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ATERRAMENTO TEMPORÁRIO

PARA REDES AÉREAS


0   
Edição 112 – Maio de 2015
Por  Rafael Pires Machado, Andre Luiz Pirotello, Lianete Margot Klauck, José Arinos Teixeira
Junior, Guilherme Rachelle Hernaski, Edemir Luiz Kowalski, Marcelo Antônio Ravaglio e Signie
Laureano França Santos*
 
Desenvolvimento de conexão para aterramento temporário para redes aéreas compactas,
com metodologia para aplicação e restauração da proteção do cabo.
Em grande parte dos países, existe uma crescente preocupação com as condições operativas
das redes elétricas de distribuição em transmissão, em função do aumento de demanda de
energia e do envelhecimento do ativo, além da necessidade de cumprimento das metas
estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esta preocupação tem levado
as concessionárias a investir cada vez mais em técnicas de manutenção.

A manutenção em redes de energia pode ser realizada na rede de


média tensão (11,9 kV, 13,8 kV, 23 kV e 34,5 kV) ou na rede de baixa tensão (110 V, 127
V, 220 V, 254 V e 380 V), com a rede desligada ou com a rede energizada. Para cada uma
das situações descritas, procedimentos, metodologias e ferramental específicos são
necessários.
 
Todas as atividades envolvendo manutenção no setor elétrico devem priorizar os
trabalhos com circuitos desenergizados. Apesar de desenergizados, devem obedecer a
procedimentos e medidas de segurança adequados. Somente serão consideradas
desenergizadas as instalações elétricas liberadas para serviços mediante os
procedimentos apropriados.
Até poucos anos atrás, a manutenção com as redes
desligadas era considerada um trabalho seguro pelos e letricistas, porém,
com o aumento do número de circuitos e a maior complexidade das redes de distribuição, bem como 
incidentes e
acidentes fatais, apenas o seu desligamento não passou mais a oferecer a segurança suficiente, prin
cipalmente pelo risco de uma energização acidental.
 
As redes de distribuição são compostas pela rede primária e pela rede secundária.
Atualmente, no Brasil têm-se os seguintes sistemas de distribuição a céu aberto:

 Redes primárias com cabos ou fios nus;
 Rede primária com cabos protegidos (redes convencionais ou compactas); Rede secundária co
m cabos ou  fios nus;
 Rede secundária com cabos multiplexados com neutro nu ou neutro isolado.
A Rede Compacta Protegida foi desenvolvida pela empresa Hendrix W&C, em 1951, nos Estados Unido
s. O sistema utilizava cabos cobertos
e espaçadores,  objetivando principalmente uma rede aérea com compactação próxima à
encontrada nas redes subterrâneas, possibilitando a utilização de até quatro circuitos sobre o mesmo po
ste, aumentando a confiabilidade e a  segurança do sistema de distribuição aéreo. As Redes Compactas 
Protegidas
desenvolvidas na década de 19 50 a partir de uma primeira aplicação em 5 kV, já são comuns em 15 kV
, 25 kV, 35 kV e 46 kV.
No Brasil, as primeiras experiências com cabos cobertos em redes aéreas foram realizadas pela conces
sionária Copel com a rede de 13,8 kV em 1989, na qual
foram substituídos os cabos de alumínio nus por cabos de alumínio
cobertos com polietileno, mantendo-se a topologia convencional de cruzetas e isoladores de porcelana d
o tipo pino. O objetivo era testar em < span style=”font-size:
12.1599998474121px;”>campo a eficiência do cabo coberto diante
de contatos ocasionais de galhos de árvores durante chuva e vento.
Ao longo da década de 19 90, cresceram as pressões municipais com relação à poda de árvores, o que 
levou certas concessionárias de energia a
adotarem padrões construtivos de rede elétrica que reduzissem os processos de poda, tornando-os men
os agressivos e mais harmoniosos
com a arborização urbana e, consequentemente, maiores investimentos em rede aérea compacta
protegida foram feitos. Porém, a experiência que se tinha sobre o desempenho dos acess&
oacute;rios da r ede c ompacta de classe de 15 kV
era em países de clima frio e seco. O desempenho destas redes para o clima encontrado no Brasil foi d
esejável devido
ao clima quente, úmido e alta incidência de radiação solar, obrigando o desenvolvimento de estudos e te
stes que possibilitaram, ao longo das últimas décadas, se
ter uma rede aérea c o m p a c t a  p r o t e g i d a  com as características necessárias ao Brasil.

Devido à maior confiabilidade e
às exigências com relação aos índices de continuidade no fornecimento e energia, as
concessionárias têm adotado como padrão de sistema de distribuição de energia as r edes c ompactas p
rotegidas.
Com esta adoção, os serviços de manutenção antes realizados em redes convencionais com cabos nus, 
os quais
possuíam métodos, equipamentos e procedimentos de manutenção,  estão sendo revistos, sendo
que novos desenvolvimentos e estudos vem sendo realizados. Neste contexto,  verifica-
se que, no caso da manutenção com a rede desenergizada,
onde o aterramento temporário é um item fundamental,  que merece especial atenção, pois as atuais 
metodologias aplicadas
para se realizar o aterramento o deixam muito distante do ponto de trabalho do eletricista em algumas 
situações ou
exigem presença de equipes de linha viva para se realizar o decape do cabo e aplicação do aterramento
, seguido da aplicação de restauração ao cabo no ponto de decape.
Os aterramentos temporários atualmente disponíveis foram desenvolvidos para se trabalhar em redes co
m cabos  nus.
Grande   part e   das   concessionárias   de   energia   do   Brasil   possui   redes   aéreas   compactas
,   com   cabos   protegidos.   Com   os
equipament os   at ualmente   disponíveis   comercialmente ,   não   é   possível   aplicar   a   correta  
metodologia   de   at errament o
temporário   em   redes   aéreas   compactas   sem   danificar   a   proteção   do   cabo.   A   prática   qu
e   tem   sido   aplicada   é   instalar   o
at errament o   em   pont os   onde   os   cabos   estejam   desprotegidos   ou   preparados   com   estrib
os   para   receber   o   at errament o,
porém,   isso   pode   ocorrer   em   distâncias   de   até   300   m,   ou   ainda   se   realizar   o   decape   d
o   condut or   onde   se   deve   aplicar   a
conexão   do   at errament o   t emporário.   O   primeiro   procedimento   não   está   de   acordo   com  
os   objet ivos   do   aterramento temporário   e ,   no   segundo ,   procedimento   tem-
se   no   mí nimo   duas   atividades   a   mais   sendo   executadas,   ou   seja,   o   decape
do   condutor   e   em   seguida   o   seu   reparo,   sem   levar   em   conta   a   danificação   da   proteção  
do   condutor.
Assim, observa-se que há oportunidade de estudo para o desenvolvimento de um sistema ou
metodologia que permita,
por meio de conector especial, promover o contato perfeito do sistema de aterramento no cabo protegid
o, sem danificá-lo profundamente, juntamente com uma metodologia de restauração do ponto onde houv
e o contato.
O conjunto de aterramento temporário deve possuir capacidade para conduzir a máxima corrente de curt
o–circuito pelo
tempo necessário para a atuação do sistema de proteção por três vezes consecutivas, além de conduzir 
as correntes induzidas em estado permanente. Deve possuir
grampos, conectores e cabos dimensionados para suportar os esforços
mecânicos gerados pelas correntes de curto-circuito sem se desprenderem nas conexões ou se rompere
m. Deve manter por ocasião  d a corrente de curto-circuito  à  terra uma queda de tensão, p o r
m e i o  do conjunto de aterramento não prejudicial ao homem em paralelo com ele.  É p r e c i s o a i n d a
s er prático e funcional ao serviço de manutenção, porém observando-se antes de
tudo as características acima.
Os elementos que o conjunto de aterramento e “ curto-circuitamento” temporário deve possuir são os seg
uintes:

 Vara ou bastão de manobra:  d estinado a< span style=”letter-


spacing:.25pt”> garantir o isolamento necessário às operações de colocação e
retirada do conjunto na rede de energia elétrica;
 Grampos de condutores:  e stabelece a conexão dos demais itens do conjunto com os pontos a 
serem aterrados;
 Grampo de terra: e stabelece a conexão dos demais itens do conjunto com o ponto de terra, tra
do, estrutura metálica etc.;
 Trapézio de s uspensão:  p ermite a elevação simultânea à linha a ser aterrada e estabelecea c
onexão dos cabos de interligação das fases;
 Cabos de aterramento:  é  p or
mei o  dele que fluem as eventuais correntes que possam surgir acidentalmente no sistema;
 Trado de aterramento:  é  utilizado para estabelecer a ligação dos demais elementos do conjunt
o com o solo, visando à obtenção de uma baixa resistência de terra;
 Estojo de acondicionamento: para manter o conjunto de aterramento e curto-
circuitamento temporário em
perfeitas condições, pronto para ser utilizado com segurança quando for necessário, exige-se o mí
nimo de
cuidado com seu manuseio e transporte. Dessa forma, ele deve ser acondicionado em estojo ade
quado.

O conjunto de aterramento e curto-circuitamento temporário,  desde seu desenvolvimento até os dias de 
hoje, sofreu uma
série de modificações em sua configuração, objetivando seu aperfeiçoamento e avanço no nível de segu
rança, principalmente no que se refere aos valores de fluxo de corrente. Ainda hoje são utilizados conjun
tos de aterramento e curto-
circuitamento temporário de configurações diferentes, as quais, além de resultar em maior ou menor gra
u de
segurança, poderão facilitar ou dificultar sua operação e instalação. Atualmente, o mercado disponibiliza 
basicamente dois tipos de conjunto de aterramento e curto-
circuitamento temporário, os quais se diferem basicamente em ter ou não
o grampo de conexão ao neutro, ou em seu lugar, o trapézio tipo sela, como pode ser visto na Figura 1.
Figura 1 –
Diagramas  esquemáticos de sistemas de aterramento de redes de distribuição primárias com ca
bos nus.
A Norma R egulamentadora N° 10 estabelece os requisitos e condições mínimas objetivando a impleme
ntação de
medidas de controle e sistemas preventivos, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhador
es que, direta
ou indiretamente, interajam em instalações elétricas e serviços com eletricidade. Em seu item 10.5.1, a i
nstalação de
aterramento temporário com equipotencialização dos condutores dos circuitos é tratada como item obrig
atório para trabalhos em redes desenergizadas. A
ABNT NBR 5410:2004 estabelece as condições a que devem satisfazer as
instalações elétricas de baixa tensão, a fim de garantir a segurança de pessoas e animais, o funcioname
nto adequado da instalação e a conservação dos bens. Aplica-
se principalmente às instalações elétricas de edificações, qualquer que seja seu uso. No item 5, em que
fala sobre proteção para a garantia da  segurança, a norma determina que tanto em extra baixa
tensão, quanto em baixa tensão, o princípio de aterramento temporário é o mesmo que em alta tensão.
A ABNT NBR 14039:2002
– Instalações elétricas em média tensão, no item 5.7.9, exige o uso de equipamentos de
aterramento e curto-circuitamento como medida de segurança. A ABNT NBR 6935, sobre aterramento rá
pido, determina que o aterramento temporário deve ser aplicado em rede aérea desligada, no ato de
sua manutenção.
Assim, observa-se que o aterramento temporário é classificado como EPC de uso obrigatório nas situaç
ões de trabalho
em redes primárias, secundárias desenergizadas, bem como em subestações e cubículos. A funcionalid
ade deste
equipamento já  vem   sendo   testada   há   vários   anos   e   tem   evitado,   quando   aplicada   corretamente,  
vários   acidentes, normalmente   fatais.   O   aterramento   e  o curto-
circuitamento   das   redes   de   distribuição   são,   sem   dúvida,   o   mais   utilizado
sistema   de   proteção   coletiva   para   proteger   os   trabalhadores   em   caso   de   energização   acidental.
As referências relativas à aplicação de aterramento temporário em cabos protegidos são escassas. Segu
ndo a MIT: 160907,  nos circuitos primários com cabos cobertos, em intervalos de aproximadamente 300 
m, deve-se prever a instala&ccedil
;ão de estribos com conectores tipo cunha para conexão do conjunto de aterramento temporário quando 
da
execução de serviços de manutenção com a rede desenergizada. Os pontos de aterramento preferencial
mente serão os estribos dos transformadores. Nos trechos de rede compacta em
que não existam transformadores instalados ao longo
da faixa dos 300 m, deverão ser instalados estribos de espera para aterramentos, que serão retirados à 
medida que
forem sendo instalados transformadores intermediários. Esta metodologia, em entrevista com eletricist
as da RGE, na
primeira fase do trabalho é aplicada por eles. Segundo os eletricistas da CPFL em Campinas, a técnica 
de aterramento temporária aplicada consiste no decape do cabo próximo ao ponto de trabalho, seguido
pela aplicação do conector de aterramento. Após a realização do serviço e aterramento,  o c a b o é
r e t i r a d o e r e s t a u r a d o , s e n d o  o serviço de decape e
restauração do cabo realizado por equipes de linha viva.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de protótipo de conector especia
l para a
aplicação de aterramento temporário em redes compactas aéreas. Para tanto, foi desenvolvido um proje
to de conector
para ser aplicado a partir do solo com uso de vara de manobras e que causasse o menor dano possível 
à proteção do
cabo. Foi avaliada a eficiência de contato elétrico, bem como a funcionalidade deste equipamento. Além 
disso, uma
metodologia para restauração da camada isolante foi realizada. Os resultados aqui apresentados são pr
odutos do projeto de Pesquisa e Desenvolvimento ( P&D) da Agência Nacion
al de Energia Elétrica (Aneel).
Desenvolvimento
Projeto do conector e protótipo físico
Para o desenvolvimento do conector para aterramento temporário de redes compactas,
iniciaram-se os estudos projetando-se o protótipo. Neste protótipo, existe o sistema para
aprisionamento do cabo, que é responsável pelo aperto do cabo, não permitindo que, ao
ocorrer a penetração do pino de perfuração, tenha-se a separação dos condutores
metálicos do cabo, explodindo a sua proteção. Após o aprisionamento do cabo, é feito o
aperto do parafuso de perfuração da camada de proteção. A necessidade desses dois
procedimentos ocorre para que não haja explosão dos fios do cabo antes de seu
aprisionamento. O dispositivo pode ser visualizado na Figura 2.

Figura 2 – Vista i sométrica do conector protótipo desenvolvido.


Com relação ao dimensionamento dos pinos de perfuração para realizar o contato elétrico necessário p
ara o
aterramento temporário, foram realizados os cálculos fundamentados em ensaio realizado em campo. N
este ensaio, avaliou-
se a corrente elétrica que circula pelo aterramento temporário na situação de religamento da rede de for
ma
acidental. Nos testes realizados,  foi avaliado o desempenho do aterramento tipo sela para diversos tipos 
de configurações e ligações e constatou-
se que a corrente elétrica I, que circula pelo sistema de aterramento temporário
durante esta operação,  é variável de 160 A a
té 620 A para uma tensão U de 9,29 kV até 3,50 kV. Para a situação com
máxima corrente elétrica, obteve-se o valor da resistência elétrica de terra de 5 W. Para estes valores o
btidos, a
potência elétrica dissipada no contato será da ordem de 1,92 MW, que, ao se aplicar uma margem de s
egurança, pode ser estimada em 2 MW.

Os contatos elétricos deverão suportar esta potência  e m
u m tempo de 10 ms, tempo este de operação dos elos fusíveis,
sem ocorrer o seu processo de fusão. Desta forma, foi possível calcular a massa dos pinos, dimensionar 
o tamanho e a quantidade de pinos, bem como o quanto estes devem
penetrar no cabo para realizar um bom contato de segurança.
Ensaios elétricos nos conectores
A não existência de normas técnicas para aterramentos temporários obrigou à realização e à adaptação 
de um conjunto
de ensaios aplicados a conexões. Estes ensaios foram realizados de forma comparativa, utilizando-se u
m sistema de
aterramento temporário especificado pela concessionária. Os ensaios foram realizados,  aplicando-se 
exatamente a mesma metodologia aos dois conectores. Estes ensaios foram:

 Ensaios de aquecimento pela passagem de corrente elétrica de 1,6 kA;


 Ensaio elétrico de resistência de contato;
 Ensaio elétrico de impulso de corrente de 5 kA, 10 kA, 15 kA, 20 kA, 30 kA, 50 kA, 65 kA e 80
kA.

A aplicação do conector de aterramento temporário segue o procedimento antes descrito.


Na Figura 3, pode-se observar o conector aplicado ao cabo protegido.

Figura 3 – Conector aplicado a cabo protegido. 
Ensaios de aquecimento pela passagem de corrente elétrica
No ensaio de corrente elétrica aplicada ao sistema cabo+conector de aterramento, por meio de uma font
e de corrente elétrica, aplicou-se uma corrente simulando uma situação extrema se
comparada ao modelo utilizado para o projeto do conector, que seria de 1.600 A por um tempo de 10 
ms. O monitoramento da temperatura foi realizado a 1,5 m por meio de termovisor.

Figura 4 – Imagem térmica dos conectores testados. Em (a), tem-se o conector


comercial, que chegou à temperatura máxima de 55 °C em todo o seu corpo. Em (b),
a imagem térmica do conector desenvolvido, cuja temperatura foi de 50 °C, em sua
haste lateral (local de conexão com o cabo).
Com o resultado apresentado pelo perfil térmico da Figura 4, pode-se afirmar que o conector desenvolvi
do e o comercial
apresentaram características de condução similares quanto à passagem de corrente elétrica.
Ensaio de resistência de contato
A medida de microresistividade de contato é uma técnica amplamente aplicada para s e obter os valores 
de resistência
elétrica em diversos contatos. O método aplicado neste ensaio consistiu da aplicação de uma corrente el
étrica de 600 A CC e medida da
tensão elétrica, sendo que o valor da resistividade é retornado pelo próprio equipamento. O ensaio foi re
alizado em cabos de duas seções transversais, de 50 mm² e 300 mm², sendo os resultados apresentados
no quadro da Tabela 1.
Tabela 1 – Resistência elétrica de contato para o conector convencional e o conector
desenvolvido no projeto

  
Conforme apresentado na Tabela 1, em cada ensaio foram realizadas cinco medidas e tomado o valor
médio como resultado. Estes resultados mostram que,
dentro da variação, tanto o conector convencional quanto o desenvolvido obtiveram valores dentro daqu
eles aceitos para a conexão de cabos por meio de conectores convencionais na escala de centenas de 
micro ôhms.
Ensaios de impulso de corrente aplicada
Para a realização deste ensaio,  utilizou-se um gerador de impulso de corrente para carga máxima de 70
0 kV e capacitância de 0,1 µF e energia armazenada de 26 kJ, que possibilita a aplicação de impulsos d
e corrente de até 100 kA em escala de tempo de centenas de microssegundos. Utiliza-se uma ponta de 
prova para monitorar a tensão sobre o conector e um divisor resistivo para medir a corrente elétrica. Os 
dados são monitorados por meio de osciloscópio com software interno.
Os impulsos de correntes aplicados foram de 12 kA, 31 kA e 51 kA, realizados sobre um cabo de 50 m
m². Para que o ensaio fosse comparativo, o posicionamento dos conectores foi o mesmo respeitando-
se os mesmos comprimentos de cabo.

Figura 5 –
Comportamento da resistência elétrica de contato do conector em função do impulso de corre
nte elétrica. Em (a), tem-se o
comportamento do conector convencional, e (b) o comportamento do conector desenvolvi
do.
Observando-se os resultados obtidos na Figura 5 para a resistência de contato sob impulso de corrente 
para o conector desenvolvido, verifica-se que a resistência máxima de contato foi de
554 m. Para o conector comercial a resistência de contato máxima foi de 527 m. Estes resultados
mostram-se satisfatórios, considerando os valores de resistências de contato de< span style=”font-
size: 12.1599998474121px; letter-spacing: 0.4pt;”> outros tipos de conectores.
Restauração dos pontos de perfuração
 Sabe-se que os materiais poliméricos possuem o chamado efeito de memória. Este fenômeno permite q
ue os
materiais poliméricos guardem informações sobre as suas características  d e   conformação, como form
a do objeto e posicionamento de cadeias moleculares, por exemplo.
No processo de perfuração da camada protetora do cabo, ocorre uma penetração na camada protetora,  
afastando radialmente o material em relação ao centro de perfuração. Algumas centenas de cadeias poli
méricas podem ser rompidas neste processo, porém, outras centenas de milhares de cadeias permanec
erão intactas,  sendo somente deformadas pela força aplicada pelo pino de perfuração. Após a remoção 
do pino, deve-se ativar a memória do material para que retorne a uma condição próxima da inicial. Uma 
das formas de se ativar este processo é o aquecimento do material. A Figura 6 mostra a restauração por
meio de aquecimento.

Figura 6 –
Restauração por meio de aquecimento: (a) vista ampliada em 40 vezes do orifício causado pela perfuraçã
o na aplicação do conector; (b) sistema de aquecimento do cabo desenvolvido para reparação; (c) vista a
mpliada em 40 vezes do orifício após receber o aquecimento.
Uma segunda forma de restauração foi estudada verificando-se que a utilização da fita isolante líquida,
que é funcional e de
fácil aplicação. Neste processo foi desenvolvido um acessório para a vara de manobra telescópica com 
um pincel e apoios laterais para o cabo,  a fim de facilitar a aplicação da fita adesiva isolante líquida.

Figura 7 –
Processo de restauração do cabo com fita isolante líquida: (a) vista do sistema para aplicação da fita is
olante líquida para a reparação dos cabos perfurados pelo conector; (b) coleta da fita isolante líquida; (c) 
aplicação da fita isolante no cabo perfurado realizando o reparo.
A fita isolante líquida deverá ser aplicada em três demãos. Para cada demão completa em cada cabo, 
o eletricista deverá descer o dispositivo e aplicar novamente a fita líquida.
Para se avaliar os métodos de restauração dos cabos, realizou-se a montagem de uma rede compacta 
de 15 kV, aplicando-se  a tensão elétrica em um dos cabos,  mantendo os outros dois aterrados e a tens
ão foi elevada até a abertura de arco entre os cabos. Verificou-se, neste ensaio, que
ocorre a abertura por meio de arco elétrico na tensão média de 71 kV, porém, esta ocorre entre as pont
as dos cabos,  sendo que a região restaurada não apresenta nenhum processo de ruptura dielétrica de q
ualquer natureza.
Ensaios de resistência mecânica
Foram realizados os ensaios mecânicos de tração em amostras de cabo protegido sem a aplicação do c
onector e ensaio em amostra do cabo,  onde o conector foi
aplicado seguido da realização de todos os ensaios elétricos descritos no relatório anterior. Para este en
saio,  realizou-se o decape das extremidades do cabo para realizar a fixação do cabo às garras de traçã
o do equipamento. Após a fixação dos cabos às garras do equipamento, este aplica uma força a uma ve
locidade constante até que ocorra a ruptura da amostra, registrando os dados de carga aplicada pela def
ormação sofrida. Os resultados desta análise estão no quando da Tabela 2.
Tabela 2 – Valores de carga de ruptura para as amostras ensaiadas

 
Considerando-se o ensaio como sendo o mais representativo em função da metodologia aplicada, os res
ultados comparativos obtidos mostram-se satisfatórios. Em média, os dois
grupos de amostras apresentaram comportamento semelhante e a média da carga de ruptura dos cabos 
perfurados encontra-se 17% acima da carga máxima determinada pelos fabricantes.
Conclusões
O presente trabalho apresentou os desenvolvimentos e validações aplicadas ao protótipo do conector pa
ra aterramento para cabos protegidos, onde num único dispositivo podem-se aterrar cabos de diferentes 
diâmetros.
Os resultados comparativos mostraram que o desempenho do conector desenvolvido é comparável ao c
onector comercial aplicado atualmente nos  aterramentos temporár
ios.
 Com relação à restauração dos cabos no ponto de perfuração apresentou-se uma forma direta de resta
uração,  por meio de aquecimento dos pontos de perfuração, bem como a aplicação de fita isolante líqui
da. O processo de restauração por aquecimento demonstrou-se eficiente quando realizado de forma pró
xima ao cabo, em função da observação necessária para a sua realização, que a distância se torna bast
ante difícil. A restauração com a aplicação de fita isolante líquida  mo st ro u- s e   mais eficiente, podendo 
ser realizada a distância com a aplicação em três camadas de aproximadamente 1 mm cada.
 A aplicação do conector e a restauração podem ser realizadas à distância, dispensando,
a s s i m ,   a utilização de caminhões e equipes de linha viva. O produto desenvolvido encontra-
se com solicitação de depósito de patente, realizado pela CPFL junto ao INPI.
 

Referências
 

 1. CABUSSÚ,  M. S et al. Substituição de cabos aéreos em redes de média tensão energizada. 
Revista CIER, Argentina, p. 77-85, 01 dez. 2009.
 2. PIAZZA, F e r n a n d o  et al. Fatores de influência na compatibilidade de cabos protegidos, is
oladores e acessórios utilizados em redes aéreas compactas de distribuição de energia elétrica, so
b condições de multi-estressamento. Disponível e
m:<http://www.lactec.org.br/OInstituto/downloads/Biblioteca/2003/17_2003_Citenel_Fatores_influen
cia_compat.pdf>. Acesso em: 21 n o v .  2006.
 3.  PIAZZA, F e r n a n d o  et al. Acompanhamento comparativo entre ensaios de
laboratório e desempenho de campo de materiais poliméricos de redes compactas protegidas de d
istribuição de 13,8KV. In: ENCONTRO LUSO-AFRO-B R A S I L E I R O  DE PLANEJAMENTO E E
XPLORAÇÃO DE REDES DE ENERGIA, 4, p. 1-6.
 4. RITZ DO BRASIL S.A. Manual técnico de aterramento e curto-circuitamento temporário, 1996
.
 5. NR-18. Norma regulamentadora nº 18. Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria 
da Construção, Ed. 2004.
 6. ABNT NBR 5410. Instalação elétrica de baixa  tensão. ABNT, 1997.
 7. ABNT NBR 14039. Aterramento e p r o t e ç ã o  contra: choques elétricos e sobrecorrentes. AB
NT, 2005.
 8. ABNT NBR 6935. Seccionador, chaves de terra e aterramento rápido. ABNT, 1984.
 9. MIT 160907 – Procedimentos de Manutenção em Redes Compactas.

*Rafael Pires Machado é engenheiro químico, mestre em engenharia e


ciência dos materiais. Atualmente, é pesquisador do Instituto de tecnologia
para desenvolvimento – Institutos Lactec e professor na Faculdade Opet
(Curitiba, PR) e na faculdade Estácio (Curitiba, PR);
*André Luis Pirotello é engenheiro de produção, com MBA em gestão de
negócios com ênfase em energia elétrica. Atualmente, é responsável pela
prospecção e gerenciamento de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) na Divisão de Inovação Tecnológica da Companhia Paulista de Força e
Luz (CPFL);
*Lianete Margot Klauck é engenheira eletricista, com MBA em
Gerenciamento de Projetos. Atualmente, é engenheira de inovação na RGE
Rio Grande Energia;
*José Arinos Teixeira Júnior é engenheiro eletricista e mestre em Física. É
pesquisador sênior do Instituto de Tecnologia;
*Guilherme Rachelle Hernarski é engenheiro eletricista e mestre em
engenharia e ciência. Atualmente, é pesquisador do Instituto de tecnologia
para desenvolvimento (Institutos Lactec);
*Edemir Luiz Kowalski é físico e doutor em engenharia e ciência dos
materiais. É pesquisador do Instituto de tecnologia para desenvolvimento
(Institutos Lactec) e professor na Universidade Federal do Paraná (Curitiba,
PR);
*Marcelo Antônio Ravaglio é engenheiro eletricista e mestre em engenharia
elétrica e informática industrial. É pesquisador do Instituto de tecnologia para
desenvolvimento do Institutos Lactec;
*Signie Laureano França Santos é engenheiro eletricista e mestre em
engenharia elétrica. Atualmente, é pesquisador do Institutos Lactec e professor
na Faculdade Estácio de Curitiba (Curitiba, PR);
*Victor Salvino Borges é engenheiro eletricista e especialista em Engenharia e Segurança do
Trabalho. Atualmente, é pesquisador do Institutos Lactec.

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