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M419v
Maxwell, Megan
Você se lembra de mim? / Megan Maxwell;
[tradução Sandra Martha Dolinsky]. – 1. ed. –
São Paulo: Planeta, 2016.
CDD: 863
16-31271
CDU: 821.134.2-3
2016
Todos os direitos desta edição reservados à
EDIT ORA PLANETA DO BRASIL LT DA.
Rua Padre João Manoel, 100 – 21 o andar
Edifício Horsa II – Cerqueira César
01411-000 – São Paulo – SP
www.planetadelivros.com.br
atendimento@editoraplaneta.com.br
Para minha mãe.
A mulher mais forte e corajosa do mundo para mim, que
sou sua filha. Graças a ela, ao seu carinho e seu amor,
me tornei a pessoa que sou hoje, e só quis dar um final
bonito e merecido a sua incrível história de amor. Mami,
amo você, e você merece tudo de bom que eu possa lhe
dar! Também dedico este livro a meu avô; um grande
homem que soube demonstrar a minha mãe e a mim o
verdadeiro significado do amor incondicional, apesar
dos tempos que corriam. Tenho certeza de que ele sorri
lá no céu ao nos ver felizes. E, claro, a todas aquelas
pessoas que em um dado momento da vida se viram
sozinhas por causa desse inominável que move os fios do
destino, e que lutaram como guerreiras para seguir em
frente sem dar importância ao que diriam os outros.
Um viva a vocês!
Com carinho,
Megan
Sumário
Nota da autora
Capítulo 1: Espanha, 7 de dezembro de 1960
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
35 ANOS DEPOIS
Guerreiras e guerreiros:
Sem dúvida, a vida de muitos de nós poderia ser parte
de um livro ou um filme, não é?
Lembro um dia em que minha editora, Esther, e eu
estávamos em Palma de Mallorca almoçando, e quando
comentei algo sobre minha mãe, ela me perguntou: “Por
que você sempre só fala de sua mãe?”. E então, eu lhe
contei o porquê e relatei a história de meus pais.
Juro que, enquanto eu falava, a expressão dela foi
passando da surpresa à incredulidade, e desta aos olhos
marejados. Claro que caí na risada! A história de meus
pais – o militar americano e a jovem espanhola que
emigrou para a Alemanha – a deixara emocionada, e ela
me perguntou: “Nunca pensou em escrever essa
história?”.
Quando a ouvi perguntar isso, sorri.
Não era a primeira vez que alguém me propunha isso,
ou que eu mesma pensava nisso, mas nunca seriamente,
pois imaginava que talvez minha mãe não gostasse.
Poucos dias depois de voltar a Madri, certa tarde,
quando minha mãe foi a minha casa para ver meus
filhos, eu lhe perguntei: “Mami, você gostaria que eu
escrevesse sua história, com um belo final?”.
Quando ela me ouviu dizer isso, seu rosto se
transformou. Vi alegria em seu olhar, e suas palavras
foram: “Eu adoraria! Tenho uma filha escritora. Quem
melhor que você para fazê-lo?”.
Essa resposta me surpreendeu.
Sem dúvida, minha mãe confiava em mim e no que eu
poderia fazer com sua história de amor – mais do que eu
pensava. E quando liguei para Esther para comentar isso,
ela não hesitou um segundo e me disse: “Vá em frente!
Quero esse romance”.
Durante meses, minha mãe e eu falamos sobre o
assunto, e apesar de eu saber milhares de coisas que ela
havia me contado durante anos, ao fazê-la recordar ela
rememorou outras histórias que adorei escutar pela
primeira vez. Ela pegou fotos de meu pai, cartas,
lembrancinhas etc.
E com minha mente inundada de tudo que era
necessário, decidi pôr mãos à obra.
Subitamente eu me vi diante do computador relatando
uma história real – a história de meus pais! E a primeira
coisa que me veio à cabeça foram as palavras: “Olá,
você se lembra de mim?”. Não tive dúvidas. Já tinha o
título!
Eu havia encontrado o título mais bonito que podia dar
de presente à minha mãe e, então, decidi criar duas
histórias dentro de um mesmo romance, conectadas
entre si.
A primeira seria a de minha mãe, e a segunda, da filha
que ela teve, e vocês sabem que sou eu, mas no livro
tem uma vida totalmente diferente da minha de verdade.
Reconheço que, enquanto eu escrevia, meu coração se
ressentiu em alguns momentos. Recordar certas coisas
de meus pais ou de minha infância, quando as sombras
me cercavam devido à falta de informação, não foi fácil;
mas não desisti, e continuei até finalizar o livro. E hoje,
agora que está acabado, garanto que foi uma das
melhores experiências de minha vida, porque inventei um
final lógico, mas não real, para uma história que nunca
acabou.
Quando terminei o livro, antes de entregá-lo a minha
editora, imprimi uma cópia e a entreguei a minha mãe
para que o lesse. Eu queria saber se ela concordava com
a história que eu havia criado ao redor do que ela havia
me contado. Assim que acabou de ler, ela me ligou,
emocionada, entre risos e lágrimas, para me dizer que
havia adorado.
Vocês nem imaginam a onda de adrenalina e felicidade
que senti quando minha mãe me disse isso, pois era
muito importante para mim que ela se sentisse à vontade
lendo o livro e, acima de tudo, que ela gostasse.
Agora vocês já sabem que a primeira parte desta
história, apesar de certas mudanças, é baseada em fatos
reais, e que a segunda parte não. Quero dizer que eu, e
só eu, sou a responsável por ter omitido algumas coisas
da primeira história e de ter mudado outras, porque
assim decidi, para lhe dar o final que eu queria.
Hoje o mundo se transformou e a sociedade evoluiu.
Graças a Deus! Mas o mundo e a sociedade em que vivi
a infância eram diferentes, mais tradicionais e menos
permissivos, e o fato de ser filha de mãe solteira às vezes
era um empecilho para frequentar uma boa escola ou até
mesmo para ter amigas.
Minha mãe, ciente disso, desde pequenininha me
ensinou que eu não era menos que ninguém; ela me fez
entender que os comentários de algumas pessoas não
tinham que me roubar nem um segundo de felicidade e
me preparou para ser uma mulher independente e segura
de si.
Entendem por que sou tão guerreira?
E agora que lhes contei tudo isso, só espero que
curtam este livro, sua música e sua história, tanto quanto
eu curti enquanto o escrevia.
Estão prontos para lê-lo?
1
Espanha, 7 de dezembro de 1960
7 de dezembro de 1960
Loli e eu estamos no trem em direção a Hendaia,
e como era de se esperar, ela já está dormindo como
uma pedra. Como é possível dormir em qualquer
lugar?
Quero muito chegar à Alemanha. Ainda não
consigo acreditar que estou sentada neste trem.
Estou contente e triste ao mesmo tempo.
Despedir-me da família foi mais difícil do que eu
esperava, em especial por papai. Seu olhar cheio de
temores tocou meu coração, porque sei que no
fundo ele não queria que partíssemos. Sou uma
filha ruim por ir embora?
Só espero chegar à Alemanha e fazê-lo ver que
seus medos eram infundados e que tudo vai dar
certo.
Nem eu me entendo.
Não quero ver esse americano, mas minha mente
não para de pensar nele.
Como sou estranha!
Olá, menina.
Espero você às cinco horas no banco do lago,
você sabe qual.
Amo você
Teddy
Segunda-feira…
Terça-feira…
Quarta-feira…
Os dias da semana passavam e para Carmen haviam
perdido a emoção. Desde a partida de Teddy, todos eram
idênticos e terríveis.
No sábado, Renata foi visitá-la para consolá-la. Loli
havia entrado em contato com ela, e assim que pôde a
alemã viajou para ficar ao lado de sua querida amiga.
Mas os dias passavam e nada mudava. Carmen estava
tão deprimida que até a comida lhe caía mal. Vomitava e
se sentia péssima.
Quando faltavam dois dias para completar um mês da
partida de Teddy, ela recebeu uma carta dele, escrita
pouco depois de ele ir embora. Leu-a, emocionada.
10 de junho de 1964
Olá! Você se lembra de mim?
Espero que esta carta chegue logo e que ao lê-la
você sorria, pois sabe que não gosto de vê-la
chorar. Quero que saiba que estou em Nova York.
Chegamos ontem à noite. A viagem foi extenuante.
Muitas horas, e o conforto dos aviões em que
viajamos não se pode dizer que seja dos melhores.
Estamos em uma antiga base de Nova York, mas
as notícias são que logo seremos transferidos a
outra em Nevada. Você pode me escrever nesse
endereço do envelope; eles enviarão suas cartas
aonde eu estiver.
Menina, não há um único instante em que eu não
pense em você e na vontade de estar ao seu lado,
de me casar com você de novo e começar uma linda
vida juntos.
Amo você. Seu. Al di là.
Teddy
Estou sozinha.
Mais sozinha que nunca, mesmo cercada das
pessoas que mais me amam.
4 de janeiro de 1965
Olá, você se lembra de mim?
Meu amor, sei que esta carta demorou mais que
as outras. Estou no Vietnã, na base aérea de
Pleiku, mas, pelo que ouvi, logo seremos
transferidos para Da Nang.
Tenho muito pouco tempo para escrever, mas
quero que você saiba que todos os dias, quando
acordo e antes de dormir, olho nossa foto, essa em
que estamos sentados no parque, de mãos-dadas, e
peço a Deus que eu possa voltar logo ao seu lado
para que juntos possamos abraçar e dar todo nosso
amor a nosso filho.
Em sua carta você disse que o bebê continua
crescendo e que você está gorda feito um barril.
Que raiva não poder vê-la! Tenho certeza de que
você está linda. Aliás, minha avó Alana sempre
dizia que quando as mulheres ficam grávidas são
mais bonitas.
E você, menina, com certeza está também, por
mais que insista em me dizer que não.
Preciso continuar recebendo suas cartas. Ter
notícias suas é a única coisa que me interessa; e,
por favor, não se preocupe comigo. Estou bem e
vou me cuidar.
Não esqueça que a amo como nunca vou amar
alguém.
Seu. Al di là.
Teddy
22 de janeiro de 1965
Olá, meu amor
Como está minha garota?
Como já lhe disse, toda minha unidade foi
transferida para a base de Da Nang. A paisagem
aqui é linda. Você gostaria do verde das árvores;
mas acho estranho pensar que esta paisagem tão
bonita é o esconderijo perfeito de milhares de
vietcongues.
Espero que o bebê e você estejam bem. É a única
coisa que preciso saber. O bem-estar de vocês para
mim é primordial.
Aqui o tempo passa lentamente, enquanto
patrulhamos as imediações da base aérea, bebemos
cerveja ou um licor de arroz local horroroso e
escutamos música. A propósito, outro dia, quando
tocou Crazy, da Patsy Cline, por um momento
fechei os olhos e senti você comigo. Foi um
momento estranho, mas bonito.
Amo você, menina. Estou louco para vê-la, não
esqueça isso nem um instante.
Seu. Al di là.
Teddy
De: JSM123123@hotmail.com
Para: alanaexception@hotmail.com
Assunto: Olá, Ligeirinho
De: alanaexception@hotmail.com
Para: JSM123123@hotmail.com
Assunto: Olá, capitão pecado
De: alanaexception@hotmail.com
Para: JSM123123@hotmail.com
Assunto: Alana
Olá, Joel:
Espero que você esteja bem. Você não sabe como
fiquei feliz ao saber que depois do que aconteceu
com o comboio em que Karen viajava no Iraque,
ela está bem e você não estava lá. Claro, sinto
muito pelos companheiros falecidos.
Escrever este e-mail para lhe dizer o que sinto
não está sendo fácil, mas Joel, eu não posso nem
quero viver assim.
Seu ofício é sua paixão, está em seu sangue,
assim como é o meu para mim, mas o problema
aqui sou eu. E o medo de que possa acontecer
alguma coisa com você não me deixa viver. Por
isso, e diante da impotência de superar meu medo,
tenho que dizer que o que havia entre nós tem que
acabar, e há de acabar neste instante.
Sei que talvez não seja o melhor momento nem o
melhor lugar para fazer isso, mas desde o início eu
lhe disse que não era uma boa ideia. E assim como
você não se importou com o que eu pensava nem
com minhas negativas, tenho que ser egoísta e não
pensar no que você sente, e sim em mim.
Não lhe escreverei mais, nem quero que você me
escreva.
Adeus, e cuide-se, por favor.
Alana
De: alanaexception@hotmail.com
Para: JSM123123@hotmail.com
Assunto: RE: Olá, capitão
De: JSM123123@hotmail.com
Para: alanaexception@hotmail.com
Assunto: Cadê a Ligeirinho?
Olá, linda:
Estou no Kuwait, mas daqui a uns dez dias volto
para casa e fico até 12 de setembro. O que acha de
nos vermos? Vou eu? Vem você?
Responda assim que souber.
Eu te amo, e não vejo a hora de vê-la.
Seu Capitão América
De: JSM123123@hotmail.com
Para: alanaexception@hotmail.com
Assunto: Onde você está?
Olá, meu amor
Já estou em Fort Irwin. Karen e eu ligamos mil
vezes, mas vocês não atendem. Onde estão?
Ligue-me quando ler esta mensagem, seja a hora
que for.
Te amo
Joel
– Isa, caralho!
– Que foi?
– Karen e Joel estão nos ligando desde ontem. E os
telefones estão…
– No porta-luvas do carro. Vou buscá-los!
Quando Isa subiu com eles e entregou o de Alana, ela
viu que tinha quinze chamadas perdidas de Joel e várias
mensagens de voz. Sorrindo, aumentou o volume e ligou
para ele.
– Onde você se meteu? – perguntou ele assim que
atendeu.
– Ei, ei, Capitão América, se falar assim comigo,
desligo agora mesmo – e ao ouvi-lo suspirar, explicou: –
Esquecemos os celulares no porta-luvas do carro. Meu
amor, você chegou bem?
Joel, mais tranquilo ao saber que tanto ela quanto Isa
estavam bem, mudou o tom de voz, e feliz, combinou de
ir ao hotel de Nashville dois dias depois.
De humor melhor por terem falado com Joel e Karen,
depois de tomar o café da manhã, as duas amigas deram
uma volta por Nashville para conhecer o lugar. Visitaram
o Museu da Fama, e dali pegaram um ônibus que as
levou até o RCA Studio B, um pequeno estúdio de
gravação. Em uma visita guiada, explicaram-lhes que
artistas do calibre de Dolly Parton, Roy Orbison e Elvis
Presley, entre outros, haviam gravado ali. Também
escutaram algumas canções do rei gravadas ali mesmo, e
como cereja do bolo, puderam tirar umas fotografias
com o piano que o próprio Elvis havia tocado.
Já havia anoitecido quando voltaram à região onde
ficava o hotel; estavam com fome, e decidiram ir ao
Birdy. Fizeram seu pedido, e estavam conversando
quando de repente ouviram:
– Olá, moças da Exception.
Ao se voltar, encontraram Daniel, que, sorrindo,
perguntou:
– Pediram hambúrguer de novo?
– Tem alguma dúvida? – respondeu Isa, sorrindo.
Alana olhou para ele boquiaberta, sem dizer nada,
tocando a correntinha que usava no pescoço. Ele deu
uma piscadinha e explicou:
– Estou jantando aqui com minha mãe e meu tio.
Vimos sempre de quinta à noite. É uma tradição.
– Que bom! – disse Alana com ironia, quebrando a
correntinha, de tão nervosa.
Disfarçadamente, guardou a corrente e a medalhinha
no bolso da calça. Agora teria que comprar outra. Mas o
que realmente a preocupava era saber que seu pai estava
naquele local, sob o mesmo teto que ela.
Quando ia dizer algo, Isa se antecipou:
– Se vocês vêm tanto, não há dúvida de que o
restaurante é de qualidade.
– Muito boa qualidade – afirmou Daniel, sorrindo para
Isa de um jeito sedutor.
Daniel estava flertando com ela?
– Se quiserem, podem se juntar a nós – propôs ele. –
Estamos na varanda. Diremos a meu tio que são amigas,
e não as jornalistas. Estão a fim?
– Não – disse Alana rapidamente. – Estamos com
pressa. Obrigada, Daniel, mas assim que comermos os
hambúrgueres, teremos que ir.
Ele não quis insistir. Olhando para Isa, perguntou:
– Até quando vão ficar por aqui?
– Mais dois dias – afirmou ela, surpreendendo Alana.
– Vamos entrevistar outros veteranos que moram por
aqui e depois voltaremos para Nova York.
Daniel assentiu, mas antes de ir sugeriu:
– O que acham de amanhã à noite eu ir buscá-las no
hotel, lá pelas oito, e as levar para jantar em um lugar
que tem boa comida, bebida e música country? Vocês
não podem ir embora de Nashville sem ter vivido sua
essência.
– Excelente! Adorei a ideia – afirmou Isa.
E anotando seu número de telefone em um papel,
disse:
– Tome, meu telefone, caso aconteça alguma coisa.
Assim você poderá nos avisar.
O homem, feliz por ter atingido seu propósito,
despediu-se dizendo:
– Muito bem, pego vocês amanhã. Se possível,
comprem uns bons chapéus de caubói.
– Você ficou maluca? – sussurrou Alana quando ele
foi embora.
– Por quê? Por deixá-lo flertar comigo e não lhe dizer
que gosto mais da garçonete que dele, ou por combinar
de sair amanhã?
Alana suspirou.
– Caralho, Alana, esse sujeito mora aqui, e pode nos
levar a um lugar bom. Além do mais, Karen e Joel só
chegam depois de amanhã. Qual é o problema?
Alana fechou os olhos, e quando os abriu, pronta para
protestar, a garçonete peituda, que devia ter ouvido Isa,
depois de lhe dedicar um olhar intenso, deixou um
hambúrguer imenso e foi embora.
– Mãe do céu…
– Mãe do céu digo eu! – repetiu Alana ao ver a
garçonete fazer biquinho para Isa.
– Em Nashville eu me sinto incrivelmente sexy, divina
e maravilhosa. Que sucesso! – exclamou Isa, rindo. – A
ruivinha acabou de me dar uma baita mordida na jugular.
Vamos comer e fugir daqui antes que ela me coma
inteira.
Sem conseguir esquecer que seu pai estava na varanda
daquele lugar, Alana olhou várias vezes para fora. Mas de
onde estava não podia ver nada. Quando acabou seu
hambúrguer, foi ao banheiro, enquanto a ruiva se
aproximava de novo de Isa para pegar o pedido da
sobremesa.
Enquanto isso, Alana se aproximou disfarçadamente
da janela da varanda, e então o viu. Viu seu pai pela
primeira vez na vida, e sem saber por que, sorriu. Estava
com uma camisa jeans e ria com seu sobrinho por algo
que Audrey dizia. O tempo o havia tratado bem.
Subitamente, o rapaz de 24 anos que Alana havia visto
durante toda sua vida só em imagens se materializou em
um adulto grisalho, de meia-idade, mas com o mesmo
sorriso das fotos. Com o coração a mil por hora, ela o
observou por um bom tempo, até que notou que estava
demorando muito e voltou à mesa.
Ao chegar, Isa olhou para ela e, tomando seu enorme
sorvete de baunilha, comentou:
– Já ia mandar o Exército atrás de você. Ande, ajude-
me a comer isto e vamos embora daqui, que a garçonete
anotou o número do celular dela na toalha de mesa –
disse indicando uns números.
Alana riu; pegou uma colher para atacar a sobremesa.
– Foi só você sair para a ruiva atacar.
– A coelhinha está interessada – debochou Alana.
– Coelha? – replicou Isa. – Esta mais para loba. E
então? Viu seu pai?
Não estava a fim de mentir. Alana assentiu.
– E?!
Alana engoliu o sorvete gelado e, quando ia responder,
ouviu atrás delas:
– Mas que coincidência agradável!
Era Audrey, que se aproximava delas com o pai de
Alana e Daniel atrás.
– Veja, Teddy, cabeça-dura, são as jornalistas
simpáticas que estiveram em casa ontem e que você não
quis receber.
O homem cravou seus olhos escuros nas duas jovens.
Primeiro em uma e depois na outra, observando-as com
curiosidade. A seguir, trocando sua expressão risonha
por outra mais séria, disse:
– Desculpem, mas o Vietnã é uma parte de minha vida
sobre a qual não gosto de falar.
Alana assentiu, travada. Diante dela estava seu pai; seu
pai! Contemplando aquele homem que a fitava
diretamente nos olhos, tentou sorrir, e com um fio de
voz conseguiu dizer:
– Não se preocupe, senhor… nós entendemos.
Ele, após assentir, levou as mãos às rodas de sua
cadeira e, com um movimento seco de cabeça, afastou-
se. Sua irmã revirou os olhos e sussurrou:
– Eu gosto dele porque é meu irmão e é muito bom,
mas não há ninguém mais teimoso que ele no mundo.
Adeus, foi um prazer tornar a vê-las.
Daniel, piscando para elas com cumplicidade, afastou-
se atrás de sua mãe e seu tio.
Isa murmurou:
– Uau… que situação!
Alana olhou para sua amiga e assentiu. Havia ficado
sem palavras.
23
Com medo de repetir a triste história dos pais, que se separaram por
causa da guerra do Vietnã, Alana se afasta de Parker, que fica
inconformado.
planeta
Planeta
planeta
Table of Contents
Nota da autora
Capítulo 1: Espanha, 7 de dezembro de 1960
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
35 ANOS DEPOIS
Capítulo 1: Madri, 2003
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo: Nolensville, Nashville. Oito meses depois