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Rotinas em Obstetrícia 27

drão de crescimento uterino permite correlacio-


nar a IG calculada e a medida da altura uterina A consulta pré-natal
a cada consulta.
Objetivos básicos e planejamento
Uma das formas mais confiáveis para a datação
da gestação é a avaliação por ecografia obstétri- Os objetivos principais de cada consulta pré-
ca no primeiro trimestre. Essa avaliação torna-se -natal devem ser:
essencial em caso de DUM incerta ou discordan- > Definir o estado de saúde da mãe e do feto.
te em relação à altura uterina e para diagnóstico
diferencial entre datação incorreta e outro fator > Determinar a IG.
(gestação múltipla, polidrâmnia, oligoidrâmnia, > Realizar um plano de cuidado obstétrico con-
restrição de crescimento intrauterino, macrosso- tinuado.
mia fetal).
O calendário de atendimento de pré-natal
A ecografia de primeiro trimestre deve ser rea- deve ser programado em função da IG na
lizada por via transvaginal. O comprimento primeira consulta, dos períodos mais adequa-
cabeça-nádegas (CCN) é a medida de biometria dos para a coleta de exames e dados clínicos,
fetal considerada padrão no primeiro trimestre das fases nas quais se necessita intensificar a
(ainda que em gestações muito precoces possa vigilância pela possibilidade maior de compli-
se utilizar o diâmetro do saco gestacional). Entre cações e, ainda, em função dos recursos dos
7 e 10 semanas de gestação, a medida do CCN serviços de saúde e da possibilidade de acesso
associa-se a um erro no cálculo da IG de ⫾ 3
da paciente a eles.
dias; entre 10 e 14 semanas, o erro é de ⫾ 5
dias, aumentando progressivamente com a evo- Na primeira consulta pré-natal, devem ser fei-
lução da gestação. tos anamnese e exame físico completos, aten-
tando-se para aspectos epidemiológicos, ante-
A partir da IG de 14 semanas, o parâmetro da
cedentes familiares e pessoais e com atenção
biometria fetal mais estudado é o diâmetro bi-
especial para antecedentes ginecológicos e obs-
parietal (DBP). Entre 14 e 20 semanas, a eco-
tétricos. É muito importante também realizar na
grafia é capaz de determinar a IG com um erro
primeira consulta de pré-natal uma avaliação de
de ⫾ 7 dias, chegando a um erro de ⫾ 3 a 4 se-
aspectos socioculturais, incluindo triagem para
manas a partir da metade do terceiro trimestre.
uso de drogas, risco de violência doméstica, ní-
Alguns estudos apontam para a superioridade
vel de segurança no local onde mora, pobreza
da medida da circunferência cefálica no segun-
extrema/fome, aceitação da gestação, etc.
do trimestre.
Em gestações já avançadas com DUM desco- Nas consultas subsequentes, a avaliação deve
nhecido, é possível ainda tentar estimar a IG uti- ser mais dirigida aos aspectos específicos da
lizando a avaliação de sinais ecográficos de ma- gestação, conforme será abordado a seguir,
turidade fetal. A ossificação da epífise femoral sendo necessário questionar sempre sobre mo-
distal sugere IG de pelo menos 32 semanas, e a vimentação fetal, contrações uterinas e perdas
ossificação da tíbia proximal e epífises umerais vaginais.
sugerem IG de pelo menos 35 semanas. Deve-se sempre estar atento aos aspectos emo-
cionais associados à gravidez, pois esse é um
momento importante para a mulher e para o
bom desenvolvimento das relações familiares,
A ecografia obstétrica para datação da
gestação é mais confiável no primeiro da satisfação dos casais e de seus filhos. Deve-se
trimestre. estimular a participação do marido nas consul-
> Entre 7-10 semanas: erro de ⫾ 3 dias tas de pré-natal. Além disso, é necessário estar
> Entre 14-20 semanas: erro de ⫾ 7 dias atento em todas as consultas para responder às
> Terceiro trimestre: erro de ⫾ 3-4 dúvidas e ansiedades da mulher e de seu parcei-
semanas ro e orientá-los a respeito de sintomas e sinais
normais em cada período da gestação.
28 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

A frequência das consultas deve diferir entre não recebem orientação específica no pré-natal.
gestações de alto e baixo risco. No caso de ges- Um estudo realizado com pacientes atendidas
tantes sem fatores de risco detectados, o Minis- na maternidade do Hospital de Clínicas de Por-
tério da Saúde recomenda um mínimo de seis to Alegre evidenciou que apenas 34,9% das
consultas, uma no primeiro, duas no segundo e puérperas avaliadas haviam recebido orientação
três no terceiro trimestre. O intervalo entre elas sobre aleitamento materno durante a gestação
não deve ultrapassar oito semanas. No final do (Espírito Santo; Oliveira; Giugliani, 2007). A
terceiro trimestre, as consultas necessitam ser orientação deve incluir conteúdos sobre a fisio-
mais frequentes, e a gestante deve ser orientada logia da lactação, a técnica correta da amamen-
sobre sinais de trabalho de parto e a procurar tação e, principalmente, a importância da ama-
atendimento se o parto não ocorrer sete dias mentação para a saúde da criança. Com isso, a
após a data provável (ou seja, se a gestação mulher torna-se mais preparada para prevenir e
atingir 41 semanas). superar eventuais obstáculos à amamentação.
No final da gestação, cabe ao médico explicar
e tranquilizar a paciente quanto aos sinais pre-
vistos de início do trabalho de parto (ritmo, fre- Alterações fisiológicas
quência e intensidade das contrações) e ressaltar da gestação
a possibilidade de ruptura da bolsa de líquido
amniótico, os sinais de alerta para indicar uma Há alterações fisiológicas que ocorrem em todas
consulta em emergência obstétrica e os procedi- as gestações, acometem a maioria dos sistemas
mentos que poderão ser realizados durante sua do organismo e podem gerar sintomas descon-
internação (tonsura, sondagem vesical, amnio- fortáveis para a gestante, tornando-se queixas
tomia, episiotomia, cesariana). muito frequentes nas consultas de pré-natal.
Essas alterações precisam ser conhecidas pelo
O Ministério da Saúde recomenda no míni- pré-natalista a fim de que ele possa diferenciar
mo seis consultas de pré-natal, uma no pri- as alterações patológicas das fisiológicas. As
meiro trimestre, duas no segundo e três no principais alterações fisiológicas estão descritas
terceiro trimestre. na Tabela 1.2.
Consultas com enfermagem obstétrica são
muito benéficas e podem ser intercaladas en-
tre as consultas médicas. Nessas consultas, as O que avaliar no exame da
pacientes recebem orientações adicionais e gestante
são abordados diversos assuntos, como higie-
ne, nutrição, cuidados com o recém-nascido, Estado nutricional e ganho de peso
amamentação, aplicação de vacinação antite- durante a gestação
tânica. Além disso, as gestantes devem ser es-
O ganho de peso na gestação deve ser con-
timuladas a participar de cursos de preparação
trolado, verificando-se se evolui dentro da
para o parto. Desde a primeira consulta, a ges-
faixa de normalidade. A ausência de ganho
tante deve receber uma carteira de pré-natal,
ou a perda de peso podem estar associadas a
na qual devem ser anotados de maneira clara
um crescimento fetal insuficiente; o ganho de
e objetiva todos os dados, e a paciente deve
peso repentino (700 g ou mais em uma sema-
ser orientada a tê-la sempre consigo em caso
na) deve levantar suspeita de retenção líqui-
de procurar atendimento médico em outra
da/edema relacionados com a pré-eclâmpsia.
instituição de saúde. Deve constar na cartei-
Uma revisão sistemática recente mostra cla-
ra de pré-natal também o nome do hospital
ramente que mulheres com ganho ponderal
de referência para parto ou intercorrências/
abaixo do recomendado tendem a apresentar
urgências.
restrição de crescimento fetal e recém-nasci-
O pré-natal constitui-se em uma ótima dos (RNs) com baixo peso ao nascimento. Ges-
oportunidade para estimular a amamentação; tantes com ganho excessivo de peso tendem a
apesar disso, na maioria das vezes, as gestantes ter fetos macrossômicos, grandes para a idade
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Tabela 1.2 Alterações fisiológicas da gestação

Fisiopatologia Manejo

Pele e anexos Estrias Ruptura de fibras elásticas Não há tratamento


da pele. específico.
Linha nigra Hiperpigmentação cutânea Não há tratamento
na linha média no abdome. específico. Costuma
desaparecer após o parto.
Sistema Dores lombares Mudança no eixo Melhora sintomática com
musculesquelético gravitacional do corpo, medidas gerais (repouso
relaxamento ligamentar e relativo, alongamento, calor
fadiga muscular. local, analgésicos, postura
adequada). Evitar o uso de
salto alto.
Dores Pressão do útero sobre a Melhora sintomática com
hipogástricas musculatura abdominal, repouso. É importante
pelve e bexiga, associada ao diferenciar de contrações
relaxamento ligamentar. uterinas.
Cãibras Causa desconhecida. Ocorre Repouso, aumento da
em 30% das gestações, ingesta hídrica e de cálcio.
mais à noite. Associada à
presença de varizes.
Sistema digestivo Náuseas e vômitos Matinais, não persistem Tranquilização,
além do 2o trimestre. eventualmente medicação
Relacionados a fatores antiemética.
hormonais (HCG) e Afastar hiperêmese
psicogênicos. gravídica e causas
secundárias nos casos
refratários.
Sialorreia Pode acompanhar náuseas Não há tratamento
no 1o trimestre. específico.
Pirose Compressão gástrica pelo Fracionamento das
útero, com aumento do refeições, uso de cabeceira
refluxo gastresofágico. elevada. Evitar a posição
supina após as refeições
e a ingestão de alimentos
agravantes. Uso de
substâncias antiácidas nos
casos refratários.
Constipação Redução da motilidade Aumento da ingesta hídrica
intestinal, pela ação e de fibras alimentares.
hormonal e pela
compressão exercida pelo
útero sobre as porções
terminais do intestino.
Sistema circulatório Síncope e tonturas Hipotensão ou Repouso, alimentação
hipoglicemia. adequada.
Varizes e edema Compressão venosa pelo Elevação de membros
em membros útero gravídico, dificultando inferiores e uso de meias
inferiores o retorno venoso. elásticas.

Continua
30 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Tabela 1.2 Alterações fisiológicas da gestação (continuação)

Fisiopatologia Manejo

Hemorroidas Compressão do útero sobre Normalização do hábito


o plexo hemorroidário, mais intestinal com fibras e
sintomáticas na presença de hidratação adequada. Uso de
constipação. banhos de assento e anestésicos
locais. Regridem após o parto.
Sistema geniturinário Polaciúria Compressão do útero sobre Afastar infecção urinária.
a bexiga, com redução da
capacidade vesical.
Leucorreia Aumento das secreções Afastar vaginite.
vaginais por ação hormonal.
Secreção esbranquiçada,
sem irritação da mucosa
vulvar e vaginal.

gestacional ao nascimento, e maior dificulda- A suplementação dietética rotineira de vi-


de para perder peso no puerpério (Siega-Riz et taminas não é recomendada. A exceção é a
al., 2009). suplementação de ácido fólico (pelo menos
a
30 dias antes da concepção até a 12 sema-
Para acompanharmos o crescimento ponderal a
na) e de sulfato ferroso (da 20 semana até
da gestante, podemos usar o peso estimado
30 dias após o parto.
antes de engravidar e considerar como aumen-
to normal um ganho semanal de 400 g no se-
gundo trimestre e de 300 g no terceiro. Uma Vigilância da pressão arterial
exposição mais detalhada do acompanhamento A medida de pressão arterial (PA) deve ser rea-
nutricional da gestante encontra-se no Capítulo lizada a cada consulta de pré-natal, permitindo
16, Nutrição na gestação. o diagnóstico precoce de pré-eclâmpsia ou de
A suplementação rotineira de vitaminas não é outros distúrbios hipertensivos na gestação.
recomendada, pois, em geral, uma alimentação A medida da PA sempre deverá ser realizada
saudável é suficiente para suprir as necessidades com a paciente sentada. Em caso de pacien-
diárias de forma adequada. A exceção é feita tes obesas, deve-se utilizar esfigmomanômetro
nos casos em que haja risco nutricional, como adequado ou realizar o cálculo de ajuste de
em pacientes com gestação múltipla, abuso de acordo com o perímetro braquial. Considera-se
drogas, vegetarianas estritas, epilépticas ou com hipertensão quando os níveis pressóricos forem
diagnóstico de hemoglobinopatias. Há a neces- iguais ou superiores a 140/90 mmHg.
sidade de suplementação universal apenas de
É importante diferenciar a hipertensão induzida
ferro (Tab. 1.4), a partir de 20 semanas de IG, e
pela gestação da hipertensão crônica. Em am-
de ácido fólico por pelo menos 30 dias antes da
bas as situações, deve haver um acompanha-
concepção e até a 12a semana de gestação. A
mento subsequente em serviço de pré-natal de
dose aconselhada atualmente é de 0,4 mg/dia,
alto risco. Ao final do segundo trimestre e no
com exceção das pacientes de alto risco (diabe-
início do terceiro, é fisiológica uma queda dos
te, antecedente de defeito de fechamento do
valores pressóricos, podendo confundir ou mas-
tubo neural), que devem receber 4 mg/dia (ver
carar a identificação de um distúrbio hiperten-
o Cap. 2, Aconselhamento pré-concepcional).
sivo gestacional, particularmente nas gestantes
Constipação intestinal é uma queixa comum en-
que iniciam o pré-natal tardiamente.
tre as gestantes. A suplementação dietética com
fibras vegetais é efetiva na redução da constipa- Para maiores detalhes sobre esse assunto, ver o
ção na gravidez. Capítulo 34, Doença hipertensiva na gravidez.
Rotinas em Obstetrícia 31

Medida da altura uterina – reflete mais fielmente o padrão de crescimento


crescimento fetal uterino das gestantes brasileiras. Temos como
limites de normalidade o percentil 10 para o in-
A medida da altura uterina (AU) a cada con-
ferior e o percentil 90 para o superior (Fig. 1.1
sulta, de preferência pelo mesmo examinador,
e Tab. 1.3).
é uma maneira fácil e universalmente acessível
de acompanhar o desenvolvimento fetal. O re- A cada consulta, deve-se marcar no gráfico o
gistro gráfico da AU permite monitorar o de- ponto de intersecção da AU com a IG e atentar
senvolvimento normal do feto conforme a IG e se está situado entre os percentis 10 e 90. Caso
detectar desvios de crescimento. a AU siga aumentando em um mesmo percentil
A medida da AU é feita colocando-se um ex- saudável, deve-se seguir o calendário mínimo de
tremo da fita métrica sobre a borda superior da pré-natal (como qualquer gestação de baixo ris-
sínfise púbica e o outro no fundo uterino. A pa- co). Caso ocorra queda ou elevação abrupta em
ciente deve ser colocada em posição de litoto- uma curva que vinha evoluindo normalmente,
mia e com a bexiga vazia, para reduzir a interfe- deve-se atentar para um possível erro na medida
rência de fatores extrínsecos na medida da AU. e prosseguir investigação diagnóstica se a medi-
da estiver correta.
Adotamos como padrão de referência a curva
de altura uterina de acordo com a idade gesta- Uma medida que gera um ponto acima da
cional apresentada por Opperman e colabora- curva superior (percentil 90) deve chamar
dores (2006), que se fundamentou na avalia- atenção para alterações. Se o crescimento es-
ção de mais de 3.500 gestantes em um estudo tiver evoluindo acima da curva superior, porém
multicêntrico, em seis capitais brasileiras, para com a mesma inclinação da curva, é possível
rastreamento do diabete gestacional (EBDG). que a IG seja maior do que a estimada. Uma
Nessa curva, observam-se valores superiores inclinação maior do que a curva superior, isto
aos encontrados na curva anteriormente ado- é, um crescimento uterino acima do esperado
tada (desenvolvida pelo CLAP – Centro Lati- e ascendente, acontece na gestação múltipla,
no-Americano de Perinatologia) e, portanto, na hidrocefalia, no polidrâmnio, na doença

45

p90
40
Altura uterina (cm)

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35 p25

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Semana 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39

N 445 495 454 478 490 594 602 621 579 600 662 606 715 666 695 734 784 791 687 481

Figura 1.1 Distribuição da altura uterina de acordo com a idade gestacional.


Estudo Brasileiro do Diabete Gestacional (EBDG).
32 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Tabela 1.3 Correlação entre o tamanho uterino e a IG

Semanas Tamanho uterino


a
Até a 6 semana de gestação Não ocorre alteração do tamanho uterino.
Na 8a semana O útero corresponde ao dobro do tamanho normal.
Na 10a semana Corresponde a três vezes o tamanho habitual.
Na 12a semana Ocupa toda a pelve, sendo palpável na sínfise púbica.
Na 16a semana Encontra-se entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical.
Na 20a semana Situa-se na cicatriz umbilical.
A partir da 20a semana Existe uma relação aproximada entre as semanas de gestação e a medida
da altura uterina, e quanto mais próximo ao término da gestação, menos
fiel é a correspondência.

trofoblástica gestacional, na macrossomia, ou concomitantemente a frequência e o ritmo


na miomatose uterina. cardíaco dos fetos.
O inverso, o crescimento uterino abaixo do Observa-se a frequência dos batimentos du-
esperado, pode também ocorrer por erro de rante 1 minuto, que deve situar-se entre 110 e
cálculo de IG (principal suspeita quando per- 160 bpm. Variações para menos ou para mais
sistir evoluindo com a mesma inclinação da correspondem, respectivamente, à bradicardia
curva). Se a inclinação da curva for menor ou e à taquicardia fetal e representam motivos
se afastar da curva inferior, pensar no cresci- para avaliação de bem-estar fetal mais deta-
mento intrauterino restrito, nos fetos constitu- lhada (American College of Obstetricians and
cionalmente pequenos, no oligoidrâmnio ou na Gynecologists, 2009). A existência de acelera-
situação transversa. ções transitórias (elevações da frequência de
pelo menos 15 batimentos por, no mínimo, 15
Ausculta dos batimentos cardiofetais segundos) é sinal de boa vitalidade e está fre-
A determinação da frequência cardíaca fetal foi quentemente associada às movimentações fe-
o primeiro recurso propedêutico utilizado para tais, aos estímulos mecânicos sobre o útero ou
avaliar as condições fetais na gravidez e no par- à contração uterina.
to. Deve fazer parte do exame físico da gestante No terceiro trimestre da gestação, o decúbito
em toda consulta pré-natal. dorsal mais prolongado pode levar à compres-
A identificação dos batimentos cardiofetais são da aorta e da veia cava inferior (hipotensão
(BCFs) pode ser feita com a ultrassonografia supina postural), causando uma síndrome de
a partir da quinta ou sexta semana de gesta- compressão aortocava. A diminuição do fluxo
sanguíneo uterino e da perfusão placentária
ção; com o sonar Doppler a partir da 10a ou
pode acarretar uma queda da frequência car-
11a semana e com o estetoscópio de Pinard a
díaca fetal (efeito Poseiro). A lateralização da
partir da 20a semana. A possibilidade de ouvir
paciente para a esquerda deve normalizar essa
os batimentos cardíacos do bebê traz à mãe
situação.
uma sensação de tranquilidade, e a não identi-
ficação dos BCFs pode gerar ansiedade inten- A determinação do local de melhor ausculta
sa; portanto deve-se tentar a ausculta consi- dos BCFs depende da IG. Nas gestações de até
derando-se as capacidades de cada método a 16 semanas, o ponto de ausculta deve situar-
cada IG. Obesidade materna, dificuldade de -se próximo ao púbis. Com o avanço do cresci-
identificar o dorso fetal e polidrâmnio podem mento uterino, privilegiando o eixo longitudinal,
dificultar a ausculta. Em caso de gemelarida- o feto em geral se situará nesse eixo, o que
de, o correto é utilizar dois sonares e avaliar pode ser comprovado por meio das manobras
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Figura 1.2 Manobras de palpação.

de Leopold-Zweifel (Fig. 1.2). Dividindo-se o Tipagem sanguínea e Coombs indireto


abdome materno em quatro quadrantes, procu-
A tipagem sanguínea de toda gestante precisa
ra-se auscultar os BCFs no quadrante em que
ser conhecida a fim de possibilitar a prevenção
devem estar o dorso e a cabeça fetal.
da doença hemolítica perinatal; deve, portanto,
ser solicitada na primeira consulta de pré-natal.
Se a gestante for Rh-negativo, deve-se solicitar,
Exames laboratoriais básicos além da tipagem sanguínea, o teste de Coombs
indireto. Se este for negativo, deve-se repeti-lo
Os exames laboratoriais listados a seguir devem mensalmente a partir da 24a semana. Se for po-
ser solicitados rotineiramente para todas as ges- sitivo, referir a paciente para pré-natal de alto
tantes durante o pré-natal. risco (ver Cap. 10, Doença hemolítica perinatal).
34 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

para excluir falso-positivo (que pode estar rela-


As evidências atuais permitem recomendar cionado com a própria gestação ou com doenças
profilaxia para doença hemolítica do concomitantes, como o lúpus). Se o FTA-Abs for
recém-nascido por meio da aplicação da positivo, deve ser prescrito tratamento para sí-
imunoglobulina anti-D em mulheres com filis. Em caso de paciente de difícil seguimento
fator Rh-negativo nas situações listadas a
seguir:
ou impossibilidade de realizar o FTA-Abs pron-
> Rotineiramente no período pós-parto tamente, justifica-se prescrever tratamento ime-
imediato se o fator Rh do recém-nascido diatamente após o resultado de VDRL positivo,
for positivo. mesmo sem exame confirmatório (ver Cap. 37,
> Após procedimentos invasivos Gestação e doenças sexualmente transmissíveis).
(amniocentese e biópsia de vilos
coriônicos). A sífilis congênita e a sífilis em gestante são
> Sangramentos de 1o, 2o e 3o trimestres. doenças de notificação compulsória, respectiva-
> Abortamentos e morte fetal intrauterina. mente desde 1986 e 2005.
> Após trauma abdominal.
> Gestação ectópica. Anti-HIV
> Mola hidatidiforme.
> Versão externa. O teste anti-HIV deve ser realizado de rotina no
pré-natal, o que se justifica plenamente pelo
grande impacto do uso de antirretrovirais na re-
dução dos índices de transmissão vertical (redu-
O uso universal da imunoglobulina profilática
ção de 25,5% para níveis inferiores a 2%) do HIV.
para gestantes Rh-negativo no final do segun-
A maioria das pacientes HIV-positivo não apresen-
do trimestre, utilizado em alguns países, ainda é
ta fatores de risco identificáveis pela história.
bastante controverso em nosso meio, principal-
mente devido à relação custo-benefício. A justi- O teste deve ser realizado na primeira consulta
ficativa para o uso universal seria a prevenção da de pré-natal e repetido a cada trimestre. Antes da
aloimunização decorrente de pequenos sangra- solicitação do teste, deve-se obter consentimento
mentos ocultos que podem ser suficientes para por parte da paciente e informá-la sobre as con-
gerar resposta imunológica materna. Como há sequências em caso de teste positivo ou indeter-
evidências de que esse uso da imunoglobulina minado. Testes de triagem (ELISA) positivos de-
não tenha relação custo-benefício aceitável, não vem ser confirmados por testes mais específicos.
podemos estabelecer como norma o seu uso
profilático rotineiro. A estratégia recomendada como padrão-ouro
para o diagnóstico de HIV é a combinação de
Sorologia para sífilis dois imunoensaios enzimáticos diferentes mais
um ensaio confirmatório com Western Blot ou
A ocorrência de sífilis durante a gestação está imunofluorescência. Essa estratégia tem alta
associada a abortamento espontâneo, parto sensibilidade, porém apresenta algumas res-
pré-termo, morte fetal intrauterina, hidropsia trições operacionais, e o resultado demora até
fetal, restrição de crescimento, morte perinatal duas semanas, podendo dificultar o acompa-
e sífilis congênita. O tratamento da sífilis é bas- nhamento de pacientes e retardar o início do
tante simples e barato e tem a capacidade de tratamento.
minimizar as consequências da doença para a
mãe e o feto, tornando obrigatória a triagem da Atualmente há uma proposta, sugerida pelo
doença de forma rotineira no pré-natal. Ministério da Saúde, de realizar o diagnóstico
de HIV utilizando apenas testes rápidos. Os
Deve ser solicitado VDRL (Veneral disease resear- testes rápidos disponíveis hoje em dia são alta-
ch laboratories) para triagem na primeira consul- mente sensíveis e específicos, alguns deles com
ta do pré-natal. Se o VDRL for negativo, a reco- desempenho comparável ao do imunoensaio,
mendação do Ministério da Saúde é repeti-lo em e podem fornecer resultado em menos de 20
torno da 32a semana e novamente na internação minutos por observador sem treinamento es-
para o parto. Se o VDRL for positivo, o ideal seria pecífico. A OMS recomenda um algoritmo para
a realização de um teste treponêmico (FTA-Abs)
uso do teste rápido (TR) para diagnóstico de
Rotinas em Obstetrícia 35

HIV, com utilização sequencial de dois ou três trato urinário (ITU) ou após um episódio
testes rápidos, para uso em situações em que de pielonefrite aguda na gestação atual.
o diagnóstico rápido é fundamental, como na
A recorrência de nova infecção durante a gesta-
parturiente ou puérpera.
ção é bastante comum; portanto, após um epi-
O pré-natal da paciente HIV-positivo deve ser sódio de pielonefrite aguda ou dois episódios de
diferenciado, incluindo uma avaliação clínica ITU na gestação atual, recomenda-se profilaxia
complementada com a laboratorial. Devem ser com doses baixas de antibiótico até o parto com
solicitados VDRL, HBsAg, rastreamento para ou- nitrofurantoína ou ampicilina.
tras DSTs, teste de Mantoux, anti-HCV, sorologia
Existe um risco teórico de anemia hemolítica com
para toxoplasmose, citomegalovírus e herpes
uso de nitrofurantoína próximo ao nascimen-
(principalmente nas paciente já imunodeprimi-
to (nos raros casos de fetos com deficiência de
das), dosagem de plaquetas, CD4, carga viral e
G6PD), o que levou alguns autores a recomendar
provas de função hepática e renal. A paciente
a suspensão da antibioticoterapia profilática após
deve receber acompanhamento concomitante
36/37 semanas (Duarte et al., 2008). Esse risco, no
por um médico infectologista.
entanto, é muito baixo (em torno de 0,0004%)
Deve-se atentar para o maior risco de lesões quando comparado aos riscos associados à recor-
pré-malignas e câncer de colo em gestantes rência de ITU ou pielonefrite, permitindo que o
HIV-positivo. É fundamental também aprovei- obstetra possa recomendar a manutenção do uso
tar a oportunidade no pré-natal para orientar a de antibiótico até o momento do parto de acordo
respeito de práticas de sexo seguro, métodos de com seu julgamento de cada caso.
contracepção no pós-parto e contraindicação à
amamentação. Nessas pacientes, devem-se evitar Hemoglobina e hematócrito
procedimentos invasivos, como amniocentese, Durante a gestação, observa-se um aumento
biópsia de vilosidades coriônicas e cordocentese. da produção eritrocitária; porém, devido a um
aumento ainda maior no volume plasmático, o
Urocultura resultado é a hemodiluição. Ocorre diminuição
A infecção urinária é a infecção bacteriana mais significativa nos valores da hemoglobina e do
frequente durante a gestação; além disso, a pre- hematócrito, que se manifestam precocemente,
valência de bacteriúria assintomática é de 2 a em torno da 10a semana, alcançando valores
10% de todas as gestantes. Até 40% dos casos mínimos em torno da 20a semana, com discre-
de bacteriúria assintomática não tratados po- to aumento a partir de então. O diagnóstico de
dem evoluir para pielonefrite, situação que cur- anemia na gestação é realizado com a medida
sa com risco de trabalho de parto pré-termo de da hemoglobina, que deve ser solicitada junta-
até 20% e sepse neonatal precoce. mente com o hematócrito na primeira consulta
de pré-natal e a cada trimestre.
Esses dados justificam, portanto, o tratamento
rigoroso da bacteriúria assintomática (além do A anemia é uma intercorrência frequente na
tratamento da infecção sintomática) na gesta- gestação, sobretudo entre as pacientes multípa-
ção. Após 7 a 10 dias do término do tratamen- ras ou com intervalo pequeno entre gestações.
to, deve-se realizar nova urocultura para contro- O diagnóstico e o manejo dessa condição estão
le de cura. Mesmo com urocultura de controle especificados na Tabela 1.4.
negativa, devem ser solicitadas novas urocultu-
ras a cada dois meses até o parto.
Exames de secreção vaginal e
citopatológico cervical
Nos casos de suspeita clínica, o tratamento
As vulvovaginites devem ser identificadas e tra-
deve ser iniciado logo após a coleta de amostra
tadas na gestante. Existem estudos que asso-
de urina, enquanto se aguarda o resultado da
ciam a vaginose bacteriana a trabalho de parto
urocultura.
pré-termo, ruptura prematura de membranas,
Recomenda-se antibioticoprofilaxia con- endometrite puerperal e até morte fetal in-
tínua após dois episódios de infecção do trauterina. Há evidências de que, fazendo-se o
36 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

rastreamento e tratamento das gestantes com


vaginose, seja possível reduzir pelo menos a fre- Na primeira consulta pré-natal, devem
quência de um dos desfechos associados (traba- ser solicitados os seguintes exames de
lho de parto prematuro). rotina:
> Tipagem sanguínea
Como para muitas pacientes a gestação é uma > Sorologia para lues (VDRL)
rara oportunidade de ser avaliada por um médi- > EQU e urocultura
co ginecologista, deve-se aproveitar a primeira > Hematócrito e hemoglobina
consulta para a realização do exame citopato- > Citopatológico de colo uterino (CP)
> Glicemia de jejum
lógico cervical com o cuidado de não se fazer
> Anti-HIV
coleta de material endocervical com cytobrush. > Sorologia para toxoplasmose (não em
todas as regiões, como rotina)
Rastreamento do diabete gestacional
Para o rastreamento e o diagnóstico do diabe-
te melito gestacional (DMG), a recomendação
atual do Ministério da Saúde é a de que se uti- Exames solicitados no segundo
lize a glicemia de jejum como rastreamento na trimestre:
primeira consulta, com o objetivo de diagnosti- > Coombs indireto (se paciente
car diabete prévio. Rh-negativo)
> Glicemia de jejum (após a 24a semana)
> Se a glicemia inicial for ⬍ 85, repete-se o > Sorologia para toxoplasmose, se IgM e
a
exame após a 24 semana de gestação. IgG não reagentes no primeiro trimestre

> Se a glicemia inicial for entre 85 e 110 mg/dL,


considera-se rastreamento positivo e se reali-
za teste de tolerância à glicose (TTG) com 75
g de glicose entre 24 e 28 semanas. Nas pa- Exames solicitados no terceiro
trimestre:
cientes que fizeram o TTG, valores ⱖ 140 mg/
dL confirmam o diagnóstico de DMG e devem > Sorologia para lues (VDRL)
> Anti-HIV
ser encaminhadas a pré-natal de alto risco.
> Hematócrito e hemoglobina
> Se a glicemia inicial for ⱖ 110 mg/dL, repe- > HBsAg
> Sorologia para toxoplasmose, se IgM e
te-se prontamente a glicemia de jejum; se
IgG não reagentes no primeiro trimestre
essa for novamente ⱖ 110, está feito o diag- > Pesquisa para Streptococcus do grupo B
nóstico de DMG. (não há unanimidade nessa indicação)
É importante ressaltar que a melhor maneira
de diagnosticar o diabete na gestação ainda é
motivo de considerável controvérsia. Com valo- Sorologia para toxoplasmose
res alterados, encaminha-se a paciente para o No Estado do Rio Grande do Sul, a toxoplasmose
pré-natal de alto risco (ver Cap. 36, Diabete e congênita é mais prevalente do que em outras
gestação). regiões do Brasil. Aqui se recomenda o rastrea-

Tabela 1.4 Terapêutica com sulfato ferroso na gestação

Hb ⬎ 11 g% Ausência de anemia: Administrar 300 mg (1 dr) de sulfato ferroso (60 mg


de Fe elementar)/dia, a partir da 20a semana.
Hb 8-11 g% Anemia leve ou moderada: Tratar com 900 mg/dia. Repetir Hb 4 a 8
semanas após. Se os níveis se mantiverem ou diminuírem, encaminhar
para pré-natal de alto risco.
Hb ⬍ 8 g% Anemia grave: encaminhar para pré-natal de alto risco.
Rotinas em Obstetrícia 37

mento sorológico universal para toxoplasmose conduta, já que o risco para o feto existe apenas
(IgG e IgM) na primeira consulta de pré-natal. em caso de primoinfecção aguda durante a ges-
tação atual, sendo praticamente inexistente em
As pacientes com IgG reagente e IgM não
casos de infecção antiga ou reinfecção.
reagente já tiveram contato no passado com
toxoplasmose. Essas pacientes estão imuni- Em casos de infecção aguda durante a gesta-
zadas; não apresentam, em princípio, risco ção, é importante também definir a IG em que
de toxoplasmose congênita e não requerem ocorreu a infecção: com o avançar da gestação,
orientações especiais. A exceção a essa regra aumenta o risco de infecção congênita, porém
são as pacientes imunossuprimidas ou imuno- diminui a gravidade do acometimento fetal.
deprimidas.
(Para mais detalhes, ver Cap. 31, Infecções ne-
As pacientes com IgM e IgG não reagentes onatais).
são suscetíveis à toxoplasmose e devem ser
orientadas a evitar a ingestão de carne mal HBsAg
cozida, proteger as mãos ao lidar no jardim, A hepatite B apresenta incidência de cerca de
lavar bem frutas e verduras e evitar contato 2% em nosso meio. Sabe-se que a transmis-
com animais (principalmente gatos). Essas pa- são vertical é responsável por parte significa-
cientes devem ter a sorologia repetida no se- tiva dos indivíduos infectados e que esse risco
gundo e terceiro trimestres com o objetivo de pode ser diminuído por meio da administração
detectar a primoinfecção durante a gestação. da vacina da hepatite B e da imunoglobulina
Se pacientes inicialmente suscetíveis apresen- para o RN logo após o parto. Recomenda-se,
tarem IgM positivo em medidas subsequentes, portanto, o rastreamento da hepatite B median-
levanta-se forte suspeita de infecção aguda, e te pesquisa do HBsAg no terceiro trimestre,
a paciente deve ser encaminhada ao pré-natal independentemente de haver fatores de risco
de alto risco. identificáveis (história de hepatite, transfusões
Algumas gestantes apresentam-se com IgM po- sanguíneas e uso de drogas injetáveis). Não se
sitivo no primeiro trimestre; afastada a possibi- justifica a solicitação no início da gestação, já
lidade de falso-positivo, o manejo desses casos que não há tratamento disponível que diminua
depende do momento em que ocorreu a infec- o risco de transmissão vertical. Se a gestante for
ção (pré-concepcional ou já durante o primeiro HBsAg-positivo, deve-se encaminhar a paciente
trimestre). Nesses casos, a realização do teste de para atenção especializada.
avidez de IgG até o final do primeiro trimestre
A transmissão materno-fetal pode ocorrer
pode ajudar a discriminar as infecções adquiri-
intraútero, no momento do parto ou após o
das no primeiro trimestre (com risco de infecção
parto. A alta eficácia da vacinação do RN suge-
congênita grave) das infecções prévias à gesta-
re que a maioria das infecções ocorre durante
ção (sem risco fetal aumentado).
ou após o parto e que a transmissão transpla-
> Anticorpos IgG com alta avidez indicam in- centária é muito rara. O risco da transmissão
fecção antiga e excluem infecção aguda nos tem relação direta com o status de replicação
últimos 3 a 4 meses. em que se encontra a mãe (86-90% em mães
com HBeAg-positivo e 32% em mães com
> Anticorpos com baixa avidez geralmente in-
HBeAg-negativo).
dicam infecção aguda, mas não são sempre
conclusivos, pois podem persistir por mais de A amamentação não parece aumentar o risco,
três meses a partir do início da infecção e po- e não há indicação formal de suspensão de
dem, portanto, estar associados tanto a uma aleitamento materno em filhos de mulheres
infecção aguda pré-concepcional quanto ao HbsAg-positivo que tenham recebido profilaxia
início da gestação. neonatal.
A diferenciação entre infecção antiga ou recen- Não há evidências de que a cesariana eletiva di-
te é extremamente relevante para a decisão da minua os riscos de transmissão vertical.
38 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Anti-HCV transplantadas), entretanto, a realização de so-


rologia para CMV está indicada.
Atualmente o rastreamento de rotina da hepati-
te C não é recomendado, devendo ser feito ape- Atualmente ainda não estão disponíveis vacinas
nas em pacientes com fatores de risco como os para prevenir a infecção pelo CMV.
citados para hepatite B. A transmissão vertical
da hepatite C ocorre somente com a presença Rastreamento para Streptococcus
de HCV-RNA detectável e é influenciada pela do grupo B
viremia materna e pela coinfecção com o HIV, O Streptococcus do grupo B (SGB) acomete o
sendo estimada em cerca de 1 a 7%. O momen- neonato pela transmissão vertical intraparto,
to de maior risco de transmissão (intraútero ou causando infecções graves, como sepse neo-
no momento do parto) ainda não é claramente natal precoce, pneumonia e meningite; além
definido, e não há forma de prevenção efetiva disso, a colonização materna por SGB está as-
do neonato. sociada a infecções do trato urinário, corioa-
mnionite, endometrite, sepse e meningite na
Sorologia para rubéola
gestante. Estima-se que 10 a 30% das gestan-
O Ministério da Saúde não recomenda rastrea- tes sejam colonizadas pelo SGB, e 63% dessas
mento de rotina para rubéola na gestação. No pacientes não apresentam qualquer fator de
caso de gestantes no início da gravidez com risco. A partir de 2002, o CDC passou a re-
suspeita de infecção ou com história de possí- comendar que seja realizado o rastreamento
vel exposição à doença, há consenso de que a universal das gestantes com cultura de swab
solicitação da sorologia está indicada. Em caso vaginal e anal para identificar a colonização
de infecção aguda durante a gestação, sabe-se pelo SGB entre 35 e 37 semanas de gestação.
que os defeitos congênitos mais graves ocorrem Essa conduta não é recomendada por outras
quando a infecção aguda acontece no primeiro instituições, como o Royal College of Obste-
trimestre da gestação. trics and Gynaecologists (RCOG), que ques-
tiona sua efetividade e sua avaliação custo-
As mulheres suscetíveis devem ser orientadas
-benefício.
acerca dos riscos de adquirir a infecção durante
a gestação e a respeito da importância de serem Em alguns casos, as gestantes são candidatas
vacinadas no puerpério (Tab. 1.5). à profilaxia antibiótica intraparto, sem necessi-
dade de rastreamento no pré-natal: urocultura
Sorologia para citomegalovírus positiva para SGB na gestação atual (coloniza-
As taxas de infecção neonatal por CMV são ção maciça do trato genital); RN de gestação
estimadas entre 0,2 e 2% dos nascimentos, anterior acometido por sepse neonatal por
dependendo da soroprevalência da população SGB; trabalho de parto pré-termo (menos de
estudada, podendo ocorrer transmissão verti- 37 semanas); rupreme em pré-termo; rupreme
cal por primoinfecção, reinfecção ou, mais ra- por 18 horas ou mais e febre durante o traba-
ramente, por reativação da doença materna. lho de parto.
No primeiro trimestre, a infecção fetal é menos O esquema recomendado é uma dose de ata-
frequente, mas é responsável pelos casos de que de penicilina G cristalina 5.000.000 UI e,
malformações. Cerca de 90% das infecções após, 2.500.000 UI de 4/4 horas até o momento
neonatais são subclínicas ou com doença leve, do parto.
e o restante desenvolve a infecção aguda neo-
natal sintomática. Triagem para doença de tireoide
Apesar da alta prevalência, o rastreamento de O hipotireoidismo materno está associado a al-
rotina não é recomendado, devido à ausência tas taxas de abortamentos espontâneos de pri-
de um tratamento efetivo que possa ser ad- meiro trimestre. Nas gestações que continuam,
ministrado durante a gestação para prevenir está associado a alterações cognitivo-compor-
ou reduzir a morbidez da doença para o feto. tamentais na criança, além de complicações
Em gestantes imunossuprimidas (HIV-positivo, gestacionais, como pré-eclâmpsia, parto pre-
Rotinas em Obstetrícia 39

maturo, descolamento de placenta, hemorragia As recomendações do Ministério da Saúde


pós-parto, etc. consideram que a não realização universal de
ecografia durante gestações de baixo risco não
O hipertireoidismo está associado a abortamen-
diminui a qualidade da assistência pré-natal.
to espontâneo, parto prematuro, baixo peso
ao nascimento, morte fetal intrauterina, pré- Apesar disso, salienta que, em situações clínicas
-eclâmpsia e insuficiência cardíaca. específicas, o exame está indicado. Além disso,
o Ministério reforça que, em gestações de alto
A avaliação da função tireoidea na gestação risco, a ecografia com dopplervelocimetria da
não faz parte das recomendações rotineiras; a artéria umbilical está associada à redução da
triagem é recomendada pelo ACOG apenas se morbimortalidade perinatal.
houver suspeita clínica de doença materna ou
história familiar de doença da tireoide. Estudos
recentes, no entanto, sugerem que essa abor-
dagem deixa de diagnosticar até um terço das Vacinação
gestantes com hipotireoidismo (Vaidya et al., Vacina antitetânica
2007). Devido à alta morbidade do hipotireoi-
dismo materno para o feto, alguns especialistas A vacinação de mulheres em idade fértil é medi-
recomendam rastreamento universal de função da importante para a prevenção do tétano neo-
tireoidea no pré-natal ou preferencialmente no natal. Apesar de amplamente divulgada e facil-
período pré-concepcional. Esse assunto perma- mente acessível, a taxa de vacinação para tétano
nece controverso, tornando necessário mais es- ainda se encontra abaixo do ideal. Dados bra-
tudos para maiores esclarecimentos. sileiros do Ministério da Saúde, publicados em
2004, demonstram que apenas cerca de 41%
das gestantes são efetivamente imunizadas.
Ultrassonografias O esquema proposto pelo Ministério da Saúde
O uso de exames ultrassonográficos é de gran- encontra-se descrito na Tabela 1.6.
de valia em muitas situações na obstetrícia; no
Vacina contra influenza
entanto tem-se verificado atualmente um abuso
na solicitação de tais exames, o que aumenta Grávidas devem fazer vacina contra a gripe,
consideravelmente custos e resultados falso-po- principalmente antes dos meses de inverno nas
sitivos. A Fundação de Medicina Fetal recomen- regiões de clima frio, como no sul do Brasil, pois
da realizar um exame entre 11 e 13 semanas as infecções respiratórias têm curso mais grave
(para datação, determinação de número de nas gestantes e podem contribuir significativa-
fetos e medida da translucência nucal) e outro mente para o obituário materno.
após 20 semanas para avaliação de morfologia.
Demais vacinas: ver Tabela 1.5.
O estabelecimento de uma rotina para realiza-
ção de exames ultrassonográficos na gestação Imunoglobulinas
ainda é motivo de controvérsia, uma vez que
O uso de imunoglobulinas na gestação em prin-
não houve ainda demonstração clara de que
cípio segue as mesmas indicações utilizadas
essa prática reduza a morbimortalidade perina-
para não gestantes.
tal ou materna. Há evidências de que a realiza-
ção de ultrassonografia obstétrica no primeiro
trimestre esteja associada à detecção precoce
de gestações múltiplas e de malformações fetais Dúvidas comuns
e à redução das taxas de indução de parto por
Cuidados higiênicos
pós-datismo, sem, no entanto, reduzir a mortali-
dade neonatal. É razoável, portanto, a recomen- Devem ser mantidos como de costume, não ha-
dação de ecografia no primeiro trimestre (Fede- vendo restrições a banhos de imersão, sauna,
ração Brasileira das Associações de Ginecologia piscina ou mar. Recomenda-se o uso de roupas
e Obstetrícia, 2007). confortáveis; incentiva-se o uso de sapatos bai-
40 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Tabela 1.5 Vacinação na gestação

Tipo Recomendação

Hepatite B Inativa e recombinante Sem riscos para o feto. Vacinar na


gravidez se alto risco para adquirir
a doença (profissionais de saúde,
usuárias de drogas, contato sexual com
portadores, politransfundidas).
Influenza, gripe H1N1 Vírus atenuado ou morto Recomenda-se a vacinação.
Raiva e hepatite A Vírus inativo ou morto Podem ser usadas na gestação.
Febre amarela Vírus vivo e atenuado Não deve ser aplicada em gestantes ou
mulheres que pretendam engravidar nos
próximos 3 meses. Só deve ser feita em
casos de exposição iminente.
Sarampo, caxumba, rubéola, Vírus vivo e atenuado Não devem ser aplicadas em gestantes
varicela ou mulheres que pretendam engravidar
nos próximos 3 meses.
Haemophilus influenzae, Polissacarídeos Pode ser usada na gravidez.
Neisseria meningitidis, Polissacarídeos Pode ser usada na gravidez; mesmas
indicações das não gestantes.
Pneumococcus Polissacarídeos Pode ser usada na gravidez,
especialmente em pacientes
transplantadas, cardiopatas,
pneumopatas, hepatopatas, alcoolistas,
diabéticas, asplênicas, nefropatas
crônicas ou imunossuprimidas.

xos e sutiã. Para pacientes com varizes, são reco- sequentemente, a taxas aumentadas de traba-
mendadas meias elásticas. lho de parto prematuro.
É importante o estímulo a bons hábitos de hi- Exercícios físicos
giene oral, pois infecções orais maternas, como
periodontite, podem representar um foco infec- Na ausência de complicações clínicas ou obsté-
cioso e inflamatório, podendo estar associadas a tricas, recomenda-se a realização de 30 minutos
resposta inflamatória placentária e fetal e, con- ou mais de exercício aeróbico leve por dia na

Tabela 1.6 Vacinação antitetânica na gestação

Situação Conduta

Não vacinadas ou passado vacinal ignorado Aplicar 3 doses da vacina, com intervalo de 8 semanas
a partir da 20a semana. Se estiver em fase avançada da
gestação, realizar 2 doses (medida que já protege o feto)
e realizar a terceira no puerpério. Se não houver tempo
para as 2 doses, reduzir o intervalo para 4 semanas.
Vacinação incompleta (1 ou 2 doses) Completar o total de três doses, com intervalo de 8
semanas a partir da 20a semana.
Vacinadas com esquema completo e última Aplicar uma dose de reforço logo que possível.
dose há mais de 5 anos
Vacinadas com esquema completo e última Imunizadas.
dose há menos de 5 anos
Rotinas em Obstetrícia 41

maioria dos dias da semana. Pacientes previa- ambulação quando possível e manutenção de
mente sedentárias ou com algum tipo de risco hidratação adequada).
gestacional devem ser submetidas à avaliação
Viagens a regiões de grandes altitudes (⬎ 2.400
clínica cuidadosa antes de iniciarem qualquer
m) podem trazer problemas nos mecanismos de
tipo de atividade física durante a gestação.
adaptação à hipoxia, devendo ser evitadas.
Cuidados em relação às modalidades esportivas
a serem praticadas e às alterações cardiovascu- Questões trabalhistas
lares desencadeadas pela gestação devem ser As pacientes devem ser orientadas quanto aos
observados. Em geral, a participação na maioria seus direitos trabalhistas, como licença-mater-
das atividades recreacionais é considerada segu- nidade, proteção para mulheres que amamen-
ra, mas esportes com alto potencial de contato tam, etc.
ou com grande risco de queda (pela possibilida-
de de trauma materno e fetal) e mergulho (pelo Vida sexual
risco de doença descompressiva no feto) devem A princípio, não há restrição para atividade se-
ser evitados. A gestante também deve evitar a xual durante gestações de baixo risco e sem
realização de exercícios em posição supina (Fe- intercorrências. Não há associação de ativi-
deração Brasileira das Associações de Ginecolo- dade sexual durante o terceiro trimestre com
gia e Obstetrícia, 2007). aumento da taxa de nascimentos pré-termo.
Não há evidências de que repouso no leito previ- Relações sexuais devem ser contraindicadas
na trabalho de parto prematuro. apenas em situações especiais, como trabalho
de parto prematuro e ruptura prematura de
Estudos sugerem que a realização de programas membranas.
específicos de atividades físicas adequados para
gestantes e exercícios aquáticos estão associa- Tabagismo, uso de álcool e
dos à melhora significativa da dor lombar nessas drogas ilícitas
pacientes, além de outros benefícios.
Não existem evidências sobre quantidades se-
Viagens guras de álcool na gestação. Sua ingestão está
associada à síndrome do álcool fetal, que inclui
Geralmente, não há restrições a viagens, sendo dificuldades no desenvolvimento neurocomporta-
consideradas seguras até quatro semanas antes mental, dismorfias faciais e retardo de crescimen-
da data provável do parto. Em relação ao uso to. A recomendação é a abstinência alcoólica.
de cintos de segurança, a recomendação é que
seja usado de rotina por gestantes o cinto de se- Todas as drogas ilícitas têm associação com des-
gurança de três pontas. Essa recomendação foi fechos adversos na gestação, devendo ser con-
questionada devido a relatos de caso de lesões traindicadas. O uso de cocaína e crack está as-
fetais possivelmente decorrentes do seu uso; no sociado a descolamento prematuro da placenta,
entanto o risco de não usar o cinto parece ser ruptura prematura de membranas, hipertensão
maior do que o risco desse tipo de lesão. arterial, proteinúria e convulsões.

Viagens aéreas parecem ser seguras para ges- Em relação ao tabagismo, sabe-se que é o fator
tantes sem complicações obstétricas ou clínicas; de risco potencialmente modificável mais im-
portante para desfechos desfavoráveis na gesta-
não parece haver aumento da incidência de
ção. Está associado a abortamento espontâneo,
desfechos adversos. As companhias aéreas ge-
descolamento prematuro de placenta, ruptura
ralmente permitem a viagem até 36 semanas de
prematura de membranas, placenta prévia, tra-
gestação. O ACOG recomenda uso de cinto de
balho de parto prematuro, restrição de cresci-
segurança durante toda a viagem e medidas de
mento intrauterino, baixo peso ao nascimento e
profilaxia para edema e/ou trombose de mem-
gestação ectópica.
bros inferiores (uso de meias elásticas compres-
sivas, movimentação periódica dos membros Devem ser feitos esforços para que a mulher
inferiores, evitar uso de roupas apertadas, de- cesse o uso de drogas durante a gestação e
42 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

também é importante fornecer apoio para que nas (até 3 xícaras por dia) não parecem repre-
não volte a usá-las após o parto. sentar risco.

Ingestão de cafeína e polifenóis A associação entre ingestão aumentada de poli-


fenóis pelas gestantes e discretas alterações he-
Estudos observacionais não conclusivos suge- modinâmicas fetais (constrição do ducto arterio-
rem associação de ingestão de cafeína com so) levou a preocupações sobre a segurança de
abortamento, baixo peso ao nascimento e mor- ingerir alimentos com polifenóis na gravidez. As
te fetal tardia. O assunto permanece controver- evidências atuais da literatura confirmam que,
so. Apesar disso, parece sensato recomendar ingeridos dentro dos parâmetros habituais, os
que a gestante limite a ingestão de cafeína para alimentos ricos em polifenóis são seguros para
o mínimo possível, já que quantidades peque- as gestantes e seus fetos.

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