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Em física, a lei ou princípio da conservação de energia estabelece que a quantidade

total de energia em um sistema isolado permanece constante. Uma consequência


dessa lei é que energia não pode ser criada nem destruída: a energia pode apenas
transformar-se. A exemplo, na combustão da gasolina dentro de um motor a explosão
parte da energia potencial associada às ligações químicas dos reagentes transforma-
se em energia térmica, esta directamente associada à energia cinética das partículas
dos produtos e à temperatura do sistema (que elevam-se de forma substancial). Pelo
princípio da conservação da energia a energia interna do sistema imediatamente antes
da explosão é entretanto igual à energia interna imediatamente após a explosão.
Há de se tomar cuidado com o princípio associado à conservação da energia no que
se refere ao escopo de sua aplicação. Em seu sentido mais abrangente a conservação
da energia implica que se tenha como parcela na energia total do sistema, em acordo
com o princípio da equivalência entre massa e energia, uma termo associado à massa
deste sistema. Neste caso massa é tratada como se energia fosse, e não há lei de
conservação de massa para o sistema, apenas a lei da conservação da energia em
seu sentido mais abrangente.
Quando no âmbito da física clássica, entretanto, massa e energia são entidades
distintas e não relacionadas, e nestas condições a lei da conservação da energia
degenera-se em duas leis clássicas: a lei da conservação da energia em seu sentido
não o mais abrangente, e a lei da conservação de massas.

História
Filósofos da Antiguidade, desde Thales de Mileto, já tinham suspeitas a respeito da
conservação de alguma substância fundamental da qual tudo é feito. Porém, não
existe nenhuma razão particular para relacionar isso com o que conhecemos hoje
como "massa-energia". A saber Thales pensou que a substância era a água.
Em 1638, Galileu publicou sua análise de diversas situações -incluindo a célebre
análise do "pêndulo-ininterrúpto" - que pode ser descrita, em linguagem moderna,
mediante a conversão contínua de energia potencial em energia cinética e vice-versa,
garantida que a totalidade da soma destas duas - a qual dá-se o nome de energia
mecânica do sistema - permaneça sempre constante. Porém, Galileu não mencionou o
processo usando as ideias modernas de energia, e não pode ser creditado pelo
estabelecimento desta lei.
Foi Gottfried Wilhelm Leibniz durante 1676–1689 quem primeiro tentou realizar uma
formulação matemática do tipo de energia associada ao movimento (energia cinética).
Leibniz percebeu que em vários sistemas mecânicos (de várias massas, “mi” cada
qual velocidade “vi” ),

era conservada enquanto as massas não interagissem. Ele chamou essa quantidade
de vis viva ou força viva do sistema. O princípio representa uma afirmação acurada da
conservação de energia cinética em situações em que não há atrito. Muitos físicos
naquele tempo consideravam que a conservação de momento, que é válida mesmo
em sistemas com presença de atrito, como definido pelo momento:

era a vis viva. Foi demonstrado mais tarde, que sob certas condições, ambas as
quantidades são conservadas simultaneamente, como em colisões elásticas.
Engenheiros, tais como John Smeaton, Peter Ewart, Karl Hotzmann, Gustave-Adolphe
Hirn e Marc Seguin objetaram que a conservação de momento sozinha não era
adequada para cálculos práticos, e faziam uso do princípio de Leibniz. O princípio foi
também defendido por alguns químicos, tais como William Hyde Wollaston.
Académicos, tais como John Playfair rapidamente apontaram que a energia cinética
claramente não era conservada. Os fundamentos desta não conservação são óbvios
em vista de uma análise moderna baseada na segunda lei da termodinâmica, mas nos
séculos XVIII e XIX o destino da energia cinética perdida ainda era desconhecido.
Gradualmente foi-se suspeitando que o calor oriundo do aumento de temperatura
inevitavelmente gerado pelo movimento sob atrito era outra forma de vis viva. Em
1783, Antoine Lavoisier e Pierre-Simon Laplace revisaram as duas teorias correntes, a
vis viva e teoria do calórico (ou flogisto), o que, junto com as observações de Conde
Rumford em 1798 sobre a geração de calor durante perfuração de metal para a
fabricação de canhões (em um processo chamado alesagem), adicionaram
considerável apoio à visão de que havia nítida correlação entre a variação no
movimento mecânico e o calor produzido, de que a conservação era quantitativa e
podia ser predita, e que era possível o estabelecimento de uma grandeza que se
conservaria no processo de conversão de movimento em calor.
A vis viva começou a ser conhecida como energia, depois do termo ser usado pela
primeira vez com esse sentido por Thomas Young em 1807.
A recalibração da “vis” viva para
o que pode ser entendido como encontrar o valor exacto da constante para a
conversão de energia cinética em trabalho foi em grande parte o resultado do trabalho
de Gustave-Gaspard Coriolis e Jean-Victor Poncelet durante o período de 1819–1839.
O primeiro chamou a quantidade de quantité de travail (quantidade de trabalho) e o
segundo de travail mécanique (trabalho mecânico), e ambos defenderam seu uso para
cálculos de engenharia.
No artigo Über die Natur der Wärme, publicado no Zeitschrift für Physik em 1837, Karl
Friedrich Mohr deu uma das primeiras declarações gerais do princípio da conservação
de energia, nas palavras: "além dos 54 elementos químicos conhecidos, há no mundo
um agente único, e se chama Kraft [energia ou trabalho]. Ele pode aparecer, de
acordo com as circunstâncias, como movimento, afinidade química, coesão,
electricidade, luz e magnetismo; e a partir de qualquer uma destas formas, pode ser
transformado em qualquer um dos outros."

Uma etapa fundamental no desenvolvimento do moderno princípio conservação foi a


demonstração do equivalente mecânico do calor. A teoria do calórico afirmava que o
calor não podia ser criado nem destruído, mas a conservação de energia implica algo
contraditório a esta ideia: calor e o movimento mecânico são intercambiáveis.
O princípio do equivalente mecânico foi exposto na sua forma moderna pela primeira
vez pelo cirurgião alemão Julius Robert von Mayer.[1] Mayer chegou a sua conclusão
em uma viagem para as Índias Orientais Neerlandesas, onde ele descobriu que o
sangue de seus pacientes possuía uma cor vermelha mais profundo devido a eles
consumirem menos oxigénio, e também consumiam menos energia para manterem a
temperatura de seus corpos em um clima mais quente. Ele tinha descoberto que calor
e trabalho mecânico eram ambos formas de energia, e após melhorar seus
conhecimentos de física, ele encontrou uma relação quantitativa entre elas.

Aparato de Joule para a medição do equivalente mecânico do calor. Um peso


descendente preso a uma corda causa uma rotação numa pá imersa em água.
Entretanto, em 1843 James Prescott Joule descobriu de forma independente o
equivalente mecânico do calor em uma série de experiências. No mais famoso, agora
chamado "aparato de Joule", um peso descendente preso a uma corda causava a
rotação de uma pá imersa em água. Ele mostrou que a energia potencial gravitacional
perdida pelo peso no movimento descendente era igual à energia térmica (calor)
ganha pela água por fricção com a pá.
Durante o período entre 1840 e 1843 um trabalho similar foi efectuado pelo engenheiro
Ludwig A. Colding, embora este tenha sido pouco conhecido fora de sua nativa
Dinamarca.
Tanto o trabalho de Joule quanto o de Mayer sofreram inicialmente forte resistência e
foram, quando apresentados, por muitos negligenciados. No decorrer da história,
entretanto, a ideia foi aceita e o trabalho de Joule foi o que acabou por conquistar o
maior fama e reconhecimento.
Em 1844, William Robert Grove postulou uma relação entre mecânica, calor, luz,
electricidade e magnetismo tratando todas elas como manifestação de uma "única"
força ("energia" em termos modernos). Grove publicou suas teorias em seu livro "The
Correlation of Physical Forces" (A Correlação de Forças Físicas).[2] Em 1847,
aperfeiçoando o trabalho anterior de Joule, Sadi Carnot, Émile Clapeyron e Hermann
von Helmholtz chegaram a conclusões similares às de Grove e publicaram suas
teorias em seu livro "Über die Erhaltung der Kraft" ("Sobre a Conservação de Força",
1847). A aceitação moderna geral do princípio decorre dessa publicação.
Em 1877, Peter Guthrie Tait afirmou que o princípio surgiu com Sir Isaac Newton,
baseado numa leitura criativa das proposições 40 e 41 de "Philosophiae Naturalis
Principia Mathematica". Isso é agora geralmente tratado como nada mais do que um
exemplo de história "Whig".

Mecânica
Na mecânica clássica a conservação de energia é normalmente dada por
E = T + V,
onde T é a energia cinética e V a energia potencial.
Na verdade este é o caso particular da lei de conservação mais geral

e
onde L é a função lagrangeana. Para esta forma particular ser válida, o seguinte deve
ser verdadeiro:
O sistema é scleronomous (tanto energia cinética quanto a potencial são funções
explícitas do tempo)
A energia cinética é uma forma quadrática em relação às velocidades.
A energia potencial não dependa das velocidades.

Mecânica de Lagrange

A mecânica de Lagrange ou mecânica lagrangiana, nomeada em honra ao seu


criador, Joseph-Louis de Lagrange, é uma formulação da mecânica clássica que
combina a conservação do momento com a conservação da energia. Exposta pela
primeira vez no livro Méchanique Analytique em 1788, a formulação é provida de uma
potente ferramenta matemática e equivalente a qualquer outra formulação da
mecânica, como, por exemplo, o formalismo newtoniano.
Na mecânica lagrangiana, a trajectória de um sistema de partículas é obtido
resolvendo as equações de Lagrange em uma de suas duas formas, chamadas
equações de Lagrange de primeira espécie,[1] que trata as restrições explicitamente
como equações adicionais, geralmente utilizando os multiplicadores de
Lagrange;[2][3]e as equações de Lagrange de segunda espécie, que incorpora as
restrições directamente na escolha das coordenadas generalizadas.[1][4] O lema
fundamental do cálculo de variações mostra que resolver as equações de Lagrange é
equivalente a encontrar o caminho que minimiza o funcional acção, uma quantidade
que é a integral da função de Lagrange no tempo.

Dado um conjunto de coordenadas generalizadas para descrever o sistema


físico estudado, a Lagrangiana de qualquer sistema o caracteriza de forma unívoca e

pode apresentar as seguintes dependências funcionais , em que

são as velocidades generalizadas.


Pelo Princípio de Hamilton [5], que nos diz que o trajecto real da partícula [6], entre os

instantes e é aquele que minimiza a acção .


Fixados os extremos da trajectória no espaço de configuração. Encontramos [7] às
equações de Euler-Lagrange

Que são equações diferenciais parciais de segunda ordem em .


No caso de um sistema não-conservativo (ou dissipativo), temos

em que são as forças generalizadas, externas.

A Mecânica Lagrangeana é baseada num formalismo escalar mais simples e geral,


quando comparado ao formalismo vectorial de Newton. Com isso é capaz de
descrever igualmente bem fenómenos a baixas velocidades ou a velocidades
relativistas. O único aspecto que difere entre cada caso é a Função de Lagrange.

Função de Lagrange

Na mecânica clássica, lagrangiana (símbolo: ) é uma função de coordenadas, taxas


de variação destas coordenadas (velocidades) e do tempo, dada matematicamente
pela subtracção da energia cinética (T) pela energia potencial (U):
.
Junto com o princípio de Hamilton, define toda a dinâmica de um sistema, sem
precisar recorrer a vectores e diagramas, mas apenas usando funções escalares. A
lagrangiana possui dimensões de energia.

Uma escolha para as coordenadas generalizadas

Em um sistema clássico, por exemplo, temos que (aqui estamos assumindo


que as coordenadas generalizadas são os módulos dos vectores posição de cada
partícula que compõem o sistema) e a Função de Lagrange define-se como

Em que é a Energia Cinética e é a Energia Potencial de Interacção.


Quanto às equações de Euler-Lagrange, temos

Aplicação ``clássica

A Mecânica de Lagrange tem a vantagem de resolver elegantemente problemas


complexos, sendo um bom exemplo do grau de abstracção embutido no formalismo de
Lagrange a simplicidade com que podemos deduzir as Leis de Conservação a partir
das simetrias do espaço-tempo. Deixa-se, aqui, a título de exemplo, a dedução da
Conservação do Momento Linear:

• Conservação do Momento Linear

Sendo o espaço homogéneo[8], tem-se que . Num sistema isolado

(conservativo), pelas equações de Euler-Lagrange, temos . Definindo

[9], chegamos a

De fato, na mecânica clássica teremos , se


somente não for função das velocidades generalizadas.

Mecânica hamiltoniana

Mecânica hamiltoniana é uma reformulação da mecânica clássica que foi descoberta


em 1833 pelo matemático irlandês William Rowan Hamilton. Originou-se da mecânica
lagrangiana, outra reformulação da mecânica clássica, introduzida por Joseph Louis
Lagrange em 1788. Ela pode entretanto ser formulada sem recorrer a mecânica
lagrangiana, usando espaços simpléticos. Veja a secção sobre esta formulação
matemática para isto. O método hamiltoniano difere do lagrangiano em que ao invés
de expressar confinamentos diferenciais de segunda ordem sobre um espaço
coordenado n-dimensional, ela expressa confinamentos de primeira ordem sobre um
espaço de fases 2n-dimensional.[1].
Como com a mecânica lagrangiana, as equações de Hamilton fornecem uma maneira
nova e equivalente de olhar mecanismos clássicos. Geralmente, estas equações não
fornecem uma maneira mais conveniente de resolver um problema particular.
Entretanto, fornecem introspecções mais profundas na estrutura geral de mecanismos
clássicos e em sua conexão aos mecânicos quânticos como compreendidos através
dos mecânicos hamiltonianos, assim como suas conexões a outras áreas da ciência.

Visão geral simplificada dos usos

Para um sistema fechado a soma da energia cinética e potencial no sistema é


representado por um conjunto de equações diferenciais conhecido como as equações
de Hamilton para este sistema. Hamiltonianos podem ser usados para descrever tais
sistemas simples como uma bola batendo, um pêndulo ou uma mola oscilante na qual
as mudanças de energia de cinética para potencial e vice-versa, alternam-se no
tempo. Hamiltonianos podem também ser empregados para modelar a energia de
outros sistemas dinâmicos mais complexos tais como órbitas planetárias e na
mecânica quântica.[1]
As equações de Hamilton são geralmente escritas como segue:

Nas equações acima, o ponto acentuando denota a derivada ordinária com respeito ao
tempo das equações p = p(t) (chamada momento generalizado) e q = q(t) (chamado
coordenadas generalizadas), tomando valores em algum espaço vectorial, e =

é o assim chamado Hamiltonian, ou função ou (valoração escalar)


Hamiltoniano. Então, num pequena nota mais explicitamente, pode-se escrever

e especifica o domínio de valores nos quais o parâmetro t ("tempo") varia.


Para uma derivação mas detalhadas destas equações da mecânica lagrangeana, ver
abaixo.
Interpretação física básica, mnemotécnica

A mais simples interpretação das equações de Hamilton é como segue, explicando-as


a um sistema unidimensional consistindo de uma partícula de massa m e exibindo
conservação de energia:
O Hamiltoniano representa a energia do sistema, a qual é a soma de energia
cinética e potencial, tradicionalmente notado T & V, respectivamente. Aqui q é a
coordenada x e p é o momento, mv. Então

Note que T é a função de p apenas, enquanto V é a função de somente de x (ou q).


Agora a derivada no tempo do momento p iguala-se a força Newtoniana, e então aqui
a primeira equação de Hamilton significa que a força sobre a partícula iguala-se a taxa
na qual ele perde energia potencial com relação a alterações em x, sua localização.
(Força iguala-se ao gradiente negativo da energia potencial.)
A derivada no tempo de q significa a velocidade: a segunda equação de Hamilton aqui
significa que a velocidade da partícula iguala-se a derivada de sua energia cinética
com relação ao seu momento. (Para a derivada com relação a p de p²/2m iguala p/m =
mv/m = v.)

Usando equações de Hamilton

1. Primeiro escreve-se o Lagrangiano L = T – V. Expressa-se T e V como se


estave-se usando-se equação de Lagrange.
2. Calcula-se o momento por diferenciação do Lagrangiano com relação à
velocidade.
3. Expressa-se as velocidades em termos do momento por inversão das
expressões na etapa (2).

4. Calcula-se o Hamiltoniano usando a definição usual, .


Substitui-se pelas velocidades usando os resultados na etapa (3).
5. Aplica-se as equações de Hamilton.
Hamiltoniano (mecânica quântica)

Em mecânica quântica, o Hamiltoniano H é o observável correspondente à energia


total do sistema. Como todos os observáveis, o espectro do Hamiltoniano é o conjunto
de possíveis resultados quando mede-se a energia total de um sistema. Como
qualquer outro operador auto-adjunto, o espectro do Hamiltoniano pode ser
decomposto, via suas medidas espectrais, em pontos "puros", absolutamente
contínuos, e partes singulares. O espectro de pontos puros pode ser associado a auto
vectores, os quais por sua vez são estados ligados do sistema. Os espectros
absolutamente contínuos correspondem aos estados livres. O espectro singular,
curiosamente, compreende resultados fisicamente impossíveis. Por exemplo,
considere-se o potencial propriamente finito, o qual admite estados ligados com
energias negativas discretas e estados livres com energias positivas contínuas.

O princípio da incerteza de Heisenberg

O princípio da incerteza de Heisenberg consiste num enunciado da mecânica


quântica, formulado inicialmente em 1927 por Werner Heisenberg, impondo restrições
à precisão com que se podem efectuar medidas simultâneas de uma classe de pares
de observáveis.
Pode-se exprimir o princípio da incerteza nos seguintes termos:
O produto da incerteza associada ao valor de uma coordenada xi e a incerteza
associada ao seu correspondente momento linear pi não pode ser inferior, em
grandeza, à constante de Planck normalizada.

Em termos matemáticos, exprime-se assim:

onde é a Constante de Planck (h) dividida por 2π.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A constante de Planck

A constante de Planck, representada por h, é uma das constantes fundamentais da


Física, usada para descrever o tamanho dos quanta. Tem um papel fundamental na
teoria de Mecânica Quântica, aparecendo sempre no estudo de fenómenos em que a
explicação por meio da mecânica quântica se torna influente. Tem o seu nome em
homenagem a Max Planck, um dos fundadores da Teoria Quântica. Seu valor é de
aproximadamente:

,
ou, com eV como unidade de energia:

,
ou, ainda, no sistema CGS:

erg · s
Um dos usos dessa constante é a equação da energia do fóton, dada pela seguinte
equação:

onde:
E = energia do fóton, denominada quantum;
h = constante de Planck;
ν = frequência da radiação. Lê-se "ni".
Constante reduzida de Planck
Em algumas equações de física, tal como a equação de Schrödinger, aparece o

símbolo , que é apenas uma abreviação conveniente para , chamada de


constante reduzida de Planck, ou para alguns, constante de Dirac, diferindo da
constante de Planck pelo factor 2π. Consequentemente:

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

A explicação disso é fácil de se entender, e fala mesmo em favor da intuição, embora


o raciocínio clássico e os aspectos formais da análise matemática tenham levado os
cientistas a pensarem diferentemente por muito tempo
Quando se quer encontrar a posição de um electrão, por exemplo, é necessário fazê-
lo interagir com algum instrumento de medida, directa ou indirectamente. Por exemplo,
faz-se incidir sobre ele algum tipo de radiação. Tanto faz aqui que se considere a
radiação do modo clássico - constituída por ondas electromagnéticas - ou do modo
quântico - constituída por fótons. Se se quer determinar a posição do electrão, é
necessário que a radiação tenha comprimento de onda da ordem da incerteza com
que se quer determinar a posição.
Neste caso, quanto menor for o comprimento de onda (maior frequência) maior é a
precisão. Contudo, maior será a energia cedida pela radiação (onda ou fóton) em
virtude da relação de Planck entre energia e frequência da radiação

e o electrão sofrerá um recuo tanto maior quanto maior for essa energia, em virtude do
efeito Compton. Como consequência, a velocidade sofrerá uma alteração não de todo
previsível, ao contrário do que afirmaria a mecânica clássica.
Argumentos análogos poderiam ser usados para se demonstrar que ao se medir a
velocidade com precisão, alterar-se-ia a posição de modo não totalmente previsível.
Resumidamente, pode-se dizer que tudo se passa de forma que quanto mais
precisamente se medir uma grandeza, forçosamente mais será imprecisa a medida da
grandeza correspondente, chamada de canonicamente conjugada
Algumas pessoas consideram mais fácil o entendimento através da analogia. Para se
descobrir a posição de uma bola de plástico dentro de um quarto escuro, podemos
emitir algum tipo de radiação e deduzir a posição da bola através das ondas que
"batem" na bola e voltam. Se quisermos calcular a velocidade de um automóvel,
podemos fazer com que ele atravesse dois feixes de luz, e calcular o tempo que ele
levou entre um feixe e outro. Nem radiação nem a luz conseguem interferir de modo
significativo na posição da bola, nem alterar a velocidade do automóvel. Mas podem
interferir muito tanto na posição quanto na velocidade de um electrão, pois aí a
diferença de tamanho entre o fóton de luz e o electrão é pequena. Seria, mais ou
menos, como fazer o automóvel ter de atravessar dois troncos de árvores (o que
certamente alteraria sua velocidade), ou jogar água dentro do quarto escuro, para
deduzir a localização da bola através das pequenas ondas que baterão no objecto e
voltarão; mas a água pode empurrar a bola mais para a frente, alterando sua posição.
Desta forma torna-se impossível determinar a localização real desta bola pois a
própria determinação mudará a sua posição. Apesar disto, a sua nova posição pode
ser ainda deduzida, calculando o quanto a bola seria empurrada sabendo a força das
ondas obtendo-se uma posição provável da bola e sendo provável que a bola esteja
localizada dentro daquela área.
Natureza da medida em mecânica quântica

Como se pode depreender da argumentação acima exposta, a natureza de uma


medida sofre sérias reformulações no contexto da mecânica quântica. De fato, na
mecânica quântica uma propriedade leva o nome de observável, pois não existem
propriedades inobserváveis nesse contexto. Para a determinação de um observável, é
necessário que se tenha uma preparação conveniente do aparato de medida, a fim de
que se possa obter uma colecção de valores do ensemble de entes do sistema. Se
não puder montar, ao menos teoricamente (em um Gedankenexperiment) uma
preparação que possa medir tal grandeza (observável), então é impossível determiná-
la naquelas condições do experimento.
Uma comparação tornará mais clara essa noção. No experimento de difracção da
dupla fenda, um feixe de electrões atravessando uma fenda colimadora atinge mais
adiante duas outras fendas paralelas traçadas numa parede opaca.
Do lado oposto da parede opaca, a luz, atravessando as fendas simultaneamente,
atinge um anteparo. Se se puser sobre este um filme fotográfico, obtém-se pela
revelação do filme um padrão de interferência de zonas claras e escuras. Esse
resultado indica uma natureza ondulatória dos electrões, resultado esse que motivou o
desenvolvimento da mecânica quântica.
Entretanto, pode-se objectar e afirmar-se que a natureza dos electrões seja
corpuscular, ou seja, composta de fótons. Pode-se então perguntar por qual fenda o
electrão atravessou para alcançar o anteparo. Para determinar isso, pode-se pôr, junto
de cada fenda, uma pequena fonte luminosa que, ao menos em princípio, pode indicar
a passagem dos electrões por tal ou qual fenda. Entretanto, ao fazê-lo, o resultado do
experimento é radicalmente mudado. A figura de interferência, antes presente, agora
dá lugar a uma distribuição gaussiana bimodal de somente duas zonas claras em meio
a uma zona escura, e cujos máximos se situam em frente às fendas.
Isso acontece porque as naturezas ondulatória e corpuscular do electrão não podem
ser simultaneamente determinadas. A tentativa de determinar uma inviabiliza a
determinação da outra. Essa constatação da dupla natureza da matéria (e da luz) leva
o nome de princípio da complementaridade.
Essa analogia serve para mostrar como o mundo micro físico tem aspectos que
diferem significativamente do que indica o senso comum.
Para se entender perfeitamente o alcance e o real significado do princípio da
incerteza, é necessário que se distingam três tipos reconhecidos de propriedades
dinâmicas em mecânica quântica:
Propriedades compatíveis: são aquelas para as quais a medida simultânea e
arbitrariamente precisa de seus valores não sofrem nenhum tipo de restrição básica.
Exemplo: a medição simultânea das coordenadas x, y e z de uma partícula. A medição
simultânea dos momentos px,py e pz de uma partícula.
Propriedades mutuamente excludentes: são aquelas para as quais a medida
simultânea é simplesmente impossível. Exemplo: se um electrão está numa posição xi,
não pode estar simultaneamente na posição diferente xj.
Propriedades incompatíveis: são aquelas correspondentes a grandezas
canonicamente conjugadas, ou seja, aquelas cujas medidas não podem ser
simultaneamente medidas com precisão arbitrária. Em outras palavras, são grandezas
cujas medidas simultâneas não podem ser levadas a cabo em um conjunto de
subsistemas identicamente preparados (ensemble) para este fim, porque tal preparo
não pode ser realizado. Exemplos: as coordenadas x,y e z e seus correspondentes
momentos px,py e pz, respectivamente. As coordenadas angulares θi e os
correspondentes momentos angulares Ji.

Observáveis e operadores

No formalismo matemático da mecânica quântica, os observáveis são representados


por operadores matemáticos sobre um espaço de Hilbert.
Esses operadores podem ser construídos a partir de seus equivalentes clássicos.
Na formulação de Heisenberg, as relações da incerteza podem ser dados na forma de
um operador comutador, que opera sobre dois outros operadores quaisquer:

onde A e B são operadores quaisquer.


No caso das relações de incerteza:

Dirac notou a semelhança formal entre o comutador e os parênteses de Poisson.


Sabedor da equivalência usada por Schrödinger quando este postulou a forma da
equação de onda, Dirac postulou as seguintes equivalências, que valem como receita
para se acharem os operadores quânticos correspondentes a grandezas clássicas:
A descrição ondulatória dos objectos microscópicos tem consequências teóricas
importantes, como o principio da incerteza de Heisenberg. O fato de os objectos
microscópicos, em muitas situações, terem uma localização no espaço mesmo que
aproximada, implica que não podem ser descritos por uma onda com um só
comprimento de onda (onda plana), pois esta ocuparia todo o espaço. É necessária
uma super posição de comprimentos de ondas diferentes para se obter um "pacote"
de ondas mais bem localizado e que represente o objecto microscópico.

O papel do princípio da incerteza nas formulações modernas da mecânica


quântica

Hoje em dia, o princípio da incerteza é importante principalmente por dois motivos: um


histórico e outro didáctico. Ambos são análogos: o princípio da incerteza mostra de
maneira clara que concepções clássicas a respeito da medida devem ser
abandonadas.
No entanto, o princípio da incerteza *não* é um bom princípio (ou postulado) da
mecânica quântica, já que é inexacto e pouco geral. A mecânica quântica não-
relativística é totalmente descrita com alguns postulados, dos quais as relações de
incerteza de Heisemberg surgem de forma pouco natural. Mas o espírito do princípio
da incerteza é mantido: não se pode ter um sistema que, ao ser medido, tenha a
probabilidade 1 de se encontrar tanto uma ou outra grandeza, se essas grandezas
corresponderem a operadores que não comutam. Iremos explicar isto melhor adiante:
Todas as grandezas que podem ser medidas correspondem aos chamados "auto
valores" de certos objectos matemáticos chamados de operadores (na verdade, a
natureza requer que esses operadores sejam de uma classe especial, a dos
"observáveis"). Chamemos um operador qualquer de A, e chamemos seus auto
valores de a_n (a_1 é um auto valor, a_2 é outro e assim por diante). Existem estados
quânticos, chamados "auto estados" (que representaremos por | φn > ) do operador A,
nos quais uma medida tem 100% de hipóteses de encontrar o valor a_n. Esses auto
estados e esses auto valores são definidos pela seguinte equação:
A | φn > = an | φn >
Um operador é dito um observável se esses auto estados φn > formarem uma "base".
Diz-se que um grupo qualquer de estados quânticos formam uma base se qualquer
outro estado quântico puder ser escrito como uma super posição deles. Ou seja, para
qualquer estado quântico | Ψ > ,
Onde os coeficientes cn, em geral complexos, indicam o quanto os auto estados
correspondentes | φn > influenciam no estado resultante, | Ψ > . Um dos postulados da
mecânica quântica diz que a probabilidade de uma medida da grandeza A revelar o
valor a_n é:
P(an) = | cn | 2
Quando o sistema está no auto estado | φn > , o postulado acima mostra que a
probabilidade de se encontrar o valor a_n correspondente é 100%. Assim, pode-se
dizer que o sistema *possui a grandeza A bem definida*.
Agora consideremos dois operadores A e B, como o operador da posição e o operador
do momento. Em geral, os auto estados de um operador não são os mesmos auto
estados do outro operador. Consequentemente, se o sistema está em um estado
quântico onde a grandeza A é bem definida, a grandeza B não será bem definida. Ou
seja, haverá uma "incerteza" na grandeza B.
Mas, e se o sistema estiver num estado onde a grandeza A é bem definida, e
efectuarmos uma medida na grandeza B? Pode-se pensar que, então, saberemos
exactamente o valor de ambas as grandezas. Mas isso está errado, devido a outro dos
postulados da mecânica quântica: se uma medida de uma grandeza qualquer B revela
o valor b_n, então o sistema *é perturbado pela medida *, e passa para o auto estado |
φn > correspondente à grandeza B_n.
Então, suponha que dois operadores A e B não possuem os mesmos auto estados. Se
efectuarmos em um sistema qualquer a medida da grandeza A, e encontrarmos um
certo valor, o sistema se torna um auto estado de A, com um valor bem definido de A e
uma incerteza no valor de B. Se, após isso, efectuarmos uma medida no valor de B,
então lançamos o sistema num auto estado de B, com um valor bem definido de B e
uma incerteza no valor de A. Com isso, dizemos que é impossível saber
simultaneamente o valor da grandeza A e da grandeza B.
A incerteza entre a posição e o momento proposta por Heisenberg é, então, uma
consequência dos postulados da mecânica quântica, e não um postulado por si só.
Equação de Schrödinger

Em Física, a Equação de Schrödinger, proposta pelo físico austríaco Erwin


Schrödinger em 1925, descreve a evolução temporal de um estado quântico de um
sistema físico. Essa equação tem uma importância capital na teoria da mecânica
quântica, e seu papel é similar ao da segunda Lei de Newton na Mecânica Clássica.
Pela formulação matemática da mecânica quântica, todo sistema é associado a um
espaço de Hilbert complexo, tal que cada estado instantâneo do sistema é descrito por
um vector unitário nesse espaço. Este vector de estados guarda as probabilidades
para os resultados de todas as possíveis medições aplicadas ao sistema. Em geral, o
estado de um sistema varia no tempo e o vector de estados é uma função do tempo. A
equação de Schrödinger provê uma descrição quantitativa da taxa de variação deste
vector.
Usando a notação de Dirac, o vector de estados é dado, num tempo t por |ψ(t)>. A
equação de Schrödinger é:

Nas equações, i é o número imaginário, ħ é a constante de Planck dividida por 2π e o


Hamiltoniano H(t) é um operador auto-adjunto actuando no vector de estados. O
Hamiltoniano representa a energia total do sistema. Assim como a força na segunda
Lei de Newton, ele não é definido pela equação e deve ser determinado pelas
propriedades físicas do sistema.

Uma maneira mais didáctica de observar a Equação de Schrödinger é em sua forma


independente do tempo e em uma dimensão. Para tanto, serão necessárias três
relações:
Definição de Energia Mecânica: Em = Ec + V

Equação do Oscilador Harmónico:

Relação de De Broglie:

Onde ψ é a função de onda, λ é o comprimento de onda, h é a constante de Planck e


p é o momento linear.
Da Relação de De Broglie, temos que , que pode ser substituída na equação
do Oscilador Harmónico:

Rearranjando a equação de energia, temos que , substituindo v2


na equação anterior:

, definindo , temos:

Que é a Equação Independente do Tempo de Schrödinger e também pode ser escrita


na notação de operadores:

, em que é o Operador Hamiltoniano operando sobre a função de


onda.

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física clássica
Mecânica clássica
Em física clássica — primeiramente em mecânica clássica — um oscilador harmónico
corresponde a um sistema que quando tirado da posição de equilíbrio apresenta uma
força restauradora F proporcional ao deslocamento x de acordo com a Lei de Hooke:

onde k é uma constante positiva, dita constante elástica.


Se F for a única força actuando no sistema, o sistema será chamado de oscilador
harmónico simples. É caracterizado por um movimento de "vai-e-vem" e seu
deslocamento é uma função sinusoidal do tempo. É característica desse sistema a
amplitude constante e frequência constante.
Se houver uma força de atrito que contraria o movimento diz-se um oscilador
harmónico amortecido. Nessa situação a frequência de oscilações é menor que no
oscilador sem amortecimento, além de a amplitude das oscilações diminuir conforme o
tempo.
Caso haja uma força externa dependente do tempo diz-se que se trata de um
oscilador harmónico forçado.
Finalmente, se comparecem tanto a força externa como o atrito interno, tem-se o caso
do oscilador harmónico forçado e amortecido.
Exemplos de osciladores harmónicos são pêndulos, massas ligadas a molas,
vibrações acústicas, além de vários outros.

Electromagnetismo clássico

Uma analogia interessante pode-se estabelecer entre os osciladores mecânicos


clássicos forçados e amortecidos com o circuito eléctrico RLC submetidos a uma fonte
externa de energia eléctrica, pois têm a mesma solução matemática (sua equação
diferencial característica é de mesma forma e ordem).

Oscilador harmónico simples

O oscilador harmónico simples é isolado de forças externas, além de não ter


amortecimento algum. Então a única força que age é a força elástica da mola:

Usando a 2ª Lei de Newton:

A aceleração a é igual a derivada segunda de x:

Se definirmos , então a solução poderá ser escrita do seguinte modo:

Podemos observar que:

Substituindo:
Integrando:

onde K é uma constante, dado K = (A ω0)2

Integrando dos dois lados (sendo φ a constante resultante da integração) teremos:

E assim teremos a solução geral para x :

Sendo que a amplitude e a fase inicial serão determinadas através das condições
iniciais.
Do mesmo modo poderíamos escrever:

Entretanto agora está deslocado em relação a forma anterior.


Ou senão podemos escrever também:

já que a que a soma de soluções de uma equação diferencial também é solução para
a equação diferencial.
A frequência das oscilações será dada pela seguinte fórmula:

Oscilador harmónico amortecido


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Equação de Pauli

A equação de Pauli , também conhecida como Equação Schrödinger-Pauli, é uma


formulação da Equação de Schrödinger para um spin-partícula que leva em
consideração a interacção da rotação de uma partícula com o campo
electromagnético. Essas situações são os casos não-relativísticos da Equação de
Dirac, onde as partículas em questão tem uma velocidade muito baixa para que os
efeitos da relatividade tenham importância, podendo ser ignorados.
A equação de Pauli foi formulada por Wolfgang Pauli no ano de 1927.

Detalhes

A equação de Pauli é mostrada como:

Onde:
é a massa da partícula.
é a carga da partícula.
é um vector de três componentes do dois-por-dois das matrizes de Pauli. Isto
significa que cada componente do vector é uma matriz de Pauli.

é o vector de três componentes da dinâmica dos operadores. Os componentes

desses vectores são:

é o vector de três componentes do potencial magnético.

é o potencial escalar eléctrico.

são os dois componentes spinor da onda, podem ser representados como .


De forma mais precisa, a equação de Pauli é:

Mostra que o espaço Hamiltoniano (a expressão entre parênteses ao quadrado) é uma


matriz operador dois-por-dois, por conta das matrizes σ de Pauli.
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Princípio de exclusão de Pauli

O princípio de exclusão de Pauli é um princípio da mecânica quântica formulado por


Wolfgang Pauli em 1925. Ele afirma que dois férmions idênticos não podem ocupar o
mesmo estado quântico simultaneamente. Uma forma mais rigorosa de enunciar este
princípio é dizer que a função de onda total de um sistema composto por dois fermions
idênticos deve ser anti-simétrica. Para electrões de um mesmo átomo, ele implica que
dois electrões não podem ter os mesmos quatro números quânticos. Por exemplo, se
os números quânticos n, l, e ml são iguais nos dois electrões, estes deverão
necessariamente ter os números ms diferentes, e portanto os dois electrões têm spins
opostos.
O princípio de exclusão de Pauli é uma consequência matemática das restrições
impostas por razões de simetria ao resultado da aplicação do operador de rotação a
duas partículas idênticas de spin semi-inteiro.
O princípio de exclusão de Pauli é um dos mais importantes princípios da física,
basicamente porque os três tipos de partículas que formam a matéria ordinária -
electrões, protons e neutrons - têm que satisfazê-lo. O princípio de exclusão de Pauli é
a razão fundamental para muitas das propriedades características da matéria, desde
sua estabilidade até a existência das regularidades expressas pela tabela periódica
dos elementos.
O princípio de exclusão de Pauli é uma consequência matemática das propriedades
do operador momento angular, que é o gerador das operações de rotação, em
mecânica quântica. A permutação de partículas num sistema de duas partículas
idênticas (que é matematicamente equivalente à rotação de cada partícula de um
ângulo de 180 graus) deve resultar em uma configuração descrita pela mesma função
de onda da configuração original (quando as partículas têm spin inteiro) ou numa
mudança de sinal desta função de onda (para partículas de spin semi-inteiro). Por
isso, duas partículas de spin semi-inteiro não podem estar em um mesmo estado
quântico, já que a função de onda do sistema composto pelas duas teria que ser igual
a sua simétrica, e a única função que atende a esta condição é a função identicamente
nula.
Partículas com função de onda anti-simétrica são chamadas férmions, e obedecem ao
princípio de exclusão de Pauli. Além das mais familiares já citadas - elétron, próton e
neutrão - são também fermions o neutrino e o quark (que são os constituintes
elementares dos prótons e neutrões), além de alguns átomos, como o hélio-3. Todos
os férmions possuem spin "semi-inteiro", o que quer dizer que seu momento angular

intrínseco tem valor (a constante de Planck dividida por 2π) multiplicada


por um semi-inteiro (1/2, 3/2, 5/2, etc.). Na teoria da mecânica quântica, fermions são
descritos por "estados anti-simétricos", que são explicados em mais detalhes no artigo
sobre partículas idênticas.
Um sistema formado por partículas idênticas com spin inteiro é descrito por uma
função de onda simétrica; estas partículas são chamadas bósons. Ao contrário dos
fermions, elas podem partilhar um mesmo estado quântico. São exemplos de bósons o
fóton e os bósons W e Z.

História

No início do século XX tornou-se evidente que átomos e moléculas com elétrons


emparelhados ou um número par de electrões são mais estáveis que aqueles com um
número ímpar de electrões. Num artigo famoso The Atom and the Molecule publicado
em 1916 por Gilbert N. Lewis, por exemplo, a regra três dos seis postulados propostos
pelo autor para explicar o comportamento químico das substâncias estabelece que um
átomo tende a ter um número par de electrões em sua camada de valência, sendo
esse número, de preferência oito, que estão normalmente dispostos simetricamente
nos oito vértices de um cubo (ver: átomo cúbico). Em 1922 Niels Bohr mostrou que a
tabela periódica pode ser explicada pela hipótese de que certos números de electrões
(por exemplo, 2, 8 e 18) correspondem a "camadas fechadas" estáveis.
Pauli procurou uma explicação para estes números, que eram a esta altura apenas
empíricos. Ao mesmo tempo, ele estava tentando explicar certos resultados
experimentais envolvendo o Efeito Zeeman em espectroscopia atómica e no ferro
magnetismo. Ele encontrou uma pista essencial em um artigo de 1924 escrito por
E.C.Stoner, que estabelecia que, para um dado valor do número quântico principal (n),
o número de níveis de energia de um electrão no espectro de um átomo de metal
alcalino posto sob a acção de um campo magnético externo, situação na qual todos os
níveis de energia degenerados são separados, é igual ao número de electrões na
camada fechada de um gás nobre correspondente ao mesmo valor de n. Este fato
levou Pauli a perceber que os números aparentemente complicados de electrões em
camadas fechadas podem ser reduzidos a uma regra muito simples, a de que só pode
haver um electrão em cada estado atómico, definido por um conjunto de quatro
números quânticos. Para esta finalidade ele introduziu um novo número quântico com
apenas dois valores possíveis, identificado por Samuel Goudsmit e George Uhlenbeck
como o spin do electrão.

Conexão com a simetria do estado quântico

O princípio de exclusão de Pauli pode ser deduzido a partir da hipótese de que um


sistema de partículas só pode ocupar estados quânticos anti-simétricos. De acordo
com o teorema spin-estatística, sistemas de partículas idênticas de spin inteiro
ocupam estados simétricos, enquanto sistemas de partículas de spin semi-inteiro
ocupam estados anti-simétricos; além disso, apenas valores de spin inteiros ou semi-
inteiros são permitidos pelos princípio da mecânica quântica.
Como discutido no artigo sobre partículas idênticas, um estado anti-simétrico no qual

uma das partículas está no estado (nota) enquanto a outra está no estado é

No entanto, se e são exactamente o mesmo estado, a expressão acima é


identicamente nula:

Isto não representa um estado quântico válido, porque vectores de estado que
representem estados quânticos têm obrigatoriamente que ser normalizáveis, isto é
devem ter norma finita. Em outras palavras, nunca poderemos encontrar as partículas
que formam o sistema ocupando um mesmo estado quântico.

Consequências

O princípio de exclusão de Pauli ajuda a explicar uma grande variedade de fenómenos


físicos. Um destes fenómenos é a "rigidez" ou "resiliência" da matéria ordinária
(fermions): o princípio proíbe que fermions idênticos sejam espremidos uns contra os
outros (cf. módulo de Young e módulo de rigidez de sólidos), e por isso nossas
observações quotidianas do mundo macroscópico mostram que objectos materiais
colidem, ao invés de atravessar uns aos outros, e de que somos capazes de nos
apoiar de pé sobre o solo sem nele afundar. Outra consequência deste princípio é a
elaborada estrutura das camadas electrónicas dos átomos e a maneira como átomos
partilham electrões na formação da variedade de moléculas ou substância químicas e
a gama de suas combinações (química). Um átomo electricamente neutro contém
electrões ligados em número igual ao de protons de seu núcleo. Como os electrões
são fermions, o princípio de exclusão de Pauli os proíbe de ocupar o mesmo estado
quântico, e por isso os electrões tem que se "empilhar" em estados quânticos diversos
no interior de um átomo.
Considere, por exemplo, um átomo de hélio neutro, que tem dois electrões ligados.
Ambos podem ocupar o estado de mais baixa energia (1s) mas para isso têm que ter
spins opostos. Isto não viola o princípio de Pauli porque o spin é parte da
caracterização do estado quântico do electrão, e por isso os dois electrões ocupam
estados quânticos diferentes. No entanto, o spin só pode ter dois valores diferentes
(ou auto valores). Num átomo de lítio, que contém três electrões ligados, o terceiro
electrão não pode ocupar um estado 1s, já que resultaria com o spin, e portanto o
estado quântico, igual a algum dos dois primeiros, e tem que ocupar um dos estados
2s de energia mais alta. De forma análoga, os elementos sucessivos vão requerer que
os electrões adicionais vão ocupando estados de energia cada vez mais alta, a cada
vez que um número par de electrões esgota os estados disponíveis no estado anterior.
As propriedades químicas de uma substância dependem fortemente do número de
electrões em sua camada mais externa, o que dá origem à tabela periódica dos
elementos.
Em condutores e semicondutores, electrões livres têm que partilhar o espaço total
disponível no interior do material - e por isso seus níveis de energia se empilham
criando uma estrutura de bandas a partir de cada nível de energia atómico. Em bons
condutores (metais) os electrões estão tão fortemente degenerados que eles acabam
por não contribuir de forma significativa para a capacidade térmica do metal. Muitas
propriedades mecânicas, eléctricas, magnéticas, ópticas e químicas dos sólidos são
consequências directas da repulsão de Pauli entre electrões livres ou semi-livres.
A Astronomia mostra outra demonstração espectacular deste efeito, na forma de
estrelas anãs brancas e estrelas de neutrões. Em ambos os tipos de objectos, a
estrutura atómica usual da matéria ordinária é quebrada por forças gravitacionais
enormes, fazendo com que a estabilidade seja suportada apenas pela "pressão de
degenerescência". Esta forma exótica de matéria é chamada de matéria degenerada.
Nas anãs brancas, os átomos são impedidos de colapsar uns sobre os outros pela
pressão de degenerescência de seus electrões. Nas estrelas de neutrons, que exibem
forças gravitacionais ainda mais intensas, os electrões e os protons colapsam
formando neutrons, que são capazes de produzir pressões de degenerescência
maiores. Os neutrões são os objectos mais "rígidos" conhecidos - seu módulo de
Young, ou mais apropriadamente módulo de rigidez é 20 ordens de grandeza maior
que o do diamante.
De acordo com a relatividade geral, as forças gravitacionais no centro de um buraco
negro se tornam tão intensas que toda a matéria se quebra em seus constituintes
fundamentais, que são supostamente puntiformes e sem estrutura interna. Todas
estas partículas poderiam se empilhar em um ponto zero dimensional porque as forças
gravitacionais seriam maiores que a pressão de degenerescência. Isto parece violar o
princípio de exclusão de Pauli, mas já que o interior de um buraco negro está além do
horizonte de eventos, ele é inacessível a verificação experimental e esta hipótese
permanece sem comprovação possível.

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