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Copyright © 2020 Sarah Mercury

RENDIDA AO MAFIOSO

1ª Edição | Criado no Brasil


Edição digital

Autora: Sarah Mercury


Revisão e diagramação: Luana Souza
Capa: T.V. Designer
Artes: Luana Souza

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL DESTA OBRA, DE QUALQUER


FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICO OU MECÂNICO, INCLUSIVE POR MEIO DE
PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDO AINDA O USO DA INTERNET, SEM A PERMISSÃO
EXPRESSA DA AUTORA (LEI 9.610 DE 19/02/1998).
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENTOS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUTORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS É MERA COINCIDÊNCIA.
TODOS OS DIREITOS DESTA EDIÇÃO SÃO RESERVADOS PELA AUTORA.
Atenção
Dedicatória
Agradecimentos
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Trilogia Camorra
Outros trabalhos meus
Sobre a autora
Esse livro trata-se de um romance dark. A obra contém cenas de sexo
explícito, violência, tortura, palavras de baixo calão e assassinato. Portanto, é
indicado para maiores de 18 anos. Se você é sensível a esse tipo de conteúdo,
não leia, pois contém gatilhos. A autora não concorda de forma alguma com
tais atrocidades. Trata-se de uma história fictícia.
Dedico a todas as pessoas que acreditam no meu trabalho, abraçam
meus personagens com carinho e me incentivam a continuar melhorando
cada vez mais.
Agradeço:
A Deus por me capacitar a continuar escrevendo mesmo com tantas
perseguições e críticas;
À minha tia Celma por ser uma grande incentivadora e acreditar em meu
potencial;
E aos meus amigos e leitores da Wattpad.
Sou grata em especial à minha revisora Luana, à minha amiga Maiza, à
Fran pelas divulgações e indicações, e à minha leitora Bete Dorta.
Todos vocês foram essenciais para a criação dessa obra. Por várias vezes
quando pensei em desistir, me deram forças para continuar.
Muito obrigada!
Marco Moretti sempre se sentiu perdido desde criança. Ele passou a
viver na sombra do seu melhor amigo Vincent para sentir que tinha um
propósito de vida. Nunca quis coisa alguma para si e jamais ambicionou nada,
até o dia em que em uma de suas missões, seus olhos bateram nela.
“Misericórdia” era uma palavra desconhecida para o homem sem coração e
com um único objetivo: vingar a morte de sua mãe e colocar o melhor amigo
no poder.
Angel foi quebrada tantas vezes que achava que seu propósito de vida
era sofrer. Sozinha e contando consigo mesma, se deixou ser usada e caiu no
mundo das drogas para aplacar a dor que sentia. Ela nunca quis tanto
sobreviver quanto no dia em que seus olhos encontraram os dele. A garota
achou que seria seu fim, mas foi o início de tudo, e vai entender por bem ou
por mal que quando Marco fica obcecado por algo, ele luta com tudo dentro de
si para conseguir.
O Anjo e o demônio terão que compreender que depois do caos, sempre
vêm as tempestades, mas que unidos podem ultrapassar todas elas e saírem
mais fortes.
Ela só quer recomeçar.
Ele deseja tê-la para si.
Ela foge dele porque o teme.
Ele a persegue porque precisa dela para se sentir vivo.
Duas almas perdidas e feridas são capazes de encontrarem a redenção
juntas?
O barulho alto do lado de fora do quarto me faz pular da cama. Encontro
Lorena no corredor, de roupão, tão assustada quanto eu. Alguém está tentando
invadir o apartamento e cada batida violenta nos faz saltar. Nino pede para que
façamos silêncio e mantenhamos a calma. O que é quase impossível de acatar,
já que a qualquer momento poderemos estar todos mortos.
Uma semana se passou desde a saída de Marco e continuamos no
escuro. Dizer que o pior já tinha passado em minha mente é um eufemismo.
Ninguém sabe de nada, e se sabem, não compartilham nem mesmo com
a esposa do chefe. Isso me faz acreditar que a situação é muito pior do que
aparenta.
Lorena segura firmemente uma das minhas mãos e esperamos a bagunça
terminar. Logo a porta do elevador se abre e vários homens entram armados já
se sentindo os donos do local. Nino parte para uma luta corporal com alguns, e
como esperado é nocauteado rapidamente, levando um tiro à queima roupa. Lá
se vai a nossa única oportunidade de sobrevivência. Se é que tínhamos uma.
Eu sou uma pessoa que nasceu condenada. Eu tive uma péssima mãe e
um pai ainda pior. Mamãe era uma prostituta dos Dragons Mc's e papai era um
dos seus fodidos membros. Eu fui criada em meio ao caos, no de pior que
existe no mundo: drogas, depravação, bebidas, armas, homens sem escrúpulo
algum e mulheres que fariam qualquer coisa para ter um colete e serem
consideradas uma old lady. Porém, a maioria delas era somente um
passatempo para os caras, ou como eles gostavam de nos chamar, apenas
cadelas. E minha mãe foi uma dessas sortudas. Um belo dia ela percebeu que
não ia conseguir o que tanto queria e sumiu no mundo, me deixando ainda
pequena para trás com um homem que venderia a própria mãe para agradar o
seu presidente, o que dirá a filha.
Para o meu azar, eu nasci bonita e sempre chamava a atenção do sexo
oposto. Aos treze anos perdi minha virgindade e aos quinze eu já tinha
dormido com mais homens do que eu podia contar. Com o tempo aprendi a
usar meu corpo e manipular todos os homens para eu ter o que precisava.
Estava indo tudo muito bem e eu tinha um plano: juntar dinheiro o
suficiente para fugir do estado e começar a estudar. Mas novamente a vida me
deu uma rasteira. Snake se interessou por mim, e o que tanto outras garotas
queriam dele, eu consegui de graça a um alto custo. Com ele eu aprendi o que
é sexo sujo e fui apresentada à minha perdição: as malditas drogas ilícitas.
Esse é um caminho escuro e sem volta.
No início eu tinha tudo que eu queria dele e achava maravilhosa a
sensação de usar essas substâncias, até meu vício me controlar e eu jogar baixo
para conseguir o que desejava. Eu já não era tão gostosa com a minha magreza
e Snake me trocou por outra. Eu passei de dormir com um homem só, a dormir
com qualquer um que me desse algumas migalhas de drogas, apenas para ter
um pouco mais do que me destruiu.
Eu me vendi, me perdi, abandonei meus propósitos e quase paguei com
a vida por isso.
Sonho todas às noites com aqueles olhos cor de mel. Ele tanto me
apavorou quanto fez eu me sentir viva. Quando apontou sua arma para mim,
jurei que eu morreria e ousei achar por alguns segundos que alcançaria ao
menos no fim da vida um pouco de misericórdia e que qualquer coisa era
melhor do que a vida que eu estava levando. Mas ele hesitou e no último
minuto me libertou. Desde estão estou à procura de achar a minha libertação, a
qual não encontrei ainda.
O que fazer quando o próprio demônio em pessoa não teve pena de
mim? Estou muito lascada para esperar redenção dos céus.
— Angel! Troca de turno comigo! — Isa grita atrás de mim.
Lá vem! Hoje não é meu dia.
— Se eu puder ficar com metade das suas gorjetas, eu topo.
Ela abre a boca, em choque.
— Que maldade, Angel!
— Não é não. Terei que ficar praticamente toda a noite depois de doze
horas trabalhando. Nada mais justo do que você me pagar.
— Achei que amigos faziam favores uns aos outros.
Jogo o pano em cima da mesa, com raiva, e a encaro.
— Querida! Tenho cara de instituição de caridade? Não somos amigas, e
sim colegas de trabalho, e de graça nem injeção na testa. Se não quiser me
pagar para cobrir a sua bunda, se vira!
— Sua grossa! Tudo bem. Eu te pago. — Joga algumas notas em cima
da mesa e eu não me faço de rogada, nem volto atrás em minhas palavras.
Até parece que sou trouxa! Todo dia uma desculpa diferente. Uma vez
ou outra, eu até faria, mas não direto com essas conversas esfarrapadas para
cima de mim. Eu venço não.
— Ótimo! — Pego o dinheiro e guardo no bolso.
Termino de limpar tudo e aproveito meu intervalo para sair um pouco
para fumar. Preciso de dinheiro. Muito dinheiro. Estou tentando me manter
limpa, mas está cada vez mais difícil não voltar a usar substâncias.
Chris senta ao meu lado e faz um sinal para que eu divida com ele meu
cigarro. Ficamos apenas calados aproveitando o silêncio. O mesmo tem me
ajudado muito desde que eu pedi um emprego aqui.
Tá! Ajudar é um termo forte. Temos trocado favores. Eu fico com ele em
troca dele me deixar dormir num quartinho mequetrefe que tem aqui nos
fundos. É uma porcaria e cheira a mofo, só que é melhor do que nada e eu
economizo mais dinheiro.
Dinheiro que você compra drogas! — minha mente zomba de mim.
— Estava pensando em nós dois termos um tempo mais tarde. O que
acha? — sugere.
— Não vai dar. Vou cobrir a Isa de novo. — aviso.
— Droga! Essa menina tem me dado muito prejuízo.
— Prejuízo por ela não te pagar as faltas dela como você gostaria?
Ele gargalha.
— Algumas bocetas diferentes durante a semana é legal.
— É claro que é. Ainda mais se você não precisar pagar por elas. —
ironizo.
— Negócios, gata.
— Não tiro a sua razão.
E quando um deles nos vê diferente?
— Aquele cara estava rondando por aqui de novo. Eu não quero
confusão com a máfia.
— Não tenho culpa se ele é um idiota.
— Idiota ou não, ele pode me ferrar, e a sua boceta não vale um
estabelecimento novo.
Filho da puta!
Suspiro me lembrando o porquê de eu precisar ouvir essas merdas e não
mandá-lo ir se foder.
— Tudo bem. Prometo que se eu o ver hoje, vou falar com ele.
— Não me faça expulsá-la daqui, Angel! — Sai me deixando com meus
pensamentos insanos de novo.
— Babaca! — resmungo para mim.
Seis horas mais tarde eu fecho tudo e vou para meu quartinho/ depósito e
me jogo no colchão.
A vozinha inquietante pede para eu pegar aquilo que sei que me dará o
alívio que preciso. Tento segurar o máximo que posso, mas hoje ela me
vencerá de novo. Estou no meu limite. Tive que fazer um boquete em um
cliente nojento que me ofereceu cinquenta dólares e ainda aguentar as
reclamações do Chris na minha cabeça.
Meia hora depois desisto de lutar comigo e aspiro o pó quase mágico.
Um dia perdido, um dia mais perto da morte. Eu sei que sou patética e muito
fraca. É o que eu ouvi a minha vida inteira de todos a minha volta, e
ultimamente estou começando a concordar com eles. O cansaço me vence e eu
durmo logo em seguida.

(...)

— Eu preciso de só mais um pouco, Erick. — imploro.


— Não dá. Você está me devendo muito. Logo é a minha cabeça que irá
rolar se você não me pagar.
— Eu faço o que você quiser. Final de semana eu irei receber e te pago
tudo. Por favor!
— Angel, você vai me colocar em encrenca!
— Eu faço anal. Por você, eu faço qualquer coisa.
Ele ri.
— Por mim nada. Por isso aqui. — Balança o pacotinho na minha cara.
— Que seja! Dá no mesmo.
— Seu último comigo. E ai de você se me passar a perna!
— Tudo bem. — Pego a porcaria.
Depois de pagar o combinado, eu saio correndo feliz por garantir pelo
menos o de hoje.
Entro no beco que leva à lanchonete, ansiosa para ficar sozinha, então
paro quando vejo um vulto.
— Você não deveria estar usando isso. — uma voz me diz à minha
esquerda.
Observo a pessoa na sombra, encapuzada, não me permitindo ver seu
rosto.
— Foda-se! Eu te perguntei algo?
— Só estou te avisando. Isso vai te colocar em encrenca.
— Agradeço sua preocupação, mas eu sou bem grandinha e sei me
cuidar. — digo e passo por ele.
— Até logo, Angel.
Não respondo.
Cara estranho. Não vou dar moral para uma pessoa que se mete na vida
das outras e nem tem o respeito de mostrar a cara. Eu não deveria usar? Ele
acha que eu não sei disso? Idiota!
Faço duas carreiras, puxando para dentro, punindo meu corpo pelas
minhas idiotices e poluindo ainda mais a alma podre que eu tenho. Olho para o
teto e as luzes ficam mais brilhantes enquanto passarinhos voam felizes e
cantam pela floresta. O cheiro de flores na mata verde e o barulho de uma água
de um rio ao longe me mostram o quanto é perfeito aqui. Será por pouco
tempo essa sensação e logo a realidade virá com força bater na minha cara e
me chamar de trouxa. Só posso dizer que se eu morresse agora, eu diria com
um grande sorriso no rosto: “Seja bem vinda, dona morte!”.
Obsessão: essa é a palavra certa para isso que estou fazendo. Persigo-a
mesmo depois de eu dizer que não queria mais vê-la na minha frente. Culpa
inteiramente dela. Passei a vê-la direto quando eu vinha buscar o café do
Vincent com a Lorena. E com tantas Starbucks em Los Angeles, a garota tinha
que conseguir emprego logo nessa aqui que eu mais frequento e que
consequentemente meu chefe gosta também.
Ela está mais bonita. A aparência de adolescente doente sumiu junto com
a magreza, a deixando com cara de mulher. Eu me vi desejando-a mais do que
desejei qualquer outra que passou pela minha cama nesses meus 31 anos.
Nunca quis tanto algo como quero essa menina. Eu só posso estar ficando
louco. Seja lá o que Vincent pegou, deve ser infeccioso, pois estou vendo
alguns dos sintomas se manifestarem em mim.
Saio do beco assim que ela entra no local de trabalho e vou atrás do
stronzo que descumpriu minhas ordens e lhe vendeu mais drogas. É difícil
esses moleques ao menos uma vez na vida facilitarem o meu dia, porra?!
— Erick! — eu chamo e ele me olha de olhos arregalados.
— Senhor! Fiz algo errado?
— Eu não disse que não era para vender mais drogas para a Angel?
— Ela implorou e até me ofereceu sexo em troca.
Meu sangue ferve com sua fala. Ela é minha e ninguém deve tocar no
que me pertence. Hoje esse cara vai entender essa merda de uma vez por todas.
— E você, esperto como é, não resistiu aos seus encantos, não foi? —
indago com uma calma que não sinto por dentro.
— Sabe como é. Somos homens, e se uma mulher nos oferece seu corpo,
só aproveitamos, ainda mais sendo de uma gostosa como a Angel. — ele
gargalha e eu me mantenho sério.
Jogo meu cigarro no chão e piso com mais força do que o necessário em
cima, arrastando meu pé bem devagar sem tirar os meus olhos dos seus. Ele
engole em seco, sabendo que não estou achando graça da sua piada ridícula.
— Interessante saber que você deixa seu pau tomar as decisões na hora
de fazer negócios.
Ele abre a boca várias vezes tentando achar uma desculpa esfarrapada.
— Eu juro que vou cobrar ela depois.
Minha paciência fugiu correndo há uns dois minutos, e olha que
geralmente eu sou o mais sensato na hora de fazer meu trabalho.
— O negócio é o seguinte. — O empurro na parede. — Ela não tem
mais dívida com você, e se eu souber que andou vendendo para ela de novo,
vou te matar lentamente com a minha faca e arrancar toda a sua pele imunda
para fora do seu corpo com você ainda vivo. Entendeu? — O solto, deixando-o
cair no chão, tossindo.
— Si... Sim, senhor! — gagueja tentando se levantar novamente.
— É bom mesmo que tenha entendido, porque eu não tenho o costume
de avisar duas vezes. Saia da minha frente antes que eu decida voltar atrás
sobre esperar!
Ele se levanta e sai tropeçando no lixo jogado no chão. Otário!
Coço a barba, pensando no que vou fazer para tirá-la desse mundo em
que se meteu. É um caminho fácil e atrativo de entrar, que depois te suga e te
destrói até não restar nada mais que um protótipo de um ser humano.
Agora que a guerra está controlada estou me sentindo um pouco perdido.
Tantos anos lutando por uma causa, e agora que vencemos, me sinto sem
propósito. Vincent está refazendo sua vida com a Lorena e esperando seu
primeiro filho. E eu? O que sobrou para mim depois de tudo? Eu sinto que ele
não precisa mais de mim. Não como antes. E isso tanto me deixa feliz por ele
quanto chateado. Nossa promessa de estar sempre um pelo outro parece muito
ridícula olhando por esse ponto de vista. Mas vida que segue. Problemas não
me faltam e eu faço questão de pegar e tratar pessoalmente cada um deles para
ocupar a cabeça e não me sentir um inútil. Fui treinado para estar em campo,
na comissão de frente. Sentar e esperar as coisas caírem do céu, nunca foi o
meu forte.
Meu celular vibra no bolso e eu o pego já imaginando quem seja. Poucas
pessoas têm meu número e a maioria delas são quem realmente eu preciso
manter contato. Leio a mensagem de Vincent pedindo para que eu passe na
boate. Entro no carro e dou partida, indo direto para lá.
Chego no Dark Nigth em menos de vinte minutos. Provavelmente
estourei os limites de velocidade permitida.
Sento-me no bar e peço uma dose de tequila. Observo os corpos
dançando na pista como se aqui fosse o lugar mais seguro do mundo. E de
certa forma não estão errados. Não porque somos bons, e sim por nós sermos
um perigo maior do que os que eles temem lá fora.
Vincent se senta ao meu lado, todo sorridente, e isso me irrita. Fico
calado e não devolvo seu olhar avaliador.
— Anda sumido. É algo com que eu deva me preocupar?
— Não. Está tudo bem.
— Marco, sabe que pode confiar em mim, não é?
Balanço a cabeça positivamente.
Eu sei que posso, mas eu não quero compartilhar o que estou sentindo.
Ele agora é meu capo e nossas relações pessoais devem ser restritas e se
tornarem ainda mais profissionais do que antes. Aqui na frente de todos, eu sou
somente seu executor e ele é meu chefe.
— Como está a Lorena? — eu pergunto e ele me olha sério, sabendo que
estou mudando de assunto de propósito.
— Bem. Andou perguntando por você.
— Não está fazendo o serviço direito e precisa de mim para ajudar? —
zombo dele.
— Foda-se! Você não vai usar suas ironias em cima de mim para escapar
das minhas perguntas.
— Eu tenho que ir. — Me levanto.
— Marco? — ele me chama e eu o olho, esperando suas ordens. — Você
não está usando de novo, está?
Franzo a testa com sua pergunta estranha, porém muito válida para quem
me conheceu no fundo do poço.
— Não. Você sabe que larguei essas porcarias há anos.
— Então o que está te deixando aéreo e o fazendo se afastar desse jeito?
É a garota da cafeteria?
— Desde quando você se tornou tão sentimental assim? — Não aguardo
sua resposta. — Preciso ir. Tenho algumas dívidas para cobrar.
Saio o mais rápido que posso da boate, ainda sentindo sua avalição pelas
minhas costas. Eu sempre fui sozinho e nunca quis essa besteira de família
para mim, mas agora vendo como ele está, começo a questionar se não seria
bom eu tentar também. Não parece tão ruim quanto eu achava antes.
Droga! Olha no que eu estou pensando! Só pode ser que aquela bebida
estava batizada.
— Marco? — Alec me chama.
— Me diz que temos alguém para esfolar vivo! Preciso urgentemente de
uma distração.
Ele ri achando engraçado, não sabendo que não estou brincando nem um
pouquinho.
— Então você vai gostar de saber que Snake está de volta reagrupando
os antigos membros que sobraram vivos e recrutando alguns novos para os
Dragons.
— Foda-se! Esse cara não pode ir montar seu grupo de Mc's na casa do
caralho?
— Pelo que eu andei averiguando, eles vieram com a intenção de ficar.
Agora que Dragon morreu, provavelmente Snake ficará como pres, e
sabe lá atrás do quê ele está em busca, não é?
— Vingança. — afirmo. Não precisa ser muito esperto para saber o que
ele quer. — Vou pessoalmente cuidar disso. Fique de olho por aqui!
— Tudo bem. E... Marco? — Alec me chama e eu me viro de novo para
ele. — A tal Angel pertencia ao Snake. Se você não a reivindicou ainda, é
melhor deixar claro que ela é sua.
Oh, eu vou! Se esse cara a quisesse, não a teria deixado para trás para
morrer. Não me surpreende Alec saber dos meus passos. Eu o mataria se ele
não fosse observador e estivesse sempre ciente do que acontece a sua volta.
Não é chefe da segurança do Vincent por pouco, já que foi mérito seu
conquistado por anos de trabalho duro para chegar até aqui.
Passo metade da noite procurando por qualquer pista que me leve ao
novo lugar dos Dragons. Eles estão mais espertos depois do que eu fiz com o
velho galpão. Não estarão tão despercebidos, e isso é perigoso, pois podem se
sentir confiantes e tentarem nos atacar no nosso território.

(...)

Subo a colina com o farol baixo para não chamar a atenção e paro a uma
distância segura do suposto lugar em que eles estão. Não me surpreende
quando percebo que voltaram para o primeiro local de origem. A mensagem é
clara: estão querendo de volta o que perderam. Devo admitir que Snake é
corajoso, mas muito idiota também. Pode se achar esperto, só que não conta
com uma coisa: no forno que ele forja sua balas, eu não só comprei, como
também me tornei o especialista. Ninguém me provoca ou me desafia e fica
por isso mesmo.
Com base na vida que tive e na maneira que fui criado desde muito
jovem, aprendi que eu não seria merecedor de nada se não provasse que
realmente mereço, pois nada vem de graça. Nunca senti que minha vida
valesse algo para alguém, então assim decidi que meu único objetivo enquanto
eu respirar, será caçar, torturar e matar em nome da máfia. Se eu morrer em
batalha, tudo terá valido a pena e eu terei vivido tempo o suficiente no meio
dessa merda. Pela famiglia, eu menti, roubei, extorqui e trafiquei, e tudo isso
não foi o suficiente para me fazer parar ou ficar de consciência pesada ao
colocar a minha cabeça no travesseiro.
A besta: é assim que eles me chamam pelas costas. Há quem diga que
sou o braço direito do próprio demônio. Já mandei tantas almas para o inferno
que acredito que isso seja realmente verdade. Eu estou longe da redenção e
nem a quero se for para me tornar um ninguém. Eu nasci para essa vida e
prefiro ser temido do que ter meu nome levado ao caos e ao medo. Eu me sinto
vivo assim e um dia quando eu me for, eu ainda serei lembrando pelos meus
feitos. Aquele que mesmo sendo um bastardo rejeitado, deu o seu melhor pela
Camorra e conseguiu o seu espaço.
Entro na cafeteria, louco por um café amargo para ver se ele espanta esse
maldito sono. Horas sem dormir dentro do carro, vigiando os Dragons, não foi
fácil. Escolho uma mesa encostada na parede. Essa é uma mania da qual nunca
irei perder e agradeço ao Henrique por isso. Gosto de poder olhar quem está à
minha volta e ter a certeza de quem entra e sai, porque assim estarei preparado
para eventuais acidentes.
A garçonete me atende receosa e eu quase rio por suas mãos tremerem
ao anotarem meu pedido. Em minha visão periférica, procuro meu alvo e não a
vejo. Eu tentei me convencer durante a noite, enquanto pensava sozinho, que
eu deveria deixá-la em paz e não perturbá-la, mas não consegui, e aqui estou
eu descumprindo um juramento feito para mim mesmo, e tudo porque a porra
do meu pau fica duro só de imaginá-la nua embaixo de mim. Ela passou a
povoar minha mente como um maldito vicio e eu a quero, nem que seja apenas
por uma vez. Talvez assim essa ânsia e necessidade descontrolada passe e eu
possa seguir minha vida. Só pode ser pelo desafio. Isso faz parte de mim e eu
preciso me saciar para poder voltar a ter o mesmo foco de antes.
— Menina, a Angel veio hoje? — pergunto.
— Sim. — A garota parece que vai desmaiar a qualquer momento.
— Me trás um café puro e dois donuts!
A garçonete sai quase correndo.
Eu volto a procurar por ela. Encontrá-la aqui bem debaixo do meu nariz
e no meu território vai ser uma maravilha, do jeito que eu gosto. A menina
facilitou muito pegando nossos produtos e não pagando.
Não demora muito para que ela apareça entregando uma encomenda a
um dos clientes, e eu me embebedo da sua beleza porque sei que no exato
momento que ela bater seus olhos em mim, vai me reconhecer e fugir. Eu
estou ansioso para sair à sua procura.
Droga! Uma vez com essa menina é muito pouco. Será minha pelo
tempo que eu necessitar dela, que só não sabe disso ainda. Eu a poupei porque
eu vi que ela é diferente, e eu tirei essa conclusão no exato momento em que
bati meus olhos nos seus. No fundo acho que senti algo me puxando, mas não
era o momento, além de que eu precisava de tempo e tinha outras coisas em
mente. Agora estou livre para pegar o que me pertence.
Logo o seu rosto se vira em minha direção, então seu sorriso morre e
seus olhos se arregalam quando batem instantaneamente nos meus. Choque,
raiva e medo: eu vejo tudo isso claramente em seu rosto, como da primeira
vez. Conto até dez para vê-la sair do transe, se virar e correr. E ela não me
decepciona. Volta para a porta de onde saiu, com certeza indo fugir pela outra
dos fundos.
Respiro resignado. A garota vai me dar trabalho. Nunca soei tanto por
uma boceta. Mas foda-se se se eu fico animado por imaginar o que farei com
ela quando alcançá-la e o quão saborosa será a minha recompensa!
Dou alguns segundos a mais de vantagem para que ela possa escapar e
gemo com a adrenalina correndo em minhas veias, fazendo o meu membro
pulsar em minha calça, friccionando nela ao ponto de doer. Sorrio quando
termino meu café e me levanto deixando notas o suficiente na mesa para pagar
bem mais do que uma xícara do líquido preto fumegante e duas rosquinhas.
Saio calmamente estudando e tentando imaginar por onde ela foi e vou para os
fundos da lanchonete, onde de longe vejo somente seus fios loiros pulando o
muro de trás.
Lenta, minha Angel. Muito lenta.
Tudo pulsa mais forte em mim, e como um animal sentindo o cheiro de
sua presa sem conseguir enxergar mais nada em sua frente, a não ser o seu
alvo, eu respiro fundo, me preparo e corro atrás dela. Pulo o muro e quase
gargalho quando a vejo olhar para trás e acelerar ainda mais sua fuga.
Comparada a mim, ela é pequena, e dois dos meus passos dão o dobro do dela.
Logo eu a alcanço, seguro seus braços e a jogo na parede mais próxima,
a fazendo gritar de susto.
— Eu fiquei fora do seu caminho. — diz sem fôlego.
— Não ficou, Angel. Você comprou drogas de um dos nossos
fornecedores. E adivinha quem eles mandam cobrar quando o cliente tenta nos
passar a perna?
Ela para de se mexer e me observa, com a respiração descompassada.
— Eu vou pagar tudo.
— Eu sei que vai, e eu vou me certificar disso.
— Se vai me matar, faça isso logo!
— Você é uma suicida, não é? Eu te poupei aquele dia, mas mesmo
assim ainda está buscando um meio de conseguir de outra pessoa o que
não conseguiu de mim.
Seus olhos lacrimejam e ela vira o rosto, fungando.
— Você não sabe de nada.
— Não? Então me diga que não sente um grande vazio dentro de si e
que não consegue preenchê-lo! Então usa essas porcarias para sentir um pouco
de dormência.
— Eu não consigo mais pa... Parar. — sua voz falha no final.
— Eu sei que não, mas eu vou te ajudar.
— Por quê?
— Porque eu te livrei da sua dívida e pela segunda vez estou poupando
sua vida. Você me deve e eu sei exatamente como quero que me pague.
Ela se afasta e começa a tirar a sua roupa na minha frente, me deixando
confuso com a sua rapidez de raciocínio.
— É isso que você quer? Então pegue! Me use! Tenha seu prazer e vá
embora!
Paro sua mão quando ela alcança a calcinha minúscula. Eu a quero e Dio
sabe o quanto eu desejo me afundar nela e só parar quando ela estiver
ordenhado a última gota de esperma de dentro de mim. Mas não assim, sem
vontade, em um beco sujo e nojento. Eu preciso que ela me deseje, que
implore por mim e me queira tanto quanto eu a quero, quase que
desesperadamente.
— Vista-se, querida!
— O quê? Não vai molhar seu pau?
Como uma tentação encarnada, ela aperta seus seios pequenos de bicos
rosados e desce a outra mão para o meio de suas pernas.
— Pare, menina!
Ela ri alto agora.
— Oh! O executor mais perverso da Camorra não é capaz de fazer o seu
serviço direito?
Ela está usando o seu corpo para me provocar e tirar de mim a reação
que deseja.
Levo meus olhos para onde sua mão está e a minha boca seca quer
sentir, nem que seja um pouquinho, o seu gosto. Como se estivesse
hipnotizado, eu me aproximo e puxo sua mão, a trazendo para meus lábios.
Chupo seus dedos melados e gemo quando seu sabor explode em minha
língua, me deixando mais insano do que já sou. Porra! É muito melhor do que
eu imaginei.
Como o fodido que sou, bato minha boca na dela, matando ao menos um
pouco do meu desejo. Exploro seus lábios em um beijo quente e molhado.
Paro logo em seguida para falar.
— Você será minha, Angel! Mas antes disso terá que aprender que dois
podem jogar o mesmo jogo. Eu voltarei no final do dia para pegá-la, e é
melhor estar me esperando, ou vou caçá-la e puni-la sem piedade.
Me afasto dela, a deixando ofegante, e saio sorrindo quando vejo seu
estado não muito diferente do meu. Esse é só o começo, raposinha. Logo terei
você à minha mercê e para o meu bel-prazer.
Acordar depois de uma noite em crise e uma experiência de quase morte,
deveria se considerar uma dádiva. Certo? Não para mim. Eu tenho que viver
com a lembrança constante de que sou um fracasso em minhas tentativas de
ser uma pessoa normal e até mesmo nas de dar um fim em minha vida
miserável.
As batidas fortes na minha porta me puxa do fundo do poço que estou e
me traz para a realidade.
— Angel?! Levante-se! Eu não te pago para dormir até tarde.
Droga! Perdi o horário de novo.
— Já vou! — Suspiro e me arrasto para o banheiro.
Tomo um banho, escovo os dentes, passo uma maquiagem forte para
esconder as olheiras e vou trabalhar.
Respiro fundo e gemo quando vejo a cafeteria, como de costume, lotada.
Okay! Sem café para mim por enquanto. Essas pessoas parecem que
madrugam junto com os pássaros.
Ajudo as meninas a atenderem para diminuir a fila enorme de clientes
até o último receber seus pedidos. O sino da entrada toca e levanto meus olhos,
vendo um dos estagiários da empresa da frente entrar, como toda manhã, para
buscar o café do seu chefe.
— Bom dia. — cumprimento entediada.
— Bom dia. Quero o de sempre.
Tento puxar na memória qual é o de sempre e a minha mente falha,
cansada pela noite mal dormida. Ele arqueia uma sobrancelha, me olhando, e
eu fico sem graça. Não quero dar motivos para irritá-lo e ter alguém logo de
manhã fazendo alguma reclamação sobre mim para o Chris.
— Desculpa! Minha cabeça não está muito boa hoje. Pode repetir para
mim o seu pedido?
Ele sorri simpático.
— Tudo bem. Dois cappuccinos, um café puro e três cafés da manhã
completos com ovos mexidos, bacon, panquecas e tudo que eu tiver direito.
— Okay!
Entrego seu pedido ao Chris e vou para as mesas atender outros clientes
que chegaram.
Duas horas mais tarde as coisas se acalmam e aí eu faço uma pausa para
comer algo. Já estou com o corpo tremendo. Não sei se é fome ou o efeito das
drogas passando. Como uma omelete com um suco de laranja e volto para os
meus afazeres.
— Pedido trinta e cinco pronto. — Chris avisa.
Eu pego o pedido e entrego ao John, um senhor muito simpático que
vem todos os dias aqui no mesmo horário para comprar seu café da manhã.
— Como o senhor está hoje?
— Bem. Ainda mais porque é você me atendendo. — Pisca todo faceiro.
— Muito galanteador, hum? — Rio das suas tentativas de me conquistar.
— Tenho que ser. Ainda estou na flor da idade.
Sorrio quando ele me deixa uma gorjeta generosa e vai embora.
Viro-me para verificar se tem mais alguém sem atendimento. Pior erro.
Meus olhos batem diretamente nele, o homem que me observa feito um falcão.
Arregalo meus olhos, o reconhecendo de imediato, e me vem na mente suas
palavras. Ele me disse que se me visse de novo, eu morreria.
Saio pela porta dos fundos, deixando um Chris aos gritos para trás. Pulo
o muro o mais rápido que posso e corro porque eu sei que se ele me alcançar,
eu estou ferrada. Eu vi o que esse homem fez aos Dragons. É cruel e sua fama
lhe faz jus.
Eu só não contava que ele iria me alcançar. Logo me joga na parede e eu
tento me soltar, mas é em vão. Quando o cara me diz que eu peguei as drogas
de um dos seus fornecedores, sei que já era para mim, porque pior do que a
morte é dever algo aos mafiosos. Ele irá me estraçalhar sem misericórdia.
Quando se vira para ir embora com a promessa de voltar, eu já tenho um
plano montado. É hora de me retirar e mudar para um novo lugar. “Recomeço”
já virou quase o meu nome do meio e isso nem me assusta mais.
Visto minha roupa e volto para a cafeteria, onde não conto para ninguém
o que aconteceu.
Passo o dia trabalhando normalmente para não levantar suspeita, e quase
no fim do meu expediente, cato minhas poucas coisas, pego no caixa o que sei
que vale pelo meu salário da semana e deixo um bilhete na cozinha com um
pedido de desculpa onde sei que o Chris vai encontrar. Ele vai pirar, mas que
se foda! Não vou vê-lo nunca mais mesmo. Estou apenas pegando o que é meu
por direito.
Paro um táxi e peço para ele me levar direto ao aeroporto mais próximo.
Não sei para onde eu devo ir, mas qualquer lugar é melhor do que aqui no
momento. Eu já andei sabendo por alguns boatos que Snake está de volta,
então será questão de tempo até o cara vir atrás de mim. E Deus me livre de ir
parar nas mãos dele novamente! A besta ou a cobra: bela opções eu teria, hein?
Suspiro aliviada quando vejo o terminal, desço do carro, jogo algumas
notas no banco da frente para o motorista e vou comprar a minha passagem
para sabe lá Deus onde. O primeiro voo que tiver saindo é o que eu irei
escolher.
Mal saio do taxi, tendo dado apenas alguns passos, e sinto mãos me
agarrarem por trás. Não tive tempo de ver quem é ou me defender. Um pano
com cheiro forte é jogado em meu rosto e eu automaticamente vou perdendo a
consciência. Ao fundo só ouço aquela maldita voz de novo dizendo que sou
dele e que pertenço somente a ele.
Tarde demais Angel. Muito tarde. A besta te pegou.
A garota se debate durante o sono, delirando. Seu corpo treme como se
ela estivesse com frio, mas o suor escorrendo pelo seu rosto mostra o quanto
está sofrendo por provavelmente sentir abstinência pelas drogas. Faz uma
semana que estamos no mesmo jogo: Angel acorda, diz que está com fome, eu
lhe trago a comida, ela diz que não quer e chuta o prato para longe, gritando,
ou chora e me ameaça, mas eu não cedo.
Já estou acostumado com isso e outros comportamentos bem piores.
Molho um pano e coloco em sua testa, tentando ajudar seu corpo a controlar a
temperatura e evitar uma convulsão pela febre alta.
— Por favor! Faz isso parar! — ela segura uma das minhas mãos em
meio a mais uma de suas crises de inconsciência.
— Calma, mio angelo! Seu corpo está eliminando todas as toxinas dele.
— Você não entende. Eu preciso de só um pouco e vai melhorar.
— Não. Você não precisa. É mais forte do que isso. Aguente firme!
— EU VOU TE MATAR, SEU FILHO DA PUTA! ME SOLTA! —
grita desesperada, puxando seu braço preso na cabeceira da cama.
— Quando você estiver melhor, eu solto. Fora isso, vai continuar presa
para não arrancar o soro com o medicamento da veia.
Anos tendo que torturar ou manter a vida dos inimigos por mais algum
tempo até arrancar todas as informações que precisamos, tem lá seus
benefícios. Eu aprendi um truque ou outro que veio a calhar por várias vezes
para nós em alguma situação de risco entre a vida e a morte. Por muito tempo
eu mesmo cuidei das minhas feridas depois de dias de tortura nas mãos de
Luigi ou dos seus homens. Eu já estive no lugar dela e sei como é difícil largar
essa porra de vício. Quando Luigi me recrutou para a máfia, eu precisei passar
por esse desmame também. Levou um tempo para eu conseguir me livrar,
portanto vai ser difícil para a Angel, mas que assim como eu, conseguirá
também. Suas roupas estão novamente encharcadas de suor e eu as tiro com
cuidado do seu corpo para que ela não pegue um resfriado.
A garota grita mais algumas palavras ofensivas, contudo eu continuo
meu trabalho. Logo ela terá consciência de novo e ai sim nós vamos poder
conversar.
Não demora muito e Angel cansa de lutar. Fecha os olhos, dormindo, e
eu fico aqui sentado na maldita poltrona, zelando por ela.

(...)

Lhe levo comida e água, mas como nos outros dias, ela sequer olha. Eu
não me importo de continuar tentando mesmo assim. Uma hora a fome vai
apertar e a necessidade de se alimentar será maior do que as de colocar as
drogas para dentro de si.
— Você precisa comer. — falo com paciência.
— Eu não quero.
— Não é questão de escolha, e sim de necessidade, Angel. Coma ao
menos um pouco! Você está muito fraca.
Coloco o prato de sopa perto dela e ela o chuta com raiva, derramando
tudo em mim e no chão.
Suspiro fundo. Eu não vou perder minha mente. Ela está muito longe
para saber o que está fazendo e eu seria um idiota se revidasse.
A garota me encara como se me desafiasse a fazer algo.
— Okay! Uma pena você ter jogado fora, porque estava muito bom.
— Então coma você!
Eu passo um dedo no meu peito, onde está escorrendo caldo, e o levo até
a boca, chupando bem devagar, sem tirar meus olhos dos seus.
— Uma delícia. Mais gostoso do que esse caldo, somente o gosto da sua
boceta.
Sua pupila dilata e ela arfa com a minha provocação, mas eu não cedo.
Não ainda. Eu a quero totalmente consciente quando eu entrar nela pela
primeira vez.
Deixo-a deitada na cama e saio do quarto para que ela possa pensar em
sua atitude.
Abro meus olhos devagar, voltando a ter consciência de novo, e observo
ao meu redor, tentando reconhecer onde estou. Puxo meus pulsos e constato
que eles estão presos por uma algema. Meus braços formigam por estarem na
mesma posição há muito tempo.
Eu me desespero quando tudo volta e eu lembro do que aconteceu. Ele
me pegou. Tentei fugir, mas não deu tempo.
A porta se abre e ele entra me olhando sério. Está chateado, mas é muito
controlado, porém, mesmo assim dá para sentir a tensão saindo dele e tomando
conta do ambiente.
— Não cansa dessas tentativas tolas de me consertar?
— Não. Achou que poderia me enganar, Angel? — Senta na poltrona,
perto da cama.
— Me solta, seu desgraçado! Ou você vai se ver comigo!
Sei que eu não deveria provocá-lo, mas não ligo. Ele que me sequestrou.
Já estou ferrada mesmo. Olha lá se eu sair com vida daqui.
— Tsc, tsc, tsc. — balbucia em reprovação. — É assim que você
costuma tratar as pessoas que te ajudam e cuidam de você?
— Eu não te pedi nada.
— Eu sei. E mesmo assim estou fazendo.
— Foda-se!
— Eu vou, querida. Na hora certa vou foder muito você. — diz com
uma certeza tão grande na voz que me irrita ainda mais.
— Eu quero sair daqui.
— Veja bem! Querer e poder são coisas completamente diferentes. Eu
não posso te libertar agora, pois você irá procurar o caminho das drogas de
novo. Isso me faria ter que te matar, e não é isso que eu quero.
— Você teve a chance de cobrar e não me quis.
— Prefiro minhas mulheres sãs quando as tenho embaixo de mim.
— E por que se importa? Eu não sou nada sua.
Ele me analisa por um longo tempo em silêncio e eu acho que nem vai
me responder.
— Eu também não sei.
— Não sabe o quê?
— O porquê me importo com você.
— Por favor, Marco! Nos poupe tempo! Eu faço qualquer coisa que
você quiser. Tudo mesmo.
Seus olhos escurecem e ele me olha com raiva.
— Não. Seus jogos não funcionarão comigo, menina.
Porra! Era meu maior trunfo.
— Quero usar o banheiro. — Uma ideia se forma em minha cabeça.
Ele se levanta, me solta e aponta uma porta no nosso lado direito.
Entro no banheiro e procuro por um meio de fuga. Faço as minhas
necessidades e ligo a torneira para disfarçar o barulho da minha tentativa de
abrir a janela. Mas é muito pequena e não dá para sair por ela. Olho no canto e
vejo um pequeno espelho. Não penso muito e somente o pego. Taco-o no chão
para quebrá-lo e usar como uma arma.
Tá. Não é muito inteligente, porém, pode ser minha única chance. Não
vou ser prisioneira de mais ninguém.
— O que está fazendo? Que barulho foi esse? — ele grita e invade o
banheiro.
Pego o caco maior e me jogo em cima dele, tentando acertá-lo. A ponta
corta um dos seus braços, o fazendo grunhir feito um animal feroz. Mas
mesmo ferido, ele consegue me imobilizar com facilidade e tomar o vidro das
minhas mãos.
— Tudo bem, Angel. Eu já entendi que você gosta das coisas do jeito
mais difícil. Por essa ousadia vai ficar presa e eu não a soltarei nem para ir
sozinha ao banheiro de novo.
— Seu filho da puta! Eu não sou um objeto para você achar que é meu
dono.
— Se não é um objeto, porque usa seu corpo como um? — Segura meu
cabelo, me fazendo encará-lo.
— Isso não é da sua conta, seu idiota!
— É da minha conta a partir do momento que você cruzou o meu
caminho.
Ele me joga na cama, me prende e sai do quarto batendo a porta com
força. Meu corpo está marcado com seu sangue e meu suor. Eu tinha que tentar
sair, mesmo que no processo eu me condenasse de vez. Merda! Eu preciso da
minha dose diária, ou vou pirar. Maldito Snake! É tudo culpa dele.

(...)

Muito mais tarde ele volta com um prato de comida e água, deixa em
cima da mesinha e entra no banheiro, ficando um tempo lá dentro. Em seguida
sai e vem na minha direção com una determinação que me assusta.
— O que vai fazer? — pergunto
— Te ajudar a se limpar.
— Eu sei fazer isso sozinha.
— Não me importo com o que você sabe.
Ele me ajuda a levantar e me leva para o chuveiro.
Está calado, apenas compenetrado na tarefa de passar a esponja
suavemente pelo meu corpo. Ele me deixa tão confusa. Que tipo de homem
tem uma mulher a sua mercê e não abusa dela? Eu não consigo entender o que
esse cara quer de mim ou quais são suas verdadeiras intenções.
Ele termina de me ajudar e aponta para a cadeira na minha frente.
— Sente-se ali e coma! — diz como se ordenasse e eu obedeço porque
estou realmente com fome.
Como toda a comida que ele me trouxe, sob sua supervisão.
— Quanto tempo pretende me manter aqui?
— O tempo que precisar.
— Marco? O que você quer?
— Você é minha, Angel. Eu te poupei porque eu quero você para mim.
Sua sinceridade me deixa sem palavras. Eu já reparei que ele é um tipo
de homem que fala exatamente o que está pensando, mesmo que doa. Olho
para seu braço enfaixado e sinto um pouco de pena.
Ele segue meu olhar e prende seus olhos nos meus.
— Me desculpe por isso! Eu estava desesperada e só queria me defender.
— Eu sei. Eu teria feito o mesmo.
— Posso sair do quarto?
— Preciso sair agora. Quando eu voltar, te libero para andar dentro da
casa.
Balanço a cabeça, dando sinal que entendi, e ele se vai outra vez,
trancando a porta. Bom... Se ser agressiva não funcionou, nem oferecer o meu
corpo, vou ter que me comportar e descobrir quais táticas aplicar. Todo mundo
tem um ponto fraco, e tudo que eu preciso é deixa-lo achar que baixei a cabeça
e aceitei suas ordens, para descobrir o que usar contra ele.
Ele disse que voltaria ontem, mas não voltou, e ficar presa aqui está me
deixando louca. Se pelo menos eu tivesse uma televisão, ela poderia me ajudar
a passar mais rápido o tempo. Bufo com meus pensamentos.
Você está presa Angel. Não é uma colônia de férias ou um Spa.
A fechadura mexe e eu pulo da cama, ansiosa, mas para a minha
completa surpresa, quem entra não é ele, e sim a mulher que ia na cafeteria
comprar café da manhã quase todos os dias.
— Eu sabia! — ela grita, me assustando.
— Sabia o quê? — pergunto confusa.
Será que é mulher dele e o cafajeste me trouxe para cá com o intuito de
me esconder e me ter como amante?
— Que Marco andava aprontando alguma coisa.
Fodeu, caralho!
— Olha, moça, eu não quero problemas com você. Me deixa sair daqui e
eu prometo que você nunca mais me verá na sua vida!
— Calma! Eu não quero te fazer mal, apenas conhecê-la.
Levanto uma sobrancelha, em descrença.
— Se quer realmente me ajudar, me deixe ir! — quase suplico à
desconhecida.
— Lorena? — um cara entra no quarto atrás dela e eu retenho meu
corpo, dando dois passos para trás quando o reconheço.
O capo! Estou muito ferrada!
— Estou bem, Vincent.
— Você não deveria vir aqui. — ele diz.
— Como me achou tão rápido? — ela pergunta parecendo surpresa.
— Te segui. — responde com uma naturalidade, como se tivesse dito
que estava passeando.
— Eu precisava ver com meus olhos quem era a mulher que fez Marco
ficar todo estranho e sumir lá de casa.
— Isso não é problema nosso, querida. Se ele a esconde aqui, deve ter
um motivo.
Ela cruza os braços e o olha como se o desafiasse. É engraçado vê-la
controlar a situação e tê-lo em suas mãos, sem parecer que tem medo dele.
— Vocês mafiosos e essa mania de achar que tudo se resolve com
sequestro ou prisão. — a mulher rebate.
Algo brilha em seus olhos e eu fico quietinha encostada na parede feito
uma telespectadora assistindo uma novela mexicana, apenas os olhando com
curiosidade.
— Aqui não é o lugar para se ter essa conversa. Vamos embora! — Ele a
puxa por um braço e ela se solta com rapidez, vindo em minha direção e o
ignorando.
Não perco o aviso de morte que ele me lança quando me olha. Ótimo! É
tudo que eu precisava.
— Não ligue para ele! Venha comigo e vamos conversar um pouco!
Quero ser sua amiga. — ela me estende uma mão.
— Eu não acho que seremos alguma coisa. Está claro que não
pertencemos ao mesmo ciclo social. — aponto para mim e ela, e depois para o
capo, que não desvia seus olhos dela em nenhum momento.
A impressão que eu tenho é de que ele nem pisca para não perder nada.
— Bobagem! Logo você será da família, Angel.
Sem que eu diga “sim” ou “não”, ela me pega por uma mão e me tira do
quarto.
— Me fala! Como você está se sentindo? — pergunta.
— Bem. Eu acho.
— Ele tem te tratado bem?
— Sim. Só não entendo o que realmente quer de mim. Ele não parece
ser do tipo que ajuda alguém sem querer algo em troca.
— Ele não sabe se expressar bem, mas tenho certeza de que gosta de
você.
O chefe senta-se um pouco distante, nos vigiando.
— Eu duvido disso.
— Acredite em mim! Eles são durões porque precisam ser assim, mas
Marco é um urso por dentro depois que o conhece melhor.
— Urso? — Seguro a vontade de revirar os olhos para a sua fala. Em
que mundo essa mulher vive?
— Sim. Ele é só um homem ferido que precisa de cuidados.
Não me aguento e gargalho.
— Você está consciente de que aquele homem já matou e torturou mais
pessoas do que pode contar?
— Estou. Mas confia em mim: você é a mulher certa para o Marco e vai
derrubar aquela armadura de gelo que ele tem.
É impressão minha ou ela está praticamente nos juntando?
— Olha! Vai com calma aí, cupido! Eu não tenho interesse em ter um
relacionamento com ninguém. Só quero que ele pare de me perseguir.
— Isso será difícil. Ele não te deixou viva apenas para que você saia por
aí ficando com qualquer um por drogas. — o capo, que até o momento se
manteve calado, fala.
Eu tenho certeza que minhas bochechas estão escarletes de vergonha por
ele saber desse detalhe sobre mim.
— Eu disse que ia pagar tudo a ele. — Me sinto de repente chateada por
ele falar isso como uma acusação.
— Uma pessoa viciada é capaz de tudo. Eu espero que você seja ao
menos um pouco inteligente e não tente nada contra ele ou contra ela. —
aponta para a mulher na minha frente. — Eu não vou me importar de te
procurar e fazer picadinho de você se fizer qualquer coisa que prejudique
qualquer um dos dois. Capiche?
Maravilha, Angel! Na mira do mafioso.
— Vincent! Quer parar de assustá-la? — a mulher, que agora eu sei que
se chama Lorena, ralha ele.
— Tudo bem. Eu entendi seu recado. — respondo com cautela.
— Bom. — retruca.
— Você já comeu alguma coisa? — Lorena pergunta.
— Ainda não. Marco ficou de voltar ontem e não apareceu.
O que quer dizer que ele não se importa tanto com você. — minha
consciência zomba.
— Oh! Então venha! Vamos fazer algo para comermos e nos
conhecermos melhor.
A sigo, calada, me dando ao luxo de somente agora olhar ao meu redor.
Reparo que estamos em uma casa de madeira bem trabalhada. É bonita e
rústica. Os móveis são na maioria de cores escuras. Parece que a casa foi
mobiliada há pouco tempo de tão novos que são. Bem a cara do seu dono.
— Gosta de lasanha? — Lorena puxa minha mente de volta.
— Sim. Eu gosto.
— Ótimo! Vamos fazer lasanha então.
Pegamos os ingredientes na geladeira e começamos a preparar o prato.
E até que não é ruim ter companhia. A conversa flui bem enquanto a
lasanha fica pronta para comermos.
Eu descobri que a moça é brasileira e que tinha sido sequestrada pelo
antigo chefe, o Luigi. O que não foi tão ruim, na minha opinião, já que ela se
casou com o atual, que pelo jeito que a olha de longe, lambe o chão que a
mesma passa. Muito Interessante! Eu achava que todos os mafiosos eram
insensíveis e traiam suas mulheres. Bem... Os motoqueiros não são diferentes
deles. Claro que não posso dizer muito sobre fidelidade e amor, ou sei lá que
nome se dá a isso.
Quando o micro-ondas apita nos avisando que a Lasanha está pronta,
sentamos cada um em nossas cadeiras e desfrutamos em total silêncio da
comida, que está muito gostosa.
Logo que terminamos, Marco chega e o clima muda quando ele vê os
que estão como visitas em sua casa.
— Que merda está acontecendo aqui? — ele pergunta furioso.
— Viemos te visitar, já que anda sumido e muito misterioso. — Lorena
responde.
— Já parou para pensar que talvez eu não queira receber visitas e que
por isso me afastei, porque preciso desse espaço?
— Achei que fôssemos família. Que mal há aparecer de vez em quando
para nos ver?
Ele passa uma mão na barba, claramente nervoso com os
questionamentos.
— Independente de sermos família ou não, isso não lhes dão o direito de
invadir minha casa e se meter em meus negócios.
— Chega vocês dois! — Vincent ordena. — Lorena, se despeça e vamos
embora! E você... — Aponta para o Marco. — Lá fora! Agora! Me deve
muitas explicações sobre tudo isso.
— Foi um prazer te conhecer, Angel! Vá me visitar quando quiser!
— Não. Ela não vai na sua casa enquanto eu não tiver a certeza de que
podemos confiar nela. — Marco fala com os dentes cerrados.
— Não seja um chato! Ela será bem-vinda sempre que quiser. — Ela
sorri e se despede. Eu aceno dando um adeus.
Ambos saem e Marco traz sua atenção de volta para mim. Me observa
por tanto tempo que eu começo a me remexer, me sentindo tímida de repente
sob sua avalição. Troco o peso de um pé para o outro, aguardando que ele fale
algo e me preparo inclusive para receber algumas ofensas por eu ter saído do
quarto, mesmo que não tenha sido inteiramente minha culpa. Mas como
sempre, ele é imprevisível e muito difícil de ler.
Ele se aproxima devagar e em cada passo que dá em minha direção, dou
dois para trás, o temendo, até que sinto a parede em minhas costas.
— Quando é que vai aprender que não se pode fugir de mim, Angel?
— Não sei. — Foco na sua boca muito perto da minha e lambo meus
lábios com sede e ânsia pelo seu toque.
Mas que porra! Ele é muito bom em manipular meus movimentos e
jogá-los contra mim. Será questão de tempo até cumprir sua promessa velada.
— Eu vou me despedir deles e quero que você me espere quietinha aqui.
Tudo bem?
Balanço a cabeça positivamente e ele circula meus lábios com um dedo,
me fazendo arfar com essa carícia inesperada.
— Eu quero ouvir da sua boca que você me entendeu.
— Sim. Eu entendi.
— Boa menina.
Ele encosta delicadamente sua boca na minha e mordisca meu lábio
inferior, o chupando em seguida. Então segura a minha cintura, me trazendo
para mais perto de si, e eu me entrego ao beijo, que fica quente e exigente.
Queria entendê-lo ao menos um pouco nesse momento.
Como se tivessem vida própria, minhas mãos vão para os cabelos do
Marco, o puxando mais para mim. Meu corpo o reconhece, mesmo que não
tenhamos passado de um simples beijo encostados no muro no dia que eu fugir
dele. Estou quente e desejosa. Minha vagina pinga de necessidade, o querendo
dentro de mim. Quando fica palpável que estamos nos comendo ainda vestidos
na sua sala, com seu chefe e mulher lá fora o esperando, ele sai do momento
inebriante em que nos colocou e se afasta com a promessa de muito mais
depois.
— Eu já volto. Preciso falar algo com o capo.
— Okay!
Ele se vira e sai da sala, me deixando mais confusa do que quando
entrou.
Não sei que porra aconteceu aqui nesses poucos minutos, mas é óbvio
que não ficará pela metade. E ao mesmo tempo que eu quero mandá-lo ir se
foder por me manter aqui contra a minha vontade, eu desejo conhecer mais
dele também. Acho que ainda é efeito das drogas saindo do meu corpo e me
causando algum tipo de delírio surreal.
Encarar Vincent depois de passar dias o ignorando é um merda. Esse
cara me conhece mais do que qualquer um. Então em vez de mentir e ser
desmascarado, eu prefiro apenas fazer o meu serviço e ter o mínimo de contato
possível com ele e sua adorável esposa intrometida.
Desço os degraus e o encontro já me esperando. Era pedir muito que ele
tivesse pegado a dica e ido embora? Não o Vincent que eu conheço. Ele nunca
desistiu de nada sem uma boa luta e agora não seria diferente.
Não avisto a Lorena e imagino que ela esteja no carro, o aguardando, e
quase agradeço aos céus por isso. Pelo menos só terei que me explicar à única
pessoa que me importa. Não me levem a mal. Respeito a Lorena, e tudo, mas
vamos dizer que eu ainda não confio completamente nela, nem lhe dou total
abertura para me conhecer e muito menos alguma liberdade para ela se meter
na minha vida pessoal. O laço que tenho com Vincent é único e não se estende
à sua esposa.
— Então eu estava certo. Você estava sumido por conta dela? —
questiona sem rodeios.
— Não. Estou sumido porque ando vigiando os Dragons e tentando
descobrir qual é o plano diabólico deles antes de matá-los. — tento me
esquivar.
— Não precisa mentir para mim, Marco. Você pode enganar qualquer
um com essa sua fachada de "não estou nem aí para nada", mas nós dois
sabemos que desde que assumi o cargo e me casei com a Lorena, você mudou,
se afastou e passou apenas a se dedicar às minhas ordens como chefe.
Foda-se! O filho da puta gosta de enfiar a faca na ferida e torcê-la.
— Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Só preciso desse tempo
para mim. Eu continuo fazendo meu serviço como sempre. Não estou te
deixando na mão.
— Eu sei que não, mas eu me preocupo com você, que é o meu único
irmão. E sabe que mesmo antes de eu saber disso, éramos somente os dois, um
pelo outro. Não ache que agora que casei e estou construindo minha família,
que você não faz parte dela! Tudo que construímos com o tempo, só será
quebrado quando um de nós não estiver mais aqui.
— Não quero atrapalhar vocês. Ainda é difícil para mim confiar nas
pessoas. Não esqueci da minha promessa e sempre estarei aqui para você,
irmão.
— Esquece essa porra de promessa! Nós vencemos e agora teremos a
chance de recomeçar do nosso jeito. Lorena gosta de você e está tentando
duramente deixá-lo se sentir parte dessa nova etapa em nossas vidas. Tente ao
menos aparecer mais vezes! Sentimos sua falta, cara.
— Eu sei. — Como explicar que você se sente perdido e fora do lugar?
— Me dê esses dias e eu irei me esforçar para ficar mais presente!
— Tudo bem. A garota lá dentro não é a que Snake está procurando?
É claro que ele saberia disso.
— Sim. Ele não é louco de tentar algo em nosso território. Sabe que
estaria assinando seu atestado de óbito.
— Bom... Eu confio em você. Só tome cuidado! Não sabemos de onde
ela vem e do que é capaz. Preste atenção no que faz e fala perto dela! Tenha a
certeza de que a garota é confiável e que na primeira oportunidade que tiver
não irá correr e entregar alguma informação preciosa nossa para eles!
— Estou de vigia. Não se preocupe!
Quem diria? Há uns dois anos era eu dando esse aviso a ele e agora
estamos trocando de lugar. A vida é uma piada de muito péssimo gosto.
— Tenho que ir. Lorena não está se sentindo bem, e por mais que eu
tenha lhe dado ordens de ficar em casa, veio atrás de você.
— Já disse que não quero me meter em sua vida, mas esse não é o
momento da sua esposa ficar brincando de gato e rato com você. Estamos sob
ameaça de ataque e espero que ela se lembre disso antes de se colocar em
perigo de novo.
— Vou conversar com ela. Se cuide!
Fico olhando o carro dele sair, e assim que ele some das minhas vistas,
eu entro em casa.
Angel está sentada no sofá, olhando a janela, pensativa. Gostaria de
saber o que se passa em sua mente nessas horas em que ela parece ficar
perdida em pensamentos. Não voltei para casa ontem e à noite inteira me
mantive pensando nessa garota. Eu estou cansando de tentar entender o que
sinto ou se realmente valerá a pena investir nela. Todas as outras mulheres que
eu tive, parecem pálidas diante dela. Eu desejo ajudá-la, e muito mais que isso,
eu a quero comigo. Eu sei que ainda é muito cedo e que no momento ela quer
ir embora, mas pretendo trabalhar a sua confiança em mim para que a mesma
se torne tão dependente de mim quanto eu já dependo dela.
Eu passei a minha vida inteira sendo rejeitado e fui usado por muitas
mulheres desde muito jovem, inclusive algumas da máfia insatisfeitas com
suas vidas conjugais. A Angel é diferente e me chamou a atenção, mas não
porque é bonita, e sim por ser tão quebrada quanto eu. Sendo assim, não me
tratará feito lixo e nem poderá se sentir superior a mim, como as outras faziam
questão de pontuar. Somos como duas metades iguais separadas. Por mais que
não tenhamos a mesma idade, eu me sinto ligado e responsável por ela. O quão
fodido isso é? O cara mais temido da Camorra praticamente de joelhos por
uma ninfeta de dezenove anos com a boceta doce e um belo rosto angelical.
— Você só vai ficar aí me olhando? — ela pergunta com um sorriso
zombeteiro na voz.
— Eu deveria te punir por ser tão rebelde. — devolvo sua provocação.
— Então por que não me pune, executor?
Um sorriso escapa de meus lábios e eu a alcanço em poucos passos. A
faço ficar de pé e ataco sua boquinha carnuda em formato de um pequeno
coração.
— Não me provoque se na primeira oportunidade vai sair correndo,
menina!
— Não vou correr. Eu quero que termine o que começou.
— Acha que não quero o que você tem a me oferecer, sua pervertida?
— Eu já disse: pegue! — Se afasta, tirando seu short e sua blusinha de
alcinha.
— Angel, Angel! Não se deve fazer um trato com o diabo e achar que
ele não vai cobrar com todos os juros.
— Então me consuma! — Desce devagar a calcinha pequena, deixando
a mostra seu triângulo de cabelos loiros bem aparados.
Não vou mentir. Estou salivando feito um cachorro em frente a um bom
pedaço de carne suculenta. Consigo até mesmo sentir o gosto dela em minha
boca. Mais um pouco e eu até posso sair latindo feito um cão adestrado.
Essa menina é perigosa e eu não posso dar mole perto dela. Tenho que
mostrar quem está no comando dessa porra.
— Sente-se no sofá, Angel, e se toque para mim!
Ela não se faz de rogada e muito menos fica insegura. Sinal de que já
está acostumada a fazer isso há muito tempo. A ira de que vários outros a
tocaram antes de mim, me deixa revoltado. Para não quebrar o clima, engulo a
vontade de procurar e matar cada um deles e apenas curto o momento.
— Assim? — Desce as mãos pela barriga plana, indo em direção ao seu
monte de vênus. Seus dedos adentram seus lábios rosados, que brilham com
sua lubrificação.
— Mova seus dedos! — ordeno sem tirar os olhos do que ela faz.
Angel movimenta os dedos devagar e aos poucos coloca um dentro de si
e depois o tira, levando esse melado ao seu clitóris inchado. Não preciso tocá-
lo para saber que ele está palpitando de necessidade. Meu pau a essa altura não
está diferente.
Quando ela acelera o dedo, soltando alguns gemidos sôfregos, pronta
para gozar, eu a faço parar.
— Chega! — Sorrio quando seus olhos com as pupilas dilatadas me
observam desesperados pelo orgasmo interrompido.
Seus peitos sobem e descem com a respiração acelerada e os bicos deles
estão pontudos, implorando pela minha atenção.
— Chupe seus dedos, Angel, bem devagar! E depois comece tudo de
novo!
Ela faz como eu mando e novamente se dá prazer, buscando por um
alívio que somente eu e meu dolorido pau lhe dará. O suor escorre pelo seu
corpo e a minha vontade é de me levantar e lambê-la todinha. Sou egoísta
demais para desperdiçar cada sabor seu.
Angel revira os olhos, se preparando para gozar, e eu me levanto para
tirar sua mão do local. Ela grita frustrada por mais uma interrupção, mas dessa
vez eu quem quero iniciar essa doce tortura. Passo minha língua por toda a
extensão da sua boceta, provando seu delicioso sabor direto da fonte, como
quis fazer desde a primeira vez, e sugo seus lábios vaginais suavemente,
deixando seu clitóris por último de propósito. Depois de chupá-la como queria
e ter seu doce mel em meus lábios, eu subo para seu ponto doce, onde minhas
chupadas passam a ser mais vorazes e certeiras, a levando para o precipício do
prazer.
— Ah, Marco! — Segura em meus cabelos com força, tentando me fazer
acelerar.
Não me contenho mais e subo apenas o suficiente para puxar meu pau
para fora, que pula inchado e furioso por somente agora ir entrar na
brincadeira. Passo a glande em sua entrada, a provocando, e entro nela com
uma única estocada, a fazendo soltar um grito pela invasão. É muito apertada e
está bem molhada, mas mesmo assim inicio os movimentos suaves para que
ela se acostume comigo.
Beijo sua boca com volúpia, excitado por finalmente estar dentro do seu
delicioso corpo. Minhas estocadas se tornam firmes e rápidas. Nós dois
gememos com a explosão de sentimentos postos nesse contato tão íntimo e
explosivo. A cada toque dela, seguido de seus gemidos, são como músicas para
os meus ouvidos.
— Venha para mim, querida!
— Ah, que gostoso!
Angel goza gritando meu nome e eu não me seguro mais. Acelero para
acompanhá-la, gozando forte junto com ela e sentindo sua boceta quente me
ordenhar até não ter mais nada a ser entregue.
— Isso foi... uau! — Ela sorri.
— “Uau” é uma boa definição. — Beijo suas pálpebras sonolentas.
Não é preciso dizer muito. Foi espetacular e indescritível esse momento.
Viro de lado, a puxando para meus braços, e faço um cafuné em seus cabelos
loiros. Não demora muito e seus olhos azuis se fecham e sua respiração fica
rasa e suave.
Eu posso imaginar uma vida com essa garota se ela me quiser depois que
ficar totalmente liberta das drogas. Eu espero que nesse tempo em que Angel
estiver comigo, me conheça e goste do meu outro eu. Sei que não precisarei
fingir e ser quem não sou para agradá-la.
Quero conseguir apagar todos os vestígios de qualquer filho da puta que
tenha a tocado antes de mim, e se eu não conseguir de primeira, tralharei duro
para que isso aconteça num futuro não tão distante.
Acordo do cochilo, confusa sobre o que aconteceu, e me levanto
devagar. A primeira coisa que se passa em minha cabeça quando me
desvencilho de seus braços é olhar para a chave do carro em cima da mesinha
e depois para a porta. Quanto tempo levaria para eu sair correndo daqui e ele
me alcançar de novo?
Penso com cuidado, e depois de analisar as minhas opções decido não
provocá-lo mais. Se meu único meio de saída é ele me liberar, eu terei que tirar
a fuga da cabeça. Não quero ficar com um X marcado na minha testa pela
máfia e muito menos pelo executor. Estar duas vezes sob sua mira e não
morrer foram chances demais para desperdiçar.
Solto um bufo, inconformada, e me sento na outra poltrona, o
observando de longe. Não vou mentir que gostei da maneira que ele me tocou
e me fodeu. Nenhum cara tinha sido tão gentil comigo antes. O que é meio
estranho para o tipo de homem que o Marco é. Eu estava esperando violência e
agressividade, não gentileza. Vejo que suas mãos são tão habilidosas para tocar
uma mulher quanto para usar uma arma. Um verdadeiro mistério. Um que não
tenho certeza se vou querer desvendar. Sinceramente tenho medo do que irei
descobrir se começar a cavar fundo demais.
Coloco a cabeça entre as mãos, tentando me acalmar e não fazer uma
besteira.
— Pensando em uma maneira de me matar, Angel? — Seus olhos cores
de mel me observam.
— Na verdade eu estava analisando se uma fuga seria vantajosa para
mim com você na minha cola. — sou sincera.
— O que te faz correr? O que tem para você lá fora que tanto te atrai?
Somente a porra das drogas?
Suas perguntas me batem na cara, me deixando sem palavras. O que eu
tenho lá? Por que eu quero sair?
— Já parou para pensar no que você gostaria de fazer se não fosse
controlada pelos seus vícios? — continua seu questionamento cruel.
— Eu nunca parei para pensar nisso. Nunca tive um real motivo para
fazer planos.
— Talvez esteja na hora de pensar mais além, Angel. Você é muito
jovem.
— Por que se importa com o meu bem estar, Marco?
— Eu já fui como você: um viciado, rejeitado e humilhado por todos. A
diferença entre nós é que em vez de tentar contra a minha vida e me vitimizar,
eu aceitei as mãos que me foram estendidas e fui à luta para ser mais do que o
filho bastardo de uma prostituta. Eu mudei a minha história e não baixei a
cabeça. Provei para todos aqueles que me fizeram mal ou zombaram de mim,
que eu era dono do meu destino e não aceitava menos.
Uau! Se ele queria me dar um choque de realidade, conseguiu. A
pancada foi forte e certeira. Abaixo a cabeça, envergonhada, primeiro por eu
ter me colocado nessa situação, e segundo por eu ter pela primeira vez na
minha vida uma pessoa que queira me ajudar, e tudo que eu faço é ficar
planejando fugir dela.
— Angel? Olha para mim! — Levanto meu rosto em direção ao seu. —
Você é uma menina linda e com uma vida inteira pela frente. Eu não sei da sua
história e espero um dia ser merecedor de sua confiança para saber sobre cada
detalhe. Se não quiser me contar, tudo bem também. Isso não me incomoda.
Tento abrir a boca para falar, mas ele me silencia com um dedo e
continua sua fala.
— Se dê uma chance! Pare de sabotar as oportunidades que a vida te dá!
Tudo que eu consegui foi na base de muito sangue, suor e lágrimas. Você não
precisa passar por isso do jeito mais difícil.
— Eu não sei o que dizer. Foram muitos anos aprendendo que era eu
contra o mundo, e agora tudo parece tão irreal que não ouso acreditar que vai
durar muito tempo.
— Curta o momento, Angel! Porque sofrer pelo futuro se estamos no
presente? Como está sentindo hoje?
Péssima.
— Estranhamente bem.
— A verdade, menina!
Droga! É difícil enganar ele. Respiro fundo e resumo o que estou
sentindo.
— Ainda sinto tremores e uma vontade imensa de procurar por algum
alívio, mas já fiquei mais tempo que isso sem usar as drogas e depois acabei
cedendo e voltando. Não acredito que dessa vez vá ser diferente.
— Vamos canalizar essa ansiedade e frustração em algo positivo. Que
tal?
— Tipo o quê? Sexo? — zombo.
Ele ri jogando a cabeça para trás, e é a coisa mais linda. Todo seu rosto
muda com sua expressão relaxada e muito suave. Agora parece quase humano,
não um homem feito, frio e cruel capaz de me matar apenas em segundos.
— Eu não irei reclamar se você quiser me usar para isso, mas estou
falando de exercícios. Treino foi muito bom para mim e talvez te ajude
também.
— Podemos tentar.
Eu duvido que algo poderá me salvar, mas como ele está tão
empenhando em me fazer acreditar que posso ser salva, talvez tentar não me
custe nada.
— Muito bem. Amanhã começaremos seu treino. Agora vamos para
outro assunto mais sério. Quero que me fale o que sabe. Entendeu?
Fico apreensiva, mas concordo.
— Você deve estar ciente de que Snake está atrás de você. Eu quero
entender o que você sabe e o quanto essa informação é importante para ele.
Preciso que me conte tudo, sem deixar nada de fora.
— Eu não sei nada de importante.
Ele fecha a cara para mim e a expressão do mafioso impiedoso está de
volta.
— Não minta para mim, Angel! Você está falando com o cara que sabe
ver através das pessoas antes mesmo delas abrirem a boca para revelarem o
que eu quero. Não queira que eu tire informações de você da maneira mais
difícil.
— Eu era apenas a prostituta que o servia. Desde que ele foi preso, eu
não o vi mais. Provavelmente o cara me quer de volta porque acha que sou
dele.
— Não é por isso. Ele colocou vários homens atrás de você e até mesmo
andou subornando alguns dos meus para ter informações suas. Há algo que
você está deixando de fora e eu quero saber agora.
Desvio meus olhos e penso se devo contar ou não. Essa informação é
valiosa demais e sempre foi meu trunfo quando eu queria arrancar dinheiro de
Snake ou do meu pai.
Balanço uma perna, ansiosa. Mania que tenho quando estou muito
nervosa. O tempo parece parar a nossa volta e o tic tac do relógio atrás de nós
não ajuda a tensão a passar.
Olho para o Marco, que me observa pacientemente, e resolvo contar
parte do que sei. Não quero que ele tire algumas informações de mim me
torturando.
— Os Dragons têm há anos, por debaixo dos panos, feito parcerias com
a máfia russa. Prometeram-lhes o território de Los Angeles de volta se eles os
ajudassem a derrubar Luigi e Vincent. Quando você acabou com todos no
clube aquela vez, um representante de dentro do cartel mexicano estava os
ajudando nesse plano também.
Sua expressão fica feroz e mortal.
— Como ficou sabendo disso?
— Eu estava lá na reunião onde o trato foi feito. Dragon queria tirar o
capo e o subchefe daqui do comando para que outra pessoa assumisse esses
negócios. Ambos iam comandar tudo. Eles sabiam do tráfico de armas que
vocês fizeram com os árabes e tiveram grande interesse nisso especificamente.
Dragon ficou chateado por Vincent tê-lo deixado de fora e prometeu vingança.
Ele fala algo em italiano que não entendo e levanta-se muito puto,
socando a parede, com raiva.
— Esse homem, o representante, estava na reunião também?
— Sim.
— Nomes, Angel! Eu quero os nomes dos meus próximos cadáveres.
— Eles o chamavam de pastor. Eu não sei dizer o porquê, já que ele não
se parecia com um. É tudo que eu sei. — digo apenas metade da verdade.
Ele pega o celular e se afasta para conversar baixo com alguém. Não
pergunto com quem seja ou sobre o que fala. Sinto que a coisa vai feder e eu
estarei, querendo ou não, nesse fogo cruzado. O negócio é que eu sei quem é o
tal pastor e eu sou ligada indiretamente à família dele por parte de mãe. Se eu
os entregasse, estaria muito ferrada. Provavelmente Snake quer saber a mesma
coisa que Marco. Somente Dragon, meu pai e eu ficamos sabendo desse
segredinho sujo, mas graças a Deus os dois primeiros estão mortos e não
podem mais me usar.
Que ele não descubra sobre as minhas origens! Ou eu irei virar massinha
de modelar em suas mãos por ter uma ligação sanguínea com aquele velho
sádico.
Ligo imediatamente para Vincent assim que Angel me passa as
informações que eu preciso. Por mais que eu ainda tenha a impressão de que
ela não me contou tudo que sabe, por hora não vou pressioná-la mais. O que
não quer dizer que eu vou ficar de braços cruzados sem fazer nada. Irei ao
fundo dessa história e descobrirei toda a verdade. Não terei pena de punir
todos que estiverem envolvidos nessa porcaria.
Estou cheio de pessoas se achando espertas para montarem armadilhas
para nós, só que a mesma disposição que elas têm de se unirem com nossos
inimigos para tentarem nos derrubar, eu tenho para destruí-las uma por uma
com o maior prazer. Traidores devem ser tratados como traidores e punidos
como tal. Uma vez na minha mira, só sairá com vida quem for inocente. Caso
contrário, os buracos estarão prontos para recebê-los.
— Você acha que esse pastor é o mesmo que Gabriel nos disse que
estava investigando? — Vincent chama a minha atenção de volta para a nossa
conversa.
— Acho que sim. Vou fazer a nossa própria investigação e descobrir
melhor sobre isso. Creio que o agente não vai querer compartilhar conosco
suas descobertas.
— Com certeza não. Temos que ficar fora de qualquer confusão com os
mexicanos. Acabamos de limpar nosso nome com o FBI e não vamos querer
estar sob a mira deles novo. Tudo tem que ser feito por debaixo dos panos.
— Pode deixar! Ficarei de olho neles e seguirei com bastante cautela
nossos planos. Dessa vez não haverá falhas. Eu prometo.
— E se ela tiver do lado deles, Marco?
— Duvido muito que esteja, mas estou ligado que ela é do tipo que salva
a própria pele.
— Percebi isso também, e talvez isso a torne valiosa para eles. Uma
pessoa inescrupulosa e cheia de vícios é capaz de tudo.
— Não a julgue com base no que se vê no exterior, Vincent. Lembre-se
que um dia Lorena esteve em nossa mira e nós nos enganamos sobre ela.
Ele fica em silêncio por um tempo.
— Só não a deixe brincar com você! Eu ainda acho que ela não te
contou tudo.
Eu odeio que talvez ele possa estar certo. Não quero abrir mão dela, e eu
irei pirar se ela estiver mentindo para mim. Meus olhos dançam o tempo todo
sobre seu rosto enquanto eu falo com o Vincent ao telefone sobre a nova
descoberta.
— Prefiro ela aqui onde eu tenha controle.
— Muito bem. Tem carta branca para fazer o que precisar.
— Obrigado!
Nos despedimos e eu desligo.
A ligação demorou mais do que eu pretendia. Tudo faz mais sentido
agora: os malditos mexicanos junto com o Dragon usaram o Mariano sem o
babaca perceber. Eles estavam tentando bem mais do que tirar Luigi e Vincent
do poder. Todos queriam dominar nossos negócios e deixamos passar essa
merda bem debaixo do nosso nariz enquanto acreditávamos que os únicos que
estavam de olho no nosso território eram os malditos russos.
Droga! Isso nunca acaba. Quando se derruba um, sempre vai haver mais
ratos para sair dos seus esconderijos.
Vou na direção dela, que me olha com cautela. Percebo que ela não
consegue confiar nas pessoas tão facilmente. Terei muito trabalho, não só para
fazê-la sair dos vícios, como também para conseguir sua permissão para eu
entrar em sua mente. Não que eu a julgue. Angel não é diferente de mim e isso
me mostra o quanto ela foi ferida no passado. Isso a deixou arisca com quem
se aproxima demais e eu tenho que tomar muito cuidado. Antes de deixar meu
pau me governar, tenho que me lembrar que ela é um mistério e já esteve nas
mãos dos inimigos.
— Quer treinar um pouco? — tento quebrar o clima pesado e distraí-la
da nossa conversa de antes.
— Aqui?
— Sim. Tenho um galpão no fundo da casa, onde treino todos os dias.
— Legal! Vamos tentar do seu jeito então. — Me dá um sorriso tímido.
Saímos pelas portas do fundo e seguimos para a área que uso para meus
treinamentos diários. Ela observa tudo com curiosidade.
— Tem algum tipo de exercício específico que você goste? — pergunto.
— Não. Nunca me preocupei com isso.
— Para começar, vou te ensinar boxe. O combate corpo a corpo é minha
especialidade. Tanto vai te ajudar a ter disciplina, como te ensinará a se
defender sem precisar necessariamente de uma arma em punho.
— Okay!
A ajudo a colocar as luvas nas mãos e lhe dou algumas instruções sobre
postura correta e os tipo de golpes que vamos treinar hoje. Ela começa a bater
de um jeito meio desengonçado e eu a incentivo a continuar aplicando mais
força sobre mim.
— Canalize suas frustrações em cada batida, Angel! Não precisa se
segurar, pois seu oponente não terá pena de te atingir em uma luta real.
— Estou tentando. — Bate com mais força. Não tão forte ao ponto de
me derrubar, porém com mais intensidade do que antes.
— Isso, querida! Pense que em cada golpe, você está descontando algo
ruim que está guardado dentro de si.
Seus golpes ficam mais rápidos e ela ofega com cada batida. Eu apenas
me defendo, a deixando se acostumar com cada soco que me dá.
Pouco tempo depois Angel pede para parar porque seus braços estão
doendo. Jogo uma garrafa de água para ela, que aceita sem pestanejar, abrindo-
a e engolindo vários goles do líquido gelado. O suor escorre pelo seu rosto
delicado de menina e suas bochechas estão coradas, a deixando ainda mais
bonita.
— Como se sente? — pergunto.
— Cansada, porém mais leve.
— Quando a ansiedade bater em você, jogue-a para fora! Canalizar os
sentimentos negativos em algo produtivo vai te ajudar a passar por isso. Não
vou dizer que vai ser fácil, mas confie em mim: vai ser menos doloroso do que
ficar parada.
— Eu espero que você tenha razão. Ter força de vontade, eu sempre tive,
só que nunca consegui sair totalmente dessa coisa.
Me aproximo dela e tiro seus fios de cabelos molhando de sua testa.
— Você vai conseguir. — afirmo.
— Como pode ter tanta certeza de que agora vai funcionar? — Cruza os
braços, me olhando desdenhosa.
— Porque agora você tem a mim e eu acredito em você e no seu
potencial.
Ela abre a boca, em choque, e eu sorrio, tocando com um dos meus
dedos a ponta do seu pequeno nariz arrebitado.
— Você nem me conhece direito. Como pode colocar tanta confiança em
mim?
— Eu não seria o executor se não tivesse habilidades especiais, Angel.
Eu vejo através de você. Só não traia a minha confiança, ou eu não hesitarei
em acabar contigo! Entendeu?
Ela balança a cabeça positivamente com os olhos arregalados.
— Vamos entrar e tomar um banho! Preciso ir trabalhar daqui a pouco e
você irá comigo. — Viro-me para sair e escuto seus passos ao meu lado.
— Onde iremos? — pergunta curiosa.
— Fazer pesquisa de campo.
Angel me olha sem entender, e quando percebe que não irei lhe dar mais
informações, se cala. Espero que eu não tenha me enganado com ela e não
quebre a cara futuramente. Quero realmente ajudá-la, porém, algo me diz que
tenho que ficar em alerta, e meu sexto sentido nunca me enganou. Há alguma
coisa que me incomoda desde a primeira vez que nos vimos, e seja o que for
que ela me esconde, eu sinto que não é boa coisa. Não sou nenhum idiota e
nem nasci ontem.
Eu prefiro tê-la sob minha proteção e ficar de olho em cada passo
seu. Primeiro porque eu a quero, e segundo porque prefiro que ela esteja sob a
minha supervisão do que deixá-la solta por aí e dar a chance a Snake de pegá-
la. Apesar de ser muito nova, e por mais bonita e atraente que seja, eu vejo que
Angel está acostumada a manipular os homens. Não posso cair em suas
armadilhas, ou colocarei tudo a perder por conta da atração que sinto. A
protegerei e a ajudarei enquanto ela estiver comigo e eu a considerar inocente.
Tudo que eu disse foi muito sério e eu não saio por ai fazendo ameaças
em vão. Se eu descobrir que existe algum perigo por trás dos seus segredos,
que irá prejudicar todo o meu trabalho e colocar a vida do capo em risco, será
muito doloroso para mim, mas pelo bem da máfia, eu darei um fim nela, se
estiver mentindo para mim, e em todos que se colocarem em meu caminho.
Minhas responsabilidades sempre virão em primeiro lugar, independente dos
meus sentimentos estarem em jogo. Eu fui treinado para ser fiel à organização
e morrer defendendo-a. Eu não traio a famiglia e muito menos meu irmão. O
meu juramento só termina com a minha morte.
Saímos em silêncio e entramos no seu carro.
Por um bom tempo a música Preach de John Legend tocando baixinho é
a nossa única companhia, ajudando-nos a quebrar o silêncio forçado até
chegarmos ao nosso destino, ou ao lugar que eu imagino que seja a nossa
parada.
Eu quero perguntar várias coisas, mas me calo todas as vezes em que as
palavras se formam em minha língua. Fico indecisa se ele me dará essa
abertura ou se tudo que tem feito é apenas por instinto de proteção. Ele olha
para a frente fixamente com os dedos apertando o volante tão fortemente que
eles ficam brancos. Eu me questiono se fiz algo para deixá-lo chateado desse
jeito. Será que é a missão que está o deixando tão irritado assim?
— Fale logo, Angel! O que tanto quer me perguntar?
Minha boca seca e inconscientemente minha língua sai para molhar
meus lábios ressecados.
— Está chateado comigo? — pergunto insegura de que eu possa estar
pisando em ovos com ele.
— Não. Só estou estressado com algumas coisas que aconteceram. Era
isso que queria perguntar?
— Não. Eu queria saber mais sobre você.
Ele traz seus olhos para os meus e arqueia a sobrancelha esquerda.
Quase me bato por ser tão estúpida.
Eu trato de completar a fala rapidamente diante do seu questionamento
desconfiado e silencioso.
— Curiosidade sobre como você virou um executor. Antes de nos
conhecermos, eu já havia escutado muitas histórias suas. Imagino que para se
tornar um assassino frio, teve anos de treinamento, não é?
Ele parece respirar com alívio e eu fico curiosa sobre o porquê dele
parecer de repente distante e cauteloso comigo.
— Sim. Alguns de nós já nascemos com um instinto assassino, e outros,
como eu, passam por um rigoroso treinamento desde criança para se tornar
um.
— E não é difícil tirar a vida das pessoas?
— No início sim, mas com o tempo aprendemos que somos nós ou os
outros. Ninguém terá pena de você se puder trocar de lugar na hora de puxar o
gatilho. É nisso que eu foco.
— Eu já fiz muita coisa errada, mas nunca passou pela minha cabeça
tirar a vida de alguém.
— Somente a sua. — rebate com os dentes trincados.
— Só a minha. Ela não vale muito, então não vejo porque não dar um
fim nela.
Em dois tempos ele puxa meu queixo para si e o segura com um pouco
mais de força do que o necessário.
— Você nunca mais tentará isso de novo, menina! Ou eu mesmo te
punirei por isso. Sua vida me pertence agora e somente eu decido se você deve
morrer ou viver. Entendeu?
A intensidade das suas palavras me deixa sem fôlego.
— S... Sim. — gaguejo de nervoso, não conseguindo formular mais nada
para respondê-lo.
— Não quero te ouvir falar que não merece viver por conta dos seus
erros. Acredite em mim quando eu lhe digo que tudo que você já fez, não
chega aos pés do que muitos de nós fizemos! Tem muitas pessoas que não
deveriam estar vivas por aí poluindo o ar com suas respirações imundas.
Franzo a testa com a maneira que ele fala sobre essas pessoas. É como se
conhecesse todas elas pessoalmente e odiasse cada uma.
— Você acha que é uma dessas pessoas? — pergunto curiosa.
— Eu sou a pior delas, Angel. Estou além da redenção. Quando eu me
for, não passarei nem na beira dos portões dos céus, muito menos verei luz e
anjos me esperando.
— Nossa! Por que não parece preocupado com isso?
— Porque o inferno não pode ser pior do que tudo que eu já vi e vivi.
Estou acostumado com o mau e não me arrependo de nada que fiz. Então não
tem porque eu me enganar.
— Se a máfia é tão ruim assim, não entendo o porquê de você colocar
sua vida em risco por eles.
— Porque nascemos e vivemos nela, respiramos ódio e ansiamos pelo
medo. Aqui nós somos a lei. Eu não me imagino em outra vida e tenho ciência
de que um dia a minha morte irá chegar, e logo em seguida outro irá pegar
meu lugar e continuar de onde eu parei. É assim que nós somos e é para isso
que nascemos. Essa tatuagem é muito mais do que uma promessa de vida. Ela
é um lembrete de que sem a máfia não somos absolutamente ninguém.
Ele se cala depois dessa análise arrepiante e eu apenas o observo por um
tempo antes de me virar para a frente.
Minutos se passam, ou talvez horas. Seus olhos estão em alerta na nossa
frente, onde várias motos entram e saem pouco tempo depois. Me pergunto
porque ele não entra lá e acaba logo com tudo, como da outra vez. Seria menos
cansativo e estressante do que ficar de castigo aqui dentro do carro.
— O que você está exatamente procurando aqui? — não aguento ficar
calada e pergunto.
— Não é o quê, mas sim quem. — Aponta para o carro luxuoso que
entra pelos portões de ferro do lugar.
— É o carro do pastor. — reconheço o automóvel.
— Bom. Sinal de que você não mentiu sobre isso. Vamos aguardar sua
saída e o segui-lo de perto.
Uma batida na janela nos chama a atenção.
— Droga! Maldito agente! Eu vou abrir a janela e você vai ficar de bico
fechado! — avisa e desce o vidro.
— Marco! — o homem todo tatuado o cumprimenta.
— Gabriel! Não vou dizer que é uma surpresa encontrá-lo por aqui, já
que imagino que esteja atrás do mesmo que eu.
— Você não deveria estar aqui. Esse é o meu caso e não vou deixar
vocês estragarem minha investigação.
— A contar que você está em nosso território e não tem nada contra nós,
não tem porque sermos inimigos.
O agente semicerra seus olhos para o Marco e eu o vejo colocar a mão
na cintura, onde está escondida uma de suas armas. Gabriel também
acompanha o movimento, ficando em alerta. Meu coração acelera e eu começo
a suar de ansiedade pelo que está prestes a acontecer bem a minha frente. Mas
antes que qualquer um deles fale ou faça alguma coisa, o carro sai de dentro do
local, acelerado, levantando uma nuvem de poeira na estrada de chão e
chamando a atenção dos dois. Eu quase choro de alívio por essa distração.
— Espero que você e Vincent estejam cientes de que se me prejudicarem
terão não só a mim como inimigo, mas também o FBI na cola de vocês.
— Estamos cientes disso. Como eu disse, temos interesse em comum,
então não tem porquê brigarmos em meio a uma provável guerra a caminho.
Gabriel traz seus olhos para mim e eu me encolho no canto com medo
de ser reconhecida. Não me lembro dele, mas estive drogada tantas vezes no
clube que não me admiraria algum dia eu ter ficado com ele e não me lembrar
do seu rosto. Mas como se meu anjo da guarda estivesse com pena de mim,
mesmo sem eu merecer, mais uma vez me livra de uma possível enrascada.
— Acho que está na hora de você ir. — Marco sugere calmo, mas com
um claro aviso na voz.
O agente, como se fosse para provocar e provar algum estúpido ponto,
pisca para mim e se afasta rapidamente da porta.
— Boa noite, senhorita. Nos vemos por aí, executor. — Sorri
desdenhoso olhando para Marco.
— Para o seu bem, eu espero que não, agente. — ele devolve o
atrevimento.
Gabriel some no meio da mata e Marco liga o carro para sair.
— Está com fome? — Me olha.
— Muita! Você não é um bom parceiro de crime.
Seus olhos brilham com humor.
— Então vamos comer, Angel, porque toda essa adrenalina me deixou
muito excitado e eu quero estar dentro de você o mais rápido possível. É
melhor aplacar isso antes que eu resolva ir atrás desse agente filho da puta para
meter uma bala na cabeça dele por ser um atrevido e cobiçar o que é meu.
Meu corpo esquenta e eu sinto minha boceta palpitar de desejo. Esfrego
uma perna na outra, tentando conter o incômodo. Ele sorri ao perceber minha
reação diante das suas insinuações pervertidas.
— Você parecia muito calmo até ele chegar. — tento tirar o foco do fogo
que sinto, mudando de assunto antes que eu pule nele e o faça me foder aqui
mesmo.
— Geralmente sou tranquilo. Não sou do tipo impulsivo. Tudo que faço
é meticulosamente calculado.
— Já notei.
Ele acelera o carro e nos leva a uma Starbucks para comprar nosso
lanche.
Eu não sou hipócrita. Desde mais cedo anseio por mais de seus toques.
O Marco é gostoso com G maiúsculo e não vejo o porquê de eu não aproveitar
cada segundo com o cara. Talvez não tenha sido coincidência meu destino ser
entrelaçado ao dele. Se ele continuar a cuidar de mim, não irei me importar de
ser somente sua e tentar levar adiante o que temos. Não tenho nada a perder
mesmo. O que de pior poderia vir de um relacionamento com um homem
poderoso e respeitado como executor e braço direito do capo?
Olho pela janela os pingos de chuva baterem no vidro transparente e
acompanho as gostas escorrerem vagarosamente até sumirem. Suspiro fundo
tentando colocar meus pensamentos no lugar e chegar a um consenso comigo
mesma.
Eu preciso voltar. Minha vida está sendo uma droga aqui. Todo o
dinheiro que peguei com o Luigi já acabou e eu só tenho arranjado alguns
serviços meia boca que me pagam quase nada. Meus gastos dobraram ao
decorrer do tempo e nada que eu faça alivia esse meu fardo. Ser mãe solteira é
muito difícil, e o fato de não ter um pedaço de papel nas mãos chamado
diploma me impede de arrumar um emprego que pague um bom salário.
Esse é o resultado de quando se fica presa e a única profissão que se
conhece é vender o corpo. Não me adiantou de nada essa liberdade se não
tenho mais família e grana para me sustentar. Mas como vou conseguir mais?
Fiquei sabendo que os Dragons estão de volta em Los Angeles e estão se
reagrupando. Será que eu teria a sorte de me tornar uma old lady? Seria uma
chance de ouro, mas acho muito difícil, já que meu corpo não é o mesmo de
antes depois da gravidez conturbada que tive e fiquei com marcas na pele.
Eu queria mesmo era estar com o meu homem. Marco sempre será a
grande paixão da minha vida e deixá-lo para trás foi a decisão mais difícil que
tomei. Eu queria que ele tivesse me olhado com outros olhos. Eu fiz de tudo
para conquistá-lo, mas o executor nunca me enxergou mais do que uma mulher
fácil para se aliviar. Tentei provar várias vezes que eu o amava, mas o mesmo
não se importou. Homem sem coração!
Eu não me importaria de amar por nós dois. Se eu tivesse ganhado uma
chance de estar em seus braços, isso seria o suficiente para mim. Ele
provavelmente me mataria se eu aparecesse hoje na sua frente.
Pensa, Ashley! O que te faria dar a volta por cima?
Se ao menos eu soubesse que Lorena não guarda mágoa de mim, eu
poderia ir até ela e pedir sua ajuda, mas a mesma deve me odiar pelo que eu
fiz, e agora sendo a mulher do chefe, o poder deve ter subido a sua cabeça,
tornando-a uma esnobe como as outras madames da alta sociedade. Não a
condeno, porque eu também estaria aproveitando uma vida de rainha e
curtindo cada minuto se estivesse no lugar dela. Lorena agiu com inteligência
e se deu bem, ao contrário de mim que me desesperei quando as coisas ficaram
feias e pulei do barco assim que pude, me colocando em um beco sem saída.
O choro estridente do moleque no berço me causa ainda mais dor de
cabeça e eu olho a criatura que só me trouxe prejuízo, a começar pelo estrago
que fez em meu corpo que uma vez foi perfeito. Eu deveria tê-lo abortado
quando tive a chance, mas no fundo tive a esperança de que ele fosse do
Marco, mesmo eu sabendo que as chances eram quase nulas. Foi um enorme
engano da minha parte. O menino nasceu a cara do imbecil do Romeo,
puxando dele até mesmo a manchinha vermelha no pescoço.
Uma luz se acende em minha mente. Claro! Porque não pensei nisso
antes, porra? Marco e Romeo são muito parecidos fisicamente. Se eu falar que
o bebê é dele, todos irão acreditar, já que ele ficava comigo na mesma época
que aquele estúpido. Somente eu saberei da verdade. O executor poderá
acreditar na minha história e me perdoar por eu ter fugido, se eu contar meus
motivos, ainda mais por ele ser filho bastardo e rejeitado de uma prostituta —
informação que mantive somente para mim, mas que agora poderei explorar
bem. — Marco ficará com pena da minha situação e me aceitará de volta ao se
lembrar de como a mãe dele foi tratada por tê-lo, e com toda a certeza me
protegerá e não deixará nada acontecer comigo e nem com a criança.
Bato palma, maravilhada e muito feliz que minha sorte parece ter
mudado de repente.
— Quem diria, hein, pestinha, que você me serviria de alguma forma?
— Mamã! — Ele sorri se babando todo e eu torço o nariz com nojo.
Não nasci para ser mãe e não tenho um pingo de paciência para cuidar
de criança, mas o fato de não tê-lo tirado de mim na época, talvez tenha sido a
minha melhor escolha até agora.
— Você será a minha passagem dessa vida miserável para uma de luxo,
pirralho. É melhor conquistar o coração daquelas pessoas, porque eu não lhe
tive para ser um estorvo. Chegou a hora de você pagar pelos estragos que me
fez. Todos os meus sacrifícios têm que ser recompensados.
Ele inclina a cabeça para o lado com a mão gordinha na boca, sem
entender nada do que eu digo. Também quem pudera! Só tem um ano e meio e
mal sabe falar o básico. Mas esse tempo que fiquei sumida vai vir a calhar
agora. Foi o suficiente para eu me preparar, arrumar uma boa desculpa e deixar
as coisas esfriarem.
— Mamã! — Pietro começa a chorar de novo, querendo sair do berço.
— Vamos voltar para o seu papá! — digo a última palavra bem
pausadamente para que ele se acostume com ela e aprenda a pronunciá-la.
Chegou a hora de pegarmos o que é nosso. — Espero que dê tudo certo e você
me ajude com isso. Fale “papá”, Pietro!
— Papá?
Sorrio por ele pegar de primeira. Não posso negar que o moleque é
muito inteligente e curioso, e isso é maravilhoso para meus planos.
— Isso mesmo! Seu papá! — Pulo animada, o fazendo rir.
Pego ele no colo e o deixo sentando no chão para brincar. Corro para o
guarda-roupa e jogo na cama as nossas poucas coisas e começo a organizar
tudo numa pequena mala velha. Marco, Marco! Não perde por esperar. Estou
voltando para você, meu amor, e dessa vez é para ficar. Espero que ainda esteja
sozinho. Eu odiaria saber que me substituiu tão facilmente. Irei tirar qualquer
uma que estiver em meu caminho.
Antes de aparecer para ele, vou sondar primeiro como as coisas estão
por lá depois que eu saí. Paciência é uma qualidade que eu não tenho, mas vou
me treinar a ter para não cometer nenhum erro e colocar tudo a perder.
Los Angeles, aí vou eu!
DOIS MESES DEPOIS

Entramos em uma rotina confortável nas semanas que se passaram.


Saímos durante o dia e na maioria das vezes ele me leva nas suas vigias. Não
sei se por gostar da minha presença ou por não confiar em mim ainda. Como
se eu pudesse fugir dessa fortaleza cercada de homens lá fora. À noite é
diferente. É quando caímos exaustos um nos braços do outro de tanto nos
darmos prazer. Marco é um amante incrível e eu tenho aproveitado cada
segundo disso. Por alguns dias me incomodei por não sairmos em público ou
por eu não ser levada a outros lugares que não fosse um passeio longe de todos
que ele conhece ou uma lanchonete cuidadosamente escolhida pelo mesmo.
Contudo, para mim tanto faz, e eu não ligo para o que ele realmente
sente por mim, desde que continue me tratando bem como faz. É um ganho e
tanto. Não tenho do que reclamar.
O deixo conversando no celular e entro no banheiro para tomar um
banho pós-treino. Não demora muito e sinto o exato momento que ele entra
também. Meu corpo reconhece e anseia imediatamente pelo seu com apenas
um único olhar dele.
— Não me esperou, raposinha? — pergunta.
Sorrio com o apelido estúpido que ele tem me chamando nas últimas
semanas.
— Você estava no telefone. Não quis te incomodar.
— Estar a sós com você nua, nunca é um incomodo. — Roça seu grosso
pau na minha bunda.
— Eu vejo.
Sorrio olhando por cima do ombro e devolvo a sua provocação com uma
rebolada.
— Você é uma tentação, Angel. Empina essa bunda gostosa para mim!
Eu vou te foder duro e rápido. Preciso sair depois.
Faço exatamente o que Marco ordena. Ele não precisa de muito para me
ter do jeito que deseja. Eu me pego cada vez mais me inclinando para seguir
suas ordens feito uma cadela adestrada. Oh, droga! A quem eu quero enganar?
Se esse homem me pedisse para colocar uma coleira e andar de quatro, eu faria
sem nem mesmo pestanejar ou questionar.
Marco entra em mim em uma estocada firme e profunda que me tira o
fôlego. Minha vagina o recebe com gula, pingando desejo. Ele me estoca
devagar e eu começo a ir ao seu encontro, ansiando por mais dele.
— A minha pequena quer mais? — pergunta.
— Sim, Marco! — gemo extasiada.
— Fala como quer, que eu te dou, safada!
— Mais forte, por favor!
— Então toma! — Acelera mais suas investidas, me deixando de pernas
bambas por tamanha força aplicada.
Eu adoro quando ele fica solto e me pega com vontade. Percebo que fica
totalmente cru e selvagem, e para meu completo desespero, eu amo esse seu
lado sombrio e animalesco. Cada momento nosso é uma aventura, e por mais
que nunca tenhamos conversado sobre o que temos, não me sinto
desvalorizada. De um jeito estranho parecemos um casal, que mesmo no
silêncio nos entendemos. Seja cada um em seus pensamentos ou se tocando
em cada oportunidade que temos. Ele respeita meu espaço e eu o dele. Se eu
acreditasse em almas gêmeas, diria que encontrei a minha outra metade. Nos
completamos muito bem, tanto na cama, como fora dela, e temos uma
cumplicidade extraordinária. Com o passar dos dias tem ficado cada vez mais
evidente que esse jogo é perigoso e nenhum de nós dois estamos dispostos a
cair fora ou dar um nome real para o que estamos vivendo.
— Vem, querida! Goza no meu pau! — Segura em minha cintura e
morde a dobra do meu pescoço, me fazendo arrepiar da cabeça aos pés.
— Oh, Marco! Assim! Mais rápido!
Ele bate forte em algum lugar dentro de mim, me fazendo desmanchar
em um orgasmo arrebatador que me arranca um grito de prazer.
— Aguente mais um pouco, que agora é a minha vez. — Tira seu
membro e entra de novo com tudo em meu canal.
— Ai, que delícia! Mete, safado! Mete com força!
Levo um tapa colocado na bunda. Ele fica louco quando eu o atiço.
Uma mão sua vai para o meu cabelo, me segurando firme para um beijo
exigente. Ele levanta uma das minhas pernas e eu sinto seu membro me
estocar ainda mais e ir muito mais fundo nessa posição.
Nossos corpos batem um no outro, fazendo um baralho molhado. Ele
estimula meu clitóris com suavidade e outro orgasmo vem se formando. Logo
em seguida o clímax me toma, o trazendo junto comigo. Nos entregamos ao
momento como se nada no mundo fosse mais importante do lado de fora.
Marco sai de dentro de mim e desce minha perna. Sem dizer nada, pega
o sabonete e ensaboa meu corpo com paciência e dedicação. Quando termina,
eu retribuo seus cuidados comigo. Nos enxaguamos e saímos para nos
arrumar.
— Vamos a mais uma vigia? — questiono.
— Não. Tenho outros negócios para cuidar. Deixarei você com a Lorena.
Ela quer sua companhia para ir comprar coisas para o bebê.
Faço uma careta. De alguma forma que não consigo entender, a mulher
cismou que somos melhores amigas e sempre pede minha companhia.
— Eu não sei se é uma boa ideia. Seu chefe não parece gostar muito de
mim e temo pela minha segurança.
— Ele só quer cuidar da esposa e tem medo que algo possa chegar a ela
por conta dos Mc's estarem atrás de você.
— Mais um motivo para eu não ir.
Ele inclina a cabeça, me estudado, e devagar me puxa para seus braços.
— Por mais que eu odeie dizer isso, eu concordo com você, mas não
quero trazer um furacão para a minha porta.
Gargalho alto.
— Está com medo dela?
— Não. Só não quero ter um motivo para lutar contra o chefe por conta
da sua mulher sem juízo.
— Tudo bem. Vou salvar sua pele somente dessa vez, ursinho. — zombo
com o apelido que Lorena citou uma vez e ele rosna para mim.
— Evite confusão! E... Angel?
— Sim. — O ajudo a arrumar a gravata.
— Não faça nada estúpido!
— Tipo o quê? Dançar em cima de uma mesa, andar pelada pela rua ou
agarrar alguns dos soldados?
Ele semicerra os olhos.
— Quais soldados? Me diga os nomes dos desgraçados, que eu vou dar
cabo deles agora mesmo!
Rio mais forte da sua cara.
— Você de terno e com ciúme fica tão gostoso. — Beijo sua barba.
— Menina! Não brinque comigo!
— Ou o quê? Vai rasgar minha roupa, espancar minha bunda e me foder
até eu perder os sentidos? Estou pronta, querido. — Abro os braços e dou uma
piscadinha provocadora.
— Você ainda vai ser a minha morte. — Sorri de lado e me puxa para
um beijo. — Vamos! Não quero chegar atrasado.
Sorrio quando ele vira-se para pegar suas coisas.
Se soubesse que em tão pouco tempo me tem nas suas mãos e chegou
em lugares tão inexplorados e adormecidos que eu nem imaginava que
existiam, eu estaria muito ferrada. Posso ser sua morte, mas ele foi a minha
ruína. Depois de Marco Moretti, nunca mais conseguirei ser de outro homem.
Desço do carro à procura do meu chefe de segurança, no entanto paraliso
no lugar ao ver em minha frente Vincent passando as ordens para os seus
soldados presentes.
— Que porra é essa? — questiono em voz alta, chamando a atenção de
alguns a minha volta.
— Ele acabou de chegar e disse que vai conosco. — Sebastian avisa.
— Não mesmo. — digo chateado fazendo Alec ri baixinho ao meu lado.
— Boa sorte em tentar convencê-lo do contrário.
Olho para ele, sério.
— Tudo pronto para sairmos? — pergunto.
— Sim, senhor. Nino irá fazer a segurança da senhora Lourenço, junto
com o Sávio e o Ádamo.
— Já mandei mais dois dos meus para lá também. Não quero me
preocupar com nada quando sairmos.
Acho que é pedir demais para que meu querido irmão e chefe sente o
rabo na sua cadeira de couro, acenda um charuto e somente lata suas ordens
como todos os outros capos que passaram por lá antes dele fizeram, já que ele
não aguenta fazer isso.
— Você só está esquecendo uma coisa. — Me viro ao ouvir o motivo da
minha dor de cabeça e o vejo bem na minha frente. Me custa acreditar que esse
idiota veio se pôr em perigo. — Nós temos um informante dentro da
organização e no momento eu não confio nem na minha sombra. — resmunga
aborrecido.
— Não era para você estar aqui. Tem que ficar o mais longe possível das
lutas, chefe. — retruco sua teimosia.
— Mas eu estou e vou para a luta.
— Eu disse a você que eu cuidaria disso. Não sabemos quem estará nos
esperando ou se realmente eles têm interesse em fechar um acordo. Pode ser
uma armadilha, e sua segurança é o mais importante nesse momento. —
Trinco os dentes, quase os quebrando de raiva.
— Não sou nenhum covarde que se esconde atrás de soldados, Marco.
No dia em que eu ver meus homens indo para uma luta e eu não estiver junto
com eles na comissão de frente defendendo o que é meu, pode meter uma bala
na minha cabeça, pois larguei de ser um homem com um pau e duas bolas no
meio das pernas.
Suas falas exaltadas trazem algumas exclamações a nossa volta.
Claramente agradou os ouvidos dos presentes que estão acostumados apenas a
servirem e muita das vezes morrerem por um homem que nem se importa em
saber quais são os seus nomes. Porém, isso não justifica a decisão dele.
Vincent tem muita sorte de estarmos cercados e eu ter que acatar suas ordens
em público como um bom soldado. Se estivéssemos sozinhos como os amigos
de uma vida inteira, eu iria meter a porrada em sua cara por burlar todo o
esquema de segurança que montei para protegê-lo.
Sorrio de um jeito forçado para ele, que me observa taciturno, sabendo
exatamente o que estou pensando nesse momento. Tem certas coisas que pode
passar anos, mas nunca muda, e uma delas é o conhecimento que temos um
sobre a mente do outro sem nem mesmo expressarmos nenhuma palavra no
processo.
— Tudo bem. Mas como seu braço direito, peço que não fique tão a
vista dos inimigos e siga o protocolo que montamos cuidadosamente para essa
missão, ou todos nós iremos morrer preocupados com um possível ataque
sobre você. — informo.
— Só estamos querendo fazer tudo com eficiência, chefe. — Alec
complementa e eu fico grato por ele me entender e ficar ao meu lado.
Vincent balança a cabeça, concordando a contragosto com nossa
decisão.
— Vou no carro do meio, como o combinado, e na hora que forem entrar
no local, eu tomo a frente da reunião. — o capo dá seu ultimato final, se
virando para entrar no seu veículo.
— Quero o carro dele cercado. E mande outros dos nossos homens para
o local determinado! Teremos que fazer uma troca rápida de carros antes de
entrarmos no território dos Herrera. — ordeno.
— Considere feito. — Alec sai me deixando com os outros soldados.
Suspiro com impaciência e passo as ordens aos demais antes de sairmos.
Foram dois meses de pesquisa e muitas noites perdidas de sono
montando estratégias, mas enfim conseguimos derrubar o chefe do cartel
mexicano que estava tramando contra nós por debaixo dos panos. É claro que
agora iremos negociar com o novo que ficou em seu lugar, que segundo meus
informantes, é sobrinho do antigo e está ansioso por uma aliança com a nossa
organização. Em uma coisa Vincent sempre teve razão: pior que os russos são
os mexicanos. Pelo menos sabemos que a máfia russa é nossa inimiga e não
esperamos lealdade, nem parcerias com eles, já que tentam há anos dominar
nossos territórios, porém nunca tiveram êxitos. A luta com os Volkovs sempre
será olho por olho e dente por dente. Já os malditos cartéis, nunca sabemos
suas verdadeiras intenções. Uns querem parcerias para ganhar proteção contra
futuros ataques de fora e outros querem alianças somente para entrarem em
nosso território e tramarem contra a nossa organização bem na nossa cara,
ainda dando tapinhas nas nossas costas. Eles são tão inescrupulosos quanto
nós, mas a diferença é que no território deles, somente eles que mandam, e
aqui disputamos com vários outros inimigos, os quais não quero nem listar
nesse momento para não me desconcentrar. Stronzos!
Todos eles pagarão por suas traições, principalmente Snake. Todavia, é
uma coisa de cada vez. Primeiro os cartéis e depois cuidamos dos Mc's.
Saímos para o local, determinados, e como planejado trocamos de carros
no meio do caminho para não chamar tanta atenção para a nossa chegada.
Estamos indo em veículos de modelos mais simples. Isso nos ajudará a
passarmos despercebidos.
Meu celular toca e imediatamente eu o atendo com calma, tentando
aparentar tranquilidade na voz.
— Pode falar! — digo.
— Senhor, estamos chegando no lugar, e até o momento os homens que
mandamos na frente para averiguar de perto, disseram que está tudo certo. —
Diego me informa.
Não sei porque, mas não consigo ficar tranquilo com a notícia.
— Devem estar chegando mais alguns dos nossos a qualquer momento.
Quero que diga a eles para ficarem em pontos estratégicos e não baixarem em
nenhum momento a guarda, porque estamos com o chefe a caminho. — aviso.
— Entendido.
Finalizo a ligação, ainda me sentido inquieto.
Em menos de quarenta minutos depois paramos em frente a um casarão
muito antigo. Sou o primeiro a descer do carro e tomar partido de como estão
as coisas a nossa volta. A ansiedade acelera meu sangue nas veias e eu apago
qualquer medo, resistência ou preocupação da minha mente. Vai dar tudo
certo, e se não der, é uma falha que terei que pagar com meu sangue por não
fazer meu trabalho direito. Nesse momento me torno o mafioso que fui
treinado a ser: preparado para matar e pronto para morrer.
Recebo todos os sinais positivos que preciso para liberar a saída do
capo. Assim que ele desce do veículo, é formada uma linha de segurança a sua
volta. Minha atenção está o tempo todo nele e em alerta para eventuais
ameaças de ataques. Um jovem rapaz loiro desce a escada, sorridente, e nos
mantemos em alerta. Ele nos cumprimenta sem tirar o olhar admirado quando
vê o chefe presente.
— É um imenso prazer recebê-los. Confesso que eu não esperava ver
com meus próprios olhos o novo capo aqui.
— Gosto de tratar dos meus negócios pessoalmente. — Vincent
responde.
— Muito bom! Um cara que não foge da luta. Gosto disso.
— Então é você que esta no comando do cartel? — Vincent vai direto ao
ponto, não querendo prolongar a conversa. O que obviamente não funciona.
— Sim. Que falta de educação a minha. Sou Mathias Herrera. Vamos
entrar e saborear uma boa tequila enquanto colocamos todas as nossas dúvidas
na mesa!
Meu sexto sentido está apitando alto. Tudo está muito amistoso e
receptivo. Isso deveria parecer bom e me tranquilizar, mas em nossos anos de
treinamentos e experiência em campo, aprendemos da pior maneira que
silêncio demais é sinal de problema, e dos grandes. Mal finalizo minha linha
de raciocínio e começamos a subir a escada de pedra pintada de vermelha,
quando o barulho alto de uma explosão atrás de mim nos chama a atenção. Eu
sou o mais próximo e sinto a força do impacto instantaneamente.
— Projetam o chefe! — grito não me importando com a ardência nas
minhas costas.
— Você foi atingido. Está sangrando. — Vincent diz ao meu lado.
— Não importa. Continue em frente! — respondo.
— Vamos entrar! Tenho um quarto seguro lá dentro que pode nos
proteger. Meus homens e os seus cuidarão disso. — Mathias fala e sobe
correndo o restante dos degraus.
— É melhor acompanhá-lo. Isso vai ficar feio. — sugiro.
— Caralho! — Alec grita. — Eles vieram com fogo total.
Vários carros aparecem mais a frente e os caras não estão para
brincadeira. Só dá tempo de gritar para Vincent se abaixar quando a chuva de
tiro vem em nossa direção. Me jogo em cima dele, recebendo as balas que
eram para atingi-lo. Sinto a dor me dilacerar no peito e não consigo me mexer.
— Marco?! Seu estúpido! Não ouse morrer aqui! Você e essa mania de
me proteger como se eu fosse o moleque que você conheceu.
Vincent está tentando ser forte. Eu o conheço o bastante para saber que
ele está desesperado, todavia se mantém firme como um bom chefe.
— Minha vida pela sua. — o lembro do nosso juramento.
— Não feche os olhos, Marco! Mantenha-os abertos!
— Estou tentando. — Já o vejo embaçado.
— Vai ficar tudo bem. Me ouviu? Acredite em mim! Ajude a levá-lo
para dentro, Alec!
É a última coisa que ouço quando perco a luta e a sensação de paz vem.
Me sinto flutuando com a leveza em meu corpo. Fecho os olhos e vejo um
anjo vestido de branco com os cabelos e olhos castanhos como os meus,
sorrindo. Sorrio reconhecendo a mulher jovem e bonita. Estico as minhas
mãos, pegando suas as suas pequenas e delicadas mãos, deixando essa
sensação boa de felicidade me acalentar.
Ele não está respirando. O aperto em meu peito é insuportável. Isso não
pode estar acontecendo comigo. Eu sabia que algo iria acontecer e eu sentia
isso. Foi por esse motivo que eu fiz questão de vir junto.
— Façam alguma coisa! Me ajudem aqui, porra! — grito com todos a
minha volta.
— Ele recebeu uma bala no peito, chefe. Não tem nada que possamos
fazer. Estamos muito longe do hospital para pedir socorro.
— Foda-se! Eu não aceito isso.
Começo a massagear o peito de Marco, mas nada dele voltar a respirar.
Lá fora o tiroteio continua a todo o vapor. Sinal de que nem se
quiséssemos sair daqui, conseguiríamos. Ao menos não pela frente da casa.
— Me deixe tentar! Eu não sei muito sobre medicina, mas sei o básico
de primeiros socorros. — Sebastian se ajoelha e começa os procedimentos.
Estou sem chão. Não posso perder meu irmão. Já passamos por muita
coisa juntos e sua morte significaria a minha também.
Alguns poucos minutos se passam e ele volta a respirar. A minha
vontade é de mandar todos irem se foder e chorar.
— Temos que tirar ele daqui o mais rápido possível, chefe. Sua
respiração voltou, mas está muito fraca. Quase não sinto sua pulsação. —
Sebastian comenta.
— Traga o carro! Nós vamos sair. — ordeno.
— Não tem como. Estamos no meio de um tiroteio. — Diego informa.
O agarro pelo pescoço.
— Está me dizendo que toda a equipe que Marco formou não é capaz de
lidar com essa merda? Escute bem, rapaz! Todos vocês terão que acertar as
contas comigo se ele parar de respirar de novo!
— Nós daremos cobertura e faremos tudo que tiver ao nosso alcance.
— Ótimo! Eu quero ao menos um deles vivo. Ninguém me ataca e fica
vivo para contar a história. Eu preciso do nome do mandante.
— Entendido. — Alec responde prontamente. — Os homens de Mathias
disseram que tem uma saída pelos fundos. Dá para sair sem sermos vistos.
— Então vamos! O que estão esperando para me ajudarem a tirar o
Marco para fora?
Saímos pelo caminho indicado pelos homens de Mathias, que nesse
meio tempo sumiu de vista. O monte de bosta nem para defender a sua casa
presta. Se enfiou no quarto de segurança enquanto todos nós nos fodemos aqui
fora.
O caminho até o pronto-socorro está no mínimo tenebroso. A rua é de
cascalho, e em cada balançada que o carro dá, Marco geme de dor. O que é um
bom sinal, já que ele nos dá a certeza de que ainda está conosco.
Chegamos ao hospital e o local vira um inferno. Cada um que encontro
pelo caminho, eu ameaço para atender o Marco o mais rápido possível.
Subornamos desde enfermeiros até mesmo alguns policias que foram
notificados do que aconteceu.
No fim tudo dá certo e somos cobertos para que a nossa presença não
chame a atenção dos demais curiosos.
Depois de duas horas na mesa de cirurgia, o médico vem nos informar
que Marco está estável e será transferido para o quarto.
— Eu preciso vê-lo. — peço com urgência.
— Poderá vê-lo por pouco tempo. As primeiras vinte e quatro horas são
muito importantes para a avalição e recuperação do paciente. Qualquer risco
de infecção pode ser fatal.
— Eu entendo. Preciso somente de alguns minutos.
Depois de me preparar adequadamente, sou liberado para entrar no
quarto onde ele está ligado a vários aparelhos. A máquina apitando me leva
direto para o dia em que Lorena foi baleada e eu quase a perdi. É desesperador
ver as pessoas que você gosta nessa situação e não poder fazer nada.
— Não se preocupe, amigo! Me vingarei por você. Isso não vai ficar
assim.
Sua respiração calma é minha única resposta.
Depois de verificar que tudo está tranquilo, é que saio para meu acerto
de contas.

(...)

— Conseguiram acabar com os desgraçados? — interrogo.


— Sim. Apenas ficamos com o que se parece o líder deles. — Alec
responde.
— Conferiu se o babaca do Hererra não tem nada a ver com isso?
— Aparentemente ele não sabia de nada, chefe. A armadilha era para o
próprio. Parece que tem algumas pessoas que não estão felizes por ele ser o
novo chefe.
— Não acredito nisso. Foi muita coincidência.
Entro na casa velha caindo aos pedaços e vou direto ao homem
amarrado.
— Você me conhece? — pergunto, o estudando.
— Não. — sua negativa poderia parecer verdadeira se não fosse o seu
corpo tenso e seu olhar amedrontado o entregando.
— Vou perguntar de novo. Alguém mandou vocês naquele local para me
matar?
— Não vou contar nada. Eu irei morrer de todo jeito.
— Você tem razão, só que de uma maneira bem mais dolorosa por não
colaborar.
— Foda-se! — retruca cheio de coragem.
É sempre a mesma coisa. Todos eles são corajosos até eu começar.
Tiro meu soco inglês do bolso e acerto sua mandíbula, o fazendo cair
para trás da cadeira. Enquanto sinto meu sangue ferver de raiva, eu não paro
meus golpes. Quando me dou por satisfeito e noto que descontei um pouco das
minhas frustrações, eu paro. Acerto uma facada em seu pulmão, o fazendo
gritar feito uma garota.
— Aposto que agora não parece tão prazeroso, não é? Vou dizer o que
vai acontecer com você nos próximos minutos. — Acendo um cigarro e me
sento calmamente para explicar. — Você irá sangrar feito um porco, seu
pulmão bom vai encher de sangue e a falta de ar logo virá. Estará buscando
por ar e não vai conseguir respirar. Pode demorar horas para acabar essa
agonia e eu irei ficar aqui assistindo tranquilamente você sufocar até a morte.
— Por favor! Só acabe com isso de uma vez!
— Só depende de você, amico! Eu quero o nome do mandante e tudo
isso estará acabado em um piscar de olhos.
— Não conhecemos ele pelo nome, somente por pastor.
Aperto com tanta raiva a minha mão, que minhas unhas rasgam a pele.
Esse cara vai morrer. Eu disse ao Gabriel que ficaria de fora e olha no que deu.
O FBI não sabe resolver porra nenhuma com essa merda de burocracia. Isso
terá um fim e será pelas minhas mãos.
Me viro para sair com a mente fervilhando de ódio.
— E... Espera! Você disse que iria me matar rápido.
Sorrio para meus homens que assistem a tudo calados.
— E eu cumpro a minha promessa. — Apago o cigarro em sua pele,
puxo meu punhal de seu peito e o degolo. Fico assistindo até ter certeza que
ele parou de respirar. — Vamos, rapazes! Acredito eu que vocês estão com
vontade de se divertirem um pouco. Limpem essa bagunça!
— Esse pastor não é o mesmo que está em parceria com o Snake? —
Sebastian questiona.
— Sim. Não entrem em contato com ninguém da organização e muito
menos avisem sobre o ocorrido. Deixem os caras acharem que seus planos
deram certo. Vamos pegar todos eles de surpresa. Essa missão falhou e todos
nós estamos mortos. Entenderam?
— Sim, senhor.
Entro no carro e volto para o hospital. No caminho aviso apenas a Nino
que iremos demorar um pouco mais. Arrumo uma desculpa qualquer para
acalmar Lorena sobre minha ausência nos próximos dias e peço que ele se
mantenha calado e não passe informações sobre nosso paradeiro.
O rato que avisou sobre nossa vinda para cá deve estar festejando a essa
hora e sua alegria vai ser sua ruína nos próximos dias quando ele não tiver
nenhuma notícia nossa e mostrar sua verdadeira face. Eu estarei esperando
esse momento.
As amigas de Lorena conversavam sem parar desde a hora que
chegaram no clube. Confesso que sentia falta disso, de ver gente nova para me
distrair e jogar conversa fora. Contudo, hoje não é um bom dia para mim.
Tento sorrir e fingir que estou adorando o papo empolgante sobre bebês e
maternidade, mas com o passar das horas está cada vez mais difícil continuar
prestando atenção.
Marco não sai da minha cabeça e eu sinto que alguma coisa está errada.
Experimento aquele sentimento de perda e uma agonia sufocante que eu não
consigo explicar em palavras. Por mais que eu tente dizer que é coisa da minha
cabeça, sei que não é besteira.
Levanto-me disfarçando e vou procurar um dos soldados que estão
designados a proteger a esposa do capo. Não ousaria dizer que eu estava no
pacote VIP daqui, já que provavelmente eu seria esquecida ou entregue ao
inimigo se tivessem que escolher entre mim e a mulher do chefe.
Encontro Nino encostado na parede observando o ambiente e me
aproximo cautelosa. Minha presença chama sua atenção e eu respiro fundo
antes de tentar fazer a pergunta que vem martelando na minha cabeça o dia
inteiro.
— Precisa de alguma coisa? — pergunta.
— Você saberia me dizer se o Marco vai demorar?
Ele me analisa por alguns segundos antes de responder.
— Não sei dizer. No momento estamos sem contato com eles.
— Isso não parece ser bom. Não disseram quando irão voltar?
— Não. Mas fique tranquila! Toda missão é assim. Em breve estarão
aqui.
Não sinto verdade no que ele diz e sei que está mentindo para mim,
porém não insisto. Para eles não sou ninguém importante para que devam dar
alguma explicação. Forçar seria perda de tempo e eu poderia me colocar em
uma situação nada agradável.
Sigo meu caminho até a porta do banheiro, me tranco lá dentro em uma
falha tentativa de me acalmar e lavo meu rosto.
Quando acho que já fiquei tempo demais aqui, saio e volto para a roda
de conversa que segue animada.
— Você está bem? — a mulher que me foi apresentada como Lara
questiona, chamando a atenção do grupo, que fica em silêncio e aguardam a
minha resposta com curiosidade.
— Você está pálida. Aconteceu alguma coisa? — Rebeca, a ruiva bonita
e desbocada, complementa.
— Sim. Acho que comi algo que não me fez bem. — minto tentando
tirar o foco de mim.
— Da última vez que eu achei que estava com intoxicação alimentar,
nove meses depois sarou. — Rebeca comenta.
O grupo cai na gargalhada e pela primeira vez na noite sorrio das
brincadeiras das meninas.
— Oh! Mas esse não é meu caso. Eu não posso ter filhos. — Mordo a
ponta da língua pela facilidade em que a informação saiu.
— E como sabe disso? — Lorena pergunta.
— Eu... Antes de Marco, eu fui casada por um tempo, e bom... Nunca
engravidei. Então imagino que não posso ter filhos.
— Às vezes o problema era nele, não em você. — Camilla, a cunhada da
ruiva, fala.
— Pode ser isso. — Sorrio colocando um fim na conversa.
Não é. Eu fiquei com vários homens, só que essa informação não
passarei adiante. Não quero ser a rechaçada do grupo de mulheres perfeitas e
independentes.
Olho para cima e Lorena tem seus olhos presos em mim. Não vejo pena
neles, e sim entendimento. Isso me faz imaginar que sua história deve ser bem
interessante, já que ela não é uma italiana legítima, e para chegar ao posto de
esposa de um capo, a luta provavelmente foi intensa. Até onde eu sei, os
mafiosos são bem tradicionais, principalmente no quesito de aparência diante
da sociedade.
A conversa volta a fluir e eu agradeço que a atenção delas se dispersou
bem fácil do assunto.
Minha mente voa longe novamente, indo até o homem moreno de olhos
cores de mel. Essa espera está me matando.
— Não acha, Angel? — Lorena me chama.
— Desculpa! Me distraí. Do que estavam falando?
— Eu acho que você iria gostar da instituição. Por que não nos faz uma
visita? — Lara resume o que eu perdi.
— Eu iria adorar com certeza. Lorena fala muito sobre os projetos e eu
já fiquei apaixonada pelo trabalho de vocês. Mas não sei se eu poderia ajudar,
já que não terminei nem o ensino médio.
— Bobagem! Temos muitos voluntários por lá que ajudam com base em
suas experiências de vida. Mas se me permite dizer, você está muito nova
ainda e tem tempo de correr atrás do prejuízo. — Camilla diz sorridente.
— Será um prazer fazer uma visita e conhecer a instituição.
— Muito bom.
— O papo foi maravilhoso. Temos que marcar mais encontros como
esse. Ser mãe é uma benção, mas até mesmo nós precisamos desse tempo de
meninas para colocar a mente no lugar. Deixa eu voltar para o meu cavalão,
que ele deve estar se sentido perdido sem mim. — Rebeca avisa.
— Sei bem que perdido é esse. — Camilla cutuca.
— Fazer o quê se sou gostosa e seu irmão não resiste a um pedacinho
desse corpinho aqui?
Rimos das provocações das duas.
— Foi um prazer conhecer você, Angel! Espero vê-la mais vezes. —
Lara me abraça. — Se precisar conversar, estarei sempre à disposição.
— Eu agradeço. Adorei o nosso dia.
Todas se despedem e vão embora com a promessa de outros encontros
em breve e a alegria momentânea passa.
— Se não se importa, eu já estou indo também. Quero estar em casa para
quando Marco chegar. — falo com Lorena.
— Eu acho melhor você vir comigo. Pelo que sei, nossos homens não
voltarão hoje, e eu detesto ficar sozinha. Vamos fazer companhia uma a outra e
assim você me conta melhor essa história de já ter sido casada.
Engulo em seco. Droga! Como faço para sair dessa?
— Não foi nada demais. Eu não gosto de falar do meu passado, pois foi
um tempo muito difícil para mim e ainda não me recuperei. Entende?
Ela me olha como se estivesse pensando sobre o que eu falei. Por fim
sorri e gruda seu braço no meu.
— Tudo bem. Não está mais aqui quem perguntou. Vamos para a minha
casa fazer algo para comermos então.
— Claro!
Lorena sempre faz uns pratos diferenciados da sua terra e eu gosto de
comê-los, apesar de algumas vezes ela exagerar na pimenta.

(...)
Depois de nos entupirmos de comida e guloseimas, estamos assistindo a
um filme para nos distrair. Vejo que sua expressão denota preocupação tanto
quanto a minha.
— Acha que aconteceu algum imprevisto? — pergunto.
— Não. Eles se mantêm fechados e incomunicáveis quando estão nessas
missões. Eu particularmente odeio. Fico inquieta e muito nervosa quando
Vincent sai a trabalho.
— É assustador. — confirmo que isso me incomoda também. E olha que
estou nessa vida há muito pouco tempo.
— Você gosta mesmo do Marco, não é?
— Vamos dizer que nesse tempo juntos, ele me surpreendeu.
— Torço muito por vocês. Ele merece ser feliz e você também. Sei que
ainda está insegura para me depositar sua confiança. O que é bem engraçado
se parar para pensar, já que Marco também é reservado assim. — Rimos. —
Entretanto, Angel, eu não forçarei nada. Quando estiver pronta, confie em
mim. Quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Eu me vejo
em você e quero muito ser mais próxima de vocês dois.
— Eu agradeço. Só o fato de estarmos aqui é um grande passo. No início
seu homem queria me matar.
Ela gargalha.
— Vincent é muito protetor, mas te garanto que ele tem um grande
coração.
— Se ele te ouvir dizer isso, vai pirar. Um mafioso detesta que acabem
com suas reputações de fatais e tudo mais.
Rimos mais forte dessa vez.
Conversamos mais um pouco, e quando temos a certeza de que não
chegará novas informações sobre eles, nos deitamos para dormir.
Para ser sincera comigo, nem preciso que me digam nada. Eu sinto que
ele precisa de mim. Não sou adepta a nenhuma religião e nem sei se tenho esse
direito depois de tantos erros cometidos em minha vida, no entanto, mesmo
não me achando merecedora de qualquer piedade divina, faço uma pequena
prece pedindo que onde quer que ele esteja, meus pensamentos positivos o
alcance e o traga para mim são e salvo.
O barulho alto do lado de fora do quarto me faz pular da cama. Encontro
Lorena no corredor, de roupão, tão assustada quanto eu. Alguém está tentando
invadir o apartamento e cada batida violenta nos faz saltar. Nino pede para que
façamos silêncio e mantenhamos a calma. O que é quase impossível de acatar,
já que a qualquer momento poderemos estar todos mortos.
Uma semana se passou desde a saída de Marco e continuamos no
escuro. Dizer que o pior já tinha passado em minha mente é um eufemismo.
Ninguém sabe de nada, e se sabem, não compartilham nem mesmo com
a esposa do chefe. Isso me faz acreditar que a situação é muito pior do que
aparenta.
Lorena segura firmemente uma das minhas mãos e esperamos a bagunça
terminar. Logo a porta do elevador se abre e vários homens entram armados já
se sentindo os donos do local. Nino parte para uma luta corporal com alguns, e
como esperado é nocauteado rapidamente, levando um tiro à queima roupa. Lá
se vai a nossa única oportunidade de sobrevivência. Se é que tínhamos uma.
Quero me aproximar e ver se Nino ainda está respirando, mas me
mantenho paralisada no lugar. Isso foi uma luta injusta, já que somente ele
estava aqui em cima contra pelo menos uns dez deles. Eu me pergunto o que
aconteceu lá embaixo com os outros para que eles alcançassem a cobertura tão
facilmente.
— O que vocês querem aqui? — Lorena questiona tentando soar firme.
— Olha só se não é a vadia do chefe! Ou devo dizer ex-chefe? — um
jovem zombeteiro diz.
Pela sua postura, acredito que ele seja o mandante da baderna. Ou o cara
é muito burro em invadir um dos locais da máfia ou é suicida mesmo.
— Do que está falando? Meu marido voltará em breve da missão e
acabará com todos vocês por essa ousadia.
— Oh! Vejo que não te falaram, não é?
— Não falaram o quê? — ela pergunta com a voz trêmula.
— Seu marido e todos que foram com ele, estão mortos, querida.
Não! Sinto o estômago doer, o coração acelerar e minhas pernas
fraquejarem com a notícia.
— É mentira sua! — Lorena grita desesperada. — Afinal, quem é você,
hein?
— Eu sou o Lorenzo. Há tempos que quero te conhecer melhor,
principessa. Por sua causa o meu irmão foi morto, sabia? Quero saber qual o
gosto da boceta que fez o seu querido marido matá-lo em frente ao Conselho.
Deve ser muito doce, já que saiu do cargo de prostituta direto para o de esposa
do capo.
Arfo com tamanha grosseria. Agora entendo o porquê ela diz se ver em
mim. Viemos da mesma vida.
— Você não respeita mulheres grávidas, seu escroto?! O que te garante
que eles estão mortos? Viu o corpo deles? — o enfrento tentando ganhar
tempo.
Ele gargalha com seus homens, anda até o balcão de bebidas, pega uma
garrafa de vinho, abre-a calmamente e bebe direto do gargalo.
— Você deve ser a vagabunda do Marco, aquela que Snake está criando
quase uma guerra para ter de volta.
Dou alguns passos para trás com a menção do nome do meu ex. Se for
verdade tudo que ele diz, estamos muito ferradas. Principalmente eu.
— O que foi? O gato comeu sua língua, gatinha? Não parece tão
corajosa agora. — Ri maldoso do meu nervosismo. — Vamos indo! Eu tenho
muito o que fazer e aqui não é o meu lugar favorito.
— Para onde irá nos levar? — pergunto quando estamos descendo
escoltadas por ele e seus capangas.
— Você é parte do meu acordo e essa daí tem contas a acertar comigo.
— Empurra Lorena para a frente.
Quando chegamos ao primeiro andar nos assustamos com a cena que
presenciamos: corpos esparramados para todos os lados e algumas das
meninas jogadas sobre os sofás e mesas, sendo violentadas por alguns homens
nojentos. É de causar repugnância o cheiro de sangue e toda a violência.
Somos colocadas em uma van preta. Agarro o braço de Lorena tentando
lhe passar conforto ao mesmo tempo em que tento pegar um pouco para mim.
Ela está tremendo, com as mãos geladas, e isso me deixa preocupada.
Claramente está em choque com todas as informações que foram jogadas em
cima dela. Eu me sinto sangrando por dentro, contudo não tenho tempo para
me entregar. Estou pensando em um meio de nos livrar dessa e tudo que me
vem à cabeça é que vamos morrer.
O veículo arranca em alta velocidade.
Estamos andando há algum tempo, quando um tiroteio começa e o carro
anda em zig zag nos jogando tanto para a frente quanto para trás. Um impacto
forte na traseira vem e sentimos que paramos de nos movimentar.
— Que porra está acontecendo ai?! — um dos caras mal-encarados
pergunta.
— Estamos sendo perseguidos. — o motorista responde. — Temos que
sair. São muitos.
Os homens saem em uma gritaria e mais barulho de tiros começam.
— Lorena? Temos que aproveitar. É a nossa única chance.
— Iremos ficar no fogo cruzado.
— Se ficarmos aqui, iremos morrer também. Temos que tentar.
— Tudo bem! O que está pensando?
— No “três” sairemos e vamos correr o mais rápido que pudermos.
Okay?
Ela balança a cabeça, concordando.
Chuto com força a porta traseira, que para a nossa sorte, eles a
esqueceram apenas encostada. Saio em disparada puxando Lorena pela mão.
Estamos em uma estrada de terra cercada de floresta e isso nos possibilita ir
para a mata fechada. Uma chance de ouro que talvez não teremos mais se eles
nos alcançarem. Corremos sabendo que nossas vidas dependem disso. A dela
mais ainda, pois em seu ventre está o seu filho.
— Oh, meu Deus! Estou escutando gritos atrás da gente. Eles estão nos
alcançando. — Lorena choraminga.
— Continue! Não pare! Estamos juntas nessa e eu não vou te deixar para
trás.
— Não dá! Eu não aguento mais. Minha barriga dói.
Ela se segura em uma árvore para buscar fôlego e eu paro olhando tudo
em volta. Pego um pedaço de pau no chão para pelo menos tentar nos defender
dos agressores e puxo Lorena para trás de algumas árvores. Faço sinal de
silêncio e ficamos quietas tentando ouvir qualquer barulho suspeito.
— Droga! Perdemos elas de vista. Continuem procurando! Não devem
ter ido muito longe.
Lorena me cutuca e abre a boca para falar algo, mas eu a tapo. Não
sabemos se a pessoa é confiável, portanto não podemos nos mostrar.
— Vocês não são muito boas em se esconderem.
Gritamos com a voz atrás de nós.
Levanto o pedaço de pau e com toda a força que tenho acerto o golpe na
cabeça de um dos homens.
— Não, Angel!
Só depois que Lorena fala, é que eu olho quem é a pessoa. Vincent está
caído no chão, xingando até a minha quarta geração, e Marco está rindo do
nocaute que o seu chefe levou.
— Está doida mulher? Não viu que éramos nós? — Vincent questiona.
— Não, vossa alteza. Eu estava mais preocupada em nos proteger do que
cuidar com carinho de quem nos perseguia. — retruco.
— Tem muita sorte de que estou ferido e preocupado com Lorena, ou
você ia se ver comigo.
Ele só pode estar brincando com a minha cara. Coloco as mãos na
cintura e o encaro com raiva.
— Tudo que eu ouvi foi um: “Obrigada, Angel, por proteger a minha
esposa e o meu bebê!” — sou sarcástica.
Ele treme um canto do lábio superior e levanta uma sobrancelha.
— Tudo bem. Dessa vez vou deixar passar. Obrigado! Te devo uma.
— Espero que isso seja bom. — respondo duvidosa.
— Acredite: é sim. — Marco se aproxima.
Somente depois da minha pequena discussão com o Vincent, é que
finalmente olho somente para Marco e a minha ficha cai, me trazendo para a
realidade. Solto mais alguns gritos quando confirmo que ele está bem, vivo e
inteiro. Menos o capo, que escorre o sangue da têmpora por conta do meu
ataque.
— Marco?! — Pulo em seus braços. — Você me assustou. Estávamos
sendo perseguidas por um tal de Lorenzo e seu homens.
— Já acabou, pequena. Vocês estão seguras agora.
Respiro aliviada e vejo Vincent abraçando sua mulher. Sorrio feliz por
eles estarem realmente aqui e por aquela notícia ter sido um infeliz engano.
— Eles falaram que vocês estavam mortos. — eu conto.
— Era preciso que todos pensassem assim. Vamos para casa! Amanhã
tenho muita coisa para resolver. — Marco explica.
Percebo que ele está mais magro, e mesmo que tente disfarçar, está
pálido.
— Você está ferido? — pergunto.
— Estou bem. — ele responde.
— Precisa descansar, Marco. Já fez muito esforço por hoje. — Vincent
diz ao nosso lado.
Um olhar estranho se passa entre eles e eu não perco Vincent encarando-
o com um aviso.
— Eu vou cuidar dele. — chamo a atenção deles e recebo um beijo do
meu homem na testa.
— O que tiver que resolver, deixarei para amanhã. — Marco reforça.
Ambos finalizam a conversa oculta que apenas eles entendem.
Saímos para a estrada e cada um entra em seu carro. Olho o campo de
guerra na nossa frente. É surreal o que esses homens podem fazer em alguns
minutos. Não é por pouco que são tão temidos. Por onde eles passam, o rastro
de morte é inevitável. Eu quase sinto pena do otário que entrou no caminho
deles. Se só aqui foi essa chacina, o “amanhã” promete cabeças rolando na
guilhotina.
Olho para Marco no mesmo instante em que ele se vira para me ver e eu
sorrio feliz deitando a minha cabeça em seu ombro. Ele entrelaça sua mão na
minha e juntos voltamos para o conforto do nosso lar.
Ficar escondido e longe de casa, não me deixou exatamente feliz. Pior
ainda quando o médico me disse que eu precisaria ficar guardando repouso por
alguns dias. Eu queria matar todos a minha volta por ter falhado. Jamais fui
um homem de sentar e esperar pacientemente por nada, e sim de pegar o que
eu quero ou destruir tudo que preciso. Entretanto, dessa vez não foi como
desejado. Pela nossa segurança e minha melhora, tivemos que fazer diferente.
Pelo menos os desgraçados estão todos mortos e Vincent conseguiu o
nome de um dos mandantes. Sim. Porque têm mais algumas ratazanas por trás.
Uma só não teria tanto poder e nem informações privilegiadas sobre nós. Além
disso, tem alguém de dentro da Camorra passando tudo em primeira mão. Só
de imaginar que mesmo depois de toda a limpeza que fizemos, ainda temos
gente da famiglia com juramentos falsos se aliando a esses filhos da puta, meu
sangue ferve de ódio. Mas vou lembrá-los do porquê somos prósperos e temos
mais respeito do que qualquer outra organização que existe no mundo. Suas
traições serão a ruína de suas famílias. Dessa vez não deixarei nenhum deles
vivos para montarem suas vinganças. Terá um banho sangrento maior e a vista
de todos para dar-lhes uma lição de uma vez por todas.
— Você está tremendo. Tem certeza que está bem? — Angel pergunta.
— Sim. Só estou cansado.
— Venha! Deixe eu cuidar de você!
Sorrio e a olho com carinho. Ela me surpreendeu ao ajudar Lorena e
ganhou alguns pontos positivos com o chefe. Sem querer acabou provando sua
lealdade e isso me deixou muito orgulhoso. Dias sem vê-la foi doloroso, e o
medo de que os inimigos viessem para cima dela sem eu estar por perto, era
desesperador. Ainda bem que chegamos a tempo. Eu nunca me perdoaria se
tivesse acontecido qualquer coisa com ela por minha causa.
— Senti sua falta, raposinha. — A puxo para um beijo.
— Eu também senti a sua. Vai me dizer o que aconteceu com você, não
vai?
— Eu prefiro que você seja poupada de todos os detalhes tenebrosos
dessa viagem. Se eu pudesse, esqueceria dela também.
— Foi tão ruim assim?
Aliso seu rosto delicado e me inebrio de suas feições angelicais.
— Foi pior do que qualquer coisa que eu passei em toda a minha vida.
Eu morri e voltei.
Levanto a blusa e lhe mostro a cicatriz recente e ainda avermelhada no
peito.
— Meu Deus, Marco! — Coloca a mão na boca e seus olhos se enchem
de lágrimas. — Eu sabia que algo grave tinha acontecido com você. Ninguém
me falava nada. Eu perguntava e todos sempre respondiam a mesma coisa: que
não sabiam nada sobre vocês ou que estavam sem contato. — Passa devagar os
dedos sobre a marca e fala tudo de uma vez, nervosa.
— Ei! Respira! Eu estou bem agora. Eles terão que fazer melhor da
próxima vez. — Tento sorrir para que ela veja verdade. O pior já passou.
— Não é engraçado, Marco. Você poderia ter morrido. Eu... Eu não
estou preparada para isso. Não é justo você me fazer te amar somente para me
deixar sem você depois.
Paro de respirar com seu desabafo. Eu ouvi direito? Será que ela acabou
de dizer o que eu acho que ouvi?
— Você me ama? — Meu coração bate forte no peito aguardando sua
resposta.
Porra! Eu quero ouvir de novo.
— O quê? — Me olha com cautela.
— Você me ama?
Ela abaixa a cabeça, envergonhada, e eu levanto seu queixo para ela me
olhar nos olhos.
— Fale, Angel! Me diga o que sente por mim!
— Eu amo você, Marco Moretti! Mesmo você agindo feito um estúpido
às vezes.
Encosto minha testa na dela e uma emoção me toma quando ouço a sua
confirmação. A lembrança da última vez que ouvi essas palavras doces de
mamma me vem à cabeça.
Eu te amo, bebê! Você é uma criança muito especial. Nunca se esqueça
disso.
Em toda a minha vida, Angel é a segunda pessoa a me dizer essa frase.
Eu quero dizer o mesmo, mas as palavras ficam presas na garganta. Então faço
uma promessa que desejo cumprir enquanto respirar.
— Angel! Eu não sei se tenho um coração aqui dentro ou se valho
alguma coisa, mas posso te prometer agora que tudo que tenho e sou, te
pertence, pequena.
— Você vale muito para mim.
A abraço apertado, cheirando seus cabelos, para matar toda a saudade.
Agora me sinto completo.
Eu estou dominado por ela e o engraçado é que não me importo. Muito
pelo contrário: eu gosto desse sentimento de pertencer a alguém, de ter outra
pessoa por quem lutar, para quem voltar. Angel veio para dar mais sentido à
minha vida, a que eu achei que estava perdida. Essa menina se tornou parte de
mim e por ela sou capaz de tudo.
— Vamos sair desse carro! Seus soldados estão olhando para cá. — Sorri
travessa.
Olho para fora e vejo meus homens encarando curiosos. As notícias
devem ter se espalhado e eles querem ver se o executor está de volta à ativa.
Ainda bem que os vidros do carro são escuros, ou eu teria que sair e ameaçar
todos eles para manterem suas bocas fechadas sobre o que viram.
— Vamos! Quero tomar um banho e comer algo substancial que de
preferência não seja líquido. Meus dentes não sabem o que é mastigar uma
refeição descente há dias. É perigoso alguns caírem com a primeira colherada
que eu colocar na boca.
— Que exagero! — Ela ri me fazendo acompanhá-la.
Saio do carro e logo sou cercado pelos soldados que me recebem felizes
e empolgados para saber o que aconteceu na missão. Deixando de fora os
detalhes que somente alguns de extrema confiança saberão, faço o resumo da
história e me despeço deles com a promessa de uma reunião depois para
montarmos uma estratégia para a retaliação. É bom estar de volta em casa e
saber que sou bem-vindo.
Abraço minha menina, me firmo nela e entramos no nosso refúgio, de
onde não pretendo sair até me sentir revigorado e pronto para outra.
— Como diabos eles estão vivos, caralho?! — Jogo o copo de bebida na
parede, com raiva.
— Eu não sei os detalhes. Só fiquei sabendo que eles estão de volta e
pegaram o Lorenzo na estrada.
— Aquele desgraçado vai abrir a boca e contar tudo. Temos que agir
rápido. Vamos para nosso esconderijo. Avisem a todos que sairemos em uma
hora!
— Será feito. E quanto à moça ali?
Olho para cima e vejo Ashley nos espionar. Quando ela percebe que foi
descoberta, sai correndo.
— Deixa ela comigo!
Subo as escadas e vou direto para quarto que ela tem ocupado. Dois
meses foi tempo o suficiente para essa garota tomar uma atitude. Se não for
cumprir a sua parte no trato, não tem porquê eu protegê-la mais. Empurro a
porta com força, a fazendo pular de susto.
— Dê o fora da minha casa! Você prometeu me ajudar, mas até agora só
tem me feito raiva. — esbravejo.
— Que culpa eu tenho? Se não tivesse me traído e mandado matá-lo, eu
teria conseguido te ajudar.
— Olha como fala comigo, sua vadia! Eu te ajudei a entrar na cidade
sem ser morta pela máfia por causa da sua promessa de trazer a minha mulher
de volta. Não pense que você e essa sua boceta flácida vão me enganar!
— Calma! Agora que ele está de volta, eu tenho que vê-lo. Tentei chegar
até Lorena, mas por sua culpa, ela está cercada por soldados.
— Você disse que tinha um trunfo que faria o executor comer na sua
mão, mas tudo que tem feito desde que chegou aqui é se trancar nesse quarto
com esse moleque e não fazer absolutamente nada. Cansei dos seus jogos.
Essa será a sua última chance de provar sua lealdade a mim ou eu mesmo
cortarei sua cabeça e a jogarei na porta do capo, como um presente. Ele vai
adorar saber que a mulher que os traiu está morta.
Ela se encolhe no canto e eu saio do quarto para não meter a mão na cara
dela. Odeio ser feito de idiota e minha paciência chegou ao fim. Eu vou ter
minha Angel de volta, custe o que custar.
A fila de homens do lado de fora deixa claro o quanto eles estão ansiosos
para o que iremos fazer. Depois de participarmos do enterro de Nino e
prestarmos nossas condolências aos seus familiares, todos estamos abalados e
com gosto de vingança na boca. Ele era um bom soldado de extrema confiança
que morreu fazendo o que todos nós esperávamos dele: protegendo nossas
mulheres. E isso não tem gratidão o suficiente que pague.
Hoje será um dia importante para cada um de nós, portanto não temos
tempo de guardar luto. Mandamos chamar todos os membros essenciais do
Conselho para uma reunião especial e na frente deles a lição irá ser passada.
Vincent está inquieto, e por mais que tente passar tranquilidade e calma, eu o
conheço tempo o suficiente para saber que o nervosismo está tomando conta
dele.
É a primeira vez que isso vai acontecer, e depois de muita conversa, foi a
melhor estratégia que arrumamos: derrubar os traidores na frente a todos, e não
mais às escondidas, como estávamos fazendo.
— Não é muito cedo para entrar em uma luta? Você só descansou por
dois dias e mesmo assim não deixou de trabalhar. — Angel me abraça
preocupada.
— Não podemos deixá-los achando que estamos com medo. Se não
reagirmos rápido, mais deles irão usar esse ataque contra nós.
— Eu sei. É só que... Estou com medo.
— Não fique, raposinha! Estou melhor e sou o executor. Tenho que estar
ao lado do chefe sempre.
— Pelo jeito não vai ser nada bonito, já que estão nos mandando para
um esconderijo. Olhe para eles! Estão quase salivando por sangue.
— Essa é a intenção: deixar uma impressão de terror. Todos têm que
saber que não vamos tolerar mais desrespeito e muito menos perdoar qualquer
falha, mesmo que seja de um dos nossos.
Beijo seus lábios e peço que Sebastian a leve em segurança.
Não sabemos o que vai acontecer. Talvez tudo saia como planejamos,
mas também pode haver surpresas indesejáveis. O nosso foco é no resultado e
é somente nisso que tentaremos pensar.
— Vincent? Tem certeza que vai mesmo fazer isso? Ainda dá tempo de
desistir. — questiono.
— Não vou voltar atrás. Isso tem que acabar. Não iremos conseguir
finalizar essa guerra com nossos inimigos externos se tivermos gente nossa
tramando contra nós.
— Eu sei. Então vamos ao local! Nossa rota será mudada de última hora
para a nossa segurança. Alec me avisou que tudo está como você pediu.
— Bom. Como nos velhos tempos. — Tenta sorrir. — Marco? Se
acontecer algo comigo...
— Nada vai acontecer. — o corto.
— Mas se acontecer, quero que proteja a Lorena e meu filho. Me
promete isso?
— Sabe que poderá contar sempre comigo. Eu sei que faria o mesmo por
mim.
— Obrigado! Eu faria sim. Agora vamos em frente, pois estamos
atrasados!
Apenas confirmo com um balançar de cabeça silencioso e o sigo.
Pouco tempo depois chegamos no galpão e vários dos nossos
convidados já estão presentes. Eles vêm na nossa direção, aparentemente nada
felizes.
— Quando você disse que queria a presença do Conselho, eu achei que
era para uma reunião em um lugar mais apropriado. — Anthony comenta com
certo desgosto na voz.
— Peço desculpa por não recebê-los com um grande jantar digno de
celebridades. A ocasião não é para festas. — Vincent responde com ironia.
— E para quê seria? — Carlo questiona curioso.
— Vocês logo saberão quando os outros chegarem. — O capo sai, os
deixando irritados pela curta conversa.
Quando todos que precisamos se juntam a nós, peço que Alec
busque Lorenzo e o traga para que possamos iniciar o nosso plano.
— O que vocês estão fazendo com o meu filho? — Anthony se exalta ao
ver o merdinha sendo jogado no chão.
— Ele é o nosso convidado VIP. — respondo com deboche fazendo
vários dos homens rirem da piada.
— Quando seu filho mais novo me desafiou na frente da famiglia, eu
achei que tinha deixado claro que não iria aceitar que mais ninguém tramasse
contra mim ou duvidasse da minha gestão. Ao que parece, não deixei
explicado o suficiente. Eu sabia que tinha alguém aqui de dentro ajudando o
cartel mexicano e os Mc's. — Vincent começa.
Os membros começam todos a falarem ao mesmo tempo, tentando se
justificarem e dizerem que não têm nada a ver com isso.
— É mentira dele! Não veem como ele nos odeia e nunca teve
consideração por nós? Lorenzo jamais faria isso contra a organização. —
Anthony defende o filho.
— Não? Então vai me dizer que seu filho não estava por trás do
atentando contra mim? O que me diz do ataque à minha boate e sobre o fato da
minha mulher ter sido sequestrada por ele?
Todos ficam em silêncio e tensos com a discussão. É possível ouvir o
barulho apenas da nossa respiração descompassada.
— Eu sabia que você ajudava meu tio e mesmo assim lhe dei a chance
de ficar com seu cargo. Deixei claro que não iria misturar a minha opinião
pessoal com a profissional. Me enganei ao pensar assim e esse erro não
cometerei de novo. — Vincent continua.
— O que quer dizer com isso? — Anthony pergunta assustado.
— A punição pela traição é a morte. Disso você já sabe. Nem você ou
seu filho fazem mais parte da organização.
— Você não merece esse cargo, seu bastardo! Sua mãe era uma vadia...
— Vincent não deixa ele terminar, já que o derruba no chão com um soco e
corta sua língua com seu punhal logo em seguida.
— Eu não admito que ninguém fale com desrespeito dos meus pais. —
Puxa a arma e a descarrega no peito de Anthony.
— Seu desgraçado! Eu deveria ter acabado com você pessoalmente. Se
não tivesse chegado a tempo, sua mulher estaria morta. Eu teria fodido muito
aquela boceta e depois a cortaria em pedacinhos. — Lorenzo grita na frente de
todos fazendo exatamente o que queríamos: a confissão dos seus erros. Assim
ele deixa os membros presentes assistirem a cena ao nosso lado.
— É uma pena que não conseguiu. Seu erro, Lorenzo, foi confiar no
outros de fora. Sua traição não tem perdão. Entre no tatame e lute comigo até a
morte! — o capo pede.
— Com o maior prazer. Vou destruir você e ser o novo chefe. — levanta
do chão, com raiva.
— Veremos!
Rio de sua patética tentativa de me acertar no rosto e o empurro para
dentro do tatame, quase sentido pena do filho da puta. Essa luta só terá um
vitorioso e todos nós sabemos quem será.
— Eu convido todos vocês a se sentarem para assistirem a uma luta
exclusiva. — informo aos demais.
— Ao menos bebida vai ter, não é? — Alessandro questiona animado.
De todos os antigos membros, ele é o único que não nos deu problemas.
Ainda.
Dou sinal para que tragam bebidas e nos sentamos para ver a luta dos
dois.
Vincent não nos decepciona e dá um show e tanto. Lorenzo até tenta de
todas as formas derrubá-lo, contudo, em menos de trinta minutos perde e é
surrado até a morte pelo capo. O sangue espirrando para todos os lados e o
barulho dos ossos quebrando é quase um êxtase para nós que estamos de fora
acompanhando ao vivo e às cores. É selvagem e animalesca toda a violência
aplicada. Assim que a luta termina nos levantamos para congratular o chefe.
Vincent faz sinal com as mãos, pedindo silêncio, e inicia o seu discurso
final.
— Hoje eu inicio uma nova era dentro da nossa organização e para isso
darei uma chance a todos vocês. Tenho duas propostas. A primeira é para o
Conselho: aqueles que são contra que eu esteja no posto de chefe, entre aqui e
lute comigo pelo cargo, cara a cara, como verdadeiros homens feitos. Se eu
perder, entregarei ao vencedor a cadeira.
Todos exclamam a nossa volta. Ninguém dá sequer um passo à frente.
— Vamos lá! É uma oportunidade de ouro. Vocês lutam e conseguem me
tirar daqui de uma maneira justa. Simples e fácil. Ninguém se habilita? — Ele
sorri desdenhoso, abrindo os braços.
O cara é assustador. Está todo ensanguentado, porém invicto. Um
verdadeiro assassino de sangue frio.
Seguro a vontade de rir ao notar o desespero dos demais. Os corajosos
têm coragem para montarem armadilhas, entretanto, não têm para lutarem pelo
cargo que tanto desejam.
— Nós nunca desejamos isso, chefe. Estamos felizes pelo seu
desempenho na Camorra.
— Não é o que tenho visto. Desde que peguei a minha posição, a qual
me pertence não só pelo meu nome, como também por anos de trabalho duro,
sempre vem um de vocês tentar me tirá-la. Essa é a chance. Façam isso agora
ou calem-se para sempre! E já deixo avisado que aquele que tramar contra
mim novamente, não só o matarei pessoalmente, como também a cada
membro de suas famílias. Eu aprendi com meu último erro. — Aponta para os
dois cadáveres.
Silêncio total no lugar. Tento ver se alguém vai tentar a sorte, sobretudo,
os presentes nem parecem respirar.
— Tudo bem. Depois não digam que eu não avisei. Agora vamos para a
próxima questão: quem são os indicados para o cargo de subchefe da Sicília?
Alguns nomes são apresentados e muitos estão aqui acompanhando o
desenrolar da reunião.
— Maravilha! Os sortudos podem subir no tatame e lutarem entre si. O
vencedor ficará com o cargo. Boa sorte!
— Nunca fizemos isso. — Alessandro fala.
— E é por isso que não valorizam quando conquistam. — Henrique dá o
ar de sua graça, nos pegando de surpresa. — Peço desculpa pelo atraso.
— Você concorda com essa ideia absurda? — Carlo pergunta indignado.
— Sim. Acho que a partir de agora todos deveriam passar por avaliação.
Há muitos anos que somente são indicados nomes das principais famílias, que
muitas das vezes são moleques inconsequentes que não sabem nem o valor dos
seus juramentos. — ele explica com calma.
— Eu poderia citar pelo menos seis dos meus soldados que merecem
esse cargo por terem feito bem mais pela famiglia do que esses que acabaram
de ser indicados. — complemento a fala de Henrique.
— Não confiam em seus indicados? Como vamos confiar neles se nem
vocês acreditam que eles estejam capacitados para o comando? — Vincent
retruca.
— Façam seus testes! E que vença o melhor. — Alessandro diz.
— Ótimo! Pode iniciar, Marco. — Henrique finaliza.
Depois de fazer os testes com cada um e avaliá-los, escolhemos o que
melhor se destacou. Finalizamos a reunião e saímos aliviados com o resultado
positivo. Ao menos um dos nossos problemas conseguimos resolver com êxito.
Agora é a vez de Snake. Esse é somente meu. Terei o maior gosto de fazê-lo
pagar por tudo que me fez passar, e com o maior prazer. Ele selou sua morte
no dia em que se meteu no meu caminho. Está na hora dele saber que não
deixarei passar a sua estúpida tentativa de me matar e ficar com o que é meu.
— Tenho uma consulta hoje. Vou descobrir o sexo do bebê. Quer vir
comigo? — Lorena se joga no sofá ao meu lado.
— Não é propenso o pai acompanhar? — questiono sem nenhum pouco
de vontade de sair hoje.
— Sim. Porém Vincent está muito ocupado com os negócios da máfia.
Não quero perturbá-lo com isso. Além do mais, tive uma ideia de fazer um chá
para revelar o sexo do bebê. Com tantas coisas pesadas que aconteceram nos
últimos dias, seria legal uma festa para animar. E você precisa ir comigo
porque será a única a saber o sexo do bebê até lá. — Bate palma entusiasmada
e eu sorrio de sua felicidade.
Eu queria dizer “não”, mas não quero decepcioná-la depois de tudo que
tivemos que passar.
— Parece uma ótima ideia. O bom é que vou poder te torturar até chegar
o dia. — Esfrego as mãos, a fazendo gargalhar.
— Você é muito má.
— Só quando quero. — Balanço as sobrancelhas.
— Então vamos! Não quero chegar atrasada, ou a Dra. Collens irá me
matar.
— Só se ela quiser morrer depois pelas mãos do seu doce marido.
Rimos mais forte e saímos para a bendita consulta.
Sentamos na sala de espera com várias outras mulheres. Algumas em
estágios mais avançados do que Lorena. É tudo estranho para mim, sobretudo,
parece encantador para elas esse momento. Eu tento me colocar no lugar delas
e me imaginar passando por essa experiência, mas quanto mais eu penso nisso,
mais longe eu me coloco. Eu não seria uma boa mãe. Como eu poderia, se não
tive uma para me ensinar a ser uma pessoa melhor? Talvez seja um castigo eu
não ter gerado uma criança ou uma dádiva se parar para analisar por onde
passei até chegar aqui.
— Lorena Lourenço?
Suspiro de alívio quando a enfermeira a chama. É muita mãe para um
lugar só.
— Se anime! Não estregue meu momento com essa cara de tacho! —
Lorena me cutuca.
— Vou tentar agir normalmente.
— Você não é uma pessoa normal, bitch.
— Está cutucando a pessoa errada. Eu posso acidentalmente contar ao
Marco sobre o sexo do bebê.
— Nãaaao! Ele contaria ao Vincent. Os dois são como cu e rola.
— É o quê? — Rio alto chamando a atenção das outras mulheres.
— É um ditado muito popular no Brasil. Você sabe... Fetiche masculino
por sexo anal e tudo mais.
— E o que uma coisa tem a ver com a outra?
— Quer dizer que eles são inseparáveis, tipo pão e manteiga.
— O certo não seria rola e vagina então? — pergunto confusa.
— Você ficaria chocada com o tanto de ditado relacionado a cu que tem
no meu país.
— Vocês são muito estranhos. — Balanço a cabeça, ainda não
acreditando nessa maluquice.
A coitada da enfermeira nos olha com a boca aberta. Creio que pensando
se nos deixa entrar ou se chama um guarda para nos pôr para fora.
— Por aqui, por favor! — Ela sai quase correndo na nossa frente.
— Acho que o assunto sobre pau a deixou desconfortável. — falo baixo
segurando o riso.
— Com uma bunda desse tamanho, duvido que pelo menos uma vez na
vida ela não tenha experimentado dar esse rabo.
— Meu Deus, Lorena! Você é maluca! — Rio de novo e me seguro na
parede. — Parece que a Rebeca anda muito te influenciando, hein?
— Pode ser. Convenhamos que ela é uma mulher empoderada e
invejável.
Concordo com ela. A mulher é linda, do tipo de parar o trânsito.
Passamos pela porta e somos recebidas pela doutora, que sorri ao nos
ver. Lorena conversa com ela e explica como tem passado o mês. A médica lhe
receita medicamentos e pede que ela deite na maca para começar a ultrassom.
Uma gosma transparente é jogada na barriga dela para o aparelho deslizar mais
facilmente. Meus olhos vão para a tela, onde aparece uma imagem borrada que
aos poucos pega forma. Um rosto com uma mãozinha na boca fica nítido e me
pego sorrindo quando a doutora diz ser o bebê. Lhe explico que Lorena não
pode saber o que é, porque prefere descobrir junto com o marido na festa que
iremos fazer, então ela diz apenas para mim.
Depois da médica detalhar o exame e colocar o barulho do coraçãozinho
para escutarmos, ela encerra a consulta dizendo que mãe e bebê estão muito
bem.
A doutora sai da sala e Lorena levanta para se trocar.
Olho para a máquina com curiosidade, e atrevida como sou, pego-a e
analiso se não tem alguém chegando. Então jogo um pouco do gel na minha
barriga e passo o aparelho sobre ela para saber como é a sensação.
— Não é assim. Está muito em cima. Tenta colocar mais abaixo do
umbigo! — Lorena me ajuda na travessura.
E para a nossa surpresa, uma pequena imagem aparece, me fazendo
soltar de uma vez a máquina.
— Angel? Você viu aquilo?! — ela parece abismada tanto quanto eu.
— É impossível.
— Não é o que parece. Deixa a médica voltar, que iremos tirar essa
dúvida.
— Não quero.
— Por que não? Isso é maravilhoso. Marco ficará feliz.
Estou tremendo. Como se no automático e muito assustada, quando a
médica volta, deixo que Lorena explique o que aconteceu. A pedido dela, deito
na mesa e o exame é refeito da maneira correta. E para a minha perdição e
preocupação, é confirmada a gestação de dez semanas. Eu estou grávida! Oh,
meu Deus! Estou grávida do Marco.
Sento em choque ouvindo todas as recomendações da Dra. Collens
enquanto ela passa vários pedidos de exames.
— Você vai contar para ele? — Lorena pergunta assim que saímos do
consultório.
— Acho que não agora. Eu ainda não acredito que é verdade.
— É normal se sentir perdida. Eu também fiquei assim na minha
primeira gravidez.
— Essa não é a sua primeira?
— Não. Meu primeiro bebê, eu perdi quando fui sequestrada por Luigi.
— Eu sinto muito. — sou sincera.
— Tudo bem. Não era o momento certo naquela época. Meu anjinho
está em um bom lugar.
Ela é tão forte e decidida. Eu queria ser assim também. O meu problema
é que sou muito pessimista e não acredito que tudo que tenho vivido vá durar.
Sempre levo essa sensação comigo. Temo que Marco decida que eu não valho
a pena e me chute de sua vida quando não for mais conveniente me ter por
perto.
— Eu vou pensar em como abordar esse assunto com ele. Ainda não me
sinto pronta para compartilhar.
— Eu te entendo. Faça no seu tempo! — Me abraça com carinho.
Entramos no carro e eu fico calada por todo o caminho. Lorena respeita
esse momento e se mantém quieta pensativa.
Quando ela me deixa em casa com a promessa de me ligar depois para
saber como estou, eu ainda me sinto fora de mim. Deito na cama e fico
olhando o teto, pensando em como vai ser daqui para a frente. O que devo
fazer nessa situação? Marco ficará realmente feliz ou fugirá? Choro angustiada
e indecisa sobre o futuro até cair no sono.

(...)

Somente acordo quando um corpo quente se junta ao meu, me abraçando


por trás, e no calor de seus braços me permito descansar de novo e pensar
amanhã sobre o assunto.
A abraço por trás, sentido sua respiração suave. Tenho notado o quanto
ela está distante. Angel pensa que não percebo, mas custou a dormir na noite
passada. Inalo seu cheiro, que serve como um afrodisíaco para o meu corpo.
Ele está tão impregnado em mim que eu o sinto por todos os cantos que vou,
mesmo distante dela.
Beijo o seu pescoço e vou descendo devagar, a explorando com calma.
Angel geme gostoso e me deixa doido para pular para a próxima etapa. Não sei
o que anda acontecendo, visto que há alguns dias venho notando que ela tem
ficado mais quieta e pensativa, e isso me preocupa. Temo uma recaída sua nas
drogas. No que depender de mim, não deixarei isso acontecer.
— Marco? Você quer ser pai um dia?
Paro e levanto a cabeça para olhá-la. A pergunta me pegou de surpresa.
Claro que antes dela, nunca tive essa vontade, mas agora sinto que com
ela posso tudo.
— Você quer ser mãe? — devolvo a pergunta e beijo a ponta do seu
nariz.
— Se eu disser que sim, vai sair correndo?
— Não. Vou dizer que com você, eu quero absolutamente tudo, inclusive
ter uma mini Angel correndo pela casa e me deixando de cabelos brancos antes
do tempo.
— Pode ser um mini Marco.
— Não importa. Sendo uma mistura nossa, vou amar.
Ela dá um sorriso tão largo que me tem quase de joelhos.
— Eu estou grávida. Descobri na consulta com a Lorena. — solta de
uma vez.
Caralho! A puxada do curativo foi rápida. Paro de respirar, surpreso. Aos
poucos seu sorriso vai morrendo e ela se afasta sem jeito.
— Angel? — Tento pegar em sua mão.
— Eu não soube dizer. Pensei em mil formas e... Desculpa! Não sou boa
em fazer surpresas.
— Angel? É sério ou está apenas me testando? — Levanto e vou até ela.
— Estou com quase três meses.
— Baby! — Meu coração parece que vai saltar do peito.
— Você ficou feliz? — Vejo insegurança em seus olhos e tenho vontade
de me bater por não saber expressar direito tudo que estou sentido nesse
momento.
— Querida, eu estou tão feliz com essa notícia que nem sei como dizer.
Você acabou de me fazer o homem mais completo desse mundo.
— Oh, meu Deus! Você me assustou quando ficou calado. Achei que iria
dizer que queria, porém mais para a frente. Afinal, mal nos conhecemos.
— Estamos juntos há tempo o suficiente para saber o que sentimos.
Construir uma família é tudo que eu quero com você.
Ela pula em meus braços e eu a levo de volta para a cama. A beijo com
todo amor e carinho, muito emocionado para conseguir dizer mais alguma
coisa nesse momento tão especial.
Um filho! A mulher da minha vida me dará um filho. Minha vida não
poderia ser melhor. Eu nem sei o que eu fiz de tão certo para receber um
presente tão maravilhoso como esse. Seja lá o que for, farei por merecê-lo
todos os dias.
A minha ânsia por ela só aumentou com essa notícia. Coloco minha
língua em seus lábios vaginas, sentido seu doce néctar, e me saboreio do seu
gosto único. Ela se contorce em minha boca e não demora muito para gozar
gritando meu nome.
Me encaixo entre suas pernas para penetrá-la, mas antes de entrar, paro
com medo. E se eu machucá-la? Ou pior... E se eu machucar meu filho?
— Por que parou? — Me puxa para um beijo.
— Será que podemos? Quer dizer... Eu não sei muito sobre isso. Será
que não vai machucar o bebê? — exponho minhas dúvidas.
Angel me olha séria por um tempo e depois gargalha.
— Marco! Está tudo bem. Não se preocupe!
— Tem certeza? Eu nunca perguntei ao Vincent. Talvez eu deva pegar
algumas dicas.
Ela gargalha de novo.
— Amor! Não vai machucar. Pode confiar em mim. Só me foda gostoso,
que eu estou com saudade!
Sorrio do seu jeito manhoso. Desde quando voltei, não fizemos nada
devido à minha recuperação. Quer dizer... “Nada” é muito forte. Brincamos
um com o outro moderadamente. Não foi por falta de vontade minha de
avançar o sinal, é claro, mas a minha mulher é muito teimosa e levou a sério o
que o médico falou.
— Seu desejo é uma ordem. — Entro nela delicadamente nos fazendo
gemer. — Oh, minha menina! Você está tão apertadinha e tão molhadinha que
não quero sair de dentro de você hoje.
— Então não saia. Me ame até não aguentarmos sair dessa cama!
Eu faço exatamente isso. Junto nossas mãos e chupo seus lábios com
todo o meu desejo. Aos poucos vou acelerando os movimentos até não poder
mais me controlar e deixo apenas nossos corpos comandarem o ritmo.
— Vem para mim, Angel! Aperte meu pau com essa bocetinha gulosa!
— Abaixo a cabeça e chupo um dos seus seios.
— Oh, Marco! — grita arranhando minhas costas.
— A quem você pertence, Angel? — O animal em mim quer ouvir dela
que ela é minha, mesmo que eu já tenha certeza.
— Sua, Marco!
— Sim, querida! Você é todinha minha e eu sou completamente seu.
A estoco mais rápido, fazendo-a morder meu ombro. Eu fico louco
quando ela faz isso. Perco o total controle sobre tudo e me deixo vir. Jogo toda
a minha essência em seu canal, marcando-a como minha. Enquanto ainda
pulso dentro dela, coloco para fora as palavras que não disse no dia em que ela
se declarou para mim. Não por ter alguma incerteza, e sim porque não
consegui dizer da forma que eu achava que minha menina merecia.
Dane-se minhas inseguranças! Eu sou louco pela minha Angel e quero
que ela saiba disso de todas as formas.
— Eu te amo, pequena! — A olho, sem fôlego.
Sinto uma sensação boa de plenitude tomar todo o meu ser.
— Eu te amo! — devolve com os olhos cheios de lágrimas.
— Minha mulher!
Volto a me mexer dentro dela e a amo de novo como se não houvesse o
amanhã. Há apenas esse momento, esse lugar... Somente nós três e mais nada.
Sair de casa depois do dia de ontem recheado de emoções, foi um
sacrifício. Já mandei aumentar a segurança e colocar câmeras extras apenas
por precaução. Não estou neurótico, apenas acho que todo o cuidado com a
minha família é pouco. Não quero deixar nenhuma abertura para que aquele
filho da puta chegue perto da Angel.
Desço do carro, passo algumas ordens aos soldados e me viro para entrar
na boate. Vincent me ligou de madrugada, e pela sua voz, as notícias não serão
nada agradáveis.
— Cadê ele? — pergunto ao Alec.
— No escritório. Senhor?
— Sim?
Ele parece nervoso. Não gosto disso.
— Ele não está sozinho. Ashley voltou.
A ira me sobe ao ouvir esse nome. Quem ela pensa que é para aparecer
aqui depois de tudo que nos fez?
Entro no escritório sem avisar e lá está sentada na cadeira a cadela que
nos traiu no passado.
— O que faz aqui? Perdeu a noção do perigo? — cuspo meu ódio para
cima dela, sem piedade.
— Marco! Ela tem algumas informações sobre o Snake. Você vai querer
ouvir. — Vincent entra na minha frente, impedindo que eu chegue até a
vagabunda.
— Lorena sabe que você está protegendo a mulher que a vendeu para o
Luigi? Ou se esqueceu desse detalhe, porra?!
— Eu não me esqueci disso. E se Ashley não está com os miolos
espalhados por esse tapete agora, é porque realmente é muito importante o que
ela me falou.
Tento me acalmar e não perder o resto da minha paciência. Se Vincent
não a matou, é porque realmente tem um motivo muito válido. Vou até a
prateleira de bebidas e me sirvo de duas doses de vodca. Sento na poltrona,
longe dela, confiando em meus instintos que gritam que devo sufocá-la até a
morte e depois enterrá-la em uma cova bem funda para que nunca mais
infernize ninguém.
— Fale! Eu espero que seja valiosa sua informação, ou sairá daqui direto
para um buraco no meio do nada. — Ela arregala os olhos com minha fala.
O quê? Ela não achou que depois de tudo que fez, iria ser recebida com
pompas porque sabe de algo que possivelmente não sabemos, não é?
— Snake quer derrubar vocês, e para isso está usando a Angel. —
Reteso quando ouço o nome da minha menina.
— E como sabe disso? Mudou de clientes e se tornou a vadia dos Mc's
agora?
— Ele tem me mantido presa sob chantagem.
— Você não me parece uma pessoa presa agora. Esse Snake deve ser um
fraco, já que nem os reféns dele, controla. — zombo da sua farsa. — Vai me
dizer que o enganou também como fez conosco? Me deixe adivinhar: abriu as
pernas por alguns dólares ou quem sabe por uma moradia como sua prostituta
de luxo. Acertei?
Ela me olha com raiva e se levanta, vindo em minha direção.
— Eu não vou aceitar que fique me ofendendo. Não a mim, a mulher
que se colocou em risco para salvar a vida do seu filho.
— Meu filho? — Gargalho alto. — Chega! Eu vou embora. Não quero
ouvir mais nenhuma de suas mentiras.
— Estou falando a verdade, Marco. Nós temos um filho e Snake quer
colocar seu domínio sobre ele para te manipular. Não sei dizer como o cara
soube disso, mas desde então tem me ameaçado por conta desse segredo. Eu
consegui fugir, porém, não será por muito tempo. Ele virá atrás de mim e do
bebê novamente.
Paro, a olhando, e tento achar uma rachadura na sua falsa alegação. Por
mais incrível que seja, parece que ela realmente está falando a verdade. Ao
menos seu desespero aparenta ser real.
— Mesmo que essa criança exista, ela pode ser de qualquer um, até
mesmo do Vincent. Você dormia com várias pessoas naquela época. Se bem
me lembro, todas as vezes que ficamos, eu me protegi.
— É seu. Um exame de DNA pode confirmar o que estou dizendo. Veja!
— Pega uma foto e me entrega.
Analiso com calma a criança, buscando em sua fisionomia algo que
pareça comigo. O moleque lembra muito a mim quando pequeno, mas isso
pode ser uma coincidência. Até uma certa idade, todas as crianças se parecem,
não é?
Suspiro com impaciência. Viro meu rosto para Vincent, que se mantém
quieto, apenas nos observando.
— Você acredita nela? — quero ouvir a opinião dele sobre o assunto.
— A idade do menino bate com a época que vocês estavam juntos.
Como ela mesma pontuou, um exame pode desmentir sua história. Duvido que
ela seja burra o suficiente para usar uma criança contra nós. Sabe o que lhe
acontecerá se estiver nos manipulando.
— Onde o menino está? — a questiono ainda não acreditando nela.
— Lá em cima com a Lorena. — Vincent responde.
— Eu quero a comprovação da paternidade, e somente depois disso
conversaremos.
— Marco? Tem mais. — Vincent me para quando eu me viro para sair.
— Fale para ele tudo que me contou! — pede à Ashley.
— Alguém daqui passa todas as informações sobre você para o Snake.
Eu já o ouvi falar por telefone com essa pessoa várias vezes. — ela explica.
— Já sabíamos sobre isso. Era Lorenzo, e foi resolvido. — a corto.
— É a Angel. — ela concluiu.
— Cuidado! Não toque no nome dela e nem a acuse. — Dou dois passos
em sua direção e sou parado pelo capo.
— E se estivermos errados sobre ela todo esse tempo? — ele me
pergunta com receio.
— Não acredito nisso. Você não a conhece, então não a julgue por
algumas palavras vindas de uma traidora!
— Eu não estou julgando. Estou questionando. Você sabe que não é a
primeira vez que temos um infiltrado dentro da organização.
— Chega! Eu não aceito que abra a sua boca para duvidar dela. Eu te
respeito muito, mas não vou aceitar que fale dessa forma da minha mulher sem
ter provas em mãos de que ela é culpada.
— Tudo bem. Apenas peço que busque qualquer ligação dela com o
Snake. Tem que ter uma justificativa para tudo isso. É muita coincidência tudo
que vem acontecendo conosco, e aquele ataque foi muito bem planejado.
— Cuide desse assunto! — Aponto para a Ashley. — Eu preciso ir
agora.
— Marco! Busque por um telefone! Ela pode ter algum escondido. —
Ashley grita atrás de mim, tentando me alcançar.
— Se você estiver tentando prejudicá-la, eu mesmo acabarei com você,
sendo mãe de um filho meu ou não.
Ela dá alguns passos para trás, e eu, para não perder a cabeça e fazer
uma merda, abro a porta e saio não querendo ouvir mais nada.
Minha Angel não faria isso comigo. Minha menina é inocente. Não
acredito nessas mentiras. Ashley está inventando. Para qual finalidade, eu não
sei, mas vou descobrir.
Fico no carro com a mente conturbada e respiro fundo tentando colocar
meus pensamentos no lugar. Tudo parecia perfeito demais. Eu nem deveria me
surpreender com essa bomba. Vou buscar a verdade, e quando tiver essa cadela
em minhas mãos, irei acabar com ela por tentar incriminar e jogar todos contra
a minha mulher. E se Angel estiver no meio dessa bagunça, que Deus me
ajude, porque eu nem sei do que sou capaz de fazer com ela se em todo esse
tempo andou ajudando os Mc's.
Dio! Em que confusão eu fui me meter? Não me deixe estar errado!
— Está acontecendo alguma coisa que vocês não estão me contando? —
pergunto à Lorena.
Há dias venho notando que todos a minha volta mudaram comigo. Não
aguento mais essa sensação de julgamentos.
— Não. Por que diz isso? — percebo que ela não me olha quando
responde.
— Marco está muito estranho esses dias. Achei que era por conta da
gravidez que o pegou de surpresa, mas tenho percebido a forma diferente do
meu marido quando estou no mesmo local que ele. E até mesmo você mudou
sua postura.
— É impressão sua, Angel. Eu só estou nervosa com a festa. Mesmo
com Vincent dizendo que menina ou menino não fará diferença para ele, eu sei
o quanto é importante para os homens da máfia terem um filho homem. Tenho
medo de que se for uma garota, eu venha passar por represálias, e creio que ele
teme a mesma coisa que eu.
Faz sentido. Afinal, somente eu sei o quanto os meninos valem nas
famílias poderosas.
— Ninguém da organização seria estúpido de menosprezar você ou falar
algo por isso. Até porque filho continua sendo filho, independente do gênero
que tiver. — tento amenizar sua preocupação.
— Eu sei. É só bobagem minha, com certeza. Esses hormônios estão me
matando. — Sorri.
Escolhemos a decoração e o bufê para a festa. Tudo muito luxuoso
gritando dinheiro para agradar as senhoras exigentes da máfia. Aproveitamos
para passar em algumas lojas e comprar roupinhas para nossos bebês. Lorena
pega alguns macacões masculinos grandes e sua preferência me intriga.
— Não é muito grande? — Aponto para as roupinhas e ela me olha sem
jeito.
— Oh, não! Quero presentear o filho de uma amiga. Ela está passando
uns dias lá em casa.
— Ah! São lindos! Você tem bom gosto.
Depois de comprar bastante coisas, as quais creio que a criança não irá
usar nem a metade, saímos da loja.
— Marco vai demorar de chegar hoje. Posso ficar um tempo com você?
Ela fica séria e eu já estou prestes a pedir desculpa por ser indelicada e
me convidar para passar o dia em sua companhia.
— Eu... Claro! Por que não?
— Lorena! Se estiver muito ocupada, não tem problema. Eu vou para
casa.
— Não! Você vem comigo e almoça conosco.
Não me sinto convencida, mas já que me convidei, agora devo ir, mesmo
que eu tenha me arrependido do que pedi.
Quando chegamos em sua casa, uma mulher bonita está na sala com um
bebê.
— Ashley, essa é a Angel, a minha amiga e namorada do Marco.
Não perco o clima de tensão e o olhar silencioso que as duas trocam.
Será que a mulher é ex do Marco?
— Oh! Lorena fala tanto de você, que já sinto que te conheço há muito
tempo. — ela se dirige a mim.
— Espero que bem. — Sorrio ao ver o bebê gordinho se arrastar e tentar
se levantar segurando no sofá. — É seu?
— Sim.
— Ele é lindo!
— Igual ao pai. — diz com certa melancolia na voz.
— Imagino! Espero que o meu puxe ao Marco também.
— Vo...Você está grávida?
— Sim. — compartilho a notícia, muito orgulhosa.
— Do Marco?
A encaro.
— Claro!
Que pergunta indiscreta e desrespeitosa foi essa?
Vejo uma faísca de raiva em minha direção e eu fico confusa com a
hostilidade vinda dela. Okay! Com certeza é uma ex. E pelo jeito veio com a
intenção de pegar meu homem. Não pode ser uma simples coincidência esse
comportamento e todas essas perguntas infundadas.
Viro-me para Lorena, esperando uma explicação, que não vem. Começo
a juntar uma peça na outra, lembrando como ela tem ficado sem graça comigo
nos últimos dias. Oh, meu Deus! Não pode ser o que estou pensando.
— Há algo que eu precise saber, Lorena? Quem é essa?
— Deixe que eu me apresente direito, querida! Sou Ashley, mãe do
primeiro filho de Marco Moretti.
— Ashley! O que foi que nós conversamos? — Lorena começa a discutir
com a sonsa, que sorri ao me ver perdida e sem fala. — Não temos certeza se a
criança é realmente do Marco.
— Não têm? E iam me falar quando? Na revelação do teste de
paternidade? Ou talvez, sei lá, aproveitar a festa e fazer dois em um?
— Angel! Não é assim. Esse assunto somente o Marco poderia lhe
contar.
— Eu vou embora. — Me levanto para sair, me sentido sufocada e
apunhalada pelas costas.
— Espere, querida! Você não está em um bom momento para ficar
sozinha.
— Não importa. Vou esperar por ele e saber dessa história pela boca
dele.
Não espero que falem mais alguma coisa e saio à procura de um soldado
que possa me levar daqui. Seguro as lágrimas que insistem em sair. Não vou
chorar. Essa mulher veio em busca de confusão e não será hoje que conseguirá
me deixar destruída.
Chego em casa e tomo um banho. Faço um lanche e pego um livro
qualquer para tentar ler, somente para que o tempo passe mais rápido.
Sou Ashley, a mãe do primeiro filho de Marco Moretti.
Vadia!
Jogo o livro na parede e derrubo alguns quadros no chão.
Ela falou aquilo para me machucar. O sorriso de deboche em seu rosto
quando jogou aquilo na minha cara, deixou claro suas intenções. Uma pessoa
mesquinha é capaz de tudo.
Entro no banheiro, satisfeita. Tudo tem dado certo até agora e na festa eu
darei a cartada final. Irei mostrar diante de todos a mulher que ela é. Ninguém
vai querer aceitá-la na famiglia. Vim para lutar com tudo dentro de mim e
sairei daqui com tudo que eu mereço. Terei o Marco de volta, e para que isso
aconteça, preciso tirar essa mulher do meu caminho de uma vez por todas.
Essa festa será minha entrada triunfal. Só tenho que conferir com Snake
se o nosso plano ainda continua de pé e se o babaca não vai me deixar na mão.
Ligo para ele e o espero atender.
— Tomara que tenha uma boa notícia para mim. — sua voz rouca de
tanto fumar aparece no alto falante.
— Tudo está saindo conforme planejamos.
— Finalmente! Isso sim é uma ótima notícia.
— Você vai me ajudar a forjar o exame, certo?
— É claro que vou. Não se preocupe com isso!
Respiro aliviada.
— Eles já desconfiam dela. Plantei a dúvida e agora o resto é com você.
— Tudo bem. Deixe comigo! Você a viu?
— Sim. Ela ficou abalada quando eu disse que sou a mamãe do bebê
Moretti.
Sua risada explode pelo telefone.
— Daria tudo para ver a cara dela nessa hora.
Sorrio relembrando o episódio.
— Tenha paciência, que você logo a verá pessoalmente.
— Não vejo a hora.
— Tenho que desligar. Estão me vigiando. Aviso assim que eu estiver
indo para o laboratório fazer o maldito exame.
— Okay! Até mais.
Tudo bem, Ashley. Falta pouco. Você será logo, logo, a senhora Moretti.
Retoco o batom e saio para fazer o meu papel de boa mãe.
O papel queima na minha mão. Eu não queria acreditar, mas as provas
estão aqui. Angel tem mentido para mim todo esse tempo. Além de me usar,
ainda não me contou sobre as suas origens.
— Tem certeza que são verdadeiros? — pergunto me sentindo um idiota
por me apegar a um resquício de esperança.
— Sim. O que vai fazer? — Vincent me analisa.
Lutei anos para conseguir o respeito de todos, e olha a minha posição
agora. Por uma boceta, eu coloquei o inimigo dentro de casa, perto do chefe,
arriscando a sua vida, meu cargo e todos os segredos da organização.
— Colocar o lixo para fora. — respondo ríspido e viro toda a bebida na
boca.
— Marco! Eu vou entender se não quiser fazer nada agora. Afinal, ela
está grávida de um filho seu.
— E quem disse que essa criança é minha? Pode muito bem ser de
outro. Se ela mentiu todo esse tempo, quem me garante que não mentiu sobre
isso também?
Ele fica calado, pois sabe que estou falando a verdade. Ninguém pode
garantir mais nada e a culpa é inteiramente minha. Eu sou uma fraude de
homem.
— Estou aqui para te apoiar, seja qual for a sua decisão.
— Obrigado! Mas isso somente eu poderei resolver.
Meu peito se comprime. Eu a amei mais do que a qualquer pessoa um
dia. Nunca me senti tão traído e enganado como agora.
Entro no carro, acelerando por estrada a fora. Preciso pensar com cautela
e analisar esses documentos de novo, com calma e sozinho. Vou tirar a limpo
essa história com ela, mas antes irei limpar a minha mente de qualquer
sentimento, e somente depois farei o que for preciso para manter a minha
segurança. Controle sobre mim é tudo que eu preciso.
Dois dias esperando e Marco não apareceu em casa. Eu sei que ele está
me evitando. Com certeza Lorena lhe disse o que aconteceu.
Me arrumo para a festa e peço que Sebastian me leve. De lá, ele não me
escapa. Deve estar fazendo a segurança do lugar. Eu irei lhe pôr contra a
parede.
Chego ao local e o procuro. Sinceramente pouco me importa essa festa.
Todos mentiram para mim, inclusive Lorena, que achei ser minha amiga.
Idiota: isso que eu sou. Dei abertura para entrarem na minha vida e
consequentemente poderem para me machucar. Olho em volta e apenas vejo a
tal Ashley com o bebê sendo paparicado por várias outras mulheres. Lorena
está junto de Vincent, fazendo a boa anfitriã, recebendo os convidados.
Fico no canto, disfarçando e aguardando o momento certo.
Horas se passam, e nada dele. Quando o sexo do bebê é revelado, todos
aplaudem e comemoram as boas novas, contudo, eu me mantenho distante.
Esse não é mais meu lar. Nunca foi.
— O que faz aqui? — uma das matriarcas da família grita.
— Desde quando aceitamos traidores entre nós? Isso é uma afronta! —
outra fala alto fazendo o burburinho começar a minha volta, chamando a
atenção de todos na festa.
— Não sei do que você está falando. — respondo tentando manter a
calma.
— Essa não é uma infiltrada? Eu ouvi falar que ela foi umas das
mandantes do ataque ao capo.
Mais comentários e ofensas vêm na minha direção. Eu fico petrificada
no lugar, não entendendo o porquê de tanta grosseria e acusações.
Olho para Lorena, que se mantém calada, e quando percebe que eu a
olho, abaixa a cabeça. Ashley sorri vitoriosa logo atrás das mulheres. A cadela
tem dedo nisso. Não preciso sequer perguntar o porquê.
— Saia daqui! Aqui não é o seu lugar. — Mais gritos das mulheres na
multidão.
Nunca me senti tão humilhada como agora. Já fui indesejada em muitos
lugares, mas passar por esse vexame ficará no topo da minha lista de
vergonhas.
— Chega! Deixem ela em paz! Quem vocês pensam que são? Por acaso
tem algum santo aqui? — Rebeca é a única a vir ao meu socorro.
Toco seu braço em um agradecimento silencioso e seguro as lágrimas
traidoras que desejam sair.
Antes que me tirem a pontapé daqui, eu mesma saio correndo porta a
fora e volto para a casa de Marco. Sim... Não sinto que seja mais minha. Meu
tempo aqui acabou.

(...)

Faz pouco tempo que cheguei, então escuto a porta se abrir. Me levanto
e dou de cara com Marco.
Ele olha para o chão e depois de volta para mim. Noto rigidez em suas
feições e sei que essa conversa não será boa para nenhum de nós.
— Quando ia me contar? — pergunto logo, não querendo enrolar, nem
lhe dar tempo de arrumar uma desculpa qualquer.
— Sobre o quê?
— Do bebê e sobre tudo que está acontecendo.
— Quando o resultado do exame saísse. — diz com calma, como se não
tivesse falado de nós, e sim de outras pessoas.
— É por isso que mudou comigo?
— Não sou eu que devo explicações, Angel, e sim você.
— Sabia que tinha um filho perdido por aí? Não mente para mim! —
grito chateada. — Seja sincero comigo!
Ele vem na minha direção e fecha a mão em punho. Me preparo para
levar um soco em meu rosto. Fecho os olhos e escuto o barulho perto da minha
cabeça. O encaro, vendo que ele socou a parede ao meu lado e respira com
dificuldade.
— E quando você foi verdadeira comigo, Angel? Tem certeza que não
me esconde nada sobre a sua vida antes de mim?
Me calo. Existe somente uma coisa a meu respeito que ele não sabe, e
diante dessa situação, não irei falar. Não sei se o tenho ao meu lado ou como
inimigo. Me julguem! Estou me protegendo. Se as coisas ficarem feias, tudo
que menos desejo é ser usada como moeda de troca.
— Esse celular estava dentro do seu antigo quarto. Você o usava para
falar com Snake?
— De que porra você está falando? Eu nunca mais falei com ele. Da
última vez que soube dele, foi quando você me trouxe para cá.
— Suas mentiras não parecem convincentes para uma pessoa que tem
todas as provas contra seus argumentos. Eu sei que você é parente dos Javier.
— ele revela e o meu sangue gela. Sinto minhas pernas fraquejarem. — Foram
eles que te mandaram se infiltrar aqui? Me fazer de trouxa?
— Você que foi atrás de mim, não o contrário. Antes que venha me
julgar por não lhe falar tudo, lembre-se que disse que não iria me pressionar
até eu estar pronta. Você também não me contou tudo sobre sua vida e eu
nunca te pressionei a nada.
— Como eu pude me enganar com você, menina? Eu fiz tudo que pude
para te proteger, e em troca você me trai e mente para mim da pior forma que
existe. Eu quase morri em uma armadilha, mas todo esse tempo a traidora
estava dormindo na minha cama, como a puta barata que sempre foi.
Minha mão vai instantaneamente parar no seu rosto, acertando-lhe um
tapa.
— Pode me acusar do que quiser. Eu não fiz nada contra você ou contra
a porcaria da sua organização. Acredite nessa farsa! Eu não faço questão de
provar a minha inocência. No fim das contas, o único barato aqui é você, que
morre por um chefe que não te escolheria acima da família preciosa dele.
— Cale a sua boca! Eu acreditaria em você se tivesse me contado a
verdade. Agora não me importo mais.
As lágrimas banham o meu rosto e a vontade que eu tenho é de encher
ainda mais a cara dele de porrada.
Eu cansei. Ele não foi o único a me enfiar a faca, no entanto, será o
último.
Viro-me, o deixando na sala, e vou para o quarto pegar minhas coisas.
Não fico mais aqui nem que me metam uma bala. Sou orgulhosa e não aceito
ser capacho de ninguém. Se Marco não confia em mim, não tem porquê eu
continuar aqui me humilhando. Todos já colocaram na cabeça que eu estou por
trás das coisas ruins que aconteceram com eles. Entendo tudo agora.
— Onde pensa que vai? — ele entra no quarto e eu nem faço questão de
responder.
Saio pela porta com uma pequena mochila e sinto que ele vem atrás de
mim.
— Você não vai sair daqui! Esquece essa porra! Não pense que fugirá de
mim depois de tudo que me fez!
— Para quê eu ficaria? Para ser punida por algo que não fiz? Se vai me
matar, mata logo, porque aqui eu não fico nem sob tortura.
— Não seria uma má ideia. Tratamos nossos inimigos bem pior. — a
raiva em sua voz me faz tropeçar para trás.
Quem é esse homem?
— Bastou sua ex voltar para todos duvidarem de mim. Só está faltando
me dizer que não acha que o bebê que espero seja seu também.
Ele não responde e isso é como uma facada certeira no meu coração.
— Marco? Você acha que o nosso bebê não é seu? — pergunto
incrédula.
— Eu não sei de mais nada sobre você. Claramente me escondeu
segredos que me colocaram em risco.
— Eu te amei e confiei em você, seu desgraçado. — Rio com raiva de
mim. — Eu já deveria ter aprendido que não devo baixar a guarda para
ninguém.
— Você fez isso para si mesma. Não culpe outras pessoas por seus
estúpidos erros!
— Você está certo nisso, e eu aprendo com meus erros. Um dia a
verdade virá à tona, e saiba que não vou te perdoar por isso. Nunca! — Bato a
porta sem olhar para trás.
Encontro Sebastian do lado de fora e peço que ele me tire daqui. No que
depender de mim, não ficarei onde não sou bem-vinda. Me sinto tão perdida e
magoada.
— Não querendo me meter...
— Já se metendo. — corto as falas do Sebastian.
— Eu só quero te ajudar.
— Como? Não acredita que eu seja uma traidora também?
— Não acredito nisso. Acho que a tal Ashley armou para você. Eu tenho
uma casa mais ao sul, que ninguém sabe dela. Se quiser, te deixo lá até você se
acalmar.
— Seria bom. Não tenho para onde ir.
— Marco vai cair na real. Tenha paciência.
— Que caia de um penhasco. Não me importo.
Ele ri achando que eu contei uma piada, não sabendo ele que nesse
momento eu mesma empurraria seu chefe de um penhasco, só de raiva.

(...)

Quando ele vai embora, me deixando na sua casa, sozinha, me permito


cair na real. Eu o perdi. A melhor coisa que aconteceu na minha vida, se foi.
Mas dessa vez vou lutar por mim. Cansei de tentar provar meu valor e depois
ser jogada de lado. Quem quiser, que me prove ser merecedor do meu amor,
porque eu não vou deixar que mais ninguém me use e me diminua. Ao menos
para me tornar mais forte, essa experiência me serviu. Pelo meu filho, eu irei
fazer valer a pena cada segundo dessa segunda chance que a vida me deu.
Vê-la ir embora me quebrou, mas foi o melhor. Só que para quem, ainda
não sei. Eu deveria ter feito mais, ter punido ela como merecia, como
esperavam que eu fizesse, porém, não tive coragem de colocar todo o meu
plano em ação.
Não posso deixá-la me enganar de novo. Angel fez as escolhas dela e eu
as minhas. Tudo que pude fazer foi não matá-la, e sim libertá-la de mim e da
máfia que iria dilacerá-la viva. Depois eu me entendo com o Vincent. Se tem
uma pessoa que não pode me julgar, esse alguém é ele. Estive ao seu lado
quando sua história começou com sua esposa e permaneci lá quando ele
enfrentou o Conselho para se casar com a estrangeira. O capo me deve muito e
não pode me cobrar nada.
Volto ao quarto e deito na nossa cama, sentido ainda seu cheiro fresco
por todo o lugar. Vai ser difícil esquecê-la, todavia, irei superar. Já passei por
coisas piores que um maldito coração partido. A tristeza já é minha companhia
há muito tempo e a solidão sempre foi a minha fiel amiga.
O pior de tudo é que não me arrependo de ter passado esse tempo ao
lado dela. Pode ser burrice minha, mas foram os melhores meses da minha
vida. Infelizmente a alegria foi momentânea e isso teria que acabar um dia.
Tolo foi eu de achar que conseguiria ser feliz para sempre. Isso é uma porra de
um conto de fadas e no nosso mundo tudo que eu menos sou é um príncipe
encantado.
Levanto da cama e tomo meu banho. Preciso apagar suas lembranças
desse lugar e seguir adiante. Recomeçar.
No meio desse inferno, talvez algo de bom tenha acontecido. O bebê da
Ashley realmente é meu, e por esse motivo preciso estar inteiro para ele. Não
faço a mínima ideia de como é ser pai. Com a Angel, eu não me preocupava e
parecia certo isso acontecer, mas mesmo esse filho não sendo meu e dela, o
Pietro não tem culpa. Tentarei ser e dar o meu melhor. Só tenho que me
esforçar. Sei que sou capaz de ser um bom pai.
Meu celular vibra com o nome de Vincent na tela e eu o olho por algum
tempo. Não quero conversar com ninguém, porém continuo fazendo parte da
famiglia, e bem ou não, meu cargo não pode esperar por mim.
— Precisa de algo? — atendo e pergunto de um jeito profissional.
— Não. Só liguei para saber como você está.
— Como sempre. — tento soar animado.
— Marco? Eu te conheço. Estive aí onde está agora. Lembra?
— Sim. E sobreviveu. Eu também irei.
— Você a matou? — pergunta baixo, com certeza não querendo que
Lorena o ouça.
Ele sabe que não fiz isso. Jamais teria essa coragem. Não com ela.
— Não. A deixei ir. Fiz errado?
— Fez a escolha certa. Eu não teria feito diferente com a Lorena.
— Poderíamos tê-la usado como barganha no cartel mexicano. —
novamente falo indiferente, não querendo demonstrar fraqueza.
— Não teria valido a pena. Teríamos mais inimigos à espreita. — como
sempre sendo sensato.
— Só estou muito perturbado. Provavelmente eu teria feito tudo errado
se não fosse pelos seus conselhos.
— Tire alguns dias de folga e coloque a cabeça no lugar! Não quero
perder meu irmão por ele não estar inteiro para uma missão.
— Não preciso de tempo. Estou bem e amanhã começarei minhas buscas
por Snake.
— Eu disse que não! Não estou falando como seu amigo ou irmão,
Marco, e sim como seu capo. Só voltará à frente das missões quando eu vê-lo
recuperado.
Xingo alto, o fazendo rir.
— Okay! Você que manda.
— Aproveite esse tempo livre e conheça melhor o seu filho! O resultado
do exame chegou e eu te mandei há uns dois dias. A criança precisa de um pai.
Não seja um mau exemplo, como o seu foi para você.
Se ele queria me enfiar um punhal, acertou o lugar certo.
— Porra! Me comparar ao Luigi foi jogo baixo, Vincent. Até mesmo
para você.
Não estou fugindo das minhas responsabilidades. Só foi muita coisa para
eu processar de uma vez.
— Eu sei. E é por isso que estou aqui para te lembrar disso. Pode
duvidar de si mesmo agora, mas eu acredito em você e sei que será o melhor
pai que meu sobrinho precisa. Você cuidou de mim a vida inteira, Marco. Está
na hora de começar a cuidar mais de si próprio.
Filho da puta! Ele me conhece bem. Até melhor do eu mesmo. Sabe que
estou com medo de falhar e veio me mostrar seu apoio, me lembrando que não
estou sozinho depois de tudo que passei, para que eu não me perca.
— Amanhã mesmo irei procurar pela Ashley e resolver tudo.
— Não esperava menos de você. Se precisar de algo, estarei sempre
aqui.
— Obrigado! — Desligo a chamada.
Meus pensamentos vão teimosamente nela. Pego o celular e mando uma
mensagem para Sebastian, marcando uma reunião para amanhã cedo, e cogito
perguntar para onde ele a levou. Começo a escrever a mensagem, mas quando
percebo o que estou fazendo, apago-a antes que eu cometa outro erro. Me
recrimino por ainda me preocupar com ela.
Olho o clarão da lua no lado de fora e em pouco tempo adormeço.
Não consegui pregar os olhos a noite inteira. Mal o dia amanhece e eu já
estou de pé, ansiosa.
Sebastian chega com o café da manhã e eu tomo coragem de lhe pedir
um favor.
— Tudo bem? — ele pergunta sorrindo.
— Preciso que me ajude. Vou entender se não quiser.
— Peça! — Me avalia.
— Quero entrar no México, mas para isso preciso de proteção. Snake
deve saber do que aconteceu e eu tenho medo que ele faça algo comigo ou
com o bebê.
— Posso dar um jeito nisso.
— Se alguém perguntar por mim, diga que fugi.
— Não quer esperar as coisas esfriarem? Ainda é muito cedo para tomar
decisões precipitadas.
— Não, Sebastian. Eu preciso pensar somente em mim. O melhor é eu
procurar a minha família e pedir que eles me aceitem. Não estou protegida
aqui fora.
— Está certo. Te ajudarei. Me dê alguns dias e montarei uma equipe de
minha confiança para te acompanhar!
— Obrigada! — Suspiro aliviada. — Sei que não pode fazer isso e está
se colocando em risco. Por isso agradeço sua ajuda.
— Estou fazendo isso porque sei que Marco irá acordar um dia e ver a
burrada que fez. Se ele me perguntar da criança, o que eu digo?
— Que abortei. — respondo rapidamente, trincando os dentes. — Ele
não acredita ser dele, então não tem porquê saber que eu o terei.
— Certo. Sinto muito mesmo.
— Não sinta! Era para ser assim.
Ele se despede e sai, me deixando sozinha com meus pensamentos.
Não tenho certeza se a família de minha mãe irá me ajudar, mas é minha
única tentativa de salvação. Agora que Snake sabe que não estou sob a
proteção do capo, irá vir atrás de mim. Tenho que pensar no meu filho.
Aceitarei qualquer condição, desde que eu me livre dessa escória e esteja
segura.

(...)

Alguns dias depois e já estamos embarcando. O nervosismo toma conta


de mim, mas me mostro forte e decidida, mesmo que por dentro eu esteja em
pedaços e sangrando.
Quando chegamos na frente da mansão, me apresento e uso meu
sobrenome materno pela primeira vez.
A conversa com meu tio, não está nada fácil. Minha doce mãe não
deixou boas lembranças, e para a minha sorte, meu avô, o famoso Javier
carrasco, é falecido, e no lugar dele ficou o meu tio Alejandro. Quando explico
minha história e o porquê de provavelmente ninguém saber da minha
existência, ele amolece.
— Sinto muito saber disso tudo somente agora. Quando sua mãe foi
embora com o traste do seu pai, seu avô proibiu até mesmo que citassem seu
nome dentro dessa casa. Paola é a filha deserdada e Jorge é o fruto de umas
das indiscrições de mamãe. Portanto, nenhum dos dois tem direito à herança
deixada para a nossa família.
Isso explica muita coisa.
— Ela me abandonou quando eu ainda era pequena. Nunca mais soube
do seu paradeiro.
— Bem típico da Paola. Sempre foi uma aventureira.
— Preciso que saiba de mais uma coisa.
— Fale! Não matou alguém e eu preciso encobrir, né? — Ele sorri e
espera pacientemente eu dar continuidade.
— Estou grávida do executor da Camorra. Devido a algumas armações
de sua ex, ele não acredita que esse filho seja dele e me expulsou.
— Que interessante! Então quer dizer que tenho algo de valioso da
máfia italiana?
— Não vai usar meu filho contra eles, vai? — Me levanto pronta para
uma briga.
— Calma aí, mamãe ursa! Pensa muito pouco de mim. Não sou esse tipo
monstro. Só não vou mentir que adorarei ter um mafioso, depois de tudo que
nos fizeram, se ajoelhando aos meus pés para ter o que lhe pertence de volta.
— Não acabou de me ouvir? O executor não se importa. E eu prefiro que
ele não saiba que eu tive a criança.
— Confie em mim: mais cedo ou mais tarde, virão atrás de você. Eu
estarei sentado em minha poltrona esperando por esse momento esplêndido.
Diga-me uma coisa: ele é tudo isso que falam? Poderoso e animal?
Levanto uma sobrancelha, confusa com sua pergunta.
— Sim. Marco é fatal e intimidante.
— Não estou falando disso, bobinha. Quero dizer na cama.
Engasgo com a saliva.
— Você é gay?
Ele assovia.
— Ops! Mais um segredo sujo da família, querida sobrinha. Já que vou
guardar o seu... — Pisca sorridente.
Por essa eu não esperava.
— Uau! Deve ter sido interessante a sua convivência com o seu pai.
— Digamos que ele tentou me matar algumas vezes. Eu tive muita sorte
dele ter morrido primeiro. Você ainda não me respondeu. — cantarola.
— Sim. Ele é um animal no sexo também. Agradeceria se não ficasse
me perguntando dele.
Ele abana a mão na frente do rosto, fingindo calor.
— Vida bandida! Nada de surreal acontece comigo. Isso é muito injusto.
Gargalho pela primeira vez em dias. Vamos nos dar muito bem.
— Obrigada por me aceitar! Sei que não tinha nenhuma obrigação em
me deixar ficar.
— E perder toda essa emoção que veio com você? Só se eu estivesse
louco, minha querida. Agora vamos conhecer seu quarto! Eu preciso fazer uma
festa para te apresentar aos meus amigos. Quanto mais gente te ver comigo,
mais estará segura. Todos têm que entender que você se tornou a minha
protegida e causarão uma guerra se ousarem te tocar.
— Entendo.
Sinto um frio na barriga. Passarei a ser definitivamente uma Javier
assumida. Pela primeira vez na minha vida, serei alguém com um sobrenome
de respeito.
— Angel? — Alejandro dá uma batidinha em uma das minhas mãos.
— Sim?
— Quando o bebê nascer, terá que ser treinada. Em minha falta, você e a
criança serão meus herdeiros. Tem noção de que todos os olhos estarão em
você, não é?
— Tenho sim. Na verdade, eu estava pensando nisso agora mesmo.
— Geralmente os homens que são obrigados a serem treinados, mas
como não tenho filhos, lhe deixarei como meu braço direito. Alguns negócios
serão comandados por você e precisa estar preparada para isso.
— Irei me dedicar e aprender tudo, tio. Não vou te decepcionar.
Prometo.
— Muito bem. Você é verdadeiramente um anjo. Seremos uma dupla
imbatível.
Sorrio feliz e agradecida.
A Angel medrosa, indefesa e sem propósito, já não poderá existir mais.
No lugar dela nascerá Angelina Javier, uma mulher forte que será mãe e que
com suas próprias mãos irá se vingar de cada um que lhe fez mal. Chega de me
esconder nas sombras ou depender de alguém para me salvar! A única que
pode me salvar, sou eu mesma.
2 ANOS DEPOIS

Visto meu vestido vermelho sangue e passo um batom da mesma


tonalidade. A “dama de vermelho” virou um apelido do qual tenho muito
orgulho de usar. Dois anos foram essenciais para que eu amadurecesse e me
tornasse a mulher que sou hoje. Passar por todos os treinamentos pesados, não
foi fácil. Fui testada ao extremo para provar que mereço estar na frente dos
negócios da família. Olhando agora tudo que conquistei, valeu a pena.
— Espetacular! — tio Alejandro solta um grito, me assustando.
— Era o mínimo que eu esperava depois de gastar uma pequena fortuna
nesse Channel. Quero causar na minha entrada.
— E vai conseguir o que quer. Seu boy está lá embaixo. Meu útero deu
cambalhotas quando eu o vi chegar. Oh, homem gostoso!
Rio de suas palhaçadas.
— Desde quando você tem útero?
— Não sei. Sinto umas fisgadas estranhas quando vejo um pedaço de
mau caminho e creio que seja meu lado feminino desejando ser mãe.
Rio mais forte.
— Só você mesmo, Alejandro, para me fazer rir em uma hora dessas. E
para esclarecer, ele não é meu boy.
— Ah, se eu tivesse chance! Tenho certeza que ele matará no mínimo
uma meia dúzia de homens essa noite por olharem para você.
— Juan que lute com seu ciúme. Não lhe pertenço. Eu me pertenço.
— Acho que o bonitão não pensa dessa forma, minha linda. O homem
lambe o chão por onde você passa.
— Ótimo! Enquanto ele estiver lambendo o chão, eu o deixarei por
perto, e quando passar essa fase, eu o troco por outro.
— Poderosa! É assim que se fala. Estou muito orgulhoso da mulher forte
e decidida que você se tornou.
— Devo a você, que acreditou em mim e me ajudou a encontrar uma
versão minha que nem eu sabia que existia.
— Não, Angel! — Ele me abraça por trás, colocando a cabeça em meu
ombro. Nos encaramos pelo espelho por um tempo. — Essa mulher que você
vê ali, sempre esteve aí dentro, e só floresceu no tempo certo. Tudo que ela
precisava era que alguém a regasse todos os dias e a dissesse o quanto é forte e
que pode ter o mundo aos seus pés.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Todo esse apoio foi essencial nessa
nova fase da minha vida.
— Você é mestre em me fazer chorar. — digo.
Ele beija minha cabeça e se afasta, disfarçando suas emoções.
— Onde está o nosso príncipe? — tio Alejandro pergunta.
Sorrio ao me lembrar do meu pequeno.
— Dormindo. Pedi que Elisa o levasse. Detesto vê-lo chorando quando
preciso me ausentar. Está crescendo tão rápido. Às vezes me culpo por não
passar mais tempo com ele.
— Você é uma mãe maravilhosa e nosso menininho sabe disso. É
completamente apaixonado por você. Ele arrancará muitos corações quando
for maior.
— E eu sou apaixonada por ele. Minha vida só ganhou mais sentido
depois que Enzo nasceu.
— O poder da maternidade.
Mudando de assunto, sabe que tem chances de encontrá-lo nesse jantar,
não sabe?
— Sei sim. Estou a par da lista de convidados e o capo foi convocado. É
fato que o cão acompanhará o dono.
— Menina má. Queria ser uma mosca para ver a cara dele quando te ver
linda e fatal assim.
— Esse jantar é muito importante para nós e é nisso que estou focando.
Quem vai estar presente nele, não me importa nenhum pouco.
— Não deixe que te humilhem! Chore em casa. Na frente dos inimigos,
você quem manda. Cabeça erguida sempre.
— Sempre!
— Agora desça! Vá com aquele deus que te espera na sala e arrase!
Depois ensine para ele do que uma Javier é capaz! — Faz uma dancinha
sensual batendo as mãos no ar.
Eu rio de novo da cara de safado que ele faz.
— Você é terrível. Pode deixar, que sou uma boa professora. — Pisco
charmosa entrando na onda.
— É assim que se fala.
— Promete que vai me ligar se Enzo sentir minha falta e chorar?
— Vá se divertir! Ele está seguro. E se... algo acontecer, eu prometo que
te aviso.
— Obrigada!
Beijo o rosto dele e desço as escadas para encontrar meu acompanhante.
Juan é um homem lindo, moreno, alto e muito inteligente. Juntando
essas qualidades com o fato de ser filho do governador, dá um prato cheio para
os olhos. Graças ao nosso caso, tenho acessibilidade aos homens mais
poderosos da política. Sem contar que ele é bom de cama.
O quê? Não acharam que eu ia ficar chorando a vida inteira por alguém
que me chutou quando eu mais precisei, não é?
Assim que eu tive meu filho, voltei a ativa. Virei mãe, não freira. Até
mesmo porque conhecendo Marco, se ele não estiver com a sonsa da Ashley, já
pegou metade de Los Angeles nesses dois anos.
A única parte ruim do meu caso com Juan é o fato de porque estarmos
juntos há algum tempo, ele passou a se achar meu dono e vive me cobrando
uma oficialização da nossa união. E eu não quero ser domada por ninguém.
Prefiro ficar sozinha e continuar com meus planos.
— Linda como sempre. — Me dá um selinho.
— Digo o mesmo. Adoro você de terno.
— Vamos? Estou louco para que tudo termine e eu a tenha por um
tempo só para mim.
Vamos em direção ao nosso carro blindado e eu fico satisfeita em ver
meus seguranças a posto.
— Precisa mesmo levar seus seguranças? Os meus podem te proteger.
— questiona olhando os carros que pedi para nos acompanhar.
— Nós dois estaremos rodeados de inimigos. No caso de algo sair
errado, seus homens protegerão você. Prefiro ter os meus da minha extrema
confiança zelando por mim.
Nem a pau que confio minha proteção de novo a alguém.
— Independente como sempre.
— Você me conheceu assim. Não tente me moldar ao seu jeito, porque
não sou massinha de modelar, gato.
— Me desculpe! Não está mais aqui quem falou. — Beija uma das
minhas mãos com carinho. — Espero que um dia confie em mim
completamente.
Não respondo. Ele sabe que não me terá da maneira que pensa. Não serei
a esposa troféu, nem dele, nem de ninguém.
— Melhor irmos, ou iremos nos atrasar. — finalizo não querendo falar
do assunto “compromisso” de novo.
Entro no carro, sendo seguida por ele, que continua emburrado.
Em pouco tempo chegamos na mansão do futuro senador. Todos têm
somente um propósito: conseguir firmar uma parceria com o homem para que
não tenham um inimigo no governo derrubando seus negócios. Para a minha
sorte, eu já fiz uma reunião particular com ele e já dei a minha generosa
contribuição para sua campanha. Não seria idiota de tentar fazer uma proposta
somente agora.
Juan desce do carro e me estende a mão. Flashs pipocam em meu rosto,
quase me cegando. É claro que a imprensa estaria em peso aqui cobrindo o
evento.
Entramos no salão muito bem decorado, digno de uma jantar da elite. No
início eu odiava vir e andar no meio dessas pessoas, mas agora me sinto em
casa. Aqui somos de iguais para iguais e todos precisamos uns dos outros.
Lógico que ninguém é besta de diminuir uma pessoa com nome e influência
forte, mesmo que não goste dela. É mais do tipo: ou atura ou surta.
Sorrio para as esposas de alguns empresários que conheço. As coitadas
têm tantas cirurgias plásticas que mais parecem bonecas de cera.
— O senador nos convidou para sentarmos em sua mesa. — Juan fala no
meu ouvido.
É claro que ele convidou. Depois de todo o dinheiro que lhe enviei, vai
querer sua mina de ouro por perto.
— Angel, minha querida, é um prazer ter sua companhia!
— Ah, Ramon! Galanteador como sempre.
— Espero que nossa concorrência seja apenas na política. Odiaria
disputar a mão da dama também. — Juan o provoca.
— Me sinto lisonjeado em saber que me tem como adversário fora da
política, filho.
— Ele teria se fôssemos algo. — retruco e sorrio simpática.
— Uhuu! Eu acho que não está com essa bola toda que pensa. — o
senador brinca.
— Por enquanto. Logo meu anel estará em seu dedo.
— Eu achei que o assunto em pauta hoje à noite seria sobre a campanha
do senador. Não me lembrava que minha mão estava em discussão. — faço a
mesa rir.
— Está certíssima, minha querida. — Ramon puxa a cadeira para que eu
me sente ao seu lado.
— Afinal, sua mão é muito cara. Duvido que tenha um homem nessa
mesa que consiga comprá-la. — Mathias cutuca.
Esse cara é um babaca. Desde que comecei a representar a minha
família, ele não perde a oportunidade de me provocar.
— Pela última vez, eu não estou à venda e minha mão não será o assunto
desse jantar. — O encaro sem vacilar. — Estou ansiosa mesmo é para ouvir a
sua proposta e dos demais ao senador. Espero que seja bem generosa e esteja a
nível de ultrapassar a minha. — Levanto minha taça de champanhe, sendo
sarcástica, e o deixando vermelho de raiva.
— Muito bem dito, Angel. Como sempre, sábia nas palavras. — Ramon
bate sua taça na minha.
Mais adiante vejo Vincent com Lorena me observando. Finjo que não os
vejo e continuo prestando a atenção na conversa frívola que rodeia a mesa.
Na metade do jantar, me levanto para buscar um pouco de ar. O tédio
dos assuntos me deixou cansada. Vou ao banheiro e rapidamente mando uma
mensagem para o meu tio, perguntando sobre Enzo. Ele me responde que tudo
está bem e eu respiro tranquila.
Quando estou lavando minhas mãos, sinto uma presença atrás de mim.
Olho no espelho e me deparo com o meu maior pesadelo. Nos encaramos por
um tempo. Minhas pernas tremem e meu coração acelera ao vê-lo de novo. Se
eu dissesse que não senti seus olhos em mim a noite toda, estaria mentindo,
mas mesmo minha pele queimando com sua presença óbvia, me mantive firme
e não o procurei.
— Você mudou bastante. — fala quando percebe que não irei dizer nada.
Olho para a minha direita e depois para a esquerda.
— Uau! O cão saiu da coleira? Estou impressionada. Não estou vendo
seus donos por perto, Marco. Sugiro que volte para onde eles estão.
Seus olhos escurecem e ele dá dois passo em minha direção.
Não consigo identificar seus sentimentos, e nem quero. Me mantenho
firme no lugar, mesmo que por dentro tudo de mim peça para eu fugir.
— O que aconteceu com a criança, Angel?
— Aquela que você duvidou ser sua? Abortei. Não queria nada que me
lembrasse do meu maldito passado.
Por dentro me dói dizer isso. Nunca seria maldosa a esse ponto. Meu
filho é minha vida.
— Como pode ser tão fria?
— Talvez você tinha razão e eu sempre fui assim.
— Marco? — Lorena entra no banheiro. — Vincent precisa de você.
Seus olhos não desgrudam dos meus e eu faço de tudo para que nesse
momento eles transpareçam toda a indiferença e raiva que sinto por ele.
— Isso não terminou, Angel.
— Terminamos sim. E se me perseguir de novo, as coisas ficarão bem
feias para você, executor. — deixo a ameaça velada no ar.
— Marco? Por favor! — Lorena segura em seu braço.
— Seja um bom animal de estimação e obedeça a esposa do chefe, ou
poderá ser castigado por deixá-la chateada. — Levanto uma sobrancelha,
sendo esnobe.
Ele se vira, sai batendo a porta e eu sorrio satisfeita.
Lorena me olha por um tempo e eu a encaro, desafiando-a a abrir a boca.
— Ele sofreu muito com sua partida e ainda sofre com tudo o que
aconteceu.
Eu a corto, não querendo ouvir mais nada.
— Ótimo! Fico satisfeita em ouvir isso. Tenho que dizer que você é
muito engraçada, querida.
— Como? — pergunta na defensiva.
— Você no mínimo é muito ingênua ao achar que ainda somos amigas
para trocar figurinhas no banheiro ou muito estúpida por pensar que me
importo em saber algo sobre o que Marco passou ou deixou de passar. O
mesmo aviso que dei a ele, serve para você também: fique fora do meu
caminho, ou não vou me responsabilizar pelo que pode te acontecer.
Saio do banheiro, a deixando paralisada e sem palavras. Dizer que estou
feliz com esse embate é mentira, porém, não me sinto mal em ter feito os dois
ouvirem ao menos um pouco do que mereciam. Tirei o que estava preso em
minha garganta nesses dois anos. Lorena não ficou do meu lado, e mesmo
sabendo que eu estava grávida, não me deu o benefício da dúvida e deixou que
eu fosse humilhada depois de tudo que fiz para salvar a sua vida. O que
fizeram contra mim, eu poderia perdoar, só que colocaram a vida do meu filho
em risco por conta de uma mentira, e isso eu nunca vou esquecer. Não tenho
pena dela e nem ligo para o que ela pensa. A única pessoa que devo me
preocupar está longe daqui dormindo protegido deles, como deve ser.
Deus! Dois anos se passaram e isso ainda dói. Suas palavras me bateram
tão forte que eu fiquei sem ação. Angel não só mudou na aparência, como na
postura e personalidade também. Eu queria dizer que sinto muito pela perda do
bebê. Lorena me contou o quanto ela havia ficado feliz e que comentou sobre
como achava que não poderia ser mãe. Quando Sebastian me deu a notícia,
primeiramente senti alívio, mas depois de saber de tudo, a culpa me consumiu.
Estraguei tudo. Eu deveria ter cuidado dela, mas minha raiva me cegou e
custou caro para nós dois. Eu ainda a amo. Como não poderia amá-la? Todo
esse tempo separados, parece ter sido em vão. O sentimento é o mesmo e é
como se não tivesse passado um só dia da última vez que nos vimos.
Assim que a vi, tudo que eu queria era tê-la jogado na parede e saciado
essa ânsia infinita que tem me tirado a paz e toda a saudade que tenho de nós
dois, que nenhuma outra conseguiu me fazer esquecer.
Quando ela entrou no salão, o ar fugiu dos meus pulmões. Eu sabia que
iria reencontrá-la, só não esperava que as minhas emoções viriam tão
descontroladas. Senti uma avalanche de sentimentos me atropelar e não vi
mais nada, a não ser ela com aquele almofadinha esnobe. Minha vontade foi de
socar a cara do imbecil só para ter o prazer de vê-lo sangrar até a morte.
Depois eu jogaria a Angel em meus ombros e gritaria para todos os homens
presentes que a comeram descaradamente com os olhos, que ela é minha e
sempre será.
Eu perdi a noção de tudo a minha volta e não consegui desviar meus
olhos da Angel, nem me concentrar em mais nada. O que me fez errar de novo.
Deixei meu posto e fui atrás dela como o cão que ela me acusou de ser.
— O que pensa que está fazendo, Marco? — Vincent me empurra na
parede, me acertando no rosto.
— Não sei. — digo com sinceridade e cuspo sangue no chão.
— Estamos fora do nosso território e Angel agora está na frente dos
negócios da família dela. Parou para pensar na confusão que teria se formado
se ela tivesse dito que você a atacou ou algo do tipo? Estaríamos mortos se
Lorena não tivesse te tirado de lá. Estamos em menor número e no terreno
inimigo.
Droga! Eu não pensei. Quando vi, já estava lá dentro. Eu precisava vê-la
de perto, pelo menos por alguns segundos.
— Eu me perdi. — O empurro para trás, não querendo brigar com ele.
— Não me venha com sermões, Vincent! Você fez bem mais que desafiar os
inimigos por sua mulher.
— Isso está ficando fora de controle. Esqueça essa mulher, ou irei
considerar uma traição se você me desafiar mais uma vez!
Dou alguns passos para trás com o impacto de suas palavras. Estou
perdendo tudo.
— Marco? Não foi isso que eu quis dizer. — Ele coça a cabeça,
claramente nervoso.
Eu nunca o desafiei e nem deixei de seguir uma ordem sua. Olha para
mim agora. Dois anos se passaram e eu continuo me sentido traído, sozinho e
sedento por ela. Coloquei a vida do capo em perigo pelo que ainda sinto por
aquela maldita. Tão linda e corajosa! Gostei de vê-la se posicionando sem
medo na mesa cercada de homens poderosos. Eu sei que não deveria, mas
orgulho foi tudo o que senti ao encontrá-la de novo. Minha menina
amadureceu e eu não estava lá participando de sua evolução. Eu deveria odiá-
la depois de tudo que ela fez. Por que não consigo? Por que me culpo?
— Marco?
Suspiro fundo e tomo coragem de olhá-lo. Tento não demonstrar o
quanto estou abalado.
— E se tivermos errados? — Um nó se forma em minha garganta só de
imaginar que pode existir a possibilidade de eu ter agido sem pensar. — E se
armaram para ela e eu caí feito um patinho? Não sei o que pensar.
— Talvez. Sem Snake, não poderemos descobrir a verdade.
— Aquele desgraçado desapareceu. Estou começando a achar que
Gabriel o escondeu de nós.
— Se ele tiver feito isso, será um homem morto.
— Com toda certeza será.
— Vamos para o hotel descansar! Por hoje já deu o que tinha que dar.
Lorena precisa dormir também. Todos nós precisamos esfriar a cabeça.
— Vamos! — respondo sem a mínima vontade de continuar esse papo
emocional.
Entramos cada um em seu carro e partimos para o hotel que estamos
hospedados.
Me tranco no quarto, querendo ficar sozinho, e rolo na cama, inquieto,
não aguentando mais essa agonia.
Me levanto de madrugada, desisto de dormir, me visto e deixo ordens
para que os soldados fiquem atentos a qualquer movimentação estranha e me
liguem se necessário.
Ligo o carro e saio à procura do endereço que tive que trocar vários
favores para me conseguirem mais cedo. Decorei ele de tanto que li. Não havia
ido atrás dela ainda por falta de coragem, contudo, preciso ouvir da sua boca
que ela me odeia. Preciso tocá-la, mesmo que isso signifique minha morte,
como a mesma teve o prazer de cuspir na minha cara.
Paro a uma distância segura e olho os portões da casa que é sua atual
moradia. Quanta loucura! Me tornei um perseguidor, um doente neurótico de
amor. Que irônico! Me orgulhava de ser calmo e calculista, sendo que hoje não
consigo nem mesmo pensar direito quando o assunto tem a Angel no meio.
Uma mensagem com a foto do Pietro chega e eu visualizo o nome da
Ashley.
“Estamos com saudade! :( ”
Não respondo e apenas ignoro, como sempre faço. Odeio quando ela usa
o menino para tentar me manipular. Não a vejo como a boa mãe que tenta me
mostrar que é. A criança na maioria das vezes até mesmo parece ter medo dela.
Já pedi que ela não me ligue ou mande mensagem se o assunto for relacionado
a nós dois. Sobre meu filho, eu estou pronto para atender e continuar me
esforçando para ter uma relação com ele, mesmo não sentindo a ligação
paterna que vejo no Vincent com a Gianna. Eu gosto do Pietro. Ele é
inteligente e tímido. Tento fazer o que posso para que o menino não se sinta
abandonado, no entanto, parece que Ashley não entende que isso não se
estende a ela e que nunca existiu nós dois. Se depender de mim, isso vai
continuar assim.
A batida na janela do carro me assusta e eu olho rapidamente, puxando
minha arma do coldre. Eu a guardo assim que vejo que é a Angel.
Desço do carro, ficando de frente para a minha perdição, a dona dos
meus pensamentos mais sombrios e de todo o meu descontrole desses últimos
tempos.
— O que faz aqui, Marco? Perdeu a noção do perigo?
— Queria te ver. — falo a verdade.
— Já viu. Agora pode ir embora.
— Angel! A puxo, colando seu corpo no meu. Por favor! Só me ouça por
alguns minutos! É tudo que peço.
Perco seu calor quando ela se afasta, impondo distância entre nós.
— Por que agora? Você me chutou da sua vida como se eu fosse um
animal de rua, duvidou de mim e ainda me diminuiu ao valor de nada. Estou
melhor sem você. Vá embora!
— Eu não posso. Preciso saber se teve a criança, Angel.
— Eu já disse que a tirei. Ela não existe mais, e como tudo que houve
entre nós, ficou no passado. — Seus lábios tremem e ali vejo a minha
raposinha ferida.
— Eu sinto muito. Eu... Me desculpe!
— Pelo quê, Marco? Pelo que você sente? Por ter duvidado de mim? Ou
por ter me humilhado?
— Pela criança.
Seus olhos escurecem e eu vejo neles somente dor. Fico sem entender o
que falei de errado para deixá-la ainda mais chateada.
— Me responda uma coisa, Marco! Você ao menos tentou ir atrás da
verdade? Ou ficou todo esse tempo esperando que ela caia como mágica na
sua cabeça?
Tento responder, entretanto, me calo por não ter uma resposta que possa
satisfazê-la. Estou perdido todo esse tempo e na maioria dos dias nem sei
como sobrevivo. Me sinto dormente e sem vontade de continuar me
levantando e fazendo meu serviço que antes era tudo para mim, mas que agora
se reduziu a um tanto faz.
— Suma daqui! Volte para a vagabunda da Ashley e vá cuidar do filho
de vocês!
— Angel, eu não estou com ela. — me sinto na obrigação de deixar isso
claro.
— Deveria. Vocês formariam uma família perfeita. Afinal, não foi por
isso que ela armou tudo?
— Não é ela que eu amo.
Me aproximo da Angel e a encurralo no carro. Com tudo de mim, eu a
beijo. Tomo sua boca, despejando toda a minha saudade, a dor de perdê-la e a
dor dela não ser mais minha como eu gostaria que fosse.
Gemo quando ela morde um dos meus lábios, arrancando um pouco de
sangue.
— Nunca mais ouse aparecer na frente da minha casa e se aproximar de
mim! — Lágrimas escorrem dos seus lindos olhos e eu me sinto um idiota por
ser mais uma vez o motivo de sua tristeza.
— ANGEL! — grito quando ela se vira correndo mais uma vez para
longe de mim. — Eu vou procurar a verdade. Eu prometo.
Seja ela qual for, eu vou tentar concertar isso.
— Vá agora, Marco! Eu quero que suma daqui e nunca mais apareça!
Ou mandarei atirarem em você. — fala sem me olhar e some para dentro dos
portões.
Entro no carro sob a mira das armas dos seguranças dela e saio em
disparada.
Volto ao hotel sentido seu gosto em meus lábios. Me sento no chão e
choro feito um tolo apaixonado. Se Luigi me visse agora, iria rir de mim e me
daria um tiro na cabeça por eu ser um fraco. Talvez eu mereça esse destino.
Um homem que cresceu prendendo as emoções, sempre se mostrando
imbatível e destemido, foi nocauteado por uma jovem mulher. Porra! Eu sou
uma vergonha para a famiglia. Não mereço nada do que conquistei. Estrago
tudo que toco. Nem mesmo ser um bom exemplo e fazer uma ligação
emocional mais forte com meu próprio filho, consigo. Provavelmente eu seja
como o sádico do meu pai: um merda, inútil, um ser desprezível. É isso que
me tornei sem o meu anjo ao meu lado.
O jogo na cama, indo por cima dele, e rebolo devagar, o deixando
enlouquecido. Gosto de sentir que estou no comando aqui e Juan é do tipo de
homem que come em sua mão depois de uma noite de sexo bem feito.
— Você é muito gostosa, Angel! — geme me segurando pela cintura.
Homens! Seguro a vontade de revirar os olhos.
— Venha para mim, querido! Porque eu não vou durar muito. — Aperto
meus seios, imaginando ser outra pessoa que depois de muito tempo povoa a
minha cabeça e tenta me dominar.
Gozo forte mordendo meu lábio inferior para que o traidor não ouse citar
seu nome.
— Angeeeel! — Juan me segue com um grito selvagem e eu caio na real
do que eu fiz. Aquele maldito encontro mexeu comigo muito mais do que
deveria.
Me jogo ao seu lado, não querendo nenhum contato. Prefiro deixar as
coisas a nível físico. Parece tosco uma mulher falando isso, não é? Nós
mulheres somos deusas com quem merece, mas viramos tigresas quando
feridas. Confio meu corpo, porém jamais meu coração novamente. Esse já tem
dono e se chama Enzo Javier.
— Preciso de sua ajuda com um plano. — Coloco para fora o que está
fervilhando em minha cabeça há alguns dias. Para ser mais exata, desde que
descobri que os Vitiello estão armando de derrubar a Camorra.
Pelo jeito, o tratado de paz com o casamento do consigliere foi apenas
temporário. Não bastando buscar aliança com os Mc's e alguns membros da
própria famiglia, eles querem mais. Pretendem comandar os nossos carteis
como se fossem deles, e nisso eu terei que me meter. Eu tenho o plano perfeito
para derrubar os gananciosos.
— Qual seria?
— Poderia procurar uma pessoa para mim?
— Tenho meus meios.
— Quero que me coloque de frente ao representante dos Volkov.
— Como é que é? — Ele se levanta rapidamente. — O que quer com os
russos?
— Parceria. Temos inimigos em comum e a ajuda deles viriam a calhar.
— Angel, eles não são confiáveis.
— E os italianos são? Estão cada vez mais dentro do nosso território, e
os babacas que comandam a maioria dos carteis andam fechando alianças com
eles, os deixando não só entrarem, como comandarem nossos negócios de mão
beijada.
— Nisso você tem razão. Eu odeio que esses malditos tenham se tornado
fichas carimbadas por aqui.
— E do jeito que estão tomando conta, não vai demorar para que eles
venham para a política. Imagina nós sendo comandados por alguém escolhido
pelos italianos. — jogo minha cartada final.
— Não! Isso não pode acontecer. Temos que fazer algo, e depressa.
Sorrio com minha vitória.
— E vamos! Temos que buscar aliados fortes que pegarão nossas lutas e
nos deixarão de fora quando a bomba estourar. Entendeu?
— Claro! Combater inimigos com inimigos.
— Exato!
Meu plano não é fazer uma aliança definitiva, e sim uma parceria
temporária com a máfia russa até eu colocar minhas mãos em Snake sem ficar
em risco. Tenho algumas informações sigilosas e bem valiosas que irão me
ajudar a convencer o líder a ficar do meu lado. As pessoas ficariam surpresas
com o quanto alguns dólares fazem alguns abrirem a boca. Você descobre até
mesmo podres de seus antepassados.
Luigi não só deixou rastros de podridão por onde passou, como não fez
muita questão de escondê-los, e eu só tenho a agradecer o escroto por isso.
— Você é muito inteligente, Angel. Daria uma ótima primeira dama.
Faço uma careta com o seu comentário.
— Ou eu posso entrar na política, me tornar a presidente e colocar você
como meu conselheiro. Que tal? Eu me vejo melhor nessa posição.
— Você é indomável. — Rio ao ouvir seu resmungo. — Me considere
seu aliado nesse plano mirabolante.
— Adoro quando você usa frases poéticas. — zombo dele.
Ele gargalha, jogando a cabeça para trás, e puxa minha canela para um
beijo. Em seguida sobe para o meio das minhas pernas, me dando prazer com
sua boca maravilhosa.
— O que não faço por você, meu anjo? — pergunta.
— Ainda não testei todas as suas habilidades. — Pisco.
— Deixa eu te mostrar o quanto sou hábil em lhe tirar alguns orgasmos
arrebatadores, querida!
— A tu gusto! — o instigo.
— Com o maior prazer. — Chupa meu clitóris, me tirando alguns gritos
nada sutis.
O prefiro ali, me servindo, como deve ser. Com Juan, eu tenho o
controle e sei que ele não vai poder me ferir.
(...)

— Cadê o príncipe da mamãe? — Abro os braços para que meu


homenzinho corra para mim.
— Mãeeee!
Sorrio boba. Há alguns dias Enzo aprendeu a falar e eu chorei feito uma
manteiga derretida quando ele me chamou de “mãe” pela primeira vez.
— Você comeu todo o seu papá, mi amor? — o incentivo a aprender
novas palavrinhas.
— Papá! — Aponta para a cozinha, me fazendo rir da sua esperteza.
Jogo minha bolsa de lado e me sento com o meu filho no meio da
bagunça de brinquedos e brinco com uns bloquinhos de construção. Faço
enormes prédios, apenas para que o ele derrube tudo e gargalhe com minha
fingida cara de espanto.
— Danadinho! Já vi que você é mais de destruir do que de construir, não
é?
— Esse aí será um desmontador. Nunca vi uma criança ter tanta energia.
Estou morto. — Alejandro reclama, como se não gostasse de fazer piseiro com
o meu pequeno.
— Você reclama, mas quando ele sai, só falta colocar Elisa doida para
voltar para casa.
— Nunca reclamei. — Mente na cara dura, me fazendo gargalhar. —
Enzo é um conquistador e me tem de joelhos desde que nasceu.
— É um príncipe muito lindo. — Toco o narizinho do meu amor.
— Agora me conta! Como foi o encontro com o gostosão do Marco? —
pergunta curioso.
— Alejandro! — ralho com ele por citar o nome do traste perto do Enzo.
— Uma hora você vai ter que contar.
— Somente quando eu estiver com toda a verdade escancarada e todos
os que tramaram contra mim visitarem o mundo dos mortos.
— Passa ano, entra ano, e você com esses planos misteriosos.
— E não faria o mesmo se fosse acusado de algo que não fez? —
pergunto chateada.
— Faria sim. Jogaria todos eles na soda cáustica.
— Depois a ruim sou eu. Para resumir, Marco me cercou no banheiro,
perguntou da minha gravidez e eu disse que a abortei. Também joguei algumas
verdades na cara dele e na da mulher do capo. Depois saí.
— Credo! Cadê a emoção dos detalhes? Quero que me conte suas
reações.
— Surpresa. Acho que eles não esperavam uma Angel direta e que sabe
se defender. O pior nem foi isso. — Suspiro ao me lembrar dele.
— Conte-me tudo!
— Ele veio aqui e ficou plantado na frente do portão me esperando
chegar.
— Que romântico! — Coloca a mão no coração.
Jogo alguns bloquinhos no meu tio, fazendo Enzo rir dos gritos dele.
— Do lado de quem você está? — pergunto.
— Do seu, é claro. Tem que concordar comigo que foi um ato de
desespero.
— Foi sim. Eu poderia ter matado ele por invadir aqui.
— E não fez isso por quê? — Me analisa.
Odeio quando ele me coloca contra a parede.
— Não sei. — minto.
— Sabe sim. Só não quer dizer em voz alta.
— Tanto faz. Isso é o que menos importa agora.
— Só espero que não se arrependa de nada do que fizer, docinho.
— Não vou.
— A vingança é um caminho sem volta e ela nem sempre traz a paz que
procuramos.
— Quero somente limpar meu nome, Alejandro. E se para isso eu
precisar causar uma guerra pelo caminho, vou causá-la para conseguir o que
desejo.
— Às vezes você fala igualzinho ao seu avô. Ele dizia: “O fim justifica
os meios”. E usando essa frase, desertou aldeias sem sequer sentir remorso.
Sinto um arrepio pelo corpo quando ele termina.
Eu sei que ir atrás da verdade me trará consequências, mas estou
tentando pensar com cuidado e analisar todas as minhas opções para não
falhar. Minha única preocupação é o Enzo e esse é um dos motivos de eu
mantê-lo escondido a sete chaves.
Alejandro senta-se no chão para brincar conosco e mudamos de assunto.
Sem querer me pego pensando no maldito beijo. Marco está mais forte e com a
barba maior. Por um momento me deixei levar, apenas para me sentir completa
de novo, mas logo tudo ruiu quando me lembrei do porquê estamos separados.
Foi como um banho de água fria.
Preciso achar Snake. Farei de tudo para provar a minha inocência. Será a
minha cartada final mostrar o quanto todos foram injustos comigo. Aí sim
poderei deixar tudo para trás e ser feliz de novo.
— Trouxe o que eu pedi? — pergunto impaciente ao Sebastian.
— Sim. Todas as gravações daquela semana, com quem entrou e saiu da
casa.
— Ótimo! Quero pessoalmente estudar cada uma delas e achar quem
pode ter possivelmente implantado o celular.
Ele me olha sério e eu bufo indignado.
— Também acha que fiquei louco? — Bato o copo de vodca na mesa,
derramando metade do conteúdo.
— Muito pelo contrário. Estou feliz que finalmente começou a abrir seus
olhos.
— Quer dizer que acredita na inocência dela? — Franzo a testa,
duvidoso.
— Sempre achei estranho, senhor, o fato de coincidentemente Ashley
dizer que Snake foi atrás dela por conta da criança, um menino que ela tinha
certeza que era seu, mas mesmo assim preferiu escondê-lo durante todo aquele
tempo e somente aparecer com aquela história, logo quando a Angel era alvo
dos Mc's. Não faz sentido.
Olhando por esse lado...
— Você tem razão. Na época não me liguei aos detalhes.
— Se me permite opinar, eu faria outro exame de DNA.
— Acha que ela jogaria tão baixo assim, forjando o resultado de um
exame?
— Com todo o respeito, não é a primeira prostituta que tenta dar o golpe
da barriga em alguém com cargo alto na famiglia.
Será? Eu mato essa vadia se ela estiver me enganado todo esse tempo.
— Suas observações são muito válidas, Sebastian. Agradeço pela sua
discrição.
— Pode contar comigo para ajudá-lo no que precisar.
— Vou refazer o exame como você me aconselhou. Se eu não for o pai,
quero que faça um serviço para mim. Sei que não preciso avisar, mas não
quero que essa conversa saia desse escritório.
— Entendido. Pode confiar em mim, chefe.
— Pode sair.
Se sua suspeita estiver correta, tudo fará muito sentido. Por que Ashley
só trouxe a criança quase dois anos depois de seu nascimento? Ela não teria
perdido a oportunidade de aparecer antes. Não sabendo que era mãe do filho
do executor. E como Snake soube da paternidade primeiro que eu, que sou
supostamente o pai?
Muitas perguntas sem respostas. Caralho! Por que somente agora a
venda caiu dos meus olhos e estou vendo essas falhas grotescas? Eu decaí
tanto assim?
Para desencargo de consciência, é melhor tirar essa dúvida logo. Mesmo
que ela tenha falsificado o exame, eu ainda terei ligação com a criança. Já lhe
registrei e não pretendo fazê-la pagar pelos erros da mãe.

(...)

ALGUNS DIAS DEPOIS

— Aqui estão os resultados tão esperados. — a enfermeira me entrega o


exame.
Eu tremo quando pego os papéis que parecem pesar muito mais do que
algumas gramas.
— Pode ler para mim? Estou muito ansioso.
— Claro! — Ela sorri. — Você queria saber se tinha alguma ligação
parental com a criança, certo?
— Sim.
— Como expliquei no dia da coleta, esse exame aqui é diferente do teste
de paternidade. Ele estuda mais profundamente o DNA dos indivíduos.
— Sim. Me lembro da diferença entre um e o outro.
— Okay! — Ela abre o primeiro papel e eu estou suando frio esperando.
— Você não é o pai, mas esse teste aqui comprova sim laços sanguíneos.
— E tem como identificar quais os nossos graus de parentesco.
Se minhas desconfianças estiverem certas, pode ser que o menino seja
meu irmão. Afinal, Luigi estava a pagando pelos seus serviços sujos na época
em que fugiu.
— Sim. O cromossomo Y bate em alguns pontos. Vê? — Estica o papel
para que eu veja melhor. — São quase idênticos.
— E isso significa o quê?
— Que você está mais para um tio paterno.
Sorrio ao ouvir a explicação dela, faltando gritar de alegria. Peguei a
safada na mentira.
— Você disse tio paterno? — Meu sorriso morre quando eu repasso suas
palavras.
— Sim.
Caio sentado na cadeira. Porraaa!
Que porra é essa, Marco?! — Vincent esbraveja ao olhar os papeis que
joguei em sua mesa.
— Isso, amico, chama-se prova. Eu não sou o pai de Pietro, e sim um
tio.
— Então Ashley falsificou o resultado do outro exame?
— Sim. E com toda a certeza teve ajuda. Esse aí eu fiz por conta própria
sem ela saber. Agora basta descobrir se o pai é você ou o Romeo.
— Foda-se! Logo de manhã, você me chega com essa bomba e s soca na
minha bunda!
Gargalho alto e Henrique me acompanha.
— Ela está bem mais grandinha do que da última vez que eu a vi. —
debocho, o fazendo me lançar seu olhar de capo recriminador.
— Vejo que seu bom humor voltou, e em uma hora bem imprópria, eu
diria.
— Estou feliz sim. Tirei um peso das minhas costas. E se Ashley armou
isso, tudo conspira para que ela tenha mentido sobre o resto da história.
— Só essa que me faltava. Lorena vai me matar, cara.
— Faça o exame e tire sua dúvida!
— Podemos tirá-la diretamente da causadora. — Henrique aconselha. —
Se tiver chance do Vincent ser o pai, ela falará.
— Ou não. Mentirosa como é, pode dizer que o garoto é meu, só para
me ferrar. Prefiro fazer o teste. Até mesmo porque se eu não for o pai, Ashley e
o menino continuarão sob minha proteção, já que Romeo era o nosso irmão,
portanto, a criança ainda assim tem o nosso sangue.
— Penso o mesmo. Até porque teríamos que falar da nossa ligação com
Romeo, e tenho certeza que ninguém aqui quer ser exposto por ela em praça
pública. — concordo com sua linha de raciocínio. Isso seria um prato cheio
para o Conselho conseguir tirar Vincent da cadeira.
— O que te fez duvidar da paternidade? — Henrique me pergunta
curioso.
— Uma leve desconfiança. Ashley demorou para vir atrás dos seus
direitos. E conhecendo-a, sei que ela não teria esperado tanto tempo para exigir
algo usando o menino se ele fosse realmente meu. Eu achei que Pietro fosse
filho dela com Luigi e por isso pedi um exame mais detalhado.
— A não ser que seja do Vincent. Ela sabe que os bastardos na máfia não
tem valor. — Henrique fala pensativo.
Franzo a testa quando ele cita o que todos pensam. Eu sou um desses
que ninguém queria ou valorizava, mesmo sabendo o que Luigi fez com minha
mãe.
— Na minha gestão, essa porra não vale de nada. Você mais do que
ninguém deveria saber que nem eu estaria aqui por conta dessa estúpida lei. E
o que eu puder fazer para que todos estejam protegidos, farei em vida, sendo
bastardo ou não. — Vincent grunhe raivoso.
— Me desculpe! Não quis ofender nenhum dos dois. Para mim não tem
diferença. Família é família. Vocês sabem o quanto ainda tenho ódio do que
Luigi fez à minha irmã. — Henrique tenta concertar sua falha.
— Tudo bem. Já ouvi coisa pior. — digo.
É por isso que mesmo que Vincent não seja o pai do Pietro, eu vou
assumir essa responsabilidade. Não quero que o menino passe pelo que eu
passei a minha vida inteira e seja punido por algo que não é sua culpa.
— Se quiserem, eu e Giovanna podemos adotá-lo. Temos duas meninas,
e um menino seria muito bem-vindo em nossa casa.
— Sua proposta é muito generosa, Henrique, porém passo. A criança não
é uma bolinha de ping pong. Se fosse um bebê, até que iria, mas já tem três
anos. Confundir a cabeça dele, só o fará crescer revoltado, achando que não é
o suficiente para ter uma família que zele por ele. — defendo meu ponto de
vista.
— Marco está certo. É nossa responsabilidade cuidar dele e mantê-lo
seguro. — Vincent concorda.
— Vocês que sabem. Se mudarem de ideia, estarei à disposição.
— Agradeço sua preocupação. Como foi sua viagem ao Milão? — levo
a conversa para outro rumo.
— Muito boa. O desfalque que Luigi deixou está praticamente
inexistente.
— Enfim uma boa notícia! — o capo exclama.
— Diga por você. Eu diria que hoje é um ótimo dia. — o provoco.
— Quer resolver no ringue, Marco?
— Saudade dos tempos em que eu chutava a sua bunda?
— Qual é o seu problema com a minha bunda, cara?
— Vê, Henrique? Depois que ele se casou com a Lorena, ficou todo
sentimental. Antes não ligava que eu limpasse as suas cagadas.
— Figlio di puttana! — grita nos fazendo rir de novo.
— Se vocês dois não fossem irmãos nessa vida, com certeza seriam em
uma outra. Nunca vi duas pessoas serem tão parecidas e unidas.
Ele fala isso porque não sabe das minhas escorregadas.
— Eu não me importo com os eventos que formaram a nossa ligação,
nem dos laços sanguíneos duvidosos. Marco sempre seria meu irmão, pois isso
vai além do sangue.
— Quer me fazer chorar? Está quase conseguindo. — disfarço a
garganta seca de emoção.
— Isso é contagioso? Porque ser for, me avisem! Que eu saio daqui.
Minha masculinidade está se sentido ofendida com tantos dramas. — Henrique
esnoba, mas seu sorriso não esconde o orgulho que sente de nós, seus pupilos.
— O que sabemos sobre a missão dos Mc's? — Vincent pergunta.
— Ainda nada. As conversas nas ruas é que Snake fez um acordo com o
FBI e está sob a proteção da polícia. — Henrique confirma nossas suspeitas.
— Não acredito! Gabriel nos passou a perna debaixo do nosso nariz. —
Me levanto e me sirvo com outra bebida.
— Se for verdade, ele está fora do nosso alcance. — Vincent diz
pensativo. — Não podemos cobrar favores depois de tudo que fizemos para
nos livrar do governo.
— Tem que ter um jeito. — Me sento tentando pensar em algo.
— Acredito que o melhor seja esperar o desenrolar das coisas. Gabriel
não irá nos dizer que está com ele. — Vincent retruca.
Fale por ele. Eu não pretendo sentar e esperar a boa vontade do FBI.
— Não mesmo. — Henrique concorda.
— Enquanto isso vamos focar em trazer Mathias para o nosso lado. A
reunião com o futuro senador não nos trouxe benefício algum. E pelo que ouvi,
o homem não está de acordo com a nossa entrada em suas fronteiras. Acredito
que se ele ganhar, iremos ter muita dor de cabeça.
— Iremos pensar em uma forma de dobrá-lo. Todo mundo tem seu
preço. Ele sendo um político, não é diferente. — Henrique aconselha.
— Sei não. Na reunião, além de demonstrar muita confiança em suas
convicções, vi que ele tem bons aliados. — Vincent me olha, deixando claro
que fala da Angel.
— Vou pesquisar sua vida e acharemos algum podre dele. — digo de
antemão, cortando suas chances de falar dela.
Me levanto para ir. Preciso apertar o pescoço de uma certa serpente.
— Marco? — Vincent me chama.
— Sim?
— Eu sei o que pretende fazer e prefiro que não a assuste sem ter uma
prova mais concreta contra ela. Aguarde ao menos o meu exame sair! Aí sim
nós dois iremos colocá-la contra a parede.
— Faça logo! Eu não pretendo esperar mais tempo pela verdade. Têm
furos que somente Ashley pode cobrir.
— Tudo bem. Serei o mais breve possível.
Suspiro impaciente. Me mandar esperar é fácil. Quero as cartas postas na
mesa, e quanto mais cedo, melhor. Pelo menos uma coisa ficou claro: Ashley
mentiu. E se ela teve ajuda para manipular o teste de paternidade, o cúmplice
pode tê-la ajudado em outros planos, e eu vou descobrir quem foi, nem que
seja a última coisa que eu faça em vida.
— Tenho o que me pediu. — Juan entra animado.
— Sério?
— Sim. Quero ser muito bem recompensado depois. Não foi fácil
conseguir o contato do homem.
— Querido! Se ele for tão valioso quanto eu imagino, será um prazer
pagar esse favor.
Ele sorri de um jeito cafajeste e eu me pergunto porque não posso amar
um homem desse. Juro que me esforcei, mas algo deve ter quebrado. Só tenho
olhos para o meu filho.
E para o Marco. — minha mente grita e eu a mando ficar caladinha. Ela
só me colocou em encrencas.
— O nome do chefe é Andrey Volkov. Ele está há pouco tempo no lugar
do pai. É solteiro e muito ambicioso. — Juan me informa.
— Algum ponto fraco?
— Mulherengo. Vive nas revistas de fofocas com beldades incríveis.
Mas há algo muito interessante sobre sua posição como líder.
— O quê? — pergunto esperançosa de que seja mais algum segredo sujo
que me ajude.
— Parece que ele matou o pai quando descobriu um segredo do passado
que envolvia a Camorra. Por isso a sede de vingança por essa família.
— Que interessante! — Bato os dedos na mesa. — Alguma dica do que
seja? — questiono como quem não quer nada, só para constar se ele sabe
demais.
— Tudo que sei é que tem a ver com o desaparecimento de uma das suas
irmãs. Foi tudo que consegui descobrir sobre a relação dele com a família.
Pego o dossiê do Andrey e começo a folheá-lo. Tem informações sobre
seus negócios e endereços de onde eu possa encontrá-lo.
— Maravilhoso! Isso é mais do que o suficiente. Sigo sozinha a partir
daqui.
— Jantar hoje à noite?
— Claro! Por que não? — Seguro sua camiseta e o puxo para um beijo.
— Quando vai me apresentar adequadamente ao seu tio? Precisamos
oficializar direito. Minha família quer conhecê-la.
— Não estrague o clima! Até o momento, você está com a bola toda.
Ele faz uma carinha de desanimado e eu me culpo mais uma vez por
somente usá-lo.
— Te espero no mesmo lugar então.
— Juan? — o chamo quando ele se vira para sair.
— Sim?
— Me espere nu! Quero compensá-lo com tudo que tiver direito. —
Mordo o lábio de modo sedutor e pisco para ele.
— Às suas ordens, tigresa. — Manda um beijo da porta e a fecha em
seguida.
Suspiro derrotada, me jogando na poltrona. Isso está ficando
insustentável. Juan é um bom homem e eu não sou, nem nunca serei, a mulher
certa para ele. Às vezes acho que tio Alejandro tem total razão quando me diz
que tudo isso vai me consumir a um nível tão alto que não vou poder mais
controlar.
Ah, Marco! Seu desgraçado! Por que você tinha que me marcar tão
profundamente assim? Tudo poderia ter sido diferente se não fosse pelas
circunstâncias que nos separaram.
Dias melhores virão. Tenho que continuar pensando positivo e não
fraquejar.
MOSCOU - RÚSSIA

Horas de viagem tensas e cansativas. Tudo para conseguir falar com o


líder da máfia russa que não pode sair da sua bolha para ir ao meu encontro em
outro país. Espero que valha a pena deixar meu bebê longe de mim por algum
tempinho. É a primeira vez que me afasto dele para ir tão longe.
—Tem certeza que seguirá com isso, docinho? — Alejandro pergunta
ajeitando seu terno.
— Claro! É nossa chance de nos livrarmos do Lucca em nosso território.
— Está fazendo isso por conta da invasão às nossas fronteiras ou porque
seu amado está no meio do fogo cruzado?
Caralho! Ele não perde uma.
— Estou pensando em nós. O resto é consequência.
— Sei! Vou fingir que acredito.
— Se der certo, nós junto com eles, derrubaremos os Vitiello, e por fim,
os russos pegam o Snake para mim. Só há vantagens.
— Se sairmos daqui com vida, você quer dizer, né?
— Pense positivo! — Bato em sua mão para acalmá-lo.
— Será que ele virá?
— Claro que sim. Minha proposta foi tentadora. Nem que seja por
curiosidade, ele aparecerá.
— Espero que tenha algo muito bom para persuadi-lo. Há um grande
motivo para nenhum cartel ter feito parceria com eles até hoje. Você está
quebrando todas as regras.
— Isso porque vocês não tinham uma mulher inteligente como eu no
comando. — Pisco os olhos, brincando com ele, o fazendo rir. — Somos
estrategistas, tio. Você me ajudou a montar um bom plano. Confie em mim! Eu
sei o que estou fazendo.
— Que Deus nos ajude.
Pouco tempo depois o Andrey chega. Todo o lugar parece parar com sua
entrada. O cara tem presença, uma áurea pesada e ainda por cima é muito
bonito. Seus olhos escuros se prendem aos meus sem desviar. O desgraçado
está tentando me intimidar.
— Me dê um motivo para eu não esquartejá-los e mandar seus membros
serem espalhados por todo o México! — ele se pronuncia.
Alejandro chuta a minha canela por debaixo da mesa enquanto lança um
olhar de “eu te avisei”. Não me deixo abater e ainda rio como se aquilo fosse
uma piada muito engraçada para mim.
— Eu já tinha ouvido que vocês russos são charmosos e seguros de si,
mas não que eram comediantes. — rebato.
— Devo admitir que você é muito corajosa.
— Esse é meu nome do meio, querido.
— A que devo a honra de suas ilustres presenças em meu país? — Se
senta na cadeira à minha frente.
— Devo dizer que é um prazer finalmente conhecê-lo pessoalmente. —
Sorrio.
— Espero que tenha algo realmente do meu interesse. Fiquei curioso
quando recebi seu recado. Você é bem... — Me olha devagar, descaradamente
parando de propósito em meus seios, que graças à amamentação estão bem
fartos. — Ousada.
— Digamos que temos assuntos mal resolvidos em comum, e juntos
tenho certeza que podemos nos ajudar.
— E seria? — Coloca seu braço na mesa, me estudando.
— Destruir alguns italianos.
Ele sorri interessado.
— Continue! — Faz sinal para que o garçom venha à nossa mesa. —
Aceitam uma bebida?
— Obrigada! Não bebo. — Não aqui, pelo menos.
— Eu vou acompanhar. — Alejandro entra em sua performance de
homem importante.
— Senhorita Angel... — Ele faz uma pausa para beber seu drink. — Não
posso entrar em território americano. Meu nome está no topo dos mais
procurados pelo FBI e eu não vou deixar que eles me tenham tão facilmente
assim. Nem por uma mulher atraente como você. — Sorri safado.
— Quanto a isso... — Lhe entrego a pasta com todas as informações
sobre seus negócios. — Tenho amigos influentes que podem te ajudar a
recuperar sua posição e entrar e sair de lá sem ser notado.
Ele pensa por um tempo e eu espero pacientemente.
— Diga o que quer! — pede.
— Quero dois favores seus. Que destrua os Vitiello e pegue alguém que
está sob o comando de um certo agente.
— Gostei da primeira. Da segunda nem tanto.
— É um serviço bem pessoal e preciso que alguém de fora o faça.
— Por que os Vitiello? Meu alvo sempre foi a Camorra.
— Então você não sabe que os Vitiello ajudaram o Luigi a sequestrar sua
irmã e eventualmente matá-la?
Sua expressão fica sombria e eu juro que ele irá pular no meu pescoço.
— O que sabe sobre a minha família?
— O suficiente para ajudá-lo em sua vingança.
— Não tenho interesse em sua proposta. — Se levanta para sair.
Eu jogo a minha última carta na manga.
— Nem pelo seu sobrinho?
Ele para e senta novamente, agora devagar.
— Deve ter se confundido. Eu não tenho sobrinho.
— Tem sim. Sua irmã teve um bebê e ele está vivo. Te conto onde a
criança foi colocada e com quem, se me prometer que irá deixar a Camorra
fora dessa luta e focar somente em Lucca Vitiello, o seu maior inimigo ainda
vivo para você cobrar a dívida da morte de sua irmã Louise.
— Como posso confiar em sua palavra? Meu pai acreditou nos italianos,
e olha o resultado.
— Vocês são conhecidos por não cumprirem promessas, tanto quanto
eles.
— Não seríamos a Bratva se ficássemos por aí distribuindo alianças,
moça. A pergunta aqui é: vai querer correr o risco mesmo assim?
— Primeiro: não sou sua inimiga, Andrey, e muito menos italiana. E
segundo: eu quero justiça, tanto quanto você. É pegar ou largar.
— Me dê uma prova do que acabou de me falar!
— Aqui. — Entrego algumas fotos e uma certidão de nascimento que
comprovam o que falo. — Sou uma mulher preparada, e só para que saiba, o
menino está com outro nome e bem protegido. Só darei a sua localização
quando nosso tratado for firmado e executado.
Andrey visualiza por um longo tempo as documentações e eu começo a
ficar insegura e duvidar que ele vá aceitar.
— Tudo bem. Tem a minha palavra de que ajudarei e que por enquanto
não irei atrás de Vincent Lourenço.
Foda-se esse babaca! Só não quero ver Marco se matando para salvá-lo
de novo. Temos ainda muito o que resolver antes que ele dê seu último suspiro.
— Temos um trato? — Estico minha mão.
— Temos. Em breve entrarei em contato. Enquanto isso, cuide para que
a minha entrada não seja rastreada!
Suspiro aliviada. Já é alguma coisa.
— Te dou a minha palavra.
Ele sai do restaurante e eu me viro para Alejandro, que parece que vai
vomitar a qualquer momento.
— Obrigada, tio! Foi de grande ajuda a sua presença.
— Nem vem! Meu cérebro travou na parte em que o Lucifer falou em
me esquartejar.
— Você não tem jeito mesmo. — Balanço a cabeça. — O importante é
que tudo foi como esperávamos.
— Juro que vi minha vida passando diante dos meus olhos. Eu pequeno,
papai me batendo quando me pegou com o menino que eu gostava,
minha primeira noite de amor, eu sendo jogado em um terreno qualquer e todo
cortado em vários pedaços... — sua voz vai afinando conforme vai falando.
Eu não aguento e caio na gargalhada.
— Quanto drama! Vamos embora! Esse lugar me dá arrepios.
— Se fosse só em você. Me senti indo para o abatedouro desde que desci
do jato.
— Ai, tio! O que seria de mim sem você? Deveria ser um comediante.
Nos abraçamos e entramos no carro para voltar.
Primeira parte do plano: okay. Vamos para a próxima etapa!
Entro na casa que evito ao máximo comparecer, procurando por Pietro.
Nos últimos dias quase não o vi e minha consciência começou a me cobrar por
essa falha.
— Marco? Que prazer em vê-lo! — Ashley vem na minha direção e eu
desvio meus passos, a deixando no vácuo.
— Cadê o menino? Vou levá-lo para passar o final de semana comigo.
— Em dois tempos estaremos prontos, como uma família deve ser.
— Somente eu e ele. Você fica.
Seu sorriso escorrega.
— Eu não entendo. Dois anos esperando te esperando tomar uma atitude
e me pedir em casamento para que juntos possamos criar nosso filho, e você só
me ignora.
Minha vontade é de pegar o papel do exame e fazê-la engolir junto com
sua falsidade.
— O único compromisso que terá de mim é esse aqui. Com você, eu não
quero nada. Só a sua presença me enoja. — Pietro! — grito para chamar a
atenção do menino.
— Sua prostituta não vai voltar, Marco. Angel nunca te amou como eu.
Você espera por uma mulher que na primeira oportunidade boa que teve, te
enganou.
Em dois passos, eu a empurro na parede e aperto seu pescoço da maneira
que venho imaginado nos últimos dias.
— Nunca mais fale dela! Você não vale o chão que ela pisa, sua
vagabunda!
— Marco! Por favor! — Seus olhos saltam e ela começa a ficar
vermelha, buscando ar.
— Papai! Me chamou? — a voz doce de Pietro me tira do transe, no
qual estou ansioso para ver o fim da Ashley.
Solto ela e me viro de frente para o menino.
— Ei, campeão! Adivinha o que vamos fazer!
— Acampar? — pergunta incerto.
Há um tempo ele me pediu para levá-lo para acampar, como seus
colegas contaram que fizeram com seus pais. Sobretudo, meus dias atrás de
provas contra a Ashley tem ocupado muito do meu tempo.
— Isso e tomar aquele sorvetão de chocolate que você tanto gosta.
— Ebaaa!
Sorrio com sua animação.
— Pegue suas coisas! Temos que chegar cedo para pegar alguns peixes.
Acho que tenho que te ensinar a pescar também, hum?
— E vamos assar marshmallow na fogueira?
— Claro! Que acampamento seria esse se não tivesse muito chocolates e
marshmallow?
— Legaaal! — Sai correndo, quase tropeçando nas coisas.
— Vou te dar dois segundos para sumir da minha frente, Ashley, ou vou
redecorar essa sala de vermelho carmesim, e te garanto que não será com tinta.
— aviso não suportando olhar sua cara.
— Você continua o mesmo. Se acha melhor que os outros e é tão ruim
quanto o Luigi foi. Ele deveria ter te matado quando teve a chance. — cospe
seu ódio.
— Como eu deveria fazer com você agora? — Pego minha faca. —
Lembre-se querida, que você veio a mim e entrou de volta para a máfia, não o
contrário! O menino já está com meu sobrenome, então eu não preciso de você
para mais nada. Ninguém sentirá a sua falta quando morrer, porque não é
ninguém importante. — digo baixo e friamente.
— Monstro! Você é um monstro, Marco Moretti! — Sai chorando
escada a cima.
Pietro volta com sua bolsinha e eu o pego, saindo rapidamente da casa,
antes que eu descumpra a minha palavra dada ao capo e mate a Ashley
dolorosamente por tudo que ela me fez passar.
Entrar novamente na terra do tio Sam é tanto animador quanto
revoltante. Me faz lembrar de uma época sombria que eu gostaria de esquecer.
Por muitos anos procurei pela minha irmã gêmea, e quando estava quase
conseguindo colocar as mãos no desgraçado que a levou de mim, fui pego em
uma armadilha do FBI com a ajuda dos malditos italianos. Por sorte bati em
retirada a tempo e voltei para a minha terra, no propósito de me reerguer e
voltar um dia para cobrar a minha dívida de sangue. E graças a uma loira de
boca esperta e um corpo escultural, esse dia chegou mais cedo do que eu
esperava.
Confesso que pensei em não cumprir suas exigências. Nunca fomos
conhecidos por seguir as regras ou por sermos bonzinhos, mas darei por
enquanto uma chance à mulher que teve coragem de viajar para o meu
território e me encarar de frente. Ela com certeza tem mais bolas do que
qualquer homem que já encontrei em meus trinta e oito anos.
— Angel! É um prazer revê-la! — Beijo sua mão. — Bela como sempre.
— Encantador! Como foi a viagem?
— Melhor do que eu esperava. — confesso animado.
— Maravilha!
— Ansiosa para pôr as mãos no seu cara? — pergunto curioso sobre a
história dos dois.
— Você não faz ideia. Temos contas para acertar há anos. Além de que
ele é valioso para uma troca que eu quero.
— Bom! Tudo que eu quero é terminar e sair daqui. Estou ansioso para
eliminar um certo capo.
— Imagino. Te encontro onde combinamos.
— Okay.
— E... Andrey? — ela me chama e eu me viro para vê-la. — Pelo amor
de Deus, não seja pego!
— Não se preocupe, linda! Você não vai se livrar de mim tão facilmente.
— Pisco, a fazendo me xingar de algo que não entendo.
Entro na van rindo.
— Senhor Andrey! O agente estará escoltando em uma hora o homem
que você procura.
— Vamos cercá-los. Preciso que o serviço seja rápido e limpo. Temos
que ir para Las vegas o mais rápido possível.
— Como quiser.
— É hora do show. — falo fazendo meus homens rirem da piada.
Montamos a armadilha e ficamos aguardando a passagem do carro que
nos foi informado.
Não muito tempo depois avistamos o comboio aparecer.
— Veio mais carros do que nos foi informado.
— Mudança de planos, meus amigos. Vamos fazer uma bagunça
inesquecível. — ordeno.
Meus homens jogam algumas bombas caseiras na direção dos carros de
trás e chuva de tiros pipocam como fogos de artifício aos meus olhos.
Alcanço o carro, onde tenho certeza que o agente está, e meto bala no
trinco.
— Se afaste, filho da puta!
Gargalho com a coragem do tira atrevido.
— Eu acho que não. Você está cercado, e aí dentro tem o que eu quero.
Adivinha quem vai se dar mal!
Ele olha a sua volta, vendo seus companheiros no chão e alguns dos
carros virados pegando fogo. Em seguida trinca o maxilar e se afasta da porta.
— Muito bem! Jogue a arma no chão, Gabriel! Você tem sido um pé nas
minhas bolas há muito tempo. Seria horrível eu ter que matá-lo aqui.
— Nós iremos pegar você. Não sei como entrou aqui e nem quem te
ajudou, mas vou caçá-lo e pegá-lo. É só uma questão de tempo.
Sorrio desdenhoso.
— Boa sorte ao tentar! Enquanto isso, o meu trabalho é te atrasar.
Disparo dois tiros em sua direção, acertando um em seu braço e o outro
um pouco acima da cintura.
— Desgraçado! — grita segurando o braço.
Eu chego mais perto e chuto sua arma para longe.
— De nada. Considere um presente ainda estar respirando.
Vejo meus homens tirarem o imbecil sapateando do carro e levá-lo para
a van.
— Foi muito bom rever você. Fica para uma próxima a nossa conversa
amigável. — falo.
— Não haverá uma próxima, porque você será um homem morto.
— Ingratidão é a pior forma de agradecimento, agente.
— Foda-se!
Me viro para ir embora e terminar minha visita por aqui.
Os carros param do lado de fora e eu fico onde estou para analisar se
mais alguém está na espreita. Confio em Andrey, mas desconfiando.
Eles sobem as escadas com o meu adorável ex-marido e o joga no chão
como um saco de batatas.
— Missão dada é missão cumprida. — Andrey diz debochado.
— Quando eu disse para ser discreto, não incluía você aparecendo
poucas horas depois de sua chegada nos noticiários, Andrey.
— Citaram meu nome?
— Não. Mas não precisa de muita inteligência para saber que era você.
— Ossos do ofício. Saiu um pouco dos meus planos originais, mas o
importante é que deu certo. Agora não me leve a mal. Sou um homem de
negócios e cumpri com minha parte no trato. Falta a sua.
— Cumpriu com a primeira parte do combinado. E os Vitiello? —
pergunto apenas para confirmar se ele não deu para trás.
— Estou indo para lá. Ele será carta fora do nosso baralho.
— Quando terminar o serviço, terá o que quer. Não vou lhe entregar o
endereço sem ter certeza de que você não me deixou na mão.
— Você é dura na queda. — Se aproxima lentamente de mim e passa um
dedo em minha bochecha. Dou tudo de mim para não me afastar e socar sua
cara. — Não tente me enganar, Angel! Não vai me querer como seu inimigo.
— Suas ameaças não surtiram efeitos da primeira vez, Volkov, e também
não me farão correr agora. Não me tenha por tola!
Gemidos no chão chamam a nossa atenção e eu olho para o causador de
toda essa confusão.
— Seu convidado acordou. — Ele aponta para Snake se debatendo no
chão, amordaçado.
— É melhor você ir. Sabe onde me encontrar quando tiver feito o que
me prometeu.
— Eu vou, e em poucos dias estarei de volta. — Sai da sala com seus
homens.
Ando devagar saboreando o medo e a raiva nos olhos de Snake.
— Quanto tempo, querido! Soube que estava atrás de mim. — Chuto seu
rosto várias vezes, e quando me dou por satisfeita, dou sinal para que meus
soldados o leve para baixo. — Quero que vocês o tratem da maneira que
tratamos os nossos inimigos. Somente depois irei vê-lo.
— Considere feito. — Camillo o leva da minha frente.
A partir de agora, todas as coisas têm que ser muito bem pensadas.
Arrancarei tudo dele, e depois que tiver toda a verdade, farei uma troca com o
Marco. Snake por Ashley. Sim. Temos muito a conversar. Eu sei que ela estava
por trás de tudo que me aconteceu. Só não pude provar naquela época. Meu
sexto sentido me diz que dessa vez eu não só estou certa, mas que também
terei como provar a minha inocência a todos eles. Quero ver Marco de joelhos
me implorando perdão com lágrimas de sangue por tudo que me disse e me fez
passar. Só assim eu poderei me sentir vingada.

(...)

Desço as escadas escutando as conversas e os risos dos homens. Abro a


porta e todos eles param o que estão fazendo para me encararem.
— Tudo bem, senhora?
— Sim. Fizeram tudo?
— Tudo que a senhora pediu. A câmera foi montada e o rapaz já teve um
tratamento VIP.
— Ótimo! Acorde ele!
Camillo liga a mangueira e o encharca. Snake acorda e começa a tossir
pela intensidade da água sobre seu rosto e eu saboreio de sua tortura,
lembrando das vezes em que ele me deixou trancada no quarto, com fome, no
frio, machucada pelos seus abusos constantes e sentido abstinência pelas
drogas.
Ele me olha por algum tempo com apenas um de deus olhos abertos. O
outro está fechado pelas pancadas que levou.
— Você não parece atraente. — debocho.
— Sua vagabunda! Você que está por trás disso tudo?
— Claro que sim. Não achou que eu ia deixar você ganhar imunidade do
FBI e sair livre, não é?
— Eu vou te matar! — grita revoltado.
— O único defunto aqui será apenas você. Quero saber tudo que andou
fazendo contra a Camorra e contra mim, e talvez eu não te entregue ao capo
para acabar contigo. Aposto que o cara está louco para por as mãos no homem
que andou tramando com os seus inimigos contra ele.
Ele gargalha.
— Depois do que te fizeram, ainda quer ajudar seu amado? Bastou a ex
voltar que ele te jogou para escanteio. Você continua sendo um lixo. Ninguém
te quer, porque não vale nada.
Suas palavras me atingem muito mais do que eu gostaria. É exatamente
assim que me sinto: rejeitada, ferida, usada por todos e jogada fora quando não
sou mais o suficiente.
Disfarço minha dor e debocho.
— Ajudar? Vejo que você nunca me conheceu bem, ou saberia que tenho
muito mais interesse pessoal. Se olhar direito a sua volta, não sou eu que estou
amarrada aí e nem com os dias contados.
— Veio correndo para a sua família. Eu deveria ter imaginado que faria
isso. No fim, parece que não é tão diferente de mim ou do seu pai.
— Não, querido. Engano seu. Eu sou muito pior. Jogue mais água e dê
um choque nele, Camillo! Talvez assim ele entenda quem está no comando
aqui.
Camillo faz o que eu mando, e quando Snake está quase perdendo a
consciência, ele para.
— É muito prazeroso te ver aí a minha mercê. Por muitos anos, eu
imaginei como te mataria. E veja isso! Não sinto arrependimento, nem pena.
Última chance para você se comportar e me contar tudo, ou vai sentir na pele o
que é ter seu corpo usado contra a sua vontade várias e várias vezes.
— O que quer saber?
— Conte-me, Snake! Foi você que ajudou a Ashley, não é?
— Sim.
Aperto as mãos com ainda mais raiva ao ter a minha confirmação.
— Você que foi atrás dela, como ela disse?
— Não. Ela me procurou e ofereceu uma parceria.
— A troco de quê?
Eu já desconfio, todavia, quero que ele fale.
— Eu a ajudava entrar na Camorra e ela me ajudaria a te tirar da
proteção do capo.
— Eu não entendo. Se ela tinha a criança, não precisava de você.
— O menino não é filho do Marco. Eu paguei uma enfermeira para
forjar os documentos. — diz com tanta naturalidade que me deixa com sangue
nos olhos.
— Desgraçado! Constantemente achando um jeito de me ferir. Eu
sempre fui manipulável para você. Quando viu que não podia me controlar, me
viciou para continuar com seus joguinhos sádicos.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Meu filho foi colocado em risco por
uma mentira. Eu fui quebrada de todas as formas, simplesmente por ser quem
sou.
Vou até a mesa, onde tem algumas armas de tortura, e pego uma barra de
ferro. Volto até Snake e começo a bater nele. Todas as imagens vêm à minha
mente: a humilhação na festa, Marco me jogando na rua e duvidando da
paternidade...
Jogo toda a mágoa acumulada em cada pancada que acerto nele.
Lágrimas descem pelo meu rosto, me rasgando por dentro.
— Senhora! Vai matá-lo. — Camillo me alerta.
Paro e olho Snake desmaiado.
— Você vai levar um recado para mim com essa filmagem. — Vou até a
câmera e a desligo. — Quero aquela piranha nas minhas mãos e não vou
aceitar um “não” como resposta. Entendeu?
— Entendido.
Saio tremendo e passo por todos os rostos surpresos com a minha
explosão. Depois de tudo, ainda me sinto frágil.
Entro no carro para voltar até o meu filho. Preciso dele em meus braços
para me lembrar do porquê continuar indo até o final, mesmo que isso me
destrua de vez.
A sala pesa com a caixa sobre a mesa e eu tenho a impressão de que tudo
a nossa volta cheira a morte. As expressões são fechadas e até mesmo Vincent
está tão transtornado que Lorena não ousou ficar para saber o que aconteceu.
Chegar perto de qualquer um nesse momento é um suicídio.
Eu me encosto na parede e daqui não tenho coragem nem de mudar de
posição. Eu sinto vergonha. Sim. Vergonha de ter a colocado nessa posição de
se sentir tão sozinha e desesperada que precisou ir procurar ajuda com os
nossos inimigos para nos provar o quanto errados todos nós fomos com ela.
Minha menina está em perigo e a famiglia também. Tudo que lutamos por
anos, estamos vendo cai peça por peça diante dos nossos olhos, sem sabermos
o que fazer. Eu não tenho ninguém a quem culpar, a não ser a mim mesmo. Eu
não fiz meu trabalho direito e cada falha minha foi criando uma bola de neve
que ficou extremamente descontrolada, e algumas pessoas, sendo elas as mais
próximas de mim, pagaram caro por minhas estúpidas e egoístas escolhas.
— O que vamos fazer? Os Vitiello foram derrubados pelos russos. A
guerra foi declarada. É questão de tempo até virem atrás de nós. — Henrique
diz o óbvio que nos tem de mãos atadas sem sabermos o que será do amanhã.
— Não chega a tanto, Henrique. Logo eles se refazem. Com certeza já
escolheram outro capo para governar. — digo o que penso.
— Tudo por culpa daquela mulher. Ela os trouxe para cá. Tínhamos
conseguido afastá-los, e olha onde estamos de novo. — Vincent se senta e
coloca as mãos no rosto.
— Angel fez o que qualquer um de nós teríamos feito. Ela sozinha
provou o que todos nós no fundo já sabíamos. Fomos injustos e a deixamos
por sua conta, quando deveríamos ter lhe dado ao menos uma chance de se
defender. — minha voz fica trêmula no final das minhas falas, porque eu fui o
pior deles.
Sinto a necessidade de esclarecer suas atitudes. Angel apenas se
defendeu. Ninguém pode culpá-la por procurar aliados. Se eu não tivesse sido
tão idiota, eu teria a ajudado e ficado ao seu lado, como deveria.
— Ainda ousa defende-la? Ela se aliou aos Volkov, Marco! — Vincent
grita.
— Eu fui o causador de tudo isso. Eu irei concertar.
— Ah, vai? Como? Vai se render às chantagens absurdas da Angel,
depois dela claramente ter se juntado aos nossos inimigos e nos fazer uma
ameaça? — Aponta para a caixa, onde tem a mão de Snake.
— EU COMECEI TUDO ISSO, VINCENT! — grito com ele. —
Somente eu poderei dar um fim.
— Nós todos temos nossa parcela de culpa. Ela não é tão inocente
quanto você pensa e essa filmagem mostra muito bem isso.
— É a mim que ela quer. Fui eu que fiz promessas e na primeira
armadilha descumpri. Tenho que pagar pelos meus erros.
— Não ouse fazer o que eu acho que pretende! — Vincent me joga na
parede e soca a minha cara. É a segunda vez que brigamos, e como na
primeira, não me defendo. — Seu filho da puta! Não me venha com merdas
para cima de mim!
— Eu preciso fazer isso.
— Do que vocês estão falando? Marco, o que vai fazer? — Henrique se
levanta de onde apenas nos observava e vem na nossa direção.
— Ele quer se entregar ao cartel. Depois de anos para conseguir tudo
que merecemos, Marco quer jogar tudo pela janela e se sacrificar.
— Não! Vamos pensar em outra coisa. Você não precisa fazer isso. Eu te
treinei para ser o melhor, um homem de honra, e não um covarde que se rende.
— Henrique tenta argumentar.
— Já está decidido. — afirmo convicto.
— Você não vai! Eu te proíbo de fazer qualquer coisa que te coloque em
perigo!
— Não estou te pedindo, Vincent. Estou afirmando que vou até ela,
como pede na porra do papel.
— É capo! Eu sou seu capo e estou lhe dando uma ordem. Ninguém sai
daqui sem que eu permita! Não me faça atirar em você, Marco!
— Então vai ter que fazer isso, irmão.
— Eu vou ter que pará-lo e mandar irem atrás de você. — Seu rosto está
inexpressivo de emoções.
Eu sei que Vincent está tentando ser forte e manter a pose de durão, mas
está tão perdido nesse momento quanto eu. Ele fará qualquer coisa para não
me ver sair.
— Você não pode me pedir isso. Não você. Não depois de tudo que fiz
por nós.
— É por ter muita consideração à nossa história, que não lhe deixarei se
matar indo lá.
— Eu prefiro morrer do que viver mais um dia longe dela. Olhe para
mim! Eu não sou mais o mesmo. Estou morto por dentro e nem sei mais o que
quero. Estou perdido, sobrevivendo dia após dia nesses dois anos. Se for o
meu destino, quero morrer pelas mãos da mulher que fez meu coração bater de
novo, que se entregou a mim e eu abandonei. Minha culpa não me deixa ter
paz.
— Tem ideia do que está fazendo? Em que posição me colocou?
— Tenho. Nem você e nem ninguém vai me fazer mudar de ideia. Se for
me matar, faça isso nesse momento, porque eu irei com ou sem o seu apoio.
— Muito bem. Você não me deixou escolha. — Ele vira as costas e vai
até sua mesa se sentar. — Se sair por aquela porta, vou considerá-lo um
traidor. Será destituído do seu cargo e não entrará mais em meu território.
— Vincent! Isso é muito precipitado e sórdido. Está falando do seu
irmão, não de um simples soldado. — Henrique tenta apaziguar a situação que
não tem mais volta.
Eu o entendo. Não estou com raiva da sua decisão, todavia, não significa
que isso doa menos.
— Até um soldado me respeita mais do que ele, Henrique. — Vincent
fala e eu sinto a dor me rasgar, como se ele tivesse me enfiado seu punhal e
girado várias vezes. — Se Marco for, não fará mais parte da famiglia.
Uma decisão difícil e irreversível.
— Como quiser, capo. — dou minha última palavra.
Deixo, depois de anos juntos lutando e o protegendo, que ele me veja
por completo. Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto e silenciosamente
me despeço dele. Selo meu destino nesse momento, deixando clara a minha
posição.
— Marco? Pense um pouco mais! — Henrique tenta me parar.
— Eu sinto muito, tio. Pela primeira vez vou pensar em mim. Eu não
sou uma pessoa que vocês iriam querer por perto. É melhor assim para todos
nós.
Os olhos do meu irmão estão lacrimejando, mas mesmo não gostando
dessa situação, ele não dá o braço a torcer. Essa é a minha família. Henrique
não seria o consigliere se falasse que a decisão é errada e nem Vincent seria o
chefe se aceitasse tudo numa boa. Mesmo me doendo, dessa vez eu escolho a
Angel. Eu já coloquei a organização sobre meus desejos por muito tempo, mas
dessa vez é pessoal e eu não tenho escolha. Irei até ela e acabarei de vez com
esse mal-entendido.
— Angel! Eu estou aqui como pediu. — os gritos me assustam.
— Marco? — Levanto para olhar pela janela.
— Acho que seu amado veio a mando da Camorra. — Alejandro diz ao
meu lado, o olhando também.
Dias se passaram e a Camorra não respondeu ao meu envio. Eu achei
que eles não iam aceitar.
— Só vejo ele. Vincent não o mandaria sozinho. — suponho.
— E parece com muita raiva.
— Droga! Vou descer e resolver.
— Cuidado! — me adverte.
— Proteja o Enzo!
— Deixe comigo, docinho!
Desço as escadas correndo e saio para o jardim.
— Devemos atirar? — Camillo pergunta.
— Não. O traga para mim no escritório.
— Okay.
Volto para casa e sento em minha cadeira, o esperando.
Pouco tempo depois, ele entra, e para a minha completa surpresa, se joga
no chão e se ajoelha. Mesmo que eu tente me manter indiferente e fria, meu
coração bate mais forte por tê-lo tão perto, do jeito que eu queria.
— Estou aqui, Angel, como pediu. O único culpado por tudo foi eu.
Puna somente a mim!
O analiso, prestando atenção agora nas suas olheiras e na sua aparência
abatida. Definitivamente não é o Marco convencido e cheio de si que eu
conheci.
— Talvez eu faça isso. Costumamos fazer bem pior com nossos
inimigos. — repito suas falas daquela noite.
Ele apenas fica de cabeça baixa, submisso e derrotado.
— Me torture! Me mate! Faça o que quiser comigo! Só deixe a Camorra
em paz! — Abre os braços, entregue.
Filho da puta!
— O capo te mandou de novo para você ser morto no lugar dele? Que
chefe exemplar! — debocho.
— Eu escolhi vir. Deixe eles de fora da sua vingança!
— A Camorra nunca foi meu alvo. Tudo que fiz foi somente por sua
causa. Até mesmo ter mandado o Andrey matar o Vitiello, que estava tramando
contra vocês.
Ele balança a cabeça, confirmando que entendeu.
— Onde está a Ashley? — pergunto tentando recuperar meu fôlego.
— Lá fora com seus homens.
— Ótimo! Assim irei acabar com isso de uma vez.
Ele levanta os olhos, os prendendo em mim.
— Me perdoe, Angel! Mesmo que me mate, quero que saiba que nunca
deixei de te amar.
Lágrimas escorrem sorrateiramente dos meus olhos traidores e um
soluço escapa contra a minha vontade.
— Fui abandonada várias vezes enquanto crescia, e quando você me
resgatou de mim mesma, eu acreditei que poderia ser feliz ao seu lado, que eu
poderia finalmente ter uma família. Mas me enganei. Você foi o único que
conseguiu me ferir de uma maneira tão profunda que não consigo esquecer.
— Me desculpa! Eu sei que errei com você. — Ele se levanta para vir
até mim e eu vou chegando para trás.
— Não encoste em mim! — faço ele parar há poucos passos.
— Eu mereço seu desprezo e seu ódio, mas não me peça para ficar
parado vendo-a sofrer desse jeito!
Ele me puxa para si e me prende em seus braços.
— Você é um imbecil! Eu deveria te matar agora.
— Então mate! Se isso vai te fazer feliz, faça! — Pega sua arma e me
entrega. Depois abre a jaqueta de couro e leva minha mão para cima do seu
coração, onde um pouco acima tem tatuado as asas de um anjo. — Mate,
Angel! Um tiro e tudo estará acabado. É só puxar o gatilho.
Eu não posso e esse desgraçado sabe disso.
— Eu odeio você! — digo.
— Não. Não odeia. Sabe por quê? Porque eu tentei te odiar e isso só
serviu para me fazer sofrer. A cada vez que tentei te esquecer, uma parte de
mim, morria. Eu sou seu, querida. Sempre serei.
Ele junta nossas bocas em um beijo sôfrego, desesperado e cheio de
palavras não ditas.
— Se tivesse que escolher entre mim e a Camorra, quem escolheria,
Marco? — pergunto fazendo um teste.
— Você. Sempre será você. Eu te amo! Sem você comigo, nada do que
eu tinha, valia a pena. Eu estou sendo considerado um traidor por ter
abandonado tudo e vir até aqui. O engraçado é que não me importo, porra!
Não se eu lhe tiver de novo. Me perdoa?
Sorrio em meios às lágrimas.
— Ainda continua sendo um idiota.
— Um idiota que você ama.
— Para a minha total perdição, sim.
— Então fala! Quero ouvir da sua boca.
— Eu te amo, Marco Moretti!
Ele me pega em seu colo e me deita na poltrona.
— Me deixe amar a minha mulher como sonhei nesses dois anos!
Deixo que Marco tire as minhas roupas e beije meu corpo da maneira
que somente ele sabe fazer, me tocando em cada terminação nervosa.
— Ah, sim! — gemo extasiada com sua boca me sugando.
— Me desculpa, querida! Preciso entrar em você, ou vou explodir em
minhas calças.
Ele se levanta, tira aos poucos sua calça e fica completamente e
deliciosamente nu. Babo em seu corpo musculoso.
— Venha! — o chamo, ansiosa para tê-lo em mim.
— Como quiser.
Ele entra em mim com uma única estocada em meu interior, me fazendo
arfar. Devagar começa a se mexer e em pouco tempo estamos os dois gemendo
tão alto que tenho certeza que a casa inteira está escutando. Arranho suas
costas e chupo seu pescoço.
— Senti tanta saudade! — confessa e morde a minha orelha.
Ele me vira de quatro e entra em mim outra vez com estocadas mais
firmes. Caralho! Era disso que eu sentia falta: do sexo cru, selvagem, cheio de
sentimentos em cada pegada forte e sem frescuras.
— Eu senti mais. Estou vindo. — choramingo sentido todo o meu corpo
se arrepiar.
— Aperte meu pau, baby! Molhe ele com sua essência!
Meu orgasmo vem tão desenfreado que por alguns segundos tenho a
impressão de perder a consciência. Volto a mim no exato momento em que ele
rosna e me segura junto ao seu corpo enquanto se derrama em mim.
Me viro e deito de frente para ele. Meus olhos passeiam novamente na
tatuagem, que quando fui embora, não estava ali. Não acredito que Marco
esteja aqui na minha frente do jeito que eu imaginei e que agora podemos
tentar recomeçar.
— Quando fez? — pergunto curiosa sobre a tatuagem.
— Poucos dias depois que você se foi.
— Por quê?
— Eu queria me lembrar de você, e quando olhava para ela,
tinha certeza que um dia iria lhe ter de novo.
— Confiante, não?
— Esperançoso.
— Preciso te dizer algo. Na verdade, eu quero que você veja. — Me
levanto rapidamente e tomo uma respiração profunda.
— O que quer me mostrar?
— Se vista e venha comigo!
Subimos juntos as escadas e eu paro incerta em frente ao quarto do
Enzo.
— Tudo de mais valioso no mundo para mim está aqui. Se não estiver
preparado para encarar de frente e me perdoar, prefiro que vá embora. — digo
sem fôlego e temerosa.
— Angel! Eu não vou embora. Seja o que for, estou preparado.
Abro a porta devagar e puxo Marco pela mão até o berço. Paramos lado
a lado e espero ele entender a minha dica.
— Você teve um filho? — Toca na perninha do Enzo.
— Nosso filho.
— Angel! Olhe para mim!
Levanto meus olhos, pronta para uma briga se ele for me julgar por ter o
escondido isso dele, e mais uma vez sou surpreendida quando o vejo chorar.
— Você teve o nosso bebê? — Sorri.
— Sim. — Devolvo o sorriso. — Ele se chama Enzo. Eu jamais tiraria o
meu pequeno milagre.
— Querida! Tem noção do quanto está me dando nesse momento? Eu
perdi tudo que tinha e nesse instante estou recuperando tudo que precisava.
— Não está bravo?
— Por você ter protegido o nosso filho? Jamais! Eu queria voltar no
tempo e ter feito diferente, ter acompanhado as consultas e ter visto sua barriga
crescer.
— Não vamos pensar nos “ses”. Certo?
Se iremos recomeçar, não podemos ficar relembrando o passado.
— Não vamos. Só quero que saiba que por vocês, eu faria qualquer
coisa. — Se abaixa para beijar a cabeça do Enzo. — Papai está aqui, filho, e
nunca mais irá sair de perto de vocês.
Ele fica um tempinho conversando baixinho com o nosso filho, e por
mais medo que eu tenha, acredito nele. Sei que Marco vai fazer tudo que
estiver ao seu alcance para se redimir.
Ele se levanta e me abraça. Ficamos um tempo olhando o Enzo dormir e
contemplando sua respiração suave.
Meu filho é lindo! Ainda não acredito que sou pai. Sorrio bobo
apaixonado por cada detalhe dele. Claro que Pietro me trouxe experiências
maravilhosas e meu carinho por ele não vai mudar nunca, contudo, o
sentimento pelo Enzo é diferente. Ver um pedaço meu em nele é como uma
segunda chance que a vida me dá. Eu achei que renasci quando acordei do
coma, mas estava errado de tantas maneiras que nem sei por onde começar.
Renascido estou me sentido agora, tendo a mulher da minha vida ao meu lado,
e sabendo que apesar de tudo, ela ainda me ama e teve o fruto do nosso amor.
Enzo é perfeito! Uma mistura minha e dela. Arrependimento e felicidade
tomam conta de mim e é impossível não chorar feito uma garota ao apreciar a
vida que fizemos juntos.
— Temos que descer e terminar o serviço. — Angel toca em meu braço.
— Não podemos deixar para depois? Eu não quero sair daqui.
Ela sorri e coloca a cabeça em meu ombro.
— Enzo não vai fugir, Marco. Quando voltarmos, ele estará aqui,
provavelmente ainda dormindo.
— Eu sei. É que não quero perder mais nenhum minuto longe dele. Será
que ele irá me aceitar como seu pai? — a insegurança me bate.
— E por que não aceitaria? Enzo ainda é um bebê e você saberá lidar
com ele, afinal, você já é pai, mesmo que o menino da Ashley não seja seu.
Pietro me vem na cabeça. Não pude trazê-lo, já que regras são regras.
Ele é uma criança da máfia e não pertence nem a mim, nem à Ashley.
Angel fez bem em esconder Enzo. Ela o protegeu não só de mim, como
de todos os inimigos. Uma vez nascido aqui dentro, não sai. Logo serei
procurado e terei minha cabeça colocada a prêmio.
— Sabe como são as coisas na organização. Não pude tirá-lo de lá sem
causar uma guerra. Para piorar, ele não é meu filho legítimo, e sim de Romeo,
outro filho bastardo de Luigi. O que complica ainda mais a situação.
— Sinto muito por saber disso!
— Pietro está seguro. Disso eu tenho certeza. — Vincent jamais o
puniria por minha causa. — Sei que já pedi, mas tenho que dizer de novo: me
perdoe por eu ter sido tão cego! Me conte como foi sua gravidez! Quero poder
saber sua experiência.
— Eu registrei tudo em fotos e vídeos. Alejandro filmou o parto. Você
poderá ver depois. Vamos!
Mesmo não querendo sair do quarto, a acompanho.
— Vejo que se entenderam. — um homem jovem sorridente vem na
nossa direção.
— Tio, esse é o Marco, como sabe. Marco, esse é o meu tio Alejandro.
— É um prazer conhecê-lo! Quero agradecer por ter cuidado dela e do
meu filho. Eu te devo a minha vida.
— Que bom que aceitou ele de volta, Angel, ou eu iria pegá-lo para
mim.
Franzo a testa, sem entender. Angel cai na gargalhada me olhando.
— Tio Alejandro é gay.
— Ah! — Me calo sem saber o que dizer.
— Calma, bonitão! Não vou atacá-lo. Já entendi que você é másculo, e
analisando os gritos que ouvi da minha sobrinha, é um verdadeiro animal.
— Alejandro! Dá um tempo! — Angel ralha com ele.
— Vocês não foram exatamente silenciosos. Que culpa eu tenho de ter
ficado com um imenso calor?
— Toma um banho gelado que passa! — minha menina rebate.
— Cruella de vil! — ele resmunga.
— Vamos logo! Tenho uma galinha para depenar e vocês dois estão me
atrapalhando. — Angel adverte.
— Uhuuu! Finalmente ação nessa casa. Me deixa dá uns tapas naquela
piranha? Quero me sentir útil. — Alejandro se anima.
Fico observando paralisado os dois descendo e discutindo os tipos de
tortura que devem aplicar na Ashley, como se discutissem os pratos que irão
servir no almoço. Confesso que essa não é uma cena rotineira para mim, já que
estou acostumado com nós homens fazendo todo o serviço pesado na máfia.
Aqui, pelo que vejo, as coisas são diferentes.
— Você não vem? — Angel pergunta quando percebe que eu não estou
seguindo eles.
— Sim. Eu só estava tentando entender tudo isso.
Alejandro ri.
— Querido! Se acostume! As meninas por aqui são quem comandam.
Aaaah! Um aviso. — Ele para na minha frente, sério, e toda a brincadeira
acaba. — Jamais tente machucá-la de novo, ou eu mesmo matarei você! Não
pense que porque sou homossexual, não sei manusear uma arma e esconder
um corpo! Carreguei o cartel nas costas por muito tempo e não vou deixar que
você brinque conosco.
— Entendido.
Lhe respeito ainda mais agora.
— Ótimo! Bem-vindo à família! — O sorriso volta no seu rosto.
Olho para a Angel, que apenas nos observa, séria.
— Vocês já terminaram? Ou ficaremos o dia todo aqui medindo qual pau
é maior? — ela questiona.
— Com toda a certeza o dele, né, docinho?
— Você não tem jeito, tio.
Saímos da casa e vamos para um barracão não muito distante. Snake está
amarrado em correntes e Ashley está na cadeira, não muito diferente.
— Que maravilha! Reunião de atuais e ex? — Ashley zomba.
— Se eu fosse você, ficaria caladinha. O negócio aqui não está para
Stand Up. Não para você, é claro. — Alejandro retruca.
— Parece não ter valido a pena suas armações, não é, Ashley? — Angel
zomba.
— Cale a boca, sua vadia! Eu o tive primeiro. Você só está ficando com
os meus restos.
Angel gargalha.
— Vamos ver! Eu morei com o Marco, tive um filho legítimo dele e foi
por mim que ele abriu mão de ser o executor. Acho que nem preciso te dizer o
quanto você foi insignificante na vida dele.
— Você saiu da Camorra?! Está louco?! Será um homem morto! —
Ashley grita na minha direção.
— Isso não é da sua conta! — rebato.
— Seu estúpido! — cospe suas ofensas e recebe da Angel um soco no
rosto, que a derruba com a cadeira e tudo.
— A única estúpida aqui foi você, que armou para mim e achou que eu
ia deixar por isso mesmo, como sua amiga Lorena. Mas isso acaba hoje para
vocês dois. Solte ela, Camillo! Quero ver o quanto essa daí é mulher para me
encarar de frente sem a proteção da Camorra.
Eu apenas me afasto para assistir o acerto de contas que eu mesmo quis
várias vezes cumprir.
— Acha que tenho medo de você? — Ashley provoca.
— Deveria. Você não sabe quantas vezes sonhei em te ter em minhas
mãos. — Angel parte para cima dela.
Ao contrário do esperado em uma briga feminina, onde têm tapas e
puxões de cabelos, minha menina acerta um chute no peito da Ashley, a
derrubando no chão, e depois senta por cima dela, lhe desferindo vários socos
na cara e a deixando sem nenhuma chance de revidar.
Angel se levanta enquanto Ahley tenta voltar ficar de pé, mas sua
tentava patética é falha quando minha menina lhe dá outro chute, agora na
barriga, a fazendo cair de cara no chão.
— Isso é por ter armado para mim! — Chuta no rosto. — Isso foi por ter
me feito passar por toda aquela humilhação na festa! — Chuta na costela. — E
por fim, eu poderia deixar todos os meus homens brincarem com você por ter
ousado me entregar de volta ao Snake, porém, eles estão acostumados com
mulheres refinadas, não com uma puta de quinta categoria!
— Tipo você? — Ashley provoca e tosse sangue no chão.
— Não, querida. Eu estou em outro patamar, um do qual nem você, nem
Lorena, nunca vão alcançar. Me dê sua arma, Camillo! — Angel pede e eu fico
curioso para saber se ela vai realmente saber usar.
Pelo menos quando estava comigo, não cheguei ensiná-la a manusear
uma, apenas lhe guiei no combate corpo a corpo.
— Marco! Por favor! Não deixe que ela me mate! Podemos ser felizes
juntos...
A frase da Ashley é cortada por Angel, que dispara vários tiros nela, sem
sequer vacilar.
— Isso foi sexy. — digo admirado.
— Drogaaaa! Por que eu não trouxe pipoca? — Alejandro lamenta.
— Você não ia ajudar? — o questiono.
— E quebrar minhas unhas que fiz ontem? Acho que não. — nos faz rir.
— Mas isso até que foi rápido, docinho.
— Eu poderia fazê-la pagar lentamente pelo que me fez, só que não
valeria a pena. O castigo maior foi ela saber que perdeu tudo que tentou tirar
de mim e ainda morrer sabendo que Marco não levantou um dedo para
defendê-la.
— Cruel! Ainda bem que somos parentes. Detestaria ser seu inimigo.
— Vou deixar você com esse filho da puta. Ele não irá durar muito. Já
fizemos duas transfusões de sangue para mantê-lo vivo. Preciso tomar um
banho e tirar o sangue dessa vagabunda de mim.
— Não irei demorar. — respondo aliviado por finalmente esse ser o fim
de toda a minha tortura.
— Que assim seja! — Ela sai com Alejandro.
— Agora é entre mim e você. — Tiro minha jaqueta, coloco meu soco
inglês na mão e o acerto no estômago, fazendo ele se engasgar.
Depois de descontar todas as minhas frustrações no principal causador e
vê-lo morrer sufocado no próprio sangue, me dou por satisfeito. Um novo
ciclo acaba de se abrir para mim e nesse momento tudo que mais desejo é
desfrutar dele o máximo que eu puder. Sinto muito que Vincent não pôde me
entender e ficar ao meu lado. Entretanto, não me arrependo. Se eu morrer
futuramente por essa escolha, morrerei sabendo que dessa vez eu fiz a escolha
certa e pelas pessoas que importam.
ALGUNS MESES DEPOIS

Pego a caixinha que comprei há dois anos e a coloco no bolso. Guardei-a


comigo por todo esse tempo e tinha certeza que um dia iria entregá-la à sua
dona. Pelo menos pensava positivo para não pirar na época. Fico feliz que eu
estava certo.
Escuto Enzo chorar e corro para o seu quarto. A babá está trocando sua
roupa e ele se mexe querendo sair de suas mãos.
— Não está apertada? Ele não parece gostar dessa roupa. — comento.
— Na verdade, esse rapazinho não gosta de se vestir.
— Deixe que eu troco ele! — Pego meu pequeno no colo, que muito
sapeca sorri feliz por ter escapado do seu momento de tortura. — Não quer ir
passear?
— Passear. — repete.
— Para passear precisa vestir a roupa.
— Não queio!
— Quer sim. E não pode ficar fazendo birra. Menino bonzinho obedece
para ganhar algodão doce.
— Gudão doceee!
— É algodão, filho. — o corrijo. — E só vai ganhar se vestir a roupa que
a mamãe escolheu.
Ele aponta para a cama e balança as perninhas gordinhas para descer.
Por agora o convenci.
— Desse jeito você vai deixá-lo mal-acostumado. — Angel fala.
Ela pega as roupas para vesti-lo, e como sempre, Enzo vai correndo para
a mãe, levantando os braços, e é vestido rapidinho sem reclamar.
— Eu queria saber que truque você usa para ele fazer o que você quer
sem reclamar. — digo enquanto os admiro.
— Toda mãe tem seus truques. Qualquer dia te ensino. — Pisca e ri da
minha cara.
— Prontos para o desfile? — eu pergunto e Enzo bate palmas, animado.
— Eu acho que isso é um “sim”.
Hoje vamos fazer um passeio em família e o dia coincide com um dos
eventos mais famosos do México. Como de costume, durante esse período,
iremos ver a mágica — como a Angel gosta de dizer — ao acompanhar as
celebrações do Día de los Muertos, que acontece entre o final de outubro e o
início de novembro. Eles acreditam que nessa época seus entes queridos que
partiram têm permissão para vir ao mundo dos vivos visitá-los. Levam tão a
sério essa crença que fazem uma enorme festa. De um jeito estranho e
diferente, celebra-se nesse dia a vida e a morte, tudo junto.
Não que eu tenha interesse em ver ou sentir a presença de alguma
assombração. Eu mandei os mortos para o outro lado com um único objetivo e
somente com a passagem de ida. Espero que continuem por lá.
Entretanto, se é isso que minha mulher deseja, estou pronto para realizar.
Irei aproveitar e fazer esse dia ser especial para ela. Eu sei que não é uma
época romântica, mas se Angel acredita ser uma data alegre, por que não
colaborar?
Alejandro me ajudou a planejar tudo com seus toques de purpurina.
Agora é só esperar o momento certo para surpreendê-la.
(...)

Andamos entre a multidão que canta e dança feliz. Angel para várias
vezes mostrando tudo ao Enzo, que olha com curiosidade.
— Olha, filho! Fogos! — Mostra as luzes brilhantes e coloridas no céu.
É agora. Paro e espero o momento que ela irá perceber tudo. Em meios
às explosões, várias bexigas são soltas, e em um timing perfeito, elas voam no
ar com o nome da Angel a frase que me tem ansioso e suando frio.
“Angel, casa comigo?”
Desço ao chão, ficando de joelhos, e abro a caixinha, esperando ela se
virar.
— Marco? Isso é seu? — pergunta com a voz esperançosa.
— Eu acho que só tem um anjo por aqui, principessa.
Ela me olha no chão e dá um grito, pulando com Enzo, que gargalha sem
entender o que se passa.
— Oh, Marco! Você tinha que ser tão perfeito?
— Para ficar mais perfeito, precisa responder, querida.
— É claro que aceito, seu bobo. — Sorri em meios às lágrimas.
— Espero que esse choro seja de felicidade.
— É claro que é. Estou tão feliz que estou explodindo pelos olhos.
Coloco o anel de pedra azul turquesa com corte princesa em seu dedo e a
beijo ouvindo as palmas a nossa volta.
— Se não for para causar, nem caso.
Rio de sua felicidade contagiante.
— Que bom que gostou.
— Foi muito minha cara esse pedido. Obrigada!
— Queria ganhar todos os créditos sozinho, mas deve agradecer ao
Alejandro também. A ideia dessa grandiosidade foi dele. Eu sou péssimo em
surpresas.
— Te amo, ursinho!
— Te amo, minha raposinha! — repito a frase que tenho falado muito
ultimamente em nossos momentos íntimos.
— Para sempre, não é, mi amor?
Ela beija a bochecha gordinha de Enzo, que está mais interessado em
apontar para o céu e mostrar os balões.
Namoro o anel em meu dedo e não me canso de olhá-lo. Tudo parece um
sonho. Às vezes me pego com medo de que tudo vire de cabeça para baixo de
novo. Marco todos os dias tem feito juras de amor, me tratado com carinho e
me dado muitos mimos. Sejam estes um jantar romântico feito por ele ou
alguma joia que viu e disse que se lembrou de mim.
Todavia, às vezes vejo em seus olhos uma pontada de tristeza, que é
rápida e ele disfarça bem. Sentei com ele e lhe perguntei se sentia falta da
Camorra e se queria minha ajuda para voltar, mas o mesmo me disse está feliz
aqui e que seu tempo por lá acabou. Sei que a forma que saiu, o causou
mágoas. Ele me contou toda sua história e me revelou ser irmão do Vincent.
Fiquei muito revoltada em saber que mesmo depois de tantos sacrifícios,
Marco foi tratado dessa forma por aquele capo metido a rei.
Minha vontade é de chamar Andrey de volta e mandá-lo pipocar a cara
do desgraçado, mas pelo meu homem, eu vou deixar para lá esse assunto. Só
que desde então tenho pensando em uma forma de resolver o problema entre
ele e Vincent. Marco tem me feito tão feliz que desejo vê-lo da mesma forma,
e se para isso acontecer, eu tenha que ir lá e enfrentar pessoalmente o chefe, eu
irei. Vou dizer umas boas verdades na cara daquele imbecil até que a razão lhe
volte, e claro, oferecê-lo uma proposta irrecusável que trará muitos benefícios
à Camorra. Não quero pensar que a culpada pela separação deles seja eu, então
pelo menos tentarei alguma coisa.
Não vou contar nada para Marco. Não quero lhe dar esperança para
talvez depois arrancá-la dele. Até mesmo porque cuidadoso como está comigo
desde o dia que descobri que estou novamente grávida, não me deixaria ir. Só
falta me carregar no colo e dar comida na minha boca.
Sorrio apaixonada me lembrando de como ele me surpreendeu ontem.
Cheguei em casa e o quarto estava repleto de velas e pétalas de rosas, com
Marco nu em sua glória me esperando na cama. Como um deus grego, se
levantou e me carregou para o banheiro, onde ganhei um banho e depois uma
massagem deliciosa que meu homem chamou de kit Moretti. Ri muito quando
ele falou o nome que deu. Modéstia a parte, que kit maravilhoso! Fiquei tão
relaxada depois dele e passei o dia hoje sorrindo até para as paredes. Meu
ursinho é impossível.
Não tem nada que eu não faria pela minha família e é por esse motivo
que tomarei as devidas providências, para tê-los sempre felizes, mesmo que
isso me custe engolir um sapo e aguentar Vincent por perto.
Acordar de madrugada para viajar às escondidas e aparecer em território
inimigo não eram bem meus planos para essa semana tão especial para mim.
Porém, minha consciência pede por essa oferta de paz. Se for para ver Marco
feliz, valerá a pena.
Desço do carro e entro na boate, que se dependesse de mim, eu nunca
mais gostaria de colocar meus pés. Sebatian é o primeiro a me ver e vir ao meu
encontro.
— Angel! O que faz aqui?
— Preciso falar com seu querido chefe.
— Isso não me parece uma boa ideia.
— Deixe que eu mesma decido isso, Sebastian! — Vincent fala logo
atrás dele. — O que faz aqui?
— Podemos ter um lugar para conversar ou os italianos perderam
totalmente a compostura na hora de tratar dos seus negócios?
— Não tenho nada a tratar com você.
— Discordo. E sugiro que desça desse seu pedestal e me ouça. É do seu
interesse. Acredite: estou odiando voltar aqui depois de tudo que me fizeram.
Ele fecha a cara e mostra a porta na nossa direita.
— Cinco minutos e nada mais que isso. — exige.
— É mais do que o suficiente.
Como se eu quisesse ficar olhando sua cara por mais tempo.
Entro na sala e sento-me na cadeira, não esperando por cortesia.
— Vim oferecer uma trégua. — falo logo de uma vez.
— Trégua? — Ri debochado.
— Sim. Você sabe... Aquilo que as pessoas fazem para não viverem se
matando por pouca coisa. — devolvo o deboche.
— Vá direto ao ponto!
Lhe entrego o envelope e espero que ele leia todo o seu conteúdo.
— Não entendo. O que isso significa?
— É exatamente isso que você está vendo. Eu ajudei Andrey a acabar
com os Vitiello para proteger a Camorra. Eles estavam armando com os Mc's e
o cartel Sanches para derrubar vocês. Aliás, de nada por isso.
— Por quê? — Coloca a mão embaixo do queixo e aperta os olhos em
descrença.
— Não é óbvio? O capo daqui não é nenhuma miss simpatia para trazer
aliados por vontade própria. Fiz por Marco, é claro.
— E o que quer com isso agora? Como pode ver, ele não faz mais parte
daqui.
— Quero que você faça as pazes com ele. Nós dois o amamos e isso
aqui tem que ter um fim.
— Perdeu seu tempo. Não voltarei atrás na minha palavra. — Joga o
envelope de volta para mim.
— Não estou pedindo que você devolva o cargo dele, querido. Ele está
muito bem comigo. Quero que reconsidere o fato de tê-lo excluído do convívio
familiar. Afinal, vocês são irmãos.
— Ele te contou? — pergunta com os dentes cerrados.
— Sim. Ao contrário de você, não escondemos nada um do outro.
— Cuidado! Certas coisas mantive em segredo por um motivo e prefiro
que elas continuem lá.
— Ou é muito egoísta para reconhecer que errou e o seu posto de
poderoso chefão não quer fazê-lo baixar a cabeça.
— Você não me conhece, então não me venha dizer como devo
comandar minha vida, garota!
— Não me importo em como você comanda essa organização ou seu
casamento a base de mentiras. Me interessa parar de ver o Marco cabisbaixo
pelos cantos às vésperas do nosso casamento, sem o apoio do irmão. O homem
que lutou e deu a vida por você quando recebeu aquele tiro, foi depois
descartando como se fosse um nada.
— Ele fez as escolhas dele.
— “Escolhas” que você o obrigou a fazer. Se Marco fosse uma pessoa
ruim, teria te destruído contando tudo que sabe ao Conselho. Seria a vingança
perfeita depois do que você fez com ele. Se esquece que também é um
bastardo?
— Está me ameaçando? Dentro do meu território?
Bufo uma risada.
— Estou te mostrando o óbvio. O quão injusto foi com ele depois de tê-
lo ao seu lado em todos esses anos? Se ainda está nessa cadeira dando ordens e
fingido ser o todo poderoso, é graças ao Marco. Sem ele, você não seria nada.
— Eu poderia te matar agora por ser tão estúpida em vir aqui me
desafiar.
— Lata a vontade, Vincent! Eu não tenho medo. Se quer mais uma vez
machucar Marco, faça isso, e mostre o quão ingrato é matando a mulher que
ele ama depois dele ter protegido a sua.
Ele aperta as mãos, com raiva, e sei que atingi meu ponto.
— É melhor ir embora.
— Eu vou. Mas quero deixar bem claro duas coisas. Marco uma vez me
revelou que achou que era parecido com o Luigi por ter errado tanto em sua
vida. Ele estava enganado. O filho parecido com o Luigi é você, uma pessoa
capaz de usar seu próprio sangue para alcançar seus objetivos e depois cuspi-lo
fora quando não precisa mais dele. Você não é um capo justo e só está
repetindo os mesmos erros do seu pai.
— Chega! Nem minha esposa me desrespeita dessa forma. — grita
batendo na mesa.
— Não terminei! — grito de volta. — Está na hora de parar de ser um
garoto mimado e ver o que está fazendo com vocês dois. Semana que vem irei
me casar com SEU Irmão. É melhor tirar a cabeça do seu rabo e aceitar essa
proposta, que é bem mais do que você merece depois do que nos fez. É bom
aparecer! Se não for na cerimônia, irei fazer tudo que estiver ao meu alcance
para que o Marco apague seu tempo aqui da memória e nossos filhos nunca
irão saber sobre o tio desprezível que têm. E o único culpado será somente
você.
O deixo lá cuspindo seu veneno em minha direção e saio de alma lavada.
Falei tudo que tinha para dizer. Fiz minha parte. Agora é com ele.
Angel está na sacada há horas, pensativa, e eu me preocupo que ela
esteja arrependida de ter aceitado meu pedido. A abraço por trás e dou um
beijo em seu pescoço.
— Não desceu para jantar e sumiu o dia inteiro. Aconteceu algo?
— Não. Só estou cansada com todos esses preparativos.
— Não deveria exigir tanto de si, meu amor. Ainda mais nesse estado.
— Coloco minha mão em sua barriga pequenina que leva nosso segundo filho.
— Estamos bem. Quero que tudo saia perfeito, do jeito que imaginei.
— Me deixe ajudar mais! Quero fazer parte de cada detalhe.
— Achei que vocês homens odiassem essa parte.
— Eu odeio vê-la exausta e acordando de madrugada para dar conta de
tudo.
— Me desculpe! Prometo que na minha próxima saída vou te levar
comigo. Só não pode reclamar.
— Prometo dar o meu melhor. Principalmente se tiver comida
envolvida. — eu digo e ela ri. — Agora vá deitar um pouco! Pretendo fazer
uma massagem em você.
— Qual delas?
— O kit Moretti, meu anjo, com direito a meu pau fazendo uma
deliciosa massagem no seu interior para te deixar bem relaxada.
Ela gargalha me fazendo rir junto.
— Às vezes acho que esse kit é mais para você, seu aproveitador.
— Quê isso? Olha como já melhorou seu humor. Essa é a minha
especialidade.
— Me dá vários orgasmos até eu desmaiar?
— Não. Vou te amar e cuidar de você.
— Humm! Que fofo! Sou toda sua.
A carrego para a cama, onde reafirmo mais uma vez, não só em palavras,
como também com meu corpo, o quanto sou grato por tê-la em minha vida. A
amo como merece: devagarinho e com suavidade, deixando minha marca em
seu corpo e em seu coração, como ela deixou no meu.
Nela, eu encontrei a minha redenção e não poderia estar mais feliz. Um
filho lindo e outro a caminho é muito mais do que eu mereço. Grazie a Dio
por ele me dar a chance de cuidar da minha família que tanto desejei.
Desço para treinar e jogar um pouco dessa ansiedade para fora. Estou
nervoso para caralho, temendo me embolar na hora da cerimônia e não
conseguir pronunciar minhas falas. Angel disse para eu escrever minha parte e
ensaiar, que conseguirei decorar. Mas não quero nada robótico, pois desejo
dizer o que sinto na hora, no calor da emoção. E devido à minha teimosia,
agora estou ansioso com a hora que nunca parece chegar.
Soco o saco de areia até não aguentar mais, e somente quando me sinto
esgotado, é que paro para buscar fôlego.
— Nem casou e já está frustrado?
Reteso ao ouvir a voz do Vincent atrás de mim.
— Deixa eu adivinhar: veio me matar pessoalmente? — questiono sem
me virar.
— Estou tão sem moral assim com você, que pensa que eu viria no dia
do seu casamento para matá-lo?
— Não me surpreenderia, afinal, sou um desertor.
Ele se senta ao meu lado e eu continuo de cabeça baixa, não querendo
encará-lo e ver a verdade em seus olhos.
— Eu falhei contigo de tantas formas que nem sei por onde começar. —
ele inicia.
— Pelo começo está ótimo. — o faço rir.
— Nós crescemos juntos, apanhamos juntos, fomos castigados e
humilhados pela nossa ligação fraternal, e em todas as vezes repetíamos tudo
de novo, mesmo sabendo o resultado. Você esteve lá por mim em todos os
momentos da minha vida e ficou do meu lado quando mais ninguém quis.
Acreditou em mim e lutou com unhas e dentes para me pôr onde estou.
— Vincent? — começo a falar, contudo, sou cortado por ele.
— Me deixe terminar! Eu preciso fazer isso. — Meneio a cabeça,
concordando. — Fui egoísta e falei o que não deveria à única pessoa que
escolheu morrer por mim. O mais engraçado é que precisei que uma mulher
marrenta, sem noção nenhuma dos perigos que correu, fosse até mim para me
jogar as verdades na cara.
Levanto a cabeça na mesma hora e o encaro.
— Angel foi até você? Quando?
— Há poucos dias. Foi pessoalmente me dar um ultimato e mais uma
vez provou ser a pessoa certa para você. Eu entendo o porquê abandonou tudo
por ela, cara. Angel te ama e é muito leal a você. Eu a admiro pela coragem.
— Eu não pretendo voltar para a Camorra. Achei outro propósito para a
minha vida.
— Eu sei.
— E vai me deixar viver mesmo assim?
— Não vai ouvir muito de mim essas palavras, Marco, e provavelmente
será a primeira e a última vez. Peço que me desculpe por tudo que eu te disse,
e principalmente pelas minhas atitudes. Eu estava errado e sabia disso no exato
momento que você saiu por aquela porta. Quero que saiba que estou muito
orgulhoso de você.
Viro o rosto para que ele não veja o quanto estou tocado com suas
palavras.
— Só desculpo depois que você lutar comigo e me deixar descontar
todas as porradas que você andou me dando.
Ele ri, se levanta e tira a parte de cima do seu terno.
— Por mim tudo bem.
— Não vou pegar leve.
— Isso é bom, porque eu também não.
Entramos num ringue improvisado que fiz para treinar e começamos a
nos preparar.
Lutamos como nos velhos tempos em que Henrique nos treinava.
Vincent me acerta alguns golpes e eu não fico atrás. Coloco para fora tudo que
guardei calado durante todos esses anos.
Paramos no momento que ouvimos o grito da Angel atrás de nós.
— Seu filho da puta! Eu disse que era para comparecer e fazer as pazes,
não bater nele!
— Tudo bem, amor. É a nossa forma de deixar tudo no passado. — tento
acalmá-la.
— Tudo bem uma ova! Olhe para você! Todo deformado. Como vou
casar com a cópia mal feita do Frankenstein?
Franzo a testa para o seu ataque. A gravidez tem a deixado bastante
sensível. Vincent ri baixinho logo atrás.
— Quê isso, mulher? A parte mais importante está inteira para a lua de
mel. — tento brincar para distraí-la.
— Marco, você não me irrite! Ou eu cortarei seu kit Moretti e te farei
engoli-lo a seco. Se queria apanhar, era só ter me pedido.
Coloco as mãos no meu pau, o segurando por precaução. Do jeito que
ela está, não duvido de nada.
— Querida, estou bem. Vai dar tudo certo. Eu prometo. — A puxo para
mim e a abraço.
— Mas o que aconteceu aqui? — Lorena chega para completar a
paródia. Que Angel não me ouça.
— O desgraçado do seu falecido marido resolveu brincar de porrada
com o rosto do meu.
— Como assim falecido? — Lorena pergunta na ingenuidade.
— Não está óbvio que irei matá-lo? — Angel tenta se soltar dos meus
braços, fazendo Vincent agora gargalhar.
Lorena nos observa e volta a olhar para a Angel. Ela está tão acostumada
a ver Vincent assim, que nem estranha mais.
— Angel, não é querendo colocar lenha na fogueira, mas Vincent está
pelo menos umas três vezes pior que Marco.
Angel para de se debater e olha para trás para conferir, e quando vê que
entre mim e ele, eu estou praticamente intacto, ela sorri feliz.
— O olho roxo combina bem com você, vossa alteza. — ela provoca o
Vincent.
— Ainda bem que iremos morar longe uns dos outros. — ele devolve a
provocação, cruzando os braços.
— Tenho pena de você. Perderá toda a animação sem a minha ilustre
presença, principalmente em suas festas entediantes.
— Bom. Chega de elogios! Precisamos te arrumar, Angel. Agora que
conferiu que Marco está bem, podemos voltar. — Lorena sai a puxando por
um braço.
— Me deve muitos kits depois de hoje, Marco. — grita de longe.
— Pagarei com o maior prazer, querida. — Sopro um beijo quando ela
olha para trás e em seguida some das nossas vistas, mas não antes de olhar
para Vincent e fazer um sinal de que está de olho nele, nos fazendo rir de novo.
— Acho que agora é a hora. — falo mais tranquilo.
— Está pronto?
— Como nunca estive antes.
— Seja feliz, irmão! Você merece. — Ele bate em minhas costas.
— Sem ressentimentos? — pergunto para conferir em qual posição
estamos.
— Sem ressentimentos. Tem a minha palavra.
— Como está o Pietro?
— Por que não pergunta diretamente a ele? Eu o trouxe, e se for querer
realmente ficar com ele, eu o deixarei ficar.
— E o que falará ao Conselho?
— Que eu aceitei a proposta feita pela chefe do cartel e você se casou
com ela para firmamos uma aliança.
— Acha que irão engolir essa história? — pergunto pensativo.
— Sim. Com a prova de que os Vitiello estavam por trás de armações
contra nós, não deixará dúvidas sobre a minha decisão de tomar nossos
próprios caminhos para não perder nossos negócios aqui.
— Foquei tanto nos Mc's, que não desconfiei dos Vitiello. Achei que o
casamento de Henrique com a filha do Lucca, os manteriam do nosso lado. —
falo ainda abismado com tamanha ganância.
— Eles nunca me enganaram. Você sabe o quanto fui contra isso na
época. Por minha conta aquela aliança nunca teria sido feita.
— Que bom que a Angel descobriu. — digo orgulhoso da inteligência da
minha mulher.
— Tenho que admitir que gosto da astúcia dela, mas vou morrer
negando se você contá-la.
Sorrio feliz porque novamente tenho meu irmão.
— Henrique não veio?
— Preferiu ficar, para não levantar nenhuma suspeita. Quero te
agradecer, pois mesmo depois de tudo, ainda assim me cobriu.
— Eu iria levar essa história para o túmulo.
— Quanto a isso, já tomei as devidas providências. Como forma de
retratação com você e sua mãe, eu e Henrique te reconhecemos como filho
legítimo do Luigi.
— Não precisava. — falo emocionado.
— Precisava sim. Se eu fui assumido pelo meu pai, o Matteo, você
também merecia isso. O futuro dos nossos filhos agradecem.
— Não consigo nem achar palavras o suficiente para lhe agradecer.
Agora não sou mais um bastardo, e sim Marco Moretti Lourenço.
— Quero que saiba que a não ser eu e Henrique, ninguém soube da sua
saída, Marco. Para todos, você estava ausente em uma missão.
— Isso explica muita coisa. — Eu já desconfiava disso.
— Nunca deixaria que tocassem em você, irmão. Nem que para isso eu
forjasse sua morte. Jamais iria colocar para caçá-lo, os homens que você
treinou.
— Obrigado!
— Eu te devia isso. Considere um presente de casamento. Agora vamos
entrar! Não quero ouvir mais gritos de sua mulher louca. Ela às vezes me deixa
assustado com sua intensidade.
Rio da cara que ele faz e subo para me vestir para o dia mais feliz da
minha vida.
A tenda montada no meio do gramado verde do nosso quintal é a coisa
mais linda que eu já vi. A cada passo tenho a sensação de estar nas nuvens,
pela maciez do tapete vermelho em meio aos véus brancos com flores
vermelhas sangue para combinar com o meu vestido. Na nossa cultura,
podemos escolhê-lo colorido, em vez do branco tradicional. E como eu queria
seguir à risca, escolhi um de cores vivas, de estilo flamenco e com babados na
bainha. Além disso, pedi que Marco utilizasse uma guayabera (camisa de
mangas curtas, que é perfeita para as temperaturas tropicais, e que também é
um símbolo de elegância masculina).
O dia está perfeito. O que torna tudo ainda mais especial. Alejandro me
leva todo emocionado para o homem da minha vida. Meus olhos não se
despregam dele.
Enquanto passamos pelas pessoas, olho rapidamente para a multidão e
vejo Juan acompanhando de sua amada. Que bom que aceitou meu convite.
Dispensá-lo não foi fácil, porém, foi a coisa mais digna que eu pude fazer por
ele. Tempos depois o reencontrei em um evento e o mesmo me agradeceu por
eu ter sido sincera e me apresentou a moça, que segundo o próprio, é o amor
da sua vida. Fiquei muito feliz por ele ter se encontrado e me entendido.
Odiaria tê-lo como inimigo. Quem não gostou nadinha foi o Marco, que
rosnou o evento todo por ter me visto falando com o meu ex.
Volto meus olhos para Marco, que sorri para mim. Alejandro me entrega
a ele quando chegamos ao palco improvisado.
— Cuide dessa joia preciosa, rapaz! — meu tio pede e lança o seu
melhor olhar ameaçador.
— Com todo o meu amor. — Marco garante e leva minhas mãos aos
seus lábios para beijá-las.
Nos viramos de frente para o padre, que dá início à cerimônia.
Quando chega a parte dos nossos votos, Marco pega 13 moedas de ouro
e me entrega, como uma promessa de fidelidade, confiança e garantia de que
nada me faltará. Esse é mais um dos nossos tradicionais rituais mexicanos. O
número treze é muito importante, pois faz uma referência a Cristo e seus dozes
apóstolos.
Após o padre nos envolver com um rosário na forma de um oito,
simbolizando que a nossa união será eterna, é que trocamos as alianças e
falamos os nossos votos.
Enzo entra carregando uma almofada com uma das alianças e Pietro
entra com a outra. Quando o vi aqui, fiquei muito feliz. Adorei saber que
ganhei mais um filho. Vincent me surpreendeu com essa atitude. Vamos dizer
que numa escala de zero a dez, eu o odeie em um nível oito agora. No que
depender de mim, serei uma mãe maravilhosa para Pietro. O menino merece
ser feliz depois de tudo que passou e eu farei questão de que ele se sinta assim.
Marco coloca a aliança em meu dedo e começa seu voto.
— Angel! Antes de você, me sentia perdido, confiando que meu destino
era vazio porque eu não merecia nada de bom, mas tudo mudou quando te vi
pela primeira vez. Eu ainda não sabia porque senti algo diferente, porém, notei
que você não saía dos meus pensamentos. Só posso ser eternamente grato por
você me perdoar e me fazer muito feliz. Prometo ser leal a ti e à nossa família,
de corpo e alma. Eu os protegerei de tudo e de todos até o meu último suspiro,
pois você e nossos filhos são a minha vida.
Eu estou uma bagunça de lágrimas. Me recomponho para firmar o que
sinto por ele.
— Marco! Antes de você, eu também não sabia o que era viver. Você
veio para me ensinar a ser forte e driblar todos os meus medos. Com você, eu
aprendi a amar e receber amor na mesma intensidade. Por você e nossa
família, sou capaz de tudo para vê-los sempre felizes. Te prometo ser fiel, estar
contigo em todos os momentos e fazer o impossível para nos manter unidos
para o resto da minha vida. Te amo!
Coloco a aliança em seu dedo e a beijo com carinho.
O padre diz que podemos nos beijar, e ouvindo gritos e aplausos,
selamos nossa promessa.
A festa que se segue à cerimônia é composta por muita música,
conduzida por mariachis e comidas festivas e típicas da nossa região, como
tortilla, arroz picante, taco, nachos e feijões.
Jogo o buquê, que coincidentemente cai no colo de Alejandro, que grita
que o próximo é ele, nos fazendo rir do seu piseiro.
Puxo Marco para a pista e dançamos. Como de costume, os convidados
se reúnem em torno de nós, por sermos os noivos, e formam um coração.
Fazemos um arco com os braços e as mulheres começam a dançar a dança da
serpente, passando uma a uma por nós, recém-casados.
E com muita música e alegria festejamos madrugada a fora, dando início
ao nosso “para sempre”, que não foi fácil conquistar, sobretudo, foi essencial
para nos trazer aqui com a certeza de que merecemos ser felizes.
14 ANOS DEPOIS

Olho Enzo encostado na árvore, seguindo cada passo que Gianna dá.
Quando ele completou treze anos pediu para que eu o liberasse para ser
treinado por Vincent. Não foi surpresa tempos depois ele oficializar seus
juramentos à famiglia e entrar de vez na Camorra. De início achei que era
porque tinha se encantado com a história da nossa família e queria seguir meus
passos como executor, mas depois ficou óbvio o seu fascínio por Gianna. Até
tentamos convencê-lo a voltar, com a desculpa de que ele precisava se preparar
para comandar futuramente o cartel com o Pietro. Contudo, nada do que
fizemos, isso incluindo os dramas da Angel, o fez desistir do que queria.
Acabamos respeitando sua decisão, afinal, criamos nossos filhos para serem
homens independentes e seguros do que querem. Optamos por aceitar sua
escolha, mesmo não concordando.
Me aproximo devagar dele, não querendo surpreendê-lo e ser taxado
como um pai careta. Mas como seu pai, preciso alertá-lo e aconselhá-lo sobre
os perigos que essa paixão o trará se ele levar isso adiante.
— Não está disfarçando muito bem. — digo.
— Disfarçando o quê? — se finge de desentendido.
Suspiro fundo e procuro as palavras certas para dizer.
— Filho! Há regras na máfia que não podem ser ultrapassadas, e uma
delas é o relacionamento entre primos. É considerado incesto. Você sendo um
dos soldados da Camorra, tem que saber disso. Seus juramentos te
acompanharão pelo resto da vida.
— Regras são feitas para serem quebradas, pai. Tio Vincent quebrou,
você quebrou e está tudo bem, não é?
— E a confusão que isso causou poderia ter custado as nossas vidas.
Além de que a Gianna tem interesses que já causarão uma terceira guerra
mundial se continuar com tais ideias implantadas na cabeça.
— Eu sei. Ela quer ser chefe e tem a infeliz fixação de lutar por isso.
— Consegue entender a extensão das batalhas que você quer travar com
a famiglia?
— Tenho, pai. Eu sei em que confusão estou me metendo.
— E está pronto para isso?
Ele olha para onde Gianna está com o filho mais velho do Gabriel e seus
olhos chegam a brilhar. Rio baixo, me vendo nele, não muito tempo atrás.
— Se eu disser que sim, ficará contra mim?
— Enzo! Olhe para mim, filho! — Ele se vira de frente para mim e me
observa cauteloso. — Eu sou seu pai e sempre estarei ao seu lado. Portanto, se
deseja tomar essa decisão, pense bem antes de agir! Seja qual for sua escolha,
conte com o meu apoio. Só tome muito cuidado com cada passo que der,
porque eu não quero perder nenhum filho.
— Obrigado! Ter você ao meu lado é muito importante para mim.
— Vocês são importantes para mim, Enzo. Nunca se esqueça disso! — E
que Deus nos ajude no futuro.
Nicholas, meu filho mais novo, grita Enzo e ele sai para atendê-lo.
Observo meus meninos reunidos e meu peito se enche de orgulho. Nunca
fizemos diferença entre os três. Pietro chama a Angel de mãe e é o mais
agarrado à família. Estou o preparando para mais na frente comandar o cartel
com o Nicholas.
— Os nossos bebês cresceram tão rápido. — Angel me abraça. —
Queria ter tido mais filhos. Estou me sentido carente de bebês.
Rio e a puxo para os meus braços.
Por nossa conta teríamos tido mais, porém Angel teve uma complicação
no parto do Nicholas e não pode mais engravidar. O que a deixou arrasada por
um tempo.
Abro a boca para pedir que ela fique tranquila, pois logo teremos netos
para mimar, entretanto, me calo percebendo que quase assinei meu atestado de
óbito. Deus me livre se ela achar que eu estou a chamando de velha!
— Marco! Se você tiver pensando nos netos, eu juro que vou te matar e
enterrar no fundo da floresta dessa casa! Estou muito nova para ser avó.
— Isso nem passou pela minha cabeça, querida. Estava pensando na
possibilidade de nós adotarmos uma menina. O que acha?
Escorrego mais rápido que sabonete na enxurrada.
— Me engana que eu gosto! — Gargalha. — Eu nem sei se conseguiria
ser uma boa mãe para ela. Estou tão acostumada a cuidar de meninos, que
acho que provavelmente não saberia lidar com uma menina.
— Você seria maravilhosa, amor. É só olhar para os nossos filhos.
— É. Talvez você tenha razão. Vamos pensar com mais calma nisso
depois.
— Vamos sim. — A beijo com carinho.
Eu amo a minha família e não me arrependo das decisões que tomei por
eles. Faria tudo de novo se tivesse a chance de voltar ao passado. Quem diria
que um homem quebrado e incapaz de amar alguém encontraria em suas
missões a mulher da sua vida? Angel veio para me completar e me ensinar que
não só podemos mudar nosso destino, como podemos trilhar novos caminhos e
ser feliz no final dele se tivermos forças de vontade e lutar pelo que
acreditamos. Eu errei sim, e com meus erros sofri e aprendi a ser melhor do
que antes, por mim, por ela e pela nossa família.
Fim!
NOS BRAÇOS DO MAFIOSO
RENDIDA AO MAFIOSO
HERDEIROS DA MÁFIA

———

NOS BRAÇOS DO MAFIOSO (1)


Link: https://amz.onl/2Ak2DVs
Lorena Ávila é brasileira e aos quatorze anos foi raptada e vendida aos
Lourenço através do tráfico humano. Obrigada a trabalhar para uma família de
mafiosos que são sem escrúpulos, capazes de tudo por dinheiro e poder, ela se
vê em meio a uma guerra da qual não pediu para entrar. Seu maior erro foi se
apaixonar por quem deveria odiar. Ela é doce, de personalidade forte e almeja
a liberdade.
Vincent Lourenço é conhecido por ser uma máquina de matar. Desde
cedo aprendeu que na vida em que nasceu, era ele ou os outros. Ele sente
prazer no que faz. Não tem compaixão e pela famiglia é capaz de fazer
qualquer coisa, inclusive armar e se aliar aos seus próprios inimigos para tirar
do poder todos aqueles que ele acredita prejudicar a Camorra e o legado
deixado pelo seu pai. O sujeito é frio, calculista e almeja vingança.
É possível nascer amor em meio a tanto ódio, armações e guerra?
HERDEIROS DA MÁFIA (3)
Em breve na Amazon

Gianna Lourenço

Eu nasci na máfia e desde pequena ouço que nós mulheres devemos ser
a base da casa. Minha mãe sempre foi mais liberal e nunca colocou pressão
sobre as minhas costas por isso e meu pai sempre me amou do jeito que eu
sou. Mas isso não me impediu de ser pressionada para ser uma moça recatada
e exemplar por ser a filha do capo. Todos sempre esperam de mim, nada
menos do que a perfeição. Eu tentei, e juro que tentei, suprir todas as
expectativas da famiglia, contudo, ser submissa não está no meu sangue. Eu
quero mais. Desejo poder, controle e escolha. Almejo ser mais que uma esposa
troféu com um útero feito de incubadora para conceber as próximas gerações.
Então, mesmo contra a vontade do meu pai, treinei, lutei, aprendi a usar
armas e fui fundo no submundo. Eu sou a rainha do meu reino e dona de mim.
Não preciso de um príncipe encantado e muito menos de um protetor, porque
eu sou a porta de entrada para qualquer lugar que eu queira ir. No meu mundo,
eu mando e todos me temem, mas não pelo peso do meu nome, e sim porque
eu conquistei o respeito deles.
Tudo ia perfeito e meu plano de ser reconhecida como a chefe estava a
todo o vapor. Até ele...
Até Enzo Moretti se meter no meu caminho e querer me dominar como
se eu fosse um cavalo selvagem que precisa colocar cabresto e ser domado. A
minha desgraça começou no dia em que passamos a nos olhar com desejo,
paixão e luxúria. É um jogo perigoso que nenhum de nós temos medo de jogar
as cartas, mesmo sendo proibido e fatal. Nos jogamos nos braços um do outro
sem pensar no amanhã. E agora que esse dia chegou, preciso decidir o que é
mais importante para mim: o cargo que tanto ansiei ou o amor do único
homem que conquistou meu coração e me fez amar tão profundamente que me
afoguei em meus próprios sentimentos.
O que fazer quando o que almejamos a vida toda e o que passamos a
desejar, se tornam coisas diferentes? Qual escolha você faria se amasse tanto
uma pessoa, que sentisse que foi consumida por inteira? Você escolheria seguir
seus planos ou o seu coração?
MARCAS DO PASSADO
Link: https://amz.onl/10DfOCk

Lara Bitencourt é uma jovem de 29 anos, psicóloga infantil. Desde


muito cedo ela teve que aprender a lutar sozinha, sem poder confiar em
ninguém. Foi julgada, mal compreendida e colocada em segundo plano na vida
de todos aqueles que ela amava. Sofreu em silêncio, e para tentar superar seus
fantasmas quis recomeçar longe daqueles que a feriram e fizeram dela uma
pessoa marcada. Viu na psicologia um meio de ajudar aqueles que têm feridas
tão profundas quanto as que ela esconde.
Lucas Ferraz tem 35 anos. Ainda muito jovem perdeu os pais em um
acidente de carro, e com muita dificuldade teve que criar o irmão caçula
sozinho. Um acaso do destino o colocou no lugar errado e na hora errada, e
por esse erro foi acusado e condenado a pagar por um crime que não
cometeu.
Duas pessoas marcadas pelo destino e que veem seus mundos colidindo
e entrelaçando-se sem chances de fugir. É possível esquecer o passado e dar
uma chance ao amor?
RAZÃO E EMOÇÃO
Link: https://amz.onl/7w22Sda

Eduardo González é um advogado criminalista conhecido por ser um


tubarão nos tribunais. Não foi fácil alcançar esse reconhecimento, mas
trabalhou duro para conseguir, deixando uma extensa lista de inimigos pelo
caminho. Arrogante, bem sucedido e bonito. E acredite, ele sabe disso. Usa e
abusa da sua aparência e status para ter qualquer mulher que desejar aos seus
pés, mas se engana aquela que achar que ganhará seu coração. Só terá a
chance de tê-lo apenas por uma noite.
Até ela...
Rebeca Evans é uma assistente social, conhecida por ser umas das
coordenadoras da fundação Amélia Goulart. Teve seu coração partido no dia
do seu casamento. A traição deixou feridas profundas, feridas que a fez
prometer a si mesma nunca mais deixar ser enganada. Corajosa, independente
e linda. Não acredita em príncipes encantados. Para ela todos os homens são
iguais e só servem para a diversão.
Ele coleciona corações partidos. Ela coleciona homens pela sua cama. Uma
noite e tudo muda.
Quem vencerá essa batalha? A razão ou a emoção?
ENTRE O CÉU E O INFERNO
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Catharina Alencar é uma típica e honrada moça de igreja que foi criada
dentro de doutrinas e ensinada desde cedo que mulher servia ao marido e não
opinava em casa, muito menos fora dela. O que ele falasse era lei e ela
deveria seguir à risca ou estaria pecando contra os mandamentos divinos. Só
que ela não era feliz. Por trás da bela moça de olhos castanhos e cabelos
cacheados, tinha sofrimento, tristeza, mentiras e muita violência. Ela
aguentava tudo calada e perdoava por se achar merecedora de todo o castigo
que lhe era aplicado. Até que um dia ela conhece Gabriel Miller, seu novo
vizinho charmoso e com nome de anjo, mas que de santo não tinha nada. Ele
é um típico solteirão depravado e totalmente descompromissado, que
segundo ela, foi enviado pelo próprio Lúcifer para atentá-la e implantar
dúvidas em seu coração, das quais irão fazer a doce dona de casa se
questionar sobre tudo o que lhe foi ensinado e se despertar das mentiras e
manipulações que sofrera, desejando ser livre da prisão que se encontra.
Ela terá que escolher entre viver a vida fantasiosa que criaram para ela
ou seguir novos caminhos onde descobrirá os prazeres pecaminosos do corpo
e encontrará a libertação de sua mente.
O que fazer quando o que dizem ser pecado, se torna aquilo que te
salva?
Meu nome é Sarah Mercury, tenho 27 anos, sou formada em
Administração, casada há 10 anos e mãe de três filhos que são minhas razões
de viver e lutar por um mundo melhor. Leitora compulsiva, descobri a leitura
aos sete anos de idade, tornando meu hobby favorito, e desde então, nunca
mais parei.
Na adolescência, eu adorava fazer poemas e criar histórias pequenas,
chegando até a fazer parte de um grupo de teatro na escola, onde apresentei
uma dos meus contos.
Sempre sonhei em escrever um livro, mas nunca tive a coragem de tirá-
lo do papel. “Marcas do passado” foi minha primeira obra, a qual abriu
caminho para as outras. Todas são feitas com muito amor, carinho e dedicação.

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