Você está na página 1de 35

Curso Online:

Psicanálise Clínica
Doenças Psicossomáticas...................................................................................2

Psicossomática e Somatização...........................................................................4

Concepção Psicossomática.................................................................................7

Das Neuroses Atuais à Psicossomática...........................................................10

Psicossomática Junguiana: Sintomas, Cura ou Morte......................................12

A Psicossomática na Obra de Freud.................................................................20

Doenças Psicossomáticas: Uma Linguagem Corporal.....................................27

Corpo, Mente e Emoções Referenciais Teóricos da Psicossomática..............29

Referências Bibliográficas.................................................................................31

1
DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS

Corpo e mente estão interligados, isto já é comprovado. Isso é chamado de


doenças psicossomáticas. Leia o texto e entenda como isso funciona.

As chamadas doenças psicossomáticas, de acordo com os psicólogos e


psicoterapeutas, são aquelas patologias que possuem características e origem
comum: a mente.

Elas tornam-se manifestas no corpo sob diversas formas e geralmente


ocasionadas por questões emocionais não tratadas, distúrbios psíquicos,
fobias, depressão, entre outros.

Psicossomatizar é um termo muito comum usado nos consultórios de


psicologia para definir sintomas físicos que surgem nos pacientes, causados
por situações emocionais que o paciente vive/ convive.

Segundo os psicólogos, estes impulsos seriam como formas interpretativas que


o nosso organismo faz, referente ao sistema nervoso, à qual exerce função
imediata a todo o restante do corpo, como uma cadeia de informações. Um
contrapeso negativo pode levar a pessoa a condições nervosas propícias a
enfermidades.

Por exemplo, em situações de estresse, nosso organismo tende a bombardear


nosso corpo com hormônios afim de nos preparar para encarar a situação.

Quando essa situação é muito duradoura, desequilíbrios físicos começam a


surgir e nos deixar propício a desenvolver doenças psicossomáticas. Essa
situação vale para todo o tipo de sentimento, como fobias, tristeza etc.

No entanto, existem alguns graus de sintomas que se desencadeiam, ora de


forma violenta, ora estável, dependendo das condições psicossomáticas. O fato
é que tudo o que repercute em nosso corpo, anteriormente é registrado no
nosso inconsciente.

―Psicossomático‖ significa, no grego, ―alma‖ (psique) e corpo (soma), portanto:


a doença que tem origem na ―alma‖ ou ―mente‖ e termina em se manifestar em
nosso organismo.

2
Como essas doenças são manifestações do nosso inconsciente, precisamos
saber que tipos determinantes estão relacionados com quais doenças.

A presença de alguns sintomas ajuda ao profissional realizar uma avaliação


real do problema, assim como saber qual método poderá ser melhor indicado,
tanto para o estado emocional quanto para o processo já desencadeado.

xistem somatizações mais comuns, que vão desde a depressão, ansiedade e


estresse.

Muitas vezes, estas causas são originadas por múltiplos fatores, como bullying,
síndromes como de burnout, excesso de trabalho, traumas, fobias, violência
psicológica, vícios etc.

Para conseguir determinar a origem das doenças psicossomáticas, é preciso


considerar:

 História de vida da pessoa e da família, rever traumas e questões não


resolvidas;
 Autocrítica, cobrança consigo mesmo;
 Depressão e ansiedade;
 Fobias e agressividade

A partir destas causas é possível elencar as seguintes somatizações:

Aparelho digestivo: intestino preso, gastrite, problemas renais e úlcera;

Aparelho circulatório: pressão alta ou baixa, problemas cardíacos, varizes;

Aparelho respiratório: tosse, alergias, bronquite e asma;

Aparelho endócrino: obesidade, disfunções hormonais, problemas de pele;

Aparelho reprodutor: impotência, infertilidade e disfunções;

Aparelho locomotor: dores musculares, problemas nos ossos e tendões;

Sistema nervoso: dor de cabeça, enxaqueca e depressão.

Com isso temos um panorama das manifestações físicas relacionadas com


questões de sentimentos negativos, tensões e problemas psicoemocionais em
diferentes sistemas do corpo.

3
PSICOSSOMÁTICA E SOMATIZAÇÃO

Doença psicossomática e Somatização se referem a aspectos diferentes do


mesmo ponto: a influência da mente sobre a saúde de nosso corpo.

Toda doença tem fundo emocional é que toda pessoa angustiada, nervosa,
preocupada, triste, irada, enfim com emoções negativas, poderão ter seus
sistemas imunológicos abalados. Com o sofrimento emocional e psicológico
nosso corpo pode produzir cortizol, o hormônio do stress e com a repetição
desta descarga hormonal seu organismo pode ir ficando cada vez mais
debilitado a ponto de adoecer. Mas o inverso também pode ser verdadeiro, ou
seja, toda vez que sua saúde física estiver abalada você poderá sofrer
consequências emocionais e psicológicas. Quando uma pessoa descobre que
tem câncer poderá se abalar emocional e psicologicamente.

Somatização de doenças ou doenças da mente como por ser conhecida


popularmente. Quando usamos o termo ―doença psicossomática‖ dizemos que
a causa é psicológica, mas a pessoa apresenta alterações clínicas detectáveis
por exames de laboratório, ou seja, o corpo da pessoa está tendo danos físicos
- chamamos de doença psicossomática. É uma doença física, verdadeira mas
com causa psicológica, ou seja, a doença apareceu no corpo, como uma
alergia por exemplo. Neste caso o ideal seria tratar tanto com o psicólogo como
com o médico.

Uma doença física provoca sofrimento mental além do sofrimento orgânico.


Uma pessoa que tenha uma doença que a debilite fisicamente, que a deixe
afastada dos outros pode iniciar uma depressão por exemplo. Nestes casos
deve receber tratamento médico e psicológico.

Cada pessoa terá suas características, podemos pensar em alguns exemplos:


Inabilidade social, dificuldade em expressar seus sentimentos e necessidades,
angústia, medos, raiva, depressão, ansiedade, fobias, enfim, todo sofrimento
emocional debilita a pessoa como um todo.

A psicoterapia pode ajudar a identificar quais sintomas podem estar surgindo


por conta de questões emocionais.

4
Os sintomas inexplicáveis de transtornos somatoformes muitas vezes levam à
ansiedade geral de saúde; preocupação frequente ou recorrente e excessiva
com sintomas físicos inexplicáveis; crenças imprecisas ou exageradas sobre
sintomas somáticos; deficiência desproporcional; exibições de emoções fortes,
muitas vezes negativas em relação ao médico ou de âmbito pessoal;
expectativas irreais; e, ocasionalmente, a resistência ou não conformidade com
os esforços de diagnóstico ou tratamento. Estes comportamentos podem
resultar em visitas mais frequentes aos consultórios, exames laboratoriais ou
de imagem desnecessários ou procedimentos invasivos, caros e
potencialmente perigosos.

O atendimento psicológico pode ajudar, ou colaborar com o atendimento


médico, a identificar os sintomas físicos provenientes de causas emocionais ou
psicológicas. O tratamento pode ser em conjunto, médico e psicólogo, quando
os profissionais assim perceberem que poderá haver melhor prognóstico como
também o tratamento pode ocorrer apenas com o psicólogo quando for
necessário.

As causas podem ser identificadas ao longo do tratamento psicológico, cada


paciente apresentará sua historia de vida, situações significativas e outras
informações que podem ajudar o psicoterapeuta a identificar a origem destes
sintomas no trabalho com abordagem psicossomática.

A somatização é um transtorno psiquiátrico em que a pessoa apresenta


múltiplas queixas físicas, localizadas em diversos órgãos do corpo, como dor,
diarreia, tremores e falta de ar, mas que não são explicadas por nenhuma
doença ou alteração orgânica. Geralmente, uma pessoa com doença
psicossomática está frequentemente em consultas médicas ou pronto-socorros
devido a estes sintomas, e o médico costuma ter dificuldade em encontrar a
causa.

Esta situação também é chamada de transtorno de somatização, e é comum


em pessoas ansiosas e depressivas, por isso, para o adequado tratamento é
fundamental a realização de psicoterapia, além do acompanhamento com o
psiquiatra, que poderá indicar medicamentos como antidepressivos e
ansiolíticos para ajudar a aliviar o problema.

A pessoa com transtorno de somatização pode sofrer por muitos meses ou


anos com estes sintomas até que se descubra a causa. Confira mais
os sintomas que podem surgir nas doenças psicossomáticas.

Além disso, existem doenças que podem ser desencadeadas ou pioradas por
situações de estresse, principalmente doenças inflamatórias, como artrite

5
reumatóide, ou doenças como fibromialgia ou síndrome do intestino irritável,
por exemplo.

O diagnóstico de uma doença psicossomática deve ser feito por um psiquiatra,


mas um clínico geral ou outro especialista podem apontar esta possibilidade,
porque excluem a presença de outras doenças através do exame físico e de
laboratório.

A presença dos principais sintomas ajudam a identificar o problema, e


são coração acelerado, tremores, boca seca, sensação de falta de ar e de nó
na garganta, e podem ser mais ou menos intensos de acordo com piora ou
melhora do estado emocional de cada pessoa. Para confirmar este transtorno,
o médico irá identificar na sua avaliação a existência de pelo menos 4
sintomas, sendo que os mais comuns são os gastrointestinais, os que imitam
doenças neurológicas ou que afeta a região íntima.

O tratamento para estas doenças pode envolver o uso de medicamentos como


analgésicos, anti-inflamatórios e anti-histamínicos para aliviar seus sintomas,
no entanto, é importante o acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra,
para aprender a controlar as emoções, e tratar a verdadeira causa do
problema.

Antidepressivos, como sertralina ou fluoxetina, e ansiolíticos, como


clonazepam, por exemplo, prescritos pelo psiquiatra, ajudam a acalmar e
diminuir a ansiedade, e sessões de psicoterapia são importantes para ajudar
na resolução de conflitos internos.

Algumas medidas simples e naturais também podem ajudar a lidar com os


problemas emocionais, como tomar chás calmantes de camomila e valeriana,
tirar férias para descansar a mente e procurar resolver um problema de cada
vez. Fazer algum tipo de exercício físico como caminhada, corrida, yoga ou
pilates também pode ajudar a promover o bem-estar.

O corpo vivo fornece o significado biográfico que é necessário para uma melhor
compreensão das doenças enquanto experiências pessoais passíveis de
intervenção psicoterapêutica. Finalmente, a complexidade das relações entre o
corpo e a subjetividade é demarcada.

Embora a Psicologia seja tradicionalmente encarada como a ciência da mente,


o corpo do indivíduo é alvo primordial das pesquisas psicológicas, considerado
o enraizamento de qualquer processo psíquico na materialidade corporal.

6
CONCEPÇÃO PSICOSSOMÁTICA

A psicossomática é uma ciência interdisciplinar que gera diversas


especialidades da medicina e da psicologia, para estudar os efeitos de fatores
sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem-estar
das pessoas.

O termo também pode ser compreendido, tal como descreve Mello Filho, como
"uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as práticas de saúde, é um
campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo, uma prática, a
prática de uma medicina integral".

Psicossoma

Gr. ψυχή (psykhé)= psico-mente, σομα (soma)= alma-corpo.

Originariamente, exprime o conceito aristotélico de unidade


hilemórfica (matéria= corpo, forma = alma) que é o homem.

A palavra psicossomática, na visão dos profissionais de saúde que


compreendem o ser humano de forma integral, não pode ser compreendida
como um adjetivo para alguns tipos de sintomas, pois tanto a medicina quanto
a psicologia estão percebendo que não existe separação ideal
entre mente e corpo que transitam nos contextos sociais, familiares,
profissionais e relacionais.

Então, psicossomática é uma palavra substantiva que pode ser empregada


para qualquer tipo de sintoma, seja ele físico, emocional, psíquico, profissional,
relacional, comportamental, social ou familiar. No entanto, autores de suma
importância na história e contribuição ao conhecimento científico em
psicossomática relacional, como George Libman Engel da University of
Rochester School of Medicine a do Instituto Psicanalítico de Chicago sustentam

7
que a palavra psicossomática deve ser empregada como um adjetivo, pois ela
qualifica uma ação, uma postura e abordagem bio-psico-social ao processo
saúde-doença. Importante assinalar que o Introductory Statement do primeiro
número do periódico Psychosomatic Medicine (1939), que é considerado o
marco fundante da psicossomática, assinala que são os objetivos da
psicossomática: estudar a inter-relação dos aspectos psicológicos com todas
as funções terapêuticas e integrar as terapêuticas somáticas e psicológicas.

Na visão junguiana ou da psicologia integral, todo sintoma é psicossomático e


pode ser um meio para que o processo do autoconhecimento possa acontecer.
Entre outras possibilidades de interpretação de conflito postuladas pela
corrente psicanalítica, que poderiam ser citadas, incluem-se as dificuldades de
dar (expelir) e reter (absorver) explicitadas por Alexander (Alexander e
Selesnick o.c.) nas doenças gastrointestinais; as concepções de que a mente,
por não conseguir resolver ou conviver com um determinado conflito
emocional, passa a produzir mecanismos de defesa com o propósito de
deslocar a dificuldade e/ou "ameaça" psíquica para o corpo, chegando mesmo
a indução de mutações físicas, oriundas do afeto doloroso. [carece de fontes] e
os fatores associados à depressão inicialmente interpretadas por Freud como
associas à perda do objeto amado e ao luto.

Segundo Mello Filho (2005 o.c.) a expressão doença psicossomática foi


utilizada inicialmente para referir-se apenas a certas doenças como a úlcera
péptica, asma brônquica, hipertensão arterial e colite ulcerativa onde as
correlações psicofísicas eram muito nítidas posteriormente foi-se percebendo
que tal concepção é potencialmente válida para todas as doenças.

Apesar dessa possível generalização já imaginada por Freud quando fez a


recomendação que todo médico além de sua especialidade deveria ser
treinado em psicanálise, o conceito de doença psicossomática persiste face à
evidente relação de algumas patologias com fatores emocionais ou
psicológicos como por exemplo:

 Artrite;
 Asma; Rinite;
 Enxaqueca
 Gastrite;
 Úlcera péptica;
 Obstipação / Colite ulcerosa
 Impotência e outras disfunções sexuais;
 Hipertensão arterial;
 Fibromialgia.

8
O sistema límbico é a unidade responsável pelas emoções no cérebro humano:

Imagem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A demanda por intervenções psicológicas e estudos sobre causalidade por


fatores emocionais nas alergias doenças auto-imunes
como psoríase e vitiligo praticamente tem se constituído como uma nova
especialidade ou ramo da medicina psicossomática a psiconeuroimunologia. O
mesmo tem acontecido com o desenvolvimento das pesquisas sobre a
multicausalidade de fatores determinantes nas diversas formas de câncer e
originado inter-disciplinas como a psico-oncologia pediátrica ou
simplesmente psico-oncologia.

Observe-se também que o surgimento dos sintomas psicossomáticos


dependem e variam com pelo menos três fatores interdependentes, tais fatores
estão diretamente ligados ao grande desafio de conceber, classificar e tratar
tais patologias, haja vista que os sintomas podem variar dependendo do estilo
de vida e idiossincrasias pessoais . Tal concepção acaba sendo a melhor
explicação de patologias nas quais não consegue-se definir e provar
cientificamente outra causa. São os referidos fatores:

Qualidade/ estilo de vida, incluindo hábitos alimentares, atividades


físicas, sedentarismo, etc.

Herança genética, que pode deixar os indivíduos mais predispostos para


desenvolverem alguns tipos de doenças. Fatores psicoafetivos de acordo com
o manejo das emoções, dos traumas e dos sentimentos de abandono, rejeição,
inclusão, culpa, etc.

9
DAS NEUROSES ATUAIS À PSICOSSOMÁTICA

O termo psicossomática é definido como todo distúrbio somático que comporta


em seu determinismo um fator psicológico interveniente, não de modo
contingente, como pode ocorrer com qualquer patologia, mas por uma
contribuição essencial a origem da afecção (Jeamment, 1989).

Este termo foi introduzido pelo psiquiatra alemão Heinroth em 1908 para tentar
explicar a insônia. Este autor acreditava na influência das paixões sexuais
sobre algumas doenças, como o câncer, a tuberculose e a epilepsia. Uma outra
contribuição de Heinroth foi cunhar o termo somatopsíquico. De acordo com
ele, este fenômeno se verificava quando o fator corporal transformava o estado
psíquico.

Coloca-se a doença psicossomática como sendo aquela em que o indivíduo


queixa-se de uma dor ou incômodo físico, porém que não tem ou que não é
encontrada uma causa orgânica para tal enfermidade. Desta maneira, cito
somente para contextualizar, que no DSM IV TR os transtornos que estão
situados na fronteira mente-corpo são classificados como Transtornos
Somatoformes. Estes transtornos estão divididos em: Transtorno de
Somatização, Transtorno Somatoforme Indiferenciado, Transtorno Conversivo,
Transtorno Doloroso, Hipocondria, Transtorno Dismófico Corporal e Transtorno
de Somatização Sem Outra Especificação.

A expressão ―neurose atual‖ aparece pela primeira vez no trabalho de Freud


em ―A sexualidade na etiologia das neuroses‖, de 1898. Neste artigo, afirma
que a causa de toda neurose baseia-se na vida sexual do paciente, afirmação
esta que viria a constituir a base da psicanálise. Não obstante, ele alertou para
o fato de que o papel desempenhado pela sexualidade pode ser diferente de
acordo com a situação.

As neuroses, assim, estariam classificadas em dois grupos, de acordo com o


sintoma do paciente. Haveria o grupo da neurastenia ou neurose atual e o da
psiconeurose (histeria e obsessões), existindo ainda a ocorrência, muito
frequente, de casos em que os sintomas de ambos os grupos aparecem
combinados.

No caso da neurastenia, poderia alcançar a causa do sintoma com uma


entrevista inicial com o paciente. O sintoma da doença estaria associado com a
vida sexual do indivíduo. Então, na neurastenia ou neurose atual, a etiologia da
doença estaria relacionada a vida sexual atual do sujeito. É aí que se observa a
diferença para o que foi postulado para as psiconeuroses. As bases que
―sustentariam‖ este grupo de neurose seria a sexualidade infantil e o recalque.

10
Freud alertou para o fato de que haveria duas formas bastante diferentes de se
processar a excitação psíquica: transformando-a diretamente em angústia -
resultariam sintomas predominantemente somáticos ou não simbolizados - ou
então procedendo-se à mediatização simbólica, na qual o resultado seriam
sintomas psíquicos. Desta maneira, o que delimitaria o campo das neuroses
atuais não seria apenas a relação de temporalidade (atualidade no tempo),
seriam também as características somáticas do estudo dos sintomas da
patologia.

Em um breve levantamento, pode-se dizer que Freud enfatizou, no caso das


neuroses atuais, aspectos tais como: a sintomatologia somática; o caráter atual
do fator etiológico; a não satisfação da libido como causa precipitante do
sintoma; e a transformação direta da causa em sintoma, sem a mediatização
simbólica do recalque.

Nas últimas décadas a palavra ―psicossomática‖ passou a ser usual tanto no


meio médico e psicológico quanto no meio da comunidade científica, sendo
que também já não era novidade no meio das sociedades psicanalíticas, que
desde as manifestações de conversão da histeria reveladas por Freud, no
início da forma do pensar psicanalítico, colocam os analistas frente às questões
do adoecimento do corpo.

A palavra psicossomática determina uma nova visão da abordagem das


doenças, as quais passam a ser entendidas como parte de um processo mais
amplo do que somente aos sintomas que se manifestam. Quando usamos a
expressão ―doença psicossomática‖ dizemos que a causa é psicológica, mas a
pessoa apresenta mudanças clínicas detectáveis por exames de laboratório, ou
seja, o corpo da pessoa está tendo danos físicos - chamamos de doença
psicossomática.

Em psicossomática, nas últimas décadas, os avanços da investigação


psicanalítica, e outros não psicanalíticos, tornaram de interesse para o
psicanalista não somente a contribuição da Psicanálise para a psicossomática,
mas também a desta para aquela. Estudos recentemente publicados
corroboram a eficácia terapêutica da Psicanálise e de tratamentos baseados na
teoria psicanalítica bem como sufragam a tese de que a psicoterapia, incluindo-
se a psicanaliticamente orientada, conquanto exija longo tempo do terapeuta,
não se revela dispendiosa em relação a outros tratamentos, se considerados
custos e benefícios.

As lesões psicossomáticas são caracteristicamente enigmáticas, pois tanto


podem aparecer como que ―do nada‖ e do mesmo modo que se apresentaram
vão embora. Ou, ainda, podem se agravar e colocar em risco a vida do sujeito,
como um agravamento do quadro ou até mesmo a morte.

11
PSICOSSOMÁTICA JUNGUIANA - SINTOMAS, CURA OU MORTE

Carl Gustav Jung ( /ˈjʊŋ/; Kesswil, na Turgóvia, Suíça, 26 de julho de 1875 —


Küsnacht, em Zurique, Suíça, 6 de junho de 1961) foi
um psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Jung
propôs e desenvolveu os conceitos de personalidade extrovertida e
introvertida, arquétipo e inconsciente coletivo. Seu trabalho tem sido influente
na psiquiatria, psicologia, ciência da religião, literatura e áreas afins.

O conceito central da psicologia analítica é a individuação - o processo


psicológico de integração dos opostos, incluindo o consciente e o inconsciente,
mantendo, no entanto, a sua autonomia relativa. Jung considerou a
individuação como o processo central do desenvolvimento humano.

Ele criou alguns dos mais conhecidos conceitos psicológicos, incluindo


o arquétipo, o inconsciente coletivo, o complexo, e a sincronicidade.
A classificação tipológica de Myers Briggs (MBTI), um instrumento popular
psicométrico, foi desenvolvido a partir de suas teorias.

Via a psique humana como "de natureza simbólica", e fez, deste simbolismo, o
foco de suas explorações. Ele é um dos maiores estudiosos contemporâneos
de análise de sonhos e simbolização. Embora exercesse sua profissão como
médico e se considerasse um cientista, muito do trabalho de sua vida foi
passado a explorar áreas tangenciais à ciência, incluindo a filosofia
oriental e ocidental, alquimia, astrologia e sociologia, bem como a literatura e
as artes. Seu interesse pela filosofia e ocultismo levaram muitos a vê-lo como
um místico.

Estudante de medicina, decide dedicar-se à então obscura especialidade


de psiquiatria, após a leitura ocasional de um livro do psiquiatra Krafft-Ebing.
Em 1900, Jung tornou-se estagiário na Clínica Psiquiátrica Burgholzli,
em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua
concepção de esquizofrenia.

Seguindo o seu treino prático na clínica, ele conduziu estudos com a


associação de palavras. Já nessa época, Jung propunha uma
atitude humanista frente aos pacientes. O médico deveria "propor perguntas
que digam respeito ao homem em sua totalidade e não limitar-se apenas
aos sintomas". Desde cedo, ele já adiantava a ideia do que hoje está ganhando
força em todos os campos com o nome de "holismo", o ponto de vista do
homem integral. A seus olhos, "diante do paciente só existe a compreensão
individual". Por isso, evitava generalizar um método, uma panaceia para um

12
determinado tipo de anomalia psíquica. Cada encontro é único e, sendo assim,
não pode incorrer em qualquer tipo de padronização.

Em 1902, deslocou-se a Paris, onde estudou com Pierre Janet, regressando no


ano seguinte ao hospital de Burgholzli, onde assumiu um cargo de chefia e
onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o
seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico.
Neste ínterim, Jung entra em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-
1939). Jung viu, em Freud, um companheiro para desbravar os caminhos da
mente. Enviou-lhe cópias de seus trabalhos sobre a existência do inconsciente,
confirmando conce(p)ções freudianas de recalque e repressão. Ambos
encantaram-se um com o outro, principalmente porque os dois desenvolviam
trabalhos inéditos em medicina e psiquiatria.

A partir de então, Freud e Jung passaram a se corresponder (359 cartas que


posteriormente foram publicadas entre 1906 a 1913). O primeiro encontro entre
eles, em 27 de fevereiro de 1907, transformou-se numa conversa de treze
horas ininterruptas. Depois desse encontro, estabeleceram uma amizade de
aproximadamente sete anos, período em que trocavam informações sobre
seus sonhos, análises, trocavam confidências e discutiam casos clínicos.

Porém, ao lado de tamanha identidade de pensamento, havia também algumas


diferenças fundamentais. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud
de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de
natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos
fenômenos espirituais como fontes de estudo válidas em si.

Nos anos 1930, essa divergência atingiria seu auge, e o rompimento entre eles
foi inevitável. Posteriormente, os livros de Freud seriam proibidos e queimados
publicamente pelos nazistas, e o autor viu-se obrigado a deixar Viena pouco
depois da anexação da Áustria, exilando-se em Londres. No mesmo período,
Carl Jung tornar-se-ia uma das faces mais visíveis da psiquiatria alemã da
época.

Em 1914, Jung demite-se do seu cargo na API e organiza, junto com Alphonse
Maeder, as bases da chamada Escola de Zurique. Após a separação de Freud,
Jung sentiu o chão desmoronar-se sob os pés. O sentido da sua vida ficou em
primeiro plano. Seguiu-se uma série de sonhos e visões que forneceram
material para o trabalho de toda uma vida. Dir-se-ia que, se ele não houvesse
se empenhado na integração de todo aquele material que jorrou
qual lava derretida, teria, fatalmente, sucumbido a uma psicose. Mas algo nele
o impelia a ir adiante na compreensão de tudo que se originava naturalmente
de seu inconsciente. Em suas palavras, "Os anos durante os quais me detive
nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida

13
e, neles, todas as coisas essenciais se decidiram. (...) Toda a minha atividade
ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos (...)".

Foi durante essa fase de confronto com o inconsciente que ele desenvolveu o
que chamou de "imaginação ativa", um método de interação com o
inconsciente onde este se investe espontaneamente de várias personificações
(pessoas conhecidas e desconhecidas, animais, plantas, lugares,
acontecimentos etc.).

Na imaginação ativa, interagimos ativamente com elas, isto é, discordando,


quando for o caso, opinando, questionando e até tomando providências com
relação ao que é tratado, isso tudo pela imaginação. Ela difere da fantasia
passiva porque, nesta, não atuamos no quadro mental, de forma a
participarmos do drama vivenciado, mas apenas nos contentamos em assistir o
desenrolar do roteiro desconhecido.

Pela imaginação ativa, existe não só a possibilidade de compreensão do


inconsciente, mas também de interação com este, de forma que o
transformamos e somos transformados no processo. Um personagem pode
nos fazer entender falando explicitamente do motivo de, por exemplo, estarmos
com insônia. Esse enfoque trata a psique como uma realidade em si, de forma
tão literal interiormente, quanto uma maçã nos é real exteriormente, ao
contrário de Freud, que insistia em substituir uma determinada imagem por
outra de cunho sexual.

Em 1938, quando Freud saiu de Viena para Londres, a doutora Iolande Iacobi
também emigrou para Zurique, continuou seus estudos com Jung e,
posteriormente, foi uma das fundadoras do Instituto C. G. Jung, tendo escrito a
introdução às obras completas de Jung. Ainda nesse ano, a Universidade de
Oxford, na Inglaterra, concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa.

Em 1939, Jung renunciou à presidência da Sociedade Médica Internacional


para Psicoterapia. Alegou que já tentara por duas vezes anteriores a renúncia,
tendo permanecido apenas devido a pedidos dos
representantes britânico e neerlandês, somente se retirando quando foram
interrompidas as comunicações internacionais e a sua permanência não era
mais necessária.

Em 1946, em cerimônia realizada em Zurique, Winston Churchill pediu que o


doutor Jung compusesse a mesa e se sentasse a seu lado. Em abril desse
ano, Ernest Harms publicou um artigo cujo título era "Carl Gustav Jung –
Defender of Freud and the Jews" na Psychiatric Quarterly.

Alguns dos seus mais devotados pupilos – Erich Neumann, Gerhard


Adler, James Kirsch e Aniela Jaffé – eram Judeus.

14
Carl Gustav Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, nas
margens do lago de Zurique, em Küsnacht, após uma longa vida produtiva, que
marcou - e tudo leva a crer que ainda marcará mais - a antropologia,
a sociologia e a psicologia, e também, em outros campos como a arte,
a literatura e a mitologia.

Encontra-se sepultado no Cemitério da Igreja Protestante, em Küsnacht,


no cantão de Zurique, na Suíça.

Anterior mesmo ao período em que estavam juntos, Jung começou a


desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos
Complexos", mais tarde chamando-o de "Psicologia Analítica", como resultado
direto de seu conta(c)to prático com seus pacientes. O conceito de
inconsciente já está bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung
antes de seu conta(c)to pessoal com Freud, mas foi com Freud, real formulador
do conceito em termos clínicos, que Jung pôde se basear para aprofundar seus
próprios estudos. O conta(c)to entre os dois homens foi extremamente rico
para ambos, durante o período de parceria entre eles. Aliás, foi Jung quem
cunhou o termo e a noção básica de "complexo", que foi adotado por Freud.

Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de


desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se
expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal
consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos,
o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para
sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam
sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que
animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas
de instintos ("fato" este negado por correntes de ciências humanas, como por
exemplo em antropologia o culturalismo de Franz Boas ), também é provável
que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com
os instintos.

Jung sentia que a ênfase da psicanálise nos fatores eróticos era um ponto de
vista unilateral, uma visão reducionista da motivação humana e do seu
comportamento. Ele propôs que a motivação do homem fosse entendida em
termos de uma energia de vida criativa geral - a libido - capaz de ser investida
em direções diferentes, assumindo grande variedade de formas. A libido
corresponderia ao conceito de energia adotado na Física, a qual pode ser
interpretada em termos de calor, eletricidade, motricidade etc. As duas direções
principais da libido são conhecidas como extroversão (projetada no mundo
exterior, nas outras pessoas e objetos) e introversão (dirigida para dentro do
reino das imagens, das ideias, e do inconsciente). As pessoas em quem a

15
primeira tendência direcional predomina são chamadas extrovertidas, e
introvertidas aquelas em quem a segunda direção é mais forte.

A sua necessidade em criar uma tipologia psíquica decorreu da questão que


nasceu em seu interior acerca de sua divergência com Freud e até com outros
profissionais. Ele poderia, assim, ter perguntado: "Por que divirjo de Freud?". A
resposta tomou forma na análise que fez das teorias psicológicas de seu
mestre e de Adler, também um ex-discípulo de Freud. Para este,
as neuroses derivavam de problemas com os instintos, para o outro do
próprio ego, no seu sentimento de superioridade ou inferioridade. Um, portanto,
extrovertido, e o outro introvertido. Jung também propôs que se poderia
agrupar as pessoas de acordo com o seu maior desenvolvimento em uma das
quatro funções psicológicas: pensamento, sentimento, sensação, ou intuição.
Transformações de libido de uma esfera de expressão para outra - por
exemplo, de sexualidade para religião - são realizadas por símbolos que são
gerados durante a mudança de personalidade.

A psicologia junguiana também merece outro destaque: o processo de


individuação. Conforme Nise da Silveira (2006), todo ser tende a realizar o que
existe nele, em germe, a crescer, a completar-se. Assim é para a semente do
vegetal e para o embrião do animal. Assim é para o homem, embora o
desenvolvimento de suas potencialidades seja impulsionado por forças
instintivas inconscientes, isso adquire um caráter peculiar: o homem é capaz de
tomar consciência desse desenvolvimento e de influenciá-lo. Precisamente no
confronto do inconsciente com o consciente, no conflito como na colaboração
entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e
unem-se numa síntese, na realização de um indivíduo específico e inteiro. Essa
confrontação "é o velho jogo do martelo e da bigorna: entre os dois, o homem,
como o ferro, é forjado num todo indestrutível, num indivíduo. Isso, em termos
toscos, é o que eu entendo por processo de individuação" (Jung).

O processo de individuação não consiste num desenvolvimento linear. É um


movimento de circunvolução que conduz a um novo centro psíquico. Jung
denominou esse centro de "Self" (si mesmo). Quando consciente e
inconsciente vêm ordenar-se em torno do Self, a personalidade completa-se. O
"Self" será o centro da personalidade total, como o ego é o centro do campo do
consciente. O conceito junguiano de individuação tem sido, muitas vezes,
deturpado. Entretanto, é claro e simples na sua essência: tendência instintiva a
realizar plenamente potencialidades inatas. Mas, de fato, a psique humana é
tão complexa, são de tal modo intrincados os componentes em jogo, tão
variáveis as intervenções do ego consciente, tantas as vicissitudes que podem
ocorrer, que o processo de totalização da personalidade não poderia jamais ser

16
um caminho reto e curto, de chão bem batido. Ao contrário, será um percurso
longo e difícil.

Jung percebeu que a compreensão da criação de símbolos era crucial para o


entendimento da natureza humana. Ele, então, explorou as correspondências
entre os símbolos que surgem nas lutas da vida dos indivíduos e as imagens
simbólicas religiosas subjacentes e sistemas mitológicos e mágicos de muitas
culturas e eras. Graças à forte impressão que lhe causaram as muitas notáveis
semelhanças dos símbolos, apesar de sua origem independente nas pessoas e
nas culturas (muitos sonhos e desenhos de seus pacientes de variadas
nacionalidades exprimiam temas mitológicos longínquos), ele sugeriu a
existência de duas camadas da psique inconsciente: a pessoal e a coletiva.
O inconsciente pessoal inclui conteúdos mentais adquiridos durante a vida do
indivíduo que foram esquecidos ou reprimidos, enquanto o inconsciente
coletivo é uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos
arquétipos - predisposições inatas para experimentar e simbolizar situações
humanas universais de diferentes maneiras. Há arquétipos que correspondem
a várias situações, tais como as relações com os pais, o casamento, o
nascimento dos filhos, o confronto com a morte. Uma elaboração altamente
derivada destes arquétipos povoa todos os grandes sistemas mitológicos e
religiosos do mundo.

Definida desta forma, no entanto, a psique objetiva não constitui um


mecanismo capaz de justificar a ocorrência das sincronicidades, como um dos
conceitos fundamentais da psicologia de Carl Gustav Jung. Por isso, ao longo
de sua vida, Jung complexificou a noção de psique objetiva, ou inconsciente
coletivo, ampliando-a ao ponto de que pudessem ser, nela incluídos, tanto
arquétipos universais e conteúdos filogenéticos humanos, quanto criações
mentais mais recentes. A psique objetiva tornou-se integrada à vida em todos
os seus aspetos, dando conta dos muitos fenômenos integrativos da clínica
psicológica, que antes careciam de uma formulação explicativa consistente.

Justamente por força da dificuldade de elaboração deste conceito, Jung


acessou conhecimentos da física quântica de sua época, principalmente
através de Pauli e Einstein, o que influenciou decisivamente o desenvolvimento
posterior da psicologia analítica. O médico conheceu aspetos da teoria da
relatividade e da física quântica, especialmente o princípio da incerteza, da
complementaridade e da não localidade, por intermédio principalmente dos
físicos Wolfgang Pauli e Albert Einstein, e foi informado das pesquisas
em parapsicologia de Joseph Banks Rhine, na Universidade de Duke. Isso,
associado a experiências pessoais e de seus pacientes, o levou a sugerir que
as camadas mais profundas do inconsciente não dependem das leis

17
de espaço, tempo e causalidade, produzindo fenômenos paranormais como
a clarividência e a precognição, que passaram a ser estudados pela psicologia.

A estas correspondências entre acontecimentos interiores e exteriores por meio


de um significado comum, ele deu o nome de sincronicidade, como estudada
hoje no contexto da linha de pesquisa Física e Psicologia. Além disso, fatos
ocorridos enquanto tratava seus clientes o fizeram crer que os acontecimentos
se dispunham "de tal modo, como se fossem o sonho de uma 'consciência
maior e mais abrangente, por nós desconhecida'".

Na qualidade de cientista altamente desapegado e desconfiado do


favorecimento que se dá a certas verdades, para
ele materialismo e ciência não eram sinônimos. O materialismo não passa do
culto a um deus exteriormente concreto por meio da razão, um tipo de fé nos
princípios limitadores das leis físicas. "A razão nos impõe limites muito estreitos
e apenas nos convida a viver o conhecido". Para sermos realmente justos,
convém recebermos igualmente os aspetos racionais e irracionais da vida.
Assim foi o caso da paciente que apresentava uma forte resistência à terapia. A
monotonia não escapava a nenhum dos dois, até o dia em que ela lhe relatou o
sonho com um escaravelho dourado. Mal acabara de contar-lhe a trama,
quando ouviram uma batida na vidraça. Jung, então, enxergou uma espécie de
besouro de coloração dourada muito rara naquelas paragens e naquela
estação do ano. Daí para diante, a análise deslanchou, ocasionando o
renascimento daquela personalidade. Besouro e renascimento... um símbolo
egípcio muito antigo.

O termo "sincronicidade" é uma tentativa de encontrar formas de explicação


racional para fenômenos que a ciência de então não alcançava, tais como os
referidos acima, fenômenos não causais que não podem ser explicados pela
razão, porém são significativos para o indivíduo que os experimenta.

A construção do conceito de sincronicidade surgiu da leitura que Jung fez de


um grande número de obras sobre alquimia e o pensamento renascentista.
Jung chegou a possuir grande quantidade de textos alquímicos originais, que o
levaram também a usar a expressão Unus mundus em sua autobiografia, e a
ideia de anima mundi.

Uma interessante análise da contribuição da psicologia profunda de Freud–


Jung para a formação do pensamento ocidental, mostrando como Jung tinha
preocupações epistemológicas rigorosas, pode ser vista em Tarnas. Em função
disso, tais fenômenos puderam ser examinados, mas apenas como algo
psicológico, e não propriamente da natureza, resultando em algumas
distorções interpretativas, em inúmeros sentidos.

18
A crítica de Richard Tarnas é pertinente, pois, embora Jung ressalte a
importância da religiosidade como qualidade intrínseca do ser humano, sua
teoria apenas valida a experiência religiosa como fenômeno psicológico, uma
posição paradoxalmente reducionista, que nega a compatibilidade entre razão
e experiência espiritual. Nessa linha, considerou insubstancial o
movimento esotérico moderno, como a teosofia e a antroposofia.

A partir da contribuição de Jung, vários desenvolvimentos em diferentes áreas


do conhecimento têm ampliado a compreensão da relação entre os processos
psíquicos e o mundo exterior. O conceito de inconsciente coletivo, por exemplo,
encontra ecos na física do holomovimento de Bohm, na ecopedagogia
de Capra, na transdisciplinaridade de Rocha Filho, na alma do mundo
de Goswami, nos campos morfogenéticos de Sheldrake, na psicologia profunda
e na ecopsicologia norte-americana.

Na terapia junguiana, que explora extensivamente os sonhos e fantasias, um


diálogo é estabelecido entre a mente consciente e os conteúdos do
inconsciente. A doença psíquica é tida como uma consequência da separação
rígida entre elas. Os pacientes são orientados a ficar atentos aos significados
pessoal e coletivo (arquétipo) inerentes aos seus sintomas e dificuldades. Sob
condições favoráveis, eles poderão ingressar no processo de individuação:
uma longa série de transformações psicológicas que culminam na integração
de tendências e funções opostas, e na realização da totalidade.

Jung trilhou a individuação, pois havia a necessidade imperiosa nele de ir


ao inferno e voltar para poder mostrar o caminho da volta àqueles que ficaram
perdidos pelo caminho da vida. Tornou-se, ele, uma resposta sincera e
corajosa ao nosso tempo. "Sou, eu próprio, uma questão colocada ao mundo, e
devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que
o mundo me der".

No Brasil, Jung teve uma conhecida aluna, a doutora Nise da Silveira,


fundadora do «Museu de Imagens do Inconsciente».
www.museuimagensdoinconsciente.org.br. Ela escreveu, dentre outros, o livro
"Jung: vida e obra", publicado em primeira edição em 1968.

19
A PSICOSSOMÁTICA NA OBRA DE FREUD

A teoria psicanalítica foi desenvolvida pelo neurologista austríaco Sigmund


Freud (1856-1939) e está intimamente relacionada a sua prática
psicoterapêutica.

É uma teoria que procura descrever a etiologia dos transtornos mentais,


o desenvolvimento do homem e de sua personalidade, além de explicar
a motivação humana. Com base nesse corpo teórico Freud desenvolveu um
tipo de psicoterapia. Ao conjunto formado pela teoria, a prática psicoterapêutica
nela baseada e os métodos utilizados dá-se o nome de psicanálise.

Freud imaginava a psique (ou aparelho psíquico) do ser humano como um


sistema de energia: cada pessoa é movida, segundo ele, por uma quantidade
limitada de energia psíquica. Isso significa, por um lado, que se grande parte
da energia for necessária para a realização de determinado objetivo (ex.
expressão artística) ela não estará disponível para outros objetivos (ex.
sexualidade); por outro lado, se a pessoa não puder dar vazão à sua energia
por um canal (ex. sexualidade), terá de fazê-lo por outro (ex. expressão
artística). Essa energia provém das pulsões (às vezes chamadas
incorretamente de instintos). Segundo o autor, o ser humano possui duas
pulsões inatas, a de vida (Eros) e a de morte (Tânato). Essas duas pulsões
opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam ser controladas através
da educação, considerando que a energia gerada pelas pulsões não é liberada
de maneira direta. O ser humano é, assim, sexual e agressivo por natureza e a
função da sociedade é amansar essas tendências naturais do homem. A
situação de não poder dar vazão a essa energia gera no indivíduo um estado
de tensão interna que necessita ser resolvido. Toda ação do homem
é motivada, assim, pela busca hedonista de dar vazão à energia psíquica
acumulada.

O ser humano, no entanto, não se dá conta de todo esse processo de geração


e liberação de energia. Para explicar esse fato, Freud descreve três níveis de
consciência:

O consciente (al. das Bewusste), que abarca todos os fenômenos que em


determinado momento podem ser percebidos de maneira consciente pelo
indivíduo;

O pré-consciente (al. das Vorbewusster), refere-se aos fenômenos que não


estão conscientes em determinado momento, mas podem tornar-se, se o
indivíduo desejar se ocupar com eles;

20
O inconsciente (al. das Unbewusster), que diz respeito aos fenômenos e
conteúdos que não são conscientes e somente sob circunstâncias muito
especiais podem tornar-se. (O termo subconsciente é muitas vezes usado
como sinônimo, apesar de ter sido abandonado pelo próprio Freud.)

Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve
inconscientemente. Ele foi, no entanto, o primeiro a pesquisar profundamente
esse território. Segundo ele, os desejos e pensamentos humanos produzem
muitas vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não fossem
armazenados no inconsciente. Este tem assim uma função importantíssima de
estabilização da vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o
inconsciente é alógico (e por isso aberto a contradições); atemporal e a
espacial (ou seja, conteúdos pertencentes a épocas ou espaços diferentes
podem estar próximas). Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos
conteúdos inconscientes.

Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a


compreensão da motivação na psicanálise clássica:
muitos desejos, sentimentos e motivos são inconscientes, por serem muito
dolorosos para se tornarem conscientes.

No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a experiência consciente da


pessoa, por exemplo, através de atos falhos, comportamentos aparentemente
irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão, sentimento de culpa.
Assim, os sentimentos, sonhos, desejos e motivos inconscientes influenciam e
guiam o comportamento consciente.

Freud desenvolveu mais tarde, (1923) um modelo estrutural da personalidade,


em que o aparelho psíquico se organiza em três estruturas:

Id (em alemão: es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica, a libido. O id


é formado pelas pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes.
Ele funciona segundo o princípio do prazer (Lustprinzip), ou seja, busca sempre
o que produz prazer e evita o desprazer. Não faz planos, não espera, busca
uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e não conhece
inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma satisfação na fantasia
pode ter o mesmo efeito de uma atingida través de uma ação. O id desconhece
juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, cego,
irracional, antissocial e dirigido ao prazer. O id é completamente inconsciente.

Ego (ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir


que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o mundo
externo, por intermédio do chamado princípio da realidade. É esse princípio
que introduz a razão, o planejamento e a espera ao comportamento humano. A

21
satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a realidade permita
satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de consequências
negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização inicialmente
entre os desejos do id e a supervisão/realidade/repressão do superego.

Superego (Über-Ich, "super-eu", "além-do-eu"): É a parte moral da mente


humana e representa os valores da sociedade. O superego tem três objetivos:

(1) reprimir, através de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso


contrário às regras e ideais por ele ditados;

(2) forçar o ego a se comportar de maneira moral, mesmo que irracional; e,

(3) conduzir o indivíduo à perfeição, em gestos, pensamentos e palavras. O


superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de introjetar os
valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. Ele
pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não
apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos inaceitáveis;
outra característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada, certo ou
errado, sem meio-termo). O superego divide-se em dois subsistemas: o ego
ideal, que dita o bem a ser procurado, e a consciência (Gewissen), que
determina o mal a ser evitado.

Freud descreveu muitos mecanismos de defesa no decorrer da sua obra e seu


trabalho foi continuado por sua filha Anna Freud; os principais mecanismos
são:

Repressão é o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e


frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou
lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente; o que é
desagradável é, assim, esquecido;

Formação reativa consiste em ostentar um procedimento e externar


sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, indesejados.

Projeção consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o sujeito não


pode admitir como suas.

22
Regressão consiste em a pessoa retornar a comportamentos imaturos,
característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou.

Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar.


Uma parte da líbido permanece ligada a um determinado estágio do
desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o
próximo estágio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a
probabilidade de uma regressão a um determinado estágio do desenvolvimento
aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação por este.

Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um


comportamento socialmente aceito.

Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assume uma característica


de outro. Uma forma especial de identificação é a identificação com o agressor.

Deslocamento é o processo pelo qual agressões ou outros impulsos


indesejáveis, não podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se referem,
são direcionadas a terceiros.

Freud descreve quatro fases distintas, pelas quais a criança passa em seu
desenvolvimento. Cada uma dessas fases é definida pela região do corpo a
que as pulsões se direcionam. Em cada fase surgem novas necessidades que
exigem satisfação; a maneira como essas necessidades são satisfeitas
determina como a criança se relaciona com outras pessoas e quais
sentimentos ela tem para consigo mesma.

A transição de uma fase para outra é biologicamente determinada, de tal forma


que uma nova fase pode iniciar sem que os processos da fase anterior tenha
se completado. As fases se seguem umas às outras em uma ordem fixa e,
apesar de uma fase se desenvolver a partir da anterior, os processos
desencadeados em uma fase nunca estão plenamente completos e continuam
agindo durante toda a vida da pessoa.

23
Neurose é a existência de tensão excessiva e prolongada, de conflito
persistente ou de uma necessidade prolongadamente frustrada, é sinal de que
na pessoa se configurou uma neurose. A neurose determina uma modificação,
mas não uma desestruturação da personalidade e muito menos de perda de
valores da realidade.

Com o desenvolvimento da psicanálise, o conceito evoluiu, até finalmente


encontrar lugar no interior de uma estrutura tripartite, ao lado da psicose e
da perversão. Em consequência disso, do ponto de vista freudiano,
classificam-se no registro da neurose a histeria, a fobia e a neurose obsessiva,
às quais é preciso acrescentar a neurose atual, que abrange a neurose
de angústia e a neurastenia, e a psiconeurose, que abarca a neurose de
transferência e a neurose narcísica.

Costuma-se catalogar os sintomas neuróticos em certas categorias, como:

Histeria - Quando um conflito psíquico encontra saída através de conversões.


Neste tipo de neurose, a ideia conflitiva com o ego é convertida em sintomas
físicos, como cegueira, mutismo, paralisias, etc.; que não têm origens
orgânicas. Atualmente a histeria foi banida dos manuais psiquiátricos, o que
leva muitas pessoas da área de saúde, inclusive psicólogos, a acreditarem que
a histeria não existe mais. Porém, a histeria ainda existe e sempre existirá,
mesmo que os sintomas possam variar de acordo com a sociedade e o tempo
a que se refere. Algo bastante específico da histeria é sua referência ao corpo
e à sexualidade, especialmente com questão à "o que é uma mulher?".

Ansiedade (de angústia) - a pessoa é tomada por sentimentos generalizados


e persistente de intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas são:
palpitações do coração, tremores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma
exagerada e ansiosa preocupação por si mesmo.

Fobias - uma área da personalidade passa a operar por respostas de medo e


ansiedade. Na angústia o medo é difuso e quando vem à tona é sinal de que já
existia, há longo tempo. Se apresenta envolta em muita tensão, preocupação,
excitação e desorganização do comportamento. Na reação fóbica, o medo se
restringe a uma classe limitada de estímulos e representações objetais.
Geralmente verifica-se a associação do medo a certos objetos, animais ou
situações.

24
Obsessiva-compulsiva - a obsessão é um termo que se refere a ideias que se
impõem repetidamente à consciência. São por isto dificilmente controláveis. A
compulsão refere-se a impulsos que levam à ação. Está intimamente ligada a
uma desordem psicológica chamada transtorno obsessivo-compulsivo.

Se o conceito de neurose é parte integrante do vocabulário da psicanálise, o


da psicose aparece, a princípio, como um anexo proveniente do
saber psiquiátrico, pautada numa concepção do sujeito que se organiza em
torno da ideia de alienação e perda da razão.

O psicótico pode se encontrar em estado de depressão, de extrema euforia ou


de agitação. Em dado momento age de um modo e em outro se comporta de
maneira totalmente diferente. Houve uma desestruturação da sua
personalidade. O dado clínico para se aferir à psicose é a alteração dos juízos
da realidade. O psicótico passa a perceber a realidade de maneira diferente,
mas não menos real em sua percepção.

Por isso afirma com convicção que tem percepções que nos parecem irreais
não apoiadas nem justificadas na lógica e na razão. Nas psicoses, além da
alteração do comportamento, são comuns alucinações (alterações dos órgãos
dos sentidos: ouvir vozes, ver coisas, sentir cheiros ou toques) e delírios
(alterações do pensamento sob forma de conspirações, perseguição, grandeza,
riqueza, onipotência ou de predestinação). As Psicoses se manifestam como:

Esquizofrenia - apatia emocional, carência de ambições, desorganização geral


da personalidade, perda de interesse pela vida nas realizações pessoais e
sociais. pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado,riso
insólito, bobice, infantilidade, hipocondria, delírios e alucinações transitórias.
(Consultar DSM-V ou CID 10 para mais subtipos)

Maníaca-depressiva – caracteriza-se por perturbações psíquicas duradouras e


intensas, decorrentes de uma perda ou de situações externas traumáticas. O
estado maníaco pode ser leve ou agudo. É caracterizado por comportamento
exacerbado, hipersexualidade. Os maníacos são cheios de energia, inquietos,
barulhentos, falam alto e têm ideias bizarras, uma após outra. O estado
depressivo, ao contrário, caracteriza-se por inatividade e desalento. Seus
sintomas são: apatia, pesar, tristeza, desânimo, crises de choro, perda de
interesse (embotamento afetivo) pelo trabalho, por amigos e família, bem como
por suas distrações habituais. Torna-se lento na fala, não dorme bem à noite,
perde o apetite, pode ficar um tanto irritado e muito preocupado.

25
Paranoia – caracteriza-se sobretudo por ilusões fixas. É um sistema delirante.
As ilusões de perseguição e de grandeza são mais duradouras do que na
esquizofrenia paranoide. Os ressentimentos são profundos. É desconfiado,
agressivo, egocêntrico e destruidor. Acredita que os fins justificam os meios e é
incapaz de solicitar carinho.

Psicose alcoólica – é habitualmente marcada por violenta intranquilidade,


acompanhada de alucinações de uma natureza aterradora.

Os perversos, ao vivenciarem o Complexo de Édipo, se recusam a aceitar a


castração a eles imposta passando, então, há duas possibilidades:

1) aferir que para eles não existe castração, assim, não existem limites sociais
impostos às suas ações ou

2) são eles que impõe os limites proveniente da castração aos outros.


Atualmente são comumente relacionados às psicopatias, porém se relacionam
mais abrangentemente com todas as formas de ausência de empatia com o
Outro - pela ausência de atuação do Superego.

Essa estrutura favorece o aparecimento de outros sintomas, como


o fetichismo e relações que objetificam o Outro, em troca de obtenção de
prazer (parafilias).

Retomado por Sigmund Freud a partir de 1896, o termo perversão foi


definitivamente adotado como conceito pela psicanálise, que assim conservou
a ideia de desvio sexual em relação a uma norma. Não obstante, nessa nova
acepção, o conceito é desprovido de qualquer conotação pejorativa ou
valorizadora e se inscreve, juntamente com a psicose e a neurose, numa
estrutura tripartite.

O trabalho de Sigmund Freud foi continuado por sua filha Anna Freud e por
outros autores, que procuraram desenvolver a teoria, enfatizando outros
aspectos e procurando solucionar os pontos críticos, entre eles os que mais se
destacam são os psicanalistas Sándor Ferenczi, Melanie Klein, Donald
Winnicott, Jacques Lacan, Wilfred Bion, Erik Erikson e Heinz Kohut; os
humanistas Abraham Maslow e Carl Rogers; o fundador da psicologia do
desenvolvimento individual Alfred Adler; Karen Horney, Wilhelm Reich e o
fundador da psicologia analítica Carl Jung.

26
DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS - UMA LINGUAGEM CORPORAL

Psicossomatização ou reação psicossomática é uma reação do corpo


temporária, desencadeada por um acontecimento muito marcante e/ou
traumático na vida do indivíduo e que tenha deixado-o em estado de choque,
ao ponto do organismo preparar uma resposta orgânica simbólica, ou seja,
adoecer. Essa resposta significa uma forma inconsciente de auto-proteção. A
doença, qualquer que seja ela, vai estar ―presa‖ ao corpo.

Quando ficamos doentes, de certa maneira, voltamos ou tendemos voltar para


condição de crianças; numa linguagem mais técnica, regredimos e precisamos
de atenção, consideração, cuidados, etc.

Quase sempre, ―procuramos‖ as doenças das quais somos portadores. Esse


procurar precisa ser compreendido, porque ele se mascara, escondendo-se
atrás de sintomas, emoções e sentimentos.

Psicossomática, é uma ciência que tem como objeto de estudo os mecanismos


de interação entre a dimensão mental e a dimensão corporal.

Em alguns países vêm surgindo há um tempo muitos questionamentos e


pesquisas sobre o Câncer enquanto doença cercada por questões afetivo-
emocionais, psicológica.

Existem Estudos que comprovam que pessoas mais fechadas, mais tensas e
chegadas ao isolamento tendem mais a desenvolverem quadros de tristezas,
depressões e pessimismos. Seus corpos ―sabem‖ o que as emoções lhes
pedem e respondem com ―obediência‖, dando como resposta uma cefaléia (dor
de cabeça), uma gastrite (dor no estômago produzida por inflamação) ou quem
sabe, uma doença do coração, ou hipertensão arterial.

Doenças dermatológica também podem ser psicossomáticas. A pele é um


órgão complexo, e as doenças de pele podem surgir pelo sistema nervoso, pois
o sistema nervoso origina-se no ectoderma do embrião. Alguns problemas são
causados por estresse, conflitos ligados aos sentimentos e impulsos
agressivos. Há situações em que o contato e a carícia foram insuficientes
provocando problemas dermatológicos.

27
As doenças dermatológicas que tendem a ter forte componente emocional são:
eczema constitucional, psioríase, dermatite de herpes, alopecia (queda de
cabelo em certas zonas), liquitose (pele de peixe).

Especialistas afirmam que trabalhar a emoção e o comportamento leva a um


processo de evolução e autoconhecimento capaz de trazer a cura para
problemas físicos e emocionais.

"Quando bem acolhidas, compreendidas e validadas, as manifestações do


corpo físico nos indicam o caminho certo a percorrer daquele ponto em diante.
Além de nos levar a analisar nossa própria história, nossas experiências,
mostrando em qual momento nos desviamos da rota principal".

Na terapia de leitura corporal as formas de tratamento são várias, entre elas a


prática de exercícios realizados com bolas, na água, massagens, receitas feitas
com nutrientes específicos e muito diálogo. "Tudo com o objetivo de promover
o bem-estar e a saúde, e conduzir ao entendimento dos conflitos que limitam o
prazer de viver".

Quando o organismo é agredido por um agente externo ou por alguma doença


nos órgãos internos, a temperatura do corpo tende a aumentar. Ou seja, a
febre é um indício de que existe algo fora do normal acontecendo em seu
corpo.

A febre pode não ser uma doença, mas ela é essencial para ajudar seu corpo a
combater diversas infecções. Além disso, ela costuma passar em questão de
dias. Mas, assim como as doenças, a febre também pode ter ligação com a sua
saúde emocional e aspectos psicológicos, principalmente em crianças.

Os pais precisam orientar seus pequenos adolescentes, no sentido de serem


cada vez melhores no que se refere à paz interior, compaixão e,
principalmente, mostrar-lhes formas amorosas de perdoar.

O mais importante, sobretudo, é que os pais aprendam a soltar e perdoar a


tudo e a todos para assim criarem um clima de comunhão e bem-estar no meio
familiar. Segundo Freud, tudo aquilo que você vê de errado no outro não passa
de uma projeção do que existe em si mesmo, embora inconscientemente.

Psicomatismo é um termo usado para distinguir pessoas que tem o problema


de ler alguns sintomas e sentir.

28
CORPO, MENTE E EMOÇÕES: REFERENCIAIS TEÓRICOS DA
PSICOSSOMÁTICA

O corpo é o nosso instrumento e objeto de trabalho no processo do cuidar,


consequentemente surge a impossibilidade de continuarmos negando a
importância dos afetos ligados às afecções corporais.

Por muito tempo acreditamos numa medicina cartesiana, que dividia o corpo e
a mente. Atualmente com todo progresso da medicina e da psicologia, já não
podemos negar a ligação que as nossas emoções provocam em nosso corpo e
vice-versa. Por meio de pesquisas sabemos que a depressão, estresse e a
ansiedade afetam diretamente o sistema imunológico e o quanto este é
importante no surgimento e manutenção da doença/saúde.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) - Saúde não é apenas a


ausência de doença, mas um bem estar, biopsicossocial e espiritual.

Nosso organismo, por natureza, procura manter o equilíbrio interno, para que
todos os órgãos trabalhem em harmonia. Deste modo, quando ocorre uma
experiência estressora, positiva ou não, como uma promoção no trabalho, uma
dificuldade financeira ou até uma doença, nosso corpo se esforça para se
adaptar à nova situação, liberando substâncias bioquímicas conhecidas como
hormônios (adrenalina e cortisol).

O desgaste orgânico ocorre se a produção destas substâncias for excessiva ou


prolongada (estresse crônico), gerando sérios problemas no organismo, como
por exemplo, queda do sistema imune.

A depressão é um termo comum que tem acompanhado o homem através de


sua história, é uma experiência universal, já que as emoções de tristeza e
pesar fazem parte da condição humana, e como toda doença, qualquer um
pode ser acometido por ela.

A depressão é, em geral, classificada como uma doença funcional, que pode


não ter causas físicas palpáveis, o que leva à suposição de uma origem
psicológica. Isto tem sido questionado porque dentro dos limites normais
reduziram-na a experiências subjetivas de desconforto, de sofrimento e de
29
vulnerabilidade. Mas a falha desse mecanismo de defesa se relaciona
principalmente com a elevação da produção de cortisol.

Ansiedade, Ansia ou Nervosismo, é uma característica biológica do ser


humano, que antecede momentos de medo, perigo ou de tensão, marcada por
sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de vazio no
estômago, coração batendo rápido, nervosismo, aperto no tórax, transpiração,
etc.

Ter ansiedade ou sofrer desse mal faz com que a pessoa perca uma boa parte
da sua auto-estima, ou seja, ela deixa de fazer certas coisas porque se julga
ser incapaz de realizá-las. No entanto, o termo ansiedade está de certa forma
interligado com o a palavra medo, sendo assim a pessoa passa a ter o medo
de errar quando da realização de diferentes tarefas, sem mesmo chegar a
tentar.

O corpo e a mente são uma unidade, então se o emocional de uma pessoa não
vai bem ela pode desenvolver as chamadas doenças psicossomáticas, que são
aquelas que possuem sintomas físicos e que não têm explicação médica. São
dores que não tem causa aparente, que aparecem sem que tenha havido
nenhuma razão conhecida e que não se curam nem como remédios, pois a
causa não é física, mas sim emocional, ou seja, provocada pela nossa mente.

A pessoa que sofre com alguma doença psicossomática acaba somatizando no


corpo os seus desequilíbrios emocionais e mentais e sofrendo com dores
terríveis. Estas por sua vez são provenientes de suas angústias, ansiedades e
depressões, o que desregula todos seus sistemas.

As chamadas doenças psicossomáticas são doenças que apresentam


sintomas físicos e que não têm origem ou causa identificada em exames. São
dores que não tem causa aparente ou que aparecem sem que tenha havido
nenhuma razão conhecida e que não se curam nem como remédios. Isso se dá
porque as doenças psicossomáticas não possuem causas físicas e sim,
emocionais.

Existem outras que podem acarretar em uma ou mais doenças


psicossomáticas:

 Traumas de infância ou qualquer outro tipo de trauma;


 Ansiedade e depressão;
 Situações de violência (física ou psicológica);
 Trabalho em excesso;
 Autocobrança exagerada;
 Entre outras causas.

30
Referências Bibliográficas

Sobre o autor:

Psicóloga Thaiana.O que são doenças psicossomáticas.

Disponível em:

https://www.psicologosberrini.com.br/blog/o-que-sao-doencas-psicossomaticas/
Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Marisa de Abreu Alves.Psicóloga.CRP 06/29493.PSICOSSOMÁTICA E


SOMATIZAÇÃO.

Disponível em:

http://www.marisapsicologa.com.br/doencas-psicossomaticas-e-
somatizacao.html

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Claudia Faria. Psicóloga.Doença psicossomática mais comuns, como identificar


e tratar.

Disponível em:

https://www.tuasaude.com/doencas-psicossomaticas/

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Lazslo Antonio Ávila. O corpo, a subjetividade e a psicossomática.

Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
48382012000100004

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

31
Sobre o autor:

Wikipédia, a enciclopédia livre.

Disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicossom%C3%A1tica

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Luana Dullius.Psicossomática, neurose atual e histeria.

Disponível em:

https://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php?title=Psicossom%C3%A1tica
,_neurose_atual_e_histeria

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Rosimeri Bruno Lopes.Psicossomática e a Psicanálise.

Disponível em:

https://psicologado.com.br/psicossomatica/psicossomatica-e-a-psicanalise

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Wikipédia, a enciclopédia livre.

Disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

32
Sobre o autor:

Wikipédia, a enciclopédia livre.

Disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_psicanal%C3%ADtica

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Psicóloga Clínica Nathalie Beck. Doenças Psicossomáticas, uma linguagem


corporal.

Disponível em:

http://www.apsicologa.net.br/psicossomatico.html

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Daniela Costa.Encontro BH. Revista.O corpo fala.

Disponível em:

https://www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2014/04/o-corpo-fala.html

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Eu Sem Fronteiras. Febre: Quais energias você está passando para seus
filhos?

Disponível em:

https://www.eusemfronteiras.com.br/febre-quais-energias-voce-esta-passando-
para-seus-filhos/

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

33
Sobre o autor:

Wikipédia, a enciclopédia livre.

Disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_psicossom%C3%A1tica

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Alinny Rodrigues Lamas.Enéas Rangel Teixeira.A DIMENSÃO


PSICOSSOMÁTICA NO CUIDADO DE ENFERMAGEM.

Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/57cbe/resumos/392.htm

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

Abrale. Emoções e Saúde - Ligação corpo e mente.

Disponível em:

http://abrale.org.br/emocoes-saude

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

Sobre o autor:

José Roberto Marques.Blog.5 Doenças Psicossomáticas Mais Comuns e Seus


Sintomas.

Disponível em:

https://www.jrmcoaching.com.br/blog/5-doencas-psicossomaticas-mais-
comuns-e-seus-sintomas/

Pesquisa equipe IEstudar em: 13/02/2020

34

Você também pode gostar