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Logística Reversa Integrada.


Francisco Ignácio Giocondo César
Mário Sacomano Neto

OBS. – Artigo publicado no:


• XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produçãoi – XI International Conference
on Ind. Engineering and Operations Management. – ABPRO – Abr./2007
• X SEMEAD – Seminário de Administração FEA-USP 2007.

Resumo
Este artigo apresenta uma análise da integração de toda a cadeia produtiva, sobre a
caracterização da Logística Reversa em cada uma das áreas de atuação da Logística, a saber –
Logística de Suprimentos (Inbound logistics), Logística Empresarias (Material handling),
Logística de Distribuição (Outbound logistics). A Logística Reversa trata dos bens
descartados no sistema logístico direto. Desta forma, com as crescentes inovações
tecnológicas, mudanças comportamentais dos consumidores, a escassez de recursos e dos
custos de suprimentos, houve um aumento considerável nos bens descartados e uma maior
busca em sua reutilização. Existem inúmeras estratégias para implantar a Logística Reversa
em cada uma das etapas da cadeia produtiva de tal forma que venha a ser integrada para que
possibilite uma melhor reutilização e reaproveitameto do material descartado ou
disponibilizado ao final de sua vida útil. Neste trabalho iremos enfocar a Logística Reversa e
sua integração nos vários níveis da cadeia logística e seus principais desafios, mostrando a
ligação entre os três estágios da cadeia produtiva e o quanto é importante desenvolvê-los de
forma a facilitar e/ou propiciar a atuação da Logística Reversa.

Palavras-chaves: Logística Reversa; Logística Integrada, Cadeia Produtiva.

Abstract

Key words: Reverse Logistics; Integrated Logistics; Produtive Chain.


2

1 - Introdução

O sucesso da organização individual está relacionado à sua habilidade de desempenhar


diferentes papéis nas cadeias de suprimentos em contrapartida de sua atuação como
organização isolada e estática (GULATI, NOHRIA & ZAHEER, 2000; HENRIOTT, 1999).
Nesse contexto, a capacidade de integrar cada uma das etapas da Cadeia Logística Direta
(CLD), a saber - Logística de Suprimentos (LS), Logística Empresarial (LE), Logística de
Distribuição(LD), amplia as oportunidades de melhoria de eficiência da Logística Reversa
(LR) e também melhora os níveis de serviços. Desta forma, quanto quando um produto evolui
na CLD, progressivamente, propiciar subprodutos facilmente reaproveitáveis, ampliando a
integração da CLD com a LR.

Uma estratégia competitiva desenvolvida para capturar e maximizar as oportunidades


de integração da CLD com a LR, exige que as empresas participantes trabalhem em sintonia,
numa estrutura de cadeias dinâmicas. Assim sendo, a relação da CLD e a LR, busca integrar
de forma harmônica, vindo a colaborar com os objetivos empresariais, fazendo com a LR
(como toda a CLD) saia da condição de centro de custo para uma área de agregação de valor,
e desta forma venha a colaborar com a melhoria da competitividade das empresas.

O objetivo deste artigo é apresentar uma análise da integração de toda a cadeia


produtiva, sobre a caracterização da Logística Reversa. Sendo que a LR trata dos bens
descartados no sistema logístico, tendo em vista a crescente escassez de recursos e os
crescentes custos de suprimentos, há uma maior preocupação na reutilização destes bens
descartados. Existem inúmeras estratégias a ser implantar ao longo da CLD e em cada uma de
suas etapas, de tal forma que venha a ser integrada para que possibilite uma melhor
reutilização e reaproveitameto do material descartado ou disponibilizado ao final de sua vida
útil ou ao logo da CLD. Neste trabalho iremos enfocar a LR e sua integração nos vários níveis
da cadeia logística, identificando as suas várias possibilidades de interligação da LR com
cada um dos três estágios da CLD e o quanto é importante desenvolvê-los de forma a facilitar
e/ou propiciar a atuação da LR.

2 – Conceitos iniciais

2.1 – Logística

Define-se conforme BALLOU (2006, p. 27):

Logística é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e


eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas, desde o ponto de origem
até o ponto de consumo com o propósito de atender às exigências dos clientes.

Esta definição exprime a amplitude da logística desde sua visão estratégica focada no
atendimento ao cliente e no comprometimento com a extensão da cadeia de suprimentos, até o
nível mais operacional, pela preocupação com o controle das atividades (medição da
eficiência1 e eficácia2), que envolve os fluxos físicos e de informações. Destaca, também, a

1
Eficiência – é a palavra usada para indicar que a organização utiliza produtivamente, ou de maniera econômica
seus recursos. (MAXIMIANO, 2006)
3

visão de processos e de integração de um conjunto de atividades que perpassa por toda a


organização e se expande por outros elos da cadeia de suprimentos, sempre atento no sucesso
do cliente final. Um último ponto a ser destacado é a abertura de aplicação, oferecida pela
definição, quando faz referência a produtos e serviços.

Em termos macroeconômicos a logística é a responsável pelo fluxo físico dos


materiais deste o setor de sua extração (matéria-prima mais elementar), seu fluxo físico até os
setores industriais e deste para o consumidor, passando pelos diversos elos dos canais de
distribuição (BOWESOX, CLOSS, 2001). Nas empresas o termo é utilizado para descrever as
atividades relacionadas com os fluxos de entrada de materiais e de saída de produtos e tende a
ganhar uma visão integrada entre as organizações à medida que estas passam a planejar suas
atividades de forma conjunta, para melhor servir ao mercado e ganhar eficiência e eficácia
(BALLOU, 1997).

Dornier et al. (2000, p. 39) colocam que a definição atual de logística deveria englobar
todas as formas de movimentos de produtos e informações. Essa colocação amplia o escopo
de atuação da área, passando a incluir não só fluxos diretos tradicionalmente considerados,
mas também os fluxos de retorno de peças a serem reparadas, de embalagens e seus
acessórios, de produtos vendidos e devolvidos e de produtos usados/consumidos a serem
reciclados.

Bowersox e Closs (2001, p. 51-52) apresentam, por sua vez, a idéia de “Apoio ao
Ciclo de Vida” como um dos objetivos operacionais da logística moderna referindo-se ao
prolongamento da logística para além do fluxo direto dos materiais considerando também os
fluxos reversos de produtos em geral.

2.1.1 – Logística - Uma abordagem Histórica

A logística faz parte do planejamento humano há muito tempo, pois a história da


civilização tem sido sobretudo a história dos desafios, das transposições, das concorrências e
da constante mudança. A logística como área de atuação do conhecimento humano existe há
muito tempo.

- Fatos relevantes na história da Logística:

Com a 2ª Guerra Mundial a logística tem um impulso em evolução e refinamento.

Na década de 50, as empresas começam a enfatizar a satisfação do cliente no lucro.


Serviço ao Cliente torna-se mais tarde a pedra fundamental da administração da logística.

Criado em 1963 o National Council of Physical Distribution Management, mais tarde


mudado para Council of Logistics Management (CLM), primeira organização a congregar
profissionais de logística em todas as áreas com o propósito de educação e treinamento.

Foi nos anos 1970 e 1980 a implementação de diversas técnicas em logística como
MRP, Kanban, JIT etc., mostrando a eficácia das práticas logísticas e a necessidade do
relacionamento entre Logística, Marketing, Produção e outras funções empresariais.

2
Eficácia – qualidade de propriedade de eficaz. Eficaz – que produs o efeito desejado (AURÉLIO, 1986)
4

- Fatos relevantes da Logística no Brasil :

No Brasil, a história da Logística como estratégia empresarial é recente, e pode-se


destacar os seguintes pontos:

Nos anos de 1970, era totalmente desconhecido o termo e abrangência da logística,


sendo a informática um mistério e de domínio restrito. Iniciativas no setor automobilístico,
principalmente nos setores de movimentação e armazenagem de peças e componentes em
função da complexidade de um automóvel que envolvia mais de 20.000 diferentes SKUs3.
Fora do segmento automobilístico, o setor de energia elétrica definia normas para embalagem,
armazenagem e transporte de materiais. Em 1977 são criadas a ABAM - Associação
Brasileira de Administração de Materiais e a ABMM - Associação Brasileira de
Movimentação de Materiais, que não se relacionavam e nada tinham de sinérgico. Em 1979 é
criado o IMAM - Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais.

Na década de 80, surge o primeiro grupo de Estudos de Logística, criando as primeiras


definições e diretrizes para diferenciar Transportes de Distribuição e de Logística. Em 1982 é
trazido do Japão o primeiro sistema moderno de logística integrada, o JIT - Just in Time e o
KANBAN, desenvolvidos pela Toyota. Em 1984 é criado o primeiro Grupo de
Benchmarking4 em Logística, também a ABRAS - Associação Brasileira de Supermercados
cria um departamento de logística para discutir e analisar as relações entre Fornecedores e
Supermercados, é também criado o Pálete Padrão Brasileiro, conhecido como PBR e o projeto
do Veículo Urbano de Carga. Em 1988 é criada a ASLOG – Associação Brasileira de
Logística e instalação do primeiro Operador Logístico no Brasil (Brasildock’s).

Nos anos de 1990, a estabilização da economia a partir de 1994 com o plano Real e
foco na administração dos custos, com a evolução da microinformática e da Tecnologia de
Informação, com o desenvolvimento de software para o gerenciamento de armazéns como o
WMS - Warehouse Management System5, códigos de barras e sistemas para Roteirização de
Entregas, com a entrada de 06 novos operadores logísticos internacionais (Ryder, Danzas,
Penske, TNT, McLane, Exel) e desenvolvimento de mais de 50 empresas nacionais,
desenvolveu-se novos sistemas de gestão como ERP6 / ECR7 / EDI8, ocorrendo a privatização
de rodovias, portos, telecomunicações, ferrovias e terminais de contêineres, tivemos a
ascensão do e-commerce.

3
SKU – stock keepring unit – itens de produtos mantidos em estoque. (BOWERSOX, 2001, p.209)
4
Benchmarking – estudar ‘o desempenho de empresas de classe mundial’ e a adotar as ‘melhores práticas’.
(KOTLER, 2000)
5
WMS – Warehouse Management System – Sistema de Gerenciamento de Armazém. – este sistema fornece a
notação dirigida de estoques, diretivas e inteligentes de localização, consolidação automática para maximizar o
uso do espaço do armazém. O sistema também dirige e otimiza a disposição e utilização do armazém, baseado
em informações de tempo real sobre o status de uso de prateleiras. (BOWERSOX, 2006, p.173)
6
ERP – Enterprise Resource Planning – Planejamento dos Recursos Empresariais – são sistemas de
informações transacionais cuja função é armazenar, processar e organizar as informações geradas nos processos
organizacionais agregando e estabelecendo relações de informação entre todas as áreas de uma empresa.
(VOLLMANN, et al., 2006, P. 93)
7
ECR – Efficiente Consumer Response – Resposta Eficiente ao Cosumidor – Um modelo estratégico de negócio
no qual fornecedores e varejistas trabalham de forma integrada, visando melhorar a eficiência da cadeia logística,
de forma a entregar maior valor ao consumidor final. (PINHO, 2007)
8
EDI – Eletronic Data Interchange – Intercâmbio Eletrônico de Dados – é a troca de documentos padronizados
entre parceiros de uma cadeia de abastecimento. (PINHO, 2007)
5

2.1.2 - Logística no contexto atual

No Brasil, nas empresas industriais, a logística tinha um status secundário. Até


meados da década de 90, onde as condições de estratégias financeiras do mercado superavam
em lucratividade qualquer estratégia de produção, logística de suprimentos e distribuição. No
final da década de 90 e início do novo milênio, com a estabilização da economia as estratégias
financeiras deixaram de dar o retorno desejado e não mais atraia tanto os investidores, pois
não mais retornavam os ganhos desejados. Desta forma, os empresários voltaram a sua
atenção não apenas para a cadeia produtiva e nesta incluímos toda a cadeia de suprimento /
industrial / distribuição.

Esta série de eventos ocorridos no cenário econômico e empresarial, mostramos na


Quadro 1 abaixo uma síntese das mudanças ocorridas:

Quadro 1 – Mudanças mundiais ocorridas


Da década de 70 ... ... para a década de 90
- Mercados domésticos protegidos - Mercados abertos
- Mercados financeiros regulamentados - Mercados financeiros desregulamentados
- Taxa de câmbio estável - Taxa de câmbio flutuante
- Baixo nível de desemprego - Relações de trabalho flexíveis
- Dois pólos econômicos (USA e Europa) - Blocos econômicos: USA, Nafta, Ásia etc
- Crescimento das economias industrializadas - Indústrias transferidas para lugares onde a mão-
de-obra é mais barata.
- Estruturas organizacionais pesadas - Estruturas enxutas e flexíveis
- Organizações burocráticas - Pluralidade de modelos organizacionais.
Fonte – Adaptado pelo Autor de VALDÉS 2003.

Atualmente a logística está saindo da condição de centro de custo para uma área de
agregação de valor, pois com os conceitos modernos de manufatura e distribuição a logística
está modificando a área do conhecimento a qual irá trazer grande competitividade às
empresas. Conforme observado por GIULIANI (2005), com a integração dos vários processos
que permitem transformar matéria-prima em produtos e serviços, atendendo as necessidades
dos clientes, o conceito de logística evoluiu englobando, mais e mais, todos os processos
envolvidos na aquisição, transformação e distribuição. No início, considerava-se apenas o
armazenamento e a distribuição física do material. Atualmente, observa-se uma integração
total, do fornecedor até o cliente.

2.2 – Logística Integrada

A ilustração da definição é mostrada na figura 1, que a complementa com a


representação de três visões adicionais sobre o escopo da Logística Integrada (LI):

Segundo Bowersox (2001), a visão estratégica, destacando a integração dos processos:


abastecimento, produção e distribuição;

Sob a visão de Lambert (1992), é a visão gerencial, destacando o comprometimento


entre a gerências de logística e de marketing/vendas;
6

Conforme Ballou (1997), é uma visão operacional, destacando o negócio logístico, seu
relacionamento com a cadeia de suprimento, o inter-relacionamento entre as áreas
operacionais, o estabelecimento de uma missão e suas atividades típicas.

A figura 1 também subentende o relacionamento interno da empresa entre seus


vários departamentos e também seus relacionamentos externos com seus fornecedores até a
origem de seus insumos e também com seus distribuidores até o cliente / consumidor final.

Figura 1 – Logística integrada

Fluxo de Materiais
Abastecimento Produção Distribuição
Log. Empresarial
Log. Industrial
Log. de Suprimentos Log. de Planta / Interna Log. de Distribuição
Fornecedores Suprimentos Suporte à Manufatura Log. de Saída Clientes
Inbound logistics Adm. de Materiais Outbound logistics
Material handling

Logística Reversa

Fluxo de Informações / R$

Logística Integrada

Fonte – Elaborado pelo autor.

Diversos autores, apresentam uma divisão funcional da logística que abrange as


seguintes áreas:
• Logística de Suprimentos / Logística de Entrada / Inbound logistics – englobando o
fluxo de material entre o fornecedor e a empresa;
• Logística Empresarial / Log. Industrial / Log. Industrial / Log. de Planta / Log. Interna
/ Suporte à Manufatura / Adm. De Materiais / Material handing – refere-se a todo o
fluxo do matéria-prima através do processo produtivo, do almoxarifado de matéria-
prima ao estoque de produto acabado;
• Logística de Distribuição / Log. de Saída / Outbound logistics – é o fluxo do produto
acabado entre a industria até o cliente final.
• Logística Reversa – Para ROGERS e TIBBEN-LEMBKE (1999), adaptando a
definição de logística do Council of Logistics Management (CLM), definem a
logística reversa como: “O processo de planejamento, implementação e controle da
eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos
acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de
origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição”.
7

Independente da definição, a LI de uma empresa é um esforço integrado com o


objetivo de ajudar a criar valor9 para o cliente pelo menor custo total possível, sendo também
a facilitadora da integração entre as várias partes ao longo de toda a Cadeia de Abastecimento.

Na visão deste artigo, e conforme Aragão et. al (2004), são quatro os requisitos
críticos que refletem as dimensões-chave necessárias para o sucesso de uma SCM: integração
de processos de negócios, identificação dos membros-chaves da cadeia de suprimento,
compartilhamento de informação e adoção de medidas de desempenho apropriadas para a
Cadeia de Suprimento.

2.2.1 - A Evolução dos Serviços de Logística Integrada

Conforme abordado anteriormente, com a expansão dos conceitos das modernas


formas de gestão (manufatura enxuta, just in time) no mundo, vieram os conceitos de
agregação de valor10 ao produto e a transformação física do produto ao longo da Supply
Chain11 (SC), com isto chamando a atenção para a importância dos processos logísticos. A
figura 1, apresenta uma visão macro da administração da Logística sob o olhar de toda a
cadeia de suprimentos.

O conceito de logística para Moeller (1994) tem evoluído na medida em que o


ambiente empresarial se mostra mais dinâmico, principalmente no que diz respeito ao
acirramento das condições de concorrência e , conforme mostrado na Quadro 2, propõe a
seguinte evolução do enfoque da logística ao longo do tempo:

Quadro 2 – Tendência do ambiente de negócios e o foco da logística.


Período Ambiente Foco da Indústria Foco da Logística
50’s Produção / volume Custos Estoques
60’s Vendas / Marketing Serviços Distribuição
70’s Disposição de Capital Lucratividade Produção
80’s Competição Qualidade Compras/Produção/ Vendas
90’s Globalização, Parcerias, Ecologia Tempo Processo de Negócios
Fonte – Adaptado de MOELLER (1994).

O conceito atual de logística aponta como uma função que cria valor competitivo pela
otimização dos custos operacionais e da produtividade, pela melhor capacidade de utilização
de recursos, pela redução de estoques ao longo do processo produtivo (cadeia de suprimentos)
e uma integração mais estreita com os fornecedores. Conforme Pires (2004), a logística, além
de reduzir custos, agrega valor intangível, que se traduz em serviço e atendimento. E ninguém
pode abrir mão disso.

9
Valor - refere-se ao que os clientes estão dispostos a pagar por aquilo que uma empresa lhes oferece.(PORTER,
1999). Conteúdo inerente de um produto, segundo o julgamento do cliente, refletido em seu preço de venda e
demanda de mercado. (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2003, p. 87)
10
Abregaçào de Valor – qualquer atividade que o cliente julque de valor. (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2003,
p. 87)
11
Supply Chain – uma rede de organizações que estão envolvidas através das ligações a jusante e a montante nos
diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e serviços liberados ao consumidor
final.
8

Para Christopher (1997), a função logística, ao encontro da definição de valor proposta


por Porter, agrega valor ao produto, à medida que esse valor é percebido pelo cliente pelos
benefícios que incorpora ao produto (Figura 2). A visão é a da ampliação do conceito do
produto com serviços de logística associados e, fundamentalmente, da consideração da
percepção dos clientes, que têm de estar conscientes dos benefícios oferecidos e valorizá-los,
e da integração desses conceitos tanto aos profissionais de produção como aos de marketing
na concepção conjunta de produtos / serviços.

Figura 2 – A logística e o valor para o cliente

Benefícios Percebidos
 Entrega em tempo
 Tempos de espera menores
 Resposta flexível

VALOR PARA O CLIENTE

Custo de Propriedade (Capital)


 Estoques menores
 Menores custos de pedidos
 Menores custos de manuseio

Fonte – Adaptado de CHRISTOPHER (1997).

Conceitualizando melhor a ampliação do serviço de logística, são aqueles os quais


excedem as expectativas do cliente. A ampliação dos serviços de logística leva a examinar o
sistema de consumo: a maneira como a empresa desempenha as tarefas de entregar,
armazenar, manipular, adaptar ao volume certo e gerenciar o tempo ao longo de toda a cadeia
de logística. De acordo com Levitt :
A nova competição não é entre o que as empresas produzem em suas fábricas, mas entre o que
elas agregam ao produto de sua fábrica na forma de embalagem, serviços, propaganda,
sugestões do cliente, financiamento, entrega, armazenagem e outras coisas que as pessoas
valorizam (LEVITT, 1969, p. 248).

A função logística, em toda a sua extensão dos serviços ao longo de toda a sua cadeia
de suprimentos, implica na adequação de todos os fornecedores e canais de distribuição de
uma empresa. Essa condição é resposta às exigências cada vez maiores do mercado e pela
diversidade das atividades abarcadas e, ainda, pelos clientes finais.
9

2.3 – Logística Reversa (LR)

A LR, ver figuras 1, também é conhecida como logística verde, logística de


retorno (Reverse Logistics): seu início se dá no cliente usuário final e termina no fornecedor
(origem da matéria-prima); ou seu início pode se dar em qualquer instante da Cadeia
Produtiva e terminar também em qualquer nível desta mesma cadeia. A LR temos definida
pela Council of Logistics Management (CLM) como:

O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do


fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações
correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de
recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição. (BOWERSOX, 2001).

Também é muito propícia a definição de Leite (2003) de LR, que consiste em:

Entendermos a logística reversa como a área da logística empresarial que planeja,


opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos
bens de pós-vendas e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por
meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas:
econômico, ecológico, legal, logístico e de imagem corporativa, entre outros. (LEITE,
2003).

Gostaria de considerar uma definição mais abrangente da LR, a qual acredito de maior
amplitude e compreensão deste estágio da logística:

Entendemos a logística reversa como a área da cadeia de suprimentos que planeja,


operacionaliza e controla o fluxo dos produtos e informações logísticas
correspondentes ao retorno dos bens de produção, pós-vendas e pós-consumo,
retornados ao fluxo reverso de qualquer nível da cadeia produtiva, por meio dos canais
de distribuição reversos, agregando-lhes valor e influenciado de forma positiva, sendo
econômico, ecológico, social, legal, logístico e de imagem corporativa a todos os
stakholders12 desta cadeia.

A LR é dividida em duas áreas distintas, de acordo com Leite (2003): área de pós-
vendas e a área de pós-consumo, conforme mostrado na quadro 3:

12
Stakholders – São pessoas ou grupos de pessoas que possuem interesse na operação, e que podem ser
influenciadas por ou influenciar as atividade da operação produtiva. (SLACK, 2002, p.68).
10

Quadro 3 – Canais de distribuição reverso


Produto apresentou defeito no prazo de garantia;
Garantia
de Defeito de fabricação ou de funcionamento
Qualidade
Avaria no produto ou na embalagem
Término de validade
Pós-venda
Substituição de Avarias de transporte
componentes Adaptação do produto a pedido do cliente
Razões comerciais / erros
LOGÍSTICA REVERSA

Erro de processamento de pedido


Comercial Retorno de produtos consignados
Excesso de estoque no canal de distribuição
Liquidação da estação de vendas
Ponta de estoque
Último local de destino para o qual são enviados
Disposição Final produtos, materiais e resíduos em geral sem condições
de revalorização
Os materiais constituintes dos produtos descartados
Reciclagem são extraídos industrialmente, transformado-se em
Pós-consumo

matérias-primas secundárias ou recicladas que serão


reincorporadas à fabricação de novos produtos.
Produto que sofre um processo de desmontagem no
qual seus componentes em condições de uso ou de
Desmanche remanufatura são separados de partes ou materiais
para os quais não existem condições de revalorização.
Estas partes são utilizadas para o mesmo uso original.
O produto o qual se tem a extensão do uso, com a
Reuso mesma função para a qual foi originalmente concebido,
ou seja, sem nenhum tipo de remanufatura.
Fonte – Adaptado pelo autor de LEITE 2003.

Um conceito mais amplo da LR é apresentado por Fleischmann (2001, p. 19), que


distingue em 5 categorias: disposição final, retornos comerciais, retornos de garantia, sucatas
de produção e/ou rejeitados e embalagens.

Analisando as duas proposta, de Leite e a de Fleischmann, estamos propondo uma


nova configuração para a LR com vista em toda a extensão da Cadeia de Suprimentos13 (CS),
conforme mostrado na quadro 4.

Diferente do exposto por Leite (2003), e já de alguma forma reconhecido por


Fleischmann (2001), a LR é dividida em três áreas bem distintas, pois em qualquer etapa da
CS – LS, LE, LD - ela ocorre. Sendo que na LS e LE, ela acontece da forma de Sucatas de
Produção, ou de Produtos não Conformes.

13
Cadeia de Suprimentos – todas as atividades associadas com o movimento de bens, desde o estágio de matéria-
prima até o usuário final. Pires (2004).
11

Quadro 4 – Canais de distribuição reverso na cadeia de suprimentos


Rejeitos provocados pelo processos de produção os

Log. Suprimentos
Processo Industrial
Sucata de quais podem ser reutilizados.
Produção

Fornecedores
Produtos que foram rejeitados pela qualidade.
Produtos
Não conformes

Rejeitos provocados pelo processos de produção os


Processo Industrial
Log. Empresarial

Sucata de quais podem ser reutilizados.


Indústria - Foco

Produção

Produtos que foram rejeitados pela qualidade.


Produtos
Não-conformes

Produto apresentou defeito no prazo de garantia;


Logística Reversa

Defeito de fabricação ou de funcionamento Garantia de


Cliente / Distribuidor
Log. Distribuição

Avaria no produto ou na embalagem Qualidade


Término de validade
Pós-Vendas

Substituição de Avarias de transporte


componentes Adaptação do produto a pedido do cliente
Razões comerciais / erros
Erro de processamento de pedido
Comercial Retorno de produtos consignados
Excesso de estoque no canal de distribuição
Liquidação da estação de vendas
Ponta de estoque
O produto o qual se tem a extensão do uso, com a
Reuso mesma função para a qual foi originalmente
concebido, ou seja, sem nenhum tipo de
remanufatura.
Produto que sofre um processo de desmontagem
no qual seus componentes em condições de uso ou
Canais Reversos
Pós-Consumo

Desmanche de remanufatura são separados de partes ou


materiais para os quais não existem condições de
revalorização. Estas partes são utilizadas para o
mesmo uso original.
Os materiais constituintes dos produtos descartados
Reciclagem são extraídos industrialmente, transformado-se em
matérias-primas secundárias ou recicladas que
serão reincorporadas à fabricação de novos
produtos.
Último local de destino para o qual são enviados
Disposição Final produtos, materiais e resíduos em geral sem
condições de revalorização
Fonte – Criado pelo autor, a partir de LEITE 2003, FLEISCHMANN (2001)

Sucatas de Produção são materiais procedentes dos processos de produção tais como:
sólidos - cavacos metálicos, pedaços de madeira, resíduos químicos, materiais provenientes de
limpeza de final de processo etc; líquidos tais como – químicos, água de resfriamento ou
12

limpeza, óleos etc, provenientes dos processos industriais; gases – vapor de água de
resfriamento, resultado de queima ou processos. De uma forma geral, são materiais sub
produto do processo, geralmente não sendo reutilizados na própria empresa.

Produtos não-conformes são produtos que estão fora da especificação e em desacordo


com a qualidade requerida da empresa, estes produtos além de poder ter o mesmo destino dos
produtos pós-consumo (reuso, desmanche, reciclagem ou disposição final) eles também
podem ser encaminhados para o mercado paralelo, não caracterizando assim um reuso.

Considerando os bens que industriais apresentam ciclos de vida útil de algumas


semanas ou de muitos anos, após o que são descartados pela sociedade, ou que por diversos
motivos retornam à cadeia de suprimentos de diferentes maneiras, constituindo os produtos de
pós-consumo ou de pós-venda. As diferentes formas de processamento e de comercialização
destes produtos, ou de seus materiais constituintes, desde sua coleta até sua reintegração ao
ciclo produtivo com matéria-prima secundária, são denominadas neste artigo de “Canais de
Distribuição Reverso” (CDR), conforme mostrado na figura 3.

Na figura 3 – Matriz da LR, nos mostra os vários Canais de Distribuição Reverso


(CDR), que cobrem todas as possibilidades de um produto no CDR. Podemos também
observar as várias fases de interação entre a LR e as LS, LE e a LD. Vamos simular algumas
situações do CDR para entendermos melhor, ver quadro 5. Desta forma, temos sete (7)
possibilidades (A, B, C, D, E, F, G) do produto entrar no CDR e quarenta e nove (49)
possibilidades de saida e/ou retorno na cadeia produtiva.

Observando a figura 3 e a simulação da análise na quadro 5, podemos observar que um


produto pode entrar na CDR em qualquer ponto da cadeia produtiva, e que também pode sair
da CDR e retornar à cadeia produtiva normal em qualquer ponto também, dependendo do
segmento e da ação a ser tomada.

Desta forma, utilizando a Matriz da Logística Reversa, figura 3, podemos simular


qualquer situação no CDR, e realizar estudo com relação ao melhor CDR a ser utilizado para
um determinado produto.
13

Figura 3 – Matriz da Logística Reversa – Canais de Distribuição Reverso

Cliente Final
Fornecedor

Destino
Origem

LS LE LD

A Sucata de

Log.Supr.
Produção

B Produtos
Não-conforme

C Sucata de

Log.Empr
Produção

LOGÍSTICA REVERSA
D Produtos
Não-conforme

E Garantia de
Qualidade

Pós-venda
F Substituição de
componente

G Comércio

H Reciclagem

Pós-consumo
I Desmanche

J Reuso

K Disposição Final
1 2 3 4 5 6 7 8

Fonte – Elaborado pelo autor.

Quadro 5 – Canais de distribuição reverso – Análise utilizando a matriz da LR


Descrição do Problema:
Um determinado produto (poltrona) na casa do cliente apresentou problema de qualidade,
Ponto de Ponto de
Entrada na CDR Ação tomada Saída da CDR
A8 Foi dada assistência na própria casa do cliente sem necessidade de A7
retirar o produto;.
B8 Foi dada assistência com substituição de componente realizado no B6
centro de distribuição;
C8 Um produto, na casa do cliente observou-se que o acabamento C4
está diferente do solicitado.
Fonte – Elaborado pelo autor.
14

2.4 – PRM – Administração da Recuperação de Produto

O gerenciamento das operações que compõem o fluxo do CDR faz parte da


Administração da Recuperação de Produtos (PRM)14. O PRM é definido como “o
gerenciamento de todos os produtos, componentes e materiais usados e descartados pelos
quais uma empresa fabricante é responsável legalmente, contratualmente ou por qualquer
outra maneira” (THIERRY et al., apud KRIKKE, 1998, p. 9). Algumas de suas atividades
são, em parte, similares àquelas que ocorrem no caso das devoluções internas de itens
defeituosos devido a processos de produção não confiáveis. PRM lida com uma série de
problemas administrativos, entre os quais se encontra a LR. As seis áreas principais do PRM
são:

Tecnologia: nesta área estão incluídos desenho do produto, tecnologia de


recuperação e adaptação de processos primários;

Marketing: diz respeito à criação de boas condições de mercado para quem


está descartando o produto e para os mercados secundários;

Informação: diz respeito à previsão de oferta e demanda, assim como à


adaptação dos sistemas de informação nas empresas;

Organização: distribui as tarefas operacionais aos vários membros de acordo


com sua posição na cadeia de suprimentos e estratégia de negócios;

Finanças: inclui o financiamento das atividades da cadeia e a avaliação dos


fluxos de retorno;

Logística Reversa e Administração de Operações: (THIERRY et al., apud


KRIKKE, 1998, p. 11-20).

O sucesso das operações do CDR, está intimamente ligado às ações da empresa com
relação aos itens acima, isto é, se a empresa não desenvolver cada área acima (tecnologia,
marketing, informação, organização, finanças, LR e a Administração de Operações) de tal
forma a possibilitar condições do produto e/ou derivado (seus subprodutos) retornar ao CDR a
empresa são conseguirá sucesso. Desta forma, vamos avaliar como cada uma destas áreas
pode colaborar para que a empresa alcance seus objetivos, isto é, para que seus produtos possa
ser facilmente conduzidos por um CDR.

Tecnologia – ao projetar os seu produto a empresa deve também não apenas analisar o aspecto
do processo de produção e sua montagem até atingir o formato (produto) desejado. Mas a
empresa deverá possibilitar a fácil desmontagem, deve prever a adequada separação não
apenas dos conjuntos, módulos e partes, mas também das peças e de seus materiais
constituintes.

Marketing – com a valorização dos produtos reciclados e/ou fáceis de reciclar, o marketing
deve não apenas valorizar o produto sob este aspecto como também incentivar o cliente no
uso e no adequado encaminhamento do produto no final de sua vida util.

14
PRM – Product Recovery Management – Administração da Recuperação de Produtos
15

Informação – que o sistema de informação da empresa venha a ser estruturado para prover a
adequada utilização da reciclabilidade15 dos materiais a serem utilizados em todo o processo
de produção como também buscar no mercado informações da adequada utilização dos
materiais a serem reciclados.

Organização – distribuir as diversas tarefas operacionais aos vários membros de acordo com a
sua posição na cadeia de suprimento de tal forma que possibilite a facilidade de encaminhar
os produtos, módulos, partes e peças para a sua fácil incorporação na cadeia produtiva.

Finanças – avaliação e valorização dos fluxos de retorno;

Logística Reversa e Administração de Operações – estrutura todas as possibilidades dos CDR


para facilitar a operação destes fluxos.

O objetivo da PRM é a recuperação, tanto quanto possível, de valor econômico e


ecológico, dos produtos, componentes e materiais. Krikke (1998, p. 33-35) estabelece quatro
níveis em que os produtos retornados podem ser recuperados: nível de produto, módulo,
partes e material. A reciclagem é a recuperação ao nível de material, sendo este o nível mais
baixo. A quadro 6 abaixo descreve as opções de recuperação .

Quadro 6 – Resumo de opções de recuperação de produtos


Opções de PRM Nível de Desmontagem Exigência de Qualidade Produto Resultante
Reparo Produto Restaurar o produto para Algumas partes reparadas
pleno funcionamento ou substituídas
Renovação Módulo Inspecionar e atualizar Alguns módulos reparados
módulos críticos ou substituídos
Remanufatura Parte Inspecionar todos os Módulos/partes usados e
módulos/partes e atualizar novos em novo produto
Canibalização Recuperação seletiva de Depende do uso em outras Algumas partes reutilizadas,
partes opções de RPM outras descartadas ou
recicladas.
Reciclagem Material Depende do uso em Materiais utilizados em
remanufatura novos produtos.
Fonte – Adaptado pelo Autor de KRIKKE, 1998, p. 35.

Diferentes empresas utilizam uma ou mais opções de PRM. Por conseguinte, seu
sistema de LR deverá ser desenhado de acordo com as opções de PRM utilizadas. O correto
planejamento e organização da LR é fundamental para o bom andamento do PRM.

3 – Metodologia

Com o objetivo de ilustrar os conceitos deste artigo, foi realizado através da pesquisa
exploratória, com caráter interpretativo e natureza qualitativa, pelo método de estudo de caso,
com a observação de um caso real de utilização do CDR, que agrega valor econômico à
empresa e também das exigências legais que impedem o descarte indiscriminado de resíduos
no meio-ambiente. A fundamentação teórica busca demonstrar as atuais bases bibliográficas
sobre o tema e também possibilita uma melhor análise do estudo de caso em questão.

15
Reciclabilidade – capacidade e/ou facilidade de reciclar determinado produto.
16

A escolha de empresa a ser analisada obedeceu a um critério não probabilístico, com


uma amostra intencional. Devido a especificidade do estudo, optou-se por estudar duas
empresas que já operam segundo os princípios que se deseja analisar.

4 – Estudo de Caso

Para a realização deste estudo, pesquisou-se duas empresas de segmentos distintos,


uma empresa do segmento de produtos de linha branca, e outra empresa de produtos
alimentícios que já estão estabelecidas no Brasil há mais de 10 anos. Sendo que para esta
análise, iremos utilizar o conceito do PRM para analisar a empresa ao longo de cada uma das
etapas de sua CS – LS, LE, LD; como ela administra as cinco áreas (tecnologia, marketing,
informação, organização, finanças), em cada uma das etapas da CS, para a efetiva ocorrência
da Logística Reversa .

4.1 – 1o Estudo de caso

Para a realização deste estudo, foi pesquisada uma empresa estabelecida há mais de 13
anos no Brasil, sendo a maior empresa no setor de linha branca da América Latina, onde ao
longo deste período a empresa lançou mais de 400 produtos e vendeu aproximadamente 44
milhões de eletrodomésticos no Brasil e no exterior. Em 2004, faturou R$ 3 milhões e
manteve sua liderança em vendas no Brasil, com participação de aproximadamente 40% no
mercado.

Como podemos observar na quadro 7, todos os procedimentos na área de tecnologia,


marketing, informação, organização e finanças, estão muito bem organizadas ao longo das
etapas da LS e LE, pois a empresa realiza um controle muito intenso em seus fornecedores e
processos. Os procedimentos são parcialmente controlados na LD, pois nesta etapa a empresa
apenas tem controle na Pós-Venda, e aí temos a garantia de qualidade, substituição de
componentes (avaria de transporte) e comercial, pois nestes itens a empresa exerce controle
na distribuição sendo todas as atividades por ela contabilizadas. Porém, quando diz respeito
ao Pós-Consumo, isto é, reuso, desmanche, reciclagem e disposição final de seus produtos, a
empresa não tem controle e nem informação da disposição e/ou destino de seus produtos.
17

Quadro 7 – Análise das áreas do PRM x etapas da CS na Logística Reversa


Log. de Suprimentos Log. Empresarial Log. de Distribuição
Estão incluídos desenho do Estão incluídos desenho do Estão incluídos desenho do
Tecnologia

produto – mat. prima e peças; produto – peças e módulos; produto final;


Possui tecnologia de Possui tecnologia de - Cadeia estruturada apenas
recuperação – sim; recuperação - sim; para Pós-Venda.
Possui normas e Possui normas e - Ainda não possui uma cadeia
procedimentos procedimentos estruturada para Pós-
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos Consumo
Diz respeito à criação de boas Diz respeito à criação de boas Diz respeito à criação de boas
Marketing

condições de mercado para condições de mercado para condições de mercado para


quem está descartando o quem está descartando o quem está descartando o
produto – mat. prima e peças. produto – peças e módulos. produto e para os mercados
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos secundários.
- Cadeia estruturada apenas
para Pós-Venda.
O sist. de informação ser O sist. de informação ser O sist. de informação ser
Informação

estruturado para a adequada estruturado para a adequada estruturado para a adequada


utilização da reciclabilidade utilização da reciclabilidade utilização da reciclabilidade do
das mat. primas e peças das peças e módulos durante produto final.
durante todo o processo. todo o processo. - Cadeia estruturada apenas
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos para Pós-Venda.

Estabelece as tarefas Estabelece as tarefas


Estabelece as tarefas
Organização

operacionais de forma a operacionais de forma a


operacionais de forma a
possibilitar a sua incorporação possibilitar a sua incorporação
possibilitar a sua incorporação
na cadeia produtiva (LR) - mat. na cadeia produtiva (LR) -
na cadeia produtiva (LR) -
primas e peças. peças e módulos produto final.
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos
- Cadeia estruturada apenas
para Pós-Venda.
Avalia a valorização dos fluxos Avalia a valorização dos fluxos Avalia a valorização dos fluxos
Finanças

de retorno - mat. primas e de retorno - peças e módulos de retorno - produto final.


peças. - Inclui estes procedimentos, - Inclui este procedimentos,
- Inclui estes procedimentos, pois são todos contabilizados. apenas para Pós-Venda., pois
pois são todos contabilizados. são todos contabilizados.
Fonte – Criado pelo Autor.

4.2 – 2o Estudo de caso

Para a realização deste estudo, foi pesquisada uma empresa estabelecida há mais de 20
anos no Brasil. Sendo uma das maiores empresas no segmento alimentício mundial, iremos
analisar apenas uma área específica que é sua indústria de biscoitos. A planta analisada
produz três qualidades de biscoito, popular, recheado e wafer (biscoitos delicados), produz
apenas para o mercado nacional, com participação de aproximadamente 12% no mercado de
biscoito.

Como podemos observar na quadro 8, todos os procedimentos na área de tecnologia,


marketing, informação, organização e finanças, estão muito bem organizadas ao longo das
etapas da LS, LE e LD, pois a empresa realiza um controle muito intenso em seus
fornecedores, processos e distribuição. Os procedimentos são parcialmente controlados na
LD, pois nesta etapa a empresa apenas tem controle na Pós-Venda, pois aí temos a garantia de
qualidade, substituição de componentes (avaria de transporte) e comercial, pois nestes itens a
empresa exerce controle na distribuição e são todas as atividades por ela contabilizadas.
18

Porém, devido a característica do segmento (alimentício), não existe o controle de Pós-


Consumo, isto é, reuso, desmanche, reciclagem e disposição final de seus produtos, devido a
característica do produto, de incorporar-se na alimentação humana.

Quadro 8 – Análise das áreas do PRM x etapas da CS na Logística Reversa


Log. de Suprimentos Log. Empresarial Log. de Distribuição
Estão incluídos especificação do
Estão incluídos especificação do Estão incluídos especificação do
produto – mat. prima; produto; produto final;
Não existe tecnologia de
Biscoito popular possui - Cadeia estruturada apenas para
Tecnologia

recuperação, retorna ao
tecnologia de recuperação na Pós-Venda.
fornecedor; própria produção; - Ainda não existe Pós-Consumo
Possui normas e procedimentos Biscoito recheado e wafer, não para este segmento.
- Inclui estes procedimentos possui tecnologia de recuperação,
possui normas e procedimentos
para descarte.
- Inclui estes procedimentos
Diz respeito à criação de boas Diz respeito à criação de boas Diz respeito à criação de boas
Marketing

condições de mercado para condições de mercado para condições de mercado para


quem está descartando o quem está descartando o quem está descartando o
produto – mat. prima. produto. produto e para os mercados
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos secundários.
- Cadeia estruturada apenas
para Pós-Venda.
O sist. de informação ser O sist. de informação ser O sist. de informação ser
Informaçã

estruturado para a adequada estruturado para a adequada estruturado para a adequada


utilização da reciclabilidade utilização da reciclabilidade do utilização da reciclabilidade do
o

das mat. primas durante todo o produto durante todo o produto final.
processo. processo. - Cadeia estruturada apenas
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos para Pós-Venda.
Estabelece as tarefas Estabelece as tarefas Estabelece as tarefas
Organização

operacionais de forma a operacionais de forma a operacionais de forma a


possibilitar a sua incorporação possibilitar a sua incorporação possibilitar a sua incorporação
na cadeia produtiva (LR) - mat. na cadeia produtiva (LR) - na cadeia produtiva (LR) -
primas. produtos produto final.
- Inclui estes procedimentos - Inclui estes procedimentos - Cadeia estruturada apenas
para Pós-Venda.
Avalia a valorização dos fluxos Avalia a valorização dos fluxos Avalia a valorização dos fluxos
Finanças

de retorno - mat. primas. de retorno – produto. de retorno - produto final.


- Inclui estes procedimentos, - Inclui estes procedimentos, - Inclui este procedimentos,
pois são todos contabilizados. pois são todos contabilizados. apenas para Pós-Venda., pois
são todos contabilizados.
Fonte – Criado pelo Autor.

5 - Considerações finais

Este trabalho mostrou o desenvolvimento da LR e a Administração da Recuperação de


Produtos (PRM). Passamos então para a importância estratégica onde pudemos ver que já
temos algumas empresas dos mais diferentes segmentos que estão preocupadas na
administração da LR em toda extensão da CS, e preocupadas em redução de custos em sua
CS, razão pela qual ela vem cada vez mais ocupando um lugar de destaque dentro das
empresas, muito embora ainda de maneira um tanto incipiente.

Nos casos da empresa analisada estão muito bem organizadas ao longo das etapas da
LS e LE, pois a empresa realiza um controle muito intenso em seus fornecedores e processos,
19

pois isto influencia em seus custos operacionais e também são todos contabilizados. Os
procedimentos são parcialmente controlados na LD, pois nesta etapa as empresas apenas têm
controle na Pós-Venda, pois aí temos a garantia de qualidade, substituição de componentes
(avaria de transporte) e comercial, assim nestes itens a empresa exerce controle na
distribuição que são todas as atividades por ela também contabilizadas. Porém quando diz
respeito ao Pós-Consumo, isto é, reuso, desmanche, reciclagem e disposição final de seus
produtos, a empresa do 1o estudo de caso não tem controle e nem informação da disposição
e/ou destino de seus produtos. Já a empresa analisada do 2o estudo de caso, o Pós-Consumo
não se aplica.

O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos é outro ponto fundamental para a LR. O


conhecimento profundo de toda a cadeia onde se insere a empresa e a participação ativa e
consciente de todos os integrantes se tornam pontos críticos para o total desenvolvimento da
LR. Os estudos de casos mostram o grande campo para a implantação de um sistema de LR,
onde a participação de todos os membros da cadeia de suprimento é de supra importância para
a economia da empresa e sua eficiência. Desta forma, os casos apresentam possibilidade de
reduções de custos em montantes consideráveis, bastando a aplicação de um bom sistema
reverso de logística.

Também é importante lembrar que uma boa estrutura de LR vem proteger o ambiente
de possíveis contaminações e propicia à empresa uma melhor eficiência na administração de
seus recursos de produção. Desta forma, muitas empresas acabam tendo uma visão da LR
como um centro de custo, quando na verdade uma LR bem planejada é um centro de
minimização de custo para a empresa, além de garantir perante os seus stakholder a sua boa
imagem.

Porém, a LR pode ser muito mais que um centro de custos. Também pode ser um
provedor de uma melhor rentabilidade para a empresa, através de seu potencial de agregar
valor ao produto, satisfazendo as necessidades e expectativas dos clientes. Além disso, tendo
um processo bem planejado e adequado à realidade da empresa, é possível dotar, através da
LR, um ótimo diferencial competitivo perante a concorrência.

Neste estudo, buscou-se apresentar algumas empresas que utilizam da LR como fator
competitivo para elas, auxiliando os gestores no processo de criação ou aprimoramento das
atividades de LR. Neste sentido, a LR deve atuar com o intuito de ter seu potencial
aproveitado em favor de um melhor serviço ao cliente, fazendo com que a empresa, além da
visão ecológica, tenha uma visão comercial, buscando rentabilidade e fortalecendo sua
posição no mercado de atuação.

Destaca-se ainda a importância de se conduzir o processo de criação das estratégias de


LR com clareza e objetividade. Todos os envolvidos neste processo precisam, antes de tudo,
considerar as atividades de LR como uma fonte potencial de vantagem competitiva e não
como um centro de custos necessários para a empresa. É importante o apoio incondicional de
todos e, também, a disponibilização de recursos, afim de que se maximize as chances de
sucesso das estratégias desenvolvidas.

Deve-se ressaltar que cada empresa deverá desenvolver as suas estratégias de LR, de
acordo com sua estrutura operacional, segmento de mercado que atua e características
próprias de seu mercado, além da quantidade de recursos que será utilizada, desde o
desenvolvimento até a implementação e controle final.
20

Por fim, é importante comentar que o estudo procurou mostrar que há empresas que já
estão buscando a estruturação da LR em sua CS, e que a sua implantação traz ganhos
significativos para a empresa conforme mostrado.

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Limeira, área de Teoria Geral da Administração e Orientador de Estágio e TCC; Aluno pesquisador da FAPESP
– Estudo do desenvolvimento do APLA - Piracicaba (Arranjo Produtivo Local do Álcool). Gerente Industrial e
Nacional de Vendas há 20 anos. giocondo@merconet.com.br

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