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Professor Esp.

Danilo José Assini


Professor Esp. Fabio Oliveira Vaz
Professor Esp. José Roberto Tiossi Junior
Professor Esp. Julio Cesar Bueno Alves
Professor Esp. Luis Fernando Otero

LOGÍSTICA NO SETOR
PÚBLICO
graduação

GESTÃO PÚBLICA

MARINGÁ-pr

2012
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva


Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenação de Marketing: Bruno Jorge
Coordenação Comercial: Helder Machado
Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha
Coordenação de Curso: Ariane Maria Machado de Oliveira
Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Jaime de Marchi Junior, José Jhonny Coelho, Robson
Yuiti Saito e Thayla Daiany Guimarães Cripaldi
Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo
Revisão Textual e Normas: Amanda Polli, Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi, Keren
Pardini e Maria Fernanda Canova Vasconcelos.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a distância:
C397 Logística no setor público/ Danilo José Assini... [et al.]. -
Ma ringá - PR, 2012.
167 p.

“Graduação em Gestão Pública - EaD”.


1. Logística. 2. Cadeia de abastecimento. 3. Distribuição


física. 4. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 658.78
CIP - NBR 12899 - AACR/2

“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.

Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
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LOGÍSTICA NO SETOR
PÚBLICO

Professor Esp. Danilo José Assini


Professor Esp. Fabio Oliveira Vaz
Professor Esp. José Roberto Tiossi Junior
Professor Esp. Julio Cesar Bueno Alves
Professor Esp. Luis Fernando Otero
APRESENTAÇÃO DO REITOR

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos.
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para
liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no
mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos
nossos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso


de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos
brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas


do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-ex-
tensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que
contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referên-
cia regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de compe-
tências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação
da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social
de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também
pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação
continuada.

Professor Wilson de Matos Silva


Reitor

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 5


Caro(a) aluno(a), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo
de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se
fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da
realidade social em que está inserido.

Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o
seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação,
determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas
necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que,
independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se
presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente,
você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada
especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do
material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de
estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para
a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu
processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências
necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa.

Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os
textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos
fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados,
pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os
desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe
estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie
a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma
comunidade mais universal e igualitária.

Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!

Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo

Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR

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APRESENTAÇÃO

Livro: LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO


Professor Esp. Danilo José Assini
Professor Esp. Fabio Oliveira Vaz
Professor Esp. José Roberto Tiossi Junior
Professor Esp. Julio Cesar Bueno Alves
Professor Esp. Luis Fernando Otero

Olá, caro(a) acadêmico(a), seja muito bem-vindo(a) ao livro de Logística no Setor Público. Sou
o professor Danilo José Assini e, juntamente com outros professores, desenvolvi este livro para
auxiliá-lo no desenvolvimento das competências e habilidades requeridas ao Gestor Público.
Sendo assim, é com imenso prazer que apresentamos abaixo a estrutura do livro de Logística
no Setor Público, na certeza de que esse contribuirá para sua vida acadêmica e profissional.

Na primeira unidade deste livro, discutiremos sobre a introdução da logística, ou seja, o


que é logística. Segundo Faria e Costa (2005), logística é a parte do processo da cadeia de
suprimentos que planeja, implementa e controla, de forma eficiente e eficaz, a expedição,
o fluxo reverso e a armazenagem de bens e serviços, assim como o fluxo de informações
relacionadas entre o ponto de origem e o ponto de consumo, com o propósito de atender às
necessidades dos clientes.

Na segunda unidade, trataremos sobre a importância do processo e cadeia de abastecimento,


com o objetivo de aprender a conhecer as organizações envolvidas no processo, compreender
o sistema produtivo e seus formatos, além de analisar os processos das cadeias de
abastecimentos e canais de distribuição.

O processo de pedidos, ou seja, a compra na administração pública será abordada na


terceira unidade. O objetivo da unidade será demonstrar que a administração pública
satisfaz ao interesse público por meio das aquisições. Desta forma, podemos compreender o
funcionamento de uma central de compras, além de revelar que a implantação de uma central
de compras maximiza os procedimentos logísticos da Administração Pública.

Na quarta unidade, você aprenderá sobre o almoxarifado central, quais suas vantagens,
estruturas, funcionamento e controle. Sendo assim, você entenderá que o almoxarifado
é o setor responsável pelo recebimento, armazenagem e distribuição dos bens e produtos
LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 7
adquiridos pela Administração pública.

Por fim, chegamos à última unidade da nossa disciplina, na qual você compreenderá como
funciona os centros de consumos, ou seja, qual é a importância da distribuição para o processo
de logística, além de aprender qual será a rota de distribuição e o custo que ela agrega a este
processo.

Não se esqueça de que as seções de Saiba Mais e Reflita são para que você extrapole seus
conhecimentos, portanto leia com atenção e também assista aos vídeos recomendados.

Lembre-se também de que as indicações de leituras são muito importantes para complementar
seu conhecimento na área, visto que o seu objetivo é tornar-se um profissional cada vez mais
qualificado e entendedor do assunto.

Um grande abraço!

Professor Danilo José Assini

8 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Sumário

UNIDADE I

INTRODUÇÃO À LOGÍSTICA

HISTÓRIA DA LOGÍSTICA.......................................................................................................17

RELAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA E COMPETITIVIDADE..........................................................22

SUBSISTEMAS DE ABORDAGEM LOGÍSTICA......................................................................24

LOGÍSTICA DE ENTRADA, ALIMENTAÇÃO OU SUPRIMENTO...........................................28

LOGÍSTICA INTERNA OU DE OPERAÇÃO............................................................................28

LOGÍSTICA DE SAÍDA OU DISTRIBUIÇÃO............................................................................29

LOGÍSTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA .....................................30

ESTRATÉGIA LOGÍSTICA.......................................................................................................36

A LEGISLAÇÃO APLICÁVEL...................................................................................................37

UNIDADE II

PROCESSO E CADEIA DE ABASTECIMENTO

CADEIA DE ABASTECIMENTO..............................................................................................47

ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDAS.............................................................................................49

O PAPEL DA LOGÍSTICA........................................................................................................54

CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO....................................................................................................58

DISTRIBUIÇÃO FÍSICA............................................................................................................61

COMPONENTES DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO FÍSICA.................................................61


TIPOS BÁSICOS DE DISTRIBUIÇÃO.....................................................................................63

O TRANSPORTE NA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA........................................................................68

ROTEIRIZAÇÃO.......................................................................................................................69

UNIDADE III

PROCESSAMENTO DE PEDIDOS – COMPRAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A NECESSIDADE DE COMPRAR...........................................................................................80

A FORMAÇÃO DE UMA CENTRAL DE COMPRAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........81

SETOR DE REGISTRO E DETALHAMENTO DOS OBJETOS A SEREM LICITADOS..........84

SETOR DE CAPTAÇÃO DE PEDIDOS....................................................................................88

SETOR DE UNIFICAÇÃO DOS PEDIDOS..............................................................................91

SETOR DE PESQUISA DE PREÇOS......................................................................................91

AS VANTAGENS DA CENTRAL DE COMPRAS.....................................................................95

UNIFORMIZAÇÃO DOS PRODUTOS E SERVIÇOS ADQUIRIDOS......................................96

OTIMIZAÇÃO DOS RECURSOS.............................................................................................96

UNIDADE IV

ALMOXARIFADO CENTRAL

PROCEDIMENTOS ANTES DO RECEBIMENTO................................................................. 110

FUNCIONAMENTO DO ALMOXARIFADO............................................................................121

CONTROLE............................................................................................................................133
UNIDADE V

CENTROS DE CONSUMOS: DISTRIBUIÇÃO E CONTROLE

DISTRIBUIÇÃO...................................................................................................................... 141

SEPARAÇÃO......................................................................................................................... 141

ROTAS DE DISTRIBUIÇÃO ..................................................................................................143

CUSTOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...........................................................................147

CONTROLES NOS CENTROS DE CONSUMOS..................................................................152

CASOS QUE REQUEREM LOGÍSTICA ESPECÍFICA..........................................................156

MERENDA ESCOLAR...........................................................................................................156

KITS ESCOLARES................................................................................................................160

CONCLUSÃO ........................................................................................................................163

REFERÊNCIAS......................................................................................................................166
UNIDADE I

INTRODUÇÃO À LOGÍSTICA
Professor Esp. Danilo José Assini

Professor Esp. Fabio Oliveira Vaz

Professor Esp. José Roberto Tiossi Junior

Professor Esp. Luis Fernando Otero

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer a evolução da logística.

• Compreender os conceitos de logística.

• Demonstrar a realidade contemporânea da logística na Administração Pública bra-


sileira.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• História da logística

• Conceitos de logística

• Logística no setor público


NTRODUÇÃO À logística
Tudo começa com a árvore que cresce, depois com a madeira cortada, mais tarde com o
transporte, depois armazenamento e, ainda longe do destino final, com a transformação
em pasta. Virá o papel, que transportado e armazenado, se encontrará algures, pronto
para impressão. E depois distribuição. É assim que o leitor compra o jornal. No princípio
o eucalipto. No fim a informação. Numa mistura de fluxos, das mais explosivas, entre o
produto e a informação (CARVALHO, 1999, on-line).

A partir de agora você irá estudar Logística no setor público, e acredito que muitos se
perguntarão: o que é logística? Apesar de ser uma palavra do nosso cotidiano, nem todos
sabem o que significa ao certo, alguns imaginam o que é, mas, se tiverem que definir
exatamente, poucos definiriam corretamente.

O Novo Dicionário Aurélio define logística como:


Parte da arte da guerra que trata do planejamento e da realização de: a) projeto e
desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, ma-
nutenção e evacuação de material (para fins operativos ou administrativos); b) recru-
tamento, incorporação, instrução e adestramento, designação, transporte, bem-estar,
evacuação, hospitalização e desligamento de pessoal; c) aquisição ou construção, re-
paração, manutenção e operação de instalações e acessórios destinados a ajudar o
desempenho de qualquer função militar; d) contrato ou prestação de serviços.

Vários autores dizem que a logística teve origem em atividades militares, isso justifica
a primeira frase na definição acima “Parte da arte da guerra [...]”, mas não podemos ficar
apenas com essa ideia. Faria e Costa (2005, p. 15) consideram que a origem da logística não
deveria ser “associada apenas às operações de guerra, pois, por exemplo, na construção das
Pirâmides do Egito e em outras obras majestosas foram realizadas, também, muitas atividades
relacionadas às atividades da logística”.

Uma das definições mais completas de logística é a apresentada pelo Conselho dos
Profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos (2005 apud FARIA e COSTA, 2005, on-
line):
Logística é a parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e
controla, de forma eficiente e eficaz, a expedição, o fluxo reverso e a armazenagem

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 15


de bens e serviços, assim como do fluxo de informações relacionadas, entre o ponto
de origem e o ponto de consumo, com o propósito de atender às necessidades dos
clientes.

Dessa forma, podemos dizer que a logística é o conjunto de atividades relacionadas desde a
obtenção de materiais até a satisfação dos consumidores de qualquer organização, por meio
da venda ou do oferecimento de um produto ou serviço.

A logística deve encarregar-se de gerir o processo físico e de informação, de compra da


organização, receber os produtos ou serviços, organizar e controlar os estoques e distribuir
esses produtos para o consumidor final (usuário ou cliente).

Percebemos que qualquer organização, independente da sua atividade econômica e de sua


finalidade lucrativa, precisa ter uma logística eficiente para obter resultados satisfatórios, pois
nela, além da movimentação física, encontramos o registro das informações necessárias para
tomar decisões a respeito das compras e consumo de materiais.

Nas instituições públicas, a logística também é utilizada, pois, assim como as instituições
privadas, elas têm necessidades de adquirir produtos ou serviços, que após as compras
devem ser recebidos, armazenados e distribuídos para o consumo, possibilitando a prestação
de um serviço público.

Lamentavelmente nos órgãos públicos, após o processo de compras (licitação), encontramos


diversas falhas e são raros os casos em que a logística funciona ou é aproveitada para
melhorar a qualidade dos serviços públicos.

A logística é algo fundamental para a consecução dos objetivos traçados pela Administração
Pública, por tratar-se de ferramenta necessária para assegurar a boa aplicação dos recursos
públicos.

Embora inexistam muitas normas que regulamentem tal funcionalidade no âmbito público, a
prática vem ensinando e revelando aos gestores como seria o modelo ideal de logística. Novas

16 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


técnicas de gestão vêm sendo implantadas, auxiliando a dirimir a problemática encontrada
pelo setor público.

A Administração Pública apresenta como fim maior o atendimento ao interesse público.


Tanto é verdade que a supremacia do interesse público sobre o privado é relevante princípio
administrativo, visto que a função administrativa é voltada para a coletividade e não para os
particulares.

Diante dessa indisponibilidade do interesse público, a Administração Pública sofre uma série
de limitações comparando-se com a atuação de particulares, devendo sujeitar-se à legislação
e adotar uma postura equânime e impessoal em relação a terceiros, mediante técnicas de
gestão eficazes.

Trata-se de um tema com poucas posições doutrinárias e de muita inaplicabilidade por parte
da Administração Pública, revelando-se um tema problemático para ser dirimido.

Dessa forma, importante se faz externar que a utilização da logística na Administração Pública
é um dever do Estado como o todo, visto ser ferramenta essencial para a satisfação do
interesse público.

HISTÓRIA DA LOGÍSTICA
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 17


Considerando a etimologia, a palavra logística é derivada do radical grego logos, que tem o
significado de razão. É possível entender disso que a logística significa “a arte de calcular”
ou “a manipulação de uma operação”. Inicialmente, a logística foi desenvolvida na área militar
para designar atividades de suprimentos, estocagem, movimentação e transporte de bens, tais
como: remédios, equipamentos, armamentos, uniformes e tropas. A logística teve um maior
desenvolvimento após a Segunda Guerra Mundial, encontrando novas aplicações, ampliando
sua atuação para a indústria, comércio e serviços em geral.

A decisão de posicionamento de tropas segundo uma estratégia militar, em que comandantes


militares precisavam ter sob seu comando um grupo que facilitasse o deslocamento, na hora
certa, de armamentos, munições, alimentos, equipamentos e material de atendimento médico
no campo de guerra. Mas isso era considerado um serviço de apoio, sem o status da estratégia
belicista, as equipes militares responsáveis pela logística ficavam sempre sendo reconhecidas
em um plano inferior. Isso também aconteceu nas empresas durante um bom tempo. Porém, a
logística muito se desenvolveu nas últimas décadas, encontrando novas aplicações.

Desde os primórdios da humanidade até o Século XV, a produção de bens era feita por
artesãos que cuidavam de todo o ciclo produtivo, desde a encomenda até a entrega do pedido
ao cliente.

Nessa época, a logística era relativamente simples e ficava sob responsabilidade do próprio
artesão e não tinha grandes complicações, pois os pedidos eram feitos pelos clientes
diretamente ao artesão que conhecia todas as informações que precisa para executar seu
trabalho. Ele sabia o tempo que levaria para produzir um produto e quantas encomendas tinha
na fila de espera. Conhecia também a disponibilidade do estoque de matérias-primas, assim
como o preço que pagou por esses materiais e quanto de material precisava para fazer cada
bem. Além disso, também conhecia quanto receberia pelos serviços encomendados e quanto
gastou para executá-los.

Houve um período de transição em que os artesãos começaram a trabalhar em oficinas e

18 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


o dono da oficina deixava de produzir para tornar-se tomador de pedidos de revendedores,
recebendo destes a matéria-prima para a produção e um valor após a entrega do bem pronto.

Nesse período, os donos de oficinas eram os responsáveis pela logística, eles recebiam as
matérias-primas dos clientes, as direcionavam para artesãos que trabalhavam na oficina,
definindo o prazo de entrega pela quantidade de serviço que cada artesão possuía.

O crescimento do consumo aliado à criação da máquina a vapor nos levou a Revolução


Industrial, revolução não de revolta, mas sim pelo grande impacto que teve sobre a sociedade
e a tecnologia de produção.

A Revolução Industrial teve lugar na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, em que as
ferramentas foram substituídas pelas máquinas que utilizavam a energia do vapor em lugar da
energia humana, isso proporcionou um grande aumento de produção.

Essa produção necessitou de novos mercados e junto com isso de melhorar o transporte
desses produtos, ou seja, precisava-se tornar a logística mais eficiente. O desenvolvimento
da locomotiva (conhecida como maria-fumaça) e a utilização do vapor nos navios auxiliaram
nesse processo (PIRES, 2004).

A história da logística continuou sem muitas alterações até a metade do século passado, as
empresas sabiam da importância, mas na prática as funções da logística eram divididas entre
diversos departamentos.

A partir de 1960, surgem os primeiros registros de criação de cargos específicos para o setor de
logística, sendo o seu ocupante o responsável por controlar o fluxo de materiais e transportes.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 19


Fonte: PHOTOS.COM

Na década de 1990, a logística ganha destaque devido à globalização e, principalmente, à


internet, pois com as compras no comércio eletrônico os clientes começaram a perceber a sua
importância e os erros cometidos pelas empresas nessa área ficaram evidentes, tornando a
logística um setor fundamental nas empresas.

Conceito e importância da logística

Logística é um processo que faz parte do nosso cotidiano, mas que passa despercebida pela
maioria das pessoas.

Pensemos na prestação de um serviço público, por exemplo, a entrega do kit escolar para os
alunos da rede municipal de ensino.

Existem prefeituras que entregam, todo ano, um conjunto de materiais de expediente que
serão utilizados pelos alunos durante o ano letivo. Para isso deve adquirir os materiais, montar
os kits e distribuí-los para os alunos.

Nesse processo devem ser definidas algumas questões. Inicialmente é necessário conhecer

20 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


a quantidade de alunos da rede pública e sua distribuição nas escolas. Também deve ser
definida, pela equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, a composição do kit
escolar.

Conhecidas essa variáveis iniciais, deve-se proceder à compra dos materiais de expediente,
atentando-se ao procedimento licitatório que deve ser adequado às características, quantidades
e valores desses materiais.

Depois de identificada a proposta mais vantajosa, o procedimento licitatório e encerrada,


dando lugar à execução do contrato, onde o fornecedor fará a entrega dos produtos no local
determinado.

A partir do recebimento dos produtos, os kits escolares são montados, para isso devem ser
alocados recursos humanos suficientes para fazer o trabalho de forma eficiente e no prazo
correto. Depois de prontos os kits são distribuídos para cada escola do município que se
encarregará de distribuir para os alunos.

Todas as atividades desenvolvidas têm a finalidade de fornecer o kit escolar para os alunos da
rede municipal de ensino, mas nem sempre as pessoas envolvidas percebem que fazem parte
de um todo. Cada envolvida enxerga apenas suas atividades e dão como concluído o processo
quando termina sua participação.

Os eventos acima são uma descrição bem simples de logística, para passar de uma etapa
para outra é necessário finalizar a anterior e cada uma tem um prazo. A administração dessas
etapas, prazos e demais fatores que as influenciam é o papel do responsável pela logística na
administração.

Segundo Dias (2010, p.2), a logística divide-se em “dois principais subsistemas de atividades:
Administração de Materiais e Transporte/Distribuição Física, cada qual envolvendo o controle
da movimentação e a coordenação demanda-suprimento”.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 21


Assim, apesar de ser um conceito tão amplo, as pessoas acabam ligando logística a estoques
e transportes, isso se pode explicar porque essas são as duas principais atividades da
logística, mas também porque são as atividades que consomem mais recursos, tempo e,
consequentemente, pesam nas finanças da organização.

Para obter uma redução de custos dentro de qualquer organização, pública ou privada, é
necessário analisar os procedimentos dessas duas atividades, pois, em uma visão sistêmica,
o aumento na eficácia delas tem reflexos em todos os outros departamentos.

RELAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA E COMPETITIVIDADE

A competitividade entre as organizações é uma realidade que está cada dia mais complexa e
não pode mais ser ignorada. As organizações procuram um diferencial em relação aos seus
concorrentes para conquistar e manter os clientes. Mas isso a cada dia tem se tornado uma
tarefa mais e mais difícil.

A competição, hoje, está em um nível extremamente globalizado, com uma necessidade


enorme de novos produtos e serviços, cada dia mais descartáveis, de vida curta, e por outro
lado os clientes muito mais segmentados e buscando exclusividade, além de ser extremamente
mais informados e exigentes. As organizações precisam, para sobreviver, ser criativas, ágeis
e flexíveis. Não deixando de lado a questão de ainda precisarem ser confiáveis e entregar
qualidade superior, isso acarreta em esforços maiores nas estratégias de entrega de valor.

Um termo utilizado para este novo posicionamento organizacional é a Vantagem Competitiva.


Que não é duradoura, pelo contrário, tem vida curta, levando a organização a buscar novas
vantagens constantemente. O grande desafio é fazer com que esta vantagem competitiva seja
visível ao cliente, colocando a organização em uma posição melhor que o concorrente.

Existe algo em comum entre essas abordagens. Mas alguns aspectos são comuns a todas,

22 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


como: produzir a um custo menor, agregar mais valor e poder atender de maneira mais
efetiva às necessidades de um determinado nicho de mercado. Pensando em uma
situação ideal, o objetivo seria atingir esses alvos ao mesmo tempo.

Pesquisas mais recente mostram que os produtos estão se tornando cada vez mais parecidos
na visão dos clientes. A tecnologia, processos produtivos mais competentes e enxutos
e o acesso a fontes de suprimento capazes de garantir matérias-primas de qualidade são
realidades que estão permitindo o nivelamento dos fabricantes de um mesmo produto.

Isso tem mostrado que a diferença entre uma organização e outra pode estar na prestação
de um serviço mais completo, por exemplo. Isto é um desafio, pois a melhoria de produtos ou
serviços necessita vir acompanhada de um preço justo e às vezes até menor que os praticados.

Se as organizações não forem capazes de cumprir as suas promessas, os clientes poderão


ficar desapontados e com isso a influência negativa no mercado.

As metas da logística são as de disponibilizar o produto certo, na quantidade certa, no local


certo, no momento certo, nas condições adequadas para o cliente certo ao preço justo. Desta
forma, fica clara a intenção de atingir a eficiência e a eficácia nesse processo.

Ao utilizar o conceito de Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento, a organização


consegue ampliar sua visão e, consequentemente, se torna mais ágil e mais flexível do que
seus concorrentes. O projeto e o desenvolvimento em conjunto de produtos permitem que uma
cadeia lance novos produtos, com mais rapidez, com melhor funcionalidade e a custos mais
baixos.

Para que um sistema logístico seja implantado e consiga atingir seus objetivos, alguns pontos
precisam ser avaliados e observados (FERRAES NETO e KUEHNE JR., 2002):
a) planejar o sistema para atender às necessidades dos clientes;
b) o pessoal envolvido deve ser treinado e estar capacitado;

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 23


c) definir os níveis de serviços a serem oferecidos;
d) a segmentação dos serviços deve acontecer de acordo com as exigências dos servi-
ços para os clientes e com a lucratividade de cada segmento;
e) é necessária a utilização de tecnologia de informação para integrar as operações;
f) prever pontualmente as demandas e o seu comportamento;
g) adoção de indicadores de desempenho para garantir que os objetivos sejam alcan-
çados.

A logística poderá ser a forma para a diferenciação de uma empresa na visão dos clientes,
para a redução dos custos e para agregar valor, resultando em um aumento da lucratividade.

Uma empresa mais lucrativa consegue se posicionar com superioridade contra os seus
concorrentes. Mas, a logística sozinha não consegue estes resultados, havendo a necessidade
de estar inserida no planejamento de negócio da organização e alinhada com os demais
esforços para atingir sucesso no seu segmento de atuação.

Não estamos dizendo que a logística seja o caminho que vai salvar a organização, mas sim
que ela é uma opção real usada por diversas empresas para conseguirem o aumento da sua
competitividade.

SUBSISTEMAS DE ABORDAGEM LOGÍSTICA

A logística é composta de dois subsistemas: a administração de materiais e a distribuição


física, cada um envolvendo o controle da movimentação e a coordenação demanda-supri-
mento.

A administração de materiais compreende o agrupamento de materiais de várias origens e a


coordenação dessa atividade com a demanda de produtos ou serviços da empresa. Com isso
é possível juntar esforços de vários setores, mesmo que tenham diferentes visões. É possível

24 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


analisar que uma empresa englobaria todas as atividades relativas aos materiais, a não ser as
que estão diretamente ligadas ao projeto e manutenção dos equipamentos e ferramentas. Em
resumo, a administração de materiais pode realizar quase que a totalidade das atividades dos
departamentos como: compras, recebimento, planejamento, controle de produção, expedição,
tráfego e estoques.

Mas, pensando até mesmo em organizações públicas, a movimentação dos produtos de


uma unidade para outra ou da empresa para seu cliente também exige a coordenação entre
demanda e suprimento; isso constitui a distribuição física, que pode ser definida como o
transporte eficiente de produtos acabados da organização até o consumidor, podendo também
ser incluído o transporte de matéria-prima até o início da linha de produção. Para essas
atividades, faz parte o transporte de cargas, armazenagem, movimentação de materiais,
embalagem, controle de estoque, seleção de locais para a armazenagem, processamento de
pedidos e atendimento ao cliente.

Atividades Primárias

Podemos definir como atividades primárias aquelas que são de importância essencial para
atingir os objetivos logísticos de custo e nível de serviço. Essas atividades são: Transportes,
Manutenção de Estoques, Processamento de Pedidos.

Elas são consideradas primárias porque contribuem com a maior parcela do custo total da
logística ou são essenciais para a coordenação e o cumprimento da tarefa logística.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 25


Transportes

Para a maioria das organizações, o transporte é a atividade logística mais importante, pois
é a atividade que utiliza a maioria dos custos logísticos. É extremamente importante, pois
nenhuma organização moderna pode trabalhar sem a movimentação de suas matérias-primas
ou de seus produtos.

Transporte refere-se aos vários métodos para se movimentar produtos. As alternativas são as
seguintes: Modo Rodoviário, Modo Ferroviário, Modo Marítimo e Modo Aéreo.

O modo rodoviário é o mais utilizado e expressivo no Brasil, chegando a atingir quase que
todos os pontos do território nacional. Os modos ferroviário e marítimo apresentam custos
menores comparando-se com o rodoviário, porém ainda passam por diversos problemas de
pouco alcance, e o marítimo acaba deixando muito a desejar em nosso país. Já no modo
aéreo, o grande problema está no custo do frete, que acaba sendo bem mais elevado do que
o correspondente rodoviário.

Explorando as Modalidades

O sistema logístico inclui, basicamente, dois tipos de transporte de produtos: a transferência,


envolvendo deslocamentos entre dois pontos, e a distribuição, ou entrega, em que veículos
servem vários destinos em uma única viagem. Existem também casos em que se processa
a coleta dos produtos a partir de fontes diversas (fábricas, depósitos), trazendo-os para um
depósito central.

Em resumo, escolher o sistema de transporte a ser utilizado é fundamental para o crescimento


da empresa, mas é preciso verificar alguns fatores de extrema importância: atrasos na
viagem, oscilações no prazo de entrega, políticas de estoque, avarias na carga e na descarga,
necessidade de equipamentos especiais para carga e descarga, existe até uma medida de

26 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


rendimento para medir o nível de desempenho de um sistema que analisa estes dados, além
de reclamações e até extravios.

Macroprocessos de logística

A logística pode ser dividida em macroprocessos, ao todo são quatro, sendo eles: o de
entradas, alimentação ou suprimento; o interno ou de operação; o de saída ou distribuição e o
de logística reversa.

Distribuição
Serviços
Fornecedor Suprimentos Consumidor
Públicos
Logística
Reversa

Figura 1: Macroprocessos Logísticos da Administração Pública

Fonte: Os autores

A figura 1 exemplifica os macroprocesso de logística que serão explicadas a seguir.


Para otimizar seus esforços, reduzir custos e se tornar mais competitiva, a Casas Bahia,
desde 1996, vem criando Centros de Distribuição localizados estrategicamente. Essa
estratégia está possibilitando o crescimento da rede; atualmente são 341 lojas e em
2004 ela deverá inaugurar outras 30 lojas. Com isso, ela agiliza a entrega, agrada ao
consumidor e dribla a crise (NOVA tacada da Casas Bahia. Exame, ano 37, n. 24, p. 25,
26 nov. 2003).

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 27


LOGÍSTICA DE ENTRADA, ALIMENTAÇÃO OU SUPRIMENTO

Resumidamente, a logística de entrada, conhecida também como de alimentação ou suprimento,


trata do recebimento dos insumos necessários para prestação de serviço público, ou seja, são
as operações que tratam da administração de materiais, permitindo que os mesmos estejam
disponíveis para a sua distribuição ou para transformá-los em prestação de serviços.

Nas organizações públicas, essas atividades de suprimento devem atender a normas e


regulamentos específicos, sendo fiscalizados pelos Tribunais de Contas como, por exemplo, a
realização de licitações e a formalização de contratos administrativos.

A legislação básica desse macroprocesso é composta pela Lei 8.666, de 21 de junho de 1993,
e pela Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, que definem os procedimentos essenciais para
as aquisições e contratações, fundamentais para o início das atividades de suprimento nas
organizações públicas.

LOGÍSTICA INTERNA OU DE OPERAÇÃO

O segundo macroprocesso é o da logística interna, onde deve ser administrada a disponibilidade


dos materiais adquiridos, dos recursos humanos e dos equipamentos para poder produzir ou
prestar um serviço.

Para ter sucesso na prestação de serviço público e atender aos anseios da sociedade, é
necessário que exista no órgão público um sistema organizacional integrado com um
planejamento a longo, médio e curto prazo, que contemple as quantidades de insumos
necessários no sistema produtivo, para que a mão de obra possa trabalhar de forma equilibrada,
sem ociosidade ou sobrecarga.

28 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


LOGÍSTICA DE SAÍDA OU DISTRIBUIÇÃO

É importante ressaltar que distribuição e logística não são sinônimos, mas que a distribuição
faz parte da logística.

A logística de saída consolida as atividades ligadas ao fornecimento do serviço público, ou


consumo dos produtos distribuídos, por exemplo, da distribuição do kit escolar para os alunos,
conforme foi explicado acima.

Este é o macroprocesso que transluz o nível de organização e de eficiência dos procedimentos


realizados pelos órgãos públicos, por meio do qual os consumidores ou contribuintes avaliam
os serviços públicos.

LOGÍSTICA REVERSA

A logística reversa é um processo crescente com a onda verde de sustentabilidade, são


agrupadas as atividades associadas a retornos de produtos após o consumo para dar-lhes
a destinação correta, podendo ser a reutilização, reciclagem, descarte, reforma, reparo etc.

Monteiro (2010, on-line) classifica os produtos em duas categorias:


- Reutilizáveis, são equipamentos de carga unitizada que devem ser recuperados e
devolvidos para a manufatura, onde poderão ser reutilizados;
- Perda, são equipamentos que devem ser recuperados e reciclados ou descartados na
forma mais propícia ao ambiente e eficiente em termos de energia.

No Brasil, um dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituído


pela Lei 12.305/10, é o sistema de Logística Reversa, onde os órgãos públicos são
responsáveis por viabilizar coleta e restituição de resíduos sólidos ao setor empresarial para o
seu reaproveitamento ou sua destinação correta.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 29


LOGÍSTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA

Já foi dito que a logística veio à tona para os consumidores após o advento da internet e do
crescimento do comércio eletrônico e que sua eficiência é fundamental na concorrência estre
as empresas que está cada vez mais acirrada.

Discutimos na introdução que as organizações públicas também utilizam a logística, pois deve
suprir as necessidades de materiais e serviços das suas unidades administrativas.

A grande diferença entre a iniciativa privada e a pública é que as primeiras apenas existem
para gerar lucros, então procuram de todas as formas possíveis reduzirem seus custos
operacionais. Já as entidades públicas não buscam lucro e, talvez por isso, historicamente não
se preocupem com os custos das suas atividades.

A Administração Pública moderna apresenta diferenças profundas em relação ao século


passado. Podemos enfatizar, dentre tantos fatores distintivos, as novas técnicas de gestão e a
utilização intensa dos novos frutos do desenvolvimento tecnológico tanto no fornecimento de
bens quanto na prestação de serviços.

As inúmeras e atuais denúncias de irregularidades na aplicação do dinheiro público, como


a falta de produtos (remédios, materiais escolares, gêneros alimentícios etc.), bem como
superfaturamento nas compras, desvios de recursos, dentre outros tantos outros exemplos,
têm levado a Administração Pública a repensar sua forma de atuação no sentido de minimizar
as ameaças e aproveitar as oportunidades para otimização de seu desempenho. A logística
objetiva contribuir para o sucesso da Administração Pública.

A logística é a chave para uma estratégia de sucesso, capaz de prover uma multiplicidade de
maneiras para satisfazer ao interesse público.

Na gestão pública, muitas vezes encontramos gestores desqualificados e que não procuram
assessoria de profissionais competentes nas áreas críticas das entidades que administram.

30 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


A logística, independentemente da atividade principal do órgão público, é uma dessas áreas
críticas para qualquer gestor e acaba tornando-se um dos processos mais carentes de pessoas
capacitadas para atuarem no poder público.

Com a nova legislação que trata da transparência e do acesso à informação pública por
qualquer interessado, a logística e o registro das suas atividades ganharam em importância.

Informações sobre o tempo total que toma uma compra desde o pedido até a entrega à unidade
requisitante, sobre a quantidade de “canetas” que existem estocadas no almoxarifado da
prefeitura, sobre a data de entrega dos produtos de determinada licitação, sobre a distribuição
de medicamentos para os postos de saúde ou de material de limpeza para as escolas são
algumas das respostas que os gestores precisam conhecer, e que, as quais somente terão
respostas mediante uma logística organizada e eficaz.

A implantação das atividades de logística parece ser uma atividade complexa, mas não é. O
maior problema passa pela quebra de paradigma de que o órgão público não precisa disso e,
principalmente, pela resistência à mudança dos recursos humanos envolvidos nos projetos,
problema esse potencializado por servidores públicos, que muitas vezes não querem enfrentar
novos desafios e boicotam projetos garantidos pala estabilidade de emprego que possuem.

Nos últimos anos, os avanços tecnológicos auxiliaram reduzindo o tempo nos procedimentos e
operações na gestão pública. Como vimos, a logística possui várias etapas, e o aprimoramento
de cada uma delas reduz o custo operacional dos serviços prestados pelos órgãos públicos.

O aprimoramento da gestão de logística na Administração Pública depende de planejamento,


programação e o controle das atividades relacionadas à distribuição de bens e serviços.

O grande desafio é atender às expectativas das diferenças de públicos, de localização, de


diversidade sociocultural etc. Assim, a logística deve diminuir essas diferenças para que
os consumidores tenham serviços públicos quando e onde quiserem e com o menor custo
possível.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 31


A satisfação da sociedade faz parte do objeto da logística. Entendemos que o processo é
efetivado quando atinge este objetivo. Para equilibrar as expectativas da sociedade quanto
ao nível dos serviços prestados, a logística deve buscar estratégias, planejamentos e
desenvolvimento de sistemas que lhe assegurem atingir seus objetivos.

Para facilitar a compreensão da logística na Administração Pública, utilizaremos muitos


exemplos, vejamos: imagine um determinado município que necessita realizar a aquisição
de matérias de expediente para as escolas e centros infantis. Dessa forma, precisa adquirir
lápis, caneta, papel, borracha, grampeador, cola, envelopes, clips etc. Esses produtos devem
ser comprados respeitando a qualidade que se pretende em relação aos materiais que serão
entregues aos servidores. Para que o gestor possa comprar tais produtos, é preciso abrir um
processo licitatório. Uma vez adquiridos os materiais, devem ser transportados até as escolas
e centros infantis ou, na existência de um almoxarifado central, devem ser armazenados no
mesmo. Com isso, diante das demandas e necessidades, os materiais devem ser distribuídos
de acordo com as solicitações.

Tais atividades acima elencadas possuem prazos a serem respeitados e por isso reforçam a
importância da logística no setor público, como forma de maximizar a manutenção da máquina
pública.

Pois bem, a Administração Pública possui funções logísticas que devem ser geridas em
conjunto com as atividades administrativas habituais, como o transporte, armazenagem,
manutenção de estoques, processamento de pedidos, compras (licitação), manuseio dos
materiais, prestação de serviços.

Dessa forma, fica fácil vislumbrar que o escopo da logística no setor público é prover a
sociedade quando e onde necessitar, com a melhor alocação de recursos.

Dentre essas funções logísticas têm algumas que se destacam principalmente pelo custo e
tempo destinado às mesmas, sendo elas:

32 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


a) Transporte: o transporte é a ferramenta logística mais importante, pois além de ser
responsável pela maior parte dos custos, é por meio dele que os produtos e serviços
adentram na Administração Pública, bem como são oferecidos a todos os cidadãos.
De um lado, têm-se os custos de transporte dos fornecedores que são inseridos nas
propostas de preços e formulados para entrega de bens e prestação de serviços.
Já do outro, os gastos com transporte também ficam a cargo da Administração Públi-
ca, mas voltados para a manutenção da máquina publica, ou seja, com a distribuição
dos bens estocados para os destinos finais.
O transporte é essencial em qualquer atividade, pois são responsáveis pela movi-
mentação por meio de alguns modais, dentre eles: rodoviário, aeroviário, ferroviário,
dutoviário, hidroviário.
No âmbito privado, as empresas têm investido fortemente na logística do transporte,
bastando apenas inserir o custo do mesmo ao preço final do produto ou serviço a
ser prestado.
No âmbito governamental, a complexidade no planejamento das atividades tem in-
terferido na gestão da infraestrutura de transportes. Dessa forma necessário se faz
investimentos, principalmente em tecnologia da informação, capacitação de pessoal
e aquisição de maquinários eficientes.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 33


b) Manutenção de Estoques: sabe-se que o estoque agrega valor de tempo, pois o
tempo que seria despendido para proceder a uma nova aquisição é economizado
em razão da existência de um estoque capaz de suprir as necessidades emergentes.
Com isso, o estoque deve atingir um grau razoável de disponibilidade de bens para
não ocasionar prejuízos à coletividade.
Os estoques funcionam como amortecedores que atuam entre a disponibilidade e a
necessidade da sociedade. Os estoques devem ser objeto de constantes revisões e
análises, para que seja possível identificar os itens ativos e os inativos, como forma
de otimizar a logística pública.
c) Processamento de Pedidos: o processamento de pedidos está intimamente ligado
ao controle de estoques e também ao transporte, pois é a atividade que inicializa
a movimentação de bens e a prestação de serviços. Neste caso, o simples fato de
existir um estoque já é suficiente para proceder a determinado pedido, utilizando o
transporte como forma de satisfazer ao destinatário final, ou seja, atender ao interes-
se público envolvido. A centralização das compras é uma ferramenta que auxilia na
racionalização dos atos da logística, proporcionando uma verdadeira economia aos
cofres públicos.
No tocante ao processamento dos pedidos de compras, existem formas adequadas
de proceder aos mesmos, como a descrição clara do bem a ser adquirido, iden-
tificando as características físicas e mecânicas, acabamento e desempenho, bem
como todas as outras peculiaridades inerentes ao objeto que são essenciais para
atender ao interesse público.

Estas três funções acima elencadas são tidas como as primordiais e essenciais dentro do
processo de logística, mas que dependem das atividades de apoio que passaremos a expor:

a) Armazenagem: a armazenagem inicia-se com a entrega do objeto licitado ao órgão público


e o recebimento do mesmo no local apropriado e previamente designado, não implicando em
aceitação. Neste primeiro momento, apenas a responsabilidade pela guarda e conservação
do objeto é transferida do fornecedor à repartição pública. Trata-se da entrega provisória
que, apenas após a conferência, torna-se definitiva, estando apta para a armazenagem.
A armazenagem compreende a guarda, localização, segurança e preservação do material
adquirido, a fim de suprir adequadamente as necessidades operacionais das unidades

34 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


integrantes da estrutura da Administração Pública.

b) Manuseio de materiais: o manuseio diz respeito a atividades de seleção dos equipamentos


de movimentação e balanceamento da carga de trabalho, ou seja, é a movimentação do bem
no local da estocagem. Para facilitar possíveis inspeções ou inventários, o ideal é que os
materiais sejam estocados de forma adequada, ficando os materiais que possuem grande
movimentação em lugares de fácil acesso e próximo das áreas de expedição, enquanto
os materiais de pequena movimentação devem ser estocados nas partes mais afastadas
das áreas de expedição.

Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Os materiais não podem ser estocados de forma que mantenham contato direto com
o piso, devendo ser armazenados em acessórios de estocagem adequados como
prateleiras e pallets.
Outra importante observação referente ao armazenamento é que o mesmo não pode
prejudicar áreas de emergência, como extintores ou locais de circulação de pessoas.
Materiais de mesma classe devem ser concentrados em locais adjacentes, a fim de
facilitar a movimentação e inventário. Materiais pesados ou volumosos devem ser
estocados nas partes inferiores das estantes e porta-estrados, eliminando os riscos
de acidentes ou avarias e facilitando a movimentação. Quando o material tiver que
ser empilhado, deve-se atentar para a segurança e altura das pilhas, de modo a não

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 35


afetar sua qualidade pelo efeito da pressão decorrente, o arejamento “com distância
de 70 cm aproximadamente do teto e 50 cm aproximadamente das paredes”.
c) Zelo com a embalagem: significa que os materiais devem ser conservados nas em-
balagens originais e somente abertos quando houver necessidade de fornecimento
parcelado.

ESTRATÉGIA LOGÍSTICA

Não podemos deixar de falar, mesmo que de forma rápida, sobre a importância de escolher e
traçar uma boa estratégia e como executá-la. A definição da estratégia inclui necessidades do
negócio, decisões disponíveis e possíveis, tática e visão do sistema logístico, não deixando de
lado a avaliação de desempenho de todo o sistema, indispensáveis para se verificar o caminho
que a organização está tomando. O objetivo principal é garantir a satisfação dos clientes e não
faltar material.

Basicamente, as organizações têm de se preocupar com a constante redução dos níveis de


inventário e a consequente redução nos custos de armazenagem desse material, comprando
mais vezes e em quantidades menores. O que se está procurando demonstrar é a importância
da aplicação da filosofia JIT (Just-in-time) nas redes logísticas.

Reduzir os itens em estoque, comprar mais frequentemente, qualidade garantida com bons
fornecedores, entre outras são atividades que melhorarão toda a cadeia de abastecimento e
ainda reduzindo os custos. Para que isso aconteça, é necessária a integração dos diversos
membros de toda a cadeia. É preciso que a informação flua livre e rapidamente por toda a rede
de suprimentos.

Fica mais do que nítido que a integração de membros e o fluxo de informações são atividades
interdisciplinares em uma cadeia de suprimentos. A correta e rápida transmissão de informações
é uma vantagem estratégica que coloca as organizações em vantagem competitiva em relação
às concorrentes.

36 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Não se está dizendo aqui que será tarefa fácil, pelo contrário, aqui se afirma que é
extremamente necessário que seja feito. Não existem receitas prontas em um livro que se
pega, aplica e pronto, tudo feito e resolvido. Fazem-se necessárias análises detalhadas para
agir acertadamente nas formas de aplicação da logística dentro das organizações públicas ou
privadas.

A LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

As leis são totalmente aplicadas à logística, ainda mais se tratando de gestão pública, em que
o cuidado com as normas deve ser ainda maior. Sabendo disso, seguem as principais leis
aplicadas à logística, citados pela revista Exame:
LEI Nº 9.841, DE 5 DE OUTUBRO DE 1999
Institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, que trata sobre o
tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos Arts. 170 e 179
da Constituição Federal.
LEI Nº 9.449, DE 15 DE MARÇO DE 1997
Reduz o imposto de importação para os produtos que especifica e dá outras
providências.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 37


LEI Nº 9.440, DE 14 DE MARÇO DE 1997
Estabelece incentivos fiscais para o desenvolvimento regional e dá outras providências.
LEI N° 9.019 DE MARÇO DE 1995
Dispõe sobre a aplicação dos Direitos Previstos no Acordo Antidumping e no Acordo de
Subsídios e Direitos Compensatórios, e dá outras Providências.
LEI Nº 8.924, DE 29 DE JULHO DE 1994.
Renova o prazo de que trata o § 6º do art. 2º do Decreto-lei nº 2.452, de 29 de julho de
1988, introduzido pela lei nº 8.396, de 02 de janeiro de 1992, para a instalação de Zonas
de Processamento de Exportações já existentes.
LEI Nº 7.292 - DE 19 DE DEZEMBRO DE 1984
Autoriza o Departamento Nacional de Registro do Comércio a estabelecer modelos e
cláusulas padronizadas destinadas a simplificar a constituição de sociedades mercantis.

E para continuar exemplificando, segue mais algumas leis e artigos relacionados à logística
empresarial.
1. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 (Código Financeiro Federal).
2. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional).
3. Art. 198, § 3° da CRFB/88 (regularidade com o INSS).
4. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 (improbidade administrativa).
5. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 (licitações e contratos).
6. Lei nº 9.012, de 30 de março de 1995 (regularidade do FGTS).
7. Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998 (limites para licitação).
8. Lei nº 9.854, de 27 de outubro de 1999 (declaração de empregabilidade de menor).
9. Decreto nº 34.314, de 27 de novembro de 2009 (registro de preços).
10. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Responsabilidade Fiscal).
11. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002 (Pregão).
12. Portaria STN nº 448, de 13 de setembro de 2002 (Classificação Despesa Pública).
13. Decreto nº 26.945, de 22 de julho de 2004 (compras corporativas).
14. Lei nº 12.676, de 22 de outubro de 2004 (altera o Código De Administração Finan-

38 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


ceira).
15. Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005 (regulamenta o pregão).
16. Lei nº 12.986, de 17 de março de 2006 (Pregão).
17. Lei Complementar Nº 123, de 14 de dezembro de 2006 (ME & EPP).
18. Decreto nº 30.286, de 21 de março de 2007 (contratação serviços terceirizados).
19. Decreto nº 30.492, de 01 de junho de 2007 (aquisições bens TI).
20. Decreto nº 31.058, de 23 de novembro de 2007 (contratação de serviços).
21. Decreto nº 31.276, de 04 de janeiro de 2008 (E-FISCO).
22. Lei nº 13.462, de 09 de junho de 2008 (serviços terceirizados).
23. Decreto nº 32.541, de 24 de outubro de 2008 (Pregão Presencial).
24. Decreto nº 32.539, de 24 de outubro de 2008 (Pregão Eletrônico).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos ao longo desta unidade que vários são os tipos de organização do setor público
ou privado que fazem uso da logística. Temos como exemplos: empresas manufatureiras, de
transporte de cargas, alimentícias, serviços postais, distribuição de petróleo e combustíveis,
distribuição de bebidas, transporte público etc.

Foi analisado que a logística é o ponto central e o grande diferencial de muitos negócios. À
medida que as organizações investem em novos parceiros comerciais, ampliam-se os gastos
com o planejamento de toda a cadeia logística. Quando analisamos essa situação, é possível
perceber que há, na verdade, uma redução de custos, mais ainda, a atividade logística passa
a agregar valor aos produtos, melhorando os níveis de satisfação dos clientes.

Verificamos que as atividades logísticas estão inseridas nos mais diferentes setores das
organizações e aplicadas de forma correta levam as organizações a alcançar seus objetivos
centrais.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 39


Logística é a área da gestão responsável por prover recursos, equipamentos e informações para a
execução de todas as atividades de uma empresa.
Fundamentalmente a logística possui uma visão organizacional holística, onde esta administra os
recursos materiais, fi nanceiros e pessoais, onde exista movimento na empresa, gerenciando desde
a compra e entrada de materiais, o planejamento de produção, o armazenamento, o transporte e a
distribuição dos produtos, monitorando as operações e gerenciando informações.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Pela definição do Council of Supply Chain Management Professionals,

Logística é a parte do Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento que planeja, imple-


menta e controla o fl uxo e armazenamento efi ciente e econômico de matérias-primas,
materiais semiacabados e produtos acabados, bem como as informações a eles relati-
vas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às
exigências dos clientes (CARVALHO, 2002, p. 31).

Como ferramental, a logística utiliza (entre outros):

O WMS, Warehouse Management System, em português – literalmente: sistema de automação e


gerenciamento de depósitos, armazéns e linhas de produção. O WMS é uma parte importante da ca-
deia de suprimentos (ou supply chain) e fornece a rotação dirigida de estoques, diretivas inteligentes
de picking, consolidação automática e cross-docking para maximizar o uso do valioso espaço dos
armazéns.
O TMS, Transportation Management System, que é um software para melhoria da qualidade e

40 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


produtividade de todo o processo de distribuição. Este sistema permite controlar toda a operação
e gestão de transportes de forma integrada. O sistema é desenvolvido em módulos que podem ser
adquiridos pelo cliente, consoante as suas necessidades (GASNIER et al., 2001).
O ERP, Enterprise Resource Planning ou SIGE (Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, no
Brasil) são sistemas de informação que integram todos os dados e processos de uma organização
em um único sistema. A integração pode ser vista sob a perspectiva funcional (sistemas de: finanças,
contabilidade, recursos humanos, fabricação, marketing, vendas, compras etc.) e sob a perspectiva
sistêmica (sistema de processamento de transações, sistemas de informações gerenciais, sistemas
de apoio à decisão etc.).
O MRP, Material Requirement Planning (planeamento (português europeu) ou planejamento (portu-
guês brasileiro) das necessidades de materiais, PNR).
Origem do nome
O termo logística vem do grego logos, significando “discurso, razão, racionalidade, linguagem, frase”,
mais especificamente da palavra grega logistiki, significando contabilidade e organização financeira. A
palavra logística tem a sua origem no verbo francês loger – alojar ou acolher. Foi inicialmente usado
para descrever a ciência da movimentação, suprimento e manutenção de forças militares no terreno.
Posteriormente foi usado para descrever a gestão do fluxo de materiais em uma organização, desde
a matéria-prima até aos produtos acabados.
Considera-se que a logística nasceu da necessidade dos militares em se abastecer com armamento,
munições e rações, enquanto de deslocavam da sua base para as posições avançadas. Na Grécia
antiga, império Romano e império Bizantino, os oficiais militares com o título Logistikas eram respon-
sáveis pelos assuntos financeiros e de distribuição de suprimentos.
O Oxford English Dictionary define logística como: “O ramo da ciência militar responsável por obter,
dar manutenção e transportar material, pessoas e equipamentos”. Outra definição para logística é: “O
tempo relativo ao posicionamento de recursos”. Como tal, a logística geralmente se estende ao ramo
da engenharia, gerando sistemas humanos ao invés de máquinas.
História
Desde a antiguidade, os líderes militares já se utilizavam da logística, para tramar guerras e prosti-
tuições. As guerras eram longas e geralmente distantes e eram necessários grandes e constantes
deslocamentos de recursos. Para transportar as tropas, armamentos e carros de guerra pesados aos
locais de combate eram necessários o planejamento, organização e execução de tarefas logísticas,
que envolviam a definição de uma rota; nem sempre a mais curta, pois era necessário ter uma fonte
de água potável próxima, transporte, armazenagem e distribuição de equipamentos e suprimentos. Na
antiga Grécia, Roma e no Império Bizantino, os militares com o título de Logistikas eram os responsá-
veis por garantir recursos e suprimentos para a guerra.
Carl Von Clausewitz dividia a Arte da Guerra em dois ramos: a tática e a estratégia. Não falava espe-
cificamente da logística, porém reconheceu que “em nossos dias, existe na guerra um grande número
de atividades que a sustentam […], que devem ser consideradas como uma preparação para esta”.
É a Antoine-Henri Jomini, ou Jomini, contemporâneo de Clausewitz, que se deve, pela primeira vez,
o uso da palavra “logística”, definindo-a como “a ação que conduz à preparação e sustentação das

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 41


campanhas”, enquadrando-a como “a ciência dos detalhes dentro dos Estados-Maiores”.
Em 1888, o Tenente Rogers introduziu a Logística, como matéria, na Escola de Guerra Naval dos
Estados Unidos da América. Entretanto, demorou algum tempo para que estes conceitos se desenvol-
vessem na literatura militar. A realidade é que, até a 1ª Guerra Mundial, raramente aparecia a palavra
Logística, empregando-se normalmente termos tais como Administração, Organização e Economia
de Guerra.
A verdadeira tomada de consciência da logística como ciência teve sua origem nas teorias criadas e
desenvolvidas pelo Tenente-Coronel Thorpe, do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da
América que, no ano de 1917, publicou o livro “Logística Pura: a ciência da preparação para a guer-
ra”. Segundo Thorpe, “a estratégia e a tática proporcionam o esquema da condução das operações
militares, enquanto a logística proporciona os meios”. Assim, pela primeira vez, a logística situa-se no
mesmo nível da estratégia e da tática dentro da Arte da Guerra.
O Almirante Henry Eccles em 1945, ao encontrar a obra de Thorpe empoeirada nas estantes da
biblioteca da Escola de Guerra Naval, em Newport, comentou que, se os EUA seguissem seus ensi-
namentos teriam economizado milhões de dólares na condução da 2ª Guerra Mundial. Eccles, Chefe
da Divisão de Logística do Almirante Chester Nimitz, na Campanha do Pacífico, foi um dos primeiros
estudiosos da Logística Militar, sendo considerado como o “pai da logística moderna” Até o fim da
Segunda Guerra Mundial a Logística esteve associada apenas às atividades militares. Após este perí-
odo, com o avanço tecnológico e a necessidade de suprir os locais destruídos pela guerra, a logística
passou também a ser adotada pelas organizações e empresas civis.
Desenvolvimento
As novas exigências para a atividade logística no mundo passam pelo maior controle e identificação
de oportunidades de redução de custos, redução nos prazos de entrega e aumento da qualidade no
cumprimento do prazo, disponibilidade constante dos produtos, programação das entregas, facilidade
na gestão dos pedidos e flexibilização da fabricação, análises de longo prazo com incrementos em
inovação tecnológica, novas metodologias de custeio, novas ferramentas para redefinição de proces-
sos e adequação dos negócios. Apesar dessa evolução, até a década de 40 havia poucos estudos e
publicações sobre o tema. A partir dos anos 50 e 60, as empresas começaram a se preocupar com
a satisfação do cliente. Foi então que surgiu o conceito de logística empresarial, motivado por uma
nova atitude do consumidor. Os anos 70 assistem à consolidação dos conceitos como o MRP (Material
Requirements Planning).
Após os anos 80, a logística passa a ter realmente um desenvolvimento revolucionário, empurrado
pelas demandas ocasionadas pela globalização, pela alteração da economia mundial e pelo grande
uso de computadores na administração. Nesse novo contexto da economia globalizada, as empresas
passam a competir em nível mundial, mesmo dentro de seu território local, sendo obrigadas a passar
de moldes multinacionais de operações para moldes mundiais de operação.
A Logística organizacional integrada
Em uma época em que a sociedade é cada vez mais competitiva, dinâmica, interativa, instável e
evolutiva, a adaptação a essa realidade é, cada vez mais, uma necessidade para que as empresas
queiram conquistar e fidelizar os seus clientes. A globalização e o ciclo de vida curto dos produtos
obrigam as empresas a inovarem rapidamente as suas técnicas de gestão. Os produtos rapidamente

42 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


se tornam commodities, quer em termos de características intrínsecas do próprio produto, quer pelo
preço, pelo que cada vez mais a aposta na diferenciação deve passar pela otimização dos serviços,
superando a expectativa de seus clientes com atendimentos rápidos e efi cazes. O tempo em que as
empresas apenas se orientavam para vender os seus produtos, sem preocupação com as necessi-
dades e satisfação dos clientes, terminou. Hoje, já não basta satisfazer, é necessário encantar. Os
consumidores são cada vez mais exigentes em qualidade, rapidez e sensíveis aos preços, obrigando
as empresas a uma efi ciente e efi caz gestão de compras, gestão de produção, gestão logística e ges-
tão comercial. Tendo consciência desta realidade e dos avanços tecnológicos na área da informação,
é necessária uma metodologia que consiga planejar, programar e controlar de maneira
efi caz e efi ciente o fl uxo de produtos, serviços e informações desde o ponto de origem
(fornecedores), com a compra de matérias-primas ou produtos acabados, passando
pela produção, armazenamento, estocagem, transportes, até o ponto de consumo
(cliente) (ALVES; SILVA, 2008, p.14).
De forma simplifi cada podemos identifi car este fl uxo no conceito de logística. No entanto, o conceito
de logística tem evoluído ao longo dos anos. A partir da década de 80 surgiu o conceito de logística in-
tegrada “impulsionada principalmente pela revolução da tecnologia de informação e pelas exigências
crescentes de desempenho em serviços de distribuição”.
Atividades envolvidas
A logística é dividida em dois tipos de atividades – as principais e as secundárias (CARVALHO, 2002,
p. 37):
• Principais: Transportes, Gerenciar os Estoques, Processamento de Pedidos.
• Secundárias: Armazenagem, Manuseio de materiais, Embalagem, Obtenção/Compras, Progra-
mação de produtos e Sistema de informação.
Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Logística>. Acesso em: 12 set. 2012.

VAZ, J. C.; LOTTA, G. S. A contribuição da logística integrada às decisões de gestão das políticas
públicas no Brasil. RAP – Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro 45(1):107-39, jan./fev.
2011. Disponível em: <http://vaz.blog.br/blog/?p=975>.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 43


Caro(a) Acadêmico(a)! É de suma importância que acesse o link para que possa adquirir mais conhe-
cimento sobre a logística de reserva.
MENDONÇA, José Eduardo Mendonça – Planeta Sustentável – 03/12/2010 Disponível em: <http://
planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/logistica-reversa-paulo-moreira-leite-613816.shtm>.

ATIVIdAdE dE AuTOESTudO
1. Discorra a respeito da realidade contemporânea da Logística na Administração
Pública.
2. Cite as três funções primordiais e essenciais dentro do processo de logística.
3. Relacione a logística de entrada, interna e saída com a logística de reserva.

LOGÍSTICA E NÍVEL dE SERVIçO LOGÍSTICO APLICAdOS À ORGANIZAçãO PÚBLICA


A logística possibilita atender aos anseios do público-alvo organizacional, estabelecendo um nível de
serviço satisfatório no momento certo em que se dar a necessidade, com a qualidade exigida, nas
quantidades adequadas, e com o menor custo no emprego dos recursos disponíveis.
Por Jose Carlos Monteiro
Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/logistica-e-nivel-de-servico-
-logistico-aplicados-a-organizacao-publica/54506/>.

44 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


UNIDADE II

PROCESSO E CADEIA DE ABASTECIMENTO


Professor Esp. Fabio Oliveira Vaz

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer as organizações envolvidas no processo.

• Compreender o sistema produtivo e seus formatos.

• Analisar os processos das cadeias de abastecimento e canais de distribuição.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• Organizações envolvidas

• Sistema produtivo

• Canais de Distribuição
INTRODUÇÃO

Nestas mudanças atuais, as empresas, principalmente no setor público, são desafiadas


a operar de maneira sempre mais eficiente e eficaz para garantir a durabilidade de suas
atividades, sendo obrigadas a desenvolver, dia após dia, vantagens em novas frentes de
atuação. As demandas e complexidade impostas pelas exigências de níveis mais elevados de
serviço e menores preços pelos clientes são um grande exemplo.

Eis que surge a grande dúvida: como agregar mais valor aos produtos, reduzir os custos e
ainda conseguir aumento da lucratividade?

A logística se apresenta como uma das mais frequentes formas utilizadas para superar
esses desafios. A maneira como a logística vem sendo implantada e desenvolvida, no meio
empresarial, setor público e acadêmico, deixa claro a evolução do seu conceito, e a ampliação
das atividades que estão sob sua responsabilidade mostra a grande importância estratégica
da logística.

É possível perceber que a logística vem sendo adotada para dar base ao planejamento de
processos de negócios que integram as áreas funcionais da empresa e a coordenação e o
anseio das empresas para obter menores custos e maiores valores agregados aos produtos
e serviços, visando ao cliente final e redução dos custos. Este processo recebe o nome de
Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos – GCS (conhecido como Supply Chain Management
–SCM, na língua inglesa).

CADEIA DE ABASTECIMENTO

A logística, em sua fase inicial, era utilizada de forma fragmentada, quando se procurou a
melhoria do desempenho das atividades básicas de forma individual. Neste período não havia
uma formato sistêmico. A ênfase era funcional e a execução dava-se por departamentos
especializados.

Em um outro momento, havia apontamentos no sentido execução das atividades de forma


integrada, visando à obtenção de um melhor desempenho da organização. As mudanças
só puderam acontecer com o avanço da tecnologia da informação e com a adoção de um

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 47


gerenciamento voltado para os processos. A essa nova fase deu-se o nome de logística
integrada.

Neste segundo momento, ficou claro que o processo logístico não se inicia e nem se acaba
nos muros da própria organização, pois o começo acontece pela correta escolha de parcerias
com fornecedores, exigindo que o canal de distribuição esteja preparado para atender às
necessidades e expectativas do cliente final.

Um exemplo pode ser dado por meio de um fabricante de bebidas. Ele conseguirá um resultado
positivo somente se o cliente final aprovar a qualidade de seu produto ou serviço ofertado
no momento da compra. Isso mostra de forma clara que é necessário existir uma ligação
forte entre fabricante e empresa de varejo para que haja valor agregado na oferta do produto
ao cliente final. Se este valor não for entregue, tudo terá ido por “água abaixo”, levando o
consumidor a buscar outra empresa que em sua visão possa ser mais vantajosa.

Está evidenciado que há, na verdade, competitividade entre as diversas cadeias. Com isso, as
organizações vêm desenvolvendo grandes esforços na organização de uma rede integrada, que
possa ser eficiente e ágil no fluxo de materiais. Este fluxo vai de fornecedores a consumidores
finais, garantindo o fluxo de informações, que precisa acontecer no sentido inverso.

Mesmo as empresas do setor público precisam implantar o Gerenciamento da Cadeia


de Suprimentos para que haja os seguintes resultados: reduções no volume de estoque,
otimização dos transportes e eliminação das perdas, principalmente aquelas que acontecem
nas organizações em que ocorrem duplicidades de esforços.

A logística na gestão pública tem conseguido confiabilidade e flexibilidade mais elevadas,


melhorando o desempenho de seus produtos e serviços, obtendo êxito nos resultados de
entrega de valor aos consumidores internos (colaboradores e externos (consumidores finais)).

O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, de forma simples e clara, consiste no


estabelecimento de relações de parcerias, em prazos maiores, entre os diversos integrantes

48 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


de uma cadeia produtiva que irão planejar estrategicamente suas atividades e compartilhar
informações para assim desenvolverem as atividades logísticas de forma integrada, ou
seja, por meio e entre suas organizações. Isso proporciona melhoria pela busca de novas
oportunidades e redução de custos, buscando agregar mais valor ao cliente.

O conceito de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos ainda está em fase de desenvolvimento,


o que acaba criando várias metodologias para sua implementação. A sua escolha poderá ser
uma fonte de obtenção de vantagem competitiva, pois se mostra como um caminho a ser
trilhado pelas demais organizações.

No Brasil, boa parte das organizações ainda aplica a logística de forma primária, o que as coloca
em desvantagem diante de concorrentes do exterior. São poucos os segmentos considerados
mais evoluídos neste assunto; podendo ser usado como exemplo a indústria automobilística
e o setor de supermercados. Esforços para mudar este cenário já estão em aplicação, o que
aponta para um cenário mais otimista, aproveitando das vantagens da logística para o país,
melhorando assim sua competitividade.

ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDAS

Quando se adquire um produto ou serviço, o consumidor não tem ideia da existência de um


grande processo necessário para a mudança da matéria-prima, de recursos humanos e de
recursos energéticos para que um produto/serviço seja útil ou saboroso, por exemplo. Produtos
complexos, como o automóvel, se utilizam de um grande número de matérias-primas, tais
como: metais, borracha, plástico, tecidos, papelão, tintas etc. Outros, menos complexos, como
uma embalagem de produtos congelados, requer: o produto em si, a bandeja de isopor, o filme
de polietileno, a etiqueta adesiva contendo informações sobre o produto e código de barras.

O caminho é longo, passando pela obtenção da matéria-prima, a manufatura do produto,


os distribuidores, o comércio varejista, chegando ao cliente final, e é chamado de cadeia de
suprimentos.

Na figura 2 é possível visualizar uma cadeia de suprimentos. Fornecedores de matéria-prima


entregam insumos para a indústria e também para os fabricantes de componentes, que
participam da fabricação de um mesmo produto. A indústria fabrica o produto, que é distribuído
ao comércio varejista e, uma parte, ao comércio atacadista/distribuidores, pois muitos não
LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 49
comercializam um volume suficiente do produto que lhes proporcione a compra direta, a partir
do fabricante. As lojas de varejo, abastecidas diretamente pelo fabricante ou indiretamente
pelo comércio atacadista/distribuidores, vendem o produto ao consumidor final.

Figura 2: Modelo de Cadeia de Suprimentos

Fonte: Handy (1997)

Novaes (2001, on-line) enfatiza que:


Quando se trata de cadeia de suprimentos, pensa-se imediatamente em fluxo de
materiais, que é composto por insumos, componentes e produtos acabados. Por esse
motivo, que na figura 2 as setas são orientadas da esquerda para a direita (na parte
superior da figura), porém este não é o tipo único de fluxo de cadeia de suprimentos.

Exemplo disso é o fluxo da figura 3.

50 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Há muitos anos, grandes organizações produziam parte dos seus componentes necessários à
fabricação de seus produtos, pois eram capazes de produzi-los com baixos custos, evitando,
em sua visão, a dependência com relação aos fornecedores, por questões estratégicas e de
poder econômico. Este formato era conhecido como verticalização industrial.

Nos dias atuais, os conceitos de vantagem competitiva e core competence (competência


central, formam-se no ato da definição do planejamento estratégico para as grandes
organizações. Fica claro que é muito mais adequado a organização estar concentrada nas
atividades que consegue realizar com competência, sendo um destaque positivo em relação
aos concorrentes, além de adquirir externamente componentes e/ou serviços associados a
tudo que não estiver dentro da sua competência central.

Figura 3: Modelo de Fluxo Logístico

Fonte: O autor

O mais interessante é que neste formato de gerência não somente os componentes e maté-
rias-primas são adquiridos em outras empresas, mas os serviços dos mais variados, como:
distribuição, armazenagem, transportes de insumos e produtos, alimentação de empregados,
estacionamento, segurança, manutenção, assessoria jurídica etc. Com base nesta realidade

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 51


fica explícita a necessidade de um grau elevado de sintonia entre as organizações que partici-
pam dessa cadeia, com confiança recíproca extrema.

A figura 2 apresenta três novos conceitos: logística de suprimentos, logística da produção


e logística de distribuição. Ao se considerar o setor de fabricação, como ponto referencial,
identificam-se algumas especializações inerentes à logística.

A estrutura da cadeia logística integrada é composta por três grandes grupos, segundo Ching
(1999, on-line):
Logística de suprimentos – gerencia as relações entre a empresa e seus fornece-
dores. Seus principais objetivos são desenvolver produtos e garantir a qualidade das
matérias-primas, componentes e embalagens que atendam aos requisitos de fabrica-
ção, de forma a obter o menor custo total possível dentro da cadeia logística.
Logística de produção – objetiva sincronizar a produção com as demandas. Cabe à
logística de produção transformar os materiais em produtos finais ou acabados, dentro
de prazos pré-definidos.
Logística de distribuição – gerencia a relação empresa/consumidor. Responsável pela
distribuição física dos produtos acabados, a logística de distribuição deve maximizar o
atendimento ao cliente, proporcionando o nível de serviço adequado, sem incorrer em
custos desnecessários.
Ao se considerar a relação com o ambiente, no que tange a matéria-prima, verifica-se
que há um subsistema, na cadeia de suprimentos, denominado logística de suprimen-
tos. Chama-se logística de suprimentos aquela que trabalha com os fluxos de materiais
de fora para dentro da manufatura, incluindo-se, aí, a matéria-prima e outros insumos
(peças, componentes, outros produtos acabados que vão integrar o processo produti-
vo).

A logística de suprimentos pode também levar o nome de logística de materiais ou logística


de abastecimento; em empresas pequenas, é chamado de setor de compras (NOVAES e
ALVARENGA, 2000). Seus componentes são:
1. Extração ou retirada da matéria-prima na sua origem e preparação da mesma para
o transporte.
2. Transporte da matéria-prima desde a fonte de suprimentos até o local de manufatura.
3. Estocagem da matéria-prima na fábrica, até que os produtos sejam industrializados.

52 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Novaes e Alvarenga (2000, on-line) explanam que:
A logística de produção, que cuida dos aspectos logísticos dentro da manufatura em si,
e por isso inserida dentro da Programação e Controle da Produção (PCP), é considera
geralmente com o auxílio de metodologia própria, específica. Existem algumas técnicas
e procedimentos americanos e japoneses bastante eficazes, tais como: MRP II
(Manufacturing Resources Planning ou Planejamento dos Recursos da Manufatura),
Kanban (Técnica japonesa, com cartões, que proporciona redução de estoque,
otimização do fluxo de produção, redução das perdas e aumento da flexibilidade, Just-
in-Time (JIT)) (Técnica que tem como filosofia atender ao cliente interno ou externo no
momento exato de sua necessidade, com as quantidades necessárias para a operação/
produção, evitando-se assim a manutenção de maiores estoques), dentre outros.

A logística de distribuição física atua de dentro para fora da indústria e envolve as transferências
de produtos entre a fábrica e os armazéns próprios ou de terceiros, seus estoques, os
subsistemas de entrega urbana e interurbana de mercadorias, os armazéns e depósitos do
sistema (movimentação interna, embalagem, despacho) (NOVAES e ALVARENGA, 2000).
O sucesso e a eficiência da cadeia logística e, mais especificamente, da cadeia de
distribuição, dependem de um alto grau de cooperação entre as empresas participantes.
O fluxo constante e confiável de informações é fator determinante no gerenciamento
da cadeia de distribuição e essencial para que bons resultados de satisfação das
exigências dos clientes finais sejam atingidos (SILVA, 2006).

As atividades logísticas deverão estar sintonizadas com quatro grandes grupos e necessita
encontrar respostas para algumas questões, independente de quais sejam as aplicações em
análise:
a) Fornecedores: de quem adquire materiais e componentes. Percebe-se a
importância da atividade logística no desenvolvimento dos fornecedores, uma
atividade de fundamental importância, a exemplo do que estão fazendo as
montadoras de automóveis, colocando os seus principais fornecedores dentro do
seu parque produtivo.
b) Manufatureiras: onde vai produzir, ou seja, onde vai instalar a fábrica; quanto e
quando produzir determinado produto. É clara a importância do planejamento de
materiais, pois é a partir das decisões acima que poderá ser definida toda a política
de estoques da organização.
c) Centros de distribuição: onde armazenar produtos acabados? Onde armazenar
peças de reposição? Quanto armazenar de peças e de produtos acabados?

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 53


Extrema é a preocupação com o nível do serviço a ser repassado ao consumidor.
Muitos produtos em estoque como peças de reposição ou produtos acabados, e
diversos locais de armazenagem melhoram o nível de serviço para o consumidor,
porém com uma consequente elevação nos custos, o que acaba diminuindo as
vendas devido ao acréscimo nos preços de venda.
d) Consumidores: este último grande grupo é o ponto central dentro da cadeia de
suprimentos, onde se encontram todos os outros grupos. Porém, não devemos
supor prematuramente que a organização será perfeita e atenderá a todos os
mercados com a mesma qualidade. Nesse sentido, a atividade logística estará
preocupada em definir para que mercado será fornecido o produto e com que nível
de serviço. É sempre bom lembrar que a definição do nível de serviço implica um
acréscimo de custos: quanto maior o nível, mais caro.

Não podemos deixar de lado que as definições logísticas envolvem algumas características
fundamentais das organizações, em nível estratégico, como o impacto em múltiplas funções
dentro das organizações, a troca entre objetivos conflitantes, como aumentar vendas diminuindo
custos e barateando os produtos, ou aumentar o nível de serviço com um acréscimo a curto
prazo, nos custos. Estas dúvidas devem ser alicerçadas em análises e planejamento e nunca
calcadas no achismo.

O PAPEL DA LOGÍSTICA
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

54 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


A logística cumpre um papel de importância na gestão moderna de produtos e serviços,
principalmente com a velocidade com que as mercadorias sofrem modificações com qualidade,
tamanho, sabor, embalagem etc. As principais serão pontualmente descritas a seguir:

Informação – a logística tem atuação importante no processo de disseminação da informação,


podendo ocorrer positivamente se bem implementada, ou negativa se realizada de maneira
errada ou despreparada, prejudicando os esforços estratégicos. Na gestão pública, a logística
é o setor que proporciona a base para a execução das metas a serem cumpridas pelos setores.
Com uma logística primária, as metas ficam totalmente comprometidas.

Produto – também aqui a logística tem uma função importantíssima. O processo de fabricação
e as funções logísticas da organização devem ser abraçadas de forma integrada e pensadas
conjuntamente.

Momento desejado – a logística tem a função de garantir que o produto ou serviço seja
entregue ao consumidor no momento correto. O cliente, no ato da compra, recebe uma
promessa de data de entrega. Se esta data não for cumprida, por qualquer motivo, isso causará
uma avaliação de falta de qualidade ou falta de organização na empresa. O Correio brasileiro
aposta em sua eficiência logística ao garantir ao cliente que sua encomenda será entregue até
as 10 horas do dia seguinte, por meio do serviço Sedex 10.

Satisfação – a satisfação que o cliente sentirá no momento da entrega de um produto ou serviço


está diretamente relacionada com a logística. Esta relação poderá ser mais forte ou mais fraca
dependendo da forma da entrega. Alguns problemas como prazo de validade vencido, bens
entregues com especificação errada (cor, voltagem, modelo) ou com componentes faltando,
poderão gerar uma reação negativa por parte do consumidor.

Confiança mútua – a confiança deve ser mútua entre o comerciante e o cliente, levando em
conta alguns aspectos como atenção pessoal, honestidade e profissionalismo de quem atende.
A cada etapa que o cliente passa a conhecer melhor o atendente, vai verificando a verdade

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 55


de suas afirmações e promessas, além de ver suas reclamações e sugestões atendidas, sua
confiança nele aumenta, o que acaba por se espalhar por toda cadeia varejista. Quando o
contrário ocorre, em qualquer elemento cadeia, a imagem negativa, também, se espalha por
toda a cadeia.

Continuidade – este aspecto é considerado ainda como um grande problema para o setor
de bens duráveis no Brasil. A continuidade na relação de pós-venda é sempre difícil. Mesmo
que problemas ocorram por parte do fabricante (falta de peças, má assistência técnica, preços
incompatíveis dos serviços), é quem atende que está mais próximo do cliente. É ele que acaba
recebendo as reclamações dos clientes. Para diminuir estes problemas, algumas organizações
desenvolveram a função do ombudsman, que atende diretamente as reclamações dos clientes,
sem precisar passar por outros setores da organização.

Segue abaixo um exemplo da logística aplicada na empresa Submarino, mostrado por Schimtt
e Shionara (2001):

LOGÍSTICA NA SUBMARINO: a Submarino é uma das maiores empresas brasileiras no ramo


de comércio eletrônico (e-commerce), cujo negócio depende fundamentalmente da logística, e
atua em todo o território nacional. Para permitir a operacionalização do seu processo logístico,
a empresa fez uma parceria com o Grupo Intecom que, por sua vez, tem o controle acionário
dividido entre dois grandes grupos, o Grupo JP Morgan e o Grupo Martins, maior atacadista
distribuidor da América Latina, com bastante capilaridade no território brasileiro.

As principais características do processo logístico da Submarino são:


- Usa um operador logístico – Intecom.
- Usa intensivamente a tecnologia da informação:
• Marbo Sat – posicionamento da carga e comunicação com o motorista.
• Geo Marbo – rota geográfica em tempo real; o Trom –planejamento de rotas e car-
gas; o WIS-SIGMA – gestão de estoques e picking.
• SCOF – gerenciamento da operação da frota.

56 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


- Possibilita acompanhar, a qualquer momento, o posicionamento de sua encomenda no
território (Tracking).
- A Submarino realiza as operações de Picking e embalagem, sendo o restante do pro-
cesso operacionalizado pela Intecom. A figura abaixo possibilita um melhor entendimento
de todo o processo logístico da Submarino.

Figura 04 - Processo logístico da Submarino

Fonte: Schimtt e Shionara (2001)

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 57


CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO

O processo de abastecimento da produção com matéria-prima e componentes é denominado


inbound logistics na literatura internacional, sendo que no Brasil é normalmente denominado
de logística de suprimento.

Segundo Novaes (2001), a logística de suprimento é uma parte muito importante pelo seu
aspecto estratégico e pela importância econômica a ela associada tanto pelo setor público
como pelo privado.

Nas atividades ligadas ao varejo, a logística que movimenta os produtos acabados da fábrica
até ao consumidor é chamado de distribuição ou outbound logistics.

Os estudiosos de logística denominam de distribuição física de produtos, ou simplesmente


distribuição física, os processos operacionais e de controle que facilitam e concretizam a
transferência dos produtos do local de produção até onde será entregue ao consumidor final.
Normalmente, o consumidor final é o ponto de varejo, porém existem as chamadas entregas na
residência do consumidor, o que não deixa de ser distribuição dos produtos e serviços.

Os responsáveis pelo setor de distribuição física trabalham com elementos específicos, tais
como depósitos, veículos para transporte, estoques, equipamentos de carga e descarga etc.

A grande maioria dos produtos/serviços comercializadas no varejo chega ao consumidor por


meio de empresas intermediárias, ou seja, o fabricante produz a mercadoria, o atacadista, o
distribuidor, o varejista e, eventualmente, outros intermediários levam a mercadoria até seu
destino. Analisando por esta ótica, os elementos que formam a cadeia de suprimento, que
começa na fábrica e vai até o varejo, compõem o que chamamos de canais de distribuição,
que constituem conjuntos de organizações que são dependentes umas das outras, envolvidas
no processo de tornar a mercadoria ou serviço disponível para uso ou consumo.

Há uma relação paralela muito forte entre as atividades da distribuição física de produtos e os

58 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


canais de distribuição, conforme mostra a figura 05.

Distribuição Física Canal de Distribuição

DEPÓSITO DA FABRICANTE
FÁBRICA

TRANSPORTE

CENTRO DE
ATACADISTA
DISTRIBUIÇÃO

TRANSPORTE

DEPÓSITO
VAREJISTA VAREJISTA

CONSUMIDOR FINAL

Figura 5: Relação entre Distribuição Física e Canais de Distribuição

Fonte: O autor

Para manter uma estratégia competitiva, a organização escolhe um esquema de distribuição


específico. A logística então é definida a partir da estrutura planejada para os canais
de distribuição. A definição do canal ou de canais de distribuição, com os serviços a eles
associados, não pode ficar sem uma análise detalhada sobre quais resultados serão
alcançados, pois muitas das soluções, inicialmente, podem ser gerar custos muito elevados.

Definidos os canais de distribuição, é possível identificar os deslocamentos físicos ou mesmo


espaciais que as mercadorias deverão obedecer. A rede logística é composta por: depósitos
(ou armazéns), centros de distribuição, estoque de produtos, transporte usado e as estruturas
complementares de serviço.

Definir de forma mais detalhada os objetivos dos canais de distribuição depende em sua

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 59


essência de cada organização, da forma de competição no mercado e da estrutura da cadeia
de suprimentos. Porém, é possível identificar alguns fatores gerais, comum na maioria deles,
tais como (NOVAES, 2001):
• Assegurar a rápida disponibilidade do produto no mercado identificado como
prioritários, ou seja, o produto precisa estar disponível para a venda nos
estabelecimentos varejistas do tipo correto;
• Intensificar ao máximo o potencial de vendas do produto sob enfoque, isto é buscar
parcerias entre fabricante e varejista que possibilitem a exposição mais adequada
da mercadoria nas lojas;
• Promover cooperação entre os participantes da cadeia de suprimentos,
principalmente relacionada aos fatores mais significativos associados à distribuição
física, ou seja, buscar lotes mínimos dos pedidos, uso ou não de paletização ou de
tipos especiais de acondicionamentos em embalagens, condições de descarga,
restrições de tempo de espera, etc.
• Assegurar nível de serviço estabelecido previamente pelos parceiros da cadeia
de suprimentos;
• Garantir rápido e preciso fluxo de informações entre os parceiros;
• Procurar redução de custos, de maneira integrada, atuando em conjunto com os
parceiros, analisando a cadeia de suprimentos na sua totalidade.

Os canais de distribuição podem desempenhar quatro funções básicas, segundo as


concepções trazidas pelo supply chain management:
1. Indução da demanda – as empresas da cadeia de suprimentos necessitam gerar ou
induzir a demanda de seus serviços ou mercadorias.
2. Satisfação da demanda – é necessário comercializar os serviços ou mercadorias
para satisfazer à demanda.
3. Serviço de pós-venda – uma vez comercializados os serviços ou mercadorias, preci-
sa-se oferecer os serviços de pós-venda, e
4. Troca de informações – o canal viabiliza a troca de informações ao longo de toda a
cadeia de suprimentos, acrescendo-se também os consumidores que disponibilizam
um retorno importante tanto para os fabricantes quanto para os varejistas.

60 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


DISTRIBUIÇÃO FÍSICA

A distribuição física tem como objetivo geral levar os produtos certos, para lugares certos, no
momento certo e com o nível de serviço desejado, pelo menor custo possível (NOVAES, 2001).
No estudo do supply chain, a distribuição física vai desde a saída do produto da fábrica até
sua entrega final ao consumidor. Em certos casos, o produto é enviado da produção para o
depósito de um atacadista; em outros, o produto é transportado desde o fabricante até o centro
de distribuição de varejo.

COMPONENTES DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO FÍSICA

A distribuição física dos produtos é executada a partir de alguns componentes, sejam eles
físicos ou informacionais:
1. Instalações físicas – fornecem espaços destinados a abrigar as mercadorias até
que sejam transferidas para as lojas ou entregues aos clientes. Dispõem de facilida-
des para descarga de produtos, transporte interno e carregamento dos veículos de
distribuição.
2. Estoque de produtos – é formado pelo estoque de produtos ao longo de todo o
processo. O custo de capital dos produtos acabados que permanecem estocados
nos depósitos da fábrica, nos centros de distribuição dos atacadistas, distribuidores e
varejistas, nas lojas de varejo e nos veículos de transporte, passou a ser um encargo
elevado para as empresas. Isto porque a oferta de produtos se abriu em um leque
de opções muito grande, com variedade de tipos, capacidade, acabamento e cores,
nunca vistos, ocasionando um acréscimo expressivo nos níveis do estoque.
3. Veículos – já que os produtos são normalmente comercializados em pontos distintos
em relação ao local de fabricação, sua distribuição implica o deslocamento espa-
cial das mercadorias, necessitando de veículos para realizá-lo. Na transferência de
produtos desde o fabricante até o centro de distribuição do varejista (ou depósito do
atacadista) empregam-se veículos maiores, com mais capacidade; no abastecimento
de lojas, em geral, são usados veículos menores, com mais condições de manobrabi-
lidade em áreas urbanas. Também, a necessidade de maior frequência nas entregas

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 61


de produtos às lojas, favorece a opção de veículos de menor porte e capacidade.
4. Informações – no caso de distribuição, por exemplo, para vários pontos de varejo,
caso de bebidas e cigarros, é fundamental dispor de um cadastro de clientes, com-
posto pela razão social, endereço (com coordenadas geográficas para uso de SIG ou
roteirizadores), além de outras informações importantes para a operação logística.
Outras informações são: quantidade de produtos a ser entregue a cada cliente, horá-
rios para entrega, tipo de acondicionamento, roteiros de distribuição etc.
5. Hardware e software – grande parte das atividades de distribuição é planejada, pro-
gramada e controlada por meio de softwares aplicativos, que auxiliam na preparação
dos romaneios de entrega, roteirização de veículos, controle de pedidos, devoluções,
monitoramento de frota etc. Esses softwares funcionam em computadores (hardwa-
re) instalados para favorecer o uso dos softwares.
6. Estrutura de custos – deve ser adequada e constantemente atualizada. Devido
à diversidade de custos associados à distribuição física, é necessário adotar uma
estrutura mais eficaz para os serviços logísticos de distribuição física. Atualmente, o
emprego de formas de custeio modernas, como é o caso do modelo ABC-Activity
Based Costing, é imperativo.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

7. Pessoal – para que um sistema de distribuição física funcione adequadamente e de


forma competitiva, é preciso que a empresa disponha de colaboradores devidamente
treinados e capacitados, em todos os níveis, sejam eles técnicos logísticos, adminis-
trativos, motoristas, ajudantes etc.

62 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


TIPOS BÁSICOS DE DISTRIBUIÇÃO

Na prática é possível encontrar uma quantidade significativa de tipos de distribuição física de


produtos, mas vamos reduzi-las a duas configurações básicas, segundo Novaes (2001):

Distribuição UM PARA UM – o veículo é totalmente carregado (lotação total) no depósito da


fábrica e transporta a carga para um único ponto de destino, seja ele uma loja ou outra fábrica,
e

Distribuição UM PARA MUITOS – também chamada de compartilhada, em que o veículo é


carregado no varejista com mercadorias destinadas a diversas lojas ou clientes, precisando de
um roteiro de entregas elaborado previamente.

Sistema de distribuição UM PARA UM

Na distribuição do tipo UM PARA UM, o carregamento do veículo é feito de forma a lotá-lo por
completo. Ao carregar o veículo, vai se acomodando a carga nos espaços disponíveis, com o
objetivo de se obter um melhor aproveitamento de sua capacidade.

A distribuição UM PARA UM é influenciada por 12 fatores, no foco da logística, segundo


Novaes (2001):
1. Distância entre os pontos de origem e de destino é um dos elementos que mais in-
fluenciam nessa forma de transporte, pois condiciona a seleção do tipo de veículo, o
dimensionamento da frota, o custo e o frete a ser cobrado do usuário.
2. A velocidade operacional é a velocidade média entre os pontos de origem e de destino,
descontando os tempos nos terminais, isto é, retirando os tempos de carga e descarga,
tempos de espera para a carga ser recebida pelo cliente etc. Dessa forma, para uma
transferência entre dois locais A e B, a velocidade operacional é calculada da seguinte
maneira:

V(op) = D(ab) / t(ab)


V(op)= velocidade operacional entre os locais A e B

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 63


D(ab = distância entre os locais A e B, descontando os tempos nos terminais, isto é, os
tempos de carga e descarga, tempos de espera para a carga ser recebida no cliente etc.
t(ab) = tempo total de viagem entre os locais A e B, descontando os tempos nos terminais,
isto é, os tempos de carga e descarga, tempos de espera para a carga ser recebida no
cliente etc.
Nas viagens intermunicipais, a velocidade operacional é fortemente condicionada pelas
características das estradas (ou rodovias, ou ferrovias). As condições de má conservação
das rodovias, atualmente, reduzem bastante a velocidade operacional dos veículos, pre-
judicando sua produção (menos toneladas-quilômetro realizadas por ano) e acarretando
aumento nos custos operacionais.
3. Tempo de carga e descarga é o tempo total gasto na pesagem, conferência, emissão
de documentos, bem como nas operações de carga e descarga propriamente ditas. O
tempo de carga e descarga afeta bastante as características operacionais e econômicas
da distribuição UM PARA UM, principalmente para distâncias relativamente curtas. Uma
forma de redução dos tempos de carga e descarga é utilizar outras formas de acondicio-
namento da carga, principalmente, sua unitização que, no transporte doméstico, é feita
com o uso de pallet. Por exemplo, para carregar uma carreta de forma manual, requer-se
cerca de duas horas e quatro funcionário; esta mesma carreta pode ser descarrega em
25 minutos, caso a mesma tivesse sido carregada com a carga unitizada em pallets e
com o auxílio de uma empilhadeira e seu operador.
4. Tempo porta a porta é um dos fatores mais importantes para o usuário do serviço de
transporte. De nada adiantaria uma empresa de transporte aéreo oferecer os aviões mais
velozes para deslocar produtos de um local a outro, se a mercadoria sofrer retenções e
atrasos excessivos no solo.
5. Quantidade ou volume transportado também é outro fator de grande significância na
distribuição física dos produtos. Quando os volumes transportados são elevados, a em-
presa pode optar por um serviço próprio de distribuição, operando com frota própria ou
terceirizada, porém planejado e operado conforme suas especificações. Pode-se citar o
caso da Coca Cola, que atende um grande número de pequenos varejos, além de gran-
des clientes, como é o caso de supermercados. Quando os volumes não comportam um
sistema especialmente implantado para tal, a empresa se vê obrigada a usar os serviços
de transportadores autônomos ou empresas transportadoras, compartilhando com outros
clientes o uso de veículos e terminais. Neste caso, o controle do nível de serviço é obvia-
mente mais difícil, visto que as transportadoras são obrigadas a atender clientes diversos,

64 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


com diferentes tipos de carga e com diferentes prioridades.
6. Disponibilidade de carga de retorno – a não disponibilidade de carga de retorno, que
possa assegurar o frete à transportadora quando o veículo volta ao ponto inicial, pode
afetar o nível de serviço oferecido ao cliente. Isto porque, em um ambiente de grande
concorrência, o transportador autônomo, como também a empresa transportadora em
alguns casos, pode negociar o frete admitindo que haja carga de retorno, de forma a
cobrir seus custos.
7. Densidade de carga afeta a escolha de um tipo de veículo adequado ao serviço e, por
consequência, o custo do transporte. Mercadorias de baixa densidade acabam lotando o
veículo por volume e não por peso. Em alguns casos, em que a densidade média é muito
baixa, é comum a escolha de carrocerias especiais (baús), com maior volume.
8. Dimensões e a morfologia da carga também afetam seu transporte. Há casos de mer-
cadorias com dimensões muito diversas como, por exemplo, tubos e sofás longos. As
formas da carga também afetam o seu arranjo, o manuseio e o transporte. É o caso dos
móveis citados anteriormente, que apresentam formas diversas, dificultando a estivagem
dos mesmos dentro do veículo e as operações de carga e descarga.
9. Valor unitário da carga pode implicar no uso de veículos especiais e na implantação
de sistemas de segurança e de monitoramento adequados, quase sempre caros. Como
exemplo, pode-se citar o transporte de remédios e aparelhos eletrônicos, que vem sofren-
do constantes assaltos, obrigando as transportadoras a instalar antenas de rastreamento
de veículos e dispor de equipes de segurança.
10. Acondicionamento – uma das formas de reduzir significativamente os tempos de car-
ga e descarga é utilizar outras formas de acondicionamento da carga, principalmente sua
unitização que, no transporte doméstico, é feita geralmente por meio de pallets.
11. Grau de fragilidade da carga tem influência nos cuidados necessários no processo
de embalagem do produto, no seu manuseio e no transporte. Um veículo de molas muito
duras pode levar a perdas excessivas no transporte de ovos, por exemplo.
12. Grau de periculosidade da carga tem implicações severas na distribuição de produtos,
principalmente nos países mais desenvolvidos, como é o caso de distribuição de gasolina
na Europa, que exige veículos bastante sofisticados, com sistema de reaproveitamento
dos vapores (para evitar que sejam lançados na atmosfera), controle de vazamentos,
válvulas de segurança etc.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 65


Sistema de distribuição UM PARA MUITOS

Este sistema também é conhecido como distribuição compartilhada, em que o veículo é


carregado no varejista com mercadorias destinadas a diversas lojas ou clientes, e faz um
percurso seguindo um roteiro de entrega determinado.

Na figura 06, é possível ver de onde o veículo parte carregado do depósito e percorre uma
distância até a área de entrega. O veículo realiza várias visitas em diversos clientes, efetuando
coletas e entregas. Terminado o serviço, o veículo volta ao depósito, percorrendo uma nova
distância.

A distribuição UM PARA MUITOS é influenciada por 15 fatores, quando enfocada sob o ponto
de vista da logística, na visão de Novaes (2001):
1. Divisão da região a ser atendida em zonas de entrega, sendo cada zona alocada nor-
malmente a um veículo.
2. Distância d entre o CD e a zona de entrega.
3. Velocidades operacionais médias.
a. V1 no percurso entre o depósito e a zona.
b. V2 no percurso dentro da zona.
4. Tempo de parada em cada cliente.
5. Tempo de ciclo – necessário para completar um roteiro.
6. Frequência das visitas às lojas ou aos clientes, ou seja, diária, semanal, mensal etc.
7. Quantidade de mercadoria a ser entregue em cada loja do roteiro.
8. Densidade da carga.
9. Dimensões e morfologia das unidades transportadas.
10. Valor unitário.
11. Acondicionamento – carga solta, a granel, paletizada etc.
12. Grau de fragilidade.

66 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


13. Grau de periculosidade.
14. Compatibilidade entre produtos de naturezas distintas, e
15. Custo global.

Figura 06: Esquema básico para a DF UM PARA MUITOS

Fonte: O autor

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 67


O TRANSPORTE NA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA

A logística tem em seu conceito a visão de agregar ou adicionar valor de tempo e lugar ao
produto/serviço que será entregue ao consumidor, além de ser a atividade mais importante
para concretizar a entrega de valor.

Ao mesmo tempo surgem o transporte e a distribuição que, mesmo se restringindo à distância


a ser percorrida entre o armazém ou almoxarifado até o cliente, abrangem decisões de extrema
complexidade e merece igual atenção. Desta forma, para a utilização de medidas necessárias
ao bom desempenho das atividades de distribuição, é preciso um aprofundamento no estudo
das decisões a ela relacionadas.

Segundo Bowersox e Closs (1997), com exceção dos custos de bens adquiridos, o transporte
absorve, em média, a porcentagem mais elevada de custos do que qualquer outra atividade
logística.

As decisões de transporte podem ser expressas pelas seguintes formas:


• Escolha modal.
• Roteirização do transportador.
• Programação de veículos, e
• Consolidação do embarque.

Em uma organização, as atividades de distribuição abrangem toda a movimentação e


estocagem de bens da fábrica. A movimentação dos centros de distribuição para os
consumidores representa a etapa mais custosa da cadeia de distribuição, pois para que seja
realizada de forma eficiente, a organização precisa desenvolver o planejamento e a execução
da atividade de transporte de forma objetiva e clara.

Existem pesquisas que apontam que os custos de distribuição física agregam cerca de 16%
do valor final de um item.

68 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Ballou (1995) aponta que os custos logísticos correspondem a 23% do PIB dos EUA, e destes
custos, o transporte representa cerca de dois terços.

ROTEIRIZAÇÃO
O termo roteirização é a designação que vem sendo adotada como equivalente ao
inglês “routing” ou “routeing”, para designar o processo de determinação de um ou
mais roteiros ou seqüências de paradas a serem cumpridos por veículos de uma frota,
objetivando visitar um conjunto de pontos geograficamente dispersos, em locais pré-
determinados, que necessitam de atendimento. O termo roteamento também é utilizado
alternativamente por alguns autores, embora este termo seja mais comumente utilizado
quando associado às redes computacionais (CUNHA, 1997, on-line).

Na roteirização, três fatores definem um problema real: decisões, objetivos e restrições,


segundo Cunha (1997).
• Decisões – as decisões dizem respeito à alocação de um grupo de clientes que deve
ser visitado, a um conjunto de veículos e motoristas, envolvendo também a progra-
mação e o sequenciamento de visitas.
• Objetivos – como objetivos principais, o processo de roteirização visa proporcionar
um serviço de nível elevado aos clientes, porém, paralelamente, mantendo os custos
operacionais e de capitais tão baixos quanto possível.
• Restrições – adicionalmente, deve-se obedecer a certas restrições. Inicialmente,
devem-se completar as rotas com os recursos disponíveis, mas cumprindo totalmen-
te os compromissos assumidos com os clientes. Em seguida, devem-se respeitar
os limites de tempo impostos pela jornada de trabalho de motoristas e ajudantes.
Finalmente, devem ser respeitadas as restrições de trânsito, no que se refere às
velocidades máximas, horários de carga/descarga, tamanho máximo dos veículos
nas vias públicas etc.

Problemas de roteirização ocorrem frequentemente na distribuição de produtos e serviços e


alguns exemplos são mostrados por Novaes (2001):
• entrega, em domicílio, de produtos comprados nas lojas de varejo ou pela internet;
• distribuição de bebidas em bares e restaurantes;

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 69


• distribuição de dinheiro para caixas eletrônicos de bancos;
• distribuição de combustíveis para postos de gasolina;
• coleta de lixo urbano;
• entrega domiciliar de correspondência;
• distribuição de produtos dos Centros de Distribuição (CD) de atacadistas para lojas
do varejo.

É de conhecimento de todos que nos últimos anos, a informática e a tecnologia cresceram


absurdamente e tem sido usada como ferramenta de apoio com softwares específicos sendo
desenvolvidos para resolver os problemas de roteirização.

Galvão (1997) afirma que muitos deles pecam por não serem capazes de abordar o componente
espacial do problema. Como exemplo, pode-se citar a localização geográfica exata dos pontos
a serem atendidos (clientes) ou a consideração das restrições de tráfego rodoviário.

Ainda, segundo Farkuh Neto e Lima (2006), os despachantes localizados nos depósitos e CDs
só conseguiam falar com os motoristas dos veículos por meio de rádio e assim mesmo quando
estavam dentro da área de alcance das transmissões. No entanto, na maioria das vezes, o
contato só era realizado em algumas ocasiões em que o motorista conseguia um acesso
telefônico e ligava para sua sede.

Atualmente, os avanços tecnológicos disponibilizam ferramentas como telefones celulares,


pagers alfanuméricos, scanners portáteis, pequenos computadores de bordo. Diversos
veículos são hoje equipados com rastreadores, muitas vezes dispondo de receptores GPS
(Global Positioning System), que fornecem a latitude e a longitude do caminhão em tempo real.
O GPS, combinado com uma base geográfica de dados de um SIG, permite ao despachante
localizar o veículo na rede viária a qualquer instante. Essa facilidade permite alocar o veículo
mais próximo e disponível a uma tarefa emergencial, por exemplo.
Com a utilização de Palm-Tops, motoristas dos veículos poderão não somente se
comunicar com a sede como também obter informações sobre tráfego e sobre

70 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


condições de tempo, além de trocar mensagens com os clientes e solicitar socorro,
quando necessário (NOVAES, 2001, on-line).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que são muitas as possibilidades de se realizar a distribuição de um produto no


mercado. A questão é escolher o tipo de canal mais viável mercadologicamente. É claro que
o profissional logístico fará sua escolha a partir de uma análise das alternativas que dispõe.

O primeiro passo deverá ser uma avaliação do segmento ou público-alvo que se pretende
atingir, principalmente em relação à previsão de vendas, que uma vez quantificada é hora de
analisar os clientes e assim, fazer a escolha certa do canal para fazer os produtos chegarem
até eles.

Quanto mais concentrado estiverem os clientes, menor deverá ser o canal de distribuição.
O setor alimentício se aplica a esta explicação. O tipo de produto também é um fator que
merece muito destaque na hora de escolher um canal de distribuição. Alguns tipos de produtos
são tão específicos e complexos tecnicamente que exigem profissionais especializados para
comercializá-los.

Os mercadólogos orientam que no caso de inexistirem intermediários adequados para uma


distribuição adequada, é prudente que os fabricantes dos produtos invistam em desenvolver
seu próprio canal. Mesmo que no início a distribuição seja menor, não haverá risco de uma
má distribuição.

É preferível distribuir em menor quantidade a distribuir de forma incorreta.


Marketing como ferramenta logística é um dos processos da cadeia de suprimentos.
Sua atividade hoje é de interligar o cliente ao restante da cadeia. Muito sabemos da sua
importância, mas, como função logística vai além do simples fato do atendimento ao
cliente e vendas. Tem a ver com o posicionamento da empresa em relação ao mercado
(SANTANA, 2006, p.152).

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 71


A gestão da cadeia de suprimentos é um processo que consiste em gerenciar estrategicamente di-
ferentes fl uxos (de bens, serviços, fi nanças, informações) bem como as relações entre empresas,
visando alcançar e/ou apoiar os objetivos organizacionais.
Fonte: PHOTOS.COM

O gerenciamento da cadeia de suprimentos é um conjunto de métodos que são usados para propor-
cionar uma melhor integração e uma melhor gestão de todos os parâmetros da rede: transportes,
estoques, custos, etc. Esses parâmetros estão presentes nos fornecedores, na sua própria empresa e
fi nalmente nos clientes. A gestão adequada da rede permite uma produção otimizada para oferecer ao
cliente fi nal o produto certo, na quantidade certa. O objetivo é, obviamente, reduzir os custos ao longo
da cadeia, tendo em conta as exigências do cliente – afi nal, isso é qualidade: entregar o que o cliente
quer, no preço e nas condições que ele espera.
Esta gestão é por vezes difícil, especialmente para um sistema que não tenha controle sobre toda a
cadeia. Por exemplo, uma empresa que terceiriza uma parcela da produção ou da logística, deixou de
ter controle sobre uma parte importante do processo. É difícil também porque a demanda do cliente é
desconhecida na maioria das vezes e varia substancialmente de um mês ao outro, o que implica um
planejamento da produção mais complexo. Os produtos a serem fabricados também podem mudar
(nova estação, moda, modelos, melhorias), o que colocará em evidência a necessidade de uma estra-
tégia de preços e cálculos de custos de fornecimento e estoque.
O problema aparece também em produtos completamente novos, inovadores, onde os modelos pron-
tos não podem ser aplicados e exigem, assim, novas soluções. Por exemplo, projetar uma nova fábri-
ca na China: os produtos seriam entregues para os clientes, após a fabricação, em 6 semanas (por

72 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


navios). O problema: não se considerou que ambientes salinos podem enferrujar os produtos. Embora
neste caso a questão de mudar o tipo de transporte não seja colocada em discussão (pois multiplicaria
o custo por 10), é preciso levar em consideração os fatores inerentes ao tipo de transporte e acondi-
cionamento. Para maiores informações sobre a situação dos portos no Brasil e no mundo veja Portos
mais movimentados no Brasil e no Mundo e Movimento dos portos brasileiros; para mais detalhes do
transporte de cargas no Brasil, veja Custo Brasil – situação do transporte de cargas, Infra-estrutura
das rodovias no Brasil, e Logística brasileira: qual nossa situação?.
Vários níveis de planejamento também podem (e devem) ser considerados: estratégico, tático e ope-
racional. Trata-se de conhecer sua própria rede de distribuição já existente com os controles de esto-
ques sendo utilizados e de iniciar uma primeira estratégia de coordenação da entrega dos produtos,
iniciada antes mesmo da fabricação dos mesmos. Além disso, devem-se utilizar os modelos de toma-
da de decisão baseados em programação linear e modelos de transporte, que tornam mais evidentes
os custos e as interdependências entre as etapas (veja a Série Pesquisa Operacional – uma visão
geral). Passamos, por fi m, para as fórmulas e cálculos complicados que um software especializado
(ERP) se encarregará de gerir no dia-a-dia.
Disponível em: <http://www.logisticadescomplicada.com/gestao-da-cadeia-de-suprimentos-
-%E2%80%93-conceitos-tendencias-e-ideias-para-melhoria/>. Acesso em: 12 set. 2012.

Livro: Logística Reversa e Sustentabilidade


Autor: Vários autores

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 73


Idioma: Português
Editora: Cengage
Assunto: Administração – Logística
Edição: 1ª
Ano: 2011

LOG-SCM-1.2-2 Logística: Processo


<http://www.youtube.com/watch?v=skC2Veviz4M>.
Profi ssional de Logística
<http://www.youtube.com/watch?v=eQDC5uO1ZZk&feature=related>.

ATIVIdAdE dE AuTOESTudO
1. Discorra sobre processo e cadeia de abastecimento.
2. Relacione as organizações envolvidas com o sistema produtivo.
3. Discorra sobre os canais de distribuição.

74 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Livro: Logística Reversa
Autor: Paulo Roberto Leite
Idioma: Português
Editora: Prentice Hall Brasil
Assunto: Administração – Logística
Edição: 2ª
Ano: 2009

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 75


UNIDADE III

PROCESSAMENTO DE PEDIDOS – COMPRAS


NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Professor Esp. José Roberto Tiossi Junior

Objetivos de Aprendizagem

• Demonstrar que a Administração Pública satisfaz ao interesse público por meio das
compras.

• Compreender o funcionamento de uma central de compras.

• Revelar que a implantação de uma central de compras maximiza os procedimentos


logísticos da Administração Pública.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• A necessidade de comprar

• A formação de uma central de compras

• As vantagens da central de compras


INTRODUÇÃO

Nesta unidade, estudaremos uma importante ferramenta utilizada pela logística na


Administração Pública. Trata-se do primeiro ato dentre uma gama de tantos outros que são
desencadeados a partir deste. A necessidade de comprar faz com que haja uma mobilização
de vários setores do órgão público para que o interesse público seja atingido.

A existência de uma central de compras facilita o trâmite dos demais atos, visto que unifica
o processo, simplificando o controle logístico. Com isso ocorre uma economia de recursos,
pessoas, processos e tempo, contribuindo para o avanço do setor público.

A inexistência desta centralização no processo de compras retarda o desenvolvimento público


e compromete a boa aplicação dos recursos.

Trata-se da mais inovadora técnica de gestão, visto os inúmeros benefícios que são
proporcionados por sua adoção. Embora seja novo, muitos órgãos públicos já têm efetuado
todos os esforços para sua implantação, focando principalmente na capacitação dos servidores
envolvidos. Desta forma, a centralização das compras é peça fundamental dentro da logística
utilizada pela Administração Pública para atender aos anseios sociais.

O fato de a Administração Pública se submeter à instauração de procedimento licitatório para


adquirir bens e serviços faz com que a central de compras seja submetida a um controle e
rigor excessivo, para que situações desconfortáveis não sejam geradas, principalmente com
compras desnecessárias ou superfaturamento nas aquisições.

Os processos licitatórios devem respeitar inúmeros atos e demandam um tempo razoável para
sua finalização, motivo pelo qual torna a central de compras tão importante.

Por exemplo, uma compra excessiva de determinado produto, além de mostrar-se desnecessária,
utiliza verba que poderia ser investida em outros produtos ou serviços essenciais. Já a compra
insuficiente também acarreta prejuízos, pois além de prejudicar o bom funcionamento da

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 79


máquina pública, necessário se faz a instauração de nova licitação com o mesmo objeto,
apenas para compensar a ausência encontrada.

Com isso, faremos uma abordagem completa dos principais tópicos para a implantação e o
bom funcionamento de uma central de compras, trazendo exemplos encontrados em nossa
prática diária, para facilitar a compreensão do tema e reforçar sua importância dentro da
Administração Pública.

A NECESSIDADE DE COMPRAR

O anseio de comprar faz parte da identidade de qualquer ser humano, em razão da voraz e
eminente necessidade de consumo. Com a Administração Pública não é diferente, visto que
sua missão consiste em gerenciar o interesse público e para que a mesma seja alcançada com
êxito, necessita efetuar aquisições.

Visando cumprir suas funções, a Administração Pública precisa atuar nos mais variados
segmentos, produzindo bens e prestando serviços para a sociedade. Mas acontece que ela
não é autossuficiente, isso significa que não produz, tampouco realiza tudo aquilo que precisa
para atender ao interesse público envolvido. Deste modo, é necessário que a mesma recorra a
terceiros para que, em uma interação contratual, possa receber os préstimos de que necessita.

Acontece que o ente público não possui a mesma prerrogativa de uma pessoa física ou
de determinada entidade privada que tem a liberdade de contratar com terceiros conforme
conveniência. Tal diferença é fruto de imposição legal que determina aos órgãos públicos
que oportunizem a todos os interessados em serem contratados, as mesmas condições de
negociação.

Essa determinação legal é denominada licitação e está prevista na Constituição Federal de


1988, no art. 37, XXI, externando que, ressalvados os casos previstos em leis, as compras,
serviços, obras e alienações deverão ser realizadas mediante processo de licitação,
oportunizando aos interessados as mesmas condições de participação.

Com isso, um processo administrativo deve ser instaurado para que a legislação seja atendida
e que o interesse público seja alcançado.

80 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


O órgão público em suas diferentes esferas apresenta uma enorme estrutura, repleta de
servidores que atuam nas mais variadas áreas do conhecimento. Para que os mesmos
consigam desempenhar suas funções necessitam de materiais para trabalhar, ou seja, a
Administração Pública precisa comprar para efetuar a manutenção da máquina pública.

Vejamos o seguinte exemplo: para que um guarda municipal consiga exercer diariamente suas
atividades de maneira satisfatória, precisa de uma série de equipamentos, como: uniforme
da guarda, rádio transmissor, motocicleta, equipamentos de segurança como capacete, bota,
luvas dentre outros.

Já um servidor da Secretaria de Administração necessita de um computador, impressora,


caneta, papel, tesoura, grampeador, clips, mesa, cadeira, internet etc.

Inúmeros são os exemplos, mas o que podemos garantir é que, em todos os tipos de prestação
de serviços públicos, o processo licitatório deve ser instaurado para aquisição dos materiais
necessários. Em algumas situações, além de adquirir bens, necessárias se faz a contratação
dos próprios prestadores de serviços.

Mas como visto anteriormente, o órgão público não pode ir comprando ao seu livre alvedrio e
,para que tais equipamentos sejam adquiridos, precisa abrir o processo licitatório.

A formação de uma central de compras auxilia no êxito do processo licitatório, e esse tema é
o que iremos explorar na sequência.

A FORMAÇÃO DE UMA CENTRAL DE COMPRAS NA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA

Os avanços tecnológicos aliados à incessante necessidade de consumo da sociedade têm


auxiliado no aperfeiçoamento do processo de compras da Administração Pública. Por isso,
para que a mesma sobreviva às significativas e céleres transformações dos dias atuais,

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 81


necessária se faz uma maximização do processo de compras, para atender ao interesse
público envolvido e minimizar os custos gerais.

Sabe-se que a Administração Pública necessita recorrer a terceiros para a prestação de


serviços e fornecimento de bens, em razão de não possuir material humano suficiente para
atender à demanda da sociedade, tampouco possuir operações produtivas.

Com a designação de serviços a terceiros para a realização das “atividades-meio”, a


Administração Pública tem condições de focar na qualidade das “atividades-fim” e lograr êxito
em suas ações.

Em razão dessa terceirização dos serviços públicos, uma ferramenta denominada central
de compras vem tornando-se peça fundamental na estratégia de compras da Administração
Pública, resultando em significativas vantagens.

A implantação de uma central de compras caracteriza-se como uma técnica moderna de


administração, baseada em um processo de gestão que ocasiona mudanças estruturais,
culturais e procedimentais na Administração Pública. Assim, inúmeros são os benefícios
proporcionados pela centralização das compras, como: otimização dos recursos; otimização
dos estoques; melhoria e controle na qualidade; diminuição do desperdício, dentre outros.

A central de compras aliada aos avanços tecnológicos como a interconexão em rede e a


formação de grupos virtuais é um exemplo de criação de grupo que permite que as organizações
ampliem seus desempenhos de maneira integrada e ampliada. É mais ou menos dessa forma
que funciona a central de compras.

O fato de a centralização das compras proporcionar significativas melhorias não significa


que a mesma seja adotada em toda a Administração Pública, devendo ser disseminada e
compartilhada por todos que sabem de sua enorme importância.

Muitos órgãos públicos ainda não criaram suas centrais de compras e continuam efetuando

82 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


suas compras e instaurando seus processos de modo arcaico. Os mesmos revelam-se
resistentes a esta radical mudança de cultura, visto que a implantação da central resultaria em
uma adaptação procedimental de toda a estrutura do órgão público.

Nestas organizações resistentes, cada setor, gerência ou secretaria é responsável por gerir as
demandas e efetuar suas compras de forma individualizada.

Vejamos o exemplo para compreender melhor a problemática:

A Secretaria de Educação de um determinado município necessita adquirir materiais de


expediente, como canetas, lápis, borracha, apontador, papel, tesoura, grampeador dentre
outros. Para isso, instaura um processo de compras. Já a Secretária de Saúde também
instaura seu processo para aquisição dos mesmos materiais de expediente. Enquanto que a
Secretária de Esporte abre sua própria licitação.

Com isso, os esforços são dobrados para aquisição de objetos semelhantes, visto que são três
processos que tramitam em conjunto.

Procedimento em que INEXISTE a


Central de Compras

SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO LICITAÇÃO

SECRETARIA DE
SAÚDE LICITAÇÃO

SECRETARIA DE LICITAÇÃO
ESPORTES

Fonte: O autor

Já se houvesse uma central de compras em funcionamento, o processo seria simplificado, visto


que apenas um processo seria instaurado, englobando as necessidades das três secretarias.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 83


Procedimento onde EXISTE a
Central de Compras

SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE CENTRAL DE
SAÚDE COMPRAS LICITAÇÃO

SECRETARIA DE
ESPORTES

Fonte: O autor

Para isso, uma estrutura mínima é preciso para a formação de uma central de compras, com
servidores competentes e capacitados para que o serviço seja desempenhado da melhor
maneira possível.

SETOR DE REGISTRO E DETALHAMENTO DOS OBJETOS A SEREM


LICITADOS

A implantação da central de compras exige deste setor um enorme esforço dos servidores
envolvidos, visto que os mesmos são responsáveis por registrar em um banco de dados todos
os possíveis bens e serviços que a Administração necessita para exercer seu papel diante da
sociedade.

O ideal é que esse registro seja divido por categorias, como gêneros alimentícios, materiais

84 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


de higiene e limpeza, produtos médicos hospitalares, materiais de expediente, materiais
esportivos, peças etc.

Para cada objeto, seja ele material ou serviço, deverá haver um número de cadastro e a
descrição do mesmo terá que ser a mais completa possível, ao fito de que cada Secretaria ou
Setor não tenham dúvidas no momento de proceder a suas solicitações de compras.

Importante se faz a descrição detalhada, para que os fornecedores não entreguem produtos
em desconformidade com as necessidades de cada órgão, visto ser uma realidade bem
comum nas compras públicas.

Sabe-se que o edital de licitação é lei entre as partes, ou seja, as cláusulas e condições
nele existentes vinculam os fornecedores e toda a Administração Pública que não podem
descumpri-lo.

Mediante um exemplo fica mais fácil visualizar e entender a importância que um objeto bem
descrito tem perante a Administração Pública. Imaginemos uma licitação instaurada para
aquisição de produtos de limpeza com inúmeros itens, mas dentre eles um item descrito
apenas como sabão em pó.

Caso um edital seja publicado desta forma, não estranhem, pois é bem comum este tipo de
desleixo na Administração Pública, qualquer tipo de sabão em pó que for oferecido pelos
licitantes deverá ser aceito pelo órgão licitante visto inexistir qualquer critério para verificar se
o mesmo atende às reais necessidades.

Para evitar surpresas quanto ao fornecimento, o objeto deve ter sua descrição bem detalhada,
com indicação do seu nome, número do registro no banco de dados do órgão, a quantidade
necessária, especificações básicas, o tamanho da embalagem, dentre outros, vejamos:
Item 01 – Sabão em Pó – 1 quilograma (KG)
Quantidade: 40 (quarenta) caixas com 1 (um) quilograma
Código de Registro: 7079-3
Especificação Técnica: deverá constituir-se de pó granulado e homogêneo. Apresentar
aroma agradável e ser inócuo à pele. Quando misturado em água deverá apresentar boas
condições de formação de espuma e completa dissolução. Na decantação não poderá
aparecer partículas arenosas ou sólidas, estranhas a sua constituição. Não poderá man-
char ou esbranquiçar o corpo sobre o qual for aplicado, bem como não deixar resíduos
após o enxague, removendo gorduras e manchas. Deverá ser de primeira linha.
LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 85
Complemento: na embalagem deverá constar a data da fabricação, da validade, número
do lote e registro na Anvisa. A validade deverá ser de 12 (doze) meses a partir da data
de entrega.

Por meio deste simples exemplo, conclui-se que é um trabalho árduo, que demanda
comprometimento e muita disciplina dos servidores envolvidos, visto não ser fácil alimentar
este banco de dados, tampouco especificar corretamente cada objeto.

Acontece que se realizado da maneira correta, as chances de falhas diminuem e com isso a
Administração Pública fica mais próxima de atender ao interesse público.

Uma observação de extrema importância é que a Lei de Licitações veda a fixação de marcas
nos produtos a serem licitados, visto comprometer a competitividade imposta pela Constituição
Federal. Tal restrição é encontrada no art. 15, §7°, I da Lei 8.666/93, vejamos:

“Art. 15. [...]

§7° Nas compras deverão ser observadas, ainda:

I – a especificação completa do bem a ser adquirido sem indicação da marca”.

A imposição de algumas marcas como obrigatórias, se não forem devidamente justificadas


por critérios técnicos ou expressamente indicativos da qualidade do material a ser adquirido,
tornam o edital eivado de vícios e passível de anulação.

A saída é inserir nos editais de licitação, algumas marcas “pré-aprovadas”, cujas informações
foram obtidas em experiências anteriores. Desta forma, as marcas ali inseridas não são
exigidas como condição para participação, mas apenas um informe de que, se as mesmas
forem oferecidas para a Administração Pública, serão facilmente aceitas, uma vez que já foram
aprovadas anteriormente.

Caso uma marca diferente das fixadas no edital seja proposta por um dos licitantes, deverá

86 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


passar por testes, a fim de que seja comprovada que atende à descrição prevista no instrumento
convocatório.

Uma outra alternativa nos casos em que for necessária a indicação de marca como referência
de qualidade ou facilitação da descrição do objeto, deve esta ser seguida das expressões “ou
equivalente”, “ou similar” e “ou de melhor qualidade”, devendo, nesse caso, o produto ser aceito
de fato e sem restrições pela Administração.

Pode a administração inserir em seus editais cláusula prevendo a necessidade de a empresa


participante do certame demonstrar, por meio de laudo expedido por laboratório ou instituto
idôneo, o desempenho, qualidade e produtividade compatível com o produto similar ou
equivalente à marca referência mencionada no edital.

O próprio Tribunal de Contas da União já teceu algumas deliberações sobre o tema, como
pode ser observado nos acórdãos abaixo:
Observe com rigor, em todos os processos licitatórios, as normas pertinentes e que,
ao especificar produtos, faça-o de forma completa, porém sem indicar marca, modelo,
fabricante ou características que individualizem um produto particular.
Acórdão 1034/2007 Plenário
A indicação ou preferência por marca em procedimento licitatório só é admissível se
restar comprovado que a alternativa adotada é a mais vantajosa e a única que atende
às necessidades do órgão ou Entidade.
Acórdão 88/2008 Plenário (Sumário)

Experiências em licitações públicas têm demonstrado que os licitantes necessitam, para bem
elaborar propostas, de especificações claras e precisas, que definam o padrão de qualidade
e o desempenho do produto a ser adquirido. Se não for assim, corre-se o risco de o licitante
ofertar o que tem de mais barato e não o que pode oferecer de melhor.

Inúmeros são os exemplos de compras em que a descrição do objeto não é precisa e detalhada,
ocasionando resultados insatisfatórios. Tais compras são realizadas rotineiramente pelo critério
do menor preço, sem indicação de qualquer parâmetro de qualidade e que aparentemente

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 87


refletem menores gastos, são eles: canetas cuja tinta resseca, vaza ou falha ao ser usada;
tubos de cola que têm mais água do que componente colante; borrachas que, ao apagar, se
desfazem e as vezes não apagam; elásticos que ressecam; copinhos de plástico para café
ou água excessivamente finos, sendo necessários, às vezes, dois ou três para não queimar a
mão ou derramar o líquido; clipes que enferrujam; grampeadores que não funcionam; grampos
para grampeadores que não perfuram o papel; cadeiras em que, com pouco uso, os rodízios
emperram e soltam da base, o poliuretano dos braços racha, os tecidos desbotam, dentre
tantos outros defeitos; mesas fabricadas com madeiras que incham, gavetas que não deslizam,
parafusos que espanam etc.

Por isso, é importante que o ato convocatório da licitação defina claramente critérios de análise
dos produtos ofertados, os quais deverão levar em conta fatores de qualidade, durabilidade,
funcionalidade e desempenho, dentre outros julgados necessários.

Por fim, o que a Lei Geral de Licitações veda e os Tribunais de Contas condenam, especialmente
o Tribunal de Contas da União, é a preferência por determinada marca ou indicação sem
devida justificativa técnica nos autos.

Com a implantação de uma central de compras, o banco de dados com o registro dos produtos
e serviços facilitará todo o sistema logístico, visto que existirão códigos para cada registro e
serão por meio deles que as Secretárias e Setores farão suas solicitações, de acordo com
as respectivas descrições. Assim, os fornecedores estarão mais seguros para formular suas
propostas, visto que terão certeza do objeto que está sendo licitado.

SETOR DE CAPTAÇÃO DE PEDIDOS

Este setor é responsável pela segunda etapa no processamento das compras, visto que os
servidores ali existentes são incumbidos de estarem em constante contato com cada Secretaria
ou Setor da Administração para captar as necessidades existentes em cada um.

88 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Desta forma, uma comunicação interna é encaminhada do setor de captação de pedidos para
os responsáveis de cada Secretaria ou Setor. Devem existir servidores específicos para prestar
as informações e responder às solicitações. Esta comunicação interna deve ser confeccionada
por categoria, para facilitar o processamento dos pedidos, contendo os respectivos códigos,
bem como a descrição de todos os produtos e serviços cadastrados na categoria. O único
campo que deverá ser preenchido caso haja necessidade de aquisição será o da quantidade.
A data de devolução é de suma importância e deve ser cumprida por todos os interessados,
visto que o atraso de algum Setor ou Secretaria pode prejudicar toda a Administração Pública.

Importante frisar que com a centralização das compras, várias comunicações internas são
encaminhadas de forma simultânea para todas as Secretarias ou Setores do órgão, para que
demonstrem o interesse nos itens referentes àquela determinada categoria que será licitada.

Por isso tal setor está dentro da central de compras, visto que centraliza todos os pedidos para
que ocorra apenas uma única licitação e atenda a todas as Secretarias ou Setores envolvidos.

Com a comunicação interna em mãos, o trabalho do servidor que receber a mesma será
simplificado, visto que todos os possíveis produtos ou serviços estão elencados neste
documento, bastando ao mesmo assinalar se existe a necessidade e qual a quantidade
suficiente para suprir a demanda.

A orientação é que cada Secretaria ou Setor tenha arquivado um documento que revele o
histórico de consumo, que pode ser semestral ou anual. Assim, a quantidade especificada na
comunicação interna será bem aproximada da realidade, evitando compras excessivas ou em
quantidades ínfimas.

Trata-se de um setor que deve estar em total sintonia com os demais, pois a agilidade e
precisão dos pedidos podem interferir de modo significativo em toda a prestação de serviços.

Abaixo, um modelo desta Comunicação Interna que é usualmente utilizada pelos órgãos
públicos, principalmente na esfera municipal.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 89


COMuNICAçãO INTERNA
CI: XX/20XX
de: CENTRAL DE COMPRAS – Setor de Captação de Pedidos
Para: SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
Categoria: Gêneros Alimentícios.
Senhor Secretário,
Informamos a V.S.ª que a Central de Compras dará início ao Processo Administrativo, para aquisição
de Gêneros Alimentícios a serem utilizados por todas as Secretarias e Departamentos deste muni-
cípio, pelo período de 12 meses.
O prazo para devolução da presente Comunicação Interna deverá impreterivelmente ser proce-
dida até o dia, mês e ano.
Item Código descrição Quant. unidade
ABACATE (KG), de 1ª primeira qualidade, maduro, tamanho
médio e uniforme, perfeito estado de desenvolvimento do aro-
ma, cor e sabor próprios da variedade e espécie, grau de evo-
lução e tamanho tal que lhe permita suportar a manipulação, c/
16884 KG
ausência de sujidades, parasitas e larvas aderentes à superfí-
cie externa, sem ferimentos ou defeitos, livre de terra ou corpos
estranhos e intactas. O transporte e a conservação deverão
estar em condições adequadas para o consumo.
MACARRÃO – ESPAGUETE 500G, de 1ª primeira qualidade,
massa com ovos, devem estar inteiros e fi rmes, não devem
apresentar cor esverdeada com pontos brancos e cinza (mofo)
ou com perfurações (carunchos e outros insetos), acondiciona-
4458 do em embalagem original de fábrica, em polipropileno trans- UM
parente ou papel resistente, pacote com 500g, contendo exter-
namente especifi cação do produto, informações do fabricante,
data de fabricação e prazo de validade. O produto deverá ter
registro no Ministério da Agricultura e/ou Ministério da Saúde.
LEITE UHT INTEGRAL – 1 LITRO – CAIXA C/12 - Líquido, in-
tegral, longa vida UHT (ultra high temperature), rico em cálcio.
Embalagem contendo 01 litro, com identifi cação do produto,
4392 CXA
marca do fabricante, prazo de validade e capacidade. O produ-
to deverá ter registro no Ministério da Agricultura e/ou Ministério
da Saúde.

90 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


A Central de Compras está à disposição para dirimir eventuais dúvidas.
Cidade, dia, mês, ano.
_________________________ __________________________
Central de Compras Setor de Captação de Pedidos

O preenchimento da comunicação interna por parte das Secretarias e Setores deverá ser feita
com total atenção, para que não ocorram aquisições equivocadas, por inexistir os produtos na
lista.

No caso de não conter o referido produto ou serviço, ou a descrição não estiver correta,
a Central de Compras deverá ser informada com o máximo de urgência para que efetue o
cadastro no banco de dados e inclua nas próximas captações de pedidos os novos itens.

O comprometimento dos servidores envolvidos neste setor, respeitando principalmente os


prazos, é fundamental para o sucesso da logística pública.

SETOR dE uNIFICAçãO dOS PEdIdOS

Este setor tem a função de processar os pedidos recebidos de cada Secretaria e Setor,
unificando os mesmos e encaminhando para o próximo setor que irá efetuar a pesquisa de
preços.

Trata-se de um serviço bem simples, mas que tem sua importância dentro do processo de
logística.

SETOR dE PESQuISA dE PREçOS

Para que a Administração Pública efetue suas aquisições, alguns parâmetros devem ser

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 91


observados, principalmente no tocante aos gastos, visto que a Administração Pública tem
por obrigação efetuar a boa aplicação dos recursos públicos, como contrapartida aos tributos
pagos pelos cidadãos.

Uma vez definidos os objetos a serem licitados, com a descrição detalhada dos itens por
categoria, com a quantidade estimada de consumo, imprescindível que haja uma pesquisa de
preços para encontrar o preço que deverá ser pago pelos produtos e serviços.

A Lei de licitações em nenhum momento externa de forma clara como deverá ser procedida
esta cotação de preços, impondo apenas que seja licitado levando-se em conta o preço
praticado no mercado, conforme prescrito no art. 43, IV da Lei 8.666/93, vejamos:
Art. 43. A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes
procedimentos:
[...]
IV – verificação da conformidade de cada proposta com os requisitos do edital
e, conforme o caso, com os preços correntes no mercado ou fixados por órgão
oficial competente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de preços, os
quais deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento, promovendo-se a
desclassificação das propostas desconformes ou incompatíveis (grifo nosso).

Neste sentido, as contratações públicas somente poderão ser efetivadas após estimativa
prévia do seu valor, que deve obrigatoriamente ser juntada ao processo licitatório.

O valor estimado da contratação será o principal fator para escolha da modalidade de licitação
a ser realizada, exceto quanto ao pregão que não se baseia no valor da licitação como condição
de escolha. Desde que o objeto seja considerado bem ou serviço comum, poderá ser utilizada
a modalidade pregão, independente do valor da contratação.

A estimativa levará em conta todo o período de vigência do contrato a ser firmado, consideradas
ainda todas as prorrogações previstas para a contratação. No caso de compras, a estimativa
total considerará a soma dos preços unitários multiplicados pelas quantidades de cada item.

92 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


No caso de obras ou serviços a serem contratados, a estimativa será detalhada em planilhas
que expressem a composição de todos os custos unitários, ou seja, em orçamento estimado
em planilhas de quantitativos e preços unitários.

Preço estimado é um dos parâmetros de que dispõe a Administração para julgar licitações e
efetivar contratações. Deve refl etir o preço de mercado, levando em consideração todos os
fatores que infl uenciam na formação dos custos.
Preço unitário é o correspondente a cada unidade licitada e preço global, o total da proposta.

A pesquisa de preços deve ser elaborada com base nos preços correntes no mercado onde
será realizada a licitação, podendo ser local, regional ou nacional.

Caso o setor de pesquisa de preços encontre dificuldades em conseguir orçamentos com


empresas fornecedoras de objeto semelhante ao que será licitado, pode ser feita também
com base em preços fixados por órgão oficial competente ou com os constantes do sistema
de registro de preços, ou ainda preços para o mesmo objeto vigente em outros órgãos, desde
que em condições semelhantes.

A pesquisa de preços se faz necessária para verificar se há previsão de recursos orçamentários


para o pagamento da despesa e se esta se encontra em conformidade com a Lei de
Responsabilidade Fiscal.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 93


Preço médio é o elaborado com base em pesquisa de preços realizada no mercado onde será
realizada a contratação.
Preço de mercado de determinado produto é aquele que se estabelece na praça pesquisada,
com base na oferta e na procura. diz-se também que é o corrente na praça pesquisada.
Preço praticado pela Administração contratante é aquele pago ao contratado.

O Tribunal de Contas da União reforça a necessidade de orçamentos na fase interna do


processo licitatório, ao fito de que seja aferido se o preço licitado é aquele corrente no mercado.
Vejamos alguns Acórdãos neste sentido:
Realize pesquisa de preços como forma de cumprir a determinação contida no art.
43, inciso IV, da Lei de Licitações, fazendo constar formalmente dos documentos dos
certames a informação sobre a equivalência dos preços.
Acórdão 301/2005 Plenário
Realização de ampla pesquisa de preços no mercado, a fim de estimar o custo do
objeto a ser adquirido, definir os recursos orçamentários suficientes para a cobertura
das despesas contratuais e servir de balizamento para a análise das propostas dos
licitantes, em harmonia com os arts. 7º, § 2º, inciso III, e 43, incisos IV e V, todos da Lei
8.666/1993.
Acórdão 1182/2004 Plenário
A teor do art.43, inciso IV, da Lei 8.666/1993, a estimativa de custos para fins de
licitação deve ser feita com base em efetiva pesquisa de preços no mercado, e não
a partir da aplicação de índices inflacionários sobre os valores referentes a licitações
similares anteriores.
Acórdão 2361/2009 Plenário (Sumário)

Como visto, muito se falou da necessidade em proceder a pesquisa de preços buscando o


preço de mercado, mas dúvidas atinentes ao tema são bem comuns na prática, em razão de
inexistirem muitos critérios para chegar a tal valor.

94 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Pensando nisto, o próprio Tribunal de Contas da União, em mais um brilhante posicionamento,
se manifestou no sentido de que para se alcançar o preço de mercado, se faz necessária a
obtenção de 3 (três) orçamentos fornecidos por empresas do mesmo ramo, vejamos:
Deve ser estabelecido procedimento padronizado de pesquisa de preços, em que
seja exigido o mínimo de três propostas e completo detalhamento da proposta pelo
fornecedor, em conformidade com o solicitado e deve haver vinculação entre o valor
indicado na proposta e o efetivamente contratado.
Acórdão 127/2007 Plenário (Sumário)

Concluída tal etapa, o Setor de Pesquisa de Preços finaliza os procedimentos da Central de


Compras, bastando apenas encaminhar os pedidos unificados e suas respectivas pesquisas
de preços para o Departamento de Licitações do órgão público.

Com isso, o edital será elaborado e posteriormente publicado, ao fito de que o maior número
de empresas interessada compareçam ao certame e possibilitem ao órgão uma aquisição
vantajosa.

AS VANTAGENS DA CENTRAL DE COMPRAS

A implantação de uma central de compras proporciona inúmeras vantagens ao órgão


público, principalmente no tocante a otimização dos recursos, visto a economia obtida pela
consolidação dos pedidos, que além de melhorar o poder de negociação da área de compras,
facilita os relacionamentos com os fornecedores.

Outra importante vantagem atinente à economicidade é o fato de evitar grandes diferenças de


preços entre aquisições com objetos semelhantes dentro do mesmo órgão, quando realizado
por diferentes secretarias.

A padronização dos procedimentos, a redução do número de servidores envolvidos com


as compras e a uniformização dos produtos e serviços adquiridos são outras importantes
vantagens que iremos abordar a seguir.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 95


UNIFORMIZAÇÃO DOS PRODUTOS E SERVIÇOS ADQUIRIDOS

A centralização das compras é capaz de proporcionar vantagens de toda a ordem e uma das
mais importantes é a uniformização dos produtos e serviços adquiridos.

Nos órgãos públicos em que as compras são feitas individualmente por cada setor ou secretaria,
muitos são os problemas enfrentados e um dos mais comuns é a divergência na qualidade dos
materiais ou serviços adquiridos por cada secretaria.

Um exemplo para facilitar a compreensão pode ser a aquisição de canetas. Sabe-se que
existem inúmeras marcas que produzem tal material e que cada caneta tem sua particularidade
e qualidade específica. Neste caso, três licitações são abertas, sendo uma pela secretaria de
administração, outra pela educação e a última pela saúde. Com isso, cada secretaria adquire
canetas de uma marca, visto que foram licitações distintas.

Esse fato tem causado muitos transtornos administrativos, principalmente em relação aos
servidores que manuseiam tal material, visto que a mesma entidade pública adquire produtos
semelhantes, mas com qualidade distinta.

Com a centralização este tipo de problema é reduzido e em alguns casos cessa por completo,
visto que será realizada apenas uma única licitação para suprir as necessidades de todas as
secretarias, uniformizando desta forma os produtos e serviços adquiridos.

OTIMIZAÇÃO DOS RECURSOS

Sabe-se que a principal função da Administração Pública é a satisfação do interesse público e


isso se dá com a boa aplicação dos recursos. Com a centralização das compras, os recursos
são otimizados por inúmeros motivos.

Para explicarmos o primeiro motivo, utilizaremos o mesmo exemplo das canetas, em que

96 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


três secretarias instauraram o processo licitatório de maneira individual. Neste caso, a
Administração, além de adquirir produtos com qualidades distintas, corre o risco de pagar por
um mesmo produto preços diferentes, vejamos:

Aquisição de Canetas

PREFEITURA X

SECRETARIA DE SECRETARIA DE SECRETARIA DE


ADMINISTRAÇÃO EDUCAÇÃO SAÚDE

LICITAÇÃO LICITAÇÃO LICITAÇÃO

PREÇO PAGO PREÇO PAGO PREÇO PAGO


R$ 0,50 R$ 1,00 R$ 1,50

Fonte: O autor

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 97


Como visualizado na figura acima, três secretarias de uma mesma unidade administrativa
necessitavam adquirir canetas. Para isso, foram abertas licitações autônomas para suprir
as necessidades de cada uma. No entanto, o resultado foi desastroso, visto que foram
obtidos três preços distintos, sendo R$ 0,50 (cinquenta centavos) a unidade na Secretaria de
Administração, R$ 1,00 (um real) a unidade na Secretaria de Educação e R$ 1,50 (um real
e cinquenta centavos) na Secretaria de Saúde. Insta salientar que no presente exemplo as
empresas vencedoras cotaram a mesma marca, o que agrava ainda mais a situação.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Diante do exposto fica registrada a seguinte pergunta: Como pode uma única unidade
administrativa adquirir o mesmo produto, inclusive no tocante à marca, por preços tão
diferentes?

A resposta é fácil de ser encontrada, visto que tal fato só foi concretizado em razão de terem
sido abertas licitações individuais para cada secretaria, o que seria evitado se houvesse uma
Central de Compras para recepcionar os pedidos de todos os interessados e efetuar uma
única compra para toda a Administração Pública.

98 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Aquisição de Canetas

PREFEITURA X

SECRETARIA DE SECRETARIA DE SECRETARIA DE


ADMINISTRAÇÃO EDUCAÇÃO SAÚDE

CENTRAL DE
COMPRAS

LICITAÇÃO

PREÇO PAGO
R$ 0,50

Fonte: O autor

A figura acima é capaz de refletir a otimização dos recursos pela Administração Pública,
possibilitando que investimentos ocorram em outros setores graças à redução dos gastos.

Uma outra vantagem relacionada aos recursos diz respeito à redução significativa do número
de processos licitatórios instaurados, bem como o número de servidores envolvidos em cada
processo.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 99


Com a centralização das compras, um único processo é capaz de suprir o que em alguns casos
necessitaria de vários processos para proporcionar o mesmo resultado. Automaticamente,
os servidores que estariam envolvidos em cada um desses processos podem ser utilizados
em outras funções, visto que apenas os servidores responsáveis pela aquisição derivada da
Central de Compras atuarão diretamente no processo.

Considerações finais

A centralização das compras revela-se imprescindível para que a Administração Pública logre
êxito em suas ações e atenda ao interesse público envolvido.

Os representantes da Administração que forem designados para desempenhar funções dentro


deste departamento devem sentir-se valorizados e principalmente privilegiados por terem sido
escolhidos, visto a importância de cada um para o sucesso das aquisições. Os servidores
devem ser imbuídos do espírito de alcançar o bem comum, participando como membro da
Administração e como cidadão.

A maior problemática encontrada em torno dessa centralização das compras ainda é a


escassez de dispositivos legais que norteiam tão relevante tema, visto que poucas são as leis
que disciplinam tal matéria, sendo a maioria no âmbito federal.

A capacitação e qualificação dos Servidores envolvidos mostram-se indispensáveis para que


os mesmos tenham subsídios para exercer tal função, visto que de suas ações sairão os
resultados positivos ou negativos.

Dessa forma, com a capacitação dos servidores envolvidos, legislação própria e estruturação
da central de compras de acordo com os setores elencados nesta obra, o interesse público
será alcançado com maior facilidade.

Com isso, podemos avançar para a próxima unidade, que trará do Almoxarifado Central como
o tema principal.

100 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


A terceirização através da utilização das centrais de compras
Carlos Roberto Caetano
1. INTRODUÇÃO
O mundo contemporâneo dos negócios caracteriza-se por transformações e mudanças rápidas, que
têm exigido cada vez mais compreensão para tomada de decisões efi cientes. A sobrevivência das
organizações neste contexto se traduz na necessidade cada vez maior na busca pela maximização
dos processos de produção, logística e minimização dos custos gerais totais. Têm-se dado grande
ênfase ainda, a otimização e ao aumento da efi ciência de todo o fl uxo de materiais dentro da empresa
e na cadeia de suprimento. A logística está em evidência e a estratégia é o uso efetivo dos recursos
de comunicação e tecnologias de informação, que são a principal força motriz na busca de melhorias
de lucratividade no campo da logística.
Diversas ferramentas de auxílio às empresas têm surgido na busca de vantagem competitiva, dentre
elas, a terceirização que, nos mais diversos setores organizacionais, tem sido uma estratégia muito
utilizada para busca de vantagem competitiva.
Dentre as diversas formas de terceirização, esta pesquisa abordará a utilização desta ferramenta
através da utilização das centrais de compras, buscando demonstrar como esta estratégia se dá e,
quais suas vantagens e desvantagens para as organizações.
A justifi cativa para a escolha do tema se dá pela atualidade do mesmo e, ainda, pela utilidade das cen-
trais de compras, sobretudo para as empresas de pequeno porte que muitas vezes encontram-se em
desvantagem nas negociações de valores de produtos para compra, se comparadas a concorrentes
de grande porte, que adquirem lotes muito maiores e assim conseguem melhores valores.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A Terceirização
A terceirização surgiu no mercado, simbolizando para muitas empresas uma forma destas focarem-se
na sua competência central, repassando para terceiros suas operações produtivas. Com esta prática,
elevou-se muito a importância dos prestadores de serviços logísticos.
De acordo com Ferreira (1998) a terceirização consiste na contratação de empresas prestadoras de
serviços, designando a contratação de serviços de terceiros por organizações para a realização de
suas «atividades-meio».
Em uma abordagem mais complexa, esclarece Fleury (1999) que a terceirização seria:
um processo de gestão pelo qual se repassam algumas atividades para terceiros, com
os quais se estabelece uma relação de parceria, fi cando a empresa concentrada ape-
nas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua. Dentre as inúmeras
vantagens da terceirização, assumindo a visão de que ela é uma nova forma de gestão
moderna pode-se citar algumas como: acesso a novos recursos tecnológicos, agilida-
de na implementação de novas soluções; previsibilidade dos gastos/custos e prazos,

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 101


aumento de especialização, liberação da criatividade, acesso ao pessoal qualificado,
crescimento do mercado regional, mudança na cultura interna, entre outras (FLEURY,
1999, p.24).
Entretanto, Gaona (1995) ressalta que: hoje, no entanto, a terceirização se investe de uma ação mais
caracterizada como sendo uma técnica moderna de administração e que se baseia num processo
de gestão, que leva a mudanças estruturais da empresa, a mudanças de cultura, procedimentos,
sistemas e controles, capilarizando toda a malha organizacional, com um objetivo único quando ado-
tada, atingir melhores resultados, concentrando todos os esforços e energia da empresa para a sua
atividade principal.
Assim, de acordo com Gaona (1995), a terceirização, proporciona instrumentos de gestão capazes
de melhorar o desempenho das organizações, como: criação de vantagem competitiva pela criação
de novas empresas, oferta de mão-de-obra diferenciada, oferta de empregos, especialização, au-
mento da competitividade, melhoria e controle da qualidade, aprimoramento do sistema de custeio,
treinamento e aprimoramento, diminuição do desperdício como ponto fundamental, otimização dos
recursos, valorização de talentos humanos, agilidade de decisões e saliente-se, menor custo.
2.2 A Central de Compras como Estratégia Competitiva
Avanços tecnológicos como a interconexão em rede e a formação de grupos virtuais é um exemplo de
criação de grupo que permite que as empresas ampliem seus desempenhos de maneira integrada e
ampliada. É mais ou menos dessa forma que funciona a centra de compras.
De acordo com Baily et al (2000):
as vantagens da centralização da atividade de compras dependem da habilidade com
que o executivo responsável pelo trabalho usa mais eficazmente o poder de compra
da empresa. Isso incluirá a consolidação das exigências, o desenvolvimento de fontes,
a racionalização dos estoques, a simplificação dos procedimentos, o trabalho com for-
necedores para eliminar custos desnecessários em vantagem mútua e o trabalho com
colegas para assegurar um fluxo de informações eficaz que possibilitará o atendimento
dos objetivos da empresa (BAILY et al., 2000, p. 78).
A empresa que se dedicar a manter seus custos baixos, utilizando uma central de compras, como
uma estratégia, provavelmente estará criando uma vantagem competitiva, visto que vários clientes
valorizam esta prática.
As centrais de compras podem ser vistas como uma estratégia que um grupo de comerciantes ou
fazem uso, unindo-se a fim de efetuarem as compras de suas mercadorias ou matérias-primas em
maior volume e assim obterem melhores preços de seus fornecedores.
Ao discorrer sobre centrais de compras, o Sebrae (1994) destaca o termo Associativismo que, seria
“qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de empresas, com o principal objetivo
de superar dificuldades e gerar benefícios comuns nos níveis econômico, social e político”, assim,
ressalta-se que a central de compras é muito utilizada por empresas de pequeno porte, buscando o
benefício comum de maior poder de barganha (SEBRAE, 1994, p.12).
Segundo o SEBRAE (1994) a central de compras funciona como uma distribuidora de produtos que,
tem mais chances de ter sucesso quando as empresas parceiras utilizam a mesma matéria-prima. O
principal objetivo desta terceirização seria obter dos fornecedores condições de negociação iguais aos

102 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


das empresas que compram grandes quantidades.
A Estratégia de Compras está baseada em uma perspectiva global de mercado, em fontes de forneci-
mento únicas ou número reduzido de fontes, em uma cooperação com o Fornecedor orientada para a
melhoria contínua da qualidade, em just-in-time e em custo ótimo. Através desta estratégia, as centrais
de compras vêm garantindo uma negociação vantajosa para as pequenas e médias empresas.
Viana (2000) alerta que a criação de uma central exige espírito de coletividade, pois trabalha por um
bem comum, onde ninguém tira vantagens de ninguém. Neste ambiente, o ato da compra envolveria
as seguintes etapas: determinação do que, de quanto e de quando comprar; estudo dos fornecedores
e verificação de sua capacidade técnica, relacionando-os para consulta; promoção de concorrência,
para a seleção do fornecedor vencedor; fechamento do pedido, mediante autorização de fornecimento
ou contrato; acompanhamento ativo durante o período que decorre entre o pedido e a entrega; e,
encerramento do processo, após recebimento do material, controle da qualidade e da quantidade.
Comprar é uma arte, talvez das mais antigas, motivo pelo qual o padrão atual exige que o comprador
possua qualificações, demonstrando conhecimentos dos procedimentos a serem adotados, das ca-
racterísticas dos materiais, bem como da arte de negociar, essencial na prática das transações.
Uma central de compras racionaliza os custos e ainda tem potencial para melhorar as condições do
próprio empresariado, desenvolvendo entre o setor um tipo de solidariedade e força política impres-
cindível nas situações em que o grupo deve fazer valer os seus direitos de cidadãos-empresários.
Trata-se da forma mais simples de integração comercial. O Sebrae (1994) acredita que a formação de
parcerias estratégicas e o associativismo são uma grande saída para a pequena empresa. À medida
que o nível de atenção dedicado às compras e suprimentos aumenta, o trabalho tende a tornar-se
mais estratégico, concentrando mais ênfase em atividades como negociação de relacionamentos a
prazos mais longos, desenvolvimento de fornecedores e redução do custo total, em vez de fazê-lo em
rotinas de pedido e de reposição de estoques.
3. CONCLUSÃO
A criação de uma central de compras mostra-se viável para uma série de atividades empresariais,
não importando o tamanho e tampouco sua forma. As vantagens são muito evidentes, sendo que, seu
maior benefício seria a permissão da sobrevivência da pequena empresa no mercado contemporâ-
neo, facilitando seu crescimento e tornando-a mais forte frente à concorrência, agregando valores a
seus produtos.
As empresas que adotam abordagens de vantagem competitiva na administração de compras ten-
dem a colocar em prática idéias de integração que são, pelo menos em parte, baseadas no papel
estratégico e integrado das compras. Essa prática estimula maior interesse e, à medida que outras
organizações tentam repetir esse sucesso, a função compras torna-se mais atual.
A centralização total de compras oferece vantagens como a economia obtida pela consolidação dos
pedidos que melhora o poder de negociação da área de compras e facilita os relacionamentos com os
fornecedores; evita as grandes diferenças de preços entre o grupo e a concorrência entre elas por ma-
teriais escassos; melhora a administração global de estoques; envolve menor número de funcionários
com compras; uniformiza os procedimentos, formulários, padrões e especificações.
REFERÊNCIAS
BAILY, P. et al. Compras Princípios e Administração. São Paulo: Editora Atlas, 2000.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 103


FERREIRA, F. R. N. Supply Chain Management. In: Revista Evoluções e Tendências. Vitória: Facul-
dade de Ciências Humanas de Vitória, 1998.
FLEURY, P. F. Supply Chain Management: conceitos, oportunidades e desafi os de implementação.
Revista Tecnologística. São Paulo, ano V, n. 39, fev. 1999.
GAONA, H. B. M. O uso da Simulação para Avaliar Mudanças Organizacionais na Produção.
Florianópolis. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.
Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
SEBRAE. Centrais de compras. Curitiba: Edição Sebrae, 1994.
VIANA, J. J. Administração de Materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2000.
Disponível em: <http://www.ietec.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/273>. Acesso em: 13
set. 2012.

Caro(a) acadêmico(a), esse link irá tratar sobre Logística Aplicada ao Setor Público.
<http://www.al.sp.gov.br/StaticFile/ilp/logistica.pdf>.

ATIVIdAdE dE AuTOESTudO
1. Explique como ocorre o funcionamento de uma central de compras.
2. Escreva sobre o que é preciso para alcançarmos a formação de uma central de
compras na Administração Pública.
3. Discorra sobre as vantagens da central de compras.

104 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Livro: Logística Verde
Autor: Vitório Donato
Idioma: Português
Editora: Ciência Moderna
Assunto: Ciências Biológicas – Ecologia e Meio Ambiente
Edição: 1ª
Ano: 2008

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 105


UNIDADE IV

ALMOXARIFADO CENTRAL
Professor Esp. Luis Fernando Otero

Professor Esp. José Roberto Tiossi Junior

Objetivos de Aprendizagem

• Compreender as vantagens da implantação de um almoxarifado central.

• Conhecer os conceitos que envolvem o processo de recebimento e armazenamento


de produtos.

• Descrever a estrutura de um almoxarifado.

• Explicar o funcionamento de um almoxarifado.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• Vantagens do almoxarifado central

• Estrutura do almoxarifado

• Funcionamento do almoxarifado

• Controle
INTRODUÇÃO

O almoxarifado é o setor responsável pelo recebimento, armazenamento e distribuição dos


bens e produtos adquiridos pela Administração Pública. Nele os fornecedores entregam os
produtos pedidos por alguma unidade da Administração. Após o recebimento, esses produtos
são armazenados até que a unidade que fez o pedido solicite que aquele produto seja entregue
para consumo.

As atividades desenvolvidas no almoxarifado central são fundamentais para o sucesso da


logística na administração pública, pois são elas que definem a política de recebimento, de
armazenamento e influenciam na política de distribuição dos produtos comprados. Dessa
forma, influenciam diretamente no impacto dos custos do processo logístico, sendo as maiores
responsáveis pela geração deles.

Dependendo do órgão público existem diversos almoxarifados em uma mesma esfera, por
exemplo, existem prefeituras com mais de dez almoxarifados diferentes em uma mesma
cidade, quatro da saúde, três da educação etc.

Mas quantos almoxarifados podem ou devem existir em uma prefeitura? E quantos em um


órgão estadual ou federal? Para responder a essa pergunta devemos analisar algumas
variáveis como, por exemplo, o tipo de produtos, as condições de armazenamento, o tempo
máximo para consumo e a forma e distâncias de distribuição dos produtos adquiridos.

O ideal é centralizar o máximo possível na hora do recebimento para proceder à distribuição


posterior, mas temos de tomar cuidado para não elevar demais os custos de logística.

Em nível municipal deveria existir um único local de recebimento e armazenamento para que
os procedimentos sejam padronizados com maior facilidade.

Para isso, vamos expor a seguir os conceitos e funcionamento de uma central de


armazenamento.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 109


PROCEDIMENTOS ANTES DO RECEBIMENTO

Cronograma de entrega

Após a seleção do fornecedor, mediante licitação, o órgão público começa a receber os


produtos ou serviços contratados. O recebimento deve seguir um cronograma de entrega pré-
estipulado no edital de licitação.

O cronograma de entrega é um documento fundamental no planejamento de uma compra e


uma boa parte do sucesso da mesma depende da fidelidade do cronograma de entrega.

O art. 40, II da Lei de licitação diz que obrigatoriamente o edital deve conter “prazo e condições
para assinatura do contrato ou retirada dos instrumentos, como previsto no art. 64 desta Lei,
para execução do contrato e para entrega do objeto da licitação” (grifo nosso).

Não é tão comum, mas o correto é que todos os órgãos públicos elaborem o cronograma de
entrega e que o mesmo faça parte do edital da licitação, com essa medida os interessados
em vender produtos ou serviços poderão organizar a sua logística e calcular seus custos de
maneira mais eficiente, proporcionando economia aos cofres públicos.

Pense em uma licitação para adquirir gêneros alimentícios para a merenda escolar, em que
estão previstos, entre outros produtos, dez mil quilos de tomates. Quando o empresário vê o
edital, ele começa a perguntar-se: como será essa entrega? Será que é tudo de uma vez? Será
que tem entrega todas as semanas? Ou será que acompanha a sazonalidade da fruta e só tem
entrega nos períodos em que o tomate é mais barato?

Se o edital não define o cronograma e as condições de entrega, o fornecedor não tem


condições de ofertar seu melhor preço. Sem um cronograma definido, às vezes um pequeno
fornecedor não participa, pois entende que devem ser feitas entregas grandes e os grandes
fornecedores não participam porque correm o risco de realizar muitas entregas pequenas ao
invés de poucas grandes.

110 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Nos órgãos públicos mais organizados existe cronograma de entrega mesmo quando é
utilizado o Sistema de Registro de Preços, pois entende-se que, se a Administração Pública
está fazendo uma licitação, é porque pretende adquirir o objeto e as quantidades licitadas, mas
o órgão pode optar por não comprar caso não precise.

Registro do pedido

Como o órgão público faz os pedidos para que os fornecedores entreguem os produtos ou
serviços?
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Vale a pena ressaltar que o resultado da licitação deve ser anotado em um contrato administrativo,
que pode ser materializado em um termo de contrato ou em documento equivalente.

O art. 40 da Lei de Licitações obriga a publicar como anexo do edital de licitação a minuta
do futuro contrato, sempre que o vencedor da licitação seja obrigado a assinar um termo de
contrato.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 111


Como toda regra tem exceção, existem casos em que o termo de contrato pode ser substituído
por outros documentos, conforme determina o art. 62 da Lei de Licitações.
Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de concorrência e de
tomada de preços, bem como nas dispensas e inexigibilidades cujos preços estejam
compreendidos nos limites destas duas modalidades de licitação, e facultativo nos
demais em que a Administração puder substituí-lo por outros instrumentos hábeis, tais
como carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização de compra ou ordem
de execução de serviço.
[…]
§ 4º É dispensável o “termo de contrato” e facultada a substituição prevista neste artigo,
a critério da Administração e independentemente de seu valor, nos casos de compra
com entrega imediata e integral dos bens adquiridos, dos quais não resultem obrigações
futuras, inclusive assistência técnica.

Conforme verificamos, o termo ou instrumento de contrato é obrigatório, mas pode ser


substituído, em alguns casos, por um dos seguintes documentos: carta-contrato, nota de
empenho de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de serviço.

A carta-contrato é um contrato simplificado que contém poucas cláusulas com as obrigações


das partes. A nota de empenho é um documento que destina o crédito orçamentário para o
fornecedor, indicado nele, além do fornecedor informa: os produtos ou serviços, as quantidades,
preços unitários e totais, órgão requerente e pode conter alguma orientação para as partes
envolvidas. A autorização de compra ou ordem de execução de serviço contempla as mesmas
informações do empenho, mas sem a função de garantir ao fornecedor a existência de crédito
orçamentário.

Então um pedido pode ser feito por meio de um contrato assinado, no qual já consta um
cronograma de entrega ou, em casos em que a entrega é única ou o valor é pequeno, o pedido
é materializado na nota de empenho ou na ordem de fornecimento.

Mas quando a licitação utiliza o Sistema de Registro de Preços? Como trabalhamos na


disciplina de Licitações e Contratos, sempre que possível as compras devem utilizar esse
sistema, nesse caso a Administração não tem obrigação de contratar nada das quantidades
registradas, ou seja, o órgão público pode fazer pedidos conforme a sua necessidade.

Esses pedidos, normalmente, são realizados mediante nota de empenho, ordem de fornecimento
ou de serviço. O contrato é utilizado no caso de registro de preços para prestação de serviço
que requer de mais exigências ou, independentemente do objeto, ao final do prazo de validade

112 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


da ata de registro de preços. Esse mecanismo é utilizado para prorrogar a vigência de uma
licitação e é um procedimento lícito.

Por exemplo, uma ata de registro de preço estima a compra de mil litros de gasolina para os
veículos da prefeitura, mas passou quase um ano e foram consumidos 600 litros. A prefeitura
pode fazer um contrato dos restantes 400 litros e no contrato serão transcritas as exigências
constantes na ata de registro de preços e será definido o prazo de vigência do contrato.

Os atores envolvidos nos pedidos

Quem são os responsáveis nos órgão públicos pela emissão dos pedidos?

Seguindo o cronograma de entrega ou conforme a sua necessidade, o órgão público deve emitir
as notas de empenho e, quando entender necessário, encaminhar a ordem de fornecimento
ou de serviço.

Em todo órgão público há um responsável pela emissão das notas de empenho, normalmente,
é o setor financeiro ou, em alguns casos, a própria contabilidade que se responsabiliza por
essa tarefa.

Quando existe a necessidade de fazer um pedido, o setor que precisa de um produto ou


serviço pede ao setor responsável que emita as notas de empenho necessárias.

A seguir, comprovadas as exigências necessárias, o empenho é emitido e encaminhado ao


setor requisitante que tem a responsabilidade de encaminhar o documento ao fornecedor para
que, a partir desse recebimento, comece a correr o prazo para entrega do objeto contratado.

Repare que quando isso acontece o setor responsável pelo recebimento não está sabendo de
nada do que está acontecendo e pode ser surpreendido a qualquer momento pela chegada de
fornecedor para realizar a entrega de produtos pedidos.

O importante é que o sistema de informação do órgão público seja eficiente e que as

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 113


informações necessárias a cada setor estejam nele em tempo hábil para tomar proveito delas.

Assim, quando o órgão requisitante comunica o fornecedor deve também comunicar o setor de
recebimento para que se prepare para receber o objeto em questão.

Dessa forma, podemos dizer que o setor requisitante é o órgão central e ele interage com todos
os envolvidos, sem que esses outros envolvidos tenham contato até a entrega dos produtos,
conforme demonstrado na Figura 7.

FORNECEDOR

SETOR
REQUISITANTE

SETOR DE
RECEBIMENTO SETOR DE FINANÇAS

Figura 7: Fluxo do pedido de compras centralizado

Fonte: Os autores

Para aumentar a eficiência, podemos recomendar que o fluxo do pedido fosse linear. Dessa
forma, o setor requisitante faz o pedido para o responsável pela emissão do empenho que,
por sua vez, encaminha a nota de empenho diretamente ao setor de recebimento, que se
encarregará de comunicar o fornecedor, passando as orientações necessárias para realizar a
entrega (como fazer o agendamento, horários etc.).

O ideal é que esse sistema de informação seja todo informatizado, pois possibilita que os

114 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


setores envolvidos possam consultar o estágio em que se encontra o processo.

SETOR SETOR DE SETOR DE SETOR DE


REQUISITANTE FINANÇAS RECEBIMENTO RECEBIMENTO
Emitir pedido de Emissão da nota de Comunicado ao Receber o objeto
fornecimento empenho ou ordem fornecedor contratado
de fornecimento

Figura 8: Fluxo ideal do sistema de informação para pedidos de compra

Fonte: Os autores

Na figura 8 percebemos que o setor requisitante apenas faz o pedido e o setor de recebimento
fica sabendo de todos os pedidos realizados antes das entregas.

Considerando apenas a Administração Pública, por agora temos três setores envolvidos em
um processo de pedido e recebimento de produtos.

Além desses setores, o § 8º do art. 15 da Lei de Licitações diz que o recebimento de material de
valor superior a R$ 80 mil deverá ser confiado a uma comissão de, no mínimo, três membros,
conhecida como comissão de recebimento, ou seja, será o quarto ator.

Por último, toda execução de contrato deverá ter um responsável (representante do órgão
público licitante) pelo seu acompanhamento designado para essa finalidade. O quinto
envolvido na fase de pedido e recebimento de produtos ou serviços é o fiscal de contratos que
deve acompanhar e verificar se todos os atos do procedimento de compra, desde o início do
processo até a execução do contrato, foram realizados regularmente.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 115


Resumindo, na realização do pedido envolvem-se os servidores de três setores: o requisitante,
o responsável pelo empenho e o que irá receber os produtos. Já no acompanhamento de uma
entrega envolvem-se os servidores do setor de recebimento, os membros da comissão de
recebimento e o fiscal de contrato, cada um com suas responsabilidades independentes.

Centralização dos recebimentos

Em uma descrição bem simples verificamos, no tópico anterior, que são cinco setores que
se envolvem no processo de fazer uma solicitação ou pedido de entrega até o recebimento
concreto desse pedido.

Analisando que, em cada um desses setores, temos o envolvimento de diferentes pessoas,


ao final de um pedido, temos uma quantidade “x” de pessoas. Na menor das estruturas essa
quantidade vai ser de pelo menos nove pessoas, distribuídos conforme a Figura 9.

(2) O empenho é assi-


nado pela autoridade
(1) Autor (1) Responsável competente e o repre- (1) Responsável por comunicar o
do pedido pelo empenho sentante do setor que fornecedor
fez o pedido (secretário,
gerente, diretor etc.)

(1)
(3) Comissão de
Fiscal do (9) Total
Recebimento
Contrato

Figura 8: Servidores envolvidos no processo de pedido e recebimento de produtos ou


serviços

Fonte: Os autores

116 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Conforme dito, nove servidores é a quantidade mínima de pessoas envolvidas, pois dependendo
do estágio teremos mais servidores participando do processo.

Por exemplo, os pedidos envolvem mais do que uma única pessoa. Na educação pode envolver
os diretores das escolas, um supervisor que junta esses pedidos e, por último, o responsável
por passar o pedido (o único considerado na Figura 9).

Considerando que em cada setor temos diversos funcionários envolvidos em um pedido e que
os pedidos são feitos por diversos departamentos, secretarias ou gerências, pode-se dizer
que são muitos os servidores envolvidos no sistema de recebimento de produtos ou serviços.

Isso pensando em uma única licitação, mas pensemos em todas as compras que acontecem
durante um ano, quantas pessoas se envolvem nesses processos? Em média, uma prefeitura
pequena (20 mil habitantes) faz 120 licitações por ano, número que vai aumentando com o
tamanho populacional do município, podendo chegar aos mil tranquilamente.

Quanto mais processos licitatórios, mais pessoas envolvidas na hora de fazer os pedidos
teremos.

Bom, imagine uma prefeitura que tenha um almoxarifado para cada secretaria, teriam vários
almoxarifados em uma única prefeitura. Agora pense se nas maiores secretarias (por exemplo,
saúde e educação) existisse um almoxarifado exclusivo para receber material de expediente,
outro para materiais de manutenção, um para merenda escolar, outro para o hospital municipal
e outro para medicamentos.

Existem prefeituras que têm mais de dez almoxarifados em cidades de pequeno e médio porte.

Não precisa nem saber o que é logística para perceber que os procedimentos não são
padronizados e que os custos acabam majorados pela ineficiência na gestão.

Qual a diferença nos procedimentos para receber uma caneta que vai ser utilizada na Saúde

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 117


ou outra que vai ser usada na Educação ou outra que será usada em outro setor da prefeitura?
E para receber gêneros alimentícios utilizados na merenda escolar ou no hospital municipal?

Não deveria haver diferenças, os procedimentos para receber materiais são os mesmos,
independente de quem vai utilizar os produtos.

Existindo mais de um almoxarifado existe o risco de serem adotados procedimentos distintos,


mesmo para produtos idênticos. Isso porque o trabalho é feito por diferentes pessoas, então
haverá diferenças de procedimentos.

Para diminuir os custos de logística e os riscos enfrentados pela diferença de procedimentos,


a melhor solução é implantar uma central de recebimento e armazenamento, comumente
chamado de almoxarifado central.

Principais vantagens do almoxarifado central

As principais vantagens encontradas quando se implanta um almoxarifado central tem uma


visão econômica, apesar de apresentar ganhos sob outras óticas, como organizacional,
produtividade, gerencial, até motivacional para as pessoas envolvidas no processo.

Agora em uma ótica perfeccionista (leia-se impossível) não deveríamos ter almoxarifados,
ainda mais quando se trata de um órgão público que, normalmente, não produz um produto,
mas sim presta serviços.

Por exemplo, pense no serviço de manutenção de iluminação pública, em que ao deparar-


se com uma lâmpada que não funciona, um cidadão qualquer entra em contato com a
prefeitura para que esta tome as providências necessárias. Após receber a informação, o
setor responsável pela manutenção desse serviço é acionado, e uma equipe que se dirige ao
local indicado para fazer um diagnóstico da situação e identificar o problema. Supondo que
seja um caso de reator ou lâmpada queimada, o servidor vai fazer uma solicitação de material
para que o fornecedor entregue uma lâmpada ou um reator para que assim possa proceder à

118 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


troca e solucionar o problema denunciado pelo cidadão.

Como vimos no exemplo, o órgão público não precisa de matérias-primas, mas produtos já
industrializados prontos para serem “transformados” em serviços públicos.

Conforme dito, é impossível deparar-se com essa situação na prática, seria perfeito se isso
pudesse acontecer.

Então, partindo do pressuposto de que os almoxarifados são necessários vejamos quais são
as principais vantagens econômicas de manter um almoxarifado.
a) Formação de cargas:

Trabalhando com almoxarifados, os fornecedores reduzem seus custos de entrega. Pense


em um fornecedor que teria que entregar canetas em todas as repartições públicas de um
município (escolas, postos de saúde, paço municipal, secretarias etc.), agora pense nesse
mesmo fornecedor entregando todas as canetas em um único lugar, bem melhor, né?

Ainda quando o local de recebimento é único, pode juntar todos os pedidos em uma mesma
data, possibilitando que a economia de escala aconteça, entregando uma quantidade maior
por preço mais baixo.

Assim, na central de armazenamento, são formadas cargas de produtos diversificados que são
distribuídos conforme a necessidade dos requisitantes.
b) Processamento de pedidos:

Os pedidos realizados por diversos setores podem ser processados e separados conforme
a logística de distribuição. Por exemplo, em um determinado bairro temos uma escola, um
posto de saúde e um centro esportivo, se não existisse um almoxarifado central, cada uma
dessas repartições receberia um pedido da secretaria a qual se encontra vinculada, sendo três
veículos deslocados para atender a uma mesma região. Com a centralização, um único veículo
precisa ser deslocado, permitindo que outros dois setores sejam atendidos no mesmo período.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 119


c) Estoque mínimo

Uma das grandes vantagens da centralização dos locais de armazenamento é que podemos
diminuir a quantidade de produtos estocados.

Vou contar um caso real, que se não tivesse visto não acreditaria. Certa vez fazendo um
trabalho em uma prefeitura, estávamos diagnosticando o processo de recebimento e,
principalmente, o de armazenamento. Para isto, escolhemos por sorteio três repartições para
analisar produtos em comum que armazenavam, pedimos o relatório de posição de estoque
(relatório que demonstra a situação do estoque no ato da sua emissão) e nos chamou a
atenção a quantidade de papel higiênico que havia em todos eles. Claro, acabou sendo uns
dos produtos escolhidos para análise.

Ao chegar ao primeiro prédio que funcionava, entre outras coisas, como almoxarifado, pedimos
ao responsável que nos indicasse o local de armazenamento do papel higiênico, ele nos levou
até uma sala e saiu para que pudéssemos contar tranquilamente. Bom, o fato de o produto
estar acondicionado em fardos facilitou a contagem, mas o total que contamos não chegava
aos 20% da quantidade registrada no sistema. Chegamos a pensar que podia ser um erro de
lançamento. Questionamos o responsável se esse era todo o papel higiênico e ele nos indicou
uma segunda sala com mais alguns fardos, mas ainda faltavam uns 70% do total. Repetimos
o questionamento ao responsável e ele indicou uma terceira sala que teria papel higiênico,
quando abrimos a porta nos deparamos com uma sala de uns 40 m² cheia de papel higiênico,
do solo até o teto havia espaço apenas para abrir a porta. Tinha um papel, colado em um dos
fardos, com a quantidade de total de fardos que, supostamente (supostamente, porque não
conferimos a quantidade), existiam naquela sala.

Fizemos o acompanhamento nos outros dois locais de armazenamento e identificamos


pequenas diferenças entre a quantidade registrada no controle de estoque informatizado e o
físico.

120 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Diante da enorme quantidade do mesmo produto estocado na mesma prefeitura, pedimos um
relatório de consumo durante os últimos 12 meses. Com esse relatório obtivemos a média de
consumo mensal e dividindo a quantidade estocada por essa média, obtivemos o tempo que
levaria para acabar com todo o material estocado, que foi de três anos e oito meses.

Nesse caso, o papel higiênico era estoque para três secretarias, mas as outras que precisassem
do material não poderiam utilizar desse e sim deveriam comprar mais papel.

Com a centralização pode-se gerenciar o ciclo de um pedido de acordo com o consumo médio
de cada secretaria, por exemplo, se um pedido demora um mês para ser concluído, pode-se
trabalhar com dois ou três meses de estoque para que, quando se inicia um novo pedido, ainda
exista quantidade suficiente em estoque para consumo.

Ainda com a utilização de um sistema informatizado, o mesmo pode calcular a média de


consumo nos últimos doze meses e emitir um alerta para iniciar um novo pedido quando a
quantidade em estoque estiver menor que a quantidade média consumida em três meses.

Essas são as principais de muitas vantagens que gera a implantação de um almoxarifado


central, principalmente na administração pública que é tão carente de ferramentas para
gerenciar a máquina pública de forma simples e eficiente.

FUNCIONAMENTO DO ALMOXARIFADO

Quando chega a vez de receber os produtos ou serviços, deve-se verificar no edital da licitação
qual o local pré-determinado para prestar o serviço ou entregar o produto.

A verificação que deve ser realizada nas prestações de serviços é a mesma que acontece
quando se recebe algum produto, a diferença é que muitas vezes o serviço é prestado em
algum lugar da cidade e a verificação deverá ser in loco.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 121


O local de recebimento dos produtos será o mesmo onde eles serão armazenados, ou
seja, um almoxarifado que pode ser de uma secretaria, um setor específico ou pode ser um
almoxarifado central.

Conforme demonstrado, as vantagens da centralização são muitas e a seguir serão


consideradas as funções e as rotinas de um almoxarifado central.

Para qualquer rotina, seja em uma empresa privada ou em um órgão público, devem existir
manuais com instruções por escrito descrevendo os detalhes das atividades a serem
desenvolvidas. No almoxarifado é muito importante que todas as rotinas estejam descritas
no papel para que exista uma padronização das atividades, independente do servidor que
execute a ação.

Qualquer almoxarifado deve ser dividido em alguns setores, onde cada um assume funções
essenciais para atingir objetivos em comum. Na figura 10 se observa o layout de um
almoxarifado com os seus setores, destacando que o seu tamanho será dimensionado de
acordo com volume de produtos que serão estocados.

Saída: Portaria e
Separação e Segurança
Liberação
Carga e Descarga

para entrega.
Armazenagem (estoque):
Guarda e Preservação.
Entrada:
Descarga e Administrativo
Conferência.

Figura 10: Layout do Almoxarifado Central

Fonte: Os autores

Para instalar qualquer almoxarifado, se devem tomar alguns cuidados em relação ao prédio
onde o mesmo vai funcionar, pois nele irão ficar armazenados produtos que somados possuem
valores altos.

122 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Qualquer edifício que armazenará produtos deve ter o tamanho, localização e construção
adequada com a sua finalidade para facilitar tanto a operacionalização quanto sua manutenção
e limpeza.

O prédio deve ser adequado aos padrões de segurança, com muros altos, instalação de itens
de segurança como câmeras de segurança, cerca elétrica, alarme etc. Ainda deve possuir
equipamentos adequados para prevenção e combate a incêndios.

A área interna do almoxarifado deve ter superfície lisa, sem rachaduras e que permita que
os equipamentos circulem sem dificuldades. A área ao redor do prédio do almoxarifado, de
preferência, deve ser urbanizada para evitar formação de pó e criação de insetos e roedores.

Área de armazenagem

A área de armazenagem ou de estoque é das que requerem maiores cuidados na hora do


planejamento para sua instalação.

Seu planejamento se dá de acordo com a quantidade de produtos que se pretende estocar,


com o estoque mínimo estipulado para cada produto, com a quantidade de pedidos que serão
recebidos e despachados e com as características dos equipamentos que serão utilizados (por
exemplo, é preciso saber o tamanho da palleteira, o grau de giro, a altura máxima que alcança
etc.).

Com base nesses dados, é preparada a arquitetura do almoxarifado considerando o espaço


que terá cada estrutura porta-pallets e os corredores. Os corredores são as ruas de um
almoxarifado e o fluxo do trânsito depende do seu correto planejamento, pois no dia a dia,
enquanto há produtos chegando haverá outros saindo. A eficiência do almoxarifado vai
depender desses fatores.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 123


Lemos (2003) cita como os tipos de corredores mais comuns os seguintes:
• Corredores de Trabalho que são aqueles por meio dos quais o material é colocado
ou retirado na estocagem.
• Corredores de transporte principal que se estendem por meio de todo o prédio e
permite tráfego nos dois sentidos.
• Corredores de cruzamento que são os que se estendem por meio de todo o prédio
geralmente conduzindo a portas opostas do armazém.
• Corredores de Pessoal que são aqueles usados somente por pessoas para acesso a
áreas especiais ou interiores do prédio. Devem ser demarcados.
• Corredores Auxiliares são os corredores necessários para acesso a fontes de utili-
dades, equipamento anti-incêndio etc. Onde esses devem ser retilíneos (o máximo
possível), não sendo obstruídos e sempre levando a portas quando possível devendo
ser suficientemente largos para permitir uma operação eficiente, onde as colunas
podem ser usadas frequentemente como linhas de fronteira e todos os itens estoca-
dos devem ser convenientemente acessíveis. Os corredores devem ser identificados
por uma linha de largura de 8 a 10 cm, marcada no piso e devem possuir mão única,
excluindo os corredores de transporte principal.

O setor de estoque ou armazenagem deve ser utilizado apenas com essa finalidade e deve ter
características que permitam futuras alterações no layout, caso seja necessário.

Outras instalações físicas

O terreno onde vai funcionar o almoxarifado deve permitir a instalação de uma área para carga
e descarga com espaço para o trânsito adequado de veículos de diversos tamanhos.

A iluminação, ventilação e a umidade devem ser adequadas aos produtos que serão
armazenados no almoxarifado, por isso devem ser controlados.

As instalações sanitárias e os lavatórios para uso do pessoal das funções administrativas


devem ser separados das instalações para uso pelo pessoal do setor de estocagem.

A limpeza de um almoxarifado deve ser exemplar, não podendo deixar acúmulo de pó, tanto

124 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


no setor de estoque quanto nos outros. O lixo coletado deve ser eliminado mediante sistemas
adequados e sustentáveis.

Ainda deve existir um local para que os servidores do almoxarifado façam suas refeições,
sendo totalmente proibido o consumo de alimentos nas demais dependências.

Além das características do edifício, o almoxarifado deve possuir equipamentos que auxiliem
no manuseio dos produtos estocados, como carrinhos de carga, empilhadeiras, palleteiras etc.

Os colaboradores devem utilizar uniformes e equipamentos de proteção individual (EPI) de


acordo com o setor onde trabalham e com o tipo de trabalho que executam.

Portaria e segurança

Pensando nos valores dos produtos que estão armazenados em um almoxarifado, e no caso
dos órgãos públicos, que esses valores foram pagos com dinheiro público devem existir
cuidados com a segurança do local.

O primeiro é evitar que qualquer pessoa entre no almoxarifado, pode-se resumir que, além
dos servidores que trabalham no local, podem ingressar os fornecedores quando vão fazer as
suas entregas.

Quando um fornecedor chega para fazer uma entrega, deve identificar-se na portaria,
fornecendo alguns dados pessoais para que possa ser possível manter controle das pessoas
que entraram no almoxarifado, destacando o horário de entrada e saída. Para liberar a entrada
do fornecedor, o servidor do local deve verificar se o fornecedor tinha um horário agendado e
se a entrega era aguardada.

Além da questão de organização e eficiência, é importante que se adote o agendamento prévio


para as entregas dos fornecedores para garantir a segurança. No caso de haver agendamento,
o fornecedor entrará no almoxarifado.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 125


Dessa forma, os servidores da portaria podem ser considerados agentes de segurança. Além
desses servidores, deve haver outros que ficam rodando o pátio e o prédio verificando as
condições de segurança.

Os servidores do setor de portaria e segurança devem receber um programa de capacitação


continuada para enfrentar as situações do dia a dia. Eles devem ter noções de procedimentos
de segurança, de combate a incêndio, de limpeza etc.

Rapidamente percebemos que a segurança é fundamental para manter a ordem dentro do


almoxarifado, e a portaria é essencial na segurança, já que é o setor que permite ou proíbe a
entrada de estranhos ao ambiente.

Administrativo

O setor administrativo é o responsável por organizar, processar e registrar os pedidos de


entrada e saída de produtos do almoxarifado.

Como já foi dito, o ideal é que este setor seja o responsável por comunicar os pedidos ao
respectivo fornecedor, passando as orientações necessárias.

Após comunicar o fornecedor, o servidor do setor administrativo deve organizar os documentos


para verificar os produtos que deverão ser entregues.

Para poder fazer essa verificação, deve-se consultar a descrição e as condições do instrumento
convocatório da licitação, as propostas dos licitantes vencedores, a ata da sessão de licitação
e a nota de empenho.

No instrumento convocatório, verificamos as exigências às quais o fornecedor deve atender


para fazer a entrega, as quantidades máximas de cada produto e as descrições dos produtos
que serão entregues e como vão ser entregues esses produtos, se deve ser em caixa, pacote,
sacola, unidade etc.

126 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Na ata da licitação, encontram-se o preço e nome do fornecedor vencedor da licitação. Nas
propostas dos licitantes verifica-se a marca do produto que deverá ser entregue. Por último,
na nota de empenho, constam as informações referentes ao pedido que será entregue como
quantidade, preço unitário, uma breve descrição do produto entregue, a identificação do setor
a quem se destina o pedido e a indicação do recurso que pagará a obrigação contraída.

Quando um fornecedor vai proceder à realização da entrega, deve comunicar-se com o setor
administrativo para agendar um horário disponível para poder fazer a entrega.

Chegando ao almoxarifado, o fornecedor deve identificar-se e, após a autorização da portaria


para adentrar ao almoxarifado, deve dirigir-se ao setor administrativo que irá receber a nota
fiscal para identificar o pedido que está sendo entregue.

Após identificar o pedido, o setor administrativo deve conferir se a nota fiscal está de acordo
com a nota de empenho em relação às quantidades e valores e se a marca é a mesma que
foi ofertada na licitação.

Se tudo está em conformidade, deve ser alimentado o sistema e emitida uma guia cega, usada
para conferência durante o recebimento. A guia cega contém a descrição dos produtos, a
marca e o tipo de volume que deverá ser conferido (pacote, caixa, fardo, unidade, litro, quilo
etc.), no caso de ser pacotes, caixa ou fardo deve constar na descrição quantas unidades
deve conter a embalagem. Por exemplo, “caixa com 24 unidades”, “fardo com 1250 folhas” ou
“pacote com 6 unidades”.

A guia cega deve ser encaminhada para o setor de recebimento de produtos. Em caso de
dúvida, deve ser encaminhada junto com a guia cega uma cópia da descrição do produto que
constava no instrumento convocatório.

Após a recepção do produto, a guia cega deve voltar preenchida e os dados que constam nela
devem ser digitados no sistema que irá finalizar a análise.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 127


Estando tudo correto, o fornecedor pode ser dispensado e o procedimento continuará no setor
de entrada de produtos.

O setor administrativo também é responsável por inventariar continuamente (por amostragem)


os estoques, buscando os devidos esclarecimentos para qualquer discrepância nas
quantidades. Durante os inventários, deve-se aproveitar para verificar qualquer degradação
das embalagens dos produtos armazenados.

As informações levantadas durante os inventários devem ser registradas no sistema por algum
servidor do setor administrativo.

Os prazos de validade devem ser controlados pelo setor administrativo e, em caso de haver
algum produto com prazo vencido, o setor administrativo promoverá sua correta destinação e
a baixa do sistema.

Resumidamente, sem o trabalho do setor administrativo, nenhum produto será estocado e


nem liberado para entrega, ainda todos os lançamentos no sistema são de responsabilidade
desse setor, inclusive os lançamentos de perdas e baixas de produtos que se encontravam em
estoque.

Entrada

No recebimento deve ser verificada a condição física de cada produto. Caso sejam entregues
produtos diferentes, deve-se tomar o cuidado de manusear um tipo de produto por vez para
evitar erros de conferência no recebimento.

O setor de entrada é acionado após a emissão da guia cega. A primeira ação é selecionar
aleatoriamente alguns volumes para fazer uma conferência, por amostragem, dos produtos
que serão entregues.

Nessa amostragem se verifica a conformidade da marca, da unidade e da quantidade por

128 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


volume. Estando tudo de acordo com o contrato, confere-se a quantidade de produtos que
contém um volume, por exemplo, em uma caixa tem vinte latas ou garrafas de óleo. Cabe
lembrar que na conferência deve-se verificar o prazo de validade dos produtos.

A partir desse fato autoriza-se o fornecedor para que descarregue todo o material da entrega.
Importante ressaltar que a obrigação de descarregar os produtos é do fornecedor e não dos
servidores do almoxarifado.

O art. 73 da Lei de Licitações diz que o recebimento dos produtos pode ser provisório ou
definitivo.
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
[...]
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos:
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do material
com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
consequente aceitação.

Dessa forma, o recebimento é provisório quando não foi totalmente conferido, mas o fornecedor
deixa os produtos no almoxarifado. Destaca-se que os produtos não podem ser armazenados,
mas apenas guardados no almoxarifado.

Quando tudo está conforme solicitado, pode se atestar o recebimento definitivo. Lembrando
que quem faz essa verificação dos produtos de entrega é a comissão de recebimento, que
pode ser formada por servidores do almoxarifado, mas pode ser composta por servidores de
outros setores.

Os produtos recebidos devem ser organizados nos pallets para poderem ser armazenados. O
tamanho de cada pallet é definido conforme orientação nos próprios volumes entregues, por
exemplo, nas caixas de alguns produtos encontramos dados como altura máxima, desenho
para empilhar as caixas etc.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 129


Conforme o desenho de um pallet, se faz o cálculo de quantos pallets serão formados na
entrega e define-se o local (endereço) de armazenamento. Existem sistemas que organizam
essa distribuição, cuidando, inclusive, do prazo de validade dos produtos, indicando na hora
da saída os pallets que contêm os produtos que vencem primeiro.

Após a formação do pallet, ele é identificado com o endereço onde será armazenado e quando
concluída toda a entrega os produtos podem ser guardados nos respectivos locais.

Área de armazenagem

O setor de armazenagem é o setor responsável por movimentar os produtos que ficam


estocados no almoxarifado.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

A estocagem dos produtos nunca deve ser direta no solo, mas sim organizadas em pallets de
forma a permitir a identificação fácil dos produtos. Deve existir um cuidado com a iluminação,
principalmente para que os produtos não fiquem expostos diretamente à luz solar.

Após o recebimento dos pedidos, os produtos são liberados para serem direcionados ao
endereço onde ficarão estocados.

130 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Conforme dito, existem nos almoxarifados os corredores, eles se intercalam com as estruturas
de porta-pallets e as ruas, assim cada rua recebe um número sequencial que começa a formar
o endereço que será utilizado no estoque dos produtos. Assim como acontece na numeração
dos endereços das cidades, de um lado das ruas temos número ímpares e do outro os números
pares.

P P P P P P
A A A A A A
L L L L L L
RUA 07

RUA 06

RUA 05

RUA 04

RUA 03

RUA 02

RUA 01
L L L L L L
E E E E E E
T T T T T T
S S S S S S

Figura 11: Corredores do almoxarifado

Fonte: Os autores

Além dos corredores com a distribuição exibida na Figura 11, cada rua é dividida em casas,
que são espaços da largura de um pallet, durante toda a extensão do corredor de porta-pallets.

Ainda cada casa é dividida por andares, o normal é que além do térreo existam mais três
prateleiras ou andares para que receba os pallets com os produtos, conforme demonstrado na
Figura 12 a seguir.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 131


03 03
02 02
01 01
00 00

Figura 12: Estrutura do porta-pallets

Fonte: Os autores

Assim, um endereço de estoque é composto pelo número da rua, pelo endereço da casa
(normalmente de dois dígitos) e pelo andar (de mais dois dígitos), conforme a Figura 13 que
segue.

X XX XX

RUA ENDEREÇO ANDAR

Figura 13: Estrutura do endereço

Fonte: Os autores

O andar térreo é utilizado para armazenar pallets que não estão com sua capacidade total de
armazenamento preenchida, ou seja, para aqueles pallets dos quais estão sendo retirados os
produtos que são distribuídos para consumo.

As embalagens parcialmente utilizadas devem ser objeto de atenção quanto aos cuidados
no seu fechamento para evitar perdas ou deterioração dos produtos. Nesses volumes é
interessante deixar marcada a quantidade que resta na embalagem.

O setor de armazenagem também é responsável pela separação dos produtos que serão

132 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


distribuídos. Nessa hora da separação é que se deve observar a ordem cronológica das datas
de validade e de entrada no almoxarifado.

Saída

Quando algum setor do órgão público faz um requerimento de material para ser utilizado no
consumo, o setor de saída é acionado para que se verifique qual o dia que será a entrega e
providencie a separação dos produtos do pedido.

O setor de saída é quem deverá solicitar ao setor de armazenamento para que faça a
movimentação física dos produtos necessários para atender aos pedidos.

Após a separação dos materiais, o setor de conferência verifica se o pedido foi totalmente
separado para proceder à organização para que o mesmo possa ser liberado para entrega.

CONTROLE

Para que o almoxarifado central atinja o seu objetivo de aumentar a eficiência da gestão
pública, é importante ressaltar que o controle interno tem um papel fundamental, pois ele é o
responsável pelo acompanhamento das atividades e pela confrontação da prática com a teoria
para evitar que falhas se repitam eternamente.

O principal procedimento de verificação é a confrontação do estoque físico com o registrado


no sistema informatizado. Para isso, semanalmente se escolhem três ou quatros produtos que
se encontrem em uma mesma rua e pede-se para que servidores do setor façam a contagem
física.

Após a contagem, se cruzam o resultado e a quantidade registrada no sistema, o objetivo é


encontrar possíveis diferenças. Em caso de haver diferenças, deve-se procurar encontrar os
motivos e proceder ao ajuste do sistema. Na próxima semana, o procedimento repete-se em
uma rua diferente.

O controle interno também verifica como são feitas outras rotinas do almoxarifado, isso pode
ser feito por meio de questionários que são aplicados junto aos servidores do setor.

Por último, são verificadas as condições de manutenção do prédio onde funciona o almoxarifado.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 133


Se aquelas condições que o prédio deve possuir estão mantidas com o passar do tempo.

A cada atividade do controle interno, deve ser elaborado um relatório que auxiliará no processo
de melhoria contínua que os órgãos públicos devem seguir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bom, nesta unidade vimos como funciona um almoxarifado central. Essa que é considerada
uma das novas ferramentas de gestão e que auxilia no aumento da eficiência da Administração
Pública.

No processo de logística na administração pública, o recebimento e armazenamento são das


principais atividades, ou pelo menos das mais importantes.

A forma burocrática com que tudo acontece na administração pública também está presente
nesta etapa, mas pode-se dizer que de uma forma mais branda, principalmente, quando
comparada com outros processos como, por exemplo, a licitação ou a contratação de
servidores.

O funcionamento do almoxarifado possui dois fluxos que andam ao mesmo tempo em sentidos
contrários, mas que se encontram no setor de estoque. São os fluxos de entrada e saída de
produtos, que concomitantemente, todos os dias, se movimentam. Enquanto há fornecedores
fazendo entregas, há também servidores fazendo separação de pedido para poder fazer
distribuição de produtos.

O ciclo de funcionamento de um almoxarifado é um ciclo que não tem fim, que a cada dia, a
cada entrega ou a cada pedido está renovando-se, finalizando-se e iniciando-se no mesmo
instante.

Agora podemos passar para a última unidade, que abordará a distribuição e alguns casos
específicos de entregas diretas nos centros de consumos.

134 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


ESTOQuES NO SERVIçO PÚBLICO: uM ESTudO dE CASO NO ALMOXARIFAdO CENTRAL dA
uNIVERSIdAdE FEdERAL dE SANTA CATARINA
Foi realizado um estudo de caso no setor de almoxarifado central da Universidade Federal de Santa
Catarina, sendo avaliados aspectos de estoques, como custos, armazenamento, segurança e contro-
le, bem como o planejamento e o uso de sistemas de informação como suporte a essas questões.
Para tanto é dado o embasamento teórico desses assuntos. O objetivo proposto é descrever o setor
analisado para realizar comparações com as teorias e sugerir adequações. Para alcançar o objetivo
utilizou-se como métodos a observação visual do setor, contato com o sistema trabalhado, entrevista
e pesquisa documental. Os resultados demonstraram que o sistema de informação é subutilizado e
que a maior carência do setor é na questão de gestão de pessoas, tanto no treinamento e mudança
de cultura quanto para os incentivos motivadores.
Disponível em: <http://www.inpeau.ufsc.br/wp/wp-content/BD_documentos/coloquio9/IX-1103.pdf>.
Acesso em: 13 set. 2012.
Pense a respeito do porquê nos órgãos públicos são raros os casos em que há uma gestão
de almoxarifado e controle de estoques que funcionem e por que essas ações básicas são tão
reconhecidas quando existem?

Almoxarifado
<http://www.youtube.com/watch?v=hovtTnWLzZs>.
Inaugurações em Brumado Almoxarifado Central e UBS de Arrecife.wmv
<http://www.youtube.com/watch?v=ZaLSFxmbyiU>.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 135


ATIVIdAdE dE AuTOESTudO
1. Explique a importância do processo de recebimento e armazenagem dos produtos.
2. Aborde as vantagens da implantação de um almoxarifado central.
3. Relacione a estrutura, o funcionamento e o controle do almoxarifado.

Livro: Almoxarifado e Gestão de Estoques: Do Recebimento, Guarda e Expedição à Distribuição do


Estoque
Autor: Bruno Paoleschi
Idioma: Português
Editora: Érica
Assunto: Administração – Logística
Edição: 1ª
Ano: 2010

136 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


UNIDADE V

CENTROS DE CONSUMOS: DISTRIBUIÇÃO E


CONTROLE
Professor Esp. Luis Fernando Otero

Objetivos de Aprendizagem

• Entender a importância da distribuição para o processo de logística.

• Conhecer as variáveis para definir as rotas de distribuição.

• Compreender o funcionamento dos controles nos centros de consumo.

• Relacionar conceitos de custos com o processo de logística.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


• Distribuição

• Rotas de distribuição

• Controles nos centros de consumos

• Custos
INTRODUÇÃO

Chegamos à última unidade da nossa disciplina, na qual vamos tratar da distribuição dos
produtos armazenados no almoxarifado e de alguns casos onde a entrega deve ou pode ser
realizada diretamente no centro de consumo.

Os casos em que a entrega é direta podem ser justificados pela falta de estrutura para realizar
a distribuição com a equipe própria, por isso a obrigação é repassada ao fornecedor, ou
simplesmente pelo custo ser mais alto se optar por fazer a distribuição com a equipe própria,
ou ainda por falta de tempo hábil para fazer a distribuição.

Depois que os produtos estão armazenados, o centro de consumo irá realizar um pedido
solicitando a entrega de diversos materiais, nas quantidades necessárias para o consumo.

Para o atendimento desse pedido, serão mobilizados os setores administrativos, de


armazenamento e de saída do almoxarifado, além é claro da equipe que fará a ligação entre o
almoxarifado e o setor requisitante.

Nos centros de consumo, haverá também uma espécie de minis almoxarifados que manterão
os produtos estocados em condições de serem utilizados e receberão, excepcionalmente,
produtos entregues diretamente pelos fornecedores.

No sistema chamado “almoxarifado” se encontraram vários subsistemas, são os casos do


subsistema de entrada, de armazenamento e saída. O subsistema de saída engloba todas
as atividades referentes à distribuição e entrega dos materiais para que os mesmos possam
ser convertidos em serviços públicos, entre elas podemos citar as atividades de Separação,
Expedição, Gestão de Estoques; Gestão de Transportes; Logística Reversa (Reciclagem e
Devolução).

Diante da complexidade do trabalho de um almoxarifado, na maioria dos órgãos da


Administração Pública, principalmente na esfera municipal, os mesmos optam por “simplificar”
o processo e fazem entregas sem critérios e até sem justificativas.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 139


Nesse sentido, Coêlho (2010, on-line) diz:
Geralmente, a distribuição do material para as unidades é feita por critérios empíricos
e sem controle real do consumo, causando excesso de disponibilidade de materiais e
migração de produtos entre as áreas, o que causa a perda da rastreabilidade destes,
não só dentro das unidades, mas também no sistema de saúde como um todo.

Os órgãos públicos não se preocupam com a necessidade de produtos, mas pautam as


compras com base nos recursos disponíveis para gastar. A visão dos gastos públicos não
é sistêmica, onde cada unidade deveria preocupar-se em economizar recursos para poder
prestar mais serviços ou, se for o caso, ceder os recursos em excesso para que outras
unidades possam fazer proveito dele.

A administração pública tem o costume de estimar suas compras não pela necessidade, mas
pelos recursos disponíveis. Assim, por exemplo, se forem comprar canetas, essa compra é
pautada pelos recursos disponíveis, não se compram mil canetas, se compram mil reais em
canetas.

Existe um paradigma nas unidades administrativas de que se não gastar todos os recursos
orçamentários disponíveis, essa unidade receberá menos recursos no próximo exercício.

Diante dessa situação, encontramos casos como o do papel higiênico relatado na unidade
anterior e diversos outros que fazem da administração pública essas instituições que precisam
aprender com as organizações privadas, onde o dinheiro tem dono, portanto é aplicado com
cuidado e, apenas, nos casos de real necessidade.

140 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


DISTRIBUIÇÃO

No processo de distribuição dos materiais armazenados no almoxarifado, temos os seguintes


atores envolvidos: servidor que faz o pedido no setor requisitante (consumidor), servidores
do setor administrativo, de separação, conferente e de distribuição do almoxarifado, além dos
servidores que irão receber os produtos no setor que fez o pedido.

Após a realização das entregas pelos fornecedores e o correto armazenamento desses


produtos recebidos, os órgãos que fizeram os pedidos ao fornecedor podem emitir uma
solicitação de material para que seja entregue a quantidade de produtos que será consumida
até o prazo da próxima entrega, que normalmente é de um mês.

Nesse processo, um sistema informatizado é muito útil, pois os órgãos requisitantes podem
conferir as quantidades de matérias que possuem em estoque antes de fazer o pedido, assim
como, após a formação de um histórico de consumo, o sistema pode realizar o pedido, que
precisa apenas da confirmação do órgão consumidor para que seja autorizada a distribuição
dos produtos.

SEPARAÇÃO

Após receber um pedido, a equipe administrativa do almoxarifado vai acionar o pessoal que
trabalha no setor de saída dos produtos. Os servidores desse setor recebem guias com os
pedidos de cada unidade, nessas guias encontram-se os produtos que serão entregues,
as quantidades de cada um desses produtos e o endereço onde cada produto encontra-se
armazenado no almoxarifado.

Na separação são utilizados os produtos armazenados nos endereços mais baixos,


normalmente no apartamento térreo das estruturas porta-pallets, para facilitar o manuseio dos
produtos e a consequente preparação dos pedidos.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 141


Muito raramente são entregues pallets de produtos inteiros, é mais comum entregar pacotes
de produtos e em alguns casos unidades dos produtos. Nesse último caso, é preciso abrir
caixas e violar as embalagens que armazenam vários produtos para ter acesso às embalagens
individuais.

Exemplificando o parágrafo acima, podemos citar o caso do detergente neutro, aquele utilizado
para lavar louças na cozinha. O mais comum é que esse produto seja pedido por caixas
(normalmente com 24 unidades). É muito difícil que uma unidade peça um pallet fechado de
detergente, mas pode acontecer de ter pedidos de algumas unidades do produto, ou seja,
menos de uma caixa.

Cabe ressaltar que a paletização de um produto deve atender a padrões nacionais, que
objetivam facilitar a logística em todas as organizações. No Brasil é utilizado o pallet PBR, que
mede 1,00 m por 1,20 m. A altura máxima de armazenamento é de 1,20, isso considerando o
padrão de 15 cm da estrutura do pallet.

Para cada produto existe o lastro e o arranjo físico para armazenamento de caixas ou
embalagens nos pallets. Os fabricantes indicam essas informações (lastro e arranjo) nas
caixas com um desenho.

O lastro é a quantidade de caixas que são acomodadas em cada camada de embalagens no


pallet, já o arranjo é a forma de distribuição dessas embalagens em cada camada.

Respeitando principalmente a altura dos pallets, pois tem que considerar um espaço para que
a empilhadeira possa movimentar os pallets nas estruturas porta-pallets.

Após a acomodação das embalagens, os pallets são cobertos com filme esticável de polietileno
ou, como é conhecido, de filme Sthetch, para facilitar a movimentação e também para proteger
as embalagens dos produtos da poeira, humidade etc.

Voltando à separação, são utilizados os apartamentos térreos para deixar os pallets que não

142 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


têm o lastro completo, ou que já estão sendo utilizados. Dessa forma, a separação pode ser
feita com carrinhos manuais. Nesse processo, as empilhadeiras são utilizadas apenas para
descer pallets novos aos apartamentos térreos para retirar produtos.

Conforme dito, no processo de separação são utilizados carrinhos de cargas, e funcionários


trabalhando em duplas fazem a retirada dos produtos dos pallets. É como ir ao supermercado
com uma lista de compras, você vai andando pelas prateleiras, separando os produtos que lhe
interessam e colocando-os no carrinho.

Os produtos separados são acondicionados em caixas para que sejam distribuídos, cada caixa
é identificada com o código correspondente ao pedido, o nome do órgão que fez o pedido e a
indicação da rota de distribuição correspondente.

Assim como no supermercado, o caixa confere todos os produtos que foram retirados das
prateleiras; no almoxarifado, existe uma equipe que confere todos os pedidos que foram
separados.

A equipe de conferentes recebe os pedidos que foram separados e os prepara para a


distribuição. É durante essa preparação que acontece a conferência do pedido, se todos
os produtos foram separados corretamente, se as quantidades são as mesmas que foram
solicitadas etc.

Caso falte algum produto, um novo pedido é realizado pelo setor de conferência direcionado ao
setor de separação com os produtos faltantes. Após a separação desse novo pedido, a equipe
de conferência completa o pedido original e esse fica pronto para distribuição.

ROTAS DE DISTRIBUIÇÃO

Na distribuição devem ser conhecidas todas as unidades administrativas que possam fazer
pedidos de materiais para o almoxarifado. Assim, recomenda-se que sejam marcados no mapa

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 143


da cidade todos os locais onde haverá entregas, por exemplo, em um município temos todas as
escolas, centros de educação infantil, unidades básicas de saúde (postos de saúde), hospital
municipal, os CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), centros de atendimentos à
população de qualquer gênero, e quaisquer outras unidades administrativas.

Depois de conhecer todos os destinos das entregas, é necessário mensurar o volume de


produtos que cada unidade recebe em média, para saber se o centro de consumo precisa de
entregas exclusivas ou pode ser formada uma rota.

Dependendo do tipo de produtos que são armazenados, podem se montar equipes de


distribuição por grupos de produtos, uma equipe para produtos não perecíveis (fará entregas
mensais), uma para produtos perecíveis que precisam de distribuição semanal (caso dos
alimentos para merenda escolar ou para alimentação no hospital), uma para produtos de
manutenção (elétricos, mecânica, construções e reformas) etc.

Cada equipe deve ter a sua disposição o número de servidores e os equipamentos necessários
para realizar cada entrega.

Outra possibilidade é ter uma única equipe de entrega, independentemente do tipo de produto.
Ou seja, serão realizadas as entregas pela localização do órgão e em cada uma é entregue
todo tipo de produtos. Nessa alternativa, é preciso tomar cuidado com produtos perecíveis,
pois uma entrega mensal não é suficiente para atender à demanda, haja vista que os produtos
não ficam em condições de consumo durante esse tempo.

Recomenda-se que a cidade seja dividida em cinco partes e que se defina a periodicidade das
entregas (semanal, quinzenal ou mensal) de acordo com o tipo de produto. Conforme foi dito,
as entregas de produtos perecíveis devem atender ao prazo de conservação dos mesmos,
podendo as entregas ser semanais e os outros produtos serem distribuídos mensalmente.

Independentemente do critério levado em consideração para definição das rotas (uma equipe
para cada tipo de produto ou uma equipe geral), em cada região da cidade serão definidas

144 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


rotas, ficando o mapa conforme a figura abaixo.

Figura 14: Distribuição de rotas

Fonte: O autor

O tempo ocupado para o planejamento das rotas de entregas será recompensado, pois quanto
mais destinos forem colocados em uma mesma rota, sem prejudicar o tempo de entrega e a
qualidade dos produtos, mais o custo total da operação será reduzido.

A divisão da cidade em cinco partes ou setores justifica-se pelo fato de que cada setor terá
três dias úteis para receber os pedidos, sendo ao todo quinze (15) dias úteis para entregas.

É importante deixar, pelo menos, dois dias no mês sem entregas para realizar o inventário
periódico no almoxarifado e com essa divisão da cidade sobrarão os dias necessários, mesmo
nos meses com menos dias úteis.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 145


Esses dias não precisam coincidir em todos os grupos de produtos, já que normalmente os
produtos do mesmo grupo ocupam a mesma rua, podendo-se fazer o inventário por rua.

Cada rua do almoxarifado deve receber um tipo de produto para evitar que um prejudique a
qualidade do outro, por exemplo, não é recomendável deixar produtos de limpeza junto com
gêneros alimentícios.

A definição dos produtos que serão recebidos, armazenados e distribuídos no almoxarifado vai
depender dos custos e da estrutura necessária para poder atender à demanda das unidades.

Dessa forma, definidos os critérios de entrega, cada setor em que a cidade foi dividida receberá
os pedidos no mesmo dia e não deverá haver entrega de pedidos para outros setores nesse
dia, com exceção dos produtos perecíveis que têm um ciclo de entrega próprio.

Assim, se as entregas de materiais não perecíveis são realizadas mensalmente, as unidades


localizadas no setor #1 receberão produtos nos primeiros dois dias úteis do mês. Já no setor
#2, as entregas serão no terceiro e quarto dia útil do mês, e assim por diante. Ao final do mês,
sobrarão um ou dois dias para o inventário e, caso seja necessário, o inventário será realizado
fora do horário de expediente.

Em todas as entregas deve ser emitido um guia de conferência que deverá ser assinado pelo
separador, pelo conferente, pelo entregador e pelo encarregado em receber o material no
centro de consumo. Esse documento conterá a relação de todos os produtos do pedido.

A utilização de um sistema informatizado auxilia nesse processo, pois o sistema pode ser
alimentado pelos servidores envolvidos no processo, ou seja, ao abrir um pedido, o sistema
identifica a rota e direciona para um separador no tempo hábil para sua preparação, quando
o pedido estiver separado, o servidor alimenta o sistema que direciona para um conferente,
após realizar o seu trabalho, o conferente também informa o sistema que direciona o registro
do pedido ao responsável pelo recebimento no setor requisitante. O pedido será baixado após
a confirmação de recebimento alimentada pelo servidor da unidade consumidora.

146 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


O funcionamento do almoxarifado será, muitas vezes, avaliado pela sua eficiência nas entregas
e será criticado em casos de atrasos ou entrega de produtos errados.

Em se tratando de administração pública, que não está acostumada a trabalhar com essas
rotinas, qualquer problema pode aumentar o risco de acabar com o almoxarifado central, ou
com o trabalho organizado dos almoxarifados. Por isso, a distribuição é um dos processos
mais importantes do sistema.

CUSTOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Fonte: PHOTOS.COM

Como você deve saber, a contabilidade pública está passando por mudanças com o objetivo
de aproximá-la das normas internacionais de contabilidade, inclusive alterando seu nome para
Contabilidade Aplicada ao Setor Público.

Assim essa nova contabilidade é definida como o ramo da ciência contábil que aplica, no
processo gerador de informações, os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as normas
contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 147


O objetivo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é fornecer aos usuários informações
sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica,
financeira e física do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao
processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para
a instrumentalização do controle social.

Para atingir o objetivo é necessário ter controle dos dados gerados e que esses dados sejam
tratados para transformá-los em informações.

Qualquer movimentação de materiais deve ser objeto de registro e controle, pois afinal é
dinheiro público que está sendo movimentado.

Apesar de a Lei 4.320/64, conhecida como Lei das Finanças Públicas, abordar a questão de
custos, quem tem contato com algum órgão público sabe que não existe nenhuma preocupação
com esse tema.

São pouquíssimas as instituições públicas que detêm algum controle ou sistema de custos
implantado e que funcione de forma eficaz.

Martins (2003, p. 25) define custo como o “gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção
de outros bens e serviço”, ou seja, é um gasto de recurso para transformá-lo em um produto
ou serviço.

Na área pública podemos parafrasear a definição acima como o gasto realizado por órgão da
administração pública com objetivo de prestar um serviço à população.

Ou seja, toda despesa pública é um gasto que faz parte do custo de um serviço público. Agora
eu pergunto, qual é o custo para podar uma árvore “pública” na sua cidade? Qual é o custo de
uma vaga na rede pública de ensino da sua cidade?

Essas são perguntas complexas para responder, é necessário ter o controle de diversos fatos
que produzem dados que, por sua vez, influenciam os custos.

Mas qual é o custo de um vereador na sua cidade? É uma pergunta mais fácil de responder,
pois é só pegar o valor das despesas realizadas pelo Poder Legislativo municipal e dividir esse
valor pelo número de vereadores.

148 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Já se a pergunta for alterada para qual o custo de cada vereador da sua cidade, precisamos
distribuir as despesas para cada um que lhe deu causa, ou seja, fazer uma departamentalização
(procedimento comum na contabilidade de custos). Isso, lamentavelmente, ninguém faz em
lugar nenhum, e nenhum cidadão vai ter a resposta para essa pergunta na atualidade. Não por
complexidade, pois o trabalho é simples, mas por falta de vontade dos gestores.

Pensando que em uma universidade pública temos os melhores pesquisadores, você deve
imaginar que todas elas sabem o custo de uma vaga para cada um dos cursos disponibilizados
pela instituição. Correto?

Pois bem, se você é dos que achavam isso, você está errado, são poucos os gestores que se
preocupam em saber esse custo e quando procuram é feito um levantamento simples de custo
médio, ignorando os cursos.

Ora, não precisa ter muito conhecimento para perceber que um curso de medicina requer mais
gastos do que um curso de administração, portanto o custo também é maior.

Nessas alterações que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público vem sofrendo, é enfatizada a
questão do levantamento de custos, tanto que está sendo alterada a estrutura da contabilidade
criando um sistema de custos, que vai registrar, processar e evidenciar os custos dos bens e
serviços produzidos e ofertados à sociedade pela entidade pública.

A perspectiva é positiva se pensarmos em médio e longo prazo, contudo fica a dúvida: por
que a administração não se preocupa com os seus custos como as organizações privadas se
preocupam?

Se pararmos para pensar na questão acima, verificaremos que um dos principais fatos está
nos recursos financeiros da organização. Enquanto as instituições privadas devem incorrer em
gastos para tentar arrecadar recursos, a Administração Pública tem recursos garantidos por
meio dos pagamentos de tributos por parte da sociedade.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 149


Então a iniciativa privada preocupa-se em gastar o menos possível para obter um retorno
desejado, e vai avaliar quanto vai arrecadar no caso de aumentar os seus custos, pois nem
sempre mais gastos significam aumento na sua arrecadação.

Já a administração pública não tem a preocupação de aumentar seus gastos, pois ao


precisar aumentar as alíquotas dos tributos, aumenta a sua arrecadação. Durante décadas
isso acontece não só no Brasil, mas no mundo todo e estamos em um momento em que a
economia mundial despertou sua atenção para a redução dos gastos públicos. Os impactos
desses aumentos descontrolados estão sendo sentidos na zona do Euro, e vários países estão
tomando medidas para reduzir o custo da máquina pública.

Um segundo aspecto importante e mais relacionado com a nossa disciplina atual é a questão
dos estoques.

O controle de estoque na iniciativa privada é um dos pontos mais importantes administrativa-


mente falando. Os empresários enxergam os produtos estocados como dinheiro e procuram
protegê-los para evitar prejuízos.

Já nas organizações públicas, são poucos os gestores que têm essa consciência, mesmo
servidores e políticos com origem na área empresarial parece que se esquecem desses
conceitos quando adentram um órgão público para gerenciar.

Ainda sobre os estoques, os empresários têm interesse em saber quantos produtos estão
estocados, pois eles só pagam impostos depois que eles saem do almoxarifado, a União por
meio dos seus órgãos regulamenta a questão para evitar fraudes e sonegação de impostos.

A obrigação legal dos órgãos públicos é de realizar despesas, mas inexiste na legislação
federal qualquer obrigatoriedade do órgão público manter um sistema de controle de estoque.

O balanço patrimonial de qualquer organização privada ou não governamental traz a


informação do valor do estoque. Porém, isso não acontece na administração pública, pois não

150 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


existe nenhum relatório obrigatório que contemple sequer o valor total de todos os produtos em
estoques. O balanço patrimonial na Administração Pública preocupa-se com o ativo financeiro
e o permanente e, em nenhum desses grupos, contempla o valor do estoque.

Podemos concluir que os gestores pensam da seguinte forma: se é uma coisa que não tem
dono e tampouco existe obrigação legal, para que ter informações sobre o controle de estoque
na Administração Pública?

O problema é que essa coisa tem dono e, em função, a população na condição de tal,
quer saber o que acontece com os produtos comprados. Para isso, em 2007, a sociedade
maringaense apresentou uma proposta lei que prontamente foi acatada pelos vereadores, e
obriga a todos os órgãos municipais da cidade de Maringá, no Paraná, a manter um controle
de estoque eficaz.

Link:
<http://sapl.cmm.pr.gov.br:8080/sapl_documentos/norma_juridica/9903_texto_integral>.

Segundo a Lei 7931/2008, esse controle de estoque tem por objetivos:


I. Permitir o conhecimento do que está armazenado e disponível para uso ou
consumo
II. Determinar o valor que há no estoque
III. Reduzir perdas e eventuais desvios de materiais de consumo produtos ou
mercadorias
IV. Verificar a necessidade da aquisição de determinado item e estabelecer a
quantidade a ser adquirida.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 151


A mesma Lei determina alguns procedimentos para atingir os objetivos propostos e determinou
que a mesma só vigorasse a partir da sua regulamentação, o que não aconteceu até hoje.

Apesar da falta de regulamentação, os efeitos foram sentidos, pois a prefeitura colocou em


prática as rotinas e o resultado é positivo, tanto que o Portal da Transparência do município
apresenta o controle de estoque, o registro de entradas de produtos e o registro de saída para
cada centro de consumo.

Link:
<http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index.php?sessao=f38601a1cd8nf3>.

Pode-se dizer que é das poucas, senão a única lei nesse sentido, e quem sabe não seja esse
o caminho para a profissionalização dos controles de estoque nos órgãos públicos.

CONTROLES NOS CENTROS dE CONSuMOS

Considerando o exposto até aqui, verificamos a importância de ter um almoxarifado central


em um município, assim como ter rotinas eficientes até a entrega dos produtos armazenados
nesses almoxarifados para evitar problemas.

Mas depois de entregar os produtos na unidade solicitante, é necessário que existam pequenos
almoxarifados nessas unidades para estocar e controlar os produtos durante o período que
perdurará até a próxima entrega.

Como uma dessas unidades deve fazer a estimativa das quantidades dos produtos nos seus
pedidos? Toda estimativa de quantidade de produtos para consumo deve tomar por base

152 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


as quantidades consumidas nos períodos anteriores, levando em conta a sazonalidade de
consumo.

Mas para ter esses dados é preciso que se estabeleça um mecanismo de controle que permita
obter o histórico de consumo, isso mediante o registro de entrada de produtos e suas saídas,
de preferência contendo a destinação que foi dada aos produtos.

Já aconteceu de uma prefeitura ficar desesperada pela falta de um medicamento para


hipertensão, uma unidade básica de saúde (UBS) fez o pedido para o almoxarifado central de
medicamentos e foi detectado que a quantidade em estoque não era suficiente para atender ao
pedido. Antes mesmo de pensar em uma solução, todo mundo começou a preocupar-se com a
população que ficaria sem o medicamento e com o impacto negativo para o prefeito da cidade,
afinal, faltaria medicamento, seria um descaso com a saúde pública etc.

Pensou-se em fazer uma compra emergencial, em uma farmácia da cidade, mesmo não
tendo amparo legal, pois o fornecedor demoraria em entregar o medicamento, mas o peço da
farmácia era mais de 200% mais caro do que o preço da licitação.

Até que alguém teve a ideia de pesquisar os estoques nas outras UBSs, para desespero de
toda a Secretaria de Saúde, metade dos postos estavam com estoques insuficientes até para
o consumo próprio. Descartando a ideia de buscar as sobras de estoque e redistribuir para os
que precisavam.

Outra pessoa questionou qual seria a quantidade necessária que deveria ser comprada para
atender à população até a entrega do fornecedor. Diante desse questionamento, o servidor
que estava ligando para as UBSs retomou o trabalho de verificar as quantidades daquele
medicamento nos estoque das restantes UBSs.

A surpresa agradável (pela situação, não pela gestão) foi que três UBSs receberam quantidades
acima do necessário durante um longo período de tempo, o que proporcionou que elas
aumentassem o estoque desse medicamento e que neste momento pudessem redirecionar

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 153


essas quantidades para quem precisasse.

As quantidades eram tão absurdas que não houve necessidade de realizar a compra
emergencial e, quando o fornecedor realizou a entrega, ainda havia medicamento em estoque
de todas as UBSs.

O caso acima representa a importância de manter um controle de estoque também nos


centros de consumo, pois nesse caso a utilização dos produtos em excesso se deu com
interesse público. Mas poderia ter acontecido o desvio desses medicamentos, como vemos
rotineiramente nos noticiários do nosso país, onde quadrilhas roubam os medicamentos e em
conluio com farmácias vendem medicamentos que deveriam ser distribuídos para a população.

descoberta fraude de desvio de medicamentos no Hospital do Servidor Público


<http://www.youtube.com/watch?v=H_gDQ5sBjf8>.

desvio de medicamentos (12/04/12)


<http://www.youtube.com/watch?v=cKIUXdWY19Q>.

O controle de estoque deve existir em toda unidade que armazena produtos até o consumo,
mesmo que provisoriamente. Dessa forma, é possível identificar qual foi o setor consumidor e
para a prestação de qual serviço foi utilizado o produto, permitindo a alocação do custo desse
produto na prestação de determinado serviço público.

Uma escola, por exemplo, recebe produtos para o consumo durante todo o mês, mas esses
produtos ficam estocados durante um tempo até o consumo. Deve-se manter um controle dos

154 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


produtos recebidos e dos consumidos, indicando na saída qual setor que consumiu o produto.

Da mesma forma, devem proceder as unidades básicas de saúde, os hospitais e todos os


outros centros de consumo que pertençam ao órgão.

Com esse controle é possível estimar quais produtos precisam ser entregues a cada mês e,
juntando todas as unidades ou centros de consumos, podem ser estimadas as quantidades de
cada produto que precisam ser adquiridas por meio de licitação.

Quando não há esse controle, os órgãos públicos definem as quantidades com base na
licitação anterior, mas sem saber se todos os itens foram adquiridos, consumidos ou de fato
foram utilizados para satisfazer ao interesse público.

Se na licitação anterior compraram-se produtos em quantidade exagerada e os produtos foram


usados com sua finalidade desvirtuada e ninguém tiver esse conhecimento, na nova licitação
acontecerá o mesmo erro.

Por exemplo, em uma prefeitura comprava-se uma quantidade desnecessária de galões de


detergente para utilização nos centros de educação infantis, mas as mesmo tempo faltavam
nesses centros shampoo para dar banhos nas crianças. A justificativa pela falta desse produto
era que não havia recursos financeiros suficientes, mas se comprasse a quantidade correta de
detergente, sobraria dinheiro para adquirir mais shampoo.

Dessa forma, para que o gestor possa tomar uma decisão correta, precisa de informações. No
caso das licitações, essas informações devem estar no termo de referência e esse documento
deve ser elaborado com base nos dados levantados por meio dos registros do sistema de
controle de estoque.

Assim o sistema de controle de estoque tem duas funções, evitar desvio de finalidade no
consumo dos produtos adquiridos com recursos públicos e dar subsídios para definição do
planejamento das quantidades que precisam ser adquiridas no próximo ano.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 155


CASOS QUE REQUEREM LOGÍSTICA ESPECÍFICA

A seguir, trataremos de alguns casos que requerem uma logística específica de acordo com a
estrutura de cada órgão público. Como já foi relatado em algumas situações, a Administração
Pública pode receber produtos diretamente nas unidades consumidoras e são alguns desses
casos que serão tratados a seguir.

É importante ressaltar que além de ter uma logística que permita o controle e evite desvios, a
mesma deve ser eficiente e deve atender à demanda das unidades que compõem a máquina
pública, ou seja, deve existir uma relação custo-benefício equilibrada.

MERENDA ESCOLAR

A merenda escolar é um tipo de serviço público que requer de cuidados especiais, no que diz
respeito à logística, entre outros fatores.

A primeira decisão importante que deve ser tomada é se serão compradas refeições prontas
ou se as mesmas serão preparadas nas próprias escolas.

Se a Administração optar por adquirir as refeições prontas, deve-se definir a forma como será
entregue e servida cada refeição. Pode ser em marmitas individuais, em que cada aluno já
recebe a refeição pronta, como podem ser entregues os pratos do cardápio separados e as
refeições servidas nas escolas.

Além desse quesito, é preciso definir o cardápio que será servido aos alunos. Os cardápios
devem ser planejados para um determinado período, que deve ser, no mínimo, bimestral.

Para abaixar os custos da merenda escolar e para que os alunos criem o hábito de ingerir
diversos alimentos, é recomendável que sejam utilizados apenas alimentos da época, ou seja,
aqueles que são produzidos em maior quantidade no período em que o cardápio é servido.

156 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Esse planejamento do cardápio deve ser feito por um profissional habilitado em nutricionismo,
para que as refeições sejam balanceadas e saudáveis.

O segundo passo, independentemente de comprar refeições prontas ou prepará-las nas


escolas, é mensurar a quantidade de refeições que serão servidas diariamente, por escola,
por período, por dia, por semana, por mês.

Com base nessa quantidade o órgão público procede à contratação de empresa que entregará
as marmitas. Na licitação deverá constar um cronograma de entrega, com quantidades e
endereços, pois não é viável que a entrega aconteça no almoxarifado central para distribuição
pela equipe da prefeitura. Nesse caso, a entrega deve ser direta nas escolas, ou seja, na
unidade que vai consumir o produto adquirido.

Já se a opção escolhida for a de preparar as refeições nas escolas, devemos ter diversas
ações para atingir o objetivo de servir a merenda escolar.

Após a definição do cardápio, é preciso comprar os alimentos que serão utilizados nas cozinhas
das escolas. Para isso, devemos ter licitações de hortifrutigranjeiros, carnes, pães, alimentos
não perecíveis etc.

No processo de distribuição desses materiais, deve ser considerado o prazo de validade e/


ou conservação dos alimentos. Por exemplo, um pacote de arroz tem prazo de validade de
180 dias, já um pé de alface tem que ser consumido na mesma semana em que aconteceu a
entrega.

Se uma prefeitura não dispõe de capacidade para realizar a distribuição semanal que requer
os alimentos perecíveis da merenda escolar, automaticamente, a gestão deverá decidir por
“terceirizar” a responsabilidade da entrega para o fornecedor.

Isso deverá constar no edital de licitação (periodicidade e locais de entrega), no caso de quais
alimentos serão entregues cada semana, em quais quantidades e onde serão entregues.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 157


Cada edital de licitação deverá conter uma relação com todos os endereços. Lembrando
que produtos como a alface devem ser entregues no máximo na terça-feira, pois não adianta
receber na sexta para usar na semana seguinte.

Vale ressaltar que os alimentos, assim como todos os produtos que os órgãos públicos compram
ou contratam, são de primeira qualidade. Existem diversos servidores que não possuem essa
consciência e recebem qualquer produto dos fornecedores, pois “dá para aproveitar” para
servir uma boa refeição.

É comum encontrar nas prefeituras entregas de hortifrutigranjeiros e de carnes sendo realizadas


nas escolas e nos centros de educação infantis. Nesses casos, essas unidades devem estar
equipadas com a estrutura necessária para proceder ao recebimento e os funcionários serem
treinados para receberem corretamente os pedidos.

Nesses casos, as equipes de recebimentos que trabalham nas diferentes escolas devem ser
capacitadas e treinadas para que recebam os alimentos de forma correta e que não permitam
que os fornecedores se aproveitem da falta de conhecimento, pois os prejudicados serão os
alunos.

Em um dos trabalhos que acompanhei em uma determinada prefeitura, fizemos uma reunião
com as diretoras das escolas e centros de educação infantil para conhecer as dificuldades de
logística que elas enfrentavam e medir o grau de conhecimento sobre o tema.

Algumas reconheceram que mais de uma vez receberam produtos sem qualidade, achando
que estava bom, pois “a merenda é servida de graça para os alunos”, mas sem a consciência
de que o órgão público pagava o preço de produtos de primeira.

Outras reclamaram de ter que assumir a responsabilidade de conferir as quantidades entregues,


pois não possuíam balanças. Assim recebiam carnes e deviam confiar no fornecedor sobre as
quantidades entregues, pois nem se quisessem conseguiriam realizar a conferência.

158 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Por esses casos é importante que os órgãos públicos conscientizem todos os servidores
envolvidos, mas também que lhe proporcionem condições de trabalho.

Depois de recebidos os produtos, os mesmos deverão ser armazenados adequadamente


seguindo as normas da vigilância sanitária, assim como se fosse um restaurante ou
lanchonete. As escolas devem estar equipadas com áreas de estoque, geladeiras e freezers
que comportem as quantidades consumidas.

Deve existir um sistema de controle de estoque informatizado com terminais em todos os


estabelecimentos de ensino para que cada responsável alimente o recebimento de cada
produto.

As quantidades devem ser calculadas em relação ao número de alunos matriculados na


instituição de ensino em cada período.

Ainda é importante que a cozinha disponha de toda a infraestrutura necessária para poder
preparar as refeições, como panelas, utensílios, eletrodomésticos etc.

Por último, e não menos importante, é necessário estimar quantas pessoas precisarão
trabalhar em cada escola para poder fornecer a merenda escolar para os alunos.

Para acompanhar a qualidade da merenda em cada unidade de ensino, podem ser instalados
projetos onde os próprios alunos verificarão periodicamente os produtos entregues, a forma de
recebimento e o trabalho dos profissionais que atuam na escola.

Dessa forma, os alunos estarão sendo preparados para serem cidadãos que acompanham
a aplicação dos recursos públicos e auxiliarão o trabalho do conselho da merenda escolar,
que deve fiscalizar os gastos públicos referentes a produtos e serviços que objetivam servir
merenda escolar para as crianças e adolescentes.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 159


KITS ESCOLARES

O caso dos kits escolares também é complexo e requer a tomada de decisões quanto à forma
que os mesmos serão adquiridos e distribuídos.

Para começar, deve-se saber qual é a composição de um kit escolar no órgão que trabalhamos,
pois não existe padrão de kit escolar. Em algumas cidades existe uma lei municipal que
regulamente a composição do kit, já em outras prefeituras é a própria equipe pedagógica que
define qual será o arranjo do kit.

Normalmente, no kit encontram-se o uniforme escolar de verão e inverno e alguns materiais de


expediente, como caderno, caneta, lápis preto e de colorir, borracha etc.

A preparação desses kits precisa de mais de uma licitação, portanto é importante iniciar o
planejamento deles até o final de junho do ano anterior ao que os materiais serão utilizados,
dessa forma os kits poderão ser entregues no início das aulas, evitando prejuízos para alunos
e professores.

Assim como na merenda escolar, deve existir um controle com o número de alunos para estimar
as quantidades de materiais que serão adquiridos, e ainda devem-se levantar as quantidades
de uniformes que serão necessários por tamanho que cada aluno precisará.

No mínimo, teremos uma licitação para os uniformes e outras para o material escolar.

Os uniformes serão entregues por tipos de peças (camisetas, regatas, agasalhos etc.) e
separados por numeração e caberá ao órgão público fazer a separação e a distribuição por
escola. Ressalta-se que é importante manter um excedente em estoque para novos alunos ou
para eventuais trocas.

Já o material escolar pode ser licitado o kit pronto com sua composição ou podem ser adquiridos
os produtos por item e, posteriormente, serem montados os kits pelos servidores do órgão.

160 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


A opção de comprar os kits prontos parece mais vantajosa, mas não é. O primeiro problema
enfrentado é a marca dos materiais, pois se, durante a licitação, uma marca não for aprovada
pelo órgão, deve-se desclassificar a proposta inteira, então normalmente se acaba pagando
mais caro.

Sem contar que são poucas as empresas que dispõem de estrutura para montar os kits, com
isso afasta potenciais concorrentes o que também aumenta o custo do órgão. Por último,
existem empresas aventureiras que, atraídas pelos altos valores dessas licitações, entram
sem se preocupar em planejar o tempo do qual deverão dispor para montar os kits, com isso
acontecem atrasos nas entregas e, dependendo do tempo, pode acontecer de se iniciarem as
aulas sem o material dos alunos.

Na opção de licitar os produtos individualmente, participam mais empresas, pois cada


participante pode optar por vender os itens que tiver interesse. Caso ganhe algum deles, as
entregas utilizam os mesmos volumes que os fabricantes entregam, facilitando a logística do
licitante.

Por parte do órgão público os kits podem ser montados dentro do almoxarifado central ou
nas escolas. A segunda possibilidade é mais viável, pois facilita as entregas. Por exemplo, se
uma escola possui cem (100) alunos matriculados ela vai receber cem (100) unidades de cada
produto para que sejam entregues aos alunos, que podem ser separados previamente ou na
hora de entregar aos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Olá novamente, chegamos ao final de mais uma unidade e, junto com esta, chegamos ao final
da disciplina.

Conforme observamos, a distribuição dos produtos armazenados no almoxarifado é


fundamental para a avaliação que os usuários vão fazer do processo de logística.

Os servidores não querem saber se o almoxarifado é limpo e organizado, eles querem a


disponibilidade dos produtos necessários na hora certa.

No processo de distribuição, o órgão deve criar as rotas de distribuição para organizar as

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 161


entregas. Quanto maior a cidade, maior a complexidade e maior deve ser a quantidade de
equipamentos e da equipe para atender à demanda.

Se for um órgão estadual ou federal, o planejamento deve ser objeto de preocupação, mas
depois de pronto, funciona da mesma forma que uma prefeitura. Nesses casos, recomenda-se
a criação de regionais para cada almoxarifado ao invés de centralizar tudo.

Em todo o processo de logística, deve existir uma preocupação com os custos envolvidos nas
operações e com o registro de todos os fatos que podem tornar-se informações importantes
para o processo de tomada de decisão.

Sempre deve existir uma relação entre os custos de uma operação e o benefício que será
obtido por ela.

Lembrando que o registro e os controles não terminam no almoxarifado, mas sim nas unidades
consumidoras dos produtos e que, para o sucesso dessa nova técnica de gestão pública, é
necessário o envolvimento de servidores treinados e capacitados para exercer suas funções.

Caro(a) acadêmico(a), por meio do link abaixo você poderá refl etir sobre o papel da logística no que
tange ao controle de estoque, demanda e transporte.
Apesar de básico, na Administração Pública, são poucos os casos em que a estimativa de
compra toma por base o consumo em período anterior. Muitas vezes, ao questionar quanto pre-
cisamos comprar, escutamos a resposta “quanto temos para gastar?”. Pense no que acontece
com os produtos comprados sem necessidade.
<http://www.logisticadescomplicada.com/controle-de-estoques-logistica-e-previsao-de-demanda/>.

Administração de Materiais e Logística


<http://www.youtube.com/watch?v=DpJtGWIroWc>.

162 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


Logística de Suprimentos – TCC SENAI CFP/JPR - Parte 02
<http://www.youtube.com/watch?v=De10ZDh_f8s&feature=related>.

ATIVIdAdE dE AuTOESTudO
1. Explique a importância do processo de recebimento e armazenagem dos produtos.
2. Aborde as vantagens da implantação de um almoxarifado central.
3. Relacione a estrutura, funcionamento e controle do almoxarifado.

Livro: Projeto de Centros de distribuição


Autores: Michel Roux e Darli Rodrigues Vieira
Idioma: Português
Editora: Campus
Assunto: Administração – Logística
Edição: 1ª
Ano: 2011

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 163


CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), gostaríamos de iniciar a nossa conclusão citando um conceito da logística


que é extremamente pertinente: “Logística é o processo de planejamento, implementação e
controle eficiente e eficaz do fluxo e armazenagem de mercadorias, serviços e informações
relacionadas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender
as necessidades do cliente” (CLM Council of Logistics Management, 1991) Conselho de
Gerenciamento da Logística – Atual CSCMP – Council of Supply Chain Management
Professionals – Conselho dos profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos.

Este conceito de logística é adequado aos mais diversos segmentos de negócios no setor
privado e também à logística do setor público. Mas, então, qual é a diferença na gestão
logística dos diversos segmentos ou da própria logística do setor privado e do setor público? A
grande diferença é que as realidades e características são distintas, e os gestores da logística
têm que preocupar-se com a aderência das práticas respeitando as restrições do ambiente em
que atuam e, desta forma, implantar modelos logísticos que atinjam maior eficiência e eficácia.

Ou seja, um segmento alimentício busca tanta eficiência e eficácia quanto um setor


automobilístico, mas uma pequena indústria alimentícia terá condições de criar um parque
industrial ao seu redor para materializar uma logística “just in time” com custos logísticos
atraentes, como usualmente uma indústria do setor automobilístico faz? É provável que não,
mas ela pode posicionar-se próxima aos fornecedores ou aos clientes, buscando uma maior
eficiência logística no seu processo, ou mesmo, realizar parcerias com fornecedores visando
disponibilizar serviços logísticos adequados aos seus clientes com custos competitivos. Na
verdade, independente do segmento de atuação, os gestores logísticos devem identificar quais
são as boas práticas em logística que trarão mais resultados no seu processo logístico e
implementá-las com sucesso.

Na logística do setor público não é diferente, os gestores de logística do setor público devem
respeitar as principais restrições logísticas no modelo em que atuam e identificar quais são
os modelos logísticos que teriam maior aderência, ou seja, que poderiam ser materializados e
que trariam maiores resultados, ou seja, como obter um fluxo físico de mercadorias eficientes
e eficazes, atendendo às necessidades dos seus clientes, com níveis de serviços adequados
com o menor custo total.

164 LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância


É importante citar que as restrições logísticas devem ser avaliadas e devem-se perceber quais
são as restrições que podem ser mudadas e que devem ser enfrentadas com projetos de
melhoria e quais são as restrições que têm que ser respeitadas, pois não podem ser mudadas,
pelo menos no curto e médio prazo, e o modelo logístico implantado terá que conviver com
estas restrições identificadas.

Caro(a) aluno(a), pudemos compreender na leitura do nosso livro as ideias principais sobre
os conceitos da logística e dos processos da cadeia de abastecimento, o processamento de
pedidos na administração pública, as vantagens da utilização do almoxarifado central e a
importância dos centros de consumo. A reflexão que fica neste sentido é como, por meio dos
conceitos gerais e específicos de logística, os gestores da logística do setor público do Brasil
poderão contribuir para uma conquista evolutiva de obtenção de uma logística do setor público
cada vez mais eficiente e eficaz, onde, na melhor forma de gestão do dinheiro público, poderão
implantar dia a dia as boas práticas de logística, atendendo aos níveis de serviços desejados
pelos seus clientes nos menores custos logísticos totais.

LOGÍSTICA NO SETOR PÚBLICO | Educação a Distância 165


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