piscina do clube. Um clube para o qual pagava uma associação anual,
mas do qual raramente aproveitava. Aquela tarde foi a melhor hora para aproveitar. De alguma
forma, o exercício a ajudou a tomar uma decisão: ela confessaria a Jake o que sentia e mandaria seus
medos para o inferno.
Chamou o garçom e pediu um Feta Tiri. Uma entrada que consistia em queijo de cabra fresco
com azeite e orégano. Seu pedido chegou em menos de dez minutos. E com o pedido, também uma
mensagem de texto de Kate, se desculpando por aparentemente não terminar o inventário por uma
hora e meia. Colette respondeu que logo iam organizar outra saída das meninas e que levasse o tempo
necessário com o trabalho para não ser demitida.
Colie fazia questão de saborear a comida grega. Afinal, não perderia a chance de provar a
famosa culinária de primeira mão do Paloupos. Quando terminou o Smoothie, pediu uma taça de
vinho e fez um brinde antecipado e silencioso, em homenagem ao seu programa de rádio, e também
pela coragem que seria necessária para se abrir emocionalmente com Jake.
Estava feliz por sua mesa estar posta em um canto que lhe dava uma vista parcial dos belos
jardins do restaurante. Paloupos não era apenas famoso pela sua cozinha grega, mas também por
aquele jardim, projetado por um dos mais prestigiados paisagistas da Grécia, constantemente
referido como um ambiente que conferia um toque distintivo ao restaurante e que merecia uma visita.
Antes de se sentar à mesa, ela pediu para ser guiada até o jardim, um espaço que fazia honras as boas
críticas. Era um ambiente pequeno, com uma fonte, mas havia tanto calor e disposição de cada
elemento, que queria passar longas horas sentada nas cadeiras de balanço estrategicamente colocadas
ao redor do local.
— Colette Kessler? — perguntou uma voz com um sotaque grego inconfundível.
Intrigada, ela desviou o olhar do jardim iluminado a querosene para o recém-chegado.
— Sim... — abriu a boca, e fechou-a novamente quando o reconheceu. Abriu novamente. —
Não posso acreditar!
Um sorriso arrebatador tornou Nikos Karimides impossivelmente mais atraente. O jornalista
inclinou-se para cumprimentar Colette com um beijo na bochecha, que o convidou a sentar-se com
ela.
— Esta é uma verdadeira surpresa — disse Nikos. — Eu não sabia que a comida grega era
uma das coisas que você gostava. A propósito, você está linda.
Ela sorriu. Nikos estava vestido casualmente desta vez: uma camisa azul combinada com a
calça. O que tornava este homem um espécime masculino atraente era, além de sua boa aparência, a
aura inegável de virilidade e o brilho em seus olhos negros. Olhos que viram cenas de guerra, fauna
silvestre, bem como acontecimentos de diversos tipos, na qualidade de jornalista.
— Obrigado, Nikos. Continua tão encantador como sempre — riu. — Este lugar é o favorito
da minha melhor amiga. Mas Kate acabou de me mandar uma mensagem dizendo que não pode vir.
Você veio com alguém?
Nikos deu a ela um sorriso brilhante.
— Minha noiva chegará daqui a pouco. Estamos de passagem pela cidade e, se não se
importa, quero que conheça Chantelle. Acredito que durante a festa em sua casa, aquela ocasião em
que dançávamos, contei-lhe sobre ela. Verdade?
Ela assentiu.
— Eu gostaria de conhecê-la, é claro. Diga-me, Nikos, está de passagem pelos Estados
Unidos ou veio para ficar aqui por muito tempo?
— Eu vim de passagem, mas desta vez são exclusivamente empresas familiares. Na verdade,
no fim de semana estive com seus pais para tratar de questões têxteis. Meu pai queria que eu
estivesse presente durante a reunião de negócios. Acho que afinal um dia terei que cuidar de tudo. —
Colette continuou em silêncio, ouvindo-o. — Antes de vir para a Califórnia, enviei meu último artigo
para uma revista que faz reportagens sobre animais em cativeiro. Depois do meu casamento, espero
poder retomar o jornalismo.
— Chantelle viajaria com você ao redor do mundo?
Nikos sorriu.
— É ela quem insiste que eu não abandone a profissão. Diz que há duas partes de mim que
gosta. Meu lado como empresário e meu lado aventureiro como jornalista. Veremos como nos
organizamos. Ela se dedica a relações públicas de alto nível, então provavelmente pode trabalhar em
qualquer cidade em que nos instalarmos. Nossas profissões têm grandes vantagens em poder exercê-
las de qualquer ponto geográfico.
— Claro. Fico feliz em saber que você encontrou alguém que valoriza sua profissão.
— Eu sei. Chantalle é única.
De repente, como um gesto de desculpa antecipada, Nikos colocou a mão na de Colie.
— Vou para a minha mesa, minha noiva deve chegar a qualquer momento. Passaremos por aqui
em breve. Aliás, recomendo que você experimente o Galaktoboureko, que é um doce que consiste em
creme de confeitaria e massa folhada. De lamber os dedos, como alguns dizem.
“Foi bom tê-lo encontrado”, ela pensou.
Algo que, é claro, o homem na entrada do restaurante não compartilharia nada. Ele se
aproximou da mesa de Colie com passos rápidos. Encontrou não apenas uma Colette sorridente, mas
ela estava de mãos dadas com esse estranho.
— Uau... boa noite — disse Jake sem qualquer indício de educação, quando Nikos se abaixou
para dar um beijo na bochecha de Colette, antes de se levantar, pronto para sair.
— Jake — sussurrou Colie surpresa. Ele não deveria estar em Napa Valley?
— Vejo que se lembra do meu nome, acho que deve ser um bom sinal — respondeu ele
sarcasticamente com um olhar glacial.
Nikos olhou de um para o outro.
— Sou Nikos Karimides, amigo de Colie — estendeu a mão. Jake devolveu o aperto com
aborrecimento.
— Jake Weston.
— Espero que goste do seu jantar — Nikos disse a Colie, e ela acenou com a cabeça um
pouco nervosa com a presença surpresa de Jake. — Acho que apresentá-la a Chantelle ficará para
outra oportunidade. Não se esqueça da sobremesa... — ele a lembrou com uma piscadela, antes de se
afastar para o outro lado do restaurante onde estava a mesa que ele havia reservado.
Houve um silêncio desagradável, enquanto Jake lhe dava um olhar acusador, e ela, sem se
intimidar, ergueu o queixo com orgulho. Sem ser convidado, ele se acomodou na cadeira que Nikos
havia deixado momentos antes.
Jake era o novo proprietário da Williams Vineyards. Uma bela propriedade vinícola que
remonta a duas gerações de americanos. Ele havia pensado que a negociação demoraria mais do que
deveria, já que Edgar Williams tinha fama de ser muito falador, mas um telefonema de Atlanta fez
com que o agora ex-proprietário se despedisse logo, após brindar com um vinho da melhor safra.
Jake tinha ido a Santa Monica para surpreender Colette.
O surpreso tinha sido ele.
— Bem? — Jake perguntou asperamente. — Essa é a sua ideia de uma noitada das garotas?
Sexo com estranhos?
— Não exagere — olhou para ele. — Não aceito suas acusações absurdas.
Ele franziu a testa e respirou fundo tentando trocar o ar em seus pulmões tirasse e acalmar a
raiva por ele a ter visto com este tal Nikos.
— Você já fez o pedido? — mudança de assunto.
— Só isso você vê aqui — apontou indiferente para o prato de Feta Tiri quase terminado.
— Que pena ter interrompido seu encontro às cegas — disse friamente. Ver Colette com outro
homem tocando-a foi como se um lenço vermelho tivesse sido agitado na frente de um touro. Algo
dentro dele se rebelou contra a ideia palpável de que ela poderia estar com outra pessoa, em
qualquer circunstância que envolvesse intimidade. E por intimidade, ele definitivamente se referia a
um maldito jantar.
— Não devo nenhuma explicação.
— Não, claro que não — respondeu ele puxando uma nota de cem dólares. Ele a colocou na
mesa. — Em seguida, vamos ao que nos preocupa e a razão pela qual você e eu estamos juntos.
Ela estreitou os olhos, furiosa.
— Qual é o seu problema, Jake? — quase gritou. — Você não tem o direito de interromper
meu jantar — murmurou baixinho, — e com quem tenha amizade é apenas assunto meu. E só para
deixar claro, Kate cancelou nosso encontro porque ela está terminando suas tarefas.
— Imagino que seu amiguinho não tenha gostado da interrupção. Ele é casado e você não se
importa? Está usando Kate como desculpa agora? Um sábado? — inquiriu com um tom áspero, e
apertando a mandíbula.
— Chega — respondeu ela com raiva.
Se levantou e saiu do restaurante movimentado sem olhar para trás. Caminhou o mais rápido
que pôde até o ponto de ônibus. Não o suficiente era obvio, pois em alguns minutos ela tinha Jake
atrás dela. Ele a pegou pelo cotovelo e a virou de modo que ela ficasse de frente para ele. Colette
praguejou por ter pegado um táxi e não seu próprio carro.
— Eu te levo para casa. — Não era uma pergunta, obviamente.
— Não, obrigada — respondeu cruzando os braços e esperando o ônibus das nove e meia. —
Acho o transporte público uma excelente opção. Não estou com vontade de tolerar afirmações
ridículas e irracionais, pior ainda, quando você acaba de estragar um jantar grego de primeira classe
para mim.
Jake passou as mãos pelos cabelos.
— Quem é ele para você?
Ela olhou para ele.
— Nikos é meu amigo. Seu pai trabalha com Phillip em Orange, na fábrica têxtil da minha
família.
Ele acreditou nela, e uma onda absurda de calma o invadiu.
— Não quero falar aqui, no meio da rua, e pior ainda em um ponto de ônibus que pode encher
a qualquer momento.
— Ruim para você. Eu vou de ônibus.
— Colie... — respirou fundo para acalmar o mau humor causado por vê-la com outro homem.
— Sinto muito — ele respondeu como se tivesse sido ameaçado com uma faca ao dizer essas
palavras.
Isso pareceu tirar um pouco da raiva de Colette, que reprimiu um sorriso porque sabia como
era difícil para ele se desculpar.
— O que exatamente você sente? — pressionou um pouco mais; ele percebeu, mas não
protestou.
— Acusar você... Não tenho direitos, é verdade — deixou cair os braços. — Eu não sei o que
aconteceu comigo. Ele é seu amigo, eu acho... — reconheceu.
— Concordo. Eu aceito suas desculpas.
Jake franziu a testa.
— Sim? — perguntou com um toque de dúvida na voz. — Você vai me deixar te levar para
casa?
Ela inclinou a cabeça para o lado. O ônibus estava a dois minutos de distância. Na verdade,
viu as luzes se aproximando da parada. Era o momento de decidir se era hora de seguir o conselho de
Kate. O olhar intenso, o interesse que ela não havia classificado erroneamente como ciúme e o amor
que sentia por Jake, a fizeram perceber que, estando sozinha, ela poderia se abrir sobre seus
sentimentos. Se arriscaria. Ela nunca tinha dado tanto a um homem quanto a Jake.
Várias pessoas começaram a se sentir incomodadas porque Colette não avançou em direção à
porta do transporte público que acabara de ser escancarada para receber novos passageiros.
— Vamos — finalmente respondeu Jake.
Entraram no apartamento de Jake se beijando, rindo. A raiva do restaurante deu lugar à paixão.
Não falaram novamente sobre a presença de Nikos, ou qualquer outra coisa além de suas
necessidades sensuais mútuas. Ele a tomou nos braços, levando-a para seu quarto. Ficaram nus em
um frenesi. Jake a beijou repetidamente, até que sentiu que ela se rendia completamente a ele. Era
puro calor em seus braços.
— Colie — murmurou contra seus lábios sensuais, dispostos. Ele adorava beijá-la, porque ao
fazê-lo a sensação de doçura de seu sabor era inebriante. Os gemidos suaves que escapavam de sua
garganta o deixaram louco.
— Jake... — ela sussurrou, enquanto suas unhas acariciavam as costas fortes e musculosas,
enquanto a deixava na cama e se colocava em cima dela, tomando cuidado para não a esmagar. —
Seus olhos dizem muito — expressou quando ela sentiu a mão masculina apertando um de seus seios.
— O que eles dizem hoje? — perguntou, inclinando a cabeça, oferecendo a cada um dos
mamilos rosados de Colette a atenção que mereciam.
Os quadris dela se ergueram e Jake estava excitado demais para pensar em qualquer coisa
além de Colette, mas queria prolongar o prazer para os dois. Ainda saboreando seus seios empinados
com os lábios e a língua, ele deslizou a mão até suas dobras íntimas e suavemente a abriu. Quando a
sentiu molhada, emitiu um suspiro de complacência e a penetrou com o dedo. Ele a lubrificou em
círculos, enquanto ela se mexia e pedia que não parasse. Ele não tinha planejado fazer isso. Em troca
de dar a ela a liberação que esperava, inseriu outro dedo nela e eroticamente brincou com a parte
mais doce, onde escondia o ponto que liberaria o prazer de Colie.
— Que você... me quer — ela choramingou antes que a boca de Jake segurasse a dela, em um
beijo devastador, e que imitasse os movimentos que ele continuava a fazer dentro de seu centro
ardente de desejo.
— Bem, você não está errada — disse ele entre beijos com um tom rouco. — Eu quero você
como nunca quis nenhuma mulher...
Jake agarrou a bunda dela, levantando-a. Ele parou de tocá-la e beijá-la. A olhou nos olhos e,
sem dar tempo a nada, com uma estocada profunda, penetrou-a completamente. Colette gritou,
arqueando os quadris de prazer e sentindo-o começar a estabelecer um ritmo implacável. Se agarrou
ao pescoço de Jake, enquanto entre suspiros, se tocavam e suas peles se misturavam entre o prazer,
cobertos de suor e o desespero para chegar ao topo.
Com ela em seus braços, completamente rendido, confiando e entrelaçando seu olhar com o
dele, sabia. Sabia a verdade e isso o atingiu como um raio no peito.
Ele amava Colette.
Isso o surpreendeu.
Ele era um cínico. Achava que amor fosse para idiotas. Não havia procurado o amor.
Começou a tremer, e não apenas de prazer.
Estava completamente, totalmente e profundamente apaixonado.
— Não pare agora...! — grunhiu Colette, envolvendo as pernas ao redor dele, puxando-o mais
para dentro de seu corpo.
Tão estupefato com o reconhecimento de suas emoções, não percebeu que ela estava olhando
para ele, frustrada, porque ele diminuiu a velocidade.
— Colette... — rugiu, antes de se lançar com golpes profundos e fortes no corpo macio que o
acolheu como uma luva perfeita. Ele imediatamente deixou o choque de sua descoberta, o quão
assustado estava e o desejo que o consumia como uma febre.
Sem saber o que se passava na mente masculina, Colie, enquanto sentia cada uma das
estocadas de Jake e seu corpo se adaptava ao dele em uma dança erótica inebriante, experimentou
não apenas alegria sexual, mas a confirmação de quanto o amava.
Sentir isso profundamente dentro dela, levou-a a falar claramente em um momento em que seu
cérebro estava misturando êxtase com lucidez.
— Eu te amo... — sussurrou Colie quando seu corpo começou a enfraquecer em ondas
sucessivas de espasmos desestabilizadores, e os dedos de Jake beliscaram seus mamilos, enviando-a
para um turbilhão agradável do qual ela não queria voltar.

Algo estava definitivamente errado.


Colette abriu os olhos quando a jornada sensual finalmente acabou. Seu corpo estava
mergulhado em uma letargia plácida, mas sentiu que algo havia mudado naquele quarto; entre eles.
Uma atmosfera calorosa, erótica e complacente não a envolvia mais.
Jake estava olhando para ela atentamente. Não estava mais ao lado dela, mas em um canto do
quarto. Seus olhos eram duas gemas impenetráveis de aço.
— Jake? — levantou-se e cobriu o corpo com o lençol, até esconder completamente os seios
sensíveis ainda das carícias recebidas.
— Tenho que ir — respondeu ele, terminando de abotoar a camisa.
Colette lembrou-se então de que havia confessado que o amava e seu coração pareceu parar
de bater por um instante. A expressão de Jake era inescrutável. Era a mesma expressão que usava na
mídia. Aos desconhecidos... intrusos. Ele a estava deixando de fora.
Não ia permitir que ele ignorasse sua confissão como se não tivesse acontecido.
— Sair? Estamos no seu apartamento... Por quê? — inquiriu lambendo os lábios. De repente,
sua garganta estava seca. — É... é por causa do que eu te disse?
Ele não respondeu. A percepção de que a amava o apavorava como o inferno, e ouvir Colette
confessar seu amor quase o deixou louco. Ela tinha uma ideia errada do que era. Não poderia amá-lo.
Ele não podia amá-la. Tinha que sair dali.
Afastar-se de Colette para voltar à sua postura prática em relação às mulheres era o melhor. A
cada dia seu desejo por ela aumentava, e era patético. Não era a primeira vez que se sentia assim
com Colette. Em Paris era exatamente igual, então precisava ir embora. Desta vez a imagem parecia
pior, porque todo o seu corpo gritava que ele a amava. “Demônios”. Sua cabeça explodiria a
qualquer minuto.
O melhor seria se distanciar e, assim, poderia controlar suas emoções novamente. Não tinha
deixado sua vida social agitada em Beverly, Hills e Bel Air, para ir para Santa Monica e ficar
emocionalmente enredado. Sua mudança de residência baseou-se na busca de um novo significado;
um novo Norte. E ele perdeu seu propósito em se envolver com aquela mulher irresistível.
— Agora não, Colette — expressou com uma voz dura. — Você disse que não faria
exigências. E você está fazendo isso. Chega.
Ela ficou trêmula, mas não iria deixar isso mostrar o quão afetada ela estava.
Ela o encarou, embora a indiferença naqueles olhos que um dia foram calorosos e cativantes a
machucasse.
— Você vai negar que tem sentimentos por mim? — perguntou com voz firme. Ela havia
confessado que o amava, não tinha mais nada a perder. Mas a frieza com que a olhava começou a
rasgá-la aos poucos, como se uma faca tivesse sido colocada em sua pele e fosse rasgada aos
poucos. — Isso também é sinceridade. Não estou exigindo nada de você, Jake. Estou te dizendo a
verdade.
— Vou dormir em um hotel, você pode ficar a noite toda se quiser — expressou ignorando a
pergunta, deliberadamente.
Ela pegou um travesseiro e jogou nele com lágrimas nos olhos.
— Covarde. Você é um covarde! Me ouviu? — gritou com ele, enquanto Jake abria a porta,
sentindo-se miserável ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto de Colette. Ela parecia tão
vulnerável que uma parte dele queria estender a mão e beijá-la, dizer que a amava e que tudo ficaria
bem. Mas não podia. Nunca poderia confiar seu coração a qualquer mulher novamente. O melhor era
esquecer tudo... definitivamente.
— Enfim — disse virando-se para sair, e tentando esquecer a imagem de Colie na cama. Seu
cabelo estava despenteado, seus lábios estavam inchados, e o lençol se agarrava a cada curva,
sugerindo que aquelas partes que ele tinha saboreado como um homem possuído. Ele suprimiu o
desejo de estender a mão e beijá-la até que se perdesse nela novamente, mas não podia fazê-lo. Não
podia.
— Droga, Jake Weston — expressou raiva. — você deixou claro que não retribui e, embora
não ser retribuído possa machucar, não se compara ao fato de você se atrever a sair como se o que
aconteceu entre nós tivesse fosse apenas uma brincadeira.
Isso o deteve.
Ele se virou e olhou para ela.
— Foi — ele mentiu, tentando se convencer. Não teve sucesso. Isso só o fez se sentir mais
infeliz.
Dito isso, ele desapareceu de vista de Colette, deixando-a magoada e com lágrimas que
pareciam queimar sua alma.
Ela havia se arriscado. E tinha perdido.
CAPÍTULO 22

Kate tentou animá-la, convidando-a para patinar em uma das pistas de gelo nas redondezas,
mas Colette recusou. Sua amiga também sugeriu ir a um bar; comer fora; passear pela praia. Nada.
Não queria ouvir de ninguém. Seu ânimo estava no chão, e isso não era normal para ela.
A única coisa da qual tinha certeza era que, na terça-feira, nada poderia afetá-la novamente.
Nunca um feriado pareceu tão oportuno como segunda-feira. Um dia a mais para ganhar forças,
pensou. Claro que ela teria que ver Jake no programa, mas deixaria sua raiva e seu coração partido
em casa. A ideia era mostrar que estava bem na Oxigen California, então encontraria uma maneira de
superar Jake.
Não sabia o que o machucava mais, se o fato de a ter tratado tão mal, ou de ser um covarde
por não aceitar que também tinha sentimentos por ela.
— Colie? — perguntou Kate com os quadris encostados no balcão da cozinha.
Ela ergueu os olhos do jornal.
— Saí do meu trabalho.
— Você encontrou algo melhor? — quis saber, intrigada. Kate era impulsiva, mas não o tipo
de pessoa que largaria o emprego da noite para o dia. Franziu a testa. Ela olhou para a amiga. —
Conte-me o que aconteceu. Ontem à noite estava tudo bem. Eu sei que você tem horas loucas e eles te
chamam de repente por algo estúpido, mas o salário não é ruim de jeito nenhum.
Kate mordeu o lábio. E ela deu um sorriso tímido.
— Eu… — olhou para baixo, — realmente sinto muito que você esteja passando por essa
situação com Jake. Realmente, mas não posso adiar a decisão que tomei, porque minha mãe está
doente.
— Oh Deus, o que há de errado com Rowena? — se levantou e foi até a amiga. Colocou a
mão em seu braço afetuosamente.
— Me ligaram ontem à noite quando terminei de fechar a loja. Você sabe que meus pais não
são alarmistas, mas se me ligaram é porque realmente precisam de mim. Minha mãe odeia médicos e
tem que se submeter a uma cirurgia para cistos nos ovários. Não é nada sério, mas meu pai tem que
cuidar dos negócios, Damon e eu aqui... Não posso deixar mamãe sozinha. Ela odeia médicos e não
permite que um estranho cuide dela durante sua recuperação... Além disso, não quero continuar
trabalhando em um lugar onde não sou feliz.
— Mas, Kate, isso significaria... que não vamos morar juntas?
O olhar triste de Kate deu a resposta.
— Sinto muito, Colie, sei o quanto é importante para você mostrar à sua família...
— Não tenho que provar nada a ninguém além de mim mesma. Aprendi isso e estou feliz por
ter essa certeza agora — a interrompeu gentilmente. — E se você acha que é hora de voltar para
Orange, eu a apoio. Além disso, entendo sobre Rowena. Ela se sentirá melhor se estiver com você.
— Eu estou indo para o Lago Tahoe. É lá que minha mãe pensou em se recuperar. Na verdade,
tem mais: meu pai me contou que compraram um terreno a poucos quilômetros da casa que
adquiriram recentemente, porque vão construir um hotel boutique na região. Portanto, é um local
conveniente, minha mãe estará comigo, cuidaremos de supervisionar alguns detalhes, enquanto papai
continua o negócio de revista da família — suspirou. — Vou largar o jornalismo por um tempo.
— Uau... Eu não esperava isso.
Kate sorriu.
— Sei que vivemos muitos anos juntas... — olhou para ela com pesar— Colette — pegou suas
mãos e apertou com as dela, — tenho trabalhado em coisas que não gosto para me tornar
independente. Não vai ser tão ruim morar com mamãe e ajudá-la por um tempo enquanto me
reencontro comigo mesma. A verdade é que não parece tão ruim. Talvez possamos fazer
colaborações freelance ou algo assim enquanto o hotel está sendo construído. Amo jornalismo, mas
de repente, em minha obsessão por encontrar o emprego perfeito, aceitei alguns que não me deixaram
nada além de um gosto amargo na boca e nenhum benefício intelectual. Não acho que estou sendo
justa...
— Estou surpresa com a rapidez com que você se decidiu..., mas com tudo o que você me
disse. Eu entendo perfeitamente — respondeu sorrindo para ela, embora sentisse uma grande pena
porque seria muito estranho viver sem Kate. Haviam compartilhado tanto, por tantos anos. Mas
estava feliz por ela, se isso fosse lhe fazer bem. — Teremos que falar com o proprietário.
— Sim. Se bem me lembro, uma vez notificado, podemos ficar o resto do mês. Ou seja, no
nosso caso, temos duas semanas.
— Quando Rowena faz a cirurgia?
— Em sete dias.
— Faremos as malas juntas. Nesse ínterim, começarei a procurar um apartamento menor.
Também será uma aventura morar sozinha — ela sorriu sinceramente, pois embora sentisse saudades
de Kate, a verdade é que ela estava em um momento da vida em que a solidão parecia bater à porta.
Era uma época de rupturas e mudanças. Estava pronta para abraçá-las com energia. — Tudo vai dar
certo. Verá que sim. Será mais uma experiência a somar às muitas que já tivemos, Kate.
— Você é a melhor amiga do mundo — sussurrou Kate, antes de se derreter em um abraço com
Colette.
— Eu não poderia dizer mais nada sobre você — respondeu rindo. — A propósito, como seus
chefes reagiram que se demitisse de um momento para o outro? Você não deveria dar um aviso prévio
de quinze dias?
— Bem... a verdade é que o contrato não dizia isso. Felizmente, nenhum dos meus chefes
passou a supervisionar nada como a odiosa da minha ex-chefe me disse. Bem... a verdade é que não
liguei para eles — deu um sorriso nervoso. — Na verdade, escrevi um e-mail para a gerência
anunciando minha demissão. Ou acho que era gerenciamento de qualquer maneira, porque era um
endereço de e-mail que Marion havia designado apenas para emergências... e bem — encolheu os
ombros— minha demissão foi uma emergência.
Com uma risada, a primeira desde que Jake partiu seu coração pela segunda vez, Colette
aceitou a sugestão de Kate de que fossem juntas a uma noite de fogos de artifício que as autoridades
locais haviam organizado para comemorar a vitória do time de futebol local em um importante
campeonato estadual.
Além da diversão esta noite, a melhor notícia para Colette era saber que Damon tinha
começado a namorar uma garota que, na opinião de Kate, parecia bastante adequada para ele. As
palavras textuais de Kate foram “amor à primeira vista”. E Colette estava muito feliz por seu amigo.
Na verdade, também tirou um grande peso de sua consciência com o episódio do jantar e as emoções
não se esclareceram a tempo. Que Damon tivesse encontrado alguém para se relacionar era perfeito.
“Pelo menos alguém não está com o coração partido”.

***

Estava muito mais do que infeliz, pensou, terminando com um último gole, a meia garrafa de
uísque que tinha em casa. Depois de deixar seu apartamento, ele dirigiu para Bel Air. Tinha feito isso
na quarta tentativa, virando-se várias vezes com a ideia de voltar para Colette e pedir que ela o
perdoasse. Mas estava fazendo um favor a ambos, e foi esse pensamento que o levou através da
cidade até sua mansão depois da meia-noite.
Rexford não ficou muito feliz em vê-lo. Jake sabia o porquê, quando depois que seu amigo
percebeu que não era uma visita momentânea, chamou uma loira deslumbrante que desceu as escadas,
pronta para ir, mas não antes de beijar Rex de uma forma que não deixou dúvidas. Qual era o tipo de
relacionamento que eles tinham.
Agora, Rex estava carrancudo, depois de ouvir entre bebidas e longas pausas, o que tinha
acontecido algumas horas atrás na casa de Jake em Santa Monica.
— Nunca te vi assim, nem mesmo com a Lauren — disse empurrando-o no sofá, quando
tentava ir buscar uma nova garrafa de bebida. — A pior parte é que a decisão que você tomou de
deixá-la desse jeito parece completamente estúpida para mim. Não conheço Colette muito bem, mas
se Cesare praticamente a trata como uma irmã, isso diz muito...
Jake rosnou.
— É a melhor... e Lauren na verdade... Não posso fazer comparações. É ridículo. Só sei que o
que sinto por Colette vai passar. Tudo é assim — respondeu ele, levantando-se e cambaleando. Sua
cabeça doía como o inferno, mas a dor não era nada comparada ao momento em que viu as lágrimas
de Colette e aquele olhar de traição em seu rosto. Ele estava convencido de que esta imagem estaria
presente por muito tempo. — Agora tenho que dormir.
Rexford o olhou, balançando a cabeça.
— Tenho a leve impressão de que você vai se arrepender da decisão que tomou. Eu não
pensei que você fosse um covarde...
Antes que ele terminasse a frase, o punho hesitante de Jake bateu na bochecha de Rex. Foi um
golpe contundente, mas não muito forte.
— Droga. Você é um idiota — rebateu esfregando o rosto. — você pode ficar aqui na sala
bebendo sua coleção de uísque, ou pensar em como vai consertar esse assunto. Não gosto de ser
interrompido quando estou...
— Seus casos sexuais não me interessam — falou lentamente, enquanto carregava seu corpo
vacilante pelo corredor que levava às escadas.
Relutantemente, Rexford o ajudou a subir a um dos quartos e o jogou na cama. Então saiu
batendo a porta. Uma pancada que Jake sentiu como se tivesse levado um martelo nas orelhas.
— Colie... — Jake sussurrou antes de adormecer, seu corpo grande, ao longo do colchão.

***

Colette fervilhava de indignação. Ela que pensava que as coisas não podiam piorar naquele
cenário, e agora Francis acabava de dar uma notícia que acabou de colocar a cereja no bolo dos
complicados acontecimentos de sua vida nos últimos meses.
Naquela manhã de terça-feira, o café teve seu efeito normal, deixando-a acordada e animada.
Chegou a rádio armada de determinação e estoicismo. Ela temia a reunião de temas, mas não ficou
surpresa que Jake não tivesse comparecido. “Covarde. Esse é Jake Weston”, pensou enquanto
observava seu chefe sorrir para ela em um gesto que denotava um pedido de desculpas, mas também
determinação. Não havia como voltar atrás.
— O que vou fazer então? É o programa de aniversário. Não posso ficar sem apresentador, e
os patrocinadores, as pessoas que confiaram em nós? A imprensa vai nos destruir! — exclamou
levantando-se e andando de um lado para o outro. — É também sobre o meu prestígio profissional.
Francis encolheu os ombros.
— Contratei uma agência de relações públicas para enfrentar a tempestade. Seu prestígio
permanecerá intacto, pois essas decisões saem da sua capacidade de gestão, já que cabe aos donos
— ele recostou-se no assento, que rangeu com seu peso. — Tem sido um ótimo programa, mas a
decisão foi tomada.
— Baseado em quê? — perguntou irritada.
— O contrato de Jake Weston era de apenas três meses, como eu disse há quarenta e cinco
minutos. Meus sócios e eu nos reunimos no fim de semana. Decidimos que, em conjunto com a saída
do programa, venderemos a frequência. Garantiremos o trabalho dos funcionários, mas, embora
Oxigen California tenha gerado bons rendimentos, nossa rádio continua não sendo lucrativa em
termos gerais e em nível de investimento como empreendedores. O contrato de Jake apenas acelerou
uma decisão na qual pensávamos há um ano, mas adiamos porque outras questões surgiram. Você fez
um trabalho louvável e sempre lhe darei as melhores referências profissionais.
Não fazia sentido insistir no assunto. Se Jake era a voz do programa, substituí-lo seria
simplesmente absurdo. As pessoas não iriam se identificar com outro apresentador tão facilmente,
pelo menos não quando ela trabalhou duro para vincular o nome do programa ao apresentador
estrela. Um locutor que naquele momento queria estrangular com as próprias mãos.
— Acho que estou demitida.
Francisco negou.
— Claro que não. Você pode esperar pela transição e coordenar o noticiário do amanhecer,
seu contrato de um ano permanecerá em vigor.
Tinha tido o suficiente.
— Não, Francis. Prefiro sair. Tenho colocado muita energia, tempo e entusiasmo para fazer
deste programa uma referência para quem sai do escritório e vai para casa. Para quem procura uma
alternativa divertida... — pigarreou, pois não queria que sua voz se quebrasse. — Estou saindo, e
apesar da decisão abrupta que você tomou, acredite que agradeço a oportunidade de aprender mais
sobre minha capacidade de trabalhar e construir um bom projeto jornalístico em uma área que nunca
esperei.
— Então, receberei sua demissão com pesar. Mas, sério, moça, estou mais do que satisfeito
com o seu trabalho. Obrigado pela sua contribuição.
Colette poderia vir a desprezar alguém com intensidade, mas o ódio... O ódio era uma emoção
que nunca parecera tão real como naquele momento. Odiava Jake. Não apenas porque ele era um
covarde por não aceitar que também tinha sentimentos por ela, que compartilharam algo lindo juntos,
mas porque ele a traiu. Pediu-lhe sinceridade, e o tempo todo mentiu para ela. Foi ele quem assinou
os contratos profissionais. Ele havia assinado o da Oxigen California. Ele sabia que seria apenas por
três meses. Por que não foi capaz de dizer a ela?
Depois de tudo que contou a ele sobre sua família, seu passado, como que era importante para
ela a Oxigen California. Nada disso importava para Jake. Agora sabia. A traição doía tanto que
estava lutando para respirar. Jake havia arruinado seu coração, mas era como um tornado que varreu
tudo em seu caminho; também estava seguindo a carreira que começou a construir com tanta paixão
na rádio. Não iria perdoá-lo. Nunca.
Francis se levantou. Eles apertaram as mãos.
— De nada.
— A propósito — o empresário disse que quando Colette estava pronta para se retirar, —
Jake não vai estar na rádio hoje. Seu agente me escreveu para me lembrar do fim do contrato e, bem,
isso inclui deixar de ser um apresentador a partir de hoje.
Ela assentiu.
— Então fecharei com chave de ouro — respondeu com firmeza. — Vou apresentar o último
programa e, quando terminar, deixarei minha demissão sobre a mesa.

***

Demitir Gordon foi apenas a primeira ideia. A segunda foi tentar romper o contrato com a
Adidas como embaixador da marca em Amsterdã, Madri, Luxemburgo, Copenhague, Frankfurt, Roma
e Londres, para retornar imediatamente aos Estados Unidos. Nenhuma das opções era viável, ele
pensou enquanto olhava pela janela para a pista do aeroporto de Frankfurt, a primeira parada da
turnê pela qual seu agente havia negociado. Pior de tudo, ele não se lembrava de ter assinado.
— Não sei o que está acontecendo com você ultimamente, ou por que está tão bravo comigo
— Gordon disse, quando alegou arbitrariedade. — Você me disse para encontrar algo discreto para
você e foi àquela rádio. Você queria que eles não o amarrassem por mais de três meses, eu fiz isso
para você. E quanto à Adidas. Você assinou o contrato com eles há seis anos, você renovou há dois
anos, e você mesmo aceitou a cláusula de dar palestras a favor da saúde e do esporte, não precisava
de um contrato anexo, ou seja, automaticamente durante a vigência do contrato principal, você ia
comparecer aos eventos quando a Adidas o solicitou — explicou com um tom de voz lento. — E
aqueles milhares de dólares por dia que te pagam, também foram negociados. Quer que eu diga qual
é o valor da receita líquida diária para você?
— Não estou interessado em dinheiro. Adeus Gordon. Eu tenho que fazer as malas. — Ele
havia se despedido de seu agente. Tendo acordado segunda-feira de manhã com uma ressaca
monumental e descoberto mais tarde que teria que viajar naquela mesma noite para a Europa, ele não
teve tempo para nada, exceto ligar para sua mãe e Brad, para se despedir.
Afinal, estar longe da América era o que ele pensava que precisava ao deixar Colette. A ideia
era livrar-se daquela febre emocional que o consumia cada vez que pensava nela, a via... a tocava. A
vida estava dando a ele a oportunidade de colocar suas emoções em ordem e se esclarecer, e ele iria
aproveitar essas três semanas longe de seu país.
Depois de passar pela imigração e ser levado de limusine até o Europaeischer Hof Hotel
Europa em Frankfurt, que foi sua primeira parada, ele se preparou para dormir. Apesar de ser de
manhã na Europa, ele estava cansado da viagem e, além disso, dormia até tarde. No dia seguinte ele
começaria a dar palestras motivacionais para adolescentes sobre a importância do esporte, e ele
teria um descanso melhor.

15 dias depois.

Naquela noite, ele foi convidado para uma festa na casa do Embaixador dos Estados Unidos
em Amsterdã. Vestido com um smoking e conversando com um grupo de compatriotas, Jake curtia a
música ao vivo de um famoso pianista polonês, enquanto jantavam em uma bela sala com decoração
requintada. A comida deliciosa.
— Boa noite — cumprimentou de repente uma morena muito sexy vestida com um vestido
esmeralda elegante, mas sugestivo. Cabia nela como uma luva e marcava cada uma das curvas
exuberantes. Era, Jake notou, um — requintada. Vou receber uma boa reprimenda pelo atraso —
expresso em forma de desculpa com um sorriso a todos os que estavam à mesa, que por sua vez se
levantaram, enquanto ela se sentou no único lugar que, até então, ele permaneceu vazio. Junto com
Jake.
Ela olhou para ele com interesse educado.
— Jake Weston, certo? — Ele assentiu. — Meu pai me disse que você está passando por
nossa cidade adotiva. — Ele sorriu para Jake, quando os membros da mesa retomaram a conversa.
E que sorriso, ele pensou.
— Sim, esta é minha penúltima parada dentro do tour de palestras que estou dando pela
Europa — respondeu ele.
— Que interessante. Desculpe, não me apresentei, sou Jenna Morrison — estendeu a mão.
Jake apertou. — Hoje minhas maneiras deixaram muito a desejar, graças a Deus meu pai ainda não
me notou.
— Acho que seus modos são impecáveis.
— Obrigada ... — Ela sorriu sem esconder seu interesse nele.
O resto da noite, ele passou conversando com Jenna. Ele tinha 28 anos e era bacharel em
artes. Uma mulher muito interessante para conversar. No entanto, apesar do fato de que durante sua
estada na Europa ele conheceu várias mulheres deslumbrantes que o procuraram, seu corpo parecia
imune a elas. Na verdade, eles simplesmente não o interessavam. Ele sabia quem era a culpada por
isso.
Quando a noite terminou, depois de dançar algumas peças com a esposa do Embaixador
Morrison e também com sua filha, este perguntou-lhe se poderia acompanhá-la até o carro. Ele não
conseguia encontrar uma razão para não o fazer. Estava ciente de que Jenna tinha sutilmente insinuado
para ele que ela não se importaria em dormir com ele esta noite, e que estava livre de compromissos.
Assim que chegaram ao carro, o motorista abriu a porta para Jenna, esperando que ela
entrasse. Com um gesto sutil, ela o rejeitou. O funcionário sentou-se no banco do motorista e esperou
do lado de dentro.
— Jake — sussurrou em sua voz melódica, e colocando as mãos na lapela do smoking,
olhando para ele com olhos brilhantes e promissores, — você vai me mostrar aquela linda suíte do
hotel onde você está hospedado?
Nunca senti tanta ansiedade para voltar para casa como nos dias anteriores. Nem mesmo em
seus tempos competitivos nas quadras. Ele tentou fazer Gordon persuadir a equipe da Adidas a
modificar o contrato, mas não foi possível.
As noites na Europa eram um inferno. Não só porque sentia falta do corpo quente de Colette
ao seu lado, mas porque sentia falta da conversa dela, às vezes de seu humor cintilante, às vezes
azedo, da paixão com que ela falava de seus sonhos. Com Colie, a palavra senhorita tinha adquirido
um significado maior.
Uma tarde em Copenhague, após uma de suas palestras em um hotel famoso, ele foi dar um
passeio em uma praça central popular. Esteve prestes a levar um tapa de uma mulher. Estava
comprando uma cerveja quando a viu virar uma esquina. Achou que devia estar louco, mas tinha
certeza de que era Colette e, embora fosse uma ideia absurda, pôs a cerveja de lado e seguiu a
mulher, até que ela parou, e ele a pegou pelos ombros virando-a bruscamente. Ela gritou perguntando
o que havia de errado com ele, para parar de persegui-la e tocá-la ou ela iria gritar tão alto que
atrairia a atenção da polícia. Envergonhado e percebendo que obviamente não era Colie, ele se
sentiu ainda mais estúpido. Desculpou-se profusamente.
Essa experiência não foi a única. Havia também os aromas. Ele pensou que podia sentir o
cheiro dela em todos os lugares. Estava ficando louco e mal podia esperar para voltar para a
Califórnia. Essas experiências ridículas o levaram não apenas a aceitar que agia como um
verdadeiro idiota com Colette, mas que só precisava dela; nenhuma outra mulher importava. Ele a
amava profundamente, e a sensação que latejava dentro dele não o assustava mais. Na verdade, a
emoção de ser correspondido só foi ofuscada pela memória da expressão de Colette quando mentiu
para ela, dizendo que a noite deles, aquela última noite em sua cama, foi apenas uma aventura.
Desde Lauren, decidiu que o amor era apenas para idiotas. Mas a verdade é que só um idiota
não poderia reconhecer algo tão valioso para tê-lo diante de si. Como aconteceu com ele.
Ele estava com medo de voltar para a Califórnia e descobrir que Colette poderia estar
namorando outra pessoa. Inferno, mataria qualquer tolo que ousasse tocá-la. Ela era sua. E se ele não
conseguisse fazer com que ela o perdoasse ... Droga, ele não tinha ideia de como poderia lidar com
esse fato. Ligava várias vezes ao dia para Colette, mas caía direto na caixa de mensagens ou ligava
várias vezes sem obter resposta. A ansiedade era uma emoção desconhecida e não era bom
experimentá-la.
O toque do dedo de Jenna em seus lábios o tirou de suas reflexões.
Em outra circunstância, Jake a teria beijado, então a levado para sua suíte, sem pensar duas
vezes. Na verdade, nos primeiros dias em Frankfurt, ele ficou tentado a ir com uma linda garota
dinamarquesa. Aqueles foram os primeiros dias em que ainda acreditava, estupidamente, que se
afastar de Colette o faria esquecê-la e assim perceber que qualquer emoção por ela tinha a ver com a
amizade que eles haviam feito em meio ao desejo, mas nada relacionado amar. Ele rejeitou a mulher,
porque seu corpo parecia imune a ela... e a qualquer beleza que estivesse por perto. E a única pessoa
capaz de remediar o problema em sua vida estava a milhares de quilômetros de distância...
— Acho que foi uma ótima noite, Jenna, e sei que você deveria descansar — expressou com
sutileza. — Foi uma noite magnífica e a sua companhia, muito agradável.
— Você é um homem muito bonito, Jake. Se você rejeita uma mulher que obviamente quer
você quando está sozinho, em um país estranho, solteiro... — acariciou sua bochecha com os dedos
com suas unhas bem pintadas, — bem, talvez seja porque seu interesse já pertence a alguém — ela
sorriu sem se sentir ofendido com a rejeição. — Foi um prazer conhecê-lo e que afortunada ela é —
se afastou dele para entrar no carro caro.
Jake sorriu quando viu o carro sair. Ele não estava convencido de que Colette se sentia
sortuda por ter rejeitado várias mulheres bonitas durante o tempo em que estivera com ela na
Califórnia e agora, com ele, sozinho, na Europa.
Na verdade, ele teve sorte, pois era amado por uma mulher fantástica. Uma mulher que
certamente o odiava, e que havia levado a acreditar não era correspondida, machucando-a. Uma
mulher que ele estava disposto a recuperar a todo custo.
Jake não era fã de jogos de azar. Mas, agora, ele não se importaria de apostar tudo o que tinha
apenas para conseguir a única coisa em que estava interessado: que Colette o perdoasse e lhe desse
uma chance de voltar para a vida dela.
Ele mal podia esperar para entrar naquele maldito avião.
CAPÍTULO 23

Dois meses depois.

Ela finalmente aceitou o convite de suas irmãs para Nova York. Mas não queria ficar em
nenhuma das duas coberturas que Lizzie e Moira lhe ofereceram. Em troca, aceitou as chaves da casa
de praia nos Hamptons. A brisa do mar, embora fria, era bem-vinda. E ela se sentiu um pouco mais
relaxada desde que deixou a Califórnia, oito semanas atrás.
Após o cancelamento do programa, a mídia especulou sobre a saída abrupta de Jake do ar. Ela
foi mencionada em algumas linhas, mas nada importante. Afinal, não era a voz oficial do programa.
Como Francis garantiu, a agência de relações públicas era perfeita. Vinte e quatro horas
depois de saber que o Oxigen California havia deixado de existir, o interesse se voltou para várias
celebridades, cujos vídeos e fotos íntimas haviam vazado nas redes sociais por hackers. Um
programa de rádio, com apenas alguns meses no ar, não importa o quão bem-sucedido possa ter sido,
nunca poderia ser comparado a uma notícia que tinha sexo por conteúdo e que venderia centenas de
manchetes.
Despedir-se de Kate não foi fácil, muito menos tomar a decisão de deixar Santa Monica. Mas
com todas as mensagens de voz de Jake da Europa, com a promessa de que ele iria procurá-la assim
que voltasse para a América do Norte, ela finalmente se convenceu de que colocar distância era do
melhor interesse dela. Talvez ele quisesse se desculpar, mas isso poderia ser feito com outra
mensagem de voz. Ou não?
Ver Jake novamente não iria ajudá-la em nada. Ao contrário. Esquecer dele não seria uma
tarefa fácil... nunca. E não apenas porque o ódio aparente que sentia por Jake, desde aquela noite,
havia quase desaparecido, mas porque agora...
— Colette, você está em casa? — a voz de Paula, sua vizinha, interrompeu seus pensamentos.
Paula era uma mulher muito gentil na casa dos setenta que havia prometido ensiná-la a fazer
uma torta de maçã. Não que ela gostasse de cozinhar, mas não parecia uma má ideia incluir a
gastronomia em seus conhecimentos. Por outro lado, Paula a recebeu com entusiasmo quando ela se
mudou há dois meses. Não queria ser uma chata.
— Sim, sim — expressou em voz alta, enquanto caminhava em direção à entrada da casa. —
Olá! — cumprimentou a vizinha com um abraço após abrir a porta.
— Querida, a paisagem é sempre estupenda apesar do frio. Eu disse a Fred, o jardineiro, para
abrir uma espreguiçadeira e me trazer chocolate quente para a praia. Você gostaria de me
acompanhar? Meu marido foi jogar golfe, você conhece Burk.
Colie sorriu.
— Sim. Um homem muito gentil, sem dúvida — disse com um toque de saudade na voz.
— Verá que logo encontrará o homem ideal para você. E quando o seu coração souber disso,
não permitirá que ninguém mais se arraste para dentro — expressou ela, alheia à melancolia que
Colette sentia em seu peito.
— Vou me juntar o seu chocolate, Paula. Agora tenho que terminar de escrever mais um
capítulo do romance, só me faltam duas páginas, antes que o detetive seja atacado na rua mais
popular de Chicago.
Paula Davers ergueu as sobrancelhas de surpresa, como se tivesse esquecido algo muito
importante.
— Você tem que me deixar ler o manuscrito! — expressou com entusiasmo. — Eu amo
romances policiais. Ah! E também gostei muito daquele artigo que você publicou outro dia no
semanário Trendy.
Colette descobrira que adorava escrever romances policiais. Na verdade, realmente gostou de
fazer pesquisas para dar credibilidade às situações, personagens e cenários. O contato com Fredrick
Henkins, um amigo jornalista de Nova York que por sua vez trabalhava na seção de ocorrências e
crime, ajudou-a com dados e informações. Fredrick também forneceu acesso a oficiais de alto e
baixo escalão da polícia, corpo de bombeiros ou qualquer outra entidade que servisse aos seus
propósitos, que às vezes entendiam a necessidade de alguns escritores fazerem perguntas para seus
livros.
Por outro lado, já tinha uma editora interessada e havia recebido um adiantamento financeiro
interessante. Assim, ela combinou seu tempo como escritora literária com artigos que escreveu para
a Trendy, uma revista que publicava reportagens sobre importantes questões sociais. O editor ficou
encantado com ela quando veio para a entrevista. Eles o pagaram muito bem por sua entrega
quinzenal, para a qual devia entregar várias entrevistas e passar um tempo pesquisando. Poderia
dizer que teve a sorte de fazer duas coisas pelas quais era apaixonado: escrever romances e trabalhar
em reportagens de jornais.
Sua vida mudara muito e, embora não planejasse morar em Nova York indefinidamente, queria
ficar mais um pouco...
— Obrigada, Paula. E sobre o manuscrito, já sabe que tem a prioridade— piscou. E a mulher
de olhos verdes saiu feliz em organizar a tarde.
Antes de ir para a praia, Colie ansiava por um mergulho.
Nua, na frente do espelho, ela percebeu como seu corpo havia mudado. “Dois meses e meio”.
Colocou a mão na barriga ligeiramente inchada. Seu bebê era a razão pela qual ela não podia odiar
Jake. Não tinha sido apenas sexo. Nunca foi apenas isso, embora a princípio quisesse acreditar com
todas as suas forças. Aquele bebê, que nenhum dos dois esperava, foi criado com amor e entrega.
Jake nunca parou de usar proteção quando estavam juntos. Então presumiu que a gravidez dela
pertencia àquela porcentagem mínima em que o preservativo falhava. Em algum momento teria
rompido... Nenhum dos dois havia notado de qualquer maneira. Quando estavam juntos, o mundo
parecia parar de girar e eram apenas eles; não havia espaço para mais nada... E a verdade é que,
mesmo que Jake soubesse, tinha certeza de que ele se ofereceria para ficar com ela só por causa do
bebê, e não porque a queria. Essa perspectiva parecia ridícula e inaceitável. Não iria se condenar a
um casamento sem amor, ou sujeitar seu filho a constantes brigas e recriminações. Impossível.
Se virou um pouco para de lado em frente ao espelho. Seus seios também estavam
ligeiramente inchados. Ela os tocou. Sensível, sem dúvida. Baixou as mãos. Às vezes, apenas o toque
do tecido do sutiã a fazia estremecer. Seus hormônios também costumavam pregar peças. Algumas
noites ela acordava com saudades das carícias de Jake, seus beijos, seu sexo dentro dela. Então, era
impossível dormir. Insultá-lo no silêncio da noite, com as ondas quebrando contra a costa ao longe,
era a única maneira de deixá-lo saber o quanto a machucou... mesmo que ele não pudesse ouvi-la.
Ela soube de sua gravidez um dia antes de Kate se mudar para Lake Tahoe e decidiu voar para
Nova York. Sua amiga ficou frenética e praticamente exigiu que ela atendesse as ligações de Jake e
contasse sobre isso. Não estava convencida. Em vez disso, fez Kate prometer manter seu segredo, até
que ela se sentisse pronta para contar a Jake. Por mais desonesto que fosse, ele merecia saber que
seria pai. Depois de saber como a falsa gravidez de Lauren o afetou, ela se sentiu ainda mais
motivada para fazê-lo. Nesse caso, era seu filho, na verdade, e era mais do que justo que ele
soubesse.
Pensar em como isso poderia afetar Jake, se um dia ele descobrisse que tiveram um filho, ou
uma filha, e que escondeu isso dele, parecia mais importante do que o fato de como ela poderia se
sentir, se Jake deveriam acusá-la de que não era seu filho... porque isso seria possível, dado o nível
de desconfiança que ele nutria pelas mulheres. Talvez ela não o odiasse mais. E talvez nunca tenha
realmente feito. Apenas continuar pensando em como ele se sentiria, quando nem deveria se importar,
era uma indicação clara de que não havia ódio. No entanto, dentro de si mesmo, havia um grande
ressentimento.
A fúria não se foi. Sem dúvida. Ela não sabia como iria reagir no dia em que o visse
novamente, porque não se sentia forte o suficiente para isso. Tampouco conseguia imaginar como
reagiria ao saber que seria pai, considerando sua experiência com a ex-noiva.
Mas agora ela tinha outra pessoa em quem pensar, não era mais apenas sobre suas emoções. O
passado não iria devolver suas ilusões, ou seu amor, então tudo que restava era olhar para frente.
Talvez um dia ela pudesse esquecer que ainda amava Jake e encontrar o amor com outra pessoa.
***
O olhar afiado de Kate Blansky o analisou com uma carranca. A garota era teimosa como uma
mula e não era influenciada tão facilmente. Ela o chantageou conseguindo ingressos para toda a
temporada de tênis nos torneios dos Estados Unidos pelo resto do ano, com passes VIP, é claro, em
troca de confessar onde poderia encontrá-la para falar pessoalmente. Então agora Jake estava
sentado em uma grande sala com confortáveis assentos entalhados e uma lareira acesa, bem como
uma vista deslumbrante do Lago Tahoe. Gordon dera a ele o número do celular da melhor amiga de
Colette, mas não era eficiente o suficiente para encontrar sua localização geográfica.
Assim que voltou de sua viagem pela Europa, foi ao apartamento de Colette com o coração
acelerado. Em vez de Colie, ao abrir a porta, ele foi saudado por um jovem casal, que o informou
que haviam se mudado recentemente e que desconheciam o paradeiro dos anteriores inquilinos.
Daquele dia em diante, Jake viveu com tanto mau humor que nem ele se aguentava. Ele até
considerou ir procurá-la no Condado de Orange, mas percebeu que Colette não havia retomado
totalmente as relações com sua família.
Portanto, a única pessoa que, logicamente, poderia saber o paradeiro de Colie era sua melhor
amiga, Kate Blansky. Uma mulherzinha fofoqueira, obstinada e teimosa. Quando atendeu ao primeiro
telefonema e se identificou, Kate fez um pequeno discurso consistente sobre como ele poderia morrer
pelo que fizera a Colie. Então o tom de censura diminuiu, não porque Kate se acalmou, mas porque
desligou o telefone na cara dele. Entrar em contato com ela exigiu várias outras tentativas, até que no
meio da conversa surgiu a sugestão de que ingressos para o circuito de tênis nos Estados Unidos
seriam bem-vindos para convencê-la a dizer onde ele poderia encontrá-la pessoalmente.
Então era isso. Mal-humorado. Chantageado, mas principalmente frustrado por não conseguir
falar com Colette, até que a pequena mulher à sua frente se dignou a informá-lo do paradeiro de
Colie.
— Você já tem as malditas autorizações para passes, Kate — respondeu apontando para uma
carta autorizada e o número de contato de Gordon, para que quando quisesse pegar um passe VIP
para um torneio, entretenimento ou qualquer outra coisa, seu agente o conseguiria sem problemas.
Ela sorriu e cruzou os braços.
— Eram os passes em troca de nos vermos pessoalmente. Estamos aqui. Você fez a sua parte e
eu fiz a minha.
Jake passou a mão pelo rosto, tentando controlar seu mau humor. Mal dormiu e essa mulher
tinha a coragem de brincar com ele. Se as circunstâncias fossem diferentes, nunca teria permitido,
mas como Kate era sua maneira de chegar até Colie, não tinha escolha a não ser tolerá-la.
— Fiz uma longa viagem aqui, fiz minha parte e agora quero saber — levantou, — qual é a
porra do endereço de Colette Kessler em Nova York?
— Dizer que estava na Costa Oeste também foi um acréscimo, ok...
— Não exagere, mocinha! — praticamente gritou, interrompendo-a.
Kate fechou a boca. Ia fazer uma crítica contundente, mas a verdade é que estava brincando
por quase dois meses. Foi seu castigo pessoal por ter feito Colie sofrer. Mas sim, o homem estava
evidentemente desesperado. E a verdade é que gostava de finais felizes. Embora ela não tivesse
certeza de que Colie o perdoaria, decidiu tirar a incerteza de Jake.
— Ele está na casa de uma das irmãs nos Hamptons — escreveu em um papel meio usado, o
endereço que sabia de cor, — acho que se quisesse falar com você, teria atendido o telefone nas
inúmeras vezes você ligou...
Jake o papel e o guardou como se fosse uma folha de ouro e temesse perdê-lo.
— Eu sei. Ela tem todo o direito de estar com raiva de mim. Mas vou tentar fazê-la mudar de
ideia — expressou com convicção.
Kate queria que sua amiga fosse feliz, com ou sem Jake. Por outro lado, ela não considerava
justo que ele ignorasse o fato de que seria pai, e, por isso, concordou em vê-lo. A coisa da chantagem
era mais divertida. Não era a ligação para lhe contar que Colette estava esperando um bebê, embora
ela tentasse de várias maneiras fazer sua amiga confessar isso a Jake, em vez de se refugiar em outro
estado.
— E o que você acha que seria atraente o suficiente para ela? Esta é a segunda vez que você a
decepciona e a machuca...
Ele a olhou, antes de se dirigir à saída.
— Amor, Kate.
— Boa sorte... — respondeu quando a porta se fechou atrás de Jake.

***
Já estava escuro. Olhou para o relógio em sua mesa de cabeceira. Onze horas. Se virava na
cama sem conseguir dormir. Relutantemente, se sentou e saiu de debaixo das cobertas para ir até a
janela saliente com vista para o mar. Quase não conseguia ver nada e, mesmo sabendo que a
temperatura havia caído consideravelmente, abriu a porta corrediça. Imediatamente, o ar frio a
atingiu. Geralmente não dormia agasalhada. Estava vestindo shorts de seda cinza e um top sem alças
combinando. O aquecimento estava perfeito, então podia andar com suas roupas habituais sem se
incomodar com o frio. Mas abrir a porta de correr era outro assunto.
Seus mamilos se endureceram e ela cruzou os braços, abraçando a si mesma. Estava tentando
ser forte, pensou, olhando para o infinito. O desgosto doía muito, era quase como uma arma letal.
Naquela tarde, antes de se encontrar com Paula, havia saído para comprar quinquilharias nas
redondezas. Ver vários casais na rua, abraçando-se, causou-lhe uma inveja imprópria do seu caráter.
Ela voltou para casa um pouco desanimada, mas tomou chocolate na praia com Paula, e a conversa
da amiga, com suas histórias e experiências de mãe, a fez se sentir melhor. Ela não tinha contado
sobre sua gravidez ainda. Na verdade, a única pessoa ciente de sua condição era Kate.
Com um suspiro, contemplou como a lua cheia iluminava o céu e, ao lado dela, uma estrela
brilhava. Ela colocou as mãos na barriga e imaginou como seu bebê seria quando nascesse. Com
quem se pareceria? Estava morrendo de vontade de alugar um apartamento para decorar o quarto,
uma vez que soubesse se teria um menino ou uma menina.
Estava pronta para mergulhar em outro pensamento quando a campainha tocou.
Ela saiu da varanda, vestiu um robe por cima do pijama e desceu as escadas de madeira,
descalça. Acontecera alguma coisa com Paula ou com o Sr. Davers? Não havia mais vizinhos por
perto que vivessem em tempo integral nos Hamptons, já que costumava ser uma área de férias, em
vez de moradia.
Sem pensar duas vezes, abriu a porta.
— Aconteceu alguma coisa...?
Não foi capaz de responder à pergunta. Não era a Sra. Davers, nem seu marido, mas a última
pessoa que ela esperava ver em muito tempo.
— Oi, Colie — Jake cumprimentou com um sorriso hesitante.
Foi esse tom de voz, seus hormônios e o ressentimento que levou sua mão direita a se levantar
e dar um tapa no rosto de Jake. O som ecoou no silêncio. Ela esperou que ele reagisse de alguma
forma, a insultasse ou agarrasse seus pulsos, reclamando-a pelo que tinha feito.
Jake a olhou, mas não fez nada que ela esperava. Aqueles olhos cinza queimaram, mas não era
raiva. O que diabos era então?
— Suponho que sejam as boas-vindas que mereço — respondeu sem tocar na bochecha, onde
os dedos femininos estavam ligeiramente marcados.
Colette percebeu que o rosto masculino havia perdido um pouco de peso e havia olheiras sob
seus olhos. Ele ainda era devastadoramente atraente, mas o cansaço era evidente. O que ele esteve
fazendo todo esse tempo?
— Isso é pouco comparado ao que penso de você — respondeu, olhando para ele com
desconfiança da porta. A luz do corredor era a única luz, mas não a impediu de ver Jake
perfeitamente.
Nem ele, a ela.
“Está linda”, Jake pensou, querendo trazê-la para mais perto, enterrar os dedos em seu cabelo
macio e beijá-la até que sua sede fosse saciada. Mas antes tinha muito a dizer e se desculpar. Esse
tapa foi pequeno em comparação com a dor que ele infligiu a ela. Ele nem mesmo estava
considerando reivindicar nada dela... Inferno, o quanto ele tinha sentido falta dela!
— Percorri um longo caminho de Lake Tahoe e agora estou com muito frio, você pode me
convidar para uma bebida? — perguntou suavemente.
Ela franziu o cenho.
— Você já foi à casa da Kate? — perguntou surpresa. Ela cruzou os braços para que ele não
percebesse como suas mãos tremiam de desejo que tinha de estender a mão e acariciar sua bochecha
onde o havia atingido. Mais uma vez, seu lado impulsivo estava aparecendo como a única pessoa
capaz de ativá-lo. Se perguntou se Kate tinha contado sobre sua gravidez e se era por isso que ele
estava nos Hamptons.
Ele assentiu.
— Depois de conseguir passes para as temporadas de tênis por um ano, finalmente me disse
onde eu poderia encontrá-la para falar pessoalmente. Levei quase dois meses para chegar até você.
Você não estava respondendo às mensagens, às ligações... — lançou um olhar pesaroso, — gostaria
de falar com você... Por favor, me escute.
Ela o olhou por um longo tempo. Suas pernas tremiam e seu coração batia forte como se ela
tivesse corrido uma maratona. Queria dizer para ele ir embora, que doía vê-lo, mas em vez disso se
ouviu dizendo outra coisa:
— Não temos o que conversar, mas está esfriando e vou fazer um café para você possa ir
embora.
“Pelo menos o café será uma desculpa”, Jake pensou, aliviado.
Colette ficou muito tempo na cozinha. Ainda sentia o choque de vê-lo. Era impossível, pelo
menos para ela, não notar a expressão insegura nele. Isso não tinha nenhuma relação com a natureza
presunçosa que Jake costumava ter.
Pensou em ligar para Kate naquele momento e perguntar se ela havia contado a Jake sobre sua
gravidez. E incidentalmente a repreendeu por chantageá-lo. Sua amiga era impossível, mas ela a
adorava.
Ao ligar a cafeteira, pensou que se Jake soubesse de sua gravidez, teria sido o primeiro tópico
a mencionar no momento em que a viu. E ele não tinha feito isso. Passou mais alguns minutos em
silêncio, enquanto os movimentos de Jake na sala de estar chegavam até ela. Estava acendendo a
lareira a julgar pelo cheiro de madeira queimada.
Com um suspiro, pegou a bandeja e saiu da cozinha. Felizmente, teve a cabeça boa para
colocar o robe vermelho grosso antes de descer para abrir a porta. Não apenas a aquecia, mas a
protegia em seu pijama leve diante de Jake.
Ele estava olhando as fotos na beira da lareira quando a ouviu colocar a bandeja junto com a
cafeteira. Ele se virou e silenciosamente foi pegar uma xícara e vários sachês de açúcar, antes de se
acomodar em uma das poltronas brancas da sala de estar. A casa era aconchegante, elegantemente
decorada, mas não pretensiosa.
Colette sentou-se bem em frente a ele.
A mensagem era clara, Jake notou. Ela não queria que a tocasse, e sua proximidade a deixava
desconfortável. Não sabia o quanto ele precisava dela. Seu tempo longe dela, vinculado por um
contrato, foi uma tortura. Seus dedos queimaram de acariciar seu rosto e traçar suas feições
novamente. Ele tinha que falar, se abrir e se desculpar.
Jake tomou um gole de café antes de se recostar nas costas acolchoadas. Cerrou os punhos,
frustrado, porque queria beijá-la até conseguir derreter a máscara de gelo em que a expressão de
Colette havia se tornado.
Ele olhou para ela. No silêncio da noite, ela fez o mesmo.
— Quis te falar sobre o contrato da rádio — começou quebrando o silêncio, — mas adiei e
adiei o assunto, até simplesmente me esquecer.
Ela bufou.
— Uau, que conveniente — ela respondeu sarcasticamente. — Você arruinou uma grande
oportunidade para mim. Me deixou na mão, e eu tive que enfrentar a tempestade. Eu perdi meu
emprego. Não adiantava ficar... Você acabou destruindo tudo em seu caminho, Jake — se levantou. —
Agora é melhor você ir. Não é bem-vindo e já tomou seu café.
Jake não poderia sair sem deixar tudo claro primeiro.
— Colie... desculpe. Sinto muito — disse com voz ansiosa, levantando-se também. Ele se
sentia como um verme. — Depois daquela noite em minha casa — avançou para ela, — fui para
minha mansão em Bel Air.
— Não estou interessada, quero que vá — expressou.
— Fiquei bêbado como há muito tempo que não ficava, me senti muito mal com o te disse, mas
fiquei confuso, oprimido, dominado pelas minhas emoções — continuou como se ela não tivesse dito
nada. Se aproximou e Colette recuou automaticamente. Jake estendeu as mãos, colocou-as
suavemente sobre os ombros dela e a olhou: — Apenas me escute, querida. É tudo o que peço.
Colette se soltou, “Querida? Ha!”
— Assim como você me ouviu? — soltou uma risada entrecortada e amarga.
— Eu fui um idiota e um covarde. Você é corajosa, e é por isso que te admiro...
— Não quero nada de você, nem sua admiração, nem seu arrependimento, nada. Me ouviu?
Nada! — exclamou olhando para ele com dor.
Não era a expressão que ele gostaria de ver em Colette, mas pelo menos não havia mais gelo
em seu olhar. Ela estava começando a deixar escapar tudo o que sentia por ele. Talvez a partir daí
pudesse convencê-la a lhe dar uma chance. Uma chance única de se redimir.
— Por favor... — ele sussurrou em voz baixa.
— Por que eu deveria te dar uma chance de explicar, se você nem mesmo me deu? Por quê?
— perguntou erguendo o queixo, orgulhosa.
Estavam tão perto que se ela recuasse um pouco mais, ficaria colada na parede e não teria
como sair se quisesse fugir dele. A presença de Jake era abrangente e seu corpo traiçoeiro
respondeu. Seus seios estavam pesados, seus mamilos tensos contra o tecido de seu pijama e robe,
sua pele queimando como se reconhecesse a única pessoa capaz de saciar aquela necessidade que a
invadia à noite. O crepitar do fogo enviou raios de luz ao redor. Raios de luz que criavam sombras e
provocavam uma sensação de intimidade que ela não queria sentir. Desejava que ele a tomasse nos
braços e a abraçasse com força; mas também o queria longe, porque com Jake ela não conseguia se
controlar.
— Porque estou apaixonado por você — confessou. Ele tinha pensado em se explicar e depois
em pedi-la em casamento, mas as perspectivas eram mais hostis do que ele pensava. — Essa é a
razão.
Ela se sentia como se estivesse com falta de ar. Estava atordoada, olhando para ele, incrédula.
— O que você disse?
— Estou apaixonado por você. Mais do que isso, eu te amo. Esse tipo de amor que atravessa a
barreira do tempo e que cresce a cada dia. O tipo de amor que te fortalece. Tenho sido um completo
idiota — sussurrou, ao ver os olhos de Colette brilharem com um misto de descrença e angústia. O
terror de que ela não o amava mais o dominou de repente, mas o empurrou de lado. Ele tinha amor
suficiente pelos dois e faria qualquer coisa para que Colie repetisse aquelas palavras maravilhosas
que ele estupidamente desprezava. — Você não sabe o quanto eu sinto. Sinto muito ter te machucado,
e eu disse que o que aconteceu naquela noite entre nós dois foi apenas uma aventura. Nunca foi.
Nunca com você, embora a princípio quisesse manter esse pensamento.
Jake segurou o rosto dela com as mãos. Ela respirou fundo.
— Não sei o que te dizer, Jake... — pegou as mãos e puxou-as para longe de seu rosto. Ele
soltou, mas não recuou. — Foram semanas difíceis.
— Meu amor, tenho ligado para você todos os dias. Eu não poderia quebrar o contrato que eu
tinha na Europa sem enfrentar um processo de inadimplência no tribunal... Quando eu finalmente
coloquei os pés na Califórnia, quase surtei quando não pude encontrar você em lugar nenhum. Meu
agente conseguiu o número da sua amiga e tudo que me disse foi que você estava em Nova York.
Ninguém sabia de nada… Acho que foram as piores semanas da minha vida, sem você.
— Você me machucou, Jake. Muito... — disse com a voz trêmula.
Estendeu a mão e enxugou uma lágrima que escapou de seus olhos verde azulados. Colette deu
um passo para trás.
— Lamento todos os dias. Achei que, ao me afastar de você, mudaria de ideia sobre meus
sentimentos, porque acreditava que estava errado sobre eles. Quando percebi que te amava, meu
mundo virou de cabeça para baixo. Nunca senti por ninguém o que sinto por você. Nem mesmo perto.
E isso não é fácil de assimilar para um homem que não acreditava no amor... — Quando percebeu
que ela ia protestar, se apressou em continuar. — A viagem à Europa era iminente, e mal tive tempo
de dizer adeus a minha mãe e meu sobrinho. Quando te liguei, caía direto na caixa postal... —
suspirou, — me consolava com o passar dos dias, pelo menos ouvindo sua voz no gravador. Durante
minha viagem, conheci muitas mulheres bonitas. Não... não se afaste, não vim te dizer que tive um
caso, não sou tão estupido de pensar em outra quando te amo. O que quero dizer é que nenhuma delas
me interessou, porque nenhuma era você.
As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Colette, mas ela não disse nada. Estava apenas
olhando para ele, como se tentando verificar se não estava mentindo. Então foi se sentar. Apoiou os
cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto. Jake se agachou na frente dela. Ele precisava mostrar que
estava disposto a fazer qualquer coisa por ela, que não havia orgulho quando o amor estava
envolvido.
— Colie, é tarde para a reconquistar? — perguntou em um tom de voz estrangulado, que ela
nunca tinha ouvido de Jake. E seus lindos olhos cinzentos, aqueles olhos que ela tanto adorava,
tinham um toque inconfundível de dor.
Ela abaixou as mãos, e sem se importar com a umidade em seus olhos e bochechas, olhou para
ele com todo o amor e também com a tristeza que carregava consigo nessas semanas.
— Eu não sei Jake... você vai ter que se esforçar mais para eu responder a essa pergunta... —
Ele lentamente liberou o ar que estava segurando. Foi como se um raio de sol o tivesse pego no meio
da escuridão quando a ouviu. Não o estava rejeitando, mas também não estava o aceitando. Sabia que
inclinar a balança em direção a uma oportunidade para os dois dependia inteiramente dele; estava
mais do que disposto a isso. — Doeu-me que, apesar de ter aprendido sobre minha família, minhas
desilusões e também meus medos, você não tivesse mantido a confiança que eu depositava em você,
e que me tratou como...
— Eu sei, amor. Eu sei, e você não sabe como me arrependi de ter te machucado... — ele se
levantou, pegou-a pelas mãos para colocá-la em pé —. Colie, querida, me dê uma chance e eu
prometo que não vou estragar. Não dessa vez.
Ela se sentia vulnerável. Precisava assimilar o que ele disse, mas ela não podia fazer isso
quando estava ao seu lado; sua proximidade a desconcentrava. Ele não era confiável, mas ao mesmo
tempo, o queria fervorosamente.
Era pouco depois da meia-noite.
— Você sabe? Preciso descansar. Tive um dia difícil hoje — mentiu— então prefiro
conversarmos outro dia.
— Colie... — ele murmurou se aproximando. Ela o deteve.
— Não me pressione. Deixe-me... deixe-me assimilar, e não sei se talvez tenha tempo para vê-
lo amanhã. Talvez você vá e volte para Santa Monica, ou qualquer lugar...
Olhou para ela com determinação.
— Esqueça. Você não vai me fazer desistir. Eu já disse que te amo e isso implica fazer você
acreditar, mesmo que eu tenha que vir e passar os próximos dias montando guarda do lado de fora da
sua porta até que você queira falar comigo novamente, e me diga se você está disposta a me dar uma
chance de te recuperar. E mesmo que você não queira me dar, lutarei por você até convencê-la de que
sou sincero.
Deus, quando ele falava assim...
— Até logo, Jake — disse em resposta ao discurso apaixonado.
Ele apertou a mandíbula. Pressioná-la não resultaria em nada. Mas pelo menos já deixou claro
que estava pronto para tudo. E para tudo, incluía persegui-la dia e noite se fosse necessário
convencê-la de que eles eram melhores juntos.
— Você não vai se livrar de mim tão facilmente — afirmou antes de sair.
Colette ficou olhando para a porta por um longo tempo, mesmo depois de ouvir o carro de
Jake se afastando. Em seguida, subiu para o quarto e, pela primeira vez em semanas, conseguiu
dormir profundamente.
CAPÍTULO 24

Colette esperava que talvez Jake aparecesse pela manhã. Então ela se levantou, tomou um
longo banho e se arrumou o melhor que pôde. Se sentia uma idiota ao ficar bonita para ele quando
disse que queria pensar um pouco sobre isso. E se ele tivesse voltado para a Califórnia? Descartou
aquela pergunta sem sentido, porque se ele decidisse ir embora, então só faltava pensar que a
confissão da noite anterior era apenas uma mentira para tentar levá-la para a cama. Ou não?
Chegou o meio-dia e o sentimento de decepção tomou conta dela completamente.
Relutantemente, ajustou o vestido que marcava cada uma de suas curvas. Exceto o mais importante,
pois o estilo do corte foi ajustado até a parte inferior dos seios e começava a se estender até acima
dos joelhos. Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e decidiu ligar para Fredrick. Precisava
descobrir como uma arma poderia ser limpa adequadamente. Seu detetive, além de solucionar um
crime, teve que cometer um assassinato necessário. Ou assim ela pensou enquanto a raiva por ter
acreditado em Jake crescia.
Combinou de encontrar seu amigo em um café próximo. Fredrick tinha quase trinta anos, mas
estava em excelentes condições físicas. Na verdade, ele às vezes costumava dizer o que jovens
jornalistas faziam para tentar conectá-lo, desde que ele os ensinasse bem como desvendar postos-
chave em entrevistas para artigos diários. Ele era casado e sua ascendência húngara, por parte de
mãe, dava-lhe um ar aristocrático irresistível. Mas não para ela, porque aparentemente suas pupilas
se recusaram a aceitar como atraente outro espécime masculino diferente do cretino Jake Weston.
— Achei que você não viria — Fredrick expressou dando um abraço nela. — O policial
Robert Tisdale me disse que aceitará suas perguntas. Ele é um policial aposentado, mas não passou
um minuto desde sua aposentadoria, longe de tudo que envolve esse mundo do crime organizado.
Ela assentiu.
— Desculpe pelo atraso, Fredrick, obrigado por esperar por mim.
— Uma mulher bonita é sempre um prazer atendê-la. — Colette sorriu. — Além disso, vir aos
Hamptons por um tempo é bom para mim depois de tanta loucura no centro de Nova York — ele
respondeu chamando o garçom. — Hoje você não tem essa expectativa específica em seus olhos.
Acontece alguma coisa? Os personagens estão estagnados?
“Se você soubesse”.
— Parte disso existe. Como está tua esposa?
Eles continuaram conversando por quase uma hora. Colette ficou fascinada com as
experiências jornalísticas de Frederick, e ele ficou feliz em poder falar sobre seu trabalho, já que sua
esposa, Sophie, já conhecia suas viagens do início ao fim. Ele era um jornalista relativamente jovem
e muito bem-sucedido e esperava que logo Sophie lhe proporcionasse uma alegria tão esperada: ser
pai.
Colie relaxou e conseguiu conversar livremente com o amigo, até que sentiu seus dedos lhe
pedirem para escrever. Sinal inequívoco de que era hora de se retirar. Ligaria para o oficial
aposentado Tisdale o mais rápido possível.
Como não poderia ser diferente, Fredrick se ofereceu para acompanhá-la até sua casa. Ela
aceitou. Ao longo do caminho, começou a contar a ela sobre os tratamentos de fertilidade que ele e
Sophie haviam feito, e seu desejo de que o último finalmente funcionasse. Colie lhe desejou boa
sorte de todo o coração e concordaram em telefonar dentro de alguns dias, caso ela precisasse de
mais informações. Eles se despediram com um abraço efusivo.
Com um ânimo melhor, Colie abriu a porta. Foi para a sala de jantar e deixou as chaves do
carro de sua irmã Lizzie sobre a mesa. Não apenas lhe emprestaram a casa, mas também lhe
disponibilizaram um motorista, carro e despesas pagas. Tudo que ela queria. Mas Colie aceitou o
carro e a casa. O que a ajudava o suficiente. Não queria abusar da generosidade de suas irmãs.
Pegou seu bloco de notas da estante, uma caneta e se dirigiu para seu quarto.
— Você se divertiu?
Ela estremeceu e se virou.
Jake estava na porta da sala de estar. Ele usava um blusão azul, seu cabelo estava levemente
desgrenhado e parecia tão alto, tão perigoso. Seus olhos pareciam cheios de sombras e a observavam
como um falcão observando sua presa.
— Como...?
— Acho que não ficou claro o suficiente o que eu disse ontem à noite.
Colette desceu os dois degraus que avançou. Caminhou em direção a ele, mas manteve uma
distância segura. Ou assim ela pensou, quando o cheiro de perfume masculino alcançou seu nariz e
percorreu seus sentidos.
— Minha porta estava fechada — ela respondeu nervosa.
— Paula é uma vizinha muito simpática e uma romântica incurável. Me disse para não me
preocupar em esperar você do lado de fora no carro, para entrar porque o portão do jardim estava
aberto. Fico feliz que você tenha uma vizinha tão falante. — Sorriu e foi até Colie. Estavam muito
próximos. — Eu insisto. O que eu disse ontem à noite não foi claro o suficiente?
Ela mordeu o lábio. Engoliu em seco.
— Eu...
— Você achou que eu não voltaria? Que eu estava indo embora só porque não me deixou
passar a noite aqui, ou tocá-la, ou beijá-la, ou fazer amor com você como eu tanto quero?
— Jake...
Ele não se moveu, mas não precisava, porque Colie sentiu sua presença a abraçando. Era
impressionante a maneira como ele a enfurecia ou a anestesiava completamente, impedindo-a de se
lembrar se estava ou não zangada com ele.
— Você está interessada em outro? — perguntou com raiva. Ver aquele homem abraçando-a
quase o deixa louco. — É por isso que você demorou tanto na noite passada para me dizer se estava
ou não me dando outra chance? É aquele que te acompanhou?
— Ele é apenas um amigo. Ele é casado e está apenas me ajudando a pesquisar coisas para um
romance policial que comecei a escrever — replicou. Por que estava explicando?
Isso pareceu acalmá-lo. Deu mais um passo, e ela teve que erguer o rosto para olhar para ele.
— Ontem viajei quase o dia todo. Estava exausto e acordei muito tarde.
— Eu não...
Ele colocou o dedo sob o queixo dela e acariciou seu lábio inferior com o polegar, ativando
todos os seus nervos.
— Você estava esperando por mim e como eu não cheguei cedo, achou que eu menti para você
ontem à noite?
“Agora você lê mentes?”
— Eu tinha coisas para fazer e a verdade é que não esperava vê-lo tão cedo. Achei que
demoraria alguns dias. Ou não sei... — olhou para ele desamparadamente. — Eu não sei o que
esperar. E, honestamente, não quero criar expectativas. Eu disse que preciso de tempo.
— Aceitar que eu te amo ou repensar se você continua a me amar ou não?
Ela respirou fundo.
— Tenho que escrever... — disse, afastando-se. Uma desculpa bastante pobre, já que a
vontade de escrever havia desaparecido assim que o viu. — Eu lhe ofereceria algo para comer,
mas...
— Vamos dar um passeio na praia. Respirar ar iodado sempre vem a calhar, além disso, sinto
falta de correr de manhã como costumo fazer em Santa Monica — sugeriu. O vestido a fazia parecer
mais jovem do que realmente era, e com o rabo de cavalo, ele poderia apreciar olhar para o pescoço
de pele macia que segurava seu perfume. Seu aroma natural inebriante. Seus lábios estavam rosados
que pareciam estar clamando por seus beijos, e ele era apenas um homem apaixonado e arrependido,
que esperava não a ter perdido completamente. Nunca passou por uma situação como essa por uma
mulher. Embora Colette não fosse qualquer uma. Ela era a mulher da vida dele, e não iria deixá-la ir.
Era melhor Colette se acostumar com a ideia.
Era um pedido inofensivo e Colette não podia recusar.
— Eu... — suspirou. — ok.
A areia estava gelada, assim como a água do Atlântico, mas a proximidade de Jake a enchia de
adrenalina e ela só estava ciente de sua presença ao lado dela. Em um ponto, ele estendeu a mão com
as pontas dos dedos tocando os dela, como se pedisse permissão para unir seus dedos. Ela o
encarou, sem perder o ritmo, e mexeu os dedos até que estivessem perfeitamente entrelaçados com os
de Jake.
Esse gesto de aceitação pareceu remover as sombras dos olhos de Jake, que começou a lhe
contar anedotas de sua viagem à Europa. Ousou contar a ela sobre a mulher em Copenhagen, algo que
mexeu com uma parte do coração de Colette e a fez sorrir. Ele também contou sobre o número de
crianças que queriam fazer uma carreira nos esportes e como se esforçavam para consegui-lo; contou
sobre Pavel, um garoto hindu nacionalizado em Luxemburgo cujos pais adotivos venderam quase
tudo para pagar um treinador, vendo sua paixão pelo tênis. Ele disse se ofereceu para custear Pavel
por seu treinamento até que ele atingisse as ligas profissionais, em troca de continuar a estudar.
Colette começou a se sentir mais confortável, como antes de se separarem. A brisa do mar e a
voz de Jake eram uma boa companhia. Logo se viu falando sobre sua descoberta pessoal de sua
paixão por escrever romances policiais e seu trabalho na Trendy. Também contou que nos últimos
dias havia falado com Greta e Phillip. Comentou que Bob estava bem recuperado do acidente e podia
andar muito bem, que tinham contato com mais frequência.
A partir daquela tarde, uma camaradagem diferente se desenvolveu entre eles do que de
costume, na qual conversaram como sempre, mas Jake, apesar de ser solícito e engraçado, não fez
nenhuma tentativa de beijá-la. Ela não sabia se estava com raiva, frustrada ou aliviada. Havia toques
ocasional em seu braço, ou colocava o cabelo atrás da sua orelha ou sentava-se muito perto dela. E
no final do quarto dia, já que Jake estava por perto, estava prestes a se lançar sobre ele e pedir-lhe
para beijá-la. Sua frustração aumentava, cada vez que Jake se despedia com um beijo na bochecha e
ia embora às nove horas todas as noites.
Não podia acusá-lo de manipulá-la, porque ele certamente era aberto e falante. Ela também
não podia chamá-lo de hipócrita, porque desde que ele apareceu nos Hamptons, ele a deixou saber
que iria mostrar que a queria de volta. Queria demonstrar não a tocando? Seus hormônios pareciam
mais descontrolados do que o normal, e quando ele estava por perto, sorrindo ou simplesmente
cruzando os braços apertando o tecido de sua camisa que delineava seus músculos, seus dedos
pareciam querer uma vida própria e tocá-lo.

Numa noite de sábado, Jake disse que iria cozinhar.


— Isso quer dizer que, além de café e alimentos nutritivos para esportes, você sabe fazer mais
coisas?
Ele sorriu.
— Houve uma temporada em que fui assediado por hotéis e sua comida, então comecei a
alugar suítes durante os torneios. E quando me dei certas permissões com a dieta esportiva, decidi
que aprender a preparar algo diferente sozinho iria bem.
— Uau...
Jake foi até a sala e voltou com uma sacola que trouxera à tarde.
— Um vinho da melhor colheita. Eu comprei na Itália — expressou dando-lhe uma piscadela.
Ela corou. Mas não pela razão que ele pensou. — Vi que você tem peixe no freezer, então preparei
um pouco. Você gosta?
— Eu gostaria de tentar ver se é verdade que você aprendeu a cozinhar bem.
Ele riu e, enquanto vestia o peixe e lhe contava as travessuras do sobrinho, Colie sentiu que
não poderia continuar a estender aquela rotina plácida que começava a parecer muito agradável.
Queria fazê-lo sofrer, mas, ao mesmo tempo, precisava de seu amor. Não era suficiente para ele se
comportar como um perfeito cavalheiro. Ela ansiava por seus beijos, o gosto de sua boca, o poder de
sua sexualidade, sua maneira de fazer amor e a capacidade de fazê-la sentir tanto prazer que a fazia
sentir como se estivesse se quebrando em mil pedaços e então se reconstruindo.
Jake começou a fritar o peixe. Colie prendeu a respiração. Talvez cheirasse delicioso, mas
ela... enjoos matinais não eram tão frequentes, e eles escolheram aquele exato momento para
aparecer. Colocou as mãos na barriga. Seus vestidos soltos a protegiam, apesar de seu estado de
gestação quase não ser visível. Só poderia ser notado se alguém a visse nua. Algo que, é claro, não
iria acontecer...
— Colie?
— Huh?
— Eu perguntei se você queria experimentar o molho de peixe...
“Ah não, agora não”, ela pensou quando a própria ideia do aroma do molho em sua boca a fez
engasgar. Ela bebeu um pouco de água, como se isso pudesse ajudá-la. Foi pior.
— Querida...?
Colette pousou o copo no balcão da cozinha, levantou-se e correu para o banheiro de
hóspedes. Devolveu todo o almoço e o chá da tarde. Sentindo-se péssima, puxou a descarga do vaso
sanitário e refrescou o rosto. Pegou um pouco de Listerine, misturou com água e enxaguou a boca.
Quando pensou que sua boca tinha gosto de mentol e se sentiu mais calma, ela abriu a porta. Jake
parecia preocupado, carrancudo, com as mãos na cintura.
— A refeição da noite no restaurante te fez mal? No hotel me disseram que era o prato mais
famoso. Suponho que, mesmo que eu fique em um hotel cinco estrelas, nem sempre fazem as coisas
bem. Certo? — perguntou. Perceber sua desconfiança em relação, sem saber se ela poderia se abrir e
ser a mesma de sempre ou se retrair, o estava matando. Era por isso que ele não queria fazer nenhum
avanço físico, além de um simples toque aqui ou ali, porque não tocá-la era absolutamente
impossível. Queria que ela tomasse a decisão de se aproximar.
Ela tentou sorrir, mas tinha certeza de que fez uma careta. Estava tentando respirar com calma,
mas seus nervos estavam na superfície, e tinha uma vontade estúpida de chorar. Ela se sentiu
inexplicavelmente desprotegida com a simples ideia de que Jake decidiria deixá-la se descobrisse
que estava esperando um bebê. Ou pior ainda, rejeitasse os dois. Ela não estava pronta para anunciar
sua condição para ele. Tentou se recompor com todas as suas forças.
Lá fora, as leves gotas de chuva que caíram o dia todo pioraram. Uma chuva insana batia
contra os vidros das janelas da casa.
— Eu... Sim — mentiu. — Deve ter sido a comida.
Ele olhou para ela. Muito tempo, até que Colette quisesse confessar. Jake não deu tempo para
nada, aproximou-se, sem dar desculpa a nada, tomou-a nos braços e carregou-a para a sala. Ele a
colocou na superfície confortável. Colocou as mãos nos joelhos dela, agachando-se.
— Tente novamente.
— O quê?
— Vamos, tente novamente. Me diga por que você ficou enjoada ontem quando passamos por
uma casa onde faziam um churrasco, dois dias atrás você correu para o seu quarto enquanto
comíamos uma carne com molho de cogumelos...
— Estava muito cheia, e o cheiro...
— ...e agora a náusea voltou, quando perguntei se você queria experimentar o molho e levei a
colher aos seus lábios — ele continuou sem ouvir. Não era estúpido, mas queria que fosse ela quem
lhe contasse; que confirmasse. — Você tem algo para me dizer?
— Jake...
Negou com a cabeça. Se levantou e se acomodou ao lado dela, que estava com as mãos
cruzadas no colo. Ele segurou as mãos de Colie.
— Acredite em mim, não me importo de passar o resto do mês, ou o ano se quiser, tentando te
convencer de que estou aqui, que te amo e que não vou sair do seu lado. Mas, acima de tudo, quero
que você me dê uma chance... — Ele deu um meio sorriso. Um meio sorriso nostálgico. — Já se
passaram seis dias desde que cheguei aqui... não tocar ou beijar você tem sido uma tortura
monumental. Eu sei que você me quer também, mas não quero forçá-la a fazer nada. Você pode me
fazer sofrer o quanto quiser, eu mereço, mas também fui sincero com você e disse o que sinto... Você
pode, agora, ser sincera também? Posso pedir que você seja?
Colette sabia que não poderia adiar. Era impossível fazer isso. Sabia disso. E ele estava
certo. Poderiam passar muitos dias naquela harmonia que existia entre eles, mas que ia voar pelo ar,
explodindo, de um momento para outro, porque a tensão sexual a estava matando. Ela poderia fingir
ser arrogante e expulsá-lo de sua vida para sempre. Mas, mais uma vez, primeiro, ela não estava
mais sozinha, havia uma vida crescendo dentro dela; e segundo, ela o amava tanto que não perdoá-lo
não era um sinal de dignidade, mas de orgulho. Amor implicava orgulho? Não. Talvez em um
relacionamento apenas de luxúria, sim, mas no deles, não havia lugar.
— Jake... — ela sussurrou sem responder ao seu pedido, olhando-o nos olhos. Era hora de
falar com clareza. Embora ele tivesse feito isso dias atrás, agora era a hora para ela.
— Sim? — ele perguntou acariciando os nós dos dedos dela com a ponta dos dedos.
— Por que você estava com medo de me amar?
Jake acariciou sua bochecha com uma expressão de vulnerabilidade, que não combinava com
o homem determinado e cínico que muitos conheciam.
— Porque perdi muitos entes queridos em pouco tempo e a dor da perda é insuportável.
Aceitar te amar, implicava aceitar a possibilidade de te perder... — respondeu referindo-se à família
que morreu no acidente de trânsito anos atrás. Encolheu os ombros. — Estou com medo agora, de
perder você também... Embora no final, eu acho que estou prestes a...
Colette respirou fundo.
— Jake, você não vai me perder.
— Não?
Ela negou.
— Eu sei que você tem sido sincero. Mantendo você longe de mim, eu também sofro. Estou
disposta a lhe dar uma nova oportunidade — manifestou com lábios trêmulos. — Não estrague isso,
porque eu não aguentaria...
O peito de Jake pareceu se expandir de excitação.
— Colette... Colette... — ele sussurrou com alívio, antes de pegar o rosto amado em suas
mãos, trazendo-a para mais perto, e a olhando como se ela pedisse permissão para beijá-la. Em
resposta, ela se inclinou em direção a ele, juntando os lábios. — Eu te adoro — Jake disse contra a
boca dela, — e estar sem você tem sido um inferno.
Jake tocou suavemente a boca de Colie, e ela suspirou. Ele se moveu lentamente sobre seus
lábios, deslizando as mãos em seu cabelo preto macio. Lentamente, empurrou a língua para saborear
o sabor glorioso de sua boca. O beijo se aprofundou e Jake explorou, saqueou e se deleitou.
Desejava despi-la, possuí-la, mas não queria se apressar, embora seu corpo estivesse morrendo de
desejo.
Ela sentiu sua pele queimando, seus seios clamando para serem acariciados e seu coração
disparado para saber que ela era amada. Jake colocou sua pose arrogante de lado, procurou-a, pediu
desculpas a ela e aceitou seus erros. Não só foi valente quem cometeu erros e os enfrentou, mas quem
soube reconhecê-los e tentar reparar os danos por eles causados. Como Jake tinha.
Passou os braços em volta da cintura dela e puxou-a para perto de seu corpo. Soltou um
grunhido de prazer ao sentir os seios de Colie pressionados contra seu torso. Incapaz de se conter,
pegou a bainha de seu vestido fúcsia e puxou-o. Moveu as mãos pela pele macia de sua barriga, até
que embalou aqueles seios preciosos que conhecia tão bem. Ela engasgou e Jake apertou seus
mamilos entre os dedos no tecido preto de seu sutiã.
De repente, parou de tocá-la, ergueu-a e montou em suas pernas. Ela apoiou as mãos em
ombros fortes. Olhou para ele com perplexidade, ardendo de paixão. Mas por que parou?
Ele encostou a testa na de Colie, tentando desacelerar sua respiração.
— Jake...?
— Eu fiz uma pergunta a você há pouco. Eu queria saber se agora poderia ser sincera
comigo...
Ela o olhou com ternura. Colocou a mão na bochecha.
— Não sei como você vai reagir, Jake...
— Juntos podemos resolver.
Colie sorriu.
— Jake, eu... — olhou para baixo, mas ele ergueu o queixo dela com firmeza. — Antes de vir
para Nova York descobri que estou grávida — confessou olhando para ele.
Ele ficou em silêncio com os olhos arregalados. Abriu e fechou a boca, mas não conseguiu
pronunciar uma palavra. Tinha suspeitado disso. Claro, mas a confirmação foi simplesmente
gloriosa. Ele a encarou, extasiado, por um longo tempo.
Houve um silêncio completo e absoluto.
Colette, sentindo-se estúpida, tentou se livrar das pernas de Jake. Não se importou que a
tivesse deixado em sua roupa íntima. Lutou para fugir, mas ele não a deixou. Em troca, sorriu.
Deslizou a mão até a barriga mal inchada de Colie e a acariciou com reverência. Então a pegou pela
cintura e a segurou contra ele por um longo tempo.
Empolgada com o gesto, Colette deixou as lágrimas que segurou o dia todo rolarem pelo rosto.
Jake começou a rir, pegou-a no colo e começou a subir o segundo andar com ela nos braços. Ele
caminhou por um corredor, até que ela disse qual dos quartos era o dela.
— Você é minha — sussurrou ele.
Enquanto colocava Colie no colchão macio, não conseguiu impedir as imagens de Lauren no
hospital, perdendo o bebê, mesmo que não fosse dele, atormentando-o. Preferia morrer cem vezes,
antes que Colette sofresse. Mas teve que banir aqueles fantasmas do passado, porque não tinham
mais um lugar para eles. Para ele. Colette era uma mulher saudável e cuidaria para que ela não
tivesse acessos de raiva ou decepções.
Jake sentiu uma alegria no peito, incapaz de descrever em palavras. Um bebê seu e de Colette!
Tirou os sapatos, acendeu a luz da mesinha de cabeceira e se acomodou de lado ao lado dela,
olhando-a com adoração.
— Querida — passou a mão na barriga e acariciou com ternura, — de quanto tempo você
está? — inclinou-se sobre Colie, até que ela estivesse sob seu corpo. Ahhh, a sensação de estar
assim, de novo, tão perto dela, era gloriosa.
— Um pouco mais de dois meses e meio, mas Jake... — respondeu com um murmúrio
preocupado, — se você acha que não é seu... — começou, lembrando-se de Lauren, e daquela
mentira mal-intencionada, — então...
— Eu sei que é meu — expressou ele com firmeza, interrompendo-a. — Você não seria capaz
de mentir para mim sobre algo assim, nem se entregaria a outro homem se levasse meu filho, por
mais decepcionada que estivesse. Você é muito melhor do que isso...
Ela suspirou.
— Tive medo de que você pensasse que, como não nos víamos há várias semanas, talvez o
tivesse traído como fez...
Ele pôs o dedo nos lábios dela.
— Não diga isso. Está no passado E eu não iria desconfiar de você. A camisinha não é um
método infalível... E a verdade é que eu não me importo. Estou muito feliz com a notícia — ele
murmurou contra os lábios de Colette, beijando-a profundamente, enquanto suas mãos percorriam seu
lado ansiosamente. O mesmo desejo que ela tinha. — Se você não estivesse grávida, acredite, eu
teria feito campanha por isso.
Colette riu, no seu humor usual.
— Você está feliz então...? — gemeu quando Jake deslizou a mão agilmente de sua legging
preta. Então voltou, e acariciou suas coxas, enquanto subia por seu corpo sem tocar no ponto mais
sensível, ele passava os dedos por sua barriga, até chegar aos seios, para pegar um e acariciar no
tecido do sutiã. Soltou um pequeno grito quando apertou seu mamilo com firmeza. Colie, em troca,
abaixou a mão para tocar a protuberância firme que pressionava contra a calça de Jake.
— Absolutamente — disse voz rouca. — Você ia me dizer se eu não tivesse aparecido aqui...
ou se não tivesse te perseguido esses dias? — perguntou ele, mas não antes de tirar o sutiã, expondo
os seios, que haviam aumentado ligeiramente de tamanho. — Você é uma verdadeira beleza, Colette
— expressou ao ver os seios de cor creme, coroados por mamilos levemente mais escuros e eretos.
— Estão maiores... são uma delícia — disse antes de pegá-los com força entre as mãos, e acariciar
os mamilos com os polegares. Ele sorriu quando percebeu como ela prendeu a respiração.
— É a gravidez...
— Sua barriga ainda não está tão protuberante — ele sussurrou, antes de inclinar a cabeça e
levar a boca de um mamilo ao outro com gemidos de apreciação. Os seduziu com a língua, até que o
prazer, para os dois, começou a deixá-los ainda mais febris. Colette começou a desabotoar a camisa
dele, e Jake a arrancou sem se importar, depois jogou a calça com agilidade. Os olhos de Colette
brilhavam de desejo. Jake era um homem espetacular e a amava. Ela o amava! Não queria abrigar
mais ressentimentos, precisava de satisfação... ela precisava de Jake. E agora o tinha. — Não teria
gostado de ignorar sua condição, Colie...
Sorriu como uma idiota apaixonada ao vê-lo tirar a cueca boxer preta. Ele estava duro e ereto.
Este era um poder sensual que gostava de sentir. Gesticulou com o dedo indicador para que se
aproximasse. Com uma risada rouca, obedeceu, não antes de remover agilmente sua calcinha.
Completamente nus, ofegantes e com um sorriso, eles se entreolharam. Estava por cima,
envolvendo seu corpo atlético ao redor dela, com cuidado para não a esmagar. Ficava entre suas
pernas, e seus quadris flertavam de tal forma que a ponta da glande sentia a entrada lubrificada de
Colette, sem entrar nela. Uma tortura absoluta, não só para Colie, mas também para ele que, sentindo-
a tão receptiva, quente e úmida, morria de vontade de penetrá-la; ele tinha ficado muito tempo sem
ela. Muito.
— Sim, é claro que eu teria contado sobre o bebê, Jake... quando me sentisse pronta para fazê-
lo... — passou a mão pelo cabelo loiro encaracolado e espesso, com ternura, — teria ido para
procurá-lo quando sentisse que havia parado de te amar e não faria mal saber que você não me
amava.
Jake engoliu em seco e parou os movimentos de seus quadris.
— Isso significa que ainda...? O que você...?
— Eu te amo, Jake. Claro que te amo... — acariciou o rosto. Jake virou o rosto e beijou a
palma da mão dela. — Muitos anos se passaram desde que eu lhe dei meu coração— sorriu, — e
desde então sempre foi seu.
Sorriu para ela com a alma nos olhos, antes de se inclinar e beijar apaixonadamente a boca de
Colette. Quando sentiu seus quadris ondularem, acariciou seus seios, antes de penetrá-la com força e
suavidade, em um balanço de movimentos lentos e frenéticos. Não foi uma mera união em busca de
satisfação sexual; estavam compartilhando plenitude, anseio e uma parte de suas almas um com o
outro. Durante o glorioso momento em que ambos sentiram a liberação do êxtase, seus olhares
permaneceram entrelaçados, exatamente como seus corações estavam.

***
Horas depois, Jake ouvia a respiração rítmica de Colette que o abraçava. Tê-la ao seu lado,
tão quente e doce, era uma sensação maravilhosa. Um sentimento que ele queria experimentar todos
os dias pelo resto de sua vida.
Fizeram amor várias vezes, em posições tão diferentes que ele ficou surpreso com o nível de
confiança que tinham juntos na cama, pedindo e exigindo; para dar e receber. Eles tinham uma
química sexual fantástica, mas não era nada comparado à maneira como ele se sentia sozinho ao
pensar em saber que ela o amava. Ele não iria estragar tudo. Na verdade, estava disposto a viver
onde ela se sentisse melhor. Poderia cuidar de seus negócios de qualquer lugar do mundo e iria
viajar com ela e seu filho ou filha, aonde quer que fosse.
Ele virou a cabeça e olhou para ela. Colette o abraçou com tanta confiança e amor que o fez se
sentir o homem mais sortudo do mundo. Gentilmente, ele a afastou.
Antes de embarcar na viagem para Nova York, ele já havia decidido arriscar tudo por tudo. E
isso incluía uma pequena joia, cortesia de Cesare Ferlazzo. Seu amigo, ao saber de suas intenções
com Colette, disse-lhe que nenhum amigo seu iria pedir em casamento uma mulher com uma joia que
não fosse de sua prestigiada loja siciliana. Jake não o contradisse, porque as peças que vendia a
joalheria Mancherai eram altamente cotadas.
Jake encontrou sua calça no chão acarpetado do quarto, vestiu-a rapidamente e desceu as
escadas. Ele abriu a porta da frente e se dirigiu para o carro. Abriu o porta-luvas do BMW que havia
alugado e tirou uma pequena caixa.
Tremendo, ele voltou rapidamente para a cama.
Ciente de que Colette estava nua sob o edredom, fez com que uma parte de sua anatomia
reagisse. Mas o que iria perguntar era muito importante para pensar em outra coisa senão aproveitar
o momento, agora que as coisas entre eles haviam se esclarecido.
Ele acariciou sua bochecha suavemente e começou a beijar seu ombro nu.
— Colie... — moveu-a levemente. — Baby…
— Hmm?
— Querida, acorde um minuto.
— Quer fazer amor de novo?
Jake sorriu.
— Sempre quero fazer isso com você, querida, mas agora preciso fazer uma pergunta.
— Não pode esperar...? — sussurrou abrindo um olho. Estava exausta. Só de lembrar aquela
posição em que ambos... Não, não queria pensar nisso, porque ia enrubescer, e é claro que ia deduzir
do que estava se lembrando.
Jake riu.
— Não, acho que não.
Fazendo beicinho, Colie se virou. Ela abriu os olhos lentamente, até que se ajustaram à luz da
mesa de cabeceira que Jake tinha acabado de ligar. Então se sentou sobre os calcanhares, colocando
todo o emaranhado de lençóis sob os braços, protegendo-se do frio. Ele retirou a mão das costas dela
e ficou de joelhos na frente dela. Estavam agora na mesma altura. Como dois iguais. Porque eles
eram.
— Jake... — ela murmurou quando ele tirou o solitário de diamante da caixa e mostrou a ela.
— Vim aqui pensando em arriscar tudo. O último risco e o mais importante dos muitos que
corri na vida. Foi aqui que fiz a maior aposta, porque acredito que nada jamais valeu tanto quanto
arriscar por você — declarou com olhos suspeitosamente turvos. — Sempre foi você. Desde Paris.
Só que fui muito obtuso e tolo para perceber quando já era quase tarde demais.
— Oh, Jake... Eu... — ela sussurrou emocionada ao se ver refletida naqueles olhos cinzentos.
Via o reflexo de amor, paixão e determinação, mas acima de tudo, via a capacidade de lutar para
deixar o passado para trás e construir um novo dia. — Eu te amo tanto. Muito.
Ele pegou a mão esquerda dela.
— Não preciso de um Norte depois de encontrar minha bússola constante para sempre
alcançar meu porto seguro. Você. — Ela não conseguiu conter as lágrimas que escorreram pelo seu
rosto. Agora, com a gravidez, vivenciava tudo com mais sensibilidade. — Eu a amo, não só porque
é a mulher mais inteligente e sexy que conheço, mas porque quando estou contigo sinto vontade de ser
um homem melhor... sei que te magoei e que posso não te merecer, mas prometo que trabalharei todos
os dias para tentar ser digno de você.
— Jake Weston, claro que você é digno de mim — sussurrou de alegria, — eu te amo e isso
não vai mudar.
Ele olhou para ela solenemente.
— Colette Kessler, gostaria de ter a honra de me casar com você. Você aceita ser minha
esposa?
Ela sorriu.
— Esse lindo sorriso é um sim? — perguntou sorrindo.
Ela assentiu e Jake colocou o anel em seu dedo, sentindo-se eufórico.
— É um grande sim — sussurrou com emoção, antes que os dois se perdessem em um beijo
longo e carinhoso. Um beijo que marcou a promessa de um início de vida a dois.
EPÍLOGO

A cerimônia foi um pouco incomum, pois a noiva foi entregue pelos pais. Phillip, que ia de um
lado, e Bob, que ia do outro. Mas Jake estava ciente apenas da mulher mais linda e resplandecente
que havia mudado sua vida para sempre.
Jake e Colette fizeram seus votos e promessas a seus amigos e familiares mais próximos. Kate
era a dama de honra. Brad, o menino que levava as alianças, que aliás, desde que conheceu Colette,
ficava dizendo que ela era sua tia favorita. Os padrinhos de Jake eram seus melhores amigos,
Rexford e Cesare; Ambos comentaram rindo com Jake que lhe desejavam felicidade, mas que nunca
lhes ocorreria estragar a diversão da solteirice, com o casamento.
Por outro lado, Page garantiu ao filho que Colette era a garota perfeita para ele. Jake não ia
discutir, porque era verdade, embora certamente a opinião de sua mãe também tivesse a ver com ela
ter ouvido Colie repreendendo-o por sugerir que fugissem para Las Vegas e se casassem mais rápido,
para não passar por todos os preparativos.
A exclusividade do casamento para a imprensa foi concedida a Katty Williams, a jornalista
amiga de Jake, que nunca publicou notícias falsas para ganhar manchete. Colette concordou, afinal
ela logo estaria trabalhando como freelancer para o Los Angeles Times, bem como submetendo
artigos para a Trendye começando a promover seu romance policial.
Jake e Colette decidiram manter a lista de convidados o mais baixa possível. Não foi nada
fácil, pois ambos tinham muitos conhecidos.
Os cento e vinte convidados, incluindo Gordon, Damon e sua namorada, Theodore, Patrick
Lombardo, a equipe da Radio Costa Azul e várias estrelas do tênis, reuniram-se ao redor da quadra
quando a música da banda ao vivo começou, para ver os noivos iniciarem a tradicional valsa. A
recepção foi realizada no salão de baile do hotel mais luxuoso de Beverly Hills.
Jake sorriu quando sua nova esposa, depois de trocar seu vestido de noiva longo e esvoaçante
por um que fosse mais fácil de usar, caminhou até ele. Os meses de gravidez deram aos olhos de
Colie um brilho especial, e ele estava constantemente maravilhado com as mudanças que estava
descobrindo no voluptuoso corpo feminino. Pelo bebê de ambos. Um bebê pelo qual era imensamente
grato.
Colie usou elegantemente o vestido que foi desenhado assim como o vestido de noiva para
esconder a discreta barriguinha. Colette parecia um anjo tentador. Seu anjo tentador, Jake pensou
possessivamente.
— Sra. Weston — disse ele com sensualidade pegando-a pela cintura, e segurando-a contra
ele, para dançar. Ele não se importava com ninguém além dela. — Já disse o quanto estou honrado
por você ser minha esposa?
Colette sorriu amorosamente para ele. Sua vida era maravilhosa. Quando voltaram de Nova
York, onde ficaram por mais duas semanas, conversando, investigando as emoções um do outro e
arquivando quaisquer mal-entendidos do passado, ela voltou mais ativamente aos relacionamentos
com sua família em Orange County. Se ela ia começar um novo estágio, não poderia fazer isso
arrastando ressentimentos. Greta e Phillip ficaram entusiasmados quando trouxe Jake para apresentá-
los como seu noivo.
Gert e Bob também estavam felizes por seu casamento e pelo bebê a caminho. A primeira vez
que ela chamou Bob de pai, viu as lágrimas brilharem no homem que por tantos anos se tornou seu
consolo e um ponto fundamental de apoio e conselho. Guardar rancor contra ele não fazia sentido.
Ela o amava de todo o coração e queria mais do que tudo que ele e seus pais, os Kessler, e suas
irmãs, Moira e Lizzie, estivessem presentes durante as diferentes fases da vida de seu bebê.
O mais entusiasmado com o casamento foi, sem dúvida, Kate, que cuidou da coordenação nos
mínimos detalhes, para lhe dar tempo de redecorar a casa de Jake em Santa Monica. Não podia
continuar sendo uma mansão de solteiro, menos ainda quando no pacote matrimonial estava incluída
uma bebê. Sim. Seria a mãe de uma linda garotinha.
— Não, meu amor, mas adoro ouvir você dizer isso — respondeu movendo-se suavemente e
olhando-o docemente. “Ela costumava olhar para ele daquela maneira que o fazia se sentir o homem
mais sortudo do planeta”, Jake pensou—. Será que vamos chegar a um acordo sobre o lugar onde
passaremos a lua de mel?
— Austrália ou Tailândia, certo? — perguntou brincando.
Colette riu. As duas opções anteriores eram a Grécia ou a Itália. E antes disso, Hungria ou
Irlanda do Norte.
— Acho que decidi pelas Maldivas — expressou divertida. — Ops! Na verdade, nossa filha
acabou de me chutar. — Jake olhou para ela emocionado e, sem parar de se mover, colocou a mão
em sua barriga que havia crescido um pouco, mas não o suficiente para que quem ignorasse seu
estado, percebesse. — Portanto, estamos decididos. Os Westons estão indo para as Maldivas. Você
gostou da ideia, Jake?
Eles caminharam e ele aproveitou a oportunidade para beijá-la apaixonadamente, sem se
importar com seus convidados. Alguns convidados que vibraram e aplaudiram. Colette enrubesceu.
— Querida, não preciso estar em nenhum lugar específico para me sentir feliz. Eu tenho você
— deslizou a mão da cintura para a barriga novamente, — e nossa filha. Isso basta para mim.
— Jake... — ela sussurrou com um sorriso radiante, antes de pousar a bochecha no ombro do
marido.
***
De um lado da pista, Kate estava rindo de uma piada de um amigo que havia concordado em
ser seu acompanhante no casamento de Colette. John era gay e a fez prometer, em troca de
acompanhá-la, que não contaria ao namorado sobre a festa de Weston, já que Jenk também tinha
ciúmes das meninas. Então, com aquela promessa, lá estavam eles, divertindo-se muito.
Vestida com um lindo terno Vera Wang, vermelho e tomara que caia, Kate se movia no ritmo
da música. Quando Colette jogou o buquê de noiva, estava um pouquinho longe dele cair em suas
mãos, mas foi agarrado por uma garota que ela conheceu horas antes. O nome dela era Charlotte e era
uma jogadora de tênis. A garota olhou para o buquê sem acreditar, no entanto, o que a deixou curiosa
foi que Rexford Sissley enlouqueceu quando a garota saiu para dançar com um dos convidados. Kate
não estava muito ciente do que estava acontecendo entre aquela dupla, porque a verdade não era da
sua conta.
Seus pés doíam, pois estava de um lado para outro desde a cerimônia para que tudo ficasse
perfeito, e dançando, a partir das dez horas da noite. Tirou os sapatos. Os novos cônjuges já haviam
se retirado e o relógio marcava duas da manhã.
Kate estava se divertindo. Começou a pular no ritmo da música de David Guetta, mas deu um
passo errado e quase caiu para trás. John parecia perdido em seus próprios movimentos, mal
notando-a, exceto para fazer um comentário que a fez rir.
Ela estava prestes a cair, quando de repente um par de mãos firmes a segurou pela cintura,
evitando um mau momento. E um hematoma, com certeza.
Ela se virou para agradecer, e suas palavras falharam. David Guetta definitivamente parou de
cantar e a pista com seus ocupantes de repente ficou turva. “Meu Deus”, ela pensou, lambendo os
lábios ao ver o homem à sua frente. Pensou que estava apenas ouvindo as batidas aceleradas de seu
coração. Ou eram os dois? “Respire, vamos. Respire”.
— Oi — ele expressou com uma voz aveludada. Parecia um ronronar. Um ronronar perigoso,
ela pensou. — Aparentemente, nos encontramos novamente. A dama de honra de Colette. Kate, certo?
Os cabelos de sua nuca se arrepiaram e inexplicavelmente seu corpo tremia. Esse homem
exalava risco e doses indiscriminadas de testosterona. O melhor seria ir embora, como já havia feito
naquela partida de tênis... e durante toda a festa de Colette. “Fique longe dele. Faça isso. Agora”.
Seus pés não se moveram.
Kate acenou com a cabeça. Ele ainda estava com as mãos na cintura dela. Sua pele estava
queimando. Mão queria que ele a tocasse. Não deixava ninguém a tocar. Se afastou abruptamente. Ele
franziu a testa, surpreso com a reação estranha das mulheres a ele.
— Eu... — pigarreou, — obrigada por me impedir de cair, Cesare...
Ele assentiu e sorriu.
“Oh não, não, como permitiam que aquele homem sorrisse? Algum policial está disposto a
levá-lo? Alguém?”. Ela gemeu para si mesma. Estava com medo de estar cometendo um erro grave
ao continuar a falar com ele. Cesare Ferlazzo era o tipo de homem que tinha que evitar: bonito, com
uma voz sedutora e vestido com tanta elegância que parecia saído de uma revista de moda masculina.
Nem se atrevia a pensar em seu físico, porque isso seria suicídio para seu sistema nervoso.
A experiência a ensinou que os homens tendem a confundir os sinais. Ela já havia passado
por...
— Seu acompanhante foi embora. Então, vamos dançar? — perguntou estendendo a mão e
interrompendo suas reflexões.
“Nem que estivesse louca”, pensou Kate. Embora parecesse bastante curioso ouvir a si mesmo
responder outra coisa.
— Sim...
SOBRE A AUTORA

Kristel Ralston, escritora equatoriana de novela romântica e ávida leitora do género, é


apaixonada por histórias que decorrem em palácios e castelos na Europa. Embora gostasse da sua
profissão como jornalista, decidiu dar uma viragem na carreira e ir para o velho continente fazer um
mestrado em Relações Públicas. Durante o período que viveu na Europa leu várias novelas
românticas que a cativaram e a incentivaram a escrever o seu primeiro manuscrito. Desde então, nem
na sua variada biblioteca pessoal nem na sua agenda semanal faltam livros deste género literário.
Em 2014, Kristel deixou o seu emprego com horário fixo numa grande empresa no Equador,
onde era directora de comunicação e relações públicas, para se dedicar inteiramente à escrita. Desde
então, ela já publicou dezanove títulos, e esse número promete continuar a aumentar. A autora
equatoriana não só trabalha de forma independente na plataforma da Amazon, KDP, como também
tem contratos com editoras como o Grupo Editorial Planeta (Espanha e Equador), HarperCollins
Ibérica (com o seu selo romântico, HQÑ) e Nova Casa Editorial.
O seu romance "Laços de Cristal", foi um dos cinco manuscritos finalistas no II Concurso
Literário de Autores Indie (2015), patrocinado pela Amazon, Diario El Mundo, Audible e Esfera de
Libros. Este concurso recebeu mais de 1200 manuscritos de diferentes géneros literários de 37
países de língua espanhola. Kristel foi a única latino-americana e a única escritora de romance entre
os finalistas. A autora foi também finalista no concurso de romance Leer y Leer 2013, organizado
pela Editorial Vestales da Argentina e o blogue literário Escribe Romántica.
Kristel Ralston publicou varios romances como Estava Escrito nas Estrelas, Entre as Areias
do Tempo, O Brilho do Luar, Mientras no estabas, Punto de quiebre, La venganza equivocada, O
Preço do Passado, Un acuerdo inconveniente, Laços de Cristal, Bajo tus condiciones, El último
riesgo, Regresar a ti, Um Capricho do Destino, Desafiando ao Coração, Más allá del ocaso, entre
outros. Os romances da autora também podem ser lidos em vários idiomas, tais como inglês, francês,
italiano, alemão e português.
A autora foi nomeada por uma publicação de renome do Equador, Revista Hogar, como uma
das mulheres do ano 2015 pela sua notável obra literária. No mesmo ano, participou na Feira
Internacional do Livro de Guadalajara, no stand da Amazon, como uma das escritoras de romance
mais vendidas na plataforma e como finalista do II Concurso Literário de Autores Indie. Repetiu a
experiência, partilhando o seu testemunho como escritora de sucesso de Amazon KDP em espanhol,
em Março de 2016, visitando várias universidades na Cidade do México e Monterrey.

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