RENDIDA AO MAFIOSO
(...)
(...)
Subo a colina com o farol baixo para não chamar a atenção e paro a uma
distância segura do suposto lugar em que eles estão. Não me surpreende
quando percebo que voltaram para o primeiro local de origem. A mensagem é
clara: estão querendo de volta o que perderam. Devo admitir que Snake é
corajoso, mas muito idiota também. Pode se achar esperto, só que não conta
com uma coisa: no forno que ele forja sua balas, eu não só comprei, como
também me tornei o especialista. Ninguém me provoca ou me desafia e fica
por isso mesmo.
Com base na vida que tive e na maneira que fui criado desde muito
jovem, aprendi que eu não seria merecedor de nada se não provasse que
realmente mereço, pois nada vem de graça. Nunca senti que minha vida
valesse algo para alguém, então assim decidi que meu único objetivo enquanto
eu respirar, será caçar, torturar e matar em nome da máfia. Se eu morrer em
batalha, tudo terá valido a pena e eu terei vivido tempo o suficiente no meio
dessa merda. Pela famiglia, eu menti, roubei, extorqui e trafiquei, e tudo isso
não foi o suficiente para me fazer parar ou ficar de consciência pesada ao
colocar a minha cabeça no travesseiro.
A besta: é assim que eles me chamam pelas costas. Há quem diga que
sou o braço direito do próprio demônio. Já mandei tantas almas para o inferno
que acredito que isso seja realmente verdade. Eu estou longe da redenção e
nem a quero se for para me tornar um ninguém. Eu nasci para essa vida e
prefiro ser temido do que ter meu nome levado ao caos e ao medo. Eu me sinto
vivo assim e um dia quando eu me for, eu ainda serei lembrando pelos meus
feitos. Aquele que mesmo sendo um bastardo rejeitado, deu o seu melhor pela
Camorra e conseguiu o seu espaço.
Entro na cafeteria, louco por um café amargo para ver se ele espanta esse
maldito sono. Horas sem dormir dentro do carro, vigiando os Dragons, não foi
fácil. Escolho uma mesa encostada na parede. Essa é uma mania da qual nunca
irei perder e agradeço ao Henrique por isso. Gosto de poder olhar quem está à
minha volta e ter a certeza de quem entra e sai, porque assim estarei preparado
para eventuais acidentes.
A garçonete me atende receosa e eu quase rio por suas mãos tremerem
ao anotarem meu pedido. Em minha visão periférica, procuro meu alvo e não a
vejo. Eu tentei me convencer durante a noite, enquanto pensava sozinho, que
eu deveria deixá-la em paz e não perturbá-la, mas não consegui, e aqui estou
eu descumprindo um juramento feito para mim mesmo, e tudo porque a porra
do meu pau fica duro só de imaginá-la nua embaixo de mim. Ela passou a
povoar minha mente como um maldito vicio e eu a quero, nem que seja apenas
por uma vez. Talvez assim essa ânsia e necessidade descontrolada passe e eu
possa seguir minha vida. Só pode ser pelo desafio. Isso faz parte de mim e eu
preciso me saciar para poder voltar a ter o mesmo foco de antes.
— Menina, a Angel veio hoje? — pergunto.
— Sim. — A garota parece que vai desmaiar a qualquer momento.
— Me trás um café puro e dois donuts!
A garçonete sai quase correndo.
Eu volto a procurar por ela. Encontrá-la aqui bem debaixo do meu nariz
e no meu território vai ser uma maravilha, do jeito que eu gosto. A menina
facilitou muito pegando nossos produtos e não pagando.
Não demora muito para que ela apareça entregando uma encomenda a
um dos clientes, e eu me embebedo da sua beleza porque sei que no exato
momento que ela bater seus olhos em mim, vai me reconhecer e fugir. Eu
estou ansioso para sair à sua procura.
Droga! Uma vez com essa menina é muito pouco. Será minha pelo
tempo que eu necessitar dela, que só não sabe disso ainda. Eu a poupei porque
eu vi que ela é diferente, e eu tirei essa conclusão no exato momento em que
bati meus olhos nos seus. No fundo acho que senti algo me puxando, mas não
era o momento, além de que eu precisava de tempo e tinha outras coisas em
mente. Agora estou livre para pegar o que me pertence.
Logo o seu rosto se vira em minha direção, então seu sorriso morre e
seus olhos se arregalam quando batem instantaneamente nos meus. Choque,
raiva e medo: eu vejo tudo isso claramente em seu rosto, como da primeira
vez. Conto até dez para vê-la sair do transe, se virar e correr. E ela não me
decepciona. Volta para a porta de onde saiu, com certeza indo fugir pela outra
dos fundos.
Respiro resignado. A garota vai me dar trabalho. Nunca soei tanto por
uma boceta. Mas foda-se se se eu fico animado por imaginar o que farei com
ela quando alcançá-la e o quão saborosa será a minha recompensa!
Dou alguns segundos a mais de vantagem para que ela possa escapar e
gemo com a adrenalina correndo em minhas veias, fazendo o meu membro
pulsar em minha calça, friccionando nela ao ponto de doer. Sorrio quando
termino meu café e me levanto deixando notas o suficiente na mesa para pagar
bem mais do que uma xícara do líquido preto fumegante e duas rosquinhas.
Saio calmamente estudando e tentando imaginar por onde ela foi e vou para os
fundos da lanchonete, onde de longe vejo somente seus fios loiros pulando o
muro de trás.
Lenta, minha Angel. Muito lenta.
Tudo pulsa mais forte em mim, e como um animal sentindo o cheiro de
sua presa sem conseguir enxergar mais nada em sua frente, a não ser o seu
alvo, eu respiro fundo, me preparo e corro atrás dela. Pulo o muro e quase
gargalho quando a vejo olhar para trás e acelerar ainda mais sua fuga.
Comparada a mim, ela é pequena, e dois dos meus passos dão o dobro do dela.
Logo eu a alcanço, seguro seus braços e a jogo na parede mais próxima,
a fazendo gritar de susto.
— Eu fiquei fora do seu caminho. — diz sem fôlego.
— Não ficou, Angel. Você comprou drogas de um dos nossos
fornecedores. E adivinha quem eles mandam cobrar quando o cliente tenta nos
passar a perna?
Ela para de se mexer e me observa, com a respiração descompassada.
— Eu vou pagar tudo.
— Eu sei que vai, e eu vou me certificar disso.
— Se vai me matar, faça isso logo!
— Você é uma suicida, não é? Eu te poupei aquele dia, mas mesmo
assim ainda está buscando um meio de conseguir de outra pessoa o que
não conseguiu de mim.
Seus olhos lacrimejam e ela vira o rosto, fungando.
— Você não sabe de nada.
— Não? Então me diga que não sente um grande vazio dentro de si e
que não consegue preenchê-lo! Então usa essas porcarias para sentir um pouco
de dormência.
— Eu não consigo mais pa... Parar. — sua voz falha no final.
— Eu sei que não, mas eu vou te ajudar.
— Por quê?
— Porque eu te livrei da sua dívida e pela segunda vez estou poupando
sua vida. Você me deve e eu sei exatamente como quero que me pague.
Ela se afasta e começa a tirar a sua roupa na minha frente, me deixando
confuso com a sua rapidez de raciocínio.
— É isso que você quer? Então pegue! Me use! Tenha seu prazer e vá
embora!
Paro sua mão quando ela alcança a calcinha minúscula. Eu a quero e Dio
sabe o quanto eu desejo me afundar nela e só parar quando ela estiver
ordenhado a última gota de esperma de dentro de mim. Mas não assim, sem
vontade, em um beco sujo e nojento. Eu preciso que ela me deseje, que
implore por mim e me queira tanto quanto eu a quero, quase que
desesperadamente.
— Vista-se, querida!
— O quê? Não vai molhar seu pau?
Como uma tentação encarnada, ela aperta seus seios pequenos de bicos
rosados e desce a outra mão para o meio de suas pernas.
— Pare, menina!
Ela ri alto agora.
— Oh! O executor mais perverso da Camorra não é capaz de fazer o seu
serviço direito?
Ela está usando o seu corpo para me provocar e tirar de mim a reação
que deseja.
Levo meus olhos para onde sua mão está e a minha boca seca quer
sentir, nem que seja um pouquinho, o seu gosto. Como se estivesse
hipnotizado, eu me aproximo e puxo sua mão, a trazendo para meus lábios.
Chupo seus dedos melados e gemo quando seu sabor explode em minha
língua, me deixando mais insano do que já sou. Porra! É muito melhor do que
eu imaginei.
Como o fodido que sou, bato minha boca na dela, matando ao menos um
pouco do meu desejo. Exploro seus lábios em um beijo quente e molhado.
Paro logo em seguida para falar.
— Você será minha, Angel! Mas antes disso terá que aprender que dois
podem jogar o mesmo jogo. Eu voltarei no final do dia para pegá-la, e é
melhor estar me esperando, ou vou caçá-la e puni-la sem piedade.
Me afasto dela, a deixando ofegante, e saio sorrindo quando vejo seu
estado não muito diferente do meu. Esse é só o começo, raposinha. Logo terei
você à minha mercê e para o meu bel-prazer.
Acordar depois de uma noite em crise e uma experiência de quase morte,
deveria se considerar uma dádiva. Certo? Não para mim. Eu tenho que viver
com a lembrança constante de que sou um fracasso em minhas tentativas de
ser uma pessoa normal e até mesmo nas de dar um fim em minha vida
miserável.
As batidas fortes na minha porta me puxa do fundo do poço que estou e
me traz para a realidade.
— Angel?! Levante-se! Eu não te pago para dormir até tarde.
Droga! Perdi o horário de novo.
— Já vou! — Suspiro e me arrasto para o banheiro.
Tomo um banho, escovo os dentes, passo uma maquiagem forte para
esconder as olheiras e vou trabalhar.
Respiro fundo e gemo quando vejo a cafeteria, como de costume, lotada.
Okay! Sem café para mim por enquanto. Essas pessoas parecem que
madrugam junto com os pássaros.
Ajudo as meninas a atenderem para diminuir a fila enorme de clientes
até o último receber seus pedidos. O sino da entrada toca e levanto meus olhos,
vendo um dos estagiários da empresa da frente entrar, como toda manhã, para
buscar o café do seu chefe.
— Bom dia. — cumprimento entediada.
— Bom dia. Quero o de sempre.
Tento puxar na memória qual é o de sempre e a minha mente falha,
cansada pela noite mal dormida. Ele arqueia uma sobrancelha, me olhando, e
eu fico sem graça. Não quero dar motivos para irritá-lo e ter alguém logo de
manhã fazendo alguma reclamação sobre mim para o Chris.
— Desculpa! Minha cabeça não está muito boa hoje. Pode repetir para
mim o seu pedido?
Ele sorri simpático.
— Tudo bem. Dois cappuccinos, um café puro e três cafés da manhã
completos com ovos mexidos, bacon, panquecas e tudo que eu tiver direito.
— Okay!
Entrego seu pedido ao Chris e vou para as mesas atender outros clientes
que chegaram.
Duas horas mais tarde as coisas se acalmam e aí eu faço uma pausa para
comer algo. Já estou com o corpo tremendo. Não sei se é fome ou o efeito das
drogas passando. Como uma omelete com um suco de laranja e volto para os
meus afazeres.
— Pedido trinta e cinco pronto. — Chris avisa.
Eu pego o pedido e entrego ao John, um senhor muito simpático que
vem todos os dias aqui no mesmo horário para comprar seu café da manhã.
— Como o senhor está hoje?
— Bem. Ainda mais porque é você me atendendo. — Pisca todo faceiro.
— Muito galanteador, hum? — Rio das suas tentativas de me conquistar.
— Tenho que ser. Ainda estou na flor da idade.
Sorrio quando ele me deixa uma gorjeta generosa e vai embora.
Viro-me para verificar se tem mais alguém sem atendimento. Pior erro.
Meus olhos batem diretamente nele, o homem que me observa feito um falcão.
Arregalo meus olhos, o reconhecendo de imediato, e me vem na mente suas
palavras. Ele me disse que se me visse de novo, eu morreria.
Saio pela porta dos fundos, deixando um Chris aos gritos para trás. Pulo
o muro o mais rápido que posso e corro porque eu sei que se ele me alcançar,
eu estou ferrada. Eu vi o que esse homem fez aos Dragons. É cruel e sua fama
lhe faz jus.
Eu só não contava que ele iria me alcançar. Logo me joga na parede e eu
tento me soltar, mas é em vão. Quando o cara me diz que eu peguei as drogas
de um dos seus fornecedores, sei que já era para mim, porque pior do que a
morte é dever algo aos mafiosos. Ele irá me estraçalhar sem misericórdia.
Quando se vira para ir embora com a promessa de voltar, eu já tenho um
plano montado. É hora de me retirar e mudar para um novo lugar. “Recomeço”
já virou quase o meu nome do meio e isso nem me assusta mais.
Visto minha roupa e volto para a cafeteria, onde não conto para ninguém
o que aconteceu.
Passo o dia trabalhando normalmente para não levantar suspeita, e quase
no fim do meu expediente, cato minhas poucas coisas, pego no caixa o que sei
que vale pelo meu salário da semana e deixo um bilhete na cozinha com um
pedido de desculpa onde sei que o Chris vai encontrar. Ele vai pirar, mas que
se foda! Não vou vê-lo nunca mais mesmo. Estou apenas pegando o que é meu
por direito.
Paro um táxi e peço para ele me levar direto ao aeroporto mais próximo.
Não sei para onde eu devo ir, mas qualquer lugar é melhor do que aqui no
momento. Eu já andei sabendo por alguns boatos que Snake está de volta,
então será questão de tempo até o cara vir atrás de mim. E Deus me livre de ir
parar nas mãos dele novamente! A besta ou a cobra: bela opções eu teria, hein?
Suspiro aliviada quando vejo o terminal, desço do carro, jogo algumas
notas no banco da frente para o motorista e vou comprar a minha passagem
para sabe lá Deus onde. O primeiro voo que tiver saindo é o que eu irei
escolher.
Mal saio do taxi, tendo dado apenas alguns passos, e sinto mãos me
agarrarem por trás. Não tive tempo de ver quem é ou me defender. Um pano
com cheiro forte é jogado em meu rosto e eu automaticamente vou perdendo a
consciência. Ao fundo só ouço aquela maldita voz de novo dizendo que sou
dele e que pertenço somente a ele.
Tarde demais Angel. Muito tarde. A besta te pegou.
A garota se debate durante o sono, delirando. Seu corpo treme como se
ela estivesse com frio, mas o suor escorrendo pelo seu rosto mostra o quanto
está sofrendo por provavelmente sentir abstinência pelas drogas. Faz uma
semana que estamos no mesmo jogo: Angel acorda, diz que está com fome, eu
lhe trago a comida, ela diz que não quer e chuta o prato para longe, gritando,
ou chora e me ameaça, mas eu não cedo.
Já estou acostumado com isso e outros comportamentos bem piores.
Molho um pano e coloco em sua testa, tentando ajudar seu corpo a controlar a
temperatura e evitar uma convulsão pela febre alta.
— Por favor! Faz isso parar! — ela segura uma das minhas mãos em
meio a mais uma de suas crises de inconsciência.
— Calma, mio angelo! Seu corpo está eliminando todas as toxinas dele.
— Você não entende. Eu preciso de só um pouco e vai melhorar.
— Não. Você não precisa. É mais forte do que isso. Aguente firme!
— EU VOU TE MATAR, SEU FILHO DA PUTA! ME SOLTA! —
grita desesperada, puxando seu braço preso na cabeceira da cama.
— Quando você estiver melhor, eu solto. Fora isso, vai continuar presa
para não arrancar o soro com o medicamento da veia.
Anos tendo que torturar ou manter a vida dos inimigos por mais algum
tempo até arrancar todas as informações que precisamos, tem lá seus
benefícios. Eu aprendi um truque ou outro que veio a calhar por várias vezes
para nós em alguma situação de risco entre a vida e a morte. Por muito tempo
eu mesmo cuidei das minhas feridas depois de dias de tortura nas mãos de
Luigi ou dos seus homens. Eu já estive no lugar dela e sei como é difícil largar
essa porra de vício. Quando Luigi me recrutou para a máfia, eu precisei passar
por esse desmame também. Levou um tempo para eu conseguir me livrar,
portanto vai ser difícil para a Angel, mas que assim como eu, conseguirá
também. Suas roupas estão novamente encharcadas de suor e eu as tiro com
cuidado do seu corpo para que ela não pegue um resfriado.
A garota grita mais algumas palavras ofensivas, contudo eu continuo
meu trabalho. Logo ela terá consciência de novo e ai sim nós vamos poder
conversar.
Não demora muito e Angel cansa de lutar. Fecha os olhos, dormindo, e
eu fico aqui sentado na maldita poltrona, zelando por ela.
(...)
Lhe levo comida e água, mas como nos outros dias, ela sequer olha. Eu
não me importo de continuar tentando mesmo assim. Uma hora a fome vai
apertar e a necessidade de se alimentar será maior do que as de colocar as
drogas para dentro de si.
— Você precisa comer. — falo com paciência.
— Eu não quero.
— Não é questão de escolha, e sim de necessidade, Angel. Coma ao
menos um pouco! Você está muito fraca.
Coloco o prato de sopa perto dela e ela o chuta com raiva, derramando
tudo em mim e no chão.
Suspiro fundo. Eu não vou perder minha mente. Ela está muito longe
para saber o que está fazendo e eu seria um idiota se revidasse.
A garota me encara como se me desafiasse a fazer algo.
— Okay! Uma pena você ter jogado fora, porque estava muito bom.
— Então coma você!
Eu passo um dedo no meu peito, onde está escorrendo caldo, e o levo até
a boca, chupando bem devagar, sem tirar meus olhos dos seus.
— Uma delícia. Mais gostoso do que esse caldo, somente o gosto da sua
boceta.
Sua pupila dilata e ela arfa com a minha provocação, mas eu não cedo.
Não ainda. Eu a quero totalmente consciente quando eu entrar nela pela
primeira vez.
Deixo-a deitada na cama e saio do quarto para que ela possa pensar em
sua atitude.
Abro meus olhos devagar, voltando a ter consciência de novo, e observo
ao meu redor, tentando reconhecer onde estou. Puxo meus pulsos e constato
que eles estão presos por uma algema. Meus braços formigam por estarem na
mesma posição há muito tempo.
Eu me desespero quando tudo volta e eu lembro do que aconteceu. Ele
me pegou. Tentei fugir, mas não deu tempo.
A porta se abre e ele entra me olhando sério. Está chateado, mas é muito
controlado, porém, mesmo assim dá para sentir a tensão saindo dele e tomando
conta do ambiente.
— Não cansa dessas tentativas tolas de me consertar?
— Não. Achou que poderia me enganar, Angel? — Senta na poltrona,
perto da cama.
— Me solta, seu desgraçado! Ou você vai se ver comigo!
Sei que eu não deveria provocá-lo, mas não ligo. Ele que me sequestrou.
Já estou ferrada mesmo. Olha lá se eu sair com vida daqui.
— Tsc, tsc, tsc. — balbucia em reprovação. — É assim que você
costuma tratar as pessoas que te ajudam e cuidam de você?
— Eu não te pedi nada.
— Eu sei. E mesmo assim estou fazendo.
— Foda-se!
— Eu vou, querida. Na hora certa vou foder muito você. — diz com
uma certeza tão grande na voz que me irrita ainda mais.
— Eu quero sair daqui.
— Veja bem! Querer e poder são coisas completamente diferentes. Eu
não posso te libertar agora, pois você irá procurar o caminho das drogas de
novo. Isso me faria ter que te matar, e não é isso que eu quero.
— Você teve a chance de cobrar e não me quis.
— Prefiro minhas mulheres sãs quando as tenho embaixo de mim.
— E por que se importa? Eu não sou nada sua.
Ele me analisa por um longo tempo em silêncio e eu acho que nem vai
me responder.
— Eu também não sei.
— Não sabe o quê?
— O porquê me importo com você.
— Por favor, Marco! Nos poupe tempo! Eu faço qualquer coisa que
você quiser. Tudo mesmo.
Seus olhos escurecem e ele me olha com raiva.
— Não. Seus jogos não funcionarão comigo, menina.
Porra! Era meu maior trunfo.
— Quero usar o banheiro. — Uma ideia se forma em minha cabeça.
Ele se levanta, me solta e aponta uma porta no nosso lado direito.
Entro no banheiro e procuro por um meio de fuga. Faço as minhas
necessidades e ligo a torneira para disfarçar o barulho da minha tentativa de
abrir a janela. Mas é muito pequena e não dá para sair por ela. Olho no canto e
vejo um pequeno espelho. Não penso muito e somente o pego. Taco-o no chão
para quebrá-lo e usar como uma arma.
Tá. Não é muito inteligente, porém, pode ser minha única chance. Não
vou ser prisioneira de mais ninguém.
— O que está fazendo? Que barulho foi esse? — ele grita e invade o
banheiro.
Pego o caco maior e me jogo em cima dele, tentando acertá-lo. A ponta
corta um dos seus braços, o fazendo grunhir feito um animal feroz. Mas
mesmo ferido, ele consegue me imobilizar com facilidade e tomar o vidro das
minhas mãos.
— Tudo bem, Angel. Eu já entendi que você gosta das coisas do jeito
mais difícil. Por essa ousadia vai ficar presa e eu não a soltarei nem para ir
sozinha ao banheiro de novo.
— Seu filho da puta! Eu não sou um objeto para você achar que é meu
dono.
— Se não é um objeto, porque usa seu corpo como um? — Segura meu
cabelo, me fazendo encará-lo.
— Isso não é da sua conta, seu idiota!
— É da minha conta a partir do momento que você cruzou o meu
caminho.
Ele me joga na cama, me prende e sai do quarto batendo a porta com
força. Meu corpo está marcado com seu sangue e meu suor. Eu tinha que tentar
sair, mesmo que no processo eu me condenasse de vez. Merda! Eu preciso da
minha dose diária, ou vou pirar. Maldito Snake! É tudo culpa dele.
(...)
Muito mais tarde ele volta com um prato de comida e água, deixa em
cima da mesinha e entra no banheiro, ficando um tempo lá dentro. Em seguida
sai e vem na minha direção com una determinação que me assusta.
— O que vai fazer? — pergunto
— Te ajudar a se limpar.
— Eu sei fazer isso sozinha.
— Não me importo com o que você sabe.
Ele me ajuda a levantar e me leva para o chuveiro.
Está calado, apenas compenetrado na tarefa de passar a esponja
suavemente pelo meu corpo. Ele me deixa tão confusa. Que tipo de homem
tem uma mulher a sua mercê e não abusa dela? Eu não consigo entender o que
esse cara quer de mim ou quais são suas verdadeiras intenções.
Ele termina de me ajudar e aponta para a cadeira na minha frente.
— Sente-se ali e coma! — diz como se ordenasse e eu obedeço porque
estou realmente com fome.
Como toda a comida que ele me trouxe, sob sua supervisão.
— Quanto tempo pretende me manter aqui?
— O tempo que precisar.
— Marco? O que você quer?
— Você é minha, Angel. Eu te poupei porque eu quero você para mim.
Sua sinceridade me deixa sem palavras. Eu já reparei que ele é um tipo
de homem que fala exatamente o que está pensando, mesmo que doa. Olho
para seu braço enfaixado e sinto um pouco de pena.
Ele segue meu olhar e prende seus olhos nos meus.
— Me desculpe por isso! Eu estava desesperada e só queria me defender.
— Eu sei. Eu teria feito o mesmo.
— Posso sair do quarto?
— Preciso sair agora. Quando eu voltar, te libero para andar dentro da
casa.
Balanço a cabeça, dando sinal que entendi, e ele se vai outra vez,
trancando a porta. Bom... Se ser agressiva não funcionou, nem oferecer o meu
corpo, vou ter que me comportar e descobrir quais táticas aplicar. Todo mundo
tem um ponto fraco, e tudo que eu preciso é deixa-lo achar que baixei a cabeça
e aceitei suas ordens, para descobrir o que usar contra ele.
Ele disse que voltaria ontem, mas não voltou, e ficar presa aqui está me
deixando louca. Se pelo menos eu tivesse uma televisão, ela poderia me ajudar
a passar mais rápido o tempo. Bufo com meus pensamentos.
Você está presa Angel. Não é uma colônia de férias ou um Spa.
A fechadura mexe e eu pulo da cama, ansiosa, mas para a minha
completa surpresa, quem entra não é ele, e sim a mulher que ia na cafeteria
comprar café da manhã quase todos os dias.
— Eu sabia! — ela grita, me assustando.
— Sabia o quê? — pergunto confusa.
Será que é mulher dele e o cafajeste me trouxe para cá com o intuito de
me esconder e me ter como amante?
— Que Marco andava aprontando alguma coisa.
Fodeu, caralho!
— Olha, moça, eu não quero problemas com você. Me deixa sair daqui e
eu prometo que você nunca mais me verá na sua vida!
— Calma! Eu não quero te fazer mal, apenas conhecê-la.
Levanto uma sobrancelha, em descrença.
— Se quer realmente me ajudar, me deixe ir! — quase suplico à
desconhecida.
— Lorena? — um cara entra no quarto atrás dela e eu retenho meu
corpo, dando dois passos para trás quando o reconheço.
O capo! Estou muito ferrada!
— Estou bem, Vincent.
— Você não deveria vir aqui. — ele diz.
— Como me achou tão rápido? — ela pergunta parecendo surpresa.
— Te segui. — responde com uma naturalidade, como se tivesse dito
que estava passeando.
— Eu precisava ver com meus olhos quem era a mulher que fez Marco
ficar todo estranho e sumir lá de casa.
— Isso não é problema nosso, querida. Se ele a esconde aqui, deve ter
um motivo.
Ela cruza os braços e o olha como se o desafiasse. É engraçado vê-la
controlar a situação e tê-lo em suas mãos, sem parecer que tem medo dele.
— Vocês mafiosos e essa mania de achar que tudo se resolve com
sequestro ou prisão. — a mulher rebate.
Algo brilha em seus olhos e eu fico quietinha encostada na parede feito
uma telespectadora assistindo uma novela mexicana, apenas os olhando com
curiosidade.
— Aqui não é o lugar para se ter essa conversa. Vamos embora! — Ele a
puxa por um braço e ela se solta com rapidez, vindo em minha direção e o
ignorando.
Não perco o aviso de morte que ele me lança quando me olha. Ótimo! É
tudo que eu precisava.
— Não ligue para ele! Venha comigo e vamos conversar um pouco!
Quero ser sua amiga. — ela me estende uma mão.
— Eu não acho que seremos alguma coisa. Está claro que não
pertencemos ao mesmo ciclo social. — aponto para mim e ela, e depois para o
capo, que não desvia seus olhos dela em nenhum momento.
A impressão que eu tenho é de que ele nem pisca para não perder nada.
— Bobagem! Logo você será da família, Angel.
Sem que eu diga “sim” ou “não”, ela me pega por uma mão e me tira do
quarto.
— Me fala! Como você está se sentindo? — pergunta.
— Bem. Eu acho.
— Ele tem te tratado bem?
— Sim. Só não entendo o que realmente quer de mim. Ele não parece
ser do tipo que ajuda alguém sem querer algo em troca.
— Ele não sabe se expressar bem, mas tenho certeza de que gosta de
você.
O chefe senta-se um pouco distante, nos vigiando.
— Eu duvido disso.
— Acredite em mim! Eles são durões porque precisam ser assim, mas
Marco é um urso por dentro depois que o conhece melhor.
— Urso? — Seguro a vontade de revirar os olhos para a sua fala. Em
que mundo essa mulher vive?
— Sim. Ele é só um homem ferido que precisa de cuidados.
Não me aguento e gargalho.
— Você está consciente de que aquele homem já matou e torturou mais
pessoas do que pode contar?
— Estou. Mas confia em mim: você é a mulher certa para o Marco e vai
derrubar aquela armadura de gelo que ele tem.
É impressão minha ou ela está praticamente nos juntando?
— Olha! Vai com calma aí, cupido! Eu não tenho interesse em ter um
relacionamento com ninguém. Só quero que ele pare de me perseguir.
— Isso será difícil. Ele não te deixou viva apenas para que você saia por
aí ficando com qualquer um por drogas. — o capo, que até o momento se
manteve calado, fala.
Eu tenho certeza que minhas bochechas estão escarletes de vergonha por
ele saber desse detalhe sobre mim.
— Eu disse que ia pagar tudo a ele. — Me sinto de repente chateada por
ele falar isso como uma acusação.
— Uma pessoa viciada é capaz de tudo. Eu espero que você seja ao
menos um pouco inteligente e não tente nada contra ele ou contra ela. —
aponta para a mulher na minha frente. — Eu não vou me importar de te
procurar e fazer picadinho de você se fizer qualquer coisa que prejudique
qualquer um dos dois. Capiche?
Maravilha, Angel! Na mira do mafioso.
— Vincent! Quer parar de assustá-la? — a mulher, que agora eu sei que
se chama Lorena, ralha ele.
— Tudo bem. Eu entendi seu recado. — respondo com cautela.
— Bom. — retruca.
— Você já comeu alguma coisa? — Lorena pergunta.
— Ainda não. Marco ficou de voltar ontem e não apareceu.
O que quer dizer que ele não se importa tanto com você. — minha
consciência zomba.
— Oh! Então venha! Vamos fazer algo para comermos e nos
conhecermos melhor.
A sigo, calada, me dando ao luxo de somente agora olhar ao meu redor.
Reparo que estamos em uma casa de madeira bem trabalhada. É bonita e
rústica. Os móveis são na maioria de cores escuras. Parece que a casa foi
mobiliada há pouco tempo de tão novos que são. Bem a cara do seu dono.
— Gosta de lasanha? — Lorena puxa minha mente de volta.
— Sim. Eu gosto.
— Ótimo! Vamos fazer lasanha então.
Pegamos os ingredientes na geladeira e começamos a preparar o prato.
E até que não é ruim ter companhia. A conversa flui bem enquanto a
lasanha fica pronta para comermos.
Eu descobri que a moça é brasileira e que tinha sido sequestrada pelo
antigo chefe, o Luigi. O que não foi tão ruim, na minha opinião, já que ela se
casou com o atual, que pelo jeito que a olha de longe, lambe o chão que a
mesma passa. Muito Interessante! Eu achava que todos os mafiosos eram
insensíveis e traiam suas mulheres. Bem... Os motoqueiros não são diferentes
deles. Claro que não posso dizer muito sobre fidelidade e amor, ou sei lá que
nome se dá a isso.
Quando o micro-ondas apita nos avisando que a Lasanha está pronta,
sentamos cada um em nossas cadeiras e desfrutamos em total silêncio da
comida, que está muito gostosa.
Logo que terminamos, Marco chega e o clima muda quando ele vê os
que estão como visitas em sua casa.
— Que merda está acontecendo aqui? — ele pergunta furioso.
— Viemos te visitar, já que anda sumido e muito misterioso. — Lorena
responde.
— Já parou para pensar que talvez eu não queira receber visitas e que
por isso me afastei, porque preciso desse espaço?
— Achei que fôssemos família. Que mal há aparecer de vez em quando
para nos ver?
Ele passa uma mão na barba, claramente nervoso com os
questionamentos.
— Independente de sermos família ou não, isso não lhes dão o direito de
invadir minha casa e se meter em meus negócios.
— Chega vocês dois! — Vincent ordena. — Lorena, se despeça e vamos
embora! E você... — Aponta para o Marco. — Lá fora! Agora! Me deve
muitas explicações sobre tudo isso.
— Foi um prazer te conhecer, Angel! Vá me visitar quando quiser!
— Não. Ela não vai na sua casa enquanto eu não tiver a certeza de que
podemos confiar nela. — Marco fala com os dentes cerrados.
— Não seja um chato! Ela será bem-vinda sempre que quiser. — Ela
sorri e se despede. Eu aceno dando um adeus.
Ambos saem e Marco traz sua atenção de volta para mim. Me observa
por tanto tempo que eu começo a me remexer, me sentindo tímida de repente
sob sua avalição. Troco o peso de um pé para o outro, aguardando que ele fale
algo e me preparo inclusive para receber algumas ofensas por eu ter saído do
quarto, mesmo que não tenha sido inteiramente minha culpa. Mas como
sempre, ele é imprevisível e muito difícil de ler.
Ele se aproxima devagar e em cada passo que dá em minha direção, dou
dois para trás, o temendo, até que sinto a parede em minhas costas.
— Quando é que vai aprender que não se pode fugir de mim, Angel?
— Não sei. — Foco na sua boca muito perto da minha e lambo meus
lábios com sede e ânsia pelo seu toque.
Mas que porra! Ele é muito bom em manipular meus movimentos e
jogá-los contra mim. Será questão de tempo até cumprir sua promessa velada.
— Eu vou me despedir deles e quero que você me espere quietinha aqui.
Tudo bem?
Balanço a cabeça positivamente e ele circula meus lábios com um dedo,
me fazendo arfar com essa carícia inesperada.
— Eu quero ouvir da sua boca que você me entendeu.
— Sim. Eu entendi.
— Boa menina.
Ele encosta delicadamente sua boca na minha e mordisca meu lábio
inferior, o chupando em seguida. Então segura a minha cintura, me trazendo
para mais perto de si, e eu me entrego ao beijo, que fica quente e exigente.
Queria entendê-lo ao menos um pouco nesse momento.
Como se tivessem vida própria, minhas mãos vão para os cabelos do
Marco, o puxando mais para mim. Meu corpo o reconhece, mesmo que não
tenhamos passado de um simples beijo encostados no muro no dia que eu fugir
dele. Estou quente e desejosa. Minha vagina pinga de necessidade, o querendo
dentro de mim. Quando fica palpável que estamos nos comendo ainda vestidos
na sua sala, com seu chefe e mulher lá fora o esperando, ele sai do momento
inebriante em que nos colocou e se afasta com a promessa de muito mais
depois.
— Eu já volto. Preciso falar algo com o capo.
— Okay!
Ele se vira e sai da sala, me deixando mais confusa do que quando
entrou.
Não sei que porra aconteceu aqui nesses poucos minutos, mas é óbvio
que não ficará pela metade. E ao mesmo tempo que eu quero mandá-lo ir se
foder por me manter aqui contra a minha vontade, eu desejo conhecer mais
dele também. Acho que ainda é efeito das drogas saindo do meu corpo e me
causando algum tipo de delírio surreal.
Encarar Vincent depois de passar dias o ignorando é um merda. Esse
cara me conhece mais do que qualquer um. Então em vez de mentir e ser
desmascarado, eu prefiro apenas fazer o meu serviço e ter o mínimo de contato
possível com ele e sua adorável esposa intrometida.
Desço os degraus e o encontro já me esperando. Era pedir muito que ele
tivesse pegado a dica e ido embora? Não o Vincent que eu conheço. Ele nunca
desistiu de nada sem uma boa luta e agora não seria diferente.
Não avisto a Lorena e imagino que ela esteja no carro, o aguardando, e
quase agradeço aos céus por isso. Pelo menos só terei que me explicar à única
pessoa que me importa. Não me levem a mal. Respeito a Lorena, e tudo, mas
vamos dizer que eu ainda não confio completamente nela, nem lhe dou total
abertura para me conhecer e muito menos alguma liberdade para ela se meter
na minha vida pessoal. O laço que tenho com Vincent é único e não se estende
à sua esposa.
— Então eu estava certo. Você estava sumido por conta dela? —
questiona sem rodeios.
— Não. Estou sumido porque ando vigiando os Dragons e tentando
descobrir qual é o plano diabólico deles antes de matá-los. — tento me
esquivar.
— Não precisa mentir para mim, Marco. Você pode enganar qualquer
um com essa sua fachada de "não estou nem aí para nada", mas nós dois
sabemos que desde que assumi o cargo e me casei com a Lorena, você mudou,
se afastou e passou apenas a se dedicar às minhas ordens como chefe.
Foda-se! O filho da puta gosta de enfiar a faca na ferida e torcê-la.
— Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Só preciso desse tempo
para mim. Eu continuo fazendo meu serviço como sempre. Não estou te
deixando na mão.
— Eu sei que não, mas eu me preocupo com você, que é o meu único
irmão. E sabe que mesmo antes de eu saber disso, éramos somente os dois, um
pelo outro. Não ache que agora que casei e estou construindo minha família,
que você não faz parte dela! Tudo que construímos com o tempo, só será
quebrado quando um de nós não estiver mais aqui.
— Não quero atrapalhar vocês. Ainda é difícil para mim confiar nas
pessoas. Não esqueci da minha promessa e sempre estarei aqui para você,
irmão.
— Esquece essa porra de promessa! Nós vencemos e agora teremos a
chance de recomeçar do nosso jeito. Lorena gosta de você e está tentando
duramente deixá-lo se sentir parte dessa nova etapa em nossas vidas. Tente ao
menos aparecer mais vezes! Sentimos sua falta, cara.
— Eu sei. — Como explicar que você se sente perdido e fora do lugar?
— Me dê esses dias e eu irei me esforçar para ficar mais presente!
— Tudo bem. A garota lá dentro não é a que Snake está procurando?
É claro que ele saberia disso.
— Sim. Ele não é louco de tentar algo em nosso território. Sabe que
estaria assinando seu atestado de óbito.
— Bom... Eu confio em você. Só tome cuidado! Não sabemos de onde
ela vem e do que é capaz. Preste atenção no que faz e fala perto dela! Tenha a
certeza de que a garota é confiável e que na primeira oportunidade que tiver
não irá correr e entregar alguma informação preciosa nossa para eles!
— Estou de vigia. Não se preocupe!
Quem diria? Há uns dois anos era eu dando esse aviso a ele e agora
estamos trocando de lugar. A vida é uma piada de muito péssimo gosto.
— Tenho que ir. Lorena não está se sentindo bem, e por mais que eu
tenha lhe dado ordens de ficar em casa, veio atrás de você.
— Já disse que não quero me meter em sua vida, mas esse não é o
momento da sua esposa ficar brincando de gato e rato com você. Estamos sob
ameaça de ataque e espero que ela se lembre disso antes de se colocar em
perigo de novo.
— Vou conversar com ela. Se cuide!
Fico olhando o carro dele sair, e assim que ele some das minhas vistas,
eu entro em casa.
Angel está sentada no sofá, olhando a janela, pensativa. Gostaria de
saber o que se passa em sua mente nessas horas em que ela parece ficar
perdida em pensamentos. Não voltei para casa ontem e à noite inteira me
mantive pensando nessa garota. Eu estou cansando de tentar entender o que
sinto ou se realmente valerá a pena investir nela. Todas as outras mulheres que
eu tive, parecem pálidas diante dela. Eu desejo ajudá-la, e muito mais que isso,
eu a quero comigo. Eu sei que ainda é muito cedo e que no momento ela quer
ir embora, mas pretendo trabalhar a sua confiança em mim para que a mesma
se torne tão dependente de mim quanto eu já dependo dela.
Eu passei a minha vida inteira sendo rejeitado e fui usado por muitas
mulheres desde muito jovem, inclusive algumas da máfia insatisfeitas com
suas vidas conjugais. A Angel é diferente e me chamou a atenção, mas não
porque é bonita, e sim por ser tão quebrada quanto eu. Sendo assim, não me
tratará feito lixo e nem poderá se sentir superior a mim, como as outras faziam
questão de pontuar. Somos como duas metades iguais separadas. Por mais que
não tenhamos a mesma idade, eu me sinto ligado e responsável por ela. O quão
fodido isso é? O cara mais temido da Camorra praticamente de joelhos por
uma ninfeta de dezenove anos com a boceta doce e um belo rosto angelical.
— Você só vai ficar aí me olhando? — ela pergunta com um sorriso
zombeteiro na voz.
— Eu deveria te punir por ser tão rebelde. — devolvo sua provocação.
— Então por que não me pune, executor?
Um sorriso escapa de meus lábios e eu a alcanço em poucos passos. A
faço ficar de pé e ataco sua boquinha carnuda em formato de um pequeno
coração.
— Não me provoque se na primeira oportunidade vai sair correndo,
menina!
— Não vou correr. Eu quero que termine o que começou.
— Acha que não quero o que você tem a me oferecer, sua pervertida?
— Eu já disse: pegue! — Se afasta, tirando seu short e sua blusinha de
alcinha.
— Angel, Angel! Não se deve fazer um trato com o diabo e achar que
ele não vai cobrar com todos os juros.
— Então me consuma! — Desce devagar a calcinha pequena, deixando
a mostra seu triângulo de cabelos loiros bem aparados.
Não vou mentir. Estou salivando feito um cachorro em frente a um bom
pedaço de carne suculenta. Consigo até mesmo sentir o gosto dela em minha
boca. Mais um pouco e eu até posso sair latindo feito um cão adestrado.
Essa menina é perigosa e eu não posso dar mole perto dela. Tenho que
mostrar quem está no comando dessa porra.
— Sente-se no sofá, Angel, e se toque para mim!
Ela não se faz de rogada e muito menos fica insegura. Sinal de que já
está acostumada a fazer isso há muito tempo. A ira de que vários outros a
tocaram antes de mim, me deixa revoltado. Para não quebrar o clima, engulo a
vontade de procurar e matar cada um deles e apenas curto o momento.
— Assim? — Desce as mãos pela barriga plana, indo em direção ao seu
monte de vênus. Seus dedos adentram seus lábios rosados, que brilham com
sua lubrificação.
— Mova seus dedos! — ordeno sem tirar os olhos do que ela faz.
Angel movimenta os dedos devagar e aos poucos coloca um dentro de si
e depois o tira, levando esse melado ao seu clitóris inchado. Não preciso tocá-
lo para saber que ele está palpitando de necessidade. Meu pau a essa altura não
está diferente.
Quando ela acelera o dedo, soltando alguns gemidos sôfregos, pronta
para gozar, eu a faço parar.
— Chega! — Sorrio quando seus olhos com as pupilas dilatadas me
observam desesperados pelo orgasmo interrompido.
Seus peitos sobem e descem com a respiração acelerada e os bicos deles
estão pontudos, implorando pela minha atenção.
— Chupe seus dedos, Angel, bem devagar! E depois comece tudo de
novo!
Ela faz como eu mando e novamente se dá prazer, buscando por um
alívio que somente eu e meu dolorido pau lhe dará. O suor escorre pelo seu
corpo e a minha vontade é de me levantar e lambê-la todinha. Sou egoísta
demais para desperdiçar cada sabor seu.
Angel revira os olhos, se preparando para gozar, e eu me levanto para
tirar sua mão do local. Ela grita frustrada por mais uma interrupção, mas dessa
vez eu quem quero iniciar essa doce tortura. Passo minha língua por toda a
extensão da sua boceta, provando seu delicioso sabor direto da fonte, como
quis fazer desde a primeira vez, e sugo seus lábios vaginais suavemente,
deixando seu clitóris por último de propósito. Depois de chupá-la como queria
e ter seu doce mel em meus lábios, eu subo para seu ponto doce, onde minhas
chupadas passam a ser mais vorazes e certeiras, a levando para o precipício do
prazer.
— Ah, Marco! — Segura em meus cabelos com força, tentando me fazer
acelerar.
Não me contenho mais e subo apenas o suficiente para puxar meu pau
para fora, que pula inchado e furioso por somente agora ir entrar na
brincadeira. Passo a glande em sua entrada, a provocando, e entro nela com
uma única estocada, a fazendo soltar um grito pela invasão. É muito apertada e
está bem molhada, mas mesmo assim inicio os movimentos suaves para que
ela se acostume comigo.
Beijo sua boca com volúpia, excitado por finalmente estar dentro do seu
delicioso corpo. Minhas estocadas se tornam firmes e rápidas. Nós dois
gememos com a explosão de sentimentos postos nesse contato tão íntimo e
explosivo. A cada toque dela, seguido de seus gemidos, são como músicas para
os meus ouvidos.
— Venha para mim, querida!
— Ah, que gostoso!
Angel goza gritando meu nome e eu não me seguro mais. Acelero para
acompanhá-la, gozando forte junto com ela e sentindo sua boceta quente me
ordenhar até não ter mais nada a ser entregue.
— Isso foi... uau! — Ela sorri.
— “Uau” é uma boa definição. — Beijo suas pálpebras sonolentas.
Não é preciso dizer muito. Foi espetacular e indescritível esse momento.
Viro de lado, a puxando para meus braços, e faço um cafuné em seus cabelos
loiros. Não demora muito e seus olhos azuis se fecham e sua respiração fica
rasa e suave.
Eu posso imaginar uma vida com essa garota se ela me quiser depois que
ficar totalmente liberta das drogas. Eu espero que nesse tempo em que Angel
estiver comigo, me conheça e goste do meu outro eu. Sei que não precisarei
fingir e ser quem não sou para agradá-la.
Quero conseguir apagar todos os vestígios de qualquer filho da puta que
tenha a tocado antes de mim, e se eu não conseguir de primeira, tralharei duro
para que isso aconteça num futuro não tão distante.
Acordo do cochilo, confusa sobre o que aconteceu, e me levanto
devagar. A primeira coisa que se passa em minha cabeça quando me
desvencilho de seus braços é olhar para a chave do carro em cima da mesinha
e depois para a porta. Quanto tempo levaria para eu sair correndo daqui e ele
me alcançar de novo?
Penso com cuidado, e depois de analisar as minhas opções decido não
provocá-lo mais. Se meu único meio de saída é ele me liberar, eu terei que tirar
a fuga da cabeça. Não quero ficar com um X marcado na minha testa pela
máfia e muito menos pelo executor. Estar duas vezes sob sua mira e não
morrer foram chances demais para desperdiçar.
Solto um bufo, inconformada, e me sento na outra poltrona, o
observando de longe. Não vou mentir que gostei da maneira que ele me tocou
e me fodeu. Nenhum cara tinha sido tão gentil comigo antes. O que é meio
estranho para o tipo de homem que o Marco é. Eu estava esperando violência e
agressividade, não gentileza. Vejo que suas mãos são tão habilidosas para tocar
uma mulher quanto para usar uma arma. Um verdadeiro mistério. Um que não
tenho certeza se vou querer desvendar. Sinceramente tenho medo do que irei
descobrir se começar a cavar fundo demais.
Coloco a cabeça entre as mãos, tentando me acalmar e não fazer uma
besteira.
— Pensando em uma maneira de me matar, Angel? — Seus olhos cores
de mel me observam.
— Na verdade eu estava analisando se uma fuga seria vantajosa para
mim com você na minha cola. — sou sincera.
— O que te faz correr? O que tem para você lá fora que tanto te atrai?
Somente a porra das drogas?
Suas perguntas me batem na cara, me deixando sem palavras. O que eu
tenho lá? Por que eu quero sair?
— Já parou para pensar no que você gostaria de fazer se não fosse
controlada pelos seus vícios? — continua seu questionamento cruel.
— Eu nunca parei para pensar nisso. Nunca tive um real motivo para
fazer planos.
— Talvez esteja na hora de pensar mais além, Angel. Você é muito
jovem.
— Por que se importa com o meu bem estar, Marco?
— Eu já fui como você: um viciado, rejeitado e humilhado por todos. A
diferença entre nós é que em vez de tentar contra a minha vida e me vitimizar,
eu aceitei as mãos que me foram estendidas e fui à luta para ser mais do que o
filho bastardo de uma prostituta. Eu mudei a minha história e não baixei a
cabeça. Provei para todos aqueles que me fizeram mal ou zombaram de mim,
que eu era dono do meu destino e não aceitava menos.
Uau! Se ele queria me dar um choque de realidade, conseguiu. A
pancada foi forte e certeira. Abaixo a cabeça, envergonhada, primeiro por eu
ter me colocado nessa situação, e segundo por eu ter pela primeira vez na
minha vida uma pessoa que queira me ajudar, e tudo que eu faço é ficar
planejando fugir dela.
— Angel? Olha para mim! — Levanto meu rosto em direção ao seu. —
Você é uma menina linda e com uma vida inteira pela frente. Eu não sei da sua
história e espero um dia ser merecedor de sua confiança para saber sobre cada
detalhe. Se não quiser me contar, tudo bem também. Isso não me incomoda.
Tento abrir a boca para falar, mas ele me silencia com um dedo e
continua sua fala.
— Se dê uma chance! Pare de sabotar as oportunidades que a vida te dá!
Tudo que eu consegui foi na base de muito sangue, suor e lágrimas. Você não
precisa passar por isso do jeito mais difícil.
— Eu não sei o que dizer. Foram muitos anos aprendendo que era eu
contra o mundo, e agora tudo parece tão irreal que não ouso acreditar que vai
durar muito tempo.
— Curta o momento, Angel! Porque sofrer pelo futuro se estamos no
presente? Como está sentindo hoje?
Péssima.
— Estranhamente bem.
— A verdade, menina!
Droga! É difícil enganar ele. Respiro fundo e resumo o que estou
sentindo.
— Ainda sinto tremores e uma vontade imensa de procurar por algum
alívio, mas já fiquei mais tempo que isso sem usar as drogas e depois acabei
cedendo e voltando. Não acredito que dessa vez vá ser diferente.
— Vamos canalizar essa ansiedade e frustração em algo positivo. Que
tal?
— Tipo o quê? Sexo? — zombo.
Ele ri jogando a cabeça para trás, e é a coisa mais linda. Todo seu rosto
muda com sua expressão relaxada e muito suave. Agora parece quase humano,
não um homem feito, frio e cruel capaz de me matar apenas em segundos.
— Eu não irei reclamar se você quiser me usar para isso, mas estou
falando de exercícios. Treino foi muito bom para mim e talvez te ajude
também.
— Podemos tentar.
Eu duvido que algo poderá me salvar, mas como ele está tão
empenhando em me fazer acreditar que posso ser salva, talvez tentar não me
custe nada.
— Muito bem. Amanhã começaremos seu treino. Agora vamos para
outro assunto mais sério. Quero que me fale o que sabe. Entendeu?
Fico apreensiva, mas concordo.
— Você deve estar ciente de que Snake está atrás de você. Eu quero
entender o que você sabe e o quanto essa informação é importante para ele.
Preciso que me conte tudo, sem deixar nada de fora.
— Eu não sei nada de importante.
Ele fecha a cara para mim e a expressão do mafioso impiedoso está de
volta.
— Não minta para mim, Angel! Você está falando com o cara que sabe
ver através das pessoas antes mesmo delas abrirem a boca para revelarem o
que eu quero. Não queira que eu tire informações de você da maneira mais
difícil.
— Eu era apenas a prostituta que o servia. Desde que ele foi preso, eu
não o vi mais. Provavelmente o cara me quer de volta porque acha que sou
dele.
— Não é por isso. Ele colocou vários homens atrás de você e até mesmo
andou subornando alguns dos meus para ter informações suas. Há algo que
você está deixando de fora e eu quero saber agora.
Desvio meus olhos e penso se devo contar ou não. Essa informação é
valiosa demais e sempre foi meu trunfo quando eu queria arrancar dinheiro de
Snake ou do meu pai.
Balanço uma perna, ansiosa. Mania que tenho quando estou muito
nervosa. O tempo parece parar a nossa volta e o tic tac do relógio atrás de nós
não ajuda a tensão a passar.
Olho para o Marco, que me observa pacientemente, e resolvo contar
parte do que sei. Não quero que ele tire algumas informações de mim me
torturando.
— Os Dragons têm há anos, por debaixo dos panos, feito parcerias com
a máfia russa. Prometeram-lhes o território de Los Angeles de volta se eles os
ajudassem a derrubar Luigi e Vincent. Quando você acabou com todos no
clube aquela vez, um representante de dentro do cartel mexicano estava os
ajudando nesse plano também.
Sua expressão fica feroz e mortal.
— Como ficou sabendo disso?
— Eu estava lá na reunião onde o trato foi feito. Dragon queria tirar o
capo e o subchefe daqui do comando para que outra pessoa assumisse esses
negócios. Ambos iam comandar tudo. Eles sabiam do tráfico de armas que
vocês fizeram com os árabes e tiveram grande interesse nisso especificamente.
Dragon ficou chateado por Vincent tê-lo deixado de fora e prometeu vingança.
Ele fala algo em italiano que não entendo e levanta-se muito puto,
socando a parede, com raiva.
— Esse homem, o representante, estava na reunião também?
— Sim.
— Nomes, Angel! Eu quero os nomes dos meus próximos cadáveres.
— Eles o chamavam de pastor. Eu não sei dizer o porquê, já que ele não
se parecia com um. É tudo que eu sei. — digo apenas metade da verdade.
Ele pega o celular e se afasta para conversar baixo com alguém. Não
pergunto com quem seja ou sobre o que fala. Sinto que a coisa vai feder e eu
estarei, querendo ou não, nesse fogo cruzado. O negócio é que eu sei quem é o
tal pastor e eu sou ligada indiretamente à família dele por parte de mãe. Se eu
os entregasse, estaria muito ferrada. Provavelmente Snake quer saber a mesma
coisa que Marco. Somente Dragon, meu pai e eu ficamos sabendo desse
segredinho sujo, mas graças a Deus os dois primeiros estão mortos e não
podem mais me usar.
Que ele não descubra sobre as minhas origens! Ou eu irei virar massinha
de modelar em suas mãos por ter uma ligação sanguínea com aquele velho
sádico.
Ligo imediatamente para Vincent assim que Angel me passa as
informações que eu preciso. Por mais que eu ainda tenha a impressão de que
ela não me contou tudo que sabe, por hora não vou pressioná-la mais. O que
não quer dizer que eu vou ficar de braços cruzados sem fazer nada. Irei ao
fundo dessa história e descobrirei toda a verdade. Não terei pena de punir
todos que estiverem envolvidos nessa porcaria.
Estou cheio de pessoas se achando espertas para montarem armadilhas
para nós, só que a mesma disposição que elas têm de se unirem com nossos
inimigos para tentarem nos derrubar, eu tenho para destruí-las uma por uma
com o maior prazer. Traidores devem ser tratados como traidores e punidos
como tal. Uma vez na minha mira, só sairá com vida quem for inocente. Caso
contrário, os buracos estarão prontos para recebê-los.
— Você acha que esse pastor é o mesmo que Gabriel nos disse que
estava investigando? — Vincent chama a minha atenção de volta para a nossa
conversa.
— Acho que sim. Vou fazer a nossa própria investigação e descobrir
melhor sobre isso. Creio que o agente não vai querer compartilhar conosco
suas descobertas.
— Com certeza não. Temos que ficar fora de qualquer confusão com os
mexicanos. Acabamos de limpar nosso nome com o FBI e não vamos querer
estar sob a mira deles novo. Tudo tem que ser feito por debaixo dos panos.
— Pode deixar! Ficarei de olho neles e seguirei com bastante cautela
nossos planos. Dessa vez não haverá falhas. Eu prometo.
— E se ela tiver do lado deles, Marco?
— Duvido muito que esteja, mas estou ligado que ela é do tipo que salva
a própria pele.
— Percebi isso também, e talvez isso a torne valiosa para eles. Uma
pessoa inescrupulosa e cheia de vícios é capaz de tudo.
— Não a julgue com base no que se vê no exterior, Vincent. Lembre-se
que um dia Lorena esteve em nossa mira e nós nos enganamos sobre ela.
Ele fica em silêncio por um tempo.
— Só não a deixe brincar com você! Eu ainda acho que ela não te
contou tudo.
Eu odeio que talvez ele possa estar certo. Não quero abrir mão dela, e eu
irei pirar se ela estiver mentindo para mim. Meus olhos dançam o tempo todo
sobre seu rosto enquanto eu falo com o Vincent ao telefone sobre a nova
descoberta.
— Prefiro ela aqui onde eu tenha controle.
— Muito bem. Tem carta branca para fazer o que precisar.
— Obrigado!
Nos despedimos e eu desligo.
A ligação demorou mais do que eu pretendia. Tudo faz mais sentido
agora: os malditos mexicanos junto com o Dragon usaram o Mariano sem o
babaca perceber. Eles estavam tentando bem mais do que tirar Luigi e Vincent
do poder. Todos queriam dominar nossos negócios e deixamos passar essa
merda bem debaixo do nosso nariz enquanto acreditávamos que os únicos que
estavam de olho no nosso território eram os malditos russos.
Droga! Isso nunca acaba. Quando se derruba um, sempre vai haver mais
ratos para sair dos seus esconderijos.
Vou na direção dela, que me olha com cautela. Percebo que ela não
consegue confiar nas pessoas tão facilmente. Terei muito trabalho, não só para
fazê-la sair dos vícios, como também para conseguir sua permissão para eu
entrar em sua mente. Não que eu a julgue. Angel não é diferente de mim e isso
me mostra o quanto ela foi ferida no passado. Isso a deixou arisca com quem
se aproxima demais e eu tenho que tomar muito cuidado. Antes de deixar meu
pau me governar, tenho que me lembrar que ela é um mistério e já esteve nas
mãos dos inimigos.
— Quer treinar um pouco? — tento quebrar o clima pesado e distraí-la
da nossa conversa de antes.
— Aqui?
— Sim. Tenho um galpão no fundo da casa, onde treino todos os dias.
— Legal! Vamos tentar do seu jeito então. — Me dá um sorriso tímido.
Saímos pelas portas do fundo e seguimos para a área que uso para meus
treinamentos diários. Ela observa tudo com curiosidade.
— Tem algum tipo de exercício específico que você goste? — pergunto.
— Não. Nunca me preocupei com isso.
— Para começar, vou te ensinar boxe. O combate corpo a corpo é minha
especialidade. Tanto vai te ajudar a ter disciplina, como te ensinará a se
defender sem precisar necessariamente de uma arma em punho.
— Okay!
A ajudo a colocar as luvas nas mãos e lhe dou algumas instruções sobre
postura correta e os tipo de golpes que vamos treinar hoje. Ela começa a bater
de um jeito meio desengonçado e eu a incentivo a continuar aplicando mais
força sobre mim.
— Canalize suas frustrações em cada batida, Angel! Não precisa se
segurar, pois seu oponente não terá pena de te atingir em uma luta real.
— Estou tentando. — Bate com mais força. Não tão forte ao ponto de
me derrubar, porém com mais intensidade do que antes.
— Isso, querida! Pense que em cada golpe, você está descontando algo
ruim que está guardado dentro de si.
Seus golpes ficam mais rápidos e ela ofega com cada batida. Eu apenas
me defendo, a deixando se acostumar com cada soco que me dá.
Pouco tempo depois Angel pede para parar porque seus braços estão
doendo. Jogo uma garrafa de água para ela, que aceita sem pestanejar, abrindo-
a e engolindo vários goles do líquido gelado. O suor escorre pelo seu rosto
delicado de menina e suas bochechas estão coradas, a deixando ainda mais
bonita.
— Como se sente? — pergunto.
— Cansada, porém mais leve.
— Quando a ansiedade bater em você, jogue-a para fora! Canalizar os
sentimentos negativos em algo produtivo vai te ajudar a passar por isso. Não
vou dizer que vai ser fácil, mas confie em mim: vai ser menos doloroso do que
ficar parada.
— Eu espero que você tenha razão. Ter força de vontade, eu sempre tive,
só que nunca consegui sair totalmente dessa coisa.
Me aproximo dela e tiro seus fios de cabelos molhando de sua testa.
— Você vai conseguir. — afirmo.
— Como pode ter tanta certeza de que agora vai funcionar? — Cruza os
braços, me olhando desdenhosa.
— Porque agora você tem a mim e eu acredito em você e no seu
potencial.
Ela abre a boca, em choque, e eu sorrio, tocando com um dos meus
dedos a ponta do seu pequeno nariz arrebitado.
— Você nem me conhece direito. Como pode colocar tanta confiança em
mim?
— Eu não seria o executor se não tivesse habilidades especiais, Angel.
Eu vejo através de você. Só não traia a minha confiança, ou eu não hesitarei
em acabar contigo! Entendeu?
Ela balança a cabeça positivamente com os olhos arregalados.
— Vamos entrar e tomar um banho! Preciso ir trabalhar daqui a pouco e
você irá comigo. — Viro-me para sair e escuto seus passos ao meu lado.
— Onde iremos? — pergunta curiosa.
— Fazer pesquisa de campo.
Angel me olha sem entender, e quando percebe que não irei lhe dar mais
informações, se cala. Espero que eu não tenha me enganado com ela e não
quebre a cara futuramente. Quero realmente ajudá-la, porém, algo me diz que
tenho que ficar em alerta, e meu sexto sentido nunca me enganou. Há alguma
coisa que me incomoda desde a primeira vez que nos vimos, e seja o que for
que ela me esconde, eu sinto que não é boa coisa. Não sou nenhum idiota e
nem nasci ontem.
Eu prefiro tê-la sob minha proteção e ficar de olho em cada passo
seu. Primeiro porque eu a quero, e segundo porque prefiro que ela esteja sob a
minha supervisão do que deixá-la solta por aí e dar a chance a Snake de pegá-
la. Apesar de ser muito nova, e por mais bonita e atraente que seja, eu vejo que
Angel está acostumada a manipular os homens. Não posso cair em suas
armadilhas, ou colocarei tudo a perder por conta da atração que sinto. A
protegerei e a ajudarei enquanto ela estiver comigo e eu a considerar inocente.
Tudo que eu disse foi muito sério e eu não saio por ai fazendo ameaças
em vão. Se eu descobrir que existe algum perigo por trás dos seus segredos,
que irá prejudicar todo o meu trabalho e colocar a vida do capo em risco, será
muito doloroso para mim, mas pelo bem da máfia, eu darei um fim nela, se
estiver mentindo para mim, e em todos que se colocarem em meu caminho.
Minhas responsabilidades sempre virão em primeiro lugar, independente dos
meus sentimentos estarem em jogo. Eu fui treinado para ser fiel à organização
e morrer defendendo-a. Eu não traio a famiglia e muito menos meu irmão. O
meu juramento só termina com a minha morte.
Saímos em silêncio e entramos no seu carro.
Por um bom tempo a música Preach de John Legend tocando baixinho é
a nossa única companhia, ajudando-nos a quebrar o silêncio forçado até
chegarmos ao nosso destino, ou ao lugar que eu imagino que seja a nossa
parada.
Eu quero perguntar várias coisas, mas me calo todas as vezes em que as
palavras se formam em minha língua. Fico indecisa se ele me dará essa
abertura ou se tudo que tem feito é apenas por instinto de proteção. Ele olha
para a frente fixamente com os dedos apertando o volante tão fortemente que
eles ficam brancos. Eu me questiono se fiz algo para deixá-lo chateado desse
jeito. Será que é a missão que está o deixando tão irritado assim?
— Fale logo, Angel! O que tanto quer me perguntar?
Minha boca seca e inconscientemente minha língua sai para molhar
meus lábios ressecados.
— Está chateado comigo? — pergunto insegura de que eu possa estar
pisando em ovos com ele.
— Não. Só estou estressado com algumas coisas que aconteceram. Era
isso que queria perguntar?
— Não. Eu queria saber mais sobre você.
Ele traz seus olhos para os meus e arqueia a sobrancelha esquerda.
Quase me bato por ser tão estúpida.
Eu trato de completar a fala rapidamente diante do seu questionamento
desconfiado e silencioso.
— Curiosidade sobre como você virou um executor. Antes de nos
conhecermos, eu já havia escutado muitas histórias suas. Imagino que para se
tornar um assassino frio, teve anos de treinamento, não é?
Ele parece respirar com alívio e eu fico curiosa sobre o porquê dele
parecer de repente distante e cauteloso comigo.
— Sim. Alguns de nós já nascemos com um instinto assassino, e outros,
como eu, passam por um rigoroso treinamento desde criança para se tornar
um.
— E não é difícil tirar a vida das pessoas?
— No início sim, mas com o tempo aprendemos que somos nós ou os
outros. Ninguém terá pena de você se puder trocar de lugar na hora de puxar o
gatilho. É nisso que eu foco.
— Eu já fiz muita coisa errada, mas nunca passou pela minha cabeça
tirar a vida de alguém.
— Somente a sua. — rebate com os dentes trincados.
— Só a minha. Ela não vale muito, então não vejo porque não dar um
fim nela.
Em dois tempos ele puxa meu queixo para si e o segura com um pouco
mais de força do que o necessário.
— Você nunca mais tentará isso de novo, menina! Ou eu mesmo te
punirei por isso. Sua vida me pertence agora e somente eu decido se você deve
morrer ou viver. Entendeu?
A intensidade das suas palavras me deixa sem fôlego.
— S... Sim. — gaguejo de nervoso, não conseguindo formular mais nada
para respondê-lo.
— Não quero te ouvir falar que não merece viver por conta dos seus
erros. Acredite em mim quando eu lhe digo que tudo que você já fez, não
chega aos pés do que muitos de nós fizemos! Tem muitas pessoas que não
deveriam estar vivas por aí poluindo o ar com suas respirações imundas.
Franzo a testa com a maneira que ele fala sobre essas pessoas. É como se
conhecesse todas elas pessoalmente e odiasse cada uma.
— Você acha que é uma dessas pessoas? — pergunto curiosa.
— Eu sou a pior delas, Angel. Estou além da redenção. Quando eu me
for, não passarei nem na beira dos portões dos céus, muito menos verei luz e
anjos me esperando.
— Nossa! Por que não parece preocupado com isso?
— Porque o inferno não pode ser pior do que tudo que eu já vi e vivi.
Estou acostumado com o mau e não me arrependo de nada que fiz. Então não
tem porque eu me enganar.
— Se a máfia é tão ruim assim, não entendo o porquê de você colocar
sua vida em risco por eles.
— Porque nascemos e vivemos nela, respiramos ódio e ansiamos pelo
medo. Aqui nós somos a lei. Eu não me imagino em outra vida e tenho ciência
de que um dia a minha morte irá chegar, e logo em seguida outro irá pegar
meu lugar e continuar de onde eu parei. É assim que nós somos e é para isso
que nascemos. Essa tatuagem é muito mais do que uma promessa de vida. Ela
é um lembrete de que sem a máfia não somos absolutamente ninguém.
Ele se cala depois dessa análise arrepiante e eu apenas o observo por um
tempo antes de me virar para a frente.
Minutos se passam, ou talvez horas. Seus olhos estão em alerta na nossa
frente, onde várias motos entram e saem pouco tempo depois. Me pergunto
porque ele não entra lá e acaba logo com tudo, como da outra vez. Seria menos
cansativo e estressante do que ficar de castigo aqui dentro do carro.
— O que você está exatamente procurando aqui? — não aguento ficar
calada e pergunto.
— Não é o quê, mas sim quem. — Aponta para o carro luxuoso que
entra pelos portões de ferro do lugar.
— É o carro do pastor. — reconheço o automóvel.
— Bom. Sinal de que você não mentiu sobre isso. Vamos aguardar sua
saída e o segui-lo de perto.
Uma batida na janela nos chama a atenção.
— Droga! Maldito agente! Eu vou abrir a janela e você vai ficar de bico
fechado! — avisa e desce o vidro.
— Marco! — o homem todo tatuado o cumprimenta.
— Gabriel! Não vou dizer que é uma surpresa encontrá-lo por aqui, já
que imagino que esteja atrás do mesmo que eu.
— Você não deveria estar aqui. Esse é o meu caso e não vou deixar
vocês estragarem minha investigação.
— A contar que você está em nosso território e não tem nada contra nós,
não tem porque sermos inimigos.
O agente semicerra seus olhos para o Marco e eu o vejo colocar a mão
na cintura, onde está escondida uma de suas armas. Gabriel também
acompanha o movimento, ficando em alerta. Meu coração acelera e eu começo
a suar de ansiedade pelo que está prestes a acontecer bem a minha frente. Mas
antes que qualquer um deles fale ou faça alguma coisa, o carro sai de dentro do
local, acelerado, levantando uma nuvem de poeira na estrada de chão e
chamando a atenção dos dois. Eu quase choro de alívio por essa distração.
— Espero que você e Vincent estejam cientes de que se me prejudicarem
terão não só a mim como inimigo, mas também o FBI na cola de vocês.
— Estamos cientes disso. Como eu disse, temos interesse em comum,
então não tem porquê brigarmos em meio a uma provável guerra a caminho.
Gabriel traz seus olhos para mim e eu me encolho no canto com medo
de ser reconhecida. Não me lembro dele, mas estive drogada tantas vezes no
clube que não me admiraria algum dia eu ter ficado com ele e não me lembrar
do seu rosto. Mas como se meu anjo da guarda estivesse com pena de mim,
mesmo sem eu merecer, mais uma vez me livra de uma possível enrascada.
— Acho que está na hora de você ir. — Marco sugere calmo, mas com
um claro aviso na voz.
O agente, como se fosse para provocar e provar algum estúpido ponto,
pisca para mim e se afasta rapidamente da porta.
— Boa noite, senhorita. Nos vemos por aí, executor. — Sorri
desdenhoso olhando para Marco.
— Para o seu bem, eu espero que não, agente. — ele devolve o
atrevimento.
Gabriel some no meio da mata e Marco liga o carro para sair.
— Está com fome? — Me olha.
— Muita! Você não é um bom parceiro de crime.
Seus olhos brilham com humor.
— Então vamos comer, Angel, porque toda essa adrenalina me deixou
muito excitado e eu quero estar dentro de você o mais rápido possível. É
melhor aplacar isso antes que eu resolva ir atrás desse agente filho da puta para
meter uma bala na cabeça dele por ser um atrevido e cobiçar o que é meu.
Meu corpo esquenta e eu sinto minha boceta palpitar de desejo. Esfrego
uma perna na outra, tentando conter o incômodo. Ele sorri ao perceber minha
reação diante das suas insinuações pervertidas.
— Você parecia muito calmo até ele chegar. — tento tirar o foco do fogo
que sinto, mudando de assunto antes que eu pule nele e o faça me foder aqui
mesmo.
— Geralmente sou tranquilo. Não sou do tipo impulsivo. Tudo que faço
é meticulosamente calculado.
— Já notei.
Ele acelera o carro e nos leva a uma Starbucks para comprar nosso
lanche.
Eu não sou hipócrita. Desde mais cedo anseio por mais de seus toques.
O Marco é gostoso com G maiúsculo e não vejo o porquê de eu não aproveitar
cada segundo com o cara. Talvez não tenha sido coincidência meu destino ser
entrelaçado ao dele. Se ele continuar a cuidar de mim, não irei me importar de
ser somente sua e tentar levar adiante o que temos. Não tenho nada a perder
mesmo. O que de pior poderia vir de um relacionamento com um homem
poderoso e respeitado como executor e braço direito do capo?
Olho pela janela os pingos de chuva baterem no vidro transparente e
acompanho as gostas escorrerem vagarosamente até sumirem. Suspiro fundo
tentando colocar meus pensamentos no lugar e chegar a um consenso comigo
mesma.
Eu preciso voltar. Minha vida está sendo uma droga aqui. Todo o
dinheiro que peguei com o Luigi já acabou e eu só tenho arranjado alguns
serviços meia boca que me pagam quase nada. Meus gastos dobraram ao
decorrer do tempo e nada que eu faça alivia esse meu fardo. Ser mãe solteira é
muito difícil, e o fato de não ter um pedaço de papel nas mãos chamado
diploma me impede de arrumar um emprego que pague um bom salário.
Esse é o resultado de quando se fica presa e a única profissão que se
conhece é vender o corpo. Não me adiantou de nada essa liberdade se não
tenho mais família e grana para me sustentar. Mas como vou conseguir mais?
Fiquei sabendo que os Dragons estão de volta em Los Angeles e estão se
reagrupando. Será que eu teria a sorte de me tornar uma old lady? Seria uma
chance de ouro, mas acho muito difícil, já que meu corpo não é o mesmo de
antes depois da gravidez conturbada que tive e fiquei com marcas na pele.
Eu queria mesmo era estar com o meu homem. Marco sempre será a
grande paixão da minha vida e deixá-lo para trás foi a decisão mais difícil que
tomei. Eu queria que ele tivesse me olhado com outros olhos. Eu fiz de tudo
para conquistá-lo, mas o executor nunca me enxergou mais do que uma mulher
fácil para se aliviar. Tentei provar várias vezes que eu o amava, mas o mesmo
não se importou. Homem sem coração!
Eu não me importaria de amar por nós dois. Se eu tivesse ganhado uma
chance de estar em seus braços, isso seria o suficiente para mim. Ele
provavelmente me mataria se eu aparecesse hoje na sua frente.
Pensa, Ashley! O que te faria dar a volta por cima?
Se ao menos eu soubesse que Lorena não guarda mágoa de mim, eu
poderia ir até ela e pedir sua ajuda, mas a mesma deve me odiar pelo que eu
fiz, e agora sendo a mulher do chefe, o poder deve ter subido a sua cabeça,
tornando-a uma esnobe como as outras madames da alta sociedade. Não a
condeno, porque eu também estaria aproveitando uma vida de rainha e
curtindo cada minuto se estivesse no lugar dela. Lorena agiu com inteligência
e se deu bem, ao contrário de mim que me desesperei quando as coisas ficaram
feias e pulei do barco assim que pude, me colocando em um beco sem saída.
O choro estridente do moleque no berço me causa ainda mais dor de
cabeça e eu olho a criatura que só me trouxe prejuízo, a começar pelo estrago
que fez em meu corpo que uma vez foi perfeito. Eu deveria tê-lo abortado
quando tive a chance, mas no fundo tive a esperança de que ele fosse do
Marco, mesmo eu sabendo que as chances eram quase nulas. Foi um enorme
engano da minha parte. O menino nasceu a cara do imbecil do Romeo,
puxando dele até mesmo a manchinha vermelha no pescoço.
Uma luz se acende em minha mente. Claro! Porque não pensei nisso
antes, porra? Marco e Romeo são muito parecidos fisicamente. Se eu falar que
o bebê é dele, todos irão acreditar, já que ele ficava comigo na mesma época
que aquele estúpido. Somente eu saberei da verdade. O executor poderá
acreditar na minha história e me perdoar por eu ter fugido, se eu contar meus
motivos, ainda mais por ele ser filho bastardo e rejeitado de uma prostituta —
informação que mantive somente para mim, mas que agora poderei explorar
bem. — Marco ficará com pena da minha situação e me aceitará de volta ao se
lembrar de como a mãe dele foi tratada por tê-lo, e com toda a certeza me
protegerá e não deixará nada acontecer comigo e nem com a criança.
Bato palma, maravilhada e muito feliz que minha sorte parece ter
mudado de repente.
— Quem diria, hein, pestinha, que você me serviria de alguma forma?
— Mamã! — Ele sorri se babando todo e eu torço o nariz com nojo.
Não nasci para ser mãe e não tenho um pingo de paciência para cuidar
de criança, mas o fato de não tê-lo tirado de mim na época, talvez tenha sido a
minha melhor escolha até agora.
— Você será a minha passagem dessa vida miserável para uma de luxo,
pirralho. É melhor conquistar o coração daquelas pessoas, porque eu não lhe
tive para ser um estorvo. Chegou a hora de você pagar pelos estragos que me
fez. Todos os meus sacrifícios têm que ser recompensados.
Ele inclina a cabeça para o lado com a mão gordinha na boca, sem
entender nada do que eu digo. Também quem pudera! Só tem um ano e meio e
mal sabe falar o básico. Mas esse tempo que fiquei sumida vai vir a calhar
agora. Foi o suficiente para eu me preparar, arrumar uma boa desculpa e deixar
as coisas esfriarem.
— Mamã! — Pietro começa a chorar de novo, querendo sair do berço.
— Vamos voltar para o seu papá! — digo a última palavra bem
pausadamente para que ele se acostume com ela e aprenda a pronunciá-la.
Chegou a hora de pegarmos o que é nosso. — Espero que dê tudo certo e você
me ajude com isso. Fale “papá”, Pietro!
— Papá?
Sorrio por ele pegar de primeira. Não posso negar que o moleque é
muito inteligente e curioso, e isso é maravilhoso para meus planos.
— Isso mesmo! Seu papá! — Pulo animada, o fazendo rir.
Pego ele no colo e o deixo sentando no chão para brincar. Corro para o
guarda-roupa e jogo na cama as nossas poucas coisas e começo a organizar
tudo numa pequena mala velha. Marco, Marco! Não perde por esperar. Estou
voltando para você, meu amor, e dessa vez é para ficar. Espero que ainda esteja
sozinho. Eu odiaria saber que me substituiu tão facilmente. Irei tirar qualquer
uma que estiver em meu caminho.
Antes de aparecer para ele, vou sondar primeiro como as coisas estão
por lá depois que eu saí. Paciência é uma qualidade que eu não tenho, mas vou
me treinar a ter para não cometer nenhum erro e colocar tudo a perder.
Los Angeles, aí vou eu!
DOIS MESES DEPOIS
(...)
(...)
Depois de nos entupirmos de comida e guloseimas, estamos assistindo a
um filme para nos distrair. Vejo que sua expressão denota preocupação tanto
quanto a minha.
— Acha que aconteceu algum imprevisto? — pergunto.
— Não. Eles se mantêm fechados e incomunicáveis quando estão nessas
missões. Eu particularmente odeio. Fico inquieta e muito nervosa quando
Vincent sai a trabalho.
— É assustador. — confirmo que isso me incomoda também. E olha que
estou nessa vida há muito pouco tempo.
— Você gosta mesmo do Marco, não é?
— Vamos dizer que nesse tempo juntos, ele me surpreendeu.
— Torço muito por vocês. Ele merece ser feliz e você também. Sei que
ainda está insegura para me depositar sua confiança. O que é bem engraçado
se parar para pensar, já que Marco também é reservado assim. — Rimos. —
Entretanto, Angel, eu não forçarei nada. Quando estiver pronta, confie em
mim. Quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Eu me vejo
em você e quero muito ser mais próxima de vocês dois.
— Eu agradeço. Só o fato de estarmos aqui é um grande passo. No início
seu homem queria me matar.
Ela gargalha.
— Vincent é muito protetor, mas te garanto que ele tem um grande
coração.
— Se ele te ouvir dizer isso, vai pirar. Um mafioso detesta que acabem
com suas reputações de fatais e tudo mais.
Rimos mais forte dessa vez.
Conversamos mais um pouco, e quando temos a certeza de que não
chegará novas informações sobre eles, nos deitamos para dormir.
Para ser sincera comigo, nem preciso que me digam nada. Eu sinto que
ele precisa de mim. Não sou adepta a nenhuma religião e nem sei se tenho esse
direito depois de tantos erros cometidos em minha vida, no entanto, mesmo
não me achando merecedora de qualquer piedade divina, faço uma pequena
prece pedindo que onde quer que ele esteja, meus pensamentos positivos o
alcance e o traga para mim são e salvo.
O barulho alto do lado de fora do quarto me faz pular da cama. Encontro
Lorena no corredor, de roupão, tão assustada quanto eu. Alguém está tentando
invadir o apartamento e cada batida violenta nos faz saltar. Nino pede para que
façamos silêncio e mantenhamos a calma. O que é quase impossível de acatar,
já que a qualquer momento poderemos estar todos mortos.
Uma semana se passou desde a saída de Marco e continuamos no
escuro. Dizer que o pior já tinha passado em minha mente é um eufemismo.
Ninguém sabe de nada, e se sabem, não compartilham nem mesmo com
a esposa do chefe. Isso me faz acreditar que a situação é muito pior do que
aparenta.
Lorena segura firmemente uma das minhas mãos e esperamos a bagunça
terminar. Logo a porta do elevador se abre e vários homens entram armados já
se sentindo os donos do local. Nino parte para uma luta corporal com alguns, e
como esperado é nocauteado rapidamente, levando um tiro à queima roupa. Lá
se vai a nossa única oportunidade de sobrevivência. Se é que tínhamos uma.
Quero me aproximar e ver se Nino ainda está respirando, mas me
mantenho paralisada no lugar. Isso foi uma luta injusta, já que somente ele
estava aqui em cima contra pelo menos uns dez deles. Eu me pergunto o que
aconteceu lá embaixo com os outros para que eles alcançassem a cobertura tão
facilmente.
— O que vocês querem aqui? — Lorena questiona tentando soar firme.
— Olha só se não é a vadia do chefe! Ou devo dizer ex-chefe? — um
jovem zombeteiro diz.
Pela sua postura, acredito que ele seja o mandante da baderna. Ou o cara
é muito burro em invadir um dos locais da máfia ou é suicida mesmo.
— Do que está falando? Meu marido voltará em breve da missão e
acabará com todos vocês por essa ousadia.
— Oh! Vejo que não te falaram, não é?
— Não falaram o quê? — ela pergunta com a voz trêmula.
— Seu marido e todos que foram com ele, estão mortos, querida.
Não! Sinto o estômago doer, o coração acelerar e minhas pernas
fraquejarem com a notícia.
— É mentira sua! — Lorena grita desesperada. — Afinal, quem é você,
hein?
— Eu sou o Lorenzo. Há tempos que quero te conhecer melhor,
principessa. Por sua causa o meu irmão foi morto, sabia? Quero saber qual o
gosto da boceta que fez o seu querido marido matá-lo em frente ao Conselho.
Deve ser muito doce, já que saiu do cargo de prostituta direto para o de esposa
do capo.
Arfo com tamanha grosseria. Agora entendo o porquê ela diz se ver em
mim. Viemos da mesma vida.
— Você não respeita mulheres grávidas, seu escroto?! O que te garante
que eles estão mortos? Viu o corpo deles? — o enfrento tentando ganhar
tempo.
Ele gargalha com seus homens, anda até o balcão de bebidas, pega uma
garrafa de vinho, abre-a calmamente e bebe direto do gargalo.
— Você deve ser a vagabunda do Marco, aquela que Snake está criando
quase uma guerra para ter de volta.
Dou alguns passos para trás com a menção do nome do meu ex. Se for
verdade tudo que ele diz, estamos muito ferradas. Principalmente eu.
— O que foi? O gato comeu sua língua, gatinha? Não parece tão
corajosa agora. — Ri maldoso do meu nervosismo. — Vamos indo! Eu tenho
muito o que fazer e aqui não é o meu lugar favorito.
— Para onde irá nos levar? — pergunto quando estamos descendo
escoltadas por ele e seus capangas.
— Você é parte do meu acordo e essa daí tem contas a acertar comigo.
— Empurra Lorena para a frente.
Quando chegamos ao primeiro andar nos assustamos com a cena que
presenciamos: corpos esparramados para todos os lados e algumas das
meninas jogadas sobre os sofás e mesas, sendo violentadas por alguns homens
nojentos. É de causar repugnância o cheiro de sangue e toda a violência.
Somos colocadas em uma van preta. Agarro o braço de Lorena tentando
lhe passar conforto ao mesmo tempo em que tento pegar um pouco para mim.
Ela está tremendo, com as mãos geladas, e isso me deixa preocupada.
Claramente está em choque com todas as informações que foram jogadas em
cima dela. Eu me sinto sangrando por dentro, contudo não tenho tempo para
me entregar. Estou pensando em um meio de nos livrar dessa e tudo que me
vem à cabeça é que vamos morrer.
O veículo arranca em alta velocidade.
Estamos andando há algum tempo, quando um tiroteio começa e o carro
anda em zig zag nos jogando tanto para a frente quanto para trás. Um impacto
forte na traseira vem e sentimos que paramos de nos movimentar.
— Que porra está acontecendo ai?! — um dos caras mal-encarados
pergunta.
— Estamos sendo perseguidos. — o motorista responde. — Temos que
sair. São muitos.
Os homens saem em uma gritaria e mais barulho de tiros começam.
— Lorena? Temos que aproveitar. É a nossa única chance.
— Iremos ficar no fogo cruzado.
— Se ficarmos aqui, iremos morrer também. Temos que tentar.
— Tudo bem! O que está pensando?
— No “três” sairemos e vamos correr o mais rápido que pudermos.
Okay?
Ela balança a cabeça, concordando.
Chuto com força a porta traseira, que para a nossa sorte, eles a
esqueceram apenas encostada. Saio em disparada puxando Lorena pela mão.
Estamos em uma estrada de terra cercada de floresta e isso nos possibilita ir
para a mata fechada. Uma chance de ouro que talvez não teremos mais se eles
nos alcançarem. Corremos sabendo que nossas vidas dependem disso. A dela
mais ainda, pois em seu ventre está o seu filho.
— Oh, meu Deus! Estou escutando gritos atrás da gente. Eles estão nos
alcançando. — Lorena choraminga.
— Continue! Não pare! Estamos juntas nessa e eu não vou te deixar para
trás.
— Não dá! Eu não aguento mais. Minha barriga dói.
Ela se segura em uma árvore para buscar fôlego e eu paro olhando tudo
em volta. Pego um pedaço de pau no chão para pelo menos tentar nos defender
dos agressores e puxo Lorena para trás de algumas árvores. Faço sinal de
silêncio e ficamos quietas tentando ouvir qualquer barulho suspeito.
— Droga! Perdemos elas de vista. Continuem procurando! Não devem
ter ido muito longe.
Lorena me cutuca e abre a boca para falar algo, mas eu a tapo. Não
sabemos se a pessoa é confiável, portanto não podemos nos mostrar.
— Vocês não são muito boas em se esconderem.
Gritamos com a voz atrás de nós.
Levanto o pedaço de pau e com toda a força que tenho acerto o golpe na
cabeça de um dos homens.
— Não, Angel!
Só depois que Lorena fala, é que eu olho quem é a pessoa. Vincent está
caído no chão, xingando até a minha quarta geração, e Marco está rindo do
nocaute que o seu chefe levou.
— Está doida mulher? Não viu que éramos nós? — Vincent questiona.
— Não, vossa alteza. Eu estava mais preocupada em nos proteger do que
cuidar com carinho de quem nos perseguia. — retruco.
— Tem muita sorte de que estou ferido e preocupado com Lorena, ou
você ia se ver comigo.
Ele só pode estar brincando com a minha cara. Coloco as mãos na
cintura e o encaro com raiva.
— Tudo que eu ouvi foi um: “Obrigada, Angel, por proteger a minha
esposa e o meu bebê!” — sou sarcástica.
Ele treme um canto do lábio superior e levanta uma sobrancelha.
— Tudo bem. Dessa vez vou deixar passar. Obrigado! Te devo uma.
— Espero que isso seja bom. — respondo duvidosa.
— Acredite: é sim. — Marco se aproxima.
Somente depois da minha pequena discussão com o Vincent, é que
finalmente olho somente para Marco e a minha ficha cai, me trazendo para a
realidade. Solto mais alguns gritos quando confirmo que ele está bem, vivo e
inteiro. Menos o capo, que escorre o sangue da têmpora por conta do meu
ataque.
— Marco?! — Pulo em seus braços. — Você me assustou. Estávamos
sendo perseguidas por um tal de Lorenzo e seu homens.
— Já acabou, pequena. Vocês estão seguras agora.
Respiro aliviada e vejo Vincent abraçando sua mulher. Sorrio feliz por
eles estarem realmente aqui e por aquela notícia ter sido um infeliz engano.
— Eles falaram que vocês estavam mortos. — eu conto.
— Era preciso que todos pensassem assim. Vamos para casa! Amanhã
tenho muita coisa para resolver. — Marco explica.
Percebo que ele está mais magro, e mesmo que tente disfarçar, está
pálido.
— Você está ferido? — pergunto.
— Estou bem. — ele responde.
— Precisa descansar, Marco. Já fez muito esforço por hoje. — Vincent
diz ao nosso lado.
Um olhar estranho se passa entre eles e eu não perco Vincent encarando-
o com um aviso.
— Eu vou cuidar dele. — chamo a atenção deles e recebo um beijo do
meu homem na testa.
— O que tiver que resolver, deixarei para amanhã. — Marco reforça.
Ambos finalizam a conversa oculta que apenas eles entendem.
Saímos para a estrada e cada um entra em seu carro. Olho o campo de
guerra na nossa frente. É surreal o que esses homens podem fazer em alguns
minutos. Não é por pouco que são tão temidos. Por onde eles passam, o rastro
de morte é inevitável. Eu quase sinto pena do otário que entrou no caminho
deles. Se só aqui foi essa chacina, o “amanhã” promete cabeças rolando na
guilhotina.
Olho para Marco no mesmo instante em que ele se vira para me ver e eu
sorrio feliz deitando a minha cabeça em seu ombro. Ele entrelaça sua mão na
minha e juntos voltamos para o conforto do nosso lar.
Ficar escondido e longe de casa, não me deixou exatamente feliz. Pior
ainda quando o médico me disse que eu precisaria ficar guardando repouso por
alguns dias. Eu queria matar todos a minha volta por ter falhado. Jamais fui
um homem de sentar e esperar pacientemente por nada, e sim de pegar o que
eu quero ou destruir tudo que preciso. Entretanto, dessa vez não foi como
desejado. Pela nossa segurança e minha melhora, tivemos que fazer diferente.
Pelo menos os desgraçados estão todos mortos e Vincent conseguiu o
nome de um dos mandantes. Sim. Porque têm mais algumas ratazanas por trás.
Uma só não teria tanto poder e nem informações privilegiadas sobre nós. Além
disso, tem alguém de dentro da Camorra passando tudo em primeira mão. Só
de imaginar que mesmo depois de toda a limpeza que fizemos, ainda temos
gente da famiglia com juramentos falsos se aliando a esses filhos da puta, meu
sangue ferve de ódio. Mas vou lembrá-los do porquê somos prósperos e temos
mais respeito do que qualquer outra organização que existe no mundo. Suas
traições serão a ruína de suas famílias. Dessa vez não deixarei nenhum deles
vivos para montarem suas vinganças. Terá um banho sangrento maior e a vista
de todos para dar-lhes uma lição de uma vez por todas.
— Você está tremendo. Tem certeza que está bem? — Angel pergunta.
— Sim. Só estou cansado.
— Venha! Deixe eu cuidar de você!
Sorrio e a olho com carinho. Ela me surpreendeu ao ajudar Lorena e
ganhou alguns pontos positivos com o chefe. Sem querer acabou provando sua
lealdade e isso me deixou muito orgulhoso. Dias sem vê-la foi doloroso, e o
medo de que os inimigos viessem para cima dela sem eu estar por perto, era
desesperador. Ainda bem que chegamos a tempo. Eu nunca me perdoaria se
tivesse acontecido qualquer coisa com ela por minha causa.
— Senti sua falta, raposinha. — A puxo para um beijo.
— Eu também senti a sua. Vai me dizer o que aconteceu com você, não
vai?
— Eu prefiro que você seja poupada de todos os detalhes tenebrosos
dessa viagem. Se eu pudesse, esqueceria dela também.
— Foi tão ruim assim?
Aliso seu rosto delicado e me inebrio de suas feições angelicais.
— Foi pior do que qualquer coisa que eu passei em toda a minha vida.
Eu morri e voltei.
Levanto a blusa e lhe mostro a cicatriz recente e ainda avermelhada no
peito.
— Meu Deus, Marco! — Coloca a mão na boca e seus olhos se enchem
de lágrimas. — Eu sabia que algo grave tinha acontecido com você. Ninguém
me falava nada. Eu perguntava e todos sempre respondiam a mesma coisa: que
não sabiam nada sobre vocês ou que estavam sem contato. — Passa devagar os
dedos sobre a marca e fala tudo de uma vez, nervosa.
— Ei! Respira! Eu estou bem agora. Eles terão que fazer melhor da
próxima vez. — Tento sorrir para que ela veja verdade. O pior já passou.
— Não é engraçado, Marco. Você poderia ter morrido. Eu... Eu não
estou preparada para isso. Não é justo você me fazer te amar somente para me
deixar sem você depois.
Paro de respirar com seu desabafo. Eu ouvi direito? Será que ela acabou
de dizer o que eu acho que ouvi?
— Você me ama? — Meu coração bate forte no peito aguardando sua
resposta.
Porra! Eu quero ouvir de novo.
— O quê? — Me olha com cautela.
— Você me ama?
Ela abaixa a cabeça, envergonhada, e eu levanto seu queixo para ela me
olhar nos olhos.
— Fale, Angel! Me diga o que sente por mim!
— Eu amo você, Marco Moretti! Mesmo você agindo feito um estúpido
às vezes.
Encosto minha testa na dela e uma emoção me toma quando ouço a sua
confirmação. A lembrança da última vez que ouvi essas palavras doces de
mamma me vem à cabeça.
Eu te amo, bebê! Você é uma criança muito especial. Nunca se esqueça
disso.
Em toda a minha vida, Angel é a segunda pessoa a me dizer essa frase.
Eu quero dizer o mesmo, mas as palavras ficam presas na garganta. Então faço
uma promessa que desejo cumprir enquanto respirar.
— Angel! Eu não sei se tenho um coração aqui dentro ou se valho
alguma coisa, mas posso te prometer agora que tudo que tenho e sou, te
pertence, pequena.
— Você vale muito para mim.
A abraço apertado, cheirando seus cabelos, para matar toda a saudade.
Agora me sinto completo.
Eu estou dominado por ela e o engraçado é que não me importo. Muito
pelo contrário: eu gosto desse sentimento de pertencer a alguém, de ter outra
pessoa por quem lutar, para quem voltar. Angel veio para dar mais sentido à
minha vida, a que eu achei que estava perdida. Essa menina se tornou parte de
mim e por ela sou capaz de tudo.
— Vamos sair desse carro! Seus soldados estão olhando para cá. — Sorri
travessa.
Olho para fora e vejo meus homens encarando curiosos. As notícias
devem ter se espalhado e eles querem ver se o executor está de volta à ativa.
Ainda bem que os vidros do carro são escuros, ou eu teria que sair e ameaçar
todos eles para manterem suas bocas fechadas sobre o que viram.
— Vamos! Quero tomar um banho e comer algo substancial que de
preferência não seja líquido. Meus dentes não sabem o que é mastigar uma
refeição descente há dias. É perigoso alguns caírem com a primeira colherada
que eu colocar na boca.
— Que exagero! — Ela ri me fazendo acompanhá-la.
Saio do carro e logo sou cercado pelos soldados que me recebem felizes
e empolgados para saber o que aconteceu na missão. Deixando de fora os
detalhes que somente alguns de extrema confiança saberão, faço o resumo da
história e me despeço deles com a promessa de uma reunião depois para
montarmos uma estratégia para a retaliação. É bom estar de volta em casa e
saber que sou bem-vindo.
Abraço minha menina, me firmo nela e entramos no nosso refúgio, de
onde não pretendo sair até me sentir revigorado e pronto para outra.
— Como diabos eles estão vivos, caralho?! — Jogo o copo de bebida na
parede, com raiva.
— Eu não sei os detalhes. Só fiquei sabendo que eles estão de volta e
pegaram o Lorenzo na estrada.
— Aquele desgraçado vai abrir a boca e contar tudo. Temos que agir
rápido. Vamos para nosso esconderijo. Avisem a todos que sairemos em uma
hora!
— Será feito. E quanto à moça ali?
Olho para cima e vejo Ashley nos espionar. Quando ela percebe que foi
descoberta, sai correndo.
— Deixa ela comigo!
Subo as escadas e vou direto para quarto que ela tem ocupado. Dois
meses foi tempo o suficiente para essa garota tomar uma atitude. Se não for
cumprir a sua parte no trato, não tem porquê eu protegê-la mais. Empurro a
porta com força, a fazendo pular de susto.
— Dê o fora da minha casa! Você prometeu me ajudar, mas até agora só
tem me feito raiva. — esbravejo.
— Que culpa eu tenho? Se não tivesse me traído e mandado matá-lo, eu
teria conseguido te ajudar.
— Olha como fala comigo, sua vadia! Eu te ajudei a entrar na cidade
sem ser morta pela máfia por causa da sua promessa de trazer a minha mulher
de volta. Não pense que você e essa sua boceta flácida vão me enganar!
— Calma! Agora que ele está de volta, eu tenho que vê-lo. Tentei chegar
até Lorena, mas por sua culpa, ela está cercada por soldados.
— Você disse que tinha um trunfo que faria o executor comer na sua
mão, mas tudo que tem feito desde que chegou aqui é se trancar nesse quarto
com esse moleque e não fazer absolutamente nada. Cansei dos seus jogos.
Essa será a sua última chance de provar sua lealdade a mim ou eu mesmo
cortarei sua cabeça e a jogarei na porta do capo, como um presente. Ele vai
adorar saber que a mulher que os traiu está morta.
Ela se encolhe no canto e eu saio do quarto para não meter a mão na cara
dela. Odeio ser feito de idiota e minha paciência chegou ao fim. Eu vou ter
minha Angel de volta, custe o que custar.
A fila de homens do lado de fora deixa claro o quanto eles estão ansiosos
para o que iremos fazer. Depois de participarmos do enterro de Nino e
prestarmos nossas condolências aos seus familiares, todos estamos abalados e
com gosto de vingança na boca. Ele era um bom soldado de extrema confiança
que morreu fazendo o que todos nós esperávamos dele: protegendo nossas
mulheres. E isso não tem gratidão o suficiente que pague.
Hoje será um dia importante para cada um de nós, portanto não temos
tempo de guardar luto. Mandamos chamar todos os membros essenciais do
Conselho para uma reunião especial e na frente deles a lição irá ser passada.
Vincent está inquieto, e por mais que tente passar tranquilidade e calma, eu o
conheço tempo o suficiente para saber que o nervosismo está tomando conta
dele.
É a primeira vez que isso vai acontecer, e depois de muita conversa, foi a
melhor estratégia que arrumamos: derrubar os traidores na frente a todos, e não
mais às escondidas, como estávamos fazendo.
— Não é muito cedo para entrar em uma luta? Você só descansou por
dois dias e mesmo assim não deixou de trabalhar. — Angel me abraça
preocupada.
— Não podemos deixá-los achando que estamos com medo. Se não
reagirmos rápido, mais deles irão usar esse ataque contra nós.
— Eu sei. É só que... Estou com medo.
— Não fique, raposinha! Estou melhor e sou o executor. Tenho que estar
ao lado do chefe sempre.
— Pelo jeito não vai ser nada bonito, já que estão nos mandando para
um esconderijo. Olhe para eles! Estão quase salivando por sangue.
— Essa é a intenção: deixar uma impressão de terror. Todos têm que
saber que não vamos tolerar mais desrespeito e muito menos perdoar qualquer
falha, mesmo que seja de um dos nossos.
Beijo seus lábios e peço que Sebastian a leve em segurança.
Não sabemos o que vai acontecer. Talvez tudo saia como planejamos,
mas também pode haver surpresas indesejáveis. O nosso foco é no resultado e
é somente nisso que tentaremos pensar.
— Vincent? Tem certeza que vai mesmo fazer isso? Ainda dá tempo de
desistir. — questiono.
— Não vou voltar atrás. Isso tem que acabar. Não iremos conseguir
finalizar essa guerra com nossos inimigos externos se tivermos gente nossa
tramando contra nós.
— Eu sei. Então vamos ao local! Nossa rota será mudada de última hora
para a nossa segurança. Alec me avisou que tudo está como você pediu.
— Bom. Como nos velhos tempos. — Tenta sorrir. — Marco? Se
acontecer algo comigo...
— Nada vai acontecer. — o corto.
— Mas se acontecer, quero que proteja a Lorena e meu filho. Me
promete isso?
— Sabe que poderá contar sempre comigo. Eu sei que faria o mesmo por
mim.
— Obrigado! Eu faria sim. Agora vamos em frente, pois estamos
atrasados!
Apenas confirmo com um balançar de cabeça silencioso e o sigo.
Pouco tempo depois chegamos no galpão e vários dos nossos
convidados já estão presentes. Eles vêm na nossa direção, aparentemente nada
felizes.
— Quando você disse que queria a presença do Conselho, eu achei que
era para uma reunião em um lugar mais apropriado. — Anthony comenta com
certo desgosto na voz.
— Peço desculpa por não recebê-los com um grande jantar digno de
celebridades. A ocasião não é para festas. — Vincent responde com ironia.
— E para quê seria? — Carlo questiona curioso.
— Vocês logo saberão quando os outros chegarem. — O capo sai, os
deixando irritados pela curta conversa.
Quando todos que precisamos se juntam a nós, peço que Alec
busque Lorenzo e o traga para que possamos iniciar o nosso plano.
— O que vocês estão fazendo com o meu filho? — Anthony se exalta ao
ver o merdinha sendo jogado no chão.
— Ele é o nosso convidado VIP. — respondo com deboche fazendo
vários dos homens rirem da piada.
— Quando seu filho mais novo me desafiou na frente da famiglia, eu
achei que tinha deixado claro que não iria aceitar que mais ninguém tramasse
contra mim ou duvidasse da minha gestão. Ao que parece, não deixei
explicado o suficiente. Eu sabia que tinha alguém aqui de dentro ajudando o
cartel mexicano e os Mc's. — Vincent começa.
Os membros começam todos a falarem ao mesmo tempo, tentando se
justificarem e dizerem que não têm nada a ver com isso.
— É mentira dele! Não veem como ele nos odeia e nunca teve
consideração por nós? Lorenzo jamais faria isso contra a organização. —
Anthony defende o filho.
— Não? Então vai me dizer que seu filho não estava por trás do
atentando contra mim? O que me diz do ataque à minha boate e sobre o fato da
minha mulher ter sido sequestrada por ele?
Todos ficam em silêncio e tensos com a discussão. É possível ouvir o
barulho apenas da nossa respiração descompassada.
— Eu sabia que você ajudava meu tio e mesmo assim lhe dei a chance
de ficar com seu cargo. Deixei claro que não iria misturar a minha opinião
pessoal com a profissional. Me enganei ao pensar assim e esse erro não
cometerei de novo. — Vincent continua.
— O que quer dizer com isso? — Anthony pergunta assustado.
— A punição pela traição é a morte. Disso você já sabe. Nem você ou
seu filho fazem mais parte da organização.
— Você não merece esse cargo, seu bastardo! Sua mãe era uma vadia...
— Vincent não deixa ele terminar, já que o derruba no chão com um soco e
corta sua língua com seu punhal logo em seguida.
— Eu não admito que ninguém fale com desrespeito dos meus pais. —
Puxa a arma e a descarrega no peito de Anthony.
— Seu desgraçado! Eu deveria ter acabado com você pessoalmente. Se
não tivesse chegado a tempo, sua mulher estaria morta. Eu teria fodido muito
aquela boceta e depois a cortaria em pedacinhos. — Lorenzo grita na frente de
todos fazendo exatamente o que queríamos: a confissão dos seus erros. Assim
ele deixa os membros presentes assistirem a cena ao nosso lado.
— É uma pena que não conseguiu. Seu erro, Lorenzo, foi confiar no
outros de fora. Sua traição não tem perdão. Entre no tatame e lute comigo até a
morte! — o capo pede.
— Com o maior prazer. Vou destruir você e ser o novo chefe. — levanta
do chão, com raiva.
— Veremos!
Rio de sua patética tentativa de me acertar no rosto e o empurro para
dentro do tatame, quase sentido pena do filho da puta. Essa luta só terá um
vitorioso e todos nós sabemos quem será.
— Eu convido todos vocês a se sentarem para assistirem a uma luta
exclusiva. — informo aos demais.
— Ao menos bebida vai ter, não é? — Alessandro questiona animado.
De todos os antigos membros, ele é o único que não nos deu problemas.
Ainda.
Dou sinal para que tragam bebidas e nos sentamos para ver a luta dos
dois.
Vincent não nos decepciona e dá um show e tanto. Lorenzo até tenta de
todas as formas derrubá-lo, contudo, em menos de trinta minutos perde e é
surrado até a morte pelo capo. O sangue espirrando para todos os lados e o
barulho dos ossos quebrando é quase um êxtase para nós que estamos de fora
acompanhando ao vivo e às cores. É selvagem e animalesca toda a violência
aplicada. Assim que a luta termina nos levantamos para congratular o chefe.
Vincent faz sinal com as mãos, pedindo silêncio, e inicia o seu discurso
final.
— Hoje eu inicio uma nova era dentro da nossa organização e para isso
darei uma chance a todos vocês. Tenho duas propostas. A primeira é para o
Conselho: aqueles que são contra que eu esteja no posto de chefe, entre aqui e
lute comigo pelo cargo, cara a cara, como verdadeiros homens feitos. Se eu
perder, entregarei ao vencedor a cadeira.
Todos exclamam a nossa volta. Ninguém dá sequer um passo à frente.
— Vamos lá! É uma oportunidade de ouro. Vocês lutam e conseguem me
tirar daqui de uma maneira justa. Simples e fácil. Ninguém se habilita? — Ele
sorri desdenhoso, abrindo os braços.
O cara é assustador. Está todo ensanguentado, porém invicto. Um
verdadeiro assassino de sangue frio.
Seguro a vontade de rir ao notar o desespero dos demais. Os corajosos
têm coragem para montarem armadilhas, entretanto, não têm para lutarem pelo
cargo que tanto desejam.
— Nós nunca desejamos isso, chefe. Estamos felizes pelo seu
desempenho na Camorra.
— Não é o que tenho visto. Desde que peguei a minha posição, a qual
me pertence não só pelo meu nome, como também por anos de trabalho duro,
sempre vem um de vocês tentar me tirá-la. Essa é a chance. Façam isso agora
ou calem-se para sempre! E já deixo avisado que aquele que tramar contra
mim novamente, não só o matarei pessoalmente, como também a cada
membro de suas famílias. Eu aprendi com meu último erro. — Aponta para os
dois cadáveres.
Silêncio total no lugar. Tento ver se alguém vai tentar a sorte, sobretudo,
os presentes nem parecem respirar.
— Tudo bem. Depois não digam que eu não avisei. Agora vamos para a
próxima questão: quem são os indicados para o cargo de subchefe da Sicília?
Alguns nomes são apresentados e muitos estão aqui acompanhando o
desenrolar da reunião.
— Maravilha! Os sortudos podem subir no tatame e lutarem entre si. O
vencedor ficará com o cargo. Boa sorte!
— Nunca fizemos isso. — Alessandro fala.
— E é por isso que não valorizam quando conquistam. — Henrique dá o
ar de sua graça, nos pegando de surpresa. — Peço desculpa pelo atraso.
— Você concorda com essa ideia absurda? — Carlo pergunta indignado.
— Sim. Acho que a partir de agora todos deveriam passar por avaliação.
Há muitos anos que somente são indicados nomes das principais famílias, que
muitas das vezes são moleques inconsequentes que não sabem nem o valor dos
seus juramentos. — ele explica com calma.
— Eu poderia citar pelo menos seis dos meus soldados que merecem
esse cargo por terem feito bem mais pela famiglia do que esses que acabaram
de ser indicados. — complemento a fala de Henrique.
— Não confiam em seus indicados? Como vamos confiar neles se nem
vocês acreditam que eles estejam capacitados para o comando? — Vincent
retruca.
— Façam seus testes! E que vença o melhor. — Alessandro diz.
— Ótimo! Pode iniciar, Marco. — Henrique finaliza.
Depois de fazer os testes com cada um e avaliá-los, escolhemos o que
melhor se destacou. Finalizamos a reunião e saímos aliviados com o resultado
positivo. Ao menos um dos nossos problemas conseguimos resolver com êxito.
Agora é a vez de Snake. Esse é somente meu. Terei o maior gosto de fazê-lo
pagar por tudo que me fez passar, e com o maior prazer. Ele selou sua morte
no dia em que se meteu no meu caminho. Está na hora dele saber que não
deixarei passar a sua estúpida tentativa de me matar e ficar com o que é meu.
— Tenho uma consulta hoje. Vou descobrir o sexo do bebê. Quer vir
comigo? — Lorena se joga no sofá ao meu lado.
— Não é propenso o pai acompanhar? — questiono sem nenhum pouco
de vontade de sair hoje.
— Sim. Porém Vincent está muito ocupado com os negócios da máfia.
Não quero perturbá-lo com isso. Além do mais, tive uma ideia de fazer um chá
para revelar o sexo do bebê. Com tantas coisas pesadas que aconteceram nos
últimos dias, seria legal uma festa para animar. E você precisa ir comigo
porque será a única a saber o sexo do bebê até lá. — Bate palma entusiasmada
e eu sorrio de sua felicidade.
Eu queria dizer “não”, mas não quero decepcioná-la depois de tudo que
tivemos que passar.
— Parece uma ótima ideia. O bom é que vou poder te torturar até chegar
o dia. — Esfrego as mãos, a fazendo gargalhar.
— Você é muito má.
— Só quando quero. — Balanço as sobrancelhas.
— Então vamos! Não quero chegar atrasada, ou a Dra. Collens irá me
matar.
— Só se ela quiser morrer depois pelas mãos do seu doce marido.
Rimos mais forte e saímos para a bendita consulta.
Sentamos na sala de espera com várias outras mulheres. Algumas em
estágios mais avançados do que Lorena. É tudo estranho para mim, sobretudo,
parece encantador para elas esse momento. Eu tento me colocar no lugar delas
e me imaginar passando por essa experiência, mas quanto mais eu penso nisso,
mais longe eu me coloco. Eu não seria uma boa mãe. Como eu poderia, se não
tive uma para me ensinar a ser uma pessoa melhor? Talvez seja um castigo eu
não ter gerado uma criança ou uma dádiva se parar para analisar por onde
passei até chegar aqui.
— Lorena Lourenço?
Suspiro de alívio quando a enfermeira a chama. É muita mãe para um
lugar só.
— Se anime! Não estregue meu momento com essa cara de tacho! —
Lorena me cutuca.
— Vou tentar agir normalmente.
— Você não é uma pessoa normal, bitch.
— Está cutucando a pessoa errada. Eu posso acidentalmente contar ao
Marco sobre o sexo do bebê.
— Nãaaao! Ele contaria ao Vincent. Os dois são como cu e rola.
— É o quê? — Rio alto chamando a atenção das outras mulheres.
— É um ditado muito popular no Brasil. Você sabe... Fetiche masculino
por sexo anal e tudo mais.
— E o que uma coisa tem a ver com a outra?
— Quer dizer que eles são inseparáveis, tipo pão e manteiga.
— O certo não seria rola e vagina então? — pergunto confusa.
— Você ficaria chocada com o tanto de ditado relacionado a cu que tem
no meu país.
— Vocês são muito estranhos. — Balanço a cabeça, ainda não
acreditando nessa maluquice.
A coitada da enfermeira nos olha com a boca aberta. Creio que pensando
se nos deixa entrar ou se chama um guarda para nos pôr para fora.
— Por aqui, por favor! — Ela sai quase correndo na nossa frente.
— Acho que o assunto sobre pau a deixou desconfortável. — falo baixo
segurando o riso.
— Com uma bunda desse tamanho, duvido que pelo menos uma vez na
vida ela não tenha experimentado dar esse rabo.
— Meu Deus, Lorena! Você é maluca! — Rio de novo e me seguro na
parede. — Parece que a Rebeca anda muito te influenciando, hein?
— Pode ser. Convenhamos que ela é uma mulher empoderada e
invejável.
Concordo com ela. A mulher é linda, do tipo de parar o trânsito.
Passamos pela porta e somos recebidas pela doutora, que sorri ao nos
ver. Lorena conversa com ela e explica como tem passado o mês. A médica lhe
receita medicamentos e pede que ela deite na maca para começar a ultrassom.
Uma gosma transparente é jogada na barriga dela para o aparelho deslizar mais
facilmente. Meus olhos vão para a tela, onde aparece uma imagem borrada que
aos poucos pega forma. Um rosto com uma mãozinha na boca fica nítido e me
pego sorrindo quando a doutora diz ser o bebê. Lhe explico que Lorena não
pode saber o que é, porque prefere descobrir junto com o marido na festa que
iremos fazer, então ela diz apenas para mim.
Depois da médica detalhar o exame e colocar o barulho do coraçãozinho
para escutarmos, ela encerra a consulta dizendo que mãe e bebê estão muito
bem.
A doutora sai da sala e Lorena levanta para se trocar.
Olho para a máquina com curiosidade, e atrevida como sou, pego-a e
analiso se não tem alguém chegando. Então jogo um pouco do gel na minha
barriga e passo o aparelho sobre ela para saber como é a sensação.
— Não é assim. Está muito em cima. Tenta colocar mais abaixo do
umbigo! — Lorena me ajuda na travessura.
E para a nossa surpresa, uma pequena imagem aparece, me fazendo
soltar de uma vez a máquina.
— Angel? Você viu aquilo?! — ela parece abismada tanto quanto eu.
— É impossível.
— Não é o que parece. Deixa a médica voltar, que iremos tirar essa
dúvida.
— Não quero.
— Por que não? Isso é maravilhoso. Marco ficará feliz.
Estou tremendo. Como se no automático e muito assustada, quando a
médica volta, deixo que Lorena explique o que aconteceu. A pedido dela, deito
na mesa e o exame é refeito da maneira correta. E para a minha perdição e
preocupação, é confirmada a gestação de dez semanas. Eu estou grávida! Oh,
meu Deus! Estou grávida do Marco.
Sento em choque ouvindo todas as recomendações da Dra. Collens
enquanto ela passa vários pedidos de exames.
— Você vai contar para ele? — Lorena pergunta assim que saímos do
consultório.
— Acho que não agora. Eu ainda não acredito que é verdade.
— É normal se sentir perdida. Eu também fiquei assim na minha
primeira gravidez.
— Essa não é a sua primeira?
— Não. Meu primeiro bebê, eu perdi quando fui sequestrada por Luigi.
— Eu sinto muito. — sou sincera.
— Tudo bem. Não era o momento certo naquela época. Meu anjinho
está em um bom lugar.
Ela é tão forte e decidida. Eu queria ser assim também. O meu problema
é que sou muito pessimista e não acredito que tudo que tenho vivido vá durar.
Sempre levo essa sensação comigo. Temo que Marco decida que eu não valho
a pena e me chute de sua vida quando não for mais conveniente me ter por
perto.
— Eu vou pensar em como abordar esse assunto com ele. Ainda não me
sinto pronta para compartilhar.
— Eu te entendo. Faça no seu tempo! — Me abraça com carinho.
Entramos no carro e eu fico calada por todo o caminho. Lorena respeita
esse momento e se mantém quieta pensativa.
Quando ela me deixa em casa com a promessa de me ligar depois para
saber como estou, eu ainda me sinto fora de mim. Deito na cama e fico
olhando o teto, pensando em como vai ser daqui para a frente. O que devo
fazer nessa situação? Marco ficará realmente feliz ou fugirá? Choro angustiada
e indecisa sobre o futuro até cair no sono.
(...)
(...)
Faz pouco tempo que cheguei, então escuto a porta se abrir. Me levanto
e dou de cara com Marco.
Ele olha para o chão e depois de volta para mim. Noto rigidez em suas
feições e sei que essa conversa não será boa para nenhum de nós.
— Quando ia me contar? — pergunto logo, não querendo enrolar, nem
lhe dar tempo de arrumar uma desculpa qualquer.
— Sobre o quê?
— Do bebê e sobre tudo que está acontecendo.
— Quando o resultado do exame saísse. — diz com calma, como se não
tivesse falado de nós, e sim de outras pessoas.
— É por isso que mudou comigo?
— Não sou eu que devo explicações, Angel, e sim você.
— Sabia que tinha um filho perdido por aí? Não mente para mim! —
grito chateada. — Seja sincero comigo!
Ele vem na minha direção e fecha a mão em punho. Me preparo para
levar um soco em meu rosto. Fecho os olhos e escuto o barulho perto da minha
cabeça. O encaro, vendo que ele socou a parede ao meu lado e respira com
dificuldade.
— E quando você foi verdadeira comigo, Angel? Tem certeza que não
me esconde nada sobre a sua vida antes de mim?
Me calo. Existe somente uma coisa a meu respeito que ele não sabe, e
diante dessa situação, não irei falar. Não sei se o tenho ao meu lado ou como
inimigo. Me julguem! Estou me protegendo. Se as coisas ficarem feias, tudo
que menos desejo é ser usada como moeda de troca.
— Esse celular estava dentro do seu antigo quarto. Você o usava para
falar com Snake?
— De que porra você está falando? Eu nunca mais falei com ele. Da
última vez que soube dele, foi quando você me trouxe para cá.
— Suas mentiras não parecem convincentes para uma pessoa que tem
todas as provas contra seus argumentos. Eu sei que você é parente dos Javier.
— ele revela e o meu sangue gela. Sinto minhas pernas fraquejarem. — Foram
eles que te mandaram se infiltrar aqui? Me fazer de trouxa?
— Você que foi atrás de mim, não o contrário. Antes que venha me
julgar por não lhe falar tudo, lembre-se que disse que não iria me pressionar
até eu estar pronta. Você também não me contou tudo sobre sua vida e eu
nunca te pressionei a nada.
— Como eu pude me enganar com você, menina? Eu fiz tudo que pude
para te proteger, e em troca você me trai e mente para mim da pior forma que
existe. Eu quase morri em uma armadilha, mas todo esse tempo a traidora
estava dormindo na minha cama, como a puta barata que sempre foi.
Minha mão vai instantaneamente parar no seu rosto, acertando-lhe um
tapa.
— Pode me acusar do que quiser. Eu não fiz nada contra você ou contra
a porcaria da sua organização. Acredite nessa farsa! Eu não faço questão de
provar a minha inocência. No fim das contas, o único barato aqui é você, que
morre por um chefe que não te escolheria acima da família preciosa dele.
— Cale a sua boca! Eu acreditaria em você se tivesse me contado a
verdade. Agora não me importo mais.
As lágrimas banham o meu rosto e a vontade que eu tenho é de encher
ainda mais a cara dele de porrada.
Eu cansei. Ele não foi o único a me enfiar a faca, no entanto, será o
último.
Viro-me, o deixando na sala, e vou para o quarto pegar minhas coisas.
Não fico mais aqui nem que me metam uma bala. Sou orgulhosa e não aceito
ser capacho de ninguém. Se Marco não confia em mim, não tem porquê eu
continuar aqui me humilhando. Todos já colocaram na cabeça que eu estou por
trás das coisas ruins que aconteceram com eles. Entendo tudo agora.
— Onde pensa que vai? — ele entra no quarto e eu nem faço questão de
responder.
Saio pela porta com uma pequena mochila e sinto que ele vem atrás de
mim.
— Você não vai sair daqui! Esquece essa porra! Não pense que fugirá de
mim depois de tudo que me fez!
— Para quê eu ficaria? Para ser punida por algo que não fiz? Se vai me
matar, mata logo, porque aqui eu não fico nem sob tortura.
— Não seria uma má ideia. Tratamos nossos inimigos bem pior. — a
raiva em sua voz me faz tropeçar para trás.
Quem é esse homem?
— Bastou sua ex voltar para todos duvidarem de mim. Só está faltando
me dizer que não acha que o bebê que espero seja seu também.
Ele não responde e isso é como uma facada certeira no meu coração.
— Marco? Você acha que o nosso bebê não é seu? — pergunto
incrédula.
— Eu não sei de mais nada sobre você. Claramente me escondeu
segredos que me colocaram em risco.
— Eu te amei e confiei em você, seu desgraçado. — Rio com raiva de
mim. — Eu já deveria ter aprendido que não devo baixar a guarda para
ninguém.
— Você fez isso para si mesma. Não culpe outras pessoas por seus
estúpidos erros!
— Você está certo nisso, e eu aprendo com meus erros. Um dia a
verdade virá à tona, e saiba que não vou te perdoar por isso. Nunca! — Bato a
porta sem olhar para trás.
Encontro Sebastian do lado de fora e peço que ele me tire daqui. No que
depender de mim, não ficarei onde não sou bem-vinda. Me sinto tão perdida e
magoada.
— Não querendo me meter...
— Já se metendo. — corto as falas do Sebastian.
— Eu só quero te ajudar.
— Como? Não acredita que eu seja uma traidora também?
— Não acredito nisso. Acho que a tal Ashley armou para você. Eu tenho
uma casa mais ao sul, que ninguém sabe dela. Se quiser, te deixo lá até você se
acalmar.
— Seria bom. Não tenho para onde ir.
— Marco vai cair na real. Tenha paciência.
— Que caia de um penhasco. Não me importo.
Ele ri achando que eu contei uma piada, não sabendo ele que nesse
momento eu mesma empurraria seu chefe de um penhasco, só de raiva.
(...)
(...)
(...)
(...)
Andamos entre a multidão que canta e dança feliz. Angel para várias
vezes mostrando tudo ao Enzo, que olha com curiosidade.
— Olha, filho! Fogos! — Mostra as luzes brilhantes e coloridas no céu.
É agora. Paro e espero o momento que ela irá perceber tudo. Em meios
às explosões, várias bexigas são soltas, e em um timing perfeito, elas voam no
ar com o nome da Angel a frase que me tem ansioso e suando frio.
“Angel, casa comigo?”
Desço ao chão, ficando de joelhos, e abro a caixinha, esperando ela se
virar.
— Marco? Isso é seu? — pergunta com a voz esperançosa.
— Eu acho que só tem um anjo por aqui, principessa.
Ela me olha no chão e dá um grito, pulando com Enzo, que gargalha sem
entender o que se passa.
— Oh, Marco! Você tinha que ser tão perfeito?
— Para ficar mais perfeito, precisa responder, querida.
— É claro que aceito, seu bobo. — Sorri em meios às lágrimas.
— Espero que esse choro seja de felicidade.
— É claro que é. Estou tão feliz que estou explodindo pelos olhos.
Coloco o anel de pedra azul turquesa com corte princesa em seu dedo e a
beijo ouvindo as palmas a nossa volta.
— Se não for para causar, nem caso.
Rio de sua felicidade contagiante.
— Que bom que gostou.
— Foi muito minha cara esse pedido. Obrigada!
— Queria ganhar todos os créditos sozinho, mas deve agradecer ao
Alejandro também. A ideia dessa grandiosidade foi dele. Eu sou péssimo em
surpresas.
— Te amo, ursinho!
— Te amo, minha raposinha! — repito a frase que tenho falado muito
ultimamente em nossos momentos íntimos.
— Para sempre, não é, mi amor?
Ela beija a bochecha gordinha de Enzo, que está mais interessado em
apontar para o céu e mostrar os balões.
Namoro o anel em meu dedo e não me canso de olhá-lo. Tudo parece um
sonho. Às vezes me pego com medo de que tudo vire de cabeça para baixo de
novo. Marco todos os dias tem feito juras de amor, me tratado com carinho e
me dado muitos mimos. Sejam estes um jantar romântico feito por ele ou
alguma joia que viu e disse que se lembrou de mim.
Todavia, às vezes vejo em seus olhos uma pontada de tristeza, que é
rápida e ele disfarça bem. Sentei com ele e lhe perguntei se sentia falta da
Camorra e se queria minha ajuda para voltar, mas o mesmo me disse está feliz
aqui e que seu tempo por lá acabou. Sei que a forma que saiu, o causou
mágoas. Ele me contou toda sua história e me revelou ser irmão do Vincent.
Fiquei muito revoltada em saber que mesmo depois de tantos sacrifícios,
Marco foi tratado dessa forma por aquele capo metido a rei.
Minha vontade é de chamar Andrey de volta e mandá-lo pipocar a cara
do desgraçado, mas pelo meu homem, eu vou deixar para lá esse assunto. Só
que desde então tenho pensando em uma forma de resolver o problema entre
ele e Vincent. Marco tem me feito tão feliz que desejo vê-lo da mesma forma,
e se para isso acontecer, eu tenha que ir lá e enfrentar pessoalmente o chefe, eu
irei. Vou dizer umas boas verdades na cara daquele imbecil até que a razão lhe
volte, e claro, oferecê-lo uma proposta irrecusável que trará muitos benefícios
à Camorra. Não quero pensar que a culpada pela separação deles seja eu, então
pelo menos tentarei alguma coisa.
Não vou contar nada para Marco. Não quero lhe dar esperança para
talvez depois arrancá-la dele. Até mesmo porque cuidadoso como está comigo
desde o dia que descobri que estou novamente grávida, não me deixaria ir. Só
falta me carregar no colo e dar comida na minha boca.
Sorrio apaixonada me lembrando de como ele me surpreendeu ontem.
Cheguei em casa e o quarto estava repleto de velas e pétalas de rosas, com
Marco nu em sua glória me esperando na cama. Como um deus grego, se
levantou e me carregou para o banheiro, onde ganhei um banho e depois uma
massagem deliciosa que meu homem chamou de kit Moretti. Ri muito quando
ele falou o nome que deu. Modéstia a parte, que kit maravilhoso! Fiquei tão
relaxada depois dele e passei o dia hoje sorrindo até para as paredes. Meu
ursinho é impossível.
Não tem nada que eu não faria pela minha família e é por esse motivo
que tomarei as devidas providências, para tê-los sempre felizes, mesmo que
isso me custe engolir um sapo e aguentar Vincent por perto.
Acordar de madrugada para viajar às escondidas e aparecer em território
inimigo não eram bem meus planos para essa semana tão especial para mim.
Porém, minha consciência pede por essa oferta de paz. Se for para ver Marco
feliz, valerá a pena.
Desço do carro e entro na boate, que se dependesse de mim, eu nunca
mais gostaria de colocar meus pés. Sebatian é o primeiro a me ver e vir ao meu
encontro.
— Angel! O que faz aqui?
— Preciso falar com seu querido chefe.
— Isso não me parece uma boa ideia.
— Deixe que eu mesma decido isso, Sebastian! — Vincent fala logo
atrás dele. — O que faz aqui?
— Podemos ter um lugar para conversar ou os italianos perderam
totalmente a compostura na hora de tratar dos seus negócios?
— Não tenho nada a tratar com você.
— Discordo. E sugiro que desça desse seu pedestal e me ouça. É do seu
interesse. Acredite: estou odiando voltar aqui depois de tudo que me fizeram.
Ele fecha a cara e mostra a porta na nossa direita.
— Cinco minutos e nada mais que isso. — exige.
— É mais do que o suficiente.
Como se eu quisesse ficar olhando sua cara por mais tempo.
Entro na sala e sento-me na cadeira, não esperando por cortesia.
— Vim oferecer uma trégua. — falo logo de uma vez.
— Trégua? — Ri debochado.
— Sim. Você sabe... Aquilo que as pessoas fazem para não viverem se
matando por pouca coisa. — devolvo o deboche.
— Vá direto ao ponto!
Lhe entrego o envelope e espero que ele leia todo o seu conteúdo.
— Não entendo. O que isso significa?
— É exatamente isso que você está vendo. Eu ajudei Andrey a acabar
com os Vitiello para proteger a Camorra. Eles estavam armando com os Mc's e
o cartel Sanches para derrubar vocês. Aliás, de nada por isso.
— Por quê? — Coloca a mão embaixo do queixo e aperta os olhos em
descrença.
— Não é óbvio? O capo daqui não é nenhuma miss simpatia para trazer
aliados por vontade própria. Fiz por Marco, é claro.
— E o que quer com isso agora? Como pode ver, ele não faz mais parte
daqui.
— Quero que você faça as pazes com ele. Nós dois o amamos e isso
aqui tem que ter um fim.
— Perdeu seu tempo. Não voltarei atrás na minha palavra. — Joga o
envelope de volta para mim.
— Não estou pedindo que você devolva o cargo dele, querido. Ele está
muito bem comigo. Quero que reconsidere o fato de tê-lo excluído do convívio
familiar. Afinal, vocês são irmãos.
— Ele te contou? — pergunta com os dentes cerrados.
— Sim. Ao contrário de você, não escondemos nada um do outro.
— Cuidado! Certas coisas mantive em segredo por um motivo e prefiro
que elas continuem lá.
— Ou é muito egoísta para reconhecer que errou e o seu posto de
poderoso chefão não quer fazê-lo baixar a cabeça.
— Você não me conhece, então não me venha dizer como devo
comandar minha vida, garota!
— Não me importo em como você comanda essa organização ou seu
casamento a base de mentiras. Me interessa parar de ver o Marco cabisbaixo
pelos cantos às vésperas do nosso casamento, sem o apoio do irmão. O homem
que lutou e deu a vida por você quando recebeu aquele tiro, foi depois
descartando como se fosse um nada.
— Ele fez as escolhas dele.
— “Escolhas” que você o obrigou a fazer. Se Marco fosse uma pessoa
ruim, teria te destruído contando tudo que sabe ao Conselho. Seria a vingança
perfeita depois do que você fez com ele. Se esquece que também é um
bastardo?
— Está me ameaçando? Dentro do meu território?
Bufo uma risada.
— Estou te mostrando o óbvio. O quão injusto foi com ele depois de tê-
lo ao seu lado em todos esses anos? Se ainda está nessa cadeira dando ordens e
fingido ser o todo poderoso, é graças ao Marco. Sem ele, você não seria nada.
— Eu poderia te matar agora por ser tão estúpida em vir aqui me
desafiar.
— Lata a vontade, Vincent! Eu não tenho medo. Se quer mais uma vez
machucar Marco, faça isso, e mostre o quão ingrato é matando a mulher que
ele ama depois dele ter protegido a sua.
Ele aperta as mãos, com raiva, e sei que atingi meu ponto.
— É melhor ir embora.
— Eu vou. Mas quero deixar bem claro duas coisas. Marco uma vez me
revelou que achou que era parecido com o Luigi por ter errado tanto em sua
vida. Ele estava enganado. O filho parecido com o Luigi é você, uma pessoa
capaz de usar seu próprio sangue para alcançar seus objetivos e depois cuspi-lo
fora quando não precisa mais dele. Você não é um capo justo e só está
repetindo os mesmos erros do seu pai.
— Chega! Nem minha esposa me desrespeita dessa forma. — grita
batendo na mesa.
— Não terminei! — grito de volta. — Está na hora de parar de ser um
garoto mimado e ver o que está fazendo com vocês dois. Semana que vem irei
me casar com SEU Irmão. É melhor tirar a cabeça do seu rabo e aceitar essa
proposta, que é bem mais do que você merece depois do que nos fez. É bom
aparecer! Se não for na cerimônia, irei fazer tudo que estiver ao meu alcance
para que o Marco apague seu tempo aqui da memória e nossos filhos nunca
irão saber sobre o tio desprezível que têm. E o único culpado será somente
você.
O deixo lá cuspindo seu veneno em minha direção e saio de alma lavada.
Falei tudo que tinha para dizer. Fiz minha parte. Agora é com ele.
Angel está na sacada há horas, pensativa, e eu me preocupo que ela
esteja arrependida de ter aceitado meu pedido. A abraço por trás e dou um
beijo em seu pescoço.
— Não desceu para jantar e sumiu o dia inteiro. Aconteceu algo?
— Não. Só estou cansada com todos esses preparativos.
— Não deveria exigir tanto de si, meu amor. Ainda mais nesse estado.
— Coloco minha mão em sua barriga pequenina que leva nosso segundo filho.
— Estamos bem. Quero que tudo saia perfeito, do jeito que imaginei.
— Me deixe ajudar mais! Quero fazer parte de cada detalhe.
— Achei que vocês homens odiassem essa parte.
— Eu odeio vê-la exausta e acordando de madrugada para dar conta de
tudo.
— Me desculpe! Prometo que na minha próxima saída vou te levar
comigo. Só não pode reclamar.
— Prometo dar o meu melhor. Principalmente se tiver comida
envolvida. — eu digo e ela ri. — Agora vá deitar um pouco! Pretendo fazer
uma massagem em você.
— Qual delas?
— O kit Moretti, meu anjo, com direito a meu pau fazendo uma
deliciosa massagem no seu interior para te deixar bem relaxada.
Ela gargalha me fazendo rir junto.
— Às vezes acho que esse kit é mais para você, seu aproveitador.
— Quê isso? Olha como já melhorou seu humor. Essa é a minha
especialidade.
— Me dá vários orgasmos até eu desmaiar?
— Não. Vou te amar e cuidar de você.
— Humm! Que fofo! Sou toda sua.
A carrego para a cama, onde reafirmo mais uma vez, não só em palavras,
como também com meu corpo, o quanto sou grato por tê-la em minha vida. A
amo como merece: devagarinho e com suavidade, deixando minha marca em
seu corpo e em seu coração, como ela deixou no meu.
Nela, eu encontrei a minha redenção e não poderia estar mais feliz. Um
filho lindo e outro a caminho é muito mais do que eu mereço. Grazie a Dio
por ele me dar a chance de cuidar da minha família que tanto desejei.
Desço para treinar e jogar um pouco dessa ansiedade para fora. Estou
nervoso para caralho, temendo me embolar na hora da cerimônia e não
conseguir pronunciar minhas falas. Angel disse para eu escrever minha parte e
ensaiar, que conseguirei decorar. Mas não quero nada robótico, pois desejo
dizer o que sinto na hora, no calor da emoção. E devido à minha teimosia,
agora estou ansioso com a hora que nunca parece chegar.
Soco o saco de areia até não aguentar mais, e somente quando me sinto
esgotado, é que paro para buscar fôlego.
— Nem casou e já está frustrado?
Reteso ao ouvir a voz do Vincent atrás de mim.
— Deixa eu adivinhar: veio me matar pessoalmente? — questiono sem
me virar.
— Estou tão sem moral assim com você, que pensa que eu viria no dia
do seu casamento para matá-lo?
— Não me surpreenderia, afinal, sou um desertor.
Ele se senta ao meu lado e eu continuo de cabeça baixa, não querendo
encará-lo e ver a verdade em seus olhos.
— Eu falhei contigo de tantas formas que nem sei por onde começar. —
ele inicia.
— Pelo começo está ótimo. — o faço rir.
— Nós crescemos juntos, apanhamos juntos, fomos castigados e
humilhados pela nossa ligação fraternal, e em todas as vezes repetíamos tudo
de novo, mesmo sabendo o resultado. Você esteve lá por mim em todos os
momentos da minha vida e ficou do meu lado quando mais ninguém quis.
Acreditou em mim e lutou com unhas e dentes para me pôr onde estou.
— Vincent? — começo a falar, contudo, sou cortado por ele.
— Me deixe terminar! Eu preciso fazer isso. — Meneio a cabeça,
concordando. — Fui egoísta e falei o que não deveria à única pessoa que
escolheu morrer por mim. O mais engraçado é que precisei que uma mulher
marrenta, sem noção nenhuma dos perigos que correu, fosse até mim para me
jogar as verdades na cara.
Levanto a cabeça na mesma hora e o encaro.
— Angel foi até você? Quando?
— Há poucos dias. Foi pessoalmente me dar um ultimato e mais uma
vez provou ser a pessoa certa para você. Eu entendo o porquê abandonou tudo
por ela, cara. Angel te ama e é muito leal a você. Eu a admiro pela coragem.
— Eu não pretendo voltar para a Camorra. Achei outro propósito para a
minha vida.
— Eu sei.
— E vai me deixar viver mesmo assim?
— Não vai ouvir muito de mim essas palavras, Marco, e provavelmente
será a primeira e a última vez. Peço que me desculpe por tudo que eu te disse,
e principalmente pelas minhas atitudes. Eu estava errado e sabia disso no exato
momento que você saiu por aquela porta. Quero que saiba que estou muito
orgulhoso de você.
Viro o rosto para que ele não veja o quanto estou tocado com suas
palavras.
— Só desculpo depois que você lutar comigo e me deixar descontar
todas as porradas que você andou me dando.
Ele ri, se levanta e tira a parte de cima do seu terno.
— Por mim tudo bem.
— Não vou pegar leve.
— Isso é bom, porque eu também não.
Entramos num ringue improvisado que fiz para treinar e começamos a
nos preparar.
Lutamos como nos velhos tempos em que Henrique nos treinava.
Vincent me acerta alguns golpes e eu não fico atrás. Coloco para fora tudo que
guardei calado durante todos esses anos.
Paramos no momento que ouvimos o grito da Angel atrás de nós.
— Seu filho da puta! Eu disse que era para comparecer e fazer as pazes,
não bater nele!
— Tudo bem, amor. É a nossa forma de deixar tudo no passado. — tento
acalmá-la.
— Tudo bem uma ova! Olhe para você! Todo deformado. Como vou
casar com a cópia mal feita do Frankenstein?
Franzo a testa para o seu ataque. A gravidez tem a deixado bastante
sensível. Vincent ri baixinho logo atrás.
— Quê isso, mulher? A parte mais importante está inteira para a lua de
mel. — tento brincar para distraí-la.
— Marco, você não me irrite! Ou eu cortarei seu kit Moretti e te farei
engoli-lo a seco. Se queria apanhar, era só ter me pedido.
Coloco as mãos no meu pau, o segurando por precaução. Do jeito que
ela está, não duvido de nada.
— Querida, estou bem. Vai dar tudo certo. Eu prometo. — A puxo para
mim e a abraço.
— Mas o que aconteceu aqui? — Lorena chega para completar a
paródia. Que Angel não me ouça.
— O desgraçado do seu falecido marido resolveu brincar de porrada
com o rosto do meu.
— Como assim falecido? — Lorena pergunta na ingenuidade.
— Não está óbvio que irei matá-lo? — Angel tenta se soltar dos meus
braços, fazendo Vincent agora gargalhar.
Lorena nos observa e volta a olhar para a Angel. Ela está tão acostumada
a ver Vincent assim, que nem estranha mais.
— Angel, não é querendo colocar lenha na fogueira, mas Vincent está
pelo menos umas três vezes pior que Marco.
Angel para de se debater e olha para trás para conferir, e quando vê que
entre mim e ele, eu estou praticamente intacto, ela sorri feliz.
— O olho roxo combina bem com você, vossa alteza. — ela provoca o
Vincent.
— Ainda bem que iremos morar longe uns dos outros. — ele devolve a
provocação, cruzando os braços.
— Tenho pena de você. Perderá toda a animação sem a minha ilustre
presença, principalmente em suas festas entediantes.
— Bom. Chega de elogios! Precisamos te arrumar, Angel. Agora que
conferiu que Marco está bem, podemos voltar. — Lorena sai a puxando por
um braço.
— Me deve muitos kits depois de hoje, Marco. — grita de longe.
— Pagarei com o maior prazer, querida. — Sopro um beijo quando ela
olha para trás e em seguida some das nossas vistas, mas não antes de olhar
para Vincent e fazer um sinal de que está de olho nele, nos fazendo rir de novo.
— Acho que agora é a hora. — falo mais tranquilo.
— Está pronto?
— Como nunca estive antes.
— Seja feliz, irmão! Você merece. — Ele bate em minhas costas.
— Sem ressentimentos? — pergunto para conferir em qual posição
estamos.
— Sem ressentimentos. Tem a minha palavra.
— Como está o Pietro?
— Por que não pergunta diretamente a ele? Eu o trouxe, e se for querer
realmente ficar com ele, eu o deixarei ficar.
— E o que falará ao Conselho?
— Que eu aceitei a proposta feita pela chefe do cartel e você se casou
com ela para firmamos uma aliança.
— Acha que irão engolir essa história? — pergunto pensativo.
— Sim. Com a prova de que os Vitiello estavam por trás de armações
contra nós, não deixará dúvidas sobre a minha decisão de tomar nossos
próprios caminhos para não perder nossos negócios aqui.
— Foquei tanto nos Mc's, que não desconfiei dos Vitiello. Achei que o
casamento de Henrique com a filha do Lucca, os manteriam do nosso lado. —
falo ainda abismado com tamanha ganância.
— Eles nunca me enganaram. Você sabe o quanto fui contra isso na
época. Por minha conta aquela aliança nunca teria sido feita.
— Que bom que a Angel descobriu. — digo orgulhoso da inteligência da
minha mulher.
— Tenho que admitir que gosto da astúcia dela, mas vou morrer
negando se você contá-la.
Sorrio feliz porque novamente tenho meu irmão.
— Henrique não veio?
— Preferiu ficar, para não levantar nenhuma suspeita. Quero te
agradecer, pois mesmo depois de tudo, ainda assim me cobriu.
— Eu iria levar essa história para o túmulo.
— Quanto a isso, já tomei as devidas providências. Como forma de
retratação com você e sua mãe, eu e Henrique te reconhecemos como filho
legítimo do Luigi.
— Não precisava. — falo emocionado.
— Precisava sim. Se eu fui assumido pelo meu pai, o Matteo, você
também merecia isso. O futuro dos nossos filhos agradecem.
— Não consigo nem achar palavras o suficiente para lhe agradecer.
Agora não sou mais um bastardo, e sim Marco Moretti Lourenço.
— Quero que saiba que a não ser eu e Henrique, ninguém soube da sua
saída, Marco. Para todos, você estava ausente em uma missão.
— Isso explica muita coisa. — Eu já desconfiava disso.
— Nunca deixaria que tocassem em você, irmão. Nem que para isso eu
forjasse sua morte. Jamais iria colocar para caçá-lo, os homens que você
treinou.
— Obrigado!
— Eu te devia isso. Considere um presente de casamento. Agora vamos
entrar! Não quero ouvir mais gritos de sua mulher louca. Ela às vezes me deixa
assustado com sua intensidade.
Rio da cara que ele faz e subo para me vestir para o dia mais feliz da
minha vida.
A tenda montada no meio do gramado verde do nosso quintal é a coisa
mais linda que eu já vi. A cada passo tenho a sensação de estar nas nuvens,
pela maciez do tapete vermelho em meio aos véus brancos com flores
vermelhas sangue para combinar com o meu vestido. Na nossa cultura,
podemos escolhê-lo colorido, em vez do branco tradicional. E como eu queria
seguir à risca, escolhi um de cores vivas, de estilo flamenco e com babados na
bainha. Além disso, pedi que Marco utilizasse uma guayabera (camisa de
mangas curtas, que é perfeita para as temperaturas tropicais, e que também é
um símbolo de elegância masculina).
O dia está perfeito. O que torna tudo ainda mais especial. Alejandro me
leva todo emocionado para o homem da minha vida. Meus olhos não se
despregam dele.
Enquanto passamos pelas pessoas, olho rapidamente para a multidão e
vejo Juan acompanhando de sua amada. Que bom que aceitou meu convite.
Dispensá-lo não foi fácil, porém, foi a coisa mais digna que eu pude fazer por
ele. Tempos depois o reencontrei em um evento e o mesmo me agradeceu por
eu ter sido sincera e me apresentou a moça, que segundo o próprio, é o amor
da sua vida. Fiquei muito feliz por ele ter se encontrado e me entendido.
Odiaria tê-lo como inimigo. Quem não gostou nadinha foi o Marco, que
rosnou o evento todo por ter me visto falando com o meu ex.
Volto meus olhos para Marco, que sorri para mim. Alejandro me entrega
a ele quando chegamos ao palco improvisado.
— Cuide dessa joia preciosa, rapaz! — meu tio pede e lança o seu
melhor olhar ameaçador.
— Com todo o meu amor. — Marco garante e leva minhas mãos aos
seus lábios para beijá-las.
Nos viramos de frente para o padre, que dá início à cerimônia.
Quando chega a parte dos nossos votos, Marco pega 13 moedas de ouro
e me entrega, como uma promessa de fidelidade, confiança e garantia de que
nada me faltará. Esse é mais um dos nossos tradicionais rituais mexicanos. O
número treze é muito importante, pois faz uma referência a Cristo e seus dozes
apóstolos.
Após o padre nos envolver com um rosário na forma de um oito,
simbolizando que a nossa união será eterna, é que trocamos as alianças e
falamos os nossos votos.
Enzo entra carregando uma almofada com uma das alianças e Pietro
entra com a outra. Quando o vi aqui, fiquei muito feliz. Adorei saber que
ganhei mais um filho. Vincent me surpreendeu com essa atitude. Vamos dizer
que numa escala de zero a dez, eu o odeie em um nível oito agora. No que
depender de mim, serei uma mãe maravilhosa para Pietro. O menino merece
ser feliz depois de tudo que passou e eu farei questão de que ele se sinta assim.
Marco coloca a aliança em meu dedo e começa seu voto.
— Angel! Antes de você, me sentia perdido, confiando que meu destino
era vazio porque eu não merecia nada de bom, mas tudo mudou quando te vi
pela primeira vez. Eu ainda não sabia porque senti algo diferente, porém, notei
que você não saía dos meus pensamentos. Só posso ser eternamente grato por
você me perdoar e me fazer muito feliz. Prometo ser leal a ti e à nossa família,
de corpo e alma. Eu os protegerei de tudo e de todos até o meu último suspiro,
pois você e nossos filhos são a minha vida.
Eu estou uma bagunça de lágrimas. Me recomponho para firmar o que
sinto por ele.
— Marco! Antes de você, eu também não sabia o que era viver. Você
veio para me ensinar a ser forte e driblar todos os meus medos. Com você, eu
aprendi a amar e receber amor na mesma intensidade. Por você e nossa
família, sou capaz de tudo para vê-los sempre felizes. Te prometo ser fiel, estar
contigo em todos os momentos e fazer o impossível para nos manter unidos
para o resto da minha vida. Te amo!
Coloco a aliança em seu dedo e a beijo com carinho.
O padre diz que podemos nos beijar, e ouvindo gritos e aplausos,
selamos nossa promessa.
A festa que se segue à cerimônia é composta por muita música,
conduzida por mariachis e comidas festivas e típicas da nossa região, como
tortilla, arroz picante, taco, nachos e feijões.
Jogo o buquê, que coincidentemente cai no colo de Alejandro, que grita
que o próximo é ele, nos fazendo rir do seu piseiro.
Puxo Marco para a pista e dançamos. Como de costume, os convidados
se reúnem em torno de nós, por sermos os noivos, e formam um coração.
Fazemos um arco com os braços e as mulheres começam a dançar a dança da
serpente, passando uma a uma por nós, recém-casados.
E com muita música e alegria festejamos madrugada a fora, dando início
ao nosso “para sempre”, que não foi fácil conquistar, sobretudo, foi essencial
para nos trazer aqui com a certeza de que merecemos ser felizes.
14 ANOS DEPOIS
Olho Enzo encostado na árvore, seguindo cada passo que Gianna dá.
Quando ele completou treze anos pediu para que eu o liberasse para ser
treinado por Vincent. Não foi surpresa tempos depois ele oficializar seus
juramentos à famiglia e entrar de vez na Camorra. De início achei que era
porque tinha se encantado com a história da nossa família e queria seguir meus
passos como executor, mas depois ficou óbvio o seu fascínio por Gianna. Até
tentamos convencê-lo a voltar, com a desculpa de que ele precisava se preparar
para comandar futuramente o cartel com o Pietro. Contudo, nada do que
fizemos, isso incluindo os dramas da Angel, o fez desistir do que queria.
Acabamos respeitando sua decisão, afinal, criamos nossos filhos para serem
homens independentes e seguros do que querem. Optamos por aceitar sua
escolha, mesmo não concordando.
Me aproximo devagar dele, não querendo surpreendê-lo e ser taxado
como um pai careta. Mas como seu pai, preciso alertá-lo e aconselhá-lo sobre
os perigos que essa paixão o trará se ele levar isso adiante.
— Não está disfarçando muito bem. — digo.
— Disfarçando o quê? — se finge de desentendido.
Suspiro fundo e procuro as palavras certas para dizer.
— Filho! Há regras na máfia que não podem ser ultrapassadas, e uma
delas é o relacionamento entre primos. É considerado incesto. Você sendo um
dos soldados da Camorra, tem que saber disso. Seus juramentos te
acompanharão pelo resto da vida.
— Regras são feitas para serem quebradas, pai. Tio Vincent quebrou,
você quebrou e está tudo bem, não é?
— E a confusão que isso causou poderia ter custado as nossas vidas.
Além de que a Gianna tem interesses que já causarão uma terceira guerra
mundial se continuar com tais ideias implantadas na cabeça.
— Eu sei. Ela quer ser chefe e tem a infeliz fixação de lutar por isso.
— Consegue entender a extensão das batalhas que você quer travar com
a famiglia?
— Tenho, pai. Eu sei em que confusão estou me metendo.
— E está pronto para isso?
Ele olha para onde Gianna está com o filho mais velho do Gabriel e seus
olhos chegam a brilhar. Rio baixo, me vendo nele, não muito tempo atrás.
— Se eu disser que sim, ficará contra mim?
— Enzo! Olhe para mim, filho! — Ele se vira de frente para mim e me
observa cauteloso. — Eu sou seu pai e sempre estarei ao seu lado. Portanto, se
deseja tomar essa decisão, pense bem antes de agir! Seja qual for sua escolha,
conte com o meu apoio. Só tome muito cuidado com cada passo que der,
porque eu não quero perder nenhum filho.
— Obrigado! Ter você ao meu lado é muito importante para mim.
— Vocês são importantes para mim, Enzo. Nunca se esqueça disso! — E
que Deus nos ajude no futuro.
Nicholas, meu filho mais novo, grita Enzo e ele sai para atendê-lo.
Observo meus meninos reunidos e meu peito se enche de orgulho. Nunca
fizemos diferença entre os três. Pietro chama a Angel de mãe e é o mais
agarrado à família. Estou o preparando para mais na frente comandar o cartel
com o Nicholas.
— Os nossos bebês cresceram tão rápido. — Angel me abraça. —
Queria ter tido mais filhos. Estou me sentido carente de bebês.
Rio e a puxo para os meus braços.
Por nossa conta teríamos tido mais, porém Angel teve uma complicação
no parto do Nicholas e não pode mais engravidar. O que a deixou arrasada por
um tempo.
Abro a boca para pedir que ela fique tranquila, pois logo teremos netos
para mimar, entretanto, me calo percebendo que quase assinei meu atestado de
óbito. Deus me livre se ela achar que eu estou a chamando de velha!
— Marco! Se você tiver pensando nos netos, eu juro que vou te matar e
enterrar no fundo da floresta dessa casa! Estou muito nova para ser avó.
— Isso nem passou pela minha cabeça, querida. Estava pensando na
possibilidade de nós adotarmos uma menina. O que acha?
Escorrego mais rápido que sabonete na enxurrada.
— Me engana que eu gosto! — Gargalha. — Eu nem sei se conseguiria
ser uma boa mãe para ela. Estou tão acostumada a cuidar de meninos, que
acho que provavelmente não saberia lidar com uma menina.
— Você seria maravilhosa, amor. É só olhar para os nossos filhos.
— É. Talvez você tenha razão. Vamos pensar com mais calma nisso
depois.
— Vamos sim. — A beijo com carinho.
Eu amo a minha família e não me arrependo das decisões que tomei por
eles. Faria tudo de novo se tivesse a chance de voltar ao passado. Quem diria
que um homem quebrado e incapaz de amar alguém encontraria em suas
missões a mulher da sua vida? Angel veio para me completar e me ensinar que
não só podemos mudar nosso destino, como podemos trilhar novos caminhos e
ser feliz no final dele se tivermos forças de vontade e lutar pelo que
acreditamos. Eu errei sim, e com meus erros sofri e aprendi a ser melhor do
que antes, por mim, por ela e pela nossa família.
Fim!
NOS BRAÇOS DO MAFIOSO
RENDIDA AO MAFIOSO
HERDEIROS DA MÁFIA
———
Gianna Lourenço
Eu nasci na máfia e desde pequena ouço que nós mulheres devemos ser
a base da casa. Minha mãe sempre foi mais liberal e nunca colocou pressão
sobre as minhas costas por isso e meu pai sempre me amou do jeito que eu
sou. Mas isso não me impediu de ser pressionada para ser uma moça recatada
e exemplar por ser a filha do capo. Todos sempre esperam de mim, nada
menos do que a perfeição. Eu tentei, e juro que tentei, suprir todas as
expectativas da famiglia, contudo, ser submissa não está no meu sangue. Eu
quero mais. Desejo poder, controle e escolha. Almejo ser mais que uma esposa
troféu com um útero feito de incubadora para conceber as próximas gerações.
Então, mesmo contra a vontade do meu pai, treinei, lutei, aprendi a usar
armas e fui fundo no submundo. Eu sou a rainha do meu reino e dona de mim.
Não preciso de um príncipe encantado e muito menos de um protetor, porque
eu sou a porta de entrada para qualquer lugar que eu queira ir. No meu mundo,
eu mando e todos me temem, mas não pelo peso do meu nome, e sim porque
eu conquistei o respeito deles.
Tudo ia perfeito e meu plano de ser reconhecida como a chefe estava a
todo o vapor. Até ele...
Até Enzo Moretti se meter no meu caminho e querer me dominar como
se eu fosse um cavalo selvagem que precisa colocar cabresto e ser domado. A
minha desgraça começou no dia em que passamos a nos olhar com desejo,
paixão e luxúria. É um jogo perigoso que nenhum de nós temos medo de jogar
as cartas, mesmo sendo proibido e fatal. Nos jogamos nos braços um do outro
sem pensar no amanhã. E agora que esse dia chegou, preciso decidir o que é
mais importante para mim: o cargo que tanto ansiei ou o amor do único
homem que conquistou meu coração e me fez amar tão profundamente que me
afoguei em meus próprios sentimentos.
O que fazer quando o que almejamos a vida toda e o que passamos a
desejar, se tornam coisas diferentes? Qual escolha você faria se amasse tanto
uma pessoa, que sentisse que foi consumida por inteira? Você escolheria seguir
seus planos ou o seu coração?
MARCAS DO PASSADO
Link: https://amz.onl/10DfOCk
Catharina Alencar é uma típica e honrada moça de igreja que foi criada
dentro de doutrinas e ensinada desde cedo que mulher servia ao marido e não
opinava em casa, muito menos fora dela. O que ele falasse era lei e ela
deveria seguir à risca ou estaria pecando contra os mandamentos divinos. Só
que ela não era feliz. Por trás da bela moça de olhos castanhos e cabelos
cacheados, tinha sofrimento, tristeza, mentiras e muita violência. Ela
aguentava tudo calada e perdoava por se achar merecedora de todo o castigo
que lhe era aplicado. Até que um dia ela conhece Gabriel Miller, seu novo
vizinho charmoso e com nome de anjo, mas que de santo não tinha nada. Ele
é um típico solteirão depravado e totalmente descompromissado, que
segundo ela, foi enviado pelo próprio Lúcifer para atentá-la e implantar
dúvidas em seu coração, das quais irão fazer a doce dona de casa se
questionar sobre tudo o que lhe foi ensinado e se despertar das mentiras e
manipulações que sofrera, desejando ser livre da prisão que se encontra.
Ela terá que escolher entre viver a vida fantasiosa que criaram para ela
ou seguir novos caminhos onde descobrirá os prazeres pecaminosos do corpo
e encontrará a libertação de sua mente.
O que fazer quando o que dizem ser pecado, se torna aquilo que te
salva?
Meu nome é Sarah Mercury, tenho 27 anos, sou formada em
Administração, casada há 10 anos e mãe de três filhos que são minhas razões
de viver e lutar por um mundo melhor. Leitora compulsiva, descobri a leitura
aos sete anos de idade, tornando meu hobby favorito, e desde então, nunca
mais parei.
Na adolescência, eu adorava fazer poemas e criar histórias pequenas,
chegando até a fazer parte de um grupo de teatro na escola, onde apresentei
uma dos meus contos.
Sempre sonhei em escrever um livro, mas nunca tive a coragem de tirá-
lo do papel. “Marcas do passado” foi minha primeira obra, a qual abriu
caminho para as outras. Todas são feitas com muito amor, carinho e dedicação.