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CORRESPONDÊNCIA
ANAIS
DO
I CONGRESSO BRASILEIRO
DE EDUCAÇÃO DE
DEFICIENTES VISUAIS
DE 9 A 13 DE NOVEMBRO DE 1964
ANFITEATRO DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
SÃO PAULO
BRASIL
1966
ÍNDICE
PREFÁCIO 7
COMISSÕES DO CONGRESSO 9
HOMENAGEADOS 11
PARTICIPANTES 13
Dia 9 de novembro
SESSÃO DE ABERTURA:
Comissão Executiva 18
Palavras do Dr. Zeferino Vaz, Presidente da Sessão 20
Palavras de D. Dorina de Gouvêa Nowill, Presidente da
"O Lugar da Pessoa portadora de deficiências físicas e
mentais na Sociedade" .— Dr. Antônio dos Santos Clemente
Filho 25
l. a SESSÃO PLENÁRIA:
"Progresso e necessidade da educação de cegos" — Profa.
Luzia Lopes Lima 35
"Programa Educacional para atender às necessidades dos
Deficientes Visuais" — Profa. Josefa Calazans da Cruz . . . 42
"Sorobã — Aparelho de cálculo para cegos" — Sr. Joaquim
Lima de Moraes 48
a
2. SESSÃO PLENÁRIA:
"Formação de Pessoal" — Profa. Maria de Lourdes Gomes
Guerra 56
"Determinação e Extensão do Problema da Cegueira no
Brasil" — Dr. Maury Atanes 64
"Treinamento Sensorial, Educação e Reabilitação, em função
da experiência sensível" — d. Mathilde Neder 68
Dia 11 de novembro
a
3. SESSÃO PLENÁRIA:
"Mobilidade e Locomoção" — Sylas Fernandes Maciel . . . . 80
"A Família como unidade bio-social. A Família e a
Escola" — d. Nizia Lopes de Figueiredo 89
4. a SESSÃO PLENÁRIA:
"Atividades Sociais para os educandos deficientes visuais"
— prof. Flora Barro de Albuquerque 96
"Problemas Técnico-Formais e suas implicações na educação
dos Deficientes Visuais" — Prof. Luiz Geraldo de Mattos .. 106
Dia 12 de novembro
5. a SESSÃO PLENÁRIA:
"A Orientação Profissional de Educandos Deficientes Vi-
suais Sr. Haroldo Pedreira 119
"O Instituto Perkins" — Dr. Edward Materhouse 129
Dia 13 de novembro
a
6. SESSÃO PLENÁRIA:
"Considerações sobre a educação dos retardados mentais
portadores de Deficiência Visual" — Profa. Wanda Ciceone
Pascboalick 135
"Considerações sobre educação de deficientes áudio-visuais"
— Profa. Nice Tonhosi Saraiva 154
7. a SESSÃO PLENÁRIO:
"A Importância da Avaliação dos Casos" — Mary Franklin
de Andrade 167
"Legislação no Campo da Cegueira" — Profa. Dra. Nair
Lemos Gonçalves 179
"A Educação do Público" — Prof. Silvino Coelho de Souza
Netto 186
"Educação do Público em Geral" — Da. Sarah Couto
César 189
"A Educação do Público" — Dr. Jairo Moraes 191
SESSÃO DE ENCERRAMENTO:
Palavras do Prof. Dr. Flávio Supliey de Lacerda, Presidente
da Comissão Executiva 197
Palavras da D. Dorina de Gouvêa Nowill, Presidente da
Comissão Exesutiva 199
Palavras do Dr. Adhemar de Barros, D . D . Governador do
Estado de São Paulo 202
Palavras do Prof. Dr. Flávio Supliey de Lacerda, Presi-
dente da Comissão Executiva 204
PREFÁCIO
PROMOVIDO PELA
CAMPANHA NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS CEGOS
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
PRESIDENTE
Sua Excelência
Prof. Dr. Flávio Suplicy de Lacerda
DD. Ministro da Educação e Cultura
COMISSÃO EXECUTIVA
ENTIDADES COOPERADORAS
Instituto de Reabilitação da Universidade de São Paulo
Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Federação Nacional das APAES
Instituto Padre Chico
Centro do Professorado Paulista
Liga do Professorado Católico
Associação Paulista de Medicina
Lions Club
Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo
I CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO DE
DEFICIENTES VISUAIS
PROMOVIDO PELA
CAMPANHA NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS CEGOS
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
COMISSÃO TÉCNICA
Joel Martins
Yone Krahembull
Mathilde Neder
Dolores Molina Munhoz
Sylas Fernandes Maciel
Thomazia Dirce Perez Lora
Geralda Amaral de Moura Estevão
Miriam Paiato
EXPOSIÇÃO TÉCNICA
Coordenador: Regina Pirajá da Silva
Membros: Maria Stella Zullo
Lourdes Martins
Isabel Calazans de Cruz
Norma da Silva Monteiro
Inês Rossi Câmara
HOMENAGEADOS
PARA
Nazaré Leão — Escola José Alvares de Azevedo
BRASÍLIA
Aracy Vaillatti Mafra — Superintendência Departamento de Educação
Maria do Rosário Penedo — Superintendência Departamento de Educação
Pia Ignez Pieri — Secretária da Educação da Prefeitura do Distrito
Federal
Moema de Almeida Andrade — Secretária da Educação da Prefeitura
do Distrito Federal
Ezilda Teresa R. Pereira — Ensino Médio do Distrito Federal
Verônica dos Santos Lamosa — Ensino Médio do Distrito Federal
GUANABARA
Dirce Ferreira da Cunha Pires — Instituto Oscar Clark
Yacy de Oliveira Nery — Departamento de Educação Primária
Lygia Costa de Menezes — Departamento de Educação Primária
Altair Barbosa Ferreira — Cruzada de Recuperação e Assistência aos
Cegos Fluminenses
Marialva Feijó Frazão — Departamento de Educação Primária
Elisionete S. Lima Cajazeira — Instituto Oscar Clark
Wanda Rodrigues Maio — Instituto Oscar Clark
Thomaz Bernardo Costa Filho — Instituto Oscar Clark
Luiz Antônio Milleccof — Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille
Rosa Abi Ramia Haddock Lobo — Governo do Estado do Rio
Irmã Maria das Graças — Sodalício da Sacra Família
Irmã Maria da Apresentação — Sodalício da Sacra Família
Carlos Coelho Lousada — Conselho Estadual para o Bem-Estar dos Cegos
Waldemar Pinto Ferro — Instituto Oscar Clark
Francisco José da Silva — Associação Brasileira de Professores de
Cegos e Amblíopes
MATO GROSSO
Cristino P. Barbosa — Instituto Mato Grossense para Cegos
Nazareth Pereira Mendes — Instituto Mato Grossense para Cegos
Maria Garcia Pereira — Instituto Mato Grossense para Cegos
MINAIS GERAIS
Virgínia Amanda Lage — Hospital Carlos Chagas
Anita M. da Cunha — Secretaria da Educação
Naly Burnier Pessoa de Melo Coelho — Instituto São Rafael
Maria Mercês Marques Almeida — Instituto São Rafael
Ambrosina Viotti Azevedo — Instituto São Rafael
Edith de Abreu Souza — Instituto São Rafael
Dalva Guido Fernandes — Instituto de Cegos Brasil Central
Aparecida Garcia — Instituto de Cegos Brasil Central
Efigênia Elias Vidigal — Secretaria da Educação
Maria das Mercês Fonseca — Secretaria da Educação
Ruth Soares Ferreira — Secretaria da Educação
Irmã Margarida Maria Soares — Colégio Imaculada Conceição
Irmã Catarina Mourão — Colégio Imaculada Conceição
PARANÁ
Eliza Maria Annunziatto — Instituto Luiz Braille
Dalcio Annunziatto — Centro de Reabilitação Luiz Braille
Tenente José Almeida — Centro de Reabilitação Luiz Braille
Brasílio Starepravo — Centro de Reabilitação Luiz Braille
PERNAMBUCO
Maria José Carneiro — Instituto de Cegos do Recife
Maria Clivia Calábria — Bolsista CNEC
RIO DE JANEIRO
Dalka Viena de Moraes
Admar Augusto de Mattos — Associação Fluminense de Amparo aos
Cegos
Ana Regina Abi Ramia Pereira — Classe Especializada
Solange Ribeiro do Rosário — Cruzada de Recuperação e Assistência
aos Cegos Fluminenses
Violeta de Saldanha da Gama — Cruzada de Recuperação e
Assistência aos Cegos Fluminenses
SANTA CATARINA
Therezinha Seleme — Ginásio Estadual Almirante Barroso
lolanda Pieczarka — Ginásio Estadual Almirante Barroso
Ana Augusta Correira — Bolsista CNEC
Teresinha Darci Gevaerd — Bolsista CNEC
SÃO PAULO
Maria Conceição S. Lima — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Ester Macedo — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Kiyoe Okamoto — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Jairo de B. Freire — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Fernanda Teixeira de Camargo — Fundação para o Livro do Cego
no Brasil
Ivone Marilene Antonio — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Elisa Toma — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Keiko Tanagaki — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Noêmia Rezende de A. Ramos — Fundação para o Livro do Cego
no Brasil
Regina Maria Ignarra — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Marlene P. Rodrigues Silva — Fundação para o Livro do Cego no
Brasil
Margot C. P. de Barros Souza — Fundação para o Livro do Cego no
Brasil
Maria Lúcia Telles de Siqueira — Fundação para o Livro do Cego
no Brasil
Maria Luiza de Oliveira Lima — Fundação para o Livro do Cego no
Brasil
Victalina Ribeiro Manrique — Fundação para o Livro do Cego no
Brasil
Ana Carmelita Ferreira — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Norica Saito — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Maria Elisa de Oliveira Geribelo — Fundação para o Livro do Cego
no Brasil
Maria José Savi Massaini — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Lucy Reinert — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Yvone Pranuvi — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
José Ferreira Martins Júnior — Associação dos Cegos de Ribeirão
Preto
Dolores Munhoz Dini — Associação dos Cegos de Ribeirão Preto e
Escolas para Cegos Helen Keller
Clotilde Pinto Miranda — Instituto Caetano de Campos
Wilma Pires de Miranda — Instituto Caetano de Campos
Atilio João Fumo — Lions Club de São Paulo — Penha
Dr. Marcos Zlochevski — Lions Club de São Paulo — Pacaembú
Francisco D'Alvia — Lions Club de São Paulo — Santo Amaro
Marilda Bossi — Biblioteca Infantil Municipal
Maria Cecília — de C. Ferraz — Biblioteca Infantil Municipal
Maria Aparecida Bianco — Secretaria de Educação
Maria do Carmo Ayres — Secretaria da Educação
Nely Garcia — Delegacia de Ensino Santo André
Dr. Antonio dos Santos Clemente — Federação das APAES
Yara de Oliveira Celentano — APAE
Aída Moreira Estrazulas — APAE
Ignez Aos. Enfeldt — APAE de Jundiaí
Azaury da Cruz Tiriba — Lar das Moças Cegas
Rosette Nazareth Oliva — Lar das Moças Cegas
Maria Helena Nolf — Lar das Moças Cegas
Elisa da Silva Leme — Instituto Padre Chico
Pedrina Sampaio Silveira — Instituto Padre Chico
Terezinha Silva Malta — Instituto Padre Chico
Luzia Aparecida Daniel — Instituto Padre Chico
Marina Pimentel de Mello — Instituto Padre Chico
Maria Ribeiro Magalhães — Instituto Padre Chico
Irmã Apoline Camargo — Instituto Padre Chico
Irmã Teresa Pontes — Instituto Padre Chico
Daisy Maria Belfort Fúria — Instituto Padre Chico
Helena Augusta de Souza Mello — Instituto Padre Chico
Elza Silveira — Instituto Padre Chico
Isabel Teresa Guimarães Alves — Instituto Padre Chico
Yone Krahenbuhl — Instituto Padre Chico
Iida Victória T. N. Lima — Instituto Padre Chico
Hortência Almeida de Carvalho — Instituto Padre Chico
Sylvia Rodrigues Teixeira — Instituto Padre Chico
Mariza Delia Santa — Instituto Padre Chico
Olenka Reda Macedo Pio — Instituto Padre Chico
Luci Osório Torres — Instituto Padre Chico
Vera Alice Carvalho Martins — Instituto Padre Chico
Célia Narciso Gomes — Instituto Padre Chico
Maria José Conrado Pereira
Thereza Adelina B. Tavares — Fundação para o Livro do Cego no
Brasil
Ercilia G. Ferraz
Thereza Ablas Sandoval de Andrade
Orlando Cândido de Mello
Cinira Roca Dordal
Maria Isabel F. Santos
Arisla Claudete dos Santos — Curso de Especialização
Luzia Ciscato — Instituto Padre Chico
Teresa Elisabee Ceccarelli — Fundação para o Livro do Cego no
Brasil
Dr. Álvaro de Figueira F. de Siqueira
Dr. Osvaldo Badeto Campanari
Ruh Maeralhíes Ferreira — F u n d a ç ã o para o livro do Cego no Brasil
Rubens Frada
Deinze Apparecida Cizotto — Fundação para o Livro do Cego no Brasil
Severina Arcuri — Instituto Profissional Paulista para Moças Cegas
Angelina De Lucca Souza — Instituto Profissional Paulista para
Moças Cegas
Carlos Souza — Sociedade Organizadora de Trabalhos para Cegos
Therezinha Baungartner — Instituto de Puericultura
Helena Lavander — Instituto de Reabilitação
Ester Jorge — Curso de Especialização no Ensino de Cegos
Anary Gomes Morgan — G. E. Amenaide Braga de Queiroz
Deusiana Dias Bicalho — G. E. Prof.a Inah Mello
Maria Heloísa de Sousa Mello — G. E. Prof.ª Inah Mello
Adalgisa Therezinha J. Matta — G. E. Prof.ª Inah Mello
Julha Nakamura — G. E. Rural Alberto Torres
Eliana Barreta Saad — G. E. Rural Cel. Guido Junqueira
Cristina Midori Yamaga — G. E. Cel. Joaquim José
Marlene Bicha — 1a Un. Cl. Esp. para crianças Defeituosas
Rute Savastano — Lar Escola São Francisco
Vera Maria Leite de Souza — Prefeitura Municipal de Santos
Anna Lazzati — Instituto de Reabilitação do Hospital das Clínicas
Anibal Sandano — SENAI
Geraldo Sandoval de Andrade — SENAI
Bartley Patrick Gordon — Embaixador da U . S . A .
SERGIPE
José Sobral — Centro de Reabilitação "Ninota Garcia"
ARGENTINA
Ema M. C. de Chavanne — Instit. Chaqueiro para Cegos
Maria Angela Gracia de Bassi — Inst. Chaqueiro para Ciegos
Dora I. Saavedra — Pres. do 1o Centro de Copistas
PORTUGAL
Ana Maria Bernard Costa — Centro Helen Keller — Lisboa
Maria Lucilia Freitas Lopes do Rego — Centro de Reabilitação Nossa
Senhora dos Anjos
URUGUAI
Isabel Arruza Aguirre — Escuela Residencial de Ciegos y Amblíopes
Maria Antonia Mintegui de Olhagaray — Escuela Residencial de
Ciegos y Ambliopes
SEGUNDA FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 1964.
20,30 HORAS.
Secretária Geral:
"Recebemos as seguintes mensagens enviadas para o I Congresso
Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais: Sou muito grato pelo
convite que me foi enviado para a sessão solene de abertura deste
Congresso formulando os votos revista todo o êxito, realização con-
clave. a) Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara Federal; Ao I Con-
gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais, no momento em
que na Capital do Estado de São Paulo se instala o I Congresso Bra-
sileiro de Educação de Deficientes Visuais, quero manifestar em nome
do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, não só o mais caloroso
aplauso a esta iniciativa, como ainda os votos mais sinceros de que
os trabalhos deste Congresso produzam os resultados que almejam
quantos se interessam pelo desenvolvimento pessoal dos deficientes
visuais e pela sua perfeita integração na vida social. Deve merecer
em verdade apoio decidido tanto do poder público como das entidades
privadas e de todos quanto possuem sensibilidades para os grandes
problemas humanos, a questão concernente ao amparo de que são
credores os deficientes visuais. É preciso para isso incentivar o esta-
belecimento de programas e sistemas educacionais que confiram aos
deficientes visuais condições para serem úteis a si mesmos, às suas
famílias e à sociedade. Mediante providência adequada, poderão eles
ser integrados de tal forma na vida social que aí se sentirão a vontade,
pois, não figuraram como dependentes dela, na qualidade de benefi-
ciários de favores, mas como participantes no desempenho do encargo
que lhes fôr confiado, da tarefa comum de contribuir para o bem estar
geral. Estou certo assim, de que o I Congresso Brasileiro de Educação
de Deficientes Visuais marcará em nosso país nova etapa na Campanha
Nacional de Educação dos Cegos, estando fadada a produzir os frutos
que todos nós governantes e governados, ardentemente esperamos.
Porto Alegre, 9 de novembro de 1964. a) Francisco Solano Borges,
Governador do Estado em exercício — Porto Alegre — Rio Grande do
Sul; Em nome do Sr. Governador tendo a satisfação de acusar o
recebimento de seu expediente datado de 7 de outubro do corrente
ano, via do qual sua ilustre presidente endereçou ao Sr. Governador
convite para participar da solenidade de abertura do Congresso da
Campanha Nacional de Educação dos Cegos a ser realizado em São
Paulo no dia 9 de novembro próximo na Associação Paulista de Me-
dicina às 20:30 horas. O governador por intermédio desta secretaria
agradece a gentileza do convite o qual foi encaminhado à Secretaria
de Educação e Cultura de Goiás para os devidos fins. Nesta oportu-
nidade renovo a V. Excia, os protestos de minha real estima e apreço, as)
José Cizenando Jayme, Secretário Particular — Goiânia — Goiás;
Agradecendo o gentil convite para participar do importante conclave
apresento dignos organizadores do I Congresso Brasileiro de Educação
de Deficiente Visuais cumprimentos mui cordiais, certeza mesmo rever-
tir-se-á grande brilho, bem como, terá resultados úteis e compensa-
dores: a) Ozair Motta Marcondes, Deputado Estadual — São Paulo —
São Paulo; Pelo presente venho expressar os meus agradecimentos
pelo amável convite para assistir a sessão solene de abertura do I Con-
gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais que será realizado
de 9 a 13 do corrente ao mesmo tempo formular votos de êxito no
desenrolar do referido conclave. Aproveito a oportunidade para apre-
sentar a V . S . os meus protestos de distinta consideração e elevado
apreço: as) Otávio Braga — Gabinete do Prefeito — São Paulo; Venho
pela presente agradecer o convite de V . S . para participar do I Con-
gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. Lamento pro-
fundamente que devido aos compromissos assumidos anteriormente e
apesar de grande interesse que teria, não será possível assistir ao
Congresso, tendo a UNESCO dois peritos em educação trabalhando
junto ao Centro de Pesquisa Educacionais de São Paulo, estudarei com
eles a possibilidade de representarem a organização na sessão de abertura
estarei sempre interessado em receber as resoluções e recomendações
tomadas pelo Congresso, bem como outros documentos relativos ao
assunto. Aqui permaneço ao inteiro dispor de V . S a . e aproveito a
oportunidade para enviar minhas mais cordiais saudações: a) Pierre
Henquet, Chefe da Missão da UNESCO no Brasil: Sra. Presidente, em
nome do Sr. Dr. Germano Jardim, diretor deste Escritório Organização
dos Estados Americanos, Escritório Regional da União Panamericana,
que ora se encontra ausente do país em objetivo de serviço é me
grato acusar o recebimento do seu ofício SP 606/64 de 29/9 próximo
passado, referente a realização nesta Capital no período de 9 a 13 de
novemhro próximo vindouro do I Congresso Brasileiro de Educação
de Deficientes Visuais. Agradeço-lhe ao mesmo tempo o convite que
teve a gentileza de transmitir ao diretor do escritório o qual lhe
dispensará a merecida atenção quando de seu regresso ao Brasil.
Valho-me do ensejo para renovar-lhe as expressões do meu elevado
apreço: as) Valdemar Lopes, Diretor Adjunto da Organização dos
Estados Americanos. Recebemos ainda, moções, telegramas e congra-
tulações de D a . Helena Dias Carneiro, da Sociedade Pestalozzi do Rio
de Janeiro; do Sr. Inácio Satustregue, diretor da Organização Nacional
de Cegos de Espanha Ministério da la Governation; de Maria Teresa
Túlio, Superintendente do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos
Anjos, do Ministério de Saúde e Assistência. Lisboa; de Maria Anto-
nieta Taeschiler, Representante da American Foundation for Overseas
Blind em Santiago — Chile. Luiz Pirega Gimenez, diretor do Insti-
tuto Nacional de Cegos — Peru — Lima; Deputado Juvenal Rodrigues
de Moraes — Secretário do Governo do Estado de São Paulo; Aminésio
V. da Silva — Serviço de Orientação e Educação Especial da Secretaria
da Educação do Rio Grande do Sul; Prof. Godoy Moreira, diretor do
Instituto de Reabilitação da Universidade de São Paulo; Instituto de
Cegos da Paraíba "Adalgisa Cunha"; Dr. Renato da Costa Bonfim;
Dr. Richard Kanner e do Gerente do Departamento de Capacitacione e
Seguritad Industrial Cordoba. Acabamos de receber também, uma carta
do sr. Adido Cultural Adjunto da Embaixada dos Estados Unidos da
América do Norte, que infelizmente, devido a compromissos inadiáveis,
o Sr. Embaixador Lincoln Gordon não poderá comparecer a cerimônia,
no entanto, ele faz votos de completo êxito ao I Congresso."
O LUGAR DA P E S S O A PORTADORA DE
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS E MENTAIS
NA SOCIEDADE
DR. ANTÔNIO DOS SANTOS CLEMENTE FILHO
(Presidente da Federação Nacional das APAES, Diretor
Executivo da Campanha Nacional de Educação e Reabili-
tação dos Deficitários Mentais).
"Srs. representantes das autoridades, srs. componentes
da mesa, srs. congressistas, que aqui vieram, acorrendo de
vários pontos do país, enfrentando dificuldades de toda ordem.
as menores das quais não são sem dúvidas, a distância e o
abandono de outros afazeres. Eu os saúdo. Falando a pessoas
que têm por aspiração e tarefa, a reabilitação de deficientes
visuais, parece-me que nada poderia ser mais importante que
responder a estas perguntas. Para que desenvolver ao máxi-
mo a capacidade de suplência do sentido ou aptidão que foi
negado ao deficiente? Com que objetivo fazê-lo? que destino
deverá ele forjar com esta capacidade que nós lhe recuperar-
mos? por que posto deverá ele lutar dentro da sociedade?
Todos quantos participam da responsabilidade de fixar pro-
gramas de reabilitação, sabem como é importante esta ques-
tão. Nós preparamos os deficientes, sejam sensoriais, men-
tais ou do aparelho locomotor, para integrá-los na sociedade,
mas em que grau de integração, até que ponto serão eles
aceitos pela sociedade? Como tem afinal a sociedade rece-
bido os deficientes? Quando a humanidade se abrigava em
cavernas, que tinham apenas coberto o forro, eliminava os
seus deficientes tão logo os percebia. Esta conduta que eufe-
misticamente poderíamos chamar de eugênica, ainda se en-
contra em todas as sociedades primitivas. Menos fácil de se
entender é no entanto, que a antigüidade clássica, e em espe-
cial a civilização greco-romana. eliminasse da mesma forma
os deficientes, inspirada agora pelo ideal de perfeição. Homero.
se Homero, realmente existiu, foi uma feliz excessão a esta
regra, a mais notória entre outras excessões que a história
registra. O desenvolvimento dos sentimentos religiosos, pouco
melhorou a sorte dos deficientes, pois, a ignorância impediu
que a sua integração social se processasse, e continuava como
regra a sua marginalidade absoluta dentro da sociedade. A
renascença viu florecer um renovado interesse na figura hu-
mana, e agora já despido do ideal de perfeição clássica, de
tal forma que o deficiente começa a aparecer nos documentos
da humanidade, embora é claro desconheçam representações
anteriores. São também mais numerosos os exemplos de defi-
cientes físicos, que conquistam lugares de destaque, vencendo
a marginalização que a sociedade lhes impõe. Não se pode
dizer que a sociedade aceitava esses deficientes, antes reco-
nhecia aqueles que a duras penas impunham à sociedade este
reconhecimento. Seria o caso de lembrarmos, por exemplo,
Milton e outros grandes, grandes com G maiúsculo com todas
as letras maiúsculas, privados do sentido da visão, e que
ajudaram a escrever a história desse período do renascimento
dos conhecimentos. Os séculos posteriores que se designam
por idade moderna, viram crescer o interesse pelos deficientes
físicos e mentais, e as primeiras tentativas de reabilitação.
Mas ainda no fim deste período que atinge os primeiros anos
do século vinte, a tônica de todos os programas de reabilita-
ção, era antes a segregação dos deficientes, numa tentativa
que não sabemos se pretendia proteger, antes o deficiente, ou
proteger a sociedade contra o deficiente. No caso específico
dos deficientes visuais, os progressos no sentido da total acei-
tação social, foram muito sensíveis nesse período. A reabili-
tação ganhou forma de cidadania e a educação especial foi
em muitos países tornada obrigatória, mas o progresso não
foi geral e outros grupos de deficientes, os auditivos, os do
aparelho locomotor, e o grupo maior dos deficientes mentais,
continuaram marginalizados. Mas até que ponto esses defi-
cientes reabilitados, eram aceitos na sociedade? até que ponto
se integravam, abriam caminho, ombreavam com os mais
afortunados chamados normais? É um caminho longo e ár-
duo. O esforço despendido não está nunca na proporção dos
resultados obtidos, mas pouco a pouco, ganha o direito, ganha
a voz para exigir os direitos que são inerentes a todas as
pessoas humanas, pouco a pouco se desperta a consciência
social, e se admite a participação dos deficientes na sociedade.
Lutamos pela integração. Que o deficiente faça parte do com-
plexo social, com os encargos e privilégios, que disso advém
aproveitando ao máximo a sua capacidade, desenvolvida por
métodos que a sociedade tem obrigação de fornecer. É preci-
so que o deficiente integre a sociedade, que ela dependa do
seu trabalho, como ele depende dela. Que o esforço enorme
que realiza, embora para produzir minguados resultados, ve-
nha enriquecer o acervo social, como o trabalho de qualquer
um dos cidadãos. Que se meça o esforço despendido, e não
tanto os resultados obtidos. Os deficientes não pedem muito.
querem ser apenas ajudados para poder ajudar, para poder
ajudar como qualquer outro participante da sociedade na
medida das suas forças, com o melhor de seus esforços. Se
por um lado vimos como evoluiu a sociedade no sentido da
aceitação do deficiente e da sua recuperação, não é menos
verdade, que a sociedade evoluiu também das formas mais
simples para um organismo complexo, e isso também influi
na integração dos deficientes. É relativamente mais comum
e fácil, a integração de um deficiente numa comunidade rural
primitiva, do que a sua aceitação numa comunidade urbana
mais desenvolvida. Isso nos põe diante da necessidade de
considerar a integração do deficiente, na sociedade atual, na
sociedade em que vivemos, limitada pelos conceitos de nação,
país, e a tentativa de antever como será o deficiente aceito
na sociedade para a qual caminhamos. Já foi de várias for-
mas visto, que a sociedade atual se distancia mais da socie-
dade do século precedente, que essa da sociedade do primeiro
milênio depois de Cristo. A civilização mecanotecnológica que
a humanidade forjou é sob certos aspectos radicalmente dis-
tinta de tudo o que conhecemos antes, e dentre suas caracte-
rísticas a mais evidente é a permanente mudança; fatos,
coisas, instituições evoluem, e se transformam de tal forma
que nenhum grupo de conceitos pode ser fixo. As mudanças
tecnológicas vão em velocidade crescente transformando a
fisionomia social e as formas de conceitos sociais para serem
válidos se alteram e adaptam a cada passo. Quando pensa-
mos no futuro, quando imaginamos a estrada que segue a
frente na trilha da humanidade, os fatos parecem delinear
os contornos do caminho, a conquista do espaço pelo homem
e a automatização das máquinas, e a medida em que estas
duas conquistas, possam afetar o destino humano. O homem
libertado da prisão terrena, lançado no espaço, se engrandece
e ombreia com os Deuses, no controle do espaço e do tempo,
os ideais de aptidão física dos nossos dias são os requeridos
para os astronautas, e os de habilitação intelectual são os que
se exigem dos físicos nucleares e dos cientistas do espaço.
Automatização multiplica o trabalho da máquina e liberta o
homem, drasticamente reduzindo a necessidade de mão-de-
-obra, quiçás levando a um ócio construtivo, se soubermos
aproveitar a oportunidade, ou ao desemprego e a fome e
necessariamente a maginalização da mão-de-obra menos de-
senvolvida, se não soubermos aproveitar a oportunidade que
se nos depara. No Brasil o relativo subdesenvolvimento, nos
permite apreciar os perigos da evolução como ela se processa
nos outros países, e quem sabe corrigi-los nos anos de espera,
que esse subdesenvolvimento nos dá. Mas de uma forma ou
de outra, para lá caminhamos, e se queremos obter o máximo
das nossas possibilidades, devemos planejar o futuro, isto é,
antever os problemas e procurar dar-lhes solução. A conquis-
ta do espaço traz consigo aspectos positivos, que militam em
favor do excepcional. Um primeiro é a propensão que temos
para acertar compromissos antigos, sempre adiados às véspe-
ras das viagens. A humanidade sente-se hoje as vésperas de
uma grande viagem, a viagem do espaço, e volta-se para com-
promissos sempre adiados, compromissos consigo mesma, para
com os seus elementos menos favorecidos, para o problema
da subnutrição de meia humanidade, para o problema do
desenvolvimento econômico inadequado de dois-terços da hu-
manidade e tantos outros entre os quais, não em último lugar
está o problema dos portadores de deficiências físicas ou
mentais. O renovado interesse que se nota hoje em todos os
continentes, pela sorte dos excepcionais, parece traduzir a
vontade de resolver velhos problemas sempre adiados, antes
da grande viagem. Outro aspecto da conquista do espaço, é
a reavaliação das dimensões humana diante dos próprios olhos
da humanidade. Hoje o homem não se pode mais julgar o
inconteste senhor do universo, talvez não seja o ponto máximo
da evolução, o ápice da criação, mas apenas, um entre outros,
num universo que talvez seja, um entre muitos outros, habi-
tados quem sabe porque vidas, quem sabe porque evolução
maior. Daí talvez volta-se o interesse para o próprio desen-
volvimento, para o desenvolvimento do homem interior, daí
talvez a necessidade de nos conhecermos melhor, nas nossas
capacidades e deficiências, para desenvolvê-las ou corrigi-las.
Desenvolve-se a consciência de que o subnormal, e normal são
pontos de uma escala cujos limites nos escapam, e na qual
se podem admitir graus diversos de desenvolvimento de uma
mesma qualidade ou atributo desde o deficiente até o super
dotado. Todo problema das deficiências físicas ou mentais
está sendo reavaliado, numa tentativa de obter o máximo da
capacidade humana, que se espera expandir e desenvolver.
Por outro lado quando as vistas se voltam para fora da terra.
não faltam os que lembram, que nem tudo está feito aqui,
que é praticamente necessário fortalecer as bases terrenas
antes de nos abalançarmos a outras conquistas. Não partici-
pamos do medo de que a automatização diminua os empregos.
ao contrário, todo o avanço tecnológico sempre resultou em
última análise na expansão do mercado de empregos. Também
não cremos que a automatização corte as possibilidades da
mão-de-obra menos dotada, barre o caminho ao trabalho do
deficiente. A evolução da máquina, tem sido sempre no sen-
tido da complexidade crescente das suas funções e na simpli-
ficação das alterações, embora isso não se obtenha às vezes
em início. Tanto isso é verdade, que o treinamento requerido
hoje para operação de um tear mecânico, altamente automa-
tizado é menor que para operar os primitivos teares manuais.
Há fábricas na Holanda, onde retardados mentais, com quo-
ciente intelectual abaixo de cinqüenta, montam aparelhos de
precisão altamente complexos, apenas porque foi feita uma
conveniente análise das operações necessárias e elas foram
rearranjadas, dentro de um nôvo conceito, segundo um plano
que o montador pudesse entender. Quando falamos do lugar
do deficiente na sociedade, queremos significar o lugar que
lhe compete integrado na sociedade, e não à sua margem;
queremos dizer integração social dos deficientes. Esta inte-
gração não é rápida, nem é fácil, começa na família, trauma-
tizada no seu íntimo pela presença do deficiente, e por isso
mesmo, propensa a rejeitá-lo de início. Da rejeição inicial
caminha para aceitação passiva e egoística, e desta para a
aceitação ativa, o esforço consciente para recuperação e inte-
gração familiar e social dos deficientes. Nem todas as fa-
mílias atingem essa terceira fase; é claro que não se poderá
pretender posição social, para alguém que é marginalizado
dentro da própria família. Por isso, nenhum programa de
recuperação, e integração social dos deficientes, será válido,
se não contiver o núcleo central, um programa de educação
familiar, de educação dos pais. Realizada a integração fami-
liar resta a tarefa maior da integração social dos deficientes.
É através do trabalho produtivo, que o indivíduo se integra
na sociedade; nenhum programa educativo será completo, sem
0 treinamento vocacional e profissional, sem dotar o indivíduo
para prover a sua subsistência na medida em que esta sub-
sistência puder ser atingida pelas suas capacidades. A sim-
ples escolarização não é um fim em si mesma, mas apenas
um meio para o prosseguimento do aprendizado em bases mais
práticas, das quais se derive a possibilidade de ganhar o pró-
prio sustento. Creio que será mais difícil conseguir hoje,
misteres e ocupações para os deficientes, dentro do complexo
de produção e serviços da nossa sociedade. Não creio tam-
bém que para o futuro isto venha a ser menos fácil; ao
contrário, é minha crença que o progresso da ciência e da
tecnologia nos levará ao melhor conhecimento e domínio dos
métodos de aprendizados e análise de trabalho, que afinal
possibilitarão maior desenvolvimento das aptidões, e maior
rendimento dos trabalhos do excepcional. A integração social,
o lugar que aos excepcionais está reservado na sociedade, terá
sempre a medida do sucesso dos nossos esforços; os deficien-
tes terão em poucas palavras aquilo que nossos programas de
reabilitação lhes puderem dar, daí a responsabilidade que
pesa sobre os ombros de quantos se ocupam dos excepcionais,
onde quer que trabalhem e a que grupo de deficientes se
dediquem. Do esforço de cada dia, da extensão dos progra-
mas de que participem, da isenção, da dedicação e do amor
com que interpretam as restrições relativas de seus educandos.
resultará o menor ou o maior aproveitamento social do tra-
balho que realizarem e a sua menor ou maior integração so-
cial. Sabem todos que não tenho qualificações para falar-lhes
como técnico, e por isso me sinto pouco a vontade para adver-
ti-los ou orientá-los, mas permitam umas poucas palavras,
derivadas da experiência alheia e própria que me parecem
justas nestas considerações. Precisamos usar palavras, para
designar coisas, indivíduos, qualidade, conjuntos de aptidões
etc. Para isso se cunharam terminologias especiais adaptadas
a cada grupo. É preciso lembrar sempre, no entanto, que as
palavras usadas para rotular um deficiente indicam sempre
apenas impropriamente, um conjunto de impressões, obtidas
de testes aplicados em determinada ocasião, com determinado
objetivo, não devem nunca ter limitação, critério de rejeição
de oportunidades para os deficientes aos quais são aplicados.
Não podemos acorrentar os deficientes com palavras, lembro
apenas um caso citado na literatura, e permitam que lembre
casos, sempre referentes aos problemas de deficientes mentais
com os quais estou mais familiarizado, de uma mongolóide
de 26 anos, com o quociente intelectual igual a 35 na escala
de Binnet e com idade mental de 6 anos e que ganha sua vida
trabalhando oito horas por dia numa oficina de costura, cos-
turando à máquina com a perfeição necessária para fazer
trabalhos para fora e expor seus trabalhos na vitrina da loja.
Alguns critérios classificariam esta jovem em nível que não
lhe concederia absolutamente a oportunidade do aprendizado
que resultou na sua realização e na sua integração social.
Ocorre-me mencionar também que a superproteção traz con-
sigo uma substima das aptidões do excepcional levando, por-
tanto a restrição das oportunidades desde educação e treina-
mento, e também, acentuar a necessidade de nos interessar
por todos os excepcionais, todos os deficientes, não só pela
ocorrência de deficiências conjugadas, como também para
conseguirmos, para todos eles as medidas de proteção e auxí-
lio de que todos necessitam. Ao encerrar lembro que jamais
substimaremos a força interior que move e anima cada indi-
víduo, e o que leva a superar o físico e o ambiente, força
que dá vista aos cegos, voz aos mudos, que levanta e faz
andar o paralítico. Entre nós, sentimos a presença desta
força, nas pessoas que superaram suas deficiências, e privados
da vista se transformaram em guias e em vez de buscar apoio
e proteção estendem os braços, amparam os menos favore-
cidos. São o exemplo vivo das possibilidades da natureza
humana. Perenes agradecimentos, àqueles pioneiros que pri-
meiro acenderam a lâmpada de esperança que ilumina a vida
dos deficientes. Penso nos trabalhadores de ontem e de hoje,
aqueles que enfrentaram tabus e resistências sociais para
levar avante a tarefa de educação e recuperação dos deficien-
tes físicos e mentais e que os ajudam a ocupar o lugar que
lhes cabe na sociedade. Mas não mencionarei nomes, alguns
dos quais são especialmente reverenciados em nosso coração.
Que seja este Congresso o esforço, o trabalho, e a dedicação
de que foi e será feito a homenagem que lhes dedicamos. Eu
gostaria de merecer a homenagem e a honra que me foi con-
cedida no momento em que me convidaram para lhes dirigir
estas palavras, embora não merecida essa honra me foi pro-
fundamente cara, e eu agradeço. Muito obrigado."
l. a SESSÃO PLENÁRIA
Presidente: Dr. ROGÉRIO VIEIRA
Secretaria: MARIA ORGARITA DE MORAES
M. ELISA DE OLIVEIRA GERIBELLO
Ata da primeira sessão plenária do I Congresso Brasileiro de
Educação de Deficientes Visuais — São Paulo. Aos dez dias do mês
de novembro de 1964, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medi-
cina, situado à Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, 278, 8.° andar, teve
início a primeira sessão Plenária do I Congresso Brasileiro de Educação
de Deficientes Visuais, sendo presidida pelo Dr. Rogério Vieira, membro
da comissão da Campanha Nacional de Educação dos Cegos, que tomou
palavra, declarando aberta a sessão, e justificando a troca de Presi-
dentes. Declarou que a Comissão Executiva do Congresso solicitava ao
Professor Eliziário Rodrigues de Souza — Coordenador do Plano
Trienal de Educação do Ministério da Educação e Cultura em São
Paulo, permissão para tomar o lugar do Dr. Laerte Ramos de Car-
valho — Diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais d«
São Paulo, pois o Prof. Eliziário que havia vindo substituí-lo, encon-
trava-se afônico. Apresentou-se, o Dr. Rogério Vieira, como membro
da Campanha Nacional de Educação dos Cegos e Tesoureiro do I Con-
gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. Concedeu a
palavra à Secretária Geral do Congresso, D. Teresinha de Oliveira
Rossi, que fêz os seguintes avisos: 1.°) As adesões para o jantar
dos Congressistas, deverão ser feitas na Secretaria do Congresso; 2.°)
Por gentileza do Instituto Brasileiro do Café, haverá nos intervalos
à disposição dos congressistas "cafezinho" no décimo-primeiro andar;
3.°) .Encontra-se na secretaria lista de inscrições para visitas às
Instituições, no período da tarde do dia doze, com ônibus à disposição.
partindo deste prédio as três horas e trinta minutos. Retomou a
palavra o Sr. Presidente da Sessão, dizendo que, antes de iniciar os
trabalhos da Primeira Sessão Plenária, leria o regulamento do Con-
gresso, e procedeu a leitura:
REGULAMENTO
PROGRESSO E NECESSIDADES DA
EDUCAÇÃO DE CEGOS
PROF a . LUZIA LOPES LIMA.
(Prof. especializada do Instituto São Rafael — Belo
Horizonte — Minas Gerais).
HISTÓRICO E EVOLUÇÃO
Ao tratarmos da educação de cegos, julgamos necessário
remontar a tempos longínquos. Entretanto parece-nos mais
interessante comparar pessoas e épocas, em vez de citar cro-
nologicamente os fatos.
Assim, procuraremos destacar o que de mais importante
se passou em relação à educação de cegos, como atitudes, con-
ceitos e idéias revolucionárias; procuraremos ainda situar o
cego em cada época, aceitando as condições que se lhe ofere-
ciam ou se rebelando contra elas.
Nosso trabalho se iniciará da antigüidade, quando, já
encontraremos atitudes várias. Em Roma. toda a educação
girava em torno do físico; visava aperfeiçoar o corpo e, por
isso, aqueles que não pudessem dar à Pátria um trabalho
físico perfeito, eram eliminados. Anteriormente, na Grécia,
a educação espartana já apresentava as mesmas caracterís-
ticas. Atenas, se não exterminava os deficientes físicos.
abandonava-os, sendo as crianças colocadas à margem doa
caminhos.
A mentalidade hebraica interpretava a existência de de-
feitos físicos como castigo divino; procuravam as famílias
ocultar os portadores de deficiências, porque viam-nos como
uma espécie de maldição dos céus. Falando pois dos hebreus,
já podemos confrontar as épocas antiga e atual: conceitos e
atitudes semelhantes nas camadas sociais, onde é diminuta a
compreensão dos problemas relativos ao deficiente físico. Não
é muito raro portanto, depararmos com alguém que julgue ser
o defeito físico um castigo do céu.
Com o advento do Cristianismo, começa a fase de amparo
às pessoas fisicamente defeituosas, construindo-se asilos e foi
essa a preocupação de S. Jerônimo, Santo Agostinho e outros
Padres da Igreja. A Idade Média, com o predomínio da
religião, tendo a caridade entre as virtudes essenciais, foi
época propícia ao aparecimento de maior número de casas de
amparo. Dessa forma, surgiu a primeira idéia segregacio-
nista, acentuada mais tarde, quando se pretendeu separar os
cegos de outros deficientes. Construiam-se então asilos para
os cegos, espécie de confrarias, onde os membros se diziam
irmãos, tinham lugares próprios para se exibir e em algumas
regiões, tinham até uma língua própria. E, porque a mendi-
cância constituía um privilégio a ele concedido, o cego passou
a ser explorado; era propriedade de alguém. Não mui rara-
mente encontramos em nossos dias essa modalidade de trata-
mento dispensado ao cego. Exploradores muito discretos.
fingindo caridade, ainda são notados com relativa freqüência.
Os asilos tinham até aí finalidade de mero amparo, quan-
do surgiu na Itália uma instituição chamada "Santa Maria dei
Siege", na qual foi introduzido o ensino da música. Talvez
já naquela época se pensasse (como até hoje se julga), que
todo o cego tem ouvido treinado para a música.
O século XVIII, considerado século da segregação e da
mendicância, foi apesar disso, marcado por um acontecimento
importante: a primeira tentativa de educar o cego, dando-lhe
instrução elementar. Foi quando, em 1784, Valentin Haüy
fundou em Paris o "Instituto Nacional para os Jovens Cegos".
Surgiu dessa forma, a primeira escola residencial das muitas
hoje existentes, das quais mais abaixo falaremos. Antes po-
rém, será interessante tratarmos de pessoas cegas que se
evidenciaram por atitudes notáveis, contrariando o espírito
da época. Remontando-nos ao século IV da era cristã, vamos
encontrar Didimus, em Alexandria. Estudou, apenas ouvindo
as lições, teologia e filosofia humana, chegando a ser pro-
fessor de teologia. Na Grécia lembramos a figura de Homero.
cuja imaginação fértil, produziu os notáveis poemas Ilíada e
Odisséia. Mais tarde, só o 18.° século nos monstra exemplos
de cegos ilustres. Foram eles capazes de se libertar dos pre-
conceitos segregacionistas, que como dissemos, acentuaram-se
mais nessa ocasião. Na Inglaterra surgiram dois vultos:
Nicollas Saunderson, que se instruiu profundamente, estudou
e difundiu a teoria de Newton sobre luz e côr e foi hábil
defensor da Universidade de Cambridge. John Netcalft, cuja
cultura foi inferior a de Saunderson, mas que se destacou pela
maneira de se conduzir: procurou viver com naturalidade
entre videntes, viajando muito e praticando a natação. A
história, se não o supervalorizava, conta-nos que ele observou
serem péssimas as estradas inglesas, sugerindo pavimentá-las
com pedregulho. Na Alemanha lembramos Jacob de Netra.
inventor de um sistema de escrita com letras de madeira,
formando então a primeira biblioteca para cegos, queimada,
aliás, após sua morte. Em Portugal, no século XIX, muito se
distinguiu o famoso escritor Antônio Feliciano de Castilho,
imortalizado por magníficas obras literárias. Apenas a cita-
ção desses nomes e predicados, vem provar o quanto valeu a
esses cegos a força de vontade muito mais necessária naquela
época que agora, quando a civilização é mais evoluída. Res-
ta-nos ainda esclarecer que, se a sociedade daquele tempo via.
de modo geral, o cego apenas como um ser fisicamente defei-
tuoso, do meio dela surgiram pessoas que o observaram e
aceitaram-no como indivíduo, como criatura humana, da mes-
ma forma que, dentre os segregados, emergiram os persona-
gens que acabamos de citar.
Primeiramente Diderot, a quem se deve muito, pois foi
o maior vulto de seu tempo. Estudou o problema do cego
sobre o ponto de vista da psicologia, estabelecendo teorias
interessantes a respeito da percepção tátil e visual. Seus es-
critos foram de grande valia e revolucionários pelas idéias
neles contidas. Depois Valentin Haüy, fundador do Insti-
tuto Nacional para os Jovens Cegos, em Paris. Haüy entu-
siasmou-se com os trabalhos de Rosseau sobre a educação e
os do abade L'Eppé sobre a educação dos cegos surdos. De-
pois de viajar muito e tomar conhecimento com a pianista
cega Maria Tereza Von Paradis, iniciou a escola com um
grupo de jovens e inventou um sistema de escrita em relevo
ni ~pãpél. üm rios alunos de Haüy foi Louis Braille, inventor
do" sistema de leitura para cegos atualmente usado.
Após a escola de Paris, Haüy fundou ainda outra em
S. Petersburg Leningrado na Rússia e daí em diante todas
as grandes capitais da Europa, foram suas escolas, baseadas
na obra valiosa de Hauy. Também na América o movimento
tomou vulto; surgiram nos Estados Unidos, quase no mesmo
tempo três Instituições: Instituto Perkins de Boston, Instituto
de Filadélfia e Instituto de Cegos de New York. O Brasil
também cria suas escolas: no Rio de Janeiro, o Instituto
Imperial dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Cons-
tant, em 1854; o Instituto São Rafael de Belo Horizonte,
1926; depois o Instituto Padre Chico, em São Paulo, em 1928
e outros. Foi esse o panorama que pudemos observar por
muito tempo no tocante à educação de cegos. As escolas
residenciais, o melhor sistema educativo que até então se po-
deria oferecer ao cego, não cuidavam nem cuidam apenas do
ensino de leitura e escrita, mas também da parte profissional
e musical. De fato delas saíram elementos de realce: do
Instituto Benjamin Constant o professor Aires da Mota Ma-
chado Filho, nas letras; do Instituto São Rafael o pianista
Arnaldo Marchezotti. Com o correr do tempo, mais um passo
foi dado na evolução da educação de cegos: as escolas residen-
ciais possuem somente os cursos primário e ginasial, e então
muitos cegos que desejavam continuar os estudos começaram
a freqüentar escolas comuns. Percebia-se já que o cego po-
deria instruir-se entre os que vêem, bastando-lhe apenas
capacidade para aceitar suas limitações e vontade para adap-
tar-se ao ambiente de colégio.
É o que tem acontecido na época atual, com muita inten-
sidade, embora não nos devamos esquecer dos exemplos anti-
gos. O Brasil possui um grande número de defiríentnes
visuais que estudam em escolas comuns.
Alguns grandes centros, porém, deram nôvo impulso ao
processo de educação de cegos. Talvez o comportamento de
muitos invidentes no convívio com pessoas que enxergam te-
nha inspirado a tentativa de fazer com que a criança cega
não se isolasse da sociedade a que pertence, por outras pala-
vras: pretendeu-se que era desnecessário separar a criança
da família, porque a limitação não a impediria de ter como
as crianças de sua idade o mínimo de instrução. A tentativa
se tornou coisa real, provada e aprovada.
Esse sistema educativo (educação integrada), requer
logicamente um grupo de pessoas que oriente os educadores
no sentido de proporcionar à criança cega um ambiente agra-
dável, sim, mas sem exageros de consideração. Nosso país
também acompanhou o movimento: D. Dorina de Gouvêa
Nowill, paulista, professora diplomada pelo Instituto de Edu-
cação Caetano de Campos, estudou durante um ano nos Esta-
dos Unidos, de onde trouxe rica bagagem de conhecimentos,
a respeito do problema que ora tratamos. Regressando, cria-
ram, ela e mais colaboradores, a Fundação para o Livro do
Cego no Brasil, obra que assiste o cego amplamente facilitan-
do-lhe o material para estudos e orientando-o em vários setores.
Criou-se depois, pertencente ao Instituto de Educação
Caetano de Campos e funcionando na Fundação, o curso de
Especialização em Ensino de Cegos. Atualmente a Campa-
nha Nacional de Educação dos Cegos, órgão federal, promove
estágio na Fundação para assistentes sociais e psicologistas.
elementos indispensáveis ao movimento de educação inte-
grada.
Há hoje em São Paulo muitas crianças cegas que se
educam junto de irmãos e vizinhos no Grupo Escolar. E o
Estado da Bahia também deu início a esse tipo de educação
SITUAÇÃO ATUAL
Do exposto, podemos observar que considerados desde
tempos longínquos, os conceitos e atitudes com respeito ao
invisual, esse progresso tem sido lento, comparado ao que a
civilização tenha atingido noutros aspectos.
Tratemos rapidamente da situação atual dos cegos, pois
a análise dos problemas de hoje, nos facilitará a conhecer o
que precisamos para resolvê-los. Falaremos especialmente do
Brasil, porque nos interessa mais de perto. Outrossim, a
situação brasileira é muitíssimo semelhante à de outras na-
ções. Dois aspectos podem ser considerados: educacional e
profissional.
a) No campo educacional.
Além das escolas residenciais já mencionadas, existem
ainda: Instituto de Cegos da Bahia, em Salvador; Instituto
Santa Luzia, em Porto Alegre; Instituto de Cegos do Brasil
Central, em Uberaba e outros.
Há em Pelotas, Rio Grande do Sul, uma escola mantida
pela prefeitura; nessa escola os alunos são externos e assim,
embora mantendo classes especiais para cegos, ela se aproxima
do ideal de educação integrada, uma vez que a criança que lá
estuda não perde o contato com a família.
O maior número de estudantes invisuais na escola comum.
constitui-se de egressos de colégios para cegos, que ali desejam
completar seus estudos. Uma minoria faz o curso primário
em Grupo Escolar, realizando-se esses, como dissemos, em
São Paulo e na Bahia.
b) No campo profissional distinguimos: 1 — pessoas
que procuram emprêgo baseadas em suas reais qualidades:
são orientadas profissionalmente e preparadas para o serviço.
2 — pessoas cegas que reclamam emprêgo, pedindo ao empre-
gador atenção à sua deficiência física. Sua carta de recomen-
dação é pura e simplesmente a cegueira. 3 — grupos de pes-
soas cegas que possuem uma oficina de vassouras, espanado-
res e coisas do gênero, vendidas nas feiras livres ou nos
mercados.
Existem ainda casas de amparo em que são ensinados o
Braille e alguns trabalhos manuais.
Notamos, pois, que no que respeita a cegos, o Brasil tem
ainda muito a desejar. O que possuímos de melhor se res-
tringe a uma pequena parte do país.
Cumpre-nos acrescentar que, de modo geral, é bastante
imperfeito o relacionamento entre a sociedade e a pessoa
portadora de deficiência visual. Melhor dizendo, o cego, em
sua maioria, não é um membro da sociedade, constitui-se em
uma classe à parte. Se tentarmos explicar a razão desse
separatismo cairemos num verdadeiro círculo vicioso: a socie-
dade não considera o cego como um de seus membros, porque
ele, o próprio cego, não se entrosa nela. Está sempre dese-
jando tratamento especial, conduções gratuitas, preferências.
leis que lhe concedem favores. Por outro lado, o cego age
dessa forma, porque nasceu e se criou entre pessoas que o
julgavam uma criatura excepcional. Os diversos mecanismos
que a família usa em relação ao invisual, resultam de concep-
ções erradas, aprendidas de outros invisuais.
Por esse motivo é que se criou em São Paulo, em novem-
bro de 1962, o Centro de Reabilitação com objetivo de reor-
ganizar totalmente o indivíduo, preparando-o para se integrar
perfeitamente na comunidade.
PROGRAMA EDUCACIONAL P A R A A T E N D E R
AS N E C E S S I D A D E S DOS D E F I C I E N T E S
VISUAIS
PROF. JOSEFA CALAZANS DA CRUZ.
(Professora especializada do Instituto de Cegos da
Bahia — Salvador — Bahia).
Vários são os conceitos de Educação: aquisição de hábi-
tos, processo de adaptação, desenvolvimento de personalidade.
formação do homem etc, justificando-se todos eles. Entre-
tanto, nenhum por si só é suficiente para definir a educação
em toda sua extensão. Ela consiste em tudo isso e algo mais.
Os hábitos a serem adquiridos são aqueles que os indivíduos
em grupo aceitam como necessários e úteis, retos e importan-
tes. A adaptação da criança implica não só na simples adap-
tação animal, mas, sobretudo, em um equilíbrio biofísico ne-
cessário à vida. A adaptação ao meio, no caso humano, diz
respeito não só ao meio físico e biológico, mas aos outros seres
humanos, aos seus modos de vida. A formação do homem
deve consistir não apenas no desenvolvimento biológico do
indivíduo mas, também, do homem como pessoa, com todas
as implicações culturais, religiosas, sociais e morais.
Muitos dos conceitos tradicionalmente seguidos estão em
via de erradicação. No particular, a educação de indivíduos
portadores de deficiências físicas não constitui exceção.
A sociedade atual, principalmente em centros mais civili-
zados, já encara os deficitários visuais sob novos aspectos.
como indivíduos que são.
Se os comportamentos adquiridos para viver como ser
humano social mudam e são substituídos por outros, necessa-
riamente terão que mudar também os meios de serem adqui-
ridos, isto é, a educação.
Como sabemos, a educação de deficientes visuais tem sido
feita através dos tempos, de modo que muito deixa a desejar.
ficando o indivíduo segregado em instituições e, via de regra
com campo de ocupação limitado.
Os mais modernos processos e conceitos encaram os de-
ficientes visuais como seres iguais aos outros em tudo, faltan-
do-lhes apenas um dos sentidos — a visão. As oportunidades
de integração do cego têm aumentado dia a dia, e para que
haja um aproveitamento dessas oportunidades cabe, em con-
trapartida, aos responsáveis pela educação do mesmo forne-
cer-lhe as condições que o tornem capaz de enfrentar, de igual
para igual, os outros membros de seu grupo, na lida diária
Através de um programa de educação bem orientado, po-
derá ser feito esse trabalho. Muito se tem falado na integração
do cego na sociedade, na vantagem de se encaminhar a criança
deficiente visual à escola comum.
E, como proceder para que este propósito seja cumprido
e este objetivo seja alcançado?
A criança não vive as diversas situações de modo disso-
ciado. Na vida prática o que ela encontra são fatos inter-
relacionados, ligados entre si com antecedentes e conseqüen-
tes, que influirão grandemente na sua formação. Na escola
necessitará, pois, de atividades globalizadas, unidas em torno
de um objetivo comum — o preparo para a vida.
A organização do programa moderno exige orientação e
disposição diferentes, tendo em consideração as funções mais
amplas e mais ajustadas às necessidades e exigências contem-
porâneas da sociedade. O ensino ou atividade escolar deve
partir da intenção dos alunos no sentido de atender a algum
propósito ou objetivo que possa satisfazer determinada ne-
cessidade de modo organizado e orientado.
O programa deve ser ainda orientado psicologicamente
ao redor dos propósitos e objetivos dos alunos.
Ao tratarmos de programas globais sob o ponto de vista
do aluno, e, principalmente, em se tratando do aluno com de-
ficiência visual, não devemos esquecer das oportunidades que
lhe faltam de entrar em contato com o mundo que o cerca
e o cuidado assim deve ser maior, para proporcionar-lhe essas
oportunidades.
Está provado que o mesmo programa poderá ser seguido
na mesma classe por estudantes cegos e videntes, com resul-
tados positivos, devendo, entretanto, o mestre levar em con-
sideração as condições subjetivas de uns e de outros.
Para alunos deficientes visuais, as atividades não podem
ser predeterminadas, mas se realizam e se desenvolvem tendo
em vista um grupo de crianças que são obrigadas a fazer
frente a situações sempre novas. O objetivo dessas atividades
curriculares, sendo o de satisfazer as necessidades dos alunos.
é, em última análise, o de desenvolver compreensão por parte
deles a respeito de suas necessidades e problemas, ao mesmo
tempo que criar e fortalecer atitudes que levem à solução de
tais problemas.
O programa de atividades não se encerra, não é dado
por terminado em ocasião alguma, pois, o seu objetivo é levar
sempre a novos interesses e novos propósitos. Daí a possi-
bilidade de se organizar um plano flexível, considerando os
mínimos que a sociedade contemporânea exige da escola. O
problema é, portanto, de como organizar esse plano com a
integração de todos esses mínimos, tendo em vista as possi-
bilidades ou realidades infantis de um lado. e recursos em
material e oportunidades de outro.
A criança cega em escola comum cumprirá o programa
para a região e seguido por toda a classe. Havendo na escola
a Classe Braille, caberá à professora especializada atendê-la
no que diz respeito ao material em relevo e transcrição de
trabalhos.
Notamos que, de modo geral, o aluno cego não tem par-
ticipação nas atividades extracurriculares, limitando-se a ou-
vir e repetir lições como verdadeiro autômato. Sendo espe-
cializada em ensino de cegos, poderá a professora da Classe
Braille conseguir, junto à administração da escola, que o aluno
deficiente participe de todas as atividades comuns e extra-
classe.
O mesmo diríamos quanto à professora itinerante, que,
pela própria natureza de seu serviço, entra em contato com
maior número de escolas. Em ambos os casos, consideramos
de fundamental importância, no momento atual, um esclare-
cimento mais amplo ao corpo docente das escolas onde serão
admitidos alunos cegos, antes dessa admissão. Dessa forma.
deveria a professora de classe comum, antes de assumir tão
importante responsabilidade, ter um preparo "à priori" para
conseguir os objetivos desejados.
A educação da criança cega, como a de qualquer outra.
deve obedecer a um programa previamente elaborado, pro-
curando atender às suas necessidades e potencialidades. En-
tretanto, mesmo assim, é de vital importância que a aplicação
desse programa seja feita de conformidade com a situação
subjetiva de cada aluno. Necessário se torna o conhecimento
maior do mesmo, daí a importância do funcionamento de uma
equipe especializada em torno do aluno.
O oftalmologista, que fará o diagnóstico e o prognóstico
do seu caso, dará, necessariamente, ao professor, o início do
caminho para consecução dos objetivos.
Não menos importante é a função do assistente social.
que estudará as condições de vida, atitudes da família e t c .
procurando um maior entrosamento do binômio lar-escola.
O psicometrista e psicólogo indicarão as possibilidades
intelectuais e emocionais, promovendo o segundo, através de
um trabalho psicoterápico, uma melhor adaptação da criança
deficiente.
Em seguida, vem o professor especializado. Como agen-
te da sociedade, não pode evitar a responsabilidade de tomar
decisões sobre quais experiências são ou não educativas. Por-
tanto, três fatôres estão condicionados em relação ao profes-
sor especializado, para o bom êxito na educação de deficientes
visuais:
a) Fé no valor inerente a cada criança;
b) Entusiasmo pelo ensino;
c) Senso de responsabilidade.
EXPERIÊNCIA EM SALVADOR
O Instituto de Cegos da Bahia, embora tenha sido, por
muito tempo, uma espécie de "asilo para cegos", vem pas-
sando por transformação radical nos últimos tempos.
Tendo iniciado em 1961 seu nôvo período de atividade
educacional, contando com apenas duas professoras especia-
lizadas em São Paulo, está, atualmente, com um corpo de 14
professores, sendo 10 especializadas, uma assistente social e
uma psicóloga, ambas tendo feito estágio na Fundação para
o Livro do Cego no Brasil. Mantém classes braille no Ins-
tituto de Educação "Isaías Alves" (Curso Ginasial, Colegial
e Pedagógico) e na Escola Marquês de Abrantes (Curso
Primário), atendendo a 23 alunos com resultados os mais sa-
tisfatórios.
Iniciou, este ano, a modalidade de ensino itinerante, aten-
dendo a quatro alunos em diferentes escolas.
No próprio Instituto funcionam 3 classes de alfabetização
no sistema braille e uma classe de ajutamento.
Em São Paulo, atualmente, estão duas professoras espe-
cializando-se em atividades da vida diária e ensino de cegos.
CONCLUSÕES:
A) É da máxima importância, para o êxito de um pro-
grama de educação especial, o entendimento prévio do profes-
sor especializado com aqueles sob cujos cuidados estarão os
alunos deficientes.
B) Indispensável, também, para tal fim, é a programa-
ção de reuniões periódicas de pais e mestres.
C) Outra colaboração que não pode ser prescindida é a
do Orientador Educacional e do Assistente Social.
Terminada a palestra às dez horas e cinqüenta e cinco minutos,
o Sr. Presidente retomou a palavra e procedeu da mesma forma que
findos os trabalhos da primeira oradora. Às onze horas e cinco minutos
foram reiniciados os trabalhos; o Sr. Presidente reiniciou os trabalhos
convocando o congressista Sr. Joaquim Lima de Moraes para apresentar
seu trabalho. Antes, porém, a palavra foi concedida ao Sr. Ângelo
Margarido — Coordenador da Comissão Social do Congresso, que con-
vidou os Congressistas para um jantar no Esporte Clube Pinheiros.
Às onze horas e oito minutos o orador iniciou a terceira palestra da
l. a sessão. Colaboraram com o Sr. Joaquim Lima de Moraes, na de-
monstração prática do uso do Sorobã, o Sr. Jairo de Moraes, na parte
de operação de soma e subtração, com participação do plenário e
d. Hortência Almeida de Carvalho, na parte de operações de multipli-
cação, divisão, decomposição de números em seus fatôres primos e
máximo divisor comum de dois números. Dr. Edward Waterhouse
propôs um número para que fosse extraída sua raiz quadrada. O
orador demonstrou as vantagens do sorobã em cálculos articulados
com o uso da máquina braille. Agradeceu a oportunidade de apre-
sentar o aparelho, que considera o melhor e convidou d. Wilma Pires
de Miranda professora do Instituto de Educação Caetano de Campos
— São Paulo — para citar experiências e resultados obtidos com o
sorobã.
2. a SESSÃO P L E N Á R I A
Presidente: MONSENHOR ALBERTO ABIB
AMBERY
Secretaria: MARGOT CAMARGO PENTEADO DE
BARROS SOUZA E HAYDÉ APARE-
CIDA RAZZO.
Ata da segunda sessão plenária do I Congresso Brasileiro de Edu-
cação de Deficientes Visuais — São Paulo. Aos dez dias do mês de
novembro de 19G4, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medicina,
situada à Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, 278, 8.° andar, realizou-se
a segunda sessão plenária do I Congresso Brasileiro de Educação de
Deficientes Visuais, presidida por Monsenhor Alberto Abib Ajnbery,
do Instituto para Cegos "Padre Chico" de São Paulo. Dando início a
sessão o Senhor Presidente, justificou o porquê de sua presença e disse
que há apenas dois anos trabalha no Instituto "Padre Chico", onde
exerce as funções de assistente eclesiástico e de orientador educacional.
Disse ser sua representação simbólica, dada a antigüidade da instituição
que representa e o pouco tempo de trabalho na mesma, o que traduz
o espírito de renovação tão clamado pela época atual. A seguir falou
sobre a história e a organização do Instituto. Frisou, novamente a
importância do espírito de renovação dizendo querer despojar-se de
tudo que é arcaico para renovar sempre dando aos deficientes visuais
a educação que eles realmente merecem. Agradeceu a d. Dorina de
Gouvêa Nowill, a honrosa incumbência, tomando-a como uma dívida de
colaboração ao "Padre Chico". Relembrou, a seguir, o tempo regula-
mentar para a exposição dos temas e chamou a primeira conferen-
cista, d. Maria de Lourdes Gomes Guerra, professora especializada da
Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Cultura de Pernam-
buco, que discorreu sobre o tema: "Formação de pessoal".
FORMAÇÃO DE P E S S O A L
MARIA DE LOURDES GOMES GUERRA.
(Prof.a especializada da Secretaria de Estado doa
Negócios da Educação e Cultura de Pernambuco —
Recife, Pernambuco).
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Chamamos educação ao conjunto de modificações que se
operam no organismo de um indivíduo, em seu comportamento
e em sua personalidade. Modificações estas que ocorrem num
sentido progressivo levando o homem à identificar-se com a
vida nas suas mais variadas situações.
A educação atualmente vem perdendo seu caráter apenas
intelectualizante e vem procurando dar ao ser humano uma
vivência sempre relacionada com todos os atos da vida, "pre-
parando o indivíduo para a vida pela experiência ou prática
da própria vida".
Este conceito mais amplo, mais globalístico de educação
não é tão nôvo, pois Santo Tomás já a definia: "educar é
formar o homem todo". Apenas para nós é que, só há pouco
tempo vem se tornando realidade.
A educação globaliza em si as múltiplas atividades que
visam a formação integral do ser humano, podendo ser assim
especificada:
— formação física
— formação intelectual
— formação moral
— formação social
— formação cívica e política
— formação econômica e profissional
— formação artística
— formação religiosa
TIPO DE PESSOAL
Se constatamos o valor e a eficiência da tarefa educativa,
quando realizada em ação conjunta (professor e outros técni-
cos), em se tratando de educação comum, esta necessidade
aparece altamente intensificada com relação a educação es-
pecial.
Citaremos aqui o tipo de pessoal existente, com algumas
variações, em organizações públicas ou particulares que visam
a educação da criança excepcional e particularmente os defi-
cientes visuais, nos Estados de São Paulo, (Fundação para o
Livro do Cego no Brasil), Guanabara, (Subsecção de Educa-
ção Especial) Rio Grande do Sul, (Serviço de Orientação e
Educação Especial): Médicos — neurologista, psiquiatra, of-
talmologista, otorrinolaringologísta. Professores de: ensino
acadêmico, educação física, recreação, terapia da linguagem,
artes industriais e fisioterapia. Psicólogo, Assistente Social
e Orientador Educacional.
Estes profissionais, formam uma equipe, trazendo as mais
variadas contribuições científicas, baseadas numa mesma filo-
sofia, tendo como centro de interesse a criança excepcional.
São Paulo, Estado onde a educação do deficiente visual
atinge o índice mais elevado de desenvolvimento, mantém
através do Departamento de Educação Especializada da Fun-
dação para o Livro do Cego no Brasil, 35 professores espe-
cializados, assim distribuídos:
CLASSES N.° de
Professores
Classe Braille 10
Classe de Ajustamento (deficiente mental cego) 2
Classe Preparatória 1
Setor de Educação de Deficiente Áudío-Visual 1
Classe de Adulto 1
Ensino Itinerante 11
Centros Regionais de Ensino Itinerante 3
Ensino Domiciliar 6
TOTAL 35
CONCLUSÕES GERAIS
Do Assunto exposto podemos concluir:
1) A educação moderna toma novos rumos, amplia e apro-
funda seu conceito de formação, e muito embora esta
evolução da educação comum, não se faça paralela à
educação especial, esta última apresenta também, ultima-
mente, perspectivas já bem promissoras.
2) De acordo com os fins da educação, impõe-se a necessi-
dade de habilitar a criança deficiente visual, consideran-
do-a como um todo, para uma vida útil e feliz.
3) A tarefa educativa atualmente, exige a atuação de uma
equipe constituída de profissionais especializados tais
como: médico, professor, assistente social, psicólogo e
orientador educacional, para melhor garantir o êxito da
educação.
4) Existe uma necessidade quantitativa e qualificativa de
pessoal, carecendo pois, de recursos para a formação e
estímulo para que maior seja o número de profissionais
a ingressar no campo da educação dos deficientes visuais.
5) Em conseqüência do insuficiente número de técnicos
especializados, ou ainda da existência destes em alguns
Estados do Brasil, na maioria apenas o professor, sem
nenhuma articulação com profissionais que tenham idên-
tica formação, é que ainda prevalece, nestes Estados, a
educação segregada, em instituições, que conserva os
padrões tradicionais de educação.
6) A doação de bolsas de estudo representa um excelente
recurso para formação de pessoal.
7) Na seleção dos candidatos à bolsas de estudos, seja dada
a preferência aos profissionais já com experiência no
campo de trabalho, ou que demonstrem interesse compro-
vado pelo ramo da educação especial.
8) Criação de núcleos regionais com a finalidade de realizar
o controle técnico dos estabelecimentos e serviços de edu-
cação, visando com esta medida a unificação e entrosa-
mento do trabalho dentro do âmbito nacional.
9) Neste trabalho procuramos dar uma visão panorâmica do
que já se realiza, no tocante à formação de pessoal, no
campo da educação da criança cega no Brasil.
Xo final da exposição o presidente agradeceu a conferencista e
riu ao plenário que não houvesse o intervalo regulamentar, o que
foi plenamente aceito. Passou depois a palavra ao segundo expositor,
dr. Maury Atanes, oftalmologista do Hospital das Clinicas e da Funda-
ção para o Livro do Cego no Brasil, que apresentou o trabalho sobre:
"Determinação e extensão do problema da cegueira no Brasil".
DETERMINAÇÃO E EXTENSÃO DO
PROBLEMA DA CEGUEIRA NO BRASIL
DR. MAURY ATANES.
(Módico oftalmologista da Fundação para o Livro do
Cego no Brasil e do Hospital das Clínicas da Univer-
sidade de São Paulo — São Paulo).
O problema da cegueira no Brasil pode ser observado por
diversas facetas, que procuraremos evidenciar no decorrer
deste trabalho motivado pela experiência neste campo, adqui-
rida nestes últimos anos na Fundação para o Livro do Cego
no Brasil e no Hospital das Clínicas da Universidade de São
Paulo.
Inicialmente, devemos trazer a tona o problema do médico
oftalmologista, pois é dele que depende o diagnóstico, trata-
mento, métodos de prevenção e nos casos de perda de acuidade
visual o encaminhamento aos centros de Reabilitação. Após
o curso médico, estágio de dois anos em Hospital de padrão
científico reconhecido oficialmente e título de especialista
conquistado junto ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia
mediante concurso, o oftalmologista encontra-se frente ao
probelma do alto custo dos aparelhos de consultório que de
uma maneira geral fogem na maioria das vezes às possibili-
dades individuais. Assim é diferente o início da carreira de
oftalmologista se o compararmos com os médicos clínicos que
necessitam unicamente de estetoscópio e esfignomanômetro.
Talvez resida aqui a causa do pequena número de médicos.
especialistas em oftalmologia e o seu agrupamento nos gran-
des centros urbanos.
A relação médico-paciente deve ser encarada também com
realismo, pois na maioria das vezes o médico evita transmitir
ao paciente ou seus familiares o prognóstico definitivo, temen-
do uma reação contrária dos mesmos. Não é raro observarmos
pacientes cegos há mais de 20 anos ficarem completamente
fora de si quando transmitimos aos mesmos nosso parecer de
que a cura é impossível e que deve procurar os meios próprios
à sua reabilitação para futuramente participarem da socie-
dade.
Os familiares em sua grande maioria ainda não adquiri-
ram a consciência do problema do não vidente procurando
esconder do mesmo a verdade e assim prejudicando a evolu-
ção normal da reabilitação. Não são raros os casos do médico
não enviar seus pacientes a uma instituição porque sabem
que perderão os mesmos, que passarão à peregrinação pelos
consultórios até que um médico consciente ou inconsciente-
mente lhes dê esperança de cura.
Para se fazer uma determinação do problema oítalmoló-
gico no nosso meio, mister se faria necessário um levanta-
mento estatístico da incidência das diversas moléstias oculares
causadoras de cegueira e ambliopia, para que assim se deter-
minasse zonas onde certas afecções fossem mais comuns para
serem posteriormente tratadas ou evitadas.
É difícil agrupar as diversas afecções oculares, no entan-
to, procuraremos caracterizá-las baseando-nos no atendimento
dos pacientes que procuram o Hospital das Clínicas.
Inicialmente temos que dividi-las de acordo com a inci-
dência nos grupos etários diferentes, pois é na infância que
existe o maior perigo de se ficar cego, sendo que na idade
adulta a cegueira se instala com maior freqüência depois dos
GO anos.
Assim são causas mais comuns de deficiência visual na
infância o glaucoma congênito que é a elevação da pressão
intra-ocular nos primeiros meses de vida e que leva a perda
total da visão por destruição dos tecidos nobres do globo
ocular. Como a sua etiologia está ligada a uma má formação
congênita do tecido existente no ângulo da câmara anterior
seu início deve ser observado pela mãe ou pelo médico pedia-
tra sendo seus sinais principais o lacrimejamento, fotofobia e
aumento do globo ocular. O tratamento é sempre cirúrgico
e deve ser feito nos primórdios da doença.
A conjuntivite neo-natorum provocada durante a gestação
ou durante o parto, causa ainda em nosso meio grande número
de cegos/pois as crianças não são submetidas ao método pre-
ventivo de Credé que consiste em se instilar colírio de nitrato
de prata a 1% no fundo do saco conjuntival após o parto.
As avitaminoses são causas comuns de inflamação de todo
globo ocular e nos obriga a enucleação do mesmo.
A fibroplazia retro-cristaliniana felizmente tende a desa-
parecer, pois atualmente podemos prevenir e impedir o seu
aparecimento através da descoberta de sua causa, como seja,
o grande aporte de oxigênio nas crianças prematuras nas
incubadeiras.
O estrabismo ou desvio do eixo ocular, quando não tra-
tado precocemente e até os 10 anos de idade, por um processo
de inibição leva a perda funcional do olho estrábico, impedindo
a visão binocular e a sensação de profundidade limitando as
atividades profissionais futuras do indivíduo.
Na idade adulta um dos maiores causadores de cegueira,
— é o glaucoma pois elevando a pressão intra-ocular de uma
maneira progressiva e lenta destrói a retina e nervo óptico.
Estão em seu diagnóstico precoce as maiores possibilidades de
tratamento, mas este só é feito em exames de rotina para
prescrição de lentes em consultório, pois sua sintomatologia
inicial é tão pobre que passa despercebida. A percepção de
halos coloridos em torno das lâmpadas, dores oculares e mo-
dificação constante da refração são sinais iniciais e que devem
ser investigados, procurando se evidenciar um possível glau-
coma incipiente.
O tracoma que é uma infecção crônica e altamente trans-
missível da conjuntiva, leva a cegueira pelas suas seqüelas,
existindo regiões no Brasil em que é endêmico.
A catarata, que é a opacificação do cristalino já não —
constitui atualmente causa de cegueira pois é facilmente per-
cebida pelo paciente em virtude da baixa progressiva da
acuidade visual que acarreta obrigando-o a procurar meios de
tratamento. Com a cirurgia moderna, a não ser os casos de
complicações no ato ou pós-operatório é possível curá-la.
As intoxicações, principalmente pelo álcool, fumo etc.
levam à atrofia do nervo óptico cortando portanto o elemento
necessário a transmissão dos estímulos luminosos da retina ao
cérebro e como conseqüência a cegueira total irrecuperável.
Com a industrialização crescente do país, aparecem os
traumatismos oculares que não raras vezes levam a perda da
visão e do próprio globo ocular, pois os meios de proteção por
falha do empregado ou empregador são na maioria das vezes
obsoletos ou não usados, e são os mesmos atendidos por seus
próprios companheiros de trabalho ou por enfermeira não es-
pecializada.
O descolamento da retina atualmente em virtude dos mé-
todos cirúrgicos aperfeiçoados tende a diminuir sua contri-
buição ao mundo que celebrizou Braille.
Concluindo, temos que realçar o grande avanço médico
no tratamento das diversas afecções oculares através de mé-
todos terapêuticos antes não usados.
Deveria se estabelecer inicialmente em nosso meio uma
pesquisa de âmbito geral para evidenciação das maiores causas
de cegueira e sua localização.
Medidas de caráter médico destinadas a melhorar as con-
dições do paciente já afetado, medidas médico-sociais destina-
das a persuadir o paciente a tratar-se, melhorando seu padrão
de vida e reflexamente de doenças hereditárias que acarretam
a cegueira, através de exame pré-nupcial compulsório, cuida-
dos pré-natais e hipervitaminoterapia, método de Credé como
preventivo nas conjuntivites do recém-nascido, isolamento dos
casos de tracoma e notificação obrigatória dos mesmos, exames
compulsório nas escolas para através do diagnóstico precoce
das diversas afecções e da correção das ametropias são meios
para favorecer o progresso da criança na vida escolar e dar-
lhes possibilidade futuras de desfrutar de posição na socie-
dade.
Depois do agradecimento por parte do presidente ao conferencista,
a Secretaria-Geral do Congresso d. Teresinha Fleury de Oliveira Rossi
fêz um aviso referente às adesões ao jantar de confraternização e
também uma comunicação aos senhores congressistas sobre a existên-
cia de um restaurante na Associação Paulista de Medicina. Um con-
gressista sugeriu que as pessoas que tivessem perguntas a fazer se
inscrevessem para fazê-las oralmente. O presidente respondeu que
atendendo ao regulamento do congresso, isso não seria possível. Outro
congressista sugeriu que se passasse imediatamente a terceira confe-
rencista que seria feita por d. Mathilde Neder, Psicóloga do Instituto
de Reabilitação da Universidade de São Paulo, a qual por motivos im-
periosos não pôde comparecer, sendo sua tese lida por d. Luiza Banducci
Isnard.
3. a SESSÃO PLENÁRIA
Presidente: DR. JAIRO MORAES
Secretaria: MARIA CONCEIÇÃO SANTOS LIMA
IVONE MARILENE ANTÔNIO.
MOBILIDADE E LOCOMOÇÃO
SYLAS FERNANDES MACIEL.
(Assistente Social da Fundação para o Livro do Cego
no Brasil — São Paulo).
6
A palavra locomoção, refere-se ao exercício da capacidade
de mover-se e implica no uso sistemático e racional dos movi-
mentos para garantir segurança contra possíveis perigos e ao
alcance de outro local diferente daquele em que se encontra
o indivíduo. Assim, de acordo com a conceituação do Dicio-
nário Enciclopédico Brasileiro, locomoção é a ação ou efeito
de se transportar de um lugar para outro.
Os cinco primeiros anos de vida estão estritamente rela-
cionados com o surgimento de uma profusa variedade de
habilidades motoras. A velocidade do aperfeiçoamento de
qualquer dessas habilidades, depende em grande parte da
capacidade do organismo em antecipar resposta por meio de
ajustamentos posturais compensatórios. Desde que sejam ad-
quiridas e devidamente mecanizadas, as habilidades posturais
não só permitem maior liberdade para a acomodação às novas
situações, como também, servem de preparação fundamental
para o desenvolvimento das habilidades superiores e mais
refinadas dos anos posteriores. A escrita, por exemplo, é uma
atividade tão altamente especializada, que somente pode ser
efetuada com êxito, quando certas atitudes adquiridas ante-
riormente, tais como, apreensão, fins e equilíbrio sentado, se
encontrem tão mecanizados que não interfiram com a ação
de escrever.
Pode-se considerar, pois, os primeiros anos como um pe-
ríodo de integração e estabilização dos modos básicos da con-
duta motriz, que são fundamentais para o desenvolvimento
das atividades mais evoluídas.
Retornando ao ponto inicial, a partir dos primeiros ins-
tantes de vida, o ser humano coloca em funcionamento sua
capacidade de movimentação que denominaremos mobilidade.
Os movimentos são numericamente maiores nos primeiros
anos, vão decrescendo em número com o transcorrer da vida
até ficarem muito reduzidos com a velhice e se extinguem
com a morte.
Nos primeiros anos de vida, os movimentos obedecem a
necessidades orgânicas. No procesos de crescimento os estí-
mulos externos começam a se fazer sentir, motivando também
movimentos: descoberta do próprio corpo, primeiros gestos
para alcançar os objetos, primeiros deslocamentos do corpo
em direção a alguma coisa mais distante, o engatinhar, o
andar, a imitação dos gestos dos adultos, o gradativo conhe-
cimento dos perigos do ambiente — obstáculos à marcha.
quente, frio, frágil, duro, firme, instável, distância, altura. —
que provocam traumatismos.
A maior ou menor vivência das experiências citadas, e
outras mais garantirá o desenvolvimento da mobilidade em
maior ou menor grau e dará maior ou menor segurança na
realização dos movimentos.
As limitações e cerceamentos sofridos nessas experiência»
repercutirão de maneira muito sensível futuramente na área
da mobilidade. Em vista disto, é de grande importância que as
crianças desfrutem das mais amplas oportunidades de tomar
conhecimento de si mesmas e do meio físico, para que desen-
volvam ao máximo sua mobilidade, substrato básico para o
desempenho da locomoção.
O aparecimento da cegueira ao nascimento ou nos pri-
meiros anos de vida, vem trazer sérios prejuízos à mobilidade.
A realização dos movimentos que atendem às necessidades
orgânicas não é afetada, por serem involuntários e responde-
rem aos estímulos interiores da própria criança. O mesmo
não sucede, todavia, ao aprendizado e realização dos movimen-
tos mais complexos, visto que a perda da visão representa o
fechamento da via de comunicação que mais amplas e ricas
informações fornece ao ser humano. Assim, ficam seriamente
comprometidas as possibilidades de imitação e percepção dos
estímulos que despertam o interesse pelas coisas externas e
motivam os movimentos em direção à. Isto significa que ocor-
rerá uma baixa acentuada da movimentação pela redução do
número de estímulos. Com o despertar dos outros sentidos, o
que ocorre mais tardiamente, a criança encontrará outras
fontes de estímulos que também ensejarão movimentos em
direção à.
Muito importante e de grande repercussão na análise do
tema mobilidade e locomoção, são os significativos somados
ao fato cegueira, pois, de acordo com a concepção acerca desse
assunto, as pessoas com as quais vive a criança cega, poderão
ocasionar-lhe limitações ainda maiores que aquelas objetiva-
mente impostas pela falta de visão.
A cegueira traz consigo forte conteúdo cultural, que,
somado aos temores e ignorâncias das pessoas, é capaz de
sufocar uma genialidade latente, pela negação da mínima
oportunidade do seu desabrochar. Para ilustração desta afir-
mativa, recolheu-se na literatura nacional, alguns pensamentos
a respeito da cegueira e sobre o valor e significados dos olhos.
Arthur Bahia em ,TÊNEBRA" Sonetos Brasileiros, diz:
"Ai: o destino te jogando a esmo
No mundo te deixou fora do mundo
Encerrado dentro de ti mesmo."
INTRODUÇÃO
Considerando o indivíduo na sua evolução normal de
crescimento, vê-se que nas condições em que nasce é incapaz
de suprir suas próprias necessidades. Para isso necessita de
condições que favoreçam não só o seu crescimento e desenvol-
vimento físico, mas também, intelecutal, social e emocional.
Sendo a sociedade o seu ambiente natural de vida. esse desen-
volvimento deve visar não só a realização individual, mas
também o funcionamento adequado dentro da realidade social.
Neste sentido, dois grupos em especial se destacam, den-
tro do sistema social, pelas suas características e funções
específicas de preparar o indivíduo para atingir tais objeti-
vos. São eles a família e a escola.
Para avaliar a importânca desses dois grupos no processo
educativo de uma criança, necessário se faz o estudo da fa-
mília, a compreensão do seu papel nesse processo, bem como.
entender a escola e suas funções específicas. E finalmente,
estabelecer as relações dessas duas instituições para um tra-
balho conjunto na formação das pessoas.
A FAMÍLIA E A ESCOLA
A família na sua função educativa, não pode sozinha pro-
mover o desenvolvimento de todo potencial humano, pela im-
possibilidade de prover todos os recursos. Necessita para
tanto, da complementação de outras instituições que a auxi-
liam nesta tarefa.
A escola é uma das instituições criadas para assegurar o
desenvolvimento da personalidade do ser humano e seu total
equipar para a sua vida em sociedade.
Ela está organizada de forma a constituir um ambiente
de vida e ação onde a criança através de atividades formais e
informais, possa expandir suas aptidões naturais, aprender a
trabalhar em grupo e se incorporar na comunidade.
Existe uma tendência a atribuir como função da escola
apenas o desenvolvimento intelectual enquanto outros aspectos
da personalidade são deixados a cargo da família. Esta con-
cepção, entretanto, constituiu um sério erro, pois o comporta-
mento humano é único. Os aspectos que conhecemos como
comportamento social, moral e intelectual, são inter-relaciona-
dos e o que afeta um deles, afeta também os outros.
Além disso, cada família preenche suas funções de ma-
neiras diferentes, tanto em quantidade quanto em qualidade.
As famílias precisam da escola no sentido de proporcionar
instrução segura para seus filhos. Também precisam dela
como grupo social distinto do grupo familiar, onde são ofere-
cidas às crianças, oportunidades para novas experiências.
Neste particular variam muito as necessidades de cada famí-
lia. Em alguns casos, somente um mínimo de necessidades
precisam ser atendidas fora dos recursos da família, noutros
quase a sua totalidade.
A escola, em última análise, deve estar à serviço da fa-
mília para ser útil à comunidade.
Se a escola aceita essa função complementar, não deverá
atuar como entidade autônoma, desenvolvendo um trabalho
isolado. A realidade devida aos seus educandos, suas expe-
riências anteriores e as influências dos ambientes que fre-
qüentou e que freqüenta devem estar presentes no seu plane-
jamento e prestação de serviços.
Portanto, para melhor preencher suas funções educativas,
a escola deve planejar o atendimento das crianças, baseada no
conhecimento científico das suas necessidades individuais, bem
como da realidade social em que estão inseridas.
Tal conhecimento deve-se processar através do estudo das
condições físicas, intelectuais, emocionais e familiares de cada
aluno, o que permite a avaliação das suas necessidades reais
e a indicação dos serviços mais adequados para seu atendi-
mento.
A presença de uma equipe inter-profissional num progra-
ma educativo, é de fundamental importância não só para
avaliar e planejar a melhor resposta às necessidades de cada
caso, como também para assegurar o seguimento de suas re-
comendações.
4. a SESSÃO P L E N Á R I A
Presidente: GAL. JAIME FERREIRA DA SILVA
Secretaria: DEINZE A. CIZOTTO
EDYLEDA TEREZINHA DE SOUZA.
A T I V I D A D E S S O C I A I S P A R A O S EDUCANDOS
DEFICIENTES VISUAIS
FLORA BARROSO DE ALBUQUERQUE.
(Técnico de Educação Coordenadora dos Deficientes
Visuais do Ensino Especial do Departamento de
Educação Primária da Secretaria de Educação e Cul-
tura do Estado da Guanabara).
O tema que me foi dado abordar nesse I Congresso
Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais, promovido pela
Campanha Nacional de Educação dos Cepos do Ministério da
Educação e Cultura — ATIVIDADES SOCIAIS PARA OS
EDUCANDOS DEFICIENTES VISUAIS — ocupa um largo
campo na educação.
O Estado da Guanabara, promovendo a educação integral
das crianças deficientes visuais, ao recebê-las nas escolas pri-
márias oficiais, sente-se, até certo ponto, à vontade, para
desenvolver o assunto em pauta.
O objetivo fundamental na educação dos deficientes
visuais deve ser integrá-los à sociedade de videntes de que
fazem parte, sem se descurar das suas possibilidades e limi-
tações por serem elas, muitas vezes, significativas no campo
da personalidade e do ajustamento social.
"Jack Kirkland acredita que todos os indivíduos apresen-
tem as mesmas necessidades biopsico-sociais, desde a infância
até a maturidade e que a cegueira não altera essas neces-
sidades básicas".
Para a integração futura do indivíduo, há que satisfazer
essas necessidades básicas: oportunidades de expressão, apro-
vação, segurança, amizade, reconhecimento, aceitação.
Conhecendo-se as fases fundamentais por que passa a
criança durante o seu desenvolvimento, podemos avaliar a
importância da participação do deficiente visual na vida das
outras crianças videntes e a valorização das atividades recrea-
tivas, tais como o jogo, fator básico no desenvolvimento men-
tal da criança.
Se lhe foram oferecidas todas as oportunidades no período
da aquisição, considerado pelos psicólogos como verdadeira
introdução a vida mental, bem como durante o estágio da
organização, caracterizado pelos interesses éticos e sociais e
o momento em que se afirma a personalidade do educando,
alcançará o indivíduo o estágio da produção, período de tra-
balho característico do ser.
A integração será pois atingida através das atividades
sociais e recreativas, principalmente se a criança fôr estimu-
lada e delas participar desde idade pré-escolar. Não esque-
çamos que o jogo constitui a forma específica da atividade da
criança e o meio de afirmação de sua personalidade.
No trato com os deficientes visuais e para um trabalho
de atividade social integrada, alguns fatôres necessitam ser
considerados:
. as condições peculiares do deficiente e sua pre-
paração para participação no meio social;
. as condições de vida da criança: meio sócio-econô-
mico, experiência cultural e educacional;
. idade cronológica, maturidade física e emocional;
. conhecimento da idade em que ocorreu a deficiên-
cia; estágio de desenvolvimento psico-social; trau-
mas que o indivíduo tenha experimentado;
. atitude do educando em relação à sua deficiência;
. verificação da existência de outras deficiências.
7
concomitantemente com as visuais, o que acarreta
maior dificuldade para a integração com os viden-
tes;
entrosamento com as instituições sociais com fina-
lidades recreativas;
. as atitudes dos videntes em relação aos deficientes
visuais e vice-versa;
. o interrelacionamento familiar.
P R O B L E M A S TÉCNICO-FORMAIS E S U A S
IMPLICAÇÃO NA EDUCAÇÃO DOS
DEFICIENTES VISUAIS
LUIS GERALDO DE MATTOS.
(Prof. do Instituto São Rafael — Belo Horizonte —
Minas Gerais).
II — O SISTEMA BRAILLE
A) Problemas de uniformidade dos símbolos
As diversas tentativas realizadas a fim de se conseguir
uma unificação dos símbolos para o sistema Braille, trazem-
me à lembrança a história do Código Civil Brasileiro, cujas
necessidades de existência, começaram a ser reclamados era
1824 e ele só apareceu em 1916. É evidente no entanto, que
há um pouco de exagero nesse paralelo estabelecido, visto que
as condições atuais, são bem diversas, sob todos os aspectos.
No Brasil, por volta de 1943, começaram a surgir movi-
mentos de maior repercussão, no sentido de se estabelecer um
Código Estenográfico para o sistema Braille. Daí para cá.
observamos inúmeras tentativas, ora para criação de um Có-
digo Estenográfico, ora para se unificar os símbolos, e, ainda.
outras vezes, os dois assuntos serão tratados ao mesmo tempo.
Assim, várias reuniões se processaram, como em 1943, 1945,
1951, 1953, 1957, e afinal, surgiu a portaria n.° 54, baixada
pelo então diretor do Instituto Benjamin Constant, Sr. Rai-
mundo Ribeiro Fontes Lima, e aprovada por sua Ex. o Minis-
tro da Educação e Cultura, a 26 de novembro de 1962.
Procedeu-se a nova série de reuniões, em número de
dezessete, durante os meses finais de 1962 e princípios de
1963.
Os resultados obtidos nessas reuniões não foram dos mais
alviçareiros. Segundo os seus próprios participantes, as reso-
luções se tornavam cada vez mais difíceis, surgindo óbices
que ainda mais prejudicavam o andamento dos trabalhos.
Um dos pontos controvertidos, diz respeito ao sinal indica-
tivo das reticências, onde a tradição guanabarina prefere
utilizar os pontos 2, 5 e 6, numa sucessão tríplice, enquanto
os representantes de São Paulo adotam a mesma sucessão
tríplice, mas utilizando somente o ponto três.
No que concerne aos sinais matemáticos, nota-se também.
outra dicotomia: Em São Paulo, coloca-se tais indicações pre-
cedendo aos números correspondentes; na Guanabara, essa
mesma indicação vem proposta ao número. São Paulo: (Km
2 ) ; Guanabara: (2KM), para indicar dois quilômetros.
Compreendemos perfeitamente, que tudo tem sido reali-
zado, sempre com a intenção única de se chegar a resultados
mais objetivos e práticos. Acreditamos porém, que essas dico-
tomias, advindas de puro tradicionalismo, não podem oferecer
sérios embaraços ao estabelecimento de uma estrutura Braille
unificada. Em Minas Gerais, ou mais precisamente, em Belo
Horizonte, tem-se, usado, no que tange aos sinais matemáti-
cos, o sistema da Guanabara; no que concerne às reticências,
têm-se utilizado as duas formas.
Os problemas, pois, especificamente brasileiros para a
unificação dos símbolos, não podem, portanto, ser de solução
bastante complexa, visto que no Brasil, atualmente, só existem
dois grandes centros em que se transcrevem e enviam, para
todo o território nacional, livros no sistema Braille.
No Brasil, a mais eficaz e correta atitude a ser tomada
a nosso ver, seria a participação intensa dos educadores, em
trabalhos conjuntos, a fim de que se possa solucionar breve-
mente, as dificuldades que ainda se nos afloram, maxime
quanto aos problemas de uniformidade dos símbolos e a fixa-
ção de um código estenográfico Braille.
Ness país, quase continente, existem verdadeiros "arqui-
pélagos educacionais", apresentando cada ilha problemas pró-
prios e bem particularizados. Daí, então, a maior necessidade
e urgência de reuniões, onde possam comparecer educadores
de todos os Estados brasileiros, para que se tenha conheci-
mento do que se processa no campo tiflológico, das dificulda-
des e obstáculos a serem vencidos, da utilização de métodos
mais sadios e eficientes.
Em virtude da ausência desse trabalho e participação
conjunta de educadores, podemos observar fatos lamentáveis,
que como em Belo Horizonte, muito retardaram o desenvol-
vimento sócio-educacional dos cegos em Minas Gerais. Basta
verificar, por exemplo, que o Instituto São Rafael, segundo
estabelecimento oficial de ensino especializado para cegos em
todo o território brasileiro, fundado em 2 de setembro de
1926, teve o seu curso ginasial oficializado apenas em janeiro
de 1952, logo no primeiro ano de trabalho de seu nôvo diretor.
Professor Batista de Castro, quando, finalmente, nos foram
abertos os caminhos que nos levariam a Escola Superior.
Antes que tal acontecesse, porém, nada menos de 26 longos
anos haviam transcorrido.
É com pesar que citamos acontecimentos como este, e que
naturalmente, haveriam de se repetir em partes- outras do
país, se não fossem modificados e não surgissem novas medi-
das como esta, saliente-se, que ora se nos apresenta.
B) Problemas relativos à velocidade da escrita e leitura
dos deficientes visuais, tamanho dos livros em Braille
e seu custo, necessidade de uso de um código de este-
oiografia Braille para a língua portuguesa.
1
QUINTA FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 1964.
9:00 HORAS.
5. a SESSÃO P L E N Á R I A
Presidente: DR. ROBERTO TALIBERTI
Secretaria: OLENKA RED A M. PIO
ROBERTO LOPES ANDRADE
Ata da quinta sessão plenária do I Congresso Brasileiro de Educa-
ção de Deficientes Visuais. Aos doze dias do mês de novembro de
1964, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medicina, situado à
Avenida Brigadeiro Luiz Antônio n. 278. 8.° andar, realizou-se a quinta
sessão plenária do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes
Visuais, sendo esta presidida pelo Dr. Roberto Taliberti. Dando início
a sessão o presidente explicou aí se encontrar em substituição ao
Prof. Dr. Francisco Elias Godoy Moreira, que fora indicado para pre-
sidir essa sessão, mas que por motivo contrário a sua vontade não
pudera comparecer. Começando os trabalhos disse que haveria modifi-
cação na programação do dia, pois a l. a relatora por motivo de doença
não pode comparecer e que o programa seria assim constituído: pri-
meiro lugar Sr. Haroldo Pedreira, a seguir a palestra do Dr. Edward
Waterhouse sobre o Instituto Perkins. Em seguida as duas palestras
seria aberta a sessão para que o relator respondesse às perguntas à
ele dirigidas, as quais deveriam ser encaminhadas à mesa, por escrito.
O relator disporia de 3 minutos para cada resposta. Daria depois um
intervalo de 10 minutos e então seriam projetados dois filmes sobre
o Instituto Perkins. Foi feita pelo presidente a chamada do primeiro
relator do dia, para que viesse à mesa afim apresentar sua tese. Foi
ela: "Orientação Vocacional: aspectos profissionais o experiências
pré-profissionais do educando deficiente visual".
" A ORIENTAÇÃO P R O F I S S I O N A L D E
EDUCANDOS D E F I C I E N T E S V I S U A I S "
HAROLDO PEDREIRA.
t (Orientador Profissional da Fundação para o Livro
do Cego no Brasil — São Paulo).
V — EXPERIÊNCIA PRÉ-PROFISSIONAIS
COM ESTUDANTE
Estas experiências concretas no trabalho, considerando
o que foi anteriormente exposto, devem ter sempre presentes
dois perigos principais:
— o primeiro deles é o de que as atividades escolares
por si mesmas, acarretam ao aluno, grandes dificul-
dades. Todo o cuidado deve ser tomado, então, para
não sobrecarregá-lo com tarefas adicionais, pois pode
trazer-lhe uma série de desiquilíbrios e insatisfações.
O treinamento deverá ter o objetivo de colocar
o menor em contacto com a tarefa para conhecê-la,
conhecer as responsabilidades e habilidades que exi-
ge, e coletar suas impressões e opiniões sobre ela
Na orientação, em entrevistas, a discussão de
todas as características das tarefas, e a sua compa-
ração com as avaliações psicológica e social do cliente
e com as observações do orientador profissional e do
professor vão permitir que o educando possa ir pla-
nejando gradativamente a orientação que dará à sua
vida profissional.
— o segundo perigo é o da limitação das experiências
pré-profissionais. Apenas para ilustrar, gostaria de
citar uma experiência interessante e que pode ocor-
rer com organizações de preparação profissional.
Em uma viagem a Piracicaba, tive oportunidade de
observar um garoto de 14 a 15 anos de idade des-
montando e montando o motor de um automóvel
numa oficina especializada. O proprietário do auto-
móvel ficou admirado com a destreza e o cuidado
com que o aprendiz realizava estas operações. Per-
guntando se o garoto se interessava por aquele tra-
balho e pretendia especializar-se no campo, recebeu
a seguinte resposta: "É, o Sr. sabe, eu gosto muito
deste trabalho, e queria aprender mais na "Escola
Profissional", mas acontece que na "Escola Profis-
sional" daqui de Piracicaba só ensinam "torneiro-
mecânico" e "Ferramenteiro", e eu vou ter que
aprender uma dessas, se quiser melhorar". Não me
lembro se foi ferramenteiro que o garoto disse, mas
sei que era uma ocupação qualquer que não lhe inte-
ressava em termos de ocupação, mas apenas em ter-
mos de rendimento econômico.
A limitação das possibilidades de experiências
pré-profissionais constitui realmente, como se vê, um
sério perigo. Quando os responsáveis pela Orienta-
ção Profissional não possuem os meios práticos para
proporcionar as experiências necessárias ao educan-
do. deve recorrer à utilização dos recursos da comu-
nidade. Esta atitude é preferível a de oferecer ao
menor apenas uma faixa restrita, de perspectivas
futuras de trabalho. Talvez o garoto da ilustração
tivesse um rendimento mais satisfatório, e um ajus-
tamento profissional e social melhor, se lhe fosse
oferecida a oportunidade de receber a orientação
técnica profissional na Escola e o treinamento na-
quela mesma ou em outra mais completa.
Uma mudança de interesses forçada pelas con-
dições da Escola Profissional pode produzir um pro-
fissional mal ajustado.
9
Ele tem que ser um estudante acima do normal, se deseja ingressar
na universidade — tem que provar ao professor a superioridade do seu
trabalho.
Se ele é um empregado, tem que realmente se fazer reconhecido
perante o seu empregador, não como um pobre cego tentando sobre-
viver, mas como alguém que executa o seu trabalho tão bem, se não
um pouquinho melhor ainda, do que os outros na mesma posição.
Completando, o cego tem ainda em seu desfavor, o fato de que a
sua conduta tem que ser constantemente perfeita — não há nada mais
horrível para quem enxerga do que presenciar a bebedeira num cego.
Ele ainda tem que ser considerado socialmente como uma pessoa
agradável — não há nada mais triste do que um cego que seja cacete,
enfadonho.
Na realidade, isso tudo não deixa de ser uma injustiça para com o
cego, mas, a menos que ele o reconheça não terá sucesso na vida.
Infelizmente, a verdade é que nenhum de nós trata um cego como
tratamos quem vê. Se eu levar um tombo na neve, todos acharão
muita graça, mas se um cego cair, todos correrão em seu auxílio.
Tudo isso parece muito triste, e realmente será triste se o cego
não conseguir aprender, de um modo ou de outro, a ter uma realmente
profunda e ampla alegria de viver.
Voltando, porém, ao professor, vejamos como ele poderá guiar
seu aluno cego para que ele cresça e vá de encontro a este salutar
modo de viver que o levará ao sucesso.
O homem mais inteligente que jamais me ensinou, costumava
repetir diversas vezes aos professores: "Não é o que vocês ensinam,
mas o que vocês representam na vida, o que realmente vai interessar."
Quando eu converso com esses jovens, tento me certificar de que
não haja entre eles nenhum cínico, nenhum ranzinza, nenhum infeliz
ou inseguro, mas criaturas que saibam extrair grande alegria de tudo
aquilo que façam na vida.
So o professor irá exigir do seu aluno que trabalhe com mais
afinco do que qualquer outro, terá que ser, ele próprio, um batalhador
sem preguiça.
Se ele quer de seu aluno um rendimento superior, não pode se
dar ao luxo de apresentar, ele próprio, um resultado fraco.
Se ele quer que seu aluno enfrente a vida com coragem, não
poderá nunca ser ele um medroso.
Afirmo que não poderá haver maior alegria na vida para um
professor, do que presenciar o sucesso de algum aluno seu.
Ainda não me referi, porém, ao que há de especial em nosso modo
de ensinar. Somos professores e, como tal, devemos ensinar, pois
essa é a nossa missão — e não a de especialistas em reabilitação.
Ensinamos, portanto, da melhor maneira possível, como se tivéssemos
escolhido alunos que possam ver.
Precisamos reconhecer que atualmente a sociedade está se tor-
nando cada vez mais exigente de seus membros, e nisso inclui os
portadores de incapacidades.
Um bom exemplo disso é o que se espera hoje em dia dos cegos,
nos Estados Unidos, e acho que em outros lugares também: que ele
possa se locomover sozinho. Este tem sido para nós um desafio tre-
mendo, qual ainda não pudemos satisfazer totalmente.
Acho, porém, que este é realmente um desafio especial, pois, as
vezes, pergunto a mim mesmo se teria eu coragem de atravessar uma
rua sozinho apenas com o auxílio da bengala longa.
Isto é típico dos desafios que propomos aos nossos alunos, e, na
minha opinião, nossa maior dificuldade, no trabalho com cegos, é a
de saber aquilatar perfeitamente suas limitações, para nunca exigir
deles o que nós próprios não nos sentiríamos com forças para fazer.
Existem tantas frustações na vida de um cego, que nosso esforço
tem que ser no sentido de ajudá-lo a vencê-las, com profunda hones-
tidade e sinceridade de coração.
Em toda minha experiência, penso que posso mesmo citar como
grande responsável pelo fracasso de professores ao lidar com cegos,
a insinceridade.
É claro que nenhum de nós é insincero deliberadamente — o
motivo será talvez não termos feito a nós mesmos nenhuma destas
perguntas a que hoje me referi. E isto nos impedirá de sermos bem
sucedidos.
Há alguns anos atrás, tivemos que escolher um "slogan" para
nossa escola, e escolhemos: "as vidas dos cegos graduados pela
Perkins fizeram da história da Perkins, uma história de sucesso."
Considero este um ótimo "slogan" adequado a todos os nossos
professores: "é a vida dos cegos que fêz da educação de crianças cegas
uma história de grande sucesso".
PERGUNTAS:
CONSIDERAÇÕES GERAIS:
Avaliamos o verdadeiro engrandecimento de uma socie-
dade pela capacidade de compreensão de cada membro, ma-
nifestada através da mútua colaboração, caracterizada pela fé
e confiança nas possibilidades físicas, morais e intelectuais do
ser humano.
O bem-estar social depende dos esforços empregados pelos
integrantes da comunidade, no sentido de pôr em prática os
salutares princípios de solidariedade humana. E é, graças
ainda a essa União de esforços que alguns povos encontraram
a solução de vários problemas sociais, principalmente os ati-
nentes à educação dos chamados deficientes físicos, mentais e.
sensoriais.
No Brasil, felizmente muito já se fêz por eles, mas tam-
bém muito ainda resta a fazer. Não por inércia dos bra-
sileiros, mas pela morosidade natural da evolução específica
dos campos técnicos. Quero crer, seja essa lentidão benfa-
zeja e positiva, pois nos dá a oportunidade de experimentar.
selecionar e adotar sistemas aperfeiçoados e eficientes de
assistência educacional, empregados por outros povos.
Hodiernamente, a legislação em todo mundo, tende a re-
conhecer o direito e mesmo a obrigação de proporcionar edu-
cação e instrução a todos os seres humanos, sejam eles defi-
cientes ou não.
O governo brasileiro, através da lei n. 4.024 de 20/12/61,
Lei de DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO, determina
que:
Título II — DO DIREITO À EDUCAÇÃO —
Art. 2.° — A educação é direito de todos e será dada
no lar e na escola. — Art. 3.° — O direito à educação
é assegurado: I — Pela obrigação do poder público
e pela liberdade de iniciativa particular de ministra-
rem o ensino em todos os graus, na forma da lei em
vigor; II — Pela obrigação de Estado de fornecer
recursos indispensáveis para que a família e. na falta
dessa, os demais membros da sociedade se desobri-
guem dos encargos da educação, quando provada a
insuficiência de meios, de modo que sejam assegura-
das iguais oportunidades a todos.
Título X — DA EDUCAÇÃO DOS EXCEPCIO-
NAIS — Art. 88 — A educação dos excepcionais,
deve, no que fôr possível, enquadrar-se no sistema
geral de educação, a fim de integrá-los na comunida-
de. Art. 89 — Toda iniciativa privada considerada
eficiente pelos conselhos estaduais de educação, rece-
berá dos podêres públicos tratamento especial medi-
ante bolsa de estudo, empréstimos e subvenções.
EDUCAÇÃO NO LAR
Os pais da criança portadora de dupla deficiência, ao
procurarem educação especializada para seus filhos, geral-
mente encaminham-se ao campo da educação especializada de
cegos e dificilmente para o de deficientes mentais. Alegam
uns, que seus filhos não aprendem porque não enxergam:
outros, porque não aceitam a possibilidade de terem gerado
uma criança naquelas condições: outros ainda, por julgarem
as limitações impostas pela cegueira como as mais graves.
Os mais conformados, ao terem em mãos os diagnósticos das
duas deficiências, buscam imediatamente orientação especia-
lizada para seus filhos. Outros, mais resistentes, vão percor-
rer consultórios médicos, na ânsia da confirmação ou negação
dos diagnósticos, ou ainda, à procura de um médico que lhes
garanta a recuperação integral da criança. Negam a realidade
dos fatos e destes são poucos os que conseguem superar os
traumas consecutivos pelos quais passam. Não é melhor a
atitude oposta dos pais que se submetem resignadamente à
situação, ignorando as capacidades restantes da criança, e se
desinteressando pelos recursos que a comunidade oferece.
Para se ter uma idéia exata deste problema, esclarecemos que
já orientamos casos que ficaram esperando a "cura" durante
20 anos ou mais. O profissional que compreende essa atitude
dos pais como "apenas negação da realidade", consegue aju-
dá-los muito. Primeiro ouvindo, depois analisando, em segui-
da planejando. Mais tarde, orientando conscientemente e
solicitando ajuda de outros profissionais quando o caso assim
o exigir.
Lembramos aqui Dr. Stanislau Krinski quando diz: "As
atitudes da família, conseqüentes ao reconhecimento do filho
deficiente não raro modificam todo o comportamento social
do grupo familiar. Após um período inicial de revolta, de
angústia, de desorientação face ao problema, há uma grada-
tiva adaptação à realidade. Procura-se por todos os meios
enfrentá-la e minorá-la. Com isso, todo um processo de ajus-
tamento se faz necessário. Não raras vezes, a falência do lar
em função do filho deficiente — a auto justificação, a proje-
ção de culpa sobre o outro cônjuge, o desagrado face ao pre-
sente e a aflição e responsabilidades para o futuro. Outras
vezes a atitude positiva, tão desejável, de compreensão e de
endendimento melhor de todo o grupo familiar, que se une
e se concentra — às vezes exageradamente — em torno do
problema e suas possíveis soluções".
A educação da criança portadora de dupla deficiência
deve ser iniciada o mais cedo possível e seus pais serão os
seus primeiros orientadores. Deverão ser pacientes, amorosos
e perseverantes. Para eles é sempre um rude golpe um filho
duplamente inferior à média das crianças. Essa descoberta
é um choque tão súbito, que não podem aceitá-la de imediato.
É natural que não a aceitem, senão depois de exames cuida-
dosos por especialistas aptos a julgarem as limitações da
criança. A recusa na aceitação da verdade, depois de conhe-
cidos os resultados, pode acarretar efeitos desastrosos para a
criança. Muitas vezes força a criança a uma árdua e longa
luta para satisfazer as espectativas demasiado altas dos pais
e põe em perigo sua felicidade, pelo fato de não lhe ser minis-
trado desde cedo o treino devido. Por conseguinte, quanto
mais depressa os pais conhecerem as limitações do filho, tanto
melhor, pois estarão em condições de fazer planos para a sua
orientação. Quando levada à escola, a criança revela o exce-
lente treino que recebeu em casa.
Se a mãe lhe tiver ensinado pacientemente as coisas ne-
cessárias e lhe tiver permitido a satisfação de "ajudá-la" de
mil e uma formas, em serviços ou atividades domésticas, ao
mesmo tempo educativas e agradáveis, ela estará apta a ser
operante e eficiente na escola.
A orientação especializada será dada aos pais em reuniões
de pais e mestres, no caso da criança já freqüentar a escola;
ou, então, por um orientador domiciliar, que será o professor
duplamente especializado (em ensino de cegos e em ensino de
deficientes mentais) se a criança ainda não atingiu a idade
escolar. Esse profissional vai à residência, orientar os pais
a respeito de certos aspectos fundamentais do desenvolvimen-
to da criança duplamente deficiente. Alguns destes aspectos
poderão ser sintetizados da seguinte maneira:
EDUCAÇÃO ESCOLAR
Ao receber em sua classe, um cego deficiente mental, o
professor especializado deve, já ter em mãos, dados que lhe
possibilitem analisá-lo sob vários aspectos: oftalmológico, mé-
dico, social, e os antecedentes escolares, no caso de não se
tratar de matrícula inicial. Esses dados fornecem ao profes-
sor, elementos que facilitam de forma eficiente seu trabalho
com o educando.
Torna-se necessário acentuar as diferenças que existem
entre a criança emocionalmente perturbada, a portadora do
retardo pedagógico e a deficiente mental ou mentalmente
limitada.
A emocionalmente perturbada apresenta um desenvolvi-
mento mental normal, mas os problemas emocionais desenca-
deados por diversas causas, acarretam dificuldades no rela-
cionamento e na aprendizagem, tornando necessários atenção
e tratamento especiais, através dos quais, poder-se-á conse-
guir sua recuperação
A portadora de retardo pedagógico, possui um cérebro
normal, porém, não devidamente explorado. As causas desta
condição, podem decorrer de defeitos físicos e sensoriais, con-
dições domésticas desfavoráveis, saúde descuidada e especial-
mente uma atitude errônea por parte dos pais, na orientação
destas crianças, manifestada pela superproteção, pela rejeição
ou não estimulação que é o abandono. Com uma orientação
individual e uma educação cuidadosa elas conseguirão um
desenvolvimento satisfatório.
A criança deficiente mental ou mentalmente limitada, não
apresenta um desenvolvimento mental normal, devido às mais
diferentes e discutidas causas. Nenhum ensino ou atividade
poderá fazer com que cheguem à normalidade. Poder-se-á,
com uma terapia educacional, contatos sociais, mas nunca só
com o academismo ou tendo como único objetivo educacional,
a alfabetização. O objetivo primordial deverá ser a adequação
do indivíduo ao meio social.
Antes da elaboração do plano de trabalho, o educador
precisa fazer uma observação das diferentes áreas do desen-
volvimento, do comportamento, da criança portadora de dupla
deficiência, focalizando a conduta física, as atividades lúdicas.
o cuidado pessoal, as reações sociais e a linguagem. Dessas
observações, obtemos no geral, um quadro bastante complexo,
devido às variações muito acentuadas do desenvolvimento nas
diferentes áreas, motivadas, muitas vezes, por falhas da edu-
cação no lar ou então, por condições inerentes ao caso.
Sumariamente, o professor especializado, poderá determi-
nar que nível a criança está se comportando, em cada um
destes planos. Não se trata da aplicação de teste, mas apenas
da observação cuidadosa que deverá ser feita através de seu
contato diário com o caso, das condutas típicas em diversos
níveis e em várias atividades. A observação é um excelente
complemento, e freqüentemente mais digna de confiança que
os testes, porque as provas não testam a capacidade de adap-
tação às novas condições e aos novos problemas da vida da
criança.
Certos princípios regem a educação da criança cega retar-
dada mental:
10
6 — Princípio da disciplina: A criança portadora de
dupla deficiência aprenderá que na vida em todos os setores
e em quaisquer circunstâncias, temos que agir dentro de uma
rotina disciplinar. Esta disciplina, é transmitida pelo profes-
sor, através de suas próprias ações, de uma forma não inten-
cional. Todavia, o professor deve, de forma intencional, con-
duzir suas aulas de modo a despertar a atenção dos alunos,
sobre as vantagens práticas da ordem, da organização e da
disciplina.
Planejamento de trabalho: O planejamento não é uma
tarefa uniforme, submissa à regras predeterminadas e infle-
xíveis. Não é solução particular, restrita a uma fórmula de-
terminada. Não pode oferecer, de imediato, soluções através
de regras miraculosas. Em sua elaboração, supõe sempre,
pesquisa, conhecimento e previsão.
É fundamental no planejamento, o conhecimento objetivo
do problema sobre o qual se planeja; para a consecução desse
conhecimento, é indispensável a pesquisa. É importante que
o planejamento atente para:
a) Individualização: Encarando a criança portadora de
dupla deficiência com seus problemas, capacidades e limitações
próprias. O objetivo do planejamento deve respeitar o poten-
cial de cada aluno.
b) Consideração do duplo deficiente como um todo:
Podemos diversificar os problemas apresentados pelo duplo
deficiente, mas não podemos esquecer que ele é um ser indi-
visível. Por isso, há necessidade de uma equipe especializada
que atenda à essa diversificação de problemas.
Todo planejamento deve visar o preenchimento das la-
cunas da educação no lar. Crianças com precário desenvol-
vimento de cuidados pessoais que não sabem brincar, que não
têm qualquer independência pessoal, necessitam de um currí-
culo educacional específico a essas necessidades.
A educação escolar, baseada em uma série de seqüências,
traz melhores resultados do que um rígido programa de estu-
dos prestabelecidos. Os professores especializados, não têm
um programa a vencer, mas sim um desenvolvimento integral
a conseguir. No desenrolar destas seqüências, procura-se in-
culcar cuidados pessoais, segurança, boa postura física, capa-
cidade de comunicação, compreensão do mundo em que vive,
treinamento sensório-motor, e ao mesmo tempo desenvolver a
capacidade de resolver problemas elementares de cálculo arit-
mético, que surgem no decorrer da vida diária, e dotá-lo das
condições de comunicação através da linguagem escrita e oral.
Estas seqüências serão enquadradas nas diferentes matérias
do currículo: estudos sociais, trabalhos manuais, canto, re-
creação, atividades da vida diária, educação física, dicção e
fonética, conhecimentos aritméticos, linguagem escrita etc. Os
conhecimentos do educando devem ser ampliados de forma
dosada e as seqüências devem ser diariamente desenvolvidas
em aula se com horário planejado. Embora o ensino tenha que
atender às necessidades individuais, isto não quer dizer que
as atividades não possam ser dadas em grupo. O professor
sabe o que pode exigir de cada aluno. A leitura, escrita e o
cálculo são matérias que poderão ser ministradas somente
depois de se conseguir um progresso no comportamento.
Os técnicos, conhecedores das limitações do educando.
devem trabalhar em equipe: O psicólogo, o assistente social
de casos, o professor, o técnico de educação física, o recrea-
cionista, o técnico em atividades da vida diária, o ortofonista
são elementos indispensáveis para o desenvolvimento destas
crianças. A equipe atuará de forma harmoniosa, tendo como
objetivo único de trabalho, a criança portadora de dupla de-
ficiência.
"O trabalho de equipe, é uma união combinada, coopera-
tiva, democrática, multiprofissional, dedicada a um fim co-
mum — o melhor — tratamento para as necessidades funda-
mentais do indivíduo. É um grupo organizado, distinto em
suas partes, agindo como uma unidade".
A equipe especializada no atendimento da criança porta-
dora de dupla deficiência para alcançar êxito, deve levar em
conta os seguintes fatôres:
1 — cooperação entre seus membros:
2 — cada membro deve conhecer seu limite de ação;
3 — aceitação do caso como ele é. e não como gostaria
que fosse;
4 — o planejamento, para cada caso. deve estar de
acordo com o potencial do mesmo;
5 — respeito mútuo entre os membros, achando que a
ação de todos é importante;
6 — em reunião, os membros da equipe não deverão
apenas relatar, mas também interpretar a ação;
7 — cada membro deverá ter o conhecimento especia-
lizado sobre seu campo de ação, além de outros
básicos sobre os demais campos, a fim de expres-
sar-se em termos profissionais compreensíveis:
8 — não deve haver competição entre os membros, por-
que o trabalho é elaborado em função de um cliente
e não de um membro da equipe;
9 — as responsabilidades devem ser controladas e re-
partidas equitativamente;
10 — todos os membros da equipe devem estar capaci-
tados para compreender as limitações da criança
portadora de dupla deficiência.
CONCLUSÕES:
1 — A educação da criança duplamente deficiente é de
importância vital para o indivíduo e para o meio. A comu-
nidade precisa assegurar condições de atendimento através da
criação de um setor especializado, preparação de técnicos, au-
xílio pecunário para este tipo de trabalho e principalmente
reconhecimento do dever social e humano, mais que cívico, de
assistência aos deficientes.
2 — Decorrente da obrigatoriedade de atendimento da
criança duplamente deficiente, necessário se faz a localização
dos casos para a determinação das duas necessidades e da
criação de recursos adequados para seu atendimento.
3 — Apesar de abolida em outros países, a expressão
"excepcional", no sentido de conceituar os indivíduos infra
e super dotados, no Brasil, este têrmo vem sendo usado, pro-
vocando debates e controvérsias.
4 — O indivíduo duplamente deficiente (cego deficiente
mental) ainda não possui entre nós uma definição específica.
Por esse motivo, limitamo-nos a citações gerais, procurando
localizá-lo dentro do quadro das deficiências.
5 — Um plano de assistência aos deficientes em geral.
envolve problemas muito sérios que vão desde o interesse cres-
cente pelo problema até o indispensável apoio econômico, sem
o qual os planos não passam da teoria. Três aspectos devem
ser abordados com carinho: a) contínuo trabalho de assistên-
cia; b) pesquisas e aplicação de seus resultados; c) seleção e
treinamento de profissionais.
6 — Grande ênfase é dispensada atualmente à orientação
dos pais e familiares dos deficientes. Pais devem ser conve-
nientemente preparados para o papel que deverão desempe-
nhar na orientação dos filhos. Lar e escola unem-se com um
único objetivo: a criança deficiente.
7 — A educação do indivíduo duplamente deficiente é
dispendiosa. Exige equipe técnica numerosa. Local de tra-
balho adequadamente aparelhado. Material didático atraente.
variado e numeroso.
8 — A remuneração dos técnicos especializados para a
assistência de crianças cegas deficientes mentais, deve ser
compensatória. O exercício da profissão exige conhecimentos
atualizados e de alto padrão sobre o assunto, pesquisas regu-
lares, boa apresentação pessoal e dilatado horário de trabalho.
9 — Dada às características complexas do indivíduo du-
plo deficiente e a importância da especialização para seu aten-
dimento, é conveniente ressaltarmos a necessidade de sanidade
física e mental por parte dos técnicos, sem entrarmos em de-
talhes nos perigos que acarretam ao aluno, a atuação de um
limitado sensorial e de um leigo para a sua orientação.
10 — No exercício de meu trabalho, coletei informações
sobre o atendimento dos indivíduos portadores de dupla defi-
ciência em nosso país. Alguns trabalhos foram desenvolvidos
esporadicamente, por leigos interessados no assunto e desejo-
sos de prestar alguma assistência a esses indivíduos. A bi-
bliografia especializada nacional, é quase inexistente. Algu-
mas experiências realizadas no exterior, chegam até nós, de
modo assistemático, através de ligeiros artigos publicados em
revistas especializadas.
11 — Educar, não é somente alfabetizar; é desenvolver
aptidões, capacidades físicas e intelectuais com o fim de pre-
parar o indivíduo para a vida, tornando-o um elemento útil
à si, à família e à sociedade.
A relatora no decorrer da exposição da tese, omitiu a leitura das
leis para não ultrapassar o tempo regulamentar. Mesmo assim, o
tempo foi esgotado e por manifestação geral do plenário, o presidente
da mesa concordou que se concluísse o trabalho, o que se prolongou
por mais 20 minutos. Terminada a apresentação do tema, o presidente
solicitou aos congressistas que fizessem as perguntas referentes ao
assunto, e que as mesmas seriam recolhidas pelas secretárias da mesa.
Para isso foi dado um intervalo de 5 minutos. Reiniciada a sessão,
o Sr. Presidente usou da palavra para convidar o segundo relator, sr.
Dr. José Geraldo de Camargo Lima — S. P. — Capital, que falou
sobre: — "Aspectos neurológicos da educação especializada". A ex-
planação foi ilustrada com "slides" e um cartaz. (*)
Terminada a palestra, o sr. presidente concedeu os 5 minutos des-
tinados à formulação de perguntas sobre a tese. Nesse espaço de
tempo, foram feitos pela Secretária do Congresso, os seguintes comu-
nicados: "Seria distriída pela Comissão Social do Congresso, uma
lembrança a todos os seus participantes. Em seguida foram submetidos
à aprovação do plenário, os seguintes telegramas: — "ao Sr. Mal
Castelo Branco: "O I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes
Visuais vg ora reunido nesta Capital vg com participação numerosas
entidades governamentais e particulares do país e exterior vg expressa
a V. Exa. suas respeitosas saudações com reconhecimento alto espírito
público com que V. Exa. superiormente dirige promissores destinos
Nação, ao mesmo tempo quer formular apelo e confia na necessária
legislação possibilite aos excepcionais vg inclusive os cegos vg meios
e condições de serem convenientemente atendidas suas mais justas le-
gítimas revindicações. Cordiais e atenciosos cumprimentos"; Ao Exmo.
Sr. Senador Auro de Moura Andrade: "O I Congresso Brasileiro de
Educação de Deficientes Visuais ora reunido nesta Capital vg com
participação numerosas entidades governamentais e particulares vg do
país e exterior vg vem meu intermédio apresentar aos dignos repre-
sentantes do povo, nessa casa Congresso Nacional, suas efusivas
saudações o apelos sentido uma legislação assegure aos excepcionais vg
inclusive os cegos vg sua integração comunidade mesmo tempo que
confia lhes sejam estabelecidas percentagem fixas, distribuição verbas
e fundos vg inclusive plano trienal educação vg para melhor e con-
veniente atendimento suas mais justas legítimas revindicações. Aten-
ciosos e cordiais cumprimentos"; ao Exmo. Sr. Deputado Ranicri
Mazzili: " O I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais
ora reunido nesta Capital vg com participação numerosas entidades
governamentais e particulares vg do país e exterior vg vem meu in-
termédio apresentar aos dignos representantes povo, nessa casa Con-
gresso Nacional, suas efusivas saudações e apelar sentido uma legis-
lação assegure aos excepcionais vg inclusive os cegos vg sua integração
comunidade mesmo tempo que confia lhes sejam estabelecidas percen-
tagens fixas, distribuição verbas e fundos vg inclusive plano trienal
educação vg para melhor e conveniente atendimento suas mais justas
legítimas revindicações. Atenciosos e cordiais cumprimentos"; ao Emo.
Sr. Dr. Adhemar de Barros: " O I Congresso Brasileiro de Educação
de Deficientes Visuais ora reunido nesta Capital vg com participação
numerosas entidades governamentais e particulares, do país e exterior
vg com o apresentar a V. Exa. suas efusivas saudações transmite
apelo e confia concretização medidas governamentais assegurem aos
excepcionais vg inclusive os cegos vg meios e condições de verem
atendidas suas mais justas legítimas revindicações. Atenciosamente
cordiais cumprimentos": ao Exmo. Sr. Deputado Cyro Albuquerque:
"O I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais ora
HISTÓRICO
Ao tratarmos da dupla deficiência: cegueira e surdez.
vem-nos imediatamente a lembrança de Helen Keller, a fa-
mosa cega-surda norte-americana, conhecida no mundo todo.
não só pelo sucesso de sua educação, como também pelo tra-
balho que vem realizando em prol dos deficientes da visão e
da audição.
Mas Helen Keller não foi a única cega-surda a ser educa-
da até hoje. Muitos outros cegos-surdos, estimulados pelo seu
esforço, conseguiram, se não igualar-se a ela em cultura, pelo
menos atingir um certo grau de educação e independência
quebrando assim, a enorme barreira de isolamento que lhes
causa a falta de comunicação.
Podemos citar como exemplo, Robert Smithdas e Richard
Kinney que atingiram grau universitário.
Desde 1648 os professores de surdos já se preocupavam
com o problema da educação do deficiente áudio-visual prin-
cipalmente pela dificuldade de comunicação, salientando a im-
portância do sentido do tato para o ensino da linguagem.
Em 1779, o francês Deschamps, interessado na educação
do deficiente áudio-visual, publicou um livro, do qual extrai-
mos um pensamento que, até hoje serve de lema aos profes-
sores desses deficientes: "PACIÊNCIA E REPETIÇÃO
SÃO AS PALAVRAS-CHAVE PARA O SUCESSO NA
EDUCAÇÃO DO SURDO-CEGO".
Em 1795, Lorenzo Hervas y Panduro, educador de surdos.
começou a se preocupar com a possibilidade de pessoas surdas
ficarem cegas. Estudou então, um modo de ensinar a lingua-
gem ao surdo-cego. Cita ele em um livro, que o Abade L'Ep-
pée, educador de surdos na França, mostrou interesse em edu-
car uma criança cega-surda. Se não o fêz, foi porque não
encontrou nenhuma. Abade L/Eppée, por sua vez, baseou-se
em Diderot. numa carta publicada em 1749.
Em 1837, Dr. Samuel Gridley Howe, precursor da educa-
ção do cego nos Estados Unidos, tornou-se também precursor
da educação do cego-surdo, educando Laura Bridgman. Abriu-se
assim, o caminho para outros deficientes saírem do isolamento
em que viviam, e orientadores estudarem as técnicas necessá-
rias para educá-los.
Cientes da educação de Laura Bridgman, os pais de Helen
Keller tomaram conhecimento da possibilidade de educar sua
filha. Entraram em contacto com a Perkins School for the
Blind (Escola Perkins para Cegos) onde estudou Laura Bridg-
man. O então diretor desta escola, Michael Anagnos selecio-
nou Annie Sullivan, sua ex-aluna, para professora particular
de Helen Keller.
Aos 10 anos de idade, Helen Keller, ciente de que Ragnild
Kaata, cega-surda norueguesa aprendera a falar, começou a
estudar com uma professora de surdos, aprendendo o meio
mais comum de entendimento entre os homens — a linguagem
oral.
Com a iniciativa do Dr. Howe, a Escola Perkins começou
a aceitar mais alunos, estimulando outras escolas a se inte-
ressarem pelo deficiente áudio-visual entre elas, o Instituto
para Cegos de Nova York.
Em 1926, Sophia Alcorn, professora de surdos, educou
duas crianças: TAD e OMA, tentando uma nova técnica para
o ensino da linguagem oral aos deficientes áudio-visuais. Sur-
giu daí, o método TADOMA, empregado com sucesso até os
nossos dias.
Aquele país tornou-se o líder da educação do deficiente
áudio-visual e a Escola Perkins, o centro de orientação a todos
os educadores de cegos-surdos no mundo, pois possui uma
equipe especializada das melhores, mantendo um curso de es-
pecialização para professores, aceitando candidatos de todos os
países.
Seu atual diretor, Dr. Edward Waterhouse, grande en-
tusiasta e zeloso de seu departamento especializado, oferece
orientação pós-escolar aos alunos, tanto deficientes áudio-vi-
suais, como professores, atualizando-os com publicações de
pesquisas, congressos e estudos em geral.
Assim, sentimo-nos assistidos moral e tecnicamente mes-
mo quando isolados em nossos países, uma vez que, no mundo
todo, formamos um pequeno grupo de orientadores de defi-
cientes áudio-visuais.
Nos Estados Unidos há sete escola, entre escolas de cegos
e de surdos, que atendem a estes deficientes.
Na Escola Perkins, hoje, aproximadamente quarenta alu-
nos são atendidos por dezessete professores e outros técnicos.
Além dos Estados Unidos, conforme dados colhidos em
1962, podemos citar os seguintes países dentro da educação
do deficiente áudio-visual:
1 — Inglaterra — atende a 15 alunos e mantém um curso
de especialização para professores, funcionando em
escolas de cegos, que atende a crianças com defi-
ciências adicionais. Crianças surdas-amblíopes são
atendidas em uma escola de surdos.
2 — Itália — atende a crianças, embora não se saiba o
número delas.
3 — Rússia — as informações de um artigo de jornal
indicam Olga Skorokjodova, educada pelo alfabeto
manual, que exerce a profissão de psicóloga em seu
país. Um relatório do Congresso, cita uma aluna
que está sendo educada em Moscou (Ma).
4 — Dinamarca — Quatro ou cinco crianças registradas
em escolas de surdos, mas ainda não iniciaram sua
educação, 4 ou 5 serão atendidas em escola de cegos.
Adultos são atendidos em Associações.
5 — Noruega — três crianças freqüentando escola de
surdos e adultos são atendidos em Associações.
6 — Suécia — uma escola de cegos recebe crianças com
deficiências adicionais. Ali, vive uma criança cega-
surda. Adultos, como na Noruega, são atendidos
em associações.
7 — Finlândia — Em 1962 não havia alunos, mas as
matrículas estavam abertas e duas crianças eram
aguardadas.
8 — Suíça — Em fase de pesquisas.
HISTÓRICO NO BRASIL
Obtive meu certificado de especialização no campo, atra-
vés de bolsa de estudos da Escola Perkins. com autorização
do governo do Estado de São Paulo para afastar-me de meu
cargo sem prejuízo de vencimentos e demais vantagens e
ajuda de 50 "dollars" do Itamarati.
Assim, com minha volta em junho de 1961, iniciou-se
oficialmente a educação do cego-surdo no Brasil.
Em 28 de junho de 1962, o Instituto de Cegos "Padre
Chico", firmou convênio com a Campanha Nacional de Edu-
cação dos Cegos CNEC — passando a receber uma verba
destinada ao Setor de Educação de Deficientes Áudio-visuais
— SEDAV — na Fundação para o Livro do Cego no Brasi!
— FLCB — e uma classe especial naquele Instituto.
Através de um segundo convênio entre as duas entidades,
comprometeu-se o Instituto "Padre Chico" a pagar a profes-
sora responsável pelo Setor e seguir a orientação do mesmo.
O SEDAV tinha como finalidade, pesquisas, atendimento
e encaminhamento de crianças e adultos, além do treinamento
de professores e orientação geral no campo.
A classe especial para crianças cegas-surdas do Instituto
Padre Chico, funcionou durante algum tempo com duas alu-
nas. As crianças tiveram toda assistência médica e matéria!
através da verba da Campanha, de recursos do Padre Chico.
da Fundação e comunitários.
Em março de 1963, uma das alunas, após exames médicos
minuciosos e observações na classe, foi considerada também
débil mental e encaminhada pelo Serviço Social do Estado a
um instituto especializado em deficientes mentais.
A outra aluna apresentava todas as características de
criança educável, demonstrando-o pelo progresso que teve
durante o tempo em que permaneceu na escola.
Esta classe contava com uma professora especializada.
comissianada pelo governo estadual, uma atendente e uma
vigia, contratadas pela Campanha.
Em janeiro de 1962, a atendente foi nomeada pelo Estado
para prestar serviços no Instituto Padre Chico.
No SEDAV, foram atendidos dois adultos, sendo um na
sede e outro em ensino domiciliar. O primeiro, totalmente
cego-surdo, freqüentou o curso de alfabetização e comunicação,
desde o início do Setor e o segundo, surdo-amblíope, passou
a ser atendido em sua residência à partir de fevereiro de
1964. Ambos tiveram bom aproveitamento. São hoje consi-
derados alfabetizados e possuem meios de comunicação.
Em abril de 1963, o Setor realizou uma pesquisa para
localização desses deficientes em escolas de surdos e no Insti-
tuto de Cegos "Padre Chico", através do Setor de Pesquisas
da Fundação.
Foram localizados quatro casos elegíveis para classes
especiais de cego-surdo. Estes casos, apesar de ainda não
estarem enquadrados na definição de deficientes áudio-visuais,
já poderiam estar sendo orientados nesse campo, uma vez que
suas deficiências constituem obstáculos para a vida diária.
Três destas crianças continuam freqüentando classes de sur-
dos do governo e uma, na época, aluna de uma escola para
surdos, está atualmente com professor particular.
De 1.° de março a 27 de novembro de 1963, duas profes-
soras foram treinadas no ensino de deficientes áudio-visuais,
concomitantemente ao curso de especialização em ensino de
surdos, já possuindo anteriormente o certificado de especia-
lização em ensino de cegos.
Essas professoras pertenciam ao quadro de professores
especializados da Fundação. A serviço dessa entidade, graças
a compreensão de sua presidente, ambas freqüentaram o refe-
rido curso.
Em 14 de dezembro de 1963, foi extinta a Primeira Classe
Especial para Crianças Cegas-Surdas do Instituto de Cegos
"Padre Chico". A aluna da classe foi transferida para uma
escola de surdos no interior do Estado de São Paulo.
Em 27 de novembro de 1963, deixei o Setor de Educação
de Deficientes Áudio-visuais, assumindo a responsabilidade do
mesmo, à duas professoras preparadas.
Em portaria n. 75 de 21 de maio do corrente ano. foi
criado o Setor de Educação e Assistência aos Deficientes
Áudio-visuais SEDAV — subordinado ao Serviço de Educa-
ção de Surdos do Deparatamento de Educação do Estado de
São Paulo.
Com a instalação deste Setor no Estado, a Fundação
extinguiu o seu, concordando em ceder suas duas professoras,
já pertencentes ao quadro do magistério público.
Estas, tiveram livre escolha entre a transferência ou per-
manência no campo da educação de cegos. Uma optou por este
campo e a outra foi colocada à disposição do Departamento
de Educação do Estado de São Paulo, à partir de 1.° de
setembro do corrente ano, para prestar serviços junto ao
SEDAV, sem prejuízo de vencimentos, e demais vantagens
do cargo.
Ao ser criado o SEDAV, o Departamento de Educação
do Estado de São Paulo colocou-me à disposição do Serviço
de Educação de Surdos, para orientar o referido Setor.
Deste modo, amplia-se o número de técnicos neste campo.
possibilitando maior desenvolvimento do Setor e melhor aten-
dimento dos casos.
CEGO-SURDO
Definição adotada pela "Conference of Executive of
American Schools for the Deaf" (Conferência de Diretores
de Escolas Americanas para Surdos) e "American Associa-
tion of Instructors of the Blind" (Associação Americana de
Instrutores de Cegos), nos Estados Unidos.
— "É deficiente áudio-visual o indivíduo cujas deficiên-
cias visual e auditiva são obstáculos para as ativi-
dades comuns para a vida diária".
Importa notar que nesta definição estão implícitas as
definições de cegueira e de surdez.
— Cego — é o indivíduo com grau de visão de 0 a 0,1,
no melhor olho após tratamento ou correção.
— Amblíope — o indivíduo com grau de visão de 0,1 a
0,3, no melhor olho ou após correção ou tratamento
— Surdo — é o indivíduo incapacitado de seguir uma
conversação normal pela audição. Os indivíduos en-
quadrados nesta definição podem apresentar os graus
de surdez, desde surdez social até surdez total.
A ESCOLA
A atitude do mestre é tão importante quanto qualquer
método a ser empregado na educação da criança cega-surda.
Além dos conhecimentos técnicos, são qualidades importantes.
o carinho, a afeição, a paciência, a persistência e a firmeza.
A família dependerá do professor, tanto para aprender
a lidar com seu filho, como para compreender seus meios de
comunicação. Sua colaboração ao professor é inestimável para
o sucesso da educação da criança.
As menores atividades da vida diária, são objeto de apren-
dizagem sistemática. Esta aprendizagem deveria ser iniciada
no lar, o mais cedo possível, o que na maioria das vezes não
se verifica. Em geral, fazem parte do programa escolar,
atividades como: escovar os dentes, mastigar, usar os talhe-
res. abrir a fechar torneiras, vestir-se etc.
O professor deve, portanto, aceitar a lentidão e a limi-
tação que a criança apresenta. Assim, não se sentirá frus-
trado ao ver que passa muitas vezes, dois a três anos ensi-
nando aquelas atividades, conseguindo um mínimo de resulta-
do. Isto prova que dentro daquela cabecinha há um cérebro
que pensa, uma inteligência a desabrochar.
Podemos dizer que a educação propriamente dita se inicia
quando a criança compreende o que o professor deseja dela,
e, tenta fazê-lo sozinha, mesmo sem perfeição.
O relacionamento entre o professor e aluno, é de suma
importância. Por meio deste relacionamento o professor po-
derá fazer a criança sentir que ele é alguém que quer ajudá-la,
que a estima e procura entender seus meios mais rudes de
expressão. Mesmo que se resumam eles a choro, gritos, ges-
tos agressivos, apatia, teimosia etc.
As frustrações e o entusiasmo são dois sentimentos que
acompanham professores e pais destes deficientes. Não se
devem deixar desanimar pelos fracassos e nem entusiasmar
demais pelos sucessos. 0 equilíbrio emocional é de grande
importância para o professor, pois, embora não o perceba,
transmitirá ao aluno, seu estado de espírito, apesar de ser a
criança deficiente áudio-visual.
0 ensino neste campo é essencialmente individual. Uma
classe comporta dois alunos totalmente cegos-surdos ou até
três surdos-amblíopes.
Embora assistindo a número reduzido de alunos, a escola
necessita de um atendente para cada grupo, com o fim de
cuidar das crianças no período oposto ao do professor. No
caso de escola residencial, uma vigia deverá dormir no quarto
para atendê-las, se houver necessidade. A criança cega-surda
deverá permanecer sozinha o menos possível.
Condições para a criança ser aceita na classe especial —
A avaliação da capacidade da criança deficiente áudio-visual
será feita pela equipe especializada: psiquiatra, psicologista,
professor especializado, assistente social etc.
Serão então, agrupadas em duas categorias: educáveis e
adestráveis.
CONCLUSÕES
Este campo de educação, ainda nôvo no país, inicia seus
primeiros passos para o atendimento do cego-surdo.
Embora sendo um número reduzido na população, estes
deficientes têm direito a uma assistência educacional, tornan-
do-se seres capazes de desempenhar, dentro de suas limitações,
seu papel na sociedade. Não é raro como se julga encontrar
um cego-surdo. O que acontece, porém, é que, na impossibi-
lidade de atendimento, a família conserva-o em casa.
Há necessidade de pesquisas para localização desses defi-
cientes, através de palestras de esclarecimento, visitas a esco-
las de cegos e de surdos, a órgãos médicos especializados, a
colaboração do governo e de entidades particulares. Além
disso, a formação de técnicos, a criação de classes especiais,
são condições primordiais para a educação do deficiente
áudio-visual.
Concluindo, repito a filosofia de Deschamps, publicada
em 1779, que até hoje, ainda serve de lema aos professores
de cegos surdos:
7.a SESSÃO P L E N Á R I A
Presidente: D. EDY PINHEIRO ALVES
Secretaria: D. HELENA AUGUSTA DE SOUZA MELO
D. MARISA DELLA SANTA
A I M P O R T Â N C I A PA AVALIAÇÃO DOS
CASOS
MARY FRANKLIN DE ANDRADE
(Encarregada do Setor de Serviço Social do Instituto
de Reabilitação da Universidade de São Paulo — São
Paulo).
I — AVALIAÇÃO MÉDICA
A avaliação médica tem por objetivo:
1 — Conhecer o estado geral de saúde do indivíduo para
controle de suas condições físicas e, no caso de serem encon-
tradas outras moléstias não relacionadas à cegueira, dar orien-
tação para tratamento (por exemplo, verminoses, desnu-
trição) .
2 — Determinar se a cegueira é proveniente de uma
lesão central, por exemplo casos de Paralisia Cerebral, e, nesse
caso, pesquisar outras conseqüências dessa lesão, tais como
surdez, paralisias etc.
3 — Se a deficiência visual é decorrente de moléstias
gerais, tais como sífilis, diabetes, arteriosclerose, moléstias
infecciosas, moléstias de sistema nervoso etc, o exame médico
orienta sobre os efeitos colaterais da doença e as providências
necessárias para tratamento adequado, o que, em alguns casos
limita a participação do cliente em programa de reabilitação.
A avaliação médica deve incluir todos os elementos essen-
ciais do exame clínico. Evidentemente, cada tipo de incapa-
cidade física e cada cliente exigem a atenção para seu pro-
blema específico. Por exemplo, o foco de interesse em exame
de um indivíduo amputado, difere muito da ênfase dada, na
história clínica, as condições de nascimento de uma criança
com Paralisia Cerebral.
Por outro lado, em se tratando de pessoas com deficiência
física, mental ou sensorial, não interessa apenas a investiga-
ção dos dados patológicos, mas é de grande importância a
determinação da capacidade funcional restante, uma vez que
o objetivo do trabalho de educação ou reabilitação vai se con-
centrar na capacidade conservada e não na incapacidade.
No caso de criança com deficiência visual é importante
pesquisar aspectos tais como:
a) 1. Fatôres pré-natais — Condições de saúde da mãe
durante a gravidez e cuidados médicos recebidos nesse perío-
do. Pesquisar a ocorrência de doenças como sífilis, rubéola
etc, que podem ter ocasionado a cegueira. O conhecimento
destes dados permite, se ainda possível um tratamento à fa-
mília e conduz, em maior escala, à prevenção de outros casos.
2. Condições de nascimento — Tipo e duração do tra-
balho de parto, posição da criança ao nascer, danos sofridos
pela criança. Parto operatório (forceps e cesariana). Pro-
curar conhecer com exatidão as condições da criança ao nas-
cer, peso, côr, dificuldades respiratórias etc. Saber se foi
notada qualquer anormalidade aparente logo após o nasci-
mento. Estes dados são importantes para a descoberta de uma
lesão mais grave e também para determinar as causas de
cegueira devidas a acidentes de parto, oftalmia do recém-
nascido etc.
3. Hábitos de alimentação e higiene — A alimentação
da criança foi natural ou por mamadeira? Foi usado um ho-
rário? Apresentava a criança dificuldade para receber o
alimento? Atualmente alimenta-se bem? Apresentava-se des-
nutrida ou é obesa? Dorme bem? Segue um horário deter-
minado? A respeito da aquisição de hábitos de higiene, desde
que época a criança foi ensinada e começou a executar sozinha
seus cuidados de higiene? É capaz de comer só? Necesita de
auxílio para vestir-se e banhar-se? Tem controle dos esfinc-
teres?
4. Coordenação motora — Com que idade a criança co-
meçou a sentar-se, engatinhar e andar? consegue locomover-se
sem auxílio em local conhecido? Sobe ou desce escadas?
Revela senso de ritmo?
5. Audição e linguagem — Reconhece a voz dos pais e
pessoas de casa? Com que idade começou a falar? Apresenta
algum defeito anatômico congênito da boca? Revela dificul-
dade na fala ? Em alguns casos torna-se necessário um exame
especializado para medir a acuidade auditiva da criança.
6. História da Saúde — Mencionar as doenças próprias
de infância, condições alérgicas, traumatismos e acidentes.
Obter a história de tratamentos médicos e cirúrgicos ante-
riores.
Em suma, o estudo detalhadamente do caso fornece ele-
mentos com os quais é possível determinar, do ponto de vista
clínico, o desenvolvimento físico e as condições atuais de saúde
da criança.
b) Com relação à incapacidade física, o exame especia-
lizado, no caso da deficiência visual, o exame oftalmológico,
fornece elementos precisos com relação a diagnóstico, prog-
nóstico, grau de incapacidade, possibilidade de uso da visão
restante e oferece sugestões de cuidados necessários para
melhoria, conservação ou restauração da visão.
II — AVALIAÇÃO SOCIAL
A avaliação social abrange as relações existentes entre a
criança, sua família e a comunidade.
Tem por objetivo determinar os fatôres sociais, econô-
micos, emocionais e ambientais que se apresentam como im-
portantes para o planejamento dos cuidados necessários à
criança. Procura também reconhecer os obstáculos que pos-
sam cercear o processo educativo.
É feita através de entrevistas com o cliente e a família,
cujo objetivo precípuo é estudar os vários aspectos da unidade
familiar, com a finalidade de obter uma idéia clara das dinâ-
micas da integração do grupo familiar e da situação da criança
cega no funcionamento da família.
Este conhecimento permite uma formulação diagnostica
sobre as dificuldades enfrentadas pela família, e da ajuda
necessária para resolvê-las.
Além disso, a avaliação social oferece oportunidade para
que se estabeleça uma relação entre o cliente e a obra social.
Através desta relação é que a família será esclarecida sobre
as necessidades da criança e será convidada e estimulada a
usar os serviços que a obra e a comunidade podem lhe prestar.
O estudo das atitudes dos pais e irmãos em relação à
criança incapacitada é essencial para a compreensão de um
determinado grupo familiar.
O impacto que na maioria das vezes os pais sofrem ao
tomarem conhecimento da cegueira do filho é compreensível.
As expectativas em torno do crescimento normal e do
sucesso das realizações da criança, que são esperanças legí-
timas de todos os pais, são subitamente cortadas.
A maneira como vão sofrer e reagir ao trauma está rela-
cionado com a estrutura da personalidade de cada um e seus
padrões habituais de enfrentar as tensões.
Na maioria das vezes, os pais não tiveram experiências
anteriores com as capacidades físicas ou mentais, não estão
preparados para lidar com elas. Se eles nutrem preconceitos
comuns a respeito da cegueira e consideram o deficiente visual
como um inútil e incapaz, a presença de uma criança cega se
torna ainda mais decepcionante para eles.
Se nunca foram esclarecidos a respeito das possibilidades
de uma pessoa cega, eles terão dúvidas e receio de que seu
filho não seja capaz de desenvolver-se normalmente, estudar,
trabalhar, casar-se e prover a própria subsistência.
O sofrimento causado então, pela constatação da deficiên-
cia visual, pode lhes ser tão penoso que os leve a se sentirem
"perseguidos pelo destino" e desencadeia uma séria de atitu-
des e reações em relação a eles próprios e à criança.
Durante um certo período eles podem desejar tanto que
aquele sofrimento desapareça, que chegam a descrer do diag-
nóstico, fazendo uma verdadeira peregrinação aos consultórios
médicos e outras fontes de esperança como "curandeiros",
"benzedores" etc.
Esta busca não está ligada à crença ou descrença na
competência médica, mas prende-se muito mais à necessidade
de afastar uma realidade dolorosa.
Se a realidade se impõe, eles tentam achar uma razão
na qual tenha origem a cegueira, culpando-se então por des-
cuidos anteriores à instalação da incapacidade, ou projetando
em outros seus sentimentos de culpa.
Se para eles a cegueira está ligada à idéia de castigo,
podem senti-la como uma punição por alguma culpa real ou
imaginária.
A personalidade de cada indivíduo "é um produto, em
evolução, de sua formação constitucional, de seu ambiente
físico e social, de suas experiências passadas, de suas percep-
ções e reações atuais e mesmo de suas aspirações futuras"
(Helen Harris Perlman).
Suas reações em cada situação de vida são condicionadas
por todos estes elementos. Assim, o pai e a mãe da criança
cega têm a sua "história de vida".
Cada um deles é proveniente de uma família bem orga-
nizada ou não, viveu experiências importantes na sua infân-
cia, alargou os seus círculos de contato com o mundo, travando
relações na escola, no trabalho e nas ocasiões de recreação.
Cada um deles tem uma filosofia de vida, que, de maneira
expressa, ou inconsciente, se traduz através de suas atividades
e ações.
Na base de todas estas experiências, inclusive, é que um
escolheu o outro como companheiro de vida.
Na nova unidade familiar que se forma, cada um deles
tem um papel a assumir (de esposa, de pais, de chefe de fa-
mília etc.) e o desempenho deste papel é considerado "bom"
ou "mau", conforme o indivíduo corresponde ou não às expec-
tativas em torno dele.
Ambos vivem experiências em conjunto e desenvolvem
um relacionamento em que entram sentimentos, atitudes e
comportamento.
Existe entre eles uma forma de comunicação que faz com
que, embora vivendo sob o mesmo teto, estejam mais próximos
ou mais distantes um do outro; expressem com espontanei-
dade, ou reprimam seus sentimentos.
E na medida em que ambos atingirem certa maturidade
emocional, têm aspirações semelhantes e encontram um no
outro satisfação para suas necessidades sexuais, sociais e afe-
tivas, o casamento pode ser considerado mais forte ou mais
vulnerável.
A presença de uma criança incapacitada afeta o relacio-
namento entre os pais. Se o casamento é forte e satisfatório,
um encontrará no outro apoio e compreensão; pelo contrário,
se a ligação entre os pais é "vulnerável" e conflitiva, a defi-
ciência da criança pode ser o elemento que traz à tona e
desencadeia os problemas já existentes.
É importante também considerar que cada casal tem de-
terminadas metas em comum, com relação a padrão de vida,
valores sociais etc, chegando a estabelecer uma certa priori-
dade para alcançá-las. Se uma criança é concebida em uma
época considerada inoportuna pelos pais, antes mesmo do
nascimento ela já pode ser rejeitada.
A constatação de que o filho é portador de uma incapa-
cidade vai despertar ansiedade e atingir problemas anteriores
que estavam latentes. Por exemplo, os pais podem considerar
a deficiência como uma punição por haverem rejeitado a
criança.
O ressentimento pela perda sofrida com a incapacidade
pode assumir várias formas. Os pais podem isolar-se da so-
ciedade, temendo não conseguir dissimular a revolta que sen-
tem contra os que são mais felizes que eles. Podem desenvolver
sentimentos de autocompaixão. Muitos pais sofreram, eles
próprios privações materiais e emocionais. A dependência da
criança cega pode agravar estas necessidades insatisfatórias;
as constantes solicitações da criança podem chegar a esgotar
suas energias, tornando-se difícil para eles desempenhar o
papel de pais.
A expressão destes problemas assume, às vezes, a forma
de superproteção. Descrentes das possibilidades da criança,
ou incapazes de conter sua ansiedade ao vê-la experimentar
suas próprias forças, os adultos cerceiam seu desenvolvimento
e reduzem-na a completa dependência.
Se os pais não resolverem seus problemas afetivos de
maneira satisfatória, a criança deficiente pode ser utilizada
por um deles neste sentido, como é o caso da mãe que se
sentindo insatisfeita como esposa, emprega todas as suas ener-
gias no desempenho do papel de mãe, chegando a prejudicar
e impedir a independência do filho.
Se os pais estão de tal maneira envolvidos em seus pro-
blemas, eles terão dificuldades em ver a criança realmente
com suas limitações e habilidades.
Muito de suas energias vai ser gasto no sentido de con-
trolar seus sentimentos, não lhes sendo possível oferecer o
apoio e afeição de que a criança necessita nos seus esforços
de aprendizado.
Por outro lado, é preciso considerar também o que repre-
senta a criança incapacitada para os pais, no sentido de tra-
balho ou preocupação.
Quanto de esforços eles precisarão fazer para proporcio-
nar-lhe tratamento e educação adequada? Onde encontrarão
tais facilidades? Como a presença da criança irá aumentar
seus encargos e responsabilidades? Terão eles recursos finan-
ceiros para atender as necessidades da criança?
As dúvidas sobre a maneira como educá-la e as preocupa-
ções a respeito de seu futuro muitas vezes assaltam os pais.
É de grande valor nessa ocasião a ajuda eficiente do
Serviço Social de Casos. Através do relacionamento com o
assistente social, os pais terão oportunidade de expressar seus
sentimentos, de se sentirem apoiados e compreendidos, e, a
partir dessa fase, começar a perceber as suas atitudes e re-
fletir sobre os seus próprios problemas com relação à criança
cega.
Muitas vezes, é preciso um longo período de acompanha-
mento do caso para ajudar os pais a atingirem um ponto de
verdadeira aceitação da incapacidade da criança.
Nos casos em que a presença da criança desencadeia uma
série de problemas anteriores dos pais e põe à mostra as
insatisfações de parte a parte, o seguimento de Serviço Social
de Casos pode levá-los a perceber claramente estes problemas
e enfrentá-los, procurando um ajustamento em bases mais
satisfatórias.
Em outras vezes, a interferência do Serviço Social de
Casos se faz necessário para esclarecer a família sobre a exis-
tência de recursos na comunidade e incentivá-la a tomar pro-
vidência para o atendimento adequado da criança.
Na compreensão do caso, deve ser considerada também
a existência de outras crianças videntes na família, e seu
relacionamento com o irmão deficiente.
Os irmãos mais velhos ficam muitas vezes envergonhados
com relação aos companheiros por terem um irmão ou irmã
cego; ou então sentem que a presença da criança deficiente
limita a sua liberdade nas brincadeiras próprias da infância.
Isto pode levá-los a nutrir sentimentos confusos e ambivalen-
tes a respeito do irmão.
Se a criança cega monopoliza a atenção dos pais, eles
podem se sentir esquecidos e reagir com ciúme. Podem mani-
festá-lo de maneira abertamente hostil, ou através de queixas
para obter também a atenção dos pais.
A atitude da comunidade também dificulta e influencia
o trabalho de educação dos pais. Mesmo no momento atual.
são correntes os preconceitos a respeito da cegueira sua equi-
paração à mendicância e inutilidade social, as atitudes de
horror, piedade, e culpa. É comum ver-se o indivíduo cego
isolado, pouco solicitado pelos que o cercam, e, ao mesmo tem-
po despertando solicitude exagerada e superproteção (veja-se
o caso do pagamento de passagens de transporte coletivos).
O desconhecimento das possibilidades das pessoas cegas
e a descrença em suas habilidades levam a uma atitude de
espanto e valorização exagerada de suas realizações.
Certas exigências e responsabilidades, aceitas como natu-
rais para a maioria das pessoas em determinadas idades (por
exemplo trabalhar e prover a própria subsistência, locomo-
ver-se com desembaraço em uma grande cidade, viajar, expor-
se a certos riscos), são consideradas ainda como sendo cruel-
dade" quando exigido de uma pessoa cega.
Em decorrência de seus preconceitos e problemas em
relação à cegueira, é, às vezes, mais tranqüilizante para
sociedade manter os indivíduos deficientes "protegidos" e
segregados da vida comum e competitiva da maioria da po-
pulação.
As atitudes da comunidade devem mudar. Apesar de haver
uma compreensão maior e melhor aproveitamento da pessoa
deficiente, ainda persistem muitos preconceitos com relação à
cegueira, dificutando a integração dos deficientes visuais na
vida da sociedade.
O processo de crescimento de uma criança cega é natural-
mente mais complicado do que o de uma criança vidente. A
impossibilidade de formar imagens visuais de objetos, de
pessoas, do ambiente e do próprio corpo lhes dificulta o
aprendizado, e, a aquisição de experiências deve ser feita
através do tato, do olfato, do gosto e da audição.
Alguns pais que são capazes de aceitar a deficiência da
criança, intuitivamente atendem as suas necessidades, mas
mesmo assim a maioria deles precisa adquirir conhecimentos
de como atender as deficiências da criança adequadamente.
Saber, por exemplo, que a criança cega precisa de mais
estímulo para movimentar-se no berço. Não tendo um con-
ceito de espaço, precisa que lhe falem a respeito de distâncias
e a encoragem a explorar o ambiente movimentando-se dentro
dele e tocando as paredes, móveis, objetos etc.
Uma vez que a aprovação, desaprovação, afeto, apoio, não
podem lhe ser transmitidos através da expressão facial, ou de
um sorriso, os pais precisam aprender a transmiti-los através
da voz, do contato físico, do carinho.
A ausência de estímulo visual também dificulta a aqui-
sição de hábitos de higiene e alimentação. A criança necessita
durante um certo período pegar os alimentos, conhecê-los,
antes de aprender a se utilizar de talheres. A limpeza, o
cuidado com a aparência precisam lhe ser incutidos através
de outros métodos, que não o apelo visual.
Desde cedo, as crianças videntes são corrigidas e ensina-
das a não tocar certos objetos ou partes do corpo e a tomar
contato com as coisas através da visão e não do manuseio.
Ao ensinar a criança cega a se utlizar do tato, do olfato e do
gosto para adquirir experiências e entrar em contato com os
objetos e o ambiente, os pais estão adotando métodos não
aceitos em geral, considerados impolidos e que vão inclusive
contra certos tabus culturais.
Diante de todos estes aspectos é importante e às vezes
imprescindível, que a família conte com a ajuda profissional
do assistente social, com quem poderá discutir as dificuldades
que encontra e receber orientação sobre a educação do filho.
Nos primeiros anos de vida, na idade pré-escolar, quando
a criança ainda não recebe os serviços de nenhum outro técni-
co, é o assistente social o profissional que está em contato com
a família. Sua intervenção oportuna vai ajudar os pais a
proporcionar ao filho um ambiente favorável ao seu desenvol-
vimento; vai evitar que seja retardada ou impedida a explo-
ração das capacidades que a criança tem e vai prevenir a
formação de maus ajustamentos do futuro adulto deficiente
visual.
Além da avaliação da integração do grupo familiar e do
impacto provocado pela cegueira de um dos seus membros, é
importante a consideração de dificuldades objetivas tais como:
falta de recursos econômicos ausência de facilidades escola-
res etc.
Em nosso país a maioria da população vive em condições
sócio-econômicas precárias, sem conseguir nem mesmo atender
as necessidades básicas de sobrevivência; alimentação, vestuá-
rio, habitação adequada etc. É alto o índice de analfabetismo
e baixo o nível de instrução.
Sendo a unidade familiar uma amostra do grupo social
de que faz parte, a família da pessoa cega também é atingida
por estas condições gerais. Assim, os indivíduos se encontram
absorvidos na luta pela sobrevivência, que pouca atenção dis-
pensam à exploração das capacidades restantes dos mais de-
ficientes.
Muitas vezes a avaliação social vai demonstrar que o
tratamento do caso depende da elevação de nível econômico
e social de toda família.
Se o país ainda luta por alfabetizar grande parte do seu
povo é sinal de que mesmo as pessoas com plena capacidade
física e mental não receberam ainda o mínimo necessário e
não têm oportunidade de desenvolvimento de todo o seu poten-
cial. Assim são ainda menores os oportunidades oferecidas a
pessoas portadoras de alguma deficiência para adquirir ins-
trução e tratamento adequado. Neste aspecto são mais bene-
ficiadas as residentes em grandes centros urbanos, onde podem
encontrar maiores facilidades para aprendizado, treinamento
e colocação em emprêgo. O simples fato de residir em zona
rural, ou em uma cidade que não disponha de recursos espe-
ciais de ensino, impede qualquer planejamento de cuidados
liara uma criança cega.
As dificuldades econômicas, de distância, e a falta de
classes especiais é tão grande, que os pais vêem o interna-
mento como a única solução para o problema de aprendizado
da criança. Porém, tais casos merecem estudo cuidadoso, pois
estes argumentos podem ser apenas aspectos ou disfarces de
uma atitude mais profunda de rejeição da criança e desejo
de transferir a responsabilidade de seu cuidado para terceiros.
A institucionalização torna-se nestes casos, como já foi
dito antes, uma forma de "proteção" que a sociedade impõe
aos indivíduos cegos. Sob a aparência de custódia socialmente
aceita, são isolados e segregados, estes indivíduos para que
não despertem ou agitem as emoções dos outros membros do
grupo social.
Por fim, é importante lembrar que a avaliação social é
a oportunidade que o assistente social tem de estabelecer um
contrato de prestação de serviços a um cliente, levando-o da
condição de indivíduo que solicita ajuda à de pessoa interes-
sada em fazer alguma coisa pelo seu problema.
Para o planejamento dos cuidados a serem prestados ao
portador de deficiência visual, devemos levar também em con-
sideração os achados psicológicos.
12
É feita através da aplicação de provas psicológicas tais
como testes e técnicas projetivas, e de entrevistas com o
cliente.
Sabe-se que a criança portadora de incapacidade pode
apresentar as mesmas formas de conduta e reações emocionais
que são comuns ao mesmo grupo de idade. No entanto, a
incapacidade pode acarretar dificuldades no processo geral de
desenvolvimento da criança, interferindo no seu desenvolvi-
mento intelectual e emocional.
A criança cega, tendo a sua possibilidade de contato com
o ambiente limitada, necessitando aprender de maneira dife-
rente das outras crianças, estando exposta às vezes a rejeição
dos pais, está sujeita a frustrações constantes, e necessita de
um ego particularmente forte para desenvolver-se bem, esta-
belecer relações com o mundo e aprender a alcançar o que
deseja.
A mesma limitação física pode ter significado diferente
para duas crianças, dependendo da estrutura de sua persona-
lidade, da maneira como se sentem aceitas pelos membros da
família, especialmente os pais, e das oportunidades que lhes
são proporcionadas de participar da vida comum do seu grupo
de idade.
A avaliação psicológica vai procurar investigar em cada
caso em particular, de que maneira a incapacidade afeta a
personalidade e a conduta da criança.
Naturalmente, o grau de sucesso que cada criança conse-
gue atingir em suas realizações depende do seu potencial inte-
lectual. Mas muitas vezes esta capacidade de realizar, de
produzir, está embotada e impedida pela interferência de
problemas emocionais.
Cabe ao psicólogo determinar o nível da capacidade da
criança e descobrir até que ponto fatôres emocionais estão
interferindo na sua produção.
Espera-se também da avaliação psicológica, que transmi-
ta aos outros técnicos que trabalham com a criança o conheci-
mento de traços da personalidade da criança, seus pontos
fracos e fortes.
Este conhecimento possibilita dar orientação tanto aos
pais da criança, quanto aos profissionais que lidam com ela,
sobre a melhor maneira de conduzi-la e de lhe proporcionar
instrução e recreação adequadas.
Completadas as avaliações médica, social e psicológicas,
os profissionais que lidam com a criança tem elementos sufi-
cientes para caracterizar sua situação em todos os aspectos,
essenciais: quais as suas condições físicas gerais, qual a gra-
vidade da deficiência, de que maneira a incapacidade afeta a
criança e atinge o ambiente familiar, quais as dinâmicas de
interação do grupo familiar e com que forças positivas conta
para enfrentar o problema e por fim, qual o potencial da
criança cega.
Todos os dados pesquisados através das avaliações médi-
ca, social e psicológica só têm finalidade se forem utilizados
para um planejamento dos cuidados de que a criança neces-
sita, e uma prestação de serviço adequado.
Devem ser tiradas conclusões sobre o tipo de educação a
ser proporcionado — classe braille, ensino itinerante, classe
de adaptação, escola residencial etc, escolhendo-se sempre
aquele que mais beneficie a criança.
Devem ser consideradas a necessidade e as possibilidades
práticas de fazer o seguimento psicológico e social do caso, se
necessário.
É útil estabelecer os objetivos que cada profissional pre-
tende atingir no seu campo de ação, e determinar de que
maneira serão reavaliados os progressos realizados.
É preciso ter sempre em mente, que o objetivo da educa-
ção da criança é integrá-la da maneira mais satisfatória e
produtiva no seu grupo social, assim, sempre que possível, as
necessidades educativas da criança, devem ser atendidas na
sua própria comunidade, e ela deve ser estimulada a partici-
par de atividades recreativas com crianças comuns, para que,
além de desenvolver a sua iniciativa, ganhar satisfações emo-
cionais e travar amizades, aprenda a vencer as barreiras le-
vantadas pela deficiência.
Houve como de praxe um intervalo de cinco minutos para que o
plenário entregasse as perguntas à mesa. Após o intervalo foi entregue
a palavra a Dra. Nair Lemos Gonçalves, Livre Docente da Cadeira
de Leeislação da Faculdade do Direito da Universidade de São Paulo.
que discorreu sobre "Legislação no Campo da Cegueira".
7. CONCLUSÕES:
T — Sem despresar as variadas medidas tendentes a ga-
rantir o emprêgo dos cegos e dos excepcionais em geral, sempre
cabíveis nos programas de educação especial e de reabilitação,
parece que a lei (Estatuto dos Funcionários; Código do Tra-
balho; Lei Orgânica da Previdência Social etc.) e mesmo a
Constituição Federal, se necessário, deveriam ser objeto de
revisão para garantir:
a) reformulação do conceito de sanidade e capacidade
física, orgânica ou mental, a fim de que se avalie a capacidade
tendo em vista a tarefa a ser desempenhada e a capacidade
restante do deficiente;
b) reformulação do conceito de invalidez, deixando claro
que as causas que autorizam licença para tratamento de saúde,
auxílio doença e aposentadoria por invalidez devem ser poste-
riores ao ingresso no cargo ou função e so reconhecidas
quando acarretarem, no caso concreto, incapacidade para o
trabalho.
II — A Constituição Federal poderia contribuir decisi-
vamente para tal reformulação, se adotadas emendas seme-
lhantes às seguintes:
a) O parágrafo único do art. 157 passaria a § 1.°, sendo
acrescentados os §§ 2.° e 3.°, assim:
"§ 1.°. Não se admitirá distinção entre o traba-
lho manual ou técnico e o trabalho intelectual, nem
entre os profissionais respectivos, no que concerne a
direitos, garantias e benefícios.
"§ 2.°. A limitação ou deficiência física, orgâni-
ca ou mental não constituirá impedimento ao ingresso
em cargo, função ou ocupação pública ou particular.
quando a limitação ou deficiência verificada não impe-
dir o exercício, com eficiência normal, das atribuições
a serem desempenhadas.
"§ 3.°. Não se reconhecerá como causa de inva-
lidez a limitação ou deficiência de que trata o pará-
grafo anterior".
A EDUCAÇÃO DO PÚBLICO
PROF. SILVINO COELHO DE SOUZA NETTO.
(Chefe do Setor de Educação do Instituto Benjamin
Constant — Rio de Janeiro-Guanabara).
INTRODUÇÃO
A realidade da cultura brasileira se prende a diversos
fatôres condicionados a várias circunstâncias de ordem étnica,
geográfica histórica, tendo como resultado outros problemas.
cuja natureza econômica, social, política e educacional dá todo
um complexo cultural com características próprias que mere-
cem críticas de fundamento histórico.
A sociedade brasileira é o resultado de uma composição
-de raças diferentes, com culturas diferentes. Somos um povo
ao mesmo tempo ocidental e oriental, por isto mesmo apre-
sentando características peculiares e exigindo tratamento
especial.
A gente brasileira é inteligente, tem índole boa e uma vez
bem orientada tudo faz e dela tudo se consegue. Portanto,
vivendo num país onde os seus irmãos têm, excelentes quali-
dades, o que é preciso para o perfeito entrosamento do cego
com a sociedade, é uma honesta propaganda aliada ao pre-
paro do cego para o trabalho. Sendo o Brasil um território
continental, com comunicação e transporte deficientes, é fácil
de se concluir a deficiência em todos os setores da vida, não
escapando o educacional. Sabemos que é grande o número de
analfabetos brasileiros, como é imenso também o número dos
não preparados profissionalmente para enfrentar as exigên-
cias sociais contemporâneas.
Fazendo-se a análise de tais situações, observamos que
temos pela frente árdua tarefa, a realizar.
A educação reflete-se diretamente no estágio cultural em
que vivemos e se resume na cultura contida na história de
um povo ou de uma nação. A história do nosso desenvolvi-
mento cultural está cheia de acontecimemntos de toda sorte,
cabendo aos interessados no progresso, selecionar o que há
de positivo para a educação e eliminar aquilo que trava a
evolução.
Estamos passando por uma transformação que tudo exige
de nós no sentido da perfeita harmonia entre os indivíduos,
porque sem a qual jamais pode haver compreensão, tranqüi-
lidade e segurança, os responsáveis somos todos, porém, dire-
tamente cai sobre os ombros dos homens de consciência.
Quanto mais se adquire tanto maior é a nossa responsa-
bilidade para com os nossos semelhantes.
Intercâmbio entre as instituições de cegos no Brasil:
Não se compreende o porquê da distância existente nas
relações dos estabelecimentos destinados a educação e ao tra-
balho para cegos. São inúmeros os exemplos demonstrativos
referentes ao êxito das adequadas interrelações dos organis-
mos que visam proporcionar algum bem estar social.
O poder Executivo do governo não poderia realizar nada
independente do poder Legislativo e Judiciário num regime
democrático; um país não possui tudo aquilo de que ele neces-
sita eis porque recorre ao auxílio dos países com que tem
relações; as empresas industriais, comerciais, jornalísticas, as
agências de publicidade e departamento de relações públicas,
vivem todas estas instituições graças as relações harmoniosas
o adequadas que mantém reciprocamente.
Este primeiro Congresso Brasileiro de Educação de Defi-
cientes Visuais é a maior prova do que estamos afirmando,
bem como representa o maior esforço de vontade no sentido
de estabelecer estas imprescindíveis interelações tiflo-pedagó-
gicas nacionais.
O Instituto Benjamin Constant e a Campanha Nacional
de Educação dos Cegos são órgãos federais destinados a pro-
mover a educação para os cegos no Brasil. Os recursos que
contam para tal fim são fornecidos pelo governo federal. O
governo brasileiro nunca falhou no cumprimento do dever
sagrado em zelar pelo desenvolvimento sociocultural dos seus
patrícios não videntes.
Tem dado pouco é verdade em referência ao necessário,
mas tem despendido muito em relação ao aproveitamento. Se
mais não dá é porque não temos sabido bem aplicar. Os cegos
têm direitos mas não lhes foram dispensados o direito de ter
obrigações e deveres.
Estou com esperança e fé de que ao terminar este tão
oportuno Congresso, algo de concreto e objetivo deixe-nos
como traço de brevidade para atingir o alvo de nossos ideais
e alívio das nossas necessidades.
Para tanto só através de nova orientação podemos alcan-
çar o desejado.
É necessário e já é tempo mesmo de aquisição de cons-
ciência tiflo-pedagógica nacional. Cabe ao Instituto Benjamin
Constant e a Campanha Nacional de Educação dos Cegos a
maior incumbência de tais responsabilidades por terem âmbito
de ação nacional. Entretanto, os dois órgãos devem se entro-
sarem mais e se entenderem melhor. Não vejo razão porque
as duas entidades andam distantes, quando sabemos que aque-
la é filha deste, quanto as outras Instituições é igualmente
necessário o intercâmbio cultural. Vamos pois, eis aqui o meu
convite unirmo-nos indefesamente pelo engrandecimento dos
deficientes visuais do Brasil.
Adequação do Ensino e da Aprendizagem de Deficientes
Visuais com as Escolas comuns.
Vimos na introdução que é grande o território brasileiro,
bem como suas deficiências de comunicação e transportes.
Daí a necessidade premente de formar professores, orienta-
dores, assistentes sociais etc, especializados em educação,
ensino e reabilitação de deficientes visuais. Preparados tec-
nicamente estes profissionais, está feito o caminho que deve
orientar a equipe que se dedicar a missão educadora de cegos
e amblíopes, embora sejam numerosos os obstáculos a vencer,
o certo é que termina-se conquistando o ambiente físico e
social tornando-os favoráveis ao ajustamento dos nossos pu-
pilos, redundando na integração dos indivíduos na sociedade.
Sempre que houver boa orientação, melhor planejamento»
organização, direção adequadas, as escolas aceitam os alunos
deficientes visuais, surtindo efeitos excelentes.
Conseqüentemente se tivermos o propósito de lutar pela
integração social dos deficientes visuais, só temos um caminho
a seguir: devemos criar condições promovendo por todos os
meios possíveis o encontro dos deficientes com o meio comum.
Os mesmos devem ser conduzidos para a sociedade e nunca
esta ser levada até eles, senão quando a integração se tenha
realizado, porque desta forma o ambiente anormal tende a
desaparecer. Por isto trabalhemos cada vez mais no sentido
de colocar maior número de crianças junto das videntes.
Instituições que já vêm dando esta orientação educativa
no Brasil — A entidade pioneira em educação integrada para
deficientes visuais no Brasil — é a Fundação para o Livro
do Cego no Brasil.
O seu raio de ação vai se estendendo pelo Brasi] a fora,
depois de ter comprovado em São Paulo de maneira nobili-
tante, quão extraordinárias tem sido as vantagens deste mé-
todo empregado visando a libertação dos deficientes visuais
do condenável isolamento. Também tem se esforçado a Fun-
ão em colocar os adultos deficientes visuais nas indústrias,
ando antes pelo processo de reabilitação.
Outras Instituições congêneres tentam seguir-lhe a pista
acrescentando já êxito admirável. Está neste caso o Instituto
de Cegos da Bahia etc.
CONCLUSÃO
O Instituto Benjamin Constant está exigindo transfor-
mação, porque sendo uma entidade secular já não mais atende
em nossos dias, as necessidades dos alunos que nele vivem.
É necessário iniciar esta reforma pelo estudo do seu regi-
mento interno.
Se houver oportunidade nos debates que deverão ocorrer
no Congresso, defenderemos o nosso ponto de vista a respeito
desta transformação.
Finalmente, deixo claro que se o intercâmbio entre as
entidades de cegos não fôr adequado com as instituições co-
muns, dificilmente poderemos realizar o que tanto almejamos.
13
O que é preciso é que a sociedade se capacite de que tem
de tratar o cego como um cidadão!
E ele, realmente, o é!
Eu faço um veemente apelo aos homens da indústria, do
comércio e ao público em geral!
Procurem todos colaborar com os serviços de cegos, com-
prando-lhes os serviços! Pagando-lhes o que puderem produ-
zir! Dando-lhes renda, de acordo com a sua produção!
O cego precisa de serviço e não de piedade!
Há muitos e muitos serviços nos quais os cegos podem
colaborar eficientemente. Já o fazem em vários setores das
atividades. Por que reduzi-los?
Agora eu me dirijo, em especial, às famílias que têm
cegos. Não procurem segregar seus filhos cegos. Quanto
mais conviverem com a família, mais facilmente se integrarão
na vida normal brasileira.
"É erro profundo a criação de ambientes artificiais nos
quais os cegos só tenham contato com outros cegos.
Cria-se a mentalidade do indivíduo "diferente".
O indivíduo "diferente" reage também de forma peculiar.
Seus anseios deixam de coincidir com os da maioria e o de-
sajustamento está consumado.
Urge a criação da mentalidade da integração total do
cego na sociedade.
Quando eu digo integração eu o faço da forma a mais
veemente. Não o fato de ser um elemento eternamente de-
pedente e sim a ótima situação de completa igualdade de con-
dições com os demais, dentro de sua educação especializada.
Se o público ficar esclarecido do fato de ser o cego um
elemento que pode e deve ter o seu lugar no conceito dos
cidadãos, se as famílias compreenderem que os seus entes pri-
vados da visão não são de nenhuma forma carga penosa, se
a Pátria puder contar com este notável contingente de obrei-
ros, eu não tenho a menor dúvida em afirmar desta tribuna:
"a cegueira terá deixado de constituir um problema e será
apenas um aspecto rotineiro da realidade brasileira."
Novamente foram dados os cinco minutos para entrega de perguntas
à presidência da mesa. Posteriormente, entregou-se a palavra à D.
Celina Junqueira, técnica do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos,
Rio de Janeiro — Gb — que defendeu a tese "A Formação Integral do
Educando". Esta tese deveria ter sido pionunciada por ocasião da
primeira sessão planaria. A oradora ficou de enviar a tese a direção
do Congresso.* Houve o intervalo regimental, para entrega de per-
SESSÃO DE ENCERRAMENTO
Aos treze dias do mês de novembro de 1964, às 17:30 horas, no
Anfiteatro da Associação Paulista de Medicina, cita a Av. Brigadeiro
Luiz Antonio, 278, 8.° andar, realizou-se a Sessão Solene de Encerra-
mento do I Congresso Brasileiro de Educacão de Deficientes Visuais,
presidida pelo Exmo. Sr. Prof. Dr. Flávio Suplicy de Lacerda. D. D.
Ministro da Educação e Cultura e com a presença das seguintes auto-
ridades: Dr. Adhemar Pereira de Barros. D.D. Governador do Estado
de São Paulo; Dr. José Carlos Ataliba Nogueira, D.D. Secretário do
Estado dos Negócios da Educação e Cultura do Estado de São Paulo,
o D . D . Representante do Exmo. Sr. Prefeito Municipal de São Paulo
e D. Dorina de Gouvêa Nowill, Presidente da Comissão Executiva do I
Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais.
Prof. Dr. Flávio Suplicy de Lacerda: "Com a nresença honrosa
de sua Excia, o Sr. Governador do Estado de São Paulo, eu declaro
aberta a sessão final do I Congresso Brasileiro de Educação de De-
ficientes Visuais. Dando andamento aos nossos trabalhos tenho a
satisfação de passar a palavra ao Dr. Jairo Moraes, diretor do Insti-
tuto Benjamin Constant." Dr. Jairo Moraes: Tenho em mãos uma
moção de 50 (cinqüenta) assinaturas pedindo o seguinte-