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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000988697

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1003961-19.2019.8.26.0566, da Comarca de São Carlos, em que é apelante ESTADO DE
SÃO PAULO, são apelados OSMAR APARECIDO DE OLIVEIRA e PREFEITURA
MUNICIPAL DE SÃO CARLOS.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1ª Câmara de Direito Público do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores DANILO PANIZZA


(Presidente sem voto), LUÍS FRANCISCO AGUILAR CORTEZ E RUBENS RIHL.

São Paulo, 26 de novembro de 2019.

MARCOS PIMENTEL TAMASSIA


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 10453
APELAÇÃO Nº 1003961-19.2019.8.26.0566
COMARCA: SÃO CARLOS
APELANTE: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
APELADOS: OSMAR APARECIDO DE OLIVEIRA E FAZENDA PÚBLICA DO
MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
Julgador de Primeiro Grau: Gabriella Muller Carioba Attanasio

APELAÇÃO MEDICAMENTO Dever do Estado


Responsabilidade solidária dos entes federativos
Inteligência dos arts. 23, II, e 196 da CF Observação do
quanto decidido no bojo do RE nº 855.178 (Tema 793 do
STF) Precedente desta 1ª Câmara de Direito Público
Sentença reformada Recurso provido.

Vistos etc.

Trata-se de apelação contra a r. sentença (fls. 251/255), que,


em AÇÃO COMUM ajuizada por OSMAR APARECIDO DE OLIVEIRA em face de
da FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO e da FAZENDA PÚBLICA
DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS, tencionada a compelir as rés a providenciar
“Glecaprevir 100mg” e “Pibrentasvir 40mg”, para ampará-lo em seu problema de saúde
“Hepatite C crônica, com manifestação extra-hepática: glomerulopatia associada ao HCV
(CID 10 B18.2 + N04)”, “(...) astenia, poliúria e urina espessa”, constatando-se, em
relatório complementar, “(...) infecção crônica pelo vírus da Hepatite C, genótipo 3, com
grau de cirrosa hepática leve e com glomerulopatia associada à infecção pelo HCV”,
julgou procedente o pedido “(...) para fornecimento dos fármacos pleiteados (Glecaprevir
100 mg e Pibrentasvir 40 mg), respondendo o Município de São Carlos, subsidiariamente,
pela obrigação supra determinada nos termos do Tema 793 do STJ” (fl. 255).

A Fazenda Pública do Estado de São Paulo apelou às fls.


258/261, alegando, em síntese, que a responsabilidade dos entes federativos pelo
fornecimento de medicamentos é solidária, e não subsidiária de um em relação ao outro,
como definido em sentença, nos termos do Tema 793 do STF. Nesses termos, requer a
reforma da r. sentença.

O juízo a quo certificou a interposição do apelo (fl. 265),


tendo as partes contrárias, regularmente intimadas, apresentado contrarrazões (fls. 268/283
e 284/290), tudo em conformidade com os arts. 1009 e 1010 do NCPC.

É o relatório. DECIDO.

A apelação é tempestiva, conforme os arts. 183 e 1003, § 5º,


do NCPC. A apelante possui legitimidade recursal, nos termos do art. 996 do NCPC.
Quanto ao preparo, observo que os entes públicos gozam de isenção, conforme a previsão
encartada no art. 1007, caput e §1º, do NCPC. Restam, destarte, preenchidos os
pressupostos recursais, de modo que recebo o vertente recurso somente no efeito
devolutivo, em razão do deferimento da tutela de urgência, consoante preconiza o art.

Apelação Cível nº 1003961-19.2019.8.26.0566 -Voto nº 10453 2


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1012, caput, §1º, V, do NCPC (“Art. 1012. A apelação terá efeito suspensivo. §1º Além de
outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua
publicação a sentença que: (...) V confirma, concede ou revoga a tutela provisória”).

O art. 196 da CF prescreve que “A saúde é direito de todos e


dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Estabelece, de um lado, o direito subjetivo à saúde por parte


dos administrados, fixando, de outro lado, o correlato dever de prestação acometido ao
Estado que deve ser entendido como gênero, englobando, pois, a União, Estados e
Municípios, “ex vi” do art. 23, II, da CF (“Art. 23. É competência comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II - cuidar da saúde e assistência
pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”). Nestes termos,
entabula-se a responsabilidade de todos os entes federativos pela adequada oferta de
tratamentos e procedimentos de saúde à população.

No bojo do RE nº 855.178 (Tema nº 793 do STF), levantado


pela apelante, decidiu o STF que: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL
E ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O tratamento médico
adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto
responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por
qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente” (RE nº 855.178 RG, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Luiz Fux, j. 05/03/2015)(grifo meu).

Fixou-se, por consectário, a seguinte tese: “Os entes da


federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas
demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de
descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o
cumprimento conforme as regras de repartição de competências e determinar o
ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro” (grifo meu).

Percebe-se, portanto, que nos termos da jurisprudência do


STF, a responsabilidade dos entes federativos no que toca aos deveres inerentes ao direito à
saúde notadamente ao fornecimento de medicamentos à população é solidária. Não há
fixação de responsabilidade subsidiária de um ente federativo em relação a outro.

Em caso praticamente idêntico, advindo da mesma Comarca


de São Carlos, já se pronunciou esta 1ª Câmara de Direito Público: “AGRAVO DE
INSTRUMENTO Fornecimento de medicamento determinado em anterior tutela
provisória aos litisconsortes passivos Decisão recorrida posterior que direciona a tutela
provisória apenas ao Estado, reconhecendo responsabilidade subsidiária do Município
Inadmissibilidade Responsabilidade solidária dos entes federativos nas demandas na
área da saúde Tema 793 de repercussão geral do E. STF RE 855178 RG, rel. Min. Luiz
Fux, j. 05/03/2015 Decisão reformada. RECURSO PROVIDO. O tratamento médico

Apelação Cível nº 1003961-19.2019.8.26.0566 -Voto nº 10453 3


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adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto


responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por
qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente (RE 855178 RG, rel. Min. Luiz Fux, j.
05/03/2015)” (Agravo de Instrumento nº 3003104-85.2019.8.26.0000, 1ª Câmara de
Direito Público, Rel. Des. Vicente de Abreu Amadei, j. 25/10/2019)(grifo meu).

Do aresto mencionado, destaca-se: “Percebe-se, portanto,


que o julgado, com repercussão geral, reafirmou a jurisprudência do STF, no sentido de
que a reponsabilidade dos entes federativos na efetivação do direito à saúde, incluso o
fornecimento de medicamentos, tratamentos médicos e insumos, é solidária. A ementa do
julgado, ou mesmo a tese fixada não usam a expressão responsabilidade subsidiária. Na
verdade, como expresso na ementa e nas informações juntadas, o E. STF apenas ratificou
sua consolidada jurisprudência, seguida também por esta Corte, que sempre entendeu ser
solidária a responsabilidade dos entes federativos nas ações de fornecimentos de
medicamentos”.

Portanto, merece reforma a sentença para determinar que a


responsabilidade da Fazenda Pública do Estado de São Paulo e da Fazenda Pública do
Município de São Carlos para o fornecimento dos medicamentos individualizados na
presente demanda seja solidária.

Por fim, considera-se toda a matéria prequestionada para fins


de recurso especial e extraordinário.

Ante o exposto, o meu voto é pelo PROVIMENTO do


recurso de apelação, nos termos acima detalhados.

MARCOS PIMENTEL TAMASSIA


Relator

Apelação Cível nº 1003961-19.2019.8.26.0566 -Voto nº 10453 4

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