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) AUTOR
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110 Krugli
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Arte-educadoIr, autor, dire:tor e coorde
Teatro Vento Forte.
1. Originalmente publicado na revista E SESC. São Paulo: SESC-SP, n. 1, ano 3, julho de 1996. p. 33-34.
rsos do
Arte-Educa~áo,
ética e estética
tivas ou dos festejos estereotipados do con- ou menos catárticos, mas também aqueles
sumo, dos calendários cívicos e comerciais que representam expressões concretas da in-
em que a criatividade e a arte são programa- dividualidade e das diferentes formas de per-
das nas agências publicitárias e nos escritó- cepção das realidades humanas.
rios gerenciais dos shoppings. Existe em cada criança (cada ser) carac-
terísticas psicológicas, sensibilidades instinti-
Falando de todos os espaços autori- vas, as quais poderiamos chamar de instinto
tários e manipuladores, queremos ex- estético, assim como chamamos de instinto a
pressar que acreditamos numa transfor- sexualidade e o desejo de sobrevivência. Es-
mação dos seres através de um projeto de tas diferenças e singularidades também dão
educação no qual a liberdade de criação forma estética à expressão, mas isso exige um
surja dos próprios jogos de expressão e caminho desreprimido enquanto modelos, es-
dos espaços concretos e subjetivos, os tereótipos, pressões para que se integre ao
quais permitam o renascimento de um mundo encantado dos adultos.
ser mais livre e integrado. Através da arte Hoje há dois tipos de escolas no país:
propõe-se reconstruir uma arquitetura as do Estado e as privadas. Possivelmente
social, ética e, sobretudo, estética. nestas últimas tenta-se, através da arte, con-
figurar uma qualidade de formação apesar
de, às vezes, também ficar no modelo; so-
bretudo porque os pais, muito mais que nas
escolas do Estado, exigem preparação para
Durante vários anos trabalhamos um que se integre a criança numa elite social,
processo e um conteúdo temático que cha- cultural, econômica etc. Mas, tanto uma es-
mamos de O quintal, o espaço esquecido. cola quanto a outra ainda não têm em seu
Não se tratava apenas dos míticos espaços horizonte preparar seres com maturidade, li-
saudosistas da aldeia, do fundo do quintal, berdade e capacidade de escolha de vida.
da praça, da rua, sem dúvida cada vez mais Lembro-me de que, nos anos 60, nos-
urbanos. Tentávamos mostrar a necessidade so mestre Augusto Rodriguez rejeitava a im-
de vivenciar espaços anárquicos, como o portância de se levar as crianças aos mu-
quintal, onde se despejam objetos, não mais seus. Nós não pensamos da mesma forma,
necessários, quebrados ou outros que faziam porque achamos que os museus têm e vão
parte de um universo menos organizado, ter de mudar, igualmente o teatro (nossa luta
com uma outra utilidade; e onde se podia ex- de anos) também tem que se transformar
perimentar organização e caos, experiências muito, assim como todos os produtos cultu-
impossíveis em sala de aula ou dentro de ca- rais para crianças e jovens.
sa. O imaginário e a responsabilidade desdo- Não me incomodo que existam corren-
brando-se talvez como um grande teatro, tes de Arte-educadores que trabalham slides
construtivo ou destrutivo, muitas vezes de artistas como Picasso, Chagall ou outros
transgressor - jogos emocionais em que as maravilhosos, criando outras identidades,
simbolizações vão dos materiais com que se no sentido de desenvolver a imagem da
brinca à própria ação física. E, enquanto criança. Mas temos que prestar atenção ao
símbolos, não só apenas aqueles que expres- que destacamos, ao que ficamos atentos, ao
sam sentimentos internos, escuros ou mais que sacralizamos; como também para os es-
Comunicação & Educação, São Paulo, (141: 53 a 55, jan./abr. 1999 55
paços esquecidos e essenciais onde as iden- quais o prazer se soma às outras expressões:
tidades emocionais e psicológicas têm con- oportunidade para o resgate da festa.
tato com o mito e o sonho, o instinto estéti- Sabemos que a formação do professor
co essencial, onde existe o rio fluente da nem sempre, ou poucas vezes, habilita-o pa-
História coletiva do ser humano. ra experiências semelhantes. Mas, de qual-
Realizamos experiências coletivas de quer forma, acreditamos que, se as escolas
expressão, integrando várias linguagens, to- abrirem um projeto mais integrado com a
das codificadas com bastante liberdade, de- comunidade, os professores serão obrigados
terminando ao professor e ao animador os a encontrar caminhos criativos, que não eli-
papéis de integrador e estimulador, respecti- minam a experimentação e a conquista des-
vamente, da expressãofesta. Acontecimento ta linguagem da comunicação.
em espaços abertos, com uma grande opor- A arte popular e os artistas populares
tunidade de desenvolver experiências nas podem contribuir ricamente para esse projeto.
Resumo: O autor discute a necessidade de a Abstract: The author discusses the need for
escola resgatar, através da disciplina Arte- the school t o make resurface, through the
Educação, além das técnicas e práticas artísti- Art-Education discipline, over and beyond the
cas, o exercício da expressividade e da emo- artistic techniques and practices, the child's
ção da criança. Salienta a oportunidade de exercise o f expressivity and emotion. It
projetos que resgatem e dêem vida a experi- stresses the opportunities brought on by pro-
mentação nas quais a imaginação, a sensibili- jects that bring back and give life t o experi-
dade e a identidade aconteçam fora de pro- mentation and in which imagination, sensibil-
gramações competitivas e estereotipadas. ity and identity take place outside of compet-
itive and stereotyped programs.