Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Quando procuramos um ponto de partida para esta noção vem em nosso auxílio
justamente os motivos que Freud elenca para introduzir outra ideia que lhe parece
conexa, a saber, o narcisismo1. Em seu consagrado estudo sobre o assunto, Freud elenca
cinco razões clínicas para introduzir o conceito de narcisismo em psicanálise: (1) a
regularidade das formas de amor das escolhas de objeto, (2) o agrupamento destas
escolhas entre as que baseiam-se em imagens nas quais alguém se reconhece ou que se
baseiam em protótipos culturais (como o pai protetor e a mãe nutridora), (3) a existência
de parafrenias, que só podem ser compreendidas a partir de conformações egóicas
diferentes das que encontramos na neurose e (4) a existência das neuroses atuais, que
colocam em consideração a vida sexual atual e a quantidade de libido transformada em
angústia.
Não há como não ver nestas quatro primeiras razões as razões mais comuns para
caracterizar as experiências de sofrimento, com ideias muito próximas: insatisfação
(sexual), estranhamento (identitário), inadequação (da imagem de si ao outro) e
infelicidade (amorosa). Nenhum destes quatro quesitos pode por si mesmo aspirar sua
condição de sintoma e cada qual pode estar mais ou menos acompanhado de fenômenos
de angústia ou inibição.
Mas o que nos chama a atenção é a quinta e última razão, que no texto de Freud
é a primeira, para introduzir o narcisismo: o adoecimento orgânico. A debilidade de
nossos corpos, a insuficiência de nossas leis e o caráter inexorável de nosso “comum
pertencer ao mundo”, do qual não podemos sair, são três condições freudianas do mal-
estar que convergem para a produção do adoecimento orgânico como paradigma do
1
Freud, S. (1914) Zur Enführung des Narzismus. Sigmund Freud Studienausgabe Vol IV. Frankfurt,
Fischer: 41-68.
sofrimento. Nele a debilidade de nossos corpos, a insuficiência de nossas leis e o caráter
inexorável de nosso destino se repetem, nos recolocando novamente diante do
desamparo e da passividade que tão marcadamente ocuparão a metapsicologia freudiana
da pulsão de morte.
Mas o que significa uma doença orgânica? Uma pessoa que tem uma doença
orgânica, mas não sabe, enquadra-se no critério freudiano de introversão ao egoísmo e
regressão narcísica? Inversamente, suponhamos alguém que vive a suspeita da presença
de uma doença orgânica e que para tanto é internado para exames e estudos. Ao final
todas as hipóteses diagnósticas são descartadas. Mesmo assim esta pessoa foi tratada e
reconhecida como doente e isso não deixa de provocar efeitos subjetivos, ainda que
objetivamente nada tenha sido constado. Ou seja, o adoecimento é, antes de tudo, uma
experiência de saber. Um saber, composto pela experiência corporal e seus signos de
mal-estar, seus auto-diagnósticos e paradiagnósticos, que constituem este saber como
indeterminado diante de uma verdade porvir. A operação médica tem em seu horizonte
a transformação desta indeterminação em determinação, sobre a qual se poderia então
intervir e operar. Portanto, devemos assumir que a experiência do adoecimento começa
como um fato pré-médico. Ela é um saber suposto, uma hipótese, uma interpretação de
certos estados do corpo. Do ponto de vista psicanalítico a pessoa religiosa ou delirante
que se crê saudável contra todas as evidências está doente. Assim como o
hipocondríaco, que está convicto de possuir doenças que os outros não reconhecem, está
vivendo uma experiência de adoecimento. Para a psicanálise, o doente imaginário é,
ainda assim, um doente. O ato simbólico, por exemplo, de internação, assim como o ato
real de uma cirurgia não mudam nem alteram esta condição preliminar. Mas que nome
melhor a dar para esta “doença” que não sofrimento?
4
“Anamnese: literalmente, o termo significa recordação. Em medicina, refere-se comumente à descrição
da história da doença de um paciente que precede o período da própria doença. Distingue-se da
catamnese, que se refere à história do paciente após uma doença.” Robert Campbell, Dicionário de
Psiquiatria (São Paulo, Martins Fontes, 1986), p.38.
5
Jacques Lacan, “Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise” (1953), em Escritos, cit., p.
257.
6
Idem: 50.
que define um fenômeno psicossomático, mas a posição do sujeito e o cálculo de gozo
que estabelecem a relação particular entre corpo, carne e organismo 7. Relação de
homologia borromeana entre organismo dotado de imaginária consistência que é
ameaçada pelo adoecimento, de corpo simbólico, cujo buraco de saber apresentamos
anteriormente e de ex-sistentência da carne, que se apresenta no fenômeno clínico da
convicção hiopocondríaca:
O que Freud parece ter descrito, com seu breve exemplo clínico para introduzir o
conceito de narcisismo é que o sofrimento é uma categoria que se aproxima do que os
filósofos da linguagem chamam de performativo. Em outras palavras, existem estados
de ser que independem do modo e do tempo no qual são descritos. Por outro lado há
7
Dunker, C.I.L. (2011) Corpo, carne e organismo. In Assadi, T.; Ramirez, H. & Dunker, C.I.L. O Corpo como
Litoral. Fenômeno Psicossomático e Psicanálise. São Paulo: Annablume.
8
Idem: 51
certas situações que só existem em função de certas propriedades pragmáticas da
linguagem. Para usar o vocabulário do pós-estruturalismo 9, nos atos ilocucionários, por
exemplo, nas descrições de estados de coisas em terceira pessoa, a ontologia é fixa e a
epistemologia é variável. Temos vários pontos de vistas ou perspectivas sobre um
mesmo objeto (o organismo). Nos atos performativos dá se o contrário. A epistemologia
é fixa, determinada pelo sujeito em primeira pessoa e as ontologias é que são variáveis
(corpo, carne, organismo). Descoberto nos anos 1960 por J.L. Austin os performativos
deram origem à teoria dos atos de fala (Searle) e influenciaram o pensamento crítico
(Habermas).
9
Viveiros de Castro (2015) Metafísicas Canibais. São Paulo: Cossacnaify.
10
Trask, R.L. (2004) Dicionário de Linguagem e Linguística. São Paulo: Contexto, pág. 227.
Esta dimensão performativa da linguagem é que o Lacan tentou descrever com
seus desenvolvimentos em torno da noção de saber (savoir). Particularmente ao final de
seu ensino ele argumenta que o próprio inconsciente deveria ser lido como um saber
tolo (une bevue). Para isso ele joga com o radical alemão wiessen (saber), contido na
expressão alemã para inconsciente (Unbewusst). Ele observa que este radical “be” antes
do verbo saber (bewiessen) denota um substantivo, mas também pode ser lido como um
saber que se apropria de si mesmo, um saber que se sabe como tal apontando para um
sujeito ciente, consciente ou sapiente (bewiessen). Portanto a negação, contida no mais
importante conceito da psicanálise, é uma negação indeterminada, pois ela pode se
remeter tanto ao sujeito como aquele que sabe (bewiessen), quanto ao saber ele mesmo
[Un (..) wiessen)], insabido, mal-sabido, tolice e ainda ao saber verdadeiro e constituído
(o já sabido). A confusão decorre do fato de que os cognatos de wiessen, referem-se a
três conceitos distintos: saber descritivo, ter consciência e saber performativo. Isso nos
ajuda a esclarecer a tripla dimensão do conceito de sofrimento. Ele é referido à verdade,
quando se trata da negação do saber expressa por seu estado de indeterminação (dúvida
incerteza, espera, hesitação). Ele é referido à “felicidade” quando se trata de sua
efetividade pragmática determinada (reconhecido, não reconhecido, parcialmente
reconhecido). Finalmente, ele é referido à realidade, quando se trata da consciência,
como instância de objetificação, alienação e determinação e pode se apresentar como
indeterminação em fenômenos como o estranhamento (Unheimlich), a descrença
(Unglauben), o trasitivismo, a despersonalização e a dissociação.
Para o médico pode não fazer diferença a concepção de doença que o paciente
pratica. Aliás, este é um dos marcos característicos da nova medicina clássica, que,
depois de 1785, segundo a hipótese de Foucault11, tornou-se uma medicina na qual a
teoria do adoecimento propagada pelo paciente deve ser silenciada. Contudo, para o
psicanalista esta diferença constitui um discurso, o discurso do sofrimento, no qual a
transferência pode ou não facilitar os cuidados que o médico quer e deve lhe dispender.
11
Foucault, M. (1968) O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense, 1988.
1. O Sofrimento como Patologia do Reconhecimento
12
Dunker, C.I.L. (2002) O Cálculo Neurótico do Gozo. São Paulo, Escuta.
13
Amigo, S. (2005) Clínica dos Fracassos da Fantasia. Companhia de Freud. Rio de Janeiro, 2005.
14
Silva, Jr. (2012) L´irremédiable soufrance de l´ a culture. In Coelen, M., Nioche, C & Santos Jouissance
et Soufrance. Paris, Campagne Premiére: 83-95.
15
Freud, S. (1927) Der Humor. Sigmund Freud Studienausgabe Vol IV. Frankfurt, Fischer: 279. Tradução
do autor.
16
“Uma satisfação irrestrita de todas as necessidades apresenta-se como o método mais tentador de
conduzir nossas vidas; isso, porém significa colocar o gozo antes da cautela, acarretando logo o seu
próprio castigo.” (FREUD, 1930/1974. p.96)
17
Op cit: 282.
2. Motivos Clínicos para Introduzir o Conceito de Sofrimento
18
Donoso, Marie Danielle Brulhart (2013) Reflexões sobre duas Modalidades de Crueldade diante a
Vítima. Iniciação Científica, IPUSP, orientação Nelson da Silva Jr.
19
Dejours, C.; Lancman, S. & Sznelwar, L. (2008) Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodiâmica do
Trabalho. Rio de Janeiro, Paralelo 15.
20
Costa Silva, R.M. (2011) Raça e Gênero na Saúde Mental do Distrito Federal. Curitiba: CRV.
21
Barata, R.B. (2009) Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde. Rio de Janeiro:
Fiocruz.
22
Donnangelo, M.C.F. & Pereira, L. (2011) Saúde e Sociedade. São Paulo: Hucitec.
23
Rosa, M.D.; Carignato, T.T. & Alencar, A.L. (2013) Desejo e Política: desafios e perspectivas no campo
da imigração e refúgio. São Paulo, Max Limonad.
transtornos por esforço repetitivo, as alexitimias e a quadros psicossomáticos dos anos
1980, devemos acrescentar o sofrimento de gênero, o sentimento de inadequação social
e a incongruência corporal crônica, ascendentes nos anos 1990, que tornaram as doenças
mentais a principal causa de afastamento do trabalho e da escola nos anos 2000. Mas se
os “problemas de sofrimento psíquico não são separáveis do conjunto das condições de
vida das pessoas”24 ainda não se encontrou um modelo que permita comparar
clinicamente modalidades de sofrimento com tipos de sintoma, no quadro do que se
poderia chamar de uma psicopatologia crítica. Alguns passos nesta direção foram dados
por Ehrenberg25 com relação à depressão, Malabou26 para as síndromes demenciais e
para várias condições clínicas como paranóia e esquizofrenia, histeria e narcisismo,
fetichismo e anomia, em nossa pesquisa anterior junto ao Laboratório de Teoria Social,
Filosofia e Psicanálise (Latesfip-USP)27.
24
DELEGATION INTERMINISTERIELLE AU REVENU MINIMUM D’INSETION et DELEGATION
INTERMINISTERIELLE A LA VILLE ET AU DEVELOPPEMENT SOCIAL URBAIN. (1995). Président: Antoine
Lazarus. Une souffrance qu’on ne peut plus cacher. Rapport du groupe de travail ‘Ville, santé mentale,
précarité et exclusion sociale’, février, 1995:33.
25
Ehrenberg, A. (1998) The Fatigue of being oneself - Depression and society, Odile Jacob, Paris.
26
Malabou, C. (2007) Les Nouveaux Blessés, Paris, Bayard.
27
Dunker, C.I.L; Safatle, V. & Silva Jr. (2014) Patologias do Social. São Paulo, CossaNayf (no prelo).
estas narrativas articuláveis com as hipóteses etiológicas que verificamos na psicanálise
da seguinte maneira:
29
Silva, Jr. (2007) Whos there?” A desconstrução do intérprete segundo a situação psicanalítica. Revista
Ide (São Paulo) v.30 n.44 São Paulo jun. 2007.
como uma espécie de ponto de convergência e amarração daquilo que compõe um
quadro de sofrimento: suas inúmeras perspectivas e linhas de horizonte, seu ponto de
exclusão do olhar em relação ao ver, a armadilha ou demanda que o quadro faz ao outro
e também a fantasia que é dada pela sua moldura.
Podemos associar cada uma destas hipóteses freudianas sobre o sofrimento com
figuras narrativas fundamentais do sofrimento em nossos mitos de sofrimento
contemporâneos. Poderíamos eleger o vampiro como figura máxima do adoecimento
que articula tanto os que cuidam quando o próprio paciente em uma relação de
possessão e despossessão de si. Ao lado dos fantasmas, dos Zumbis e dos
Frankensteins os vampiros constituem narrativas que dão corpo a uma determinada
demanda. São figuras paradigmáticas para falar do objeto intrusivo (Vampiro), da
alienação (Zumbi), da dissolução da unidade (Frankenstein) e do contrato (Fantasma).
Retomando a dialética lacaniana do reconhecimento vemos que as narrativas de
sofrimento são expressões dos performativos da demanda articulados com um objeto de
gozo: comandar (Vampiro), mendigar (Zumbi), exigir (Fantasma), pedir
(Frankenstein). Elas nos falam de experiências de perda do corpo (Fantasma), de
intrusão da carne (Frankenstein), de autonomização do organismo (Zumbi) ou de
reversão perpétua entre carne e corpo (Vampiro).
30
Lacan, J. (1965) O Seminário Livro XIII O Objeto da Psicanálise. «Quand je dénonce, par exemple, omme
non vérité, d’énoncer au nom d'une certaine phénoménologie qu'il n'y a pas d'autre vérité de la souffrance que la
souffrance elle–même, je dis : ceci est une non–vérité tant qu'on n'a pas prouvé que ce qui s'est dit au nom de
FREUD… que la vérité de la souffrance n'est pas la souffrance elle–même « . Versão Staferla.
A Noção de Sofrimento em Lacan
“Estes tipos clínicos com os quais o caráter de nosso sujeito revelou sua
congruência precisa, o psicastênico e o sensitivo, não se revelam eles próprios
por suas reações mais marcantes, seus escrúpulos obsessivos, pela inquietude de
sua ética, por seus conflitos morais internos, como belíssimos tipos de
“heautontimorumenoi”: toda sua estrutura pode, ao que parece ser deduzida da
prevalência dos mecanismos de autopunição.”31
Devemos notar que Lacan cita Terêncio, mas não desconhece que quem
reabilitou o termo foi Baudelaire32em seu poema homônimo, que se encerra da seguinte
maneira:
Lembremos que A Carta Roubada, título do conto de Edgar Alan Poe e modelo
de interpretação estrutural do desejo em sua relação com o significante e
particularmente com o falo, é uma carta em espera (souffrance), uma carta em
sofrimento (souffrance). Lacan fala em uma carta não retirada 34 e de uma espera. Mas
espera de quê, senão de reconhecimento, qual mensagem jogada ao mar em uma
garrafa.
“(...) nós que nos fazemos de emissários de todas as cartas roubadas que ao
menos por algum tempo, ficam conosco em souffrance, sem ser retiradas na
transferência.”35
É por isso que Lacan pode delimitar o campo de intervenção da psicanálise pela
suposição de que há uma verdade no sofrimento. Diferentemente da ideia de que a
“verdade da dor é a própria dor” a verdade do sofrimento depende de que ele seja
reconhecido, contado, ficcionalizado e isso definiria a própria atividade do psicanalista:
“(...) sim ou não, isso que vocês fazem tem o sentido de afirmar que a verdade
do sofrimento neurótico é ter a verdade como causa?”37
“Já que a verdade lhe diz Eu e que a resposta lhe vem em nossa interpretação
(...) a interpretação deve ser mais bem delimitada, visto que o profetismo não é
outra coisa. Dizer Eu numa certa trilha que não é a de nosso sofrimento, isto
também é interpretação.”40
40
Lacan, J. (1968-1969) O Seminário Livro XVI De um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar:2008
(71).
41
Lacan, J. (1971) O Seminário Livro XVIII De Um Discurso que não seria do Semblante. Rio de Janeiro,
Jorge Zahar, 2007 (101).
“Há sofrimento que é um fato, já que esconde um dizer. É por esta ambiguidade
que se recusa que ele seja indispensável em sua manifestação. O sofrimento quer
ser um sintoma, este quer enunciar a verdade”42
Considerações Finais
A via mais simples para que isso ocorra de modo determinado é naturalmente o
circuito não complementar entre o masoquismo do eu e o sadismo do supereu. Como
observou Deleuze44, com a anuência explícita de Lacan, o masoquismo envolve sempre
uma dimensão de contrato, explícita ou implicitamente. Aquele que adoece ao modo de
uma perda narcísica, entende que seu contrato com a vida não está justo, que o trato dos
viventes não se mostra equânime. Mas há modalidades de indeterminação que
envolvem, por exemplo, a desmontagem da demanda, o pedido de reconhecimento que
atravessa a experiência de sofrer e a torna uma mensagem ou uma formação de sentido
para o sujeito. É aqui também muito frequente que o adoecimento desperte os mais
recônditos sentimentos de culpa e a reatualização de lutos retidos, mal concluídos ou
ainda não iniciados. Aqui o sofrimento se narra pelas vias da perda da experiência e da
experiência da perda. Ele assume a dimensão de um luto que pode mortificar ou exaltar
o sujeito. A melhor figura narrativa para o luto que não se realiza é o Zumbi ou
antigamente a Múmia, este ser que retorna de sua tumba, sem saber que estava morto,
como que a vagar em busca da reapropriação de sua própria condição corporal.
Por outro lado há adoecimentos que caem como autênticas refacções da metáfora
paterna, induzindo a formação de novos sintomas, contra os quais o sujeito recusa saber,
como recusou, um dia, assumir simbolicamente a castração. Aqui o diagnóstico
42
Lacan, J. (1975) Introdução à Edição em Alemão de um Primeiro Volume dos Escritos. In Outros
Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001 (554).
43
Dunker, C.I.L. (2002) O Cálculo Neurótico do Gozo. São Paulo:Escuta.
44
Deleuze, G. (1973) Sade | Masoch. Lisboa: Assírio Alvim.
estrutural é decisivo: há modos neuróticos, psicóticos e perversos de adoecer. Os casos
neuróticos mais típicos remetem à aparição ou reaparição de fobias infantis e a angústia
como signo maior da indeterminação. O adoecimento é ocasião de retorno e de reedição
da metáfora paterna. Ele constitui uma nova dialética entre determinação e
indeterminação do saber em relação aos novos sintomas que se anunciam. E este retorno
pode ser dar no simbólico, com a aparição ou reaparição de sintomas, mas também no
imaginário, com a formação de fetiches corporais ou de um retorno do real, como
desencadeamento de fenômenos elementares. Neste caso o adoecimento está permeado
pela ação de uma espécie de fantasma, como o de Hamlet, que vem nos cobrar uma
dívida de existência. Neste caso assume especial importância a história dos
adoecimentos anteriores, a mitologia familiar da doença, a transmissão e identificação
de certos modos preferenciais de sofrer.
45
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5257
exemplificando ainda a partição entre corpo, carne e organismo, nas diferentes
incidências subjetivas do sofrimento e consequentemente de adoecimento.